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aplicativos de pegação
G l eito n M at h eu s B o n fa n t e
Erótica dos
signos em
aplicativos
de pegação
performances íntimo-espetaculares de si
Ilustrações
Camilo Martins e Miriam Kajiki
EDITORA MULTIFOCO
Rio de Janeiro, 2016
Copyright © Gleiton Matheus Bonfante, Camilo Martins e Miriam Kajiki
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores e autores.
B713e
Bonfante, Gleiton Matheus
Erótica dos signos nos aplicativos de pegação: processos multissemióticos em perfor-
mances íntimo-espetaculares de si. / Gleiton Matheus Bonfante. – Rio de Janeiro, 2016.
338 p.
ISBN 978-85-5996-244-4
Editora Multifoco
Flaneur Edição, Comunicação, Comércio e Produção Cultural LTDA.
Av. Henrique Valadares, 17b - Centro
20231-030 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 3958-8899
contato@editoramultifoco. com. br
www. editoramultifoco. com. br
dedicatória
Prefácio..................................................................................... 9
Prelúdio..................................................................................... 17
1. Introdução........................................................................... 23
2. Performance, linguagem e ação: a construção e a
estilização semióticas do corpo....................................... 51
3. Novas tecnologias de subjetivação: nas tramas
do desejo e da performance.............................................. 87
4. Netnografia sexual: uma erótica dos signos................. 125
5. A construção semiótica do sujeito desejante................ 175
6. (Cu)nclusão......................................................................... 297
Posfácio..................................................................................... 313
Referências................................................................................ 321
Prefácio
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REFERÊNCIAS
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Prelúdio
Cena I
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Cena II
2 A estimativa foi feita através do horário do post na rede e da notificação da polícia de acidente na
autovia. O post foi submetido quatro minutos antes da notificação de acidente na rodovia.
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Cena III
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3 A instalação e a utilização dos aplicativos (doravante, também apps) aqui estudados são gratuitas.
No entanto, se pode pagar pela modalidade extra, cujas vantagens variam de aplicativo para aplicativo e,
normalmente, incluem: a visualização de duzentos perfis a mais, a possibilidade de especificar detalhes na
busca de outros perfis, o salvamento dos históricos e a eliminação dos anúncios.
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Cena IV
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1. Introdução
4 Brincando com a denotatividade da palavra, emprego “telinha” como referência à tela do celular, já
que as telas das televisões nos dias de hoje são ridiculamente grandes. Apesar disso, ou talvez por isso, o
aparelho televisor não é tão imprescindível como o smartphone portátil, íntimo, corpóreo.
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6 Note-se que o uso do termo gay aqui é um posicionamento político que pretende atribuir visibilida-
de e não homogeneidade a formas desejantes consideradas subalternas. Gay aqui é um hiperônimo para
homossexualidade, bissexualidade, sujeitos trans e cis, heterossexuais ocasionalmente homoafetivos, goys,
mulheres que praticam pegging, etc.
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7 Os apps de pegação são atualmente muito abundantes e também estão se especificando a públicos
exclusivos, como, por exemplo, GROWLER (voltado para ursos) e RECON (voltado para fetiches como fis-
tfucking, BDSM, pissing, pés, bareback, etc.) A escolha de analisar dados de três deles foi uma estratégia para
conseguir um volume mais representativo de dados, e o critério de escolha destes foi a sua popularidade:
eram, à época da geração de dados, os mais populares no Brasil, com grande número de usuários.
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8 Beatriz Preciado anunciou sua mudança de gênero e atende por Paul Beatriz Preciado, entretanto,
à época de publicação do texto referido, performava-se como Beatriz. Portanto, embora tenha havido
um cuidado para tratar o autor como Paul, é possível que as referências neste texto oscilem entre as duas
performances do escritor.
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10 Veja Bolton (2003), Kendall (2008), Bonfante (2015) e Díaz-Benítez (2007) para uma discussão
sobre a invocação aspectos sensoriais e sexuais na pesquisa etnográfica.
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2. Performance,
linguagem e ação: a
construção e a estilização
semióticas do corpo
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Contudo, com Butler (1993), defendo que nós somos os sentidos sociais que permeiam nossos corpos.
