Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EA – ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PDGS – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL
Salvador - BA
2017
DENICE SANTIAGO SANTOS DO ROSÁRIO
Salvador - BA
2017
Escola de Administração - UFBA
CDD – 364.256
DENICE SANTIAGO SANTOS DO ROSÁRIO
A Doberval/Cute e Cleonice/Maba por serem para mim meu mundo, minha essência, minha
paz: se outras vidas tivesse, o senhor e a senhora sempre seriam meus pais. A Tonha, por
cuidar de tudo a minha volta para que eu siga (prossiga) firme.
A Doranice, Doberval Filho, Debora e Denisson por serem minha inspiração e minha
referência.
A Beatriz, que só por ser ela me obriga a querer ser bem mais eu.
A Thiago por ser meu “thuru”, e me fazer rir só com a simples lembrança de tua voz e Pier
pela lembrança constante do carinho ao chamar sua “Dinichi”.
A João, ser que me completou e a quem eu devo a minha vida; você faz com que eu acorde
todos os dias e me responsabilize por tudo em meu entorno já que este mundo e minha vida
não são apenas meus. Filho você é a razão da minha vida! Perdoe-me pelas as ausências, pelas
deficiências, busco sempre ser a melhor mãe possível.
A Rafael Campos por este apoio incondicional, acreditando em mim até quando eu mesma
nem sabia ser possível.
Ao Major Paulo Peixoto, parceiro fundamental ao que aqui se propõem, sua benção meu
irmão!
As minhas loiras, esteio tão sólido, presente e dominador em minha vida: Cleydi Milanezi e
Urania Almeida.
Às “Divas”, Emília Neta e Luciana Venezian por serem meu oásis neste caos. Amo vocês
meninas!
A Ana… suave como o nome. Décia, decisiva em meu processo. Obrigada pelas orientações
espirituais, acadêmicas e vivenciais.
A presente pesquisa teve como proposta possibilitar a criação de tecnologia de gestão social
(TGS) capaz de avaliar, monitorar e atuar como observatório de posturas discriminatórias na
atividade policial militar. Elencou-se como objetivo geral propor a introdução de novos
parâmetros e práticas que, com base em avaliação e monitoramento de ações, ocorrências,
posturas e técnicas na Polícia Militar da Bahia (PMBA), extingam ou ressiguinifiquem as
práticas da discriminação racial na atividade operacional policial militar. Para tanto, foram
realizadas pesquisas bibliográfica para coletar dados de pesquisas anteriores que indicam a
existencias de práticas discirminatorias na PMBA, bem como para fundamentar as atividades
propostas na TGS em paralelo foram realizados levantamentos junto ao público interno da
Corporação para que fossem verificados os níveis de entendimento destes, tanto os policiais
miitares que estão na atividade fim já formados (as) e os que estão em processo de formação
(alunos a soldado) gerando assim propostas de atuação da TGS neste espaço. Foi proposta
como TGS a criação de um espaço institucional para monitorar, avaliar e propor novos
processos internos, pautados por valores fundados nos direitos e na dignidade do ser humano.
Como procedimento metodológico, a pesquisa foi de natureza não-experimental, explicativa
e, quanto à coleta de dados, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, entrevista
semiestruturada, aplicação de questionário e o uso do Mapa Cognitivo para apreensão de
dados e informações. Após constatações, foi proposta a criação da AMO DH na PMBA:
Avaliação, Monitoramento e Observatório em Direitos Humanos na Polícia Militar do Estado
da Bahia; Coordenação específica em Direitos Humanos dentro da Corporação, com a
finalidade de avaliar, monitorar e atuar como observatório de práticas que sejam contrárias
aos direitos humanos nas atividades da corporação, inclusive como canal de diálogo com a
sociedade civil e demais orgãos do Poder Público.
The present research had the proposal to enable the creation of social management technology
(TGS) able to evaluate, monitor and act as observatory of discriminatory positions in military
police activity. The general objective was to propose the introduction of new parameters and
practices that, based on the evaluation and monitoring of actions, occurrences, positions and
techniques in the Military Police of Bahia (PMBA), extinguish or re-establish the practice of
racial discrimination in the operational activity military police. In order to do so,
bibliographical research was done to collect data from previous research that indicates the
existence of discriminatory practices in the PMBA, as well as to fund the activities proposed
in TGS in parallel, surveys were carried out with the internal public of the Corporation to
verify the levels of Understanding of these, both the military officers who are in the final
activity already formed and those who are in training level (students to soldier) thus
generating proposals of action of TGS in this space. It was proposed as TGS to create an
institutional space to monitor, evaluate and propose new internal processes, based on values
based on the rights and dignity of the human being. As a methodological procedure, the
research was of a non-experimental, explanatory nature and, as far as data collection was
concerned, a bibliographic research, semi-structured interview, questionnaire application and
the use of the Cognitive Map for data and information seizure were carried out. After
verification, it was proposed the creation of AMO DH in the PMBA: Evaluation, Monitoring
and Observatory in Human Rights in the Military Police of the State of Bahia; Specific
Coordination in Human Rights within the Corporation, with the purpose of evaluating,
monitoring and acting as an observatory of practices that are contrary to human rights in the
activities of the corporation, including as a channel of dialogue with civil society and other
organs of the Public Power.
PM Policial Militar
RS Residência Social
1 INTRODUÇÃO 14
2 METODOLOGIA 17
2.1 PASSOS DO CAMINHO 19
2.1.1 A pesquisa bibliográfica 19
2.1.2 Diagnósticos dos processos internos 19
2.1.1.1 Mapa Cognitivo 20
2.1.2.2 Entrevista 21
2.1.3 Construção da TGS 22
2.2 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE 23
3 REFERENCIAL TEÓRICO 24
3.1 ESTUDO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA ATIVIDADE 24
POLICIAL MILITAR: REVISANDO PESQUISAS
3.2 O TERRITÓRIO: MEU LUGAR 28
3.3 IDENTIFIQUE-SE CIDADÃO 31
3.4 RACISMO INSTITUCIONAL 35
3.5 A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR 37
3.6 O QUE FALAS, SEM FALAR: ANÁLISE DO DISCURSO 38
3.7 AVALIAR, MONITORAR E OBSERVAR 40
4 ANÁLISE DOS DADOS – CONSOLIDANDO A TGS 44
4.1 MAPA COGNITIVO 49
5 AMO DIREITOS HUMANOS – TECNOLOGIA DE GESTÃO 55
SOCIAL
5.1 DAS AÇÕES PRECURSSORAS 57
5.1.1 Primeira etapa: Encontros com a cúpula das Unidades 57
Operacionais e Especializadas de Salvador e Região Metropolitana
5.1.2 Segunda etapa: Projeto de sensibilização da tropa para as questões 58
de raça e gêneros nas ações policiais militares
5.1.3 Terceira etapa: Propositura do encontro de avaliação e atualização 59
para os instrutores da disciplina educação para relações raciais e
de gênero
5.2 ATUAÇÃO DA AMO DIREITOS HUMANOS 59
5.3 MINUTA DA PORTARIA DE CRIAÇÃO 60
6 RESIDÊNCIA SOCIAL 61
6.1 A INSTITUIÇÃO ACOLHEDORA 62
6.2 CONCEITUANDO A RESIDÊNCIA SOCIAL 63
6.3 DIÁRIO DE BORDO 64
6.3.1 CARTAS A JOÃO 64
6.5 CONCLUSÃO 67
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 68
REFERÊNCIA 70
APÊNDICES 74
APÊNDICE MINUTA DE PORTARIA DE IMPLANTAÇÃO DA AMO 75
A DIREITOS HUNANOS
APÊNDICE RELATÓRIO DA PRIMEIRA FASE DO GRUPO DE 77
B TRABALHO DOS SEIS ENCONTROS COM A CUPULA DAS
UNIDADES OPERACIONAIS E ESPECIALIZADAS
APÊNDICE FOLDER PROPOSO AO PRB IGUALDADE RACIAL 85
C
APÊNDICE PROPOSTA DE REGIMENTO DO PRB IGUALDADE RACIAL 86
D
APÊNDICE QUESTIONÁRIO APLICADO AOS POLICIAIS MILITARES 93
E FORMADOS E ATUANDO NA ATIVIDADE OPERACIONAL
APÊNDICE ROTEIRO DE ENTREVISA COM OS POLICIAIS MILITARES 96
F EM PROCESSO DE FORMAÇÃO – ALUNO A SOLDADO
APÊNDICE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 97
G
14
1 INTRODUÇÃO
É esta cultura que permite que o indivíduo não precise aprender tudo novamente por
ensaio, por nova experimentação; o uso da linguagem e de outras representações simbólicas
fazem com que os seres possam passar seus aprendizados, além de permitir novas
aprendizagens processuais de suas próprias experiências, fazendo do ser humano um ser
biologicamente cultural, uma vez que é esta cultura que propicia (na maior parte das vezes) a
evolução e adaptações biológicas da humanidade. Mas esta cultura ambiente pode ser vista
como danosa já que, ainda que aumente as chances de sobrevivência e, logo, de aprendizagem
do grupo, tende a aumentar a dependência a esta cultura para sobreviver “ao mesmo tempo
que liberta, submete. Escapa-se de uma armadilha, entrando em outras.” (BUSSAB e
RIBEIRO, 2004, p. 175).
