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UFBA – UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

EA – ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PDGS – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL

DENICE SANTIAGO SANTOS DO ROSÁRIO

BRANCO CORRENDO É ATLETA, PRETO CORRENDO É LADRÃO:


AVALIAÇÃO, MONITORAMENTO E OBSERVATÓRIO DA PRÁTICA
DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR
NO ESTADO DA BAHIA

Salvador - BA
2017
DENICE SANTIAGO SANTOS DO ROSÁRIO

BRANCO CORRENDO É ATLETA, PRETO CORRENDO É LADRÃO:


AVALIAÇÃO, MONITORAMENTO E OBSERVATÓRIO DA PRÁTICA
DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


Interdisciplinar e Profissional em Desenvolvimento e
Gestão Social do Programa de Desenvolvimento e Gestão
Social da Universidade Federal da Bahia como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento
e Gestão Social.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Muniz Décia

Salvador - BA
2017
Escola de Administração - UFBA

R789 Rosário, Denice Santiago Santos do.


Branco correndo é atleta, preto correndo é ladrão: avaliação,
monitoramento e observatório da prática da discriminação racial na
atividade policial militar / Denice Santiago Santos do Rosário. – 2017.
99 f.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Muniz Décia.


Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de
Administração, Salvador, 2017.

1. Bahia. Policia Militar – Direitos humanos – Aprendizagem. 2. Bahia.


Polícia Militar – Comportamento organizacional – Aprendizagem.
3. Policiais militares – Discriminação racial - Bahia. 4. Direitos humanos –
Aprendizagem organizacional. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de
Administração. II. Título.

CDD – 364.256
DENICE SANTIAGO SANTOS DO ROSÁRIO

BRANCO CORRENDO É ATLETA, PRETO CORRENDO É LADRÃO: AVALIAÇÃO,


MONITORAMENTO E OBSERVATÓRIO DA PRÁTICA DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL
NA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em


Desenvolvimento e Gestão Social, Escola de Administração da Universidade Federal da
Bahia.

Aprovada em 12 de junho de 2017.

Ana Cristina Muniz Décia


Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia
Universidade Federal da Bahia

André Luis Nascimento dos Santos


Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia
Universidade Federal da Bahia

Dyane Brito Reis Santos


Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia
Universidade Federal do Recôncavo

Paulo Sérgio Peixoto da Silva


Major da Polícia Militar da Bahia, Especialista em Gestão em Segurança Pública e Historia e
Culturas Africana e Afro Brasileira pela Faculdade Visconde de Cayru
Polícia Militar da Bahia
A João Paulo: meu motivo, minha essência, minha vida
AGRADECIMENTOS

A Olorum, Oyá e Tempo por me deixarem em pé. Sempre.

A Doberval/Cute e Cleonice/Maba por serem para mim meu mundo, minha essência, minha
paz: se outras vidas tivesse, o senhor e a senhora sempre seriam meus pais. A Tonha, por
cuidar de tudo a minha volta para que eu siga (prossiga) firme.

A Doranice, Doberval Filho, Debora e Denisson por serem minha inspiração e minha
referência.

A minha menina eterna, rubronegra predileta, filha-sobrinha Jamile.

A Beatriz, que só por ser ela me obriga a querer ser bem mais eu.

A Thiago por ser meu “thuru”, e me fazer rir só com a simples lembrança de tua voz e Pier
pela lembrança constante do carinho ao chamar sua “Dinichi”.

A João, ser que me completou e a quem eu devo a minha vida; você faz com que eu acorde
todos os dias e me responsabilize por tudo em meu entorno já que este mundo e minha vida
não são apenas meus. Filho você é a razão da minha vida! Perdoe-me pelas as ausências, pelas
deficiências, busco sempre ser a melhor mãe possível.

A Rafael Campos por este apoio incondicional, acreditando em mim até quando eu mesma
nem sabia ser possível.

Ao Major Paulo Peixoto, parceiro fundamental ao que aqui se propõem, sua benção meu
irmão!

As minhas loiras, esteio tão sólido, presente e dominador em minha vida: Cleydi Milanezi e
Urania Almeida.

Às “Divas”, Emília Neta e Luciana Venezian por serem meu oásis neste caos. Amo vocês
meninas!

A Jerônimo Ribeiro, Max Haack pela amizade eterna e fundamental.

A Ana… suave como o nome. Décia, decisiva em meu processo. Obrigada pelas orientações
espirituais, acadêmicas e vivenciais.

Aos irmãos e irmãs, amigos e amigas e colegas do Programa, pelas divertidíssimas


oportunidades de vivenciar este “rito de passagem” ao lado de cada um. Foi tudo perfeito!
Não se trata mais de ficarmos o tempo todo implorando,
digamos assim, para que os setores levem em conta nossas
questões, que abram espaços para que o negro possa participar.
Essa fase efetivamente acabou. Daqui para a frente, vamos
construir nossas próprias alternativas e, a partir dessas
alternativas, criar para o povo negro como um todo no Brasil
uma referência positiva .
(Luíza Bairros, s.d., s.p.)
RESUMO

A presente pesquisa teve como proposta possibilitar a criação de tecnologia de gestão social
(TGS) capaz de avaliar, monitorar e atuar como observatório de posturas discriminatórias na
atividade policial militar. Elencou-se como objetivo geral propor a introdução de novos
parâmetros e práticas que, com base em avaliação e monitoramento de ações, ocorrências,
posturas e técnicas na Polícia Militar da Bahia (PMBA), extingam ou ressiguinifiquem as
práticas da discriminação racial na atividade operacional policial militar. Para tanto, foram
realizadas pesquisas bibliográfica para coletar dados de pesquisas anteriores que indicam a
existencias de práticas discirminatorias na PMBA, bem como para fundamentar as atividades
propostas na TGS em paralelo foram realizados levantamentos junto ao público interno da
Corporação para que fossem verificados os níveis de entendimento destes, tanto os policiais
miitares que estão na atividade fim já formados (as) e os que estão em processo de formação
(alunos a soldado) gerando assim propostas de atuação da TGS neste espaço. Foi proposta
como TGS a criação de um espaço institucional para monitorar, avaliar e propor novos
processos internos, pautados por valores fundados nos direitos e na dignidade do ser humano.
Como procedimento metodológico, a pesquisa foi de natureza não-experimental, explicativa
e, quanto à coleta de dados, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, entrevista
semiestruturada, aplicação de questionário e o uso do Mapa Cognitivo para apreensão de
dados e informações. Após constatações, foi proposta a criação da AMO DH na PMBA:
Avaliação, Monitoramento e Observatório em Direitos Humanos na Polícia Militar do Estado
da Bahia; Coordenação específica em Direitos Humanos dentro da Corporação, com a
finalidade de avaliar, monitorar e atuar como observatório de práticas que sejam contrárias
aos direitos humanos nas atividades da corporação, inclusive como canal de diálogo com a
sociedade civil e demais orgãos do Poder Público.

Palavras Chave: Direitos Humanos; Avaliação; Monitoramento; Discriminação Racial;


Observatório.
ABSTRACT

The present research had the proposal to enable the creation of social management technology
(TGS) able to evaluate, monitor and act as observatory of discriminatory positions in military
police activity. The general objective was to propose the introduction of new parameters and
practices that, based on the evaluation and monitoring of actions, occurrences, positions and
techniques in the Military Police of Bahia (PMBA), extinguish or re-establish the practice of
racial discrimination in the operational activity military police. In order to do so,
bibliographical research was done to collect data from previous research that indicates the
existence of discriminatory practices in the PMBA, as well as to fund the activities proposed
in TGS in parallel, surveys were carried out with the internal public of the Corporation to
verify the levels of Understanding of these, both the military officers who are in the final
activity already formed and those who are in training level (students to soldier) thus
generating proposals of action of TGS in this space. It was proposed as TGS to create an
institutional space to monitor, evaluate and propose new internal processes, based on values
based on the rights and dignity of the human being. As a methodological procedure, the
research was of a non-experimental, explanatory nature and, as far as data collection was
concerned, a bibliographic research, semi-structured interview, questionnaire application and
the use of the Cognitive Map for data and information seizure were carried out. After
verification, it was proposed the creation of AMO DH in the PMBA: Evaluation, Monitoring
and Observatory in Human Rights in the Military Police of the State of Bahia; Specific
Coordination in Human Rights within the Corporation, with the purpose of evaluating,
monitoring and acting as an observatory of practices that are contrary to human rights in the
activities of the corporation, including as a channel of dialogue with civil society and other
organs of the Public Power.

Keywords: Human Rights; Evaluation; Monitoring; Racial Discrimination; Observatory.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMO DH Avaliação, Monitoramento e Observatório em Direitos Humanos

APM Academia de Polícia Militar

BPRv Batalhão de Polícia Rodoviária

CFAP Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças

CFSd Curso de Formação de Soldados PM

CIAGS Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social

COM Colégio da Polícia Militar

CVLI Crimes Violentos Letais Intencionais

PM Policial Militar

PMBA Polícia Militar da Bahia

PPV Programa Pacto pela Vida

RS Residência Social

SEPROMI Secretaria de Promoção da Igualdade Racial

TGS Tecnologia de Gestão Social


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Matriz de Operacionalidade da pesquisa adaptada de Décia 23


(2013)

Quadro 2 Conceitos e classificação em categorias 50

Figura 1 Caracterização física/aparência que indica a pessoa a ser 51


suspeita para o Policial Militar

Figura 2 Sentimento de fazer a justiça como consequência da aparência 51

Figura 3 Marginal ou Marginalizado 52

Figura 4 Indignação face ao preconceito – mudança de padrão 53


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14
2 METODOLOGIA 17
2.1 PASSOS DO CAMINHO 19
2.1.1 A pesquisa bibliográfica 19
2.1.2 Diagnósticos dos processos internos 19
2.1.1.1 Mapa Cognitivo 20
2.1.2.2 Entrevista 21
2.1.3 Construção da TGS 22
2.2 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE 23
3 REFERENCIAL TEÓRICO 24
3.1 ESTUDO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA ATIVIDADE 24
POLICIAL MILITAR: REVISANDO PESQUISAS
3.2 O TERRITÓRIO: MEU LUGAR 28
3.3 IDENTIFIQUE-SE CIDADÃO 31
3.4 RACISMO INSTITUCIONAL 35
3.5 A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR 37
3.6 O QUE FALAS, SEM FALAR: ANÁLISE DO DISCURSO 38
3.7 AVALIAR, MONITORAR E OBSERVAR 40
4 ANÁLISE DOS DADOS – CONSOLIDANDO A TGS 44
4.1 MAPA COGNITIVO 49
5 AMO DIREITOS HUMANOS – TECNOLOGIA DE GESTÃO 55
SOCIAL
5.1 DAS AÇÕES PRECURSSORAS 57
5.1.1 Primeira etapa: Encontros com a cúpula das Unidades 57
Operacionais e Especializadas de Salvador e Região Metropolitana
5.1.2 Segunda etapa: Projeto de sensibilização da tropa para as questões 58
de raça e gêneros nas ações policiais militares
5.1.3 Terceira etapa: Propositura do encontro de avaliação e atualização 59
para os instrutores da disciplina educação para relações raciais e
de gênero
5.2 ATUAÇÃO DA AMO DIREITOS HUMANOS 59
5.3 MINUTA DA PORTARIA DE CRIAÇÃO 60
6 RESIDÊNCIA SOCIAL 61
6.1 A INSTITUIÇÃO ACOLHEDORA 62
6.2 CONCEITUANDO A RESIDÊNCIA SOCIAL 63
6.3 DIÁRIO DE BORDO 64
6.3.1 CARTAS A JOÃO 64
6.5 CONCLUSÃO 67
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 68
REFERÊNCIA 70
APÊNDICES 74
APÊNDICE MINUTA DE PORTARIA DE IMPLANTAÇÃO DA AMO 75
A DIREITOS HUNANOS
APÊNDICE RELATÓRIO DA PRIMEIRA FASE DO GRUPO DE 77
B TRABALHO DOS SEIS ENCONTROS COM A CUPULA DAS
UNIDADES OPERACIONAIS E ESPECIALIZADAS
APÊNDICE FOLDER PROPOSO AO PRB IGUALDADE RACIAL 85
C
APÊNDICE PROPOSTA DE REGIMENTO DO PRB IGUALDADE RACIAL 86
D
APÊNDICE QUESTIONÁRIO APLICADO AOS POLICIAIS MILITARES 93
E FORMADOS E ATUANDO NA ATIVIDADE OPERACIONAL
APÊNDICE ROTEIRO DE ENTREVISA COM OS POLICIAIS MILITARES 96
F EM PROCESSO DE FORMAÇÃO – ALUNO A SOLDADO
APÊNDICE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 97
G
14

1 INTRODUÇÃO

Se meu traje te incomoda


Lá no gueto eu to na moda
Se minhas gírias te ofendem
Todos lá me compreendem
Meu caráter anda comigo
Quem vê cara não ver coração
O que é que aba reta tem haver com ser ladrão
Só queria entender, alguém pode explicar
O que tem de errado com meu jeito de andar
Sou da periferia mais também sou irmão
Preconceito gera violência se ligue na ideia negão!

Aba reta e o bermudão mão na cabeça deve ser ladrão


Tá de terno e paletó o cara é santinho, primo do major
Coloquei minha Cyclone e a Kenner no pé,
ou pega segura que é da ralé
Quando é que essa gente vai entender
minha roupa não muda o meu jeito de ser
(Aba Reta, Igor Kannario)

A aprendizagem é uma das características fundamentais do ser humano. Desde o


nascer tendemos a aprender: aprender a sugar, a se locomover, a falar. Aprender é uma
inclinação nata dos seres vivos e pode estar atrelada a instintos naturais ou adquiridos.
Aprender é o caminho para a evolução.

O desenvolvimento físico dos seres humanos os leva a adaptações constantes tanto no


seu corpo como na sua cultura, são as necessidades a que nos submetemos que nos fazem
recriar o caminho, readaptar nosso corpo e nossa cultura (saltos evolutivos) a estas.

É esta cultura que permite que o indivíduo não precise aprender tudo novamente por
ensaio, por nova experimentação; o uso da linguagem e de outras representações simbólicas
fazem com que os seres possam passar seus aprendizados, além de permitir novas
aprendizagens processuais de suas próprias experiências, fazendo do ser humano um ser
biologicamente cultural, uma vez que é esta cultura que propicia (na maior parte das vezes) a
evolução e adaptações biológicas da humanidade. Mas esta cultura ambiente pode ser vista
como danosa já que, ainda que aumente as chances de sobrevivência e, logo, de aprendizagem
do grupo, tende a aumentar a dependência a esta cultura para sobreviver “ao mesmo tempo
que liberta, submete. Escapa-se de uma armadilha, entrando em outras.” (BUSSAB e
RIBEIRO, 2004, p. 175).
15

Controlar a influência da cultura nas aprendizagens é um desafio já que fomenta o


controle do próprio processo evolutivo que é indicado e permeado por esta mesma cultura.
Quando este é danoso, precisa ser erradicado, modificado, adequado o que vai remeter a
desprendimentos complexos que exigirá mudanças comportamentais relacionadas a posturas,
posicionamento e afetos que são imbricados a práticas.

Esta pesquisa analisa um aspecto da necessidade de readaptação cultural na Polícia


Militar da Bahia, propondo o monitoramento e a avaliação de seus processos, através da
construção de uma aprendizagem técnica que altere a realidade do uso da discriminação racial
na atividade policial militar.

Uma característica desta pesquisa é que ela é realizada por uma pesquisadora
“estabelecida”, apropriando do conceito de Nobert Elias, indicado por Lima (2015), alguém
que vive e aprendeu de acordo com a cultura policial militar ditada por 192 anos corporativos,
alguém que vivencia as vicissitudes advindas deste experimento e que, no lugar de mulher,
negra, moradora de periferia e policial militar, vive esta complexidade de forma intensa e
conflituosa.

Quando no Curso de Formação de Oficiais na Academia de Polícia Militar (APM), em


uma aula de Técnica Policial Militar (disciplina chave para a atuação operacional na
corporação uma vez que é através desta que são condicionados os reflexos necessários a
atuações enquanto policial militar), aula específica de abordagem a veículos o instrutor
(Oficial da PMBA), deu como sugestão de análise a seguinte cena “Se vocês virem um
veículo se aproximar ocupado por cinco negões, o que vocês fazem?”; incontinente alguns
dos alunos começaram a relatar posturas e atitudes técnicas do mais alto grau de
periculosidade (busca pessoal deitado sobre o solo, uso de técnica de imobilização nível
máximo, etc). Em face daquela inquietação, uma indagação: “Professor, porque cinco negões?
E se fossem cinco brancões?”. E a resposta dada ali, inspirou esta pesquisa “Aluna, branco
correndo é atleta, preto correndo é ladrão!”.

Na parede principal do mais tradicional Colégio da Polícia Militar do Estado da Bahia


(CPM), uma frase define o seu processo de formação: “a palavra convence, o exemplo,
arrasta”. Esta frase sinaliza a importância do uso da palavra e todas as suas nuances, mas
também confere ênfase especial ao exemplo como norteador das suas atividades, da sua forma
de reconhecimento e legitimação social. Entretanto há uma ênfase especial para a ideia do
vocábulo “palavra” na frase: ainda que possivelmente minimizada em comparação ao
16

vocábulo “exemplo”, a palavra carrega indiscutível aspecto do convencimento que pode,


inexoravelmente, condicionar o exemplo e ser ratificada por este.

Comumente pode-se ler ou assistir na imprensa nacional relatos de experiências


policiais militares referentes às possíveis práticas de discriminação racial na seleção de seus
suspeitos. Em que são creditados a atuação policial nesses casos relatos de exagero no uso da
força.

Em nosso estado um caso emblemático foi o ocorrido na Vila Matos, no bairro da


Estrada das Barreiras, em Salvador, quando 12 (doze) jovens foram mortos em um confronto
com a polícia militar; diversas organizações sociais iniciaram um debate sobre esta ocorrência
policial indicando ter havido um extermínio da população (negra e jovem), não somente uma
operação policial militar.

Em meio a estas discussões, uma questão se solidifica: como a corporação trata esta
questão? Como ela vem se renovando para atuar nesta perspectiva, revisando seus valores
institucionais e criando novas formas de ressignificar estes pontos e criar uma nova visão de
seus atos?

Não trata este trabalho de discutir a existência ou não da prática de discriminação


racial na atividade policial militar. Parte do pressuposto, após revisão da literatura existente,
que esta prática existe e que precisa ser solucionada em nossas relações. Para pensar em como
construir a pesquisa, um norte se fez necessário, aqui parte da proposta de possibilitar o
entendimento da existência de uma forma de monitorar e avaliar os protocolos e processos
existentes e propor novos em decorrência destes resultados, visando extinguir e ressignificar
posturas discriminatórias.

Elenca-se como objetivo geral desta pesquisa propor a introdução de novos parâmetros
e práticas que, com base em avaliação e monitoramento de ações, ocorrencias, posturas e
técnicas na Polícia Militar da Bahia, extingam ou ressiguinifiquem as práticas da
discriminação racial na atividade operacional policial militar. Para auxiliar na sua consecução,
necessário se faz pensar especificamente em como se dá ou se há a percepção intitucional de
policiais militares em formação ou já formados sobre a construção de processos em
discrimnação racial em suas práticas profissionais, bem como se há processos de controle de
práticas discriminatórias na gestão policial miltar, e de propor uma tecnologia social para
monitorar, avaliar e propor novos processos internos, pautados por valores fundados nos
direitos e na sua dignidade.
A estrutura desta dissertaçãoestá dividida em capítulos. Esta introdução é o primeiro.
No segundo capítulo é indicada a metodologia adotada, os passos caminhados no percurso de
construção desta pesquisa, conceituando e indicando as técnics e instrumentos utilizados.

