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Fichamento Seminário Componente Curricular História do Rio Grande do Sul

Vinicius Costa Franco


GOULART, Jorge Salis. A formação do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins
Livreiros; Caxias do Sul: EDUCS, 1985. p. 27-49; 177-195
Quem é o autor/a?
Jorge Salis Goulart, nascido em 1899 na cidade de Bagé. Por volta de 1915 ele foi para
Pelotas para estudar no Colégio Pelotense. Em 1922 se formou bacharel na Faculdade de
direito de Pelotas, no meio universitário deu seus primeiros passos na atividade de
imprensa, trabalhando como redator do jornal dos discentes do curso de direito “O
Acadêmico”, começando a se introduzir no meio intelectual da época. Importante
ressaltar a criação da faculdade de Direito em Pelotas, pois

facilitou o acesso dos filhos das classes abastadas à formação superior,


que não precisariam sair de Pelotas para completar os estudos [...] e
introduziu um novo elemento no modelo de reprodução social das
classes dirigentes e na divisão do trabalho político e intelectual" (p. 65)

Importante este ponto para salientar que a família dele não era uma família rica que
bancou totalmente os seus estudos, ele vem de uma família de classe média que custeou
o quanto pode, e ter sido soldado na época da graduação. Esse fato faz do começo de sua
trajetória uma luta para a imersão no campo intelectual, criando novas redes de contatos
e de influência, coisa que nosso personagem fez bem.

Após a se formar, ele teve a primeira experiencia profissional no ramo jornalístico,


como redator-chefe do Jornal da Manhã, e simultaneamente e após a extinção do jornal,
ele trabalhou como correspondente telegráfico e epistolar para o Diário de Notícias de
Porto Alegre, enviando notícias sobre a vida pelotense e também crônicas literárias
posição que lhe abriu possibilidades de estabelecimento de redes sociais fundamentais
para a afirmação profissional e intelectual. Sua próxima experiencia no meio jornalístico
foi como diretor do principal jornal de Pelotas “O Diário Popular” em 1927 e
simultaneamente como correspondente de “A Federação”, de Porto Alegre. Ambos os
jornais eram órgão oficial do Partido Republicano Riograndense (PRR), e a partir de então
ele foi reconhecido como jornalista político.

Sua tomada de posição ao partido dominante da política rio-grandense foi


importante e permanente para sua trajetória intelectual, através da militância e
engajamento no PRR, ele pode constituir redes sociais fundamentais para sua carreira,
mostrando como a intima relação, naquele contexto onde campo intelectual depende do
campo político. No caso de nosso personagem, a admissão nos trabalhos nos jornais, se
deu evidentemente em função de sua ligação com o PRR fazia parte de sua rede de
sociabilidade fundamentalmente a família Osório, acionada em muitos momentos para
conseguir favores no campo político e intelectual, abrindo-lhe muitas portas.

As primeiras obras publicadas foram em poemas, sendo primeira a “Aurora e


Poentes” (1919), serviu como uma “apresentação” aos escritores pelotenses, lhe rendendo
alguns frutos de intelectual promissor. A segunda, Chuva de Rosas (1922), ele recorreu a
estratégia de buscar um editor e escritor reconhecidos no campo da produção cultural
nacional, Monteiro Lobato e foi editado pela Companhia Editora Nacional, estratégia esta
que foi tomada pelo fato de não haver, na época, uma editora no estado que pudesse
emprestar um capital simbólico a uma obra de um escritor desconhecido e com isso se
destacar entre seus pares rio-grandense, buscando um reconhecimento no campo
intelectual nacional; esse caminho era o mais rápido para conquistar o tão desejado
reconhecimento. Sua próxima obra, Colheitas de Ouro (1924) ele foi além, sendo
prefaciado (que na verdade foi uma carta enviada) pele escritor português João Grave,
que era editor da Biblioteca Municipal do Porto, que investiu pesadamente no viés
nacionalista de sua poesia, se vinculando ainda mais com a agenda nacional da época.
Posterior a essas obras, que não tem viés regionalista ou educador, temos: Poemas para
nós mesmos (1925), Confissões – Livro dos Namorados (1925), A Vertigem (1925).

