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Olhar de Professor

ISSN: 1518-5648
olhardeprofessor@uepg.br
Departamento de Métodos e Técnicas de
Ensino
Brasil

Junqueira Marin, Alda; Orlando Zeppone, Rosimeire Maria


O TRABALHO DOCENTE E A INCLUSÃO ESCOLAR: IMPACTOS E MUDANÇAS EM SALA DE
AULA
Olhar de Professor, vol. 15, núm. 1, 2012, pp. 145-155
Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino
Paraná, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=68423875011

Como citar este artigo


Número completo
Sistema de Informação Científica
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DOI: 10.5212/OlharProfr.v.15i1.0010

O TRABALHO DOCENTE E A INCLUSÃO ESCOLAR:


IMPACTOS E MUDANÇAS EM SALA DE AULA

TEACHERS WORK AND SCHOOL INCLUSION: 
IMPACTS AND CHANGES IN THE CLASSROOM
Alda Junqueira Marin*
Rosimeire Maria Orlando Zeppone**

Resumo: Este estudo tem como foco problematizar alguns impactos da política de inclusão escolar
no trabalho de professoras das séries iniciais do ensino fundamental. Seu objetivo é descrever e
analisar situações de sala de aula para compreensão de aspectos pedagógicos detectados com auxílio de
questionários, entrevistas e observações em abordagem de cunho etnográfico. Os dados obtidos foram
analisados por meio da categoria teórica de habitus, proposta por Bourdieu (1989), e das categorias
ação e prática, conforme delimitadas por Gimeno (1998). Foi possível identificar impactos iniciais das
políticas e mudanças organizadas ao redor de algumas chaves de análise selecionadas para este artigo:
procedimentos para ensinar, aprender, avaliar e dinâmicas de socialização. A hipótese inicial orientadora
do estudo foi comprovada, pois a inclusão escolar de alunos com deficiência no ensino regular das redes
de ensino causa impactos diferenciados no trabalho dos professores. Em face de disposições presentes
em seus habitus, as professoras iniciaram seu trabalho com as práticas entendidas como disposições
culturais presentes nas escolas instaladas para o trabalho com crianças sem deficiência. Gradativamente
passaram a ter ações diferenciadas entre elas, mas alterando seus procedimentos para ensinar de modo
que todas as crianças passassem a aprender e para avaliá-las, assim como tomaram providências para
novas necessidades de dinâmicas de socialização entre as crianças, apesar do acúmulo de trabalho e das
condições precárias.

Palavras-chave: Educação Especial. Políticas de Inclusão Escolar. Trabalho Docente.

Abstract: This study focuses on discussing some impacts of the inclusion policy in the work of school
teachers of initial grades of elementary school. It aims at the description and analysis of classroom
situations to understand pedagogical aspects detected with the aid of questionnaires, interviews and
observations in an ethnographic approach. The obtained data were analyzed by means of the theoretical
category habitus, proposed by Bourdieu (1989) and categories of action and practice, as bounded by
Gimeno (1998). It was possible to identify initial impacts of policy changes and organized changes
around a few key analysis selected for this presentation: procedures for teaching, learning, rate and
dynamics of socialization. The initial hypothesis guiding the study was confirmed, because the school
inclusion of students with disabilities in the mainstream of education networks causes differentiated

*
Doutora em Ciência Educação pela UNESP. Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, História, Política, Sociedade. E-mail: <aldamarin@pucsp.br>
*
Doctor in Science Education from UNESP. Professor at the Catholic University of São Paulo. Postgraduation
programme in Education, History, Politics, Society. E-mail: <aldamarin@pucsp.br>
**
Doutora em Educação Escolar pela UNESP. Professora temporária da Universidade Federal de São Carlos.
Departamento de Psicologia. E-mail: <mzeppone@gmail.com>
**
Doctor in School Education from UNESP. Temporary Professor at the Federal University of São Carlos.
Psychology Department. E-mail: <mzeppone@gmail.com>

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O trabalho docente e a inclusão escolar: impactos e mudanças em sala de aula

impacts to the work of teachers. Face to these provisions present in their habitus, the teachers began
their work with extended practices such as cultural dispositions present in the schools established to
work with children without disabilities. Gradually, they started to have different actions among them,
but changing its procedures to teach so that all children could learn and to evaluate them, as well as they
took measures to the needs for the dynamics of socialization among children, despite the accumulation
of work and poor conditions.

