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UMA VERIFICAÇÃO DA PERFORMANCE DA GEOCÉLULA QUANDO EXPOSTA A

CARGAS AXIAIS POR MEIO DE ENSAIOS DE PLACA

A VERIFICATION OF GEOCELL PERFORMANCE WHEN EXPOSED TO AXIAL


LOADS THROUGH FOOTING TEST

Miguel, Gustavo D.; University of Passo Fundo, Passo Fundo, Brazil, gustavo2995@hotmail.com
Favretto, Julia; University of Passo Fundo, Passo Fundo, Brazil, juliafavretto@hotmail.com
Floss, Márcio F.; University of Passo Fundo, Passo Fundo, Brazil, marciofloss@upf.br

RESUMO

Muitas variáveis precisam ser ainda esclarecidas quanto do emprego de materiais sintéticos na área de
geotecnia, assunto este que engloba um melhor esclarecimento de como o material sintético geocélula
poderá vir a responder quando solicitado de diversas maneiras. O presente trabalho, por meio de ensaios
laboratoriais, tenta explicar o comportamento da geocélula quando esta exposta a cargas em dois locais
diferentes de sua estrutura, com carregamento no centro de uma de suas células e, com carregamento em
uma das paredes de suas células. Além disto, ensaios sem a utilização do reforço foram realizados para
posterior comparação. A análise foi realizada por meio de dois fatores, Fator de Melhora da Capacidade (If)
e Porcentagem da Redução dos Deslocamentos na Sapata (PRS), comparando-se cada um dos três tipos
de ensaios realizados sendo estes sujeitos a trajetória de ruptura. Como resultado, o centro de uma das
células demonstrou ser o melhor lugar pare se realizar o carregamento em geocélulas também, é possível
estimar uma melhora da capacidade de carga de cerca de 91% quando comparado ao solo que não possuía
reforço e uma redução de aproximadamente de 87% dos recalques.

ABSTRACT

There are many variables needing to be answered about how geocell works. The present paper will try to
explain some of new behaviors found when the geocell was exposed to loads in two different locations, in
the center of a cell of the geocell and in the wall of the one cell of geocell. Furthermore, were performed
tests without geocell. The analysis was carried out through the Bearing Capacity Improvement Factor (If)
and Settlement Reduction (PRS), when were performed three different types of plate load test and
subjected the specimen to the rupture trajectory. As result, on the center of a cell demonstrate to be the
best place to loading a geocell mattress, it is possible to estimate a bearing capacity improvement in up to
91% more when compared to the unreinforced sand and a reduction approximately of 87% of the
settlements.

1- INTRODUÇÃO

Geocélulas tem sido utilizadas em sua grande maioria como formas de contenção ou, então, como uma
metodologia para reforço de solo e assim contribuir com sua capacidade de suporte e solucionar problemas
desafiadores que envolvem a engenharia geotécnica Hegde e Sitharam (2015). Seu formato de colmeia
proporciona um confinamento do material localizado no interior de cada uma das células, reduzindo assim
o movimento lateral que o solo possa vir a desenvolver (Pokharel et al. 2009). A inclusão da geocélula em
substratos granulares como areias, aumenta sua capacidade de suporte e, consequentemente, seu módulo
de elasticidade (Han et al. 2008). Tingle e Jersey (2007) indicam os geossintéticos como uma solução para
estradas vicinais não pavimentadas. Dash et al. (2001) e Dash et al. (2003), apresentaram em suas
pesquisas uma abordagem bastante ampla do funcionamento da geocélula a qual resultou em interessantes
respostas para que haja um melhor aproveitamento do benefício deste geossintético, tais como o correto
tamanho de geocélula a ser utilizado e demais parâmetros relevantes a utilização desta.

