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Relação entre ciência social e os clássicos; relação entre ciências sociais e ciências
naturais; clássico como status privilegiado; exegese e reinterpretação dos clássicos
(corrente disciplinar);
“A visão pós-positivista da ciência”: o fato de uma disciplina possuir clássicos não depende
do empirismo, e sim do consenso disciplinar sobre coisas não-empíricas; quatro postulados
da persuasão positivista nas ciências sociais: 1) ruptura epistemológica entre observações
empíricas: a) específicas e concretas; e b) gerais e abstratas; 2) preocupações gerais
exigem significado fundamental para uma prática disciplinar empírica; 3) questões gerais só
podem ser qualificadas em relação a observações empíricas; 4) o desenvolvimento científico
é progressivo, linear e acumulativo; diferenciação no campo científico como produto da
especialização em domínios empíricos;
Estes postulados foram duramente questionados pela nova onda na filosofia, história e
sociologia pós-positivista;
A postura pós-positivista reabilita a teoria: 1) a distinção fato-teoria é analítica, observações
são moldadas pela teoria vigente; 2) empreendimentos científicos não se baseiam só em
observações empíricas; 3) a elaboração teórica geral é dogmática e não progressiva, por
exemplo frente a evidências contraditórias; 4) mudanças na crença científica ocorrem
quando alterações empíricas são acompanhadas por alternativas teóricas;
Negação das premissas do desafio empírico de Merton; explicação não-empírica de porque
as ciências naturais não possuem clássicos;
“Porque não existem clássicos nas ciências naturais: uma visão pós-positivista”: a
epistemologia da ciência não determina temas particulares para as atividades de cada
disciplina científica; depende de um “sentir” empírico; o enfoque explícito em questões
empíricas seria o que distingue as ciências naturais das sociais; o que é importante em cada
campo depende das preocupações profissionais; o consenso é o que diferencia atividades
científicas e não-científicas (Habermas);
A ausência de clássicos se deve à centralidade das dimensões empíricas nas ciências
naturais, as dimensões não-empíricas estão apenas camufladas;*
No lugar dos clássicos as ciências naturais utilizam modelos, padrões específicos de
explicação do mundo (Kuhn), papel apriorístico semelhante aos “clássicos”; cientistas
sociais absorvem tanto clássicos quanto modelos;
“As razões pós-positivistas em prol dos clássicos”: a aplicação social da ciência gera muito
mais discordância; é possível acumular conhecimento a partir de diversos pontos de vista;
um consenso sobre a natureza do conhecimento empírico é improvável nas ciências sociais;
Razões cognitivas e valorativas para as diferenças de consenso em ciência social: 1) os
referentes empíricos de objetos científicos dependem da comunicação interpessoal,
possibilidade de confusão entre estados mentais na produção de conhecimento; 2) natureza
estimativa das ciências sociais, implicações ideológicas, relação entre valores políticos e
sistemas de pensamento (Mannheim); 3) se não há consenso sobre referentes empíricos,
quiçá sobre abstrações baseadas nos mesmos; 4) toda percepção empírica se torna tema
de debate, diferenciação por tradições e escolas, alicerces culturais da discordância
científica;
O discurso é um traço destacado do campo da ciência social, ênfase no processo racional,
busca de persuasão por meio de argumentos;
Foucault, sociologia como campo discursivo, há inúmeros discursos, que procuram a
verdade;
Habermas, comunicação não-distorcida, conceituação de aspirações racionais;
A polivalência da teoria na ciência social se deve à importância do discurso; positivistas
tentam excluir a teoria em favor da explicação estrita;
Stinchcombe: Marx, Durkheim e Weber como analistas empíricos, métodos teóricos;
A predominância do discurso na ciência social gera sua superdeterminação em teoria e sua
subdeterminação de fato;*
Exemplos de subdeterminação empírica: Blau, teoria estrutural, teorema do tamanho,
proporção entre tamanho de grupos e relações externas, desvinculação entre dados
empíricos e teoria; Lieberson, relação entre a herança da escravidão e a falta de
oportunidades, correlações que não conseguem comprovar a teoria proposta;
