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ESSA VERSÃO É APENAS PARA FINS EDUCACIONAIS

ADQUIRA A VERSÃO IMPRESSA EM SUA INSTITUIÇÃO

©2022, MD
Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Sofia Maria Amorim Falco Rodrigues

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*Todos os gráficos , tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.

Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.

ESSA VERSÃO É APENAS PARA FINS EDUCACIONAIS


ADQUIRA A VERSÃO IMPRESSA EM SUA INSTITUIÇÃO
Imagens de ícones/capa:© Shutterstock
ASSISTA
! Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple­
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

o\ CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

' , DICA

, ' Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma


informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

1 EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.
Unidade 1 - Geração de energia elétrica, agentes atuadores e investimentos no
cenário brasileiro
Objetos da unidade .............................................................................................................. 12

Relação entre a matriz energética e a geração ............................................................. 13


Geração distribuída: exemplo da micro ou minigeração pelo consumidor brasileiro ... 14
Geração de energia elétrica a partir de fontes alternativas no Brasil................... 15

Informações básicas acerca de um modelo institucional do setor elétrico ............ 17


Modelo institucional do setor elétrico brasileiro e seus aspectos históricos ...... 18
Políticas no modelo institucional do setor elétrico brasileiro ................................. 21
Regulação e fiscalização no modelo institucional do setor elétrico brasileiro .... 21
Mercado no modelo institucional do setor elétrico brasileiro ................................ 24
Eletrobras .......................................................................................................................... 27

Atuação das concessionárias no setor elétrico brasileiro .......................................... 29


A relação entre o B NDES e o setor elétrico brasileiro ............................................. 32

Informações gerais sobre impactos dos investimentos em energia elétrica .......... 33


Impactos de investimentos em geração de energia elétrica .................................. 37
Impactos de investimentos em transmissão de energia elétrica ........................... 38

Sintetizando ........................................................................................................................... lJ1


Referências bibliográ ficas ................................................................................................. 42
Unidade 2- Estudo da geração de energia elétnca no Brasil Jtelas usinas hidreletnca
P ternmletnca
Objetos da unidade .............................................................................................................. 46

Introdução à produção de energia elétrica .................................................................... 41


Produção de energia elétrica no Brasil ....................................................................... 49
A relação com os sistemas brasileiros e com o planejamento da geração ......... 52

As usinas hidrelétricas ....................................................................................................... 53


Equação de produção da energia ................................................................................ 56
Turbinas hidráulicas ........................................................................................................ 57
Curvas características ................................................................................................... 59
Introdução à operação dos reservatórios .................................................................. 59

Introdução aos sistemas hidrelétricos ............................................................................ 61


Conceitos e cálculos da energia firme , assegurada, secundária e do período
crítico ................................................................................................................................. 61
Modelos do sistema hidrelétrico e introdução à simulação computacional ........ 65

As usinas termelétricas ...................................................................................................... 66


Usinas termelétricas a vapor ........................................................................................ 67
Usinas termelétricas a gás ............................................................................................ 69
Usinas termelétricas a ciclo combinado ..................................................................... 70
Eficiência, poder calorífico do combustível e a energia gerada............................. 72

Sintetizando ........................................................................................................................... 73
Referências bibl iog ráficas ................................................................................................. / 4
Unidade 3 - Esludo da transm1ss.ao e uma v1sào geral da d1stnlmiçao de energ1
Pletnca
Objetos da unidade .............................................................................................................. 77

Planejamento da transmissão ........................................................................................... 78


Visão geral do planejamento da transmissão no Brasil ........................................... 78

A previsão de carga ............................................................................................................. 80


Metodologia de projeção da carga de energia elétrica .......................................... )·n
Uso da previsão de carga no planejamento elétrico no Brasil ............................... 82

Análise de investimentos na transmissão ....................................................................... 84


O modelo de transportes ................................................................................................ :::4

Análise técnica de alternativas no planejamento da transmissão ............................ 86


A estrutura geral da transmissão ................................................................................. 87
Modelo DEA para análise de coeficientes de eficiência ......................................... 88
O modelo DEA no planejamento da transmissão na ANEEL .................................... 91

A estrutura do sistema elétrico de potência ................................................................... 93


Características importantes da transmissão .............................................................. 95
Características importantes da distribuição .............................................................. 96

As linhas de transmissão .................................................................................................... 97


Critérios para determinação dos níveis de tensão.................................................... 99

Sintetizando ......................................................................................................................... 100


Referências bibliográficas 101
Unidade 4 - Capacidade da transmissão, dimensionamento de condutores e
relações de tensão e corrente
Objetivos da unidade ......................................................................................................... 105

Capacidade de uma linha de transmissão .......................................... .......................... 106


Potência natural (SI L) ................................................................................................... 107

Dimensionamento de condutores de fase ..................................................................... 109


Tipos de condutores de fase mais utilizados ............................................................ 109

Dimensionamento de para-raios ........................................................... .......................... 110


Tipos de cabos mais utilizados.................................................................................... 111
Capacidade de corrente de cabos para-raios ......................................................... 111

O modelo de parâmetros distribuídos para linhas de transmissão .......................... 112


Propagação de ondas eletromagnéticas na Iinha de transmissão ...................... 113
Relações de tensão e corrente para linhas curtas, médias e longas .................. 116

As redes de distribuição de energia elétrica ............................................................... 119


Regulamentação da distribuição de energia elétrica: o PRODIST ....................... 120
Principais equipamentos e elementos da distribuição de energia ....................... 122
A estrutura básica dos sistemas de distribuição de energia elétrica.................. 123
Redes de distribuição aéreas e subterrâneas ......................................................... 125

Sintetizando ......................................................................................................................... 127


Referências bibliog ráficas ............................................................................................... 128
Neste curso, o aluno poderá compreender as principais informações acerca
da geração de energia elétrica, especialmente considerando o desenvolvimen­
to sustentável e a matriz energética brasileira. Verá, também, alguns dados im­
portantes e recentes sobre a geração de energia elétrica no Brasil.
Em seguida, compreenderá a estrutura do setor elétrico brasileiro com o ar­
cabouço vigente instaurado através do Novo Modelo do Setor Elétrico Brasilei­
ro. O estudante entenderá todos os programas e agentes envolvidos, além de
ser apresentado às características principais de cada agente dentro do setor,
e obter as informações pertinentes aos programas proporcionados por estes.
Ao final, o aluno deverá ser capaz de compreender como são realizados os
investimentos no setor elétrico brasileiro de maneira geral, estudando especi­
ficamente ações, planejamentos e projetos destinados à geração e à transmis­
são de energia elétrica.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


A professora Sofia Maria Amorim
Falco Rodrigues possui mestrado em
Engenharia Elétrica pela Universidade
Federal de São João dei Rei - UFSJ (2019)
e graduação na mesma cadeira, tam­
bém pela UFSJ (2016}. É professora con­
teudista de Engenharia Elétrica e áreas
correlatas, e produz, desde 2019, ma­
teriais para ensino a distância, além de
ministrar aulas particulares desde 2016.
Estagiou como docente no curso de En­
genharia Elétrica da UFSJ (2018) e possui
publicações, ao longo de sua carreira,
em grandes congressos (nacionais e in­
ternacionais); um capítulo em um livro e
um artigo em um periódico, ambos na
área de pesquisa para Engenharias IV.

Currículo Lattes:
http:l/lattes.cnpq.br/2341871988950551

"A educação não transforma o mundo, ela muda as pessoas e essas


transformam o mundo': dizia Paulo Freire. Além de dedicar este livro
aos meus maiores incentivadores, meus pais, meu marido e meus
alunos, dedico este livro a você. Tenho orgulho em contribuir com o seu
conhecimento e espero impactá-lo!

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


UNIDADE

ser
educacional
Tópicos de estudo
• Relação entre a matriz energé­ Mercado no modelo institucional
tica e a geração do setor elétrico brasileiro
Geração distribuída: exemplo Eletrobras
da micro ou minigeração pelo
consumidor brasileiro • Atuação das concessionárias no
Geração de energia elétrica a setor elétrico brasileiro
partir de fontes alternativas no A relação entre o BN DES e o setor
Brasil elétrico brasileiro

• Informações básicas acerca de e lnformações,gerais sobre impac­


um modelo institucional do setor tos dos investimentos em energia
elétrico elétrica
Modelo institucional do setor Impactos de investimentos em
elétrico brasileiro e seus aspectos geração de energia elétrica
históricos Impactos de investimentos em
Políticas no modelo institucio­ transmissão de energia elétrica
nal do setor elétrico brasileiro
Regulação e fiscalização no
modelo institucional do setor
elétrico brasileiro

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Relação entre a matriz energética e a geração
A energia elétrica desempenha, desde tempos primór­
dios, um papel fundamental na existência humana, e esta
relação é algo que passou a se tornar, nos últimos anos, um
dos pilares do próprio desenvolvimento humano. Desta
forma, o estudo dos meios de geração, transmissão e
distribuição da energia elétrica também se torna es-
sencial no desenvolvimento sustentável, algo a ser
buscado com urgência e de forma interdisciplinar.
Antes de compreender as principais relações entre
a produção de energia elétrica e a matriz energética brasileira, em especial,
assista ao vídeo indicado para compreender não só o cenário do País, mas re­
visar todas as possibilidades de geração.

ASSISTA
O estudo da matriz energética brasileira se faz neces­
sário não só do ponto de vista energético em geral, mas
também em estudos do planejamento de expansão da
geração de energia. Desta forma, conhecer os princi­
pais recursos e entender a distribuição geográfica des­
tes, por exemplo, poderá esclarecer a você a difusão de
ações importantes como o uso de fontes renováveis na
geração de energia elétrica.

No que tange à produção de energia elétrica, considerações iniciais impor­


tantes podem ser feitas, como o fato de que a matriz energética do País e o uso
sustentável de recursos disponíveis está diretamente relacionado à geração de
energia elétrica.
Quanto ao cenário brasileiro, sabe-se por dados do Banco de Informações
de Geração (BIG) de 2020, da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica),
que a energia elétrica é produzida predominantemente a partir de recursos hí ­
dricos (64,13%), sendo esta produção subdividida em ordem decrescente entre
usinas, pequenas centrais e centrais geradoras hidrelétricas.
A segunda maior fração da potência produzida corresponde às usinas ter­
melétricas (24,21%), que realizam esta produção com recursos não renováveis

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


ou renováveis, em sistemas de cogeração ou até mesmo a partir da energia
geotérmica (DOS REIS, 2011).
As usinas eólicas, por sua vez, representam 9,04% da produção, as centrais
fotovoltaicas cerca de 1,45% e as usinas termonucleares somam 1,17% à potên­
cia total produzida no País.
Por outro lado, nos últimos anos, muito se discute acerca da expansão do
uso de outros recursos naturais na produção de energia elétrica, priorizando o
desenvolvimento sustentável e o completo estudo de impactos, não só biológi­
cos, mas também econômicos.
Dessa forma, a expansão recente vista no Brasil, na geração eólica por exem­
plo, traz à tona esta tendência e preocupação mundial. Só no ano de 2019, confor­
me dados da ANEEL, houve um incremento de 971 MW. Estes números tornam-se
relativamente expressivos quando se compara à expansão vista na geração ter­
melétrica, que contribuiu com um aumento de 776 MW neste mesmo ano.
Além disso, a geração fotovoltaica foi responsável por um aumento de 551 MW,
consolidando destaque aos novos empreendimentos relacionados a estes números
e também demonstrando a capacidade de diversificação da matriz energética total.
Logo, a geração de energia elétrica, assim como a distribuição e a transmis­
são, possui características organizacionais e técnicas estabelecidas em harmo­
nia com aspectos socioambientais e econômicos.
Assim, novas tecnologias relacionadas, não só à geração, deverão se apre­
sentar como importantes respostas aos desafios recentes e à busca de supri­
mentos mais eficientes (DOS REIS, 2011). A inserção de um sistema de geração
elétrica no sistema de potência, por exemplo, poderá ser justificada e ampla­
mente estudada sob tais pontos de vista.


Geração distribuída: exemplo da micro ou minigeração
pelo consumidor brasileiro
A expansão da matriz energética está diretamente relacionada a aspectos
do estabelecimento da geração, além da legislação vigente. Um importante
exemplo prático é a Resolução normativa ANEEL n. 482, de 2012, que entrou
em vigor para regulamentar a geração distribuída de energia elétrica, do ponto
de vista do consumidor brasileiro.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Assim, regulamentou-se que o consumidor poderá gerar sua própria energia
elétrica, utilizando fontes de energias renováveis, além de estabelecer a legisla­
ção para a cogeração e para a entrega do excedente à rede de distribuição local.
Este tipo de geração distribuída é classificada tecnicamente como micro ou
minigeração, conforme a capacidade de produção, e tem despertado um cres­
cente interesse nos últimos anos, especialmente nos consumidores, devido às
possibilidades de economia financeira.
Ademais, ainda avaliando dados da ANEEL, de 2016, sabe-se que atualmen­
te é permitido o uso de qualquer fonte renovável para a produção de energia
elétrica, e que se estabelece como microgeração a produção até 75 kW, e mini­
geração as instalações que fornecem até 5 MW.
Além disso, com relação ao retorno financeiro e devolução de energia à con­
cessionária, estabeleceu-se na legislação o autoconsumo remoto, que se confi­
gura em créditos para o consumidor caso a energia fornecida pelo sistema de
geração própria seja então superior à demanda.
Na prática, o autoconsumo remoto pode ser entendido por uma situação
comum no tipo de geração distribuída, onde um determinado consumidor pos­
sui geração própria através de fonte solar fotovoltaica.
Frequentemente, nestes casos, haverá o autoconsumo remoto, pois ao lon­
go do dia há a geração devido à exposição solar e, com isto, o excedente é
repassado à concessionária.
Por conseguinte, durante o período noturno o consumo é estabelecido atra­
vés do fornecimento pela rede elétrica, configurando uma relação semelhante
ao armazenamento de energia por uma bateria.

••
Geração de energia elétrica a partir de fontes alternati­
vas no Brasil
Um dos principais exemplos do uso de fontes renováveis no Brasil pode
ser visto na geração distribuída estabelecida pelo consumidor: a geração de
energia elétrica pela energia solar fotovoltaica (HOLDERMANN; KISSEL; BEIGEL,
2014), a partir da micro ou minigeração. Os dados referentes a este tipo de
inserção vêm apresentando, especialmente nos últimos anos, novos rumos do
desenvolvimento sustentável e também da diversificação da produção.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Assim, como visto nos dados da produção de energia elétrica em 2019, cerca
de 1,45% da potência obtida veio de usinas fotovoltaicas, entretanto, existem ou­
tros dados disponibilizados pela ANEEL que corroboram o aumento recente visto
no número de consumidores que optaram por estabelecer a geração distribuída.
Ainda em 2019, estimou-se que fontes fotovoltaicas estão por trás de cerca
de 8,74% da potência que será gerada a partir dos empreendimentos em cons­
trução no Brasil; além da estimativa de que tais fontes também correspondem
à maior fração da potência que será fornecida por empreendimentos com cons­
trução não iniciada, cerca de 38,13% do total que será fornecido.
Os dados completos podem ser vistos na Tabela 1 para empreendimentos
com construção iniciada, já outorgados, e os que reforçam a diversificação da
matriz energética brasileira. A potência outorgada representa os valores esti­
mados no ato de outorga dos empreendimentos, concedendo e estimando o
aproveitamento d o potencial energético (AN EEL, 2020).

TABELA 1. PLANEJAMENTO FUTURO DA GERAÇÃO NO BRASIL ATRAVÉS DA


RELAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS COM CONSTRUÇÃO NÃO INICIADA

POTÊNCIA OUTORGADA
TIPO QUANTIDADE o/o DO TOTAL
(kW)
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2.100 0,01
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U'd
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Fonte: ANE EL, 2020. (Adaptado).

A partir dos dados torna-se perceptível que, além da tendência de diversifica­


ção da matriz energética, também existe uma possível descentralização a partir
da construção de pequenas centrais hidrelétricas que, conforme a Tabela 1, repre­
sentam 7,96% da potência total, distribuída em 94 unidades a serem construídas.

PRODUÇÃO. TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Este último dado demonstra um novo e importante enfoque sustentável à
principal matriz energética já estabelecida, devido à grande disponibilidade de
recursos hídricos no país.
Por outro lado, um possível caminho para o estudo dos potenciais energé­
ticos é a análise sob o ponto de vista geográfico do Brasil. Considerando dados
mais recentes da ANEEL, e ainda o exemplo da geração fotovoltaica, também foi
visto para o ano de 2019, nos estados de Ceará e Minas Gerais, que existem oito
usinas, quatro em cada estado, com produção de 33.000 kW de potência outor­
gada em cada unidade, sediadas nas cidades de Quixeré e Paracatu.

DICA
No site da própria ANEEL existem vários registros e
dados que podem ser utilizados em pesquisas e infor­
mativos, além de informações técnicas em linguagem
bastante amigável. Desta forma, sugere-se ao aluno
que navegue por todo o site, em busca não só de da­
dos acerca da geração de energia elétrica no Brasil,
mas de diversos outros assuntos referentes à trans-
missão e distribuição. Também é possível encontrar,
no site, normas e outras informações referentes às
regulamentações do setor elétrico.


Informações básicas acerca de um modelo institucional
do setor elétrico
Como é esperado, existem regulamentações e modelos políticos específicos
destinados à regulamentação do setor elétrico. Aqui você verá o modelo institu­
cional do setor elétrico brasileiro, além de compreender as principais variáveis que
envolvem o estabelecimento de um modelo institucional.
Uma das principais variáveis para a constatação do desenvolvimento de um
país está diretamente relacionada à energia elétrica. Desta forma, é possível ainda
considerar que há dois extremos sociais e históricos, o desenvolvimento tecnoló­
gico e a ação horizontal.
Assim, quanto ao desenvolvimento tecnológico é possível citar a criação de po­
líticas de incentivo à pesquisa, a busca pelo desenvolvimento sustentável aliando
qualidade e eficiência, exploração de novos recursos energéticos renováveis e di­
versas outras ações.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Já com relação à ação horizontal, deve-se considerar sobretudo o acesso à
energia elétrica, visando principalmente o fornecimento e acesso da população às
fontes mais eficientes de energia.
Além disso, quando se analisa do ponto de vista da administração e operação
de todo o sistema envolvido tem-se o que pode ser denominado de indústria da
energia, que determinará o fornecimento de um serviço tomado como público e
que é, ainda, entendido como um serviço básico.
Desta forma, quando se trata de um modelo institucional entende-se que este
envolverá desde a exploração dos recursos naturais estratégicos, certamente de
propriedade da União, até aspectos como a concessão de novos empreendimen­
tos, como você entenderá adiante através do modelo brasileiro.

••
Modelo institucional do setor elétrico brasileiro e seus
aspectos históricos
Quando se analisa o setor elétrico brasileiro, uma das principais observa­
ções a serem feitas, a este ponto, é que a União Federal é a detentora do servi­
ço de fornecimento de energia elétrica no Brasil, de maneira geral.
Além disso, sabe-se que existem duas ocorrências históricas de grande re­
levância a serem consideradas: a privatização das companhias operadoras que
iniciou em 1996, trazendo grandes modificações e impactos ao setor como um
todo; e a introdução do Novo Modelo do Setor Elétrico, em 2004.
Então, com relação aos fatos históricos a partir de 1996, iniciando pela
Lei n º9 .427 que envolveu especialmente a privatização das companhias
operadoras , houve grandes modificações no setor. Além disso, a lei em
questão foi a responsável pela instituição da ANEEL, também determinan­
do orientações acerca da exploração de recursos hídricos, por exemplo,
sendo que, a partir da ocasião, tal ação passou a ocorrer através de con­
corrência ou leilões.
Já sobre o Novo Modelo de 2004, aplicado pelas leis n º 10.847 e 10.848, que
é ainda o modelo regulatório em vigência, os objetivos principais eram: segu­
rança no suprimento, modicidade tarifária e promoção da inserção social.
Desta forma, com relação ainda a 2004 destaca-se a criação de programas
como o Luz para Todos, que visava a retomada da responsabilidade do plane-

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


jamento do setor para o próprio Estado, através da promoção da universali­
zação do acesso. Adicionalmente, uma das principais alterações promovidas,
também pelo modelo, foi a substituição do critério antes usado para concessão
de novos empreendimentos de geração.
Na prática, implementou-se o Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e o
Ambiente de Contratação Livre (ACL), sendo que este último passou a contem­
plar consumidores livres, por exemplo.
O modelo institucional do setor elétrico brasileiro
O modelo vigente é sobretudo caracterizado pela segregação das ativida­
des de geração, distribuição e transmissão de energia elétrica; pela regulamen­
tação da concorrência para novos empreendimentos de geração através de lei­
lões de contratação de energia e coexistência de empresas públicas e privadas;
e pela regulamentação da precificação da energia como um todo.
Na Figura 1 podemos observar a estrutura institucional válida para o setor
brasileiro:

Presidência da República

-:------1
Políticas Congresso
Nacional
CNPE/MME

Regulação e Agências estaduais


fisca Iiz ação
J_
1 Conselhos de consumidores
Entidades de defesa do consumidor
Mercado

..
SDE/MJ CADE-SEAE

_J SNRH. MMA. ANA e CONAMA

Agentes
institucionais
-
li&M@ti Concessionárias

Figura 1. Estrutura mstituoonal do setor eletnco brasileiro. Fonte: ANEEL, 2008. p. 20. (Adaptado).

Assim, na divisão de políticas tem-se o Congresso Nacional, juntamente


com a própria Presidência da República, além do Conselho Nacional de Po-

PRO DUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


lítica Energética (CNPE) e o Ministério de Minas e Energia (MME). A regu­
lamentação e fiscalização é feita integralmente pela ANEEL, subdividida em:
agências estaduais; Agência Nacional de Petróleo (ANP); conselhos consumi­
dores e entidades de defesa do consumidor; Secretaria de Desenvolvimento
Econômico (SDE), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e a
Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae); Sistema Nacional de Re­
cursos Hídricos (SNRH), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Agência Nacio­
nal de Águas (ANA) e Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Por outro lado, quando se trata diretamente do mercado, também coman­
dados pela ANEEL, observam-se dois órgãos principais: a Câmara de Comer­
cialização de Energia Elétrica (CCEE) e o Operador Nacional do Sistema Elé­
trico (ONS). Por último, os principais agentes institucionais são: a Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), a Eletrobras, as próprias concessionárias e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Além disso, é necessário ressaltar que, ao longo dos últimos anos, a legisla­
ção do setor vem passando por modificações, especialmente devido ao fato da
globalização e do desenvolvimento sustent ável, o que inclui principalmente a
expansão já mencionada na geração distribuída de energia elétrica e utiliza­
ção de recursos renováveis.
Assim, considerando estes aspectos mais recentes e de grande relevância,
que dizem respeito não só ao setor elétrico brasileiro, mas até mesmo sobre
o cenário mundial, observa-se que há a necessidade de readaptação do setor
elétrico brasileiro como um todo.
Um exemplo relevante no cenário da regulação a ser citado é a própria Re­
solução Normativa ANEEL nº 482, de 2012, para regulamentações da cogeração
e proposições mais recentes a respeito da geração distribuída.