O que seriam os corpos sem suas histórias, seus nomes ou os discursos que os compõem? A expressão
“cadáver adiado que procria”, de Fernando Pessoa, aponta para o fato de que serem entendidos em termos
biológicos não é tudo o que os corpos são, mas uma característica deles, apenas. E mesmo seus contornos
mais inegáveis são alcançados por meio do discurso e da repetição. Uma perspectiva que considera a
organicidade como principal material do corpo aposta no biopoder como princípio valorativo e ético, e
tal perspectiva pode ser perversa por pressupor certa essência na composição dos corpos. Essencializar
sujeitos, entedê-los como determinados por sua configuração biológica significa compreendê-los como
imóveis, imutáveis e enraizados aos valores corpóreos a que lhe foram arremetidos por sentidos que são
efeitos sociais da história e dos discursos, e não verdades transcendentais.
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15 Apesar de sua inspiração na obra althusseriana, Butler critica a ideia da interpelação como uma
“voz divina”, como um chamado que se atende de uma vez por todas. Para a filósofa, a interpelação é um
constante processo; ela funciona fora da dicotomia Adresser/Adressé. A terceira pessoa é também um lócus
de interpelação.
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16 Código é compreendido aqui como um conjunto de recursos semióticos, que incluem elementos
linguísticos, porém a eles não se limitam. Códigos são altamente normativos, embora espaços onde as
resistências possam respirar. Em Perlongher (2008), código-território é um conceito empregado para
designar os territórios sociais frisando seu caráter discursivo, sua dependência constitutivados signos.
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18 Para Lacan, em seu Seminário V, um ser só é completo se desejado. O desejo pelo desejo do Outro
é, na psicanálise lacaniana, o desejo básico e fundante de qualquer sujeito.
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19 Tal agência subjetiva não se traduz na criatividade, na inovação, mas na repetição de performances.
Toda repetição é inovativa e toda inovação uma repetição. Assim, de acordo com Butler (1997), a respon-
sabilidade por uma performance não é atribuída a sua criação, ou inauguração, mas pela repetição de um
discurso com efeitos sociais específicos.
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23 A palavra “real” em tais contextos alude a um encontro pessoal e é muito recorrente e produtiva
em tais meios para designar encontros com finalidade sexual. A palavra “real” aparece em perfis que
procuram encontros sexuais funcionando como um sinônimo, aparecendo também nas interações com o
mesmo sentido.
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24 Um dos lugares misteriosos do corpo, talvez sua mais obscura bodega, é o cu que, pela sua margina-
lidade sentidos e pela simbologia de resistência política, é analisado como performance empoderadora nos
apps. Discussão na qual corpo e linguagem se cruzam é empreendida nas conclusões no último capítulo.
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“7
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
pilar da ponte de tédio,
que vai de mim para o outro”
Mario Sá Carneiro, ‘Indícios de Oiro’
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25 Ou seria nosso corpo que se vira contra o nome? De acordo com Butler (2009), a característica de
se levantar contra as coisas parece ser imperiosa a que os corpos são.
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3. Novas tecnologias de
subjetivação: nas tramas do
desejo e da performance
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30 A decisão em focar em apenas três apps, os mais populares, se deu também porque a discussão das
diferenças entre eles – operacionais, de publico alvo, técnicas, de layout – exigiria muito tempo e espaço e
fugiria aos interesses do livro.
31 Existem diferenças pungentes quanto à funcionalidade, design e configuração dos aplicativos que
migraram da internet e daqueles que “nasceram” como aplicativos. Tais distinções não serão exploradas
aqui, porém podem ser trazidas para a análise na medida em que sejam relevantes.
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33 Mesmo dentro de uma região como a zona sul, fica difícil apostar completamente em homogeneida-
des estruturantes.
34 Em outra comparação matemática, isso significa que em um raio de 2 km na Zona Sul (ou mais
especificamente, em Botafogo, de onde provêm cerca de 70% dos dados analisados) existem pelo menos
200 homens que se fazem sujeitos através da discursivização dos seus desejos. Contudo, há horários de
pico, nos quais mais perfis estão online e não se viaja mais de 1 km, assim como existem horários em que
o perfil mais distante se encontra a cerca de 4 ou 5 km. Além disso, a densidade de perfis pode ser alterada
significativamente nos períodos de alta temporada devido ao grande número de turistas. A presença dos
turistas também altera significativamente a paisagem dos apps, tornando evidente a centralidade do corpo
na estilização de si no Rio de Janeiro.
