Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ARTÍSTICAS
Professora Bebé Castanheira
5 ALFABETISMO VISUAL II
5.1. Contraste
2
força vital para a criação de um todo coerente. (Gomes Filho, 2002, p.
62)
Essa busca constante pelo equilíbrio e pela organização visual nas palavras de Dondis
(2007, p. 108) traduz uma necessidade interior de harmonia “um estado de
tranquilidade e resolução que os zen budistas chamam de meditação em repouso
absoluto”.
3
Observe a Figura 5.1, o Taj Mahal, e a sua composição equilibrada (e simétrica, o que
auxilia a obter esta sensação de equilíbrio) e compare com a Figura 5.2 que, além do
impacto do homem gritando (o que já imprime certa dramaticidade) é em preto e
branco, acentuando a luz e sombra da composição. Apresenta ainda uma composição
assimétrica, com uma grande área preta do lado direito e uma expressão bastante forte
do modelo, concentrando a atenção do observador.
O Contraste é isso. Uma força de oposição a esse apetite humano. Desequilibra, choca,
estimula, chama a atenção. Sem ele, a mente tenderia a erradicar todas as sensações,
criando um clima de morte e ausência de ser (DONDIS, 2007, p. 108).
Fundamentalmente, quando se fala em Contraste, se fala da presença ou ausência de
luz. Observe, nas imagens abaixo, a diferença de detalhes em cenários de luz distintos.
4
A estratégia não se limita a diferença de intensidade da luz, pois, os diferentes tipos de
contraste auxiliam a eficácia da mensagem que se quer transmitir.
5
Figura 5.5: Boy, de Ron Mueck
6
Figura 5.6: Torre Eiffel
7
Figura 5.8: Metrô Figura 5.9: Metrô em movimento
O Contraste de Ritmo, para Gomes Filho (2002, p. 69), pode ser caracterizado por um
conjunto de “conexões visuais ininterruptas, a maior parte das vezes, uniformemente
contínuas ou sequenciais ou semelhantes, ou, ainda, alternadas”. É possível, no todo
compositivo, perceber um padrão formal recorrente que imprime dinamismo e
articulação visual.
O que isso quer dizer?
De maneira simplificada é possível dizer que há contraste de ritmo quando é perceptível
um padrão compositivo estabelecido.
8
Figura 5.10: Composição Aleatória Figura 5.11: Composição com Padrão
5.2. Profundidade
Profundidade, por definição, é uma das três dimensões de um corpo qualquer. Se assim
for, estamos, obviamente, falando do plano tridimensional, uma vez que o plano
bidimensional apresenta apenas duas dimensões.
Como vimos anteriormente uma das características do alfabetismo visual é o
aperfeiçoamento da percepção visual onde, entre outras coisas, adquirimos a
capacidade de entender a diferença entre a representação de um objeto e o próprio
objeto, entre tantas outras aquisições.
Aí, você pode se perguntar: mas é claro que eu sei a diferença entre um objeto e a
imagem dele. Sim, agora você sabe, mas foi uma competência adquirida.
Já viu alguma vez um bebê tentando pegar uma imagem de uma revista ou livro?
9
Figura 5.12: Bebê
Pois é, ele ainda não distingue o que o plano bidimensional do plano tridimensional.
Como assim?
As duas imagens simulam a realidade, dão a impressão do que é tridimensional, mas
ambas são bidimensionais, pois são representações. Estão no plano bidimensional.
Só é tridimensional o objeto que tem volumetria e que podemos “pegar”.
10
Bom, mas então por que se fala tanto em games 3D, filmes 3D?
Porque existem formas de simular esta realidade tridimensional onde se cria a ilusão de
volume por meio da profundidade.
Veja a imagem abaixo. A profundidade está presente e é muito claro que o casal em
primeiro plano (na frente) está sentado em local bastante amplo.
5.2.1. Sobreposição
Quando falamos de sobreposição estamos falando de alguma coisa bastante comum e
cotidiana.
Veja a Figura 5.16: se o objeto A (Círculo) impede que eu veja o objeto B (Quadrado)
por completo é porque o objeto A (Círculo) está sobre o objeto B (Quadrado), portanto
mais próximo do observador e o objeto B (Quadrado) está mais distante.
Repare que mesmo sem preenchimento (Figura 5.17) é possível ter a sensação que os
objetos se encontram em planos distintos.
11
Figura 5.16: Sobreposição Figura 5.17: Sobreposição
É claro que estamos apresentando um exemplo bastante simples, mas, que remete ao
que Arnheim (1980) chama de níveis de profundidade. O mesmo autor exemplifica a
complexidade dos níveis de profundidade por meio de um trabalho do artista plástico
Jean Arp onde é possível perceber mais do que dois planos.
