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Este trabalho foi preparado para apresentação na disciplina PP302a – Engenharia de Reservatórios II no Departamento de Engenharia de Petróleo, Faculdade de Engenharia Mecânica,
UNICAMP em Campinas, Brasil, dez/2009. Seu conteúdo está sujeito a correções pelo(s) autor(es) a qualquer tempo. Os conceitos apresentados e as análises e opiniões emitidas não refletem
necessariamente o pensamento do Departamento de Engenharia de Petróleo, sendo de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es). O conteúdo deste trabalho é CONFIDENCIAL, de circulação e
divulgação restrita ao âmbito do Departamento de Engenharia de Petróleo da UNICAMP. A permissão para cópia é limitada a um resumo máximo de 300 palavras. As ilustrações, quadros e
tabelas não podem ser reproduzidos sem autorização prévia.
Resumo
Cedo ou tarde todo poço injetor tem reduzida a capacidade de injeção de água. Uma das maneiras mais rápidas e relativamente
baratas de recuperar a injetividade do poço e até mesmo de evitar a queda de injeção é incrementar a pressão de injeção no
fundo até alcançar a pressão de propagação de fratura. Evitada no passado, esta prática vem obtendo crescente aceitação, mas
deve ser precedida por estudos para conhecer a direção de propagação de fratura, a altura e comprimento da fratura e sua
relação com a distância entre os poços injetores e produtores.
Introdução
A injeção de água é parte integral da indústria do petróleo seja para manutenção da pressão do reservatório, seja como
um processo de recuperação secundária, seja como maneira de descartar o excesso de água produzida. A prática da injeção de
água em poços de petróleo mostra que dificilmente a injetividade inicial dos poços é mantida [SHARMA et al, 1996, SOUZA
et al, 2005]. Cedo ou tarde uma intervenção para restaurar a injetividade do poço injetor será necessária. A prática também
mostrou que ao se injetar com suficiente pressão para que a pressão de propagação de fratura do reservatório seja alcançada
consegue-se reduzir enormemente o número de intervenções necessárias para restaurar a injetividade perdida [van den HOEK
et al, 2004, SOUZA et al, 2005, SOUZA et al, 2007]. Um trabalho muito citado aponta como uma das conclusões que “poços
fraturados claramente tem meia vida de injeção que é uma ordem de magnitude maior do que poços não fraturados e assim são
muito mais tolerantes à injeção de água de baixa qualidade” [SHARMA, 1996].
Esta prática é hoje reconhecida no Brasil pelo acrônimo em português IAPF (injeção acima da pressão de propagação
de fratura) derivado, por sua vez, de semelhante acrônimo em inglês IAPP, injection above parting pressure [ALI et al, 1994]
ou water injection above fracturing pressure [OVENS et al, 1998]. A rigor, todos estes termos estão errados, como aponta,
corretamente, van den Hoek:”... there exists no such thing as injection above fracturing pressure” [van den Hoek et al, 2004].
Existe injeção na pressão de propagação de fratura. Feita esta pertinente observação, o termo IAPF será mantido ao longo do
texto devido a sua sonoridade e por já ser de domínio comum na comunidade petroleira no Brasil.
Cabe uma pergunta, com tamanha vantagem, porque a IAPF ou não é tratada ou é apenas mencionada en passant em
estudos clássicos de injeção de água como WILLHITE, 1989 ou CRAIG, 1980? Entre muitas possíveis, aventamos duas. A
primeira delas diz respeito à razão de mobilidade (M) que na maioria dos projetos de injeção de água é quase sempre
desfavorável, isto é, M > 1. A segunda causa envolve a percepção generalizada do risco de a fratura criada pela injeção de
água atingir diretamente o poço produtor. A água injetada apenas circularia entre os dois poços sem mais contribuir para o
varrido areal do óleo. É possível sustentar que este risco é maior em campos terrestres com malhas de produção e injeção bem
mais adensadas do que as usuais em campos marítimos. Campos terrestres e com malhas bastante adensadas foram objeto de
várias análises que mostraram não haver vantagem, ou até haver desvantagem, na eficiência de varrido caso fosse adotado
IAPF, efeito tanto mais pronunciado quanto maior a razão de mobilidade, M. A Tabela 1 mostra os resultados de um destes
estudos. Deve ser notado que a comparação da eficiência é feita com base no volume poroso (PV) injetado até se obter um
corte de água de 90% ou 90% de BSW.
