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Yumara Vasconcelos

Doutora em Administração pela Universidade


Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Contabilida-
de pela Fundação Visconde de Cairu (FVC). Gra-
duada em Ciências Contábeis pela Universidade
Católica de Salvador (UCSAL).  Escritora. Possui
grande experiência na coordenação acadêmica
de cursos a distância, dirigindo projetos nessa
modalidade.

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Princípios de Contabilidade

Considerações gerais
Os princípios contábeis são os alicerces norteadores de toda a prática
contábil e, portanto, formam a estrutura conceitual da Contabilidade. Ou
seja, são as vigas mestras dessa estrutura. A expressão princípio vem do
latim principe que significa primeiro, origem. Os princípios são verdades fun-
damentais e devem ser obrigatoriamente obedecidos.

Quando evocada, a palavra princípio é naturalmente associada a termos


como: fundamento, orientação a seguir. (SÁ, 2000)

O Conselho Federal de Contabilidade – CFC, por meio das Resoluções


750/93 e 774/94 estabelece seis princípios, a saber:

 Entidade;

 Continuidade;

 Oportunidade;

 Registro pelo valor original;

 Competência;

 Prudência.

A observância dos Princípios de Contabilidade constitui condição de legiti-


midade das Normas Brasileiras de Contabilidade.
Resolução 750/93
Capítulo I
Dos Princípios e de sua observância
Art. 1.º Constituem Princípios de Contabilidade (PC) os enunciados por esta Resolução.
§1.º A observância dos Princípios de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão
e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC).
§2.º Na aplicação dos Princípios de Contabilidade há situações concretas e a essência das
transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais. (Redação dada pela Resolução
CFC n.o 1282/10)

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Princípios de Contabilidade

Capítulo II
Da conceituação, da amplitude e da enumeração
Art. 2.º Os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias
relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos
universos científico e profissional de nosso país. Concernem, pois, à Contabilidade no seu
sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades. (Redação
dada pela Resolução CFC n.o 1282/10)
Art. 3.º São Princípios de Contabilidade: (Redação dada pela Resolução CFC n.o 1282/10)
I) o da Entidade;
II) o da Continuidade;
III) o da Oportunidade;
IV) o do Registro pelo valor original;
V) o da Atualização monetária; (Revogado pela Resolução CFC n.o 1282/10)
VI) o da Competência e
VII) o da Prudência.

Desta maneira, toda a prática contábil e preparo de relatórios deve ser


norteada pelos Princípios Fundamentais de Contabilidade, sob pena de
perda de legitimidade.

Os Princípios segundo a Resolução 750/93

Princípio da Entidade
O Princípio da Entidade define o patrimônio como objeto da Contabili-
dade, afirmando a autonomia patrimonial. Com isso, enfatiza a necessidade
de separação do patrimônio dos sócios ou proprietários do patrimônio da
entidade.
Resolução 750/93
Seção I
O Princípio da Entidade
Art. 4.º O Princípio da Entidade reconhece o patrimônio como objeto da Contabilidade
e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um patrimônio
particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a
uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza
ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o patrimônio
não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou
instituição.
Parágrafo único. O patrimônio pertence à entidade, mas a recíproca não é verdadeira. A
soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova entidade,
mas numa unidade de natureza econômico-contábil.

Essa diferenciação entre o patrimônio da entidade e o universo dos pa-


trimônios existentes constitui fator importante de controle e independên-

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Princípios de Contabilidade

cia gerencial. Não fosse esse princípio inexistiria clareza na evidenciação da


informação contábil, muito menos, visão objetiva do desempenho da enti-
dade. O patrimônio pertence à entidade. Os controles e registros contábeis
devem ser orientados por esse princípio.

Entende-se por entidade desde a pessoa física ou grupo de pessoas até


as organizações mais complexas que desenvolvam atividades sociais ou eco-
nômicas. Exemplos:

 famílias;

 associações;

 empresas;

 governo;

 sociedades beneficentes, de lazer, religiosas, culturais e técnicas;

 sociedades cooperativas;

 fundos de investimentos etc.

Ressalte-se que o patrimônio objeto da Contabilidade é aquele que per-


tence à entidade. Conforme Almeida (2000, p. 16) “o patrimônio, na sua con-
dição de objeto da Contabilidade, é, no mínimo, aquele juridicamente forma-
lizado como pertencente à entidade, com ajustes quantitativos e qualitativos
realizados em consonância com os princípios da própria Contabilidade.”