Zhou e Wen (2008) se referem a geocélula como uma membrana tensionada que faz com que as tensões
sejam distribuídas a uma área maior e, consequentemente, mobilizando uma maior quantidade de
resistência. Han et al. (2008) conduziram quatro ensaios de placa no interior de uma caixa de acomodação
esta preenchida com areia, como reforço foi utilizado uma geocélula que tinha como matéria prima
Polietileno de Alta Densidade (HDPE) sendo esta preenchida com a própria areia do solo de fundação. A
fundação representada por uma placa foi alocada exatamente no centro de uma das células, sem qualquer
contato com as bordas da geocélula. Como resultados, um aumento na capacidade de suporte e um
aumento do módulo de elasticidade foi observado para os casos de areia reforçada. Os autores mencionam
também, que a posição da placa sobre a geocélula afeta a distribuição da máxima força de compressão e
da dissipação da tensão cisalhante, ou seja, que para determinadas posições da placa uma maior resistência
de interface entre solo e parede da geocélula pode ser mobilizada. Da mesma forma, Pokharel et al. (2009)
realizaram ensaios similares utilizando uma única célula de um colchão de geocélulas, entretanto, além da
aplicação de carregamentos estáticos, foram submetidos ao substrato reforçado também carregamentos
cíclicos. Como conclusão, os autores perceberam que a inserção da geocélula aumentou a rigidez do solo
e uma redução da deformação plástica.

Desta forma, este estudo tem como principal objetivo descobrir novos comportamentos que um reforço de
geocélula pode vir a desenvolver quando submetido a um carregamento estático por meio de ensaios de
placa, sendo este reforço solicitado através de diversos pontos de sua estrutura. Este estudo, apesar de
recente, vislumbra com o passar de seu desenvolvimento entender o real comportamento de geocélulas
estas testadas por meio de ensaios laboratoriais e, quiçá um dia, poder extrapolar tais resultados para o
cenário real minimizando a dependência de ensaios de placa in situ os quais envolvem variáveis muitas
vezes que fogem ao controle humano. Assim, os ensaios de placa foram realizados tanto em uma areia a
qual possuía o reforço de geocélula quanto em uma areia a qual não possuía qualquer reforço para que
posteriormente fosse realizada a comparação dos resultados.

2- PROPRIEDADE DOS MATERIAIS

2.1 - Geocélula

A geocélula utilizada nos ensaios experimentais tinha como matéria prima o Polipropileno, com seus nós
de ligação conectados por meio de costura formando assim, um colchão em formato de colmeia. Além
disto, a altura da geocélula utilizada foi de 50 mm onde cada célula possuía um comprimento e largura
respectivamente de 270 mm, consequentemente uma área de 72900 mm². As superfícies de suas paredes
eram lisas, sem quaisquer buracos ou texturas e, possuíam uma espessura de 1,8 mm. O catálogo técnico
do fabricante sugeria ua resistência transversal dos nós de ligação de 900 N, tentados conforme normativos
brasileiros em vigência.

2.2 - Areia

Uma caixa de acomodação foi confeccionada para que se realizassem as provas de carga, para
preenchimento desta foi utilizada uma areia mal graduada conhecida localmente como areia de Osório
devido a esta ser extraída da jazida localizada no município de Osório/RS Brasil. Sua granulometria é
exposta na Figura 1, sendo que o diâmetro médio dos grãos (D50) desta areia é de 0,160 mm. O índice de
vazios mínimo e máximo é respectivamente, 0,702 e 0,913. Vendruscolo (2003) realizou diversos ensaios
triaxiais sobre o mesmo material e pode inferir que esta areia possui um ângulo de atrito de pico de 36,0°.
Além disto, a areia de Osório possui um peso específico de 2,63 g/cm³ determinado por Donato (2007).

Figura 1 - Distribuição granulométrica areia de Osório

3- METODOLOGIA

Oito ensaios de placa foram conduzidos sobre uma caixa de acomodação, onde suas dimensões podem ser
observadas na Figura 2 (700 mm x 900 mm x 900 mm). Anteriormente a realização do ensaio de placa, a
areia de Osório foi misturada com água de abastecimento público para que esta atingisse a umidade de
10%. Os corpos de prova, ou seja, o interior da caixa de acomodação foi confeccionado de forma tal a se
atingir uma densidade relativa de 50% para este estudo. O processo de preenchimento da caixa foi
realizado através da divisão desta em seis camadas iguais, cada qual contendo uma espessura de 100 mm,
com a intensão de se garantir a correta densidade no interior de toda caixa de acomodação (Figura 2).
Com o mesmo intuito, para garantir a densidade desejada, a massa para cada uma das camadas foi
calculada. Após a inserção da massa respectiva para cada uma das camadas, iniciava-se o procedimento
de compactação manual até que a areia atingisse a espessura desejada (a caixa possuía marcações a cada
100 mm). Foram desenvolvidos dois tipos de testes, areia reforçada com geocélula e apenas areia, para
que posteriormente fosse possível a realização da comparação. Para os casos os quais possuíam a inclusão
da geocélula, esta foi alocada no meio da última camada de preenchimento, ou seja, próximo a superfície
da caixa de acomodação existindo apenas uma fina camada de 20 mm de areia entre a geocélula e a placa
que representa uma fundação direta, esta fina camada foi deixada para que se evitasse o contato direto
entre a placa e a geocélula. Durante a moldagem da última camada, a geocélula era instalada incialmente
e, logo em seguida tanto seu entorno quanto seu interior, eram preenchidos simultaneamente com o mesmo
solo que serviu de fundação.