15
Uma característica desta pesquisa é que ela é realizada por uma pesquisadora
“estabelecida”, apropriando do conceito de Nobert Elias, indicado por Lima (2015), alguém
que vive e aprendeu de acordo com a cultura policial militar ditada por 192 anos corporativos,
alguém que vivencia as vicissitudes advindas deste experimento e que, no lugar de mulher,
negra, moradora de periferia e policial militar, vive esta complexidade de forma intensa e
conflituosa.
Em meio a estas discussões, uma questão se solidifica: como a corporação trata esta
questão? Como ela vem se renovando para atuar nesta perspectiva, revisando seus valores
institucionais e criando novas formas de ressignificar estes pontos e criar uma nova visão de
seus atos?
Elenca-se como objetivo geral desta pesquisa propor a introdução de novos parâmetros
e práticas que, com base em avaliação e monitoramento de ações, ocorrencias, posturas e
técnicas na Polícia Militar da Bahia, extingam ou ressiguinifiquem as práticas da
discriminação racial na atividade operacional policial militar. Para auxiliar na sua consecução,
necessário se faz pensar especificamente em como se dá ou se há a percepção intitucional de
policiais militares em formação ou já formados sobre a construção de processos em
discrimnação racial em suas práticas profissionais, bem como se há processos de controle de
práticas discriminatórias na gestão policial miltar, e de propor uma tecnologia social para
monitorar, avaliar e propor novos processos internos, pautados por valores fundados nos
direitos e na sua dignidade.
A estrutura desta dissertaçãoestá dividida em capítulos. Esta introdução é o primeiro.
No segundo capítulo é indicada a metodologia adotada, os passos caminhados no percurso de
construção desta pesquisa, conceituando e indicando as técnics e instrumentos utilizados.
Para discutir as bases deste texto, no terceiro capítulo é indicada a revisão da literatura
que serve de base a este trabalho, discutindo estudos relacionados à discriminação racial na
atividade policial militar realizados em periodos anteriores a esta pesquisa e que trazem em
seus resultados dados que a fundamentam.
A TGS proposta vem retratada no capítulo cinco, com base no que já foi relatado nos
capítulos anteriores e na propsota entendida como mais próximaà solução do problema
apresentado.
2 METODOLOGIA
O Mapa Cognitivo ou mental refere-se a uma técnica que possibilita que sejam
percebidas as impressões pessoais e adquiridas no seu grupo social referentes a determinado
assunto que estão introjetadas no inconsciente das pessoas. Consiste em fazer com que cada
participante da pesquisa realize a construção de um desenho e responda questões sobre este,
balizando uma análise psicológica de cada item proposto (MOURÃO; CAVALCANTI, 2006).
Considerando ser uma instituição Policial Militar, como ponto de partida foi solicitado
ao Comando Geral da PMBA autorização para realizar a pesquisa, especialmente justificando
sua realização para construção de uma alternativa à solução do problema apresentado.
Foi calcada na análise dos temas que fundamentem a construção social do racismo,
suas nuances e vertentes e a estrutura deste processo em nossa sociedade.
Esta etapa é composta pelo Mapa cognitivo, entrevista e questionário utilizados para a
obtenção de dados e informações dos participantes.
20
Uma definição de mapa cognitivo é a que Bastos (2002, p. 67) nos traz, citando
Laszlo, Masulli, Artigiani e Csanyi (1995) como o “processo pelo qual um organismo
representa o ambiente em seu próprio cérebro”. Completa indicando que os mapas envolvem
conceitos e relações entre conceitos existentes no ambiente social do indivíduo.
Os mapas não são representações estáticas do ambiente, eles vão variar com as
experiências e percepções destas as quais o indivíduo está atrelado (BASTOS, 2002), logo,
vão variar de acordo com o processo de identidade do grupo e, inclusive, das máscaras sociais
(STRAUSS, 1999) que estes indivíduos criem para se consolidar neste grupo. Há aqui uma
necessidade de contínuo ajustamento que em especial ao que esta pesquisa se destina – nos
serve de alento e esperança científica, já que mudanças no contexto irão impor a exigência de
incorporar novas informações, logo, uma ressignificação e reconstrução dos mapas
cognitivos.
2.1.2.2 Entrevista
Com base nos dados levantados nos passos anteriores, a ideia de construção de uma
tecnologia se desenhava de forma mais clara. Inicialmente a proposta de TGS foi a criação de
um vídeo que pudesse ser utilizados nos processos internos de formação policial militar bem
como no trato com a sociedade; à época foi pensado este vídeo como uma ferramenta de
integração e de escuta de forma lúdica das impressões e achados da pesquisa.
Com a pesquisa, uma nova proposta surgiu. Era perceptível na análise dos discursos
postos, escritos e desenhados que o policial militar se verificava como perpetuador de uma
prática preconceituosa, mas não havia na Corporação nenhum órgão ou equipamento que
possibilitasse o acompanhamento destas práticas e que dialogasse e sugerisse revisões
técnicas e posturais para modificar o quadro existente.
Para a construção da TGS foram realizadas novas revisões bibliográficas com foco na
avaliação, monitoramento de ações institucionais, sugerindo a criação de um órgão (ou
programa) na estrutura da Corporação, com abertura e mecanismos de comunicação direta
com o público interno e a sociedade.
23
3 REFERENCIAL TEÓRICO
As grandes navegações foram um importante ponto de partida uma vez que colocaram
o padrão europeu em contato com homens e mulheres de diferentes etnias, seres humanos
diferentes em sua cor de pele e cultura que suscitavam a diferença entre os padrões até então
conhecidos no mundo (“velho mundo”) (SCHWARCZ, 1993).
Para Schwarcz (2013), com a introdução do termo raça, o século XIX inaugura a ideia
da “existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos”
(SCHWARCZ, 1993, p. 63), surgindo assim um discurso racial que não vai mais apenas focar
no biológico como base para suas análises, mas também na perspectiva da cidadania,
contemplando outros atributos que forçavam a uma reflexão sobre a origem do homem,
através de duas teorias: a monogenista e a poligenistas.
25
Há uma concordância com Matos (2010) quando retrata que no Brasil a preocupação
em tipificar condutas próprias da raça negra de alguma forma substituiu a teoria
bioantropológica. A opção brasileira foi a de retirar do foco da Biologia a forma de se explicar
a suspeição criminosa sendo potencialmente centrada em pessoas negras, especialmente
porque esta teoria não se manteve frente aos conclames dos Direitos Humanos, passando a
categorizar este criminoso potencial através de pontos da estereotipia negra, como roupas,
musicalidade e ritmos musicais, forma de falar, andar e até espaços geográficos em que a
população negra ocupa e se utiliza.
Como dito, não visa esta pesquisa estudar ou comprovar a existência da prática de
discriminação racial na atividade policial, em específico a policial militar; parte como base de
estudos anteriores que fizeram este percurso e trouxeram a este texto suas impressões e suas
comprovações científicas.
Barros (2008) relata uma pesquisa realizada junto à Polícia Militar de Pernambuco da
qual resultou o dado de que 65,05% do (a)s policiais militares entrevistados (a)s indicaram
como prioridade de abordagem (formulação do suspeito) pessoas de cor preta. Nesta pesquisa
também é focada a análise acerca do preconceito racial institucional a partir do relato e retrato
feito por policiais militares sobre os motivos considerados para a tomada de decisão na
situação de abordagem de suspeitos serem “questões culturais”.
Rosário (2013) analisou na pesquisa que 23% dos entrevistados indicaram a existência
de um “currículo oculto” que é evidenciado quando o instrutor indica ser a sala de aula como
um “laboratório”, logo poder-se-á retirar a obrigação de seguir a linha correta politicamente
indicada pela dinâmica social e trazem a fala expressões, fatos e ações que estavam
diretamente ligadas ao preconceito e discriminação racial.
militar profissional nas circunstâncias de análise do possível ou potencial suspeito, bem como
quanto às ações de abordagem e tratamento referentes a este.
Em seu artigo “Juventude e afetividade: tecendo projetos de vida pela construção dos
mapas afetivos”, Furlani e Bomfim (2010) analisam projetos de vida de jovens em dois
ambientes diversos (rural e urbano), nesta pesquisa fica latente que o ambiente em que
residem influencia na construção de sua identidade; influencia e implementa características,
tendo como base fundamental a ideia do homem como:
Ao se deparar com uma comunidade do subúrbio de Salvador, por exemplo, para além
de técnicas e cuidados típicos da profissão policial militar, importante que cada policial faça a
1 Salvador Fest é uma festa promovida pela iniciativa privada que concentra um grande numero de
pessoas, destinada a classe social C e D
29
leitura daquele espaço nesta perspectiva, excluindo dali um grupo com características
estatísticas (sócio-antropológicas) e vislumbrando um ambiente cultural específico, com suas
características identitárias próprias e, especialmente por isto, que precisam ser respeitadas.
