Você está na página 1de 1018

Frederico Celestino Barbosa

Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1ª ed.

Piracanjuba-GO
Editora Conhecimento Livre
2020
Copyright© 2020 por Editora Conhecimento Livre

1ª ed.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Barbosa, Frederico Celestino


B238a Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas.
/Frederico Celestino Barbosa - Piracanjuba - GO.
Editora Conhecimento Livre, 2020

1023 f.: il
DOI: 10.37423/2020.a18
ISBN: 978-65-86072-23-5
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia

1. Custos. 2. Contabilidade 3. Gestão. I. Barbosa, Frederico Celestino. I. Título.

CDU: 657

https://doi.org/10.37423/2020.a18

O conteúdo dos artigos e sua correção ortográfica são de responsabilidade


exclusiva dos seus respectivos autores.
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Sumário
CAPÍTULO 1...................................................................................................................................................................... 6

ESTRUTURA CONCEITUAL DA CONTROLADORIA NAS EMPRESAS BRASILEIRAS: UM OLHAR COM A ACADEMIA..............6

DOI: 10.37423/200300463.................................................................................................................................................6

CAPÍTULO 2.................................................................................................................................................................... 27

EXPECTATIVA DE RETORNO E DE RISCO: UM ESTUDO DO BENEFICIAMENTO DA CASTANHA DE CAJU NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE ... 27
DOI: 10.37423/200300484..............................................................................................................................................27

CAPÍTULO 3.................................................................................................................................................................... 49

GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS E TOMADA DE DECISÃO: UM ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DE
SÃO PAULO .......................................................................................................................................................................... 49
DOI: 10.37423/200300466...............................................................................................................................................49

CAPÍTULO 4.................................................................................................................................................................... 67

CUSTO DE PRODUÇÃO DE REPRODUTORES BOVINOS DA RAÇA BRAFORD: UM ESTUDO DE CASO NA ESTÂNCIA ABC EM
SANTANA DO LIVRAMENTO-RS........................................................................................................................................67

DOI: 10.37423/200300467...............................................................................................................................................67

CAPÍTULO 5.................................................................................................................................................................... 88

RETORNO FINANCEIRO GERADO POR PROJETOS DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE...................................................88


DOI: 10.37423/200300476..............................................................................................................................................88

CAPÍTULO 6.................................................................................................................................................................. 112

MECANIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO: UMA EFICAZ ALTERNATIVA PARA A VIABILIZAÇÃO DA CAFEICULTURA


NACIONAL......................................................................................................................................................................112

DOI: 10.37423/200300482.............................................................................................................................................112

CAPÍTULO 7.................................................................................................................................................................. 126

EXPECTATIVA DE RETORNO E DE RISCO: UM ESTUDO DOS CUSTOS DE BENEFICIAMENTO DO MEL NO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE........................................................................................................................................................126

DOI: 10.37423/200300465.............................................................................................................................................12

CAPÍTULO 8.................................................................................................................................................................. 147

INFLUÊNCIA DA CONTROLADORIA NA GERAÇÃO DAS INFORMAÇÕES PARA O PROCESSO DE GESTÃO DE INDÚSTRIAS MOVELEIRAS ................. 147
DOI: 10.37423/200300485 ............................................................................................................................................. 147

CAPÍTULO 9.................................................................................................................................................................. 163

SIMULAÇÃO DE CUSTOS NO USO DE FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA NAS INDÚSTRIAS CERAMISTAS DE


MANACAPURU E IRANDUBA – AM.................................................................................................................................163

DOI: 10.37423/200300487 ............................................................................................................................................. 163

1
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

CAPÍTULO 10 ................................................................................................................................................................ 185

ESTUDO DE CASO: DESEMPENHO COMPARADO DA CARTEIRA DE CRÉDITO DE UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA ENTRE 2016 A 2018 ............. 185
DOI: 10.37423/200300490 ............................................................................................................................................. 185

CAPÍTULO 11 ................................................................................................................................................................ 221

PERMANÊNCIA E INSERÇÃO DE ATORES NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA ÁREA DE CONTABILIDADE .............................. 221


DOI: 10.37423/200300491 ............................................................................................................................................. 221

CAPÍTULO 12 ................................................................................................................................................................ 243

GERENCIAMENTO DO MIX DE PRODUÇÃO EM UMA EMPRESA INDUSTRIAL UTILIZANDO A ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ................................ 243
DOI: 10.37423/200300492 ............................................................................................................................................. 243

CAPÍTULO 13 ................................................................................................................................................................ 262

O CUSTEIO ABC APLICADO NA MENSURAÇÃO DE ATIVIDADES DE SETUP DA PRENSAGEM GUTMANN EM UMA INDÚSTRIA DE REFRATÁRIOS .. 262
DOI: 10.37423/200300496 ............................................................................................................................................. 262

CAPÍTULO 14 ................................................................................................................................................................ 282

VALOR DE MERCADO VERSUS VALORAÇÃO DE GOODWILL GERADO INTERNAMENTE: UM ESTUDO A PARTIR DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
........................................................................................................................................................................................ 282
DOI: 10.37423/200300502 ............................................................................................................................................. 282

CAPÍTULO 15 ................................................................................................................................................................ 305

CONTABILIDADE DE GESTÃO AMBIENTAL E ANÁLISE EMERGÉTICA: UMA APLICAÇÃO AO ESTUDO DAS DIVERSAS ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO DE
SOJA NO BRASIL. ................................................................................................................................................................. 305
DOI: 10.37423/200300504 ............................................................................................................................................. 305

CAPÍTULO 16 ................................................................................................................................................................ 328

PROPOSTA DE TÉCNICA PARA A ANÁLISE DA RELAÇÃO DE CUSTO/VOLUME/LUCRO NA GESTÃO DE CUSTOS EM MICRO EMPRESA DE LAPIDAÇÃO NO
MUNICÍPIO DE TEÓFILO OTONI, MG. ...................................................................................................................................... 328
DOI: 10.37423/200300505 ............................................................................................................................................. 328

CAPÍTULO 17 ................................................................................................................................................................ 350

ESTRUTURA DE CUSTOS LOGÍSTICOS PARA O ESCOAMENTO DE ALGODÃO EM PLUMA AO MERCADO EXTERNO: UM


ESTUDO DE CASO NO GRUPO SCHEFFER........................................................................................................................352

DOI: 10.37423/200300509 ............................................................................................................................................. 350

CAPÍTULO 18 ................................................................................................................................................................ 380

ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA, CUSTOS E DESEMPENHO ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO EM HOTÉIS DO BRASIL E DA VENEZUELA ............ 380
DOI: 10.37423/200300519 ............................................................................................................................................. 380

CAPÍTULO 19 ................................................................................................................................................................ 402

O ENSINO DA DISCIPLINA DE CONTROLADORIA: UM ESTUDO COMPARATIVO NAS IES PARAIBANAS, SERGIPANAS E POTIGUARES .................. 402
DOI: 10.37423/200300527 ............................................................................................................................................. 402

CAPÍTULO 20 ................................................................................................................................................................ 422

ESTUDO BIBLIOMÉTRICO SOBRE CUSTO EM ORGANIZAÇÕES DA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTRIBUIÇÕES DO CONGRESSO


BRASILEIRO DE CUSTOS DE 1996 A 2010........................................................................................................................425
DOI: 10.37423/200300531 ............................................................................................................................................. 422

CAPÍTULO 21 ................................................................................................................................................................ 445

2
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

EDUCAÇÃO FINANCEIRA X COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NO MERCADO DE BENS E SERVIÇOS ............................................. 445


DOI: 10.37423/200300534 ............................................................................................................................................. 445

CAPÍTULO 22 ................................................................................................................................................................ 462

MEIO AMBIENTE E DESEMPENHO OPERACIONAL: UMA ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL NO COMPORTAMENTO DOS CUSTOS DOS PRODUTOS
VENDIDOS .......................................................................................................................................................................... 462
DOI: 10.37423/200300535 ............................................................................................................................................. 462

CAPÍTULO 23 ................................................................................................................................................................ 481

CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS EM EMPRESAS DO SEGMENTO NOVO MERCADO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA DA BOVESPA: UMA
COMPARAÇÃO DE FORMAS DE APURAÇÃO ................................................................................................................................ 481
DOI: 10.37423/200300537 ............................................................................................................................................. 481

CAPÍTULO 24 ................................................................................................................................................................ 503

ANÁLISE DE VALOR NA GESTÃO DE CUSTOS: UM ESTUDO DE CASO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA .................................... 503
DOI: 10.37423/200300545 ............................................................................................................................................. 503

CAPÍTULO 25 ................................................................................................................................................................ 521

ESTIMAÇÃO DA RECEITA LÍQUIDA DE UMA EMPRESA DE VAREJO ATRAVÉS DE UMA MODELAGEM ESTRUTURAL ...................................... 521
DOI: 10.37423/200300546 ............................................................................................................................................. 521

CAPÍTULO 26 ................................................................................................................................................................ 536

O MODELO INTEGRADO DE RESULTADO SUSTENTÁVEL EM PROGRAMAS FINALÍSTICOS COMO INSTRUMENTO DE


EVIDENCIARA QUALIDADE DO GASTO PÚBLICO: UMA APLICAÇÃO NO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E
GESTÃO. ......................................................................................................................................................................... 536
DOI: 10.37423/200300552 ............................................................................................................................................. 536

CAPÍTULO 27 ................................................................................................................................................................ 569

O IMPACTO DOS INVESTIMENTOS AMBIENTAIS NO CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DE
ENERGIA ELÉTRICA LISTADAS NO ISE.............................................................................................................................574

DOI: 10.37423/200300557 ............................................................................................................................................. 569

CAPÍTULO 28 ................................................................................................................................................................ 590

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADE EM UMA CLÍNICA DE RADIOLOGIA ODONTOLÓGICA:


ESTUDO DE CASO............................................................................................................................................................ 590
DOI: 10.37423/200300561 ............................................................................................................................................. 590

CAPÍTULO 29 ................................................................................................................................................................ 613

DIFICULDADES ENCONTRADAS DURANTE A IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA DE CUSTOS: UM ESTUDO REALIZADO COM


BASE EM ARTIGOS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS........................................................................................618

DOI: 10.37423/200300562 ............................................................................................................................................. 613

CAPÍTULO 30 ................................................................................................................................................................ 634

ANÁLISE COMPARATIVA DOS MÉTODOS DE CUSTEIO “UNIDADES DE ESFORÇO DE PRODUÇÃO” E “UNITÉS DE VALEUR AJOUTÉE” ............... 634
DOI: 10.37423/200300564 ............................................................................................................................................. 634

CAPÍTULO 31 ................................................................................................................................................................ 654


ESTRATÉGIAS NA FORMAÇÃO DE PREÇO DE SERVIÇOS DE SAÚDE: ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL ONCOLÓGICO EM SÃO PAULO ........ 654
DOI: 10.37423/200300566 ............................................................................................................................................. 654

CAPÍTULO 32 ................................................................................................................................................................ 675

3
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INFLUÊNCIA MACROECONÔMICA NO COMPORTAMENTO DOS CUSTOS ASSIMÉTRICOS: UMA PERSPECTIVA CROSS-


COUNTRY ........................................................................................................................................................................ 675
DOI: 10.37423/200300567 ............................................................................................................................................. 675

CAPÍTULO 33 ................................................................................................................................................................ 699

CONTROLE E APURAÇÃO DE RESULTADO NA AGRICULTURA FAMILIAR SOB A ÓTICA DA SUSTENTABILIDADE DE PRODUTORES RURAIS ............. 699
DOI: 10.37423/200300568 ............................................................................................................................................. 699

CAPÍTULO 34 ................................................................................................................................................................ 716

A UTILIZAÇÃO DO CUSTEIO ABC NA AVALIAÇÃO DE RESULTADOS EM CULTURAS AGRÍCOLAS: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA AGRÍCOLA NO
ESTADO DO MA .................................................................................................................................................................. 716
DOI: 10.37423/200300573 ............................................................................................................................................. 716

CAPÍTULO 35 ................................................................................................................................................................ 735

CUSTEAMENTO BASEADO NAS ATIVIDADES APLICADO NO PREPARO DO SOLO PARA PLANTIO DE SOJA NA REGIÃO SUL DE MATO GROSSO..... 735
DOI: 10.37423/200300575 ............................................................................................................................................. 735

CAPÍTULO 36 ................................................................................................................................................................ 756

PERÍCIA CONTÁBIL NOS PROCESSOS TRABALHISTAS: A QUALIDADE DO LAUDO PERICIAL NAS DECISÕES JUDICIAIS ..... 756
DOI: 10.37423/200400578 ............................................................................................................................................. 756

CAPÍTULO 37 ................................................................................................................................................................ 780

CUSTOS E EFICIÊNCIA NO SETOR GOVERNAMENTAL: UM ESTUDO DE CASO COM A GERÊNCIA DA DÍVIDA ATIVA MUNICIPAL DE SOBRAL – CE 780
DOI: 10.37423/200400590 ............................................................................................................................................. 780

CAPÍTULO 38 ................................................................................................................................................................ 802

O SISTEMA DE APOIO À DECISÃO POC® - PREÇOS, ORÇAMENTOS E CUSTOS INDUSTRIAIS – APLICADO AO ENSINO EM CUSTOS .................. 802
DOI: 10.37423/200400593 ............................................................................................................................................. 802

CAPÍTULO 39 ................................................................................................................................................................ 827

CUSTOS ELEITORAIS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ..................................................................................................................... 827


DOI: 10.37423/200400595 ............................................................................................................................................. 827

CAPÍTULO 40 ................................................................................................................................................................ 850

O IMPACTO DO BALANCED SCORECARD SOBRE O DESEMPENHO ORGANIZACIONAL: O CASO DO MONOPÓLIO NATURAL DAS DISTRIBUIDORAS DE
ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL ................................................................................................................................................ 850
DOI: 10.37423/200400613 ............................................................................................................................................. 850

CAPÍTULO 41 ................................................................................................................................................................ 868

IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DE CUSTOS NA GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DO SETOR DE HOSPEDAGEM: ANÁLISE DA


PERCEPÇÃO DE GESTORES ...................................................................................................................................................... 868
DOI: 10.37423/200400618 ............................................................................................................................................. 868

CAPÍTULO 42 ................................................................................................................................................................ 884

ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS PÚBLICOS MUNICIPAIS: UMA PROPOSTA DE RELATÓRIO SIMPLIFICADO E COMPREENSÍVEL PELOS CIDADÃOS
........................................................................................................................................................................................ 884
DOI: 10.37423/200400625 ............................................................................................................................................. 884
CAPÍTULO 43 ................................................................................................................................................................ 904

ESTRUTURA DE CUSTOS DA PRODUÇÃO DA CEBOLA AMARELA E SUA VIABILIDADE ECONÔMICA UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE SENTO SÉ
– BA ................................................................................................................................................................................ 904

4
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

DOI: 10.37423/200400635 ............................................................................................................................................. 904

CAPÍTULO 44 ................................................................................................................................................................ 923

CUSTO DA ROTATIVIDADE DE PESSOAL: UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE RONDONÓPOLIS-MT.....
........................................................................................................................................................................................ 923
DOI: 10.37423/200400637 ............................................................................................................................................. 923

CAPÍTULO 45 ................................................................................................................................................................ 945

LA GERENCIA ESTRATEGICA DE COSTOS ANALIZADA EN LA SITUACIÓN ACTUAL DE CRISIS ENLA REGIÓN .................................................. 945
DOI: 10.37423/200400639 ............................................................................................................................................. 945

CAPÍTULO 46 ................................................................................................................................................................ 965

GESTÃO DE METAS: UM ESTUDO COMPARATIVO DA EFICIÊNCIA DE UNIDADES OPERACIONAIS EM UMA EMPRESA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA. .......................................................................................................................................................................... 965
DOI: 10.37423/200400647 ............................................................................................................................................. 965

CAPÍTULO 47 ................................................................................................................................................................ 987

ICMS POR SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA: UMA ANÁLISE DA SUA INFLUÊNCIA NO CUSTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL ........................................ 987
DOI: 10.37423/200400699 ............................................................................................................................................. 987

5
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 1

ESTRUTURA CONCEITUAL DA CONTROLADORIA


NAS EMPRESAS BRASILEIRAS: UM OLHAR COM A
ACADEMIA
DOI: 10.37423/200300463

Luiz Carlos Lemos De Castro - luiz@lcastro.com.br

Roberto Fernandes Dos Santos - setrob@pucsp.br

Neusa Maria Bastos F. Santos - admneusa@pucsp.br

Resumo: O objetivo principal deste trabalho é verificar se a Controladoria das empresas privadas de
controle brasileiro, da cidade de São Paulo, está praticando a Estrutura Conceitual da Controladoria
discutida na pesquisa acadêmica, em seus aspectos procedimentais: objetivos, funções e artefatos
utilizados. A pesquisa é descritiva, elaborada com base em questionário aplicado aos responsáveis
pelas funções de Controladoria de 108 empresas da pesquisa da Revista Exame “Melhores e Maiores
– 2011”. Pelos resultados da pesquisa, constatou-se que 88% das empresas pesquisadas são aderentes
à Estrutura Conceitual da Controladoria quanto aos objetivos, funções e definições de modelos de
gestão; 43% dessas empresas são aderentes aos artefatos utilizados. Esta baixa aderência aos
artefatos se explica pelos artefatos modernos terem aderência bem mais baixa do que os tradicionais,
possivelmente em função dos recursos exigidos para sua implementação. Concluindo-se que a
Estrutura Conceitual praticada conforme o objetivo principal do trabalho é aderente à Estrutura
Conceitual discutida na pesquisa acadêmica. Ressalva-se que, nas ferramentas utilizadas pela
Controladoria, os artefatos modernos ainda têm uma aderência relativamente baixa, 34%. Um
segundo aspecto do problema da pesquisa também foi confirmado: “as empresas, com prática
aderente à Estrutura Conceitual discutida na pesquisa acadêmica, têm desempenho econômico

1
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

melhor do que as de prática não aderente”. O trabalho se justifica pela existência de lacuna no
entendimento do real papel da controladoria frente à literatura existente e contribui para isso com a
melhoria da eficiência das empresas no mercado.

PALAVRAS-CHAVE: Estrutura Conceitual da Controladoria. Aderência dos objetivos, funções e


artefatos. Desempenho econômico.

Área Temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

2
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

Enfrentar os desafios de uma gestão empresarial eficiente e eficaz, na realização dos objetivos dos
acionistas e de todos os stakeholders, exige uma expertise em gestão para que a administração possa
cumprir seu papel de planejar, executar e controlar as atividades empresariais e atingir seus objetivos.
A controladoria tem sido apontada, em pesquisas acadêmicas, como provedora das informações
gerenciais para a alta administração e aos gestores, em suas tomadas de decisão e apoio na análise e
interpretação econômica do negócio, no cumprimento de seus objetivos estratégicos.

Anthony (1979, p. 273) considera a Contabilidade Gerencial associada ao processo de controle


gerencial na realização dos objetivos de uma organização. O autor divide o processo de controle
gerencial em três partes: (1) planejamento, (2) operação e (3) apuração e análise do desempenho.
Para Iudícibus (1991, p. 15), a Contabilidade Gerencial está voltada exclusivamente para a
administração da empresa, suprindo informações para o processo decisório. Já Horngren et al. (2004,
p. 4) definem a Contabilidade Gerencial como o processo que trata e disponibiliza informações aos
gestores internos para decisões rotineiras e não rotineiras e para usuários externos para atingirem os
objetivos organizacionais.

Para Frezatti et al. (2009, p. 27), a Controladoria é responsável por disseminar conhecimento, modelar
e implantar sistemas de informações, através da Contabilidade Gerencial e Financeira. Assim sendo, a
Controladoria é responsável pelo processo de controle gerencial, desde o Planejamento Estratégico e
Operacional até o controle orçamentário. Padoveze (2010, p. 36) acrescenta a criação de valor para o
acionista: “A Controladoria, por meio do sistema contábil gerencial, que incorpora os conceitos de
lucro econômico, dá as condições à empresa de avaliar todo o processo de geração ou criação de valor
(geração de lucro para os acionistas).”

Tendo em vista as discussões até aqui realizadas, a contabilidade tradicional evoluiu para a
Contabilidade Gerencial, que está voltada exclusivamente para a administração da empresa, no
suprimento de informações para tomada de decisões; esse suprimento de informações está
intimamente associado ao Processo de Controle Gerencial. A Controladoria, por sua vez, contém as
funções da Contabilidade Gerencial e extrapola essas funções.

A Controladoria é responsável pelo processo de gestão empresarial na busca dos objetivos


estratégicos da organização e, para isso: (1) é responsável pela Contabilidade Gerencial, na
alimentação do processo de Controle Gerencial, que envolve Planejamento, Operação, Apuração e

3
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Análise de Desempenho; (2) é responsável pela Contabilidade Financeira e Fiscal, atendendo também
aos objetivos externos da organização; (3) tem foco na continuidade da organização, buscando atingir
objetivos futuros, a lucratividade no longo prazo e geração de valor. Dessa forma, atende às demandas
por informações econômico-financeiras de todos os stakeholders, desde o Planejamento Estratégico
até o controle orçamentário, cumprindo, então, seu papel na busca da eficácia da gestão econômica
da empresa.

Almeida et al. (2001, p. 344-346) entendem que a Controladoria é responsável pela coordenação e
disseminação da Tecnologia de Gestão, subsidiando o processo de gestão com informações
econômicas de apoio às decisões. Padoveze (2010, p. 35-36) acrescenta o processo de geração ou
criação de valor pela Controladoria por meio do sistema contábil gerencial. Para Oliveira et al. (2004,
p. 29), Controladoria Estratégica exige do Controller a posse das informações e sensibilidade para
identificar as ameaças e oportunidades.

O resultado da pesquisa de Oyadomari et al. (2008) indica que os artefatos de Contabilidade Gerencial
utilizados com maior frequência, no ambiente empresarial brasileiro, são os classificados como
tradicionais. O termo artefato pode ser entendido, pela definição de Borinelli (2006, p. 185), como
“Artefatos, em Controladoria, compreendem um conjunto de conceitos, modelos, métodos, sistemas
e filosofias utilizados no desenvolvimento das atividades e funções de Controladoria”. O resultado da
pesquisa de Soutes e Zen (2005) indica que os três primeiros estágios, segundo o Institute of
Management Accoutants (IMA), estão dominados pela Contabilidade Gerencial e que o quarto estágio
ainda não está dominado.

Oliveira et al. (2004, p. 13) consideram existir muitas dúvidas sobre as funções e atividades da
Controladoria e do Controller. Borinelli (2006, p. 21) afirma “Em síntese: a teoria sobre Controladoria
não está consolidada, encontra-se ainda em desenvolvimento [...]”.

Conforme o que se abordou dos diversos autores, tem que se reconhecer o grau de importância do
papel da Controladoria na gestão do negócio; e também reconhecer as controvérsias e dúvidas entre
os autores, assim como as contradições dos resultados das pesquisas, e considerar que o arcabouço
teórico da Controladoria ainda não está consolidado.

Em virtude desse processo de mudanças que está se vivendo, da evolução da tecnologia, da velocidade
da comunicação e da competição no mundo globalizado, a Controladoria tem que se instrumentar
com as novas técnicas e ferramentas apontadas na literatura para exercer seu papel.

4
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Assim, pode-se emitir a seguinte questão de pesquisa: A Estrutura Conceitual praticada hoje pela
Controladoria das empresas privadas de controle brasileiro, da cidade de São Paulo; no cumprimento
de seus objetivos, funções, e considerando também os artefatos utilizados, é aderente à Estrutura
Conceitual discutida na pesquisa acadêmica?

Um segundo aspecto do problema de pesquisa que se busca responder é se as empresas, com prática
aderente à Estrutura Conceitual discutida na pesquisa acadêmica, têm desempenho econômico
melhor do que as de prática não aderente.

Com o intuito de verificar se o desempenho econômico das empresas pesquisadas pode explicar a
maior ou menor aderência à estrutura conceitual da academia, estabeleceram-se as seguintes
premissas:

P1 - “As empresas mais aderentes à estrutura conceitual têm desempenho econômico melhor do que
as empresas menos aderentes”.

P2 - “As empresas maiores, por terem maior capacidade de investimento em recursos tecnológicos e
humanos, conseguem melhor desempenho econômico do que as empresas menores”.

O objetivo deste trabalho é verificar se a Controladoria das empresas privadas de controle brasileiro,
da cidade de São Paulo, está praticando a Estrutura Conceitual da Controladoria discutida na pesquisa
acadêmica, em seus aspectos procedimentais: objetivos, funções e artefatos utilizados. Borinelli
(2006, p. 95) apresenta a sistematização da Estrutura Conceitual Básica de Controladoria (ECBC) em
três abordagens de estudo e organização: “Perspectiva 1: Aspectos Conceituais (o que é); Perspectiva
2: Aspectos Procedimentais (como funciona); e Perspectiva 3: Aspectos Organizacionais (como se
materializa nas organizações)”.

Este trabalho se justifica pela existência de lacuna no entendimento do real papel da Controladoria
frente à literatura existente, e também pode contribuir para suprir essa lacuna e contribuir, ainda,
com a melhoria da eficiência das empresas no mercado. A tomada de decisão, quando não se tem uma
área de Controladoria estruturada, acaba sendo muito intuitiva, resultado da experiência e formação
de cada gestor, sem um critério técnico homogêneo nas decisões. Este trabalho pode contribuir
orientando as empresas a estruturar ou melhorar a Controladoria, com seus objetivos, funções e
artefatos, com base na Estrutura Conceitual discutida na academia. A empresa que se estruturar dessa
forma terá uma estrutura de planejamento, controle e tomada de decisões gerenciais mais eficaz,

5
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

podendo atingir seus objetivos estratégicos com mais facilidade, especialmente no ambiente
competitivo em que as empresas operam.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo visa abordar o referencial teórico que abrange a Estrutura Conceitual da Controladoria
na academia para que se possa utilizar como base de comparação com o que as empresas brasileiras
estão praticando nesse contexto. Para isso, será considerado o papel da Controladoria no
cumprimento dos objetivos estratégicos da organização, como deve ser sua estrutura bem como suas
funções para cumprir o seu papel.

Borinelli (2006, p. 189-192), na elaboração da Estrutura Conceitual Básica de Controladoria nos


aspectos organizacionais, define a Controladoria: “[...] a Controladoria, em termos da perspectiva 3,
está sendo entendida como uma área, unidade, divisão ou departamento que faz parte do sistema
formal organizacional de uma entidade.”

Neste capítulo, buscar-se-á o papel da Controladoria como uma unidade dentro das organizações,
interagindo com as outras unidades organizacionais, especialmente quando exerce funções de
assessoria e controle na elaboração do modelo de gestão e na disponibilização de informações para
tomada de decisões, atendendo assim aos objetivos estratégicos da organização.

2.1 CONCEITOS DE CONTROLADORIA

Para Almeida et al. (2001, p. 344), o conceito de Controladoria abrange: Modelo de Gestão; Processo
de Gestão; Modelo Organizacional; Modelo de Decisão; Modelo de Mensuração, Identificação e
Acumulação; Modelo de Informação. O órgão administrativo Controladoria responde pela
disseminação de conhecimento, modelagem e implantação de sistemas de informações. Oliveira et al.
(2004, p. 13) entendem a Controladoria como: “o departamento responsável pelo projeto, elaboração,
implementação e manutenção do sistema integrado de informações operacionais, financeiras e
contábeis de determinada entidade [...]”.

2.2 MISSÃO, OBJETIVOS DA CONTROLADORIA E MODELO DE GESTÃO

Levando-se em conta a posição dos autores, Mosimann e Fisch (1999); Almeida et al. (2001); Peleias
(2002); Padoveze (2012); Oliveira (2009) e Oliveira et al. (2004), a missão da Controladoria é coordenar
a gestão econômica do sistema empresa, dar suporte à tomada de decisão e atuar em conjunto com

6
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

as outras áreas, assegurando a otimização do resultado econômico da organização e promovendo a


eficácia organizacional.

O objetivo da Controladoria e sua política de atuação, segundo os autores Almeida et al. (2001); Peleias
(2002); Oliveira (2009) e Borinelli (2006), é: (1) subsidiar o processo de gestão, viabilizar a gestão
econômica pelos gestores; (2) participar ativamente do processo de planejamento, acompanhamento
e controle dos resultados dos negócios; (3) certificar que os sistemas de informação gerem
informações adequadas para apoio ao processo de gestão; (4) aperfeiçoar os processos internos,
padronizando os instrumentos: políticas, normas, procedimentos e ações; (5) desenvolver relações
com os agentes de mercado.

Padoveze (2012, p. 26) define o modelo de gestão como “[...] o conjunto de normas e princípios que
devem orientar os gestores na escolha das melhores alternativas para levar a empresa a cumprir sua
missão com eficácia”. Peleias (2002, p. 17-19) descreve o modelo de gestão como parte de alguns
modelos integrados, que formam a concepção holística do modelo de gestão econômica, modelo de
gestão; modelo de decisão; modelo de mensuração; e modelo de informação.

O modelo de gestão deve, portanto, ser desenvolvido pela Controladoria visando assegurar o sucesso
da organização e de suas áreas, considerando as crenças e valores da organização e avaliando os
gestores por resultados. Também o modelo deve contemplar a existência de um planejamento formal,
abrangendo planejamento, execução e controle.

2.3 ATIVIDADES E FUNÇÕES DA CONTROLADORIA

Roehl-Anderson e Bragg (2004, p. 12-14) apresentam as funções do Controller como planejamento,


controle, fornecer informações e função contábil. Para Anthony e Govindarajan (2008, p. 7), as
atividades do Controle Gerencial abrangem: Planejamento, Coordenação das atividades dos diversos
departamentos, Comunicação das informações, Avaliação das informações e Decisão sobre a ação a
executar.

Padoveze (2012, p. 98) considera que a Controladoria Estratégica “abastece os responsáveis pelo
Planejamento Estratégico da companhia com informações financeiras e não financeiras, para apoiar o
processo de análise, planejamento, implementação e controle da estratégia organizacional.”

Atividades e Funções típicas de Controladoria (BORINELLI, 2006, p. 125-139): essas atividades e


funções serão abordadas mais detalhadamente por se inserir no objetivo deste trabalho “pesquisar a
Estrutura Conceitual da Controladoria nos seus aspectos procedimentais”.

7
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Função Contábil: atividades relativas ao gerenciamento da Contabilidade Societária (ou


Financeira); registros contábeis ou processamento; demonstrações contábeis; fornecer
informações aos agentes de mercado (stakeholders); análise interpretativa das
demonstrações contábeis e desenvolvimento de políticas e procedimentos contábeis e de
controle;

 Função Gerencial-Estratégica: coordenar, assessorar e consolidar os processos de


elaboração dos planos empresariais, orçamento e previsões; auxiliar na definição de
métodos e processos para medição do desempenho das áreas organizacionais, assim como
dos gestores; preços de transferências gerenciais; estudos sobre análise de viabilidade
econômica de projetos de investimento; realizar estudos especiais de natureza contábil-
econômica; desenvolver condições para a realização da gestão econômica e proceder à
avaliação econômica;

 Função de Custos: atividades de registrar, mensurar, controlar e avaliar os custos da


organização, incluindo análises gerenciais e estratégicas referentes à viabilidade de
lançamentos de produtos e serviços, resultados de produtos e serviços, de linhas de
negócios e de clientes;

 Função Tributária: atividades relativas à Contabilidade Tributária (ou Fiscal); obrigações


legais, fiscais e acessórias; registro, apuração e controle de impostos, tributos e
contribuições; planejamento tributário;

 Função de Proteção e Controle dos Ativos: atividades relativas a prover proteção aos ativos,
como análise, contratação e controle de seguro; registro e controle dos bens da
organização;

 Função de Controle Interno: atividades referentes ao estabelecimento e monitoramento do


sistema de controles internos, visando proteção do patrimônio e salvaguarda dos interesses
da entidade;

 Função de Controle de Riscos: atividades de identificar, mensurar, analisar, avaliar, divulgar


e controlar os diversos riscos do negócio e seus possíveis efeitos. Borinelli (2006, p. 137)
cita os autores Fernandes (2000), Brito (2000) e Santos (2004), lembrando que essa é uma
função mais recente de Controladoria;

8
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Função de Gestão da Informação: atividades referentes a conceber modelos de


informações e a gerenciar as informações contábeis, patrimoniais, de custos, gerenciais e
estratégicas. O autor ressalta que essa atividade se restringe aos aspectos conceituais das
informações, não cabendo às funções de gerenciamento da tecnologia e infraestrutura dos
sistemas.

Outras Atividades e Funções de Controladoria (BORINELLI, 2006, p. 173-184):

• Auditoria Interna: o autor considera os diferentes pontos de vista na literatura,


concluindo que a ECBC contempla como atividades de Controladoria tanto
aquelas relativas ao controle interno quanto as de auditoria interna; entretanto,
pela necessidade de segregação de funções, as atividades de auditoria interna
não devem ser desempenhadas pela mesma unidade organizacional que
desempenha as atividades de controle interno;

• Atividades e Funções de Tesouraria: as funções operacionais de Tesouraria,


como captação e aplicação de recursos não devem ser incluídas nas funções de
Controladoria, entretanto, as atividades de controle de contas a pagar e receber
cabe à Controladoria.

Muitos autores diferenciam as funções da Controladoria das da Tesouraria. Horngren et al. (2004, p.
16) diferenciam as funções da Controladoria das da Tesouraria, apresentando a distinção que faz o
Instituto de Executivos Financeiros, uma associação de tesoureiros e Controllers Corporativos:

Controladoria Tesouraria

1. Planejamento para o controle 1. Levantamento de capital

2. Relatórios e interpretação 2. Relações com os investidores

3. Avaliação e consultoria 3. Financiamento a curto prazo

4. Gestão Tributária 4. Relação com bancos e custódia

5. Declarações para o governo 5. Créditos e Cobrança

6. Salvaguarda dos ativos 6. Investimentos

7. Avaliação econômica 7. Gestão de risco (seguros)

9
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Em suma, as atividades da Controladoria devem ser definidas considerando o detalhamento de seus


produtos, que, por sua vez, devem ser agrupados pelas funções da Controladoria, decorrentes de seus
objetivos, que, em última análise, estão voltados para a gestão econômica na busca da eficácia da
organização.

Percebe-se uma controvérsia na atribuição das funções de Tesouraria e de Controladoria. Borinelli


(2006) atribui à Controladoria as atividades de controle de contas a pagar e receber. Para Padoveze
(2012), a função de Tesouraria ou Finanças é uma atividade de linha e operacional. Assumiu-se neste
trabalho a posição de Padoveze (2012), uma vez que a atividade de controlar as contas a pagar e
receber é função de linha e cabe à Tesouraria, que tem as funções de pagar e receber.

Quanto às atividades de auditoria interna, assumiram-se neste trabalho como atividades de


Controladoria as atividades relativas ao controle interno. As atividades de auditoria interna não devem
ser desempenhadas pela Controladoria, não só pela necessidade de segregação de funções, mas
principalmente pelas características de a função de auditoria ser mais voltada para o passado,
enquanto a Controladoria é mais voltada para o futuro.

Para Roehl-Anderson e Bragg (2004, p. 12-14), é comum as funções de Tesouraria, bem como as
Administrativas ou de Recursos Humanos, serem executadas pelo Controller em empresas de pequeno
porte, mas com o objetivo de adequar o organograma às pessoas disponíveis e com conhecimentos
técnicos. Ressalte-se que, nesse caso, o Controller, por uma mera carência de recursos humanos,
estaria exercendo uma função de Tesouraria ou Administrativa e não de Controladoria. É salutar, nessa
questão, referenciar a posição de Kanitz (1976) de que o controlador presta serviço de assessoria na
tarefa de controlar, ele mesmo não controla, sugere medidas corretivas à Presidência.

2.4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA CONTROLADORIA

Horngren et al. (2004, p. 14) apresentam o organograma da Controladoria com o Controller


subordinado ao Vice-Presidente Financeiro (que assessora todos os outros níveis da área de
manufatura), redundando assim uma autoridade de assessoria da equipe de Controladoria. Borinelli
(2006, p. 210-213) defende a subordinação da Controladoria à Presidência / Chief Executive Officer
(CEO). A pesquisa da dissertação de mestrado de Calijuri (2005, p. 98) aponta 71% dos Controllers
ocupando posição de Diretoria, demonstrando uma tendência de a Controladoria estar subordinada à
Presidência, à Vice-Presidência ou à Diretoria Geral, ocupando uma posição de linha.

10
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Enfim, existe uma grande controvérsia quanto à subordinação da Controladoria se diretamente à


Presidência, ou ao Diretor Financeiro, ou ainda ao Diretor Financeiro e Administrativo. De qualquer
forma, pela literatura, a Controladoria está ligada à alta administração. Na definição da estrutura
organizacional deve-se levar em consideração a situação específica de cada empresa, como o seu
tamanho e cultura organizacional. Se pelas condições específicas da empresa for adequado subordinar
a Controladoria à Diretoria Financeira, entende-se que não há nenhum problema.

Almeida et al. (2001, p. 349) subdivide o grau de autoridade em dois níveis: autoridade formal, que
envolve regras relacionadas a atividades e funções (normas, procedimentos e padrões); e a autoridade
informal, que se efetiva através das atividades típicas de consultoria e assessoria, como órgão de staff.
Sobre o entendimento do nível da autoridade da Controladoria, se de linha ou de assessoria, é
importante observar que a Controladoria acaba exercendo uma forte influência na gestão da empresa,
mas deve agir no papel de assessoria e, quando age coordenando o processo de gestão, está agindo
em nome do Presidente.

Anthony e Govindarajan (2008, p. 111-112) retratam a lealdade dividida dos Controllers de unidade
de negócio em relação ao Controller Corporativo e ao Gerente da unidade de negócio. Concorda-se
com a posição de Borinelli (2006, p. 217-219) de que o responsável pela unidade de Controladoria
Divisional deve se subordinar, hierarquicamente, à direção da divisional e, funcionalmente, à
Controladoria Corporativa.

Borinelli (2006, p. 222) apresenta as áreas que integram o órgão Controladoria, em termos da ECBC:
Contabilidade Geral ou Financeira; Contabilidade Societária; Contabilidade Gerencial; Planejamento,
Orçamento e Controle; Contabilidade de Custos; Contabilidade Fiscal ou Tributária; Seguros e Controle
Patrimonial; Controles Internos; Riscos; Sistemas de Informações.

2.5 PROCESSO DE GESTÃO E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES

Na busca da eficácia organizacional, a Controladoria utiliza-se de dois instrumentos para execução das
atividades: o processo de gestão e os sistemas de informações.

2.5.1 PROCESSO DE GESTÃO

O processo de gestão pode ser entendido como um processo que conduza a organização para o
cumprimento dos seus objetivos, através de seus gestores e da alta administração, envolvendo o
planejamento, a execução e o controle das ações. O papel da Controladoria, nesse contexto, é

11
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

coordenar o processo de gestão, que inclui o processo orçamentário, além de apoiar os gestores
gerando informações para a tomada de decisão e fornecendo instrumentos, como os modelos de
decisão, mensuração e de informação.

O Planejamento Estratégico é um plano formal das estratégias que a empresa definiu para o futuro,
visando assegurar o cumprimento da sua missão. Conforme Oliveira et al. (2004, p. 29), Controladoria
Estratégica significa planejar estrategicamente, exigindo do Controller a posse das informações e alta
dose de sensibilidade para identificar as ameaças e oportunidades que surgem no ambiente
empresarial. A Controladoria tem o papel no Planejamento Estratégico de coordenar o processo de
construção do plano operacional, de assessorar as unidades organizacionais na elaboração de seus
planos e de consolidar esses planos.

Segundo Miranda e Libonati (2002, p. 54), Planejamento Operacional “é o detalhamento e


quantificação das diretrizes definidas no planejamento estratégico”. Welsch (1992, p. 30-40), tratando
da dimensão temporal do planejamento, mescla as operações permanentes ao longo do tempo, do
curto ao longo prazo. Frezatti (2009) também considera o Planejamento Estratégico, o Plano de Longo
e Médio Prazo e, por fim, o Orçamento.

Welsch (1992) denomina o Orçamento como Plano Anual de Lucro, expresso em termos financeiros,
com a característica de ser um plano coordenado para as operações da empresa. Anthony e
Govindarajan (2008, p. 380-381) e Frezatti (2009, p. 15-16) definem o orçamento operacional
abrangendo um ano e contemplando medidas do Planejamento Estratégico. Frezatti (2004) analisa
também a abordagem Além do Orçamento, de Hope e Fraser (2003), em que é proposto o abandono
do orçamento anual, caracterizando um processo de gerenciamento flexível. Por fim, o autor
considera que os problemas citados pela abordagem Além do Orçamento não são novos nem são
ignorados pelos autores clássicos.

Controle é a fase do processo de gestão de acompanhamento do que foi planejado com o que está
sendo executado para garantir que os objetivos estabelecidos estejam sendo cumpridos. Na visão de
Peleias (2002, p. 26), é a etapa do processo de gestão que avalia a aderência entre os planos e sua
execução, analisa os desvios ocorridos identificando suas causas e direciona ações corretivas para
alcançar os objetivos propostos. Quanto às ações corretivas, cabe à Controladoria o papel de
assessoria e sugestão das ações corretivas, ficando para as áreas de linha tomar as decisões de adotar
as medidas.

12
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.5.2 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES

Os sistemas de informações servem para apoiar os administradores no processo de gestão do negócio,


seja nas operações rotineiras ou nas não rotineiras, através de sistemas de apoio às operações e
sistemas de apoio à gestão. Os sistemas de informações se integram com os sistemas de gestão e são
desenhados para atender esses sistemas, abrangendo, Planejamento Estratégico; Planejamento
Operacional de curto, médio e longo prazo; Simulações; Orçamento; Execução, Controle e Medidas
Corretivas; Avaliação de Desempenhos e de Resultados.

Padoveze (2012, p. 46) acrescenta aos sistemas de informação de Controladoria: Sistemas de


Informações de Apoio às Operações e de Apoio à Gestão, e os Sistemas Integrados de Gestão
Empresarial. Com a evolução da Tecnologia da Informação, esses sistemas passaram a ser de
responsabilidade desta área (TI). É importante ressaltar aqui a necessidade mandatória da
participação da Controladoria no mapeamento de processos antes da implantação dos sistemas não
só nos módulos de Controladoria mas também em todos os outros módulos, visando adequação do
sistema para fornecer informações gerenciais; e também tratar do aspecto de controle interno.

2.6 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Segundo Anthony e Govindarajan (2008, p. 460), “O objetivo dos sistemas de mensuração de


desempenho é implementar a estratégia.” Segundo os autores, se os fatores críticos de sucesso são
mensurados e recompensados, as pessoas são motivadas a alcançá-los.

Algumas metodologias devem ser destacadas na medição para avaliação de desempenho: (1) a
Contabilidade por Responsabilidade prepara a empresa, que optou por descentralização e gestão com
delegação de autoridade, para avaliar os resultados orçados e realizados por unidade de
responsabilidade; (2) Balanced Scorecard, um conjunto abrangente de medidas que surgiu como
metodologia para o sistema de medição e gestão estratégica para análise do desempenho
organizacional e (3) Remuneração por incentivos no processo de avaliação de desempenho os fatores
críticos de sucesso devem ser mensurados e recompensados para que as pessoas sejam motivadas a
alcançá-los.

Anthony e Govindarajan (2008, p. 514-515) tratam a remuneração total de um gerente composta por
três componentes: (1) salário, (2) benefícios, (3) remuneração por incentivo.

13
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Controladoria tem o papel de apoiar os gestores na quantificação dos valores do planejamento e


realizado, para que estes possam julgar perante expectativa pré-estabelecida e avaliar o desempenho
econômico do negócio, de um centro de lucro ou dos gestores.

2.7 ARTEFATOS GERENCIAIS UTILIZADOS PELA CONTROLADORIA

Borinelli (2006, p. 184-187) apresenta os artefatos de Contabilidade Gerencial e Controladoria, que


passaram a fazer parte da ECBC, que são reproduzidos abaixo.

Métodos, critérios e sistemas de custeio: Custeio por Absorção; Custeio Baseado em Atividades;
Custeio Pleno ou Integral; Custeio Variável; Custeio Direto; Custo Padrão; Custo de Reposição; Custeio
Meta; Custeio do Ciclo de Vida; Total Cost of Ownership (TCO).

Métodos de mensuração e avaliação, e medidas desempenho: Preços de Transferência; Moeda


Constante; Valor Presente; Retorno sobre o Investimento; Retorno sobre o Patrimônio Líquido;
Benchmarking; Economic Value Added (EVA); Market Value Added (MVA);

Filosofias e modelos de gestão: Planejamento (Estratégico e Operacional); Orçamento; Simulação;


Beyond Budgeting; Contabilidade por Responsabilidade; Kaizen; Just in Time (JIT);
Teoria das Restrições; Gestão Baseada em Atividades; Gecon (Modelo de Gestão Econômica);
Balanced Scorecard (BSC); Gestão Baseada em Valor (VBM); Gestão de Custos Interorganizacionais;
Análise de Cadeia de Valor; Planejamento Tributário; Mapa de Gestão de Riscos.

2.8 PESQUISAS UTILIZADAS COMO REFERÊNCIAS PARA ESTE TRABALHO

Autores, tais como Guerreiro, Cornachioni e Soutes (2011); Teixeira, Gonzaga, Santos e Nossa (2011);
Oyadomari, Cardoso, Mendonça Neto e Lima (2008); Soutes e Zen (2005); Frezatti (2006); Lunkes,
Schnorrenberger, Gasparetto e Vicente (2009); pesquisaram sobre a utilização pelas empresas de
ferramentas modernas e tradicionais de Contabilidade Gerencial, e funções da Controladoria, em
algumas dessas pesquisas analisou-se a associação entre o desempenho financeiro das empresas e a
utilização dessas ferramentas. Neste trabalho serão avaliados os resultados da pesquisa realizada com
as pesquisas de Teixeira, Frezatti e Lunkes, por serem as mais próximas com o foco desta pesquisa.

Os resultados da pesquisa de Teixeira et al. (2011) sugerem uma associação não aleatória fraca entre
desempenho econômico e as ferramentas tradicionais de Contabilidade Gerencial nas empresas do
estado do Espírito Santo.

14
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A pesquisa de Frezatti (2006) busca uma associação entre a aderência conceitual das entidades em
relação aos artefatos da Contabilidade Gerencial e o sucesso na obtenção de retorno para os
acionistas. O autor concluiu que não há uma associação entre os perfis gerais e o retorno.

A pesquisa de Lunkes et al. (2009) sobre funções da Controladoria em manuais e obras de referência
nos Estados Unidos, Alemanha e Brasil conclui que as funções mais citadas como sendo de
Controladoria são as de planejamento, com 87%, e de controle, com 83%, e estão bem próximas ao
consenso.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A natureza da pesquisa é de Fontes Primárias (questionários) e Secundárias (banco de dados Exame).


Quanto aos objetivos mais gerais, de acordo com Gil (2010, p. 27-28), as pesquisas podem ser
classificadas, como: exploratórias, descritivas e explicativas. No objetivo do estudo, a pesquisa pode
ser classificada como descritiva, porque descreve e analisa o papel da Controladoria e seus objetivos.

O objetivo deste estudo está delimitado em pesquisar a Controladoria de um grupo de empresas


nacionais e o objetivo secundário é analisar o desempenho econômico das empresas pesquisadas. A
análise de desempenho foi feita com base na pesquisa da Revista Exame “Melhores e Maiores – 2011”
que traz informações dos balanços de 1.246 empresas referentes ao exercício de 2010.

Do universo da pesquisa da Revista Exame, 1.246 empresas, selecionando-se as empresas privadas e


de controle brasileiro, restaram 860 empresas. Visando minimizar os custos e o tempo de pesquisa,
limitou-se às empresas da cidade de São Paulo, chegando-se a um número final na cidade de São Paulo
de 150 empresas. Em seguida, eliminaram-se as empresas do setor de Serviços, do setor de Energia.
Por fim, o número final das empresas selecionadas foi de 108 empresas.

Na pesquisa utilizaram-se questionários baseados nos conceitos da academia, para que se pudesse
testar a aderência destes com a prática da Controladoria das empresas. As questões foram distribuídas
por e-mail às empresas da pesquisa. As questões numeradas de 1 a 52 foram agrupadas em quatro
blocos, para que se pudessem avaliar os resultados individualmente e por blocos, conforme segue:
Bloco II – Modelo de Gestão; Bloco III – Objetivos e funções da Controladoria; Bloco IV – Processo de
Gestão; e Bloco V – Artefatos.

15
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

A média de aderência das empresas às questões nos blocos Gestão, Objetivos e Funções foi de 88%,
conforme Tabela 4.1, um percentual bem alto, podendo-se dizer que as definições do papel da
Controladoria, seus modelos e funções, para as empresas desta pesquisa, estão bem aderentes à
Estrutura Conceitual da Controladoria.

Tabela 4.1 – Resumo da aderência por bloco de questões

Blocos de Questões aderência


Média dos blocos de Gestão e Funções 88%
II - Modelo de Gestão 95%
III - Objetivos e Funções da Controladoria 90%
IV - Processo de Gestão 83%
total tradicional moderno
Média dos blocos - Artefatos 43% 72% 34%
V-1 Métodos, critérios e sistemas de custeio 35% 50% 23%
V-2 Métodos mensur., aval. e medidas desempenho 59% 88% 50%
V-3 Filosofia e modelos de gestão 40% 100% 31%
Média Geral de todos os blocos 59%
Fonte: Elaborada pelo autor.

Já o bloco de Artefatos obteve média de aderência das empresas às questões de 43%, metade da
média de aderência dos blocos de Gestão e Funções. O grande número de artefatos classificados como
modernos explica o baixo percentual médio de aderência à pesquisa desses três blocos de Artefatos.
Segundo Soutes e Zen (2005), um percentual pequeno das empresas está utilizando os artefatos do
quarto estágio, considerados modernos.

A média geral de todos os blocos, Tabela 4.1, foi de 59%, entretanto, pela diversidade do conteúdo, é
preferível explicitar o resultado em partes. Os conceitos, objetivos, funções e gestão, apresentados
nos três primeiros blocos, estão bem consolidados, com 88% de aderência; nos três últimos blocos, os
artefatos mais tradicionais estão bem consolidados, com 72% de aderência e os mais modernos estão
com metade da aderência, 34%. Dessa forma, acredita-se responder positivamente à questão de
pesquisa: “A Estrutura Conceitual praticada hoje pela Controladoria das empresas privadas de controle
brasileiro, da cidade de São Paulo, no cumprimento de seus objetivos, funções, e considerando
também os artefatos utilizados, é aderente à Estrutura Conceitual discutida na pesquisa acadêmica”.
Ressalva-se que, nas ferramentas utilizadas pela Controladoria, a parte dos artefatos modernos ainda
tem uma aderência relativamente baixa, 34%.

16
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os resultados desta pesquisa demonstraram haver uma associação entre aderência à pesquisa e
rentabilidade, conforme Tabela 4.2, tendo em vista a diferença de rentabilidade entre as empresas
com maior aderência, com rentabilidade média de 20%, e as empresas com menor aderência, com
rentabilidade de 15%; comprovando positivamente a Premissa P1 - “As empresas mais aderentes à
estrutura conceitual têm desempenho econômico melhor do que as empresas menos aderentes”.

Tabela 4.2 – Rentabilidade das mais aderentes x menos aderentes

qtde. de média de média de


Aderências empresas Aderência Rentabilidade
Mais aderentes 11 66,0% 20,3%

Menos aderentes 11 49,0% 15,0%


Fonte: Elaborada pelo autor.

Comprovadas as Premissas P1, assim como as duas questões de pesquisa, pode-se afirmar que o
segundo aspecto do problema da pesquisa foi respondido positivamente: “as empresas, com prática
aderente à Estrutura Conceitual discutida na pesquisa acadêmica, têm desempenho econômico
melhor do que as de prática não aderente”. Demonstrou-se também que as maiores empresas em
vendas obtiveram maior rentabilidade do que as empresas menores, comprovando positivamente a
Premissa P2 “As empresas maiores, por terem maior capacidade de investimento em recursos
tecnológicos e humanos, conseguem melhor desempenho econômico do que as empresas menores”.
Comprovadas como verdadeiras as Premissas P1 e P2, verificou-se a não coincidência entre as 11
empresas mais aderentes e as 11 maiores em vendas; reforçando o segundo aspecto do problema da
pesquisa, “as empresas, com prática aderente à Estrutura Conceitual discutida na pesquisa acadêmica,
têm desempenho econômico melhor do que as de prática não aderente” e, com isso, considerar que
o objetivo principal do trabalho foi atingido: “verificar se a Controladoria das empresas privadas de
controle brasileiro, da cidade de São Paulo, está praticando a Estrutura Conceitual da Controladoria
discutida na pesquisa acadêmica, em seus aspectos procedimentais: objetivos, funções e artefatos
utilizados”.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 RESULTADOS DA PESQUISA

A média de aderência das empresas às questões dos três primeiros blocos que tratam de gestão,
objetivos e funções foi de 88%, uma aderência bem alta. A média de aderência das empresas às

17
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

questões dos três blocos que tratam de artefatos foi de 43%. Destes, a média referente aos artefatos
considerados tradicionais foi de 72%, podendo-se dizer que estes e os dos primeiros blocos estão bem
consolidados.

A média de aderência dos artefatos modernos foi de 34%, entretanto há que se considerar que, na
composição destes 34%, muitos artefatos têm aderência na faixa entre 50% e 100%; além do que, a
implementação desses artefatos modernos exige recursos, tais como tempo, pessoas e treinamento,
o que inibe uma aderência rápida ou imediata a esses artefatos.

Assim sendo, acredita-se responder positivamente à questão de pesquisa “A Estrutura Conceitual


praticada hoje pela Controladoria das empresas privadas de controle brasileiro, da cidade de São
Paulo, no cumprimento de seus objetivos, funções, e considerando também os artefatos utilizados, é
aderente à Estrutura Conceitual discutida na pesquisa acadêmica”. Ressalva-se que, nas ferramentas
utilizadas pela Controladoria, a parte dos artefatos modernos ainda tem uma aderência relativamente
baixa, 34%.

O resultado da pesquisa demonstrou também a existência de associação entre aderência à pesquisa e


rentabilidade, tendo em vista a diferença de rentabilidade entre as empresas com maior e menor
aderência, comprovando positivamente a Premissa P1 “As empresas mais aderentes à estrutura
conceitual têm desempenho econômico melhor do que as empresas menos aderentes”.

Demonstrou-se também que as maiores empresas em vendas obtiveram maior rentabilidade do que
as empresas menores, comprovando positivamente a Premissa P2 “As empresas maiores, por terem
maior capacidade de investimento em recursos tecnológicos e humanos, conseguem melhor
desempenho econômico do que as empresas menores”.

Comprovadas as Premissas P1 e P2, assim como as duas questões de pesquisa, considera-se que o
objetivo principal do trabalho foi atingido: “verificar se a Controladoria das empresas privadas de
controle brasileiro, da cidade de São Paulo, está praticando a Estrutura Conceitual da Controladoria
discutida na pesquisa acadêmica, em seus aspectos procedimentais: objetivos, funções e artefatos
utilizados”.

5.2 LIMITAÇÕES DO TRABALHO

Entende-se como uma limitação o fato de se ter selecionado somente empresas da cidade de São
Paulo, e ainda ter eliminado empresas do setor de Serviços, o que limitou o número de empresas da
pesquisa a 108 empresas e, por consequência, o número de respondentes a 23. Esse número de

18
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

respondentes dificultou alguns tipos de análise, como, por exemplo, a tabulação por setor que levou
alguns setores a serem representados por apenas uma empresa.

A pesquisa se restringiu à aplicação de questionário, não abrangendo entrevista, o que pode ter
provocado uma perda na qualidade das respostas. Com entrevista a pesquisa poderia ter sido mais
depurada, conseguindo explicitar melhor alguns artefatos ou funções, evitando interpretações
errôneas ou distorcidas, como algumas respostas identificadas com problema na questão (40) Beyond
Budgeting, conflitando com as respostas da questão (38) Orçamento.

5.3 SUGESTÕES PARA NOVOS TRABALHOS

Ampliação da amostra para mais empresas brasileiras, também o número de empresas por setor e
abranger outras regiões do país, aumentando o número de respondentes, proporcionando maior
representatividade para a empresa brasileira.

Tabular as aderências por regiões, explorar melhor as características das empresas mais e menos
rentáveis, assim como as maiores e menores.

Cruzar as aderências com informações de cargo e níveis de instrução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Lauro Brito de et al. Controladoria. In: CATELLI, Armando (Coord.). Controladoria: uma
abordagem da Gestão Econômica - Gecon. São Paulo: Atlas, 2001. p. 343-355.

ANTHONY, Robert N. Contabilidade gerencial: introdução à contabilidade. Tradução da 1. ed. Luiz


Aparecido Caruso. São Paulo: Atlas, 1979.

______; GOVINDARAJAN, Vijay. Sistemas de controle gerencial. Tradução da 12. ed. diversos autores.
São Paulo: McGraw-Hill, 2008.

BORINELLI, Márcio Luiz. Estrutura conceitual básica de controladoria: sistematização à luz da teoria e
da práxis. 2006. Tese (Doutorado em Contabilidade) – Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

CALIJURI, Mônica Sionara Schpallir. O papel do controller: um estudo no contexto brasileiro. 2005.
Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras) – Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo, 2005.

FREZATTI, Fábio. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2009.

19
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

______. O paradigma econômico na contabilidade gerencial: um estudo empírico sobre a associação


entre as taxas de retorno sobre o patrimônio líquido e diferentes perfis da contabilidade gerencial.
Revista de Administração, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 5-17, jan./fev./mar. 2006.

______. Além do Orçamento: existiria alguma chance de melhoria do gerenciamento? Brazilian


Business Review. v. 1, n. 2, p. 122-140, 2004.

______ et al. Controle gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico,
comportamental e sociológico. São Paulo: Atlas, 2009.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GUERREIRO, Reinaldo et al. Empresas que se destacam pela qualidade das informações a seus usuários
externos também se destacam pela utilização de artefatos modernos de contabilidade gerencial?
Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 22, n. 55, jan./abr. 2011.

HORNGREN, Charles T. et al. O. Contabilidade gerencial. 12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

IUDÍCIBUS, Sérgio. Contabilidade gerencial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

KANITZ, Stephen Charles. Controladoria: teoria e estudo de casos. São Paulo: Pioneira, 1976.

LUNKES, Rogério João et al. Considerações sobre as funções da Controladoria nos Estados Unidos,
Alemanha e Brasil. Revista Universo Contábil, FURB, Blumenau, v. 5, n. 4, p. 63-75, out./dez. 2009.

MELHORES & Maiores 2011 – As 1000 maiores empresas do Brasil. Revista Exame, edição especial jul.
2011. Disponível

em: <http://exame.abril.com.br/negocios/melhores-e- maiores/empresas/maiores/1/2010/vendas/-


/bens-de-consumo/-/->. Acesso em: 30 out. 2012.

MIRANDA, Luiz Carlos; LIBONATI, Jeronymo José. Planejamento operacional. In: SCHMIDT, Paulo
(Org.). Controladoria: agregando valor para a empresa. Porto Alegre: Bookman, 2002. p. 53-78.

MOSIMANN, Clara Pellegrinello; FISCH, Sílvio. Controladoria: seu papel na administração das
empresas. São Paulo: Atlas, 1999.

OLIVEIRA, Antonio Benedito Silva. Controladoria: fundamentos do controle empresarial. São Paulo:
Saraiva, 2009.

OLIVEIRA, Luís Martins et al. Controladoria estratégica. São Paulo: Atlas, 2004.

OYADOMARI, José Carlos et al. Fatores que influenciam a adoção de artefatos de controle gerencial
nas empresas brasileiras. Um estudo exploratório sob a ótica da teoria institucional. Revista de
Contabilidade e Organizações, FEARP, USP, v. 2, n. 2, p. 55-70, jan./abr. 2008.

PADOVEZE, Clóvis Luís. Controladoria estratégica e operacional: conceitos, estrutura, aplicação. 3. ed.
São Paulo: Cengage Learning, 2012.

______. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 7. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.

20
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

PELEIAS, Ivam Ricardo. Controladoria: gestão eficaz utilizando padrões. São Paulo: Saraiva, 2002.

ROEHL-ANDERSON, Janice M.; BRAGG, Steven M. Controllership: the work of the managerial
accountant. 7th ed. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2004.

SOUTES, Dione Olesczuk; ZEN, Maria José de C. M. de. Estágios evolutivos da contabilidade gerencial
em empresas brasileiras. In: 5º CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, São Paulo,
10 e 11 out. 2005.

TEIXEIRA, Aridelmo José Campanharo et al. A utilização de ferramentas de contabilidade gerencial nas
empresas do estado do Espírito Santo. Brazilian Business Review, v. 8, n. 3, p. 108-127, jul./set. 2011.

WELSCH, Glenn A. Orçamento empresarial. Tradução Antonio Zoratto Sanvicente. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 1992.

21
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 2

EXPECTATIVA DE RETORNO E DE RISCO: UM ESTUDO DO


BENEFICIAMENTO DA CASTANHA DE CAJU NO ESTADO DO
RIO GRANDE DO NORTE
DOI: 10.37423/200300484

Andrea Kaliany Da Costa Lima - andreakaliany@yahoo.com.br

Antonio Erivando Xavier Júnior - erivando@ufersa.edu.br


Luciana Batista Sales - luciana@ufersa.edu.br
Tiago Henrique De Souza Echternacht - tiagoechternacht@gmail.com
Alceu Souza - alceu.souza@pucpr.br

22
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

O cajueiro é uma planta tropical que tem sua gênese no Brasil, distribuída praticamente em todo o
território nacional, principalmente na Região Nordeste, a qual concentra uma área plantada superior
a 650 mil hectares, correspondendo a mais de 95% de toda a produção do país, sendo a maior
representatividade produtiva centralizada nos estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia.
O seu fruto é a castanha, que é destinado principalmente ao mercado externo, dando origem, em
média, a 150 milhões de dólares ao ano (MONTENEGRO, et al., 2003).

O que motivou este estudo a analisar as expectativas de retorno e de risco relacionados ao


beneficiamento da amêndoa da castanha de caju no estado do Rio Grande do Norte – ACC, por meio
da metodologia multiíndice, utilizando dois conjuntos de indicadores: o primeiro sendo composto por
Valor Presente (VP), Valor Presente Líquido (VPL), Valor Presente Líquido anualizado (VPLa), Índice
Benefício/Custo (IBC) e Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA), empregados para avaliar a
percepção de retorno. E o segundo faz referência ao Índice de Taxa Mínima de Atratividade e Taxa
Interna de Retorno (TMA/TIR), índice de recuperação do capital investido ( Pay-back/N), Grau de
comportamento da Receita (GCR), Risco de Gestão e Risco de negócio, voltados a melhorar a
percepção do risco (SOUZA; CLEMENTE, 2012).

O parque industrial brasileiro da castanha é composto por 12 organizações, sendo oito no Ceará, três
no Rio Grande do Norte e uma no Piauí, com uma capacidade de processar 360 mil toneladas de
castanha, originando 70 mil toneladas de amêndoa e 45 mil toneladas de líquido da castanha de caju
(CARNEIRO, 2013).

Com relação ao mercado interno, os preços entre os estados brasileiros produtores, quando
comparados, constatou-se que os valores recebidos pela safra de 2012, recuaram 0,7% no Ceará e
2,0% no Piauí. No entanto, não foi evidenciado diferença no Rio Grande do Norte (TEIXEIRENSE, 2013).

Já no que diz repeito à safra de 2013, observou-se que a produção de 259.950 toneladas de castanha
de caju teve uma variação positiva na ordem de 241,80% em relação ao ano passado (IBGE, 2013).
Diversidade causada pela severidade climática que acometeu 2012, uma das maiores dos últimos 40
anos.

As exportações de amêndoas de castanha de caju realizadas entre janeiro a maio/2013, fazendo


referência ao mesmo período de 2012, teve um aumento de 23,1%, saindo de 7.391 para 9.096

23
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

toneladas. Causado pela rápida recuperação econômica dos principais países importadores: EUA,
47,1%, Países Baixos, 18,2%, Canadá, 6,6%, e outros 28,1% (TEIXEIRENSE, 2013).

Apesar das condições climáticas em 2012, o estado do Rio Grande do Norte ampliou suas exportações
em 15%, bem como reduziu as importações em 6,5%, comparando com o mesmo período de 2011. As
exportações potiguares foram de US$ 121,6 milhões, e as importações US$ 106,9 milhões, resultando
em saldo da balança comercial de US$ 7 milhões. Sendo a castanha de caju responsável por US$ 22,8
milhões, considerada o principal produto exportado do cluster da fruticultura (CASTRO, 2012).

Nos estados, que representam a maior produtividade da castanha de caju, a expectativa de colheita
em 2013, é favorável, em virtude das precipitações pluviométricas terem acontecido em volume
aceitável para suprir a necessidade reprodutiva dos cajueirais. (TEIXEIRENSE, 2013).

Cabe ressaltar que é um fator determinante para o seu desempenho produtivo, além da aprovação do
Fundo de Apoio a Cultura do Caju com o objetivo de desenvolver o financiamento e a modernização
da agroindústria do setor, fortalecer a exportação, proporcionar a defesa do preço do mercado interno
e externo, assegurar os direitos e melhorias para o trabalhador rural, impulsionar o aumento da
produtividade, bem como o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à qualificação e crescimento
da produção do caju (SINDICAJU, 2013).

Nesse contexto, procurou-se responder qual é a expectativa de retorno e de risco do projeto de


beneficiamento da amêndoa da castanha de caju no estado do Rio Grande do Norte? Para tanto,
evidenciaram-se, no referencial teórico, o processo produtivo, o produto, o investimento realizado, as
fontes de recursos, a metodologia do custeio variável, o fluxo de caixa operacional e a análise de
viabilidade do projeto. Posteriormente, destacaram-se o procedimento metodológico, a análise e
discussão dos resultados, e por fim as considerações finais.

2. O PROCESSO PRODUTIVO E O PRODUTO

O processo produtivo da amêndoa de castanha de caju é um exemplo de produção conjunta, que a


partir de uma mesma matéria-prima, a castanha de caju in natura, posteriormente a um processo
produtivo comum, obtém-se mais de um produto, não dissociáveis antes do ponto de separação,
correspondendo à gênese dos custos conjuntos. Para Martins (2003, p. 162), essa característica de
produção “acontece na quase totalidade dos produtos naturais na agroindústria”.

24
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Caracterizado, principalmente por uma produção contínua que, no caso, da produção da ACC, passa
pelas seguintes etapas: secagem, pesagem, classificação, armazenamento, cozimento, corte, estufa,
umidificação, despeliculagem, seleção, fritura e estoque final. Durante todo o processo acontece a
seleção das amêndoas. A categorização é realizada com base na integridade física: cor, tamanho e
defeito, dando origem a 14 tipos de castanha inteira, 09 tipos de castanha em pedaços, 09 tipos de
castanha granulada e dois tipos de farinha.

Apesar da diversidade de produtos possíveis, o produto principal deste projeto, corresponde à


amêndoa inteira, que é responsável por 80% do faturamento, a qual é embalada de forma
diferenciada, em latinha tipo exportação, contendo 150g, porém serão destinadas ao mercado
interno, como posicionamento estratégico para sua inserção. Os 20% restantes das amêndoas serão
embaladas, a vácuo, em saquinho também de 150g. Porter (2004, p. 20) ressalta que a “diferenciação
do produto cria isolamento contra a luta competitiva, porque os compradores têm preferências e
sentimentos de lealdade com relação a determinados vendedores”.

3. INVESTIMENTO

O investimento inicial para o projeto da ACC corresponde a um aporte de capital no valor de R$


324.960,00. O qual foi direcionado para investimentos em ativos fixos nas áreas produtiva,
administrativa, comercial e de uso compartilhado, bem como para capital de giro e despesas pré-
operacionais. Para Souza e Clemente (2012, p.107), “os ativos fixos compreendem os terrenos, obras
civis, máquinas e equipamentos, veículos, ferramentas, infraestrutura de comunicação, hardware e
software, móveis e utensílios etc.”, conforme tabela abaixo:

Tabela 1 – Investimento total

Descrição Valor
Investimento em Ativo Fixo na Área Industrial 157.360
Investimento em Ativo Fixo na Área Administrativa 10.740
Investimento em Ativo Fixo na Área Comercial 9.460
Investimento em Ativos Fixos de uso Compartilhado 40.340
Investimentos em Capital de Giro 83.850
Despesas Pré-operacionais 23.200
Total 324.950
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

25
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O processo de beneficiamento da ACC vem evoluindo ao longo do tempo, o que é resultado de uma
adequação necessária para o seu posicionamento competitivo no mercado. Paiva, Silva Neto e Pessoa
(2000) ressaltam a importância da inclusão de novos avanços em equipamentos e processos,
proporcionando a obtenção de amêndoas inteiras e alvas em maior proporção e melhor qualidade,
otimizando parâmetros técnicos como: a eficiência produtiva, redução do tempo, temperatura e
dispositivos de segurança. O projeto indicou aquisições de máquinas, equipamentos e móveis, entre
outros para a linha de produção, conforme tabela abaixo:

Tabela 2 – Investimentos em ativo fixo na área operacional

Descrição Quant. Valor Descrição Quant. Valor


Total Total
Gerador de Vapor 1 34.500 Moinho de Martelo Rotativo 1 1.700
Estufa Metálica 1 9.775 Ventilador Pneumático 1 3.308
Carros Metálicos 2 2.300 Linha de Vapor 15 1.650
Bandejas Metálicas 40 4.400 Bancada Dupla em aço inox 3 3.951
Linha de Vapor 1 2.400 Caldeira Vertical Cilíndrica 1 37.000
Fritadeira de Aço 1 4.720 Monobloco Branco 20 710
Classificador 1 4.050 Banqueta 60 cm x 30 cm 30 1.461
Mesa de Classificação e
3 4.575 Balança US 30/2 1 1.040
Raspagem
Mesa de Classificação de
1 1.450 Selador 1 689
Amêndoa
Fritadeira de Amêndoa 1 1.500 Lavadora 1 538
Centrifuga de Amêndoa 1 2.200 Regulador de Argomio 1 180
Gerador de Vapor sob pressão Sistema de Umidificação
1 8.626
Vertical Câmara e Porta Metálica
Autoclave 1 4.200 Abraçadeira 9x13mm 3 3
Estufa Metálica 1 6.900 Selador com sistema 1 7.000
Carros Metálicos 2 1.364 Mangueira Simples 5/16 10 30
Bandejas Metálicas 24 2.640
Moinho de Martelo Rotativo 1 1.700 Total 95.600
Fonte: Dados da pesquisa (2013

No que diz respeito ao capital de giro, pretende-se investir R$ 83.850, a fim de disponibilizar recursos
para a organização até o momento em que as vendas não sejam suficientes para financiar as
necessidades operacionais demandadas. Que segundo Assaf Neto e Silva (2007, p. 15) “são obrigações
operacionais identificadas desde a aquisição de matérias-primas até o recebimento pela venda do
produto acabado”. Por meio de análise do fluxo de caixa, decidiu-se garantir as atividades
organizacionais por três meses, conforme apresentado na tabela abaixo:

26
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3 – Investimentos em capital de giro

Descrição Valor mensal Coeficiente Valor


Salários e encargos sociais 13.000 3 39.000
Matéria prima 8.450 3 25.350
Material Secundários 2.000 3 6.000
Utilidades (Água, luz, combustível, ...) 4.500 3 13.500
Total 27.950 83.850
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

3.1. FONTES DE RECURSOS

Será necessário para a consecução do projeto da ACC, um capital de R$ 324.950,00. Sendo R$


48.742,00 provenientes de recursos próprios e R$ 276.207,00 oriundos de recursos de terceiros,
representando um percentual de 15% e 85% respectivamente, conforme tabela abaixo:

Tabela 4 – Fontes de recursos para financiar o projeto

Descrição Custo do Capital Valor Participação


Recursos Próprios 7,0% 48.742 15,0%
Financiamento a Longo Prazo (BNDES) 11,0% 276.207 85,0%
Total 324.950 100,0%
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

O valor financiado para o projeto da ACC corresponde a R$ 276.207,00, a uma taxa anual de 11,00%,
sendo equivalente a uma taxa de 0,873 ao mês em um período de 60 meses, análogo há 05 anos.
Considerando, para esse financiamento, uma carência de 01 ano.

3.2. CUSTEIO VARIÁVEL

Implica em atribuir ao produto apenas os custos variáveis que estão relacionados com a sua produção,
os quais são os materiais diretos, a mão de obra direta e os custos indiretos de fabricação variáveis.
Os custos fixos são associados à estrutura operacional da empresa e considerados como despesas do
período, eliminando a necessidade de rateio. Garrison, Noreen e Brewer (2007) afirmam que o custo
de uma unidade fabricada em estoque, ou no custo dos produtos vendidos não possui qualquer custo
geral fixo de produção. Bem como percebê-lo incorretamente conduz a muitos problemas de gestão,
incluindo decisões incorretas de fixação de preço de venda.

Para Bornia (2009, p. 35) “o custeio variável está relacionado principalmente com a utilização de custos
para o apoio a decisões de curto prazo”. Com esse objetivo, identificou-se o custo variável unitário da

27
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ACC, o qual será deduzido da sua receita unitária para a obtenção da margem de contribuição
marginal. Representando a parcela remanescente do preço de venda para a cobertura dos custos e
despesas fixas e geração de lucro por produto vendido. Verificou-se como custo variável unitário: a
matéria-prima, embalagem, gás de cozinha, gordura vegetal, sal e energia elétrica para embalagens
de 150g. Nesse caso, a mão de obra direta foi classificada como um custo fixo, conforme tabela e
gráficos apresentados:

Tabela 5 - Custo variável unitário

Especificação Castanha Tipo 1 Castanha Tipo 2


Matéria prima 0,21 0,21
Embalagem 3,50 1,50
Gás de Cozinha 0,05 0,05
Gordura Vegetal 0,10 0,10
Sal 0,05 0,05
Energia elétrica 0,11 0,11
Total 4,02 2,02
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

Custos Variáveis Catanha Tipo 2 Custos Variáveis Castanha Tipo 1


Matéria prima Embalagem Gás de Cozinha Matéria prima Embalagem Gás de Cozinha
Gordura Vegetal Sal Energia eletrica Gordura Vegetal Sal Energia eletrica
5% 3% 5% 3% 1%3% 5%
3% 1%
10%

74% 87%

Figura 1 – Custos variáveis da ACC tipo 1 e tipo 2

3.3. DEMONSTRATIVO DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO SOB O CUSTEIO DIRETO

A demonstração de resultado, segundo Assaf Neto (2007, p. 101) “tem como finalidade exclusiva
apurar o lucro ou prejuízo de exercício. A sua composição engloba as receitas, as despesas, os ganhos
e as perdas apuradas”. Já sob o custeio direto, esse relatório contempla um demonstrativo no formato
de margem de contribuição, do qual podem ser retirados dados necessários para análise do ponto de
equilíbrio. Garrison, Noreen e Brewer (2007, p. 238) afirmam que “no custeio variável, o lucro de um
período não é afetado por variações de estoques, bem como os lucros variam na mesma direção das
vendas”.

28
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para o autor, o valor total dos custos fixos surge explicitamente na demonstração de resultado,
salientando que o valor absoluto dos custos fixos necessita ser garantido para que a organização
verdadeiramente tenha lucro. Haja vista que o lucro operacional líquido do custeio variável se
aproxima mais do fluxo líquido de caixa.

Souza e Clemente (2012, p. 112) afirmam que “sob a ótica do custeio variável, a venda e não a
produção impulsiona a empresa, pois se admite uma relação inversa entre produção e vendas”. A ACC
apresenta as projeções dos demonstrativos de resultado do exercício durante o período estimado de
10 anos, especificando mensalmente cada resultado. Evidenciou-se que nos quatro primeiros anos, o
negócio operaria com prejuízo, mas a partir do quinto ano, apresentaria um resultado positivo,
conforme tabela abaixo:

Tabela 6 – Demonstrativo de resultado do exercício sob custeio direto


DRE ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6 ANO 7 ANO 8 ANO 9 ANO 10
QUANTIDADE 20.000 25.000 34.000 44.000 52.000 59.050 60.000 60.000 60.000 60.000
PREÇO 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18
QUANTIDADE 4.000 5.000 6.800 8.800 10.400 11.810 12.000 12.000 12.000 12.000
PREÇO 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
FAT URAMENTO 400.000 500.000 680.000 880.000 1.040.000 1.181.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000

Faturamento Bruto 400.000 500.000 680.000 880.000 1.040.000 1.181.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000
(-) Imposto - Simples 29.360 36.700 54.672 71.280 91.312 104.637 106.320 106.320 106.320 106.320
Receita Líquida de Vendas 370.640 463.300 625.328 808.720 948.688 1.076.363 1.093.680 1.093.680 1.093.680 1.093.680
(-) Custo Variável do Produto Vendido 90.250 112.812 153.424 198.549 234.649 266.462 270.749 270.749 270.749 270.749
(=) Margem Bruta 280.390 350.488 471.904 610.171 714.039 809.901 822.931 822.931 1.033.720 1.033.720
(-) Despesas Variáveis 20.400 25.500 34.680 44.880 53.040 60.231 61.200 24.000 24.000 24.000
(=) Margem Líquida 259.990 324.988 437.224 565.291 660.999 749.670 761.731 798.931 1.009.720 1.009.720
(-) Custos Fixos 151.110 257.869 329.705 398.133 462.361 437.892 446.144 453.029 453.029 453.029
(-) Despesas Fixas (exclusive juros) 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 198.064 198.064
(=) Resultado antes de Juros, IR e CSL (65.636) (107.396) (66.997) (7.358) 24.122 137.262 141.072 171.386 358.627 358.627
(-) Despesas Fixas de Juros 28.951 25.633 18.396 11.158 3.920 - - - - -
(=) Resultado (94.586) (133.030) (85.393) (18.516) 20.202 137.262 141.072 171.386 358.627 358.627

Fonte: Dados da pesquisa (2013)

3.4. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL

De acordo com Assaf Neto e Silva (2007, p. 39), o fluxo de caixa é uma ferramenta que permite o
planejamento e o controle dos recursos financeiros de uma empresa. Sendo imperioso para o processo
de tomada de decisões financeiras. Os autores definem “o fluxo de caixa como um instrumento que
relaciona os ingressos e saídas (desembolsos) de recursos monetários no âmbito de uma organização
em determinado intervalo de tempo”.

A ACC representa, em seu fluxo de caixa, uma entrada das suas vendas de 40% à vista, 30% para 30
dias e o restante para 60 dias. Já no que diz respeito às saídas, relacionadas aos fornecedores, os
pagamentos ficaram 50% à vista e 50% para 30 dias. Como também estão destacados os gastos

29
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

referentes aos impostos, contribuições, custos e despesas variáveis e fixas. Esses gastos foram
lançados mensalmente, durante um período de 10 anos.

Em se tratando do fluxo de caixa do projeto, a organização registra as entradas e saídas de caixa a


partir do ano 0, indicando os investimentos iniciais em ativos fixos, despesas pré-operacionais, capital
de giro e financiamento, bem como o valor residual apresentado no ano 10, representando 20% do
valor dos ativos fixos, conforme tabela abaixo:

Tabela 7 – Fluxo de caixa do projeto

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6 ANO 7 ANO 8 ANO 9 ANO 10

Entradas de Caixa 367.012 493.559 660.967 871.218 1.022.748 1.178.611 1.197.310 1.201.304 1.200.000 1.260.000

Saídas de Caixa 480.108 719.312 728.276 897.474 1.017.589 1.043.509 1.058.581 1.065.988 1.089.362 1.100.643

SALDO DE CAIXA 0 -113.096 -225.753 -67.309 -26.256 5.159 135.102 138.729 135.316 110.638 159.357

(+) Depreciação 19.897 24.259 32.569 40.485 47.915 53.073 54.027 54.824 54.824 54.824

(-) Amortização do Financiamento 69.052 69.052 69.052 69.052

(-) Investimento Inicial em Ativo Fixo 217.900


AJUSTES

(-) Despesas pré-operacionais 23.200

(-) Capital de Giro 83.850

(+) Liberação do Financiamento 276.207

(+) Valor Residual 43.580

(=) Fluxo de Caixa do Investidor -48.742 -93.198 -270.546 -103.792 -54.822 -15.978 188.175 192.756 190.140 165.461 257.760

Fonte: Dados da pesquisa (2013)

Utilizou-se a metodologia multiíndice desenvolvida por Souza e Clemente (2012), para fundamentar o
processo decisório, quanto à aceitação ou rejeição do projeto da ACC. A sua análise ocorreu com a
utilização de indicadores classificados em dois grupos: o primeiro sendo composto por VP, VPL, VPLa,
IBC e ROIA, empregados para avaliar a percepção de retorno, e o segundo faz referência a TMA/TIR,
Pay-back/N, Grau de comportamento da Receita (GCR), Risco de Gestão e Risco de negócio, voltados
a melhorar a percepção do risco (SOUZA; CLEMENTE, 2012, p. 124). Assaf Neto (2007) afirma que a
posição de um investidor no que diz respeito ao risco é pessoal, não sendo possível identificar uma
única resposta para todas as situações.

Para Souza e Clemente (2012), o retorno adicional sobre o investimento (ROIA) é o índice mais
indicado para a estimativa de rentabilidade, expressando a riqueza gerada pelo projeto, bem como
possui a prerrogativa de expurgar o efeito cruzado da TMA, que corresponde a melhor taxa, com baixo
grau de risco para o capital que será investido. Os autores enfatizam que o risco financeiro do projeto
pode ser calculado pela probabilidade da TIR ser menor do que a TMA, na condição da sua distribuição

30
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de probabilidade ser conhecida. Ressaltam também que se a sua distribuição não for conhecida, a
proximidade da TIR em relação à TMA pode ser interpretada como uma medida de risco.

O pay-back é um indicador que evidencia o tempo necessário para a recuperação do capital investido.
Pois segundo os autores, ao relacioná-lo com a vida útil do projeto, aprimora a percepção do risco no
que diz respeito ao investimento. Mais dois indicadores de risco foram utilizados na análise,
abordando os aspectos de risco de gestão e risco de negócio. Em se tratando do risco de gestão, o
mesmo faz referência ao nível de aprendizagem adquirido ao longo do tempo, do processo de
produção, comercialização, canais de distribuição e, essencialmente, na orientação de conduzir as
negociações em momentos desfavoráveis. Já no que diz respeito ao risco do negócio, esse indicador
está vinculado a fatores não controláveis que afetam o agronegócio, como as forças que regem o
mercado e as condições climáticas.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nessa fase, delinearam-se os procedimentos necessários para mapear as ações voltadas ao objetivo
de analisar as expectativas de retorno e de risco relacionados ao beneficiamento da amêndoa da
castanha de caju no estado do Rio Grande do Norte – ACC. Utilizou-se a metodologia multiíndice
desenvolvida por Souza e Clemente (2012), para fundamentar o processo decisório, quanto à
aceitação ou rejeição do projeto da ACC.

A sua apreciação ocorreu com a utilização de alguns indicadores classificados em dois grupos: o
primeiro composto por VP, VPL, VPLa, IBC e ROIA, empregados para avaliar a percepção de retorno. E
o segundo faz referência a TMA/TIR, Pay-back/N, Grau de comportamento da Receita (GCR), Risco de
Gestão e Risco de negócio, direcionados a melhorar a percepção do risco (SOUZA; CLEMENTE, 2012,
p. 124).

Este estudo trata de uma pesquisa aplicada quanto à sua natureza; descritiva quanto ao seu objetivo;
estudo de caso, a partir de uma referência espelho, quanto à estratégia de abordagem; levantamento
de dados primários e secundários, quanto ao procedimento de coletada de dados; e quantitativa
quanto à análise dos dados. (SAMPIERI, COLLADO LUCIO, 2006; LAKATOS, MARCONI, 2009).

Utilizou-se o Excel (2007) para a análise inicial dos indicadores, bem como o software Crystal Ball
(versão 11.1), com a finalidade de realizar simulações para determinar a probabilidade de ocorrência
dos indicadores de retorno e de risco, com o propósito de melhorar a percepção dos retornos e dos
riscos associados ao empreendimento.

31
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5. RESULTADOS

Nesta seção, analisaram-se os indicadores de retorno (Valor presente líquido, Valor presente líquido
anualizado, Índice benefício/custo e o Retorno adicional sobre o investimento), bem como os
indicadores de risco (Taxa interna de retorno, índice TMA/TIR, Payback, Índice Payback/N, Grau de
comprometimento da receita, Risco de gestão e Risco de negócio), conforme tabelas apresentadas
abaixo:

Tabela 8 – Indicadores de retorno x Indicadores de risco

Indicadores de Retorno Indicadores de Risco


TMA 7,0% Taxa Interna de Retorno 9,25%
Valor Presente 115.776 Índice TMA/TIR 0,76
Valor Presente Líquido 67.034 Payback 6,5
Valor Presente Líquido Anualizado 9.544 Índice Payback/N 0,65
Índice Benefício/Custo 2,38 Grau de Comprometimento da Receita 0,71
Retorno Adicional Sobre Investimento 9,04% Risco de Gestão 0,40
Risco do Negócio 0,46
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

5.1. INDICADORES DE RETORNO

5.1.1. VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

Investiu-se, inicialmente, no projeto da ACC, a quantia de R$ 324.950,00 com a expectativa de


recuperar o investimento inicial, bem como de auferir ganhos sobre o capital, caso tivesse sido
aplicado a uma TMA de 7% ao ano, restando-lhe, ainda, um valor presente líquido de R$ 67.034,00.
Haja vista que, para esse retorno, é necessária uma produção de 474.050 latinhas e 94.010 saquinhos
de ACC para um período de 10 anos. Considerando essa análise, pode-se sugerir que entre as
alternativas de realizar o empreendimento e aplicá-lo no mercado financeiro a uma taxa de 7% a.a
(TMA), a opção de investir no negócio apresenta um resultado mais favorável. No entanto, não se deve
considerar esse indicador determinante para suportar uma decisão de investimento, porque segundo
Souza e Clemente (2012, p. 76), “nenhum número é bom ou ruim, a menos que possa ser comparado
com alguma referência”.

32
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.1.2. VALOR PRESENTE LÍQUIDO ANUALIZADO (VPLA)

Buscou-se analisar os dados do empreendimento com base no Valor Presente Líquido Anualizado
(VPLa), o qual foi utilizado como referência para ser comparado com o VPL. O VPLa do projeto da ACC
corresponde a R$ 9.544,00 para cada ano considerado no investimento, sugerindo o retorno do
investimento disseminando ao longo dos 10 anos, mais o ganho auferido sobre o capital, caso tivesse
sido aplicado no mercado financeiro a 7% ao ano.

É mais fácil para o investidor de acordo com Souza e Clemente (2012, p. 76), racionar em termos de
ganho acumulado ao longo de diversos períodos. Os autores, ainda, afirmam que “a deficiência
comum do VPL e do VPLa para expressar o retorno do investimento, reside no fato de ambos o
expressarem em valores monetários absoluto e não em valores relativos, como é usual no mercado”
(KREUZ; SOUZA; CLEMENTE, 2008, p. 56).

5.1.3. ÍNDICE BENEFÍCIO/CUSTO (IBC)

Para a produção de 474.050 latinhas e 94.010 saquinhos de ACC para um período de 10 anos,
identificou-se um IBC de R$ 2,38, expressando a expectativa de retorno para cada R$ 1,00 de capital
investido, após o horizonte de planejamento do projeto, em valores monetários de hoje. Em outras
palavras, espera-se uma rentabilidade de 13% em 10 anos.

Souza e Clemente (2012, p. 57) lembram que esse é um retorno além daquele que se teria, caso tivesse
sido aplicado à taxa de 7% a.a (TMA), durante o período considerado. “o IBC visa, em parte, corrigir a
deficiência do VPL e do VPLa, que é a de expressarem o retorno em valores absoluto” (KREUZ; SOUZA;
CLEMENTE, 2008, p. 57).

5.1.4. RETORNO ADICIONAL SOBRE O INVESTIMENTO (ROIAANUAL)

A partir do IBC, calculou-se o ROIAanual da ACC, o qual representa para Souza e Clemente (2012, p.
76) “a melhor estimativa de rentabilidade para um projeto de investimento”. Para os autores é um
indicador que facilita a percepção da análise por se encontrar na mesma unidade de tempo da TMA.
No caso da ACC, evidenciou-se o ROIA de 9,04% a.a, significando a riqueza gerada pelo projeto, mais
do que se teria adquirido, caso o capital tivesse sido aplicado no Mercado Financeiro à taxa de 7%
(TMA) ao ano.

Observa-se, portanto, a expressividade da rentabilidade desse investimento, o que pode funcionar


como estímulo para novos entrantes, considerando que o mercado interno, ainda, é pouco explorado

33
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e com amplo potencial de crescimento. O resultado expressivo obtido para esse agronegócio
corrobora com os resultados de outras pesquisas que utilizam essa mesma tecnologia de análise,
citados por Souza e Clemente (2012, p. 57) como: 36% para o tomate (SOUZA et al., 2004), 19% para
o alho (KREUZ et al, 2003) e 16% para a uva na produção de vinho (KREUZ et al, 2004).

5.2. INDICADORES DE RISCO

5.2.1. ÍNDICE DE TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE E TAXA INTERNA DE RETORNO (TMA/TIR)

Na metodologia multiíndice proposta por Souza e Clemente (2012), a TIR é dada como um indicador
de risco e não de retorno como, usualmente, é considerado por outros autores da metodologia
clássica. Ainda de acordo com Souza e Clemente (2012, p.86), “se a TMA for igual à TIR, então o ganho
do investimento será igual à zero. Se a TMA for maior do que a TIR, recomenda-se que a organização
não invista no projeto”.

No caso da ACC, obteve-se uma TIR de 9,25% a.a, tendo por parâmetro o cenário mais provável,
estando próxima da TMA que corresponde a uma taxa de 7% ao ano. Provocando um índice de
TMA/TIR de 0,76, em uma escala de 0 a 1, o número 1 representa o risco máximo. Apesar da
proximidade da TMA e da TIR (0,76), estudos afirmam que para um índice TMA/TIR de até 0,75, a
probabilidade do VPL ser menor do que zero é muito pequena (SOUZA, 2013).

Corroborando a afirmação anterior de simulações realizadas pelo Método de Monte Carlo por meio
do software Crystal Ball que sinalizam uma pequena probabilidade de se perder dinheiro com o
projeto, ou seja, a probabilidade do VPL ser menor do que zero é de apenas 4,05%. Diante desse
resultado, o índice TMA/TIR será considerado como sendo de Baixo/Médio, para fins de análise na
metodologia Multiíndice. A seguir apresenta-se o gráfico da relação VPL, TMA e TIR:

Figura 2 – Relação VPL, TMA e TIR

34
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.2.2. ÍNDICE PAY-BACK/N

Evidenciou-se, neste projeto, que o tempo necessário para a recuperação do capital investido
corresponde a 6,5 anos. Cabe ressaltar que quanto maior for o tempo de recuperação do que foi
investido, maior será o risco do negócio. Considerando que a ACC possui em seu planejamento, um
horizonte de tempo de 10 anos, torna-se inviável os benefícios futuros superarem o capital investido
a partir do 6.º ano.

O índice de Pay-back/N, que mede numa escala de 0 a 1, proporciona a vantagem, segundo Kreuz,
Souza e Clemente (2008, p. 58) de “permitir a comparabilidade entre projetos distintos”. Nesse caso,
o índice encontrado corresponde a 0,65 que representa um risco considerado Médio/Alto de não
recuperação do capital investido.

5.2.3. RISCOS DE GESTÃO

Esse indicador faz referência à aprendizagem, ao longo do tempo, do processo de produção e de


comercialização, evidenciada por meio de experiências e do conhecimento para a consecução do
objetivo do projeto. De acordo com Souza e Clemente (2012, p. 127), “o conhecimento e experiência
acumulados sobre o processo produtivo, processo de comercialização, canais de distribuição e,
principalmente, na condução de negociações, auxiliam o negócio em períodos turbulentos e
desfavoráveis”.

No caso da ACC, os empreendedores, que pretendem o investimento, possuem experiência e


conhecimento para compreenderem aspectos referentes a níveis de qualidade do produto, de seu
posicionamento estratégico perante os concorrentes, das próprias diretrizes de marketing e de
identificar as competências que serão necessárias para o processo de gestão e produtivo da empresa,
bem como onde buscar a matéria essencial para a produção do produto. Dessa forma, o risco de
gestão representa 0,40, sendo considerado um risco médio para a descontinuidade do projeto,
conforme tabela abaixo:

35
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 9 – Risco de Gestão

Áreas Administrativo Produção Financeiro Comercial RH Média


Aspectos Econômicos 0,60 0,50 0,70 0,70 0,40 0,58
Tendências da Indústria ou
segmento 0,60 0,60 0,60 0,70 0,40 0,58
Processo Produtivo e Inovação 0,50 0,70 0,50 0,50 0,70 0,58
Negociação com stakeholders 0,60 0,60 0,70 0,80 0,80 0,70
Estratégias de Posicionamento 0,70 0,60 0,70 0,80 0,40 0,64
Média por área 0,60 0,50 0,64 0,70 0,54 0,60
Risco de Gestão Percebido 0,40
Fonte: adaptado de Souza e Clemente (2012)

5.2.4. RISCO DO NEGÓCIO

Os empreendedores da ACC, ao pensarem no projeto, procuraram identificar as empresas dominantes


do mercado, a possibilidade de novos entrantes, produtos substitutos, o comportamento dos
consumidores do produto, a força dos fornecedores, bem como o histórico da posição estratégica
implementada pelas organizações que já existiam. Cujos fatores foram determinantes para
compreender os aspectos que circundam o mercado interno da ACC, o que proporcionou informações
riquíssimas para a tomada de decisão. Souza e Clemente (2012, p. 128) destacam que “o risco do
negócio está associado a fatores conjunturais e não controláveis que afetam o ambiente do projeto”.
Além da preocupação voltada ao mercado, outro ponto determinante considerado foram as condições
climáticas, que são fatores importantes, principalmente porque as chuvas são escassas na região.
Atribuiu-se um fator de risco correspondendo a 0,46, o que pode ser considerado médio para a
continuidade do projeto, conforme tabela abaixo:

36
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 10 – Risco do negócio

PEST 5 FORÇAS DE PORTER SWOT

Aspecto Percepção* Aspecto Percepção* Aspecto Percepção*

Político-legal 0,25 Entrantes 0,5 Entrantes 0,5

Econômico 0,50 Substitutos 0,5 Substitutos 0,5

Sóciocultural 0,40 Fornecedores 0,4 Fornecedores 0,4

Tecnológico 0,40 Clientes 0,5 Clientes 0,5

Demográfico 0,20 Concorrentes 0,7 Concorrentes 0,7

Média 0,35 Média 0,52 Média 0,52


Risco de Negócio Percebido = 0,46

* Escala de 0 a 1 onde zero indica ausência de risco e 1


Fonte: adaptado de Souza e Clemente (2012)

5.2.5. PONTO DE EQUILÍBRIO E GRAU DE COMPROMETIMENTO DA RECEITA (GCR)

O ponto de equilíbrio operacional (PEO) proporciona identificar o quanto o negócio poderá produzir e
vender para suportar os gastos operacionais do projeto, bem como demonstrar a partir de qual
unidade de produção, inicia-se o processo de geração de lucro. Em conformidade com Souza e
Clemente (2012, p. 125) “Tão importante quanto determinar o PEO é analisar sua posição relativa ao
nível máximo de atividade, o que é identificado pelo mínimo entre a capacidade produtiva e a
demanda máxima de mercado”. Ainda para os autores, quanto mais próximo de 1 estiver o GCR, maior
será o risco operacional do projeto. Na perspectiva do projeto da ACC, identificou-se um GCR de 0,71,
significando que o projeto somente terá retorno a 71% da sua capacidade máxima, conforme tabela
abaixo:

37
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 11 – PEO e GCR


Receita Custo Fixo Desp. Fixa Custo Desp. Receita de
ANO Total Total Total Variável Variável Equilíbrio GCR
1 400.000 151.110 203.467 90.250 20.400 354.577 0,89
2 500.000 257.869 283.502 112.812 25.500 541.370 1,08
3 680.000 329.705 348.101 153.424 34.680 677.806 1,00
4 880.000 398.133 409.291 198.549 44.880 807.424 0,92
5 1.040.000 462.361 178.436 462.361 53.040 640.797 0,62
6 1.181.000 437.892 174.516 266.462 60.231 612.408 0,52
7 1.200.000 446.144 174.516 270.749 61.200 620.659 0,52
8 1.200.000 453.029 174.516 270.749 24.000 627.544 0,52
9 1.200.000 453.029 198.064 270.749 24.000 651.093 0,54
10 1.200.000 453.029 198.064 270.749 24.000 651.093 0,54
Grau de Comprometimento da Receita Médio 0,71

Fonte: Dados da pesquisa (2013)

5.3. SÍNTESE DOS INDICADORES

Com base na metodologia multiíndice, utilizaram-se os indicadores TMA/TIR, Payback/N, GCR, R.


Gestão e R. Negócio, a fim de avaliar o risco percebido no projeto da ACC. Para sua melhor visualização,
construiu-se um gráfico representando o risco percebido versus o risco máximo, que em conformidade
com Souza e Clemente (2012, p. 129) “observa-se que quanto maior for a proporção da área do
polígono interno em relação à área total, maior será o risco percebido do projeto”, conforme gráfico
apresentado na Figura 3.
Após análise dos indicadores de viabilidade do negócio, observaram-se alguns fatores determinantes
para a não continuidade do projeto. O primeiro corresponde ao índice de TMA/TIR de 0,76, sinalizando
conforme mencionado anteriormente um risco percebido Baixo/Médio para o investimento, o
segundo faz referência ao tempo de retorno do capital investido (Payback/N), o qual será possível a
partir de 6,5 anos. Considerando que o projeto possui um horizonte de tempo de 10 anos, o índice
encontrado representa um risco significativo de não recuperar o capital investido. O terceiro está
voltado ao grau de comprometimento da receita (GCR), o qual evidenciou que o projeto somente terá
retorno a partir de 71% da sua capacidade máxima.

38
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 3 – Risco percebido versus risco máximo


No que diz respeito ao quarto indicador, observou-se que a aprendizagem e o conhecimento dos
empreendedores alcançaram um risco de gestão de 0,40, significando inexpressiva a possibilidade de
mau desempenho na gestão do projeto. Já no risco de negócio, representado por um índice médio de
0,46, identificou-se que o mercado interno é pouco explorado, com grande potencial de ampliação.
Mas com relação às condições climáticas, constatou-se um fator desfavorável para o projeto, uma vez
que as chuvas são escassas na região. Segundo Teixeirense (2013), a safra de castanha de 2012 foi
considerada atípica em virtude da severidade climática, uma das maiores dos últimos 40 anos, o que
contribuiu significativamente para uma má produção, a qual foi considerada a pior dos últimos 13
anos. Essa análise de risco e retorno está representada na tabela seguinte.
Tabela 12– Análise de risco e retorno

Baixo B/M Médio M/A Alto


Retorno (ROIA)
Risco Financeiro (TMA/TIR)
Risco de Não recuperação do Capital (Payback / N)
Risco Operacional (GCR)
Risco de Gestão
Risco de Negócio
0,0 a 0,2 0,2 a 0,4 0,4 a 0,6 0,6 a 0,8 0,8 a 1,0
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

A tabela 12 acima revela uma relação, risco versus retorno, balanceada, uma vez que os indicadores
de risco estão situados a esquerda ou sob o indicador de retorno. Esta relação aponta um equilíbrio
entre os riscos do projeto e o retorno proporcionado pelo mesmo.
Dando sequência ao processo de análise do projeto, tendo como parâmetro o fluxo de caixa traçado
de acordo com o cenário de ocorrência mais provável, dois outros cenários foram projetados, sendo
um otimista e outro pessimista. Para composição desses cenários, considerou-se uma variação no

39
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

fluxo de caixa de cada período em 15% para mais (Cenário Otimista) e 15% para menos (Cenário
Pessimista).
Diante dos três cenários, utilizou-se o software Crystal Ball (versão 11.1) para realizar simulações
aleatórias pelo Método de Monte Carlo e assim determinar a probabilidade de ocorrência dos
indicadores de retorno e de risco. As simulações foram realizadas por meio de uma distribuição
triangular, e de acordo com os resultados, a probabilidade do VPL ser maior do que zero é de 95,95%,
e de está entre 60.000 e 100.000 é de 56,76%, sendo o valor máximo do VPL igual a R$ 127.960,00
com probabilidade de ocorrência 0,04%, ou seja, a probabilidade de se perder dinheiro com o projeto
é muito pequena (4,05%). A seguir, tem-se o gráfico da distribuição do VPL.

Figura 4 – VPL
Com relação ao indicador de retorno ROIAanual, a probabilidade de ser maior do que 10% é de 32,27%,
sendo o valor máximo assumido pelo ROIAanual 14,55%, o que descarta a possibilidade de ganhos
extraordinários. No entanto há uma probabilidade de 60,22% do valor do ROIAanual se encontrar
entre 7,5% e 10,95%, o que já assegura uma boa rentabilidade em relação a TMA.

Figura 5 – ROIA
Com relação a medida de risco, a probabilidade do indice TMA /TIR está entre 0,60 e 0,80 é de 74,81%,
sendo a percepção de risco para esse indicador classificada como Baixa/Média, conforme justificativa
supra citada.

40
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 6 – Indice TMA /TIR

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o objetivo de analisar as expectativas de retorno e de risco relacionados ao beneficiamento da


amêndoa da castanha de caju no estado do Rio Grande do Norte – ACC, evidenciou-se que o projeto
da ACC possui aspectos significativos relacionados ao risco de gestão, combinado com um mercado
interno propenso a crescimento, porém há riscos próprios advindos da condição climática da região.
Outro fator determinante para o aumento do risco desse negócio corresponde ao volume expressivo
de produtos substitutos, barreiras à entrada relacionadas à carga tributária e fiscal, trabalhista,
previdenciária, políticas de exportação e importação de castanha da África, bem como a força
preponderante do fornecedor, já que o mesmo depende das condições naturais para cultivar a matéria
prima essencial do produto.
Outro ponto importante que deve ser evidenciado faz referência a grande participação de recursos de
terceiros no negócio, o que contribuiu também para o risco do projeto. Nessas condições, o retorno
do projeto aconteceria no 5.º ano e a recuperação do capital investido seria a partir do 6.5 anos de
operacionalização, além do negócio necessitar trabalhar com uma capacidade máxima de 71% para
obter retorno. No entanto a decisão de empreender acarreta um ganho substancial, uma vez que
supera o rendimento proporcionado pela TMA e gera um incremento de mais de 9,0%, ou seja, a
decisão de empreender mais do que dobra o rendimento anual. Portanto o retorno do projeto esta
proporcional aos seus riscos.
Como forma de corroborar a análise anterior, construíram-se mais dois outros cenários, sendo o
primeiro otimista e o segundo pessimista. Para tanto, considerou-se uma variação no Fluxo de Caixa
de cada período de 15% para mais (Cenário Otimista) e 15% para menos (Cenário Pessimista).