' ,
DICA
, ' Sugere-se ao aluno a leitura da seguinte revisão para com­
preensão adicional acerca das relações entre o uso de ener­
gias renováveis e o cenário do setor energético brasileiro:
"Electricity supply security and the future role of renewable
energy sources in Brazil" (SILVA, NETO, SEI FERT, 2016), um
trabalho de 2016, mas bastante atual, aliado ao conhecimento
dos dados mais recentes fornecidos pela ANEEL.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Políticas no modelo institucional do setor elétrico
brasileiro
O CNPE é um conselho do Ministério de Minas e Energia, agente primário
institucional do setor, e constitui-se como o órgão de assessoramento do pre­
sidente da República na formulação de políticas e diretrizes de energia. Assim,
é possível compreender de forma sucinta que as ações políticas dentro do se­
tor elétrico são tomadas, então, pelo MME, representado principalmente pelo
conselho, com o Congresso Nacional e o próprio presidente, através da Política
Energética Nacional (PEN), que também incluirá políticas destinadas à ener­
gia elétrica especificamente.
Como um exemplo de ação política mais recente é possível citar a Resolu­
ção nº 29, de 2019, do Ministério de Minas e Energia, que definiu o critério geral
de garantia de suprimento, aplicável aos estudos de expansão da oferta e do
planejamento da operação do sistema elétrico interligado. Adicionalmente, na
ocasião foram apresentados os cálculos das garantias físicas de energia e potência
de um empreendimento de geração de energia elétrica.


Regulação e fiscalização no modelo institucional do
setor elétrico brasileiro
Como visto no esquemático da Figura 1, quem detém o controle principal
para a realização da regulação e fiscalização no setor elétrico brasileiro, pelo
modelo institucional vigente, é a ANEEL. Este órgão é denominado como uma
autarquia federal e é responsável diretamente por, conforme informações da
própria agência:
•Regular a produção, distribuição e comercialização da energia elétrica;
•Realizar a fiscalização das concessões, permissões e serviços relacionados
à energia elétrica;
• Implementação de políticas e diretrizes demandadas pelo Governo Fede­
ral, especialmente com relação à exploração da energia elétrica e utilização e
aproveitamento dos recursos hidráulicos;
• Promoção de atividades sobre a outorga de concessão (permissão e auto­
rização a empreendimentos e serviços) de energia elétrica;

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


• Mediação de conflitos na esfera administrativa, entre os próprios agentes,
e entre estes e os consumidores;
• Definição de critérios e metodologias para a tarifação da energia elétrica.
Ademais, a ANEEL também coordena, conforme demonstrado pelo esque­
ma da Figura 1, todos os agentes relacionados, incluindo as concessionárias de
energia e os agentes de relação direta com o consumidor. Uma outra impor­
tante atuação da ANEEL é na tarifação da energia elétrica, abordada no tópico
a seguir.
Exemplo de atuação da ANEEL no setor elétrico brasileiro: o cálculo ta­
rifário
Após conhecer a estrutura do setor elétrico brasileiro e as principais atua­
ções da ANEEL, além da coordenação da agência com os demais órgãos e agen­
tes do setor, você irá compreender o cálculo tarifário da energia elétrica.
Essencialmente este cálculo é dividido de maneira geral em três momentos
distintos: para geração, transmissão e distribuição. Agora você verá as meto­
dologias destinadas à tarifação, especialmente do ponto de vista dos custos ao
consumidor final.
Quando se analisa o cálculo voltado ao consumidor final, existem duas di­
visões importantes: as tarifas referentes à baixa tensão, voltada para residên­
cias; e referentes à alta tensão, tanto comercial quanto industrial.
De maneira geral, a tarifa é composta da seguinte forma:

Energia gerada
o Transmissão e
distribuição
Transporte de energia até
a unidade consumidora
o Encargos setoriais

Figura 2. Esquema do calcula da tanfa para os três pnnc1pa1s tipos de custos.

Além disso, sabe-se que nestes encargos, referentes a cobranças por parte
do Governo Federal, Estadual e Municipal, tem-se PIS/CONFINS, ICMS e Con­
tribuição para iluminação pública, respectivamente. O Gráfico 1 apresenta a
média do cálculo dos custos para a fração do valor final da energia elétrica
pago pelo consumidor:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


GRÁFICO 1. VALOR FINAL DA ENERGIA ELÉTRICA

Fonte: ANEEL, 2017. (Adaptado).

Nele são apresentadas algumas informações e metodologias a serem con­


sideradas nos cálculos que analisam especificamente o cliente de baixa tensão
e de alta tensão.
Em baixa tensão é possível citar, por exemplo, o sistema de bandeiras tari­
fárias, que irá sinalizar acerca dos custos reais da geração de energia elétrica.
Implementado desde 2015 e em todo o território nacional, com exceção do
estado de Roraima por não fazer parte do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Na prática, a bandeira verde indicará nenhum acréscimo à tarifa, pois as
condições de geração de energia elétrica são favoráveis.Já as bandeiras amare­
la e vermelha indicarão que há empecilhos para que a geração ocorra de forma
normal, acarretando em acréscimos de até R$ 0,06 por kWh consumido.
Com relação aos custos da tarifa para o consumidor de alta tensão, deve­
-se levar em conta, por exemplo, as diferentes classes de consumo aplicadas
para cada tipo de consumidor, conforme Resolução Normativa da ANEEL n º
414/2010. Além disso, existem as modalidades tarifárias estabelecidas levando
em consideração a demanda de potência ativa, por exemplo.
Assim, após compreender as principais parcelas que envolvem a tarifação,
de maneira geral, considere um outro elemento importante do setor elétrico
brasileiro: o mercado.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


••
Mercado no modelo institucional do setor elétrico bra­
sileiro
Como visto anteriormente acerca do setor elétrico brasileiro, especi­
ficamente no Novo Modelo vigente, houve diversas modificações que fi­
zeram com que a produção de energia elétrica passasse a ser atrelada a
contratos bilaterais, em negociações com as produções das geradoras, por
exemplo.
Além disso, uma das principais
alterações deste Novo Modelo foi a
nova forma com que as concessões
para novos empreendimentos de
geração passaram a ocorrer. Elas

I
começaram a acontecer a partir de
leilões, onde o investidor com a me-
nor oferta para a venda da produção
das futuras usinas ganharia, e foram
instituídos também os ambientes de
contrato ACR e ACL.
No caso do ACR o processo ocor­
re entre geradoras e distribuidoras
e, conforme as próprias definições
apresentadas pela ANEEL, a compra
e venda de energia elétrica se dá en­
tre agentes vendedores e de distri­
buição, através de processo licitatório.
Por outro lado, existem casos amparados e previstos em lei que seguem
regras de comercialização específica. Já com relação ao ACL sabe-se que
neste segmento participam comercializadoras, importadores, agentes ex-
portadores e também os próprios consumidores livres.
O processo de negociação ocorre por meios estabelecidos em contratos
entre as partes, além do fato principal de que o preço da energia elétrica é
acordado entre a parte compradora e a parte vendedora. De forma sucinta,
o Quadro 1 apresenta estes dois ambientes, conforme o CCEE:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


O QUADRO 1. COMPARATIVO ENTRE OS AMBIENTES DE MERCADO A CURTO
PRAZO PARA COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

AMBIENTE LIVRE AMBIENTE REGULADO

Geradoras. distribuidoras e
Geradoras, comercializadoras. consum­
comerdalizadoras. As comer­
Participantes ciallzadoras podem negociar
idores livres e especiais _
energia somente nos leilões de
energia existente
Realizada por meio de leilões de
Livre negociação entre os cornpradores
Contratação e:iergla promovidos pela CCEE,
e vendedores
sob delegação da Aneel
Regulado pela Aneel. denornina­
Acordo Íivremente estabelecido entre do Contrato de Comercialização
Tipo de contrato
as partes de Energia Elétrica·no Ambiente
Regulado (CCEAR_)

Preço Acordado entre comprador e vendedor Estabelecido no leilão

Fonte: Camara de comercio de energia eletrica (CCEE), Acesso em: 07/02/2020. (Adaptado).

Por último, com relação aos órgãos diretamente vinculados, algumas obser­
vações importantes devem ser feitas baseando-se em dados da própria ANEEL.
A ONS, por sua vez, é responsável pela coordenação da operação de usinas e
redes de transmissão do SIN, através do estudo de dados históricos e proje­
ções, analisando a oferta de energia elétrica e também o mercado consumidor.
Além disso, sabe-se, por exemplo, que para a coordenação do despacho de
usinas utiliza-se o Newave, que também é usado para precificação a curto pra ­
zo no mercado livre por parte da CCEE. Por outro lado, o Mercado Atacadista de
Energia (MA E) teve sua constituição instaurada na década de 1990 e, juntamen­
te com a reestruturação de 2004, tornou-se na ocasião o próprio CCEE.
A partir desse ponto, então, você verá as principais ações tomadas e infor­
mações pertinentes à atuação dos principais agentes institucionais do setor
elétrico no Brasil, como indicado pela Figura 1 a respeito da estrutura do setor.
A Empresa de Pesquisa Energética
A EPE foi criada também no Novo Modelo, no ano de 2004, com o principal
objetivo de desenvolver diversos estudos sobre o setor energético em geral,
incluindo pesquisas e metodologias necessárias para o planejamento da ex­
pansão do sistema elétrico.
Desta forma, esta é uma empresa pública e, sob o ponto de vista de atuação
no setor elétrico, está diretamente ligada à expansão da capacidade de gera-

PRO DUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


ção e transmissão, através de estudos sobre fontes de geração, na metodologia
e no próprio cálculo para garantia física de projetos, além de estudos envolven­
do as relações de consumo de energia elétrica no país.
Além disso, existem em várias publicações, como o Anuário Estatístico de
Energia Elétrica, dados acerca do consumo de energia elétrica, os Planos Dece­
nais de Expansão de Energia, Programa de Expansão da Transmissão (PET ),
Plano de Expansão de Longo Prazo (PELP), e outros.
Inicialmente analisando os dados abertos disponibilizado pelo anuário es­
tatístico, serão observadas algumas informações relevantes referentes ao pa­
norama de consumo em GWh em 2018.
No Gráfico 2 é possível visualizar o levantamento sobre os pontos de forne­
cimento e o consumo por setores em todo o Brasil. Note que os consumidores
de baixa tensão representam cerca de 72% do total da potência em GWh. Além
disso, obser ve que os setores residencial e comercial representam os dois
maiores com relação ao consumo em GWh:

GRÁFICO 2. PANORAMA DO CONSUMO CATIVO, EM GWH, ATRAVÉS DOS RESULTADOS


DE 2018 PARA A TENSÃO DE FORNECIMENTO E DIVISÃO POR SETORES

Rasidencial 137.311
Comercial

Industrial - 32.067
Rural - 28.070
Iluminação pfiblica - 1S.690
Poder pfiblico - 14.890
Serviço p(1blico • 12.712
Consumo próprio 13.079

Fonte: Empresa de Pesquisa Energetica (EPE). Acesso em: 08i02/2020. (Adaptado).

Adicionalmente, uma outra competência importante dentro do planeja­


mento da expansão é a avaliação técnica das propostas de planejamento do
atendimento aos sistemas isolados do território nacional, apresentada pelos
agentes de distribuição, além da habilitação técnica de propostas acerca da
solução de suprimento, que integram o processo de leilões.
Um sistema isolado estará fora do SIN, sendo contabilizado pelo próprio
EPE onde existem cerca de 250 localidades com este tipo de sistema. A maior

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


parte está localizada na região norte do país e compete à EPE a coordenação
do atendimento destinado a estes sistemas.
No próprio site do EPE é possível obter informações sobre os leilões realiza­
dos, instruções para propostas de solução de suprimento e o próprio planeja­
mento de atendimento de sistemas isolados pelas distribuidoras.
As demais propostas apresentadas serão vistas adiante, quando for discuti­
do o impacto dos investimentos em geração e transmissão de energia elétrica.

Eletrobras
••
A Eletrobras se constitui como um agente institucional do setor elétrico
brasileiro e é uma empresa que atua, de forma geral, na geração e trans­
missão de energia elétrica. Também possui participações em sociedades
de propósitos específicos (SPEs), atuan do em parceria com outras empre­
sas na implantação e operação de usinas, linhas de transmissão , entre
outros.
Do ponto de vista da geração de energia elétrica, a Eletrobras é responsável pela
maior parte da geração e, através de dados fornecidos pela própria empresa, sa­
be-se que em 2017 esta produziu 182,1 milhões de MWh, potência suficiente para
atender mais de um terço do consumo anual de energia elétrica em todo o país.
Além disso, também por dados fornecidos pela empresa, sabe-se que 95%
de sua capacidade instalada corresponde a fontes consideradas limpas devido
à baixa emissão de gases de efeito estufa, sendo possível citar como exemplo
de empreendimentos a parte brasileira da Usina de ltaipu, Usina hidrelétrica de
Furnas, o Complexo eólico campos neutrais e a Usina Megawatt Solar.
A Eletrobras ainda atua em estudos ambientais e de engenharia para novos
negócios de geração, como a avaliação da viabilidade do aproveitamento hidrelé­
trico do rio Uruguai, por exemplo, além de outros rios brasileiros, em parceria
com outras empresas do setor elétrico da América Latina.
Na transmissão de energia elétrica estimou-se, em 2018, que a Eletrobras atin­
giu cerca de 71 mil quilômetros de linhas de transmissão, com tensão igual ou su­
perior a 230 kV, o que representa quase metade do total de linhas de transmissão.
É possível citar, também, alguns dos principais empreendimentos de trans­
missão já concluídos, com base nos dados de 2018, seja por meio das próprias

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


empresas da Eletrobras ou em SPE, como a linha de transmissão de 230 kV na
Bahia, entre Eunápolis e Teixeira de Freitas 11, no denominado circuito dois, que
possui 152 km de extensão. Na Tabela 2 é possível visualizar a distribuição das
linhas de transmissão entre as empresas da Eletrobras:
TABELA 2. DISTRIBUIÇÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO ENTRE AS EMPRESAS
DA ELETROBRAS
PRÓPRIAS OU COM CON­
EMPRESA CESSÃO PARA OPERAÇÃO E EM PARCERIA TOTAL
MANUTENÇÃO

Amazonas GT ••
--
Chesf 1.461 22047

Eletrobras
Holding
1.026 ••

Eletronorte 1.694 12.706


11

Eletrosul 1.046

Furnas

Total

Por último, uma outra parte importante da atuação da Ele­


trobras ainda envolve os programas estratégicos instaura­
dos e mantidos pelo governo brasileiro, como o Programa
Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), o Luz
para Todos como um programa de universalização do acesso
e uso da energia el étrica, e o Programa de Incentivo às Fontes
Renováveis de Energia Elétrica (Proinfa).

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Atuação das concessionárias no setor elétrico brasileiro
A Figura 3 mostra resumidamente como o setor elétrico opera do ponto de
vista da relação com os agentes do setor elétrico brasileiro e os consumidores:

livres

1
• ,J ., ' li 1

TUST

• livres
.- cativos

,:j •••
...,I'.•.,.� ,,,,

TUSD Tarifa de distribuição

Assim, a energia é produzida estando entre 10 e 30 kV, é transportada, e


contabiliza-se a Tarifa de Uso dos Sistemas Elétricos de Transmissão (TUST ), e
na transmissão estará, geralmente, entre 345 e 500 kV.
Além disso, existirão consumidores livres que poderão realizar o processo de com­
pra como será visto com mais detalhes em outro momento. Da transmissão a energia
segue para a distribuição, novamente sujeita à TUST, e então poderá ser destinada a
consumidores livres ou através do processo mais convencional, disponibilizada aos
denominados consumidores cativos, pelas das concessionárias de energia elétrica
que fornecem o suprimento calculando-se uma tarifa de distribuição.
Ademais, os consumidores livres também estarão sujeitos diretamente,
após a distribu ição, aos custos referentes ao que se den omina como Tarifa de
Uso dos Sistemas Elétricos de Distribuição (TUSD).

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


As concessionárias se constituem, então, como agentes institucionais, es­
pecialmente ligados à distribuição de energia elétrica. São, de fato, o principal
meio entre o setor elétrico brasileiro e a própria sociedade, visto que estas
empresas recebem, de companhias responsáveis pela transmissão, todo o su­
primento que será fornecido para abastecimento de todo o país.
Sabe-se pelos dados disponibilizados mais recentemente pela ANEEL, que o
Brasil possui atualmente 63 concessionárias que realizam o serviço público de dis­
tribuição, além de outros agentes, denominados permissionárias. Estas últimas
empresas são geralmente cooperativas que realizam a distribuição de energia
elétrica no ambiente rural e que passam por um processo específico de enquadra­
mento para a distribuição de energia elétrica.
Um fator importante é compreender quem é o cliente de fato. As concessio­
nárias são responsáveis pelo atendimento do que é denominado de unidade con­
sumidora, caracterizado conforme a ANEEL como um conjunto de instalações,
equipamentos elétricos, condutores e acessórios, além da subestação no caso de
fornecimento em tensão primária. Esta unidade irá receber a energia elétrica atra­
vés de um ponto único de entrega, com medição única também.
Na Figura 4 tem-se a distribuição de concessionárias pelo Brasil, organizadas
nos principais grupos conforme o código de cores. Note que, a princípio, boa parte
das concessionárias pertencem a outros grupos, e o grupo Energisa representa
também boa parte das empresas de distribuição:

Grupos

CPFL lberdrola
Equatorial energia

Figura 4. Mapa das concessionárias em todo o Brasil, divididas por grupos. Fonte: Geração Smart Grid 2017.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Do ponto de vista estrutural e econômico, o controle acionário de uma con­
cessionária poderá provir de meios estatais, quando os acionários majoritários
forem os próprios governos federal, estadual ou municipal, ou através da iniciativa
privada, onde há investidores nacionais ou até estrangeiros.
Além disso sabe-se, adicionalmente, que os direitos e deveres das concessio­
nárias são estabelecidos através de um documento principal, o contrato de con­
cessão, que estabelece a relação de exploração deste serviço, tido como público,
de fornecimento de energia elétrica em uma área de concessão na qual a conces­
sionária irá exercer uma relação de monopólio.
Assim, a regulamentação e fiscalização do contrato de concessão, como já vis­
to, é realizada pela ANEEL em ambas as esferas, tanto para garantir os direitos e
deveres do consumidor, quanto para agir em prol da própria concessionária. Nes­
ta relação estabelecida, a ANEEL irá regulamentar ainda as tarifas, como também
já mencionado anteriormente, porém também irá realizar a fiscalização da quali­
dade do serviço prestado pela concessionária.
Desta forma, através de indicadores como o DEC (Duração Equivalente
de Interrupção) e pelo FEC (Frequência Equivalente de Interr upção), ambos
calculados por unidade consumidora, a ANEEL conseguirá analisar, compa­
rando com padrões estabelecidos, a qualidade do serviço por parte das con­
cessionárias.
Por outro lado, retornando às obrigações por parte da concessionária, sabe-se
ainda que estas deverão ser responsáveis pelo desenvolvimento de programas
com foco no próprio consumidor, como, por exemplo, determinadas ações para
inclusão social através do acesso à energia elétrica.
Um exemplo é o já citado Luz para Todos, e também é possível mencionar pro­
gramas como o Baixa Renda, onde o foco será estabelecer tarifas variadas, me­
diante o consumo e a própria renda do consumidor.
Ademais, o controle de irregularidades como as ligações clandestinas tam­
bém é de responsabilidade da concessionária, para fiscalização e regulariza­
ção do consumidor, mediante pagamento correspondente, identificado nesta
situação.
Existe, ainda, relação direta entre as concessionárias e o desenvolvimento de
projetos de eficiência energética e de ações denominadas como P&D (pesquisa e
desenvolvimento), porém estas serão vistas com maiores detalhes adiante.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



A relação entre o BNDES e o setor elétrico brasileiro
De forma a encerrar os estudos e análises sobre os principais agentes do
setor elétrico brasileiro você irá compreender o papel do Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social.
Entende-se que o setor elétrico brasileiro sempre se configurou como um
dos principais interesses do BNDES, principalmente para a concessão de cré­
dito, desde sua fundação em 1952. Por outro lado, em 2004, junto com o Novo
Modelo do Setor Elétrico Brasileiro foram determinadas novas proposições
políticas e regulamentações, que mudaram, inclusive, a relação entre o banco
e o setor, como você verá a seguir com mais detalhes.
É necessário ressaltar o ocorrente racionamento de energia nos anos de
2001 e 2002, que levaram o setor elétrico brasileiro a um novo patamar. Dessa
forma passou a estabelecer-se um contexto de sobre oferta, e também, após
algum tempo, o Novo Modelo foi proposto e começou a ser implementado.
É possível citar, no contexto econômico e mercadológico, as modificações
do ambiente de contratação (ACR e ACL), além dos cenários estabelecidos
divididos em função da demanda e da oferta.
Assim, do ponto de vista da demanda, um dos principais fatos a serem
considerados é que com o Novo Modelo as distribuidoras passaram a realizar
contratos bilaterais e, quando se analisa a oferta, as principais modificações
foram vistas em hidrelétricas devido à orientação de promoção de investi­
mentos com a conhecida modicidade tarifária.
É possível, ainda, ressaltar, com relação à oferta, o fato de as usinas so­
mente obteriam êxito na licitação mediante licença ambiental prévia ade­
quada e, assim, estabeleceu -se de certa forma que um empreendimento
hidrelétrico deve ser comercializado somente após o que denomina-se
Marco Regulatório Ambiental, com os diversos processos
e precedentes pré-estabelecidos, em conformidade com
as novas leis.
Ademais, o Novo Modelo também ocasionou im­
pactos na expansão setorial com a retomada da par­
ticipação das estatais, levando também à aceleração do
BNDES como financiador da expansão (ESPOSITO, 2012).

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Nos próximos tópicos você entenderá os impactos dos investimentos e
compreenderá o cenário mais recente entre investimentos por parte do BN­
DES e os impactos no setor elétrico brasileiro.

lnforn1ações gerais sobre in1pactos dos investin1entos


o l P 1eroia �,e
ricél
O cenário de investimentos em energia elétrica, de maneira geral, se subdivide
em investimentos na geração e na transmissão, especialmente. Assim, a este pon­
to você verá o que é aplicado no Brasil, e o cenário mais recente, tanto com relação
à geração quanto sobre a transmissão.
O EPE, já estudado anteriormente, é responsável por diversas políticas e ações
que estão também relacionadas com investimentos em energia elétrica, como o
Plano nacional de energia (PNE). Neste caso, o principal objetivo é estabelecer,
a longo prazo, o planejamento do setor energético do país em geral, através do
Plano Nacional de Energia de 2030 e 2050.
Além disso, existem ainda os já citados programas de expansão da trans­
missão e de longo prazo, denominados respectivamente pelas siglas PET e
PELP. Assim, através destes programas tem-se, conforme os próprios dados
abertos da Fmp.-e�,'l .lc Peç •sa r e ��t, Q, importantes si nalizadores para
agentes setoriais e até mesmo fornecedores de investimentos, com o panora­
ma para os próximos anos.
Ademais, é possível dizer que o PELP possui caráter in­
dicativo e contemplará as instalações recomendadas para
os próximos anos, e existe ainda o Plano Decenal de Ex­
pansão de Energia, um documento importante e infor­
mativo direcionado a toda a sociedade, com indicações
das perspectivas futuras do setor de energia, para expan­
são e pela ótica do próprio governo.

