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3 Introdução às Sapatas

João Crisóstomo dos Santos Neto

Introdução
Conforme tratamos no capítulo anterior, a sapata é considerada uma dos principais tipos de
fundação superficial. Em função das suas características, esse tipo de fundação tem um custo
relativamente baixo, rapidez em sua execução, além de não ser necessário a utilização de
equipamentos especiais.

Esse tipo de fundação é indicada para regiões de solos estáveis, que apresentam uma boa
resistência nas camadas superficiais. Quando comparada aos demais tipos de fundação
superficial, as sapatas se sobrepõe pela fato de suportar grandes capacidades de cargas da
estrutura.

Objetivos
Após a leitura dos conteúdos apresentados nesse capítulo, espero que você seja capaz de:

 Classificar as sapatas como rígidas ou flexíveis;


 Dimensionar uma sapata sob carga centrada;
 Dimensionar uma sapata sob carga excêntrica;
 Determinar a altura da sapata.

Esquema
3.1 Sapatas
3.1.1 Classificação das sapatas quanto a rididez
3.1.2 Dimensionamento da sapata sob carga centrada
3.1.3 Dimensionamento da sapata sob carga excêntrica
3.1.4 Dimensionamento em planta da sapata
3.1.5 Altura da sapata
3.2 Conclusão
3.1 Sapatas

Conforme tratamos no capítulo anterior, as sapatas podem ser identificadas como um


elemento de fundação superficial, de altura relativamente baixa quando comparada à
dimensão de sua base, executada em concreto armado, e que são caracterizadas por
trabalharem a flexão.

Observando todos os tipo de fundações existentes, podemos dizer que a sapata é as mais
comum de todas. Devido à grande possibilidade de variação da sua configuração e a forma
como a estrutura nela se apoia, existem alguns tipos de sapatas, já citadas no capítulo
anterior: sapata isolada, de divisa e associada.

3.1.1 Classificação das sapatas quanto à rigidez

De acordo com a NBR 6118 – Projeto de Estruturas de Concreto (2014), através da fórmula
abaixo, é possível classificar as sapatas tendo como base a sua rigidez. Quando se atende a
expressão a seguir, a sapata é classificada como rígida, e caso contrário, é classificada como
flexível:

(a-ap)
h≥ → Sapata Rígida
3

(a-ap)
h< → Sapata Flexível
3

h = altura da sapata;
ap = dimensão do pilar na mesma direção;
a = dimensão da sapata em uma determinada direção.

Figura 14: Dimensões da Sapata


Fonte: Autor (2017)
Em virtude de suas características as sapatas rígidas são mais utilizadas do que as sapatas
flexíveis. Isso de deve pelo fato das sapatas rígidas sofrerem menos deformações, por
estarem menos sujeitas à ruptura e por apresentarem maior segurança.

As sapatas flexíveis possuem altura relativamente baixa, e de acordo com a NBR 6118 (2014),
esse tipo de sapata são recomendadas para a fundação de estruturas de pequenas cargas
e em solos considerados de baixa resistência.

3.1.2 Dimensionamento da sapata sob carga centrada

As sapatas sob cargas centradas ocorrem quando a carga vertical proveniente do pilar se
estende pelo centro da gravidade da sapata. Nesse tipo de situação, as tensões do solo na
base da sapata é distribuída uniformemente e constante, e pode ser obtida através da razão
entre a carga centrada e a área da sapata.

Fk
σ=
A

Figura 15: Sapata sob carga centrada


Fonte: Autor (2017)

Onde:

Fk = carga vertical proveniente do pilar (Nk x α)


A = área da base da sapata.

3.1.3 Dimensionamento da sapata sob carga excêntrica

A carga vertical do pilar nem sempre será aplicada de forma centrada. Em alguns casos,
essas cargas poderão ser aplicada excentricamente em relação ao centro de gravidade da
sapata, ocasionando momentos nos elementos de fundações.
Figura 15: Sapata sob carga excêntrica
Fonte: Autor (2017)

Para determinar a excentricidade da força vertical em apenas uma direção, é necessário


proceder com os cálculos das tensões máxima e mínima na sapata, a partir das expressões
referente à flexão normal composta:

F M F M
σMÁX = + σMÍN = -
A W A W

Onde:

F = força vertical atuando na sapata;


A = área da base da sapata.
e = excentricidade da força vertical em relação ao centro de gravidade da sapata
M = momento exercido sobre a sapata (M = F · e)
W = módulo de resistência elástico

Para definirmos o módulo de resistência elástico da base da sapata (W), devemos utilizar a
seguinte expressão:

b x a²
W =
6

Onde:

a = maior dimensão da sapata


b = menor dimensão da sapata.