35 Todos estes nicknames usados para referenciar bairros da Zona do Sul (e de Niterói, no caso de
Icaraí) foram extraídos de perfis verdadeiros das plataformas estudadas. Uma evidência da relevância
da geolocalização é certamente a produtividade de perfis que se nomeiam baseados em suas localidades:
bairros, cidades, ruas, parques, etc.
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38 Interessante notar que imagem e texto se complementam nas performances dos sujeitos con-
temporâneos.
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39 Vale lembrar que não existe tal coisa como uma experiência homossexual. Experienciamos nossa sexualidade de for-
mas muito específicas, o que nos impede falar de uma “essência homossexual”. De fato, muitos homossexuais decidem (ou
são impelidos) a viver dentro do regime que Lisa Duggan (2003) chamou de homonormatividade, e assim corroborar para a
manutenção da norma que os oprime. A autora em Homonormativity descreve a política sexual neoliberal como uma política
que não contesta instituições e assunções heteronormativas, mas ao contrário as mantém e sustenta, enquanto estimulam a
possibilidade de uma comunidade gay integrada e uma cultura gay despolitizada ancorada na domesticidade e no consumo.
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40 Vale ressaltar que tais movimentos de resistências são revolvidos por outros movimentos de reitera-
ção das normas sociais atribuindo contornos ambivalentes às performances estudadas.
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3.3 Eu e os rapazes
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41 Cissexual ou cisgênero desgina um sujeito em cuja performance haja uma concordância entre sexo
e gênero, ou seja, entre seu comportamento social generificado e o seu sexo anatômico. Em resumo, cisgê-
neros seriam os indivíduos não transgêneros.
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4. Netnografia44 sexual:
uma erótica dos signos
44 Entendo “netnografia” como uma etnografia virtual; uma prática etnográfica que estuda as práticas
sociais, simbólicas e subjetivas em contextos online.
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45 Com Foucault, entendo saberes subalternos ou sujeitados como duas coisas: “De uma parte […],
conteúdos históricos que foram sepultados, mascarados em coerências funcionais ou em sistematizações
formais” (1999:11), e também: “toda uma série de saberes que estavam desqualificados como saberes
não-conceituais, saberes insuficientemente elaborados: saberes ingênuos, saberes inferiores, […] saberes
abaixo da cientificidade requerid[a]” (1999:12). Para a etnografia, conhecimentos subalternos podem se
materializar como: a) conhecimentos sobre temáticas marginalizadas, b) atribuição de voz aos sujeitos
estudados e c) uma metodologia assumidamente política. São também nestes três feixes – marginalidade
temática, empoderamento social e engajamento político – que a erótica dos signos se mostra congruente
com a produção de conhecimentos subalternos. Leia Spivak (1985) e Mignolo (2003) para uma discussão
mais profunda sobre conhecimentos subalternos.
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4. 1. 1 Autoridade etnográfica e
assimetria de poder
O mito da objetividade científica na prática da etnografia é
uma forma de respaldar a autoridade do etnógrafo, protegê-lo
de críticas, sustentar uma hierarquia entre pesquisador e infor-
mante. Ainda assim, “a ficção da objetividade do etnógrafo é
celebrada e tem sido definitivamente um traço definidor da ex-
periência de campo tradicional” (WILLSON, 1996 [1995]:255).
Entre os pressupostos da objetividade no empreendi-
mento etnográfico estão o desdém por narrativas pessoais e
a necessidade de invisibilidade do autor nas suas construções
textuais como procedimentos metodológicos. A objetividade
pressupõe o objeto como anterior ao discurso que o toca e
que lhe atribui seus contornos, ou seja, pressupõe – ao con-
trário do que penso – que a linguagem teria a mera função de
descrever o mundo social que acaba por construir, estilizar.
Outra assunção teórica corresponde ao mito da supressão de
aspectos subjetivos na narrativa etnográfica, na produção de
uma escrita neutra, despida de ideologias. Como concorda
Kullick, “a observação é pressuposta como objetiva, pois se
debruça sobre um objeto anterior à sua observação, enquan-
to textualmente, o antropólogo se retira de cena, fazendo-se
invisível na narrativa” (KULLICK, 1996 [1995]:3). A Erótica
dos Signos, por outro lado, traz o pesquisador para o texto,
seu corpo, suas sensações e abraça a responsabilidade ética
pela produção discursiva dos sujeitos que descreve. Ela rejeita
a objetividade como preceito orientador da pesquisa.
