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A presente monografia foi aprovada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em
Direito no curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Banca Examinadora:
_______________________________________________________
Prof. Msc. Ricardo Stanziola Vieira - Orientador
_______________________________________________________
Prof. Msc. Rafael Burlani Neves
_______________________________________________________
Prof. Msc. Fernanda Sucharski Matzenbacher
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................................. ix
ABSTRACT.......................................................................................................................... x
INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 12
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 84
ix
RESUMO
ABSTRACT
This research was directed for the understanding of the objectives of the
enviromental law, current discipline that appeared from the perception that the natural
resources are finite and if not preserved they can put in risk the future of humanity, by means
of analysis of its concept and structuring principles, noticed those that present, in its scope,
the purpose of quality of life, and, in this direction, finish for modifying the concept and
content of the right of private property. In this sense, it is intended to demonstrate the
evolution of the right of property in elapsing of history until its current delimitation, that has
in the socioambiental function its proper content, function that authorizes the ambient
limitations to the property, noticed those deriving from enviromental spaces, including
enviromental zoning and especially protected territorial spaces, compelling, for consequence,
the proprietor to adjust its domain to the social and enviromental requirements, aiming the
promotion of a new model of development, directed to the sustainability of the natural
resources and economy, which must be implemented by a Enviromental Law State, sustained
by a democracy based on a participative and solidary citizenship.
xi
LISTA DE ABREVIATURAS
A presente monografia terá por objetivo apontar que conflito entre o direito à
propriedade e a um ambiente preservado é somente aparente, pois o direito à propriedade é
concebido, hodiernamente, como direito função socioambiental, ou seja, é reconhecido se
atende os interesses sociais e ambientais de proteção. Todavia, referida afirmação ainda não é
acreditada por todos os cidadãos, pois estes ainda a concebem como garantia constitucional
ilimitada, além de não terem sido efetivados os princípios ambientais.
Tem-se, também, por finalidade demonstrar que diante da crise ecológica
vivenciada, a qual ameaça o futuro da humanidade, há a necessidade de se adotar um novo
modelo de desenvolvimento que alie crescimento econômico e proteção ambiental e uma
nova forma de Estado que venha a implementar este modelo de desenvolvimento.
Desta forma, para que referida necessidade reste demonstrada, proceder-se-á a
análise do instituto jurídico da propriedade, na medida que é fundada no modo capitalista de
produção e, portanto, geradora de riquezas, estando prevista, inclusive, como princípio da
ordem econômica (artigo 170 da Constituição Federal).
O conceito de direito à propriedade, ao longo da história, vem sofrendo
grandes alterações, passou de direito absoluto e ilimitado do proprietário de usar, gozar, e
dispor do seu domínio, do modo que lhe aprouver (percepção típica do Estado Liberal), a um
direito cujo exercício é condicionado a uma função social e, atualmente, a uma função
ambiental, eis que passa de um direito de cunho meramente individualista para um direito que
deve estar em consonância com os interesses da sociedade, como a proteção ambiental.
Deste modo, verificar-se-á o condicionamento do direito à propriedade privada
ao atendimento dos requisitos disposto pelo direito ambiental, ramo do direito que surge no
momento em que se percebe que os recursos naturais são exaurientes e, que, por pertencerem
a toda a coletividade devem ser por ela e pelo Poder Público tutelados.
Estes requisitos nada mais são que o atendimento da função social e ambiental
da propriedade, uma vez que para serem atendidas são instituídas inúmeras limitações ao
direito do proprietário, mormente àquelas advindas dos espaços ambientais, compreendidos o
zoneamento ambiental e os espaços territoriais especialmente protegidos.
13
Assim, para que sejam realizados os objetivos aqui descritos, o tema proposto
na presente monografia será desenvolvido a partir de pesquisa a leis, artigos, acórdãos e
livros, sendo organizada em três capítulos.
O primeiro capítulo desta monografia será destinado à análise do surgimento
do direito ambiental, mediante o reconhecimento de que o direito à vida está intrinsecamente
ligado à existência de um ambiente sadio e equilibrado para as presentes e futuras gerações,
bem com, a análise dos princípios ambientais, os quais dão suporte ao direito fundamental a
qualidade de vida e, por conseqüência, condicionam a exploração da propriedade ao
atendimento de sua função socioambiental.
O segundo capítulo será destinado ao estudo pormenorizado do direito à
propriedade, desde a sua conceituação como garantia sagrada e inviolável até a acepção
adotada pelos atuais ordenamentos jurídicos.
Assim, neste segundo capítulo se abordará a origem histórica da propriedade, a
sua evolução perante o ordenamento jurídico Brasileiro, notadamente pelas Constituições
Brasileiras de 1824, 1821, 1934, 1937, 1946, 1967, 1988 e pelos Códigos Civis de 1916 e
2002, o seu conceito contemporâneo que abarca propriedade função social e ambiental, sendo
que, além de serem as funções social e ambiental da propriedade abordadas em tópicos
específicos, será realizado, também, um estudo das funções socioambientais da propriedade
urbana e da propriedade rural. Serão abordadas as questões relativas à limitação ambiental da
propriedade, especialmente àquelas oriundas da criação dos espaços ambientais, que acabam
por formar os limites da função socioambiental.
O terceiro capítulo será destinado ao estudo da compatibilização do direito à
propriedade e direito ao ambiente preservado, pois ambos são necessários ao
desenvolvimento.
Procurar-se-á demonstrar que a harmonização destes direitos ocorre através do
respeito à função socioambiental da propriedade, pois esta função além de garantir a
preservação ambiental, garante o uso presente e futuro da propriedade.
A função socioambiental da propriedade, como compatibilizadora dos
princípios da ordem econômica descritos no artigo 170 da Constituição Federal, será
alcançada mediante a adoção de mecanismos de equilíbrio, consistentes na a adoção de um
modelo de desenvolvimento sustentável e no Alcance de um Estado de Direito do Ambiente.
Este último capítulo será destinado ainda à análise dos fatores que
possibilitarão a adoção do modelo de desenvolvimento sustentável e a Criação de um Estado
de Direito do Ambiente, como cidadania participativa e solidária, e ainda, a necessidade de
14
educação ambiental dirigida a uma conscientização social para com os problemas ambientais,
importando, por conseqüência, em mudança dos valores sociais, ou seja, adoção de uma visão
ecológica de desenvolvimento que tenha na preservação ambiental e prevenção ao dano
ecológico os objetivos a serem alcançados.
1 AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL
1
Cf. BENJAMIN, Antônio Herman V. Introdução ao Direito Ambiental Brasileiro. IN BENJAMIN, Antônio
Herman V. (ORG). Manual Prático da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente. 2. ed. São Paulo: IMESP,
1999, p.20.
2
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN LEITE, José
Rubens Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. Florianópolis: Fundação José Arthur Boiteux,
2000.p.16/19.
3
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. São Paulo: LTr, 1999.
p.27.
4
Cf. SOARES, Guido Fernando da Silva. Curso de Direito Internacional Público.Vol.1. São Paulo: Atlas,
2002. p.407.
16
do termo Meio Ambiente que no entender de Ramón Martín Mateo5 a expressão é redundante,
vez que “ambiente” e “meio” são sinônimos.
Quanto ao conceito, entendia-se que Ambiente ou “Meio ambiente” era
somente formado por componentes naturais ou físicos, como água, ar, solo, flora, fauna.
Todavia, o ambiente é mais que simplesmente componentes físicos, ele é integrado pelo
ambiente do trabalho, ambiente artificial, cultural, urbanístico.
