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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO


DE DIREITO E LÍNGUAS

A PROVA NO
PROCESSO PENAL ANGOLANO

Autora: Ana Paula Arsênio Da Piedade


Orientador: Dr. David Mendes

Luanda-2021
A PROVA NO

PROCESSO PENAL ANGOLANO

ANA PAULA ARSÊNIO DA PIEDADE

Trabalho de Fim do Curso, apresentado à


Universidade Técnica de Angola, Faculdade de
Letras e Ciências Sociais, Curso de Direito,
requisito para obtenção do grau de licenciatura
em Direito, sob orientação do Dr. David Mendes.

Luanda-2021
DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Declaro que este trabalho de fim do curso é resultado da minha investigação pessoal e
independentemente, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas bibliográficas.

Declaro igualmente que este trabalho não foi submetido em momento algum, em nenhuma
instituição de ensino superior para qualquer grau académico, nem está a ser apresentado para
obtenção de outro para além o que diz respeito.

A candidata

______________________________________________________________________

Ana Paula Arsênio da Piedade

Declaro que, tanto quanto me foi possível verificar este trabalho de fim do curso é o resultado
da investigação pessoal independentemente da candidata.

O Professor Orientador

______________________________________________________________________

David Mendes
FOLHA DE APROVAÇÃO

NOME: ANA PAULA ARSÊNIO DA PIEDADE

A PROVA NO PROCESSO PENAL ANGOLANO

Este Trabalho de Fim de Curso foi julgado adequado e aprovado na sua versão final pela
Direcção do Curso de Direito no dia ______ de __________ de 2021.

Foi apresentado e deferido perante o júri composto pelos professores:

Presidente

--------------------------------------------------------------------------------------

1º Vogal

_______________________________________________________________

2º Vogal

_____________________________________________________________

Secretário (a)

______________________________________________________________

I
DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado aos meus pais e ao meu Esposo pela força.

II
AGRADECIMENTOS

Este trabalho de investigação teria sido impossível sem o concurso de muito esforço e
apoios, que são credores o meu sentido reconhecimento. Não podendo por isso, deixar de
reiterar a minha gratidão: sinto-me muito grata aos inquiridos que nos franquearam as suas
portas e aceitando ceder alguns materiais para o uso benéfico deste trabalho.

O primeiro agradecimento vai obviamente para o meu soberano e Senhor Jeová Deus,
em seguida ao meu ilustre Orientador, Professor, Doutor. David Mendes, que durante a minha
licenciatura foi meu professor de Direito Bancário e Seguro e também Direito Internacional
Privado.

Agradecer também ao professor, Doutor. Rui André, por ter sido meu professor de
Direito Processual Penal, a matéria que venho abordar aqui neste trabalho.

A todos os professores da UTANGA do curso de Direito que desde o 1º ano (primeiro


ano), até ao final do curso foram óptimos com muita rigidez e paciência, que acreditaram
sempre em nosso desempenho.

Aos meus amigos e colegas do curso, especialmente ao meu querido Esposo, minha
prima Maria, sem esquecer a minha mãe e a minha ex-governanta de casa que na sua
esperança ofertava-me sempre esferográficas verdes na certeza e esperança de que eu fosse
me formar. Sou grata a todos, por este esforço de apoio!

III
EPÍGRAFE

“Nunca deixes Deus, fora dos seus projectos,

Pois ele é a chave para alcançar tudo”.

«Morgan Freeman»

RESUMO
IV
A Prova no Processo Penal Angolano, é toda actividade probatória levado a cabo para
verificar a verdade dos factos imputados ao arguido/réu, isto é, a instrução processual; face a
problemática identificada na pergunta de partida que consistiu em quais os critérios de
validade da Prova no Processo Penal Angolano; Definiu-se como objectivo da investigação
conhecer os tipos de provas admitidas no Processo Penal Angolano, conceptualizar a prova no
processo penal, demonstrar a importância da verificação da prova no processo penal e
descrever os meios de obtenção da prova no processo penal; mediante a metodologia
qualitativa, baseada em consultas bibliográficas, conjugado ao método dedutivo, centrado
numa bordagem exploratória; da qual resultou que, a Prova no processo Penal Angolano é
umas das temáticas mais importantes do Direito Processual Penal e não só. Sendo a prova
uma actividade que se destina a demonstração da veracidade dos factos apresentado em juízo
para convencer de uma certa versão.

Palavras-Chaves: prova, analise, regime jurídico.

V
ABSTRACT

Evidence in the Angolan Criminal Procedure is any evidential activity carried out to verify the
truth of the facts imputed to the accused/defendant, that is, to the procedural instruction; given
the problem identified in the starting question, which consisted of what are the criteria for the
validity of the evidence in the Angolan criminal procedure; it was defined as the objective of
the investigation to know the types of evidence admitted in the Angolan criminal process,
conceptualize the evidence in the criminal process, demonstrate the importance of verifying
the evidence in the criminal process and describe the means of obtaining evidence in the
criminal process; Through the qualitative methodology, based on bibliographic consultations,
combined with the deductive method, centered on an exploratory approach; from which it
resulted that evidence in the Angolan criminal procedure is one of the most important themes
of criminal procedural law and beyond. As proof is an activity intended to demonstrate the
veracity of the facts presented in court to convince of a certain version.

Keyword: Proof, Analysis, Legal Regime.

VI
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS

ART.- Artigo

ARTS.-Artigos

CRA-Constituição Da República de Angola

CPA – Código Penal Angolano

CPP – Código de Processo Penal

CC – Código Civil

IGAE-Inspecção Geral da Administração do Estado (Angolano)

MP – Ministério Público

SIC- Serviço de Investigação Criminal

VII
SUMÁRIO
DECLARAÇÃO DE AUTORIA................................................................................................3
FOLHA DE APROVAÇÃO........................................................................................................I
DEDICATÓRIA.........................................................................................................................II
AGRADECIMENTOS.............................................................................................................III
EPÍGRAFE...............................................................................................................................IV
RESUMO...................................................................................................................................V
ABSTRACT.............................................................................................................................VI
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS...................................................VII
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
PROBLEMATIZAÇÃO.............................................................................................................3
OBJECTIVOS.............................................................................................................................3
HIPÓTESE..................................................................................................................................4
JUSTIFICATIVA.......................................................................................................................4
METODOLOGIA.......................................................................................................................4
CAPÍTULO I-FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................5
1.1.Conceito Da Prova................................................................................................................5
1.2 Evolução Histórica................................................................................................................6
Era Moderna Da Prova................................................................................................................9
CAPITULO II- IMPORTÂNCIA DA PROVA NO PROCESSO PENAL ANGOLANO......13
2.2. Meios de Prova: Espécies..................................................................................................13
2.3. Provas Pessoais: Espécies..................................................................................................15
2.4.Declarações do Arguido: A Confissão. O Interrogatório....................................................16
2.5.Prova Testemunhal..............................................................................................................18
2.6. Prova por Declarações.......................................................................................................19
2.7. Provas Reais: Espécies.......................................................................................................20
2.8. Prova pericial.....................................................................................................................20
2.9. Prova por Reconhecimento................................................................................................21
2.10. A Reconstituição..............................................................................................................21
2.11. Acareação.........................................................................................................................22
2.12. Prova Documental............................................................................................................23
CAPITULO III- MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA NO PROCESSO PENAL
ANGOLANO............................................................................................................................24
3.1. Meios de Obtenção de Prova no Processo Penal Angolano..............................................24
VIII
3.2. Legalidade De Prova..........................................................................................................25
3.3. Objecto e fim da Prova......................................................................................................26
3.4. Princípios relativo à prova.................................................................................................28
3.4.1.O Principio Da Verdade Material....................................................................................28
3.4.2. Princípio da livre apreciação da prova............................................................................29
3.4.3. O Princípio «In Dubio Pro Reo».....................................................................................31
CONCLUSÃO..........................................................................................................................32
SUGESTÕES............................................................................................................................33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................34

IX
INTRODUÇÃO

O tema que nos propusemos estudar, é pertinente e da actualidade, visto que tem sido alvo de
inúmeras reflexões por parte de vários pesquisadores sociais, essencialmente especialistas do
ramo do direito empenhado na busca da verdade material com vista a realização da justiça.

Ora, o conceito de prova é polissémico e, por isso, deixa-se justificar a sua diversidade
conceptual.

Chama-se prova tanto à actividade probatória levado a cabo para verificar a verdade dos
factos imputados ao arguido/réu, isto é, à instrução processual (daí o falar-se na fase da prova)
e aos meios para esse efeito, como aos resultados a até o objecto dessa actividade. (Ramos
2011, p. 220).