Objetividade possui uma relação estreita com a autorida-
de do etnógrafo. O afastamento e a neutralidade ainda são fic-
ções desejadas para a validação dos resultados da pesquisa e
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47 Para Zago e Santos (2013), foi necessário ‘sair do armário para fazer pesquisa’ ao estudar platafor-
mas online de encontros, o que respalda o fato de que o compartilhamento de traços identitários pode ser
benéfico ao dialogismo etnográfico.
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49 Uma discussão mais profunda sobre a análise dos apps como tecnologias de subjetividade foge ao
escopo desse texto. Veja Foucault (1988b) e Bonfante (2015).
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50 ‘Gay’ aqui é um termo político e não uma tentativa de homogeneização dos desejos. A presença de
casais compostos por homens e mulheres, transexuais e mulheres praticantes de pegging é significativa.
51 A proliferação categorial da prática da etnografia em ambientes virtuais é um sintoma da reflexivi-
dade que tange a área. Etnografia Virtual (HINE, 2000), Webnografia (STRÜBING, 2004), Ciberantropo-
logia (HARAWAY, 1991), Netnografia (KOZINETS, 1997). Embora eu tenha ciência das reivindicações
por diferenças nos métodos supracitados, penso netnografia, como um sinônimo de etnografia virtual.
Uma etnografia em contextos virtuais que se interessa por práticas culturais situadas e pelos meandros do
contexto, ou seja, pelas características das plataformas estudadas.
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52 Muito se discute sobre a obrigação ou não da oscilação entre mundo real e mundo virtual na prática
etnográfica. Se para Miller e Slater (2004, 2000 apud LEITÃO; GOMES, 2011) é imprescindível oscilar entre
online e offline para uma pesquisa mais holística, para Leitão eGomes (2011) houve, em suas pesquisas sobre
o Second Life, uma necessidade de respeitar os fluxos dos pesquisados, acompanhando-os para o offline
quando pertinente. Nos apps, fica claro que virtualidade e realidade não podem ser separadas. Perfis sem
ancoragem real como foto, descrição física e geolocalização raramente encontram interactantes. Conquanto
acredite que não haja fórmulas para o desenvolvimento da etnografia, assumo com Leitão e Gomes que “os
limites entre on e off não podem ser apriorísticos, mas definidos pelo próprio campo” (2011:28).
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53 Bonfante (2015) analisa a mobilização de vários signos que apontam para os mesmos sentidos
nos apps como um processo de redundância indexical. ‘Redundância indexical’ se refere à convocação
de inúmeros signos que apontam para os mesmos significados sociais, comumente a masculinidade, o
bem-estar físico e a aptidão à prática sexual.
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54 O print page é um recurso dos smartphones que congela a tela e a guarda como uma foto. Foi a
estratégia de apreensão dos dados nesta pesquisa: transformá-los em pequenas fotos, quadros onde as
interações se desenrolaram, as performances eram congeladas e os dados passaram a posteridade. Eles são
expostos ao longo do livro. O leitor já deve ter percebido que grande parte dos perfis analisados neste livro
não são as impressões originais, mas ilustrações delas realizadas por artistas plásticos com intuito tanto de
proteger a identidade dos participantes quanto de criar uma estética visual-autoral do livro.
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5. A construção semiótica
do sujeito desejante
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56 Tal discussão também coaduna com uma postura ética e transparente a respeito da participação do pesquisador na
pesquisa. Para uma discussão mais aprofundada sobre o tema, veja o Capítulo IV, “Erótica dos signos”.
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57 Neste perfil foi inicialmente escrito “Procura-se informantes”. Como sociolinguista e etnógrafo
não sou muito afeito de normatividades linguísticas e não me preocupei com a correção gramatical na
composição do perfil. Contudo, correção gramatical se mostrou muito relvante para meus interlocutores.
Depois de ser corrigido frequentemente por eles e ser posicionado como linguista incompetente pela
minha inabilidade de ‘escrever corretamente’, alterei a forma da escrita para evitar novas discussões sobre
gramaticalidade e preconceito linguístico que, embora relevantes, me afastavam do objetivo de pesquisa.
