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EVANGELIZAR A PARTIR DA ENCÍCLICA LUMEN FIDEI DO PAPA FRANSCISCO


NA CIDADE DE BELÉM PARÁ
LIMA, Ademilson Oliveira1.
CARNEIRO, Elisângela da Silva2.

RESUMO

Este trabalho demonstra o quão importante se deve conhecer a realidade em que se quer
evangelizar, ainda mais quando se trata de regiões periféricas, como a própria cidade de
Belém do Pará com sua densidade de comunidades, sejam elas católicas ou não. De fato,
evangelizar a partir da temática da Lumen Fidei, requer, acima de tudo, olhar além dos
horizontes da evangelização, pois exige muito mais saber o que é evangelizar e necessita
de força divina imbuída de fé e devoção pelo sagrado. Nessa questão, é importante ir além
dos âmbitos sagrados, como já afirmou o Papa Franciso: “Igreja em saída”, como afirma na
sua encíclica Evangelii Gaudium. Mas saída de que? Saída do comodismo, saída das
perguntas sem respostas, saída do egocentrismo, saída das diversas razões para não ir
além de si mesmo. A Igreja de Belém vive seu apogeu de evangelização, completando 300
anos de presença nas mais diversas realidades existentes do seu território, por isso, esse
tema é de extrema importância para todos aqueles que querem de fato seguir seu
itinerário missionário no solo de Belém. Não é de se esperar que neste espaço não se tenha
luta, desprendimento e vocação para tal tarefa. Por isso mesmo, estudos bibliográficos
foram revistos, estudados, concatenados, refletidos e aprimorados para chegar a esta
reflexão, pois diversos estudos sempre serão feitos a respeito deste tema e cada realidade
e a cada tempo que passa, o espaço muda, as pessoas mudam e a evangelização continua
sendo prioridade na vida da Igreja.

Palavras-Chave: Evangelização. Belém do Pará. Periferias. Lumen Fidei.

1. INTRODUÇÃO

O Papa Francisco desde a sua primeira Encíclica, Lumen Fidei, exorta para que todo
cristão, ou não cristão, saia de um mundo obscuro para um mundo claro, cheio de luz, onde
se possa encontrar Deus, seja de qualquer forma possível. Nesse sentido, cabe aos fiéis
saber como se faz para encontrar essa luz, mesmo sendo encoberto por muitos problemas
de cunho pessoal, espiritual, familiar entre outros na sociedade de hoje. Dessa forma a
problemática que será abordada nesta pesquisa são os possíveis caminhos de como se

1
Acadêmico UNINTER.
2
Bacharel em Teologia, Licenciatura em Pedagogia, Especialista em Formação Pedagógica do Professor
Universitário, Mestranda em Tecnologia Emergente da Educação.
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pode encontrar a luz que é uma proposta de vida e ação do Sumo Pontífice para a ação
evangelizadora da Igreja em Belém do Pará.
Para se chegar a tais conclusões, levou-se em consideração os dados populacionais
da cidade de Belém do Pará, e das demais cidades que fazem parte da área diocesana da
Igreja Católica que tem como seu pastor Dom Alberto Taveira Corrêa. A “cidade das
mangueiras”, como é conhecida, conta com uma população de cerca pelo menos 2.254,090
habitantes, têm em torno de 71 (setenta e um) bairros onde age a Igreja Católica Apostólica
Romana atua de forma direta através de suas paróquias organizadas em distritos, ou
regiões episcopais. Contudo, o que se percebe é que mesmo com essa presença da Igreja
não se chega ainda a uma evangelização capaz de ser luz e que deixe marcas na vida da
população urbana, que realmente a faça sentir algo diferente e integrativo a partir da luz
da fé como aponta a Lumen Fidei.
Destaca-se, de sobremaneira, o questionamento: por que os evangelizadores ainda
não conseguiram alcançar determinadas localidades que ainda estão isentas da presença
da Igreja através de suas pastorais? Quais as dificuldades enfrentadas por esses agentes de
pastorais nos bairros? Por que, mesmo com a Igreja próxima da população urbana nas
periferias, ainda assim existem muitas famílias desassistidas de agentes de pastorais? E
essa é uma realidade que se vê em todos os âmbitos do dia a dia.
Este trabalho fundamenta-se nas dois documentos do Papa Francisco: a Lumem
Fidei (Carta Encíclica) e Evangelii Gaudium (Exortação Apostólica), buscando analisar as
problemáticas propostas que foram levantadas nesta pesquisa, levando em consideração
as formas de evangelização da Arquidiocese de Belém, bem com a obra de Thácio Lincon
Soares de Siqueira; “Sacramentos da iniciação”(2018), a obra de Vanessa Roberta
Mossambani Ruthes: “Introdução à Antropologia teológica”(2018) e o documento “As
Diretrizes Gerais da ação Evangelizadora no Brasil 2015-2019” da CNBB, n. 102. Os dados
aqui contidos foram pesquisados em artigos, revistas científicas, cartas circulares, sites de
domínio público além das orientações pastorais da referida diocese, buscando de modo
qualitativo a contribuir com os passos da evangelização nestas terras que há mais de 300
anos fez germinar as sementes do Verbo Eterno aqui lançada.
Pretende-se refletir, em primeiro lugar, buscar saber o que é a evangelização e como
está a ação evangelizadora na cidade de Belém do Pará, através do projeto de
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evangelização do povo de Deus; abordar as ações feitas de evangelização no meio


presente; identificar as pastorais atuantes nos bairros mais conflituosos – as chamadas
“áreas vermelhas”, como a própria sociedade o classifica –, compreender o motivo de
haver pouco movimento em bairros periféricos, e por fim propor uma nova forma de
evangelização a partir dos ideais do Sumo Pontífice através da Lumen Fidei e Evangelii
Gaudium. Essa pesquisa bibliográfica foi realizada por meio de fichamentos, leituras,
resenhas críticas, anotações e reflexões, deseja, contudo, buscar entender o tema
pertinente a questão abordada – a evangelização à luz da fé –, ademais, ter-se-á ao longo
desta pesquisa textos e contextos que serão apresentados a respeito deste cenário de
evangelização.
Este artigo está organizado em 04 (quatro) grandes partes que se classificam da
seguinte maneira: Introdução da temática abordada, Metodologia de pesquisa,
Desenvolvimento científico com 04 (quatro) sessões que corroboram com os fins
desejados, assim como as Considerações Finais que revelam os dados e as análises até aqui
adquiridas, bem como as reflexões provindas dos diversos livros, artigos, revistas e obras
literárias que são bases dessa mesma pesquisa e que são frutos de todas as inferências
pesquisadas.

