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Poemas

Sementes em cinzas

Do toque deriva-se o corpo,


Qual rosto que escorre nas aguas,
Na calma dos sopros de vida,

Inflam-se as velas da alma,

Confronto que gera conforto,

Senhor dos desejos do outro,

Nuances de uma psicose,

Na qual o devir não tem sorte,

Sortidas madeixas desenham,

Novelos de orgasmo desdenham,

Nos vemos no eterno retorno,

Dos olhos que calam tem gosto,

Te ouço na prosa do mundo,

Que fundo me lembra teu nome,

Um signo fora dos astros,

Em fuga de quem o devore,


Sem rastros de sede ou penúria,

Só somos marcados de injúria,

Com juras de amor que sussurras ,

Num brado em que ecoa fúria,

Custuro-te agora um bordado,

Que apressa o andar do destino,

Narrando o apreço àquela,

Com quem meus anseios se findam,

Feito um início sem fim,

Me sinto presente no aqui,

No agora em que não há horas,

Em que vivemos o se,

Que subam furtivos espinhos,

Por entre as ternas muralhas,

Blindando de paz o caminho,

Do amor, que anda de mãos dadas.

Sujeito diaspórico

Exausta, a safra se entrega às mãos do agricultor,


Que esmigalhando grãos premedita o terror,

Mutação dos cabelos do milho aos da cidade,

Transgênicos suicidas, informação sem verdade,

Responsabilidade existencialista,

Parem de ocultar a genealogia egípcia,

De Kemet, sem gergelim para glutões culturais,

Faturas que inculcam princípios coloniais,

Sem vínculo, esse racismo chega ser intrínseco,

Vernacular, a história está prestes a se fragmentar,

Em raio, disparos da expressão política,

De culturas suturadas com tortura intrínseca,

Mas o eu é polissêmico e cômico,

Na próxima esquina a crítica já pegou no sono,

Feito Alex e o behaviorismo,

Cérebros perfurados absorvem absinto,

Mas sinto dizer, a vida nem sempre é tão triste,

Nem sempre o mal com que conversa a nossa cabeça existe,

Insista em construir versões alternativas,

Daquilo que tu acha que é a vida, e duvida,


Divague, flutue e pouse no líquen das arvores,

Nos mármores do inferno não lembraremos do caos daqui,

Dos cadáveres boiando no Ganges,

Da hipnose que nos leva a túmulos em pirâmides,

Trâmites me expulsaram daquele tal clã,

Já vinha vendo que esse seu papo já tá de manhã,

Tão vã foi aquela minha filosofia, que hoje em dia,

Já não sei quem alisa e quem arrepia,

Compenetrado num quadro de Frida Khalo,

Ajusto o gargalo dos olhos e arregalo,

Assopro dentes de leão percebo que de leite são,

E que observam-me mil olhos na calda de um pavão,

Rostos desfigurados demarcam a multidão,

Sentidos figurados demarcam a exclamação,

Que diz: nem todo esforço do mundo vai te trazer,

A completude daquilo que anseio todo o seu ser,

Mesmo com o dizer do não-ser a fazer efeito no peito,

Saber nos leva a poder fazer o que deve ser feito,

E a despeito das represálias eufóricas,

O ser se redefine na lógica diaspórica.


Crepúsculo vapor

Fagulha flameja da íris em crise,

Irrompe compondo do sonho a marquise,

Despeja da jarra a alma em dilúvio,

Evapora porosa no toque do súdito,

Dançam feições nas nuances sutis,

Olvidadas nos olhos por teus colibris,

Pousados em prosa cochicham gardênias,

Molestam concórdia em chuviscos boêmios,

Feixes esguios encerrando o gradiente,

Escorrem das celas em tramas amenas,

Protesto do auspício em revolta descrente,

Consenso em fugir de ressacas serenas,

Portando na sede o cortejo do esmero,

Matizes poentes pintam seu bolero,

E nas folhas caídas se aninha o regato,

Do rio que por ti passa e ri do retrato.

