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Aula 1

A Oração de São Miguel

São Miguel, príncipe da humildade

No final do século XIX, uma devoção já muito querida pelo povo católico tomou ainda mais impulso
graças à visão profética de um Papa: Leão XIII, de quem a Igreja no mundo inteiro aprendeu a famosa
oração a São Miguel Arcanjo, que durante anos foi rezada no final das Missas privadas.

Mas por que a Igreja Católica tem tanta devoção a este anjo? O que o torna objeto de um culto especial,
pelo qual pedimos a sua proteção contra a maldade e as ciladas do demônio? Nesta primeira aula do
curso A Oração de São Miguel Arcanjo, Padre Paulo Ricardo nos mostra quem realmente é São Miguel,
príncipe não apenas da milícia celeste, mas da maior de todas as virtudes: a humildade.

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O objeto deste curso é a devoção ao Arcanjo São Miguel, tomando como texto-base a conhecida oração
que em honra dele compôs o Papa Leão XIII no último quartel do séc. XIX:

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do
demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos; e vós, príncipe da milícia Celeste, pela virtude
divina, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para
perder as almas. Amém.

É de notar que, ao menos no Brasil, os católicos das décadas de 1970-80 pouco ou quase nada se
interessavam por este assunto. Havia, de modo mais ou menos generalizado, um clima de ceticismo
prático que envolvia a todos, com exceção talvez dos incipientes grupos carismáticos. Embora não se
deixasse de crer que, sim, existiam anjos e demônios, a muitos parecia que o assunto era demasiado
“medieval”, coisa de gente beata ou pouco esclarecida: os relatos de possessões e exorcismos —
pensava-se — podiam ser quase todos resolvidos à luz da psiquiatria, e as várias alusões bíblicas ao tema
deviam ser entendidas, não ao pé da letra, mas como símbolos da nossa rebeldia contra Deus.

Entretanto, no início da década de 1990, as coisas pareciam ter mudado de figura: de uma hora para
outra, o desinteresse geral transformou-se em mania, e o ceticismo de muitos virou uma quase
superstição. De repente, nada despertava mais interesse do que histórias extraordinárias sobre fatos
sobrenaturais, aparições de anjos, visão de demônios etc., e de uma descrença silenciosa passou-se a
uma credulidade algo “tosca”, para a qual tudo se há-de atribuir à intervenção do mundo angélico.

Entre um e outro extremo, onde se encontra a fé católica? Ora, baseada no testemunho claríssimo das
Escrituras, lidas à luz da Tradição, a Igreja sempre creu na existência dos anjos, criaturas espirituais
inferiores a Deus, mas superiores aos homens. Trata-se de uma verdade de fé, definida explicitamente
por ao menos dois Concílios ecumênicos: o IV de Latrão (DH 800), cujas palavras foram mais tarde
repetidas pelo Vaticano I (DH 3002).

Amparada nisto, a Igreja Católica nunca deixou de recorrer aos santos anjos, invocados com belíssimas
orações, e estimulou os fiéis a terem por eles uma reta e salutar devoção, sem extravios nem exageros
contrários à doutrina da fé. E, na luta espiritual em que ela se vê enredada até o fim dos tempos, a Igreja
sempre reconheceu a São Miguel um papel preponderante. Eis por que, mais do que qualquer outro
anjo, é ele o que melhor acolhida recebeu e ainda recebe na devoção popular.

O Magistério eclesiástico, por sua vez, não só incentivou esta devoção como chegou até mesmo a
prescrevê-la. Em 1994, o Papa São João Paulo II, por ocasião do Regina coeli de 24 de abril, convidou os
fiéis do mundo todo a rezarem com frequência a oração a São Miguel, embora não fosse mais
obrigatório recitá-la depois da Missa. O Papa se referia ao costume, imposto à Igreja inteira por Leão XIII
em 1886, de rezar de joelhos ao pé do altar, depois das Missas privadas, a oração a São Miguel.
Renovada depois por São Pio X, que lhe acrescentou três invocações ao S. Coração de Jesus, esta
prescrição fez da devoção ao santo Arcanjo parte do dia-a-dia dos fiéis, especialmente dos sacerdotes.
Antes, porém, de tratarmos detidamente desta devoção, convém meditar primeiro sobre a pessoa a
quem ela se ordena. Quem é, pois, São Miguel? Tomemos apenas duas passagens das Escrituras, uma do
Antigo e outra do Novo Testamento. No Livro de Daniel, o profeta fala dele como de um anjo de grande
poder e autoridade. Miguel é chamado “um dos primeiros príncipes” (Dn 10, 13), capaz de socorrer os
demais anjos, e também “o vosso chefe” (Dn 10, 22), protetor não só dos judeus, mas também dos
outros espíritos. No Apocalipse, por seu turno, Miguel é apresentado como um poderoso guerreiro, que
com os “seus anjos” (Ap 12, 7) combate o Dragão. Não há dúvida, portanto, de que nas Escrituras se lhe
atribui especial importância.

No entanto, existem razões teológicas para afirmar que, ao menos sob certo ângulo, São Miguel não
deve ser considerado o maior dos anjos. De fato, é doutrina comumente aceita que os anjos estão
distribuídos em três hierarquias: suprema, média e ínfima, cada uma das quais se divide em três ordens,
totalizando assim nove coros angélicos, cujos nomes são claramente mencionados na Escritura. São eles,
em ordem descendente: serafins, querubins e tronos; dominações, virtudes e potestades; principados,
arcanjos e anjos.

Na hierarquia celeste, por conseguinte, São Miguel pertence ao coro dos arcanjos, a segunda classe da
ordem mais inferior, por ser a mais distante de Deus e, ao mesmo tempo, a mais próxima dos homens,
“sobre os quais exercem”, por disposição divina, “sua contínua e benéfica influência” [1]. Os coros
superiores não têm, ao menos de forma direta, relacionamento com os seres humanos; somente os três
últimos, de que fazem parte os arcanjos, é que foram encarregados por Deus de nos anunciar as coisas
mais importantes e nos auxiliar em nossa luta contra o pecado e as forças diabólicas.

Donde se vê que não é adequado dizer que um arcanjo seja uma espécie de “super anjo”, por si mesmo
superior a todos os outros. Trata-se, na verdade, de uma “patente baixa”, que poderia corresponder
pouco mais ou menos ao que, na hierarquia militar, é um cabo, intermediário entre o soldado e o
sargento.

Pois bem, se São Miguel é tão pequeno na hierarquia celeste, por que as Escrituras se referem a ele em
termos tão elevados, a ponto de o colocarem à frente dos anjos na luta contra o demônio? A razão
fundamental é esta: “Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes” (Pr 3, 34; cf. Tg 4, 6).
São Miguel é “o primeiro dos príncipes” justamente por ser o mais humilde: apesar de ser, segundo sua
posição na hierarquia, um anjo inferior, por sua humildade ele alcançou da benevolência divina um lugar
de destaque, acima inclusive dos que se lhe avantajam em dotes e poderes na ordem da natureza.
Se, com efeito, é a humildade que derrota Satanás, nada mais conveniente do que ser o mais humilde
dos anjos aquele que, quase por ofício, é o vencedor do diabo e aquele que, elevado por graça ao
principado, nos ajuda a derrotá-lo com a mesma espada da humildade. Sinal disto é o próprio nome
Miguel, que significa “Quem como Deus?” Esta é como que sua resposta à soberba de Satanás: ninguém
é ou pode ser como Deus, porque só Ele é grande, só Ele é bom, só Ele “é o que é” (Ex 3, 14).

Desta forma, assim como o diabo, que por sua natureza seráfica estava acima dos mais elevados anjos,
foi por causa de sua arrogância — Non serviam! — precipitado no mais profundo dos infernos, assim
também o Arcanjo São Miguel, conquanto fosse na hierarquia celeste um dos mais pequeninos, foi por
sua humildade elevado por Deus às mais altas distinções. E, nisto, é grande a semelhança entre ele e a
Virgem SS: ambos, em razão de sua humildade, foram constituídos como que os antagonistas por
excelência do demônio; e ambos, pequenos embora segundo a natureza (São Miguel, por ser simples
arcanjo, e Maria Virgem, por ser da raça humana), foram coroados de dons sublimes e honrados com
altíssimas dignidades: São Miguel como príncipe da milícia celeste, e Maria como Mãe do Verbo
encarnado, Rainha da Igreja e dos anjos.

A singular grandeza de São Miguel reside, pois, em sua pequenez, em sua humildade, em sua entrega
confiante a Deus. Eis o que nele, antes de mais, devemos imitar. Se lhe queremos ter verdadeira
devoção, precisamos pôr em prática as qualidade que o tornam tão admirável, qualidades de que o
próprio Deus o revestiu, para assim o elevar acima do que era só por si. Contemplando assim a
humildade deste santo Arcanjo, aprendamos que o caminho para cima, para a glória dos filhos de Deus,
nesta vida não pode ser senão para baixo, isto é, pelo rebaixamento humilde de quem, ante a majestade
infinita de Deus, lhe diz “sim, servirei”, serviam, porque “quem como Deus?”

Referências

Antonio R. Marín, Dios y su obra. Madrid: BAC, 1963, p. 372, n. 351.

Áudio da aula (Formato .mp3)

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sao-miguel-principe-da-humildade.mp3

Aula 2

As preces depois da Missa

Talvez pouca gente saiba disso, mas antes da reforma litúrgica de Paulo VI era comum que, ao final das
Missas privadas, o sacerdote se pusesse de joelhos ao pé do altar para recitar uma série de orações pela
salvação dos pecadores e pela exaltação da Santa Igreja, pondo-se sob a especial proteção do Arcanjo
São Miguel.

Como e por que surgiram estas orações? O que nos dizem elas sobre a percepção que os Papas dos
séculos passados tinham da situação da Igreja no mundo moderno? Eis o tema de mais esta aula do
curso A Oração de São Miguel.

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Poucos fiéis o sabem hoje em dia, mas antes da reforma litúrgica que se seguiu ao Concílio Vaticano II,
foi costume durante pouco mais de um século rezar, logo após a Missa, uma série de orações ao pé do
altar. O teor delas, bem como o motivo por que foram instituídas, mostram que, desde meados do séc.
XIX, a Igreja tem clara consciência de estar em um combate cada vez mais acirrado contra os poderes
deste mundo, contra “as forças espirituais do mal espalhadas nos ares” (Ef 6, 12), segundo a conhecida
frase do Apóstolo.

A Igreja, é verdade, sempre soube de sua vocação militante, porque desde os seus primórdios ela é
combatida tanto pelos homens como, sobretudo, pelos principados e potestades do inferno. Não é
menos certo, porém, que ela pôde gozar de relativa tranquilidade após o término das perseguições
romanas, com a consequente e progressiva cristianização da Europa e dos povos bárbaros que a foram
ocupando.

No entanto, com o declínio da cristandade medieval, começaram a fervilhar, dentro e fora da Igreja, e
isto com força crescente, elementos de aberta oposição ao que, até o momento, tinha ensinado e feito
pelos povos a influência benéfica do catolicismo. Basta pensar na “Reforma” Protestante, que dividiu de
maneira irremediável uma Europa unificada sob a mesma fé e a obediência a um único Magistério, ou na
diabólica Revolução Francesa, que, apresentando-se como embaixadora da “Razão” e limiar de uma
nova humanidade, quis refundar a sociedade sobre alicerces que não os postos pelo Evangelho,
substituídos pelo naturalismo, pelo indiferentismo religioso, por tudo aquilo que, numa palavra, se
tornou a mentalidade típica do mundo contemporâneo.

