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RELATÓRIO DE VISTORIAS EM
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS DO
PROGRAMA ALIANÇA PELA VIDA
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................2
2 VISTORIAS NAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS DO PROGRAMA CARTÃO ALIANÇA
PELA VIDA................................................................................................................................4
2.1 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS VISTORIAS.......................................................4
2.1.2 PANORAMA DAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS....................................................6
2.2 ANÁLISE DOS DADOS ENCONTRADOS NAS VISTORIAS (Gráficos)............................8
2.3 IRREGULARIDADES ENCONTRADAS NAS VISTORIAS (Quadro descritivo)...............36
2.3.1 Descumprimento das normas e legislações do Cartão Aliança pela Vida.....................36
2.3.2 Violações de Direitos Humanos.....................................................................................36
2.3.2.1 Punições físicas, psicológicas, constrangimentos e maus-tratos...............................36
2.3.2.2 Violações do direito à liberdade, privacidade e à livre circulação...............................38
2.3.2.3 Violações do direito à saúde.......................................................................................39
2.3.2.4 Violações de direitos dos adolescentes......................................................................40
2.3.3 Exploração de mão de obra, trabalho compulsório, falta de segurança no trabalho....40
2.3.4 Alimentação e estrutura física de péssima qualidade....................................................41
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................42
ANEXO....................................................................................................................................44
1. INTRODUÇÃO
Para tanto, se faz necessário contextualizar que tal programa estadual preconizava ações de
investimento de recursos financeiros públicos em entidades privadas relacionadas ao uso de
drogas, sendo estruturado por três eixos: 1) Realização de convênios com comunidades
terapêuticas e afins para financiamento de construções, compra de materiais de consumo e
permanentes, etc; 2) Território Aliança: financiamento para atividades de abordagem de
pessoas usuárias de drogas em situação de rua e compra de veículos de transporte, e 3)
Cartão Aliança Pela Vida: custeio de internação em comunidades terapêuticas. A evidente
priorização, pelo governo estadual da época, do Programa Aliança pela Vida em detrimento
da implantação e fortalecimento dos serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico e seus
similares que compõem a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS (Portaria Ministerial
3088/2011) é constatável nos Planos Plurianual de Ação Governamental (PPAG) previstos
para os anos de 2014 e 2015:
REDE DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL - RAPS (AÇÃO 11.325.450,00 23.000.000,00
4107)
A Coordenação Estadual de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas de Minas Gerais (gestão
2015-2018) ao realizar uma avaliação e diagnóstico situacional do referido programa
Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – Prédio Minas - 12° Andar
Serra Verde – BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS - CEP 30.630-900
Fone: (31) 3915-9949 / 3915-9936
3
Neste contexto é que se fez possível uma nova construção diante da realidade encontrada e
uma inversão com relação a prioridade dos investimentos financeiros e também da
orientação da Política de Saúde Mental do Estado de Minas Gerais, alicerçada pelos
princípios do SUS, da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e da Redução de Danos, em
conformidade com a Lei 10.216/2001, Portaria MS 3088/2011 e demais legislações vigentes.
As vistorias nas comunidades terapêuticas do Programa Cartão Aliança Pela Vida foram
realizadas no período de agosto a dezembro de 2015 e contaram com a participação de
representantes da Secretaria de Estado de Saúde do Estado de Minas Gerais – SES/MG,
através de membros da Coordenação Estadual de Saúde Mental e das Referências de
Saúde Mental das Regionais de Saúde e representantes da Secretaria de Trabalho e
A avaliação das entidades se deu baseada na Lei Federal nº 10.216/2001, Portaria GM/MS
nº 3.088, de 23/12/2011, Portaria GM/MS nº131, de 26/01/2012, RDC nº 29, de 30/06/2011,
Deliberação CIB-SUS/MG Nº 1.297, de 24/10/2012 e seu Anexo Único, na Resolução
Conjunta SEEJ/SES/SEDESE nº 43/2013 e Editais de Credenciamento/Habilitação de
Comunidades Terapêuticas para a Ação governamental Cartão Aliança pela Vida nº26/2013 e
nº 39/2014, na Constituição Federal Brasileira, com destaque para os artigos 1º, 3º e 5º, na
Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanas ou Degradantes (Resolução 39/46 da Assembléia Geral das Nações Unidas
internalizada pelo Decreto nº6085/2007) e pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos/ONU, de 1948. A partir da análise destas legislações foram construídos e utilizados
dois questionários: um para entrevista dos usuários internados e outro para conhecimento
geral da comunidade terapêutica, ambos com o objetivo de avaliar aspectos como estrutura e
condições físicas, proposta de trabalho e funcionamento, questões assistenciais, articulação
de Rede, cuidados em saúde, fontes de financiamento, recursos humanos, etc.