2. METODOLOGIA

Nesta pesquisa bibliográfica qualitativa foi usada a Carta Encíclica do Papa Francisco,
Lumen Fidei, que foi publicada logo no início de seu Pontificado, pois trata claramente
desse tema de evangelização como luz da fé, ou seja, não basta ter apenas boa vontade de
se tornar missionário e de evangelizar as pessoas dos bairros de periferia, tem que ter fé,
e esta é alcançada pela luz de Cristo. Assim como, os documentos da Arquidiocese de
Belém do Pará, como por exemplo, o documento do Sínodo Arquidiocesano cujo título é:
“Belém: Igreja de portas abertas”; o Anuário 2021 da Arquidiocese de Belém, que é o mais
recente; o Plano de Pastoral da Arquidiocese de Belém 2020-2022; além das Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019, da CNBB; obras literárias como
Sacramentos da Iniciação de Thácio Licon Soares de Siqueira (2018), Introdução à
Antropologia teológica de Vanessa Roberta M. Ruthes (2018) e a Exortação Apostólica
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Evangelii Gaudim (2013) sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, do Papa Francisco,
além do Catecismo da Igreja Católica.
Ordenado em 04 (quatro) Seções que seguem um encadeamento metodológico de
pesquisa bibliográfica, pensou-se em delimitar o tema no quadro atual da Arquidiocese de
Belém e sua missão evangelizadora (Seção I); A composição das pastorais na arquidiocese
de Belém (Seção II); Evangelizar em Belém do Pará (Seção III) e os Aspectos de
evangelização dentro da Lumen Fidei; e a evangelização nas periferias da arquidiocese de
Belém (Seção IV). Por fim, as considerações finais que abordam as conclusões dessa
pesquisa.

3. A REALIDADE PASTORAL E EVANGELIZADORA DA IGREJA EM BELÉM

Nesta parte deste trabalho, analisar-se-á a realidade e as ações pastorais de


evangelização na Igreja presente na Arquidiocese de Belém, levando em consideração a
historicidade, as propostas e metas pré-estabelecidas e os planos pastorais a serem
alcançados pela Igreja de Belém. Partindo da Carta Encíclica Lumen Fidei, do Papa Francisco,
levantou-se uma profunda reflexão acerca da questão norteadora dessa pesquisa, a
temática da luz da fé em alusão às trevas, escuridão e ao obscurantismo na ação
evangelizadora, sobretudo, nas regiões periféricas. Buscando entender que as realidades
que se observam notoriamente ao sair de casa são casos de problemas sociais, familiares,
pessoais e espirituais, o que o Sumo Pontífice chama de “mundo pagão” e em
contrapartida tem-se a fé como luz, e cada cristão é um sinal de luz no mundo como dom
de filhos de Deus Pai, assim conclama a Encíclica:

A luz da fé é a expressão com que a tradição da Igreja designou o grande dom trazido
por Jesus. Eis como Ele Se nos apresenta, no Evangelho de João: “Eu vim ao mundo como
luz, para que tudo o que crê em mim não fique nas trevas” (Jo 12,46) [...]. No mundo
pagão, com fome de luz, tinha-se desenvolvido o culto do deus sol, sol invictus, invocado
na sua aurora. Embora o sol renascesse cada dia, facilmente se percebia que era incapaz
de irradiar a sua luz sobre toda a existência do homem. De fato, o sol não ilumina toda a
realidade, sendo os seus raios incapazes de chegar até às sombras da morte, onde a vista
humana se fecha para a sua luz (LUMEN FIDEI, n. 1).

Como se afirma, é preciso ser luz na vida das pessoas para que se alcance um bem
maior. Esse bem é uma vida digna, vida feliz, vida humanizada e as famílias vivendo o
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evangelho de Jesus, sendo exemplo para as demais famílias existentes e próximas umas
das outras. E de fato, ser luz de Deus na vida das pessoas é ser exemplo de boa convivência
com todos, de compartilhamento da vida social, dos medos, das alegrias e também das
tristezas. E, quando se trata de evangelizar o outro, a primeira lição de quem deve aprender
a ser luz é o próprio evangelizador, ou seja, o agente de pastoral que visita as famílias nos
bairros de periferia é o padre e sua equipe, é o consagrado ou a consagrada, é o Catequista
que precisa sair para visitar a família do catequisando e demais agentes de pastorais.
Destaca-se, também, a importância das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no
Brasil 2015-2019 (CNBB, Doc., n. 102) ao se tratar a respeito da situação do mundo de hoje,
com o intuito de melhor entender os desafios que os cristãos tendem a enfrentar numa
sociedade descrente de fé, da vida e das injustiças sociais. Diretrizes essas que são
orientações para que os evangelizadores tenham como meta a ser cumprida em suas
comunidades locais e nas respectivas paróquias.