Assim, do ponto de vista normativo defendido pela lei 6.938/81, ou seja, pela
Política Nacional do Meio Ambiente, o meio ambiente “constitui o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas”.6
Verifica-se, entretanto, que este conceito deve ser ampliado. Neste sentido
pode-se citar José Afonso da Silva, que assim preceitua:
O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a
natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo,
portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico,
artístico, turístico, paisagístico e arqueológico.
O meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e
culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas
formas.7
5
Cf. MATEO, Ramón Martin. Derecho Ambiental. Madri: Instituto de Estúdio de Administración Local, 1977.
Apud SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p.1.
6
BIRNFELD, Carlos André Souza. Das diretrizes gerais de proteção ambiental à limitação administrativa
constitucional: elementos de reflexão sobre a proteção ambiental das florestas que não sejam de
propriedade pública. IN LEITE, José Rubens Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.134.
7
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p.2, 1998.
8
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 3. ed. Rev, atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
p.78.
17
preservar o ambiente.9
Pode-se dizer que somente após a Segunda Guerra Mundial o Meio Ambiente
passou a fazer parte da consciência social, no momento em que houve a percepção de que os
recursos naturais são exaurientes e que crises geradas pela ausência dos mesmos surgiriam.10
Neste sentido, Édis Milaré esclarece sob quais circunstâncias a questão
ambiental passou a fazer parte do cotidiano, favorecendo o surgimento do Direito Ambiental.
Após a Segunda guerra Mundial, mais precisamente nos anos 60, começa-se a tomar
uma consciência prática da finitude dos recursos naturais, de forma concreta.
Matérias-primas, energia e água, entre outros bens proporcionados pela Natureza,
tornam-se mais raros e mais caros. Os processos de degradação ambiental, sob várias
modalidades, vão-se alastrando. Novas crises, mais sérias e globais, desenham-se no
horizonte para uma sociedade que, sem embargo, insiste em fechar os olhos e
ouvidos para a realidade. Nuvens pesadas encastelam-se sobre os destinos do
planeta. Há um limite para o crescimento, como há um limite para a inconsciência.
Foi então que o brado e a luz de Estocolmo se fizeram presentes, para valer. A partir
de então, a consciência ambiental vem se estendendo e se robustece.
Como ocorreu no passado, em situações cruciais ou de mudanças profundas, a
Questão Ambiental sacudiu também a instituição do Direito. A velha árvore da
Ciência Jurídica recebeu novos enxertos. E assim se produziu um ramo novo e
diferente, destinado a embasar novo tipo de relacionamento das pessoas individuais,
das organizações e, enfim, de toda a sociedade com o mundo natural.11
9
Cf. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p.2.
10
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.13.
11
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.131/132.
18
não tinha outra finalidade que não fosse impedir sua industrialização e
modernização, necessárias ao exercício pleno de sua soberania. Sob a liderança do
Brasil, essas nações, esquecendo momentaneamente suas diferenças ideológicas,
oriundas da guerra- fria, defenderam, na Conferência de Estocolmo de 1972, a tese
de que a degradação do meio ambiente era uma questão das nações industrializadas,
cabendo a estas portanto, assumir seus custos. Os problemas dos países do Sul eram
a pobreza e o subdesenvolvimento.12
Assim, o direito ambiental como uma nova ordem jurídica que surge pode ser
considerado como sendo um compêndio de normas (princípios e leis) “reguladoras das
12
BENJAMIN, Antônio Herman V. A proteção do meio ambiente nos países menos desenvolvidos: O caso
da América Latina. Revista de Direito Ambiental. n. 0, Revista dos Tribunais, 1995.p.90.
13
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. (Trad.) Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
p.69.
14
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. p.6.
15
Cf. MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil Interpretada. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.p.2026.
16
Cf. MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos Interesses Difusos em juízo. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1990. p.18.
17
Cf. Artigo 81 da Lei 8.078/1990. BRASIL. Código Brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos
autores do anteprojeto. GRINOVER, Ada Pellegrini.(et al). 6. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1999.p.716.
18
BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 1.228.
19
Percebe-se que ambas as citações podem ser traduzidas com a simples leitura
do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 a qual, influenciada pela Declaração do Meio
Ambiente, e pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e desenvolvimento e
responsável pela elaboração do Relatório Nosso Futuro Comum, trouxe como princípios
ambientais o princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e
futuras gerações, princípio da sustentabilidade, da prevenção, da precaução, da reparação ao
dano, do poluidor – pagador, da função socioambiental da propriedade, da cooperação. 22
Cristiane Derani esclarece que especificadamente o caput do artigo 225 da
Constituição Federal é uma norma que expressa objetivos e delineia a forma da política
econômica que deve ser aplicada, traçando os princípios que a mesma deve atender e
19
CUSTÓDIO, Helita Barreira. Legislação Ambiental no Brasil. São Paulo: Revista de Direito Civil, 1996.
Apud MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.134.
20
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 10. Ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
p.129/130.
21
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 5. ed, rev. ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001.
p.9.
22
Cf. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional.p.37.
20
cumprir.23
Assim, colaciona-se o artigo 225 da Constituição Federal, o qual representou
marco importante na história das Constituições brasileiras ao dispor sobre o direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois estabelece que os bens
ambientais são de interesse comum24, insertos sob domínio público ou privado:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§1º Para assegurar a efetividade desse direito incube ao Poder Público:
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e promover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida e o meio ambiente;
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade.
§2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
§3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Planalto
Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§6º As usinas que operarem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.25
23
Cf. DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997. p. 201.
24
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.20.
25
BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete.
(ORG). 3. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.133/134.
26
Art. 5º, LXXIII da Constituição Federal: Qualquer cidadão é parte legitima para propor ação popular que vise
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
21
que integra o rol dos direitos e garantias fundamentais, faz menção clara à proteção do meio
ambiente.27
Referido dispositivo constitucional, conforme supramencionado, constitui-se
instrumento de validade do direito ambiental, na medida em que o ambiente ecologicamente
equilibrado é um direito humano fundamental e, efetiva-se com o desenvolvimento dos
objetivos elencados nos parágrafos e incisos do artigo 225 da Constituição Federal, sendo que,
para tanto, pauta-se por princípios constitutivos28, os quais serão abordados no decorrer deste
capítulo.
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento das custas
judiciais e do ônus da sucumbência. BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito
Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG). p.28.
27
Cf. Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.20.
28
CF. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.136.
29
CANOTILHO, José Francisco e MOREIRA, Vital. Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra
Editora, 1991. Apud SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19. Ed. São Paulo:
Malheiros, 200. p.96.
30
MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 15. Ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
p.817/818.
22
31
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.25.
32
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p. 155/156.
33
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.25.
34
Cf. SANTOS, Gustavo Ferreira. Direito de propriedade e direito a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado: Colisão de direitos fundamentais? In: Revista de Informação Legislativa. Brasília, a. 37. n. 147,
julho/setembro. 2000. p.24. Disponível em: http://www.senado.gov.br, Acesso em: 01/10/2004.p.24.
35
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança n. 22164/SP. Brasília, 05 de maio de
1998.Disponível em: http://www.stf.gov.br, acesso em: 30/08/04.