Salienta-se que durante o processo das vistorias foram realizadas entrevistas individuais com
cada usuário beneficiário do Cartão Aliança Pela Vida, em espaços que respeitassem o sigilo
das informações, considerando a importância de dar voz àqueles considerados protagonistas
e ao mesmo tempo diretamente interessados na construção de Políticas Públicas no campo
do Sistema Único de Saúde - SUS. Muitos falaram abertamente de suas situações de vida e
das condições das comunidades terapêuticas, alguns mostraram-se inibidos,
envergonhados, outros tantos amedrontados, temendo retaliações das instituições. Assim, a
partir da experiência e olhar de cada um sobre as práticas realizadas nas comunidades
terapêuticas vistoriadas é que se fez possível a construção dos dados que virão a seguir.
Segue abaixo panorama das comunidades terapêuticas do Programa Cartão Aliança pela
Vida por região de saúde (Tabelas):
TABELA 1
Tabela 1: refere-se às 74 comunidades terapêuticas habilitadas pelo Programa Cartão Aliança pela Vida.
TABELA 2
RELAÇÃO DE COMUNIDADES
TERAPÊUTICAS VISTORIADAS POR
REGIONAL
9 8
8
7
6 5
5 4 4
4 3 3
3 2 2 2 2
2 1 1 1 1 1 1 1
1
0
Tabela 2: refere-se às 42 comunidades terapêuticas do Programa Cartão Aliança pela vida vistorias.
GRÁFICO 1
GRÁFICO 2
GRAFICO 3 A
Correspondência porcentagem/valor absoluto: 28,58% (12); 28,58% (12); 11,90% (5); 9,52% (4); 9,52% (4);
9,52% (4); 2,38% (1).
GRÁFICO 3 B
Correspondência porcentagem/valor absoluto: 47,61% (20); 28,58% (12); 11,90% (5); 11,90% (5).
GRÁFICO 3 C
De acordo com o Gráfico 3C, 50% das comunidades terapêuticas vistoriadas informam
receber recursos financeiros exclusivamente públicos e 45% informam que os recursos
financeiros são públicos e de caráter particular.
Em praticamente todas as instituições vistoriadas há relato ou constatação da prática de
recebimento de doações de todas as espécies, principalmente de alimentos, vindos de
padarias, sacolões, supermercados,etc.
GRÁFICO 4
No Gráfico 4, 76% das comunidades terapêuticas contavam com até 45 (quarenta e cinco)
leitos no total, atendendo ao item 1.3 do Edital de credenciamento/habilitação de
comunidades terapêuticas do Cartão Aliança pela Vida: “possuir o máximo de 45
(quarenta e cinco) leitos no total”. 24% das comunidades terapêuticas vistoriadas
apresentaram número de leitos superior ao permitido pelo Edital. Pode-se perceber, a partir
deste dado, a inexistência de regulação do cumprimento do Edital e desrespeito aos critérios
mínimos exigidos pelo programa, o que traz questionamentos com relação à credibilidade e
qualidade dos serviços prestados por tais entidades e pelo papel regulador e gestor do
estado.
GRÁFICO 5
GRÁFICO 6
GRÁFICO 7
No Gráfico 7, 52% das comunidades terapêuticas não possuem qualquer funcionário para a
limpeza ou cozinha, contratados ou voluntários. Isso significa que todo esse trabalho é
realizado exclusiva e obrigatoriamente pelas pessoas que encontram-se internadas, a título
de “tratamento” conhecido como laborterapia.
48% possuem funcionários para ambas as funções ou apenas para uma delas. Mesmo
nestas condições, todas as pessoas internadas participam da limpeza e da cozinha, em
regime de rodízio ou não, e muitas vezes como punição por descumprimento de alguma
norma.
Vale lembrar que a maioria destas instituições funcionam em sítios ou fazendas e possuem
área externa extensa, além de hortas, plantações e criação de animais, trabalho também
realizado pelos usuários, na maior parte das vezes sem qualquer monitor, funcionário ou
acompanhante.