Figura 2 - Configuração dos ensaios

Como uma fundação direta, uma placa circular foi utilizada para aplicação do carregamento sendo que esta
continha 150 mm de diâmetro e 14,05 mm de espessura. O tamanho desta placa foi selecionado justamente
para que não houvesse qualquer contato desta com as laterais da geocélula quando o carregamento se
desse no centro de uma das células também, o tamanho desta placa garante que não venha a ocorrer
nenhum efeito de confinamento por parte da caixa de acomodação. As cargas foram aplicadas com auxílio
de um macaco hidráulico apoiado sobre uma estrutura de reação, sendo que as cargas eram monitoradas
por meio de uma célula de carga. Uma esfera metálica foi posicionada entre o sistema de aplicação de
cargas e o sistema de reação para que nenhum tipo de momento pudesse vir a ser transmitido a placa
devido a alguma descentralização dos sistemas. O carregamento foi aplicado a placa circular através de
pequenos incrementos, onde cada incremento foi mantido constante até que o recalque da sapata se
estabilizasse. Os recalques desenvolvidos pela placa durante o carregamento, foram monitorados através
de duas réguas resistivas instaladas sobre a própria placa de fundação uma oposta a outra e sobre a linha
de centro da placa (Figura 2) e, a deformação do solo na superfície ao entorno da placa (elevação/recalque)
foi monitorada por três defletômetros digitais instalados a 50, 150 e 250 mm de distância da borda da
placa (Figura 3). Na ausência de uma falha clara do solo, ruptura, o carregamento foi aplicado até que se
atingissem pelo menos 25 mm de recalque.
Figura 3 – Localização de cada um dos defletômetros sobre a superfície do solo; e, parâmetros geométricos: altura da
camada de geocélula (h); largura do colchão de geocélula (b); profundidade de instalação do colchão de geocélula (u);
diâmetro da placa (B)

Como o objetivo principal deste estudo é analisar o comportamento de uma geocélula quando esta
solicitada em diferentes locais de sua estrutura assim, foram aplicadas cargas sobre o centro de uma das
células e sobre a parede de ligação de uma das células. A Figura 4 exemplifica a região da aplicação de
cada um dos carregamentos, a placa foi mantida fixa sendo movimentado apenas o colchão de geocélula.

(a) (b)

Figura 4 – Locais de carregamento: a) centro de uma das células; b) parede de uma das células

A geometria dos ensaios realizados é mostrada na Figura 3, sendo que as configurações e detalhes de cada
um dos ensaios são abordados pela Tabela 1. As seleções destas novas configurações de ensaios basearam-
se em estudos preliminares já realizados por Dash et al. (2001) e Dash et al. (2003). Os parâmetros
extraídos e mensurados durante cada um dos ensaios incluíram o comportamento tensão-deformação de
cada um dos moldes bem como a sua deformação na superfície. Os testes foram repetidos duas vezes em
cada uma de suas variações afim de eximir qualquer dúvida do comportamento.

