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Isaías 48:16 – A Divindade Triúna revelada

INTRODUÇÃO

‫רוּחוֹ׃ פ‬
ֽ ְ‫הוה ְשׁ ָל ַ ֖חנִי ו‬
֛ ִ ְ‫שׁם ָ ֑אנִי וְ ַﬠ ָ֗תּה ֲאד ָֹנ֧י י‬
֣ ָ ‫יוֹתהּ‬
֖ ָ ‫אשׁ ַבּ ֵ ֣סּ ֶתר ִדּ ַ֔בּ ְר ִתּי ֵמ ֵ ֥ﬠת ֱה‬
֙ ֹ ‫עוּ־ז ֹאת ֤ל ֹא ֵמר‬
֗ ‫ִק ְר ֧בוּ ֵא ַל֣י ִשׁ ְמ‬

“Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em
que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito.”

As evidências de um Deus triúno percorrem todo o cânon bíblico. Tais evidências podem
ser vistas de maneira mais clara em passagens como Mateus 28:19 e II Coríntios 13:13,
bem como de maneira mais sutil, como no relato da criação. Dentro desta ótica, o
capítulo 48 de Isaías poderia estar enquadrado como um dos que apresenta a Trindade
de maneira mais clara.
Para uma visão mais coerente do que está expresso em Isaías 48:16 é preciso identificar
quem é o que introduz o discurso direto do capítulo. Há evidentes indícios intra-textuais
que apontam para um ser divino e não apenas como um discurso do profeta. Tais
indícios evidenciam que o discurso direto iniciado no capítulo não tem por locutor um
agente humano.

ANÁLISE DO LOCUTOR DO CAPÍTULO

V. 3. “As primeiras coisas desde a antiguidade as anunciei; da minha boca saíram, e eu


as fiz ouvir; apressuradamente as fiz, e aconteceram.”

Naturalmente que um agente humano não pode ser o sujeito dessa oração:

Não vejo nenhuma forma na qual o sujeito da primeira parte do versículo


pudesse ser o profeta. As coisas ditas ali só poderiam ser ditas por Deus. Qual,
pois, é o significado do ponto final? Este, seguramente, é o outro caso da
estreita identidade entre Deus e o profeta. Deus estivera falando através do
profeta, Ele chama o povo a ouvir, em virtude de tudo o que ele (Deus) dissera
no passado, e agora ele (Deus) se revelou nos eventos de suas vidas. (OSWALT,
2011)

E continua:
V. 9. “Por amor do meu nome retardarei a minha ira, e por amor do meu louvor me
refrearei para contigo, para que te não venha a cortar.”

Quem tem poder para cortar a Israel, que é a audiência primária, conforme relatado no
verso 1? Mais uma evidência de que não pode estar falando de um agente humano.

V.10. “Eis que já te purifiquei, mas não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição.”

V. 11. “Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu
nome? E a minha glória não a darei a outrem.”

Esses dois versos também mostram a impossibilidade de que este discurso tenha como
autor Isaías. É impossível que seres humanos (o profeta, como alguns entendem ser o
locutor deste discurso) possam purificar outros seres humanos, bem como ter o nome
profanado não podendo dar sua glória a outro. São claros indícios de que o proponente
que discorre toda esta perícope não é humano, precisa ser um agente divino.

MAIS DE UM AGENTE DIVINO NA PASSAGEM

Evidenciado que o locutor do discurso apresentado no capítulo é um ente divino,


dificuldades naturalmente se apresentam para os que defendem não haver mais de um
ser que compõe a Divindade celeste. Logo no início de sua fala, precisamente no verso
2, Ele (que será identificado abaixo) introduz em seu discurso alguém que é chamado
por Ele de Adonai (YHWH) Tsevaôt (Senhor dos Exércitos):
“E até da santa cidade tomam o nome e se firmam sobre o Deus de Israel; o SENHOR
dos Exércitos é o seu nome.”

IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE DIVINO-LOCUTOR

Quem seria o agente orador do capítulo 48? Quem é este ser divino?

Notoriamente tem-se um ser que está discursando e que não tem características
humanas. É necessário também afirmar que não há nenhuma evidência textual que
aponte para uma mudança de interlocutor no discurso apresentado no capítulo 48 de
Isaías, que quase sempre começa com a expressão Wayyomer (E disse), característica
básica de introdução ao discurso direto ou de mudança de interlocutor.
Além das características claramente evidenciadas acima demonstrando tratar-se de um
ser divino, os versos 12 e 13 se preocupam com a identificação desta personalidade:

V. 12. “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o
primeiro, eu também o último.”
V. 13. “Também a minha mão fundou a terra, e a minha destra mediu os céus a palmos;
eu os chamarei, e aparecerão juntos.”