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58 ‘Lontra’, do inglês otter, é um termo usado para designar subespécies de ‘ursos’. Assim como os ursos,
os ‘lontras’ são peludinhos e barbados, mas normalmente são menos corpulentos.
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5.1.2 A-participação
Como discutido no Capítulo 4, a emergência de novos
entendimentos de comunidade na empreitada etnográfica é
contundente. Nos apps, os participantes não se identificam
como uma comunidade e dispendem grande esforço e espaço
valioso do layout dos apps que poderiam ser usados na esti-
lização de si para performar atestados de a-participação. A
expressão “Perdido aqui” (FIGURA 25), que recebe grande
destaque no perfil, indica uma moderação da participação
do sujeito, na medida em que admite sua participação, mas
a modaliza como uma casualidade, como um despretensioso
envolvimento colateral no código-território dos apps.
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5.2.1.1 Tatuagem
Nas querelas do desejo, a univocidade de um corpo, a
irrepetibilidade de um gozo, a singularidade de uma corpo-
reidade são performances invocadas na produção de afeto.
Performances que podem tocar o corpo Outro, indexicali-
zando ao sujeito do desejo capital ejaculante. As tatuagens são
compreendidas como um aspecto individualizador do corpo
e uma forma de abrir seu corpo a novos significados, que, de
acordo com Foucault (2014 [1966]), são sagrados e profanos,
são toda uma linguagem que distribui o corpo por um espa-
ço outro, típico da “vitalidade do desejo”. A tatuagem seria
a possessão do corpo por uma linguagem sobrenatural, uma
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5.2.1.3 Heteronormativos
Os perfis que denominei ‘heteronormativos’ sustentam
performances muito explíticitas de queerfobia e um desejo mais
que confesso pela ‘normalidade’. É o caso do perfil a seguir.
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5.2.1.9 Os românticos
Para Bauman (1998), amor e desejo seriam tão distin-
tos que precisariam de línguas diferentes para conceituali-
zá-los. Para o autor, a definição de um está fatalmente ligada
de forma antonímica ao outro. No entanto, o desejo humano
de amar, de ser amado, é uma verdadeira instituição huma-
na secularizada e um desejo que dita uma série de compor-
tamentos aceitos, no âmbito social, íntimo e político. Além
disso, desejar ao amor é um ideal que guia as performances
dos perfis românticos. Embora os apps sejam popularmente
tachados como locais de pegação, de realização de desejos
carnais, aqueles que procuram um amor, um relacionamen-
to, também se distribuem pela semiose do desejo nos apps
de pegação.
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5.2.1.10 Os fetichistas
Alguns perfis são construídos de forma bem direta, como o
perfil seguinte: ele anuncia seu desejo “Pago lek pas/v” e convida
seu interlocutor “afim?”. Em seguida, descreve com mais deta-
lhes seu fetiche, seu desejo. A imagem ilustrativa do perfil é mui-
to interessante: realça as performances do corpo como produto
social e a sua existência como a transitoriedade de uma roupa.
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jogo dos desejos viris, ser branco não é necessariamente um privilégio, pois a branquitude indexicaliza
socialmente uma ficção de menor virilidade. Por outro lado, pode ser mais difícil para um corpo negro
viver sua feminilidade frente a expectativas sociais de conduta masculina. Como já dito antes, os desejos
são sim fenômenos sociais, no entanto abertos, independentes e podem ressignificar relações intersubje-
tivas, como as raciais.
63 Algumas pessoas poderiam clamar uma dificuldade na compreensão da branquitude com uma
racialização, já que há uma assimetria na relação branco/negro que impede de inferir socialmente os mes-
mos sentidos para os dois elementos do par. Bom, em primeiro lugar, é imprescindível frisar que falamos
de sujeitos do desejo, que constroem seus corpos como estandartes de seu potencial de gozo e, portanto,
não lidam com categorias não-marcadas. Tudo no corpo do sujeito do desejo tem uma espessura, tem um
peso, qualquer elemento dos corpos é importante na sintaxe do desejo e a branquitude se faz – tanto com
fator de excitação como fator de repulsa – tão visível, tão marcada como a negritude.
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jeto. Muito pelo contrário, ele descreve seu desejo: uma “real”
– termo que alude a um encontro dos corpos – com “passivao
que guenta levar ferro no rabo mesmo”.