Tabela 1 – Descrição dos parâmetros geométricos adotados e cada ensaio

Teste padrão Detalhes

A Teste sem aplicação de reforço, com densidade relativa de 50 % e umidade de 10%

Variável: Local da placa – centro de uma das


células
B Constante: h/B=0,33; b/B=6; u/B=0,13; geocélula
de polipropileno; DR = 50%; U = 10%;
geocélula padrão diamante
Variável: Local da placa – parede de uma das
células
C Constante: h/B=0,33; b/B=6; u/B=0,13; geocélula
de polipropileno; DR = 50%; U = 10%;
geocélula padrão diamante
4- REULTADOS E DISCUSSÕES

Uma análise foi realizada através de alguns aspectos e são estes, a performance da melhora da capacidade
de carga é mostrada através do Fator de Melhora da Capacidade - If (adimensional) onde foi utilizado a
razão entre a tensão aplicada ao solo reforçado com a tensão aplicada ao solo não reforçado. Além disto,
foi realizada a verificação do desenvolvimento dos recalques para cada um dos tipos de ensaio isto se
dando através do fator denominado Porcentagem da Redução dos Deslocamentos na Sapata – PRS (%)
ocorrendo para tensões definidas. Tanto o recalque da placa (s) quanto a deformação da superfície (δ
elevação/recalque) ambos são expressos de maneira adimensional em termos do diâmetro da placa, ou
seja, normalizados através do diâmetro da placa como s/B (%) e δ/B (%)

Abaixo, a Figura 5 ilustra o comportamento do reforço de geocélula realizando uma comparação com as
três variações de ensaios. Em todos os casos a tensão de ruptura é definida e, pode ser observado no caso
do solo não reforçado, que a falha ocorre a tensões inferiores a àquelas quando o solo foi reforçado com a
geocélula.

Figura 5 - Tensão aplicada, uma comparação entre cada um dos ensaios realizados

Em um primeiro momento, quando é utilizado a placa no centro de uma das células, é noticiado uma ampla
melhora da capacidade quando comparado ao solo o qual não possuía o reforço. O recalque se desenvolveu
a taxas menores do que quando solo não possuía qualquer reforço, isto provavelmente devido ao efeito
confinamento disponibilizado pela geocélula o qual não havia nos casos dos testes denominados como A
(sem reforço). Este efeito pode ser notado no caso da Figura 5, através da curva tesão-deformação do
ensaio o qual teve o carregamento aplicado sobre o centro de uma das células, onde sua curva se apresenta
acima das demais durante certo período no decorrer do ensaio.

Quando a geocélula foi submetida a carregamentos em uma das paredes de uma das células, este tipo de
teste mostrou uma alta melhora da capacidade de carga. O comportamento do teste denominado como C
se deu com a elevação das cargas mesmo após uma ruptura total do solo, isto por que, mesmo após a
ruptura solo a placa continua a solicitar apenas a estrutura da geocélula possibilitando mesmo assim
incrementos de carga, neste momento já não há mais influência do solo, e neste caso apenas a estrutura
da geocélula é o que suporta a placa. Como mencionado por Dash et al. (2001), é devido à resistência ao
cisalhamento e a flexão da geocélula que, mesmo após a ruptura da areia, esta tende a suportar a fundação.

Mesmo a um recalque próximo a 50% da largura da placa, a capacidade de carga do solo reforçado com
geocélula quando solicitado através de uma de suas paredes da célula, apresenta uma melhora de cerca
de 1,6 a 2,0 vezes superior ao solo o qual não possuía qualquer reforço. Esta melhora inicia quando a
geocélula dá ao solo uma enorme ancoragem e, com isto, expandindo a área carregada o que resulta em
uma maior resistência passiva mobilizada visto que uma maior massa de solo necessita se deslocar para
que ocorra a ruptura. Além disto, para os casos em que ocorreram a inserção da geocélula, as trincas
desenvolvidas na superfície tiveram uma redução pela metade em suas espessuras somado a mudança em
suas direções que passaram a acompanhar a estrutura da geocélula.
O Fator de Melhora da Capacidade (If) para os testes padrões B e D são apresentados na Tabela 2 e na
Figura 6.