4. A ARQUIDIOCESE DE BELÉM DO PARÁ ATUALMENTE

4.1. A formação e composição das paróquias de Belém

A Região Metropolitana da Arquidiocese no ano de 2021, é composta por 09 cidades


(SILVA, 2021, p. 29), a saber: Ananindeua, Belém, Benevides, Benfica, Distrito de Icoaraci,
Distrito de Mosqueiro, Distrito de Outeiro, Marituba e Santa Bárbara, divididas por regiões
episcopais3 composta por 08 (oito) regiões episcopais: Coração Eucarístico de Jesus;
Menino Deus; Nossa Senhora do Ó; Santa Cruz; Santa Maria Goretti; Sant’Ana; São João
Batista; e São Vicente de Paulo. Para compreender melhor a realidade que se está
refletindo, cita-se uma região:

4.2. Coração eucarístico de Jesus


Composta por 11 (onze) paróquias e uma área missionária, que está em processo de
se tornar paróquia. Cada uma das paróquias é administrada por um pároco (aquele que
comanda a paróquia) ou vigário (aquele que ajuda o pároco na administração da paróquia).

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Um sacerdote é designado para chefiar aquela região.
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Área missionária São Clemente: considerada atualmente como uma “zona


vermelha” (CHAGAS, 2015, p. 2), está passando por um processo de evangelização pelos
padres que ali trabalham. Mesmo rodeada por igrejas neopentecostais, a Igreja local está
desenvolvendo lentamente um trabalho missionário com as famílias da redondeza para
futuramente instalar, a assim chamada, Paróquia São Clemente. Os maiores desafios da
evangelização é o medo de ser assaltado, a violência por parte dos bandidos visto que a
área é comandada por uma parte dos traficantes na região (CHAGAS, 2015). No entanto, é
um dos desafios que a Igreja vem propondo aos seus fiéis nos tempos atuais: ser igreja em
saída. As pastorais presentes nessa área missionária são: Pastoral da Catequese, formada
por grupos e catequistas que travam um desafio para evangelizar crianças e adolescentes
na faixa etária de 07 a 17 anos de idade, segundo o que nos aponta o Anuário da
Arquidiocese de Belém (SILVA, 2021).
Seus maiores anseios são a falta de empenho dos pais em mandar seus filhos para
participarem ou quando não, as crianças e adolescentes só vão à catequese porque seus
colegas vão. Outra Pastoral é a do Dízimo na qual também há uma necessidade de
evangelizar as pessoas, pois as mesmas acham que o dinheiro que entra, vai direto para as
mãos dos padres e que não há contribuição direta com a comunidade local. Também tem
a Pastoral da Liturgia que atua como animação das missas nos domingos; a Pastoral do
Batismo que atua para evangelizar e trazer mais integrantes para a Igreja. Acerca da
localização da futura paróquia, pode-se observar no mapa(ANEXO I) e perceber que ela
está no local que chamam de “zona vermelha” (CHAGAS, 2015, p. 2), porque fica às
margens da periferia de Belém, não há quase a presença do poder público nas redondezas
do bairro, constata-se a insalubridade de saneamento básico, e, as ruas completamente
escuras ou sem muita movimentação de pessoas, além de que há indícios de jovens que
usam entorpecentes químicos nas ruas e vielas, mostrando a necessidade da presença dos
poderes públicos para sanar essas dificuldades e, assim, contribuir significativamente com
o processo de evangelização que pode corroborar de modo efetivo em alinhamento com
a prefeitura.
Outro exemplo é a Paróquia Coração Eucarístico de Jesus que está situada numa
região de conjuntos residenciais como: o Conjunto Catalina I e II, condomínio Água Cristal
entre outros presentes no bairro do Mangueirão. Apresenta um pouco da dicotomia social:
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uma parte formada por uma classe social mais elevada (área de condomínios e
residenciais), e outra a dos menos favorecidos que vivem atrás do Estádio Estadual
Jornalista Edgar Augusto Proença (Estádio do Mangueirão) região bem periférica onde as
pessoas tem medo de andar a noite ou em horas soturnas, como por exemplo, o canal da
margem A e B, mesmo que seja próxima de uma avenida bem conhecida na região, a Av.
Centenário, mas que conta com um histórico de assaltos, assassinatos, crimes e violência
(RODRIGUES; SÓTER; CARNEIRO, 2021). Atualmente, segundo os dados do site, g1Pará,
esse índice reduziu para 19% no estado, o que configura uma mudança visível nas novas
políticas públicas implementados pelo governo com as novas ações sociais. No mapa
(ANEXO II) podemos perceber a região dicotômica desse processo de evangelização.
E assim, outras paróquias apresentam esse mesmo contexto demográfico e buscam
mediante os desafios promover ações de evangelização. A Arquidiocese de Belém é
desafiada a continuar o processo missionário iniciado a mais de 300 anos nestas áreas, hoje
com novos desafios e, assim, constitui-se atualmente. Procurou-se exemplificar nesta
pesquisa realidades que transpareçam o quadro das paróquias da referida Arquidiocese,
ressaltando o quanto que a evangelização na cidade de Belém é desafiadora, paradoxal.
À luz dos dizeres do Papa Francisco em sua Carta Encíclica Lumen Fiedei, ressalta o
quão importante é a fé para que o ser humano encontre em si as forças necessárias para
as mudanças interiores e exteriores:

Por este caminho, a fé acabou por ser associada a escuridão. E, afim de conviver
com a luz da razão, pensou-se na possibilidade de a conservar, de lhe encontrar
um espaço: o espaço para a fé abria-se onde a razão não podia iluminar, onde o
homem já não podia ter certezas. Deste modo, a fé foi entendida como um salto
no vazio (LUMEN FIDEI, n. 3).