A autonomia patrimonial assenta-se na noção de propriedade, do contrá-


rio teríamos um universo de limites imprecisos. O controle e a posse juntos,
apesar de não significar o mesmo que propriedade, podem precisar essa au-
tonomia não ferindo, desta forma, o Princípio da Entidade.
A garantia jurídica da propriedade, embora por vezes suscite interrogações de parte
daqueles que não situam a autonomia no cerne do Princípio da Entidade, é indissociável
desse princípio, pois é a única forma de caracterização do direito ao exercício de poder
sobre o mesmo patrimônio, válida perante terceiros. (ALMEIDA, 2000, p. 16)

O patrimônio pode ser estruturado de diferentes formas e critérios para


fins gerenciais. Independentemente da existência de “divisões” ou da criação
de blocos de informações gerenciais, o patrimônio deve ser tratado obede-
cendo ao Princípio da Entidade. Por exemplo, nas áreas de custos e orça-
mento, pode-se trabalhar com controles do patrimônio em nível de “divisão”
ou “unidade de resultado”, mas isso não significa que estas sejam micro-

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entidades.
A autonomia patrimonial apresenta sentido unívoco. Por consequência, o patrimônio
pode ser decomposto em partes segundo os mais variados critérios, tanto em termos
quantitativos quanto qualitativos. Mas nenhuma classificação, mesmo que dirigida sob
ótica setorial, resultará em novas entidades. Carece, pois de sentido, a ideia de que as
divisões ou departamentos de uma entidade possam constituir novas entidades, ou
“microentidades”, precisamente porque sempre lhes faltará o atributo da autonomia.
(ALMEIDA, 2000, p. 16)

A criação de uma nova entidade requer transferência de propriedade.


Uma dúvida muito comum na aplicação do Princípio da Entidade diz respei-
to à prática de consolidação de balanços. Ao consolidar as demonstrações
contábeis não é gerada uma nova entidade. Cada membro do grupo empre-
sarial consolidado mantém sua autonomia, inexistindo transferência de pro-
priedade. As demonstrações contábeis dos membros do grupo, entidades
cujos dados foram consolidados, devem respeitar os Princípios Fundamen-
tais de Contabilidade.

Apenas os dados são consolidados, não as empresas. Assim, devem ser


feitos registros contábeis de transações entre empresas de um mesmo grupo
econômico por se tratar de entidades distintas. O mesmo raciocínio deve ser
aplicado à relação entre sócios e entidades.

Em resumo, a Resolução 750/93 do CFC comunica que:

 a entidade goza de autonomia;

 o patrimônio da entidade constitui objeto da Ciência Contábil;

 o patrimônio da entidade não deve se confundir com o de terceiros,


ainda que sejam os proprietários do negócio.

Princípio da Continuidade
O Princípio da Continuidade considera que a entidade continuará em
operação por tempo indeterminado e que esta condição deve ser levada em
consideração quando da classificação e avaliação das variações patrimoniais
(quantitativa e qualitativa).

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Princípios de Contabilidade

A continuidade ou não da entidade influencia na avaliação econômica


dos ativos e no valor ou vencimento dos passivos. De fato, a suspensão ou
interrupção das atividades econômicas de uma entidade pode ensejar em
diferentes efeitos na utilidade de certos ativos. Pode ainda provocar “perdas”
e/ou “desvalorização”.
Resolução 750/93
Seção II
O Princípio da Continuidade
Art. 5º. O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em operação
no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio
levam em conta esta circunstância. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)

O Princípio da Continuidade nos comunica que o patrimônio das entida-


des , depende das condições em que as operações se desenvolvem, a exem-
plo de:

 mudanças na conjuntura econômica;

 modificações na política governamental;

 problemas internos à entidade;

 eventos naturais.

Por exemplo, a diminuição do poder aquisitivo da população influencia


o nível de consumo, afetando o desempenho da indústria, assim como va-
riações no câmbio influenciam o volume de exportações para determinados
segmentos econômicos.

As entidades podem se deparar ao longo de sua existência com proble-


mas como:

 envelhecimento tecnológico;

 falta de resiliência estratégica;

 dissenção (discordância) entre sócios etc.

Esses fatores podem conduzir a entidade à perda de competitividade e


perda gradativa de valores. Ocorrências involuntárias e/ou naturais afetam
também a manutenção da entidade como por exemplo a ocorrência de
inundações, incêndios, secas etc.

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Princípios de Contabilidade

O patrimônio das entidades depende das condições em que provavelmen-


te as atividades se desenvolvem (modificação do estado das coisas).

Como se vê, as condições e contextos em que as entidades desenvolvem


suas atividades são cruciais para sua continuidade. Os eventos que impac-
tam sobre a geração de resultado (desempenho) devem ser, em nome da
transparência, divulgados.