Os Papas do período, ao se darem conta desta oposição crescente ao espírito cristão, houveram por bem
combater não só os fautores humanos destes erros, mas também a causa inteligente que está por trás
de toda revolta contra Deus e a sua Igreja: os próprios anjos das trevas. É verdade que figuras
proeminentes nesta batalha só a tomaram a peito um pouco tardiamente. O próprio Pio IX, antes de ser
elevado ao sólio pontifício, teve por um tempo a ilusão de que talvez fôra possível chegar a um acordo
prudente com essas forças anticristãs, a fim de preservar os direitos da Igreja; mas, uma vez na cátedra
de Pedro, viu ser impraticável um tal acordo: as forças políticas pretendiam, de fato, extinguir a Igreja ou
pelo menos reduzir ao mínimo sua autoridade moral sobre as almas.

Por isso, Pio IX, com a sabedoria de um bom pastor, recorreu à maior arma de um cristão: a oração de
súplica. Assim, no ano de 1859, ordenou a todos os sacerdotes do domínio pontifício (isto é, dos Estados
pertencentes ao Romano Pontífice, extintos em 1870, depois de inúmeras convulsões políticas) que
rezassem de joelhos ao pé do altar algumas orações, após a celebração das Missas privadas.

Quais foram essas primeiras orações? Consistiam elas, em primeiro lugar, em três Ave-Marias, seguidas
da antífona Salve, Rainha. Além disso, prescreviam-se mais quatro orações. A primeira, extraída da coleta
da Missa em honra à Virgem SS., sinal de luta contra o dragão do Apocalipse e de inimizade com a
serpente infernal do Gênese, diz assim:

Senhor Deus, Vos pedimos, concedei a vossos servos perpétua saúde na alma e no corpo; e por
intercessão gloriosa da Bem-aventurada sempre Virgem Maria, fazei que sejamos livres da presente
tristeza e gozemos da eterna alegria.

A segunda era extraída da Missa pela remissão dos pecados. Desta forma, dava o Papa a entender que,
neste combate espiritual, é imprescindível clamar a Deus pelo perdão de nossas próprias culpas. Esta é a
atitude interior correta de quem combate o bom combate: não se trata de, com o dedo em riste,
condenar os que se nos opõem, por mais infensos que sejam à Igreja Católica; antes, para alcançar a
vitória, nesta e a na outra vida, há que se reconhecer que é dentro de nós que começa a luta, pois é ali
que Satanás quer instalar o seu reino de oposição a Deus. Como a pecadores muito necessitados do
perdão divino, mandava o Papa Pio IX que os padres rezassem:

Ó Deus, que a ninguém repelis, mas antes, em vossa misericordiosa bondade, Vos deixais aplacar pela
penitência dos pecadores, por mais culpados que sejam, recebei favoravelmente as nossas humildes
orações e iluminai os nossos corações, para que possamos cumprir vossos preceitos.

A terceira oração provinha da Missa pela paz, fim almejado deste combate. Se, com efeito, é a paz o que
queremos, não há outra saída senão preparar a guerra, não com violência, mas com a determinação
interior de manter-se fiel a Cristo, sem negociações escusas com o mundo, e de dar testemunho do
Evangelho sempre que as circunstâncias o exigirem, para a honra de Deus e a edificação do próximo. Não
devemos, pois, ter medo nem vergonha de assumir nossa identidade cristã, falando com clareza, a quem
nos pedir a razão da nossa esperança, sobre o que nos manda crer a Igreja e esforçando-nos sempre por
atrair a todos ao único redil de Cristo, fora do qual ninguém pode estar seguro da própria salvação:

Ó Deus, que sois a fonte dos santos desejos e das ações justas, concedei a vossos servos esta paz que o
mundo não pode dar, para que nossos corações se prendam aos vossos preceitos e, livres de temor dos
inimigos, tenhamos dias tranquilos sob a vossa proteção.

A quarta e última oração rogava a Deus pelos inimigos, cuja conversão e salvação a Igreja
insistentemente pede àquele que é Senhor de todos os homens, mas cujos erros não deixa ela de
proscrever e condenar, como mestra e coluna da verdade, fidelíssima depositária de toda a doutrina
revelada. Assim, o mesmo Papa que em diversas encíclicas e documentos condenou os erros do seu
tempo e reforçou a excomunhão dos maçons ordenou aos padres dos Estados pontifícios que rezassem
esta belíssima e comovedora oração:

Ó Deus, que amais e conservai a paz e a caridade, dai a todos nossos inimigos a verdadeira paz e a
caridade, concedei-lhes a remissão de todos os pecados, e por vosso poder, preservai-nos de suas
insídias. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Anos mais tarde, em 1884, já eleito Papa, Leão XIII decidiu alterar estas orações, motivado talvez por sua
“demasiada” extensão. À primeira vista, houve certo empobrecimento numérico, porque, além das
costumeiras três Ave-Marias e da Salve, Rainha, teriam os padres de rezar uma única oração; por outro
lado, houve certo ganho quantitativo, porquanto o Papa estendeu a obrigação aos sacerdotes, não já dos
domínios pontifícios (então extintos), mas da Igreja inteira. Convém notar que a nova oração a ser rezada
após a Missa tinha, em comparação com as ordenadas por seu antecessor, um tom menos incisivo,
menos combativo, e talvez muito “piedoso”:

Deus, nosso refúgio e fortaleza, atendei às piedosas orações da vossa Igreja e concedei que, pela
intercessão da gloriosa e Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, de São José, e dos bem-aventurados
Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os Santos, obtenhamos com eficácia nas necessidades presentes o
que humildemente vos pedimos. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

O decreto com que se alteravam e estendiam as preces depois da Missa explica as motivações do Papa:
“Leão XIII julgou oportuno fazer recitar por todo o mundo católico estas mesmas orações modificadas
em algumas partes, a fim de que o bem comum da religião cristã seja solicitado ao Todo-Poderoso pelas
súplicas comuns do povo cristão; e pelo acréscimo do número de suplicantes, os benefícios da
misericórdia divina sejam mais facilmente obtidos”. E, apesar do tom mais sereno e recolhido, o motivo
fundamental dessas orações permanecia o mesmo, a saber: “a dificuldade e o rigor dos tempos”
(tempora difficilia et aspera).
Entretanto, apenas dois anos depois, Leão XIII promulgou um segundo decreto, com o qual modificava a
oração prescrita, dando-lhe um tom mais veemente, e lhe acrescentava uma súplica, composta por ele
mesmo, ao Arcanjo São Miguel, invocado como príncipe da milícia celeste. A nova oração dizia assim:

Deus, nosso refúgio e fortaleza, atendei, propício, os clamores do vosso povo, e pela intercessão da
gloriosa e Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, de São José, seu esposo, dos bem-aventurados
Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os Santos, ouvi, misericordioso e benigno, as súplicas que do fundo
da alma vos dirigimos, pela conversão dos pecadores e pela liberdade e exaltação da Santa Mãe Igreja.
Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amém.

Mas o que, afinal, teria levado o Papa Leão XIII, de uma hora para outra, a mudar de tom, impondo à
Igreja súplicas aindas mais fortes do que as prescritas antes por Pio IX? Teria ele se apercebido da
gravidade do combate em que a Igreja se achava? Foi-lhe realmente revelado, por uma visão especial, a
ruína em que cairia a Igreja nos anos seguintes? Este será o tema da próxima aula.

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as-preces-depois-da-missa.mp3

Aula 3

A Oração de São Miguel

A visão de Leão XIII

Teria realmente o Papa Leão XIII visto Roma ser invadida por hordas de demônios, a quem Deus mesmo
teria permitido tomar conta da Igreja por certo tempo?

Quando e como surgiu essa história, que tanto circula hoje pela internet? Onde está a verdade histórica
por trás desta suposta “revelação” que, no último quarto do século XIX, teria enchido de pavor e
preocupação o Papa de São Miguel Arcanjo? É esta a história que o Padre Paulo Ricardo vai contar em
mais uma aula exclusiva do curso A Oração de São Miguel.

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Qual é a história por trás da oração ao Arcanjo São Miguel? Tivemos já a oportunidade de ver na aula
passada que, em 1886, depois de alterar repentinamente um decreto publicado apenas dois anos antes,
o Papa Leão XIII impôs a toda a Igreja que se rezassem no final das Missas privadas algumas orações ao
pé do altar. Com elas, pretendia o Santo Padre rogar a Deus pela exaltação da Igreja e a conversão dos
pecadores, ao mesmo tempo que confiava à proteção e ao comando de São Miguel Arcanjo os fiéis do
mundo inteiro.

Existem muitas “lendas” sobre a origem destas orações e sobre o porquê de Leão XIII as ter imposto de
forma aparentemente tão abrupta. Para saber o que de fato aconteceu naqueles últimos anos do séc.
XIX, pode ser útil consultar o livro Pope Leo XIII and the Prayer to St. Michael, publicado em 2015 por
Kevin J. Symonds, que se deu ao trabalho de compulsar as fontes primárias do ocorrido.

A história que vez por outra se conta na internet, ao que tudo indica, parece ter surgido ainda na década
de 1930, entre pessoas que não tiveram contato direto com o Papa Leão XIII, falecido em julho de 1903.
Isso explica, em parte, por que a versão corrente da história seja um pouco “teatralizada”. Reunido com
os cardeais depois da celebração de uma Missa, Leão XIII teria de repente desmaiado em público, devido
a um forte mal-estar. Como não fosse possível chamar um médico a tempo, o Papa teria recobrado a
consciência horas depois. Apesar de ter voltado a si em perfeito estado, o Santo Padre teria dito,
aterrado e empalidecido: “Tive uma visão terrível!”, na qual espíritos malignos estariam rondando a
cidade de Roma, e S. Miguel desceria do céu para os precipitar no inferno.

Existe, porém, uma versão mais sóbria dos acontecimentos, por estar mais apegada a fontes históricas
de primeira mão, e que nos permite afirmar, com alto de grau de probabilidade, que, de fato, Leão XIII
teve alguma visão ou revelação sobrenatural, ainda que não a possamos determinar em todos os seus
detalhes. Sem, com efeito, admitir a existência de uma tal revelação, seria inexplicável a brusca mudança
de proceder do Papa, que, como dito na aula passada, alterou sem avisos o decreto de 1884,
acrescentando-lhe a oração ao Arcanjo São Miguel.

Essa “nova” versão da história está registrada pelo então Cardeal Giovanni Battista Nasalli Rocca di
Corneliano, que em 1946 (portanto, 60 anos depois do segundo decreto) afirmou no Bollettino della
Diocesi di Bologna (Ano 36, nn. 1-3 [1946],1ss.) ter tido contato direto, na Cúria romana, com o
secretário pessoal de Leão XIII, Mons. Rinaldo Angeli, com quem se teria certificado de que:

Leão XIII realmente teve uma visão dos espíritos infernais, que se reuniam sobre a Cidade Eterna, e foi
desta experiência, que ele confidenciou ao Monsenhor e certamente a outras pessoas, com a devida
reserva, que veio a oração que ele queria em toda a Igreja.

