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Manual de
ENGENHARIA
DIAGNOSTICA Desempenho, Manifestações Patológicas
e Perícias na Construção Civil
São Paulo – SP
2021
COLABORADORES
INTRODUÇÃO 2ª EDIÇÃO..................................................................................................................................................................................... 10
Tito Lívio Ferreira Gomide
Stella Marys Della Flora
Antonio Guilherme Menezes Braga
Marco Antonio Gullo
Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto
1 CONCEITO E HISTÓRICO..................................................................................................................................................................................13
1.1 A correlação entre a Engenharia Diagnóstica e a Medicina.....................................................................................16
Tito Lívio Ferreira Gomide
2 ESTADO DA ARTE............................................................................................................................................................................................... 20
Tito Lívio Ferreira Gomide
2.4
A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E A PERÍCIA AMBIENTAL................................................................................ 43
Miguel Tadeu Campos Morata
3 FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS...................................................................................................................................................................55
3.1 VISTORIA – INFORMAÇÃO............................................................................................................................................. 57
3.2 INSPEÇÃO – INTUIÇÃO.................................................................................................................................................... 58
3.3 AUDITORIA – INTER-RELAÇÃO..................................................................................................................................... 61
3.4 PERÍCIA – INFERÊNCIA..................................................................................................................................................... 62
3.5 CONSULTORIA – DIAGNÓSTICO INDIRETO (PROGNÓSTICO E PRESCRIÇÃO).......................................... 65
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora
5.1
TIPOLOGIAS DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS.............................................................................................223
Stella Marys Della Flora
5.2
METODOLOGIA DO DIAGNÓSTICO.........................................................................................................................228
Marcus Vinícius Fernandes Grossi
5.3 DIAGNÓSTICOS NAS ALVENARIAS .........................................................................................................................239
João Gomes Ferreira
5.4
DIAGNÓSTICOS NOS REVESTIMENTOS..................................................................................................................245
Inês Flores-Colen
5.5
DIAGNÓSTICOS NO SISTEMA DE COMBATE À INCENDIO............................................................................ 254
Paulo Palmieri Magri
5.6
PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO...................................................................................................262
Natália Linhares
5.7 PATOLOGIA DE IMPERMEABILIZAÇÃO ..................................................................................................................273
Marcelo Suarez Saldanha
5.8
PATOLOGIA DE REVESTIMENTOS............................................................................................................................. 284
Felipe Silva Lima
6 DESEMPENHO....................................................................................................................................................................................................... 297
6.1 MEDIDAS DA QUALIDADE DE EDIFICAÇÃO.........................................................................................................297
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora
6.2
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO – MÉTODO DOS CINCO PASSOS.............................................................. 300
Tito Lívio Ferreira Gomide
6.3
VIDA ÚTIL E GARANTIA................................................................................................................................................307
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora
7.2
PROVA PERICIAL NA ARBITRAGEM..........................................................................................................................322
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora
7.3
MEDIAÇÃO........................................................................................................................................................................ 330
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora
8.1.2.1
Laudo de vistoria de vizinhança............................................................................................................345
Silvia Matsu Eguti
8.2
LAUDOS DE DIAGNÓSTICOS DE VALOR.................................................................................................................377
8.2.1 Aspectos gerais das avaliações de bens – imóveis urbanos.......................................................................377
Débora Sanches de Alexandre Marinello
8.2.2 Estudo do impacto do recalque diferencial no valor médio de mercado dos apartamentos
localizados nos denominados “prédios tortos” na orla de Santos/SP..................................................................386
Flávia Maluza Braga
8.2.3 Laudo de avaliação técnica de diagnóstico – espaço aéreo....................................................................... 398
Sérgio Antonio Abunahman
CURRÍCULOS.......................................................................................................................................................................................... 414
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................................................................................423
INTRODUÇÃO 2ª EDIÇÃO
Na edição anterior afirmamos que a ideia lizando com o uso, reabilitação e desconstrução,
da criação da Engenharia Diagnóstica no Brasil o conhecido PPEEURD. E as ferramentas de tra-
surgiu com a constatação da plena similaridade balho, representadas pelas vistorias, inspeções,
dos trabalhos periciais de Engenharia com aque- auditorias, perícias e consultorias permitem os
les da Medicina Diagnóstica, a requerer questio- mais variados diagnósticos técnicos e jurídicos,
namentos, exames e ensaios para o diagnóstico contribuindo também para o aprimoramento
de manifestações patológicas, falhas de manu- construtivo e prevenção de litígios, como as vis-
tenção, irregularidades de uso, e também do ní- torias de vizinhança e as inspeções de manuten-
vel de desempenho das edificações. ção predial, por exemplo.