Para discutir as bases deste texto, no terceiro capítulo é indicada a revisão da literatura
que serve de base a este trabalho, discutindo estudos relacionados à discriminação racial na
atividade policial militar realizados em periodos anteriores a esta pesquisa e que trazem em
seus resultados dados que a fundamentam.

No capítulo quatro de análise dos resultados, são demonstrados os dados levantados


nas técnicas utilizadas para verificar a atual condição da PMBA no processo de percepção e
ocorência de discriminação racial em suas práticas, bem como fomentadas soluções e/ou
alternativas para uma proposta da Tecnologia de Gestão Social.

A TGS proposta vem retratada no capítulo cinco, com base no que já foi relatado nos
capítulos anteriores e na propsota entendida como mais próximaà solução do problema
apresentado.

A Residência Social é descrita no capítulo seis e justificada a sua importância e


funcionalibilidade. E, para concluir esta etapa, o capítulo sete traz o que entendeu-se até aqui,
como considerações finais.
17

2 METODOLOGIA

Os meus olhos coloridos


Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir...

Meu cabelo enrolado


Todos querem imitar
Eles estão baratinados
Também querem enrolar...

Você ri da minha roupa


Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso...

A verdade é que você


(Todo brasileiro tem!)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará, sarará
Sarará, sarará
Sarará crioulo...
Sarará crioulo
Sarará crioulo...

(Olhos coloridos, Sandra de Sá)

O caminho escolhido foi o de atuar reforçando a condição de pesquisadora


estabelecida, de pesquisar vivenciando o problema e fazendo com que os policais militares
envolvidos na pesquisa também o façam, que experienciem a condição de participante no
estabelecimento desta cultura, e, lógico, responsável direto por sua modificação. O que
aprendemos e o que vivenciamos enquanto seres humanos foram fundamentais a esta análise.

Considerando o regulamento disciplinar da Corporação, foi realizada audiência com o


Excelentíssimo Senhor Comandante Geral da PMBA, Cel PM Anselmo Alves Brandão, para
apresentação da proposta da pesquisa e solicitação de aprovação para que esta fosse realizada
com policiais militares da Corporação. Obtida a aprovação, foi incorporada como referência
profissional, o MAJ PM Paulo Sérgio Peixoto da Silva, que atuou em parceria durante
processos desta pesquisa, compondo o que o Comandante Geral nomeou de Grupo de
Trabalho de Prevenção à Discriminação Racial e de Gênero e a Intolerância Religiosa nas
ações da Polícia Militar da Bahia (PMBA), com missão propositiva, entrosado com a
Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado (SEPROMI), para alinhar
18

ações governamentais neste sentido.

A pesquisa verificou junto aos policias militares na graduação de soldado 1ª classe


(primeira de ingresso das praças policiais militares na corporação) em formação, e já
formados, como se deu ou e como se dá a construção do processo discriminatório, tendo como
ferramentas o mapa cognitivo, as entrevistas e o questionário.

Participaram da pesquisa policiais militares do sexo feminino e masculino, integrantes


do Curso de Formação de Soldados ofertado pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de
Praças no núcleo de formação situado no Batalhão de Polícia Rodoviária e policiais militares
que atuam na Ronda Maria da Penha, todos localizados na Cidade de Salvador, capital do
Estado da Bahia. Esta escolha se deu em decorrência da proximidade territorial destes
policiais a esta pesquisadora o que, em muito, possibilitou o decurso da pesquisa.

O entendimento de que as informações que permitirão a coleta de dados existem


imbricadas e latentes no interior da “tropa militar” e nas suas relações não tão tangíveis com
sua formação profissional, embasa a decisão pela abordagem de pesquisa predominantemente
qualitativa, do método fenomenológico, por ser a estratégia de pesquisa que subsidiou melhor
a consecução dos objetivos norteadores dessa pesquisa ao se analisar os resultados subjetivos
extraídos das falas e dos mapas cognitivos elaborados. Reveste-se também de caracteres
quantitativos quando da leitura dos dados estatísticos que emergiram do que foi pontuado
objetivamente nas entrevistas e encontros.

A pesquisa foi de natureza não-experimental, explicativa e, quanto à coleta de dados,


realizou uma pesquisa bibliográfica e a entrevista semi-estruturada, o uso do Mapa Cognitivo
e questionário para apreensão de dados e informações.

O Mapa Cognitivo ou mental refere-se a uma técnica que possibilita que sejam
percebidas as impressões pessoais e adquiridas no seu grupo social referentes a determinado
assunto que estão introjetadas no inconsciente das pessoas. Consiste em fazer com que cada
participante da pesquisa realize a construção de um desenho e responda questões sobre este,
balizando uma análise psicológica de cada item proposto (MOURÃO; CAVALCANTI, 2006).

Aliado ao mapa cognitivo, necessário se faz a realização de entrevista consolidadora


dos resultados. Esta entrevista visa explicitar informações colhidas da análise preliminar do
mapa, para que as impressões ali identificadas sejam incorporadas à pesquisa (MOURÃO;
CAVALCANTI, 2006).
19

Com os policiais militares formados e já no desenvolvimento da atividade policial


militar, foi aplicado um questionário, composto por dez questões entre abertas e fechadas.

Qualitativamente foram apurados os dados referentes às análises das entrevistas e


mapas cognitivos e quantitativamente os dados expressos e convertidos em números com as
tabulações necessárias com base na frequência em que aparecem no discurso e na técnica do
mapa cognitivo.

2.1 PASSOS DO CAMINHO

Considerando ser uma instituição Policial Militar, como ponto de partida foi solicitado
ao Comando Geral da PMBA autorização para realizar a pesquisa, especialmente justificando
sua realização para construção de uma alternativa à solução do problema apresentado.

Optou-se por três caminhos para consolidar os objetivos da pesquisa: a pesquisa


bibliográfica, o diagnóstico dos processos internos e a construção da TGS.

2.1.1 A pesquisa bibliográfica

Foi calcada na análise dos temas que fundamentem a construção social do racismo,
suas nuances e vertentes e a estrutura deste processo em nossa sociedade.

Em paralelo, trouxe a demonstração, através das pesquisas já existentes tanto o interior


da corporação como em pesquisadores externos a esta, a relação da Polícia Militar e a
discriminação racial, reforçando o pressuposto escolhido nesta pesquisa da existência do
racismo na prática policial militar. Amparou-se em pesquisadores também estabelecidos,
analisando o percurso que fizeram e as soluções encontradas.

2.1.2 Diagnóstico dos processos internos

Esta etapa é composta pelo Mapa cognitivo, entrevista e questionário utilizados para a
obtenção de dados e informações dos participantes.
20

2.1.2.1 Mapa Cognitivo

Uma definição de mapa cognitivo é a que Bastos (2002, p. 67) nos traz, citando
Laszlo, Masulli, Artigiani e Csanyi (1995) como o “processo pelo qual um organismo
representa o ambiente em seu próprio cérebro”. Completa indicando que os mapas envolvem
conceitos e relações entre conceitos existentes no ambiente social do indivíduo.

Os mapas não são representações estáticas do ambiente, eles vão variar com as
experiências e percepções destas as quais o indivíduo está atrelado (BASTOS, 2002), logo,
vão variar de acordo com o processo de identidade do grupo e, inclusive, das máscaras sociais
(STRAUSS, 1999) que estes indivíduos criem para se consolidar neste grupo. Há aqui uma
necessidade de contínuo ajustamento que em especial ao que esta pesquisa se destina – nos
serve de alento e esperança científica, já que mudanças no contexto irão impor a exigência de
incorporar novas informações, logo, uma ressignificação e reconstrução dos mapas
cognitivos.

Uma importante característica dos mapas cognitivos é que estes estruturam


regularidades percebidas; são fatos regulares e cotidianos, experiências ensinadas, ouvidas,
praticadas que o consolidam. São estruturas epistemológicas que norteiam a ação da pessoa,
sendo, desta forma, flexíveis e “utilizados para perceber as relações entre comportamentos
variados e resultados semelhantes” (BASTOS, 2002, p. 67).

Nesta pesquisa utilizamos a variação do mapa cognitivo conhecida como “Mapa de


identidade” (BASTOS, 2002). Consiste na descrição do terreno cognitivo através da
identificação dos conceitos que as pessoas recuperam para indicar sua compreensão de um
problema ou domínio em particular. Para a consolidação da pesquisa, através da confecção do
Mapa Cognitivo, seguiram-se so seguintes passos:

1) Realização de um encontro com a participação de 30 alunos a soldado, divididos em


dois grupos com 15 alunos cada;

2) Solicitou-se a confeção de um desenho que respondesse a afirmação ‘O suspeito na


atividade policial militar’, em um prazo de 30 (trinta) minutos para execução;

3) Feito o desenho, realizou-se questionamentos aos participantes que o fizeram explicar


a representação daquele desenho;
21

4) Foi pedido que expressassem e descrevessem os sentimentos suscitados pelo desenho


(oralmente). Após isto, a escreverem palavras que resumam cada um dos sentimentos
evocados. Palavras chave que definissem o sentimento em relação ao desenho (aqui se
fortaleceu a ideia de uso de palavra única, não de frase, uma vez que esta palavra tem
função especifica na análise dos dados)

5) Com base nestes dados foram categorizadas as respostas indicadas graduando-as em


escala em que se configurassem seu entendimento divididas em dois grupos: Técnica
Policial Militar e Dimensão Pessoal em Direitos Humanos graduando pelo número de
ocorrências no grupo (FURLANI; BOMFIM, 2010).

Concluído e analisado o Mapa Cognitivo, foi utilizado o recurso da entrevista como


ponto de consolidação e esclarecimento da coleta de dados e identificação de pontos
relevantes à concretização do projeto. Participaram 30 (trinta) alunos a soldado.

Para os (as) policiais ja formados, a proposta foi a aplicação de um questionário para


análise das impressões existentes sobre a prática profissional policial militar, especificamente
se e como as suas ações remetem a práticas discriminatorias. Foi construído um questionário
semiaberto com dez questões, visando verificar o grau de entendimento dos participantes
referentes à tematica do projeto; a coleta foi presencial, com 15 policias militares
respondentes.

A opção por entrevista para policiais militares em formação (alunos a soldado) e


questionário para os já formados se deu por duas questões: primeira a dificuldade de
encontrar, reunir e manter os policais militares formados e no exercício da profissão pelo
tempo necessário à consolidação da entrevista e até mesmo a conecção do mapa cognitivo
(dificuldade institucional); a segunda porque a entrevista está relacionada ao mapa, uma vez
que ela visa esclarecer pontos e/ou revelar divergências entre o desenho e a fala de quem o
construiu; e este foi aplicado apenas com os alunos a soldado.

2.1.2.2 Entrevista

Com o Mapa cognitivo alguns pontos necessitaram de esclarecimentos, desta forma


foram realizadas entrevistas já citadas com uma amostra do público participante para que as
22

informações registradas nos mapas fossem verificadas e fornecessem melhor caminho a


análise. Participaram 30 (trinta) alunos a soldado.

Com base na técnica de entrevista semi-estruturada, com o acompanhamento de um


roteiro balizador, de forma individualizada e com duração de média de 30 (trinta) minutos. As
entrevistas aconteceram com os alunos a soldado que participaram da confecção do mapa,
com base nas indicações registradas no mapa cognitivo, e ocorreu na semana posterior a
aplicação, após sua análise daqueles.

2.1.3 Construção da TGS

Com base nos dados levantados nos passos anteriores, a ideia de construção de uma
tecnologia se desenhava de forma mais clara. Inicialmente a proposta de TGS foi a criação de
um vídeo que pudesse ser utilizados nos processos internos de formação policial militar bem
como no trato com a sociedade; à época foi pensado este vídeo como uma ferramenta de
integração e de escuta de forma lúdica das impressões e achados da pesquisa.

Com a pesquisa, uma nova proposta surgiu. Era perceptível na análise dos discursos
postos, escritos e desenhados que o policial militar se verificava como perpetuador de uma
prática preconceituosa, mas não havia na Corporação nenhum órgão ou equipamento que
possibilitasse o acompanhamento destas práticas e que dialogasse e sugerisse revisões
técnicas e posturais para modificar o quadro existente.

Para a construção da TGS foram realizadas novas revisões bibliográficas com foco na
avaliação, monitoramento de ações institucionais, sugerindo a criação de um órgão (ou
programa) na estrutura da Corporação, com abertura e mecanismos de comunicação direta
com o público interno e a sociedade.
23

2.2 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE

Quadro 01 – Matriz de Operacionalidade da pesquisa adaptada de Décia (2013, p. 110)


TITULO BRANCO CORRENDO É ATLETA, PRETO CORRENDO É LADRÃO:
avaliação, monitoramento e observatório da prática da discriminação racial na
atividade policial militar no estado da Bahia
PROBLEMA DE PESQUISA: De que forma ressignificar a prática de discriminação racial que lastreia a
concepção e seleção do suspeito na prática profissional da Polícia Militar da Bahia (PMBA)?
OBJETIVO GERAL: Introduzir novos parametros e práticas que, com base em avaliação e monitoramento
de ações, ocorrências, posturas e técnicas na Polícia Militar da Bahia, extingam ou ressiguinifiquem a prática
da discriminação racial na atividade operacional policial militar
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

1) Analisar a percepção intitucional de praças policias militares em formação ou já formados sobre a


construção de processos em discrimnação racial em suas práticas profissionais;
2) Pesquisar se há processos de controle de práticas discriminatórias na gestão policial miltar;
3) Propor uma tecnologia social para monitorar, avaliar e propor novos processos internos, pautados
por valores fundados nos direitos e na dignidade do ser humano
OE Categorias Analíticas Indicadores Técnica ou Sujeitos Categorias
Instrumento conceituais
1 A teoria e a prática do Existência das Pesquisa Coordenadores de Currículo;
currículo do curso de disciplinas bibliográfica Curso; Análise do
formação policial militar Ementa das Disciplinas discurso
Currículo oculto
2 Aprendizado durante o Representações sociais Mapa Cognitivo; Alunos a Soldados Representações
curso de Formação existentes sobre os Entrevista Policiais Militares sociais
suspeitos (questionário) formados Afeto;
Correlação das Análise do
representações sociais discurso
existentes com o Identidade
currículo (teórico e Racismo
prático) Institucional
3 Atividades que Atuação profissional; Entrevistas; Policiais Militares Análise do
propiciem a reflexão de Experiências práticas formados discurso;
posturas Identidade
Fonte: Décia (2013)
24

3 REFERENCIAL TEÓRICO

Elevador é quase um templo


Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai…
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
(Identidade, Jorge Aragão)

3.1 ESTUDOS DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR:


REVISANDO PESQUISAS

A inter-relação entre racismo e/ou discriminação racial e a prática policial no Brasil


remete a um longo tempo na história. É possível ter seu marco maior na difusão das ideias das
doutrinas raciais do século XIX, cujos cientistas da época atribuía diferenças e desigualdades
entre os homens através da cor da pele ou características fenotípicas.

As grandes navegações foram um importante ponto de partida uma vez que colocaram
o padrão europeu em contato com homens e mulheres de diferentes etnias, seres humanos
diferentes em sua cor de pele e cultura que suscitavam a diferença entre os padrões até então
conhecidos no mundo (“velho mundo”) (SCHWARCZ, 1993).

Para Schwarcz (2013), com a introdução do termo raça, o século XIX inaugura a ideia
da “existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos”
(SCHWARCZ, 1993, p. 63), surgindo assim um discurso racial que não vai mais apenas focar
no biológico como base para suas análises, mas também na perspectiva da cidadania,
contemplando outros atributos que forçavam a uma reflexão sobre a origem do homem,
através de duas teorias: a monogenista e a poligenistas.
25

Para a monogenista, os homens se originam de uma fonte comum e sua diferenciação


é resultado de uma degeneração ou de perfeição apurada do Éden. Daí a explicação de que
determinado tipo físico seria mais perfeito (logo, melhor) que outros ao que se indicou tratar
(estes outros) de uma “degeneração” (um erro). A poligenista, como o próprio nome indica,
parte do pressuposto de vários centros de criação, o que iria corresponder às diversas
diferenças raciais encontradas, entretanto esta visão permitiria que a interpretação biológica
para análise do comportamento humano fosse aplicada sob a ideia de que, alguns centros de
criação poderiam ser ou estar defeituosos, o que faria com que os seres oriundos daqueles
fossem igualmente imperfeitos.

A partir disto, ciências foram desenvolvidas para se mensurar dados biológicos


(físicos) de homens “imperfeitos” o que gerou estudos qualitativos sobre estes traços
culminando na antropologia criminal, que teve Cesare Lombroso como principal
representante. No Brasil, em específico na Bahia, Nina Rodrigues surge como repetidor destas
ideias. Lombroso afirmava, entre outros pontos, que a criminalidade era um indicativo físico e
hereditário (SCHWARCZ, 1993).

Com o lançamento do livro “O Homem Delinquente” Cesare Lombroso (1909)


inaugurou uma nova perspectiva de orientação nos estudos de criminologia. O que antes se
dava pelo livre arbítrio, pela vontade do homem ou mulher para cometer crimes, agora estava
em uma determinação genética (o criminoso nato); mudou o foco de análise: a
responsabilidade penal agora decorria de um fato social (SANTOS FILHO, 2001).

A Antropóloga baiana, Taynar Pereira (2010) indica em seu Trabalho “Antropologia


física biológica: trajetória e influências em teorias raciais” que, nos séculos XVIII e XIX,
havia uma:

[...] relação intrínseca entre o biológico (cor da pele, traços morfológicos) e as


qualidades psicológicas morais e intelectuais possibilitou a construção da
superioridade branca em relação à população negra e “amarela” em função das suas
características físicas hereditárias, cor clara da pele, o formato do crânio
(dolicocefalia), a forma dos lábios, do nariz, do queixo etc. que determinavam,
segundo eles próprios a sua beleza estética, a sua inteligência e outros atributos.
Estas qualidades possibilitariam o domínio da população branca sobre outras raças,
principalmente a negra mais escura, considerada por isso mais estúpida, mais
emocional, menos inteligente, logo predisposta à escravidão e outras formas de
dominação (PEREIRA, 2010, p. 3).
26

Assim, retrata que, com o posicionamento de determinação do criminoso de forma


biológica, as características davam ênfase e direção ao homem negro como seu potencial
suspeito. Ali, naquele momento histórico, os traços biológicos determinavam o suspeito, ou o
potencial criminoso, logo, direcionavam o olhar de suspeição a estas pessoas. Para esta autora,
ao se indicar caracteres biológicos como justificativa de tal ou tal comportamento, se
estabelece uma relação intrínseca e perigosa entre estes caracteres e qualidades morais,
psicológicas, intelectuais e culturais (PERERIRA, 2010).

É possível pensar que ao se caracterizar biologicamente um perfil de criminoso (a),


poder-se-ia estigmatizar toda uma etnia, fazendo com que o processo histórico fosse
concretizando saberes sobre cada povo de acordo com esta estigmatização.

Com a modernidade a Teoria do Determinismo Genético foi perdendo força e voz;


agora as relações não pautavam o criminoso diretamente em traços biológicos: esta
segregação era social.

Há uma concordância com Matos (2010) quando retrata que no Brasil a preocupação
em tipificar condutas próprias da raça negra de alguma forma substituiu a teoria
bioantropológica. A opção brasileira foi a de retirar do foco da Biologia a forma de se explicar
a suspeição criminosa sendo potencialmente centrada em pessoas negras, especialmente
porque esta teoria não se manteve frente aos conclames dos Direitos Humanos, passando a
categorizar este criminoso potencial através de pontos da estereotipia negra, como roupas,
musicalidade e ritmos musicais, forma de falar, andar e até espaços geográficos em que a
população negra ocupa e se utiliza.

Como dito, não visa esta pesquisa estudar ou comprovar a existência da prática de
discriminação racial na atividade policial, em específico a policial militar; parte como base de
estudos anteriores que fizeram este percurso e trouxeram a este texto suas impressões e suas
comprovações científicas.