CONTEXTUALIZANDO
Da mesma forma que grande parte dos dados e informações apresentadas
ao longo da unidade, os programas e planos citados da EPE podem ser
facilmente encontrados nas bases de dados abertos da empresa.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Já da parte da própria ANEEL, existe um grande Programa de pesquisa e desen­
volvimento tecnológico do setor de energia elétrica, que incluirá diversas ações e
programas específicos a serem vistos adiante, além da existência da outra verten­
te, no Programa de eficiência energética.
A seguir você verá as principais informações com relação a cada um dos focos,
dentro de uma ótica geral de investimentos e impactos no setor elétrico brasileiro.
Com relação ao P&D, assim como diversas outras informações acerca de todo
o setor, há um local específico para a disponibilização de informações sobre os
projetos, para transparência, além de serem também disponibilizados os dados
referentes à gestão.
Do ponto de vista da regulamentação, existem os procedimentos e outras
ações dentro da regulamentação vigente, além do que se denominou como legis­
lação correlata, onde tem-se as normas legais.
Analisando as ações e programas dentro do P&D regulamentado ao setor pela
ANEEL, é importante citar a Consulta Pública 19/2018, que trata sobre o recebi­
mento de contribuições pela criação da Chamada de Projeto de P&D, intitulada
Desenvolvimento de Soluções em Mobilidade Elétrica Eficiente.
Neste contexto, abriu-se a oportunidade para o recebimento de sugestões,
até maio de 2019, onde solicitou-se a participação pública. Além disso, propostas
como a revista de P&D da ANEEL integraram um cenário colaborativo e de incenti­
vos ao recebimento de trabalhos, juntamente com o Seminário de Eficiência Ener­
gética do Setor Elétrico.
Ademais, conforme as próprias informações disponibilizadas ao público, o
principal objetivo da ANEEL na regulamentação de tais programas é alocar ade­
quadamente tanto recursos humanos quanto financeiros para projetos voltados,
por exemplo, para criação de novos equipamentos, aprimoramento na prestação
de serviços, segurança no fornecimento e até mesmo na modicidade tarifária,
além da diminuição de impactos ambientais e da dependência tecnológica do país.
Analisando os programas dentro do foco da eficiência energética, regulamen­
tados pela ANEEL, há também, como no grupo de programas P&D, um acesso fa­
cilitado à gestão dos programas, até mesmo por questões de transparência, além
das leis vigentes e demais regulamentações referentes.
Já analisando diretamente as propostas e projetos regulamentados pela agên-
cia, é possível citar o já mencionado Procel com ações propostas pelo Plano Anual

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


de Aplicação de Recursos, promovendo o uso eficiente da energia elétrica de ma­
neira geral, com melhorias na eficiência energética, de equipamentos e até mesmo
na promoção de práticas como a criação de mudança de hábitos, em busca de um
maior racionamento consciente e necessário do uso da energia elétrica.
Dentro do Procel é possível ainda citar subprogramas transversais como o Pro­
cel Educação e o selo Procel. Adicionalmente existem, de forma similar ao apresen­
tado anteriormente para P&D, a Revista de Eficiência Energética e o incentivo de
caráter educacional, também, pelo SEENEL. Um outro exemplo prático é o Leilão
de eficiência energética em Roraima.
No caso bastante recente, de 2019, o principal objetivo era a contratação de
agentes para o desenvolvimento de ações voltadas à eficiência energética, para
redução no consumo em Boa Vista, através de projetos e ações destinados à ilumi­
nação pública e à própria ampla concorrência.
Agora considere o cenário mais re­
cente, com o arcabouço ainda vigente
estabelecido pelo Novo Modelo, sob
uma perspectiva econômica para com­
preensão de alguns dados importantes
sobre investimentos.
Assim, observa-se pelo Relatório
de perspectivas de investimento do
próprio BNDES, referente ao período
entre 2019 e 2022, que os investimen­
tos em energia elétrica deverão cair
nos próximos dois anos no Brasil, devi­
do a ocorrências como a interrupção dos leilões de expansão e menor volume
de contratações.
Estes dois fatos ocorreram no período de abril de 2016 a dezembro de 2017 e a
constatação sobre as contratações se deve à retomada das licitações desde 2018. O
relatório é o documento que mapeia os planos de injeção de recursos para o próxi­
mo quadriênio, referentes aos setores da indústria e de infraestrutura no país.
O banco projeta um total de R$ 1.082 trilhão investido na economia brasileira
neste período de análise. Com relação aos investimentos em energia elétrica, es­
pecificamente, estes números são estimados em R$ 39,3 bilhões por ano.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Na Tabela 3 é visto um panorama interessante, onde são considerados os va­
lores de perspectivas de investimentos por setor, sem considerar depreciação e
visualizando especificamente o que diz respeito à energia elétrica desde 2012:

-••
TABELA 3. PERSPECTIVAS DE INVESTIMENTO NO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA
(BILHÕES DE REAIS)

---------
2019-2022

Fonte: BNDES, 2018. (Adaptado).

Note a perspectiva de queda no setor, em comparação com os anos anteriores,


especialmente de 2017 para trás. Além dos fatos já expostos, sabe-se ainda pelo
próprio BNDES que a partir de 2023, devido à retomada dos leilões em 2018, há a
normalização dos investimentos, estimando-se inclusive que neste ano supere-se
as perspectivas feitas para 2018, como pode ser visto no Gráfico 3, também dado
em bilhões de reais:

GRÁFICO 3. PERSPECTIVAS DE INVESTIMENTOS EM ENERGIA ELÉTRICA POR ANO, ATÉ


2023

60
51,7
49,6
50
44,1
42,3
37,2

33,8

O-+----=---=----.....:....-_,________.__..........__----=---=----=----=----=----'----t
2018 2019 2020 2021 2022 2023

Fonte: BNDES. 2018. p. 5. (Adaptado).

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


A seguir você verá o impacto de investimentos diretamente relacionados à ge­
ração de energia elétrica e, após, acerca da transmissão, incluindo resultados e o
cenário recente de investimentos.


Impactos de investimentos em geração de energia
elétrica
Embora você já tenha visto os aspectos gerais dos investimentos em ener­
gia elétrica e os impactos relacionados, a este ponto você ainda verá algumas
considerações voltadas para a produção de energia elétrica. Assim, é neces­
sário considerar um dos principais motivos por trás disso, como o aumento
esperado na renda per capita, e que isto também implica, entre diversas outras
coisas, numa maior necessidade da energia elétrica em atividades econômicas,
sociais e até mesmo domésticas.
Desta forma, há um aumento visível no consumo de energia elétrica, e em longo
prazo, o que endossa mais ainda a necessidade de forte expansão da capacidade de
geração nos próximos anos, no Brasil, conforme os dados disponibilizados pela EPE.
Além disso, conforme também salientado pela empresa, um dos princi­
pais desafios do planejamento da expansão da capacidade de geração será
assegurar não só a existência de recursos que atendam à demanda, mas tam­
bém a aliança entre o desenvolvimento sustentável e eficiência energética.
Adicionalmente, deve-se sempre considerar os custos e outros impactos eco­
nômicos práticos, capazes de inviabilizar a expansão, além de incertezas que pode­
rão estar associadas à própria projeção, já que a demanda por si só poderá variar,
da mesma forma que existirão alterações inerentes na oferta de geração, como
também falhas e outras questões de segurança de equipamentos, por exemplo.
Por outro lado, pode-se ainda analisar o cenário do ponto de vista do pró­
prio comércio e regulamentação, já que como você pode perceber a expansão
da geração poderá ocorrer em dois cenários distintos de contratação: pelo
ambiente denominado ACR e o ACL.
Como visto, a EPE possui os planos apresentados e nestes, conforme tam­
bém informações fornecidas pela própria empresa, existirão informações im­
portantes e alternativas para a expansão da capacidade de geração, auxiliando
inclusive as decisões de agentes econômicos, tidos como responsáveis, em últi-

PRO DUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


ma instância, pelos investimentos na geração de energia elétrica no país.
É possível citar também o acompanhamento da expansão da oferta de ge­
ração de energia elétrica, realizado por parte da ANEEL, onde são considerados
todos os empreendimentos que estiverem em processo de implantação no ter­
ritório nacional. Neste caso, existirão documentos específicos como os painéis
interativos trazendo dados técnicos acerca destas novas usinas, além do próprio
processo de implantação, o histórico e outras informações relevantes.
Ainda existirão ainda relatórios de acompanhamento da expansão da
oferta, avaliando não só todo o SIN, mas também sistemas isolados. Citando
novamente publicações muito recentes do Plano Decenal de Energia de 2029,
existem algumas informações interessantes a serem trazidas.
Assim, estima-se que a geração centralizada irá crescer de 161 GW para
221 GW, o que resulta em 37% a mais. Já com relação à autoprodução de
energia tem-se que o crescimento será dos atuais 13,2 GW para 18 GW, o que
significa em uma expansão de 41%, e na geração distribuída estima-se um
aumento de 776,9%, de 1,3 GW para 11 GW, algo extremamente expressivo.
Ademais, semelhantemente a vários outros dados disponibilizados nesta
unidade, e outros demais citados, estas informações técnicas e os dados refe­
rentes podem ser obtidos diretamente através do site da ANEEL.


Impactos de investimentos em transmissão de energia
elétrica
Como apresentado, os investimentos no setor brasileiro podem ser re­
lacionados principalmente à geração de energia elétrica ou à transmissão.
Assim, a este ponto serão analisadas algumas informações importantes que
trazem um histórico, regulamentações referentes e os dados mais recentes
Durante muito tempo, ainda no século XX, soube-se que o desenvolvimen­
to relacionado à energia elétrica sempre esteve atrelado ao uso de sistemas
isolados, o que corrobora a pequena quantidade de sistemas de transmissão
em todo o Brasil até a década de 1960.
Estes sistemas correspondiam às ligações entre o Rio Grande, através de Fur­
nas, e também à Três Marias, em Minas, na capital Belo Horizonte, além dos sis­
temas referentes ao Complexo de Paulo Afonso e São Francisco.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Por outro lado, dado todo o histórico, tanto da evolução do fornecimento
de energia elétrica, quanto dos próprios avanços tecnológicos ao longo dos
últimos anos, atualmente no Brasil existem diversos sistemas de transmis­
são, e estima-se que as linhas de transmissão da Eletrobras correspondem
a quase metade do total brasileiro e uma volta e meia ao redor da Terra, em
extensão.
Do ponto de vista prático e territorial, sabe-se que o Brasil possui um
sistema de transmissão extenso e complexo, atualmente. Dadas as localiza­
ções dos centros de geração, devido também à continentalidade e extensão
do país, é possível entender que o papel da transmissão estará relacionado
como um gerador virtual, conforme as próprias informações da EPE.
Além disso, assim como no planejamento da expansão da capacidade de ge­
ração, quando este é feito para a transmissão, deve-se assegurar a existência de
recursos no próprio sistema para atendimento da demanda, e em minimização
de custos e maximização da confiabilidade dos equipamentos, por exemplo.
Já com relação as complexidades do planejamento, é importante ressaltar
o fato de que a própria conciliação entre economia e confiabilidade do sistema
pode ser, por vezes, conflitante, pois o uso de equipamentos mais complexos e
com tecnologias específicas poderá ser necessário, além de possíveis execuções
de rotas alternativas para a minimização de contingências no sistema.
Adicionalmente, quando analisa-se o cenário de coordenação e regulamenta­
ção, nota-se que inclusive os investimentos poderão ser impactados, e com isto
as próprias readequações necessárias, pois há na prática uma multiplicidade de
agentes de transmissão, o que requer dos agentes de regulamentação, tanto a
ONS quanto a ANEEL, uma coordenação e comunicação eficiente de ações.
Por outro lado, ainda analisando a própria atuação da EPE, os estudos de
apoio e planejamento da expansão da transmissão possuem grande relevân­
cia, assim como visto para o cenário da geração de energia elétrica, em que é
possível citar ainda a disponibilização de dados fundamentais para a realiza­
ção da simulação de todo o sistema interligado nacional.
Por último, analisando especificamente os programas, é possível citar
além dos investimentos concedidos via P&D e programa de eficiência ener­
gética, alguns exemplos e ações específicas destinadas à fomentação, regula­
mentação e fiscalização de investimentos na transmissão.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Como no caso da geração, a expansão e o desenvolvimento de novos pro­
jetos, e a realização de investimentos também estão atrelados, no setor elé­
trico brasileiro, à realização de leilões.
Desta forma, é possível citar um exemplo recente, de 2018, onde infor­
ma-se no próprio site da ANEEL que houve um recorde de investimentos e
também na geração de empregos.
Na ocasião, destaca-se que foram gerados processos contratuais que
gerarão investimentos recordes, de cerca de R$ 13.2 bilhões de reais, além
de ser assegurado um deságio médio de 46%, que significa na prática que a
própria receita dos empreendedores para a realização do investimento será
inferior ao previsto inicialmente, e este fato contribui na modicidade tarifária.
Ademais, estima-se que serão construídas e operadas, através destes con­
tratos estabelecidos, 55 linhas de transmissão com 7152 km de extensão e
25 subestações, com capacidade de transformação de 14819 MVA e que irão
atender um total de 13 estados brasileiros.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Sintetizando
••
Note que, a este ponto você deverá ser capaz de realizar, de forma geral, um
panorama da energia elétrica no Brasil. Você viu as principais informações a
respeito da geração de energia elétrica, especificamente explorando o cenário
brasileiro, e compreende agora não só a potência atualmente ofertada, mas a
capacidade de geração pelos empreendimentos instalados, os futuros e toda a
matriz energética do país.
Ao analisar toda a estrutura do setor elétrico brasileiro, os agentes e progra­
mas envolvidos, você entendeu como o fornecimento de fato acontece, além
de compreender a regulamentação principal responsável para coordenação.
Por último, compreendendo os potenciais, o funcionamento do setor elé­
trico brasileiro, tornou-se mais fácil analisar o cenário de investimentos e os
seus impactos, principalmente do ponto de vista da geração e transmissão de
energia elétrica.
Desta forma, foi possível perceber a importância do desenvolvimento sus­
tentável, não só do ponto de vista ambiental, mas do ponto de vista dos avan­
ços tecnológicos que estão proporcionando a eficiência energética, desde o
fornecimento até os equipamentos desenvolvidos.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Referências bibliográficas
••
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Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, Brasília, DF, Poder Executivo. Dispo­
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coes/resolucoes-2019>. Acesso em: 07 fev. 2020.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


UNIDADE

ser
educacional
Tópicos de estudo
e Introdução à produção de ener­ • Introdução aos sistemas hi­
gia elétrica drelétricos
Produção de energia elétrica Conceitos e cálculos da energia
no Brasil firme, assegurada, secundária e
A relação com os sistemas do período crítico
brasileiros e com o planejamento Modelos do sistema hidrelétrico
da geração e introdução à simulação compu­
tacional
• As usinas hidrelétricas
Equação de produção da energia • As usinas termelétricas
Turbinas hidráulicas Usinas ter·melétrica� a vapor
Curvas características Usinas termelétricas a gás
Introdução à operação dos Usinas termelétricas a ciclo com-
reservatórios binado
Eficiência, poder calorífico do
combustível e a energia gerada

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Introdução à produção de energia elétrica
Diretamente relacionado à energia elétrica se tem vários dos principais indi­
cadores sociais e econômicos de uma nação e, partir disso, o maior foco dessa
unidade será a análise da produção energética, especialmente considerando
como exemplo o cenário brasileiro. Além disso, sendo o foco a análise no Brasil
e sua matriz energética, serão estudados especialmente os sistemas hidrelétri­
cos e termelétricos.
Conforme já apresentado em outro momento, a geração de energia elétrica
poderá estar ligada especialmente ao uso de fontes primárias, que podem ser
classificadas em renováveis ou não renováveis, além do processo estar direta­
mente ligado à matriz energética do país em questão.
São fontes não renováveis aquelas passíveis de se esgotarem caso usadas
em um determinado ritmo que supere a velocidade de sua própria formação.
Alguns dos importantes exemplos, especialmente para este livro em questão,
são os derivados do petróleo e o gás natural.
Por outro lado, tem-se as fontes renováveis, cuja reposição a princípio ocorre
mais rapidamente que seu uso, como é o caso da água dos rios e marés, ou ainda
são tidos como renováveis os casos onde o manejo pode ser realizado de forma
compatível com as necessidades de uso energético, como é o caso da biomassa.
Dessa forma, especialmente para esta unidade, é importante compreender
que a geração de energia elétrica ocorre da transformação do trabalho gerado
devido à energia mecânica através de turbinas hidráulicas que podem ser acio­
nadas com a queda d'água. Uma outra opção surge da transformação do traba­
lho resultante da aplicação de calor, que pode ser gerado devido à combustão.
No caso das fontes não renováveis citadas, essa produção ocorre princi­
palmente pela transformação da fonte primária em energia térmica, como é o
caso da combustão, geração conhecida como termelétrica. Ademais, um dos
principais exemplos do uso de fontes renováveis como a água são as usinas
hidrelétricas (DOS REIS, 2011).
Há um bom tempo se fala sobre as soluções energéticas, de uma maneira
geral, para a promoção do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, o setor
elétrico como um todo está sujeito às práticas e regulamentações que promo­
vam a eficiência energética e o próprio desenvolvimento sustentável.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Com relação à geração, existem, há vários anos, compromissos e ações que
estabelecem a diminuição do uso de combustíveis fósseis, como o carvão, o
óleo e o gás natural. Além disso, essas ações também buscam o uso eficiente
dos recursos em geral e o desenvolvimento tecnológico voltado para a elabo­
ração, não só de tecnologias ambientalmente benéficas, mas práticas que vão
de acordo com os princípios desejáveis de eficiência.
Mais diretamente ainda sobre a produção da energia elétrica, permanecem
em constante desenvolvimento as tecnologias que possibilitam a diminuição
dos impactos relativos às usinas que utilizam carvão e demais derivados do pe­
tróleo. Isso aumenta, também, a penetração do gás natural, que é uma melhor
opção entre estas fontes energéticas do ponto de vista do impacto ambiental.
Além disso, desenvolvem-se estratégias que promoverão a minimização de re­
síduos (TOLMASQUIM, 2005; DOS REIS, 2011).
Como o maior foco de análise é o cenário brasileiro, observe os dados apresen­
tados no Gráfico 1, fornecidos pela ANEEL no Banco de Informações de Geração
(BIG), que demonstram os principais usos de fontes energéticas para a produção
de energia elétrica no país, como porcentagem da potência total a ser produzida.
No Gráfico 1, tem-se as informações pertinentes às geradoras atualmente em
operação, em fase de construção e com construção não iniciada, embora neste
último caso as construções dos empreendimentos já tenham sido outorgadas.

GRÁFICO 1. UTILIZAÇÃO DAS FONTES ENERGÉTICAS PARA A PRODUÇÃO DE


ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

Em operação Em construção Construção não iniciada

li Fóssil li Biomassa li Nuclear li Eólica li Solar li Hídrica

Fonte: ANEE L, 2017. Acesso em: 19/02/2020. (Adaptado).

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Note, pelo Gráfico 1, que pelos empreendimentos em operação a maior parte
da energia elétrica produzida no país provém da geração através de recursos
hídricos e devido ao uso de combustíveis fósseis.
Por outro lado, quando são analisados os dados referentes aos empreendi­
mentos em construção e àqueles que serão construídos, há uma mudança ex­
pressiva no cenário, entretanto é necessário destacar também o uso dos com­
bustíveis fósseis neste caso.
No caso dos empreendimentos em construção, tem-se 49 que utilizarão pe­
tróleo (especialmente o óleo diesel e o gás de refinaria). Entretanto, estes cor­
respondem a 8,11% da potência que será gerada, enquanto o restante usará gás
natural que, como já apresentado, é uma melhor opção neste caso. Ademais,
para os empreendimentos com construção não iniciada estimou-se que somen­
te 14,37% da potência será gerada a partir do uso do petróleo.

••
Produção de energia elétrica no Brasil
No início da unidade foram apresentados alguns dados importantes e re­
centes sobre a geração que reiteram como a energia elétrica é produzida no
país: predominantemente através de recursos hídricos, explorados pelas Usi­
nas Hidrelétricas (UHE), Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) e Pequenas
Centrais Hidrelétricas (PCH) e pelas Usinas Termelétricas (UTE).
Além disso, conforme a potência total produzida, tem-se que as UHEs pro­
duzem 60,5% da energia elétrica atualmente no país, sendo também a partir
de recursos hídricos cerca de 0,47% da potência total pelas CGHs e 3,11% pelas
PCHs, somando 64,08% da potência total produzida.
Já as termelétricas produzem 24,23% da potência total, e um outro
dado interessante é visto no Gráfico 2, também fornecido pelo BIG.
Nele tem-se a projeção para os empreendimentos em construção
e os dados de empreendimentos cuja construção ainda não
foi iniciada por enquanto, mas que já foram outorgados.
Na legenda também são expressas outras formas de
produção, através das centrais geradoras eólicas (EOL),
centrais geradoras solares fotovoltaicas (UFV) e usinas
termonucleares (UTN):

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


GRÁFICO 2. DADOS DA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DE
NOVOS EMPREENDIMENTOS

Em construção Construção não iniciada

•• EOL

•• PHC
UFV

•• UHE
UTE
UTN

Fonte: ANE EL. 2017. (Adaptado).