Sua postura de sujeito desejante, por um lado, se desali-
nha com as práticas do michê de orientarem seu desejo para
qualquer prática, desde que paga; por outro, produz mais afe-
to, ao performar sua atividade profissional como provinda de
seu desejo em detrimento de ser estimulado pela recompen-
sa financeira. De fato, pela interação, não se pode ter certe-
za de que se trata de um profissional do sexo, embora haja
indícios como o blog e a mensagem enviada que parece ter
sido copiada e colada. Alguns michês não se revelam como
tais e só se mostram como sujeito-mercadoria em interação.
A revelação do devir-GP a posteriori permite a prática da
prostituição ocasional: sujeitos do desejo que estão nos apps
com desejos legítimos, mas que cobram por sexo quando só
encontram parceiros que não lhe interessam, se assumindo
como GPs eventuais. Para a maioria desses perfis, o sexo não
é fonte de renda primária. Muitas vezes nem secundária, mas
uma forma de participar como sujeito do desejo, e – acima de
tudo – nesses código-territórios, e alinhar uma prática sexual
prazerosa à aquisição de bens capitais. Um michê, um aman-
te profissional, também deveria somar entre suas qualifica-
ções atratividade e um bom desempenho nas práticas sexuais,
duas performances muito gratas ao sujeito do desejo dos apps.
Se por um lado, nem todo perfil-capital se mostra, se con-
fessa como tal, propondo que a prostituição na maioria das
vezes não é visível, por outro lado, perfis-capitais não traba-
lham necessariamente com prostituição, como o perfil a se-
guir (FIGURA 55).
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64 Embora eu faça aqui uma distinção entre práticas sexuais e práticas de sociabilidade, acredito que
para sujeitos homoafetivos fazer sexo é prática social que reforça laços de mútua identificação.
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66 Fora Temer!
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5.2.1.16 Fake
Qual o limite entre nós e nossas fantasias? A forma como
nos entendemos, nos enxergamos, nos identificamos, podem
e são muito diversas das formas como somos compreendidos
pelo Outro. Se existe um hiato entre eu e o sujeito que enceno
em performance, existiriam limites seguros entre um perfil
fake e um apenas fantasioso? Quão fake somos nós mesmos?
Quão fake são nossas perfomances?
Na FIGURA 63 a seguir nos deparamos com um perfil
que analisei como fake.
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5.2.1.18 Fragmentação
O sujeito que escolhe seu nickname, que escolhe uma
foto, que se cria online, se encontra no espaço entre a ficção
e a realidade e desafia sua relação opositiva borrando seus
limites, através da fragmentação de seu corpo (Figuras: 68,
67, 62, 59, 58, 55, 53, 52, 51, 45, 44, para nomear apenas algu-
mas). Nos apps, homens se fragmentam, reduzem a si mes-
mos a partes de seus corpos, constroem a si mesmos com
sentidos sociais específicos e com sentidos abertos a imagi-
nação típicos da fragmentação.
Imagens zoom, focadas, riqueza dos detalhes evidentes
como musculatura e pilosidade são elementos que colaboram
com uma semiose da performance do desejo nos apps de pe-
gação. Se homens são constantemente acusados de objetificar
mulheres, reduzindo-as a partes do seu corpo, eles também
objetificam a si mesmos nas performances de si nos apps de
pegação. Questiono-me frequentemente frente aos dados:
seriam a fragmentação e a objetificação do corpo típicas do
machismo ou das tramas do tesão? Esta segmentação, frag-
mentação do objeto de desejo em partes, pode sugerir que
a fragmentação é uma linguagem típica do desejo. Se como
Bauman (1998) propõe, amor e desejo ‘falam línguas distin-
tas’, porque não supor que a semiose do desejo seja aquela que
privilegia a parte excitante em detrimento do todo?
A fragmentação, tão recorrente nos exemplos discutidos,
não significa uma mentira de si, uma dissimulação, mas um
artifício para multiplicar as possibilidades de verdades. Frag-
mentação pressupõe fantasia. A fragmentação apresenta peças
do corpo, mas sua totalidade permanece sempre alheia como
um quebra-cabeça para sempre inconcluso. A fragmentação
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67 Gênero da pornografia gay ou cenário de prática sexual na qual pessoas em cabines diferentes sepa-
radas por uma divisória com um furo que permite intercâmbio sexual sem que os corpos se toquem ou
sejam vistos.