23
Assim, depreende-se que este conceito visa à proteção ao maior bem tutelado,
ou seja, a proteção à vida humana, da seguinte forma asseverada por José Afonso da Silva:
O combate aos sistemas de degradação do meio ambiente convertera-se numa
preocupação de todos. A proteção ambiental, abrangendo a preservação da natureza
em todos os seus elementos essenciais à vida humana e à manutenção do equilíbrio
ecológico, visa tutelar a qualidade do meio ambiente em função da qualidade de
vida, como um forma de direito fundamental da pessoa humana. Encontramo-nos,
assim, como nota Santiago Anglada Gotor, diante de uma nova projeção do direito à
vida, pois neste há de incluir-se a manutenção daquelas condições ambientais que
dão suportes da própria vida, e o ordenamento jurídico, a que compete tutelar o
interesse público, há que dar resposta coerente e eficaz a essa nova necessidade
36
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.25.
37
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional.p.37.
38
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p.46.|
24
social.39
39
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional.p.36.
40
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.26.
41
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.28.
42
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.28.
43
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.144.
44
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.165.
25
da linha de perigo”. 45
Morato Leite, ao apresentar a atuação preventiva associada ao princípio da
precaução, cita a diferença entre referidos princípios estabelecida por Alexandre Kiss, nos
seguintes termos:
A diferença entre os princípios da prevenção e da precaução está na avaliação do
risco ao meio ambiente. Precaução surge quando o risco é alto. Este deve ser
acionado nos casos onde a atividade pode resultar em degradação irreversível ou por
longo período no meio ambiente, assim como nos casos onde os benefícios
derivados das atividades particulares é desproporcional ao impacto negativo ao meio
ambiente. ... Já a prevenção constitui o ponto inicial para alargar o meio ambiente e,
especificadamente, o direito ambiental internacional. A maioria das convenções
internacionais são fundamentadas no princípio que a degradação ambiental deve ser
prevenida através de medidas de combate à poluição ao invés de esperar que esta
ocorra e tentar combater os seus efeitos.46
Paulo de Bessa Antunes, também segue esta mesma linha, todavia, utilizando-
se de uma nomenclatura diversa, ou seja, considera ser o princípio da precaução o mesmo que
prudência ou cautela, caracterizado por ser “aquele que determina que não se produzam
intervenções no meio ambiente antes de se ter a certeza de que estas não serão adversas para o
meio ambiente.” 48
O princípio da prevenção é mais dinâmico e admite a formulação de novas
políticas ambientais, ou seja, é um princípio que busca conciliar utilização de espaços e
recursos naturais e proteção ambiental.
O que efetivamente importa é que tanto o princípio da precaução quanto o da
prevenção objetivam efetivar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e têm
por fim evitar a degradação ambiental e o surgimento de catástrofes (danos) ecológicas, eis
45
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.165.
46
KISS, Alexandre. The Rights and Interests of Future Generations and the Presutinary Principle. In The
Precutionary Principle and Internatinoal Law, The Challenge of Implementation, Edited By Freestone, David e
Hey, Ellen, Kluwer Law Internarional, The Hague, 1996. p.26/27. Apud LEITE, José Rubens Morato. Estado de
Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN LEITE, José Rubens Morato (ORG). Inovações em Direito
Ambiental. p.29.
47
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Direito Ambiental: O princípio da precaução e sua aplicação judicial. IN
LEITE, José Rubens Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.63.
48
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.29.
26
49
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.149.
50
Cf. TUPIASSU, Lise Vieira da Costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. IN Revista de
Direito Ambiental n. 30. Ano 08, São Paulo: Revista dos Tribunais, Abril/junho de 2003 p.168.
51
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.142.
27
Este princípio pode ser traduzido como sendo aquele que implica em sanção ao
responsável pela violação ao ambiente, ou seja “busca impedir que a sociedade arque com os
custos da recuperação de um ato lesivo ao meio ambiente causado por poluidor perfeitamente
identificado”. 57
Morato Leite afirma que “não há Estado Democrático de Direito se não é
52
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN LEITE, José Rubens
Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.33/34.
53
Art. 4º da lei 6.938/81 In: MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro.p.51.
54
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental.p.31.
55
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.143.
56
TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.169/170.
57
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.31.
28
oferecida a possibilidade de buscar uma imputação daquele que ameace ou lese o meio
ambiente”. 58
Associado ao princípio do poluidor pagador está o princípio da reparação,
significando quem polui, paga e repara. Assim, em termos de ressarcimento do dano
ambiental, devem existir outros mecanismos que visem à responsabilização dos
danos ambientais, pois quem degrada o ambiente tem que responder e pagar por sua
lesão ou ameaça.59
Assim, por dano ambiental pode-se entender como sendo “qualquer lesão ao
meio ambiente causada por condutas ou atividades de pessoa física ou jurídica de direito
público ou de direito privado”. 60
Verifica-se que a Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 225, §3º prevê
três tipos de responsabilidade, quais sejam: Administrativa, civil e criminal. Importante
esclarecer, que são independentes entre si e, portanto, não se excluem.61
O instituto da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente associado aos
instrumentos jurídico-administrativos e à responsabilidade penal ambiental, assim,
têm importante missão no cenário do princípio da responsabilização. Esta tríplice
responsabilização deve ser articulada conjuntamente, coerentemente e
sistematicamente, em verdadeiro sistema múltiplo de imputação ao degradador
ambiental.62
58
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN LEITE, José Rubens
Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.32.
59
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN LEITE, José Rubens
Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.32.
60
FERRAZ, Sérgio. Responsabilidade Civil por dano Ecológico. RDP 49/50. Apud SILVA, José Afonso da.
Direito Ambiental Constitucional.p.207.
61
Cf. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional.p.207.
62
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN LEITE, José Rubens
Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.36.
29
sociedade”. 63
Como corolário do principio anteriormente descrito64 a natureza pública da proteção
ambiental, ligada ao caráter de bem de uso comum do povo, a que o meio ambiente é
elevado no texto constitucional. Isso significa que o meio ambiente é um bem que
pertence à coletividade e não integra o patrimônio disponível do Estado.65
Édis Milaré explicita que este princípio está inserto no ordenamento jurídico
Brasileiro, na medida em que a Constituição prevê o meio ambiente como bem de uso comum
do povo e ainda a responsabilidade do Poder público e da Coletividade pela sua proteção
(caput do artigo 225 da CF/1988).66
Referido Princípio está esculpido no caput do artigo 225 da CF, bem como no
princípio 10 da declaração do Rio de Janeiro de 1992, o qual assim dispõe:
A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no nível
apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá
acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as
autoridades pública, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em
suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios.
Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular,
colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado acesso efetivo a
mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e
reparação de danos.68
63
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.139.
64
TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.175. A autora trata
do principio da primazia do interesse público em ponto anterior a este Princípio da Natureza pública da proteção
ambiental.
65
TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.173.
66
Cf.MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.138/139.
67
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.141.
68
MILARÉ, Édis. Direito Do Ambiente. p.141.
30
são indissociáveis.69
Édis Milaré, em mesma linha, prescreve:
O direito à participação pressupõe o direito de informação e está a ele intimamente
ligado. É que os cidadãos com acesso á informação têm melhores condições de atuar
sobre a sociedade, de articular mais eficazmente desejos e idéias e de tomar parte
ativa nas decisões que lhes interessam diretamente.70
Sabe-se que a preocupação dos Estados com a questão ambiental ganhou vulto
a partir da década de setenta quando se realizou a Conferência Mundial sobre meio Ambiente
em Estocolmo, na qual fora produzida a Declaração Sobre o Meio Ambiente Humano.74
O princípio 20 dessa supracitada declaração estabeleceu a “necessidade de
intercâmbio de experiências científicas e o mútuo auxilio tecnológico e financeiro entre os
países, a fim de facilitar a solução dos problemas ambientais”. 75
69
Cf. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro.p.78.
