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EXTERNATO MARISTA DE LISBOA 1

BIOLOGIA E GEOLOGIA 11º ANO

DIVERSIDADE E ORIGEM DAS ESPÉCIES

∗ Mundo biológico <=> diversidade e complexidade

∗ Actualmente, calcula-se que existam 30 a 50 milhões de espécies, das


quais apenas 2 milhões foram descritas e denominadas.

∗ A partir do século XX, estudos bioquímicos fizeram ressaltar semelhanças


estruturais e fisiológicas entre indivíduos. Estes factos parecem apontar para
uma origem comum a todos os seres vivos actuais, seguida de uma enorme
diversificação.

∗ Diferentes explicações foram surgindo ao longo dos séculos, sempre


baseadas em princípios religiosos, filosóficos e culturais, podendo ser
classificadas em dois grandes grupos:

- Hipóteses fixistas
• muito bem aceites até ao século XVIII
• as espécies, uma vez surgidas, mantiveram-se inalteradas ao
longo do tempo

- Hipóteses evolucionistas
• surgiram no século XIX
• as espécies actuais são o resultado de lentas e sucessivas
transformações sofridas por espécies que já existiram no
passado.
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FIXISMO

 As espécies são unidades fixas e imutáveis, que num mundo igualmente


estático, surgem independentemente umas das outras:
∗ Hipótese da Geração Espontânea (Espontaneísmo)
a partir de matéria inerte, por acção de um princípio
activo que actuava sobre essa matéria

∗ Hipótese Criacionista (Criacionismo)


Deus terá criado todas as espécies num
único acto. Estas permaneceriam perfeitas
e imutáveis. Qualquer imperfeição seria
resultante das condições ambientais
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 Da observação directa do mundo vivo, pode concluir-se que as espécies


se mantiveram imutáveis ao longo dos séculos
• as várias gerações de lobos deram sempre origem a lobos;

• as várias gerações de cães originaram sempre cães;

• das sementes de trigo sempre nasceram searas de trigo.

Como terão surgido as espécies ancestrais?


As explicações para a origem das primeiras espécies foram surgindo ao
longo do tempo de uma forma mais ou menos fantasista, sem qualquer apoio
experimental.

Platão (427 – 347 a.C.) – Teoria das Formas


Todos os seres vivos eram cópias de formas perfeitas, imutáveis e
eternas que existiam numa dimensão espiritual.

Aristóteles (384 – 322 a.C.)


Profundamente influenciado pelo seu mestre Platão, considerava que
os seres vivos seriam constantemente formados a partir de matéria não viva,
como o pó e a sujidade, por acção de um princípio activo que actuava sobre
essa matéria. Os seres vivos encontravam-se organizados num plano, Scala
Naturae, eterna e imutável, pelo que os organismos assim formados não
teriam a possibilidade de alterar as suas características. Nesta escala, os
seres apresentavam-se hierarquizados dos mais simples para os mais
complexos, terminando no Homem.
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Filósofos ocidentais (até ao século XVIII)


As obras de Platão e Aristóteles foram copiadas e recopiadas,
introduzindo-se por vezes erros, e tornaram-se uma referência obrigatória na
civilização ocidental. De tal forma que, em Oxford, os professores eram
coagidos a ensinar as doutrinas de Aristóteles sob pena de receberem
severos castigos. Procuraram, então, combinar muitas ideias de Platão e
Aristóteles com o cristianismo, a fim de obterem uma visão do mundo que
congregasse religião, ciência e sociedade. Surge o Criacionismo, com os
seguintes postulados:
• para os teólogos, como resultado de uma interpretação «à letra» do livro do
Génesis, as formas animais e vegetais foram criadas por Deus num
momento único da Criação e, porque Deus era perfeito, todo o Seu trabalho
tinha de ser perfeito;
• para os filósofos, perfeição implicava estabilidade. Desenvolve-se, então, a
ideia de que depois de Deus ter criado as primeiras espécies perfeitas, elas
mantiveram-se fixas para todo o sempre. Segundo estas concepções,
quando no mundo vivo surgem imperfeições, estas devem-se às condições
do mundo material, este sim corrupto e imperfeito.
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PERSPECTIVA HISTÓRICA DO CONCEITO


DE EVOLUÇÃO

A ideia da evolução não surgiu espontaneamente na mente de um


génio, mas resultou de um longo percurso durante o qual muitas figuras se
destacaram.

