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Mecânica Aplicada

ENGRENAGENS CILÍNDRICAS RETAS (ECR)

COMENTÁRIOS PRELIMINARES

A transmissão de movimento rotativo de um eixo para outro é um procedimento


extremamente comum em máquinas que atuam mecanicamente (existem máquinas
eletrônicas e associações do tipo termomecânico, pneumático etc.). Tais máquinas
podem ser do tipo de transmissão de potência, usadas em indústrias de
transformação e veículos, ou voltadas para dispositivos de precisão e similares, que
trabalham com baixo nível de esforço.
Embora não se constituam no único meio para a transformação e transferência de
energia (existem os cames ou excêntricos, os sistemas articulados, as uniões
flexíveis, os parafusos etc.) são os elementos mais empregados nesse mister e
talvez aquele que reúne um maior número de vantagens funcionais. Sua robustez,
aliada à tecnologia de fabricação e projeto amealhada ao longo de muitas centenas
de anos fazem das engrenagens um dispositivo popular, que não deve ser
substituído completamente, pelo menos nas próximas décadas. Há muitos
componentes modernos que já ocupam seu lugar em muitas aplicações arrojadas,
como as CNT. Mas seu custo relativamente baixo em aplicações simples,
acessibilidade de maquinário e fabricantes, aliados ao domínio da engenharia sobre
massa crítica de conhecimentos a respeito de sua fabricação e projeto fazem-no um
elemento de máquina emblemático.
O estudo das engrenagens não é elementar. Particularmente os tipos elaborados,
tais como os usados na indústria automotiva, detém particularidades que hoje são
segredos industriais, tamanha é a tecnologia agregada a esses produtos.
Por outro lado, existem aspectos relacionados a três principais ângulos: o projeto
cinemático, que é a base do estudo, mas ao mesmo tempo é o aspecto mais
acessível; o projeto estrutural, que hoje recebe ampla contribuição de sofisticados
métodos computacionais; e o aspecto de fabricação, que se envolve com os dois
primeiros e usualmente fica envolto numa atmosfera governada pela experiência
industrial e muitas particularidades referentes aos diversos processos disponíveis.
Grosso modo, as engrenagens não deixam de ser rodas denteadas, cujas
características podem ser mais elaborada em certos casos, utilizados
modernamente.

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Nesse sentido, uma classificação básica referente à sua tipologia mais comum é a
seguinte:

A disposição dos eixos que se quer solidarizar é um fator muito importante. Assim
encontram-se engrenagens cilíndricas com eixos transversos e as cônicas, com
eixos que se cruzam, mas não em ângulos reto.
No quadro anterior, pode-se também incluir a cremalheira, que é um caso importante
dentro do grupo das engrenagens cilíndricas de dentes retos, em que a coroa
(engrenagem de maior diâmetro) tem raio infinito e por isso é chamada cremalheira.

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Na figura a seguir apresenta-se um típico par de engrenagens cilíndricas de dentes


retos. Para que o leitor tenha uma idéia da possibilidade de generalização, existem
engrenagens assim que não são circulares, por razões particulares de determinada
aplicação do mecanismo.

CARACTERÍSTICAS DE USO

 Está envolvida a transmissão de potências elevadas, nas quais o torque é


significativo e as velocidades angulares são moderadas; é possível usá-las
em situações nas quais isso não ocorre; mas, dependendo do sistema, outros
dispositivos podem ser aplicados com custo menor.

 Distância entre árvores é pequena; mas há muitas exceções. As correias


seriam mais adequadas para essa função no caso de grandes distâncias
Todavia, em muitos casos a robustez da transmissão por engrenamento se
impõe e a distância entre centros pode ser significativa. A identificação do que
é grande ou pequeno é problemática, mas distâncias entre centros próximas
de um metro podem ser consideradas grandes, mas não são incomuns pela
razão exposta. Por outro lado, em certos casos deseja-se imprimir uma
grande redução de velocidades usando-se coroas imensas, o que implica em
uma distância entre centros grande. Um exemplo popular é a caixa de
transmissão do bondinho do pão de açúcar no Rio de Janeiro, cujo raio da
coroa está próximo de dois metros. Mas isto não é nada perto do que é
mostrado na figura a seguir.

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 Precisão e durabilidade na transmissão; engrenagens bem projetadas, bem


acabadas e com tratamento superficial adequado tem vida muito longa,
sobretudo se não ocorrem sobrecargas constantes. Todos sabem da
durabilidade das caixas redutoras dos veículos, mas os mecânicos de oficinas
de reparos sabem perfeitamente o quão comum é aparecer um veículo “cross
road” com engrenagens da transmissão totalmente dilaceradas pelo uso
inadequado do veículo, em condições que estão fora das previstas pelos
fabricantes. Quando potências reduzidas são envolvidas, como no caso dos
dispositivos de precisão, não há o que discutir. A indústria relojoeira,
particularmente a européia demonstra a imensa durabilidade de mecanismos
constituídos por engrenagens.
 A razão entre as velocidades angulares, de entrada e saída, ser constante.
Esta condição vigora se as engrenagens são circulares, obviamente. Esta
condição distingue fortemente a aplicação dos quadriláteros articulados e
outros mecanismos das engrenagens.

CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS

A figura a seguir ilustra algumas das grandezas que caracterizam o engrenamento


das engrenagens cilíndricas.

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 Circunferência primitiva: circunferência teórica que governa o cálculo


cinemático.

Na análise cinemática, as circunferências primitivas representam o par coroa e


pinhão, de modo que podem ser representados tais como discos e rolos, sem

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qualquer prejuízo. Também a análise dinâmica, identificando-se as forças atuantes


no engrenamento, é feita particularmente com base nos esforços que atuam na
posição ditada por essas circunferências. Ressalta-se que, como há inúmeros
pontos de contato entre duas engrenagens, a escolha das forças que atuam no
ponto interceptado pelas circunferências primitivas é apenas uma escolha
estratégica. Outro ponto importante é que a circunferência primitiva não é física. É
uma grandeza matemática que pode ser alterada, não representando uma
propriedade geométrica da engrenagem.

 Módulo: razão entre o diâmetro primitivo e o número de dentes (Z): é um


valor padronizado que identifica o tamanho do dente no sistema internacional.

Dp
m [mm]
Z

 Relação de transmissão: identifica a alteração de velocidades angulares


envolvida. É comum se trabalhar diretamente com a freqüência angular:

np
i c
n
nC  velocidade da coroa [rpm]
nP  velocidade do pinhão [rpm]

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O uso de engrenagens tem, como principal finalidade, transmitir potência de um


ponto a outro na máquina. Contudo, a potência rotativa é dada pelo produto do
torque versus a velocidade angular. Assim, na maciça maioria das vezes intenta-se
alterar a composição do torque e da velocidade angular, perdendo o mínimo de
potência. Assim, é comum reduzir a velocidade angular numa redução de modo a
ampliar o torque. Também pode ocorrer o oposto, reduzindo-se o torque numa
transmissão por engrenagens com o propósito de aumentar a velocidade angular.

 Distância entre centros (C): média das circunferências primitivas do par.

D pp  D cp
C
2
A distância entre centros é uma grandeza muito importante na montagem do par. É
fácil de ser medida, mas depende da montagem de outros componentes, sobretudos
dos eixos nos quais as engrenagens serão montadas. Alterações em seu valor,
distanciando-o daquele estabelecido no projeto, acarretam mudanças cinemáticas
significativas, pois modificam as previsões de funcionamento, durabilidade e outros
aspectos importantes, que são vistos com detalhe mais à frente.

 Passo circular frontal:


 .D P
Pc    .m
Z [mm]

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Distância entre um ponto do dente e o mesmo ponto do dente adjacente, medida na


circunferência primitiva.

 Diametral Picht ou passo diametral: é uma grandeza que também busca


identificar o tamanho dos dentes, mas de modo inverso ao módulo.
Z
Pd  [pol –1]
DP

Observe que a medida para o diâmetro necessariamente é a polegada, e não o


milímetro.
Ressalta-se que no sistema norte americano de medidas, o passo diametral ainda
faz o papel do módulo, sendo a grandeza normalizada que responde pela
identificação do engrenamento. Isto mostra como é difícil substituir valores técnicos
em países detém maior poder tecnológico, mesmo após anos de estabelecidos
acordos em torno de um sistema universal de medidas, que é o sistema métrico.

 Espessura Circular frontal: é medida na circunferência primitiva, pois que as


engrenagens cilíndricas de dentes retos possuem a espessura variável.
.D P .m
e  [mm]
2Z 2

Em engrenagens padronizadas, a espessura é a metade do passo circular, o que


significa que o tamanho do vão é igual a espessura na circunferência primitiva. O
leitor pode imaginar que o engrenamento se processa sem folgas. Durante o
estabelecimento das medidas nominais é assim, pois a folga é imposta a posteriori.
Isto tem algumas implicações, que são discutidas mais à frente.

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 Largura da engrenagem (b): é constante nas engrenagens cilíndricas de


dentes retos. No aspecto cinemático é uma grandeza de menor importância
nas ECR. Mas no projeto resistivo e em aspectos relacionados à faixa prática
de contato axial nos dentes ganha maior importância. É interessante, todavia,
que as engrenagens não sejam muito estreitas, nem tampouco muito
espessas (nesse caso, a inércia é um fator importante).

 Altura de cabeça, adendum ou saliência (hc): é a altura do dente medida da


circunferência primitiva até o topo do dente.

 Altura de pé. dedendum ou profundidade (hp): é a altura do dente medida


da circunferência primitiva até a raiz do dente.

 Altura total (ht): é a soma da altura de cabeça com a altura de pé.

A figura a seguir ilustra estas duas grandezas.

 Folga no fundo (c): é a diferença entre as alturas de cabeça e de raiz. Foi


estabelecida pela normalização com o primeiro intuito de permitir o acúmulo
de impurezas sem implicar no imediato grimpamento do par. De qualquer
modo, oferece um espaçamento importante para que a parte superior da outra
engrenagem possa se acoplar sem danos, no caso de imprecisões de
fabricação e outros fatores operacionais que podem afetar o engrenamento
após algum tempo de funcionamento.