Keywords:  Special Education. School Inclusion Policy. Teaching Work.

Introdução

No Brasil, importantes prescri- 1998) foram realizadas observações em salas


ções em vigência desde a década de 1980, de aula, respondidos questionários e feitas
como, por exemplo, a Constituição Federal entrevistas com as professoras, obtendo-se
(BRASIL, 1988), a nova LDB 9394/96 dados fundamentais em situações nas quais
(BRASIL, 1996), as Diretrizes Nacionais havia alunos com deficiência, participantes
para a Educação Especial na Educação Bá- do processo de inclusão escolar.
sica (BRASIL, 2001), a Política Nacional de
O recorte da pesquisa relatada neste
Educação Especial na Perspectiva da Educa-
texto se estrutura em duas partes principais:
ção Inclusiva (BRASIL, 2008), entre outros
na primeira estão alguns conceitos utilizados
documentos, trazem, no plano formal, regu-
para análise dos dados e na segunda estão
lamentações relativas à educação nacional e,
os dados relacionados à esfera pedagógica,
mais especificamente, à inclusão escolar dos
alunos com deficiência nas redes regulares ao ensino, em que ocorriam, e ainda ocor-
de ensino. rem, impactos decorrentes do processo de
inclusão, aqui analisados, apontando mu-
Dentre as inúmeras esferas de atua-
danças em aspectos pedagógicos a favor das
ção política presentes nessa documentação,
crianças.
o que interessa aqui é a esfera relacionada
ao trabalho dos professores. Essa foi a preo-
cupação central de uma pesquisa de onde se
originaram os dados do presente artigo, ou
O trabalho docente e a inclusão
seja, a problematização de alguns aspectos
pedagógicos por meio do estudo do trabalho Como um dos documentos mais im-
docente em face do impacto da ação política portantes e de ampla repercussão, a Decla-
educacional de inclusão de alunos com defi- ração de Salamanca (1994) aponta, com des-
ciência no ensino regular. taque mundial, a existência de pessoas com
A pesquisa, já concluída, teve como diferentes necessidades especiais a serem
objetivo a busca de verificação do impacto abrigadas pelas escolas, incluindo milhões
dessa ação política em sala de aula e a com- de pessoas com deficiência que “carecem de
preensão da atuação das professoras. Foi rudimentos duma educação básica” (ESPA-
realizada em uma cidade do interior de São NHA, 1994, p.13). Destaca que 200 milhões
Paulo, em salas de aula de 1ª, 2ª e 4ª séries de crianças em todo o mundo não tinham, na
do ensino fundamental. Com orientação de época, acesso à educação, e que um número
pesquisa de cunho etnográfico (WOODS, considerável dessas crianças apresentavam

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deficiência, evidenciando o velho entrave gerada e compartilhada coletivamente por


