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SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS

SUPERINTENDÊNCIA DE REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE


DIRETORIA DE SISTEMAS LOGÍSTICOS E DE APOIO ÀS REDES

RELATÓRIO DE VISTORIAS EM
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS DO
PROGRAMA ALIANÇA PELA VIDA

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS


COORDENAÇÃO ESTADUAL DE SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
ABRIL – 2016

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SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS
SUPERINTENDÊNCIA DE REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE
DIRETORIA DE SISTEMAS LOGÍSTICOS E DE APOIO ÀS REDES

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................2
2 VISTORIAS NAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS DO PROGRAMA CARTÃO ALIANÇA
PELA VIDA................................................................................................................................4
2.1 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS VISTORIAS.......................................................4
2.1.2 PANORAMA DAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS....................................................6
2.2 ANÁLISE DOS DADOS ENCONTRADOS NAS VISTORIAS (Gráficos)............................8
2.3 IRREGULARIDADES ENCONTRADAS NAS VISTORIAS (Quadro descritivo)...............36
2.3.1 Descumprimento das normas e legislações do Cartão Aliança pela Vida.....................36
2.3.2 Violações de Direitos Humanos.....................................................................................36
2.3.2.1 Punições físicas, psicológicas, constrangimentos e maus-tratos...............................36
2.3.2.2 Violações do direito à liberdade, privacidade e à livre circulação...............................38
2.3.2.3 Violações do direito à saúde.......................................................................................39
2.3.2.4 Violações de direitos dos adolescentes......................................................................40
2.3.3 Exploração de mão de obra, trabalho compulsório, falta de segurança no trabalho....40
2.3.4 Alimentação e estrutura física de péssima qualidade....................................................41
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................42
ANEXO....................................................................................................................................44

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1. INTRODUÇÃO

Este relatório é a apresentação dos resultados encontrados a partir de vistorias ocorridas no


período de agosto a dezembro de 2015, em comunidades terapêuticas habilitadas pelo
Programa Cartão Aliança Pela Vida, um dos eixos do Programa Aliança pela Vida, criado, em
2012, pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

Para tanto, se faz necessário contextualizar que tal programa estadual preconizava ações de
investimento de recursos financeiros públicos em entidades privadas relacionadas ao uso de
drogas, sendo estruturado por três eixos: 1) Realização de convênios com comunidades
terapêuticas e afins para financiamento de construções, compra de materiais de consumo e
permanentes, etc; 2) Território Aliança: financiamento para atividades de abordagem de
pessoas usuárias de drogas em situação de rua e compra de veículos de transporte, e 3)
Cartão Aliança Pela Vida: custeio de internação em comunidades terapêuticas. A evidente
priorização, pelo governo estadual da época, do Programa Aliança pela Vida em detrimento
da implantação e fortalecimento dos serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico e seus
similares que compõem a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS (Portaria Ministerial
3088/2011) é constatável nos Planos Plurianual de Ação Governamental (PPAG) previstos
para os anos de 2014 e 2015:

PLANO PLURIANUAL DE AÇÃO GOVERNAMENTAL - PPAG

INVESTIMENTO ANO 2014 ANO 2015

PROGRAMA ALIANÇA PELA


26.000.000,00 45.000.000,00
VIDA (AÇÃO 4030)

REDE DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL - RAPS (AÇÃO 11.325.450,00 23.000.000,00
4107)

A Coordenação Estadual de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas de Minas Gerais (gestão
2015-2018) ao realizar uma avaliação e diagnóstico situacional do referido programa
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constatou o descumprimento de cláusulas da legislação que institui e regulamenta o


Programa Cartão Aliança pela Vida, a saber: (1) Contrato assinado entre a Secretaria de
Estado de Saúde de MG e as comunidades terapêuticas, com a interveniência das
secretarias municipais de saúde; (2) Termo de Adesão (Anexo Único da Deliberação CIB-
SUS/MG nº 1.297, de 24 de outubro de 2012) celebrado entre a SES/MG e as prefeituras
municipais; e (3) Edital nº26/2013 e Edital 39/2014, ambos de credenciamento/habilitação de
comunidades terapêuticas para a ação governamental Cartão Aliança pela Vida, a maioria
desde o início do programa, ocasionando inexistência de controle e regulação da prestação
dos serviços e de seu respectivo financiamento, falta de fiscalização e de observância da
qualidade da assistência prestada pelas comunidades terapêuticas contratadas, assim como
em relação aos municípios aderidos ao programa que são responsáveis pela regulação dos
encaminhamentos dos usuários para internação nestas instituições.

Apesar dos documentos citados acima deixarem claro que é responsabilidade da


Coordenação Estadual de Saúde Mental acompanhar a execução das ações pactuadas do
Cartão Aliança Pela Vida utilizando-se de procedimentos de supervisão indireta ou local, bem
como verificar, controlar, regular, avaliar, fiscalizar, e auditar as ações e serviços prestados,
nada disso foi cumprido pela gestão anterior.

Portanto, assumindo sua responsabilidade e frente à situação encontrada, a Secretaria de


Estado de Saúde iniciou uma série de medidas, sendo a primeira delas a revogação do Edital
nº 39/2014, extinguindo a possibilidade de novas habilitações e circunscrevendo o Programa
Cartão Aliança pela Vida, naquele momento, a 74 comunidades terapêuticas credenciadas e
suas respectivas 1.275 (um mil duzentos e setenta e cinco) vagas, sendo desembolsado pelo
estado, o valor mensal de R$ 1.721.250,00 (um milhão, setecentos e vinte e um mil,
duzentos e cinqüenta Reais) para as referidas instituições.

Através de outra medida necessária, também devido à iminência de vencimento contratual


de comunidades terapêuticas habilitadas através do Edital 26/2013, que previa prazo de
vigência de 24 meses, iniciou-se o processo de vistorias nestas instituições, totalizando 42
(quarenta e duas). Vale lembrar que este total também contempla algumas comunidades
terapêuticas em outras situações, como por exemplo, mudança de local de funcionamento
sem aviso prévio, etc.
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Ponto importante a destacar com relação às estratégias de regulação do Programa Cartão


Aliança Pela Vida se deu a partir da construção do documento “Alinhamento da Política de
Drogas da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais”, baseado em toda legislação já
existente sobre o programa, que se consolidou a partir da realização de reuniões para
apresentação do mesmo, acompanhamento e monitoramento das ações tanto por parte dos
municípios aderidos, como das comunidades terapêuticas contratadas.

Neste contexto é que se fez possível uma nova construção diante da realidade encontrada e
uma inversão com relação a prioridade dos investimentos financeiros e também da
orientação da Política de Saúde Mental do Estado de Minas Gerais, alicerçada pelos
princípios do SUS, da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e da Redução de Danos, em
conformidade com a Lei 10.216/2001, Portaria MS 3088/2011 e demais legislações vigentes.