Ela começou desde os tempos da antiguidade, o direito não dispunha de uma legislação ou
código escrito, o Direito era exercido de forma verbal pelos sacerdotes, através da tradição
(do latim traditio, traderi=entregar, passar adiante), dando procedência ao que seriam as
primeiras decisões judicias. No início as decisões foram sendo aplicadas de forma repetitivas,
cuja continuidade caracterizou o costume. Este, por sua vez ao longo do tempo encontrou a
tipificação surgindo à lei, onde mais tarde, foram centralizados em códigos.

No âmbito do direito penal, aprova tem como finalidades:

A averiguar a existência ou não de uma infracção penal;

A existência dos pressupostos da punibilidade do agente;

Determinar a pena ou medida de segurança que lhe sejam aplicáveis;

A declaração da responsabilidade civil do arguido conexo com sua responsabilidade criminal.

1
O regime da prova está consagrado no código do processo penal angolano, integrado por dois
capítulos, designadamente, Capitulo I (Disposições Gerais) consagrados nos arts.145º e ss. e o
Capitulo II(Meios de Prova) nos arts.148º e ss. Todos do Código do Processo Penal Angolano
formado pelas normas que estabelecem o fim, objecto e princípios reguladores da actividade
probatória.

De igual modo também na Constituição da República de Angola. Consagrado no nº 2 do art.


67º.

O respectivo trabalho, encontra-se estruturado em três capítulos, apresentando-se assim o


primeiro capítulo, a fundamentação teórica, segundo capítulo, importância da prova, terceiro
capítulo, meios de obtenção de prova.

2
PROBLEMATIZAÇÃO

Toda a investigação científica nasce de um problema teórico e prático, sentido este que dirá o
que é relevante ou irrelevante observar Marconi e Lakatos, (2003).

O Direito processual penal, pode definir-se, em linhas gerais, como sistema de normas ou
regras jurídicas que disciplinam e regulam a aplicação do direito penal ao comportamento
delituosos submetidos à apreciação dos tribunais.

O processo penal é uma das formas do processo judicial.


Traduz-se numa sucessão de actividades, que tem vista a realização do direito penal, e, através
dele, o restabelecimento da ordem jurídica ofendida por comportamentos humanos,
legalmente definido como crime.

É no processo penal que se pretende a investigação necessária para verificar se existe ou não
existe crime.
Temos visto algumas pessoas inocentes, que por falta de provas suficientes estão detidas,
presos. E outras não.
Assim sendo, surge a pergunta de partida:

Quais são os critérios de validade de prova em processo penal?

OBJECTIVOS

a) Objectivo Geral

1- Conhecer os tipos de provas admitidas no processo penal angolano.

b) Objectivos Específicos
1- Conceptualizar a prova em processo penal;

2- Demonstrar a importância da verificação da prova no processo penal;

3- Descrever os meios de obtenção de prova em processo penal.


3
HIPÓTESE

H1. Os critérios de validade da prova em processo penal são permitidos por lei. De facto, para
que os elementos sejam considerados como prova, devem ser obtidos de forma lícita.

H2. É importante que sejam admitidos de forma legal para salvaguarda das garantias dos
direitos e liberdades fundamentais em matéria criminal instituídas pela Constituição e dos
respectivos princípios.

JUSTIFICATIVA

Com a elaboração da presente pesquisa pretende-se contribuir para informar aos Docentes,
Advogados, Juízes, Procuradores e Estudantes, o valor e a importância da prova em processo
penal. Pretendendo assim que o mesmo trabalho de pesquisa sirva de exemplo, de padrão para
futuras teses e resolução de pontos obscuros.

METODOLOGIA

Segundo Ander-Egg, (1978, p.28), a pesquisa é considerada um procedimento formal com


método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no
caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito
mais do que apenas procurar a verdade; é encontrar respostas para questões propostas,
utilizando métodos científico.

Neste trabalho a metodologia a ser apresentada vai se basear na pesquisa qualitativa, tendo
como método procedimental a investigação bibliográfica e documental, informações como
livros, artigos, teses, dissertação, realização de entrevistas, entre outros referentes ao assunto.

4
CAPÍTULO I-FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1.Conceito Da Prova

A prova não é senão um fundamento para convencer alguém de uma certa versão das coisas.
(BELEZA,1993,p.147).

A prova é o acto que busca comprovar a verdade dos factos, a fim de instruir o julgador.
Busca reconstruir um facto passado, através das provas, buscando a verdade dos factos.

Segundo Lopes Jr. (2017, p. 344) informa que o processo penal e a prova integram os modos
de construção do convencimento do julgador que influenciará na sua convicção e legitimará a
sentença.

Também é neste sentido em que Navarro De Paiva (1895, p.3), se faz perceber. No seu
«tratado theorico e prático das provas», este autor dizia que a prova, em sentido lato, significa
todo meio, directo ou indirecto, de obter o conhecimento dos factos. Todavia, o autor já
reconhecia que, no sentido jurídico, a prova tem tido uma definição bastante variável.

Portanto, a prova serve para demonstrar veracidade dos factos, isto é demonstrar de como é
que os factos se deram, quem os praticou, e em que lugar, como e quando ocorreram.

A prova geralmente é produzida na fase da instrução preparatória, dispõe o art.311º do código


processo penal.

Os actos de investigação são realizados na fase da instrução preparatória, no qual, se refere a


uma hipótese, para a formação de um juízo de probabilidade e não de convicção, como são
designadas as provas.

Ainda assim, a prova não se resume a esta visão simplista, sobre ela, há ainda muito a dizer.

Existindo autores que classificam a prova em prova material e prova pessoal, sendo que, nesta
perspectiva, as declarações auto-incriminatórias se enquadram nas provas pessoais; no âmbito
do código processual angolano, estas estão previstas na secção I. sob epigrafe “da prova
testemunhal” e por Declarações, ainda é de salientar que o mesmo código permite “ a
testemunha de ouvi dizer”, isto esta patente na parte final do art.º 157º. Onde se destaca que
«se disserem que o sabem e ouvido, serão perguntadas a que o ouviram em tempo e ligar, e se
estavam ai outras pessoas que o ouvissem também e quais eram, escrevendo-se todas as
respostas que interessem à instrução», ou seja, testemunha de ouvir dizer terá uma série de
5
perguntas de modo a credibilizar as declarações. Importa salientar que, em muitos
ordenamentos jurídicos, «a testemunha de ouvi dizer» não é permitia, ou Hearsay Evidence,
não é permitida, mas concretamente no caso português, esta testemunha não é permitida.

As provas, servem exactamente, para voltar atrás, ou seja, para fazer ou melhor, para
reconstruir a história.

O art.147º do código do processo penal, preceitua que a prova é apreciada de acordo com as
regras da experiência comum e a livre convicção da entidade competente para proceder à sua
apreciação, salvo nos casos em que a lei dispuser de outra forma.

1.2 Evolução Histórica

Na antiguidade, o direito não dispunha de uma legislação ou código escrito, o Direito era
exercido de forma verbal, pelos sacerdotes, através da tradição (do latim traditio,
traderi=”entregar”, “passar adiante”), dando procedência ao que seriam as primeiras decisões
judicias. No início decisões foram sendo aplicadas de formas repetitivas, cuja continuidade
caracterizou o costume. Este, por sua vez ao longo do tempo encontrou a tipificação surgindo
à lei, onde mais tarde, foram centralizados em códigos.

No conceito de Gusmão (1999,p.285), acerca desta evolução do direito positivo diz:

“ O direito, nos primeiros tempos, manteve vigente graças a melhoria os sacerdotes, que
foram os primeiros juízes, e que guardavam em segredos as regras jurídica.

Depois, vigorou nas decisões os conselhos dos mais velhos. Transmitiu-se oralmente a
princípio. Era então tradicional sagrada. Cada caso rememorava e devia ser decidido
fielmente como o antecedente. Nesse tempo, inexistiam códigos ou leis. Segredos era o
conhecimento do direito, guardado com muito zelo pelos sacerdotes ou pelos mais velhos, que
assim, mantinham as suas posições sociais e privilégios. Com o tempo, o direito tornou-se
conjunto de decisões judiciais, casuístico, mantido ainda em segredo. Muito depois, tais
decisões, sendo ininterruptamente repetidas, tornaram-se costumeiras.

Surge assim da sentença o costume jurídico. Mas em algumas comunidades a indiscrição de


uma escriba revela o segredo guardado pelos juízes ( sacerdotes), tornando-o públicos, como
ocorreu em Roma com o LUS FLAVIANUN, direito dos PONTÍFICES revelando em 304
a.C. pelos Escribas Gneo Flávio. Então, das sentenças surgiu a lei, ou melhor, o código.

6
Finalmente em outras comunidades, reis-legisladores-sacerdotes reduziram a escrito as
principais sentenças imemoriais como fizeram Hamarubi e os Reis Sumerianos anteriores”.

Os povos que antecederam as civilizações sendo mais precioso os povos da Babilónia, as leis
de Hammourabi permitiam que o credor, caso esse não tivesse seus créditos satisfeito pelo
devedor, utilizava-se o recurso de constranger o devedor, podendo ser estendido para sua
mulher e filhos, havendo ainda a possibilidade de vende-los como também seus bens. (GAIO,
2011, p. 10).