 Circunferência de Cabeça ou de Topo: Na figura anterior traçou-se uma


circunferência que tangencia a parte superior disco da engrenagem,

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caracterizando o maior diâmetro desta. Este maior diâmetro, denominado DT


caracteriza a circunferência de topo. Diferentemente da circunferência
primitiva, o diâmetro de topo é uma propriedade de uma engrenagem.
Somente será alterado se a engrenagem for usinada e alterada em suas
características geométricas.

 Circunferência de Pé ou de Raiz: Na citada figura também traçou-se uma


circunferência que tangencia a parte inferior do sulco que caracteriza o vão
entre os dentes. O diâmetro desta circunferência é denominado DR,
caracterizando a circunferência de raiz. Tal como o diâmetro de topo, é uma
propriedade de uma engrenagem.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ENGRENAMENTO

É estratégico estabelecer dois princípios que são importantes para o entendimento e


descrição do funcionamento das engrenagens. O primeiro é muito simples e provem
dos fundamentos da cinemática de mecanismos, que abarca o estudo das
engrenagens. O segundo é mais complexo, e apresenta novidades interessantes no
campo da cinemática, que é o princípio de conjugação.

1º Princípio: As velocidades angulares num engrenamento são inversamente


proporcionais aos diâmetros primitivos.

 p . DPp  c .D Pc
v comum  e v comum 
2 2

 p DPc   p  2 .n p
 p 
 c DP   c  2 .n c
logo,
np DPc
i 
nc DPp

Com base na definição do módulo, m= D/z:

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np Zc

nc Zp

Logo, a razão entre as freqüências angulares (RPM) também é inversamente


proporcional ao número de dentes das engrenagens.

2º Princípio: É conhecida como condição de conjugação e pode ser enunciada da


seguinte maneira:

“Se a linha de ação intercepta a linha de centros de um par de engrenagens sempre


num mesmo ponto, a razão de transmissão é constante”.

O conceito de linha de centros é imediato. Já o de linha de ação é preciso recordar


alguns aspectos da cinemática de mecanismos. Na figura a seguir é possível
observar que a linha de centros é cortada por uma linha perpendicular à tangente
comum no ponto de contato. O ponto de interseção, num caso como este do
mecanismo desenhado, vai variar ao longo do tempo. Esta situação deve ser distinta
no contato dos dentes de um engrenamento que obedece à condição de
conjugação.

Os dentes das engrenagens têm seu perfil definido de modo a garantir que a linha
de ação fique inalterável e a razão fique constante. Os dentes assim confeccionados
são ditos conjugados.

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Existem duas curvas cujas formas são capazes de obedecer a essa condição: a
ciclóide e a evolvente.
A ciclóide é a curva gerada pela trajetória de qualquer um dos pontos de uma
circunferência que rola sem deslizar sobre uma reta.

A ciclóide invertida é uma curva conhecida por suas propriedades como


baquistócrona - capaz de fazer com que diferentes partículas sujeitas a um campo
gravitacional percorram sua trajetória no mesmo tempo, independentes de onde são
lançadas.

Além disso, considerando partículas sob a ação gravitacional, sua trajetória fornece
o menor tempo de chegada até a base do que qualquer outra curva, desde que
lançadas da mesma altura.

.
Sabe-se que a velocidade de chegada será a mesma em todas as trajetórias, mas a
que leva menor tempo é a curva ciclóide invertida.

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Já a curva evolvente pode ser descrita pela trajetória no plano do ponto que
caracteriza a extremidade de uma corda enrolada num cilindro, quando esta se
desenrola gradativamente. A figura a seguir ilustra o exposto.

Na figura anterior pode-se identificar o ângulo , que é denominado de ângulo de


pressão da curva evolvente, e depende da extensão do desenrolar da corda, ou seja,
qual é ponto da curva evolvente assinalado. Observe-se que a geração da evolvente
obriga o ângulo  a desenvolver-se de um valor nulo até um valor menor do que 90º.
Na prática, não se usam valores assim tão altos. Pode-se identificar, visualmente, a
formação do perfil dos dentes da engrenagem, no formato encontrado comumente.
Existe uma formula na qual a curva evolvente é expressa matematicamente em
função do ângulo de pressão da curva evolvente:

Evolv(ϕ)= tan( )  ( rad )

As circunferências que geram as curvas evolventes são chamadas de


circunferências de base e seus diâmetros são os diâmetros de base.
Com ele se completa o quadro dos diâmetros característicos de uma engrenagem.
Embora tenha sido o último dos diâmetros apresentados, de modo algum o diâmetro
de base é menos importante do que os demais. É uma propriedade da engrenagem,
ou seja, foi definido na fabricação e assim não pode ser alterado.
Obviamente, não é difícil encontrar engrenagens que foram fabricadas por processos
que não imprimiram o perfil evolvente à curva do dente, tampouco o perfil cicloidal.
Engrenagens assim não gozam de importantes propriedades que serão discutidas
assim e, embora muitas funcionem, não tem durabilidade e são extremamente
ruidosas.

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O perfil cicloidal é usado preferentemente em trabalhos de precisão no caso de ECR.


Demonstra-se que ele produz rolamento puro entre os dentes e assim não produz
atrito.

A indústria de relógios européia é prova disso. Trens de engrenagens dos


mecanismos marcadores do tempo duram séculos sem apresentar imprecisões
significativas em seu funcionamento. Todavia, sua fabricação não é tão elementar
quanto à do perfil evolvental, que é o perfil empregado na indústria que trabalha com
máquinas operatrizes e elevada potência. Contudo, em engrenagens cônicas, a
situação se inverte, pois perfis assemelhados ao ciclóide são encontrados em muitas
engrenagens cônicas de veículos automotores.

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Já foi visto que o perfil evolvente em ECRs pode ser gerado através do processo de
geração, usando cremalheiras, que tem dentes trapezoidais, bem mais fáceis de
serem fabricados. O trabalho de preparação de ferramentas para fresamento é
laborioso e, por essa razão, o perfil evolvente ganha enorme vantagem funcional ao
poder ser fabricado com ferramentas de arestas retilíneas.
Neste texto, exceto quando mencionado, o perfil das engrenagens é evolvental.
Adianta-se, no entanto, que há atrito no contato entre os dentes das ECR
constituídos desse perfil, exceto no ponto principal, que é aquele no qual as
circunferências primitivas se tangenciam. Como a linha de centros e a linha de ação
passam pelo ponto de tangência, o ponto principal certamente é um ponto de
contato. Neste, as velocidades tangenciais do pinhão e da coroa são iguais,
perpendiculares que são aos raio-vetores que ligam o ponto principal ao centro das
engrenagens. Nesta circunstância, já se demonstrou que o movimento relativo é de
puro rolamento, sem deslizamento; portanto, sem atrito.
Perceba-se ainda que se o contato se dá na superfície dos dentes e estes são
gerados pela curva evolvente, cujo traçado é sempre definido por uma tangente à
circunferência de base, todos os pontos de contato estão sobre esta tangente, que é
a linha de ação. Assim, a condição de conjugação é obedecida, pois a interseção
entre a linha de centro e a linha de ação não muda, e todos os pontos de contato se
situam sobre esta linha.

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Na figura a seguir são mostrados dois instantâneos do contato entre duas


engrenagens. O ângulo de inclinação da linha de ação é denominado de ângulo de
pressão do engrenamento ou frontal, e é um valor padronizado no projeto, conforme
será detalhado posteriormente. Este ângulo nada mais é do que um valor particular
do ângulo de pressão do engrenamento, quando o contato ocorre no ponto principal.
Assim, quando duas engrenagens estão em contato no ponto principal (ponto de
tangência das circunferências primitivas) o ângulo de pressão das curvas evolventes
i são iguais e definem o ângulo de pressão frontal , que é uma característica do
engrenamento, no valor escolhido pelo projetista, que deve tomar como referência o
ângulo de pressão da ferramenta que o fabricou:

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Pode-se adiantar que o ângulo de pressão frontal caracteriza o grau de robustez do


dente devido à suavidade do perfil evolvental. Ângulos de pressão grandes na
fabricação conduzem os dentes pontudos, que são mais resistentes aos esforços no
flanco e na raiz dos dentes. Os valores menores conduzem a dentes mais largos,
que apresentam maior concentração de esforços na raiz. Antigamente, os
engenheiros observavam principalmente a magnitude do momento fletor, que é
menor nas engrenagens com menor ângulo de pressão proporcionando mais de
transmissão de energia e menos pressão sobre o rolamento; contudo, em termos de
distribuição de tensões, os ângulos maiores são mais adequados.

Fora do ponto principal, o ângulo de pressão do engrenamento e os ângulos de


pressão nos pontos de contato das curvas evolventes do pinhão e da coroa são
diferentes, a menos que as engrenagens sejam iguais.

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A partir da circunferência de base é possível determinar algumas características das


engrenagens. O cálculo mais elementar se refere à determinação dos ângulos de
pressão da curva ou da distância dos pontos de contato até o centro da
circunferência.
Considere Rp como sendo o raio primitivo e Rq um raio qualquer. Sabendo-se o
valor do raio da circunferência de base Rb, pode-se escrever:

Com essa relação, pode-se determinar o raio base a partir do raio primitivo e vice-
versa, se for conhecido o ângulo de pressão do engrenamento. É mais comum

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determinar o raio base, pois a cinemática fornece de pronto o valor do diâmetro


primitivo.

Rb = Rp. cos α

Também se pode escrever para um raio qualquer Rq:

Rb = Rq. cos q

Igualando as expressões, tem-se:

Rp. cos α = Rq .cos q

Ou melhor:

Dq = (Dp. cos α)/cos q

Outra potencialidade importante consiste do cálculo de espessuras quaisquer. Esta


expressão está deduzida no Mabie:

 t 
t 2  2 R2  1  evol1  evol 2 
 2 R1 

ti  espessura dos dentes

evol i  tg i - i (rad)

e  espessura na circunferência primitiva.