Ora, que ao Papa se tenham revelado estas coisas, confirma-o o fato de em 1890, apenas quatro anos
depois de escrever para toda a Igreja a oração de São Miguel, ter ele publicado um novo exorcismo in
Satanam et angelos apostaticos, “contra Satanás e os anjos apóstatas”, que se encontra ainda hoje, com
algumas modificações de que se falará no momento oportuno, em algumas edições do Ritual Romano.
Este exorcismo, destinado especialmente aos Bispos, mas também aos padres por eles autorizados, tinha
a peculiaridade de não se destinar aos possessos, mas à Igreja inteira, ao mundo, às dioceses e à cidade
de Roma.

Pois bem, a relação entre a visão do Papa e a prece de São Miguel aparece corroborada no relato do Pe.
Domenico Pechenino, que afirmou em 1947, na revista La Settimana del Clero (Ano 2, n. 12 [23 mar.
1947], p. 1; Ano 2, n. 13 [30 mar. 1947], pp. 1-2), ter ouvido uma história semelhante de uma pessoa
que, segundo ele, teria presenciado os fatos. São notáveis as concordâncias de Pechenino com o artigo
de Nasali, como, por exemplo, o fato de que o Papa não só mandara fazer o exorcismo, senão que o
levava consigo a todos os lugares, num livrinho guardado no bolso da batina, para o poder rezar
constantemente, inclusive durante seus passeios pelos jardins do Vaticano.

Pechenino acrescenta ainda alguns detalhes sobre como teria ocorrido a visão:

[Leão XIII] havia celebrado a Santa Missa e estava assistindo a uma outra em ação de graças, como era
seu costume. A certa altura, ele foi visto levantando energicamente a cabeça, depois fixou o olhar,
observando fixamente alguma coisa acima da cabeça do celebrante. Ele olhou firme, sem piscar, mas
com uma sensação de terror e admiração, mudando a cor do rosto. Algo de estranho e grandioso
acontecia nele… Finalmente, como permanecendo em si mesmo e dando um leve mas enérgico golpe
com a mão, ele se levantou. Foi visto então indo em direção a seu escritório particular. Os membros da
família [familiari] foram atrás dele com preocupação e ansiedade. “Santo Padre!”, gritaram com
veemência. “Não está se sentindo bem? Precisa de algo?” – “Nada, nada!”, respondeu. Trancou então a
porta. Depois de meia hora mandou chamar o secretário da Sagrada Congregação dos Ritos e,
entregando-lhe uma folha, ordenou que fosse impressa e enviada para todos os Ordinários do mundo. O
que havia na folha? A oração que recitamos no final da Missa com o povo.

Trata-se, como se vê, de um relato coerente com o de Nasali, confirmado por muitas outras testemunhas
históricas, arroladas no livro de Symonds. É claramente um relato menos “espetacular” do que a versão
corrente, e talvez por isso mesmo mais fiável.

No entanto, Pechenino conclui o seu testemunho com algumas considerações de cuja veracidade
histórica não podemos, no fundo, estar muito certos: elas parecem, antes, uma reelaboração que ele
mesmo fez dos acontecimentos, não para os distorcer, mas para lhes captar o sentido espiritual
profundo. Pergunta-se ele, após registrar a visão e a composição da prece: “O que aconteceu?”, e
responde por si mesmo: “Isto: Deus havia mostrado ao Vigário de seu divino Filho Satanás na terra”,
acrescentando logo em seguida: “como outrora a Jó, em conversa com Ele”.

Não sabemos ao certo se o que afirma Pechenino neste trecho corresponde à substância do relato
histórico ou se, na verdade, se trata apenas de um paralelo que ele crê poder estabelecer entre a
situação em que se encontrava a Igreja, quando Leão teve sua visão, e a história de Jó. Escreve o Pe.
Pechenino:

Satanás se gabava de que já havia devastado a Igreja em larga escala. De fato, aqueles eram tempos
muito difíceis para a Igreja na Itália, em muitas nações da Europa, e um pouco em todo o mundo. A
Maçonaria dominava e os governos se tornaram instrumentos dóceis [a ela]. Com um ar de fanfarrão,
Satanás lançou um desafio a Deus: “Se me desses um pouco mais de liberdade, verias o que eu faria com
a vossa Igreja!”. – “O que farias com ela?” – “Eu a destruiria”. – “Ah! é? Vamos ver, então. De quanto
tempo precisas?” – “Cinquenta, sessenta anos”. – “Está, pois, à vontade e usa o tempo de que
precisares. Depois faremos as contas”.

Esta última parte do artigo de Pechenino costuma circular na internet como se fôra um fato histórico
líquido e certo, ou seja, como se Leão XIII houvera realmente assistido em sua visão a esta suposta
“negociação” entre Deus e o demônio. O problema aqui é que, com base no texto de Pechenino, não se
pode afirmar com segurança que isto seja parte do relato histórico: ao contrário, o único que estaríamos
autorizados a concluir é que se trata de uma consideração teológica que, sem pretender tocar nos fatos
narrados, afirma contudo a verdade que neles se manifesta: como se vê na história de Jó, Deus permite à
Igreja ser provada por Satanás, assim como permitiu outrora a seu Filho encarnado ser perseguido,
maltratado e morto.

Nesse sentido, as palavras de Pechenino apontariam para a íntima relação entre o conteúdo da visão do
Papa (a saber, as investidas do inferno contra a Santa Igreja Católica) e o decreto permissivo em virtude
do qual a Providência divina permite a existência de males e a perseguição dos justos.

Como quer que seja, outro dado que lança certas suspeitas sobre a historicidade do trecho acima citado
são alguns detalhes introduzidos por Pechenino. Donde teria ele, afinal de contas, tirado os “cinquenta,
sessenta anos” de que o diabo disse precisar para pôr a Igreja abaixo? Ora, é sabido que a beata Anna
Catarina Emmerich, em seu conhecido livro sobre a Paixão de Cristo, diz ter ouvido dizer que, após ser
acorrentado por Cristo nas profundezas do inferno, Lúcifer seria novamente solto por certo tempo,
cinquenta ou sessenta anos antes do ano 2000 da era cristã [1].
Teria, pois, o Pe. Pechenino lido as revelações privadas da beata Emmerich? Não o podemos afirmar com
certeza; mas nada impede, a princípio, que ele as houvesse lido ou, no mínimo, delas tivesse algum
conhecimento. Influenciado por tais ideias, poderia ele ter “projetado”, de forma mais ou menos
consciente, em sua reflexão pessoal sobre a visão de Leão XIII alguns elementos do livro de Anna
Catarina. Isso, porém, é terreno para especulações difíceis de comprovar e nas quais não vale a pena
insistir aqui.

Na próxima aula, começaremos a ver detidamente o conteúdo da oração ao Arcanjo São Miguel e
estudaremos o que nos estava pedindo o Papa Leão XIII ao compô-la e estendê-la à Igreja inteira.

Referências

Cf. Anna Catarina Emmerich. Vida e paixão do Cordeiro de Deus. Dois Irmãos: Minha Biblioteca Católica,
2018, p. 374.

Recomendações https://cnp-files.s3.amazonaws.com/uploads/ocmt3yuoychztkgpm5u6/leao-xiii-e-a-
oracao-a-sao-miguel-arcanjo.docx

Aula 4

A Oração de São Miguel

O exorcismo de Leão XIII

O Papa Leão XIII, depois de ter visto sobre a cidade de Roma uma horda de espíritos malignos, escreveu
não uma, mas duas orações ao Arcanjo São Miguel: a primeira é a que todos conhecemos e recitamos; a
segunda, bem mais extensa, fazia parte de um exorcismo contra Satanás e os anjos apóstatas, que os
Bispos e padres autorizados deviam rezar com toda a frequência possível.

Mas qual é a história por trás da elaboração desse exorcismo? Que vicissitudes históricas e políticas
teriam levado o Papa a clamar a Deus contra “o trono de abominações” que as hostes do inferno
colocaram “ali onde está constituída a sede do beatíssimo Pedro e a cátedra da verdade”? Este é o tema
da quarta aula do nosso curso sobre A Oração de São Miguel!

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Estudamos na aula passada a origem da oração a São Miguel. Vimos que, de acordo com o testemunho
do Cardeal Nasali, baseado no que lhe confidenciara o secretário pessoal do Papa, Leão XIII teria visto
efetivamente uma horda de espíritos infernais sobre a cidade de Roma, e teria sido essa visão o que o
motivou a escrever, ato contínuo, a prece ao Arcanjo São Miguel, impondo-a à Igreja inteira como parte
das orações feitas no final das Missas privadas.

Mas o que a divina Providência quis indicar a Leão XIII com esta visão terrível dos espíritos malignos?
Para responder a essa pergunta, não é demais lembrar que, via de regra, os poderes do inferno buscam
impugnar a Igreja de Cristo não só com meios espirituais (tentações, possessões etc.), mas servindo-se,
principalmente, de meios humanos, de homens de carne e osso que, por assim dizer, realizam o trabalho
sujo do demônio. Considerando isso, é importante perguntar-se, antes de mais, pela situação histórica e
política de Roma na época de Leão XIII.

Recorde-se que por pouco mais de um milênio, além de Bispo de Roma e cabeça visível da Igreja
Católica, o Sumo Pontífice foi também o soberano civil de um conjunto de territórios situados no coração
da Itália que se chamavam Estados pontifícios, mencionados na primeira aula do curso. A existência
desses domínios tinha por objetivo facilitar ao Papa o governo da Igreja, dando-lhe ampla liberdade para
agir sem se ver enredado num interminável jogo de influências e interesses políticos. Havia, é certo,
alianças entre a Santa Sé e o Sacro Império Romano Germânico; o Papa, contudo, sempre teve
autonomia frente ao imperador, a quem chegou inclusive a excomungar algumas vezes no decorrer dos
séculos.

No entanto, em 1870, durante o pontificado do Beato Pio IX, os Estados pontifícios desapareceram de
uma vez por todas, devido às incursões militares de Vítor Emanuel II, chefe do recém-nascido Reino da
Itália, que em setembro do mesmo ano invadiu a Cidade Eterna, tornando-a capital do Reino e fixando
sua corte em nada mais, nada menos do que o Palácio do Quirinal, onde o Papa costumava hospedar-se
e reunir-se com os membros da Cúria.

Na prática, isso fez com que o Santo Padre, espoliado quase por completo tanto de seu poder temporal
quanto de sua autonomia de governo, fosse reduzido à condição de “prisioneiro” dentro dos muros do
Vaticano, cercado agora de inimigos que, desacordos políticos à parte, se opunham ferozmente no plano
doutrinal aos ensinamentos da Igreja Católica.

Com efeito, as autoridades que agora governavam a Itália tinham uma forte tendência maçônica, e a
Maçonaria, como é de todos sabido, tramou inúmeras vezes contra os Pontífices reinantes. Atestam-no
claramente os vários documentos que Pio IX e Leão XIII escreveram a respeito, nos quais se denunciam
sem meias palavras os complôs contra o papado ardilosamente armados pelos franco-maçons, que
desejavam “destruir desde os fundamentos toda a disciplina religiosa e política que nasceu das
instituições cristãs” (Leão XIII, Encíclica “Humanum genus”, de 20 abr. 1884: DH 3156).

Ora, com o encastelamento do Papa no Vaticano, tornou-se ainda mais denso e cerrado na Itália,
especialmente em Roma, o clima anticatólico e antipapal que há tempos se respirava em muitas partes
da Europa. Tratava-se de um clima herdeiro dos ideais da Revolução Francesa, ideais estes de corte
relativista, naturalista, materialista etc., que a pouco e pouco iam infectando os ares da Cidade Eterna. E
os Papas dificilmente deixariam de ver nessas manobras um ataque executado, sim, por meios humanos,
mas inspirados e dirigidos por um poder superior, vindo das profundezas do inferno.