Neste momento de evolução do direito o jurista da época (sacerdotes ou Reis) invocavam as


divindades adoradoras pelos rudes para saberem quem possuía a verdade para que com esta
intervenção de divina, chega-se ao criminoso ou o responsável pela culpa de determinado (s)
acto (s). Que conduziria a sanção do mesmo.

Quando este sistema de julgamento foi implantado, o direito já havia evoluído muito, tendo
ultrapassado a fase da justiça privada, isto é, a “Lei do Talião” (dente por dente, olho por
olho), impondo represália igual à ofensa (pena privada). A vingança, tornando-se fonte de
insegurança e de intranquilidade, acabou substituída pela composição secundaria em princípio
maior que o prejuízo em regra o dobro, inicialmente com carácter facultativo (pena privada),
como prescrevia, por exemplo, o código de Ur-Namu, descoberto depois da ultima guerra,
contido na “ tabuinha de Istambul “, muito anterior ao Amorabi. (GUSMÃO, 1999, p.287).

THEODORO JUNIOR (208, p.14) nos diz:

“ Após a queda do império Romano, houve além da dominação militar e politicas dos povos
germanos a imposição de seus costumes e de seus direitos.

Aconteceu, porém, que os germânicos, também chamados de bárbaros, e possuíam noções


jurídicas muito rudimentares e, com isso, o direito processual europeu enorme retrocesso na
marcha ascensional encetada pela cultura romana.

A princípio, nem mesmo uniformidade de critérios existia, pois, entre os dominadores, cada
grupo étnico se regia por um rudimento próprio e primitivo de justiça, segundo seus costumes
bárbaros.

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Numa segunda etapa, houve enorme exacerbação do fanatismo religioso, levando os juízes a
adoptar absurdas práticas de administração de justiça, como os “juízes de DEUS”. Os duelos
judiciais e as ordálias.

Acreditava-se, então, que a divindade participava dos julgamentos e revelava sua vontade por
meios do método cabalístico”.

No que se refere aos métodos utilizados e sobre a influencia a religião, métodos estes já
referidos, onde os mais comuns apontados pela doutrina como sendo o juramento, as ordálias
e o duelo.

A ordália era um tipo de prova judiciaria utilizada para descobrir e determinar a parte culpada
e inocente, por meio de utilização de elementos naturais cujo o resultado é interpretado como
vontade divina. Os duelos também serviam como ordália, utilizada para resolver as questões
duvidosas ou qualquer outra situação que deveria ser aprovado à alguém, o vencedor do duelo
era considerado inocente e a parte perdedora sobrava a pena pelo crime. O juramento, por sua
vez, baseava-se na invocação da divindade como sendo a testemunha do caso, o que se
poderia gerar o castigo do acusado em caso de desconfiança que estivesse mentindo.

Lopes Jr. (1999, p. 15-16) ensina que:

“As ordálias, também dominadas julgamento ou juízo de Deus, foram utilizadas pelo
Germano antigo e tinham finalidade a descoberta de verdade mediante o emprego de
expediente cruéis e até mortais, como a prova de fogo, a prova das bebidas amargas, a prova
das serpentes, a prova da água fria etc.

Na “ prova de fogo” o acusado era obrigado tocar com língua a um ferro quente ou carregar
uma barra de ferro em brasa ou, ainda, caminhar descalço sobre ferros quentes. A “prova das
bebidas amargas” consistia em obrigar a mulher acusada de adultério a ingerir bebidas fortes e
amargas: se mantivesse a naturalidade, seria considerada inocente; mas culpada, se contraísse
o rosto e apresenta-se os olhos inchados de sangue.

Na “prova das serpentes”, o acusado era lançado no meio delas e considerados culpados se
fossem mordidos pelos répteis. Já na “prova da água fria” atirava-se o acusado no reservatório
de água: se afunda-se seria considerado culpado; se flutuasse seria considerado inocente.

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Nesse momento o processo era extremamente rígido ou formal e os meios de prova que
poderiam ser utilizadas sendo restritas as hipóstases legais, não tendo o juiz, qualquer
liberdade um mero executor, que somente averiguava a existência ou não da prova. O
processo bárbaro era acusatório que se iniciava com a acusação do autor, que considerava
prejudicado ou ofendido, sendo o ónus da prova do acusado, como afirma Theodoro Jr. (2008,
p.14).

Os procedimentos eram tidos como jogo do azar, cenas de bruxarias, não se fazia um
julgamento lógico do (s) facto (s).

Gaio Júnior ( 2011, p.10) relata que o direito romano (esta influenciado pelo direito Grego),
possui 3 fases distintas que o credor poderia ter o seu direito satisfeito.

a) A primeira possibilidade é referente ao período primitivo, denominado Legis Actions e


que abrange ao período de estabelecimento de Roma, ao ano de 149 a.C;
b) O segundo é o período formulário, que é compreendido nos três primeiros séculos do
império;
c) A da Cognitio Extraordinário que vigorou entre os anos 200 e 565 de nossa era. Nas
primeiras fases eram denominadas de ordo iudiciorum privatorum, que era caracterizada,
por um procedimento duplo, com a participação do Estado e de juízes privados. No ultimo
estagio este denominado de Cognitio extra Ordinem, compreendeu a publicação do
processo, unificando o procedimento em torno apenas do magistrado.

Era Moderna Da Prova

A sistemática que nos é proposta por Imbert e Levasseur (1975), emergiram historicamente,
dos ideais humanistas das Luzes, da Revolução Francesa e da Revolução Industrial, as
condições políticas, filosóficas e tecnológicas em que se haveria de escorar o liberalismo,
permitindo a consolidação nos modernos sistemas jurídico-penais póssetecentistas, do
denominado sistema da prova científica que viria a introduzir profundas mudança na ciência
jurídico-penal e, necessariamente, nos sistemas de produção probatória.

A obra “Dei Delitti e Delle Pene” de Cesare Beccaria (2001), é considerada um marco de
referência da moderna ciência jurídico-penal. Sem contestar, ou pôr em causa, a ordem
político-social dominante, Beccaria questionou a natureza excessivamente punitiva do Direito

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Penal vigente, as suas práticas arbitrárias e abusivas e, sobretudo, a desumanidade e o carácter
infamante e atrás dos meios de prova utilizados e das penas aplicadas.

Contrapôs-lhes a valorização da vertente preventiva, a afirmação do princípio da legalidade,


da universalidade da norma penal e a racionalização e maior eficiência na administração da
Justiça. Propôs a substituição das medievas categorias de penas corporais, cruéis e infamantes,
por penas privativas e restritivas de liberdade.

A utilização da prisão, ou privação de liberdade com fins punitivos, é uma instituição recente,
com início nas últimas décadas do século XVIII. Até então, a prisão tinha lugar, por regra,
apenas no plano preventivo, como forma cautelar de garantir o julgamento e a condenação. A
substituição da pena capital e das penas cruéis e infamantes pela pena de prisão constitui um
dos mais significativos sinais de mudança trazidos pelo Iluminismo e pela revolução liberal,
tendo, neste domínio, a ação de Beccaria e muito particularmente a de Bentham, uma grande
importância como precursores do penitenciarismo, ainda hoje, o paradigma dominante em
matéria de Penologia. No capítulo VII, sob o título: “Dos indícios do delito e da forma dos
julgamentos” Beccaria categoriza e classifica os indícios e as provas de acordo com o seu
valor probatório (perfeitas e imperfeitas), estabelecendo alguns critérios para a sua apreciação
jurisdicional que deverá privilegiar as provas independentes (obtidas separadamente e não
apoiadas entre si). Considera, ainda, que a lei deve fixar as circunstâncias em que o cidadão
pode ser preso e, com base em que indícios, de forma a não deixar marca de infâmia
irreparável sobre a sua possível inocência. Considera que o processo deve ser o mais rápido
possível, pois a aplicação da pena deve seguir de perto a prática do crime e o tempo de prisão
preventiva, ou cautelar, que nele tenha lugar, deve ser descontada na pena aplicada em
julgamento. No capítulo VIII, sob o título: “Das Testemunhas”, considera a prova testemunhal
muito importante e propõe que seja avaliado, previamente, o grau de isenção e confiança das
testemunhas, sua eventual ligação ao suspeito e a determinação do seu interesse em dizer a
verdade, bem como a credibilidade do seu discurso. A prova testemunhal, tal como as
restantes provas e acusações devem revestir natureza pública. Nos capítulos IX e XI,
respetivamente: “Dos interrogatórios sugestivos” e “Da tortura”, Beccaria, considera que o
suspeito tem o dever de responder ao interrogatório que lhe for feito (sob pena de lhe ser
aplicada pesada sanção por ofensa à Justiça), devendo este, contudo, circunscrever-se, com
clareza e objetividade, à forma do cometimento do crime e às circunstâncias da sua

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ocorrência. Considera, ainda, que a confissão dos factos é irrelevante e desnecessária, perante
presunções inilidíveis ou prova de corpo de delito.