41
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Realizaram-se as simulações aleatórias, a fim de determinar a probabilidade de ocorrência dos


indicadores de retorno e de risco, verificou-se que os resultados encontrados corroboram com a
compatibilidade entre o retorno e o risco do projeto. Por meio da análise, utilizando a metodologia
multiíndice, percebe-se que os indicadores de riscos estão à esquerda ou sob o indicador de retorno,
apontando uma relação, retorno versus risco, balanceada. Diante dessa observação, recomenda-se o
projeto.

REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2007

ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do Capital de Giro. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2007

BORNIA, Antônio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. ed. 2. São
Paulo: Atlas, 2009.

CARNEIRO, Antônio Lúcio. SINDICAJU: perfil setor. Fortaleza: SINDICAJU, 2013.

CASTRO, Inez Silvia Batista. Setor externo. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 33. [2012].
Disponível em:
<http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/etene/etene/docs/ren_vol33_capitulo_5_setor_externo
.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013

GARRISON, H. Ray; NOREEN, Eric. W.; BREWER, Peter C. Contabilidade gerencial. Tradução José Luís
Pavarato; Revisão técnica Luiz Henrique Baptista Machado. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

HERNÁNDEZ SAMPIERI, Roberto; FERNÁNDEZ COLLADO, Carlos; LÚCIO, Pilar Baptista. Metodologia de
Pesquisa. 3.ed. Tradução de Fátima Conceição Murad, Melissa Kassner e Sheila Clara Dystyler Ladeira.
São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

IBGE. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – julho 2013, Rio de Janeiro, 08 ago. 2013.
Disponível em:
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/default.asp?t=5&z=t&o=1&u1=1&u2=1&u3=1&u4=1&u5=1&u6=1
&u7=1&u8=1&u9=1&u10=1&u11=1&u12=3&u13=1&u14=26674&u15=1&u16=1>, acesso em: 11
ago. 2013.

KREUZ, Carlos, L; SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Custos de produção, expectativas de retorno e
de riscos do agronegócio mel no planalto norte de Santa Catarina. Custos e @gronegócio,. v. 4, n. 1,-
jan/abr - 2008. versão on-line.

KREUZ, C. L. et al. Custos de produção, expectativas de retorno e de riscos do agronegócio uva na


região dos campos de palmas. Alcance (Itajaí), Itajaí SC, v. 11, n. 2, p. 239-258, 2004.

______. Indicadores de viabilidade e estratégias competitivas: o caso dos

produtores de alho na região de Curitibanos – SC. In: VIII Congreso del Instituto

42
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Internacional de Costos, 80, 2003, Punta del Este. Anais... Punta del Este: IIC, 2003.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Mariana de Andrade. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2009.

MARTINS, Elizeu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MONTENEGRO, Afrânio Terley Teles et al. Cultivo do cajueiro. Fortaleza: EMBRAPA, 2003. (Sistemas
de produção, 1). Versão eletrônica. Disponível

em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Caju/CultivodoCajueiro/>. Acesso


em: 11 ago. 2013.

PAIVA, Francisco Fábio dde Assis; SILVA NETO, Raimundo Marcelino da; PESSOA, Pedro Felizardo
Adeodato de Paula. Minifábrica de processamento de castanha de caju. Fortaleza: Embrapa
Agroindústria Tropical, 2000. 22p. (Embrapa Agroindústria

Tropical. Circular Técnica, 07).

PORTER, Michael E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 2.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

SINDICAJU. Presidente do Sindicaju agradece Eunício por esforço na aprovação do Fundo de Incentivo
à Cajucultura, Fortaleza, 2013. Disponível em: <http://sindicaju.org.br/2013/05/presidente-do-
sindicaju-agradece-eunicio-por-esforco-na-aprovacao-do-fundo-de-incentivo-a-cajucultura/>, acesso
em: 12 ago. 2013.

SOUZA, Alceu; Notas de aula ainda não publicadas. 2013.

SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Decisões financeiras e análise de investimentos: fundamentos,


técnicas e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

SOUZA, Alceu et al. Custos de produção, expectativa de retorno e riscos do agronegócio tomate na
região de Caçador SC In: Congresso Brasileiro de Custos, X1, 2004, Porto Seguro. Anais... Porto Seguro
BA: Sociedade Brasileira de Custos, 2004.

TEIXEIRENSE, Marden. Castanha de caju. [Brasília,DF]: CONAB, 2013. (Conjuntura mensal).

43
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 3

GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS E TOMADA DE DECISÃO:


UM ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO
BÁSICA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
DOI: 10.37423/200300466

Alex Serafim Alves - alex_mack2003@yahoo.com.br

Resumo: O objetivo geral deste trabalho foi verificar a contribuição da gestão estratégica de
custos para o processo decisório em uma Instituição de Educação Básica no município de São
Paulo. A pesquisa foi do tipo estudo de caso, e o método utilizado foi o qualitativo, o
desenvolvimento ocorreu através da realização de entrevistas presenciais, observação direta
e coleta de documentos. Os resultados obtidos através das informações coletadas com os
gestores permitiram a verificação da contribuição positiva da gestão estratégica de custos
para a tomada de decisão, sendo uma ferramenta essencial, principalmente em relação às
decisões de: aumento de mensalidades, ampliação do espaço físico, controle da
inadimplência, planejamento estratégico, formação de preços, projeção de orçamentos,
encerramento de cursos e outras decisões. A contribuição do estudo deve-se aos resultados
e ao modelo de gestão de custos apresentados que podem ser utilizados por qualquer
instituição de ensino.

Palavras-chave: Custos, Métodos de custeio e Tomada de decisão.

Área Temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

44
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

A intensa competição no ramo da educação com o aumento de investimentos públicos para melhoria
da qualidade de ensino nas instituições de educação básica, leva às instituições privadas a buscar
diferenciais e melhorias em seus processos para manter a competitividade no mercado.

Riccio et al. (1997) afirmam que para obter vantagens competitivas às organizações devem ter,
basicamente, vantagem de custo ou diferenciação de produtos frente aos seus concorrentes para
poderem ganhar mercado, acrescenta ainda à qualidade como requisito imprescindível.

As instituições de ensino têm como produto principal o curso, este é oferecido sob a forma de
prestação de serviço, caracterizado por um conjunto de atividades oferecidas ao aluno composta por
diversas disciplinas referentes a uma determinada área do conhecimento, com uma determinada
carga horária para atingir os seus objetivos. (VICENTINI, 2004).

Soares et al. (2009) destacaram em pesquisa recente que os relatórios contendo informações
relevantes para o negócio, compostos por indicadores que permitam a comparação de custos entre
instituições semelhantes ajudam a demonstrar o que realmente agrega valor, é o que se espera de
uma gestão de custos profissional.

Na atualidade verifica-se que os preços praticados pelas diversas instituições em alguns cursos são
bem semelhantes (Guia de Escolas, 2011), portanto a qualidade é fator essencial para atrair clientes
(alunos).

Diante do exposto, formulou-se o seguinte problema de pesquisa: Como a gestão de custos contribui
para o processo de tomada de decisão em uma instituição de educação básica no município de São
Paulo?

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 EDUCAÇÃO E INSTITUIÇÕES DE ENSINO

A Lei 9.349 de 20/12/1996 denominada de LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996),
em seu artigo 1º define: A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

45
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

De acordo com o Ministério da Educação e Cultura (2011), a Educação Básica é composta pela
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. O objetivo da Educação Básica é assegurar a
todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

A seguir estão apresentados os tipos de instituições de ensino existentes no Brasil, bem como suas
divisões e estrutura.

Fonte: Ministério da Educação (2011), adaptado pelo autor.


Quadro 1 - Instituições de Ensino Públicas e Privadas

46
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Estrutura das Instituições de Ensino no Brasil pode ser assim apresentada conforme a figura 1:

Figura 1 – Estrutura das Instituições de Ensino


Fonte: Ministério da Educação e Cultura, 2011.
Ainda para o Ministério da Educação e Cultura (2011), os principais documentos norteadores da
Educação Básica são: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, as LDBs regionais e locais,
e o Plano Nacional de Educação - PNE, Lei nº 10.172/2001, que estabelecem metas decenais para
todos os níveis e etapas da educação, apontando para que estados e municípios criem e estabeleçam
planos semelhantes compatíveis com as metas nacionais.

2.2 CONTABILIDADE DE CUSTOS

Para entender o sistema de custo de uma empresa ou instituição é necessário compreender a


nomenclatura de alguns conceitos de custos, assim apresentados no quadro 2:

Fonte: Martins, (2001).


Quadro 2 – Nomenclatura de Custos

47
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para o custo, ainda existem outras definições para distingui-los entre diretos, indiretos, fixos ou
variáveis.

Ching (2001) define assim os custos diretos e indiretos: Custos Diretos são aqueles que podem ser
diretamente apropriados a um objeto de custo, bastando haver uma medida objetiva de consumo.
Custos Indiretos: não podem ser diretamente apropriados a um objeto de custo, senão por meio de
rateios estimados e arbitrários.

Os custos também podem ser variáveis quando o volume de produção ou prestação de um serviço
aumenta e esse também, ou fixos quando independentemente de produzir mais ou menos esses
continuam estáveis.

Atkinson et al. (2000) conceituaram os custos evitáveis que são aqueles que são eliminados quando
uma peça, um produto, uma linha de produção ou segmento de negócio e descontinuado, nesse
contexto ou se produz ou se faz uma terceirização.

Os conceitos de custos possuem muitas terminologias divulgadas por muitos autores e pesquisadores,
como custos ocultos, custos de oportunidade, custos evitáveis etc.

2.3 MÉTODOS DE CUSTEIO

Os métodos de custeio compreendem o processo de identificar os diversos custos associados a um


determinado produto ou um serviço, abordando tanto os custos diretos como os indiretos, (VICENTINI,
2004).

Ching (2001), afirma que método de custeio é a forma de apropriação dos custos.

Os métodos mais conhecidos de custeio são: custeio por absorção, custeio direto ou variável, custeio
standard ou padrão e por fim o custeio baseado em atividades.

No Brasil existe grande resistência das esferas fiscais para utilização dos métodos de custeio
existentes, sendo o método de custeio absorção o mais utilizado e os demais ficando apenas para
análises gerenciais, neste trabalho serão explicados os dois métodos mais utilizados: custeio por
absorção e o custeio direto ou variável.

2.3.1 CUSTEIO POR ABSORÇÃO

O Custeio por Absorção é o método derivado da aplicação dos princípios contábeis geralmente aceitos,
que consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, o qual todos os

48
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

gastos relativos ao esforço de fabricação são distribuídos para todos os produtos feitos. (MARTINS,
2001).

Ching (2001), afirma que as vantagens desse método são: reconhecer a estrutura dos custos atuais, já
que todas as despesas, tanto diretas como indiretas, são levadas em consideração e todos os custos
são debitados aos centros ou unidades de custos, além da avaliação dos estoques pelo custo total.

2.3.2 CUSTEIO DIRETO OU VARIÁVEL

O Custeio direto ou variável é o método que apropria todos os custos variáveis, quer sejam diretos ou
indiretos, ignorando a parcela fixa do custo indireto de fabricação, tratando-a como despesa do
período e indo diretamente para o resultado. (CHING, 2001).

Para Martins (2001), a principal utilidade do custeio variável e a tomada de decisões, pois esse custeio
tem condições de propiciar muito mais rapidamente informações vitais à empresa; e o resultado
medido dentro do seu critério é mais facilmente interpretado pela administração, por abandonar os
custos fixos e tratá-los como despesas já que independem dos diversos produtos.

Ainda Martins (2001), afirma que os Princípios Contábeis, Auditores e o Fisco não admitem esse
método de custeio, que fere o Princípio Contábil do regime de competência e a confrontação, pelo
fato de ao reconhecer o custo fixo como despesa a venda de um produto descarregaria o custo fixo
total no momento dessa venda, à medida que se tivermos produtos para serem vendidos amanhã, a
parcela devida desses produtos também deverá ser apropriada amanhã.

Um conceito muito utilizado no sistema de custeio variável é o conceito de margem de contribuição,


sendo este o valor remanescente das receitas de venda após a subtração das despesas variáveis,
portanto, trata-se do montante disponível para cobrir despesas fixas e gerar lucro no período
(GARISSON, 2007).

Segundo Vicentini (2004), o método de custeio variável é considerado o mais apropriado para:
planejamento do lucro em curto prazo, fornecimento à administração de informações para a tomada
de decisão e controle gerencial, além da determinação da margem de contribuição, ferramenta
importante para a determinação do ponto de equilíbrio e análise do custo volume lucro.

Contudo, o manual do Sistema de Apuração de Custos (SAC) do MEC, considera o método muito
limitado para aplicação nas Instituições de Ensino, pelo fato delas terem uma grande estrutura de
custos fixos, (VICENTINI, 2004).

49
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.4 GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

De acordo com Govindarajan e Shank (1997) a análise de custos é vista como o processo de avaliação
do impacto financeiro das decisões gerenciais alternativas. Em que se difere a gestão estratégica de
custos? É uma análise de custos vista sob um contexto mais amplo, na qual os elementos estratégicos
tornam-se mais conscientes, explícitos e formais, a qual os dados de custos são usados para
desenvolver estratégias superiores a fim de se obter uma vantagem competitiva sustentável.

De acordo com Porter apud Govindarajan e Shank (1997) das escolhas estratégicas básicas, uma
empresa pode competir ou tendo menores custos (liderança de custos) ou oferecendo produtos
superiores (diferenciação do produto).

A Gestão Estratégica de custos na definição de Perez Júnior et al. (1999) é em síntese, uma abordagem
para melhoria contínua de desempenho, ao utilizar informações mais relevantes para as tomadas de
decisões, em comparação com abordagens tradicionais das análises de custos. Ainda para Perez Júnior
et al. (1999) a Gestão Estratégica de Custos proporciona vantagens como:

1) um poderoso instrumento para tomadas de decisão;

2) a focalização dos esforços de melhoria, com resultados mensuráveis;

3) o aprimoramento na capacidade da empresa de criar e agregar valores.

Menegat (2006) estudou 15 Instituições de Ensino do Sistema ACAFE (Associação Catarinense das
Fundações Educacionais) em Santa Catarina e constatou que a maioria das Instituições de Ensino
utilizava o sistema de custeio variável, sendo este considerado um dos mais eficientes para auxílio da
gestão e ainda complementa que a maioria das escolas que utilizam esse método apresentam
constantes resultados positivos enquanto que às demais, que seguem o método de custeio por
absorção alteram entre resultados positivos e negativos.

2.5 - TOMADA DE DECISÃO

O tratamento dos dados de custos para uma gestão eficaz envolve muitos conceitos da chamada
Contabilidade Gerencial. Segundo Atkinson et al. (2000) contabilidade gerencial é o processo de
identificar, mensurar, reportar e analisar informações sobre os eventos econômicos das empresas. A
informação gerencial contábil é uma das fontes informacionais primárias para a tomada de decisão e
controle nas empresas.

50
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

De acordo com Simon (1972), a tomada de uma decisão é um acontecimento cotidiano e essencial em
todas as organizações e, apesar dos estudos acerca deste assunto, cabe, ainda, localizar aquilo que os
gestores levam em conta ao tomarem decisões, isto é, o que é precedente, o que consideram de
segunda importância e, ainda, o que deve ser reputado como insignificante.

Stoner e Freeman (1992) dividem o processo de decisão em dois níveis: decisões programadas e
decisões não programadas. Às decisões programadas são caracterizadas pela solução de problemas
rotineiros e são estabelecidas por meio de procedimentos, regras e hábitos - e, primordialmente, as
decisões não programadas são aquelas que buscam soluções específicas por meio de um processo não
estruturado, a fim de solucionar problemas não rotineiros, que se constitui das seguintes etapas
conforme quadro 3:

Fonte: Stoner e Freeman (1992), adaptado pelo autor.


Quadro 3 – Etapas para a tomada de decisão

3. MÉTODOS DE PESQUISA

O método de pesquisa desenvolvido nesse estudo foi o qualitativo, coletando as informações através
da realização de entrevistas presenciais, observações diretas e análise de documentos. De acordo com
Neves (1996), nas pesquisas qualitativas é frequente que o pesquisador procure entender os
fenômenos, segundo as perspectivas da situação estudada e, a partir daí, situe sua interpretação dos
fenômenos estudados, dela faz parte à obtenção de dados descritivos mediante contato direto e
interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo.

Para o desenvolvimento do trabalho foi elaborado um protocolo de realização do estudo de caso


servindo de guia para realização do trabalho, seguindo às seguintes etapas: revisão da literatura,
definição da unidade de caso, obtenção de autorização para pesquisa, elaboração do instrumento de
coleta de dados, coleta dos dados, análise e interpretação dos resultados.

51
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Diante do exposto, o presente estudo caracteriza-se como um estudo de caso, o qual buscou-se a
percepção dos gestores sobre a importância da gestão de custos para a tomada de decisão em uma
Instituição de Educação Básica.

Para Beuren (2009) et al. o estudo de caso caracteriza-se principalmente pelo estudo de um único
caso, sendo preferido pelos pesquisadores que desejam aprofundar seus conhecimentos a respeito de
determinado caso específico, sem descartar a possibilidade da realização da pesquisa com casos
múltiplos.

Yin (2010) afirma que o estudo de caso conta com muitas das mesmas técnicas que a pesquisa
histórica, mas adiciona duas fontes de evidências geralmente não incluídas no repertório do
historiador: observação direta dos eventos sendo estudados e entrevistas das pessoas envolvidas nos
eventos.

4. UNIDADE DE CASO E COLETA DE DADOS

A unidade de caso deste estudo é uma Instituição Privada de Educação no município de São Paulo, que
atua no ramo educacional oferecendo cursos desde a Educação Infantil até o Ensino Superior, esta é
caracterizada de acordo com as definições do MEC, como uma entidade sem fins lucrativos, neste
estudo foram utilizados somente os cursos da Educação Básica para análise devido a grande
concorrência existente tanto por parte das instituições públicas como das instituições particulares ou
privadas.

Os dados foram coletados a partir de contatos realizados com a Instituição e agendamento para
entrevistas com os seguintes integrantes: Controller, Supervisor de Controladoria, Analistas de
Controladoria e Contabilidade, sendo utilizado para esta um questionário estruturado (Anexo 1).

5. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

Para facilitar a compreensão do estudo de caso, a análise dos dados seguiu a estrutura dos objetivos:
geral e específicos que o estudo propôs, assim apresentando a interpretação dos dados obtidos em
entrevistas presenciais estruturadas com os gestores da unidade de caso.

Objetivo Geral - Verificar a contribuição da gestão de custos para o processo de tomada de decisão
em uma Instituição de Educação Básica do município de São Paulo.

Objetivo específico 1 – Identificar o modelo de gestão de custos adotado pela Instituição de Educação
Básica:

52
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Em entrevista com os gestores e análise documental dos relatórios contábeis da instituição esta utiliza
o método de custeio por absorção para apuração dos seus custos, e a principal informação utilizada
para apuração dos custos provém do departamento contábil após o fechamento mensal, utilizando-
se das contas de receitas, custos e despesas, e dos centros de custos produtivos, de apoio e
administrativo.

“O método de custeio adotado pela instituição, o método por absorção é o melhor para tomada de
decisão como afirma o gestor de Controladoria, ainda que os rateios possam prejudicar a tomada de
decisão estes são sempre discutíveis”.

A estrutura de custos apresentou 70% de custos diretos, assim sendo o valor restante possui menor
porcentagem podendo não afetar tanto os resultados quando ocorrem as distribuições dos rateios.

A distribuição dos custos ocorre em quatro etapas: primeiramente os custos diretos são alocados aos
cursos respectivos; segundo incluem-se os gastos administrativos referentes a um grupo de cursos,
terceiro – rateio dos centros de apoio da unidade e quarto – Rateio dos Gastos Administrativos da
Instituição, esse modelo pode ser observado nas planilhas relacionadas no Anexo 2.

1ª. Etapa da margem de contribuição

Tabela 1 – 1ª Etapa da Margem de Contribuição

Fonte: Modelo de Relatório da Instituição (2011).

2ª. Etapa da margem de contribuição - O resultado obtido na primeira margem de contribuição é


subtraído pelos custos indiretos, chegando assim ao resultado da segunda margem de contribuição.

53
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 2 – 2ª Etapa da Margem de Contribuição

Fonte: Modelo de Relatório da Instituição (2011).

3ª. Etapa da margem de contribuição - o resultado obtido na segunda margem de contribuição é


subtraído pelos valores dos centros de apoio, chegando assim à terceira margem de contribuição.

Tabela 3 – 3ª Etapa da Margem de Contribuição

Fonte: Modelo de Relatório da Instituição (2011).

54
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4ª. Etapa resultado final do período - o resultado obtido na terceira margem de contribuição é
subtraído pelos valores dos rateios dos gastos administrativos, chegando assim ao resultado final ou
superávit/ déficit líquido.

Tabela 4 – 4ª Etapa resultado final do período

Fonte: Modelo de Relatório da Instituição (2011)

Quando ocorre um resultado negativo conforme as tabelas apresentadas, os custos do curso são
revisados para verificar alternativas e soluções para melhoria dos resultados, além disso, leva-se em
consideração a importância do curso para a margem, e caso seja necessário pode proceder-se o
encerramento do curso.

O fator principal de distribuição dos rateios é o número de alunos que pode limitar algumas análises,
visto que para uma ampliação do número de alunos a Instituição teria que aumentar o seu espaço
físico para atender uma maior demanda.

Os gestores afirmaram a existência de análise com base no conceito de margem de contribuição para
a cobertura de custos fixos e variáveis, que pode ser analisada também nas tabelas demonstradas nos
anexos 2 e 3, com isso, percebe-se que existe a adoção de dois métodos: o método de custeio por
absorção e o método de custeio variável, desse modo os gestores buscam as melhores alternativas
que possam apoiar os processos decisórios, cabendo verificar a viabilidade de cada situação.

A estrutura de custos apresentou 70% de custos diretos, assim sendo o valor restante possui menor
porcentagem podendo não afetar tanto os resultados quando ocorrem as distribuições dos rateios.

Analisando a tabela 1, observou-se que a afirmação do gestor de que os custos diretos de um curso
são de praticamente o salário de um professor e correspondem a 70% da receita do valor da aula,
realmente estão de acordo com o estudo, pois os valores de Salários e Encargos Sociais dos Professores
somados representam estão acima destes Custos.

Objetivo específico 2 – Verificar como ocorre o processo de Tomada de Decisão na Instituição de


Educação Básica?

55
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

As decisões tomadas na Instituição ocorrem nos dois modelos apresentados por Stoner e Freeman
(1992), e estão estruturadas no seguinte modelo: as decisões programadas são mais utilizadas pela
presidência e diretoria da empresa, considerando o planejamento estratégico existente, e em relação
às decisões não programadas estão inseridas no contexto diário da organização, cabendo à execução
dessas aos gerentes institucionais. Objetivo específico 3 – Verificar como a Gestão de Custos contribui
para o processo de tomada de decisão segundo a percepção do gestor de Controladoria da Instituição:

Através da percepção dos gestores da área de custos observou-se que a Gestão de Custos é uma
ferramenta essencial e necessária para apoiar o processo de decisão da Instituição sendo útil nos
pontos verificados por Menegat (2006) como: aumento das mensalidades, ampliação do espaço físico,
bem como outros como o controle da inadimplência, o apoio ao planejamento estratégico, à
antecipação de decisões, a formação de preços, a projeção de orçamentos e suas variações, conforme
demonstrados no quadro 4.

Quadro 4 – Tomada de decisão e relatórios de suporte.


Fonte: Elaborado pelo autor.
Conforme o conceito de Porter apud Govindarajan e Shank (1997) que afirmou que às organizações
para manterem-se competitivas devem ter baixo custo ou diferenciação, notou-se que a instituição
investe na diferenciação, buscando diversificar o seu produto (curso) oferecendo atividades
extracurriculares: escola de esportes (judô, futsal, basquete, vôlei, handebol, atletismo, xadrez,
ginástica de solo, e ginástica rítmica desportiva).

A análise documental dos relatórios expostos nos anexos demonstrou os controles que a Instituição
de Educação Básica mantém para apurar os seus custos e pode servir de modelo para aquelas escolas
que ainda não possuem um sistema de controle de custos.

56
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral do trabalho foi verificar a contribuição da Gestão de Custos para o processo de tomada
de decisão no universo de uma Instituição de Educação Básica no Município de São Paulo.

Nas tomadas de decisões os relatórios mais apropriados são o Demonstrativo de Resultado


Consolidado Unidade (anexo 2), que apresenta uma visão geral do resultado da empresa e a
contribuição de cada curso para o período e o relatório de Projeção de Resultados por Unidades (anexo
3), que relaciona receitas, custos e despesas por unidade.

A tomada de decisão ocorre nos dois modelos: programadas e não programadas, sendo a primeira a
atribuída à presidência e direção da Instituição e a segunda aos gerentes de nível médio.

Conforme as afirmações considera-se que a Gestão de Custos contribui positivamente para a tomada
de decisão na Instituição de Educação Básica, e às informações contábeis realizadas servem de base
para análise e apuração dos custos.

A limitação desse estudo é a impossibilidade de generalizar os resultados obtidos, considerando a


unidade de desenvolvimento do trabalho que não necessariamente pode ser igual às outras
Instituições de Educação Básica.

Esse estudo contribuiu para desenvolver modelos de Gestão de Custos em Instituições de Ensino em
todos os níveis: infantil, fundamental, médio e superior, bem como, para chamar a atenção dos
gestores das Instituições e do meio acadêmico para o desenvolvimento de um tema tão relevante é
pouco explorado.

Finalmente conclui-se que a Gestão de Custos é Estratégica para o desenvolvimento e funcionamento


da Instituição Particular de Educação Básica, considerando que a sua maior finalidade é apoiar o
processo de tomada de decisão, sendo essencial para que se mantenha competitiva no mercado em
que atua.

REFERÊNCIAS

ATKINSON, A. A.; KAPLAN, R. S. et al. Contabilidade Gerencial, São Paulo: Atlas, 2000.

BRASIL, Lei 9.349 de 20/12/1996, denominada de LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

BRASIL, Ministério da Educação (MEC), sitio oficial disponível em

www.portal.mec.gov.br, acesso: Junho, 2011.

57
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

BEUREN, Ilse Maria, et al. ”Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade:

Teoria e Prática”, 3ª Ed. – 4 reimp., São Paulo, Atlas: 2009.

CHING, Hong Yuh, Manual de Custos de Instituições de Saúde: Sistemas Tradicionais de Custos e
Sistema de Custeio Baseado em Atividades (ABC), São Paulo; Atlas, 2001.

GARISSON, Ray H. et al., Contabilidade Gerencial, Rio de Janeiro: LTC, 2007.

GOVINDARAJAN, Vijay; SHANK, John K. ; “A revolução dos Custos: como reinventar e redefinir sua
estratégia de custos para vencer em mercados crescentemente competitivos”; tradução de Luiz
Orlando Coutinho Lemos; 2ª ed.; Rio de Janeiro: Campus, 1997.

GUIA DE ESCOLAS 2011, 9º edição, São Paulo: Editora Educacional, 2011.

MARTINS, Eliseu, Contabilidade de Custos: inclui o ABC, São Paulo: Atlas, 2001.

MENEGAT, Valdenir; Utilização dos Sistemas de Custos pelas Instituições de Ensino Superior do
Sistema ACAFE-SC, 6 Congresso de Controladoria e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São
Paulo: 2006.

NEVES, José Luis. Pesquisa Qualitativa – Características, Usos e Possibilidades. São Paulo, 1996.
Disponível em http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquvios/C03-art06- pdf.Acesso em 13 set.2007,
12:20.

PEREZ JUNIOR, JOSÉ HERNANDEZ, et al., “Gestão Estratégica de Custos”, São Paulo: Atlas,1999.

RICCIO, Edson Luiz, JUNIOR, Antonio Robles, GOUVEIA, Joaquim J. F. Aguiar, Sistema de Custos
Baseado em Atividade nas Empresas de Serviços, V Congresso Internacional de Costos, Acapulco, GRO,
México: 1997.

SIMON, Herbert. A capacidade de decisão e liderança. Rio de Janeiro: Cultura, 1972.

SOARES, Thiago; SERRA, Fernando; MAZON, Gisele; MELO, Pedro Antônio de; “Modelagem de
estruturas de custos em Instituição de Ensino Superior”, RACE, Unoesc, v. 8, n. 2, p. 267-290, jul./dez.
2009

STONER, James A. F; FREEMAN, R. Edward. Administração. Rio de Janeiro: Prentice- Hall, 1992.

VICENTINI, Heitor, Um Sistema de Custos para as Universidades Particulares: um estudo e uma


experiência, Atibaia: FAAT, 2004.

YIN, Robert K., “Estudo de caso: planejamento e métodos”, tradução Ana Thorell, 4 ed. Porto Alegre:
Bookman, 2010.

58
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ANEXO 1

Questões da entrevista com os gestores da Instituição de Educação.

59
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ANEXO 2

60
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ANEXO 3

PROJEÇÃO DOS RESULTADOS

DEMOSTRATIVO DAS RECEITAS E DESPESAS DE FEVEREIRO

Centro de Custos: Ensino Fundamental 5ª a 8ª série em R$ 1000

Unidade: São Paulo

Obs: Acumulado refere-se a soma dos meses realizados, neste caso os meses da Jan e Fev

61
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 4

CUSTO DE PRODUÇÃO DE REPRODUTORES BOVINOS DA


RAÇA BRAFORD: UM ESTUDO DE CASO NA ESTÂNCIA ABC EM
SANTANA DO LIVRAMENTO-RS
DOI: 10.37423/200300467

Leonardo da Fontoura Souza (Universidade Federal do Pampa)

Jeferson Luís Lopes Goularte (Universidade Federal do Pampa)

Thadeu José Francisco Ramos (Universidade Federal do Pampa)

Resumo: A administração da pecuária tem a necessidade controlar os custos, prever e


prevenir diversas situações indesejadas, para isso utiliza-se diferentes métodos. Esta pesquisa
realizada na Estância ABC, localizada em Santana do Livramento, Estado do Rio Grande do Sul,
tem por objetivo mensurar o custo de produção para a formação de reprodutores bovinos da
raça Braford ofertados pela Estância ABC em remate anual. Inicialmente é identificado o custo
de produção a partir da seleção do terneiro para reprodutor; depois se realiza o levantamento
de gastos na formação dos reprodutores; e descreve-se o método de custeio para apuração
do custo de produção dos reprodutores. A pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso,
no qual foram utilizadas técnicas quantitativas e qualitativas para a operacionalização do
objetivo da pesquisa. Foi empregado o método de custeio variável ou direto para auxiliar no
gerenciamento da atividade de bovinocultura. Foram identificados custos de produção na
atividade de bovinocultura da propriedade, através de levantamento de dados e análise de
resultados, contribuindo para a pesquisa na atividade de produção de reprodutores da raça
Braford.

Palavras-chave: Custos na Agropecuária; Custeio Direito; Reprodutores Braford.

62
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A pecuária em Santana do Livramento, assim como no Estado do Rio Grande do Sul, teve início no
século XVII, com os jesuítas e a colonização espanhola na região do Prata, que criavam o gado no pasto
sem critério algum de seleção e manejo. Trouxeram os primeiros rebanhos bovinos para a região com
a intenção de povoar os campos finos, e propícios para o desenvolvimento da atividade pecuária desta
região, simplesmente reproduziam-se ao natural ocorrendo inclusive consanguinidade nos
cruzamentos. Entretanto, a melhoria e a qualificação desse rebanho somente passaram a ser
realizadas no século XIX via importação de reprodutores bovinos da Europa. A importação desses
reprodutores e matrizes proporcionou um melhoramento genético e zootécnico não só da pecuária
local, mas também de toda a Campanha Gaúcha (CHELOTTI, 2003).

Os sistemas de criação da bovinocultura no Brasil e no mundo são extremamente variáveis, sendo


possível encontrar animais confinados em um sistema intensivo, até animais criados extensivamente
num sistema mais rústico, muitas vezes, quase em estado selvagem. Não há um sistema padrão que
funcione adequadamente em todas as regiões, pois as condições climáticas, as condições de lotação
dos determinados tipos de campo, área disponível para a criação, disponibilidade e qualidade das
forragens são muito diferentes de região para região (SÁ; SÁ, 2005 apud CRUZ, 2006).

Os produtores rurais do Rio Grande do Sul têm como característica a criação de rebanhos bovinos em
sistemas extremamente rústicos. Ainda assim, o maior rebanho bovino de gado de corte do Estado do
Rio Grande do Sul é o de Santana do Livramento, esses são dados da Secretaria Estadual de Agricultura,
Pecuária e Agronegócio, com um rebanho que chega ao número de 538.000 cabeças. Sendo que o
desfrute, ou seja, o número de abate de animais por ano é de 70.000 cabeças (IBGE, 2010).

Para o entendimento da bovinocultura é indispensável um esclarecimento do que é o agronegócio,


que é a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de
produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição desses produtos
e itens produzidos a partir deles. Entende-se agronegócio como sendo uma sucessão de atividades
produtivas, interligadas entre si, desde a produção de insumos, setor agropecuário, beneficiamento e
distribuição de alimentos e biomassa, visando atender as necessidades reveladas pelos consumidores
finais (BATALHA, 1997 apud LUCENA et al., 2008).

63
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Assim, a Estância ABC produtora de reprodutores bovinos localizada em Santana do Livramento, no


Estado do Rio Grande do Sul é parte integrante do agronegócio, para o Município de Santana do
Livramento o agronegócio caracteriza-se como um dos principais setores da economia, assim como no
Estado do Rio Grande do Sul, e até mesmo para o Brasil. O estudo realizado na Estância ABC, tem por
objetivo mensurar o custo de produção para a formação de reprodutores bovinos da raça Braford
ofertados pela Estância ABC em remate anual. Inicialmente, identifica-se o custo de produção a partir
da seleção do terneiro para reprodutor; realiza-se o levantamento de gastos na formação dos
reprodutores; e descreve-se o

método de custeio para apuração do custo de produção dos reprodutores.

A inserção da análise de custos no agronegócio é inevitável para a compreensão, e para a expansão


da competitividade das propriedades rurais dentro do mercado. As propriedades rurais que não
adotam um método de custeio podem apresentar problemas como: a falta de um melhor controle de
valores; de quais são as operações realizadas dentro da propriedade; o grau de importância das
atividades realizadas na propriedade; e dificuldade para a descoberta das principais causas para a
obtenção de resultado. E ainda, não permitem que os produtores passem a tomar suas decisões
baseadas em informações gerenciais corretas (CALLADO, 2005).

Para que o produtor rural passe a administrar a sua propriedade como uma empresa Lopes e Carvalho
(2002) afirmam que se faz necessário que o produtor tenha conhecimento de quanto custa, para ele,
produzir aquele bem, ou seja, ele tem que saber qual o custo de produção, sendo a determinação do
custo de produção uma prática necessária e indispensável ao administrador, constituindo-se em um
instrumento para as decisões do mesmo.

A apuração do custo de qualquer atividade rural apresenta um dos seus maiores problemas no rigor
do controle de seus elementos de forma a obter uma correta distribuição dos custos as atividades da
propriedade, principalmente sobre os gastos gerais, que podem comprometer seus preços no
mercado (CALLADO; CALLADO ,1999).

A falta de fontes de informações confiáveis na maioria das vezes leva os produtores à tomada de
decisão somente condicionada à sua experiência, ao potencial da região e à disponibilidade de
recursos financeiros e de mão de obra. O produtor tem facilidade para perceber quando a
rentabilidade da atividade é baixa, porém, encontra muita dificuldade em quantificar e identificar os

64
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

pontos de estrangulamento do processo produtivo de sua propriedade (OLIVEIRA et al., 2001 apud
VIANA; SILVEIRA, 2008).

Uma vez que, um dos maiores problemas para a apuração do custo de produção de qualquer atividade
rural está na rigorosidade e no controle da coleta de seus dados, levando a informações equivocadas,
e ao comprometimento dos preços dos produtos em relação ao mercado. Para que se possa obter
uma melhor distribuição dos custos, estes devem ser distribuídos as atividades de modo que possam
garantir o equilíbrio financeiro das contas da propriedade (CALLADO; CALLADO, 1999).

Um outro aspecto relevante a ser destacado, quando da implantação de um sistema de controle de


custos, é o de que o mesmo vai provocar alterações no comportamento das pessoas cujas atividades
estão sendo medidas, e esse efeito será tão maior quanto for a consciência desses indivíduos a
respeito desse processo(FREGA et al., 2007). Assim sendo, é importante o comprometimento de todas
as pessoas envolvidas no processo.

Ao levar em consideração a importância socioeconômica da pecuária na região da Campanha Gaúcha,


devido às condições, principalmente, de solo, clima, histórico produtivo, além da carência de pesquisas
na área, pretende-se orientar aos produtores rurais, no caso específico deste estudo aos
administradores da Estância ABC, a conhecer seus custos de produção para que estes possam auxiliar
no gerenciamento da propriedade, na tomada de decisão, no planejamento, na análise, e no controle
das atividades desenvolvidas na propriedade.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Santos (2009) define custo como a soma dos desembolsos de valores de todos os recursos (insumos)
e operações (serviços) utilizados no processo de produção de um produto ou de uma atividade,
durante um período de tempo definido. Leone (2009, p. 32), diz que, “custo é o valor dos fatores de
produção consumidos por uma firma (empresa), para produzir ou distribuir produtos ou serviços, ou
ambos”. Segundo Martins (2008, p. 25) “custo é o gasto relativo a um bem ou serviço utilizado na
produção de outros bens ou serviços. O custo é também um gasto, porém só é reconhecido como
custo, no momento da utilização dos fatores de produção (bens e serviços), para a fabricação de um
produto ou execução de um serviço”.

A cada dia que passa, a gestão da pecuária tem se preocupado mais com a gestão de custos, utilizando
combinação de métodos de custeio, em função de suas peculiaridades. Com isso o administrador rural

65
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

incide em administrar, ou seja, planejar, controlar e decidir, visando o aumento dos lucros para a
propriedade e a constante motivação de seu pessoal de acordo com (SANTOS; MARION; SEGATTI, 2004
apud CEOLIN et al., 2008). Conforme os autores acima citados, pode-se concluir que custo, é todo o
gasto que está diretamente ligado a produção de um bem ou serviço, ou seja é um gasto relativo a
fabricação de um produto ou prestação de serviços.

2.1 CUSTEIO VARIÁVEL OU DIRETO

Segundo Crepaldi (2009, p. 228) método de custeio “é o método usado para a

apropriação de custos”. Para Megliorini (2007), são os métodos de custeio que determinam a
valoração dos objetos de custeio. Ainda segundo o próprio autor é comum encontrar na literatura, a
classificação dos métodos de custeio em tradicionais e contemporâneos. Métodos tradicionais são
aqueles ligados diretamente com o custo dos produtos, onde se destacam os custos com matérias e
mão-de-obra diretos. Os métodos tradicionais são: custeio por absorção, custeio pleno e o custeio
variável ou direto, os quais variam com o volume de produção. A literatura sobre os métodos de
custeio é bastante ampla. Contudo, restringe-se a abordagem ao custeio variável ou direto, pelo fato
de o mesmo haver sido utilizado para apuração do lucro operacional da atividade investigada.

Custeio variável ou direto considera como custo de produção apenas aqueles custos variáveis
incorridos, custos que variam de acordo com o volume produzido. Para Crepaldi (2009, p. 232)
“fundamenta-se na separação dos gastos variáveis e gastos fixos, isto é, em gastos que oscilam
proporcionalmente ao volume da produção/venda e gastos que se mantêm estáveis perante volumes
de produção/venda oscilantes dentro de certos limites”.

Segundo Leone (2009), a principal finalidade do custeio variável ou direto é a elevação da margem de
contribuição, que é a diferença entre a receita de vendas e o custo variável de produção, para chegar
o resultado da atividade diminui-se o custo fixo. Para Martins (2008, p. 179), a margem de contribuição
“é a diferença entre o preço de venda e o custo variável de cada produto; é o valor que cada unidade
efetivamente traz à empresa de sobra entre sua receita e o custo que de fato provocou e lhe pode ser
imputado sem erro”.

Ainda conforme Leone (2009), o custeio variável ou direto é bem aproveitado pela administração nos
casos em que se deseja saber, com segurança, quais produtos, departamentos, que são realmente

66
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

lucrativos. Entretanto, o custeio variável ou direto não deve ser utilizado para obter soluções a longo
prazo.

2.2 CUSTOS FIXOS E VARIÁVEIS

Para os autores, Crepaldi (2009), Martins (2008) e Leone (2009), os custos podem ser classificados em
Fixos e Variáveis e estão ligados às diferentes atividades da produção.

Crepaldi (2009), diz que, Custos Fixos são aqueles cujo total não varia proporcionalmente ao volume
produzido. Por exemplo: aluguel, salários de administradores, etc. É importante ressaltar que os custos
fixos dentro de determinada faixa de produção e, em geral, não são sempre fixos, podem variar em
função de grandes oscilações no volume de produção. Ou seja, é um custo fixo no total, mas variável
nas unidades produzidas. Quanto mais produzir, menor será o custo por unidade. Os Custos Variáveis
são os que variam proporcionalmente ao volume produzido. O conceito pode ser visualizado através
dos seguintes exemplos: matéria-prima, embalagem, etc.

Atkinson et al. (2000), diz que os custos fixos não se alteram com as mudanças no nível de produção
ou vendas e que os custos variáveis variam em proporção às mudanças no nível de produção ou
vendas. Assim os custos fixos e variáveis podem ser utilizados no custeio variável ou direto, os custos
variáveis para apurar a margem de contribuição e considerando os fixos para apurar o resultado da
atividade.

3 MÉTODO

A pesquisa é de caráter descritivo, a qual, de acordo com Collis e Hussey (2005), tem como principal
objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de
relações entre as variáveis. Destaca-se que a pesquisa descritiva se preocupa em observar os fatos,
registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, sem que o pesquisador interfira neles. Já Hair Jr.
et al. (2005), descreve pesquisa descritiva como, planos estruturados e especificamente criados para
medir as características descritas em uma questão de pesquisa, que normalmente servem para guiar
o processo e fornecer uma lista do que precisa ser mensurado. Sempre descrevendo, trabalhando com
conceitos já existentes ou consolidados.

Este estudo se valerá tanto da abordagem qualitativa, quanto da abordagem quantitativa. A pesquisa
qualitativa, segundo Hair Jr. et al. (2005), tende a uma visão

67
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

subjetiva, significando que o pesquisador irá interpretar textos, palavras, ou imagens, coletados sem
o uso direto de números, estudando fenômenos humanos e sociais. A pesquisa quantitativa, também
segundo Hair Jr. et al. (2005), é aquela que permite que sejam analisados dados numéricos levantados,
como, por exemplo, registros financeiros da empresa, registros de venda ou questionários. Os dados
quantitativos se apresentam na forma de mensurações em que números são utilizados diretamente
para representar a propriedade ideal, devido ao fato de estarem representados por números prestam-
se para a análise quantitativa.

Ainda conforme Hair Jr. et al. (2005), ao compararem-se os métodos quantitativos e qualitativos nota-
se que os dados quantitativos são mais úteis para testagem, no mapeamento e tendências e os
resultados são mais objetivos, já os dados qualitativos mostram-se mais úteis para descobertas,
oferecendo informações aprofundadas sobre algumas características, demonstram pouca
representatividade e resultados subjetivos. Sendo assim, ambas as abordagens são ricas e úteis para
esta pesquisa.

3.1 MÉTODO ESCOLHIDO

Esta pesquisa tem como método de tipologia de pesquisa o estudo de caso, que segundo Collis e
Hussey (2005), é um exame extensivo de um único exemplo de um fenômeno de interesse de uma
metodologia, que foca no entendimento da dinâmica presente dentro de um único ambiente.
Corrobora com esta visão Yin (1994, apud VIEIRA e ZOUAIN, 2006), afirmando que o objetivo do estudo
de caso é basicamente descrever uma situação com profundidade, buscando ilustrar e dar realismo a
ela, pela maior quantidade de dados e informações coletadas. O caso selecionado para o estudo foi o
da Estância ABC, situada no Município de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste do Estado do Rio
Grande do Sul.

3.2 TÉCNICAS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Os dados a serem utilizados para a pesquisa são de fontes secundárias, uma vez que já foram tratados
e agrupados nos documentos analisados pela pesquisa. Os dados analisados foram os registros
contábeis da Estância ABC, porém, outros dados também foram obtidos por meio do contato direto
com os proprietários da Estância, sendo coletados em entrevistas, que segundo Marconi e Lakatos
(2009), se dão no encontro entre duas pessoas a fim de que uma delas obtenha informações a respeito
de determinado assunto, mediante uma conversação e natureza profissional. Quanto ao tipo de
entrevistas, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, que de acordo com Hair Jr. et al. (2005),

68
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

podem ser utilizadas para que o pesquisador fique livre para exercitar sua iniciativa no
acompanhamento da resposta a uma pergunta. Essa abordagem pode resultar no surgimento de
informações inesperadas e esclarecedoras, melhorando a qualidade das descobertas.

Os dados documentais foram analisados de acordo com a técnica da análise de conteúdo, e também
recebendo uma análise contábil, de acordo com os princípios do custeio variável ou direto. Os dados
originados em notas fiscais, comprovantes de pagamento e extratos bancários foram organizados em
Boletins de Custos, que tiveram a tarefa de auxiliar a escrituração das informações coletadas no campo
para posterior preenchimento de um Mapa de Localização dos Custos.

Para a elaboração do Mapa de Localização dos Custos e dos Boletins de Custos foi necessário utilizar
uma forma de distribuição dos custos nas diferentes atividades pecuária, que teve por base o
percentual de unidades animais bovinos em relação ao total de unidades animais da Estância ABC.
Posteriormente levantaram-se os dados da Receita Operacional Bruta a partir dos valores de venda de
reprodutores bovinos que constavam nos talões de produtor e registrados na contabilidade da
Estância ABC. Este valor foi deduzido dos custos variáveis, obtendo-se assim a Margem de
Contribuição, e depois deduzindo-se os custos fixos

para obter o Resultado Operacional.

Os resultados deste estudo foram analisados durante o período do ciclo produtivo, de abril de 2009 a
outubro de 2010, compreendendo o período em que os terneiros são selecionados como candidatos
a touros, até a última seleção onde restam apenas os touros que vão para o remate, abrangendo assim
os 18 meses necessários para a formação dos reprodutores. Realizou-se uma análise das fichas de
lotação da Estância ABC do período estudado a fim de realizar o inventário dos animais.

3.3 OPERACIONALIZAÇÃO DA ANÁLISE DOS DADOS

Os dados coletados para a análise dos custos foram obtidos com base em boletins para cálculo de
custos de produtos e serviços, acompanhamentos de controles internos fornecidos pelos proprietários
da Estância ABC em relação aos bovinos analisado, bem como notas fiscais, comprovantes de
pagamentos e extratos bancários, visando a confiabilidade dos dados, estes últimos por questões de
segurança foram apenas consultados.

69
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Considerou-se necessário separar os dados que estão em comum entre a atividade de formação de
reprodutores e as demais atividades desenvolvidas na propriedade. A partir do levantamento total do
rebanho, procedeu a distribuição dos custos nas diferentes atividades pecuárias, considerando as
categorias animais. A forma de distribuição utilizada para a análise dos dados foi o de percentual de
unidades animais de reprodutores em formação sobre o total de Unidades Animais - UA da Estância
ABC. Segundo Contagri (2002, apud VIANA e SILVEIRA, 2008) os valores de UA, referentes às categorias
animais da bovinocultura e ovinocultura estão representados no Quadro 1, a seguir:

Quadro 1 - Valores de unidades animais por categoria de bovinos

Categoria Animal Peso vivo (Kg) médio Unidade Animal


Vacas 450 1
Touros 675 1,5
Novilhos (as) 1 – 2 anos 350 0,777
Novilhos + 2 anos 450 1
Terneiros (as) 180 0,4
Ovelhas 50 0,25
Carneiros 70 0,35
Borregos (as) 40 0,2
Capões 50 0,25
Cordeiros (as) 20 0,1
Fonte: Contagri (2002, apud VIANA e SILVEIRA, 2008).

A seguir demonstra-se a fórmula matemática desenvolvida para a obtenção do percentual de


distribuição para a atividade, utilizando da relação dos valores de unidades animais (UA) e o inventário
do rebanho realizado no período (Quadro 2).
1) Dados obtidos para a distribuição de touros para remate (TR), onde TC representa “touros
candidatos”:
TRtotal = (nºTCabr2009 x UA x 6 meses) + (nºTCout2009 x UA x 6 meses) + (nºTRout2010 x UA x 6
meses)
TRtotal = (40 x 0,4 x 6) + (40 x 0,77 x 6) + (30 x 1,5 x 6)
TRtotal = 96 + 184,80 + 270
TRtotal =550,8 UA / 18 meses = 30,6 UA
2) Dados obtidos para a distribuição da categoria de Vacas (VA):
VA = nºVA x UA = 900 x 1 = 900 UA
3) Dados obtidos para a distribuição da categoria de Fêmeas -1ano (F1):
F1 = nºF1 x UA = 350 x 0,4 = 140 UA
4) Dados obtidos para a distribuição da categoria de Fêmeas 01- 02 anos (F2):
F2 = nºF2 x UA = 250 x 0,77 = 192,5 UA

70
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5) Dados obtidos para a distribuição da categoria de Touros + 03 anos (T3):


T3 = nºT3 x UA = 30 x 1,5 = 45 UA

Segundo Perez Jr., Oliveira e Costa (2009), a principal regra para a determinação da forma de
distribuição é o bom senso. Cada organização define sua forma de distribuição de acordo com o gasto
que estiver sendo distribuído nas diferentes atividades pecuária.
Conforme Leone (2009), a forma de distribuição dos gastos deve ser o mais coerente com as condições
específicas de cada atividade de produção das organizações.
Para a presente pesquisa foi utilizado a forma de distribuição dos gastos aos “touros para remate”,
que leva em consideração a formação de touros para leilão, e das demais atividades da propriedade.
Obteve-se o total UA da propriedade que representa 1308,1UA, sabendo a quantidade de UA para
cada uma das diferentes categorias de animais, calculou-se que um percentual de 2,34% dos custos
foram alocados para Touros para remate, enquanto que os 97,66 % restantes para as demais
categorias da propriedade, sendo que 68,80% dos custos são para Vacas, 10,70% para Fêmeas -1ano,
14,72% para Fêmeas 01- 02 anos e 3,44% para Touros + 03 anos, assim os custos se dispõem de uma
maneira correta e com maior precisão.
A partir da coleta de dados efetuada com os Boletins de Custos e por meio da distribuição dos custos,
o Mapa de Localização dos Custos foi preenchido, segundo o modelo adotado por Saldanha (2003).

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A seguir é apresentado o contexto onde se deu a pesquisa, bem como os resultados encontrados
quando da metodologia de custeio aplicada.

4.1 ESTÂNCIA ABC

Conforme entrevista com os proprietários da Estância ABC foram relatadas as


informações descritas abaixo:
Estância ABC foi fundada por Antonio Guerra no ano de 1890, desde então vem trabalhando a pecuária
tanto na bovinocultura quanto na ovinocultura. Hoje a Estância pertence à Lysia Pires Guerra, e ao seu
filho Antonio Guerra Soares que fazem parte, respectivamente, da terceira e quarta geração da família
de Antonio Guerra.

71
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A propriedade caracteriza-se como uma empresa familiar, conta com duas áreas para a exploração da
pecuária, uma no município de Uruguaiana, e a outra área, que é o tema deste estudo, Estância ABC
no município de Santana do Livramento.
A Estância ABC está localizada ao norte do município de Santana do Livramento divisa com o município
de Rosário do Sul, na região denominada ABC que dá o nome à propriedade, nome esse, originário de
um arroio que nasce nos campos da mesma, está situada à distância de 57 km da sede do município
de Santana do Livramento, tendo acesso pelas estradas Robledo Braz e São Leandro.
A propriedade cria a raça Braford há 20 anos, criação essa, que partiu de um rebanho Hereford
definido, sendo que a partir de 1980 foi introduzido o cruzamento com zebuínos, porém somente a
partir de 1991 começou a registrar animais Braford. Atualmente a propriedade trabalha com um
rebanho de 800 vacas Braford em um sistema de ciclo completo, sendo que na estância ABC são
desenvolvidas as atividades de cria, recria, formação de reprodutores bovinos da raça Braford,
invernada de fêmeas. Enquanto na área de Uruguaiana é realizada a invernada dos machos.
A propriedade conta com 8 funcionários no setor operacional, o responsável pela assistência
agronômica Fernando Soares, mais o médico veterinário Eduardo Soares na administração. A
propriedade conta ainda com assistência contábil e fiscal de um escritório de contabilidade e um
escritório próprio na sede do município, visando concentrar os controles de despesas e receitas,
vendas de genética, assim como organizar dados e informações, e planejar atividades.

4.2 RAÇA BRAFORD

A raça Braford surgiu oficialmente na Flórida (Estados Unidos da América), na


década de 60, já no Brasil, somente em 1967, um criador de Rosário do Sul (RS), iniciou a importação
de zebuínos americanos, da raça Brahma, visando cruzá-los especificamente com bovinos Hereford, a
fim de criar uma nova raça. Logo, criadores do Rio Grande do Sul começaram a perceber as vantagens
do cruzamento entre os herefords e zebus, alastraram assim os cruzamentos no Estado. Após vários
anos da introdução do zebuíno nos campos do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina produtores e
técnicos trabalhavam em projetos de cruzamento entre Hereford e Zebu para formação de uma raça
com características de genótipo zebuíno, buscando rusticidade e adaptabilidade (ABHB, 2006).
A partir da década de 80 a Associação Brasileira de Hereford e Braford, na época, denominada
Associação Brasileira de Criadores de Hereford e Polled Hereford (ABCHPH), sabedora desses esforços,
começou um trabalho para orientar e oficializar esse processo de criação. A partir daí, seu corpo
técnico iniciou visitas aos criadores que estavam mais desenvolvidos na seleção desses animais para

72
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

analisar e estudar os projetos que estavam sendo criados e executados, tendo em vista unificá-los para
formação da raça Braford. Assim em 1983 a ABCHPH inicia o controle de registros de grau sangue e o
mapeamento dos criadores que estavam fazendo os cruzamentos para formação da raça. Também
nesse ano, foram aceitos, oficialmente, a inscrição de animais Braford, registrados na ABCHPH, na
Expofeira de Rústicos da Raça Hereford, de Uruguaiana (RS), conforme (ABHB, 2006).
Nascia a Pampiano Braford, que após um curto período passou a se chamar apenas Braford, mudança
que visou facilitar o intercâmbio internacional. Em 1993, a ABCHPH obteve o reconhecimento de raça
em formação pelo Ministério da Agricultura do Brasil, quando a mesma adota o nome atual de
Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) e recebe a delegação para efetuar o registro
genealógico da raça em todo território nacional, sendo a Braford, finalmente, reconhecida como raça,
no Brasil, em 2003. O Braford é um bovino sintético e a raça busca características que reúnam em um
só animal a fertilidade, habilidade materna, precocidade, temperamento dócil, volume e qualidade da
carne do Hereford, com a capacidade de adaptação aos trópicos, resistência aos ectoparasitas,
rusticidade, rendimentos de carcaça dos Zebuínos, de acordo com (ABHB, 2006).
O macho Braford é extremamente fértil, viril e precoce, adaptando-se muito bem às condições de
reprodução a campo, detentor de excepcional massa muscular; é incomparável na missão de produzir
terneiros. A fêmea Braford é precoce e fértil, tem comprovado potencial de entrar em reprodução
totalmente a campo entre 14 e 18 meses de idade. Com peso médio adulto de 450 Kg, tem excelente
facilidade de parto e habilidade materna, desmamando entre 6 e 8 meses terneiros que podem ter
mais de 50% do peso materno, (ABHB, 2006).
O novilho Braford é muito precoce na terminação, podendo ser abatido, em terminação
exclusivamente a campo, entres 18 e 24 meses de idade e peso entre 380 e 480 Kg, apresentando
rendimentos de carcaça entre 50% e 58%. Tem carcaça bem conformada, bom perfil muscular, alto
rendimento de cortes comestíveis e, o que é mais importante, tem cobertura de gordura e
marmorização, o que garante a boa conservação das características de sabor e suculência quando no
resfriamento realizado pelos frigoríficos, garantindo também a excelente apresentação dos cortes na
gôndola, segundo (ABHB, 2006).

4.3 RESULTADOS

A propriedade rural localizada em Santana do Livramento, RS, Brasil, dispõe de 2000 hectares para a
exploração da pecuária de corte. O sistema de produção adotado é o de ciclo completo, com a

73
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

realização das fases de cria, recria e terminação de bovinos da raça hereford e braford, além da
produção de touros como reprodutores.
Dentro deste sistema, a presente pesquisa objetivou analisar os custos de produção de reprodutores
da raça braford. A primeira etapa para a formação de touros na propriedade foi a classificação dos
animais após o desmame, em abril de 2009. Neste ponto, foram selecionados 40 terneiros para o
manejo de formação de touros. A segunda etapa consistiu em uma nova seleção, em março de 2010,
após um ano da primeira seleção, onde foram classificados 30 animais para seguir no processo de
formação de reprodutores.
O remate/leilão em que esses touros foram ofertados aconteceu em outubro de 2010, onde se encerra
o ciclo produtivo para a formação de reprodutores, com idade média de 24 meses. Assim, o ciclo
produtivo estudado inicia em abril de 2009 e se encerra em outubro de 2010 com a venda dos touros
no remate de produção da Estância ABC, período equivalente a 18 meses, tendo relação direta com
os custos de produção. Os seis meses iniciais da formação dos touros foram contabilizados no mapa
de custos como “custo dos terneiros”, sendo as demais atividades contabilizadas nos 18 meses
subsequentes. O primeiro passo para a análise dos custos de produção de reprodutores da Estância
ABC estudada foi a realização de um inventário de rebanho bovino nos 18 meses de coleta de dados
da pesquisa (Quadro 2).
Quadro 2 – Inventário de rebanho das categorias animais da Estância ABC pesquisada em três períodos
distintos
Categoria Animal Inventário
01/04/2009 31/03/2010 31/10/2010
Vacas 900 900 900
Fêmeas - 01 ano 350 350 350
Fêmeas 01-02 anos 250 250 250
Machos - 01 ano 201 0 0
Touros + 03 anos 30 30 30
Candidatos a touro - 1,5 ano 40 40 0
Touros p/ remate + 1,5 ano 30 30
Fonte: Elaborado pelos autores.

Cabe ressaltar que os 201 machos menores de um ano, que não foram selecionados como candidatos
a touro, foram para uma invernada em outra propriedade, localizada em outro município, arrendada

74
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

pelos proprietários da Estância ABC, a fim de produzir novilhos para abate, bem como os 10 candidatos
a touro que não passaram na segunda etapa de seleção.
Após a obtenção do inventário do rebanho, foram calculados os percentuais de distribuição dos custos
às atividades, como apresentado na Figura 1 do método da pesquisa. Com os percentuais calculados,
foram distribuídos os custos de produção da Estância ABC, conforme o valor relativo da categoria de
touros para remate. Por sua vez, os custos variáveis para o manejo dos touros foram computados
exclusivamente para a categoria, sem a necessidade de distribuição.
Salienta-se que o a forma de distribuição dos gastos utilizada baseia-se conforme a representatividade
das diferentes categorias animais no rebanho bovino total. Deste modo, a categoria de “vacas” acaba
por absorver grande parte dos custos gerais pela sua representatividade dentro de um sistema de ciclo
completo. Assim, a análise do resultado econômico para a categoria de “vacas”, ou seja, as matrizes
do rebanho, segundo esta forma de distribuição, emergem como um tema para futuras pesquisas.
Os resultados detalhados dos custos da atividade para reprodutores da Estância ABC analisada é
apresentado no Quadro 3.
Quadro 3 – Mapa de localização de custos para reprodutores Braford do estudo de caso
Especificação TOUROS % ref.
1.1 Impostos e Contribuições Sociais 670,09 2,34
1.2 Custo de Oportunidade da terra 6.620,80 100,00
1.3 Depreciação dos Bens 156,20 2,34
1- SOMA PATRIMÔNIO 7.447,09
2.1 Pró-Labore 2.680,36 2,34
2.2 Assist. Contábil 306,33 2,34
2.2 Publicidade e Propaganda 97,64 2,34
2.3 Cursos e Treinamentos 42,12 2,34
2.4 Assist. Médica 727,53 2,34
2- SOMA ADMINISTRATIVA 3.853,98
SOMA DOS CUSTOS INDIRETOS 11.301,07
3.1 Mão de Obra 1.656,08 2,34
3.2 Alimentação 160,82 2,34
3.3 Serviços Terceirizados 204,86 2,34
3- SOMA PESSOAL 2.021,76

75
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.1 Energia Elétrica 61,27 2,34


4.2 Água 18,38 2,34
4.3 Comunicação tel.intern. 86,15 2,34
4- SOMA TERCEIROS 165,80
5.1 Despesas c/ veículos manutenção 576,28 2,34
5.2 Combustível e Lubrificantes veículos 555,22 2,34
5.3 Despesas manut. Trator 153,16 2,34
5.4 Combustível e Lubrif. Trator 264,21 2,34
5.5 Manutenção de Implementos Agric. 97,64 2,34
5.6 Manutenção da Casa 191,45 2,34
5.7 Manutenção de Instalações 746,67 2,34
5.8 Fretes 363,76 2,34
5.9 Despesas Diversas 229,75 2,34
5.10 Desp. Sanidade Estância 354,19 2,34
5.11 Despesas c/ Rações Estância 191,45 2,34
5.12 Arrendamento Cascata 593,51 2,34
5.13 Inseminação Artificial 258,46 2,34
5.14 Mineralização 842,40 2,34
5.15 ABHB e Técnico 245,06 2,34
5.16 Custo dos Terneiros 24.000,00 100,00
5.17 Sanidade Touros 1.500,00 100,00
5.18 ABHB Técnico avalição Touros 1.200,00 100,00
5.19 Veterinário Touros 1.500,00 100,00
5.20 Ração Touros 35.910,00 100,00
5.21 Pastagem Touros 9.000,00 100,00
5.22 Comissões Venda Touros 6.000,00 100,00
5.23 Marketing Publicid. Prop. Touros 1.350,00 100,00
5- SOMA GASTOS GERAIS 86.123,21
SOMA DOS CUSTOS DIRETOS 88.310,77
TOTAL 99.611,84

76
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos documentos registrados na contabilidade, adaptado de
Saldanha (2003).

Ao analisar o Mapa de Localização dos Custos verifica-se que os custos variáveis representam 88,65%
do custo total para formação de reprodutores, enquanto os custos fixos 11,35%. Verifica-se ainda que,
o centro de custos que mais alocou valores foi, “soma com gastos gerais” possuindo um percentual de
86,46% dos custos, logo após vem a “soma de patrimônio” com 7,47%, seguido de “soma
administrativa” com 3,87%, “soma do pessoal” 2,03%, e “soma com terceiros” 0,17%.
Visto a representatividade da “soma com gastos gerais “dentro custo de produção, é de suma
importância analisar que é neste centro de custos que estão alocadas a três principais matérias-
primas, e contas agregadoras de custos que são a “ração dos touros” representando 41,70% deste
centro de custo, “custo dos terneiros” que foram selecionados (27,87%), e as pastagens destes touros,
responsáveis por 10,45% dos gastos gerais de produção. Assim, estas contas representam 69,18% do
custo total para a produção de reprodutores bovinos da Estância ABC analisada.
Nos outros 19,98% da soma com gastos gerais, entram gastos como, sanidade dos touros, visitas de
técnicos da associação da raça Braford e marketing específico do remate de produção e outros.
No centro de custos “soma de patrimônio”, o custo de oportunidade da terra obteve 88,9% deste
centro de custos, evidenciando que este custo é o maior entre os custos fixos de produção, seguido
dos custos com pró-labore que relaciona 69,55% da soma administrativa.
O valor total dos custos para a formação de reprodutores bovinos da raça Braford foi de R$ 99.611,84.
O Quadro 4, a seguir, demonstra a depreciação de bens do período analisado durante este estudo,
base para a construção do centro de custos na soma de patrimônio.
Quadro 4 – Depreciação de bens na propriedade rural analisada
Bem Valor do Bem Vida Vida útil Valor Valor anual
econômica residual depreciado
ref. Touros
Mangueiras e 25.000,00 25 anos 25 anos 0,00 23,40
Bretes de
ovinos
Trator 150.000,00 50 anos 50 anos 15.000,00 63,18
Máquinas e

77
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Implementos
Agrícolas
Benfeitorias 250.000,00 100 anos 100 anos 175.000,00 17,55
Casa e
Galpões
VALOR TOTAL ANUAL PARA TOUROS 104,13
Fonte: Elaborado pelos autores.
Após o cálculo do custo total, demonstra-se no Quadro 5 o valor mínimo de venda, ou o custo de
produção de cada produto, relacionado com o custo total atividade. O valor mínimo de venda foi
obtido através da divisão do custo total da atividade de formação de reprodutores bovinos, pelo total
de animais da mesma.
Quadro 5 – Valor mínimo de venda de cada touro para leilão do caso analisado
Produto Total de Animais Custo Total da Valor Mínimo de
Atividade Venda
Touros remate 2010 30 99.559,77 3.318,66
Fonte: Elaborado pelos autores.
Assim, para remunerar a formação de touros na propriedade analisada, a receita bruta deve ser
superior ao valor mínimo de venda calculado. Para tal análise, o Quadro 6 demonstra a receita
operacional bruta dos reprodutores no remate de 2010, a partir do preço médio dos mesmos.

Quadro 6 – Receita Operacional Bruta dos touros comercializados em leilão


Nº de animais Preço médio Receita Operacional Bruta
30 7.144,00 214.320,00
Fonte: Elaborado pelos autores.

Ao analisar a receita operacional bruta, verifica-se o valor de R$ 214.320,00. O Quadro 7, abaixo,


demonstra o método de custeio variável ou direto sugerido para apurar o resultado econômico da
atividade de formação de reprodutores da Estância ABC. No quadro, utilizou-se o método de custeio
variável ou direto onde os custos são demonstrados de forma clara e são facilmente identificáveis com
a atividade. O método variável ou direto é capaz de demonstrar os custos de forma gerencial,
separando os custos fixos que são considerados as despesas do período, auxiliando na tomada de

78
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

decisões tendo como principal vantagem a apuração dos resultados financeiros gerados pelos
produtos da propriedade rural.
Quadro 7 – Método de Custeio utilizado para a análise econômica da formação de touros
Receitas de Vendas 214.320,00
(-) Custos Variáveis 88.310,77
= Margem de Contribuição 126.009,23
(-) Custos Fixos 11.301,07
= Resultado Operacional 114.708,16
Fonte: Método de Custeio adaptado de Crepaldi (2009).
Ao analisar o Quadro 7, construído com base no método de custeio de Crepaldi (2009), percebe-se
que o resultado operacional foi de R$ 114.708,16, de um ciclo produtivo de dois anos, ou seja, seis
meses como terneiro (custo de aquisição de terneiros), e um ano e meio como seleção de touro para
remate, representando 115,15% do custo total e 53,52% da receita das vendas. Neste sentido,
constata-se um resultado operacional médio, por animal comercializado, de R$ 3.823,60; assim, a
partir dos acompanhamentos técnicos realizados na propriedade, verifica-se que o período estudado
foi um lucrativo ciclo produtivo para formação de reprodutores bovinos da raça Braford.
Por fim, cabe ressaltar que, como limitação do estudo, não realizaram-se levantamentos de custos das
demais atividades desenvolvidas na propriedade, podendo assim fornecer melhores resultados e
menos distorções nos dados apresentados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste estudo pode-se concluir que foi possível mensurar os custos da atividade para a
formação de reprodutores bovinos da raça Braford na Estância ABC, auxiliando no gerenciamento da
propriedade. Através do Mapa de Localização de Custos, sendo este efetivo no controle dos custos e
comprovando a eficiência do método de custeio variável ou direto. Assim, acredita-se que o meio de
controle dos custos proposto, para auxiliar no gerenciamento de uma propriedade rural, denominado
Mapa de Localização de Custos, é uma ferramenta indispensável.
O método de custeio variável ou direto é eficiente para a aplicação em uma propriedade rural onde
não há, ou existe pouco, controle dos custos, acredita-se que o método de custeio variável ou direto
é o método para ser implantado inicialmente. Esse método foi sugerido, no decorrer do estudo, para
ser utilizado pelos gestores da Estância ABC. Os responsáveis pela Estância visam sempre à
lucratividade do negócio, por isso, faz-se necessário um planejamento de situações futuras. Dessa

79
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

forma, é através de posse de informações confiáveis, que os gestores poderão melhorar o


gerenciamento da propriedade.
Acredita-se que a correta distribuição dos custos nas diferentes atividades pecuária, incluindo a de
formação de reprodutores bovinos, é um ponto chave para a adequada avaliação da situação
econômica da atividade, e da propriedade, evitando resultados inconsistentes, oriundos da limitação
de métodos de custeio equivocados. Somente através de métodos eficazes e confiáveis é possível
exercer uma boa administração, para que se possam conhecer os resultados econômicos que norteiam
uma gestão, auxiliando na tomada de decisão e na superação de metas e resultados.
Por meio dos boletins de levantamento de custos, do mapa de localização de custos e do método
proposto foi possível identificar e apurar os custos de produção, atribuindo-lhes grau de importância
para a propriedade pesquisada. O mapa de localização de custos que foi proposto como um meio de
controle capaz de demonstrar e separar os custos em diferentes centros de custos através da
distribuição nas diferentes atividades desenvolvidas na propriedade. Ainda, é uma ferramenta para o
gestor promover o controle e o planejamento da propriedade.
As informações proporcionadas pelo método de custeio variável ou direto a respeito da real situação
econômica da propriedade, somado ao conhecimento do gestor, tornam possível administrar e tomar
decisões seguras e conscientes baseadas em dados confiáveis. Assim, permite ao gestor, identificar,
analisar, controlar, planejar, e tomar decisões, visando modificar sua forma de produção, promovendo
cortes de investimentos, corrigindo distorções em algumas atividades, ou ainda, aumentar os
investimentos em atividades chaves na propriedade.
Este estudo deixa contribuições para futuras pesquisas nesta área carente de métodos de custeio
capazes de fornecer informações confiáveis aos administradores da atividade agropecuária.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HEREFOD E BRAFORD (ABHB). A história da raça. Bagé – RS, 24 de maio
de 2006. Disponível em: <http://www.hereford.com.br>. Acesso em: 20 maio 2011.

CALLADO, A. A. C. Agronegócio. São Paulo: Atlas, 2005.

CALLADO, A. A. C.; CALLADO, A. L. C. Custos: um desafio para a gestão no agronegócio. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CUSTOS, 6, 1999, São Paulo. Anais. São Paulo: FEA/USP, 1999.

CEOLIN, A. C; et al.. Sistemas de informação sob a perspectiva de custos na gestão da pecuária de corte
gaúcha. Revista Custos e @gronegócio on line da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife,
v. 4., edição especial, p. 62-84, mai. 2008.

CHELOTTI, M.C; A Dinâmica do Espaço Agrário no Município de Sant’ana do

80
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Livramento/RS: Das Sesmarias aos Assentamentos Rurais. Dissertação de Mestrado em Geografia


defendida em março de 2003 na Universidade Estadual Paulista/Unesp/Presidente Prudente.

COLLIS, J.; HUSSEY, R. Pesquisa em Administração. Um guia prático para alunos de graduação e pós-
graduação. Trad: Lucia Simonini. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

CREPALDI, S. A. Contabilidade Rural. São Paulo: Atlas, 1993.

CREPALDI, S. A. Curso Básico de Contabilidade de Custos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

FREGA, J.R., et. al. Relação Dinâmica Entre as Estratégias Competitivas e os Sistemas de Gestão de
Custos: um Estudo de Caso. In: XXXI ENCONTRO DA ANPAD, 2007, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro:
ANPAD, 2007.

HAIR JR., J. F., et. al. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. Tradução: Lene Belon
Ribeiro. Porto Alegre: Bookman, 2005.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agropecuário 2010. Brasília, 2010.
Disponível em: <http//www.ibge.gov.br>. Acesso em: 6 abril 2011.

LEONE, G. S. G. Curso de Contabilidade de Custos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LIMA, A. P. de. et al. Administração da unidade de produção familiar: modalidade de trabalho com
agricultores. Ijuí: Unijuí, 2005.

LOPES, M. A.; CARVALHO, F. de M. Custos de Produção do Gado de Corte. Boletim Agropecuário.


Lavras: UFLA, 2002.

LUCENA, L. P. et al. Cadeia produtiva da ovinocultura em Mato Grosso do Sul: uma análise de seu
sistema de coordenação agroindustrial. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA,
ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA

RURAL, 46., 2008. Rio Branco. Anais. Rio Branco: SOBER, 2008.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M.. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas
2009.

MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 9. ed. São Paulo, Atlas, 2008.

MENDES, A. C. A. Sistemas de Custo na Prática da Bovinocultura de Corte. In: VIII CONGRESO DEL
INSTITUTO INTERNACIONAL DE COSTOS, 2003, Punta del Leste. Nuevos Desafios de la Gestion
Empresarial ante un Mundo Globalizado y Competitivo, 2003.

PEREIRA, R.V.G.; AMARAL, T. L. do. Introdução à agropecuária. Setor de Educação a Distância – SEAD.
Barbacena – MG. 2011.

PEREZ JR., J. H.; OLIVEIRA, L. M. de; COSTA., R. G. Gestão Estratégica de Custos. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2009.

SALDANHA, J. R.; Plano de gestão de custos para a pequena propriedade rural,

81
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

utilizando sistema de custeio variável. In: CONVENÇÃO DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL,
9., 2003, Bento Gonçalves. Anais. Bento Gonçalves: CRCRS, 2003.

SANTOS, J. J. Contabilidade e Análise de Custos. 5 ed. São Paulo, Atlas, 2009.

VIANA, J. G. A.; SILVEIRA, V. C. P. Custos de produção e indicadores de desempenho: metodologia


aplicada a sistemas de produção de ovinos. Revista Custos e @gronegócio on line da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Recife, v. 4., n. 3., p. 02-27, set./dez. 2008.

VIANA, J. G. A.; SILVEIRA, V. C. P. Análise econômica da ovinocultura na metade sul do Rio Grande do
Sul, Brasil. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E
SOCIOLOGIA RURAL, 46., 2008. Rio Branco. Anais. Rio Branco: SOBER, 2008.

VIEIRA, M. M. F.; ZOUAIN, D. M. Pesquisa qualitativa em administração. 2. ed. -Rio de Janeiro: FGV,
2006.

YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Trad. Daniel Grassi. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,
2005.

82
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 5

RETORNO FINANCEIRO GERADO POR PROJETOS DE


PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

DOI: 10.37423/200300476

Sergio Cavagnoli Guth (Doutor em Economia pela Universidade de Aveiro, Portugal


Reconhecido pela Universidade Federal de Minas Gerais).
Antonio Jorge Fernandes - afer@ua.pt
Marcos Moreira Pinto -profemarcos@terra.com.br
Cassiano Tiago Lumi -cassi.lumi@gmail.com
Elisabeth T. Pereira Rocha - melisa@ua.pt
Resumo: A gestão empresarial está ligada a novas práticas ambientais, alterando a
estrutura de produção, repensando na responsabilidade social da organização, buscando a
lucratividade e atuando com ações para minimizar os malefícios que seus produtos podem
causar à comunidade e a novas gerações. Algumas atividades produtivas ainda apresentam
a cultura de processos antiquados, gerando resíduos que prejudicam o meio ambiente, além
de representarem custos. As estratégias devem estar relacionadas com o uso racional e
sustentável dos recursos. Esta necessidade pode ser atendida com os conceitos que
envolvem a “Produção mais Limpa”, influenciando o custo final dos produtos e conduzindo
a preocupação da empresa para questões ambientais. O objetivo deste trabalho é apresentar
a alteração da mudança de matéria-prima, possibilitando a redução de sucatas metálicas na
produção de duplicadores a álcool; reavaliar o processo de produção, propondo a
substituição do alumínio para material plástico, verificando as vantagens ambientais,
operacionais e de redução de custos, e analisar o investimento por meio dos métodos do
valor presente líquido, da taxa interna do retorno e pelo payback descontado.

83
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O estudo foi realizado em uma empresa localizada no planalto médio do Rio Grande do Sul. Os
resultados apresentados garantem vantagens na substituição dos materiais da produção que geram
mais de 2.800 kg de resíduos de alumínio para zero por cento de resíduo. A avaliação econômico-
financeira apresenta a viabilidade. Ratifica-se que, após a mudança da matéria-prima pela nova fonte
sustentável, o produto final se manteve satisfazendo o consumidor final. Portanto, os benefícios
ambientais, econômicos e operacionais obtidos ratificam a importância destas práticas e a
possibilidade de se estender para outros produtos da empresa.

Palavras chave: Produção limpa, Sustentabilidade, Resultados financeiros.

84
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

O comportamento de consumo da sociedade tem passado por muitas transformações nos últimos
anos e continua mudando, apontando para novas tendências como a busca por praticidade,
conveniência e conforto no ato das compras. Por sua vez, as empresas, além de estarem preocupadas
com as reduções de custos e intensificarem os projetos em qualidade, aumentam sua atenção para a
sustentabilidade. Nesse contexto, conquistam espaço as empresas que conseguem se adaptar a estas
exigências.
No entanto, a atividade produtiva ainda é responsável pela geração de resíduos, os quais contribuem
para o aumento do custo final dos produtos, além de serem prejudiciais ao meio ambiente. Sendo
assim, há necessidade que sejam adotadas novas estratégias que estejam relacionadas com o uso
racional e sustentável dos recursos.
É inquestionável que as tecnologias de produção melhoraram a produtividade das empresas, mas
trouxeram consigo o aumento da poluição, desperdícios de energia, além de efeitos e impactos
ambientais que diminuíram substancialmente a qualidade de vida na sociedade como um todo.
Formas alternativas de utilização da energia para produção, bem como a substituição de matérias-
primas, são pontos a serem adotados pelas empresas em suas estratégias de melhoria de processos,
melhoria de produtos e, em consequência, redução de custos em busca da sustentabilidade.
Dessa forma, o objetivo principal deste trabalho é evidenciar como a redução da geração de sucata de
alumínio de um produto em uma empresa do setor metal-mecânico localizada no Planalto Médio do
Rio Grande do Sul, por meio da adoção de práticas de produção mais limpas, pode também trazer
retornos financeiros. O estudo envolve a avaliação do processo de produção de duplicadores a álcool
e faz uma análise quantitativa de todos os resíduos gerados no processo de produção desses
equipamentos com a utilização de cilindros de plástico, bem como a avaliação econômica do projeto,
a fim de verificar sua viabilidade por meio dos métodos de Fluxo de Caixa, do Valor Presente Líquido
(VPL), Taxa Interna de Retorno Modificada (MTIR) e Payback descontado (PB-D).
Além desta seção introdutória, este artigo está disposto nas seguintes seções: revisão bibliográfica,
metodologia, resultados e discussão e considerações finais.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para o Greenpeace Brasil (2008), diversos princípios e critérios passaram a fazer parte do conceito de
Produção mais Limpa e a serem promovidos em várias partes do mundo, especialmente nos países
europeus. Continua o órgão explicando que atenção especial vem sendo dada aos princípios da

85
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

precaução, prevenção, integração, controle democrático, direito de acesso a informações sobre riscos
e impactos de produtos e processos e responsabilidade continuada do produtor:

 Prevenção e redução do desperdício: são de extrema importância os procedimentos


internos de manutenção e monitoramento de válvulas com vazamento e ajustes.
Também contribuem, para prevenção e redução, o correto manejo e transferência de
matéria-prima e a eliminação de fluxos de desperdício. O controle rígido de inventário
possibilita a identificação de passivo ambiental. A modificação dos processos, utilizando
a reengenharia ambiental para mudar a forma de pensar sobre o impacto ambiental
dos processos e produtos, previne e reduz desperdícios.

 Reciclagem e reuso: a reciclagem e reuso são caracterizadas pela coleta e tratamento


dos fluxos de desperdício tais como óleo e solventes usados. A utilização de processos
de reciclagem, desenvolvimento de produtos para reuso ou reciclagem, contribui para
seu sucesso.

 Tratamento do lixo: pelo desenvolvimento de metodologias para prevenir que os lixos


perigosos entrem em contato com o meio ambiente, tratar o lixo com processos
biológicos, químicos ou físicos e desenvolver serviços de tratamento de lixo oferecendo
este serviço aos clientes e outras empresas.

 Disposição do lixo: para a disposição do lixo é preciso certificar-se que os locais usados
sejam desenvolvidos para proteger o meio ambiente, em especial fontes de água
subterrâneas.
A Figura 1 descrita por Sarkis e Rascheed (1995), representa a metodologia do conceito de Produção
mais limpa.

86
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura Error! No sequence specified.: Ciclo de vida – processo produtivo.

Figura 1 - Metodologia do conceito de Produção mais Limpa.


Fonte: Adaptado de Sarkis e Rascheed (1995).
Segundo o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente (2008), a Produção mais Limpa é
importante para a redução de resíduos, visto que a mesma leva ao desenvolvimento e à implantação
de tecnologias limpas no processo produtivo. Para se introduzir as técnicas de Produção mais Limpa
em um processo produtivo, podem ser utilizadas várias estratégias, tendo em vista metas ambientais,
econômicas e tecnológicas.
Valle (2002) afirma que o produto a ser reutilizado entra quase no final da cadeia produtiva, na
montagem ou acabamento do produto. Entretanto, a parte a ser reaproveitada deve estar em perfeito
estado de conservação e praticamente pronta para ser novamente reusada. Em partes de produtos,
onde a segurança é importante, testes não destrutivos devem ser realizados para comprovar o estado
de integridade do material selecionado. Sendo difícil a reutilização de produtos ou peças sem uma
necessidade mínima de processamento prévio, pode-se estipular que um material é classificado como
reutilizado se o mesmo exigir um processamento cujo custo não ultrapasse 15% do custo final do
produto, obtido a partir de um processo de reciclagem ou reutilização.
Podem-se observar dois critérios que devem ser levados em consideração, quando da aplicação dessa
metodologia:
1) Minimização de resíduos e emissões: esse é o principal ponto que deve ser observado
quando da aplicação do Produção mais Limpa, priorizando sempre o nível 1, onde verifica-se a
possibilidade de redução de resíduos na fonte ou modificação do produto. Caso não se consiga atender
o nível 1, passa-se ao nível 2, direcionando esforços para a reciclagem interna ou modificação do
processo de produção.

87
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2) Reuso de resíduos e emissões: no caso de não ser possível atender as aplicações do nível 1
ou 2, verifica-se o nível 3, onde se prioriza a reciclagem externa, modificação de estruturas ou
alteração dos ciclos biogênicos, com ênfase nos materiais.
De acordo com Barbieri (2002), a expressão Produção mais Limpa (cleaner production) refere-se a uma
abordagem de proteção ambiental mais ampla, pois considera todas as fases do processo de
manufatura e o ciclo de vida do produto, incluindo o seu uso nos domicílios e locais de trabalho. Essa
abordagem requer ações contínuas e integradas para conservar energia e matéria-prima, substituir
recursos não renováveis por renováveis, eliminar substâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a
poluição resultante dos produtos e dos processos produtivos.
Segundo o CNTL – Centro Nacional de Tecnologias Limpas (2008), a Produção mais Limpa significa a
aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos
produtivos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia através da não-
geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados em um processo produtivo.
Barbieri (2002) classifica reutilização ou reuso como o reaproveitamento de materiais, que conservem
as suas propriedades ou características mesmo após terem sido usados, para uso idêntico ou
semelhante, como é o caso das embalagens retornáveis.
Já reciclagem é definida por Barbieri (2002, p. 43) como “a transformação dos resíduos em novas
matérias-primas, envolvendo a coleta de resíduos, processamento e comercialização. ”
Segundo a CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (2008), as
organizações ainda acreditam que sempre necessitariam de novas tecnologias para a implantação de
Produção mais Limpa, quando, na realidade, aproximadamente 50% da poluição gerada pelas
empresas poderia ser evitada somente com a melhoria em práticas de operação e mudanças simples
em processos. Também já foi verificado que, toda vez que houve uma legislação obrigando as
organizações a mudarem seus processos de produção ou serviços, houve uma maior eficiência e
menor custo de produção.
A análise do bem ecológico descrito pelos autores, no ato da mudança de cultura produtiva, encontra
um obstáculo para implantação, a viabilidade econômica. Apesar dos argumentos apresentados e pelo
apelo social para a prática destas políticas de Produção Limpa, o mundo empresarial muitas vezes
reluta a sua aplicação, em função de que nem todas as mudanças são viáveis do ponto de vista
financeiro.
Para fazer está mensuração, o presente trabalho buscou na literatura os métodos usuais no processo
de análise de investimentos, segundo pesquisas realizadas descritas no Quadro 1:

88
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 1 – Resultados obtidos em pesquisa de critérios de análise

Autores Ano da Pesquisa Nº de Empresas Público Resultado Método


Gitman e Forrest 1977 103 Grandes 58,8% TIR
Empresas 9,8% VPL
500 Maiores
Fluxo de Caixa
Moore e Reichet 1983 298 Revista 86%
Descontado
Fortune
Stanley e Block 1984 Não Consta 65% TIR

Bierman 1993 73 100 Maiores 73% Fluxo de Caixa


Revista
Descontado
Fortune
Trahan e Gitman 1995 84 Grandes Aprox. TIR / VPL /
Empresas Mesmo Fluxo de caixa

Grahan e Harvey 1999 392 4.440 Grandes 74,9% VPL


Empresas 75,7% TIR
Quadro 1 – Resultados obtidos em pesquisa de critérios de análise
Fonte: Adaptado de Souza (2003).

Pode-se observar que três métodos se destacam na pesquisa acima. Segundo os autores, os dirigentes
de grandes empresas adotam, na hora de realizar sua análise econômico-financeira de seus projetos
de investimentos, o valor presente líquido, o payback e a taxa interna de retorno. A seção a seguir
descreverá de forma sucinta cada método.

2.1 MÉTODOS DE ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

Cada método tem um objetivo específico em sua fórmula e resultado matemático. Basicamente a
preocupação do gestor é com questões financeiras, ou seja, quanto de capital o projeto irá deixar para
empresa. Também há o prazo de recuperação e a taxa interna de retorno, a fim de balizar o
comparativo com a taxa de atratividade do mercado. Sendo assim, pode-se observar a seguir:
a) Payback descontado
No modelo de payback original, o valor do dinheiro no decorrer do tempo não é considerado. Isso
levou a algumas críticas, pois é recomendável que seja determinado por meio de um fluxo de caixa
descontado, bastando, para tal, descontar os valores pela taxa mínima de atratividade (TMA) e
verificar o prazo de recuperação do capital. Assim, as regras para o payback descontado são idênticas
às utilizadas no payback normal, porém os valores do fluxo de caixa são tratados considerando uma
taxa de desconto, geralmente a taxa mínima de atratividade (TMA), (KASSAI et al., 2000). Percebe-se,
então, um período maior no payback descontado do que no payback original, o que obviamente se dá
pela utilização da taxa de desconto, mas sua confiabilidade é maior.
Assim, payback descontado é quase o mesmo que o payback, porém, antes de calculá-lo, primeiro se
desconta seu fluxo de caixa. Reduzem-se os pagamentos futuros pelo custo de capital, porque é
dinheiro que será ganho no futuro e terá menos valor que o dinheiro hoje (KASSAI et al., 2000).

89
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Portanto, o método do payback econômico ou descontado busca contornar a deficiência do payback


normal de não considerar o valor do dinheiro no tempo. O entendimento é simples, assim como os
recursos despendidos no investimento apresentam um custo que tem de ser incluído ao longo do
período de análise do projeto de investimento (BRASIL, 2002).
A rejeição de projetos pelo payback descontado pode ser realizada comparando-se o valor do
indicador obtido ao tempo máximo tolerado. O projeto será descartado por esse critério caso se
verifique que o valor payback descontado de um projeto é superior ao valor do tempo máximo
tolerado. Se o valor payback comum for igual ao tempo máximo tolerado, o projeto poderá ou não ser
aceito. Já se o payback descontado for inferior ao tempo máximo tolerado, deverá ser aceito (KASSAI
et al., 2000). Essa abordagem é resumida na fórmula:
Fórmula 1 - Payback descontado
t n t n
1FCt 1FCt
Valor  
t 1 (1  r ) t
Valor   (1  r )
t 1 t

b) Valor Presente Líquido (VPL)


Ao ser considerado um investimento com possibilidade de mais de uma alternativa, ou seja, fazer o
investimento ou não fazê-lo, mantendo o capital atualizado por outro tipo de remuneração, a questão
reside em decidir qual situação é mais viável ao investidor. O valor presente líquido foi criado para
facilitar a comparação entre opções de investimento.
De acordo com Souza (2003), “considera-se o valor presente líquido (VPL) como subsídio ao processo
decisório, porque esse indicador é extremamente importante no processo de análise de projetos de
investimentos de capital”. Assim, o projeto será aceito caso o valor presente líquido (VPL) seja positivo,
considerando determinada taxa de juros, e será rejeitado se o VPL for negativo.
Motta e Calôba (2002) afirmam que o VPL serve para “seleção entre alternativas mutuamente
exclusivas. A única restrição é que todas as alternativas tenham um horizonte de planejamento”, ou
seja, identifica-se o maior Valor Presente Líquido até que se encontrem as restrições do caixa da
empresa, por meio de seu orçamento.
Quando se trabalha com o valor presente líquido (VPL), a definição da taxa mais apropriada a ser
utilizada nos cálculos pode tornar-se um problema. Portanto, nos cálculos do VPL, que se efetuam
para subsidiar o processo de análise de projetos de investimento de capital, utiliza-se a fórmula a
seguir, transcrita de Souza (2003, p. 82):

90
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fórmula 2 - Valor presente líquido


n
FCt n
FCt
VPL   VPL  
t 0 (1  i ) t
t  0 (1  i )
t

Sendo: VPL = valor presente líquido; FC = fluxo de caixa; I = taxa de desconto.


c) Taxa Interna de Retorno (TIR)
Uma das mais polêmicas formas de análise de investimento, juntamente com o valor presente
líquido, é a taxa interna de retorno a qual apresenta resultados que, segundo sua concepção, podem
desvirtuar um projeto.
A taxa interna de retorno de um investimento é a taxa de juros que anula a diferença entre os valores
atuais dos retornos de seu fluxo de caixa e o valor do investimento. Numa análise, a escolha recai na
alternativa de maior taxa de retorno. “A Taxa Interna de Retorno (TIR), por definição, é a taxa que
torna o Valor Presente Líquido (VPL) de um fluxo de caixa igual a zero” (SOUZA e CLEMENTE, 1995).
Uma alternativa de investimento é considerada vantajosa quando a taxa de retorno é maior que a taxa
mínima de atratividade.
Para Brealey e Myers (2003), a TIR é, frequentemente, utilizada em finanças e pode ser uma medida
acessível, mas, como se pode observar, também pode ser desastrosa. Deve-se, portanto, saber como
calculá-la e usá-la adequadamente.
Assim, de acordo com Kassai et al. (2000), a fórmula de cálculo da TIR é a seguinte:
Fórmula 3 - Taxa interna de retorno
FCn FCn
Zero  Zero 
(1  IRR) n
(1  IRR) n

Onde: FC = Fluxos de caixa esperados (positivos ou negativos)


Kassai et al. (2000) informam que é considerado economicamente atraente todo investimento
que apresente, após análise, TIR maior ou igual a TMA.

2.2 O TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE

Não se pode deixar de abordar dentro do estudo o enfoque base da sustentabilidade, sendo que o
ambiente, a economia e a sociedade são relevantes e se autocompletam, são pautados pela ética e a
transparência na gestão dos negócios e apontam que uma organização deve ter seus resultados
mensurados. É com base nesse tripé que as empresas devem orientar as suas decisões.
Desenvolver ações de responsabilidade social ou ambiental, conforme Pereira (2007), é realidade
apenas para grandes corporações. Cada vez mais as empresas percebem que também podem fazer

91
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

parte desse processo. Elas podem estar perto de serem as protagonistas na transformação dos
negócios em iniciativas sustentáveis.

As práticas de sustentabilidade, conforme Jacobi (2003), em um contexto marcado pela degradação


permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária articulação com a
produção de sentidos sobre a educação ambiental. A dimensão ambiental configura-se
crescentemente como uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo,
potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais
e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar. Nesse sentido, a produção de
conhecimento deve necessariamente contemplar as interrelações do meio natural com o social,
incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas
de organização social que aumentam o poder das ações alternativas de um novo desenvolvimento,
numa perspectiva que priorize novo perfil de desenvolvimento com ênfase na sustentabilidade
socioambiental.

3 METODOLOGIA

Segundo Aaker et al. (2004), as pesquisas podem ser classificadas em três categorias gerais:
exploratórias, descritivas e causais.
Este artigo pode ser classificado como uma pesquisa exploratória, do tipo quantitativa,
operacionalizada através de um estudo de caso. Segundo Yin (2008), o estudo de caso é uma
investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.
Aaker et al (2004) afirmam que a pesquisa exploratória é utilizada quando existe pouco conhecimento
prévio daquilo que se pretende conseguir e é caracterizada pela falta de estruturas rígidas, permitindo
assim que se investiguem ideias e indícios diferentes sobre uma situação.
O presente artigo refere-se a um estudo de caso desenvolvido na Empresa Menno Equipamentos para
Escritório Ltda., do setor metalmecânico, localizada em Erechim, Rio Grande do Sul. Foi avaliado, em
especial, a redução de resíduos na fabricação de duplicadores a álcool e a viabilidade econômica do
projeto. Conforme Yin (2005), o estudo de caso evidencia-se através de documentos, registros em
arquivos, entrevistas, observações diretas e participantes, além de artefatos físicos. Para a escolha da
organização, considerou-se o desempenho da empresa no mercado, bem como acessibilidade da
obtenção dos dados.

92
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para a tratamento e análise dos dados do atual processo de produção de duplicadores, foram
calculados percentual e média de todos os resíduos gerados no processo de produção dos
equipamentos com a utilização de cilindros de plástico. Para a análise da viabilidade econômica, foram
utilizadas técnicas da administração financeira, que no projeto deu-se por meio da avaliação dos
indicadores Fluxo de Caixa, do Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno Modificada
(MTIR) e Payback descontado (PB-D).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste item, são apresentadas todas as etapas do processo de montagem do duplicador a álcool,
também popularmente denominado mimeógrafo, a Proposta de Substituição de Matéria-Prima como
Alternativa de Produção Mais Limpa e a Avaliação dos aspectos financeiros envolvidos na modificação
do cilindro.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO

Foram levantados dados referentes aos processos que são realizados na empresa para a produção do
cilindro, visando quantificar a utilização de máquinas com o objetivo de verificar as seguintes variáveis:
- Consumo de energia durante o processo nas diversas máquinas que são utilizadas (serra, torno e
fresa);
- Levantamento do número de colaboradores envolvidos no processo e seus respectivos custos;
- Custos externos envolvidos no processo de produção do cilindro como custos com frete da matéria-
prima, custos com impostos, custos de transporte interno e custos com a disposição do resíduo
resultante do processo.

4.2 PROCESSO PRODUTIVO DO DUPLICADOR A ÁLCOOL

1) Pré-montagem das laterais: a Figura 2 mostra a pré-montagem das laterais do duplicador, onde são
fixados alguns componentes com a ajuda de uma rebitadeira.

93
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 2 – pré-montagem das laterais dos duplicadores a álcool


2) Pré-montagem do cilindro de alumínio: nesse processo, o cilindro de alumínio recebe alguns
componentes como engrenagens e mecanismos articuladores (Figura 3).

Figura 3 - Pré-montagem do cilindro


3) Montagem do cilindro nas laterais: na sequência, mostrada na Figura 4, o cilindro de alumínio é
montado junto às laterais que começam a formar o corpo do duplicador.

Figura 4 - Montagem do cilindro de alumínio com as laterais que estruturam o duplicador a álcool

4) Montagem das mesas receptoras e alimentadoras: a Figura 5 mostra a etapa na qual as mesas
receptoras de papel e alimentadoras de papel são montadas no corpo do duplicador.

94
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 5 - Instalação das mesas suportes para alimentação e recebimento de papel.

5) Testes: no processo mostrado na 6 são realizados os testes no equipamento para verificar a


qualidade das cópias e seu funcionamento.

Figura 6 - Etapa de testes do equipamento


6) Montagem das laterais plásticas: monta-se as laterais, bem como alguns componentes avulsos. Logo
após, o produto é embalado e enviado à expedição (Figura 7).

Figura 7 - Etapa final para expedição do duplicador a álcool.

4.3 PROCESSO PRODUTIVO DO CILINDRO DE ALUMÍNIO

O cilindro de alumínio usado nos duplicadores a álcool envolve distintas atividades, que compreendem
desde o corte dos tubos de alumínio, a usinagem do cilindro para eliminar imperfeições, a montagem
das laterais do cilindro em uma máquina de estampo e a operação de fresa para colocação da régua.
Na sequência são apresentados os processos necessários para a fabricação do cilindro de alumínio:

95
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1) Corte dos tubos de alumínio: a Figura 8 mostra os tubos de alumínio que são recebidos num
comprimento de 3 ± 0,043 m. E posteriormente cortados no tamanho necessário (23 cm) para a
confecção do cilindro do duplicador a álcool.

Figura 8 - Processo de corte dos tubos de alumínio

2) Fresa do rasgo para a colocação da régua: a Figura 9 mostra o equipamento onde é feito um rasgo
na lateral do cilindro para que se possa fazer a montagem da régua posteriormente.

Figura 9 – Processo de fabricação da fenda para inserção da régua no duplicador a álcool

3) Colocação das laterais: Na prensa mostrada na Figura 10 são fixadas as laterais do cilindro,
juntamente com um eixo interno que fica posicionado no centro do mesmo.

96
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 10:Prensa para fixação das laterais do cilindro

4) Usinagem do cilindro: finalmente, antes de ser mandado para o setor de montagem, onde é
acoplado ao produto final, o cilindro é usinado para eliminar as imperfeições que podem ocasionar
defeito na impressão quando o produto estiver em funcionamento.

4.4 CARACTERIZAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA PARA A CONFECÇÃO DOS CILINDROS

O processo convencional de produção dos duplicadores a álcool consiste na utilização de cilindros em


alumínio.

O cilindro, para seu usado no duplicador, necessita de algumas características devido a sua função
como:

- A parte externa do cilindro que ficará em contato com a matriz, responsável por fazer as cópias,
necessita de uma linearidade, pois quaisquer imperfeições que sejam encontradas podem causar
falhas nas cópias, o que prejudica o funcionamento do equipamento;

- Na usinagem do cilindro deve ser observada a velocidade de rotação e de avanço, pois nesse caso
também pode haver imperfeições que acarretam em mau funcionamento do aparelho.

Na Tabela 1 são mostrados os dados da caracterização dos lotes de cilindros de alumínio utilizados na
confecção dos duplicadores a álcool.

97
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 - Caracterização dos lotes de cilindros de alumínio utilizados na fabricação dos duplicadores
a álcool.

Caracterização dos lotes de cilindros de alumínio Lote 1 Lote 2 Lote 3


Cilindros cortados por lote (Un) 130 130 130
Peso unitário dos cilindros antes da usinagem (Kg) 0,7550 0,7535 0,7570
Peso unitário dos cilindros depois da usinagem (Kg) 0,5450 0,5320 0,5570
Peso total do lote antes da usinagem (Kg) 98,150 97,955 98,410
Diâmetro dos cilindros (mm) 109,69 109,65 109,76
Espessura da parede dos cilindros antes da usinagem (mm) 3,44 3,58 3,47
Espessura da parede dos cilindros depois da usinagem (mm) 2,44 2,53 2,19
Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

4.5 ANÁLISE QUANTITATIVA DOS RESÍDUOS GERADOS COM A UTILIZAÇÃO DE CILINDROS DE


ALUMÍNIO

Foi realizado um levantamento de dados, visando obter informações sobre o processo produtivo dos
duplicadores a álcool com cilindro de alumínio, a fim de se mensurar a quantidade de resíduos gerados
durante o processo. As informações obtidas referentes aos resíduos foram tabuladas e comparadas
com a proposta de modificação da matéria-prima do mesmo para um material plástico, para que se
possa verificar a viabilidade de modificação da matéria-prima nas variáveis ambientais e econômicas.

Para a pesagem dos cilindros foi utilizada uma balança Toledo modelo 3400/1, série 05061010086-LG,
com carga mínima de 0,010 Kg e máxima de 2,5 Kg. A medida do diâmetro, comprimento e espessura
dos cilindros foi realizada através de um paquímetro digital Mitutoyo, modelo Digimatic CD-6” BS,
série 0074013.

Para se obter o peso total do lote de cilindros, será multiplicado o peso de um cilindro pelo numero
total de cilindros obtidos durante o corte de um lote (130 peças).

Depois de terminado o levantamento dos dados acima, foi feita uma pesagem dos resíduos gerados
durante o processo de produção do lote para verificar as quantidades de resíduos gerados conforme
abaixo:

- Sobras de limalhas de alumínio obtidas no corte dos cilindros, sobras do tubo de alumínio, sobras de
limalha durante o processo de fresagem das laterais e sobras de limalha durante o processo de
usinagem do cilindro.

As sobras de limalha de alumínio e de tubos obtidas durante o corte dos tubos serão pesadas em uma
balança Toledo, modelo 2184, série 6657380, fabricada em 1989, com carga mínima de 2,5 Kg e
máxima de 250 Kg. Já as sobras de limalha que são obtidas durante o processo de fresagem das laterais

98
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

bem como as sobras de limalha da usinagem serão pesadas em uma balança Toledo, modelo 3400/1,
série 05061010086-LG, fabricada em 2005, com carga mínima de 0,010 Kg e máxima de 2,5 Kg.

A caracterização do resíduo gerado durante o processo produtivo do cilindro de alumínio foi feita por
meio de medições na empresa dos resíduos encontrados durante o processo a fim de levantar os
seguintes dados:

 Número de cilindros que são cortados por lote de 10 barras, peso unitário de cada
cilindro, diâmetro dos cilindros, comprimento dos cilindros e espessura dos cilindros.

Na produção dos cilindros de alumínio são gerados vários resíduos. Esses resíduos são basicamente
limalhas que são geradas pela operação de corte do tubo de alumínio e sobras do tubo que não podem
ser utilizadas por seu tamanho não atingir o tamanho mínimo necessário, além de limalhas geradas
durante o processo de fresagem das laterais e usinagem do cilindro.