Assim, note que semelhantemente à relação já vista no Gráfico 1, sobre a


potência e as fontes utilizadas, existe uma tendência de expansão sobre o uso
de fontes renováveis e opções razoáveis entre as não renováveis. Ademais, em
concordância com que também já havia sido visto, existirá uma grande expan­
são na geração fotovoltaica e na eólica, para os empreendimentos em constru­
ção e que serão co nstruídos.
Como já visualizado, tanto nos dados de operação quanto de planejamen­
to, através de empreendimentos já outorgados, a geração de energia elétrica
a partir de fontes hídricas é bastante expressiva no Brasil, embora exista a
tendência mais recente de exploração de outros recursos renováveis, visto in­
formações de que até o final da década de 1990, por exemplo, cerca de 90% da
energia elétrica do país era proveniente dessas fontes.
Além disso, boa parte da energia hidrelétrica é obtida, ainda nos dias atuais,
através de grandes empreendimentos como usinas hidrelétricas, devido aos
grandes esforços de capitalização ao longo da história do setor elétrico brasi­
leiro, resultando em custos mais baixos dessa forma de obtenção de energia.
Mais do que isso, é possível compreender o cenário consolidado e que vem
sendo modificado nos últimos anos, em que, até certo momento, a construção
de PCHs era inviabilizada, mesmo com a inclusão dos custos relacionados à
transmissão e priorizações inadequadas, que incluíram negligências na avalia­
ção de impactos ambientais e sociais.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Assim, compreendendo-se o cenário anterior, entende-se melhor o cenário
atual, onde busca-se explorar os recursos hídricos na geração de energia elé­
trica de forma sustentável e mais eficiente, analisando a viabilidade de cons­
trução de pequenas usinas ou até centrais de médio porte, já que até algum
tempo atrás a construção de grandes usinas abria discussão para reavaliação
do impacto da construção de termelétricas, por exemplo (DOS REIS, 2011).
Analisando-se então o cenário do ponto de vista das usinas termelétricas, é
possível ainda agrupá-las para todas as fontes de energia termelétrica, não re­
novável, através de centrais a gás, nucleares, a vapor e ainda a motor (na maior
parte dos casos através do uso de óleo diesel).
Entretanto, como os próprios dados abertos divulgados pela ANEEL apre­
sentam as centrais nucleares de forma isolada, deve-se, nessa unidade, des­
considerá-las como parte das termelétricas, com o uso das demais fontes e o
maior foco a este ponto.
No caso das termelétricas a gás, tem sido usado de forma crescente nos
novos empreendimentos outorgados o gás natural.Já a geração a diesel é reali­
zada com mais frequência em sistemas isolados no norte do país e em sistemas
isolados do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Apesar disso, é necessário ressaltar que em geral os esforços tecnológicos
tem sido concentrados, no caso das termelétricas, para a melhoria no desem­
penho ambiental, como será visto com mais detalhes quando forem estudados
especificamente esses sistemas.
As usinas termelétricas poderão ainda utilizar fontes re­
nováveis, e um dos principais exemplos no cenário brasi­
leiro é a biomassa, podendo ser constituída como reapro­
veitamento do bagaço da cana de açúcar, de lenha, casca de
arroz, restos de madeira, entre outros tipos de resíduos.
Como os próprios dados já vistos demonstram,
tais fontes energéticas têm ganhado cada vez mais
aplicabilidade no cenário energético brasileiro,
especialmente nos sistemas denominados co-
geração, onde no meio industrial ocorre a pro-
dução de energia elétrica a partir de resíduos do
processo industrial.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Além disso, sabe-se que há algum tempo existem também usinas do deno­
minado setor sucroalcooleiro que participam do comércio de energia elétrica.
Assim, note que todas essas práticas, incluindo pesquisas mais recentes acerca
da utilização do lixo urbano, por exemplo, visam construir um modelo susten­
tável do tratamento de resíduos e caminham diretamente com o planejamento
do setor elétrico brasileiro (DOS REIS, 2011).
Ademais, na Tabela 1 são vistas as distinções, dentro da biomassa, acerca
da potência total produzida para empreendimentos já em operação, em cons­
trução e que ainda não foram construídos:

TABELA 1. UTILIZAÇÃO DA BIOMASS A EM EMPREENDIMENTOS EM


OPERAÇÃO, EM CONSTRUÇÃO E AINDA NÃO CONSTRUÍDOS

Construção não
Fonte Em operação (%) Em construção (%)
iniciada(%)

Floresta 21,55 34,39 46,95

Resíduos sólidos
urbanos
1,25 65,61 3,98

Resíduos animais 0,03

Biocombustíveis
0,03
líquidos

Agroindustriais 77.14 43.17


Fonte: ANEEL, 2017. (Adaptado).


A relação com os sistemas brasileiros e com o planeja­
mento da geração
Relembre que o planejamento do setor elétrico brasileiro, especialmen­
te do ponto de vista da geração, deverá levar em conta o sistema elétrico
como um todo, e é possível dividí-lo em dois tipos básicos: centralizado ou
descentralizado.
No contexto brasileiro, onde há um sistema em operação predominante­
mente hidrelétrico, o planejamento centralizado envolverá empreendimentos
concentrados localmente, distantes das cargas alimentadas e executados atra­
vés de centrais de médio e grande porte. Eles são, em geral, mais atrativos eco­
nomicamente, além do fato de utilizarem fontes primárias de aproveitamento.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


No planejamento descentralizado, por outro lado, visa-se atender o
consumo local e regional, mas próximo à carga e envolvendo pequenas
centrais, ou médias. Neste caso é possível citar pequenas centrais hidrelé­
tricas, micro e mini hidrelétricas, além de centrais térmicas de pequeno
e médio porte, usadas principalmente para sistemas isolados, mas com
possibilidades da realização do planejamento local integrado, que envol­
verá o sistema interligado como um todo. Neste último caso tem-se ainda
o contexto estabelecido pela geração distribuída, e incluirá sistemas de
cogeração (DOS REIS, 2011).
Como já visto, a regulamentação para estas ações ocorreu a partir de
2012, pela Resolução Normativa ANEEL n º 482, além de que estas estão de
fato em constante pauta, devido à expansão da matriz energética e pelos
incentivos constantes, aliando tais empreendimentos nestas ações pela efi­
ciência energética e sustentabilidade.
Por último, como já evidenciado ao longo de todo o texto, não há a deri­
vação de uma regra única para o planejamento da geração no setor elétrico
brasileiro. Assim, isto significará na prática que, embora cada vez mais em
evidência, privilegiar somente os empreendimentos a partir do planejamen­
to descentralizado poderá levar ao uso ineficiente ou até desperdício de
potenciais energéticos do país na produção de energia elétrica, o que inclui
também a cooperação entre países vizinhos, visando o desenvolvimento
sustentável a partir de interligações energéticas entre países ou até blocos
econômicos de nações.
Alguns exemplos práticos dessas últimas relações citadas são o estabe­
lecimento de interligações visando o intercâmbio de gás natural e energia
elétrica secundária, em baixa tensão.

O As usinas hidrelétricas
••
O Brasil é um país de grande potencial hídrico, devido à disponibilidade
de mananciais, extensão de seu território e condições geográficas. Além dis­
so, a capacidade de renovação constante desse tipo de fonte primária é um
dos principais atrativos, embora já se saiba por informações apresentadas
previamente que não está isento de impactos socioambientais.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


' , DICA
O potencial hidrelétrico brasileiro poderá ser compreendi do através de
, ' dados abertos do setor elétrico brasileiro, disponibilizados tanto pela
ANEEL quanto pela EPE. Assim, sugere-se ao aluno a leitura do Atlas de
energia elétrica no Brasil(2008, disponível nas referências bibliográficas),
especificamente a observação da Tabela 1.

Sabe-se que a primeira geração de energia elétrica no Brasil data de 1883,


em Diamantina (MG), onde estabeleceu-se o sistema para a movimentação de
duas bombas de desmonte hidráulico, para aplicações durante a exploração
mineral em busca de diamantes, além do uso, na época, de uma linha de trans­
missão de 2 km que permitiu o transporte desta energia para as máquinas
envolvidas na extração.
Assim, a partir basicamente da necessidade de energia para as ativida­
des comuns à época, como a mineração, fabricação de tecidos e a própria
iluminação pública, estabeleceram-se os primeiros sistemas de geração, a
partir do que se define hoje como pequenas centrais hidrelétricas, as PCHs
(PAULON; NETO, 2000).
Por outro lado, a primeira usina hidrelétrica, denominada assim por ser de
maior porte para época, foi também estabelecida em Minas Gerais, na cidade
de Juiz de Fora, em 1889 (TOLMASQUIM, 2005).
Em geral, na maior parte dos casos brasileiros, na produção de energia hi­
drelétrica é necessário integrar a vazão do rio, considerando a quantidade de
água disponível conforme os períodos de tempo e até mesmo a geografia local,
considerando os desníveis presentes no relevo, naturais ou propiciados artifi­
cialmente para a criação da queda d'água (ANEEL, 2008).
A estrutura de uma usina é composta basicamente de uma barragem,
sistemas de captação e adução de água, pela casa de forças e por compor­
tas. A barragem, por sua vez, é capaz de interromper o curso normal do
rio, formando artificialmente o que se denomina reservatório, tendo como
função principal armazenar a água nos períodos de cheia e formar quedas
d'água quando não houver um desnível concentrado, propiciando a capta­
ção da água em um nível adequado.
Além disso, ao acumular a água para uso no período de estiagem, o reservató­
rio realiza o controle da vazão natural do rio, constituindo-se um reservatório de
regulação considerado de grande importância estratégica (TOLMASQUIM, 2005).

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Adicionalmente, existirão algumas usinas denominados "fio d'água", es­
tando próximas à superfície e utilizando turbinas no aproveitamento da
velocidade do rio para a produção de energia elétrica. Uma das principais
vantagens deste tipo de empreendimento é o fato de não ser necessário
realizar o alagamento de uma determinada região, pois não existirá um re­
servatório, ao passo que a capacidade de armazenamento de água estará
diminuída (ANEEL, 2008).
Além disso, os sistemas de captação e adução são formados por túneis,
canais ou até mesmo condutos metálicos que conduzem a água até à casa de
força, onde estão localizadas as turbinas hidráulicas.
Estes equipamentos, conforme já apresentado anteriormente, são essen­
ciais no aproveitamento do potencial hidráulico, sendo formados por uma série
de pás ligadas a um eixo comum conectado a um gerador.
Com a circulação da água através das pás, as turbinas convertem a energia
cinética em energia elétrica pelo gerador e, após isso, a água retorna pelo canal de
fuga ao leito natural do rio onde este sistema está instalado (TOLMASQUIM, 2005).
Na Figura 1 você poderá ver o perfi I esquemático, apresentando os compo­
nentes básicos citados, que constituem uma usina hidrelétrica:

Reservatório

Rio

Figura 1. Perfil esquemático de uma usina hidrelétrica. Fonte: ANEEL, 2008. p. 50. (Adaptado).

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Por outro lado, uma outra informação básica a este ponto, em comparação
à geração termelétrica convencional (especialmente no caso de usinas à car­
vão), é que uma usina hidrelétrica tem a capacidade de alterar o nível de sua
produção e também iniciar a geração de forma rápida, tornando esse tipo de
empreendimento adequado ao atendimento repentino de um aumento diário
na demanda, por exemplo, denominado ponta do consumo.
Ademais, embora estime-se a necessidade de uma pequena equipe de ope­
ração e manutenção, o que pode ser benéfico do ponto de vista econômico,
demanda-se um elevado investimento inicial, além da forte dependência das
condições naturais, ligadas às incertezas climáticas (TOLMASQUIM, 2005).


Equação de produção da energia
Para compreender matematicamente a produção de energia elétrica, re­
lembre o esquemático anterior e considere o fato de que a água que se en­
contra no reservatório possui uma energia potencial, em comparação à água
presente do canal de fuga. Desta forma, esta energia potencial (f) pode ser
calculada como
E= y. H. V= p. g. V. H (11.1)

onde yé o peso específico da água, dado por 9,81 N/m3 ou, no sistema prático,
por 1 kgf/m3; H é a altura da queda bruta, dada em metros; V o volume da água
em m3; p a massa específica da água, considerada como 1000 kg/m3 ou, na prática,
como 102 kgfs2/m4; e g a aceleração da gravidade, de 9,8 m/s2 (PEREIRA, 2015).
Além disso, é possível expressar a relação anterior da produção pela potên­
cia, considerando-se também a vazão Q, dada pela relação entre o volume e o
tempo:
P = y. Q . H = p . g. Q . H (/1.2)

Adicionalmente, deve-se lembrar que na prática a energia hidráulica é con­


vertida em mecânica e a eficiência da turbina geralmente é de 90% e do gera­
dor de 98%, resultando em 88% de eficiência do conjunto.
Além disso, a queda bruta propiciada não é totalmente aproveitada devido
às perdas relativas à carga nos circuitos de adução e restituição, variando de 2
a 5% de perdas impactados diretamente sobre a queda bruta útil (HJ Logo, a
potência útil é obtida de 11.2 anterior e valerá

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


pútil =µ · Y· Q · HL =µ · P ·g· Q · HL (11.3)

ondeµ é a eficiência do conjunto turbina/gerador. Ademais, consideram-se


os valores práticos constantes e a relação de que por definição 1W = 1J/s =
1 N.m/s, onde 1 N é a força gasta na aceleração de 1 m/s2, de uma massa 1 Kg,
obtendo-se em kW:
púti1 = 9,8µ. Q .H (11.4)

ou, ainda, com o rendimento médio do conjunto turbina/gerador:

Pútir = 8,6Q. H (11.5)

em geral usada na prática para avaliação preliminar da potência disponível


em um determinado local.

••
Turbinas hidráulicas
As turbinas, conforme já apresentado brevemente, são partes essen­
ciais da geração hidrelétrica, e sabe-se de antemão que a escolha da tur­
bina está intimamente ligada à vazão esperada e o próprio tamanho do
sistema de produção.
Assim, estes equipamentos apresentam uma grande variedade de for­
ma e tamanho. Há cinco tipos principais: Pelton, Kaplan, Francis, turbina
de hélice e Bulbo, sendo que as do tipo Francis poderão ser indicadas a
partir de seus dois subtipos, para baixa e alta velocidade, e as turbinas
Bulbo geralmente são indicadas para pequenas quedas d'água e altas va­
zões, mais adequadas às usinas fio d'água.
Além disso, estima-se que o modelo Francis é o mais usado de­
vido ao fato de operar completamente submersa, propiciando
que o eixo seja estabelecido na horizontal ou vertical e ainda em
quedas baixas e altas; os modelos Kaplan geralmente são
mais adequados para quedas baixas e os Pelton para
quedas maiores (ANEEL, 2002, 2008; PEREIRA, 2015).
Na Figura 2 é possível ver o sistema de geração
hidrelétrica com todas as partes importantes desta­
cadas, formado por uma turbina hidráulica e o gerador:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


stator

Lâminas ajustáveis

Visão
de cima

Figura 2. Geração h1drelétnca de energia, representada pelo sistema turbina/gerador. Fonte: Shutterstock. Acesso em:
1 2/03/2020.

Assim, note que o fluxo de água estabelecido fará com que as pás ajustá­
veis se movimentem, estabelecendo a energia cinética necessária para o acio­
namento do gerador, que converterá esta energia em energia elétrica.
Uma outra relação importante do ponto de vista das turbinas, conforme já
citado, é a eficiência do equipamento, e que pode ser calculada pela relação
entre a potência de entrada e a de saída, em função dos seguintes parâmetros
(PEREIRA, 2015): '7 = Pr
T
g' Hn' p' Q (/1.6}

Logo, a eficiência é dada em função da potência de saída (Pr), mecânica, entre­


gue pela turbina ao eixo e da potência de entrada, hidráulica, dada em função da
energia hidráulica específica líquida da água (g. Hn) e da massa do fluxo de água.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


••
Curvas características
As curvas características, nesse contexto de sistemas hidrelétricos, são co­
mumente denominadas curvas-guias e dizem respeito à própria operação dos
reservatórios das usinas hidrelétricas; tendo como principal finalidade a defini­
ção de requisitos sazonais para enchimento e esvaziamento destes reservató­
rios, além de ditarem ações que serão implementadas a partir do estado atual
do sistema analisado.
Além disso, sabe-se que essas curvas podem ser obtidas em modelos de
simulação do sistema hidrelétrico, de forma a avaliar o comportamento hidro­
lógico real do sistema com relativa precisão (BRAGA et ai., 1998).

••
Introdução à operação dos reservatórios
Assim, como já brevemente mencionado, existem características físicas das
usinas hidrelétricas que utilizam reservatórios que deverão ser analisadas
com cuidado, não só pelo impacto socioambiental, mas por diversos outros
fatores. Logo, existem características que levam a uma série de restrições na
própria operação do sistema.
Dessa forma, sabe-se que vazões mínimas devem ser mantidas a jusante,
no sentido da correnteza, de aproveitamentos hidrelétricos para a proteção
ambiental e também para atendimento a usos consuntivos a jusante, onde há
a retirada de água de mananciais.
Além disso, sabe-se que, em muitos casos, devido ao desconhecimento am­
biental, utilizou-se simplesmente a repetição como restrição de va-
zões mínimas ou, ainda, foram impostas vazões muito maiores para
manter-se uma vazão mínima relativamente superior ao histórico.
Um exemplo disso é a situação de Sobradinho, e observa-se­
que valores diferenciados para certos períodos do ano
como a piracema também são vistos na prática. Já o
volume de espera é criado usando-se parte do vo-
lume útil, principalmente entre os meses de outu-
bro e março, em vários dos reservatórios que fazem
parte do SIN.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Além disso, estratégias de proteção contra cheias a jusante de reservató­
rios de usinas hidrelétricas em geral fazem parte de um processo essencial
dentro do funcionamento desses empreendimentos. Por outro lado, caso se
superdimensione o volume de espera ou a localização esteja inadequada,
especialmente no caso de sistemas com múltiplos reservatórios, existirão
prejuízos significativos nos custos da operação, além de ocasionar indire­
tamente um aumento na utilização de combustíveis fósseis e também em
déficits tanto no uso da própria água quanto no fornecimento de energia ao
consumidor final (ZAMBON, 2015).
Ademais, conforme indicações da própria Eletrobras, a operação dos re­
servatórios pode ser entendida, resumidamente, pelo controle das seguin­
tes variáveis:
• Prioridade no enchimento/esvaziamento;
• Curvas que servirão para os controles superiores e inferiores dos reser-
vatórios ou de suas faixas paralelas;
• Vazões mínimas defluentes;
• Capacidades máximas de turbinamento das usinas.
Além disso, define-se que o enchimento é feito até as curvas de controle
inferiores e depois até as superiores, ou faixa a faixa, e o esvaziamento dos
reservatórios, por sua vez, é feito até as suas curvas superiores e depois até
as inferiores, ou novamente faixa a faixa.
Adicionalmente, a vazão mínima defluente está associada ao volume de
água liberado ao reservatório, e a capacidade de turbinamento pode ser
resumida como o volume máximo de água que poderá passar pelas turbinas
da usina hidrelétrica em questão.
Portanto, a operação dos diversos reservatórios que compõem o sistema
hidrelétrico deverá ser considerada como um todo e individualmente, nas eta­
pas que envolvem o planejamento da geração e a própria operação do sistema.

ASSISTA
Esse vídeo do Manual do Mundo mostra, de maneira bastan­
te didática, o funcionamento de urna usina hidrelétrica por
meio do exemplo da ltaipu Binacional, onde o locutor teve a
oportunidade de adentrar urna turbina utilizada.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Adiante você estudará os sistemas hidrelétricos do ponto de vista geral,
considerando o estudo de casos e o uso da simulação no contexto, que pode
ser explorada nas análises e estudos da operação, e também no planejamento
da geração.

O Introdução aos sistemas hidrelétricos


Aqui você verá aspectos importantes a serem considerados na simulação
••
de sistemas hidrelétricos, especialmente considerando a importância desses
sistemas no setor elétrico brasileiro, compreendendo quais as principais carac­
terísticas a serem levadas em conta e sendo apresentado a um breve estado
da arte sobre o assunto.
Ademais, antes de compreender os programas e modelos, você será apre­
sentado a alguns conceitos gerais importantes na simulação de sistemas hi­
drelétricos e também relevantes à própria operação dos sistemas.


Conceitos e cálculos da energia firme, assegurada, se­
cundária e do período crítico
Segundo informações da própria Eletrobras, o período crítico nesse con­
texto diz respeito ao intervalo de tempo gasto para esvaziamento máximo dos
reservatórios de u m dado sistema, cheios inicialmente e sem reenchimentos
totais intermediários. A energia gerada dentro deste intervalo de tempo é de­
nominada energia firme ou carga crítica do sistema.
Em contrapartida, conforme a própria ANEEL, a energia assegurada se re­
fere à máxima produção de energia que poderá ser mantida de forma pratica­
mente contínua pelas usinas hidrelétricas, onde são consideradas as diversas
possibilidades de vazão e admite-se um determinado risco de não atendimento
à carga, que poderá variar conforme regulamentações estabelecidas, visando
sempre a segurança no fornecimento de maneira geral.
Além disso, este cálculo energético se refere à garantia física do empreendi­
mento, e a energia secundária se referirá ao excedente da energia assegurada,
caso a soma da energia total gerada seja superior à soma assegurada, levando
também à realocação de geradores.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Então, compreendendo-se os conceitos, considere o exemplo a seguir, com
uma situação prática para o cálculo do período crítico e da própria energia fir­
me. Assim, suponha que seja dado um período inicial no qual o período crítico
deve ser pesquisado, embora oriente-se que caso esse não seja informado o
período crítico deverá ser o período total de simulação do sistema hidrelétrico.
Ao longo da análise, então, deve-se considerar os meses nos quais os re­
servatórios têm enchimento suficiente para serem possíveis candidatos ao
intervalo inicial do período crítico, além de considerar-se meses com energia
armazenada igual ou maior à referência anterior. Dessa forma, define-se ma­
tematicamente como candidato, sendo EAM1 a energia armazenada mensal no
mês i em questão e i-1 o mês anterior:

EAM1_1 < EAM1 (11.7)

ou, ainda, para uma tolerância ó> O, sendo i = O o primeiro mês da pesquisa
e i � 1:
EAM.1 > (1 - ó)EAMma.x (/1.8)

onde EAMmáx é a energia armazenada máxima, mensalmente. Note, tam­


bém, que pela 11.8 é possível compreender uma faixa aberta de tolerância para
este valor máximo (ELETROBRÁS, 2009).
Além desse processo, definem-se simultaneamente os meses nos quais
esvaziam-se os reservatórios o máximo possível, para
que seja garantida a energia firme e as situações es­
tabelecidas pelos meses apresentados sejam anali­
sadas, conforme adiante.
No caso de existir apenas um mês onde ocorre o
máximo depleciamento (esvaziamento), existem duas
possibilidades, sendo ML a data do primeiro mês
que foi apontado como candidato ao máximo,
anterior à data que corresponde ao valor da
energia armazenada mínima:
1. A data do 1 º máximo anterior ao míni­
mo está fora da faixa de tolerância, tal como
ilustrado no Gráfico 3, sendo determinado au­
tomaticamente o período crítico:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


GRÁFICO 3. SITUAÇÃO PROVÁVEL NA ANÁLISE DO PERÍODO CRÍTICO DE UM
SISTEMA HIDRELÉTRICO, COM UM PERÍODO ÚNICO DE DEPLECIAMENTO

EMAX

-----------·
Período crítico
Período de pesquisa
Fonte: ELETROBRÁS, 2009. p. 5.