O remédio para isso, segundo a sabedoria cristã, não podia ser outro senão intensificar a oração. Eis por
que, a partir de Pio IX, os Papas começaram a estimular e prescrever as orações depois da Missa, além
de recomendarem aos sacerdotes a récita constante dum exorcismo, escrito também de próprio punho
por Leão XIII.

Não era este, como dito na aula passada, um exorcismo normal, porque não devia ser rezado sobre um
possesso, senão que estava dirigido a livrar das armadilhas de Satanás a Igreja inteira. Mas qual era,
afinal, o seu conteúdo?

Além de alguns salmos iniciais, prescrevia ele uma nova oração a São Miguel Arcanjo, que teve, em
verdade, duas versões bastante distintas. A primeira, de 1890, destaca-se por sua extensão; a de 1902,
reduzida por ordem do próprio Leão XIII, chama a atenção não só pela brevidade, mas por suas
“omissões” em comparação com a primeira versão. O que explica essa mudança?

A razão é de cunho mais político do que propriamente espiritual. De fato, o exorcismo — como dito
acima — foi publicado em 1890, quando já estava no poder havia pelo menos doze anos o rei Humberto
I, sucessor de Vítor Emanuel II. Como o novo rei, até mais do que o pai, se opusesse fortemente ao
papado e aos direitos da Santa Sé, Leão XIII introduziu na oração a São Miguel que integrava o rito do
exorcismo palavras bastante duras, que expressavam a opressão a que o papado estava submetido à
época.

Entretanto, doze anos mais tarde, com o assassinato de Humberto I em 1900 e a subida ao trono de
Vítor Emanuel III, finalmente tiveram início as tratativas entre a Santa Sé e o governo italiano, e, para
abrir caminho a um possível acordo, Leão XIII houve por bem suprimir do exorcismo aqueles trechos que
faziam alusão mais clara, e em tom bastante enérgico, às injustiças cometidas pela corte da Itália.
Pois bem, quais foram as partes retiradas do exorcismo por ordem de Leão XIII? A primeira foi a
seguinte, que é não é mais do que uma descrição, extraída do Apocalipse (12, 7ss), da batalha de São
Miguel e seus anjos contra o Dragão infernal:

Combatei hoje, com os exércitos dos anjos bons, o combate do Senhor, assim como outrora lutastes
contra Lúcifer, chefe do orgulho, e contra os anjos apóstatas. Eles não prevaleceram nem foi mais
encontrado o lugar deles no céu, mas foi expulso aquele grande dragão, a antiga serpente e que se
chama diabo e Satanás, que seduziu todo o orbe, e foi lançado na terra, e seus anjos juntamente com
ele.

E assim continuava, interpretando os trechos seguintes do Apocalipse:

Eis que o inimigo antigo e homicida se ergueu com veemência. Transfigurado em anjo de luz, com toda a
caterva de espíritos maus, circundou e invadiu toda a terra, para que nela destruísse o nome de Deus e
de Seu Cristo e roubasse as almas destinadas à coroa da glória eterna, e as prostrasse e as perdesse na
morte eterna.

O dragão maldito transvasou, como rio imundíssimo, o veneno de sua iniquidade em homens
depravados de mente e corruptos de coração; incutiu-lhes o espírito de mentira, impiedade, blasfêmia, e
seu hálito mortífero de luxúria, de todos os vícios e iniquidades. As hostes astuciosíssimas encheram de
amargura a Igreja, esposa imaculada do Cordeiro, e inebriaram-na com absinto; puseram-se em obras
para realizar todos os seus ímpios desígnios.

Leão XIII se refere aqui às maquinações políticas da Maçonaria contra a Igreja, organizadas como
verdadeiras forças das trevas. Em seguida, refere o fato histórico da ocupação de Roma pelo rei Vítor
Emanuel II, que despojou o Papa do Palácio do Quirinal, onde estava assentada a “cátedra de Pedro”:

Ali onde está constituída a sede do beatíssimo Pedro e cátedra da verdade para iluminar os povos, ali
colocaram o trono de abominações da sua impiedade, para que, ferido o pastor, dispersassem as
ovelhas.

E pedia logo, a modo de conclusão:

Vinde, pois, general invictíssimo, e dai a vitória ao povo de Deus contra as perversidades espirituais que
irrompem.
Todos os trechos acima mencionados foram, pois, removidos da oração ao Arcanjo São Miguel que
integrava o exorcismo, e a razão fundamental disto, repetimos, é que enfim se dera início às tratativas
entre a Santa Sé e o governo italiano. As primeiras tentativas, como se sabe, serão todas malogradas, e o
trabalho acabará ficando a cargo do sucessor de Leão XIII, S. Pio X.

Ora, com a mudança de pontificado, haverá também uma mudança de perspectiva. Se com Leão XIII, por
um lado, os inimigos perversos que, sob a instigação do demônio, opugnavam a Igreja estavam fora dela,
com Pio X, por outro, eles estarão em suas próprias fileiras, envenenando-a desde dentro. Para Leão XIII,
noutras palavras, a ação do inferno contra o nome cristão estava como que consubstanciada na
Maçonaria; para Pio X, além dos maçons, o perigo passava a residir, antes e principalmente, no
modernismo, resumo de todas as heresias já proscritas até aquela época pelo Magistério eclesiástico.

É, pois, como se os espíritos malignos vistos por Leão XIII sobre a cidade de Roma houvessem entrado na
Igreja por alguma brecha e estivessem se servindo dos modernistas em seu intento satânico de perverter
a fé católica. Por esse motivo, também o Papa S. Pio X decidiu somar-se à batalha espiritual empreendida
por seus predecessores mais imediatos e acrescentar às orações no final da Missa três breves, mas
ardentes invocações ao S. Coração de Jesus.

Quanto à questão política, só durante o pontificado de Pio XI logrará a Santa Sé entrar em acordo com o
governo italiano, conciliação esta, porém, que só pôde resolver alguns problemas, criando outros novos
e mais graves, cujos efeitos, sobretudo os econômicos, perduram até hoje. É assim que o diabo, com sua
astúcia mentirosa, vai montando ardis contra a Igreja, que atravessa hoje, sem lugar a dúvidas, uma de
suas mais difíceis crises espirituais.

O remédio contra tantos males? Não há outro além da oração, que é o tema de que nos iremos ocupar
na próxima aula. https://s3.sa-east-1.amazonaws.com/arquivos.padrepauloricardo.org/uploads/anexo/
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Aula 5

A Oração de São Miguel https://s3.sa-east-1.amazonaws.com/arquivos.padrepauloricardo.org/uploads/


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A nossa luta é contra o inferno

A nossa luta não é contra os poderes deste mundo, mas contra as forças do inferno, nem são homens o
que combatemos, mas os espíritos malignos espalhados pelos ares. Não têm eles o poder de coagir
nossa vontade, mas podem incliná-la de mil modos ao pecado. Não podem obrigar-nos a pecar, mas a
isso nos tentam sem descanso.

Nesta luta, em que só sai vencedor quem se humilha diante de Deus para lhe pedir graça e perdão,
contamos com o auxílio dos santos anjos, prontos para derramar sobre nós, se assim o quisermos,
incontáveis benefício de corpo e de alma. É esta admirável união entre os fiéis que ainda vivem na terra
e a milícia celeste contra os poderes do inferno o tema da quinta aula do nosso curso sobre A Oração de
São Miguel!

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Quem conhece a lenta, mas constante derrocada da cultura cristã, que se vem acentuando dos últimos
séculos para cá, não pode deixar de ver nas ideologias modernas um dos principais carros-chefes postos
em marcha pelo demônio em sua luta contra a Igreja de Cristo. É fato que, além das ideologias, muitos
outros fatores como a política, a economia etc. entram em jogo e permitem explicar, em parte, as
mudanças profundas por que tem passado a sociedade, que de eminentemente católica há pouco
menos de um milênio se tornou, em pouquíssimo tempo, algo quiçá pior do que fora em seu remoto
passado pré-cristão.

Não há dúvida, porém, de que a principal batalha que a Igreja vem travando é no campo das ideias,
muitas delas inconciliáveis com sua doutrina, “surgidas das trevas para a ruína e a devastação, seja do
que é sagrado, seja do que é público” (Pio IX, Encíclica “Qui pluribus”, de 9 nov. 1846: DH 2783). De um
lado, o Evangelho de Cristo, com sua mensagem divina, com seus preceitos exigentes, mas sublimes,
com seus auxílios sobrenaturais; de outro, os erros de cada tempo, com suas falsas promessas de
liberdade, meras continuações da mentira da serpente infernal.

Mas esta batalha, se é da Igreja como um todo, nem por isso deixa de ser da cada um de nós, que ainda
militamos na terra. Pois nem os bem-aventurados do céu, que já triunfam na glória, nem as almas do
Purgatório, que esperam, seguras da salvação, sua entrada definitiva na pátria celeste, têm mais por que
lutar: para eles, a batalha acabou, porque dela já saíram vitoriosos. Somos nós, cristãos de cada geração,
de ambos os sexos e de todas as idades, leigos ou sacerdotes, os combatentes e, por isso mesmo, o alvo
que o inferno tem em mira. São as nossas almas o que está em jogo, e se nada fizermos para salvá-las, o
demônio as levará consigo para o abismo, como “prêmio” de seus esforços diabólicos. Porque não têm
os anjos malignos, condenados às penas eternas, outra ocupação além de tentar os homens, a fim de
levar o maior número deles possível para o inferno, e para isto eles se podem servir dos mais diferentes
meios, espirituais (tentações, obsessões, possessões etc.) e materiais (circunstâncias políticas,
econômicas, cooperação de homens maus etc.).
Ora, se é esta a finalidade dos anjos malignos, não é nenhum exagero dizer que quando um homem se
confessa, recobrando assim a justiça que havia perdido por causa do pecado, o inferno recebe o pior
golpe de todos. Um única absolvição no confessionário é para Satanás a mais dura, a mais insuportável, a
mais terrível humilhação, muito pior do que, por exemplo, um exorcismo bem sucedido: este, embora
livre o possesso da ação demoníaca, não lhe garante o estado de graça, ao passo que a absolvição
sacramental livra o pecador do reato da condenação eterna: com ela, são frustrados os planos do diabo,
e se lhe escapa das mãos mais uma alma preciosa.

Vejamos, porém, em que consiste propriamente esta batalha de que cristão nenhum se pode eximir. Em
primeiro lugar, é preciso ter bem claro que a intimidade do nosso coração e a nossa vontade são como
uma fortaleza impenetrável, à qual ninguém, além de Deus, tem acesso direto. Eis por que demônio
algum, por poderoso que seja, nos pode obrigar a pecar; nem o próprio diabo tem o condão de nos
dobrar a vontade, fazendo-nos optar pelo mal. Todo pecado é, por definição, voluntário, e se é o pecado
o que nos leva para o inferno, é forçoso concluir que somos nós, primária e principalmente, que nos
condenamos, porque somente nós, com um ato livre e consciente, podemos querer pecar e de fato
pecar.