Na Tabela 2 são apresentados os dados referentes às sobras de limalhas obtidas durante o corte dos
tubos de alumínio, sendo que os lotes são de 130 peças cada.

Tabela 2 - Sobras de limalhas de corte

Lote 1 Lote 2 Lote 3


(130 pçs) (130 pçs) (130 pçs)

Sobras de limalha de alumínio (Kg) 0,637 0,645 0,679


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Na Tabela 3 são apresentados os dados referentes às sobras de pedaços de tubo de alumínio que não
podem ser aproveitados após o corte dos tubos, conforme 03 lotes de 130 peças cada.

Tabela 3 - Sobras de tubos de alumínio.

Lote 1 Lote 2 Lote 3


(130 pçs) (130 pçs) (130 pçs)

Sobras de tubo de alumínio (Kg) 1,568 1,654 1,612


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

A variação encontrada nos pesos acima se deve ao tamanho dos tubos não ser uniforme, resultando
em sobras de tubos de tamanhos diferentes. Na Tabela 4 são apresentados os dados referentes às
sobras de limalha de alumínio durante o processo de fresagem das laterais para lotes de 130 peças.

99
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 4 - Sobras de limalha da fresagem

Lote 1 Lote 2 Lote 3

Sobras de limalha de alumínio (Kg) 0,637 0,655 0,623


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Na Tabela 5 são apresentados os dados coletados referentes às sobras de limalha de alumínio durante
o processo de usinagem do cilindro para lotes de 130 peças.

Tabela 5 - Sobras de limalha da usinagem

Sobras de usinagem Lote 1 Lote 2 Lote 3

Sobras de limalha de alumínio (Kg) 27,30 27,95 27,56


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Na Tabela 6 são apresentados os dados totais referentes ao somatório de resíduos de alumínio gerado
no processo produtivo do cilindro.

Tabela 6 - Resíduos totais

Resíduos totais Lote 1 Lote 2 Lote 3

Kg 30,142 30,904 30,474

Média para três lotes 30,506


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Levando em consideração a média de resíduos obtidos nos três lotes avaliados e multiplicando pela
quantidade mensal e anual média produzida de duplicadores, chegamos ao seguinte número:

 Média de vendas mensais: 1000 unidades


 Média de vendas anuais: 12000 unidades
 Média de resíduos mensais: 30,506 / 130 x 1000 = 234,66 Kg
 Média de resíduos anuais: 30,506 / 130 x 12000 = 2.815,93 Kg
Os resultados mostram que quase 3.000 kg de sucata de alumínio, contaminados com óleo de corte,
são obtidos nesse processo de fabricação de duplicadores a álcool. Esse resíduo é destinado a um
Aterro de Resíduos Perigosos pela Empresa, onerando o processo devido à disposição desse material.

100
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.6 PROPOSTA DE SUBSTITUIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA COMO ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO MAIS


LIMPA

Dentro desse contexto, um novo modelo de material foi desenvolvido, com a proposta de substituir o
cilindro de alumínio e, consequentemente, todas as etapas vinculadas desde o recebimento dos
cilindros de alumínio até a adequação nos duplicadores a álcool. O novo modelo de cilindro proposto
será fabricado em PVC (policloreto de Vinila), que é o segundo termoplástico mais consumido em todo
o mundo e é considerado também o mais versátil dentre os plásticos. A grande versatilidade do PVC
deve-se a suas propriedades e também a sua adequação aos mais variados processos de
transformação. Sendo a resina do PVC atóxica e inerte, a escolha de aditivos com essas mesmas
características permite a fabricação de filmes para embalagens de alimentos e também produtos
médico-hospitalares.

Além da simplicidade operacional do uso de cilindros de PVC, que já são fornecidos no tamanho
correto solicitado pela empresa, não haverá mais necessidade de todos os demais equipamentos para
corte, fresamento e usinagem que são hoje utilizados. Os testes feitos foram aprovados pelos
operários devido à facilidade operacional obtida com esta nova forma de fabricação de duplicadores
a álcool. Além dos resíduos evitados anualmente, proporciona melhor qualidade de trabalho para os
funcionários, que deixarão essas funções consideradas de elevado risco à saúde, devido à exposição
desses funcionários aos equipamentos, contato com fluídos de corte, peças metálicas cortantes e seus
resíduos e barulho constante.

Uma vez aprovada a operacionalidade, houve a necessidade de verificar se o projeto seria viável,
sendo observadas as questões econômico-financeiras.

4.7 AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS FINANCEIROS ENVOLVIDOS NA MODIFICAÇÃO DO CILINDRO

Utilizaram-se, nesta análise, três indicadores, pois, quando se avalia um projeto de investimento,
deve-se levar em consideração vários aspectos e variáveis, os quais geralmente não são totalmente
absorvidos por um único indicador. Os números aqui descritos sofreram uma deflação a fim de
proteger o sigilo dos dados da empresa. No entanto, as relações percentuais mantiveram-se as reais.

A Tabela 7, a seguir, apresenta a análise de investimento para a substituição do componente do


produto:

101
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 7 – Dados para análise do investimento

Componente Atual Cilindro de alumínio


Produção 1000 Unidades
Custo do Produto R$ 74,74
Custo Componente Atual R$ 16,10
Custo Total Atual R$ 74.740,00

Proposta
Investimento - 20.000,00 R$
Componente Cilindro de PVC
Produção 1000 Unidades
Custo do Produto R$ 69,02
Custo Componente R$ 10,38 (variação %) 35,53%
proposto
Custo Total Proposto R$ 69.020,00
Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Na Tabela 8 pode-se observar o fluxo de caixa incremental, onde é apresentado o total do


investimento necessário para o desenvolvimento do novo cilindro, bem como os testes realizados.
Também a relação entre o custo antigo, o custo novo do produto e o respectivo fluxo de caixa líquido,
que se trata da diferença entre o valor antigo e o valor novo.

Tabela 8 – Fluxo de caixa do projeto

Prazo Investimento Custo Atual Custo Novo Fluxo de Caixa


Meses Total Mensal Mensal Liquido
0 -20.000,00 0,00
1 74.740,00 69.020,00 5.720,00
2 74.740,00 69.020,00 5.720,00
3 74.740,00 69.020,00 5.720,00
4 74.740,00 69.020,00 5.720,00
5 74.740,00 69.020,00 5.720,00
6 74.740,00 69.020,00 5.720,00
7 74.740,00 69.020,00 5.720,00
8 74.740,00 69.020,00 5.720,00
9 74.740,00 69.020,00 5.720,00
10 74.740,00 69.020,00 5.720,00
11 74.740,00 69.020,00 5.720,00
12 74.740,00 69.020,00 5.720,00
TOTAL 896.880,00 828.240,00 68.640,00
Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Pode-se observar que o custo do projeto novo é menor que o custo do projeto antigo e
apresenta fluxo de caixa incremental mensal de R$ 5.720,00.
Na Tabela 9 está apresentado o resultado do Valor presente líquido (VPL).

102
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 9 - Resultado do Valor presente líquido (VPL)

Taxa SELIC ANUAL 9,25% 12 Meses


Taxa Equivalente 0,74% 1 Mês
Investimento
Prazo Meses 0 -20.000,00
1 5.720,00
2 5.720,00
3 5.720,00
4 5.720,00
5 5.720,00
6 5.720,00
7 5.720,00
8 5.720,00
9 5.720,00
10 5.720,00
11 5.720,00
12 5.720,00
Valor Presente Líquido (VPL) 45.449,49
Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Sendo assim, pode-se observar o resultado do valor presente líquido (VPL), no qual o projeto
apresenta um resultado de R$ 45.449,49, o que significa que, em 12 meses, além da recuperação do
investimento de R$ 20.000,00, tem-se um superávit financeiro de R$ 25.449,49. A taxa de juros
utilizada para esse cálculo foi a SELIC, que, segundo o Banco Central do Brasil (2009), é obtida mediante
o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas
em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e
liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas. Do exposto, pode-se concluir que a taxa
SELIC se origina de taxas de juros efetivamente observadas no mercado.
Na Tabela 10 observamos o resultado da taxa interna de retorno modificada (MTIR), onde o objetivo
é de que se obtenha uma taxa de retorno maior que a taxa de juros paga para a captação do dinheiro,
no caso a SELIC, além de considerar o investimento desse dinheiro com a rentabilidade normal da
poupança, onde a taxa resultante também deve ser maior.

103
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 10 - Resultado da taxa interna de retorno modificada (MTIR)

TAXA INTERNAR DE RETORNO MODIFICADA (MTIR)


Taxa de Atratividade ou Reaplicação 0,65% Poupança
Investimento
Prazo Meses 0 -20.000,00
1 5.720,00
2 5.720,00
3 5.720,00
4 5.720,00
5 5.720,00
6 5.720,00
7 5.720,00
8 5.720,00
9 5.720,00
10 5.720,00
11 5.720,00
12 5.720,00
MTIR 11,15%
Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Observa-se que a Taxa Interna de Retorno Modificada é maior que a taxa SELIC atual do mercado,
montando-se então um investimento atraente, pois a remuneração do capital investido no projeto é
maior que a remuneração média do mercado financeiro.
A próxima avaliação foi de calcular em quanto tempo, caso acontecer, a empresa recupera o
investimento feito no projeto.

Tabela 11 - Resultado do Payback descontado (PB-D)


Prazo Meses Investimento Valor Presente Saldo
0 -20.000,00
1 5.720,00 -5.677,99 -14.322,01
2 5.720,00 -5.636,28 -8.685,74
3 5.720,00 -5.594,88 -3.090,86
4 5.720,00 -5.553,78 2.462,92
5 5.720,00 -5.512,99 7.975,91
6 5.720,00 -5.472,49 13.448,41
7 5.720,00 -5.432,30 18.880,70
8 5.720,00 -5.392,40 24.273,10
9 5.720,00 -5.352,79 29.625,89
10 5.720,00 -5.313,47 34.939,36
11 5.720,00 -5.274,44 40.213,80
12 5.720,00 -5.235,70 45.449,49
PB-D 3,55 Meses
Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Observa-se que o investimento feito no projeto é recuperado em 3,55 meses, também bastante
atraente do ponto de vista de retorno de investimento.

104
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de produção mais limpa para reduzir a geração de sucata de alumínio de um produto, em
uma empresa do setor metal-mecânico, derivou da sugestão de substituir a matéria-prima de
confecção dos cilindros desse produto para um material plástico. Esta ideia permitiu a avaliação das
vantagens ambientais, operacionais e de redução de custos (fabricação e não necessidade de
disposição de resíduos). O artigo permitiu concluir que há grandes vantagens na substituição dos
materiais do equipamento produzido pela empresa, pela eliminação total dos 2.800 Kg de sucata em
um total de 12.000 unidades/ano de produção. Os benefícios ambientais, econômicos e operacionais
obtidos nesta linha de produção mostram claramente a importância de que práticas de Produção mais
Limpa podem ser estendidas para outras linhas de produção da empresa. Durante o trabalho
observou-se também que outros fatores de interesse à empresa também foram gerados com a
mudança proposta como redução de algumas peças que antes eram agregadas ao processo de
montagem do cilindro que, com a nova proposta, não mais serão necessárias, eliminando alguns
processos fabris e reduzindo alguns custos de fabricação, bem como a redução do consumo de energia
elétrica necessária para essas operações.

A implantação de técnicas de “Produção mais Limpa” na empresa referida nesse trabalho mostrou que
não só no aspecto ambiental, se apresenta viável como no contexto financeiro pela recuperação do
investimento dentro do período de doze meses. Na análise dos valores propostos para os fluxos de
caixa incrementais, observou-se que, pelo método do valor presente líquido, o projeto é aceitável,
uma vez que apresentou um valor liquido de R$ 45.449,49, valor este acima do investido. Na análise
da taxa interna de retorno, percebe-se que o percentual encontrado de 11,15%, apresenta-se com
foco de superioridade ao custo proposto pela empresa, que utiliza a Selic anual como taxa de corte,
que nesta data apresenta valor nominal de 9,25%. E quanto à análise do payback descontado, o prazo
de retorno do valor investido ficou mensurado em 3 meses e 16 dias, ou seja, aceitável, segundo as
exigências da empresa.

O investimento financeiro necessário ao projeto, calculado com base nos métodos de avaliação
financeira, apresentaram dados atrativos de retorno nos três indicadores utilizados. Chamando
atenção da empresa para que esse tipo de elo em
projetos de Produção mais limpa seja ampliado para outras linhas de produção.

105
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ratifica-se que, após a mudança da matéria-prima pela nova fonte sustentável, o produto final se
manteve satisfazendo o consumidor final, tendo em vista que o montante vendido pela companhia se
manteve estável.

Esta oportunidade de estudo veio ao encontro da preocupação social da empresa nas questões
ambientais, uma vez que busca seu crescimento em conjunto com a sustentabilidade, pois compartilha
da ideia que custos ambientais são irreparáveis e os danos permanecerão por muitas gerações.

REFERÊNCIAS

AAKER, D. A.; KUMAR, V.; DAY, G. S. Pesquisa de marketing. 2. ed., São Paulo: Atlas, 2004.

BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e meio ambiente. As estratégias de mudanças da agenda 21. 5. ed.


Petrópolis: Vozes, 2002.

BCB – Banco Central Do Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/>. Acessado em 17 de jul. 2009.

BREALEY, R. A.; MYERS, S. C. Capital investiment and valuation. New York: Mc Graw Hill, 2003.

BRASIL, H. G. Avaliação moderna de investimentos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o desenvolvimento Sustentável. Disponível em: <http:
//www.cebds.com>. Acessado em 10 de mar. De 2008.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Disponível

em: <http://www.mma.gov.br/conama/>. Acessado em 23 de mar. 2008.

CNTL – Centro Nacional de Tecnologias Limpas. Disponível em: <http://www.senairs.org.br/cntl>.


Acessado em 04 de abr. 2008.

GREENPEACE BRASIL. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil>. Acessado em 10. mar.


2008.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, março/


2003 Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, março/ 2003.

MOTTA, R. da R.; CALÔBA, G. M. Análise de investimentos: tomada de decisão em projetos industriais.


São Paulo: Atlas, 2002.

KASSAI, J. R. et al. Retorno de investimento. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

PEREIRA, A. A. O Tripé da sustentabilidade. Disponível

em: < http://www.anprotec.org.br/ArquivosDin/gestao_pdf_55.pdf>. Acessado em 04 de abr. 2007.

SARKIS, J.; RASHEED, A. Greening the Manufacturing Function. Business Horizons, September-
October, 1995.

106
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

SOUZA, A. B. de. Projetos de investimentos de capital: elaboração, análise e tomada de decisão. São
Paulo: Atlas, 2003.

SOUZA, A.; CLEMENTE, A. Decisões financeiras e análise de investimentos: fundamentos, técnicas e


aplicações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

VALLE, C. E. do. Qualidade ambiental: ISO 14 000. São Paulo: SENAC, 2002.

YOUNG, S. D.; O’BYRNE, S. F. EVA® e gestão baseada em valor: guia prático para implementação.
Tradução de Paulo Lustosa, Porto Alegre: Bookman, 2003.

107
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 6

MECANIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO: UMA


EFICAZ ALTERNATIVA PARA A VIABILIZAÇÃO DA
CAFEICULTURA NACIONAL
DOI: 10.37423/200300482

Fabrício Teixeira Andrade (UFLA) – fabriciotandrade@gmail.com

Diego Humberto de Oliveira (UFLA) - diegohagro@gmail.com

Cássio Henrique Garcia Costa (UFLA) – cassiohenrique.costa@cefetmg.br

Resumo: Esse trabalho objetiva determinar a influência da intensidade de mecanização na


competitividade da cafeicultura. Para isso foram avaliados e comparados diversos sistemas
de produção nas principais regiões produtoras do Brasil pela perspectiva do custo
operacional de produção. A cafeicultura, tradicionalmente, utiliza mão de obra de maneira
intensiva. E os custos operacionais de produção do café estão indexados ao salário mínimo
nacional, o que causa um incremento de custos de aproximadamente 9% ao ano. A
metodologia de coleta de dados utilizada é denominada painel, que é uma reunião entre
técnicos, cafeicultores e lideranças locais. Foram coletados dados de propriedades típicas,
que expressam a moda, de dez municípios representativos das principais regiões produtoras
de café arábica (Coffea arabica) do Brasil, os quais se situam nos estados de Minas Gerais,
São Paulo, Paraná e Bahia. A partir dos dados foram realizadas análises comparativas entre
as categorias que contem cafeiculturas com sistemas de cultivo (mecanizado,
semimecanizado e manual) equivalentes.

108
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A utilização de máquinas na produção diminui o custo operacional efetivo, pois reduz a utilização de
mão de obra, que é o fator de custo com maior impacto na cafeicultura. No entanto, o custo
operacional total aumenta com a intensificação da mecanização, o que implica na necessidade de
incremento em produtividade. Os resultados deste estudo demonstram a eficácia da mecanização do
processo produtivo na viabilização da cafeicultura nacional.

Palavras-chave: Custo operacional. Mecanização. Cafeicultura.

109
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A cafeicultura brasileira passou por diversas transformações espaciais, institucionais, concorrenciais,


tecnológicas e mercadológicas. Os principais fatores transformacionais se relacionam a: intensificação
da globalização, aumento da concorrência internacional, aspectos socioeconômicos e ambientais,
desregulamentação do setor, hábitos de consumo e exigências de países compradores, inovações
tecnológicas e estrutura de mercado.

Segundo Vegro et al., (2000) esse ambiente de mudança requer esforços inovadores, buscando
incremento da competitividade das unidades produtivas, o que pode se dar por três vias preferenciais:

 adoção de novas tecnologias e formas de gestão;

 diferenciação pela qualidade;

 redução dos custos de produção.

Contudo, essas três vias são correlacionadas. A adoção de novas tecnologias e formas de gestão da
produção cafeeira contribui para uma melhor qualidade dos grãos produzidos e, se a gestão ocorrer
de forma competente, os custos tendem a se reduzir, enquanto melhores preços são auferidos com a
melhoria da qualidade do café.

O uso de tecnologias para minimizar o custo de produção na cafeicultura está ligado à intensificação
da mecanização nas lavouras. Como isso demanda investimentos elevados, é necessária uma avaliação
sistemática e aprofundada sobre o assunto.

Esse trabalho objetiva determinar a influência da intensidade de mecanização na competitividade da


cafeicultura. Para isso foram avaliados e comparados sistemas de produção nas principais regiões
produtoras do Brasil pela perspectiva do custo operacional de produção.

Os resultados poderão ser utilizados pelo setor público e pelos cafeicultores na elaboração de um
planejamento estratégico para a produção de café. O planejamento em longo prazo é imprescindível
nessa atividade, uma vez que o investimento é alto e de longa duração.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CUSTO DE PRODUÇÃO DE CAFÉ

A variação do custo do café depende muito da região produtora, do espaçamento, do grau de


mecanização, da quantidade de insumos utilizados, da idade da lavoura, da bienalidade, da ocorrência

110
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e controle de pragas e doenças, da cultivar e principalmente da produtividade. Todos esses fatores


influenciam os custos de produção de uma lavoura cafeeira, e, consequentemente, a rentabilidade
para o produtor.

Nesse sentido, Costa e Teixeira (200l) afirmam que a cultura cafeeira demanda maior rigor na análise
e interpretação dos resultados de custos por se tratar de: ciclo perene em que ocorre o fator bienal,
acentuada diversidade de situações e de sistemas produtivos e necessitar de expressivos
investimentos na implantação, condução, colheita e pós-colheita.

Dessa forma, torna-se essencial o entendimento dos custos de produção do produto café e dos fatores
que os compõem. O custo de produção constitui uma importante informação financeira para a
avaliação do desempenho do negócio café.

Custos representam os gastos necessários para a fabricação de um produto. Estes gastos são
compostos pelos fatores de produção que serão consumidos e transformados em um novo produto.
Neste sentido, custo representa um sacrifício de recursos (MAHER, 2001; HORNGREN, DATAR E
FOSTER, 2004; MARTINS, 2006).

Os diferentes bens e serviços adquiridos por uma empresa, para serem utilizados no processo
produtivo como matéria-prima, materiais auxiliares, insumos, tecnologias e mão de obra compõem os
custos de produção de um produto. O custo de aquisição de cada item corresponde ao sacrifício que
a empresa incorreu para adquiri-lo (ALMEIDA, TAVARES e REIS, 2010).

Portanto, os custos de um produto, se apurados consistentemente, oferecem ao administrador


condições para verificar se e como os recursos empregados em um processo produtivo estão sendo
remunerados. Além disso, as informações de custos possibilitam a análise da rentabilidade do negócio
e a comparação com as alternativas de investimento (ALMEIDA, TAVARES e REIS, 2010).

Nessa perspectiva, tornam se necessárias e indispensáveis à determinação bem como a análise dos
custos de produção, significando um valioso instrumento para o controle e a tomada de decisões
(ALMEIDA, TAVARES e REIS, 2010).

2.2 MECANIZAÇÃO NA CAFEICULTURA

A mecanização do processo produtivo da cafeicultura tornou-se importante nos últimos anos devido
a crescente dificuldade na contratação de mão de obra, tendo em vista o grande êxodo rural.

111
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

As pesquisas mostram que a mecanização reduz de 10 a 45% os custos operacionais, quando


comparados a sistemas manuais, (MARQUES, 2001). A colheita do café demanda de 30 a 40% do custo
de produção, por ser uma operação complexa, feita em várias etapas (SILVA, CARVALHO e SALVADOR,
1997).

Os métodos tradicionais de mecanização, normalmente são recomendados para terrenos com


declividades de até 20%. O prévio conhecimento da topografia e espaçamento é indispensável para o
sucesso das operações mecanizadas.

O uso de mecanização na colheita pode reduzir o uso de mão de obra em até 60% no processo
produtivo de café, com redução de custo podendo chegar a 40%. Os fatores importantes a serem
observados são a topografia, espaçamento entrelinhas, o alinhamento e a altura de plantas. É
importante mencionar que o investimento inicial é elevado, e a máquina deve trabalhar o máximo
possível no período da colheita, para retorno mais rápido do investimento (SILVA, CARVALHO e
SALVADOR, 1997).

3 METODOLOGIA

3.1 ORIGEM E COLETA DOS DADOS

Os dados foram coletados nas seguintes cidades:

• MINAS GERAIS: Campo Belo, Capelinha, Manhumirim, Patrocínio, Santa Rita do


Sapucaí e Três Pontas;

• SÃO PAULO: Altinópolis e Pirajú;

• PARANÁ: Ribeirão do Pinhal;

• BAHIA: Luis Eduardo Magalhães.

A pesquisa para levantamento dos dados é uma iniciativa da Confederação Nacional da Agricultura e
Pecuária (CNA), que financiou os pesquisadores e os demais recursos necessários para o trabalho.

A metodologia empregada na obtenção das informações e na estruturação das propriedades é a


definida como painel que, essencialmente, é uma reunião realizada entre os pesquisadores e os
técnicos e produtores locais (DE ZEN & PEREZ, 2002).

112
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Com uma planilha previamente estruturada, porém não fixada, os pesquisadores conduziram as
reuniões de modo que as informações não sofressem distorções devido a alguma convicção não
unânime. É importante ressaltar a participação dos técnicos locais, o que contribuiu sobremaneira
para o bom resultado dos painéis ao confirmarem, por meio de cálculos e do discernimento de cunho
científico e prático, as informações resultantes das discussões. Os participantes deliberaram sobre o
sistema de cultivo mais comum na região (moda) e procuraram expressar a propriedade
integralmente.

Foram alocados na planilha todos os itens de custo que estariam presentes em uma propriedade desse
porte, desde o mais ínfimo gasto anual até o inventário completo. Todas as etapas do processo
produtivo foram consideradas e os índices correspondentes validados em conjunto. Desse modo,
elaborou-se, para cada região, uma estrutura de custos e despesas relativas a um ano, ou seja, que
compreende um ciclo produtivo completo.

Os preços referentes aos dispêndios foram cotados posteriormente em estabelecimentos comerciais


das cidades de origem dos dados e os parâmetros usados nos cálculos confirmados por meio de
pesquisas realizadas em textos técnicos e por meio de entrevistas realizadas em organizações
especializadas e na Universidade Federal de Lavras. Nessa última, entrevistaram-se professores do
Departamento de Engenharia Agrícola e do Departamento de Agricultura. Essa verificação dos
parâmetros conferiu maior credibilidade aos dados, visto que algumas inconsistências foram
corrigidas.

Os itens identificados são referentes aos custos e às despesas com: fertilizantes, defensivos, corretivos
de solo, mão de obra permanente, mão de obra eventual (incluindo mão de obra da colheita), encargos
da mão de obra, assistência técnica, análises de solo e foliar,serviços contábeis, energia elétrica, juros
de financiamentos de custeio e colheita, manutenção de máquinas, veículos, equipamentos e
benfeitorias, tributos como o Imposto Territorial Rural (ITR) e o Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores (IPVA), gastos com sindicato, despesas bancárias, combustíveis, gastos
envolvendo a colheita, tais como rodos, rastelos, peneiras, luvas, botinas, sacarias, lonas, energia
elétrica da colheita etc.

3.2 CÁLCULO DOS CUSTOS OPERACIONAIS DE PRODUÇÃO

O processo produtivo fundamentalmente é a transformação de recursos (“Capital”, Recursos


Humanos, Recursos Físicos etc.) em produtos destinados ao consumo imediato ou ao

113
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

reprocessamento. Na agropecuária, basicamente, os recursos físicos (terra, água e luz solar), os


recursos humanos (mão de obra) e o “capital” (fertilizantes, corretivos de solo, defensivos etc.) são
“transformados” por meio de um processo biológico em um produto destinado ao reprocessamento,
ou não (in natura), antes de chegar ao elo final da cadeia produtiva, o consumidor.

Essas transformações se tornam mais eficientes devido à utilização de máquinas e implementos em


uma estrutura destinada especificamente ao processo produtivo.

A estrutura da empresa rural (unidade produtiva), bem como suas máquinas e implementos, se
classifica também como emprego do recurso “Capital”, o qual é definido tecnicamente como
investimento, uma vez que se destina à produção por mais de um ciclo produtivo, não se incorporando
integralmente ao produto.

O custo operacional de produção de café varia em função da região produtora, do espaçamento de


plantio, da intensidade de mecanização, da quantidade de insumos utilizados, da idade da lavoura, da
bienalidade, da ocorrência e controle de pragas e doenças, da cultivar e principalmente da
produtividade. Todos esses fatores influenciam os custos operacionais de produção de uma lavoura
cafeeira, e, consequentemente, a rentabilidade do negócio.

O método de custeio adotado é o denominado Custo Operacional Total, que foi proposto por
Matsunaga et. al. em 1976.

Foram estimados os custos com operações agrícolas e com material consumido, totalizando os Custos
Operacionais Efetivos (COE). O Custo Operacional Total (COT) considera, além dos desembolsos,
outros custos operacionais como a depreciação de máquinas, equipamentos e benfeitorias.

Não são considerados custos de oportunidade imputados à atividade produtiva que visem à
remuneração do capital fixo em terra, instalações e máquinas que, somados ao COT, representariam
os Custos Totais de Produção (CT).

As depreciações foram calculadas pelo modelo linear, representado pela equação:

çã = −

Onde:

Valor atual – valor do bem no momento do cálculo; Valor residual – valor do bem depois de
transcorrida a sua vida útil estimada; e, Vida útil – vida útil estimada do bem (anos).

114
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3.3 ESTRATIFICAÇÃO DAS UNIDADES PRODUTORAS

Para se agruparem os municípios contemplados no estudo em grupos com características semelhantes


foi utilizado o seguinte modelo de estratificação:

• Manual: é o sistema em que não há a utilização de máquinas acopladas a


tratores ou automotoras no processo produtivo. A utilização de máquinas
acopladas ao corpo humano não elimina uma unidade produtora desse estrato;

• Semi Mecanizado: é o sistema em que se realizam algumas atividades com o


auxílio de máquinas acopladas a tratores ou automotoras. Geralmente, isso
ocorre na realização dos tratos culturais e não na colheita;

• Mecanizado: sistema no qual tanto os tratos culturais quanto a colheita são


realizados por meio de máquinas acopladas a tratores ou máquinas automotoras
(o repasse da colheita pode ser realizado manualmente).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela 1 apresenta o resultado da estratificação das unidades produtoras presentes no estudo, das
quais, 5 se encaixam em Manual, 4 em Semi Mecanizado e 2 em Mecanizado.

Tabela 1 – Estratificação das unidades produtoras quanto à intensidade de mecanização

A tabela 2 apresenta algumas características importantes das unidades produtoras. O tamanho da


área com lavouras é uma variável relevante na determinação da intensidade de mecanização e a
produtividade é fundamental para o nível de custos operacionais.

Tabela 2 – Características das unidades produtoras.

115
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Nota-se que o tamanho das áreas com lavouras é uma variável que se correlaciona ao grau de
mecanização. Quanto maior a propriedade, maior o grau de mecanização. No entanto, essa não é uma
relação causal, uma vez que na prática, o que determina o grau de mecanização é o relevo.
Provavelmente, se o relevo permitisse a mecanização de atividades nas localidades classificadas como
“manual”, ela ocorreria mesmo em unidades produtivas menores, por exemplo, por meio de aluguel
de máquinas ou pelo uso em condomínios.

A média de produtividade é maior em “mecanizado” que nos demais estratos. Entre “semi
mecanizado” e “manual” praticamente não existe diferença. Dessa forma, com custos operacionais
efetivos (COE) por hectare menores devido à realização de algumas atividades de forma mecanizada,
os COE (por saca) das unidades produtivas enquadradas em “semi mecanizado” tendem a ser
menores. Já as unidades produtivas de “mecanizado” apresentam COE menores, por produzirem mais
por hectare e por reduzirem custos via mecanização de todas as atividades.

Os COE de produção em reais por hectare e em reais por saca são apresentados na tabela 3.

116
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3 - Custos operacionais efetivos de produção em R$/hectare e em R$/saca.

Observa-se na tabela 3 a influência da mecanização nos valores dos Custos Operacionais Efetivos
(COE). Os valores desses custos são menores onde o nível de mecanização do sistema empregado é
maior, o “manual” apresenta os maiores valores para o COE, seguido por “semi mecanizado” e pelo
“mecanizado”.

Os valores da depreciação nos sistemas mais mecanizados são maiores, refletindo uma diferença de
composição nos COT dos sistemas manuais e mecanizados. Sistemas com maior nível de mecanização
apresentam COE reduzido e depreciação elevada em comparação a sistemas manuais. Com
investimentos em mecanização a tendência é reduzir os custos operacionais, porem apenas parte da
redução do COE é refletida no COT, pois com o alto investimento em mecanização se tem o valor da
depreciação elevado.

117
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 4 - Custos operacionais totais de produção em R$/hectare e em R$/saca.

Basicamente, a eficiência produtiva é mensurada pelo custo operacional unitário. Quanto mais baixo
o custo unitário, menor é a quantidade de recursos consumida para produzir uma unidade de produto.
Então, a eficiência pode ser melhorada com o aumento de produtividade (sacas/ha) e/ou redução de
custos operacionais.

Luiz Eduardo Magalhães apresenta um sistema de cultivo intensamente mecanizado. O custo


operacional efetivo por hectare é o maior, no entanto, devido à alta produtividade, o custo
operacional efetivo unitário é o menor, o que demonstra eficiência produtiva. Esse painel também
apresenta outra particularidade: o maior valor de depreciação. Novamente, a alta produtividade dilui
este custo. O seu custo com depreciação por hectare é aproximadamente 5 vezes maior que a média
dos outros, mas o custo unitário com depreciação é apenas 2 vezes superior.

De maneira oposta, Pirajú apresenta baixo custo operacional efetivo por hectare e baixa
produtividade, o que gera um custo unitário intermediário elevado, uma vez que esse é um sistema
de cultivo semi mecanizado.

Os itens de custo foram agrupados em grupos de custos para viabilizar as análises. E devido ao objetivo
desse estudo os grupos utilizados são mecanização, mão de obra, colheita e pós-colheita.

A tabela 5 apresenta esses grupos de custos por painel em reais por saca.

118
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 5 - Itens de composição do COE em R$/sc e em percentual do COE.

Painel Mão de obra Mecanização Colheita e Pós colheita

R$/sc R$/sc R$/sc


Ribeirão do Pinhal (m) 179 0 125
Sta R. do Sapucaí (m) 43 0 131
Capelinha (m) 39 0 145
Manhumirim (m) 90 0 119
Piraju (semi) 51 22 144
Três Pontas (semi) 50 19 133
Campo Belo (semi) 67 23 49
Altinópolis (semi) 21 18 112
Patrocínio (mec) 10 27 76
L. E. Magalhães (mec) 11 12 32

A mão de obra na cafeicultura é o componente de maior impacto no custo de produção. Uma das
vantagens do uso da mecanização é se conseguir reduzi-los, principalmente nas etapas de colheita.

Observa-se na tabela 5 que os painéis de Luis Eduardo Magalhães e Patrocínio possuem os menores
custos com mão de obra. No geral, painéis em sistema semimecanizado possuem menores custos com
mão de obra que painéis com sistema manual, as exceções são Capelinha e Santa Rita do Sapucaí que
são painéis com sistemas manuais e apresentam menores custos com mão de obra que os sistemas
semimecanizados contidos no estudo. A explicação é em Santa Rita do Sapucaí os funcionários fixos
da fazenda trabalham apenas oito meses do ano nos tratos culturais da lavoura, os outros quatro
meses trabalham na colheita do café sendo estes gastos alocados no componente colheita, pois seus
recebimentos são dados em medidas de café colhidos. Em Capelinha o que ocorre é o baixo índice de
utilização de mão de obra, enquanto nos sistemas semimecanizados e manuais a média de utilização
de mão de obra é um funcionário para cada cinco hectares, enquanto em Capelinha esse índice é um
homem para cada dez hectares, provocando um baixo valor do componente mão de obra no custo
operacional.

A redução de mão de obra em sistemas mecanizados tem alto impacto também na fase de colheita,
sendo que novamente os sistemas mecanizados presentes no estudo apresentaram menores valores
para esse índice. A exceção foi Campo Belo. A colheita, nesse caso, é realizada pelos próprios

119
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

funcionários fixos da propriedade que recebem salários fixos apesar de estarem trabalhando na
colheita.

Os gastos provindos da utilização de máquinas (trator e implementos) em tratos culturais nos sistemas
mecanizados e semimecanizado são bastante semelhantes. A diferença principal é que no semi
mecanizado a colheita é realizada de forma manual.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mecanização mostrou-se ser uma alternativa na redução do Custo Operacional Efetivo (COE), porém
essa redução não se reflete inteiramente no Custo Operacional Total (COT), devido ao fato da
depreciação aumentar nesses sistemas devido ao alto investimento em máquinas.

A utilização de máquinas na produção provoca a redução no COE, pois reduz a utilização de mão de
obra, que é o fator de maior impacto para a cafeicultura na atualidade.

Os resultados obtidos neste estudo mostram a eficácia da mecanização na redução de custos na


produção de café. Num ambiente internacional autorregulado pelo mercado e altamente competitivo
como a cafeicultura, a mecanização se apresenta como uma excelente tecnologia para se reduzir
custos e consequentemente aumentar a competitividade da produção de café.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L. C. F.; TAVARES, M.; REIS, A. E. Análise temporal das variáveis de custos da cultura do café
arábica nas principais regiões produtoras do país. Uberlândia: UFU, 2010.

COSTA, E. B.; TEIXEIRA, S. M. e Outros. Custos da cafeicultura de montanha do Espírito Santo. In: II
Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, Setembro de 2001. Disponível em

<http://www.coffeebreak.com.br/ocafezal.asp?SE=8&ID=190>. Acesso em: 22 nov. 2010.

DE ZEN, S.; PERES, F.C. Painel agrícola como instrumento de comunicação. In: CONGRESSO BRASILEIRO
DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 40., Passo Fundo,2002. Anais. Brasília: SOBER, 2002.

HORNGREN, C. T; DATAR, S. M. e FOSTER, G. Contabilidade de Custos. Tradução de Robert Brian Taylor.


11 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. v. 1, 526 p.

MAHER, M. Contabilidade de Custos: criando valor para a administração. Tradução de José Evaristo
dos Santos. São Paulo: Atlas, 2001. 905 p.

MARQUES, S. É da colheita que nascem os bons frutos: Mecanização coloca o café brasileiro no rumo
certo da competitividade internacional. Revista da Case. Belo Horizonte, V.10, n.04, p.18, abr. 2001.

MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 370 p.

120
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

MATSUNAGA, M., BEMELMANS, P. F., TOLEDO, P. E. N. de; DULLEY, R.D.;OKAWA, H. & PEROSO, I.A.
Metodologia de custo de produção utilizado pelo IEA.Agricultura em São Paulo, São Paulo, v.23, n.1,
p.123-139. 1976.

SILVA, F.M.; CARVALHO, G.R.;SALVADOR, N.; Mecanização da colheita do café. Informe Agropecuário,
Belo Horizonte, v.18, n.189, p. 43-54, 1997.

VEGRO; C. L. R. et al. Sistema de produção e competitividade na cafeicultura paulista. In: ZAMBOLLIM.


L. (Coord.). Café: produtividade, qualidade e sustentabilidade. Viçosa - MG: UFV, 2000. p. 1 – 25.

121
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 7

EXPECTATIVA DE RETORNO E DE RISCO: UM ESTUDO DOS


CUSTOS DE BENEFICIAMENTO DO MEL NO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE
DOI: 10.37423/200300465

Jane Elly Nunes Da Costa Lima - jane_elly@hotmail.com


Luciana Batista Sales -luciana@ufersa.edu.br
Antonio Erivando Xavier Júnior - erivando@ufersa.edu.br
Miguel Carioca Neto - miguelcarioca@ufersa.edu.br
Resumo: Este estudo tem o objetivo de analisar os custos de produção e de implantação
de um projeto de beneficiamento de amêndoa de castanha de caju – ACC e, para tal, recorre-
se ao uso do fluxo de caixa projetado e técnicas de análise de projetos. Por meio da
Metodologia Multi-índice sistematizam-se informações sobre as expectativas de retorno e
de risco do referido empreendimento. Dois conjuntos de indicadores são analisados: o
primeiro composto por VP, VPL, VPLa, IBC e ROIAanual, empregados para avaliar a percepção
de retorno, e o segundo composto por TMA/TIR, Pay-back/N, Grau de comprometimento da
Receita (GCR), Risco de Gestão e Risco de negócio permite melhorar a percepção de risco do
empreendimento. Para tornar possível a análise do projeto, levantaram-se os custos de
implantação e de produção, estimou-se a demanda do projeto para um período de 10 anos,
de acordo com três cenários sendo um mais provável, um otimista e o terceiro pessimista,
projetando os fluxos de caixa para cada um dos períodos de vigência do projeto. Inicialmente,
a análise dos indicadores se deu com base no cenário mais provável, e em seguida com a
utilização do software Crystal Ball, realizou-se simulações considerando os três cenários
possíveis. Após as análises, constatou-se que o retorno do projeto esta proporcional aos seus
riscos, o que leva a recomendação do projeto de beneficiamento da ACC..

122
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-chave: Custos. Risco. Retorno. Metodologia Multi-índice.

Área Temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

123
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

O cajueiro é uma planta tropical, que tem sua gênese no Brasil, distribuída praticamente em todo o
território nacional, principalmente na Região Nordeste, que concentra uma área plantada superior a
650 mil hectares, correspondendo a mais de 95% de toda a produção do país, sendo a maior
representatividade produtiva centralizada nos estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia.
O seu fruto é a castanha, o qual é destinado principalmente ao mercado externo, dando origem, em
média, a 150 milhões de dólares ao ano (MONTENEGRO, et al., 2003).

Nessa perspectiva, o parque industrial brasileiro é composto por 12 organizações, sendo oito no Ceará,
três no Rio Grande do Norte e uma no Piauí, com uma capacidade de processar 360 mil toneladas de
castanha, originando 70 mil toneladas de Amêndoa e 45 mil toneladas de Líquido da Castanha de caju
(CARNEIRO, 2013). Com relação ao mercado interno, os preços, entre os Estados brasileiros
produtores, quando comparados, constatou-se que os valores recebidos pela safra de 2012, recuaram
0,7% no Ceará e 2,0% no Piauí. No entanto, não foi evidenciado diferença no Rio Grande do Norte
(TEIXEIRENSE, 2013). Já no que diz repeito à safra de 2013, observou-se que a produção de 259.950
toneladas de castanha de caju teve uma variação positiva na ordem de 241,80% com relação ao ano
passado (IBGE, 2013). Diversidade causada pela severidade climática que acometeu em 2012, uma das
maiores dos últimos 40 anos.

Dessa forma, as exportações de amêndoas de castanha de caju realizadas entre janeiro a maio/2013,
fazendo referência ao mesmo período de 2012, teve um aumento de 23,1%, saindo de 7.391 para
9.096 toneladas. Motivado pela rápida recuperação econômica dos principais países importadores:
EUA, 47,1%, Países Baixos, 18,2%, Canadá, 6,6% e outros 28,1% (TEIXEIRENSE, 2013). Apesar das
condições climáticas em 2012, o estado do Rio Grande do Norte ampliou suas exportações em 15%,
bem como reduziu as importações em 6,5%, comparando com o mesmo período de 2011. Assim
sendo, as exportações potiguares foram de US$ 121,6 milhões, e as importações US$ 106,9 milhões,
resultando em saldo da balança comercial de US$ 7 milhões. Sendo a castanha de caju responsável
por US$ 22,8 milhões, considerada o principal produto exportado do cluster da fruticultura (CASTRO,
2012).

Nos estados, que representam a maior produtividade da castanha de caju, a expectativa de colheita,
em 2013, é favorável, em virtude das precipitações pluviométricas terem acontecido em volume
aceitável para suprir a necessidade reprodutiva dos cajueirais. (TEIXEIRENSE, 2013). Cabe ressaltar que
é um fator determinante para o desempenho produtivo desse setor, além da aprovação do Fundo de

124
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Apoio a Cultura do Caju com o objetivo de desenvolver o financiamento e a modernização da


agroindústria do setor, fortalecer a exportação, proporcionar a defesa do preço do mercado interno e
externo, assegurar os direitos e melhorias para o trabalhador rural, impulsionar o aumento da
produtividade, bem como o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à qualificação e aumento da
produção do caju (SINDICAJU, 2013).

Nessas condições, torna-se mais fácil se posicionar perante as forças que circundam esse mercado. O
que motivou este estudo a analisar os custos de produção do projeto da amêndoa da castanha de caju
- ACC, verificando sua expectativa de retorno e de risco, por meio de dois conjuntos de indicadores: o
primeiro sendo composto por VP, VPL, VPLa, IBC e ROIA, empregados para avaliar a percepção de
retorno, e o segundo faz referência a TMA/TIR, Pay-back/N, Grau de comportamento da Receita (GCR),
Risco de Gestão e Risco de negócio voltados a melhorar a percepção do risco (SOUZA; CLEMENTE,
2012, p. 124).

2. O PROCESSO PRODUTIVO E O PRODUTO

O processo produtivo da amêndoa de castanha de caju é um exemplo de produção conjunta, em que


a partir de uma mesma matéria-prima, a castanha de caju in natura, posteriormente a um processo
produtivo comum, obtém-se mais de um produto, não dissociáveis antes do ponto de separação,
correspondendo à gênese dos custos conjuntos. Para Martins (2003, p. 162) essa característica de
produção “acontece na quase totalidade dos produtos naturais na agroindústria”. Caracterizado,
principalmente por uma produção contínua que, no caso, da produção da ACC, passa pelas seguintes
etapas: secagem, pesagem, classificação, armazenamento, cozimento, corte, estufa, umidificação,
despeliculagem, seleção, fritura e estoque final.

Durante todo o processo acontece a seleção das amêndoas. A categorização é realizada com base na
integridade física: cor, tamanho e defeito. Dando origem a 14 tipos de castanha inteira, 09 tipos de
castanha em pedaços, 09 tipos de castanha granulada e dois tipos de farinha.

Apesar da diversidade de produtos possíveis, o produto principal, neste projeto, a amêndoa interia, é
responsável por 80% do faturamento, sendo embalada de forma diferenciada: em latinha tipo
exportação, contendo 150g. Porém serão destinadas ao mercado interno, como posicionamento
estratégico para sua inserção. Os 20% restantes das amêndoas serão embaladas, a vácuo, em saquinho
também de 150g. Nessa perspectiva, Porter (2004, p. 20) ressalta que a “diferenciação do produto cria

125
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

isolamento contra a luta competitiva, porque os compradores têm preferências e sentimentos de


lealdade com relação a determinados vendedores”.

3. INVESTIMENTO

O investimento inicial para o projeto da ACC corresponde a um aporte de capital no valor de R$


324.960,00. O qual foi direcionado para investimentos em ativos fixos na área produtiva,
administrativa, comercial e de uso compartilhado, bem como para capital de giro e despesas pré-
operacionais. Para Souza e Clemente (2012, p.107), “os ativos fixos compreendem os terrenos, obras
civis, máquinas e equipamentos, veículos, ferramentas, infraestrutura de comunicação, hardware e
software, móveis e utensílios etc.”, conforme tabela abaixo:

Tabela 1 – Investimento total

Descrição Valor
Investimento em Ativo Fixo na Área Industrial 157.360
Investimento em Ativo Fixo na Área Administrativa 10.740
Investimento em Ativo Fixo na Área Comercial 9.460
Investimento em Ativos Fixos de uso Compartilhado 40.340
Investimentos em Capital de Giro 83.850
Despesas Pré-operacionais 23.200
Total 324.950
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

O processo de beneficiamento da ACC vem evoluindo ao longo do tempo, o que é resultado de uma
adequação necessária para se posicionar competitivamente no mercado. Paiva, Silva Neto e Pessoa
(2000) ressaltam a importância da inclusão de novos avanços em equipamentos e processos,
proporcionando a obtenção de amêndoas inteiras e alvas em maior proporção e melhor qualidade,
otimizando parâmetros técnicos, como a eficiência produtiva, redução do tempo, temperatura e
dispositivos de segurança. Nessa perspectiva, o projeto indicou aquisições de máquinas,
equipamentos e móveis, entre outros para a linha de produção, conforme tabela abaixo:

126
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 2 – Investimentos em ativo fixo na área operacional

Descrição Quant. Valor Descrição Quant. Valor


Total Total
Gerador de Vapor 1 34.500 Moinho de Martelo Rotativo 1 1.700
Estufa Metálica 1 9.775 Ventilador Pneumático 1 3.308
Carros Metálicos 2 2.300 Linha de Vapor 15 1.650
Bandejas Metálicas 40 4.400 Bancada Dupla em aço inox 3 3.951
Linha de Vapor 1 2.400 Caldeira Vertical Cilíndrica 1 37.000
Fritadeira de Aço 1 4.720 Monobloco Branco 20 710
Classificador 1 4.050 Banqueta 60 cm x 30 cm 30 1.461
Mesa de Classificação e
3 4.575 Balança US 30/2 1 1.040
Raspagem
Mesa de Classificação de
1 1.450 Selador 1 689
Amêndoa
Fritadeira de Amêndoa 1 1.500 Lavadora 1 538
Centrifuga de Amêndoa 1 2.200 Regulador de Argomio 1 180
Gerador de Vapor sob pressão Sistema de Umidificação
1 8.626
Vertical Câmara e Porta Metálica
Autoclave 1 4.200 Abraçadeira 9x13mm 3 3
Estufa Metálica 1 6.900 Selador com sistema 1 7.000
Carros Metálicos 2 1.364 Mangueira Simples 5/16 10 30
Bandejas Metálicas 24 2.640
Moinho de Martelo Rotativo 1 1.700 Total 95.600

Fonte: Dados da pesquisa (2013)

No que diz respeito ao capita de giro, pretende-se investir R$ 83.850 a fim de disponibilizar recursos
para a organização até o momento, em que as vendas não serão suficientes para financiar as
necessidades operacionais demandadas. Que segundo Assaf Neto e Silva (2007, p. 15) “são obrigações
operacionais identificadas desde a aquisição de matérias-primas até o recebimento pela venda do
produto acabado”. Nessa perspectiva, por meio de análise do fluxo de caixa, decidiu-se garantir as
atividades organizacionais por três meses, conforme apresentado na tabela abaixo:

Tabela 3 – Investimentos em capital de giro

Descrição Valor mensal Coeficiente Valor


Salários e encargos sociais 13.000 3 39.000
Matéria prima 8.450 3 25.350
Material Secundários 2.000 3 6.000
Utilidades (Água, luz, combustível, ...) 4.500 3 13.500
Total 27.950 83.850
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

3.1. FONTES DE RECURSOS

Será necessário para a consecução do projeto da ACC, um capital de R$ 324.950,00. Sendo R$


48.742,00 provenientes de recursos próprios e R$ 276.207,00 oriundos de recursos de terceiros,
representando um percentual de 15% e 85% respectivamente, conforme tabela abaixo:

127
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 4 – Fontes de recursos para financiar o projeto

Descrição Custo do Capital Valor Participação


Recursos Próprios 7,0% 48.742 15,0%
Financiamento a Longo Prazo (BNDES) 11,0% 276.207 85,0%
Total 324.950 100,0%
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

O valor financiado para o projeto da ACC corresponde a R$ 276.207,00 a uma taxa anual de 11,00%,
sendo equivalente a uma taxa de 0,873 ao mês, em um período de 60 meses, análogo há 05 anos.
Considerando, para este financiamento, uma carência de 01 ano.

3.2. CUSTEIO VARIÁVEL

Implica em atribuir ao produto apenas os custos variáveis que estão relacionados com a sua produção,
os quais são: os materiais diretos, a mão de obra direta e os custos indiretos de fabricação variáveis.
Os custos fixos são associados à estrutura operacional da empresa e considerados como despesas do
período, eliminando, assim, a necessidade de rateio. Nesse ínterim, Garrison, Noreen e Brewer (2007)
afirmam que o custo de uma unidade fabricada, em estoque, ou no custo dos produtos vendidos não
possui qualquer custo geral fixo de produção. Bem como percebê-lo incorretamente conduz a muitos
problemas de gestão, incluindo decisões incorretas de fixação de preço de venda.

Para Bornia (2009, p. 35) “o custeio variável está relacionado principalmente com a utilização de custos
para o apoio a decisões de curto prazo”. Com esse objetivo, identificou-se o custo variável unitário da
ACC, o qual será deduzido da sua receita unitária para a obtenção da margem de contribuição
marginal. Representando a parcela remanescente do preço de venda para a cobertura dos custos e
despesas fixas e geração de lucro por produto vendido. Assim sendo, identificou-se como custo
variável unitário: a matéria-prima, embalagem, gás de cozinha, gordura vegetal, sal e energia elétrica
para embalagens de 150g. Nesse caso, a mão de obra direta foi classificada como um custo fixo,
conforme tabela e gráficos apresentados:

Tabela 5 - Custo variável unitário

Especificação Castanha Tipo 1 Castanha Tipo 2


Matéria prima 0,21 0,21
Embalagem 3,50 1,50
Gás de Cozinha 0,05 0,05
Gordura Vegetal 0,10 0,10
Sal 0,05 0,05
Energia elétrica 0,11 0,11
Total 4,02 2,02
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

128
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Custos Variáveis Catanha Tipo 2 Custos Variáveis Castanha Tipo 1


Matéria prima Embalagem Gás de Cozinha Matéria prima Embalagem Gás de Cozinha
Gordura Vegetal Sal Energia eletrica Gordura Vegetal Sal Energia eletrica
5% 3% 5% 3% 1%3% 5%
3% 1%
10%

74% 87%

Figura 1 – Custos variáveis da ACC tipo 1 e tipo 2

3.3. DEMONSTRATIVO DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO SOB O CUSTEIO DIRETO

A demonstração de resultado, segundo Assaf Neto (2007, p. 101) “tem como finalidade exclusiva
apurar o lucro ou prejuízo de exercício. A sua composição engloba as receitas, as despesas, os ganhos
e as perdas apuradas”. Já sob o custeio direto, esse relatório contempla um demonstrativo no formato
de margem de contribuição, do qual podem ser retirados dados imperativos para análise do ponto de
equilíbrio. Nesse ínterim, Garrison, Noreen e Brewer (2007, p. 238) afirmam que “no custeio variável,
o lucro de um período não é afetado por variações de estoques, bem como os lucros variam na mesma
direção das vendas”.

Para o autor, o valor total dos custos fixos surge explicitamente na demonstração de resultado,
salientando que o valor absoluto dos custos fixos necessita ser garantido para que a organização
verdadeiramente tenha lucro. Haja vista que o lucro operacional líquido do custeio variável se
aproxima mais do fluxo líquido de caixa. Nessa perspectiva, Souza e Clemente (2012, p. 112) afirmam
que “sob a ótica do custeio variável, a venda e não a produção impulsiona a empresa, pois se admite
uma relação inversa entre produção e vendas”. Assim sendo, a ACC apresenta as projeções dos
demonstrativos de resultado do exercício durante o período estimado de 10 anos, especificando
mensalmente cada resultado. Com isso, identificou-se que, nos quatro primeiros anos, o negócio
operaria com prejuízo, mas a partir do quinto ano, apresentaria um resultado positivo, conforme
tabela abaixo:

129
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 6 – Demonstrativo de resultado do exercício sob custeio direto


DRE ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6 ANO 7 ANO 8 ANO 9 ANO 10
QUANTIDADE 20.000 25.000 34.000 44.000 52.000 59.050 60.000 60.000 60.000 60.000
PREÇO 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18
QUANTIDADE 4.000 5.000 6.800 8.800 10.400 11.810 12.000 12.000 12.000 12.000
PREÇO 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
FAT URAMENTO 400.000 500.000 680.000 880.000 1.040.000 1.181.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000

Faturamento Bruto 400.000 500.000 680.000 880.000 1.040.000 1.181.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000 1.200.000
(-) Imposto - Simples 29.360 36.700 54.672 71.280 91.312 104.637 106.320 106.320 106.320 106.320
Receita Líquida de Vendas 370.640 463.300 625.328 808.720 948.688 1.076.363 1.093.680 1.093.680 1.093.680 1.093.680
(-) Custo Variável do Produto Vendido 90.250 112.812 153.424 198.549 234.649 266.462 270.749 270.749 270.749 270.749
(=) Margem Bruta 280.390 350.488 471.904 610.171 714.039 809.901 822.931 822.931 1.033.720 1.033.720
(-) Despesas Variáveis 20.400 25.500 34.680 44.880 53.040 60.231 61.200 24.000 24.000 24.000
(=) Margem Líquida 259.990 324.988 437.224 565.291 660.999 749.670 761.731 798.931 1.009.720 1.009.720
(-) Custos Fixos 151.110 257.869 329.705 398.133 462.361 437.892 446.144 453.029 453.029 453.029
(-) Despesas Fixas (exclusive juros) 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 174.516 198.064 198.064
(=) Resultado antes de Juros, IR e CSL (65.636) (107.396) (66.997) (7.358) 24.122 137.262 141.072 171.386 358.627 358.627
(-) Despesas Fixas de Juros 28.951 25.633 18.396 11.158 3.920 - - - - -
(=) Resultado (94.586) (133.030) (85.393) (18.516) 20.202 137.262 141.072 171.386 358.627 358.627

Fonte: Dados da pesquisa (2013)

3.4. FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL

De acordo com Assaf Neto e Silva (2007, p. 39), o fluxo de caixa é uma ferramenta que permite o
planejamento e o controle dos recursos financeiros de uma empresa. Sendo imperioso para o processo
de tomada de decisões financeiras. Os autores definem “o fluxo de caixa como um instrumento que
relaciona os ingressos e saídas (desembolsos) de recursos monetários no âmbito de uma organização
em determinado intervalo de tempo”.

Nessa perspectiva, a ACC representa, em seu fluxo de caixa, uma entrada das suas vendas de 40% à
vista, 30% para 30 dias e o restante para 60 dias. Já no que diz respeito às saídas, relacionadas aos
fornecedores, os pagamentos ficaram 50% à vista e 50% para 30 dias. Como também estão destacados
os gastos referentes aos impostos, contribuições, custos e despesas variáveis e fixas. Esses gastos
foram lançados mensalmente, durante um período de 10 anos.

Em se tratando do fluxo de caixa do projeto, a organização registra as entradas e saídas de caixa a


partir do ano 0, indicando os investimentos iniciais em ativos fixos, despesas pré-operacionais, capital
de giro e financiamento, bem como o valor residual apresentado no ano 10, representando 20% do
valor dos ativos fixos, conforme tabela abaixo:

130
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 7 – Fluxo de caixa do projeto

Fonte: Dados da pesquisa (2013)

3.5. ANÁLISE DE VIABILIDADE FINANCEIRA DO PROJETO

Análisou-se por meio da metodologia multiíndice desenvolvida por Souza e Clemente (2012) para
fundamentar o processo decisório, quanto à aceitação ou rejeição do projeto da ACC. A qual foi
realizada com a utilização de vários indicadores, classificados em dois grupos: o primeiro sendo
composto por VP, VPL, VPLa, IBC e ROIA, empregados para avaliar a percepção de retorno, e o segundo
faz referência a TMA/TIR, Pay-back/N, Grau de comportamento da Receita (GCR), Risco de Gestão e
Risco de negócio voltados a melhorar a percepção do risco (SOUZA; CLEMENTE, 2012, p. 124). Nessa
perspectiva, Assaf Neto (2007) afirma que a posição de um investidor no que diz respeito ao risco é
pessoal, não sendo possível identificar uma única resposta para todas as situações.

Para Souza e Clemente (2012), o retorno adicional sobre o investimento (ROIA) é o índice mais
indicado para a estimativa de rentabilidade, expressando a riqueza gerada pelo projeto, bem como
possui a prerrogativa de expurgar o efeito cruzado da TMA, que corresponde a melhor taxa, com baixo
grau de risco, para o capital que será investido. Os autores enfatizam, ainda, que o risco financeiro do
projeto pode ser calculado pela probabilidade da TIR ser menor do que a TMA, na condição da sua
distribuição de probabilidade ser conhecida. Ressaltam também que se a sua distribuição não for
conhecida, a proximidade da TIR em relação à TMA pode ser interpretada como uma medida de risco.

O pay-back é um indicador que evidencia o tempo necessário para a recuperação do capital investido.
Pois segundo os autores, ao relacioná-lo com a vida útil do projeto, aprimora a percepção do risco no
que diz respeito ao investimento. Mais dois indicadores de risco foram utilizados na análise,

131
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

abordando os aspectos de risco de gestão e risco de negócio. Em se tratando do risco de gestão, o


mesmo faz referência ao nível de aprendizagem, adquirido ao longo do tempo, do processo de
produção, comercialização, canais de distribuição e, essencialmente, na orientação de conduzir as
negociações em momentos desfavoráveis. Já no que diz respeito ao risco do negócio, esse indicador
está vinculado a fatores não controláveis que afetam o agronegócio, como as forças que regem o
mercado e as condições climáticas.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nessa fase, delinearam-se os métodos imperativos para mapear as ações relacionadas ao objetivo de
analisar os custos de produção do projeto da ACC, verificando sua expectativa de retorno e de risco,
por meio de dois conjuntos de indicadores: o primeiro sendo composto por VP, VPL, VPLa, IBC e ROIA,
empregados para avaliar a percepção de retorno, e o segundo faz referência a TMA/TIR, Pay-back/N,
Grau de comportamento da Receita (GCR), Risco de Gestão e Risco de negócio voltados a melhorar a
percepção do risco (SOUZA; CLEMENTE, 2012, p. 124).

Este estudo se trata de uma pesquisa aplicada quanto à sua natureza; descritiva quanto ao seu
objetivo; de estudo de caso, a partir de uma referência espelho, quanto à estratégia de abordagem;
levantamento de dados primários e secundários quanto ao procedimento de coletada de dados; e
quantitativa quanto à análise dos dados. (SAMPIERI, COLLADO LUCIO, 2006; LAKATOS, MARCONI,
2009). Nesse ínterim, utilizou-se o Excel (2007) para a análise inicial dos indicadores, bem como o
software Crystal Ball (versão 11.1), com a finalidade de realizar simulações para determinar a
probabilidade de ocorrência dos indicadores de retorno e de risco, com o propósito de melhorar a
percepção dos retornos e dos riscos associados ao empreendimento.

5. RESULTADOS

Nesta seção, analisaram-se os indicadores de retorno (Valor presente líquido, Valor presente líquido
anualizado, Índice benefício/custo e o Retorno adicional sobre o investimento), bem como os
indicadores de risco (Taxa interna de retorno, índice TMA/TIR, Payback, Índice Payback/N, Grau de
comprometimento da receita, Risco de gestão e Risco de negócio), conforme tabelas apresentadas
abaixo:

132
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 8 – Indicadores de retorno x Indicadores de risco

Indicadores de Retorno Indicadores de Risco


TMA 7,0% Taxa Interna de Retorno 9,25%
Valor Presente 115.776 Índice TMA/TIR 0,76
Valor Presente Líquido 67.034 Payback 6,5
Valor Presente Líquido Anualizado 9.544 Índice Payback/N 0,65
Índice Benefício/Custo 2,38 Grau de Comprometimento da Receita 0,71
Retorno Adicional Sobre Investimento 9,04% Risco de Gestão 0,40
Risco do Negócio 0,46
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

5.1. INDICADORES DE RETORNO

5.1.1. VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

Investiu-se, inicialmente, no projeto da ACC, a quantia de R$ 324.950,00 com a expectativa de


recuperar o investimento inicial, bem como de auferir ganhos sobre o capital, caso tivesse sido
aplicado na TMA (7% a.a.), restando-lhe, ainda, um valor presente líquido de R$ 67.034. Haja vista que,
para esse retorno, é necessária uma produção de 474.050 latinhas e 94.010 saquinhos de ACC para
um período de 10 anos. Considerando essa análise, pode-se sugerir que entre as alternativas de
realizar o empreendimento e aplicá-lo no mercado financeiro com uma taxa de 7% a.a (TMA), a opção
de investir no negócio apresenta um resultado mais favorável. No entanto, não se deve considerar
esse indicador determinante para suportar uma decisão de investimento, haja vista que segundo
Souza e Clemente (2012, p. 76), “nenhum número é bom ou ruim, a menos que possa ser comparado
com alguma referência”.

5.1.2. VALOR PRESENTE LÍQUIDO ANUALIZADO (VPLA)

Buscou-se analisar os dados do negócio com base no Valor Presente Líquido Anualizado (VPLa), o qual
foi utilizado como referência para ser comparado com o VPL. O VPLa do projeto da ACC corresponde
a R$ 9.544 para cada ano considerado no investimento, sugerindo o retorno do investimento
disseminando ao longo dos 10 anos, mais o ganho auferido sobre o capital, caso tivesse sido aplicado
no mercado financeiro a 7% ao ano. Dessa forma, é mais fácil para o investidor de acordo com Souza
e Clemente (2012, p. 76), racionar em termos de ganho acumulado ao longo de diversos períodos. Os
autores, ainda, afirmam que “a deficiência comum do VPL e do VPLa para expressar o retorno do
investimento, reside no fato de ambos o expressarem em valores monetários absoluto e não em
valores relativos, como é usual no mercado” (KREUZ; SOUZA; CLEMENTE, 2008, p. 56).

133
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.1.3. ÍNDICE BENEFÍCIO/CUSTO (IBC)

Para a produção de 474.050 latinhas e 94.010 saquinhos de ACC para um período de 10 anos,
identificou-se um IBC de R$ 2,38, expressando a expectativa de retorno para cada R$ 1,00 de capital
investido, após o horizonte de planejamento do projeto, em valores monetários de hoje. Em outras
palavras, espera-se uma rentabilidade de 13*% em 10 anos. Souza e Clemente (2012, p. 57) lembram
que esse é um retorno além daquele que se teria, caso tivesse sido aplicado à taxa de 7% a.a (TMA),
durante o período considerado. -“o IBC visa, em parte, corrigir a deficiência do VPL e do VPLa que é a
de expressarem o retorno em valores absoluto” (KREUZ; SOUZA; CLEMENTE, 2008, p. 57).

5.1.4. RETORNO ADICIONAL SOBRE O INVESTIMENTO (ROIAANUAL)

A partir do IBC, calculou-se o ROIAanual da Castanha de Caju do Semiárido, o qual representa para
Souza e Clemente (2012, p. 76) “a melhor estimativa de rentabilidade para um projeto de
investimento”. Para os autores é um indicador que facilita a percepção da análise por se encontrar na
mesma unidade de tempo da TMA. No caso do projeto de Castanha de Caju do Semiárido, evidenciou-
se o ROIA de 9,04% a.a, significando a riqueza gerada pelo projeto, mais do que se teria adquirido,
caso o capital tivesse sido aplicado no Mercado Financeiro à taxa de 7% (TMA) ao ano. Observa-se,
portanto, a expressividade da rentabilidade desse investimento, o que pode funcionar como estímulo
para novos entrantes, considerando que o mercado interno, ainda, é pouco explorado e com amplo
potencial de crescimento. O resultado expressivo obtido para este agronegócio corrobora com os
resultados de outras pesquisas para produtos agropecuários que utilizam esta mesma tecnologia, de
análise, citados por Souza e Clemente (2012, p. 57) como: 36% para o tomate (SOUZA et al., 2004),
19% para o alho (KREUZ et al, 2003) e 16% para a uva na produção de vinho (KREUZ et al, 2004).

5.2. INDICADORES DE RISCO

5.2.1. ÍNDICE DE TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE E TAXA INTERNA DE RETORNO (TMA/TIR)

Na metodologia multiíndice proposta por Souza e Clemente (2012), a TIR é dada como um indicador
de risco e não de retorno como, usualmente, é considerado por outros autores da metodologia
clássica. Ainda de acordo com Souza e Clemente (2012, p.86), “se a TMA for igual à TIR, então o ganho
do investimento será igual à zero. Se a TMA for maior do que a TIR, recomenda-se que a organização
não invista no projeto”. No caso da ACC, obteve-se uma TIR de 9,25% a.a, tendo por parâmetro o
cenário mais provável, estando próxima da TMA que corresponde a uma taxa de 7% ao ano.

134
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Provocando um índice de TMA/TIR de 0,76, em uma escala de 0 a 1, o número 1 representa o risco


máximo. Apesar da proximidade da TMA e da TIR (0,76), estudos afirmam que para um índice TMA/TIR
de até 0,75 a probabilidade do VPL ser menor do que zero é muito pequena (SOUZA, 2013).
Corroborando a afirmação anterior simulações realizadas pelo Método de Monte Carlo por meio do
software Crystal Ball sinalizam uma pequena probabilidade de se perder dinheiro com o projeto, ou
seja, a probabilidade do VPL ser menor do que zero é de apenas 4,05%. Diante deste resultado o índice
TMA/TIR será considerado como sendo de Baixo/Médio, para fins de análise na metodologia Multi-
índice. A seguir apresenta-se o gráfico da relação VPL, TMA e TIR:

Figura 2 – Relação VPL, TMA e TIR

5.2.2. ÍNDICE PAY-BACK/N

Evidenciou-se, neste projeto, que o tempo necessário para a recuperação do capital investido
corresponde a 6,5 anos. Cabe ressaltar que quanto maior for o tempo de recuperação do que foi
investido, maior será o risco do negócio. Considerando que a ACC possui em seu planejamento, um
horizonte de tempo de 10 anos, torna-se inviável os benefícios futuros superarem o capital investido
a partir do 6.º ano. O índice de Pay-back/N, que mede numa escala de 0 a 1, proporciona a vantagem,
segundo Kreuz, Souza e Clemente (2008, p. 58) de “permitir a comparabilidade entre projetos
distintos”. Neste caso, o índice encontrado corresponde a 0,65 que representa um risco considerado
Médio/Alto de não recuperação do capital investido.

5.2.3. RISCOS DE GESTÃO

Esse indicador faz referência à aprendizagem, ao longo do tempo, do processo de produção e de


comercialização, evidenciada por meio de experiências e do conhecimento para a consecução do
objetivo do projeto. De acordo com Souza e Clemente (2012, p. 127), “o conhecimento e experiência

135
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

acumulados sobre o processo produtivo, processo de comercialização, canais de distribuição e,


principalmente, na condução de negociações, auxiliam o negócio em períodos turbulentos e
desfavoráveis”.

No caso da ACC, os empreendedores, que pretendem o investimento, possuem experiência e


conhecimento para compreenderem aspectos referentes a níveis de qualidade do produto, de seu
posicionamento estratégico perante os concorrentes, das próprias diretrizes de marketing e de
identificar as competências que serão necessárias para o processo de gestão e produtivo da empresa,
bem como onde buscar a matéria essencial para a produção do produto. Dessa forma, o risco de
gestão representa 0,40, sendo considerado um como médio risco para a descontinuidade do projeto,
conforme tabela abaixo:

Tabela 9 – Risco de Gestão

Áreas Administrativo Produção Financeiro Comercial RH Média


Aspectos Econômicos 0,60 0,50 0,70 0,70 0,40 0,58
Tendências da Indústria ou
segmento 0,60 0,60 0,60 0,70 0,40 0,58
Processo Produtivo e Inovação 0,50 0,70 0,50 0,50 0,70 0,58
Negociação com stakeholders 0,60 0,60 0,70 0,80 0,80 0,70
Estratégias de Posicionamento 0,70 0,60 0,70 0,80 0,40 0,64
Média por área 0,60 0,50 0,64 0,70 0,54 0,60
Risco de Gestão Percebido 0,40
Fonte: adaptado de Souza e Clemente (2012)

5.2.4. RISCO DO NEGÓCIO

Os empreendedores da ACC, ao pensarem no projeto, procuraram identificar as empresas dominantes


do mercado, a possibilidade de novos entrantes, produtos substitutos, o comportamento dos
consumidores do produto, a força dos fornecedores, bem como o histórico da posição estratégica
implementada pelas organizações que já existiam. Cujos fatores foram determinantes para
compreender os aspectos que circundam o mercado interno da ACC, o que proporcionou informações
riquíssimas para a tomada de decisão. Souza e Clemente (2012, p. 128) destacam que “o risco do
negócio está associado a fatores conjunturais e não controláveis que afetam o ambiente do projeto”.
Além da preocupação voltada ao mercado, outro ponto determinante considerado foram as condições
climáticas, que são fatores importantes, principalmente porque as chuvas são escassas na região.
Dessa forma, atribuiu-se um fator de risco correspondendo a 0,46, o que pode ser considerado médio
para a continuidade do projeto, conforme tabela abaixo:

136
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 10 – Risco do negócio


PEST 5 FORÇAS DE PORTER SWOT
Aspecto Percepção* Aspecto Percepção* Aspecto Percepção*
Político-legal 0,25 Entrantes 0,5 Entrantes 0,5
Econômico 0,50 Substitutos 0,5 Substitutos 0,5
Sóciocultural 0,40 Fornecedores 0,4 Fornecedores 0,4
Tecnológico 0,40 Clientes 0,5 Clientes 0,5
Demográfico 0,20 Concorrentes 0,7 Concorrentes 0,7
Média 0,35 Média 0,52 Média 0,52
Risco de Negócio Percebido = 0,46
* Escala de 0 a 1 onde zero indica ausência de risco e 1
Fonte: adaptado de Souza e Clemente (2012)

5.2.5. PONTO DE EQUILÍBRIO E GRAU DE COMPROMETIMENTO DA RECEITA (GCR)

O ponto de equilíbrio operacional (PEO) proporciona identificar o quanto o negócio poderá produzir e
vender para suportar os gastos operacionais do projeto, bem como demonstrar a partir de qual
unidade de produção, inicia-se o processo de geração de lucro. Em conformidade com Souza e
Clemente (2012, p. 125) “Tão importante quanto determinar o PEO é analisar sua posição relativa ao
nível máximo de atividade, o que é identificado pelo mínimo entre a capacidade produtiva e a
demanda máxima de mercado”. Ainda para os autores, quanto mais próximo de 1 estiver o GCR, maior
será o risco operacional do projeto. Na perspectiva do projeto da ACC, identificou-se um GCR de 0,71,
significando que o projeto somente terá retorno a 71% da sua capacidade máxima, conforme tabela
abaixo:

Tabela 11 – PEO e GCR

Receita Custo Fixo Desp. Fixa Custo Desp. Receita de


ANO Total Total Total Variável Variável Equilíbrio GCR
1 400.000 151.110 203.467 90.250 20.400 354.577 0,89
2 500.000 257.869 283.502 112.812 25.500 541.370 1,08
3 680.000 329.705 348.101 153.424 34.680 677.806 1,00
4 880.000 398.133 409.291 198.549 44.880 807.424 0,92
5 1.040.000 462.361 178.436 462.361 53.040 640.797 0,62
6 1.181.000 437.892 174.516 266.462 60.231 612.408 0,52
7 1.200.000 446.144 174.516 270.749 61.200 620.659 0,52
8 1.200.000 453.029 174.516 270.749 24.000 627.544 0,52
9 1.200.000 453.029 198.064 270.749 24.000 651.093 0,54
10 1.200.000 453.029 198.064 270.749 24.000 651.093 0,54
Grau de Comprometimento da Receita Médio 0,71
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

137
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.3. SÍNTESE DOS INDICADORES

Com base na metodologia multiíndice, utilizaram-se os indicadores TMA/TIR, Payback/N, GCR, R.


Gestão e R. Negócio a fim de avaliar o risco percebido no projeto de ACC. Para melhor visualizar o risco
do projeto, construiu-se um gráfico representando o risco percebido versus o risco máximo, que em
conformidade com Souza e Clemente (2012, p. 129) “observa-se que quanto maior for a proporção da
área do polígono interno com relação à área total, maior será o risco percebido do projeto”, conforme
gráfico apresentados na Figura 3.
Após análise dos indicadores de viabilidade do negócio, observaram-se alguns fatores determinantes
para a não continuidade do projeto. O primeiro corresponde ao índice de TMA/TIR de 0,76, sinalizando
conforme mencionado anteriormente um risco percebido Baixo/Médio para o investimento, o
segundo faz referência ao tempo de retorno do capital investido (Payback/N), o qual será possível a
partir de 6,5 anos. Considerando que o projeto possui um horizonte de tempo de 10 anos, o índice
encontrado representa um risco significativo de não recuperar o capital investido. O terceiro está
voltado ao grau de comprometimento da receita (GCR), o qual evidenciou que o projeto somente terá
retorno a partir de 71% da sua capacidade máxima.

Figura 3 – Risco percebido versus risco máximo

No que diz respeito ao quarto indicador, observou-se que a aprendizagem e o conhecimento dos
empreendedores alcançaram um risco de gestão de 0,40, significando inexpressiva a possibilidade de
mau desempenho na gestão do projeto. Já no risco de negócio, representado por um índice médio de
0,46, identificou-se que o mercado interno é pouco explorado, com grande potencial de ampliação.
Mas com relação às condições climáticas, constatou-se um fator desfavorável para o projeto, uma vez
que as chuvas são escassas na região. Segundo Teixeirense (2013), a safra de castanha de 2012 foi
considerada atípica em virtude da severidade climática, uma das maiores dos últimos 40 anos, o que
contribuiu, significativamente, para uma má produção, a qual foi considerada a pior dos últimos 13
anos. Essa análise de risco e retorno está representada na tabela seguinte.

138
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 12 – Análise de risco e retorno

Baixo B/M Médio M/A Alto


Retorno (ROIA)
Risco Financeiro (TMA/TIR)
Risco de Não recuperação do Capital (Payback / N)
Risco Operacional (GCR)
Risco de Gestão
Risco de Negócio
0,0 a 0,2 0,2 a 0,4 0,4 a 0,6 0,6 a 0,8 0,8 a 1,0
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

A tabela 12 acima revela uma relação risco versus retorno balanceada, uma vez que os indicadores de
risco estão situados a esquerda ou sob o indicador de retorno. Esta relação aponta um equilíbrio entre
os riscos do projeto e o retorno proporcionado pelo mesmo.
Dando sequência ao processo de análise do projeto, tendo como parâmetro o fluxo de caixa traçado de
acordo com o cenário de ocorrência mais provável, dois outros cenários foram projetados, sendo um
otimista e outro pessimista. Para composição desses cenários, considerou-se uma variação no fluxo de
caixa de cada período em 15% para mais (Cenário Otimista) e 15% para menos (Cenário Pessimista).
Diante dos três cenários, utilizou-se o software Crystal Ball (versão 11.1) para realizar simulações
aleatórias pelo Método de Monte Carlo e assim determinar a probabilidade de ocorrência dos
indicadores de retorno e de risco. As simulações foram realizadas por meio uma distribuição triangular,
e de acordo com os resultados, a probabilidade do VPL ser maior do que zero é de 95,95%, e de está
entre 60.000 e 100.000 é de 56,76%, sendo o valor máximo do VPL igual a R$ 127.960,00 com
probabilidade de ocorrência 0,04%, ou seja, a probabilidade de se perder dinheiro com o projeto é muito
pequena (4,05%) A seguir, tem-se o gráfico da distribuição do VPL.

Figura 4 – VPL

Com relação ao indicador de retorno ROIAanual, a probabilidade de ser maior do que 10% é de 32,27%,
sendo o valor máximo assumido pelo ROIAanual 14,55%, o que descarta a possibilidade da ganhos

139
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

extraordinários, no entanto há uma probabilidade de 60,22% do valor do ROIAanual encontra-se entre


7,5% e 10,95%, o que já assegura uma bom rentabilidade com relação a TMA.

Figura 5 – ROIA

Com relação a medida de risco, a probabilidade do indice TMA /TIR está entre 0,60 e 0,80 é de 74,81%
sendo a percepção de risco para este indicador classificada como Baixa/Média, conforme justificativa
supra citada.

Figura 6 – Indice TMA /TIR

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto da ACC possui aspectos significativos relacionados ao risco de gestão, combinado com um
mercado interno propenso a crescimento, porém há riscos próprios advindos da condição climática da
região. Outro fator determinante para o aumento do risco desse negócio corresponde ao volume
expressivo de produtos substitutos, barreiras à entrada relacionadas à carga tributária e fiscal,
trabalhista, previdenciária, políticas de exportação e importação de castanha da África, bem como a
força preponderante do fornecedor, já que o mesmo depende das condições naturais para cultivar a
matéria prima essencial do produto.

Outro ponto importante que deve ser evidenciado faz referência a grande participação de recursos de
terceiros no negócio, o que contribuiu também para o risco do projeto. Nessas condições, o retorno

140
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

do projeto aconteceria no 5.º ano e a recuperação do capital investido seria a partir do 6.5 anos de
operacionalização, além do negócio necessitar trabalhar com uma capacidade máxima de 71% para
obter retorno. No entanto a decisão de empreender acarreta um ganho substancial uma vez quem
bate o rendimento proporcionado pela TMA e gera um incremento de mais 9,0% , ou seja, a decisão
de empreender mais do que dobra o rendimento anual. Portanto o retorno do projeto está
proporcional aos seus riscos.

Como forma de corroborar a análise anterior, construíram-se mais dois outros cenários, sendo o
primeiro otimista e o segundo pessimista. Para tanto, considerou-se uma variação no Fluxo de Caixa
de cada período de 15% para mais (Cenário Otimista) e 15% para menos (Cenário Pessimista).
Realizaram-se as simulações aleatórias a fim de determinar a probabilidade de ocorrência dos
indicadores de retorno e risco onde verificou-se que os resultados encontrados corroboram com a
compatibilidade entre o retorno e o risco do projeto.

Por meio da análise utilizando a metodologia multi-índice percebe-se que os indicadores de riscos
estão à esquerda ou sob o indicador de retorno, apontando uma relação retorno versus risco
balanceada, diante desta relação recomenda-se o projeto.

REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2007

ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do Capital de Giro. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2007.

BORNIA, Antônio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. ed. 2. São
Paulo: Atlas, 2009.

CARNEIRO, Antônio Lúcio. SINDICAJU: perfil setor. Fortaleza: SINDICAJU, 2013.

CASTRO, Inez Silvia Batista. Setor externo. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 33. [2012].
Disponível

em:<http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/etene/etene/docs/ren_vol33_capitulo_5_setor_ext
erno.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.

GARRISON, H. Ray; NOREEN, Eric. W.; BREWER, Peter C. Contabilidade gerencial. Tradução José Luís
Pavarato; Revisão técnica Luiz Henrique Baptista Machado. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

HERNÁNDEZ SAMPIERI, Roberto; FERNÁNDEZ COLLADO, Carlos; LÚCIO, Pilar Baptista. Metodologia de
Pesquisa. 3.ed. Tradução de Fátima Conceição Murad, Melissa Kassner e Sheila Clara Dystyler Ladeira.
São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

141
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

IBGE. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – julho 2013, Rio de Janeiro, 08 ago. 2013.
Disponível em:
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/default.asp?t=5&z=t&o=1&u1=1&u2=1&u3=1&u4=1&u5=1&u6=1
&u7=1&u8=1&u9=1&u10=1&u11=1&u12=3&u13=1&u14=26674&u15=1&u16=1>, acesso em: 11
ago. 2013.

KREUZ, Carlos, L; SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Custos de produção, expectativas de retorno e
de riscos do agronegócio mel no planalto norte de Santa Catarina. Custos e @gronegócio,. v. 4, n. 1,-
jan/abr - 2008. versão on-line.

KREUZ, C. L. et al. Custos de produção, expectativas de retorno e de riscos do agronegócio uva na


região dos campos de palmas. Alcance (Itajaí), Itajaí SC, v. 11, n. 2, p. 239-258, 2004.

______. Indicadores de viabilidade e estratégias competitivas: o caso dos produtores de alho na região
de Curitibanos – SC. In: VIII Congreso del Instituto Internacional de Costos, 80, 2003, Punta del Este.
Anais... Punta del Este: IIC, 2003.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Mariana de Andrade. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2009.

MARTINS, Elizeu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MONTENEGRO, Afrânio Terley Teles et al. Cultivo do cajueiro. Fortaleza: EMBRAPA, 2003. (Sistemas
de produção, 1). Versão eletrônica. Disponível

em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Caju/CultivodoCajueiro/>. Acesso


em: 11 ago. 2013.

PAIVA, Francisco Fábio dde Assis; SILVA NETO, Raimundo Marcelino da; PESSOA, Pedro Felizardo
Adeodato de Paula. Minifábrica de processamento de castanha de caju. Fortaleza: Embrapa
Agroindústria Tropical, 2000. 22p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Circular Técnica, 07).

PORTER, Michael E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 2.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

SINDICAJU. Presidente do Sindicaju agradece Eunício por esforço na aprovação do Fundo de Incentivo
à Cajucultura, Fortaleza, 2013. Disponível em: <http://sindicaju.org.br/2013/05/presidente-do-
sindicaju-agradece-eunicio-por-esforco-na-aprovacao-do-fundo-de-incentivo-a-cajucultura/>, acesso
em: 12 ago. 2013.

SOUZA, Alceu; Notas de aula ainda não publicadas. 2013.

SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Decisões financeiras e análise de investimentos: fundamentos,


técnicas e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

SOUZA, Alceu et al. Custos de produção, expectativa de retorno e riscos do agronegócio tomate na
região de Caçador SC In: Congresso Brasileiro de Custos, X1, 2004, Porto Seguro. Anais... Porto Seguro
BA: Sociedade Brasileira de Custos, 2004.

TEIXEIRENSE, Marden. Castanha de caju. [Brasília,DF]: CONAB, 2013. (Conjuntura mensal).

142
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 8

INFLUÊNCIA DA CONTROLADORIA NA GERAÇÃO DAS


INFORMAÇÕES PARA O PROCESSO DE GESTÃO DE
INDÚSTRIAS MOVELEIRAS

DOI: 10.37423/200300485

Osmarina Pedro Garcia Garcia (UNIOESTE) - osmarinagarcia@hotmail.com

Elias Garcia (Unioeste) - esaile@brturbo.com.br

Dione Olesczuk Soutes (UNIOESTE-MCRondon) - dioneosoutes@gmail.com

Resumo: A controladoria tem como missão coletar os dados transformando-os em


informação para auxiliar o processo de tomada de decisão com a finalidade de garantir a
continuidade da organização para atingir sua finalidade. Para isso, é preciso garantir que a
empresa tenha lucro e maximize-os. O surgimento da Controladoria está ligado à necessidade
de melhor gestão da empresa. Uma das formas que a controladoria encontra para garantir a
continuidade da empresa é a gestão para redução de custos e despesas, com objetivo de
tornar o produto mais competitivo perante seus concorrentes. Para isso, os gestores
passaram a contar com a controladoria como uma importante ferramenta de auxilio na
tomada de decisão.

143
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para demonstrar alguns benefícios da controladoria, optou-se em efetuar este estudo, realizado por
meio de levantamento, de forma descritiva e qualitativa. O objetivo principal da pesquisa é de
evidenciar a influência da controladoria na geração das informações para o processo de gestão de
indústrias moveleiras. Ao final, foi possível constatar que a controladoria influencia na redução de
custos por meio de informações confiáveis, geradas por ferramentas ágeis, compiladas pelos
controllers e repassadas aos gestores que auxilia para a tomada de decisões.

Palavras-chave: Controladoria. Custos. Gestão.

Área temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões Powered
by.

144
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INTRODUÇÃO

Em função de suprir a necessidade de se manter competitiva, as empresas encontram o impasse de


como conservar ou reduzir o preço de venda do seu produto ou serviço, e ao mesmo tempo otimizar
os lucros. Neste contexto as empresas buscam melhorar suas ferramentas de gestão e uma destas
ferramentas é a controladoria, que é responsável pelas informações que podem ajudar na redução de
custos e despesas e otimização dos lucros.

A controladoria, com as informações contidas nas demonstrações contábeis, realiza o monitoramento


dos resultados, os quais são diretamente influenciados pelos custos e despesas dos produtos.
Conforme Scalon (2012), o lucro da empresa é a diferença entre o preço e custo do produto a ser
ofertado e pode ser maximizado uma vez que se tenha um amplo conhecimento do processo
administrativo e produtivo da empresa. Neste sentido, os custos e as despesas devem ser controlados
de tal forma que possibilite atingir esse objetivo.

Sob esta perspectiva, a controladoria tem como objetivo buscar os dados nos diversos setores da
empresa, transformar em informações, monitorando os resultados, que são diretamente
influenciados pelos custos e despesas, e auxiliar no processo de decisões com o objetivo de atingir a
eficácia organizacional. Prossegue Scalon (2012) que, a controladoria com a função de buscar os dados
e transformar em informações pode influenciar diretamente na formação do preço do produto.

As informações empresariais são utilizadas pelos funcionários dos departamentos de contabilidade e


finanças da empresa e pelo Controller, cujas atividades em sua maioria são relacionadas à inspeção e
controle do patrimônio, enquanto nas empresas de maior porte estas funções já são definidas,
relacionando-as à preparação e análise de dados para a tomada de decisões na gestão de negócios.

Para esta pesquisa tem-se como principal objetivo, evidenciar a influência das informações da
controladoria no controle de custos para a gestão de indústrias moveleiras.

2 CONTROLADORIA

No início do século XX, a controladoria surgiu devido à necessidade das empresas administrarem
valores por meio do planejamento e controle de suas atividades, tornando as informações geradas em
todos os setores da empresa cada vez mais importantes para a tomada de decisão. Segundo Scalon
(2012) a controladoria surgiu devido à necessidade que as empresas sentiram em ter um melhor
controle no processo de gestão, necessidade esta intensificada pelo crescimento das mesmas, e
também para garantir que se manterão competitivas mediante seus concorrentes.

145
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Beuren (2002, p. 20), referente o surgimento da controladoria, afirma que:

A Controladoria surgiu [...] com a finalidade de realizar rígido controle de todos


os negócios das empresas relacionadas, subsidiárias e/ou filiais. O crescimento
vertical e diversificado desses conglomerados exigia, por parte dos acionistas e
gestores, um controle na central em relação aos departamentos e divisões.
No Brasil, a controladoria passou a ter maior ênfase na literatura, no processo de gestão, nos anos
oitenta. A partir desta década, com maior frequência vem sendo utilizado à palavra controladoria,
como pode ser observado em Koliver (2005, p. 13 - 14).

O substantivo controladoria vem-se difundindo, em nosso País, com


intensidade, em determinado quadrante da literatura técnica centrada na
gestão. O processo tornou-se visível, a partir do final dos anos oitenta, e apesar
do tempo decorrido, não há entre os autores unanimidade sequer no campo
semântico, ou seja, sobre o significado de controladoria, e quanto a que lugar
ocupa no Conhecimento Humano, em termos epistemológicos.

Neste contexto percebe-se que a administração empresarial vem passando por modificações
significativas, e a controladoria contribui na gestão como fonte de informação segura, pois as
informações repassadas pela controladoria são confiáveis e contribuem para que os gestores não
tomem uma decisão errônea, mas sim, facilita na obtenção de resultados positivos. Portanto, ela
desempenha um papel fundamental no contexto empresarial.

Assim, Marion et al (1996, p. 140) aduzem que, “A controladoria tem o papel de apoiar os gestores
com o fornecimento de informações relevantes e oportunas, induzindo-as á melhores decisões que
garantirão a otimização dos resultados da empresa”.

Para que se tome uma decisão com maior clareza é necessário possuir informações confiáveis para
que não prejudique o resultado final. Sendo assim, a controladoria tem como função verificar se o que
está sendo realizado encontra-se de acordo com o planejado.

Corroborando, ainda Marion et al (1996, p. 140) complementam que “A controladoria como área de
responsabilidade tem por função coordenar os esforços dos gestores para alcançar seus resultados,
gerando informações relevantes e oportunas para a tomada de decisões na organização”.

A controladoria está diretamente ligada à contabilidade, ela pode ser considerada como a função
contábil de analise e gestão das atividades desenvolvidas pelo setor contábil. A controladoria usará
principalmente os dados da contabilidade para transformá-los em informações, informações estas que
auxiliam o processo de tomada de decisão, e da mesma forma que podem apontar possíveis
desperdícios onde os custos e despesas se encontrem de forma muito elevada. Vale ressaltar que,

146
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

embora a controladoria tenha a função de sempre estar atenta às mudanças, ela se diferencia de
empresa para empresa, respeitando a particularidade (missão), objetivos e visão de cada uma.

2.1 INFLUÊNCIA DA CONTROLADORIA NA REDUÇÃO DE CUSTOS

Devido à expansão e a competitividade das organizações, surgiu à necessidade de modelar as


informações. A contabilidade tradicional não possui esse enfoque, surgindo assim à controladoria para
dar suporte nesse particular na gestão empresarial. A controladoria é responsável por coletar os dados
nos mais diversos setores e transformá-los em informações auxiliando a obtenção da eficácia
organizacional, em manter e quando possível maximizar os resultados, os quais estão diretamente
ligados aos custos e despesas, mais especificamente, gerados pela contabilidade de custos.

Scalon (2012) argumenta que a controladoria é um órgão de gestão a qual deve ser indispensável para
a tomada de decisões, uma vez que pode influenciar na redução de custos e no aumento da
lucratividade.

As preocupações da controladoria são com os direitos adquiridos e as obrigações assumidas. Ela se


preocupa com o recebimento - entradas - e com os custos e despesas - saídas (SÁ, 2009). Portanto,
para que a organização possa cumprir com suas obrigações é necessário ter lucro, e uma das formas
de alcançá-lo é verificando se a empresa não possui custos e despesas que podem ser reduzidos ou
eliminados. É nesse processo que se enquadra o setor de controladoria para a realização de tal tarefa.

Reduzir custos não é apenas diminuir matéria prima ou mão de obra, mas sim, consiste em planejar e
executar ações que eliminam atividades que não agregam valor ao produto final.

Para McNair (2000), os administradores devem gerir três situações: custo, desperdício e lucro.

Todo processo deve ser acompanhado e avaliado em termos de eficiência e maximização de lucro.
Uma ferramenta que facilita na gestão dessas três situações é a criação do Departamento de
Controladoria.

A criação do Departamento de Controladoria vem da necessidade de um acompanhamento mais ágil


e aprofundado do desempenho econômico-financeiro da empresa.

A interação entre o controller e os gestores cria uma política de redução de custos e despesas com o
objetivo de ser permanente ou temporário. Moura e Beuren (2003) apontam que a controladoria
contribui na gestão empresarial, pois, cumpre a função de dar suporte aos gestores, por meio de um
sistema de informações eficaz e sinérgico, visando a maximização do resultado da empresa.

147
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Este processo de interação acontece por meio de várias medidas coordenadas e procedimentos
específicos, como por exemplo, o uso das informações contábeis, sistemas informações e sistemas de
custos que levam a obtenção de ganhos de eficiência e produtividade.

Catelli (2006, p. 345) complementa que:

A controladoria vista como unidade administrativa é responsável pela


coordenação e disseminação desta tecnologia de gestão, quanto ao conjunto
de teorias, conceitos, sistemas de informação e também, como órgão
aglutinador e direcionador de esforços dos demais gestores que conduzam à
otimização do resultado global da organização.
Este órgão no processo administrativo tem como função a transformação dos dados em informação
adequada para assessorar o processo de tomada de decisão, assegurando a eficácia dos mais diversos
setores e da organização como um todo.

A influência da controladoria na participação das melhores formas de reduzir os custos é observada


por Mosimann e Fischer (1999, p. 118) da seguinte forma:

A controladoria, como órgão administrativo da empresa, por meio de seu


gestor, cabe coordenar e participar da escolha da melhor alternativa, no que
tange a aspectos econômicos, no processo de planejamento global, de modo a
garantir a eficácia da empresa.
Complementando, Meirelles Junior (2009) afirma que as margens de lucro das empresas estão cada
vez menores, só por meio de um austero controle em todo o processo administrativo e produtivo é
que podem ser maximizados o lucro, visto que, tanto os custos, quanto as despesas, precisam ser
controlados de forma racional e inteligente, trazendo agilidade e confiabilidade na tomada de
decisões.

Considerando que os tributos são custos para as empresas, Koliver (2005) expõe que uma das formas
da redução de custos para garantir a sobrevivência da empresa é através de planejamento tributário.
Desta maneira, a controladoria também deve estar envolvida com o processo da gestão tributária e,
de preferência coordená-la, já que uma das suas funções é a preocupação da eficácia organizacional.
Portanto, neste processo ela busca a eficiência nas práticas tributárias.

A controladoria pode interferir no processo de planejamento tributário, uma vez que influencia na
escolha da melhor opção legal de tributação, o que irá refletir na possível redução dessa carga
tributária pois, a controladoria consegue monitorar: as informações contidas nas declarações dos
impostos, analisar e supervisionar as apurações dos impostos, e controlar a integração dos controles

148
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de custos, controle de estoque, controle de ativos e controle contábil, nos quais se encontram
inseridos os tributos. Conforme exposto por Nascimento e Reginato (2007, p.237):

 Monitorar e expor para os gestores as principais informações contidas nas declarações de


impostos, inclusive ressaltar algum possível efeito que esta possa gerar para a empresa;

 Supervisionar todas as questões relacionadas à apuração de tributos, incluindo a condução


de um programa eficaz de gerenciamento de tributos que envolva todos os segmentos da
corporação e forneça regras e procedimentos padronizados para atender as leis, normas e
regulamentos pertinentes;

 Coordenar a integração entre as dimensões de controle de custos, controle de estoques,


controle de ativos e controle contábil, na qual estão inseridos os tributos.

O processo de redução de custos não está ligado somente ao planejamento tributário, mas sim em
todos os setores da empresa. Os profissionais de controladoria se preocupam com os custos nos mais
diversos setores da organização, buscando a administração eficaz de cada um. A Controladoria começa
com o entendimento de que todos os recursos que são mobilizados e utilizados pelas organizações
têm um objetivo maior: produzir valor - riqueza.

Partindo deste ponto, Martins (2005, p.10) apresenta que:

 Na área de compras ele tem o controle e a visão dos estoques e o que poderá ocorrer se
continuar a comprar abaixo ou acima do limite;

 Na área produtiva e conhece a capacidade de produção e a ociosidade, podendo sugerir


mudanças para não se desperdiçar dinheiro e tempo;

 Na área comercial ele sabe quais os produtos que estão sendo vendidos com preço abaixo
ou acima do mínimo desejável, como também quais as quantidades necessárias para atingir
os objetivos da empresa;

 Na área de recursos humanos ele sabe se os salários e os benéficos estão adequados com
os objetivos traçados;

 Na área tributária direta ele está atualizado com o regime de apuração e cálculo do Imposto
de Renda, da Contribuição Social Sobre o Lucro, como também do Pis e Cofins sobre o
faturamento;

149
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Na área tributária indireta ele conhece todos os impostos incidentes, tais como o ICMS, IPI,
ISS e outros;

 Na área de planejamento estratégico com todos esses números e dados da empresa ele os
transforma em informações para tomada de decisões e sugere alternativas para alavancar,
ou até mesmo para diversificar seus produtos ou negócios.

Por meio do conhecimento das áreas mencionadas, o controller transforma os dados em informação
que norteia a tomada de decisão e a melhor forma para fazer o planejamento gerencial da empresa,
em busca de alavancar os lucros e garantir a continuidade organizacional de maneira eficaz.

Para o acompanhamento ágil da situação econômico-financeira da empresa, do mercado e das


possíveis influências do mercado interno e externo em que ela se encontra, a controladoria utiliza de
informações de todos os departamentos da empresa, produzidas em tempo real, o que irá garantir à
adequada tomada de decisão.

Para Leone e Leone (2007 p.16), a contabilidade de custos pode ser a responsável no auxílio de
levantamento de dados para a formação de opinião e tomada de decisões.

Confirma-se pela argumentação de que, “Em primeiro lugar, a contabilidade de custos prepara
informações de custos para os diversos níveis gerenciais que chamamos de departamentos”.

Schier (2006) complementa que a controladoria está ligada a contabilidade de custos, pois é esta que
deve fornecer e determinar os padrões monetários, os custos e despesas, e ainda se beneficiar das
informações para ajustar o preço do produto e consequentemente reduzir os custos.

A contabilidade de custos prepara os dados para o departamento de controladoria, o controller analisa


os dados que influenciam na formação de opinião para a tomada de decisão.

Segundo Martin (2000), só é possível uma política de redução de custos permanente e duradoura sem
afetar a estrutura empresarial se forem considerados os focos de atuação, que são chamados de
macro visão das quatro óticas de atuação:

 Ótica da produção de valor;

 Ótica dos processos internos;

 Ótica dos recursos;

 Ótica do financiamento.

150
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Percebe-se que a macro visão das quatro óticas tem influência de induzir à melhoria dos sistemas de
controles de custos, consequentemente, uma maior eficiência e eficácia no desempenho gerencial,
lembrando da importância de um sistema de informação compatível com a comunicação necessária
entre os setores, levando informações adequadas aos controllers, que servem de suporte na gestão
empresarial. Portanto, a controladoria interage com a administração, exercendo seu papel de suporte
informacional, por meio da contabilidade geral, contabilidade de custos, do planejamento e controle.

2.2 PROFISSIONAL DA ÁREA DE CONTROLADORIA - CONTROLLER

O Controller é responsável por organizar e coordenar as atividades do setor de controladoria, com


habilidade e conhecimento de todos os setores da empresa, com objetivo de transformar os dados
em informações que auxiliam o processo de tomada de decisão. Neste sentido, Nakagawa (2009, p.
13) afirma que:

Os modernos conceitos de Controladoria indicam que o controller desempenha


sua função de controle de maneira muito especial, isto é, ao organizar e
reportar dados relevantes exerce uma força ou influência que induz os gerentes
a tomarem decisões lógicas e consistentes com a missão e objetivos da
empresa.
controller nas últimas décadas passou a ter maior relevância para a gestão, e a função requer um
profissional altamente qualificado devendo possuir visão ampla de todas as áreas da administração. É
um cargo de expressão na empresa e tem como principal objetivo contribuir para o bom andamento
da mesma. É um trabalho árduo, mas vantajoso à administração quando este se encontra capacitado
para efetuar sua função. Anthony e Govindarajan (2002, p. 156) explicam a função do controller:

O controller pode também ser responsável pelo desenvolvimento e pela análise


de avaliações dos controles, e por recomendações aos executivos. Além disso,
pode controlar a respeito dos limites de gastos instituídos pelo executivo-chefe,
controlar a integridade do sistema contábil e ser responsável pelas medidas de
segurança dos ativos contra furtos e fraudes.
Na qualidade de principal executivo de informações de uma empresa, o controller é o gestor da
veracidade do sistema de informação, no entanto, vale ressaltar que ele é responsável pela
compilação, síntese e análise das informações geradas, porém, não é responsável por sua elaboração.
Sua função básica é garantir que tais informações sejam preparadas e distribuídas oportunamente
dentro da entidade. Nesta visão, Martin (2002, p. 16) argumenta que:

Enquanto a função do contador financeiro-fiscal se preenche e se esgota com a


produção dos demonstrativos contábeis-financeiros, a função do Controller é
muito mais abrangente e complexa, pois cabe a ele identificar, prever,

151
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

mensurar e avaliar o impacto das forças críticas ambientais sobre os resultados


da empresa.
É necessário que o controller esteja atento às mudanças para avaliar o impacto em seus trabalhos. É
de suma importância que estes profissionais tenham conhecimento principalmente nas áreas de
custos e contabilidade das empresas, com uma visão ampla, tendo a capacidade de reconhecer as
dificuldades e apresentar soluções cabíveis.

3 METODOLOGIA

Para esta pesquisa foi utilizada à abordagem qualitativa, e procedimentos de levantamento, com
objetivo de uma pesquisa descritiva. Os dados foram coletados por meio de um questionário
semiestruturado composto por 21 questões, sendo 20 fechadas e a última foi elaborada de forma que
a resposta fosse espontânea. O questionário foi aplicado aos contadores e gestores de 10 empresas
de pequeno e médio porte do ramo moveleiro, no período de fevereiro de 2014 no município de
Francisco Beltrão – PR.

4 APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

As respostas do questionário aplicado com objetivo de evidenciar a influência da controladoria na


geração das informações para o processo de gestão de indústrias moveleiras, estão tabuladas e
representadas no Quadro 1. Tendo em vista algumas limitações de tamanho do artigo, o resultado da
pesquisa foi apresentado em forma de quadro e não em tabela, ou figuras, pois neste caso específico
o quadro facilita a exposição e a visualização, consequentemente melhora o entendimento do leitor.

A título de esclarecimento, o questionário foi aplicado para dez empresas, à primeira pergunta tinha
por objetivo saber quantas empresas pesquisadas possuem o setor de controladoria implantado.
Como havia a possibilidade de encontrar empresas sem o setor referido, então, dentre o total do
questionário, elaborou-se quatro questões especificamente para elas, da questão dois a cinco. O
percentual aqui apresentado nestas questões se refere a 100% das que não possuem o setor de
controladoria implantado na empresa. As demais questões representam 100% das empresas
pesquisadas que possuem o setor de controladoria e foram respondidas por elas.

152
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

153
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: dados da pesquisa (2014)

Quadro – 1 Análise da pesquisa

O número de empresas entrevistadas em que há um departamento de controladoria implantado é


relativamente alto para o porte da cidade, contudo, foi constatado que em muitos casos não há um
setor específico de controladoria de forma oficial, mas sim, pessoas responsáveis em gerar as

154
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

informações, que são chamadas de controllers e que executam essa função em prol de auxiliar os
gestores.