educacional que é a democratização do en- um conjunto de professores, ao longo de
sino fundamental. Antigos problemas de tempo, frisa que essa cultura sofre impacto
acesso, permanência e qualidade da escola a cada reforma educacional. Ou seja, cada
pública marcam, ainda hoje, a realidade da nova proposta constitui pressões e exigên-
escola brasileira, que vem convivendo com cias que acarretam efeitos na combinação
essa exigência da inclusão escolar dos alunos citada.
com deficiência no ensino comum. (BUE- Esse mesmo autor nos permite com-
NO, 1999; BUENO, MENDES e SANTOS, preender que a aplicabilidade desses precei-
2008; MENDES e ALMEIDA, 2010; SOA- tos legais presentes nas prescrições oficiais,
RES, 2006). ou seja, nas ações políticas de alterações,
Atualmente, as prescrições oficiais como as de inclusão escolar, constitui um
brasileiras adentram os portões escolares, processo complexo, que resulta em impactos
impondo o desafio da inclusão de alunos com e mudanças em toda a trajetória até chegar às
deficiência no ensino comum. É uma propos- professoras, entre as quais podemos incluir
ta que vem sendo tanto questionada, critica- as observadas na pesquisa. E quando ocor-
da e repensada por uns, como, por exemplo, re esse encontro, na maioria das vezes não
Schwartzman (1997) e Bueno (1999), quan- acontece de maneira tranquila ou passiva,
to defendida por outros, entre estes Mantoan pois nas realidades sociais, incluindo a esco-
(1997) e Sassaki (1997). Apresenta-se, as- la, há situações de choques com o existente.
sim, como uma área de estudos com confli- Nesse contexto de ocorrência da pes-
tos e tensões, dentre os quais os de verifica- quisa, há que se considerar a complexidade
ção de suas possibilidades e limites. do trabalho do professor, que é a figura cen-
De qualquer forma, as alterações via tral da atividade de ensinar, como conceitua
prescrições oficiais estão sendo implantadas Marin (2005). No contexto escolar o ensino
e vivenciadas no âmbito escolar. Como frisa conjuga várias ações e
Viñao Frago (1996), ao abordar as relações
entre a escola e a sociedade, no que tange (...) se configura, portanto, como o tra-
a reformas e inovações, as instituições es- balho executado pelo professor para dar
conta do ensino; tal atividade se mostra,
colares mudam, podendo agrupar-se sob a
desde logo, como trabalho extremamen-
denominação de culturas escolares. Essas te complexo, ponto de convergência de
alterações são, entre outras possibilidades, a questões práticas do processo educati-
combinação de tradição e mudança, conse- vo, considerado este nas suas mais va-
quência de decisões relativamente limitadas riadas dimensões de análise (MARIN,
por fatores externos, condicionantes tecno- 2005, p. 37).
lógicos e uma série de práticas sedimentadas
no tempo. Focalizado para atender crianças, esse
O referido autor tece, também, comen- contexto de ensinar – em geral a sala de aula
tários sobre os professores, falando sobre – abrange ações de planejar, as quais im-
a cultura na atuação docente. Quando pon- plicam a definição de objetivos, assuntos e
tua sobre a cultura partilhada pelos profes- temas dos vários componentes curriculares,
sores, considerada como a combinação das promovem a busca e seleção de materiais.
crenças, mentalidades, hábitos e práticas, A partir de considerações sobre as caracte-
rísticas da classe de alunos, há necessidade

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de organizar e selecionar os procedimentos parte auto-corretivo), ele é levado a dar