Utilizaremos como referência três pesquisas de autores igualmente estabelecidos. A


monografia apresentada pelos então capitães Gersival Marcelo Cabral, Alinelton Adson
Aleluia Ameno, e Antônio Basílio Honorato Barbosa, com o título “Uma análise da suspeição
policial: um dilema na Academia de Polícia Militar”; o artigo intitulado “Filtragem racial: a
cor na seleção do sujeito”, de Geová da Silva Barros, oficial da Polícia Militar do Estado de
Pernambuco. E, a também monografia de Denice Santiago Santos do Rosário, com o título “A
palavra convence?: o discurso do instrutor no curso de formação de oficiais da PMBA e sua
27

possível influência sobre a práxis do policial militar”, apresentada como trabalho de


conclusão do Curso de Especialização em Segurança Pública (CESP), da Polícia Militar da
Bahia em parceria com a Universidade do Estado da Bahia em 2013.

Cada autor dialoga em uma direção referente à discriminação racial na atividade


policial militar. Ainda que caminhos inicialmente divergentes, nos três trabalhos é possível
verificar pesquisa que retrata esta prática refletida na atividade profissional.

Cabral, Ameno e Barbosa (2008) defenderam em seu trabalho de conclusão do CESP


que o Curso de Formação de Oficiais de responsabilidade pedagógica da Academia de Polícia
Militar da Bahia, tendia a fazer com que os alunos a oficial (denominação dos estudantes
daquele curso) construíam indicativos de preconceito étnico na seleção do suspeito, chegando
à conclusão de que e as ações policiais seguem francamente padrões estereotipados de
suspeição em que geralmente eleva-se este nível na frente de fatores como idade, raça/etnia,
gênero, aparente condição socioeconômica e comportamento do (a)s abordado (a)s.

Barros (2008) relata uma pesquisa realizada junto à Polícia Militar de Pernambuco da
qual resultou o dado de que 65,05% do (a)s policiais militares entrevistados (a)s indicaram
como prioridade de abordagem (formulação do suspeito) pessoas de cor preta. Nesta pesquisa
também é focada a análise acerca do preconceito racial institucional a partir do relato e retrato
feito por policiais militares sobre os motivos considerados para a tomada de decisão na
situação de abordagem de suspeitos serem “questões culturais”.

No texto “A palavra convence?: o discurso do instrutor no curso de formação de


oficiais da PMBA e sua possível influência sobre a práxis do policial militar”, esta autora
discutiu como o instrutor potencializa representações sociais relacionadas a constituição do
suspeito durante o curso de formação. Desta pesquisa, um dado interessante emerge: o
“currículo oculto”.

Rosário (2013) analisou na pesquisa que 23% dos entrevistados indicaram a existência
de um “currículo oculto” que é evidenciado quando o instrutor indica ser a sala de aula como
um “laboratório”, logo poder-se-á retirar a obrigação de seguir a linha correta politicamente
indicada pela dinâmica social e trazem a fala expressões, fatos e ações que estavam
diretamente ligadas ao preconceito e discriminação racial.

Indicado como um momento em que os instrutores “conversam francamente” com os


alunos, é neste lugar que são transmitidos e ensinados aspectos quanto à atitude do policial
28

militar profissional nas circunstâncias de análise do possível ou potencial suspeito, bem como
quanto às ações de abordagem e tratamento referentes a este.

Consideremos o seguinte relato, ispsi literis:

O currículo oculto às vezes aparece no linguajar e alguns comportamentos de


colegas durante as atividades, parece que, a exemplo do “Salvador Fest”1 alguns (os
alunos) ficam bastante à vontade para externar o sadismo, visto que é uma
população carente, negra e de pouca instrução formal (ROSÁRIO, 2013, pg. 67,
GRIFO MEU).

Nestas pesquisas, três pontos fundamentais são verificados que balizam a


discriminação racial do suspeito: o lugar em que este sujeito vive; a identidade social deste (a)
(forma de vestir, cultura); e o processo de formação policial militar.

3.2 O TERRITÓRIO: MEU LUGAR

Em seu artigo “Juventude e afetividade: tecendo projetos de vida pela construção dos
mapas afetivos”, Furlani e Bomfim (2010) analisam projetos de vida de jovens em dois
ambientes diversos (rural e urbano), nesta pesquisa fica latente que o ambiente em que
residem influencia na construção de sua identidade; influencia e implementa características,
tendo como base fundamental a ideia do homem como:

[...] sujeito social que, imerso em relações sociais, tem possibilidade de ir se


desenvolvendo, estabelecendo trocas constantes com o meio em que se encontra e
com outros sujeitos. Esses indivíduos são possuidores de uma referência cultural
histórica peculiar que influência as formas de sentir, pensar agir e ser. (FURLANI e
BOMFIM, 2010, p. 51).

Ao se deparar com uma comunidade do subúrbio de Salvador, por exemplo, para além
de técnicas e cuidados típicos da profissão policial militar, importante que cada policial faça a

1 Salvador Fest é uma festa promovida pela iniciativa privada que concentra um grande numero de
pessoas, destinada a classe social C e D
29

leitura daquele espaço nesta perspectiva, excluindo dali um grupo com características
estatísticas (sócio-antropológicas) e vislumbrando um ambiente cultural específico, com suas
características identitárias próprias e, especialmente por isto, que precisam ser respeitadas.

É importante entender que o homem se constitui no meio e através deste ambiente


físico e social que a atuação policial militar se estabelece, é com análise desse ser social,
incompleto e em constante mutação, que as técnicas policias militares encontram sua
efetividade e devem sempre estar calcadas nos Direitos Humanos. Um caminho é o
entendimento de que a identidade gerada no lugar em que as pessoas (clientes da Corporação)
vivem é uma subestrutura da identidade da pessoa, e que esta é construída num grupo através
das intercessões de cada indivíduo neste grupo. (MOURÃO e CAVALCANTE, 2006)

Roupas, estilos musicais, gírias são caminhos para este pertencimento, estão no
processo cognitivo mas atuam também como “passaporte”, como “espelhos” do lugar e por
vezes assim são adotadas: como processo de padronização e acesso ao meio social, ao grupo,
ao espaço.

“Meu lugar” será o somatório de cada uma destes indicativos. Mourão e Cavalcante
(2006) nos conduzem a refletir em como tratar uma forma de vestir, falar, andar ou dançar
isoladamente colocando nestas um rótulo complexo é desconhecer a própria identidade; é não
perceber que nenhum ser humano é desprovido da influência de seu meio, e, para além disto,
nenhuma pessoa pode isolar suas ações daquelas que a sociedade contemporânea foca como
acesso as relações sociais.

Para Haesbaert (2005) pode-se entender território por dois caminhos, o da apropriação
ou da dominação. Embora imbricados e congruentes em algum ponto, a apropriação
apresenta-se revestida por significantes socioculturais que a legitimam; é através deste
sentimento de pertencimento que se consubstancia a identidade como território, que se
“apropria” de suas características.

A dominação vem com a impressão atrelada ao valor de troca, ao controle pela


imposição, domínio. Tanto a apropriação quanto a dominação tem relação com o poder. A
territorialidade se consubstancia em uma relação de poder econômico e cultural, não podendo
ser entendida sem estes conceitos, como nos indica abaixo:
30

Enquanto “continuum” dentro de um processo de dominação e/ou apropriação, o


território e a territorialização devem ser trabalhados na multiplicidade de suas
manifestações – que são também e, sobretudo, multiplicidade de poderes, neles
incorporados através dos múltiplos agentes/ sujeitos envolvidos. Assim, devemos
primeiramente distinguir os territórios de acordo com os sujeitos que os constroem,
sejam eles indivíduos, grupos sociais, o Estado, empresas, instituições como a Igreja
etc. As razões do controle social pelo espaço variam conforme a sociedade ou
cultura, o grupo e, muitas vezes, com o próprio indivíduo. Controla-se uma “área
geográfica”, ou seja, o “território”, visando “atingir/afetar, influenciar ou controlar
pessoas, fenômenos e relacionamentos (HAESBAERT, 2005, p. 6776)

Localizar os construtores deste território é identificá-lo, é inseri-lo em uma discussão


para que sua forma de respiração e sobrevivência possa ser mais bem entendida e trabalhada.
Não se pode “invadir” um território, sem se apropriar deste; seria uma dominação equivocada
e imprudente. Impossível se pensar em atividades em segurança pública que não dialoguem
com esta lógica, que não compreendam esta estrutura, que tentem engessar formas de
perceber o territorial.

A compreensão de território usado indicada por Milton Santos tem bastante lógica a
este entendimento. Para este geógrafo, o:

[...] território usado constitui-se como um todo complexo onde se tece uma
trama de relações complementares e conflitantes. Daí o vigor do conceito,
convidando a pensar processualmente as relações estabelecidas entre o lugar,
a formação sócioespacial e o mundo (SANTOS, 2000, p. 104-105).

Não é apenas atribuir um bairro ou uma região para o policiamento de uma


Companhia Independente da Polícia Militar, se faz necessário fazer com que cada
componente do efetivo da unidade policial militar conheça esta trama indicada por Santos
(2000), tenha a compreensão das relações que ali se estabelecem e como se constituem. Um
adolescente de um bairro nobre pode ter aspirações e desejos diversos (ou controversos) em
relação a um adolescente da periferia. Um policial que atua em cada uma destas áreas precisa
estar atento a cada conclame social que aquele território indica, e, especialmente, respeitar a
cultura ali criada.

Uma das características mais marcantes da metrópole brasileira é a segregação


espacial dos bairros residenciais das distintas classes sociais, criando-se sítios sociais muito
particulares. Para Villaça (2012) a segregação é um processo segundo o qual, diferentes
31

classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais
ou conjuntos de bairros da metrópole, apesar dela não impedir a presença nem o crescimento
de outras classes no mesmo espaço. A compreensão do território e de como este se
desenvolve e posiciona torna-se imprescindível à atuação policial militar. Preciso se faz que
esta temática encontre eco na formação policial e, logo, na sua atuação prática.

3.3 IDENTIFIQUE-SE CIDADÃO!

Diversas são as formas de comunicação e construção no mundo humano e muitas


também são as formas de estar no mundo, colocados pelo ser humano e suas especificidades.
A linguagem oral talvez seja a mais latente destas por ser a forma de expressão mais difundida
no universo social que nos faz entender e sermos entendidos e também nos descreve o mundo
que nos cerca, podendo ser a principal difusora das representações sociais.

A despeito da forma ou do canal de expressão postos em curso, a linguagem se


constitui num processo fundamental da natureza humana para todas as pessoas.

Shaffer (2005, p. 338) indica que “uma característica impressionante separa os seres
humanos dos demais animais: é a criação e uso da linguagem”, mesmo que os demais animais
se comuniquem uns com os outros, o número de gestos e sons é reduzido, servindo para atos
específicos, possível de se comparar com a forma lacônica da fala humana, que tende a ser
flexível e produtiva.

A linguagem como ferramenta inventiva pode ser utilizada para publicizar a forma
como expressamos nossos pensamentos e interpretações de tudo em nosso entorno, o que
vemos, ouvimos e experimentamos.

Merece grifo um conceito de linguagem apresentado por Davidoff (2001, p. 237),


segundo o qual a linguagem é “um pequeno número de símbolos individualmente sem
significado (sons, letras e gestos) que podem ser combinados de acordo com regras
preestabelecidas para produzir um infinito número de mensagens.”

O signo (símbolo) é uma unidade portadora de sentido; através dos signos, coisas,
objetos, desenhos, grafias são utilizados para tomar o lugar de alguma coisa. Os signos
linguísticos (as letras) são um signo artificial, pois retratam a relação arbitrária entre o seu
significado e o seu significante.
32

O significado vem a ser o conceito que acoplada a uma imagem acústica - o


significante - dão sentido a palavra, e garante a comunicação, com o prevalecimento de um
código, que pode ser verbal, como a língua portuguesa, e que é aceito e reconhecido pela
sociedade garantindo o entendimento pretendido entre as relações sociais.

A comunicação se perfaz quando o receptor capta o significado veiculado pelo signo


preestabelecido naquele código da língua posta em jogo/veiculação entre emissor e receptor.

O conhecimento e compreensão dos manejos linguísticos em determinadas sociedades


requer o conhecimento sociolinguístico, isto é, o conhecimento das regras culturalmente
determinadas que ditam como a linguagem deve ser usada e estruturada em determinados
contextos sociais (SHAFFER, 2005). Este conhecimento resulta da construção social dos
saberes e significados possíveis a cada palavra. O conhecimento sociolinguístico vem a ser
também a forma como a comunicação (verbal ou não) é disseminada em determinado grupo
social e vai estar intrinsecamente relacionado à análise das representações sociais veiculadas
nesse grupo e de como os símbolos se interligam entre si e consolidam um significado,
transformando-os em linguagem e possibilitando a realização do processo da comunicação.

Assim sendo, a linguagem, como veículo de comunicação, é também lugar de afeto e


de socialização; é com ela e por ela que os signos universais podem ser traduzidos, e, logo, as
representações sociais construídas e informadas ao social.

Spink (1993) citando Jodelet (1985) indica que:

[...] as representações sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos,


mentais, sociais, integrando a cognição, a linguagem e a comunicação às relações
sociais que afetam as representações sociais e à realidade material, social e ideativa
sobre a qual elas intervêm. (JODELET, 1985 apud SPINK, 1993, p. 304)

Entende-se por representação social as modalidades de conhecimento prático


orientadas para a comunicação e para a compreensão do contexto social, material e ideativo
em que vivemos. São, consequentemente, formas de conhecimento que se manifestam como
elementos cognitivos — imagens, conceitos, categorias, teorias —, mas que não se reduzem
jamais aos componentes cognitivos. Sendo socialmente elaboradas e compartilhadas,
contribuem para a construção de uma realidade comum, que possibilita a comunicação. Deste
modo, as representações são, essencialmente, fenômenos sociais que, mesmo acessados a
partir do seu conteúdo cognitivo, têm de ser entendidos a partir do seu contexto de produção.
33

Ou seja, a partir das funções simbólicas e ideológicas a que servem e das formas de
comunicação onde circulam (SPINK, 1993, p. 300)

A representação social é construção do sujeito social; sujeito este que não é apenas
resultado de determinações pontuais da sociedade, nem tão pouco produtor independente
destas determinações, visto que é a contextualização construída dos resultados do que os cerca
(SPINK, 1993). São as relações deste sujeito (a) com o grupo que o cerca que fará com que
estas (as representações) sejam consolidadas, modificadas, e até mesmo excluídas do seu
processo de aprendizagem social; elas são construídas nestas relações e não apenas do
interesse e vontade de um único membro: a participação social é fundamental à representação.

Ao se condicionar comportamentos através de estímulos que se assemelham, é


possível que se obtenha como resultado as mesmas respostas, ao se aprender palavras ou
expressões atreladas a determinados comportamentos, como por exemplo, crime e população
de baixa renda, esta mesma possibilidade se apresenta, ao se correlacionar pessoas que vivem
em situação de menor poder aquisitivo, a prática de crimes. O cuidado então precisa estar no
acompanhamento da inserção destes condicionamentos e destas respostas, corrigindo a
ambos, em especial, antes da sua incorporação a vivência profissional.

Serge Moscovici (1961) com o lançamento do livro “Psicanálise, sua imagem, seu
público” analisa como nós, sujeitos sociais, aprendemos e construímos cotidianamente
conhecimentos sobre o mundo material, sem perder de vista as especificidades,
particularidades, singularidades e características desse meio ambiente e dos interlocutores
humanos que nele estão inseridos, bem como a natureza das informações que são veiculadas
no espaço das inter-relações homem-meio ambiente e homem-homem.

Este conhecimento se constitui a partir das experiências, de informações recebidas e


processadas, das aprendizagens realizadas, dos conhecimentos construídos, das percepções
possíveis e das concepções desenvolvidas a partir delas, bem como dos modelos mentais que
são transmitidos através da tradição cultural, da educação e pelo processo da comunicação
social.

Se possuirmos um entendimento pessoal sobre determinada matéria, como o


preconceito racial e a padronização do suspeito, por exemplo, é possível passar esta impressão
para nossa práxis profissional, levando à regra, as nossas próprias impressões e estigmas. De
algum modo, a linguagem e estas representações formulam uma identidade e um múltiplo
34

papel traduzido pela fala e baseado na construção das suas máscaras sociais (STRAUSS,
1999).

Nas atividades em Segurança Pública, notadamente nas Polícias Militares, a


identificação do objeto de abordagem é algo fundamental. Abordagem policial militar,
segundo o Manual de Abordagem da Polícia Militar da Bahia (2005), pode ser entendida
como o ato no qual, integrantes da força policial, aproximam-se de pessoas, veículos ou
edificações com o intuito de realizar buscas, prender, conduzir, orientar e assistir os cidadãos,
resguardando assim o pleno uso dos seus direitos. A identificação, então, torna-se
imprescindível, pois é ela que vai balizar as ações que decorrem da abordagem e, em muitas
vezes, é esta “identificação” que impulsiona a abordagem. É possível pensar que é neste
momento que a identificação baseia-se na identidade.

Segundo o dicionário Houaiss (2010, p. 416), identificar vem a ser “(2) determinar a
identidade de; reconhecer”. Ao atuar profissionalmente, o policial militar tende a, para
selecionar seu objeto de abordagem, realizar uma identificação do provável suspeito com base
em características deste objeto, quer sejam características sociais, físicas, culturais. É a
identidade deste objeto que se sobrepuja às demais características técnicas policias militares.

A identificação é, pois, um processo de articulação, uma suturação, uma


sobredeterminação, e não uma subsunção. Há sempre demasiado ou ‘muito pouco’
uma sobredeterminação ou uma falta, mas nunca um ajuste completo, uma
totalidade. Como todas as práticas de significação, ela está sujeita ao ‘jogo’ da
diferença. Ela obedece à lógica do mais que um. E uma vez que, como num
processo, a identificação opera por meio da diferença, ela envolve um trabalho
discursivo, o fechamento e marcação de fronteiras simbólicas, a produção de ‘efeitos
de fronteiras’. Para consolidar o processo, ela requer aquilo que é deixado de fora –
o exterior que a constitui. (STUART HALL APUD SILVA, 2000, p. 32).

Ao operar por meio da diferença, a identidade mostra-se como relacional, indicando


que, para existir, ela dependerá de algo de fora dela, de uma identidade que ela não é. É esta
diferença que a determina que é sustentada pela exclusão: tendemos a saber o que é nosso
(identidade) ao saber o que não é (WOODWARD, 2000).

Ainda corroborando com Woodward (2000, p. 43) “a construção da identidade é tanto


simbólica quanto social. A luta para afirmar as diferentes identidades tem causas e
consequências materiais”. A vida contemporânea nos impulsiona para que assumamos
diferentes identidades, e, como a própria diferença requer, estas identidades podem gerar
35

conflitos uma vez que nossas vidas pessoais tendem a gerar tensões entre nossas diferentes
identidades (WOODWARD, 2000).

Strauss (1999) indica que o processo de nomeação de algo ultrapassa a ideia de


indicar. Para este autor, nomear é identificar um objeto como algum tipo de objeto; é inserir
este objeto em um rol de outros que se assemelham a aquele, dentro de uma categoria. Definir
uma classe, um grupo, significa também relacioná-lo a outra classe, logo, “nomear ou
designar é sempre fazê-lo a partir de algum ponto de vista” (STRAUSS, 1999, p. 39).
Renomear este objeto então vai depender de uma mudança em sua compreensão, em uma
reavaliação da relação que temos com ele.

A tendência natural para nomear ou renomear algo é classificá-lo, inseri-lo num


conjunto de expectativas preexistentes em nosso imaginário que são as máscaras sociais.
Nestas máscaras estão os designativos que esperamos das pessoas e coisas como se a
classificássemos em determinados requisitos “técnicos” que o fazem ser aquilo a que se
propõem.