GRÁFICO 8
De acordo com o Gráfico 8, 93% das comunidades terapêuticas têm como “monitores” ou
“conselheiros” pessoas que já estiveram em tratamento, a maioria sem vínculos formais de
trabalho e muitos sem formação adequada para acompanhar os usuários durante a
internação.
GRÁFICO 9
De acordo com o Gráfico 9, 50% das comunidades terapêuticas usam os próprios usuários
que no momento encontram-se internados para exercerem funções de “coordenador”, “líder”,
“monitor” ou “técnico” ocasionando, muitas vezes, relações tensas, desiguais e autoritárias
com os demais usuários, e privilégios para os “escolhidos”. Além disso, não há qualquer
remuneração pelas atividades e muitas vezes são os únicos “monitores” ou “oficineiros”
existentes nas instituições, caracterizando-se como descumprimento dos Editais de
credenciamento/habilitação de comunidades terapêuticas para o Programa Cartão Aliança
pela Vida que exigem para o módulo I (15 vagas) a contratação de, no mínimo, um psicólogo,
um assistente social e dois técnicos e para o módulo II ( 30 vagas) a contratação da equipe
do módulo I mais um nutricionista, um enfermeiro e dois oficineiros.
GRÁFICO 10
De acordo com o Gráfico 10, em 57% das comunidades terapêuticas vistoriadas não é
permitido fazer uso de tabaco. Tal exigência é algo que inviabiliza o acesso à internação para
alguns usuários que alegam não querer abster-se também do uso do tabaco, não havendo
qualquer possibilidade de negociação neste sentido já que a proposta da internação é de
abstinência total e irrestrita.
GRÁFICO 11
SIM
100%
GRÁFICO 12
Conforme o Gráfico 12, dentre as comunidades terapêuticas vistoriadas, a maioria, 93%, não
possui projeto terapêutico individual constatável em prontuários, anotações ou práticas, não
havendo intervenções voltadas para a singularidade e diferenças de cada um. A imposição
das normas, a metodologia e as práticas realizadas são para todos. Em algumas entidades o
que foi apresentado como projeto terapêutico individual trata-se de uma rotina a ser cumprida
por todos, sem exceção.
GRÁFICO 13
Conforme o Gráfico 13, 52% das comunidades terapêuticas encontravam-se com estrutura
física que não compromete o funcionamento. 48% possuíam condições físicas precárias
apresentando situações como espaço deteriorado, mobiliários impróprios para uso, sofás
rasgados, banheiros sem portas, cômodos mofados e com odor fétido, colchões impróprios
para uso, más condições de higiene, paredes com infiltrações, locais escuros sem
iluminação, fiações de luz expostas, quartos possuindo muitas camas sem espaço de
circulação entre elas, dentre outras.
GRÁFICO 14
GRÁFICO 15
De acordo com o Gráfico 15, 50% das comunidades vistoriadas não apresentam tal
irregularidade, enquanto em 50% foram encontrados usuários em situações que configuram-
se negligências nos cuidados de saúde, como por exemplo, pessoas em sofrimento mental
apresentando quadro grave de impregnação neuroléptica, sem assistência; usuária há um
mês com diagnóstico de sífilis sem tratamento, sendo de conhecimento da CT; usuários em
situações graves de síndrome de abstinência sem tratamento, entre outros. Tais situações
encontradas demonstram a negligência da instituição nos cuidados à saúde dos assistidos e
a falta de articulação com a rede do Sistema Único de Saúde.
GRÁFICO 16
De acordo com o Gráfico 16, em 33% das comunidades terapêuticas vistoriadas haviam
armazenamento adequado das medicações, já em 62% foram encontradas situações de
inadequação do armazenamento e dispensa das medicações, alguns de forma
desorganizada, sem separação por usuário; ausência de prescrição médica vigente;
medicações guardadas em armários ou outros locais inapropriados; presença de
medicamentos fora do prazo de validade; administração medicamentosa realizada por
“monitores” ou “conselheiros” sem competência técnica; administração excessiva de
medicações sem prescrições médicas; suspensão de uso de medicação por conduta da
entidade, sem orientação médica; cartelas de medicamentos violadas e expostas, entre
outras.
GRÁFICO 17
No Gráfico 17, 98% utilizam a chamada “laborterapia” como prática primordial no tratamento
ofertado. As atividades desenvolvidas são desde as que envolvem limpeza e preparo de
alimentos até trabalhos braçais pesados, construção civil para ampliação do imóvel da CT,
abate de animais para alimento, trabalho em pocilgas, corte de cana, entre outros. Observa-
se que, ao mesmo tempo que o trabalho obrigatório é utilizado como “metodologia de
tratamento” é também para punição dos usuários caso haja descumprimento das normas da
entidade. Somente 2% alegam não adotar tal prática.