Roupas, estilos musicais, gírias são caminhos para este pertencimento, estão no
processo cognitivo mas atuam também como “passaporte”, como “espelhos” do lugar e por
vezes assim são adotadas: como processo de padronização e acesso ao meio social, ao grupo,
ao espaço.
“Meu lugar” será o somatório de cada uma destes indicativos. Mourão e Cavalcante
(2006) nos conduzem a refletir em como tratar uma forma de vestir, falar, andar ou dançar
isoladamente colocando nestas um rótulo complexo é desconhecer a própria identidade; é não
perceber que nenhum ser humano é desprovido da influência de seu meio, e, para além disto,
nenhuma pessoa pode isolar suas ações daquelas que a sociedade contemporânea foca como
acesso as relações sociais.
Para Haesbaert (2005) pode-se entender território por dois caminhos, o da apropriação
ou da dominação. Embora imbricados e congruentes em algum ponto, a apropriação
apresenta-se revestida por significantes socioculturais que a legitimam; é através deste
sentimento de pertencimento que se consubstancia a identidade como território, que se
“apropria” de suas características.
A compreensão de território usado indicada por Milton Santos tem bastante lógica a
este entendimento. Para este geógrafo, o:
[...] território usado constitui-se como um todo complexo onde se tece uma
trama de relações complementares e conflitantes. Daí o vigor do conceito,
convidando a pensar processualmente as relações estabelecidas entre o lugar,
a formação sócioespacial e o mundo (SANTOS, 2000, p. 104-105).
classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais
ou conjuntos de bairros da metrópole, apesar dela não impedir a presença nem o crescimento
de outras classes no mesmo espaço. A compreensão do território e de como este se
desenvolve e posiciona torna-se imprescindível à atuação policial militar. Preciso se faz que
esta temática encontre eco na formação policial e, logo, na sua atuação prática.
Shaffer (2005, p. 338) indica que “uma característica impressionante separa os seres
humanos dos demais animais: é a criação e uso da linguagem”, mesmo que os demais animais
se comuniquem uns com os outros, o número de gestos e sons é reduzido, servindo para atos
específicos, possível de se comparar com a forma lacônica da fala humana, que tende a ser
flexível e produtiva.
A linguagem como ferramenta inventiva pode ser utilizada para publicizar a forma
como expressamos nossos pensamentos e interpretações de tudo em nosso entorno, o que
vemos, ouvimos e experimentamos.
O signo (símbolo) é uma unidade portadora de sentido; através dos signos, coisas,
objetos, desenhos, grafias são utilizados para tomar o lugar de alguma coisa. Os signos
linguísticos (as letras) são um signo artificial, pois retratam a relação arbitrária entre o seu
significado e o seu significante.
32
Ou seja, a partir das funções simbólicas e ideológicas a que servem e das formas de
comunicação onde circulam (SPINK, 1993, p. 300)
A representação social é construção do sujeito social; sujeito este que não é apenas
resultado de determinações pontuais da sociedade, nem tão pouco produtor independente
destas determinações, visto que é a contextualização construída dos resultados do que os cerca
(SPINK, 1993). São as relações deste sujeito (a) com o grupo que o cerca que fará com que
estas (as representações) sejam consolidadas, modificadas, e até mesmo excluídas do seu
processo de aprendizagem social; elas são construídas nestas relações e não apenas do
interesse e vontade de um único membro: a participação social é fundamental à representação.
Serge Moscovici (1961) com o lançamento do livro “Psicanálise, sua imagem, seu
público” analisa como nós, sujeitos sociais, aprendemos e construímos cotidianamente
conhecimentos sobre o mundo material, sem perder de vista as especificidades,
particularidades, singularidades e características desse meio ambiente e dos interlocutores
humanos que nele estão inseridos, bem como a natureza das informações que são veiculadas
no espaço das inter-relações homem-meio ambiente e homem-homem.
papel traduzido pela fala e baseado na construção das suas máscaras sociais (STRAUSS,
1999).
Segundo o dicionário Houaiss (2010, p. 416), identificar vem a ser “(2) determinar a
identidade de; reconhecer”. Ao atuar profissionalmente, o policial militar tende a, para
selecionar seu objeto de abordagem, realizar uma identificação do provável suspeito com base
em características deste objeto, quer sejam características sociais, físicas, culturais. É a
identidade deste objeto que se sobrepuja às demais características técnicas policias militares.
conflitos uma vez que nossas vidas pessoais tendem a gerar tensões entre nossas diferentes
identidades (WOODWARD, 2000).
Tanto os policiais militares como os suspeitos que estes reproduzem em suas práticas
de identificação, ancoram-se em características sociais, ancoram-se em máscaras sociais que o
percurso de sua formação nomearam como tal. E é essa construção, no processo de nomeação
destas máscaras, que requer cuidados e atenção uma vez que podem ocasionar
comportamentos discriminatórios gerando a posturas que consolidam a visão racista da
PMBA, corroboradas com práticas profissionais que vitimem ou rotulem pessoas em
decorrência do racismo institucional.
Conceito cunhado através do Grupo Panteras Negras, nos Estados Unidos da América,
Racismo Institucional pode ser entendido como um racismo realizado, operado e mantido por
um sistema; é uma forma institucional – um mecnaismo – que mantém e garante a exclusão
seletiva de grupos em vulnerabilidade social, colocando-os em situação de subordinação.
Guimarães (2004) nos indica que racismo pode ser entendido como uma doutrina que
constrói a ideia de “raças humanas” com qualidades e habilidades que hierarquizam as
relações através de uma gradação entre potenciais intelectuais e qualidades morais que vão
indicar a superioridade ou inferioridade das raças. Para ele o racismo é um corpo de atitudes,
preferências e gostos que coloca as pessoas negras como mais feias, ou menos inteligentes
que as brancas.
Segundo este autor, o racismo funciona de duas formas: uma aberta, declarada e
associada às pessoas, atuando de forma explicita; outra institucional, não declarada, que
associa o racismo a atos e intenções de alguns atores mantendo os negros em situação de
inferioridade através de mecanismos não tão perceptíveis socialmente. Nesta segunda forma
verifica-se que a as pessoas se utilizam do funcionamento da sociedade para justificar seus
argumentos ocasionais e justificar atos racistas; o racismo institucional serve para mostrar a
discriminação e a segregação, pontuando a necessidade de mudanças políticas e institucionais
(GUIMARÃES, 2004).
A noção de racismo institucional está imbricada nas estruturas sociais, ainda que não
possua uma forte estruturação ideológica ou doutrinária; não é “legalizado” ou definido, nem
consta nos currículos das estruturas de formação, mas, suas estruturas são veladas e
transmitidas nas instituições repousando em mecanismos abstratos. (WIEVIORKA, 2007).
Ainda que a definição seja abrangente, estabelece um bom parâmetro para se entender
a discriminação racial e étnico-racial. Um caminho a este entendimento é estudar o racismo
cultural. Wieviorka (2007) diz que esta forma de racismo utiliza características diferentes do
racismo científico (genes, fenótipo), mas que igualmente tende a excluir, refutar, rejeitar;
baseando-se no presente e hierarquizando as raças através das relações sociais. É possível
pensar o racismo institucional com base nas junções do racismo cultural com o cientifico.
Ainda que expressamente o racismo científico não seja a tônica das posturas e ações, o
cultural possibilita e legitima atuações calcadas em impressões culturais disseminadas
institucionalmente, focando em incompatibilidades de imagem.
A sala de aula é o lugar social da aprendizagem formal. É ali que se inicia o processo
de construção do conhecimento, e, claro, que se estabelecem relações sócias importantíssimas.
A sala de aula é uma comunidade em que pensamentos são formulados e a palavra é sua
principal ferramenta.
A sala de aula também é o local onde se estabelece a relação de fala e escuta entre
professor e aluno, um espaço em que se entrelaçam as representações sociais dos
protagonistas neste diálogo (professor e aluno).
É neste ambiente (sala de aula), através das comunicações que são veiculadas ali
(linguagens diversas) por seu professor que estarão sendo consolidado saberes. E neste
processo que as representações sociais trazidas por este/esta professor (a) do seu universo
representativo, dos seus significados e significantes que irá permear seu discurso, o que nos
leva a pensar que, em uma sala de aula de um curso de formação, o profissional mais
experiente, na figura do professor, tende a traduzir na linguagem pedagógica as
representações sociais que permeiam sua vida, tanto da sua práxis profissional (já que estas
38
são a base para os seus ensinamentos) como da pessoal. As suas falas estarão compostas por
uma base cognitiva e afetiva, relacionadas à sua vivencia pessoal.
Ornellas (2006) indica que a sala de aula é o ambiente desta tratativa. É o espaço de
construção das relações afetivas, em que ocorre a “fala e a escuta” A autora nos diz ainda que
se “a fala for bem elaborada, pode ser escutada, trocada e analisada na prosa da sala de aula,
na prosa da relação”, e é a fala do (a) professor (a) sobre o objeto do seu ensino que constitui
o leque de possibilidades de entendimento e percepções (ORNELLAS, 2006, p. 130).
