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Ijuí
2010
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Ijuí
2010
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A professora Drª. Cátia Maria Nehring, que, com seus conhecimentos e sua
competência, aceitou o desafio de orientar
a presente investigação, com suas intervenções pontuais e significativas.
RESUMO
ABSTRACT
The central focus of this research is the learning of mathematics in Education Infantil, in
special, the meaning of mathematical concepts in different times and spaces of the school.
The purpose of this research is to seek understanding of how the process is the conceptual
meaning for children, taking into consideration that this learning can occur at different times
and spaces, as the times for the projects, the learning situations involving mathematics, the
learning situations involving mathematics, the teaching spaces of the kitchen, the studio, the
classroom, among others. The discussions are established based on the analysis of cuttings
episodes recorded and teaching materials, records of students, between 4 and 5 years for me
during classes taught in a class of early childhood education in a school inside the RS, which
has spaces of different teaching and learning, not just the classroom. To understand and
analyze the mathematical concepts addressed, we used empirical data and theoretical
frameworks based on Vygotsky, his followers and also the authors of the teaching of
mathematics, establishing, in the process of planning and analysis, a close dialogue empirical-
theory. In the analysis carried out shows the preposition situations didactic teaching
contextualized view the significance of mathematical concepts, the relations between the
teachers and the group of students to produce significant learning; ownership (or not) of
mathematical concepts by students and relevance to propose learning situations in different
times and spaces, in the process of learning mathematics.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
INTRODUÇÃO
Esta investigação teve como objetivo buscar entendimentos de como ocorre o processo
de significação conceitual, nos diferentes tempos e espaços da escola infantil, envolvendo
minha prática docente e crianças de quatro e cinco anos de uma escola do município de Santo
Ângelo. Evidencia-se a proposição de situações didático-pedagógicas contextualizadas
visando produzir aprendizagens significativas e analisar a apropriação (ou não) dos conceitos
matemáticos pelos alunos.
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CAPÍTULO 1
O PERCURSO DA PESQUISA, A ESCOLA E OS SUJEITOS ENVOLVIDOS
Durante os três anos do Curso Magistério a sensação de angústia era constante, pois
sempre queríamos que os professores nos dessem “receitas prontas” e isso não acontecia.
Tínhamos muitas dúvidas e pouco referencial teórico para nos basearmos. A professora de
Didática da Matemática com sua calma, repetia como se usava o cartaz de pregas, o
agrupamento das unidades, dezenas e centenas. Também surgem lembranças, da organização
de uma caixa de contagem, repleta de materiais concretos que reunimos durante todo curso,
mesmo não sabendo claramente como poderíamos utilizá-la com nossos futuros alunos.
Durante o curso, como monitora, substitui a professora titular por várias vezes.
Cabe aqui, ainda, refletirmos sobre a trajetória profissional na escola em que atuo.
Voltando no tempo, quando concluí o Curso Magistério, fui convidada para assumir uma
turma na pré-escola. A escola passava por uma crise financeira, com redução do número de
alunos e precisava de mudanças pedagógicas para tentar sobreviver. Aceitei o desafio de
participar desse processo e assim inicio minha história como docente nessa escola.
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Em relação a pesquisa desenvolvida no curso de pós-graduação citada anteriormente.
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Minha prática pedagógica passou por transformações quando participei de cursos com
a professora Ana Cristina Rangel2. Li seus livros e então, juntamente com outras colegas,
começamos a desenvolver com os alunos o que chamávamos “projetos historiados”. A partir
de uma história previamente escolhida pela professora desenvolvíamos um projeto
envolvendo jogos matemáticos. Trocávamos ideias com outros colegas que se interessavam
pelo assunto e confeccionávamos diferentes materiais.
Claro que eram mudanças tímidas, não conseguíamos que um “projeto” durasse mais
que quinze ou vinte dias e as questões para pesquisa geralmente eram selecionadas pelo
professor. Esta experiência fez com que eu saísse de uma posição passiva, de repetir as
mesmas atividades todos os anos, de não considerar os sujeitos envolvidos e iniciasse o
processo de reflexão sobre minha prática pedagógica. A partir desta proposição, surgiram
outras reflexões e reformulações em minha prática docente e também na escola.
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Educadora na área da Didática da Matemática.
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Tardif (2002) considera esses saberes que brotam da experiência, ou seja, do trabalho
cotidiano, como saberes experienciais. São saberes específicos, práticos, que aparecem na
forma de habilidades, de saber-fazer e saber-ser. Esses saberes são necessários à prática
docente, pois dão condições ao professor para enfrentar os desafios da profissão, mas, em
contrapartida, não podemos deixar de considerar a necessária inter-relação com os outros
saberes.
Para que essa pesquisa se efetivasse tornou-se necessário negociar com a escola a
possibilidade de pesquisar com uma turma de alunos. No item seguinte, apresentaremos essa
escola e a sua proposta pedagógica, ou seja, o espaço em que foi realizada a pesquisa
empírica.
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Essa proposta metodológica será descrita no decorrer do texto.
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chegou pelo olhar do professor, a mediação das educadoras, do espaço e dos objetos
envolvidos nas situações de aprendizagens. A documentação pedagógica não é apenas uma
mera coleta de dados, ou um relato descritivo, mas se constitui numa observação aguçada,
através de uma escuta atenta das educadoras para que seja possível a partir de uma prática
reflexiva e crítica, a teorização dessas informações, levando o professor a repensar sobre sua
ação e organizar novas ações.
Quanto ao espaço físico, a escola coloca à disposição dos alunos da Educação Infantil
espaços dinâmicos, flexíveis e ricos em provocação e desafios para os sujeitos envolvidos.
Fazem parte desses espaços: três salas de referência4; brinquedoteca; praça coberta; parque
infantil; ginásio de esportes; biblioteca infantil; sala de vídeo; sala dos peixes; sala de
espelhos para atividades lúdicas e dança; cozinha pedagógica e ateliê.
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Nome dado a sala onde os alunos são recebidos, realizam atividades e retornam após circularem por outros
espaços.
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sintética e emborrachado, casinha, motocas, cama elástica, canto para construções, caixa de
areia azul, casa de bonecas, mesas para atividades externas, plantas, flores, pedra e troncos de
madeira como elementos da natureza.
O parque infantil conta com brinquedos como balanços, casinhas para atividades
motoras como subir, descer, escorregar e um quiosque. No ginásio, acontecem as aulas de
Educação Física, incluindo a Educação Infantil. Neste local também temos uma sala com
espelhos para dança e atividades recreativas.
A biblioteca infantil é outro espaço físico da escola com uma diversidade de livros e
autores e em anexo uma sala com computador e mesas que utilizamos para pesquisa durante
os projetos. A sala de vídeo fica no segundo piso e conta com materiais multimídia. No
corredor do primeiro piso temos também um recanto com aquário e tapetes para atividades
lúdicas ou dirigidas.
O espaço da cozinha é organizado com mesas grandes e baixas, mesa para servir o
lanche, demais eletrodomésticos e utensílios de cozinha, duas pias uma para os adultos e outra
mais baixa para as crianças lavarem louça, frutas. Em anexo à cozinha, fica o ateliê, com
armários para guardar os materiais disponíveis, mesas grandes e tanque para lavar as mãos.
Até a década de oitenta a Educação Infantil era vista como um lugar para cuidar das
crianças, da higiene, saúde, alimentação, para que as mães pudessem trabalhar e ter onde
deixar seus filhos. Mas com o aumento da demanda de crianças a serem atendidas nessa faixa
etária, as autoridades e educadores começaram a demonstrar maior preocupação com essa fase
da escolarização, foram criadas leis para dar conta disso: a Constituição de 1988, o Estatuto
da Criança e do Adolescente de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996.
A partir daí, a Educação Infantil não é mais entendida somente como um lugar para a
criança ser cuidada e passar momentos agradáveis. O desafio é justamente identificar,
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Podemos exemplificar com a fala de uma aluna N (5anos) do grupo 3 que ao entrar na
cozinha pedagógica questionou a professora porque era cozinha pedagógica e não apenas
cozinha como na sua casa. A professora mediou a discussão levando a aluna a refletir que esta
cozinha era diferente por ser um espaço de aprendizagem e não apenas um lugar para preparar
os alimentos.
Marques (1993 apud Callai, 2005, p.231-232) defende a idéia de um currículo onde
ocorre “a interligação de todos os componentes curriculares” e afirma que
... no nível de ensino em que a criança esta processando sua alfabetização, o ideal
seria que houvesse uma unidade em que se supere a fragmentação das disciplinas
(...) não apenas uma justaposição de disciplinas enclausuradas em si mesma, mas de
uma maneira que, em cada uma se impliquem as demais regiões do saber.
Acreditamos que a Educação infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental fazem
parte desse nível de ensino em que as crianças estão iniciando sua alfabetização em todas as
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áreas do conhecimento e, além disso, a Educação Infantil apresenta-se, cada vez mais, como
responsável pela formação desses cidadãos, de acordo com a cultura e os ideais de cada grupo
social e de cada época. Sabe-se que no decorrer da história, assim como a Educação Infantil, a
maneira como o sujeito infantil é concebido também mudou. Para Zabalza (1998), a criança
de hoje é considerada como um sujeito social, participante de uma infância reencontrada,
legitimando a criança como figura social e como sujeito de seus direitos.
É uma criança que possui grande voracidade “cognitiva", que saboreia uma
descoberta após a outra e que escolhe sozinha seus próprios itinerários formativos,
suas próprias trilhas culturais, livre de elos que impediam seu crescimento. É uma
criança que sabe observar o mundo que a cerca e que sabe perscrutar e sonhar com
horizontes longínquos. É uma criança que sai do mito e da fábula porque sabe olhar
e sabe pensar com a sua própria cabeça. (ZABALZA, 1998, p.69).
As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que
pensam e sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que
estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são mais próximas e com o meio
que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que
vivem (...) (BRASIL, 1998, p.21).
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Utilizamos o Referencial, por ser o documento oficial para a Educação Infantil no momento, embora sabemos
que data de 1998 e que está sendo discutida sua reformulação. Acreditamos que cabe ao professor fazer leituras
atualizadas e se posicionar quanto ao que está escrito.
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Podemos ressaltar que a imagem que a escola e cada cultura tem da criança é um
ponto fundamental para compreendermos como ela aprende e significa seu conhecimento,
como sujeito único e capaz, como afirmam Gandini e Edwards6:
(...) a nossa imagem é a de uma criança que é competente, ativa e crítica, ou seja,
uma criança que, por momentos, pode ser vista como um desafio e, às vezes, como
um problema. De qualquer modo, essa criança não é fácil. Essa criança é uma
pessoa, um sujeito na vida. Essa criança produz mudanças no sistema em que está
inserida, tanto no sistema familiar, quanto no sistema social... Para nós, a criança é
um produtor de cultura, valores e direitos, competente na aprendizagem e
competente na comunicação (...).(2002, p.07)
Estes autores enfatizam a idéia de crianças fortes, poderosas, sujeitos únicos, com
direitos e deveres, com potencialidades, plasticidade, desejo de crescer e de interagir. E é essa
imagem de criança que nós educadores precisamos projetar em nossos alunos para
conseguirmos mudanças na educação. A partir dessa imagem de criança também precisamos
defender a idéia de um currículo interdisciplinar, onde o processo de ensino e aprendizagem é
visto como um todo globalizado e não como um ensino fragmentado, através de disciplinas
estanques.
Uma tal educação permite viver a infância como novidade, como experiência, como
descontinuidade, como multiplicidade, como desequilíbrio, como busca de outros
territórios, como história sempre nascente, como devir, como possibilidade de
pensar o que não se pensa e de ser o que não se é, de estar em outro mundo daquele
no qual se está. Se há algo a se preparar por meio da educação é o não deixar a
infância, a experiência (KOHAN, 2003, p.248).
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Referindo-se a concepção de criança nas escolas italianas de Reggio Emilia.
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Segundo o PPP da escola (2007, p.5), a infância envolve as relações das crianças e
suas culturas num processo dialético e complexo. Por isso, falar de infância envolve um
campo temático de natureza interdisciplinar, que pressupõe questionamentos quanto a quem
são afinal as crianças: como são vistas e que expressões culturais são próprias das crianças.
Essas questões nos colocam para olhar a infância a partir das desconstruções das
representações sobre a infância, o que exige o reconhecimento do contexto sócio-cultural a
partir do qual se expressa um conjunto de preocupações acerca da infância, associando o
cuidar e o educar como princípio.
Dessa forma, pode-se afirmar que a Educação Infantil precisa entender essa criança
como um sujeito que tem voz, que está sempre ressignificando o que está ao seu redor.
Compreender também que cada sujeito tem suas singularidades e é um ser em constante
interação com adultos e crianças que o rodeiam. Esse é o sujeito da Educação Infantil hoje.
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Neste item e no item anterior situamos a escola, os sujeitos e a Educação Infantil a que
nos referimos na pesquisa. Precisaremos compreender agora os conceitos de tempo e espaço e
descrever os tempos e espaços da escola que estão mais intimamente relacionados com a
pesquisa e como os sujeitos interagem nestes espaços, pois os tempos e espaços da escola são
questões centrais em nossa pesquisa.
Zabalza (1998) sugere que, para nos referirmos ao espaço, podemos utilizar dois
termos: espaço e ambiente. Espaço, para a referência ao espaço físico e ambiente para o
conjunto formado pelo espaço físico e as relações que se estabelecem entre as crianças,
adultos e pessoas envolvidas e este ambiente apresenta quatro dimensões: física, funcional,
temporal e relacional.
Callai (2005) considera que o ambiente é formado pelo espaço construído, ou seja,
espaço material, concreto e pelo espaço social, onde as relações sociais se configuram,
colocando limitações ou possibilidades a criança. Para a autora a criança vai “ampliando e
7
No dicionário Ruth Rocha (2000, p.249).
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Battini (apud ZABALZA, 1998, p.230) afirma que “(...) estamos acostumados a
considerar o espaço como um volume, uma caixa que poderíamos até encher. No entanto, (...)
é necessário entender o espaço como um espaço de vida, no qual a vida acontece e se
desenvolve: é um conjunto completo”.
Barbosa (2006) considera que os dois termos, espaço e ambiente, são inseparáveis,
pois espaço não existe isolado do ambiente. O ambiente é um espaço que se define nas
relações com os seres humanos, organizado pelas pessoas responsáveis pelo seu
funcionamento e pelos usuários, no caso as próprias crianças.
Maia e Alves (2009), também consideram que “os lugares são diferenciados não
somente por seu ambiente físico (espaço absoluto), mas também pelas diferentes respostas
humanas (espaço relativo e relacional) às oportunidades e limitações apresentadas pelos
ambientes”. Dessa forma, para os autores, o conceito de espaço é considerado como uma
trialética entre os espaços absoluto, relativo e relacional. O espaço absoluto é compreendido
como uma localização onde existem objetos materiais, o espaço relativo é a dimensão móvel
do espaço absoluto, a relação dos objetos dentro de um espaço e o espaço relacional são as
interrelações que acontecem entre os objetos e os agentes sociais que constroem o espaço.
Assim, podemos afirmar que no meio escolar, quando nos referimos ao termo
“espaço” não estamos nos referindo apenas ao meio físico e material, mas também às
interações que se produzem nesse meio. Como nossa pesquisa situa-se na escola, estaremos
nos referindo ao espaço com este sentido e enfatizando os espaços explorados na Educação
Infantil.
infantis, pois é nesse cenário que o processo de ensino e aprendizagem acontece. Dessa forma,
o espaço poderá ser desafiador, se for organizado pensando no desenvolvimento e na
aprendizagem das crianças.
