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Forest witch
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11/05/2021 O paganismo contemporâneo e a população LGBT+ | by Nathan Gonçalves | Pirata Cultural | Medium
O cristianismo então, fundamentado nessa pequena parte do livro, seria uma religião do
amor. Entretanto, alguns dos porta-vozes dessa religião, ao se dirigirem a comunidade
LGBT+ no Brasil, encarnam uma religião de ódio e segregação. Mesmo quando algumas
igrejas aceitam acolher essa comunidade, há um caráter paternalista, uma ideia de cuidado,
uma caridade cristã enviesada como se dissesse: “mas você sabe que está errado, não
sabe?”.
Nesse cenário de exclusão, jovens LGBT+ têm buscado nas religiões de matriz africana e no
paganismo o contato com o sagrado. O universo denominado Wicca tem sido foco de
interesse de muitas pessoas que buscam o paganismo. Neste texto, buscarei fazer uma
reflexão sobre a relação entre pessoas LGBT+ e a Wicca como uma cosmovisão e uma
alternativa válida para essa população experienciar o sagrado.
Segundo Osório (2004), “a bruxaria wicca se propõe a ser uma releitura de práticas pagãs
europeias anteriores ao cristianismo, especialmente aquelas de origem céltica” (p.158).
Tendo surgidos nos EUA nas décadas de 50 e 60, a Wicca chega ao Brasil nos tempos da
New Age (Nova Era, anos 80) e se populariza nos anos seguintes com o uso da internet. Nos
países anglo-saxões ela não é vista exatamente como religião, já no Brasil: “a noção de
Wicca como prática religiosa vem se cristalizando por estar relacionada à ideia da
necessidade de lutarem contra o preconceito, na busca por uma liberdade ‘religiosa’”
(CORDOVIL, 2017, p.87).
Portanto, a Wicca não é apenas uma expressão religiosa do retorno à uma vida harmônica
com a natureza, celebrando a Terra, como também um ativismo político em busca de uma
sociedade mais justa. Se a tradição cristã nos coloca acima da natureza, como seus
domadores, envergonha a nudez e torna diversas sexualidades como pecado, a Wicca traz
uma visão radicalmente diferente. Para Cordovil (2017, p.92):
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“Dentro dessa cosmovisão, magia e sexualidade são percebidas como práticas e saberes
acionados no cotidiano. A sexualidade integra discussões, vivencias e práticas pagãs em
todas as esferas, desde os eventos mais públicos até a vida privada e pessoal de cada
adepto. O wiccaniano é confrontado cotidianamente com formas mais libertárias de
vivenciar sua vida íntima, amorosa e sexual”.
E mais:
“Os wiccanianos consideram que toda forma de restrição ou moralismo no que tange a
sexualidade é um empecilho à plena realização humana. O que não significa que não
devam existir regras e uma ética relacionada ao cuidado com o corpo e ao exercício da
sexualidade” (CORDOVIL, 2017, p.95).
Nesse ambiente de aceitação das sexualidades (no plural), a população LGBT+ é acolhida
sem as tradicionais restrições que outras religiões fazem, tais como “pode ser homossexual,
só não pode praticar”, ou “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”.
Na Wicca, a Deusa e o Deus possuem tanto a relação de mãe e filho (ela o teria gerado)
quanto a de casal. A Deusa teria dado origem ao Deus assim como todo homem se originou
do ventre de uma mulher. “Por isso, nos rituais, o lugar de destaque e liderança deve ser,
tradicionalmente, de uma mulher” (OSÓRIO, 2004, p. 158).
Para Rocha e Oliveira (2014), na Wicca, a binaridade de gênero, que seria a representação
dos princípios cósmicos masculino e feminino, gerou um atrito entre os praticantes
homossexuais e pessoas trans. Entretanto, os estudos Queer vêm adentrando o paganismo e
esse binarismo tem sido questionado. O culto a divindades queer (como o deus azul Dian Y
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Por mais que hajam avanços no sentido da inclusão dessa população entre os praticantes da
Wicca:
Ainda que seja um ambiente de valorização da mulher (cis, já que o útero é o centro da
magia), a Wicca pode ser um lugar de reafirmação dos papéis de gênero num sentido
cósmico, sagrado, embora de inversa valorização desses papéis: a colher de pau, o caldeirão
e a vassoura não são instrumentos de submissão da mulher ao mundo da casa, mas do seu
poder como bruxa, como pessoa naturalmente (por conta do útero) mágica (OSÓRIO,
2004).
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O Deus cornífero
Isso pode se dar tanto a partir da visão de que o homem gay teria uma “essência feminina”,
portanto pode performar o papel da Deusa nos rituais, quanto a uma maior flexibilização
dos papéis ritualísticos nas práticas pagãs.
A Wicca é uma alternativa viável para viver o sagrado sem os constrangimentos que as
pessoas de sexualidades desviantes costumam sofrer em religiões mais comuns,
especialmente as abraâmicas. Ademais, a Wicca está em acordo com lutas contemporâneas,
como a ambientalista, a feminista e a LGBT+. Uma maior fluidez dos papéis de gênero,
tornando os pólos masculino e feminino menos rígidos, e até reconhecendo outros pólos
além desses, pode tornar o paganismo no geral a opção religiosa mais praticada e defendida
pelos jovens LGBT+ num futuro próximo.
Referências
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