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ACONSELHAMENTO FILOSÓFICO

“Consolação da Filosofia” segundo Boécio e Esquisoanalise

SÃO MIGUEL DO GUAPORÉ-RO


2022
“Consolação da Filosofia” segundo Boécio e Esquisoanalise podemos criar outras formas de
existência.
Sabino A. O.

Neste artigo inicio falando da Consolação de Boécio e como através dela o ser humano
entender que é possível ser consolado a partir do momento que tem uma profunda e intensa
experiencia consigo próprio. Olhar para dentro e usufruir dos conhecimentos que adquiriu ao
longo da vida. E em seguida a importância da Esquizoanalise para a partir dela criar novas
experiencias de vida usando os métodos de territorialização e desterritorialização, bem como a
Cartografia.

A Consolação da filosofia, Boécio se prende em lamentações através das musas (poesias)


recordações do passado sentindo sua miséria, vendo seu presente e angustia-se da vida.
Eu, que outrora compunha poemas plenos de alegria, Aí, sou agora forçado a
usar de tristes metros! E eis que as Musas me ditam versos de dor, E as elegias
enchem meu rosto de verdadeiras lágrimas. Pelo menos elas não foram
tomadas de medo nem deixaram de ser companheiras neste amargo caminho.
Glória de uma juventude outrora feliz e promissora, consolam agora o destino
infeliz de minha velhice. Pois repentinamente veio a inesperada velhice, E
com ela todos os seus sofrimentos. De repente minha cabeça encheu-se de
cabelos brancos, E o meu corpo cobriu-se de rugas. A morte do homem é feliz
quando, sem atacar os doces anos, nos acolhe no momento propício, e atende
ao chamado dos doentes. Mas ah, como ela sabe se fazer surda aos miseráveis,
E, cruel, ignorar os olhos em prantos! ( Boécio - A CONSOLAÇÃO DA
FILOSOFIA)
De uma forma interessante a Filosofia com seu método consolatório aparece a Boécio através
de sonho e a primeira coisa que faz é afastar os pensamentos negativos representados pelas
Musas comediantes que lhe proporcionava uns momentos de consolação, mas recordando de
sua vida passada e se lastimando do presente
Com efeito, a Consolação começa como o relato de um sonho em que a
Filosofia aparece como soberana, afastando desdenhosamente suas rivais, as
Musas, essas “comediantes”, do prisioneiro aflito e que procurava seu socorro.
( Boécio - A CONSOLAÇÃO DA FILOSOFIA)
Enquanto Boécio se lamenta, aparece a Filosofia em figura de uma Mulher:
Enquanto meditava silenciosamente essas coisas comigo e confiava aos meus
manuscritos minhas queixas lacrimosas, vi aparecer acima de mim uma
mulher que inspirava respeito pelo seu porte: seus olhos estavam em flamas e
revelavam uma clarividência sobre-humana, suas feições tinham cores vívidas
e delas emanava uma força inexaurível. ( Boécio - A CONSOLAÇÃO DA
FILOSOFIA)
O Filósofo estava vivendo momentos difíceis a ponto de quase perder a racionalidade,
percebe-se que o ser humano quando chega a um certo limite de fadiga e exaustão, angustia e
isolamento a ponto de sua alma ficar totalmente amargurada, perde o sentido e esquece até
mesmo do que tanto ensinou, então chega a filosofia como uma enfermeira da alma e mostra
para o Filósofo que para ser curado é preciso entender e expressar a própria doença. Boécio
mostra como pode explorar a memória até encontrar maneiras de aplacar a dor, aquietar a
alma e encontrar uma saída para a situação em que se encontra, confrontando com as
circunstancias do mundo. Parecia haver duas personagens, Boécio conseguiu dividir seus
pensamentos e criando uma personagem fictícia que lhe fazia refletir. Mostra-nos a
importância de olharmos para dentro, de buscarmos nosso intimo a cura para nossa alma, nos
fazendo recordar do que realmente somos. A Filosofia ensina para Boécio que a incapacidade
humana de não conhecer a si mesmo é que gera a infelicidade. Então consolação é dialogar
com a filosofia, é entender o que está se passando é um olhar para dentro. Perceber que o
sofrimento não vem das coisas em si, mas das falsas expectativas que temos, é não perceber
que buscar a felicidade fora de nós é um erro.
A Consolação através da Filosofia fortaleceu a alma do Filósofo, onde sente-se repreendido e
disciplinado a ponto de desenvolver como através da Maiêutica de Sócrates, redescobrindo o
que em sua alma já sabia.
E, fixando-me com toda a intensidade de seus olhos, ela me disse: “Mas és tu
que outrora foste nutrido com nosso leite, com nosso alimento, que se exercia
com uma força viril? E, no entanto, tínhamos te fornecido todas as armas
necessárias para venceres, perdeste-as por tua culpa, e com elas vencerias! Tu
me reconheces? Por que te calas? É a vergonha ou o abatimento? Oxalá fosse
a vergonha! Mas não, é o abatimento que te oprime.”
De que modo podemos relacionar os conceitos de felicidade, vida interior e sentido de vida no
contexto da filosofia de Boécio?
A Filosofia mostra para Boécio que a verdadeira felicidade não se encontra em bens
exteriores, poder, status, honra... Ela ensina ao ser humano a crença na providência Divina,
mesmo passando por momentos de adversidades do mal que sempre acometem nas vidas
humanas.
A filosofia está em condições de oferecer ao homem a verdadeira felicidade 
(Deus, o sumo Bem), como também fazer com que se afaste daqueles valores
fictícios e ilusórios (bens materiais). (CRC IV-Básica Filosófica do
Aconselhamento)
A verdadeira felicidade se encontra no bem supremo (Deus), então para ser feliz, ou ter
felicidade era necessário o homem encontrar com o bem supremo e somente afastando dos
prazeres exteriores. Conquistando a dignidade do homem em seu aspecto racional,
caracterizado por autodeterminação, pelo controle de si e a escolha da prática do bem.
Só em Deus se encontra a verdadeira felicidade. De fato, ser feliz é adquirir
divindade e, por isso, qualquer homem feliz é Deus, embora exista apenas um
só Deus por natureza.  (A Conquista da Felicidade via Filosofia (2014).)
O homem precisa se encontrar, viver sua interioridade, se conhecer, aceitar a vida da forma
que ela é e focar nas coisas que podem ser modificadas. A filosofia mostrou para ele a vida
vivida no luxo, riquezas, honra e gloria, sendo uma vida externa e passageira, mas a vida
interior, vida da alma que traz felicidade, a busca do sumo bem.
No fundo, é a condição humana, a estrutura antropológica do homem e a
necessária aceitação dessa condição que podem ser reconhecidas e que
possibilitam a tranquilidade de espírito que todo o ser humano procura.
Aceitar tal condição humana e ser feliz implica voltar-se para a interioridade,
algo válido ainda hoje. (A Conquista da Felicidade via Filosofia (2014).)
No final observamos o valor da filosofia de Boécio, pois nos mostra a importância de
valorizar mais a vida entendendo que a felicidade não pode ser encontrada nas riquezas e
prazeres da vida, o ter e possuir, pois hoje temos e de repente podemos perder, a maior
riqueza se encontra na alma, no interior, na vida não física. A tranquilidade da alma é a maior
riqueza.
A filosofia é capaz de ensinar aos homens a crença na Providência divina,
apesar da presença das adversidades do mal que a todo momento acometem a
vida das pessoas. Nesse aspecto, a obra dialoga mais uma vez com a filosofia
estoica com relação à tranquilidade da alma frente às adversidades, às dores e
infortúnios. Confiar na Providência não significa se resignar – abdicar de sua
liberdade – mas uma espécie de retorno à interioridade, de modo a encontrar
em si mesmo e nas riquezas da alma uma forma de superação dos males.
Portanto, a filosofia de Boécio é uma proposta de conciliação interior do
homem consigo mesmo. ). (CRC IV-Básica Filosófica do Aconselhamento)