Entendemos que os conceitos são significados pelas crianças a partir das experiências
proporcionadas pelas interações no ambiente, nos diferentes tempos e espaços, com os outros
sujeitos, sejam elas crianças ou adultos. O ambiente é um mediador cultural na formação
cognitiva e motora das crianças, pois é na escola infantil que se formam as estruturas mentais
básicas, é também onde a maioria das crianças passam uma jornada diária durante vários anos
de suas vidas.
Pensando nisso, é imprescindível que a criança esteja num espaço desafiador, onde ela
possa interagir com ele, desempenhando diferentes papéis e uma rede de relações. Por isso, “É
necessário que a mediação humana se interponha entre o indivíduo e o meio físico, e isso
ocorre através das pessoas, dos grupos e de todas as relações culturais” (HORN, 2004, p.17).
O espaço reflete a cultura das pessoas que nele vivem. A interação social nos
diferentes espaços é vista como essencial para a aprendizagem e constituição do sujeito, como
afirma Edwards et al (1999, p.151):
O espaço nunca é neutro, ele poderá ser estimulante ou limitador das aprendizagens,
dependendo de como for organizado, sendo considerado um sistema vivo e em constante
transformação e como afirma Zabalza (1998, p.237): (...) já não é o lugar onde se trabalha,
nem tampouco é somente um elemento facilitador, mas constitui um fator de aprendizagem.
O espaço escolar também não é somente o de sala de aula, mas todos os ambientes que
compõem a escola: espaços internos e externos, espaços para brincar, para comer, para
explorar as múltiplas linguagens. Uma criança permanece por horas na escola infantil e a
organização de diferentes espaços pode ser fundamental para que as aprendizagens não
ocorram de forma estática, ou seja, as situações de aprendizagens sejam vistas como um
processo ativo onde as crianças possam explorar, experimentar, fazer descobertas.
Outra questão a ser abordada com relação ao espaço é que esse precisa ser organizado
de acordo com as atividades que serão nele desenvolvidas, com os interesses das crianças que
são os sujeitos que estarão nesse espaço ou com o projeto que foi escolhido pelo grupo. O
espaço do ateliê visa desenvolver as diferentes linguagens das artes plásticas, por exemplo, e
precisa ser organizado de forma que se torne um cenário estimulante, que convide a criança a
descobrir, a aprender.
Quanto à definição de tempo podemos dizer que é uma sequência de momentos, como
o tempo destinado para cada atividade, como cada uma das partes da rotina diária
desenvolvida na Educação Infantil. Para maior compreensão podemos citar alguns exemplos:
o tempo das brincadeiras livres, de brincar no pátio, da assembléia para organizar e decidir as
atividades do dia com as crianças, das pesquisas e atividades com projetos, de trabalhar no
espaço do ateliê ou na cozinha pedagógica, do registro das atividades propostas, da história
entre outros.
estamos falando não seja o tempo cronológico, mas um tempo lógico, uma seqüência
temporal de atividades que serão desenvolvidas, para que a criança comece a diferenciar o seu
tempo interior do exterior, a diferenciar os momentos de uma tarde de aula, construindo
hábitos coletivos com os colegas e adultos.
Para finalizarmos esta discussão, podemos afirmar que os espaços e tempos das
diferentes atividades estão intimamente relacionados. O tempo de uma situação de
aprendizagem está ligado ao espaço onde se realiza e a organização do espaço precisa ser
coerente com a organização do tempo.
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Significado que a criança atribui ao tempo.
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Considerando que a coleta de dados empíricos para a pesquisa ocorreu nos tempos e
espaços da Educação Infantil do Colégio Sepé Tiaraju, falaremos sobre os tempos e espaços
da escola que serão abordados com mais ênfase nessa pesquisa. Iniciaremos trazendo as
aprendizagens por projetos, como proposta metodológica da escola, desencadeando situações
de aprendizagem em outros espaços, como no ateliê e na cozinha pedagógica9.
Entendemos os projetos como uma espécie de aventura com valor educativo, que
implica pesquisas, manipulação de objetos e excursões em locais da comunidade. As
aprendizagens são ativadas pelo professor que também se coloca como aprendiz, buscando
solucionar um problema. É um método de investigação visando à significação e
contextualização das aprendizagens.
Nas aprendizagens por projetos, o assunto para o projeto pode surgir com a escuta do
professor, que tem a intencionalidade de, durante as atividades do cotidiano, (brincadeiras,
conversas informais com os educandos, na cozinha pedagógica, nos espaços externos da
9
Para o Colégio Cenecista Sepé Tiaraju a cozinha pedagógica e o ateliê são espaços significativos para as
aprendizagens na Educação Infantil.
10
Dicionário Ruth Rocha (2000, p.499).
11
Termo baseado nos estudos de D’AGORD, Marta Regina. Processos inconscientes em situações
construtivistas de aprendizagem por projetos. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia, UFRGS, 2000.
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escola) perceber o interesse do grupo. O assunto pode ser decidido também em votações (no
caso de surgir mais de um problema para ser investigado) ou por decisão do grupo em
assembléia.
Um projeto (...) pode iniciar através de uma sugestão de um adulto, da idéia de uma
criança ou a partir de um evento, como uma nevasca ou qualquer coisa inesperada.
Contudo cada projeto está baseado na atenção dos educadores àquilo que as crianças
dizem e fazem (RINALDI, apud EDWARDS, 1999, p.119).
A partir da temática escolhida pelo grupo, são formuladas as hipóteses e questões para
pesquisa que são organizadas pelos professores, selecionadas as fontes de pesquisa e
desenvolvido o projeto. No final, ou durante o projeto, pode-se socializar os conhecimentos
com outros colegas e pessoas da escola ou com as famílias.
Algumas atividades que fazem parte da rotina de uma tarde de aula na Educação
Infantil podem ser desencadeadas pelos projetos: situações de aprendizagem na cozinha
pedagógica, no ateliê, brincadeiras, dramatizações, aulas de Educação Física. Cabe aqui
destacarmos que nem todas as atividades são possíveis de serem contextualizadas pelos
projetos, pois caso contrário faríamos isso de forma artificial e forçada.
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O PPP (2007, p.11) da escola em que realizamos nosso estudo, afirma que o ateliê12 é
um espaço que possibilita relações entre as crianças, permitindo combinações e possibilidades
criativas entre diferentes linguagens. Ambiente rico em materiais, provocações, ferramentas e
pessoas com competência profissional para documentar o que se faz, como se faz e o que
desejam expressar.
12
Nome dado a sala de aula de artes, onde as múltiplas linguagens são exploradas.
13
Denominação dada ao professor do ateliê, baseada em Edwards et al (1999)
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As crianças começam a estudar aritmética na escola, mas muito antes elas tiveram
alguma experiência com quantidades – tiveram que lidar com operações de divisão,
adição, subtração e determinação do tamanho. Consequentemente, as crianças têm a
sua própria aritmética pré-escolar (...).
Para o autor o aprendizado das crianças começa muito antes de elas frequentarem a
escola e qualquer situação de aprendizado com que ela se defronte na escola tem sempre uma
história prévia. O aprendizado escolar se diferencia do aprendizado que ocorre fora da escola,
por ser sistematizado e contar com a mediação de educadores.
Podemos afirmar que, à medida que a criança vai crescendo, novas possibilidades de
representações mentais e deslocamentos são possíveis de serem explorados pelo professor. Os
discentes vão conquistando maior autonomia, concentram-se por mais tempo nas atividades e
podem participar de jogos com regras mais elaboradas. Percebe-se essa evolução também na
Educação Infantil.
Entende-se que os conceitos são significados pelas crianças a partir das experiências
proporcionadas pelas interações com o meio, com a realidade concreta (cultura) nos diferentes
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tempos e espaços, com os outros sujeitos, sejam elas crianças ou adultos. Na Educação
Infantil, os conceitos que são elaborados servirão como base para a construção de outros, mais
complexos, nas séries seguintes, como explica Vigotski (2000, p.60):
Outra discussão que cabe aqui abordarmos é a questão do uso do material concreto nas
situações de aprendizagem na educação em geral e na escola infantil. Moysés (2007) refere-se
ao concreto como um elemento sensorial importante como ponto de partida, que precisa ser
ultrapassado para que se chegue ao pleno desenvolvimento das funções psíquicas. Afirma,
ainda, que o uso do material figurativo-concreto é um auxiliar importante, e sua utilização
deve ser seguida de processos que levem a abstrações. O objeto ou elemento figurativo pode
estimular o aluno a pensar, por isso, o papel que o professor atribui a esse recurso, determina
seu grau de utilidade. O lugar e o papel do material visual no processo de ensino são
determinados pelo tipo de reação que esse material desencadeia na estrutura mental do aluno.
Podemos identificar neste texto que as relações que a criança estabelece com a
matemática podem ocorrer fora da escola de forma assistemática ou, ao contrário, de forma
sistemática e com intencionalidade na escola. Observamos que esta intencionalidade é o que
nos interessa na investigação, porque acreditamos que a Educação Infantil é um espaço
educativo e de aprendizagem.
Neste item, em que tratamos dos aspectos metodológicos, nos detemos nas escolhas e
no porquê optamos por elas nessa pesquisa, no meu papel como professora pesquisadora, nos
procedimentos de coleta de dadas e como os mesmos foram analisados, ou seja, como foi
realizada a interlocução empírico-teórica.
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Não foram escolhas fáceis, pois tínhamos que decidir: O que seria privilegiado? Como
seriam delineados os caminhos metodológicos? Como os dados empíricos seriam utilizados
para atingirmos os objetivos pretendidos? Quais os referenciais teóricos que seriam
utilizados?
Desde que a pesquisa era apenas uma ideia a ser discutida com a orientadora, tínhamos
a clareza de que gostaríamos de utilizar os dados empíricos coletados das aulas por mim
ministradas no Colégio Cenecista Sepé Tiaraju, o qual já foi citado anteriormente. Mas,
quando elaboramos o projeto inicial da pesquisa decidimos que a dissertação seria estruturada
em três capítulos: o primeiro com o percurso metodológico, a escola e os sujeitos envolvidos
na pesquisa (o que constitui esse capítulo), o segundo com o referencial teórico e o terceiro e
último com a análise dos dados empíricos a partir do quadro teórico explicitado. Fui desafiada
por minha orientadora em fazer os dois capítulos com dados empíricos analisados
teoricamente, considerando acreditarmos que a empiria e a teoria precisavam estabelecer um
diálogo constante.
Mas, para que a pesquisa fosse desenvolvida, era necessário escolhermos uma
metodologia. Embora, os princípios metodológicos gerais apontam para uma pesquisa
qualitativa, com ênfase na qualidade da análise e não na quantidade, através de um estudo de
caso, acreditamos que esses princípios nos serviram de inspiração, mas que lançamos mão de
uma metodologia própria, que foi se constituindo no decorrer do processo, pois como afirma
Becker (1993, apud MOYSÈS 2007, p.85):
As pesquisas têm características concretas que lhes são próprias; que os princípios
gerais metodológicos, embora úteis, são referenciais amplos, genéricos, que não
levam em conta essas peculiaridades. E que, por causa disso, é preciso adequar os
métodos às circunstâncias e aos problemas.
14
Conforme previsto em lei, a pesquisa foi encaminhada e aprovada pelo comitê de ética da Unijui
(Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul). A autorização da escola e a dos pais dos alunos
encontram-se em mãos da pesquisadora.
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As aulas a serem gravadas, não foram planejadas especialmente para a pesquisa, são
escolhas-recortes daquelas que mostraram a aprendizagem de matemática em tempos e
espaços diferentes. Para as crianças, o que mudou na rotina da aula foi a presença de uma
pessoa gravando, pois as demais atividades já faziam parte da proposta da escola. Antes de
iniciarmos as gravações conversei com as crianças, convidando-as para participar da pesquisa,
do estudo que a professora, como estudante estava realizando e todos acolheram o convite.
Como se trata de crianças foi necessário a autorização dos pais, mas para nossa escola as
crianças tem voz e são sujeitos do processo, achamos que era necessário que as mesmas
também optassem por participar ou não.
Com o intuito de preservar a identidade dos alunos, seus nomes não foram
apresentados. Para isso utilizamos a primeira letra dos nomes em maiúscula e no caso de
nomes com a mesma letra, a letra inicial do nome e a letra inicial do sobrenome como, por
exemplo, Clarice (C), Cláudia Tonetto (CT), bem como suas idades. As professoras da
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cozinha pedagógica, do ateliê e a professora de referência, quando citados na coleta dos dados
empíricos, foram identificadas com números: professora 1(referência), professora 2(cozinha
pedagógica) e professora 3 (ateliê).
Como faz parte da proposta da escola, quando necessário, trabalhar com pequenos
grupos (6 crianças), algumas gravações foram realizadas com o grupo subdividido em dois.
Quando um grupo de seis meninos e meninas iam trabalhar na cozinha pedagógica, por
exemplo, as outras seis crianças permaneciam em outra atividade com a professora de apoio,
podendo ser na sala de aula, no pátio ou na biblioteca. Algumas receitas foram elaboradas
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Carvalho (2006, p.30) afirma que “(...) é fundamental o registro em vídeo da aula
completa e se possível de toda uma sequência de aulas, uma vez que é impossível prever em
que momentos ocorrerão eventos relevantes para nossa pesquisa”. A mesma autora também
nos traz uma contribuição quando afirma que para que essas gravações das aulas sejam
transformadas em dados para pesquisa devemos selecionar “episódios de ensino”, que são
momentos significativos de uma aula para a situação que queremos investigar. Desta forma,
podemos justificar os procedimentos metodológicos escolhidos nessa pesquisa. O
desenvolvimento do estudo de caso envolveu, além das vídeo-gravações, as produções dos
alunos (registro das atividades denominadas na pesquisa de ilustração 1, 2,...) e a
documentação pedagógica escrita pela professora (episódio 9). Como pesquisadora, interagi
com o grupo, observando e realizando a coleta de dados, bem como a produção escrita.
Na etapa final, após a coleta dos dados empíricos, juntamente com a orientadora
realizamos a leitura dos mesmos e a tomada de decisão de como seriam utilizados e com que
objetivos. Decidimos selecionar os episódios e demais dados coletados, visando compreender
a significação dos conceitos matemáticos por nós escolhidos, nos diferentes tempos e espaços
da escola. Dessa forma, analisamos os dados coletados enfatizando a significação dos
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Reafirmamos que essa pesquisa ficou marcada como uma investigação do processo de
aprendizagem de Matemática no espaço da escola, através da coleta de dados empíricos para
serem analisados teoricamente. A investigação não foi estática, foi se constituindo no decorrer
do processo, sendo redimensionada sempre que necessário.
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41
CAPÍTULO 2
AS SITUAÇÕES DE ENSINO PROPOSTAS COMO DESENCADEADORAS DE
APRENDIZAGEM: O CONCEITO DE NÚMERO NOS TEMPOS E ESPAÇOS DA
ESCOLA
Vigotski (2000, p.174), após vários estudos experimentais afirma que “O processo de
educação escolar é qualitativamente diferente do processo de educação em sentido amplo. Na
escola a criança está diante de uma tarefa particular: entender as bases dos estudos científicos,
ou seja, um sistema de concepções científicas”.
15
Termo utilizado para designar as atividades intencionais, desenvolvidas na escola com a mediação do
professor.
16
Que vem de um contexto de aprendizagem significativo.
17
Vigotski denomina de conceitos espontâneos que serão discutidos no próximo capítulo.