Sem embargo da anterior existência dos Os diversos seminários promovidos pelo
estudos da disciplina de Patologia do Concreto, Instituto de Engenharia, bem como os work-
sempre voltados às restaurações, reparações shops com o Fundec da Universidade de Lisboa,
e reforços nas estruturas, a Engenharia Diag- e dezenas de cursos promovidos pelo Inbec, per-
nóstica surgiu com foco mais abrangente, envol- mitiram a plena difusão da Engenharia Diagnós-
vendo não só o concreto, mas todos os sistemas tica no Brasil e exterior, e mais, sua plena aprova-
construtivos, além de também ter por objetivos ção e aplicação no meio técnico e jurídico.
os aprimoramentos técnicos, o desempenho, e a Desde o início da implantação da disciplina
manutenção, bem como contribuir para as apu- no Brasil, com o lançamento do projeto em 2005,
rações de responsabilidade. no primeiro seminário de inspeção e manutenção
As investigações com suas constatações, in- predial em São Paulo e, principalmente, com a
tuições, inter-relações e as inferências técnicas edição do livro vermelho “Engenharia Diagnósti-
abrangem todas as fases de uma construção, des- ca em Edificações”, em 2009 pela Editora PINI, em
de a gestão com o planejamento e projeto, pas- coautoria com os Engenheiros Jerônimo Cabral
sando pela execução e conclusão da obra, e fina- Pereira Fagundes Neto e Marco Antonio Gullo –
introdução 2ª edição • 11
Os resultados desse memorável trabalho Esperamos que esta segunda edição do
provem, principalmente, da experiência prática Manual de Engenharia Diagnóstica seja útil aos
de todos os autores dos tópicos e laudos, quer colegas da área técnica e também aos militantes
como professores de renomadas Universidades do mundo jurídico, e que seja constantemente
e Institutos, ou como profissionais atuantes e reeditado, com a indispensável ampliação e
reconhecidos do mercado da construção civil renovação que a Engenharia Diagnóstica requer,
brasileira. Agradecimento especial fazemos aos nesses tempos de muitas mudanças e de acelera-
colegas da Fundec e Universidade de Lisboa, da evolução técnica.
João Gomes Ferreira e Inês Flores-Colen, pois
fizeram contribuição inestimável, quer técnica, Tito Lívio Ferreira Gomide
quer de amizade, aos peritos brasileiros. Stella Marys Della Flora
Antonio Guilherme Menezes Braga
Marco Antonio Gullo
Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto
CONCEITO E HISTÓRICO
• 13
objeto de estudo. E deve-se incluir os en- O processo diagnóstico desse conceito
saios tecnológicos, também, como ferra- pode ser ilustrado pelo tetra “IN”, da se-
mentas auxiliares do tetra “IN”. guinte forma:
(ii) Manifestações patológicas e o nível de de- Juiz Técnico, o que ocorre usualmente nas
sempenho são os objetos de estudo. As investigações extrajudicais das obras em
anomalias construtivas, as falhas de ma- andamento ou mesmo nas arbitragens. Na
nutenção e as irregularidades de uso são perícia judicial, mesmo com a causa revela-
examinadas para terem os seus diagnósti- da, evidentemente, deixa-se a indicação da
cos determinados, e os parâmetros do nível responsabilidade para os magistrados, sim-
de desempenho podem ser avaliados, o que plesmente por questões processuais.
possibilitará a determinação do diagnóstico
completo da construção. Evidentemente, o conceito de ED pode ser
(iii) Aprimorar a qualidade ou apurar de respon- outro, ampliado ou modificado, considerando
sabilidade são as duas principais finalida- as investigações diretas (tetra-in) e também as
des, quer seja para se evitar ou minimizar indiretas, como as consultorias de patologia,
manifestações patológicas, ou, ainda, apri- ensaios e avaliações, por exemplo. Mas isso em
morar o desempenho no foco da Qualidade. nada modifica a grandeza e utilidade da ED na
E, também, para se apurar responsabilida- prática da construção civil.
des, pois o diagnóstico preciso indica a cau- Resumidamente, ED é o check up da constru-
sa e, consequentemente, a responsabilida- ção, desde sua concepção até sua desconstrução.
de. O Engenheiro Diagnóstico, portanto, é Todas as fases de desenvolvimento de uma obra
conceito e histórico • 15
As experiências e aprimoramentos dos ligan- Desempenho, estando difundida por todo o Bra-
tes hidráulicos, por óbvio, desde tempos remotos, sil e até mesmo no exterior.
implicaram em investigações aleatórias, ou seja,
surgem por aí, também, os diagnósticos empíricos,
e que foram aprimorados pelos Romanos entre 1.1 A CORRELAÇÃO ENTRE A
300 a.C. a 500 d.C., com as argamassas misturadas ENGENHARIA DIAGNÓSTICA
de solos vulcânicos, cal e areia, nas proximidades E A MEDICINA
de Pozzuoli, gerando o termo pozolana.