Boecio Seneca
O olhar para si, olhar para dentro Olhar para dentro, focar naquilo que pode
controlar.
Afastar os pensamentos negativos; aceitar Na consolação ele usa o ponto de vista da
a vida da forma que ela é. A felicidade problemática vivida – Ad Helviam (A
não se encontra nas riquezas, bens Hélvia) e Ad Polybium (A Políbio)
materiais.
Platonismo Cristão Naturalismo estoico e dualismo platônico
Felicidade – Metafisica e Teológica - Felicidade – Agir de acordo a razão –
Abster dos prazeres do mundo - Sumo ética e virtude moral - Viver conforme a
Bem (Deus) natureza -

Boecio e Seneca falaram sobre a “felicidade” tema discutido quase no mesmo ponto de vista
em alguns aspectos. Os bens exteriores, bens materiais não traz felicidade, mas somente o
Sumo Bem – Deus, pois felicidade consistem em se apropriar de bens espirituais em contraste
com os materiais. Boécio foi influenciado pelo platonismo cristão, principalmente no
pensamento patrístico de sua época no século IV e V d.c. concluindo que a felicidade está em
Deus. No pensamento de Sêneca a felicidade estava em agir de acordo com a razão, pois ela
deve direcionar a vida do homem, sua concepção de pensamento era o naturalismo estoico e o
dualismo platônico.
 O fim do viver é a busca da felicidade; e a ética, por sua vez, deve indicar
justamente quais são os meios apropriados para alcançá-la. Desta maneira,
tanto os estoicos como os epicuristas, a procura e a solução dos problemas
éticos da vida pessoal e social são buscados fora dos esquemas metafísicos
tradicionais, enquanto “viver conforme a natureza” (Ciclo IV )