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42
(...) é difícil imaginar de que maneira uma criança pequena poderia enfrentar-se com
o ambiente em ausência das capacidades numéricas incipientes. Como é que a
criança poderia perder de vista os jogos, os livros, a comida e mesmo seus amigos
em seu ambiente? A criança só seria capaz de reagir momentaneamente ante
qualquer objeto ou objetos que encontrasse ao seu redor (...) (GARDNER, apud
DUHALDE et al, 1997, p.82).
18
Atividade planejada pelo professor, com uma intencionalidade.
19
Feito com intenção de. (ROCHA, 2000, p.347)
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43
Poderíamos pensar como ocorre, nesta fase da formação dos conceitos, a compreensão
entre adultos e crianças. Como o signo mediador na formação dos conceitos é a palavra,
Vigotski (2008, p.75) afirma que os significados dados a uma palavra por um adulto e por
20
Termo utilizado por Vigotski para designar a fase do pensamento infantil, quando o significado das palavras
tem origem sincrética.
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uma criança em geral “coincidem”, por assim dizer, no mesmo objeto concreto. Assim,
crianças e adultos podem se entender e estar se referindo ao mesmo objeto.
Nesta fase da formação dos conceitos a criança permanece dentro dos limites das
conexões concretas entre as coisas. O pensamento por complexo evolui e se torna a ponte
entre os complexos e o estágio final da formação dos conceitos. A esta fase mais evoluída do
pensamento por complexo, Vigotski (2008) denominou de pseudoconceitos. Por que
pseudoconceito? “Porque a generalização formada na mente da criança, embora
fenotipicamente semelhante ao conceito dos adultos, é psicologicamente muito diferente do
conceito propriamente dito (p.83)”. O processo pelo qual os pseudoconceitos são obtidos é
diferente do pensamento conceitual propriamente dito.
Quanto ao conceito de número como quantidade descontínua, que será discutido nessa
seção do capítulo, podemos afirmar a importância de explorar esse conceito ao considerar que
é uma transmissão social, pois as crianças desde muito pequenas contam objetos, em
diferentes situações, inclusive em suas brincadeiras.
Sabemos que desde o homem primitivo existe a noção de quantidade, pois ele sentiu a
necessidade de contar, registrar suas posses, comunicar quantidades e foi preciso a criação de
um sistema simbólico, que podemos denominar número como quantidades descontínuas.
Duhalde et al (1997, p.73) definiu as quantidades descontinuas ou discretas como “as
coleções de objetos que se apresentam separadas em unidades que podem ser contadas (...)”.
Desde pequenas as crianças vão ingressando no mundo das quantidades e começam a
diferenciar a unidade da pluralidade, os objetos que podem ser separados em unidades para
contar.
Duhalde et al (1997, p.79) afirma que “Embora para os adultos contar seja algo muito
simples, para as crianças é um processo muito complexo que começa, (...), pela recitação dos
números na ordem da série e passa por diferentes momentos”. Para a mesma autora esse
processo de contar passa por três etapas. A primeira é a recitação da sequência numérica que
varia de criança para criança, podendo ser um simples recitar sem significado como observa-
se em crianças de dois ou três anos em que os pais anunciam que a criança já “sabe contar”,
até a “verdadeira” contagem quando a criança atribui um significado a essa contagem, ou seja,
nomeia a quantidade de objetos de uma coleção. Na etapa seguinte, a contagem funciona
como um contar-numerar, na qual a criança conta os objetos estabelecendo a correspondência
termo a termo entre o número e o objeto nomeado, mas não percebe que o número final indica
o total de objetos contados. Na terceira e última etapa denominada pela autora de contar-
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enumerar, as palavras ganham significado, no sentido de que o último número indica o valor
total, a quantidade de objetos que foram contados.
21
Como explicitado no capítulo um, se constitui num recorte de uma aula, selecionada para cada discussão.
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47
Neste episódio as crianças precisaram contar para resolver um problema proposto pela
professora: arrumar a mesa para os colegas do grupo 3. O RCNEI (BRASIL, 1998) traz o
conceito de número como um dos blocos de conteúdos a serem explorados pelo professor. Os
conteúdos desse bloco incluem, dentre outros, a utilização da contagem oral nas brincadeiras e
em situações nas quais as crianças reconheçam sua necessidade. Acreditamos que através da
resolução de um problema, as crianças iniciam a construção do conceito de número, sobre o
qual devemos considerar dois aspectos: a cardinalidade e a ordinalidade.
número cardinal, ou seja, essa correspondência permite vir à tona a equivalência entre dois
conjuntos (neste caso de alunos e o número correspondente).
escolarização, essas informações (da quantidade total de copos, por exemplo) são
comunicadas oralmente através da palavra falada.
Outro fato que chama a atenção no episódio (linha 16) é a contagem do aluno L, que
disse ter oito copos sobre a mesa. Pode-se observar que repetiu a série numérica sem fazer a
correspondência entre a palavra falada (número) e os objetos contados. Duhalde e Cuberes
(1998, p.52) denominaram esta estratégia de problema de coordenação: “nessa situação não se
coordena o recitado da série e a ação de estabelecer a correspondência biunívoca com os
objetos a contar”. Neste caso, o aluno L apontou o dedo para os copos de forma mais rápida
do que a recitação da série numérica. Assim, torna-se necessário a proposição de outras
situações de aprendizagem envolvendo a contagem para que possa avançar nesse processo de
significação da noção de quantidade. Além disso, pode-se perceber que recitar números não
significa compreender e reconhecer a quantidade de elementos de um conjunto a ser contado.
estudos é a mediação pela linguagem oral, pois a linguagem é o sistema simbólico básico de
todos os grupos humanos.
No caso da Educação Infantil, a mediação pela linguagem oral, pode ser realizada
pelos professores ou por outras crianças. No episódio 1, a professora mediou a situação de
aprendizagem, fazendo questionamentos e no final do episódio, intervindo para que o grupo
chegasse a um consenso a respeito da quantidade total de copos. Para Oliveira (1993), o
procedimento de intervir quando a criança não consegue percorrer o caminho sozinha, é
fundamental para a aprendizagem. Para a mesma autora e segundo os pressupostos
Vigotskianos, não se trata de uma intervenção de forma autoritária, mas de trazer a ideia de
reconstrução e reelaboração dos significados por parte da criança.
Na contagem das bandejas, o aluno G (linha 5) utilizou uma ação diferente para
contar, ou seja, tirava uma bandeja de uma pilha, recitava o número correspondente e ia
formando outra pilha. A professora não disse como ele deveria fazer e dessa forma ele criou
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sua própria estratégia para contar. Nas linhas seguintes (6 à 16) os outros colegas do grupo
tiveram que contar as bandejas e todos repetiram o mesmo procedimento de G, ou seja, tirar
uma bandeja da pilha, recitar o número e colocar na pilha ao lado. Com base em Vigotski
(2008), as crianças ao utilizar o mesmo procedimento do aluno G, estão realizando uma
imitação. Ao abordar o termo imitação, remete-se ao pensamento de atividade mecânica, de
cópia de um modelo. Segundo o mesmo autor, a imitação se constitui na reconstrução
individual do que é observado no outro, dependendo das possibilidades psicológicas de cada
criança, criando algo novo para ela a partir do que observa no outro. Vigotski (2008, p.129)
afirma que “Para imitar, é necessário possuir os meios para se passar de algo que já se
conhece para algo novo. Com o auxílio de outra pessoa, toda criança pode fazer mais do que
faria sozinha (...)”. A imitação, nesse sentido, desempenha um papel importante no
aprendizado do aluno, criando oportunidades de a criança realizar ações que talvez não fizesse
sozinha.
Ach (apud VIGOSTSKI, 2008, p.67), um dos seguidores das pesquisas de Vigotski,
em seus experimentos concluiu que “A formação de conceitos é um processo criativo, e não
um processo mecânico e passivo; que um conceito surge e se configura no curso de uma
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operação complexa, voltada para a solução de algum problema (...)”. Com relação ao conceito
de número não é diferente, ou seja, também é um processo complexo que vai se formando no
decorrer da proposição de situações de aprendizagem, intencionalmente planejadas pelo
professor, mediadas através da linguagem oral e das interações com o outro.
A idéia de número deve ser adquirida pela criança, não apenas pela repetição
mecânica da sucessão dos números inteiros, mas sim através de sua própria
experiência sensorial. Lidando com coleções de objetos diversos, vendo, tocando, a
criança irá adquirindo a noção de quantidade (...) (NUNES et al, 2005, p.36).
Os números têm significado para as crianças porque fazem parte do seu cotidiano, ou
seja, entram em contato com numerais que representam diferentes situações, por exemplo, o
número do telefone, as páginas de um livro, o calendário, o número de sua casa, do seu
sapato, os preços de produtos, resultado de jogos e brincadeiras que explora.
22
A documentação do projeto está em anexo no final da dissertação, caso o leitor queira compreender todo o
processo.
23
Registro é o termo usado para o procedimento didático no qual os alunos, após realizar uma atividade,
registram a mesma, utilizando diferentes formas de representação.
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54
(7) AL: A data não tá? (referindo-se que ainda não tínhamos escrito a data no
quadro de giz)
(8) Prof. 1: Hoje é dia 13, pode escrever AL.
(9) AL pergunta como se escreve 13 e a professora devolve a pergunta para o
grupo.
(10) A: 1 e 3.
(11) Prof. 1: Por quê? Quanto vale o um quando está na frente de outro número?
(12) N: 10, (vira para a colega e diz Oh! É o 1 e o 3).
(13) (C levanta, vai até o quadro e reclama que o traçado dos numerais não está
correto. A professora diz que ela está fazendo do seu jeito).
(14) (Começam o trabalho contornando com o lápis objetos redondos, que
escolheram no armário da sala, e conversam com a professora sobre a
representação do jogo – utilizam os objetos redondos para desenhar os círculos que
foram escolhidos para representar os dentes e formar uma boca).
(15) (N decide desenhar os círculos e escrever os numerais dentro)
(16) (C também quer representar os numerais, pesquisa a escrita dos mesmos no
calendário do mês, que está no mural da sala).
(17) (N recita os numerais que escreveu e fala que está no onze).
(18) Prof. 1: Por quê? Quanto vale esse um que está na frente?
(19) N: dez.
(20) AL: Camila traz pra cá o calendário!
(21) (Prof. 1 sugere que coloquem no meio da mesa para pesquisarem)
(22) AL: Isso ta demorando, né G?
(23) Prof. 1: Vocês acham que vai demorar para a gente fazer tudo? (sem resposta)
(24) G: 1, 2, 3, 4, 5, 6,7. (recita os numerais que já representou e se dá conta
observando no calendário, que escreveu o numeral oito no lugar do sete, risca e
escreve o sete por cima).
(25) Prof. 1: Até que número fomos no jogo?
(26) A: 14.
(27) Prof. 1: Vinte e...
(28) Grupo: quatro.
(29) N procura o vinte e quatro no calendário. (conta até chegar ao numeral)
(30) Prof. 1: N, quanto vale o dois que está na frente?
(31) N: vinte.
(32) A: Esse aqui está errado!(apontando para o seu desenho indicando o numeral
10)
(33) Prof. 1: Por quê?
(34) A: Porque, olha o zero tá na frente do um! (referindo-se ao numeral 10)
(35) Prof. 1: O zero não pode ficar na frente do um?
(36) (A faz que não com a cabeça e a professora auxilia ele a apagar)
(37) Prof. 1: O um quando está na frente vale quanto?
(38) A: dez.
(39) (A continua e chama a professora novamente)
(40) A: Profe errei de novo.
(41) Prof. 1: Por quê?
(42) A: Porque o dois está na frente do um (referindo-se ao numeral 12)
(43) (Aos poucos vão concluindo o trabalho. A, CS e G registram até 10 ou 12
círculos com os numerais dentro, mas N, C e AL persistem até chegar ao 24, pois
querem fazer a representação real do jogo. Em seguida, ainda pintam todos os
círculos na sequência de cores: vermelho, rosa e roxo, como no jogo).
Os números existem e são utilizados há muito tempo, pois são parte da nossa cultura.
Mas a aquisição do sistema de numeração não é aprendido por imersão pela criança, de dentro
para fora. Vigotski (2000, p.60) afirma que as operações com signo “não são inventadas ou
descobertas pela criança na forma de um súbito rasgo de discernimento ou de uma
adivinhação rápida como um raio”, pelo contrário, conforme as pesquisas do mesmo autor, as
operações com signos são o resultado de um longo e complexo processo, ligado ao
desenvolvimento psicológico da criança. Vigotski e seus seguidores concluíram em suas
pesquisas que
Da mesma forma que as operações com signos não são aprendidas por imersão, o
desenvolvimento psicológico da criança também não é. É o resultado de um processo
dialético, e não como algo introduzido de fora ou de dentro. Por isso, a professora não ensina
o sistema de numeração às crianças, mas sim, vai propondo situações de aprendizagem para
que aos poucos signifiquem os conceitos necessários. A escrita simbólica é uma ferramenta
nesse processo de conceitualização.
No RCNEI (BRASIL, 1998, p.222), podemos encontrar algumas questões que são
essenciais para que a criança compreenda o sistema de numeração e a escrita dos numerais
“Como são escritos?”, “Como podem ser combinados?”, “O que muda em cada
combinação?”. No episódio acima as crianças iniciaram a busca por respostas a essas
perguntas elaborando hipóteses sobre a escrita dos numerais. Nas linhas (8 a 11) ocorreu um
diálogo entre a professora e os alunos a respeito da escrita do número 13. A aluna AL não
soube como representar o numeral treze e a professora devolveu a pergunta para os colegas,
sendo que A respondeu que se escrevia o um e o três, enquanto que N compreendeu que o
numeral um estando na frente do três “vale 10” e assim auxiliaram a colega a escrever a data
no quadro.
representasse do seu jeito, pois acreditamos que no decorrer da proposição de outras situações
de aprendizagem, com as intervenções do grupo e da professora, a aluna vá modificando suas
representações. Podemos justificar essa concepção com a afirmação de Garnier et al (p.52) “a
elaboração e a evolução das representações externas desenvolvidas pelas crianças estão
vinculadas ao contexto social” e no contexto da estruturação social dos tempos e espaços de
aprendizagem da escola, neste caso, a sala de aula, através da interação entre alunos e
professora, vai ocorrendo uma progressão na escrita dos números e na compreensão das
combinações possíveis através do sistema de numeração decimal.
Resolvido o problema de registrar a data no quadro, para que pudesse também ser
escrita no registro que estava sendo realizado, surgiu outro problema. As alunas N e C
decidiram representar o jogo dos dentes, desenhando os círculos e escrevendo os numerais
dentro deles, para que pudessem colocar na ordem em que havíamos realizado o jogo. Como
representá-los? Como discutimos anteriormente o grupo está em um processo de construção
do sistema de numeração e da escrita dos numerais. Pudemos observar que a aluna C (linha
quinze) decidiu pesquisar a escrita dos números no calendário do mês que estava exposto no
mural da sala e os outros colegas logo aderem a ideia de C, mas como o calendário estava
distante da mesa em que estavam realizando o registro da atividade, AL sugeriu que
trouxessem o calendário para a mesa onde todos pudessem utilizá-lo como fonte de pesquisa.
Duhalde e Cuberes (1998) supõem que caso as crianças não saibam representar um
determinado número através da escrita do numeral, possam pesquisar em listas numéricas,
como no caso do calendário, pois assim poderão contar até chegar ao numeral desejado,
observar a sua escrita e copiar o número. Podemos exemplificar esse procedimento com o
aluno G (linha 23) quando descobriu que escreveu o numeral oito no lugar do sete, após uma
pesquisa no calendário e da aluna N (linha 28) que quis saber como se escrevia o último
numeral utilizado no jogo dos dentes – o vinte e quatro, e foi contando no calendário até
chegar ao numeral desejado.