Tabela 2 - Variação do Fator de Melhora da Capacidade (If) para os casos dos testes padrões: B e C
Fator de Melhora da Capacidade (If)
Teste
(s/B) %
padrão
1 3 5 10 15 20 30
B 1,91 1,50 1,40 1,31 1,27 1,24 1,21
C 1,27 1,46 1,50 1,54 1,56 1,57 1,59

Os testes padrões B resultaram em um alto Fator de Melhora da Capacidade, entretanto este reduziu ao
longo do ensaio conforme se desenvolviam os recalques. Provavelmente, isto se dê devido a pequena altura
da parede da geocélula (50 mm) e a grande espessura da placa utilizada como fundação direta com isto,
o efeito de confinamento acabou por não atuar no caso de recalques acentuados. Dash et al. (2001) sugere
que para que se obtenha o melhor aproveitamento do efeito de confinamento proporcionado pela geocélula,
a razão h/B (altura da geocélula/largura da fundação) esta necessariamente deva variar entre 2,75 até
3,14, neste estudo h/B é igual a 0,33 o que justifica o comportamento ocorrido. No caso dos testes padrão
C, o fator If cresce conforme se desenvolvem os recalques sendo que isto pode ser justificado devido a
rigidez da geocélula visto que, trata-se da solicitação da mesma em local específico de sua estrutura. A
melhora da capacidade de carga ficou em torno de 59% quando a geocélula foi solicitada através de uma
de suas paredes de célula.

Figura 6 - Variação do Fator de Melhora da Capacidade em relação aos recalques desenvolvidos para os testes padrões
BeC

A melhora de capacidade de carga do solo não é o único benefício quando da inserção da geocélula, em
algumas vezes o tipo de ruptura também pode ser alterado inserção desta, passando para uma ruptura
não catastrófica devido à grande redução dos recalques ocorridos bem como, com a redução das trincas
desenvolvidas ao entorno da placa. Para expressar a redução dos recalques, foram definidas tensões
específicas estas desenvolvidas durante os ensaios e, após isto, realizada uma análise através da
Porcentagem da Redução dos Deslocamentos na Sapata (PRS) para cada uma das variações de ensaios.
Os resultados são apresentados pela Tabela 3 e Figura 7.

Da mesma forma que no Fator de Melhora da Capacidade, no caso dos testes padrão B é noticiado uma
alta redução dos recalques desenvolvidos e uma pequena variação conforme são aumentadas as tensões.
Carregamento aplicado no centro de uma célula demonstrou ser o melhor lugar para que se ocorressem
uma maior redução dos recalques, atingindo uma redução de cerca de até 87% comparado ao solo o qual
não possuía reforço. A 350 kPa de tensão, todos os testes apresentaram uma redução mínima dos recalques
de em torno de 71% até 78%.
Tabela 3 - Variação da Porcentagem da Redução dos Deslocamentos na Sapata (PRS) para os casos dos testes
padrões: B e C
Porcentagem de Redução dos Deslocamentos na Sapata
Teste (PRS) - %
padrão kPa
100 150 200 250 300 350
B 86,8 85,4 83,7 81,9 79,9 77,7
C 0,6 22,3 39,3 52,6 62,9 71,0

A Figura 7 ilustra a tabela acima, testes padrão B resultaram em uma reposta quase linear durante a
variação da tensão. Além disto, há uma convergência entre ambos os ensaios após determinada tensão,
isto significa que independentemente do local da placa, a geocélula irá proporcionar uma redução mínima
dos recalques de cerca de 70% comparado a areia sem reforço.

Figura 7 - Variação da Variação da Porcentagem da Redução dos Deslocamentos na Sapata para definidas tensões

Os resultados da deformação do solo entrono da placa são apresentados pela Figura 8. As figuras ilustram
o comportamento de cada defletômetro localizado a 50, 150 e 250 mm distante da borda da placa. O sinal
negativo indica um levantamento enquanto que, o sinal positivo um recalque ocorrido.

Testes padrão A, areia sem o reforço de geocélula, apresentaram uma grande elevação do solo logo a
instantes iniciais de carregamento no caso do defletômetro localizado a 50 mm de distância (Figura 8a).
Quando foram aplicados carregamentos sem qualquer reforço, as deformações ocorridas se concentraram
ao entorno da placa, fazendo com que apenas um local específico fosse mobilizado e sem envolver o corpo
de prova por completo, além disto, grandes elevações da superfície são notadas.
(a) (b)

Figura 8 - Deformação da superfície ao entorno da placa a: a) 50 mm; b) 150 mm e, C) 250 mm

Para os casos dos testes padrão B, carregamento aplicado no centro de uma das células, é percebido uma
redução dos movimentos na superfície ao entorno da placa como pode ser visto em todos os defletômetros.
As deformações se mantiveram estáveis mesmo próximo a ruptura do solo e, após isto, um pequeno
levantamento é observado. Além disto, para o mesmo padrão de ensaios, não é noticiado qualquer
movimento no defletômetro localizado a 250 mm distante da borda da placa (Figura 8c), isto devido ao
efeito de confinamento proporcionado que atua minimizando as deformações contendo as deformações
laterais do solo.