70
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.141.
71
Cf. KISS, Alexandre-Charles. La mise en oeuvre du Droit de L’Environnement. Problématique et
moyens, in 2º Conférence Européenne “Environnement et Droits de l’Homme”. Salzbourg. Apud MACHADO,
Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro.p.78.
72
Cf. MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais de direito ambiental. Revista de Direito
Ambiental, vol.2, ano 1, São Paulo: RT, 1996. p.57. Apud TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito
Ambiental e seus Princípios Informativos. p.174.
73
Cf. TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.174.
74
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.151.
75
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente.p.151.
31
76
Cf. TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.176; e Cf.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.151.
77
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN: LEITE, José
Rubens Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.31.
78
LEITE, José Rubens Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.31.
79
TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.176.
80
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma Difícil Tarefa. IN LEITE, José Rubens
Morato (ORG). Inovações em Direito Ambiental. p.31.
32
81
Cf. FERREIRA, Fábio Félix. Limites ao direito de propriedade: possibilidades de conservação dos
recursos naturais. Disponível em: http://www.datavenia.net/artigos/1999/ferreira.html. Acesso em: 23/03/04.
82
Cf. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada.p.1840.
83
TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.174.
84
CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. Florianópolis: Visualbooks,
2003. p.65.
85
Cf. CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade.p.67.
33
86
DERANI, Cristiane. A Propriedade na Constituição de 1988 e o Conteúdo da “Função Social”. IN:
Revista de Direito Ambiental nº.27, ano 07. São Paulo: Revista dos Tribunais. Julho/setembro de 2002. p.67.
87
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.147.
88
TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.175.
89
Cf. LEUZINGUER, Márcia Diegues. FIGUEREDO, Guilherme José Purvin. Desapropriações Ambientais
na Lei 9.985/2000. IN: BENJAMIN, Antônio Herman V. (ORG). Direito Ambiental das áreas protegidas. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2001. p.469.
90
TUPIASSU, Lise Vieira da costa. O Direito Ambiental e seus Princípios Informativos. p.175.
2 DIREITO À PROPRIEDADE
91
CF. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.7.
92
VENOSA, Sílvio de Sávio.Direito Civil: Direitos Reais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.p.169.
93
Cf. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro v. 4: Direito das Coisas. 17. Ed. São Paulo:
Saraiva, 2002.p.99.
94
VENOSA, Sílvio de Sávio.Direito Civil: Direitos Reais.p.170.
35
95
Cf. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. 10. ed. São Paulo: Revista dos
tribunais, 1995. p. 102.
96
Cf. GASSEN, Valcir. A Natureza Histórica da Instituição do Direito de Propriedade. IN WOLKMER,
Antônio Carlos. Fundamentos de História de Direito.Belo Horizonte: Del Rey, 1996.p.76.
97
COULANGES, Fustel de. Apud GASSEN, Valcir. A Natureza Histórica da Instituição do Direito de
Propriedade. IN WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos de História de Direito. p.76.
98
CF. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.8.
99
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro v.4: Direito das Coisas.p.99.
100
Cf. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. p. 102.
101
WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. . p. 102.
102
Cf. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. p. 103.
103
CF. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.11.
36
104
Cf. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. p. 103.
105
CF. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.13.
106
Cf. GASSEN, Valcir. A Natureza Histórica da Instituição do Direito de Propriedade. p.92.
107
ARRUDA, José Jobson de A. PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e do Brasil. 6. ed. São
Paulo: Ática, 1996.p.98.
108
VENOSA, Sílvio de Sávio.Direito Civil: Direitos Reais. p.171.
109
CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.19.
37
como: “a propriedade é o direito de gozar e dispor das coisas de modo mais absoluto, desde
que não se faça uso proibido pelas leis e regulamentos”. 110
A concepção absoluta e o exagerado individualismo do direito de propriedade
perderam força no século XIX, com o desenvolvimento industrial e os movimentos sindicais
que buscavam garantias sociais ao proletariado111, trazendo, por conseqüência, alterações no
entendimento do direito de propriedade, o qual passa a ser marcado pelo cunho social e,
também, ambiental, configura-se, desta forma, o Estado Contemporâneo, marcado pelo
intervencionismo do Estado na ordem econômica e social.
Assim, o direito à propriedade perante o Direito Contemporâneo adquire, em
primeiro momento, uma função social e com o advento dos “novos direitos”, os chamados
direitos difusos, ela passa a ser marcada pela função ambiental, eis que seu exercício está
vinculado à preservação do ambiente.
Neste sentido, a propriedade além de atender sua função social também deve
estar condicionada a proteção ao meio ambiente, sendo que as funções social e ambiental
passam a integrar o conceito contemporâneo de propriedade.112
2.2.1 Conceito
110
VENOSA, Sílvio de Sávio.Direito Civil: Direitos Reais.p.171.
111
Cf. VENOSA, Sílvio de Sávio.Direito Civil: Direitos Reais.p.171.
112
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.26.
113
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.69.
114
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.73/74.
38
115
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.65.
116
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.81.
117
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. 1999.p.82.
118
LEUZINGER, Márcia Dieguez. Criação dos Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e
Indenização. IN Revista de Direito Ambiental. n. 25, ano 07. São Paulo: Revista dos Tribunais, janeiro/março
de 2002. p.109.
119
CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.174.
120
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo.p.276.
39
121
Cf. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo.p.276.
122
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro v.4: Direito das Coisas.p.102.
123
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.62.
124
Cf. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. p.104
125
Cf. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. p.105.
126
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.63.
40
127
Cf. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. p.105.
128
CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.64.
129
Cf. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. p.101.
130
BRASIL, Código Civil e Legislação Civil em vigor. Org. Theotônio Negrão e José Roberto Freire Gouvêa.
22. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 220.
41
131
BRASIL, Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete.
(ORG).p.20 e 23.
132
BRASIL, Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete.
(ORG). p.112/113.
133
DERANI, Cristiane. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da “Função Social”.p.59.
134
CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.83.
135
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p 84.
42
136
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 96.
137
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.250.
138
Cf. LEUZINGER, Márcia Dieguez. Criação de Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e
Indenização.p. 126.
139
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p 59.
140
CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p 123.
141
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 109.
142
CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p 124.
43
143
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 109.
144
BENJAMIN, Antônio Herman V. Função Ambiental. In: BENJAMIN, Antônio Herman V.(ORG). Dano
Ambiental: Prevenção, Reparação e Repressão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.p.50/51. Apud
CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p 60.
145
Cf. BOTREL, Karla. O Direito Urbanístico. In MUKAI, Toshio. Temas Atuais de Direito Urbanístico e
Ambiental. Belo Horizonte: Forum, 2004. p.20.
146
BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete.
(ORG).p.117.
147
BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete.
(ORG).p. 117.
44
socioambiental da propriedade.148
Neste passo, esclarece Fernanda Cavedon:
É preciso considerar que a Política de Desenvolvimento Urbano e a preservação e
uso racional dos recursos ambientais do município são indissociáveis. Assim, o
Plano Diretor deverá considerar as características e as limitações ambientais do
espaço urbano ao determinar o seu uso e ocupação, bem como se adequar às
disposições legais de proteção ao Meio Ambiente. 149
148
Cf. BOTREL, Karla. O Direito Urbanístico. In MUKAI, Toshio. Temas Atuais de Direito Urbanístico e
Ambiental. p.21.
