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Atualização: dezembro de 2004

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Sumário
1. Introdução

2. Mecânica do fraturamento

3. Conceitos básicos, definições e fundamentos do fraturamento

3.1 Mecânica do fraturamento

3.2. Mecânica das rochas

3.3. Eficiência do fluido de fraturamento

4. Etapas do fraturamento hidráulico e do Frac-pack

5. Técnicas de Fraturamento

6. Métodos de Frac-pack

ANEXO 1 - Condutividade relativa adimensional de fraturas hidráulicas

ANEXO 2 – Condutividade relativa adimensional de uma fratura ácida

ANEXO 3 - Agentes de Sustentação

ANEXO 4 – Fluidos de Fraturamento


Referências Bibliogtráficas

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Introdução
Introduzido em 1947, o fraturamento hidráulico se tornou rapidamente um dos métodos
mais eficientes de estimulação de poços na indústria de petróleo.

O fraturamento hidráulico pode ser definido como uma técnica de estimulação, ou seja, a
maneira de se aumentar a produtividade ou injetividade dos poços. Esta definição clássica,
apesar de absolutamente correta, não traduz a importância desta atividade na indústria do
petróleo atual.

Atualmente (e continuará a ser no futuro), devido aos avanços de sua tecnologia, que vão
desde a melhor compreensão dos fenômenos envolvidos em sua realização até o incremento
da capacidade computacional dos simuladores de fraturas e simuladores de fluxo em meios
porosos, o fraturamento tornou-se uma ferramenta de gerenciamento de reservatórios.
Poços de altíssima produtividade podem ser fraturados para garantir-se a produtividade
(deliverability) futura ou para compor a malha de drenagem de um campo. Poços de
altíssima injetividade têm sido fraturados como forma de suplantar as deficiências de um
tratamento inadequado da água de injeção. Além disto, com o aumento da produtividade
dos poços, o total de reservas recuperáveis pode ser aumentado.

Com o advento da técnica de frac-pack o fraturamento hidráulico tornou-se também a mais


eficiente técnica de controle de areia em poços revestidos.

A compreensão dos conceitos básicos envolvidos nesta importante atividade da indústria de


petróleo é fundamental para a formação de um Técnico Químico de Petróleo

O que é um Fraturamento Hidráulico

O fraturamento, como técnica de estimulação, consiste em criar uma fratura de altíssima


permeabilidade, com objetivo de alterar o fluxo de um reservatório de um regime radial,
com grande concentração de linhas de fluxo nas imediações do poço para um regime bi-
linear, com linhas de fluxo menos concentradas.

Razões para o fraturamento hidráulico

O fraturamento hidráulico pode trazer os seguintes benefícios para o incremento da


produtividade ou injetividade de um poço ou para o:

• Modificar o modelo de fluxo no reservatório


• Ultrapassar regiões danificadas próximas ao poço
• Conectar regiões de melhor permo-porosidade
• Otimizar produção de reservatórios lenticulados

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• Conectar fraturas naturais

O que é um frac-pack

O frac-pack é a combinação de duas técnicas bastante conhecidas: o fraturamento


hidráulico e o gravel pack, como mostrado esquematicamente na Figura 1.

Figura 1 – Desenho esquemático de um frac-pack

O FP, entretanto, não é uma técnica de estimulação ou de gerenciamento de reservatórios,


como descrito anteriormente, mas tão somente uma técnica de contenção de areia de
formação.

Considerando-se que o empacotamento das telas do frac-pack é uma atividade


relativamente simples o foco principal deste texto será o fraturamento das formações.

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Mecânica do fraturamento
O objetivo final da operação de fraturamento hidráulico é obter-se uma fratura sustentada
por um propante, criando um canal preferencial de fluxo altamente condutivo, quando
comparado com o reservatório. De forma concisa pode-se afirmar que para que este
objetivo seja atingido é necessário: quebrar a rocha, propagar a fratura e sustentá-la.

Se um fluido for bombeado contra o reservatório numa vazão superior aquela que pode ser
dissipada pela formação ocorrerá um aumento de pressão no poço e nas suas imediações
(no caso de uma rocha permeável) ou na face da rocha (no caso de rochas impermeáveis).
Esta pressão irá aumentar até que seja induzida uma falha na rocha, criando uma pequena
fissura. Ou seja, ocorrerá a falha por tração da rocha. Obviamente, a falha somente
ocorrerá quando a pressão de bombeio for superior a resistência a tração da rocha.

Uma vez que a falha foi criada ocorrerá a propagação da fratura. Para que isto ocorra é
necessário que a pressão no interior da fratura (portanto a pressão de bombeio) seja superior
a resistência oposta pela rocha. Esta resistência é o resultado da “pressão hidrostática” das
camadas superiores ao reservatório.

De fato, por se tratar de um corpo no estado sólido o termo “pressão” deve ser substituído
por tensão (no inglês stress) e o termo “hidrostático” por litostático. Assim a fratura irá se
propagar contra uma componente da tensão litostática da rocha. Esta grandeza, quando
desconhecida, deverá ser determinada nos testes de calibração, que antecedem o
fraturamento.

Simultaneamente a propagação deverá ocorrer um deslocamento lateral da parede da fratura


(aumento da largura), que ocorrerá contra a mesma componente da tensão litostática da
rocha. A magnitude deste deslocamento (deformação) será função da elasticidade da rocha,
expressa por uma grandeza dita Módulo de Young.

Para cumprir a função acima é bombeado um colchão, composto de um fluido específico


(normalmente um gel) dotado de propriedades reológicas definidas.

Quando a geometria da fratura é atingida é necessário sustentá-la para que após cessado o
suporte hidráulico fornecido pelo bombeio um caminho condutivo seja mantido. Esta
sustentação é executada pelo agente de sustentação (AS ou propante), que é conduzido
através da fratura pelo fluido carreador (FC). Normalmente o FC é composto do mesmo
gel do colchão mais o agente de sustentação. O FC deve manter o AS em suspensão até
que a fratura se feche para que a condutividade da fratura seja homogênea na direção
vertical.

Uma vez que o AS é posicionado na fratura esta deverá se fechar, mantendo aprisionado o
AS. Para que isto ocorra, o fluido injetado na fratura deverá ser filtrado para a formação.