A situação-limite na aplicação deste princípio é a descontinuidade de fato e


de direito (cessação completa das atividades). A suspensão temporária ou defini-
tiva das atividades não alcança o objeto da Contabilidade, ou seja, a normalida-
de das operações afeta tão-somente a composição e avaliação do patrimônio.

Os critérios de avaliação de ativos e passivos de uma entidade em continui-


dade diferem daqueles adotados em empresas em processo de descontinui-
dade. Vejamos um exemplo: empresas em processo de falência ou bancarrota
(descontinuidade) vendem seus bens, geralmente, a valores abaixo daqueles
praticados no mercado. A preocupação maior dos gestores, nesse momento
crítico, é “liquidá-los” para gerar caixa e honrar as dívidas. É também comum,
em situações do gênero, os credores renegociarem as dívidas, abrindo mão
de juros passivos e até reduzindo o valor da obrigação (desconto). Como se
vê, o estado da entidade influencia o valor dos ativos e passivos.

Princípio da Oportunidade
O Princípio da Oportunidade diz respeito à tempestividade e à integrida-
de dos registros patrimoniais.
Resolução 750/93
Seção III
O Princípio da Oportunidade
Art. 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação
dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas.
Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na produção e na divulgação
da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário
ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação. (Redação dada
pela Resolução CFC nº. 1282/10)

Os registros das variações patrimoniais devem ser feitos imediatamente,


em sintonia com seu fato gerador ou evento de referência, e com a extensão
correta.

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O Princípio da Oportunidade orienta à apreensão, registro e reporte das


variações ocorridas no patrimônio (figura 1).

Yumara Vasconcelos..
Relatórios
Dados Processamento Informações
contábeis

Registros segundo Usuários


os princípios
contábeis.
Figura 1 – Fluxo das informações contábeis.

A aplicação do Princípio da Oportunidade assegura a confiabilidade das


informações relativas ao patrimônio da entidade em determinado período.
Os relatórios contábeis devem representar os eventos com fidedignidade.

Integridade e tempestividade são palavras-chave que evidenciam o sen-


tido deste princípio, por isso alguns autores o denominam de Princípio da
Universalidade. A expressão “integridade” se relaciona à necessidade do re-
conhecimento das variações em sua totalidade, sem excessos.

Representam aplicações do Princípio da Oportunidade o registro das pro-


visões contábeis e depreciação. O registro das operações deve ser feito ainda
que com base em estimativas. Vale ressaltar, porém, que o uso de estimativas
deve se basear em um fundamento aceitável.
A expressão “tempestividade” diz respeito ao momento do registro, os
quais devem ser feitos quando da ocorrência do fato gerador. Sem a tempes-
tividade, os relatórios seriam incompletos, insuficientes, comprometendo a
fidedignidade. As demonstrações seriam imprecisas e desatualizadas.

A não obediência ao Princípio da Oportunidade conduz a prognósticos e


reportes errados.

Princípio do Registro pelo Valor Original


Os componentes do patrimônio devem ser registrados com base nos valores
originais das transações com o mundo exterior à entidade, ou seja, a avaliação
do patrimônio de uma entidade deve ser realizada pelos valores de entrada.
Uma vez inserido no patrimônio, o bem, direito ou obrigação não poderá
ter seu valor modificado. O valor original será mantido enquanto o bem per-
manecer no patrimônio. A baixa desses ativos também deverá ser feita pelo
valor de entrada.
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Resolução 750/93
Seção IV
O Princípio do Registro pelo Valor Original

Art. 7º. O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do
patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações,
expressos em moeda nacional.

§ 1º. As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus distintos e


combinadas, ao longo do tempo, de diferentes formas:

I – Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em
caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para
adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos
que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores
em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no
curso normal das operações; e

II – Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os componentes


patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer variações decorrentes dos seguintes
fatores:

a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes


de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem
adquiridos na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são
reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que
seriam necessários para liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações
contábeis;

b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de


caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada. Os passivos
são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se
espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das
operações da Entidade;

c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro
de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das
operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do
fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo
no curso normal das operações da Entidade;

d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado,
entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e

e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional


devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão
formal dos valores dos componentes patrimoniais.

§ 2º. São resultantes da adoção da atualização monetária:

I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa unidade
constante em termos do poder aquisitivo;

II – para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais, é
necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que permaneçam
substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por consequência,
o do Patrimônio Líquido; e

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III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o ajustamento
dos valores originais para determinada data, mediante a aplicação de indexadores ou
outros elementos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda nacional em
um dado período. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)

O valor de entrada é a referência, sendo produto do consenso entre os


agentes externos e a entidade, independentemente da forma de negocia-
ção. O Princípio do Registro pelo Valor Original orienta que os lançamentos
contábeis devem ser feitos pelos valores da data em que a transação acon-
teceu, estabelecendo com isso a viga-mestra da avaliação patrimonial. Vale
ressaltar que nada impede que os valores registrados sejam atualizados. Atu-
alização não significa alteração do valor original, e sim, apenas um ajusta-
mento. O ajuste é adicionado ao saldo registrado, sem que os valores iniciais
sejam modificados.