Na prática, as grandezas relacionadas ao diâmetro primitivo, isto é, seu valor, o


ângulo de pressão frontal e a espessura frontal todos são conhecidos, pois são a

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base do projeto cinemático; são assim utilizadas para calcular a espessura num
outro ponto qualquer da curva, desde que conhecido o ângulo de pressão e o
diâmetro neste ponto. Ressalta-se que isto vale para qualquer ponto da curva
evolvente, ou seja, desenvolvida a partir da circunferência de base.
Note o leitor que não foi discutido ainda o posicionamento da circunferência de base
com relação às demais. Esta é uma questão interessante, pois a circunferência de
base pode ficar acima ou abaixo da circunferência de raiz, dependendo da
especificação dos valores das grandezas do engrenamento. Sua posição pode diferir
no pinhão e na coroa. Os exercícios detalharão pormenorizadamente ES
circunstâncias que definem esse posicionamento. Ressalta-se, todavia, que se a
circunferência de base se posiciona acima da circunferência de raiz, uma parte do
perfil do flanco do dente não será evolvental. Contudo, essa parte não evolvente
poderá ou não servir ao contato, tema este discutido no aspecto interferência no
engrenamento.

CARACTERÍSITICAS DO ENGRENAMENTO

 Contato entre os dentes: Inicia-se quando a parte inferior ou flanco da


engrenagem motora, usualmente o pinhão, toca a circunferência de cabeça da
movida. A situação se inverte no término do contato. A figura a seguir ilustra o
exposto, num caso em que a circunferência de base tem diâmetro menor do que
a circunferência de raiz, de modo que todo o perfil, da raiz até a cabeça do dente,
é evolvental.

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 Faixa de contato: é definida pela intersecção das circunferências de cabeça


com a linha de ação. A figura a seguir mostra o segmento da linha de ação,
que é perpendicular às circunferências de base, que corresponde à faixa de
contato. As duas situações estão associadas a ângulos de pressão distintos.

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Quanto menor é o ângulo de pressão, menor é a faixa de contato. Podem-se definir


também com base nas circunferências primitivas, os ângulos de aproximação e
afastamento. Estes são normalmente são distintos para cada par de engrenagens,
mesmo caso as engrenagens sejam iguais. É comum denominar-se de ângulo de
ação à soma dos ângulos de afastamento e aproximação.

Razão de contato ou grau de recobrimento (): fornece o número médio de dentes


em contato durante o processo de engatamento de um par.
Para melhor entender esse conceito, imagine que durante o período em que dois
dentes estão em contato, as circunferências primitivas de cada engrenagem
descrevem um arco, de mesma magnitude, denominado de ação ou arco frontal de
transmissão. Espera-se que, antes deste par de dentes de dentes se afastar, outro
par tenha iniciado o contato, para que não haja um vazio momentâneo no
engrenamento. Em outras palavras, é importante que exista um intervalo em que o
engrenamento se componha pelo contato simultâneo de dois pares de dentes, um

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par prestes a concluir e outro iniciando o engrenamento. Para que isso aconteça, é
preciso que a faixa de contato tenha magnitude superior ao arco de contato.

Uma razão de contato igual a 1 significa que no momento que um par deixa de se
contactar, outro par assume imediatamente o engrenamento, sem que haja solução
de continuidade. Contudo, na prática, salvo exceções bem justificadas, é importante
que, no mínimo, em 20% desse período de contato de um par, exista se
contactando, resultando em um grau de recobrimento igual 1,2. Isto evita choques,
ruídos e desgaste nos dentes. Ressalta-se tanto no início quanto no fim do
engrenamento, ocorrem os maiores valores de força de atrito, de forma que se nesta
condição desfavorável os esforços forem divididos com outro par, a durabilidade da
engrenagem será maior.
A forma mais adequada de se quantificar a idéia exposta é formular uma razão entre
a faixa de contato e o arco frontal de transmissão. Todavia, é mais fácil calcular um
quociente em que a faixa de contato se projeta sobre a linha de ação, conforme
mostrado na figura.

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Com esse intuito, se a linha AB consiste do passo circular frontal, sua projeção na
linha de ação é chamado de passo base Pb:

Pb = Pc. cos 

A razão de contato  é dada por:



Pb

No numerador encontra-se o arco de transmissão, cujo cálculo segundo Mabie, é


dado pela seguinte fórmula:

2 2 2 2
 DC   DbC   DP   DP 
   T       T    b   C. sen 
 2   2   2   2 

A distância entre centro C é dada por:

DPC  D PP
C
2

Os demais valores são:

Diâmetro de topo DT = DP + 2hC  hc = altura de cabeça


Diâmetro de raiz DR = DP - 2hP hp= altura de pé

Pode-se comentar que o valor da razão de contato está relacionado às


características das engrenagens e dos valores padronizados do ângulo de pressão.

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É possível alterá-lo, mas existem limites a sua extensão significativa. Percebe-se


facilmente que o aumento do ângulo de pressão diminui seu valor e que o aumento
da razão de transmissão tende opostamente a ampliá-lo. Em engrenagens
cilindiricas helicoidais, a faixa de aumento da razão de contato é bem maior, pois
existe uma componente de contato ditada pelo ãngulo de inclinação da hélice. Este é
um dos fatores que concorrem para o maior uso das helicoidais comparativamente
às ECR. Um estudo mais detalhado da razão de contato nas ECR será feito por
ocasião da solução dos exercícios.

 Interferência: é um dos mais sérios problemas no projeto de engrenagens.


Consiste do contato de partes dos perfis dos dentes que não são
envolventais. É sabido que abaixo do circulo base a curva característica do
perfil do dente não é evolvental. Assim, estas partes não podem pertencer a
faixa de contato, ou seja, compõem o perfil do dente abaixo do círculo base,
mas não podem ser utilizadas no engrenamento. Este espaço, todavia, é
utilizado para o alojamento das partes superiores dos dentes que não
engrenam e também para composição da folga no fundo. A figura a seguir
ilustra exageradamente o problema da interferência.

O problema é bem mais crítico no pinhão, pois há mais pronunciada tendência


do dente da coroa penetrar neste do que a situação oposta, devido às alturas
dos dentes serem iguais e o diâmetro de base do pinhão ser menor do que o
diâmetro de base da coroa. A figura a seguir mostra exageradamente esta

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situação, em que pode se observar que o diâmetro de topo da coroa chega a


ultrapassar o centro das circunferências do pinhão.

Na solução do problema da interferência, o ajuste das grandezas cinemáticas é um


aspecto importante, mas o processo de fabricação das engrenagens pode interferir
antecipadamente nesta questão, e não apenas através dos procedimentos de
correção, cujo estudo às formas de engrenamento especiais. Isto porque a teoria
referente ao tema fica bem mais complicada.

Existem alguns procedimentos que combatem a interferência, alguns deles


referentes à própria fabricação das engrenagens:

Adelgaçamento: retirada de material, afilando o flanco do dente. Esta ocorrência


pode até ser feita à posteriori, mas às mais das vezes é resultado do processo de
usinagem. É preciso atentar que a usinagem é feita com uma ferramenta, que de
certo modo se acopla com o disco, de um modo parecido como fará outra
engrenagem durante o engatamento. Imagine então que a ferramenta atua como
uma espécie de engrenagem e possui um número de dentes maior do que aquela
que está sendo fabricada. Se o processo de fabricação é de geração com
cremalheira (ou mesmo fresa caracol), para engrenagens com pouco número de

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Mecânica Aplicada

dentes haverá o adelgaçamento. Esta região não fará parte da faixa de contato, mas
servirá para alojar o dente da outra engrenagem, particularmente o pinhão.

Não é difícil perceber que o adelgaçamento enfraquece os dentes, e por conta disso,
dependendo das características do engrenamento, a correção das engrenagens,
afastando a ferramenta da posição originalmente prevista, se faz necessário.

Usinagem usando uma ferramenta cujo número de dentes é menor do que a


engrenagem que está sendo fabricada. Percebe-se que os dentes não estão
adelgaçados.

a) Rebaixamento dos dentes: consiste na diminuição do adendo ou altura da


cabeça da coroa.

b) Correção: alteração da distância entre centros das engrenagens.

c) Controle do ângulo de pressão do engrenamento.

Verifica-se que o problema de interferência ocorre devido ao número reduzido de


dentes do pinhão. MABIE identificou o número mínimo de dentes do pinhão (ZP)
capaz de evitar a interferência com uma cremalheira, que é o caso mais extremo. Os
resultados são os seguintes:

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 14,5º 20º N 20º R 25º

ZPmín. 32 18 14 12

No caso de engrenagens iguais:

 14,5º 20º N 20º R 25º

ZPmín. 23 13 10 9

 1,84 1,44 1,15 1,26

Se não for possível obedecer diretamente as tabelas anteriores, relações


geométricas mostram que caso:
1
2
 D PP 2
C 2
DT  2.C  cos 2   C.DPP . cos 2  
 4 

Não há interferência.

DTC  DPC  2 hC

Intermutabilidade ou intercambialidade: é a propriedade que garante a


possibilidade de troca ou reposição de um dos componentes do par sem problemas,
além da garantia de um bom engrenamento.

As condições necessárias são:

1. Mesmo módulo
2. Mesmo tamanho de dentes
3. Mesmo ângulo de pressão na fabricação
4. Espessura de dente igual à metade do plano circular

O leitor deve estranhar tal propriedade, pois em princípio qualquer par deveria
obedecê-las. No entanto, em muitos casos, sobretudo com relação ao não
atendimento dos itens três e quatro, é possível haver o engrenamento do par.
Evidentemente, sem a devida eficiência no projeto. Além disso, as condições citadas
28
Mecânica Aplicada

são necessárias, mas não suficientes. Em engrenagens helicoidais, é preciso que o


processo de fabricação seja o mesmo para o par, ou então minimamente compatível,
pois as características de fresamento nos diversos processos impõem diferenças
significativas no par, sobretudo no desenvolvimento da hélice.