As mesmas autoras acreditam que a atividade acima pode se constituir como uma das
possibilidades de a criança chegar à codificação da série escrita dos números. Para ela
codificar “consiste em encontrar a cifra escrita que corresponde à quantidade expressa
mediante palavras ou gráficos” (p.52). Além de codificar, outro processo envolve a série
escrita o de decodificar que “implica reconhecer e expressar oralmente um número escrito”.
Um exemplo de decodificação ocorre no episódio (linha 16) quanto à aluna N, recitou os
numerais e anunciou através da linguagem oral que estava no número onze.
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Ao registrar o jogo dos dentes os meninos e meninas do grupo três decidiram utilizar
os numerais para indicar a sequência numérica utilizada no jogo. Apresentamos a seguir a
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imagem digitalizada de dois registros realizados pela aluna N e pelo aluno G, para pensarmos
a respeito de suas representações.
No projeto sobre os dentes, desenvolvido com o grupo 3, uma das questões para a
pesquisa formulada pela aluna C, referia-se à Fada do dente, se ela existia e o que ela trazia
para as crianças. A aluna perdeu um dente de leite e contou que a Fada do dente trouxera um
presente para ela no lugar do dente deixado embaixo do travesseiro. Pesquisamos sobre a
Fada do dente num site da internet e, na história, a fada deixava moedas embaixo do
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Para resolver o problema a aluna C, desenhou duas crianças, sendo um menino e uma
menina. Em cima, desenhou as oito moedas, todas juntas. Questionada pela professora a
respeito de como poderia saber quantas moedas ficariam para cada criança, ligou quatro para
cada uma e registrou com o numeral quatro abaixo. O aluno A desenhou dois super-heróis em
cima de uma montanha, em cada mão deles duas moedas e um balão em cima da cabeça,
indicando que cada um estava pensando que recebeu quatro afirmando “dois mais dois são
quatro”. Ao lado representou outras moedas de dez centavos. Durante o processo disse para a
professora que não precisava de moedas (material concreto) e nem da “ajuda” da professora
para resolver o problema, pois já conseguia fazer “de cabeça”.
Hiebert e Carpenter (apud SOARES e MORO, 2005, p.20) também confirmam a ideia
de que “para pensar sobre a idéia matemática e comunicá-la necessitamos representá-las de
algum modo. A comunicação requer que as representações sejam externas tomando a forma
de linguagem oral, símbolos escritos, desenhos (...)”.
Outra discussão que pode ser aqui abordada é o processo de internalização desse
sistema de signos construídos social e historicamente e disponíveis na cultura, que segundo
Vigotski, são meios auxiliares na resolução dos problemas. Antes de as crianças resolverem
um problema de forma individual, a professora e o grupo resolveram várias situações
problemas em grupo, através da linguagem oral e utilizando material concreto. Vigotski (apud
MOYSÉS, 2007, p.27) defende a idéia de que “O verdadeiro curso do processo de
desenvolvimento do pensamento infantil assume uma direção que vai do social para o
individual”, ou seja, toda função psicológica interna foi antes uma função social, que surgiu
num processo de interação.
Vigotski (apud GARNIER et al, 2003, p.103) esclarece como ocorre esse processo de
internalização das operações com signos. Além disso, podemos perceber a importância da
proposição de situações de aprendizagem em grupos para depois ocorrerem de forma
individual:
De acordo com o mesmo autor, nas atividades em grupo, os diferentes sujeitos podem
confrontar suas formas de resolver um problema, pois como estavam sentados numa mesa
retangular, formando grupos, cada um pode utilizar meios diferentes para resolução e
comparar e discutir o seu “jeito” de resolver com o colega. Dessa forma, uma ação
interpsíquica (entre as crianças), pode se transformar em intrapsíquica (individual).
O aluno A, tanto no seu registro como na sua fala, demonstrou que após a atividade
em grupo, com a mediação da professora, já internalizou o processo para resolver esse
problema (repartir uma pequena quantidade de objetos), conseguindo resolver de forma
individual. A aluna C, criou suas estratégias de resolução, mas precisou da mediação da
professora, que também faz parte do grupo que estava interagindo, para chegar a resposta do
problema.
Embora essa discussão pudesse prolongar-se, para finalizar essa parte do texto
afirmamos que a resolução de problemas pode ser mais uma das utilidades do número, de
forma que não se transforme num processo de codificar e decodificar numerais, sem sentido
algum para a criança. Além disso, destacamos que a situação de aprendizagem, envolvendo a
resolução de problemas e descrita neste subitem foi apenas uma das atividades propostas, nos
diferentes tempos e espaços da escola, para a significação do conceito de número e das
operações numéricas. No próximo subitem, apresentamos o número indicando memória de
posição, como mais uma forma de explorar outra situação em que o uso do número pode se
fazer necessária.
Quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior
a importância que a fala adquire na operação como um todo. Às vezes a fala adquire
uma importância tão vital que, se não for permitido seu uso, as crianças pequenas
não são capazes de resolver a situação (2008, p.34).
Outra situação exigiu a mediação da professora, quando a aluna CS, permaneceu por
duas rodadas numa mesma casa do jogo (linhas 10 a 16) e o grupo foi desafiado a resolver o
problema “quanto precisa tirar no dado para que não permaneça na mesma posição no jogo”?
Através da linguagem oral, A e N fizeram estimativas das quantidades que a colega poderia
tirar e compreenderam o desafio proposto. Quanto a C, podemos pensar que estava desatenta
à situação ou não compreendeu o desafio proposto quando disse um. Fazer estimativas é outra
notação matemática que pode ser explorada na Educação Infantil, porque segundo o
Ministério da Educação e Cultura (ESPANHA, 1999), a matemática não pode ser explorada
24
Ver documentação pedagógica em anexo.
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apenas como algo que se resume a lógica do sim e do não, do correto e do incorreto, mas pode
incluir noções que ajudam as crianças a resolver situações de incerteza, como as que
envolvem probabilidade.
Embora não se poderia deixar de lado a discussão que surgiu acima, a ideia do número
envolvendo memória de posição é o foco dessa discussão. Nesse jogo de tabuleiro, a função
do número (DUHALDE e CUBERES,1998) é também de indicar a ordem de saída ou de
chegada dos jogadores, em um jogo onde necessitam avançar ou recuar sobre uma pista, sem
a necessidade de recordar toda ordem.
Soares e Moro (2005, p.24) afirmam que “as concepções dos alunos se modificam (...)
somente se eles vivenciarem um vasto conjunto de situações diferentes, envolvendo objetos e
relações matemáticas”. Para a mesma autora o professor pode conduzir o processo de
conceitualização somente se observar o que os alunos fazem e expressam através da
linguagem ou das suas representações. No caso do episódio acima, a linguagem oral foi a
forma que a professora teve para analisar a aprendizagem dos alunos.
Outro aspecto que pode ser analisado com relação a aprendizagem dos alunos, refere-
se ao fato de o jogo ter sido desenvolvido num grupo de alunos, onde interagiram entre si e
com as professoras. Vigotski (2000, p.117) afirma que “o aprendizado desperta vários
processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança
interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros”;
podemos citar como exemplo, quando C (linha 15) afirmou que a colega poderia tirar um no
dado, o grupo logo reagiu a resposta e fez com que a colega pensasse sobre sua resposta e
também quando A e G (linhas 6 e 7) sugeriram a ordem para iniciar o jogo, auxiliando o
grupo a resolver o problema.
pois sabemos que esse conceito é fundamental na Educação Infantil, pois como afirmou
Duhalde no início desse item, não seria possível imaginar a criança sem as capacidades
numéricas, para que possa enfrentar os desafios do ambiente em que vive. No item seguinte,
traremos o número também como quantidade contínua, introduzindo o conceito de número
racional, no espaço da cozinha pedagógica.
Para Giménez e Bairral (2005, p.6), “as frações estabelecem relações conceituais
importantes na construção numérica, no currículo atual (...) a introdução do conceito e o
primeiro contato dos estudantes com as frações devem partir de material de uso comum, não
estruturado”. Pensando nisso, propomos a introdução do conceito de inteiro, metade e partes
menores com a elaboração de uma receita de torta de bolacha, onde as bolachas seriam esses
materiais não estruturados, seguindo com as bergamotas, as salsichas e o pão de cachorro
quente.
Os mesmos autores, após suas pesquisas, concluíram que são diversas e diferentes as
situações que enfocam frações. Na prática docente, os professores podem explorar estas
diferentes situações, dentre elas podemos marcar como necessárias na Educação Infantil as
frações como quantidade, como medida de uma posição no espaço e como função.
25
Depoimento de uma estudante de licenciatura em Matemática (GIMENEZ e BAIRRAL, 2005, p.14).
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Para Giménez e Bairral (2005, p.10), a fração como quantidade é a “fração como
expressão de uma partição no sentido geral. Caracteriza qualquer tipo de situação de
repartição de uma coleção de objetos em um certo número de partes”. Os autores
subdividiram a fração como quantidade em dois aspectos – a fração como cada uma das partes
iguais em que consideramos partida a unidade ou a fração de uma coleção de elementos
considerada em conjunto como unidade ou totalidade.
26
Biscoito doce redondo.
27
Tangerina , mexerica
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69
A aluna AC foi a primeira a mostrar para os colegas o que entendeu por metade (linhas
20-24), quebrou a bolacha ao meio e disse que estava na metade porque quebrou, mas quando
questionada pela professora comprovou o que estava dizendo, medindo as duas partes da
bolacha ao colocar uma sobre a outra. Como AC teria construído o conceito de metade? Ao
refletir sobre isso, lembramos de que AC participara de outra situação de aprendizagem na
cozinha pedagógica em que experenciara a divisão do pão de cachorro-quente, portanto
acreditamos que transferiu o conceito para esse novo inteiro – a bolacha.
Cabe aqui esclarecermos que o objetivo dessa atividade, bem como das outras que
envolveram partição de alimentos é discutir a idéia intuitiva de frações, pois sabemos que
dividir alimentos em partes exatamente iguais é praticamente impossível.
Giménez e Bairral (2005) afirmam que a unidade é algo que não fica explicitada e que
a mesma deve ser mudada para que se evidencie a variação da fração e também para que o
conceito seja ampliado para outras situações. Ao refletir sobre essa ideia, recortamos o
episódio 6 (O cachorro quente), com a intencionalidade de propor outra situação de
aprendizagem envolvendo o mesmo conceito de fração como quantidade, analisando o
primeiro aspecto, ou seja, fração como cada uma das partes iguais em que é repartido o
inteiro. Esse episódio foi filmado no dia 29/04/2009, no espaço da cozinha pedagógica e
envolveu a professora de referência (professora 1), a professora da cozinha pedagógica (2) e
um grupo de cinco alunos (J, G, N, F, L). Ao grupo foi proposto o desafio de cortar o pão de
cachorro quente e as salsichas para o lanche que seria servido naquela tarde.
(24) G: quase.
(25) Profª. 1: É difícil cortar bem no meio?
(26) (A professora corta a sua salsicha no meio e as crianças observam)
(27) J: A da prof. ficou empatada!
(28) Profª. 1: No meio quer dizer empatada?
(29) J: ah ra.(fazendo um gesto afirmativo)
(30) Profª. 1: G, como você fez para cortar assim? (mostra o pedaço no prato do G)
(31) G: Eu cortei assim e assim (referindo-se a um corte na vertical e outro na
horizontal)
(32) Profª. 1: Terminamos com a salsicha? Com o que vamos trabalhar agora?
(33) N: com o pão
(34) Profª. 1 pega o pão e questiona o que fazer.
(35) Grupo: Cortar no meio
(36) Profª. 1: Assim é no meio? (cortando o pão em um lado)
(37) G: Aqui (mostra com a mão no pão)
(38) Profª. 1: Por quê?
(39) G: Para colocar o molho.
(40) Profª. 1: L dá para colocar o molho se você cortar assim?
(41) Grupo: Aqui L!
(42) L: No lado...
(43) Profª. 1: Você acha que conseguiu?
(44) (L mostra para os colegas que acenam que sim com a cabeça)
(45) Profª. 1: O que aconteceu com esse pão? A J cortou na metade?
(46) Grupo: Não
(47) (Profª. 1 pede para a Profª. 2 trazer mais pão para ser cortado)
(48) Profª. 1: Agora vamos cortar pão para o grupo um. Temos que resolver um
problema! Como vamos cortar o pão para o grupo um comer?
(49) (G mostra como cortar o pão na metade horizontal e na metade vertical)
(50) Profª. 1: Como o L queria cortar antes?(fazem que sim com a cabeça)
(51) Profª. 1 Quem consegue seguir o desafio de cortar na metade da metade?
(52) (todos começam a cortar e concentram-se na atividade e a professora observa)
(53) Profª. 1: L e agora para colocar o molho?
(54) (L rapidamente corta na outra metade, assim continuam até concluir a tarefa
com os pães).
Como ocorreu a manipulação do material visual pelo grupo foi possível que G (linha
11), medisse as duas partes da salsicha, para que concluísse que são partes iguais. O material
visual também permitiu que a professora e o grupo questionassem o aluno L (linha15),
quando cortou em pedaços grandes e o combinado era cortar em pedaços pequenos a salsicha.
O mesmo aconteceu com J (linha 22) que mostrou como concluiu que a salsicha estava na
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metade e com a professora que também participou da atividade e o grupo observou que as
salsichas foram repartidas em duas partes iguais e, ainda, a aluna J concluiu que as mesmas
ficaram “empatadas”.
Observamos, também, que as ideias das crianças foram expressas e consideradas pela
professora: o aluno F (linha 10), no início, afirmou que não sabia como identificar o que era
cortar na metade e a partir de novos questionamentos foi significando o conceito; o aluno G
teve outra ideia para cortar a salsicha com um corte na vertical e na horizontal e pode mostrar
sua descoberta para o grupo antes que o trabalho com a salsicha fosse encerrado.
A segunda parte do episódio aborda o trabalho com o pão de cachorro quente, que
novamente surge de um problema a ser resolvido: como cortar o pão para que seja possível
colocar o molho com a salsicha dentro. Um grupo de crianças (linha 35) logo afirmou que era
preciso cortar o pão no meio e G (linha 37) mostrou ao grupo como fazer, mas L (linhas 40-
44) queria cortar o pão na metade vertical e o grupo interveio e fez L pensar até que
compreendeu que precisava cortar na metade que chamava de “lado” do pão para colocar o
molho e o grupo acena que conseguiu. Analisamos que L não conseguiu resolver o problema
sozinho, mas sim com a ajuda da professora e dos colegas. Vigotski e seus colaboradores
chamam essa diferença entre aquilo que a criança não consegue fazer sozinha, mas realiza
com a ajuda de um adulto ou de outros colegas de zona de desenvolvimento proximal (ZDP),
que é por ele assim definida:
Outro fator que pode ser considerado fundamental para que a ZDP seja criada é a
atividade compartilhada, ou seja, o fato de L estar em um grupo de crianças, cada uma com
suas lógicas e raciocínios próprios que surgem nesse processo de interação. Além disso, para
o autor, é função do professor criar zonas de desenvolvimento proximal, forçando o
aparecimento de funções que ainda não amadureceram e estão em estado embrionário levando
ao “bom ensino”, ou seja, “o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento”
Vigotski (1984, apud MOYSÉS, 2007, p.34).
Na linha 48, surge outro problema a ser resolvido cortar o pão para os colegas do
grupo um, que são pequenos (com idades entre 2-3anos) e não conseguiriam comer um pão de
cachorro quente grande inteiro. G (linha 49) sugeriu que cortassem na metade horizontal
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como anteriormente haviam feito e na metade vertical para ficar menor o pão como o colega
L queria cortar anteriormente. L cortou na metade vertical e quando questionado pela
professora logo cortou também na metade horizontal para que se pudesse colocar o molho.