Esse princípio oferece uma base unificada de avaliação, o que enseja na


comparabilidade de dados. No caso de doações, por exemplo, que também
é produto da relação com o mundo exterior, deve existir um valor de referên-
cia, que nada mais é do que o valor da coisa recebida. O princípio orienta ao
registro das transações em moeda nacional. Ao se expressar o valor dos com-
ponentes patrimoniais em moeda nacional, realizamos a homogeneização
quantitativa e qualitativa do registro do patrimônio e suas variações.

Princípio da Competência
Segundo o Princípio da Competência, as receitas e despesas devem ser
apuradas no período em que ocorrerem, independentemente do recebi-
mento ou desembolso.
Resolução 750/93
Seção VI
O Princípio da Competência

Art. 9º. O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros
eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do
recebimento ou pagamento.

Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação


de receitas e de despesas correlatas. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)

A Resolução 750/93 estabelece ainda que o reconhecimento das receitas


e despesas, se correlatas, deve ser simultâneo. As receitas são consideradas
realizadas nas seguintes situações:

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 nas transações com terceiros, quando efetuarem o pagamento ou as-


sumirem o compromisso de fazê-lo. Por exemplo: venda de mercado-
rias (a prazo/à vista), prestação de serviços;

 quando da extinção, parcial ou total, de um passivo sem o desapare-


cimento de um ativo de igual valor (perdão da dívida - anistia parcial
ou total, eliminação de um passivo em face do desaparecimento do
credor, perdão de multa fiscal);

 pela geração de novos ativos, independente da intenção de terceiros


(por exemplo, o nascimento de bezerros em uma organização de ati-
vidade pecuária);

 quando do recebimento de doações e subvenções.

As despesas representam, na maioria dos casos, o consumo de ativos ou


utilização dos serviços. Não representam necessariamente desembolso. As
despesas são consideradas incorridas nas seguintes situações:

 quando o valor do ativo deixa de existir, por transferência a terceiros;

 pela redução ou extinção do valor econômico de um ativo;

 pelo aparecimento de um passivo, sem o correspondente ativo.

Princípio da Prudência
O Princípio da Prudência determina a adoção do menor valor para os ele-
mentos do ativo e do maior valor para os componentes do passivo sempre
que existirem alternativas igualmente válidas para quantificar as variações
patrimoniais. Por exemplo, na hipótese de existência de diferentes formas
de cálculo de uma dívida (todas igualmente aceitáveis e razoáveis), deve-se
optar por aquela que produza maior valor.
Resolução 750/93
Seção VII
O Princípio da Prudência
Art. 10. O Princípio da Prudência determina a adoção do menor valor para os componentes
do ativo e do maior para os do passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente
válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio
líquido.

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Princípios de Contabilidade

Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau


de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas
condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados
e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade
ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais. (Redação
dada pela Resolução CFC nº. 1282/10)
Art. 11. A inobservância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade constitui infração
nas alíneas “c”, “d” e “e” do art. 27 do Decreto-Lei 9.295, de 27 de maio de 1946 e, quando
aplicável, ao Código de Ética Profissional do Contabilista. (Redação dada pela Resolução
CFC n.o 1287/10)

O cálculo das provisões redutoras do ativo são exemplos clássicos da apli-


cação do Princípio da Prudência. A aplicação do referido princípio, todavia,
não deve conduzir a excessos, muito menos, ser utilizada para manipular
dados ou resultados. O Princípio da Prudência confere à prática contábil,
uma abordagem mais conservadora e cuidadosa.

Estrutura conceitual da Contabilidade


Existem duas estruturas conceituais contábeis no Brasil. Uma delas, já
apresentada, é contemplada pela Resolução 750/93 (complementada pelas
Resoluções 774/94 e 900/2001). A outra é a Deliberação 29/86 da Comissão
de Valores Mobiliários – CVM.