2. Nesta outra possibilidade a data do 1 º máximo em data anterior ao mí­


nimo estaria dentro da faixa de tolerância, fazendo com que seja necessário
analisar em meses anteriores no mesmo ano o maior valor da energia armaze­
nada, para afirmar efetivamente o período crítico.
Por outro lado, existirá ainda o caso no qual, para as mesmas considera­
ções, existirá mais de um mês de máximo esvaziamento, o que também reflete
em outras duas possibilidades:
a. Para quando ML estiver dentro da faixa de tolerância, tal como apresenta­
do no exemplo do Gráfico 4:

GRÁFICO 4. ML DENTRO DA FAIXA DE TOLERÂNCIA, NA ANÁLISE DO PERÍODO CRÍTICO


DE UM SISTEMA HIDRELÉTRICO COM MAIS DE UM PERÍODO DE DEPLECIAMENTO
EMAX

- --- EI < E

Período crítico

Período de pesquisa
Fonte: ELETROBRAS. 2009. p. 6.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


b. Uma outra possibilidade é de haver subperíodos ou períodos secos, den­
tro do intervalo total de análise, estabelecendo-se uma nova relação para o
esvaziamento dos reservatórios e garantia de carga crítica.
Agora, continuando a análise de exemplo para a obtenção do valor cor­
respondente à carga crítica, define-se primeiramente o cálculo referente ao
mercado inicial de energia, onde PINST é a potência instalada total, referente
a todas as potências fornecidas (POT) pelas G unidades geradoras da j-ésima
empresa (ELETROBRÁS, 2009):

PINS� = L iEG POT/ (11.9)

Além disso então, da mesma forma é possível definir a potência total insta­
lada no sistema como a contribuição de todas as E empresas:

PT= LjEE PINSf; (11.10)

Assim, define-se o mercado inicial de energia (ME0) a partir de um fator de


capacidade FCAP:
ME0 = FCAP. PT(ll.11)

Já o fator de carga para o mercado (FCM) é definido pelo valor referente ao


mercado inicial de ponta (MP0):

A este ponto é possível estruturar o cálculo da energia firme, que será fei­
to também computacionalmente e considerando a obtenção de uma solução
plausível, dentro do critério de convergência. Assim, a convergência estará liga­
da à obtenção de um valor de fornecimento à carga que seja capaz de maximi­
zar o processo de deplecionamento dos reservatórios no mês final do período
crítico sem ocorrerem déficits.
Entretanto, é necessário considerar o fato de que existem restrições opera­
tivas de determinados reservatórios que impõem um armazenamento adicio­
nal residual e que não poderá ser usado na geração.
Logo, matematicamente introduz-se um fator p para contornar, ou pelo me­
nos tentar contornar, esse efeito indesejado, e no exemplo a seguir tem-se um
possível algoritmo a ser implementado nesse caso:

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


EXEMPLIFICANDO
Um algoritmo possível é apresentado no pseudocódigo a seguir, onde:
• EAmáx é a energia máxima nos intervalos do período de tempo total ana­
lisado;
• EA1pc e EAFPc correspondem aos valores do início e fim do período crítico;
• nPc é o número de meses correspondentes ao período crítico;
• SDPc é a soma dos déficits durante o período crítico;
• PEAFPc é o fator de armazenamento, referente ao final do período crítico;
• to!car como a tolerância de convergência para o mercado de energia.
iter <= O

resíduo crítico <= w


Enquanto !resíduo crítico!> to/oar .ME
iter <= iter + 1
Execução da simulação do sistema
resíduo crítico= EAFPC - SD PC - PEAFPC .EAmáx - EAmáx - EAIPC
ME <= ME+ resíduo crítico
ME
MP<=
FCM
Fim enquanto

••
Modelos do sistema hidrelétrico e introdução à simula­
ção computacional
Existem diversos programas computacionais e propostas dentro da simu-
lação computacional de sistemas hidrelétricos, especialmente consideran­
do a necessidade de análise e estudo da operação nos mais diversos níveis de
complexidade destes e considerando o importante fato de que boa parte dos
sistemas de fornecimento são formados por sistemas de geração hidrelétrica.
Dessa forma, a seguir você verá alguns desses principais exemplos, além de
uma breve revisão do estado da arte.
De maneira geral, um simulador para o SIN deverá estar apto a operar para
a execução de políticas de operação das usinas, que são definidas no planeja­
mento de operação energética, buscando também minimizar o custo de opera­
ção ao longo do horizonte de planejamento.
Além disso, para a simulação propriamente dita, essas políticas poderão ser
obtidas a partir de algoritmos de otimização, como a programação dinâmica
estocástica, pelo fluxo de redes e técnicas heurísticas modernas.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


' , DICA
, ' Uma outra forma bastante comum, durante o processo de análise de
operação, é obter um modelo de otimização e simulação, pelo uso de um
simulador de usinas hidrelétricas individualizadas com regras políticas
operacionais estabelecidas e uma ferramenta adicional de otimização.

Um exemplo para a simulação da operação detalhada do próprio sistema


hidrelétrico é fornecido pela Eletrobrás, pelo denominado MSUI, o Modelo de
Simulação a Usinas Individualizadas.
Neste caso tem-se um programa computacional que irá simular a opera­
ção dentro do sistema hidrelétrico, operando cada reservatório e cada usina
visando a maximização da eficiência, a minimização ou até mesmo o fim de
desperdícios em geral, e realizando a distribuição da reserva de água para
otimização do uso e da produção de energia, atentando-se sempre às carac­
terísticas próprias dos sistemas.
Atualmente, conforme os próprios dados da Eletrobrás, o MSUI é capaz
de realizar simulações estáticas e do cálculo de energia firme para usinas
hidrelétricas, para um período crítico definido pelo usuário ou para um pe­
ríodo calculado pelo modelo; sendo usado em estudos energéticos básicos,
em análises de viabilidade de projeto e no rateio da energia assegurada,

o
vinda de fontes hidráulicas.

••
Como já apresentado no início desta unidade, as centrais termelétricas rea­
lizam a transformação em energia elétrica baseadas na conversão da energia
mecânica em energia térmica e desta última em energia elétrica, pelo aqueci­
mento de um fluido que, em expansão, realizará trabalho juntamente às turbi­
nas térmicas que acionarão um gerador acoplado ao eixo.
Ademais, conforme também já apresentado, nesse ponto o principal foco
será o estudo das termelétricas não nucleares, que poderão realizar dois tipos
de combustão, basicamente (TOLMASQUIM, 2005):
• Quando o combustível não entra em contato com o fluido, caracterizando
a combustão externa. Um exemplo de geradora que realiza este tipo de com­
bustão são as denominadas usinas termelétricas a vapor;

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


• Já no caso de a combustão ser realizada entre o ar e o combustível utili­
zado, tem-se a combustão interna, e o fluido de trabalho torna-se o conjunto
de gases provenientes desta combustão, que circularão por turbinas a gás. Um
exemplo nesse caso são as termelétricas a gás.
Por outro lado, uma outra divisão igualmente importante, principalmente
sob o ponto de vista da utilização de recursos dentro da matriz energética e
também de impactos ambientais, é a divisão entre o uso de fontes renováveis
e não renováveis, como já exemplificado anteriormente no começo da unidade,
e que será retomado ao longo deste tópico. Inicialmente serão vistos os princi­
pais conceitos relacionados às usinas termelétricas a vapor.


Usinas termelétricas a vapor
Nesse caso então, como já apresentado, é usada a combustão externa na
produção de energia elétrica, e alguns exemplos de combustíveis usados são
os óleos combustível e diesel, carvão, gás natural e até mesmo a biomassa.
Além disso, uma outra informação relevante a este ponto é que, até o final
da década de 1990, o denominado parque gerador térmico brasileiro foi cons­
truído principalmente a partir de usinas térmicas a vapor, a partir do uso de
óleo combustível e carvão no caso das regiões sul, sudeste e centro-oeste, no
norte do país o principal combustível era o óleo diesel.
Sabe-se ainda que estas usinas, dado o cenário hidrelétrico estabelecido
especialmente até a época mencionada, operavam significativamente abaixo
de suas capacidades (TOLMASQUIM, 2005).
Ademais, com o passar dos anos não só o desenvolvimento sustentável
associado a este tipo de empreendimento foi colocado em pauta, mas deve­
-se considerar a importância do desenvolvimento tecnológico para a geração
termelétrica, já que este tipo de produção convencionalmente era realizado a
partir do Ciclo Rankine, com baixa eficiência na média (25 a 30%), além do custo
expressivo do óleo combustível usado.
Logo, claramente é possível perceber que não só a opção e adaptação para
o uso de fontes renováveis na geração termelétrica beneficiaram tais empreen­
dimentos atualmente, sendo possível também destacar o emprego de novas
tecnologias para o melhor aproveitamento energético da fonte.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Agora você estudará o ciclo térmico convencional, onde é realizada a com­
bustão externa e tem-se as termelétricas a vapor, pois embora existam mu­
danças recentes, o entendimento desse processo facilitará sua compreensão
acerca de outros empreendimentos similares.
Assim, a turbina a vapor, por exemplo, consiste em um motor térmico rota­
tivo de combustão externa, que possibilita a construção de grandes unidades
de potência, além de confiabilidade considerável, vida útil satisfatória do equi­
pamento e eficiência energética (TOLMASQUIM, 2016).
Por outro lado, é necessário lembrar que, como a combustão neste caso
ocorre externamente, não há contato com o fluido de trabalho, que frequente­
mente é a água desmineralizada.
Além disso, note que o calor da combustão é transferido para o fluido, que
durante a expansão produz vapor e é este produto que acionará a turbina aco­
plada ao gerador, para a produção de energia elétrica.
Ademais, como já mencionado no ciclo convencional, tem-se o Ciclo Ranki­
ne e, desta forma, é possível afirmar que o vapor é produzido através de uma
grande diferença de temperatura, já que os gases gerados na combustão têm
entre 1000 e 1300 ºC e o vapor está entre 500 e 550 ºC (ARRIETA et ai., 2004).
Na Figura 3 podemos ver um esquemático da geração térmica a vapor, a
partir do Ciclo Ran kine:

Turbina


1

,...._...._..,..QRej
Água de resfriamento
1, _ ____ ..

4 , , 3

Figura 3. Ciclo Rankine: geração termelétrica a vapor. Fonte: NASCI IVlENTO. et ai.. 2004.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


. . .
Onde �d é o calor adicionado ao ciclo, QRe/ o rejeitado, w8 o trabalho realizado
pela bomba do sistema e wr o trabalho realizado pela turbina.
Adicionalmente, note que entre os estágios 1 e 2 ocorre a expansão isen­
trópica do fluido de trabalho na turbina, onde a entropia do fluido permanece
constante; entre 2 e 3 há a transferência de calor isobarométrica no condensa­
dor, na qual mantém-se tanto o volume quanto a pressão; entre 3 e 4 há a com­
pressão isentrópica do fluido de trabalho na bomba e de 4 a 1 a transferência
de calor de forma isobarométrica na caldeira.
Ainda com relação aos dados mais recentes, em contextos de tempos de
crise, explorou-se a possibilidade desse tipo de usina térmica ser implementa­
do utilizando novas alternativas de combustível, entretanto a baixa eficiência
observada desencorajou o prosseguimento nos estudos na ocasião.
Dessa forma, tem se tornado comum o uso de usinas térmicas em contex­
tos de cogeração, no meio industrial a partir do reaproveitamento do vapor
que é gerado em um dado processo no local (TOLMASQUIM, 2005).
Existem, também, um outro tipo importante de subdivisão das usinas ter­
melétricas: as usinas a gás.


Usinas termelétricas a gás
Nesse caso diz-se que a operação é realizada em regime aberto, devido à
ocorrência de combustão interna para a geração de energia, baseada no Ciclo
Brayton e pelo uso de turbinas a gás, com maior eficiência quando comparadas
às turbinas a vapor, especialmente pelo fato que nos equipamentos a gás tem­
-se uma menor diferença de temperaturas, como visto entre o vapor e os gases
liberados na combustão (TOLMASQUIM, 2005).
Sabe-se também que, considerando um ciclo básico simples para entendi­
mento da geração termelétrica a gás, uma turbina a gás possui quatro módu­
los construtivos principais: a entrada, o estágio de compressão, de combustão
e a parte da exaustão.
Na entrada tem-se então a entrada do ar no processo, para a realiza­
ção da combustão interna, que ocorre dentro da câmara de combustão e
o elemento que realiza o turbinamento propriamente dito está no início do
estágio de exaustão.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


o\ I CURIOSIDADE
A tu rbina a gás é usada na aviação há vários anos e, dessa forma, quando
se compara seu uso na geração de energia no Brasil, é possível notar que
1 este ainda é incomum.

No fluxograma a seguir tem-se uma turbina a gás, operando conforme esta­


belecido pelo Ciclo Brayton, neste caso de exemplo movida a gás natural:

Gás natural

Ar Atm. Ar Gases de combustão


30 kg/cm 2 30 kg/cm 2 1200 ºC

A B e

D Descarga da turbina
Atm. 550 ºC

'' ,.,

Note que, nesse caso, o ar atmosférico é succionado e comprimido pelo com­


pressor e, em seguida, após a compressão, entrará na câmara de combustão,
reagindo com combustível e produzindo gases em alta temperatura que se ex­
pandem pela turbina e depois são retornados à atmosfera (TOLMASQUIM, 2005).
Assim, perceba duas informações importantes: parte do trabalho desenvol­
vido pela turbina irá se dividir entre o acionamento do conversor no processo
e o acionamento do gerador elétrico, além do descarte dos gases à atmosfera,
algo capaz de comprometer o rendimento da geração de forma significativa.
Ademais, no próximo subtópico você verá um exemplo de tendência recente:
as usinas termelétricas a ciclo combinado.


Usinas termelétricas a ciclo combinado
Este tipo de empreendimento é estabelecido da associação entre ambos
os tipos de geração termelétrica vistos, sendo esta união capaz de resultar
em um sistema significativamente mais eficiente, o que explica em partes

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


a opção do governo dentro do setor elétrico de, no começo dos anos 2000,
autorizar e incentivar novos empreendimentos de geração termelétrica a
ciclo combinado, utilizando como combustível o gás natural.
Assim, como anteriormente e considerando que neste caso haverá uma
combinação entre as duas principais gerações térmicas, existem várias con­
figurações para a construção de uma planta a ciclo combinado, e algumas
das principais são vistas a seguir, onde TG representa as turbinas a gás e TV
as que operam a vapor.
No ciclo combinado em série os gases de exaustão da turbina a gás são
utilizados em uma caldeira de recuperação, para a geração de vapor, que
será então fornecido à turbina a vapor.
Já na configuração em paralelo, o combustível será a fonte de calor para
ambos os ciclos usados, conf orme pode ser visto na Figura 5 e, por último,
na configuração série/paralelo as centrais são construídas da mesma forma
que na configuração em série, com exceção pelo fato de que neste caso há
o emprego da queima de combustível na caldeira de recuperação (ARRIETA
et ai., 2004; TOLMASQUIM, 2016):

..
Combustível

Combustível
TV

(a)

(b)

Combustível

Figura 5. Tipos de termelétricas de ciclo combinado: a) em série; b) em paralelo; e) em série/paralelo. Fonte: ARRIETA
et ai., 2004.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Por últim o você verá as definições de alguns conceitos importantes para
o projeto e análise de uma usina termelétrica em geral.


Eficiência, poder calorífico do combustível e a energia
gerada
A eficiência de um empreendimento que realiza a geração termelétrica está
diretamente relacionada ao Heat Rate (HR), que traduz a eficiência da transfor­
mação do combustível em eletricidade, definindo-se a quantidade de unidades
térmicas britânicas (Btu) gastas na geração de 1 MWh. Assim, matematicamen­
te define-se para HR em Btu/kWh (TOLMASQUIM, 2005):
1000
'7 = O' 293HR (li. 13)
Já o poder calorífico (PC), pode ser contabilizado como a quantidade de ca­
lor liberada pela queima total do combustível, quando os produtos da combus­
tão permanecem na fase gasosa, sem a formação de vapor de água devido à
condensação. Este é o denominado poder calorífico inferior (PCI).
Além disso, tem-se ainda a queima total do combustível e em seguida le­
vam-se os produtos da combustão à temperatura inicial, onde o vapor de água
está presente devido à condensação e contabiliza-se o calor recuperado.
A esta última medida de calor, denomina-se poder calorífico superior (PCS)
e as medidas típicas para o gás natural são de 8460 kcal/m3 para o PCI e no
superior tem-se 9400 kcal/m3 •
Por último, a energia gerada devido ao processo termelétr ico pode ser esti­
mada, assim como foi feito para a geração hidrelétrica. Desta forma, conside­
rando-se novamente o gás natural, dada sua relevância no cenário brasileiro,
obtém-se a seguinte relação para estimação da energia gerada:

EG = 1, 65236E- 4
vo
�;
cs (11.14)
5

Onde EG é a energia gerada em MW-médios/dia, Vol o volume de consumo


diário de combustível, medido em m 3/dia, HRS é a taxa considerando o poder
calorífico superior, sendo medida em Btu/kWh e PCS o próprio poder calorífico
superior, em kcal/m3 •

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Sintetizando
••
Compreender aspectos da produção de energia elétrica de um país pro­
picia o entendimento de uma parte importante de seu setor elétrico. Além
disso, no caso do Brasil, entender como a energia elétrica é produzida, em
especial pelos sistemas de geração hidrelétrica e termelétrica, também po­
derá auxiliar na busca por novas soluções e tecnologias à geração, para que
cada vez mais o fornecimento de energia seja capaz de atingir a população de
forma eficiente, sustentável e universal.
Inicialmente vimos um panorama dos sistemas hidrelétricos e termelétri­
cos no Brasil, bem como a demonstração, por meio de gráficos, dos principais
usos de fontes energéticas para a produção de energia elétrica no país, como
porcentagem da potência total a ser produzida, por exemplo. Na sequência,
abordamos de forma mais aprofundada sobre as usinas hidrelétricas e sua
comparação com a geração termelétrica convencional. Para tal, apresenta­
mos conceitos e modelos fundamentais para a simulação e para a operação
de sistemas hidrelétricos, tais quais: conceitos e cálculos da energia firme,
assegurada, secundária e do período crítico; e também modelos do sistema
hidrelétrico e introdução à simulação computacional.
Por fim, abordamos de forma mais aprofundada sobre as usinas térmicas
e a transformação da energia mecânica em energia elétrica. Usinas termelé­
tricas a vapor, a gás e a ciclo combinado também foram tópicos importantes
de estudo.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Referências bibliográficas
••
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PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


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PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


UNIDADE

ser
educacional
Tópicos de estudo
• Planejamento da transmissão • Análise técnica de alternativas
Visão geral do planejamento no planejamento da transmissão
da transmissão no Brasil A estrutura geral da transmissão
Modelo DEA para análise de
• A previsão de carga coeficientes de eficiência
Metodologia de projeção da O modelo DEA no planejamento
carga de energia elétrica da transmissão na ANEEL
Uso da previsão de carga no
planejamento elétrico no Brasil • A estrutura do-:sSistema elétrico
de potênêia--
• Análise de investimentos na
transmissão
O modelo de transportes
transmissão 1
Caracerf5ticas imr20rtantes da

Características imRortantes da
distribuição •

• As linhai' ele transmissão


Critéri.9s para determin._�çijo)
dos níveis de tensão

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


º-----· � t) a lP-nto d� trai sm · ssiio
Você estudará os principais aspectos relacionados à transmissão de energia elé­
trica e, para isto, você iniciará seu estudo pelo planejamento da transmissão. Assim,
serão apresentados os principais conceitos e atores do planejamento da transmis­
são de energia elétrica, com especial atenção ao que vem sendo feito no Brasil.


Visão geral do planejamento da transmissão no Brasil
Para compreender o planejamento da transmissão, é necessário entender a
própria atuação da Empresa de Pesquisa de Energia que é responsável por estudos
essenciais para o desenvolvimento dos planos de expansão da transmissão e estu­
dos de viabilidade técnica, econômica e socioambiental destinados aos empreen­
dimentos de transmissão. Adicionalmente, conforme os próprios dados da EPE, os
estudos abrangem principalmente o atendimento à carga, a definição de sistemas
para conexão e a inserção de novas usinas no sistema, além de analisar a expan­
são das interligações, seja regional ou até internacional. Ao longo da realização dos
estudos de expansão da transmissão, a EPE elabora o documento conhecido como
PET/PELP (Programa de Expansão da Transmissão e Programa de Expansão de Lon­
go Prazo), além dos relatórios R1 a RS e a criação dos Grupos de Estudos da Trans­
missão (GET ), com participação das concessionárias de distribuição e transmissão
das regiões, divididos em grupos de estados e o grupo de São Paulo.
Baseando-se na identificação das necessidades de atendimento do cresci­
mento do mercado de energia, da inserção e conexão de novos consumidores
e novas usinas ou na expansão de interligações regionais, produzem-se os rela­
tórios R1, que tratam da viabilidade econômica, técnica e socioambiental. Esses
documentos serão redigidos a partir da comparação de alternativas, apontan­
do a mais adequada, considerando critérios e procedimentos do planejamento
obtidos através de análises de fluxo de potência, estabilidade, curto-circuito
e, inclusive, de análises econômicas. Esses documentos também comportam
algumas análises socioambientais capazes de apontar complicações na im­
plantação de empreendimentos, refletidos principalmente quanto ao custo e
ao prazo de implantação, juntamente com meios para redefinição das alterna­
tivas, conforme as próprias informações disponibilizadas ao público pela EPE.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


DICA
' Os relatórios R1 mais recentes podem ser acessados
entre os dados abertos disponibilizados pela EPE.

O Relatório R2, por sua vez, é um


documento complementar ao R1, de­
nominado de Detalhamento da Alter­
nativa de Referência, e apresenta os
resultados dos estudos voltados para
as características técnicas necessárias
à alternativa de referência, estabele­
cendo as qualidades das novas insta­
lações de transmissão e possíveis ade­
quações das instalações já existentes.
Assim, deverão abranger: análises de transitórios eletromagnéticos; análises
específicas voltadas às características de linhas de transmissão, subestações e
u nidades transformadoras; compensações de potência reativa em série e em
derivação através de bancos de capacitores e compensadores estáticos. Dife­
rentemente do relatório R1, que na maior parte dos casos é de incumbência
da EPE, o relatório R2 é de responsabilidade de outros agentes do setor, via
solicitação do Ministério de Minas e Energia (MME, 2018).
Os relatórios R3 a RS são realizados pelas empresas transmissoras. No rela­
tório R3, chamado Caracterização e Análise Socioambiental, tem-se as diretri­
zes para as novas linhas de transmissão e subestações do sistema através da
caracterização da análise socioambiental do corredor de passagem planejado,
juntamente com a su gestão do local de instalação. Já o relatório R4, nomeado
como Caracterização da Rede Existente, trata das características dos equipa­
mentos das instalações existentes, definindo os requisitos dos sistemas ao re­
dor e assegurando que a nova obra seja inserida no contexto de forma correta,
havendo compartilhamento adequado das instalações existentes. Por último,
o relatório RS é denominado de Custos Fundiários e, neste caso, devem ser
indicadas as expectativas de custos de indenizações ou aquisições fundiárias e
de implantações (linhas e subestações) previstas no relatório R3. Todos estes
relatórios estarão sujeitos à avaliação da EPE (MME, 2018).

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Além disso, os estudos para expansão também disponibilizam o docu­
mento PET/PELP, que é publicado a cada semestre, geralmente em fevereiro e
agosto. O PET é um programa que contém determinações para o horizonte de
planejamento de seis anos, além de ser elaborado para o subsídio do MME na
tarefa de priorização de empreendimentos para que o ministério possa definir
da melhor forma os lotes que serão oferecidos nos futuros leilões. Logo, o PET
deverá englobar as instalações destinadas à transmissão de energia elétrica
que ainda não foram licitadas ou autorizadas, porém que têm recomendação
para início de operação dentro dos seis anos do período do planejamento. Des­
ta forma, o PET é um importante sinalizador para os próprios agentes setoriais
e investidores, e traz informações indicativas que contemplam as instalações
recomendadas para entrar em operação após esse período (EPE, 2020).
A seguir, apresentaremos os principais conceitos acerca da previsão de carga no
sistema elétrico e a relação com o planejamento no setor elétrico como um todo.