WALLACE (1823-1913)
DARWIN (1809-1882)
LYELL (1797-1875)
SAINT-HILAIRE (1772-1844)
CUVIER (1769-1832)
MALTHUS (1766-1834)
LAMARCK (1744-1829)
BUFFON (1707-1788)
LINEU (1707-1778)
MAUPERTUIS (1698-1759)

FIXISMO POSTO EM CAUSA


Duas áreas de conhecimento contribuíram para a transição do fixismo
para o evolucionismo.
• Sistemática
· grande desenvolvimento durante o século XVIII
· culmina com a obra de Lineu que estabeleceu um sistema hierárquico de
classificação dos organismos, ainda hoje utilizado
· Lineu, fixista, tinha como objectivos catalogar a natureza e revelar o plano
de Deus relativamente à origem das espécies
· ao desenvolver um sistema de classificação que estudava pormenoriza-
damente a morfologia dos indivíduos, estabelecendo diferenças e
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semelhanças entre eles, permitiu que a ideia acerca de uma possível origem
comum se instalasse em alguns cientistas
· os dados recolhidos por Lineu para apoiar o Criacionismo acabaram
paradoxalmente por constituir o embrião das ideias evolucionistas

• Paleontologia

· o estudo dos fósseis revelou a presença de espécies, distintas em cada


estrato geológico, que não existiam na actualidade, contrariando a
imutabilidade defendida pelo fixismo

Georges Cuvier (1769 – 1832)


Em 1799 defendeu a Teoria do Catastrofismo, segundo a qual
cataclismos locais sucessivos teriam aniquilado as formas de vida
preexistentes nessa zona, sobrevindo a cada um desses cataclismos um
novo povoamento com novas espécies, vindas de outros locais. Deste modo
explicava a descontinuidade entre estratos geológicos.
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Seguidores de Cuvier levaram esta teoria ao extremo de catástrofes


globais destruírem a totalidade das espécies da Terra, sendo depois
repostas por novos actos de criação divina (Teoria das Criações
Sucessivas).
Esta teoria tenta encontrar um meio termo entre o Fixismo, que
considera correcto, e as evidências fósseis encontradas.

IDEIAS TRANSFORMISTAS
Maupertuis (1698–1759)
«vemos aparecer raças de cães, galinhas, etc. que não
existiam na Natureza. São inicialmente indivíduos fortuitos,
que o acaso e as gerações transformam em espécies.»
«na combinação fortuita das produções da Natureza, só
subsistiram aquelas que apresentavam certas relações de
conveniência.»

Georges Louis Leclerc, conde de Buffon (1707–1788)


«todos os animais provieram de um único animal que,
aperfeiçoando-se e degenerando, produziu, ao longo dos
tempos todas as raças dos outros animais.»
«as espécies menos perfeitas, mais delicadas, menos
activas, menos armadas, já desapareceram ou vão
desaparecer.»

No século XIX, as ciências em geral abandonam a visão estática do


mundo:
· os astrónomos argumentam que a Terra não é o centro do Universo;
· Newton apresenta explicações matemáticas para o movimento dos planetas
e objectos na Terra;
· descobrimentos marítimos revelam grande diversidade de organismos até
então desconhecidos;
· Hutton, 1788, geólogo, indica uma idade da Terra muito superior à admitida;
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· Lyell, 1830, defende a Teoria do Uniformitarismo, isto é:


- as leis naturais são constantes no espaço e no tempo;
- o passado explica-se a partir do que se observa hoje
(Princípio das Causas Actuais);
- a maior parte das mudanças geológicas são lentas e graduais;
· Erasmus Darwin (1731-1802), avô paterno de Charles Darwin, defende
ideias de carácter transformista sobre a origem dos seres vivos.
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EVOLUCIONISMO

No século XIX consolida-se a visão evolucionista. Admite-


-se que as espécies se alteram de forma lenta e progressiva a
partir de ancestrais comuns que ao longo do tempo originam
outras espécies.

LAMARCKISMO
Jean-Baptiste de Monet, Cavaleiro de Lamarck
(1744 – 1829)
Naturalista francês, é uma figura de referência na
história do evolucionismo sobretudo por ter sido o primeiro
a apresentar uma teoria explicativa coerente sobre os
mecanismos da evolução.

«Os antepassados da girafa devem ter vivido em regiões desérticas, onde a


erva era rara. Assim, tiveram de tentar comer a ramagem das árvores; do
esforço repetido durante muito tempo para atingirem estas ramagens
resultou, pouco a pouco, o alongamento do seu pescoço (…) a girafa pode
elevar a cabeça a 6m de altura.»

