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No alto de uma Montanha Montanhosa, bem no fundo de

uma Caverna Cavernosa, morava o Monstro Monstruoso.


Era um monstro dos legítimos: tinha dois narizes, quatro
braços, seis orelhas, duzentos e dezenove dentes. E era tão
simpático!
Além de tudo, era louco por sorvete. Costumava dizer que
a melhor hora do dia era a hora em que o Sorveteiro passava.
Por isso, cada vez que ouvia passos na estrada que subia a
Montanha Montanhosa, o Monstro corria para fora da
Caverna, balançando suas seis orelhas.
- Oba! Lá vem o Sorveteiro!
Às vezes, ficava decepcionado. Como no dia em que, ao
sair da Caverna, já sentindo o gostinho de picolé de chocolate
na boca, em vez de encontrar o Sorveteiro encontrou só o
Carteiro.
O pobre homem estava cansado por ter subido a Montanha a pé,
carregando sua pesada sacola de cartas às costas.
- Bom dia, amigo – bufou o Carteiro –, é por aqui a Caverna Cavernosa
do Monstro Monstruoso? Tenho uma carta para ele.
O Monstro sorriu com todos os duzentos e dezenove dentes. Uma
carta! Seria da Mamãe Mostra?
- Eu sou o Monstro Monstruoso, e esta é a minha caverna. Pode me
entregar a carta.
Mas o Carteiro não parecia convencido.
- Como vou saber se você é mesmo o que diz? Não vejo nenhuma
placa de rua ou número de casa. Preciso de provas comprovadas; você
tem certidão de nascimento? Cédula de identidade? Carteirinha de
monstro?
O Monstro piscou.
- Não tenho nada disso, não. Mas tenho coisa melhor.
E, abrindo sua enorme boca,
soltou um berro de monstro
assustador:
Quando fechou a boca, não encontrou o Carteiro.
- Ué, aonde ele foi?
O homem já estava longe, descendo a Montanha
Montanhosa o mais depressa que podia. Não queria nada
com monstros, especialmente de boca aberta!
Mas havia deixado a carta, caída no chão. O Monstro,
então, abriu o envelope e leu a mensagem:

Prezado senhor Monstro,

Ficamos sabendo que o senhor não


tem devorado nenhuma princesa, como é
a obrigação de todos os monstros. Por
isso, pedimos que devore uma logo, para
cumprir o regulamento; senão, teremos
de expulsá-lo da Associação.

Atenciosamente,
Associação Associada
dos Monstros Monstruosos
O Monstro torceu os seus dois narizes e cruzou os seus quatro braços.
- Ora bolas, devorar princesas! Elas têm um gosto horrível! `Por que não me
deixam tomar sorvetes em paz? Ora bolas, bolas, bolas...
Monstro Monstruoso não queria ser expulso da Associação. Toda a
sua família Monstruosa era sócia! Mamãe Monstra não ia gostar nem um
pouco se viesse a saber... E ela ficaria sabendo! Os monstros, além de
serem... Bem... Monstruosos e de gostarem muito de assustar as
pessoas, adoram uma fofoca.
Ele ficou muito chateado ao pensar naquilo. Mesmo que
concordasse em (argh!) devorar uma princesa, onde iria arrumar uma?
Princesas não nascem em árvores. Só se...
Com uma risadinha e uma ideia na cabeça, o Monstro correu para a
Caverna, procurando lápis e papel.
Alguns dia depois, um anúncio muito estranho apareceu nos jornas
da cidade mais próxima. Era assim:

Monstro Monstruoso procura princesa para devorar.


As interessadas devem comparecer à Caverna
Cavernosa, no alto da Montanha Montanhosa.

Claro que nenhuma princesa foi tonta de responder


a um anúncio desses. Cá entre nós, era justamente isso
que o Monstro queria! Ninguém poderia dizer que ele
não tentou cumprir o tal regulamento... Que culpa ele
tinha se não havia nenhuma princesa disponível por
perto, para que ele devorasse?
A Associação teria de deixa-lo em paz, e ele
continuaria feliz da vida em sua caverna, tomando os
seus sorvetes.
Pouco antes do fim do verão, o Carteiro tornou a subir a Montanha E lá se foi montanha abaixo, deixando o pacote com carrinho e tudo.
Montanhosa. Um pouco assustado, lembrando-se dos duzentos e O Monstro não estava gostando daquilo. Não havia encomendado
dezenove dentes naquela boca aberta, ele chegou à entrada da Caverna nada... Era coisa da Associação, com certeza!
empurrando um carrinho de mão com um pacote dentro. Ainda estava pensando se abriria ou não o embrulho, quando ouviu
- Tem alguém em casa? – gritou. – Trago um pacote para o Monstro um ruído de alguma coisa se mexendo lá dentro.
Monstruoso! - Ora bolas, bolas, bolas – resmungou –, é melhor abrir logo!
O Monstro Monstruoso demorou a aparecer, aborrecido por ter sido
interrompido no momento em que começava a saborear um picolé de
limão.
- O que é agora?
- Bom dia, amigo! Esta é a Caverna Cavernosa do Monstro
Monstruoso, não é?
O Monstro lembrou-se dele.
- Ah! Você é o Carteiro. Vai perguntar outra vez se eu tenho
carteirinha de monstro, vai?
- Não! – apressou-se a responder o outro. – Eu apenas trouxe esta
encomenda, que veio endereçada ao senhor. Até logo!

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