O A previsão de carga
A previsão de carga tem como principal objetivo prever o comportamento
••
futuro da demanda por potência e, além de poder abranger curtos períodos, é
possível executar a análise em períodos maiores de planejamento. Além disso,
existem relações entre carga e diversos fatores externos, como variáveis climá-
ticas e o próprio curso evolutivo da sociedade, estabele­
cendo relações não lineares para a previsão (OLIVEIRA,
2004). P or outro lado, retornando ao ponto de vista
da atuação dos agentes do setor elétrico brasileiro, te­
mos como exemplo a relação entre a EPE e o Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para o processo de
previsão de carga do sistema nacional, consoante
às próprias informações disponibilizadas pela EPE
nas projeções de médio prazo, o que incluem
horizontes de planejamento de cinco anos. Na
prática, a previsão de demanda é utilizada pelo
Controle Automático de Geração (CAG), um pro-
cesso do sistema que busca viabilizar a manutenção

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


da frequência e/ou intercâmbio entre as áreas do sistema elétrico pelo contro­
le de centrais geradoras conforme dados da ANEEL. Deste modo, na previsão
de carga busca-se o balanço entre a potência gerada e a carga de demanda,
buscando evitar alterações significativas na frequência do sistema interligado
nacional, possibilit ando realizar a estimação da demanda através de análises
como o estudo da curva de consumo, que pode ser expressa diariamente ou
até semanalmente.
Agora, veremos uma forma para previsão de carga frequentemente aplica­
da no setor elétrico brasileiro, a metodologia de projeção da carga de energia
elétrica proposta pelo Ministério de Minas e Energia.


Metodologia de projeção da carga de energia elétrica
Sabe-se que a carga global de energia elétrica é o
requisito total de eletricidade que deve ser atendido
nos três principais processos do fornecimento: ge­
ração, transmissão e distribuição. A medida da di­
ferença entre a carga e o próprio consumo de ele­
tricidade na rede é chamado de Perdas e Diferenças,
que compreende as perdas técnicas (na transmissão
e distribuição), as comerciais e a parcela de autoprodu-
ção denominada como clássica, não injetada na rede, que está
presente na carga e não é contabilizada no consumo. Ademais,
define-se tais perdas como um percentual da carga pelo Índice
de Perdas e, assim, a projeção da carga pode ser obtida através da
projeção do consumo e das premissas definidas para evolução do Índice de
Perdas, tal que (EPE, 2019):

Consumo de Energia Elétrica


Carga de Energia Elétrica=
(1 - Índice de Perdas) (1)

Outrossim, na própria metodologia sugerida há um esquema de como é fei­


ta a modelagem tanto da projeção do consumo na rede nacional e do consumo
de eletricidade total brasileiro, quanto da carga do SIN, considerando os efeitos
de práticas voltadas para a eficiência energética:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


DIAGRAMA 1. ESQUEMA DA METODOLOGIA DE PROJEÇÃO DA CARGA DE ENERGIA ELÉTRICA.

Autoprodução
potencial

Consumo Síst: Isolados

Consumo Total
(Conceito BEN)

Relação
Instantânea/
Integrada
Fonte: EPE,2019,p. 26.

Teremos uma visão geral da aplicação da análise da previsão de carga no


setor elétrico brasileiro, especialmente do ponto de vista dos planejamentos
do setor com dados fornecidos pelo ONS, pela EPE e pela Câmara de Comercia­
lização de Energia Elétrica (CCEE).

••
Uso da previsão de carga no planejamento elétrico no Brasil
O Programa Diário da Operação, também conhecido como PDO, é um do­
cumento com as diretrizes necessárias à elaboração da operação para o dia
seguinte, de forma resumida. Elaborado durante a pré-operação, de forma a
consolidar a programação diária eletroenergética emitida pela área de progra­
mação do ONS, o PDO inclui novas intervenções e/ou alterações já aprovadas,
além de inclusões ou alterações nas restrições operativas de instalações de ge­
ração e transmissão. Ele também abrange condições previstas para a operação
de reservatórios, para a previsão de carga e para a própria programação do

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


CAG. Assim, o PDO é formado pelo Programa Diário de Intervenções consolida­
do, pelo Programa Diário de Carga e Frequência e pelo Programa Diário de Pro­
dução consolidado, que inclui o uso de informações de previsão de carga, de
disponibilidade da geração, de condições de tempo, entre outros (ONS, 2020).
Além disso, o ONS, a EPE e a CCEE realizam juntos o Planejamento Anual
da Operação Energética para revisão quadrimestral da carga, onde há as pre­
visões de carga para o período avaliado. Um exemplo é o documento de 2024,
no qual foram utilizadas as seguintes premissas macroeconômicas, conforme
dados da EPE:
• Ex pectativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) feita em 2019
de 1,1% em 2019 e de 2,3% em 2020;
• Efeitos da recuperação de confiança, por exemplo, uma maior retomada
nos investimentos no setor de infraestrutura;
• Um cenário com mais empregos e maior disponibilização de crédito finan­
ceiro propícia a um aumento no consumo de energia;
• Nos anos iniciais da previsão, há capacidade instalada na indústria, o que
minimiza a necessidade de investimentos adicionais;
• Um crescimento mais robusto está diretamente atrelado à produtividade
e limitado por ela;
• A situação do governo se configura por si só um risco no crescimento do
setor, principalmente a curto prazo.
Ainda sobre este documento, existem resultados importantes a serem ex­
postos, como a previsão da carga de energia no sistema interligado nacional,
conforme vemos na Tabela 1, dividido pelos subsistemas nacionais:

TABELA 1. PROJEÇÃO DA CARGA DE ENERGIA, EM MWMÉDIO, DE 2019 A 2024

Variação
Subsistema 2019 2020 2021 2022 2023 2024
anual(%)
... / ' ·' ., /
·' . / . .·
, 5:571'/ ·',6:Ó•'79
/ / / /
Norte /
.6.301/ /6.�43/ /6.J62/' ,/7.027
,
,' / /4 8' ,.

.1 � ,• ,' '

Nordeste 11.019
/
11.574 12.101 12.630 13.173 13.749 4.5

Sudeste/CO 39.677, 41.060 42.497 44.Ó06 45.578 47.152 3,5

Sul '11.709·'
.. . 12.112 12.555 13.025 13.500 14.004 3.6
.• ,
SIN ..-
,. 67.975 70.825 73.453 76.204 79.013 81.931 3,8

Fonte: EPE, 2020.

PRODUÇÃO.TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Esses resultados foram obtidos com base na projeção do consumo total e
na evolução do índice de perdas e diferenças.

' , DICA

, ' No site da EPE, é possível ter acesso às previsões de


carga anteriores para o Planejamento Anual da Operação
Energética.

A seguir, será retomado com mais detalhes um ponto impor­


tante no planejamento, não só na transmissão, mas em todo o

o
setor elétrico: a análise de investimentos.

••
Conforme informações da ANEEL, investigar os determinantes dos investi­
mentos na transmissão é fundamental para o entendimento de como o setor
elétrico funciona como um todo e proporciona a própria compreensão das toma­
das de decisões dentro da transmissão, com maior foco neste caso. Além disso,
do ponto de vista técnico, atualmente os maiores investimentos realizados ad­
vém da oferta de novos empreendimentos de geração, que geralmente são ex­
plorados pela iniciativa privada, além de também ser possível citar a construção
de novas redes de transmissão. Ademais, todas estas ações são executadas com
maior atenção à descentralização, como é o caso, por exemplo, da atenção espe­
cial à universalização do fornecimento e atendimento às comunidades isoladas,
especialmente na região Norte do país e em áreas rurais.
A seguir, você verá na prática um exemplo de técnica para a tomada de deci­
são que é aplicada ao setor elétrico brasileiro, no planejamento da transmissão.

••
O modelo de transportes
Para a tomada de decisão acerca dos investimentos a serem feitos na trans­
missão, por exemplo, é comum considerar o planejamento da transmissão. As­
sim, um meio é formular o planejamento matematicamente como um proble­
ma de otimização a ser resolvido e, para isso, pode ser utilizado o modelo de
transportes proposto por Garver, na década de 1970. Este modelo permitirá a

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


resolução através de técnicas da programação linear, entretanto, sabe-se que
este processo de resolução é complexo, principalmente para sistemas elétricos
de grande porte.
Vejamos a formulação matemática do método, e para mais detalhes, su­
gere-se que o aluno consulte o artigo do autor, citado nas referências biblio­
gráficas. Logo, é necessário definir, matematicamente, uma f unção denomi­
nada objetivo, que deverá ser minimizada em busca do menor custo pelo
circuito formado no caminho í-j (C ) e do número de circuitos adicionados
iJ
neste mesmo percurso (n1), que logicamente será sempre um número intei­
ro (MIASAKI, 2006):

mínv=Ic..n. (2)
(i, j) lj y

Onde v é a função objetivo que será minimizada e que representará o custo


de investimentos em novas linhas de transmissão ao longo de um horizonte de
planejamento especificado para o sistema em questão. Esta função objetivo
estará sujeita a restrições, como um problema típico de otimização e, neste
caso, tem-se como restrição a equação correspondente à lei de Kirchhoff das
correntes, onde 5 é a matriz de incidência nó-ramo transpost a do sistema elé­
trico (representação matricial do grafo do circuito), fé o vetor dos fluxos de
potência, g é o vetor de geração e d é o vetor de demanda:

S .f + g = d (3)

Existem, ainda, outras restrições, formuladas em função do fluxo, do número


de circuitos e da geração, tal que:

1 f/ 1 � (ni + n1) • !;1 (4.a)


O� gi � gi (4.b)

Sendo fiJ o fluxo total no caminho í-j, fiJ o fluxo máximo permitido para um
g; a potência ativa gerada na barra í, g; o vetor de má­
circuito no caminho í-j,
xima capacidade de geração nas barras de geração e i\. o vetor com o núme­
ro máximo permitido de circuitos adicionados no caminho í-j. A restrição da
equação (4.a) representa a capacidade de transmissão dos circuitos, incluindo
linhas e/ou transformadores, sendo o valor absoluto necessário, uma vez que

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


o fluxo de potência pode fluir nos dois sentidos. Já na equação (4.b) tem-se a
representação dos limites de geração nas barras de geração e na equação (4.c)
os limites de circuitos adicionados em cada caminho candidato definido dei a
j (MIASAKI, 2006).
Ademais, existem outras propostas para análises similares ou até mesmo
mais completas, conforme premissas necessárias, como é o caso da modifica­
ção do modelo de transportes, onde tem-se a principal modificação referente
à adição de uma penalidade e a representação de gerações artificiais.

EXEMPLIFICANDO
Uma outra alternativa ao modelo de transportes é o modelo DC, que pode
ser visto em Monticelli (1983) e que se baseia no acoplamento entre os
fluxos de potência ativa.

A partir de agora, você verá a análise de investimentos e o planejamento da


transmissão considerando uma visão mais técnica para, por exemplo, a avalia­
ção de custos unitários dos equipamentos.

O Análise técnica de alternativas no planejamento da


transmissão
••
Note que o planejamento da expansão da transmissão deverá ser capaz
de, de maneira geral, responder a questões sobre quais devem ser os novos
equipamentos a serem instalados à rede de transmissão, onde eles deverão se
localizar e quando devem ser instalados. Assim, veremos alguns dos principais
fatores envolvidos na análise técnica, que está intimamente ligada à tomada de
decisão de investimentos.
A este ponto do planejamento da transmissão, onde busca-se considerar
a análise do ponto de vista dos equipamentos, é necessário retomar duas ca­
tegorizações comuns dentro do horizonte de planejamento: o planejamento
dinâmico e o estático. No caso estático, em geral, serão fornecidos momentos
ótimos para a instalação dos novos equipamentos estipulados à rede de trans­
missão. No caso estático, um exemplo para a realização da análise técnica de
alternativas, em geral busca-se determinar o próprio conjunto de equipamen­
tos que deverão ser adicionados ao sistema para que seja possível suportar/

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


fornecer o que for previsto ao final do horizonte de planejamento. Além disso, é
possível realizar um planejamento dinâmico complementar em determinados
casos complexos onde se deseja a obtenção de respostas adicionais ao plane­
jamento, após a obtenção dos resultados do planejamento estático.
A análise de investimentos está atrelada à regulação econômica do setor,
exercida pela ANEEL e vigente no presente da análise, por exemplo. Assim,
sabe-se que a regulação econômica da transmissão é feita através do con­
trole da receita das transmissoras e os ativos relacionados à transmissão
são remunerados conforme as disponibilidades, independentemente se a
utilização é plena ou não. Desta forma, a ANEEL define o que é conhecido
como RAP (Receita Anual Permitida), como forma de estabelecer o que cada
instalação deve receber. Além disso, as linhas de transmissão e as subesta­
ções são ativos considerados de elevado custo fixo irrecuperável. Na práti­
ca, isto implica que se exija um prazo extenso para a maturação do investi­
mento, e contando com este e outros fatores econômicos, compreende-se
a necessidade das regras dentro do mecanismo estabelecido de regulação
econômica (PESSANHA; MELLO; SOUZA, 2010).


A estrutura geral da transmissão
Em geral, um sistema de transmissão é composto por complexas redes de
cabos elétricos, torres, isoladores, transformadores, reatores, disjuntores e
banco de capacitores. Além disso, as instalações da transmissão no SIN podem
ser divididas na rede básica e nas demais instalações da transmissão.
O transporte de grandes quantidades de energia elétri­
ca a longas distâncias é feito na rede básica, onde é uti­
lizada uma rede de linhas de transmissão e subestações
que operarão com tensão igual ou superior a 230 kV, con­
forme a Resolução Normativa nº 067/2004, estabeleci-
da pela ANEEL.
Além disso, com relação à capacidade, exten­
são e abrangência do SIN, verifica-se na Figura 1 o
diagrama do SIN em operação, conforme dados do
PDE para 2029, elaborado pela EPE:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


(JJ'CJV'W

Sistema de transmissão
existente 2019
b b

• Subestações

LTs Existentes /'v' soo kV


/'v' 2U> kV /'v' 600 kV
/'v' 345 kV /',/ 7!5 kV
/',/ 440 kV /'v' 800 kV

-
� <epe)
l
1 O 7o-� -'lflkl 10:0
..,,,
"' S�M20:'0
F(,n.10 E�. 2019: ISGE. 2,]·10
76 r:rw �· f/'N 45 11W

Figura 1. Diagrama do Sistema Interligado Nacional em operação. Fonte: EPE, 2020a, p. 104.

A seguir, você verá uma das ferramentas mais utilizadas nesta etapa, o
modelo conhecido como DEA (do inglês, Data Envoltory Analysis, que significa
Análise Envoltória de Dados), proposto em 1978 pelo trabalho de Chames e
colaboradores.

••
Modelo DEA para análise de coeficientes de eficiência
Será apresentado a você um modelo bastante comum na análise de dados,
com foco no que vem sendo feito e sugerido pela própria ANEEL sobre a realização
do planejamento do setor elétrico, neste caso, ainda com o foco na transmissão.
Antes de apresentar o modelo mencionado, considere as ferramentas e o
cenário do planejamento como um todo. Assim, a avaliação de coeficientes de
eficiência, dentro da formulação matemática do planejamento, pode ser reali­
zada por meio de vários modelos ditos econométricos, que permitem a repre­
sentação simplificada da realidade de análise, que podem ainda se subdividir
entre modelos ditos de fronteira estocástica (KUMBHAKAR; LOVELL, 2000) ou
de análise envoltória de dados, como é o caso do modelo DEA. Esses modelos
são amplamente utilizados pelos agentes reguladores do setor elétrico, espe-

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


cialmente na transmissão e na distribuição (JASMAB; POLLITT, 2001) e sabe-se
ainda que a análise envoltória de dados pode constituir-se como uma estrutura
ideal para implementação de estratégias de regulação por comparação, pois
além de ser capaz de avaliar a eficiência do ponto de vista de cada concessio­
nária, o modelo DEA identificará os melhores padrões de desempenho, geral­
mente denominados de benchmark, que servirão como referência para cada
uma dessas empresas e implicando positivamente também na transparência
do processo regulatório (BOGETOFT; NIELSEN, 2003).
O primeiro modelo DEA proposto é conhecido como CRS (do inglês, Cons­
tant Return of Scale, podendo ser traduzido como Retorno Constante de Es­
cala), sendo o modelo apresentado por Chames, Cooper e Rhodes em 1978.
Posteriormente, Banker, Chames e Cooper propuseram uma combinação li­
near convexa na restrição do CRS, como será melhor compreendido a seguir e,
assim, criaram o método VRS (do inglês, Variable Return of Scale, podendo ser
traduzido como Retorno Variável de Escala), em 1984.
Para a definição matemática, considere uma tecnologia de produção capaz
de transformar os insumos (comumente referidos como inputs, por serem a
entrada do sistema), representados pelo vetor:

No vetor de produtos (também denominados como outputs, por serem as


saídas do sistema) (PESSANHA; MELLO; SOUZA, 201 O):

Y = {y1, •••,yJ-ER': (6)

Desta forma, existirá um conjunto de possibilidades de produção definido


como:
T(X, Y) = {(X, Y) é viável produzir Y a partir de X}
1 (7)

Neste caso, deve-se considerar a conservação de recursos dada pela orien­


tação input, referente à entrada. E então, a medida de eficiência técnica para
uma unidade produtiva (DMU, do inglês, Decision Making Unit) é definida a par­
tir da máxima contração do vetor de insumos que permite a mesma quantida­
de de produtos:

Eficiência= min{q l(qX,Y)IT(X,Y)} (8)

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


A variável, que assumirá valores entre O e 1, onde 1 indica a impossibilidade
de redução de insumos e O significa a redução máxima. Ademais, caso seja uni­
tário, significa que a DMU está na fronteira da eficiência e, portanto, recebe a
classificação de eficiente, com 100% de eficiência. No caso de igual a O, significa
que a DMU é tecnicamente ineficiente.
Assim, considere o estabelecimento de orientação ao insumo e que N é o
total de DMUs, onde cada DMU representa uma concessionária responsável
pela transmissão e que (X.j,Y.)j é o vetor com as quantidades de produtos e de
insumos tal que:
XER
j +
5 (9.a)
Y.j ERm
+ (9.b)

Onde tem-ses insumos em produtos. No Quadro 1, é possível ver um com­


parativo geral dos modelos CRS e VRS:

QUADRO 1. COMPARATIVO ENTRE OS MODELOS DEA

MODELO CRS MODELOVRS

.' .. jO � o índ_ice_da DMU av�liá.çta, um rÍúmer�_entré. 1 f; IV · _


Fonte: PESSANHA; MELLO: SOUZA, 2010. p. 528.

Observe que a medida de eficiência, dada por e, deverá ser menor ou igual
a 1, onde tem-se a máxima contração de insumos e a mesma quantidade de
produtos referentes. A solução ótima é dada por:

(8*)1.1*, .. . ,A;J (1 O)

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Assim, a DMU de índice jO é eficiente se, e somente se, 8* = 1 e todas as
demais folgas existentes nas restrições forem nulas. Caso a DMU no índice jO
já seja ineficiente, significa que outras DMUs serão eficientes e estarão associa­
das aos coeficientes de forma que a seguinte relação é válida, para j variando
de 1 até N:
À;> O,Vj = 1, 2, ... , N (11)

Neste caso ainda, diz-se que as demais DMUs formam um conjunto de re­
ferência, também denominado como peer set, que na tradução literal significa
conjunto de pares, ou pode-se ainda denominar este conjunto como um con­
junto de benchmarks.
No próximo subtópico, você verá as principais observações sobre o modelo
DEA utilizado pela ANEEL, além das principais correlações com o sistema acer­
ca dos possíveis resultados e dados a serem analisados e obtidos ao final.

••
O modelo DEA no planejamento da transmissão na ANEEL
Sabe-se que os determinantes dos custos operacionais de uma concessio­
nária de transmissão estão relacionados à operação e à manutenção da dispo­
nibilidade das capacidades de transmissão de seus ativos, representados pelos
números referentes a:
• Capacidades de transmissão dos ativos, em MVA, também contabilizada
através da capacidade de transformação, em que estima-se o nível de potência
que pode ser transmitida pela rede analisada;
• Comprimento das linhas de transmissão, em km;
• Quantidade de transformadores presentes no sistema;
• Quantidade de módulos de manobra, por exemplo, co­
nexões de transformadores e outros tipos de ligações de
equipamentos.
Segundo Pessanha, Melo e Souza (2010), es­
ses parâmetros, tomados como variáveis nes-
te caso do problema de planejamento, ca-
racterizam o porte da linha de transmissão,
além de serem indicadores de uma medida
aproximada da capacidade disponível.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Desta forma, retornando ao modelo DEA, tem-se a principal premissa: a
transmissora deverá ser capaz de produzir um nível de produto desejado com
o menor custo possível. O modelo DEA deverá ser capaz, na prática, de for­
necer uma medida de eficiência que indicará o quanto cada concessionária
da transmissão deverá reduzir seus custos operacionais (PESSANHA; MELO;
SOUZA, 2010). Assim, conforme as próprias informações da ANEEL, o agente
propõe o uso de um modelo DEA com orientação ao insumo, onde o custo
operacional total - que considera a operação, a manutenção e os custos admi­
nistrativos - é o único insumo e as variáveis apresentadas anteriormente são
os produtos (saídas).
Além disso, para a realização do método, é necessário avaliar as correlações
entre as saídas e a entrada para avaliar se a hipótese de monotonicidade é
satisfeita. Na correlação avalia-se a interdependência entre duas variáveis e,
quando muito próximo ou igual a 1, diz-se que a correlação é positiva e que há
relação direta entre as variáveis avaliadas ou, ainda, igual a -1 ou muito próxi­
mo deste valor, a relação é indireta.Já para valores intermediários, entre O e 1,
não é possível tirar conclusões e para correlação igual a O, determina-se que
não há relação entre as variáveis (BUSSAB; MORETTIN, 201 O). No caso do plane­
jamento, espera-se que a correlação seja positiva, visto que esta é a exigência
para a monotonicidade, porém, embora correlações positivas entre variáveis
de saída poderão significar redundância, isto não é um problema, visto que as
variáveis se tratam de parâmetros distintos.

EXEMPLIFICANDO
Considere o exemplo prático da correlação vista entre o comprimento
da rede e a capacidade de transformação. Neste caso, o coeficiente é
positivo, pois no Brasil a geração de energia elétrica é feita, predominan­
temente, através de recursos hidrelétricos, o que geralmente implica em
grandes distâncias na transmissão da energia produzida e, logicamente,
grandes linhas de transmissão.

Analisando do ponto de vista prático do planejamento, é importante consi­


derar algumas colocações sobre os equipamentos que fazem parte dos siste­
mas de transmissão. O transformador é o principal elemento da subestação e,
desta forma, os custos associados à manutenção destes equipamentos em um
sistema de transmissão como um todo se configurarão como importantes con-

PRO DUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


tribuições aos custos operacionais da transmissora. Além disso, o número total
de transformadores num sistema analisado corresponde à disponibilidade de
acessos ao sistema de transmissão, um parâmetro associado com a dimensão
da demanda de energia elétrica e com o espalhamento espacial típico dos cen­
tros de carga. Pessanha e colaboradores (2010) apontam que essas relações
podem ser visualizadas pela correlação, geralmente positiva, entre o número
de transformadores e a capacidade de transformação, e deste número com a
medida de comprimento das linhas. Uma subestação geralmente apresenta
módulos necessários à operacionalidade, conhecidos como módulos de mano­
bra. Em geral, a correlação entre o número de transformadores e o número de
módulos de manobra será alta, uma vez que a quantidade de módulos contri­
bui para os custos operacionais das transmissoras.
Uma das recomendações práticas em relação às DMUs dentro da análise do
modelo DEA pela ANEEL é que o número de transmissoras seja de, pelo menos,
o triplo do número de variáveis de entradas e de saídas (COOPER; SEIFORD;
TONE, 2010). Entretanto, Pessanha e colaboradores (2010) pontuam que o nú­
mero de transmissoras no setor elétrico brasileiro é um limitante neste caso e
assim, na prática, a ANEEL considera cada transmissora em um determinado
ano, como uma DMU única.