A única coisa que está ao alcance dos anjos maus é nos tentar, solicitar, seduzir, atrair com mentiras,
apresentando-nos sob a aparência de bens os males mais repugnantes. Eles podem, é verdade, agir em
certa medida sobre as nossas potências interiores (imaginação e memória) e exteriores (os cinco
sentidos externos), mas é sobretudo nas ideias que eles preferem atuar. Com isso, repetimos, não têm
eles o poder de coagir nossa vontade, que sempre permanece livre, mas somente de incliná-la ao
pecado, na medida em que logram enganar o nosso entendimento, isto é, induzindo-nos a julgar como
desejável o que nos é apresentado falsamente como tal, e incitando-nos a cometer, por nossa própria
escolha, o pecado a que nos conduzem.

Eis por que a Sagrada Escritura chama ao demônio pai da mentira: é nele, em última instância, que têm
origem as falsas ideias, os maus valores, os princípios errados, as máximas depravadas, tudo aquilo que,
numa palavra, pode afastar o homem da verdade e, por conseguinte, de Cristo e sua Igreja, onde se
encontra a plenitude dos meios de salvação e fora da qual ninguém pode ser salvo. Isso se vê com
clareza na degradação do Ocidente: o mar de imoralidades em que vivem tantas e tantas almas hoje em
dia seria impossível sem as as falsas ideias que, por um ou outro meio, o demônio conseguiu espalhar
pelo mundo, como o homem inimigo que, no calar da noite, mistura a cizânia em meio ao trigo bom.

E o que, no fim das contas, São Miguel tem a ver com tudo isso? A ele coube, segundo o testemunho da
Escritura, a missão de chefiar os anjos que nos assistem em nossa batalha espiritual contra Satanás.
Apesar de pertencer à hierarquia dos anjos inferiores, que estão em contato imediato conosco, São
Miguel foi elevado por graça e ministério à condição de cabeça de todos eles, e é por isso que recebe o
título de príncipe da milícia celeste, detentor de um verdadeiro primado à frente dos exércitos de Deus.
E essa autoridade, lembremos, ele não conquistou por outro motivo senão por sua profundíssima
humildade: Quem como Deus?

Pois bem, se Deus o pôs à frente das milícias dos anjos, arcanjos e principados, ter devoção a São Miguel
significa ter acesso privilegiado ao comandante do exército, é poder falar e recorrer diretamente a quem
mais poder, autoridade e visão recebeu para nos fazer sair triunfantes da batalha. É verdade que Deus o
poderia fazer por si mesmo: como Senhor e governador do universo, não tem necessidade de coisa
alguma; no entanto, segundo a sapientíssima disposição de seu divino governo, Ele quer servir-se de
suas criaturas como causas segundas e ministeriais, que dele dependem em todas as suas ações, mas
que podem, sim, ajudar-nos de forma próxima e imediata.

De que modo, porém, nos podemos colocar sob a proteção dos anjos bons? O princípio aqui é o mesmo:
por terem em comum com demônios a mesma natureza angélica, com suas limitações constitutivas, os
anjos bons não têm acesso aos nossos pensamentos mais íntimos (a não ser que lhos manifestemos
livremente) nem podem coagir nossa vontade; podem, contudo, influenciar nossa inteligência,
sobretudo quando lhes damos permissão dócil e expressa. Se nos pusermos sob o campo benfazejo de
sua influência, terão eles o poder de nos apresentar por diversos meios os verdadeiros bens, que, uma
vez apreendidos pelo nosso entendimento, ou lembrados pela memória, ou concebidos na imaginação,
moverão nossa vontade a realmente querê-los e buscá-los. Desta forma, os anjos bons nos são de
grande ajuda e estímulo no exercício das virtudes, sobretudo da maior e principal delas, que é a
caridade.

E dado que a inteligência angélica em muito excede a nossa, de tão curtas vistas, é inquestionável que
pôr-se sob a influência do nosso anjo custódio, que sabe muito melhor do que nós que mais nos convém
para a nossa salvação, equivale de certo modo a potencializar o próprio entendimento. É, por assim
dizer, como se os anjos bons, excitando frequentemente em nossas almas pensamentos santos,
inspirando-nos conselhos salutares, nos ajudassem a ver mais longe, com mais penetração, além do que
seríamos capazes de fazer sozinhos, apenas com nossas forças, e isso não pode deixar de repercutir
positivamente em nossa vontade, já que nada poder ser querido por ela sem ser antes conhecido pela
inteligência.

Ora, que os anjos da guarda derramem sobre nós inumeráveis benefícios, é algo que se vê com ainda
maior clareza se consideramos que, além do que foi dito, eles também:

Defendem-nos constantemente de um multidão de perigos, tanto físicos como espirituais.

Impedem que os demônios nos façam todo o mal que gostariam de fazer.

Inquietam-nos se estamos em pecado, estimulando-nos a detestar nossas culpas e nos dispondo à graça
do arrependimento.

Ajudam-nos a perseverar e crescer na graça santificante, se estamos em amizade com Deus, ajudando-
nos a encontrar mais gosto nas coisas divinas.

Oferecem a Deus nossas orações e imploram para nós o auxílio divino.

Assistem-nos de maneira particularíssima na hora da morte, quando deles mais precisamos.

Consolam-nos no Purgatório e estarão ao nosso lado eternamente no céu como anjos, não mais da
guarda, mas correinantes [1].

Por isso, a Igreja crê que, ao rezarmos aos santos anjos, nos pomos realmente sob a sua proteção e
auxílio. Do mesmo modo, invocando a São Miguel Arcanjo, colocamo-nos de fato sob o seu patrocínio
especialíssimo, que consiste antes de tudo em nos fazer enxergar o quão pequenos e necessitados
somos de Deus, para que com ele possamos dizer: Quem como Deus? Porque ele, sendo humilde, foi
feito príncipe da milícia celeste; e, pela virtude que recebeu, noo há-de conduzir à mesma humildade,
que é o penhor dos que um dia chegam a reinar no céu.

É importante ter em mente, por último, que a orações feitas aos santos anjos, seja ao nosso anjo da
guarda, seja a São Miguel ou a outros dos santos arcanjos, não são “fórmulas mágicas”, uma espécie de
sortilégio que basta recitar, sem atenção nem devoção, para conseguir assim toda sorte de benefícios. A
oração cristã não é magia, mas súplica e confiança, um apelo que deve brotar de uma alma humilde e
confiante, que se sabe sob o cuidado de Deus, que nos adotou como filhos, e de todas as criaturas
angélicas que Ele com tanta bondade pôs ao nosso dispor, como amigos e auxiliares. Estas orações,
como a de São Miguel Arcanjo, são também um convite que a Igreja faz a que nos abramos às verdades
de fé nelas contidas e que, por elas iluminadas, no deixemos proteger e guiar confiadamente pelos
espíritos angélicos, servidores poderosíssimos de Deus.

Referências

Cf. Pe. Antonio Royo Marín, Dios y su obra. Madrid: BAc, 1963, pp. 412-413, n. 415.

A Oração de São Miguel


A Oração a São Miguel hoje https://s3.sa-east-1.amazonaws.com/arquivos.padrepauloricardo.org/
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Sabemos já que a nossa luta é no campo das ideias. É por meio delas que, hoje mais do que nunca, o
diabo nos quer induzir ao pecado, na precisa medida em que, afastando-nos da verdade, nos afasta da
Igreja de Cristo e de seus meios salutares de santificação.

Mas o que nós, leigos e leigas, simples trabalhadores e pais de família, podemos fazer? De que armas
estamos providos para resistir às investidas do demônio, que não descansa enquanto ainda lhe é
possível armar-nos mais um laço, seduzir-nos com mais uma mentira? É sobre isto que fala o Padre Paulo
Ricardo na última da aula do curso A Oração de São Miguel.

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Desde a época da Revolução Francesa, cuja história é como uma só coisa com a difusão da Maçonaria
pelo continente europeu, a Igreja tem clara consciência de que a sua luta espiritual hoje, mais do que em
outros tempos, se concentra no campo das ideias. São estas, como visto na aula passada, o meio
preferido pelo diabo, que não pode penetrar na fortaleza da nossa vontade, para nos inclinar e induzir ao
pecado, persuadindo a nossa inteligência de que é bom e desejável o que ele sabe ser mal e perverso.

Ora, o papel que as ideias maçônicas jogam nesta luta, claramente a favor do diabo, se vê sem problema
algum se se considera que, desde as suas origens, a Maçonaria se caracteriza como uma religião secular
fortemente indiferentista. Atesta-o, entre outros, um dos primeiros documentos da Igreja referentes à
seita dos maçons, de cujas sociedades sempre fizeram parte “homens de qualquer religião e seita,
satisfeitos com uma afetada aparência de honestidade natural” (Clemente XII, Carta Apostólica “In
eminenti apostolatus specula”, de 28 abr. 1738: DH 2511).

Além de seu caráter secretista, um dos crimes mais graves da Maçonaria está na sua doutrina pervertida,
que hoje parece ter tomado conta de não poucas almas, mesmos as alheias a círculos e conventículos
maçônicos. Trata-se de uma doutrina que, como dito acima, se contenta “com uma afetada aparência de
honestidade natural”, como se o homem fosse capaz por si mesmo de alcançar a salvação, sem
necessidade alguma seja de Cristo, seja da Igreja e dos seus meios de santificação. E, por não ser
necessária a Redenção nem, por conseguinte, a graça de Cristo, afirmam os que seguem tal doutrina que
o homem pode ser salvo independentemente da religião que professe, porque todas elas — concluem
— são igualmente boas, distinguindo-se apenas em aspectos secundários e externos.
Apesar das boas ou más intenções que porventura tenham os seus adeptos, não há dúvida de que esta
doutrina é, em si mesma, um dos mais diabólicos instrumentos de Satanás, que dele se serve para, com
sutis mentiras, sob a aparência de uma tolerância muito “humana” e muito “cordata”, afastar o maior
número de almas possível da Igreja Católica, de sua salutar doutrina e dos meios de santificação que
Cristo mesmo lhe confiou, para que aos homens de todos os tempos e lugares chegassem de forma
segura os frutos copiosíssimos de sua Redenção.

Os maçons até podem apresentar-se publicamente como um mero grupo filantrópico e humanitário, ou
ainda como uma associação de “espíritos livres” interessados unicamente na ciência e no progresso da
humanidade, mas não deixa de ser verdade que eles constituem, sim, uma forma secular de religião:
possuem eles os seus templos, a sua “liturgia”, com os adereços e vestimentas apropriados, os seus
estatutos e normas, os seus ritos de iniciação, a sua doutrina… E apesar de afirmarem em foro externo
que são de todo contrários ao “exclusivismo” católico, que se crê a única religião verdadeira, é evidente
que a própria doutrina dos maçons, por sua mesma lógica, pretende estar acima de todas as outras
doutrinas e sistemas: só ela tem uma perspectiva privilegiada da condição e do destino do homem, só
ela possui a ciência do que é realmente necessário à plena realização das almas, ao passo que as demais
religiões não passam de puerícias, às quais se apegam os pouco esclarecidos.

Ora, isso não os impediu de tentar levar a cabo “a última intenção de seus projetos, a saber: destruir
desde os fundamentos toda a disciplina religiosa e política que nasceu das instituições cristãs e substituí-
la por uma nova, de acordo com as idéias deles” (Leão XIII, Encíclica “Humanum genus”, 20 abr. 1884: DH
3156), como lamentava o Papa Leão XIII, que viu de perto o resultado das maquinações da Maçonaria
para enfraquecer o poder moral e espiritual da Igreja Católica sobre a sociedade e as consciências.