e as tarefas e avaliações, entre as atribuições múltiplas respostas a diversas situações
mais comuns dos professores. Mas esse con- encontradas, a partir de um conjunto li-
texto, ao sofrer as inúmeras influências da mitado de esquemas de ação e de pensa-
mento. Assim ele reproduz mais quando
organização escolar e de fora dela, sofre as
é confrontado com situações habituais e
injunções das ações políticas educacionais, pode ser levado a inovar quando se encon-
como, neste caso, as decorrentes das defini- tra diante de situações inéditas.
ções sobre a inclusão de crianças com defi-
ciências. Nesse conjunto, este artigo abran- Sempre presentes nas subjetividades,
ge, sobretudo, procedimentos para ensinar, tais estruturas sociais constituem-se, inicial-
aprender, avaliar e promover a socialização. mente, por meio das primeiras experiências,
É possível, portanto, identificar uma que Bourdieu (1989) denomina de habitus
interferência no trabalho do professor quan- primário.
do se altera significativamente a composição O habitus primário é a base de todo
da turma de alunos inserindo crianças com o desenvolvimento do habitus adquirido no
deficiência. Essa circunstância de heteroge- grupo social mais próximo, especialmente a
neidade, após a expansão da escolaridade família, o grupo de pares; já o habitus secun-
para toda a população, ainda não é dige- dário é formado pelas situações posteriores,
rida pelo professorado, pois o que vigora tendo a escola como uma forte presença des-
nas escolas é a busca da homogeneidade, de a mais tenra infância.
traço extremamente forte da cultura escolar Pensando nessa direção, com Bourdieu,
(FERREIRA, 2002). Bonnewitz (2003) colabora para a compre-
Contribuindo para descrever e expli- ensão quando ressalta que o habitus é, por-
car o desempenho docente nessas mudan- tanto, uma estrutura interna que continua-
ças, compreendendo a inclusão de alunos mente se ajusta, pois, apesar de atuar como
com deficiência em sala de aula comum, princípio de conservação, essa estrutura
foi possível localizar em Bourdieu (1989) o pode tornar-se um mecanismo de invenção
conceito importante de habitus, ou seja, as e, consequentemente, de mudança.
maneiras pelas quais as estruturas sociais se É possível verificar, então, refletindo
organizam tanto em nossas cabeças como sobre esse conceito, que as ações docentes
em nossos corpos, pela interiorização da ex- decorrem de um longo processo iniciado na
terioridade (modos de perceber, sentir, pen- família, perpassado pelas demais inserções
sar e agir vigentes no espaço social) quanto até chegar às atividades desenvolvidas no in-
pela exterioridade do interior, ou seja, ma- terior da escola, em um processo de sociali-
nifestando modos de percepção, expressão, zação/formação contínua. E, ao longo desse
sentimento e ação adquiridos anteriormente. percurso, são múltiplas as interferências que
Corcuff (2001, p. 53), por sua vez, levam todos os sujeitos a adquirir e alterar
ao analisar a sociologia de Pierre Bourdieu, diversas disposições e a incorporá-las, cons-
complementa as informações sobre o concei- tituindo os seus habitus alterados.
to de habitus, afirmando que: Nesse conjunto de incorporações de
(...) é constituído por ‘princípios gerado-
disposições estão as relativas aos modos
res’, ou seja, um pouco como um progra- de pensar, sentir e agir ligados às ques-
ma de computador (mas um programa em tões enfrentadas por todos, incluindo-se as

