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Este ensaio tem por intuito analisar os elementos que configuram o conto
Maria, de Conceição Evaristo, como pertencente à literatura afro-brasileira,
segundo as definições abordadas por Eduardo de Assis Duarte, em Por um
conceito de literatura afro-brasileira. Para isso, pretende-se explicitar os
conceitos alvos do ensaio e analisar como a junção de fatores inerentes à autora
e os moldes temáticos de sua narrativa corroboram para a vinculação do enredo
à produção afro-brasileira.
Primeiramente, cabe a possíveis leitores deste ensaio situarem-se a
respeito da autora alvo desta análise. Conceição Evaristo é uma autora brasileira
de origem humilde, nascida em Belo Horizonte, em 1946. Migrou para o Rio de
Janeiro na década de 1970, onde graduou-se em Letras pela UFRJ, trabalhou
como professora da rede pública de ensino e tornou-se Mestre em Literatura
Brasileira e Doutora em Literatura Comparada, titulações as quais obteve
defendendo trabalhos sobre autores negros. Dessa forma, cabe afirmar que a
poeta aborda tanto em sua trajetória acadêmica quanto em sua produção literária
a temática da afro-brasilidade. Autora de poemas, contos e romances, Evaristo
é participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra do Brasil,
portanto sua literatura é trajada de diversidade temática, promovendo a
denúncia, reflexão, exaltação e memória da voz feminina negra.
Situada a autora, desenvolve-se agora uma descrição sobre o enredo do
conto a ser analisado. A estória tem como personagem principal Maria, mulher
negra e trabalhadora doméstica vindo cansada da casa da patroa, carregando
consigo os restos do jantar da noite anterior que lhe foram doados juntamente a
uma gorjeta. Maria está feliz, pois o alimento que ganhara iria alimentar os dois
filhos menores que a aguardavam em casa, e o dinheiro extra serviria para
comprar xarope para os progênitos que estavam gripados.
Maria havia ferido a palma da mão com uma faca na noite anterior,
acidente de trabalho ocorrido ao cortar o pernil para a patroa, o que tornava ainda
mais dificultoso o ato de carregar as pesadas sacolas até o ponto de ônibus.
Enfim dentro do transporte público, Maria via-se aliviada por não estar tão
cheio, podendo assim se acomodar com um pouco mais de tranquilidade. No
entanto, tal tranquilidade foi quebrada, pois reconheceu um homem dentro do
veículo: o pai de um de seus filhos que não via há tempos. A imagem do homem
trouxe à tona diversas lembranças de seu passado. O indivíduo sentou-se ao
lado dela e trocaram algumas palavras a respeito do filho e sobre a atual situação
de ambos.
No entanto, algo que Maria não esperava aconteceu: o pai de um de seus
filhos levantou-se, sacou uma arma, e juntamente a um comparsa que estava no
fundo do ônibus, anunciou um assalto. A mulher tremia de medo, pensava em
seus filhos pequenos. Conforme o medo de Maria ia aumentando, os bandidos
recolheram os pertences de cada passageiro, deixando apenas a mulher mãe
do filho de um dos assaltantes livre.
Tal ato durou poucos minutos, e rapidamente os assaltantes saltaram do
ônibus, no entanto a agonia de Maria permaneceu. Os passageiros passaram a
afirmar que ela conhecia os assaltantes e que era cúmplice do crime. De fato,
ela conhecia. Um deles era pai de seu filho, porém ela não tinha nenhum
envolvimento com o caso: era vítima tanto quanto os outros.
Maria não teve tempo de se explicar, apenas declarou poucas palavras
inaudíveis, e quando deu por si havia sido xingada, linchada, pisoteada, socada
e dilacerada. O motorista do ônibus tentou defendê-la, mas não obteve sucesso.
Quando a polícia chegou, Maria já estava sem reação.
Uma vez que o leitor deste ensaio teve ciência do enredo do conto, é
pautável uma breve explicação sobre a produção de literatura afro-brasileira.
Sobre o tópico, Eduardo de Assis Duarte diz:
Desde a década de 1980, a produção de escritores que assumem seu
pertencimento enquanto sujeitos vinculados a uma etnicidade
afrodescendente cresce em volume e começa a ocupar espaço na
cena cultural, ao mesmo tempo em que as demandas do movimento
negro se ampliam e adquirem visibilidade institucional. Desde então,
cresce da mesma forma, mas não na mesma intensidade, a reflexão
acadêmica voltada para esses escritos, que, ao longo do século XX,
foram objeto quase que exclusivo de pesquisadores estrangeiros como
Bastide, Sayers, Rabassa e Brookshaw, entre outros. (DUARTE, 2011,
p. 1).
REFERÊNCIAS
LOBO, Luiza. Crítica sem juízo. 2 ed. revista. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.