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TITO LÍVIO FERREIRA GOMIDE

STELLA MARYS DELLA FLORA


ANTONIO GUILHERME MENEZES BRAGA
MARCO ANTONIO GULLO
JERÔNIMO CABRAL PEREIRA FAGUNDES NETO
(Coordenadores)

Manual de
ENGENHARIA
DIAGNOSTICA Desempenho, Manifestações Patológicas
e Perícias na Construção Civil

2ª edição revista e ampliada

São Paulo – SP
2021
COLABORADORES

Antonio Guilherme Menezes Braga Marcelo Suarez Saldanha


Débora Sanches de Alexandre Marinello Marco Antonio Gullo
Douglas Barreto Marcus Vinícius Fernandes Grossi
Érica Dallariva Miguel Tadeu Campos Morata
Felipe Silva Lima Miriana Marques
Fernanda Craveiro Cunha Natália Linhares
Flávia Maluza Braga Paulo Palmieri Magri
Heloísa Dota Fioravante Paulo Sérgio da Silva
Inês Flores-Colen Reginaldo Alexandre da Silva
Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto Renato Freua Sahade
João Gomes Ferreira Ronaldo Foster Vidal
José Carlos Gasparim Sérgio Antonio Abunahman
José Marques Silvia Matsu Eguti
Kelly Ramos de Lima Stella Marys Della Flora
Kleber José Berlando Martins Tito Lívio Ferreira Gomide
Lawton Parente Vitor Marques
Luciano Gomide Giglio
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 2ª EDIÇÃO..................................................................................................................................................................................... 10
Tito Lívio Ferreira Gomide
Stella Marys Della Flora
Antonio Guilherme Menezes Braga
Marco Antonio Gullo
Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto

1 CONCEITO E HISTÓRICO..................................................................................................................................................................................13

1.1 A correlação entre a Engenharia Diagnóstica e a Medicina.....................................................................................16
Tito Lívio Ferreira Gomide

2 ESTADO DA ARTE............................................................................................................................................................................................... 20
Tito Lívio Ferreira Gomide

2.1 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E A ARQUITETURA........................................................................................... 23


Érica Dallariva

2.2 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E O PATRIMÔNIO CULTURAL....................................................................... 28
Fernanda Craveiro Cunha

2.3 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E A SAÚDE DOS HABITANTES DAS EDIFICAÇÕES.............................. 34


Luciano Gomide Giglio

2.4
A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA E A PERÍCIA AMBIENTAL................................................................................ 43
Miguel Tadeu Campos Morata

3 FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS...................................................................................................................................................................55

3.1 VISTORIA – INFORMAÇÃO............................................................................................................................................. 57

3.2 INSPEÇÃO – INTUIÇÃO.................................................................................................................................................... 58

3.3 AUDITORIA – INTER-RELAÇÃO..................................................................................................................................... 61

3.4 PERÍCIA – INFERÊNCIA..................................................................................................................................................... 62

3.5 CONSULTORIA – DIAGNÓSTICO INDIRETO (PROGNÓSTICO E PRESCRIÇÃO).......................................... 65
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

4 ETAPAS CONSTRUTIVAS .................................................................................................................................................................................. 68



4.1 PLANEJAMENTO, PROJETO, EXECUÇÃO, ENTREGA, USO, REABILITAÇÃO E DESCONSTRUÇÃO.....68
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora
4.2 APLICAÇÕES DA ENGENHARIA DIAGNÓSTICA NAS ETAPAS CONSTRUTIVAS ...................................... 74

4.2.1 Vistorias de vizinhança – fase de planejamento............................................................................................... 74
Miriana Marques | Vitor Marques

4.2.2 O Building Information Modelling (BIM) – Fase de projeto.......................................................................................... 84


Érica Dallariva

4.2.3 Qualidade construtiva e controle tecnológico – Fase de execução...........................................................89


Douglas Barreto

4.2.4 Construção com desempenho acústico – Fase de execução..................................................................... 115
Kelly Ramos de Lima

4.2.5 Investigação técnica na conclusão da obra – Fase de entrega....................................................................137
Marcus Vinícius Fernandes Grossi

4.2.6 Inspeção predial na prática – Fase de uso....................................................................................................... 144
Kleber José Berlando Martins

4.2.7
Comentários a Norma de Inspeção Predial da ABNT (NBR 16747:2020)..............................................152
Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto | Marco Antonio Gullo

4.2.8 Auto vistorias – Fase de uso.................................................................................................................................173


Ronaldo Foster Vidal

4.2.9 Manutenção – Fase de uso.................................................................................................................................. 186
Heloísa Dota Fioravante | Reginaldo Alexandre da Silva

4.2.10 Durabilidade e sustentabilidade – Fase de uso............................................................................................ 194
Paulo Sérgio da Silva | Renato Freua Sahade

4.2.11 Reabilitação de estruturas – Fase de reabilitação........................................................................................ 204
José Carlos Gasparim

4.2.12 Reabilitação de fachadas revestidas com placas cerâmicas aderidas – Fase de reabilitação.........213
Lawton Parente

5 DIAGNÓSTICOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL (MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS)........................................................... 222


Tito Lívio Ferreira Gomide

5.1
TIPOLOGIAS DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS.............................................................................................223
Stella Marys Della Flora

5.2
METODOLOGIA DO DIAGNÓSTICO.........................................................................................................................228
Marcus Vinícius Fernandes Grossi

5.3 DIAGNÓSTICOS NAS ALVENARIAS .........................................................................................................................239
João Gomes Ferreira

5.4
DIAGNÓSTICOS NOS REVESTIMENTOS..................................................................................................................245
Inês Flores-Colen

5.5
DIAGNÓSTICOS NO SISTEMA DE COMBATE À INCENDIO............................................................................ 254
Paulo Palmieri Magri

5.6
PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO...................................................................................................262
Natália Linhares

5.7 PATOLOGIA DE IMPERMEABILIZAÇÃO ..................................................................................................................273
Marcelo Suarez Saldanha