Numa próxima oportunidade apresentaremos novo relatório contendo as informações e os


dados sobre os processos de auditoria de comunidades terapêuticas que foram abertos
mediante denúncias feitas por usuários e municípios em decorrência de irregularidades e
ilegalidades na gestão do recurso público e/ou nas condições assistenciais.

A seguir, trataremos de expor a realidade encontrada nas vistorias realizadas em 42


comunidades terapêuticas do Programa Cartão Aliança Pela Vida.

2. VISTORIAS NAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS DO PROGRAMA CARTÃO


ALIANÇA PELA VIDA

2.1. O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS VISTORIAS

As vistorias nas comunidades terapêuticas do Programa Cartão Aliança Pela Vida foram
realizadas no período de agosto a dezembro de 2015 e contaram com a participação de
representantes da Secretaria de Estado de Saúde do Estado de Minas Gerais – SES/MG,
através de membros da Coordenação Estadual de Saúde Mental e das Referências de
Saúde Mental das Regionais de Saúde e representantes da Secretaria de Trabalho e

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Desenvolvimento Social – SEDESE/MG, ambas as secretarias componentes do Grupo


Gestor do programa. As Secretarias Municipais de Saúde também participaram das vistorias

A avaliação das entidades se deu baseada na Lei Federal nº 10.216/2001, Portaria GM/MS
nº 3.088, de 23/12/2011, Portaria GM/MS nº131, de 26/01/2012, RDC nº 29, de 30/06/2011,
Deliberação CIB-SUS/MG Nº 1.297, de 24/10/2012 e seu Anexo Único, na Resolução
Conjunta SEEJ/SES/SEDESE nº 43/2013 e Editais de Credenciamento/Habilitação de
Comunidades Terapêuticas para a Ação governamental Cartão Aliança pela Vida nº26/2013 e
nº 39/2014, na Constituição Federal Brasileira, com destaque para os artigos 1º, 3º e 5º, na
Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanas ou Degradantes (Resolução 39/46 da Assembléia Geral das Nações Unidas
internalizada pelo Decreto nº6085/2007) e pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos/ONU, de 1948. A partir da análise destas legislações foram construídos e utilizados
dois questionários: um para entrevista dos usuários internados e outro para conhecimento
geral da comunidade terapêutica, ambos com o objetivo de avaliar aspectos como estrutura e
condições físicas, proposta de trabalho e funcionamento, questões assistenciais, articulação
de Rede, cuidados em saúde, fontes de financiamento, recursos humanos, etc.

Salienta-se que durante o processo das vistorias foram realizadas entrevistas individuais com
cada usuário beneficiário do Cartão Aliança Pela Vida, em espaços que respeitassem o sigilo
das informações, considerando a importância de dar voz àqueles considerados protagonistas
e ao mesmo tempo diretamente interessados na construção de Políticas Públicas no campo
do Sistema Único de Saúde - SUS. Muitos falaram abertamente de suas situações de vida e
das condições das comunidades terapêuticas, alguns mostraram-se inibidos,
envergonhados, outros tantos amedrontados, temendo retaliações das instituições. Assim, a
partir da experiência e olhar de cada um sobre as práticas realizadas nas comunidades
terapêuticas vistoriadas é que se fez possível a construção dos dados que virão a seguir.

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2.1.2 PANORAMA DAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

Segue abaixo panorama das comunidades terapêuticas do Programa Cartão Aliança pela
Vida por região de saúde (Tabelas):

TABELA 1

PANORAMA DAS COMUNIDADES


TERAPÊUTICAS POR REGIONAL
18
16
16
14 13
12
10
8
6
6 5 5
4
4 3 3 3 3 3
2 2
2 1 1 1 1 1 1
0

Tabela 1: refere-se às 74 comunidades terapêuticas habilitadas pelo Programa Cartão Aliança pela Vida.

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TABELA 2

RELAÇÃO DE COMUNIDADES
TERAPÊUTICAS VISTORIADAS POR
REGIONAL
9 8
8
7
6 5
5 4 4
4 3 3
3 2 2 2 2
2 1 1 1 1 1 1 1
1
0

Tabela 2: refere-se às 42 comunidades terapêuticas do Programa Cartão Aliança pela vida vistorias.

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2.2 ANÁLISE DOS DADOS ENCONTRADOS NAS VISTORIAS (Gráficos)

GRÁFICO 1

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 95% (40); 5% (2).

De acordo com o Gráfico 1, 5% das comunidades terapêuticas vistoriadas mantinham


adolescentes internados em locais voltados para público adulto, ou seja, adolescentes e
adultos no mesmo espaço físico. Tal situação e suas decorrências se configuram violação a
diversos dispositivos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº
8.069/1990).

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GRÁFICO 2

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 57% (24); 41% (17); 2% (1).


Com relação ao Gráfico 2, observa-se que 57% das comunidades terapêuticas
declaradamente não atendem ao público que apresenta diversidade sexual, o que demonstra
discriminação e exclusão e impede o acesso universal, igualitário e o respeito às diferenças.
41% alegam atender a este público, sendo que nestas comunidades terapêuticas, durante o
processo de vistoria, foi possível localizar práticas de discriminação e preconceito
direcionadas ao público LGBT, onde foram presenciadas situações como por exemplo:
travesti não autorizada a vestir-se como mulher numa comunidade terapêutica para o público
feminino; uma mulher homossexual que relata sofrer exposição, constrangimento e
perseguição dentro da instituição.
É possível concluir que a lógica de funcionamento e tais práticas ferem os princípios da
Constituição Federal Brasileira e do Sistema Único de Saúde e, em particular, da Política
Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT),
instituída pela Portaria Ministerial nº 2.836, de 1° de dezembro de 2011, e pactuada pela
Comissão Intergestores Tripartite (CIT), conforme Resolução n° 2, de 6/12/2011, que orienta
o Plano Operativo de Saúde Integral LGBT, descumprindo a CLAÚSULA TERCEIRA do
Termo de Contrato no item “d) Observância integral dos protocolos técnicos de atendimento e
regulamentos estabelecidos pelo Ministério da Saúde e demais gestores do SUS”.

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GRAFICO 3 A

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 28,58% (12); 28,58% (12); 11,90% (5); 9,52% (4); 9,52% (4);
9,52% (4); 2,38% (1).

GRÁFICO 3 B

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 47,61% (20); 28,58% (12); 11,90% (5); 11,90% (5).

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De acordo com os Gráficos 3 A e 3 B, todas (100%) as comunidades terapêuticas vistoriadas


são financiadas pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG). Dentre
elas, 71,42% recebem financiamento público de duas ou mais fontes, ou seja, além de
receberem recursos públicos da SES/MG, também recebem da Secretaria de Defesa Social
de Minas Gerais (SEDS/MG) e/ou da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (SENAD),
do Ministério da Justiça e/ou de municípios.
11,90% recebem financiamento público de 3 fontes e 11,90% recebem de 4 fontes, a saber:
SES/MG, SEDS/MG, SENAD/MJ e municípios.