É fato que a IAPF vem tendo aceitação crescente especialmente por aparentar ser a única solução viável para injetar os
crescentes volumes de água produzida que, por razões ambientais, não podem mais ser descartados no meio ambiente mesmo
depois de tratamento.
Este trabalho apresentará algumas maneiras de prever e medir a ocorrência de IAPF antes e durante a injeção de água,
apresentará análises teóricas comparando o avanço da frente de água com e sem IAPF e mostrará um exemplo do efeito da
adoção da IAPF em campos marítimos.
2 RA 098191
Tabela 1- Efeito de Fratura Vertical no Desempenho do Varrido em Arranjo Five Spot: fraturas alinhadas na direção de
injeção-produção [modificado de DYES et al, apud CRAIG, 1980]
Tipo de Poço Lf/L* M Eficiência Areal (%) PV até 90% BSW
Irrupção 90% BSW
Não fraturado 0.1 99 99 1.0
Não fraturado 1.1 72 99 1.8
Não fraturado 3.0 56 92 2.2
Injetor Fraturado 1/4 0.1 93 98 1.0
Injetor Fraturado 1/4 1.1 45 96 1.7
Injetor Fraturado 1/4 3.0 39 92 2.2
Injetor Fraturado 1/2 0.1 88 98 1.1
Injetor Fraturado 1/2 1.1 37 96 1.8
Injetor Fraturado 1/2 3.0 28 92 2.7
Injetor Fraturado 3/4 0.1 33 97 1.2
Injetor Fraturado 3/4 1.1 14 93 2.3
Injetor Fraturado 3/4 3.0 10 83 3.8
* Lf/L- razão entre o comprimento da fratura e a distância entre o poço injetor e o poço produtor
ν ( σ sc − p p )
σh = + pp (1)
1− ν
E, σsc é a tensão de sobrecarga, pp é a pressão de poros ou pressão estática do reservatório e ν é o coeficiente de Poisson. A
tensão de sobrecarga para poços marítimos deve ser corrigida para a lâmina d água:
Onde LDA é a lâmina d água, ga o gradiente da água (0,44 psi/ft), TVD é a profundidade vertical do reservatório (no topo dos
canhoneados, p. ex.) e gsc é o gradiente de sobrecarga, geralmente assumido como 1 psi/ft.
Deve ser notado que a tensão horizontal mínima é o limite inferior para a propagação de fratura, pois, é sempre
necessário um ∆P a mais de pressão para que passe a ocorrer a propagação de fratura. Este delta adicional é geralmente da
ordem de 1400-2800 kPa ou 200-400 psi acima da σh.
Medição da Pressão de Propagação de Fratura: caso seja imaginado que haverá uma diferença muito pronunciada entre a
pressão de propagação de fratura pf e a σh, a pressão de propagação de fratura deve ser medida diretamente. A melhor maneira
de se obter esta informação é usar o step rate test (SRT), um ensaio que relaciona a vazão, que deve ter variação crescente em
intervalos discretos ou degraus (daí o termo step em inglês) e a respectiva pressão. Um gráfico é construído com a pressão nas
ordenadas e a vazão no eixo das abscissa. Bem conduzido, o ensaio mostrará duas retas com inclinações bastante distintas. O
ponto de inflexão entre as duas inclinações marca a vazão e a pressão onde passa a ocorrer a propagação de fratura. Sempre
que possível este ensaio deve ser conduzido com pressão medida no fundo do poço já que um SRT realizado apenas com
pressão de superfície pode ter seu resultado mascarado pela pressão de carga. A Fig. 1 mostra a interpretação de um SRT
realizado em um arenito na Bacia de Campos.