Possenti (2009) ao nos trazer informações sobre a análise do discurso indica um ponto
que aqui é relevante, o interdiscurso e suas implicações. Entende interdiscurso também como
um “conjunto de unidades discursivas com as quais um discurso entra em relação explicita ou
implícita”, assim ao se formular um discurso (a formulação discursiva indicada pelo autor)
este produzirá o “assujeitamento do sujeito” (p. 154), já que cada formulação discursiva é
dominada pelo interdiscurso e exclui outras formulações que poderiam ser coladas de forma
independente (POSSENTI, 2009, p. 154).
Com base nas teses de Pêcheux, Possenti (2009), ressalta que esta influência do
interdiscurso nas formulações discursivas está diretamente relacionada ao complexo
dominante existente em nossos ciclos sociais, o que denota um papel crucial ao pré-
constituído, fazendo com que a análise do discurso possa compreender o fato de que uma fala
não é apenas pontual e específica, ela estar relacionada a diversos fatos, acontecimentos,
condicionamentos que a precede e que a sucede. O sujeito vai falar a “a partir do já dito”, de
construções que lhe foram introjetadas, ainda que sem estar no nível da consciência sobre
aquele fato, segundo Possenti (2009, p. 155).
A análise do discurso vai caminhar por algumas premissas para que seja possível de
ser corretamente compreendida explica Orlandi (2009). È preciso entender que a língua tem
suas próprias características e por assim o ser faz-se necessário “entrar” nesta de forma isenta
(ainda que isenção seja algo complexos em relação e percepções e sentidos). Esta ação vai
levar a segunda premissa de que a historia não é única e nem pode ser uma verdade isolada já
que ela tem o real afetado pelo simbólico de cada participante desta, e, como premissa final é
a de que este participante (o sujeito da linguagem) é descentrado já que ele interage de acordo
com seu inconsciente e sua ideologia.
Cada análise de discurso é singular uma vez que deve mobilizar diferentes conceitos e
categorias de análise, gerando efeitos profundos no trabalho de quem se predispõe a fazê-la.
Nesta pesquisa, a escolha metodológica do mapa cognitivo visou realizar esta analise pelo não
dito, pelo “não comunicado” indicado aqui por Orlandi (2009) e Possenti (2009); é o que a
história e as convenções internas (ainda que silenciosas) da Corporação fazem com que fique
40
no anonimato o que se quer “ler”, o que se quer analisar e que, por vezes, pode estar no
espaço do inconsciente, e, portanto, precisa de um impulso para aflorar.
É comum em nossas relações sociais a percepção da palavra avaliação como algo que
nos remeta a disputa, punição ou algo que possa nos ser ruim. Polariza-se a avaliação em algo
extremamente bom, se esta lhe indicar algo que lhe seja satisfatório, ou algo potencialmente
ruim, caso não seja favorável. O que encontra lugar em muitos discursos é que, ao longo do
tempo, a avaliação se tornou um ponto crítico, complexo, que “testaria” algo ou alguém de
forma a validar suas práticas (estudo, ação, não-ação...). Mas em tudo, a avaliação viraria um
carrasco, ela denotaria sua punição e a de seus projetos caso não satisfizessem ao padrão (a
média) indicado como apta. Entretanto, ainda que possua certa veracidade a avaliação, como
processo gerencial, não visa à punição e a aniquilação de práticas: ela vem como um
importante balizador para a continuidade de projetos; indicando ajustes e saídas possíveis para
sua continuidade e correção. A avaliação então é um ponto primordial em nossas relações, e,
também por isto, deve está intrinsecamente relacionada ao planejamento (BOULLOSA e
RODRIGUES, 2014).
Para além de significar uma nota vermelha no boletim, avaliação ao longo do tempo se
consubstanciou em processo carente de institucionalização, em especial no tocante a políticas
públicas uma vez que este processo (avaliação) possibilitaria o monitoramento das políticas e
sua sobrevivência. Faria (2005) indica três funções básicas atribuídas a avaliação: informação,
realocação e legitimação, que se alternaram durante o período de 1960 aos dias atuais. A
avaliação tinha função informativa quando apenas indicava por números os resultados daquela
ação, sem que com isto fossem provocadas ou devidas mudanças substanciais à estrutura do
41
programa. A realocação já traz uma análise dos dados avaliativos com um redirecionamento
de suas atividades, com mudança na gestão dos programas, realocando recursos aos que
melhor atendiam aos objetivos. A legitimação já aparece como função mais elaborada: além
de levantar dados decorrentes dos resultados, analisar a necessidade de realocação e alocação
de recursos, esta avaliação legitimava a política e assegurava (ou não) a sua continuidade.
Para esta legitimação, importante se faz estar atento a fatores que podem interferir na
utilização dos resultados. Ainda com Faria (2005), estes fatores são tanto interesses internos
conflitantes, como a ocorrência de conflitos de interesse organizacionais, mudanças de
pessoal empregado, inflexibilidade de regras que impedem os ajustes propostos pela avaliação
e mudanças externas (cortes orçamentários, ambiente político, etc.).
O uso conceitual quando seus resultados atuam para balizar estudos e análises,
podendo alterar como os receptores de seus dados compreendam a natureza do programa.
Instrumento de persuasão quando é utilizada para “mobilizar o apoio para a posição dos
tomadores de decisão já tem sobre as mudanças” (FARIA, 2005, p. 103).
E atua como esclarecedora, quando serve para causar impacto nas redes de
profissionais e demais participantes promovendo alterações nas crenças e na forma de ação da
instituição; atua trazendo a diálogo novas perspectivas, “esclarecendo” horizontes sobre a
ação.
Deste lugar verifica-se que monitorar pode ser inclusive uma etapa da avaliação, mas
não a compreende. A avaliação possibilita uma ressignificação ao processo, logo, uma
efetividade mais complexa na sua análise. Muito embora o monitoramento deva ser uma ação
permanente de observação de fenômenos que ocorrem entre os
objetos/eventos/acontecimentos que despertem interesse, ele traz como produto a descrição, a
previsão de ocorrência e seu comportamento, não faz com que se extraia uma
problematização ou um conhecimento efetivo que promova a aprendizagem. Assim, é possível
entender monitoramento como base a avaliação, logo, é defender que a avaliação como
proposta mais ampla e importante já que esta (re) cria práticas e indica a sustentabilidade do
programa/projeto.
Pensar em estabelecer uma relação de necessidade nas ações policiais militares através
de avaliação e monitoramento requer entender como se dão estas duas ferramentas e como
seriam úteis ao processo de alteração comportamental e ressignificação cultural das práticas
profissionais na Polícia Militar da Bahia.
Avaliar é uma expressão mais comum entre nossas relações; a partir do início de
nossas relações escolares e/ou educacionais este termo passa a ser mais frequente e atribuímos
a uma avaliação positiva a solução de boa parte de nosso sucesso, ainda que avaliar de forma
a expor erros não necessariamente seja um resultado ruim. Avaliar, então é uma atividade de
atribuir valor, tanto o valor material, simbólico ou de mérito (Boullosa et al, 2009).
Indica-nos com este conceito Boullosa que esta avaliação precisa criar o que chamou
de “reconstrução analítica”, entendida aqui como a possibilidade de verificar seus conceitos,
técnicas e práticas institucionais, discutindo os resultados através dos interessados criado,
sobremodo um espaço institucional de analise de suas práticas e assim, adequação,
implementação ou mudança em suas ações.
Mas a avaliação por si só não pode determinar estas mudanças, ela precisa fazer parte
de um programa que a inclua (óbvio), mas que não foque nesta todas as possibilidades de
resolução dos dados encontrados. Aliada a avaliação uma importante ferramenta é o
monitoramento. Enquanto a avaliação tem maior propensão à análise crítica, o monitoramento
traz a possibilidade do registro da informação, sendo estas das atividades complementares,
que precisam estar em paralelo na busca pela garantia de execução correta de processos
(BOULLOSA et al, 2009).
Ao se pensar em criar uma Tecnologia de Gestão Social que possa corrigir práticas
comportamentais, torna-se indispensável que exista um processo permanente de avaliação –
uma vez que se lida aqui com posturas e significantes pessoais (ainda que moldados pelo
ambiente), introjetados nos comportamentos humanos e que, por vezes, passam sem a
consciência de sua execução; e do monitoramento para que as ações que possam se distanciar
do que o processo avaliatório identificou e a atividade sugerida nesse, e propiciou possa ser
acompanhada e verificada permanentemente.
44
Ainda que citada por último neste procedimento tecnológico, iniciemos a análise pelas
entrevistas realizadas, uma vez que este caminho foi o adotado pela pesquisadora para
solidificar os dados. A entrevista utilizou um roteiro e teve caráter semi-estruturado. Foi
realizada com os policiais militares que construíram o mapa cognitivo.
Uma das características do curso formação e até mesmo na vida profissional dos
policiais militares é a sua identificação numérica. Cada Aluno do curso de formação de
Oficiais ou Praças, assim que ingressa na corporação e tem sua matrícula indicada recebe um
número de acordo com sua classificação no concurso; aos policiais militares formados, a
indicação destes se dar pelo seu número de cadastro no Estado. Ao indicar a participação dos
entrevistados, optou-se em fazê-lo também por este critério, numerando os Alunos e Soldados
entrevistados, tal qual sua identificação em sala de aula dos cursos de formação policial
militar: AL SD PM (Aluno a soldado PM) e o número correlato, aqui um número fictício.