Percebemos que L não precisou mais da ajuda dos colegas para mostrar no seu pão qual era a
metade a ser cortada para colocar o molho. De acordo com estudos de Vigotski (2000, p.113),
o que “é a zona de desenvolvimento proximal hoje, será o nível de desenvolvimento real
amanhã - ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de
fazer sozinha amanhã”.
Para finalizar a discussão desse episódio, afirmamos que além da mudança da unidade,
que antes era a bolacha, também observamos que no pão de cachorro-quente a forma de
dividir o inteiro na metade também mudou, ou seja, cortar na metade vertical ou na metade
horizontal são duas formas de dividir o inteiro em duas partes iguais. O registro do aluno F
(abaixo) mostra a sua representação da divisão do pão na metade vertical e na metade
horizontal e também da salsicha. A partir do registro, supõe-se que F compreendeu as duas
formas de repartir o inteiro na metade e está significando o conceito de inteiro e metade.
Giménez e Bairral (2005, p.24) concluíram que “para conduzir e controlar o processo de
conceitualização é preciso observar como os alunos lidam com tais objetos e relações. Isso só
é possível por meio dos comentários e das representações dos alunos”. Segundo esses autores,
as representações28 dos alunos são parte do processo de aprendizagem e acreditamos que
mesmo o registro de F não sendo um registro convencional de frações é de fundamental
importância nesse contato inicial com o conceito.
28
Em nossa escola denominamos as representações de registros.
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Episódio 6 – A bergamota
(1) Profª. 1: Por que vamos dividir as bergamotas?
(2) C: Não dá pra comer assim oh... (mostra com a bergamota próxima a boca)
(3) Profª. 1: O que vamos fazer?
(4) A (pega e quer fazer logo e a professora intervém)
(5) Profª. 1: Primeiro vamos pensar como fazer.
(6) AC: dividir.
(7) Profª. 1: Em quantas partes?
(8) Grupo: Duas.
(9) Profª. 1: R você pode dividir no meio?
(10) R (quebra no meio e mostra para os colegas)
(11) A: Quer ver a minha idéia? (começa dividir em gomos)
(12) Profª. 1: Primeiro combinamos de dividir no meio.
(13) (A professora solicita que o V divida ao meio a bergamota)
(14) Profª. 1: Você dividiu em quantas partes? Ficou no meio?
(15) V (acena que sim com a cabeça e mede as duas partes)
(16) Profª. 1: AL como você repartiu?
(17) AL: No meio.
(18) Profª. 1: São iguais? (mede e acena que sim)
(19) C (reclama que não foi questionada e a professora pede desculpa pelo
esquecimento e solicita que mostre)
(20) Profª. 1: Fica bem no meio a divisão?
(21) Grupo: Mais ou menos.
(22) A: Tem que dividir em mais vezes!
(23) Profª. 1: Como?
(24) A: Assim, nas linhas (mostra com as mãos).
(25) Profª1: Por que temos que dividir em mais partes?
(26) Grupo: Por que ninguém pode comer assim (mostra com as mãos e a
bergamota que não é possível comer a metade de uma só vez).
(27) Profª. 1: Quantas partes têm numa metade? Cada um vai contar as partes que
tem na metade.
(28) Profª. 1: Como se chama esse pedaço da bergamota?
(29) A: picado.
(30) Profª. 1: Gomo.
(31) (crianças repetem a palavra e conversam sobre a palavra nova para eles).
(32) (Enquanto isso a professora observa a colega AC que pegou os gomos e tenta
formar novamente uma metade).
(33) Profª. 1: O que formou? Formou uma metade?
(34) AC: Sim
bergamota é uma unidade formada por partes menores (que são os gomos), que pode ser
dividida de diferentes formas, grupo e professora discutem como fazer a divisão (linhas 3-8).
Inicialmente o grupo decidiu repartir em duas partes iguais e acreditamos que o motivo da
escolha tenha sido a experiência anterior com as bolachas que foram repartidas dessa forma.
Dessa forma, a situação de aprendizagem foi significativa por ter auxiliado os alunos
que ainda não haviam demonstrado a sua compreensão sobre o conceito de metade, mas
principalmente para que o grupo compreendesse que a bergamota é uma unidade que pode ser
dividida em partes iguais, como na metade ou em partes menores que são os gomos, trazendo
a ideia de fração como uma coleção de elementos que pode ser considerada como unidade.
Para trazer outro exemplo de fração como uma coleção de elementos que pode ser
considerado em conjunto como unidade ou totalidade, o episódio da torta de bolacha volta à
tona, mas com um outro recorte – o registro do aluno A, evidenciando os colegas como a
totalidade. Após a elaboração da receita e a preparação da bergamota a professora solicita que
os alunos registrem através de desenhos o que realizaram na cozinha pedagógica. O processo
da realização dos desenhos foi filmado e transcrito, sendo que a professora selecionou este
registro para continuar a discussão.
O aluno A (linhas 11 a 13) indicou os colegas que estavam na meio de cada metade de
crianças, ou seja, a posição no espaço e o colega que estava no meio de cada três alunos (ver
ilustração acima). Dessa forma, afirmamos que o aluno significou o conceito de metade e
conseguiu generalizar para diferentes aspectos do mesmo conceito - metade do número de
colegas e o colega que estava no meio dos três (posição no espaço). No subitem seguinte será
analisada de forma mais sistemática essa parte do conceito de fração, como medida de uma
posição no espaço. Além disso, as questões relativas à notação de espaço serão abordadas no
capítulo 3.
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Giménez e Bairral (2005) definiram este aspecto do conceito de fração como a fração
utilizada para processos de medição, através de uma unidade de medida convencional ou não.
No episódio anterior, quando o aluno A se referiu ao colega que estava no meio dos três
colegas, estava se referindo a posição no espaço que o colega estava ocupando. Durante a
elaboração da receita da torta de bolacha observamos a posição dos objetos no espaço da mesa
e as crianças também se referiram a uma fração para designar onde colocar os objetos (no
meio da mesa, por exemplo). Cabe aqui salientar que não se trata da representação
matemática escrita da fração, mas do uso da linguagem oral. Nunes et al (2005) nos confirma
que precisamos aproveitar as oportunidades de introduzir a linguagem das frações na escola,
pois fora dela essas possibilidades podem ser reduzidas, já que não faz parte de muitas
culturas usarem essa linguagem, ou seja, preferem escrever ou falar 500 gramas ao invés de ½
quilo, por exemplo.
(1) Profª. 1: Esse prato vai ser para a AL, AC e a C e esse para a R, V e A.
(referindo-se ao prato com leite dentro para molhar as bolachas para a torta).
(2) (V quer puxar o prato para sua frente)
(3) A argumenta: tem que colocar no meio. (espaço na mesa correspondente ao
meio dos três colegas para que todos alcancem o prato)
(4) Profª. 1: Aqui é o meio? (mostrando outro local)
(5) R: Não é aqui. (apontando o espaço da mesa entre o três colegas)
(6) Profª. 1: Tem três crianças aqui o V, A e a R, quem está no meio?
(7) A: Eu.
(8) Profª. 1: E nesse outro lado, quem está no meio.
(9) AC: Eu.
(10) (AL e AC continuam discutindo sobre o lugar do prato e a professora intervém)
(11) Profª. 1: Onde combinamos de colocar o prato?(aceitam então o combinado)
(12) Profª. 1: Tá faltando alguma coisa que é importante e que temos que colocar
no meio da mesa?
(13) A: A bandeja. (Referindo-se a travessa para colocar a torta dentro. Sai e logo
volta com ela da outra mesa).
(14) Profª. 1: Vamos pedir para o A colocar no meio da mesa
(15) (A professora abre dois pacotes de bolacha e...).
(16) Profª. 1: Vou colocar um pacote em cada metade da mesa (todos concordam).
Nas linhas 1 até a 11, professora e alunos conversaram sobre a posição do prato com
leite que seria utilizado para molhar as bolachas. Como nessa faixa etária o egocentrismo
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ainda está presente, algumas crianças queriam o prato somente para elas, como o aluno V, AC
e AL. Para resolver o problema o aluno A sugeriu que colocassem no meio, referindo-se ao
espaço da mesa que ficava no meio dos três colegas que estavam em cada lado da mesa.
Observamos que registrou isso (ilustração 6), onde os pratos com leite estão pintados de azul.
A professora mediou a resolução do conflito, questionando qual a criança que estava no meio
de cada três (linhas 6-9) até que finalmente todos aceitaram a regra combinada com o grupo
de colocar “no meio” , compreendendo que isso era necessário para que todos pudessem
alcançar. A mediação pela linguagem oral foi um dos estudos que ganharam destaque nas
pesquisas de Vigotski e seus seguidores e observamos que com as crianças da Educação
Infantil dessa escola, esse processo de mediação faz parte da rotina da aula, bem como o
trabalho em grupos e as interações entre elas.
Giménez e Bairral (2005) listaram diferentes aspectos da fração que devem ser objeto
de exploração pelo professor ao longo do Ensino Fundamental, mas cabe lembrar que a
introdução de alguns aspectos da fração, através da linguagem oral e das representações não
convencionais já é de grande valia ao considerar que faz parte do currículo da Educação
Infantil. No último subitem desse capítulo, para finalizar essa discussão sobre a introdução do
número racional, abordamos mais um desses aspectos.
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2.2.3 A fração como função: relação entre conjuntos de objetos de cores diferentes
No início do episódio (linhas 1-5) professora e alunos discutiam como iriam colar o
voto de cada criança, organizados pela cor em que cada um votou. O aluno A logo foi dizendo
que era para colar em cima e quando a professora questionou em cima do quê, F interveio e
completou dizendo “em cima da ficha da mesma cor”, pois a professora já havia colado uma
ficha de cada cor com o nome da cor dentro para que as crianças tivessem algo para começar
a pensar sobre a organização do gráfico. Como já haviam construído antes outros gráficos,
como o da escolha do projeto, as crianças compreenderam como organizar em colunas e
foram colando os mesmos. Observamos que estavam preocupados com a estética do mesmo
(linha 5), sugerindo que os colegas colassem mais para o lado, mais reto.
Ao contarem o número de votos de cada cor (linha 8) estavam identificando cada uma
das partes distintas do todo, como observamos na foto do gráfico coletivo (ilustração 7),
sendo 4 votos de 12 na cor rosa, 3 votos de 12 na cor vermelha, 2 votos de doze na cor azul e
3 votos de 12 na cor roxa. Mas, pode-se questionar se conseguem perceber que ao juntar as
partes estamos formando o todo novamente, por isso a professora questiona se é possível
saber se temos o voto de todos os alunos (linha 9) no gráfico. O aluno A (linha 10) sugeriu
que cada um escrevesse o nome no seu voto, mas CS (linha 12) descobriu que “é só contar” e
como tinha doze, era o total de votos. O grupo confirmou que doze era o todo, pois no grupo
tinha doze alunos. Dessa forma exploramos o conceito de fração como função, como uma
relação entre as quatro cores escolhidas e o todo e confirmamos o que afirmam Giménez e
Bairral (2005, p.10): “(...) que há uma variedade de situações que, frequentemente e
diferentemente, falam das frações”. Cabe aqui destacar que a discussão da ilustração 7 e da
escolha das cores para pintar os círculos para a construção do jogo dos dentes, retorna no
capítulo seguinte, onde abordamos o tratamento da informação.
CAPÍTULO 3
Duhalde e Cuberes (1998) esclarecem que a criança desde que tem os primeiros
contatos com o meio, começa a construir diferentes espaços e isso ocorre através da
exploração que faz através dos sentidos. Por meio da exploração e dos deslocamentos, irá
convertendo esses espaços no “espaço real”. Nesse espaço, a criança necessita resolver
problemas espaciais, como: alcançar um recipiente que está no alto, abrir um objeto, deslocar-
se para alcançar outro. Na Educação Infantil, essa exploração pode envolver as três
perspectivas que abordaremos nos subitens seguintes.
Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998, p.230) nos esclarece que “As relações espaciais
contidas nos objetos podem ser percebidas pelas crianças por meio do contato e da
manipulação deles”, ou seja, podem ser percebidas por meio da observação de características
dos objetos e a identificação de atributos como quantidade, tamanho e forma.
Neste episódio, após cada camada de bolacha que era colocada na travessa, os alunos
tinham que espalhar o recheio de forma que preenchesse todo o espaço e todas as bolachas
ficassem cobertas, ou seja, a professora propôs que os alunos resolvessem um problema (linha
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2). O aluno A (linha 5) compreendeu que preencher todo espaço significava cobrir as bolachas
enquanto que R necessitou da mediação da professora e dos colegas para que soubesse onde
colocar o creme.
Supomos que este caso refira-se às relações espaciais contidas nos objetos, ou seja, na
travessa em que foi elaborada a receita da torta. As crianças puderam observar a forma da
travessa (oval) e das bolachas (redondas) que ocupavam o espaço interno da mesma, a
quantidade de creme necessária para cobrir todas as bolachas dentro do espaço limitado, bem
como as características do chocolate granulado e o espaço que ocupa dentro da travessa.
Observamos que esse episódio é marcado pela participação de todo o grupo na maioria
das respostas (linhas 7, 10, 12) e pela ação de todos os participantes na hora de colocar o
recheio. Nesse caso, o trabalho foi coletivo e organizado pela professora que participou da
atividade propondo a resolução do problema espacial e fazendo questionamentos, mas o
grupo é que realizou as tarefas para responder aos questionamentos e significar as relações
espaciais contidas nos objetos. Garnier et al (2003, p.216) argumenta que na atividade
coletiva
(...) as interações sociais encontram sua expressão através de diferentes formas que,
conforme o caso, podem ser complementares. O trabalho entre colegas pode ser
organizado e dirigido pelo professor, com o adulto participando, ou pode realizar-se
somente entre os alunos.
Duhalde e Cuberes (1998, p. 68) esclarecem que “a construção dos conceitos que
organizam a orientação no espaço implica o estudo das posições relativas de um sujeito
observador, ou um objeto, em relação consigo mesmo ou com outros objetos em repouso ou
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movimento”. Essas relações podem ser expressas pelas palavras: “em cima de”, “entre”,
“sobre”, “dentro”, “fora”, ou seja, distinguir se os objetos estão próximos ou distantes, acima
ou abaixo.
Para continuar esta análise trazemos outro episódio, recortado de uma aula no ateliê,
outro tempo e espaço de aprendizagem. Este episódio foi recortado da aula do dia 2/7/2009,
quando seis alunos foram para o ateliê para confeccionar O jogo dos dentes e surgiu uma
problematização com relação ao espaço a ser ocupado e o espaço disponível para a atividade.
O grupo de alunos que interagiram nessa atividade foram A, C, CS, R, V e as professoras 1 e
3.
Percebemos que a percepção do espaço exterior à criança não é algo fácil para ela e
que a noção de espaço é algo que vai sendo significado quando ela necessita resolver algum
problema espacial, na interação com os outros colegas e os adultos. Smole et al (2003, p.16)
denominaram de “competência espacial” essa capacidade do indivíduo de orientar-se no
espaço. Para essas autoras
O conhecimento do seu próprio espaço e a capacidade de ler esse espaço pode servir
ao indivíduo para uma variedade de finalidades e constituir-se em uma ferramenta
útil ao pensamento tanto para captar informação quanto para formular e resolver
problemas.
PAIS, 2006, p.29): “(...) o professor deve intensificar as relações no sentido de induzir a
devolução de um problema para o aluno, em vez de acreditar na transmissão de
conhecimentos”, ou seja, ao professor cabe levar o aluno a um envolvimento direto com a sua
aprendizagem e com o conhecimento, interagindo com o saber matemático.