A tortura é classificada como uma inadmissível barbárie que apenas demonstra o direito da
força, na medida em que constitui a aplicação de uma pena a um cidadão que pode ser
culpado ou inocente. Beccaria equipara a prática da tortura, que visa uma confissão, aos
ordálios do sistema primitivo que procuravam uma marca reveladora da autoria do crime. Do
ponto de vista utilitário, considera-a um método profundamente injusto e inútil, que apenas
obriga o inocente, que não consegue suportar o suplício, a confessar, garantindo ao culpado
que o suporta e não confessa, a inocência. No capítulo X, sob o título: “Dos juramentos”, o
autor desvaloriza o juramento, considerando-o inútil e destituído de qualquer grau de
credibilidade, uma contradição irracional entre leis e sentimentos que, numa visão utilitarista,
destrói, por um lado, a força do sentimento religioso e, por outro, não garante que o suspeito
declare a verdade que lhe é prejudicial. A obra de Beccaria acabaria por transfigurar, em
vários aspetos (humanização do Direito, imposição de limites ao poder punitivo do Estado,
objetividade e clareza da norma e estabelecimento de garantias de defesa, entre outros), o
futuro do Direito Penal e Processual Penal. Teve uma grande repercussão junto dos meios
intelectuais europeus da época, particularmente no seio do Iluminismo francês onde foi
comentada por eminentes pensadores como Voltaire que a considerou um “código de
humanidade”. Influenciou profundamente os padrões legislativos da época, introduzindo, no
curto prazo, novos princípios e novos conceitos em vários ordenamentos jurídicos e, a longo
prazo, toda a legislação penal e processual penal saída do liberalismo. Desenharam-se as
primeiras tentativas abolicionistas, matéria em que Portugal viria a ser um país pioneiro.
Propôs-se o fim da tortura, dos processos e das penas infamantes, procurando a humanização
do direito e do processo penal. Em termos probatórios, no plano da ciência jurídica, três novos
grandes princípios jurídicos, ainda que numa dimensão embrionária, vêm alterar totalmente o
sistema das provas legais: o princípio da presunção de inocência, o princípio da livre
convicção do julgador e, no plano material e metodológico, inicia-se um percurso que
culminará, mais tarde, com a afirmação do princípio da verdade material, com recurso
crescente à ciência e ao método científico. Já no século XIX, no que à prova particularmente
diz respeito, teve uma grande influência o “Tratado da Prova em Matéria Criminal”, do
penalista alemão Carl Mittermaier, primeira obra de doutrina estruturada sobre o tema,
publicada. A ação e a influência do pensamento de Beccaria tornar-se-ia, também, um dos
alicerces fundamentais da chamada Escola Clássica de Criminologia, cujos princípios
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doutrinários marcariam, neste domínio, a primeira metade do séc. XIX. Numa primeira fase,
muito próxima da Revolução francesa e dos tempos conturbados que se lhe seguiram, é
concedida, ao princípio da livre convicção do julgador, uma amplitude extrema. O Código de
Instrução Penal napoleónico previa, à semelhança do sistema judiciário britânico, a utilização
do sistema de júri, como forma de neutralizar todos os abusos inerentes ao sistema processual
típico do Ancien Regime. Vinculado a um quadro mínimo de limitações legais, o juiz avalia a
prova obtida, quase exclusivamente de acordo com os ditames da sua consciência e
convicções pessoais.

Deste modo, cair-se-ia, no oposto ao sistema das provas legais, concedendo-se, ao julgador,
excessivos poderes e uma alargada discricionariedade, que tornariam o sistema demasiado
subjetivo, retirando ao acusado, na prática, importantes garantias de defesa. São significativas,
a este respeito, as palavras críticas de Imbert e Lavasseur :o sistema das provas de convicção
conduziu à concessão ao juiz de um tão lato poder de apreciação no julgamento, que passou a
tecer-se uma reação demasiado subjetiva no que respeita a certos elementos. Assim muitas
vezes se tem desejado o desaparecimento do impressionismo jurídico, ao qual parece conduzir
o sistema das provas de convicção, aguardando-se que a ciência esteja apta a fornecer certezas
a que a mente humana não pode, por si só, chegar.

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CAPITULO II- IMPORTÂNCIA DA PROVA NO PROCESSO PENAL ANGOLANO

2.1 Importância da verificação da prova no processo penal

Importante é dizer que, na verdade, a prova é o centro e vértice do processo penal. Dai que,
grandes partes dos legisladores dão-lhe um tratamento especial.

Dada a importância da prova em processo penal, alguns legisladores delimitam, de forma


clara, o âmbito de procura as mesmas. Já é ponto assente que, na prossecução da verdade
material, se deve ter em conta o princípio da não procura da prova sem limites, o Estado, ou
melhor, os seus agentes estariam a incorrer em ilícito penal.

A prova é, na verdade, o fundamento de qualquer processo penal, ou seja, o seu centro é


vértice. Não há processo penal algum sem que haja prova que sirva de sustentáculo, tal como
Ana Maria Campos (1992, p.39), o destaca: «a prova é coluna vertebral do processo». Isto é, o
processo só é sustentável se existirem provas. Sem elas não há seguramente processo
defensável.

Para sermos mais rigorosos, o processo pode existir mas, sem provas certamente não haverá o
desfecho esperado e, consequentemente, não haverá iniciação, muito menos acusação.

2.2. Meios de Prova: Espécies.

Para ganhar-se a perspectiva adequada a compreensão da estrutura básica dos meios de


obtenção de prova, é importante diferenciá-los dos meios de obtenção de prova. Há
necessidade de olhar para esses dois aspectos sobre os meios de provas com algum, rigor,
porque, do ponto de vista teórico a demarcar melhor o alcance de um outro. Prima fácies,
parece que meios de prova sejam os mesmos que os meios de obtenção de prova.

Para Grandão Ramos (2011, p.228), meio de prova é tudo o que possa levar à averiguar e
apurar os elementos constitutivos do crime e das circunstâncias de tempo, lugar, meio, e
modo, como foi cometido, assim da personalidade do delinquente e de todos os demais
elementos necessário à correta aplicação do direito penal substantivo; neste sentido, o autor

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não faz separação entre os meios de prova e os meios de obtenção de provas, ou seja, trata as
duas realidades de forma unívoca.

No contexto português, a doutrina e a jurisprudência estabelecem, de forma clara, o alcance


dos meios de provas. Assim o acórdão nª1680/03-2 do Tribunal da Relação de Guimarães, de
29 de Março de 2004, define os meios de prova como elementos de que o julgador se pode
servir para formar a sua convicção acerca de um facto, citando Antunes Varela, J. Miguel
Bezerro e Sampaio e Nora, Manual de processo civil (p.452); por outro lado, o mesmo
Acórdão define os meios de obtenção de prova como os instrumentos de que servem as
autoridades judiciárias para investigar e recolher meios de prova. Neste sentido cita-se
(MARQUES, 1993, p. 209 e ss).

Meio de prova é o meio através do qual se oferece ao Juiz meios de conhecimento, de


formação da história do crime, cujos resultados probatórios podem ser utilizados directamente
na decisão. São exemplos de meios de prova: a prova testemunhal, os documentos, as perícias
etc. (LOPES, 2017).

Tudo o que se possa levar à averiguação e apuramento dos elementos constitutivos do crime e
das circunstâncias do tempo, lugar, meio e modo, como ele foi cometido, assim como da
personalidade do delinquente e de todos os demais necessários à correcta aplicação do Direito
Penal substantivo, constitui meio de prova, como vimos. Regra geral, o tribunal não conhece
os (facta probanda). Chegam até ele por intermédio dos (facta probas).

Os meios de provas são agrupados pela doutrina em pessoais ou reais. Fala-se,


consequentemente, em prova pessoal e em prova real.

É Pessoal quando tem por base as pessoas: aquilo que elas observam através dos seus
sentidos e depois relata ou transmitem à entidade encarregada da recolha da prova, na
instrução preparatória, o instrutor e, na fase judicial, o Juiz.

Neste caso, os factos são levados ao tribunal, através da notícia que o homem tem destes
factos. Os factos chegam ao conhecimento do tribunal através do conhecimento directo (ou
indirecto) que deles teve o homem.

É o que se passa com a prova por declaração e a prova testemunhal.

14
A Prova Real é aquela que resulta da observação directa de objecto ou coisas, da simples
inspecção o tribunal ou de exames levado a cabo por técnicos ou peritos, que são assessores
ou auxiliares do tribunal. Na prova real não há mediação seja de quem for entre o juiz e os
factos. Este observa-os directamente. É uma prova de percepção directa. (RAMOS, 2011,
p.228).

