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CAPÍTULO PRIMEIRO
TRAMA FASCINANTE
A notícia chegou a fazer manchetes em quase todos os
jornais do mundo. DIAMANTES ARTIFICIAIS! Uma
descoberta que suscitava a algumas fantasiosas
reminiscências dos alquimistas do passado, do discutido
José Bálsamo1, Conde de Cagliostro, de Althotas, seu
mestre, descobridor da Pedra Filosofal.
Afinal o diamante fabricado, ao alcance de muitos!
Reviravolta desconcertante nos centros de negócio de todo
o planeta. Mulheres enlouquecendo entre as joias
ameaçadas. Grande interesse da indústria, problemas
estratégicos postos em pauta.
Congressos científicos para confirmar a descoberta
sensacional. Era mesmo de estarrecer! A síntese do
diamante encontrada como um simples “ovo de Colombo”.
Boletins expedidos a todas as partes do globo. Das
experiências que seriam levadas a cabo — uma vez
constatada a validade das fórmulas descobertas —
resultariam gemas iguais às que se extraem das minas de
Kimberley, na África, ou de Minas Gerais, no Brasil, talvez
até um pouco mais duras e isentas de jaça. Também seria
possível conseguir-se determinar o formato e a dimensão do
diamante a fabricar. Os joalheiros do mundo em suspense!
O segredo não estava apenas em submeter compostos de
carbono a pressões altíssimas, imitando as condições
especiais de uma era em que nosso planeta sofria violentas
mutações. Cálculos apuradíssimos, equações que tomaram
anos de investigações científicas, representavam a receita
misteriosa dessa alquimia da era nuclear.
1
Joseph Balsamo é um romance histórico de Alexandre Dumas. NR
Cinco pessoas apenas, além do inventor, conheciam os
números da equação e os princípios básicos necessários à
fabricação do inusitado diamante artificial: Guy Suits,
agente especial, por dever de oficio. E por outras razões,
Patrick Kimbell, Arnold Bebil, Frederick Schulz e ela.
Ela era Mary Kimbell, uma garota excelente, muito sexy
e extremamente rica: uma das dez mais do mundo. Dona de
uma imponente Vila na Côte d’Azur, dois iates, cinco
automóveis, controlava a maioria das ações de grande mina
de brilhantes no Brasil. Seria feliz, como a maioria das
garotas da sua idade, se a tremenda propaganda em torno da
sua fortuna não lhe atraísse uma chusma de caça-dotes.
Entre esses, diga-se de passagem, figurava, como o mais
saliente, o alemão Frederick Schulz, foragido da zona
oriental.
Schulz, é bom que se diga, tinha uma cara muito
inteligente e inspirava simpatia à primeira vista. Seu físico
de nobre prussiano e sua conversa culta e atilada
contribuíam para que Mary o aceitasse com indisfarçável
preferência. Aliás, qual é a moça que não gosta de um
alemão boa pinta?
O chato do elenco era Arnold Bebil, sem nenhuma
chance no páreo. Feio, magro, míope, careca asmático,
estava — para complicar a história perdidamente
apaixonado por Mary e vivia a rondá-la com seus assédios
numa constância pegajosa e ofegante. A moça procurava
evitá-lo, com as melhores evasivas, mas nem sempre a fuga
lhe era possível, pois o chato do Bebil detinha o controle de
grande parte das ações da mina de diamantes do Brasil, e a
Mary interessava paparicá-lo para manter o controle do
negócio. Desta situação se aproveitava ele para viver
atropelando a jovem. E dava palpites. Recriminava,
abertamente, as saídas com Frederick Schulz.
— Este alemão é um vigarista! — dizia Bebil, na sua
voz rouquenha, ofegante. — Abra o olho com ele! Deve
estar querendo botar a mão no seu dinheiro!
Mary não ligava e continuava fazendo excelentes
programas com o alemão boa pinta, nas barbas do seu sócio
asmático.
O outro personagem do enredo era Patrick Kimbell, pai
de Mary, um velho play boy jogador, sem força e sem
vintém, sustentado pelo dinheiro que a filha herdara da mãe.
Não via com agrado o namoro da jovem com o alemão
Schulz, mas nada fazia para demonstrar sua antipatia, com
medo de entrar em choque com a fonte do seu sustento,
Patrick era pobre porque desperdiçara sua fortuna pessoal
no pano verde. Não conseguira dilapidar o quinhão de
Mary, graças à intervenção de advogados da família. Agora,
era a jovem quem administrava seus próprios negócios,
reservando para o velho pai jogador apenas uma discreta
mesada.