As expressões “interiores e exteriores” que são citadas pelo Papa Francisco em sua
Carta Encíclica, estão definidas com maior detalhe no Dicionário de Filosofia (MORA, 1994).
Essas mudanças interiores e exteriores mostram que, evangelizar na cidade de Belém é um
desafio constante entre uma realidade mais acessível ao plano pastoral da Igreja local, e
outra mais complexa: luta entre a luz da fé e a escuridão dos que vivem às margens das
periferias, sem ao menos ter contato com uma igreja que os eduque e que os ajude a
participar de uma comunidade.
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Na região metropolitana de Belém, segundo os dados do anuário de 2021, há pelo


menos 2.254,090 habitantes, e conta com um total de 233 sacerdotes (SILVA, 2021) que
estão inseridos nas paróquias da arquidiocese, ou seja, perto dos números de habitantes
para evangelizar essa população, o clero precisa necessariamente de agentes de pastorais
que ajudem nesse processo de evangelização a contar, primeiramente, com os catequistas,
que em 2020 eram 1.228; com seminaristas, que em 2020 eram 78 no total; sem contar as
casas religiosas (SILVA, 2021). Portanto, o arcebispo conta com a participação desses
evangelizadores para promover fortemente as novas formas de evangelização dentro da
Igreja local, que passa a ser um desafio ter que preparar, capacitar através de estudos e de
formação, cujo o intuito é o do engajamento pastoral, como pede no Sínodo
Arquidiocesano de Belém.
Dado a importância da existência do Plano Pastoral Anual que relata os desafios da
Igreja na arquidiocese de Belém, no fim de 2019 iniciou-se um movimento de “caminhar
junto”, “Sinodalidade” (RIBEIRO, 2019), Igreja e povo, para responder aos anseios e
desafios pastorais da Igreja local. Iniciado nos primeiros meses de 2020, precisou ser
interrompido devido à Covid-19, – a qual marcou o mundo com período de pandemia –. E,
em meados de 2022 retomou-se as atividades de encontros, formações em “mini
assembleias” respeitando todos os protocolos de segurança, o tema do Sínodo
Arquidiocesano de Belém foi: “Belém, Igreja de portas abertas!” e o lema era: “A cidade se
encheu de alegria” (At 8,8). Concentrados no Centro de Cultura e Formação Cristã (CCFC)
na cidade de Ananindeua, anexo da Faculdade Católica de Belém nos dias 12 e 13 de
fevereiro de 2022.
Na introdução do subsídio do Sínodo 2020, Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo
de Belém, exortou: “Ninguém se sinta excluído e todos aos irmãos e irmãs estejam prontos
a oferecer o melhor de si mesmos, para o crescimento de nossa igreja e o anúncio do Reino
de Deus” (CORRÊA apud RIBEIRO, 2019, p. 2). Ele chama a atenção para os missionários e
missionárias de plantão que já fazem parte da vida missionária e para aqueles futuros
engajadores das pastorais locais nas periferias de Belém. Haja visto que existem várias
periferias e bairros que necessitam do apoio da Igreja Católica, de ajuda que não seja
somente com alimentos, mantimentos, doações, mas o principal: Deus na vida dessas
pessoas que vivem às margens das igrejas locais sem assistência espiritual. Pede que os
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missionários sejam mais ousados em ir além do que possam imaginar, como disse São João
Paulo II (2003, p. 05) aos Missionários do Sangue de Cristo numa de suas reflexões “ir onde
ninguém mais quer ir”.
Nesse contexto podemos considerar que o homem, precisa de Deus, precisa
conhecer a Deus, o ser humano sente desejo de Deus de ser motivado a ir além de suas
próprias convicções, ele quer ser “tocado” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 33) pelo
Espírito Santo de Deus, mas para isso, ele não consegue sozinho, alguém precisa ir até ele
para que ele sinta isso. E, se não encontra na Igreja-mãe, que é a Igreja Católica Apostólica
Romana, vai ao encontro daquela mais próxima de sua residência, e assim, as igrejas
neopentecostais estão lotadas de ex-católicos, e o que mais contrasta com a realidade da
fé católica, ex-ministros da eucarística, ex-catequistas, ex-seminaristas, ex-coroinhas, ex-
agentes de pastorais, ex-coordenadores de pastorais, resumidamente, missionários e
missionárias que abandonaram a missão porque não se sentiram “tocados”, “marcados”,
com o selo do ardor missionário que a Igreja Católica propõe que, infelizmente, não é
vivenciada na prática por alguns agentes de pastorais.
O ardor missionário, ideal de toda ação missionária deve estar no centro da
espiritualidade daqueles que se propõem ao anúncio do Evangelho, pois “se buscarmos
estes valores, a caridade e o serviço serão marcas inseparáveis de nossa atuação
missionaria” (RIBEIRO, 2019, p. 6). Entende-se que buscar o valor do amor pela missão, do
compromisso de assumir um desafio dentro da Igreja é sentir-se tocado fortemente pelo
Espírito Santo de Deus, pelo mesmo espírito que animou os apóstolos no dia de
Pentecostes, “todos ficaram cheios do espírito santo” (At 2,4). Este é o estado da arte,
dessa maneira procede-se a luta constante nesse cenário a ação de evangelizar na cidade
de Belém.

5. A COMPOSIÇÃO DAS PASTORAIS PRESENTES NA ARQUIDIOCESE DE BELÉM

Nesta Seção II, tem-se como proposta de pesquisa, os informes das pastorais
presentes na Arquidiocese de Belém, as quais, segundo os dados do Anuário de 2021, são:

1.Pastoral Carcerária 2.Pastoral Catequética 3.Pastoral da Comunicação - PASCOM


4.Pastoral da Criança 5.Pastoral da Aids 6.Pastoral da Infância Missionária
7.Pastoral da Juventude 8.Pastoral da Pessoa Idosa 9.Pastoral da Saúde
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10.Pastoral das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) 11.Pastoral das Ilhas


12.Pastoral do Batismo 13.Pastoral do Dízimo 14.Pastoral do Ensino Religioso
15.Pastoral do Menor 16.Pastoral do Turismo 17.Pastoral do Surdo 18.Pastoral dos
Portos 19.Pastoral Ecumênica e Diálogo Inter-Religioso 20.Pastoral Familiar
21.Pastoral Litúrgica 22.Pastoral Presbiteral 23.Pastoral Universitária 24.Pastoral
Vocacional 25.Campanha da Fraternidade 26.Comissão Justiça e Paz 27.Obras
Sociais 28.Missão Belém (SILVA, 2021, p. 112).