A prova real pode incidir sobre as pessoas quando elas próprias são objecto de exames
coordenado quer durante a instrução preparatória quer na fase do julgamento. É o caso do
exame médico-legal para descrição e localização de um ferimento, determinação da sua
gravidade, natureza do instrumento que o produziu, intenção que revela, etc. podem ser
objecto deste tipo de prova tanto o arguido ou réu como o ofendido até uma testemunha.

O princípio que domina em matéria de prova é o da mais ampla liberdade e possibilidade não
só da investigação da verdade, como ainda da utilização dos meios para atingir esse fim.
(RAMOS, 2011, p.229).

Entretanto, a lei constitucional resultante das alterações introduzidas pela lei 23/92 de 16 de
Setembro, restaurou o habeas corpus que a actual constituição também consagra. (art.º 68º).

2.3. Provas Pessoais: Espécies.

A prova pessoal vem consagrada nos arts.148º e ss do código processo penal angolano.

A prova pessoal é, como se disse, a prova que se obtém através de conhecimento que as
pessoas físicas, com a sua estrutura moral e psicológica, têm de factos que interessam ao
processo.

É através do relato ou narração dessas pessoas que o juiz adquire os conhecimentos dos
factos.

A evidente incapacidade da prova real para fornecer ao juiz o conhecimento suficiente dos
factos necessários à satisfatória aplicação do direito torna indispensável no processo penal a
prova pessoal, apesar dos riscos de erro que lhes são inerentes.

A prova pessoal assenta na capacidade que a pessoa humana possui de conhecer os factos da
vida real e de transmitir esse conhecimento.

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Ora, o rigor com que se adquiri os conhecimentos das coisas e a fidelidade com que se
transmiti varia e pessoa para pessoa que pode ser maior ou menor.

Pior que isso, é a possibilidade natural e frequente de os factos serem transformados na mente
dos observadores, por erro de análise e interpretação, por fantasia ou pela subjectividade, e,
assim, em que parte ou no todo falseados, serem transmitidos ao tribunal. (RAMOS, 2011,
p.231).

Não obstante os perigos que a prova pessoal comporta, a tendência não é para restringi-la e
muito menos aboli-la, mas ao invés, fazer frente aos perigos que lhe são próprio, mediante
métodos aperfeiçoados na recolha de declarações e na apreciação mais rigorosa da prova.

A prova pessoal pode resultar das declarações dos arguidos, dos depoimentos das testemunhas
e de declarações de outros participantes processuais, como, a título de exemplo, o ofendido ou
os peritos.

As declarações dos arguidos, nomeadamente a confissão, assumem importância especial, pela


sua natureza, pelo fim e pelos efeitos que podem produzir.

2.4.Declarações do Arguido: A Confissão. O Interrogatório.

O modo de declarações do arguido vem consagrado nos arts.166º e ss do Código do Processo


Penal Angolano.

O arguido presta declarações através dos interrogatórios a que é submetido no processo.

Através das suas declarações o arguido pode dar uma ajuda preciosa ao esclarecimento da
verdade, à descrição do circunstancialismo que rodeou o crime, aos móbeis que o
determinaram, como pode fornecer caminhos que conduzam a prova da sua inocência e
irresponsabilidade.

A confissão constitui um meio de prova. Todavia, ela não é o fim do interrogatório nem, de
resto, assume o valor de prova absoluta, como veremos.

Além de ajudar a descobrir a verdade, a confissão pode indiciar arrependimento, produzir


elevados efeitos educativos e cumprir, só por si, ao menos numa boa parte, um os principais
fins das penas, o fim da prevenção especial. Quem honesta e sinceramente assume a sua

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«culpa» aceita, melhor ou pior, a justiça que lhe for feita. A confissão inibe-o de se rebelar
contra ela. (RAMOS, 2011, p.232).

Para ser eficaz, como meio de prova, a confissão, como de resto toda a prova pessoal, terá de
ser obtida em condições de perfeita liberdade, isto é, sem que se use de coacção física ou
moral.

Sê-lo-á tanto mais quanto mais espontânea e consciente for a vontade do arguido ou réu de
confessar.

O réu não está juridicamente vinculado a declarar a verdade.

O arguido não tem o dever jurídico, não sendo, por conseguinte, obrigado e disso deve ser
formalmente prevenido antes de iniciar o interrogatório, a prestar declarações nem a
responder às perguntas que lhes forem feitas sobre os factos imputados (arts.166.º 3 e 169.º do
Código do Processo Penal Angolano), ao contrário do que sucedia no processo inquisitorial da
idade média que a confissão tinha o valor da prova legal, era considerada (rainha das provas)
e todos os processos de a obter (coacção, tortura, etc.) eram considerados legítimos. Ninguém
pode ser coagido a colaborar na sua própria incriminação e condenação, pelo que, desde logo,
o arguido tem o direito de se calar, não podendo o tribunal extrair de tal atitude conclusões em
seu desfavor.

O interrogatório obedece as regras estabelecidas nos artigos, 166º e ss. (na instrução
preparatória) e 169º (na audiência de julgamento) do Código do processo Penal Angolano.

De harmonia com que se dispões no artº 166º (corpos), só a falta ou falsidade nas respostas
sobre a sua identificação e antecedentes judiciários fara incorrer o arguido nas penas de
desobediência ou de falsas declarações. Ou seja a inverdade nas declarações do arguido não é
punido, quando referida aos factos que formam o objecto do processo, ao crime de que é
acusado.

Impunidade que, note-se, não significa a atribuição ao arguido do direito de mentir.


Simplesmente: a mentira não é punida.

Prestando declarações, o arguido tanto poderá confessar negando factos ou a sua participação
neles.

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As perguntas feitas ao arguido não serão, por outro lado, sugestivas e nem cavilosas, nem
acompanhadas de dolosas persuasões, falsas promessas ou ameaças. artº 163.º do Código do
Processo Penal Angolano.

Segundo Grandão Ramos (2011), o interrogatório deve ser legal e o Juiz ou o Ministério
Público que não procederem desse modo incorrerão em procedimento disciplinar.

Perguntas sugestivas são as que sugerem ou insinuam a resposta, que levam o arguido a dar
precipitadamente a resposta que quem interroga pretende, ainda que tal resposta não
corresponda a verdade. Também se lhes chama perguntas condutivas, por conduzirem o
interrogado à resposta que o interrogante deseja dele.

Perguntas cavilosas são perguntas capciosas, fraudulentas, astuciosas, traiçoeiras ou


ardilosas que (obrigam) o arguido a uma resposta que, seguramente, não estava nos seus
propósitos e que poderá ter não corresponder à verdade.

Persuação dolosa é o convencimento fraudulento, o engano, o embuste.

Promessas falsas é a que é feita para não ser comprida.

A proibição contida no art. 146.º Código do Processo Penal Angolano abrange todos os
métodos, científicos ou não, que restrinjam a liberdade do arguido e procurem reduzir a sua
resistência física, moral ou psicológica à prestação de declarações comprometedoras. Os maus
tratos, a fadiga com o interrogatório ininterruptos que se prolongam com único fim de se
quebrar a resistência que ele compõe a confissão são, estes e outros semelhantes proibidos
pela lei e condenáveis a todas as luzes.

Do mesmo modo se entende por proibida a hipnose e a narcoánalise e, de uma maneira geral,
a utilização de substâncias químicas.

2.5.Prova Testemunhal.

A prova pessoal vem consagrada no art.148º do Código do Processo Penal Angolano.

Prova testemunhal, como o nome sugere, é produzida por testemunhas, pessoas chamadas
à depor ou narrar no processo e perante a justiça factos de que têm conhecimento com
objectivo de os dar a conhecer ao tribunal.

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Pessoas físicas, bem entendido, porque só elas têm capacidade para adquirir conhecimento
das coisas e de o transmitir a outrem.

Os factos que interessam ao processo são os que constituem o seu objecto, isto é, os
elementos constitutivos do crime e os factos ou as circunstâncias ligados aos crimes por uma
relação de utilidade e pertinência.

Trata-se de factos que chegaram ao conhecimento da testemunha através dos sentidos, por
forma directa (testemunha de ver) ou por forma directa (testemunha de ouvir dizer). como
dispõe o art.155º Código do Processo Penal Angolano

O testemunho tem na sua base a ideia de que as pessoas são capazes de transmitir com
relativa fidelidade os conhecimentos gravados na sua consciência.

Mas há pessoas que não possuem essa capacidade, nem abstracto nem em concreto.

A capacidade para em geral testemunhar (capacidade em abstracto) falta aos interditos por
demência e aos menores de 7 anos, assim como os presos, salvo tratando-se de crimes
cometidos na cadeia ou que de lá pudessem ser presenciados ou praticados antes da prisão.