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Os fluidos fraturantes, portanto, precisam ser penetrantes, ou seja, penetrar na formação
não fraturada.

Somente como exercício, se o fluido utilizado no fraturamento for não penetrante (por
exemplo, um fluido de perfuração), após concluído o bombeio do fraturamento a fratura
seria mantida aberta, preenchida por este fluido. Durante a produção do poço o fluido não
penetrante seria produzido, carreando consigo o agente de sustentação, inutilizando a
fratura.

O fato dos fluidos de fraturamento serem não penetrantes é de extrema importância no


dimensionamento de uma fratura, visto que nem todo o fluido injetado na formação criará
uma fratura, sendo em parte filtrado para a formação.

Assim, o colchão que irá definir a geometria da fratura deverá considerar a relação ente o
volume de fluido injetado e o volume de fratura criado, sendo esta relação definida por
eficiência do fluido de fraturamento. A obtenção desta

Além disto, como o fluido carreador também será filtrado para a formação em seu percurso
na fratura, a concentração do AS irá aumentar no FC (Ver detalhamento deste fenômeno na
descrição da técnica de tip screen out). Isto pressupõe que o FC deve conter uma
concentração crescente de AS. No fraturamento hidráulico isto é chamado de rampa.

A etapa final do fraturamento é aguardar o fechamento da fratura. Como o fechamento é


acompanhado através da pressão de superfície, esta etapa é chamada de declínio de pressão.

Assim, a seqüência da criação de uma fratura hidráulica sustentada pode ser assim
sintetizada:

Injeção de um colchão, que definirá a geometria da fratura


Injeção do fluido carreador, numa rampa de concentração
Declínio de pressão.

A operação de fraturamento como um todo é detalhada mais a frente.

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Conceitos básicos, definições e fundamentos do
fraturamento

1 – Mecânica das rochas

Tensões principais
As rochas que compõem um reservatório estão sujeitas a tensões resultantes do peso das
camadas de rocha que a superpões, das forças de coesão das rochas e dos esforços
tectônicos.

Para representar-se o estado de tensão de uma rocha costuma-se utilizar um sistema


cartesiano com três tensões principais, como mostrado na figura abaixo:

Cada uma delas é detalhada abaixo:

Tensão Vertical in situ


Uma rocha reservatório, a uma profundidade z, suporta o peso das camadas que a
sobrepõe, originando uma tensão vertical (σz = σV ) igual a ρ . g . z , onde ρ é a peso

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específico da rocha e g a aceleração da gravidade. Se o peso específico variar com a
profundidade, a tensão vertical se torna[17,22]:

σV = ∫0 g ρ ( z ) dz
z

Se as tensões são hidrostáticas e a tensão vertical total for igual a soma do peso da rocha e
do fluido contido nos poros a tensão é chamada de litostática.

Uma aproximação normalmente utilizada é considerar-se o peso específico da rocha


constante e igual a 2,65 g/cm3, o que leva a um gradiente de tensão de aproximadamente
1,1 psi/pé. Aproximações de campo, largamente utilizadas na literatura, utilizam a
aproximação de 1 psi/pé.

Relação entre as Tensões Vertical e Horizontal

Uma relação simples entre as tensões horizontal e vertical é conhecida como relação de
Poisson, na forma:

ν
σHE = σVE
1− ν

onde: σVE = σV − αPp

sendo α = constante poroelástica de Biot


Pp = pressão de poros

e o subíndice ‘E’ referindo-se às tensões efetivas.

O módulo de Poisson expressa a habilidade de deformação radial ou transversal, quando


uma deformação axial é imposta ao corpo, como mostrado na Figura abaixo:

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Uma aproximação de campo, para o caso de arenitos, à profundidades usuais de
reservatórios, é considerar a razão de Poisson como sendo aproximadamente 0,25. Neste
caso, a tensão efetiva horizontal é de aproximadamente um terço da tensão vertical.

Obviamente esta relação não é única e pode variar bastante de reservatório para
reservatório. Fjær et alli afirmam que, para reservatórios profundos (acima de 1500 m), a
relação da tensão horizontal e vertical pode variar de 0,2 a 1,5. Para reservatórios rasos
(abaixo de 150 m), esta relação pode variar de 1 até 12.

Uma das maneiras mais efetivas de determinação da tensão horizontal é através de dados de
fraturamento hidráulico. Relações assim obtidas, para profundidades usuais de
reservatórios, variam entre 0,6 e 0,85.

Quando se trata de tensão horizontal, duas direções principais são consideradas. A relação
citada acima refere-se a tensão horizontal mínima. A tensão horizontal máxima é definida
como sendo:

σH , Max = σH , Min + σTect


onde: σTect é a contribuição da tensão tectônica.

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Pode-se, assim, identificar as três tensões principais em um reservatório: σV ,σH , Min ,σH , Max .
A fratura irá se propagar na direção normal à menor dentre as três.

Direção Predominante da Fratura

Como foi dito, quando uma fratura hidráulica é aberta, ela tende a se propagar pelo plano
normal à direção de menor tensão. Visto que, em um reservatório, a tensão vertical é
normalmente maior que a horizontal, a grande maioria das fraturas hidráulicas são verticais.
Alguns casos, entretanto, contrariam a regra geral: Gringarten relata que em alguns
reservatórios rasos foram observadas fraturas horizontais. Na Bacia do Recôncavo
baiano, nos campos de D. João Terra e Mar, ambos com profundidades não superiores a
300 m, também foram observadas fraturas horizontais. Estes casos, no entanto, são
bastante raros e não serão considerados neste trabalho.

Mesmo considerando-se apenas as fraturas verticais, a distribuição das tensões horizontais


varia de ponto a ponto no reservatório. A fratura é, portanto, uma superfície irregular com
uma direção predominante.

Relação entre tensões e deformações


Para as pequenas deformações inerentes a um processo de fraturamento costuma-se
considerar uma relação linear entre tensão e deformação, expressa pela equação:
1
ε = σ
E

onde: ε é a deformação
σ é a tensão aplicada
E é o módulo de Young

O módulo de Young mede a resistência a deformação de um corpo elástico, como mostrado


abaixo:

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2 – Eficiência do fluido de fraturamento

Uma grandeza de excepcional importância é a eficiência do fluido de fraturamento.