No dia seguinte à aula no ateliê, todos os alunos do grupo três foram desafiados a
recortar os círculos e a noção do espaço a ser ocupado pelos objetos e a localização do sujeito
em relação aos objetos voltou à tona. Cada criança procurou um lugar no chão da sala para
colocar o retângulo grande com o círculo desenhado para que pudesse ser recortado. A aluna J
não conseguia achar um espaço então solicitou à professora para trabalhar no corredor “na
frente” da sala. Dessa forma, o conceito pode ser explorado também em outra atividade, a de
recortar os círculos que haviam sido desenhados no papel pardo (conforme relatado no
episódio), em outro tempo e espaço, o da sala de aula. Para finalizar essa análise sobre as três
perspectivas da exploração das relações espaciais, trago as relações espaciais nos
deslocamentos.
O episódio inicia após o grupo ter organizado os círculos em forma de uma boca, pois
os mesmos representam os dentes. O aluno G (linha 1) foi o primeiro a jogar e o dado indicou
que devia avançar cinco casas, em seguida os outros cinco jogadores começaram o jogo e
avançaram tantos círculos quanto tiraram no dado. Mas o jogo apresenta outras possibilidades
de explorar o deslocamento no espaço quando as crianças caem em um círculo onde está
escrito algo que é prejudicial aos dentes “as balas são amigas da cárie, volte duas casas”, por
exemplo. Neste caso ao invés de avançarem deviam ir para traz, como aconteceu com a aluna
C (linha 2). Ao escutar o comando de voltar duas casas avançou duas casas e o grupo
percebeu e reclamou que C não estava cumprindo a regra. A professora percebeu que C não
compreendeu o conceito de ir para trás, questionou e o grupo também interveio afirmando que
era para trás. Duhalde et al (1997, p.90), ao discutirem as experiências relacionadas aos
deslocamentos, afirmaram que “Na organização e orientação no espaço, as crianças passam
por sucessivas etapas que precisam da construção do seu esquema corporal. (...) o primeiro
sistema de referência são os eixos do próprio corpo. As primeiras expressões são em cima -
em baixo, na frente-atrás”.
Podemos afirmar que com o jogo dos dentes as crianças puderam brincar e
consideramos que o brinquedo tenha um papel importante no desenvolvimento das crianças.
Ao nos referirmos a palavra “brincar” podemos estar falando de atividades dirigidas e com
regras, como no jogo acima ou de brincadeiras livres criadas pelas crianças, nos tempos e
espaços destinados para isso. O mesmo autor e seus seguidores nos esclarecem a esse respeito
“É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera
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visual externa, dependendo das motivações e das tendências internas, e não dos incentivos
fornecidos pelos objetos externos” (VIGOTSKI, 2000, p.126).
Outro aspecto que cabe aqui salientar refere-se ao registro dessa atividade, pois
realizar a atividade por realizar, pode tornar-se algo empírico. Na sala de aula, a atividade foi
discutida com o grupo e entre os dois grupos que realizaram a mesma atividade em separado e
após registraram através de desenhos o jogo29.
Com a discussão desse episódio, abordamos nesse primeiro item do capítulo diversas
experiências envolvendo três perspectivas do conceito de espaço, em diferentes tempos e
espaços da escola. No item seguinte, pretendemos discutir outra notação matemática,
relacionada a outro ramo da geometria que são as formas geométricas.
29
Ver ilustração 1, no capítulo 2.
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(construção do jogo dos dentes) e pintar os mesmos. Surge então, a discussão a respeito das
formas geométricas que estão observando (papel pardo) ou desenhando (círculos). O grupo de
alunos que interagiram nessa atividade foram A, AL, C, CS, R, V, professoras 1 e 3. Esse
episódio foi dividido em duas partes, um referindo-se a significação do conceito de retângulo
e o outro de círculo.
(1) Prof.ª 1: A Prof. quer saber que forma tem essa folha? (mostrando para o papel
pardo que receberam)
(2) A: Retângulo.
(3) Prof.ª 1: Por quê?
(4) A: Por que não é quadrado, quadrado é a metade, assim cortado (faz gestos).
(5) C: Retângulo porque é comprido.
(6) (AL, CS e R respondem que é retângulo, mas não sabem o porquê).
(7) V: Quadrado.
(8) (passado um tempo...)
(9) (V precisa pegar outro papel e a professora questiona que forma tem o seu
papel, agora responde que é um retângulo e um quadrado).
(10) A: V, para ser quadrado, olha para mim, tem que ser aqui e aqui. (V continua
pintando o círculo que desenhou)
(11) Prof.ª 3: Os lados do retângulo são iguais?
(12) Prof.ª 1: O tamanho dos lados são iguais?Grupo: diferentes.
(13) Prof.ª 3: Quantos são diferentes?
(14) CS e AL: Não sei.
(15) (CS levanta e mostra os maiores e os menores)
(16) (Prof.ª 1 e C contam os lados maiores e menores e falam para os colegas: dois
maiores e dois menores).
(17) Prof.ª 1: A, por que mesmo que não é quadrado?
(18) Prof.ª 1: Por que tem dois lados maiores e...
(19) A: Dois menores.
Seguindo no episódio, observa-se que o aluno V (linhas 7-9) afirmou primeiro que o
papel era um quadrado e depois ficou em dúvida se era um retângulo ou um quadrado. A,
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tentou convencer V que era um retângulo, mas seus argumentos foram insuficientes e V fez
de conta que não ouviu. Para Van Heile (apud SMOLE et al, 2003), essas confusões são
comuns nesta fase de aprendizagem, e é papel da escola fazer o aluno avançar de nível através
de situações de aprendizagem que permitam a ele explorar, comparar, investigar, registrar e
discutir sobre as observações realizadas. Pensando nisso, as professoras (1 e 3) começaram a
questionar os alunos sobre os lados do retângulo (linhas 11-17) primeiramente sobre o
tamanho dos lados do retângulo e em seguida sobre os pares de lados paralelos. As crianças
sabiam que o tamanho dos lados eram diferentes, mas não souberam dizer como se
estabeleceu essa diferença, então, a professora 1 e a aluna C contaram os lados menores e
maiores enquanto os colegas observaram e concluíram que a figura tinham dois lados
menores e dois lados maiores.
Antes de apresentar a segunda parte do episódio, cabe esclarecer que esse foi dividido
para o melhor entendimento do leitor, mas as duas partes do episódio fazem parte da mesma
aula e aconteceram simultaneamente. A segunda parte do episódio pode nos auxiliar a
compreender a significação do conceito de círculo. Na sala de aula, professora e alunos
combinaram de utilizar bambolês para fazer os desenhos que serviram para representar os
dentes, formando uma boca para jogar o jogo dos dentes. A turma foi dividida em dois grupos
e os dois grupos participaram da atividade, sendo que recortamos a parte da aula que inclui
esse grupo de crianças por ser significativo para nossa pesquisa.
Smole et al (2003, p.20) esclarece que “A linguagem geométrica, no que diz respeito a
nomes de formas e termos geométricos específicos, desenvolve-se e é assimilada na ação,
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principalmente através de atividades escolares”. A partir dessa afirmação fica claro que a
proposição de situações de aprendizagem diversas, nos tempos e espaços da escola, auxilia a
criança a desenvolver esses conceitos incorporando ao seu vocabulário uma linguagem
geométrica. A mesma autora defende que esses conceitos/palavras sejam explorados com a
criança a partir de uma contextualização, como por exemplo, o contexto das aprendizagens
por projetos – Projeto estudando sobre os dentes.
(1) Prof.ª 1: O que vamos fazer com essa caixa? (mostrando uma caixa de papelão
no formato de um cubo)
(2) V: Um quadrado gigante.
(3) F: Um dado.
(4) Prof.ª 3: Essas faces são iguais ou diferentes?
(5) G: São iguais, menos o desenho (identifica os lados da caixa que possuem
desenho).
(6) Prof.ª 1: O V falou que essas faces se chamam quadrados?
(7) A: Porque é quatro linhas.
(8) (Professora e alunos contam o número de lados)
(9) Prof.ª 1: Por que não se chama retângulo?
(10) G e F tentam explicar...
(11) V: Retângulo é assim oh (desenhando com o dedo na mesa).
(12) Prof.ª 1: Você quer dizer que tem lados mais compridos. Esses lados são do
mesmo tamanho?
(13) A: Sim, né G.
(14) G: aha.
(15) Prof.ª 3: Trouxe uma cordinha para nós medir se são do mesmo tamanho.
(16) (Prof.ª 3 começa a medir e pede o auxílio das crianças. Prof.ª 1 solicita que L
também participe, medindo um dos lados. Constatam que todos os lados têm o
mesmo tamanho).
(17) Prof.ª 1: Então, quantas linhas do mesmo tamanho tem o quadrado?
(18) G: Quatro.
(19) Prof.ª 1: Antes de jogar como dado, o que está faltando?
(20) F: Pintar.
(21) G: Tem que por um pano.
(22) (G levanta e pega o TNT preto que está recortado na forma de quadrados e
diz: - tem que ser preto igual)
(23) Prof.ª 1: Quantos quadrados vamos precisar?
(24) Grupo: seis.
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O episódio inicia com a professora 1 questionando o que iriam fazer com a caixa que
trouxe para a aula. O aluno V identificou que as faces eram quadradas e então disse que era
um quadrado gigante, mas F afirmou que iriam fazer um dado, pois fora planejado na sala de
aula. Observamos que o aluno V (linhas 6 e 11) após a aula anterior no ateliê e as atividades
desenvolvidas na sala de aula, demonstrou que significou o conceito de quadrado e retângulo
bem como, algumas diferenças entre eles, pois identificou as faces do dado como quadrados e
mostrou através de gestos o que era um retângulo, justificando o que afirmamos anteriormente
a respeito da importância da significação dos conceitos ocorrer em situações de aprendizagens
diversas em diferentes tempos e espaços.
Juntamente com o aluno V, o restante do grupo também foi desafiado a pensar porque
o quadrado não era um retângulo, através dos questionamentos das professoras e observamos
que um colega tenta auxiliar o outro com as explicações (linhas 9 a 14). Vigotski pesquisou
sobre o papel da interação social na aprendizagem e no desenvolvimento das funções mentais,
inicialmente em relação ao adulto (professoras) e a criança, mas seus seguidores continuaram
seus estudos e incluíram na atividade grupal também as interações entre os grupos de alunos.
Rivina, um de seus seguidores após uma pesquisa com crianças concluiu que
Cabe aqui esclarecer que não se trata de qualquer atividade em grupo, pois é
necessário que a atividade proposta desafie e envolva o grupo. Pensando nisso, a professora 3
propôs ao grupo um novo desafio, medir com uma cordinha se realmente os quatro lados do
quadrado tem medidas iguais (linhas 15 e 16) e concluíram que um quadrado tinha quatro
lados do mesmo tamanho. Após essa discussão surgiu outro problema, tapar os desenhos que
apareciam na caixa de papelão em forma de cubo e para isso utilizaram novamente o conceito
de quadrado e argumentaram o porquê de sua utilização e contaram o número de faces
quadradas necessárias para colar no dado (linhas 19 a 24).
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Na parte final desse recorte de uma aula (linhas 25 a 32), observamos que outro
conceito já explorado anteriormente surge quando o grupo decide utilizar círculos para
representar as quantidades no dado e estabelecem comparações entre o tamanho do círculo
confeccionado para o jogo dos dentes e o que vai ser utilizado para o dado. Assim, na
Educação Infantil, as crianças podem explorar os conceitos envolvendo as formas
geométricas, fazendo comparações entre elas e identificando suas propriedades.
Neste capítulo, nos propomos a explorar outras notações que não somente as
envolvendo o número, nos diferentes tempos e espaços da escola. Escolhemos as notações
que foram surgindo no decorrer das aulas filmadas e transcritas, para serem discutidas e
analisadas teoricamente e, além das notações de espaço e forma, traremos para finalizar o
tratamento da informação.
No dia anterior planejamos com as crianças que escolheríamos três cores para pintar
os círculos (que representam os dentes no jogo), uma cor representaria os alimentos que são
bons para os dentes, a outra cor os alimentos que são prejudiciais aos dentes e a outra cor
seria neutra, não representando nenhuma, nem outra situação. Os alunos sentaram na
bancada30 em frente ao quadro de giz e dividi o quadro em três partes, uma para os votos de
cada cor, como havia sido planejado.
Episódio 15: A escolha das cores para pintar os círculos no jogo dos dentes
(1) (Prof.ª 1 solicita que cada criança escolha uma cor aleatoriamente)
(2) N: Rosa.
(3) C: Rosa.
(4) Prof.ª 1: Será que todos precisam votar na mesma cor?
(5) R: (pensa com o dedo no rosto e fala) roxo.
(6) A: Vermelho.
(7) F: Azul.
(8) L: Verde.
(9) V: Vermelho.
(10) AL: Roxo.
(11) J: Rosa.
(12) AC: Rosa.
(13) CS: Roxo.
(14) G: Azul
(15) Enquanto as crianças dizem a cor escolhida a professora escreve no quadro o
nome das cores e um risquinho para cada voto. O A reclama que o vermelho precisa
vencer.
(16) Prof.ª 1: Calma A, são três cores que vamos escolher!
(17) Prof.ª 1: Como podemos determinar a cor que tem mais votos? Quantos temos
no rosa?
30
Móvel com dois degraus em que as crianças sentam para reuniões, discussões, para planejarmos a agenda do
dia e escrevermos no quadro de giz.
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101
(18) (Contam juntos e dizem quatro, nas cores seguintes vão logo dizendo a
quantidade alegando que não é necessário contar indicando com o dedo, pois são
quantidades pequenas e contam apenas olhando para o quadro: roxo – 3 votos,
vermelho- 2 votos, azul- 2votos e verde- 1 voto).
(19) (A reclama e chora que quer o vermelho. A professora continua com a
atividade).
(20) Prof.ª 1: Qual a cor que tem mais votos?
(21) Grupo: Rosa. (a professora escreve no lugar correspondente a uma das cores
vencedoras, com quatro votos).
(22) Prof.ª 1: Qual a segunda cor que tem mais votos?
(23) Grupo: Roxo.
(24) G e AL: Porque ganhou 3 votos. (professora escreve roxo como a segunda cor
escolhida)
(25) Prof.ª 1: Temos um problema aqui (apontando para as cores vermelha e azul,
ambas com dois votos).
(26) G Levanta, mostra com a mão e fala: Vermelho e azul deu igual!
(27) Prof.ª 1: Que cor vamos usar, porque combinamos de usar somente 3 cores, já
temos duas, falta uma!
(28) A: Vermelho.
(29) Prof.ª 1: Por quê?
(30) A: É a cor do meu time!
(31) Prof.ª 1: Como vamos desempatar?
(32) C: Tive uma idéia, sai um dali e completa aqui (referindo-se a cor verde que
recebeu apenas um voto).
(33) Prof.ª 1: Quem votou no verde?
(34) L: Eu.
(35) Prof.ª 1: Que cor você escolhe? Vermelho ou azul?
(36) L: (fala baixo) Vermelho.
(37) (A professora escreve vermelho no quadro, como a terceira cor escolhida pelo
grupo).
Nas linhas 1 -14 as crianças escolhem as cores, através de uma espécie de votação e
iniciamos dessa forma a coleta dos dados para selecionarmos três cores a serem utilizadas.
Observamos que a coleta de dados foi utilizada para resolvermos um problema, ou seja,
conforme combinado com o grupo, não poderíamos utilizar mais de três cores. A professora
interage com o grupo quando questiona para que pensem a cor que vão escolher, não
necessitando imitar a escolhida pelo colega (linha 4) e escrevendo o nome das cores e
desenhando um risquinho para o voto de cada criança (linha 15).