GRÁFICO 3 C

Correspondência porcentagem/valor absoluto:50%(21); 45,23% (19); 2,38% (1); 2,38 (1).

De acordo com o Gráfico 3C, 50% das comunidades terapêuticas vistoriadas informam
receber recursos financeiros exclusivamente públicos e 45% informam que os recursos
financeiros são públicos e de caráter particular.
Em praticamente todas as instituições vistoriadas há relato ou constatação da prática de
recebimento de doações de todas as espécies, principalmente de alimentos, vindos de
padarias, sacolões, supermercados,etc.

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GRÁFICO 4

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 76% (32); 24% (10).

No Gráfico 4, 76% das comunidades terapêuticas contavam com até 45 (quarenta e cinco)
leitos no total, atendendo ao item 1.3 do Edital de credenciamento/habilitação de
comunidades terapêuticas do Cartão Aliança pela Vida: “possuir o máximo de 45
(quarenta e cinco) leitos no total”. 24% das comunidades terapêuticas vistoriadas
apresentaram número de leitos superior ao permitido pelo Edital. Pode-se perceber, a partir
deste dado, a inexistência de regulação do cumprimento do Edital e desrespeito aos critérios
mínimos exigidos pelo programa, o que traz questionamentos com relação à credibilidade e
qualidade dos serviços prestados por tais entidades e pelo papel regulador e gestor do
estado.

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GRÁFICO 5

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 67% (28); 31% (13); 2% (1).

No Gráfico 5, 67% das comunidades terapêuticas possuíam vagas contratadas/conveniadas


com diversas esferas do Poder Público (Municipal, Estadual- SES e SEDS, e Federal) para
além do número de leitos ofertados, apontando irregularidades quanto à sobreposição de
recursos financeiros para o mesmo leito e inexistência de leitos ofertados apesar de
pactuado.

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GRÁFICO 6

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 95% (40); 5% (2)

No Gráfico 6, consta informação a respeito da exigência de enxoval para usuários internados


nas comunidades terapêuticas vistoriadas. 95% solicitam itens que extrapolam os
considerados pessoais, o que além de onerar o tratamento para os usuários e suas famílias,
descumprem a Cláusula Terceira do Termo de Contrato item “c) Todos os serviços,
ações e atividades executadas pelo(a) CONTRATADA em decorrência do presente
TERMO, não oferecerão ônus para o paciente em hipótese alguma”. Dentre os itens
solicitados no chamado “enxoval pessoal” constam, por exemplo: balde, sabão em pó,
rastelo, colchão, lençol, travesseiro, cobertor, papel higiênico, lista de medicamentos, entre
outros. Somente 5% não possuem tal exigência.

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GRÁFICO 7

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 52% (22); 48% (20).

No Gráfico 7, 52% das comunidades terapêuticas não possuem qualquer funcionário para a
limpeza ou cozinha, contratados ou voluntários. Isso significa que todo esse trabalho é
realizado exclusiva e obrigatoriamente pelas pessoas que encontram-se internadas, a título
de “tratamento” conhecido como laborterapia.

48% possuem funcionários para ambas as funções ou apenas para uma delas. Mesmo
nestas condições, todas as pessoas internadas participam da limpeza e da cozinha, em
regime de rodízio ou não, e muitas vezes como punição por descumprimento de alguma
norma.

Vale lembrar que a maioria destas instituições funcionam em sítios ou fazendas e possuem
área externa extensa, além de hortas, plantações e criação de animais, trabalho também
realizado pelos usuários, na maior parte das vezes sem qualquer monitor, funcionário ou
acompanhante.

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GRÁFICO 8

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 93% (39); 7% (3).

De acordo com o Gráfico 8, 93% das comunidades terapêuticas têm como “monitores” ou
“conselheiros” pessoas que já estiveram em tratamento, a maioria sem vínculos formais de
trabalho e muitos sem formação adequada para acompanhar os usuários durante a
internação.

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GRÁFICO 9

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 50% (21); 36% (15); 14% (6).

De acordo com o Gráfico 9, 50% das comunidades terapêuticas usam os próprios usuários
que no momento encontram-se internados para exercerem funções de “coordenador”, “líder”,
“monitor” ou “técnico” ocasionando, muitas vezes, relações tensas, desiguais e autoritárias
com os demais usuários, e privilégios para os “escolhidos”. Além disso, não há qualquer
remuneração pelas atividades e muitas vezes são os únicos “monitores” ou “oficineiros”
existentes nas instituições, caracterizando-se como descumprimento dos Editais de
credenciamento/habilitação de comunidades terapêuticas para o Programa Cartão Aliança
pela Vida que exigem para o módulo I (15 vagas) a contratação de, no mínimo, um psicólogo,
um assistente social e dois técnicos e para o módulo II ( 30 vagas) a contratação da equipe
do módulo I mais um nutricionista, um enfermeiro e dois oficineiros.

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GRÁFICO 10

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 57% (24); 43% (18).

De acordo com o Gráfico 10, em 57% das comunidades terapêuticas vistoriadas não é
permitido fazer uso de tabaco. Tal exigência é algo que inviabiliza o acesso à internação para
alguns usuários que alegam não querer abster-se também do uso do tabaco, não havendo
qualquer possibilidade de negociação neste sentido já que a proposta da internação é de
abstinência total e irrestrita.

Em 43% o uso do tabaco é autorizado mas controlado pela instituição.

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GRÁFICO 11

IRREGULARIDADES NO CUMPRIMENTO DOS


EDITAIS DE
CREDENCIAMENTO/HABILITAÇÃO

SIM

100%

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 100% (42)

De acordo com o Gráfico 11, 100% das comunidades terapêuticas apresentaram


irregularidades no cumprimento dos Editais nº 26/2013 e nº 39/2014 de
Credenciamento/Habilitação para o Programa Cartão Aliança pela Vida, seja por não
atenderem ao disposto na Deliberação CIB-SUS/MG nº 1.297, de 24 de outubro de 2012,
seja por não atenderem às exigências relacionadas ao número de leitos existentes e
recursos humanos.

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GRÁFICO 12

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 93% (39); 7% (3).

Conforme o Gráfico 12, dentre as comunidades terapêuticas vistoriadas, a maioria, 93%, não
possui projeto terapêutico individual constatável em prontuários, anotações ou práticas, não
havendo intervenções voltadas para a singularidade e diferenças de cada um. A imposição
das normas, a metodologia e as práticas realizadas são para todos. Em algumas entidades o
que foi apresentado como projeto terapêutico individual trata-se de uma rotina a ser cumprida
por todos, sem exceção.

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GRÁFICO 13

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 52% (22); 48% (20).