Quando o fluido de fraturamento é injetado na formação, parte sera filtrado para a formação
(leak off) e parte irá efetivamente criar a fratura.

Define-se como eficiência do fluido a razão entre o volume de fratura criada e o volume de
fluido injetado, ou seja:

VF
η=
VT
Usualmente a eficiência é expressa em percentagem.

Como exemplo, se a eficiência de um fluido for de 5%, para se criar uma fratura de 5 bbl
será necessário injetar-se um volume de 100 bbl de fluido fraturante.

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Etapas do fraturamento hidráulico e do Frac-pack
De maneira simplificada pode-se dividir a operação de fraturamento hidráulico nas
seguintes etapas:

1- Testes de calibração
2- Tratamento principal
3- Fluxo de limpeza

1 - Testes de calibração

São os testes prévios ao fraturamento para determinar-se as variáveis de entrada necessárias


para o projeto do tratamento principal e os parâmetros de bombeio.

Os testes de calibração usuais são:

a. Teste de injetividade
b. Step Rate Test (SRT)
c. Minifrac

a - Teste de injetividade

São pequenas injeções de fluido com o intuito de verificação dos parâmetros de bombeio,
tais como:
o Pressão de bombeio e potência hidráulica necessária
o Perdas de carga
o Número de canhoneados abertos

Ou dados da formação:
o Permeabilidade da formação

b - Step Rate Test (SRT)

Ë um teste utilizado para determinar-se a pressão de propagação da fratura.

Consiste no bombeio de pequenos volumes de fluido em vazões crescentes até que a


formação seja fraturada. Registra-se a vazão e a respectiva pressão de bombeio, como
mostrado na figura abaixo;

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Os pontos de vazão e pressão são plotados num gráfico Q x P, como mostrado na Figura
abaixo:

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Observa-se que os pontos iniciais do gráfico encontram-se alinhados (até a vazão de 15
bpm, no exemplo).

Esta reta não ocorre por acaso, mas expressa a proporcionalidade de vazão e pressão
expressa pela Lei de Darcy para fuxo radial:

k A ∆P
Q=
µ re
ln
rw

Pode-se inferir daí que o fluxo de injeção destes pontos obedece um regime radial.

A partir da vazão de 15 bpm, para o exemplo, uma nova reta pode ser observada. Trata-se
do acoplamento de duas equações de fluxo linear, uma na formação (eixo y) e outra na
fratura (eixo x), expresso por

k A dP k A dP
Qx = Q =
µ dx e y µ dy
que representam o fluxo bilinear que ocorre quando a fratura é aberta.

Deduz daí, que o ponto de interseção das retas (para o exemplo: Q = 18 bpm e P = 5800
psi) é o ponto em que a fratura começou a se propagar, ou seja Pp = 5800 psi.

c – Minifrac

O minifrac é utilizado para a determinação direta de três dos mais importantes parâmetros
de desenho do fraturamento hidráulico: a eficiência do sistema fluido-formação, o leak off
do fluido e o mínimo stress da rocha reservatório. De maneira indireta (pela reprodução do
bombeio e declínio de pressão do minifrac) ainda é determinado o módulo de Young da
rocha reservatório.

O minifrac consiste na injeção do fluido fraturante numa vazão próxima a que será utilizada
no fraturamento, garantindo-se a criação de uma fratura na formação. Após esta injeção,
cessa-se repentinamente o bombeio e aguarda-se que a fratura se feche, registrando-se os
dados de pressão, ou como é comumente chamado, aguarda-se o declínio de pressão.

A Figura abaixo mostra as curvas de pressão de superfície, de fundo e vazão de um


minifrac executado na Bacia de Campos.

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A análise do declínio de pressão, de forma semelhante a análise de pressão de um teste de
formação, fornecerá os parâmetros citados.

Quando o bombeio é cessado, a fratura se encontra aberta e neste momento o fluxo de


fluido da fratura para a formação ocorre num regime bi-linear, com um comportamento de
pressão característico, identificado por uma reta numa curva de P x t. Este fluxo ocorrerá
até que a fratura se feche, quando passa-se a ter um fluxo radial, novamente identificado
por uma reta, mas de inclinação diferente da primeira.

Assim, a intersecção destas retas irá fornecer o ponto em que ocorreu o fechamento da
fratura ou closure pressure (Pc), como pode ser observado na Figura abaixo. O valor da Pc
é numericamente igual a mínima tensão horizontal.

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O próximo ponto a ser observado é que quanto maior for a inclinação da reta de declínio do
fechamento da fratura, mais rápido está ocorrendo a filtração o que significa um maior leak
off do fluido e conseqüente menor eficiência do sistema fluido-formação. Assim, a análise
da declividade desta reta fornece a eficiência do fluido e com alguma manipulação
matemática o leak off do sistema.

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Técnicas de Fraturamento
Considera-se aqui como técnicas de fraturamento as maneiras como as fraturas são
desenhadas, especialmente o modo como o agente de sustentação deve ser colocado e
distribuído no interior da fratura.

Basicamente, são três as técnicas de distribuição do AS no interior da fratura:


Convencional, Tip Screen Out (TSO) e Frac Pack.

Convencional

Esta técnica utiliza o conceito pioneiro de fraturamento hidráulico, onde o colchão deverá
ser suficiente para garantir que todo o AS seja posicionado no interior da fratura
considerando-se somente a geometria da fratura obtida através das condições hidráulicas do
bombeio e reologia do fluido fraturante (basicamente a vazão de bombeio e a viscosidade
do fluido) em oposição à resistência da rocha.

De maneira simplista podemos descrever este fraturamento assim: injeta-se um colchão


que deverá criar uma fratura com a geometria desejada.

Deslocando-se o colchão bombeia-se o fluido carreador com o AS suficiente para sustentar


a fratura desejada. Assim, a medida o FC percorre a fratura desloca o colchão à sua frente,
aumentando o tamanho da fratura e mantendo na extremidade da fratura uma região
molhada sem agente de sustentação (Ver figura acima), que atua como margem de
segurança para garantir o posicionamento de todo o AS no interior da fratura .