5.8
PATOLOGIA DE REVESTIMENTOS............................................................................................................................. 284
Felipe Silva Lima
6 DESEMPENHO....................................................................................................................................................................................................... 297

6.1 MEDIDAS DA QUALIDADE DE EDIFICAÇÃO.........................................................................................................297
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

6.2
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO – MÉTODO DOS CINCO PASSOS.............................................................. 300
Tito Lívio Ferreira Gomide

6.3
VIDA ÚTIL E GARANTIA................................................................................................................................................307
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

6.4 REQUISITOS DA CONSTRUÇÃO COM DESEMPENHO.......................................................................................313


Tito Lívio Ferreira Gomide

7 PROVA PERICIAL DE ENGENHARIA DIAGNÓSTICA........................................................................................................................318


Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

7.1 ARTIGOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL......................................................................................................... 319


Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

7.2
PROVA PERICIAL NA ARBITRAGEM..........................................................................................................................322
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

7.3
MEDIAÇÃO........................................................................................................................................................................ 330
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

7.4 CÓDIGO DE ÉTICA...........................................................................................................................................................336


Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

7.5 TABELA DE HONORÁRIOS............................................................................................................................................ 341


Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

8 LAUDOS, PARECERES DIAGNÓSTICOS E DE CONSULTORIAS..................................................................................................344



8.1 Laudos e Pareceres de Engenharia Diagnóstica....................................................................................................... 344

8.1.2 Modelos de laudos e pareceres...........................................................................................................................345
Tito Lívio Ferreira Gomide | Stella Marys Della Flora

8.1.2.1
Laudo de vistoria de vizinhança............................................................................................................345
Silvia Matsu Eguti

8.1.2.2 Laudo pericial – o muro caiu ..................................................................................................................351


José Marques

8.1.2.3 Laudo pericial de engenharia diagnóstica......................................................................................... 366
Stella Marys Della Flora

8.1.2.4 Parecer crítico de engenharia ................................................................................................................372


Stella Marys Della Flora

8.2
LAUDOS DE DIAGNÓSTICOS DE VALOR.................................................................................................................377

8.2.1 Aspectos gerais das avaliações de bens – imóveis urbanos.......................................................................377
Débora Sanches de Alexandre Marinello

8.2.2 Estudo do impacto do recalque diferencial no valor médio de mercado dos apartamentos
localizados nos denominados “prédios tortos” na orla de Santos/SP..................................................................386
Flávia Maluza Braga

8.2.3 Laudo de avaliação técnica de diagnóstico – espaço aéreo....................................................................... 398
Sérgio Antonio Abunahman

CURRÍCULOS.......................................................................................................................................................................................... 414
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................................................................................423
INTRODUÇÃO 2ª EDIÇÃO

Tito Lívio Ferreira Gomide


Stella Marys Della Flora
Antonio Guilherme Menezes Braga
Marco Antonio Gullo
Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto

Na edição anterior afirmamos que a ideia lizando com o uso, reabilitação e desconstrução,
da criação da Engenharia Diagnóstica no Brasil o conhecido PPEEURD. E as ferramentas de tra-
surgiu com a constatação da plena similaridade balho, representadas pelas vistorias, inspeções,
dos trabalhos periciais de Engenharia com aque- auditorias, perícias e consultorias permitem os
les da Medicina Diagnóstica, a requerer questio- mais variados diagnósticos técnicos e jurídicos,
namentos, exames e ensaios para o diagnóstico contribuindo também para o aprimoramento
de manifestações patológicas, falhas de manu- construtivo e prevenção de litígios, como as vis-
tenção, irregularidades de uso, e também do ní- torias de vizinhança e as inspeções de manuten-
vel de desempenho das edificações. ção predial, por exemplo.
Sem embargo da anterior existência dos Os diversos seminários promovidos pelo
estudos da disciplina de Patologia do Concreto, Instituto de Engenharia, bem como os work-
sempre voltados às restaurações, reparações shops com o Fundec da Universidade de Lisboa,
e reforços nas estruturas, a Engenharia Diag- e dezenas de cursos promovidos pelo Inbec, per-
nóstica surgiu com foco mais abrangente, envol- mitiram a plena difusão da Engenharia Diagnós-
vendo não só o concreto, mas todos os sistemas tica no Brasil e exterior, e mais, sua plena aprova-
construtivos, além de também ter por objetivos ção e aplicação no meio técnico e jurídico.
os aprimoramentos técnicos, o desempenho, e a Desde o início da implantação da disciplina
manutenção, bem como contribuir para as apu- no Brasil, com o lançamento do projeto em 2005,
rações de responsabilidade. no primeiro seminário de inspeção e manutenção
As investigações com suas constatações, in- predial em São Paulo e, principalmente, com a
tuições, inter-relações e as inferências técnicas edição do livro vermelho “Engenharia Diagnósti-
abrangem todas as fases de uma construção, des- ca em Edificações”, em 2009 pela Editora PINI, em
de a gestão com o planejamento e projeto, pas- coautoria com os Engenheiros Jerônimo Cabral
sando pela execução e conclusão da obra, e fina- Pereira Fagundes Neto e Marco Antonio Gullo –