Conforme o Gráfico 13, 52% das comunidades terapêuticas encontravam-se com estrutura
física que não compromete o funcionamento. 48% possuíam condições físicas precárias
apresentando situações como espaço deteriorado, mobiliários impróprios para uso, sofás
rasgados, banheiros sem portas, cômodos mofados e com odor fétido, colchões impróprios
para uso, más condições de higiene, paredes com infiltrações, locais escuros sem
iluminação, fiações de luz expostas, quartos possuindo muitas camas sem espaço de
circulação entre elas, dentre outras.

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GRÁFICO 14

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 64% (27); 36% (15).

Conforme o Gráfico 14, em 36% das comunidades terapêuticas vistoriadas foram


constatadas más condições de alimentação, como quantidade insuficiente, alimentos
mofados e vencidos, consumo de carne de origem clandestina, precárias condições da
cozinha, entre outras.

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23

GRÁFICO 15

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 50% (21).

De acordo com o Gráfico 15, 50% das comunidades vistoriadas não apresentam tal
irregularidade, enquanto em 50% foram encontrados usuários em situações que configuram-
se negligências nos cuidados de saúde, como por exemplo, pessoas em sofrimento mental
apresentando quadro grave de impregnação neuroléptica, sem assistência; usuária há um
mês com diagnóstico de sífilis sem tratamento, sendo de conhecimento da CT; usuários em
situações graves de síndrome de abstinência sem tratamento, entre outros. Tais situações
encontradas demonstram a negligência da instituição nos cuidados à saúde dos assistidos e
a falta de articulação com a rede do Sistema Único de Saúde.

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24

GRÁFICO 16

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 62% (26); 33% (14); 5% (2).

De acordo com o Gráfico 16, em 33% das comunidades terapêuticas vistoriadas haviam
armazenamento adequado das medicações, já em 62% foram encontradas situações de
inadequação do armazenamento e dispensa das medicações, alguns de forma
desorganizada, sem separação por usuário; ausência de prescrição médica vigente;
medicações guardadas em armários ou outros locais inapropriados; presença de
medicamentos fora do prazo de validade; administração medicamentosa realizada por
“monitores” ou “conselheiros” sem competência técnica; administração excessiva de
medicações sem prescrições médicas; suspensão de uso de medicação por conduta da
entidade, sem orientação médica; cartelas de medicamentos violadas e expostas, entre
outras.

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25

GRÁFICO 17

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 98% (41); 2% (1).

No Gráfico 17, 98% utilizam a chamada “laborterapia” como prática primordial no tratamento
ofertado. As atividades desenvolvidas são desde as que envolvem limpeza e preparo de
alimentos até trabalhos braçais pesados, construção civil para ampliação do imóvel da CT,
abate de animais para alimento, trabalho em pocilgas, corte de cana, entre outros. Observa-
se que, ao mesmo tempo que o trabalho obrigatório é utilizado como “metodologia de
tratamento” é também para punição dos usuários caso haja descumprimento das normas da
entidade. Somente 2% alegam não adotar tal prática.

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GRÁFICO 18

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 78% (33); 17% (7); 5% (2).

Conforme Gráfico 18, em 78% das entidades vistoriadas foram encontradas práticas
punitivas e de constrangimento aos usuários internados. Conforme descrito no Gráfico 17,
além do trabalho ser muitas vezes utilizado como punição, outras situações vão desde o fato
de usuários serem obrigados a escrever 300 vezes no papel que não deverá descumprir as
regras da entidade (“não posso esquecer meu crachá” ou “devo respeitar os outros internos”,
por exemplo), ao fato de ser obrigado a realizar “capina no sol quente” até ocasionar lesões e
ferimentos nas mãos. 17% alegam não utilizar tais métodos e 5% não há informação.

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GRÁFICO 19

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 78% (33); 17% (7); 5% (2).

No Gráfico 19, apesar de 78% das comunidades terapêuticas vistoriadas possuírem alvará
sanitário em vigência, mesmo nestas foram encontradas inúmeras situações sanitárias
irregulares, incompatíveis com as normas básicas de fiscalização, tais como, abate e
consumo de carne clandestinos, alimentos mofados e fora de prazo de validade e estrutura
física em péssimas condições. 17% das entidades não possuíam alvará sanitário vigente.

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GRÁFICO 20

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 93% (39); 5% (2); 2% (1).

No Gráfico 20, em 93% das comunidades terapêuticas as visitas são autorizadas somente
após um período de permanência que pode variar de 30 a 60 dias dependendo da data de
internação do usuário, sendo uma norma para todos e não construída no caso a caso.

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GRÁFICO 21

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 81% (34); 17% (7); 2% (1).

De acordo com o Gráfico 21, em 81% das comunidades terapêuticas vistoriadas a realização
de visitas dos familiares acontece com frequência mensal, e mesmo assim desde que o
usuário e familiares cumpram as normas e exigências da entidade.

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GRÁFICO 22

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 54% (22); 41% (17); 5% (2).

Segundo o Gráfico 22, observa-se que em 54% das entidades vistoriadas não é permitido a
realização de ligações telefônicas em nenhuma ocasião e algumas delas nem sequer
possuem aparelho de telefone. Em outros casos, o usuário internado pode receber
telefonema dos familiares ou dar “um toque” para que o familiar retorne, sendo que quando
há acesso ao telefone este é restrito, no sentido do tempo da ligação, e monitorado pela
entidade.

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GRÁFICO 23

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 53% (9); 35% (6); 12% (2).

De acordo com o Gráfico 23, nas comunidades terapêuticas em que é permitido realizar
telefonemas, 53% das ligações é controlada pelos “monitores” ou “conselheiros”, que
acompanham os usuários ficando ao lado ou até mesmo utilizando a função do VIVA VOZ do
telefone para acompanhar a conversa.

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GRÁFICO 24

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 86% (36); 7% (3); 7% (3).

Segundo o Gráfico 24, em 86% das comunidades terapêuticas é permitida a comunicação


por meio de correspondências, porém há um controle da instituição tanto no sentido da
escolha a quem enviar uma carta, quanto no teor do conteúdo das informações.

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GRÁFICO 25

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 72% (26); 28% (10).

Segundo o Gráfico 25, dentre as entidades que autorizam o envio e/ou recebimento de
cartas, 72% realizam práticas de violação de correspondências sem autorização prévia do
usuário. Em algumas entidades houve relato que, inclusive, a leitura da carta é feita em voz
alta ao usuário por algum profissional (psicólogo ou assistente social, por exemplo) ou há
situações em que os usuários só recebem cartas que foram antecipadamente abertas pela
equipe da entidade.

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GRÁFICO 26

EXIGÊNCIA DE EXAMES LABORATORIAIS


2%

10%

Não informado
Sim
Não

88%

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 88% (37); 10% (4); 2% (1).

De acordo com o Gráfico 26, 88% das comunidades terapêuticas vistoriadas têm como
exigência para admissão dos usuários a realização de exames laboratoriais específicos não
previstos pelo Programa Cartão Aliança pela Vida, que tem como critério relacionado à
saúde, exclusivamente, três avaliações: psiquiátrica, clínica e odontológica. Mesmo de posse
dessas avaliações, o que ocorre nestas entidades é a exigência de realização de uma lista
de exames para todos, que inclui testes de HIV, por exemplo, como critério preliminar para a
internação.