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68 Manhunt é um site de relacionamentos para homens gays. Embora à época da pesquisa de Leandro
Zago mencionada ele fosse exclusivo ao computador, hoje já existe um app para acessá-lo com mobilidade;
no entanto, ele continua acessível para computadores, diferentemente dos apps Grindr, Scruff e Hornet
aqui estudados, que são exclusivos a aparelhos móveis.
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69 A inveja do pênis poderia se manifestar de três formas nas mulheres: (1) pelo desejo de ter relações
sexuais, de gozar com um pênis, (2) pelo desejo ter um filho, que é um falo simbólico, já que a fantasia da
mãe se realizaria no filho, ou (3) manifestando um comportamento masculino.
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5.3.2 Gírias
Para Preti (1983), as linguagens possuem o prestígio de
quem as fala, portanto, modos de falar, variedades dialetais
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70 Vale lembrar que essa diferença não se refere em absoluto a características ‘inatas’ da fala da mulher
ou do homem, mas, ao contrário, a características sociais e socialmente aprendidas. Eckert (2008) pro-
põe, por exemplo, que a fala mais educada, mais correta das mulheres observada por sociolinguistas em
diferentes contextos pode indicar uma estratégia de conquistar um prestígio social do qual seu gênero foi
socialmente privado em prol da manutenção do privilégio masculino.
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5.4 Desidentificação
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71 Pozfobia é um termo utilizado para designar preconceito contra portadores do vírus HIV.
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6. (Cu)nclusão
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72 Peter Fry, em seu O que é a homosexualidade?, discute modelos de configurações afetivas conhecidos
como hierárquico (bofe/bicha) e igualitário (gay/gay), propondo existir uma tendência social de migrar
do primeiro para este último. Embora Perlongher (2008) concorde com a análise de Fry, ele acredita haver
uma resistência não desprezível da “bicha louca” agindo na contramão desses modelos normalizadores.
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73 Ou estaria toda sexualidade simbolicamente ligada ao pênis? De modo que o cu, assim como a boca
e a vagina só são inteligíveis como figuras relacionais à penetração e ao prazer peniano. A penetração
peniana é a prática simbólica e física da colonização dos corpos.
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Posfácio
O corpo distópico
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tão admirável assim. Estão ali todos no mesmo barco, por as-
sim dizer, mas nem todos são igualmente reconhecidos como
merecedores do desejo. “Não curto afeminados, não é pre-
conceito, é gosto”, dizem; para manter a metáfora da distopia,
vale aqui aproximar esse enunciado tão comum dos aplicati-
vos de pegação a uma das leis da fazenda de A Revolução dos
Bichos, de Orwell: “Todos animais são iguais, mas alguns são
mais iguais que outros”. E, assim, limita-se semioticamente o
campo da excitabilidade dos corpos para aquilo que é seme-
lhante; o diferente não excita e, por conseguinte, não sendo
excitante nem desejável é expelido para a desconfortável zona
da abjeção. O corpo, essa “utopia implacável” (Foucault, 2013,
p. 7), esse lugar onde nos fazemos e refazemos, é, nos aplica-
tivos de pegação, o lugar onde discursivamente se constrange
sua utopia, sua possibilidade de ser o que for, por essa distopia
cishetronormativa e totalitária.
Felizmente, contudo, há espaço para performances de si
que contestam essa idolatria do macho cis. Afinal, é possível
escapar até mesmo da distopia mais hermética. No livro de
Bonfante, vemos também performances desidentificatórias
que criticam o controle opressor da cisheteronormatividade.
O que chama atenção nesses processos de desidentificação
não é uma ruptura ostensiva com os códigos semióticos que
constituem os aplicativos, mas sim o fato que fazerem uso da
própria semiose do macho e dos discursos da cisheteronor-
matividade na produção de contradiscursos nos quais se vis-
lumbram outras possibilidades de se fazer sujeito do desejo.
O desejo, afinal, como diziam Deleuze e Guattari (2010), é
obtuso. Se os machos “discretos” e “sigilosos” procuram se re-
lacionar com seus semelhantes, os antimachos estão ali mos-
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Rodrigo Borba
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Referências
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Este livro foi composto em Minion Pro pelo
Grupo Multifoco e impresso em papel Offset 75g/m².