Padronização ABNT:

 14,5º 20º N 20º R 25º

hC m m 0,8m m

hP 1,157m 1,25m m 1,25m

E PC/2 PC/2 PC/2 PC/2

C 0,157m 0,25m 0,2m 0,25m

Tabela de módulos (m)


Intervalo
Espaçamento
De Até
0,3 1,0 0,1
1,0 4,0 0,25
4,0 7,0 0,5
7,0 16,0 1,0
16,0 24,0 2,0
24,0 45,0 3,0
45,0 75,0 5

Forças nas engrenagens:

- Devido às características do engrenamento, elas também se decompõem


radialmente.
- No ponto principal a resultante é normal à superfície do dente. Nesta situação
costuma-se analisar os esforços nos dentes para seu dimensionamento.

29
Mecânica Aplicada

D PP D CP
TP  FPT . e TC  FCT .
2 2

P = 0,1047 T.n

Onde,

P  Potência (Watts)
T  Torque (N.m)
n  rpm

Algumas particularidades:

1  motora
2  meeira ou intermediária (usada para vencer distâncias)

30
Mecânica Aplicada

2
  D2
Tm  F1t 2  F3t 2 . P
, onde Tm = torque motor

31
Mecânica Aplicada

PRIMEIRO EXERCÍCIO
Dimensionar o par de engrenagens que vai transmitir 7,5 HP de potência através de um
motor que gira a 1200 rpm e deve quintuplicar o torque que acionará o comando de uma
manivela acoplada a uma ferramenta de dobramento.

Solução: com base nos dados fornecidos

nP = 1200 rpm

P = 7,5 HP = 7,5 x 746 (fator de conversão para Watts) = 5595 W

5595 1
TP  .  44,54 Nm
1200 0,1047

nP nC
nC   240rpm e i 5
5 nP

Tc=5 x 44,54=222,7Nm

Valores arbitrados:
*Deve-se alojar uma biela no disco da coroa, que funcionará excêntrico como um
sistema biela-manivela. Assim, seja 800 mm de diâmetro da coroa = DPC
800
DPP   160mm
5

32
Mecânica Aplicada

*Escolha do ângulo de pressão:  = 20º

*Arbitrando o módulo: m = 4mm

 C DPC 800
Z    200
 m 4
, hC = 4mm, hP = 5mm, e = 6,28mm e C = 1mm
 P DPP 160
Z    40
 m 4

Verificando a interferência: Como na tabela para α =20º o numero mínimo de dentes


para evitar interferência é bem menor do que os 40 dentes do pinhão, não haverá
interferência. Para conferir, usando-se a fórmula:
1
2
 D PP 2
2
2 C  . cos   C.D P . cos    D CT
2 P 2

 4 
160  800
e C  480 mm
2
O radical versus dois vale: 2 x 410,15 = 820,3

Já o diâmetro de topo vale:

DTC  DPC  2hC  800  (2 x 4)  808 mm; Logo, não haverá interferência.

Verificação da razão de contato:

2 2 2 2
  DC   DbC   DP   DbP 
  ,    T       T      C. sen 
Pb  2   2   2   2 

Pb = Pc.cos 

Db=Dqualquer . cos 

Db=DP . cos 

DbP = 160.cos 20º = 150,3mm

DbC = 800.cos 20º = 752,0mm

33
Mecânica Aplicada

DraizP = DPP – 2hP = 160 – (2 x 5)= 150,0mm

DraizC = DPC – 2hP = 800 – (2 x 5)= 790,0mm

21,11 21,11
   1,78 OK!  PC  .m
PC . cos 20 º 11,81
ϵ não deve ser menor que 1,2.

SEGUNDO EXERCÍCIO

Um pinhão de 22 dentes tem módulo de 6,5mm, gira a 1200 rpm e aciona uma
engrenagem que gira a 660rpm. Determine o número de dentes da engrenagem
e a distância entre eixos.

Solução:

D pP D pP
m  6,5    D pP  (6,5).(22)  143mm
zp 22

Pelo primeiro princípio básico:

1 n c D pP 660 143 ( 1200 ).(143 )


  c   c  D cP   260mm
i n p DP 1200 D P 660

Daí, tem-se:

D cP 260 260
m  6,5    zc   40
zc zc 6,5
Então:

D pP  D cP 260  143
C   201,5 mm
2 2

34
Mecânica Aplicada

EXERCÍCIO EXTRA

Calcular o módulo de uma engrenagem cilíndrica de dentes retos cujo diâmetro


externo (diâmetro de topo) é igual a 45 mm e o número de dentes (Zp) é 28.

Solução:

Foi dado o diâmetro de topo, que de acordo com a norma, se relaciona com o
diâmetro primitivo pela fórmula:

DT=Dp+2hc

Qualquer seja o ângulo de pressão, que não foi dado, a altura de cabeça

padronizada é igual ao módulo, de forma que:

hc = m

Logo:

DT=Dp+2m

Mas:

Dp=mzp

Então:

DT = mzp+2m = m(28)+2m=30m

45 = 30m → m=1,5mm

35
Mecânica Aplicada

TERCEIRO EXERCÍCIO

(a) Dados os seguintes valores: Dp=80mm; m=2mm; e α=20º calcule a


espessura do dente para Φ=25º.

A expressão geral que relaciona as grandezas referentes as espessuras em


qualquer parte do perfil evolvente do dente da engrenagem é dada por:

t1
t 2  D2 [  evol(  1 ) evol 2 ]
D1

Particularizando de modo a introduzir as grandezas referentes à circunferência


primitiva:

e
t 2  D2[  evol() evol ]
D pP

Sabendo que:

Db=Dpcos(α) e Db=Dqualquercos(Φ) → Dpcos(α) =Dqualquercos(Φ)

Tem-se:

Dqualquer = Dp [cos(α)/cos(Φ)] = 80.cos (20º) / cos (25º)= 82,94mm

e= π m/2= π(2)/2= π

Calculando as funções evolventes: (veja: π→180o; x→20o; logo, x= π/9)

36
Mecânica Aplicada

Evolv(200)=tang(200)- π/9=0,3640-0,3490=0,0149

Também, se π→180o, x→25o; logo, x= 25π/180= π/(7,2)

Evolv(250)=tang(250)- π/(7,2)=0,4663-0,4363=0,030

3,1415
t 2  82,94[  0,0149 0,030]  2,004mm
80

(b) Calcule a espessura do dente para Φ=0o, ou seja, circunferência de base


do dente.

Db/2=(Dp/2)cosα

Neste caso, evolv (0o) = 0. Assim sendo:

Db=Dpcos(20o) = 80cos(20o)=75,17mm

3,1415
t b  75,17[  0,0149]  4,070mm
80

Para melhor avaliação dos dados do problema, o diâmetro de raiz vale:

Dr=Dp-2hp=80-2x(1,25)x(2)=80-5=75mm

Isso significa que a circunferência de raiz está situada 0,17/2=0,085mm abaixo da


circunferência de base.

37
Mecânica Aplicada

(c) Calcule a espessura do dente na circunferência de topo.

O valor da circunferência de topo ou cabeça vale:

DT=Dp + 2hc= 80+2x2=80+4=84mm

Mais uma vez usando a relação:

Db=Dpcos(α) e Db=Dqualquercos(Φ)

Tem-se:

DT = Dp [cos(α)/cos(ΦT)] → cos(ΦT)= [Dp cos(α)]/ DT

cos(ΦT)= 80cos(20o)/84=0,8949→ ΦT=26,5o

Assim sendo:

3,1415 3,1415
t T  84[  0,0149  evol( 26,5 o )]  84[  0,0149  0,036) 1,52mm
80 80

38
Mecânica Aplicada

QUARTO EXERCÍCIO

Uma transmissão consiste de um pinhão com dezesseis dentes e uma coroa


com quarenta dentes. O módulo é 12mm. As engrenagens são usinadas com 
= 20º.

(a) Calcular Pc, C, DbC, DbP.

São dados:

ZP = 16 e ZC = 40

m=12mm

Então:

PC   .m  37,7 mm
DPP  DPC DP DC
C , m  PP  PC
2 Z Z

DPP  16 x12  192 mm


192  480
DPC  40 x12  480mm  C   336 mm
2

DbC  480 x cos 20º  451 mm


DbP  192 x cos 20º  180,4mm

(b) Na montagem dessas engrenagens, a distância entre eixos ficou 6 mm


maior do que a prevista. Calcular os novos , DPC, DPP.

Neste problema o próprio enunciado indica que as circunferências primitivas se


alteram. No entanto, a razão de transmissão desejada deve permanecer. Logo, são
duas equações para se determinar os novos diâmetros primitivos:

39
Mecânica Aplicada

 C'

P C
D D
P P D P  D PC '
P'
6 (1)
2 2
C' P C
DP n D
P'
 C  PP  2,5 (2)
DP n DP

D PP '  195,4 mm
D PC '  488,5 mm

DbP  180,4  195,4. cos  '   '  22,6º

O Projeto original era bom? Inicialmente, é necessário verificar a questão da


interferência. De acordo com a tabela de valor mínimo de dentes para pinhão e
cremalheira, o número mínimo de dentes do pinhão para o ângulo de pressão do
engrenamento de 20º é 18 dentes. O pinhão possui 16. É necessário, então, verificar
a interferência pela fórmula:
1
 P2 
2
D
2 C 2  P
. cos 2   C.D PP . cos 2    D CT
 4 
1
2
 192  2
2 336 2  . cos 2 20º 336.192. cos 2 20º   506,23 mm
 4 

D CT  D CP  24  504 mm  Não há interferência

CONTRIBUIÇÃO DE ROBERTO PASSOS

Analisando graficamente o limite de interferência, para que o par funcione, fez-se:

40
Mecânica Aplicada

É possível escrever a função f exclusivamente como função do módulo m. Chega-se


então a:

Para termos uma analise coesa, o número de dentes da coroa será fixado e
as funções são parametrizadas pelo número de dentes do pinhão. Ou seja, como a
função g não está em função do número de dentes do pinhão, tem-se uma
constante, pois o módulo também é uma constante. Já na função f há, que é
constante, e o número de dentes do pinhão variando. Plotando estas funções
podemos ver claramente o limite, que começa a partir de 15 dentes no pinhão.
Então, conclui-se que a partir de 15 dentes no pinhão não se tem interferência no
contato.
Como g=504 (constante) e tendo f(14)= 502,56 e f(15)=504,38. Mostra-se que
o limite em 15 dentes está comprovado.