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questões sobre as pessoas com deficiência, Como operam os professores a partir da che-
constituidoras dos habitus iniciados na famí- gada de alunos com deficiência em suas tur-
lia e constantemente reforçados ou alterados mas? Qual o impacto das ações políticas de
ao longo da vida. inclusão no trabalho docente, no ensino, que
Complementando tais conceitos e, de é o seu núcleo central?
certo modo, articulando-os, Gimeno (1998)
nos auxilia diferenciando os conceitos de
ação e prática. Considera como prática na O lócus de pesquisa e alguns dados
educação a cultura compartilhada por aque-
les que vivenciam a educação escolar, aque- A pesquisa foi realizada em escolas de
las estruturas já criadas e em funcionamento ensino fundamental que, no estado de São
quando as ações rotineiras do grupo dos pro- Paulo, desde 1998, passaram a se organi-
fessores chegam à consolidação de padrões zar como ciclos, denominando-se as quatro
sedimentados, à cristalização coletiva da séries iniciais como Ciclo I. As escolas que
experiência. Para tanto se vale, também, do permitiram acesso foram, respectivamente,
conceito de habitus. As ações são considera- as responsáveis pelas 1ª, 2ª e 4ª séries, ante-
das como as possibilidades de subjetividade, riores à implantação da escola de nove anos.
de alteração do que encontram, constituindo Em seus pontos comuns, as três esco-
uma dupla lógica, fundamental para a com- las têm como fonte mantenedora o Governo
preensão do que ocorre nesses momentos de do Estado de São Paulo, sendo administradas
implantação de novas ações políticas no in- pela Secretaria de Estado da Educação, com
terior da escola. supervisão da Diretoria de Ensino (órgão re-
Diferentes pesquisas, desde o início gional), e regidas com base nos dispositivos
da década de 1990, têm identificado estra- constitucionais vigentes na Lei de Diretrizes
nhamento por parte dos professores, diante e Bases da Educação Nacional e no Estatuto
da nova situação e desafios que se apresen- da Criança e do Adolescente. São, portanto,
tam para a educação de crianças com defici- sujeitas aos mesmos processos e determina-
ência, sobretudo agora com as decisões de ções.
inclusão escolar desse alunado em sala co- Em suas diferenças estão os lugares de
mum (OLIVEIRA, 1996, 2005; LUNARDI, sede na cidade: 1) parte central, arquitetura
2005; SILVA, 2003; SOARES, 1990;), situa- antiga, dois pavimentos, considerada “boa
ção verificada também na pesquisa aqui rela- escola”; 2) um dos primeiros bairros da ci-
tada. No entanto, percebeu-se, desde os pri- dade, arquitetura antiga, considerada com
meiros contatos com classes que possuíam “bom ensino” pela população; 3) bairro afas-
crianças incluídas, que as professoras se ma- tado do centro, construção nos moldes das
nifestavam de modo diverso, apresentando- últimas décadas do século XX, portanto tér-
-se, assim, a faceta das subjetividades dentro rea com blocos interligados. As três turmas
dos modos possíveis. Tal detecção levou à tinham cerca de 30 alunos cada e professoras
problematização da situação. É certo que a com formação em curso de magistério, duas
instituição constitui-se de sujeitos também delas com curso superior, uma com 20 anos,
históricos, vinculados a relações concreta- outra com 10 e a terceira com 21 anos de ex-
mente dadas. Mas, quais, efetivamente, são periência no ensino. Duas dessas professoras
as consequências desencadeadas no trabalho tinham, também, um ou dois anos de experi-
docente pela política de inclusão escolar? ência com crianças com deficiência.

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Nessas escolas estavam com tais pro- Procedimentos para ensino,


fessoras, respectivamente, crianças com aprendizagem e avaliação
deficiência, a saber: 1) um aluno com diag-
nóstico de deficiência intelectual, 12 anos, 2ª Os procedimentos para ensino, apren-
série (atual 3º ano); 2) uma aluna com qua- dizagem e avaliação – aspectos centrais nas
dro de paralisia cerebral, 11 anos, 1ª série escolas – sofreram fortes impactos.
(atual 2º ano); 3) uma aluna com deficiên-
As professoras atuavam sob o padrão
cia auditiva bilateral de grau severo, 4ª série
cultural das escolas, com procedimentos que
(atual 5º ano).
visavam a atender a crença no princípio da
Quando questionadas sobre as mu- homogeneidade do alunado. Alguns excer-
danças que vinham ocorrendo no interior das tos das entrevistas e dos registros do cader-
escolas, percebeu-se que tais ações políticas no de campo com as observações realizadas
pareciam realmente impactar as professoras, nas salas de aula são representativos dessa
mesmo no caso daquelas que já haviam tido perspectiva:
alunos com características de deficiência em
suas salas de aula. “Ele faz a mesma atividade que os outros
A partir dos dados obtidos, foi pos- alunos.” (PROFESSOR 1)
sível verificar impactos sobre o trabalho “Se elogio, faço igualmente para todos.
docente das professoras, em geral não for- Se preciso chamar a atenção, também o
madas para atuar com tal heterogeneidade e faço.” (PROFESSORA 1)
socializadas em contextos sociais e escolares “Eu não sei como avaliar esta criança.”
em que tais crianças, até pouco tempo, eram (PROFESSORA 3)
segregadas em instituições e classes espe-
“Eu quero ajudar, mas não consigo, não
ciais pouco afeitas ao ensino e aprendizagem
sou especialista.” (PROFESSORA 3)
de conteúdos escolares (SOARES, 1990;
BUENO, 2004). “Eu tenho que dar o conteúdo e não consi-
go, o SARESP1 está aí.” (PROFESSORA 3)
Foram selecionadas duas chaves de
análise, apesar de termos diferentes esferas A professora 1, que tinha um aluno
pedagógicas em que ocorrem impactos, tan- com deficiência intelectual em sua sala, ten-
to no trabalho das professoras quanto nos tou mostrar que o aluno incluído era como
espaços escolares em que foram percebidos os demais. A professora 3, que atendia uma
efeitos e reações relativos ao processo de in- aluna com deficiência auditiva, atuava com
clusão, não abordados neste trabalho. ela da mesma forma que com os demais alu-
As chaves de análise emergiram das nos: chamava-os até sua mesa, embora tives-
inúmeras leituras do material: a) procedi- se muita dificuldade de se comunicar com
mentos para ensino preocupados com apren- essa aluna e estivesse bem preocupada com
dizagem e avaliação; e b) dinâmicas de so- o seu ensino e avaliação, pois percebeu que o
cialização.
1
O SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento
Escolar do Estado de São Paulo), é uma avaliação
aplicada pela Secretária da Educação do Estado de São
Paulo para alunos da rede estadual de ensino que estão
na 2ª, 4ª, 6ª e 8ª série do Ensino Fundamental, e 3º ano
do Ensino Médio.