Das três empresas que não possuem o departamento de controladoria implantado, duas responderam
que não pretendem implantar por se considerarem de pequeno porte e, portanto, não comporta o
setor na empresa e, uma empresa afirma que tem a intenção de implantar, tanto que já está em fase
de avaliação do processo.

Observou-se que todos os pesquisados, mesmo não tendo o setor de controladoria na empresa,
percebem que ela se faz presente de forma indireta na organização, e ainda a maioria afirmou que o
setor contábil é o que mais desenvolve atividades correlacionadas à controladoria na empresa.

A partir da sexta questão, o direcionamento foi para as empresas que possuem o setor de
controladoria já implantado e em funcionamento. Dos pesquisados, a maioria respondeu que a
controladoria tem a missão de gerar informações para tomada de decisão. E novamente, para a maior
parte dos pesquisados, é o setor contábil que tem a função de gerar dados que dão subsídios para a
controladoria gerar informações aos gestores.

A maioria afirma que a tomada de decisão é feita com base no levantamento de informações geradas
pelo setor de controladoria devido ao fato de considerarem as informações influentes. Ainda, todos
afirmaram que das informações geradas, as mais analisadas são as demonstrações contabeis; o
orçamento empresarial (as projeções para o futuro); o controle financeiro e acompanhamento do
fluxo de caixa e; informações geradas pela contabilidade.

Referente as atividades desenvolvidas pelas empresas pesquisadas, todas expuseram que


desenvolvem a contabilidade Geral, Contabilidade Fiscal, Controles internos, Contas a pagar/a receber
e Crédito e Cobrança. Por esse motivo, elas alegam que a controladoria não é o único responsável
pelas informações, mas sim, a controladoria em conjunto ao setor contábil, administrativo e a
gerência.

No tocante ao controle de custos, todas as empresas mostraram ter preocupações com os custos
envolvidos no desenvolvimento de suas atividades. Como prova da preocupação, o resultado
demonstra que a maioria afirma ter o sistema de custos implantado e que sua utilidade está em gerar
informações confiáveis para a formação de custos, transmitindo informações reais a controladoria.

Mesmo tendo constatado que todas as empresas pesquisadas têm a preocupação com os custos
envolvidos no desenvolvimento da atividade, um fato que chama atenção está na realização do

155
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

controle de custos no processo de produção juntamente com os demais setores envolvidos, pois,
verificou-se que a maioria o faz, porém não todos. Justificando que mesmo sabendo da necessidade e
dos benefícios deste controle, ainda assim, não houve unanimidade na realização deste controle na
produção e demais setores.

Outro ponto abordado é o planejamento tributário, onde foi verificado que a maioria faz com objetivo
de redução de custos e os poucos que não o fazem é devido ao fator de desconhecimento do processo
de planejamento tributário. No entanto, todos veem a controladoria um setor ligado diretamente à
preocupação de redução de custos.

A última questão era de resposta aberta, que tinha como objetivo saber a opinião do pesquisado sobre
qual é a missão do setor de controladoria. As respostas foram compiladas chegando ao um consenso
de que a missão da controladoria, é fazer uma análise da situação da empresa, buscando as
informações para realizar o planejamento, projetando os lucros e resultados, unindo as informações
com a finalidade de garantir pleno desenvolvimento e funcionamento das atividades como um todo.
É claro que muitos respondentes apresentaram uma resposta baseada na teoria aprendida, contudo,
considera-se válida, visto que de alguma forma houve uma preocupação em demonstrar algum
conhecimento sobre o assunto.

Nesta pesquisa, constatou-se por meio da análise das respostas obtidas que estas empresas poderiam
explorar mais a controladoria ou os setores relacionados a elas, implantando um controle de custos e
despesas mais rigorosos, coletando os dados necessários transformando-os em informações para
auxiliar na tomada de decisão e garantir a continuidade da organização.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A controladoria nasceu e se desenvolveu devido a necessidades de controles e gestão, ela pode auxiliar
a gestão empresarial, garantindo o correto levantamento dos dados transformando-os em
informações que auxiliam para a melhor tomada de decisão, com objetivo de buscar a redução dos
custos e despesas, uma vez que a redução e o aumento estão sempre ligados à tomada de decisão
visando a maximização dos resultados.

O objetivo principal desta pesquisa foi evidenciar a influência da controladoria na geração das
informações para o processo de gestão de indústrias moveleiras. Foi constatado que a controladoria
influencia na redução de custos por meio de informações confiáveis, geradas por ferramentas ágeis,
compiladas pelos controllers e repassadas aos gestores que auxilia para a tomada de decisões.

156
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

De posse das informações do setor de custos a controladoria pode contribuir para maximização do
lucro e ao mesmo tempo tornar o produto mais competetivo, pois as informações confiaveis e ágeis
geradas pelo sistema de custos pode auxiliar na formação do preço de custos dos mais diversos
setores, como por exemplo, na produção não deixar acontecer o desperdício de tempo e materiais.
No departamento de recursos humanos pode ser acompanhado se o plano de cargos e salários está
de acordo com o planejado. No planejamento tributário com auxílio da melhor forma de tributação.
No setor de compras auxiliando para que não seja efetuado compras em excesso. Enfim, buscando
informações em todos os setores da organização e auxiliando a tomada de decisão.

Com relação as empresas pesquisadas, nota-se que todas elas se preocupam com os custos e despesas
envolvidos no exercício da atividade organizacional, porém, nem todas utilizam o setor de
controladoria de forma direta, a qual pode ser uma grande aliada dos gestores na redução de custos
e despesas. Mas mesmo não tendo o setor de controladoria, elas fazem uso de parte das ferramentas
da controladoria que geram as informações que orientam os gestores no processo de tomada de
decisão. Como sugestão, as empresas pesquisadas poderiam explorar mais as ferramentas da
controladoria, usar em seu favor os benefícios das informações geradas por este setor, pois ela é uma
importante aliada no processo de gestão e consequentemente, auxilia na redução dos custos e
despesas, indo ao encontro do objetivo do lucro e garantindo a continuidade da empresa.

REFERÊNCIAS

ANTHONY, Robert Newton; GOVINDARAJAN, Vijay. Sistemas de controle gerencial. São Paulo: Atlas,
2002.

BEUREN, Ilse Maria. O papel da Controladoria no processo de gestão. In: SCHIMIDT, Paulo (Org.).
Controladoria: agregando valor para a empresa. Porto Alegre: Bookmann, 2002. p. 15-38

CATELLI, Armando. Controladoria: Uma abordagem da gestão econômica – GECON. São Paulo: Atlas,
2006.

KOLIVER, Olívio. A Contabilidade e a Controladoria, Tema Atual e de Alta Relevância Para a Profissão
Contábil. Rio Grande do Sul: Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, 2005.

LEONE, George S. Guerra; LEONE, Rodrigo José Guerra. Os 12 Mandamentos da Gestão de Custos. Rio
de Janeiro: FGV, 2007.

MARION, José Carlos; (coord.) et al. Contabilidade e Controladoria em agribusiness. São Paulo:
Atlas;1996.

MARTIN, Nilton Cano. Controladoria. Trabalho In: Revista de Contabilidade – CRC – SP, março-
abril/2000.

157
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

MARTIN, Nilton Cano. Da Contabilidade à Controladoria: A Evolução Necessária. Revista Contabilidade


e Finanças. n.28, p. 7-28. jan./abr. 2002.

MARTINS, Orleans Silva. O planejamento em micro e pequenas empresas comerciais: Planejamento


através da controladoria, 2005, 46 Pag., Ciências Contábeis, Universidade Estadual da Paraíba,
Campina Grande, PB. Disponível em: <

http://br.monografias.com/trabalhos/planejamento-empresas/planejamento-empresas.shtml >.

2009. Acesso em: 15 mai. 2014.

McNAIR, Carol. Jean. Maximizando o Lucro Final, São Paulo: Makron Books, 2000.

MEIRELLES JUNIOR, Júlio Candido de. A controladoria como estratégia empresarial.

Disponível

em: http://machadosobrinho.com.br/revista_online/publicacao/artigos/Artigo05REMS.pdf. Acesso


em 13 de ago. 2014.

MOSIMANN, Clara Pellegrinello; FISCHER, Silvio. Controladoria: Seu papel na administração de


empresas. São Paulo: Atlas, 1999.

MOURA, Verônica de Miglio; BEUREN, Ilse Maria O suporte informacional da controladoria para o
processo decisório da distribuição física de produtos. Rev. contabilidade e Finanças. vol.14 n. 31. São
Paulo Jan./Apr. 2003.

NAKAGAWA Masayuki. Introdução à controladoria: conceitos, sistemas e implantação. Série GECON.


São Paulo: Atlas. 2009.

NASCIMENTO, Auster Moreira; REGINATO, Luciane. Controladoria: um enfoque na eficácia


organizacional. São Paulo: Atlas, 2007.

SÁ, Antônio Lopes. Controladoria e Contabilidade Aplicada à Administração. São Paulo: Juruá, 2009.

SCALON, Tatiane Aparecida Costa. A Importância da Controladoria na Redução de Custos de Uma


Empresa. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informese/ artigos/a-importancia-da
controladoria-na-reducao-de-custos-de-uma-empresa/63855/ >. 30 de maio 2012. Acesso em: 11 ago.
2014.

SCHIER, Carlos Ubiratan da Costa. Gestão de Custos. Curitiba: IBPEX, 2006.

158
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 9

SIMULAÇÃO DE CUSTOS NO USO DE FONTES


ALTERNATIVAS DE ENERGIA NAS INDÚSTRIAS
CERAMISTAS DE MANACAPURU E IRANDUBA – AM
DOI: 10.37423/200300487

Fabiane Fernandes Pinto - fabianefernandis@gmail.com

Mariomar de Sales Lima - mariomar.lima@ig.com.br

Luis Roberto Coelho Nascimento - saint_louis@uol.com.b

Sandro Dimy Barbosa Bitar - sandrobitar@gmail.com

Resumo: As indústrias de cerâmica do Estado do Amazonas possuem grande


representatividade na economia local e a falta de material para a geração de queima tem se
apresentado como um dos maiores entraves desse setor. Por outro lado, com o advento do
gasoduto Coari-Manaus essa limitação parece tender a uma solução definitiva. No entanto,
os empresários desse setor ainda se mostram receosos quanto ao uso dessa nova tecnologia,
em virtude dos prováveis investimentos que terão de ser realizados na mudança da matriz
energética. Nesse sentido, a Embrapa tem realizado experimentos de plantios no uso de
espécies nativas de Acacia mangium para a produção de lenha a esse setor. Dessa forma, o
presente estudo buscou realizar uma simulação de custos no uso do Gás Natural e da Lenha
de reflorestamento de acácia com vistas a identificar, do ponto de vista dos custos, a
alternativa de energia que se mostra mais atrativa para o empresário. Para tanto, tomou-se
como análise as etapas que envolvem o processo produtivo na fabricação de tijolos,
identificando os custos e despesas diretas e indiretas e os custos e despesas variáveis e fixos,
o que possibilitou, posteriormente, realizar uma análise do nível ótimo de produção no uso
dessas duas matrizes energéticas.
159
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Dos resultados obtidos verificou-se que, a opção pelo reflorestamento com a Acácia Mangium vem a
ser uma alternativa vantajosa aos empresários que vislumbram o curto prazo como garantia de
retorno do investimento, ao contrario do Gás Natural que se apresenta como tecnologia vantajosa
apenas no longo prazo.

Palavras-Chaves: Indústria de Cerâmica, Custos, Geração de Energia.

160
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A indústria ceramista do Estado do Amazonas é um segmento muito importante para a economia local.
A produção de telhas, cerâmica de revestimento e tijolos é completamente absorvida pela indústria
da construção civil do próprio Estado. Indubitavelmente, dessa demanda, os resultados econômicos
se multiplicam por meio da geração de mais empregos, salários e lucros empresariais, além do
emprego de novas tecnologias.
As estatísticas da ACERAM (2012) acusam que os municípios de Manacapuru e Iranduba comportam
o maior número de olarias de todo o Estado do Amazonas, ou seja, cerca de 35 empresas exploram
efetivamente o segmento ceramista. Naturalmente, com o crescimento da indústria da construção
civil, em Manaus, esse setor vem tentando responder a demanda com maior escala de produção, de
modo que exigirá a ampliação da estrutura produtiva existente, bem como a queima de maior
quantidade de madeira para a geração de energia.
A geração de energia a partir da queima da madeira extraída da floresta tem gerado muita discussão
entre os ambientalistas, posto que, conforme estimativa da Embrapa, os municípios de Manacapuru
e Iranduba juntos conformam um desmatamento expressivo, de 18% em comparação ao seu próprio
estoque de reservas florestais.
Apesar da implantação do gasoduto Coari-Manaus que possibilitará a entrega do gás nas proximidades
das olarias, no entanto, não se vê muito entusiasmo por parte dos ceramistas em modificar a
tecnologia de produção capaz de comportar o uso do gás. Os empresários parecem se mostrarem
propensos em manter uma tecnologia à base da lenha, uma vez que, não precisariam realizar novos
investimentos para modificar o processo de produção que as capacitam em utilizar o gás natural.
O cálculo econômico dos empresários ceramistas parece lhes indicar que produzir cerâmica tendo
como fonte de energia a queima de madeira nativa é mais econômico, uma vez que os custos de
produção parecem ser reduzidos, o que não afetariam as receitas empresariais. De fato, parece que o
baixo preço da lenha oferecido às indústrias ceramistas, vem a ser um dos fatores que contribui para
a sua contínua utilização na queima de madeira na produção cerâmica, além é claro, da resistência
dos ceramistas frente à possibilidade de envolver-se em custos altos por conta de mudanças
tecnológicas de fontes alternativas de energia. Essa desconfiança só retardará o uso do gás natural e
prolongará a queima de madeira sem qualquer controle ambiental.
O que pode inferir, de imediato, é que a disponibilidade da lenha, a incerteza quanto aos custos
envolvidos na aquisição do gás natural do gasoduto Coari-Manaus, somados aos esforços das

161
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

pesquisas experimentais da Embrapa, cultivando espécies de lenha para transferir o cultivo para
domínio dos ceramistas, não há dúvida que reforça a resistência do empresariado contra o uso do gás.
Além disso, a falta de informação mais aprofundada sobre os benefícios econômicos e ambientais no
uso do gás natural candidata-se como um dos fatores que inibe os empresários a manifestarem desejo
de mudar sua matriz energética. Para mitigar esse problema pode-se recorrer a estudos de simulação
que possibilitem mostrar as vantagens e desvantagens de fontes de energia alternativas. Assim sendo,
este estudo realizou uma simulação de custos com o uso da lenha e do gás natural, na tentativa de
mostrar quais das matrizes se revelam mais atrativa para a indústria ceramista. No plano específico
realizou-se: a) Uma simulação dos custos de produção a partir do uso da tecnologia da lenha
reflorestada, bem como do gás natural, tomando como estudo uma empresa de médio porte; b) Uma
análise nos níveis de ponto ótimo no uso das duas matrizes energéticas.

Diante do exposto, a realização deste estudo poderá contribuir com elementos para fomentar a
discussão sobre a temática abordada, bem como fornecendo subsídios para que as organizações
patronais e ambientais possam obter parâmetros mais confiáveis para formular opiniões sobre a
governança no trato da produção sustentável destinado a produção do setor ceramista. Para tanto se
estruturou este artigo em cinco seções incluindo esta de caráter introdutório. A segunda seção
apresenta o marco conceitual com os fundamentos que auxiliam a compreensão do estudo. A terceira
seção contém o método de análise, que traz a estrutura analítica da simulação de custos. A quarta
seção trás a descrição dos resultados e suas devidas análises e por fim, tem-se a conclusão, seguida
das referências bibliográficas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção contém o suporte teórico do estudo estando compostas por quatro enfoques principais
quais sejam: o mercado de cerâmica vermelha no Amazonas, o uso de Fontes alternativas de energia
nas indústrias de cerâmica do Amazonas, economia e os custos de produção e, por último, composição
dos custos de produção.

2.1 O MERCADO DE CERÂMICA VERMELHA NO AMAZONAS

No Amazonas as indústrias de cerâmica vermelha estão concentradas principalmente nos municípios


de Manacapuru e Iranduba, com 32 empresas representando 90% da produção de cerâmica vermelha
do Estado e gerando aproximadamente 4.000 empregos diretos e 12.000 indiretos (ACERAM, 2012),

162
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

que de acordo com D’Antona (2007) são de origem local, sendo o Polo de Cacau-Pireira a área de
maior concentração dessa mão-de-obra.

De acordo com o Núcleo Estadual de Arranjos Produtivos Locais no Amazonas – NEAPL/AM (2008),
essa produção está concentrada em tijolos de oito furos (tijolo tradicional) tendo como principal
mercado consumidor a capital Manaus e alguns poucos municípios do entorno de Manacapuru e
Iranduba.

Apesar de muitas empresas concentrarem sua produção em tijolos convencional, nota-se que algumas
já possuem diversificação em sua produção, produzindo blocos estruturais, telhas e pisos cerâmicos.

De acordo com o “Diagnóstico do Polo Oleiro-Cerâmico”, elaborado pelo SEBRAE no ano de 2009, o
mercado de cerâmica vermelha do Amazonas é considerado equilibrado, em que a oferta atende as
demandas de mercado, não havendo com isso, a formação de estoques nas fábricas. Essa condição,
possivelmente, demonstra que muitas empresas podem estar operando abaixo da capacidade
produtiva e com capital de giro limitado.

2.2 O USO DE FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA NAS INDÚSTRIAS DE CERÂMICA DO


AMAZONAS

O setor ceramista, de um modo geral, vem buscando alternativas para a geração de queima nos fornos
das olarias. Essa preocupação decorrente principalmente da pressão ambiental, pelo uso de lenha das
florestas nativas, tem levado o setor a experimentar outras fontes de energia de modo a compatibilizar
seus custos de produção com a demanda exigida pelo mercado.

Levando isso em conta, algumas empresas do Polo Cerâmico do Amazonas já experimentaram o


caroço do açaí, o pó de serragem, o capim elefante e resíduos de madeira, sendo este último o mais
consumido pela maior parte das empresas, e para algumas representam o único insumo energético
(LIMA, 2011).

Apesar da predominância dos resíduos de madeira nos fornos das olarias, os empresários parecem se
mostrarem insatisfeitos quanto à uniformidade do poder de queima gerado pelo insumo, o qual é
composto de podas urbanas e madeira destinada a aterros sanitários e, por restos de madeira
oriundos principalmente da construção civil e do Polo Industrial de Manaus.

Do ponto de vista ambiental, a geração de energia por meio da biomassa, provinda de


reflorestamento, tem se mostrado uma alternativa para as indústrias que consomem lenha ou carvão,

163
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

pois possuem o potencial de gerar energia sem a liberação líquida de CO 2, que contribui para o
chamado efeito estufa, e por não poluir as fontes fósseis, além disso, por ser um recurso renovável,
pode ter uma produção sustentável (BARROS, 2006).

Levando isso em conta, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vinculada ao


Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento tem realizado pesquisas em torno desta
problemática como forma de identificar e propor alternativas de cultivo que possam atender a esta
necessidade e gerar ganhos de produtividade para as empresas de forma sustentável.

Nesse contexto, projetos de plantio utilizando espécies nativas exóticas têm indicado que é possível
produzir lenha de forma sustentável, a partir de plantios homogêneos. E, dentre os experimentos
realizados, as espécies de Acácia Mangium se mostraram com o melhor desempenho na produção de
biomassa e teor de umidade, fatores considerados por Barros (2006) como satisfatórios na produção
de lenha e carvão.

Apesar disso, o empresário visa atender a falta de material de queima num curto espaço de tempo, e
para muitos a espera pelo período de corte, cerca de três anos, da biomassa pode representar um
custo de oportunidade em detrimento de outra fonte de energia.

Nesse sentido, os empresários ceramistas buscam alternativas que possam mitigar essas desvantagens
e proporcionar aumento na produtividade e melhoria na qualidade do produto. Com isso, o gás natural
de Coari-Urucu tem se apresentado como uma alternativa vantajosa para solucionar tal problema.

Levando isso em conta, Mannarino (2005) afirma que o gás natural se torna favorável as indústrias de
cerâmica em virtude do seu poder de combustão limpa, que sendo isenta de agentes poluidores,
torna-se “um combustível ideal para processos que exigem a queima em contato direto com o produto
final”.

Por outro lado, o poder de combustão dessa tecnologia favorece os processos de queima e de
secagem, pois possibilita um maior controle das temperaturas nos fornos em comparação aos outros
insumos energéticos (SCHWOB, 2007).

E, como o processo de queima é apontado pelos empresários como uma das etapas mais importantes
no processo, pois dão aos produtos as características essenciais como resistência e cor que influenciam
diretamente na comercialização do produto, utilizar esse combustível representam incrementos de
qualidade ao produto e ganhos de competitividade no mercado.

164
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.3 ECONOMIA E OS CUSTOS DE PRODUÇÃO

A produção de qualquer bem requer a realização de escolhas dentre as alternativas que melhor
maximize a produção da unidade econômica, a partir de um dado custo ao adquirir e combinar os
fatores de produção. Essa relação é estudada por meio da função produção, na qual as quantidades
de bens ou serviços produzidos são obtidas a partir de um custo mínimo de produção (LEFTWICH,
1997).

A função de produção para qualquer bem é simplesmente a relação entre a produção resultante da
combinação tecnológica de vários insumos empregados em um determinado período de tempo
(CUNHA, 2004; MANSFIELD, 1980), o que possibilita ao empresário selecionar a melhor tecnologia
para que se produza a maior quantidade de bens ou serviços pelo menor custo de produção. Ora, se
a firma tem como problema a maximização de lucro, certamente, o cálculo econômico exige que ela
minimize o custo de produzir uma dada quantidade de produto ou maximizar o produto sujeito a um
dado nível de custo.

A empresa terá que determinar, dentre várias combinações de insumos, a que lhe possibilitar obter o
ponto ótimo da produção com menor custo. Como maneira de exemplo, se o preço do fator trabalho
for “w” por unidade contratada e o preço do capital for “r” por unidade, então as combinações de
insumos que podem ser obtidas por um gasto total de $C devem satisfazer uma equação de custo, tal
como (CUNHA, 2004; MANSFIELD, 1980; PINDYCK, 1994):

w L+ r K= C

Em que L é a quantidade de trabalho empregada e K é a quantidade de capital empregado. Assim,


dados w, r e C, tem-se a seguinte expressão algébrica:

K=C – wL

r r

Decorre que as várias combinações de capital e trabalho que podem ser compradas, dados w, r e c,
podem, portanto, ser representada por uma reta como ilustra a Figura 04. O trabalho é tratado no
eixo horizontal e o capital, no eixo vertical. Essa linha é chamada na teoria econômica de curva de
isocusto, que exibe todas as possíveis combinações de capital (K) e trabalho (L), que tem o mesmo
custo, com inclinação igual a – w/r (CUNHA, 2004; MANSFIELD, 1980; PINDYCK, 1994).

165
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 01- Curva de isocusto


Fonte: Mansfield (1980)

Dispondo da linha de isocusto e da isoquanta pode-se determinar a maximização do produto para


determinado custo. Para efeito de otimização condicionada, basta determinar o ponto de tangencia
entre a isocusto e a isoquanta. A Figura 05 ilustra esse ponto de tangência que é o próprio equilíbrio.
No ponto E, a combinação de insumos de custo mínimo deve ocorrer nesse ponto, dado que a
inclinação da curva da isocusto é exatamente igual à inclinação da isoquanta, ou seja:

PMgw = w , de forma que PMgw = PMgr .


w r w r

Onde PMgw , PMgr são os preços dos produtos marginais dos insumos K e L; w e r são os preços dos
insumos K e L, respectivamente.

Figura 2 – Maximização do produto para um dado custo.


Fonte: Cunha, 2004.

A estrutura de isocusto-isoquanta é um instrumental valioso para o encaminhamento de muitos


problemas envolvendo o papel da transferência de tecnologia ou mudança tecnológica. As empresas

166
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ceramistas contam atualmente com duas opções tecnológicas de geração de energia para a queima
da cerâmica. A ideia é definir, a partir de parâmetros empíricos, a tecnologia mais eficiente do ponto
de vista dos custos. A empresa ao optar por uma tecnologia de produção, por um ou mais insumos,
não estará incorrendo em dispêndios monetários, mas também em custos de oportunidade.

Em muitas situações, os economistas estão interessados nos custos sociais da produção, ou seja, os
custos sociais quando seus recursos são empregados para produzir um determinado produto em
detrimento de outro produto. Depois que algum insumo é despendido na produção, por exemplo,
tijolos, este pode não ser usado para produzir um piso cerâmico. Para um economista, o custo de
produzir certo produto como o de telhas é o custo de outros produtos (tijolos) que poderiam ter sido
alocados de modo diferente. Este custo é o chamado custo de oportunidade.

2.4 COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

Além dos custos de oportunidade em uma estrutura de produção verificam-se na literatura diversos
autores que ressaltam a análise dos custos de produção como sendo essenciais na determinação da
produção econômica. Nesse sentido Castro et al(2009) analisa os custos de produção como um dos
fatores determinantes na escolha da tecnologia, a ser utilizada no processo produtivo, em que a
melhor combinação dos fatores possibilita a minimização dos custos de produção.

Partindo dessa concepção, Cunha (2004) enfatiza que os custos possuem uma finalidade de
planejamento da atividade econômica, com característica bem dinâmica, podendo ser “alterado,
modificado, refeito e avaliado a todo instante”. No entanto, para que se compreenda sua finalidade é
necessário assimilar, como princípios básicos, os conceitos de custos em termos econômicos. Desse
modo, para a realização desse estudo, será utilizado o conceito proposto por Castro et al (2009), que
considera os custos econômicos como explícitos e implícitos:

a) Os custos explícitos referem-se ao desembolso efetivamente realizado, com a compra de


insumos, o pagamento de mão-de-obra, os encargos e as despesas gerais.

b) Os custos implícitos dizem respeito àqueles para os quais não ocorrem desembolsos
efetivos, como a depreciação de máquinas, equipamentos e instalações.

De forma complementar, Carneiro et al (2006) ressalta a importância da classificação dos custos na


elaboração de informações gerenciais para a base do processo de decisão nas empresas. Neste, os
custos são classificados como diretos e indiretos e como fixos e variáveis. Os custos diretos “são
aqueles identificados e associados aos produtos e serviços”. Esses custos referem-se às despesas

167
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

realizadas diretamente no processo industrial do produto. Já os custos indiretos “são aqueles cuja
associação direta e objetiva aos produtos e serviços não é possível”, mas dão a sustentação ao
funcionamento da atividade produtiva.

Os custos fixos, por sua vez, são definidos como o valor que não sofre nenhuma influência do nível da
atividade da empresa, enquanto que os custos variáveis, ao contrário dos fixos, variam de acordo com
o nível da atividade econômica. (CARNEIRO et al 2006). Dessa forma, os custos fixos são os fatores de
produção cuja quantidade utilizada num determinado período de tempo é mantida inalterada, já os
custos variáveis podem ser aumentados ou diminuídos de acordo com a quantidade empregada
durante o processo produtivo.

No que dizem respeito ao tempo estabelecido, as análises são feitas no curto prazo e no longo prazo.
No primeiro, as quantidades dos insumos variam parcialmente, sendo que um ou mais insumos
permanecem inalterados, ou seja, quando um dos fatores é considerado fixo e outros fatores variáveis.
Na análise de longo prazo existe um tempo suficientemente grande que permite variar todos os
fatores empregados no sistema produtivo, sendo possível para a firma variar o tamanho da capacidade
instalada de produção.

Nesse sentido, a compreensão entre produção e custos, permite realizar uma análise acerca da
formação dos preços dos produtos, bem como da escolha quanto ao uso da tecnologia
(VASCONCELLOS, 2004). A melhor forma de combinação dos recursos existentes influenciará na
formação do preço final dos produtos ou serviços e, ainda, na receita do empresariado. Assim, uma
análise de curto e de longo prazo é essencial para que a empresa possa maximizar seus lucros.

3 METODOLOGIA

Conforme mencionado anteriormente, o estudo foi realizado no Polo da Indústria Cerâmica do Estado
do Amazonas, que comportam atualmente trinca e cinco empresas. As empresas foram selecionadas
de acordo com a experiência no uso da Acácia Mangium, uma vez que o estudo faz uma análise
comparativa no uso dessa biomassa e do gás natural.

Sendo assim, foram elaboradas quatro tabelas com dados consolidados referentes aos custos fixos e
variáveis e os custos diretos e indiretos envolvidos nas etapas do processo de produção de tijolos, que
compreende: Extração da matéria-prima, Preparação da massa cerâmica, Moldagem, Secagem,
Queima e Expedição.

168
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas e observações in loco em duas empresas de
cerâmica de porte médio, situadas na Estrada Manoel Urbano, no município de Iranduba – AM, os
nomes das empresas não foram identificados a pedido dos próprios empresários.

Para se verificar o ponto ótimo de consumo da lenha elaborou-se um modelo tomando como base o
princípio do Lote Econômico, que de acordo com Henrique; Villar (2009) corresponde a uma decisão
por parte das empresas em comprar ou produzir algumas partes de seus produtos, levando em
consideração a minimização dos custos. Nessa escolha, a empresa ao se decidir por comprar, utilizará
o Lote Econômico de Compras, e ao se decidir em produzir, opta pelo Lote Econômico de Fabricação.

Dessa forma, como o presente estudo trata dos custos no uso de duas matrizes energéticas, sendo
uma delas a lenha Acácia Mangium provinda do Reflorestamento, buscou-se realizar uma análise do
ponto de vista dos custos para verificar se é vantajoso para o empresário produzir essa biomassa ou
adquiri-la no mercado. Sendo assim, considerou-se apenas o Lote Econômico de Fabricação (LEF) e as
seguintes hipóteses para testar o modelo:

1- Nesse modelo interpreta-se a produção de lenha Acácia Mangium como sendo o produto
principal. A ideia é pensar que a acácia é o principal produto, e que deverá ser escoado na etapa
seguinte, que é a produção de tijolos. Assim o produtor é ao mesmo tempo fabricante e consumidor.
Nesse modelo agrega-se o custo de fabricação e o custo de “setup” (postos de trabalho que
participarão no transporte desse pedido, equipamentos que serão utilizados etc.), que é denotado por
Cs. Entende-se que o produto já estará disponível, mas precisará ser deslocado para área de produção,
o que corresponde à segunda etapa do processo.

2- O lote deve ser fabricado para atender a uma demanda igual a D m3 de acácia;

3- O tamanho de cada lote, denotado por QL (em m3), é tal que QL  D;

4- O número de lotes fabricados, que será denotado por n, será estimado por D/Q L;

5- O custo unitário de fabricação (R$/m3) será identificado por C f.

6- Considerou-se uma “penalização” sobre o valor monetário utilizado na produção. Se o valor


estivesse investido no mercado financeiro retornaria uma rentabilidade de i% no período considerado.
De outra forma, se o fabricante não possui o capital para produção deveria adquiri-lo no mercado a
uma taxa de i% no período por esse valor. Dessa forma i será a porcentagem paga no período devido
ao capital utilizado para fabricação de 1 m 3. O valor assumido da taxa é de 6% ao ano, ou 0,5% ao mês,
compatível com a taxa da poupança.

169
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

7- Assumiu-se que para o custo de reposição de preparação do pedido (abastecimento do


estoque para produção dos tijolos) são necessários 6h de trabalho envolvendo 3 homens. Além desse,
foi considerado o custo por hora do transporte utilizado nessa operação.

Levando essas hipóteses em consideração, o custo médio (variável) associado à quantidade Q L de


acácia foi estimada pela seguinte função:

D Q
C (Q L )  C s  L iC f
QL 2

Com isso, o objetivo desse modelo é a minimização de C, ou seja, encontrar o valor de QL que minimiza
C. Assim, a primeira parcela avalia o custo do pedido e a segunda parcela o custo de fabricação, sendo
QL/2 o estoque médio do período.

No quadro abaixo se apresenta os resultados agregados com os resultados obtidos com o modelo.

Quadro 01- Resultado do Modelo Matemático para tamanho do Lote Econômico de Acácia Mangium.
Discriminação Valor Explicação
Demanda de Acácia (15000 6.977 Considerando 0,8 st (conforme coeficiente técnico da
milheiros) m3 EMBRAPA).
Número de Lotes por mês Nesse caso deverá haver reposição de estoque para
8
(n) produção imediata, de 4 em 4 dias.
Quantidade ótima encontrada com o modelo. Cada lote
Tamanho do Lote (QL) 69,82m3
deverá conter 69,82 m3 de Acácia.
Esse é o valor unitário gasto para produzir 1 m3 com base
Custo Unitário da Produção R$ no custo obtido sobre o valor de QL. Assim para a
(R$/m3) 301,69 produção anual de milheiros serão gastos R$ 301,69 para
cada m3 produzido.
Milheiro 15.000 Demanda anual que deu origem à demanda de Acácia.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa
Depois de feita às devidas análises com o modelo do LEF buscou-se verificar o ponto ótimo de
produção dos tijolos quando se usa o gás natural e a lenha acácia. Para tanto, recorreu-se ao conceito
de Ponto de Nivelamento que possibilita identificar a partir de quantas unidades produzidas o

170
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

investimento realizado passa a ter retorno ao empresário na forma de lucros, ou seja, é ponto em que
a Receita Total e o Custo Total se igualam, sinalizando o volume de produção mínima capaz de gerar
o lucro empresarial (CUNHA 2004, p. 146).

Partindo desse princípio, foram extraídas as informações das Tabelas 07, que reúnem dados quanto
aos custos variáveis e da Tabela 08 quanto aos custos fixos, levando-se em conta o uso da lenha e do
gás natural, de forma a obedecer a seguinte fórmula:

Em que:
q = unidades correspondentes de tijolos ao ponto ótimo de produção;
CF = soma do Custo Fixo total;

PV = preço máximo de comercialização do milheiro dos tijolos no chão de fábrica, igual a


R$150,00;

CVMe = Custo Variável Médio obtido com a divisão do Custo Variável pela quantidade de
15.000 milheiros de tijolos.

Por fim, foram incorporados às respectivas análises quanto ao valor computado para o
mínimo custo com a lenha de reflorestamento e, com os custos identificados quando se usa o insumo
gás natural para a produção dos tijolos.

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Na Tabela 01 que trata dos Custos e despesas diretos da indústria ceramista observa-se que,
comparativamente, os custos de produção no uso da lenha acácia e do gás natural só serão
diferenciados na etapa que envolve o processo de queima dos produtos, no caso tijolos. Essa diferença
em valores monetários faz com que a lenha acácia obtenha uma vantagem de custos de R$
1.137.332,47 em relação ao gás natural.

171
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 01- Custos e despesas diretos da indústria Ceramista.


Lenha do Reflorestamento Valor (R$) Gás Natural Valor (R$)

1-Extração da argila R$ 318.200,00 1-Extração da argila R$318.200,00


2-Transformação 2- Transformação
a)Preparação R$39.300,00 a)Preparação R$39.300,00
b) Moldagem R$331.080,00 b) Moldagem R$331.080,00
c) Secagem R$ 76.080,00 c) Secagem R$ 76.080,00

d) Queima R$298.040,00 d) Queima R$ 1.435.372,47


e) Expedição (no pátio da e) Expedição (no pátio da
R$ 70.000,00 R$ 70.000,00
empresa) empresa)
Total com Transformação R$1.132.700,00 Total com Transformação R$2.270.032,47

(/) Total da produção ano 15.000milheiros (/) Total da produção ano 15000
(=) Custo Unitário direto R$ 75,5133 (=) Custo Unitário direto de
R$ 151,3354
de produção do milheiro produção do milheiro

Fonte: Adaptação dos autores. Retirado do Diagnostico socioeconômico do setor ceramista – realizado
pelo CPRM- Serviço Geológico do Brasil.

Tal diferença tem sua origem na quantidade necessária para a geração de energia, que com o uso do
gás natural serão demandados por volta de 35,71m3 para queimar uma tonelada da matéria-prima
argila, enquanto que a lenha acácia realiza o mesmo processo com 1,72 m3, isto considerando as
condições naturais da argila e a capacidade de consumo dos fornos, que submetidos a
acompanhamentos técnicos de manuseio e operação esse consumo se reduz a 1m3 por milheiro de
lenha.

Esse resultado evidencia o alto poder calorífico que a biomassa possui, e que de acordo com Barros
(2006), proporciona uma queima mais uniforme e de maior qualidade se comparado com os resíduos
de madeira, pois se tratam de uma espécie com baixo poder de umidade e de grande produção de
biomassa, características consideradas essenciais na produção de lenha e carvão. Além disso, o custo
com a aquisição da biomassa é considerado baixo, havendo apenas as despesas com mão-de-obra e
transporte da lenha para os fornos, já que nesse primeiro momento não são considerados os custos
de produção com essa energia, logo, a curto prazo, o gás natural apresenta-se desvantajoso do ponto
de vista desses custos.

Somando a isso, a lenha acácia colabora para a geração de dezesseis postos de trabalho a mais que
com o uso do gás natural, o que contribui para o aumento na oportunidade de emprego a população
local, uma vez que a maioria da mão-de-obra empregada é do próprio município onde as empresas

172
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

estão instaladas. Tal fato é ilustrado na Tabela 02, na qual se observa que com a lenha os custos com
mão-de-obra são superiores ao do gás natural, notoriamente nos custos e despesas diretas e custos e
despesas fixas.
Tabela 02: Custos e Despesas com mão-de-obra

Mão-de-obra Acácia Mangium Mão-de-obra Gás Natural


Item Qt. Valor R$ Item Qt. Valor R$
Custos e Despesas R$363.700, Custos e Despesas R$236.020,0
41 25
Diretas 00 Diretas 0
Custos e Despesas R$15.360,0 Custos e Despesas
2 2 R$15.360,00
Indiretas 0 Indiretas
Custos e Despesas R$15.3600, Custos e Despesas
2 2 R$15.360,00
Variáveis 00 Variáveis
R$394.420, R$266.740,0
Custos e Despesas Fixas 45 Custos e Despesas Fixas 29
00 0
Fonte: Elaboração dos autores

No entanto, do ponto de vista do empresário, a opção pelo uso da lenha representa um maior
dispêndio com os custos operacionais, de aproximadamente 68% que com a opção pelo gás natural.
Essa situação decorre da maior necessidade de funcionários para operar os fornos e para manter os
estoques, enquanto que com o gás seriam necessários apenas dois funcionários para realizar o
controle de queima, pois seu consumo é imediato não havendo a necessidade de estoque e de muitos
operadores para manusear os fornos.

Relativamente aos custos e despesas indiretos anuais (Tabela 02) indicam que o uso do gás natural
reduz os custos com manutenção, neste caso no valor de R$250.000,00. Tal vantagem ocorre por esse
combustível se tratar de uma energia mais limpa que possui um baixo nível de emissões de partículas
e gases e, com isto, possibilita obter produtos finais de maior qualidade a um menor nível de rejeitos,
o que poderia compensar o aumento dos custos de fabricação com o uso deste combustível.

173
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 03 – Custos e Despesas Indiretas na Indústria de Cerâmica

Lenha do Reflorestamento Gás Natural


Custos e Despesas Indiretas Valor R$ Custos e Despesas Indiretas Valor R$
Custo da mão-de-obra Custo da mão-de-obra R$15.360,0
R$15.360,00
indireta na fábrica indireta na fábrica 0
Despesa com aluguel do Despesa com aluguel do R$20.000,0
R$20.000,00
prédio da fábrica prédio da fábrica 0
Despesas fixas de Despesas fixas de R$
R$10.000,00
comercialização comercialização 10.000,00
Despesas administrativas Despesas administrativas R$
R$ 70.000,00
fixas fixas 70.000,00
R$250.000,0 não
Despesa com manutenção Despesa com manutenção
0 necessita
R$ R$
Total Total
365.360,00 115.360,00
15000 15000
(/) tijolos fabricados no ano (/) tijolos fabricados no ano
milheiros milheiros
(=) Custo unitário indireto R$ 24,36 (=) Custo unitário indireto R$ 7,69
R$151,3354
(+) Custo unitário direto R$75,5133 (+) Custo unitário direto
9
(=) Custo unitário total do (=) Custo unitário total do
R$ 99,87 R$ 159,03
milheiro de tijolos milheiro de tijolos
Fonte: Adaptação do autor do “Diagnóstico socioeconômico do setor ceramista”- realizado pelo
CPRM- Serviço Geológico do Brasil.

Isto posto, confere as vantagens do gás natural observada pela ACERAM (2012), que visualiza nesta
alternativa de energia um combustível mais limpo o qual, além de proporcionar grande quantidade de
energia na geração de queima, contribui para a limpeza na fábrica, gerando menores custos de
manutenção, porque reduz a corrosão e não causa incrustações nos equipamentos, prolongando sua
vida útil. Além disso, reduz problemas com poluição e controle do meio ambiente evitando gastos com
sistemas antipoluentes e com tratamento de efluentes.

174
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Neste prisma, o uso da lenha acácia também contribui para a redução dos impactos ao meio ambiente
com a produção de biomassa que possui um teor de carbono fixo superior a 90% e teor de cinza de
0,16, para uma produção de biomassa de 70-105 t/ha, o que colabora para a redução de poluentes
aéreos (AZEVEDO et al. 2002). Logo, do ponto de vista ambiental as duas tecnologias tornam-se
vantajosas, cabendo ao empresário à escolha pela alternativa de energia que lhe seja mais atrativa,
uma vez que ambas contribuem para a preservação do meio ambiente. Por outro lado, o total dos
custos e despesas indiretos aponta que o gás natural seria a melhor alternativa, pois contribui com R$
7,69 do total desses custos por milheiro/ano fabricados. Já com a acácia esse custo se eleva para
R$24,36.

No que se refere aos custos e despesas variáveis (Tabela 04) observa-se que os gastos com a extração
da argila têm forte influência na composição dos custos da biomassa. Em razão disso, o consumo com
o gás natural é que possui maior representatividade na composição desses custos com valor de R$
1.717.572,47.

Tabela 04- Custos e despesas variáveis da indústria de cerâmica vermelha – AM.

Lenha do Reflorestamento Gás Natural


Custos e Custos e
Despesas Und Valor (R$) Despesas Und. Valor (R$)
Variáveis Variáveis
a)matéria-prima 33.000 a)matéria-
R$ 33.000
argila tonelad prima argila R$ 318.200,00
318.200,00 toneladas
as
1.071.300 R$1.384.012,4
6.977m R$
b)insumo lenha b)insumo gás m³ 7
³ 28.040,00

c)mão-de-obra R$15.360,0 c)mão-de-obra


2 2 R$15.360,00
direta 0 direta
R$ R$
TOTAL TOTAL
361.600,00 1.717.572,47
Fonte: Adaptação do autor do “Diagnóstico socioeconômico do setor ceramista”- realizado pelo
CPRM- Serviço Geológico do Brasil.

175
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tratando-se dos custos e despesas fixas (Tabela 05), evidencia que, em virtude da maior necessidade
de mão-de-obra para o uso da biomassa esses custos se elevam quando comparados com o gás
natural, havendo uma diferença de R$127.680,00.

Tabela 05- Custos e despesas fixas das indústrias ceramistas – AM.


Lenha do Reflorestamento Gás Natural
Custos e Despesas Unid Custos e Despesas Unid
Valor R$ Valor R$
Fixas . Fixas .
Custo da mão-de- R$394.420,0 Custo da mão-de-
42 R$ 266.740,00
obra 0 obra 29
Despesa com - Despesa com
aluguel do prédio R$20.000,00 aluguel do prédio - R$ 20.000,00
da fábrica da fábrica
Despesas fixas com - Despesas fixas com
a comercialização R$10.000,00 a comercialização - R$ 10.000,00
dos produtos dos produtos
Despesas - Despesas
administrativas R$70.000,00 administrativas - R$ 70.000,00
fixas fixas
R$
TOTAL TOTAL R$ 366.740,00
471.380,00

Fonte: Adaptação do autor do “Diagnóstico socioeconômico do setor ceramista”- realizado pelo


CPRM- Serviço Geológico do Brasil.

Dessa forma, após a análise dos custos quanto às alternativas de insumo, Gás Natural e Lenha Acácia
Mangium, na matriz energética das indústrias de cerâmica, verifica-se que as vantagens quanto ao uso
do gás natural estão inseridas na redução dos custos fixos com a utilização de um menor número de
mão-de-obra e com os custos indiretos obtidos na redução de gastos na manutenção, o que para o
empresário pode representar uma compensação pelo maior gasto com a aquisição dessa energia em
comparação com a acácia, que possui vantagens nos custos diretos e variáveis, resultado do seu baixo
custo de aquisição.

No entanto, a distribuição do gás natural se dará de forma contínua, sem haver interrupções no seu
fornecimento, o que garante a sustentabilidade econômica dessa energia, pois o gasoduto Coari-

176
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Manaus tem previsão de fornecimento para mais de trinta anos com vistas a atender os mais diversos
setores da economia (HENRIQUE; VILLAR, 2009).

Diante disso, considera-se oportuno analisar até que ponto a opção pelo reflorestamento com a
espécie Acácia Mangium pode se tornar sustentável do ponto de vista econômico ao empresário, ou
seja, se vale à pena assumir os custos de produção dessa biomassa, de modo a maximizar a receita
empresarial a um menor custo possível.

Levando isto em consideração, a filosofia do Lote Econômico de Fabricação, tomando como base para
o cultivo da Acácia Mangium mostrou que, para atender a demanda do mercado de 15.000 milheiros
de tijolos ao ano, representada por Dm3, é necessário à produção de oito lotes por mês de lenha acácia,
que ao ano corresponde a noventa e seis lotes. Isto posto, o empresário ceramista pode se adequar a
variações na demanda de mercado, tendo como princípio essa produção de lotes, de forma a
complementá-la ou não.

Além disso, os gastos com “setup” (postos de trabalho, transporte e equipamentos utilizados) tornam-
se inferiores se comparados à quantidade de vezes em adquirir outro insumo energético, como os
resíduos de madeira e pó de serragem, que o empresário semanalmente busca no mercado. E, como
o cultivo dessa lenha é realizado em áreas próximas da fábrica, o custo com o pedido do lote se reduz
significativamente, apesar de haver a necessidade de reposição do estoque a cada quatro dias, o
consumo da biomassa ocorre de forma imediata.

Somando a isso, o modelo aponta que cada lote deve comportar 69,82m 3 de Acácia, o que
corresponde à quantidade ótima (QL) de produção dessa biomassa para atender a produção de 15.000
milheiros de tijolos/ano e que o empresário na maximização de sua receita, busca alcançá-la a partir
de um custo mínimo de produção. Com isso, o modelo mostrou que o custo unitário para produzir
1m3 anual é de R$301,69 que se comparados ao custo unitário de aquisição do gás natural de R$
1,2919 por m3, o custo de consumo com o uso da lenha torna-se superior ao do gás natural, na ordem
de R$ 638.131,13. Este montante originou-se da diferença no custo da lenha de R$ 2.022.143,60
(resultado da multiplicação do preço do m3 da lenha pela quantidade de m3 necessários para um ano
de produção, igual a 6.702,72 m3) e de aquisição do gás natural de R$ 1.384.012,47, expresso na
Tabela 02.

Contudo, os dados colhidos não são suficientes para mostrar, por meio de uma equação dinâmica, o
ponto de produção ótima dos tijolos quando se usa a lenha e o gás natural, o que se pode recorrer ao
uso do Ponto de Nivelamento para contornar parte desse problema (CUNHA, 2004, 146). Com isso,

177
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

tomando como base os dados dos custos de produção de 15.000 milheiros de tijolos anuais cozidos a
base de lenha acácia e de gás natural e tomando como cálculo a fórmula abaixo, obtiveram-se os
seguintes resultados:

O gás natural apresentou uma quantidade ótima de produção de aproximadamente 10milhões de


peças de tijolos, enquanto que a lenha acácia mangium alcança o lucro empresarial a partir de 3.744
mil peças produzidas, representando para o empresário o retorno do investimento mais rápido que
com a opção pelo gás natural. Logo, assumir os custos de produção com o reflorestamento de espécies
de Acácia Mangium torna-se uma opção vantajosa num espaço de curto prazo.

Logo, se o empresário busca no longo prazo o alcance da competitividade e uma posição diferenciada
no mercado, optará pelo uso do gás natural, que terá seus custos reduzidos por conta da economia de
escala. Além disso, apresenta maior uniformidade e controle no poder de queima, gerando maior valor
agregado ao produto. Por outro lado, o empresário ceramista se mostra receoso quanto a mudanças,
notoriamente no que diz respeito à realização de grandes investimentos na empresa, pois com o uso
do Gás Natural haverá a necessidade de novas instalações e adaptações nos fornos, que atualmente
comporta essas indústrias. Indubitavelmente, essas exigências contribuem para o uso da Lenha Acácia
Mangium, pois haverá apenas a mudança da atual matriz energética (resíduos de madeira) para lenha
provinda do reflorestamento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da possibilidade dessas vantagens mercadológicas, o estudo mostrou que os custos no uso do
gás natural, em um primeiro momento, se apresentam onerosos, sendo vantajoso seu uso no longo
prazo. Tal condição foi observada pelo valor do preço de aquisição desse combustível, que comparado
ao preço da lenha Acácia Mangium, torna-se muito superior. Somando a isso, se observou pelo Ponto
de Nivelamento que o lucro empresarial dar-se-á com a produção de unidades menores de tijolos
quando se usa a biomassa, o que poderá influenciar na escolha dessa tecnologia como fonte de energia
num curto prazo.

Logo, para que o gás natural se torne uma opção vantajosa para o empresário no curto prazo, ajustes
quanto ao preço do seu fornecimento deverão ser realizados, de modo a incentivar o uso dessa

178
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

tecnologia e a redução dos custos quanto a sua aquisição. Assim, cabem as instituições responsáveis
pelo setor cerâmico a buscar os incentivos necessários como forma de solucionar esse problema.

De outro modo, o empresário na condição de maximizar sua receita por meio do ponto de produção
ótimo, poderá ainda, recorrer às alternativas de energia, apresentadas no estudo, sob a forma de
insumos complementares, que resulta na melhor combinação dos insumos e não na escolha de um ou
de outro, uma vez que possuem características semelhantes quanto à uniformidade do poder de
queima. Com isso, os empresários ceramistas ampliarão seu leque de oportunidades de material para
a geração de energia e assim, reduzir o entrave do setor quanto a este problema.

Isto posto, fica como proposta para futuros trabalhos que venham a tomar como análise as
combinações de insumos mais vantajosas no trato das alternativas de energia para as indústrias
ceramistas do Polo Cerâmico de Manacapuru e Iranduba.

REFERÊNCIAS

ACERAM- Associação dos Ceramistas do Estado do Amazonas. Entrevista pessoal ao Presidente da


Associação Sr. Frank Lopes, em 15/01/2012.

BARROS, Sâmia Valéria dos Santos. Avaliação da Biomassa de Espécies Exóticas e Nativas como Fonte
Alternativa para a Geração de Energia. Dissertação. Programa de Pós-Graduação do Programa de
Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais da Universidade Federal do Amazonas- UFAM. Manaus-
AM, 2006.

CARNEIRO, Jorge M.T. et al. A importância dos custos na formação do preço, in Formação e
administração de preços. 2ed. Rev.atual. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

CASTRO, Nivalde; PACHECO, Carlos. Análise das Possibilidades de Expansão do Uso do Gás Natural na
Indústria Cerâmica Brasileira. Rio de Janeiro: BGN nº2, IE - UFRJ, Fevereiro: 2009.

CUNHA, Fleury Cardoso da. Microeconomia: Teoria, Questões e Exercícios. Campinas, São Paulo:
Alínea, 2004.

D'ANTONA, Raimundo de Jesus Gato, et al. Diagnóstico Sócio-econômico do setor ceramista, in


Projeto Materiais de construção na área Manacapuru-Iranduba-Manaus-Careiro (Domínio Baixo
Solimões). CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2007.

HENRIQUE, Maurício F; VILLAR, Sandra de Castro (org.). Alternativas para o Uso do Gás Natural na
Região Norte. Instituto Nacional de Tecnologia. 1 ed. Rio de Janeiro, 2009.

LEFTWICH, Richard H.O sistema de preços e a alocação de recursos. 8 ed.- São Paulo: Pioneira, 1997.

LIMA, Marcus Antonio de Souza. Entrevista pessoal a Marcus de Souza Lima, coordenador do “Projeto
GEOR/PROCOMPI” (Gestão Estratégica orientada para Resultados/Programa de Apoio à

179
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias) do Polo Oleiro Cerâmico de Iranduba e


Manacapuru, 2011.

MANNARINO, Ronaldo P. Impactos Socioeconômicos da Entrada do Gás Natural na Matriz Energética


do Amazonas. T&C Amazônia, Ano III, N. 6, Janeiro: 2005.

MANSFIELD, Edwin. Microeconomia: Teoria e Aplicações. 2 ed.- São Paulo: Campus, 1980.

Núcleo Estadual de Arranjos de Produtivos Locais – NEPL. Plano de Desenvolvimento Preliminar: APL
de Base Mineral Cerâmico-Oleiro. Cidade Polo: Iranduba. 2008.

PINDYCK, Roberto S. Microeconomia. São Paulo: Pearson, 1994.

SCHWOB, Marcelo Rousseau Valença. Perspectiva de difusão do gás natural na indústria de cerâmica
vermelha. Dissertação submetida ao corpo Docente do Departamento de Pós-Graduação de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.

SEBRAE/ ESPM. Diagnóstico do Polo Oleiro Cerâmico in Estudo de Mercado da Cerâmica Vermelha
para a Construção: Telhas, Tijolos e Tubos, 2009.

VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de. Economia Micro e Macro. 4ed. São Paulo: Atlas, 2004.

180
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 10

ESTUDO DE CASO: DESEMPENHO COMPARADO DA


CARTEIRA DE CRÉDITO DE UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
ENTRE 2016 A 2018
DOI: 10.37423/200300490

Juliano Vargas (Doutor em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), Professor


do Departamento de Economia da UFPI).

Andreia Kahler (Bacharela em Ciências Contábeis pela Universidade de Caxias do


Sul (UCS).

181
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

O setor bancário acompanha as mudanças na Contabilidade, convergindo para as normas


internacionais. Assim, as instituições financeiras buscam melhorar a qualidade de suas informações
para atrair novos investidores. Porém, o mercado financeiro nacional oscila constantemente devido
às questões políticas e econômicas, volatilizando a confiança no Brasil. A globalização produz o
fenômeno do “dinheiro sem fronteiras”, à procura de rendimentos elevados e seguros. Mesmo assim,
as vantagens de obter recursos no mercado de capitais são significativas, por atrair setores que se
estruturam para mostrar transparência e competência aos investidores, as instituições financeiras
fazem parte do rol de empresas que expandem seus valores de mercado e angariam confiança dos
investidores.
Considerando que as instituições monetárias operam principalmente com a intermediação financeira,
o crédito assume papel determinante na captação de novos recursos para a entidade. As variações nas
contas de operações de crédito das demonstrações contábeis apontam o rumo que a entidade almeja
para seu futuro. Para que um banco tenha lucratividade e rentabilidade, a sua função predominante
– oferecer crédito – precisa estar bem estruturada com os objetivos da organização, acompanhando
tendências do mercado monetário e mantendo o foco na sustentabilidade econômica e financeira.
Neste sentido, observa-se a carteira de crédito como um relevante componente das demonstrações
contábeis dos bancos. Este elemento do ativo contribui para geração de lucros e liquidez nas
instituições financeiras. Para seu efetivo crescimento, deve-se considerar os riscos iminentes desta
atividade. O crédito é o principal veículo condutor da atividade econômica das instituições financeiras.
Através dele, pessoas físicas e jurídicas podem alcançar diversos objetivos, tais como: financiar
imóveis, realizar reformas, suprir capital de giro, comprar máquinas e equipamentos, dentre outros.
As variações na carteira de crédito de um banco apontam seu nível de eficiência e a administração do
crédito afeta diretamente a sustentabilidade financeira dos bancos.
Diante do exposto, a questão de pesquisa a ser respondida neste estudo é: qual é o resultado da
carteira de crédito de uma instituição financeira específica quando comparada aos índices do mercado
financeiro nacional, no período de 2016 a 2018? Tendo isto em vista, o objetivo geral desta
investigação é analisar o comportamento da carteira de crédito e dos empréstimos de curto/longo
prazo de uma instituição financeira no período referido.
Além desta introdução e das considerações finais, o estudo contempla quatro seções. Na primeira
contextualiza-se o referencial teórico através da abordagem bibliográfica de fontes primárias e
secundárias. A segunda seção aborda os métodos e a classificação dos objetivos da pesquisa, além dos

182
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

tipos de abordagem do problema utilizados para confecção do estudo comparativo de


desenvolvimento da carteira de crédito. Também são apresentados os procedimentos de coleta de
dados e de análise dos elementos das demonstrações contábeis.
A terceira seção diz respeito ao desenvolvimento do estudo de caso, demonstra a correlação entre os
dados coletados e os resultados obtidos através da análise horizontal em consonância com as análises
em corte transversal, em série temporal e combinada. Além disso, engloba as interpretações
referentes aos cálculos efetuados e esclarece como as operações de crédito afetam a liquidez e a
rentabilidade da instituição.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Para Melo e Barbosa (2018), as demonstrações contábeis representam a posição patrimonial e


financeira das organizações, permitindo a avaliação do seu desempenho econômico através dos seus
fluxos de caixa em período demarcado. Por sua vez, Ribeiro (2013) declara que são um conjunto de
relatórios padronizados elaborados com base na escrituração mercantil e que registram os
movimentos ocorridos no patrimônio da entidade.
Lins e Coelho (2010) afirmam que as demonstrações financeiras evoluem em concordância com as
necessidades do mercado, os usuários tornaram-se mais exigentes ao longo do tempo, pois empregam
as demonstrações para atingir êxito em suas negociações. Um dos grandes marcos desta evolução e
que aperfeiçoou o sistema regulatório foi a Lei 6404/76 e seus ajustes posteriores. No contexto atual,
avançam para adequar as normas contábeis brasileiras às normas internacionais.
Ribeiro (2013) esclarece que, no fim de cada exercício social, a gestão confeccione as demonstrações
contábeis, fundamentada na escrituração realizada neste período. Os relatórios deverão ser
publicados em conjunto com a indicação dos valores referentes das demonstrações do exercício
anterior, permitindo comparar os dois períodos. No quadro 1 são apresentados os principais tipos de
demonstrações contábeis e seus conceitos.

183
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 1 - Principais tipos de demonstrações contábeis


Balanço Apresenta a posição patrimonial e financeira de uma empresa em
Patrimonial - BP determinado momento.
Demonstração
Apuração do lucro ou prejuízo obtidos pelas empresas durante
do Resultado do
determinado período, apontando dados sobre o processo operacional.
Exercício (DRE)
Demonstração
Evidencia as variações ocorridas nas contas do Patrimônio Líquido
das mutações
ocorridas no exercício social, demonstrando a constituição e a realização
do Patrimônio
das reservas e destinação dos lucros.
Líquido (DMPL)
Demonstração
de lucro ou
Evidencia as movimentações ocorridas na conta de lucros ou prejuízos
prejuízo
acumulados, informando como foram distribuídos estes valores.
acumulado
(DLPA)
Demonstração Exibe as movimentações das contas que representam disponibilidades
do fluxo de imediatas: caixa, banco, conta movimento e aplicações
caixa (DFC) financeiras de curto prazo e alta liquidez.
Demonstração
Proporciona aos usuários as informações contábeis. Na primeira parte
do valor
os dados relativos a riqueza criada pela empresa em determinado
adicionado
período e na segunda a forma como tais riquezas foram distribuídas.
(DVA)
Demonstração
Ressalta os valores que ainda não passaram por conta de resultado e,
do resultado
enquanto não realizados, permanecem nos
abrangente
“Ajustes de Avaliação Patrimonial” do PL.
(DRA)
Facilita a compreensão dos usuários sobre as demonstrações
Notas
contábeis, com informações descritivas, informando os principais
explicativas
critérios e eventuais alterações nas políticas e práticas contábeis.

Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2015), Bazzi (2016), Coelho e Lins (2010), Greco e Arend (2013),
Iudícibus, Marion e Faria (2018), Lei 11638/07, Padoveze (2018), Perez Junior e Begalli (2015) e
Souza et al. (2015).

Estes relatórios contêm informações relevantes sobre a situação financeira e econômica das empresas
e facilitam a interpretação dos fatos ocorridos. Assim, conforme os mesmos autores, a Contabilidade
se supre de demonstrativos, quadros e relatórios que procuram evidenciar modelos sintéticos de
apresentação da situação da entidade e dos resultados por ela obtidos em um determinado período.
Estes demonstrativos buscam exprimir a realidade da empresa em um momento exato, sendo uma
aproximação da situação empresarial.
Ribeiro (2013) prossegue comentando que deverá ser registrado a destinação dos lucros e que as
demonstrações poderão ser complementadas por quadros ou outras demonstrações a fim de
apresentar os esclarecimentos sobre a situação patrimonial e dos resultados obtidos. Os tipos de
demonstrações que devem ser declaradas variam conforme o porte da empresa.

184
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

No caso das instituições financeiras, Ferreira (2014) aponta que elas devem seguir o Plano Contábil
das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF), definido pelo Banco Central do Brasil (Bacen).
Padroniza e disciplina os critérios, procedimentos contábeis, estrutura de contas e modelos de
documentos utilizados na escrituração contábil. Filgueiras (2010) comenta que, de acordo com o
previsto no regulamento anexo à circular n° 1.273/87 do COSIF, é obrigatória a apresentação das
demonstrações financeiras e contábeis padronizadas: Balancete Patrimonial, BP, DRE, DMPL, DFC e
elaboração das Notas Explicativas.
Assaf Neto (2015) informa que as normas gerais de escrituração contábil das instituições financeiras
pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional são emitidas pelo Bacen, sendo delegadas pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN). A lei 4.595 prevê que é de competência do CMN desenvolver regras gerais
de Contabilidade e estatística adotadas pelas instituições financeiras. O exercício social das entidades
possui prazo de um ano e término previsto para 31 de dezembro (BCB, 2019c).
Estas instituições também são responsáveis pelo regramento das avaliações dos valores mobiliários
registrados nos ativos das sociedades corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários. De
acordo com o site do Bacen, as instituições financeiras devem ter suas demonstrações contábeis
(incluídas as notas explicativas) auditadas por auditores independentes registrados na CVM e aceitos
pelo Bacen (BCB, 2019c).
Peleias et al. (2007) destacam que o SFN busca compatibilizar suas normas com as recomendações de
entidades internacionais, principalmente com o Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia, que busca
garantir a liquidez e solvência do sistema financeiro internacional (vide resolução 3.786/09). Neste
âmbito, conforme Filgueiras (2010), o BP fornece dados sobre o conjunto de bens, direitos e
obrigações das entidades, oferece também condições de analisar a estrutura da empresa sob
diferentes ângulos e evidencia quantitativa e qualitativamente a posição patrimonial. Tornou-se
instrumento para auxiliar a correta avaliação da empresa. Padoveze e Benedicto (2011) informam que
a DRE e o BP formam a base para gestão econômica de um empreendimento. As demais
demonstrações contábeis são modelos decorrentes e complementares destas duas demonstrações
básicas, e permitem ampliar a visão sobre a empresa.

2.2. ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Perez Junior e Begalli (2015) argumentam que analisar as demonstrações financeiras é uma tarefa
indispensável para confeccionar o planejamento estratégico, além de permitir ampliar o controle,
solucionar possíveis problemas detectados, optar por investir em uma determinada área, dentre

185
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

outras atividades relevantes visando ao melhoramento do resultado. Já a interpretação das


demonstrações visa a identificação detalhada do que cada uma das demonstrações pode ofertar de
informação e também pode-se relacionar informações contidas em um ou outro tipo de relatório.
Braga (2009) informa que o objetivo principal das demonstrações contábeis é fornecer informações
sobre o desempenho econômico-financeiro das entidades e de suas mutações patrimoniais visando
atender usuários internos e externos. Seus dados devem ser úteis para realizar avaliações e na tomada
de decisões. Os usuários das demonstrações desejam avaliar a prestação de contas e a atuação da
administração a fim de ter condições para tomar decisões econômicas, como manter ou vender seus
investimentos na empresa. As informações auxiliam a gerar confiança e credibilidade, contribuindo
para sua sustentabilidade econômica no mercado. Os usuários dos relatórios financeiros são
investidores atuais ou potenciais, empregados, bancos, credores, fornecedores, clientes, governo e o
público em geral.
Por sua vez, Perez Junior e Begalli (2015, p. 2) afirmam que os usuários empregam essas informações
para atender suas necessidades pessoais, comparar com o relatório de anos anteriores, analisar as
condições presentes da organização e elaborar perspectivas futuras. Eles evidenciam que, para obter
êxito na análise financeira o sistema de informações contábeis, deve-se dispor de informações
contábeis com qualidade adequada. Assim, os dados coletados devem ter os seguintes atributos:
serem confiáveis, abrangentes, objetivos e oportunos, com informações atuais.
Para Bazzi (2016), o cenário empresarial está cada vez mais competitivo. Por isso as empresas focam
em otimizar seus recursos e cresce a demanda por informações geradas através dos sistemas de
informações gerenciais e contábeis. Estes dados servem para apontar demandas dos controles
internos, do processo produtivo e do relacionamento com clientes internos e externos. É importante
compreender as demonstrações financeiras para administrar de forma eficiente e tomar decisões
assertivas. As demonstrações são o ponto de partida para análises posteriores e confecção do
planejamento estratégico.
Também para Bazzi (2016, p. 4), as demonstrações financeiras são uma representação estruturada da
posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. São elaboradas de acordo com
normas, princípios e critérios legais e técnicos. A análise auxilia usuários a compreender informações
em diferentes contextos. A análise das demonstrações financeiras objetiva determinar a evolução ou
regressão da situação financeira e econômica da empresa. As demonstrações contábeis devem ser
interpretadas em conjunto com as notas explicativas.

186
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Perez Junior e Begalli (2015) apontam que a análise de balanços é segmentada em análise vertical e
análise horizontal. A análise vertical assinala a estrutura da empresa em uma determinada época,
expõe a composição percentual e a participação de cada conta em um valor adotado como base (cem
por cento). Visa a avaliação da estrutura de composição de itens e sua evolução no tempo. Já a análise
horizontal evidencia as variações que ocorreram nos valores monetários ou índices em um
determinado período. Exemplos deste tipo de análise são: variações históricas da própria empresa,
taxas de crescimento da economia, variações nas contas idênticas de demonstrações financeiras de
concorrentes próximos. O último exemplo exposto é o foco deste trabalho, que busca confeccionar
um estudo de caso comparativo em um período pré-determinado com empresas do mesmo setor.

2.2.1. INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS

De acordo com Assaf Neto (2015), a mensuração e interpretação através de índices favorece a
compreensão do comportamento global das empresas, utilizando as contas do BP e da DRE, é possível
descobrir diferentes aspectos do contexto da entidade. Iudícibus (2017) declara que a análise através
dos quocientes financeiros é um dos mais relevantes progressos da Contabilidade, permitindo extrair
tendências e comparar os resultados com padrões pré-estabelecidos. É uma excelente ferramenta
para tomada de decisão dos gestores da empresa, realizando desdobramentos entre as contas do BP
e da DRE.
Dentre os indicadores utilizados para análise das demonstrações contábeis das instituições
financeiras, encontram-se os de liquidez e solvência, liquidez imediata, índice empréstimos/depósitos
e participação dos empréstimos. Um dos indicadores mais empregados para análise avançada é o
cálculo da liquidez, ou seja, as disponibilidades para atender as demandas por recursos de caixa e os
valores em dinheiro que a entidade dispõe para quitar dívidas de curto prazo.

Liquidez Imediata = Disponibilidades + Aplicações Interfinanceiras de Liquidez


Depósitos à vista

No caso dos bancos este quociente revela a habilidade da instituição em atender as obrigações
financeiras com correntistas e aplicadores. Quanto maior for o índice melhor, mais a entidade detém
recursos para cobrir depósitos à vista e depósitos a prazo. Outro indicador relevante para as
instituições financeiras, refere-se à relação entre empréstimos e depósitos, revelando que valor dos
depósitos captados pelo banco foi emprestado.

187
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Índice Empréstimos/Depósitos = Operações de Crédito


Depósitos

Também o indicador das operações de crédito aponta o percentual do ativo total que foi destinado
para operações de crédito é relevante. Neste indicador, quanto mais alto o resultado, menor é a
liquidez do banco e ao mesmo tempo e maior é a expectativa de elevar os resultados operacionais.

Índice de Participação dos Empréstimos = Operações de Crédito


Ativo total

O Instituto Assaf (2019) mostra que existem inúmeros tipos de indicadores de desempenho,
destacando-se em conformidade com a proposta deste estudo: custo médio de captação, juros
passivos, retorno médio das operações de crédito, lucratividade dos ativos e índice de eficiência. O
custo médio de captação visa demonstrar o custo financeiro do capital investido no banco por
poupadores.

Custo médio de captação = Despesas Financeiras de captação de mercado


Depósitos a prazo

Por sua vez, o indicador referente juros passivos busca evidenciar o custo das fontes de financiamento
das instituições financeiras.

Juros passivos = Despesa de intermediação financeira


Passivo total

Já o índice de eficiência demonstra o grau de eficiência da produtividade. Quanto menor for, melhor
é o desempenho da instituição, pois precisa de uma menor estrutura para desenvolver as atividades
operacionais.

Índice de eficiência = __ Despesas operacionais_______


Receitas de intermediação financeira

O Instituto Assaf (2019) esclarece ainda que o indicador de retorno médio das operações de crédito
mede a taxa de retorno das aplicações em crédito, a fim de elucidar o resultado da principal atividade
operacional da instituição.

188
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Retorno médio das = Receitas financeiras de operações de crédito


Operações de crédito Operações de crédito

Também é de interesse o indicador de Lucratividade dos Ativos, que mensura a porcentagem do Ativo
total que se transformou em receitas financeiras.

Lucratividade dos ativos = Receitas de intermediação financeira


Ativo total

Nos indicadores de rentabilidade acentua-se o spread bancário, a margem líquida, o retorno sobre o
investimento total e o retorno sobre o PL. Assaf Neto (2015) informa que a captação de recursos de
uma instituição financeira provém principalmente da intermediação financeira, que gera o spread
bancário. Para calcular este fator, utiliza-se a seguinte fórmula:

Spread bancário = receitas de intermediação - despesas com intermediação

Assaf Neto (2015) evidencia que a margem líquida avalia a intermediação financeira do banco,
como a gestão está administrando este processo operacional – gerenciando taxas, prazos, receitas e
despesas – para obter os melhores resultados dos ativos e passivos do banco.

Margem Líquida = __ _Lucro Líquido_________


Receita de intermediação financeira

Iudícibus (2017) explica que o cálculo do retorno sobre o investimento total destina-se a apresentar o
retorno sobre o valor investido, o ativo. É uma medida global do desempenho da entidade, que
contabiliza todos os fatores envolvidos, de forma indireta, avaliando a gestão da lucratividade dos
ativos e dos juros passivos.

Retorno sobre o Investimento Total = Lucro líquido


Ativo total

Todas as empresas propõem-se a conseguir os melhores rendimentos para seus proprietários e


investidores. Ele afirma que neste campo, a liquidez e a rentabilidade interagem uma sobre a outra,
consoante à configuração da instituição.

189
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Retorno sobre o Patrimônio Líquido = Lucro Líquido__


Patrimônio Líquido

Iudícibus (2017) argumenta sobre a importância de calcular a rentabilidade em mais de um tipo de


indicador, defendendo que ela facilita a descoberta da causa de determinados problemas. Por
exemplo, a rentabilidade pode estar baixa devido à redução na margem, motivada pelo aumento das
despesas.
Assaf Neto (2015) observa que, devido aos diferentes aspectos que compõem a atividade bancária,
estas elevam seu grau de endividamento para que as instituições financeiras atinjam uma maior
rentabilidade, trabalhando com forte capacidade de alavancagem no spread bancário. Os indicadores
auxiliam a ter uma visão ampla de todo o contexto das operações de crédito e suas ramificações na
atividade bancária, permitindo uma avaliação abrangente da situação financeira e econômica da
entidade.
Além dos indicadores comentados anteriormente, existem inúmeros indicadores econômico-
financeiros voltados à atividade bancária. Conforme Mendes, Nazaré e Silva (2017), destaca-se o
retorno ajustado ao risco do capital alocado (RAROC), que é uma medida de desempenho calculada
por meio de uma análise de risco. O risco da operação de crédito deverá ser compensado pelo retorno
esperado.
RAROC = ____________Lucro Líquido__________
Carteira de crédito * Índice de Basiléia

2.3. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

A Lei Federal n° 4.595/64, no artigo 17, define que:

Consideram-se instituições financeiras [...] as pessoas jurídicas públicas ou


privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta,
intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros,
em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de
terceiros.

Neste ínterim, as instituições financeiras dividem-se em monetárias e não monetárias. As monetárias


detêm a capacidade de gerar moeda escritural através da captação de depósitos à vista. Essas
entidades criam moeda escritural por meio de contas correntes movimentáveis por cheque ou pelo
efeito multiplicador do crédito (ABREU e SILVA, 2017).

190
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Farias e Ornelas (2015) explicam que há dois tipos de moeda: o papel moeda, que é o dinheiro físico,
emitido pelo Banco Central; e a moeda escritural, a moeda não existe fisicamente, existe somente na
escrituração contábil dos bancos, e é criada através do efeito multiplicador do crédito. As instituições
monetárias possuem a capacidade de multiplicar a moeda, mas devem seguir determinados
regramentos criados pelas autoridades monetárias para controlar a quantidade de dinheiro na
economia, como é o caso dos depósitos compulsóriosd definidos pelo Bacen.
No mercado financeiro existem diversos tipos de instituições monetárias, tais como: bancos
comerciais, caixas econômicas, cooperativas de crédito e bancos múltiplos com carteira comercial.
Dentre suas principais atividades destacam-se as operações de crédito de curto e médio prazo, capital
de giro destinado a atender empresas e concessão de crédito rural. As instituições financeiras não
monetárias caracterizam-se por captar recursos para empréstimo ou aplicar através da emissão de
títulos, no entanto, não possuem a opção de abrir e movimentar contas correntes. São exemplos deste
tipo de instituição: bancos de investimento, bancos de desenvolvimento regional, sociedades de
arrendamento mercantil, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito
imobiliário e bancos múltiplos sem carteira comercial.
Existem também instituições financeiras que são agentes especiais do governo, intervindo na
execução das políticas econômicas: o Banco do Brasil, que auxilia o agronegócio; a Caixa Econômica
Federal, voltada a habitação e financiamento de longo prazo; e o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, que atua no setor de investimentos. Todos os tipos de instituições monetárias
operam diretamente no processo de intermediação financeira, concedem empréstimos para entes
econômicos deficitários através dos recursos excedentes dos entes econômicos superavitários, com o
diferencial de juros, que remunera os intermediários financeiros (FILGUEIRAS, 2010).
Farias e Ornelas (2015) comentam que atuam principalmente no mercado nacional as instituições
constituídas sob a forma de bancos múltiplos, pois ofertam uma ampla gama de serviços bancários.
Um banco, para ser considerado múltiplo, deve ter no mínimo duas carteiras e, obrigatoriamente, uma
delas deve ser comercial ou de investimento. São organizados sob a forma de sociedades anônimas e
na sua denominação social aplica-se a expressão “banco”.
Assaf Neto (2015) diz que os bancos ofertam serviços essenciais ao funcionamento da economia
nacional: mecanismos de pagamentos, sistema de crédito, criação de moeda e oferta de alternativas
rentáveis e seguras de investimentos. Sendo o sistema de crédito, o elemento que maximiza os
resultados das entidades e aumenta a rentabilidade. Os bancos buscam gerenciar seus recursos no
intuito de manter o menor volume possível sob a forma de reservas, empregando os recursos

191
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

disponíveis no crédito, afim de lucrar com a intermediação financeira. Porém ao mesmo tempo devem
atentar para promover a liquidez de eventuais excessos de pagamentos em relação aos recebimentos
(conforme previsto nos “Acordos de Basileia”), buscando estabelecer controles sobre a atividade
bancária e reduzir os riscos de insolvência.
Farias e Ornelas (2015) argumentam que o equilíbrio entre a liquidez dos ativos e passivos reflete-se
na posição financeira do banco. Por isso o Bacen interfere, trazendo solidez ao mercado e ajustando
as taxas de juros conforme a política econômica vigente. As taxas de juros praticadas no mercado
afetam diretamente a meta para inflação.

2.4. OPERAÇÕES DE CRÉDITO

Ferreira (2014) define operação de crédito como essencialmente o suprimento de recursos aos
participantes do mercado que estão desprovidos de capital. Essa transação possui determinados
custos ao tomador, como a taxa de juros e o valor cobrado pela utilização imediata do dinheiro, que
paga ao emprestador que optou por utilizá-lo no futuro. As instituições realizam a intermediação
financeira, assumindo o risco pelo valor emprestado.
Assaf Neto (2015) comenta que os bancos optam por tomar decisões racionais visando à maximização
de seus resultados. O enfoque na continuação das atividades da entidade exige um processo de
crescimento constante no percentual das operações de crédito, devendo ao menos acompanhar a
concorrência. Os principais fatores externos que afetam o desempenho das instituições financeiras
são: diretrizes da política econômica, comportamento da concorrência, legislação e inovações
tecnológicas. Os bancos buscam ampliar as oportunidades de negócios e, consequentemente, o risco.
Os gestores devem realizar um estudo aprofundado sobre o custo do dinheiro para a entidade, antes
de tomar decisões relevantes.
Na administração das instituições financeiras tem o conflito entre liquidez e rentabilidade, precisando
aplicar seus recursos em ativos rentáveis e manter valor suficiente em caixa para atender desembolsos
dos depositantes e aplicadores. Os principais riscos financeiros dos bancos são: variação de taxa de
juros, mercado, crédito, operacional, liquidez e solvência. Estes tipos de riscos podem ser observados
nos demonstrativos financeiros, principalmente nas alterações das contas de ativos e passivos.
Destaca-se também o papel relevante do balanço e das notas explicativas. Por isso, o COSIF enfatiza
os elementos que precisam constar nas notas explicativas sobre as operações de crédito.
Neste contexto, Ferreira (2014) salienta que as entidades monetárias que atuam no mercado nacional
devem adotar medidas preventivas que reduzam a inadimplência. A concessão de crédito somente

192
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

deve ser realizada a quem tenha condições de honrar com os compromissos assumidos, efetuando
pagamentos nas condições pré-estabelecidas no contrato de crédito. Uma das principais atividades
bancárias são as operações de crédito, que geram diferentes níveis de risco.
A classificação do crédito por risco e provisionamento visa garantir responsabilidade e eficiência ao
mercado financeiro. À medida que a avaliação das operações de crédito piora, devem ser elevadas as
provisões para créditos de liquidação duvidosa, ou seja, possíveis perdas. Fator que reduz o lucro das
instituições financeiras. Tais medidas são necessárias para que os investidores e os tomadores de
recursos tenham confiança no sistema financeiro. Para fortalecê-lo, criaram a Resolução n°.2682/1999
do Bacen, que determina a classificação das operações de crédito e suas respectivas provisões,
apresentadas no quadro 4.
Quadro 2 - Classificação de risco das operações de crédito
Classificação da operação Dias de atraso Provisão sobre o saldo devedor ( %)
AA Sem atraso 0,0
A Até 15 dias 0,5
B 15 a 30 dias 1,0
C 31 a 60 dias 3,0
D 61 a 90 dias 10,0
E 91 a 120 dias 30,0
F 121 a 150 dias 50,0
G 151 a 180 dias 70,0
Mais de 180
H 100,0
dias
Fonte: adaptado de Ferreira (2014, p. 55).

Ferreira (2014) ressalta que a classificação não depende apenas dos dias de atraso. Está relacionada
também as condições dos tomadores de crédito e de seus avalistas, sendo analisado um conjunto de
características: situação econômico-financeira, grau de endividamento, grau de solvência, capacidade
de gerar resultados, fluxo de caixa, administração, qualidade dos controles, pontualidade dos
pagamentos, contingencias, atividade econômica e limite de crédito.
A classificação na figura 1 sofre influência das próprias características das operações (Cs) de crédito:
suficiência, liquidez das garantias, valor, natureza e finalidade da transação. A classificação das
operações deve ser efetivada a cada doze meses, em circunstâncias normais da economia nacional.
Para contemplar todos os itens citados anteriormente, as entidades desenvolveram sistemas de
análise de risco. Os sistemas transformam dados subjetivos da análise em dados objetivos, definindo

193
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

padrões de propensão ao risco, utilizam histórico percentual de características pessoais que levam a
inadimplência (FERREIRA, 2014).
Figura 1 - Cs do crédito

Caráter: histórico do Condições: políticas Capacidade: competência


devedor sobre o públicas, meio ambiente, produtiva e eficiência na
cumprimento das nível de desemprego, adminsitração do
obrigações assumidas. dentre outras. orçamento financeiro.

Conglomerado: análise do
Colateral: garantias
Capital: patrimônio contexto da empresa,
disponibilizadas na
financeiro, bens e direitos. grupos econômicos e
operação de crédito.
relacionamentos internos.

Fonte: adaptado de Filgueiras, 2010, p. 133-134.

3. METODOLOGIA

3.1. DELINEAMENTO DA PESQUISA

Quanto aos procedimentos técnicos, esta pesquisa é um estudo de caso, por tratar-se da análise dos
resultados de uma instituição financeira com sede administrativa no estado do Rio Grande do Sul. “O
estudo de caso é uma modalidade de pesquisa amplamente utilizada nas Ciências Sociais. Consiste no
estudo profundo e exaustivo de um ou poucos casos, de maneira que permita seu amplo e detalhado
conhecimento” (GIL, 2017, p. 34). Prossegue o autor informando que o estudo de caso proporciona
uma visão global do problema pesquisado e os fatores que o influenciam.
Chizzotti (2014) afirma que o estudo de caso visa reunir dados relevantes sobre o objeto de estudo, e
desse modo alcançar um conhecimento mais amplo sobre o caso, dissipar dúvidas, elucidar questões
pertinentes e instruir ações posteriores. Esta metodologia auxilia na tomada de decisões, para
justificar intervenções e quais foram os resultados alcançados. Nas empresas pode aprofundar o
conhecimento sobre seu desenvolvimento em um determinado período, ou o desempenho de setores,
o estágio de uma atividade específica, dentre outros.
Conforme Pádua (2019) e Gil (2017), emprega-se também a pesquisa documental, executada a partir
de documentos considerados cientificamente autênticos. A pesquisa documental é realizada a partir
de materiais elaborados com finalidades diversas, como assentamentos, autorizações, relatórios,

194
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

dentre outros. Materiais que podem ser reorganizados e reestruturados para formar uma nova análise
do contexto e de suas repercussões.
Nesta investigação serão utilizados essencialmente documentos de fontes secundárias: as
demonstrações contábeis da instituição financeira, relatórios de relação com investidores e
estatísticas publicadas pelo Bacen. Aplicar-se-á pesquisa bibliográfica por meio de coleta de dados
relevantes para o estudo, analisando-se as informações contábeis. Com isso, pretende-se contribuir
para o aprofundamento da questão e evidenciar nuances dos relatórios contábeis. Segundo Pádua
(2019), a pesquisa bibliográfica tem por finalidade colocar o autor em contato com as produções do
tema escolhido, permitindo uma visão global do assunto e selecionar o que realmente é importante
para desenvolvimento do projeto. Mascarenhas (2012) destaca como vantagem da pesquisa
bibliográfica a amplitude de informações advindas de textos científicos que abordam o mesmo objeto
de estudo. Este tipo de pesquisa possui foco na análise de livros, artigos, enciclopédias e congêneres.
Este estudo de caso caracteriza-se por ser descritivo. Gil (2017) comenta que a pesquisa descritiva tem
como principal objetivo a descrição de características de determinada população ou fenômeno ou,
então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Podem ser utilizadas ainda para correlacionar
os dados, proporcionando uma nova visão do problema e apontando novas perspectivas. Em
consonância, Castineira, Kienen e Santos (2015) declaram que este tipo de pesquisa é extensamente
usado nas Ciências Humanas e Sociais, com enfoque na vida social, política, econômica e demais áreas.
É um procedimento apropriado para apresentar e analisar características de um problema. Durante o
seu desenvolvimento os fatos são observados, registrados, analisados e interpretados sem que o
pesquisador interfira neste processo. Assim, a presente pesquisa detalhará a carteira de crédito da
instituição financeira comparando-a com os resultados nacionais apresentados no site do Bacen e
complementará isso com o cálculo de indicadores econômico-financeiros das operações de crédito do
banco pesquisado. Verifica-se a variação deste elemento do ativo e se os resultados atingidos são
compatíveis com os concorrentes do mercado nacional.
Já no quesito abordagem do problema, considera-se este diagnóstico como pesquisa qualitativa, já
que possibilita a interação de certas variáveis e salienta características próprias do banco (objeto de
estudo). Descreve também as oscilações percentuais das operações de crédito, no período de 2016 a
2018.
O estudo qualitativo investiga diversos elementos buscando apontar novas direções, imperceptíveis
em um exame superficial. Na pesquisa qualitativa são usadas diversas técnicas de maneira flexível
conforme as exigências da situação. Este tipo de estudo observa os processos sem invadir e se

195
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

fundamenta numa visão interpretativa centrada no entendimento do significado das atividades nas
instituições. A pesquisa qualitativa auxilia a descrever o objeto de estudo com mais profundidade, é
voltada a sua compreensão e análise, sofre influência do pesquisador e deve ser dissertado com uma
estrutura sólida e coerente (MASCARENHAS, 2012; SAMPIERI, COLLADO E LUCIO, 2013).

3.2. PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Para efetuar o projeto foram coletados dados no site de relações com investidores da instituição
financeira selecionada: demonstrações financeiras consolidadas, notas explicativas, relatório da
administração, apresentação dos resultados, dentre outros. Também foram associadas informações
do site do Bacen sobre o comportamento da carteira de crédito das demais instituições financeiras no
mercado nacional, a fim de analisar o desempenho do banco frente às demais instituições financeiras
nacionais. Pelos mesmos endereços eletrônicos investigou-se os índices de risco de inadimplência.
Após efetuou-se o cálculo dos índices econômico financeiros da instituição no período pesquisado,
explorando os resultados e traçando as tendências de comportamento da carteira de crédito e do
desempenho da entidade.

4. ESTUDO DE CASO DE UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Este capítulo descreve a empresa e seu contexto e analisa a carteira de crédito desta instituição
financeira, nos anos de 2016 a 2018, comparativamente com as demais instituições financeiras que
atuam no mercado nacional, divulgada pelo Bacen. Além disso, procura evidenciar o resultado dos
cálculos complementares referentes aos indicadores econômicos.

4.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA EMPRESA

Instituição financeira com sede administrativa em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul (RS). Atua
no cenário nacional, tendo filiais espelhadas em diversos estados do Brasil, bem como duas agências
no exterior. Conforme site da empresa (BCB, 2019c), é um banco múltiplo constituído sob a forma de
sociedade anônima de capital aberto. Atua nas carteiras comercial, de crédito, de financiamento, de
investimento, de crédito imobiliário, de desenvolvimento e de arrendamento mercantil; inclusive
realiza operações de câmbio, consórcios, administração de cartões de crédito e corretagem de títulos
e valores mobiliários.

196
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.1.1. MERCADO DE ATUAÇÃO

Tem seu foco de atuação na região sul do Brasil, atendendo pessoas físicas e empresas de micro,
pequeno, médio e grande porte. Desde 2017 direciona seus esforços de venda para o crédito de linhas
com menor risco. Ampliou a participação da pessoa física no total da carteira de crédito e melhorou
os processos de análise e concessão de novos créditos, implementando novos modelos de risco de
crédito.

4.1.2. CARTEIRA DE CRÉDITO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Seguindo o padrão das estatísticas do Bacen, a carteira de crédito da instituição é composta por
operações, operações de arrendamento mercantil e outros com características de concessão de
crédito, como é o caso dos cartões e operações de câmbio. Conforme dados nas notas explicativas, o
risco das operações é classificado de acordo com o julgamento da administração e da resolução n.
2682/99 do Conselho Monetário Nacional, observando a classificação em nove níveis de risco, de AA
até H, conforme quadro 2. As notas explicativas abordam que as operações são registradas a valor
presente pro rata dia, sendo atualizadas com até sessenta dias de atraso. Após este prazo, são
reconhecidas como receitas apenas quando efetivamente recebidos os valores. A provisão para
devedores duvidosos também segue a resolução citada anteriormente do CMN, observando
percentuais para suprir possíveis perdas.

4.2. ANÁLISE DA CARTEIRA DE CRÉDITO EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

4.2.1. ANÁLISE EM SÉRIE TEMPORAL

A análise em série temporal acompanha o desempenho da carteira de crédito na instituição financeira


nos anos de 2016, 2017 e 2018, com vistas a verificar se ocorreu evolução positiva ou negativa neste
período. Decompostas estão as contas para apontar os resultados obtidos pelo banco e as oscilações
geradas pela economia nacional.

197
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 2 - Carteira de crédito na série temporal

36,000,000.00 10.00%
8.15%
35,000,000.00
35,316,928.00 5.00%
34,000,000.00
1.48%
33,000,000.00 0.00%
32,655,432.00
32,000,000.00 32,177,696.00
-5.00%
31,000,000.00
-8.45%
30,000,000.00 -10.00%
2016 2017 2018

Reais %

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Observando o Balanço Patrimonial, a carteira de crédito no ano de 2015 atingiu R$ 35.146.702,00,


com percentual de crescimento de 7,43% comparativamente ao ano anterior. No entanto, no ano de
2016 ocorreu uma queda de 8,45%, ou seja, perdeu todo o crescimento que havia atingido no ano
anterior e também um percentual de anos anteriores. Totalizou o valor de R$ 32.177.696,00. Em 2017
iniciou um processo de retomada de crescimento, chegando ao valor de R$ 32.655.432,00 (evoluindo
1,48%). Este processo de retomada seguiu em 2018 obtendo R$ 35.316.928,00 (aumento de 8,15%).
Observa-se que houve significativa redução na carteira de crédito no ano de 2016 e que ao longo dos
anos de 2017 e 2018 retornou a patamar de valores próximos aos de 2015. Conforme relatório da
administração da instituição financeira divulgado no site de relação com investidores com o mercado
instável, isto foi motivado pelo cenário econômico que manteve-se complexo, retração do PIB,
aumento de desemprego e queda de rendimentos.
Neste contexto, segundo relatório da administração, o crédito comercial da pessoa jurídica foi o mais
afetado – obtendo uma queda de 19,60% devido à elevação do risco. Em 2016 isso deveu-se, em
grande medida, ao fato de que diversas empresas faliram ou entraram em recuperação judicial. Com
o aumento do desemprego, ocorreu a redução do consumo e investimentos. Se a população não
consome, as empresas não vendem, o mercado fica estagnado e cresce a insegurança sobre o futuro.

198
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 3 - Comportamento da carteira de crédito versus provisão para devedores duvidosos

Operações de crédito % Provisão para perdas %

20.00% 16.88%

15.00%
8.15%
10.00%
5.90%
5.00% 1.48%

0.00%
2016 2017 2018
-6.43%
-5.00% -8.45%

-10.00%

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Constata-se na figura 3 que a carteira de crédito e a provisão para devedores duvidosos percorreram
caminhos opostos, enquanto o crédito teve uma redução em 2016; após iniciou um processo de
retomada. A provisão para devedores duvidosos, referente aos níveis de risco de inadimplência
assumidos nas concessões de crédito, atingiu seu crescimento mais elevado no ano de 2016, incidindo
em 16,88%. Nos períodos subsequentes elevou-se de forma moderada e após declinou; em 2017
cresceu em 5,90% e em 2018 apresentou uma queda de 6,43%.
Pondera-se através dos percentuais apresentados que o banco manteve o foco neste período em
conceder crédito para pessoas físicas e jurídicas que apresentassem menor risco, pois houve uma
expansão nos empréstimos e um descréscimo nos percentuais de provisão para devedores duvidosos.
Apontando uma mudança na gestão do crédito para viabilizar a sustentabilidade da instituição,
prezando pela qualidade em detrimento da quantidade.

4.2.2. ANÁLISE COMPARATIVA COM CONCORRENTES DO MERCADO NACIONAL

A análise comparativa executada com as demais instituições financeiras que atuam no mercado
financeiro nacional, utilizando dados divulgados no site do Bacen, visa a mensuração do desempenho
do banco examinado frente à concorrência. Optou-se por comparar com os dados percentuais do
cenário nacional fornecidos pelo Bacen devido ao porte da instituição, já que as comparações com
valores monetários divulgadas pelo Banco Central seriam discrepantes.

199
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 4 - Comparação do comportamento da carteira de crédito


10.00%
8.15%
8.00%
6.00% 5.02%
4.00%
1.48%
2.00%
0.00%
-2.00% 2016 -0.13% 2017 2018

-4.00%
-3.52%
-6.00%
-8.00%
-10.00% -8.45%
Mercado nacional % IF Pesquisada %

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Conforme figura 4, no ano de 2016 ocorreu queda da carteira de crédito tanto no mercado nacional
quanto na empresa objeto deste estudo. Para as instituições normatizadas pelo Bacen, o percentual
de redução na carteira de crédito foi em torno de 3,52%. Enquanto na instituição pesquisada obteve
impacto significativo, reduzindo 8,45%.
Em 2017, enquanto a economia brasileira ainda era afetada pelas turbulências do mercado, as
entidades monetárias fiscalizadas pelo Bacen continuaram a ter uma redução de 0,13% na carteira de
crédito. A instituição investigada já apresentava sinais de melhora, atingindo o percentual de
crescimento de 1,48%. Segundo o relatório da administração do banco, neste ano ocorreram diversos
incentivos para obtenção deste resultado. Dentre eles: novos investimentos em tecnologia para
modelos de risco de crédito, compra de empréstimos através da portabilidade, foco de atuação no
agronegócio e nas pequenas e médias empresas.
Por sua vez, em 2018, o mercado financeiro nacional atingiu o crescimento de 5,02%, enquanto o
banco analisado gerou um acréscimo de 8,15% na carteira de crédito. Resultado acima dos percentuais
apresentados no site Bacen, sinalizando um desempenho eficiente da gestão do crédito na instituição.

4.2.3. ANÁLISE COMBINADA

Constata-se tanto na análise em série temporal quanto na análise comparativa que a instituição
apresentou um crescimento progressivo, ultrapassando inclusive a faixa de crescimento nacional na
carteira de crédito em 2017 e 2018. No último ano pesquisado atingiu seu melhor desempenho,
alcançando o valor de 3,13% acima da concorrência.

200
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Apesar destes avanços, observa-se que a queda em 2016 foi 4,93% maior que dos demais bancos e,
mesmo com os esforços voltados para alavancar o crédito (somando os percentuais do três anos
pesquisados), o banco alcançou percentual abaixo do índice do mercado financeiro nacional, com
diferença de 0,32%. Portanto, é aconselhável focar em uma evolução maior para compensar as perdas
de 2016 e ser uma opção de investimento rentável frente à concorrência.

4.3. CÁLCULO DOS INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS

Por meio dos resultados obtidos com o cálculo dos indicadores econômico-financeiros, foi elaborada
a análise da situação da instituição financeira, direcionada principalmente para as operações de
crédito e desempenho. Para tal, utilizaram-se as demonstrações contabéis de 2016 a 2018 da
instituição financeira objeto de estudo.

4.3.1. INDICADORES DE SOLVÊNCIA E LIQUIDEZ

Solvência indica se a instituição financeira possui recursos próprios capazes de suportar os riscos
vinculados à atividade de intermediação financeira. Já a liquidez reflete se a geração de caixa atende
às obrigações monetárias (ASSAF NETO, 2015). O quadro 3 revela que em 2016, quando a empresa
enfrentava consequências da crise econômica nacional e internacional, as demonstrações financeiras
apontaram um valor de liquidez imediata de 0,9141. Isso significa que para cada R$ 1,00 de obrigações
a curto prazo (neste caso, depósitos à vista), a instituição possuía R$ 0,91 de ativos disponíveis no
curto prazo.
Já para o ano de 2017 pondera-se que a entidade adotou uma política comercial mais agressiva,
obtendo o valor de liquidez imediata de 0,4025. Provavelmente focada em superar a redução na
concessão de crédito do ano anterior, optou por estimular as vendas e buscar retorno maior nos
resultados, reduzindo sua liquidez para obrigações de curto prazo.
Por fim, em 2018 o banco pesquisado apresentou índice de liquidez imediata de 1,5123, por priorizar
uma postura mais conservadora, mantendo valores no caixa para cobrir integralmente saques de
depósitos a vista e parte dos depósitos a prazo.

201
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 3 - Indicadores de solvência e liquidez

2016 2017 2018

Liquidez imediata 0,9141 0,4025 1,5123

Índice empréstimos/depósitos 57,92% 54,83% 55,63%

Participação dos empréstimos 35,69% 35,22% 36,54%

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

No índice de relação entre empréstimos e depósitos (quadro 3), acentua-se o maior percentual em
2016 calculado em 57,92%. Quanto maior o índice de depósitos captados que forem emprestados para
tomadores, maior será a rentabilidade do banco. Em 2017, o menor percentual do intervalo analisado
foi 54,83%, com perda de 3,09%. O valor de depósitos captados cresceu 10,99%. Ocorreu uma perda
de oportunidade de venda, pois com maior valor captado em depósitos a instituição poderia ter
ampliado proporcionalmente as operações de crédito. Mesmo assim a receita bruta cresceu em
7,68%.
No ano de 2018, o índice de vinculação entre operações de crédito e depósitos foi de 55,63%,
vislumbra-se neste cálculo um pequeno acréscimo. Novamente é recomendado voltar a atenção para
os valores captados através de depósito, que consecutivamente se expandiram, englobando uma
elevação de 8,34%. Verifica-se no Balanço Patrimonial que, tanto em 2017 quanto em 2018, os
depósitos cresceram gradualmente no curto e no longo prazo.
Mesmo com o banco mantendo uma linha de expansão gradual da sua receita bruta, é aconselhável
investir no incremento do volume de empréstimos porque nos dois anos consecutivos houve avanço
dos valores na captação de depósitos superior aos indicadores de evolução dos empréstimos. Há
potencial para aumentar a demanda e, por conseguinte, a rentabilidade da instituição.
Quanto à participação dos empréstimos, o ano de 2016 obteve o resultado de 35,69%, apesar da
redução na carteira de crédito. Em 2017, observou-se uma redução, totalizando 35,22%. Com a
elevação da inadimplência no ano anterior, como verificado na análise comparativa, o risco de
conceder empréstimos tornava-se cada vez maior, possivelmente por este motivo, houve uma
desaceleração nos investimentos em concessões de crédito, priorizando a qualidade da demanda ao
invés da quantidade. Os sinais de recuperação da economia, segundo o relatório da administração,
favoreceram novamente o mercado financeiro, aquecendo as vendas, e no ano de 2018, o índice
calculado foi de 36,54%, estacando a postura do banco em busca de expandir sua rentabilidade. No

202
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

BP houve um movimento de alteração de foco de venda nos empréstimos. Ao longo destes três anos,
cresceram gradualmente os valores investidos em operações de crédito de curto e longo prazo, ao
mesmo tempo que foram reduzidos os valores investidos em arrendamento mercantil de curto e longo
prazo.
Analisa-se que os percentuais encontrados foram muito próximos, quanto maior for este índice, maior
é a expectativa de aumentar os resultados operacionais. A instituição apresentou o melhor resultado
de participação na concessão de crédito no ano de 2018 e, como também ampliou os valores de
depósitos captados, há potencial para concentrar seus esforços de venda em majorar este índice e
melhorar seu desempenho econômico.

4.3.2. INDICADORES DE DESEMPENHO

São cálculos voltados à medição da performance da atividade da empresa, de como está a eficiência
no processo de intermediação financeira, se gera lucro e quanto gasta para obtê-lo. Os resultados
estão discriminados no quadro 4.

Quadro 4 - Indicadores de desempenho operacional

2016 2017 2018


Custo médio de captação 16,50% 12,46% 8,95%
Juros passivos 10,38% 8,47% 6,64%
Índice de eficiência 22,47% 21,81% 27,51%
Retorno médio das operações de
27,91% 25,29% 18,87%
crédito
Lucratividade dos ativos 15,45% 13,62% 12,34%
Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.
Na figura 5 observa-se que houve declínio nas despesas de captação. Em 2016, chegou a 16,50%;
2017, houve queda para 12,46%; em 2018 atingiu 8,95%. Uma redução gradual dos custos que gerou
um fator positivo para a empresa., ocasionado por despesas de intermediação financeira que se
reduziram consecutivamente, em 2017 para 13,38% e em 2018 uma diminuição de 17,19%. Enquanto
que o volume de depósito a prazo captado continuou crescendo, no ano de 2017 o valor captado
cresceu 10,99% e em 2018 aumentou 8,34%.

203
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 5 - Custo médio de captação

18.00%

16.00%

14.00%

12.00%

10.00%

8.00% 16.50%

6.00% 12.46%

4.00% 8.95%

2.00%

0.00%
2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.


Estes dados revelam que a instituição financeira está captando mais por um custo menor, ou seja, está
ampliando seus estoques e pagando menos para os clientes que realizam investimentos. Outro fator
que beneficia este indicador é a redução na conta de provisão para devedores duvidosos visualizada
na DRE.

Figura 6 - Taxas de juros

12.00%

10.00%
10.38%

8.00% 8.47%

6.00% 6.64%

4.00%

2.00%

0.00%
2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

As taxas de juros (figura 6) apresentaram o pior resultado em 2016 (10,38%) e o ano que obteve o
melhor resultado foi 2018 (6,64%); no agregado reduziu-se em 3,74%. Como no intervalo examinado

204
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

a receita de intermediação financeira sofreu reduções sucessivas, as taxas de juros contribuiu


significativamente para geração e ampliação do lucro na instituição financeira. Deve-se ponderar que
os depósitos captados são remunerados acompanhando as variações na Selic, taxa média ajustada dos
financiamentos diários apurados para títulos federais.

Figura 7 - Índice de eficiência

30.00%

25.00% 27.51%

20.00% 22.47% 21.81%

15.00%

10.00%

5.00%

0.00%

2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.


Quanto menor o índice de eficiência, melhor é o desempenho da empresa. Nota-se na figura 7 que o
melhor índice ocorreu em 2017 (21,81%) e o pior em 2018 (27,51%), havendo expansão significativa
de 5,70% que impacta desfavoravelmente o desempenho operacional da instituição. A receita
financeira de intermedição reduziu de forma progressiva, o que afetou negativamente este resultado.
A conta de despesas operacionais obteve uma queda em 2017, mas em 2018 voltou a crescer de forma
expressiva.
Visualiza-se nas notas explicativas que a maioria das despesas cresceram anualmente e em 2017 o
resultado foi melhor, não por ter diminuido as despesas, mas devido ao subitem outras receitas
operacionais, que expandiu 45,23%, ocasionado principalmente pelas receitas exporádicas de
contrato de exclusividade e de uma ação judicial. Para melhorar este indicador aconselha-se: i)
medidas visando a ampliação da receita de intermediação financeira, já que a instituição dispõe de
depósitos a prazo em estoque para conceder empréstimos, sem descuidar da qualidade do risco; ii)
pesquisar meios de diminuir as despesas operacionais.