A largura de uma fratura hidráulica é função da pressão líquida no interior da fratura (net
pressure). A net pressure, por sua vez, é função, entre outras, da vazão e viscosidade do
fluido fraturante. Assim, a não ser que vazões ou viscosidades muito altas sejam utilizadas,
a fratura criada com a técnica convencional é, normalmente, pouco espessa. Mesmo a
utilização de altas vazões e fluidos de alta viscosidade não garante uma fratura espessa,

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pois o crescimento pode ocorrer no comprimento ou na altura da fratura, com pequeno
ganho de largura.

As figuras seguintes mostram um exemplo do fraturamento utilizando a técnica


convencional. Observa-se, na figura a seguir, que a pressão de fundo (BHTP – Bottom hole
treating pressure) é praticamente constante e particularmente não há alteração deste
parâmetro com a chegada do propante na fratura. Neste exemplo a concentração máxima
do AS na fratura foi de 1,1 lb/ft2 e largura máxima de 0,16 pol, como mostrado nas figuras
seguintes.

Fraturamento convencional

Concentração/área obtida com um fraturamento convencional

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Largura de uma fratura obtida com o fraturamento convencional

Tip Screen Out

A técnica do TSO é utilizada para obter-se fraturas mais espessas, portanto mais
condutivas, próprias para formações de altas permeabilidades. Nesta técnica, um
embuchamento (screen out) na extremidade da fratura (tip) é obtido com a utilização de um
colchão suficientemente pequeno para que seja completamente filtrado para a formação
quando a primeira concentração do AS atingir a extremidade da fratura. Devido a esta
filtração (leak off) do FC para a formação a concentração de areia no FC aumenta durante
seu trajeto do início ao fim da fratura.

De forma esquemática este fenômeno é mostrado na figura acima. Tome-se 1 gal de pasta
contendo 1 lb de AS, no início de uma fratura. A medida que este fluido se desloca para a

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extremidade da fratura, o volume de gel diminui devido a perda de filtrado para a formação
mas a massa de AS permanece constante. Assim, ao chegar na extremidade da fratura, a
concentração de AS (massa de AS/volume de pasta) é muito alta, podendo chegar a 20
lb/gal.

Num mecanismo semelhante (não exatamente o mesmo, visto que, ao contrário do AS,
parte do polímero ingressa na formação), a concentração do polímero no gel também
aumenta.

Estes dois fenômenos em conjunto criam uma pasta compacta, sem características fluidas,
como mostrada na Figura abaixo.

Esta pasta, ao chegar na extremidade da fratura, barra o seu crescimento em área, causando
o embuchamento, estabelecendo o que é conhecido por TSO.

Apesar de fundamental, o TSO não é o objetivo final desta técnica. Uma vez obtido o TSO,
mantém-se o bombeio do FC para a formação. Como o crescimento da fratura foi cessado
em área, resta o aumento da fratura em sua espessura. O bombeio então é mantido até que
a espessura desejada (ou máxima possível) da fratura seja obtida. Tem-se, assim, uma
fratura bastante espessa e muito condutiva.

A figura a seguir mostra os parâmetros de bombeio de um fraturamento utilizando a técnica


do TSO. Observa-se que com a chegada do propante na fratura a BHTP começa a
aumentar, indicando a ocorrência do TSO e início do aumento da largura da fratura,
diagnosticado pelo aumento da net pressure, como mostrado na seguinte. Observa-se que a
fratura assim obtida é mais espessa (1,8 pol), com uma concentração de propante bastante
alta (13 lb/ft2)

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Curvas de pressão obtidas num fraturamento com TSO

Net pressure característico de um TSO

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Fratura obtida com TSO

Fratura obtida com TSO

Frac Pack

Esta técnica também prevê a utilização do TSO para cessar o crescimento da fratura em
área, conjugado com a manutenção do bombeio de AS após o TSO para obtenção de

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fraturas espessas e condutivas. A principal diferença entre as duas técnicas é que o frac
pack prevê o empacotamento (pack) da fratura (frac).

O objetivo do bombeio após o TSO é aumentar a largura da fratura até uma largura
desejada (com o FC, ou seja, gel e AS) e posteriormente posicionar o AS de modo a manter
esta fratura na largura desejada após a filtração de todo o gel. Isto pressupõe que uma
largura adicional de fratura terá que ser criada para compensar a perda de gel durante o
fechamento da fratura sobre o AS após parado o bombeio.

Entretanto, após o TSO continua ocorrendo o leak off da fratura para a formação e
obviamente a vazão do leak off é inferior a vazão de bombeio (caso contrário a fratura não
teria se propagado). Assim, a vazão de bombeio pode ser reduzida até que se iguale a
vazão de leak off somado a vazão de propante. Se isto ocorrer, ocorrerá a perda de fluido
para a formação na mesma taxa que o gel do FC é bombeado para a fratura e o AS ocupará
de forma uniforme o volume (entenda-se largura) da fratura.

Matematicamente isto pode ser expresso por um simples balanço de massa (ou de volume,
se considerarmos que os componentes do balanço são incompressíveis), como mostrado na
Figura abaixo.

Vol entra = Vol sai + Vol acumulado

Dividindo-se pelo tempo tem-se

Qentra = Q sai + Q acumulada

ou seja:

Qbombeio = Qleaoff + Q propante

A figura a seguir mostra um exemplo de fraturamento utilizando a técnica do frac pack.


Observa-se que depois de obtido o TSO e posterior aumento da largura da fratura (indicado
pelo aumento da BHTP) a vazão de bombeio é reduzida. Neste ponto, a BHTP pára de
crescer, indicando que a largura da fratura é mantida aproximadamente constante e que o
volume da fratura esta sendo ocupado pelo AS.

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A vantagem deste método reside na utilização de menor pressão de superfície e menores
quantidades de gel e de propante para uma fratura de mesmas característicascondutivas que
a obtida com o TSO. A dificuldade deste método é que se a vazão for reduzida para um
valor menor que necessário ocorrerá um embuchamento prematuro.

Curvas de pressão e vazão de um frac pack

Fratura obtida com um frac pack

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Fratura obtida com um frac pack

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Métodos de Frac-pack
Entende-se aqui como métodos de frac-pack a forma como a contenção de areia é instalada.