Essas Pastorais tem como objetivo primordial evangelizar cada grupo específico
dentro do seu limite de tempo, os quais evidencia-se aos finais de semana, geralmente
sábado pela manhã e à tarde, e a maioria das vezes são salas de pastorais resididas nas
salas da Igreja matriz de cada paróquia e/ou comunidade, os salões paroquiais, e até
mesmo em áreas abertas como praças, ruas entre outros, sentados em cadeiras em forma
de círculos.
E assim, da melhor maneira se busca evangelizar, algumas delas necessitam estar
nos espaços prediais das igrejas e, portanto, são fixas e não saem do perímetro da igreja,
outras ainda saem, porém não é constante a sua prática de “sair”. Enquanto outras
pastorais apresentam dinâmicas em sua forma de evangelizar, na proximidade com a
população: Pastoral Carceraria, Pastoral da Comunicação (PASCOM), Pastoral da Pessoa
Idosa (PPI) que uma vez ou outra sai pra visitar um idoso ou o próprio Ministro
Extraordinário da Sagrada Comunhão (MESC) realiza visitas levando a Eucaristia aos
enfermos; Pastoral das Ilhas que saem em visita aos ribeirinhos de barco, canoa, rabeta ou
lancha, e a Missão Belém que é formado por um grupo de pessoas, a maioria jovens de
outros estados, que se dedicam a evangelizar nas ruas de Belém, e, a maior parte fica no
centro, como na Avenida Presidente Vargas, Ver-o-Peso, praça da República, e outros
lugares onde cuidam de evangelizar os moradores de rua nas áreas adjacentes.
Nota-se que essas pastorais, e mesmo aquelas que saem do seu “comodismo”,
enfrentam seus desafios sociais, medos e dificuldades pastorais, pode-se notar, ainda, o
quão tímido é a ação missionária por não haver uma evangelização em massa, em contra
partida, há uma burocracia de horário, uma excessividade de reconhecimento pessoal e
alimentação de ego por parte de determinados agentes pastorais, contradizendo a
proposta do Evangelho e o ideal missionário. Contudo, não se pode negar que existem
muitos missionários que se dedicam a evangelizar de forma mais intensiva, no seu bairro,
na sua comunidade e até mesmo na sua própria família, que já é um desafio muito grande
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quando se vive numa realidade de abandono pelo poder público e de renda fixa baixa,
como se observa nos dados colhidos do Anuário da Arquidiocese ou sites oficiais de
pesquisa.
Observa-se que a maioria desses agentes de pastorais são chefes de família, tem seu
trabalho fixo durante a semana, que não tem muito tempo para se dedicar de forma
profunda na vida da Igreja, que reservam o tempo que tem, que é o final de semana, para
evangelizar, sendo que nem sempre se pode contar cem por cento com os mesmos. Uma
hora ou outra alguém tem que ir ao médico, tem que viajar, tem que cuidar do filho, da
esposa, do esposo, de alguém da família e até mesmo tem que fazer algo pra sua família e
assim fica a desejar a evangelização em determinado local de forma mais profunda. Não se
tem como pretensão levantar só os problemas existentes, mas se deseja falar dos porquês
de cada situação, que são os mais intrigantes da realidade que se está analisando, ou seja,
a evangelização na região periférica da cidade Belém do Pará:

[…] a vida humana se desenvolve em meio a uma luta perene entre essas direções
opostas. Mediante o exercício de seu livre-arbítrio, o ser humano escolhe entre
resplandecer a Imago Dei ou ocultá-la e pervertê-la. Todavia, caso o indivíduo opte
por assumir sua imagem e semelhança com Deus, ele precisará de meios para tal.
Esses meios são dados por Cristo, que, por intermédio de sua existência,
demonstrou à humanidade como vivenciar tal dimensão. Assim, é pela imitação
de Jesus que se pode alcançar a vivência da Imago Dei (GREGÓRIO, 2011 apud
RUTHES, 2018, p. 92).

Três características fundamentais podem ajudar a compreender melhor sobre a


temática abordada nesta pesquisa: o homem evangelizador e seus desafios na realidade
atual; o homem luta em direções opostas, ou seja, nas periferias há constantemente
desafios que são diversos e os desafios à sobrevivência diária; e cuidar da própria
segurança, da saúde, dos filhos e parentes. Muitas das vezes surgem divergências entre os
próprios grupos existentes nas comunidades, esses conflitos são por busca de poder, de
reconhecimento pessoal, de ser temido por outros grupos e assim sucessivamente. E
assim, percebemos que na linguagem teológica, não há um reconhecimento digno de
quem vive na favela ou na periferia. Isso por não ter o conhecimento adequado sobre a
nossa imagem e semelhança de Deus. Quem tem que revelar isso, são catequistas,
missionários, sacerdotes e leigos consagrados à evangelização. Portanto, necessariamente
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a evangelização mais profunda precisa acontecer, mesmo que não seja tão fácil como
percebemos na realidade local:

O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e


de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma
libertação profunda adquire maior sensibilidade perante as necessidades dos
outros. E, uma vez comunicado, o bem se radica e se desenvolve. Por isso, quem
deseja viver com dignidade e em plenitude não tem outro caminho senão
reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender
frases de São Paulo como estas: “o amor de Cristo nos absorve completamente”
(2Cor 5,14); “ai de mim, se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16) (EVANGELII GAUDIUM,
n. 9).