Tanto os policiais militares como os suspeitos que estes reproduzem em suas práticas
de identificação, ancoram-se em características sociais, ancoram-se em máscaras sociais que o
percurso de sua formação nomearam como tal. E é essa construção, no processo de nomeação
destas máscaras, que requer cuidados e atenção uma vez que podem ocasionar
comportamentos discriminatórios gerando a posturas que consolidam a visão racista da
PMBA, corroboradas com práticas profissionais que vitimem ou rotulem pessoas em
decorrência do racismo institucional.

3.4 RACISMO INSTITUCIONAL

Conceito cunhado através do Grupo Panteras Negras, nos Estados Unidos da América,
Racismo Institucional pode ser entendido como um racismo realizado, operado e mantido por
um sistema; é uma forma institucional – um mecnaismo – que mantém e garante a exclusão
seletiva de grupos em vulnerabilidade social, colocando-os em situação de subordinação.

O racismo institucional visa induzir, manter e condicionar a organização e a ação do


Estado, suas instituições e políticas públicas – atuando também nas instituições privadas, para
reproduzir uma hierarquia racial (SALLES JR, 2011).
36

Guimarães (2004) nos indica que racismo pode ser entendido como uma doutrina que
constrói a ideia de “raças humanas” com qualidades e habilidades que hierarquizam as
relações através de uma gradação entre potenciais intelectuais e qualidades morais que vão
indicar a superioridade ou inferioridade das raças. Para ele o racismo é um corpo de atitudes,
preferências e gostos que coloca as pessoas negras como mais feias, ou menos inteligentes
que as brancas.

Segundo este autor, o racismo funciona de duas formas: uma aberta, declarada e
associada às pessoas, atuando de forma explicita; outra institucional, não declarada, que
associa o racismo a atos e intenções de alguns atores mantendo os negros em situação de
inferioridade através de mecanismos não tão perceptíveis socialmente. Nesta segunda forma
verifica-se que a as pessoas se utilizam do funcionamento da sociedade para justificar seus
argumentos ocasionais e justificar atos racistas; o racismo institucional serve para mostrar a
discriminação e a segregação, pontuando a necessidade de mudanças políticas e institucionais
(GUIMARÃES, 2004).

Manifesta-se o racismo através de condutas individuais que promovem a


discriminação racial das suas mais variadas formas ou através da atuação silenciosa,
mas contundente dos órgãos públicos e privados. O racismo institucional, aquele que
pode ser experimentado e observado na dinâmica das instituições, decorre
necessariamente do alto grau de naturalização da hierarquia racial e dos estereótipos
que inferiorizam determinado grupo enquanto afirmam a superioridade de outro
(PIRES e LYRIO, 2014, p. 6).

A noção de racismo institucional está imbricada nas estruturas sociais, ainda que não
possua uma forte estruturação ideológica ou doutrinária; não é “legalizado” ou definido, nem
consta nos currículos das estruturas de formação, mas, suas estruturas são veladas e
transmitidas nas instituições repousando em mecanismos abstratos. (WIEVIORKA, 2007).

Uma forma de exposição do racismo institucional está na discriminação, Guimarães


(2004) nos ajuda a entender este conceito, definindo-o como uma crença prévia nas
qualidades físicas, intelectuais, religiosas, psíquicas ou estéticas de alguém baseada na ideia
de raça que se manifesta de modo verbal, ao reservado ou no público.

O Estatuto da Igualdade Racial do Estado da Bahia, define discriminação racial em seu


primeiro artigo, inciso 1, como:
37

Toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,


descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir
o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural
ou em qualquer campo da vida pública ou privada (BAHIA, 2008, s.p.).

Ainda que a definição seja abrangente, estabelece um bom parâmetro para se entender
a discriminação racial e étnico-racial. Um caminho a este entendimento é estudar o racismo
cultural. Wieviorka (2007) diz que esta forma de racismo utiliza características diferentes do
racismo científico (genes, fenótipo), mas que igualmente tende a excluir, refutar, rejeitar;
baseando-se no presente e hierarquizando as raças através das relações sociais. É possível
pensar o racismo institucional com base nas junções do racismo cultural com o cientifico.
Ainda que expressamente o racismo científico não seja a tônica das posturas e ações, o
cultural possibilita e legitima atuações calcadas em impressões culturais disseminadas
institucionalmente, focando em incompatibilidades de imagem.

3.5 A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR

A sala de aula é o lugar social da aprendizagem formal. É ali que se inicia o processo
de construção do conhecimento, e, claro, que se estabelecem relações sócias importantíssimas.
A sala de aula é uma comunidade em que pensamentos são formulados e a palavra é sua
principal ferramenta.

A sala de aula também é o local onde se estabelece a relação de fala e escuta entre
professor e aluno, um espaço em que se entrelaçam as representações sociais dos
protagonistas neste diálogo (professor e aluno).

É neste ambiente (sala de aula), através das comunicações que são veiculadas ali
(linguagens diversas) por seu professor que estarão sendo consolidado saberes. E neste
processo que as representações sociais trazidas por este/esta professor (a) do seu universo
representativo, dos seus significados e significantes que irá permear seu discurso, o que nos
leva a pensar que, em uma sala de aula de um curso de formação, o profissional mais
experiente, na figura do professor, tende a traduzir na linguagem pedagógica as
representações sociais que permeiam sua vida, tanto da sua práxis profissional (já que estas
38

são a base para os seus ensinamentos) como da pessoal. As suas falas estarão compostas por
uma base cognitiva e afetiva, relacionadas à sua vivencia pessoal.

Ornellas (2006) indica que a sala de aula é o ambiente desta tratativa. É o espaço de
construção das relações afetivas, em que ocorre a “fala e a escuta” A autora nos diz ainda que
se “a fala for bem elaborada, pode ser escutada, trocada e analisada na prosa da sala de aula,
na prosa da relação”, e é a fala do (a) professor (a) sobre o objeto do seu ensino que constitui
o leque de possibilidades de entendimento e percepções (ORNELLAS, 2006, p. 130).

Na formação policial militar esta fala se apresenta como de singular importância ao se


considerar o formato em que os conteúdos referentes às disciplinas de técnicas policiais
militares são construídas. As aulas são ministradas (àquelas referentes a disciplinas técnicas
policiais militares) por Policiais Militares já formados e com prática no serviço operacional
(nas ruas). Estes, através de uma ementa em que são pontuados os temas a serem discutidos e
as competências a serem desenvolvidas formulam suas aulas, em especial com base em suas
próprias experiências no exercício da profissão.

O professor deve receber da Instituição tanto o nivelamento necessário a seu discurso


e prática pedagógica, como também a supervisão e monitoramento indispensáveis a sua
própria percepção, visto que é possível que o automatismo retire deste a possibilidade de
visão global da sua prática. Importante também se torna uma revisão periódica dos conteúdos
programáticos, adaptando-os às necessidades da contemporaneidade, sem que estes se tornem
pontos estanques e indiscutíveis (dogmas). O instrutor deve ser um elemento de constante
mudança, observação e renovação profissional, cujo discurso não se admite disseminação de
preconceito e discriminação.

3.6 O QUE FALAS, SEM FALAR: A ANÁLISE DO DISCURSO

Analisar um discurso parte do entendimento que esta análise se relaciona com o


entendimento do sujeito que o relata (o discurso), a história em que este discurso e seu sujeito
estão inseridos e a linguagem empregada neste processo. É verificar como um objeto
simbólico produz sentidos e significantes pelo sujeito (ORLANDI, 2009). Assim a análise do
discurso emergirá à medida que a história e a língua se trespassam, “forma material (não
abstrata como a da linguística) que é a forma encarnada na história para produzir sentidos”
(ORLANDI, 2009, p. 19).
39

Possenti (2009) ao nos trazer informações sobre a análise do discurso indica um ponto
que aqui é relevante, o interdiscurso e suas implicações. Entende interdiscurso também como
um “conjunto de unidades discursivas com as quais um discurso entra em relação explicita ou
implícita”, assim ao se formular um discurso (a formulação discursiva indicada pelo autor)
este produzirá o “assujeitamento do sujeito” (p. 154), já que cada formulação discursiva é
dominada pelo interdiscurso e exclui outras formulações que poderiam ser coladas de forma
independente (POSSENTI, 2009, p. 154).

Com base nas teses de Pêcheux, Possenti (2009), ressalta que esta influência do
interdiscurso nas formulações discursivas está diretamente relacionada ao complexo
dominante existente em nossos ciclos sociais, o que denota um papel crucial ao pré-
constituído, fazendo com que a análise do discurso possa compreender o fato de que uma fala
não é apenas pontual e específica, ela estar relacionada a diversos fatos, acontecimentos,
condicionamentos que a precede e que a sucede. O sujeito vai falar a “a partir do já dito”, de
construções que lhe foram introjetadas, ainda que sem estar no nível da consciência sobre
aquele fato, segundo Possenti (2009, p. 155).

A análise do discurso vai caminhar por algumas premissas para que seja possível de
ser corretamente compreendida explica Orlandi (2009). È preciso entender que a língua tem
suas próprias características e por assim o ser faz-se necessário “entrar” nesta de forma isenta
(ainda que isenção seja algo complexos em relação e percepções e sentidos). Esta ação vai
levar a segunda premissa de que a historia não é única e nem pode ser uma verdade isolada já
que ela tem o real afetado pelo simbólico de cada participante desta, e, como premissa final é
a de que este participante (o sujeito da linguagem) é descentrado já que ele interage de acordo
com seu inconsciente e sua ideologia.

Estas premissas confrontam os elementos da comunicação (emissor, receptor,


mensagem, referente e código) ao denunciar que na produção da linguagem, da comunicação,
interagem outros elementos que receberão influência direta dos sentidos e histórias de vida,
mostrando que “a linguagem serve para comunicar e para não comunicar” (ORLANDI, 2009,
p. 21).

Cada análise de discurso é singular uma vez que deve mobilizar diferentes conceitos e
categorias de análise, gerando efeitos profundos no trabalho de quem se predispõe a fazê-la.
Nesta pesquisa, a escolha metodológica do mapa cognitivo visou realizar esta analise pelo não
dito, pelo “não comunicado” indicado aqui por Orlandi (2009) e Possenti (2009); é o que a
história e as convenções internas (ainda que silenciosas) da Corporação fazem com que fique
40

no anonimato o que se quer “ler”, o que se quer analisar e que, por vezes, pode estar no
espaço do inconsciente, e, portanto, precisa de um impulso para aflorar.

O conceito de interdiscurso nos importa aqui em especial por entender que o


“interdiscurso é o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que
dizemos”, estes “esquecimentos” são mais bem trazidos ao lugar da fala quando é estimulado
por outras formas de exposição que não o falar (ORLANDI, 2009, p. 33). O desenhar sobre
algo vai possibilitar fazer com que se “fale” o interdiscurso existente durante as práticas
internas da Corporação, tanto no processo de formação, quanto nas práticas profissionais
formados.

3.7 AVALIAR, MONITORAR E OBSERVAR.

É comum em nossas relações sociais a percepção da palavra avaliação como algo que
nos remeta a disputa, punição ou algo que possa nos ser ruim. Polariza-se a avaliação em algo
extremamente bom, se esta lhe indicar algo que lhe seja satisfatório, ou algo potencialmente
ruim, caso não seja favorável. O que encontra lugar em muitos discursos é que, ao longo do
tempo, a avaliação se tornou um ponto crítico, complexo, que “testaria” algo ou alguém de
forma a validar suas práticas (estudo, ação, não-ação...). Mas em tudo, a avaliação viraria um
carrasco, ela denotaria sua punição e a de seus projetos caso não satisfizessem ao padrão (a
média) indicado como apta. Entretanto, ainda que possua certa veracidade a avaliação, como
processo gerencial, não visa à punição e a aniquilação de práticas: ela vem como um
importante balizador para a continuidade de projetos; indicando ajustes e saídas possíveis para
sua continuidade e correção. A avaliação então é um ponto primordial em nossas relações, e,
também por isto, deve está intrinsecamente relacionada ao planejamento (BOULLOSA e
RODRIGUES, 2014).

Para além de significar uma nota vermelha no boletim, avaliação ao longo do tempo se
consubstanciou em processo carente de institucionalização, em especial no tocante a políticas
públicas uma vez que este processo (avaliação) possibilitaria o monitoramento das políticas e
sua sobrevivência. Faria (2005) indica três funções básicas atribuídas a avaliação: informação,
realocação e legitimação, que se alternaram durante o período de 1960 aos dias atuais. A
avaliação tinha função informativa quando apenas indicava por números os resultados daquela
ação, sem que com isto fossem provocadas ou devidas mudanças substanciais à estrutura do
41

programa. A realocação já traz uma análise dos dados avaliativos com um redirecionamento
de suas atividades, com mudança na gestão dos programas, realocando recursos aos que
melhor atendiam aos objetivos. A legitimação já aparece como função mais elaborada: além
de levantar dados decorrentes dos resultados, analisar a necessidade de realocação e alocação
de recursos, esta avaliação legitimava a política e assegurava (ou não) a sua continuidade.
Para esta legitimação, importante se faz estar atento a fatores que podem interferir na
utilização dos resultados. Ainda com Faria (2005), estes fatores são tanto interesses internos
conflitantes, como a ocorrência de conflitos de interesse organizacionais, mudanças de
pessoal empregado, inflexibilidade de regras que impedem os ajustes propostos pela avaliação
e mudanças externas (cortes orçamentários, ambiente político, etc.).

A concepção gerencialista da avaliação possui quatro tipos de uso da avaliação como a


instrumental, a conceitual, como instrumento de persuasão e para “esclarecimento” (FARIA,
2005). Como instrumento, atuaria quando as descobertas não fossem controvertidas, quando
as mudanças não fossem expressivas e o ambiente fosse relativamente estável, ou ainda
quando o programa estivesse em crise e não houvesse saída aparente.

O uso conceitual quando seus resultados atuam para balizar estudos e análises,
podendo alterar como os receptores de seus dados compreendam a natureza do programa.
Instrumento de persuasão quando é utilizada para “mobilizar o apoio para a posição dos
tomadores de decisão já tem sobre as mudanças” (FARIA, 2005, p. 103).

E atua como esclarecedora, quando serve para causar impacto nas redes de
profissionais e demais participantes promovendo alterações nas crenças e na forma de ação da
instituição; atua trazendo a diálogo novas perspectivas, “esclarecendo” horizontes sobre a
ação.

Assim a avaliação pode ser utilizada de diversas formas: as ideias e generalizações


criadas, a avaliação propriamente dita como desculpa para a inação, utilizada também como
foco do estudo fazendo com que o publico passasse a dar mais atenção ao processo e a
utilização do desenho da pesquisa avaliativa uma vez que o seu uso, ainda que seja em
determinada política, pode ser replicado em outras atividades e práticas.

Muito embora existam diferenças entre avaliação e o monitoramento, ambos convivem


com o mesmo paradoxo: um lugar dual entre a defesa por alguns e a repulsa de outros, bem
como da utilidade prática de seus resultados, avalia-se e monitora-se programas e processos,
mas sem grandes alterações na efetividade do uso dos seus produtos.
42

Avaliação vem a ser a “possibilidade de problematizar, dialogar, intervir, produzir


conhecimento e promover aprendizagem sobre o seu próprio objeto de estudo” (BOULLOSA
e RODRIGUES, 2014, p. 149). E monitorar “pressupõe um processo sistemático e continuo
que permite uma avaliação situacional, sem estabelecer relações de causa e efeito e sim
produzir informações a respeito do objeto à medida que se desenvolve” (BOULLOSA e
RODRIGUES, 2014, p. 150).

Deste lugar verifica-se que monitorar pode ser inclusive uma etapa da avaliação, mas
não a compreende. A avaliação possibilita uma ressignificação ao processo, logo, uma
efetividade mais complexa na sua análise. Muito embora o monitoramento deva ser uma ação
permanente de observação de fenômenos que ocorrem entre os
objetos/eventos/acontecimentos que despertem interesse, ele traz como produto a descrição, a
previsão de ocorrência e seu comportamento, não faz com que se extraia uma
problematização ou um conhecimento efetivo que promova a aprendizagem. Assim, é possível
entender monitoramento como base a avaliação, logo, é defender que a avaliação como
proposta mais ampla e importante já que esta (re) cria práticas e indica a sustentabilidade do
programa/projeto.

Pensar em estabelecer uma relação de necessidade nas ações policiais militares através
de avaliação e monitoramento requer entender como se dão estas duas ferramentas e como
seriam úteis ao processo de alteração comportamental e ressignificação cultural das práticas
profissionais na Polícia Militar da Bahia.

Avaliar é uma expressão mais comum entre nossas relações; a partir do início de
nossas relações escolares e/ou educacionais este termo passa a ser mais frequente e atribuímos
a uma avaliação positiva a solução de boa parte de nosso sucesso, ainda que avaliar de forma
a expor erros não necessariamente seja um resultado ruim. Avaliar, então é uma atividade de
atribuir valor, tanto o valor material, simbólico ou de mérito (Boullosa et al, 2009).

Através de Boullosa (2006) citada por Boullosa et al (2009), podemos entender a


avaliação como:

Conjunto de atividades, nem sempre solidamente correlacionadas, voltado para a


expressão de um juízo ou síntese avaliatória, direcionado a um fim, nem sempre
claro e/ou explícito, empreendido por um conjunto de agentes, nem sempre
definidos ou etiquetados como avaliadores. Este juízo deve ser o máximo possível
argumentado através de instrumentos e procedimentos de pesquisa avaliatória (não
somente pesquisa social aplicada), de modo a possibilitar a sua reconstrução
analítica e discussão dos resultados, juízo ou síntese avaliatória, pelas coletividades
43

interessadas em tal avaliação, desencadeando um processo de aprendizagem prático-


institucional (relativo ao objeto da avaliação) e social (relativo à dimensão
dialógico-cívica da sociedade em geral). (BOULLOSA, 2006, apud BOULLOSA et
al., 2009, p. 112).

Indica-nos com este conceito Boullosa que esta avaliação precisa criar o que chamou
de “reconstrução analítica”, entendida aqui como a possibilidade de verificar seus conceitos,
técnicas e práticas institucionais, discutindo os resultados através dos interessados criado,
sobremodo um espaço institucional de analise de suas práticas e assim, adequação,
implementação ou mudança em suas ações.

Mas a avaliação por si só não pode determinar estas mudanças, ela precisa fazer parte
de um programa que a inclua (óbvio), mas que não foque nesta todas as possibilidades de
resolução dos dados encontrados. Aliada a avaliação uma importante ferramenta é o
monitoramento. Enquanto a avaliação tem maior propensão à análise crítica, o monitoramento
traz a possibilidade do registro da informação, sendo estas das atividades complementares,
que precisam estar em paralelo na busca pela garantia de execução correta de processos
(BOULLOSA et al, 2009).

Ao se pensar em criar uma Tecnologia de Gestão Social que possa corrigir práticas
comportamentais, torna-se indispensável que exista um processo permanente de avaliação –
uma vez que se lida aqui com posturas e significantes pessoais (ainda que moldados pelo
ambiente), introjetados nos comportamentos humanos e que, por vezes, passam sem a
consciência de sua execução; e do monitoramento para que as ações que possam se distanciar
do que o processo avaliatório identificou e a atividade sugerida nesse, e propiciou possa ser
acompanhada e verificada permanentemente.
44

4 ANÁLISE DOS DADOS – CONSOLIDANDO A TGS

Metodologicamente esta pesquisa utilizou quatro fontes de informação para sua


consolidação: a pesquisa bibliográfica com análise de estudos anteriores que caracterizaram a
discriminação racial na atividade policial militar, como visto no referencial teórico; o mapa
cognitivo para analisar como esta discriminação está imbricada nas relações diárias
profissionais destes policiais bem como a forma como ela se dá no processo de formação; a
entrevista como suporte ao mapa cognitivo na sistematização dos dados e o questionário semi-
aberto.