Não podem outras pessoas ser testemunha, por lhes faltar capacidade de testemunhar em
concreto, ou seja, em relação com determinado processo. Essas pessoas podem testemunhar
em geral mas não podem faze-lo naquele processo. Os previstos no art.º150º do Código do
Processo Penal Angolano.

2.6. Prova por Declarações.

Já vimos que o arguido ou réu pode ser ouvido em declarações e que estas poderão constituir
como meio de prova.

Mas podem ainda (declarar) com o mesmo fim as pessoas inábeis para depor, nos termos do
art.106º do Código do Processo Penal Angolano, salvo os interditos por demência, isto é,
aqueles que ressalvada a dita excepção, não têm capacidade em concreto para deporem, para
serem testemunhas.

No entanto, ao contrário do que sucede com as testemunhas os declarantes só são ouvidos se o


ministério publica, na instrução preparatória, ou o juiz, na instrução contraditória, o intender
conveniente-ᶳ 2.º do art.216º do Código do Processo Penal Angolano.
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Entretanto os ascendentes, descendentes, irmãos, afins do mesmo grau, marido ou mulher do
ofendido, da parte acusadora ou arguido não são obrigados a prestar declarações, salvo se
forem eles que participaram o crime, mesmo que o ministério publico ou o juiz o determine.

Neste caso, aquelas pessoas só prestam declarações se o quiserem.

Não há uma diferença social entre a prova testemunhal e a prova por declarações. Apenas
diferem pela qualidade das pessoas chamadas para depor ou declarar.

Em princípio, porém, a prova testemunhal merece mais fé e possui mais crédito, dada a
inabilidade e capacidade genética dos declarantes para deporem, mas tanto uma como a outra
estão sujeitas ao princípio da livre apreciação pelo juiz e, no caso concreto, o depoimento de
uma testemunha pode muito bem ser afastado pelas declarações de outro participante
processual.

Os declarantes estão submetidos ao regime aplicável as testemunha, salvo no que é essencial a


natureza destas últimas.

Assim, os declarantes não são obrigados a prestar juramento nem compromisso de honra; não
há limite para a sua indicação, uma vez que ouvi-los ou não depende do critério do juiz ou do
ministério publico, na instrução preparatória; não respondem aos costumes; os declarantes
serão também perguntados pela razão de ciência das suas declarações; não estão sujeitos e
contraditados.

2.7. Provas Reais: Espécies

As provas reais são as provas que incidem sobre as coisas e mesmo sobre as pessoas quando
elas são seu objecto passivo de observação. (RAMOS, 2011, p.243).

A prova real também pode ser directa ou indirecta.

A primeira refere-se directamente ao facto jurídico e processualmente relevante.

No caso de homicídio, é prova directa o cadáver da vítima.

A prova indirecta é aquela que incide sobre os indícios ou facto iniciantes que poderão
permitir conclusões sobre o facto a prova.

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É prova indirecta uma impressão digital ou a existência do cabelo do réu entre os dedos da
vitima de morte por estrangulamento.

A prova real pode ser de observação imediata ou através da sua reprodução.

Em certos casos, a nomeação é facultativa, noutros, ela é obrigatória.

2.8. Prova pericial

A prova pericial vem consagrada no art. 192º do Código Processo Penal Angolano

A prova pericial é uma prova técnica mediante a qual são trazidos ao processo conhecimento
que estão fora do saber ordinário. Contudo, a prova é apreciada de acordo as regras da
experiência comum e a livre convicção da entidade competente para proceder a sua
apreciação, salvo nos casos em que a lei dispuser de outra forma (art.147º do Código do
Processo Penal Angolano).

A perícia pode ser realizada e desempenhada por dois ou mais peritos sempre que se revestir
de especial complexidade ou importar conhecimento de mais do que uma disciplina.

A prova pericial não é nenhuma prova real nem propriamente uma prova pessoal, apesar de
incidir sobre (coisas) e de o conhecimento dos factos que interessam ao processo se adquirir
através das pessoas do perito.

É bem verdade, os peritos são órgão auxiliares da administração da justiça, auxiliares do juiz
ou do ministério publico. São escolhidos por eles e não podem negar-se a colaborar no
processo, salvo motivo de escusa ou de recusa nos termos do art.194º do Código Do Processo
Penal Angolano.

2.9. Prova por Reconhecimento.

Está previsto no art.176º do Código do Processo Penal Angolano. Se houver dúvidas sob a
pessoa do culpado, de maneira que seja necessário o seu reconhecimento pela testemunha do
declarante será feito, apresentando-se o culpado a testemunha ou declarante conjuntamente
com outros indivíduos para que entre eles o reconheça.

Se o reconhecimento estiver feito por mais de uma testemunha ou declarante cada um deles o
fará em separados.

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O reconhecimento poderá aplicar-se a outras pessoas e também a coisas (por identidade de
razão), em tal caso aplicação analógica.

O reconhecimento pode, assim, definir-se como a identificação física de uma pessoa ou de


uma coisa.

2.10. A Reconstituição.

A reconstituição está consagrada no art.182º do Código do Processo Penal Angolano

A também chamada reconstituição do facto é uma valiosa contribuição para esclarecer o facto
e tanto pode ser realizada na fase da instrução preparatória como também em juízo, nesse
último caso, sob a presidência do juiz. A reconstituição dos factos é útil quando surgem
dúvidas sobre a compatibilidade de uma hipótese histórica com os marcos do fisicamente
exigível ou aceitável. (CORDEIRO, 2000, p.449).

A reconstituição não deve ser ordenada se com ela se puserem em perigo a ordem pública ou
ofenda sentimentos íntimos ou a moral social. (RAMOS, p. 248).

(A reconstituição é um meio moderníssimo de investigação, que, bem dirigido, pode conduzir


a bons resultados probatórios, mas é necessário valora-la com grande cautela e fino sentido
critico: na vida as coisas não se repetem sempre do mesmo modo e a arte, por muito perfeita
que seja não pode plasmar completamente o que desapareceu no tempo).

2.11. Acareação

A acareação, que etimologicamente significa colocar cara a cara os acusados, era um


procedimento bastante utilizados pelos inquisidores. Está prevista no art.174º do Código do
Processo Penal Angolano e será admitida:

Entre os acusados;

Entre os acusados e testemunhas;

Entre testemunhas;

Entre acusado e vítima;

Entre vítimas.

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A acareação poderá ser realizada na fase da instrução preparatória como na fase judicial,
sempre se respeitando, o direito do imputado de não participar do ato, sempre que as
declarações divergirem sobre os factos ou circunstâncias relevantes. O ato deverá ser feito em
audiência, constando na ata a descrição das perguntas e respostas.

Para que a acareação seja feita, devem concorrer os seguintes pressupostos:

a) Existência prévia de declarações, ou seja, que as pessoas que venham a participar da


acareação tenham sido interrogadas antes;
b) Que entre as declarações exista divergência;
c) Que o facto ou circunstância que se pretende esclarecer seja relevante para o processo.

Na linha do que já explicamos sobre a função persuasiva da prova e a captura psíquica do


julgador, é patente que a acareação pode ser de grande valia para o convencimento do juiz,
pois representa a possibilidade de confrontar versões divergentes, elegendo aquela que reputa
mais verosímil.

2.12. Prova Documental.

O conceito de documento já foi bastante discutido no âmbito do Direito, especialmente Civil e


Penal, mas para o processo penal documento são” todo instrumento como tal definido pela lei
penal” como define o art. 184º do Código do Processo Penal Angolano.

Segundo o autor Aragoneses Alonso (1997), a prova documental acaba por ser toda classe do
objecto que tenham como função probatória, contando que esses que por sua índole, sejam
susceptível de serem levados ante a presença judicial; isto é, que documento é qualquer
objecto móvel que dentro do processo possa ser utilizado como prova contrapondo-se neste
sentido, a prova em inspecção ocular que se pratica naqueles objectos que não possam ser
incorporados ao processo.

Dessa maneira, além de ser considerado documento qualquer escrito, abre-se a possibilidade
da juntada de fitas de áudio, vídeos, fotografias, tecidos e objectos móveis que fisicamente
possam ser incorporados ao processo e que desempenham uma função persuasiva
(probatória).

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CAPÍTULO III- MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA NO PROCESSO PENAL
ANGOLANO

3.1. Meios de Obtenção de Prova no Processo Penal Angolano

Os meios de obtenção de provas estão estreitamente relacionados com a fase investigativas,


ou seja, é através dos meios de obtenção de provas que se podem obter meios de prova que
poderão servir para formar a convicção do juiz, acerca de factos imputados ao arguido.
Todavia, convém salientar que, nem sempre, é fácil distinguir, de forma clara, uma realidade
da outra. Por vezes, o próprio meio de obtenção da prova acaba por se identificar com o meio
de prova. Assim, por exemplo, enquanto o exame ao cadáver é um meio de obtenção de
prova, o próprio cadáver é já um meio de prova.