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procedimento pedagógico a ser utilizado te- “É para ela não se sentir atrasada, assim
ria que ser diferente do costumeiro. ela copia” (PROFESSORA 3)
Esses são exemplos de manifestações
Verifica-se o atendimento das profes-
docentes, ao lado dos procedimentos roti-
soras às condições dos alunos, procurando
neiros de explicação coletiva da matéria, atividades diversificadas, levando em con-
copiar cabeçalho da lousa, escrever o pon- sideração o ritmo dos alunos, suavizando
to na lousa para os alunos copiarem, fazer o tom de voz para se dirigir aos alunos in-
ditado de frases, leitura coletiva de palavras cluídos, percebendo os limites cognitivos
da lousa, entre outras atividades de ensino da aluna com paralisia cerebral, que um dia
e aprendizagem. Tais exemplos constituem reconhece a letra A e no dia seguinte não
as práticas, ou seja, a atuação sedimentada, reconhece letras nem números. Chamamos
rotineira, cristalizada na história da escola, a atenção para as subjetividades, principal-
compondo padrões na cultura que se trans- mente por termos verificado a diversidade de
mite e se recria (GIMENO, 1998), constan- ações propostas pelas professoras, pois cada
temente, a partir de habitus partilhados com uma manifestou-se de forma diferenciada
base na lógica homogeneizadora de nossa da outra, mas todas apontando as mudanças
escola. ocorridas em seu trabalho após a entrada dos
Essa mesma prática docente, entretan- alunos especiais na sala de aula.
to, foi impactada no sentido de que as pro- O impacto foi ainda maior quando fo-
fessoras percebiam que os procedimentos ram analisados os depoimentos das professo-
que vinham utilizando já não bastavam para ras ao dizerem que aprenderam com a situa-
suprir a nova situação. Devagar, elas pas- ção, pois passaram a solicitar a participação
saram a mesclar o atendimento homogêneo de todos os alunos, fazendo perguntas todo
que anteriormente dispensavam para a classe o tempo enquanto passavam as atividades
com um atendimento mais individualizado. na lousa, pedindo explicações. Perceberam
a necessidade de alterar os procedimentos
Alguns excertos de manifestações re-
para ensinar, de modo que as crianças apren-
gistradas são exemplificadores de tais per-
dessem, dando mais tempo para os diálogos,
cepções:
percebendo de modo mais claro e constante
“Eu não fiquei chateada e nem com medo, as dificuldades das demais crianças a partir
eu só fiquei insegura quanto ao meu tra- das dificuldades identificadas nas crianças
balho, como eu vou fazer para lidar com incluídas e, com isso, alterando também o
esse problema, mas eu enfrentei, eu falei: modo de avaliar todas as crianças.
vou ver o que dá para fazer.” (PROFES- Essas modificações exemplificam as
SORA 1) possibilidades de reestruturação do habitus
“A mesma atividade que eu dou para os de cada professora diante do inusitado, opor-
outros eu dou para ela também, só que tunizando a realização de ações pouco pre-
a dela de uma maneira diferenciada.” sentes anteriormente nas suas rotinas.
(PROFESSORA 2)
“Eu procuro trabalhar diferente, trazer
coisas diferentes de casa.” (PROFESSO- Dinâmicas de socialização
RA 1)
“Vamos mocinha, tem que terminar a ati- Na análise dos dados foram percebi-
vidade.” (PROFESSORA 2) dos impactos de alteração na dinâmica do