149
CAVEDON, Fernanda. Função Social e Ambiental da Propriedade.p.70.
150
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 110.
151
Cf. MUKAI, Toshio. O Estatuto da Cidade, o Plano Diretor e o Desenvolvimento Urbano. In MUKAI,
Toshio. Temas Atuais de Direito Urbanístico e Ambiental. p.29.
152
CAVEDON, Fernanda. Função Social e Ambiental da Propriedade.p.70.
153
Cf. BOTREL, Karla. O Direito Urbanístico. In MUKAI, Toshio. Temas Atuais de Direito Urbanístico e
Ambiental. p.21.
45
154
BRASIL. Lei 10.257 de 10 de julho de 2001 – Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal,
estabelece diretrizes gerais e dá outras providências. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de
legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG). p.487.
155
Cf. MUKAI, Toshio. O Estatuto da Cidade, o Plano Diretor e o Desenvolvimento Urbano. In MUKAI,
Toshio. Temas Atuais de Direito Urbanístico e Ambiental. p.40.
156
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 110.
157
BRASIL, Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete.
(ORG).p.118.
46
158
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 92.
159
Cf. CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.124.
160
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 111.
161
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 111.
162
Cf. CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.84.
163
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p. 111.
164
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo.p.284.
47
165
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. p. 282.
166
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 19. Ed. São Paulo: Malheiros, 1994. Apud
CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.115.
167
Cf. SANTOS, Saint-Clair Honorato. Direito Ambiental: Unidades de Conservação e Limitações
Administrativas. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2003.p.143.
48
do Poder Público que gera restrições à (s) faculdade (s) do domínio individualizado168, eis que
se a “proibição se dá em relação a uma propriedade, deixan do de fora outras que se acham no
mesmo estado, ou seja, que igualmente representam certo ecossistema, não se estará diante de
limites internos ao direito, mas de limites externos e, portanto, indenizáveis”. 169
Assim, para Herman Benjamin são limites internos da propriedade:
(...) de natureza intrínseca e contemporânea à formação da relação de domínio; isto
é, indissociáveis do próprio direito de propriedade, verdadeiros elementos de um
todo, daí moldando-se como um ônus inerente à garantia. Na ausência deles, como
se fossem o ar e a água que propiciam a vida, não se consolida o direito de
propriedade, não é ele reconhecido e protegido pela ordem jurídica, pelo menos em
sua plenitude.170
E por limites externos entende como sendo aqueles que “pressupõem uma
dominialidade que opere sua plenitude, totalmente consolidada por respeitar os limites
primordiais”. 171
Assim, pode-se entender que não há direito a propriedade ilimitado (em seu
sentindo amplo), uma vez que a proteção do meio ambiente constitui-se um dever de toda a
coletividade e do Poder Público, não sendo possível, por sorte, gerar indenização qualquer
limitação a este direito, mas, somente, quando estas esvaziarem o conteúdo essencial do
direito a propriedade, condicionado, entretanto, como delineado por Márcia Diegues
Leuzinguer, a verificação de “existência ou não de violação a regras ambientais pelo
proprietário”. 172
Verifica-se que várias são as limitações ao direito de propriedade, todavia
somente se analisarão, no presente estudo, as fundadas na proteção ao meio ambiente,
decorrentes dos espaços ambientais, os quais compreendem os espaços territoriais
especialmente protegidos e zoneamento ambiental.
Destaca-se que referidas limitações são impostas por leis infraconstitucionais,
a exemplo a lei que cria as unidades de conservação – Lei 9.985/2000 e regulamenta o artigo
225, § 1º, III da Constituição Federal.
168
Cf.LEUZINGUER, Márcia Diegues. FIGUEREDO, Guilherme José Purvin. Desapropriações Ambientais
na Lei 9.985/2000. IN BENJAMIN, Antônio Herman. Direito Ambiental das áreas protegidas. p.472.
169
LEUZINGER, Márcia Dieguez. Criação de Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e
Indenização.p. 122.
170
BENJAMIN, Antônio Herman V. Desapropriação, reserva florestal legal e áreas de preservação
permanente. Disponível em http://www.buscalegis.ccj.ufsc.br, acesso em: 21.09.2004.p.4.
171
BENJAMIN, Antônio Herman V. Desapropriação, reserva florestal legal e áreas de preservação
permanente.p.4.
172
LEUZINGER, Márcia Dieguez. Criação de Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e
Indenização. p. 121.
49
173
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p.158.
174
LEUZINGER, Márcia Dieguez. Criação de Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e
Indenização. p. 113.
175
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p.184.
176
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente.p.420.
50
Art. 3º O ZEE tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decisões dos
agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que,
direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção
do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas.
Parágrafo único. O ZEE, na distribuição espacial das atividades econômicas, levará
em conta a importância ecológica, as limitações e as fragilidades dos ecossistemas,
estabelecendo vedações, restrições e alternativas de exploração do território e
determinando, quando for o caso, inclusive a relocalização de atividades
incompatíveis com suas diretrizes gerais. 177
177
BRASIL. Decreto 4.297 de 10.07.2002. Regulamenta o art. 9, inciso II, da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de
1981, estabelecendo critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil - ZEE, e dá outras
providências. Senado Federal. Disponível em: www.senado.gov.br. Acesso em 20.09.2004.
178
Cf. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro.p.178.
179
A lei 7.804/89 modificou o art.9º da lei 6.938/81, na medida em que incluiu os espaços protegidos no rol dos
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, com a finalidade de o adequar à Constituição de 1988, que
já estabelecia a criação desses espaços. Cf. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional.p.159.
180
Cf. BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete.
(ORG).p.134.
181
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente.p.233.
51
atributos naturais de que se revestem, eis que, “em sentido ecoló gico, referem-se, na verdade,
a ecossistemas” 182, cuja proteção genérica foi estabelecida no artigo 225, § 4º da CF.
Édis Milaré explicita que ao se instituírem os espaços especialmente
protegidos, vislumbrou-se a preocupação com a manutenção e preservação dos ecossistemas
de maior significado para as ordens social e econômica da nação; estabelecendo quatro
categorias de espaços territoriais especialmente protegidos, quais sejam: Áreas de Proteção
Especial, Áreas de Proteção Permanente, Reserva Legal e Unidades de conservação.183
Percebe-se, desta maneira, que unidades de conservação e espaços protegidos
não se confundem, uma vez que estes constituem o gênero e àquelas espécies.
A impropriedade da lei 9.985/2000, que estabeleceu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação, ao apresentar em sua ementa que regulamentaria o § 1º, incisos I,
II, III e IV dado Art. 225 da Constituição Federal, quando, em verdade, tratou apenas das
unidades de conservação, deixando de abarcar, então, os demais espaços protegidos, é
ressaltada por Herman Benjamin, que assim esclarece:
A técnica deficiente da lei fica evidente já na sua ementa, na qual o legislador
ordinário, afirmando regulamentar o art. 225, § 1º, incis. I, II, III e IV, da
Constituição Federal, institui “o Sistema Na cional de Unidades de Conservação da
Natureza”.(...), em nenhum momento o texto constitucional alude à expressão
unidades de conservação usando, isso sim, de forma correta, o termo espaços
territoriais especialmente protegidos. Não se trata de uma opção vernacular aleatória
ou acidental do legislador de 1988, que, nesse ponto, seguiu o standart científico
apropriado, segundo o qual “conservação” não é gênero, muito menos gênero do
qual “preservação” seria espécie. Muito ao contrário, “conservação” é ela pró pria
modalidade (= espécie) de proteção especial da natureza, contrapondo-se à
“preservação”: esta como garantia integral da biota; aquela, mais flexível,
contentando-se em impor certos requisitos à exploração, dita sustentável, dos
recursos naturais.184
182
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional.p.159.