No que tange a razão de contado, precisa-se usar a fórmula:

2 2 2 2
  DC   DC   DP   DP 
  ,    T    b    T    b   C. sen 
Pb  2   2   2   2 

41
Mecânica Aplicada

D TP  D PP  24  192  24  216 mm

Os diâmetros de base já foram calculados:

DbC  480 x cos 20º  451 mm


DbP  192 x cos 20º  180,4mm

Assim:


 ,  2522  225,52  1082  90,2 2  336.sen 20 o 
Pb
63504  50850,25  11664  8136,04  114,92  56,97mm

O passo base vale:

Pb=Pc cos(20º)=35,42mm

Então:

 56,97
   1,61
Pb 35,42

O projeto original estava bastante bom. É preciso examinar se com a alteração na


distância entre centros as novas condições são tão satisfatórias quanto antes.
No que se refere à interferência, não há problema, pois o aumento do ângulo de
pressão inibe a produção desse fenômeno. A questão mais séria é com a razão de
contato. Calculando-a nessa nova condição, verifica-se que os radicais constantes
da expressão da faixa de contato não mudam; entretanto, a distância entre centros C
e o ângulo de pressão se alteraram:

42
Mecânica Aplicada

  12653,75  3527,96  C
.
sen
22

,6  40,46mm
131, 43

Mas o denominador se altera bastante, pois o “passo base” agora mudou seu
significado. Uma vez que o contato se inicia e termina e novos pontos, o arco de
contato se modifica, e novas espessuras – tanto para o dente do pinhão quanto para
o dente da coroa – precisam ser contabilizadas.

Sabe-se que:

DpC =480mm, DpC’ =488,5mm

A fórmula para cálculo das espessuras, baseando-se nos valores conhecidos da


espessura frontal, ângulo de pressão e diâmetro primitivos originais é:

e
t q  Dq [  evol(  ) evol ]
D Pp

Então, a espessura do dente da coroa é:

6 x 3,1415
t ' c  488,5[  evol(20 o )  evol(22,6 o )] 
480
t ' c  488,5[0,039269  0,014904  0,021815]  15,82mm

Para o pinhão, tem-se:

DpP =192mm, Dpp’ =195,4mm

43
Mecânica Aplicada

Logo, a espessura do dente do pinhão é:

6 x3,1415
t ' p  195,4[  evol( 20 o )  evol(22,6 o )] 
192
t ' c  195,4[0,09817  0,014904  0,021815]  17,83mm

Com esses dados, o novo “Pb” é dado por:

Pb=(17,83+15,82)cos(22,6º)=31,066

Então:

 40,46
 [ ]  1,302
P ' b 31,066

Estabelecimento da folga no vão:

O procedimento para se prover um espaçamento entre os dentes que se engatam é


dado na montagem, e consiste em aumentar numa pequena proporção distância
entre centros. Mabie na pag 120/121 deduz formulas para dentes padronizados e
não padronizados. Para dentes padronizados, a folga f é dada por:

f  2 x (C' ) x[evol(' )  evolv( )]

Onde C’ é o novo afastamento entre os centros. A folga f deve ser uma fração da
espessura frontal, em torno de 5% a 6%.

É interessante “traduzir” o afastamento acidental dado no problema em termos de


uma folga. Assim sendo, nesse caso tem-se:

evolv( Φ’) = evolv (22,2º) =tang (22,2º) – 0,387 = 0,408-0,387= 0,021

evolv( Φ) = evolv (20º) =tang (202º) – 0,349 = 0,408-0,349 = 0,015

f '  2 x (342) x[0,021  0,015]  4,1mm

44
Mecânica Aplicada

A espessura frontal vale: e = πm = π(6)=18,85mm

A folga controlada, em seu valor máximo, deveria ser de:

f=0,05x18,85= 0,94mm

Que é quatro vezes menor do que o produzido incidentalmente.

QUINTO EXERCÍCIO

Dimensionar o par de ECR de modo que transmita 10KW a 3000rpm. Não deve
haver interferência, α = 20º, i = 6 e ε ≥ 1,69. A distância entre centros não pode
ser maior que 350mm.

Valores dados:

α = 20º

ε ≥ 1,7

C ≤ 350mm

i= DpC / DpP=6

Valores arbitrados:

Módulo m = 5mm, uma escolha arbitrária. Para evitar interferência com α = 20º foi
escolhido zp=18 no caso mais crítico, pinhão com cremalheira. Com esses valores
deve-se checar a distância entre centros e caso não tenham sido boas as escolhas
os valores devem ser redefinidos.

Daí: Dpp=mzp=5x(18)=90mm

Dpc= 6Dpp = 6x(90)=540mm

45
Mecânica Aplicada

A distância entre centros vale: C = (Dpp + Dpc) / 2= (90+540)/2=315mm OK!

Calculando as demais grandezas dos dentes:

Dbp = DpP cos(20) = 84,57mm

Dbc = DpC cos(20) = 507,43mm

DTp = DpP + 2hc = 100mm

DTc = DpC + 2hc = 550mm

Drp = DpP – 2hp = 77,5mm

Drc = DpC – 2hp = 527,5mm

Perceba que a circunferência de raiz da coroa está bem acima da circunferência de


base, o que implica em todo o perfil do dente da coroa ser evolvental. Contudo, o
diâmetro de base do pinhão está acima do diâmetro de raiz; porém, os valores
adequados de projeto vão fazer com que esta parte não evolvente do dente não faça
parte da faixa de contato.

Calculando do arco de contato:

φ= Dtc / 2²  Dbc / 2² + Dtp / 2²  Dbp / 2² - Csen(α)

φ= 550 / 2²  507,43 / 2² + 100 / 2²  84,57 / 2² - 315sen(20)

φ = 106,08 + 26,68 – 107,73

φ = 25,52

Pb = Pccos α = πmcos α = 5πcos(20) = 14,76

Logo;

ε = φ / Pb = 25,52 / 14,76

ε = 1,70.............................................OK!

Sejam os mesmos dados e agora se faz zp=17, como se fosse uma tentativa de
melhorar o custo de fabricação do projeto, especialmente caso se precisassem fazer
peças em série. O valor zp=18 corresponde ao acoplamento pinhão-cremalheira, o
caso mais extremo; supõe-se que com o engrenamento pinhão-coroa, apesar da alta

46
Mecânica Aplicada

relação de transmissão, não haja interferência. Logo a seguir se faz o teste para
saber se há ou não interferência com zp=17. Neste ponto, agora, tem-se:

Daí: Dpp=mzp=5x(17)=85mm

Dpc= 6Dpp = 6x(85)=510mm

A nova distância entre centros vale: C = (Dpp + Dpc) / 2= (85+510)/2=297,5mm OK!


Novos diâmetros:

Dbc = 510cos(20)=479,24mm

Dbp = DpP cos(20) = 85cos(20)= 79,87mm

DTc = DpC + 2hc = 520mm

DTp = DpP + 2hc = 95mm

Usando a fórmula para aferir se há ou não interferência:

1
 2 D P2 2
2C  P
.cos   C.D P .cos    D CT
2 P 2

 4 
1
 85 2 2
2 297,5 2  .cos 2 20º 297,5x85. cos 2 20º  
 4 
1
288506,25  1806,25x 0.8830  297,5x85x 0.88302  520,6623

D CT  D CP  10  510  10  520 mm  Menor que 520,66 : não há interferên cia

Esta pequena diferença sugere que, para zp=16 dentes, já haja o problema da
interferência no engrenamento. Calculando a razão de contato ou grau de
recobrimento:

φ = 100,907 + 25,7184 – 101,75=24,87

Pb = 5πcos(20) = 14,76

ε = φ / Pb= 24,87 / 14,76 =1,68

47
Mecânica Aplicada

A redução do número de dentes do pinhão afeta negativamente a razão de contato,


ou seja, o maior número de dentes do par aumenta a razão de contato ou grau de
recobrimento. Assim, esta proposta deve ser recusada por não atender ao imposto
no enunciado.
O gráfico mostrado retirado do trabalho de Bravim ilustra esse comportamento.

Razão de contato x Zp com α = 20 ºe i = 6


1,90
1,85
Razão de contato

1,80
1,75
1,70 ε (Zp)
1,65
1,60
1,55
1,50
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50
Número de Dentes do Pinhão

Portanto, tomando o caminho de aumentar o número de dentes, vai se dimensionar


as engrenagens para o caso extremo de C = 350 mm (esta proposta é ruim, pois
depois se precisa dar a folga frontal e a distancia entre centros vai aumentar!):

350 = (Dpp + Dpc) / 2

6Dpp = Dpc

Assim:

Dpp = 100mm

Dpc = 600mm

É necessária a escolha de um módulo que resulte em um número de dentes inteiros.


Sendo m=5, essa condição é satisfeita:

Zp = (DpP)/ m = (100)/ 5 = 20 dentes

Zc= i Zp= 120 dentes

E, de acordo com a tabela de Zp mínimo, há garantia de que não haverá


interferência, pois no caso extremo de pinhão-cremalheira o Zp mínimo = 18 dentes.
48
Mecânica Aplicada

Cálculo dos outros diâmetros:

Dbp = Dppcos(20) = 93,97mm

Dbc = Dpccos(20) 563,82mm

DTp = Dpp + 2hc = 110mm

DTc = Dpc + 2hc = 610mm

Drp = Dpp – 2hp = 87,5mm

Drc = Dpp – 2hp = 587,5mm

Cálculo do arco de contato

φ= Dtc / 2²  Dbc / 2² + Dtp / 2²  Dbp / 2² - Csen(α)

φ= 610 / 2²  563,82 / 2² + 110 / 2²  93,97 / 2² - 350sen(20)

φ = 116,42 + 28,59 – 119,71

φ = 25,3

Pb = Pccos α = πmcos α = 5πcos(20) = 14,76

Logo;

ε = φ / PB = 25,3 / 14,76

ε = 1,714

Sendo assim, a condição inicial especificada foi também obedecida.