A Deliberação 29/86 da CVM apresenta uma estrutura lógico-conceitual


distinta daquela comunicada pela Resolução 750/93. Segundo esta Delibe-
ração, o lastro da Contabilidade estrutura-se em postulados, princípios e
convenções. Os postulados representam o alicerce sobre o qual a prática
contábil se apoia ou sustenta.
Postulados são dogmas ou premissas que não precisam ser demonstrados, comprovados,
mas que há aceitação geral, sem nenhum questionamento. Em outras palavras, é a
exposição de uma verdade que não está sujeita a verificação. Por exemplo, se eu disser
que “o sol nasce todos os dias” não preciso demonstrar isso, pois é uma observação da
realidade. (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p. 98)

Os princípios oferecem diretrizes essenciais ao encadeamento do racio-


cínio contábil e possuem caráter amplo. As convenções possuem uma abor-
dagem mais específica e direcionada e, por essa razão, restringem a aplica-
ção dos princípios. O que a Deliberação 29/86 da CVM faz é hierarquizar as
orientações, como ilustra a figura 2.

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Yumara Vasconcelos..
Convenções

Princípios Princípios

Deliberação 29/1986
Resolução 750/ 1993
CVM

Princípios: entidade, continui-


Postulados: entidade contá-
dade, oportunidade, registro
bil e continuidade.
pelo valor original, competên-
Princípios: custo histórico, cias e prudência.
denominador comum mo-
netário, realização da receita,
confrontação da despesa.
Convenções: objetividade,
materialidade, consistência e
conservadorismo.

Figura 2 – Estruturas conceituais da contabilidade.

Existem diferenças entre as abordagens. A primeira diferença está na es-


trutura conceitual, especialmente no que se refere à hierarquização de prin-
cípios. A Deliberação da CVM hierarquiza os princípios enquanto que a Re-
solução do CFC trata os princípios da mesma forma. A Deliberação da CVM
contribui com a apresentação das convenções. O CFC esmiúça com grande
qualidade didática a matéria por meio das Resoluções 774/94 e 900/2001.
O quadro 1 apresenta uma analogia entre o teor da Resolução 750/93 e
Deliberação 29/86.

Deliberação 29/86 – CVM Resolução 750/93 – CFC (VASCONCELOS, 2009. Adaptado.)

Postulado da Entidade Princípio da Entidade


Postulado da Continuidade Princípio da Continuidade
- Princípio da Oportunidade
Princípio do Custo como Base de Valor Princípio do Registro pelo Valor Original1
Princípio da Realização da Receita e de Con-
fronto das Receitas e Despesas (correspon- Princípio da Competência
dência em conjunto)
Princípio do denominador comum monetário2 –
Convenção do Conservadorismo Princípio da Prudência
1
O Princípio do Registro pelo Valor Original orienta ao uso da moeda do país na tradução do valor dos componentes patrimoniais.

2
Segundo o Princípio do Denominador Comum Monetário os relatórios contábeis, sem prejuízo dos registros detalhados de natureza quali-
tativa e física, devem ser expressos em termos de moeda nacional de poder aquisitivo da data do último Balanço Patrimonial.

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Princípios de Contabilidade

Iudícibus e Marion (p. 97, 2002) fazem uma analogia interessante do


ponto de vista didático, destacando o alicerce (fundação, colunas) como
sendo os postulados, as paredes como princípios e o telhado como sendo
as convenções.

(IUDÍCIBUS; MARION, 2002. Adaptado.)


Convenções

Princípios

Postulados: da entidade
contábil e da continui-
dade
Lastro conceitual da Contabilidade.

Uma contribuição importante da Deliberação é a apresentação das con-


venções. As convenções são fundamentais para fins de aplicação dos princí-
pios. Iudícibus e Marion (2002, p. 121) asseveram “se os princípios norteiam
a direção a seguir e, às vezes, os vários caminhos paralelos que podem ser
empreendidos, as restrições, à luz de cada situação, nos darão as instruções
finais para a escolha do percurso definitivo.”

São quatro as convenções contábeis:

 objetividade;

 consistência;

 materialidade;

 conservadorismo.

Convenção da Objetividade
Para evitar confusão na interpretação dos dados ou mesmo distorções
na comunicação das informações contábeis, o contador deverá empregar

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Princípios de Contabilidade

sempre critérios e métodos objetivos para a transcrição dos eventos contá-


beis. Uma consequência dessa orientação é que os lançamentos contábeis
devem ter suporte, lastro, sempre que possível ou basear-se em critérios
científicos de avaliação ou mensuração. A documentação gerada em uma
transação é essencial para a verificabilidade e rastreamento dos eventos
constituindo, portanto, evidência da ocorrência da transação.
Objetividade: utilização de critérios de reconhecimento e de mensuração rastreáveis; isto
é, que possam ser verificados por terceiros. Registro de informações objetivas que podem
ser mensuráveis quantitativamente, a partir de documento hábil (nota fiscal) ou de critério
científico de mensuração (cálculo atuarial). (SZUSTER et al, 2007, p. 64)

O laudo é um documento produzido por especialistas, o que confere


objetividade e independência à abordagem contábil. Idem para os cálculos
atuariais. As empresas de seguros provisionam alguns valores baseados na
aplicação de métodos estatísticos.