Mais do que um do que um cálculo racional, a consciência é compreendida por Sêneca como
força espiritual e moral de si mesmo: “Farei tudo o que minha consciência mandar, sem me
submeter ao que os outros pensam. Mesmo que apenas eu saiba o que estou fazendo, agirei
como se todos estivessem me vendo” (SÊNECA, 2013, p. 61).
Para cada situação Seneca usa um método, pois para consolar sua mãe ele fala de sua vida de
uma forma que servia de consolo, pois em nenhum momento ele se mostra abalado, mas
mostra que o sábio se adequa com a situação vivida e não importa o lugar onde vive, já para
consolar Polibio ele fala de sua vida e a forma angustiante que está vivendo, dizendo ele a
verdade da situação e ao mesmo tempo usando meios para sair daquela situação.
Vale ressaltar que Sêneca escreve as três Consolações dentro de uma
perspectiva bastante peculiar: procura não só expor sua filosofia, mas também
entender a dor que abala a pessoa a ser consolada e, ainda, captar a visão de
mundo desta, para assim melhor chegar ao seu espírito. Em Sêneca, a dor,
embora seja apresentada como um mal universal, presença certa na vida do
homem, não foi trabalhada do modo estritamente convencionado pela Escola,
mas, sim, conforme os impulsos de cada situação. (A Filosofia da dor nas
consolações de Seneca)
O Filósofo procura entender a dor do individuo e ao mesmo tempo expor sua filosofia,
procurando entender o contexto da vida da pessoa consolada.
Já Boécio usou a filosofia de uma forma interessante como um dialogo consigo mesmo, tendo
um personagem fictício (A Filosofia), relembra do passado e também de tudo que tinha
aprendido e ensinado.

"De que forma a Esquizoanálise nos possibilita criar outras formas de existência?"