Se houvesse alguma dúvida em torno do locutor, em saber se é um agente humano ou


divino, os versos 12 e 13 acabam com a dúvida. É um agente divino. Mais que isso, esses
versos permitem, a partir de uma análise no cânon bíblico, identificar quem seria esta
personalidade Divina.

Fazendo-se uma análise comparativa, observa-se que existe uma correlação da


expressão “Eu Sou o Primeiro e o Último” em Isaías 48:12, com Apocalipse 1:17 e 2:8.
Ambos os textos apocalípticos apresentam tal expressão e ambos referenciam Jesus
Cristo como sendo o sujeito de tal expressão, conforme atesta o verso 18, mostrando
que Aquele de quem se fala foi morto e reviveu, clara referência a Jesus.

O verso 13 confirma tratar-se de Jesus. Mais uma vez numa análise comparativa
percebe-se que em João e Colossenses, claramente a figura que discursa em Isaías 48 é
Jesus Cristo. Há outras passagens no cânon que corroborariam com o verso 13, não
obstante, apenas estas duas mencionadas são suficientes.
João 1:3

“Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.”

Colossenses 1:16 e 17

“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo
foi criado por ele e para ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem
por ele.”
Inquestionavelmente, quem pronuncia todo o discurso de Isaías 48 é o Senhor Jesus.
Nuances destacadas até agora:

1. Há um ente Divino discursando no capítulo 48 de Isaías.


2. Esse ente Divino é identificado claramente com Jesus.
3. No Seu discurso Ele (Jesus) fala de um outro ser (e não pode ser uma referência
a si, pois o texto está trabalhando na terceira pessoa), Adonai (YHWH) Tsevaôt,
o Senhor dos Exércitos.

Na análise até o momento, já tem-se dois seres Divinos: Jesus quem discursa e Adonai
(YHWH) Tsevaôt, que será denominado para fins de compreensão “o Pai”. Pelo menos
dois seres da Divindade encontram-se presentes nesta análise feita até o momento.

A QUESTÃO DO VERSO 16

“Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em
que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito.”

Neste verso o interlocutor (Jesus Cristo, como já apresentado acima) novamente fala do
outro ser Divino a que se referiu anteriormente. Em realidade, o termo Elohim (Deus)
não está presente no texto. Existe uma expressão que pode ser assim traduzida: Adonai
YHWH. Como o Tetragrama lê-se Adonai, provavelmente, para não ficar repetido Adonai
Adonai (o Senhor Senhor), foi traduzido por o Senhor Deus ou, como aparece em
algumas versões, o Senhor Jeová. Trata-se da mesma personalidade apresentada no
verso 2. A questão é que neste mesmo verso, parte final, aparece mais uma entidade:

Weatah Adonay YHWH Shelahani weruhu: “[...] e agora o Senhor Jeová me enviou e Seu
Espírito.”

Este verso possui duas relações de construto (dá a ideia de posse como o caso genitivo
no grego): A primeira está no termo Adonay e a segunda no termo weruhu. É
interessante observar que o termo Adonay é um substantivo, comum, masculino,
PLURAL, construto. A tradução exata desse termo deveria ser MEU SENHORES, ou
SENHORES, conforme está em Gênesis 19:2. Entretanto, respeitando o substantivo
atrelado a ele, YHWH, que não possui gênero, número ou estado, e também respeitando
o verbo shalah (enviar) que aparece na terceira pessoa do singular, a tradução de
Adonay, segue no singular. Mas se fosse feita uma tradução literal seria assim:
“E agora meu Senhores Jeová, me enviou a mim e Seu Espírito.”

Não é necessário um conhecimento da língua hebraica para identificar mais uma


entidade na descrição:

1. Adonay YHWH (PAI)


2. O Enviado, que é o que discursa e, como já demonstrado, Jesus Cristo. (Filho)
3. E o Seu Espírito (Espírito Santo)

A questão é que existe uma dubiedade no termo weruhu (e Seu Espírito). Duas
traduções são possíveis:

1. E agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito.


Na primeira hipótese de tradução, o Ruah tem como função sintática a mesma do
Enviado (Jesus), que é objeto direto. Eles sofrem a ação de serem enviados por
Adonay YHWH (o Pai). O verso estaria afirmando que “o Senhor Jeová enviou a Jesus
e também enviou o Seu Espírito.”