Segundo Lamarck as alterações dos indivíduos de uma dada espécie


são explicadas por uma acção do meio, pois os organismos que passam a
viver em condições diferentes vão sofrer alterações das suas características.
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Leis de Lamarck
• Lei do uso e do desuso – a necessidade cria o órgão apropriado e a função
modifica-o, isto é, o meio pode obrigar ao uso repetitivo de um órgão ou
parte do corpo, provocando o seu crescimento e desenvolvimento; ao
contrário, a falta de uso provocará a sua atrofia e até desaparecimento.

• Lei da herança ou transmissão dos caracteres adquiridos – os caracteres


adquiridos, sob a acção modificadora do meio e pelo uso e não uso dos
órgãos, são transmitidos às gerações seguintes.

Críticas ao Lamarckismo
• Aspectos como «necessidade de adaptação» ou «procura de perfeição»
não se conseguem testar.

• As modificações provenientes do uso e desuso dos órgãos são adaptações


individuais somáticas (fenotípicas), não são transmissíveis, não devendo ser
confundidas com adaptações evolutivas, as quais implicam sempre uma
modificação genética.

A teoria de Lamarck foi um importante marco na história da Biologia


mas não foi capaz de explicar convenientemente o mecanismo da evolução.
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NEO-LAMARCKISMO
• Existe actualmente, sendo defendido por uma minoria.
• O meio modela o indivíduo, modificando-o. Proteínas citoplasmáticas
modificáveis pelo ambiente actuam sobre o ADN, alterando-o. No entanto,
apenas as alterações que ocorrem ao nível do ADN dos gâmetas são
transmitidas aos descendentes.

DARWINISMO
Charles Darwin
(1809 – 1882)
Pertencente a uma abastada família inglesa, cresceu
com as transformações sociais e culturais do século XIX.
Aos 22 anos de idade, Darwin efectuou uma viagem de
cinco anos no navio cartográfico HMS Beagle. No início da sua
longa viagem, Darwin acreditava que todas as plantas e animais tinham sido
criadas por Deus tal como se encontravam, mas os dados que recolheu
permitiram-lhe questionar as suas crenças até à altura.
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Fundamentos do Darwinismo

Influência da Geologia
• origem e localização de fósseis
• fenómenos vulcânicos
• tempo geológico
• uniformitarismo
• trabalhos de Lyell
Se, de acordo com Lyell, a Terra tem milhões de anos e está em
mudanças constantes e graduais, então, de um modo semelhante, Darwin
reconheceu que a vida sobre a Terra seguiria o mesmo percurso, isto é,
experimentaria ao longo dos anos mudanças contínuas e graduais,
inicialmente imperceptíveis, mas que com o tempo acabariam por ter
significado.

Por influência de Lyell, Darwin ter-


-se-á apercebido de que os fósseis
apresentam diferenças bruscas de
estrato para estrato devido a faltarem os
fósseis intermédios correspondentes a
estratos erodidos.

A falta de fósseis intermédios já


não podia continuar a ser um argumento
contra a evolução.
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Influência da Biogeografia
Darwin apercebeu-se da imensa biodiversidade, dos padrões comuns
de vida, das diferenças ambientais, das adaptações dos seres vivos, das
migrações e interpretou casos concretos de evolução como os tentilhões e
as tartarugas das Ilhas Galápagos.

As 14 espécies de tentilhões, apesar


de muito semelhantes, podem
distinguir-se sobretudo pelo
tamanho, cor e forma do bico, o que
está relacionado com o tipo de
alimentação que cada um possui.

Apesar da assinalável
diversidade entre os
tentilhões, eles são
suficientemente parecidos
entre si para supor que
terão tido uma origem
comum.

Darwin concluiu que as ilhas foram povoadas a partir do continente


americano e as características particulares de cada ilha condicionaram a
evolução de cada espécie, daí a sua diferenciação.
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Selecção Artificial
Sendo um criador de pombos
conceituado, Darwin tinha experiência
pessoal, relativamente ao processo de
selecção artificial.

Ao longo das gerações é possível seleccionar indivíduos com


características desejáveis, utilizando-os em cruzamentos previamente
planeados. As plantas e animais assim obtidos, ao fim de algumas gerações,
são substancialmente diferentes dos seus ancestrais selvagens. Isto foi
interpretado como sendo uma pista para o modo de actuação da natureza
(selecção natural, por oposição à selecção artificial).

Malthusianismo
Segundo Malthus, a população humana
tende a crescer para além das
possibilidades do meio (exponencialmente
– 2n), sendo limitada por factores
externos, como a disponibilidade de
alimento (que cresce aritmeticamente –
2n) e a propagação de doenças.

