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ISSN: 2525-8761
RESUMO
A falta de cumprimento do ciclo operacional de desmonte de rocha acarreta em resultados
indesejáveis, tanto na qualidade e produção, quanto na preservação do maciço rochoso
remanescente. Ao se adotar o ciclo operacional, tem-se a preparação da área a ser
detonada conforme padronização da sequência das etapas subsequentes, otimizando o
desmonte. As conclusões da pesquisa demonstram que é imprescindível buscar a
qualidade da detonação, que contribui significativamente para a fragmentação desejada e
com o menor impacto no maciço rochoso remanescente, e evitar a instabilidade da área
operacional, que pode impossibilitar as próximas operações de explotação.
ABSTRACT
Failure to comply with the operating cycle of rock blasting entails in undesirable results.
Both in quality and production, as well at preservation of the remaining host rocks.
Adopting the operating cycle, has the preparation area to be detonated according
production planning and standardizing of the subsequent stages. This optimizes the rock
blasting. The conclusions of this research demonstrate that it is essential looking for
quality of detonation, which contributes significantly to desired fragmentation and with
minimum impact on the remaining rock mass, and avoid instabilization the operational
area and, consequently may turn the exploitation impossible.
1 INTRODUÇÃO
Devido à necessidade de cumprimento da produção de minério, percebe-se que a
etapa de desmonte de rocha (primeira fragmentação) é a etapa chave para viabilizar o
transporte do material. Sabe-se que a detonação das rochas pode ser realizada sem
obedecer aos ciclos operacionais, mas que tal fato comprometerá significativamente os
resultados do desmonte.
De acordo com Kurcewicz (2004) , a criação de ciclos operacionais para o
desmonte de rocha contribui significativamente para a qualidade da detonação. Isso
porque a queima de etapas implica em uma falta de controle da detonação que
proporcionará um desmonte sem qualidade, causando grandes impactos na rocha,
fragmentação indesejada, perda de face livre e automaticamente o não cumprimento das
metas de produção estabelecidas.
Por isso, há diversos estudos na área da Engenharia de Minas voltados a descrever
como se minimizam as perdas existentes nessa etapa, pois sabe-se que qualquer resultado
negativo impactará diretamente na produção planejada e, consequentemente podendo
gerar prejuízos econômicos ao empreendedor. Diante das necessidades de melhoria no
desmonte de rocha na lavra de mina subterrânea, percebe-se a importância de conhecer e
planejar corretamente todas as etapas do ciclo operacional, o que irá contribuir para uma
qualidade do processo e menor impacto nas rochas encaixantes.
As aplicações dessas etapas incidem em procedimentos de ciclo operacional, que
consiste em atingir uma padronização de sequências operacionais, evitando “queima” de
etapas. As sequências dessas etapas compreendem a preparação do ambiente de trabalho
para a perfuração, levantamento topográfico, perfuração, monitoramento da qualidade de
perfuração através da perfilagem, filmagem dos furos para identificação de estruturas,
desenvolvimento do plano de fogo e controle de vibrações através de sismógrafo.
Este artigo apresenta relevância teórica e prática por realizar um estudo
bibliográfico e descritivo dos processos envolvidos nos ciclos operacionais de desmonte
2 METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos consistiram na análise e descrição sistemática
dos fatores e instrumentos envolvidos no desmonte de lavra de mina subterrânea.
Primeiramente, realizou-se a análise descritiva e exploratória de diversos relatórios
obtidos de uma empresa de grande porte de mineração.
Por questões de ética científica, adotou-se um nome fictício para a mesma, pois o
objeto de pesquisa incide somente sobre os relatórios já existentes de desmontes já
concluídos e não sobre a empresa como instituição.
Em um segundo momento, realizou-se uma pesquisa bibliográfica apresentando
autores que convalidam a importância e interferência de cada etapa do ciclo operacional
no desmonte subterrâneo.
Por fim, apresentou-se um detalhamento de cada etapa desse ciclo, como devem
ser realizadas e as devidas influências no desmonte de rocha.