O profissional de Contabilidade deve manter a neutralidade e indepen-


dência no reporte das informações que divulgam. Quanto maior a objetivi-
dade, mais imparcial será o trabalho. É a objetividade que permite o rastrea-
mento de dados, recálculos e a verificação, fator de segurança.

Convenção da Materialidade
A Convenção da Materialidade evita o desperdício de tempo. O conceito
de materialidade relaciona-se à representatividade, significado do valor em
relação ao todo, e associa-se à relação custo-benefício. Esse valor é significa-
tivo em relação ao total? É expressivo? Vale a pena comprometer o tempo
evidenciando a informação se ela é inexpressiva? A convenção orienta que
é preciso analisar o que é, de fato, relevante para informar ao usuário da in-
formação contábil.

Existem informações cujo custo de evidenciação (ônus da divulgação) é


superior ao benefício proporcionado pela comunicação da informação.

Como consequência desta convenção, valores pouco expressivos, ou seja,


irrisórios em relação ao todo desobrigam a um tratamento contábil mais
rígido, o que não ocorrerá tratando-se de valores materiais. Iudícibus et al
(2007, p. 48) afirmam: “Não existe um sentido absoluto de materialidade, nem
é possível fixar critérios numéricos precisos em cada caso, para estabelecer
a materialidade ou não de uma cifra.” Complementam ainda que “assim, do
ponto de vista do usuário da informação contábil, é material a informação ou

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cifra que, se não evidenciada ou mal evidenciada, poderia levá-lo a sério erro
sobre a avaliação do empreendimento e de suas tendências.” (IUDÍCIBUS et al,
2007, p. 48)

É material a importância ou procedimento que, se não processado pelo


sistema de informações contábeis, influencia significativamente a qualidade
da informação prestada e confiabilidade desse sistema. Assim, a Convenção
da Materialidade orienta que “(...) para que não haja desperdícios de tempo
e dinheiro, só devem ser levados em consideração eventos dignos de aten-
ção, por gerarem impacto efetivo na decisão – ou seja, pelo valor envolvido.”
(SZUSTER et al, 2007, p. 5)

A aplicação da convenção diz respeito, por exemplo, à importância de


determinado valor e ao grau de rigidez na aplicação de determinado proce-
dimento contábil. Quanto maior o impacto da informação sobre o juízo de
valor do usuário no que se refere a desempenho, maior sua materialidade.

Convenção da Consistência
Os critérios contábeis devem ser consistentes. Desta maneira, uma vez
adotado, não deverá ser modificado de um período para outro, tampouco
constantemente. Quando critérios e métodos são modificados constante-
mente, perde-se a referência, afetando, portanto, a comparabilidade dos re-
latórios contábeis de períodos distintos.

A necessidade da consistência não significa, porém, inflexibilidade ou


ainda, que os critérios não possam ser modificados em qualquer hipótese. Se
condições supervenientes induzirem à mudança, esta deverá ser feita. Deve-
-se recorrer à análise de cada situação. Constatando-se que a mudança de
método ou critério é necessária e/ou relevante, esta deverá ser comunicada
por meio de notas explicativas ao usuário da informação contábil, enfati-
zando suas implicações. O recurso de destacar informações não financeiras
por meio de notas elucidativas contribui para a qualidade da comunicação
contábil. Mudanças contínuas dificultam a comparabilidade. A mudança
deve comunicar algum tipo de benefício. Vejamos um exemplo: a empresa
Alfa utilizava a média simples para cálculo da provisão para créditos de li-
quidação duvidosa. Após verificar as distorções em relação aos valores reais
apurados como perda, resolveu utilizar instrumentos estatísticos mais refi-
nados para cálculo (apesar de tratar-se de uma despesa não dedutível para
fins de apuração do imposto de renda). A mudança aproximou o saldo da

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provisão à realidade da inadimplência da entidade.

A demonstração deve ensejar clareza para a compreensão adequada por


parte do usuário da informação. Quando relatórios são elaborados adotando-
-se critérios diferentes, o usuário perde referência e comparabilidade. Esse é o
principal motivo à manutenção da consistência e uniformidade. Vale lembrar
que algumas mudanças são compulsórias, sendo, portanto, obrigatórias.