Darwin aplicou estas ideias às populações animais, apercebendo-se da sua


luta pela sobrevivência.
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Teoria da Selecção Natural


• Existem sempre variações entre os indivíduos de uma população.

• Cada população tende para a superprodução de descendentes.

• No meio natural, ao longo das gerações, o número de indivíduos mantém-


-se constante.

• Entre os indivíduos ocorre uma luta pela sobrevivência face a factores


limitantes (alimento, território, abrigo, parceiro, …)

• Os indivíduos com características vantajosas, os mais aptos, são


conservados produzindo mais descendentes com essas características
(reprodução diferencial); os menos aptos são eliminados progressivamente.
A acumulação de pequenas variações determina a longo prazo a
transformação e o aparecimento de novas espécies.

Luta pela sobrevivência - parceiro, alimento,


abrigo, …

Superprodução de descendentes
ao longo das gerações

Geração 1

Geração 2

Variações entre indivíduos Geração 3


de uma população
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Fenótipos (cor do pêlo)

(a) Selecção evolutiva (b) Selecção estabilizadora


(a1) direccional (a2) disruptiva

• Selecção natural estabilizadora


mantém o fenótipo médio, correspondente ao ponto de ajuste (ou de
aferição) da característica, eliminando os fenótipos extremos. Esta situação
permite à população permanecer estável durante numerosas gerações.

• Selecção natural evolutiva


favorece os fenótipos extremos, os que se afastam da média,
«deslocando» o ponto de ajuste em direcção a um ou aos dois extremos de
distribuição da característica ao longo das gerações, alterando gradualmente
o fundo genético da população.
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A publicação do livro «A Origem das Espécies» desencadeou um


terrível escândalo nos sectores mais conservadores e os ataques a Darwin
foram ferozes. A propósito das críticas dirigidas a Darwin, Huxley disse «…foi
mal recebido pela geração à qual primeiro se destinou e é triste pensar no
chorrilho de irritados disparates a que deu origem. Mas, provavelmente,
qualquer geração comportar-se-á tão mal como esta se aparecer outro
Darwin e lhe impuser o que a generalidade da espécie humana mais detesta
– a necessidade de rever as suas convicções.»

CONFRONTO ENTRE LAMARCKISMO E O DARWINISMO

LAMARCKISMO DARWINISMO
O meio cria necessidades que O meio exerce uma selecção natural
induzem mudanças nos hábitos e nas que favorece os indivíduos portadores
formas dos indivíduos. das características mais apropriadas
para um determinado ambiente e num
determinado tempo.
As novas características conseguem- No seio de uma população certos
-se pelo uso ou desuso repetido de indivíduos apresentam características
um órgão ou parte do corpo. que lhes conferem uma melhor
adaptação em relação aos outros.
As características adquiridas são Os mais aptos vivem mais tempo,
transmitidas aos descendentes. reproduzem-se mais e transmitem as
suas características aos descen-
dentes.

Teoria de
Lamarck

Teoria de
Darwin
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NEODARWINISMO – TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO


A Teoria da Evolução por Selecção Natural não esclarece:
• os mecanismos responsáveis pelas variações verificadas nas
espécies;
• a forma como essas variações se transmitem de geração em
geração.

Neodarwinismo – reformulação do darwinismo à luz dos conhecimentos


sobretudo da Genética, mas também, com novos dados
que entretanto surgiram na Paleontologia, na
Biogeografia, na Embriologia e na Etologia.
Engloba duas ideias fundamentais:
- variabilidade genética;
- selecção natural.

• Variabilidade Genética
Na reprodução sexuada os genes localizados nos cromossomas e
transportados pelos gâmetas vão, por fecundação, originar indivíduos
diplóides, com uma enorme diversidade. Para essa variabilidade contribuem:
Mutações – alterações genicas (na sequência nucleotídica) ou
cromossómicas (na disposição dos genes ou no número de
cromossomas). Se forem viáveis e favoráveis, sendo
transmissíveis, constituem uma fonte primária de
variabilidade genética.
Recombinação genética – a reprodução sexuada contribui para aumentar a
variabilidade através da meiose (crossing-over, separação
aleatória dos cromossomas homólogos e separação
aleatória das cromátides) e da fecundação (união aleatória
dos gâmetas).
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• Selecção Natural
É sobre a imensa diversidade de indivíduos de uma população que
actua a selecção natural:
- os indivíduos que possuam conjuntos de genes que condicionam
características mais vantajosas sobrevivem mais tempo e originam maior
descendência, aumentando a sua frequência na população;
- os indivíduos que, pelo contrário, possuam um conjunto de genes que
em determinado ambiente contribuem para uma menor sobrevivência
reproduzem-se menos, o que leva a uma diminuição do número dos seus
descendentes que vão sendo eliminados e, consequentemente, se tornam
cada vez menos frequentes na população;
- a reprodução diferencial privilegia o conjunto génico mais bem
adaptado em detrimento de um menos adaptado, que origina menos
descendentes.