É verdade que, em 1921, durante o pontificado de Pio XI, finalmente se celebrou a conciliação entre a
Santa Sé e o Estado italiano. No entanto, o Papa julgou oportuno preservar as orações ao final da Missa,
mas alterando-lhes a intenção: agora, não se devia rezar pela paz na Itália, em Roma nem pelos Estado
pontifícios, já extintos, mas pela liberdade cristã na Rússia, oprimida à época pelo comunismo soviético,
no poder desde 1917. Além disso, Pio XI levantou a voz contra as forças maçônicas e socialistas no
México e na Espanha, contra as falsas ideias, que já então circulavam, sobre o aborto e o controle de
natalidade, tendo assim um dos pontificados em que mais claramente se vê o ferocíssimo embate de
ideias que a Igreja vem travando nos últimos tempos.

Hoje, de modo particular, assistimos ao crescimento contínuo de um projeto ideológico, de cariz


fortemente educacional, que pretende impor certas ideias a todo custo. Instituiu-se, para isso, como que
uma nova “Inquisição”, instalada nos tribunais e nas empresas, nas escolas e nos meios virtuais,
encarregada de preservar, incólume e inquestionada, a “ortodoxia” do politicamente correto, perseguir
os dissidentes e silenciar-lhes a voz. Nesse sentido, o que faz hoje a agenda globalista, com sua
imposição tirânica de mentiras como a ideologia de gênero e de práticas perversíssimas como o aborto,
é a realização quase literal do que dizia Leão XIII em seu exorcismo, referindo-se à atuação política dos
maçons da época: erigiu-se em “Magistério”, assentando-se como cátedra de Satanás para levar ao erro,
não à luz, todas as nações, tentando, se possível, inebriar com o absinto de suas iniquidades — heresias,
luxúria, mentira, corrupção… — até mesmo os filhos da Igreja.

Diante disso, o que podemos fazer? Podemos e devemos rezar, não só reforçando nossas orações de
costume, mas indo além. Embora, como simples leigos, não tenhamos na Igreja nenhuma jurisdição
nem, portanto, a autoridade para celebrar nenhum sacramental (como é o caso do exorcismo,
propriamente dito), podemos, contudo, fazer duas coisas:

Realizar frequentemente orações de libertação, isto é, dirigidas a alguma das pessoas da SS. Trindade, à
Virgem Maria, a algum santo da nossa devoção, aos santos anjos etc., com o fim de pedir o seu auxílio na
hora da tentação. Estas orações podem ser jaculatórias breves e ferventes, súplicas espontâneas ou
algumas orações já “institucionalizadas”. São desta última classe, por exemplo, as duas orações a São
Miguel Arcanjo: a menor e mais conhecida, que antes se recitava no final da Missa; e a maior e menos
conhecida, que, apesar de ser parte de um ritual de exorcismo, pode, sim, ser rezada por qualquer fiel,
precisamente como oração de libertação dirigida ao príncipe da milícia celeste.

Fazer o que se chama de exorcismo não sacramental, como o da medalha de São Bento, já que todos
recebemos de Cristo, em virtude do Batismo e sem necessidade de jurisdição eclesiástica, o poder de
expulsar o demônio, não da Igreja inteira, da nossa diocese ou paróquia, mas da nossa própria vida e, se
somos pais ou mães de família, da nossa casa. Essas orações, que fique bem claro, só se devem usar com
humildade e prudente discrição (isto é, de forma privada, sem dar aos outros ocasião de escândalo ou de
confusão quanto à doutrina sobre a distinção essencial entre leigos e sacerdotes). Como princípio geral,
a elas só deveríamos recorrer em caso de razoável necessidade (por exemplo, durante uma tentação
mais intensa, ou se não forem suficientes as orações de libertação). Como tais exorcismos não
sacramentais se dirigem explicitamente ao demônio, ordenando-o a deixar-nos em paz por força da
autoridade de que fomos revestidos como batizados em Cristo, não devem ser feitos em público,
repetimos, nem com excessiva frequência, mas com espírito de fé e humildade.

São essas duas virtudes as nossas grandes armas nesse combate. Se guardarmos a fé e formos humildes,
sairemos vencedores da batalha, porque assim como o diabo foi precipitado do céu por sua soberba,
assim também é pela nossa humildade que o vencemos, resistindo às suas investidas e entregando-nos,
quais crianças pobres e indefesas, aos braços misericordiosos de Jesus Cristo, sem o qual nada podemos
por nós mesmos. Nesta batalha, sejamos sempre humildes, a exemplo de São Miguel, e nunca
assumamos ares de “valentões” imbatíveis: o diabo sabe como nos atacar, mas temos nós a certeza de já
possuir a vitória, se permanecermos fiéis a Cristo e submissos à proteção que Ele nos oferece pelo
ministério dos seus santos anjos.

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AULA 7

A Oração de São Miguel

Conversa com os alunos

Depois de seis aulas expondo a história e a teologia da prece composta pelo Papa Leão XIII, é chegado o
momento de responder às dúvidas gerais de nossos alunos.

Nesta derradeira aula de nosso curso A Oração de São Miguel, assista às melhores questões sobre a
origem e a espiritualidade desta oração, respondidas pelo Padre Paulo Ricardo.

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Depois de seis aulas expondo a história e a teologia da prece composta pelo Papa Leão XIII, é chegado o
momento de responder às dúvidas gerais de nossos alunos. Nesta derradeira aula de nosso curso A
Oração de São Miguel, assista às melhores questões sobre a origem e a espiritualidade desta oração,
respondidas pelo Padre Paulo Ricardo.

São Miguel Arcanjo é príncipe das milícias celestes. De todos os nove coros angélicos (serafins,
querubins, tronos, dominações, potestades, virtudes, principados, arcanjos e anjos) ou só dos três
últimos? (1min30s)

Como me foi ensinado pelo senhor no curso de São Miguel Arcanjo, notei que a impiedade das ideias
modernistas, das quais muitos são vítimas, me atingiu em cheio. É com muita dor que faço esta
pergunta, pois não fui batizado. No entanto, possuo uma vontade santa e, pelo que entendi, na quinta
aula de seu curso ficou bem claro que quem não é batizado não possui poder sobre demônios, ou seja,
se eu recitar a oração de São Miguel Arcanjo assim mesmo, haveria algo estritamente não aconselhável
para mim ao recitá-la? (16min04s)

Uma vez que por causa do pecado original somos inclinados ao mal (pecado) por causa da
concupiscência, sabendo que os anjos bons ou maus não têm acesso a nossa vontade, mas atuam no
intelecto com sugestões, quando por vontade eu escolho o bem é por causa da graça, certo? Ao
contrário, quando escolho mal é porque permiti de alguma forma a influência do demônio em meu
intelecto? O nosso combate não é contra homens de carne e sangue, então todas as nossas escolhas são
influenciadas? Em algum momento o homem está sozinho para decidir entre o bem e o mal? (19min45s)
Acerca da autoridade dada por Deus no Batismo, ou a autoridade da Igreja falada na última aula sobre
São Miguel, gostaria de saber se, como pai de família, posso rezar o exorcismo de São Bento sobre o meu
filho, ou isso já é autoridade da Igreja. (31min23s)

Em algumas ocasiões de nossa vida passamos por momentos de dor, tristezas, perdas e tantas outras
situações difíceis. Seriam esses momentos permitidos por Deus para ver até onde vai nossa fé? O que
devemos fazer, lutar com nossas forças dadas por Deus ou devemos nos entregar à vontade de Deus,
esperando que tudo passe? Essas lutas e sofrimentos têm alguma importância no combate contra o mal
no mundo? (35min12s)

Afinal, qual é a oração de São Miguel Arcanjo? (39min00s)

Na oração mais comum, há uma frase: “Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos...” O que significa?
Parece meio fora do contexto. (39min54s)

Como seria a batalha de um anjo no mundo espiritual intelectivo? (49min30s)

Recomendações

Santo Tomás de Aquino, Tratado sobre a conservação e o governo das coisas. In: Suma Teológica, I, q.
103-119. https://permanencia.org.br/drupal/node/268

Material para Download

Áudio da aula (Formato .mp3) https://s3.sa-east-1.amazonaws.com/arquivos.padrepauloricardo.org/


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1859
Beato Pio IX institui
As Preces depois das Missas Privadas

Analecta Iuris Pontificii, Volume IV.


(Rome: Place de Venise, 1860), 1502-1503.

Preces recitandæ de mandato SS. D. N. Preces a serem recitadas por mandato


PP. Pii IX, in universa ditione pontificia do Santíssimo Senhor Nosso Papa Pio IX,
integro quadragesimali tempore em todo o domínio pontifício, durante
currentis anni MDCCCLIX a quolibet todo o tempo quaresmal deste ano de
sacerdote post privatæ missæ 1859, por qualquer sacerdote depois da
celebrationem. celebração da missa privada.
Sacerdos flexis genibus ter dicat cum O sacerdote de joelhos diga três vezes
populo Ave Maria: deinde antiphonam com o povo Ave Maria: entã o a antífona
Salve Regina cum sequentibus Salve Rainha com as seguintes oraçõ es.
orationibus.
Oremus Oremos
Da Missa da B. V. Maria
Concede nos famulos tuos, quæsumus Senhor Deus, Vos pedimos, concedei a
Domine Deus, perpetua mentis et vossos servos perpétua saú de na alma
corporis sanitate gaudere, et gloriosa e no corpo; e por intercessã o gloriosa
Beatæ Mariæ semper Virginis da Bem-aventurada sempre Virgem
intercessione, a præsenti liberari Maria, fazei que sejamos livres da
tristitia, et æterna perfrui lætitia. presente tristeza e gozemos da eterna
alegria.
Da Missa pela remissão dos pecados
Deus, qui nullum respuis, sed Ó Deus que a ninguém repelis, mas
quantumvis peccantibus, per antes, em vossa misericordiosa
poenitentiam pia miseratione placaris, bondade, Vos deixais aplacar pela
respice propitius ad preces humilitatis penitência dos pecadores, por mais
nostræ, et illumina corda nostra, ut tua culpados que sejam, recebei
valeamus implere præcepta. favoravelmente as nossas humildes
oraçõ es e iluminai os nossos coraçõ es,
para que possamos cumprir vossos
preceitos.
Da Missa pela Paz
Deus a quo sancta desideria, recta Ó Deus, que sois a fonte dos santos
consilia, et iusta sunt opera, da servis desejos e das açõ es justas, concedei a
tuis illam quam mundus dare non vossos servos esta paz que o mundo
potest pacem: ut et corda nostra nã o pode dar, para que nossos coraçõ es
mandatis tuis dedita, et hostium se prendam aos vossos preceitos e,
sublata formidine, tempora sint tua livres de temor dos inimigos, tenhamos
protectione tranquilla. dias tranquilos sob a vossa proteçã o.
Da Missa pelos inimigos
Deus pacis, charitatisque amator et Ó Deus, que amais e conservais a paz e
custos, da omnibus inimicis pacem a caridade, dai a todos nossos inimigos
charitatemque veram, et cunctorum eis a verdadeira paz e a caridade,
remissionem tribue peccatorum, concedei-lhes a remissã o de todos os
nosque ab eorum insidiis potenter pecados, e por vosso poder, preservai-
eripe. Per Christum Dominum nos de suas insídias. Por Cristo Nosso
nostrum. Amen. Senhor. Amém.

Traduçã o das oraçõ es de D. Beda Keckeisen, OSB, Missal Quotidiano. Completo – em latim e
português – com o próprio do Brasil. Mosteiro de Sã o Bento, Bahia, 1947.
1884
Leão XIII altera e estende à Igreja inteira
as Preces depois das Missas Privadas
Congregaçã o para os Ritos, Decreto Iam inde,
de 06 de janeiro de 1884; in: Acta Sanctæ Sedis 16 (1883-1884), 239-240.