É fundamental que todo evangelizador tenha como documento norteador a


Evangelii Gaudium para evangelizar de forma mais humana as pessoas em suas realidades,
é uma encíclica que leva os cristãos a serem mais próximos de uma espiritualidade mais
inclusiva e identitária. Haja visto que fala de uma Igreja que vai para as regiões mais
abandonadas pelo poder público para se laçarem na missão. É fato que ninguém pediu para
que esteja numa situação de conflito ou lugar distante dos outros, na verdade muitos
querem ter seu espaço valorizado, ter uma vida digna e de paz, a paz espiritual constante,
em que muitas vezes deixa de ter por conviver fora do alcance de uma igreja, seja ela
católica ou não.
De forma concreta, todo ser humano precisa e sente o desejo de ser atraído por
Deus; “em sua história, e até os dias de hoje, os homens têm expressado sua busca de Deus
de múltiplas maneiras, por meio de suas crenças e de seus comportamentos religiosos”
(CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 28,). A fé é o caminho que serve como luz para o
homem imerso nas obscuridades de relacionamento interpessoal, social e demais
formatações de relacionamentos humanos, e a mensagem evangélica é uma mensagem
integrativa, inspiradora e isenta de interesses subjugais preditos pela sociedade e cabe ao
evangelizador mostrar ao outro, ao próximo, o caminho certo, a via lux4.

6. EVANGELIZAR EM BELÉM DO PARÁ

6.1. O que é evangelizar na Arquidiocese de Belém?

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Via lux: expressão latina que significa: “caminho de luz”.
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A palavra ‘evangelizar’ tem sua etimologia fundada no “anúncio da boa nova, o


anúncio de uma mensagem” (FRIES, 1970, p. 153-154), mas também pode ser entendido
como:

Em primeiro lugar, dar testemunho. A Igreja no Brasil tem sido testemunha do


Evangelho da vida e da promoção da justiça e da paz e acompanha com atenção a
realidade cultural, econômica e política da sociedade brasileira, especialmente
atenta aos pobres que, tendo de lutar para viver e muitas vezes com “pouca
dignidade”, são a maioria da população e “vivem seu dia precariamente” (CNBB,
Doc. 102, n. 17).

Espelhando-se nessa visão e, principalmente atenta ao clamor do Sumo Pontífice,


que a Igreja de Belém se lançou para programar seu plano de ação Pastoral até os dias de
hoje, que culmina com o Sínodo Arquidiocesano em Belém que está em andamento. Os
encontros foram realizados primeiro nas paróquias da arquidiocese onde cada pároco
realizou as mini assembleias com o foco no sínodo arquidiocesano. Cada comunidade
juntamente com sua paróquia apresentou seus desafios, seus planos futuros e
compartilharam também as ações realizadas em conjunto com suas respetivas paróquias.
O primeiro encontro com todas as lideranças missionárias, religiosas e sacerdotais,
além dos demais realizados em 2022, aconteceu em meados de fevereiro no Centro de
Cultura e Formação Cristã - CCFC da arquidiocese, anexo da Faculdade Católica de Belém -
FACBEL. Nesse encontro foi apresentado a estrutura do Sínodo que está em andamento
em conjunto com os bispos da Arquidiocese, Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo
Metropolitano, e Dom Antônio de Assis Ribeiro, bispo auxiliar. Os objetivos foram
aprofundar e dar novos passos na ação pastoral, caminhar juntos, enxergar o que existe de
positivo, enfrentar as dificuldades, tornando cada dia melhor, coragem para ser sinal de
contradição e “lançar as redes em águas mais profundas” (RIBEIRO, 2019. p. 22). Outro
objetivo do sínodo também está na presença da igreja em diversos locais onde não se tem,
onde tudo se começa com a “visita fraterna”5. Já dizia, o bispo auxiliar, Dom Antônio.

6.2. Aprofundar e dar novos passos na ação pastoral

5
Fala oral de Dom Antônio de Assis, bispo auxiliar de Belém, na abertura do Sínodo Arquidiocesano, realizado
no Centro de Cultura e Formação Cristã – CCFC, em 15 de novembro de 2019.
14

Neste subtópico, o que se busca é revisar o Plano Pastoral existente, fazer memória
da história de toda a arquidiocese onde se envolve grupos, movimentos e todo o corpo
missionário da arquidiocese. Depois de cada paróquia ter enviado seu relatório ao bispo
arquidiocesano, percebeu-se que: cada uma tem um jeito próprio de evangelizar partindo
da sua própria realidade, seja na forma de catequisar, de educar na fé e as devoções
existentes em cada paróquia.
Não se pode deixar de mencionar a diversidade de devoções que são realizadas ano
após ano em cada paróquia, com a devoção à cada padroeiro se percebe que a
evangelização ocorre de forma mais intensa no período de festividade de cada
comunidade. Por exemplo, os festejos de São Sebastião, no mês de janeiro; Conversão de
São Paulo, no mês fevereiro; de São José, no mês de março; de São Jorge, em abril; Nossa
Senhora de Fátima, em maio; de São Pedro e São Paulo, no mês de junho; e a grande festa
do ano em outubro, o Círio de Nazaré. Cada mês é dedicado a um Santo de devoção em
cada Paróquia, cada uma faz a sua festividade, porém no mês de outubro, a festa da rainha
da Amazônia é a principal festa de todas onde as paróquias se concentram para fazer suas
novenas, e a evangelização passa a ter um cunho importante na vida do povo paraense.