De maneira geral, a instalação do frac-pack prevê as seguintes etapas, que podem ter uma
seqüência ligeiramente alterada de acordo com o método utilizado:

Instalação do sump packer


(Canhoneio)
Instalação das telas
Fraturamento da formação
Empacotamento das telas
Instalação do packer de empacotamento
Completação superior

Basicamente, as diferenças fundamentais entre os métodos residem na forma como os


equipamentos de contenção são instalados no poço e a conseqüente alteração na seqüência
operacional que deve ser adotada devido as diferentes características destes equipamentos.

Assim, os métodos são definidos pelo tipo ou sistema de ferramentas que são utilizados.
São eles:

Sistema Petrobras ou GPSPD


Ferramentas dedicadas
Frac-pack Petrobras parcialmente seletivo
Frac-pack seletivo

Os dois últimos não serão abordados aqui.

Sistema Petrobras

O sistema Petrobras ou GPSPD (Gravel Pack Sem Perda e Dano) foi desenvolvido em
Sergipe e durante algum tempo foi chamado de gravel pack sergipano. Tentou-se
introduzir a denominação de ZadPack, em homenagem ao autor do método (Zadson) sem
sucesso.

O sistema Petrobras foi desenvolvido com intenção de minimização de custos e de dano à


formação.

Trata-se de um sistema no qual, após assentado um sump packer, é descido o conjunto de


gravel pack e coluna de fraturamento simultaneamente.

Após o assentamento do sump packer, o poço é canhoneado, na seqüência mostrada abaixo.

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9 5/8”

9 5/8”
CANHÃO 7 “ 12
ADAPTER KIT JT/FT

2 a 5 m ABAIXO DA BASE
DOS CANHONEADOS
COMP-PERM PACKER
DEBRIS DO
CANHONEIO

O sistema de contenção de areia, composto dos seguintes itens é descido:

Ancora selante
Junta de segurança
Tubos telados
Tubos cegos
TSR com flapper valve ou standing valve
Coluna de fraturamento

(Um esquema desta composição é mostrada na Figura abaixo)

TSR

Standing valve

Ancora selante

A coluna de fraturamento é composta por:

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Packer de operação
Jar
Registradores de pressão (para coleta de dados dos testes de calibração e avaliação pós
tratamento)
Válvula de reversa
Slip joints (para absorver as variações de comprimento de coluna devido ao
resfriamento/aquecimento da coluna pela injeção e circulação de fluidos).

Após chegado o conjunto de frac-pack ao fundo, a âncora selante é travada no sump packer
e os pinos do TSR são rompidos, liberando a coluna de trabalho.

A coluna é parcialmente retirada, até que packer de operação esteja na posição de trabalho.
O packer de trabalho é assentado permitindo o bombeio do frack pack.

Após o fraturamento e empacotamento das telas a válvula de reversa é ciclada permitindo-


se que o excesso de propante e gel remanescente na coluna seja reversado.

A coluna de trabalho é então retirada e o packer de empacotamento do gravel e assentado,


permitindo a instalação da completação superior.

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GRAVEL PACK
CERÂMICA
16-20

FRATURA

Frac pack com ferramenta dedicada

Neste sistema uma ferramenta multiposicional é utilizada, acoplada a um packer de


empacotamento.

Uma ferramenta dedicada, através de suas diversas posições, permite que cada etapa da
aperação de frac-pack seja executada. Um desenho esquemático, para facilitar o
entendimento destas posições é mostrado abaixo.

As posições mais importantes da ferramenta são: posição de reversa sem atuação da esfera
de reversa, posição de reversa com atuação da esfera de reversa e posição de circulação
pelas telas.

As posições de reversa permitem a circulação acima do packer de empacotamento. Apesar


do nome, estas posições permitem a circulação em ambos os sentidos: direta e reversa.

A posição de reversa sem atuação da esfera de reversa é utilizada para circulações de


fluidos prévias a realização do minifrac.

Após atuada a esfera as principais utilizações são o posicionamento de tratamentos


próximos a formação, sem injeção na formação e a execução da reversa após o frac-pack,
para remoção do excesso de gel e propante da operação.

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A posição de circulação pela telas permite que os fluidos injetados no anular telas
revestimento, após percolção pelas telas, retorne à superfície pelo anular acima do packer
de gravel.

De forma semelhante ao sistema Petrobras, um sump packer é assentado abaixo dos


canhoneados.

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A seguir o conjunto de frac-pack é descido, composto por:

Ancora selante
Tubos telados
Tubos cegos
Conjunto externo da ferramenta de gravel, composta por (ver figura abaixo):
Extensão perfurada ou gravel pack port
Closing sleeve
Packer de gravel

FERRAMENTA
DE GRAVEL
PACK

GP PACKER
COMP-SET

EXTENSÃO
PERFURADA

TUBO CEGO 5 1/2”


P-110 20 #

TUBO TELADO
WIRE WRAPPED
5 1/2” GAUGE
0,012 “

SUMP PACKER
COMP-PERM

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Internamente a este conjunto a seguinte composição é descida:
Shifting tool (para fechar a closing sleeve após o frac-pack, evitando a possibilidade
de perdas para a formação)
Wash pipes (que na posição de circulação forçam a passagem do fluido pela parte
inferior das telas
Cross over tool, que direciona o fluxo do interior da coluna para o anular tela-
revestimento.

Após descido o conjunto de gravel a ancora selante é travada no sump packer e o packer de
gravel é assentado.

Procede-se então a identificação das posições de operação da ferramenta.

Os testes de calibração são realizados e o fraturamento é bombeado, ambos com com a


monitoração de pressão pelo anular vivo.

A ferramenta é então posicionada em reversa e o excesso de gel e propante remanescente


na coluna é reversado.

A composição interna do conjunto de gravel é retirado, fechando-se a closing sleeve.

A completação superior pode então ser descida.