Deste modo, podemos dizer que a inspecção e sindicância administrativas são meios e
obtenção de prova e os elementos resultantes da inspecção e sindicância constituem meios de
prova, ou prova propriamente dita. Neste caso, estamos a referir-nos à prova como resultado,
espelhado nos elementos obtido pelo IGAI, ou outro ente, nas vestes de inspector ou
equivalente.

Do ponto de vista legislativo, em matérias do meio e prova, o legislador angolano em sede do


código do Processo Penal, também estabeleceu, de forma clara, a diferença entre os meios de
prova e aos meios de obtenção de prova, tendo sistematizado da seguinte forma: no título IV,
dos meios de prova e no capítulo II, vem prevista a prova testemunhal, mas concretamente no
art. 148º e ss. A secção II, trata das declarações do arguido, do assistente e das partes civis,
art. 165º e ss. A secção III, é sobre acareação, art.174º. A secção IV, trata da prova por
reconhecimento, art.176º e ss. A secção V, trata da reconstituição do facto, art.182º. a secção
VI, trata da prova por documento, assim como a secção VII, que trata da prova pericial
art.184º e ss. E o titulo V é sobre os meios de obtenção da prova, sendo o capitulo I, sobre
medias de prevenção e protecção da prova, art.108º e ss. o capitulo II trata das revistas e
buscas, art.212º e ss. O capítulo III, das apreensões art.223º e ss. O capítulo IV, que trata dos
exames assim como o capítulo V, que trata da escuta telefónica, art.238º e ss.
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Assim, em sede do código do processo penal angolano, a prova testemunhal, as declarações o
arguido, do assistente das partes civis, as provas por acareação, a reconstituição dos factos, a
prova pericial e a documental fazem parte dos meios de prova. Em contrapartida, os exames,
as revistas, buscas, apreensões e escutas telefónicas são meios de obtenção de prova.

Quanto aos meios de obtenção de prova, diz Sousa Mendes (2004, p.137), que são os
procedimentos e instrumentos utilizados pelas autoridades judiciárias, pelas polícias
criminais, pelos advogados e até pelos particulares em especial, os assistente para a aquisição
dos meios de prova e sua recolha para o processo. Na verdade, o autor tem razão, na medida
em que os meios de obtenção de prova são todos procedimentos para aquisição de meios de
prova para o processo penal.

De facto, os procedimentos administrativos que ocorrem no âmbito de inspecções, e não só,


são realmente meios de obtenção de provas, enquanto os elementos como relatórios
resultantes dessas inspecções já são meios de provas.

Meios de obtenção de prova: ou Mezzidiricerca de la prova como denominado os italianos,


são instrumentos que permitem obter-se, chegar-se à prova. Não é propriamente “ a prova” se
não meios de obtenção. Explica Magalhães Gomes Filho (1993, p.398), que os meios de
obtenção de prova não são por si fontes de conhecimento, mais servem para adquirir coisas
materiais, traços ou declarações dotadas de força probatória, e que também podem ter como
destinatário a polícia judiciária. Exemplo: buscas e apreensão Interceptação telefónica, etc.
Não são propriamente provas, mas caminho para chegar-se a prova.

Os meios de provas são aptos a servir, directamente, ao conhecimento do juiz sobre a


veracidade ou não de uma afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha ou o teor
de uma escritura publica, os meios de obtenção de prova ( p. ex,: uma busca e apreensão) são
instrumentos para a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a convencer o
julgador ( p.ex,: um extracto bancário(documento) encontrado em uma busca e apreensão
domiciliar). Ou seja, enquanto o meio de prova se presta ao convencimento directo do
julgador, os meios de obtenção de provas somente indirectamente, e dependendo do resultado
de sua realização, poderão servir a reconstrução da história e dos factos. (BADARO, 2017,p.
299).

25
3.2. Legalidade De Prova.

Nem tudo que é prova serve para o processo penal, ou seja, nem tudo quanto serve para
demonstrar a verdade dos factos deve ser admitido como prova para o processo penal.
(Pongolola Correia Vicente, prova no processo penal angolano vs o princípio da não auto
incriminação, 2016, p.47).

De facto, para que os elementos sejam considerados como prova, devem ser obtidos de forma
lícita.

Neste particular, Germano Marques destaca que «a verdade processual não é senão o
resultado probatório processualmente válido, isto é, a convicção de que certa alegação
singular de facto é justificadamente aceitável como pressuposto da decisão obtida por meios
processuais válidos». No mesmo sentido (BELEZA, 1993,p.146) observa.

Neste contexto, julgamos que, para se convencer alguém de uma certa versão dos factos, é
necessário que o procedimento seja pautado na lei, é isto que deve ser depreendido do art.148º
Do Código Processo Penal Angolano, quando fala dos meios de provas admitidos em Direito.

3.3. Objecto e fim da Prova.

O fim e o objecto da prova vêm consagrados no art.145º do Código Processo Penal Angolano.

Constituem objecto da actividade probatória os factos juridicamente relevantes para:

a) Averiguar da existência ou não de uma infracção penal e punibilidade ou não do


respectivo agente;
b) Determinar a pena ou medida de segurança que lhe sejam aplicáveis;
c) Declarar, havendo lugar a ela, a responsabilidade civil do arguido conexo com a sua
responsabilidade criminal.

O autor Grandão Ramos (2011, p.220) diz que, Chama-se prova, tanto a actividade probatória
levado a cabo para verificar a verdade dos factos imputados ao arguido/ou réu, isto é, a
instrução processual (dai o falar-se da fase da prova) e aos meios para este efeito utilizados,
como resultado e até ao objecto dessa actividade.

O fim da prova que é produzia no decurso do processo, desde a autuação até ao julgamento é,
pois, essa verificação da verdade objectiva dos factos que constituem o objecto do processo.
26
O que se pretende verificar (provar) esse os factos que entram na constituição do crime são
verdadeiros (ou não), se na realidade se produziram (ou não).

Por conseguinte, a prova incide, fundamentalmente sobre o objecto do processo. Dito de


outro modo o objecto fundamental da prova são os elementos constitutivos do crime
abstractamente descrito no tipo legal e concretamente imputados ao arguido, acrescido das
circunstâncias que hão-se permitir ao tribunal emitir um juiz justo não só sobre a existência
desse crime como sobre o modo como foi cometido, a pessoa (e personalidade) do seu autor e
a pena que, finalmente, ele merece.

O objecto da prova, neste sentido são os factos Probandos, aquilo que, em processo, se
chama o «tema da prova» («Thema Probandos»), no fundo, aquilo que é preciso provar, dar
como verificado, no processo, para que se realize, em ultima analise, mediante a
individualização e aplicação da pena, o Direito penal substantivo.

No crime de furto, o tema ou objecto aprovar (o facto probando) é a subtracção da coisa


alheia pelo arguido ou réu (acção de a retirar d posse do dono), com a intenção de se apropriar
dela (dolo), as circunstâncias que antecederam, acompanharam ou se seguiram à subtracção e
a personalidade do agente. Neste exemplo, o tema ou o objecto da prova (aquilo que se quer
provar) coincide com o objecto do processo.

No entanto, a prova poderá não ter por objecto, imediato os factos que constituem o crime e as
circunstâncias em que foi cometido (e é mesmo isso o que se passa na maior parte dos casos),
mas outros factos (factos) indiciadores ou indícios de que aqueles poderão, por raciocínio
lógicos sendo deferidos ou deduzidos.

O objecto a prova é formada não apenas pelos factos que entram na constituição do crime,
mas por (outros factos susceptíveis de levar o juiz a concluir que os primeiros ocorreram e o
arguido os praticou.

O objecto da prova é constituído pelos factos alegados pelas partes e que interessam à
discussão da causa, tendo em conta as várias soluções plausíveis da questão de direito; são os
factos pertinentes e não questões jurídicas, argumentos, normas legais, justificações racionais
(iuranovitcuria) - nº1 do art.511º do Código do Processo Civil; art.341º do Código Civil.

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3.4. Princípios relativo à prova

3.4.1.O Principio Da Verdade Material.

O princípio da «verdade material» é aquele que se opõe a chamada

«Verdade formal» (jurídico ou processual»), estreitamente ligada esta última ao princípio


ou sistemas de provas formais ou legais do velho processo inquisitório e essencialmente
obtida a partir de atitudes processuais dos respectivos sujeitos, em especial, do arguido ou réu,
da confissão ou da forma que ela revestia, do valor de presunções previamente estabelecidas,
de ónus probatórios não cumpridos, etc.

No fundo, porém, a verdade não é nem material nem formal.

A forma ou método de chegar a verdade é que pode assentar no critério material ou no critério
formal.

O princípio da verdade formal parte do princípio de que as partes processuais são as


senhoras da relação jurídica material em discussão, podendo dispor do objecto do processo, de
confessar do peio, de desistir inclusivamente dele, sem que o juiz possa por qualquer forma,
opor-se; que é as partes e só as partes que compete trazer ao processo os factos que tenham
interesse para discussão da causa e as provas que queiram utilizar para fazer valer os seus
pontos de vista.