Nós , nós de Eros


O toque apaixonado amarra lábios com nós cegos,

E nós, cegos de prazer saltamos n’outro ego,

No esplendor quente do ente a seduzir a mente,

Que excita, exalando fragrâncias eróticas,

Entorpecentes qual ilusões de ótica,

Assim como o nó do beijo, que se desfaz, desata,

Quando o apetite, ao aquecer, escorre pelo pescoço,

Onde cardumes de perfume me possuem e diluem,

Na mandíbula do vampiro anseios os mais oníricos,

Arrancadas dos galhos, fantasias pairam,

Orbitam os mamilos, orbitam o umbigo,

Aterrissam cadentes nas veredas pubianas,

Fora de suas crisálidas, fantasias tornam-se línguas,

Arrastando seu rastro ventre adentro,

Florescendo trovões de desejo,

Cujos respingos e fagulhas,

Dão voz à labareda solar que deixa sem ar,

O olhar, em sincronia, estremece,

Se alastra o incêndio da libido,


Ao clamar nos ouvidos daquele a quem ama,

A epifania de orgasmo das feições pasmas.

Filho de Hermes e Afrodite antes do raio

O sopro da falta assola metades, que sozinhas definham trêmulas,

O ávido álibi havia sido avisado, e avisou,

Sobre o flerte em mosaicos entre o sol e o beija-flor,

Que ao beijar cada pétala solar com elas se confunde,

Na anestesia inebriante de suas mandalas espiraladas,

Metamorfose: asas que somos batem afora crisálidas que fomos,

E ô se somos, surreais como Dalí, sedutores como Dalila,

Estátuas pensantes rebolando mais a cada instante,

Rondando, as curvas do destino urgem, e tua silhueta surge,

Cegante, pois tão nítida! Feito luas de afeição eclipsando razões,

Por isso o rebuliço, as estripulias nas marquises,

Plano de fundo pra falsas ideias de amor,

Que voltam a sentir ardor, mesmo ainda rimando com dor,

Debruçado em teu peito de soslaio,

Sou atingido de resvalo pelos raios,

No leito em que me deleitas eu caio,

Escorrego pelo ralo, mas não me calo,


Abrem-me as vísceras as injustiças de solstício,

Não dou ouvidos, mas se ouve ganidos do coração,

Atento àquela que reverte ao versar,

Causa verve ao versar e beija com seu olhar,

No enleio dos baralhos de memórias inglórias, procuro, sem receio,

Momentos tranquilos em lugares ensandecidos,

Os rubores de conforto, os alentos e apertos,

Os consolos do choro e do gozo,

Procura uma curva no sorriso de vergonha do meu amor,

Onde morar, onde Hermes e Afrodite,

Perpetuamente explodem corações com dinamite.

Experimento 1

Névoas plásticas assaltam nas cidades,

Espreitam mentes livres, reticências as invadem,

Pés pro alto na janela ouvindo Afrosambas,

Nuvens dançam aquarelas fazendo cirandas,

A estrada me olha torto e expressa seu desgosto,

Eu respondo que me encontro onde me encontro,

Desentrelaço os dedos, dou banho frio nos medos,

E esqueço o valor de guardar tantos segredos,


Mesmo um cata-vento ou um monge taoísta,

Dançam conforme a música se estão na pista,

Canibais por todo lado têm andado disfarçados,

E seus atentados têm nos derrubado,

É uma vertigem, é um desgosto,

Não são só lágrimas, são rostos,

Feições com olhos ocos,

Sufocando plantas fugindo das gargantas,

Como perguntas curiosas feitas por crianças.

Experimento 1-2

Colhendo framboesas em arbustos de ternura,

Fragrâncias erógenas suturam a minha fúria,

Cruel injúria espúria, agouros pelas ruas,

Esguio e pálido por ali o algoz perambula,

Jogando ao vento rascunhos da vida que jaz garrida,

Mescla de história na volta e mitologia na ida,

Presas leoninas no ar, pairando em ontologismos,

Fascínios ao aspirar a expansão dos desígnios,


Surreal animismo sombrio, subvertido,

No tom rosado da face desses cadáveres frios,

Evaporo-me até o antiquário rimático,

Acrobáticos versos derretem falésias no ártico,

Retrato falado, falante, gritante,

Da distopia carnal que refuta a lógica em Kant,

Semblante aberrante, ecos de pangermanismo,

Sun-Rá rolando na caixa, apologia ao afrofuturismo,

Um holograma espectral da senciência vegetal,

Cria botânicos divãs encharcados de pânico,

Filtragem energética da pituitária,

Dispersando impulsos de uma vida imaginária,

Chakras em prana revestindo a pineal,

Magnetismo no caminho até seu eu imortal,

Rival inglório de Cristo, prefiro mais Trismegisto,

Lei da Thelema, invólucro cósmico do anarquismo,

Como a maiêutica de Sócrates, hipócritas mutilam canários,

Agiotas munidos de holofotes, mercenários,

Emprestando aceitação aos teatros sociológicos,


Onde surge catarse entronizada em matiz simbólico.

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