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Escoamento real
Na página anterior foi comentada a equação de Bernoulli, que vale para o escoamento de
um fluido incompressível sem atrito com as paredes da tubulação.
Os líquidos reais têm alguma compressibilidade, mas ela é tão pequena que eles podem ser
considerados incompressíveis e os erros são desprezíveis.
As tubulações reais, no entanto, oferecem resistência ao escoamento e isso não pode ser
desprezado na maioria dos casos, sob pena de erros consideráveis.
Para uma tubulação real, pode ser considerada essa igualdade com um dos membros
acrescido de uma altura correspondente à perda de pressão devido ao atrito com a
tubulação. Essa é a chamada perda de carga.
Ou seja, para fins de cálculo, uma tubulação real é considerada uma ideal acrescida da
parcela da perda de carga.
As fórmulas que permitem o cálculo da perda de carga dão em geral valores por unidade de
comprimento de tubulação (perda de carga unitária), simbolizada por J. Se, por exemplo, J
é dado em metro por metro (m/m) e o comprimento L da tubulação também é em metros,
temos
Ha = J L.
O método mais preciso de cálculo da perda de carga unitária é dado pela equação de Darcy-
Weisbach, J = f v2 / (2 g D), onde
Se Re < 2000 o escoamento é dito laminar. Se Re > 4000 o escoamento é dito turbulento.
Entre os dois valores existe uma zona de transição, para a qual não há fórmula precisa. Na
maioria dos casos práticos, os escoamentos são turbulentos.
Com esses dados, o valor de f pode ser determinado por gráficos ou métodos iterativos. Por
enquanto, isso não é dado nesta página. A alternativa mais simples é o uso de alguma
fórmula empírica como a de Hazen-Williams. Alguns especialistas contemporâneos
sugerem o abandono da mesma, alegando que os métodos computacionais estão
disseminados e, portanto, não mais se justifica o uso. Mas é simples e por isso colocada
nesta primeira versão de página, lembrando que é uma fórmula aproximada e válida
somente para instalações comuns de água.
m3/h
Perda de carga unitária (J) m/m
Valores adotados para o coeficiente C: aço galvanizado 125, aço soldado 130,
cimento-amianto 130, ferro fundido revestido 125, polietileno 120, PVC ou cobre
140.
Perdas localizadas e comprimento equivalente
Galvanizado
15 20 25 32 40 50 60 75 100 125 150
PVC/cobre
0,4 0,6 0,7 0,9 1,1 1,4 1,7 2,1 2,8 3,7 4,3
Joelho 90º
1,1 1,2 1,5 2,0 3,2 3,4 3,7 3,9 4,3 4,9 5,4
0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,8 0,9 1,2 1,5 1,9 2,3
Joelho 45º
0,4 0,5 0,7 1,0 1,3 1,5 1,7 1,8 1,9 2,4 2,6
0,2 0,3 0,3 0,4 0,5 0,6 0,8 1,0 1,3 1,6 1,9
Curva 90º
0,4 0,5 0,6 0,7 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,9 2,1
0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,9 1,1
Curva 45º
0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2
0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3 1,6 2,1 2,7 3,4
Tê fluxo direto
0,7 0,8 0,9 1,5 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 3,3 3,8
1,0 1,4 1,7 2,3 2,8 3,5 4,3 5,2 6,7 8,4 10,0
Tê fluxo lateral
2,3 2,4 3,1 4,6 7,3 7,6 7,8 8,0 8,3 10,0 11,1
1,0 1,4 1,7 2,3 2,8 3,5 4,3 5,2 6,7 8,4 10,0
Tê fluxo bilateral
2,3 2,4 3,1 4,6 7,3 7,6 7,8 8,0 8,3 10,0 11,1
Saída de 0,4 0,5 0,7 0,9 1,0 1,5 1,9 2,2 3,2 4,0 5,0
tubulação 0,8 0,9 1,3 1,4 3,2 3,3 3,5 3,7 3,9 4,9 5,5
Entrada de tan- 0,2 0,2 0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,6 2,0 2,5
que s/ borda 0,3 0,4 0,5 0,6 1,0 1,5 1,6 2,0 2,2 2,5 2,8
Entrada de tan- 0,4 0,5 0,7 0,9 1,0 1,5 1,9 2,2 3,2 4,0 5,0
que c/ borda 0,9 1,0 1,2 1,8 2,3 2,8 3,3 3,7 4,0 5,0 5,6
Registro gaveta 0,1 0,1 0,2 0,2 0,3 0,4 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1
aberto 0,1 0,2 0,3 0,4 0,7 0,8 0,9 0,9 1,0 1,1 1,2
Registro globo 4,9 6,7 8,2 11,3 13,4 17,4 21,0 26,0 34,0 43,0 51,0
aberto 11,1 11,4 15,0 22,0 35,8 37,9 38,0 40,0 42,3 50,9 56,7
Registro 2,6 3,6 4,6 5,6 6,7 8,5 10,0 13,0 17,0 21,0 26,0
angular 5,9 6,1 8,4 10,5 17,0 18,5 19,0 20,0 22,1 26,2 28,9
Válvula de pé 3,6 5,6 7,3 10,0 11,6 14,0 17,0 20,0 23,0 30,0 39,0
e crivo 8,1 9,5 13,3 15,5 18,3 23,7 25,0 26,8 28,6 37,4 43,4
Válvula de re- 1,1 1,6 2,1 2,7 3,2 4,2 5,2 6,3 8,4 10,4 12,5
tenção leve 2,5 2,7 3,8 4,9 6,8 7,1 8,2 9,3 10,4 12,5 13,9
Válvula de re- 1,6 2,4 3,2 4,0 4,8 6,4 8,1 9,7 12,9 16,1 19,3
tenção pesada 3,6 4,1 5,8 7,4 9,1 10,8 12,5 14,2 16,0 19,2 21,4
Galvanizado
15 20 25 32 40 50 60 75 100 125 150
PVC/cobre
Fluidos IIA - Cálculo de tubulação para água fria - Parte 2/2
Notar, conforme o primeiro tópico, que a equação de Bernoulli tem 6 variáveis (a perda Ha
pode ser calculada a partir das outras) e, portanto, é preciso ter 5 conhecidas para a
determinação da sexta.