6.3. Caminhar juntos

Este ponto propôs uma profunda reflexão sobre a vida pública de Jesus, em que os
discípulos sempre estavam com Ele para onde quer que fosse. Ceavam juntos, rezavam
juntos e sempre estavam em sintonia com o mestre Jesus. É nesse sentido também que os
missionários não percam o objetivo de caminhar juntos para construir uma evangelização
mais intensa, em que a força de cada um se torna primordial para o sucesso da missão e
com o objetivo de chegar ao mais longínquo território da arquidiocese de Belém, caminhar
juntos, em sintonia, com os seus pastores locais esta é a proposta do Sínodo
Arquidiocesano 2019 desta Igreja particular para todos aqueles que abraçam a fé e desejam
fazer comunhão com a Igreja de Cristo presente nestas terras amazônicas.

6.4. Enxergar o que existe de positivo e enfrentar as dificuldades


15

Sabemos que existem muitas formas de evangelizar e uma delas é a devoção


popular, não se pode perder de vista que a Igreja de Belém é detentora de devoções
espalhadas por toda a arquidiocese. Além disso, grupos que animam as comunidades são
claramente observados, os jovens que atuam nas pastorais das paróquias fazem da Igreja
mais dinâmica e mais viva, e isso tudo é positivo.
Em contrapartida, as dificuldades encontradas são: a falta de incentivo por partes
de alguns pastores; o medo de sair para lugares mais tenebrosos da realidade que os cerca;
a falta de compreensão dentro de um grupo evangelizador; a espiritualidade vivenciada e
praticada em cada grupo; a formação de novos agentes de pastorais mais concisa e não só
superficial; a antissocialização de alguns agentes; a não abertura para o novo e as novas
formas de ver, julgar e agir.

6.5. Coragem para ser sinal de contradição

De fato, ser sinal de contradição na realidade que cerca um missionário na


arquidiocese não é fácil. Ter que agir em locais de difícil acesso, onde se tem que está
acompanhado por um ou mais pessoas para se chegar ao local, às vezes tem que pedir
permissão para entrar em invasões onde é comandada pelos traficantes (CHAGAS, 2015),
lugares onde não existe ruas asfaltadas, ter que passar por pontes de madeira, correndo o
risco de sofrer acidente no percurso, entre outros desafios. Mas, o principal desafio não
passa a ser somente lugares ou pessoas, passa também por uma boa formação missionária,
uma boa espiritualidade onde não se olhe somente para a dificuldade, mas saiba se pôr no
lugar de quem ali está e espera por uma visita, uma conversa e até uma ajuda se for
possível.

6.6. Lançar as redes em águas mais profundas

Em alusão à Evangelii Gaudium, em que se propõe à Igreja uma saída de suas


estruturas físicas, que os missionários saiam ao encontro das pessoas sem a assistência da
Igreja, para fazer parte da comunidade. Sabe-se que esta identidade missionária da Igreja
16

está fundada na vida e missão de Jesus, a exemplo da parábola da ovelha perdida (Cf. Lc
5,1-11) para que se tenha coragem de sair de si e ir em busca do outro que necessita.
Esses tópicos do Sínodo foram o apogeu desta reflexão, concatenando com a ideia
de que cada um é sinal de luz divina na vida das pessoas, como se lê na Lumen Fidei:

A fé transmite-se por assim dizer sob a forma de contato, de pessoa a pessoa,


como uma chama se acende noutra chama. Os cristãos, na sua pobreza, lançam
uma semente tão fecunda que se torna uma grande árvore, capaz de encher o
mundo de frutos. A transmissão da fé, que brilha para as pessoas de todos os
lugares, passa também através do eixo do tempo, de geração em geração. Dado
que a fé nasce de um encontro que acontece na história e ilumina o nosso caminho
no tempo, a mesma deve ser transmitida ao longo dos séculos (LUMEN FIDEI, n.
37).

Com toda certeza, para se transmitir a fé aos outros é preciso ser “luz” antes de
tudo, ser conhecedor da verdade da fé para poder levar os ensinamentos de Deus aos
outros. Não basta apenas ter boa vontade e ir ao encontro do outro de qualquer jeito, é
preciso está preparado e imbuído da graça de Deus para que a luz de qual nos fala o Papa
possa ser eficaz na vida de quem recebe o convite.
Para isso, a catequese em cada paróquia deve ser o primeiro passo para a grande
transformação da vida da Igreja que é missionária. Ela faz das pessoas, quando bem
preparada, novos cidadãos e cidadãs da fé, portadores da transmissão de fé para os
demais. A catequese quando bem vivida e bem transmitida passa a ser o maior instrumento
de evangelização para toda a Igreja, seja ela qual tempo e lugar. Muitos dos, então hoje
agentes de pastorais, receberam a fé pelas transmissões de seus antecessores familiar,
gerando grandes passos para se chegar à graça que se tem hoje, pois se ainda existe muitos
cristãos hoje é porque passaram por uma boa catequese, receberam e viveram os primeiros
Sacramentos da Iniciação Cristã que a Igreja sempre educou.
Alguns aspectos de evangelização: “A comunhão com a Igreja, propiciada no
batismo é tripla: comunhão de fé, comunhão eclesial e comunhão eucarística” (SIQUEIRA,
2018, p. 37), cada um possui um significado, uma graça divina. Por exemplo, aquele que
recebe o batismo, recebe o dom de ser chamado filho de Deus, filho da luz. Aquele que
recebe a eucaristia, faz parte do próprio corpo de Cristo, da comunidade de Cristo que são
todos os cristãos batizados, e aquele que recebe a confirmação ou a crisma (SIQUEIRA,
17

2018) já está apto para trabalhar em prol do Reino de Deus, ou seja, todo crismado recebe
os dons do Espírito Santo que faz a Igreja ser sempre viva e missionária.
Por isso, esses primeiros passos de fé, começado na catequese deixa marcas nas
pessoas, e dessa forma todo o processo de evangelização tem um “fardo” mais leve para
quem recebe um convite a se integrar numa comunidade cristã, arrisca-se ratificar que
grupos de evangelização, ou os catequistas, são essa “luz” que nos fala o Pontífice na
Lumen Fidei.