GRÁFICO 18
Conforme Gráfico 18, em 78% das entidades vistoriadas foram encontradas práticas
punitivas e de constrangimento aos usuários internados. Conforme descrito no Gráfico 17,
além do trabalho ser muitas vezes utilizado como punição, outras situações vão desde o fato
de usuários serem obrigados a escrever 300 vezes no papel que não deverá descumprir as
regras da entidade (“não posso esquecer meu crachá” ou “devo respeitar os outros internos”,
por exemplo), ao fato de ser obrigado a realizar “capina no sol quente” até ocasionar lesões e
ferimentos nas mãos. 17% alegam não utilizar tais métodos e 5% não há informação.
GRÁFICO 19
No Gráfico 19, apesar de 78% das comunidades terapêuticas vistoriadas possuírem alvará
sanitário em vigência, mesmo nestas foram encontradas inúmeras situações sanitárias
irregulares, incompatíveis com as normas básicas de fiscalização, tais como, abate e
consumo de carne clandestinos, alimentos mofados e fora de prazo de validade e estrutura
física em péssimas condições. 17% das entidades não possuíam alvará sanitário vigente.
GRÁFICO 20
No Gráfico 20, em 93% das comunidades terapêuticas as visitas são autorizadas somente
após um período de permanência que pode variar de 30 a 60 dias dependendo da data de
internação do usuário, sendo uma norma para todos e não construída no caso a caso.
GRÁFICO 21
De acordo com o Gráfico 21, em 81% das comunidades terapêuticas vistoriadas a realização
de visitas dos familiares acontece com frequência mensal, e mesmo assim desde que o
usuário e familiares cumpram as normas e exigências da entidade.
GRÁFICO 22
Segundo o Gráfico 22, observa-se que em 54% das entidades vistoriadas não é permitido a
realização de ligações telefônicas em nenhuma ocasião e algumas delas nem sequer
possuem aparelho de telefone. Em outros casos, o usuário internado pode receber
telefonema dos familiares ou dar “um toque” para que o familiar retorne, sendo que quando
há acesso ao telefone este é restrito, no sentido do tempo da ligação, e monitorado pela
entidade.
GRÁFICO 23
De acordo com o Gráfico 23, nas comunidades terapêuticas em que é permitido realizar
telefonemas, 53% das ligações é controlada pelos “monitores” ou “conselheiros”, que
acompanham os usuários ficando ao lado ou até mesmo utilizando a função do VIVA VOZ do
telefone para acompanhar a conversa.
GRÁFICO 24
GRÁFICO 25
Segundo o Gráfico 25, dentre as entidades que autorizam o envio e/ou recebimento de
cartas, 72% realizam práticas de violação de correspondências sem autorização prévia do
usuário. Em algumas entidades houve relato que, inclusive, a leitura da carta é feita em voz
alta ao usuário por algum profissional (psicólogo ou assistente social, por exemplo) ou há
situações em que os usuários só recebem cartas que foram antecipadamente abertas pela
equipe da entidade.
GRÁFICO 26
10%
Não informado
Sim
Não
88%
De acordo com o Gráfico 26, 88% das comunidades terapêuticas vistoriadas têm como
exigência para admissão dos usuários a realização de exames laboratoriais específicos não
previstos pelo Programa Cartão Aliança pela Vida, que tem como critério relacionado à
saúde, exclusivamente, três avaliações: psiquiátrica, clínica e odontológica. Mesmo de posse
dessas avaliações, o que ocorre nestas entidades é a exigência de realização de uma lista
de exames para todos, que inclui testes de HIV, por exemplo, como critério preliminar para a
internação.
GRÁFICO 27
De acordo com o Gráfico 27, 67% das comunidades terapêuticas vistoriadas não possuem
prontuários com registros freqüentes, inclusive, em algumas delas, as anotações
praticamente inexistem. Em outras tantas, as informações sobre o histórico e evolução do
caso não passam de relatos superficiais, estereotipados, carregados de referências
preconceituosas e pejorativas, e sem qualquer significação clínica ou social.
essa roupa? Quem te tirou da rua e te deu um teto?”(sic), enquanto o interno ao qual se
referia mantinha-se acuado e cabisbaixo. E ainda continua dizendo que muitos dos que estão
ali são “miseráveis”;
- Constrangimento coletivo e público ao expor para todos os presentes o que um interno teria
feito;
- Queixa de diversos usuários sobre a forma grosseira como são tratados;
- Realização de revista vexatória na admissão e em alguns casos, nudez com revista íntima;
- Prática de revista quando os usuários retornam de visita à família;
- Restrição de acesso à TV como punição para todos, por alguém ter furtado dinheiro dentro
da instituição;
- Punição para um, gera punição para todos os internados.