Apesar de tudo, Patrick Kimbell era visto nas casas de
jogo com o cachimbo permanentemente preso entre os
dentes, os dedos nervosamente crispados sobre as fichas,
perdendo quantias acima de suas forças e pagando com
dinheiro cuja origem se desconhecia.
Estes os primeiros fatos e seus principais personagens. A
paixão de Arnold Bebil por Mary. O cinismo do simpático
Frederick Schulz. A irresistível atração dos milhões da
moça. A invencível paixão pelo jogo de Patrick Kimbell e a
descoberta da síntese do diamante.
Mas... onde fica o agente especial Guy Suits, de que
falamos no início desta conversa? Bem, vocês não perdem
por esperar. Vamos ao capítulo segundo.
CAPÍTULO SEGUNDO
MEDO
CAPÍTULO TERCEIRO
O VISITANTE NOTURNO
CAPÍTULO QUARTO
ASSASSINATO
CAPÍTULO QUINTO
INVESTIGAÇÃO
CAPÍTULO SEXTO
O ACUSADO
CAPÍTULO SÉTIMO
A PASTA DE CROCODILO
CAPÍTULO NONO
O DIA DA CAÇA...
— Aonde vamos?
Arnold Bebil, encolhido no banco, viu que o carro
dirigia-se à zona noroeste da cidade, reconheceu algumas
casas dos arredores de Westchester. Com efeito, em seguida
atingiram a avenida Stillwell, com seus imponentes
edifícios de escritórios e residências.
— Aonde vamos? — repetiu, intrigado e receoso.
Guy Suits olhou-o de relance e conservou-se em
silêncio. A avenida Stillwell termina na embocadura do rio
Eastchester, mas, dobrando-se à direita, chega-se ao Eastern
Boulevard. Daí, emenda-se à entrada de Pelham, passando
sobre a elevação de um pequeno cabo, por meio de uma
ponte dupla. À sua direita, veem-se os estaleiros do rio
Eastchester e os numerosos barcos atracados em ambas as
margens.
Nem Suits nem seu prisioneiro demonstravam interesse
pela paisagem. O primeiro, atento ao volante, não tirava o
olhar do caminho a não ser para relanceá-lo sobre Bebil, e
este, por motivos obvios só desejava saber para onde estava
sendo levado.
Cansado de perguntar inutilmente, Bebil procurou
orientar-se por si mesmo. Verificou que estrada conduzia ao
parque de Pelham, e percebeu para onde iam.
— Vamos para a casa de... Robert Prest! — gaguejou.
Suits tomou a olhá-lo de esguelha e comentou, ironia:
— Que dedução!...
Voltou ao silêncio anterior, Bebil havia acertado, pois
estava realmente dirigindo o veículo para a casa do falecido
inventor. Queria certificar-se de uma coisa que não lhe
parecia muito clara: se Bebil era, de fato, o assassino. Havia
mordido a isca da pasta, mas sua atitude, deixando-o vivo,
não condizia com o crime covarde que fora cometido. Além
disso, fora ao seu apartamento desarmado. Um assassino da
capacidade moral do que matara Prest seria incapaz de
arriscar-se a ser preso sem defender sua liberdade a tiros.
Bebil não parecia ser desse tipo. E sua asma, a respiração
entrecortada...
Suits lembrou-se nitidamente do momento em ele saltara
a janela, ofegando pelo esforço. Sua aparência, depois de
uma façanha tão singela, era a de um homem esgotado,
incapaz de...
— Escute — disse, tornando expressos os pensamentos.
— Diga-me, como conseguiu atingir meu apartamento?
Bebil remexeu-se no assento, pigarreou e respondeu:
— Por uma escada. Precisei apenas pagar uma garrafa
de uísque ao zelador. Disse-lhe que era seu amigo, Suits.
Convidei-o a tomar um traguinho. Bebeu a garrafa em
poucos minutos, e, quando adormeceu, apanhei uma
escadinha que havia no pátio...
O longo discurso de Bebil foi interrompido por um
violento acesso de tosse.
— E como subiu do telhado da garagem à janela?
— A pulso — respondeu Bebil. — Agarrei-me ao
peitoril e subi como pude.
— Chegamos.
Com efeito, estavam chegando ao sítio de Robert Prest.