205
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 8 - Retorno médio das operações de crédito

28.00% 27.91%
27.00%
26.00%
25.29%
25.00%
24.00%
23.54%
23.00%
22.00%
21.00%
2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.


Por sua vez, o índice retorno médio das operações de crédito (figura 8) avalia a taxa de retorno desta
modalidade de aplicação. O resultado no ano de 2016 foi de 27,91%, o maior do período analisado.
Em 2017 houve uma redução, caindo para 25,29%. No ano de 2018 caiu novamente, constituindo
menor valor do período analisado (23,54%).
As contas que influenciam diretamente este indicador são as receitas financeiras de operações de
crédito e as operações de crédito. Em 2017, a receita encolheu 5,06% e o volume de operações de
crédito cresceu 1,48%, ocasionando a queda de 2,62% no retorno das operações de crédito. Em 2018
a receita mostrou sinais de melhora, com um acréscimo em torno de 1,97%. O volume de operações
de crédito aumentou significativamente se comparado ao ano anterior, atingindo 8,15%. Por isso, o
indicador de retorno continuou diminuindo, 1,15% no caso.
Ampliou-se significativamente o valor monetário nas concessões de crédito, no entanto, o retorno
financeiro foi reduzindo. Estes resultados apontaram a redução da taxa de juros ativos aplicados na
concessão das operações de crédito. Esta taxa de juros também sofreu influência da taxa Selic, que
diminuiu no intervalo pesquisado. Outros fatores que podem ter contribuído para a redução da taxa
de juros aplicada nas operações de crédito é a queda da inadimplência, que consta na análise em série
temporal da PDD; quanto menor o risco, menor é a taxa de juros que incidem nos empréstimos, já que
fica menor o risco da entidade perder valores por falta de pagamento.

206
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 9 - Lucratividade dos ativos

18.00%

16.00% 15.45%
13.62%
14.00%
12.34%
12.00%

10.00%

8.00%

6.00%

4.00%

2.00%

0.00%

2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Segundo Assaf Neto (2019), o indicador lucratividade dos ativos (figura 9) representa o total do ativo
que se transformou em receita financeira para a instituição. Este indicador também segue uma linha
decrescente, tendo o seu melhor resultado em 2016 (15,45%). O ano de 2017 atingiu 13,62% uma
queda de 1,83% em relação ao ano anterior. Houve redução nas receitas de intermediações
financeiras, advindas das seguintes contas: operações de crédito, operações de arrendamento
mercantil, resultado de operações com títulos e valores mobiliários e no resultado das aplicações
compulsórias. A conta que teve o maior impacto foi a de resultado de operações com títulos e valores
mobiliários (18,14%).
Em 2018 seguiu o processo de redução, para 12,34%. As contas que afetaram a receita de
intermediação foram: operações de arredamento mercantil, resultado de operações com títulos e
valores mobiliários, resultado de aplicações compulsórias e operações de vendas ou transferência de
ativos financeiros. As operações de crédito voltaram a crescer em 2018, na ordem de 1,97%.
Apesar da progressaõ em valor monetário nas operações de crédito, a lucratividade dos ativos sofreu
redução. Verificou-se que o item que mais afetou este indicador foi o resultado de operações com
títulos e valores mobiliários, principalmente em 2017 e 2018, com quedas respectivas de 18,14% e
29,20%. Prejudicando o desempenho da receita financeira e reduzindo a lucratividade.

207
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.3.3. INDICADORES DE RENTABILIDADE

A rentabilidade expressa a riqueza auferida pela instituição para remunerar seus proprietários e
investidores. Deve estar adequada à relação retorno-risco do investimento. Já para os investidores,
quanto mais lucro, mais atrativa a entidade se torna (ASSAF NETO, 2015). Estes indicadores estão em
destaque no quadro 5.

Quadro 5 - Indicadores de rentabilidade

2016 2017 2018


Spread total (R$) 3.501.563,00 3.770.622,00 4.411.110,00
Margem líquida (%) 6,18 10,55 10,98
Retorno sobre o investimento total
0,96 1,44 1,35
(%)
Retorno sobre o patrimônio líquido
10,24 14,97 14,41
(%)
Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Já o spread bancário evidenciou resultado crescente no período (figura 10). Em 2016 ele atingiu o valor
de R$ 3.501.563,00, apesar da redução na concessão de créditos. O rendimento está bem próximo ao
de 2017, que gerou R$ 3.770.622,00. Neste ano houve um crescimento no volume monetário das
operações de crédito, apontado pelo balanço patrimonial. Mesmo com esta elevação, ainda que
pequena (1,48% nas operações de crédito de 2017), inicia-se um processo de recuperação do setor,
tanto a receita de intermedição quanto as despesas de intermediação apresentaram valores menores
do que 2016. Indicando que ocorreu uma redução das taxas de juros para concessão de empréstimos,
bem como, das taxas de juros que remuneram os depósitos a prazo.
Por sua vez, no ano de 2018 o spread bancário foi de R$ 4.411.110,00, totalizando um acréscimo em
torno de 25,97% no resultado. Destaca-se que neste ano houve novamente uma diminuição da receita
de intermediação em torno de 4,27% e também uma contração da despesa em torno de 17,19%,
calculado por meio de dados obtidos na DRE. Estes dados que revelam a queda das taxas de juros
internas, principalmente nas taxas de remuneração dos depósitos à prazo. Outro fator determinante
para redução da receita, segundo relatório da administração, foi a opção da gestão por novos sistemas
para gerenciar o risco.

208
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 10 - Spread bancário

R$4,411,110.00

2018
1 R$3,770,622.00
2017

R$3,501,563.00
2016

R$- R$2,000,000.00 R$4,000,000.00 R$6,000,000.00

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.


Figura 11 - Margem líquida

2018 10.98%

2017 10.55%

2016 6.18%

0.00% 2.00% 4.00% 6.00% 8.00% 10.00% 12.00% 14.00% 16.00% 18.00%

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.


A margem líquida da instituição pesquisada apresenta uma evolução positiva, conforme indica a linha
de tendência pontilhada azul (figura 11). No ano de 2016 ocorreu o menor resultado (6,18%). Este
percentual representa a parcela das receitas financeiras que restou aos acionistas após descontos dos
custos e despesas. Em 2017, a margem líquida cresceu para 10,55% (acréscimo de 4,37% em relação
ao ano anterior), gerando um incremento no retorno esperado pelos investidores. E, no ano de 2018,
se manteve praticamente estável, atingindo 10,98%. Estes resultados sofreram forte influência da
redução no custo de captação dos depósitos a prazo.
Outro fator que está afetando o resultado é a conta de outras despesas operacionais, que teve uma
elevação de 31,38% em 2016, uma queda de 9,21% em 2017 e no ano de 2018 voltou a crescer 20,77%.
Mesmo com a redução em 2017, os demais resultados impactaram negativamente o lucro, pois foram
maiores. Considera-se oportuno a instituição realizar um estudo sobre quais despesas afetaram esta
conta e a viabilidade em reduzi-las.

209
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 12 - Retorno sobre o investimento total

1.60%

1.40%
1.44%
1.35%
1.20%

1.00%
0.96%
0.80%

0.60%

0.40%

0.20%

0.00%

2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.


O índice de retorno sobre o investimento total (ou resultado do valor investido) é o ativo total, que
aponta o desempenho do banco. Avalia a gestão da lucratividade dos ativos e dos juros pagos para os
depósitos captados. Em comparação às empresas não financeiras, os bancos apresentam como uma
de suas características um baixo retorno sobre o investimento total, principalmente por atuarem
basicamente com capital de terceiros (ASSAF NETO, 2015). No ano de 2017, neste quesito a instituição
financeira pesquisada publicou o melhor resultado do período analisado (1,44%), visualizado na figura
12. Em 2018 o lucro líquido apresentou resultado bem próximo ao de 2017 (1,35%).

Figura 13 - Retorno sobre o capital próprio

16.00%
14.00% 14.97%
14.41%
12.00%
10.00%
10.24%
8.00%
6.00%
4.00%
2.00%
0.00%
2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

210
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Estas tendências de comportamento da rentabilidade da instituição financeira também são


visualizadas no indicador de retorno sobre o capital próprio (figura 13), que diz respeito ao retorno do
investimento realizado por sócios e acionistas. Evidencia-se que no ano de 2017 obteve-se o maior
retorno (14,97%), seguido por 2018 (14,41%).
Observa-se no Balanço Patrimonial que a reserva de lucros expandiu no período analisado, obtendo
acréscimos respectivos (2016, 2017 e 2018) de 7,47%, 18,35% e 24,17%. Note-se que a insituição
financeira possui um perfil conservador de reinvestimento, pois poderia integralizar parte do lucro e
investir na modernização da instituição. Estes valores indicam que mesmo com a redução da receita
de intermediação financeira, a rentabilidade da instituição financeira continuou crescendo,
possivelmente motivada pelas reduções do risco gerado pela atividade e do custo de captação dos
depósitos.

4.4. RETORNO AJUSTADO AO RISCO DE CAPITAL ALOCADO (RAROC)

Este índice, conforme Mendes, Nazaré e Silva (2017), é utilizado para medir o desempenho
fundamentado em uma análise de risco e retorno. Assim , o risco da operação deverá ser
recompensado pelo seu retorno. Quanto maior é o valor do Raroc, melhor é a situação da instituição.

Figura 14 - Retorno ajustado ao risco de capital alocado (RAROC)

25.00%

18.97% 19.53%
20.00%

15.00%
12.13%

10.00%

5.00%

0.00%
2015 2016 2017 2018

Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.


O menor desempenho da instituição pesquisada transcorreu em 2016 (12,13%). Após este resultado,
a instituição seguiu em uma linha crescente atingindo o melhor desempenho em 2018 (19,53%).
Evidencia-se que a política apresentada pela instituição de aprimorar os modelos de risco de crédito,
focando na qualidade, conduziu à ampliação da rentabilidade. A carteira de crédito ampliou seu

211
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

volume depois de 2016, como consta na análise temporal. Também cresceu seu retorno, como
destaca-se na figura 14. O mesmo contexto é visível no cálculo da margem líquida, na figura 13, que
aponta um crescimento contínuo. Estes resultados são reflexo principalmente da redução de custos,
ou seja, da diminuição dos juros passivos pagos na captação dos depósitos.
Nesta relação de rentabilidade e risco, vislumbra-se que a expansão do lucro líquido foi essencial para
melhorar o resultado em 2017, ano que o RAROC mais cresceu (6,84%). Apesar de em 2018 o índice
de Basiléia ser o menor do intervalo examinado (15,20%), este aumento no risco foi compensado pela
ampliação da carteira de crédito.

4.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo de caso teve como objetivo analisar comparativamente o desempenho da carteira de
crédito de uma instituição financeira no período de 2016 a 2018. Verificou o impacto da crise
econômica e da portabilidade de crédito no mercado financeiro, interpretando as demonstrações
contábeis, realizando cálculo de indicadores econômicos-financeiros e analisando os resultados
apresentados pela instituição.
Os principais dados da empresa revelados entre os anos 2016 e 2018 permitem observar que após a
queda significativa dos valores monetários aplicados em concessão de crédito no ano de 2016, a
carteira de crédito da instuição financeira cresceu progressivamente, atingindo seu melhor resultado
em 2018, totalizando R$ 35.316.928,00 (elevação de 8,15% em relação à 2017). Corroborando com os
resultados, a provisão para devedores duvidosos apresentou um movimento de retração, com o
desempenho mais favorável em 2018, com uma redução de 6,43%, indicando o encolhimento do risco
na carteira de crédito.
Quanto à análise comparativa, a instituição financeira revelou uma redução significativa na carteira de
crédito em 2016, sendo 4,93% maior que a dos bancos que atuam no mercado nacional. Índices que
melhoraram nos dois anos seguintes. Enquanto o mercado financeiro nacional ainda apresentava uma
contração nas concessões de crédito, a insitituição examinada já apresentava um crescimento. Obteve
o melhor percentual de expansão no ano de 2018, totalizando 8,15% – gerando 3,13% acima das
instituições que atuam no mercado financeiro nacional.
Na análise combinada, verificou-se o crescimento percentual na série temporal em 2017 e 2018, um
fator relevante para rentabilidade da instituição. Porém, mesmo com este progresso, na análise
comparativa com a concorrência, totalizando os percentuais nota-se que o banco precisa aumentar
em 0,32% a carteira de crédito para chegar ao resultado auferido pelas demais instituições financeiras

212
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

normatizadas pelo Bacen. Portanto, a instituição monstrou sinais favoráveis nos seus índices de
desempenho nos últimos dois anos, mas não o suficiente para acompanhar a concorrência.
Nos indicadores econômico-financeiros de liquidez e solvência, o ano que mais se destacou foi 2018,
apenas o índice empréstimos/depósitos foi mais significativo em 2016. No entanto, afetado em 2017
e 2018 pelo aumento expressivo no volume de depósitos captados, os valores emprestados em
operações de crédito não ampliaram na mesma proporção. É aconselhável que a instituição busque
meios para majorar a evolução na concessão de crédito.
Os indicadores operacionais também apontaram que a maioria dos índices com maior notoriedade
foram encontrados em 2016. Apenas o indicador de eficiência foi melhor em 2017 e os indicadores de
custo médio de captação e juros passivos apontaram um melhor desempenho em 2018. Quando foram
os menores de 2016, obteviram melhora contínua, fator que contribuiu significativamente para gerar
lucro mais elevado nos anos de 2017 e 2018.
Os demais indicadores operacionais demonstraram que mesmo com o acréscimo no volume de
operações de crédito, na receita de intermediação financeira houve uma contração originada pela
redução da taxa de juros ativos. Outro elemento que impactou negativamente a receita foi o
encolhimento da conta de resultado de operações com títulos e valores mobiliários.
O indicador de eficiência também foi prejudicado pela redução na receita de intermediação e só
obteve melhor desempenho em 2017 motivado pela diminuição da conta despesas operacionais. No
entanto, observando as contas das despesas operaconais, verificou-se que esta queda foi alcançada
pelo incremento na conta outras receitas. Este aspecto merece ser analisado com mais cautela, já que
as despesas estão impactando o resultado.
Na pesquisa, verificou-se que a taxa Selic foi sendo seguidamente reduzida pela política monetária
praticada no Brasil, interferindo tanto nos juros ativos da concessão de crédito quanto nos juros
passivos pagos na captação de depósitos. Se, por uma lado, a taxa Selic reduz o custo, por outro reduz
também a receita.
Já os indicadores de rentabilidade apresentaram os melhores resultados divididos pelos anos de 2017
e 2018. Os indicadores de spread bancário e margem líquida alcançaram os melhores resultados em
2018; o responsável por estes retornos foi o encolhimento do custo de captação.
Os indicadores de retorno sobre o investimento total e retorno sobre o PL lograram os melhores
retornos em 2017. A instituição financeira diminuiu de forma considerável a liquidez imediata, com
um indicador bem divergente se comparado aos demais anos examinados. Entretanto, elevou a sua
rentabilidade, aumentou seu risco e ampliou seus resultados. Nestes dois indicadores, notou-se que

213
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

em 2018 o lucro líquido diminuiu 0,42%, enquanto o resultado bruto cresceu 25,97%. A rentabilidade
da instituição só não foi maior porque sofreu o impacto da elevação de 20,77% na conta de outras
despesas operacionais.
Por fim, o índice Raroc, que deixou entrever que está sendo bem administrado, uma vez que este
percentual vem reduzindo ao longo do período analisado e melhorando seu desempenho. Foi
influenciado pelas quedas no custo de captação, nos juros passivos, no risco de inadimplência e na
ampliação da carteira de crédito.

REFERÊNCIAS

ABREU, Edgar Gomes de; SILVA, Lucas. Sistema Financeiro Nacional. São Paulo: Métodos, 2017.

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São


Paulo: Atlas, 2015.

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Cartilha do Sistema de informações de crédito do Banco Central.
2019a. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/fis/crc/ftp/cartilhascr.pdf>. Acesso em: 29 maio
2019.

______. COSIF. 2019b. Disponível em: <https://www3.bcb.gov.br/aplica/COSIF>. Acesso em: 25 maio


2019.

______. História do Bacen. 2019c. Disponível

em: <https://www.bcb.gov.br/pre/historia/historiabc/historia_bc.asp?frame=1>. Acesso em: 23 maio


2019.

______. Resolução n° 3.786. 2019d. Disponível

em:<https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Norm
ativos/Attachments/47513/Res_3786_v1_O.pdf>. Acesso em: 27 maio 2019.

______. Indicadores econômicos consolidados. 2019e. Disponível

em: <https://www.bcb.gov.br/estatisticas/indicadoresconsolidados>. Acesso em: 28 maio 2019.

______. Estatísticas monetárias e de crédito. 2019f. Disponível

em: <https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticasmonetariascredito>. Acesso em: 28 maio 2019.

______. Documento 3050. 2019g. Disponível

em:<https://www.bcb.gov.br/content/estabilidadefinanceira/Documents/Leiaute_de_documentos/s
crdoc3050/Instrucoes_de_preenchimento_Documento_3050.pdf>. Acesso em: 28 maio 2019.

BANRISUL. Demonstrações financeiras consolidadas em IFRS 2016. Disponível

214
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

em:<https://file:///C:/Users/User/Downloads/Demonstrac%C3%B5es%20Financeiras%20em%20IFRS
%20Dezembro%202016%20IPE.pdf> Acesso em 05/08/2019.

______. Demonstrações financeiras consolidadas em IFRS 2017. Disponível

em: <https://file:///C:/Users/User/Downloads/DFs_Notas%20Explicativas%20IFRS%20Dez2017.pdf >


Acesso em 05/08/2019.

______. Demonstrações financeiras consolidadas em IFRS 2018. Disponível

em: <https://file:///C:/Users/User/Downloads/DFs_Notas%20Explicativas%20IFRS_2018%20(7).pdf >


Acesso em 05/08/2019.

______. Divulgação de resultados. Disponível

em:<https://http://ri.banrisul.com.br/banrisul/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&conta=28&tipo=36
949> Acesso em: 27 de maio de 2019.

BAZZI, Samir (organizador). Análise das demonstrações contábeis. São Paulo: Pearson Education do
Brasil, 2016.

______. Contabilidade gerencial: conceitos básicos e sua aplicação. Curitiba: Intersaberes, 2015.

BRAGA, Hugo Rocha. Demonstrações contábeis: estrutura, análise e interpretação. São Paulo: Atlas,
2009.

BRASIL. Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias,
Bancárias e Creditícias, cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências.<https://
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4595.htm>. Acesso em: 27 de maio.

______. Lei 11638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande
porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras.<http://
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm> Acesso em 27 de maio.

CASTINEIRA, Maria Inés; KIENEN, Nádia; SANTOS. Pedro António dos. Metodologia da pesquisa social:
da proposição de um problema à redação e apresentação de um relatório. São Paulo: Atlas, 2015.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis: Vozes, 2011.

COELHO, Claudio Ulysses Ferreira; LINS, Luiz dos Santos. Teoria da Contabilidade: abordagem
contextual, histórica e gerencial. São Paulo: Atlas, 2010.

DANTAS, Inácio. Contabilidade: introdução e intermediária. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015.

FARIAS, Aquiles Rocha de; ORNELAS, José Renato Haas. Finanças e sistema financeiro nacional para
concursos: questões resolvidas de concursos do Banco Central, Tesouro Nacional, BNDES, CVM, CEF e
BB, dentre outros. São Paulo: Atlas, 2015.

FERREIRA, Marcelo Andrade. Sistema Financeiro Nacional: uma abordagem introdutória dos
mecanismos das instituições financeiras. Curitiba: Intersaberes, 2014.

215
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FILGUEIRAS, Claúdio. Manual de Contabilidade bancária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. Rio de Janeiro: Atlas, 2017.

GRECO, Alvísio; AREND, Lauro. Contabilidade: teoria e práticas básica. São Paulo: Saraiva, 2013.

INSTITUTO ASSAF. Critérios e simbologia para bancos. Disponível

em: <http://institutoassaf.com.br/criterios-e-simbologia-para-bancos/>. Acesso em: 30 out. 2019.

IUDICÍBUS, Sérgio de. Análise de balanços. Rio de Janeiro: Atlas, 2017.

IUDICÍBUS, Sérgio de; MARION, Carlos José; FARIA, Ana Cristina de. Introdução à Teoria da
Contabilidade: para graduação. São Paulo: Atlas, 2018.

MARION, José Carlos; RIBEIRO, Osni Moura. Introdução à Contabilidade gerencial. São Paulo: Saraiva,
2018.

MASCARENHAS, Sidnei Augusto. Metodologia Científica. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.

MELO, Moisés Moura de; BARBOSA, Sergio Correia. Demonstrações contábeis da teoria à prática. Rio
de Janeiro: Maria Augusta Delgado, 2018.

MENDES, Judas Tadeu Grassi. Economia: bibliografia universitária Pearson. São Paulo: Pearson
Pretince Hall, 2012.

MENDES, Paulo César de Melo; NAZARÉ, Sérgio Ricardo Miranda; SILVA, Amanda Calisto. Análise de
Rentabilidade das Instituições Financeiras, Baseada no Modelo RAROC. Brasília: III Congresso UnB de
Contabilidade e Governança, 2017. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/6096-14603-1-
PB%20(4).pdf.> Acesso em: 30 out. 2019.

NIYAMA, Jorge Katsumi; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas,
2013.

PADOVEZE, Clóvis Luís. Contabilidade gerencial: Um enfoque em sistema de informação contábil. São
Paulo: Atlas, 2010.

______. Manual de Contabilidade básica: Contabilidade introdutória e intermediária. São Paulo: Atlas,
2018.

______; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Cengage
Learning, 2011.

PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Metodologia da Pesquisa: Uma abordagem téorico-prática.
Campinas: Papirus, 2019.

PELEIAS, Ivam Ricardo et al. Demonstrações contábeis de bancos brasileiros: análise da evidenciação
oferecida à luz do gerenciamento de riscos. Base Revista de Administração e Contabilidade da
Unisinos, São Leopoldo, v. 4, n. 1, p. 22-36, jan/abr 2007.

216
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

PEREZ JUNIOR, José Hernandez; BEGALLI, Glaucos Antonio. Elaboração e análise das demonstrações
financeiras. São Paulo: Atlas, 2015.

RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade básica. São Paulo: Saraiva, 2013.

______; Osni Moura. Contabilidade Geral. São Paulo: Saraiva, 2018.

SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, María del Pilar Baptista.
Metodologia da pesquisa. Porto Alegre: Penso, 2013.

SANTOS, Antônio Sebastião dos. (Org.) Contabilidade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.

SOUZA, Ailton Fernando de (Coordenador). Análise financeira das demonstrações contábeis na


prática. São Paulo: Trevisan Editora, 2015.

217
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 11

PERMANÊNCIA E INSERÇÃO DE ATORES NA PRODUÇÃO


CIENTÍFICA NA ÁREA DE CONTABILIDADE
DOI: 10.37423/200300491

Silvana Anita Walter (Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná


(UNIOESTE).

silvanaanita.walter@gmail.com

Tatiana Marceda Bach (Professora do Centro Universitário Univel (UNIVEL).

tatibach@gmail.com

Maria José Carvalho de Souza Domingues (Professora da Universidade Regional de


Blumenau).

mjcsd2008@gmail.com

José Roberto Frega (Professor da Universidade Federal do Paraná).

jose.frega@gmail.com

218
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

RESUMO: Esta pesquisa buscou verificar, sob uma perspectiva longitudinal, o papel desempenhado
pelos autores no desenvolvimento da produção científica brasileira em contabilidade. Realizou-se uma
pesquisa bibliométrica e sociométrica, consultando-se 4.052 artigos. Analisaram-se categorias de
produção e de continuidade, classificando-se os autores em continuantes, transientes, entrantes, one-
timers e retirantes. Os resultados demonstraram a importância dos autores continuantes para o
desenvolvimento, a consolidação e o amadurecimento da pesquisa em contabilidade. Isso porque
esses autores apresentaram a maior produtividade quantitativa; atuam intermediando o
relacionamento com outras categorias, ou seja, agenciam as informações de diferentes pesquisadores;
os oitos autores continuantes com maior número de publicações são centrais em suas redes,
articulando as pesquisas de diferentes pesquisadores; e são os principais responsáveis por parcerias
internacionais. Apesar da importância dos continuantes, notou-se que estes representam o menor
percentual entre as categorias. Em contraposição, o maior número de autores identificados
classificou-se como one-timer, ou seja, realizou uma única publicação em todo o período. Esta última
categoria, aliada aos entrantes, indica a atratividade exercida sobre pesquisadores pela área do
conhecimento, podendo consistir nas principais fontes de inovações e de novas abordagens. Quanto
aos retirantes, observou-se certa rotatividade, o que é natural em todos os campos da pesquisa.

Palavras-chave: Produção científica em contabilidade. Permanência de autores.

Internacionalização de parcerias. Bibliométrica. Sociométrica.

219
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

As pesquisas contribuem para a produção e a disseminação do conhecimento científico (SILVA;


ENSSLIN, 2008), e o meio mais utilizado para sua comunicação é a divulgação em congressos e
periódicos (ARAÚJO; OLIVEIRA; SILVA, 2009). Na contabilidade, as produções científicas contribuem
para um maior entendimento e difusão dos procedimentos e das técnicas relativas ao patrimônio
social e econômico das entidades. Isso tornou a contabilidade, incluindo a gestão de custos, mais ativa
no ambiente empresarial, contribuindo para interpretar a complexidade de informações a serem
consideradas para fins decisórios (SILVA; PIRES, 2009).

Nesse contexto, defende-se a relevância de analisar a produção científica em contabilidade brasileira.


Essa produção é, normalmente, orientada pela bibliometria. É o que ocorre, por exemplo, com os
trabalhos de Riccio, Sakata e Carastan (1999), de Oliveira (2002), de Mendonça Neto et al. (2004), de
Cardoso et al. (2005), de Leite Filho (2006) e de Araújo, Oliveira e Silva (2009). Já Souza et al. (2008),
Espejo et al. (2009) e Walter et al. (2009) aliam a sociometria e a bibliometria, não investigando,
contudo, a permanência dos autores e os classificando conforme critérios de produção e de
continuidade. É o caso, por exemplo, de Guarido Filho, Machado-da-Silva e Gonçalves (2009), em seus
estudos sobre a teoria institucional, e de Walter et al. (2010), na área de estratégia. Dessa forma,
acredita-se que, ao se aliar a sociometria e a classificação em categorias de produção e de
continuidade, possa fornecer implicações capazes de estimular o crescimento e o amadurecimento da
área.

Visando preencher a lacuna, desenvolveu-se este estudo que buscou responder à seguinte pergunta
de pesquisa: Como a produção científica brasileira, na área de contabilidade, tem se configurado
quanto à permanência e à inserção de pesquisadores, bem como à cooperação entre autores? A
resposta a essa pergunta envolve a verificação de como pesquisadores e instituições tem atuado no
desenvolvimento da produção científica na área tanto em relação ao intercâmbio de informações
(redes de coautoria) quanto à sua produção e permanência no campo.

Neste contexto, como objetivo, definiu-se: verificar, sob uma perspectiva longitudinal (1994-2009) e
de acordo com categorias de produção e de continuidade, o papel desempenhado pelos autores no
desenvolvimento da produção científica brasileira em contabilidade. Para tal, realizou-se uma
pesquisa bibliométrica e sociométrica, consultando-se artigos de quatro eventos brasileiros Qualis A
na área contábil.

220
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Este artigo encontra-se estruturado em cinco seções. Além desta introdução, na segunda seção,
apresenta-se a revisão de literatura com conceitos de sociometria e as categorias de continuidade. Na
terceira, destacam-se os procedimentos metodológicos bibliométricos e sociométricos. A quarta
destina-se à análise dos dados. Por fim, na quinta, exibem-se as considerações finais, limitações da
pesquisa e sugestões para futuros estudos.

2. REVISÃO DE LITERATURA

A construção do conhecimento científico é compreendida como um processo social e dinâmico,


realizada por meio das interações entre os atores do seu campo científico (GUARIDO FILHO;
MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2009). Uma das ferramentas empregadas para estudar essa
interação entre os atores de uma área é a sociometria, também conhecida como análise de redes
sociais.

Para Galaskiewicz e Wasserman (1994), a análise de redes sociais concentra sua atenção em atores ou
entidades sociais que interagem uns com os outros e no fato de que essas interações podem ser
estudadas e analisadas como uma única estrutura ou esquema. Assim, as redes sociais, segundo
Wasserman e Faust (1994), podem ser definidas como um conjunto de “nós” que correspondem a
atores (pessoas ou organizações) ligados por relações sociais ou laços de tipos específicos. Em outras
palavras, os processos sociais podem ser visualizados por meio de redes de relacionamentos de autoria
que unem os autores ou as instituições (WALTER; SILVA, 2008). Nesta pesquisa, portanto, será analisa
a estrutura de relacionamento entre autores e entre instituições que se relacionam por meio da
publicação conjunta de artigos na área de contabilidade. Essa possibilidade de análise é chamada de
análise de redes de coautoria (LIU et al., 2005).

Para Powel, Koput e Smith-Doerr (1996) e Stuart e Podolny (1999) a conexão em uma rede, além de
aumentar o acesso à informação, é uma oportunidade para o acesso à inovação por meio de
conhecimentos gerados pelos relacionamentos individuais. Sob um ponto de vista institucional,
conforme destacam Smitt-Doerr e Powell (2003), as redes governam a distribuição e o acesso aos
recursos e às informações, de forma que as conexões podem conduzir ao fortalecimento de atividades,
a oportunidades e à aprendizagem. Contudo, quando este acesso é restrito, pode proporcionar um
fechamento social. No caso das redes de coautoria, essas conexões tornam-se oportunidades para o
intercâmbio de informações e ideias que se efetuam no desenvolvimento de novas pesquisas, às quais
podem contribuir para o desenvolvimento da área de conhecimento.

221
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Alguns conceitos da sociometria são importantes para análise da cooperação entre autores e
instituições em uma área de pesquisa. Os “nós”, por exemplo, correspondem a cada ator que colabora
com, pelo menos, um dos itens de uma rede e se caracterizam por círculos de diferentes cores em
uma rede (WALTER et al., 2010). Os nós nesta pesquisa referem-se aos pesquisadores ou às
instituições aos quais os autores dos artigos vinculavam-se no momento da publicação.

Laço forte é a conexão direta dos atores em uma rede (GRANOVETTER, 1973), na qual as informações
a serem compartilhadas tendem a ser as mesmas, com baixa tendência para mudança (BURT, 1992).
No caso deste estudo, o laço forte refere-se a dois autores (pesquisadores ou instituições) que
publicaram um artigo em parceria. Por sua vez, laço fraco é a representação de contatos indiretos
formados por meio de pontes que fornecem diferentes fontes de informação e tornam a rede
propensa à inovação (GRANOVETTER, 1973). Nesse sentido, no caso das redes de cooperação entre
autores, os laços fracos representam laços indiretos, operacionalizados por meio da interação entre
um autor que publica com outros pesquisadores. Lacuna estrutural representa contatos não-
conectados em uma rede, o que fornece uma vantagem competitiva para o indivíduo que realiza a
conexão entre as diferentes redes (BURT, 1992). Assim, um autor que estabelece a conexão entre
redes detém o poder de agenciamento do contato entre os autores dos diferentes grupos aos quais
se encontra vinculado.

A densidade de uma rede, para Marsden (1993), reflete quantos atores desta rede estão conectados
uns aos outros, de forma que quanto maior o número de laços fortes entre os atores da rede, maior
sua densidade. O conceito de equivalência estrutural, desenvolvido por White, Boorman e Breiger
(1974) e Burt (1992), ocorre quando dois atores ocupam posições semelhantes em um sistema social,
possuindo os mesmos tipos de relações. A propriedade de centralidade dos atores em uma rede, por
seu turno, reflete sua importância nessa rede, sendo que, quanto mais centrais, mais importantes os
autores serão (WASSERMAN; FAUST, 1994). De acordo com Knoke (1990), a posição do ator na rede
possui o poder de influenciar as atitudes e os comportamentos de outros atores a partir de sua
proeminência na rede, na qual a informação e os recursos escassos são transferidos de um ator para
outro.

Para o estabelecimento de uma rede bem estruturada de relacionamentos entre autores de um campo
do conhecimento, necessita-se de certo grau de permanência no âmbito da produção científica. Essa
permanência, de acordo com Guarido Filho, Machado-da-Silva e Gonçalves (2009), é sustentada por
um grupo de pesquisadores que se articulam e cooperam no sentido de conformar e adotar um quadro

222
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de referência para a área de conhecimento. Na concepção de Shah (2000), os atores que permanecem
por um amplo tempo em uma rede, tornam-se centrais nesta. Walter et al. (2010) acrescentam que a
permanência de pesquisadores em um campo favorece o desenvolvimento e o amadurecimento da
área por meio do emprego do conhecimento que esses detêm, assim como a entrada de novos
pesquisadores pode ser importante para introduzir novos conhecimentos, abordagens e visões.

Um meio utilizado para analisar a permanência dos pesquisadores em uma área do conhecimento é a
classificação em categorias de produção e de continuidade (BRAUN; GLÄNZEL; SCHUBERT, 2001;
GORDON, 2007; GUARIDO FILHO; MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2009; WALTER et al., 2010),
sendo que os autores são classificados de acordo com a regularidade e a distribuição de suas
publicações ao longo do período. Os pesquisadores considerados como continuantes são os que
apresentam diferentes publicações em distintos períodos do tempo, inclusive recentemente, ou seja,
são os integrantes habituais de um campo no qual atuam há um tempo considerável (WALTER et al.,
2010). Esses autores costumam se apresentar em um número reduzido se comparado a outras
categorias, todavia tendem a ser os mais produtivos, o que aponta para o fato de que um número
menor de pesquisadores é responsável pelo maior número de publicações em uma área ou tema
estudo (GUARIDO FILHO; MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2009). Estes pesquisadores também
podem atuar na intermediação entre outras categorias e entre pesquisadores em uma rede, ou seja,
costumam se apresentar como autores centrais em suas redes.

Os transientes diferem dos continuantes por apresentarem publicações em um número mais restrito,
sendo, portanto, um pouco menos persistentes e estáveis que aqueles (WALTER et al., 2010). Apesar
de menos persistentes, os transientes costumam apresentar um papel similar aos dos continuantes
em uma área do conhecimento, de forma que estas duas categorias, continuantes e transientes, são
apontados como essenciais para a sustentação e a continuidade da pesquisa em um campo em estudo
(GUARIDO FILHO; MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2009).

Os one-timers, em contraposição, são os autores esporádicos da área, apresentando apenas uma


publicação no período analisado (WALTER et al., 2010). Guarido Filho, Machado-da-Silva e Gonçalves
(2009) destacam que é provável que essas publicações sejam fruto de dissertações de mestrado com
orientação de pesquisadores mais estabelecidos no campo ou oriundas de pesquisadores
concentrados em outras áreas, mas que em algum momento visualizaram a possibilidade de publicar
também no campo em estudo. Tem-se ainda que parte desses pesquisadores, no futuro, poderia ser

223
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

reclassificados como entrantes ou transientes caso venham a publicar novamente na área (GUARIDO
FILHO; MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2009).

Entrantes são os que começaram a integrar o campo há pouco tempo, exibindo publicações apenas
nos períodos mais atuais. Estes pesquisadores representam o quando a área pesquisada é atrativa
para novos pesquisadores, bem como a possibilidade de inovações e transformações na área oriundas
de pesquisadores com novas ideias e perspectivas (WALTER et al., 2010).

Por fim, os retirantes consistem nos que deixaram a área, ou seja, não apresentam publicações nos
últimos anos (WALTER et al., 2010). Estes podem ser tanto pesquisadores que estão em processo de
desligamento de suas vidas acadêmicas, diminuindo o ritmo de publicações, quanto de pesquisadores
que estão migrando para outros campos do conhecimento.

3. DELINEAMENTO METODOLÓGICO

Para atender ao objetivo apresentado, realizou-se uma pesquisa bibliométrica que, segundo Macias-
Chapula (1998), consiste no estudo dos aspectos quantitativos da produção, da disseminação e do uso
da informação registrada; e sociométrico, que explora a matriz de relacionamentos estabelecida entre
atores sociais (GALASKIEWICZ; WASSERMAN, 1994), aqui compreendidos como autores e instituições.
Quanto à perspectiva temporal, esta pesquisa caracteriza-se como longitudinal, considerando o
período de 16 anos: de 1994 a 2009.
Por meio de pesquisa documental, coletou-se um total de 4.052 artigos científicos, abrangendo as
publicações em eventos Qualis A (até 2009) do país, na área contábil: a) International Accouting
Congress, da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis (IAAER-
ANPCONT), no período de 2007 a 2009, totalizando 346 artigos; b) Congresso Brasileiro de Custos
(CBC), do período de 1994 a 2009, em todas as suas 16 edições, totalizando 2.530 artigos; c) Congresso
USP de Controladoria e Contabilidade, no período de 2001 a 2009, totalizando 473 artigos; e d)
Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), no
período de 1998 a 2009, em suas áreas temáticas de Contabilidade (CON) e Ensino e Pesquisa em
Contabilidade (EPQ), totalizando 703 artigos. Selecionaram-se esses quatro eventos por serem
classificados como nível “A” pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e por sua importância e representatividade no cenário nacional.
Para a análise dos dados, observaram-se o ano de publicação, o evento no qual foram publicados, os
autores dos artigos, a primeira instituição informada na qual os autores se encontravam vinculados na

224
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ocasião da publicação e o país de origem da instituição. Para garantir a diferenciação nos nomes dos
autores que apresentavam a mesma forma de citação nominal, procedeu-se à conferência individual
por meio de uma consulta ao currículo constante na Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e, após a averiguação de possíveis homônimos,
optou-se, nesses casos, por manter o sobrenome e destacar o primeiro nome por extenso.
Realizou-se a análise dos dados no tocante: à produção científica por evento e por ano; à classificação
dos pesquisadores conforme as categorias de produção e de continuidade; à produção científica por
categoria e por ano; à produção científica por evento em cada categoria; às coautorias entre
categorias; aos autores mais prolíficos e com maior número de laços; às redes sociais de cooperação
entre atores; aos laços por categoria dos autores mais prolíficos; às redes sociais de cooperação entre
instituições brasileiras e estrangeiras; às instituições brasileiras que se associaram a estrangeiras; e às
categorias de produção e de continuidade dos autores que realizaram parcerias internacionais.
Para a análise das categorias de produção e de continuidade, avaliou-se quantitativamente o volume
(absoluto e relativo) de artigos, de pesquisadores e de autorias presentes em cada ano analisado.
Assim, se classificaram, a partir dos critérios apresentados por Walter et al. (2010) – adaptados de
Braun, Glänzel e Schubert (2001), Gordon (2007) e Guarido Filho, Machado-da-Silva e Gonçalves
(2009) –, os pesquisadores como: (a) continuantes: com duas ou mais publicações em cinco ou mais
anos diferentes e, ao menos, uma nos últimos três anos; (b) transientes: com duas ou mais publicações
em até quatro anos diferentes (não mais), sendo, pelo menos, uma nos três últimos anos e, ao menos,
uma em anos anteriores; (c) one-timers: com apenas uma publicação no período analisado; (d)
entrantes: com duas ou mais publicações em um ou mais anos diferentes nos últimos três anos
exclusivamente; e (e) retirantes: com duas ou mais publicações em um ou mais anos diferentes, mas
sem publicação nos últimos três anos. Ressalta-se que estas categorias são mutuamente excludentes
como pode ser percebido a partir da definição e dos critérios de cada categoria expostos no Quadro1.

225
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 1 – Definição e critérios para classificação dos autores nas categorias de produção e
continuidade.

Categoria Definição Critérios para classificação


Entrantes Novos pesquisadores da área (publicaram, ≥ 2 artigos de 2007 a 2009
Sem publicações de 1994 a
pelo menos, 2 artigos apenas nos últimos 3
Pesquisadores relativamente permanentes na ≥ 2 artigos em até 4 anos
Transientes área (publicaram, pelos menos, dois artigos diferentes
≥ 1 artigos de 2007 a 2009
≥ 1 artigos de 1994 a 2006
em até 4 anos diferentes, tanto nos 3 últimos
Pesquisadores consolidados na área ≥ 2 artigos em ≤ 5 anos
Continuantes
≥ 1 artigos de 2007 a 2009
(publicaram, pelos menos, dois artigos em
One-timers Pesquisadores esporádicos (publicaram 1 artigo de 1994 a 2009
apenas um artigo
Pesquisadores emestão
que todo odeixando
período) a área ≥ 2 artigos de 1994 a 2006
Retirantes
Sem publicações de 2007 a
(publicaram, pelos menos, 2 artigos, mas
Fonte: Adaptado de Guarido Filho, Machado-da-Silva e Gonçalves (2009).

Quanto à análise das redes sociais, optou-se pela exploração das redes de coautoria entre autores e
entre instituições, o que representa uma vertente de análise de redes sociais (LIU et al., 2005), por
meio do software UCINET® 6, com base no ano de publicação dos artigos analisados. Para a contagem
de laços por autores e instituições, considerou-se cada associação como um laço.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Nesta seção, expõe-se a análise da produção científica na área de contabilidade nos últimos 16 anos.
Primeiramente, na Tabela 1, apresenta-se a quantidade de artigos publicados, por ano e por evento,
considerados nesta pesquisa.

226
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 - Quantidade de artigos publicados por ano, por evento e total

Eventos Total

1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
47 95 20
4
ANPCONT - - - - 346
23,25%
(346)
27 81 42 49 76 106 13 13 17 139 23 35 212 23 26 25
9 3 9 8 1 8 7 3
CBC 2.530
100% (199) 85,6’% (321) 53,56% (451) 69,77% (801) 50,94%
(758)
Congresso 74 85 101 33 30 35 30 44 41
- - 473
USP 30,88% (260) 8,54% (98) 7,73% (115)
12 10 32 24 47 60 78 82 89 11 90 67
2
EnANPAD - 703
14,4% (54) 15,56% (131) 21,69% (249) 18,08%
(269)
27 81 42 49 88 116 17 23 31 300 34 46 336 42 49 56
Total 1 1 1 9 3 7 6 5 4.052
199 375 842 1.148 1.488

A partir da Tabela 1, verifica-se que, em geral, há uma expansão quantitativa em número de artigos
publicados ao longo dos anos. Nota-se, também, a criação de novos eventos na área de contabilidade,
como o Congresso USP, em 2001, e o ANPCONT, em 2007. O CBC é o primeiro evento a compor o
universo do estudo, desde 1994, também se destacando pelo maior número de artigos publicados por
edição e no total.
A Tabela 2 apresenta a distribuição de pesquisadores segundo as categorias.

227
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 2 - Distribuição de pesquisadores segundo categorias de produção e de continuidade


Autores Autores
Categorias de
independentemente considerando o Períodos com
produção e de Artigos3
do número de número de produção4
continuidade
publicações1 publicações2
Continuantes 8,2% (400) 3.067 75,7% (3.067) 100,0% (16)
Transientes 13,9% (679) 1.526 37,7% (1.526) 100,0% (16)
One-Timers 50,8% (2.478) 2.478 61,2% (2.478) 100,0% (16)
Entrantes 10,0% (488) 984 24,3% (984) 18,7% (03)
Retirantes 17,1% (835) 1.731 42,7% (1.731) 81,3% (13)
Total 4.880 9.786 4.052 16
Como muitos artigos possuem mais de um ator, existindo, portanto, a possibilidade de os
autores de um mesmo artigo se enquadrarem em diferentes categorias, adotaram-se alguns
critérios de quantificação:
1
Considera o número de autores que podem ser classificados em cada categoria sem
repetição do autor, ou seja, cada autor é contabilizado apenas uma vez, independente do
número de publicações. O percentual é obtido em relação ao número total de autores
diferentes no período (4.880).
2
Considera o número de vezes em que os autores classificados em cada categoria
publicaram, ou seja, admite repetição do mesmo autor conforme o número de publicações
suas no período.
3
Considera o número de artigos em que os autores classificados em cada categoria
contribuíram como autores ou coautores. A obtenção do percentual ocorre em relação ao
número de artigos publicados (4.052).
4
Considera o número de anos, de 1994 a 2009, em que houve artigo(s) publicado(s) pelos
autores classificados
em cada categoria. Obtém-se o percentual em relação ao número total de anos no período
(16).
Observa-se, por meio da Tabela 2, que os autores continuantes representam, ao longo de 16 anos,
8,2% do total de autores. Esses pesquisadores aparecerem 3.067 vezes como autores ou coautores de
estudos e representam 75,4% do volume de produção na área. Esse percentual de continuantes é mais
amplo que o encontrado em áreas mais específicas de conhecimento, como de 5,5% na perspectiva
institucional em estudos organizacionais (GUARIDO FILHO; MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2009)
e de 2,9% em estratégia organizacional (WALTER et al., 2010). Dessa forma, percebe-se que a área de
contabilidade como um todo apresenta maior percentual de pesquisadores tradicionais, que mantêm
constância e representatividade em suas publicações. Se esse resultado também se aplicar a áreas
mais específicas da contabilidade, poderá ser objeto de estudo futuro.
Os autores continuantes são responsáveis por um índice de produtividade quantitativa (divisão do
número de artigos pelo número de autores independente das publicações) de 7,67, superior aos
transientes, que obtiveram 2,25; aos retirantes, com 2,07; e aos entrantes, com 2,02. Os continuantes
se destacam por contribuírem para a consolidação do conhecimento da área, haja vista sua
experiência e conhecimento a respeito dos temas relacionados à área contábil. Além disso, também

228
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

contribuem, por meio de sua permanência e ampla produtividade, para difusão e legitimação do
conhecimento praticado no campo.
Os transientes, segunda categoria que apresenta maior estabilidade em publicações, somaram 13,9%
do total de autores, envolvendo 679 pesquisadores que se evidenciaram 1.526 vezes em autoria ou
coautorias de artigos. Os percentuais de continuantes e de transientes atingem, somados, 22,1% dos
autores, porém com um índice de produtividade médio de 4,96. Essas duas categorias de autores em
conjunto, de acordo com Guarido Filho, Machado-da-Silva e Gonçalves (2009), representam as bases
de sustentação e de continuidade da pesquisa em um campo de estudo.
Um dado a se destacar é o número de one-timers que totalizou 50,8% dos diferentes autores. Esse
número é inferior ao encontrado por Guarido Filho, Machado-da-Silva e Gonçalves (2009), de 59,8%,
e por Walter et al. (2010), de 72,9%, mas ainda merece atenção, visto que esses pesquisadores
analisaram áreas mais específicas do conhecimento. Os one-timers, para Guarido Filho, Machado-da-
Silva e Gonçalves (2009), podem ser pesquisadores com interesse predominante em outra área, tendo
contribuído pontualmente para o campo em análise. Aliados aos entrantes (10% dos autores), os one-
timers também representam o poder de atração desempenhado pela área, dado que pesquisadores
sem histórico de publicações no campo de contabilidade estão submetendo seus artigos em eventos
desse campo.
Comparando-se os entrantes (10% dos autores que participaram de 24,2% das publicações) e
retirantes (17,1% dos autores que participaram de 42,7% das publicações), observa-se que o número
de autores que deixa a área e sua produtividade é mais amplo do que os que nela se inserem. Isso
pode representar um retrocesso no desenvolvimento quantitativo da área, caso não se leve em
consideração que parte dos autores classificados como one-timers pode se configurar como entrantes
nos próximos anos.
A Tabela 3 apresenta a quantidade de artigos publicados por categoria e por ano. Esta tabela foi
construída de modo que os autores são primeiramente classificados em uma das categorias de
produção e continuidade; na sequência, somado o número de publicação de todos os autores de cada
categoria em cada ano.

229
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3 - Artigos publicados por categoria e por ano

1994
1995
1996
1997
1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009
Categorias Total
17 27 23 32 56 81 88 163 209 284 272 365 302 389 401 358
Continuantes 3.067
28,13% (99) 31,08% (225) 34,95% (656) 32% (939) 29,44% (1.148)
2 3 5 5 9 17 21 49 48 71 98 200 238 311 284 165
Transientes 1.526
4,26% (15) 6,49% (47) 8,95% (168) 18,27% (536) 19,49% (760)
13 61 20 15 34 71 123 102 139 152 246 279 216 271 311 425
One-timers 2.478
30,97% (109) 31,49% (228) 20,94% (393) 25,26% (741) 25,83% (1.007)
257 360 367
Entrantes - - - - 984
25,24% (984)
14 39 37 39 62 58 104 198 196 266 256 300 162
Retirantes - 1.731
36,65% (129) 30,94% (224) 35,16% (660) 24,47% (718)
46 130 85 91 161 227 336 512 592 773 872 1144 918 1.228 1.356 1.315
Total 9.786
352 724 1.877 2.934 3.899

No que concerne à Tabela 3, o período de 1994-1997 se destaca pelos menores índices de


continuantes e transientes, bem como o segundo maior de one-timers. Assim, tem-se um primeiro
período com destaque para publicações de autores esporádicos e que estão deixando a área. O
período de 1998-2000 possui o segundo menor percentual de autores transientes e um percentual
similar de continuantes, de one-timers e de retirantes, apresentando-se como um período equilibrado.
Em 2001-2003, exibe-se o segundo maior percentual de retirantes, acima do período anterior. Esse
mesmo período também apresenta o maior percentual de continuantes e o menor de one-timers,
configurando-se como um período de destaque para autores tradicionais e que estão deixando a área.
Em 2004-2006, observa-se o início de uma elevação no percentual de transientes e uma queda no de
retirantes, aspecto que tem continuidade no período de 2007-2009. Assim, no último período, tem-se
o maior percentual de transientes e o aparecimento dos entrantes. Nesse sentido, destaca-se que os
entrantes de 2007-2009 poderão se tornar transientes, continuantes ou retirantes no futuro, assim
como os one-timers dos últimos períodos poderão se tornar entrantes no futuro (GUARIDO FILHO;
MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 2009).
Na Tabela 4, exibe-se a quantidade de artigos publicados por evento por categoria.
Tabela 4 - Artigos publicados por evento em cada categoria de produção e de continuidade
Congresso
Categorias ANPCONT CBC EnANPAD
USP
Continuantes 34,10% (179) 34,38% (384) 28,60% (1.830) 38,62% (674)
Transientes 16,00% (84) 15,76% (176) 14,96% (957) 17,71% (309)
One-timers 24,57% (129) 22,20% (248) 27,33% (1.749) 20,17% (352)
Entrantes 25,33% (133) 6,80% (76) 9,38% (600) 10,03% (175)
Retirantes - 20,86% (233) 19,74% (1.263) 13,47% (235)

230
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Tabela 4 permite observar que, em todos os eventos, o percentual de continuantes é maior do que
das demais categorias, sendo que, no EnANPAD, esse é mais amplo que nos outros eventos. Ainda no
tocante ao EnANPAD, observa-se que, somando-se os percentuais de continuantes e de transientes,
categorias mais estáveis em publicações na área, tem-se mais de 50% dos artigos. Esse evento também
apresenta o menor percentual de one-timers. Assim, se configura como o evento com publicação de
pesquisadores mais tradicionais.
Em contraposição, o CBC apresenta o maior percentual de one-timers, apresentando-se como o
evento com maior percentual de pesquisadores esporádicos. Esse resultado pode estar relacionado à
amplitude de artigos aceitos, o que pode ser um atrativo para novos autores que ainda não publicaram
na área. Outra possibilidade é a de que, por enfocar a área de gestão estratégica de custos, o evento
atraia, também, pesquisadores de áreas como administração e economia, os quais publiquem,
possivelmente, em outros eventos distintos aos pesquisados neste estudo. Essa segunda possibilidade
atribui ao evento um caráter mais interdisciplinar, possibilitando a compilação de contribuições de
diferentes áreas para o tema.
O ANPCONT se destaca pelo percentual de entrantes, resultado possivelmente influenciado por ser o
evento mais recente do universo pesquisado. Os percentuais somados de entrantes e one-timers (que
poderão se tornar entrantes, já que o evento possui poucas edições até o momento) do ANPCONT
atinge quase 50%. Esse percentual se configura como forte indício de inovação, por ser um importante
meio de inserção de novos pesquisadores e, possivelmente, de perspectivas para a contabilidade. Já
o Congresso USP, em contrapartida, apresentou, entre os eventos enfocados, o menor percentual de
entrantes apesar de ser o segundo mais recente.
Em uma análise a respeito das coautorias relacionadas a cada categoria de produção e de
continuidade, verificou-se que os continuantes publicam principalmente com on-timers (939), mas
também com transientes (765), retirantes (671) e entrantes (509). A maior publicação dos
continuantes com on-timers pode estar relacionada ao fato de que essas publicações de on-timers
podem ser fruto de dissertações de mestrado com orientação de outros pesquisadores já
estabelecidos no campo (continuantes), conforme apontam Guarido Filho, Machado-da-Silva e
Gonçalves (2009). Também pode ser resultado de outras atividades dos programas de pós-graduação,
como publicações advindas de disciplinas isoladas ou de participações temporárias em grupos de
pesquisas, o que reflete a transição desses autores (WALTER et al., 2010).
Os transientes publicaram com continuantes (890), on-timers (647), entrantes (292) e retirantes (277).
Já os on-timers publicaram com continuantes (917), transientes (610), retirantes (490) e entrantes

231
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(331). Os entrantes, por sua vez, publicaram com continuantes (490), one-timers (311) e transientes
(263). Por fim, os retirantes publicaram com continuantes (693), one-timers (519) e transientes (233).
Assim, transientes, one-timers, entrantes e retirantes publicam principalmente com continuantes.
Esses números permitem inferir que os continuantes atuam intermediando relacionamento com
diferentes categorias, o que corrobora a afirmação de Braun, Glanzel e Schubert (2001) de que os
continuantes exercem importante papel na construção do conhecimento, especialmente na
consolidação da produção e na articulação com outras categorias de autores. Isso pode indicar uma
maior influência dos continuantes sobre o fluxo e conteúdo das informações na área. As publicações
entre continuantes e transientes, por exemplo, apontam para uma maior possibilidade de associações
duradouras no campo, além de que os continuantes estão atraindo entrantes e one-timers que
poderão se tornar entrantes para a área.
Na Tabela 5, apresentam-se os 25 autores com maior número de publicações no período.
Tabela 5 - Autores mais prolíficos
Artigos publicados

Categoria
do autor
Total de

Isolados
artigos
Laços
Autores
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
BEUREN, I. M. - - 1 2 3 1 1 7 6 6 4 4 4 7 6 6 58 84 3 C2
MIRANDA, L. C. - - - - - 1 4 7 15 5 2 2 - 2 3 4 45 108 1 C
CORRAR, L. J. - - - 1 1 3 1 - 3 5 4 1 2 5 3 9 38 64 2 C
SOUZA, M. A. de - - - - - - - 2 2 3 3 6 3 6 5 5 35 60 1 C
SOUZA, A. A. de - - - - 1 - 2 2 3 3 4 5 3 4 3 5 35 98 - C
SILVA, C. A. T. - 1 1 1 2 1 2 4 2 5 2 5 3 3 1 2 35 52 6 C
GUERREIRO, R. - 1 1 - 2 2 1 - 4 5 3 3 3 3 4 3 35 51 - C
BORNIA, A. C. 2 2 1 2 - 5 2 6 1 - 2 3 2 1 3 2 34 55 3 C
CALLADO, A. A. C. - - - - 1 2 2 1 8 1 1 4 2 3 4 1 30 55 - C
OTT, E. - - - - - - - 3 3 3 2 4 3 3 3 6 30 47 2 C
MACEDO, M. A.da S. - - - - - - - - - 1 3 3 4 5 7 7 30 51 - C
CALLADO, A. L. C. - - - - 1 1 1 1 7 1 1 5 3 3 4 1 29 57 - C
WERNKE, R. - - - - - 3 1 4 3 1 3 3 3 2 2 3 28 29 - C
NOSSA, V. - - - - 1 1 2 - 1 7 5 3 - 3 1 4 28 59 1 C
PEREIRA, C. A.1 - - - - - 1 - - - 3 7 3 4 4 4 1 27 51 - C
TEIXEIRA, A. J. C. - - - - - - - - 1 9 2 4 - 4 2 4 26 63 - C
SLOMSKI, V. - - - - - - - - - 7 3 4 3 5 2 2 26 51 - C
DIEHL, C. A. - - - - - 1 1 - 3 1 2 2 1 6 4 5 26 34 7 C
BORBA, J. A. - - - 1 - - 1 - - 2 4 4 4 2 4 3 25 42 1 C
FREZATTI, F. - - - - 1 1 1 - 1 1 1 3 1 5 7 3 25 48 3 C
NASCIMENTO, A.M. - - - - - - - - - 2 3 4 6 7 2 1 25 47 - C
BACIC, M. J. 2 2 2 2 2 1 1 1 2 1 2 2 1 1 2 - 24 28 4 C
KASSAI, J. R. - - - - 2 3 3 3 1 3 3 2 - 2 2 - 24 41 5 C
FREIRE, F. de S. - 1 1 2 2 - 4 2 1 2 1 2 2 1 3 24 49 2 C
MARTINEZ, A. L. - - - - 1 2 - - - 2 4 2 5 2 2 4 24 18 10 C
1PEREIRA, Carlos Alberto 2Continuante

Nota-se, a partir da Tabela 5, que César A. T. Silva e Miguel J. Bacic tiveram artigos publicados em 15
dos 16 anos analisados, seguidos por Ilse M. Beuren e Antonio C. Bornia, com publicações em 14 anos

232
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

diferentes. Ilse M. Beuren também se destaca como a autora mais prolífica, seguida por Luiz C.
Miranda, o qual se apresenta como o autor com maior número de laços de cooperação. Referente à
publicação de artigos como único autor, tem-se Antonio L. Martinez com o maior número. Tem-se,
ainda, que todos os autores mostrados na Tabela 5 classificam-se como continuantes.
Na Figura 1, destacam-se as redes de cooperação dos oito autores com maior número de publicações
no período analisado. Ressalta-se que se empregou esse recorte metodológico diante da
impossibilidade de representar as redes de cooperação entre todos os autores por limitações de
espaço.
Figura 1 - Redes sociais de cooperação entre atores

10

1 11 3
2

13

12

4 6

7 8

Legenda de nós/autores da Figura 1:


1 BEUREN, I. M. 5 MIRANDA, L. C. 8 BORNIA, A. C. 11 BOFF, M. L.
2 GUERREIRO, R. 6 SOUZA, A. A. de 9 FREZATTI, F. 12 AGUIAR, A. B. de
3 CORRAR, L. J. 7 SILVA, C. A. T. 10 BORINELLI, M. L. 13 MACEDO, M. A.da S.
4 SOUZA, M. A. de
Por meio da Figura 1, observa-se que os oitos autores (nós) com maior número de publicações são
centrais em suas redes. Esse resultado corrobora o destacado por Shah (2000) de os atores que
permanecem por um amplo tempo em uma rede, como os continuantes apresentados na Figura 1,
tendem a tornarem-se centrais. Essa propriedade de centralidade é importante para os pesquisadores,
pois reflete a importância desses pesquisadores como principal ponto de referência em suas redes e
de articulação entre diferentes informações, pesquisas e pesquisadores (WASSERMAN; FAUST, 1994).

233
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Além disso, Knoke (1990) aponta que a proeminência de um ator em uma rede pode lhe possibilitar
influenciar as atitudes e os comportamentos de outros atores desta rede.
Dos oito autores mais prolíficos, quatro – Ilse M. Beuren, Reinaldo Guerreiro, Luiz J. Corrar e Antônio
A. de Souza – se conectaram a outro(s) dos oito principais. Reinaldo Guerreiro (2), vinculado à USP,
por exemplo, estabeleceu relacionamento tanto com Ilse M. Beuren (1) – que, inicialmente, era
vinculada à UFSC e, atualmente, à FURB e que realizou doutorado na USP – quanto com Luiz J. Corrar
(3), vinculado à USP. Essas cooperações ocorreram de maneira direta por meio de laços fortes entre
os pesquisadores, bem como de forma indireta a partir de pontes ou de laços fracos (GRANOVETTER,
1973). Assim, Ilse M. Beuren e Reinaldo Guerreiro se relacionaram tanto ao publicarem em parceria
quanto com autores em comum, como Fábio Frezatti (9), vinculado à USP; Márcio L. Borinelli (10),
vinculado, inicialmente, à UEM e, atualmente, à USP; e Marines L. Boff (11), vinculada à FURB. A
conexão entre Luiz J. Corrar e Reinaldo Guereiro também é realizada das suas formas, sendo que o
número de autores com os quais ambos publicaram é mais amplo.
Já o relacionamento entre as redes que possuem como atores centrais Luiz J. Corrar (3) e Antônio A.
de Souza (6) – vinculado atualmente à UFMG – foi estabelecido apenas por meio de um contato
indireto (laço fraco) a partir do autor Marcelo A. da S. Macedo (13), vinculado à UFRRJ (professor) e à
USP (pós-doutorado). Nesse caso, observa-se a ocorrência de uma lacuna estrutural, a qual, de acordo
com Burt (1992), fornece uma vantagem competitiva para o indivíduo que realiza a conexão, uma vez
que esse usufrui acesso às informações das duas redes. Como destacado por Powel, Koput e Smith-
Doerr (1996) e Stuart e Podolny (1999), a conexão a uma rede também fornece acesso à inovação
proporcionada por diferentes indivíduos. Esse indivíduo também pode conquistar poder de
agenciamento de contato entre os autores dos diferentes grupos aos quais se encontra vinculado.
Adson B. de Aguiar (12), vinculado à USP, se destaca nas redes de cooperação apresentadas por
estabelecer conexão com três diferentes grupos. Pode-se perceber que ele estabelece parceria em
publicação com Luiz J. Corrar (3) e com Reinaldo Guerreiro (2), representados pelos laços fortes, bem
como estabelece um laço fraco com a rede que tem como ator central Ilse M. Beuren (1), por meio de
Fábio Frezatti (9), vinculado à USP. Dessa forma, Fábio Frezatti também pode, ao estabelecer o diálogo
entre esses grupos, desempenhar um papel importante no agenciamento dos contatos e das
informações entre os integrantes das três redes, bem como proporcionar inovações e contribuições.
Os demais autores centrais – Marcos A. de Souza (4), vinculado à UNISINOS (professor) e à USP
(doutorado); Luiz C. Miranda (5), vinculado atualmente à UFPE; César A. T. Silva (7), vinculada à UnB;

234
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e Antonio C. Bornia (8), vinculado atualmente à UFSC –, estabelecem laços com diferentes autores de
suas redes, mas não se conectam a outros dos oito autores mais prolíficos analisados.
Na Tabela 6, destaca-se a quantidade de laços de cada um dos oito autores mais prolíficos com cada
uma das categorias.
Tabela 6 - Quantidade de laços por categoria dos autores mais prolíficos
Autores Continuantes Transientes One-timers Entrantes Retirantes Total
BEUREN, I. M. 34,52% (29) 33,33% (28) 21,43% (18) 2,38% (2) 8,33% (7) 84
MIRANDA, L. C. 31,48% (34) 10,19% (11) 19,44% (21) 10,19% (11) 28,70% (31) 108
CORRAR, L. J. 56,25% (36) 20,31% (13) 9,38% (6) 3,13% (2) 10,94% (7) 64
SOUZA, M. A. de 40,00% (24) 20,00% (12) 15,00% (9) 11,67% (7) 13,33% (8) 60
SOUZA, A. A. de 33,67% (33) 10,20% (10) 18,37% (18) 18,37% (18) 19,39% (19) 98
SILVA, C. A. T. 25,00% (13) 17,31% (9) 13,46% (7) 7,69% (4) 36,54% (19) 52
GUERREIRO, R. 64,71% (33) 9,80% (5) 7,84% (4) 5,88% (3) 11,76% (6) 51
BORNIA, A. C. 34,55% (19) 12,73% (7) 23,64% (13) 9,09% (5) 20,00% (11) 55

A Tabela 6 deixa perceptível que os oito autores mais prolíficos publicam, principalmente, com
continuantes, o que reitera sua importância na consolidação do conhecimento científico da área. Ilse
M. Beuren, por exemplo, praticamente equilibrou suas publicações entre continuantes e transientes,
apresentando o maior percentual de parcerias com a última categoria. Além disso, Ilse M. Beuren
exibe o menor percentual de publicações com entrantes.
Luiz C. Miranda publicou, principalmente, com continuantes e retirantes, bem como apresenta o
menor percentual de publicações com transientes. Assim, esse autor costuma publicar com os
pesquisadores mais tradicionais da área.
Luiz J. Corrar e Marcos A. de Souza publicaram, principalmente, com continuantes. Antônio A. de Souza
também se destaca como o autor com maior percentual de parcerias com entrantes. Desta forma,
nota-se que esse autor está atraindo novos pesquisadores para o campo.
Em contraposição, César A. T. Silva apresenta seu maior percentual de cooperação com autores
retirantes. Esse resultado está ligado ao fato de esse autor ser um dos pioneiros da área, apresentando
publicações em 15 dos 16 anos analisados (Tabela 5).
Reinaldo Guerreiro exibe o maior percentual de publicações com continuantes e o menor com one-
timers, aspecto que se alinha ao identificado nas redes de cooperação (Figura 1) de que esse autor
apresenta um grande número de laços fortes com diferentes autores de dois grupos importantes de
pesquisadores, tanto o que possui como ator central Ilse M. Beuren quanto o de Luiz J. Corrar.
Por fim, Antonio C. Bornia publica, principalmente, com continuantes, também apresentando, todavia,
o maior percentual de parcerias com one-timers.

235
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Figura 2 apresenta as redes de cooperação internacionais do período (instituições brasileiras que


tiveram coautoria com instituições estrangeiras), perfazendo o total de 174 instituições envolvidas.

Figura 2 - Redes sociais de cooperação entre instituições brasileiras e estrangeiras

A Figura 2 possibilita observar que as 38 instituições nacionais que se associaram a estrangeiras o


fizeram com 39 instituições pertencentes a 13 diferentes países, sendo uma alemã, duas argentinas,
uma australiana, três canadenses, uma chilena, dez espanholas, seis norte-americanas, quatro
francesas, três inglesas, uma irlandesa, uma italiana, uma neozelandesa e cinco portuguesas.
Ressalta-se que, das 128 instituições estrangeiras, 84 se associaram e as outras 44 publicaram de
forma isolada. Em relação às cooperações firmadas com instituições brasileiras, percebe-se, no topo
da Figura 2, uma ampla rede de cooperação, na qual se destacam como atores centrais a USP, que
apresenta 13 laços, em 13 artigos, com 9 instituições do exterior diferentes; a UFRGS, com 8 laços, em
8 artigos, com 5 instituições; a UnB, com 8 laços, em 6 artigos, com 6 instituições; a UFPE, com 6 laços,
em 6 artigos, com 5 instituições; e a UNISINOS, com 7 laços, em 7 artigos, com 5 instituições. Tem-se,
também, uma rede com uma instituição estrangeira como central, a UV, da Espanha (direita da Figura

236
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2). Essa instituição estabeleceu parcerias com seis instituições do Brasil, bem como com outras três
estrangeiras.
A análise do panorama geral de internacionalização evidencia que a amplitude de associações de cada
instituição brasileira com universidades estrangeiras ainda é limitada. Entretanto, devido à riqueza de
possíveis trocas de conhecimento com universidades e pesquisadores estrangeiros, há um amplo
espaço para crescimento dessas associações.
No que se refere às categorias de produção e de continuidade dos autores que realizaram parcerias
internacionais, ressalta-se que se classificaram 42 (33,07%) como continuantes, 23 (18,11%) como
transientes, 27 (21,26%) como one-timers, 19 (14,96%) como entrantes e 16 (12,6%) como retirantes,
totalizando 127 autores que publicaram com autores do exterior. Esse resultado reitera a importância
dos autores continuantes para o amadurecimento e desenvolvimento de um campo científico também
no que concerne à troca de informações e ao desenvolvimento de cooperações internacionais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou verificar, sob uma perspectiva longitudinal e de acordo com categorias de
produção e de continuidade, o papel desempenhado pelos autores no desenvolvimento da produção
científica brasileira em contabilidade. Os resultados obtidos demonstraram a importância dos autores
classificados como continuantes para o desenvolvimento da pesquisa em contabilidade e,
consequentemente, para a consolidação e o amadurecimento dessa área do conhecimento. Isso
porque esses autores apresentaram a maior produtividade quantitativa entre as categorias,
demonstrando seu potencial na difusão do conhecimento da área contábil e no desenvolvimento de
pesquisas que visam ampliar o conhecimento acumulado nesse campo.
Além disso, observou-se que os continuantes atuam intermediando o relacionamento com diferentes
categorias, visto que o maior índice de coautorias das demais categorias é com continuantes, ou seja,
estes atuam agenciando as informações e os conhecimentos de diferentes grupos de pesquisadores.
As parcerias com transientes, por exemplo, refletem o fluxo de informações mais estáveis da rede. Já
as publicações com retirantes indicam que estes possuem acesso aos conhecimentos mais
tradicionais. Em contraposição, ao pesquisarem ao lado de entrantes e on-timers, os continuantes
podem ter acesso a inovações e a novas perspectivas para o tratamento do conhecimento do campo.
Corroborando esse resultado, tem-se, ainda, que os oitos autores continuantes com maior número de
publicações são centrais em suas redes. Dessa forma, esses autores podem atuar articulando as
pesquisas e os conhecimentos vinculados a diferentes pesquisadores da área.

237
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Outro aspecto que demonstra o importante papel desempenhado pelos autores continuantes situa-
se no fato de essa categoria ser a principal responsável pelas parcerias internacionais realizadas. Nesse
sentido, reitera-se, também, o grande espaço existente para a realização de parcerias com autores do
exterior, visto que tais parcerias ainda se apresentam restritas e que diversas instituições estrangeiras
realizaram publicações no Brasil (com ou sem parcerias nacionais), o que demonstra o interesse dessas
entidades em publicar no país.
Apesar da importância dos autores continuantes para o desenvolvimento do campo de pesquisa em
contabilidade, notou-se que os mesmos representam o menor percentual entre as categorias. Em
contraposição, o maior número de autores identificados classificou-se como one-timer, ou seja,
realizou uma única publicação em todo o período. Essa última categoria, aliada aos entrantes, indica
a atratividade exercida pela área do conhecimento a pesquisadores, podendo consistir nas principais
fontes de inovações e de novas abordagens. Contudo, os entrantes apresentam uma tendência a se
estabilizarem no campo da contabilidade, passando a oferecer uma contribuição mais ampla para seu
desenvolvimento.
Por fim, em relação aos retirantes, observou-se certa rotatividade, o que é natural em todos os campos
da pesquisa. Todavia, é salutar que esse percentual não seja superior ao número de pesquisadores
atraídos para a área. Assim, apesar de a parcela de retirantes, nesta pesquisa, ser maior que a de
entrantes, é provável que alguns dos pesquisadores considerados como one-timers nos períodos mais
recentes se configurem como entrantes em breve.
Como limitação desta pesquisa, destaca-se a amostra focada em eventos, a qual poderia sem ampliada
para considerar também periódicos. Para futuras pesquisas sugere-se verificar se os resultados deste
estudo se confirmam, também, nas subáreas da contabilidade.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, E. A. T.; OLIVEIRA, V. do C.; SILVA, W. A. C. Estudo bibliométrico da produção científica sobre
contabilidade gerencial. In: SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO, 12., 2009, São Paulo, SP. Anais… São
Paulo: FEA/USP, 2009.

BRAUN, T.; GLÄNZEL, W.; SCHUBERT, A. Publication and cooperation patterns of the authors of
neuroscience journals. Scientometrics, v. 51, n. 3, p. 499-510, 2001.

BURT, R. S. Structural holes: the social structure of competition. Cambridge, MA: Havard University
Press, 1992.

CARDOSO, R. L.; MENDONÇA NETO, O. R.; RICCIO, E. L.; SAKATA, M. C. G. Pesquisa científica em
contabilidade entre 1990 e 2003. Revista de Administração de Empresas, v. 45, n. 2, p. 34-45, 2005.

238
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ESPEJO, M. M. dos S. B.; CRUZ, A. P. C. da; WALTER, S. A.; GASSNER, F. P. Campo de pesquisa em
contabilidade: uma análise de redes sob a perspectiva institucional. ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E INTERNATIONAL
ACCOUTING CONGRESS, 03, 2009, São Paulo, SP. Anais… São Paulo: ANPCONT, 2009.

GALASKIEWICZ, J.; WASSERMAN, S. Advances in social network analysis: research in the social and
behavioral sciences. London: Sage, 1994.

GORDON, A. Transient and continuant authors in a research field: the case of terrorism.
Scientometrics, v. 72, n. 2, p. 213-224, 2007.

GRANOVETTER, M. The strength of weak ties. American Journal of Sociology, v. 78, n. 6, p. 1360-1380,
1973.

GUARIDO FILHO, E. R.; MACHADO-DA-SILVA, C. L.; GONÇALVES, S. A. Institucionalização da teoria


institucional nos contextos dos estudos organizacionais no Brasil. ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 33, 2009, São Paulo, SP.
Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2009.

KNOKE, D. Political networks: the structural perspective. New York: Cambridge University Press, 1990.

LEITE FILHO, G. A. Padrões de produtividade de autores em periódicos de congressos na área de


contabilidade no Brasil: um estudo bibliométrico. In: CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E
CONTABILIDADE, 6., 2006, São Paulo, SP. Anais… São Paulo: FEA/USP, 2006.

LIU, X.; BOLLEN, J.; NELSON, M. L.; VAN DE SOMPEL, H. Coauthorship networks in the digital library
research community. Information Processing & Management, v. 41, n. 6, p. 1462-1480, 2005.

MACIAS-CHAPULA, C. A. O papel da informetria e da cienciometria e sua perspectiva nacional e


international. Ciência da Informação, v. 27, n. 2, p. 134-140, 1998.

MARSDEN, P. V. The reliability of network density and composition measures. Social Networks, v. 15,
n. 4, p. 399-421, 1993.

MENDONÇA NETO, O. R. e; CARDOSO, R. L.; RICCIO, E. L.; SAKATA, M. C. G. Estudo sobre as publicações
científicas em contabilidade: uma análise de 1990 até 2003. ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL
DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 28, 2004, Curitiba, PR. Anais... Rio de
Janeiro: ANPAD, 2004.

OLIVEIRA, M. C. Análise dos periódicos brasileiros de contabilidade. Revista Contabilidade & Finanças,
v. 13, n. 29, p. 68-86, 2002.

POWELL, W. W.; KOPUT, K. W.; SMITH-DOERR, L. Interorganizational collaboration and the locus of
innovation: networks of learning in biotechnology. Administrative Science Quarterly, v. 41, n. 1, p. 116-
145, 1996.

RICCIO, E. L.; SAKATA, M. G.; CARASTAN, J. T. Accounting research in brazilian universities: 1962-1999.
Caderno de Estudos da FIPECAF, v. 10, n. 22, p. 35-44, 1999.

239
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

SHAH, P. P. Network destruction: the structural implications of downsizing. Academy of Management


Journal, v. 43, n. 1, p. 101-13, 2000.

SILVA, B. M. dos S. da; ENSSLIN, S. R. O perfil dos artigos publicados nos congressos de iniciação
científica em contabilidade da UFSC e da USP: um estudo bibliométrico. CONGRESSO UFSC DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM CONTABILIDADE, 2., 2008, Florianópolis, SC. Anais... Florianópolis 2008.

SILVA, P. Y. C. da; PIRES, J. S. D. B. Investigação e análise da produção científica em contabilidade e


sociedade no Brasil nos últimos 20 anos. ENCONTRO INTERNACIONAL DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA
CESUMAR, 06, 2009, Maringá, PR. Anais... Maringá: CESUMAR, 2009.

SMITH-DOERR, L.; POWELL, W. W. Networks and economic life. In N. Smelser & R. Swedberg. (Eds.).
The handbook of economic sociology. Boston: Sage, 2003.

STUART, T. E.; PODOLNY, J. M. Positional consequences of strategic alliances in the semiconductor


industry. Research in the Sociology of Organizations, v. 16, p. 161-182, 1999.

SOUZA, F. C. de; ROVER, S.; GALLON, A. V.; ENSSLIN, S. R. Análise das IES da área de ciências contábeis
e de seus pesquisadores por meio da produção científica. Revista Contabilidade Vista & Revista, v. 19,
n. 3, p. 15-38, 2008.

WALTER, S. A.; SILVA, E. D. da. Visão baseada em recursos: um estudo bibliométrico e de redes sociais
da produção científica da área de estratégia do EnANPAD 1997-2007. ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 32, 2008, Rio de Janeiro, RJ.
Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

WALTER, S. A.; CRUZ, A. P. C.; ESPEJO, M. M. S. B.; GASSNER, F. P. Uma análise da evolução do campo
de ensino e pesquisa em contabilidade sob a perspectiva de redes. In: CONGRESSO USP
CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 10., 2009, São Paulo, SP. Anais... São Paulo: FEA/USP, 2009.

WALTER, S. A.; LANZA, B. B. B.; SATO, K. H., SILVA, E. D. da; BACH, T. M. Análise da produção científica
de 1997 a 2009 na área de estratégia: produção e continuidade de atores e cooperação entre
instituições brasileiras e estrangeiras. ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 34, 2010, São Paulo, SP. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2010.

WASSERMAN, S.; FAUST, K. Social network analysis: methods and applications. Cambridge University
Press, 1994.

WHITE, H. C.; BOORMAN, S. A.; BREIGER, R. L. Social structure from multiple networks. American
Journal of Sociology, v. 81, n. 4, p. 730-780, 1974.

240
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 12

GERENCIAMENTO DO MIX DE PRODUÇÃO EM UMA


EMPRESA INDUSTRIAL UTILIZANDO A ANÁLISE DE
SENSIBILIDADE
DOI: 10.37423/200300492

Fernando Ben (UCS) – fben@ucs.br


Odacir Deonisio Graciolli (UCS) - odgracio@ucs.br
Carlos Eduardo Roehe Reginatto (UCS) - cerregin@ucs.br

Resumo: Este trabalho apresenta um modelo de decisão baseado na programação linear,


envolvendo um problema de margem de contribuição com limitação na capacidade de
produção e a definição do mix ótimo de produção. Este tema é relevante em função de os
recursos, em virtude de diversos motivos, estarem cada vez mais escassos no ambiente
empresarial. Assim, diante de uma restrição na capacidade produtiva, é imprescindível que a
empesa domine ferramentas de apoio à tomada de decisão. Para tanto, foi estruturado um
estudo de caso, onde foram analisados os dados em uma empresa do setor moveleiro
brasileiro. Depois de analisada a margem de contribuição em função de uma restrição de
matéria prima, foi estruturado um modelo na ótica da pesquisa operacional para definir o
mix ideal de produção. Depois de definido o mix, foram realizadas análises de sensibilidade
no modelo elaborado, explorando as análises decorrentes do relatório de respostas, do
relatório de sensibilidade e do relatório de limites, identificando as principais informações
oferecidas por essa ferramenta na situação apresentada. Como resultado do trabalho, ficou
evidenciado que os relatórios da análise de sensibilidade produzidas pelo Excel apresentam
informações relevantes para o gerenciamento de empresas moveleiras que apresentam
restrições no ambiente operacional, uma vez que fica facilitado o entendimento das
alterações nas restrições apresentadas no resultado da função objetivo. 241
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-chave: Pesquisa Operacional. Análise de Sensibilidade. Tomada de Decisão.

Área temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

242
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A competitividade empresarial é fato notório para as empresas atuantes no mercado brasileiro, as


quais devem basear suas ações na manufatura de classe mundial. Nesse âmbito, as empresas
apresentam entre si uma competitividade acirrada em função de fatores como a diminuição no custo
de produção e a escassez de recursos para desempenhar as atividades operacionais. Tal redução pode
ser buscada tanto em recursos externos à empresa como na otimização das condições apresentadas
no ambiente fabril.

Nesse sentido, o perfeito entendimento das variáveis internas da organização e o reflexo das
alterações destas no resultado da empresa constitui-se elemento fundamental para o correto
gerenciamento. Para tanto, a modelagem de situações visando a simulação de cenários possível é
ferramenta relevante para auxílio na tomada de decisão.

Dentre as técnicas de modelagem matemática existentes, observa-se a pesquisa operacional como


sendo de grande valia para decisões no ambiente empresarial. Para tanto, a pesquisa operacional
realiza otimizações (maximizações ou minimizações) de uma ou mais variáveis desejadas (denominada
função objetivo), submetido a restrições apresentadas no ambiente fabril, como a limitação na
quantidade de horas-máquina ou a existência de quantidade máxima de um determinado insumo,
tendo a empresa que tomar decisões precisas para que o resultado global possa ser otimizado.
Posteriormente, depois de estruturado o modelo e realizadas as iterações necessárias, análises de
sensibilidade podem ser realizadas, as quais visam determinar o resultado do modelo em decorrência
de mudanças nas restrições existentes, sem a necessidade de realizar novas iterações.

Assim, este trabalho apresenta como objetivo principal a estruturação de análises de sensibilidade
decorrentes de um modelo de programação linear. Dessa forma, o presente trabalho apresenta em
um estudo de caso realizado em uma empresa do setor moveleiro. Para tanto, foram utilizados dados
secundários para a obtenção do referencial teórico acerca do tema analisado, bem como dados
primários para a realização do estudo de caso. Quanto à natureza do trabalho, o mesmo é classificado
como pesquisa aplicada, uma vez que objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática de um
modelo de decisão para o ambiente industrial, enfatizando nos aspectos econômicos integrados de tal
gestão, dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais. Já do
ponto de vista da forma de abordagem do problema, este trabalho apresenta características
qualitativas, analisando práticas adotadas nas empresas e demais evidenciações desse tipo; e

243
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

características quantitativas, interpretando fenômenos e atribuindo significado ao ambiente natural


como fonte de dados, permitindo a análise e interpretação. Em se tratando dos objetivos do trabalho,
o mesmo pode ser classificado como de caráter exploratório, visto que envolve levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado
e análise de exemplos que estimulam a compreensão. Quanto aos procedimentos técnicos, este
trabalho se classifica como (i) bibliográfico, por ter sido baseada em material já publicado, constituído
de livros, artigos de periódicos e materiais disponibilizados na internet,

(ii) levantamento, por envolver a interrogação direta de pessoas durante o estudo de caso proposto
para avaliar a implantação e manutenção das ferramentas estruturadas no modelo a ser apresentado
neste artigo (iii) estudo de caso, por realizar dois estudos de caso abordando a aplicação do modelo
estruturado em uma empresa.

2 PESQUISA OPERACIONAL

Conforme Corrar e Theóphilo (2004), a programação linear foi desenvolvida conceitualmente após a
segunda guerra mundial, pelo soviético Kolmogorov, com o objetivo de resolver problemas de logística
militares. A primeira aplicação de PL foi feita em 1945, por Stigler em um problema referente à
composição de uma mistura.

De acordo com Bazaraa e Jaarvis (2005), a programação linear lida com problemas de maximização ou
minimização de uma função linear na presença de inequações lineares. Desde o desenvolvimento do
método simplex por George B. Dantzig, em 1947, a programação linear tem sido amplamente utilizada
nas áreas militar, industrial e no planejamento governamental e urbano, entre outros. Os autores
ponderam ainda que o método simplex de programação linear apresenta grande aceitação devido à
sua capacidade para modelar problemas de gestão importantes e complexos, além de apresentar
capacidade para a produção de soluções em uma quantidade razoável de tempo.

Conforme Corrar e Theóphilo (2004), diversas decisões tomadas no dia a dia das empresas dizem
respeito a qual combinação de recursos produz o resultado ótimo, como: Qual deve ser o mix de
produtos a serem fabricados de forma a atingir a maior margem de contribuição? Qual a combinação
de investimentos que maximiza o retorno de uma carteira? Qual combinação de insumos em uma
mistura corresponde ao custo mínimo? Assim, a programação linear é um dos mais importantes
instrumentos da pesquisa operacional – área do conhecimento que fornece um conjunto de

244
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

procedimentos voltados para tratar problemas que envolvem a escassez de recursos. Os autores
ponderam ainda que são passíveis de solução com o emprego de programação linear os problemas
nos quais se busca a melhor alocação de recursos, de forma a atingir determinado objetivo de
otimização, atendendo a determinadas restrições. Essas limitações podem referir-se ao montante ou
à forma de distribuição de recursos. Segundo Andrade (2002), um estudo de pesquisa operacional
consiste, basicamente, na construção de um modelo para um sistema real que sirva como instrumento
de análise e compreensão do comportamento desse sistema, com o objetivo de levar o sistema a
presentar o desempenho desejado.

Colin (2007) apresenta que a programação linear trata do problema de alocação ótima de recursos
escassos para a realização de atividades. O autor pondera que ótimo é o estágio que não haja outra
solução que seja melhor do que a oferecida (podem haver outras alternativas tão boas quanto). Os
recursos escassos representam a existência finita de recursos, por mais abundantes que sejam. As
atividades se relacionam com algum interesse que tenhamos na fabricação de produtos, etc.

Conforme Moreira (2007), um problema típico de programação linear apresenta duas grandes partes:
uma expressão que se quer maximizar ou minimizar, chamada função objetivo. Nessa expressão
surgem as variáveis fundamentais cuja quantidade será a solução do problema. Essas variáveis são
chamadas de variáveis de decisão; e outra parte com um certo número de restrições, expressa na
forma de equações ou inequações matemáticas, que aparecem e são assim formuladas devido à
configuração dos próprios dados do problema. Essas restrições representam, dependendo do caso,
limitações da situação real, como escassez de recursos, limitações legais, etc.

Colin (2007) pondera que, nas aplicações reais, o número de equações e variáveis dos modelos de
programação linear cresce rapidamente, de modo que fica muito difícil a solução manual. Nesse
sentido, os softwares de baixa complexidade em geral são utilizados de maneira mais intensiva e
dedicadas, nas quais as rotinas, saídas e introdução de dados são em grande medida feitas de forma
automática (computacional). O usuário desse tipo de sistema recebe as saídas do modelo e as utiliza
para tomas as melhores decisões possíveis. Complementando essa lógica, Lachtermacher (2009)
apresenta a existência de vários softwares capazes de operacionalizar a lógica da pesquisa
operacional, como o Lingo e o Excel. O autor pondera inda que, dentre as ferramentas que vêm
ganhando cada vez mais adeptos, as planilhas eletrônicas são as preferidas, pois, além da facilidade
de utilização, estão presentes em praticamente todas as empresas modernas. Assim, com a utilização

245
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

do suplemento Solver presente na planilha Excel, as análises de pesquisa operacional podem ser
realizadas.

Para estruturar um modelo matemático para ser resolvido através da programação linear, é necessário
definir três elementos fundamentais. O primeiro destes são as variáveis de decisão, as quais segundo
Corrar e Theóphilo (2004) referem-se às decisões a serem tomadas, visando encontrar a solução do
problema. O segundo elemento a ser definido é a função objetivo, a qual é uma expressão matemática
por meio da qual relacionamos as variáveis de decisão e o objetivo a ser atingido. As restrições são o
terceiro elemento fundamental dos problemas de PL, sendo limitações impostas sobre os possíveis
valores que podem ser assumidos pelas variáveis de decisão.

Depois de modelado o problema, inseridos os dados na planilha eletrônica e realizada a otimização


utilizando o Solver, podem ser realizadas análises de sensibilidade no modelo já otimizado, com base
nos relatórios apresentados na sequência.

3 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

Corrar e Theóphilo (2004) apresentam que a análise de sensibilidade amplia a solução estática da
programação linear, permitindo incorporar à resposta considerações sobre eventuais alterações nas
condições do problema, dentro de intervalos definidos.

Segundo Lachtermacher (2009), uma das hipóteses dos problemas de programação linear é a hipótese
de certeza dobre os valores dos coeficientes da função objetivo e das constantes das restrições. Para
amenizar essa hipótese, realizamos uma análise de pós-otimização verificando as possíveis variações,
para cima e para baixo, dos valores dos coeficientes da função objetivo, dos coeficientes e das
constantes das restrições, sem que a solução ótima seja alterada. Esse estudo é denominado análise
de sensibilidade.

Conforme Colin (2007), o termo análise de sensibilidade está associado a análises relacionadas com
variações em parâmetros quantitativos. No caso da programação linear, a análise de sensibilidade está
relacionada com a análise dos efeitos ocasionados no modelo caso seus parâmetros mudem.
Conforme o autor, depois do algoritmo simplex e da solução oferecida por ele, a análise de
sensibilidade é provavelmente o que existe de mais importante na programação linear. Ela é
fundamental quando o tomador de decisão está interessado em avaliar como mudanças no modelo
(e o mundo real que ele representa) podem afetar a solução.

246
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Colin (2007) apresenta que, no caso da programação linear, a análise de sensibilidade está relacionada
com a análise dos efeitos ocasionados no modelo caso seus parâmetros mudem. Depois do algoritmo
simplex e da solução oferecida por ele, a análise de sensibilidade é provavelmente o que existe de
mais importante na programação linear. Ela é fundamental quando o tomador de decisão está
interessado em avaliar como mudanças no modelo (e no mundo real que ele representa) podem afetar
a solução. Lachtermacher (2009) evidencia que existem dois tipos básicos de análise de sensibilidade.
O primeiro estabelece limites inferiores e superiores para todos os coeficientes da função-objetivo e
para as constantes das restrições. O segundo verifica se mais de uma mudança simultânea em um
problema altera a sua solução ótima.

No âmbito da análise de sensibilidade, Colin (2007) define custo reduzido evidenciando que, para uma
variável não básica (cujo valor é zero). Nesse sentido, o custo reduzido é a quantidade pela qual o valor
do coeficiente da função-objetivo precisa ser melhorado para que a variável passe a ser básica (tem
um valor diferente de zero) na solução ótima. Matematicamente, para xj uma variável não básica, o
custo reduzido é definido por – rj. Caso cj passe a ser cj + rj, então xj passa a ser uma variável básica.
A definição considera que não haja nenhuma outra alteração nas variáveis e parâmetros da solução
ótima. Lachtermacher (2009) complementa que existem duas interpretações básicas para o custo
reduzido: a quantidade que o coeficiente da função-objetivo de uma variável original deve melhorar
antes de essa variável se tornar básica; ou a penalização que deverá ser paga para tornar uma variável
básica. Outro conceito relevante é o do intervalo de otimalidade, que é o intervalo (acréscimo mais
decréscimo permissível) em que o coeficiente da função-objetivo pode estar sem que a solução básica
mude. A definição considera que não haja nenhuma outra alteração nas variáveis e parâmetros da
solução ótima. Por sua vez, Taha (2007) pondera que a análise de múltiplas alternativas de
investimentos com restrição pré-definidas, geralmente a restrição orçamentária, pode ser feita
através de modelos de programação matemática.

3.1 RELATÓRIO DE RESPOSTAS

Conforme Lachtermacher (2009), esse relatório é o de mais simples compreensão. A primeira parte,
denominada célula de destino (target cell), indica o tipo de problema de otimização tratado
(maximização ou minimização) e o valor inicial e final da função objetivo, antes e depois da otimização,
bem como a célula que foi utilizada para representá-la.

A segunda parte do relatório é relativa às variáveis de decisão ou células variáveis (adjustable cells).

247
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A terceira parte do relatório de respostas diz respeito às restrições. A coluna célula (cells) indica as
células utilizadas para representar o lado esquerdo (left hand side – LHS) de cada uma das restrições.
A coluna de valor da célula (cell value) indica o valor do LHS de cada uma das restrições após as
otimizações.

3.2 RELATÓRIO DE SENSIBILIDADE

Ao apresentar o relatório de sensibilidade, Lachtermacher (2009) evidencia que o mesmo está dividido
em duas partes. A primeira refere-se às mudanças que podem ocorrer nos coeficientes das variáveis
de decisão da função objetivo. A outra parte mostra as possíveis alterações que as constantes das
restrições podem sofrer. Neste relatório, alguns conceitos importantes necessitam ser analisados.

3.2.1 PREÇO SOMBRA (SHADOW PRICE)

Conforme Lachtermacher (2009), o preço sombra representa a quantidade pela qual a função objetivo
é alterada, dado um incremento de uma unidade na constante da restrição, assumindo que todos os
outros coeficientes e constantes permaneçam inalterados. Corrar e Theóphilo (2004) complementam
argumentando que esse campo indica quanto se deixa de ganhar por não se dispor de mais uma
unidade de determinada variável restritiva.

O Excel reporta o valor do preço sombra como um valor positivo, zero ou negativo. Se o preço sombra
for positivo, um incremento de uma unidade na constante da restrição resultará em um aumento do
valor da função objetivo. Se o preço sombra for negativo, um incremento de uma unidade na
constante de restrição resultará na diminuição do valor da função objetivo. Entretanto, o valor do
preço sombra permanecerá constante desde que o valor da constante permaneça no intervalo
descrito pelas colunas de “permissível acréscimo” e “permissível decréscimo” (allowable increase e
allowable decrease).

3.2.2 CUSTO REDUZIDO (REDUCED COST)

Lachtermacher (2009) apresenta o custo reduzido como sendo a quantidade que o coeficiente da
função objetivo de uma variável original deve melhorar antes dessa variável se tornar básica.
Conforme Corrar e Theóplilo (2004), os valores contidos nesse campo indicam qual o reflexo
provocado na função objetivo pela opção por alternativas diferentes da indicada na solução ótima.
Como se observa, o custo reduzido pode ser entendido como um “custo de oportunidade”, isto é,
mostra quanto se está deixando de ganhar (ou perder) por desprezar determinada alternativa.

248
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Destaca-se que o custo reduzido é zero para as varáveis que fazem parte da solução ótima. O custo
reduzido assume outros valores caso a solução ótima indicasse que a empresa deveria produzir apenas
um determinado produto. Nesse caso, este campo indicaria quanto seria alterado na função objetivo
a cada unidade deste produto que a empresa viesse a produzir.

Como os valores do custo reduzido estão ligados aos coeficientes da função objetivo, as colunas
“permissível acréscimo” e “permissível decréscimo” dos coeficientes formam um intervalo no qual
podem sofrer alterações (desde que apenas um dos coeficientes se altere de cada vez) sem que a
solução ótima seja alterada.

3.3 RELATÓRIO DE LIMITES

Lachtermacher (2009) apresenta que o relatório de limites apresenta duas partes: a primeira, na parte
superior, relativa à função objetivo, e a outra, na parte inferior, relativa às variáveis de decisão.

A parte superior é de interpretação direta e apresenta a célula utilizada para representar a função
objetivo e o seu valor na solução ótima. Na parte inferior, são apresentados o limite inferior e o limite
superior, os quais são as variações possíveis dos valores das variáveis de decisão e da função objetivo.

4 ESTUDO DE CASO

Para aplicar os conceitos apresentados neste artigo, foi realizado um estudo de caso em uma empresa
do ramo moveleiro. A referida empresa apresenta diversos produtos em seu mix, todos eles utilizando
madeira como a matéria prima principal.

Em função de problemas relacionados ao fornecimento de madeira em um mês, a empresa necessita


determinar o mix ideal de produção para otimizar o resultado ao utilizar a madeira disponível para a
produção naquele período.

Apesar de possuir quase 50 produtos no mix de vendas, o presente estudo é realizado envolvendo três
produtos: Mesa 4 lugares, Mesa 6 lugares e Cadeiras. A escolha destes produtos se justifica em função
de os mesmos representarem 82,4% do faturamento da empresa.

Inicialmente, devem ser apuradas as margens de contribuição de cada produto analisado, conforme
dados apresentados na Figura 1. Pela análise do mesmo, o produto mais rentável é a Mesa 6 lugares,
em função de apresentar a maior margem de contribuição unitária. Se todos os recursos estivessem

249
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

disponíveis para a produção, a simples análise da margem de contribuição indicaria o produto mais
rentável a ser produzido. Entretanto, no mês analisado, os fornecedores de madeira sinalizaram para
uma falta neste insumo, podendo a empresa contar com apenas 160 m3 de madeira para a elaboração
de seus produtos. Em situações como essa, conforme sugerido por Martins (2010), deve ser analisada
a margem de contribuição em função de uma limitação da capacidade de produção, a qual, neste caso,
é a madeira utilizada na elaboração de cada produto. Assim, igualmente na Figura 1 é apresentada a
margem de contribuição por m3 de cada produto, indicando, assim, que ainda a Mesa 6 lugares é o
produto mais rentável (considerando a matéria prima utilizada em cada produto).

Como um limitador existente, observa-se inicialmente a demanda do mercado para cada tipo de
produto, a qual indica que a quantidade a ser produzida de cada tipo de produto deve ser menor ou
igual à demanda apresentada para cada tipo de produto. Contudo, ao analisar a demanda apresentada
na Figura 1 para cada tipo de produto, observa-se que não existe matéria prima disponível para a
produção de todo o mix para atendimento ao mercado, tendo a empresa que selecionar produtos para
a produção e posterior comercialização, considerando a disponibilidade de matéria prima,
apresentando-se assim um outro limitador para o modelo.

Dessa maneira, um modelo matemático baseado na pesquisa operacional foi estruturado. Para tanto,
foi tomado como base a realidade da empresa utilizada neste estudo de caso, a qual deseja determinar
a quantidade de Mesas 4 lugares, Mesas 6 lugares e cadeiras a serem produzidas, visando maximizar
a margem de contribuição total da empresa. Além disso, foram estruturadas as restrições deste
modelo, as quais consideram as limitações apresentadas com relação à demanda, à quantidade de
matéria prima existente para elaborar os produtos e a relação existente entre a necessidade de
produção de cadeiras com a quantidade ótima de produção e mesas dos dois tipos. Com isso, a função
objetivo e as restrições conforme apresentado na sequência:

Função Objetivo

81 4+ 148,5 6+ 41,5 (1)

Restrições

0,12 4 + 0,2 6 + 0,07 ≤ 160 (2)

250
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 ≤ 300 (3)

6 ≤ 170 (4)

=4 4 +6 6 (5)

As variáveis apresentadas neste modelo são identificadas conforme segue:

C = Quantidade de cadeiras produzidas


M4 = Quantidade de mesas de 4 lugares produzidas
M6 = Quantidade de mesas de 6 lugares produzidas

Observa-se inicialmente que a função objetivo apresentada na Equação (1) apresenta uma
maximização da margem de contribuição total da empresa, considerando as margens unitárias e a
quantidade a ser produzida de cada tipo de produto. A Equação (2) representa o consumo de madeira
na elaboração dos produtos analisados, o qual deve ser menor do que a disponibilidade de madeira
existente. A Equação (3) apresenta a restrição que a quantidade de mesas de 4 lugares deve ser menor
do que a demanda para este produto. De maneira análoga, a Equação (4) a restrição que a quantidade
de mesas de 6 lugares também deve ser menor do que a demanda apresentada para este produto.
Finalmente, a Equação (5) evidencia que a quantidade produzida do produto cadeira deve ser
proporcional à quantidade de mesas (de cada tipo) produzidas, e a respectiva necessidade de cadeiras
para cada tipo de mesa correspondente.
Depois de modelado o problema, o mesmo foi inserido em uma planilha eletrônica. Para tanto, foi
utilizado o Excel 2010, onde foram inseridos os dados do problema, conforme apresentado na Figura
1. Nas células E1:E4 foram determinadas a margem de contribuição de cada produto. Posteriormente,
nas células G1:G4 foi determinada a margem de contribuição por m3 de madeira utilizada, em cada
um dos produtos analisados.
Nas células C8:C11 foram determinadas as necessidades de consumo de madeira para produzir cada
produto elaborado. Por sua vez, nas células D8:D11 estão apresentadas a margem de contribuição de
cada produto elaborado.
As células F8:F9 apresentam a demanda por cada tipo de produto. Finalmente, a célula G8 evidencia
a quantidade de matéria prima disponível para a elaboração dos produtos. Depois de modelado o
problema, utilizando o Solver, foram definidas as células variáveis (B8:B9 – produção de Mesa 4
lugares e de Mesa 6 lugares), a função objetivo (maximizar D12 – margem de contribuição total) e as
restrições do modelo, conforme apresentadas anteriormente.

251
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ressalta-se que a quantidade de cadeiras não foi utilizada nas células variáveis, pois, conforme
apresentado na Equação 5, o número de cadeiras é obtido através de uma relação direta do número
de mesas de cada tipo produzidas. Depois de realizada a modelagem e a otimização, a Figura 1
apresenta a tela do Excel contendo os resultados obtidos.

Figura 1 – Modelagem do problema em Excel

Pela análise dos resultados, inicialmente observa-se que o modelo indica a quantidade máxima de
Mesas 4 lugares a ser produzida é de 300 unidades, além de 65 Mesas 6 lugares. Destaca-se que a
quantidade de cadeiras a ser produzida é diretamente proporcional à quantidade de mesas de cada
tipo. Ressalta-se que, para a quantidade de produtos apresentada como ótima para ser produzida,
toda a matéria prima disponível (160 m3) será utilizada. Observa-se ainda que o mix ótimo de
produção indica atender toda a demanda do produto Mesa 4 lugares, não atendendo, entretanto,
toda a demanda apresentada nas Mesas 6 lugares. Em decorrência disso, a função objetivo demonstra
que a margem de contribuição total máxima, em função do mix de produtos definido, é de R$
228.145,16.
Depois de obtidos os resultados do modelo matemático através do Solver, podem ser analisados os
relatórios de análise apresentados pelo sistema.

4.1 ANÁLISE DO RELATÓRIO DE RESPOSTAS

O relatório de respostas é o primeiro relatório oferecido pelo modelo apresentado. A Figura 2

252
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

apresenta o relatório de respostas do modelo estruturado neste estudo.

Restrições
Fórmula

Figura 2 – Relatório de respostas

O primeiro grupo apresentado neste relatório evidencia dados sobre a célula da função objetivo.
Neste, fica evidenciado que o modelo maximizou a margem de contribuição total dos produtos,
apresentado na célula D12 do modelo. Adicionalmente, observa-se a informação do valor original da
MCt (antes da otimização) e o valor final da mesma (depois de realizada a otimização). Assim, o maior
valor possível de margem de contribuição, considerando as restrições apresentadas, é de R$
228.145,16.

O segundo grupo de análise do relatório de respostas refere-se às células variáveis do modelo. Neste
caso, fica evidenciado que as variações apresentadas foram nas quantidades de produção do produto
“Mesa 4 lugares” (célula B8) e do produto “Mesa 6 lugares” (célula B9). A identificação do valor inicial
destas células (antes da otimização) e do valor final das mesmas (depois da otimização) igualmente é
observado. Nesse caso, o valor final indica a quantidade ótima de cada produto a ser produzido,
visando maximizar a margem de contribuição total do pedido, considerando a restrição de matéria
prima apresentada.