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GRÁFICO 27

Correspondência porcentagem/valor absoluto: 67% (28); 31% (13); 2% (1).

De acordo com o Gráfico 27, 67% das comunidades terapêuticas vistoriadas não possuem
prontuários com registros freqüentes, inclusive, em algumas delas, as anotações
praticamente inexistem. Em outras tantas, as informações sobre o histórico e evolução do
caso não passam de relatos superficiais, estereotipados, carregados de referências
preconceituosas e pejorativas, e sem qualquer significação clínica ou social.

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2.3 IRREGULARIDADES ENCONTRADAS NAS VISTORIAS (Quadro descritivo)


Passamos agora a descrever situações encontradas pelas equipes de vistoria e/ou relatadas
pelos usuários entrevistados que estavam internados nas comunidades terapêuticas.

2.3.1 Descumprimento das normas e legislações do Cartão Aliança pela Vida


- Exigência de enxoval como condição para admissão, contendo itens que extrapolam os de
uso pessoal, onerando usuários e familiares;
- Desrespeito ao fluxo de encaminhamento, reservando vagas no escritório da comunidade
terapêutica;
- Número de leitos superior ao exigido pelo Edital;
- Número de vagas conveniadas/contratadas superior ao número de leitos existentes;
- Inexistência de RH exigido pelo Edital;
- RH exigido pelo edital sem qualquer vínculo empregatício;
- Cobrança de taxas, variando entre R$30,00 a R$70,00, para encaminhar os usuários aos
serviços de saúde;
- Não afixação de cartaz, em local visível, informando ser o SUS o financiador do Cartão
Aliança pela Vida;
- Não envio de relatórios mensais descrevendo a evolução de cada usuário, bem como
atestando sua respectiva adesão a todos os procedimentos executados, explicitando ainda o
número de dias de internação no mês de referência;
- Permanência do usuário na comunidade terapêutica além do autorizado (90 dias) e não
respeito à exigência de avaliação clínica por parte da Unidade Municipal de Atendimento
embasando a necessidade de prorrogação da internação por mais 90 dias;
- Ausência de articulação com a rede pública de saúde mental dos municípios que
encaminham os usuários;
- Demais cláusulas do Contrato celebrado entre a SES/MG e as comunidades terapêuticas,
da Deliberação CIB-SUS/MG nº 1.297, de 24/10/2012 e Editais nº26/2013 e 39/2014.

2.3.2 Violações de Direitos Humanos


2.3.2.1 Punições físicas, psicológicas, constrangimentos e maus-tratos
- Atitudes consideradas indesejáveis ou descumprimento das regras e normas são punidas
com aumento do trabalho, restrições alimentares, agressões verbais, constrangimentos

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públicos, expulsão, e outras práticas punitivas, chamadas pelas comunidades terapêuticas


de “disciplina” ou “educativa”.
- Denúncia dos usuários sobre práticas de punição, como por exemplo, ao faltar ao culto, não
decorar versículos da Bíblia, o usuário perde o direito à visita e a ligações telefônicas;
queixar-se sobre o volume do trabalho imposto gera advertências e obrigatoriedade de
trabalho forçado para além da jornada diária;
- Ao deixar de usar o crachá o usuário deve escrever algumas centenas de vezes a frase:
“não vou esquecer o crachá”;
- Descumprimento de normas leva à obrigatoriedade de escrever versículos da Bíblia 200
vezes;
- Usuários há 10 dias sem qualquer lazer, substituído por atividades religiosas, ou seja,
suspensão do tempo de lazer como forma de punição;
- Lavar louça durante toda a semana ou acordar às 5 horas da manhã em caso de
descumprimento de regras, como por exemplo, conversar durante as refeições, não
conseguir decorar os 12 passos;
- Usuários são obrigados a abrir buraco no chão, tirando e colocando sacos de lixo,
aleatoriamente, por um tempo determinado;
- Em caso de “demonstração de afeto” a punição era “capina no sol quente” que levou a
graves ferimentos nas mãos das usuárias;
- Usuários denunciam a existência de um monitor muito violento, que faz ameaças como:
“guerra avisada só morre quem quer”;
- Constrangimento mental por parte dos monitores, ameaças, falas depreciativas;
- Comentário feito pelo diretor de uma comunidade terapêutica à equipe de vistoria: “vocês
sabem, todo usuário de drogas é mentiroso”;
- Usuários denunciam constrangimento por parte do coordenador;
- O responsável por uma entidade decide convocar todos internos no refeitório alegando que
seria importante a equipe vistoriadora saber “quem é o tipo de gente que estava ali” (sic),
referindo-se aos usuários de maneira vexatória, desrespeitosa, preconceituosa e gerando
muita exposição a todos. Percebe-se que todos os usuários ficam de cabeça baixa e são
autorizados a falar somente quando o responsável ordena;
- A relação de poder exercida pelo responsável da instituição junto aos usuários é algo que
gera constrangimento e humilhação para os mesmos. Num momento da vistoria, ele convoca
um dos usuários e começa a perguntar: “Conta pra elas onde você morava? Quem te deu
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essa roupa? Quem te tirou da rua e te deu um teto?”(sic), enquanto o interno ao qual se
referia mantinha-se acuado e cabisbaixo. E ainda continua dizendo que muitos dos que estão
ali são “miseráveis”;
- Constrangimento coletivo e público ao expor para todos os presentes o que um interno teria
feito;
- Queixa de diversos usuários sobre a forma grosseira como são tratados;
- Realização de revista vexatória na admissão e em alguns casos, nudez com revista íntima;
- Prática de revista quando os usuários retornam de visita à família;
- Restrição de acesso à TV como punição para todos, por alguém ter furtado dinheiro dentro
da instituição;
- Punição para um, gera punição para todos os internados.