Podemos observar também, no decorrer do episódio (linhas 15, 16, 19, 28, 29, 30) que
o aluno A quer que sua vontade prevaleça, ou seja, que a cor vermelha seja escolhida na
votação. A professora sugere que espere a contagem dos votos e continua com a aula, mas ele
insiste que o vermelho é a cor do seu time. A coleta de dados realizada com os alunos, onde
cada um pode fazer sua escolha nos auxiliou na tomada de decisões, pois caso contrário a
atividade não seria democrática. Além disso, introduzimos, nesse momento, a idéia de
probabilidade, com a “percepção do acaso pela apreensão do componente de
imprevisibilidade em uma situação ou fenômeno (...)” (LOPES e COUTINHO, 2009, p.70) e
a criança vai desenvolvendo o seu pensamento estatístico e se acostumando com a ideia de
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que nem tudo pode ser previsto o que foi demonstrado pela angustia do aluno A para saber se
a cor que escolheu será utilizada para a pintura dos círculos.
Seguindo com o episódio (linha 17), a professora problematiza como fará a contagem
dos votos e a definição das três cores. Logo contam e descobrem que a cor que tem mais
votos é o rosa, e a segunda é o roxo. Observamos que o conceito de número cardinal
(quantidade total de votos de cada cor) e ordinal (ordem em que cada cor ficou), discutida no
capítulo dois volta à tona e as crianças contam pequenas quantidades sem dificuldade.
A decisão da terceira e última cor que seria incluída através da coleta dos dados,
envolveu a resolução de um outro problema, apontado pelo aluno G, pois duas cores
receberam o mesmo número de votos – o azul e o vermelho. A professora não disse como
fariam o desempate, apenas questionou como fazê-lo, pois como afirma Moysés (2007, p.37)
o processo de ensino e aprendizagem e de significação dos conceitos é “um processo
dinâmico, construído passo a passo pelos alunos em estreita interação com o professor”. Para
a mesma autora, os questionamentos do professor desempenham um papel importante para a
aprendizagem, se o mesmo fizer perguntas que provocam o desequilíbrio cognitivo, ou seja,
se façam o aluno pensar sobre. A aluna C (linha 32), sugere tirar o único voto do verde e
colocar na outra cor. Então, a professora questionou quem votou no verde e o aluno L decidiu
trocar pela cor vermelha (linha 36) e esta então é a terceira cor a ser utilizada para pintar os
círculos para o “jogo dos dentes”.
Observamos que fazer escolhas não é algo fácil por diversos motivos: por quererem
repetir a cor que o colega escolheu, por mudar o voto para agradar o colega (no caso do L que
supostamente escolheu o vermelho para agradar A), etc. Segundo Silva e Buriasco (2006,
p.42) esse pode ser um momento para que as questões éticas sejam pensadas, como, por
exemplo, a confiança na própria capacidade de fazer escolhas, ter que respeitar a escolha dos
colegas, o fato de influenciarem-se ou não pela resposta dos outros.
Com a escolha das três cores, encerramos a etapa de coleta dos dados, que “são vistos
como números em um contexto, contexto este que motiva os procedimentos e é a base para a
interpretação dos resultados” (LOPES e COUTINHO, 2009, p.67). No subitem seguinte
discutiremos a organização e representação dos dados.
Cabe aqui salientarmos que como estamos falando da Educação Infantil, não temos a
preocupação com a formalização do conceito e da atividade, mas sim a introdução de um
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103
modo de “ler” uma informação que pode nos auxiliar na tomada de decisões. Após a coleta de
dados, a partir de uma situação do interesse dos alunos, torna-se necessário a organização e a
representação dos dados coletados, para que se faça a leitura e a interpretação dos resultados.
No dia seguinte, a votação para escolha das cores foi retomada para construirmos um
gráfico coletivo com as cores escolhidas e a quantidade de votos. Essa situação de
aprendizagem já foi descrita no capítulo 2, quando abordamos “a fração como função”, e
também está descrita na documentação pedagógica em anexo. Aqui podemos voltar a abordar
o tempo da simultaneidade, pois os conhecimentos neste nível de ensino não são
fragmentados e numa mesma situação de aprendizagem podemos estar explorando mais de
um conceito.
Em seguida a construção do gráfico coletivo, propus que cada criança fizesse sua
representação gráfica, pois “as crianças precisam constatar que muitos tipos de dados podem
apresentar-se sob diferentes formas e que existem muitas formas de os juntar, organizar e
exibir” (SILVA e BURIASCO, 2006 apud NCTM31, 1991, p.67).
31
National Council of Teachers of Mathematics - USA
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outro, não poderiam contar os votos e ia parecer “um papel só”. Em cima de cada coluna,
copiou do quadro de giz o nome da cor e utilizou os numerais (escritos na forma espelhada)
para representar a quantidade de votos que cada cor recebeu. No segundo registro, J colou os
retângulos de cada cor juntos no canto da folha, ou seja, se preocupou apenas em juntar os
retângulos da mesma cor e ocupou o restante da folha com desenhos, sua forma de registro
preferida. No último registro trazido aqui, L colou os retângulos espalhados pela folha, contou
a quantidade de cada cor ao colar os mesmos, mas não se preocupou com a distribuição no
espaço. Observamos que a forma de representação é subjetiva, ou seja, cada criança criou uma
forma de representar os dados coletados. Acreditamos que essa representação pode evoluir,
com a proposição de outras situações de aprendizagem, em outros tempos e espaços,
envolvendo o tratamento da informação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse momento da pesquisa, das considerações finais, constitui-se uma das mais
importantes etapas deste trabalho, pois é o espaço no qual o pesquisador apresenta suas
conclusões sobre a temática investigada, destacando o percurso metodológico, as escolhas
realizadas e o que foi significativo nesse processo, enfim, como a pesquisa foi construída e
que contribuições pode trazer para a educação.
Além disso, tivemos o intuito de mostrar que as situações de aprendizagem, para que
se tornem significativas para as crianças, neste nível de ensino, podem ser contextualizadas a
partir das aprendizagens por projetos, onde o assunto do projeto surge do interesse dos alunos,
buscando a partir daí a interação dos alunos e dos professores com o saber matemático.
Assim, o conhecimento é visto como um todo e as diversas áreas do conhecimento são
exploradas de forma não fragmentada, embora nesse estudo, tivemos a intencionalidade de
focar a matemática.
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Com o objetivo de compreendermos essa proposta, desde que essa pesquisa era apenas
um desafio, uma ideia a ser discutida com a orientadora e os professores do curso de
mestrado, tínhamos a clareza de que era necessário que dados empíricos fizessem parte da
investigação e que esses seriam coletados nas aulas, por mim ministradas nessa instituição de
ensino e o referencial teórico seria constante e articulado. Compreender, analisar e buscar
respostas para as questões a serem investigadas, envolvendo a minha própria ação docente foi
um desafio para mim, pois desempenhei ao mesmo tempo o papel de professora e de
pesquisadora.
O foco central dessa pesquisa foi a significação dos conceitos matemáticos pelos
alunos e a aprendizagem (ou não) desses conceitos, nos diferentes tempos e espaços da escola,
a partir da proposição de situações de aprendizagens significativas e contextualizadas. Dentre
os tempos e espaços tiveram especial destaque ao espaço da cozinha pedagógica e do ateliê e
os tempos destinados as aprendizagens por projetos.
Cabe pontuar que quando falamos em espaços, estamos nos referindo não apenas a
dimensão física da escola, com seus móveis e objetos, mas também às relações que se
estabelecem entre os adultos e as crianças nesse ambiente, ou seja, ao espaço construído e ao
espaço social. O mesmo ocorre com relação aos tempos, que não são apenas aqueles
cronometrados através do relógio e do calendário, mas também a sequência de momentos em
que as atividades acontecem na escola infantil, o tempo simultâneo no qual várias situações
acontecem ao mesmo tempo e o tempo subjetivo, individual de cada criança sujeito.
A tentativa de fazer com que o leitor compreenda esse nosso entendimento de espaços
e tempos, a proposta pedagógica da escola, quem são os sujeitos que estavam envolvidos na
pesquisa, bem como o nosso interesse pela pesquisa, tornou-se imprescindível no primeiro
capítulo da dissertação.
formando cidadãos críticos, sujeitos com direitos e deveres, que aprendem a pensar e a
conhecer o mundo que os cerca, que têm voz e vez e que interagem com os adultos e crianças
que fazem parte da escola. Nesse sentido, a Educação Infantil é um “lugar de aprendizagens”,
com espaços e tempos diferenciados, que envolvem a interação de adultos e crianças, no
complexo processo de aprender e ensinar.
A segunda e terceira parte do texto foram marcadas pela interlocução entre os dados
empíricos e teóricos, buscando respostas para a nossa questão a ser investigada. Isso foi
possível através da proposição de ações didático-pedagógicas, nos diferentes tempos e
espaços da escola, que desencadearam situações de aprendizagem envolvendo diferentes
notações matemáticas, que talvez fossem mais difíceis de serem propostas ao grupo de forma
descontextualizada e ao mesmo tempo, possibilitando várias situações para que os alunos
significassem um mesmo conceito.
Cabe salientarmos que nessa pesquisa utilizamos o termo “conceitos”, no sentido que
foi investigado pela teoria sócio-histórica, ou seja, acreditando que na Educação Infantil são
“pseudoconceitos”, mas não deixando de destacar a importância de iniciarmos a significação
destes neste nível de ensino, pois irão evoluir com o tempo, para os conceitos propriamente
ditos, através de processos de generalização e abstração.
pesquisa a notação de número natural e seus diferentes usos, a qual acreditamos ser a mais
explorada pelos educadores nas escolas infantis. Além dessa, acreditamos que outras notações
podem ser exploradas neste nível de ensino, tais como: a introdução do número racional
(alguns aspectos), as relações espaciais e as formas geométricas que são previstas em lei
(RCNEI), mas muitas vezes são “esquecidas” pelos educadores. Para finalizar, abordamos o
tratamento da informação, que embora não esteja previsto em lei, já faz parte dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) da Educação Básica e de pesquisas envolvendo educadores da
área, sendo considerado importante por possibilitar a leitura e a interpretação de dados no
espaço em que vivemos.
Evidenciamos que, durante a análise sistemática dos episódios, além do apoio dos
autores da didática da matemática e da base legal (RCNEI), para explicitar os conceitos
envolvidos, buscamos entendimentos na teoria sócio-histórica visando compreender o que são
conceitos, conceitos científicos e espontâneos, o papel da atividade compartilhada, da zona de
desenvolvimento proximal, da imitação, do processo de internalização e da mediação através
de símbolos e da linguagem oral na aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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relação rural-urbano. In: ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO PENSANTO
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BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil.
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HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores, sons, aromas. A organização dos espaços
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MOYSÉS, Lucia. Aplicações de Vigotski à Educação Matemática. Campinas, SP: Papirus,
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SOARES, Maria Tereza Carneiro; MORO, Maria Lucia Faria. Desenhos, palavras e
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Tradução Jéferson Luiz Camargo.
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Tradução José Cipolla Neto e outros.
ANEXOS
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ANEXO 1
O projeto sobre os dentes foi desenvolvido com o grupo três da Educação Infantil, 4 –
5 anos no ano de 2009 e as Professoras Clarice Stadtlober e Mirta Castro (arte-educadora).
Passados alguns dias a CS também estava com um dente mole e na hora do lanche este
caiu e todos puderam observar. Começaram a surgir dúvidas sobre o assunto: Por que os
dentes caem? Por que meus dentes ainda não caíram? Por que meu dente caiu e ainda não
nasceu outro?
Nas aprendizagens por projetos, o assunto para o projeto pode surgir com a escuta do
professor, que tem a intencionalidade de, durante as atividades do cotidiano, (brincadeiras,
conversas informais com os educandos, na cozinha pedagógica, nos espaços externos da
escola) perceber o interesse do grupo. O assunto pode ser decidido também em votações (no
caso desse projeto) ou por decisão do grupo em assembleia.
Um projeto [...] pode iniciar através de uma sugestão de um adulto, da ideia de uma
criança ou a partir de um evento, como uma nevasca ou qualquer coisa inesperada.
Contudo cada projeto está baseado na atenção dos educadores àquilo que as crianças
dizem e fazem (RINALDI, apud Edwards, 1999, p.119).
Definido o assunto para pesquisa questionei as crianças sobre o que gostariam de saber
sobre eles e as questões levantadas foram as seguintes:
As questões para pesquisa foram por mim organizadas na forma de teia do projeto em
quatro subtemas: formação dos dentes, cuidados com os dentes, fada do dente e a cárie. Os
alunos ilustraram as questões e participaram da montagem de uma teia grande para ser
exposta na parede e para ser visualizada quando necessário.
Além das questões para pesquisa, também questionei o grupo onde iríamos pesquisar
sobre o projeto e fizemos uma listagem: no computador, no dentista, nas crianças, em livros,
livros de história, revistas, objetos, filmes, na casa das crianças. Os materiais que foram sendo
trazidos foram organizados no canto da pesquisa para as crianças explorarem e fazerem suas
próprias observações. Como afirma Barbosa:
No primeiro dia do projeto, mostrei fotos que tirei do sorriso das crianças e solicitei
que identificassem o seu sorriso. Esta situação de aprendizagem teve como objetivo
estabelecer relações de identidade e a escrita do próprio nome. Durante esta atividade ocorreu
uma situação inusitada: O aluno A começou a chorar no momento em que ia fazer as bordas
no papel onde seria colada a foto e escrito o nome. Então perguntei qual o motivo.
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117
Foi quando eu observei melhor a foto e vi que não era a sua foto, pois estava trocada
com a do colega F. Então, solicitei que comparassem as fotos e neste momento G disse:
- C: Dedo.
- G: Dente.
- N: Dinossauro.
O mesmo procedimento foi feito com as outras letras. Entreguei a ficha didática e pedi
para que eles escrevessem ou desenhassem do seu jeito o que começa com cada letra,
explorando a letra inicial das palavras.
Seguindo com o projeto, após ouvirmos a história “Uma Linda Janelinha” sobre os
dentes de leite que estavam caindo numa menina, organizamos uma dramatização, na qual
cada aluno escolheu seu personagem. A dramatização foi apresentada para o grupo dois da
Educação Infantil.
A música fez parte das atividades desencadeadas pelo projeto. Ouvimos a música
“Você tá tão diferente” – Kalunga no CD cantamos e exploramos a letra da música escrita,
onde cada um procurou a palavra dente, pintou as letras do seu nome e ainda ilustramo-la
através de desenhos. Além da música, outros gêneros literários integraram o projeto. A
história em quadrinhos fez parte das situações de aprendizagem, também como forma de
pesquisa sobre o assunto do projeto.
Observou-se pelas falas das crianças a construção, através das figuras, de uma história.
Sendo um dos meios de comunicação e expressão que reflete seus conhecimentos.
Convidamos a Dentista Potira Meireles para falar sobre os cuidados com os dentes e
sobre a importância de ir ao dentista. As crianças também questionaram se precisaria ir ao
dentista para arrancar dentes de leite. Após registraram a visita através de desenhos.
Apesar da sensação inicial estavam curiosos, querendo abrir todos os bonecos e ver
como era o corpo por dentro. O Augusto tirou um coração do boneco e colocou novamente.
Continuaram fazendo questionamentos e dando suas opiniões.
Quando a criança fala sobre a morte devemos permitir que ela expresse sua dor seu
sentimento suas emoções e compartilhar este sofrimento tão importante para ela. Dar
espaço, ouvir toda sua manifestação para que ela possa elaborar essa morte como
sendo algo real na sua vida dando um sentido significativo, mas não traumático.