DECRETUM DECRETO
Quo mandatur nonnullas preces esse Com o qual se mandam recitar algumas
recitandas in fine cuiusque Missæ , sine preces no final
cantu celebratæ, in omnibus Urbis et
Orbis chatolici Ecclesiis.
URBIS ET ORBIS DA CIDADE E DO MUNDO

Iam inde ab anno MDCCCLIX sa. me. Desde 1859, o Papa Pio IX, de santa
Pius PP. IX , ad impetrandam Dei opem, memó ria, prescreveu que em todas as
quam tempora difficilia et aspera Igrejas dos Estados Pontifícios se
flagitabaut, præcepit, ut, in templis recitassem, depois da celebraçã o do
omnibus Ditionis Pontificiæ, certæ santo sacrifício da missa, certas
preces quibus sacras Indulgentias oraçõ es, que ele enriqueceu de
adjunxerat, peracto sacrosancto Missæ indulgências, a fim de obter a
sacrificio, recitarentur. Iamvero misericó rdia de Deus, reclamada pela
gravibus adhuc insidentibus malis nec dificuldade e rigor dos tempos. Ora,
satis remota suspicione graviorum, como a Igreja Cató lica no meio dos
cum Ecclesia catholica singulari Dei males, que cada vez ameaçam tornar-
præsidio tantopere indigeat, se mais graves, tem urgente
Sanctissimus Dominus Noster LEO necessidade da proteçã o particular de
PAPA XIII opportunum iudicavit, eas Deus, o santíssimo Papa Leã o XIII
ipsas preces nonnullis partibus julgou oportuno fazer recitar por todo
immutatas, toto orbe persolvi, ut quod o mundo cató lico estas mesmas
christianæ reipublicæ in commune oraçõ es modificadas em algumas
expedit, id communi prece populus partes, a fim de que o bem comum da
christianus a Deo contendat, auctoque religiã o cristã seja solicitado ao Todo-
supplicandum numero divinæ Poderoso pelas sú plicas comuns do
beneficia misericordiæ facilius povo cristã o; e pelo acréscimo do
assequatur. nú mero de suplicantes, os benefícios
Itaque Sanctitas Sua per præsens da misericó rdia divina sejam mais
Sacrorum Rituum Congregationis facilmente obtidos.
Decretum mandavit, ut in posterum in Eis a razã o por que, no presente
omnibus tum Urbis tum catholici orbis decreto da Sagrada Congregaçã o dos
Ecclesiis preces infra scriptæ, ter Ritos, Sua Santidade ordenou que
centum dierum Indulgentia daqui por diante em todas as Igrejas de
locupletatæ, in fine cuiusque Missæ Roma e do mundo cató lico se recitem
sine cantu celebratæ, flexis genibus de joelhos, no fim de cada missa
recitentur, nimirum: rezada, as seguintes oraçõ es,
enriquecidas de uma indulgência de
trezentos dias.
Ter: Ave, Maria: etc. Três vezes: Ave Maria, etc.
Deinde dicitur semel Salve, Regina etc. Entã o se diz uma ú nica vez Salve
et in fine V. Ora pro nobis, sancta Dei Rainha, etc. E no final V. Rogai por nós,
Genetrix. R. Ut digni efficiamur santa Mãe de Deus. R. Para que sejamos
promissionibus Christi. dignos das promessas de Cristo.
Oremus Oremos
Deus, refugium nostrum et virtus Deus, nosso refú gio e fortaleza, atendei
adesto piis Ecclesiæ tuæ precibus, et à s piedosas oraçõ es de vossa Igreja e
præsta; ut intercedente gloriosa et concedei que, pela intercessã o da
Immaculata Virgine Dei Genitrice gloriosa e Imaculada Virgem Maria,
Maria, beato Josepho, ac beatis Mã e de Deus, de Sã o José, e dos bem-
apostolis tuis Petro et Paulo et aventurados Apó stolos Pedro e Paulo e
omnibus sanctis, quod in præsentibus de todos os Santos, obtenhamos com
necessitatibus humiliter petimus, eficá cia nas necessidades presentes o
efficaciter consequamur. Per Christum que humildemente vos pedimos. Por
Dominum nostrum. Amen. Cristo Nosso Senhor. Amém.
Contrariis non obstantibus Nã o obstante todas as coisas
quibuscumque. Die Epiphaniæ Domini contrá rias. Dia da Epifania, 6 de janeiro
VI Ianuarii MDCCCLXXXIV . de 1884.
D. Cardinalis Bartolinius S. R. C. D. Cardeal Bartolini, Prefeito da S. C. R.
Præfectus Lourenço Salvati, Secretá rio da S. C. R.
Laurentius Salvati S . R . C . Secretarius

Traduçã o portuguesa do decreto adaptada a partir do Jornal “A Constituiçã o – Ó rgã o do


Partido Conservador”, Belém do Pará , 28 de março de 1884.
1886
Leão XIII introduz a Oração a São Miguel
nas Preces depois das Missas Privadas
(Nouvelle Revue Théologique, Vol. 18 (1886), pag. 464).

Preces iussu Papæ Leonis XIII in Preces a serem recitadas de joelhos nas
omnibus Orbis Ecclesiis post privatæ Igrejas de todo o mundo, depois da
Missæ celebrationem flexis genibus celebraçã o da Missa privada, por
recitandæ ordem do Papa Leã o XIII

Sacerdos ter dicat cum populo: Ave, O sacerdote diga três vezes com o povo:
Maria; deinde: Salve, Regina cum V. Ora Ave, Maria; depois Salve, Rainha, com V.
pro nobis, sancta Dei Genetrix. et R. Ut Rogai por nó s, santa Mã e de Deus. e R.
digni efficiamur promissionibbus Para que sejamos dignos das
Cristi. promessas de Cristo.

Oremus Oremos:
Deus refugium nostrum et virtus, Deus, nosso refú gio e fortaleza,
populum ad te clamantem propitius atendei, propício, os clamores do vosso
respice; et intercedente gloriosa et povo e pela intercessã o da gloriosa e
immaculata Virgine Dei Genitrice Imaculada Virgem Maria, Mã e de Deus,
Maria, cum beato Joseph, ejus Sponso, de Sã o José, seu esposo, dos bem-
ac beatis Apostolis tuis Petro et Paulo, aventurados Apó stolos Pedro e Paulo e
et omnibus Sanctis, quas pro de todos os Santos, ouvi,
conversione peccatorum, pro misericordioso e benigno, as sú plicas
libertate et exaltatione sanctæ que do fundo da alma vos dirigimos,
Matris Ecclesiæ, preces effundimus, pela conversã o dos pecadores e pela
misericors et benignus exaudi. Per liberdade e exaltaçã o da Santa Mã e
[eumdem] Christum Dominum Igreja. Pelo mesmo Cristo, Nosso
nostrum. Amen. Senhor. Amém.
Sancte Michaël Archangele, defende Sã o Miguel Arcanjo, defendei-nos no
nos in proelio, contra nequitiam et combate, sede nosso refú gio contra a
insidias diaboli esto præsidium. maldade e as ciladas do demô nio.
Imperet illi Deus, supplices Ordene-lhe Deus, instantemente o
deprecamur: tuque, Princeps pedimos; e vó s, Príncipe da Milícia
militiæ coelestis, Satanam aliosque Celeste, pela virtude divina, precipitai
spiritus malignos, qui ad no inferno a Sataná s e a todos os
perditionem animarum pervagantur espíritos malignos que andam pelo
in mundo, divina virtute, in mundo para perder as almas. Amém.
infernum detrude. Amen.
1890

Oração a São Miguel extraída


de “Exorcismus in Satanam et Angelos Apostaticos”,
Acta Apostolicæ Sedis 23 (1890), 743-746.

Em negrito encontram-se as partes retiradas do Exorcismo por mandato do pró prio Papa
Leã o XIII em 1902.

Princeps gloriosissime cælestis militiæ, Gloriosíssimo príncipe da milícia


sancte Michaël Archangele, defende celeste, Sã o Miguel Arcanjo, defendei-
nos in prælio et colluctatione, quæ nos no combate e na luta contra os
nobis est adversus principes et principados e as potestades, contra os
potestates, adversus mundi rectores dirigentes deste mundo de trevas,
tenebrarum harum, contra spiritualia contra os espíritos malignos
nequitiæ, in cælestibus (Ephes. VI). espalhados pelos ares (cf. Ef 6,12).
Veni in auxilium hominum; quos Deus Vinde em socorro dos homens que
creavit inexterminabiles, et ad Deus criou imortais e fez à imagem da
imaginem similitudinis suæ fecit, et a Sua pró pria natureza e resgatou por
tyrannide diaboli emit pretio magno grande preço da tirania do demô nio (cf.
(Sap. II; 1 Cor. VI). Præliare hodie Sb 2,23; 1 Cor 6). Combatei hoje, com
cum beatorum Angelorum exercitu os exércitos dos anjos bons, o
prælia Domini, sicut pugnasti olim combate do Senhor, assim como
contra ducem superbiæ luciferum, outrora lutastes contra Lúcifer,
et angelos eius apostaticos: et non chefe do orgulho, e contra os anjos
valuerunt, neque locus inventus est apóstatas. Eles não prevaleceram
eorum amplius in coelo. Sed nem foi mais encontrado o lugar
proiectus est draco ille magnus, deles no Céu, mas foi expulso aquele
serpens antiquus, qui vocatur grande dragão, a antiga serpente
diabolus et satanas, qui seducit que se chama diabo e satanás, que
universum orbem; et proiectus est seduziu todo orbe; e foi lançado na
in terram, et angeli eius cum illo terra, e seus anjos juntamente com
missi sunt (Apoc. XII). En antiquus ele (cf. Ap 12,7-9). Eis que o inimigo
inimicus et homicida vehementer antigo e homicida se ergueu com
erectus est. Transfiguratus in veemência. Transfigurado em anjo
angelum lucis, cum tota malignorum de luz, com toda a caterva de
spirituum caterva late circuit et espíritos maus, circundou e invadiu
invadit terram, ut in ea deleat toda a terra, para que nela
nomen Dei et Christi eius, destruísse o nome de Deus e de Seu
animasque ad æternæ gloriæ Cristo e roubasse as almas
coronam destinatas furetur, mactet destinadas à coroa da glória eterna,
ac perdat in sempiternum interitum. e as prostrasse, e as perdesse na
Virus nequitiæ suæ, tamquam morte eterna.
flumen immundissimum, draco O dragão maldito transvasou, como
maleficus transfundit in homines rio imundíssimo, o veneno de sua
depravatos mente et corruptos iniquidade em homens depravados
corde; spiritum mendacii, impietatis de mente e corruptos de coração;
et blasphemiæ; halitumque incutiu-lhes o espírito de mentira,
mortiferum luxuriæ, vitiorum impiedade, blasfêmia, e seu hálito
omnium et iniquitatem. – Ecclesiam, mortífero de luxúria, de todos os
Agni immaculati sponsam, vaferrimi vícios e iniquidades. As hostes
hostes repleverunt amaritudinibus, astuciosíssimas encheram de
inebriarunt absinthio; ad omnia amargura a Igreja, esposa imaculada
desiderabilia eius impias miserunt do Cordeiro, e inebriaram-na com
manus. Ubi sedes beatissimi Petri et absinto; puseram-se em obras para
Cathedra veritatis ad lucem gentium realizar todos os seus ímpios
constituta est, ibi thronum desígnios. Ali onde está constituída
posuerunt abominationis impietatis a sede do beatíssimo Pedro e
suæ; ut percusso Pastore, et gregem cátedra da verdade para iluminar os
disperdere valeant. povos, ali colocaram o trono de
abominações da sua impiedade,
para que, ferido o pastor,
– Adesto itaque, Dux invictissime, dispersassem as ovelhas.
populo Dei contra irrumpentes Vinde, pois, general invictíssimo, e
spirituales nequitias, et fac dai a vitória ao povo de Deus contra
victoriam. Te custodem et patronum as perversidades espirituais que
sancta veneratur Ecclesia; te gloriatur irrompem. A santa Igreja vos venera
defensore adversus terrestrium et como seu guarda e protetor, vos
infernorum nefarias potestates; tibi glorifica como defensor contra
tradidit Dominus animas redemptorum potestades abomináveis da Terra e
in superna felicitate locandas. dos infernos. Confiou-vos o Senhor a
Deprecare Deum pacis, ut conterat missã o de introduzir na felicidade
satanam sub pedibus nostris, ne ultra celeste as almas resgatadas. Rogai,
valeat captivos tenere homines, et pois, ao Deus da paz que esmague
Ecclesiæ nocere. Offer nostras preces sataná s sob nossos pés, a fim de que
in conspectu Altissimi, ut cito ele nã o mais possa manter cativos os
anticipent nos misericordiæ Domini, et homens e fazer mal à Igreja. Apresentai
apprehendas draconem, serpentem ao Altíssimo as nossas preces, a fim de
antiquum, qui est diabolus et satanas, que sem tardar o Senhor nos faça
ac ligatum mittas in abyssum, ut non misericó rdia, e vó s contenhais o
seducat amplius gentes (Apoc. XX). dragã o, a antiga serpente, que é o
demô nio e sataná s, e o lanceis
encadeado no abismo para que nã o
mais seduza as naçõ es (cf. Ap 20).
Cardeal Nasalli
(Giovanni Battista Nasalli Rocca di Corneliano,
Arcebispo de Bolonha 1921-1952)