As modificações que ocorrem no


fundo genético da população, e não as
modificações que ocorrem nos
indivíduos, determinam a evolução.
A população é a unidade evolutiva.

Nota:
Fundo genético – conjunto de todos os alelos de todos os genes presentes numa
população num determinado momento.
População mendeliana – grupo de indivíduos que se reproduzem sexuadamente e
partilham um património genético comum.
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Uma pequena população que se separa de uma maior pode ser ou não
geneticamente representativa da população de onde derivou.

Consideremos, por exemplo,


uma população de coelhos na qual
alguns são cinzentos e outros são
pretos.
Se esta população se dividir
ao acaso, de tal modo que uma das
partes tenha apenas um coelho preto, e se este morrer antes de se cruzar, a
população passa a ser constituída somente por coelhos cinzentos.
Muitas vezes um pequeno número de indivíduos, chamados
fundadores, que se deslocam para outro habitat transportam apenas uma
parte do fundo genético da população inicial. Há assim genes que não são
transportados, sendo, em certa medida, os fundadores diferentes da
população inicial.
Por vezes, apesar da limitada diversidade genética da população
fundadora, esta pode ter um grande sucesso evolutivo. Por exemplo, os
milhares de estorninhos da América do Norte são descendentes de alguns
exemplares introduzidos em Nova Iorque em 1890.

Estorninhos-malhados (Sturnus vulgaris). No século XIX, nos EUA, decidiu-se introduzir todas
as aves que vêm citadas nas obras de Shakespeare. Por esta razão, soltou-se no Central
Park de Nova Iorque cem casais de estorninhos. Hoje são milhares de indivíduos.
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Noutras situações, porém, as populações pequenas que descendem


dos fundadores podem ser menos capazes de sobreviver no novo ambiente
devido à perda, por deriva genética, de alguns dos genes presentes na
população inicial, o que faz diminuir a sua aptidão. Por esta razão se
extinguiram muitas populações pequenas em algumas ilhas.
Na população humana a distribuição dos grupos sanguíneos do
sistema ABO na Austrália está relacionada com a deriva genética. De facto,
os aborígenes australianos não possuem o alelo B, pertencendo todos ao
grupo sanguíneo A ou O. Isto deve-se provavelmente ao pequeno número de
fundadores que colonizou a Austrália, em que o alelo B era pouco frequente
ou estava mesmo ausente, o que teve como consequência o seu
desaparecimento.

Distribuição do alelo B nas populações nativas do mundo Distribuição do alelo A nas populações nativas do mundo

Distribuição do alelo O nas populações nativas do mundo

Variação geográfica do alelo B no homem

Frequência da variação do alelo, desde o zero na


população Basca, ao nível do norte da Espanha e
sul da França, até ~0,30 nas populações asiáticas.
Este gradiente pode reflectir as invasões que
ocorreram durante a história.
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Teoria Neutral da Evolução

Proposta pelo Japonês Motoo Kimura (木村資生 Kimura Motoo –

1924-1994), em 1968, consiste num modelo matemático que


prevê um padrão de diversidade na ausência de selecção
natural. Nesta teoria as mutações não são tidas como factores
de variabilidade pois os genes mutados ou são eliminados, se não forem
favoráveis, ou são considerados neutros. Assim, não é considerado o valor
selectivo das mutações. O factor de maior importância na evolução dos seres
vivos é o acaso na combinação das características hereditárias. Cada
organismo que nasce é apenas uma, das quase infinitas combinações
possíveis, dos caracteres dos progenitores e essa combinação surgiu devido
ao acaso.

Teoria do Equilíbrio Pontuado


Proposta por Setephen Jay Gould (1941-2002) em 1972,
propõe que as espécies permanecem estáveis por vastos
períodos de tempo até que repentinamente as condições
ambientais mudem. Neste momento, a Selecção Natural
passa a beneficiar outros factores que antes seriam inócuos
ou desvantajosos, forçando a evolução. Como esses períodos de mudança
são breves, seguidamente a espécie estabiliza novamente, para um novo
período de nova estagnação.

Gradualismo Equilíbrio Pontuado

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