32
ANEXO 1 - Condutividade relativa adimensional de fraturas
hidráulicas

A técnica do fraturamento hidráulico tem como principal objetivo o aumento da


produtividade ou injetividade do poço, através da alteração do regime de fluxo nas suas
vizinhanças, de um modelo de fluxo radial, com grande concentração de linhas de fluxo
convergindo para o poço, para um linear, com o fluxo convergindo para uma fratura
altamente condutiva. Sendo assim, o aumento de produtividade do poço, ou seja, a
eficiência da fratura, guarda uma estreita relação com a capacidade da fratura em permitir o
fluxo da formação para o poço por ela interceptada. Esta grandeza é chamada de
condutividade da fratura (Cf), sendo definida pelo produto da permeabilidade da fratura (kf)
pela sua largura (wf), ou seja:

Cf = kf wf

Esta grandeza, embora de fundamental importância na eficiência da fratura, não deve ser
considerada como única referência. Uma fratura eficiente precisa ter uma permeabilidade
significativamente maior que a formação fraturada. Portanto, quanto mais permeável for a
formação, mais condutiva deverá ser a fratura. Esta relação, comumente chamada de
contraste, é incorporada na capacidade (ou condutividade) relativa da fratura (FCD),
introduzida por Prats[55], assim definida:

c1. k . L f
FCD =
k f .wf

onde: c1 = constante adimensional de ajuste de unidades


Lf = comprimento da fratura
k = permeabilidade da formação

33
ANEXO 2 – Condutividade relativa adimensional de uma fratura
ácida

Num fraturamento ácido, um colchão gelificado é injetado na formação a altas vazões,


seguido de um sistema ácido reativo com a formação. O objetivo do colchão viscoso é
criar uma fratura suficientemente longa e larga, visto que, se somente o ácido for injetado,
será criada uma fratura muito curta devido à grande taxa de filtração do ácido. Uma vez
aberta a fratura pelo colchão viscoso, o ácido entrará em contato com as paredes da fratura,
reagindo com seus componentes e dissolvendo parte da rocha. Como o fraturamento ácido
depende da reatividade do sistema rocha-ácido, este tipo de estimulação só é efetivo em
rochas carbonáticas (calcáreos ou dolomitas).

Durante o bombeio do sistema ácido, as paredes da fratura sofrerão um ataque


proporcionalmente mais severo à proximidade do poço. Duas são as razões principais:
quanto mais próximo do poço está a fratura maior é o tempo de exposição de suas paredes
ao ácido; além disto, o ácido se encontra com sua maior concentração, visto que ele vai
sendo consumido na reação com a rocha à medida que vai sendo deslocado para a
extremidade da fratura. Assim, a fratura possui uma condutividade muito maior nas
proximidades do poço. Ben-Naceur e Economides mostram que a relação entre as
condutividades da região próxima ao poço e da região próxima à extremidade da fratura
pode ser muito superior a 20. Para relações inferiores a 20, Ben-Naceur apresenta a
seguinte expressão para a capacidade relativa média da fratura:
Lf
c k f .wf
FCD = 1
Lf ∫
0
k. Lf
dx

Se a variação da condutividade ao longo da fratura for maior do que 20 vezes, a expressão


matemática da capacidade relativa deve ser expressa como função da posição na fratura.

Na fratura sustentada, o agente de sustentação é o responsável por resistir aos esforços


litostáticos e manter a fratura aberta após cessado o bombeio do fluido fraturante. No caso
do fraturamento ácido, as paredes da fratura são forçadas diretamente uma contra a outra.

34
A condutividade da fratura se deve às irregularidades de suas paredes, causadas pela
acidificação não uniforme da rocha. Esta não uniformidade do ataque ácido deve-se
principalmente à heterogeneidade da composição das rochas. Além disto, no processo de
acidificação de carbonatos, é sempre observada a formação de canais preferenciais de fluxo
(no inglês, wormholes). Assim, a abertura da fratura é sustentada pela aspereza ou
rugosidade de suas paredes.

Devido ao fato da inexistência do agente de sustentação, a condutividade da fratura ácida é


fortemente dependente da tensão de confinamento e da resistência compressiva da rocha.
Nierode e Kruk , apresentam a seguinte correlação empírica:

C f = k f . w f = c2 .exp[ − c3 .σ c ] (0-1)

onde: c2 = 1.47 × 107 . w2fi.47 (0-2)

⎧ (13.9 − 1.3 ⋅ ln[ Sr ] × 10−3 ⇒ Sr ≤ 20000 psi


e c3 = ⎨ (0-3)
. − 0.28 ⋅ ln[ Sr ] × 10−3 ⇒ Sr > 20000 psi
⎩ ( 38

sendo: wfi = largura inicial da fratura (in)


Sr = resistência à incrustração da rocha1 (psi)
σc = tensão de confinamento (psi)

Para as constantes e unidades dadas a condutividade é expressa em md.ft.

Alguns autores afirmam que a condutividade obtida pelas correlações acima é bastante
subestimada, entretanto mostram a sua grande dependência com a pressão de confinamento
e a resistência compressiva da rocha.

1
A resistência compressiva à incrustração é definida como a força necessária para inserir uma esfera de metal
em uma rocha, até uma distância igual ao raio da esfera, dividido pela área do círculo com este raio.

35
ANEXO 3 - Agentes de Sustentação

Como já citado, num fraturamento são usados fluidos especiais, ditos fluidos de
fraturamento, aos quais se adiciona um agente granular de sustentação. Dentre os
principais agentes de sustentação, utilizados comercialmente na indústria de petróleo,
destacam-se a areia, a bauxita sinterizada e a cerâmica, todos com granulometria e
esfericidade controlada.

O principal objetivo do agente de sustentação é manter afastadas as paredes da formação


após cessado o bombeio do fluido fraturante e a conseqüente queda da pressão de bombeio,
que é a pressão necessária para manter aberta a fratura. Assim, após ser fechada a fratura
sobre o agente de sustentação, um caminho preferencial de fluxo é mantido aberto.

Numa fratura ideal, o agente de sustentação deveria ser suficientemente permeável para que
não existissem perdas de cargas no seu interior e possuir suficiente resistência compressiva
para suportar, sem deformações, a pressão litostática das camadas superiores de rocha.
Alguns fatores práticos, entretanto, impedem que isto aconteça.