10 • manual de engenharia diagnóstica


muito se progrediu, principalmente após a vigên- ED é robusto e notório, e já há uma grande ge-
cia da Norma de Desempenho em Edificações da ração de novos Engenheiros Diagnósticos a fa-
ABNT (NBR 15575), em 19 de julho de 2013. zer prosperar cada vez mais a disciplina. Assim
A primeira edição desse livro, em 2018, visou sendo, os autores desta edição se constituem de
apresentar os principais conceitos, as aplicações jovens e velhos peritos que, de forma absoluta-
práticas e os progressos e novidades da disciplina mente livre e independente, escreveram seus ar-
ocorridos até 2017. Foram ilustrados os princi- tigos e laudos. Portanto, a responsabilidade pela
pais enfoques, conceitos, práticas e aspectos téc- autoria de cada texto é exclusiva do seu autor,
nicos, pois é sabido que, uma imagem vale mais cabendo a cada um o seu mérito, a ser apreciado
que mil palavras. Em forma de verdadeiro manual pelos leitores. Dessa forma, é preciso agradecer
de consulta, com exemplos, ilustrações e diretri- e dedicar o mérito desse livro a todos os autores,
zes, aquela edição teve o objetivo de uso prático, pois dedicados e também desbravadores da En-
para servir aos peritos judiciais, assistentes téc- genharia Diagnóstica.
nicos, estudantes e Engenheiros Diagnósticos que O conjunto da obra é inédito no meio pe-
atuam no mercado da construção civil. ricial, e de muita utilidade aos profissionais.
Agora, nesta segunda edição em 2020, re- O principal objetivo da obra é o uso prático, de
solvemos fazer verdadeira revolução técnica, consulta imediata, para orientação teórica e prá-
aproveitando os tempos de pandemia1 que nos tica da disciplina. Não é tratado, ou livro doutri-
assolam, ampliando e aprimorando tudo o que nário, mas há muita profundidade técnica, em
se apresentou anteriormente. Tempos de medos diversos capítulos.
e esperanças, como bem destacou a Dra. Car- A Engenharia de Avaliação foi contemplada
mém Lúcia Antunes Rocha, ministra do Supre- com a apresentação dos seus principais concei-
mo Tribunal Federal (STF), em excelente artigo tos e, também, através de laudos, isso plenamen-
publicado no jornal O Globo, em 10 de maio de te justificado pela parceria dessas disciplinas no
2020, afirmando que: Esperança não diz viver de meio judicial e também da vida prática. E, res-
espera. Não é aquietar, menos ainda acomodar ou salte-se, o brilhantismo e ineditismo em alguns
ceder. É pelejar na construção. Há que ter mãos desses laudos, é uma agrável surpresa.
para semear acontecências. As novidades dessa histórica edição in-
Nesse viés, buscando muitas mãos para esse cluem a correlação entre a ED e os diversos ou-
projeto, resolvemos convidar o Cabral, o Gullo e tros aspectos e áreas da engenharia, tais como a
o Guilherme, nossos antigos parceiros de tantas arquitetura, o patrimônio cultural, a saúde das
jornadas técnicas, para também organizar esta edificações e a perícia ambiental. Também foram
edição. Com isso, o livro conta com as preciosas apresentados exemplos de aplicação da ED nas
mãos de 33 autores para elaboração de muitos etapas construtivas (PPEEURD), abrangendo as
tópicos e laudos, convidados por mérito acadê- vistorias de vizinhança, o BIM, o controle tecno-
mico ou profissional, ou ainda comprovada ex- lógico, a acústica, a inspeção predial e auto vis-
periência, cabendo destacar que sempre contri- torias, as manutenções e as realibilitações, entre
buíram para o engrandecimento da Engenharia outros. Além disso, as principais manifestações
Diagnóstica e da Engenharia de Avaliação. patológicas dos principais sistemas contrutivos
Vale relembrar que faz mais de quinze anos também foram contempladas. Por fim, destaca-se
que essa jornada começou. O crescimento da os novos modelos de laudos apresentados, jun-
tamente com os conceitos e aplicabilidades das
1
 Pandemia pelo novo coronavírus, SARS-CoV2. avaliações.

introdução 2ª edição • 11
Os resultados desse memorável trabalho Esperamos que esta segunda edição do
provem, principalmente, da experiência prática Manual de Engenharia Diagnóstica seja útil aos
de todos os autores dos tópicos e laudos, quer colegas da área técnica e também aos militantes
como professores de renomadas Universidades do mundo jurídico, e que seja constantemente
e Institutos, ou como profissionais atuantes e reeditado, com a indispensável ampliação e
reconhecidos do mercado da construção civil renovação que a Engenharia Diagnóstica requer,
brasileira. Agradecimento especial fazemos aos nesses tempos de muitas mudanças e de acelera-
colegas da Fundec e Universidade de Lisboa, da evolução técnica.
João Gomes Ferreira e Inês Flores-Colen, pois
fizeram contribuição inestimável, quer técnica, Tito Lívio Ferreira Gomide
quer de amizade, aos peritos brasileiros. Stella Marys Della Flora
Antonio Guilherme Menezes Braga
Marco Antonio Gullo
Jerônimo Cabral Pereira Fagundes Neto

12 • manual de engenharia diagnóstica


CAPÍTULO 1

CONCEITO E HISTÓRICO

Tito Lívio Ferreira Gomide

Na sua origem brasileira, em 2005, a Enge- determinação das manifestações patológicas


nharia Diagnóstica (ED) foi conceituada como a e nível desempenho da construção ou, numa
arte de criar ações proativas, por meio dos diag- visão mais abrangente:
nósticos, prognósticos e prescrições técnicas,
visando a Qualidade Total. Mais adiante, em Engenharia Diagnóstica é a disciplina das in-
2011, o conceito tratava a ED como sendo a arte vestigações técnicas (tetra IN) para determi-
de distinguir anomalias por meio de procedi- nar os diagnósticos de manifestações patoló-
mentos técnicos. Em 2013, o conceito voltou-se gicas e níveis de desempenho das construções,
para a investigação de manifestações patológi- visando aprimorar Qualidade ou apurar Res-
cas prediais (construção, manutenção e uso), vi- ponsabilidades.
sando aprimorar a qualidade ou determinar res-
ponsabilidades. Todos esses conceitos abordam Portanto, são três os destaques desse con-
visões técnicas voltadas para os diagnósticos que ceito: (i) a investigação técnica, (ii) os diagnós-
indicam caminhos para ações corretivas, cada ticos das manifestações patológicas e desempe-
qual adaptado a seu tempo, na sua realidade. nho, e (iii) a finalidade de qualidade ou apuração
Atualmente, com as vigências de novas nor- de responsabilidade.
mas de desempenho e manutenção da ABNT, há (i) Investigação técnica é a novidade desse
maior abrangência da ED nas construções em conceito. É o foco principal da disciplina,
geral, nas edificações, e novas necessidades de mesmo que não haja diagnóstico no caso
diagnósticos para o desempenho, além das tra- em estudo, como ocorre nas vistorias, que
dicionais manifestações patológicas. E, devido à visam tão somente constatações. Já nas
própria evolução natural da disciplina, novos en- inspeções e auditorias alguns diagnósticos
foques se apresentam, desta feita com destaque se apresentam. Mas é nas perícias, eviden-
à principal atividade da ciência que é a investiga- temente, que os diagnósticos se revelam
ção. Numa visão simplista pode-se entender que por completo, com as determinações das
a Engenharia Diagnóstica é a disciplina da origens, causas e mecanismos de ação do

• 13
objeto de estudo. E deve-se incluir os en- O processo diagnóstico desse conceito
saios tecnológicos, também, como ferra- pode ser ilustrado pelo tetra “IN”, da se-
mentas auxiliares do tetra “IN”. guinte forma:

Figura 01 – Fluxograma TETRA IN.