12
Figura 5.19: Sobreposição
13
A isso denominamos gradação de tamanho que se constitui como um recurso precioso
na elaboração da forma que demanda a percepção de profundidade.
LH
14
Repare agora na Figura 5.22. É possível visualizar que os balões menores estão mais
próximos do que seria a linha do horizonte e nos dão a percepção de estarem mais longe
ao contrário dos balões maiores. É claro que esta possibilidade depende de uma série
de coisas. No caso de um registro fotográfico depende, por exemplo, se o fotógrafo tirou
a foto em pé ou em um nível mais baixo, mas, via de regra serve como estratégia visual.
5.2.4. Perspectiva
Depois de um período de obscuridade na história, a Idade Média - onde não havia entre
outros, o conhecimento sobre perspectiva, veio o Renascimento, período em que vários
foram os artistas que na busca de uma técnica realista para as suas obras, aperfeiçoaram
o método que permitiria dotar de profundidade as obras deste período.
Veja abaixo a diferença entre a Santa Ceia (uma das 13 cenas da Taula de Sant Miquel –
Século XIII – do mestre Soriguerola), Figura 5.23, e a Santa Ceia, de autoria de Leonardo
da Vinci (Figura 5.24).
15
Figura 5.23: Santa Ceia – Mestre Soriguerola
Fonte: <http://www.ricardocosta.com/artigo/taula-de-sant-miquel-sec-xiii-do-mestre-de-
soriguerola-baixa-cerdanha-catalunha>. Acesso em: 5 jan. 2019.
Do latim perspicere, a palavra perspectiva significa ver através de. Segundo o dicionário
Aurélio, a palavra perspectiva é a arte de representar os objetos sobre um plano, tais
16
como se apresentam à vista. Aspecto dos objetos vistos de certa distância. Para Aumont
(1993):
17
Embora saibamos que as linhas do trem são paralelas, ou seja, mantém entre si a mesma
distância e nunca se encontram, não é isso que observamos no registro fotográfico.
Na imagem a distância que separa os trilhos parece, na medida em que ficam mais longe,
diminuir até que se encontram em determinado ponto.
Esse ponto de “encontro” é o que denominamos ponto de fuga e tem como localização,
neste caso, a LH (linha do observador) que vimos agora há pouco.
18
O que isso quer dizer?
Que a massa de ar interfere na dispersão da luz e, consequentemente, na forma como
a cor é percebida.
Repare na Figura 5.27 como as montanhas mais distantes apresentam uma cor menos
intensa do que aquelas que estão mais próximas do observador. Esta gradação pode
apresentar variações em função das condições climáticas, do horário em que o registro
é realizado e, ainda, em função do equipamento utilizada para a realização do registro.
19
Palavras como simetria, harmonia e, sobretudo, proporção figuram como pré-requisitos
para a obtenção deste atributo, a beleza. Para Tatarkiewicz (1989), além da proporção,
beleza demanda igualmente precisão e ordem.
A recorrência da palavra proporção reforça a sua importância.
Palavra que vem do latim, proporção (proportione) diz respeito a uma relação entre as
partes de uma mesma grandeza relacionando duas razões (do latim ratio e significa a
divisão ou o quociente entre dois números) dentro de uma igualdade criando um elo
entre elas, como refere Elam (2010). A autora refere ainda que, em termos históricos, é
notável uma predileção pelas proporções obtidas a partir da seção áurea.
A preferência por esta constante não está relacionada apenas à fatores estéticos, mas,
também, ao fato de ser um padrão presente na natureza, segundo Elam (2010). As
conchas são espirais logarítmicas de proporções áureas, refletindo o que ficou
conhecido como a teoria de um padrão de crescimento perfeito (ELAM, 2010, p. 8).
20
Figura 5.29: Proporção áurea na natureza
21
continuas infinitas, deduções algébricas ou geométricas. (QUEIROZ,
2007, p. 3)
Em um dado segmento existe um determinado ponto que divide este segmento em duas
partes: uma maior e outra menor.
Se dividirmos o maior segmento pelo menor será encontrado o mesmo valor se dividida
as duas partes (maior e menor) pelo segmento maior. O valor resultante, 1,618, é
conhecido como número de ouro e está na base da proporção áurea.
Complexo?
22
5.3.3 Retângulo Áureo
O retângulo áureo recebe esta denominação tendo em vista que resulta em 1,618, a
divisão da sua base pela altura.