Exemplos de superdeterminação teórica: Weber em A Ética Protestante, contestação da
aproximação do espírito capitalista com os empresários ingleses do século XVI, amostra
restrita, coleta de dados tendenciosa; Smelser, Mudança social na era industrial, distância
entre indicadores empíricos e teoria, dados de arquivo sobre estrutura familiar; Skocpol,
uma perspectiva impessoal e não-subjetiva sobre a revolução, determinismo institucional;
Na verdade, a subdeterminação empírica e a superdeterminação teórica andam juntas*:
A ciência social é sempre sujeita a contestações, e toda proposição exige justificação à luz
dos princípios gerais; Blau, Lieberson, Smelser e Skocpol erram, antes, na montagem de
seu enfoque teórico;
O discurso não implica abandonar a pretensão de verdade, mas todo discurso supra-
empírico implica a absorção de critérios de verdade distintos (racionalização das
complexidades da análise social); as disputas vistas em campo são mais do que discussão
empírica, refletem a articulação de “critérios de verdade”;
A aprovação ou reprovação contida na resposta disciplinar a uma obra coloca em questão
os critérios de verdade utilizados, às vezes mais do que os referentes empíricos;
A discordância endêmica na ciência social torna os pressupostos fundamentais mais
explícitos, por isso o papel dos clássicos se torna mais proeminente;*
Razões para a importância dos clássicos acompanhar a importância do discurso: deve haver
base para os relacionamentos culturais; a importância dos clássicos surge da necessidade
de integrar o campo do discurso teórico; formação de limites disciplinares; o reconhecimento
consensual dos clássicos implica um ponto de referência comum;
Razões funcionais: 1) simplifica e condensa as discussões; uso dos clássicos para
tipificação e comparação; 2) possibilidade de discussões gerais sem ter que explicitar
critérios; função concretizante dos clássicos; 3) pode-se assumir um discurso geral (ou
esquecer dele) por trás do instrumento de comunicação (corpo teórico) que se assume,
devido à assimilação incontestada dos clássicos; 4) razões estratégicas de legitimação;
Razões intelectuais: quanto mais generalizada for a discussão científica menos cumulativa
será; avaliações gerais são amparadas menos por qualidade do que por preferência; o
discurso geral apela para qualidades pessoais, que não são progressivas;
“Interpretação dos clássicos como argumento teórico: Talcott Parsons e seus críticos do
período pós-guerra”: forma coerente da teoria social no período pós-guerra; teoria estrutural-
funcionalista; objeções já na década de 50; um novo campo teórico surge nos anos 70;
moldagem de argumentos de longo alcance através dos clássicos; deslocamento teórico da
europa para os estados unidos; Parsons e o estrutural-funcionalismo surgem a partir de uma
oposição a tradições que surgiam no contexto da guerra, como a Escola de Chicago; razões
extra-científicas para a aceitação de suas obras; invocação dos clássicos;
Pragmatismo, evolucionismo e institucionalismo (tradição americana)*;
Seu livro A estrutura da ação social compilava os grandes achados da geração anterior;
Marshall, Pareto, Durkheim e Weber; a qualidade da prática interpretativa de Parsons é que
lhe gerou reconhecimento na discussão dos clássicos*; seletividade na organização da
discussão clássica, de acordo com sua tese estrutural-funcionalista; leitura apressada sobre
Durkheim, enviesamento interpretativo; ignorou aspectos chave da sociologia política de
Weber;
Após a segunda guerra mundial a interpretação de Parsons sobre os clássicos passou a ser
aceita; a teoria funcionalista seria um resultado lógico do caminho aberto pelos clássicos;
além de negligenciar Marx como clássico, ocorreu o mesmo em relação à Freud;
Movimento teórico e empírico contra o funcionalismo, década de 50; interesses teóricos e
estratégias interpretativas também permeiam tal movimento; Hinkle, Coser e Levine
criticaram a orientação problemática da interpretação de Parsons;
Decisão de Parsons em eliminar um capítulo sobre Simmel de A estrutura da ação social;
Parsons excluiu Simmel pois sua inclusão significaria a disseminação de influência anti-
funcionalista;* acusação de omissão;
A desconstrução da escola parsoniana permitiu a ascensão de Marx como clássico, mas