Fonte: Elaborado pelo autor.

(ii) Manifestações patológicas e o nível de de- Juiz Técnico, o que ocorre usualmente nas
sempenho são os objetos de estudo. As investigações extrajudicais das obras em
anomalias construtivas, as falhas de ma- andamento ou mesmo nas arbitragens. Na
nutenção e as irregularidades de uso são perícia judicial, mesmo com a causa revela-
examinadas para terem os seus diagnósti- da, evidentemente, deixa-se a indicação da
cos determinados, e os parâmetros do nível responsabilidade para os magistrados, sim-
de desempenho podem ser avaliados, o que plesmente por questões processuais.
possibilitará a determinação do diagnóstico
completo da construção. Evidentemente, o conceito de ED pode ser
(iii) Aprimorar a qualidade ou apurar de respon- outro, ampliado ou modificado, considerando
sabilidade são as duas principais finalida- as investigações diretas (tetra-in) e também as
des, quer seja para se evitar ou minimizar indiretas, como as consultorias de patologia,
manifestações patológicas, ou, ainda, apri- ensaios e avaliações, por exemplo. Mas isso em
morar o desempenho no foco da Qualidade. nada modifica a grandeza e utilidade da ED na
E, também, para se apurar responsabilida- prática da construção civil.
des, pois o diagnóstico preciso indica a cau- Resumidamente, ED é o check up da constru-
sa e, consequentemente, a responsabilida- ção, desde sua concepção até sua desconstrução.
de. O Engenheiro Diagnóstico, portanto, é Todas as fases de desenvolvimento de uma obra

14 • manual de engenharia diagnóstica


de construção civil devem ser investigadas e in-
terpretadas pela Engenharia Diagnóstica (ED)
na busca permanente da qualidade total, repor-
tando-se ao tradicional PPEEURD:

Figura 03 – Círculo diagnóstico.


Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 02 – PPEEURD: Planejamento /
Projeto / Execução / Entrega / Uso /
Reabilitação / Desconstrução.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Sabendo-se que a Engenharia Civil possui


diversas vertentes, tais como: Engenharia de
Planejamento, Engenharia de Projetos, Enge-
nharia de Obras, Engenharia de Manutenção e
outras, fica evidente que a Engenharia relativa às
investigações técnicas também merece seu espa-
ço, sendo o título “Engenharia Diagnóstica” a de-
nominação mais correta para essa especialidade Figura 04 – Fluxograma da Engenharia Legal.
Fonte: Elaborado pelo autor.
multidisciplinar que incide em todas as fases de
um empreendimento de construção civil.
Quanto à origem histórica, pode-se repor-
Tradicionalmente, a Engenharia Diagnós-
tar ao início das próprias construções, com as
tica vem sendo utilizada nas soluções dos con-
experiências no uso da técnica, talvez por volta
flitos jurídicos, juntamente com a Engenharia
de 10000 AC, concomitantemente ao surgimento
de Avaliações, como apêndices da Engenharia
das primeiras argamassas conhecidas (Galileia).
Legal, porém sem o destaque necessário, pois
denominada simplesmente de perícia. Assim, Na Mesopotâmia, em 1772 AC, o Código
considerando que as investigações técnicas não de Hamurabi também dá evidências de estudos
se limitem a um exame, pois também incluem a diagnósticos para apurar responsabilidades de-
vistoria, a inspeção, a auditoria, a perícia e a con- vido a problemas construtivos, cujo rigor deter-
sultoria, fica evidente que essa vertente da Enge- minava resultados drásticos, tais como a pena
nharia Legal merece a correta denominação, ou de morte de escravo, ou do filho ou do próprio
seja, Engenharia Diagnóstica. construtor de casa que tenha colapsado por não
Para facilidade do entendimento dessas jus- ser firme, e causado a morte dessas mesmas pes-
tificativas seguem as figuras 03 e 04: soas da família do contratante.