A consistência traz benefícios inequívocos, um dos quais é ensejar a


uniformidade.
Todavia, é preciso destacar que a uniformidade não é consistência, sendo esta um
conceito básico enquanto aquele não. A uniformidade está mais no terreno legal do que
no científico. Na realidade, a consistência refere-se ao contexto temporal, no âmbito da
própria empresa, enquanto que a uniformidade abrange relatórios estruturados dentro
das mesmas normas legais, em empresas distintas. (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p. 123)

A consistência orienta à manutenção dos métodos e critérios ao longo do


tempo e seu propósito é assegurar a comparabilidade e análise qualificada
dos dados. Mudanças contínuas comprometem a avaliação patrimonial. A
uniformidade é consequência da consistência, posto que se refere à obser-
vância das mesmas regras para preparo dos relatórios. Ou seja, a consistên-
cia leva à uniformidade.

A entidade deverá manter tratamentos contábeis equânimes ao longo do


tempo para assegurar a comparabilidade, entretanto, se a alteração for de fato
necessária e relevante, deverá ser informada aos usuários.

Convenção do Conservadorismo
A Convenção do Conservadorismo orienta a adoção de uma posição mais
conservadora por parte do contador, o qual jamais deverá antecipar ganhos.
Szuster (2007, p. 65) assevera “Conservadorismo: sempre que existirem dois
ou mais valores igualmente válidos para um item do ativo, deverá ser regis-
trado o menor; e o maior quando referente a um passivo.”

A Convenção do Conservadorismo evita a manipulação de dados no sen-


tido de iludir o usuário com otimismo não fundamentado. Esta convenção
dá suporte ao julgamento dos eventos contábeis, orientando à escolha da
menor das avaliações para o ativo e a maior para o passivo.

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Acompanhe o exemplo: suponha que determinada empresa possua duas


previsões sobre as perdas com crédito (devedores duvidosos). O contador,
deparando-se com esses dois valores deverá optar por aquele que conduza
o ativo a um menor valor final.

O entendimento desta convenção não deve ser confundido com a mani-


pulação de dados. Na verdade, a convenção inibe o entusiasmo no processo
de valoração por parte dos gestores e proprietários.

Normas contábeis no Brasil


A emissão de normas contábeis no Brasil tem como base a legislação so-
cietária, que disciplina o reconhecimento, mensuração e evidenciação dos
dados contábeis, orquestrando o processo contábil na geração de infor-
mações. A Lei 6.404/76 confere poderes à CVM para realizar normatização
adicional ou complementar para as empresas de capital aberto (entidades
que emitem valores mobiliários os quais são vendidos por meio de oferta
pública).

Outros órgãos também emitem normas, de caráter mais abrangente:

 IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil.

 CFC – Conselho Federal de Contabilidade.

 BACEN – Banco Central do Brasil (orientações específicas para as insti-


tuições financeiras).

 SUSEP – Superintendência de Seguros Privados (orientações específi-


cas para as companhias de seguros).

 ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar (orientações específi-


cas às entidades operadoras de planos de saúde).

 CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis (cujo papel é centralizar


as normas contábeis no país. Para tanto, é formada por diferentes ór-
gãos: CFC, IBRACON, FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contá-
beis, Atuariais e Financeiras da FEA/USP), BOVESPA (Bolsa de Valores de
São Paulo), ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas)
e APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos).)

Cabe à CVM disciplinar, normatizar e fiscalizar a prática no mercado


de valores mobiliários, julgando e punindo eventuais constatações de
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irregularidade.

O IBRACON discute, desenvolve e aprimora questões técnicas e éticas re-


lativas à profissão do auditor e contador. Auxilia ainda no trabalho de propa-
gação das normas, para que os profissionais as conheçam e as apliquem de
modo apropriado. A entidade atua junto à CVM na Comissão Consultiva de
Normas Contábeis.

O IBRACON pode emitir um pronunciamento e submeter à CVM para


aprovação, a fim de que o teor do pronunciamento não fique restrito às em-
presas de Auditoria Independentes, mas sim, alcance todas as companhias
abertas. Com isso, o procedimento tem sua aplicação ampliada.

O CFC corresponde a uma autarquia especial de caráter corporativo, sem


qualquer vinculação com a Administração Pública Federal. Seu propósito é
orientar, normatizar e fiscalizar o exercício da profissão contábil por meio da
atuação dos Conselhos Regionais de Contabilidade – CRCs.

Ampliando seus conhecimentos

A origem dos princípios contábeis


(VASCONCELOS, 2009)

As primeiras pesquisas relacionadas aos princípios contábeis, especificamente


sua formulação, aconteceram nos Estados Unidos. A preocupação com a necessi-
dade de elaborar princípios data a década de 1930. A ideia era desenvolver guias
de orientação para a prática dos registros contábeis e preparo das respectivas
demonstrações. Embora os autores europeus (destaque-se os italianos) tenham
contribuído significativamente para o desenvolvimento da Ciência Contábil, a
prática carecia de princípios norteadores. Franco (1988, p. 29) justifica:
Isso se explica pela falta de pragmatismo dos italianos da chamada era doutrinária
da Contabilidade, excessivamente preocupados com a discussão de conceitos
subjetivos, sem aplicação prática, que embora tivessem contribuído de forma
magistral para a teoria contábil, não fixaram regras práticas que servissem de guias
para os registros contábeis e de parâmetros para verificar-se, de forma objetiva, se
tais registros eram executados de forma harmônica e uniforme em qualquer registro
contábil, independente de circunstâncias, localização ou pontos de vistas pessoais.