É importante destacar que se trata de uma pesquisa qualitativa, aliada a
observações do próprio autor baseados em sua experiência profissional em área correlata
ao tema. Portanto, no próximo capítulo, apresentam-se os tópicos referentes às etapas do
ciclo operacional e suas devidas considerações.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 PREPARAÇÃO DO AMBIENTE DE TRABALHO
Segue a descrição das etapas necessárias, bem como suas devidas considerações:
➢ Preparação de pista: É o procedimento necessário para remoção do “repé”, rocha
in situ que não foi fragmentado no processo de desmonte, localizadas nas laterais ao longo
da galeria. O repé ocorre devido a falhas nas detonações sucessivas do desenvolvimento
para abertura da galeria. Para essa remoção, é necessário que uma retro escavadeira raspe
todo material ou utiliza-se um rompedor para quebrar a rocha. Em seguida faz-se o
nivelamento da pista com uma moto niveladora. É importante manter o grau de inclinação
ascendente em sentido ao final da galeria para drenagem da água gerada pela perfuração
e dimensionamento adequado da galeria para equipamento de perfuração.
(ALVARENGA, 2012)
➢ Adaptação de tubulação hidráulica, tubulação de ar comprimido e cabo elétrico:
As adaptações de tubulação hidráulica, ar comprimido e cabo elétrico tem que respeitar
os pontos demarcados evitando que sejam fixados na malha de perfuração. Esse
procedimento é essencial para manter o emboque do furo, conforme planejado. E, de
acordo com Rodovalho (2013), a infraestrutura é de grande relevância para o
desenvolvimento das atividades na mina.
➢ Ventilação e captação de água: O duto de ventilação será fixado no teto ao longo
de toda galeria, sendo removido em lances conforme o recuo do equipamento de
perfuração. Desta forma, evita-se que representem barreiras, impedindo a realização dos
furos, ou atrapalhando as manobras que o operador precise realizar no processo. Neste
realce, faz-se necessário a instalação de uma bomba no sump para drenagem da água
gerada pelo equipamento de perfuração.
A Figura 1 mostra uma adaptação da adequação da infraestrutura.
3.3 PERFURAÇÃO
Segundo Quaglio (2003), a perfuração é a etapa que contribui para atender à
demanda da produção da mina, bem como a conservação das encaixantes para não ser
perfurada e automaticamente detonada. (GOMES 2011)
A sequência para execução da perfuração segue os passos descritos abaixo:
➢ Escalação do equipamento: O equipamento será escalado na extremidade do
realce em pontos estratégicos, respeitando a altura correta, inclinação e afastamento
conforme registrado no projeto. Nesse procedimento, o operador deve mante a
estabilidade do equipamento, que é feito através da patola (Figura 6).
➢ Parâmetros de pressão: Os parâmetros envolvidos na perfuração percussão,
avanço e rotação devem ser controlados através das variáveis operacionais, como
pressões de água e ar comprimido, respeitando os parâmetros do fabricante. Caso
contrário, poderão ocorrer desvios no furo (SILVA 2009). As pressões de ar comprimido
e água, que chegam ao equipamento devem ser adequadas conforme mostra o Quadro 2:
➢ Emboque dos furos: Caso ocorra o erro no emboque do furo, certamente ocorrerá
desvio. A Figura 7 apresenta um comparativo do furo planejado na cor lilás e realizado
na cor vermelha, demonstrando falha no emboque dos furos.
Figura 7: Comparativo de furo planejado e furo realizado causado por falha no emboque
3.4 PERFILAGEM
A etapa da perfilagem, segundo Webber (2008) é utilizada nos furos de desmonte
em minas.
Nesta etapa realiza-se a avaliação do furo, convalidando a qualidade quanto às
exigências de ângulo, inclinação e profundidade que estão registrados no projeto de
perfuração. Os dados de perfilagem são extraídos a partir de ferramentas com sensores
que são inseridos nos furos para identificação de possíveis desvios. Após o processo em
campo, os dados são tratados por software, que demonstram através de figuras o
Figura 8: Operação em campo com sensor de perfilagem (a) ; fixação do sensor nas hastes (b).