conceito e histórico • 15
As experiências e aprimoramentos dos ligan- Desempenho, estando difundida por todo o Bra-
tes hidráulicos, por óbvio, desde tempos remotos, sil e até mesmo no exterior.
implicaram em investigações aleatórias, ou seja,
surgem por aí, também, os diagnósticos empíricos,
e que foram aprimorados pelos Romanos entre 1.1 A CORRELAÇÃO ENTRE A
300 a.C. a 500 d.C., com as argamassas misturadas ENGENHARIA DIAGNÓSTICA
de solos vulcânicos, cal e areia, nas proximidades E A MEDICINA
de Pozzuoli, gerando o termo pozolana.
Em artigo publicado no livro Engenharia Le-
Mais recentemente, com a implantação da
Inspeção Predial no Brasil, após seu lançamento gal 3, da editora LEUD, foi destacado que os com-
no X Cobreap de Porto Alegre, em 1999, com o partilhamentos de conhecimentos dessas duas
trabalho denominado “A Inspeção Predial deve importantes ciências, representadas pela Enge-
ser periódica e obrigatória?”, premiado com nharia e Medicina, ultrapassam os aspectos cien-
menção honrosa, muito se evoluiu. Após essa tíficos, pois se efetivam na prática, na realidade
divulgação inicial da Inspeção Predial, a comu- do dia a dia, favorecendo melhor a aplicação e
nidade técnica brasileira interessou-se pelos a aceleração no desenvolvimento das duas ativi-
estudos visando a prevenção e a manutenção. dades, como segue exposto:
Evitar acidentes e a degradação precoce das edi- A tecnologia favorece a cura e prevenção
ficações foi a palavra de ordem no meio técnico e das doenças pela Medicina e o milenar conheci-
pericial, com a elaboração de manuais, normas, mento médico favorece a qualidade dos produ-
diretrizes, livros, seminários e feiras, nesse en- tos de Engenharia, recomendando a correlação
foque. Os sindicatos dos construtores e incorpo- e o mútuo compartilhamento dessas imprescin-
radores se engajaram nesse objetivo e aprimora- díveis ciências para a humanidade, consideradas
ram os manuais de uso, manutenção e operação até mesmo como artes, talvez, pela criatividade
das edificações, bem como incentivaram a ABNT inerente às duas atividades.
a aprimorar e criar novas normas técnicas, o que Assim sendo, nada mais natural e recomen-
gerou as atuais normas de gestão de manuten- dável do que a reciprocidade no compartilha-
ção, desempenho, reforma e o desenvolvimento mento dos conhecimentos dessas artes/ciências,
da própria norma de inspeção predial. pois são inúmeras as experiências positivas com
A Engenharia Diagnóstica em edificações, efetivas aplicações favoráveis para a Medicina e
como disciplina, foi lançada no Brasil em 2005, Engenharia.
com o foco de investigação voltado para as di- Os exemplos da correlação e comparti-
versas fases de desenvolvimento do empreendi- lhamento de conhecimentos são inúmeros,
mento edilício, ou seja, o planejamento, o proje- podendo-se destacar alguns pelo lado médico,
to, a execução e o uso (PPEU). Posteriormente, tais como a renomada Medicina nuclear que é o
o foco voltou-se para as ferramentas utilizadas ramo da medicina em que se utiliza da tecnolo-
na investigação técnica, classificando-se a vis- gia nuclear da física, química e engenharia com
toria, a inspeção, a auditoria e a perícia (VIAP), finalidade diagnóstica e terapêutica; a Medicina
bem como as correspondentes aplicações prá- astronáutica ligada às explorações do espaço
ticas. Em 2009, com o lançamento do livro ver- cósmico; a Medicina ortomolecular que também
melho “Engenharia Diagnóstica em Edificações” se utiliza da engenharia química na análise de
pela editora PINI, reforçado com a sua segunda substâncias; a Medicina preventiva que requer
edição em 2015, a disciplina adentrou definiti- um plano de manutenção corretivo e preventivo
vamente pelos caminhos da Qualidade Total e com tecnologia da Engenharia de Manutenção e

16 • manual de engenharia diagnóstica


a Medicina Diagnóstica que se utiliza de sofisti- levando-se em conta que a prioridade nessas
cados equipamentos produzidos pela Engenha- convergências incide nos diagnósticos, prognós-
ria, na realização dos mais variados exames. ticos e prescrições das anomalias construtivas e
Do outro lado, aproveita-se a Engenharia falhas de manutenção das edificações.
dos milenares conhecimentos de curar e preve- Importante, também, destacar que as ter-
nir doenças da Medicina, visando a saúde huma- minologias relativas à Engenharia Diagnóstica,
na, porém, desta feita para prevenir e corrigir também se basearam naquelas tradicionais da
anomalias de seus produtos. A Engenharia de Medicina, podendo-se apresentar as seguintes:
Produção e Industrial seguem roteiros cirúrgi-
Anamnese Técnica da Edificação: dados
cos; a Engenharia de Alimentos e a Engenharia
coletados sobre o início e evolução da
de Segurança se baseiam nas prescrições de pre-
anomalia construtiva ou falha de manu-
venção e primeiros socorros da Medicina, além
tenção, desde a concepção do projeto até
de tantas outras correlações nas demais especia-
a data da vistoria ou inspeção.
lidades da Engenharia.
Diagnóstico Técnico da Edificação: deter-
Cabe registrar que as similaridades dos
minação e indicação das anomalias cons-
objetos de estudos das duas ciências, o homem
trutivas, falhas de manutenção e níveis
e uma edificação – por exemplo, incluem até
de desempenho, mediante inspeções, au-
mesmo seus componentes, pois os esqueletos
ditorias, ensaios laboratoriais e perícias.
comparam-se às estruturas, as musculaturas às
Prognóstico Técnico da Edificação: indi-
alvenarias, a pele aos revestimentos, o sistema
nervosos e circulatório com as instalações elétri- cação das ocorrências vindouras nas
cas e hidráulicas, o aparelho respiratório com o anomalias construtivas e falhas de
sistema do ar condicionado, além de outras con- manutenção em consonância à corres-
vergências – reforçam ainda mais a identidade pondente prescrição da consultoria.
da Engenharia à Medicina, em vários aspectos. Prescrição Técnica da Edificação: indicação
Destaca-se a correlação da Engenharia Ci- dos reparos das anomalias construtivas e
vil com a Medicina, principalmente, nos estudos falhas de manutenção da consultoria.
relativos à reparação e prevenção de anomalias Sintomatologia Técnica da Edificação:
construtivas das edificações, havendo, inclusi- constatações e análises dos sintomas e
ve, a disciplina Patologia das Construções ori- condições físicas das anomalias cons-
ginada nos estudos das anomalias construtivas trutivas e falhas de manutenção.
e falhas de manutenção. Porém, a contribuição Etiologia Técnica da Edificação: determi-
da Medicina na Engenharia Civil não se limita às nação dos efeitos, origens, causas, me-
questões patológicas, pois há outras similarida- canismos de ação, agentes e fatores de
des das ciências a favorecer a prevenção, motivo agravamento das anomalias construti-
da ampliação dessa correlação com a criação de vas e falhas de manutenção.
nova disciplina, verdadeira Engenharia Medici- Terapêutica da Edificação: estudos das re-
nal que quer cuidar da “saúde” do edifício em parações das anomalias construtivas e
todas as suas fases, ou seja, no planejamento, no falhas de manutenção.
projeto, na execução, na entrega, no uso, na rea- Patologia da Edificação: estudo que se
bilitação e na desconstrução, consoante o tradi- ocupa da natureza e das modificações
cional enfoque de qualidade total do PPEEURD. das condições físicas e/ou funcionais
Além dos estudos patológicos, as simili- produzidas pelas anomalias construti-
tudes das ciências avançam também nos pro- vas e falhas de manutenção, através de
cedimentos preventivos e terapêuticos, mas auditorias, perícias e ensaios técnicos.