A esquizoanalise tem um modelo diferenciado das filosofias modernas, sendo elas uma
modelo pautada na imagem da árvore, caule central de onde parte as ramificações, mas um
modelo rizomático possibilitando novas formas de vida, não tendo um centro ou uma
identidade, mas tendo várias opções ou pontos de conexões em fluxo. Não seguindo modelos
pré-estabelecidos, parte do contato das pessoas e sua singularidade, suas diferenças a ponto de
estimular novos padrões de vida.
Tal modelo arborescente de pensamento limita-se à busca pela essência das
coisas, isto é, pela reposta para a pergunta: o que é? Deleuze e Guattari, por
conseguinte, pautam o pensamento na ideia de construção, afastando-se dos
conceitos enquanto essências (o que é) e aproximando-se das circunstâncias
que os envolvem. Nesse sentido, as respostas almejadas seriam: em quais
casos? Onde e como? Quando? Como explicita Souza (2012, p. 245), “[...] era
preciso sair do modelo arborescente, remissivo e essencial, para um modelo
que proporcionasse uma representação mais próxima da superfície, do
pensamento que se propaga em vastidão, para isso eles produziram o modelo
rizoma”.
Temos o método cartográfico nos ajuda a manter o contato com os mapas de trajetos e
conexões que o individuo situa com diferentes lugares, pessoas ou coisas, bem como o uso
que faz de suas forças ativas e reativas. Sendo a vida um constante movimento e que este
acontece numa constante construção e desconstrução de formas de vida, acontecendo a partir
de movimentos e encontros.
Devemos, portanto, sempre compor mapas, seguir as linhas, os desejos,
os afetos, as forças que estão a fluir em um corpo, ou quais são os
estratos ou as segmentarizações que impedem com que o fluxo corra,
quais são as identidades que organizam os corpos, dando-lhes uma
função, uma teleologia e, assim, poder desbloquear o "Corpo sem
Órgãos". Pois, em sentido oposto ao de Aristóteles, não existe
um ato em Potência, na realidade de um corpo, o que existe é uma
infinidade de potências não realizadas. Dessa forma, quando se produz
um Corpo sem Órgão, possibilita-se que outras potências se realizem,
isto é, que se produza para si outras formas de existência.
O interessante da cartografia é tomar contato com as experiencias vivenciada pela pessoa
averiguando movimentos que dificultam o fluxo da vida.
A cartografia traça os afetos e as forças em relação, nunca com o intuito de
interpretar uma pessoa, mas para tomar contato com as experiências
vivenciadas pelo corpo, constatando os movimentos que dificultam ou
bloqueiam fluxos de vida, bem como aqueles que possibilitam seu fluxo,
buscando encontrar meios para se movimentar livremente, experimentando
outras formas de afetar e ser afetado, novos modos de existência.
Fonte:https://www.ex-isto.com/2021/07/esquizoanalise-criacao.html
"Para Deleuze não há sentido algum pensar em um sujeito identitário. Não importa o meio ou
o modo como uma pessoa se apresenta: é apenas uma das infinidades de modos de existência
possíveis. Pois, para Deleuze, um corpo é um domínio no qual coexistem duas grandezas
díspares: o virtual e o atual, sendo que cada um deles já possui realidade em si mesma, sua
realidade virtual e sua realidade atual." (Barros, Munari & Abramowicz, 2017)
A esquizoanalise não procura saber em que mundo devemos viver nem como o mundo
deveria ser, entendemos que o ser humano é um ser em constante mudanças e que através do
método de desterritorialização e territorialização, construção e desconstrução podemos nos
moldar. Existem tarefas que regula a esquizoanalise, sendo uma negativa positivas:
Destruição do “Eu normal”; esta tarefa consiste em desorganizar as máquinas
desejantes que foram organizadas pelo socius. A intenção desta tarefa é
desneurotizar o indivíduo, pois este se encontra afastado do que pode. Sua
vida está entorpecida, ele apega-se à identidade, procura conforto. É aqui onde
o desejo ainda é sentido como falta porque o indivíduo não consegue
apropriar-se dele, não consegue criar, apenas reproduzir, seguir modelos;
Descobrir suas máquinas desejantes; esta tarefa consiste em fazer o desejo
retomar o que é dele. Através da reorganização das máquinas desejantes, o
indivíduo torna-se capaz de criar territorialidades novas para ele, torna-se
nômade, preocupado em sentir ao invés de interpretar. Está diretamente
relacionado com a capacidade de produzir a si mesmo, aumentar a própria
potência, criar para si um corpo sem órgãos;
Reorganizar o campo social pelas máquinas desejantes. Esta tarefa consiste em
inserir o corpo individual reorganizado como peça da máquina social, fazendo
cair o que deve cair e mantendo o que deve manter-se.  É o revolucionário que
remaneja o social, uma prática de micropolítica que sujeita as máquinas
molares (grandes máquinas sociais) ao desejo molecular (revolucionário).
(https://razaoinadequada.com/filosofos/deleuze/esquizoanalise/)
Com a territorialização e a desterritorialização o indivíduo procura mudar estando em um
constante devir, mudando seus costumes, seus meios e envolvimentos sociais. Faz necessário
a desconstrução como a desterritorialização para que haja uma mudança na vida do indivíduo.
O território pode se desterritorializar, isto é, abrir-se, engajar-se em
linhas de fuga e até sair do seu curso e se destruir. A espécie humana
está mergulhada num imenso movimento de desterritorialização, no
sentido de que seus territórios “originais” se desfazem
ininterruptamente com a divisão social do trabalho, com a ação dos
deuses universais que ultrapassam os quadros da tribo e da etnia, com
os sistemas maquínicos que a levam a atravessar, cada vez mais
rapidamente, as estratificações materiais e mentais (GUATTARI;
RONILK, 2010, p.388).
Com os métodos da esquizoanalise, rizomático, territorialização e desterritorialização e a
cartografia podemos envolver o indivíduo nestes movimentos reorganizando sua vida
tornando -se capaz de criar territorialidade novas, tornando-se nômade, preocupado em sentir
ao invés de interpretar.

REFERENCIAS:
ESQUIZOANALISE - https://razaoinadequada.com/filosofos/deleuze/esquizoanalise
Esquizoanálise e outros modos de vida - Fonte:
https://www.existo.com/2021/07/esquizoanalise-criacao

DESTERRITORIALIZAÇÃO/RETERRITORIALIZAÇÃO: PROCESSOS VIVENCIADOS


POR PROFESSORAS DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO
DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA- Enes E. N. S, Bicalho M. G.
P. Desterritorialização/Reterritorialização: processos vivenciados por professoras de uma
escola de Educação Especial no contexto da educação inclusiva, 

CICLO IV DA DISCIPLINA ESQUIZOANALISE - https://mdm.claretiano.edu.br/esq-


p01970-2021-02-pos-ead/2020/07/07/ciclo-4-esquizoanalize/

BASE FILÓSOFICA DO ACONSELHAMENTO - CICLO IV


BASE FILÓSOFICA DO ACONSELHAMENTO - CICLO III
A Conquista da Felicidade via Filosofia (2014)
Boécio - A CONSOLAÇÃO DA FILOSOFIA
A Filosofia da dor nas consolações de Seneca
SÊNECA, 2013, p. 61

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