2 Cyclone é uma marca de roupa esportiva largamente utilizada nos bairros periféricos e do subúrbio de
Salvador.
45
pessoas entrevistadas que não tiveram como resposta a cor como elemento de identificação do
suspeito, pontuam também na caracterização do suspeito, alguns pontos relativos à aparência
físicas como “cabelo tingido de loiro, “desenhados” com navalha” (Al SD PM 271).
“Elemento com atitude suspeita, em sua maioria parda ou negra, com vestimentas
geralmente usadas por pessoas de baixa renda e escolaridade. Grandes correntes no
pescoço, sandálias ou são usados por pessoas que fazem apologia ao crime” (GRIFO
MEU) (Al SD PM 04).
Ou
“Boné pála reta, camiseta largada, calça ciclone, mas quanto a cor da pele, acredito
que necessariamente não seja negro” (Al SD PM 03).
Ou
Ou
“Geralmente pessoa que tem interesse em praticar um ilícito usa roupas típicas de
marginal (short, chinelo, camiseta larga, boné)” (Al SD PM 06).
Ou ainda
“A suposição é feita de acordo com as roupas, modo de falar, e a cor da pele (existe
preconceito enraizado na população), já que a maioria dos bandidos enquadra-se em
um tipo característico os quais foram elencados (cor da pele, roupa, bairro em que
residem)” (Al Of PM 53).
Obter estes relatos e analisar os dados nos remete a elucubrar que, muito embora
encobertas em nossa história social latente e necessária há discussões como esta, o racismo
cientifico anteriormente defendido, hoje o racismo se reveste em um racismo com base em
estatísticas.
46
O que aqui indica como “pesquisas” e “vivência” é o que outros sujeitos desta
pesquisa apresentaram em seus discursos como estatística policial militar, ou, em outras
palavras:
Repete-se, destarte, sob outra roupagem e com adornos novos, a velha e carcomida
concepção das classes dominantes na sua leitura sobre o Brasil como país
racialmente homogeneizado (SENA, 2010, p. 68).
Este autor ainda completa afirmando que “infelizmente”, essa insistente negação da
realidade, ardorosamente defendida por discursos idênticos aos acima citados, serve como
importante reforço para perpetuação, no presente, das mesmas formas de discriminação e
segregação, que atendam mais convenientemente à manutenção, na sociedade brasileira
contemporânea, dos exagerados privilégios de poucos, em detrimento da imensa exclusão
social de muitos. (SENA, 2010, p. 68).
E é exatamente sobre o pensamento expresso por esta maioria dos pesquisados que se
volta e debruça a análise: quando os pesquisados relatam como verdadeira a influência das
aulas na imputação da caracterização tipológica do suspeito os entrevistados indicam que as
características que fundamentam esta suspeição vieram dos “conhecimentos teóricos
aprendidos em sala de aula” (Al SD PM 18) ou com a “prática relacionada com a teoria” (SD
PM 11), e ainda “através da explicação de alguns instrutores, porém bem pouco em sala de
aula, e mais ouvindo os colegas que já tinham experiência anterior de praça da PM” (SD PM
06).
Aqui uma reflexão em especial: a “experiência PM’ por vezes irá trazer significantes e
significados que podem levar a concepções e representações sociais já entranhadas no seio da
tropa. Aqui, a teoria se confunde com a prática à medida em que esta aparece diretamente
influenciada por aquela.
Ainda que não haja uma informação mais abrangente de como se dá este nivelamento,
é possível, e como anteriormente escrito, é provável, que estes instrutores veiculem através de
suas falas suas próprias impressões (currículo oculto), e, na ausência de norma escrita que
balize esta comunicação coadunada com a observância aos direitos humanos, parece-nos
evidente a possibilidade de que tais instruções estejam sendo mediadas em dissonância de tal
ditame.
Mesmo que o discurso eficiente para a disseminação do racismo tenha impelido quase
metade dos profissionais formados a indicarem atitude de indiferença em relação à cor da
pele, como critério ou fator prioritário de tipificação do potencial suspeito numa abordagem,
fica claro a partir destes dados, que a cor de pele branca não se constitui em fator que receba
48
Ainda que a resposta com o indicador de “indiferente” queria demonstrar que não há
esta priorização, o que parece acontecer é uma negação do racismo institucional, onde,
corroborando com Sena (2010) indica que esta resposta vem tentar negar o fato deste racismo
com uma reprodução de linguajar de discurso correto, sofrendo influências ideológicas e
praxeológicas do racismo.
Reconhece-se aqui também o conceito do “currículo oculto”: “... não se aprende a ser
preconceituoso nas aulas e sim com os colegas e oficiais (currículo oculto)” (Al SD PM 18).
3 Nas Corporações militares figura como referência hierárquica, além dos postos e graduações diferentes entre
si, a relação do ano/curo/turma de formação no mesmo posto ou graduação: um soldado formado em turma
anterior a um outro, é mais antigo que este, logo possui prerrogativas que priorizam escolhas e acessos no
exercício da profissão.
49
Ainda que seja possível suspeitar da presença de uma preocupação na fala dos
pesquisados em torno de respostas voltadas para representar uma ausência de preconceitos no
âmbito da cultura da corporação militar, em parte significativa da amostra, quando
questionados sobre sua avaliação acerca da postura profissional do policial militar frente a
questões raciais, a maioria absoluta das pessoas entrevistadas dizem ser esta “muito
preconceituosa” ou que “precisam melhorar”, ou seja, para os entrevistados a imagem
corporativa, frente à temática da discriminação racial ainda é um tabu que precisa ser
analisado, discutido e reconhecido como problema institucional, logo, algo que precisa de
atenção e cuidados, sendo visto e tratado como tal, que “precisa melhorar”.
“acredito que a situação melhorou, mas ainda há muito racismo, pouco no âmbito do
CFAP em relação aos colegas, mas muito em relação aos suspeitos” (Al SD PM 18).
Ressaltam ainda que esta isenção seja importante, defendendo o uso de linguagem
acadêmica e técnica baseada em doutrina, como fundamental à formação policial militar,
“pois só através de uma linguagem técnica e postura séria é que se pode desconstruir
preconceito” (Al SD PM 21).
desenho que respondesse a questão “o suspeito na atividade policial militar”, sem que
déssemos quaisquer informações adicionais, para policiais militares em formação. A partir
deste ponto, foi solicitado que registrassem em única palavra (aceitando-se expressões) os
conceitos sobre o seu desenho (o que viam ali desenhados ou o que justificou aquele
desenho). A análise da frequência destes conceitos serve de base para avaliar elementos à
centralidade cognitiva, uma vez que esta operação aproxima da análise qualitativa conceitos
verbais.
Um ponto interessante são os pouco menos de 15% dos pesquisados que indicaram
como expressão/palavra que resumia seu mapa o sentimento de “fazer valer a justiça”. Fazer
justiça aqui será trazer como base a sua suspeição, características físicas e sociais do grupo;
ser justo é entender que o homem/mulher inserido neste critério precisa ser entendido como
ameaça, ou alguém que está à margem da justiça. O que se associa àqueles que indicam que
estes perfis trazem “Insegurança” à sociedade e, como tal, precisam ser abordados.
Com esta análise dos dados, foi possível verificar como se dá a percepção do policial
militar formado e em formação da construção da discriminação racial, em especial quando
retratam que a própria corporação precisa realizar mudanças em seus processos nesta temática
e reafirmam que as aulas os influenciam a estabelecer parâmetros de atuação preconceituosos.
Sinaliza também que não existem processos de controle destas práticas dentro da PMBA, nem
a cultura de que este monitoramento é algo útil à evolução da sua atividade, o que nos leva a
verificar que, um passo importante à mudança desta realidade é existir na estrutura da
organização policial militar do estado da Bahia, um instrumento que possa avaliar, monitorar
e se posicionar como um observatório dos processos internos e externos concernentes a
atividade policial militar.
Desse modo, torna-se oportuno para melhor qualificação dos profissionais e redesenho
de suas intervenções que haja um feedback de suas ações principalmente no que tange ao
racismo institucional a proposta de uma tecnologia social para monitorar, avaliar e propor
novos processos internos, pautados por valores fundados nos direitos e na dignidade do ser
humano.
Portanto, alcançamos o indicado no objetivo especifico de realizar o levantamento
da percepção dos alunos a soldado sobre como se dá a construção de conceitos com fulcro
preconceituosos ou discriminatórios, através das representações e máscaras sociais e o
54
exercício de um currículo oculto e práticas dos PM mais antigos que são copiadas pelos mais
modernos.
55
A proposta desta TGS vem neste caminho. Verificou-se a existência de uma cultura
policial militar que normaliza e chancela a discriminação racial em suas práticas, desde seus
cursos de formação à própria prática profissional. Há, nos relatos e conceitos elaborados
através dos mapas cognitivos, o indicativo também de existir grupos que ainda resistem a
estes significantes. Que optam (se esta palavra pode ser escrita nesse contexto) em, ainda que
duvidando de sua pratica, não entender a discriminação racial como regra à atividade policial
militar.