Ainda que citada por último neste procedimento tecnológico, iniciemos a análise pelas
entrevistas realizadas, uma vez que este caminho foi o adotado pela pesquisadora para
solidificar os dados. A entrevista utilizou um roteiro e teve caráter semi-estruturado. Foi
realizada com os policiais militares que construíram o mapa cognitivo.

Uma das características do curso formação e até mesmo na vida profissional dos
policiais militares é a sua identificação numérica. Cada Aluno do curso de formação de
Oficiais ou Praças, assim que ingressa na corporação e tem sua matrícula indicada recebe um
número de acordo com sua classificação no concurso; aos policiais militares formados, a
indicação destes se dar pelo seu número de cadastro no Estado. Ao indicar a participação dos
entrevistados, optou-se em fazê-lo também por este critério, numerando os Alunos e Soldados
entrevistados, tal qual sua identificação em sala de aula dos cursos de formação policial
militar: AL SD PM (Aluno a soldado PM) e o número correlato, aqui um número fictício.

Quando solicitados a caracterizar um suspeito, a partir de sua impressão, percepção e


concepção a respeito, apenas 18,08% dos entrevistados focaram esta classificação na cor da
pele, de forma literal.

A maioria caracterizou o suspeito através de pontos de observação como em


vestimentas (39,6%), comportamento (22,8%) e 17,8% em “atitudes”. O que aqui é indicado
como “vestimenta” foi traduzido por eles/elas como “roupas típicas” (Aluno Sd 07). Outro
relato indica existir uma “moda dos criminosos” (Al SD PM 03) e em seguida é veemente em
dizer que “pela cor, não”; e “tem um jeito de se vestir de forma peculiar” ou ainda,
descrevendo as peças de roupas “bonés, batidão, bermuda cyclone2” (Al SD PM 15); as

2 Cyclone é uma marca de roupa esportiva largamente utilizada nos bairros periféricos e do subúrbio de
Salvador.
45

pessoas entrevistadas que não tiveram como resposta a cor como elemento de identificação do
suspeito, pontuam também na caracterização do suspeito, alguns pontos relativos à aparência
físicas como “cabelo tingido de loiro, “desenhados” com navalha” (Al SD PM 271).

Alguns relatos específicos nos ancoram para a análise que se infere:

“Elemento com atitude suspeita, em sua maioria parda ou negra, com vestimentas
geralmente usadas por pessoas de baixa renda e escolaridade. Grandes correntes no
pescoço, sandálias ou são usados por pessoas que fazem apologia ao crime” (GRIFO
MEU) (Al SD PM 04).

Ou

“Boné pála reta, camiseta largada, calça ciclone, mas quanto a cor da pele, acredito
que necessariamente não seja negro” (Al SD PM 03).

Ou

“Geralmente usando bermuda e camisa, um batidão, boné escondendo ao máximo o


rosto, um andar marrento, e em sua grande maioria negros e jovens. Baseado em
estatísticas oficiais e ter presenciado casos com pessoas nestes trajes e
características” (Al SD PM 23).

Ou

“Geralmente pessoa que tem interesse em praticar um ilícito usa roupas típicas de
marginal (short, chinelo, camiseta larga, boné)” (Al SD PM 06).

Ou ainda

“A suposição é feita de acordo com as roupas, modo de falar, e a cor da pele (existe
preconceito enraizado na população), já que a maioria dos bandidos enquadra-se em
um tipo característico os quais foram elencados (cor da pele, roupa, bairro em que
residem)” (Al Of PM 53).

Obter estes relatos e analisar os dados nos remete a elucubrar que, muito embora
encobertas em nossa história social latente e necessária há discussões como esta, o racismo
cientifico anteriormente defendido, hoje o racismo se reveste em um racismo com base em
estatísticas.
46

Ao se identificar e reconhecer na fala deles e delas aquilo que indicaram como


“comportamentos” e “vestimentas” distintivos do suspeito, características eminentes da
população negra baiana, inclusive referenciando preferência por ritmos musicais e lugares
sociais (frequentados pela população de baixa renda) ou espaços geográficos (periferia),
sustentam, como indica Villaça (2012), posicionamento pelo qual o espaço atua como um
local de exclusão.

A categorização do suspeito com base em estatísticas também é um fator importante a


se analisar, ainda como indica Sena (2010): esta ocultação pode ocorrer de formas diversas,
inclusive com a chancela científica, neste caso da estatística, como consolidadora do dado.

Em um relato, um dos entrevistados indica que:

“Normalmente, um suspeito, diante das pesquisas e vivência policial pode ser


caracterizado pelas roupas que veste tipo: ciclone, pelo grupo social em que convive
como gangues, cor da pele, que na maioria é negro” (Al SD PM 01).

O que aqui indica como “pesquisas” e “vivência” é o que outros sujeitos desta
pesquisa apresentaram em seus discursos como estatística policial militar, ou, em outras
palavras:

Repete-se, destarte, sob outra roupagem e com adornos novos, a velha e carcomida
concepção das classes dominantes na sua leitura sobre o Brasil como país
racialmente homogeneizado (SENA, 2010, p. 68).

Este autor ainda completa afirmando que “infelizmente”, essa insistente negação da
realidade, ardorosamente defendida por discursos idênticos aos acima citados, serve como
importante reforço para perpetuação, no presente, das mesmas formas de discriminação e
segregação, que atendam mais convenientemente à manutenção, na sociedade brasileira
contemporânea, dos exagerados privilégios de poucos, em detrimento da imensa exclusão
social de muitos. (SENA, 2010, p. 68).

Quando questionado se as aulas dos módulos de Técnica Policial Militar, constantes


no currículo e frequentadas e cursadas até ali foram influentes nas respostas anteriores, 27
(vinte e sete) dos 30 (trinta) Alunos a Soldado entrevistados responderem que sim e 10 (dez)
dos 15(quinze) dos Soldados formados que responderam ao questionário indicaram o mesmo.
47

E é exatamente sobre o pensamento expresso por esta maioria dos pesquisados que se
volta e debruça a análise: quando os pesquisados relatam como verdadeira a influência das
aulas na imputação da caracterização tipológica do suspeito os entrevistados indicam que as
características que fundamentam esta suspeição vieram dos “conhecimentos teóricos
aprendidos em sala de aula” (Al SD PM 18) ou com a “prática relacionada com a teoria” (SD
PM 11), e ainda “através da explicação de alguns instrutores, porém bem pouco em sala de
aula, e mais ouvindo os colegas que já tinham experiência anterior de praça da PM” (SD PM
06).

Aqui uma reflexão em especial: a “experiência PM’ por vezes irá trazer significantes e
significados que podem levar a concepções e representações sociais já entranhadas no seio da
tropa. Aqui, a teoria se confunde com a prática à medida em que esta aparece diretamente
influenciada por aquela.

Contatando o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças e questionando-o


sobre a existência de algum manual, norma técnica ou outro dispositivo ou instrumento que
padronize a instrução de técnicas policiais militares, este respondeu indicando negativamente
essa existência; entretanto, afirmou existir um “nivelamento entre os instrutores das
disciplinas técnicas policiais”.

Ainda que não haja uma informação mais abrangente de como se dá este nivelamento,
é possível, e como anteriormente escrito, é provável, que estes instrutores veiculem através de
suas falas suas próprias impressões (currículo oculto), e, na ausência de norma escrita que
balize esta comunicação coadunada com a observância aos direitos humanos, parece-nos
evidente a possibilidade de que tais instruções estejam sendo mediadas em dissonância de tal
ditame.

Em relação aos policiais militares formados e já no exercício da profissão, ao se


questionar, em uma situação de suspeição numa abordagem policial, quem, entre um homem
de cor branca e um de cor preta, a guarnição abordaria primeiro, 51% dos pesquisados indicou
o homem de cor preta, 49% dos respondentes reportou ser indiferente à cor, e nenhum indicou
o homem branco como prioritário nesta abordagem.

Mesmo que o discurso eficiente para a disseminação do racismo tenha impelido quase
metade dos profissionais formados a indicarem atitude de indiferença em relação à cor da
pele, como critério ou fator prioritário de tipificação do potencial suspeito numa abordagem,
fica claro a partir destes dados, que a cor de pele branca não se constitui em fator que receba
48

prioridade de consideração ou cogitação para a tipificação do potencial suspeito, ao contrário


da cor de pele preta, que aparece como fator prioritário e de destaque na maioria das respostas
obtidas.

Ainda que a resposta com o indicador de “indiferente” queria demonstrar que não há
esta priorização, o que parece acontecer é uma negação do racismo institucional, onde,
corroborando com Sena (2010) indica que esta resposta vem tentar negar o fato deste racismo
com uma reprodução de linguajar de discurso correto, sofrendo influências ideológicas e
praxeológicas do racismo.

Em complementaridade a esta pergunta, buscou-se dados a respeito da possível


influência do modo de transmissão, instrução e ensinamento das técnicas policiais para a
tipificação do potencial suspeito, 30 (trinta) dos entrevistados disseram não reconhecer tal
influência. Aqui uma contradição interessante. Ainda que anteriormente tenha se indicado que
a escolha do suspeito sofre influência das aulas ministradas e da experiência dos colegas
“mais antigos”3, improvável que esta influência não seja replicada neste caso, haja vista que
são nestas aulas que são transmitidas e instruídas as técnicas policiais militares; se há nas
aulas influência direta para a seleção do (a) suspeito (a), é aqui, na construção do (a) policial
militar que se dá através das aulas de técnica e táticas PM que influenciam a identificação,
avaliação e a estabelecer critérios de suspeição policial militar. Das pessoas entrevistadas
(formados e em formação) 30 (trinta) indicam que há esta influência, ratificando assim o que
se concluiu acima.

Assim, o discurso do professor e do colega de profissão é um guia, orienta e direciona


o aprendizado. Inegável esse reconhecimento na fala dos pesquisados:

“as influencias doutrinárias e comportamentais existem sim, desde um tratamento


desigual, piadas preconceituosas, intolerância exacerbada e agressiva com o
alunado, tendem a moldar os novos policiais” (Al SD PM 10).

Reconhece-se aqui também o conceito do “currículo oculto”: “... não se aprende a ser
preconceituoso nas aulas e sim com os colegas e oficiais (currículo oculto)” (Al SD PM 18).

3 Nas Corporações militares figura como referência hierárquica, além dos postos e graduações diferentes entre
si, a relação do ano/curo/turma de formação no mesmo posto ou graduação: um soldado formado em turma
anterior a um outro, é mais antigo que este, logo possui prerrogativas que priorizam escolhas e acessos no
exercício da profissão.
49

Ainda que seja possível suspeitar da presença de uma preocupação na fala dos
pesquisados em torno de respostas voltadas para representar uma ausência de preconceitos no
âmbito da cultura da corporação militar, em parte significativa da amostra, quando
questionados sobre sua avaliação acerca da postura profissional do policial militar frente a
questões raciais, a maioria absoluta das pessoas entrevistadas dizem ser esta “muito
preconceituosa” ou que “precisam melhorar”, ou seja, para os entrevistados a imagem
corporativa, frente à temática da discriminação racial ainda é um tabu que precisa ser
analisado, discutido e reconhecido como problema institucional, logo, algo que precisa de
atenção e cuidados, sendo visto e tratado como tal, que “precisa melhorar”.

Dez dos quinze policiais militares formados e já exercendo a profissão que


responderam ao questionário entendem que a atuação da PM frente a estas demandas ainda
que tenha melhorado precisa melhorar ainda mais.

“acredito que a situação melhorou, mas ainda há muito racismo, pouco no âmbito do
CFAP em relação aos colegas, mas muito em relação aos suspeitos” (Al SD PM 18).

“todo individuo é fruto do seu meio, e o policial militar é influenciado por um


preconceito fortemente enraizado na sociedade e na corporação” (SD PM 10).

Ressaltam ainda que esta isenção seja importante, defendendo o uso de linguagem
acadêmica e técnica baseada em doutrina, como fundamental à formação policial militar,
“pois só através de uma linguagem técnica e postura séria é que se pode desconstruir
preconceito” (Al SD PM 21).

Mesmo que não se possa desprezar as experiências vivenciadas durante a atividade


operacional da PM, esta maioria dos respondentes defende e acredita que esta isenção deve
ser ferramenta de controle no processo de instrução e monitorada após a formação (prática
policial militar), um importante indicador de que a formação esteja diretamente relacionada
com os valores e missão institucionais e não com as representações sociais, os conceitos e
preconceitos pessoais dos agentes instrucionais.

4.1 O MAPA COGNITIVO

Em nosso estudo a construção do mapa se deu com a propositura de criação de um


50

desenho que respondesse a questão “o suspeito na atividade policial militar”, sem que
déssemos quaisquer informações adicionais, para policiais militares em formação. A partir
deste ponto, foi solicitado que registrassem em única palavra (aceitando-se expressões) os
conceitos sobre o seu desenho (o que viam ali desenhados ou o que justificou aquele
desenho). A análise da frequência destes conceitos serve de base para avaliar elementos à
centralidade cognitiva, uma vez que esta operação aproxima da análise qualitativa conceitos
verbais.

Dos mapas analisados conceitos emergiram e foram classificados em duas categorias,


a que percebe a PMBA como técnica e correta em seu formato (70% dos participantes); e
outra que se solidariza com o fato de existir a discriminação racial, com base na dimensão
pessoal em direitos humanos (30%), questionando a postura PM (ver quadro 2):

Quadro 2 – Conceitos e classificação em categorias


CONCEITOS
TÉCNICA PMBA DIMENSÃO PESSOAL EM DIREITOS
HUMANOS
JULGAMENTO/AVALIAÇÃO PELA INJUSTIÇA
APARÊNCIA
INSEGURANÇA ABANDONO SOCIAL
FAZER VALER A JUSTIÇA “NEM TUDO É O QUE PARECE”
MARGINAL INDIGNAÇÃO/REVOLTA
DÙVIDA PRECONCEITO
Fonte: Elaborado pela autora para fins deste estudo

Aqueles que conceituaram seus desenhos e impressões indicando ser a “Caracterização


física” e/ou “Aparência” como fundamental a identificação do suspeito na atividade policial
militar (23%), corroboraram este fato nas suas respostas escritas e dialogadas, mas estes
mesmos entrevistados (as) indicam também a necessidade de que a PM precisa dialogar
melhor sobre este assunto. A tipificação nos desenhos destes suspeitos obedece ao discutido
nesta pesquisa e retratam, invariavelmente, homens negros e jovens como potenciais
suspeitos. A suspeição é um atributo técnico da atividade policial militar. É preciso suspeitar e
daí (fundada suspeita) realizar a averiguação (abordagem) do individuo, entretanto, quando
esta suspeição já vem com características que estreitam e afunilam um tipo físico, esta perde a
característica técnica e passa a ser evidenciada como critério de abordagem não dados
estatísticos, não dados de percepção desenvolvidos com base na experiência profissional, sim,
51

a aparência física e social do indivíduo.

Figura 1 – Caracterização física/aparência que indica a pessoa ser suspeita para o PM

Fonte: Alunos a Soldado do CFAP/Núcleo BPRV

Um ponto interessante são os pouco menos de 15% dos pesquisados que indicaram
como expressão/palavra que resumia seu mapa o sentimento de “fazer valer a justiça”. Fazer
justiça aqui será trazer como base a sua suspeição, características físicas e sociais do grupo;
ser justo é entender que o homem/mulher inserido neste critério precisa ser entendido como
ameaça, ou alguém que está à margem da justiça. O que se associa àqueles que indicam que
estes perfis trazem “Insegurança” à sociedade e, como tal, precisam ser abordados.

Figura 2 - Sentimento de fazer justiça como consequência da aparência

Fonte: Alunos a Soldado do CFAP/Núcleo BPRV


52

O conceito do suspeito como o “Marginal” e que suscita “Dúvida”, ainda que


abrangentes, são indicados no perfil da técnica policial militar pois, em sua abrangência
linguística, ao se atrelar a imagem desenhada (boné, roupas), ainda comungam das impressões
dos demais em se focar em determinado tipo físico como suspeito.

Figura 3 – Marginal ou marginalizado

Fonte: Alunos a Soldado do CFAP/Núcleo BPRV

Na outra parte da tabela indicamos os conceitos elaborados e, cujos relatos, indicavam


que a seleção do suspeito na atividade PM estava relacionada à discriminação racial.
Atrelavam a esta seleção itens que potencializavam a segregação racial, uma vez que no
desenhar ele (a)s trajavam os suspeitos tais quais as descrições indicadas nos demais (parte
técnica PM da tabela), mas relatavam conceitualmente que esta ação estaria indicada a
injustiça e indignação (33%), abandono social (22%), vulnerabilidade social (20%),
preconceito, de forma expressa (22%). Os demais trouxeram expressões como “nem tudo é o
que parece” em um processo dicotômico mas que, pela análise dos questionários e da
exposição verbal compartilhada, inclinou a pesquisadora a entender como um processo de
indignação face ao preconceito, não como ponto de desconfiança propriamente dita. Verifica-
se assim que há um público que anseia e precisa de ações institucionais para balizarem,
monitorarem e realizarem proposituras sólidas de mudança de padrão.

Em 15% dos mapas cognitivos, os conceitos atrelados foram traduzidos em


expressões, destes, duas são (no nível da compreensão) recorrentes e que nos inquietou a
aprofundar a análise: “O PM não pode ter sentimentos” e “Indignação com a sociedade que
ainda é ingrata com a PMBA”.
53

Figura 4 – Indignação face ao preconceito requer mudança de padrão

Fonte: Alunos a Soldado do CFAP/Núcleo BPRV

Com esta análise dos dados, foi possível verificar como se dá a percepção do policial
militar formado e em formação da construção da discriminação racial, em especial quando
retratam que a própria corporação precisa realizar mudanças em seus processos nesta temática
e reafirmam que as aulas os influenciam a estabelecer parâmetros de atuação preconceituosos.
Sinaliza também que não existem processos de controle destas práticas dentro da PMBA, nem
a cultura de que este monitoramento é algo útil à evolução da sua atividade, o que nos leva a
verificar que, um passo importante à mudança desta realidade é existir na estrutura da
organização policial militar do estado da Bahia, um instrumento que possa avaliar, monitorar
e se posicionar como um observatório dos processos internos e externos concernentes a
atividade policial militar.
Desse modo, torna-se oportuno para melhor qualificação dos profissionais e redesenho
de suas intervenções que haja um feedback de suas ações principalmente no que tange ao
racismo institucional a proposta de uma tecnologia social para monitorar, avaliar e propor
novos processos internos, pautados por valores fundados nos direitos e na dignidade do ser
humano.
Portanto, alcançamos o indicado no objetivo especifico de realizar o levantamento
da percepção dos alunos a soldado sobre como se dá a construção de conceitos com fulcro
preconceituosos ou discriminatórios, através das representações e máscaras sociais e o
54

exercício de um currículo oculto e práticas dos PM mais antigos que são copiadas pelos mais
modernos.
55

5 AMO DIREITOS HUMANOS - TECNOLOGIA DE GESTÃO SOCIAL

Anda, quero te dizer nenhum segredo


Falo nesse chão da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos

Quero não ferir meu semelhante


Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão

Para construir a vida nova


Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver

A paz na Terra, amor


O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da Terra
(Sal da Terra, Beto Guedes

Um diferencial do Programa de Mestrado do Centro Interdisciplinar de


Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS) é a elaboração de um produto que possibilite uma
ressignificação das práticas profissionais, no tema proposto pelo pesquisador. A Tecnologia de
Gestão Social (TGS) é esta ferramenta. Desenvolvida pelo CIAGS para que seja produto da
pesquisa e contribuição da prática profissional para a sociedade; esta ferramenta deve
contribuir para a mudança social de modo que auxilie e traduza a pesquisa realizada,
evidenciando sua aplicabilidade no campo do estudo.