Ë sabido, por exemplo, que a permeabilidade da fratura é fundamentalmente dependente do


diâmetro e esfericidade do propante. Quanto maior e mais esférico é o grão do agente de
sustentação, maior é a permeabilidade do pacote por ele constituído. Entretanto, a
resistência compressiva é inversamente proporcional ao diâmetro do propante. Por outro
lado, quanto maior for o grão do agente de sustentação maior é a dificuldade de seu
carreamento pelo fluido fraturante e seu posicionamento uniforme no interior da fratura.
No que tange à esfericidade, considere-se dois grãos perfeitamente esféricos. O contato
destes grãos ideais seria representado por um único ponto infinitesimal. Esta situação pode
ser imaginada logo após cessado o bombeio do fluido fraturante, quando o agente de
sustentação começa a ser solicitado. Timoshenco e Goodier mostram que a área de contato
entre dois corpos elásticos submetidos a um esforço é proporcional à carga por eles

36
suportada. Sendo assim, partindo-se da condição ideal inicial, a medida que a fratura se
fecha, as esferas deverão se deformar até seu limite de deformação máximo, aumentando
sua área de contato, até que esta seja capaz de suportar os esforços solicitantes. Caso o
limite de deformação seja alcançado antes que a área de contato seja suficientemente
grande, haverá o rompimento do grão, ocorrendo o que se costuma chamar de
esmagamento do agente de sustentação. Este esmagamento provoca uma alteração do
diâmetro e esfericidade dos grãos e a conseqüente acomodação dos esforços. Estas
deformações, com ou sem esmagamento, entretanto, reduzem a permeabilidade e a largura
da fratura, com grandes reflexos na sua condutividade.

Existem, portanto, limitações práticas para a escolha do propante, e por conseqüência, da


permeabilidade e condutividade máximas que se pode obter na fratura. A regra prática
normalmente utilizada no projeto de um fraturamento hidráulico é a utilização do maior
agente de sustentação capaz de resistir os esforços mecânicos a que será submetido no
interior da fratura.

As características e propriedades do agente de sustentação, portanto, são fundamentais na


condutividade da fratura hidráulica. Dentre as mais importantes, pode-se citar:
arredondamento e esfericidade, tamanho, distribuição do tamanho, concentração e
resistência compressiva.

Arredondamento e esfericidade

Qualitativamente pode-se afirmar que a condutividade de uma fratura é proporcional ao


arredondamento e esfericidade do agente de sustentação. Uma análise quantitativa pode
ser feita a partir da relação de Carman-Kozeny :

φf2
k=
kc. SA02 .(1 − φ f ) 2

onde:

37
⎛L ⎞
2

kc = kc0⎜ 0 ⎟
⎝ L⎠

sendo: k = permeabilidade em cm2


φ f = porosidade do propante
kc = constante de Carman-Kozeni.
kc0 = fator forma
(L0/L)2 = tortuosidade
SA0 = área superficial específica.

O fator forma, que depende da esfericidade e do arredondamento, apresenta valores médios


de 2,5 para partículas esféricas. A tortuosidade (assim chamado por Rose e Bruce, 1949)
apresenta valores próximos de 2,0 para arenitos inconsolidados. Assim Carman sugere para
kc um valor próximo a 5,0. Willie e Gregory (1955), mostraram que para kc = 5,0 ± 10%,
boas aproximações são obtidas. A variação de 10% agrega as irregularidades dos grãos.

A área superficial específica é dada por:

6
SA0 =
dm

onde: dm = diâmetro médio dos grãos.

A Eq. acima é baseada no uso de esferas. Se partículas não esféricas ou não arredondadas
forem utilizadas, o fator de esfericidade deve ser introduzido no cálculo.

A esfericidade é definida como a razão entre a área superficial de uma esfera equivalente
(com o mesmo volume da partícula) e a área superficial da partícula. Portanto, o fator
esfericidade é sempre inferior a 1, e quanto menos esférico e mais irregular for a partícula,
maior será sua área superficial e conseqüentemente menor a permeabilidade do pacote de
partículas.

38
Se uma combinação de diferentes tamanhos de partículas for utilizadas, a área superficial
especifica é calculada por:

SA0 = x1 . SA01 + x2 SA02 +....

onde: xi é a fração volumétrica de cada tamanho de partícula com área superficial SA0i .

Tamanho e Distribuição do Tamanho

O tamanho do propante, em conjunto com sua distribuição (seleção), recebe a denominação


usual de granulometria2.

A Eq da área superficial específica mostra que quanto maior o diâmetro médio das
partículas menor será sua área superficial e por conseguinte maior será a permeabilidade.
As partículas maiores, no entanto, são mais sujeitas ao esmagamento, a altas tensões de
confinamento. Assim a redução de permeabilidade/condutividade com o aumento da
tensão de confinamento efetiva é mais significativa em propantes maiores.

Para justificar a influência da distribuição de tamanhos, pode-se recorrer à relação entre a


porosidade e a permeabilidade. Se partículas de diferentes tamanhos são combinadas, os
vazios das partículas grandes serão ocupadas pelas menores, com significativa redução da
porosidade e da permeabilidade. Além disto, pode-se inferir que o caminho percorrido pelo
fluido será claramente maior, com diminuição da permeabilidade.

2
A maneira mais comum para se expressar a granulometria do agente de sustentação é através de 2 limites
Mesh (#). A unidade Mesh mede o número de divisões lineares de uma peneira de 1 polegada. Assim, uma
areia 8-12 #, refere-se ao conjunto de grãos que passam por uma peneira 8 # (1 in/8) e são retidas numa
peneira 12 #.

39
Concentração

Uma grandeza comumente usada na caracterização de um fraturamento é a concentração do


propante na fratura, definida como a relação entre a massa de propante e a área de uma
parede de fratura sustentada por esta massa. Assim, para uma distribuição uniforme do
propante na fratura, tem-se:

Mp
[ Cp ] =
2. Lf . hf

onde: [Cp] = concentração do propante na fratura, normalmente expressa em lb/ft2.


Mp = massa de propante injetada no fraturamento (lb)
hf = altura da fratura (ft).
Lf expresso em ft.