Neste processo verifica-se também que a Instituição não fortaleceu ou atualizou suas
práticas na perspectiva de acompanhamento e avaliação dos seus resultados subjetivos,
56
Como TGS que atuasse nesta subjetividade qualitativa, trazendo dados a linguagem
quantitativa comumente aceitas nas estatísticas e práticas policias militares, optou-se em
desenvolver a AMO Direitos Humanos – Avaliação Monitoramento e Observação em Direitos
Humanos na estrutura da Polícia Militar da Bahia.
A AMO tem como missão, para além de atuar como observatório (uma vez que este
lugar se apresenta como espaço de paciente, sem intervenção), no monitoramento e avaliação
das ações policiais militares referentes aos direitos humanos, abrindo campo de diálogo
social, além de proposituras diversas de ações neste caminho.
Estas ações foram possíveis através de uma provocação desta pesquisa junto ao
Comando Geral, após ciência do contato da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do
Governo do Estado a Bahia, que trouxe a PMBA a proposta de criar ações que auxiliassem o
combate no racismo institucional. A época, já aluna do Mestrado, foi possível dialogar com o
Comando Geral da Instituição, levando a proposta da pesquisa e do fomento a criação da
AMO Direitos Humanos. As ações percussoras contaram também com a participação do
Senhor Major PMBA Paulo Peixoto, participação técnica imprescindível à pesquisa.
Nº UNIDADES DATA
1. RONDESP 14/07/2015
2. CPRC-CENTRAL 21/07/2015
3. CPRC-BAHIA DE TODOS OS SANTOS 04/08/2015
4. CPE 20/08/2015
5. CPRC-ATLANTICO 28/08/2015
6. RMS 11/08/2015
Fonte: BAHIA (2015)
4 Notas de Serviço são documentos publicados internamente que organizam ações policias militares diversas.
58
(5) Foram realizadas rodas de conversa, com base em uma provocação feita pelo
facilitador da atividade;
(6) Sistematizou-se em uma ata o conteúdo do diálogo realizado.
O público alvo deve ser formado por um grupo de 216 (duzentos e dezesseis) policiais
militares das Unidades Operacionais Convencionais e Especializadas, conforme Tabela
Sintética, abaixo, e um Quadro Analítico ( vide apêndice).
RESUMO
COMANDOS DE POLICIAMENTO Nº POLICIAIS MILITARES
CPRC/ATLÂNTICO 44
CPRC/CENTRAL 28
CPRC/BAÍA DE TODOS OS SANTOS 40
CPRC/REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR 44
CP ESPECIALIZADO 48
COMPANHIAS DE POLICIAMENTO TÁTICO 16
TOTAL 220
Fonte: BAHIA (2015)
Tabela 3 – Resumo dos encontros com os policiais militares por Comandos de Policiamento
O público alvo deverá ser formado pelos Instrutores da Disciplina Educação para
Relações Raciais e de Gênero, e o evento atue como condição ao exercício da função de
instrutor da disciplina, inclusive como oferta de material didático atualizado e com o resumo
do discutido nos encontros acima.
Este ato, além de inserir a Coordenação, como dito, possibilita sua articulação com
outras instituições, ato este imprescindível a dinâmica da gestão em direitos humanos.
61
6 RESIDÊNCIA SOCIAL
Em meio às vicissitudes a que fui submetida, esta pesquisa se tornou um oásis. Seguir
no Programa, ainda que o tempo não me fosse tão presente e este mesmo tempo me fosse
etéreo, serviu como bálsamo. A certeza de que concluí-lo era um missão que celebraria a
trajetória que tracei desde o diagnostico ao exitoso tratamento, me fez ter como meta a
diplomação. “Tenho que terminar!” se tornou um mantra, um alento, uma súplica para
continuar.
No CIAGS, a autorização para que a Residência Social fosse realizada no país, uma
vez que, ainda que houvesse esta possibilidade, a prioridade é que esta colha experiências de
outros países. Autorização efetuada, partimos para a última etapa de planejamento: a
instituição acolhedora.
62
Com um pouco mais de 10 anos de existência, o PRB possui hoje, de acordo com o
TSE (eleições 2014 e 2016), 1787 filiados eleitos e atuantes em cargos políticos, e possui
quatro eixos referentes a movimentos sociais: PRB Mulher, PRB Juventude; PRB Idoso e
PRB Igualdade Racial. Estes eixos são responsáveis pelo debate no Partido nacional, estadual
e municipalmente sobre a temática chave de sua atuação.
pública ou privado. Deve fornecer possibilidades que estimulem a inclusão, alinhado aos
ideais republicanos defendidos pelo partido (site do PRB). Atualmente é coordenado pela
Deputada Federal Eronildes Vasconcelos de Carvalho, Tia Eron.
Como indica Bullosa e Barreto (2010), a Residência Social é uma tecnologia de ensino
que deve visar ao aluno do Programa em Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade
Federal da Bahia uma experimentação prática das teorias que norteiam a sua pesquisa. A
proposta é de propiciar um espaço prático-reflexivo de aprendizagem derivada da imersão em
organização que traga em seu labor contextos inter-relacionados, mas não necessariamente
diretos, a seus contextos habituais e/ou da pesquisa.
Ainda segundo Boullosa e Barreto (2010), muito embora a Residência Social tenha
inspiração na medicina, foi com a Administração e das Ciências Sociais que esta ganha forma,
corpo e envergadura, em especial na perspectiva da pesquisa-ação e etnografia que propiciam
ao aluno (a) atuar como um observador (a) participante que “age e ao mesmo tempo reflete
sobre a intervenção em curso” (BOULLOSA e BARRETO, 2010, pg. 186).
Este “Diário de bordo” tem como finalidade atender a uma exigência do programa de
Mestrado em Desenvolvimento e Gestão Social, pelo Centro Interdisciplinar de
Desenvolvimento e Gestão Social - CIAGS da Universidade Federal da Bahia – UFBA, na
disciplina-experiência Residência Social.
Um dos problemas apresentados neste processo foi o de dividir projetos com a atenção
e cuidados com a família. Entendo a família como eixo central e também por ela a tendência
em seguir com meus projetos, nesta confusão entendi que o tempo em que estive fora de casa
durante a Residência, precisava estar alinhado a eles, em especial a meu filho – João Paulo.
Logo, a opção em escrever o relato como se com ele falasse, como se a ele relatasse
cada passo que foi dado nesta caminhada. O meu “Diário de bordo” é aqui denominado de
“Cartas a João”, como e-mails trocados durante todo o processo.
atividade para que você também vá me acompanhando nestes passos por terras “candangas”. Nos vemos em
breve. De tua mãe que sempre te ama. Denice.
_______________________________________________________________________________________
Brasília, 20 de março de 2017.
Oi João!
Oi Juca!
Semana produtiva: criei uma minuta de regulamento para o PRB Igualdade Racial que foi muito bem-aceito
pelos participantes e pela Coordenadora. Neste eu defino a missão, visão e valores do eixo, mas também indico
as áreas de atuação do Eixo como educação, acompanhamento de legislaturas, candidaturas, avaliação e
monitoramento de ações internas e externas, e a criação de um observatório do eixo para atividades relacionadas
a discriminação racial no país. Também construímos uma “cartilha” (ou esboço desta) que dialoga com os temas
Identidade, Racismo, Discriminação Racial e Respeito para informar e sensibilizar sobre o tema. Nada complexo
na perspectiva acadêmica uma vez que se destina a um publico geral, para informar e servir como ponto de inicio
de debate. A fonte foi o meu próprio texto da Dissertação, extraindo estes pontos que entendo como cruciais a
percepção do processo de igualdade racial para que sejam divulgados e trazidos a debate um entrelaçamento
destes conceitos ao se analisar esta proposta de igualdade racial.
Eu gostei. Foi levado a submissão da Coordenação de Movimentos Sociais do Partido. Ainda que decida, pela
não implantação, ao menos já dialogamos em um caminho. O Daniel Farias, responsável pelo meu
acompanhamento me auxiliou nesta construção. Te envio em anexo o projeto e o esboço da cartilha.
Esta análise escrita, reescrita, me levou todos os 04 (quatro) dias posteriores, mas gostei muito do resultado. É
importante ferramenta de inicio de qualquer atuação em uma Coordenação a criação do seu regimento, seu
marco legal. Ainda que o Estatuto do PRB traga em seu artigo 12 a criação dos Movimentos Setoriais Sociais
(incluindo aqui o PRB Igualdade Racial), e no artigo 49-A que “os movimentos sociais e/ou setoriais do PRB
serão criados por resolução da Comissão Executiva Nacional ou por seu Presidente, a quem caberá à indicação
dos respectivos coordenadores e membros e, com a definição do campo de atuação e de duração”, mas não há
um indicativo escrito e chancelado sobre como estes eixos atuam, ou como eles podem contribuir com o Partido
e a sociedade.
A portaria que define estes pontos ganha utilidade exatamente por direcionar o eixo a uma atividade mais focada,
e com parâmetros possíveis à avaliação.