A proposta desta TGS vem neste caminho. Verificou-se a existência de uma cultura
policial militar que normaliza e chancela a discriminação racial em suas práticas, desde seus
cursos de formação à própria prática profissional. Há, nos relatos e conceitos elaborados
através dos mapas cognitivos, o indicativo também de existir grupos que ainda resistem a
estes significantes. Que optam (se esta palavra pode ser escrita nesse contexto) em, ainda que
duvidando de sua pratica, não entender a discriminação racial como regra à atividade policial
militar.

Neste processo verifica-se também que a Instituição não fortaleceu ou atualizou suas
práticas na perspectiva de acompanhamento e avaliação dos seus resultados subjetivos,
56

notadamente, no processo de pós formação dos alunos; no monitoramento técnico de sua


atividade e na propositura de ações que fazem com que práticas incorretas sejam reavaliadas.
Ao menos as práticas mais subjetivas uma vez que as instruções de manutenção em técnicas
policiais militares, armamento, munição e tiro, entre outros que são eminentemente práticas e
quantitativas são avaliadas e propostas com maior indicativo.

Como TGS que atuasse nesta subjetividade qualitativa, trazendo dados a linguagem
quantitativa comumente aceitas nas estatísticas e práticas policias militares, optou-se em
desenvolver a AMO Direitos Humanos – Avaliação Monitoramento e Observação em Direitos
Humanos na estrutura da Polícia Militar da Bahia.

A AMO tem como missão, para além de atuar como observatório (uma vez que este
lugar se apresenta como espaço de paciente, sem intervenção), no monitoramento e avaliação
das ações policiais militares referentes aos direitos humanos, abrindo campo de diálogo
social, além de proposituras diversas de ações neste caminho.

A AMO obedece a critérios qualitativos e quantitativos de ação (ver proposta de


portaria no apêndice) e tem como objetivos atuar nos processos de formação e na prática
profissional, com autonomia de intervenção junto às Unidades Operacionais e de Ensino.

A AMO ingressa na estrutura da PMBA como Coordenação estratégica atrelada


diretamente ao Comando Geral uma vez que dialoga pelos interesses gerais da PMBA e
necessita de abertura para trafegar em todos os postos.

Como propositura inicial, foi autorizada a realização de ações introdutórias e


precursoras a AMO, realizadas junto ao efetivo da Corporação através de três encontros e
ações de avaliação e monitoramentos:

1. Encontros com a cúpula das Unidades Operacionais Convencionais e Especializadas


de Salvador e Região Metropolitana

2. Projeto de Sensibilização da Tropa para as Questões de Raça e Gênero nas Ações


Policiais Militares;

3. Proposição do encontro de avaliação e atualização para os Instrutores da Disciplina


Educação para Relações Raciais e de Gênero.
57

5.1 DAS AÇÕES PRECURSORAS

Estas ações foram possíveis através de uma provocação desta pesquisa junto ao
Comando Geral, após ciência do contato da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do
Governo do Estado a Bahia, que trouxe a PMBA a proposta de criar ações que auxiliassem o
combate no racismo institucional. A época, já aluna do Mestrado, foi possível dialogar com o
Comando Geral da Instituição, levando a proposta da pesquisa e do fomento a criação da
AMO Direitos Humanos. As ações percussoras contaram também com a participação do
Senhor Major PMBA Paulo Peixoto, participação técnica imprescindível à pesquisa.

5.1.1 Primeira etapa: Encontros com a cúpula das Unidades Operacionais


Convencionais e Especializadas de Salvador e Região Metropolitana

Foram realizados seis encontros conforme a Nota de Serviço SCG4 nº 22SCG2015,


conforme o Quadro abaixo:

Tabela 1 – Relação das OPM participantes e datas do encontro

Nº UNIDADES DATA
1. RONDESP 14/07/2015
2. CPRC-CENTRAL 21/07/2015
3. CPRC-BAHIA DE TODOS OS SANTOS 04/08/2015
4. CPE 20/08/2015
5. CPRC-ATLANTICO 28/08/2015
6. RMS 11/08/2015
Fonte: BAHIA (2015)

As atividades foram configuradas da seguinte forma:

(1) Acolhimento dos participantes;


(2) Apresentação da atividade;
(3) Exposição a respeito da importância da discussão das relações raciais no âmbito da
segurança pública, feita por uma personalidade de reconhecida expertise no tema a ser
tratado na atividade;
(4) Realizada uma dinâmica de grupo com todos os participantes;

4 Notas de Serviço são documentos publicados internamente que organizam ações policias militares diversas.
58

(5) Foram realizadas rodas de conversa, com base em uma provocação feita pelo
facilitador da atividade;
(6) Sistematizou-se em uma ata o conteúdo do diálogo realizado.

Conforme relatório anexado a esta dissertação, extraiu-se diversas indicações que


permeiam o imaginário dos Comandantes de Unidades e seus Oficiais, pessoas responsáveis
pela supervisão dos policias militares que atuam no policiamento ostensivo da PMBA.

5.1.2 Segunda etapa: Projeto de sensibilização da tropa para as questões de raça e


gênero nas ações policiais militares

O público alvo deve ser formado por um grupo de 216 (duzentos e dezesseis) policiais
militares das Unidades Operacionais Convencionais e Especializadas, conforme Tabela
Sintética, abaixo, e um Quadro Analítico ( vide apêndice).

Tabela 2 – Resumo de números de policiais apresentados por Comandos de Policiamento

RESUMO
COMANDOS DE POLICIAMENTO Nº POLICIAIS MILITARES
CPRC/ATLÂNTICO 44
CPRC/CENTRAL 28
CPRC/BAÍA DE TODOS OS SANTOS 40
CPRC/REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR 44
CP ESPECIALIZADO 48
COMPANHIAS DE POLICIAMENTO TÁTICO 16
TOTAL 220
Fonte: BAHIA (2015)

Foram realizados seis encontros conforme Agenda abaixo, no Colégio da Polícia


Militar:
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Tabela 3 – Resumo dos encontros com os policiais militares por Comandos de Policiamento

Nº DATA HORÁRIO COMANDO DE POLICIAMENTO


1. 08/11/2016 14:00 às 18:00 CPRC/ATLÂNTICO
2. 15/11/2016 14:00 às 18:00 CPRC/CENTRAL
3. 22/11/2016 14:00 às 18:00 CPRC/BAÍA DE TODOS OS SANTOS
4. 29/11/2016 14:00 às 18:00 CPRC/R. M. S.
5. 06/12/2016 14:00 às 18:00 CP ESPECIALIZADO
6. 12/12/2016 14:00 às 18:00 COMPANHIAS DE POLICIAMENTO TÁTICO
Fonte: BAHIA (2015)

5.1.3 Terceira etapa: Propositura do encontro de avaliação e atualização para os


instrutores da disciplina educação para relações raciais e de gênero

O público alvo deverá ser formado pelos Instrutores da Disciplina Educação para
Relações Raciais e de Gênero, e o evento atue como condição ao exercício da função de
instrutor da disciplina, inclusive como oferta de material didático atualizado e com o resumo
do discutido nos encontros acima.

5.2 ATUAÇÃO DA AMO DIREITOS HUMANOS

Nos encontros realizados dados interessantes foram levantados como a percepção da


necessidade de se levantar quais são os problemas apontados pela sociedade e que tencionam
a sua relação com a PMBA, buscando formas de resolver tais choques. Há um significativo
número de Oficiais e Praças da Instituição que acreditam na necessidade de implementar a
educação em tempo integrar e empreender ações de apoio a cultura local como forma de
aproximar a prática PM da realidade social existente.
Estes eventos serviram, sobremodo, para inserir a discussão sobre a necessidade de
existir uma Coordenação na estrutura organizacional da PMBA que sirva de referência tanto a
sociedade como aos próprios policias nestas práticas – aqui a discriminação racial mas não
apenas.
60

5.3 MINUTA DA PORTARIA DE CRIAÇÃO

De acordo com os processos internos da Corporação que indicam a necessidade de


sistematização através de Portaria da criação da Coordenação, ato esse que inaugura a atuação
e que lhe referencia possibilidades de interlocução institucional, registra-se a sugestão da
portaria anexo.

Este ato, além de inserir a Coordenação, como dito, possibilita sua articulação com
outras instituições, ato este imprescindível a dinâmica da gestão em direitos humanos.
61

6 RESIDÊNCIA SOCIAL

Em meio às vicissitudes a que fui submetida, esta pesquisa se tornou um oásis. Seguir
no Programa, ainda que o tempo não me fosse tão presente e este mesmo tempo me fosse
etéreo, serviu como bálsamo. A certeza de que concluí-lo era um missão que celebraria a
trajetória que tracei desde o diagnostico ao exitoso tratamento, me fez ter como meta a
diplomação. “Tenho que terminar!” se tornou um mantra, um alento, uma súplica para
continuar.

A proposta inicial quando do ingresso no programa e planejamento da dissertação era


de realização da Residência Social (RS) na cidade de Amsterdam, Holanda. Entretanto, por
impedimentos decorrentes de demandas de saúde (tratamento oncológico), esta programação
teve que ser mudada e a RS, que antes seria em um outro país, foi realizada em Brasília, no
Distrito Federal, no Partido Republicano Brasileiro, pelo Eixo de Igualdade Racial.

A escolha da nova instituição acolhedora se deu em um processo interessante: em um


evento não relacionado ao programa, participei ao lado da então Deputada Federal Tia Eron
de uma fala sobre a mulher como protagonista da sua história e mencionei o Mestrado que
fazia e a minha preocupação como cidadã a respeito de ações focadas na equidade de gênero e
racial. Naquela oportunidade a Deputada me apresentou a Coordenação que é responsável e
ofereceu aquele espaço como referencia de estudo a minha pesquisa. Estava ali formada a
parceria da minha Residência Social.

Tornaram-se necessários alguns passos administrativos de planejamento envolvendo a


Polícia Militar da Bahia - minha ocupação profissional; o CIAGS; e a Instituição acolhedora:

Junto a PMBA, foram solucionadas questões de liberação dos dias e autorização de


deslocamento, uma vez que há esta necessidade expressa em nosso regulamento;

No CIAGS, a autorização para que a Residência Social fosse realizada no país, uma
vez que, ainda que houvesse esta possibilidade, a prioridade é que esta colha experiências de
outros países. Autorização efetuada, partimos para a última etapa de planejamento: a
instituição acolhedora.
62

6.1 A INSTITUIÇÃO ACOLHEDORA

Criado em agosto de 2005 com o nome de Partido Municipalista Renovador (PMR), e


logo em seguida (setembro de 2005) alterado para Partido Republicano Brasileiro (PRB), tem
como finalidade retratada em sua página da internet como sendo:

Uma instituição política democrática, defensora do bem comum e de uma sociedade


livre, que tem o intuito de promover a gestão orçamentária participativa, conselhos e
colegiados municipais, debates e audiências que promovam de fato um governo
afinado com a vontade popular (…) que defende, entre outros princípios, o
pluripartidarismo e a representatividade, como fundamentos relevantes para o
fortalecimento democrático, a manutenção dos direitos e das garantias trabalhistas,
gerando mais empregos com salários compatíveis com a realidade do brasileiro
(PRB, 2017, s.p.).

Com um pouco mais de 10 anos de existência, o PRB possui hoje, de acordo com o
TSE (eleições 2014 e 2016), 1787 filiados eleitos e atuantes em cargos políticos, e possui
quatro eixos referentes a movimentos sociais: PRB Mulher, PRB Juventude; PRB Idoso e
PRB Igualdade Racial. Estes eixos são responsáveis pelo debate no Partido nacional, estadual
e municipalmente sobre a temática chave de sua atuação.

Desse modo escolhi o Eixo Igualdade Racial para a Residência Social.

Figura 1- Logomarca do PRB Figura 02: Logomarca do PRB Igualdade Racial

Fonte: PRB (2017, s.p.) Fonte: PRB (2017, s.p.)

O PRB Igualdade Racial tem como missão debater a discriminação étnico-racial, a


exclusão, restrição ou preferência baseada em critérios étnicos, de cor, descendência ou
origem nacional. Sua missão é de propor iniciativas para o reconhecimento, gozo e exercício
em igualdade de condições, de direitos e liberdades fundamentais em todos os campos da vida
63

pública ou privado. Deve fornecer possibilidades que estimulem a inclusão, alinhado aos
ideais republicanos defendidos pelo partido (site do PRB). Atualmente é coordenado pela
Deputada Federal Eronildes Vasconcelos de Carvalho, Tia Eron.

6.2 CONCEITUANDO A RESIDÊNCIA SOCIAL

Como indica Bullosa e Barreto (2010), a Residência Social é uma tecnologia de ensino
que deve visar ao aluno do Programa em Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade
Federal da Bahia uma experimentação prática das teorias que norteiam a sua pesquisa. A
proposta é de propiciar um espaço prático-reflexivo de aprendizagem derivada da imersão em
organização que traga em seu labor contextos inter-relacionados, mas não necessariamente
diretos, a seus contextos habituais e/ou da pesquisa.

Ainda segundo Boullosa e Barreto (2010), muito embora a Residência Social tenha
inspiração na medicina, foi com a Administração e das Ciências Sociais que esta ganha forma,
corpo e envergadura, em especial na perspectiva da pesquisa-ação e etnografia que propiciam
ao aluno (a) atuar como um observador (a) participante que “age e ao mesmo tempo reflete
sobre a intervenção em curso” (BOULLOSA e BARRETO, 2010, pg. 186).

A escolha da instituição, além do já indicado, teve uma particular intenção: colocar


esta pesquisadora frente a seus próprios preconceitos. Discutir como é imposta ou
condicionada a discriminação racial nas atividades policiais militares requer perceber e avaliar
os processos preconceituosos que permeiam esta ação. Para mim, formada com base em
religião de matriz africana, com todo o condicionamento decorrente deste aspecto, ao atuar no
interior de uma instituição que se apresenta como do segmento evangélico, era o desafio.

A experiência não deve necessariamente vincular-se a construção da dissertação


final de curso, mas, sim, de explorá-la em toda o seu potencial de reestruturação
cognitiva, de integração de velhos saberes e produção de novos, além da
formação de redes profissionais e pessoais. (BOULLOSA e BARRETO, 2010, p.
187. grifo nosso)
64

6.3 O DIÁRIO DE BORDO

Este “Diário de bordo” tem como finalidade atender a uma exigência do programa de
Mestrado em Desenvolvimento e Gestão Social, pelo Centro Interdisciplinar de
Desenvolvimento e Gestão Social - CIAGS da Universidade Federal da Bahia – UFBA, na
disciplina-experiência Residência Social.

Relata as atividades desenvolvidas no período de 20 de março a 20 de abril de 2017,


com as atividades desenvolvidas em imersão na instituição acolhedora (20/03 a 03/04) e
àquelas que se apresentam como resultado e produto daquele período.

Um dos problemas apresentados neste processo foi o de dividir projetos com a atenção
e cuidados com a família. Entendo a família como eixo central e também por ela a tendência
em seguir com meus projetos, nesta confusão entendi que o tempo em que estive fora de casa
durante a Residência, precisava estar alinhado a eles, em especial a meu filho – João Paulo.

Logo, a opção em escrever o relato como se com ele falasse, como se a ele relatasse
cada passo que foi dado nesta caminhada. O meu “Diário de bordo” é aqui denominado de
“Cartas a João”, como e-mails trocados durante todo o processo.

6.3.1 Cartas a João

Salvador, 07 de março de 2017.


Querido João, meu filho minha vida.

Hoje estou muito feliz!


Consegui que a instituição me acolhesse na Residência Social. Lembra do que é Residência Social não? Explico
ainda assim: recorda que quando entrei no mestrado entre gritos e pulos de alegria eu te contei que iríamos
passar 20 dias na Holanda estudando uma matéria? Isso! Pois bem, você sabe que não pudemos viajar por conta
do tratamento, a distância e a instabilidade de estar em outro país poderiam ser um complicador a progressão do
nosso sucesso relacionado a minha saúde, então eu fiz a solicitação e consegui a aprovação do Programa do
Mestrado para realizá-la no Brasil. Vou a Brasília! Serão 15 dias lá; vou ser recepcionada pelo PRB-Igualdade
Racial e Deputada Federal Tia Eron (sei que lembra dela de ver na TV recentemente e de eu falar muito em casa
também). Então é isto filho. Viajo dia 19, e vou ficar hospedada na casa de uma amiga (Tia Rafaela Seixas,
lembra? Isso, aquela que te ensinou inglês…). Vou construindo junto contigo o “Diário de Campo/Bordo” desta
65

atividade para que você também vá me acompanhando nestes passos por terras “candangas”. Nos vemos em
breve. De tua mãe que sempre te ama. Denice.

Brasília, 19 de março de 2017.


Querido Filho.
Cheguei a Brasília! Um misto de ansiedade e curiosidade me define hoje. Não sei o que me espera, mas quero
muito poder ajudar me ajudando. Vir na véspera não foi a melhor ideia da minha vida, confesso. Mas diminuiu a
saudade de você… eu acredito.
A acomodação foi tranquila como sempre é na casa da Rafaela. Tudo organizado, agora esperar amanhecer e ir.
Beijo, se cuida e fica bem.

_______________________________________________________________________________________
Brasília, 20 de março de 2017.
Oi João!

Dia complicado hoje. Muitas atividades:


1º Me reuni com a equipe que atua no PRB Igualdade Racial. São ao todo 07 pessoas que trabalham com isto
mas não exclusivamente, e aqui vejo uma dificuldade uma vez que multitarefas tiram, por vezes o foco da
atividade principal, ou melhor, eles tem que modificar a atividade principal sempre.
Fiz a apresentação do programa e os informei sobre o que é a “Residência Social” em especial a seu caráter
participativo e colaborativo. Coloquei a minha inclusão à disposição para auxiliar e construir.
2. Analisei o estatuto do Partido e não verifiquei neste nada que definisse as missões e responsabilidades do PRB
Igualdade Racial. Entendi, conforme me indicaram que é uma carência do eixo e “um bom caminho para que eu
desse o primeiro passo”.
Filho, uma coisa me incomodou durante todo o dia: sou de religião de matriz africana e o PRB é
majoritariamente evangélico, oriundos da Igreja Universal do Reino de Deus. Fiquei receosa de que este fato –
uma vez que você sabe que não escondo minha religiosidade em nenhum lugar – atrapalhasse minhas tratativas.
Meu ponto de receio maior é que eles não me entendam com aliada que visa a construção, mas sim como uma
ameaça ao que organizaram até aqui. Enfim, vou tentar fazer como você me disse: ser eu.
Beijo!
Ah! vou escrever agora por semana, para não encher sua caixa de e-mails. Cheiro de mãe!
66

Brasília, 25 de março de 2017.

Oi Juca!