conceito e histórico • 17
Tais conceitos podem ser melhor entendi-
dos através do quadro que evidencia a interação
das atividades diagnósticas e ferramentas, da
aplicação prática, consoante o seguinte:

Figura 07 – Etiologia técnica da edificação.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Isto posto, é importante se apresentar, tam-


bém, os quadros explicativos do primeiro PPEU,
Figura 05 – Interação das atividades diagnósticas. criado em 2005, para pleno entendimento da
Fonte: Elaborado pelo autor. adequação da correlação Engenharia Diagnósti-
ca-Medicina, consoante segue:
Deve-se ratificar que a denominação “edifi-
cação” inclui também as fases de planejamento,
projeto, execução e uso da mesma, pois as ações
preventivas visando evitar defeitos nessas fases
– tais quais aquelas da gestação humana, cres-
cimento, amadurecimento e velhice do homem
– favorecem a aplicação da qualidade total em
todas elas. Com isso, a Engenharia Diagnóstica
é importante desde a concepção da edificação,
visando evitar a ocorrência de anomalias cons-
trutivas e, também, minimizar as falhas de ma-
nutenção da posterior fase de uso da edificação,
através das ferramentas técnicas representadas
pelas vistorias, inspeções, auditorias, perícias e
consultorias. Essas etapas da vida edilícia, re-
presentadas pela sintomatologia e etiologia téc-
nicas, podem ser devidamente entendidas nos
seguintes quadros:

Figura 06 – Sintomatologia técnica da edificação. Figura 08 – PPEU.


Fonte: Elaborado pelo autor. Fonte: Elaborado pelo autor.

18 • manual de engenharia diagnóstica


Finalmente deve-se consignar que a correla- sustentação da humanidade, ou seja, o aprimora-
ção da Engenharia com a Medicina é tão promis- mento da saúde, o desenvolvimento da tecnologia
sora quanto aquelas anteriores já consagradas, e a promoção da justiça entre os homens.
como a junção dessas duas artes com o Direito.
Isso porque a integração e correlação dessas três Tito Lívio Ferreira Gomide
ciências favorecem os três principais pilares de

conceito e histórico • 19
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
ESTADO
ESTADO DADA
ARTEARTE

Em geral, as investigações se iniciam com as vistorias e questionamentos, seguindo-se de


Tito Lívio Ferreira Gomide
inspeções, ensaios e auditorias nas interpretações intuitivas e de inter-relacionamentos,
se materializando no final com as perícias que apresentam os resultados dessas
inferências, ou seja, surgem os diagnósticos definitivos. As ações corretivas decorrentes
Em geral, as investigações se iniciam com corretivas decorrentes dos resultados diagnósti-
dos resultados diagnósticos, dependem
as vistorias e questionamentos, seguindo-se de dos prognósticos
cos, dependem e prescrições, o queeinclui
dos prognósticos as
prescrições, o
inspeções, ensaios e auditorias nas interpreta- que inclui as consultorias no rol de
consultorias no rol de ferramentas diagnósticas. O fluxograma diagnóstico no processo ferramentas
ções intuitivas e de inter-relacionamentos, se diagnósticas. O fluxograma diagnóstico no pro-
construtivo, com as aplicações das ferramentas, possibilita a visão geral do processo,
materializando no final com as perícias que cesso construtivo, com as aplicações das ferra-
pois mostra os caminhos práticos da ciência.
apresentam os resultados dessas inferências, ou mentas, possibilita a visão geral do processo,
seja, surgem os diagnósticos definitivos. As ações pois mostra os caminhos práticos da ciência.
Figura 09 – Fluxograma Diagnóstico

Fonte: Elaborado pelo Autor


Figura 09 – Fluxograma diagnóstico.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Tal qual a Medicina Diagnóstica, a ED se desenvolve estudando a “saúde” e a “doença” da


construção, ou seja, o desempenho e a patologia. Para a devida ilustração e visualização
20 •
desse quadro criou-se a árvore diagnóstica, que bem retrata essa dualidade:
Tal qual a Medicina Diagnóstica, a ED se de- Para a devida ilustração e visualização desse qua-
senvolve estudando a “saúde” e a “doença” da dro criou-se a árvore diagnóstica, que bem retra-
construção, ou seja, o desempenho e a patologia. ta essa dualidade:

Figura 10 – Árvore diagnóstica.


Fonte: Elaborado pelo autor.

No Brasil já possuímos diversos empreendi- Mas, num paradoxo bem brasileiro, também
mentos no foco da Qualidade Total e Sustentabili- convivemos com prédios de precária qualidade
dade, sendo o triple AAA o que apresenta o maior construtiva, triple iii, decorrentes de construção
destaque, com projeto inovador, alto nível de tec- com mão de obra despreparada que, muitas ve-
nologia embarcada, elevado padrão construtivo, zes, em situações imprevistas age com ignorância
qualidade sustentável dos ambientes, controles e improviso, provocando manifestações pato-
por automação e outras modernidades: lógicas e perda de desempenho nas obras. Essa
realidade reforça a pertinência e importância da
ED na atualidade de nossas obras.

Figura 11 – Triplo A.
Fonte: Elaborado pelo autor.

estado da arte • 21
Atualmente, os estudos da Engenharia Diag-
nóstica se aprofundam nas fases da Sustentabi-
lidade e Responsabilidade Social, além daqueles
específicos da Qualidade Construtiva, na moder-
na visão do desempenho e vida útil.