Faria (2005) indica três funções básicas atribuídas a avaliação: informação, realocação e legitimação, que se
alternaram durante o período de 1960 aos dias atuais. A avaliação tinha função informativa quando apenas
indicava por números os resultados daquela ação, sem que com isto fossem provocadas ou devidas mudanças
substanciais à estrutura do programa. A realocação já traz uma análise dos dados avaliativos com um
redirecionamento de suas atividades, com mudança na gestão dos programas, adequando recursos aos que
melhor atendiam aos objetivos. A legitimação já aparece como função mais elaborada: além de levantar dados
decorrentes dos resultados, analisar a necessidade de administração de recursos, esta avaliação legitimava a
política e assegurava (ou não) a sua continuidade.
E esta continuidade é fundamental no eixo e ao que se propõe.
Falei muito? Aproveita e estuda para o ENEM!
Beijo filhote!
67
Já disse que te amo? Pois amo muito você e estou com muita saudade… tá acabando…
De tudo que vi aqui uma lição: às vezes nossos preconceitos nos levam a posturas repressivas e não devemos
(podemos) ser assim. Acredite filho, nestas duas semanas fui acolhida, ouvida, e recebi colaborações
indispensáveis a meu projeto sem qualquer sensação ou retaliação religiosa… Sabe, meu filho. Ficamos às vezes
com uma lição de onde pensávamos dar: a intolerância é algo que sentimos, estamos predispostos, mas,
infelizmente, também é algo que perpetramos em nossas ações e omissões. Vigiemos.
6.4 CONCLUSÃO
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quem sabe faz a hora não espera acontecer!
(Geraldo Vandré)
Monitorar como indica Aurélio Buarque de Holanda (1986, p 278), vem a ser
“acompanhar para a consideração”, o que entendemos como um processo contínuo e nunca
pontual.
Nota-se que este também não é um método rápido, ele irá depender de mudanças
estruturais vivenciadas pelas pessoas que integram o processo educativo e pela própria
Instituição, e, também, de um monitoramento constante (FERREIRA et al, 2000), entretanto,
ao consolidado como política de gestão (institucionalização), considerando a estrutura
hierárquica da Polícia Militar da Bahia, esta ação entra na pauta de assuntos diários, e, pode
indicar uma mudança comportamental.
Ainda que a TGS proposta aqui tenha uma importância fundamental na construção de
uma solução comunitária para a comunidade civil e policial militar, no tocante a revisão de
suas práticas, ela se apresenta ainda não resoluta e conclusa pois, pela ótica dos Direitos
Humanos, precisa dialogar com outros grupos em vulnerabilidade social e cultural como
mulheres, crianças e adolescentes, população indígena, quilombolas, pessoas em
69
assentamentos e reforma agrária, entre outros. Grupos que dependem em muito do olhar se
pré-conceitos ou julgamentos por parte da força policial militar. Esta pesquisa não conseguiu
alcançar todos estes pontos uma vez que se predispôs a analisar o fenômeno da discriminação
racial de uma forma isolada, mas sem que esta pesquisadora não entenda e compactue com as
demais causas aqui elencadas.
REFERÊNCIAS
BUSSAB, V.S.R; RIBEIRO, F.L. Biologicamente natural. São Paulo, 2004. Disponível em:
< www.ip.usp.br/portal/images/stories/Articles/2004_Bussab_Ribeiro_Otta_biologic
amente_cultural.pdf>. Acesso em 25 mai. 2016.
CABRAL, Gersival Marcelo. AMENO, Alineton Adson Aleluia. BARBOSA, Antonio Basílio
Honorato – Cap PMBA. Uma análise da suspeição policial: Um dilema na Academia de
Polícia Militar. Monografia.Salvador: PMBA/UNEB, 2006.
71
DAVIDOFF, Linda L.. Introdução à psicologia. 3. ed. -. São Paulo: Makron Books, 2001
FARIA, Carlos Aurélio Pimenta de. A política da avaliação de políticas públicas. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 20, n. 59, p. 97-109, out. 2005.
LAZZARINI, Álvaro. Poder de Polícia e Direitos Humanos. Revista A Força Policial, nº 30.
São Paulo, 2001.
LE PAGE, Robert (1989): “What is a language?” Em: York Papers in Linguistics, n 13, pág.
9-24.
LIMA, M. A. Relações de poder entre os estabelecidos e ou outsiders. Holos, Ano 31, Vol.
6. 2015. Disponivel em: <
http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/2626/1248>. Acesso em: 20
dez. 2016.
ORNELLAS, Maria de Lourdes Soares. Afetos manifestos na sala de aula. São Paulo:
Annablume, 2006. v. 01. 245p
SALES JR, Ronaldo. Racismo Institucional. Trabalho preliminar apresentado ao Projeto Mais
Direitos e Mais Poder para as Mulheres Brasileiras, FIG, 2011.
SANTOS, Milton. O papel ativo da geografia um manifesto. In: Revista Território, Rio de
Janeiro, ano V, n" 9, pp. 103-109, jul./dcz., 2000. Disponível em: <
http://www.revistaterritorio.com.br/pdf/09_7_santos.pdf.>. Acesso em: 01 abr 2017.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial
no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das. Letras, 1993,
SENA, Almiro. A cor da pele: na sociedade racista brasileira o normal é ser branco. Curitiba:
Instituto. Memória, 2010. Pág. 67-152.
STRAUSS, Anselm L. Espelhos e máscaras: a busca de identidade. São Paulo: Edusp, 1999
Wieviorka, Michel. Ferramentas para a análise. IN: O racismo, uma introdução. São Paulo:
Perspectiva, 2007.
APÊNDICES
75
R E S O L V E:
Parágrafo único: tem coo missão atuar nas nos processos de formação e na prática
profissional, com autonomia de intervenção junto às Unidades Operacionais e de Ensino para
a eliminação de quaisquer ações que violem os direitos humanos.
Art. 4º A AMO DH poderá atuar através de projetos internos e externos, com dialogo
permanente junto a sociedade civil (organizada ou não), com proposituras de mecanismos
analógicos e digitais nesta interlocução;
I - pelo(a) Coordenador(a) ;
IV – Equipe convidada
Informo que o presente Relatório tem como meta informar as circunstâncias que
envolveram, até aqui, as atividades do Grupo de Trabalho de Prevenção à discriminação racial
e de gênero e a intolerância religiosa nas ações da Polícia Militar da Bahia (PMBA).
Nº UNIDADES DATA
1. RONDESP 14/07/2015
2. CPRC-CENTRAL 21/07/2015
3. CPRC-BAHIA DE TODOS OS SANTOS 04/08/2015
4. CPE 20/08/2015
5. CPRC-ATLANTICO 28/08/2015
6. RMS 11/08/2015
DATA – 14/07/2015
PÚBLICO – Staff das Companhias Independentes de Policiamento Tático
RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:
DATA – 21/07/2015
79
DATA – 05/08/2015
PÚBLICO – Staff das Companhias do CPRC-BTS
RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:
DATA – 11/08/2016
PÚBLICO – Staff das Companhias do CPRC-RMS
RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:
1. Existem problemas sérios na falta de condições estruturais que o Estado oferece, sendo
necessário para uma mudança neste paradigma de violência investimentos em saneamento
básico e educação para as populações mais humildes;
2. Que existe um Estado de Caos Social, o que implica a necessidade de mobilização de
outras instâncias da sociedade civil e do Estado para dialogar e construir propostas que
propiciem uma melhoria das condições sociais;
3. Impera a necessidade de resgate do papel da família, dentro dos princípios que
norteiam a importância da educação;
4. Há a necessidade de fomentar o dialogo e contribuir na desconstrução da cultura e no
senso comum estabelecidos que a polícia é racista;
5. É necessária desconstrução da visão estereotipada das pessoas que vivem nas favelas e
a questão da alteridade e da mudança de cultura dentro da própria policia.
DATA – 25/08/2015
PÚBLICO – Staff das Companhias do CPE
RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:
1. Afirmou que há a necessidade de fazer com que estes e outros programas que já
existiram e que ajudem nesta assimilação das novas formas de combate ao racismo,
sugere-se a implementação de ações com grupos diversos em momentos diversos e de
forma continuada;
81
2. Que tratar a questão como racismo e não como discriminação, visto que somos todos
mestiços, não ajuda a combater a essência do fenômeno;
3. Que há a necessidade de se investir em políticas de educação e reparação das
desigualdades sociais;
4. Pontuou que é preciso colocar de lado este contexto de vitimização do negro que
sofrem varias formas de discriminação e realizar mais iniciativas como esta para
ajudar no processo reparatório. Assim verifica-se como imprescindível direcionar os
esforços de todos para estruturar um currículo de formação dos policiais tendo a
colaboração da sociedade civil de maneira colaborativa e interventiva dentro das
questões que envolvem relações raciais.