3.5 FILMAGEM
A filmagem é realizada com uma câmera fixada na ponta de uma haste e
introduzida dentro do furo de forma manual para visualização de 360 graus da parede dos
Figura 10: Operação de filmagem (a); Furo com cisalhamento(b) e Intercepção de 2 furos(c).
Nessa etapa, será extremamente necessário ter em mãos os dados das etapas de
perfuração, perfilagem e filmagem, para que cálculo adequado da quantidade de
explosivos, retardos e demais acessórios para cada furo e consequentemente cada linha a
ser desmontada. Devem-se considerar os resultados das detonações anteriores e os dados
do sismógrafo, que apontarão possíveis irregularidades prejudiciais ao desmonte. Cada
plano de fogo deve ser readequado mediante o cenário atual da área a ser desmontada.
Figura 11: Leque carregado com explosivo (a); Resultado da do leque 10 (b); Leque carregado com
explosivo (c)
3.7 SISMOGRAFIA
A sismografia será a ferramenta que avaliará a qualidade do desmonte quanto a
suas vibrações. Tal ferramenta é necessária neste ciclo operacional (GONTIJO, 2014). A
sismografia é o avaliador entre a fragmentação da rocha mineralizada e a rocha que deve
ser conservada com o menor impacto possível, pois, ainda de acordo com Ribeiro (2008),
é a conservação dessa estrutura que contribuirá para a vida útil da mina.
Nesta etapa tem-se, também, uma avaliação da detonação, objetivando monitorar
e adequar as vibrações do maciço rochoso decorrente das detonações, visando o menor
impacto nas rochas encaixantes. O sismógrafo será fixado com gesso na parede da galeria
em localização segura, próximo da área a ser detonada (Figura 12).
Figura 12: Fixação do sismógrafo (a)e localização da fixação do sismógrafo e detonação (b)
Figura 14: Identificação dos furos (no leque) que causaram vibrações
As etapas descritas nesse artigo não são inovadoras, mas, por vezes, são deixadas
em segundo plano, prejudicando a qualidade do desmonte e impactando diretamente na
produção e na vida útil da mina. Uma instabilidade do maciço rochoso, causada por falhas
de detonação, poderá trazer sérias consequências, como interdição da área de lavra.
É sabido, especialmente pelos gestores, que não aplicar todas as ferramentas do
processo de desmonte de rocha não impedirá a detonação, mas é indiscutível, como se
demonstrou nesse estudo, a relevância de aplicá-las.
A adesão ao ciclo operacional contribuirá significativamente, ao longo de
detonações sucessivas, para melhoria da produtividade atendendo a meta almejada,
conforme planejamento da área operacional, melhoria na fragmentação do material e para
manter a estabilidade das rochas encaixantes.
Esse estudo, com foco qualitativo, deixa margens para o desenvolvimento de um
estudo quantitativo, com a prática do procedimento do ciclo operacional, visto que, cada
uma de suas etapas influencia na mitigação ou supressão de erros que comprometem a
produção planejada e, consequentemente a segurança e a economicidade da lavra.
Recomenda-se, portanto, para trabalhos futuros, um estudo quantitativo,
comparando dados da produtividade e custos envolvidos antes da aplicação do
procedimento operacional e após a sua implantação.
REFERÊNCIAS
BARROS, Adriano Jose de; ALEXANDRINO, Júnia Soares; DINIZ, Lorena Thainara;
CASTRO, Karen Quintão (2017). Estudo de caso: rendimento do desmonte na abertura da
face livre na lavra subterrânea mina córrego do sítio no município de Santa Bárbara, estado
de Minas Gerais, na porção nordeste do Quadrilátero Ferrífero (QF), com foco no
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2017
SILVA, Valdir Costa (2009). "Curso de min 210–Operações mineiras." Ouro Preto:
Departamento de Engenharia de Minas. DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE
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<https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/46043998/docslide.com.br_apostila-
desmonte-de
rochas.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1506354861&Si
gnature=X1tmostnhriNiCLiXqjophO9xds%3D&response-content-disposition=
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