Figura 12 – Triplo I.
Fonte: Elaborado pelo autor

Esse retrato contraditório é propício para o


estudo e aprimoramento da qualidade constru-
tiva, sendo a implantação da investigação tetra
IN o caminho indicado nesse sentido. Com o diag-
nóstico preciso é possível fazer o prognóstico e a
prescrição da trajetória em busca da Qualidade
Total. Como num jogo de fliperama, a ED possui
diversos caminhos de investigação:

Figura 14 – 4ª Visão.
Fonte: Adaptado pelo autor.

E a sustentabilidade está baseada em oito


princípios, como está muito bem descrito na in-
trodução do livro “Construção Verde” de auto-
ria de Abe Kruger e Carl Seville, com adaptação
de Sasquia Hizuru Obata, editado pela Cengage
Learning em 2017, vide transcrição a seguir:

Embora haja definição universal de cons-


trução verde, identificamos oito princípios
que sempre devem ser considerados em
projetos, na construção ou manutenção de
casas. Esses princípios são semelhantes à
abordagem definida pelo sistema de clas-
sificação do Conselho de Construção Verde
dos Estados Unidos (U.S. Green Building
Council – USGBC), que criou o programa
Liderança em Energia e Projeto Ambiental
(Leadership in Energy and Environmental
Design – Leed) e por outros programas de
classificação de casa verde.
• Eficiência energética: reduzir a ener-
Figura 13 – Fliperama diagnóstico. gia necessária para viver em uma casa
Fonte: Elaborado pelo autor através do processo focado desde o

22 • manual de engenharia diagnóstica


início na redução do consumo e au- a necessidade de uso do carro; geren-
mento da eficiência da residência, ciar cuidadosamente o local durante a
especificando-se equipamentos apro- construção, com o objetivo de reduzir o
priados e métodos de construção de escoamento de sedimentos e manter a
alta qualidade. vegetação nativa e fornecer o gerencia-
• Eficiência de recursos: reduzir a mento da água pluvial a fim de reduzir
quantidade total de materiais neces- o escoamento de contaminantes do
sários para construir ou reformar uma local para os aquíferos.
casa, incluindo a seleção de materiais
que são extraídos, processados e en-
E o detalhamento das vertentes dos estudos
tregues no local da obra, com o mí-
nimo de impacto ambiental e uso de diagnósticos se ampliam com as novas tendên-
energia; reutilizar materiais já usados cias da fase de uso, reabilitação e desconstrução.
e reciclar os resíduos da construção.
Portanto, resumidamente, o estado da arte
• Durabilidade: utilizar materiais e mé-
todos que requerem menos manuten- da Engenharia Diagnóstica pode ser representa-
ção e aumentam a vida útil da estrutu- do pelos objetivos, fases de trabalhos e ferramen-
ra e reduzir a frequência de consertos tas de aplicação, como ilustrado na figura 15:
e substituição. Desta forma, é possível
gerar menos resíduos e usar menos
materiais em toda a vida útil da casa.
• Uso eficiente da água: reduzir a quan-
tidade de água usada dentro e fora da
casa por meio de maior eficiência e
minimização de situações de maior
consumo.
• Qualidade do ambiente interno: me-
lhorar a saúde dos moradores por meio
do controle de umidade, materiais tóxi-
cos e poluentes dentro de casa.
• Impacto reduzido na comunidade: li-
mitar os efeitos econômicos negativos
na comunidade local, por meio de de-
senvolvimento responsável e práticas
de construção, considerando como a
seleção de materiais pode influenciar
a saúde e as condições econômicas da
comunidade global – trabalhadores e
moradores locais – onde os produtos
são extraídos e fabricados para uso
nas casas. Figura 15 – Portal diagnóstico.
• Educação e manutenção para o pro- Fonte: Elaborado pelo autor.
prietário: educar os proprietários e
moradores para que cuidem de suas
casas de forma a manter a eficiência, Tito Lívio Ferreira Gomide
saúde e durabilidade por muito tempo.
• Desenvolvimento local sustentável:
evitar o desenvolvimento de áreas des- 2.1 A ENGENHARIA DIAGNÓSTICA
tinadas a proteção ambiental; planejar E A ARQUITETURA
os projetos destinados a terrenos e ca-
sas de modo que estes possam obter a
luz do sol; promover a construção pró-
No âmbito da Engenharia Diagnóstica (ED),
xima de áreas com infraestrutura de estamos acostumados a ouvir sobre a atuação do
transporte e de serviços para reduzir engenheiro civil. Da mesma forma, o arquiteto