O autor complementa sua constatação afirmando que esse desenvolvi-


mento assimétrico se deu porque a profissão contábil não se desenvolveu na
Itália da mesma maneira ou na mesma proporção do desenvolvimento dou-

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trinário. Já os norte-americanos imprimiram ao desenvolvimento da profissão


um enfoque pragmático. Ressalte-se ainda que os contextos, italiano e norte-
-americano, eram distintos (realidades, preocupações e enfoques diferentes).
Os norte-americanos, ao contrário, em virtude de seu pragmatismo e do excepcional
desenvolvimento de sua economia, que transformou a profissão contábil em uma
das mais importantes do mundo, procuraram assentar a doutrina contábil em
postulados e princípios que servissem de base para a fixação de normas contábeis
que conduzissem à formulação de guias ordenadoras dos registros contábeis e das
demonstrações contábeis, de forma a tornar o exercício da profissão mais harmônico
e a Contabilidade mais útil, eficiente, uniforme e informativa. (FRANCO, 1988, p. 29)

Os princípios cumpririam o papel de dar uma orientação objetiva à pro-


fissão. Um evento corroborou de forma expressiva para a intensidade do
desenvolvimento da profissão nos EUA: o desastre da Bolsa de Nova Iorque
em 1929. A partir deste evento, os contadores passaram a ser mais cobrados,
ou seja, exigidos em sua atividade. O trabalho realizado pelos profissionais
ganhou maior reconhecimento, relevo. Esse destaque decorreu também do
acordo entre o Instituto Americano de Contadores e a Bolsa de Valores, para a
fixação de normas para a profissão. A crise de 1929, apesar da repercussão, foi
um marco de valorização da profissão contábil.

A Contabilidade brasileira, ao longo dos anos, teve influência expressiva da


Escola Europeia. O desenvolvimento da profissão até a Segunda Guerra Mun-
dial foi pouco significativo, mesmo porque as empresas estrangeiras traziam
seus próprios contadores. Com o passar dos anos e expansão da Economia,
esse quadro foi se modificando e a profissão contábil no Brasil teve desenvol-
vimento mais expressivo.

Atividades de aplicação
1. Assinale com V (Verdadeiro) ou F (Falso).

(( Uma entidade corresponde a qualquer pessoa física, grupo


de pessoas, pessoa jurídica ou grupos de sociedade que
desenvolvam atividades sociais ou econômicas.
(( O registro contábil de transações entre empresas do mesmo
grupo econômico não precisa ser feito, uma vez que trata-se de
uma entidade consolidada.
(( O fato de um acionista conceder empréstimo à entidade da
qual faz parte não precisa ser registrado pelo fato de não ferir ao
Princípio da Entidade.
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(( O cálculo das provisões redutoras do ativo são exemplos


clássicos da aplicação do Princípio da Prudência.
(( A existência de duas entidades controladas por uma outra não
afeta a aplicação do Princípio da Entidade, pois a autonomia
patrimonial é mantida.
(( O Princípio da Prudência determina a adoção do maior valor para
os elementos do ativo e do menor valor para os componentes
do passivo sempre que existirem alternativas igualmente válidas
para quantificar as variações patrimoniais.
2. Qual a diferença entre consistência e uniformidade?

3. Existem diferenças entre a Deliberação 29t/86 da Comissão de Valores


Mobiliários (CVM) e a Resolução 750/93 do Conselho Federal de Con-
tabilidade (CFC)?

Gabarito
1. V, F, F, V, V, F

2. A consistência diz respeito à manutenção dos métodos e critérios ao


longo do tempo, a fim de assegurar comparabilidade e análise qua-
lificada dos dados. A uniformidade é consequência da consistência,
posto que se refere à observância das mesmas regras para preparo dos
relatórios.

3. Sim. A primeira diferença está na estrutura conceitual, especialmente


no que se refere à hierarquização de princípios. A Deliberação da CVM
hierarquiza os princípios, enquanto que a Resolução do CFC trata os
princípios da mesma forma. A Deliberação da CVM contribui com a
apresentação das convenções. Já o CFC esmiúça com grande qualida-
de didática a matéria por meio das Resoluções 774/94 e 900/2001.

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