EXERCÍCIO EXTRA (contribuição de Rodolfo Zamborlini Fraga, 2008)

Esse exercício explora o exemplo anterior, analisando qual o efeito da razão de


transmissão, ângulo de pressão e número de dentes do pinhão influenciam na razão
de contato, mantendo-se os valores impostos no enunciado.

Para começar, fazer a expressão da razão de contato ficar somente em função da


razão de transmissão, ângulo de pressão e número de dentes do pinhão.

49
Mecânica Aplicada

2 2 2 2
 DC   DBC   DP   DP 
   T       T    B   C  sen
 2   2   2   2 
Usando as equações seguintes na expressão acima e simplificando colocando m/2
em evidência, fica:

DTC  DPC  2 hC , hC  m , DTP  DPP  2 hC , DBC  DPC  cos  , DBP  DPP  cos  ,

DPP  D PC
C C
D  mZ C , DPP  mZ P ,
P 2 .
m m m
 Z C  22  Z C  cos 2  Z P  22  Z P  cos  2  ( Z C  Z P )  sen
2 2 2
Resolvendo os produtos notáveis:

m 2 2 m 2 2 m
 Z C  4 Z C  4  Z C  cos 2   Z P  4 Z P  4  Z P  cos 2   ( Z C  Z P )  sen
2 2 2

Substituindo na fórmula de razão de contato:



m cos 


2
  2
 
Z C  1  cos 2   4 Z C  4  Z P  1  cos 2   4 Z P  4  (Z C  Z P )  sen
2 cos 
Ou seja, a razão de contato independe do módulo escolhido no projeto. Lembrando
que:

sen 2  1 cos 2 

2 2
Z C  sen 2  4Z C  1  Z P  sen 2  4Z P  1  ( Z C  Z P )  sen

2 cos 
Sabendo que:

ZC  i  Z P

Logo:

50
Mecânica Aplicada

i 2  Z P  sen 2  4i  Z P  1  Z P  sen 2  4Z P  1  Z P i  1  sen


2 2


2 cos 

Usando a equação anterior se pode verificar como a razão de contato varia com
essas variáveis.
Na primeira verificação, foi feita adotando como constantes i = 6 e Zp = 18. A
distancia entre centros fica definida como sendo 315 mm. Fez-se variar o ângulo de
pressão de 10 a 30 graus, obtendo-se o gráfico a seguir:

Razão de contato x Ângulo de Pressão com i = 6 e Zp = 18

3,00
Razão de contato

2,50
2,00
1,50 ε (α)
1,00
0,50
0,00
10,0
11,0
12,0
13,0
14,0
15,0
16,0
17,0
18,0
19,0
20,0
21,0
22,0
23,0
24,0
25,0
26,0
27,0
28,0
29,0
30,0
Ângulo (α)

Na segunda verificação usou-se como constantes α = 20º e Zp = 18 e a razão de


transmissão variando de 1 até 21. Essa combinação gerou o gráfico a seguir.

Razão de contato x Razão de transmissão com α =20 ºe Zp =18

1,80
1,75
Razão de contato

1,70
1,65
1,60 ε (i)
1,55
1,50
1,45
1,40
10,0
11,0
12,0
13,0
14,0
15,0
16,0
17,0
18,0
19,0
20,0
21,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0

Razão de transmissão

51
Mecânica Aplicada

No entanto, por ter Zp=18 com um ângulo de pressão de 20º, não há


interferência, não importando a razão de transmissão, por conta dos valores padrão.
Com essa configuração de Zp, para existir interferência dentro dessa faixa de razão
de transmissão, o ângulo de pressão deverá ser menor que 19,26º e com i =21 neste
caso específico terá razão de contato 1,78. Aumentando o valor do ângulo de
pressão, este desloca o gráfico para baixo, enquanto o número de dentes do pinhão
faz o inverso, mas não na mesma intensidade.

Razão de contato x Razão de transmissão com α =25 ºe Zp =18

1,55
Razão de contato

1,50

1,45
ε (i)
1,40

1,35

1,30
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
11,0
12,0
13,0
14,0
15,0
16,0
17,0
18,0
19,0
20,0
21,0
Razão de transmissão

Não há interferência com α =25º e Zp =18 dentro da faixa de razão de transmissão


especificada no gráfico anterior.
Na terceira verificação, adotou-se como constantes α = 20º e i = 6 e o número de
dentes do pinhão variando de 12 até 50. Essa combinação é a que gerou o gráfico
usado no problema anterior, repetido por conveniência a seguir:

Razão de contato x Zp com α = 20 ºe i = 6


1,90
1,85
Razão de contato

1,80
1,75
1,70 ε (Zp)
1,65
1,60
1,55
1,50
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50

Número de Dentes do Pinhão

52
Mecânica Aplicada

Há interferência quando o Zp é menor que 18, neste limite a razão de contato


é 1,7. Alterando os valores de α e i, o ângulo de pressão desloca o gráfico para
baixo, enquanto o a razão de transmissão desloca para cima. Verifique a seguir:

Razão de contato x Zp com α = 20 ºe i = 12


1,90
1,85
Razão de contato

1,80
1,75
ε (Zp)
1,70
1,65
1,60
1,55
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50
Número de Dentes do Pinhão

Com essa configuração a razão de contato com 18 dentes no pião é de 1,72,


abaixo desse numero de dentes existe interferência no conjunto.

Razão de contato x Zp com α = 25 ºe i = 6


1,60

1,55
Razão de contato

1,50
ε (Zp)
1,45

1,40

1,35
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50

Número de Dentes do Pinhão

Com essas novas constantes, para não ter interferência Zp deve ser igual ou
maior a 18 dentes, e neste limite a razão de contato é de 1,49.

53
Mecânica Aplicada

Conclusão

Os dados e gráficos analisados mostram que durante o projeto do pinhão,


pode se verificar até onde é importante a razão de contato ser aumentada pelo
acréscimo do número de dentes do pinhão, de acordo com o tipo de serviço que será
executado.
Mostra também que no projeto pode-se sair dos padrões e fazer um pinhão
com ângulo não usual para poder aumentar a razão de contato e se já feito o pinhão,
até quando é viável usinar aumentando o ângulo de pressão sabendo que se perde
bastante razão de contato com essa solução.
O efeito da razão de transmissão é aumentar a razão de contato, e essa taxa
é bem significativa com baixas razões de transmissão, se comparada com elevadas
razões de transmissão que influem muito pouco na razão de contato.
A interferência é um parâmetro importante para definir uma solução
compatível e a com menor custo. Esse tipo de estudo ajuda o profissional dar uma
solução eficaz e baixo custo para os projetos que lhe são propostos.

SEXTO EXERCÍCIO

Uma máquina operatriz tem razão de transmissão igual a 4. São empregadas


duas ERC’s, sendo a distância entre centros igual a 205 mm. As engrenagens
são padronizadas, têm módulo m=5 mm e não são corrigidas na fabricação.
Quais eram os diâmetros primitivos originais se o ângulo de pressão α atual é
de 19º? Quantos dentes têm as engrenagens? Havia interferência na condição
inicial, antes da correção? Há interferência nesta condição? Calcule a razão de
contato.

Pois que o ângulo de pressão aferido na montagem do par é diferente dos valores
padronizados, conclui-se que houve uma correção proposital do engenamento, feita
durante a disposição das árvores. É a chamada correção zero, que não modifica os
parâmetros das engrenagens na fabricação. Foi visto, anteriormente, uma situação
parecida com esta, mas como resultado de um erro de montagem. Neste caso,

54
Mecânica Aplicada

insinua-se foi feita uma tentativa última de melhorar o engrenamento, por algum
motivo. Tal razão vai ficar clara no decorrer da solução do problema.

Na situação vigente: α atual de 19º (α’)

(D’pp+ D’pc)/2= C = 205

Logo:

D’pp+ D’pc=2x 205 = 410

A razão de transmissão é dada:

4D’pp = D’pc

Assim, substituindo este valor na expressão anterior:

D’pp+ 4D’pp= 410

Daí:

Dpp’ = 82mm

Dpc’= 328mm

É possível terminar os diâmetros de base:

Dbp = Dpp’cos19º = 77,53mm


Dbc = Dpc’cos19º = 310,13mm

Provavelmente o ângulo inicial era de 14,5º; pois se fosse igual a 20º a redução iria
causar sérios problemas de folga no vão, além de induzir a interferência. Assim, para
alfa original de 14,5º, os diâmetros primitivos originais são calculados:

Dpp = Dbp/ cos(14,5º) = 80,0mm

Dpc = Dbc/ cos(14,5º) = 320,0 mm ou Dpc= 4Dpp

Para calcular o número de dentes:

Dpp 80
zp = = = 16 dentes;
m 5

zc = 4zp = 64 dentes (item b)

55
Mecânica Aplicada

Na condição do projeto original certamente havia interferência, pois que o número


mínimo de dentes do pinhão no caso de engrenagens iguais é 23 (o mais favorável
para engrenagens iguais) e o valor calculado é 16! Esta é a razão para a correção
zero, ou seja, durante a montagem das árvores.
Na nova situação, após o afastamento, não deve haver interferência, mas é preciso
fazer os cálculos. Vê-se que:

Zp min para engrenagens iguais com alfa=20º é 13;


Zp min para engrenamento com cremalheira com alfa=20º é 18;

Assim, o número de dentes do pinhão (zp=16) se situa nesse intervalo, sendo


possível que dos dados de projeto funcionem sem interferência; porém, é preciso
conferir.
Usando a fórmula geral:

Dtc=Dpc+2hc=320 +2x5=330 mm

82²
330 < 2 [ (205)² + (cos19º)² - (205)(82)(cos19º)²]=
4

330 < 2 [ 42025 + 1681x0,894 - 15028,23]=

330 < 337,63

De fato, não há interferência.