183
Cf. MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente.p.559.
184
BENJAMIN, Antônio Herman V. Introdução à Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. IN
BENJAMIN, Antônio Herman V. (Org). Direito Ambiental das Áreas Protegidas: O regime jurídico das
unidades de conservação. p.287/288.
185
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.235.
52
186
BRASIL. Lei 6.766 de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras
providências. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito Ambiental.
MEDAUAR, Odete. (ORG).p.610.
187
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.235.
188
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.235.
189
Cf. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro.p.685.
190
Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de
vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d'água, em faixa marginal cuja largura mínima será:
1 - de 5 (cinco) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura:
2 - igual à metade da largura dos cursos que meçam de 10 (dez) a 200 (duzentos) metros de distancia entre as
margens;
3 - de 100 (cem) metros para todos os cursos cuja largura seja superior a 200 (duzentos) metros.
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, mesmo nos chamados "olhos d'água", seja qual for a sua situação topográfica;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos taboleiros ou chapadas;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, nos campos naturais ou artificiais, as florestas nativas e
as vegetações campestres.
Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as
florestas e demais formas de vegetação natural destinadas:
a) a atenuar a erosão das terras;
b) a fixar as dunas;
c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;
53
APPs ope legis (ou legais), chamadas como tal porque sua delimitação ocorre no
próprio Código Florestal). Vêm previstas no art. 2º, do Código Florestal, incluindo,
p. ex., a mata ciliar, o topo de morros, as restingas, os terrenos em altitude superior a
1.800m; e, APPs administrativas, assim denominadas porque sua concreção final
depende da expedição de ato administrativo da autoridade ambiental competente.
Têm assento no art. 3º, do Código Florestal, e visam, entre outras hipóteses, evitar a
erosão das terras, fixar dunas, formar faixas de proteção ao longo de rodovias e
ferrovias. 193
195
BRASIL. Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de
legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.507.
196
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.288.
197
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.289 e 293.
198
Cf. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p.703.
199
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.289.
55
206
Cf. BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de
legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG). p.874/875.
207
BENJAMIN, Antônio Herman V. Introdução à Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação In:
BENJAMIN, Antônio Herman V. (ORG) Direito Ambiental das Áreas Protegidas. p.298.
208
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.241.
209
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.246.
210
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.318.
57
211
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.874/875.
212
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.878.
213
Cf. Artigo 16 da lei 9.985/2000 In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito
Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.878.
214
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG). p.879.
58
215
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.253.
216
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.329.
217
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.254.
218
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG). p.879.
219
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.254.
220
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG). p.880.
221
Cf. Artigo 19, § 1º da lei 9.985/2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de
Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.880.
222
Cf. Artigo 20 da lei 9.985/2000 In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de Direito
59
227
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.247.
228
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.319.
229
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.877.
230
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.248.
231
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.322.
232
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.877.
61
unidades de proteção integral233, sendo que o mesmo deve ser estabelecido em áreas publicas,
devendo ser desapropriadas as áreas particulares incluídas em seus limites.
O monumento natural, segundo o artigo 12 da Lei 9.985/2000, “tem por
objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica”. 234É
uma unidade de proteção integral que pode ser instituída em área particular quando for
possível a compatibilização dos objetivos da unidade com a utilização dos recursos pelo
proprietário.235
O Refúgio da Vida silvestre é uma nova categoria de unidade de conservação,
cujo objetivo é “proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência
ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou
migratória” 236. Podem ser instituídos em áreas particulares, sendo que a desapropriação é
autorizada quando houver “ incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades
privadas ou de não aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão
responsável pela administração da unidade”. 237
Analisados os espaços territoriais especialmente protegidos, observa-se que a
retirada do domínio privado destes espaços deve ser refletida contemplando-se o princípio da
função social da propriedade, ou seja, “não basta a simples instituição de espaços
especialmente protegidos sob o domínio privado para ser o proprietário privado carecedor de
indenização. É indispensável que dele se retirem todos os elementos inerentes ao domínio”. 238
233
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.323.
234
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.877.
235
Cf. Artigo 12, § 1º da lei 9.985/2000 In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação de
Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.877.
236
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.878.
237
BRASIL. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de legislação
de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.878
238
DERANI, Cristiane. A estrutura do Sistema Nacional de unidades de conservação – lei nº9.985/2000.
p.243.
3 O ESTADO DE DIREITO DO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL COMO COMPATIBILIZADORES DO DIREITO A PROPRIEDADE
E PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE
239
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e ambiental da Propriedade. p.127.
240
Cf. CAVEDON, Fernanda Salles. Função Social e ambiental da Propriedade. p.128/131.
63
submete a preservação ambiental, visto que os elementos naturais sob o domínio privado são
de interesse de um sujeito difuso, ou seja, a qualidade ambiental.241
Os compatibilizadores destes direitos são, portanto, a função social e ambiental
da propriedade, haja vista, que, uma vez satisfeitas importam na não existência do conflito,
pois o direito de propriedade é exercido em consonância com estas funções, preservando-se o
meio ambiente (interesse público preponderante).
Neste termos, Roxana Cardoso Brasileiro Borges apresenta a inexistência do
conflito entre o direito de propriedade e a proteção ao meio ambiente, uma vez ser o conteúdo
da função ambiental da propriedade a utilização dos recursos naturais disponíveis e a
preservação destes.
Não existe um conflito entre direito de propriedade e a proteção jurídica do meio
ambiente. Os direitos de propriedade e do meio ambiente, desde que se tenha uma
compreensão sistemática do ordenamento jurídico brasileiro, são compatíveis. Mais
do que isso, pode-se dizer que a proteção ambiental é necessária para a garantia
futura da utilidade do próprio direito de propriedade.242
241
Cf. FIORRILLO, Celso Antônio Pacheco. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Ambiental e
Legislação Aplicável. p.94/102.
242
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.204.
243
DERANI, Cristiane. A estrutura do Sistema Nacional de unidades de conservação – lei nº9.985/2000.
p.243.
64
prevêem possibilidade de indenização, uma vez que “os recursos naturais são bens da
coletividade que podem estar circunscritos em propriedades privadas. Os direitos de
propriedade individualizados sobre estes bens não excluem os direitos da coletividade em
relação a eles” 244.
Para estas áreas, então, torna-se imperioso a aplicação do princípio da
qualidade do meio ambiente e de sua proteção sobre o princípio da propriedade privada, uma
vez que sopesados estes princípios, o princípio da qualidade do meio ambiente e de sua
proteção inserto no próprio conteúdo do princípio da dignidade da vida humana não retirará a
validade do princípio da propriedade privada, mas irá se sobrepor a este245, até porque a
propriedade só merece proteção, nos termos já vistos, ao cumprir sua função
socioambiental246, respeitando-se, portanto, ao bem maior que é a vida.