7. ASPECTOS DE EVANGELIZAÇÃO DENTRO DA LUMEN FIDEI E A EVANGELIZAÇÃO NAS


PERIFERIAS DA ARQUIDIOCESE DE BELÉM DO PARÁ

Concentrando todo a maior atenção aos dados bibliográficos recolhidos, buscou-se


os meios mais incisivos desse aspecto de reflexão, exigindo, portanto, antes de mais nada
uma tomada de conhecimento de todo processo de evangelização existente dentro da
Arquidiocese de Belém, envolvendo em si o seu Plano de Ação Pastoral que de forma útil
foi bem conduzido no Sínodo Arquidiocesano 2019. Alguns pontos, portanto, da Encíclica
deve ser tomado mediante a isso.

7.1. A importância da fé comunitária

É próprio da fé cristã que todo fiel não caminhe sozinho, não pense isoladamente,
mas viva e transmita a sua fé herdada dos educadores da fé (como pais, padrinhos,
catequistas, padres, religiosos e religiosas e outros), e de fato superem, em conjunto, o
difícil desafio de se estar numa periferia sozinho para anunciar Deus às pessoas. E quando
essas pessoas são abordadas por um grupo de missionários, o testemunho de fé é mais
eficaz, convencer não no sentido maléfico e ou interesseiro, mas para o bem maior.

7.2. Os sacramentos e a transmissão da fé

Geralmente quando se realiza missões populares, os missionários levam consigo um


pequeno formulário e, ao adentrar numa casa para evangelizar se pergunta: quantos
18

moram naquele lugar, quantos não batizados, não crismados, amasiados 6 (AULETE, 2012,
p. 43), entre outras formas de se iniciar um diálogo, mas o que testifica o caráter é de que
a Igreja sempre se preocupou com a inserção de novos fiéis na vida da comunidade. Não
só para fazer volume, mas para seguir o mandamento de Cristo que é “ide ao mundo e a
todos pregai o evangelho...” (Mc 16,15-20). Esse mandato foi dado por Cristo aos
Apóstolos, pois o próprio Jesus foi um excelente catequista na vida de seus seguidores,
chegando-se ao ponto de toda a sua vida, as suas palavras terem efeitos grandiosos na vida
de toda a humanidade e, principalmente na vida da Igreja, da qual Ele foi fundador.
Portanto, é de se esperar que ainda hoje a Igreja Católica Apostólica Romana siga sempre
os passos de seu Mestre e todo aquele que queira, de fato, ser esse missionário de verdade,
faça assim como seus antecessores fizeram: levar a mensagem do Mestre Jesus aos demais
cristãos e principalmente os não cristãos, eis o desafio maior.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração todo o trabalho abordado tem-se consciência de que não


é um artigo conclusivo, pois sempre haverá outras reflexões a respeito da temática
abordada, mas que oferece apenas uma visão contribuitiva. Esse assunto teve como
objetivo levantar as principais dúvidas a respeito da evangelização na região periférica de
Belém do Pará a fim de que, estudando os textos e planos de ação pastoral, se pode
observar as necessidades de uma evangelização mais integrativa, missionária e pastoral,
mais firme e mais concreta. Sem dúvida, existe muitos planos de ação pastoral e diversos
documentos da Igreja, a exemplo da Lumen Fidei e da Evangelii Guadium, que corrobora a
entender-se melhor cada passo da vida do missionário dentro do cenário periférico.
É fato que cada espaço tem seus desafios, e a questão do domínio do poder
paralelo, bem como o grande índice de criminalidade nos bairros em que o poder público
não se faz presente, possa ocasionar o medo e as incertezas das saídas para a
evangelização em seu próprio bairro, para sua própria vizinhança. Além dos grandes casos
de conflitos com a polícia, com o envolvimento de grupos organizados são situações que
os missionários nas regiões distantes do centro de Belém sofrem para manter a vida de fé

6
AMASIO: condição de quem vive em comum, sem estar legalmente casado.
19

mediante as realidades externas e controversas à fé. A Igreja, atenta aos clamores de seus
fiéis, deseja que todos sejam assistidos e por isso, há pessoas devidamente capacitadas
para organizar e promover ações missionárias. Há pessoas com muita experiência que
fazem a evangelização se tornar mais rica e mais proveitosa, a começar pelos próprios
bispos, sacerdotes, diáconos, leigos, seminaristas trabalhando em conjunto para uma
evangelização com o rosto e a identidade cristão que são próprios da Igreja, a alegria do
anúncio do Evangelho.

REFERÊNCIAS

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dinâmica dos territórios na região metropolitana de Belém-PA. In: ENCONTRO DE
GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA; 15. Anais […]. Palácio de Convenções, Havana, Cuba.
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MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tradução Maria Stela Gonçalves et al. Tomo II:
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______. Exortação Apostólica Pós-sinodal Evangelii Gaudium: sobre o anúncio do


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PARÓQUIA CORAÇÃO EUCARÍSTICO DE JESUS. Localização. Disponível em


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SIQUEIRA, Thácio Lincon Soares de. Sacramentos da Iniciação cristã. Curitiba:


Intersaberes, 2018. – (Série Princípios de Teologia Católica).
21

ANEXO I - ÁREA MISSIONÁRIA SÃO CLEMENTE

FONTE: Disponível em: https://googlemaps.com.br. Acesso em: 23 fev. 2022.


22

ANEXO II – PARÓQUIA CORAÇÃO EUCARÍSTICO DE JESUS

FONTE: Disponível em https://www.google.com/maps/place/. Acesso em: 25 fev. 2022.

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