Suits freou o carro. Ao mesmo tempo que eles, o automóvel
que os vinha seguindo desde a rua Cento-e-Setenta-e-Seis
parou a alguma distância. Um homem saltou do Cadillac
negro e avançou apressadamente para o chalé onde o agente
e seu prisioneiro haviam entrado. Parou para olhá-los
enquanto caminhavam pelo caminho do jardim, ignorando
que tinham sido segui- dos.
Suits levava a pasta debaixo do braço, pois não se
atrevera a deixá-la no carro. O homem que os seguia
avançou lentamente pelo caminho, deslizando como uma
sombra junto às árvores que o margeavam. O céu começava
a ganhar a luminosidade do novo dia, e o homem não
desejava ser visto por algum deles, se olhasse para trás. Não
temia ser visto, pois trouxera uma pistola que poria em ação
no momento oportuno. Entretanto, desejava averiguar a
intenção que levara Suits e Bebil até a casa do crime, antes
de liquidá-los.
A curiosidade espicaçava seu espírito. Seus planos
haviam sido mais simples, de início: esperar que Bebil
saísse do apartamento com a pasta roubada ou, se falhasse,
que Suits a levasse para entregá-la a seus chefes.
Provocaria, então, um acidente entre os dois carros e
aproveitaria a confusão para apoderar-se da pasta e
desaparecer.
O fracasso de Bebil determinara o inesperado, e o agente
especial mudara de itinerário. Que teria vindo fazer? O
homem espichou o pescoço no canto da garagem. Suits e
Bebil pararam junto ao muro, e o agente estava
desamarrando seu prisioneiro.
Compreendeu a intenção do agente: verificar se Bebil
tinha condições para escalar aquele muro.
— Vamos, procure subir por aqui — ouviu Suits ordenar
a Bebil.
O prisioneiro sentiu um corpo duro empurrando-lhes as
costas: o agente ameaçava-o com uma arma. Um suor frio
começou a lhe escorrer da testa, apesar do frio intenso.
— Por onde? — perguntou.
— Por qualquer lugar, agarrando-se como puder com as
mãos e os pés — grunhiu Suits, pressionando o cano da
pistola contra suas costas. — Suba, senão atirarei.
Falava seriamente, na aparência. Estavam sós, e, se
atirasse, ninguém viria em sua ajuda. O prisioneiro
assustou-se com essa perspectiva.
— Se conseguir saltar para o outro lado, não o impedirei
de fugir — prometeu Suits.
Bebil agarrou-se ao muro, metendo as pontas dos pés
nas fendas e enfiando os dedos nas saliências que
encontrava. Subia alguns centímetros e caía ao solo.
— Vamos, tente de novo — insistiu o agente, batendo-
lhe com o cano da arma nas costas.
Tentou-o repetidamente, até que Suits resolveu:
— Deixe isso; venha cá.
Arrastou-o até uma árvore, a mesma por onde estava
certo de que o criminoso alcançara o muro, e ordenou:
— Tente por aqui.
Arnold Bebil, chiando de asma e suando frio, abraçou o
tronco e tentou escalá-lo, sem resultado. Suits, já penalizado
com o estado físico do prisioneiro, mandou-o desistir do
intento, enquanto guardava a pistola no bolso.
— Basta. Agora sei que não foi você quem matou Prest
— afirmou.
Bebil teve a impressão de que lhe haviam tirado uma
tonelada de sobre os ombros. Desceu, deixando-se cair, da
pequena altura que alcançara, e permaneceu uns instantes
agarrado ao tronco da árvore. Mais do que nunca, sua
respiração soava em assobios prolongados e angustiosos.
Um forte acesso de tosse, repentinamente, lhe arranhou
o peito por dentro. As pernas se negavam a sustentá-lo. Para
voltar-se, foi obrigado a continuar agarrado a árvore e girar
o corpo lentamente.
Quando conseguiu virar o corpo de modo a apoiar as
costas no tronco, empalideceu: o que viu lhe cortou a fala.
Havia um homem no canto da garagem, espiando-os. Mas
não foi só o homem o que o assustou, mas principalmente a
pistola que empunhava.
Reconheceu-o e compreendeu o que pretendia: matar
Suits para apoderar-se dos documentos.
Ao matar Suits, seria forçado a matá-lo, também, para
que não o denunciasse. Sua vida corria perigo tão iminente
quanto a de Suits. Aquele homem era o assassino de Robert
Prest!
O criminoso não tinha pressa. Suits e o assustado
homenzinho eram presa segura, pois não havia outra saída
dali. Percebera que Bebil o E tinha visto, e divertiu-se com
seu terror.