Semana produtiva: criei uma minuta de regulamento para o PRB Igualdade Racial que foi muito bem-aceito
pelos participantes e pela Coordenadora. Neste eu defino a missão, visão e valores do eixo, mas também indico
as áreas de atuação do Eixo como educação, acompanhamento de legislaturas, candidaturas, avaliação e
monitoramento de ações internas e externas, e a criação de um observatório do eixo para atividades relacionadas
a discriminação racial no país. Também construímos uma “cartilha” (ou esboço desta) que dialoga com os temas
Identidade, Racismo, Discriminação Racial e Respeito para informar e sensibilizar sobre o tema. Nada complexo
na perspectiva acadêmica uma vez que se destina a um publico geral, para informar e servir como ponto de inicio
de debate. A fonte foi o meu próprio texto da Dissertação, extraindo estes pontos que entendo como cruciais a
percepção do processo de igualdade racial para que sejam divulgados e trazidos a debate um entrelaçamento
destes conceitos ao se analisar esta proposta de igualdade racial.
Eu gostei. Foi levado a submissão da Coordenação de Movimentos Sociais do Partido. Ainda que decida, pela
não implantação, ao menos já dialogamos em um caminho. O Daniel Farias, responsável pelo meu
acompanhamento me auxiliou nesta construção. Te envio em anexo o projeto e o esboço da cartilha.
Esta análise escrita, reescrita, me levou todos os 04 (quatro) dias posteriores, mas gostei muito do resultado. É
importante ferramenta de inicio de qualquer atuação em uma Coordenação a criação do seu regimento, seu
marco legal. Ainda que o Estatuto do PRB traga em seu artigo 12 a criação dos Movimentos Setoriais Sociais
(incluindo aqui o PRB Igualdade Racial), e no artigo 49-A que “os movimentos sociais e/ou setoriais do PRB
serão criados por resolução da Comissão Executiva Nacional ou por seu Presidente, a quem caberá à indicação
dos respectivos coordenadores e membros e, com a definição do campo de atuação e de duração”, mas não há
um indicativo escrito e chancelado sobre como estes eixos atuam, ou como eles podem contribuir com o Partido
e a sociedade.
A portaria que define estes pontos ganha utilidade exatamente por direcionar o eixo a uma atividade mais focada,
e com parâmetros possíveis à avaliação.
Faria (2005) indica três funções básicas atribuídas a avaliação: informação, realocação e legitimação, que se
alternaram durante o período de 1960 aos dias atuais. A avaliação tinha função informativa quando apenas
indicava por números os resultados daquela ação, sem que com isto fossem provocadas ou devidas mudanças
substanciais à estrutura do programa. A realocação já traz uma análise dos dados avaliativos com um
redirecionamento de suas atividades, com mudança na gestão dos programas, adequando recursos aos que
melhor atendiam aos objetivos. A legitimação já aparece como função mais elaborada: além de levantar dados
decorrentes dos resultados, analisar a necessidade de administração de recursos, esta avaliação legitimava a
política e assegurava (ou não) a sua continuidade.
E esta continuidade é fundamental no eixo e ao que se propõe.
Falei muito? Aproveita e estuda para o ENEM!
Beijo filhote!
67

Brasília 01 de abril de 2017.


Amado João

Já disse que te amo? Pois amo muito você e estou com muita saudade… tá acabando…
De tudo que vi aqui uma lição: às vezes nossos preconceitos nos levam a posturas repressivas e não devemos
(podemos) ser assim. Acredite filho, nestas duas semanas fui acolhida, ouvida, e recebi colaborações
indispensáveis a meu projeto sem qualquer sensação ou retaliação religiosa… Sabe, meu filho. Ficamos às vezes
com uma lição de onde pensávamos dar: a intolerância é algo que sentimos, estamos predispostos, mas,
infelizmente, também é algo que perpetramos em nossas ações e omissões. Vigiemos.

6.4 CONCLUSÃO

A Residência Social é uma experiência única. Fato. É um momento de aprender a


aprender, de colocar a prova o pesquisado, o experenciado, mas, sobremodo, de você tentar se
reencontrar. Assim o foi com a minha RS.

Extrair a minha própria discriminação e preconceito em relação a um grupo religiosa, fez-


me perceber (uma pesquisa-ação) de como esta tarefa demanda tempo, responsabilidade e
interesse.

Uma ferramenta indispensável à TGS que proponho.


68

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quem sabe faz a hora não espera acontecer!
(Geraldo Vandré)

Os resultados nos amparam a considerar e propor dois caminhos para um melhor


acompanhamento da existência desta influência da ação policial militar de forma
institucionalizada que são o de monitoramento e o da intervenção.

Monitorar como indica Aurélio Buarque de Holanda (1986, p 278), vem a ser
“acompanhar para a consideração”, o que entendemos como um processo contínuo e nunca
pontual.

Ao propor um monitoramento é importante que seja criado um organismo especifico,


um aparelho como considerado pela linguagem médica, que possa funcionar
permanentemente acompanhando o problema e indicando o melhor tratamento a seguir para
solucioná-lo.

Ressignificar, conceito muito utilizado na programação neolinguística (forma como o


uso da palavra pode atingir a mente e provocar uma ação) é o processo em que reescrevemos
uma experiência, dando a esta um novo significado emocional, alterando a forma de
percepção e conceituação internas.

Nota-se que este também não é um método rápido, ele irá depender de mudanças
estruturais vivenciadas pelas pessoas que integram o processo educativo e pela própria
Instituição, e, também, de um monitoramento constante (FERREIRA et al, 2000), entretanto,
ao consolidado como política de gestão (institucionalização), considerando a estrutura
hierárquica da Polícia Militar da Bahia, esta ação entra na pauta de assuntos diários, e, pode
indicar uma mudança comportamental.

Através da ressignificação de valores consigna-se a possibilidade de mudanças


institucional, como resultado de um processo de intervenção, que irá viabilizar caminhos,
potencializar possibilidades a esta ressignificação.

Ainda que a TGS proposta aqui tenha uma importância fundamental na construção de
uma solução comunitária para a comunidade civil e policial militar, no tocante a revisão de
suas práticas, ela se apresenta ainda não resoluta e conclusa pois, pela ótica dos Direitos
Humanos, precisa dialogar com outros grupos em vulnerabilidade social e cultural como
mulheres, crianças e adolescentes, população indígena, quilombolas, pessoas em
69

assentamentos e reforma agrária, entre outros. Grupos que dependem em muito do olhar se
pré-conceitos ou julgamentos por parte da força policial militar. Esta pesquisa não conseguiu
alcançar todos estes pontos uma vez que se predispôs a analisar o fenômeno da discriminação
racial de uma forma isolada, mas sem que esta pesquisadora não entenda e compactue com as
demais causas aqui elencadas.

A atuação da AMO Direitos Humanos não se encerra em uma causa; “amar” os


direitos humanos vai perpassar por respeitar todos e todas que se encontram em situação de
vulnerabilidade social e sob pressão cultural. E este é um ponto que deve ser estudado e
ampliado continuamente, tanto pela academia com novas pesquisas e ações como pela própria
PMBA.
70

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74

APÊNDICES
75

APÊNDICE A - MINUTA DA PORTARIA DE IMPLANTAÇÃO DA AMO DIREITOS


HUMANOS

Institui a Coordenação de Avaliação, Monitoramento e Avaliação em Direitos Humanos –


AMO Direitos Humanos no âmbito da PMBA

O COMANDANTE GERAL DA PMBA, no uso de suas atribuições legais e regimentais,

R E S O L V E:

Art. 1º Instituir a Coordenação de Avaliação, Monitoramento e Avaliação em Direitos


Humanos – AMO Direitos Humanos no âmbito da PMBA

Art. 2º a Coordenação de Avaliação, Monitoramento e Avaliação em Direitos


Humanos – AMO Direitos Humanos visa o levantamento, a catalogação e a propositura de
ações que e monitorem e avaliem as ações em direitos humanos na atuação policial militar,
com propositura de atividades nas áreas de ensino, administrativa e operacional que visem a
correção de atos equivocados e/ou daqueles que potencializem boas práticas em direitos
humanos;

Parágrafo único: tem coo missão atuar nas nos processos de formação e na prática
profissional, com autonomia de intervenção junto às Unidades Operacionais e de Ensino para
a eliminação de quaisquer ações que violem os direitos humanos.

Art. 3º A AMO Direitos Humanos estará atrelada ao Gabinete do Comando Geral e


terá atuação em toda as áreas da Corporação, para uma perfeita atuação em sua missão

Art. 4º A AMO DH poderá atuar através de projetos internos e externos, com dialogo
permanente junto a sociedade civil (organizada ou não), com proposituras de mecanismos
analógicos e digitais nesta interlocução;

Art. 5º A Equipe de Coordenação será composta:

I - pelo(a) Coordenador(a) ;

II – Oficial(a) de apoio Administrativo;

III – Praças administrativos


76

IV – Equipe convidada

§ 1º Os policias militares deverão ter atuação permanente na área de Direitos


humanos;

§ 2º A equipe de apoio deverá ter representantes do Núcleo de Religiões de Matriz


Africanas da PMBA – NAFRO PM – do Centro de Referencia a Mulher Policial Militar
Maria Felipa – CMF – e da Ronda Maria da Penha.

§ 3º Podem compor a equipe convidada membros da sociedade civil e poder publico


de acordo com a linha de análise a ser trabalhada pela AMO DH.

Art. 6º Das Reuniões com a equipe convidada deverão ocorrer periodicamente,


decidido em reunião fundadora, com produção de relatórios e textos avaliativos.

Art. 7º É atribuição da AMO DH

a) Acompanhar as práticas de discriminação racial (racismo institucional) nas


atividades PM

b) Acompanhar as práticas de discriminação de gênero nas atividades PM

c) Acompanhar ações na perceptiva LGBT, idosos e demais grupos em vulnerabilidade


social nas práticas policiais militares na Bahia;

d) Criar e propor doutrina para o monitoramento destas ações e a devida devolutiva


aos grupos acionadores;

e) Atuar como um observatório na catalogação de estatísticas de atos e fatos


(ocorrências PM) envolvendo policiais militares e discriminações a grupos em
vulnerabilidade social.

Art. 8º Esta Coordenação passa atuar a partir da publicação desta portaria.

Salvador, xxx de xx de 2017.

Assina – Comandante Geral da PMBA


77

APÊNDICE B - RELATORIO DA PRIMEIRA FASE DO GRUPO DE TRABALHO DOS


SEIS ENCONTROS COM A CÚPULA DAS UNIDADES OPERACIONAIS E
ESPECIALIZADAS

Informo que o presente Relatório tem como meta informar as circunstâncias que
envolveram, até aqui, as atividades do Grupo de Trabalho de Prevenção à discriminação racial
e de gênero e a intolerância religiosa nas ações da Polícia Militar da Bahia (PMBA).

Deliberou-se pela realização de encontros com a cúpula das Unidades Operacionais


Convencionais e Especializadas de Salvador e Região Metropolitana.

Foram realizados seis encontros conforme a Nota de Serviço SCG nº 22SCG2015,


conforme o Quadro abaixo:

Nº UNIDADES DATA
1. RONDESP 14/07/2015
2. CPRC-CENTRAL 21/07/2015
3. CPRC-BAHIA DE TODOS OS SANTOS 04/08/2015
4. CPE 20/08/2015
5. CPRC-ATLANTICO 28/08/2015
6. RMS 11/08/2015

As atividades foram configuradas da seguinte forma:

1. Acolhimento dos participantes;


2. Apresentação da atividade;
3. Exposição a respeito da importância da discussão das relações raciais no âmbito da
segurança pública, feita por uma personalidade de reconhecida expertise no tema a ser
tratado na atividade;
4. Realizada uma dinâmica de grupo com todos os participantes;
5. Foram realizadas rodas de conversa, com base em uma provocação feita pelo facilitador
da atividade;
6. Reduziu-se a uma ata o conteúdo do diálogo realizado.
78

RELATO DAS ATIVIDADES

Os encontros foram realizados no Auditório do Colégio da Polícia Militar Unidade


Dendezeiros. Sempre no período da tarde, iniciando às 14:00 horas e encerrando-se por volta
das 17:30 h ou 18:00 h, dependendo do nível da discussão. As Atas destas reuniões se
encontram no Anexo II deste documento.

A seguir fizemos uma breve descrição dos encontros.

PRIMEIRA REUNIÃO PARA DIÁLOGO COM OS OFICIAIS DAS UOps

 DATA – 14/07/2015
 PÚBLICO – Staff das Companhias Independentes de Policiamento Tático
 RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:

1. Uma vez colocada a questão da abordagem policial, os Oficiais envolvidos sugeriram


tornar público as formas e os procedimentos das técnicas de abordagem, a fim de que
o limite entre a ação correta e o abuso de autoridade fosse efetivamente identificados
pelo público externo;
2. Estes não acreditam que a população reclame de práticas racistas praticadas pelos
prepostos da PMBA, mas sim do uso imoderado da força e o abuso de autoridade;
3. Discordam categoricamente de que os órgãos da segurança pública sejam os
responsáveis pela violência contra negros e que vêm a necessidade de uma maior
capacitação técnica dos policiais militares;
4. Não acreditam que a PMBA seja uma instituição racista, haja vista a enorme
quantidade de negros na Corporação, bem assim credita as denúncias de práticas
racistas a uma estratégia para evitar a abordagem;
5. Entretanto, todos afirmaram que a iniciativa destes encontros é bastante positiva.

SEGUNDA REUNIÃO PARA DIÁLOGO COM OS OFICIAIS DAS UOps

 DATA – 21/07/2015
79

 PÚBLICO – Staff das Companhias do CPRC-CENTRAL


 RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:

1. O racismo é um problema histórico e estruturante em nossa sociedade;


2. A solução do problema do racismo demanda uma ação conjunta entre o Estado e a
sociedade;
3. Afirmou a falta de isonomia das organizações de Direitos Humanos, que na maioria
das vezes não atuam quando da morte de policiais militares em serviço;
4. Por fim, acreditam que o diálogo seja o caminho mais adequado para resolução dos
problemas raciais entre a PMBA e a população.

TERCEIRA REUNIÃO PARA DIÁLOGO COM OS OFICIAIS DAS UOps

 DATA – 05/08/2015
 PÚBLICO – Staff das Companhias do CPRC-BTS
 RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:

1. Existe a necessidade de se levantar quais os problemas apontados pela sociedade e que


tencionam a sua relação com a PMBA, buscando formas de resolver tais choques;
2. Acreditam na necessidade de implementar a educação em tempo integrar e
empreender ações de apoio a cultura local como forma de afastar os jovens do tráfico;
3. Resgatar o papel da família e aproximar a PMBA dos jovens desde a mais tenra idade,
principalmente nas escolas elementares;
4. Pautar através de um rol de dados levantados, em quais pontos, se caracteriza uma
postura racista nas ações policiais;
5. Que as atitudes policiais não estaria relacionado a questão de cor da pele, mas na
projeção que o agente policial faz do comportamento de um individuo e que foge ao
seu padrão de comportamento, desde a forma de se comunicar a forma de se vestir;
6. Que na verdade não existiria racismo, mas sim, formas de discriminação incutidas em
questões que se relacionam com a desigualdade social que impera em nosso país não
se reconhecendo a idéia de diferentes raças, sendo considerada como única, a raça
humana.
80

QUARTA REUNIÃO PARA DIÁLOGO COM OS OFICIAIS DAS UOps

 DATA – 11/08/2016
 PÚBLICO – Staff das Companhias do CPRC-RMS
 RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:

1. Existem problemas sérios na falta de condições estruturais que o Estado oferece, sendo
necessário para uma mudança neste paradigma de violência investimentos em saneamento
básico e educação para as populações mais humildes;
2. Que existe um Estado de Caos Social, o que implica a necessidade de mobilização de
outras instâncias da sociedade civil e do Estado para dialogar e construir propostas que
propiciem uma melhoria das condições sociais;
3. Impera a necessidade de resgate do papel da família, dentro dos princípios que
norteiam a importância da educação;
4. Há a necessidade de fomentar o dialogo e contribuir na desconstrução da cultura e no
senso comum estabelecidos que a polícia é racista;
5. É necessária desconstrução da visão estereotipada das pessoas que vivem nas favelas e
a questão da alteridade e da mudança de cultura dentro da própria policia.

QUINTA REUNIÃO PARA DIÁLOGO COM OS OFICIAIS DAS UOps

 DATA – 25/08/2015
 PÚBLICO – Staff das Companhias do CPE
 RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:

1. Afirmou que há a necessidade de fazer com que estes e outros programas que já
existiram e que ajudem nesta assimilação das novas formas de combate ao racismo,
sugere-se a implementação de ações com grupos diversos em momentos diversos e de
forma continuada;
81

2. Que tratar a questão como racismo e não como discriminação, visto que somos todos
mestiços, não ajuda a combater a essência do fenômeno;
3. Que há a necessidade de se investir em políticas de educação e reparação das
desigualdades sociais;
4. Pontuou que é preciso colocar de lado este contexto de vitimização do negro que
sofrem varias formas de discriminação e realizar mais iniciativas como esta para
ajudar no processo reparatório. Assim verifica-se como imprescindível direcionar os
esforços de todos para estruturar um currículo de formação dos policiais tendo a
colaboração da sociedade civil de maneira colaborativa e interventiva dentro das
questões que envolvem relações raciais.

SEXTA REUNIÃO PARA DIÁLOGO COM OS OFICIAIS DAS UOps

 DATA – 01/10/2015
 PÚBLICO – Staff das Companhias do CPRC-ATL
 RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:

1. Ponderou-se que o racismo muitas vezes trata-se de um processo que está incutido na
mente muitas vezes das próprias pessoas que se dizem vitimas destas situações e não
das que supostamente o praticam;
2. Considerou-se a necessidade de uma mudança de olhar visto que a policia trabalha
com as consequências de um produto que é a violência e que perpassa por um
processo educacional ao qual estão relacionados à formação dos policiais e do seu
embrutecimento, frente a situações que a sociedade vem apresentando. É necessário
um trabalho de sensibilização e de mudança de comportamento através das ações de
cidadãos e policiais;
3. Pontuou-se que existem contextos a serem analisados a partir do presente que
envolvem a estruturação do poder e que norteia a ética e a moral conveniente a partir
de quem esta na condição e posição de decisão e no que tange ao que virá, como se
pensar o processo de inserção sócio-politico das pessoas a partir destas disparidades
evidenciadas e que são fomentadas e que para além do caráter institucional tem uma
dimensão ainda mais complexa que envolve o campo do simbólico, sendo
82

imprescindível que se oportunize uma nova forma de interação e relação entre


sociedade e policia, na perspectiva da ética, do caráter, da moral e da conveniência;
4. Considerou-se que existe um “etiquetamento” para uma dimensão “supra-racial”,
vislumbrando que nenhuma das ações da PM, suplanta o que consideram como sendo
um ponto negativo das ações da policia. Coloca ainda a questão da polarização
envolvendo a questão de ser e estar policial que são situações distintas;
5. Veio a tona a ideia concernente ao monopólio do poder estatal e que tem repercussão
nas práticas discriminatórias, é preciso haver um despir de certos estigmas, trata-se da
necessidade de tornara policia um multiplicador de ações sociais e mudanças nas ações
de abordagem para mudar esta perspectiva repressora que a policia mantém;
6. Esclareceu-se que seria fundamental a vivencia para além do dialogo que se
experimentasse realizar as atividades da PM durante 1 dia visto que a policia também
é hostilizada e discriminada por utilizarem a farda que é vista como criminosa;
7. Reiterou-se a necessidade de um olhar diferenciado, a policia trabalha com base em
estatísticas mas não se coloca com o intuito de atingir ou estigmatizar certos grupos,
trata-se de uma situações que envolvem estatísticas, contudo diversas ações não
repercutem mesmo sendo extremamente positivas, para além disso ressaltou as
dificuldades de ser mulher na PM e as discutir questões de gênero.

ÁNALISE E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente há de se pontuar que esta atividade é extremamente meritória, haja vista o


caráter pioneiro do empreendimento. Oportunizar a discussão a respeito das relações raciais e
de gênero dentro de uma corporação tão conservadora como a PMBA é um ato de louvável
visão gerencial e institucional.

Entretanto, o grupo de aproximadamente duzentos (200) policiais militares, todos


Oficiais (Superiores, Intermediários e Subalternos), público alvo desta primeira fase de
sensibilização, em sua esmagadora maioria, desconhecem totalmente as questões raciais e de
gênero que envolvem as relações no âmbito da sociedade brasileira.

O senso comum de que toda sociedade brasileira vive um paraíso racial está presente
na concepção de quase todos os participantes. A ideia de que as diferenças raciais não
83

implicariam mudanças nas relações entre as pessoas e entre estas e as instituições, remonta a
década de trinta do século passado. Tendo como figuração central desta tese o eminente
sociólogo, antropólogo e historiador Gilberto Freyre. Tal compreensão foi combatida um
grupo de acadêmicos como Clóvis Moura, José Correia Leite Thales de Azevedo, Oracy
Nogueira e, principalmente, Florestan Fernandes Filho. Este último ensinava que:

Numa sociedade em que o ‘preconceito de cor’ se manifesta de modo assistemático,


dissimulado e confluente (...) remar contra a maré era uma tarefa ingrata, difícil e
incerta. Antes de convencer o branco, o ‘negro’ tinha que convencer a si próprio e de
vencer as resistências aninhadas no meio negro ( FERNANDES FILHO, ANO, p.
XX).