Ainda de harmonia com princípio da verdade formal, sobre as partes recaem os ricos inerentes
a certas atitudes processuais.

Assim, por exemplo, no processo civil, onde aquele princípio domina, se uma das partes
alegar um facto e a outra não impugnar, não contradisser, dentro do prazo legal, é como se o
confessa-se. O juiz tem de o dar como provado, independentemente de o saber se é verdadeiro
ou falso, se existe ou não existe formalmente é como se existisse. Existem termos processuais.
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A verdade (formal), ou (jurídicas) é a que vale. A verdade real poderá ser outra sem que isto
possa interessar ou influir nas decisões do tribunal. Mas a verdade é só uma. É aquela a que
terá de chegar-se através de um exame exaustivo das provas, da investigação dos factos e das
circunstâncias reais e concretas em que ocorreram.

Só essa verdade, verdade objectiva, poderá conduzir à realização dos fins do processo penal,
isto é, à aplicação do direito penal, pela combinação de uma pena, aos factos que
efectivamente coincidam com a hipótese ou tipo abstracto de crime, desenhado na norma
penal.

Essa verdade é que é necessário apurar.

E terá de ser o tribunal a fazê-lo. Terá de ser o tribunal a investigar e aprovar a verdade
objectiva dos factos trazido ao processo, independentemente da colaboração que lhe possa ser
dada pelas partes ou participantes processuais.

Nisto consiste o «princípio da verdade material» que, no fundo, a doutrina reconduz ao


princípio do inquisitório. A procura da verdade material é a razão de ser dos poderes de
inquisição e de investigação concedidos ao tribunal.

O princípio da verdade material esta expressamente consagrado no artº. 146º do Código do


Processo Penal Angolano e em muitas outras disposições no fundo, em todas aquelas que
consagram o princípio da investigação ou do inquisitório que permitem ou obrigam o juiz a
esclarecer oficiosamente os factos que constituem os objectos do processo, de modo a que
sejam reais considerações de justiça a presidir as decisões dos tribunais. Como resultado da
aplicação do princípio da verdade material, as provas não têm valor legal predeterminado e
não existe em processo penal o ónus de impugnação dos factos pela acusação. Impugne-os ou
não o réu, eles terão de ser provados.

Há, no entanto, algumas (poucas excepções) ao princípio da verdade material, em processo


penal. É o caso do valor probatório atribuído aos documentos autênticos.

Segundo o ᶳ único do artº.190º do Código do Processo Penal Angolano, os factos constantes


de documentos autênticos ou autenticados consideram-se provados enquanto a autenticidade
do documento ou a verdade do seu conteúdo não forem posto em causa mediante a arguição
de falsidade nos termos do artigo seguinte.

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3.4.2. Princípio da livre apreciação da prova.

Significa este princípio que o Juiz, na apreciação (valoração) da prova produzida não está
sujeito as regras predeterminadas.

Aprecia a prova e forma a sua convicção livremente, de harmonia com as circunstâncias


concretas do caso.

Ao sistema da prova livre opõe-se o sistema da prova vinculada, formal ou legal, que era
dominante nos direitos mais antigos e no domínio o processo inquisitório.

Como se caracterizava este sistema?

Como diz Figueiredo Dias «muitas legislações do passado…

Reputavam indispensável prescrever regras de apreciação da prova, assentes em regras de


vida e da experiência que tradicionalmente eram tidas como seguras e através das quais se
fixava ou hierarquiza o valor dos diversos meios de prova, segundo a força que a cada um se
atribuía» (in Direito Processual Penal, p.197).

No sistema de prova legal, o valor das provas (as conclusões que o Juiz deve extrair das
provas que lhe são apresentadas) é predeterminado e antecipadamente fixado pela lei. A lei
impõe de fora a sua verdade (verdade legal ou formal) ao Juiz, independentemente ou
mesmo contra a sua própria convicção.

Foi neste sistema decisiva a influência das instituições probatórias dos antigos sistemas
germânicos e das regras do processo canónico. Um dos alegados fundamento do princípio da
prova legal era a certeza e a segurança das decisões judicias e a necessidade do arguido e a
sociedade a ficarem precavidos contra o arbítrio dos juízes!

Exemplo de uma regra típica de prova legal era a expressa pela máxima «unus testis nullus
testis».
Não era possível provar fosse o que fosse com um só testemunho. Para um facto ser digno de
fé teria de ser testemunho, pelo menos, por duas pessoas («testibus dubus fide dignun
credendum»).

O sistema da «da livre apreciação da prova», de harmonia com o qual o Juiz era
inteiramente livre de apreciar a prova como bem entendesse, sem ter de obedecer a outros
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ditames para além dos provenientes da sua consciência, floresceu no direito romano (período
República), o seu papel apagou-se na época do império e entrou em colapso durante a Idade
Média europeia, assim se mantendo até aos alvores do século XIX. Reapareceu entretanto
com a Revolução Francesa, para a partir daqui se impor como princípio fundamental do
processo penal contemporâneo.

Modernamente, porém, o princípio é entendido de outro modo; como o mesmo sentido, mas
com outro conteúdo.

O Juiz é livre, mas não incondicionalmente livre de apreciar a prova e decidir como entender.
O Juiz tem a faculdade de decidir, dando ou não dando os factos como provados, de acordo
com a sua livre convicção, mas a convicção pessoal do Juiz terá de obrigatoriamente formar-
se a partir da prova produzida no processo (e só dela) e na condição naturalmente, de, na
produção da prova, se terem respeitado as regras aplicáveis de direito probatório.

O princípio da livre apreciação da prova não significa, pois, que o Juiz actue de forma
arbitrária, subjectiva e voluntarista.

Significa, isso sim, que o Juiz deve dar os factos provados ou não provados, de harmonia
(exclusivamente de harmonia) com o convencimento pessoal que formar a partir das provas
produzidas no processo.

A sua convicção tem que ter fundamento objectivo, tem de ser motivada.

O Código do processo penal não põe obstáculo de carácter geral à livre apreciação da prova,
nem fixa critério para a sua valoração, salvo no que se refere o valor da confissão do arguido
(artº. 65º do Código do Processo Penal Angolano). Todavia o princípio está expressamente
consagrado no artº.147º do Código do Processo Penal Angolano.

3.4.3. O Princípio «In Dubio Pro Reo».

Sempre que a prova produzida seja insuficiente e não conduza à formação de um juízo de
certeza sobre a existência da infracção ou de foi o arguido que cometeu, deve ser absolvido.

Na dúvida, decide-se a favor do réu.

São consagrações destes princípios os artº.91º, 92º do Código do Processo Penal Angolano e
consagrado no nº2 do artº.67ºda Constituição da República de Angola.
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CONCLUSÃO

Chegou-se a conclusão de que a prova é uma das temáticas mais importante do Direito
Processual Penal e não só.

Sendo a prova uma actividade que se destina a demonstração da veracidade dos factos
apresentados em juízo para convencer de uma certa versão.

A prova é também garantia de um processo justo. A lei mostra que qualquer processo para se
chegar não vale, mas apenas através de meios lícitos. Ou seja, aqueles que estiverem em
conformidade com a lei.

Certamente, existe uma diferença entre os meios de prova e os meios de obtenção de prova.
Os meios de obtenção de prova são instrumentos que permitem obter-se chegar á prova; eles
servem exactamente para adquirir coisas materiais. Ao passo que os meios de prova servem
directamente para o convencimento do juiz.

Não se pode julgar com insuficiência de prova.

Desta forma, os objectivos traçados para elaboração do presente trabalho identificar o


conceito da Prova no Processo Penal Angolano, demonstrar a importância da verificação da
prova no Processo Penal Angolano, descrever os meios de obtenção de prova no Processo
Penal Angolano, foram alcançados, e a pergunta de partida foi respondida com base aos
conteúdos apresentados através das técnicas de pesquisa utilizadas no presente trabalho.

Contudo, o julgador julga de acordo a sua convicção, o arguido é julgado de acordo o tipo de
crime cometido.

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SUGESTÕES

As sugestões vão recair principalmente para os três órgãos importantes no processo,


nomeadamente: O Juiz, O Ministério Público, e a Policia Criminal.

Para os juízes, que administrem a justiça em nome do povo, que olhem para o cidadão como
um ser terreno e espiritual;

Para o Ministério Público, ao ministério público que seja o maior representante do Estado,
defender a legalidade que a própria lei protege, tanto do arguido como do Estado no exercício
da acção penal;

Para o Serviço de Investigação Criminal, que além de colaborarem com os tribunais, devem
investir no conhecimento criminal, porque é fundamental ter investimento pessoal para então
se qualificar como profissional na área de actuação.

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Código do Processo Civil.

Código Civil.

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