2.3.2.2 Violações do direito à liberdade, privacidade e à livre circulação

- Os usuários são revistados na entrada e na saída da comunidade terapêutica;


- Sacolas e embrulhos dos familiares são revistados durante a visita;
- Os usuários ficam trancados nos quartos depois de determinado horário, com cadeados do
lado de fora dos quartos;
- Não é permitido circular livremente dentro da instituição;
- Restrição de circulação após 22hrs;
- Existência de instituição mista, sendo que as mulheres ficam em quarto atrás de grade;
- Imposição da chamada “laborterapia”;
- Obrigatoriedade de participação das atividades de espiritualidade e/ou religiosas;
- Imposição de credo religioso;
- Acesso à televisão limitado a poucas horas e canais específicos.
- Nenhum acesso a televisão, jornal, rádio ou internet;
- Há relatos de usuários dizendo que foram internados involuntariamente;
- Existência de internação compulsória;
- Obrigatoriedade de realização de exame toxicológico quando retornam de visita à família;
- Realização de exame toxicológico obrigatório em laboratório indicado pela CT em caso de
suspeita de uso de drogas durante a internação (previsto no programa de tratamento da CT);
- Proibição do uso de telefones;

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- As ligações telefônicas, quando permitidas, são restritas a casos extremos e devem ser
feitas pelo sistema viva voz e na presença de monitores ou dos psicólogos. A maioria dos
usuários apresenta queixas com relação a esta conduta, em função da ausência de
privacidade, necessidade de tratar de assuntos pessoais e íntimos de cada um;
- Violação de correspondências dos acolhidos pelos técnicos da instituição e pelos monitores,
lidas em voz alta pelo usuário ou pelos funcionários da comunidade terapêutica;
- Não podem questionar as regras da instituição, caso contrário sofrem punições;
- Não é permitido demonstração de afeto, como por exemplo, abraço;
- É proibido conversar durante as refeições;
- Geladeira da instituição fica trancada;
- Existência de câmeras de segurança na instituição;
- A escolha de visitantes não é feita pelo usuário, mas pela família do mesmo;
- A primeira visita só acontece após 1 ou 2 meses da entrada do usuário na comunidade
terapêutica e as demais ocorrem mensalmente, em dia definido;
- A visita da família pode ser suspensa dependendo do “comportamento” do interno;
- A maioria das comunidades terapêuticas não acolhe o público LGBT e quando aceitam.há
relatos de discriminação, preconceito, constrangimentos e perseguições;
- Travesti relata não ter sido autorizada a vestir-se como mulher, mesmo internada numa
comunidade terapêutica para público feminino.

2.3.2.3 Violações do direito à saúde


- Negligência nos cuidados à saúde, por exemplo, usuária com sífilis diagnosticada, sem
tratamento;
- Presença de pacientes excessivamente medicados, com sinais de intensa impregnação
neuroléptica;
- Usuário com histórico de fratura de clavícula há 2 meses, queixando dor e acentuada
limitação de movimento, sem qualquer avaliação médica;
- Presença de um usuário HIV+ para o qual eram separados talheres, pratos, copos;
- Presença de usuários com transtornos mentais entre os internos, sem acompanhamento
adequado;
- Usuário em quadro de abstinência sem tratamento médico;
- Cobrança de R$50,00 das usuárias para custear transporte até serviços de saúde da região
e R$70,00 para consultas psiquiátricas com médico particular;
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- Ausência de projeto terapêutico individual, sem qualquer intervenção singularizada e


propostas de reinserção social;
- Prontuários/fichas sem informações sobre os casos e sem evolução com dados
significativos
- Anotações em prontuários/fichas preconceituosas e pejorativas;
- Ausência de articulação com a rede SUS local ou do município que encaminhou o usuário;
- Apesar da afirmação da existência de psicólogo e assistente social na comunidade
terapêutica, vários usuários relatam nunca terem conversado com os mesmos;
- A presença do psicólogo se resume à condução de grupos de espiritualidade;
- Existência de abate de porcos clandestino e consumo de carne de origem não identificada;
- Presença comum de alimentos mofados e vencidos;
- Inexistência de água filtrada disponível;
- Inexistência de fornecimento de água encanada;
- Comunidades terapêuticas com alvará sanitário vencido;
- Medicações psicotrópicas sem receita médica;
- Armazenamento das medicações em condições e locais inadequados, inexistência de
receita médica para medicações controladas, dispensação desorganizada com evidente risco
de troca de medicamentos, remédios vencidos;
- Solicitado, pela comunidade terapêutica, exames de HIV;
- Alteração (aumento ou diminuição) da medicação prescrita, de acordo com a crença que a
comunidade terapêutica tenha do alcance deste dispositivo terapêutico;
- Internações de longa permanência, para além do prazo estabelecido pelo Programa Cartão
Aliança pela Vida.

2.3.2.4 Violações de direitos dos adolescentes


- Presença de adolescentes em comunidades terapêuticas voltadas para adultos;
- Presença de adolescentes internados compulsoriamente na instituição;
- Adolescentes sem acesso à educação;
- Adolescentes relatam assédio sexual.

2.3.3 Exploração de mão de obra, trabalho compulsório, falta de segurança no trabalho

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- Uso de mão de obra de usuários internados para a construção civil, fabricação de bancos,
abate de porcos, corte de cana e lenha, capina, ordenha, etc, sem remuneração, orientações
ou proteção;
- Uso de mão de obra de usuários internados para o trabalho de manutenção do espaço da
comunidade terapêutica sem a presença de nenhum funcionário de limpeza ou cozinheiro;
- Usuários queixam-se de realizar trabalho braçal e pesado; usuários reclamam do excesso
de trabalho;
- Cronograma de atividades consta 4 a 5 horas diárias de trabalho obrigatório na instituição,
denominadas “laborterapia”;
- Oferta de trabalho remunerado e intenso aos internos com desconto nas compras para
consumo e o dízimo para a igreja;
- Precarização dos vínculos trabalhistas junto aos profissionais das comunidades
terapêuticas, a maioria ex-usuários.

2.3.4 Alimentação e estrutura física de péssima qualidade


- Alimentos mofados e com data de validade vencidos;
- A mesma comida era oferecida aos usuários e aos porcos;
- Alimentação das usuárias somente através de doações, tendo como consequência a baixa
qualidade do cardápio diário – “carne só às vezes”;
- Presença na cozinha de frutas estragadas, sacos de pães mofados, pratos com comidas
esquecidas nas geladeiras;
- Alimentação dos usuários somente através de doações, com baixa qualidade e pequena
quantidade das refeições, havendo denúncia de usuários sobre alimentos servidos
estragados. As refeições da equipe técnica são diferenciadas, além da existência de cantina
para venda de refeição aos próprios usuários e familiares;
- Estrutura física e mobiliário em condições precárias; roupas de cama gastas, sujas, camas
e demais móveis com avarias, espaço interno inadequado com degraus entre os cômodos;
paredes sujas e com infiltrações;
- Instituição possui apenas três banheiros, insuficiente para o número de internos, causando
constrangimentos, dependências sujas e mal conservadas;
- Falta de portas nos banheiros, não garantindo privacidade;
- Existência de apenas 1 chuveiro quente para 12 moradoras;

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- Alojamentos dos usuários localizados em estrebarias de um haras desativado, com odor


fétido, com precárias condições de iluminação e higiene;
- Presença de grades ostensivas e cadeados nas portas.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as 42 (quarenta e duas) comunidades terapêuticas que foram vistoriadas


apresentaram, em maior ou menor grau, irregularidades e violações de direitos. Há um
descompasso entre a lógica que rege o funcionamento destas entidades com os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS, do Sistema Único da Assistência Social -
SUAS e da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. A ausência de acompanhamento,
regulação e monitoramento por parte do Estado, desde a implantação do Programa Aliança
pela Vida, avalizou esta incompatibilidade.