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trabalho das professoras em seu dia a dia, sabe que ela não é igual [...] ela sabe que
ou seja, suas atividades eram permeadas por tem dificuldade, os alunos sabem, então
um conjunto de relações sociais desencade- não é para a gente tentar mascarar, nada
adas dentro de sala de aula, envolvendo as disso [...] Ela entende que é diferente,
não adianta falar que ela é igual a todo
crianças.
mundo, ela mesma sabe que é diferente.”
No início, as crianças sofreram impac- (PROFESSORA 2)
tos com a presença dos colegas com deficiên-
“Eu acho que se ela estivesse numa turma
cia incluídos no ensino comum. As crianças
especializada, ela estaria com pessoas, com
ficaram assustadas, e pudemos identificar tal crianças com o mesmo problema dela, aí
impacto no depoimento da professora, no ex- ela poderia ter melhorado na parte da fala,
certo relatado a seguir. mas ela poderia não estar bem na parte da
socialização.” (PROFESSORA 3)
“[...] tem algumas crianças que estão as-
sustadas ainda, mas, também, no primeiro Os depoimentos das professoras sobre
dia de aula ela veio, as crianças ficaram a socialização das crianças são muito rele-
assustadas [...]. (PROFESSORA 2)
vantes para o resultado educativo geral, con-
siderando as possibilidades que essas situa-
A professora, ao verificar a ocorrência,
ções trouxeram para a formação geral, pois
pediu para a mãe trazer a menina um pouco
as rotinas de muitas dessas crianças altera-
mais tarde no dia seguinte, de modo que ela
ram-se no que tange a contatos sociais. Al-
pudesse conversar com a classe sobre a de-
gumas crianças já estavam na escola há dois
ficiência da criança, os acontecimentos que
ou três anos, sem convivência com crianças
nela deixaram seqüelas, seu tamanho e idade
com deficiência; e estas também passaram de
(12 anos) e por que ela estava sentada na pri-
situações de segregação para outras de inte-
meira carteira quando os mais altos estavam
gração, “como orientação para que as ações
atrás.
educativas do ensino do aluno que possui
Havia, entre todas as professoras, uma um tipo de deficiência” (SOARES, 2006),
preocupação inicial com a socialização das vigentes anteriormente ao aparecimento das
crianças incluídas no ambiente escolar, jun- propostas de educação inclusiva no Brasil,
tamente com seus pares, principalmente em sejam adequadas e promovam, de fato, a ne-
sala de aula. Com a inserção, por exemplo, cessária inserção desse aluno na escola regu-
do aluno com deficiência intelectual na clas- lar e na própria sociedade.
se regular, a socialização de todos se altera,
como se pode verificar nos excertos apresen-
tados a partir das entrevistas: Considerações finais
“A relação da aluna com os outros alunos
é muito boa.” (PROFESSORA 2) As professoras, no seu trabalho em
sala de aula com os alunos com deficiência
“A inclusão de alunos foi uma parte que
me chamou a atenção, eu achei muito legal,
incluídos no ensino comum, em função da
os alunos começaram a se entrosar dentro ação política educativa estadual, considera-
da classe normal.” (PROFESSORA 1) vam difícil adequar-se à nova situação e con-
seguir fazer tudo o que precisavam diante do
“Eu acho que é hipocrisia da minha parte
excesso de trabalho que lhes era exigido, já
falar que ela é igual a todo mundo, ela
como decorrência de outras ações políticas