Cálculo da Razão de contato:

φ= Dtc / 2²  Dbc / 2² + Dtp / 2²  Dbp / 2² - Csen(α)

φ= 330 / 2²  310,13 / 2² + 90 / 2²  77,53 / 2² - 205sen(19º)

φ = 12,501

Dtp=Dpp+2hc=80 +2x5=90mm

Pb = P’c cos(19º) = (t’p + t’p) cós 19º

2,5x3,1415
t 'c  328[  evol(14,5 o )  evol(19 o )]  5,699
320
2,5x 3,1415
t 'p  82[  evol(14,5o )  evol(19o )]  7,462
80

56
Mecânica Aplicada

Pb=(5,699+7,462)cos(19o) = 12,44mm

Logo

ε = φ / Pb = 12,501 / 12,44

ε = 1,005

O valor da razão de contanto é muito baixo e, em princípio, o projeto deve ser refeito.
Havia recursos para evitar o procedimento mostrado? Com certeza sim, bastaria, em
princípio, usar um ângulo de pressão do engrenamento (e consequentemente na
fabricação da engrenagem) com um valor maior, como por exemplo, 20º.

SÉTIMO EXERCÍCIO
Projeta-se uma redução fixa para o SAE BAJA UFES 2010. A redução desejada
é [4,75 ≤ i ≤ 4,9] com dois pares iguais, o mais compacta possível, com razão
de contato elevada.

Visando uma maior razão de contato possível, foi arbitrado o menor alfa possível:

α = 14,5º

O módulo foi igualmente arbitrado: m=1 mm

Arbitrou-se também o diâmetro primitivo do pinhão: Dpp=40mm

Conforme mostrado, i=2,2 para cada par. Logo:

Dpc=40 x i = 40 x 2,2 = 88 mm → zp= Dpp/m =40 dentes

57
Mecânica Aplicada

Este valor é maior que o valor de referência para o contato entre pinhão e
cremalheira, o mais crítico:

zp (min)=32 dentes para α = 14,5º.

Assim, calcula-se:

zc= 40 x 2,2 =88 dentes

Outras dimensões:

C=(Dpp+Dpc)/2=64mm

e = (3,1415 x m)/2 = 1,571mm

hc = m = 1 mm

hp = 1,157m = 1,157 mm

c=0,157mm

Dbp = Dppcos(14,5) = 38,726mm

Dbc = Dpccos(14,5) = 85,197mm

Dtp = Dpp + 2hc = 42mm

Dtc = Dpc + 2hc = 90mm

Drp = Dpp – 2hp = 37,686mm

Drc = Dpp – 2hp = 85,586mm

Pb=Pccos14,5=2ecos14,5=3,042mm

φ= 90 / 2²  85,197 / 2² + 42 / 2²  38,726 / 2² - 64sen(14,5º)=

14,504+8,129-16,024=6,609mm

ε = φ / Pb = 6,609/3,042=2,173mm. Conforme esperado, há uma alta razão de


contato. Não haverá interferência; mas, conferindo pela fórmula:

58
Mecânica Aplicada

1
2
 DPP 2
2
2 C  .cos   C .DP .cos    DTC
2 P 2

 4 
1
 
2 4096  387,259º 2399,513 2  91,296 mm

DTC  90 mm  Não há interferência

Cálculo da folga:

f  2 x (C' ) x[evol( ' )  evolv( )]

Novo C’ (afastamento entre os centros), arbitrado em C’=64,1mm (valor pequeno,


mas obediente à formula). Assim,

Dpc/Dpp=D’pc/D’pp=2,2→ D’pc=2,2 D’pp

Também D’pc+D’pp=128,2mm

Daí:

D’pc= 88,138mm
D’pp=40,062mm

Então, retirando o novo ângulo de pressão:

Dbp = D’ppcos(Φ’) →cos(Φ’) = 38,726/40,062 → Φ’=14,843º

evolv( Φ’) = evolv (14,843º ) =tang (14,843º) – 0,259 = 0,006

evolv( Φ) = evolv (14,5º) =tang (14,5º) – 0,253 =0,0056

f  2 x (C' ) x[evol(' )  evolv()]

f  2 x (64,1) x[0,006  0,0056]  0,051mm

O valor recomendado seria 5% da espessura frontal ef (em torno 0,08mm).


Conclusão: as árvores poderiam ser montadas com uma distância C’ maior do que a
apresentada, que foi igual a 64,1mm. O décimo de milímetro a mais implicará numa
folga maior do de 0,051mm e para 64,2mm estaria próximo do valor almejado.

59
Mecânica Aplicada

Complementação do aluno Wildson Lesqueves 31/05/12

Este exercício confirma o que foi exposto anteriormente, Agora, propõe-se uma nova
distância de centros (que será chamado de C’) a qual resulta numa razão de contato
(ε) igual a 2. Para isso arbitra-se um C’, para chegar a uma razão de contato ε
desejada.
Arbitrando C’= 64,181mm resultam os diâmetros primitivos do pinhão (Dpp’) e
primitivos da coroa (Dpc’) nos seguintes valores:

Dpc’/ Dpp’= 2,2 Dpp’+ Dpc’= 2C’

Assim:

Dpc’= 88,2488 mm Dpp’= 40,1131 mm

Agora há um novo ângulo de pressão (α’):

Dpc = Dpc’ cos α’ α’ = 15,1121°

Calcula-se através da fórmula da curva evolvental e ângulo de pressão original (α) e


o novo (α’):

evol(Ø) = tan Ø – Ø evol α = 0,00554483 evol α’ = 0,00629144

A folga no vão será de:

f = 2C’ x [evol α’ - evol α] f = 0.09583663 mm

Para se avaliar os novos valores da razão de contato com o novo ângulo de pressão,
encontra-se ⱷ’:

ⱷ’= 5,9002
Em seguida calcula-se o passo da base Pb’:

Pb’ = Pc’ cos α’ = ( tc’ + tp’) cos α’

tc’ = Dpc’[ ((m/2) x π) Dpc + evol α - evol α’] tc’ = 1,50935

tp’ = Dpp’[ ((m/2) x π) Dpp + evol α - evol α’] tp’ = 1,545288

Pb’ = 2,9490 mm

60
Mecânica Aplicada

Assim o novo ε’ será de:

ε’ = ⱷ’/ Pb’ ε’ = 2,000747

Portanto, aumentando a distância entre centros das engrenagens tem-se uma menor
razão de contato no par.
A seguir se tem uma tabela para mostrar que quanto maior a distância entre centros
menor será a razão de contato:

Distância Ângulo Razão Folga (f)


entre de de
centros C’ pressão (α’) contato (ε’)
64,05 14,6719° 2,1250 0,0260324 mm

64,10 14,8416° 2,0775 0,05240385 mm


64,15 15,0093° 2,0301 0,07911101 mm

64,20 15,1748° 1,9827 0,10615067 mm

64,25 15,3384° 1,9354 0,13351974 mm

64,30 15,4999° 1,8881 0,16121523 mm

Vê-se que para 64,15 já se encontra bem próximo do valor de folga no vão ou folga
frontal desejado, em torno de 0,08mm.

OITAVO EXERCÍCIO
Considere uma engrenagem padronizada, com alfa=20º. Caso seu diâmetro
primitivo valha 150 mm e seu módulo vale 5mm, calcule:

(a) O raio do pino que fará contato no ponto principal.

61
Mecânica Aplicada

Solução: No ponto principal P concorrem a tangente comum às circunferências


primitivas (a outra circunferência não foi desenhada), a linha de centros e,
destacadamente neste caso, a linha de ação, que é perpendicular a tangente comum
(desenhada em vermelho) e permite a solução do problema.

Inicialmente, considere o seguinte esquema, onde se destaca o raio do pino:

Com os dados do problema pode-se calcular o número de dentes da engrenagem,


pois foram dados o diâmetro primitivo e o módulo da engrenagem:

62
Mecânica Aplicada

z= Dp/m = 150/5=30

Desse modo, é possível retirar o ângulo Φ mostrado na figura anterior, através do


conceito de passo circular. Para 360 graus são 30 dentes; contudo, é preciso
contabilizar a espessura do dente e o valor do vão, que são iguais:

2Φ= 360/2z → Φ = 360/(4x30)=3º

Conforme destacado no desenho, o ângulo entre a linha de ação e o raio base é de


noventa graus; sabe-se que alfa é 20º; e Φ foi calculado agora. Então:

∆ = (Db/2) tag 23º ; Db=Dpcos20o →∆ = 1/2(Dp cos 20º) tag 23º =

1/2(150 cos 20º) tag 23º= 75x 0,939 x 0,4244=29,91mm

Conhecido o ângulo de pressão, que vale 20o, tem-se:

d/2= raio do pino= ∆ - (Dp/2)sen 20º = ∆ - (Db/2)tag 20º = 29,91-75x0,342=4,25mm

Na prática, comumente o procedimento mostrado é feito ao inverso. Sabendo-se


qual é o ângulo de pressão, determina-se o diâmetro de base no caso de se saber o
diâmetro primitivo, pois os diâmetros dos pinos são padronizados.

(b) O diâmetro D’ medido entre dois pinos opostos.

63
Mecânica Aplicada

Primeiramente é preciso atentar para se o número de dentes da engrenagem é par


ou ímpar. Este problema cai no primeiro caso (zp=30) de modo que a conta é mais
simples. Este esquema é mostrado na figura a seguir:

NONO EXERCÍCIO
Leandro Bastos Bergami

A figura a seguir representa um mecanismo de redução. A árvore b é acionada por


uma fonte de potência em a com 1,25KW girando a 1720rpm. A redução entre a e b
é de 3,5; já a redução de b para c é de 4. O número de dentes do pinhão 1 é 24 e o
número de dentes da coroa 4 é 120.
 A - Calcular o número de dentes nas engrenagens da árvore b (z2 e z 3).
 B - Calcular as rotações das árvores b e c (nb e nc).
 C - Se a perda de potência é em 4% em cada engrenamento, determine o
torque em cada árvore (Ta, Tb e Tc).