Injeção de Água com Propagação de Fratura 3
C µ [ ln(re / rw ) + s ]
m= (3)
kh
E C é uma constante de transformação de unidades, µ é a viscosidade, re é o raio externo, rw é o raio do poço, s é o coeficiente
de película ou skin, k é a permeabilidade e h a altura da formação. Considerando que a altura h da formação não se altera
durante a injeção, uma mudança na inclinação deve ser atribuída a uma variação de pressão ∆p, de viscosidade µ do fluido
injetado ou da permeabilidade k.
A Fig. 2 mostra um gráfico de Hall de um poço injetor na Bacia de Campos que foi construído para injetar em IAPF,
como parte de um projeto piloto de injeção de água em carbonatos de baixa permeabilidade de idade albiana. A análise do
gráfico indica que em torno dos 120000 m3 injetados ocorreu um aumento na inclinação da curva p×t vs Wi indicando uma
redução na injetividade do intervalo injetor. Já a partir dos 280000 m3 injetados ocorreu o inverso, uma diminuição da
inclinação da curva p×t vs Wi indicando aumento na injetividade associado à fratura da formação ou injeção em IAPF. Outra
informação que se pode obter é que como esta nova inclinação é constante não está havendo um novo aumento da injetividade
e isto permite inferir que a fratura não está crescendo desmesuradamente.
4 RA 098191
qw t
L(t ) = (4)
2π hCL
Onde L é o comprimento da fratura em função do tempo t, qw é a vazão total de injeção, h é a altura média permeável da
formação, CL é o coeficiente total de filtração e o numeral 2 é usado assumindo que a fratura se propaga em duas asas iguais
cada recebendo a metade da vazão total qw. Notando que geralmente a vazão de injeção é mantida constante (a cota de injeção)
e igualando a altura da fratura à altura da formação, o comprimento passa a ser função direta da raiz quadrada do tempo e
função inversa do coeficiente total de filtração. Nos arenitos inconsolidados e de alta permeabilidade da Bacia de Campos, o
valor de 2,89 m/√d (0,81 ft/√d) representa bem o coeficiente de filtração para água do mar injetada [SOUZA et al, 2005]. Por
exemplo, para uma cota de injeção de injeção de 5000 m3/dia, em uma formação com 80 m de espessura e CL = 2,89 m/√d, em
10 anos de injeção a fratura alcançará um comprimento de 332 m, algo em torno de 1/3 da distância média entre poços
injetores e produtores na Bacia de Campos [SOUZA et al, 2005].
irá determinar a vazão de produção e o projeto de injeção deve buscar adequar a vazão de injeção para cumprir esta premissa
[van den Hoek et al, 2006 e SOUZA et al, 2005].
Arranjo de cinco pontos (five spot) -As análises que seguem são compilações dos trabalhos de van den Hoek, Souza, Muñoz
Moreno e Costa para IAPF no arranjo five spot. A Fig 3 mostra este arranjo esquemático, onde o triângulo azul representa o
poço injetor, a barra laranja a fratura e o círculo verde representa o poço produtor. O destaque em preto da Fig 3a mostra a
redução do arranjo five spot ao seu menor plano de simetria para facilitar a análise onde a orientação de fratura é favorável e na
Fig. 3b, também em preto, mostra um arranjo desfavorável para IAPF, pois a fratura aponta diretamente para o poço produtor.
(a) (b)
Figura 4 – Linhas de corrente para arranjo five spot (modificado de van den Hoek, 2006)
(a) (b)
Figura 5 – (a) recuperação de água vs volume poroso injetado e (b) recuperação de água vs tempo de injeção (modificado de
van den Hoek, 2006)
(a) (b)
Figura 6 – (a) variação da vazão de injeção (ou produção) vs tempo e (b) efeito da injeção de fluido de injeção contaminado
(modificado de van den Hoek, 2006)
Injeção de Água com Propagação de Fratura 7
Souza [Souza et AL, 2005] e Costa [COSTA, 2008] chegam, basicamente, às mesmas conclusões. Eles mostram que a
IAPF é sempre vantajosa quando se leva em consideração o efeito da queda de injetividade na manutenção da produção do
poço produtor, isto é, na manutenção da receita. Esta conclusão é válida também para o caso de orientação desfavorável da
fratura desde que a fratura não alcance um tamanho excessivo. Para van den Hoek este o tamanho máximo da fratura é pode
chegar a ¾ da distância entre o injetor e o produtor sem apreciável efeito no fator de recuperação e na irrupção de água. A Fig.