A partir de 1927, ocorre uma clara mudança de rumos na sua produção intelectual,
se afastando da poesia e indo em direção aos ensaios históricos privilegiando a questão
do regionalismo rio-grandense, com a ainda obra de poesia, porem regionalista A Alma
Viva do Rio Grande (1927), e no mesmo ano publicou o que seria o seu principal livro,
que é o tema deste fichamento: A Formação do Rio Grande do Sul, que farei uma síntese
posteriormente. O influente intelectual faleceu em Pelotas, em setembro de 1934.

Quais as fontes históricas utilizadas pelo/a autor/a no texto

As fontes utilizadas pelo autor são basicamente as utilizadas na época para analisar a
formação e as características dos povos que viveram e vivem no território do Rio Grande
do Sul, que é relatos de viajantes, principalmente de Saint-Hilarie, alguns discursos de
pessoas importantes do Rio Grande do Sul, como o coronel Pedro Osório, e alguns
inventários para explicar que mesmo nas pessoas de melhor condição de vida a
simplicidade ainda prevalecia, algumas teorias de pensadores europeus, como Spencer
fazendo o contraponto com o militarismo rio-grandense, o antropólogo Lepouge
contrariando a sua teoria eugenista ariana, estabelecendo outra eugenia mais “a brasileira”
e colocando o povo gaúcho como um exemplo de civilização.

Palavras-chave:
democracia nas estancias; raça; nacionalismo; civilização rio-grandense
Síntese do texto
A Formação do Rio Grande do Sul é dividido em dez capítulos, e podemos dizer que tem
dois blocos; o primeiro, totalizando sete capítulos, está mais preocupado em analisar a
formação do Rio Grande do Sul, e as influencias étnicas que formou o tipo social do
gaúcho/rio-grandense; e o outro ele arrisca fazer uma “previsão” sobre o futuro do estado
e também colocando a “civilização rio-grandense” como o povo que pode levar o
progresso para a nação. Foi separado a mim a analise de dois capítulos, estando um no
chamado “primeiro bloco” e o outro no “segundo bloco”, são respectivamente A
Democracia e O Problema das Raças.

Em “A democracia”, ele nos mostra o senso de democracia no rio-grandense,


senso este influenciado pela vida na estancias criando um povo democrático. Segundo ele
não havia diferenças entre o patrão e os subordinados, não havendo aspectos
aristocráticos, mas sim um patronado gentil com seus subordinados. Essa simplicidade
dos estanceiros, contrasta com o luxo dos senhores de outros territórios do nordeste por
exemplo. Os primeiros habitantes não tinham tradições aristocráticas, que são os
aventureiros paulistas pessoas da terra, que vieram para se qualificar socialmente, e os
açorianos, um povo simples e ruralistas, onde as índoles das metrópoles portuguesas não
haviam o contaminado por estarem em uma ilha “isolada do continente”.

Não havia também rivalidades entre os estanceiros, não tendo aquele aspecto de
clã, que cria um ambiente de conflito entre os senhores do território. O espirito provincial
operou uma união geral nas fazendas em benefício da grandeza do Rio Grande (principais
promotores da revolução dos farrapos eram estanceiros como: Bento Gonçalves, Antônio
Neto, Canabarro, Jardim e muitos outros). Mesmo com a influencia militar, não havia a
disciplina hierárquica, pois pela cooperação voluntaria, influenciada pela vida pastoril,
tendo este sistema evidenciado ainda mais as características do gaúcho, de confiança,
sinceridade, generosidade, simpatia, franqueza. Eles deixam suas casas e famílias para o
combate, mas acabado o combate, não fica sujeitos aos quarteis, querem voltar para a sua
estancia, não desertam por covardia, mas sim por ficarem inativos (GOULART, 1985).

O povo pobre não apresenta atitudes de submissão, não une a um estanceiro por
temor, ele é mais independente e individualista (aspecto favorecido pelo trabalho "livre
das estancias") sendo mais um amigo de seu patrão do que um subordinado. Assim não
havia uma diferença de classes existindo assim somente uma o "gaúcho", seja rico ou
pobre, compartilhavam dos mesmos costumes e dos mesmos ideais. Patrões e empregados
alimentavam-se com o mesmo churrasco e o mesmo chimarrão cavalgavam juntos com
os mesmos animais. E os empregados tinham os mesmos interesses de seus patrões, se
identificando com ele, eram amigos e iguais. A abundância de comida se tem a
subsistência garantida a qualquer um, e o trabalhador do campo não fica como precisa ser
escravo de seu patrão, servindo-o espontaneamente, quase "por amizade", e com uma
independência inigualável.