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de mudança implantadas quase simultanea- -existente, em práticas sedimentadas, roti-


mente. Talvez esse dado apareça com mais neiras. Entretanto, os conflitos e as situações
nitidez pelo fato de as professoras não serem inusitadas vivenciadas levaram-nas a grada-
consultadas e muito menos receberem apoio tivamente alterar seu trabalho, com toda a
para a implantação dessa ação política aqui complexidade das situações: novos procedi-
abordada e pelas condições de trabalho que mentos, novas escolhas de materiais, de rela-
vivenciavam. cionamento com os alunos, de avaliação, de
Evidentemente, essa nova situação providenciar explicações sobre a realidade
inesperada gera insegurança, medo e ao mes- que estavam vivenciando, passando a exer-
mo tempo motiva alguns professores a en- cer ações peculiares. Foi possível presenciar
contrar forças para enfrentar os conflitos, ao características distintas nas ações docentes,
ter que abandonar antigas certezas – como, a partir de práticas comuns. Constataram-se,
por exemplo, a de que a escolarização desse também, mudanças em algumas disposições
tipo de alunado tem que ser feita só por es- de seus habitus, ainda que tenham sido ape-
pecialistas – e, então, assumir a nova situa- nas naquelas turmas observadas, cuja análise
ção. Por isso, pode-se afirmar que a inclusão nos permite compreender parte do que ocor-
dos alunos com deficiência nas salas de aulas re nessas circunstâncias.
observadas gerou impactos pessoais em cada
professor, impondo desafios e levando-os a
enfrentar os conflitos que ali se instalaram. Referências
As esferas pedagógicas descritas nes-
te texto permitem detectar alguns aspectos BONNEWITZ, P. Primeiras lições sobre a
nos quais foram percebidos efeitos e reações sociologia de P. Bourdieu. Petrópolis: Vo-
relativos ao processo de inclusão de crian- zes, 2003.
ças com deficiência em sala de aula comum, BOURDIEU, P. A gênese dos conceitos de
cujas análises apontam que cada professor habitus e de campo. In: ______. O poder
recebe a prescrição oficial de acordo com o simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
que pensa, sente, a maneira como trabalha, 1989, p. 59 - 74.
ou seja, conforme seu habitus construído até
então. As salas de aula observadas puderam BRASIL. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de
ser vistas como lugares heterogêneos, com 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
conflitos, erros, acertos e muita dedicação educação nacional. Disponível em: <http://
por parte das professoras. Vale destacar a portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvesco-
disposição, presente em seus habitus, de re- la/leis/lein9394.pdf>.
fletir sobre seu próprio trabalho, analisar a BRASIL. Ministério da Educação. Diretri-
situação que estavam vivendo para enfrentá- zes nacionais para a Educação Especial na
-la, o que possibilitou o resultado aqui apre- Educação Básica. Brasília: MEC; SEESP,
sentado. 2001.
Essa imposição política, como tantas
BRASIL. Ministério da Educação. Política
outras, causou impactos no trabalho docente
nacional de Educação Especial na pers-
das professoras pesquisadas. A falta de in-
pectiva da Educação Inclusiva, Brasília:
centivo e de apoio fazia com que baseassem
Secretaria de Educação Especial, 2008.
sua própria prática em um referencial pré-

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Aceito em: 23/06/2012

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