Para determinar a excentricidade de carga em duas direções, devemos considerar as


expressões referentes à flexão oblíqua composta, desde que a carga vertical esteja situada
no núcleo central, o que pode ser verificado atráves das fórmulas abaixo:
a b
ex ≤ e ey ≤
6 6

Figura 16: Sapata sob carga excêntrica


Fonte: Autor (2017)

Tendo a figura acima como exemplo, a tensão máxima estará localizada no ponto 4 e a tensão
mínima no ponto 1. Para calcular a tensão em cada um dos pontos, utilizamos as seguintes
expressões:

F Mx My
σ1= - -
A W x Wy

F Mx My
σ2= - +
A Wx W y

F Mx My
σ3= + -
A Wx Wy

F Mx My
σ4= + +
A Wx Wy
3.1.4 Dimensionamento em planta da sapata
Para a determinação das dimensões em planta de uma sapata, é necessário levar em
consideração alguns fatores importantes, como a tensão admissível do solo, bem como a
presença outras fundações.

Em sua grande maioria, as sapatas estão sujeitas a cargas excêntricas, em função da ação
do vento. Assim, ela deve ser dimensionada de modo que as tensões de compressão no solo
não seja superior que a tensão admissível.

Nos casa das sapatas isoladas, o seu centro de gravidade (CG) deve ser o mesmo do centro
de gravidade do pilar. Para o cálculo de sua área, deve ser considerado que a sapata esteja
sujeita à uma carga centrada, ou seja, sem momentos.

Nk x α
A =
σ ADM.SOLO

Onde:

Nk = força nominal do pilar;


α = coeficiente relacionado ao peso próprio da sapata.
σADM.SOLO = tensão admissível do solo.

Para as sapatas flexíveis, o coeficiente (α) deverá ser no valor de 1,05 e para
as sapatas rígidas, deve-se adotar o valor de 1,10 para esse mesmo
coeficiente.

Após a determinação da área da sapata, devemos definir as dimensões para cada um dos
lados do elementos. Para a definição desses valores, devemos observar os seguintes
critérios:

a) o centro de carga do pilar deve ser o mesmo do centro de gravidade da sapata;


b) em nenhuma hipótese, a sapata poderá ter dimensão de algum dos seus lados
inferior a 60 cm;
c) quando possível, a relação entre os dois lados da sapata deve ser menor ou igual
a 2,5;
d) quando possível, os valores dos dois lados devem ser estimados de forma que os
balanços da sapata (ap e bp), sejam iguais em ambas as direções.

Para que seja possível atender ao ítem d, as dimensões da sapata estarão condicionadas
diretamente à forma do pilar.
Para pilares de seção retangular, o mais recomendado é a utilização de uma sapata também
retangular. A definição das dimensões deve-se observar as expressões a seguir,
considerando os balanços da satapa:

a - b= ap – bp

Exemplificando

Dimensione uma sapata rígida para um pilar de dimensão 40 x 100 cm, e carga de 4200 kN.
Considere a tensão admissível do solo igual a 0,3 Mpa. Considere Mk = 330 kN⋅m

→ Determinação da área da sapata

Nk x α 4200 ⋅ 1,10
A = → A = → A = 15,4 m²
σ ADM.SOLO 300

→ Determinação das dimensões da sapata

a – b = ap – bp → a – b = 100 - 40 → a – b = 60 cm

a = b + 60 cm

A = a ⋅ b → A = (b + 60) ⋅ b → A = b² + 60b → 154000 cm² = b² + 60b

b² + 60b – 154000 = 0 → x’ = 365 cm (valor arredondado)


x” = 425 cm (valor arredondado)

→ Determinação do módulo de resistência à flexão (W)

b ⋅ a² 3,65 ⋅ 4,25²
W = → W= → W = 10,99 m³
6 6

→ Determinação da tensão máxima sobre a sapata

F M 1,10 ⋅ 4200 330


σMAX = + → σMAX = + → σMAX = 327,90 kN/m²
A W 15,51 10,99

OBS: Como a tensão máxima na sapata (327,90 kn/m²) é maior que a tensão admissível do
solo (300 kn/m²), deve-se redimensionar a sapata
Adota-se: a = 445 cm
b = 385 cm

→ Determinação do novo módulo de resistência à flexão (W)

b ⋅ a² 3,85 ⋅ 4,45²
W = → W= → W = 12,71 m³
6 6

→ Determinação da nova tensão máxima sobre a sapata

F M 1,10 ⋅4200 330


σMAX = + → σMAX = + → σMAX = 295,67 kN/m²
A W 17,13 12,71

→ Determinação dos balanços

a = ap + 2x → 4,45 = 1 + 2x → 2x = 3,45 → x = 1,725 m

b = bp + 2y → 3,85 = 0,40 + 2y → 2y = 3,45 → y = 1,725 m

OBS: Para a execução da sapata, recomenda-se que as duas dimensões sejam projetadas
em múltiplos de 5. Dessa forma, nesse caso, adota-se balanço igual a 1,75, passando as
dimensões da sapata para a = 4,50 e b = 3,90 m.