253
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Finalmente, o terceiro grupo de análise do relatório de respostas apresenta análises referentes às


restrições observadas no modelo estruturado. Nesse caso, observa-se que as restrições consideradas
foram a quantidade de madeira disponível (representada pelos m3 de madeira à disposição
apresentado na célula C12), a quantidade de produtos elaborados da Mesa 4 lugares (célula B8) e da
Mesa 6 lugares (célula B9), em função da demanda apresentada por tais produtos. No modelo
apresentado, destaca-se que a quantidade de produção de cadeiras foi determinada em função direta
da quantidade de produção necessária para a Mesa 4 lugares (demandando 4 cadeiras) e da Mesa 6
lugares (demandando consequentemente 6 cadeiras). No campo “Valor da Célula” apresentado é
observado o valor otimizado dos mesmos. Com relação à restrição de madeira, observa-se a limitação
de 160 m3 de madeira disponível, onde a fórmula considerada no modelo indica que a quantidade de
matéria prima utilizada (célula C12) deve ser menor ou igual à quantidade de madeira disponível
(célula G8). A expressão “Associação” apresentada indica que a restrição foi plenamente satisfeita
(toda a madeira disponível foi utilizada no modelo), não apresentando, portanto, margem de atraso.
Situação similar é observada na análise da restrição “Mesa 4 lugares”. O relatório aponta a associação
entre as variáveis de restrição apresentadas no modelo (toda a quantidade de mesas demandadas
pelo mercado foi considerada para produção). Contudo, situação distinta é observada na análise do
produto “Mesa 6 lugares”. A expressão “Não-associação” indica que nem todas as unidades
demandadas pelo mercado foram consideradas para produção. Analogamente, o campo “Margem de
Atraso” indica que não foram consideradas para produção 105 produtos, em função da otimização
realizada considerando as restrições apresentadas.

4.2 ANÁLISE DO RELATÓRIO DE SENSIBILIDADE

Através do relatório de sensibilidade oferecido pelo modelo, inúmeras análises relevantes podem ser
obtidas. A Figura 3 apresenta o relatório de sensibilidade do modelo em questão.

254
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Microsoft Excel 14.0 Relatório de Sensibilidade


Planilha: [ANÁLISE SENSIBILIDADE.xlsx]DEFINIÇÃO MIX
Relatório Criado: 19/07/2011 07:19:50

Células Variáveis
Final Reduzido Objetivo Permitido Permitido
Célula Nome Valor Custo Coeficiente Aumentar Reduzir
$B$8 Mesa 4 lug PRODUÇÃO 300 418,5483871 675 1E+30 418,5483871
$B$9 Mesa 6 lug PRODUÇÃO 64,51612903 0 397,5 648,75 397,5

Restrições
Final Sombra Restrição Permitido Permitido
Célula Nome Valor Preço Lateral R.H. Aumentar Reduzir
$C$12 m3 de madeira 160 641,1290323 160 65,4 40
Figura 3 – Relatório de sensibilidade

Ao analisar os dados apresentados na figura anterior, observa-se a divisão do relatório em duas partes
distintas: a análise de sensibilidade nas células variáveis e a análise de sensibilidade nas restrições.

Inicialmente explorando as informações contidas no campo das células variáveis, as mesmas indicam
as mudanças possíveis nos coeficientes das variáveis de decisão (neste modelo, as Mesas 4 lugares e
as Mesas 6 lugares). Em cada uma das duas variáveis analisadas, uma vez que no modelo estruturado
a produção de cadeiras é uma relação direta com o número de mesas produzidas de cada tipo,
observa-se inicialmente o valor final de cada variável, representando a quantidade de cada produto
indicada para produção, atendendo às restrições apresentadas. No modelo estruturado, restou
indicado para serem produzidas 300 Mesas 4 lugares e ainda 65 Mesas 6 lugares.

No campo “Custo Reduzido”, observa-se a existência de valor de 418,55 referente ao produto Mesa 4
lugares. Este valor indica a penalização que deverá ser paga para que essa variável passe a se tornar
básica. Assim, fica evidenciado que, como o valor do custo reduzido para a Mesa 4 lugares apresenta-
se diferente de zero, tal fato indica que a empresa poderá produzir apenas o produto Mesa 6 lugares.
Observa-se que o campo “Coeficiente Objetivo” apresenta o valor de 675, o que equivale ao valor da
margem de contribuição por m3 da Mesa 4 lugares apresentado na Figura 1. Tal fato indica que, a cada
unidade do produto Mesa 4 lugares produzida além das 300 unidades apresentadas como ótima no
modelo estruturado, provocará um acréscimo de R$ 675,00 na margem de contribuição total da
empresa. Como o custo reduzido é positivo, tal situação indica que a demanda deste produto foi toda
suprida, podendo, ainda, a margem de contribuição por m3 deste produto ser reduzida para R$ 418,55
que, ainda assim, o produto Mesa 4 lugares continua na base (ou seja, continua viável sua produção).

255
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Por sua vez, o campo “Permitido Aumentar” apresenta a indicação de que a margem de contribuição
deste produto pode ser aumentada infinitamente, o que, logicamente, contribui para que este
produto continue com sua viabilidade de elaboração garantida.

Ao explorar as informações geradas referente ao produto Mesa 6 lugares neste relatório, igualmente
observa-se o valor final deste produto (base). Como nem toda a demanda para este produto foi
atingida com a quantidade de produtos apresentada na otimização realizada no modelo, o valor do
custo reduzido neste produto é zero. O campo “Permitido Aumentar” indica que a margem do produto
Mesa 6 lugares pode ser aumentada em R$ 648,75, enquanto o campo “Permitido Reduzir” indica que
a margem deste produto pode ser reduzida em R$ 397,50, sem que este produto saia da base (deixe
de ser viável sua produção).

Analisando o campo das restrições deste relatório, encontram-se as possíveis alterações que as
constantes das restrições podem sofrer (no caso deste modelo, a quantidade de m3 de madeira
disponível). No relatório em questão, observa-se inicialmente no campo do valor final a quantidade
disponível de madeira para o período em questão (160 m3). O campo seguinte apresenta a variável
“Preço Sombra”, o qual é a quantidade pela qual a função objetivo é alterada, dado um incremento
de uma unidade na constante de restrição, assumindo que todos os outros coeficientes e constantes
permaneçam inalterados. Uma vez que o preço sombra da restrição de matéria prima apresenta valor
positivo, tal fato indica que um aumento no lado direito da restrição (aumento na quantidade de
matéria prima disponível) provoca um aumento na margem de contribuição total da empresa. A
unidade dimensional do preço sombra é obtida pela definição do preço sombra, que é a variação no
valor da função objetivo dividido por uma variação no lado direito da restrição. Como a função objetivo
é medida em R$ e o lado direito da restrição em unidades, a unidade do preço sombra desta restrição
é dada em R$/unidade. No caso em questão, o preço sombra da variável “m3 de madeira” indica o
valor de 641,13. Isso significa que, caso a empresa disponha de mais 1 m3 de madeira, a margem de
contribuição total irá aumentar em R$ 641,13. Entretanto, este aumento não é infinito, uma vez que
o campo “Permitido Aumentar” apresenta o valor de 65,4. Tal situação indica que, no modelo
estruturado, a empresa demandaria de mais 65,4 m3 de madeira no período para a produção de seus
produtos. Caso ela pudesse dispor de tal quantidade de matéria prima, toda a demanda de mesas (dos
dois tipos) e de cadeiras poderá ser atendida. Além disso, uma quantidade de madeira superior a 225,4
m3 seria indiferente para a empresa, uma vez que todos os produtos demandados poderiam ser
produzidos e o restante da matéria prima não utilizada permaneceria em estoque. Ainda neste mesmo

256
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

campo do relatório de sensibilidade, observa-se a variável “Permitido Reduzir” apresentando o valor


de 40. Da mesma forma, para cada m3 de madeira que deixar de ser utilizado, a margem de
contribuição total será diminuída deste valor. Este ganho acontece quando a disponibilidade de
matéria prima estiver entre 120 m3 (160-40) e 225,4 m3 (160+65,4) de madeira. Atualmente, existem
160 m3 de madeira disponível para a elaboração dos produtos. Isso indica que, se a empresa reduzir
em 40 m3 a sua disponibilidade de madeira, passando assim para 120 m3 disponíveis no período,
todas as Mesas 4 lugares poderão ser produzidas (produto Mesa 4 lugares

continua na base). Entretanto, com essa quantidade de matéria prima, nenhuma Mesa 6 lugares
poderá ser produzida (produto Mesa 6 lugares sairá da base).

4.3 ANÁLISE DO RELATÓRIO DE LIMITES

O relatório de limites é o último relatório oferecido pelo modelo apresentado. A Figura 4 apresenta o
relatório de limites do modelo estruturado neste estudo.

Microsoft Excel 14.0 Relatório de Limites


Planilha: [ANÁLISE SENSIBILIDADE.xlsx]DEFINIÇÃO MIX
Relatório Criado: 19/07/2011 07:19:50

Objetivo
Célula Nome Valor
$D$12 Margem Contrib. R$ 228.145,16

Variável Inferior Objetivo Superior Objetivo


Célula Nome Valor Limite Resultado Limite Resultado
$B$8 Mesa 4 lug PRODUÇÃO 300 0 25.645 300 228.145
$B$9 Mesa 6 lug PRODUÇÃO 65 0 202.500 65 228.145
Figura 4 – Relatório de limites

Em um primeiro momento, o relatório de limites apresenta dados referentes a função objetivo, que
no caso deste modelo é a margem de contribuição total, indicando também o valor final da mesma
depois da otimização realizada. Posteriormente, são apresentados dados referentes às variáveis de
decisão (Mesa 4 lugares e Mesa 6 lugares) do modelo estruturado.

Analisando as variáveis de decisão, na parte da esquerda do relatório estão apresentados dados


referentes às células utilizadas na decisão com valor ótimo. Entretanto, é na parte esquerda do
relatório de limites que se encontram os dados mais relevantes para análise. O campo “Limite Inferior”

257
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

apresenta valor zero para as duas variáveis de decisão, indicando que qualquer uma destas pode
apresentar valor zero (ou seja, não ser produzido algum tipo de produto). Ao analisar o produto Mesa
4 lugares, observa-se o “Resultado Objetivo” com valor de 25.645. Este dado significa que, caso a
produção de Mesa 4 lugares seja zerada, o valor da função objetivo (margem de contribuição total)
será de R$ 25.645,00. Situação análoga se observa na Mesa 6 lugares. Caso a produção deste produto
seja zerada, o valor da margem de contribuição total será de R$ 202.500,00. Por sua vez, no campo
“Limite Superior” estão apresentadas as quantidades máximas admitidas neste modelo para serem
produzidas para cada variável de decisão, respeitadas as restrições apresentadas para tanto. Assim, o
resultado objetivo apresentado é o mesmo evidenciado na parte superior do relatório, representando
a maior margem de contribuição total possível com o mix apresentado e as restrições presentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na estruturação do modelo matemático elaborado para análise do problema proposto para
uma indústria moveleira, foi possível realizar uma otimização do mesmo, tendo sido identificado o mix
ótimo de produção para cada produto, considerando uma maximização da margem de contribuição
total da empresa e respeitando as restrições apresentadas.

Na sequência, as análises de sensibilidade realizadas, representadas pelos relatórios de respostas, de


sensibilidade e de limites apresentaram contribuições relevantes para o gerenciamento de uma
empresa industrial, baseado em análises de custos correspondentes. Em especial, o relatório de
sensibilidade, através das análises do preço sombra e do custo reduzido, aliado aos acréscimos e
decréscimos permissíveis, fornecem importantes parâmetros para os gestores de empresas deste tipo.

Ressalta-se que a análise realizada se limitou a um estudo de caso realizado em uma empresa do ramo
moveleiro brasileiro, analisando uma quantidade limitada de produtos elaborados por esta empresa.
Como sugestão, análises deste tipo podem ser realizadas ainda dentro do setor moveleiro, analisando
realidades de empresas que elaboram outros tipos de produtos ou que apresentem restrições
diferentes das apresentadas neste modelo. No mesmo sentido, análise semelhantes em empresas de
outros setores igualmente se fazem necessárias, onde podem ser realizadas otimizações e
identificadas oportunidades de melhorias em decorrência da programação linear, especialmente
enfocando a análise de sensibilidade para tanto.

258
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

REFERÊNCIAS

ANDRADE, E. L. Introdução a Pesquisa Operacional: Métodos e modelos para análise de decisões. Rio
de Janeiro: LTC, 2002.

ARENALES, M; ARMENTANO, V. A.; MORABITO, R. Pesquisa Operacional. Rio de Janeiro: Campus, 2006.

BAZARAA, M. S., JARVIS, J. Linear Programing and Network Flows. New York, John Wiley & Sons, 2005.

COLIN, E. C. Pesquisa Operacional: 170 aplicações em estratégia, finanças, logística, produção,


marketing e vendas. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

CORRAR, L. J., THEÓPHILO, C. R. Pesquisa Operacional para Decisão em Contabilidade e Administração.


São Paulo: Atlas, 2004.

HILLIER, F. S. Introdução à Pesquisa Operacional. São Paulo: Bookman, 2010.

LACHTERMACHER, G. Pesquisa Operacional na Tomada de Decisões. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2009.

MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

RIOS, I. D.; FREHCH, S. A Framework for Sensitivity Analysis in Discrete Multiobjective Decision Making.
European Journal of Operational Research, 176-190, 1991.

SALO, A. A. Interactive Decision Aiding for Group Decision Support. European Journal of Operational
Research, 134-149, 1995.

MOREIRA, D. A. Pesquisa Operacional: Curso introdutório. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

TAHA, H. A. Operations research: an introduction. 8. ed. Upper Saddle River, N.J.: Pearson Prentice
Hall, 2007.

WINSTON, W. L. Operations Research Applications and Algorithms. 4. ed. Belmont, California: Duxbury
Press, 1994.

259
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 13

O CUSTEIO ABC APLICADO NA MENSURAÇÃO DE


ATIVIDADES DE SETUP DA PRENSAGEM GUTMANN EM UMA
INDÚSTRIA DE REFRATÁRIOS
DOI: 10.37423/200300496

Luiz Adauto Da Fonseca Armada Sousa - luizadauto@hotmail.com


Marcello Angotti - angotti@gmail.com
João Estevão Barbosa Neto - joaoestevaobarbosaneto@yahoo.com.br
Resumo: redução no tempo de setup para resolver problemas de capacidade produtiva e de
otimização de custos de produção tem sido utilizada de forma relevante como ferramenta
gerencial. Diante de tal contexto, o presente artigo tem como objetivo analisar a perda
financeira em decorrência das atividades de setup na linha de produção de uma indústria do
setor de mineração. Para tanto, foram empregados, como procedimentos metodológicos, o
estudo de caso e a pesquisa bibliográfica. Como técnicas de coleta de dados foram
desenvolvidas observações assistemáticas e entrevistas não estruturadas. O estudo foi
realizado em uma companhia de capital aberto dedicada à mineração, produção e
comercialização de materiais refratários. A partir da aplicação do custeio ABC pôde-se
verificar que o custo decorrente das atividades de setup na linha de prensagem Gutmann
representam perdas financeiras de cerca de 10% dos custos indiretos. Destaca-se que a perda
financeira quantificada, sob a ótica da metodologia de custeio ABC, não representou um valor
significativo conforme era esperado pelo setor produtivo, representando em média apenas
1% do custo unitário total. Por fim, foi avaliada a implantação de um projeto para redução
dos tempos de setup na linha de produção e verificado que o retorno da aplicação se daria
após 28 meses de produção.

260
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-chave: Setup de produção. Prensagem Gutmann. Custeio Baseado em Atividades.

Área Temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

261
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

A Contabilidade busca atender às necessidades e expectativas dos diversos stakeholders, dentre eles
os usuários internos, com informações de cunho gerencial para, entre outras necessidades, a
condução de operações diárias, o planejamento de operações futuras e também no desenvolvimento
novas estratégias de negócios. Entre as preocupações abrangidas pela Contabilidade Gerencial, está
aquela que objetiva diminuir o custo de produção por meio de redução do tempo de setup.

De acordo com Warren, Reeve e Fess (2010), setup é a atividade de mudar as características de uma
máquina preparando-a para a fabricação de um produto diferente. Muitas vezes, a produção em série
requer setup’s. Castro e Pizzolato (2005) inferem que a programação da produção deve considerar
existência dos custos de setup e dos custos de manutenção de inventário. Já Mcintosh et al. (2001)
citam como vantagens da redução do tempo de setup a redução do tempo de parada de equipamento,
do inventário, dos recursos e aumento da flexibilidade e do controle do processo.

Diante deste contexto, o presente estudo buscou responder ao seguinte problema: qual a perda
financeira em decorrência das atividades de setup na linha de produção de uma indústria do setor de
mineração? Assim, objetiva-se com este trabalho identificar como a contabilidade de custos seria útil
para a otimização dos resultados na produção da linha de prensagem Gutmann, frente às perdas
financeiras decorrentes das atividades de setup.

A companhia objeto dessa pesquisa é uma empresa privada, dedicada à mineração, produção,
comercialização, prestação de serviços e assistência técnica nos clientes, dentro do mercado de
materiais refratários. Na unidade localizada no estado de Minas e alvo deste trabalho, acontecem
perdas financeiras decorrentes das atividades de setup na linha de prensagem Gutmann.

Justifica-se este trabalho quantificando os ganhos financeiros consequentes com a implantação de um


trabalho focado em minimizar os custos com as atividades de setup na linha de prensagem. De acordo
com Nishida (2006) ao reduzir o tempo de setup torna-se possível trabalhar com pequenos lotes,
diminuir os estoques, aumentar a flexibilidade e atender mais rapidamente à demanda dos clientes.
O atual nível de competitividade entre as empresas visando ganhar ou mesmo manter determinada
participação no mercado, praticamente, obrigam essas a descartarem ou reduzirem ao menor valor
possível as perdas financeiras em suas operações.

262
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. MÉTODOS DE CUSTEIO

No atual estágio da Contabilidade Gerencial, a Tecnologia da Informação torna-se um importante


aliado ao sistema de contabilidade de custos, desenvolvendo e implantando softwares específicos
para otimizar esta ferramenta gerencial. Segundo Martins (2010, p. 357) “devido às necessidades [...]
de dados para controle e decisão, além da avaliação de estoques, é comum vermos empresas
adotarem sistemas de custos”.

Objetiva-se com um sistema de contabilidade de custos acumular os custos de produto.

As informações sobre os custos do produto são usadas pelos gerentes para estabelecer os preços dos
produtos, controlar as operações e preparar as demonstrações financeiras, passando a explorar seu
potencial para o controle e até para as tomadas de decisão. Além disso, o sistema de contabilidade de
custos melhora o controle ao fornecer dados sobre os custos incorridos em cada departamento ou
processo de produção (WARREN; REEVE; FESS, 2001).

Para atender a todas as particularidades dos dois tipos básicos de produção, por encomenda e seriada,
“a Contabilidade de Custos foi obrigada a montar dois sistemas diferentes e básicos de custeamento
para essas duas produções distintas” (LEONE, 2000, p. 234).

Existem, portanto, dois tipos principais de sistema de contabilidade de custos para operações de
manufatura, sendo esses, o sistema de custos por ordem e o sistema de custos por processo.

Segundo Warren, Reeve e Fess (2001, p. 8) um sistema de custos por ordem “fornece um registro
distinto da quantidade de produtos que passam pela fábrica” enquanto que em um sistema de custos
por processo “os custos são acumulados em cada departamento ou processo, dentro da fábrica”. Na
escolha de um sistema, a administração analisa vantagens e desvantagens de cada um deles.

Desta forma, o sistema de custos por ordem adapta-se melhor às empresas que fabricam de acordo
com os pedidos dos clientes ou que produzem grande variedade de produtos para estoque enquanto
que o sistema de custos por processo adapta-se melhor a fabricantes de produtos idênticos no
processo contínuo de produção (WARREN; REEVE; FESS, 2001).

263
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Custeio é sinônimo de apropriação de custos e, dentre os diversos métodos, três métodos são bastante
utilizados: o custeio por absorção, o custeio variável e o custeio baseado em atividades, conhecido
como ABC. O custeio por absorção é bastante difundido e no Brasil está contemplado no
Pronunciamento Técnico CPC16, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

Outros critérios diferentes têm surgido através do tempo, mas este é ainda o
adotado pela Contabilidade Financeira; portanto, válido tanto para fins de
Balanço Patrimonial e Demonstração de Resultados como também, na maioria
dos países, para Balanços e Lucros Fiscais. (MARTINS, 2010, p. 38).

O método de custeio por absorção é aquele que “faz debitar ao custo dos produtos todos os custos da
área de fabricação, sejam esses [...] diretos ou indiretos, fixos ou variáveis, de estrutura ou
operacionais” (LEONE, 2000, p. 242). De acordo com Martins (2010) o custeio por absorção é um
método derivado da aplicação dos Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos, e consiste na
apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, e só os de produção.

A Auditoria Externa tem este método de custeio por absorção como básico, porém, por utilizar rateios
arbitrários, por vezes, ele pode falhar como instrumento gerencial. Mesmo assim, segundo Martins
(2010, p. 38) ele “é obrigatório para fins de avaliação de estoques para apuração do resultado e para
o próprio balanço”.

Utilizando-se este método de custeio por absorção, Warren, Reeve e Fess (2001, p. 136) afirmam que
“todos os custos de produção são “absorvidos” pelos produtos acabados e aí permanecem como
ativos até serem vendidos”. Desta forma, o custeio por absorção é necessário “na determinação dos
custos históricos para elaboração de relatórios financeiros para usuários externos e imposto de
renda”.

O método de Custeio Variável surge com o fato de que o método de custeio por absorção apresenta
alguns problemas com relação à dificuldade trazida pela apropriação dos custos fixos aos produtos.
Martins (2010, p. 197) reforça que “não há, normalmente, grande utilidade para fins gerenciais no uso
de um valor em que existam custos fixos apropriados”. Assim, o método de custeio variável pode ser
definido como aquele que só são alocados aos produtos os custos variáveis, ficando os fixos separados
e considerados como despesas do período, indo diretamente para o Resultado; para os estoques só
vão, como consequência, custos variáveis. Desta forma, o método de custeio variável, do ponto de
vista decisorial, tem condições de propiciar muito mais rapidamente informações vitais à empresa.

264
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Porém, da mesma forma que possui vantagens sobre o método de custeio por absorção, o método de
custeio variável apresenta algumas desvantagens. Destaca-se aqui, segundo Martins (2010, p. 202)
que os “Princípios Contábeis hoje aceitos não admitem o uso de Demonstrações de Resultados e de
Balanços avaliados à base do Custeio Variável” e, sendo assim, esse critério de avaliar estoques e
resultados não é reconhecido pelos contadores, auditores e nem pelo fisco. Porém, esta justificativa
não impede que a administração da empresa utilize análises dos resultados deste método para efeitos
internos, buscando tomar alguma decisão, visto ser mais útil para a gestão do que o custeio por
absorção.

O método de Custeio Baseado em Atividades, ou simplesmente custeio ABC, desperta o interesse


junto às empresas devido, especialmente, às preocupações com a competitividade global. Este
método não é, entretanto, mais um sistema de acumulação de custos para fins contábeis, em
substituição aos já existentes, cada um dos métodos têm suas particularidades de uso e de eficácia e
são absolutamente insubstituíveis (NAKAGAWA, 2001).

Nos sistemas de produção mais complexos o custo do produto pode ainda estar distorcido e o método
de custeio baseado em atividades procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio
arbitrário dos custos indiretos. Essa abordagem proposta pelo ABC, determina o custo indireto de
fabricação com maior precisão (WARREN; REEVE; FESS, 2001).

O custeio ABC pode ser aplicado também aos custos diretos, “principalmente à mão de obra direta, e
é recomendável que o seja; mas não haverá, neste caso, diferenças significativas em relação aos
chamados sistemas tradicionais” (MARTINS, 2010, p. 87). Neste caso, a diferença fundamental está no
tratamento dado aos custos indiretos.

Nakagawa (2001) sugere que o ABC pode ser definido como uma metodologia desenvolvida para
facilitar a análise estratégica de custos relacionados com as atividades que mais impactam o consumo
de recursos da empresa. As principais diferenças entre os métodos tradicionais de custeio VBC
(Volume Based Costing), seja o custeio por absorção ou o custeio variável e o ABC (Activity-Based
Costing) podem ser observados no Quadro 1 a seguir.

265
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Adaptado de Nakagawa (2001, p. 12).

Quadro 1 – Diferenças de foco entre o ABC e VBC.

Sob este método, os custos indiretos de fabricação são inicialmente contabilizados em grupos de custo
de atividade. Esses grupos estão relacionados com uma determinada atividade, tal como uso da
máquina, inspeções, movimentações, setup de produção e atividades de engenharia (WARREN;
REEVE; FESS, 2001). Neste contexto, constitui o objetivo da análise estratégica de custos do ABC,
segundo Nakagawa (2001, p. 40), “a quantidade, a relação de causa e efeito e a eficiência e eficácia
com que os recursos são consumidos nas atividades mais relevantes de uma empresa”.

Assim, utilizando-se do método de custeio baseado em atividades evidencia-se que a Contabilidade


de Custos seria útil para a otimização dos resultados na produção da linha de prensagem Gutmann.
Isto seria possível uma vez que o método iria possibilitar quantificar e avaliar a perda financeira em
decorrência das atividades de setup em determinado período e, com isso tomar decisões junto às
áreas e gerências envolvidas sobre a viabilidade de implantação de ações ou projetos que objetivem
minimizar as perdas financeiras decorrentes.

Desta forma, ao analisar os processos para identificar e selecionar os direcionadores de custos,


segundo Martins (2010, p. 288) “a implantação de um sistema de custos baseado nos conceitos do
ABC pode dar origem a uma reengenharia de processos” e o autor ainda reforça que esta ação poderá
propiciar economias que justifiquem a relação custo-benefício do projeto.

2.2. CONCEITO DE SETUP

Frente ao problema proposto deste trabalho, será necessário conceituar atividade de setup na
empresa. Desta forma, Nakagawa (2001, p. 42) conceitua a atividade como sendo “um processo que
combina, de forma adequada, pessoas, tecnologias, materiais, métodos e seu ambiente, tendo como
objetivo a produção de produtos, [...] reduzindo-a à sua forma mais simples: processamento de uma
transação”.

266
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Warren, Reeve e Fess (2010, p. 395) descrevem que o Setup é a atividade de mudar as características
de uma máquina preparando-a para a fabricação de um produto diferente. Muitas vezes, a produção
em série requer setup’s. Por exemplo, substituir em uma máquina determinado molde exige paradas
de máquina. A tarefa associada com a troca dos moldes é uma atividade de setup.

No contexto deste trabalho, o setup na linha de produção da prensa Gutmann consiste na parada do
equipamento para a realização da atividade de troca da sapata e da forma, a fim de acertar a máquina
para a produção de determinado formato de tijolo refratário solicitado em ordem de produção.
Considera-se que o setup seja uma atividade, logo impactará nos custos dos produtos envolvidos e,
consequentemente, nos resultados da produção da linha de prensagem Gutmann. A Figura 1 expõe o
conceito de setup que é empregada na empresa. Fica evidenciado que todo o tempo desde a última
peça em conformidade fabricada até a primeira peça em conformidade fabricada após a parada para
ajuste na máquina é chamada de setup.

Fonte: Adaptado do conceito de setup que é empregado pela empresa. Figura 1 –

Conceito visual do setup

2.3 ESTUDOS ANTERIORES

De acordo com Reis e Alves (2010) a motivação para a redução do tempo de setup pode surgir por
diversas razões, como, por exemplo, para resolver problemas do gasto a ser evitado para comprar
uma nova máquina, ou para implementar um novo turno. Contudo, os autores relatam que nem
sempre esse problema tem uma solução fácil. Nesse sentido, estudos estão sendo realizados com o
objetivo analisar formas de redução de custos de produção por meio do tempo de setup, bem como

267
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

com aspectos relacionados a ele nos mais diversos setores industriais. Por meio do Quadro 2 é possível
verificar os principais resultados de tais trabalhos.

268
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaborado pelos autores

Quadro 2 – Resumo dos trabalhos que estudaram formas de redução de custos de setup na
produção

269
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3. METODOLOGIA

O método “é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que [...] permite alcançar o objetivo
[...] traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”
(MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 83). Neste contexto, Marconi e Lakatos (2009, p. 165) afirmam que “a
seleção do instrumental metodológico está, portanto, diretamente relacionada com o problema a ser
estudado” e reforçam que “tanto os métodos quanto as técnicas devem adequar-se ao problema a ser
estudado” (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 165).

Objetiva-se com este trabalho, identificar como a contabilidade e análise de custos seria útil para a
otimização dos resultados na produção das linhas de prensagem Gutmann. Para tanto a classificação
metodológica quanto ao problema e objetivo proposto utilizado será a pesquisa qualitativa. Beuren
(2003, p. 92) afirma que “apesar de a Contabilidade lidar intensamente com números, ela é uma
ciência social [...], o que justifica a relevância do uso da abordagem qualitativa”.

Quanto aos procedimentos metodológicos foram empregados o estudo de caso e a pesquisa


bibliográfica ou de fontes secundárias. Como técnicas de coleta de dados foram desenvolvidas
observações simples ou assistemáticas e entrevistas não estruturadas. Para a seleção das técnicas de
análise de dados para a realização desta pesquisa foram levadas em consideração a cultura
organizacional e a disponibilidade dos envolvidos para atender os questionamentos a fim de buscar
alternativas viáveis para o alcance dos objetivos propostos.

3.1. AMOSTRA

A empresa objeto da análise é uma firma privada dedicada à mineração, produção e comercialização
de materiais refratários. Abrange ainda a prestação de serviços de montagem, manutenção e
assistência técnica em materiais refratários aos clientes. Constituída como sociedade anônima de
capital aberto, possui ações negociadas na BMF&Bovespa, com adesão voluntária no Novo Mercado.

A unidade alvo deste estudo é a fábrica para produção de materiais refratários localizada no estado
de Minas Gerais. A unidade em questão é considerada a base industrial da empresa no Brasil, sendo a
fábrica de maior volume de produção no país e conta com cerca de 4.000 empregados.

Em meados de 2011, a empresa operava com 28 unidades industriais e de mineração, sendo dezesseis
no Brasil, três na Alemanha, três na China, uma nos Estados Unidos, duas na França, uma na Bélgica,

270
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

uma em Taiwan e uma na Argentina, com capacidade de produção de refratários superior a 1,4 milhão
de toneladas por ano. É também o terceiro maior produtor de refratários no mundo e líder em
soluções integradas em refratários. Seus produtos são utilizados, principalmente, pelos fabricantes de
aço, cimento e vidro. Os refratários produzidos e comercializados apresentam-se nas mais variadas
formas, sendo as principais: tijolos, massas, argamassas e concretos.

Atualmente um grande diferencial competitivo da empresa é que mais de 70% da matéria-prima usada
na produção é retirada de minas próprias. Além disso, a empresa é a única do setor a oferecer serviços
integrados com materiais refratários. Para o desenvolvimento de novos produtos, a empresa conta
com um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Produto próprio.

4. ANÁLISE DOS DADOS

Com a autorização da empresa para observar todo o processo produtivo in-loco, inclusive a realização
das atividades de setup na linha de prensagem Gutmann e as reuniões diárias ligadas a produtividade
(eficiência da produção), bem como as suas relações com a contabilidade e análise de custos ao longo
do exercício de 2011, pode-se verificar algumas fragilidades neste ciclo.

Na fábrica acontecem perdas de horas programadas na carteira das linhas produtivas devido às
atividades de setup no processo produtivo, sendo que este problema possui maior impacto na linha
de prensagem Gutmann. Desta forma, a produtividade cai e as horas perdidas e as perdas financeiras
aumentam. A área de operação e a contabilidade de custos não trabalham juntos e nem de maneira
proativa para identificar e reduzir as perdas financeiras em função das atividades de setup,
especificamente nesta linha de produção de prensagem Gutmann.

A Figura 2 apresentada ilustra a linha de prensagem Gutmann. Este processo inicia com a pesagem de
diferentes tipos de matérias primas que irão compor o produto em fabricação.

Após a pesagem, estas matérias primas são dosadas nas quantidades corretas dentro de um
misturador. O misturador tem a função de tornar homogênea a massa que será levada a prensa
Gutmann. A prensagem é o penúltimo e mais importante estágio deste ciclo produtivo. A massa que
vem do misturador é alimentada no silo da prensa, que alimenta o canal no molde da forma, sendo
prensado pelo pistão superior revestido pela sapata. A etapa final é o empilhamento de tijolos
refratários prensados.

271
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na linha produtiva da prensa Gutmann em operação na
empresa

Figura 2 – Ilustração da linha de prensagem Gutmann.

Percebe-se que a empresa possui uma deficiência que deveria ser sanada envolvendo os setores de
custos e de operação com a implantação de um trabalho envolvendo estes dois setores. Torna-se
importante a implantação de um trabalho com foco em minimizar as perdas financeiras com as
atividades de setup nas linhas de prensagem Gutmann.

De forma geral, as reuniões diárias de produtividade discutem quantas horas por dia cada prensa e
sua respectiva linha de produção estavam programadas para operar e quantas horas por dia ela
efetivamente ficou operando. Esta diferença entre as horas programadas e as horas efetivamente
trabalhadas se dá por paradas no ciclo operacional da máquina, dentre elas: paradas para
manutenção, falhas operacionais, massa ou produto fora de especificações, problemas com formas,
atividades de setup ou ainda desabastecimento de utilidades (energia elétrica, ar comprimido, vapor
ou água industrial).

Assim, cada parada na linha de produção de cada prensa, tem que ser atribuída a uma destas causas
acima e o responsável pelo setor competente deve traçar pelo menos uma ação preventiva para que
a causa raiz da parada no ciclo produtivo seja eliminada ou, no mínimo, minimizada. Desta forma, esta
reunião gera diariamente um plano de ação com problema, localização, possíveis causas, ação a ser
tomada, responsável e data prevista para implantar a ação. E assim, no final desta reunião diária
monitora-se o plano de ação, verificando com cada representante de área o status das suas respectivas
ações já lançadas na planilha.

Especificamente na linha de produção da prensagem Gutmann pode-se verificar que as paradas não
previstas no ciclo operacional com as atividades de setup eram bastante representativas, quando

272
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

comparadas às demais linhas de produção. Esta situação era tratada, nas reuniões da empresa, como
algo normal e rotineiro. Não havia preocupação para estabelecer um plano de ação para este
problema.

Internamente, não era discutida a hipótese de desenvolver um projeto para agilizar a troca da forma
e da sapata, nem para adquirir ferramentas modernas e automáticas para a redução do impacto com
as atividades de setup. Da mesma forma, os gestores não se preocupavam em quantificar as perdas
financeiras em determinado período, nem foi analisado um projeto de melhorias para que fosse ao
menos avaliada a sua viabilidade de implantação.

Ficou em evidência que a produção, formada pelas áreas de processo, operação e manutenção e a
contabilidade de custos não estavam integrados e envolvidos em uma possível solução para este caso.

Ao se questionar a engenharia de fábrica foi estimado que um projeto para a troca rápida da forma e
da sapata e ferramental automático implantado, reduziria as perdas financeiras com o setup na linha
de prensagem Gutmann em cerca de 20% do seu total atual, mas demandaria um custo estimado em
R$75.000,00 para implantação. Estas estimativas foram fundamentadas nas experiências profissionais
da equipe de engenheiros e na agilidade e redução de movimentos que a implantação deste projeto
traria.

Foi desenvolvida uma análise nos relatórios de fechamento mensal de produtividade e evidenciado
que as perdas de produção na linha de prensagem Gutmann com as atividades de setup eram
realmente relevantes. A Tabela 1 demonstra a média de horas de produção perdidas por mês e as suas
causas, tendo por base o histórico de janeiro a agosto de 2011. Percebe-se que as atividades de setup
tomam um relevante tempo de disponibilidade da prensa Gutmann ao longo do meses.

Tabela 1 – Média em 2011 de paradas na linha de prensagem Gutmann

Fonte: Elaborado pelos autores.

273
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Todavia, torna-se relevante salientar que esta linha de prensagem trabalha sob demanda do setor
comercial, ou seja, se não houver vendas no mês que justifiquem a sua operação, esta linha produtiva
opera apenas as horas necessárias previstas para fabricar as encomendas, oscilando diariamente ou
semanalmente a quantidade de horas em operação. No caso de ociosidade desta linha produtiva, todo
o operacional envolvido nela é deslocado para atender as demais necessidades de outras cadeias
produtivas da empresa. Assim, torna-se relevante levar em consideração apenas os custos com a
atividade de setup, ou seja, os custos com a mão- deobra aplicada especificamente alocados para essa
atividade.

Os custos indiretos de fabricação mensais na linha de prensagem Gutmann fornecidos pela empresa,
foram reorganizados conforme os critérios da metodologia de custeio ABC, e os resultados estão
dispostos na Tabela 2, que demonstra os dados reorganizados conforme a metodologia de custeio
ABC, ou seja, divididos em atividades e direcionadores, por tipo de produto produzido na prensagem
Gutmann. A forma sucinta de exposição da tabela se deu pela necessidade de preservar algumas
informações da empresa.

Tabela 2 – Reordenação dos CIF conforme metodologia ABC

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os departamentos foram divididos em Coordenação de produção, que aloca toda a supervisão,


engenharia e coordenação desta linha de produção. O segundo, Setup, aloca toda a mão-de-obra
aplicada no processo de setup, ou de ajuste das máquinas. O terceiro, Produção, aloca toda a
manutenção, utilidades e outros custos envolvidos no processo da prensagem. Para os departamentos

274
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

foram definidas as Atividades, que precisam ser quantificadas e, portanto, são atribuídos os
direcionadores selecionados que melhor as representem. O direcionador “Número de Peças
Produzidas”, expresso em quantidade de peças, representa a quantidade de cada tipo de tijolo
refratário que foi produzido no período de um mês. O direcionador “Tempo de Preparação”, expresso
em horas, representa a quantidade de horas paradas na prensa Gutmann para setup em função de
cada tipo de tijolo refratário no período de um mês. Por fim, “Tempo de Produção”, expresso em
horas, representa a quantidade de horas que a prensa Gutmann leva para fabricar um tijolo refratário
de cada tipo de produto.

Ressalta-se que os valores do direcionador “Tempo de Produção” foram calculados a partir das
informação fornecida pela empresa, que a capacidade teórica de produção da prensa é de 520Kg por
hora e o peso dos tijolos refratários MGT1/5, MGT2/7.5, MGT3/10, MGT4/15 e MGT5/30 são
respectivamente: 5kg, 7,5kg, 10kg, 15kg e 30kg. Também foi necessário pesquisar a quantidade média,
em quilogramas, de produção mensal de cada tipo de tijolo refratário, chegando aos valores de
49.920kg do MGT1/5 e do MGT2/7.5, 124.800kg do MGT3/10 e do MGT4/15 e 24.960kg do MGT5/30.

Posteriormente, pode-se calcular o custo unitário dos direcionadores e os custos unitários por
produto, com base no custo da atividade atribuída ao produto e no custo da atividade por unidade de
produto. A equação do custo unitário do direcionador é o quociente do custo da atividade e o número
total de direcionadores; a equação do custo de atividade atribuído ao produto é o produto entre o
custo unitário do direcionador com o número de direcionadores do produto e a equação que define o
custo de atividade por unidade de produto é o quociente entre o custo da atividade atribuído ao
produto e a quantidade produzida (MARTINS, 2010). Deste modo, tem-se como resumo a Tabela 4,
que demonstra a disposição dos custos por tipo de produtos, sob o enfoque da metodologia de custeio
ABC.

Tabela 4 – Custos unitários por atividade e por produto

Fonte: Elaborado pelos autores.

275
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Com relação aos custos com as atividades de setup na linha de prensagem Gutmann, pode-se perceber
que contribuíram com valor significativo nos custos indiretos unitários dos produtos. Observa-se, na
medida em que cresce o tamanho do produto, consequentemente, aumenta-se o custo de Prensar, o
custo do setup torna-se menos expressivo, variando de 12,6% no produto MGT1/5 até 5,6% para o
MGT5/30. Neste momento é importante destacar que o produto do custo unitário decorrente das
atividades de setup na linha de prensagem Gutmann de cada produto produzido com o seu respectivo
volume produzido no mês, representam as perdas financeiras totais e totalizam um valor mensal de
R$16.265,60.

A Tabela 5 demonstra a aplicação do ABC para os custos indiretos, que foram transformados em
atividades para comporem os custos totais por produto fabricado na linha de prensagem Gutmann.
Podem ser observados que os custos indiretos são pouco representativos no custo unitário dos
produtos, representando em média apenas 9% deste valor. Dessa forma, o custo proveniente da
atividade de setup comparado ao custo unitário dos produtos é, ainda, menos significativo. Ressalva-
se que caso aumente a demanda por produtos de menor peso, com produção variada durante o mês,
isso pode representar um impacto um pouco maior nos custos e na produtividade.

Tabela 5 – Custo unitário por produto segundo método de custeio ABC

Fonte: Elaborado pelos autores.

Partindo das informações prestadas pelo conjunto de engenheiros da empresa, acreditase que os
custos com as atividades de setup possam ser reduzidos em 20%, caso seja efetuada a mudança dos
equipamentos atuais. Considerando o volume produzido no mês objeto do estudo, o projeto de
melhoria resultaria em uma economia mensal de, aproximadamente, R$3.300,00, cujo custo de
implantação atingiria cerca de R$75.000,00. Desconsiderando o valor do dinheiro no tempo, o projeto
retornaria o investimento em 23 meses, ou seja, seria suficiente para cobrir o custo do valor aplicado
neste prazo. Sob outro ponto de vista, caso fosse tomado um recurso para financiar o projeto, com
taxa de juros de 18% a.a. – linha de crédito disponível na empresa para esse tipo de investimento – o

276
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

retorno da aplicação se daria após 28 meses de produção. Atualmente, a administração tem


estabelecido que os projetos de melhoria devem apresentar retorno no período de um ano, para a
linha de produção específica, dessa forma, torna-se não atrativa a implantação do projeto para
redução dos tempos de setup frente aos parâmetros determinados pela gerencia.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise de custos evidencia-se como uma ferramenta de grande importância em uma organização,
uma vez que apoia significativamente o processo decisório. Diante disso, este trabalho foi
desenvolvido de modo a responder qual seria a perda financeira em decorrência das atividades de
setup de produção na linha de prensagem Gutmann?

Neste contexto, procurou-se identificar como a Contabilidade Custos, por meio do sistema de custeio
ABC, seria útil para mensurar os custos na produção da linha de prensagem Gutmann, verificando as
perdas financeiras decorrentes das atividades de setup. Tendo em vista o estudo de caso realizado na
empresa, foram percebidas algumas falhas neste ciclo, sobretudo ao não tratamento das paradas para
setup na linha de prensagem Gutmann.

Quantificando o problema, foram verificadas que as perdas financeiras decorrentes das atividades de
setup na linha de prensagem Gutmann representavam pela metodologia de custeio ABC empregada
neste trabalho, um valor de R$16.265,60 mensais. A economia estimada em decorrência da aplicação
do projeto de melhoria seria de apenas R$3.253,12, ficando aquém da expectativa da empresa. A
implantação do projeto de um dispositivo para troca rápida da forma e da sapata bem como a
aquisição de ferramental automático, exigiria um investimento da ordem de R$75.000,00.

Destaca-se que a perda financeira quantificada, sob a ótica da metodologia de custeio ABC, não
representou um valor significativo conforme era esperado pelo setor produtivo, representando em
média apenas 1% do custo unitário total. O ganho financeiro com a implantação deste projeto seria
baixo em relação ao montante de recursos necessário, considerando os parâmetros atuais da gerência,
que exige retorno do investimento em um ano.

Ressalta-se, porém, que o projeto ainda pode ser analisado sob outro enfoque, como por exemplo, a
segurança do trabalho. Assim os operadores não teriam mais a necessidade de içar a forma que sairá
após soltá-la da prensa e içar a forma que entrará na prensa, bem como transportá-las com o uso da
ponte rolante. Este passo que envolve operação com ponte rolante

277
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e, consequentemente, cargas suspensas, é um relevante fator de risco. Também a etapa de


desparafusar e parafusar a forma e a sapata que entram e saem ficariam mais seguras e ágeis, visto
que o projeto envolveu também a compra de ferramentas automáticas para tal, o que reduz o esforço
físico dos operadores e, consequentemente, o risco de doenças ocupacionais. Neste sentido, este
trabalho deverá servir de base ou mesmo incentivo para novos trabalhos que aproximem a área
técnica da empresa com a área contábil para se chegar a novos resultados.

REFERÊNCIAS

AVI JUNIOR, Eduardo; ARAÚJO, Dawilmar Guimarães; RIBEIRO, Angela Maria. Troca rápida de
ferramenta: redução do tempo de setup de uma linha de montagem de braço de controle. Revista
Ciências Exatas, Taubaté, v. 16, n. 1, p. 22-32 2010.

BEUREN, Ilse Maria (Org.). Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: Teoria e Prática.
São Paulo: Atlas, 2003.

BRANDI, Davide; GIACAGLIA, Giorgio Eugênio Oscare. Redução de tempos de setup de máquinas
impressoras de uma indústria de embalagens: estudo de caso. Revista Intersaberes, Curitiba, v.6, n.12,
p. 124- 141, 2011.

BRANDI, Davide; GIACAGLIA, Giorgio Eugênio Oscare. Melhoria da produtividade em uma empresa
gráfica de embalagens por meio da aplicação dos conceitos de troca rápida de ferramentas nas
atividades de setup de impressão. In: XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.
Belo Horizonte. Anais... Minas Gerais: ENEGEP, 2011.

CASTRO, Javier Gutiérrez; PIZZOLATO, Nélio Domingues Pizzolato. A programação de lotes econômicos
de produção (ELSP) com tempos e custos de setup dependentes da sequência: um estudo de caso.
Gestão de Produção, São Carlos, v. 01, n. 03, p 60-70, 2005.

FAGUNDES, Paulo Ricardo Motta. Sistemática para redução do tempo de setup na indústria moveleira.
Dissertação (Mestrado profissional em engenharia). Escola de Engenharia, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, 2002.

IUDÍCIBUS, Sérgio de. Contabilidade Gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: Planejamento, Implantação e Controle. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2000. 518 p.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da Metodologia Científica. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2009. 315 p.

McINTOSH, R.I., CULLEY, S.J., MILEHAM, A.R., OWEN, G.W. Improving Changeover Performance: a
strategy for becoming a lean, responsive manufacturer. Oxford,Butterworth Heinemann,
2001.MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 370 p.

MIRANDA, Rafael de Carvalho. FERNANDES, Bárbara Coutinho; RIBEIRO, Janaína Rodrigues;


MONTEVECHI, Arnaldo Barra; PINHO, Alexandre Ferreira de. Avaliação da operação de setup em uma

278
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

célula de manufatura de uma indústria de autopeças através da simulação a eventos discretos. Revista
Gestão Industrial, Ponta Grossa, v. 06, n. 03: p. 01- 21, 2010.

NAKAGAWA, Masayuki. ABC: Custeio Baseado em Atividades. 2. ed. São Paulo: Atlas,2001. 95 p.

RIBEIRO, Luiz Paulo G.; FERREIRA, João Carlos E.; MOURA, Érico Bretones. O uso da simulação para
estimar os custos de fabricação considerando planos de processos alternativos. I CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE FABRICAÇÃO. Curitiba. Anais... Paraná: COBEF, 2001.

REIS, Mário Eduardo Pauka; ALVES, João Murta. Um método para o cálculo do benefício econômico e
definição da estratégia em trabalhos de redução do tempo de setup. Revista Gestão Industrial, Ponta
Grossa, v. 17, n. 3, p. 579-588, 2010.

SHANK, John K.; GOVINDARAJAN, Vijay. A Revolução dos Custos: Como Reinventar e Definir Sua
Estratégia de Custos para Vencer em Mercados Crescentemente Competitivos. 10. Ed. Rio de Janeiro:
Campus, 1997. 341 p.

VITOR, Eli Angela, MORABOTO, Toso Reinaldo. Otimização no dimensionamento e sequenciamento de


lotes de produção: estudo de caso numa fábrica de rações. Gestão de Produção, São Carlos, v.12, n.2,
p.203-217, 2005.

WARREN, Carl S.; REEVE, James M.; FESS, Philip E. Contabilidade Gerencial. Tradução: Andre O. D.
Castro. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. 463 p.

279
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 14

VALOR DE MERCADO VERSUS VALORAÇÃO DE GOODWILL


GERADO INTERNAMENTE: UM ESTUDO A PARTIR DAS
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
DOI: 10.37423/200300502

Carlos Augusto Pacheco Pereira (UNB/UFPB/UFRN) - carlosp@funcef.com.br

Eliene Aparecida de Moraes (UNB/UFPB/UFRN) - elienemoraes.cont@gmail.com

Jonatas Dutra Sallaberry (UNB/UFPB/UFRN) - jonatas.sallaberry@hotmail.com

Resumo: Os ativos intangíveis são responsáveis pela super valoração das empresas, e dentre
esses ativos pode-se citar marcas, patentes, capital intelectual, propaganda e publicidade e
goodwill. As demonstrações financeiras muitas vezes não refletem o valor de mercado destas
empresas,e essa diferença entre o valor contábil e o valor de mercado é medida através de
ativos intangíveis. Existem vários métodos para valoração dos ativos intangíveis, tais como:

Lawrence R. Dicksee, Hatfield, New York, Valor Atual dos Superlucros, Custo de Reposição ou

Custo Corrente, Valor Econômico, Valor de Realização, Excesso do Valor Econômico sobre o

Valor Corrente e Modelo Residual de Avaliação de Ativos Intangíveis, cada um apresentando


vantagens e desvantagens no seu uso.

280
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Através de uma pesquisa bibliográfica, esta pesquisa tem o objetivo de identificar entre os métodos
de mensuração do goodwill gerado internamente existentes na literatura contábil, qual representa
efetivamente (ou mais próximo) o valor que o mercado está disposto a pagar pelo patrimônio de
determinada empresa, considerando que essa diferença decorra de expectativas de ganhos superiores
baseado num patrimônio excedente e agregado à entidade. Na pesquisa foram utilizados os dados
obtidos através das demonstrações financeiras dos anos 2009, 2010 e 2011 da empresa Totvs S.A.
Através dos valores obtidos pela operacionalização dos métodos, pode-se concluir que o método que
mais se aproxima do valor de mercado é o Método Hatfield, e ainda que o valor de mercado representa
até seis vezes o valor contábil da companhia pesquisada.

Palavras-chave: Ativos Intangíveis. Mensuração. Goodwill.

Área temática: Métodos quantitativos aplicados à gestão de custos.

281
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INTRODUÇÃO

A globalização do mercado de capitais gerou a necessidade de identificar e mensurar o aumento da


materialidade dos intangíveis na composição do patrimônio das entidades. Esses ativos intangíveis
podem ser percebidos devido à diferença entre o valor agregado da entidade e a soma de cada item
em separado.

Os ativos intangíveis são responsáveis pela supervalorização de grandes empresas, e dentre estes
ativos intangíveis estão às marcas, patentes, propagandas e publicidades, knowhow, confiança dos
clientes, qualidade dos produtos oferecidos, pesquisa e desenvolvimento, goodwill, capital intelectual,
dentre outros. . Esses fatores e outros vão sendo acrescidos na medida em que os ativos intangíveis
aumentam proporcionalmente aos demais ativos devido à sofisticação dos negócios (MONOBE, 1986).
Os ativos intangíveis valoram as empresas, no entanto, nem sempre podem ser evidenciados nas
demonstrações financeiras das entidades.

O valor contábil das demonstrações financeiras muitas vezes não reflete o valor real que poderia ser
auferido numa negociação gerando uma discrepância entre o valor escriturado e o valor de mercado
do patrimônio da entidade, bem como seu reflexo no patrimônio dos proprietários. De acordo com
pesquisa de Machado e Famá (2011), algumas empresas chegam a ter um índice de intangibilidade de
8,11, ou seja, o mercado está disposto a pagar acima de oito vezes mais que a entidade vale
contabilmente.

A valoração dos ativos intangíveis é complexa, principalmente quanto se trata do goodwill gerado
internamente, no entanto existem vários métodos para essa mensuração, que são difíceis de serem
aplicados. Mesmo existindo vários métodos, cada um apresenta vantagens e desvantagens, alguns são
complexos no que diz respeito a operacionalização, principalmente na obtenção de determinadas
variáveis, quando estas são subjetivas, como por exemplo, taxa de desconto, expectativa de lucros
etc., além de que outras variáveis são mais relevantes para determinados segmentos de negócios.

O objetivo do trabalho é identificar entre os métodos de mensuração do goodwill gerado


internamente, existentes na literatura contábil, qual representa efetivamente (ou mais próximo) o
valor que o mercado está disposto a pagar pelo patrimônio de determinada empresa, considerando
que essa diferença decorra de expectativas de ganhos superiores baseado num patrimônio excedente
e agregado à entidade.

282
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Diversas pesquisas já estudaram a mensuração do intangível, como Belém e Marques (2012) ao


analisar as expectativas do mercado que não são explicados pelo valor contábil da empresa. Machado
e Famá (2011) analisaram a relação entre o índice de intangibilidade e o nível de Governança
Corporativa. Salamudin et al. (2010) compararam a relação dos ativos intangíveis e o valor de mercado;
Rodov e Leliaert (2002) contribuíram para o avanço dos métodos de mensuração do capital intelectual,
e Wilson e Stenson (2008) identificaram a ausência de informações relevantes nas demonstrações
devido as deficiências na mensuração dos intangíveis.

Outros trabalhos anteriores foram realizados buscando desvendar a aplicação dos métodos existentes
na literatura, e dentre os quais pode-se destacar os trabalhos de Santos et al. (2007); e Schmidt et al.
(2008) que buscaram apresentar de forma teórica os métodos de mensuração de intangíveis.
Destaque-se também Negra et al. (2004) que buscaram operacionalizar os métodos utilizados por
Santos et al. e Schmidt et al., porém utilizando dados fictícios. Rover et al. (2009) fizeram uso de dados
reais de uma empresa do setor elétrico, no entanto, não abordaram qual método se aproximaria mais
do valor de mercado.

A contribuição do presente trabalho baseia-se na definição do método que apresenta um resultado


mais próximo do real valor do goodwill gerado internamente, validado pelo mercado, em
circunstâncias específicas, considerando os métodos de cálculos que utilizam informações das
demonstrações financeiras.

2 ATIVO INTANGÍVEL

Os ativos intangíveis são ativos que carecem de substância (HENDRIKSEN; BREDA, 2007), enquanto
Eliseu Martins (1972) comenta que há dificuldade em defini-lo, apesar de que outros autores procuram
mostrar que um intangível dificilmente continua com característica de Ativo se for desligado. Santos
et al. (2008) alertam que a tentativa de relacionar a definição contábil à etimologia da palavra não
seria exitosa, pois vários ativos que também não possuem tangibilidade são classificados como se
fossem tangíveis, a exemplo das despesas antecipadas, aplicações financeiras, entre outras. Uma
melhor delimitação desses ativos intangíveis seria a exclusão dos itens realizáveis até o final do
exercício seguinte baseado na citação de Hendriksen e Breda (2007) de que os contadores têm
procurado limitar a definição de intangíveis aos ativos permanentes, ou seja, não circulantes.

283
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para Salamudin et al. (2010), assim como todos os demais ativos, o ativo intangível é um recurso
controlado por uma empresa como resultado de eventos passados e do qual são esperados futuros
benefícios econômicos. O reconhecimento de um item como ativo intangível exige que a entidade
demonstre que ele atende: (a) a definição de ativo intangível; e (b) os critérios de reconhecimento,
como a provável fruição dos benefícios econômicos futuros gerados em favor da entidade, e o custo
do ativo possa ser mensurado com confiabilidade (IAS 38, n. 18-21, 2010). Hendriksen e Breda (2007)
baseado no parágrafo 63, da SFAC 5, orientam que um ativo intangível, para ser reconhecido, somente
quando (a) corresponde à definição apropriada, (b) é mensurável (c) é relevante, e (d) é preciso. Esses
ativos devem também representar benefícios econômicos futuros prováveis, obtidos ou controlados
pela entidade como resultado de transações ou eventos passados. O Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC) definiu que o ativo intangível é um ativo não monetário identificável sem substância
física (CPC 04, 2010). Segundo Scott (2007, p. 249), “ativos intangíveis são importantes ativos para
muitas empresas e, para algumas, compreendem a maior parte do valor da empresa”.

2.1 CLASSIFICAÇÃO

Segundo Hendriksen e Breda (2007), os ativos intangíveis podem ser identificáveis ou não
identificáveis. Os ativos tornam-se identificáveis à medida que são associados a uma descrição
objetiva, os não identificáveis, como a afirma a denominação, não é possível definir com clareza sua
origem; o mais conhecido entre os não identificáveis é o goodwill. De maneira generalista Catlett e
Olson (1968 apud SANTOS et al., 2007) definem o ativo goodwill como um beneficio ou vantagem na
maneira como se comporta um negócio adquirido, além do valor que ele seria vendido, devido a
personalidade daquele que o conduz, a natureza da sua localização, se a sua reputação for habilidosa
ou precisa, ou qualquer outra circunstância incidental para o negócio que tende a fazê-lo duradouro.

Hendriksen e Breda (2007) exemplificativamente citam os seguintes intangíveis: nomes de produtos,


direitos autorais, franquias, goodwill, licenças, patentes, marcas, entre outros. Todas essas rubricas
citadas por Hendriksen e Breda (2007), de fato, e à parte da legislação, poderiam ser lançadas em
contas específicas do intangível, porém nem sempre é possível identificá-las independente das
demais. Outrossim, pode-se aprofundar um pouco mais na classificação dos intangíveis com a inserção
de itens mensuráveis, conforme demonstrado na figura 1:

284
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: adaptado de Assunção et al. (2005)

Figura 1 - Ativos Intangíveis

Os ativos intangíveis identificados e mensuráveis (direitos autorais, franquias, patentes); intangíveis


identificados, mas, ainda, não mensuráveis, como investimentos em pesquisa; que somado aos
intangíveis ainda não alcançariam o Goodwill total. Supondo a identificação e mensuração objetiva de
cada elemento que compõe o Capital Intelectual o Goodwill continuaria existindo, segundo o conceito
de Goodwill Sinergístico (MARTINS; ANTUNES, 2002). Talvez por essa dificuldade de identificar
separadamente e mensurá-los, alguns autores passaram a considerar o goodwill como o valor
excedente ao preço justo (SANTOS et al., 2007). Nesse caminho para melhor definir goodwill, Martins
(2001) identifica alguns aspectos de distinção e segmentação que considera relevantes na doutrina
contábil:

a) concepções de goodwill: superlucros, subavaliação ou falta de registro de


ativos;

b) classificação do goodwill: comercial, político, pessoal, profissional, nome ou


marca, etc;

c) surgimento do goodwill: administração superior, propaganda eficaz, processos


secretos, capital intelectual, localização privilegiada, bom relacionamento com
a sociedade, etc.

Outra forma de classificação é em relação à origem: objetivo ou subjetivo. O goodwill objetivo é aquele
adquirido na compra de um investimento de terceiros enquanto o goodwill subjetivo revela-se quando
o ativo é criado internamente na empresa. No caso da contabilização dos lucros futuros esperados,

285
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

em função dos problemas de complexidade e subjetividade, há ainda que se ponderar a aplicação dos
Princípios de Contabilidade, especialmente os da Oportunidade e da Prudência.

2.2 MENSURAÇÃO

Hendriksen e Breda (2007) afirmam ser extremamente difícil medir um ativo intangível não
identificável, tanto que acabam sendo associados a outros ativos tratados como resíduos do ativo. Nos
casos em que o ativo intangível pode ser separado dos demais itens como patentes e direitos autorais
a medida mais informativa seria o valor presente dos benefícios projetados, embora os contadores
tenham preferência por utilizar os custos de transação pela maior precisão. Para os intangíveis
identificáveis, Barth et al. (1998) apurou resultados em sua pesquisa que sugerem que as estimativas
são relevantes e suficientemente confiáveis para ser refletida nos preços das ações.

Os ativos intangíveis adquiridos ou desenvolvidos através de gastos extraordinários identificáveis são


capitalizados e posteriormente amortizados à medida da fruição dos benefícios, sendo fundamental a
indicação da vida útil do ativo e nível de alocação do ativo (HENDRIKSEN; BREDA, 2007).

Em situações onde a vida útil do ativo é limitada por imposição legal ou de contrato, o limite da
duração deverá ser o ponto de conclusão da amortização, a menos que a duração da utilidade
econômica ultrapasse o prazo, o que segundo os autores seria difícil. O ritmo da amortização funciona
da mesma maneira que a depreciação, apropriado na relação às contribuições esperadas à receita ou
aos fluxos de benefícios (HENDRIKSEN; BREDA, 2007). Segundo Santos et al. (2007) os ativos
intangíveis que tenham vida útil indefinida não serão amortizados mas anualmente serão testados por
impairment, conforme parágrafo 16, do SFAS 142, para verificar se os eventos ou circunstâncias
continuam justificando a vida útil indefinida.

Segundo Santos et al. (2007) esse teste de impairment consiste na comparação do valor justo do ativo
intangível com o valor registrado na contabilidade. Quando o valor justo do intangível for maior do
que o valor contábil registrado na contabilidade, é por que o valor é recuperável, e não há o que
reconhecer; porém se o valor justo for menor que o valor contábil, a diferença deve ser reconhecida
como uma perda por impairment.

286
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3 GOODWILL

Iudícibus (2000) e Hendriksen e Breda (2007) apontam três perspectivas de análise dos intangíveis: (a)
o excesso de preço pago pela compra de um empreendimento sobre o valor de mercado de seus ativos
líquidos; (b) como o excesso de valor pago pela companhiamãe por sua participação sobre os ativos
líquidos da subsidiária; e (c) como o valor atual dos lucros futuros esperados, descontados o que se
esperaria sem o goodwill.

Nos dois primeiros casos, referindo-se ao goodwill objetivo, que é o valor pago na aquisição de uma
empresa menos o valor de mercado dos ativos e passivos, o valor é registrado na contabilidade pela
diferença do montante efetivamente pago e o valor de mercado dos ativos. Considera Santos et al.
(2007) que é aquele algo mais pago sobre o valor justo do patrimônio líquido das entidades adquiridas,
devido a uma expectativa (subjetiva) de lucros futuros em excesso de seus custos de oportunidade
Para mensurar o real valor do goodwill é preciso que os ativos e os passivos tenham sido reavaliados
à valor de mercado, do contrário, afirmou Iudícibus (2000) o Goodwill é uma mistura de ‘Goodwill
puro’ e de outras diferenças de avaliação.

O terceiro caso, tipicamente o goodwill subjetivo, decorrente de expectativa de lucros futuros gerados
pela própria empresa seria o método mais antigo e, de acordo com Santos et al. (2007), é por meio do
valor presente de lucros superiores; para isso é necessário identificar o retorno normal de mercado
para o negócio, e reduzi-lo dos lucros futuros esperados.

3.1 GOODWILL PELA EXPECTATIVA DE RENTABILIDADE FUTURA

O goodwill como expectativa de rentabilidade futura devido ações internas da empresa seria o método
mais antigo e, de acordo com Santos et al. (2007, p. 204), é “[ . . . ] por meio do valor presente de
lucros superiores”. Para mensurá-lo seria necessário identificar o retorno normal de mercado para o
negócio e reduzi-lo dos lucros futuros esperados; o que implicaria na utilização de expectativas
bastante subjetivas.

Essa situação, na qual não ocorre negociação da empresa, o método preferido é o cálculo da diferença
entre o valor presente dos fluxos futuros de caixa e o valor de mercado dos ativos e passivos. Iudicibus
(2000) relata que esse valor não costuma ser registrado em virtude dos problemas de objetividade;
mas mesmo assim poderiam ser estimados pelos

287
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

métodos: de Lawrence R. Dicksee, de New York, de Hatfield, do valor atual de super lucros, do custo
de reposição ou custo corrente, do valor econômico, do valor de realização, do excesso de valor
econômico sobre o valor corrente, e o modelo residual para avaliação de ativos intangíveis.

Ao se considerar o goodwill como ágio, ou pelo menos parte dele, decorrente da expectativa de
rentabilidade futura, é plausível pelo raciocínio inverso que uma expectativa de prejuízos presuma-se
como um goodwill negativo. Essa afirmação é defendida por Santos et al. (2007) quando afirma que o
goodwill negativo surge quando o valor pago pelo investimento é inferior ao valor justo dos ativos
líquidos. Para Iudícibus (2000) esse goodwill negativo deveria ser considerado como uma conta
retificadora, devendo o seu valor ser transferido para o resultado do exercício num espaço de tempo
considerado razoável.

Nessa linha de pensamento, Hendriksen e Breda (2007) concluem que o goodwill negativo é o inverso
do goodwill. Mesmo assim o valor dos ativos identificáveis não seriam reduzidos além do seu valor
justo, restando a diferença entre o valor justo do conjunto menos o valor efetivamente pago como um
intangível - o goodwill negativo. Entretanto, Comiskey, Clarke e Mulford (2010) alegam que o termo
ágio seria um equívoco, pois uma empresa ou tem boa vontade (expectativa de ganhos superiores) ou
não tem boa vontade, mas ela não poderia ter boa vontade de menos, além de que num contexto de
mercados eficientes também não haveriam pechinchas, evidenciando-se uma ilusão derivada de
ativos supervalorizados ou passivos não reconhecidos.

No contexto da expectativa de rentabilidade futura, acabam sendo misturados diversos tipos de ativos
intangíveis que compõem o capital intelectual, outros ativos intangíveis identificáveis, como marcas e
patentes, e ativos não identificáveis, como know-how. Klein e Prusak (apud STEWART, 1998, p. 61)
definem capital intelectual como sendo “Material intelectual que foi formalizado, capturado e
alavancado a fim de se produzir um ativo de maior valor”. Com essa definição já se pode distinguir
duas classes de capital intelectual: o material intelectual, que seria o ativo intangível identificável
separadamente, e o capital, que é o conhecimento, e que conforme Stewart (1998) só terão relevância
num contexto de estratégia, e para sua mensuração ser feita terá um processo mais complexo.

A principal diferença entre capital intelectual segundo Schmidt (2002) está na forma de mensuração
dos mesmos, já que o valor do goodwill subjetivo é obtido pela diferença entre o valor econômico
total do ativo e o seu valor contábil, ou seja, capacidade de gerar lucros que superem os custos,
enquanto o capital intelectual é obtido pela diferença entre o valor de mercado das ações da entidade

288
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e o seu valor contábil. Outra diferença é que o capital intelectual não é registrado na contabilidade e
suas avaliações são feitas por meio de indicadores e expostos por meio de relatórios ou notas
explicativas enquanto o goodwill subjetivo é, muitas vezes, registrado como se goodwill fosse na
combinação de negócios.

Os gastos com pesquisa também compõem essa expectativa de rentabilidade futura haja vista que são
realizados em prol da criação ou melhoria de produtos tendo como consequência benefícios futuros
para a entidade, tais como:

a) atividades destinadas à obtenção de novo conhecimento;

b) busca, avaliação e seleção final das aplicações dos resultados de


pesquisa ou outros conhecimentos;

c) busca de alternativas para materiais, dispositivos, produtos, processos,


sistemas ou serviços; e

d) formulação, projeto, avaliação e seleção final de alternativas possíveis


para materiais, dispositivos, produtos, processos, sistemas ou serviços
novos ou aperfeiçoados. (CPC 04, n. 55, 2010)

Ativos intangíveis resultantes de pesquisa não devem ser reconhecidos pois durante a fase de pesquisa
a entidade não estaria apta a demonstrar a existência de ativo intangível como prováveis geradores
de benefícios econômicos futuros. Por esse motivo, os gastos com pesquisa devem ser reconhecidos
como despesa quando incorridos (CPC 04, n. 53-54, 2010).

Hendriksen e Breda (2007) afirmam que pelo viés do conceito de vinculação, os custos com pesquisa
e desenvolvimento deveriam ser capitalizados e posteriormente amortizados enquanto aquele
investimento inicial estiver gerando fluxos de benefícios econômicos para a entidade.

No entanto, gastos incorridos para gerar benefícios econômicos futuros que não resultam na criação
de ativo intangível (de acordo com os critérios de reconhecimento) costumam ser descritos como
contribuições para o ágio derivado da expectativa de rentabilidade futura (goodwill) gerado
internamente, o qual não é reconhecido como ativo porque não é um recurso identificável (ou seja,
não é separável nem advém de direitos contratuais ou outros direitos legais) controlado pela entidade
que pudesse ser mensurado com confiabilidade ao custo (CPC 04, n. 48-50, 2010).

289
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 METODOLOGIA

Realizou-se um levantamento preliminar das fontes bibliográficas e posterior seleção das publicações
que apresentam os métodos de mensuração dos ativos intangíveis, especialmente o goodwill. Em
relação a técnica de pesquisa, pode ser caracterizada como um estudo de caso, já que apresenta
teorias e abordagens da valoração dos ativos intangíveis para uma aplicação prática numa empresa
específica.

Quanto à abordagem da pesquisa a análise dos dados considera aspectos quantitativos na mensuração
dos intangíveis e qualitativos na seleção das variáveis e análise dos resultados.

Essa dupla abordagem é justificada por Walliman (2001) ao mencionar o pesquisador não é obrigado
a fazer uma escolha entre as duas abordagens no projeto de pesquisa, e quando necessário pode-se
mesclar aspectos quantitativos e qualitativos.

O presente estudo baseiou-se nos métodos de mensuração de avaliação dos intangíveis utilizados por
Rover et al. (2009), em sua pesquisa entitulada “Operacionalização de Métodos de Mensuração de
Ativos Intangíveis em uma Empresa do Setor Elétrico”, onde os autores apresentam nove métodos de
mensuração dos ativos intangíveis, os quais serão tratados adiante.

Nesta pesquisa, a empresa escolhida para aplicação dos métodos de mensuração de avaliação dos
ativos intangíveis foi a Totvs S.A., que é uma multinacional de software sediada no Brasil, controladora
das marcas Microsiga, Datasul, RM Sistemas, Logocenter e Midbyte, também considerada a maior
empresa do setor com sede em países emergentes.

A escolha dessa empresa levou em consideração que ela faz parte do índice small cap da Bolsa de
Valores de São Paulo, sendo uma das empresas mais líquidas desse índice que é formado por empresas
com menor valor de mercado e que possuem baixa ou média capitalização de mercado.

A Totvs S.A. além de ser uma das small cap mais líquida, apresenta uma das maiores participações do
índice. Ao utilizar uma empresa com baixa capitalização de mercado e com liquidez menor do que as
empresas que compõem os principais índices da Bolsa de Valores de São Paulo, a expectativa é
demonstrar se este baixo nível de capitalização está alinhado com o valor do goodwill da empresa.

Os dados colhidos para realização desta pesquisa foram obtidos por meio das demonstrações
financeiras da Totvs S.A., disponíveis no sítio da Bolsa de Valores de São Paulo referentes

290
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

aos períodos de 2009, 2010 e 2011, todos encerrados em 31 de dezembro dos referidos anos.

No intuito de melhor demonstrar a mensuração do ativo intangível, Schmidt e Santos (2002), assim
como Rover et. al (2009), condensam e apresentam os métodos mais conhecidos de avaliação do
goodwill gerado internamente são: a) Método de Lawrence R. Dicksee; b) Método de New York; c)
Método de Hatfield; d) Método do Valor Atual dos Superlucros; e) Método do Custo de Reposição ou
Custo Corrente; f) Método do Valor Econômico; g) Método do Valor de Realização; h) Método do
Excesso do Valor Econômico sobre o Valor Corrente; e i) Modelo Residual de Avaliação de Ativos
Intangíveis.

4.2.1 ESCOLHA DE VARIÁVEIS

As variáveis necessárias para operacionalização desta pesquisa, bem como os valores encontrados a
partir dos dados dispostos nas demonstrações financeiras da Totvs S.A. nos anos 2009, 2010 e 2011,
foram:

Tabela 1 – Dados da empresa

Fonte: Elaborado pelos autores.

O fator multiplicativo foi calculado dividindo o lucro do período analisado pela média do lucro líquido
dos últimos dois anos, conforme apresentado na Tabela II.

Tabela 2 – Cálculo do Fator entre os anos 2009 e 2011

Fonte: Elaborado pelos autores.

291
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A taxa de juros do imobilizado tangível considerada para os cálculos foi obtida calculando o ponto
médio entre as taxas de descontos utilizadas no cálculo do fluxo de caixa das unidades geradoras de
caixa que variam de 7,85% a 20,6% de acordo com informação da nota explicativa 12.2 Análise do
valor recuperável dos ativos.

A taxa de capitalização dos lucros foi obtida de acordo com a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP),
cenário provável, nas operações de financiamentos do BNDES, conforme informado pela empresa na
nota explicativa 22, letra “c”.

Schmidt et al. (2008) revela, que este é considerado por estudiosos como o mais antigo método de
valoração de ativos intangíveis, sendo datado de 1897 e baseia-se na aplicação de um fator
multiplicador sobre o lucro líquido corrente.

De acordo com Negra et al. (2004), uma das desvantagens deste método é que, sendo baseado no
lucro líquido do período anterior à sua apuração, leva a distorções se as empresas apresentam
variabilidade em seus resultados de longo prazo.

O método utiliza a seguinte fórmula:

Onde:

G = valor do goodwill;

LL = lucro líquido;

RA = remuneração de administração;

i = taxa de juros aplicáveis ao imobilizado tangível;

AT = ativos tangíveis;

F = fator multiplicativo para obtenção do goodwill Cálculo do Método de Lawrence R. Dicksse

G = [(169.383 – 34.220) – (0,1423 x 58.862)] x 1,301

G = 164.931 mil

292
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Levando em consideração os dados apresentados nas demonstrações financeiras da empresa Totvs


S.A. no período de 2009, 2010 e 2011, segundo o método de Lawrence R. Dicksse, o valor do seu
Goodwill é de R$ 164.931 (cento e sessenta e quatro milhões, novecentos e trinta e um mil reais).

As principais limitações deste métodos segundo Schmidt et al. (2008) são: a) utilização do lucro líquido
como base de mensuração invés do fluxo de caixa; b) não define como deve ser apurado o fator
multiplicador para obtenção do goodwill; c) não define a taxa de juros aplicável ao ativo imobilizado
tangível; e d) utilizando o conceito de lucro retido como fator fixo, o que condiz apenas com empresas
com crescimento estável.

A fórmula de cálculo do método New York é praticamente a mesma do método de Lawrence R.


Dicksee, diferenciando-se apenas pela alteração no lucro líquido que é substituído pela média dos
últimos dois ou cinco anos:

Onde:
G = valor do goodwill;
LLm = lucro líquido (média dos últimos dois ou cinco anos);
RA = remuneração de administração;
i = taxa de juros aplicáveis ao imobilizado tangível;
AT = ativos tangíveis;
F = fator multiplicativo para obtenção do goodwill.
Cálculo do Método de New York
G = [(130.212 – 34.220) – (0,1423 x 58.862)] x 1,301
G = 113.977 mil

Levando em consideração os dados apresentados nas demonstrações financeiras da empresa Totvs S.A.
no período de 2009, 2010 e 2011, apurando o valor do Goodwill pelo método de New York, chega-se a
um valor R$ 113.977(cento e treze milhões, novecentos e setenta e sete mil reais).

De acordo com Schmidt et al. (2008), este método é datado de 1898, e por ser idêntico ao método de
Lawrence R. Dicksee, as suas limitações também são similiares as daquele este método.

Negra et al. (2004) diz que o método de Hatfield introduz a visão residual do goodwill, Este método é
datado de 1904, e é o primeiro método de avaliação a utilizar a metodologia do valor presente líquido

293
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

para obtenção do valor da empresa como um todo, e após a dedução do valor dos ativos tangíveis, o
valor dos ativos intangíveis. (SCHMIDT ET AL., 2008).

A fórmula para obtenção do valor do goodwill é:

Onde:

G = valor do goodwill;
j = taxa de capitalização de lucros;
RA = remuneração dos administradores;
LL = lucro líquido;
AT = ativo tangível.
Cálculo do Método de Hatfield
G = [(169.383 – 34.220)/0,06] – 58.862
G = 2.193.855 mil

Levando em consideração os dados apresentados nas demonstrações financeiras da empresa Totvs


S.A. no período de 2009, 2010 e 2011, o método de Hatfield revela um valor de Goodwill de R$
2.193.855 (dois bilhões, cento e noventa e três milhões, oitocentos e cinquenta e cinco mil reais).

Segundo Schmidt et al. (2008) as limitações de método são: a) utilização do lucro líquido como base
de valor e não o fluxo de caixa; b) não define como deve ser calculada a taxa de capitalização de lucros;
c) não define o critério de avaliação para os ativos tangíveis; d) não define como será calculada a taxa
de juros aplicável ao imobilizado tangível; e e) utilizando o conceito de lucro retido como fator fixo, o
que condiz apenas com empresas com crescimento estável.

Segundo Schüter (2010), o defensor mais antigo deste método foi Percy Dew Leake, que considerou o
decréscimo gradativo do excesso de lucros.

A fórmula utilizada pelo método é:

294
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Onde:
G = valor do goodwill;
LLt = lucro líquido no momento t, que seria decrescente;
r = taxa de desconto atribuída aos superlucros;
t = duração superlucros;
RA = remuneração dos administradores;
i = taxa de juros do imobilizado tangível;
AT = ativo tangível.
Cálculo do Método do Valor Atual dos Superlucros
G = [(169.383 – 34.220)/8.373]/(1+0,06)^15
G = 52.905 mil

Levando em consideração os dados apresentados nas demonstrações financeiras da empresa Totvs


S.A. no período de 2009, 2010 e 2011, pelo método do Valor Atual dos Superlucros, a empresa
apresenta um Goodwill no valor de R$ 52.905 (cinquenta e dois milhões, novecentos e cinco mil reais).

Negra et al. (2004) ressalta que este método apura o valor atual dos superlucros, não incluindo no
cálculo o valor dos ativos intangíveis. Schmidt et al. (2008) apontam como limitação deste método as
mesmas limitações dos métodos de Lawrence R. Dickesse, New York e Hatfield.

Schmidt e Santos (2002) dizem que este é um dos métodos mais utilizados como aproximação do valor
econômico, para avaliação de ativos intangíveis, e é obtido através da fórmula:

Onde:

G = valor do goodwill;

LLt = lucro líquido no momento t;


PLcc = patrimônio líquido a custos correntes;
R = custo de oportunidade do investimento de igual risco;
t = duração do lucro.

Negra et al. (2004) menciona que este é considerado um processo misto, que consiste na mensuração
do ativo total por seu valor econômico e respectivos valores pelo custo corrente. Segundo Schmidt et
al. (2008) as limitações deste modelo são: a) a utilização do lucro líquido como base de mensuração
em vez do fluxo de caixa; b) não define como deve ser calculado o custo de oportunidade do

295
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

investimento de igual risco; e c) considera que o lucro cresce com uma taxa fixa, o que não é
considerado por todas as empresas, somente para aquelas que possuem um crescimento estável.

Rover et al. (2009) ainda ressalta que este é um método de difícil operacionalização, pois as variáveis
envolvidas não são facilmente identificadas.

Destacamos que não foi possível o cálculo do valor do goodwill para a empresa Totvs S.A., porque as
demonstrações financeiras juntamente com as notas explicativas e relatório da administração não
divulgam dados para os cálculos de todas as variáveis.

De acordo Schüter (2010) é caracterizado com o método ideal para avaliação dos ativos, no entanto é
de díficil implementação, a autora ainda cita que o método foi descrito pelo professor Eliseu Martins
em sua dissertação de mestrado no ano 1972.

É obtido pela fórmula:

Onde:
Ai = valor econômico do ativo;
Vt = valor residual do ativo;
R = custo de oportunidade de empreendimento de igual risco;
Rt = resultado econômico produzido pelo ativo;
n = horizonte de tempo.

Schmidt et al. (2008) destacam como deficiência do método: a) utilização do resultado econômico
como base de mensuração invés do fluxo de caixa; b) não apresenta a forma de cálculo do custo de
oportunidade de empreendimentos de igual risco; c) considera que o lucro cresce a uma taxa fixa de
juros, porém desconsidera que é este tipo de cálculo somente é razoável para empresas com
crescimento constante; d) não contempla ativos tangíves e intangíveis que não produz receitas
atualmente; e e) é útil apenas para avaliar ativos tangíveis individualmente, mas não ativos intangíveis,
pois estes não tem valor residual apreciável.

296
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Destaca-se que não foi possível o cálculo do valor do goodwill para a empresa Totvs S.A., porque as
demonstrações financeiras juntamente com as notas explicativas e relatório da administração não
divulgam dados para os cálculos de todas as variáveis.

Negra et al. (2004) afirma que este modelo foi desenvolvido pelo professor Sérgio de Iudícibus, e trata
o goodwill pelo seu valor líquido de realização, trazido a valor presente por uma taxa de retorno
desejada.

O método utiliza a seguinte fórmula:

Onde:
G = valor do Goodwill;
PL = Patrimônio Líquido em 2007;
R = Taxa de Retorno de um investimento de risco zero;
Li = Lucro projetado para o período i – 2008;
j = taxa de retorno desejada.

Rover et al. (2009) destaca que a vantagem da utilização deste método está em calcular o goodwill ao
longo da existência da empresa, e ainda diz que sua principal desvantagem figura-se na projeção do
lucro e na forma da obtenção da estimativa num período de longo prazo.

Destacamos que não foi possível o cálculo do valor do goodwill para a empresa Totvs S.A., porque as
demonstrações financeiras juntamente com as notas explicativas e relatório da administração não
divulgam dados para os cálculos de todas as variáveis.

Rover et al. (2009) aponta como vantagem deste método a utilização do ativo a custos correntes,
porém, acusa a complexidade do método como sua principal desvantagem, no que diz respeito a
compreensão de cada variável, e que uma má interpretação pode causar distorções no valor apurado.

A fórmula utilizada por este método é:

297
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Onde:
EVE = Excesso do Valor Econômico sobre o valor corrente;
Vt = Valor residual do ativo;
R = Custo de oportunidade de empreendimento de igual risco;
n = horizonte de tempo;
Rt = Resultado econômico produzido pelo ativo;
Acc = Ativo avaliado a custo corrente.

Destacamos que não foi possível o cálculo do valor do goodwill para a empresa Totvs S.A., porque as
demonstrações financeiras juntamente com as notas explicativas e relatório da administração não
divulgam dados para os cálculos de todas as variáveis.

Em sua tese de doutorado, Santos propôs uma nova metodologia de cálculo do goodwill, denominada
de Modelo Residual de Avaliação de Ativos Intangíveis. Segundo Santos et al. (2007), a justificativa
para a utilização do modelo residual de avaliação de ativos intangíveis é a de que, este método
diferencia-se dos principais modelos propostos para avaliar ativos intangíveis, os quais utilizam como
base de avaliação o lucro líquido e o modelo proposto utiliza o fluxo de caixa futuro a ser produzido
pelos ativos.

A fórmula utilizada pelo método é:

Onde:

AI = valor dos ativos intangíveis;


AIcI = valor dos ativos intangíveis que encontram o critério legal e que não estejam
produzindo receita, calculados pelo modelo de Black-Scholes;
ATcc = ativos tangíveis avaliados a custo corrente;
FCFFt = fluxo de caixa da empresa no ano t;
FCFFn = fluxo de caixa da empresa no ano n (período estável);
WACC = custo médio ponderado do capital (Kpl utilizando o CAPM);
WACCn = custo médio ponderado do capital em um estado estável;
PC = passivo circulante a valor de mercado;
Gn = taxa de crescimento no período de estabilidade.

298
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Destacamos que não foi possível o cálculo do valor do goodwill para a empresa Totvs S.A., porque as
demonstrações financeiras juntamente com as notas explicativas e relatório da administração não
divulgam dados para os cálculos de todas as variáveis.

4.3 AVALIAÇÃO DA TOTVS S.A. A VALOR DE MERCADO

A determinação do valor de mercado da empresa Totvs S.A., posicionada em dezembro de 2011, é


feita multiplicando a média ponderada de ações ordinárias da companhia, em 31.12.2011 pelo valor
de fechamento da ação no último pregão do exercício de 2011 em que a ação tenha sido negociada.

A média ponderada das ações ordinárias da companhia pode ser obtida na nota explicativa número
26 e representa um total de 158.073 milhares de ações ordinárias. O valor de fechamento da ação, no
último pregão do ano de 2011, em que a ação tenha sido negociada, que ocorreu no dia 29.12.2011,
foi de R$ 33,26 por ação ordinária, conforme apresentado no site da Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa).

Dessa forma, o valor de mercado da empresa Totvs S.A. em 31.12.2011 era de aproximadamente R$
5.257.508 mil.

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A Tabela 3 foi elaborada pra apresentação dos valores obtidos através da operacionalização de cada
método para avaliação do ativo intangível.

Tabela 3 – Resultados dos métodos de avaliação de ativos intangíveis

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os métodos, Custo de Reposição ou Custo Corrente, Valor Econômico, Valor de Realização, Excesso do
Valor Econômico sobre o Valor Corrente e o Modelo Residual foram abandonados por falta de dados
nas demonstrações financeiras da empresa Totvs S.A. que dessem condições para a obtenção de todas
as variáveis. Pode-se observar que os valores diferem dentre os métodos utilizados, e dentre os

299
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

métodos mais simples de utilização podemos citar Lawrence R. Dicksse, New York e Hatfield. Os outros
métodos possuem um grau de complexidade maior, e suas variáveis são de difícil obtenção.

Comparando os valores encontrados através dos métodos expostos na Tabela III com o valor de
mercado da empresa Totvs S.A., R$ 5.257.508 (cinco bilhões, duzentos e cinquenta e sete milhões e
quinhentos e oito mil reais) contra um patrimônio líquido de R$ 749.867 (setecentos e quarenta e
nove milhões e oitocentos e sessenta e sete mil reais), resulta em uma valor de mercado de R$
4.504.641 (quatro bilhões, quinhentos e quatro milhões e seiscentos e quarenta e um mil reais) acima
do valor contábil da empresa. Com estes resultados podemos afirmar que o método que mais se
aproxima do valor do goodwill avaliado pelo mercado é o método de Hatfield que apresentou um valor
de R$ 2.193.855 (dois bilhões, cento e noventa e três milhões e oitocentos e cinquenta e cinco mil
reais).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os ativos intangíveis representam, no atual momento da evolução do conhecimento contábil, um dos


assuntos mais pujante e rico em aspectos para a pesquisa. À medida que se entra no intangível e
procura identificar, definir e mensurar os elementos do intangível percebe-se o quão sinérgico e
intricado eles se encontram.

A avaliação da empresa Totvs realizada no presente trabalho demonstrou como o mercado faz uma
avaliação da empresa bem acima do seu valor contábil, considerando uma expectativa de
rentabilidade por parte das operações da empresa e seus ativos que não pode ser observada nas
demonstrações financeiras. Assim, pode-se concluir que o goodwill gerado internamente, avaliado
pelo mercado, representa aproximadamente 6 (seis) vezes o valor contábil da companhia., na situação
específica.

A partir do presente trabalho, que não pretendeu esgotar o assunto, procurou-se esclarecer os
conceitos básicos dos aspectos mais relevantes no tratamento intangível, deixando a sensibilização da
dificuldade de se tratar o tema e o intuito de buscar, principalmente no campo da mensuração dos
intangíveis, por meio de um caso prático, mais trabalhos sobre o assunto. Sugere-se a novos trabalhos,
a possibilidade de aplicação do método de Hatfield em outras empresas do mesmo segmento de
negócios para validar a evidência encontrada, ou mesmo a sua aplicabilidade em outros mercados.

300
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

REFERÊNCIAS

ANTUNES, M. T. P; MARTINS, E. Capital Intelectual: verdades e mitos. Revista Contabilidade e Finanças


- USP, São Paulo, n. 29, p. 41-54, mai/ago 2002.

ASSUNÇÃO, A. B. A. et al. Ativo Intangível: Goodwill ou Capital Intelectual. In: CONGRESSO USP DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM CONTABILIDADE, 2., 2005, São Paulo. Anais... São Paulo:USP, 2005.

BARTH, M.E. et al. Brand values and capital market valuation. Review of Accounting Studies. Berkeley,
vol. 3, p. 41-68, 1998.

BELEM, V. C.; MARQUES, M. M. A influência dos ativos intangíveis na rentabilidade do patrimônio


líquido das empresas brasileiras. In: CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 12.,
2012, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 2012.

BOVESPA. Bolsa de Valores de São Paulo. Disponível em: <http://www. http://www.bmfbovespa.


com.br>. Acesso em: 01 jul. 2012 e 05 jul 2012.

COMISKEY E.; CLARKE, J. E.; MULFORD, C. Is Negative Goodwill Valued by Investors? Accounting
Horizons. Sarasota, vol. 24, n. 3, p. 333-353, 2010.

HENDRIKSEN, E. S.; BREDA, M. F. V. Teoria da Contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 7ª ed. São Paulo : Atlas, 2000.

MONOBE, M. Contribuição à Mensuração e Contabilização do Goodwill Adquirido. São Paulo, 1986.


Tese (Doutorado). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo.

MACHADO, J. H.; FAMÁ, R. Ativos Intangíveis e Governança Corporativa no Mercado de Capitais


Brasileiro. In: CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 11. 2011, São Paulo. Anais...
São Paulo: USP, 2011.

MARTINS, E. Contribuição à avaliação do ativo intangível. 1972. 107. Tese (Doutorado em Ciências
Contábeis) - Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 1972.

MARTINS, Eliseu. Avaliação de Empresas: da mensuração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2001.

NEGRA, C. A. S.; et. al. Discussão, Mensuração e Avaliação do Goodwill: Da Questão Teórica à Prática
Empresarial. Disponível em: < http://www.peritoscontabeis.com.br/trabalhos/ goodwill_-
cladea_e_17cbc.pdf>. Acesso em: 04 Jul. 2012.

RODOV, I.; LELIAERT, P. FiMIAM: financial method of intangible assets measurement. Journal of
Intellectual Capital, Reino Unido, vol. 3, n. 3, p. 323–336, 2002.

ROVER, S. Operacionalização de Métodos de Mensuração de Ativos Intangíveis em uma empresa do


Setor Elétrico. In: CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 9. 2009, São Paulo. São
Paulo: USP, 2009.

301
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

SALAMUDIN, N. et al. Intangible assets valuation in the Malaysian capital market. Journal of
Intellectual Capital, Reino Unido, vol. 11, n. 3, p. 391-405, 2010.

SANTOS, J. L. et al. Teoria da Contabilidade: introdutória, intermediária e avançada. São Paulo: Atlas,
2007.

SCHLÜTER, M. S. Estudo da Avaliação de Ativos Intangíveis. Disponível em:

<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/25781>. Acesso em: 01 Jul. 2012.

SCHMIDT, P.; SANTOS, J. L. Avaliação de ativos intangíveis. São Paulo: Atlas, 2002.

_____, P.; SANTOS, J. L.; FERNANDES, L. A.; GOMES, J. M. M.; MACHADO, N. P. Modelo Residual de
Mensuração de Ativos Intangíveis. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade – REPeC, v. 2, n.
2, art. 2, p. 18-37, ISSN 1981-8610, maio/ago. 2008.

SCOTT, W. R. Financial accounting theory. Toronto: Prentice Hall, 2007.

SMITH, M. Research Methods in Accounting. London: SAGE, 2003.

STEWART, T. A. Capital Intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

WALLIMAN, N. Information, and how to deal with it. Your Research Project a step-bystep guide for the
first-time researcher. London: SAGE, 2001.

WILSON, R. M. S.; STENSON, J. A. Valuation of information assets on the balance sheet: The recognition
and approaches to the valuation of intangible assets. Business Information Review. Los Angeles, vol
25, n. 3, p. 167–182, 2008.

302
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 15

CONTABILIDADE DE GESTÃO AMBIENTAL E ANÁLISE


EMERGÉTICA: UMA APLICAÇÃO AO ESTUDO DAS DIVERSAS
ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL.
DOI: 10.37423/200300504

Miguel Juan Bacic (IE/UNICAMP)

Enrique Ortega (FEA/UNICAMP)

Resumo: O trabalho discute a qualidade das informações ambientais, tal como entendidas na
Contabilidade Ambiental e as informações apresentadas no Relatório de Sustentabilidade,
dentro da perspectiva de sustentabilidade de desenvolvimento econômico tal como definida
no Relatório Bruntland: da ONU “Nosso Futuro Comum”. Conclui-se que as informações são
incompletas e não mostram o impacto das atividades produtivas antrópicas nos ecossistemas
naturais. Apresenta-se a metodologia emergetica como alternativa para avaliar o grau de
sustentabilidade. Essa metodologia considera o impacto das atividades econômicas dentro
dos ecossistemas naturais e permite determinar o grau de uso de recursos renováveis e não
renováveis das atividades produtivas. A mensuração emergética é diferente daquela que
surge da ação do mercado, onde o valor dos produtos e serviços depende dos preços do
sistema econômico e das condições de oferta e procura. Neste caso não é computado o valor
da contribuição dos ecossistemas naturais e sim sua escassez ou abundancia pontual. Dessa
forma os preços não informam corretamente a situação de sustentabilidade no longo prazo
das ações econômicas.

303
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Dado que o valor do recurso em emergia considera a contribuição da natureza na formação do recurso
e pode considerar o impacto no meio ambiente, caso estas informações fossem incorporadas dentro
do sistema de preços, poderiam sinalizar as melhores opções para a sustentabilidade ambiental, aos
governos, às empresas e aos consumidores.

Palavras-chave: Contabilidade de gestão ambiental, Análise emergetica, Emergia.

304
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

A problemática da sustentabilidade do desenvolvimento econômico tem se tornado um tema de


importância crescente para a sociedade e as empresas. O Relatório da ONU “Nosso Futuro Comum”
define desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades das futuras gerações atenderem suas necessidades” (WORLD
Commission On Environment And Development, 1987). Esta definição aparentemente simples leva a
existência de diversas perspectivas e metodologias que tentam avaliar qual seria esse patamar de
desenvolvimento. O tema da sustentabilidade é avaliado a partir de diferentes perspectivas, que nem
sempre conseguem chegar a conclusões semelhantes. Uma lógica ecológica mais radical pode propor
a diminuição imediata de toda atividade econômica para preservar os ecossistemas naturais da ação
antrópica. Uma avaliação econômica mais tradicional pode não incorporar o impacto das
externalidades negativas derivadas dos sistemas humanos de produção, desconsiderando assim, a
contribuição dos ecossistemas naturais para a atividade econômica.

Em 2015 a ONU formulou os objetivos para o desenvolvimento sustentável que constituem a Agenda
2030. Dos 17 objetivos, oito se referem diretamente aos problemas de sustentabilidade. (Objetivos 2,
6.7, 11,12,13,14, 15 em UN, 2015)

Uma lenta porem persistente discussão quanto ao impacto das atividades econômicas na sociedade e
no ambiente levou a questionamentos sobre a lógica do lucro como parâmetro principal da avaliação
da eficiência social e econômica da empresa. Os problemas de poluição, danos ao meio ambiente,
esgotamento de recursos levaram ao desenvolvimento de conceitos, a criação de legislação e o
estabelecimento de normas com o objetivo de diminuir as contradições observadas entre atividade
econômica e meio ambiente.

A legislação visa impor sanções aos poluidores de forma a que paguem os custos das externalidades
negativas geradas para a sociedade. O princípio de poluidor pagador faz parte da Constituição Federal
do Brasil (art. 225 § 3) (CARVALHO, 2008, p.35).

As normas sinalizam parâmetros dentro dos quais as empresas devem adequar seus sistemas
produtivos. A ISO 14000 trata de padrões de organização e de produtos para executar a gestão
ambiental e avaliar o desempenho ambiental. A NBR 16001 - Responsabilidade Social-Sistema de

305
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Gestão - Requisitos, se propõe estabelecer critérios para implantação de um sistema de


responsabilidade social nas organizações (ROSSATO et. el., 2009, p. 76).

Os conceitos visam tornar evidente as dimensões éticas que existem por trás da gestão e as decisões
empresariais. Até os anos 80 o entendimento da dimensão ética relacionava-se com o impacto na
sociedade da atuação das organizações (indicadores de natureza sócio-econômica) e posteriormente
passou a incluir os indicadores ambientais. Como resultado dessa interpretação mais ampla da relação
entidade-sociedade-ambiente foi desenvolvido, a partir da ação de diversos atores o Balanço Social
(também denominado relatório de sustentabilidade), que é o instrumento contábil que permite
evidenciar as informações sociais, econômicas e ambientais das organizações tornando público os
resultados de cada organização quanto a sua política de responsabilidade social. (TINOCO E KRAEMER,
2004). Conforme o Instituto Ethos podem ser construídos diversos indicadores para avaliar a
maturidade da empresa na área de responsabilidade social e ambiental (INSTITUTO ETHOS, 2017,
2020).

De acordo com a Norma Brasileira de Contabilidade Técnica. NBC T 15 de agosto de 2004 aprovada
pelo Conselho Federal de Contabilidade o “Balanço Social” deve ser apresentado na forma da
Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental (DINSA) mostrando os dados e as
informações de natureza social e ambiental da entidade, extraídos ou não da contabilidade, com o
objetivo de demonstrar a responsabilidade social das empresas. O modelo de relatório da Global
Reporting Initiative (GRI). transformou-se na peça dominante para mostrar as ações das organizações
quanto a temática socioambiental a nível internacional (Waddock. 2008. No Brasil o Instituto Ethos
adota esse formato, sob nome de Relatório de Sustentabilidade.

Segundo Vigneau et al. (2015) o modelo da GRI transformou-se quase numa obrigação dentro das
organizações e causou impacto dentro das empresas, as que tomaram os quesitos da norma como
política de gestão no lugar de estabelecer uma política de responsabilidade social e ambiental e depois
passar a avalia-la com a norma. A norma ISO 26000: Diretrizes sobre Responsabilidade Social, lançada
em 2010, visa orientar as organizações na prática da responsabilidade social e ambiental. A certificação
nesta norma é voluntária. Anteriormente a essa norma o guia vigente no Brasil era a NBR 16.001 de
2004.

O objetivo do presente trabalho e discutir a qualidade das informações ambientais, tal como
entendidas na Contabilidade Ambiental e as informações apresentadas no Relatório de

306
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Sustentabilidade. A hipótese é que as informações são incompletas e não mostram o impacto das
atividades produtivas antrópicas nos ecossistemas naturais, portanto não informam a
sustentabilidade da atuação das entidades, tal como entendida pelo Relatório “Nosso Futuro Comum”.
Apresenta-se a metodologia emergetica como alternativa para avaliar o grau de sustentabilidade. Essa
metodologia considera o impacto das atividades econômicas dentro dos ecossistemas naturais e
permite determinar o grau de uso de recursos renováveis e não renováveis das atividades produtivas.

A presente pesquisa de natureza multidisciplinar é de natureza exploratória. Pretende mostrar a


importância de criar mecanismos para contabilizar o papel dos ecossistemas naturais para o
funcionamento dos sistemas produtivos humanos, apresentando uma alternativa metodológica já
existente (ainda não incorporada pela Contabilidade) que é o estudo e registro dos fluxos de energia
dos ecossistemas. O reconhecimento do meio ambiente como entidade permitiria o surgimento de
um novo papel da contabilidade dentro da sociedade. O presente estudo se insere dentro de uma
linha de pesquisa que visa desenvolver metodologias para contabilizar os serviços ecossistêmicos
naturais e que teve como trabalho pioneiro a avaliação do Balanço Ambiental dos Monster Countries
realizada por Kassai et al. (2008).

2. CONTABILIDADE AMBIENTAL E CUSTOS AMBIENTAIS

Dada a percepção por parte dos decisores, da importância crescente do ambiente sobre as decisões e
resultados empresarias, a contabilidade ambiental tornou-se uma ferramenta fundamental no
registro dos eventos ambientais decorrentes das ações e dos processos das empresas. A contabilidade
ambiental visa, conforme Ribeiro (2005, p. 45) “(…) identificar, mensurar e esclarecer os eventos e
transações econômico-financeiras que estejam relacionados com a proteção, preservação e
recuperação ambiental, ocorridos em um determinado período, visando a evidenciação da situação
patrimonial de uma entidade”

Os ativos ambientais são os bens e direitos aplicados na atividade de gerenciamento ambiental. São
os recursos utilizados “no processo de proteção, controle, conservação e preservação do meio
ambiente (DALMAGRO e OTT, 2003). Os passivos ambientais consistem no valor das obrigações
adquiridas, voluntaria ou involuntariamente, para reabilitar o meio ambiento das agressões
praticadas, bem como o valor de multas e indenizações.

307
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os custos ambientais consistem no principal encargo do Passivo Ambiental (Rosatto et.al., p.77) e
compreendem os gastos relacionados com o objetivo de controlar, preservar e recuperar o meio
ambiente (RIBEIRO, 1998).

Techio de Silva et. al., (2003) analisam os modelos de classificação de custos ambientais propostos por
Campos (1996), Costa (2000), Moura (2000), Moraes (2000), Jasch (2000) e Senthila et al. (2002) e
concluem que o modelo de Moura é o mais adequado. Este autor usa a mesma lógica do modelo de
custos de qualidade formulado por Juran e Gryna (1998) e trata os custos ambientais em duas
categorias, os Custos de Controle e os Custos da Falta de Controle.

Os Custos de Controle mostram o sacrifício realizado para evitar problemas ambientais e para manter
os processos dentro dos parâmetros ambientalmente corretos. Se dividem em duas classes: os Custos
de Prevenção e os Custos de Avaliação.

Os Custos de Prevenção são os custos das atividades que tem por objetivo prevenir o surgimento de
problemas ambientais nos processos produtivos e nos produtos. Visam evitar o surgimento de não
conformidades com relação as normas e os padrões existentes. Os estudos de impacto ambiental
previstos na Lei 6.938/80 -Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, art. 9 § 3 e pela Resolução
Conama 001/86, Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
são exemplos dos custos inicias de Prevenção.

Os Custos de Avaliação correspondem ao consumo dos recursos necessários para manter os níveis
planejados de qualidade ambiental, por meio das avaliações, inspeções e testes.

Os Custos de Falta de Controle representam o conjunto de gastos relacionados com a gestão ambiental
inadequada. Se dividem em três classes: Custos de Falhas Internas, Custos de Falhas Externas e Custos
Intangíveis.

Os Custos de Falhas Internas são aqueles custos decorrentes da inadequação dos processos para
produzir dentro dos parâmetros ambientalmente corretos e tenham impacto interno na empresa, tal
como remediação de problemas ambientais em áreas internas, retrabalhos de produtos por
problemas ambientais, ações trabalhistas resultantes de condições ambientais desfavoráveis da
empresa.

308
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os Custos das Falhas Externas surgem da incapacidade do sistema de gestão ambiental para manter
os problemas ambientais restritos ao âmbito interno da empresa. Englobam os custos relacionados
com multas, ações corretivas, indenizações legais resultantes do impacto ambiental em áreas externas
à empresa.