"E agora o Senhor", etc., formam um prelúdio para as palavras do Único servo
inigualável de Jeová sobre si mesmo, que ocorrem no cap. xlix. A maneira
surpreendentemente misteriosa em que as palavras de Jeová de repente passam
para as de Seu mensageiro, que é apenas comparável a Zac. ii. 12 sqq., iv. 9
(onde o falante também não é o profeta, mas um mensageiro divino exaltado
acima dele), só pode ser explicado dessa maneira. E de nenhuma outra maneira
podemos explicar o ‫וְ ַﬠ ָ֗תּה‬, o que significa que, depois que Jeová preparou o
caminho para a redenção de Israel pelo levantamento de Ciro, de acordo com a
profecia e pelo sucesso das armas, Ele o enviou, O orador neste caso, para
realizar, em uma capacidade mediadora, a redenção assim feita, e não pela força
das armas, mas no poder do Espírito de Deus (cap. xlii. 1; cf. Zac. iv. 6).
Conseqüentemente, o Espírito não é falado aqui como se juntando ao envio
(como Umbreit e Stier supõem, depois de Jerônimo e o Targum: a Septuaginta é
indefinida, καὶ τὸ πνεῦμα αὐτοῦ); nem encontramos o Espírito mencionado em
tal coordenação como esta (ver, por outro lado, Zac. vii. 12, per spiritum suum).
O significado é que ele também é enviado, ou seja, enviado com o servo de
Jeová, que está falando aqui. Para transmitir esse significado, não havia
necessidade de escrever nem ‫ ָשׁ ַלח א ִֹתי וְ רוּחוֹ‬ou ‫שׁלחני וְ ֶאת־ רוח‬, já que a
expressão é exatamente a mesma que no cap., xxix. 7, ‫וּמ ֣צ ֹ ָד ָ֔תה‬
ְ ‫יה‬
ָ֙ ‫ ;צ ֶֹ֙ב‬e o Vav
pode ser considerado como o Vav de companhia (Mitschaft, lit., com navios,
como os árabes chamam; veja em cap. xlii. 5). (DELITZSCH, 1892)
2. E agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito.
Na segunda hipótese o Espírito estaria junto com o Adonay YHWH no ato de enviar
Aquele que está narrando o texto (Jesus). O verso estaria afirmando que “os
Senhores Jeová e Seu Espírito estariam enviando Jesus,” conforme afirma Price
(2009), Henry (2010) e Pfeiffer (2003) :

As predições de Deus têm sido uma proclamação aberta, e seu Enviado avança
pela autoridade e inspiração do Deus eterno e seu Santo Espírito. Israel pode,
portanto, estar certo de que Deus executará a sua vontade contra a Babilônia,
e [...] os caldeus. (PRICE, GRAY, GRIDER et al., 2009)

O Espírito de Deus é aqui mencionado como uma pessoa distinta do Pai e do


Filho, e como tendo autoridade divina para enviar profetas. Observe que o
Espírito envia aqueles que Deus envia. (HENRY, 2010)

Mas uma maravilha ainda maior é o fato que, desde o princípio da raça humana,
Deus Filho, o "anjo do Senhor" (do V. T.) e a "Palavra" ou Logos (no N. T.) têm
repetidas vezes falado claramente aos filhos da aliança divina, revelando a
vontade divina e o seu plano para o futuro. No versículo 16 o Cristo pré-
encarnado identifica-se como o enviado pelo Pai e pelo Espírito para transmitir
a mensagem profética de Deus para o profeta inspirado. (PFEIFFER, 2003)

Ora, sendo Aquele que envia ou sendo enviado, um ponto é claro: há um terceiro
personagem na passagem e não é uma mera força ou um vento. Se é enviado, Ele está
em pé de igualdade com o Filho, se é quem envia, está em pé de igualdade com o Pai.
Enfim, sendo sujeito ou objeto da oração, Ele está em pé de igualdade com o Pai ou com
o Filho com plena capacidade para enviar ou ser enviado. Se Ele não pode ser um ser
pessoal, também o Pai que envia não pode ser ou se Ele não pode ser um ser passoal,
também o Filho que é enviado não pode ser. Portanto, Isaías 48:16 é um texto claro
onde a Divindade Triúna é manifesta.
REFEÊNCIAS

DELITZSCH, F. Biblical Commentary on the prophecies of Isaiah. Edinburgh: T. & T. Clark, 1892.
537.

HENRY, M. Comentário Bíblico - Antigo Testamento: Isaías a Malaquias. Rio de Janeiro: CPAD,
2010. v.4. 1252.

OSWALT, J. Comentários do Antigo Testamento: Isaías. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. v.2. 832.

PFEIFFER, C. El Comentario Biblico Moody:: Antiguo Testamento. El Paso: Casa Bautista de


Publicaciones, 2003. 912.

PRICE, R. E. et al. Comentário bíblico Beacon: Isaías a Daniel. Rio de Janeiro: CPAD, 2009. v.4.
556.

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