Em fraturamentos convencionais, procura-se atingir uma concentração de 2 lb/ft2, enquanto


em frac-packs busca-se concetrações de até 10 lb/ft2. A importância da concentração do
propante na fratura está na sua relação direta com a largura sustentada da fratura, expressa
por:

[ Cp ]
wf =
(1 − φ P ). ρ P

onde: ρP = densidade do propante (lb/ft3), normalmente tabelada.

Assim, quanto maior a concentração do propante na fratura, maior será sua condutividade.

Ao lado disto, um processo normalmente observado com o aumento da tensão de


confinamento efetiva em uma fratura é a incrustração, ou seja, a penetração do grão do
propante na rocha fraturada (parede da fratura). O efeito da incrustação na condutividade é

40
menos pronunciado quanto maior for o número de camadas do agente de sustentação e,
portanto, de sua concentração no interior da fratura.

Resistência Compressiva

Esta é, possivelmente, a mais importante característica do agente de sustentação, além de


possuir uma relação direta ou indireta com as outras propriedades citadas.

O agente de sustentação, a priori, deve possuir uma resistência compressiva3 suficiente para
resistir ao maior esforço a que será submetido ao longo da produção do poço. Pode-se
supor, a partir disto, que é desejável a maior resistência compressiva possível do agente de
sustentação. Entretanto, a resistência do propante aumenta com a diminuição do seu
diâmetro e portanto uma menor permeabilidade máxima pode ser obtida. Por outro lado,
os propantes com alta resistência normalmente são pouco deformáveis, tendendo ao
esmagamento antes que deformações significativas sejam observadas. Estas deformações
são desejáveis para a distribuição dos esforços em áreas de contato maiores, tanto entre as
partículas de propante, quanto entre o propante e as paredes da fratura, evitando ou
abrandando o esmagamento e a incrustração, respectivamente.

Efeitos da Tensão Efetiva na Condutividade da Fratura

O principal efeito do aumento da tensão efetiva de uma fratura é a diminuição de sua


condutividade. Dentre os processos que contribuem para isto, os principais são:
esmagamento, incrustração, rearranjo das partículas e deformação do agente de sustentação
e das paredes da fratura.

3
O termo resistência compressiva refere-se a tensão máxima que se pode aplicar na compressão do agente de
sustentação, embora, como será visto, a falha do agente de sustentação ocorre quando sua resistência à tração
é ultrapassada.

41
Esmagamento e Incrustração
O esmagamento ou a
incrustração ocorre quando a
tensão efetiva ultrapassa a
resistência compressiva do
agente de sustentação ou a
resistência compressiva à
incrustração da rocha fraturada.
Naturalmente se o agente de
sustentação possuir uma alta
resistência compressiva, haverá
Figura - Contato parcial entre: a - duas esferas uma tendência à incrustração.
b - esfera-plano
Caso contrário, ocorrerá o
esmagamento.

Em ambas as situações ocorrerá a diminuição da largura da fratura. No caso do


esmagamento, pode-se calcular a redução da permeabilidade pela diminuição das partículas
do propante e conseqüente aumento da área superficial específica. Além destes efeitos
quantificáveis, uma redução adicional da permeabilidade ocorrerá com a formação de finos,
resultantes da quebra do propante ou da rocha. McGlothlin e Huitt mostraram que os efeitos
da incrustração na condutividade são menos severos. Portanto, se uma escolha tiver de ser
feita nestas bases, deve-se optar por propantes com maior resistência, para prevenir o
esmagamento, em detrimento da incrustração.

Rearranjo dos grãos

Não há estudos que quantifiquem os efeitos do rearranjo das partículas dentro da fratura,
embora haja um consenso geral de que este é um fator de redução da condutividade. Sabe-
se, entretanto, que a pressurização e despressurização cíclicas de uma fratura causam uma

42
histerese na condutividade. Este fato é explicado como o efeito do rearranjo dos grãos do
agente de sustentação.

Efeitos Globais da Tensão de Confinamento na Condutividade da


Fratura

Os efeitos do aumento da tensão


de confinamento na
condutividade e na
permeabilidade da fratura são
largamente citados na literatura.
Embora sejam notadas variações
para cada tipo de propante
(areias das diversas origens,
cerâmica, bauxita sinterizada) e
Figura 0-1 - Variação da condutividade da fratura
para cada granulometria
com a pressão de confinamento
utilizada, o comportamento da
permeabilidade e da condutividade apresentam um declínio exponencial com o aumento da
tensão de confinamento. A Figura acima mostra um exemplo de um ajuste exponencial
para dados experimentais obtidos por Munch para uma areia comercial dos Estados Unidos.

Munch mostra que além da diminuição da condutividade com o aumento da pressão de


confinamento, ocorre também uma grande diminuição da condutividade (de até uma ordem
de grandeza) com o tempo, quando uma alta tensão de confinamento é mantida sobre o
agente de sustentação. Em termos de explotação, o tempo em que esta redução ocorre é
praticamente desprezível (nunca superior a 100 hr.), entretanto, para testes de laboratório
este tempo é bastante significativo. Assim, previsões de produtividade a partir de testes de
curta duração podem superestimar de forma significativa a condutividade de uma fratura.

43
ANEXO 4 - Fluidos de Fraturamento
Características gerais
não deve ser danificante
compatibilidade com a rocha reservatório
compatibilidade com os fluidos da formação
apresentar poucos resíduos (inclusive biológicos)

baixa perda de carga

estabilidade térmica

facilidade de remoção após o tratamento

Características desejáveis para cada fase

Teste de Injetividade
teste dos equipamentos em condições dinâmicas
quebra da formação -> penetrante, baixa viscosidade
resfriamento

Pré-colchão
resfriamento -> penetrante, baixa a média viscosidade
propagação -> baixa perda de filtrado

Colchão
propagação da fratura -> alta viscosidade, baixa filtração
aumento da largura-> alta viscosidade na fratura

Fluido carreador
manter aberta a fratura -> alta viscosidade na fratura
carrear o agente de sustentação->alta viscosidade na coluna e na fratura

Deslocamento
deslocar o tratamento principal -> baixa viscosidade

44
Fluidos à Base Água

Polímeros

Goma-guar
HPG
CMHPG

CMC
HEC
HPHEC
CMHEC

XG

Poliacrilamida

Exemplo de gel da BJ

45
Referências Bibliográficas

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46
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47

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