Em artigo publicado no livro Engenharia Le-
Mais recentemente, com a implantação da
Inspeção Predial no Brasil, após seu lançamento gal 3, da editora LEUD, foi destacado que os com-
no X Cobreap de Porto Alegre, em 1999, com o partilhamentos de conhecimentos dessas duas
trabalho denominado “A Inspeção Predial deve importantes ciências, representadas pela Enge-
ser periódica e obrigatória?”, premiado com nharia e Medicina, ultrapassam os aspectos cien-
menção honrosa, muito se evoluiu. Após essa tíficos, pois se efetivam na prática, na realidade
divulgação inicial da Inspeção Predial, a comu- do dia a dia, favorecendo melhor a aplicação e
nidade técnica brasileira interessou-se pelos a aceleração no desenvolvimento das duas ativi-
estudos visando a prevenção e a manutenção. dades, como segue exposto:
Evitar acidentes e a degradação precoce das edi- A tecnologia favorece a cura e prevenção
ficações foi a palavra de ordem no meio técnico e das doenças pela Medicina e o milenar conheci-
pericial, com a elaboração de manuais, normas, mento médico favorece a qualidade dos produ-
diretrizes, livros, seminários e feiras, nesse en- tos de Engenharia, recomendando a correlação
foque. Os sindicatos dos construtores e incorpo- e o mútuo compartilhamento dessas imprescin-
radores se engajaram nesse objetivo e aprimora- díveis ciências para a humanidade, consideradas
ram os manuais de uso, manutenção e operação até mesmo como artes, talvez, pela criatividade
das edificações, bem como incentivaram a ABNT inerente às duas atividades.
a aprimorar e criar novas normas técnicas, o que Assim sendo, nada mais natural e recomen-
gerou as atuais normas de gestão de manuten- dável do que a reciprocidade no compartilha-
ção, desempenho, reforma e o desenvolvimento mento dos conhecimentos dessas artes/ciências,
da própria norma de inspeção predial. pois são inúmeras as experiências positivas com
A Engenharia Diagnóstica em edificações, efetivas aplicações favoráveis para a Medicina e
como disciplina, foi lançada no Brasil em 2005, Engenharia.
com o foco de investigação voltado para as di- Os exemplos da correlação e comparti-
versas fases de desenvolvimento do empreendi- lhamento de conhecimentos são inúmeros,
mento edilício, ou seja, o planejamento, o proje- podendo-se destacar alguns pelo lado médico,
to, a execução e o uso (PPEU). Posteriormente, tais como a renomada Medicina nuclear que é o
o foco voltou-se para as ferramentas utilizadas ramo da medicina em que se utiliza da tecnolo-
na investigação técnica, classificando-se a vis- gia nuclear da física, química e engenharia com
toria, a inspeção, a auditoria e a perícia (VIAP), finalidade diagnóstica e terapêutica; a Medicina
bem como as correspondentes aplicações prá- astronáutica ligada às explorações do espaço
ticas. Em 2009, com o lançamento do livro ver- cósmico; a Medicina ortomolecular que também
melho “Engenharia Diagnóstica em Edificações” se utiliza da engenharia química na análise de
pela editora PINI, reforçado com a sua segunda substâncias; a Medicina preventiva que requer
edição em 2015, a disciplina adentrou definiti- um plano de manutenção corretivo e preventivo
vamente pelos caminhos da Qualidade Total e com tecnologia da Engenharia de Manutenção e
conceito e histórico • 17
Tais conceitos podem ser melhor entendi-
dos através do quadro que evidencia a interação
das atividades diagnósticas e ferramentas, da
aplicação prática, consoante o seguinte:
conceito e histórico • 19
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
ESTADO
ESTADO DADA
ARTEARTE
No Brasil já possuímos diversos empreendi- Mas, num paradoxo bem brasileiro, também
mentos no foco da Qualidade Total e Sustentabili- convivemos com prédios de precária qualidade
dade, sendo o triple AAA o que apresenta o maior construtiva, triple iii, decorrentes de construção
destaque, com projeto inovador, alto nível de tec- com mão de obra despreparada que, muitas ve-
nologia embarcada, elevado padrão construtivo, zes, em situações imprevistas age com ignorância
qualidade sustentável dos ambientes, controles e improviso, provocando manifestações pato-
por automação e outras modernidades: lógicas e perda de desempenho nas obras. Essa
realidade reforça a pertinência e importância da
ED na atualidade de nossas obras.