Testes padrão C, carregamento aplicado sobre a parede de uma das células da geocélula, foi o único caso
em que ocorreram recalques durante cada um dos testes, o recalque ocorreu principalmente nos
defletômetros localizados a 50 e 150 mm de distância da borda da placa, com um leve levantamento no
defletômetro a 250 mm próximo a ruptura do solo. Diferente dos outros, o teste padrão C demonstrou
muito mais movimentação no defletômetro localizado a 250 mm de distância. Quando aplicado
carregamentos na parede de uma das células, o reforço conduziu a um movimento uniforme, envolvendo
todo o corpo de prova assim, é possível declarar que quando utilizada a geocélula como reforço, uma maior
área de solo é mobilizada consequentemente envolvida o que contribui para uma maior capacidade de
carga e uma estabilização dos recalques.
5- SUMÁRIO E CONCLUSÕES

Este artigo apresentou os resultados obtidos de ensaios laboratoriais realizado através de provas de carga
sobre uma placa circular sendo esta instalada sobre um substrato homogêneo reforçado por meio da
aplicação de geocélulas. Como já mencionado, este estudo vislumbra com o passar de seu desenvolvimento
entender o real comportamento de geocélulas estas testadas por meio de ensaios unicamente laboratoriais
e, quiçá um dia, poder extrapolar tais resultados para o cenário real minimizando a dependência de ensaios
de placa in situ. Portanto, os resultados aqui expostos precisam ainda serem utilizados com cautela,
parâmetros adicionais como os aqui mencionados são também discutidos em Dash et al. (2001); Dash et
al. (2003); Mandal e Gupta (1994); Rajagopal et al. (1999); Rea e Mitchell (1978), que em conjunto aos
aqui mencionados podem contribuir para uma melhor utilização da geocélula.

Baseado nos resultados obtidos do presente estudo, as seguintes conclusões podem serem inferidas sobre
o comportamento da geocélula quando solicitada através de dois pontos distintos de sua estrutura.

1- O centro de uma das células demonstrou ser o melhor lugar para se aplicar um carregamento em
um colchão de geocélulas, uma melhora da capacidade de carga de cerca de 91% é observada ao
compararmos com os ensaios aqueles os quais não possuíam o reforço. Além disto, no centro de
uma das células foram registrados uma redução dos recalques de cerca de 87%. Entretanto, para
que estes benefícios sejam mantidos é importante garantir a altura correta da geocélula que,
conforme mencionado por Dash et al. (2001), esta seria em torno de h/B= 2,75 – 3,14.

2- Quando a geocélula foi solicitada no centro de uma das células, foi verificado uma redução do
movimento do solo junto a superfície, a elevação/recalque da superfície se mantiveram estáveis e
constantes ao longo do ensaio devido ao efeito de confinamento proporcionado pela geocelula que
minimizou as movimentações laterais do solo. Enquanto isto, durante as outras variações de
ensaios esta redução do movimento na superfície não é observada.

3- Carregamentos aplicados sobre a parede de uma das células da geocélula apresentaram uma alta
melhora da capacidade de carga, onde a geocélula suportou a placa mesmo após a ruptura do solo
isto sendo consequência da localização do carregamento como também da alta rigidez do reforço.

4- O uso da geocélula contribui para a mudança do tipo de ruptura, uma ruptura não catastrófica é
observada após a inserção do reforço. A geocélula também contribuiu para a redução da espessura
das trincas desenvolvidas sobre a superfície do solo quando este se localizava próximo a sua falha.

5- Independentemente da localização da placa sobre a geocélula, a aplicação do reforço de geocélula


irá proporcionar uma redução dos recalques mínima em torno de 70% comparado a uma areia a
qual não possui o reforço.

REFERÊNCIAS

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