estado da arte • 23
tem muito a beber na fonte dessa doutrina, que •• Produção e divulgação técnica especiali-
desenvolve importante papel na organização e zada.
abertura de campos de atuação no mercado de
trabalho. Sendo alguns dos campos de atuação a que
Isso não significa que um técnico seja total- estas se aplicam:
mente independente do outro, contrariamente, •• (...) das soluções tecnológicas para reuti-
a exemplo das atividades que envolvem proje- lização, reabilitação, reconstrução, pre-
tos, nos trabalhos elencados pela Engenharia servação, conservação, restauro e valori-
Diagnóstica, também podem, e em alguns casos zação de edificações, conjuntos e cidades;
devem, desenvolver atividades em conjunto. Po- •• da tecnologia e resistência dos materiais,
rém, iniciamos com uma avaliação sobre a prá- dos elementos e produtos de construção,
tica profissional do arquiteto e seu papel como patologia e recuperações;
engenheiro diagnóstico, perguntando: Arquite- •• dos sistemas construtivos e estruturais,
to Diagnóstico ou Engenheiro Diagnóstico? estruturas, desenvolvimento de estrutu-
A pergunta poderá não fazer muito sentido ras e aplicação tecnológica de estruturas;
aos engenheiros, mas é muito importante para •• de instalações e equipamentos referen-
a reflexão que será proposta. A questão a ser le- tes à arquitetura e urbanismo;
vantada se deve a dúvida recorrente que surge •• do Conforto Ambiental, técnicas refe-
aos arquitetos portadores de um certificado de rentes ao estabelecimento de condições
conclusão de curso de especialização em Enge- climáticas, acústicas, lumínicas e ergonô-
nharia Diagnóstica: O arquiteto pode ser nomea- micas (...).
do “Engenheiro Diagnóstico”?
Diante das atribuições elencadas, indiscuti-
Não restam dúvidas que o exercício da pro-
velmente elucidando a habilitação do profissio-
fissão nas atividades envolvidas pela ED é ga-
nal de arquitetura para atuar no campo da En-
rantido ao profissional de arquitetura pela Lei
genharia diagnóstica, permanece a dúvida sobre
nº 12.3782, de 31 de dezembro de 2010, onde,
sua identificação.
em seu art. 2º, estabelece as atribuições dos ar-
quitetos e urbanistas e, no parágrafo único deste Ainda inexiste lei ou resolução que deter-
artigo, os campos de atuação a que estas se apli- mine, de forma esclarecedora, a possibilidade
cam, sendo algumas das atribuições: de um arquiteto utilizar em seu cartão de visi-
ta o termo “engenheiro diagnóstico”, porém de
•• Supervisão, coordenação, gestão e orien-
maneira a dar lastro, tomemos como exemplo a
tação técnica;
especialização em “Engenharia de Segurança do
•• Assistência técnica, assessoria e consultoria;
Trabalho”.
•• Vistoria, perícia, avaliação, monitora-
mento, laudo, parecer técnico, auditoria Muito menos jovem que a Engenharia Diag-
e arbitragem; nóstica, nessa especialização, desde 1985, pela
•• Desenvolvimento, análise, experimenta- Lei nº 7.4103, profissionais formados em arqui-
ção, ensaio, padronização, mensuração e tetura, com especialização na área de segurança
controle de qualidade;
3
 BRASIL. Lei Federal nº 7.410, de 27 de novembro de
2
 BRASIL. Lei Federal nº 12.378, de 31 de dezembro de 1985. Dispõe sobre a Especialização de Engenheiros e Ar-
2010. Regulamenta o exercício da Arquitetura e Urbanismo quitetos em Engenharia de Segurança do Trabalho e dá ou-
e dá outras providências; tras providências;

24 • manual de engenharia diagnóstica


do trabalho, podem se denominar “Engenheiro Ou seja, esses artigos nos levam a interpre-
de Segurança do Trabalho”. A referida lei, além tar que os campos de atuação não inclusos na
de conferir lastro legal à utilização da mencio- matriz curricular da graduação do profissional,
nada denominação, garantiu que apenas os por- e que a prestação desse serviço possa expor o
tadores do título dessa especialização estejam usuário a risco ou dano, deve ser exercida ape-
aptos a exercer a tal função. nas por profissionais especializados.
A “jovem” Engenharia Diagnóstica já percor- Sem dúvida, essa discussão será desafia-
reu muitos passos, organizando o limbo que exis- dora, deverá contemplar análise acerta das atri-
tia no mercado quando “nomeou os bois”. Atual- buições das mais variadas engenharias e poderá
mente com sua a difusão avançada e uma gama atravessar gerações, mas será a única maneira
de profissionais especializados espalhados nos de impedir que profissionais não especializados
diversos cantos do país, entende-se a necessidade empreguem indevidamente essa intitulação, evi-
dos próximos passos incluírem discussões sobre tando que a sociedade seja atendida por indiví-
a criação de garantias jurídicas acerca da adoção duos desabilitados e não capacitados a atuarem
da titulação e o favorecimento da atuação somen-
como Engenheiros Diagnósticos.
te por profissionais especializados.
De todo modo, seja por meio de resoluções,
Embora possa, equivocadamente, parecer
leis ou aptidões, é estabelecido que os arquite-
reserva de mercado por aqueles que se dedica-
tos são constituídos de formação generalista, e
ram ao aperfeiçoamento profissional, tal condi-
muito podem contribuir ao ramo da engenharia
ção pode ser justificada, inclusive, em razão do
diagnóstica.
parágrafo (§) 2º, da Lei nº 12.3784, ao estabele-
cer que “são consideradas privativas do profis- Definida a adoção da sua identificação e
sional especializado as áreas de atuação nas atribuições, passamos a análise sobre a ótica do
quais a ausência de formação superior exponha campo de atuação.
o usuário do serviço a qualquer risco ou dano”.
E apesar de a mesma lei assegurar a possi- 2.1.1 O arquiteto
bilidade de o profissional exercer atividades de
vistoria, perícia, produção de laudos etc., em seu Desde o início, há uma série de planos e so-
Art. 3º, define que os campos da atuação profis- nhos que as pessoas costumam ter quando surge
sional são definidos a partir das diretrizes curri- o desejo de estudar arquitetura, idealizada pela
culares nacionais dispostas na sua formação. intenção de analisar espaços, elaborar projetos,
Porém, tanto as Diretrizes Curriculares Na- cuidar da estética de ambientes e edificações etc.
cionais do curso de graduação em Arquitetura Depois de finalizada a graduação, o merca-
e Urbanismo, assim como as do curso de Enge- do de trabalho se apresenta com sua infinidade
nharia Civil, não deixam claro a obrigatoriedade de áreas de atuação e o profissional quase que
de componentes curriculares incluírem o estu- inevitavelmente acaba experimentando um pou-
do das ferramentas diagnósticas, de tal manei- co de cada atividade até se encontrar, acertar seu
ra que é conhecida a ausência de matérias que público ou nicho.
abordem esses temas nos cursos de graduações Muitas dessas atividades envolvem a arte
espalhados pelo Brasil. de projetar, mas o conceito de arquiteto apenas
como servidor à comunidade através de proje-
4
 BRASIL. Lei Federal nº 12.378, de 31 de dezembro de tos de ambientes construídos não é aplicável à
2010. Regulamenta o exercício da Arquitetura e Urbanismo
e dá outras providências; realidade atual. Não seria possível que todos os

estado da arte • 25

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