Nestes exatos termos José Afonso da Silva se manifesta:
As normas constitucionais assumiram a consciência de que o direito à vida, como
matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem, é que há de orientar
todas as formas de atuação no campo da tutela do meio ambiente. Compreendeu que
ele é um valor preponderante, que há de estar acima de quaisquer considerações
como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade, como as
da iniciativa privada. Também estes são garantidos no texto constitucional, mas, a
toda evidência, não podem primar sobre o direito fundamental à vida, que está em
jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que é instrumento no
sentido de que, através dessa tutela, o que se protege é um valor maior: a qualidade
da vida humana. 247
244
DERANI, Cristiane. A estrutura do Sistema Nacional de unidades de conservação – lei nº 9.985/2000.
p.243.
245
Cf. SANTOS, Gustavo Ferreira. Direito de propriedade e direito a um ambiente ecologicamente
equilibrado: colisão de direitos fundamentais? p.20.
246
Cf. CYRILLO, Rose Meire. A função socioambiental da propriedade e o novo código Civil. In: Boletim
Científico – Escola Superior do Ministério Público da União. Brasília: ESMPU, Ano II, n. 09.
Outubro/dezembro de 2003.p.184. Disponível em: http://www.esmpu.gov.br . Acesso em: 01/10/2004.
247
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo.p.822.
65
248
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Ação Civil Pública. Agravo de Instrumento
n.10.088 de Criciúma. Relator Des. Trindade dos Santos. Decisão em: 28/05/1996. Disponível em:
http://www.tj.sc.gov.br, acesso em: 07/10/2004.
249
PARANÁ. Tribunal de Justiça do Paraná. Ação Civil Pública. Apelação Civil n. 118.454-5, de Nova
Esperança. Relator: Des. Hirosê Zeni. Decisão em: 29/05/2002. Disponível em: http://www.tj.pr.gov.br, acesso
em: 07/10/2004.
250
CAVEDON, Fernada de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.98.
251
PINTO, Antônio Carlos Brasil. Turismo e meio ambiente: Aspectos Jurídicos. Campinas: Papirus, 1998.
66
p.67.
252
GOMES, Luís Roberto. O Princípio da Função Social da Propriedade e a exigência Constitucional de
Proteção Ambiental. Revista de Direito Ambiental. n. 17, ano 05. São Paulo: Revista dos Tribunais, janeiro-
março 2000.p.175.
253
GRAU, Eros Roberto. Proteção do Meio ambiente (Caso do Parque do Povo). São Paulo: Revista dos
Tribunais. Abril/1984.251. Apud DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.238.
254
FERREIRA, Fábio Félix. Limites ao direito de propriedade: possibilidades de conservação dos recursos
naturais. Disponível em: http://www.datavenia.net/artigos/1999/ferreira.html. Acesso em: 23/03/2004.
255
Art. 170. A ordem econômica fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
67
que não “não é possível conceber, tanto na realização d as normas de direito econômico como
nas normas de direito ambiental, qualquer rompimento desta globalidade que compõe a
expressão “ qualidade de vida”.256
A declaração da ONU já previa ser indissociáveis o desenvolvimento
econômico e a proteção ambiental, ao dispor:
Art. 1º - 1. O direito ao desenvolvimento é um inalienável direito humano, em
virtude do qual toda pessoa humana e todos os povos têm reconhecido o seu direito
de participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele
contribuir e dele desfrutar; e no qual todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais possam ser plenamente realizados. 2. O direito humano ao
desenvolvimento também implica a plena realização do direito dos povos à
autodeterminação, que inclui o exercício de seu direito inalienável de soberania
plena sobre todas as suas riquezas e recursos naturais.257
princípios:(...). Artigo 170 da Constituição Federal de 1988. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea de
legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.112.
256
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.77.
257
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Ambiental e
legislação aplicável. p.35.
258
Cf. DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.238.
259
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.24.
68
260
CYRILLO, Rose Meire. A função socioambiental da propriedade e o novo código Civil..p.184.
261
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2. ed.
rev.atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p.21.
262
BENJAMIN, Antônio Herman V. A Proteção do meio ambiente nos países menos desenvolvidos: O caso
da América Latina. p.83/84.
263
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.23.
264
A consciência ecológica, em seu nível mais profundo, é o reconhecimento intuitivo da unicidade da vida, da
interdependência de suas múltiplas manifestações e de seus ciclos de mudança e transformação. In: CAPRA,
Fritjof. Sabedoria Incomum: Conversas com pessoas notáveis. Trad. Carlos Afonso Malferrari. São Paulo:
Cultrix, 1998.p.89.
69
265
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.25.
266
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.22/25.
267
MENEZES, Paulo Roberto Brasil Teles de. O direito ambiental na era do risco: perspectivas de
mudanças sob a ótica emancipatória. In: Revista de Direito Ambiental n. 32, ano 8. São Paulo: Revista dos
Tribunais, outubro/dezembro de 2003.p.13.
70
268
Cf. CARVALHO, Carlos Gomes de. Direito Ambiental: Perspectivas no mundo contemporâneo. In:
Revista de Direito Ambiental n. 19, ano 5. São Paulo: Revista dos Tribunais, julho/setembro 2000.p.207.
269
Cf. SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice. O Social e o Político na Pós-Modernidade.
Afrontamento, Porto, 1994.p.42. Apud LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: Uma
Difícil Tarefa. p.14.
270
Cf. LEITE, José Rubens Morato. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo
extrapatrimonial. p.27/29.
271
Por visão menos antropocentrista pode-se entender aquela que procura não somente ver o homem como
sujeito de direitos, busca o reconhecimento de ser o ser humano parte integrante da natureza, com a qual não
deve competir. Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.20/21.
272
LEITE, José Rubens Morato. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo
extrapatrimonial. p.29.
71
273
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. (Trad.) Newton
Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.p.23/24.
274
Cf. CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. p.25/29.
275
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.22/25.
276
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.27.
72
Morato Leite aponta a necessidades dos valores do estado social nesta nova
ordem que deve emergir:
(...) mudanças exigem tarefas fundamentais do Estado na proteção ambiental e uma
política intercomunitária, significando que as transformações não abandonam por
completo o Estado Social, mas trazem um perfil modificado a este. Lembre-se que
os valores ambientais exigem do Estado e da Coletividade preservar o que ainda
existe e recuperar o que deixou de existir, consubstanciando em ação, modificada de
outros direitos sociais, que tratem de realizar o que não existe, tais como serviço de
saúde, habitação. Desta forma, em sua dimensão social, cabe ao Estado de Direito do
Ambiente, indiscutivelmente, entre outras funções, proteger e defender o meio
ambiente, promover educação ambiental, criar espaços de proteção ambiental,
executar o planejamento ambiental.277
277
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.33/34.
278
Cf. PORTANOVA, Rogério. Exigências para uma cidadania ecológica. Alter agora. Florianópolis:
Universidade Federal de Santa Catarina, n. 2, nov.1994. p. 85. Apud. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro.
Função Ambiental da Propriedade Rural. p.28.
279
Cf. OLIVEIRA, Flávia de Paiva Medeiros de. GUIMARÃES, Flávio Romero. Direito, Meio Ambiente e
Cidadania. São Paulo: Madras, 2004. p.87/89.
280
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.34/35.