7, extraída e modificada de Costa mostra o perfil de saturação de água em um arranjo Five spot com orientação desfavorável
de fratura. Pode se ver a grande semelhança com o perfil mostrado na Fig. 4b.
Figura 7 – perfil de saturação com IAPF em arranjo Five spot com orientação desfavorável da fratura (modificada de
Costa, 2008)
indica, claramente, que a fratura criada pela água ficou confinada em um pequeno espaço do reservatório. Posteriormente, a
trajetória do poço foi alinhada paralelamente à fratura e em momento foi notado alterações em resistividade ou saturação que
indicassem outras fraturas.
(a) (b)
Figura 8 – Determinação de orientação de fratura induzida em IAPF (modificada de Jörgersen, 2006)
A Fig. 9 mostra a evolução da produção do campo de Dan. Pode-se observar os efeitos benéficos da IAPF. Devido a
esta maciça injeção de água, o FR final é estimado em 38% contra 5% de estimativa inicial sem injeção de água [DEA, 2007].
Figura 9 – Evolução da Produção do campo de Dan após IAPF (modificada de Jörgersen, 2006)
A linha vermelha no gráfico da Fig. 9 é a evolução da produção no campo de Halfdan, também um chalk vizinho ao
campo de Dan mas em uma estrutura não convencional. Neste campo, todo o desenvolvimento de produção foi feito tendo em
mente a aplicação de IAPF em função do aprendizado obtido no campo de Dan. Pode-se ver que enquanto Dan levou
praticamente 26 anos para alcançar um patamar de produção de óleo de 100000 stdbbl/d, a mesma produção foi alcançada em
apenas 5 anos no campo de Halfdan.
Conclusões
a) a queda de injetividade dos poços injetores é um fato natural e que deve ser levada em conta nos projetos de injeção;
b) IAPF é uma técnica de injeção de água com crescente aceitação pela indústria;
b) bem aplicada, a IAPF não tem impacto significativo na eficiência de varrido;
c) bem aplicada, a IAPF pode acelerar e manter receita;
d) em carbonatos de baixa de baixa permeabilidade, a IAPF parece ser a única maneira de se incrementar o fator de
recuperação.
Injeção de Água com Propagação de Fratura 9
Nomenclatura
C é uma constante de transformação de unidades
CL é o coeficiente total de filtração
ga - gradiente da água
gsc - gradiente de sobrecarga
h - altura da formação
L - comprimento da fratura em função do tempo
LDA - lâmina d água
k - permeabilidade
pf - pressão de propagação de fratura
pp - pressão de poros ou pressão estática do reservatório
qw -vazão total de injeção
re - raio externo
rw - raio do poço
s - coeficiente de película ou skin
Wi - volume acumulado da água de injeção,
∆p - variação de pressão
σH - tensão horizontal máxima
σh - tensão horizontal mínima
σsc - tensão de sobrecarga
ν - coeficiente de Poisson
µ - viscosidade
Σ(pff × t) - somatório do produto da pressão de fluxo do fundo ou na superfície
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Conversão de Unidades
bar × 1.0 E+05 = Pa*
bbl × 1.589 873 E–01 = m3
cp × 1.0 E–03 = Pa.s
ft × 3.048 E–01 = m*
°F (°F – 32)/1.8 E+00 = °C
lbm × 4.535 924 E–01 = kg
psi × 6.894 757 E+00 = kPa
*Estes fatores de conversão são exatos.