Os Custos Intangíveis compreendem aqueles custos que existem por causa dos problemas ambientais
e que não podem ser quantificados com precisão, tal como perda de valor da marca, diminuição do
valor das ações, dificuldades adicionais na relação com os órgãos de controle, desmotivação dos
empregados por causa de problemas ambientais.

Hansen e Mowen (2003) propõem estrutura semelhante para controle dos custos ambientais,
dividindo-os em custos de prevenção, custos de detecção e de correção ambiental (por falhas internas
e externas).

Dentro da estrutura do modelo proposto por Hansen e Mowen (2001) e Moura (2000), seguindo a
lógica do modelo dos Custos de Qualidade, há que maximizar os Custos de Controle para tornar
mínimos (idealmente nulos) os Custos da Falta de Controle. Nesse caso seria obtido o maior lucro.

O sistema de custos por atividades (ABC) é o mais adequado para evidenciar os custos ambientais
(TACHIBANA e ABUD, 2002). Diversos estudos mostram os custos ambientais de entidades
incorporando a estrutura lógica desse sistema:. (por ex. BEN ET.AL., 2005, FREITAS ET. AL., 2007).

3. A EVIDENCIAÇÃO DOS CUSTOS AMBIENTAIS

A NBC T-15 visa estabelecer procedimentos para evidenciação de informações de natureza social e
ambiental, com o objetivo de demonstrar à sociedade a participação e a responsabilidade social da
entidade. As empresas podem informar diversos aspectos de sua política e situação ambiental em
diversos relatórios além do relatório previsto por essa norma; Esta evidenciação tende a ocorrer no
Relatório de Sustentabilidade, porem também podem ser encontradas informações no Relatório da
Administração, no Relatório Anual e nas Notas Explicativas.

De Faria e Pereira (2009) ao analisar o segmento de empresas de papel e celulose no Brasil observam
que há heterogeneidade e falhas na evidenciação dessas informações e que no caso de algumas
empresas há baixa qualidade e irrelevância das informações publicadas. Melo de Souza et al. (2010)
estudaram os demonstrativos dos anos 2007 e 2008 da Petrobrás, analisando as seguintes categorias:

309
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Política Ambiental, Sistema de Gerenciamento Ambiental, Impactos dos Produtos e Processos no Meio
Ambiente, Energia, Informações Financeiras Ambientais, Educação e Pesquisa Ambiental, Mercado e
Créditos de Carbono, Outras Informações Ambientais. Concluem que o relatório que mostrou mais
informações é o Relatório de Sustentabilidade seguido pelo Relatório da Administração.

Ferreira et. al. (2009) organizaram uma coletânea de artigos nos quais se analisa a evidenciação das
informações ambientais e sociais. Observa-se, a partir dos casos apresentados, que a situação no Brasil
é heterogênea quanto a qualidade e profundidade das informações apresentadas e que estas são
insuficientes em muitos casos.

4. CONTABILIDADE DE GESTÃO AMBIENTAL

Segundo Beuren a despeito que as decisões sejam tomadas usando a moeda como unidade de conta,
há necessidade em alguns casos de mensurar em unidades físicas. Por isso a contabilidade deveria
implementar sistemas de informações em unidades monetárias e físicas (BEUREN, 1995 apud
GUESSER e BEUREN, 1998).

Conforme Tinoco e Kraemer (2004) a contabilidade ambiental pode ser usada em contextos diversos
incorporando o uso de variáveis físicas alem das financeiras. A Divisão de para o Desenvolvimento
Sustentável das Nações Unidas (UN 2001, p. 8) define Contabilidade de gestão ambiental (CGA) como
uma abordagem que combina unidades físicas e monetárias para permitir a “transição de informação
da contabilidade financeira e da contabilidade de custos para aumentar a eficiência de materiais,
reduzir o impacto e o risco e reduzir custos de salvaguarda ambiental”. A CGA é “realizada por
empresas públicas e privadas, mas não por nações e tem tanto uma componente monetária como
física” (ibidem, p. 8). As variáveis físicas devem, segundo o documento, serem contabilizadas a partir
dos Balanços de Massa dos processos e produtos. Os balanços de massa registram a informação sobre
as entradas e saídas dos fluxos de materiais e permitem estudar a porcentagem que se incorpora aos
produtos e os desperdícios ao longo do processo.

A CGA foca a empresa, seja por meio da contabilidade ambiental, seja por meio dos balanços de massa.
Não observa a relação da empresa com o ambiente, salvo de forma parcial. Desde a perspectiva
financeira, se interessa pela gestão dos custos ambientais, os que são definidos dentro de
determinados parâmetros normativos e legais que visam evitar danos ambientais conforme social e
legalmente entendidos em determinada época. Os balanços de massa evidenciam a eficiência do uso

310
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de insumos dentro dos processos produtivos. Esta visão é insuficiente caso queira-se observar a
sustentabilidade num sentido mais amplo, tal como definido pelo Relatório Nosso Futuro Comum.
Para atender os requisitos de esta definição há que sair do olhar exclusivo dentro do sistema produtivo
da empresa e há que observar a sua relação com o ambiente e o uso de recursos renováveis e não
renováveis.

Kassai et.al. (2008) apresentam uma visão dos sistemas produtivos nacionais partir da emissão e
absorção de CO2 e determinam balanços nacionais a partir de cálculo equivalente do saldo da emissão
de CO2 e o valor do PIB pela paridade do poder de compra calculado em Toneladas Equivalentes de
Petróleo. A metodologia ainda não foi aplicada a empresas ou sistemas produtivos, porem indica um
importante caminho para estudar a sustentabilidade.

Um problema adicional das informações financeiras para a determinação da sustentabilidade é o uso


da moeda como unidade de conta. A moeda expressa uma relação social e seu valor não passa de uma
convenção aceita pelos participantes de determinado sistema econômico. O estudo da
sustentabilidade não pode ser realizado tendo como foco exclusivo o sistema econômico, ou um
sistema produtivo ou uma empresa. Todos estes têm relações de troca com o sistema natural fazendo
uso de insumos livres (forma do sistema econômico) que não tem valor de mercado. As tentativas de
valorar a natureza, por meio de distintas metodologias revelaram-se insatisfatórias, dado o elemento
de subjetividade ou arbitrariedade imposta. Não existe um método único que possa ser aplicado,
existem métodos para determinadas situações. (CARVALHO, 2008). Na realidade é impossível valorar
com os critérios do subsistema menor (o econômico) as relações deste subsistema com o sistema
maior (o natural). È necessário fazer uso de uma unidade de conta, que possa representar as
contribuições do sistema maior e usar essa unidade para valor o sistema econômico. Tal unidade é
conhecida pelos estudiosos da ecologia, é a emergia e é a base da análise emergética. O uso da análise
emergética pode enriquecer significativamente a CGA, pois permite mostrar claramente e de forma
inequívoca o grau de sustentabilidade de processos.

5. ANÁLISE EMERGÉTICA

Um século de esforços para usar a energia ou o trabalho para incorporar o trabalho dos ecossistemas
naturais não conseguiu chegar a resultados conclusivos (MARTINEZ-ALIER, J. 1987) porque todos os
tipos de energia foram vistos como medidas equivalentes do trabalho útil. Howard Odum, um dos
cientistas mais importantes do século 20 no estudo dos ecossistemas, começou a usar, em 1967, o

311
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

termo “energia incorporada” para denotar as calorias de um tipo de energia necessárias para produzir
outro tipo de energia, porém esse mesmo nome foi usado por outros investigadores para conceitos
que eram diferentes, pois utilizavam formas diferentes de raciocínio e de cálculos. Em 1983, para
diferenciar o método ecossistêmico-energético Odum e David Scienceman escolheram um novo
nome, emergia (escrito com “m”), com o significado de “memória da energia” de certo tipo usada para
fazer outra energia (ODUM, 1988).

5.1. EMERGIA

A emergia se define como o trabalho total realizado para produzir um recurso. (ODUM, 1996, ODUM,
2000c). O custo de um produto, tal como determinado pela contabilidade não considera a
contribuição da natureza na formação dos insumos nem o custo dos impactos sociais e ambientais
negativos nem a perda de serviços ambientais. A metodologia emergética mede todas as contribuições
(massa, energia, moeda, informação) em termos equivalentes (emergia). A metodologia emergética
permite analisar o desempenho de sistemas, sejam eles ecossistemas naturais, unidades produtivas,
regiões, países e até a biosfera. Além da análise pontual (anual), a metodologia permite visualizar o
comportamento de sistemas em períodos maiores usando a modelagem e simulação (ODUM e ODUM,
2000). A metodologia emergética tem como base a Teoria Geral de Sistemas, a Termodinâmica e a
Ecologia de Sistemas e propõe alguns princípios dos sistemas abertos (ODUM, 2001b): (a) a existência
da hierarquia universal de energia, (b) a capacidade de auto-organização e evolução, (c) a tendência a
maximizar o fluxo de energia disponível ao sistema, (d) a formação de redes para aproveitar os
recursos disponíveis, (e) a o mecanismo natural de ciclos combinados de produção lenta e pulso
frenético de consumo. De acordo com Odum, se levarmos em conta o princípio da hierarquia universal
de energia, válido em todo tempo e lugar, o trabalho, incluindo o que se realiza na economia, pode
ser comparado em uma base comum, expressando os produtos e os serviços em unidades de emergia.
(ODUM, 2001b, pp. 235-247):

A emergia é a energia disponível (exergia) de um mesmo tipo (v.g. energia solar equivalente) utilizada,
em forma direta ou indireta, para produzir certo produto ou serviço. A emergia mede o consumo total
de recursos para produzir tal produto ou serviço, que é a soma do trabalho da natureza e humano.
Pode ser considerada como o custo que a natureza teve para produzir determinado recurso, medido
em unidades emergéticas em vez de mensurado em moeda. O computo da emergia total necessária
para a produção de um determinado produto ou serviço possibilita uma informação precisa do

312
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

consumo total de recursos, visão que é parcial na sistemática contábil atual, que somente considera
os preços do sistema econômico e desconsidera o trabalho do sistema natural. A separação da
emergia consumida em renovável e não renovável indica o potencial de vida sustentável (emergia
renovável consumida). A metodologia emergetica permite reconhecer e valorar o trabalho dos
ecossistemas naturais (e dos estoques naturais de recursos) para a produção de determinado produto
ou serviço. Esta informação pode ser incluída nos relatórios de sustentabilidade das empresas
mostrando o custo completo (em termos de emergia) e qual seu grau de sustentabilidade. De acordo
com Odum como as pessoas tem dificuldade em pensar em unidades de emergia solar (que
geralmente são números grandes) é recomendado o uso de seu equivalente econômico denominado
emdólar, obtido através da razão [emergia/dinheiro] da economia local. Os emdólares indicam o
dinheiro circulante cujo poder de compra está estabelecido pelo uso da emergia. Os emdólares variam
com o tempo, de acordo com a inflação da moeda local. A taxa (emergia/dólar) se obtém dividindo a
emergia contida nos fluxos de emergia que uma região recebe pelo produto interno bruto da região
(PIB expresso em dólares). Esta taxa permite converter um fluxo de emergia em emdólares. A relação
emergia/dinheiro da biosfera foi avaliada como 1.1 x 1012 seJ/$ (BROWN e ULGIATI, 1999).

5.2. CONVERSÃO DE UMA ENERGIA PARA OUTRA

Se há energia disponível em tudo aquilo que é reconhecido como um ente na Terra (e no Universo),
inclusive a informação e o poder político, a energia poderia ser usada para avaliar a riqueza real em
uma base comum. Para resolver o problema de agregar as calorias de tipos diferentes de energia, usa-
se a emergia, que reconhece e mede a hierarquia universal de energia. A qualidade (funcionalidade)
de cada tipo energia depende do trabalho prévio para gerar esse recurso. Essa relação constitui um
fator de conversão de energia. A relação entre a emergia de um tipo, necessária para obter uma
unidade de energia de outro tipo, chama-se transformidade.

De acordo com Odum (2001) o estabelecimento de uma hierarquia para aproveitar a emergia
disponível e realizar trabalho sistêmico deve ser considerado como a 5ª lei da energia. Os sistemas da
natureza e a humanidade são partes da hierarquia de energia universal. Fazem parte de uma rede de
transformação de energia que une os sistemas pequenos a grandes sistemas e estes a sistemas
maiores ainda. A transformidade mede a qualidade de energia e sua posição na hierarquia de energia
universal. A energia disponível (energia potencial ou exergia) é usada em um processo de
transformação para gerar uma quantidade menor de energia, que será usada na próxima etapa do

313
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

sistema. A auto-organização do sistema se evidencia pela formação de laços de retroalimentação e de


estratos na cadeia trófica que se auto-reforçam permitindo a evolução das estruturas de
funcionamento do sistema. Esses laços permitem o fornecimento de energias de maior qualidade dos
elementos no topo da cadeia trófica para reforçar a ação dos elementos da parte de baixo do sistema
visando que o sistema como um todo aumente a captação de energia externa e o uso dos estoques
internos. Os diagramas de sistemas devem mostrar tudo o que é importante para o funcionamento do
sistema, do mais simples e pequeno, ao maior e mais complexo. De preferência com números para
cada fluxo. Com os diagramas sistêmicos pode-se perceber que a emergia de um recurso é a energia
potencial disponível (exergia) de certo tipo que é usada para fazer esse recurso.

Figura 1. Obtenção dos valores de transformidade na cadeia da eletricidade a partir de carvão. Fonte:
elaboração própria com base nas informações de Odum (2001).

Os Joules de energia de tipos diferentes não são equivalentes em sua contribuição de trabalho útil. Na
Figura 1 se mostra que são requeridos aproximadamente 10.000.000 Joules de luz solar para produzir
5000 Joules de matéria orgânica (dispersa em um amplo espaço); 80.000 Joules solares para produzir
um Joule de carvão; 300.000 Joules para fazer um Joule de eletricidade e 10 milhões ou mais para
suportar um Joule de trabalho humano. Quanto se avança na cadeia trófica, a qualidade da energia
aumenta, porém a quantidade é menor. Há menos energia, porém mais emergia por unidade nas
coisas valiosas. Os maiores números de densidade emergética correspondem à informação, entre elas,
a informação genética.

314
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para não confundir a energia que existe em um produto com a que é usada para fazê-lo, as unidades
de emergia são denominadas, emJoules. Na metodologia emergética costuma-se usar a emergia da
insolação solar como a medida comum, assim sendo as unidades da transformidade solar são emJoules
solares por Joule (sej/J).

Emergia utilizada emJoules de energiasolarequivalente  seJ 


Transformidade  
Exergia Joules  J 

5.3. PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO DE EMERGIA

Para conhecer um sistema é necessário identificar seus componentes principais, as entradas e saídas
para desenhar um diagrama que mostre os símbolos dos componentes internos e externos e os
caminhos seguidos pelos fluxos de massa, energia e informação (Figuras 2 e 3).

Figura 2. Diagrama de fluxos de energia do sistema.


Fonte: elaboração própria com base nas informações de Odum (2001)

315
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 3. Diagrama resumido do sistema.


Fonte: elaboração própria com base nas informações de Odum (2001)

Os símbolos para representar os componentes dos sistemas estão sendo utilizados desde 1965 e seu
uso tem sido explicado em Odum (1971) e Odum (1983) . É necessário colocar no diagrama os limites
do sistema para identificar todos os fluxos de entrada importantes que cruzam as fronteiras do sistema
escolhido. Se há um estoque de emergia dentro dos limites do sistema que pode proporcionar recursos
úteis deve ser visto como uma fonte de emergia. Se essa fonte é usada e reposta na mesma taxa não
precisa ser considerada na análise, pois os fluxos estão em equilíbrio (fonte renovável). Porém se ela
é utilizada a uma taxa maior que a taxa de reposição, então estará atuando como uma fonte não
renovável. Ela é colocada no diagrama e considerada como entrada. Cada fluxo se coloca como uma
linha curva que vai desde a fonte de emergia até os componentes que a utilizam. Depois, cada fluxo
converte-se em uma linha de cálculo na tabela de avaliação de emergia (Tabela 1).

316
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1. Esquema de organização de uma tabela de cálculo dos fluxos de emergia.

Nota Nome da contribuição Número Unidade Transformidade Fluxo de emergia


R: Recursos da natureza renováveis

N: Recursos da natureza não-renováveis

M: Materiais da economia

S: Serviços da economia

Fonte: elaboração própria com base nas informações de Odum (2001)

A coluna #1 fornece a nota de pé-de-página onde se pode evidenciar o detalhamento dos cálculos.

A coluna #2 contém os nomes das diversas entradas do sistema.

A coluna #3 tem o valor numérico de cada fluxo de entrada.

(a) Para fazer uma avaliação do sistema em estado estacionário, são necessários os valores anuais
das contribuições da natureza e da economia humana. Essas entradas são colocadas nas suas unidades
usuais para materiais (kg), para energia (Joules), para dinheiro ($), etc.

(b) Devem incluir-se os fluxos necessários para manter as estruturas e estoques de recursos.

(c) Para calcular a depreciação dos bens são utilizados valores médios: os valores das inversões
iniciais são divididos pela duração estimada dos bens adquiridos.

A coluna #4 contêm o valor da transformidade ou valor unitário de emergia, [seJ/(inidade)]. A fonte


de informação deste valor deve citar-se na nota ao pé da página.

Na coluna #5 são colocados os fluxos de emergia.

(a) São os produtos da multiplicação dos fluxos de entrada (em unidades/área/tempo) da coluna
3, pelos valores de emergia/unidade da coluna 4.

(b) O valor obtido corresponde ao fluxo de emergia em emJoules solares por ano.

(c) No caso dos serviços, acostuma-se colocá-los em dinheiro/área/tempo. O dinheiro é


convertido em dólares segundo a taxa de câmbio em dólares do país, depois este valor é multiplicado
pela proporção de emergia/dólar [seJ/US$] da economia do país para o ano considerado.

Na coluna #6, são colocados os fluxos de em dólares anuais (em$/área/ano]. Para cada linha da tabela,
o valor do fluxo de emergia é divido pela razão (emergia/dinheiro) da economia do país. Existem
avaliações destes valores disponíveis na literatura (ODUM, 1996, ODUM, 1971, ODUM, 1983, ODUM,

317
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2000a. ODUM et al.,2000). Os cálculos da razão (emergia/US$) consideram os recursos usados na


economia do país.

5.4. PRINCIPAIS ÍNDICES EMERGÉTICOS

A contabilidade emergética permite fazer o diagnostico de um sistema. Foram desenvolvidos os


índices emergéticos que se calculam a partir dos resultados da tabela de avaliação de fluxos de
emergia. Com eles é possível fazer as inferências da análise emergética (ODUM, 2000b).

Transformidade (Tr, transformity). Avalia a qualidade de um fluxo de energia. Este valor permite fazer
comparações com as transformidades de outras formas de energia e/ou de outros sistemas. Trata-se
da relação inversa da eficiência ecossistêmica. A transformidade solar do recurso gerado por um
sistema é obtida dividindo a emergia total requerida entre a energia do produto ou serviço.

Tr = Y/Qp = (Emergia de I + F) / (Energia potencial contida em Y)

Razão de rendimento emergético (EYR, emergy yield ratio). Permite conhecer o benefício líquido para
o consumidor (a parte seguinte na cadeia trófica). Este índice é obtido dividindo a emergia do produto
(Y) pela emergia das entradas que provém da economia (F). Esta proporção indica se o processo pode
competir com outros no fornecimento de energia primaria para a economia. A razão Y/F dos
combustíveis fósseis está diminuindo, já foi 40, caiu a 6 e no futuro pode atingir 1 (sem saldo
energético). O valor do saldo energético permite avaliar as fontes de emergia.

EYR = Y/F = Emergia/Economia

EYR = Y/F = (R+N+F) / F = 1.0 + [(R+N) / F] = 1.0 + (natureza / economia)

A razão EYR dos produtos agrícolas varia entre 1.05 a 3, a madeira de florestas tem um valor entre 2 e
40, na produção de etanol o valor é 1.15. Com estes números podem-se tirar conclusões interessantes.
Quando o valor deste índice é próximo da unidade significa que não há saldo líquido de emergia.

Razão de investimento de emergia (EIR, emergy investment ratio). Permite saber se os recursos da
economia investidos terão uma boa contrapartida de recursos naturais (até hoje gratuitos). Esta razão
indica quão econômico é o processo estudado. Para ser competitivo na economia regional, o processo
deve ter um valor de (F/I) similar aos das outras atividades da região. Se ele exige mais da economia
que as alternativas ele terá menos chances de subsistir. Se demanda pouco da economia, a razão (F/I)

318
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

será menor (menos custos monetários), o que lhe daria condições de competir e prosperar no
mercado.

EIR = F/I = Economia /Natureza = recursos comprados / recursos gratuitos

Taxa de carga ambiental (ELR, environmental loading ratio). Mede o impacto sobre o ambiente. Indica
a proporção de emergia renovável (R) em relação a emergia renovável (N+F). Nesta fórmula F é
considerado como sendo não renovável, pois na maioria dos países F tem essa característica.

ELR = (N+F)/R = Recursos não renováveis / recursos renováveis

Porcentagem de renovabilidade (%R, renewability). Mede a sustentabilidade. Se for possível fazer


uma análise completa do sistema que produz um recurso pode-se calcular sua renovabilidade
emergética por meio da razão entre a emergia dos recursos renováveis usados e a emergia total usada
no sistema.

%R = (R / Y)*100.

Os países subdesenvolvidos apresentam alta renovabilidade, os desenvolvidos valores baixos. No


comércio ocorre uma transferência da riqueza ambiental das nações pouco industrializadas aos países
industrializados compradores das matérias-primas (subsídio de sustentabilidade). Um estudo recente
[7] mostra que 70% da riqueza real do mundo provêm dos recursos não renováveis (petróleo, carvão,
minerais) e apenas 30% das forças s renováveis (sol, marés e calor da terra).

Razão de intercâmbio de emergia (EER, emergy exchange ratio). É a razão entre a emergia entregue
e a emergia recebida em uma transação comercial. Os minerais, as matérias-primas e os produtos
rurais tendem a ter um valor alto de EER, quando são comprados a preço de mercado. O dinheiro
recebido paga apenas os serviços humanos e não o intenso e extenso trabalho realizado pela natureza.

EER = Y / [produção* preço * (emergia/US$)]

A análise da EER mostra que há uma iniqüidade no intercâmbio da riqueza real (emergia) no comércio
internacional. As nações desenvolvidas ao comprar matérias-primas de países menos desenvolvidos
conseguem um saldo de emergia a seu favor, pois a emergia do dinheiro recebido pelos vendedores
no intercâmbio é muito menor que a emergia contida nas matérias-primas adquiridas pelos
compradores.

319
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.5. EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Exemplifica-se os resultados de um estudo de sistemas alternativos de produção de soja. (ecológico,


orgânico, agroquímico e com uso de herbicidas). A tabela 2 mostra os resultados convencionais (sem
computar as externalidades de cada alternativa) e os resultados considerando as externalidades; A
propriedade que usa o sistema com herbicidas tem o melhor resultado convencional (em função de
seu porte médio) e o pior resultado ao computar as externalidades;

A tabela 3 mostra os indicadores emergéticos. Indicam que as opções biológicas (sistema ecológico e
sistema orgânico) são as melhores em termos de eficiência ecossistêmica (1/TRS), rendimento
emergético líquido, razão de investimento, intercâmbio de emergia com o sistema consumidor.

O indicador de renovabilidade (%R) informa a proporção de recursos renováveis que foi empregada
na produção do recurso. É um indicador da sustentabilidade ecológica do sistema. A sustentabilidade
das opções químicas (25-36%) é menor que a das opções biológicas (64%-85%).

Os resultados mostram que os pequenos produtores ecológicos e as empresas orgânicas têm a maior
rentabilidade e renovabilidade por unidade de área. O cômputo das externalidades e o cálculo
emergetico tornam claros estes aspectos que são, fundamentais quando o tema da sustentabilidade
é abordado.

Tabela 2 -Vendas e Custos monetários dos sistemas de produção de soja, em US$

Sistema Sistema Sistema Sistema com


Variáveis ecológico orgânico agroquímico herbicida
Tamanho médio da propriedade (em ha) 20 50 500 3.000
Vendas por ha/ano 421 334 388 388
Custo na visão convencional por ha/ano 241 229 381 381
Materiais 119 124 268 292
Serviços 122 105 113 90
Resultado na visão convencional por ha/ano 181 104 8 7
Resultado na visão convencional por propriedade/ano 3.614 5.221 3.790 19.920
Custo estimado das externalidades em US$/ha/ano* 0 60 180 180
Desemprego (mecanização e uso de herbicidas) 0 20 40 40
Tratamento médico (intoxicados) 0 0 50 50
Tratamento de efluentes (poluição) 0 0 50 50
Recuperação do ambiente destruído 0 20 20 20
Perda de serviços ambientais 0 20 20 20
Resultado por ha/ano considerando externalidades 181 44 -172 -173
Resultado da unidade/ano considerando externalidades 3.614 2.221 -86.210 -520.080
* Conforme Pretty (2000)
Fonte: Ortega et al. (2005)

320
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3 – Indicadores emergeticos


Sistema Sistema Sistema Sistema /c
ecológico orgânico agroquímico herbicida
Emergia incluindo externalidades Y’ 3,54E+15 2,43E+15 6,47E+15 4,71E+15
Energia dos produtos Ep 7,51E+10 4,42E+10 4,34E+10 4,34E+10
Transformidade do sistema TRS' 47171 54934 149107 108547
Razão de rendimento emergético EYR' 6,82 2,81 2,14 1,44
Razão de investimento emergético EIR' 0,17 0,55 0,88 2,25
Renovabilidade %R' 85,30% 64,40% 22,40% 30,70%
Razão de intercâmbio emergético EER' 2,14 1,47 3,64 2,65

Fonte: Ortega et al. (2005)

6. Conclusão

A mensuração emergética é diferente daquela que surge da ação do mercado, onde o valor dos
produtos e serviços depende dos preços do sistema econômico e das condições de oferta e procura.
Neste caso não é computado o valor da contribuição dos ecossistemas naturais e sim sua escassez ou
abundancia pontual. Dessa forma os preços não informam corretamente a situação de
sustentabilidade no longo prazo das ações econômicas. Dado que o valor do recurso em emergia
considera a contribuição da natureza na formação do recurso, e caso essa informação fosse
incorporada dentro do sistema de preços, este sinalizaria às empresas e os consumidores para
escolhas em direção à sustentabilidade ambiental da sociedade.

A aplicação dos estudos emergeticos na avaliação do grau de sustentabilidade dos sistemas produtivos
das empresas é ainda um tema incipiente mais poderia fazer parte da CGA tal como entendido pela
Divisão de para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (2001), passando a informar nos
Relatórios de Sustentabilidade os indicadores emergéticos de empresas e de seus sistemas produtivos.
Ter-se-ia assim uma visão mais correta do impacto das ações humanas nos ecossistemas e mais
aderente a definição de sustentabilidade enunciada pelo Relatório Nosso Futuro Comum. Informações
adicionais, tal como o saldo de CO2 e o Balanço Ambiental (conforme Kassai et al., 2008) deveriam
figurar. Para isto há ainda que desenvolver metodologia aplicável a casos específicos de entidades, o
que mostra um novo campo para a CGA.

E de se esperar que na medida em que aumenta o crescimento do sistema econômico e seu impacto
nos ecossistemas, torne-se evidente que é infrutífero tentar mesurar esses impactos em moeda, a
partir da lógica do subsistema humano e que se torne evidente que há que olhar o sistema que
alimenta a vida, que é o sistema natural. Ou seja, se hoje, os seres humanos avaliam seus produtos e
serviços com valores do mercado, provavelmente no futuro usarão a emergia (ou algo equivalente) o

321
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

que exigirá o entendimento da lógica de funcionamento do sistema global. Se isso for possível poderão
organizar suas idéias e ações para atuar em conjunto com os ecossistemas e a Biosfera e não contra
eles.

As políticas públicas podem promover o ajuste entre a economia e o ambiente. Propor políticas
públicas significa estabelecer critérios para escolher uma entre várias alternativas de
desenvolvimento. Por exemplo, quando ao escolher opções de produção de energia de biomassa para
determinar se um empreendimento energético gera uma contribuição líquida à economia, deverá se
colocar tudo em unidades de emergia, só assim, é possível comparar o rendimento energético do
sistema. A partir das informações dos estudos emergeticos, taxas ambientais poderiam ser cobradas
visando reacomodar o sistema de preços em direção ao reconhecimento do trabalho dos ecossistemas
naturais.

As políticas públicas devem levar em conta a variação dos recursos disponíveis com o tempo, as
limitações estruturais do sistema e a correta retribuição a todos os elementos que participam dele.
Entre esses elementos temos os ecossistemas: o trabalho dos ecossistemas naturais deve ser
reconhecido, valorizado corretamente e incluído na contabilidade. O dinheiro das taxas ambientais
cobradas deveria ser empregado para ajudar a repor o que foi extraído, manter a fertilidade dos
ecossistemas e conseguir a sustentabilidade. Em outras palavras, todos os componentes do sistema
devem ser beneficiados, especialmente a parte que sustenta a produção e, não somente como ocorre
na atualidade apenas a parte relativa ao processamento e consumo.

BIBLIOGRAFIA

BEN, F.; SCHNEIDER, V.; PAVONI. E. (2005) Análise dos custos ambientais em uma empresa, do pólo
moveleiro da serra gaúcha. In IX Congresso Internacional de Custos, Florianópolis. Anais... Associação
Brasileira de Custos, 2005.

BEUREN, I. M. (1995) Modelo de mensuração do resultado de eventos econômicos empresariais; um


enfoque de sistema de informação de gestão econômica. Tese (Doutorado em Controladoria e
Contabilidade) FEA/USP, São Paulo.

BONELLI, V.; ROBLES JR. (2003) A. A Contabilidade Estratégica na Gestão da Qualidade Ambiental. In X
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, Guarapari, Espirito Santo, 2003.Anais... Associação Brasileira de
Custos..

CAMPOS, L. M. (1996) Um estudo para definição e identificação dos custos da qualidade ambiental.
Dissertação (Mestrado, Engenharia de Produção) PPGEP-UFSC, Florianópolis.

CARVALHO, G.M.B. (2008) Contabilidade Ambiental, Teoria e Prática. Curitiba: Juruá,

322
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

COSTA, N. B. (2000) Contabilidade como instrumento para melhoria das políticas ambientais. In XVI
CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTABILIDADE DE GOIÂNIA. Anais. Goiânia.

DALMAGRO, D.; OTT, (2003) E. Gestão e Contabilidade Ambiental Em Empresas do Rio Grande do Sul.
In IX CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, Guarapari, Espirito Santo, 2003. Anais... Associação
Brasileira de Custos.

DE FARIA, A. C.; PEREIRA, R, (2009) Análise da evidenciação de informações socioambientais por


empresas do segmento de papel e celulose no Brasil, a partir da NBC T-15. In XVI Congresso Brasileiro
de Custos, Fortaleza, 2009. Anais... Associação Brasileira de Custos.

FERREIRA, A. C.; SIQUEIRA, J.R.; GOMES, M.Z. (2009) Contabilidade Ambiental e Relatórios Sociais. São
Paulo, Atlas.

FREITAS, J.L.; PANDOLFO, A.; BORDIGNON, S.; KUREK, J. (2007) Custo ambiental: uma abordagem
sobre o conceito e sua aplicação em uma indústria no processo de micro fusão de aço. In XIV
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, Joao Pessoa, 2007. Anais...Associação Brasileira de Custos.

GUESSER, J.M.; BEUREN, I.M.(1998) Identificação e Mensuração dos Custos Ambientais. In V


CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS, Fortaleza, 1998. Anais... Associação
Brasileira de Custos.

HANSEN, D.; MOWEN, M. (2003) Gestão de Custos: contabilidade e controle. São Paulo: Editora
Pioneira Thomson Learning.

INSTITUTO ETHOS (2017). Indicadores Ethos para negócios responsáveis. Ciclo 2017/2018. São Paulo.
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Disponível em: www.ethos.org.br .

INSTITUTO ETHOS (2020). Indicadores Ethos, diagnóstico de RSE/sustentabilidade


(https://www.ethos.org.br/conteudo/indicadores-ethos-diagnostico-de-rse-sustentabilidade)
(acesso 17 março 2020).

KASSAI, J. R.; FELTRAN-BARBIERI, R.; SANTOS, F. C. B.; CARVALHO, L. N. G.; CINTRA, C.; FOSCHINE,
(2008) A. Balanço das Nações: reflexão contábil sob o cenário de mudanças climáticas globais. In: XV
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS. 2008, Curitiba. Anais ...Associação Brasileira de Custos.

JASCH, C. (2000) The use of environmental management accounting (EMA) for identifying
environmental costs. Institute for Environmental Management and Economics.

JURAN, J. M.; GRYNA, F (1991). Juran Controle da Qualidade Handbook. São Paulo: Makron. McGraw-
Hill, v. 1 e v. 5, 1998.

MELO DE SOUZA, M.; UHLMANN. O; DAHMER PFISTCHER, E. (2010) Evidenciação da utilização de


biocombustíveis e demais informações de caráter social e ambiental pela empresa Petrobras nos anos
2007 e 2008. In 2ème CONGRÈS TRANSATLANTIQUE DE COMPTABILITÉ, CONTRÔLE, AUDIT ET
GESTION DES COÛTS, Lyon. Anais.... Lyon. ISEOR, 2010.

MORAES, R. O.; JUNQUEIRA, E. R.; CARVALHO, L. N. (2000) A avaliação de desempenho ambiental: um


enfoque para os custos ambientais e os indicadores de eco-eficiência. In VII CONGRESSO BRASILEIRO
DE CUSTOS, Recife, Anais...Associação Brasileira de Custos, 2000.

323
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

MOURA, L. A. A. (2000) Economia ambiental – gestão de custos e investimento. São Paulo: Ed. Juarez
de Oliveira.

RIBEIRO, M. S. (1998) Custeio das atividades de natureza ambiental. Tese (Doutorado), São Paulo,
FEA/USP.

RIBEIRO, M. S. (2005) Contabilidade Ambiental, São Paulo, Saraiva.

ROSSATO, M.V.; TRINDADE, L.L.; BRONDANI, G. (2009) Custos ambientais: um enfoque para sua
identificação, reconhecimento e evidenciação. Revista Universo Contábil, v.5, n.1. p.72-87.

SENTHILA, K. D., ONGA, S. K., NEEA, A. Y. C., TAN, R. B. (2003) A proposed tool to integrate
environmental and economical assessments of products. Environmental Impact Assessment Review.
n. 23, p. 51-72.

TACHIBANA, W.; ABUD, R. (2002) Gestão Ambiental: o Desafio do Desenvolvimento Sustentável e dos
Custos Ambientais: Uma Abordagem do ABC. In IX CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 2002. Anais...
Associação Brasileira de Custos.

TECHIO DA SILVA, I. S., KLIEMANN, N. J., GASPARETO, V. (2003) Classificação e Apuração de Custos
Ambientais: Uma Discussão Crítica. In X CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, Guarapari, Espirito
Santo, 2003. Anais... Associação Brasileira de Custos.

TINOCO, J. E. P.; KRAEMER, M. E. P. (2004) Contabilidade e gestão ambiental. São Paulo: Atlas.

UNITED NATIONS- UN (2001) Environmental Management Accounting Procedures and Principles.


Prepared for the Expert Working Group on “Improving the Role of Government in the Promotion of
Environmental Management Accounting” United Nations Division for Sustainable Development.
(Versão em português: Contabilidade da Gestão Ambiental: procedimentos e princípios).

UNITED NATIONS- UN (2015) Transforming our World. The 2030 Agenda por Sustainable
Development.

VIGNEAU, L. AND HUMPHREYS, M. AND MOON, J. (2015) How do firms comply with international
sustainability standards? Processes and consequences of adopting the global reporting initiative.,
Journal of business ethics., 131 (2). pp. 469-486.

WADDOCK. S. (2008) Building a New Institutional Infrastructure for Corporate Responsibility: Academy
of Management Perspectives, Vol. 22, No. 3 (Aug., 2008), pp. 87-108

WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT- WCED. (1987) Brundtland Report. Our
Common Future: United Nations.

Referências citadas na parte referente à análise emergética:

BROWN, M.T. and S. ULGIATI (1999): Emergy evaluation of the biosphere and natural capital. Royal
Swedish Academy of Sciences, Ambio, vol. 28, nº 6, , pp. 468-493.

MARTINEZ-ALIER, J. (1987) Ecological Economics. Oxford: Basil Blackwell, 286 pp.

ODUM, H.T. (1971) Environment, Power, and Society. New York: John Wiley, 336 pp.

324
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ODUM, H.T (1983). Ecological and General Systems: An Introduction to Systems Ecology. Niwot: Univ.
Press of Colorado

ODUM, H.T. (1996) Environmental Accounting, Emergy and Decision Making. New York: John Wiley,
370 pp.

ODUM H.T. (1998) Self organization, transformity and information. Science, vol, 242, nº 4882,
pp.:1132-1139, November.

ODUM, H.T. (2000a) Emergy evaluation of an OTEC electrical power system. Energy vol 25 (4), pp.398-
393.

ODUM, H.T. (2000b) Emergy of Global Processes, Folio #2, Handbook of Emergy Evaluation, Center for
Environmental Policy, Environmental Engineering Sciences, Univ. of Florida, Gainesville, 30 pp.

ODUM, H.T. (2000c) Emergy Accounting. Center for Environmental Policy, Univ. of Florida, Gainesville.
URL; http://www.unicamp.br/fea/ortega/htodum/emergyaccount.htm. (acesso 15 março 2020).

ODUM, H.T. (2001) An Energy Hierarchy Law for Biogeochemical Cycles. In Emergy Synthesis, ed. by
M.T. Brown, Center for Environmental Policy, Univ. of Florida, Gainesville, pp. 235-247

ODUM, H.T. e E.C. ODUM (2000) Modeling for All Scales, An Introduction to Simulation. San Diego CA:
Academic Press, 458 pp.

ODUM, H.T., M.T. BROWN, S. BRANDT-WILLIAMS (2000) Introduction and Global Budget, Folio #1,
Handbook of Emergy Evaluation. Center for Environmental Policy, Environmental Engineering
Sciences, Univ. of Florida, Gainesville, 16 pp.

ORTEGA, E.; MILLER, M., ANAMI, M.H., 2001. From emergy analysis to public policy: soybean in Brazil.
Second Biennial Emergy Research Conference, Gainesville, Florida September 20-22. Proceedings ....
University of Florida Center for Environmental Policy.

URL: http://www.unicamp.br/fea/ortega/soja/soja061101.pdf (acesso 12 março 2020)

ORTEGA E, CAVALETT O, BONIFACIO R, WATANABE M. (2005) Brazilian soybean production: emergy


analysis with an expanded scope. Bulletin of Science, Technology &Society 2005; 25(4):323–34.

PRETTY, J. N.; BRETT, C.; GEE, D.; HINE, R.; MASON, C.; MORISON, J.; RAVEN, J.H., M.D. RAYMENT, G.
VAN DER BIJL (2000) An assessment of the total external costs of UK agriculture, Agricultural Systems
65, 113-136. Elsevier Publishing.

325
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 16

PROPOSTA DE TÉCNICA PARA A ANÁLISE DA RELAÇÃO DE


CUSTO/VOLUME/LUCRO NA GESTÃO DE CUSTOS EM MICRO
EMPRESA DE LAPIDAÇÃO NO MUNICÍPIO DE TEÓFILO OTONI,
MG.
DOI: 10.37423/200300505

Giovanna Fornaciari - gnnfornaciari@hotmail.com

Daniela Teixeira Carvalho de Newman - daniela.newman@gmail.com

Jaqueline Carolino - jqcarolino@gmail.com

José Albino Newman Fernandes - newmanminero@hotmail.com

Resumo: O objetivo do presente trabalho é apresentar uma proposta de técnica para a análise
da relação custo/volume/lucro (CVL) na gestão dos custos em uma micro empresa de
lapidação de gemas, de forma a contribuir para a otimização dos resultados das empresas
desse segmento produtivo. No desenvolvimento deste estudo foram utilizadas múltiplas
fontes de informações com ênfase ao uso de dados primários e pesquisas bibliográficas.
Informações primárias foram obtidas junto a uma empresa do setor de lapidação localizada
no município de Teófilo Otoni/MG, por meio de entrevistas semi-estruturadas com os
dirigentes da unidade produtiva. O trabalho apresenta os aspectos gerais da cadeia de gemas,
jóias e afins, especificidades da atividade de lapidação e as formas de lapidação. Bem como
descreve conceitos da análise custo/volume/lucro e os procedimentos adotados. Os principais
resultados obtidos foram: identificação e mensuração da gema com melhor margem de
contribuição da empresa, no caso aquelas com lapidação Esmeralda (7ct); análise da
rentabilidade dos produtos vendidos em R$ ou %, identificando uma perda na lucratividade
da empresa por meio das gemas com lapidação gota (6ct); conhecimento do ponto de
equilíbrio de cada gema de forma a efetuar simulações de cenários quanto aos aumentos ou
diminuições de custos fixos, preços de venda e volumes para cada gema lapidada
comercializada, assim como resultados esperados; além da análise da margem de segurança
326
das gemas identificando a deficiência em volume de vendas das gemas com lapidação Gota
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-chave: Lapidação. Custo/volume/lucro. Gema.

Área Temática: Gestão de Custos para Micro, Pequenas e Médias Empresas.

327
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 - INTRODUÇÃO

Micro, pequenas e médias empresas têm significativa importância social no Brasil, principalmente pelo
aspecto de geração de empregos, como atestam diversas estatísticas. Contudo, estudos revelam que
vários fatores podem ser apontados como causa de suas dificuldades para permanecer em atuação no
mercado. Uma dessas dificuldades pode ser a baixa utilização de técnicas de gerenciamento.

No entanto, na atualidade, a atividade de análise e os métodos e técnicas de gestão de custos


deixaram de pertencer somente aos centros acadêmicos e instituições especializadas para se
incorporarem no dia-a-dia das empresas e organizações. Num ambiente de negócios e
empreendimentos, a gestão de custo representa um recurso para coletar, analisar e extrair
informações valiosas, tanto externa como interna às organizações, seja quantitativamente ou
qualitativamente.

E uma das principais dificuldades enfrentadas pelos micro, pequenos e médios empreendedores, na
tarefa de administrar sua empresa, refere-se à compreensão dos aspectos financeiros e contábeis do
negócio. O que, por muitas vezes, transforma os relatórios financeiros elaborados pelo Contador em
mero cumprimento de uma obrigação legal, ao invés de suprir o gestor com informações para o
processo de tomada de decisões.

Uma ferramenta que pode ser utilizada como técnica de gerenciamento é a análise de
custo/volume/lucro. Tal análise necessita de conhecimentos mínimos na área contábil e pode
constituir-se em importante subsídio para tomada de decisões corretas e técnicas confiáveis,
reduzindo ou minimizando os riscos inerentes ao processo decisório.

Neste contexto, encontra-se um segmento produtivo ainda carente de trabalhos em termos científicos
no que se refere à área contábil, que é a cadeia produtiva de gemas, jóias e afins. Nesse segmento
pode-se considerar como elos da cadeia produtiva a extração mineral, a lapidação, o artesanato
mineral, o segmento joalheiro, folheados e bijuterias, os insumos e matérias-primas, as máquinas e
equipamentos usados no processo de produção, além das estratégias de marketing e a incorporação
do design aos produtos, distribuição e comercialização do produto nos mercados nacional e
internacional.

No entanto, devido à amplitude e diversidade dos segmentos a serem abordados, para viabilizar a
realização deste trabalho, a análise que desenvolvida ocupa-se apenas do segmento de lapidação.
Quanto à delimitação espacial, o estudo restringe-se ao Estado de Minas Gerais e mais

328
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

especificamente ao Município de Teófilo Otoni, considerando a importância da referida atividade para


geração de emprego e renda na localidade.

Diante da problemática descrita, o objetivo do presente trabalho é apresentar uma proposta de


técnica para a análise da relação custo/volume/lucro (CVL) na gestão dos custos em uma micro
empresa de lapidação de gemas, de forma a contribuir para a otimização dos resultados das empresas
desse segmento produtivo.

No desenvolvimento deste estudo foram utilizadas múltiplas fontes de informações com ênfase ao
uso de dados primários e pesquisas bibliográficas. Como fontes secundárias de pesquisa citam-se
leitura de documentos técnicos, busca em sites especializados na área de gemologia, periódicos na
área de gemas e lapidação.

Informações primárias foram obtidas junto a uma empresa do setor de lapidação localizada no
município de Teófilo Otoni/MG, por meio de entrevistas semi-estruturadas com os dirigentes da
unidade produtiva. No entanto, o nome da empresa não será revelado por solicitação de seu
proprietário.

O trabalho, inicialmente, apresenta os aspectos gerais da cadeia de gemas, jóias e afins com o
propósito de contextualizar e justificar a escolha da região e do segmento produtivo analisado.
Adicionalmente, são apresentadas as especificidades da atividade de lapidação e as formas de
lapidação consideradas neste estudo.

Posteriormente, descrevem-se conceitos da análise custo/volume/lucro, procedimentos adotados e


os resultados obtidos, bem como informações para tomada de decisão que puderam ser alcançadas
por intermédio da metodologia empregada.

2 ASPECTOS GERAIS DA CADEIA PRODUTIVA DE JÓIAS, GEMAS E AFINS

O termo cadeia produtiva pode ser entendido como o conjunto de atividades que se articulam
progressivamente desde os insumos e matérias-primas até o produto final. No segmento de gemas,
jóias e afins pode-se considerar como elos da cadeia produtiva a extração mineral, a lapidação, o
artesanato mineral, o segmento joalheiro, folheados e bijuterias, os insumos e matérias-primas, as
máquinas e equipamentos usados no processo de produção, além das estratégias de marketing e a
incorporação do design aos produtos, distribuição e comercialização do produto nos mercados
nacional e internacional.

329
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Embora os dados sejam conflitantes, em 2009, a cadeia obteve um faturamento de US$ 4 bilhões.
Estima-se que existam, atualmente, cerca de 14.000 empresas de lapidação, de joalheria, de
artesanato em rochas e de folheados de metais preciosos. Estima–se, ainda, que, em toda a cadeia, as
pessoas, direta ou indiretamente envolvidas, ocupem mais de 300 mil postos de trabalho. As empresas
estão localizadas, principalmente, em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e
Bahia. No entanto, percebe-se o surgimento de novos pólos industriais, como Paraná, Pará, Amazonas
e Goiás (IBGM, 2009).

No Brasil a produção de gemas se localiza, principalmente, nos Estados de Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Bahia, Goiás, Pará e Tocantins. Apesar de não existirem estatísticas de produção confiáveis, o
Brasil é reconhecido como um dos principais produtores, tanto pela variedade quanto pela quantidade
de gemas encontradas em seu subsolo. Estima-se que, aproximadamente, 80% dos minerais
gemológicos brasileiros, em volume, tenham como destino as exportações, tanto em bruto, incluindo
espécimes de coleção, como lapidadas.

2.1 CARACTERÍSTICAS DO PÓLO DE GEMAS E JÓIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Em termos nacionais destacam-se os Pólos de Gemas e Jóias do Estado de Minas Gerais, mais
especificamente, os Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Rio Doce. Além de produtora de gemas, a
região tem no segmento de lapidação e comercialização de gemas e minerais gemológicos uma de
suas mais importantes atividades econômicas.

Na região que compreende os Municípios de Governador Valadares e Teófilo Otoni, segundo dados
do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), existem cerca de 300 microempresas nas áreas de
lapidação e comercialização, além de 2.700 de lapidações informais, 1.500 corretores e um número
desconhecido de garimpeiros.

Ressalta-se que o setor convive com grande número de empresas informais, principalmente as de
lapidação e de artesanato mineral, que vivem à margem do mercado, tanto na produção quanto na
comercialização de seus produtos. Tal situação gera competição desleal e predatória para os
formalmente estabelecidos. A maioria dos empresários negocia a mercadoria disponível no momento,
notadamente o produto bruto, que pouco contribui para melhorar as condições sócio-econômicas e a
realidade da região (PÓLO, 2010).

Atualmente a matéria-prima tem se apresentado escassa para o segmento de lapidação nacional. Isso
ocorre em função dos problemas decorrentes da exploração e da desorganização do processo

330
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

extrativista nos últimos dez anos, bem como a intensificação de importadores no próprio garimpo. Tal
assertiva foi confirmada em entrevistas realizadas junto a diversos empresários da principal região
(Governador Valadares e Teófilo Otoni).

O segmento produtivo de lapidação nacional sente-se desestimulado a crescer diante da forte


concorrência de outros países, como a China e a Índia. Por outro lado, a insuficiente tecnologia e a
reduzida escala para produção de gemas calibradas reduz, para esse importante segmento a
competitividade do Brasil no mercado internacional.

A comercialização dos minerais brutos é significativamente informal em toda a região. Existem


diversos “pedristas” que adquirem as mercadorias no garimpo por preços bem inferiores àqueles
comercializados na ponta da Cadeia. Existem bons lapidários na região, entretanto, não há produção
em escala.

Recentemente, novas técnicas estão sendo introduzidas no processo produtivo, no que diz respeito à
lapidação. No entanto, a maioria dos empresários, ainda, não dispõe de equipamentos adequados,
que garantam um bom desempenho e elevados padrões de produtividade, principalmente para as
gemas calibradas. Muitos dos equipamentos utilizados são antigos e desenvolvidos na própria região.

Na maioria dos lapidários, a lapidação ainda é realizada de forma rudimentar. Ambiente insalubre,
exposição do lapidador aos metais pesados (rebolo carborundum, óxidos e chumbo), além de danos
ao meio ambiente retratam a realidade destes lapidários. As máquinas modernas de lapidação usam
rebolos diamantados, e não chumbo e óxidos.

A lapidação é responsável em grande parte, pela valorização da gema depois de lapidada que como
produto terá um aumento considerável no seu valor. Por outro lado, a lapidação com polimento
irregular, facetas desencontradas e proporções incorretas pode desvalorizar a gema. Por sua vez, a
fabricação de jóias ainda é incipiente na região (PÓLO, 2010).

2.1.1 O PROCESSO DE LAPIDAÇÃO.

A lapidação representa o segundo elo da cadeia e compreende um processo de beneficiamento do


mineral bruto a fim de obter a forma que mais ressalte a sua beleza, bem como o máximo de brilho
(BRANCO, 2008).

O beneficiamento de uma gema pode ser realizado pelo processo manual, pelo processo mecanizado
ou pelo processo automatizado de lapidação.

331
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O processo de lapidação de gemas é relativamente complexo, pois depende amplamente da


capacidade operacional do lapidário. Esse processo é dividido em quatro etapas:

 corte ou serragem: nessa etapa o lapidador faz cortes no material gemológico (mineral)
bruto utilizando uma serra diamantada para remover as impurezas, deixando apenas a área
que pode ser aproveitada para a lapidação, eliminando os defeitos;

 calibragem: consiste em desgastar a gema, para conferir uma forma preliminar (pré-forma)
e aproximada da forma final que a mesma deverá assumir;

 facetamento: consiste em conferir à gema as facetas que definirão sua forma final, é a etapa
onde são criadas as facetas na gema;

 polimento: consiste em conferir brilho às facetas da gema com um disco de polir.

Na Figura 1 (a, b, c) ilustra-se esse processo.

Fonte: Elaboração Própria

Figura 1: Representação do Processo de Lapidação do Processo Mecanizado. (a) Processo de Corte ou


Serragem; (b) Processo de Calibragem; (c) Processo de Facetamento e Polimento

O processo mecanizado e o processo automatizado de lapidação possibilitam uma exatidão nos seus
passos pelo fato da utilização de mecanismo e de medição e corte milimétrico. O processo mecanizado
de lapidação de gemas difere-se do processo manual pelo fato do mesmo possuir um braço mecânico
com regulagens milimétricas, auxiliando o lapidador nos processos de calibragem, facetamento e
polimento, proporcionando um melhor acabamento em um menor tempo de segundo (ASPAHAN,
2006).

332
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3 – ANÁLISE CUSTO-VOLUME-LUCRO

O uso das demonstrações financeiras para a análise da empresa vai muito além da simples leitura e
entendimento de sua situação patrimonial e dos resultados, pois é possível também identificar o nível
de risco a que a operação da empresa está exposta por meio de uma eficiência da gestão de custos na
obtenção de resultados.

De acordo com Hoji (2007), “o risco existe em todas as atividades empresariais. Tudo o que é decidido
hoje, visando um resultado no futuro, está sujeito a algum grau de risco”

O conceito de análise da relação CVL revela-se bastante útil para tomadas de decisões de
planejamento do nível de produção e vendas.

Para Bruni (2004), a relação de análise de custos, volumes e lucros “consiste em importante etapa na
análise de formação de preços e projeção de lucros obtidos a diversos níveis possíveis de produção e
vendas”.

O gerenciamento dos níveis de produção e vendas também está intrinsecamente ligado as atividades
operacionais, de investimento e financiamento. Portanto, de acordo com Cerbasi (2007), o uso das
técnicas de análise da relação CVL visa exatamente “identificar a exposição da empresa a riscos
operacionais e financeiros, orientando seus gestores quanto às decisões de investimento,
financiamento e distribuição”.

Muitas vezes, o empreendedor evita a ajuda de especialistas, porque acha que não haveria interesse
por parte destes em estudar, por exemplo, problemas de uma micro empresa, ou então, porque
obteria uma economia de recursos, uma vez que o auxílio de especialistas geralmente estará associado
a algum custo.

De acordo com Cavalcanti (apud PINHEIRO, 1996):

A fragilidade administrativa e organizacional das micro, pequenas e médias


empresas (MPME’s) revela-se com toda a sua interligação entre aspectos
tecnológicos, administrativos, de percepção ambiental, referentes ao sistema
de informações gerenciais ou à estratégia desenvolvida ainda mesmo que
nessas empresas a administração seja feita pelos seus proprietários ou por seus
parentes, que muitas vezes não têm conhecimento aprofundado de técnicas
financeiras, principalmente ao gerenciamento dos gastos da empresa.
Para Hoji (2007), a análise da Relação CVL tem a finalidade de “calcular o ponto de equilíbrio
(breakeven point), isto é, o ponto em que as receitas de vendas se igualam com a soma dos custos e
despesas e o lucro é nulo”.

333
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Analogamente, para VanDerbeck (2001), o ponto de partida usual na análise CVL “é a determinação
do ponto de equilíbrio de uma empresa, pois é o ponto no qual a receita de vendas é adequada para
cobrir todos os custos de manufatura e vender o produto, mas sem obter lucro”.

Segundo Bornia (2002) à Margem de Segurança Unitária “representa a parcela do preço de venda que
resta para a cobertura dos custos e despesas fixos e para a geração do lucro por produto vendido”.

Dessa forma pode-se dividir a análise da relação CVL em duas partes:

I - Segregação entre custos e despesas fixas, e os custos e as despesas variáveis. Não há distinção entre
os custos e despesas, eles são separados em fixos e variáveis. O lucro pode ser afetado de acordo com
os efeitos produzidos pelos Custos e Despesas Fixos (CDFs) e Custos e Despesas Variáveis (CDVs).

Em geral, os administradores usam esta análise como uma ferramenta para ajudá-los a responder
questões que envolvam expectativas quanto ao que acontecerá com o lucro se houverem
modificações nos preços de venda, nos custos e no volume vendido.

II - Quantificação dos pontos de equilíbrio da empresa (breakeven points) a partir da sua margem de
contribuição.

Esta análise examina o comportamento das receitas e custos totais, dos resultados das operações
decorrentes de mudanças ocorridas nos níveis de saídas (vendas), de preços de venda, custos variáveis
por unidade ou custos fixos. Igualmente, consiste no excedente das vendas da empresa sobre as
vendas no ponto de equilíbrio, representando quanto as vendas podem cair sem que haja prejuízo
para a empresa.

Normalmente os Custos e Despesas Fixos são determinados pela capacidade de produção do produto
ou serviços do próprio negócio.

Os custos fixos, que são representados pelos Custos Indiretos de Fabricação (CIF) são assim
denominados porque não correspondem a gastos realizados especificamente para esse ou aquele
produto. Para Santos (2000), os custos indiretos de fabricação são representados por “outros custos
que complementam uma atividade e são incorridos de forma indireta ou geral, beneficiando todos os
bens ou serviços produzidos ou serviços prestados”.
Por outro lado, para se conhecer o valor dos CIFs de cada produto, devem-se estabelecer regras e
efetuar cálculos para que os referidos custos sejam adequadamente atribuídos a cada produto.
Tecnicamente, a distribuição proporcional que se faz para atribuir a este ou àquele produto o valor
dos CIF, denomina-se Rateio.

334
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para se efetuar o Rateio (distribuição), há necessidade de se adotar algum critério, seja ele estimado
ou atribuído. Esse critério é denominado Base de Rateio.

4- APLICAÇÃO DA ANÁLISE DA RELAÇÃO DE CUSTO-VOLUME-LUCRO (CVL) NUMA EMPRESA DE


LAPIDAÇÃO

Este trabalho, busca analisar as atividades executadas no beneficiamento de minerais de aplicação


gemológica em uma empresa que tem como atividade principal a produção e comercialização de
gemas lapidadas.
A empresa analisada encontra-se situada no município de Teófilo Otoni na região nordeste do Estado
de Minas Gerais, na zona do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, distante da capital do estado 446 km. O
município conta com mais de 130 mil habitantes numa área de aproximadamente de 3.242
quilômetros quadrados.
Pelas suas características a empresa pode ser classificada como uma micro-empresa. Contando com o
trabalho de um sócio e apenas dois funcionários para áreas administrativas e comerciais, ocupando
uma área física de 70 (setenta) metros quadrados. A produção abrange um mix de produtos de cerca
de 18 modelos de matrizes:
 Matrizes Universais • 01 quadrada, 01 trilhante, 01 coração. Todas essas matrizes são
universais, ou seja, servem para qualquer tamanho, bastando ajustar o desbaste no
micrômetro do calibrador.

 Matrizes Variadas • 01 navete 5 x 10mm, 01 navete 7 x 14mm, 01 navete 10 x 20mm., 4


ovais, 4 gotas e 4 retangulares (exigem tamanhos específicos com diferenças de 2mm,
3mm, 4mm e 5mm entre comprimento e largura).

O estudo baseia-se na produção de 3 (três) gemas para simplificação dos cálculos. Gemas lapidadas
no formato de brilhante, esmeralda e gota (Figura 2 a, b, c e d).
A seguir é apresentado levantamento dos dados quantitativos e qualitativos para a análise da relação
custo/volume/lucro envolvendo o cálculo do Ponto de Equilíbrio.

4.1 – LEVANTAMENTO DE DADOS

Para executar a Análise da relação de CVL, levando em consideração a composição dos gastos
representada pelo período de um mês, a verificação dos controles internos e de entrevistas com os
técnicos de laboratório de lapidação pelas etapas produtivas da empresa nos processos de lapidação

335
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(corte ou serragem, calibragem, facetamento e polimento), foram descritos os seguintes


levantamentos dos dados:

Fonte: Elaboração Própria

Figura 2: Ilustrações dos minerais selecionados e suas respectivas gemas lapidadas. (a) cristal de
quartzo hialino e respectiva gema com lapidação brilhante simples; (b) Cristal de quartzo fumé e
respectiva gema com lapidação esmeralda fantasia; (c) cristal de quartzo róseo e respectiva gema com
lapidação gota; (d) Exemplares das variedades gemológicas utilizadas neste estudo.

4.1.1- CUSTO DE COMPRA DAS MATÉRIAS-PRIMAS DOS MINERAIS

Foram adquiridos 3 (três ) tipos de variedades minerais da Classe dos Silicatos,sendo esses: quartzo
incolor, fumé e róseo. O consumo faz-se nas quantidades de gramas por mineral adquirido conforme
Quadro 1.

336
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaboração Própria.


Quadro 1 – Quantidade de Mineral adquirido para lapidação das Gemas.

Para proceder o cálculo do custo de compra das matérias-primas (minerais brutos) são necessárias as
seguintes etapas:
a) Cálculo da Produção Estimada da Gema a partir do consumo de cada matéria-prima na lapidação.
Sabe-se que:

 Cada 200mg (1/5g) equivale a 1ct, ou seja, 1gr a 5ct. 


 Faz-se uma estimativa de perda normal em todo o processo de lapidação, que depende tanto
do tipo de matriz a ser lapidada no mineral, como de suas características gemológicas.
Conforme Quadro 2.

Fonte: Elaboração Própria.


Quadro 2 – Cálculo da Produção de Gemas para Lapidação por Espécie Mineral.
Sabe-se que as quantidades produzidas estão dentro da capacidade de produção no período mensal,
de acordo com os investimentos instalados e a mão-de-obra contratada.
b) Cálculo do Custo Unitário da Matéria-Prima, conforme Quadro 3.

337
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaboração Própria.


Quadro 3 – Cálculo do custo unitário da Matéria Prima

4.1.2 - CUSTO DE MÃO-DE-OBRA DIRETA NAS GEMAS LAPIDADAS.

O serviço de lapidação nas gemas é executado por terceiros, de acordo com o tempo de mão-de-obra
direta estabelecida para cada tipo de gema lapidada, em função de sua matriz (brilhante, esmeralda e
gota). Sabe-se que a matriz da lapidação gota demanda uma maior quantidade de tempo.
Os lapidadores contratados pela empresa cobram por hora de lapidação em conformidade com as
características de cada mineral, ou seja, suas inclusões, dureza, valor, entre outras. Dessa forma cada
tipo de gema a ser lapidada terá seu valor de serviço diferencial. Foram necessários 3 lapidadores para
efetuar a produção das gemas (Quadro 4).

Fonte: Elaborado pelo Autor


Quadro 4 – Cálculo do Custo unitário de Mão-de-obra direta nas gemas lapidadas.

4.1.3 - DESPESAS VARIÁVEIS DAS GEMAS

As Despesas Variáveis com embalagens (caixa acrílica e embalagens plásticas) representam o valor
unitário de R$ 1,15. Foram adquiridas nas seguintes formas: Caixa acrílica– R$ 1.100,00 (Milheiro);
Sacolas plásticas – R$ 50,00 (Milheiro).
A empresa de lapidação é considerada para efeito de tributação pessoa jurídica Micro Empresa – ME,
e sua receita bruta é inferior a R$ 240.000,00. Sua alíquota é de 5,97%.

338
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.1.4 - PRECIFICAÇÃO DA GEMA PRATICADA NO MERCADO

Normalmente, as gemas são classificadas em diferentes grupos, espécies e variedades, possuindo


características gemológicas variáveis no momento da sua precificação no mercado, tais como:
inclusões, cor, densidade relativa, dureza, clivagem, tipos de fraturas e brilho.
Neste estudo, a precificação será efetuada após a perfeita identificação gemológica citada acima, pois
não existe uma fórmula para sua precificação, e em seguida será atribuído o preço praticado no
mercado, de acordo com a cotação do dólar comercial na data da negociação. Ressalta-se que as gemas
coloridas e incolores lapidadas, representam respectivamente, U$ 3,00 e U$ 2,00 por quilate,
considerando-se que a precificação em dólar pode variar de acordo com suas características
gemológicas. A cotação do dólar comercial na data negociada representa R$ 1,82 (um real e oitenta e
dois centavos). O Cálculo é apresentado no Quadro 5.

Fonte: Elaborado pelo autor.


Quadro 5 – Precificação da Gema Praticada no Mercado.

4.1.5 - GASTOS FIXOS NA EMPRESA DE LAPIDAÇÃO.

Na empresa, foram identificados na lapidação de gemas outros elementos de gastos. Sendo esses
representados pelos os custos indiretos de fabricação e gastos para obtenção da receita, representados
respectivamente pelos Custos e Despesas Fixas. Os custos indiretos de beneficiamento das gemas na
lapidação é função do processo produtivo ou da elaboração do serviço (Quadro 6).

339
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaboração Própria.


Quadro 6 – Custos e Despesas Fixas na Empresa de Lapidação.

A base de rateio foi assim atribuída em valores relativos para cada gema lapidada, conforme Quadro7.

Fonte: Elaboração Própria.


Quadro 7 – Base de rateio para os custos e despesas fixas.

340
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.1.5.1 - MAPA DE APROPRIAÇÃO DOS GASTOS VARIÁVEIS E FIXOS NA LAPIDAÇÃO DE GEMAS

Os valores foram apropriados de acordo com respectivas bases de rateio identificadas no Quadro 6,
para cada gasto variável e fixo. Apresenta-se o mapa de apropriação dos gastos variáveis e fixos no
Quadro 8.

Fonte: Elaboração Própria


Quadro 8 – Mapa de apropriação dos gastos variáveis e fixos

Fonte: Elaboração Própria.


Quadro 8 (continuação) – Mapa de apropriação dos gastos variáveis e fixos.

341
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.2 - ANÁLISE DA RELAÇÃO CUSTO/VOLUME/LUCRO (CVL).

A Análise Custos/Volume/Lucro envolve principalmente os conceitos de margem de contribuição,


representada por:

Onde:

MCu Margem de Contribuição Unitária


PVPreço de Venda
CV Custos Variáveis
DV Despesas Variáveis

Os Custos Variáveis no caso do Quartzo hialino são representados pelo custo da matéria prima e o
custo da mão-de-obra de cada unidade. As Despesas Variáveis referem-se às despesas de embalagens
e impostos tributários (alíquota de 5,97%) sobre o preço de venda de cada gema no momento da
venda.
Dessa forma, o Cálculo da Margem de Contribuição das gemas lapidadas estão representados no
Quadro 9.

Fonte: Elaboração Própria.


Quadro 9 – Cálculo da Margem de Contribuição das Gemas Lapidadas
A partir da Margem de Contribuição unitária, pode-se calcular o ponto de Equilíbrio Contábil
representado por:

Onde:

342
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

PEC Ponto de Equilíbrio Contábil


CFtCustos Fixos Totais
DFt Despesas Fixas Totais
MCu Margem de Contribuição Unitária

No Quadro 10 é efetuado o cálculo da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) pelo método do


custeio variável. Suas vendas das gemas supracitadas no período, correspondem respectivamente, a
150, 180 e 200 unidades vendidas.

Fonte: Elaborado pelo Autor


Quadro 10 – Demonstração do Resultado do Exercício.
Conforme valores apresentados na DRE, a gema com lapidação brilhante (10ct) obteve a maior
margem de lucro representando 35%, pois possui uma melhor margem de contribuição unitária. Ao
contrário da gema com lapidação gota (6ct) que tem margem de lucro negativa, demonstrando uma
rentabilidade negativa, influenciando no resultado total da empresa.
Ao apurar o cálculo do Ponto de Equilíbrio Contábil têm-se:

343
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas


No Quadro 11 é demonstrado a DRE pelo método do custeio variável no cálculo do Ponto de equilíbrio
Contábil:

Fonte: Elaborado pelo Autor


Quadro 11 – Demonstração do Resultado do Exercício no Ponto de Equilíbrio Contábil.

Em análise, verifica-se que a empresa deverá aumentar a quantidade ofertada no mercado das gemas
com lapidação gota (6ct) para números superiores a 332 unidades para que a mesma consiga obter
uma rentabilidade positiva e uma maior lucratividade no resultado da empresa.
A margem de segurança em unidades pode ser entendida como o volume das vendas que supera o
ponto de equilíbrio em unidades.
A exemplo da gema com lapidação brilhante, o volume total vendido pela empresa no período-base
da pesquisa foi de 150 unidades e o ponto de equilíbrio calculado foi de 90 unidades. Logo, a empresa
apresenta uma venda superior ao seu ponto de equilíbrio em 60 unidades, sendo esta a sua margem
de segurança em unidades. Para calcular a margem de segurança em reais da gema com lapidação

344
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

brilhante, basta multiplicar a margem de segurança em unidades pelo preço de venda respectivo. No
caso, a margem de segurança da gema no período estudado foi de R$ 2.184,00 (dois mil cento e oitenta
e quatro reais).
O mesmo cálculo para a gema com lapidação esmeralda em unidades e valores é respectivamente de
104 unidades e R$ 3.974,88 (três mil novecentos e setenta e quatro reais e oitenta e oito centavos).
Já para a gema com lapidação gota, a empresa vendendo o volume de 200 unidades, não apresenta
margem de segurança, pelo contrário, é necessário aumentar seu faturamento em 132 unidades para
cobrir todos os seus custos e despesas fixas.

4.2.1 - SÍNTESE DAS INFORMAÇÕES NA ANÁLISE CUSTO/VOLUME/LUCRO NA EMPRESA DE


LAPIDAÇÃO

Após a análise do caso, são apresentadas algumas contribuições à empresa de lapidação, por meio da
aplicação da Análise dos Custos/Volume/Lucro, objetivando auxiliar no melhor gerenciamento dessas
atividades. Ressaltando as expostas a seguir:
 Determinação do consumo efetivo de cada matéria-prima por tipo de mineral em termos
quantitativos e qualitativos:
a) Quantitativo: Mensuração das perdas, capacidade de produção por meio do aproveitamento
do mineral, de acordo com a quantidade de quilates (ct).
b) Qualitativo: Características gemológicas, dando especial atenção à presença de fraturas
existentes que podem por ventura alterar a capacidade de produção.
 Determinação do custo de mão-de-obra direta de acordo com o tempo de lapidação para cada
gema.
 Cálculo da precificação da gema em função do valor do mercado, ressaltando que a mesma
depende dos valores mensurados (custos, despesas, impostos, margem de lucro) e do valor das
características gemológicas.
 Descrição dos custos indiretos de beneficiamento na lapidação considerando a função do
processo produtivo ou elaboração do serviço.
 Constituição da base de rateio dos custos indiretos e despesas fixas a partir da observação por
meio de uma melhor alocação para cada consumo dos recursos.
 Elaboração do mapa para apropriação dos custos indiretos e despesas fixas. A produção da
gema com lapidação gota (6ct) tem o valor relativo representativo devido à sua base de rateio,

345
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

conforme observado no processo de produção, a exemplo do número de facetas e do tempo


de mão-de-obra direta.
 Análise da melhor margem de contribuição para a gema com lapidação esmeralda devido ao
menor custo variável de mão-de-obra direta em função do número de facetas e do tempo de
mão-de-obra direta.
 Análise de rentabilidade dos produtos vendidos por meio da margem de contribuição unitária
em R$ ou %, bem como da margem de contribuição total da empresa.
 Cálculo do ponto de equilíbrio em unidades e em valor.
 Cálculo da margem de segurança com melhor representatividade na gema de lapidação
esmeralda e necessidade de acréscimo de vendas por unidade das gema com lapidação gota.
 Simulação de cenários quanto aos aumentos ou diminuições de custos fixos, preços de venda
e volumes para cada gema lapidada comercializada, assim como resultados esperados.

5 - CONCLUSÃO

A empresa de lapidação, objeto deste estudo, é uma micro empresa que agrega um conjunto de
atividades que visa planejar, produzir e otimizar seus recursos de forma a garantir aos seus produtos
qualidade e eficiente nível de serviços ao cliente. Para tanto, o gestor da empresa precisa ter
conhecimento das técnicas de gerenciamento, principalmente das técnicas de gestão de custos, pois
representa um recurso fundamental para coletar, analisar e extrair informações valiosas na tomada
de decisões.
A técnica da Análise de Custos/Volume/Lucro inserida na gestão de custo enfocada neste artigo há
muito vem sendo considerada pela literatura técnica, mostrando-se oportuna em ofertar subsídios
decisoriais consistentes aos gestores.
Assim, a proposta da técnica de análise da relação custo/volume/lucro aplicada à gestão dos custos
em uma micro empresa de lapidação de gemas, apresentou diversas contribuições quanto à tomada
de decisões, destacando-se: identificação e mensuração da gema com melhor margem de contribuição
da empresa, no caso aquelas com lapidação Esmeralda (7ct); análise da rentabilidade dos produtos
vendidos em R$ ou %, identificando uma perda na lucratividade da empresa por meio das gemas com
lapidação gota (6ct); conhecimento do ponto de equilíbrio de cada gema de forma a efetuar
simulações de cenários quanto aos aumentos ou diminuições de custos fixos, preços de venda e
volumes para cada gema lapidada comercializada, assim como resultados esperados; além da análise

346
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

da margem de segurança das gemas identificando a deficiência em volume de vendas das gemas com
lapidação Gota (6ct).
Este trabalho é parte inicial e inédita de um estudo quanto à gestão de custos em uma micro empresa
de lapidação de gemas, que pretende propor em outro momento, pesquisa científica quanto às formas
de precificação das gemas e outros estudos na área da cadeia produtiva de gemas, jóias e afins.

REFERÊNCIAS

ASPAHAM, Sérgio. Manual de Lapidação: como lapidar em máquinas lapidart. Copyright, 2006.

BORNIA, Antonio Cezar. Análise gerencial de custos em empresas modernas. Porto Alegre: Bookman,
2002.

BRANCO, Pércio de Moraes. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo: Oficina de Textos,
2008.

BRUNI, Adriano leal. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e
Excel. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2004.

CERBASI, GUSTAVO. Finanças para empreendedores e profissionais não financeiros. São Paulo:
Saraiva, 2007.

HOJI, Masakazu. Administração Financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada,


estratégias financeiras, orçamento empresarial. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEMAS E METAIS PRECIOSOS. O Setor de Gemas e Metais Preciosos em


Grandes Números 2009. Brasília, DF: IBGM, 2009. Disponível em: < http://www.ibgm.com.br>. Acesso
em 14 de jul. 2010.

PINHEIRO, M. Gestão e desempenho das empresas de pequeno porte. 1996. 269 f. Tese de Doutorado.
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – FEA, Universidade de São Paulo.

PÓLO de gemas e jóias do estado de minas gerais. Disponível

em:<http://www.aprendendoaexportar.gov.br/gemasejoias/pdf/Polo_de_Gemas_e_Joias_do_Estad
o_do_Minas_Gerais.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2010.

SANTOS, Joel J. Análise de custos: remodelado com ênfase para custo marginal, relatórios e estudos
de casos. 3ª edição – São Paulo: Atlas, 2000.

VANDERBECK, Edward J; NAGY Chaves F. Contabilidade de Custos. 11º ed. São Paulo:Pioneira Thomson
Leaning, 2001.

347
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 17

ESTRUTURA DE CUSTOS LOGÍSTICOS PARA O ESCOAMENTO


DE ALGODÃO EM PLUMA AO MERCADO EXTERNO: UM
ESTUDO DE CASO NO GRUPO SCHEFFER
DOI: 10.37423/200300509

Margarida Alves Rocha (Mestre em Administração pela FEAD – Centro de Gestão


Empreendedora - Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT).

E-mail: margarida.contabil@gmail.com

Magno Alves Ribeiro (Doutor em Administração pela Universidade Autônoma de


Assunção – UAA - Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT).

E-mail: magnoalves@unemat.br

Resumo: O algodão é uma das mais importantes commodities brasileiras, contribuindo


positivamente para o crescimento da balança comercial do Brasil. Mesmo considerando as
significativas vantagens comparativas no que concerne a disponibilidade de terras,
produtividade e custos de produção, o algodão é onerado pela deficiente infraestrutura
logística brasileira. O objetivo da pesquisa foi descrever a estrutura dos custos logísticos
referentes ao escoamento da safra de algodão em pluma para o mercado externo, desde a
origem, no município de Sapezal/MT, até os portos de Santos/SP e Paranaguá/PR, para
posterior embarque nos portos internacionais. O estudo de caso de natureza descritiva, com
abordagem qualitativa, foi realizado no Grupo Scheffer, localizado no município de
Sapezal/MT.

348
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O protocolo da pesquisa utilizou, de forma associada, a triangulação por meio da análise de


documentos e outros materiais do grupo, observação não participante e entrevistas não estruturadas.
Os dados considerados referem-se à exportação do algodão em pluma na safra 2011/2012. Constatou-
se que o custo do transporte rodoviário representa 7,6% do preço da mercadoria; e os custos de
despacho aduaneiro e impostos federais, 2,8%. A representatividade dos custos logísticos em relação
aos custos totais do algodão foi de 16,22%, 10,36% da receita bruta total.

Palavras-chave: Logística. Algodão. Exportação. Transporte. Custo.

349
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A gestão dos agentes envolvidos em cadeias produtivas que tenham por base commodities agrícolas
envolve uma série de decisões específicas a ela. Isso decorre da crescente complexidade dos
elementos aí envolvidos. Para um gestor rural, o conhecimento técnico, a sensibilidade e a
competência com relação ao diagnóstico da empresa determinam grande parte de seu sucesso na
agropecuária, devido às múltiplas atividades e ao volume financeiro associado às operações.
Conforme Oliveira et al. (2012), no processo de tomada de decisões nem todos os fatores que
influenciam as atividades envolvendo gestão podem ser facilmente identificados, reconhecidos e
mensurados. Esse problema é ampliado quando se trata de gestão de atividades que combinam a
utilização de recursos humanos e financeiros com recursos naturais, como é o caso das empresas que
exploram a cotonicultura.
De acordo com a CONAB, nos últimos dois anos o Brasil produziu as duas maiores safras de sua história,
1.959,8 mil toneladas em 2010/11 e 1.868,1 em 2011/12. Conforme publicado pelo International
Cotton Advisory Committee (ICAC) em 01/08/2012, neste período o País se posicionou como o quarto
e o quinto maior produtor de algodão do mundo, respectivamente, e em quinto lugar no ranking das
exportações mundiais em 2011/12. Nessa condição, já é visto como um importante player no mercado
mundial de algodão.
Em contraponto, problemas de infraestrutura dificultam significativamente a expansão sustentada do
agronegócio brasileiro em geral e do algodão em particular. A infraestrutura de transportes está entre
esses problemas. A má conservação das estradas causa elevados prejuízos, pois grande parte da
produção agrícola brasileira é escoada por rodovias.
No estado de Mato Grosso não é diferente. Embora seja o maior produtor de algodão do Brasil, detém
os mais altos custos de produção e tem as maiores distâncias dos portos de escoamento. Nesse
contexto, a logística assume papel central na competitividade do agronegócio nacional. A procura pela
eficiência no intuito de agregar valor aos produtos, mediante a racionalização dos três principais
parâmetros logísticos - custo, tempo e qualidade - que sustentam a eficiência e a eficácia das
atividades de exportação e importação de produtos no mercado mundial, é vital para este sistema de
produção (OLIVEIRA, 2007).
Diante disso, é necessário melhorar os processos logísticos, para que as deficiências nesta área não se
reflitam em perda de competitividade dos produtos brasileiros. Sob esta ótica, este trabalho tem como
objetivo descrever a estrutura de custos logísticos do Grupo Scheffer referente ao escoamento da
safra de algodão em pluma ao mercado externo, desde a origem até o destino final. O estudo de caso

350
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

fundamentado pela coleta de dados via entrevistas, observação não participante e dados documentais
permitiu desenvolver análises por meio da triangulação dos dados, o que validou cada fonte e
amparou a veracidade das informações e a confiabilidade da pesquisa.

2 CONTEXTO DA CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO

O algodão é uma cultura de alta rentabilidade e de imensas possibilidades para o Brasil, poderá
avançar paulatinamente e levar o País a ganhar posições entre os quatro maiores produtores de fibras
do mundo, hoje representados pela China, EUA, Índia e Paquistão. Atualmente, os países que mais
produzem algodão são: China, Índia, EUA, Paquistão, Brasil e Uzbequistão. O Brasil é responsável por
6% da produção mundial. Atualmente, os principais Estados produtores de algodão no Brasil são: Mato
Grosso, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Piauí, Maranhão e Paraná. O maior
produtor é o Estado de Mato Grosso, responsável por mais de 50% da produção nacional.
Alves, Barros e Bacchi (2008) argumentam que o crescimento marcante da produção de algodão,
mesmo com os preços em queda desde meados dos anos de 1970, decorreu de uma conjugação de
fatores de ordem tanto tecnológica (do lado da oferta) quanto mercadológica (do lado da demanda).
A capacidade empresarial e empreendedora dos produtores brasileiros foi essencial para transformar
as oportunidades e superar os obstáculos para que a produção de algodão e derivados alcançasse o
elevado padrão de produtividade e eficiência dos dias de hoje.
De acordo com Alves et al. (2012), o sistema de produção de algodão tradicionalmente utilizado no
Brasil permite há alguns anos a obtenção de elevados níveis de produtividade e de qualidade de fibra.
Os municípios que mais produzem algodão no estado de Mato Grosso são: Campo Verde, Sapezal,
Primavera do Leste, Diamantino, Pedra Preta, Campo Novo do Parecis, Nova Mutum, Alto Garças, Alto
Taquari e Sorriso. É expressiva a área plantada com a cultura do algodão no município de Sapezal,
detentor da maior área, dentre os municípios Mato Grossenses, com um total de 95,6 mil hectares.
Com isso, obteve-se um avanço da área de 77,5% em relação à safra anterior. Dos 95,6 mil hectares
plantadas no município de Sapezal 22,89 mil hectares foram realizados pelo grupo Scheffer,
equivalente a 23,94%.

3 REVISÃO DE LITERATURA

A necessidade de investir na agricultura tornou-se obrigatória para os países, devido ao crescimento


mundial da população. Até meados de 1950 a grande maioria das empresas tinha seu foco nas
atividades de produção e marketing. As funções logísticas ficavam dispersas entre os departamentos

351
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

da empresa. A logística era tratada como função de apoio, não vital ao sucesso dos negócios (FARIA;
COSTA, 2007).
A logística empresarial, ou gerenciamento da cadeia de suprimentos, desempenha papel primordial
na criação de valor para os cliente e fornecedores das empresas agrícolas e agroindustriais. Segundo
Ballou (2006), o sistema logístico gera quatro tipos de valor em produtos e serviços: forma, tempo,
lugar e posse. Dois desses valores são criados pela logística empresarial: o tempo e o lugar dos
produtos onde são distribuídos pelas atividades de transporte, fluxo de informação e estoques. Já a
forma é criada pela produção, transformando insumos (matérias-primas) em produtos acabados. A
posse é criada pelos departamentos de Marketing, de Engenharia e de Finanças da empresa. Ela induz
os clientes a consumirem por meio da publicidade, suporte técnico e condições de venda.
Ripoll (2012) confirma o exposto, quando explica que o estado de Mato Grosso apresenta grande
potencial de crescimento de sua produção e exportação agrícola. Logo a infraestrutura logística,
principalmente a de transportes e armazenagem, tem de oferecer preços abaixo dos praticados
atualmente, de forma a propiciar margens adequadas de rentabilidade ao produtor rural. Todos os
meios de produção dependem da infraestrutura logística, como os sistemas viários, armazéns,
terminais de transbordo e portos.
O termo infraestrutura logística, engloba elementos como estrutura viária, estrutura de
armazenagem, terminais de transbordo (incluindo os portos), veículos e agentes que atuam neste
ambiente. Para executar a distribuição de produtos, conforme Novaes (2007) é imprescindível a
participação de alguns componentes físicos e informacionais, tais como: instalações fixas, como
terminais de transbordo, armazéns; estoque de produtos; veículos; informações diversas; softwares e
hardwares diversos; e custos e pessoal.
O Estado tem o papel de provedor da infraestrutura de transportes, sendo o responsável por um
elemento importante do custo das empresas. Em um contexto de comércio internacional, essa
infraestrutura é especialmente relevante, pois influencia os custos com que as mercadorias brasileiras
chegam ao mercado externo. Assim, um sistema de transporte mais eficiente pode reduzir os custos
das mercadorias que o Brasil coloca no mercado internacional.
As vantagens competitivas do agronegócio brasileiro não estão superando todas as desvantagens,
devido, principalmente, aos problemas de infraestrutura de transportes. O Brasil se destaca diante dos
demais países produtores agrícolas no que se refere a disponibilidade de terras, clima favorável,
recursos humanos qualificados, estrutura de comercialização, potencial em bioenergia, capacidade de

352
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

gestão e desenvolvimento tecnológico (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS USUÁRIOS DO TRANSPORTE DE


CARGAS - ANUT, 2012).
No ramo de agronegócios, a utilização predominante do modal rodoviário tem sido visto como um
grande entrave para a competitividade do setor. No caso do algodão, o modal rodoviário tem
predominado, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC, 2012). Essa supremacia do modal rodoviário pode ser explicada em parte pela precária rede
de ferrovias que não atende grande parte do território nacional e pelo fato de as opções para o
transporte fluvial também serem restritas. Dessa forma, a intermodalidade no Brasil não possui
estrutura para crescimento, levando ao uso intensivo de apenas um dos modais: o rodoviário.
O setor agroindustrial pode ser caracterizado pela predominância da movimentação de produtos de
baixo valor agregado a longas distâncias. Este cenário deveria favorecer os transportes aquaviário e
ferroviário, indicados para esse tipo de perfil. Entretanto, o transporte rodoviário é predominante
(OJIMA; YAMAKAMI, 2003). De acordo com Faria e Costa (2007), a escolha do modo de transporte é
motivada pelos fatores custos, tempo de trânsito da origem ao destino, risco (envolvendo a
integridade da carga) e frequência (regularidade do transporte). Existem duas alternativas de sistemas
de transporte: sistemas unimodais (ferrovia, rodovia, hidrovia) ou sistema intermodal (rodovia e
ferrovia, hidrovia e rodovia, etc.). O sistema intermodal requer transbordo e fica na dependência da
eficiência das operações nos terminais intermodais.
Oliveira (2007) explica que existem muitos fatores de mercado que atingem os atores que tomam
parte na cadeia de transporte multimodal. É responsabilidade dos atores analisar os aspectos positivos
e negativos desses fatores e decidirem qual cadeia modal eles usarão para o transporte dos produtos.
Eles também têm que levar em consideração os fatores de mercado que afetam o transporte de
cargas, os quais podem mudar, conduzindo à reorganização do mercado do transporte. Em tal
ambiente, a análise das regras que governam o processo de tomada de decisão para uso do transporte
multimodal constitui um importante desafio. Smanioto (2009) defende que o transporte é parte
importante da cadeia de suprimentos e representa a parte final do processo de entrega. Por isso,
maximizar os recursos despendidos é importante, para que seja efetuado ao menor custo e tempo.
Nas empresas, os gastos logísticos variam, normalmente, de 5% a 35% do valor das vendas,
dependendo do tipo de atividade, da área geográfica de operação e da relação peso/valor dos
produtos e materiais. A logística é, em geral, responsável por uma das maiores parcelas do custo final
do produto, sendo superada apenas pelos materiais consumidos na produção ou pelo custo dos
produtos vendidos no atacado ou varejo (BOWERSOX; CLOSS, 2001).

353
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Conforme Bowersox e Closs (2001), os principais componentes dos custos logísticos, são os custos de
manutenção de estoque e de transporte, que apresentam de 80% a 90% de todas as despesas
logísticas. Como não existem manuais de componentes de custo, os custos devem ser revelados em
cada circunstância e na forma adequada a cada problema específico. Dessa forma, é necessário
conhecer as particularidades do produto estudado e de sua logística, para poder definir quais variáveis
de custos devem ser consideradas na avaliação do custo logístico total.
Considerando as características da logística do algodão, os componentes de custo a serem
considerados nesta pesquisa são: custos de transporte, custos de armazenagem, custos de estoque,
custos de transbordo em terminais, custos portuários, custos tributários.
A pesquisa descreve algumas características de cada etapa desta logística:
Custos de Transporte - Ao setor de transportes cabe acompanhar a movimentação de mercadorias,
com a garantia de integridade da carga, a entrega no prazo combinado e custos minimizados. Ao
mesmo tempo, à movimentação deve atender as expectativas de clientes em relação ao desempenho
das entregas e à disponibilidade de informações relativas às cargas transportadas (BOWERSOX; CLOSS,
2001).
Na visão de Faria e Costa (2007), os custos de transporte deveriam ser observados sob duas óticas: a
do usuário; e a da empresa operadora. Na visão do usuário, os custos de transporte são variáveis, ao
contrário da visão da operadora, que têm uma parcela fixa e uma variável. Não importando se a
operação é própria ou terceirizada, deve-se buscar o aprimoramento do transporte, pela economia de
custos, trabalhando, por exemplo, com fretes de retorno e utilizando ferramentas de otimização,
como pesquisa operacional e computação.
Na concepção de Alves (2001), o custo de transporte sofre interferencia dos seguintes fatores:
distância, volume, densidade, estiva, manuseio, responsabilidade e mercado.
Custo de Armazenagem -A armazenagem é uma atividade primordial para a redução das perdas
agrícolas e para a conservação dos produtos. Segundo Sasseron (1995), esta atividade auxilia na
conservação dos produtos, de forma a manter em ambiente natural e a integridade qualitativa e
quantitativa dos produtos.
Conforme Sasseron (1995), as funções da armazenagem estão classificadas em intrínsecas e
extrínsecas. As funções intrínsecas da armazenagem são: conservação da produção; redução de
perdas; e estocagem dos excedentes agrícolas. As funções extrínsecas estão relacionadas com o
transporte e a comercialização da produção agrícola. São elas: racionalização do transporte; coleta de

354
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

safra; suporte de comercialização; formação de estoques reguladores; e auxílio às políticas


governamentais.
O armazenamento tem por objetivo estabelecer o fluxo de deslocamento dos materiais/produtos.
Suas decisões estão relacionadas aos seguintes quesitos: áreas, condições e equipamentos e métodos
operativos; inspeção e devolução de materiais; rotas de movimentação e manuseio; tempo de ciclo; e
ativos logísticos envolvidos (FARIA; COSTA, 2007). Portanto, trata-se do custo associado à
administração e operacionalização deste espaço, e não ao custo do produto em si, imobilizado em
estoque.
Custo de Estoque - Os estoques são componentes reguladores entre as atividades de transporte,
produção, processamento e distribuição, permitindo que o sistema se adapte às variações nas
necessidades das atividades de revenda ou produção (ALVES, 2001). Eles agregam valor de tempo aos
produtos, pois permitem que a mercadoria seja disponível no momento almejado pelo cliente. São
importantes também para reduzir custos, explorando as economias de escala (MORABITO; IANNONI,
2007).
Kussano (2010) ilustra que os custos de estoque se originam a partir da necessidade de estocagem de
materiais. Nesta categoria, o mais expressivo é o custo de oportunidade, que é o valor que a empresa
deixa de ganhar ao imobilizar o capital em estoque, em vez de aplicar esse valor no mercado
financeiro, sendo remunerado pelos juros.
O custo de capital, ou custo de oportunidade do capital, trata-se do custo do dinheiro investido no
estoque. Segundo Ballou (2002), pode representar 80% do custo de manutenção de estoque. Recursos
investidos em estoque perdem seu poder de gerar lucro, restringem a disponibilidade de capital e
limitam outros investimentos (BOWERSOX; CLOSS, 2001).
Custo de Transbordo em Terminais - O objetivo da multimodalidade e da intermodalidade, ou
combinações dos modais de transporte, é buscar o aprimoramento dos recursos de transporte em
suas fases de física e de planejamento e operação (BERTAGLIA, 2003). Para Bertaglia (2003), o
transporte multimodal e o intermodal são componentes facilitadores nos processos de importação e
exportação, uma vez que pode ser aproveitado o que cada modal de transporte tem de melhor,
visando atenuar custos e aumentar o nível de serviço. Pode-se dizer que são instrumentos para o
tomador de decisões, em que se analisa a melhor opção a ser utilizada e quais modais podem suprir
as necessidades que o transporte exige, obtendo o menor custo e a maior rapidez.
Multimodalidade trata-se da combinação de dois ou mais modais de transporte integrados em um
escoamento de mercadorias (RODRIGUES, 2003). Este sistema de transporte é considerado

355
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

competitivo, eficiente e fundamental para o crescimento econômico (CAIXETA-FILHO; GAMEIRO,


2001). A intermodalidade envolve duas modalidades de transporte. Tem como finalidade agregar
valores a cada modal, tanto pelo serviço quanto pelo custo. Por exemplo, o transporte rodo-
ferroviário, que permite a entrega ao cliente a um custo total menor, devido a vantagens como o baixo
custo do transporte ferroviário, e a acessibilidade do transporte rodoviário.
Custos portuários - Os portos exercem papel primordial e estratégico como concentradores de
expressivos volumes de carga e como intermediários de todo o processo de exportação, assumindo
importante participação em toda a cadeia logística do comércio exterior como dinamizador dos canais
de comercialização (LIMA; BRANCO; CAIXETA-FILHO, 2005). A questão portuária tem sido muito
discutida no País, pois os portos defrontam-se com uma série de problemas que embaraçam as
exportações e a competitividade brasileira no mercado mundial. A concentração nos períodos de safra
exige maior capacidade dos portos, principalmente de Santos e Paranaguá, por onde passam as
maiores quantidades de soja e algodão para exportação (FAJARDO, 2006).
Os custos operacionais e os entraves portuários brasileiros também contribuem para prejudicar as
exportações e a competitividade dos produtos brasileiros no mercado mundial. Para Dubke (2006), os
fatores portuários que mais dificultam a competitividade das exportações brasileiras são: elevado
custo das tarifas portuárias; demanda superior à capacidade instalada dos terminais e armazéns; e
falta de investimentos na ampliação de instalações portuárias, ocasionando filas de caminhões e
navios no período da safra.
No caso dos produtos agroindustriais, é essencial considerar que o pico de produção, acrescido de
uma estrutura de armazenagem incipiente, tem obrigado os produtores a escoar suas safras
imediatamente após a colheita, o que acaba gerando longas filas nos portos. Exemplo desta situação
foi o ocorrido no porto de Paranaguá no primeiro semestre de 2004, quando enfrentou graves
problemas no escoamento da safra. As principais consequências foram os vultosos
congestionamentos, tanto em terra quanto no mar. A fila de caminhões que se formou no porto para
descarregamento chegou a mais de 120 km e o tempo de espera de navio foi excessivo, chegando ao
ponto de um navio aguardar até 60 dias no porto (HIJJAR, 2004).
Custos Tributários - Neste trabalho, o custo tributário é concernente às atividades logísticas, e não ao
produto. Isso posto, para o cálculo do custo dos tributos serão consideradas como base as atividades
de transporte, armazenagem e transbordo. A importância de se estudar os custos tributários justifica-
se não somente pelas elevadas alíquotas utilizadas no Brasil, mas também devido à ação deste fator

356
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de custo em decisões estratégicas das empresas, como localização das fábricas, centros de distribuição
e rotas de transporte.
As decisões de transporte, por exemplo, envolvendo rotas, podem ser influenciadas pelo aspecto
tributário, pois no Brasil existem alíquotas diferenciadas de ICMS para cada região, ou para os diversos
produtos, bem como alíquotas diferenciadas para os diversos tipos de modais (FARIA; COSTA, 2007).
Os tributos mais expressivos e de maior impacto nas operações logísticas são: PIS, COFINS, IRPJ, CSLL
e ICMS. Dentre estes, o mais oneroso para as operações logísticas é o ICMS, que é um imposto de
administração estadual que incide sobre as operações relativas à circulação de mercadorias e
prestação de serviço de transporte interestadual e intermunicipal por qualquer via e a prestação de
serviços de comunicação por qualquer meio.
Sobre o fluxo de exportação do algodão, objeto de estudo, o custo tributário é menor do que aquele
voltado para o mercado interno. Isso porque a Lei Complementar 87 (1996), conhecida como “Lei
Kandir”, dispôs que o ICMS não incide sobre “operações e prestações de serviços que destinem ao
exterior mercadorias, inclusive produtos primários e produtos industrializados semielaborados, ou
serviços”.

4 METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1 NATUREZA DA PESQUISA

O objetivo deste estudo é descrever a estrutura dos custos logísticos do grupo referente ao
escoamento da safra de algodão em pluma ao mercado externo, desde a origem até o destino final. A
natureza da pesquisa é descritiva, com abordagem qualitativa utilizando como instrumento de coleta
de dados entrevistas não estruturadas, observação não participante e pesquisas documentais.
A pesquisa descritiva procura observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os fatos ou
fenômenos sem que o pesquisador interfira ou manipule-os (MALHOTRA, 2001). Collis e Hussey (2005)
descrevem que "a pesquisa descritiva é utilizada quando o objetivo do pesquisador consiste em dizer
como se manifestam determinados fenômenos". Segundo Gil (2009), tipo de pesquisa tem por
objetivo principal a descrever as características de determinadas populações ou fenômenos, e, neste
caso, e descrever a estrutura dos custos logísticos do grupo estudado, possui abordagem qualitativa
A abordagem qualitativa permitirá descrever a complexidade do problema investigado, analisando a
interação de certas variáveis, para que seja possível compreender e classificar processos dinâmicos
vivenciados no ambiente empresarial (RICHARDSON, 1999).

357
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para a definição do procedimento de coleta de dados, optou-se pelo estudo de caso, por se tratar de
uma pesquisa que visa a um único caso. Segundo Vergara (1998), o estudo de caso é restrito a uma ou
poucas unidades, entendidas como uma pessoa, uma família, um produto, uma empresa, um órgão
publico uma comunidade ou mesmo um país.
Ludke e André (1986) consideram que o estudo de caso enfatiza a interpretação em contexto e
favorece a melhor compreensão da manifestação geral de um problema, considerando as ações,
percepções, comportamentos e interações das pessoas relacionadas à situação específica onde
ocorrem ou à problemática determinada a que estão ligadas. Quanto à forma de trabalho, os autores
identificaram três fases no desenvolvimento de um estudo de caso: a primeira aberta ou exploratória:
a segunda mais sistemática em termos de coleta de dados; e a terceira com a análise e interpretação
dos dados. Segue-se a elaboração de um relatório. As pesquisas desenvolvidas a partir de um estudo
de caso, pelo fato de este ser um estudo de fenômeno bem delimitado, não devem suscitar a
pretensão de promover alguma generalização, sendo esta uma acentuada limitação quanto à
relevância.

4.2 LOCAL DA PESQUISA E FONTE DOS DADOS

O estudo foi realizado no Grupo Scheffer, localizado no município de Sapezal-MT. Atua no ramo do
agronegócio, tendo como principal atividade a produção de soja e algodão. O grupo transporta o
algodão em pluma utilizando o modal rodoviário até os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) e,
posteriormente, o transporte marítimo até os portos de Xingnag, Qingdão, Lianyungang e Nantong,
na China; Karachi, no Paquistão; Keeleing, em Taiwan; Tanjung Priok, na Indonesia; e Bankok, na
Thailandia.
Para tanto, foi utilizado o pluralismo metodológico, empregando-se alguns instrumentos das
chamadas "metodologias participativas", para a verificação de dados internos e a análise externa, de
modo a levantar as informações pretendidas. Para isso, lançou-se mão, de forma associada, por meio
da triangulação de: análise de documentos e outros materiais do grupo; observação não participante;
e entrevistas não estruturadas.
Fica claramente estabelecido que, por compreender a coleta de dados e a análise dos dados uma etapa
no processo da pesquisa qualitativa, ou duas fases que se retroalimentam constantemente, só
didaticamente pode-se falar em forma separada deste tríplice enfoque no estudo de um fenômeno
social. Isso quer dizer que qualquer ideia do sujeito, documento etc. é imediatamente descrita,

358
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

explicada e compreendida, à medida que isso seja possível, na perspectiva da técnica da triangulação
(TRIVINÕS, 1987).
Define Miranda (2009, p. 74): que “A triangulação de dados constitui-se na coleta de dados de
diferentes fontes, diferentes tempos, locais e indivíduos. [...], utilizando múltiplos métodos para
estudar um determinado problema.” Neste trabalho, foram levadas em consideração todas estas
questões, para garantir a execução com total isenção e qualidade dos dados.
Segundo Yin (2010), é uma modalidade especial de observação em que o sujeito você não é um mero
observador passivo. Ele pode assumir diversos papéis na situação de estudo de caso e participar
realmente nos eventos estudados. A observação participante proporciona algumas oportunidades
incomuns para a coleta de dados no estudo de caso, envolvendo, também, problemas importantes.
Outra oportunidade diferenciada é a capacidade de captar a realidade do ponto de vista de alguém
“interno” ao estudo de caso, não de alguém externo a ele.
Os dados coletados foram submetidos a diversas técnicas de análise, incluindo: análise de conteúdo,
técnica de triangulação e modelagem. A análise de conteúdo foi utilizada com a finalidade de explicitar
e sistematizar o conteúdo da mensagem, por meio da análise confirmatória de dados.
Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram entrevistas não estruturadas, observação não
participante em reuniões e documentos disponibilizados pelos gerentes de produção e
comercialização, logística, custos, departamento fiscal, contábil e pelos coordenadores de
comercialização e exportação, tais como: contratos previamente fixados, notas fiscais, conhecimentos
de carga, relatórios financeiros e documentos afins pertencentes ao grupo. Um diagrama sintetizado
pode ser visualizado na FIG. 1.

359
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 1 - Coleta de dados no grupo Scheffer

Fonte: Elaborada pelos autores

Foram realizadas consultas em órgãos governamentais, como: Instituto Mato-grossense de Economia


Agropecuária (IMEA), Secretaria de Fazenda do estado de Mato Grosso (SEFAZ) e Sindicato das
Empresas de Transportes de Cargas no Estado de Mato Grosso (SINDMAT). Foram consultados, ainda,
os transportadores hidroviários, a fim de levantar os preços dos fretes, e, ainda, o departamento fiscal
da transportadora rodoviária Transconceição.

4.2 ETAPAS DA PESQUISA

A pesquisa teve início no mês de janeiro/2013, com término em maio/2013. Seguiu as seguintes
etapas:

Etapa 1 - constituiu-se no levantamento teórico sobre o tema proposto, com o intuito de consolidar
informações relativas à base teórica e ao segmento estudado. As principais bases consultadas foram:
livros, artigos, dissertações, teses, empresas e informações em arquivos de instituições
governamentais e privada. Ainda nesta etapa, foram realizadas quatro visitas presenciais à sede do
grupo para fazer a análise documental e participar de reuniões com os coordenadores e gerentes dos
departamentos de Custos, Logística, Comercial, Contábil e Exportação.

Etapa 2 - constituída pela metodologia, com detalhes de todos os passos seguidos para atender o
objetivo proposto.

360
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Etapa 3 - deu-se com a tabulação dos dados em planilha do Excel, apresentando os resultados e as
discussões.

A triangulação foi feita de forma coordenada envolvendo: análise de documentos e outros materiais
do grupo; observação participante; e entrevistas. Isso permitiu uma visão holística do processo de
exportação do algodão em pluma ao mercado externo, enfatizando as referências bibliográficas, tanto
teóricas quanto metodológicas (FIG. 2).

Figura 2 –Triangulação

Fonte: Elaborado pelos autores

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

O grupo Scheffer, iniciou-se com o senhor Elizeu Zulmar Maggi Scheffer, na década de 1980,
alcançando Rondonópolis–MT, em 1983, onde instalou sua primeira lavoura de soja, na fazenda
Iguaçu. Lá, permaneceu por uma década, até 1993, quando chegou a Sapezal-MT e construiu o grupo
Scheffer, com esposa e filhos. No início da década de 1980, o grupo comercializava apenas soja em
grãos, cuja produção total destinava-se ao mercado doméstico. Nos últimos 10 anos, expandiu sua
produção, contemplando o manuseio da cultura do algodão.