73
Salienta-se, desta forma, que esta cooperação entre sociedade e poder público
na preservação ambiental é possível de se concretizar, pois a própria Constituição esclareceu
que o meio ambiente é “bem de uso comum do povo”, de onde se depreende que estes bens
não são públicos e nem privados, são de interesse público282, ou seja, são bens que não podem
ser de apropriação privada, mesmo quando pertençam a particulares, pois o proprietário,
pessoa pública ou particular, não pode dispor como quiser da qualidade ambiental, eis que
esta é de interesse de toda a coletividade.283
Do contrário, seu uso poderia ser autoritário e ilimitado, executado tanto pelo
poder público quanto pelo proprietário privado284, pois não haveria a finalidade de se buscar a
proteção ambiental quando, por certo, os interesses do proprietário iriam prevalecer.
A construção deste Estado de Direito do Ambiente, nos termos já delineados,
importa na efetivação dos princípios ambientais e também nos princípios democráticos, pois
“o Estado de Ambiente é um Estado democrático do Ambiente, quando a política do ambiente
tem um suporte social generalizado e é dinamizado por iniciativas do cidadão” 285, na medida
em que a participação da coletividade seja disseminada.
Destaca-se a importância dos princípios, pois estes são a estrutura de uma
coerente política ambiental que visa uma melhor orientação ao direito ambiental286, os quais
servem para “balizar a a tuação do Estado e as exigências da sociedade em relação à tutela do
ambiente, dão ao sistema jurídico um sentido harmônico, lógico, racional e coerente” 287.
Referidos princípios serão viabilizados concretizados quando se der relevância
à Educação Ambiental288, pois esta é a responsável pela conscientização dos cidadãos para a
problemática ambiental, e, portanto, uma forma de atuação que visa à preservação do meio
281
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.226.
282
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.36.
283
Cf. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p.56.
284
Cf. LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.36.
285
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Público do Ambiente. Coimbra: Faculdade de Direito de
Coimbra, 1995.p.33. Apud LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo
extrapatrimonial. p.41.
286
Cf. DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.155.
287
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.43.
288
A Constituição Federal estabelece, no artigo 225, § 1º, VI, a promoção da educação ambiental e da
conscientização pública para a preservação do meio ambiente. In: BRASIL. Constituição Federal - Coletânea
de legislação de Direito Ambiental. MEDAUAR, Odete. (ORG).p.134.
74
ambiente289, sendo esta atuação indispensável, visto ser interesse difuso garantidor da
existência e manutenção da vida humana.
Destaca-se que esta conscientização não está direcionada apenas ao cidadão
comum, ela deverá atingir a todos os membros da sociedade, incluindo-se os Magistrados, os
Representantes do Ministério Público, os Representantes dos poderes executivo e legislativo.
Pessoas que, por obrigação, devem, inserir os princípios ambientais na realização de ações ou
na resolução dos conflitos, para que sejam atendidos os interesses da sociedade em gozar de
um meio ambiente equilibrado, pois do contrário, estarão admitindo que os “princípios
constitucionais se tornem parte de um discurso retórico-ornamental” 290, ou seja, estão
previstos mas são efetivados.
A adoção de uma política de Educação Ambiental aplicada verdadeiramente
produzirá uma coletividade mais consciente, a qual fará uso dos mecanismos postos a sua
disposição na busca de um ambiente preservado e garantidor da qualidade de vida.
Este processo de educação na formação de uma consciência pública para a
necessidade de preservação do meio ambiente já estava previsto pela Lei 6.938/81 (Política
Nacional do Meio Ambiente) como um dos objetivos a serem alcançados.
A Constituição Federal em seu artigo 225, §1º, VI foi mais além ao incumbir
ao Poder Público o dever de promover a educação ambiental e a conscientização ecológica,
sendo que a Lei 9.795/1999 dispôs sobre Educação Ambiental instituindo a Política Nacional
de Educação Ambiental.
Paulo Bessa Antunes, ao tratar da educação ambiental e da lei 9.795/1999 que
a regulamentou, assim estabelece:
É uma ferramenta absolutamente imprescindível para a objetivação do princípio
democrático. Com efeito, a participação em audiências públicas, o exame dos
relatórios de impacto ambiental e todos os outros atos que decorrem do princípio
democrático somente podem ser considerados de acordo com a sua finalidade se as
populações interessadas tiverem a necessária informação ambiental, que é o produto
final do processo de educação ambiental.291
289
Cf. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.175.
290
AZEVEDO, Plauto Faraco de. Do Direito Ambiental – Reflexões sobre seu sentido e aplicação. In: Revista
de Direito Ambiental n. 19, ano 5. São Paulo: Revista dos Tribunais, julho/setembro 2000.p.63.
291
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p.176.
75
292
Cf. OLIVEIRA, Flávia de Paiva Medeiros de. GUIMARÃES, Flávio Romero. Direito, Meio Ambiente e
Cidadania: uma abordagem interdisciplinar. p.106 e 111.
293
Relatório “Nosso Futuro Comum”, estabelecido pela Comissã o Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, presidido pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlen Brundtland, publicado em 1987.In:
BRASIL. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e desenvolvimento: Relatório da
Delegação Brasileira. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão; Instituto de Pesquisa de Relações
Internacionais, 1993.p.13.
294
Cf. SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito Ambiental Internacional. Rio de Janeiro: Thex
Editora: Biblioteca Estácio de Sá, 1995.p.46.
76
295
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p. 934.
296
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.67
297
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente - O que é Agenda 21? Disponível em: http://www.mma.gov.br,
Acesso em: 23/04/04.
298
Cf. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente - O que é Agenda 21?Disponível em: http://www.mma.gov.br,
Acesso em: 23/04/04.
299
Cf. SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento. Direito Ambiental Internacional. p. 46
77
300
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. p.54/56.
301
Cf. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. p.7.
302
AZEVEDO, Plauto Faraco de. Do Direito Ambiental – Reflexões sobre seu sentido e aplicação. p.62.
78
303
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.52,2004.
304
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.51.
305
Cf. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.p.51.
306
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na constituição de 1988 (interpretação e crítica). São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1991. Apud PINTO, Antônio Carlos Brasil. Turismo e meio ambiente: Aspectos
Jurídicos. p.68.
79
310
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental.p.16.
311
Cf. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. p.25.
312
Cf. DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.135/154.
81
313
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. p.154.
314
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. p.25.
315
Cf. NOVAES, Waschinton. (Coord).Agenda 21 Brasileira: Bases para discussão. Brasília: Ministério do
Meio Ambiente / PNUD, 2000. p.40/41.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 5. ed. rev, ampl e atual. Rio de Janeiro:
Lúmen Juris, 2001.
AZEVEDO, Plauto Faraco de. Do Direito Ambiental – Reflexões sobre seu sentido e
aplicação. In: Revista de Direito Ambiental. n. 19, ano 5. São Paulo: Revista dos Tribunais,
Julho-setembro de 2000.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. (Trad.) Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Campus, 1992.
______. Código Civil e Legislação Civil em vigor. Org. Theotônio Negrão e José Roberto
Freire Gouvêa. 22. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2003.
______. Lei 10.257 de 10 de julho de 2001 – Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição
Federal, estabelece diretrizes gerais e dá outras providências. In: BRASIL. Constituição
Federal, Coletânea de legislação de direito ambiental. Org. Odete Medauar. 3. ed. rev,
atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
______. Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965. Institui o Código Florestal. In: BRASIL.
Constituição Federal, Coletânea de legislação de direito ambiental. Org. Odete Medauar.
3. ed. rev, atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
______. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e IV,
da Constituição Federal, Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e dá outras
providências. In: BRASIL. Constituição Federal, Coletânea de legislação de direito
ambiental. Org. Odete Medauar. 3. ed. rev, atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004.
______. Lei 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. In: BRASIL.
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