Sobre a visã o de Leã o XIII


Quaresma de 1946
(Bollettino della Diocesi di Bologna, Anno 36, nú meros 1-3 (1946), 1ss).

Non per nulla il sapientissimo Nã o é por acaso que o sapientíssimo


Pontefice Leone XIII, intelligenza Papa Leã o XIII, uma inteligência
superiore e certamente non spirito superior e espírito certamente nã o
gretto e piccino, scrisse Egli stesso mesquinho e pequeno, escreveu, ele
quella bella e forte preghiera, e impose mesmo, essa linda e forte oraçã o, e
di recitarla a tutti i sacerdoti dopo la ordenou a todos os sacerdotes que a
celebrazione della santa Messa... recitassem apó s a celebraçã o da Santa
Missa...
E quella frase — che si aggirano nel E aquela frase – que andam pelo mundo
mondo — ha una spiegazione storica, a – tem uma explicaçã o histó rica, que
noi più volte riferita dal fedelissimo nos foi muitas vezes contadas por
Segretario particolare del Grande Monsenhor Rinaldo Angeli, Secretá rio
Pontefice che fu a Lui vicino lungo particular do Grande Pontífice que
quasi tutto il pontificato, Mons. Rinaldo esteve ao lado dele durante a maior
Angeli: Leone XIII ebbe veramente parte do pontificado: Leã o XIII
visione degli infernali spiriti, che si realmente teve uma visã o dos espíritos
addensavano sulla Eterna Città , e da infernais, que se reuniam sobre a
quella esperienza, da lui confidata al Cidade Eterna, e foi desta experiência,
Prelato e certamente ad altri con il que ele confidenciou ao Monsenhor e
dovuto riserbo, venne la preghiera che certamente a outras pessoas, com a
volle in tutta la Chiesa. Preghiera che devida reserva, que veio a oraçã o que
Egli recitava (la udimmo tante volte ele queria em toda a Igreja. Oraçã o que
nella Basilica Vaticana) con una voce ele recitava (ouvimos muitas vezes na
vibrata e potente, che risuonava in Basílica Vaticana) com uma voz
modo indimenticabile nell’universale vibrante e poderosa, que ressoava de
silenzio sotto le volte del massimo forma inesquecível no silêncio
tempio della cristianità . universal debaixo das abó badas do
maior templo do cristianismo.
Non solo; ma scrisse di sua mano uno Nã o só isso; mas ele escreveu um
speciale esorcismo, che si ha nel exorcismo especial, que se encontra no
Rituale Romano (c.3, Tit.11) col titolo Ritual Romano (c.3, Tit.11) com o título
«Exorcismus in Satanam et angelos "Exorcismus in Satanam et angelos
apostaticos ». Questi esorcismi Egli apostaticos". Esses exorcismos ele
raccomandava ai Vescovi e Sacerdoti di recomendou aos Bispos e Sacerdotes
recitare spesso per le loro Diocesi e le que recitassem frequentemente por
loro parrocchie, ai sacerdoti con facoltà suas Dioceses e suas paró quias, aos
avuta dai loro Ordinari. Primo di tutti sacerdotes com faculdades que
Egli lo recitava spessissimo fra giorno. possuíam por seus Ordiná rios. Em
Ci narrava un altro Prelato famigliare primeiro lugar, ele mesmo recitava
del Pontefice, che anche nella muito frequentemente durante o dia. A
passeggiata nei giardini vaticani levava este respeito, um outro Prelado do
dalle sue tasche un piccolo libro, Pontífice nos contou que, mesmo em
consunto dal lungo uso, e ripeteva il sua caminhada pelos jardins do
Suo Esorcismo con fervida pietà e viva Vaticano, ele tirava de seus bolsos um
devozione. Il libriccino ancora si pequeno livro, desgastado pelo uso
conserva presso una nobile famiglia di frequente, e repetia Seu Exorcismo
Roma, che Noi ben conosciamo.... com piedade fervorosa e viva devoçã o.
O livrinho ainda hoje é mantido em
uma família nobre de Roma, que nó s
bem conhecemos...

Padre Domenico Pechenino ,OMV


(Sobre a visã o de Leã o XIII)
La Settimana del Clero, Anno II, numero 12, 23 Marzo 1947, pg. 1.
Anno II, numero 13, 30 Marzo, 1947, pg. 1-2.

Non ricordo l’anno preciso. Si era un Nã o me lembro do ano exato. Foi um


po’ dopo il 1890. Un mattino il grande pouco depois de 1890. Certa manhã , o
Pontefice Leone XIII, che era già grande Papa Leã o XIII, que já havia se
divenuto l’ammirazione di tutto il tornado a admiraçã o de todo o mundo
mondo civile e la rabbia della civilizado e a ira da maçonaria
massoneria internazionale, aveva internacional, havia celebrado a Santa
celebrato la S. Messa, e stava Missa e estava assistindo uma outra em
assistendo ad un’altra di açã o de graças, como era seu costume.
ringraziamento come al solito. Ad un A certa altura, ele foi visto levantando
certo punto, lo si vide drizzare energicamente a cabeça, depois fixou o
energicamente il capo, poi fissare, olhar, observando fixamente alguma
fissare intensamente qualcosa al coisa acima da cabeça do celebrante.
disopra del capo del celebrante. Ele olhou firme, sem piscar, mas com
Guardava fisso, senza batter palpebra, uma sensaçã o de terror e admiraçã o,
ma con un senso di terrore e di mudando a cor do rosto. Algo de
meraviglia, cambiando colore e estranho e de grandioso acontecia
lineamenti. Qualcosa di strano, di nele... Finalmente, como
grande avveniva in lui… Finalmente, permanecendo em si mesmo, e, dando
come rimanendo in sé, e, dando un um leve mas enérgico golpe com a mã o,
leggero ma energico tocco di mano, si ele se levantou. Foi visto entã o indo em
alza. Lo si vede avviarsi verso il suo direçã o a seu escritó rio particular. Os
studio privato. I familiari lo seguono membros da família (familiari) foram
con premura e ansiosi. «Santo Padre! atrá s dele com preocupaçã o e
gli gridano sommamente. — Non si ansiedade. «Santo Padre! gritam com
sente bene? Ha bisogno di qualcosa?». veemência. – Nã o está se sentindo
— «Niente, niente!», risponde. E si bem? Precisa de algo? ». – Nada, nada!
chiude dentro. Dopo una mezzoretta fa », respondeu. Trancou entã o a porta.
chiamare il Segretario della S. Depois de meia hora manda chamar o
Congregazione dei Riti, e porgendogli Secretá rio da Sagrada Congregaçã o dos
un foglio, gl' ingiunge di farlo stampare Ritos, e entregando-lhe uma folha,
e farlo pervenire a tutti gli Ordinari del ordenou que fosse impressa e enviada
mondo. Cosa conteneva? La preghiera para todos os Ordiná rios do mundo. O
che recitiamo al termine della Messa que havia na folha? A oraçã o que
col popolo, con la supplica a Maria e recitamos no final da missa com o
l’infocata invocazione al Principe delle povo, com a sú plica a Maria e a
milizie celesti, S. Michele: inflamada invocaçã o ao Príncipe das
«Sancte Michaël Archangele, defendo milícias celestiais, Sã o Miguel:
nos in proelio… implorando da Dio che «Sancte Michaël Archangele,
lo ricacci nell’ inferno, et in infernum defendendo nos in proelio ... implorando
detrude!». de Deus para lançá -lo de volta ao
Cos'era accaduto? Questo. Dio aveva inferno, et in infernum detrude!».
fatto vedere al Vicario del suo divin O que aconteceu? Isto. Deus havia
Figlio in terra Satana, come un giorno a mostrado ao Vigá rio de seu divino
Giobbe, in conversazione con Lui. Filho Sataná s na terra, como outrora a
Satana si vantava di aver già devastata Jó , em conversa com Ele. Sataná s se
su larga scala la Chiesa. Correvano gabava de que já havia devastado a
infatti tempi calamitosissimi per essa Igreja em larga escala. De fato, aqueles
in Italia, in molte nazioni dell’Europa, eram tempos muito difíceis para a
un po' in tutto il mondo. La massoneria Igreja na Itá lia, em muitas naçõ es da
spadroneggiava, e i Governi n' erano Europa, e um pouco em todo o mundo.
divenuti docili strumenti. Con aria di A Maçonaria dominava e os governos
millantatore Satana lanciava a Dio una se tornaram instrumentos dó ceis. Com
sfida. — «E se mi deste un po' più di um ar de fanfarrã o, Sataná s lançou um
libertà , voi vedreste che cosa farei io desafio a Deus. "Se me desses um
della vostra chiesa!». — «Cosa ne pouco mais de liberdade, verias o que
faresti?» — «La distruggerei». — «Oh, eu faria com a vossa Igreja! ». - «O que
questo poi sarebbe da vedere. Quanto farias com ela? "Eu a destruiria. " – Ah
tempo ti ci vorrebbe?». — «Cinquanta, é?! Vamos entã o ver. Quanto tempo
sessant’anni». «Abbiti la più ampia precisarias? - "Cinquenta, sessenta
libertà , e il tempo che desideri. Poi anos". «Esteja entã o à vontade e use o
faremo i conti». tempo que precisar. Depois faremos as
contas ».

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