A estrutura do sistema elétrico de potência
Um sistema elétrico de potência (SEP) englobará o fornecimento de energia elé­
trica desde a geração até a distribuição. Desta forma, equipamentos como gerado­
res são um dos principais elementos dentro do SEP. Outro componente importante
é o transformador elétrico, equipamento de transição entre a geração e a transmis­
são e entre a transmissão e a distribuição, e pode ser elevador e abaixador.
As linhas de transmissão, aparatos importantes que compõem o SEP, são
constituídas, em geral, por fios condutores metálicos aéreos, suspensos por
torres metálicas e cuja instalação é feita através de isoladores de cerâmica, por
exemplo, ou outro material com grande capacidade isolante. Além disso, exis­
tem os alimentadores de distribuição, que fazem parte do sistema de distribui­
ção primário, e, por último, tem-se a carga, o elemento final principal do SEP, que
podem ser consumidores residenciais, comerciais ou industriais.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


O SEP pode ser representado através do diagrama unifilar, que utiliza re­
presentações gráficas, como linhas e símbolos, associados aos equipamentos e
instalações da rede elétrica. Desta forma, o ANSI (American National Standards
lnstitute) e o IEEE (1 nstitute of Electrical and Electronics Engineers) estabelecem
um padrão para referência através de um conjunto de símbolos de represen­
tação para o SEP, embora poderão ser vistas outras representações, especial­
mente para os transformadores. De qualquer forma, é de enorme importância
compreender alguns destes principais símbolos, conforme mostra a Tabela 2:

TABELA 2. EXEMPLOS DE SIMBOLOGIA DE EQUIPAMENTOS DO SEP

Armadura de
máquina girante
Gerador o Disjuntor de
potência a óleo
--D--
Trafo de po tência de
dois enrolamentos
Disjuntor a ar ___('..,__
Trafo de potência de Conexão trifásica
três enrolamentos em triângulo

Fusível
Conexão trifásica
em estrela sem o
neutro aterrado

Conexão trifásica
y
Trafo de corrente em estrela com o
neutro aterrado

ou )

---®-
Amperímetro
0 Voltímetro
0
PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.
Assim, considerando a simbologia proposta e a constituição do SEP, a Figu­
ra 2 apresenta um exemplo de diagrama unifilar, onde são destacados os prin­
cipais estágios pela div isão prática comum da transmissão de energia elétrica
e para a distribuição:

Subtransmissão
Distribuição
primária

Distribuição
secundária

Figura 2. Diagrama unifilar do sistema elétrico de potência. Fonte: OLIVEIRA etal., 2000; MONTICELLI; GARCIA. 2003. (Adaptado).

••
Características importantes da transmissão
As linhas de transmissão são suportadas nas torres por meio de isoladores,
que são capazes de realizar o isolamento das linhas no caso de possíveis fugas
de corrente, possibilitando que elas sejam descarregadas através das torres
para o solo. Ademais, os isoladores são projetados e utilizados considerando as
possíveis variáveis eletromagnéticas e eletrostáticas, minimizando seus efeitos
no sistema de transmissão como um todo.
Na Figura 3 são apresentadas as três principais configurações de torres de
transmissão de energia elétrica:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


� Cabo para-raios � Cabo para-raios � Cabo para-raios
� Cadeia de 7
Cadeia de
isoladores isoladores
7 Cadeia de \,
J,. isoladores Um cabo condutor/fase
Um cabo cond utor/fase
Um cabo condutor/fase

TRIANGULAR VERTICAL HORIZONTAL


Figura 3. Principais configurações de torres de transmissão de energia elétrica. Fonte: PINTO. 2018. (Adaptado).

Nos arranjos triangular e horizontal tem-se cabos simples, e na configuração


vertical tem-se linhas do tipo duplas, por conta do arranjo e acima das torres
usualmente tem-se um cabo extra para a proteção contra descargas atmosféricas .

••
Características importantes da distribuição
O processo de distribuição de energia elétrica é formado pelas redes e
instalações dedicadas à entrega ao usuário final. Conforme informa a ANEEL,
como regra geral, estabelece-se que os sistemas e equipamentos da distribui­
ção operaram a tensões inferiores a 230 kV, nos sistemas entre a transmissão
e a entrega de energia ao consumidor. Desta forma, a distribuição se divide
em: sistema de subtransmissão; subestações de distribuição; sistema de dis­
tribuição primário; transformadores de distribuição; sistema de distribuição
secundário e ramais de ligação (LEÃO, 2009).
O sistema de subtransmissão integra a distribuição entre o sistema de trans­
missão e as subestações de distribuição, operando em geral com tensões entre
69 a 138 kV e entre as topologias mais utilizadas para o sistema estão: a radial,
radial com recurso, em anel ou reticulado (também conhecido como grid ou net­
work) (LEÃO, 2009). As subestações de distribuição, conforme as próprias infor­
mações da ANEEL no PRODIST (procedimentos de distribuição), são conjuntos de
instalações em média ou alta tensão, onde há o agrupamento de condutores e
acessórios, junto com equipamentos para proteção, medição, manobra e trans­
formação de grandezas elétricas. Além disso, é possível considerar que as subes­
tações são as interfaces entre a transmissão e a própria distribuição.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Por último, sabe-se que as distribuidoras de energia realizam sua operação
dentro do setor através de linhas de média e baixa tensão, também chamadas
de redes primária e secundária, respectivamente, como mostra a Figura 3. As
linhas de média tensão operam em níveis entre 2,3 kV e 44 kV e
as redes de baixa tensão em geral operam entre 11 O e 440 V.
OBJETOS DE
Em geral, as redes de média tensão são constituídas por três APRENDIZAGEM
Clique aqui
cabos aéreos, sustentados pelas cruzetas e próximos ao poste
tem-se as linhas de baixa tensão.

O As linhas de transmissão
É possível estabelecer modelos equivalentes às linhas de transmissão, onde
••
também há representação da impedância por meio de um diagrama unifilar
semelhantemente ao que, já foi visto no início do estudo sobre SEP. Assim, um
exemplo é o modelo n e são analisadas as linhas conforme a classificação, em
curta, média e longa, sendo que, para linhas curtas, o modelo é baseado so­
mente em parâmetros do próprio condutor.
Na Figura 4 tem-se uma resistência R e uma indutância representada pela
reatância X, denominados parâmetros série, e apresenta o diagrama unifilar e
o circuito elétrico correspondente. As linhas com menos de 80 km são conside­
radas como curtas, já as linhas entre 80 e 240 km são conhecidas como médias
e acima de 240 km são longas (MONTICELLI; GARCIA, 2003; PINTO, 2018).

R X

R X
Carga

Gerador

Figura 4. Diagrama unifilar e circuito elétrico do modelo n de linhas cu,tas.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Para linhas médias, a representação é feita através da capacitância shunt,
que é considerada matematicamente pela admitância da própria linha. Obser­
ve a Figura 5:

R X
,_____� Carga

R X Y/2 Y/2

Gerador

Figura S. Diagrama unifilar e circuito elétrico do modelo n de linhas médias.

O modelo apresentado na Figura 5 é denominado de modelo T.Já as linhas


de transmissão longas utilizam-se um modelo de parâmetros distribuídos,
onde tanto a impedância da linha, quanto as admitâncias shunt passarão a ser
consideradas de outra forma e, assim, são calculadas conforme a constante de
propagação na linha (y) e seu comprimento, dado por f (MONTICELLI; GARCIA,
2003; PINTO, 2018). Na Figura 6, tem-se o diagrama unifilar para linhas longas:

senh(yl')
1
yl'
1
1

I'
Y.f
y tgh (7)
2 Y.f
- 2 -
Figura 6. Diagrama unifilar para linhas de transmissão longas.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Critérios para determinação dos níveis de tensão
O dimensionamento de uma linha de transmissão pode ser feito através
- além de outros parâmetros - da sua tensão de funcionamento. Sabe-se que a
escolha da tensão e a exploração da capacidade de uma linha de transmissão
estão diretamente relacionadas ao estabelecimento de uma tensão ótima para a
transmissão, por exemplo, de forma a minimizar ao máximo as perdas por efeito
Joule e pelo efeito corona, aliando-se à minimização do custo da transmissão.
Assim, é possível relacionar o cálculo da tensão a parâmetros do circuito
para a consideração em projeto, como é o caso do critério Still. Nesta me­
todologia, sugerida para linhas acima de 30 km, sugere-se que a tensão seja
definida a partir do comprimento da linha (L, em km), da potência média a ser
transmitida (P, em kW) e de coeficientes sugeridos, tal que a tensão final entre
fases, em kV, é dada por:
V= 5,5 j (0,62. L) +
J6o (12)

Por outro lado, é possível não considerar o comprimento como critério e


calcular a tensão em função da potência, o que é sugerido para tensões acima
de 150 kV:
V= 10P0, (13)
6

Onde a potência deve ser expressa em MW.

' ,
DICA
, .' O dimensionamento de uma linha de transmissão pode ser feito com base
na tensão, mas considerando diretamente os efeitos das perdas, como
o efeito Joule ou efeito coro na, adotando-se novas estratégias, sempre
considerando também os custos.

Uma outra relação possível ainda é determinar o valor OBJETOS DE


APRENDIZAGEM
da tensão simplesmente em função da dimensão da linha. Clique aqui

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Sintetizando
••
O planejamento da transmissão e, consequentemente, a própria expan­
são dos sistemas dentro deste processo estão diretamente relacionados à
universalização do fornecimento de energia elétrica. Desta forma, dada a
importância do acesso à energia, conhecer plenamente os sistemas de trans­
missão e os conceitos em torno do planejamento, da expansão e da própria
regulamentação destinadas a eles é fundamental para a atuação de um(a)
engenheiro(a) eletricista.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


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PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


UNIDADE

ser
educacional
Objetivos da unidade
• Proporcionar ao aluno o entendimento sobre a capacidade de um sistema de
transmissão sob a perspectiva da potência transmitida;
• Entender como pode ser feito o dimensionamento de condutores de fase
destinados aos para-raios dos sistemas de transmissão;
•Compreender a estrutura básica e a regulamentação da rede de'distribuição
de energia elétrica no Brasil;
•Aprender sobre os sistemas empregados no Brasil e os principais elementos
e equipamentos utilizados na distribuição de energia.

Tópicos de estudo
• Capacidade de uma linha de Relações de tensão e corrente
transmissão para linhas curtas, médias e longas
Potência natural (SIL)
• As redes de distribuição de
• Dimensionamento de condutores energia elétrica
defase Regulamentação da distribuição
Tipos de condutores de fase de energia elétrica: o PRODIST
mais utilizados Principais equipamentos e ele­
mentos da distribuição de energia
• Dimensionamento de para-raios A estrutura básica dos sistemas
Tipos de cabos mais utilizados de distribuição de energia elétrica
Capacidade de corrente de Redes de distribuição aéreas e
cabos para-raios subterrâneas

• O modelo de parâmetros
distribuídos para linhas de
transmissão
Propagação de ondas eletromag­
néticas na linha de transmissão

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Capacidade de uma linha de transmissão
A capacidade de um a linha de transmissão poderá ser avaliada, por exemplo,
sob o ponto de vista da potência. Assim, você verá as principais considerações
acerca do cálculo da potência característica e da potência natural ou SIL (do
inglês, Surge lmpedance Loadíng, ou carregamento de impedância de surto).
Potência característica
Consideram-se dois parâmetros importantes no cálculo da potência característica
(P): a tensão nominal de operação da linha (Un) e a impedância característica ( Zc), pois
a potência é dada conforme a relação explicitada por Zanetta Júnior (2006):

--
LJ2
Pe -
Z
n
(1)
e

Algumas considerações importantes são necessárias para o cálculo da impedância


característica, uma vez que é possível considerar matematicamente que ela é modela­
da conforme equações gerais, baseando-se no modelo com parâmetros distribuídos.
A impedância característica
Considerando que a linha de transmissão tenha comprimento infinito, para o en­
tendimento matemático da impedância, a relação entre a tensão e a corrente em um
determinado ponto desta linha será independente do que estiver ligado ao final dela.
Isto pode ser observado matematicamente pelas próprias relações gerais entre ten­
são e corrente da linha de transmissão, vistas nas equações a seguir. Assim, conside­
rando a impedância da linha por unidade de comprimento tal, que é dada por:
Z' = R' + jwL' (2)
Em que R' é a resistência da linha por unidade de comprimento e L' a indutância por
comprimento. Além disso, é possível definir a admitância Y', também em unidade de
comprimento. Sendo que Vc e fc representam a tensão e a corrente na carga, respec­
tivamente, e que yé a constante de propagação dada por um número complexo em
função da posiçãox ao longo da linha, a tensão vale (SARTORI, 2004):

V= _
2
7
[(v e+ f?,e
�Y' ) (v �Y'f?, )
eYX + e- e e·YXJ (3)

Já a corrente pode ser escrita como:

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


[(
1
I= -
2
Vc + �/c )
----
{Z'
�Y'
eYx +
( Vc- �/e
----
{Z'
�Y'
)

J
e·YX

Assim, quando x tende ao infinito, o segundo termo da tensão e da corrente


(4)

associados ao exponencial e·yx podem ser desprezados. Pela lei de Ohm, cor­
relacionando a tensão e a corrente obtém-se a impedância característica (lc),
que, devido às simplificações, torna-se independente da posição avaliada na
linha de transmissão:

V
(5)
I

Ou ainda:

ze = {Z' R' + jwL'


"Y' =
G' + jwC
(6)

Em que G' é a condutância por unidade de comprimento e C' a capacitância


por unidade de comprimento, que, juntamente com a resistência e a indutân­
cia, são os parâmetros distribuídos da linha.

ASSISTA
Para uma breve explicação sobre a lei de Ohm, assista
ao vídeo Lei de Ohm e Resistores - Circuitos Elétricos #2,
do canal AII Electronics.

••
Potência natural (SIL)
A potência natural (ou SIL), importante parâmetro da linha de transmissão, é
a potência fornecida por uma linha para uma carga resistiva pura igual à sua impe­
dância de surto. Segundo Moura, Moura e Rocha (2019), este parâmetro de potên­
cia poderá ser utilizado para comparar as capacidades de carregamento das linhas

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


de transmissão, já que uma linha com carregamento abaixo da SIL, por exemplo,
gerará potência reativa, enquanto que, caso seu valor esteja acima da SIL, ela con­
sumiria potência reativa.
Logo, quando a linha está carregada pela impedância de surto, tem-se o seguin­
te circuito equivalente, sendo o lado esquerdo correspondente ao emissor e o lado
direito ao receptor:

Is Ir
--+ --+

+
Vs Vr z =foe
e

x=1 x=O
Figura 1. Circuito eqwvalente de uma linha de 1Tansmissão carregada pela impedância de surto. Fonte: MOURA;
MOURA; ROCHA 2019, p. 252.

A SIL vale então, em watts:


v,
0 = =
stL =fivl ,L = fivl (7)

EXEMPLIFICANDO
Existem tecnologias abordadas no sistema elétrico brasileiro para
o desenvolvimento de linhas de transmissão com potência n atu­
ral elevada ou, ainda, para a recapacitação de linhas em opera­
ção, visando um projeto mais econômico de linha de transmissão.
Para mais detalhes, leia o artigo publicado pelo CEPEL:

A seguir, você verá as principais premissas para outra ação importante den­
tro do projeto de sistemas elétricos de potência em geral: o dimensionamento
de condutores para as fases, denominados condutores de fase, e para os cabos
para-raios.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Dimensionamento de condutores de fase
De maneira geral, separam-se os condutores entre cabos aéreos e subter­
râneos. Nos cabos aéreos não há isolação, e estes cabos estão sujeitos a uma
maior quantidade de esforço mecânico. Assim, existe como parâmetro a carga
de ruptura, que é o ponto de rompimento do cabo quando ocorre uma tração
maior do que sua resistência mecânica. Além disso, os cabos subterrâneos es­
tão sujeitos a um aumento da capacitância e diminuição da indutância devido
à proximidade típica dos condutores.
Os condutores para cabos de fase aéreos, por sua vez, podem ser pura­
mente de alumínio ou de uma mistura dele com aço, pois o alumínio pode ser
potencialmente mais barato do que outros elementos metálicos condutores,
ao mesmo tempo que o aço é capaz de fornecer maior resistência mecânica ao
cabo. Já o uso do cobre é mais frequente em cabos subterrâneos. Além disso,
os condutores podem ser formados por fios maciços ou cabos, que possuem
maior facilidade de manejo e flexibilidade devido à forma com que são cons­
truídos. No caso da regulamentação, a escala de bitola mais utilizada no Brasil
é a americana AWG (do inglês, Amerícan Wíre Gauge), como será visto adiante .


Tipos de condutores de fase mais utilizados
Um cabo é formado por vários outros cabos mais finos que estarão encor­
doados através de uma ou mais camadas de outro material. Se os cabos internos
são do mesmo material, eles são chamados de cabos homogêneos, e se são de
materiais diferentes, são chamados de heterogêneos. Na prática, são utilizados
cabos denominados copperweld, quando estes possuem fios de aço revestidos
de cobre, e quando são revestidos de alumínio são chamados de
alumoweld. Entre esses tipos de cabo, se destacam:
• Cabos de alumínio com alma de aço (denominados de
CAA -ACSR): cabo de alumínio com reforço interno de fios de
aço, geralmente utilizado em diâmetro maior, o que permite
reduzir o efeito corona;
• Cabos de alumínio com alma de aço liso (denomi­
nados como ALPAC): cabo com seção dos fios trapezoidal;

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


• Cabos de alumínio com alma de aço expandidos de cobre e alumínio-a­
ço (denominados cabos expandidos): cabo com uma camada de enchimento de
material não metálico entre os fios de aço e de alumínio do cabo de cobre.
No Brasil, quase toda linha de transmissão de alta ou extra alta tensão utiliza
cabos com condutores de fase do tipo ACSR, o que na prática significa níveis de
tensão acima de 230 kV. A relação entre a quantidade de fios de alumínio e de aço
que formam o cabo poderá afetar a relação entre o peso e a carga de ruptura e é
um dado importante a ser considerado no dimensionamento. No caso dos condu­
tores ACSR, o efeito pelicular acontece devido à repulsão entre linhas de corrente,
denotando a tendência de a corrente fluir na superfície do condutor juntamente
com a diferença de condutividade do aço e do alumínio, em que a corrente elétrica
na linha de transmissão circulará apenas, neste caso, pelo condutor de alumínio.
Os cabos CAA expandidos são utilizados para linhas que operam a níveis
altíssimos de tensão, em que os cabos terão um diâmetro maior com o uso de
menor quantidade de material condutor, facilitando o transporte de energia
(MOURA; MOURA; ROCHA, 2019).

O Dimensionamento de para-raios
Os para-raios são utilizados nos sistemas de transmissão e na segurança de
••
diversos outros sistemas e equipamentos. As descargas elétricas podem gerar da­
nos às superfícies dos isoladores dos sistemas de transmissão, devido à ocorrên­
cia de arco elétrico entre a própria linha e a estrutura de sustentação. Assim, os
para-raios são construídos a partir do uso de cabos elétricos que fornecerão um
caminho para a circulação da corrente gerada em razão da ocorrência de descar­
gas atmosféricas, que podem, com certa frequência, atingir o circuito de uma linha
de transmissão aérea e gerar falhas e outros efeitos indesejáveis, podendo trazer
prejuízos na segurança dos equipamentos. Logo, quando ocorrer uma descarga
atmosférica nos circuitos, haverá um escoamento de energia através da circulação
de corrente nos dois sentidos, de forma que os isoladores ficarão submetidos a
um menor nível de tensão, já que os condutores não serão atingidos diretamente
por conta da corrente nos cabos dos para-raios, fazendo com que tenha apenas
uma indução de tensão. As correntes chegarão parcialmente nas estruturas e se­
rão direcionadas à terra através do sistema projetado para segurança.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


A norma técnica NBR 8449, criada em 1984, regulamenta o dimensiona­
mento de cabos para para-raios destinados a linhas aéreas de transmissão de
energia elétrica. A regulamentação desenvolvida teve como finalidade manter
a integridade, com margem de segurança suficiente para todas as condições de
trabalho. Também teve o propósito de promover a minimização de vibrações
dos elementos, devido ao vento, e, ainda, suportar a corrente de curto-circuito
caso ocorra algum defeito.


Tipos de cabos mais utilizados
Segundo Moura e colaboradores (2019), os cabos mais utilizados para o di­
mensionamento de dispositivos para-raios para a transmissão são:
• Cabos de aço galvanizados do tipo SM (média resistência), HS (alta resis­
tência) ou EHS (de extra alta resistência), compostos por sete fios;
• Cabos copperweld e alumoweld, embora sejam mais caros, por possuírem
maior durabilidade;
• Cabos CAA, de alta resistência mecânica.
É comum que os fabricantes de materiais elétricos disponibilizem tabelas
de características mecânicas e elétricas para cabos usados em para-raios e
para condutores em geral.

••
Capacidade de corrente de cabos para-raios
Sob o ponto de vista da capacidade de condução de corrente, é possível
dimensionar corretamente os cabos que formarão o para-raios para a correta
proteção do sistema de transmissão. Assim, a NBR 8449 avalia, por exemplo, a
capacidade térmica destes cabos considerando a temperatura antes e durante
a corrente de curto-circuito, além dos tempos de eliminação do defeito que
corresponde ao período gasto para a reação da proteção da li-
nha de transmissão nas denominadas subestações terminais.
A Tabela 1 exemplifica as estimativas da capacidade má-
xima de corrente de curto-circuito admissíveis em função dos
tempos de resposta observados para eliminação do curto, para
o uso do aço:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


TABELA 1. CAPACIDADE MÁXIMA DE CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO ADMISSÍVEL, EM
kA, CONFORME A DIMENSÃO DOS CABOS DE AÇO USADOS EM PARA-RAIOS

Tempo de Cabos de aço


eliminação do
curto (s)
7,9 mm 9,5mm 11,1 mm 12,7mm

0,1 7,5 10 15 19,5

0,2 5,3 7,3 10,6 13.8

0,3 4,3 5,9 8,7 11.2

0,4 3,7 5,2 7,5 9,8

0,5 3,3 4,6 6,7 8,7

1 2.4 3,3 4,8 6,2


Fonte: NBR 8449.