Diante disso, 22 (vinte e duas) comunidades terapêuticas dentre as vistoriadas não tiveram
novo contrato pelo Programa em função da gravidade das situações encontradas, tanto do
ponto de vista do descumprimento de exigências mínimas presentes no Edital de
Credenciamento, quanto em relação às questões assistenciais e graves violações de direitos
humanos, sendo notificadas sobre as mesmas e com prazo para se manifestarem.

As outras 20 (vinte) comunidades terapêuticas tiveram a possibilidade de novo contrato do


Cartão Aliança pela Vida, com prazo para sanarem as irregularidades encontradas, sendo
passível de nova vistoria para fiscalização, conforme consta na comunicação enviada a cada
uma delas. Nos casos de irregularidades principalmente relacionadas ao número de leitos ou
vagas conveniadas maiores que os leitos existentes, foi negociada a possibilidade, caso as
entidades se adequassem às exigências do edital, de realização de novo contrato.

Tendo em vista a continuidade mais responsável e regulada do Cartão Aliança, foi


necessário elaborar um instrumento, com orientações e competências, que possibilitasse o
monitoramento tanto do processo de encaminhamento de usuários realizado pelos
municípios que assinaram o Termo de Adesão ao Programa, como a prestação de serviços
pelas comunidades terapêuticas, culminando na produção do documento Alinhamento da
Política de Drogas do Programa Cartão Aliança (em anexo). Foram realizadas inúmeras

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reuniões com as comunidades terapêuticas e com os municípios aderidos para apresentação


do instrumento e orientação sobre as diretrizes e responsabilizações dos envolvidos no
Programa. Cabe ressaltar que tais ações tiveram como objetivo fazer cumprir o que já era
previsto nos documentos oficiais que criaram o Programa.

Ainda nesse sentido, a Coordenação Estadual realizou e vem realizando constante


orientação e supervisão aos municípios, em especial na definição do papel e
responsabilização da rede substitutiva pública de saúde mental, monitorando situações como
alto índice de encaminhamento às comunidades terapêuticas ou aos hospitais psiquiátricos,
ou descumprimento do previsto no Alinhamento e reunindo-se com os gestores municipais,
coordenadores de saúde mental e dos CAPS ad, sempre que necessário.

A situação da assistência prestada pelas comunidades terapêuticas conveniadas ao


Programa Aliança pela Vida e a completa falta de monitoramento pelo poder público,
evidenciaram a gravidade das relações construídas entre Estado e tais instituições, tornando
urgente o acompanhamento adequado dos serviços prestados e a garantia de autonomia da
rede SUS na decisão do encaminhamento de usuários e acompanhamento dos mesmos. O
processo de vistoria das comunidades terapêuticas, bem como as demais ações realizadas
pela Coordenação de Saúde Mental, entre elas o fortalecimento da Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) foram passos no sentido de tal objetivo.

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ANEXO

Alinhamento da Política de Drogas da Secretaria de Estado da


Saúde de Minas Gerais – SES/SUS-MG

Após avaliação realizada pela atual Coordenação de Saúde Mental da Secretaria de Estado
da Saúde de Minas Gerais (SES/SUS-MG) do Programa Aliança Pela Vida, em especial do
Cartão Aliança pela Vida, constatou-se que cláusulas do Contrato assinado entre a
SES/SUS-MG e as comunidades terapêuticas (CT) com a interveniência das secretarias
municipais de saúde do Termo de Adesão (Anexo único da Deliberação CIB- SUS/MG Nº
1.297 de 24 de outubro de 2012) celebrado entre a SES/SUS-MG e as prefeituras municipais
e dos Editais nº26/2013 e nº 39/2014 de Credenciamento/habilitação de comunidades
terapêuticas para a ação governamental Cartão Aliança Pela Vida não vinham sendo
cumpridas, a maioria desde o início do Programa, ocasionando inexistência de controle e
regulação da prestação dos serviços e de seu respectivo financiamento, falta de
credibilidade, de fiscalização e de observância da qualidade da assistência efetivamente
prestada pelas comunidades terapêuticas contratadas e das unidades municipais de
atendimento (conhecidas como PA), além de comprometer a construção e acompanhamento
de indicadores e metas essenciais para o seu monitoramento.

Os Termos de Adesão (Anexo Único da Deliberação CIB-SUS/MG Nº 1.297 de 24 de outubro


de 2012) e de Contrato deixam claro que é responsabilidade da Coordenação Estadual de
Saúde Mental/SES/SUS-MG acompanhar a execução das ações pactuadas do cartão
Aliança Pela Vida utilizando-se de procedimentos de supervisão indireta ou local, bem como
verificar, controlar, regular, avaliar, fiscalizar, e auditar as ações e serviços prestados.

Portanto, visando corrigir as distorções e irregularidades encontradas, elaboramos


orientações que deverão ser cumpridas de acordo com o que se segue, a partir de 01 de
Novembro de 2015:

ÀS UNIDADES MUNICIPAIS DE ATENDIMENTO – RESPONSABILIDADE MUNICIPAL:


Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – Prédio Minas - 12° Andar
Serra Verde – BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS - CEP 30.630-900
Fone: (31) 3915-9949 / 3915-9936
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Em respeito ao Termo de Adesão (Anexo único da Deliberação CIB- SUS/MG Nº 1.297 de 24


de outubro de 2012), em especial em sua Cláusula Segunda – Das Obrigações e
competências 2.1. Obrigações do Ente Municipal; Cláusula Quinta – Dos Recursos
Financeiros; Cláusula Nona – Disposições Gerais. Em respeito ao Contrato, em especial
Cláusula Primeira – Do Objeto; Cláusula Quinta – Dos Encargos Específicos; Cláusula Nona
– Da Apresentação das Contas e das Condições de Pagamento dos Serviços.

1- As unidades municipais de atendimento deverão acolher os usuários, receber suas


solicitações de inscrição ao Cartão Aliança Pela Vida e, caso necessário, encaminhá-los
às comunidades terapêuticas respeitando critérios e indicações clínicas, e após
esgotadas todas as possibilidades terapêuticas. Não existe encaminhamento
compulsório às CT, nem para o usuário nem para a unidade municipal de atendimento.
O encaminhamento para a CT é de responsabilidade exclusiva da unidade municipal de
atendimento.
2- O município indicará um profissional de saúde mental que será referência no
atendimento ao usuário, comunicando imediatamente às coordenações estadual e
municipal de Saúde Mental e à CT.
3- É incumbência do município garantir a referência e contra referência do usuário no
tratamento;
4- O município que encaminhou o usuário à CT será responsável por garantir seu
acompanhamento, a cada 45 dias, de forma presencial.
5- Caso o usuário necessite permanecer por mais de 90 dias, o município será responsável
pela avaliação clínica, de forma presencial, que embase a necessidade de prorrogação
do prazo.
6- O município garantirá a visita da família, no mínimo mensal, à CT onde se encontra o
usuário;
7- O município receberá mensalmente, até o último dia de cada mês, relatório assinado
pelo profissional da CT responsável, descrevendo a evolução de cada usuário, bem
como atestando sua respectiva adesão a todos os procedimentos executados,
explicitando, ainda, o número de dias de internação no mês de referência. Qualquer
incongruência que conste neste relatório quanto ao usuário encaminhado, relatório de

Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – Prédio Minas - 12° Andar


Serra Verde – BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS - CEP 30.630-900
Fone: (31) 3915-9949 / 3915-9936
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evolução ou dias de permanência na internação, a unidade municipal de atendimento


deverá comunicar à Coordenação Estadual de Saúde Mental.
8- O município deverá reportar à Secretaria de Estado de Saúde qualquer indício de
irregularidade;
9- O município é responsável pelo encaminhamento de seu usuário às CT, estando
proibida a utilização de unidade municipal de atendimento de outras cidades para este
fim.
10- Será função exclusiva da unidade municipal de atendimento a utilização da ferramenta
“Liberar a vaga”, que desvincula o usuário da CT e torna possível novo encaminhamento
para a vaga. Portanto, fica determinado que a CT deverá fazer contato com a unidade
municipal de atendimento de origem do usuário para que a mesma faça a liberação no
sistema.
11- A unidade municipal de atendimento e a CT são co-responsáveis pelo cartão que
entregam e que acompanha o usuário, portanto deverão orientar ao mesmo que assim
que terminar sua internação na CT deverá devolver o cartão à unidade municipal de
atendimento. Os cartões somente serão repostos pela Coordenação Estadual de Saúde
Mental após justificativa por escrito da unidade municipal de atendimento sobre a
situação dos cartões, caso a caso.
12- A unidade municipal de atendimento deverá informar, mensalmente, à Coordenação
Estadual de Saúde Mental, os nomes dos usuários e respectivas CT para onde foram
encaminhados. O não pronunciamento da unidade municipal de atendimento será
entendido como encaminhamento zero.

ÀS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

Em respeito ao Termo de Adesão (Anexo único da Deliberação CIB- SUS/MG Nº 1.297 de 24


de outubro de 2012), em especial em sua Cláusula Segunda – Das Obrigações e
Competências 2.2. Obrigações da Instituição Habilitada; Cláusula Quinta – Dos Recursos
Financeiros; Cláusula Nona – Disposições Gerais. Em respeito ao Contrato, em especial
Cláusula Primeira – Do Objeto; Cláusula Terceira – Das Condições Gerais, Cláusula Quinta –
Dos Encargos Específicos; Cláusula Nona – Da Apresentação das Contas e das Condições
de Pagamento dos Serviços.
Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – Prédio Minas - 12° Andar
Serra Verde – BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS - CEP 30.630-900
Fone: (31) 3915-9949 / 3915-9936
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1- As CT devem remeter à unidade municipal de atendimento que encaminhou o usuário


e à Coordenação Estadual de Saúde Mental, até o último dia de cada mês, relatório
mensal assinado pelo profissional da CT responsável, descrevendo a evolução de
cada usuário, bem como atestando sua respectiva adesão a todos os procedimentos
executados, explicitando, ainda, o número de dias de internação no mês de referência.
2- As CT só poderão incluir no Cartão Aliança pela Vida, exclusivamente, os usuários
encaminhados pelas unidades municipais de atendimento.
3- Caso o usuário necessite permanecer por mais de 90 dias, a CT deverá comunicar à
unidade municipal de atendimento responsável pelo usuário, com 15 dias corridos
antes do vencimento do prazo, para que a mesma providencie a avaliação clínica do
usuário que embase a necessidade de prorrogação da internação, sendo proibida sua
permanência e respectiva cobrança sem esta avaliação.
4- O usuário não poderá permanecer na CT por mais de 180 dias e sua alta deverá ser
comunicada com 15 dias corridos de antecedência à unidade municipal de
atendimento que o encaminhou para que ambos providenciem sua inserção na rede
municipal de saúde e de assistência social, com cópia à coordenação estadual de
saúde mental.
5- Todos os serviços, ações e atividades executadas pelas comunidades terapêuticas
em decorrência de sua assinatura do contrato que garante seu credenciamento para a
chamada Ação Governamental Cartão Aliança Pela Vida, não poderão oferecer ônus
para o usuário em hipótese alguma. É proibida a exigência de enxoval com itens que
extrapolem os de uso reconhecidamente pessoal.
6- A CT deverá comunicar imediatamente à unidade municipal de atendimento que
encaminhou o usuário o abandono ou outras intercorrências e proceder à imediata
suspensão do benefício, comunicando também à Coordenação Estadual de Saúde
Mental e a seus familiares. Seu retorno à CT dependerá de justificativa apresentada à
referência em saúde mental do município, que o decidirá, com cópia para a
Coordenação Estadual de Saúde Mental.
7- A unidade municipal de atendimento e a CT são co-responsáveis pelo cartão que
entregam e que acompanha o usuário, portanto deverão orientar ao mesmo que assim
que terminar sua internação na CT deverá devolver o cartão à unidade municipal de
atendimento. No caso de cartões abandonados ou esquecidos na CT, deverão ser
Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – Prédio Minas - 12° Andar
Serra Verde – BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS - CEP 30.630-900
Fone: (31) 3915-9949 / 3915-9936
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remetidos pela CT de volta à PA, identificando os usuários. Os cartões somente serão


repostos pela Coordenação Estadual de Saúde Mental após justificativa por escrito da
unidade municipal de atendimento sobre a situação dos cartões, caso a caso.
8- Não mais serão aceitas listas de presença físicas com assinaturas ou digitais. As CT
deverão usar o sistema offline. Visando a atualização deste sistema, a SES/MG
realizará novo treinamento com as CT. Em data a ser divulgada.
9- Caso a CT deseje mudar de local de funcionamento, deverá comunicar com
antecedência de 2 meses para a Coordenação Estadual de Saúde Mental, que
procederá, juntamente com o restante do Grupo Gestor, a novo procedimento de
habilitação.
10- Será função exclusiva da unidade municipal de atendimento a utilização da ferramenta
“Liberar a vaga”, que desvincula o usuário da CT e torna possível novo
encaminhamento para a vaga. Portanto a CT deverá fazer contato com o PA de
origem do usuário para que a mesma faça a liberação no sistema.

Finalizamos esclarecendo que o monitoramento da política apresentada ocorrerá sob a


responsabilidade da Coordenação Estadual de Saúde Mental/SES/SUS-MG que, após
avaliação, procederá às mudanças e atualizações que se fizerem necessárias.

22 de setembro, 2015

COORDENAÇÃO ESTADUAL DE SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS


SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE

Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n – Prédio Minas - 12° Andar


Serra Verde – BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS - CEP 30.630-900
Fone: (31) 3915-9949 / 3915-9936

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