Transcorreram alguns segundos. Arnold Bebil
continuava com uma mão apoiada no tronco da árvore e a
outra no ar, os olhos muito abertos e a boca igual à de um
peixe fora da água. Não conseguia gritar para avisar Suits;
por mais que o tentasse, só saia um silvo angustioso de sua
garganta. E o agente especial continuava sem perceber o
que ocorria às suas costas.
Suits raciocinava, pensando no que deveria fazer, agora
que sabia quem era o verdadeiro criminoso, por eliminação
de Bebil. Não possuía prova alguma para acusá-lo. Em
verdade, estava em um beco sem saída. Os elementos de
convicção que possuía eram somente dois. O álibi que a
viagem a Chicago fornecera a Schulz era inconsistente, pois
cobria apenas o dia do embarque de ida e o da volta, que
poderiam ser verificados. Os dias de permanência naquela
cidade haviam sido muitos, e Schulz poderia ter viajado a
Nova Iorque em segredo na véspera do crime, voltando
ainda em segredo no mesmo dia. Schulz soubera, por
Patrick Kimbell, da existência do invento de Prest. Mas
outros o sabiam, como Bebil e Mary; quem poderia afirmar
que o velho Kimbell não revelara o segredo a outras
pessoas?
Arnold Bebil olhava fixamente para frente.
Suits deu-se conta disso ao tirar os cigarros do bolso.
“Piorou da asma...” — pensou.
Observando-o melhor, notou que o ex-prisioneiro estava
aterrorizado, fitando algo às suas costas. Compreendeu o
que se passava, mesmo sem voltar-se. Dominou o desejo de
olhar para trás, e fingiu dedicar a atenção ao cigarro que ia
acender. Queria dar ao assassino a impressão de que não
percebera o terror de Bebil.
Este olhava alternadamente, com a angústia estampada
no rosto, para o criminoso e para Suits. Será que o agente
não percebia o que ia acontecer? Precisava avisá-lo, dar-lhe
a entender de algum modo que o assassino estava às suas
costas e que ia fazer-lhe o mesmo que fizera a Prest. Fez
nova tentativa para falar, mas conseguiu apenas aumentar o
acesso de sufocação.
O assassino levantava a pistola, centímetro a centímetro,
para mirar cuidadosamente. Não queria errar o primeiro
tiro, para não desperdiçar a vantagem que o acaso lhe
concedera.
Suits, entretanto, sabia que o momento fatal se acercava
rapidamente. O rosto de Bebil, sua expressão de
irreprimível pavor, as pupilas mais e mais dilatadas pelo
espanto, diziam-lhe que precisava agir sem demora.
Não era preciso que Bebil falasse, pois sabia
perfeitamente o que havia às suas costas, e o lugar exato em
que se encontrava o criminoso ameaçando-os. Mas
precisava dominar os nervos, para agir com a precisão
necessária. A salvação de sua vida e da de Bebil dependia
de seu autodomínio.
O assassino não se apressava. A aparente tranquilidade
do agente especial tinha conseguido enganá-lo. Procurava
firmar bem a pontaria, para não falhar. Sabia que atirar em
Guy Suits não era o mesmo que atirar em Robert Prest. Se
tivesse errado o primeiro tiro em Prest, poderia desfechar-
lhe outros, pois o físico estava desarmado. Suits, pelo
contrário, possuía uma arma, e devia ter boa pontaria. Se
não acertasse em um ponto vital no primeiro tiro, a situação
poderia tornar-se difícil...
De qualquer modo, estava perdendo um tempo precioso.
O covarde Bebil terminaria dominando a asma para avisar o
agente. Suits, mesmo sem o aviso de Bebil, poderia
igualmente voltar-se para seu lado. Decidiu terminar de uma
vez.
Suits, imperturbável, com a pasta debaixo do braço
esquerdo e o cigarro na mão direita, aproximava-se de
Bebil, o único que parecia atemorizado. Mas os segundos
afiguravam-se lentos como horas, para os três homens.
O dia rasgava-se em um leque de luz e cores, ao surgir o
sol por sobre o horizonte, quando o assassino apertou o
gatilho de sua pistola.
CAPÍTULO DÉCIMO
...E O DO CAÇADOR
A seguir:
ANATOMIA DE UM ATENTADO, novela trepidante,
escrita dentro de uma técnica especial, cheia de lances
imprevisíveis, com amor, petróleo, cobiça e ironia. Não
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