O segundo grupo que foi ao laboratório não teve a mesma sensação do outro grupo.
Explicamos que o laboratório é um lugar de estudo e pesquisa e fizemos questionamentos
sobre o que já tinham estudado sobre os dentes e o que estavam vendo. Fizeram perguntas
sobre os dentes e a arcada dentária e sobre os bonecos que representavam o corpo humano.
Após ouvirem uma história sobre higiene bucal, uma das situações de aprendizagem
desenvolvidas foi a exploração de argila, através da confecção de uma escultura,
desenvolvendo a coordenação motora ampla e fina. Foi dado um pedaço de argila para cada
aluno construir a escultura do que mais gostou da história. No momento da construção, a
professora observou as seguintes falas:
32
Termo usado por Chevallard (1991)
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Continuando com nossas pesquisas, registrei que as crianças gostariam de saber o que
era creme dental com flúor, pois tinham escutado sobre isso no vídeo explorado na semana
anterior. Então, trouxe uma história no CD sobre o flúor e orientações sobre o seu uso, onde
encontramos o flúor. Em seguida, observamos o líquido e fizemos um bochecho com ele.
Para finalizarmos as pesquisas sobre os amigos dos dentes, exploramos uma história
na internet (Canal Kids) chamada: O batalhão da limpeza. Após ouvirem a história contada
pela professora no computador cada criança recriou a história na forma de quadrinhos e a
educadora fez o registro através da escrita.
O projeto também se fez presente nas aulas de Educação Física, quando adaptei
algumas brincadeiras folclóricas usando as palavras relacionadas ao projeto. Podemos citar
com exemplo, a brincadeira “gato e rato” que foi substituída pela escova e bactéria, onde a
escova queria pegar a bactéria. Na brincadeira, “mamãe eu quero doce” a mamãe chaveia os
doces na geladeira para as crianças não comerem antes de ela chegar e em seguida mandar
que escovem os dentes.
V: Tem que ir no dentista para tirar a cárie, ela não morre sozinha!
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Essa nos parece uma questão a ser refletida, pois o que Chevallard (1991apud
Menezes, 2006) chamou de tempo didático em suas duas dimensões: tempo de ensino e tempo
de aprendizagem, pode nos auxiliar no entendimento da situação descrita anteriormente. O
tempo de ensino não é o mesmo tempo que o aluno leva para aprender, por isso nem sempre
um saber a ensinar é um saber ensinado. O tempo de aprendizagem é o tempo necessário para
que o aluno aprenda e considerando a individualidade de cada um este tempo varia de criança
para criança, sendo necessário que se explore os conceitos em diferentes situações de
aprendizagem.
Barbosa (2006) afirma que a variabilidade de duração de uma atividade é definida pela
importância dada a ela pelos adultos, a faixa etária das crianças envolvidas, as possibilidades
de exploração (...). Neste caso o trabalho com o glossário está acontecendo conforme o
projeto vai se desenvolvendo.
O A tava se preparando para ir para selva. Ia levar um kit de higiene bucal com dez
objetos. Três foram perdidos, quantos sobraram?
Autores: A, C e CS.
Uma pessoa não tinha objetos para cuidar dos dentes. Então ela comprou dez
coisas. Ela gastou uma escova e duas pastas. Quantos sobrou?
Autores: AC, AL, L e J.
A R tinha 10 objetos da limpeza bucal. Ela tirou dois para o G e um para a N.
Quantos sobrou?
Autores: N, V, G, R.
Cabe aqui ressaltar que cada criança representou e resolveu a situação problema
utilizando-se de suas próprias estratégias, pois a forma de pensar de cada criança e o processo
envolvido é singular. A maioria das crianças desenhou os objetos e decidiu fazer um “X”
naqueles que iriam tirar, em seguida contaram os que sobraram e registraram a quantidade
através de numerais. A aluna N circulou os objetos que iria tirar e escreveu a quantidade ao
lado através dos numerais. O L desenhou uma espécie de espiral em cima dos desenhos que
iria tirar. O A fez uma flecha apontando para os objetos que seriam tirados e usou o princípio
aditivo para explicar os que tinham sobrado: 1+2+1+3 é sete.
Para Smole et al. (2000), um dos maiores motivos para o estudo da Matemática na
escola é desenvolver a habilidade de resolver problemas. Através dessa perspectiva
metodológica os alunos são envolvidos em fazer matemática, isto é, eles se tornam capazes de
formular e resolver por si questões matemáticas, relacionando e formando conceitos
matemáticos.
Voltando a teia do projeto, observamos que tínhamos uma questão relacionada aos
cuidados com os dentes e alguns alimentos. Pesquisamos na internet e em livros na biblioteca
da escola sobre os alimentos que são prejudiciais e os que são saudáveis para os dentes.
Registramos as descobertas através de desenhos. Ouvimos histórias no Cd “A balinha sapeca”
e “E agora”, que se referem a alimentação correta e os dentes.
O F trouxe uma embalagem de chicletes que tinha um dente desenhado e explicou para
os colegas que aquele chiclete não continha açúcar. Na cozinha pedagógica, as crianças
lembraram de que precisamos comer frutas depois de comer um bolo, por exemplo, pois as
frutas auxiliam na limpeza dos dentes.
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No dia seguinte, voltamos a teia para marcar o que já havíamos estudado sobre o
projeto, quais as questões que foram respondidas.
J continuava preocupada com seu dente que ainda não cresceu, e C se vai ou não
precisar usar aparelho nos dentes. Ficou combinado que trabalharíamos com as questões
referentes à Fada do dente e após iríamos visitar o consultório de uma dentista e poderiam
fazer essas perguntas para ela.
A história da Fada do Dente foi explorada com um vídeo do cocoricó “dente por
dente”. Em seguida desenhamos sobre a mesma. C que já vivenciou a história em sua casa
também contou do seu jeito para os colegas que registraram na forma de história em
quadrinhos. Conversamos sobre as partes que deve ter uma história: início, meio e fim.
Concluímos que acreditar em Fada do dente é como acreditar em Coelho da Páscoa e Papai
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Noel. Vivenciar o imaginário e as diferentes formas literárias foi um dos objetivos dessa
pesquisa.
Além disso, propus ao grupo a resolução de uma situação problema criada por mim, e
os alunos tiveram que representar a resolução utilizando desenhos. Pude observar diferentes
estratégias de resolução. O aluno A afirmou não precisar de moedas e foi logo repartindo e
representando as quantidades e a solução do problema. A maior parte do grupo solicitou
moedas para realizar a atividade antes de registrar no papel e desse grupo alguns resolveram
sozinhos e outras com a minha mediação .
Entende-se que os conceitos são significados pelas crianças a partir das experiências
proporcionadas pelas interações com o meio, com a realidade concreta, com os outros
sujeitos, sejam elas crianças ou adultos. Na Educação Infantil, os conceitos que são
elaborados servirão como base para a construção de outros, mais complexos, nas séries
seguintes.
outras o corpo inteiro, a N estava preocupada se iria dar espaço para todos os colegas, o F
desenhou uma pessoa bem grande e logo fez os outros colegas menores para conseguir
organizar no espaço da folha, a AC desenhou uma pessoa para mais e então disse que seria a
professora que iria acompanhar o grupo, a AL desenhou uma menina e colocou o número
quatro ao lado e um menino e o número dois ao lado (explicou: “quatro mais dois dá seis”).
Ao repartir a folha com a régua em duas metades iguais para desenhar cada grupo e
através dos questionamentos que fizeram com que o grupo concluísse que se formaram dois
grupos com a mesma quantidade de elementos, trabalhamos não só as questões relacionadas à
exploração do espaço, mas também o conceito de metade, como se observa na fala das
crianças:
A R disse que não lembrava como se escreviea “seis” para registrar no seu trabalho e
então foi pesquisar no calendário dos dias do mês.
Após a divisão do grupo, realizamos uma votação para escolhermos as cores que
utilizaríamos para pintar os círculos (bambolês) para a montagem do jogo. Registrei os votos
no quadro e o resultado foi o seguinte: rosa – 4 votos, vermelho-2 votos, roxo - 3 votos, azul –
2 votos e verde – 1 voto. Como iríamos escolher três cores para o trabalho surgiu um impasse:
o vermelho e o azul tinham o mesmo número de votos e precisávamos nos decidir por uma
cor. C sugeriu que o voto do verde fosse deslocado para outra cor e o grupo aceitou a ideia e o
colega L votou no vermelho.
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No dia seguinte, a votação para escolha das cores foi retomada para construirmos um
gráfico com as cores escolhidas e a quantidade de votos. A professora recortou retângulos da
cores que receberam votos e pediu que cada criança identificasse o seu voto do dia anterior:
L: o meu é azul.
G: não é não, é vermelho.
R: rosa.
Grupo: Prof. ela votou no roxo.
Os alunos passaram cola e foram colando seus votos, um de cada vez, de forma
autônoma e com a supervisão dos colegas que sugeriam: está um pouco torto, tem que colar
mais para o lado.
Professora: Agora que colamos todos podemos saber de quem é cada voto?
AL: o meu dá, o meu roxo tem umas manchinhas um pouquinho brancas.
Professora: qual a cor que venceu?
N: Rosa!
Professora: Quantas cores combinamos de usar?
Grupo:Três.
Professora: Quem ficou em segundo?
N: Esses dois, porque são do mesmo tamanho (mostrando para o roxo e o vermelho
no gráfico)
Professora: Por que não usamos o azul?
N: O azul foi o último.
C: Por que ficou por último.
Professora: Como vamos saber se tem o voto de todos os alunos no gráfico?
A: Podemos escrever os nomes em cada voto.
Professora: não tem outro jeito?
CS começou a contar quantos votos haviam e falou:
- É só contar, tem doze!
Professora: E doze são todos os colegas?
Grupo: aha...
Nesta situação de aprendizagem, o grupo foi encorajado a refletir sobre suas ações e a
resolver problemas que surgiram, além de explorar as primeiras noções de estatística.
Segundo o RCNEI (1998, p.217):
Prof.ª 1: A Prof. quer saber que forma tem essa folha? (mostrando para o papel
pardo)
A: Retângulo.
Prof.ª 1: Por quê?
A: Por que não é quadrado, quadrado é a metade, assim cortado (faz gestos).
C: Retângulo porque é comprido.
(AL, CS e R respondem que é retângulo, mas não sabem o porquê).
V: Quadrado.
(A quer pintar o papel)
Prof.ª 1: Podemos pintar o papel sem fazer o desenho?
Grupo: Toda folha.
Prof.ª 1: Combinamos de pintar toda folha?
Grupo: Não.
C: Vamos pintar a bola!
(Prof.ª 1 lembra do combinado do dia anterior de usarmos bambolês para
representar os dentes).
Prof.ª 1: Vamos usar os bambolês para representar o que?
Grupo: os dentes.
(Prof.ª 1 distribui os bambolês e combinam de desenhar, riscando pelo lado de
dentro do bambolê com o lápis. Algumas crianças pedem auxílio às professoras
para segurar o bambolê enquanto desenham).
Prof.ª 1: Que forma é essa que a gente está desenhando?
CS: bola.
Prof.ª 1: A, como você acha que se chama?
Grupo:Bola.
Prof.ª 1: Será que não tem outro nome?
A: redondo.
(desenham e entregam os bambolês para a prof.)
Prof.ª 1: Todo mundo desenhou o seu redondo? A forma que a gente desenhou é
igual a do papel?
Grupo: Não
AL: Não, essa é uma bola.
(Professoras organizam e distribuem as bandejas com tinta, rolos e pincéis para a
pintura dos círculos e as crianças começam a pintar).
(Prof.ª 1 questiona novamente se não tem outro nome para o desenho que fizeram).
Grupo: Uma bola
A: círculo.
Prof.ª 1: Será que se chama círculo?
A: Uma bola é um círculo!
Prof.ª 1: Vamos perguntar para a Prof.ª 3 se é um círculo?
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Outro aspecto que podemos analisar com o recorte acima é a proposição de situações
de aprendizagem envolvendo diferentes notações matemáticas, como afirma Smole (2000,
p.9):
No dia seguinte, planejamos o que incluiríamos de coisas boas e ruins para os dentes.
A professora digitou e as crianças ilustraram. As frases são as seguintes:
Neste dia, os meninos voltaram aos conceitos de quadrado e círculo, além de explorar
o peso do dado, a noção de quantidade e a construção tridimensional. As meninas
organizaram uma sequência lógica de cores, de numerais e organizaram o mesmo no chão do
ateliê para ver como ficaria no dia em que iríamos jogar.
Na semana seguinte, durante a aula de Educação Física, jogamos o jogo dos dentes na
sala dos espelhos (no ginásio). Neste dia, cada criança teve que jogar o dado e avançar tantas
casas, conforme o que tirou no dado. Aconteceram empates e duas ou três crianças tiveram
que dividir o mesmo espaço no círculo, fizeram estimativas sobre a quantidade que
precisariam tirar para passar um colega, um círculo em que teriam que retornar caso parassem
nele ou para ganhar o jogo. No final, classificamos os jogadores conforme a ordem de
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Buscamos esclarecer que não se trata de jogar por jogar, sem uma intencionalidade,
mas com o planejamento do professor, para alcançar objetivos pré-determinados, como
podemos perceber na afirmação a seguir (BRASIL, 1998, p.221): “O jogo pode tornar-se uma
estratégia didática quando as situações são planejadas e orientadas pelo adulto visando a uma
finalidade de aprendizagem, isto é, proporcionar à criança algum tipo de conhecimento (...)”.
No retorno das férias do mês de julho, cada criança elaborou suas conclusões sobre o
projeto “O que aprendi com o projeto”:
Com esta situação de aprendizagem, cada criança foi desafiada a expressar o que
entendeu através da linguagem oral e do desenho. Suas falas foram registradas pela professora
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através da linguagem escrita. A importância da fala para resolver um problema, expor uma
idéia é trazida por Vigotski:
Quanto mais complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior
a importância que a fala adquire na operação como um todo. Às vezes a fala adquire
uma importância tão vital que, se não for permitido seu uso, as crianças pequenas
não são capazes de resolver a situação (2008, p.34).
Acreditamos que o projeto foi significativo para o grupo, pois esteve presente em
diversos tempos e espaços da Educação Infantil (ateliê, biblioteca, laboratórios, sala de vídeo,
sala de aula, ginásio da escola...). O espaço nunca é neutro, ele poderá ser estimulante ou
limitador das aprendizagens, dependendo de como for organizado, sendo considerado um
sistema vivo e em constante transformação. O espaço escolar também não é somente o de sala
de aula, mas todos os seus prolongamentos possíveis.
ANEXO 2
SENHORES PAIS:
Nós pesquisadores garantimos que o anonimato do seu filho (a) está assegurado,
podendo você ter acesso as suas informações e realizar qualquer modificação no seu
conteúdo, se julgar necessário. Você tem liberdade para recusar a participação do seu filho na
pesquisa, ou desistir dela a qualquer momento sem que haja constrangimento, podendo
solicitar que suas informações sejam desconsideradas no estudo.
Está garantido que você não terá nenhum tipo de despesa financeira durante o
desenvolvimento da pesquisa, como também, nenhum constrangimento moral dela decorrente.
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Eu, Clarice Brutes Stadtlober, bem como minha orientadora, assumo toda e qualquer
responsabilidade no decorrer da investigação e garanto que suas informações somente serão
utilizadas para esta pesquisa, podendo os resultados virem a ser publicados.
O presente documento foi assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o
responsável pela criança e outra com o pesquisador:
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