ainda sob o disfarce da teoria do conflito; posteriormente procurou-se orientar a teoria social
para o poder e a economia; Gouldner e Giddens tentaram desfazer algumas das
interpretações equivocadas de Parsons sobre Durkheim; Martindale e Bendix agiram no
mesmo sentido em relação a Weber; contestação das traduções idealistas de Parsons;
Herrschaft como coordenação imperativa, ao invés de dominação; Roth e Mitzman
revisaram o Weber de Parsons; Wrong revisou o Freud de Parsons;
Combate à hegemonia teórica funcionalista, desenvolvimento de escolas teóricas capazes
de fornecer uma alternativa sistemática; essas escolas definiram seus próprios clássicos,
em oposição à Parsons; antifuncionalismo e a dupla tarefa de encontrar novos clássicos e
livrar-se de Parsons como clássico contemporâneo; Parsons e os antigos clássicos tinham
que ser separados; “desparsonização” dos clássicos (Pope);
Teoria do conflito: Rex, Dahrendorf e Coser, definição de uma teoria sistemática em
oposição a Parsons; pontos fracos da obra do “neoclássico”; a destruição de Parsons
simbioticamente ligada à construção de Weber e Marx; Coser elege Simmel e Freud como
mestres teóricos do conflito;
Teoria da troca: Homans, reinterpretação de Parsons, “ação anti-humana”, raíz da teoria da
troca na economia política de Adam Smith;
Etnometodologia: axiomas de Garfinkel como paráfrases de obras fenomenológicas
anteriores; tentativa de introduzir Schutz como clássico; intenção de criar uma escola;
simpatia por Schutz encoberta pela ênfase nos valores sociais de Weber; corrente de
estudos empíricos; para Parsons, os agentes eram “dopados culturais” (Garfinkel),
surgimento de um tipo “antiparsoniano”;
Interacionismo simbólico: oposição de Blumer à teoria parsoniana, Mead como patrono;
Sociologia radical: Friedrichs e Goldner, ao invés de defenderem Marx, insurgiram-se contra
Parsons, concebendo-o como um idealista do Estado burocrático; Goldner tentou tornar
Marx clássico, mas sua perspectiva mudou, em termos liberais;
Demolição da interpretação parsoniana dos clássicos, ele não repeliu preocupações teóricas
em favor de um relato histórico; falha na reconstrução parsoniana da tradição sociológica
clássica; clássicos titulares foram reapresentados, e aqueles deixados de lado ressurgiram;
a ameaça à Parsons fez com que Marx despontasse; a ênfase em suas obras anteriores ou
posteriores gerou determinado enfoque empírico;
Surgimento dos Estudos Culturais: relação dos símbolos com os conflitos sociais, clássicos
marxistas e a leitura de Williams sobre os aparelhos ideológicos do Estado, em Althusser;
Movimento americano de análise cultural: Bellah, diferente dos Estudos Culturais, derivam
de Parsons e Durkheim, portanto havia divergências fundamentais;
Desclassicização de Parsons: em As novas regras do método sociológico, Giddens afirmou
que as interpretações de Parsons sobre os clássicos se tornaram um obstáculo ao
desenvolvimento da disciplina;
De modo pendular, outros teóricos tentaram resgatar e preservar o legado de Parsons e sua
interpretação dos clássicos;
Questionamento da definição da teoria americana como uma alternativa individualista ao
coletivismo dos clássicos europeus;*
Para Alexander, seria possível um neofuncionalismo baseado na releitura de Parsons;
Exame parcial do debate sobre clássicos no período pós-guerra; a releitura dos clássicos
gera novos clássicos; a aceitação dos clássicos, entretanto, é funcional, pois permite
planificar os termos da discussão;
“O humanismo e os clássicos: por que o desafio historicista está errado”: defesa dos
clássicos, da relação inextricável entre interesses teóricos contemporâneos e pesquisas
sobre o significado de textos históricos (posição do autor)*; defesa dessa posição contra
críticas;
Penetração da abordagem historicista na discussão sociológica; as humanidades
tradicionalmente defendem a importância dos clássicos (Merton);
Por trás da injunção empírica contra os clássicos há uma negação da relevância da
interpretação textual para as ciências sociais;*
Skinner oferece a história intelectual que Merton não conseguiu encontrar, de qualidade
abstrata e antiempírica; convicção de que o círculo hermenêutico pode ser rompido, de que
o mundo real se revela àquele que sabe como e para onde olhar (Skinner); historicismo e a