E finalizando o capitulo, ele ressalta que essa democracia teve a influência pelo
fato do pouco contingente de escravos, mas não determinante, pois afirma que havia
(insignificante, mas havia), mas não era rigorosa, entrava no sistema democrático da
estancia, o que foi determinante para este sistema foi que os dominantes não tinham a
necessidade de tiranizar, pois sua superioridade era natural e harmoniosa e espontânea
em tudo, tendo a escravidão como desnecessário pois não havia castas. "todas as forças,
pois, contribuíram para que a fraternidade gaúcha fosse uma das mais nobres expressões
da nossa alma coletiva"(GOULART, 1985, p. 49).

Já no capítulo “O problema das Raças” ele começa salientando que como todo o Brasil,
o RS é uma "Babel de raças". A influência indígena não foi tão pequena quanto muitos
entendem, o regime social das estancia, a liberdade dos pastoreiros, e a alegria espontânea
das volteadas, a semi-ociosidade dos galpões e os alaridos da guerra, deveriam contribuir
muito para a inclusão do indígena, pois recorda a sua antiga e liberta existência. Por isso
ele não fugiu ou isolou como no resto do país. Saint-Hilaire observa que não havia uma
estancia que não houvesse um peão indígena, sendo eles muito próximos ao trabalho da
estancia. E observa que todo miliciano tinha uma índia como amante. “A união do grande
Rafael Pinto Bandeira com uma índia autêntica é um exemplo de que o preconceito social
não impedia essas ligações, como acontecia em relação aos negros” (GOULART, 1985,
p. 178). Porem houve grande mortalidade pela vida irregular que vivia.
Os negros tiveram uma influência insignificante, estando eles cada vez mais
desaparecendo, com isso, ele usa um censo escolar como parâmetro de que havia muito
mais crianças brancas em relação a negra, uma interpretação que deixa muitos furos, só
de pensar que a maiorias das crianças negras não tinham acesso as escolas, mas se
baseando nisto ele argumenta “que o número de indivíduos de cor pronunciada é
insignificante e que o processo de clarificação vai sempre em progresso” (GOULART,
1985, p. 180).

Entrando em analises de teorias antropológicas eugenistas, ele descreve as


diferenciações entre o formato do crânio com os: Dolicefalos e Braquicéfalos, e também
os das raças arianas os dolicos-louros. E elabora uma critica a teoria de Lapouge, que
afirma que a inferioridade dos braquicéfalos está “vencendo” os dolicos-louros pelas
determinações sociais, como uma verdadeira involução pela índole de corrupção, que
defende a aplicação de leis rigorosas de seleção e união entre os sexos, o que para ele era
uma ação tirânica, totalmente contra os ideais rio-grandense que ele defendia. Mostra que
mesmos no RS ter várias raças em um mesmo município, ele mostra a superioridade racial
do gaúcho, com uma estatística de natalidades onde diz que a maior natalidade masculina
no RS, é um fator de uma superioridade racial.

Assim ele mostra como o povo rio-grandense era uma grande civilização, deve
guiar, na “alta posição” o progresso nacional. Outro fator que faz do povo gaúcho uma
civilização evoluída é, e sendo um clima ideal para o desenvolvimento da cultura, a
agricultura, o trabalho e a energia mental, estimulando as manifestações da vida.

O rio-grandense bem pode ser como os elementos de que dispõe


o melhor auxiliar para essa grande obra de salvação comum.

A grande massa branca que possuímos guiará para destinos superiores


o povo gaúcho, elevando-o a uma alta posição no seio da comunidade
brasileira (GOULART, 1985, p. 188)

Referência Bibliográficas:

MARTINS, Jefferson Teles. O pensamento histórico e social de Jorge Salis Goulart:


uma incursão pelo “campo” intelectual rio-grandense na década de 1920; PUC; Rio
Grande do Sul; Tese de Mestrado, 2011.

GOULART, Jorge Salis. A formação do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins
Livreiros; Caxias do Sul: EDUCS, 1985. p. 27-49; 177-195

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