Figura 11 – Triplo A.
Fonte: Elaborado pelo autor.
estado da arte • 21
Atualmente, os estudos da Engenharia Diag-
nóstica se aprofundam nas fases da Sustentabi-
lidade e Responsabilidade Social, além daqueles
específicos da Qualidade Construtiva, na moder-
na visão do desempenho e vida útil.
Figura 12 – Triplo I.
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 14 – 4ª Visão.
Fonte: Adaptado pelo autor.
estado da arte • 23
tem muito a beber na fonte dessa doutrina, que •• Produção e divulgação técnica especiali-
desenvolve importante papel na organização e zada.
abertura de campos de atuação no mercado de
trabalho. Sendo alguns dos campos de atuação a que
Isso não significa que um técnico seja total- estas se aplicam:
mente independente do outro, contrariamente, •• (...) das soluções tecnológicas para reuti-
a exemplo das atividades que envolvem proje- lização, reabilitação, reconstrução, pre-
tos, nos trabalhos elencados pela Engenharia servação, conservação, restauro e valori-
Diagnóstica, também podem, e em alguns casos zação de edificações, conjuntos e cidades;
devem, desenvolver atividades em conjunto. Po- •• da tecnologia e resistência dos materiais,
rém, iniciamos com uma avaliação sobre a prá- dos elementos e produtos de construção,
tica profissional do arquiteto e seu papel como patologia e recuperações;
engenheiro diagnóstico, perguntando: Arquite- •• dos sistemas construtivos e estruturais,
to Diagnóstico ou Engenheiro Diagnóstico? estruturas, desenvolvimento de estrutu-
A pergunta poderá não fazer muito sentido ras e aplicação tecnológica de estruturas;
aos engenheiros, mas é muito importante para •• de instalações e equipamentos referen-
a reflexão que será proposta. A questão a ser le- tes à arquitetura e urbanismo;
vantada se deve a dúvida recorrente que surge •• do Conforto Ambiental, técnicas refe-
aos arquitetos portadores de um certificado de rentes ao estabelecimento de condições
conclusão de curso de especialização em Enge- climáticas, acústicas, lumínicas e ergonô-
nharia Diagnóstica: O arquiteto pode ser nomea- micas (...).
do “Engenheiro Diagnóstico”?
Diante das atribuições elencadas, indiscuti-
Não restam dúvidas que o exercício da pro-
velmente elucidando a habilitação do profissio-
fissão nas atividades envolvidas pela ED é ga-
nal de arquitetura para atuar no campo da En-
rantido ao profissional de arquitetura pela Lei
genharia diagnóstica, permanece a dúvida sobre
nº 12.3782, de 31 de dezembro de 2010, onde,
sua identificação.
em seu art. 2º, estabelece as atribuições dos ar-
quitetos e urbanistas e, no parágrafo único deste Ainda inexiste lei ou resolução que deter-
artigo, os campos de atuação a que estas se apli- mine, de forma esclarecedora, a possibilidade
cam, sendo algumas das atribuições: de um arquiteto utilizar em seu cartão de visi-
ta o termo “engenheiro diagnóstico”, porém de
•• Supervisão, coordenação, gestão e orien-
maneira a dar lastro, tomemos como exemplo a
tação técnica;
especialização em “Engenharia de Segurança do
•• Assistência técnica, assessoria e consultoria;
Trabalho”.
•• Vistoria, perícia, avaliação, monitora-
mento, laudo, parecer técnico, auditoria Muito menos jovem que a Engenharia Diag-
e arbitragem; nóstica, nessa especialização, desde 1985, pela
•• Desenvolvimento, análise, experimenta- Lei nº 7.4103, profissionais formados em arqui-
ção, ensaio, padronização, mensuração e tetura, com especialização na área de segurança
controle de qualidade;
3
BRASIL. Lei Federal nº 7.410, de 27 de novembro de
2
BRASIL. Lei Federal nº 12.378, de 31 de dezembro de 1985. Dispõe sobre a Especialização de Engenheiros e Ar-
2010. Regulamenta o exercício da Arquitetura e Urbanismo quitetos em Engenharia de Segurança do Trabalho e dá ou-
e dá outras providências; tras providências;
estado da arte • 25