ênfase no contexto e na intenção, como se textos antigos pudessem ser lidos fora da
percepção contemporânea;
Defender a autonomia dos clássicos frente à intenção e ao contexto é defender a própria
prática interpretativa*; devido à importância da interpretação é que se deve proceder à
mistura entre sistemática e história;
Crítica das conclusões em que se baseia o historicismo:
“Contexto singular versus contexto infinito”: as convenções linguísticas de dado período
poderiam revelar o universo intelectual de uma obra; questionamento da capacidade da
história em espelhar a sociedade, seria mais realista reconhecer que as generalizações são
seletivas; a seleção exige comparação com precedentes;
“Intenção transparente versus intenção opaca”: levar em conta a vontade autoral; confiança
empírica na transparência do mundo social, acredita-se que as intenções do autor revelam
as convenções do texto; para Skinner basta observar o que o autor quis dizer; a psicanálise
nos ajuda a demonstrar o ocultamento inconsciente das intenções mesmo para os próprios
sujeitos; ceticismo em relação à autocompreensão racional; não esquecer da autonomia do
texto; o estruturalismo e a semiótica chegaram à mesma conclusão; o que o texto diz
importa muito mais do que o autor quis dizer (Ricoeur); a coincidência entre a intenção do
autor e o significado do texto é irrelevante, pois o historiador não conseguiria apreendê-la
(Gadamer); os textos só se revelam em contexto histórico graças à interlocução;
“Textos explícitos versus textos polivalentes”: o historicismo descarta o estudo do significado
do texto em si; teoria pragmática e anti-semiótica do significado; é preciso admitir a
autonomia do texto, a intenção só pode ser descoberta no texto; crença na natureza oculta
da intenção; excesso de significado (Ricoeur), superdeterminação simbólica (Freud); os
textos facultam o processo de comunicação pois derivam de regras socialmente construídas
e transmitidas; a argumentação cultural está fadada a ser relativa;
“Reflexão”: o cânone clássico surge nos Estados Unidos, esforço de reconstrução após o
colapso do projeto euro-americano; compreensão a partir da história global, imperialismo;
poder simbólica da sociologia clássica; uma história internalista desvia a atenção sociológica
de análises sociais com origem intelectual fora da metrópole; acionamento de perspectivas
internacionalistas; diálogos sobre modernidade e colonialismo; Du Bois, Sol Plaatje, Jomo
Kenyatta;
Questões:
Reação empirista aos clássicos (Merton); posição pós-positivismo como resposta
(Alexander); relação do pós-positivismo (reconhecimento da centralidade da interpretação
na ciência social) com o neofuncionalismo (resgate de um viés parsoniano)?
Conferência de Berlim (tratado) como baliza histórica, e a Conferência de Bandung? Vida
social e relações sociais pós-coloniais, Cabília (Argélia) e a quebra da concepção imperial
de uma evolução social a partir da violência colonial; incômodos direto da colônia; relação
entre o material e o simbólico
Grande etnografia e a diferença global, vínculos com a perspectiva decolonial, da
epistemologia às práticas profissionais, surgimento de periódicos, associações e sociedades
de sociologia; como isso surge no Brasil? Institucionalização e os dois projetos sociológicos;
ficamos com um pouco dos dois?
Ingenuidade fenomenológica e a tendência a naturalizar a objetivação dos clássicos (a
objetivação depende da capacidade do sujeito de ocultar a intenção de objetivação) - de fato
procedemos desse modo, clássicos como uma justificativa lógica do caminho da disciplina;
talvez uma leitura jpa enviesada por Parsons;
Discussão sobre o significado aberto de qualquer texto (Derrida), muito comum em
Sociologia da arte, aspectos indecifráveis da intencionalidade;
Bastidores teóricos muito interessantes: a exclusão de Simmel de A estrutura da ação
social, a fim de impedir a disseminação de influências anti-funcionalistas;
Ir contra os clássicos é ir contra a importância da interpretação na ciência social;
É preciso duvidar da história de origem contada, pois ela surge muito tempo após os
clássicos;
Relação necessária entre uma ciência social baseada em relações coloniais e questões de
raça, gênero e sexualidade (olhar imperial); limites globais do projeto colonial;