Na década de cinquenta do século passado o trabalho de Florestan Fernandes Filho e


demais pensadores comprovou definitivamente que a “Democracia Racial” era um mito,
contudo para a maioria da população brasileira ela existe e é real.

Desta forma, quase todos os participantes não acreditam que a PMBA tenha práticas
racistas nas suas ações e argumentam que o fato de termos uma maioria negra inviabilizaria
práticas discriminatórias contra negros. Além do que o corporativismo, próprio dos policiais
militares, não permite que estes admitam que a instituição cometa este tipo de prática
deletéria. Entretanto foram levantadas questões de muita relevância.

Falou-se muito sobre a educação, pois laborando nas periferias de Salvador e Região
Metropolitana, estes apresentaram diversas situações em que a falta de estruturas de ensino
empurram jovens negros para o caminho da droga e do tráfico. Assim como a ausência do
Estado, para propiciar postos de saúde e oportunidades de emprego e renda. Estes abordaram,
com especial riqueza de detalhes, como este hiato estatal produz um campo fértil para o
aumento da criminalidade. Por fim, muitos falaram da necessidade de se resgatar o papel da
família como elemento agregador e orientador dos jovens negros da periferia.

Ademais, foi defendida com muita força a figura do policial militar. A maioria afirmou
que existe a necessidade de resgatar a importância do policial militar como defensor da
sociedade. Contrapondo-se as atitudes dos ativistas dos direitos humanos que não se
manifestam a favor da morte de pessoas que infligem as leis e se calam quando do óbito de
agentes da segurança pública.
84

A partir do que foi visto durante estas atividades, apresentamos a seguir um conjunto
de propostas que devem ser empreendidas nos próximos anos.

1. Eventos de sensibilização da tropa;

2. Revisão da disciplina educação para relações raciais e de gênero para aplicação em


outros cursos;

3. Inserção da disciplina educação para relações raciais e de gênero no curso de formação


de oficiais;

4. Inserção da disciplina educação para relações raciais e de gênero no CESP e no


CEGESP;

5. Criação de um curso de relações raciais e de gênero latu sensu com recorte em


segurança pública.

PAULO S. PEIXOTO DA SILVA – MAJ PM DENICE SANTIAGO S. ROSÁRIO– MAJ PM


85

APÊNDICE C - FOLDER PROPOSTO AO PRB IGUALDADE RACIAL


86

APÊNDICE D - PROPOSTA DE REGIMENTO DO PRB IGUALDADE RACIAL

REGIMENTO INTERNO DO EIXO DE IGUALDAE RACIAL DO PARTIDO


REPUBLICANO BRASILEIR

Capítulo I – DO EIXO DE IGUALDADE RACIAL DO PARTIDO REPUBLICANO


BRASILEIRO

Art 1º - O Eixo de Igualdade Racial do Partido Republicano Brasileiro – PRB


Igualdade Racial – é instancia consultiva, propositiva e atuante sendo constituído em
conformidade com Art 12 do Estatuto do Partido Republicano Brasileiro, alterado conforme
convenção ....e referir-se-á pelo presente Regimento Interno.

Capítulo II – DAS ATRIBUIÇÕES

Art. 2º. Cabe Eixo de Igualdade Racial do Partido Republicano Brasileiro – PRB
Igualdade Racial:

I - compilar e remeter informações técnico e jurídicas, sem caráter vinculativo, aos


Diretórios do PRB;

II – Promover ações e pesquisas referentes a Igualdade Racial no país visando


subsidiar propostas parlamentares em todos nos poderes executivo e legislativo;

III - realizar e estimular a participação de afro brasileiros na política nacional;

IV - representar a instituição perante conselhos e demais órgãos colegiados afetos ao


tema da discriminação, por qualquer de seus membros ou colaboradores, mediante designação
do Presidente do PRB;

V –Capacitar os filiados ao PRB sobre o combate ao racismo e a intolerância religiosa;


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VI - informar, conscientizar e motivar a população carente, inclusive por intermédio


dos diferentes meios de comunicação, a respeito da igualdade racial, promovendo o combate
ao racismo;

VII - realizar e manter intercâmbio e cooperação com entidades e órgãos, públicos ou


privados, nacionais ou internacionais, no combate a discriminação, racismo e preconceito;

VIII - contribuir no planejamento, elaboração e proposição de políticas públicas que


visem a erradicar a pobreza e a marginalização e a reduzir as desigualdades sociais, no âmbito
de suas áreas de especialidade;

IX- propor, monitorar e avaliar as questões relativas a Direitos Humanos dentro do


âmbito das atribuições do PRB e representar às autoridades competentes, no sentido de
apurar e fazer cessar qualquer ato de discriminação, racismo ou preconceito;

Capítulo III – DA COMPOSIÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Art. 3º. O PRB Igualdade Racial será constituído pelos seguintes órgãos:

I– Membros integrantes e colaboradores;

II – Coordenadoria;

II –Secretaria;

III – Comissões Temáticas;

VI – Assessoria técnica.

SEÇÃO I – DOS INTEGRANTES E COLABORADORES

Art. 4º. O PRB Igualdade Racial será integrado por filiados (as) que contém com ao
menos 5 (cinco) anos de filiação.

Parágrafo único – Os (As) Filiados(as) que não atenderem ao lapso de exercício


exigido para integrarem o PRB Igualdade Racial poderão ser designados como colaboradores
(as) para atuação em conjunto com os integrantes, sem prejuízo de suas atribuições
funcionais.
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Art. 5º. Os integrantes e colaboradores do PRB Igualdade Racial serão designados por
ato do (a) Coordenador (a) para um período de 2 (dois) anos, permitida uma recondução por
igual prazo.

Art. 6º. É dever dos membros e colaboradores do PRB Igualdade Racial:

I – comparecer com assiduidades as reuniões;

II – desempenhar com zelo e presteza, dentro dos prazos, os serviços a seu cargo;

III– observar fielmente o plano anual de atuação do PRB Igualdade Racial;

IV - Participar, sempre que possível, de eventos sobre a temática do combate a


discriminação, racismo e preconceito;

§.

Art. 7. São direitos dos membros e colaboradores do PRB Igualdade Racial:

I – provocar a convocação de reuniões extraordinárias mediante pedido de maioria


simples do total de integrantes e colaboradores do Eixo;

II – ser cientificado das datas das reuniões;

III – ter palavra e votar nas reuniões;

SEÇÃO II – DO (A) COORDENADOR (A)

Art. 8. O coordenador do PRB Igualdade Racial será indicado ao Presidente do PRB


dentre os seus integrantes, designado para um mandato de 2 (dois) anos, permitida recondução
por igual prazo.for selecionado(a) para as funções de coordenador(a) deverá apresentar a
Presidência suas propostas para atuação, relatórios de atividades e outros documentos que
considerar importantes.

Art. 9. Compete ao coordenador(a) do PRB Igualdade Racial, dentre outras


atribuições:

I - implementar a estrutura necessária à atuação do Eixo;


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II - proceder à coordenação administrativa dos trabalhos desenvolvidos pelo PRB


Igualdade Racial;

III - convocar as reuniões ordinárias e extraordinárias, providenciando a ciêncai devida


todos os participantes;

IV - zelar pelos registros das reuniões realizadas, bem como dos procedimentos
adotados no âmbito da atribuição PRB Igualdade Racial;

VI - receber e responder às solicitações de apoio técnico científico dos membros do


PRB;

VII - zelar pelo cumprimento dos planos de metas;

VIII - encaminhar as deliberações do Eixo a Presidência, para tomada de providências,


objetivando assegurar a execução delas;

IX - acompanhar e fiscalizar as atividades da Secretaria;

X - elaborar em conjunto com a Secretaria a pauta das reuniões do PRB Igualdade


Racial;

SEÇÃO III - DO COORDENADOR-AUXILIAR

Art. 10. O(a) coordenador(a) do PRB Igualdade Racial poderá ser auxiliado(a) por um
coordenador(a)-auxiliar, que será por ele indicado dentre os demais integrantes do Eixo para
mandato de 2 (dois) anos, permitida uma recondução.

Art. 11. São atribuições do(a) coordenador(a)-auxiliar:

I – substituir o coordenador em caso de impedimento, licença ou férias;

II – exercer todas atribuições que lhes forem delegadas pelo(a) coordenador(a).

SEÇÃO IV – DO PLENÁRIO

Art. 12. Constituem o Plenário os membros e colaboradores do PRB Igualdade Racial


em reunião periódica.
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§1º - O Plenário será presidido pelo coordenador do Núcleo, e na ausência deste, pelo
coordenador (a)-auxiliar.

§2º - Na ausência simultânea do coordenador-auxiliar, a coordenação dos trabalhos


será exercida por integrante do Núcleo eleito pelo Plenário.

Art. 13. O Núcleo reunir-se-á ordinária e extraordinariamente.

§1º - As reuniões ordinárias ocorrerão pelo menos mensalmente e serão instaladas com
maioria simples de seus membros;

§2º - As reuniões extraordinárias serão convocadas pelo coordenador ou pela maioria


simples dos membros do Núcleo, sempre que assim demandar a urgência ou a natureza do
assunto.

SEÇÃO V – DA SECRETARIA

Art. 14. O Eixo contará com uma secretaria, que terá 1 (um) secretário e pelo menos 1
(um) auxiliar e tem as seguintes atribuições:

I - prestar suporte administrativo ao Eixo;

II - receber, registrar e autuar as representações encaminhadas ao Eixo;

III - - realizar encaminhamentos para efetivação das decisões emanadas do


Coordenador (a);

V - organizar e arquivar as atas das reuniões, informes, notas técnicas e relatórios;

VI - lavrar as atas das reuniões e manter registro das decisões proferidas;

X - prestar informações ou outros serviços que se caracterizem como atividades de


apoio ao Eixo.

SEÇÃO VI – DAS COMISÕES TEMÁTICAS E DA ASSESSORIA TÉCNICA

Art. 15. O Núcleo terá Comissões Temáticas para os diversos assuntos de sua
atribuição.
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Art. 16. As Comissões Temáticas são instâncias de natureza técnica, de caráter


permanente ou provisório, criadas e estabelecidas pelo(a) Coordenador (a), devendo estar
explicitadas as suas finalidades, composição, atribuições e prazo de duração. Toda matéria
relevante será encaminhada a uma das Comissões Temáticas.

Art. 17. As Comissões Temáticas serão compostas no mínimo por 2 (dois) membros
do Eixo, podendo ser integrantes ou colaboradores, devendo um deles ser designado relator.

Art. 18. São atribuições das Comissões Temáticas:

I - desenvolver os trabalhos deliberados pelo Coordenador (a);

II - debater e encaminhar matéria para discussão e deliberação do (a) Coordenador(a).

Art. 19. O Núcleo poderá contar com apoio dos profissionais especializados nas áreas
afins que integrem os centros de atendimento multidisciplinar.

CAPITULO VI – DO DESLIGAMENTO E DA VACÂNCIA

Art. 20. Será desligado do Eixo o membro que:

I – completar o mandato;

II – requerer seu afastamento;

III – tiver cessada sua designação a pedido do coordenador do núcleo;

IV-– for designado para exercício da tarefa incompatível com as atribuições do Eixo.

Art. 21. No caso do desligamento do(a) coordenador(a), assumirá inteiramente o


coordenador(a) auxiliar até nova designação.

CAPÍTULO V – DAS CAMARAS TEMÁTICAS

Art. 22. O PRB Igualdade Racial, atuará com as câmaras temáticas fixas de
capacitação e de monitoramento e avaliação das ações de combate ao racismo, subsidiando os
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mandatos dos filiados do partido, bem como a atuação do partido na construção de políticas
publicas.

Art. 23. – Para as atividades de capacitação, serão propostas ações que levem a
atualização dos saberes dos filiados do PRB sobre a matéria e demais assuntos correlatos;

Art. 24. O monitoramento e avaliação fornecerão subsídios para as ações do PRB


Igualdade Racial além de fornecer suporte técnico aos mandatos

Art. 25. Poderão ser criados novas Câmaras Temáticas de acordo com as demandas
que se apresentem na consecução do Eixo

CAPÍTULO VI - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 26. Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Superior da Defensoria
Pública do Estado de São Paulo.

Art. 27. Este regimento entra em vigor na data de sua publicação.


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APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS POLICIAIS MILITARES


FORMADOS E ATUANDO NA ATIVIDADE OPERACIONAL

UFBA – UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


EA – ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PDGS – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL

Esta pesquisa faz parte do Programa de Mestrado Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social da
Escola de Administração da Universidade Federal da e tem como proposta propor a introdução de
novos parâmetros e práticas que, com base em avaliação e monitoramento de ações, ocorrencias,
posturas e técnicas na Polícia Militar da Bahia, extingam ou ressiguinifiquem as prática da
discriminação racial na atividade operacional policial militar.
Solicito a colaboração de Vossa Senhoria no sentido do preenchimento deste questionário, sendo o
mais fiel possível à sua vivencia pessoal.
Desde já firmamos nossos agradecimentos por sua atenção e contribuição.

QUALIFICAÇÃO:___________________________________________
Idade:__________Sexo: _________

1. Como você se declara em relação a cor?


Indígena
Branco
Pardo
Amarela
Preto

2. Em sua vida civil, em meio a suas relações sociais públicas e privadas, como você define e
tipifica um suspeito?
Justifique sua resposta.
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3. Em sua carreira militar até aqui, da prática de rua (inclusive estágios) em conformidade
com as técnicas que aprendeu em sala de aula, como você define e tipifica um suspeito?

4. Como policial militar, de acordo com a técnica aprendida em sala e com a sua vivencia
social, qual a prioridade para parar um veículo?
Carro de luxo dirigido por branco
Carro de luxo dirigido por preto
Carro de luxo dirigido por pardo
Carro popular dirigido por branco
Carro popular dirigido por preto
Carro popular dirigido por pardo
Independe
Outra

Justifique sua resposta:

5. Segundo sua percepção do que é menos suspeito em condutores de veículos


Carro de luxo dirigido por branco
Carro de luxo dirigido por preto
Carro de luxo dirigido por pardo
Carro popular dirigido por branco
Carro popular dirigido por preto
Carro popular dirigido por pardo
Independe
Outra

Justifique sua resposta:

6. Considerando a sua resposta nas questões anteriores, você credita que sua vivência no
processo de formação na PM exerceu influência sobre sua resposta? Explique por que e como.

7. Em uma situação de suspeição, numa abordagem policial, entre um homem de cor branca
e outro de cor preta, em sua opinião, quem a guarnição em exercício funcional abordaria
primeiro? Por quê?
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8. Você vê alguma influência ( e qual?) da forma como lhe foram ou são transmitidas,
instruídas e ensinadas as técnicas policias sobre a sua opinião e orientação para a resposta
anterior?

9. Você já ouviu algum destes ditos populares em seu processo de formação militar e/ou na
atividade policial?

“Preto correndo é atleta, branco correndo é ladrão”


“Lugar de mulher é na cozinha”
“Em Briga de marido e mulher ninguém mete a colher”

Pode relatar a situação?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________

10. Como você avalia a postura profissional do policial militar frente a questões raciais e
de gênero?

11. Você acredita que os instrutores policiais militares no CFO tendem a fazer uso de
linguagem preconceituosa ou tendenciosa em relação a demandas raciais, de gênero,
homofóbicas ou outras ?
Sim
Não
Explique sua resposta

12. O instrutor policial militar responsável pela sua formação como oficial militar
demonstra linguagem técnica desassociada de preconceitos e/ou vivencias pessoais?

Obrigada!
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APENDICE F - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS POLICIAIS MILITARES EM


PROCESSO DE FORMAÇÃO – ALUNOS A SOLDADO

1. Antes de ingressar na PMBA, como você descrevia o suspeito?

2. Você acredita que esta descrição se modificou após as aulas que teve no curso de
formação?

3. Acredita que há alguma influência do curso de formação neste pensamento (como


percebe o suspeito?

4. Como você avalia a postura profissional do policial militar frente a questões raciais?
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APÊNDICE G – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UFBA – UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


EA – ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PDGS – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO
SOCIAL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) como voluntário(a) a participar da pesquisa: “Branco
correndo é atleta, preto correndo é ladrão: a construção do suspeito na atividade policial
militar”

A JUSTIFICATIVA, OS OBJETIVOS E OS PROCEDIMENTOS: O motivo que nos leva a


estudar o problema é o entendimento da existência de uma forma de ressignificar a prática da
discriminação racial que lastreia a concepção e seleção do suspeito nos processos pedagógicos
dos cursos de formação da PMBA. A pesquisa se justifica pela peculiaridade do serviço
policial militar exigir de cada um de seus membros total isenção na pratica profissional, o que
nos leva a entender que se a prática de discriminação racial for sugerida através do discurso
de instrutores e monitores esta precisa ser tratada como um problema institucional, e,
consequentemente em a reconhecendo, apontar possíveis correções para podermos iniciar um
processo de mudança do convencimento, criando e potencializando novos exemplos à pratica
policial O objetivo desse projeto é propor a introdução de novos parametros e práticas
pedagógicas nos cursos de formação da Polícia Militar da Bahia que ressiguinifiquem as
representações sociais incidentes na contrução do suspeito.

O procedimento de coleta de dados será da seguinte forma: Pelo entendimento de que as


informações que permitirão a coleta de dados existem imbricadas e latentes no interior da
“tropa militar” será realizada com policiais militares do sexo feminino e masculino,
integrantes do Curso de Formação Policial ofertado pelo Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças do Estado da Bahia através da técnica do grupo focal, com
aplicação de questionário em pesquisa semi estruturada e da realização do mapa conceitual.
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DESCONFORTOS E RISCOS E BENEFÍCIOS: não deverão ser subestimados os riscos e


desconfortos, mesmo que sejam mínimos.

FORMA DE ACOMPANHAMENTO E ASSINTÊNCIA: Esclareço que estarei sempre à


sua disposição, pessoalmente, na Secretaria de Políticas Para mulheres, ou através dos
telefones 71 9908-3338 e no email denicerosairo@gmail.com, para responder qualquer
pergunta ou esclarecer dúvidas em relação à pesquisa.

GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE


SIGILO: Você será esclarecido (a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. Você é
livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a
qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar
qualquer penalidade ou perda de benefícios.

A pesquisadora irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os resultados
serão enviados para você e permanecerão confidenciais. Seu nome ou o material que indique a
sua participação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado (a) em
nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Uma cópia deste consentimento
informado será arquivada no Curso de Especialização em Segurança pública, da Academia de
Polícia Militar e outra será fornecida a você.

CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO POR


EVENTUAIS DANOS: A participação no estudo não acarretará custos para você e não será
disponível nenhuma compensação financeira adicional.

DECLARAÇÃO DA PARTICIPANTE OU DO RESPONSÁVEL PELA


PARTICIPANTE: Eu, __________________________________________ fui informada (o)
dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei
que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e motivar minha decisão se
assim o desejar. A professora orientadora Doutora Ana Cristina Muniz Déciacertificou-me de
que todos os dados desta pesquisa serão confidenciais.

Também sei que caso existam gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da
pesquisa. Em caso de dúvidas poderei chamar a Aluna DENICE SANTIAGO SANTOS DO
ROSARIO a professora orientadora Doutora Ana Cristina Muniz Décia, ou o Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia.
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Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de
consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas
dúvidas.

Nome Assinatura do Participante Data

Nome Assinatura do Pesquisador Data

Nome Assinatura da Testemunha Data

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