- As ligações telefônicas, quando permitidas, são restritas a casos extremos e devem ser
feitas pelo sistema viva voz e na presença de monitores ou dos psicólogos. A maioria dos
usuários apresenta queixas com relação a esta conduta, em função da ausência de
privacidade, necessidade de tratar de assuntos pessoais e íntimos de cada um;
- Violação de correspondências dos acolhidos pelos técnicos da instituição e pelos monitores,
lidas em voz alta pelo usuário ou pelos funcionários da comunidade terapêutica;
- Não podem questionar as regras da instituição, caso contrário sofrem punições;
- Não é permitido demonstração de afeto, como por exemplo, abraço;
- É proibido conversar durante as refeições;
- Geladeira da instituição fica trancada;
- Existência de câmeras de segurança na instituição;
- A escolha de visitantes não é feita pelo usuário, mas pela família do mesmo;
- A primeira visita só acontece após 1 ou 2 meses da entrada do usuário na comunidade
terapêutica e as demais ocorrem mensalmente, em dia definido;
- A visita da família pode ser suspensa dependendo do “comportamento” do interno;
- A maioria das comunidades terapêuticas não acolhe o público LGBT e quando aceitam.há
relatos de discriminação, preconceito, constrangimentos e perseguições;
- Travesti relata não ter sido autorizada a vestir-se como mulher, mesmo internada numa
comunidade terapêutica para público feminino.
- Uso de mão de obra de usuários internados para a construção civil, fabricação de bancos,
abate de porcos, corte de cana e lenha, capina, ordenha, etc, sem remuneração, orientações
ou proteção;
- Uso de mão de obra de usuários internados para o trabalho de manutenção do espaço da
comunidade terapêutica sem a presença de nenhum funcionário de limpeza ou cozinheiro;
- Usuários queixam-se de realizar trabalho braçal e pesado; usuários reclamam do excesso
de trabalho;
- Cronograma de atividades consta 4 a 5 horas diárias de trabalho obrigatório na instituição,
denominadas “laborterapia”;
- Oferta de trabalho remunerado e intenso aos internos com desconto nas compras para
consumo e o dízimo para a igreja;
- Precarização dos vínculos trabalhistas junto aos profissionais das comunidades
terapêuticas, a maioria ex-usuários.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante disso, 22 (vinte e duas) comunidades terapêuticas dentre as vistoriadas não tiveram
novo contrato pelo Programa em função da gravidade das situações encontradas, tanto do
ponto de vista do descumprimento de exigências mínimas presentes no Edital de
Credenciamento, quanto em relação às questões assistenciais e graves violações de direitos
humanos, sendo notificadas sobre as mesmas e com prazo para se manifestarem.
ANEXO
Após avaliação realizada pela atual Coordenação de Saúde Mental da Secretaria de Estado
da Saúde de Minas Gerais (SES/SUS-MG) do Programa Aliança Pela Vida, em especial do
Cartão Aliança pela Vida, constatou-se que cláusulas do Contrato assinado entre a
SES/SUS-MG e as comunidades terapêuticas (CT) com a interveniência das secretarias
municipais de saúde do Termo de Adesão (Anexo único da Deliberação CIB- SUS/MG Nº
1.297 de 24 de outubro de 2012) celebrado entre a SES/SUS-MG e as prefeituras municipais
e dos Editais nº26/2013 e nº 39/2014 de Credenciamento/habilitação de comunidades
terapêuticas para a ação governamental Cartão Aliança Pela Vida não vinham sendo
cumpridas, a maioria desde o início do Programa, ocasionando inexistência de controle e
regulação da prestação dos serviços e de seu respectivo financiamento, falta de
credibilidade, de fiscalização e de observância da qualidade da assistência efetivamente
prestada pelas comunidades terapêuticas contratadas e das unidades municipais de
atendimento (conhecidas como PA), além de comprometer a construção e acompanhamento
de indicadores e metas essenciais para o seu monitoramento.
ÀS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS
22 de setembro, 2015