O O modelo d
transmissão
••
Um circuito de comprimento finito pode ser definido como um circuito de
parâmetros distribuídos, em que cada elemento que o compõe, independente­
mente de sua dimensão, originará uma variação de tensão longitudinalmente e
uma derivação de corrente transversalmente. Por outro lado, estes parâmetros
poderão ser capacitâncias, indutâncias, resistências, entre outros. O circuito ge­
nérico (Figura 2) representa um circuito de parâmetros distribuídos:

Figura 2. Circuito genérico d e parâmetros distribuídos.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Sabe-se que todo circuito real será, de fato, de parâmetros distribuídos.
Entretanto, na prática, despreza-se a derivação transversal da corrente e a
variação longitudinal da tensão em razão do valor da corrente que atravessa
os elementos longitudinais e à diferença de potencial entre os condutores
do circuito, respectivamente (MOURA; MOURA; ROCHA, 2019).
Zanetta Júnior (2006) apresenta o
modelo de parâmetros distribuídos
que constitui-se como a forma mais
completa para a modelagem mate­
mática de uma linha de transmissão,
permitindo estabelecer as relações
fundamentais para os cálculos das
tensões e correntes ao longo das I i­
nhas e o equacionamento das ondas
eletromagnéticas que se propagam
nela, além de modelos mais precisos
para a representação, independente­
mente do comprimento da linha.
Além disso, serão feitas análises considerando o regime permanente
senoidal de funcionamento dos sistemas elétricos de potência e será ve­
rificado como o modelo de parâmetros distribuídos considera parâmetros
elétricos como indutância, capacitância, resistência e a própria condutância
da linha de transmissão.

Propagação de ondas eletromagnéticas na linha de


••
transmissão
Desta forma, é possível compreender a relação de propagação pelo modelo
de parâmetros distribuídos e, para isso, considere uma linha de transmissão que
possui os parâmetros de capacitância, indutância e resistência. Eles são deter­
minados por unidade de comprimento, e para a definição de um circuito equi­
valente da linha é possível expressá-los em função de segmentos da linha, de
comprimento infinitesimal Llx. Assim, considere o circuito apresentado na Figura
3 para modelagem da linha, para a compreensão da propagação:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


... --
Llv (x,t)

R'Llx L'Llx

l!+
i (X+ Llx,t)

i•(:,!;-° l l
C�x V (X+ Llx,t)

Llx

X--+ X+ Llx X+ 2Llx

Figura 3. Circun:o equivalente para análise da propagação de ondas eletromagnéticas. Fonte: ZANETIAJÚNIOR, 2006, p. 124.

Para um circuito de parâmetros distribuídos, no caso desse


exemplo, deve-se considerar a variação de tensão longi-
tudinal Llv (x,t), em um trecho Llx, de forma que ocorram
as seguintes variações na resistência, indutância e ca-
pacitância, respectivamente: R'Llx, L'Llx e C'Llx. Sendo
assim, é possível escrever matematicamente a relação
para a tensão:
ai{x,t)
v{x,t) - v(x + Llx,t) = R'Llxi{x,t) + L'Llx (8)
at
Analogamente, para a corrente tem-se que:
· ·r. ,, ) C',, av(x+Llx,t)
1 r.X,t) - 1 X + LJX,t = LJX ----- (9)
at
Aplicando a transformada de Laplace para condições iniciais nulas, obtém-se
para a tensão:
V{x,s) - V(x + Llx,s) = R'Llxl{x,s) + sL'Llxl{x,s) (1 O)
E para a corrente:
l{x,s) - l(x + Llx,s) = sC'LlxV(x + Llx,s) ( 11)
Dividindo-se as equações (1 O) e (11) pelo incremento do comprimento Llx,
tem-se:
V{x,s) - V(x + Llx,s)
= -(R' + sL')l{x,s) (12)
Llx

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


E para a corrente:
l(x + Llx,s)
= -sC'V(x + Llx,s) (13)
Llx
A partir das equações (12) e (13), calculando-se o limite quando Llx-+ O e
obtendo-se a derivada parcial, obtém-se o seguinte sistema de equações para
a tensão e para a corrente:

av(x,s)
= -(R' + sLJl(x,s)
ax
(14)
at(x,s)
= -sC'V(x,s)
ax

Além disso, partindo-se da derivada de segunda ordem e sub stituindo-se


os valores das derivadas de primeira ordem, obtém-se o seguinte sistema de
equações para propagação de ondas de tensão e de corrente:

a2V(x,s)
= (R' + sL')(sCJV(x,s)
ax 2
(15)
a2t(x,s)
= (R' + sLJ(sCJl(x,s)
ax 2
Perceba que a propagação depende diretamente dos
parâmetros distribuídos da linha e agora considere a so­
lução geral das equações demon stradas pela equação
(15). Sab e-se que, no domínio da frequência, é possível
reescrevê-la como:

V(x,s) = V- (O,s) e·y(six + V· (O,s)e+y(six


(16)
l(x,s) = /+ (O,s) e·y(sJx + /· (O,s) e+y(s ix

Sendo a constante de propagação y, em função da variável complexa:

y(s) = �(R' + sL')sC' (17)

A seguir, você aprenderá mais detalhes acerca das relações de tensão e de


corrente, analisando diretamente a linha conforme seu comprimento.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.



Relações de tensão e corrente para linhas curtas,
médias e longas
O objetivo é formular modelos de linhas de transmissão de comprimento
finito, analisando linhas curtas, médias ou longas e as relações estabelecidas
de tensão e de corrente. Logo, considere as seguintes equações de tensão e
de corrente obtidas pela equação (16), em que foram reescritas as expressões
apenas em função do comprimento x, considerando o regime permanente se­
noidal (ZANETTAJÚNIOR, 2006):

. . +
. +
V(x,s) = v (O,s) e·YX + V (O,s)e yx

. . +
.
l(x,s) = / (O,s) e-yx + /· (O,s)e yx
+
(18)

Note que V corresponde ao fasor da tensão e i refere-se à corrente no


ponto x analisado. Pode-se separar as parcelas da tensão e da corrente como
progressistas (assi naladas com +) e regressistas (assinaladas
com-). Como em regime permanente analisa-se ondas se­
noidais estacionárias tanto de tensão quanto de corrente,
é possível simplificar os fasores considerando apenas os
próprios valores da tensão e da corrente, permitindo
que as equações anteriores sejam, na prática, como
estão as apresentadas a seguir. Perceba que a corren-
te poderá ser expressa diretamente a partir da tensão e
da impedância características:

V(x) = V- e·YX + V e+yx


(19)
1
l(x)

Para a continuação da análise sob a perspectiva do comprimento da linha,


considere uma linha de comprimento finito, de forma que existirão apenas dois
terminais de referência, o emissor e o receptor, conforme o circuito simples
apresentado na Figura 4:

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Emissor Receptor
Is IR
) )

Figura 4. Circuito equivalente simples de uma linha de transmissão com dois terminais.

Considerando a referência inicial do lado emissor, o que implica que x = O,


têm-se as seguintes condições de contorno:

VO
( ) = V5 (20)

1(0) =/5 (21)

Logo, tem-se tanto para a tensão quanto para a corrente:

Vs=V++V· (22)

v -­
1-- v· +
(23)
s

Além disso, pela lei de Ohm é possível compreender que a seguinte relação
também é válida:
Ze Is =V'"-V (24)
Somando-se as equações (22), (23) e (24) tem-se a parcela progressiva da
tensão:
Vs+ Ze Is
V'"= (25)
2
Devido à identificação da tensão v+ com ondas trafegantes, considerando
que a linha tenha comprimento semi-infinito, aplica-se uma onda progressiva
Vs no início:
Vs = Ze Is (26)
Implicando que:

v+ = =Vs (27)

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


A equação (27) demonstra que a tensão V5 se propaga indefini­
damente pela linha, cujo comprimento seria semi-infinito, mas
com atenuação exponencial dada por e·vx, apresentado
na equação (19) e em consonância com o método das
características, exposto por Zanetta Júnior (2006).
O método é muito usado no est udo da propaga-
ção de ondas em linhas de transmissão. Agora,
considere apenas a parcela regressiva, obtida da
subtração das equações (22), (23) e (24):
Vs +Ze Is
v· = (28)

Assim, reescreve-se a equação de tensão do sistema dado na equação (19):

V(xl = 2
1
[(Vs + zc !) e·YX + (Vs - zc !) e yx J+
(29)

E reagrupando os termos de tensão e corrente no emissor, obtém-se:


evx + e·YX evx - e·YX
V(xt= --- Vs -Ze ---/s (30)
2 2
Que pode ser reescrita devido à correspondência matemática com o seno
hiperbólico e o cosseno hiperbólico, como:
V(x) = cosh(yx)V5 - Zc senh(yx)/5 (31)
Do lado do receptor, por sua vez, assumindo que o ponto da linha corres­
ponde a um dado de comprimento e, e, assim, fazendo x = e, obtém-se as se­
guintes condições de contorno:
V(e) = Vr (32)

/(e) = Ir (33)
Essas condições, substituídas na equação (31), resultam em:
Vr = cosh(ye)V5 -Zc senh(ye)/5 (34)
Note que é possível reescrever a equação (19) para a corrente de forma se­
melhante ao que foi feito para a tensão nas equações (29) e (30), resultando em:
1
l(x) = -- [-( eyx - e·YX ) Vs + (eyx + f:YX ) Ze /s J (35)
22e
E, pelas relações hiperbólicas, a equação (35) pode ser reescrita como:
se nh(yx)
/(X) -- _ Vs + cosh( yx.111s (36)
zc

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Desta forma, no ponto x = -e a corrente no emissor vale:
s (
fr = - en; yx) V5 + cosh(yx)/5 (37)

Por último, expressa-se as tensões e correntes na forma matricial e, assim,


tem-se que as tensões e as correntes valem:

v
[ I r ] -_ [_
r
co
sh(yfJ

senh (yf)

z(
-Zc5enh(yfJ
cosh(yt)
J [v ]I
s
s
(38)

[Vs] _ [
Ou, na forma mais tradicional, pois se [cosh(y-f)]2 - [senh(y-f)]2 = 1, obtém-se:

I
s
-
cosh (yt)
_ sen h(yt)
ze
Zcsenh(yt)
cosh(yf)
J [ vr
Ir
]
Logo, a forma matricial obtida na eq uação (39) condensa as relações
(39)

fund amentais exis tentes entre os fasores das tensões e correntes do início
até o fim da linha de transmissão, usadas no cálculo de tensão e corrente
(ZA NETTAJÚNIOR, 2006).

' ,
DICA
' Caso a linha de transmissão seja curta, é possível realizar algumas
simplificações nas equações gerais vistas anteriormente para os
cálculos da tensão e da corrente. O modelo de quadripolo auxilia na
compreensão, e para mais detalhes, sugere-se a leitura da seção 3.4.2
de Zanetta Júnior (2006).

A seguir, serão apresentados os aspectos gerais mais importantes da rede de


distribuição de energia elétrica e a regulamentação no setor elétrico brasileiro .


As redes de distribuição de energia elétrica
Conforme a própria definição da ANEEL, as redes e linhas de distribuição são
conjuntos de estruturas, condutores e equipamentos elétricos que operam em bai­
xa, média ou alta tensão (até 230 kV) em sistemas aéreos ou subterrâneos, destina­
das à distribuição da energia elétrica. Outrossim, as linhas são formadas por circui­
tos radiais enquanto as redes constituem circuitos malhados ou interligados, como
veremos adiante.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


A Figura 5 apresenta um diagrama simplificado do sistema de distribuição com
os agentes envolvidos, para que você possa compreender a estrutura típica de uma
forma geral através deste diagrama unifilar simplificado. Assim, note que logo a par­
tir da saída dos sistemas de transmissão tem-se o que constitui a rede básica, forma­
da pela estrutura básica que realiza abastecimento de energia elétrica e por outras
instalações da distribuição.

---------------------------------- ,
SISTEMA DE TRANSMISSÃO

RB 230 kV DIT

130 kV

VE
D ID c

C/P C
VE

Agentes envolvidos
C - Consumidor
G - Produtor de energia (geração distribuída)
CIP - Concessionária ou permissionária de distribuição
VE - Importadora ou exportadora de energia
DI D - Demais instalações de distribuição (tensão 230 kV)
RB - Rede básica
DIT - Demais instalacões de transmissão Ctensão < 230 kVl

Figura 5. Resumo do sistema de distribuição e agentes envolvidos, através do diagrama unifilar. Fonte: LEÃO, 2009, p. 2-3.

••
Regulamentação da distribuição de energia elétrica:
o PRODIST
A ANEEL realiza a regulamentação e fiscalização de todo o fornecimento de
energia e, assim, para compreender a regulamentação da distribuição será preci­
so compreender a atuação deste agente.

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


O PRODIST, um dos principais documentos de regulamentação da distribuição
de energia, trata dos procedimentos de distribuição e é elaborado pela ANEEL,
normatizando e padronizando as atividades técnicas relacionadas ao funciona­
mento e desempenho dos sistemas de distribuição de energia, conforme as pró­
prias informações do agente. Este documento é dividido em 11 módulos princi­
pais, que possuem relações entre si:
• Introdução;
• Planejamento da expansão do sistema de distribuição;
• Acesso ao sistema de distribuição;
• Procedimentos operativos do sistema de distribuição;
• Sistemas de medição;
• Informações requeridas e obrigações;
• Cálculo de perdas na distribuição;
• Qualidade da energia elétrica;
• Ressarcimento de danos elétricos;
• Sistema de informação geográfica regulatório;
• Fatura de energia elétrica e informações suplementares.
No módulo de introdução é feita uma apresentação geral sobre o PRODIST
e os conteúdos dos demais módulos. Também são apresentados os principais
objetivos do PRODIST, como: garantir a segurança, eficiência, qualidade e confia­
bilidade dos sistemas de distribuição; propiciar acesso aos sistemas; disciplinar
procedimentos técnicos do planejamento e operação, além da medição e quali­
dade da energia elétrica; estabelecer requisitos de intercâmbios de informações
entre agentes e com os consumidores; assegurar o fluxo de informações à própria
ANEEL e disciplinar requisitos técnicos na interface com a rede básica, comple­
mentando os procedimentos de rede.
Já com relação ao módulo de planejamento da ex­
pansão do sistema de distribuição, têm-se como
principais objetivos o estabelecimento das diretrizes
do planejamento da expansão; dos requisitos mínimos
para tais estudos; da definição de critérios básicos para
trocas de informações entre agentes do planejamento e de sub­
sidiar estudos da ANEEL para a definição de regulamentos espe­
cíficos. Com isto, tem-se as diretrizes da realização da previsão de

PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


demanda para o embasamento da previsão de carga por parte das distribuidoras
a médio e longo prazo, e a definição de critérios e estudos de planejamento para
avaliação e definição das futuras configurações dos sistemas de distribuição. Além
disso, também consta o Plano de Desenvolvimento da Distribuição (PDD), que
apresentará os resultados dos estudos de planejamento do sistema de distribui­
ção com plano de expansão, planos de obras e a relação de obras já feitas.

' ,
DICA
, ' Veja mais detalhes sobre outros módulos que compõem
o PRODIST.

A seguir, você estudará mais detalhes sobre a construção de uma rede de


distribuição, a partir do estudo de seus principais elementos e componentes.


Principais equipamentos e elementos da distribuição
de energia
Antes de analisar os principais equipamentos e elementos utilizados para
a distribuição de energia elétrica, relembre que os sistemas de distribuição
podem ser divididos, de forma geral, em subtransmissão e redes de distribui­
ção primária e secundária.
Os transformadores, assim como na transmissão, são importantes exem­
plos de equipamentos para a distribuição de energia elétrica. Assim, são uti­
lizados transformadores que realizarão o abaixamento da tensão de 69 kV
para 13,8 kV, como é o caso de equipamentos da subestação de distribuição.
Adicionalmente, é possível citar os barramentos de alta e média tensão e dis­
juntores, por exemplo.
Já o dimensionamento de redes aéreas de distribuição prevê o uso de postes
que poderão ser de concreto, madeira ou até mesmo aço. Além d isso, associados a
eles, tem-se outro elemento importante da distribuição de energia, que são os ra­
mais de ligação. Conforme a informação disponibilizada pela ANEEL, eles se consti­
tuem como um conjunto de condutores e acessórios instalados pela distribuidora,
que fazem a ligação entre o ponto de derivação de sua rede e o ponto de entrega.

PRODUÇÃO,TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


Você verá a estrutura básica da distribuição com mais alguns detalhes dos
subsistemas para compreender como é feita a distribuição de energia elétrica no
setor elétrico brasileiro.


A estrutura básica dos sistemas de distribuição de
energia elétrica
A distribuição pode ser representada a partir do diagrama unifilar (Figura 6),
denotando que a distribuição pode ser dividida nos sistemas de subtransmissão,
de subestações de distribuição, de alimentadores primários que fornecem ener­
gia trifásica e de um ramal monofásico, constituindo a rede primária de distribui­
ção. É a partir deste ramal que se desdobrará a rede secundária:

Subestação de
distribuição

Alimentadores
primários
Alimentação
primária Ramal monofásico
trifásica
Transformadores de distribuição
Alimentação secundária

Consumidores

Figura 6. Diagrama unifilar da distribuição de energia elétnca.

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A subtransmissão, por sua vez, realiza a ponte entre os sistemas de trans­
missão e as subestações de distribuição operando com níveis de tensão entre
69 e 138 kV, com transferência de potência de até 150 MW em média. As linhas
que formam esses sistemas são feitas a partir de estruturas radiais que co­
nectarão as subestações da rede básica às subestações das concessionárias
de distribuição, embora seja possível conectar a rede às subestações de gran­
des consumidores, por exemplo. Por outro lado, é possível que as linhas da
subtransmissão estejam em um arranjo em malha, realizando a interconexão
com subestações abaixadoras da distribuição, e que este tipo de arranjo, em
determinados contextos, será capaz de proporcionar um aumento na confia­
bilidade do sistema, conforme informações da própria ANEEL.
Outro importante sistema dentro da distribuição de energia são as subes­
tações de distribuição. O esquema básico (Figura 7) mostra a estrutura geral
das subestações, em que TC são os transformadores de corrente geralmente
utilizados:

Pórtico
Seccionadora
Barramento
Disjuntor
TC

Para-raios Bobina TC Secciona dora


de bloqueio

Uma outra informação importante é a localização da subestação, uma vez


que são escolhidos centros de carga e a facilidade de acesso deve ser priori­
zada para que sejam realizadas a entrada (linhas de subtransmissão) e a saída
(linhas de transmissão) corretamente. Preza-se também que seja possível a
realização de uma futura expansão e a consequente minimização do número
de consumidores que poderão ser afetados devido a descontinuidades no
serviço de fornecimento ou outros efeitos indesejáveis.

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A rede primária de distribuição tem como principal foco, como pode ser
visto no diagrama unifilar apresentado na Figura 6, o fornecimento de ener­
gia elétrica para consumidores de grandes centros de carga, como é o caso
de centros urbanos, e garantir o acesso aos consumidores rurais, como in­
forma a ANEEL. As redes são construídas predominantemente por arranjos
radiais aéreos, embora ainda existam o uso de sistemas subterrâneos em
determinadas aplicações e a rede primária radial seja construída de forma
que as cargas possam ser manobradas caso ocorra uma falha na distribui­
ção, garantindo a manutenção do fornecimento.
Por último, tem-se a rede secundária, que está conectada às linhas de
distribuição da rede primária, através dos transformadores de distribuição
localizados nos postes das redes aéreas. Desta forma, tê m-se estruturas
de linhas de distribuição secundária também radiais ou em malhas, pois há
possibilidade de mudanças na distribuição em caso de haver crescimento
da carga a ser atendida, por exemplo.
A seguir, você verá brevemente mais alguns detalhes sobre a estrutura e as
principais informações sobre as redes de distribuição aéreas e subterrâneas.


Redes de distribuição aéreas e subterrâneas
Geralmente, uma rede aérea é formada por alimentadores urbanos de distri­
buição, além dos ramais que são responsáveis por alimentar os transformadores
de distribuição e pontos de entrega que possuírem a mesma tensão, constituído
de linhas em arranjo radial. Uma das principais vantagens deste arranjo é que,
caso ocorra alguma contigência no sistema, há a possibilidade de transferência
de energia por outras linhas da distribuição.
Assim, dado o arranjo mais frequente das redes aéreas, é possível exemplifi­
car como é feita a distribuição em média tensão para áreas rurais. Como o arran­
jo mais frequente é radial, a operação dependerá de uma única
fonte de suprimento. Logo, todas as unidades consumidoras
são alimentadas por um único alimentador primário, com
baixo custo, algo vantajoso para a realização do fornecimento
para consumidores que apresentarão baixa densidade de carga e
estão em grande dispersão geográfica (LEÃO, 2009).

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Leão (2009) também aponta que, quando são analisadas redes urbanas
bastante populosas ou mesmo sistemas de distribuição subterrânea, deve-se
verificar o uso de topologia de linhas de distribuição em anel aberto. São uti­
lizadas várias linhas para alimentação, o que implica, por exemplo, que dois
caminhos possíveis para a energia elétrica poderão suprir qualquer unidade
consumidora que dependa deste sistema de distribuição, já que cada caminho
pode ser ativado a qualquer momento do fornecimento. Ademais, existe uma
estrutura alternativa, dada pela alimentação de retaguarda, que será formada
por uma nova estrutura de linhas em anel.
Ainda sobre sistemas subterrâneos, segundo a COPEL (Companhia Para­
naense de Energia), a implantação de redes subterrâneas poderá apresentar
possíveis benefícios associados em alguns ambientes e contextos. A concessio­
nária previu em análises que existirão vantagens e efeitos negativos associa­
dos, tanto para a concessionária quanto para a própria população, mas que os
benefícios poderão ser maiores caso sejam realizadas ações de enterramentos
de redes em determinados contextos, como em ações de reurbanização e re­
vitalização de cidades.

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Sintetizando
••
Entender a transmissão de energia elétrica sob a perspectiva da capacida­
de dos sistemas de transmissão é de grande importância, não só para o pro­
jeto de novos sistemas, mas também para a compreensão da operação dos
sistemas já existentes. Além disso, existem orientações específicas acerca do
dimensionamento de condutores de fase para a transmissão e para cabos de
para-raios de sistemas de transmissão, como é o caso da NBR 8449. Por outro
lado, entender a distribuição de energia, os sistemas e equipamentos utili­
zados e a atuação dos agentes do setor elétrico brasileiro se faz necessário
para que o aluno tenha a completa aprendizagem sobre o sistema elétrico de
potência brasileiro, que é responsável pelo fornecimento de energia elétrica.

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Referências bibliográficas
••
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ZANETTAJÚNIOR, L. C. Fundamentos de sistemas elétricos de potência. 1. ed.
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PRODUÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA.


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PRODUÇAO,-TRANSMISSAO E
DISTRIBUIÇAO DE ENERGIA

Neste curso, o aluno poderá compreender as principais informações acerca da gera­


ção de energia elétrica, especialmente considerando o desenvolvimento sustentável
e a matriz energética brasileira. Verá, também, alguns dados importantes e recentes
sobre a geração de energia elétrica no Brasil.
Em seguida, compreenderá a estrutura do setor elétrico brasileiro com o arcabouço
vigente instaurado através do Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro. O estudante
entenderá todos os programas e agentes envolvidos, além de ser apresentado às ca­
racterísticas principais de cada agente dentro do setor, e obter as informações perti­
nentes aos programas proporcionados por estes.
Ao final, o aluno deverá ser capaz de compreender como são realizados os investimen­
tos no setor elétrico brasileiro de maneira geral, estudando especificamente ações,
planejamentos e projetos destinados à geração e à transmissão de energia elétrica.

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