DATA – 01/10/2015
PÚBLICO – Staff das Companhias do CPRC-ATL
RESUMO DA DISCUSSÃO – Emergiu do diálogo com esses Oficiais o seguinte:
1. Ponderou-se que o racismo muitas vezes trata-se de um processo que está incutido na
mente muitas vezes das próprias pessoas que se dizem vitimas destas situações e não
das que supostamente o praticam;
2. Considerou-se a necessidade de uma mudança de olhar visto que a policia trabalha
com as consequências de um produto que é a violência e que perpassa por um
processo educacional ao qual estão relacionados à formação dos policiais e do seu
embrutecimento, frente a situações que a sociedade vem apresentando. É necessário
um trabalho de sensibilização e de mudança de comportamento através das ações de
cidadãos e policiais;
3. Pontuou-se que existem contextos a serem analisados a partir do presente que
envolvem a estruturação do poder e que norteia a ética e a moral conveniente a partir
de quem esta na condição e posição de decisão e no que tange ao que virá, como se
pensar o processo de inserção sócio-politico das pessoas a partir destas disparidades
evidenciadas e que são fomentadas e que para além do caráter institucional tem uma
dimensão ainda mais complexa que envolve o campo do simbólico, sendo
82
O senso comum de que toda sociedade brasileira vive um paraíso racial está presente
na concepção de quase todos os participantes. A ideia de que as diferenças raciais não
83
implicariam mudanças nas relações entre as pessoas e entre estas e as instituições, remonta a
década de trinta do século passado. Tendo como figuração central desta tese o eminente
sociólogo, antropólogo e historiador Gilberto Freyre. Tal compreensão foi combatida um
grupo de acadêmicos como Clóvis Moura, José Correia Leite Thales de Azevedo, Oracy
Nogueira e, principalmente, Florestan Fernandes Filho. Este último ensinava que:
Desta forma, quase todos os participantes não acreditam que a PMBA tenha práticas
racistas nas suas ações e argumentam que o fato de termos uma maioria negra inviabilizaria
práticas discriminatórias contra negros. Além do que o corporativismo, próprio dos policiais
militares, não permite que estes admitam que a instituição cometa este tipo de prática
deletéria. Entretanto foram levantadas questões de muita relevância.
Falou-se muito sobre a educação, pois laborando nas periferias de Salvador e Região
Metropolitana, estes apresentaram diversas situações em que a falta de estruturas de ensino
empurram jovens negros para o caminho da droga e do tráfico. Assim como a ausência do
Estado, para propiciar postos de saúde e oportunidades de emprego e renda. Estes abordaram,
com especial riqueza de detalhes, como este hiato estatal produz um campo fértil para o
aumento da criminalidade. Por fim, muitos falaram da necessidade de se resgatar o papel da
família como elemento agregador e orientador dos jovens negros da periferia.
Ademais, foi defendida com muita força a figura do policial militar. A maioria afirmou
que existe a necessidade de resgatar a importância do policial militar como defensor da
sociedade. Contrapondo-se as atitudes dos ativistas dos direitos humanos que não se
manifestam a favor da morte de pessoas que infligem as leis e se calam quando do óbito de
agentes da segurança pública.
84
A partir do que foi visto durante estas atividades, apresentamos a seguir um conjunto
de propostas que devem ser empreendidas nos próximos anos.
Art. 2º. Cabe Eixo de Igualdade Racial do Partido Republicano Brasileiro – PRB
Igualdade Racial:
Art. 3º. O PRB Igualdade Racial será constituído pelos seguintes órgãos:
II – Coordenadoria;
II –Secretaria;
VI – Assessoria técnica.
Art. 4º. O PRB Igualdade Racial será integrado por filiados (as) que contém com ao
menos 5 (cinco) anos de filiação.
Art. 5º. Os integrantes e colaboradores do PRB Igualdade Racial serão designados por
ato do (a) Coordenador (a) para um período de 2 (dois) anos, permitida uma recondução por
igual prazo.
II – desempenhar com zelo e presteza, dentro dos prazos, os serviços a seu cargo;
§.
IV - zelar pelos registros das reuniões realizadas, bem como dos procedimentos
adotados no âmbito da atribuição PRB Igualdade Racial;
Art. 10. O(a) coordenador(a) do PRB Igualdade Racial poderá ser auxiliado(a) por um
coordenador(a)-auxiliar, que será por ele indicado dentre os demais integrantes do Eixo para
mandato de 2 (dois) anos, permitida uma recondução.
SEÇÃO IV – DO PLENÁRIO
§1º - O Plenário será presidido pelo coordenador do Núcleo, e na ausência deste, pelo
coordenador (a)-auxiliar.
§1º - As reuniões ordinárias ocorrerão pelo menos mensalmente e serão instaladas com
maioria simples de seus membros;
SEÇÃO V – DA SECRETARIA
Art. 14. O Eixo contará com uma secretaria, que terá 1 (um) secretário e pelo menos 1
(um) auxiliar e tem as seguintes atribuições:
Art. 15. O Núcleo terá Comissões Temáticas para os diversos assuntos de sua
atribuição.
91
Art. 17. As Comissões Temáticas serão compostas no mínimo por 2 (dois) membros
do Eixo, podendo ser integrantes ou colaboradores, devendo um deles ser designado relator.
Art. 19. O Núcleo poderá contar com apoio dos profissionais especializados nas áreas
afins que integrem os centros de atendimento multidisciplinar.
I – completar o mandato;
IV-– for designado para exercício da tarefa incompatível com as atribuições do Eixo.
Art. 22. O PRB Igualdade Racial, atuará com as câmaras temáticas fixas de
capacitação e de monitoramento e avaliação das ações de combate ao racismo, subsidiando os
92
mandatos dos filiados do partido, bem como a atuação do partido na construção de políticas
publicas.
Art. 23. – Para as atividades de capacitação, serão propostas ações que levem a
atualização dos saberes dos filiados do PRB sobre a matéria e demais assuntos correlatos;
Art. 25. Poderão ser criados novas Câmaras Temáticas de acordo com as demandas
que se apresentem na consecução do Eixo
Art. 26. Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Superior da Defensoria
Pública do Estado de São Paulo.
Esta pesquisa faz parte do Programa de Mestrado Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social da
Escola de Administração da Universidade Federal da e tem como proposta propor a introdução de
novos parâmetros e práticas que, com base em avaliação e monitoramento de ações, ocorrencias,
posturas e técnicas na Polícia Militar da Bahia, extingam ou ressiguinifiquem as prática da
discriminação racial na atividade operacional policial militar.
Solicito a colaboração de Vossa Senhoria no sentido do preenchimento deste questionário, sendo o
mais fiel possível à sua vivencia pessoal.
Desde já firmamos nossos agradecimentos por sua atenção e contribuição.
QUALIFICAÇÃO:___________________________________________
Idade:__________Sexo: _________
2. Em sua vida civil, em meio a suas relações sociais públicas e privadas, como você define e
tipifica um suspeito?
Justifique sua resposta.
94
3. Em sua carreira militar até aqui, da prática de rua (inclusive estágios) em conformidade
com as técnicas que aprendeu em sala de aula, como você define e tipifica um suspeito?
4. Como policial militar, de acordo com a técnica aprendida em sala e com a sua vivencia
social, qual a prioridade para parar um veículo?
Carro de luxo dirigido por branco
Carro de luxo dirigido por preto
Carro de luxo dirigido por pardo
Carro popular dirigido por branco
Carro popular dirigido por preto
Carro popular dirigido por pardo
Independe
Outra
6. Considerando a sua resposta nas questões anteriores, você credita que sua vivência no
processo de formação na PM exerceu influência sobre sua resposta? Explique por que e como.
7. Em uma situação de suspeição, numa abordagem policial, entre um homem de cor branca
e outro de cor preta, em sua opinião, quem a guarnição em exercício funcional abordaria
primeiro? Por quê?
95
8. Você vê alguma influência ( e qual?) da forma como lhe foram ou são transmitidas,
instruídas e ensinadas as técnicas policias sobre a sua opinião e orientação para a resposta
anterior?
9. Você já ouviu algum destes ditos populares em seu processo de formação militar e/ou na
atividade policial?
10. Como você avalia a postura profissional do policial militar frente a questões raciais e
de gênero?
11. Você acredita que os instrutores policiais militares no CFO tendem a fazer uso de
linguagem preconceituosa ou tendenciosa em relação a demandas raciais, de gênero,
homofóbicas ou outras ?
Sim
Não
Explique sua resposta
12. O instrutor policial militar responsável pela sua formação como oficial militar
demonstra linguagem técnica desassociada de preconceitos e/ou vivencias pessoais?
Obrigada!
96
2. Você acredita que esta descrição se modificou após as aulas que teve no curso de
formação?
4. Como você avalia a postura profissional do policial militar frente a questões raciais?
97
Você está sendo convidado (a) como voluntário(a) a participar da pesquisa: “Branco
correndo é atleta, preto correndo é ladrão: a construção do suspeito na atividade policial
militar”
A pesquisadora irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os resultados
serão enviados para você e permanecerão confidenciais. Seu nome ou o material que indique a
sua participação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado (a) em
nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Uma cópia deste consentimento
informado será arquivada no Curso de Especialização em Segurança pública, da Academia de
Polícia Militar e outra será fornecida a você.
Também sei que caso existam gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da
pesquisa. Em caso de dúvidas poderei chamar a Aluna DENICE SANTIAGO SANTOS DO
ROSARIO a professora orientadora Doutora Ana Cristina Muniz Décia, ou o Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia.
99
Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de
consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas
dúvidas.