23
1. Coloque a ponta seca do compasso em A;
2. Abra o compasso até o vértice 1 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 2 do retângulo;
3. Coloque a ponta seca do compasso em B;
4. Abra o compasso até o ponto 2 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 3 do retângulo;
5. Coloque a ponta seca do compasso em C;
6. Abra o compasso até o ponto 3 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 4 do retângulo;
7. Coloque a ponta seca do compasso em D;
8. Abra o compasso até o ponto 4 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 5 do retângulo;
9. Coloque a ponta seca do compasso em E;
10. Abra o compasso até o ponto 5 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 6 do retângulo.
24
Figura 5.32: Construção da espiral áurea
25
5.3.5 Sequência de Fibonacci
A seção áurea guarda ainda estreita relação com a sequência de Fibonacci que, por sua
vez, também é encontrada em vários exemplares da natureza e da arte, como refere
Elan (2010).
Um matemático italiano, conhecido como Fibonacci, desenvolveu a seguinte sequência
numérica:
Começa-se com o 0 e 1 = 1
A sequência é obtida por meio da soma dos dois últimos algarismos.
0+1=1
1+1=2
2+1=3
3+2=5
5+3=8
8 + 5 = 13...
E qual é a relação com a seção áurea?
A proporção entre qualquer par de números na sequência é muito próxima da
proporção áurea. (ELAM, 2010, p. 29)
A construção do retângulo a partir da sequência de Fibonacci tem início com a junção
de dois quadrados de lado 1. Acrescentamos mais 1 quadrado de lado 2. Resulta um
retângulo. Juntamos mais um quadrado com lado 3. Novo retângulo surge. Agora, um
novo quadrado com lado 5. Temos mais um retângulo. Novo quadrado com lado 8, o
que resulta em novo retângulo. A sequência continua indefinidamente.
26
Portanto, a estratégia é justapor quadrados de forma a resultar em retângulos.
Elam (2010), na introdução do seu livro Geometria do Design, refere o fato de muitas
vezes ter observado boas ideias conceituais que não resultaram em bons projetos, em
termos visuais. Este resultado, a que se refere a autora, está relacionado a organização
da forma, a articulação dos elementos visuais básicos em uma determinada área. Para
a autora, para que isto aconteça de forma satisfatória é imprescindível uma
estruturação, ou em outras palavras, a aplicação dos princípios visuais da composição
geométrica.
27
das proporções ideias do corpo humano, como relata Elam (2010). O Templo de
Partenon é disso exemplo (Figura 5.34).
28
posições, sobrepostas e inseridas em uma circunferência e um quadrado
simultaneamente - apresenta o que seria o ideal humano, a partir da obra de Vitruvius,
segundo o que se supõe dada as convergências e a menção às proporções divinas.
Le Corbusier, já no século XX, retoma a discussão e, em sua obra Por Uma Arquitetura
faz referência à necessidade dos "traçados reguladores como um meio de criar ordem e
beleza na arquitetura", como reporta Elam (2010). Ainda segundo a mesma autora,
posteriormente, o arquiteto publica O Modulor: Ensaio sobre um Sistema de Medidas
Harmônicas em Escala Humana de Aplicação Universal na Arquitetura e na Mecânica,
desenvolvido pelo arquiteto, onde é apresentado um sistema de proporções baseado
na matemática, na seção áurea e nas proporções do corpo humano (Figura 5.37).
O sistema desenvolvido por Le Corbusier teve um significativo impacto não só na
arquitetura como também nas artes plásticas e no design.
29
senso de adequação visual. Por meio do exame de características
geométricas, esquemas e proporções, pode-se entender melhor as
intenções e o raciocínio dos designers e arquitetos. Essa análise
esclarece o processo de criação e proporciona uma explicação racional
para muitas das decisões tomadas em tais obras, seja o ordenamento
geométrico intuitivo ou proposital, aplicado com rigidez ou adotado
de maneira casual. (ELAM, 2010, p. 43)
Até lá!
30
Conclusão
O contraste é o que permite visualizar a oposição, outra perspectiva. Em termos
primários necessita da presença de luz para que possa ser percebido e deixe perceber
os detalhes. Apresenta tipos diferentes que, podem atender a diferentes objetivos e
intenções projetuais.
31
A utilização da seção áurea ou da sequência de Fibonacci não é unanimidade. Há estudos
que tentam contradizer a sua utilização e eficácia, mas é inegável a sua presença ao
longo da história.
Referências
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual. São Paulo: Editora USP, 1980.
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto. Sistema de Leitura Visual da Forma. São Paulo:
Editora Escrituras, 2002.
Leitura de Apoio
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
p. 107-129.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto. Sistema de Leitura Visual da Forma. São Paulo:
Editora Escrituras, 2002. p. 62-73.
32