64
Mecânica Aplicada

Dados do problema:

ia/b = 3,5 ib/c = 4

P = 1,25KW na = n1 =1720rpm

z1 = 24 z4 = 120

Item A:

Para o engrenamento de 1 para 2 tem-se:

ia/b = 3,5

A razão de transmissão pode ser expressão em função do número de dentes. Então:

ia/b = (z2 / z1)  z2 = ia/b . z1

z2 = 24 x 3,5 = 84 dentes

Para o engrenamento de 3 para 4 tem-se:

ib/c = 4

Do mesmo modo, equacionando-se em função do número de dentes, tem-se:

ib/c = (z4 / z3)  z3 = z4 / ib/c


z3 = 120 / 4 = 30 dentes

Item B:

Como ia/b = 3,5 e tal relação é igual ao quociente das frequências angulares, tem-se:

ia/b = na / nb  nb = ia/b . na
65
Mecânica Aplicada

nb = 491,43rpm.
A rotação nb é comum às engrenagens 2 e 3.
Como ib/c = 4 e tal quociente é

i b/c = nb / nc  nc = ib/c . nb

nc = 122,86rpm.

Item C:

P = Ta . 0,1047 . na

Ta = P / (0,1047 . na)

Sendo na = 1720 e P = 1250W

Logo, T a = 9,55 Nm

Considerando que há perda de potencia em cada engrenamento, apenas 96% da


potência vai ser transmitida. Tal perda não se traduz em mudança nas velocidades
angulares; estas são regidas por relações cinemáticas. A perda de potência se
resulta em redução do torque a ser transmitido. Então:

0.96 P = (0,1047. Tb . nb)

Tb = T2 = (P . 0.96) / (0,1047 . nb)

Sendo nb = 491,43 rpm e P = 1250

Então: T b = 23,32 Nm

No outro acoplamento:

(0.96 x 0.96) P = P4 = T c . 0,1047 . nc .

Tc = (P .0.96.0.96) / (0,1047 . nc) sendo nc = 122,86 e P = 1250

Tc = 89,56Nm

66
Mecânica Aplicada

DÉCIMO EXERCÍCIO:

Um motor de 7,5 KW aciona a engrenagem 2 a 1800rpm. A polia 4, por


intermédio de uma correia plana, move a polia 5. Na árvore da polia 5 também
está acoplado um ventilador. Pede-se:

Item a - Calcular a velocidade e o torque na árvore do ventilador, sem considerar


perdas por atrito.
Item b - A força de tração no ramo frouxo da correia é 20% do valor no ramo tenso.
Calcular essas forças considerando-as verticais.
Item c - Calcular o torque na árvore intermediária b.
Item d - Calcular a força exercida pela polia 4 sobre a árvore intermediária.
Item e - Determinar as componentes x e y das reações dos mancais A e B sobre a
árvore.
Item f - Localizar e determinar o momento fletor máximo atuante na árvore
intermediária.

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Solução:

(a) A rotação do motor é naturalmente a rotação experimentada pelo pinhão 2.


Então:

n 2  n1

Do primeiro princípio básico :

Z3 n 2 n .Z 1800x 24
  n3  2 2   n 3  1350 rpm
Z2 n 3 Z3 32

A rotação comum na árvore intermediária implica que :

n4  n3

Da análise cinemática mostrada a seguir tem - se :

n 5 4 n . 1350x 75
  n5  4 4   n 5  810 rpm
n 4 5 5 125

A velocidade tangencial na correia, considerada inextensível nesta análise


preliminar, é comum ao longo de toda a correia. Assim, pode-se equacionar:

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4   
vt  4  5 5  4 (2n 4 )  5 (2n 5 )
2 2 2 2
Daí
4 n 5
 
5 n 4

Se não há perdas :

P1  P2  P3  P4  P5 , P5  0,1047.T5 .n 5

7500
T5   88,5 Nm
0,1047 x810

Se houvesse perdas:

P2  K 1 .P1 , K1  1,0

K 1 .P1
P3  K 2 . e assim sucessivamente. Não havendo perdas pode - se fazer :
P

T3 n 2 T4 .n4
 ; T4  T3 , T5 
T2 n3 n5

Análise das forças no sistema:

Na figura a seguir vê-se a linha de ação. O início de contato se dá quando a parte


inferior do dente do pinhão toca a parte superior do dente da coroa. Vê-se também o
ângulo de pressão frontal e as circunferências primitivas. No ponto principal, a força
resultante está atuando exatamente em coincidência com a linha de ação. Nesta
condição, não há força de atrito.

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Mecânica Aplicada

A análise dinâmica deve ser empreendida como se segue. A coroa é movimentada


pelo pinhão. Assim, a força que o pinhão faz na coroa deve estar direcionada no
mesmo sentido de rotação da coroa, pois de acordo com a primeira Lei de Newton, a
coroa somente se movimenta porque uma força, naquele sentido, a obrigou a isto.

Pela terceira Lei de Newton, se chega às forças que a coroa faz no pinhão.
Examinando a árvore, vê-se o seguinte esquema dinâmico, com as forças exercidas
pelas correias na polia. O equilíbrio de torques impõe que o ramo tenso se apresente
conforme mostrado. É oportuno revisar o modelo de forças numa correia, seja ela
plana ou trapezoidal.

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(b) Demonstra-se que a relação entre os ramos tenso e frouxo numa correia é dado
por:

FT    ângulo de abraçamento
 e , onde 
FF   coeficiente de atrito

no caso, já foi dado que : FF  0 ,2 FT

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5
T5  [FT  FF ].
2

0,125 FT  1780 N


88,5  [FT  0,2FT ]. 
2 FF  354 N

(c) O torque poderia ser calculado por:

4
T4  [ FT  FF ].
2

0,075
T4  [1780  354].  53,1Nm
2
Ou simplesmente percebendo que o equilíbrio de torques na árvore impõe que:

T3 = T 4

Então:

T2 .n2 P
T3   T2   39,8 Nm
n3 0,1047.n2

39,8 x1800
T3   53,1 Nm
1350

(d) Diferentemente do que ocorre na composição dos torques, em que as forças no


ramo tenso e frouxo nas correias se subtraem, agora no equilíbrio vertical as
componentes se somam:

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F4 = FT + FF  F4 = 2124 N
Ressalta-se que as forças são consideradas verticais, uma aproximação bastante
razoável.

(e) Para se calcular as forças nos mancais, é preciso determinar todas as forças nas
engrenagens. A componente radial da resultante no contato entre os dentes no
ponto principal não foi calculada. Contudo, a própria componente tangencial ainda
não foi determinada. Isto é feito a partir do torque T3, já conhecido:

2.T3
FT3  , D3P  m.Z3  96 mm
D 3P
FT3  1106,3 N;
Então:

FR3  FT3 .tg  402,67 N

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Mecânica Aplicada

Esquema especial das forças:

Plano x:

RAy = -1316,4 N (se opondo ao sentido proposto)

RBy = 298,7 N

Plano y:

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Mecânica Aplicada

 R x  100,7 N
 A

 RBx  302,0 N

(f) Para determinar os momentos fletores, usa-se a seguinte aproximação:

M 2f  29,9 2  30 2  42 Nm
M 1f  131,6 2  10 2  132 Nm

Nas figuras que se seguem apresentam-se os valores das duas seções retas onde
se acoplam a polia e a coroa. Na figura à esquerda estão os valores dos momentos
fletores em cada plano. Na figura a direita, a resultante. Pode-se considerar um
“vetor momento fletor”, que no caso é traçado sem obedecer a convenção usual de
torques e momentos, ou seja, as flexões ocorrem em planos perpendiculares aos
vetores mostrados. Ressalta-se que no caso do momento fletor resultante, há uma
variação espacial deste ao longo do eixo, como uma espécie de hélice. Em caso de
flexão em dois planos na construção civil, onde se trabalha com concreto, é preciso
reforçar as estruturas com ferragens num posicionamento correto, pensando nos
efeitos trativos da flexão. Nestes casos, é possível perceber que tais ferragens
devem ser retorcidas ao longo dos vigamentos.

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Mecânica Aplicada

(g) Dimensionamento estático do eixo

Um problema como este deve ser dimensionado considerando a fadiga, pois a


rotação da árvore faz com que as tensões devidas à flexão sejam alternadas.
Contudo, é deixado por conta do leitor o desenvolvimento do projeto segundo esta
metodologia mais adequada. Apenas para motivar, é apresentado a seguir um
modelo de dimensionamento estacionário.

O fato da seção reta da árvore intermediária ser circular permite uma adaptação
estratégica das fórmulas padrão da Resistência dos Materiais para cálculo de
tensões. Primeiramente, o cálculo das tensões normais de flexão considerando o
momento fletor máximo:

M 32M 32 x132 1344,5


F    
2I  3  3 3

Em segundo lugar, faz-se o cálculo das tensões cisalhantes devido à torção na


árvore:

T 16T 16 x 53,1 270,4


T     3
2J  3  3 

Para seções circulares as fórmulas da flexão e da torção ficam homogêneas em


termos do diâmetro ϕ, elevado à terceira potência.

É possível traçar o círculo de Mohr e encontrar as tensões principais em função


de ϕ.

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F 2F 1344,5  1344,5 2


 3  I, II  
  2T    270,4 2  672,25   724,59
2 2 2 4

Usando-se o critério de Von Mises em termos das tensões principais, tem-se:


2 2
 I   I  II   II   2 adm

Substituindo os valores:

2 2
( adm ) 3   I   I  II   II  1396 2  1396x 52,6  52,6 2  1423,7

Considerou-se aqui, arbitrariamente, um material dúctil com limite de resistência em


torno de 700 Mpa. Usou-se um coeficiente de segurança igual a 3 (um valor até
reduzido, pois devia se fazer uma análise por fadiga). Para compensar, adotou-se o
valor do limite de escoamento como referência, que na ausência de valores precisos,
pode ser tomado como aproximadamente igual a 75% do valor do limite de
resistência. Ressalta-se que em certos casos de análise, retira-se o valor do limite de
resistência a partir do valor da dureza (Sres=036HB):

1423,7 S esc 0,75S res 0,75x700MPa


( adm )      175MPa
3 n 3 3

Então, resolvendo, encontra-se:

 3175x10 6  1423,7    0,0201122m  20,11mm

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