Portanto, é possível determinar a pressão necessária em A, que será a diferença das alturas
físicas acrescida da perda de carga na tubulação.
Suponha agora que o ponto A é a saída de uma bomba. Pelas fórmulas e também pela
dedução óbvia, quanto menor D maior a perda de carga e, portanto, mais potente deve ser a
bomba, com maior custo de aquisição e maior consumo de energia. Mas, em compensação,
o custo da tubulação é menor. E vice-versa. Então, o dimensionamento da bitola D parece
ser o melhor compromisso entre esses custos.
Mas existe um critério técnico que deve ser observado: a velocidade do fluxo. Velocidades
muito baixas exigem tubos de grande diâmetro que são antieconômicos. Velocidades muito
altas produzem ruídos e desgastes prematuros. No caso de bombas centrífugas, as
velocidades recomendadas são:
A Figura 5 dá exemplo de uma rede para bombear água de um reservatório inferior para um
superior. Bastante usado em edifícios, indústrias e outros. É suposta uma vazão Q = 15
m3/h (ou 0,00417 m3/s). Deseja-se saber uma bitola satisfatória para uma tubulação de
PVC e a capacidade da bomba.
Para a linha de recalque, a velocidade pode ser maior. Assim, tentamos um valor
padronizado logo abaixo (D = 50 mm = 0,05 m): v ≈ 4 0,00417 / (3,14 0,05 0,05) ≈ 2,12
m/s. O valor está dentro da faixa recomendada e a bitola será em princípio adotada.
Desde que a bomba produz um aumento de pressão do fluxo, a análise fica mais fácil se as
linhas de sucção (01) e de recalque (23) são separadas.
Linha de sucção:
Consideramos que o nível da água está apenas um pouco acima da válvula de pé (é a pior
situação). Nesta condição, podemos desprezar a coluna de líquido e considerar a pressão
em 0 como sendo a pressão atmosférica (a equação de Bernoulli usa pressões absolutas).
Assim, p0 = patm. O nível zero de referência arbitrado passa por esse ponto e, portanto, h0
= 0. A água no reservatório está em repouso e a sucção da bomba a acelera para entrar na
tubulação com a velocidade de sucção anteriormente calculada. Assim, é lícito supor uma
situação limite e c0 = 0.
E, aplicando a equação de Bernoulli para tubos reais conforme tópico inicial, temos
Linha de recalque:
As três últimas parcelas são as perdas para registro gaveta, válvula de retenção pesada e
saída de tubulação, conforme tabela da página anterior.
Para que a água possa fluir nessas condições, a bomba deve produzir um aumento de
pressão igual à diferença entre as pressões dos pontos 2 e 1. Fazendo a diferença com o
valor calculado para o ponto 1, temos
Desde que a massa específica da água e a aceleração da gravidade são conhecidos, pode-se
calcular essa diferença. Entretanto, no caso de bombas, é praxe a indicação em altura e o
valor encontrado (60,35 m) é dito altura manométrica da bomba. Agora, é só procurar em
catálogos de fabricantes uma bomba com altura manométrica e vazão iguais ou próximas
dos valores aqui definidos ou calculados (60,35 m e 15 m3/h).
Pode-se tentar o cálculo com outros diâmetros de tubulações para um estudo econômico,
conforme mencionado no tópico anterior.
Notar que é uma pressão menor que a da atmosfera e seu valor é tanto menor quanto maior
for a altura de sucção e/ou perdas na mesma. Se a pressão atingir a faixa da pressão de
vapor da água, esta se vaporiza e partículas se condensam de forma brusca em zonas de
maior pressão. Isso se chama cavitação e é um fenômeno altamente indesejável porque
provoca ruídos, queda de rendimento e desgaste prematuro de partes internas.