Figura 17: Sapara dimensionada


Fonte: Autor (2017)
3.1.5 Altura da sapata

Para a determinação da altura de uma determinada sapata, devemos considerar os seguintes


critérios:

a) Rigidez da sapata: normalmente, as sapata são dimensionadas de modo que ela seja
classificada com rígida. As sapatas flexívies são indicadas para situações em que a
resistência do solo é baixa.

a - ap
 Sapatas Flexíveis: h <
3

a - ap
 Sapatas Rígidas: h ≥
3

Onde:

a = dimensão da base da sapata;


ap = dimensão do pilar (na mesma direção analisada da sapata).

b) Comprimento de ancoragem necessário às barras longitudinais do pilar: para que as


forças nas armaduras sejam transferidas do pilar para a fundação, é necessário que a
sapata tenha uma altura que seja capaz de atender à ancoragem, incluindo um
cobrimento mínimo de proteção:

h = lb + c

Onde:

lb = comprimento de ancoragem;
c = cobrimento.

Na tabela a seguir, são apresentados os comprimentos de ancoragem, de acordo com a


classe do concreto, em função do diâmetro, encontrados a partir das expressões encontradas
na NBR 6118 (2014).
Tabela 01: Comprimento de ancoragem

CONCRETO SEM GANCHO COM GANCHO


C15 53Ø 37Ø
C20 44Ø 31Ø
C25 38Ø 26Ø
C30 33Ø 23Ø
C35 30Ø 21Ø
C40 28Ø 19Ø
C45 25Ø 18Ø
C50 24Ø 17Ø
Fonte: ABNT – NBR 6118 (2014)

Exemplificando

Determine a altura da sapata dimensionada no exemplo anterior, considerando:

- Classe do concreto: C25


- Aço das armaduras: CA-50
- Cobrimento das armaduras: 4,5 cm
- Diâmetro da barra de aço: 12,5 mm

- Rigidez da Sapata

Por tratar-se de sapata rígida, temos que:

a - ap 450 - 100
h > → h > → h > 116,67 cm
3 3

b - bp 390-40
h > → h > → h > 116,67 cm
3 3

- Comprimento de ancoragem

Tendo em vista a classe do concreto (C25), Aço CA-50, zona de boa aderência e barra sem
gancho, temos: 38Ø

h > lb + c → h > 38 ⋅ 1,25 + 4,5 → h > 52 cm

Deve-se considerar o maior valor encontrado para as alturas, arredondando-o para cima em
múltiplos de 5 cm. portanto:

h = 120 cm
1.4 Conclusão

Como você pôde observar durante a leitura deste capítulo, foram apresentados os critérios
que devem ser considerados no momento do dimensionamento das sapatas. Observando
todos os tipos de fundações existentes, podemos verificar que a sapata pode ser considerada
a mais comum de todas, devido à grande possibilidade de variação da sua configuração e à
forma como a estrutura nela se apoia.

No próximo capítulo, iremos dar continuidade ao processo de dimensionamento das sapatas,


observando os critérios para a determinação das armaduras a serem utilizadas, bem o como
o seu detalhamento.

Resumo
Neste terceiro capítulo, iniciamos o nosso estudo referente às Sapatas dando destaque:

 à classificação das sapatas quanto a sua rigidez;


 aos critérios para o dimensionamento de sapata sob carga centrada;
 aos critérios para o dimensionamento de sapara sob carga excêntrica;
 ao detalhamento em planta da sapata;
 ao dimensionamento da altura da sapata.

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122 – Projeto e Execução de
Fundações. Rio de Janeiro, 1996.

HACHICH, Waldemar et al. Fundações: Teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. 751 p.

MILITITSKY, Jarbas; CONSOLI, Nilo; SCHNAID, Fernando. Patologia das Fundações. 1.


ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.244 p.

REBELLO, Yopanan. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento.


São Paulo: Zigurate, 2008. 240 p.

VELLOSO, Dirceu; LOPES, Francisco. Fundações. 1. ed. São Paulo: Oficina de


Textos, 2010. 583 p.

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