361
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Há cerca de nove anos, com o conhecimento e a experiência do grupo no cultivo desse produto,
iniciou-se a comercialização para o mercado externo, fortalecendo-o como exportador. Atualmente,
metade da produção do algodão se destina à exportação, sendo que toda a produção é escoada pelos
portos de Santos-SP e Paranaguá-PR. O algodão é comercializado em pluma. Seus derivados, como a
fibrilha e o caroço, são comercializados no mercado doméstico, pois a rentabilidade desses produtos
no mercado externo não favorece o processo de exportação.

Na safra 2011/12, o Grupo Scheffer cultivou 22.890 mil hectares, equivalente a 23,94% da área
plantada em Sapezal correspondendo a 5% da área cultivada no estado de Mato Grosso, superando a
exploração de alguns municípios do estado. A colheita do grupo Scheffer é mecânica, por meio de
colheitadeiras modernas oferecidas no mercado, as quais passam o algodão em caroço, retirado das
lavouras, para transbordos (carretas puxadas a trator), que levam o produto até as prensas. As prensas
transformam esse algodão a granel em blocos (fardões), que pesam em média de 11 a 12 mil quilos.

O transporte dos fardões da lavoura até o local de beneficiamento é feito por caminhões
transmodulares, que possuem uma esteira que recolhe o fardão para cima do próprio caminhão e,
posteriormente, descarrega na algodoeira (local de beneficiamento dos fardões). Na algodoeira, os
fardões são posicionados em desmanchadores de fardos (piranhas) e entram na usina para o processo
de descaroçamento. Com esse processo, é separada a pluma do algodão do caroço, sendo o caroço
enviado a barracões, para armazenagem. A pluma é enfardada em fardos pequenos, denominados
"fardinhos", os quais possuem as dimensões 55cm x 95cm por 105cm de altura. Depois de prensados,
eles são pesados e identificados com códigos de barras, acondicionados em capas de tecido. Então,
seguem para um armazém de espera, onde aguardam os resultados de classificação e padronização,
para, então, serem alocados no pátio da algodoeira em pilhas de 120 fardinhos cada uma, o que
representa uma carga de caminhão, equivalente a 24 toneladas, que representa o estufamento em
um contêiner.

O transporte utilizado para o escoamento da produção até os portos de Santos/SP e Paranaguá/PR é


somente pelo modal rodoviário. A empresa contrata transportadora para levar o algodão dos
armazéns para o porto.

O preço do algodão é formado na Bolsa de Nova York (NYBOT). Para este estudo utilizou-se a média
aritmética das taxas de compra e das taxas de venda dos boletins do dia (ptax) do dia 28/09/2012. O
valor do dólar considerado neste trabalho para a conversão em moeda brasileira (real) foi de R$
2,0306.

362
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O algodão em pluma é o produto resultante do processo de beneficiamento do algodão em caroço. A


operação, que corresponde ao beneficiamento do algodão, ocorre antes da industrialização têxtil e
consiste em separar a fibra das sementes, por meio de processos mecânicos, em que se retira o caroço,
obtendo-se fibras limpas e prontas para a fiação.

No fechamento dos contratos de venda para entrega futura do algodão em pluma, fica determinada
a data de entrega do produto. A TAB. 1 mostra os dados de um contrato fixado em janeiro de 2011
com entrega para julho de 2012, o valor do produto será o dólar da data do efetivo recebimento.

Tabela 1 – Dados de um contrato – quantificação dólar

Data fixação Quantidade Preço Libra Qtde Qtde Receita do Mês


(kg) dólar por peso dólar por dólar do contrato em fixação
libra peso kg contrato real
11/01/2011 500.000 0,95 2,2046 2,094 1.047,000 2.126.038,20 Jul/12
12/01/2011 500.000 0,96 2,2046 2,116 1.058.000 2.148.374,80 Jul/12
19/01/2011 500.000 0,97 2,2046 2,138 1.069.000 2.170.711,40 Jul/12
19/01/2011 500.000 0,98 2,2046 2,161 1.080.500 2.194.063,30 Jul/12
11/02/2011 1.000.000 1,10 2,2046 2,425 2.425.000 4.924.205,00 Jul/12
Total 3.000.000 6.679.500 13.563.392,70
Fonte: Dados da pesquisa

No contrato demonstrado, a venda do quilo de algodão pluma saiu por R$ 4,52. O algodão em pluma
é negociado tendo como base o valor por libra peso, sendo que cada 2,2046 libra peso equivale um
quilo. A libra peso é a unidade de massa definida como exatamente 0,45359237 quilogramas (ou
453,59237 gramas). O valor a receber depende da cotação do dólar do dia do pagamento e da
qualidade do produto efetivamente entregue em cumprimento ao contrato. O padrão do produto é
estabelecido por uma classificação visual feita pelo classificador da empresa, e por mais um
classificador terceirizado, considerando ainda a classificação High Volume Instruments (HVI), que pode
ser contestada pelo classificador do comprador.

5.1 ANÁLISE DO CUSTO LOGÍSTICO TOTAL DO ESCOAMENTO DO ALGODÃO NOS FLUXOS


ANALISADOS

Para o cálculo do custo logístico dos dois fluxos selecionados, considerou-se que a produção pós-
colheita, armazenagem e beneficiamento é escoada para o porto. Quanto ao cálculo do custo logístico
total, foi considerado o custo de transporte (frete rodoviário + remuneração por estadia e frete
marítimo), tributários (COFINS/PIS/CSLL e IRPJ), considerando que a empresa transportadora é
tributada pelo lucro presumido, e custos portuários. A descrição dos custos é mostrada a seguir.

363
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Nas últimas décadas, assistiu-se à interiorização da produção do algodão no Brasil nas regiões do
cerrado, devido à disponibilidade de terras, aos subsídios dos governos e ao suporte tecnológico. Essa
expansão acentuou os problemas de infraestrutura e logística e aumentou os custos de transporte e
produtos (AFONSO, 2006). O custo do transporte rodoviário é altamente dependente do preço do
combustível e dos pedágios, os quais, juntos, representam a maior parte do custo do transporte
rodoviário. O frete rodoviário na safra de algodão fica cerca de até 30% mais caro, devido ao aumento
da demanda.

Para o transporte rodoviário da carga o grupo só contrata transportadora que ofereça garantia de que
a carga chegará ao prazo e em segurança e, caso ocorra sinistro, garanta as indenizações, sendo
responsável pela carga. O custo do transporte rodoviário por tonelada e por quilômetros expressos
em centavos de real equivale à média de R$ 0,15 aproximadamente sete – oito centavos de dólar. O
tempo do transporte rodoviário de Sapezal-MT até os portos é de cinco dias, trabalhando 10 horas
diárias, demonstrando separados os custos dos tributos federais, que normalmente vêm embutidos
no valor do frete.

Em contraste a esse resultado Arvis, Raballand e Marteau. (2007) demonstram que para a tonelada de
longa distância o valor por quilômetro está na faixa de quatro - seis centavos de dólar nas economias
industriais variando mais de dez vezes entre os corredores dos países menos avançados. E a partir de
1,5 – dois centavos de dólar na Ásia Ocidental (Irã e Paquistão). A TAB. 2 traz informações sobre o
custo de transporte marítimo, em dólar convertido para moeda brasileira, por tonelada.

Tabela 2 – Frete marítimo com saída dos portos de Santos/SP e Paranaguá/PR

Porto de Frete R$/ton Frete R$/ton


País Qtde dólar Qtde dólar
destino Santos/SP Paranaguá/PR
Xingang China 550 1.116,83 600 1.218,36
Qingdao China 550 1.116,83 550 1.116,83
Nantong China 650 1.319,89 700 1.421,42
Karachi Pakistan 1500 3.045,90 1700 3.452,02
Bangkok Tahiland 650 1.319,89 700 1.421,42
Tanjung Priok, Indonésia 700 1.421,42 800 1.624,48
Jakarta
Keelung Taiwan 650 1.319,89 700 1.421,42
Fonte: dados da pesquisa 2013

Referente aos custos portuários, compete ao despachante aduaneiro coordenar o processo logístico
desde a chegada dos caminhões no terminal - instrução e acompanhamento do estufamento dos
contêineres, solicitação de vistoria do Ministério da Agricultura, da Receita Federal, de empresas de
vistoria e certificação. Considera-se ainda o controle de todos os cálculos para emissão da nota fiscal

364
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e confecção de registro de exportação (RE), despacho de exportação (DDE), via Secretaria de Comércio
Exterior do Ministério da Fazenda, enfim, de todo o processo de acompanhamento e finalização de
todo o processo - até o fechamento final.
A TAB. 3 demonstra os custos de desembaraço aduaneiro referente embarque de 27.176/ton,
equivalente a 1.107 contêineres que armazena 24,550/ton, cada um e a representatividade de cada
componente nos custos aduaneiros total.

Tabela 3 - Custos de desembaraço aduaneiro

Histórico Valores Representatividade (%)


Estufagem 1.328.400,00 45,83
Terminal de embarque 373.173,41 12,87
THc 763.830,00 26,35
ISPS 47.822,40 1,65
Certificado marítimo 23.523,75 0,81
Certificado de peso 83.025,00 2,86
Despacho aduaneiro 138.375 4,77
Fumigação 116.683,09 4,03
Total 2.898.320,40 100,00

Fonte: Grupo Scheffer

Nota-se que o maior custo de desembaraço aduaneiro é a estufagem, que se refere à armazenagem e
ao aluguel dos contêineres, que representa 45,83% do total, enquanto as taxas do THC – Terminal
Handling Charges (Taxa de Manutenção no Terminal), ISPS Code- International Systems Port Security
Code (Sistema Internacional de Segurança nos Portos) THC significou 26,35% e a utilização do terminal
de embarque, 12,87%. Estes custos somados representam 85,05% dos custos totais de desembaraço
aduaneiro, ficando 14,95% para as demais taxas.
Os principais custos efetivos nas operações aduaneiras são taxas incidentes sobre: uso de
infraestrutura portuária, utilização de infraestrutura terrestre, taxas de transbordo e armazenagem.
São de fundamental importância para a obtenção de algodão em caroço de melhor tipo os cuidados
dispensados ao armazenamento temporário do algodão em caroço, em nível tanto de fazenda, quanto
de setor de maquinista (beneficiadores) do algodão. Um bom sistema de estocagem nas fazendas
permitiria eliminar grande parte das perdas. Além disso, permitiria maior especulação pelos

365
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

produtores, melhorando seu fluxo de caixa e reduzindo a dependência em época de fretes mais caros
(AFONSO, 2006).

É evidente a importância do armazenamento na produção agrícola. Durante a safra o preço das


commodities costuma sofrer queda, devido à quantidade ofertada, enquanto os fretes, devido à
intensa demanda, tendem a ser mais caros. A taxa de armazenagem do algodão em pluma em
contêineres, considerando os mesmos valores para os portos de Santos-SP e Paranaguá-PR, sendo
esses valores incidentes após o tempo livre estipulado em contrato, que, normalmente, é de 15 dias é
de R$ por diária do container ocupado; e R$ 50,77 para o aluguel do container/dia US$ 25/dia.

Foi verificado que o grupo objeto deste estudo não calcula o custo de oportunidade do estoque em
pátio na fazenda. A decisão de estoque, para o grupo, relaciona-se somente à variável comercialização
e não ao custo financeiro. Toda a produção é praticamente vendida, ou para mercado externo ou para
mercado doméstico, logo após beneficiamento do produto. Ressalta-se que se o produtor deseja
armazenar para melhorar preços o ganho que ele espera deve ser maior que os custos de
oportunidade do estoque acrescidos do custo de armazenagem.

Quanto aos custos tributários, não foi considerado na soma do custo logístico, o total o custo do ICMS
visto que no estado de Mato Grosso toda saída de produtos primários com destino ao mercado
externo é isenta de ICMS, alcançando também o frete deste produto. Entretanto, outros tributos
considerados no frete merecem ser discutidos: o Programa de Integração Social (PIS), e a Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Contribuição Social sobre Lucro Líquido e
Imposto de Renda Pessoa Jurídica são tributos federais que incidem sobre a receita da empresa.

A empresa só não pagará o PIS/COFINS sobre o frete de mercadorias destinada à exportação caso ela
seja preponderantemente exportadora. Como este caso não se aplica ao todo, analisa-se aqui a
representatividade destes impostos no fluxo de escoamento do algodão em pluma. Em regra, as
alíquotas do PIS e da COFINS para empresas tributadas pelo lucro presumidos são, respectivamente,
de 0,65% e 3% enquanto as alíquotas de imposto de renda e contribuição social sobre lucro líquido
são, respectivamente, de 1,2% e 1,08%.

Este trabalho considerou como custos logísticos aqueles associados à movimentação da carga da
origem no município de Sapezal-MT até os portos de Santos-SP e Paranaguá-PR, desde o transbordo
até o carregamento. Durante a pesquisa, percebeu-se que este custo é negociável e que, assim, os
valores de fretes e as taxas de transbordo e armazenagem podem variar de acordo com vários fatores,
principalmente no período de julho a dezembro, quando o mercado é competitivo, sendo dominado

366
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

pela lei da oferta e da procura. Dessa forma, utilizaram-se os valores incidentes no escoamento de
27.176/ton de algodão em pluma ao mercado externo.

A TAB. 4 demonstra os custos logísticos totais, incluindo frete rodoviário, frete marítimo, despesas
portuárias e impostos, com saída do porto de Santos-SP e a TAB. 5 apresenta os custos logísticos totais,
incluindo frete rodoviário, frete marítimo, despesas portuárias e impostos, com saída do porto
Paranaguá-PR.

A representação dos custos no valor da carga com saída de Sapezal-MT até os portos de Santos e ou
Paranaguá para posterior embarque aos portos de Xingang, Qingdao, Lianyungang (China), Karachi
(Paquistão), Bangkok (Tailândia), TanjungPriok Jakarta (Indonésia) e Keelung (Taiwan) é vista na TAB.5.

Mesmo não considerando o custo do ICMS neste estudo, este foi demonstrado nas TAB. 4 e TAB. 5 em
razão de ser um valor expressivo. O custo de ICMS tem uma representatividade significativa,
representando 8,75% do custo logístico total.

O custo do frete internacional foi demonstrado, mas não agregado aos custos logísticos totais, visto
que este frete foi pago pelo comprador. Se o frete marítimo fosse pago pelo vendedor seria totalmente
inviável a exportação, visto que ele representaria 44,79% da receita.

Tabela 4 - Custos logísticos totais – origem porto de Santos-SP

Valor do
frete Valor do
Quantidad Valor da Despacho
Transaçõe internacion Porto frete Total dos
e de pluma carga e aduaneiro Impostos
s al com saída destino interno custos
em ton reais em R$
do porto de rodoviário
Santos
18.540.090,8 Xingang/ 1.415.117,5 1.936.489,9
1 4.101,79 4.581.002,13 437.455,90 83.916,47
0 China 5 2
23.817.371,6 Qingão 1.817.918,8 107.802,5 2.487.695,4
2 5.269,33 5.884.945,42 561.974,04
0 China 5 9 8
Lianyungan
3 610,41 2.759.053,20 991.598,84 g 210.591,45 65.100,23 12.488,07 288.179,75
China
12.748.976,4 Karachi 1.331.615,0
4 2.820,57 8.591.174,16 973.096,65 300.813,79 57.704,63
0 Paquistão 7
Bangkok
5 876,21 3.960.469,20 1.156.500,82 Tailandia 302.292,45 93.447,80 17.925,94 413.666,19
Tanjung
Priok
16.935.084,0 1.292.611,5 1.768.848,9
6 3.746,70 5.325.634,31 Jakata 399.585,56 76.651,86
0 0 2
Indonésis
Keelung/
7 290,51 1.313.105,20 383.441,24 100.225,95 30.982,89 5.943,40 137.152,24
Taiwan
17.715,52 80.074.150,4 26.914.296,9 6.111.854,4 1.889.360,2 362.432,9 8.363.647,5
8
0 2 0 1 7 7
Custo
tributário
9.097.070,1
ICMS sobre 733.422,53
0
frete alíquota
12%

367
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Custo
logístico total
após ICMS*
Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 5 - Custos logísticos totais – origem porto de Paranaguá-PR

Valor do
frete Valor do
Quantidad Despacho
Transaçõe Valor da internaciona Porto frete Total dos
e de pluma aduaneiro Impostos
s carga e reais l com saída destino interno custos
em ton em R$
do porto de rodoviário
Santos
Qingão/
1 840,59 3799466.8 938.796,13 281.597,65 89.648,92 16.698,74 387.945,3
China
Karachi
32.864.016,0 25.098.947,0 2.435.718,0 144.438,0 3.355.586,
2 7.270,80 Paquistã 775.430,82
0 2 0 8 9
o
Bangkok
3 461,94 2.087.968,80 656.610,75 154.749,90 49.265,90 9.176,67 213.192,4
Tailandia
Tanjung
4 736,83 3.330.471,60 1.196.943,49 Priok 246.838,05 78.582,92 14.582,92 340.058,4
Jakarta
Keelung/
5 150,32 649.446,40 213.667,85 50.357,20 16.031,63 2.986,18 69.375,0
Taiwan
42.761.369,6 28.104.965,2 3.169.260,8 1.008.960,8 187.937,1 4.366.158,
9.460,48
0 4 0 0 7 1
Custo
tributário
ICMS sobre 4.746.469,
380.311,30
frete 4
alíquota
12%
Custo
logístico
total após
ICMS*
Fonte: Dados da pesquisa

A representatividade de cada custo logístico ocorrido, no escoamento do algodão pluma em relação


ao valor da receita pode ser vista a seguir.

Tabela 6 - Representatividade de cada custo no custo logístico total e representatividade dos custos
no valor da carga

Componentes de Custo total Receita total Representatividade Representatividade


custos 27.176 ton 27.176 ton dos custos no valor dos componentes
exportadas das cargas de custo no custo
total
Custo de transporte 9.281.115,20 122.835.519,40 7,56% 72,91%
Despacho 2.898.320,40 122.835.519,40 2,36% 22,77%
aduaneiro
Impostos 550.370,14 122.835.519,40 0,45% 4,32%
Custo total 12.729.805,74 100,00% 10,36% 100,00%
100,00%
Fonte: Dados da pesquisa

368
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Vale salientar que os custos logísticos de transporte, representaram 7,56% do preço da mercadoria.
Despacho aduaneiro e impostos federais representaram 2,81% do valor da mercadoria transportada.
Este fato comprova que as decisões logísticas não devem ser pensadas apenas na a perspectiva do
custo do frete, mas também do custo considerando o custo logístico total. Isso principalmente nos
estados em que há a incidência do ICMS sobre o frete do produto para exportação, o que oneraria o
produto com mais 12% e representaria mais 8,75% no custo logístico total.
No item seguinte, demonstra-se a produção de algodão safra agrícola 2011/2012 por quilo e por
unidades de produção. No total, foram colhidas 117.570,14 toneladas de algodão bruto, que, após
beneficiado, foi transformado em 47.377,61 toneladas de pluma, 1.548,85 de fibrila e 68.643,68 de
caroço.

Tabela 7 - Produção de algodão safra 2011/2012, por unidade de produção em kg

Empresa Qtde Peso Qtde Peso atual Fibrilha Caroço


fardão fardão fardinho (kg) pluma (kg) (kg)
Carajás 1.095 12.489.535 25.500 4.915.362 443.742,16 25.277.820,00
Juina 2.346 12.289.389 25.442 5.037.426 125.732,00 6.637.150,00
Rafaela 8.665 21.851.796 46.696 9.129.682 141.021.14 4.492,060,00
Simoneti 850 9.627.930 20.046 3.890.116 - -
Sperafico 12.679 35.841.683 72.033 14.190.145 446.814,78 17.065.200,00
Três 3.115 25.469.807 52.513 10.214.881 391.538,86 14.535.030,00
Lagoas
Total 28.750 117.570.140 242.230 47.377.612 1.548.848,94 68.643.679,06

Fonte: Dados da pesquisa

O grupo Scheffer trabalha com base em estimativa de produção, conforme dados apurados pelo
departamento de Planejamento Agrícola. A demanda de insumos é realizada pelos analistas da
agricultura de precisão. Para todos os valores, a moeda é o dólar, com a base na quantidade versus
valor versus área, no processo de aplicação de defensivos, na utilização de avião ou máquinas e no
valor do mercado, independente da posse de equipamentos próprios.
Não havendo matriz de rateio para os custos indiretos, apuram-se os custos de produção com base
em padrões preestabelecidos (custo-padrão). Para manterem-se de acordo com a legislação fiscal, os
custos de produção são atualizados, incorporando variações para o custo real, de forma que o

369
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

resultado apurado em função do custo-padrão não se diferencie do apurado em função do custo real.
Os ajustes das variações são distribuídos entre estoques e custos de forma proporcional às
quantidades vendidas e estocadas. No entanto, conforme Sampaio, Akahoshi e Lima (2011), é
imprescindível para qualquer gestor conhecer o custo “real de produção” não apenas com o intuito
de apurar a rentabilidade, ou melhor, lucro após a venda, mas, principalmente, por permitir uma
avaliação do processo produtivo como um todo, o que poderá oportunizar, por exemplo, as políticas
de redução de custos e economia de tempo. Dessa forma, será possível visualizar os resultados
inerentes à atividade produtiva, bem como identificar os gargalos existentes, o que facilitará a prática
de ações corretivas, fortalecendo e maximizando os resultados da propriedade. Abaixo demonstração
dos custos de produção do grupo.
Tabela 08 - Custo de produção de algodão- Safra 2011/2012

Valor US$/ha Valor R$/ha


INSUMOS
Sementes 100,00 203,06
Fertilizantes 580,00 1.177,75
Defensivos 650,00 1.319,89
Custo 1.330,00 2.700,70
operacional
MANUTENÇÃO
Custos indiretos 1.070,00 2.172,74
Custo total 2.400,00 4.873,44

Fonte: Dados da pesquisa

Se comparados os custos efetivos levantados nesta pesquisa com o divulgado pelo IMEA, observa-se
que aqueles ficaram um pouco abaixo: IMEA, custo total por ha R$ 4.893,51. Foi apurado custo real
de R$ 4.873,44, em razão da maximização dos meios de produção pelo grupo.
O custo da pluma do algodão beneficiada é de R$ 2,42. Do total do algodão em caroço, a pluma
representa 44%. O custo do caroço é R$ 0,17, que representa 55% da massa bruta (algodão bruto,
como sai da lavoura) fardão. A fibrilha representa 1% da massa bruta e tem o custo estimado de R$0,04
(TAB. 9 )

Tabela 09 - O custo da pluma do algodão beneficiado

370
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Safra Participação Participação


2011/2012 (%) em valor
Pluma 2,42 44 1,1572
Caroço 0,17 55 1,4465
Fibrila 0,04 1 0,0263
Total 2,63 100 2,63

Fonte: Dados da pesquisa

As 27.176 toneladas de algodão em pluma exportadas geraram um custo de produção de R$ 2,42 por
quilo sendo R$2.420,00 por tonelada produzida. O total de custos de produção foi de R$65.765.920,00,
que representa 54% da receita. Acrescidos dos custos logísticos apurados R$ 12.729,805,74, passaram
a ser de R$ 78.495.725,74. O custo logístico representa 16,22% em relação aos custos totais de
produção e logística.

Cada tonelada foi comercializada por, aproximadamente, R$ 4.520,00, totalizando uma receita bruta de
R$ 122.835.519,40. O custo total da produção e logística representou, aproximadamente, 64% da
receita bruta e só os custos logísticos representaram 10,36%. Com base nas análises realizadas,
percebe-se que o custo logístico é bastante significativo para o algodão e como o grupo Scheffer é
prejudicado pela ineficiente logística brasileira.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa propôs-se a realizar um estudo sobre a estrutura de custos logísticos do Grupo Scheffer
referente escoamento da safra de algodão em pluma para o mercado externo, desde a origem até o
destino final. Especificamente, buscou-se identificar os custos logísticos do transporte rodoviário e
marítimo, definir os componentes dos custos logísticos do transporte marítimo e demonstrar a
representatividade dos custos logísticos à custos totais e em relação à receita bruta total.
A identificação dos custos envolvidos no escoamento do algodão para o mercado externo pode
fornecer subsídios importantes para a decisão estratégica do transporte, assim como para o
direcionamento de políticas e investimentos no setor. O grupo em estudo, assim como os demais
produtores do estado de Mato Grosso, tornou-se muito eficiente em termos de produtividade. Na
safra de 2010/2011, produziu 95@/ha e na safra 2012/2013 a expectativa é de 115@/ha. Isso equivale
a 1.725 kg/ha.

371
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Essa vantagem auxilia na compensação de diversos fatores que contribuem para os altos custos
logísticos, como dispêndio com fertilizante para correção de solo, grandes distâncias das áreas
consumidoras e portos exportadores, agregados à infraestrutura viária precária e poucas opções de
rotas de escoamento. Observa-se que o alto custo logístico brasileiro é, em parte, compensado pelo
baixo custo de produção e pela alta produtividade por hectare. Sendo o algodão um produto de alta
volatilidade de preço no mercado e estando ele inserido em ambiente dependente de fatores
climáticos e econômicos, dentre outros, é preciso ser eficiente também em sua logística. A
competitividade do Brasil no mercado agrícola poderia até ser maior se os exportadores usufruíssem
de uma estrutura de escoamento com menor custo.
Kussano (2010) observa que se mantendo o cenário de expansão agrícola brasileira para os estados
do Centro-Oeste e o quadro atual da infraestrutura logística, o País continuará a produzir e a exportar
grandes volumes, que continuarão percorrendo longas distâncias até os principais portos
exportadores. O desafio é manter a competitividade e reduzir o custo logístico total, sabendo-se que
o País tem um crescimento voltado para estas regiões do interior do Brasil. Dessa forma, aperfeiçoar
a operação logística e conhecer todos os custos que a compõem torna-se fundamental na busca pela
eficiência.
Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), as dificuldades logísticas presentes no País
minam o potencial competitivo da agricultura. Da porteira para dentro, o agricultor já provou que é
moderno e arrojado, porém os custos de escoamento da produção de Mato Grosso para os portos de
Santos e Paranaguá oneram os produtores e fazem com que o Mato Grosso tenha o mais alto custo
do planeta.
Mesmo com todo o potencial competitivo “dentro da porteira”, é notória a ineficiência sistêmica do
Brasil em lidar com aspectos de infraestrutura, o que acaba aumentando muito o custo dos produtos
para os mercados interno e externo. Deficiências nas estruturas atuais de transporte somam-se a
custos portuários excessivos para criar um conjunto de fatores altamente desfavorável para a
competitividade dos produtos nacionais, coloquialmente denominado “custo Brasil”.
Edeon Vaz, coordenador do Movimento Pró-logística, da Associação dos produtores de Soja de Mato
Grosso (APROSOJA), ressalta que as commodities brasileiras perdem competitividade na comparação
com as dos Estados Unidos e as da Argentina, principalmente em função do transporte: “Enquanto os
norte-americanos pagam US$ 33 dólares por tonelada para levar seu produto por hidrovia e trem, em
trechos de 3 mil quilômetros, em Mato Grosso paga-se US$145 dólares de frete rodoviário saindo de
Sorriso – MT para percorrer 2 mil quilômetros”. Segundo ele, os argentinos gastam, em média, US$60

372
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

a menos que os brasileiros nesta conta. No comparativo com os paranaenses, o frete é até três vezes
maior. Em 2012, o gasto com o frete rodoviário pelo grupo Scheffer, de Sapezal - MT até os portos de
Santos e Paranaguá teve alto custo, aproximadamente US$170,00 por tonelada.
Estes custos têm levado a administração do grupo a analisar a viabilidade da exportação de algodão
em pluma via Porto Velho - Manaus, que se apresenta como alternativa para minimizar custos. No
Paraná, o custo é de apenas US$ 42,00. Nos Estados Unidos, do campo ao embarque, a tonelada custa
US$71,00.
Tais problemas têm chamado a atenção dos setores público e privado. Têm sido bastante estudados
os chamados corredores de transporte multimodais, visando à integração e à racionalização das rotas
com o uso conjunto de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aerovias.
No que se refere aos custos portuários, estimativas do Banco Mundial apontam que os do Brasil são
27% superiores aos da Argentina e os do Uruguai. Isso sem incluir custos gerados por atrasos em
embarque (críticos em época de safra), dificuldades burocráticas e as consequentes incertezas geradas
ao planejamento de exportadores e importadores. Dados da Confederação Nacional da Indústria
evidenciam que o custo médio de movimentação de um contêiner de 40 pés atinge US$600 no porto
de Santos e US$300 no porto de Paranaguá, contra US$120 em Rotterdam, confirmando os dados
obtidos nesta pesquisa, que foram de aproximadamente US$700.
Para a pesquisa, considerou-se que os custos logísticos incluem todas as despesas de carregamento,
transbordo e descarregamento, transporte e impostos, desde o município de Sapezal até o país de
destino final. Após este estudo, conclui-se que a utilização de sistemas multimodais e intermodais de
transportes mais eficientes se faz necessária para a exportação do algodão em pluma do Mato Grosso,
devido ao fato de o estado estar situado no centro do País e distante dos portos de exportação. O
transporte desta commodity pelo grupo Scheffer deveria ser realizado também pelos modais
hidroviários e ferroviários, utilizando o modal rodoviário apenas para fazer as ligações das regiões
produtoras com esses modais.

6.1 CONTRIBUIÇÕES DESTA PESQUISA

A investigação poderá fornecer subsídios para a utilização pública e privada, em termos de


conhecimento da estrutura de custos, da seguinte forma:
Governo: no estabelecimento de políticas públicas, já que, conhecendo os custos inerentes ao
escoamento do algodão em pluma e tendo noção da representatividade de cada custo, as ações
governamentais podem ser mais bem direcionadas. Por exemplo, o Governo Federal, sabendo que os

373
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

custos do transporte representam em torno de 73,51% do custo logístico total, poderia direcionar as
ações para a melhoria e a conservação dos sistemas de transporte. Por exemplo, caminhões que
trafegam em boas estradas consomem menos combustível, que é o maior custo dentro do valor do
frete.
Produtores de algodão: como grande parte dos produtores são dependente dos preços pagos pelas
esmagadoras e tradings do setor, conhecer a logística de escoamento da safra e os custos inerentes a
ela proporcionará conhecimento para negociar seu preço.

REFERÊNCIAS

ABREU, KÁTIA "Brasil tem Mississipes para hidrovias". Bienal da Agricultura em

Mato Grosso, 09/Agosto/2013 Disponível em :

http://www.agrodebate.com.br/_conteudo/2013/08/noticias/9913-brasil-tem-mississipes-para-
hidrovias--diz-katia-abreu-em-mato-grosso.html

AFONSO, H. C. A. G. Análise dos custos de transporte da soja brasileira. 2006, 138 f. Dissertação
(Mestrado em engenharia de transportes ) – Instituto Militar de Engenharia – IME, Rio de Janeiro,
2006.

ALVES, M. R. P. A. Logística agroindustrial. In: BATALHA, M. O. Gestão Agroindustrial. 2 ed. São Paulo:
Atlas, 2001. p. 162-240.

ALVES, L. R. A. et al. Custo de produção de algodão em sistema adensado no Estado de Mato


Grosso/Brasil. Custos e @gronegócio on line, v. 8, n. 1, jan./mar. 2012. Disponível em: <
http://www.custoseagronegocioonline.com.br/numero1v8/algodao.pdf >. Acesso em: 15 fev. 2013.

ALVES, L. R. A.; BARROS, G. S. C.; BACCHI, M. R. P. Produção e exportação de algodão: efeitos de


choques de oferta e de demanda. RBE, Rio de Janeiro, v. 62, n. 4, p. 381–405, out./dez. 2008

ARVIS, J. F; RABALLAND, G.; MARTEAU, J. F. The Cost of Being Landlocked : Logistics Cost and Supplay
Chain Reliability. World Bank Policy Research Working Paper, n. 4258, jun. , 2007. Disponível em:
<http://papers.ssm.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=995079>. Acesso em: 6 jun. 2013.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS USUÁRIOS DO TRANSPORTE DE CARGAS - ANUT. Palestra logistica. 2012.
Disponível em: <http://www.anut.org/08A_Apresentacoes_Trabalhos.asp>. Acesso em: 28 mar. 2013.

BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre:


Bookmann, 2006.

BERTAGLIA, P. R. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. São Paulo: Saraiva, 2003.

374
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

BOLETIM SEMANAL DO IMEA. Estatística do algodão. n. 80, 2012a. Disponível em:


<http://www.imea.com.br/upload/publicacoes/arquivos/R401_2013_06_21_BSAlgodao.pdf. Acesso
em: 29 de maio de 2013.

BOLETIM SEMANAL DO IMEA. Estatística do algodão. n. 133, 2012b. Disponível em:


<http://www.imea.com.br/upload/publicacoes/arquivos/R401_2013_06_21_BSAlgodao.pdf. Acesso
em: 29 de maio de 2013.

BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística empresarial. São Paulo: Atlas, 2001.

BRASIL. Ministério do Desenvolvivento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Custo operacional


transporte de cargas .2012. Disponível

em: < http://www.desenvolvimento.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=3130>. Acesso


em: 16 jan. 2013

BRASIL. Ministério da fazenda. Secretaria da Receita Federal. Contribuição para o PIS/PASEP e COFINS.
2013. Disponível

em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/DIPJ/2013/PergResp/default.htm> Acesso


em: 25 maio 2013.

CAIXETA-FILHO, J. V.; GAMEIRO, A. H. (org.). Transporte e logística em sistemas Agroindustriais. São


Paulo: atlas, 2001.

COLLIS, J. HUSSEY, R. Pesquisa em administração. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

DUBKE, A. F. Modelo de localização de terminais especializados: um estudo de caso em corredores de


exportação da soja. 2006. 177 f. Tese (Doutorado em Engenharia Industrial) - Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

FARJADO, A. P. C. Uma contribuição ao estudo do transporte intermodal: otimização da expansão


dinâmica das redes intermodais do transporte de soja produzida no estado de Mato Grosso. 2006, 187
f. Tese (Doutorado em Engenharia de Transportes) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2006.

FARIA A. C.; COSTA, M. F. G. Gestão de custos logísticos. São Paulo: Atlas, 2007.

GIL, A. C. S. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

HIJJAR, M. Logística, soja e comércio internacional. Centro de Estudos em Logística (CEL), 2006.
Disponível em:<http://www.fcasa.com.br/tecnologia/centro-de-excelencia-da-logistica/>. Acesso
em: 21 fev. 2013.

KUSSANO M. R. Proposta de modelo de estrutura de custo logístico do escoamento da soja brasileira


para o mercado externo:

o caso do Mato Grosso. 2010. 93 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) -


Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos, 2010.

375
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

LIMA, L. M.; BRANCO, J. E. H.; CAIXETA-FILHO, J. V. Um modelo dinâmico para otimização do


escoamento de soja em grão. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA E
SOCIOLOGIA RURAL, 43., 2005, Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: sociedade brasileira de
Economia e Sociologia Rural, 2005.

LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Pedagógica
e Universitária, 1986.

MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,
2001.

MIRANDA, H. R. Planejamento participativo, desenvolvimento local e metodologias participativas:


projetos de intervenção e participação em pequenas comunidades rurais da Amazônia Paraense.
Belém, 2009. Disponível

em: <http://www.ppgedam.pro.br/ppgedam/attachments/article/80/disserta%C3%A7%C3%A3o-
HENRIQUE.pdf> . Acesso em: 6 jun. 2013.

MONTANA, Patrick J. Administração / Patrick J. Montana, Bruce H. Charnov:

tradução Cid Knipel Moreira; revisão técnica Álvaro Pequeno da Silva. – 2 ed. – SãoPaulo: Saraiva,
2005.

MORABITO, R.;IANNONI, A. P. Logística agroindustrial. In: BATALHA, M. O. Gestão agroindustrial. 3.ed.


São Paulo: Atlas, 2007. p.184-256.

NOVAES, A. G. N. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. Rio de Janeiro: Campus, 2007.

OJIMA, A. L. R. O.; YAMAKAMI, A. Anlysis of the logistical movement and competitiveness of soybean
in the Brazilian center-north region: an application of a spatial equilibrium model with quadratic
programming. In: INTERNACIONAL CONFERENCE ON AGRI-FOOD CHAIN/NETWORKS ECONOMIC AND
MANAGEMENT. 2003. São Paulo. Anais... Disponível

em: <http://pensaconference.org/arquivos_2003/2006.pdf.> Acesso em: 18 fev. 2013

OLIVEIRA, E. P. Modelo conceitual de um sistema de apoio à decisão para gestores de logística e


transporte em canais de exportação agrícola. 2007. 241f. Tese (Doutorado em Engenharia de
Produção) – Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, 2007.

OLIVEIRA, J. R. et al. Custo ambiental na cultura do algodão: um estudo de caso na região sul de Mato
Grosso. Custos e @gronegócio On Line, v. 8, n. 3, jul./set. 2012. Disponível em:
<http://www.custoseagronegocioonline.com.br/numero3v8/algodao.pdf>. Acesso em :6 maio 2013.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

RIPOLL, F. G. Proposta de uma análise logística no agronegócio como fator competitivo para a
distribuição e comercialização da soja em grão no Estado de Mato Grosso. Custos e @gronegócio on
line. v. 8, n. 1, jan./mar. 2012. Disponível

376
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

em: < http://www.custoseagronegocioonline.com.br/numero1v8/soja.pdf > . Acesso em: 26 fev.


2013.

RODRIGUES, P. R. A. Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e à logística internacional. 3a ed.


São Paulo: Aduaneiras, 2003.

RODRIGUES, P. R. A. Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e à logística Internacional: veículo


prático de competitividade. 2 ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001. p. 177

SAMPAIO, A. L. M; AKAHOSHI, W. B; LIMA, E. M. A avaliação da aplicação do método de custeio


baseado em atividades (ABC) na produção agrícola de grãos: culturas temporárias

Custos e @gronegócio on line, set./dez. 2011. Disponível

em: <www.custoseagronegocioonline.com.br>. Acesso em: 13 jan. 2013.

SASSERON, J. L. Armazenamento de grãos. In: GOMES, R. A. R. et al. Transportes, seguros e a


distribuição física internacional de mercadorias. 2 ed. São Paulo: Aduaneiras, 2003.

SECRETARIA DE COMERCIO EXTERIOR. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS - SECEX. MDIC: 20 anos da SECEX e


200 anos de Comércio . 2012. Disponível

em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/noticia.php?area=5&noticia=12495: Acesso


em: 5 de maio 2013.

SMANIOTO. F. C. Viabilidade da exportação de algodão em pluma de Sapezal e região noroeste do


estado de Mato Grosso via Porto Velho-Manaus. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em
Demografia) -Departamento de Administração da Universidade do estado de Mato Grosso, 2009.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 1ed.


São Paulo: Atlas, 1987.

VERGARA S. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 2. ed.São Paulo: Atlas, 1998.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookmann, 2010.

377
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 18

ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA, CUSTOS E DESEMPENHO


ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO EM HOTÉIS DO BRASIL E DA
VENEZUELA
DOI: 10.37423/200300519

Sabrina Do Nascimento - sabnascimento@gmail.com


Suzete Antonieta Lizote - lizote@univali.br
Miguel Angel Verdinelli - maverdinelli@gmail.com
Diego André Fiore Da Silva - diego206it@gmail.com
Resumo: Esta pesquisa objetivou avaliar a relação entre orientação empreendedora e
desempenho, considerando como essas organizações realizam a gestão de custos. Os dados
obtiveram-se junto à hotelaria brasileira e venezuelana por meio de uma survey com
questionário, que levantava a percepção dos gestores. Os custos foram trabalhados segundo
o método utilizado para estimá-los, o critério de precificação da diária, os principais custos
de hospedagem e em relação a sua utilidade. Ao total recolheram-se 112 questionários de
hotéis localizados em 16 cidades da Região Sul do Brasil e 92 questionários de 18 cidades da
Venezuela. Os dados obtidos analisaram-se estatisticamente empregando a Anova e por meio
da análise de correlação de Spearman. Os resultados indicam que a orientação
empreendedora se associa parcialmente com o desempenho. Contudo, para os hotéis
brasileiros verifica-se que os que adotam o método de custeio baseado em atividades e
formam o preço considerando os valores de mercado são os que possuem respectivamente
maior orientação empreendedora e desempenho. Na Venezuela isso se corrobora para os
que utilizam o método absorção para custeio e o de custos totais para a precificação.

Palavras-chave: Orientação empreendedora. Desempenho. Custos.

Área Temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio as


decisões. 378
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INTRODUÇÃO

A orientação empreendedora pode ser considerada como um constructo da gestão estratégica das
empresas. É um conceito que tem emergido no contexto organizacional com a finalidade de investigar
o espírito empreendedor nas empresas e como isto influencia nos processos estratégicos e de
resultado (RAUCH et al., 2009). Assim, diversos estudos têm sido direcionados a pesquisar sua relação
com as vantagens competitivas e a melhoria dos resultados.
Com um incremento constante da concorrência, devido à internacionalização dos mercados, o
ambiente de negócios na atualidade tem induzido à adoção de ações empreendedoras na definição
das estratégias empresariais, tornando-se um fator essencial para o sucesso das firmas (DESS et al.,
1997). Ganha destaque, então, atuar proativamente na identificação de oportunidades e ameaças,
realizar inovações, seja em produtos ou serviços e assumir os riscos implícitos, com a finalidade de
desenvolver o gerenciamento do crescimento (COVIN et al., 2006). Em conjunto com essas
características básicas, conforme as circunstâncias e o tipo de organização, é possível identificar
outras práticas e atividades, incluindo ações autônomas dos departamentos da empresa ou atitudes
agressivas em relação aos concorrentes (LUMPKIN; DESS, 1996; HUGHES; MORGAN, 2007).
Entretanto, um aspecto que não tem sido considerado com a mesma ênfase nas pesquisas é como os
métodos de custeio e os mecanismos de precificação se relacionam com as estratégias
empreendedoras das entidades. Sem dúvidas, para competir no contexto ambiental presente,
continua a ser determinante um gerenciamento eficiente dos custos. Mas, ao assumir uma orientação
empreendedora, na análise do planejamento e da definição das estratégias, devem-se incluir as ações
proativas e seus riscos implícitos.
No cenário descrito surge a seguinte pergunta de pesquisa: Que relações se verificam entre a
orientação empreendedora que dispõem os hotéis e seu desempenho organizacional levando em
conta o gerenciamento de custos que efetuam?

No intuito de dar resposta a tal questionamento, estabeleceram-se os seguintes objetivos específicos:


1) medir a orientação empreendedora a partir da proposta de Covin e Slevin (1989); 2) mensurar o
desempenho por meio da percepção dos gestores em comparação aos concorrentes mais próximos;
e, 3) avaliar se o gerenciamento de custos influencia na relação entre os constructos ou neles
individualmente.

Com o presente estudo, buscou-se obter novas evidências empíricas sobre as relações entre os
construtos mencionados. Sua consecução, além de original para as organizações foco da pesquisa ao

379
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

trazer como um dos determinantes o gerenciamento dos custos, possui relevância prática para a
melhoria do funcionamento dos hotéis. Por outro lado, as proposições de articulações teóricas, ainda
pouco trabalhadas em estudos empíricos da realidade brasileira e venezuelana justificam o interesse
acadêmico.

MARCO TEÓRICO

Nesta seção apresenta-se o marco teórico definido como necessário à compreensão da abordagem
adotada. Para tanto, se abordarão os seguintes temas: orientação empreendedora, gestão de custos
e desempenho organizacional.

ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA

No atual contexto organizacional, o ambiente de negócios tem exigido dos gestores atuação proativa
na identificação de oportunidades e ameaças, com a finalidade de obter informações e formular
estratégias que auxiliem no processo de tomada de decisões. Para competir nesse tipo de ambiente,
adotar uma abordagem empreendedora na elaboração de estratégias, torna-se um fator essencial
para o sucesso das empresas (DESS et al., 1997). Tal abordagem também tinha sido definida como
postura empreendedora (COVIN; SLEVIN, 1989) e como orientação empreendedora (MILLER, 1983;
LUMPKIN; DESS, 1996).
A orientação empreendedora (OE) surgiu como um conceito importante para pesquisar o espírito
empreendedor nas organizações, bem como sua influência nos processos estratégicos e de
desempenho (RAUCH et al., 2009). Inicialmente foi interpretada como uma qualidade particular do
proprietário ou gestor, ou seja, alguém que, por meio da implementação de ações corporativas,
desafiava as incertezas ambientais. Entretanto, para Miller (1983) a orientação empreendedora devia
ser interpretada como uma característica das empresas, indo além do desempenho de um único
indivíduo.
Segundo Covin et al. (2006) a OE é mais percebida como um modo de gerenciamento da organização
do que como uma característica de seus projetos empreendedores, em particular pelo gerenciamento
do crescimento. Que foi definido por Rauch et al. (2009) como uma capacidade distintiva para o
crescimento constante e rentável. Isto é, “[...] a OE e o gerenciamento empreendedor são termos
utilizados para caracterizar uma organização empreendedora, uma organização com postura
empreendedora” (FREITAS et al., 2012, p. 164).
A orientação empreendedora, segundo Robinson et al. (1991), inclui várias extensões:

380
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

práticas, processos, tomadas de decisões e atividades que levam à criação ou recriação de um


empreendimento. Considera-se no conceito, ainda, a predisposição para assumir riscos e inovar, agir
com autonomia, tendência a ser agressivo em relação aos concorrentes e a proatividade em relação
às oportunidades de mercado (LUMPKIN; DESS, 1996; HUGHES; MORGAN, 2007).
Os estudos sobre a OE iniciaram com Miller (1983). Sua proposição inicial contempla três dimensões.
(1) inovatividade: que reflete a tendência da organização em apoiar novas ideias, experimentos,
novidades e processos criativos que possam resultar em novos processos, produtos ou serviços
(LUMPKIN; DESS, 1996); (2) proatividade: que se relaciona com uma perspectiva de futuro, por meio
da qual as empresas procuram antecipar oportunidades para desenvolver e introduzir novos serviços
ou produtos no mercado, visando obter vantagem competitiva (MILLER, 1983); e, (3) assunção de
riscos: uma dimensão que, segundo Venkatraman (1989), reflete o grau de risco em decisões de
alocação de recursos, assim como na escolha de produtos e mercados.
A partir do estudo pioneiro de Miller, foram Lumpkin e Dess (1996) os que propuseram mais duas
dimensões para a OE: agressividade e autonomia. A primeira se manifesta quando se busca alcançar,
a qualquer custo, uma maior participação de mercado (VENKATRAMAN, 1989) e também se revela
como uma resposta a ameaças no ambiente de negócios (LUMPKIN; DESS, 2001). Já a autonomia
verifica-se quando o empreendedor deve tomar decisões pelo uso de recursos, no estabelecimento
de objetivos, na escolha de estratégias de ação ou na procura de oportunidades relevantes, dentre
outras ações (LUMPKIN; COGLISER; SCHNEIDER, 2009).
Lumpkin e Dess (1996) identificaram que coexistia uma tendência superficial de assumir a orientação
empreendedora como algo essencial e positivo para o desempenho organizacional. Esses autores
comentaram que o fato de haver diferenças de empreendedorismo entre uma organização e outra
pode ser decorrente da combinação de vários fatores: individuais, organizacionais e ambientais. Esta
última variável poderia moderar ou mediar à relação da OE com o desempenho. Contudo,
independente do como afete o ambiente, diversas pesquisas têm demonstrado uma relação positiva
entre esses constructos (COVIN; SLEVIN, 1991; ZAHRA, 1993; LUMPKIN; DESS, 1996; WIKLUND;
SHEPHERD, 2005; FERNANDES; SANTOS, 2008; RUNYAN et al., 2008).

GESTÃO DE CUSTOS

A gestão de custos é uma importante ferramenta para a tomada de decisões nas empresas. Ela
permite uma melhor visualização dos gastos, ao identificar as atividades envolvidas na prestação de

381
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

serviço, exercendo uma ação eficaz de controle de custos. Neste cenário, Hansen e Mowen (2001, p.
31) relatam que “o aumento da concorrência tornou os gestores nesse setor mais consciente da
necessidade de usar informações contábeis para o planejamento, o controle e as tomadas de
decisão”.
É considerável destacar que a tomada de decisão com base nas análises de custos não deve focar o
curto prazo. Os efeitos de suas decisões serão percebidos tanto no presente quanto em longo prazo
e ainda estarão resguardadas na escolha da alternativa que proporciona maior vantagem competitiva.
Tal afirmação é amparada por Bruni e Famá (2004, p. 237) “a ênfase da análise de custos deve estar
baseada nas decisões tomadas e seus efeitos subsequentes”. Nota-se, que é de grande importância a
geração das informações, assim como o seu uso eficaz e o fornecimento de subsídios durante todo o
processo de gestão de negócios.
Hansen e Mowen (2001, p. 31) evidenciam que “Com a sua procura por melhores informações e
produtividade, o setor de serviços aumentará a sua demanda por informações de gestão de custos”.
No caso de serviços, torna-se difícil mensurar a sua importância, como também de fazer atribuição de
valores. Para Perez Jr., Oliveira e Costa (2005, p. 338), “a prestação de serviços, quase sempre envolve
aspectos intangíveis, diferentemente da produção física de determinado produto material ou
tangível”. Essas informações são essenciais para o planejamento de ações futuras, além de comunicar
aos gestores os dados de origem econômica e financeira da instituição. Neste cenário, Hansen e
Mowen (2001, p. 34) contribuem relatando que “a mensuração e os relatórios de custos da qualidade
são características-chaves dos sistemas de gestão de custos tanto para setores de manufatura quanto
de serviços”. Com a mensuração, os administradores podem efetuar o controle dos custos, visando
determinar a rentabilidade da empresa. O controle, assim como o planejamento em qualquer
instituição, é indispensável.
Por isso, Hansen e Mowen (2001, p. 123) descrevem que “os gestores devem ser capazes de rastrear
os custos dos serviços prestados tão precisamente quanto devem rastrear os custos dos produtos
manufaturados”. As instituições que priorizarem o tempo, a qualidade e a eficiência na produção de
bens ou na execução de seus serviços, estarão agregando valor ao produto e, desta forma, alcançarão
a vantagem competitiva para com seus concorrentes. Consoante a isso, os mesmos autores reforçam
que “Para assegurar e manter uma vantagem competitiva, os gestores enfatizam o tempo, a qualidade
e a eficiência” (2001, p.31).

382
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A gestão de custos vem ganhando cada vez mais importância nas empresas devido a grande
concorrência existente na maior parte dos mercados na atualidade. Isto torna difícil para a
organização definir seus preços de venda e, portanto, segue o preço definido pelo
“mercado”. Assim, a gestão de custos possibilita aos administradores ter uma visão mais realista e
meios de melhor gerenciá-los, tornando possível concorrer em mercados altamente competitivos
através da sua redução (KOLIVER, 2009). Algumas ferramentas são imprescindíveis para essa
finalidade, incluindo os métodos de custeio, os quais permitem a correta alocação dos custos
incorridos pela empresa.
O método de custeio de absorção é uma poderosa ferramenta gerencial, pois permite uma visão
horizontal dos custos, visto que ele é capaz de captar todos os custos referentes a um único produto
ou processo que possui suas atividades realizadas em mais de um departamento. Dessa forma,
possibilita uma visão mais ampla dos gestores, que passam a possuir mais dados para embasar suas
decisões. Martins (2008) descreve que a partir da visualização dos processos, verificam-se quais
atividades são passíveis de reestruturação, para que melhorem o desempenho da empresa como um
todo. O método de custeio variável por sua vez, aloca apenas os custos variáveis aos produtos,
deixando os custos fixos separados, considera-os como despesas do período, indo diretamente para
o resultado.
Segundo Perez Jr., Oliveira e Costa (2005) existem três razões para utilizar o custeio variável para fins
gerenciais: i) os custos fixos independem da fabricação de produtos, ou do aumento ou redução da
quantidade produzida dos mesmos; ii) o rateio destes custos é arbitrário, em maior ou menor grau,
podendo uma simples modificação na base para rateio, transformar um produto rentável em não
rentável; e, iii) pelo fato de que as modificações no volume de produção possam reduzir os custos
fixos por unidade de produto, a simples variação na quantidade produzida altera o custo do produto.
Este método é útil para a tomada de decisões na fixação de preços, quantidade produzida e
determinação de mix de produtos.
A partir da aplicação dos dois métodos de custeio é possível analisar custo, volume e lucro (C/V/L).
Segundo Wernke et al. (2011) a partir da adoção do custeio variável, a empresa torna possível a
utilização da análise C/V/L e, consequentemente, o aproveitamento dos benefícios. Seu objetivo é
relacionar os custos, as quantidades vendidas e os preços, servindo como uma ferramenta gerencial
de auxílio à tomada de decisão. Segundo Bornia (2010, p.54)
“esta análise consiste de um conjunto de procedimentos capaz de determinar a influência no lucro
derivada de alterações nas quantidades vendidas e nos custos”.

383
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Dentro do conjunto de ferramentas necessárias à análise C/V/L, encontra-se também o Ponto de


Equilíbrio (PE) – conhecido ademais como ponto de nivelamento ou ponto de ruptura (break-even).
Segundo Berti (2010, p.149) “ponto de equilíbrio é o momento em que o resultado das operações da
empresa é nulo, ou seja, a receita total é igual à soma dos custos e despesas totais.” Souza, Borgert;
Richartz (2011) complementarmente afirmam ser o cálculo do ponto de equilíbrio como “um dos
principais elementos da análise custo-volume-lucro (CVL), constituindo-se num instrumento de
tomada de decisão gerencial que utiliza como dados a interação entre receitas totais e gastos totais
resultantes da aplicação do método de custeio variável”. A partir deste conceito, pode-se perceber
que esta ferramenta é muito útil para análise gerencial de uma empresa, visto que calculando o ponto
de equilíbrio, pode-se perceber se a empresa no momento está operando com lucro ou com prejuízos.
A realização da análise dos dados obtidos por meio da utilização do PE é muito simples, segundo
Sandroni apud Berti (2010, p.150) “o ponto de equilíbrio é o ponto que define o volume exato de
vendas e produção em que a empresa nem ganha nem perde dinheiro; acima desse ponto a empresa
começa a apresentar lucros; abaixo sofre perdas”.
O método de custeio baseado em atividades, segundo explica Martins (2008), constitui uma
ferramenta adequada para visualizar os custos por meio da análise das atividades que se desenvolvem
no interior das organizações bem como suas respectivas relações com os produtos. A característica
principal dele é uma atribuição bastante rigorosa dos custos indiretos ao objeto em análise, o que
possibilita realizar um controle efetivo e dar subsídio à tomada de decisões gerenciais. Ou seja, surgiu
como um meio apropriado para reduzir os defeitos ocasionados pela arbitrariedade que implica o
rateio dos custos indiretos nos processos produtivos. Entretanto, devido à complexidade de sua
aplicação, poucas entidades utilizam este método de custeio.
O método de custeio-alvo, chamado também de custo-meta, conforme apontam Perez et al. (2005),
permite o calculo do custo pela subtração do preço do mercado ou ainda o estimado da margem de
lucratividade almejada e desse modo busca-se alcançar um valor fixado de produção. A utilização
desse método presume a participação do setor de marketing, uma vez que o produto ou serviço deve
ser posicionado perante o mercado com a margem de lucratividade desejada. Com base nisto o custo-
alvo irá ser definido como a soma do custo da mão-de-obra, materiais e demais atividades.
A formação de preços foi uma das primeiras ferramentas criadas pela teoria dos custos, e esta possui
papel fundamental dentro dela, já que antes da sua existência era impossível calcular o custo de um
produto ou serviço, elemento considerado fundamental para formar o preço ou valor de venda de um
produto. Atualmente a realidade das empresas quanto à formação de preços modificou-se, já que o

384
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

mercado globalizado força as empresas a adaptar seus preços ao que é praticado pelos seus
concorrentes.
Ainda, existe outra corrente que acredita ser o preço uma função do valor percebido pelo consumidor
ao invés de ser relacionado ao custo de produção (BEULKE; BERTÓ, 2001). De forma complementar,
Viana Filho e Gomes e Souza (2011) descrevem que os preços de venda definidos pelas entidades
sugerem a estratégia e a finalidade desejada pela mesma. Estas querem sustentar sua posição no
mercado, aumentar seu market share em determinado segmento do mercado, tornarem-se
competitivas ou, tentarem sobreviver no mercado. Diante disso, a consciência quanto ao custo de se
realizar um serviço não perdeu valor, e sim se alterou a visão a respeito do mesmo. Na atual
conjuntura, os custos passam “a constituir um piso do preço e elemento absolutamente decisivo para
a avaliação do desempenho de produtos, mercadorias e serviços” (BEULKE; BERTÓ, 2001, p. 21).
Bruni e Fama (2004, p. 321) citam alguns dos principais objetivos quando da utilização das
metodologias para formação de preços, sendo eles: proporcionar o maior lucro possível no longo
prazo; maximizar a participação de mercado de forma lucrativa; maximizar a capacidade produtiva de
forma a reduzir a ociosidade e as despesas operacionais; e, maximizar a rentabilidade do capital
empregado para perpetuar os negócios de forma autossustentável.
Ainda, os referidos autores, citam três processos distintos que podem ser empregados na definição
de preços: processo baseado nos custos, no consumidor ou na concorrência. O preço baseado no
custo busca adicionar algum valor aos custos, ou seja, adiciona-se a margem de lucro desejada aos
custos para formar o preço de venda. Este método, devido à forma de precificação, fica sujeito a
problemas, já que o mesmo não considera nem os preços praticados pela concorrência nem a
demanda do mercado consumidor. Já o preço baseado no consumidor, leva-se em conta para a
precificação o valor percebido pelos consumidores em relação ao produto ofertado, neste caso pode-
se ofertar o mesmo produto com diferentes preços, dependendo do local e do público ao qual ele
esta sendo ofertado. Por último, a metodologia que considera a concorrência, leva em consideração
os preços praticados pelos concorrentes, dando pouca importância aos custos e a demanda pelo
produto.
Hinterhuber (2010, p. 108), relata que “de todas essas estratégias, a última, precificação baseada no
valor percebido pelo cliente, está sendo reconhecida pela literatura acadêmica da área como superior
às duas outras.” Porém, o referido autor afirma que esta estratégia ainda é pouco utilizada pelas
empresas, sendo a precificação mais utilizada a orientada para a concorrência. A razão para a não
utilização da precificação baseada no valor percebido é o fato de que a maior parte das organizações

385
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

encontram muitas dificuldades para definir de forma consistente o valor que os clientes estão
dispostos a pagar por seus produtos.

DESEMPENHO ORGANIZACIONAL

A avaliação de desempenho serve para controlar uma estratégia definida pela organização,
confrontando seu resultado com os objetivos estabelecidos. Nesta ótica Neely et al. (2005) a veem
como um processo de quantificação da eficiência e efetividade das ações empresariais. Para Igarashi
et al. (2008) é mediante a análise do desempenho que as organizações podem medir a sua capacidade
de sobrevivência e continuidade, face às exigências do ambiente interno e externo em que estejam
inseridas. O crescimento do interesse pelas medidas de desempenho organizacional deve-se às
importantes mudanças tanto no ambiente empresarial quanto nas estratégias adotadas (McADAM;
BAILIE, 2002).
No que tange a sua mensuração, Gunasekaran e Kobu (2007) consideram um grande desafio para os
administradores o desenvolvimento de medidas apropriadas para a tomada de decisões que
contribuam para o alcance da competitividade. O desempenho pode ser mensurado através de duas
perspectivas: primeiramente como conceito subjetivo, o qual está relacionado ao desempenho das
organizações segundo a sua própria expectativa ou relativamente à concorrência (PELHAM; WILSON,
1996). A segunda opção é analisá-lo pelo método objetivo, baseado em medidas absolutas de
desempenho (CHAKRAVARTHY, 1996).
Para dar suporte às decisões estratégicas da organização sua mensuração, segundo Bortoluzzi et al.
(2010), deve considerar alguns elementos importantes, quais sejam: levar em consideração as
particularidades de cada organização; considerar indicadores financeiros e não financeiros, ou seja,
os aspectos tangíveis e intangíveis; ligar os objetivos estratégicos com os objetivos operacionais; e,
construir um processo de comunicação que permita a todos os níveis organizacionais identificar de
forma clara e holística os objetivos que a organização está idealizando.
Entretanto, a validade de usar indicadores subjetivos de desempenho tem sido demonstrada como
alternativa viável para o caso de inexistência de dados secundários confiáveis (PERIN; SAMPAIO,
1999). Conforme comenta Hoque (2005) os motivos pelos quais geralmente são escolhidas as medidas
subjetivas, ocorrem porque uma parcela significativa de pequenas empresas não possui ou bem
dispõem de poucas informações objetivas, tornando quase que impossível conferi-las com precisão.
Neste estudo, escolheu-se utilizar medidas subjetivas de desempenho, trabalhando com a percepção
dos gestores dos hotéis. Esta decisão se baseia no fato de que este constructo constitui a variável

386
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

dependente no modelo e sua mensuração, como um valor em relação aos concorrentes mais
próximos, é apropriada para estimar as relações que com ele tem a orientação empreendedora e a
gestão de custos.

MATERIAL E MÉTODOS

O material para o estudo foi obtido por meio de um questionário de autopreenchimento que foi
respondido pelos gestores de hotéis de dezesseis cidades da Região Sul do Brasil e de dezoito cidades
da Venezuela, sendo trinta e uma firmas do Distrito Capital e sessenta e uma repartidas entre sete
Estados. Em ambos os países escolheram-se hotéis das categorias econômico, turístico e superior,
que na antiga classificação brasileira correspondiam a dois, três e quatro estrelas respectivamente.
Dos duzentos (200) questionários enviados em cada país retornaram cento e doze (112) de empresas
brasileiras e noventa e dois (92) de firmas venezuelanas, representando taxas de 56% e 46%
respectivamente.
O instrumento estava organizado em cinco blocos. No primeiro se recolheram informações do
respondente e sobre a organização. No segundo se dispuseram quatro questões referidas a custos.
Perguntava-se sobre o método utilizado para avalia-los, o critério adotado para estabelecer os preços,
os principais custos do hotel e a respeito da utilidade que tinham as informações sobre custos.
Com a finalidade de levantar os dados sobre a orientação empreendedora que o hotel manifestava
empregou-se, no terceiro bloco, uma escala Likert de concordância com sete pontos, indo desde
discordo totalmente (1) até concordo plenamente (7). Trabalhou-se a partir da proposta de Covin e
Slevin (1989) que, com base no trabalho de Miller (1983), criaram um instrumento para obter dados
sobre proatividade, assunção de riscos e inovatividade. Para as duas primeiras dimensões se usaram
cinco asseverações e para a última seis.
No quarto bloco, usando também uma escala de concordância de sete pontos, se dispuseram oito
asseverações sobre práticas de custos. Nelas tratavam-se os seguintes assuntos: 1) realização do
planejamento estratégico e orçamentário com acompanhamento mensal; 2) fornecimento de
informações da contabilidade de custos sobre a margem bruta; 3) fornecimento de informações da
contabilidade de custos sobre a margem de contribuição; 4) planejamento de atividades com
orçamento detalhado; 5) acompanhamento dos custos efetivamente incorridos e comparação com o
orçado; 6) avaliação da contribuição dos clientes para o resultado financeiro; 7) uso das informações
da contabilidade de custos para o planejamento, gestão e controle; e, 8) uso associado das
informações de custos com a contabilidade de custos para o planejamento, gestão e controle.

387
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Por fim, no quinto bloco se levantaram dados sobre o desempenho, mensurado de modo subjetivo,
em relação ao concorrente mais próximo. Utilizou-se, ao igual que nos dois blocos anteriores uma
escala de concordância de sete pontos. Nela o respondente devia assinalar se o hotel que gerencia
tinha uma melhor performance nos seguintes aspectos: 1) no lucro líquido; 2) nas vendas totais; 3) na
realização dos resultados financeiros; 4) no cumprimento das metas de pessoal e emprego; 5) no
cumprimento das metas de satisfação do cliente; 6) na retenção de clientes; e, 7) no desempenho
geral.
Os dados colhidos nos duzentos e quatro (204) hotéis se organizaram numa planilha eletrônica Excel®
na que foram feitos os pré-processamentos sugeridos em Hair Jr. et al. (2009). Inicialmente se
quantificaram trinta e oito (38) dados omissos, mas como sua distribuição não se associava a nenhum
padrão, os dados faltantes foram preenchidos com o valor da mediana do item em que se registrou a
omissão. Logo, avaliaram-se os outliers usando a função gráfica Box-Plot do software Statistica®, com
a que foram reconhecidos quarenta e nove (49) que se optou por manter ao não se reconhecer padrão
na sua distribuição.
A seguir foram calculadas a média, desvio padrão, assimetria, curtose e coeficiente de variação (CV).
Possibilitando-se assim fazer a análise descritiva das variáveis. Por outra parte, segundo Finney e
DiStefano (2006) se a assimetria e a curtose não ultrapassarem em módulo os valores de 2 e 7,
respectivamente, as distribuições dessas variáveis podem ser consideradas quase normais.
Os dados foram separados por país e importados aos softwares Statistica e SPSS®, com os quais se
realizaram análises fatoriais exploratórias para definir os itens que se consideraram para cada
dimensão da orientação empreendedora, para as práticas de custos e o desempenho. Colocou-se
como restrições que o constructo seja expresso por um único fator extraído da matriz de correlações
segundo o critério de Kaiser, que a variância a ele associada seja no mínimo 50% e que as correlações
dos itens com o fator sejam maiores do que 0,60 em módulo.
Para cada dimensão da OE, as práticas de custo e o desempenho se geraram os escores fatoriais
derivados do fator extraído. Com essas novas variáveis se efetuaram as análises de correlação para
avaliar se existe associação entre os constructos. Empregou-se o coeficiente de correlação de
Spearman devido à falta de normalidade dos dados. Posteriormente, com essas mesmas variáveis de
síntese, foram desenvolvidas análises de variância (Anova) usando as respostas às quatro questões
de custos como os preditores categóricos. As Anovas realizadas foram sempre univariadas e, portanto
muito robustas frente à presença de não normalidade e heterocedasticidade (HARRIS, 1975).

388
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

RESULTADOS

Nesta seção apresentam-se primeiro as análises descritivas dos dados levantados em todos os hotéis
de ambos os países. Posteriormente, os dados foram separados e trabalhados para Brasil e Venezuela
de modo individual. Por fim, comparados os resultados obtidos.

ANÁLISES DESCRITIVAS

Em relação ao tamanho dos hotéis se caracterizaram primeiro pelo número de unidades habitacionais
(UH). Deles trinta e seis (36) tinham até 49 UH, dos quais 30 são brasileiros. Entre 50 e 100 UH foram
cento e vinte hotéis que responderam o questionário, estando setenta e um (71) localizados no Brasil.
Por fim houve respostas de quarenta e oito hotéis com mais do que 100 UH, sendo onze (11) são
brasileiros. Quanto ao tamanho mensurado pelo número de funcionários se observa que predominam
os hotéis que tem entre 50 e 100 empregados, alcançando a quantidade de cento e quatro (104). Com
um número entre 10 e 49 funcionários na amostra há noventa e seis (96) empresas hoteleiras e quatro
(4) com mais de 100. Dos respondentes setenta e quatro (74) tinham o cargo de gerente geral, trinta
e sete (37) gerente comercial, cinquenta e seis (56) gerente operacional e trinta e sete (37) o cargo de
coordenador ou supervisor. Já pelo gênero, 73,5% dos respondentes foram homens e 26,5%
mulheres.
Com relação às variáveis o primeiro tratamento foi fazer uma análise descritiva calculando a média,
desvio padrão, assimetria e curtose. Os resultados desses processamentos se exibem na Tabela 1,
onde se podem observar os valores obtidos para as três dimensões da orientação empreendedora, as
práticas de custo e o desempenho. A menor e a maior média que se observam na tabela foram
calculadas para a orientação empreendedora, sendo respectivamente a do item 1 da dimensão
inovatividade e do item 2 da proatividade. Quando efetuada uma Anova para comparar todas as
médias das dimensões da OE, das práticas de custo e do desempenho, se constata que há diferenças
na comparação simultânea e ao realizar o teste de Tukey para número desigual de elementos se
confirma que a proatividade tem média (6,18) significativamente maior do que a assunção de riscos
(4,68). Ou seja, os hotéis demonstram proatividade e inovatividade, mas não assumem riscos numa
medida equivalente.

Tabela 1 – Estatísticas descritivas dos indicadores de proatividade (PR), inovatividade (IN) e assunção
de risco (AR) da orientação empreendedora, da prática de custos (PC) e do desempenho organizacional
(DO).

389
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Desvio Desvio
Item Média Assimetria CV Item Média Assimetria CV
Padrão Curtose Padrão Curtose
PR1 6,17 0,8567 -0,3380 -1,5583 0,1388 PC1 6,30 0,8038 -0,8939 -0,0182 0,1275
PR2 6,69 0,5682 -1,6884 1,8572 0,0849 PC2 5,24 1,3658 -0,2108 -0,9904 0,2609
PR3 6,25 0,8252 -0,7070 -0,5699 0,1320 PC3 5,31 1,4029 -0,3913 -1,0320 0,2643
PR4 5,71 1,2601 -0,2197 -1,6299 0,2208 PC4 6,63 0,6563 -2,0847 5,4409 0,0989
PR5 6,08 0,9225 -0,1568 -1,8160 0,1518 PC5 5,84 1,0774 -0,7468 0,2922 0,1846
IN1 2,73 1,4632 0,3909 -0,4209 0,5369 PC6 6,23 0,7694 -0,4211 -1,1962 0,1235
IN2 5,27 1,2169 -0,4742 1,0259 0,2307 PC7 5,35 1,3433 -0,4352 -0,7493 0,2512
IN3 5,67 1,0203 -0,1925 -0,2931 0,1801 PC8 5,25 1,3551 -0,3287 -0,9147 0,2579
IN4 6,34 0,7868 -0,6783 -1,0598 0,1241 DO1 5,90 1,0599 -1,0059 0,8249 0,1796
IN5 6,36 0,7333 -0,7636 -0,4809 0,1152 DO2 5,92 0,9510 -1,2552 2,1479 0,1607
IN6 6,44 0,6887 -0,8370 -0,5009 0,1069 DO3 5,97 0,9064 0,0680 -1,7876 0,1519
AR1 4,79 1,8988 0,2062 -1,8347 0,3965 DO4 5,76 0,7728 0,1206 -0,4114 0,1342
AR2 4,87 1,8799 0,0676 -1,7785 0,3862 DO5 6,61 0,5374 -0,9207 -0,2453 0,0813
AR3 5,03 1,7599 -0,0363 -1,7406 0,3496 DO6 6,02 0,8506 -0,0469 -1,6197 0,1412
AR4 4,12 2,1209 0,3480 -1,3935 0,5151 DO7 5,79 1,2115 -0,6287 -0,6381 0,2093
AR5 4,58 2,0019 0,1815 -1,7133 0,4368 * * * * * *
Fonte: dados da pesquisa.
Na análise individual das dimensões da orientação empreendedora, para a proatividade se verifica
que a maior média foi a da questão 2, que se refere à resposta dos hotéis à ação dos concorrentes.
Isso significa que para o setor algo importante é acompanhar as iniciativas que os concorrentes
tiverem. Já a menor média se constata para a questão que trata da ação proativa do hotel quando há
ambiguidade ou dúvidas nas regras governamentais, levantada no item 4. Ou seja, nesse resultado se
reflete que as organizações tem um comportamento pouco proativo diante de incertezas ambientais.
Na dimensão inovatividade o valor médio mais alto foi para a questão que destaca as inovações que
assegurem o desenvolvimento de serviços que atendam as expectativas dos clientes (IN6). Por sua
vez, a menor média foi para a valorização da pesquisa e desenvolvimento de produtos ou serviços
novos a implantar no hotel (IN1). Por fim, as médias da assunção de riscos, como se mostra na Tabela
1, foram as mais baixas entre as três dimensões da orientação empreendedora, o que se corroborou
com o resultado da Anova. A média maior (5,03) foi para o item que trata de adotar uma postura

390
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

arrojada para atingir os objetivos da empresa, e a menor (4,12) se teve na questão que se refere a
adotar uma postura agressiva em prol de explorar oportunidades potenciais.
Em relação às práticas de custos a maior média (6,63) se obteve para o item PC4, referida ao
planejamento das atividades do hotel segundo um orçamento detalhado dos custos. Para o
desempenho a média mais alta foi para o item DO5 (6,61) que trata de dar cumprimento às metas de
satisfação do cliente. Quando se avalia a relação entre o desvio padrão e a média, isto é, quando se
calcula o coeficiente de variação, se observa que a maior variabilidade se constata para a assunção de
riscos. Entretanto esses valores caem substancialmente ao tratar dos dados segundo os países. As
médias para os itens no Brasil foram toda abaixo de 4, já para os hotéis venezuelanos as médias desses
itens foram todos maiores do que 5,5. Por sua vez os desvios padrões foram baixos, dando
coeficientes de variação para os dados brasileiros da ordem de 20% e para os venezuelanos menores
do que 13%.
Quanto aos valores calculados da assimetria e curtose da base de dados completa apenas o relativo
ao planejamento de atividades com orçamento detalhado (PC4) ultrapassa, em pouco mais de oito
centésimos, o valor definido por Finney e DiStefano (2006) para a assimetria. Contudo, ao fazer o
calculo por países todos os valores encontram-se dentro dos intervalos propostos por esses autores.
Assim sendo, as distribuições podem ser consideradas quase normais.

ANÁLISE DOS DADOS DE HOTÉIS BRASILEIROS

Antes de avaliar se existe associação entre os constructos, fizeram-se os testes de normalidade de


Kolmogorov-Smirnov com os escores fatoriais gerados das dimensões da orientação empreendedora,
das práticas de custos e do desempenho. Devido a que todos os resultados foram significativos,
indicando falta de normalidade, as relações foram aferidas com o coeficiente de correlação por postos
de Spearman. O resultado obtido se exibe na Tabela 2, onde se mostram o valor do coeficiente e sua
significância.
Tabela 2 - Coeficientes de correlação de Spearman entre os escores fatoriais (EF) da proatividade (PR),
inovatividade (IN), assunção de risco (AR), prática de custos (PC) e desempenho organizacional (DO).

EF- EF-IN EF-AR EF-PC EF-DO


PR

391
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

EF- 1 p<0,001 p<0,001 p<0,001 p<0,001


PR
EF- - 1 p<0,001 p<0,01 p<0,001
IN 0,448
EF- 0,335 -0,561 1 p<0,001 ns
AR
EF- 0,323 -0,249 0,331 1 ns
PC
EF- 0,445 -0,485 0,107 -0,042 1
DO
Fonte: dados da pesquisa.
Confirma-se que o desempenho organizacional se correlaciona positivamente com a proatividade e
de modo negativo com a inovatividade, mas a dimensão assunção de risco não mostra relação. Do
mesmo modo, a prática de custos não tem correlação com o desempenho.
A seguir se efetuaram as Anovas com o método de custo como preditor. Na hotelaria do Brasil os
únicos métodos assinalados pelos respondentes foram: absorção (52), variável (51) e baseado em
atividade (9). Os resultados das Anovas com as dimensões da orientação empreendedora mostra que
para a dimensão proatividade a comparação simultânea teve significância (F(2, 109) = 17,132, p =
0,000). O teste pareado de Tukey para número desigual mostrou que as médias do método baseado
em atividade é maior que a média de variável (p=0,0003) e de absorção (p=0,0191). Também houve
diferença entre a média de absorção e variável, sendo a primeira significativamente maior (p=0,0022).
Ao avaliar a dimensão inovatividade observaram-se também diferenças na comparação simultânea
(F(2, 109) = 13,059, p = 0,00001). Entretanto, nas comparações pareadas com o teste de Tukey para
número desigual a média do método variável foi significativamente maior do que a média do método
de custos baseado em atividade (p = 0,0009) e também que o de absorção (p=0,0206). A dimensão
assunção de riscos também apresentou diferenças na comparação simultânea (F(2, 109) = 35,756, p
= 0,00000). Novamente, os hotéis que utilizam o método baseado em custos são os que têm a maior
média, diferenciando-se dos métodos absorção e variável. Feitas as comparações pareadas se
constata que a média do que usam o método baseado em atividade são os que assumem
significativamente mais riscos se contrastados aos que empregam absorção (p = 0,0001) e variável (p

392
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

= 0,0001). Por sua vez, os que usam o método de absorção tem média maior aos que utilizam o
método variável (p = 0,0369).
Para as práticas de custos não se verificaram diferenças nas comparações simultâneas na Anova
usando como preditor categórico o método de custos dos hotéis. Já ao realizar a Anova com os escores
fatoriais do desempenho, o resultado da comparação simultânea confirma que há diferenças (F(2,
109) = 6,7729, p = 0,00169). E o teste de Tukey para número desigual comprova que as médias maiores
foram daqueles hotéis que usam o método absorção e baseado em atividade, as que são
estatisticamente iguais. No entanto, só a média dos que empregam absorção foi maior ao 5% daquela
calculada para os que utilizam variável (p = 0,0084), sendo a média do baseado em atividade maior
apenas com 10% de significância (p = 0,0828).
Ao utilizar como preditor categórico o modo em que os hotéis fixam os preços, que das opções
apresentadas só foram assinaladas as que se referem a fixar o valor com base no custo total (65),
considerando o valor do mercado (19) e em função dos preços praticados pela concorrência (28), se
constatou que não há diferença significativa nem para a orientação empreendedora nem para as
práticas de custos. No entanto, ao processar os dados do desempenho se verificam diferenças na
comparação simultânea (F(2, 109) = 6,0548, p = 0,00321). Na comparação pareada, usando o teste de
Tukey para número desigual, se confirma que os hotéis que usam o valor do mercado para estabelecer
os preços das diárias são os que apresentam as médias maiores do que os que se baseiam no custo
total (p=0,018), mas igual aos que se baseia no preço praticado pela concorrência.
Nas outras duas questões relativas a custos se solicitava aos gestores que ordenassem segundo a
importância atribuída pelo hotel. Uma se referia aos custos diretos, indiretos e em publicidade e
propaganda. Na outra questão, se solicitava ordenar por importância quanto aos usos dos custos para
a gestão. Em ambas as questões só houve dois tipos de ordenamento. Para a primeira questão as
ordens foram: (1) custos diretos, indiretos e publicidade e propaganda; e, (2) custos diretos,
publicidade e propaganda, e custos indiretos. Na categoria (1) se contabilizaram vinte e oito hotéis e
na (2) oitenta, sendo que três questionários estavam sem resposta.
Na outra questão que se solicitava ordenar as respostas uma ordem foi: 1) definir preços de
hospedagem; 2) admitir/demitir e qualificar pessoal; 3) decidir sobre descontos no preço de
hospedagem; e, 4) tomar decisão para novos investimentos no imobilizado. Esse ordenamento foi
dado por sessenta e quatro (64) estabelecimentos. Outros quarenta e seis (46) hotéis variaram apenas
a ordem entre decidir sobre descontos e admitir/demitir pessoal. Para esta questão houve dois dados
faltantes.

393
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quando se empregaram as respostas a essas duas questões de ordenar por importância como
preditores categóricos nas Anovas, seja com a orientação empreendedora seja com o desempenho
como variáveis dependentes, não se observou significância em nenhum das comparações feitas. Este
resultado era esperado, pois as primeiras opções são coincidentes em ambas as questões para os
grupos que se formaram.

ANÁLISE DOS DADOS DE HOTÉIS VENEZUELANOS

Ao igual que para os dados do Brasil foi feito o teste de Kolmogorov-Smirnov com os escores fatoriais
e verificada a falta de normalidade as associações se mensuraram pelo coeficiente de correlação de
Spearman. Na Tabela 3 se apresentam os valores calculados e as significâncias.
Tabela 3 - Coeficientes de correlação de Spearman entre os escores fatoriais (EF) da proatividade (PR),
inovatividade (IN), assunção de risco (AR), prática de custos (PC) e desempenho organizacional (DO).
EF- EF-IN EF-AR EF-PC EF-DO
PR
EF- 1 p<0,001 p<0,001 p<0,001 p<0,001
PR
EF- 0,574 1 p<0,001 ns p<0,001
IN
EF- 0,562 0,610 1 p<0,05 p<0,001
AR
EF- 0,499 0,086 0,329 1 p<0,001
PC
EF- 0,536 0,499 0,607 0,436 1
DO
Fonte: dados da pesquisa.
Confirma-se que o desempenho organizacional se correlaciona positivamente com as três dimensões
da orientação empreendedora e as práticas de custos. Sendo que este último constructo mostra
relação positiva com a proatividade e assunção de risco e não tem associação com a inovatividade.
Do mesmo modo, a prática de custos não tem correlação com o desempenho.
Na sequência se efetuaram as Anovas usando como preditor o método de custo, que na Venezuela
incluíram: absorção (68), variável (1) e custeio alvo (23). Mas, considerando que apenas um hotel
emprega o método variável foi excluído nas Anovas dos dados. Com o constructo orientação

394
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

empreendedora a análise para a dimensão proatividade deu como resultado que a comparação
mostrou diferenças [F(1, 89) = 23,303, p = 0,00001]. Realizando o teste pareado de Tukey para número
desigual verificou-se que a média do obtida de absorção foi significativamente maior do que a de
custeio alvo (p=0,0003).
Ao trabalhar com os dados da dimensão inovatividade observou-se que não há diferenças na
comparação simultânea [F(1, 89) = 1,264, p = 0,26391]. Entretanto, na Anova da dimensão assunção
de riscos verificaram-se diferenças entre as médias [F(1, 89) = 8,581, p = 0,00432]. Novamente, os
hotéis que utilizam o método absorção são os que têm a maior média (p = 0,0188).
Para as práticas de custos, os hotéis na Venezuela se diferenciam entre si quando se usa o método de
custeio como preditor na Anova [F(1, 89) = 184,51, p = 0,00000]. Ao igual que na orientação
empreendedora a maior média se verifica para os que utilizam o método absorção (p = 0.0001). Por
fim, usando os escores fatoriais do desempenho como variável dependente a Anova indica que as
médias se diferenciam [F(1, 89) = 5,1371, p = 0,02584], porém ao realizar o teste pareado de Tukey
para número desigual de observações essa diferença deixa de ser significativa (p = 0,0672).
Na análise dos dados levantados na Venezuela a respeito de como os hotéis fixam os preços das
diárias, se constata que das opções apresentadas só foram assinaladas as que se referem a fixar o
valor com base no custo direto (1), ao custo total (89) e com base nos preços que fixa a concorrência
(2). Em vista de que a maioria quase absoluta emprega o mesmo método de precificação carece de
sentido qualquer comparação.
Nas questões de custos que se solicitava o ordenamento das alternativas propostas, segundo a
importância que a firma dava às mesmas, se observou que todos assinalaram a mesma sequência:
custos diretos; indiretos; e, em publicidade e propaganda. Na outra questão, que solicitava ordenar
por importância segundo o uso na gestão, observaram-se duas maneiras de ordenamento. A
sequência com maior adesão (81) foi: 1) definir preços de hospedagem; 2) decidir sobre descontos no
preço de hospedagem; 3) tomar decisão de novos investimentos no imobilizado; e, 4) admitir/demitir
e qualificar pessoal. O outro ordenamento, adotado por onze hotéis apenas mudava a ordem dos
extremos da sequência anterior. Assim o primeiro uso assinalado foi para admitir/demitir e qualificar
pessoal e o último para definir os preços da hospedagem. O uso desta questão como preditor
categórico nas Anovas dos constructos não foi significativa para nenhum dos escores fatoriais usados
como variáveis dependentes.

395
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entre os temas mais estudados no âmbito da administração estratégica, encontra-se o desempenho


organizacional e na sua análise têm sido utilizadas diversas aproximações. Dentre elas, uma que vem
ganhando importância é a orientação empreendedora que as firmas manifestam, pois se refere aos
processos estratégicos que possibilitam às organizações dispor de uma base para definir sua tomada
de decisões. Portanto, nos debates sobre estratégia, teoria das organizações e empreendedorismo,
cada vez mais incluem na agenda que o desempenho organizacional e a sustentabilidade dos negócios
são influenciados pela capacidade de empreender e inovar. A orientação empreendedora tornou-se
assim um tema relevante e significativo para o desempenho empresarial, particularmente quando há
incerteza ambiental e nos ambientes competitivos e globalizados.
Com base nos aspectos assinalados, o presente estudo buscou avaliar a relação que há entre a
orientação empreendedora e o desempenho organizacional, levando em consideração a gestão de
custos, mensurado na hotelaria de dois países: o Brasil e a Venezuela. Julgou-se importante avaliar
como os métodos de custos e de precificação podem influenciar naqueles constructos.
Um primeiro achado que cabe destacar é que a relação entre a orientação empreendedora e o
desempenho na amostra de hotéis que responderam os questionários não se verifica para todas as
dimensões. As análises têm demonstrado que os hotéis não se caracterizam como possuindo
características empreendedoras destacadas. Ao contrário, confirma-se uma atitude conservadora,
especialmente para os hotéis brasileiros e para os de ambos os países no tocante à assunção de riscos.
Estes resultados empíricos são divergentes com os encontrados por Carvalho (2011), cuja pesquisa
demonstra um relacionamento positivo entre a orientação empreendedora e o desempenho.
Por outra parte, ao trabalhar com os dados colhidos sobre custos, se observam diferenças notórias
entre os grupos de empresas conforme o método de custos que empregam. Deve-se assinalar ainda
que no Brasil possuem maior orientação empreendedora os hotéis que utilizam o método de custos
baseado em atividades. Paralelamente, ao trabalhar com a formação do preço da diária se constata
que os hotéis que realizam a precificação baseada nos valores de mercado são os que têm melhor
desempenho. No caso da hotelaria venezuelana não foi assinalada a opção de custeio baseada em
atividade e sim o custeio alvo, contudo o maior desempenho das empresas se associa com o método
de absorção. Quanto à precificação no caso da Venezuela, se constata que não se emprega o valor do
mercado e substituindo esse modo de fixar os valores da diária, tem-se os custos totais que se
associam com os maiores desempenhos.

396
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Futuros estudos da indústria da hospitalidade, incluindo outras variáveis que têm sido assinaladas
como influenciando a relação entre a orientação estratégica dos hotéis e o desempenho, como por
exemplo, a munificência ambiental (CARVALHO, 2011), poderão trazer novas informações para o
setor. Portanto se sugere dar continuidade a estes trabalhos, considerando a influência do ambiente
de negócios em situações de alta e baixa temporada turística.

REFERÊNCIAS

BERTI, A. Contabilidade e análise de custos. 2.ed. 1.reimpr. Curitiba: Juruá, 2010. 226 p.

BEULKE, R.; BERTÓ, D. J. Estrutura e análise de custos. São Paulo: Saraiva, 2001. 328 p.

BORNIA, A. C. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2010. 232 p.

BORTOLUZZI, S. C.; ENSSLIN, S. R.; ENSSLIN, L. Avaliação de desempenho dos aspectos tangíveis e
intangíveis da área de mercado: estudo de caso em uma média empresa industrial. Revista Brasileira
de Gestão de Negócios, v. 12, n. 37, p. 425-446, 2010.

BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C
e Excel. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. 176 p.

CARVALHO, C. E. Relacionamento entre ambiente organizacional, capacidades, orientação estratégica


e desempenho: um estudo no setor hoteleiro brasileiro. Tese (Doutorado em Administração e
Turismo) Programa de Pós-graduação em Administração. Universidade do Vale do Itajaí, 2011. p. 201.

CHAKRAVARTHY, B. S. Measuring strategic performance. Strategic Management

Journal, v. 7, n. 5, p. 437-447, 1996.

COVIN, J. G.; GREEN, K. M.; SLEVIN, D. P. Strategic process effects on the entrepreneurial orientation-
sales growth raterelationship. Entrepreneurship: Theory & Practice, v. 30, n. 1, p. 57-82, 2006.

COVIN, J. G.; SLEVIN, D. P. A conceptual model of entrepreneurship as firm behavior. Entrepreneurship


Theory and Practice, v. 16, n.1, p. 7-26, 1991.

COVIN, J. G.; SLEVIN, D. P. Strategic management of small firms in hostile and benign environments.
Strategic Management Journal, v. 10, n. 1, p. 75-87, 1989.

DESS, G. G.; LUMPKIN, G. T.; COVIN, J.G. Entrepreneurial strategy making and firm performance: tests
of contingency and configurational models. Strategic Management Journal, v.18, n. 9, p. 677-695,
1997.

FERNANDES, D. H.; SANTOS, C. P. Orientação empreendedora: um estudo sobre as consequências do


empreendedorismo nas organizações. RAE-eletrônica, v. 7, n. 1, 2008.

397
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FINNEY, S. J.; DiSTEFANO, C. Non-normal and categorical data in structural equation modeling. In:
HANCOK, G. R.; MUELEER, R. O. Structural equation modeling: a second course. Charlotte, NC:
Information Age Publ., 2006.

FREITAS, H.; MARTENS, C. D. P.; BEHR, A. Elementos para guiar ações visando à orientação
empreendedora em organizações de software. Revista de Administração, São Paulo, v. 47, n. 2, p.
163-179, 2012.

GUNASEKARAN, A.; KOBU, B. Performance measures and metrics in logistics and supply chain
management: a review of recent literature (1995-2004) for research and applications. International
Journal of Production Research, v. 45, n. 12, p. 2819-2840, 2007.

HAIR Jr., J. F.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM R. L. Análise multivariada de dados.
6. ed., Porto Alegre: Bookman, 2009. 688 p.

HANSEN, D. R.; MOWEN, M. M. Gestão de custos: contabilidade e controle. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2001. 783 p.

HARRIS, R. J. A primer of multivariate statistics. New York: Academic Press, 1975. HINTERHUBER, A.
Valor Preço. HSM Manegement, v. 78, p. 108-116. Editora Barueri, São Paulo, jan.-fev. 2010.

HOQUE, Z. Linking environmental uncertainty to non-financial performance measures and


performance: a research note. The British Accounting Review, v. 37, p. 471-481, 2005.

HUGHES, M.; MORGAN, R. Deconstructing the relationship between entrepreneurial orientation and
business performance at the embryonic stage of firm growth. Industrial Marketing Management, v.
36, p. 651-661, 2007.

IGARASHI, D. C. C; ENSSLIN, S. R; ENSSLIN, L.; PALADINI, E. P. A qualidade do ensino sob o viés da


avaliação de um programa de pós-graduação em contabilidade: proposta de estruturação de um
modelo híbrido. RAUSP, v. 43, n. 2, p. 117-137, 2008.

KOLIVER, O. Contabilidade de custos. Curitiba: Juruá, 2009. 524 p.

LUMPKIN, G. T.; COGLISER, C. C.; SCHNEIDER, D .R. Understanding and measuring autonomy: an
entrepreneurial orientation perspective. Entrepreneurship: Theory & Practice, v. 33, n. 1, p.47-69,
2009.

LUMPKIN, G. T.; DESS, G. G. Linking two dimensions of entrepreneurial orientation to firm


performance: the moderating role of environment and industry life cycle. Journal of Business
Venturing, v.16, n. 5, p. 429-451, 2001.

LUMPKIN, G.; DESS, G.G. Clarifying the entrepreneurial orientation construct and linking it to
performance. Academy of Management Journal, v. 21, n. 1, p. 135-172, 1996.

MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9.ed. São Paulo (SP): Atlas, 2008. 370 p.

McADAM, R.; BAILIE, B. Business performance measures and alignment impacto in strategy: the role
of business improvement models. International Journal of Operations & Production Management, v.
22, n. 9, p. 972-996, 2002.

398
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

MILLER, D. The Correlates of entrepreneurship in three types of firms. Management Science, v 29, n.
7, p. 770-791, 1983.

NEELY, A.; GREGORY, M.; PLATTS, K. Performance measurement system design: a literature review
and research agenda. International Journal of Operations & Production Management, v. 25, n. 12, p.
1228-1263, 2005.

PELHAM, A. M.; WILSON, D. T. A longitudinal study of the impact of market structure, firm structure,
strategy, and market orientation culture on dimensions of small- firm performance. Journal of
Academy of Marketing Science, v. 24, n.1, p. 27-43, 1996.

PEREZ JUNIOR, J. H.; OLIVEIRA, L. M. de; COSTA, R. G. Gestão estratégica de custos.

4. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 470 p.

PERIN, M. G.; SAMPAIO, C. H. Performance empresarial: uma comparação entre indicadores


subjetivos e objetivos. In: Anais 23 Encontro Nacional dos Programas de Pós Graduação e Pesquisa
em Administração, 1999.

RAUCH, A.; WIKLUND, J.; LUMPKIN, G. T.; FRESE, M. Entrepreneurial orientation and business
performance: na assessment of past research and suggestions for the future. Entrepreneurship:
Theory & Practice, v. 33, n. 3, p.761-781, 2009.

ROBINSON, P. B.; STIMPSON, D. V.; HUEFNER, J. C.; HUNT, H. K. An attitude approach to the prediction
of entrepreneurship. Entrepreneurship: theory & practice, v. 15, n. 4, p. 13-32, 1991.

RUNYAN, R.; DROGE, C.; SWINNEY, J. Entrepreneurial orientation versus small business orientation:
what are their relationships to firm performance? Journal of Small Business Management, v. 46, n. 4,
p. 567-588, 2008.

SOUZA, F. R. de; BORGERT, A.; RICHARTZ. Análise de custos em prestação serviços: aplicação do
custeio variável a uma escola privada de ensino infantil e fundamental. In: XII CONGRESSO
INTERNACIONAL DE COSTOS. Anais... Punta Del Este, Uruguai, 2011.

VENKATRAMAN, N. Strategic orientation of business enterprises: the construct, dimensionality and


measurement. Management Science, v. 35, n. 8, p. 942-962, 1989.

VIANA FILHO, J. R.; GOMES, K. L. S.; SOUZA, T. C. Custos e formação de preço como estratégia
competitiva: um estudo em indústrias de suplementação animal na cidade de Rondonópolis-MT
(Brasil). In: XII CONGRESSO INTERNACIONAL DE COSTOS.

Anais... Punta del Este, Uruguai, 2011.

WERNKE, R.; LUIZ, M. R. A.; LEMBECK, M.; MENDES, E. Z. Gestão de custos para empreendimento
informal do setor de serviços. In: XII CONGRESSO INTERNACIONAL DE COSTOS. Anais... Punta Del Este,
Uruguai, 2011.

WIKLUND, J., SHEPHERD, D. Entrepreneurial orientation and small business performance: a


configurational approach. Journal of Business Venturing, v. 20, n.1, p.71-91, 2005.

399
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ZAHRA, S. A. A conceptual model of entrepreneurship as firm behaviour: a critique and extension.


Entrepreneurship: Theory & Practice, v. 16, n. 4, p. 5-21, 1993.

400
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 19

O ENSINO DA DISCIPLINA DE CONTROLADORIA: UM ESTUDO


COMPARATIVO NAS IES PARAIBANAS, SERGIPANAS E
POTIGUARES
DOI: 10.37423/200300527

Maria da Conceição Torres Gomes (FARN) - ceicact@yahoo.com.br

Ridalvo Medeiros Alves de Oliveira (UFRN - FARN) - ridalvo@ufrnet.br

Daniele da Rocha Carvalho (UFS) - drc_rn@yahoo.com.br

Rinaldo Medeiros Alves de Oliveira (IFRN - Campus Apodi)

rinaldomedeiros@gmail.com

Resumo: Controladoria constitui uma área das Ciências Contábeis composta por
conhecimentos interdisciplinares oriundos da Administração, Economia, Informática,
Estatística e da própria Contabilidade. Apesar dessa diversidade de áreas do conhecimento
concorrerem para a formação da Controladoria, o seu conceito focaliza essencialmente a
contabilidade, com ênfase nos controles financeiros. A literatura apresenta uma série de
definições para controladoria, fruto de divergências entre os vários autores quanto ao seu
conceito.O objetivo geral desse trabalho é identificar os conteúdos abordados no ensino da
disciplina de Controladoria nos cursos de Ciências Contábeis das Instituições de Ensino
Superior (IES) paraibanas, sergipanas e potiguares, sob a forma de um estudo comparativo
com a ementa proposta pela Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC). A metodologia
aplicada para a realização do trabalho é caracterizada por uma pesquisa bibliográfica,
exploratória e qualitativa. Foram identificadas 36 IES ofertando o curso de Ciências Contábeis,
na modalidade presencial, nas três unidades da federação pesquisadas, sendo 16 no Rio
Grande do Norte, 11 na Paraíba e 9 em Sergipe.

401
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Após análise das ementas e comparação com proposta da FBC, conclui-se que os itens mais
encontrados são: Logística. Processo de gestão: Planejamento estratégico, tático e operacional;
Avaliação de Resultados e Desempenhos; Medidas de avaliação de desempenho; A função do
Controller na estrutura organizacional; Visão sistêmica da empresa; Noções do sistema de gestão
econômica – GECON; Avaliação Global do resultado de desempenho e analise da geração de lucros;
por fim Controladoria: empresa, missão, responsabilidade e autoridade, funções e instrumentos.

Palavras-chave: Controladoria. Ensino de contabilidade. Ciências contábeis.

Área temática: Metodologias de ensino e pesquisa em custos.

402
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INTRODUÇÃO

O conceito de Controladoria focalizava essencialmente a contabilidade, com forte ênfase nos controles
financeiros. Atualmente, a literatura apresenta uma série de definições para o que seja a
controladoria, fruto de divergências entre os vários autores quanto ao seu conceito (LUNKES, 2009).
A discussão dos efeitos dessas mudanças está se tornando cada vez mais normal e bem aceita pelas
instituições.

Além desses fatores, torna-se necessário discutir os motivos dessas mudanças à luz da teoria contábil
para uma análise com demonstrações com resultados que contribuam e possam justificar o sentido
do que é controladoria e qual contribuição possa ser dada a outras ciências.

A Controladoria constitui uma área das Ciências Contábeis composta por um conjunto de
conhecimentos interdisciplinares oriundos da Administração de Empresas, Economia, Informática,
Estatística e, principalmente, da própria Contabilidade (MOSIMANN, 1993).

Nas organizações, a controladoria representa o segmento responsável por propiciar um processo


decisório de qualidade mediante o fornecimento de informações previamente analisadas.

Segundo Mosimann (1993) e outros autores, a controladoria é uma ciência autônoma que não se
confunde com a Contabilidade, apesar de utilizar pesadamente o instrumental contábil.

A Controladoria pode ser definida, então, como unidade administrativa responsável pela utilização de
todo conjunto da Ciência Contábil dentro da empresa. Como a Ciência Contábil é a ciência do controle
em todos os aspectos temporais – passado, presente, futuro – e, como Ciência Social, exige a
comunicação de informação, no caso a econômica, à Controladoria cabe a responsabilidade de
implantar, desenvolver, aplicar e coordenar todo o processo da ciência contábil dentro da empresa,
nas suas mais diversas necessidades (LUNKES, 2009).

D’Amore (1993) apresenta algumas definições de Controladoria na visão de outros estudiosos que o
antecederam:

403
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaborado a partir de Padoveze (2007).

Quadro 1 – Definições de controladoria

Mais recentemente, Catelli (2007, p. 347) apresentou a Controladoria como responsável pela
“identificação, mensuração, comunicação e a decisão relativos aos eventos econômicos [...] Ela deve
ser a gestora dos recursos da empresa, respondendo pelo lucro e pela eficácia empresarial”.

No campo do ensino da Controladoria, observa-se que não há uma padronização nas grades
curriculares dessa disciplina nos Cursos de Ciências Contábeis nas instituições de ensino superior (IES).
Partindo dessa premissa, o presente trabalho pretende efetuar um estudo comparativo entre os
conteúdos ministrados na disciplina de Controladoria nas IES localizadas nos estados da Paraíba, de
Sergipe e do Rio Grande do Norte e a proposta da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC).

Dessa forma, pode-se elaborar o seguinte questionamento: Quais os conteúdos abordados no ensino
da disciplina de Controladoria nos cursos de Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior
paraibanas, sergipanas e potiguares, em comparação com a proposta da FBC?

1.1 OBJETIVOS

O objetivo geral desse trabalho é identificar os conteúdos abordados no ensino da disciplina de


Controladoria nos cursos de Ciências Contábeis das IES paraibanas, sergipanas e potiguares, sob a
forma de um estudo comparativo com a ementa proposta pela FBC.

Espera-se, ao fim dessa pesquisa, poder atingir os seguintes objetivos específicos: verificar as
determinações legais estabelecidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Ciências
Contábeis com relação ao ensino da disciplina de Controladoria; identificar os conteúdos abordados
de acordo com os planos de ensino da disciplina de Controladoria das IES pesquisadas; e realizar o
estudo comparativo entre os conteúdos abordados nas IES de cada unidade da federação pesquisadas.

404
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1.2 JUSTIFICATIVA

Esse trabalho justifica-se pelo fato da inclusão da disciplina de Controladoria nas grades curriculares
dos cursos de Ciências Contábeis não ter sido acompanhada de uma padronização de conteúdos a
serem abordados no ensino dessa disciplina.

Buscar-se-á, por meio desse estudo, identificar os conteúdos mais abordados nas IES pesquisadas nos
Estados da Paraíba, de Sergipe e do Rio Grande do Norte.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA CONTROLADORIA

Um levantamento histórico sobre as origens da Controladoria feito por Ricardino Filho (1999)
encontrou fontes anteriores ao século XV. O termo Controller provém do latim, sendo herdado e
modificado pelo idioma inglês. Conforme Michelis (1998), control é traduzido do inglês como: regular;
controlar; guiar; força; autoridade; direção; poder; verificação; fiscalização; instalação de controle;
comando; alavanca; testar por comparação com padrão.

Desde a referida época, as atividades do controller sempre foram de acompanhamento da atividade


econômica, tanto pública como privada. Por volta de 1850, a função da Controladoria aparece nos
Estados Unidos inicialmente no setor público, depois se estende também às empresas privadas como
a General Eletric e a General Motors nas primeiras décadas do século XX (RICARDINO FILHO, 1999).
Seu principal objetivo: efetuar um controle centralizado e rígido nas grandes corporações, suas
subsidiárias, filiais, departamentos e divisões espalhadas nos Estados Unidos e em outros países.

Beuren (2002) atribui o desenvolvimento da Controladoria no início do século XX a três fatores:


verticalização, diversificação e expansão geográfica das organizações, com o conseqüente aumento
da complexidade de suas atividades.

A função do Controller nasce no Brasil com a instalação das multinacionais norteamericanas, que
enviavam profissionais para ensinar as teorias e práticas contábeis e a implementação de um sistema
de informações capaz de atender aos diferentes usuários, além de manter o controle operacional das
empresas. (BEUREN, 2002).

A responsabilidade da Controladoria é de aperfeiçoar as tecnologias da informação, através de uma


visão sistêmica com a finalidade de compilar as informações geradas, distribuí-las, auxiliando assim a
alta administração na tomada de decisões. Anderson e Schmidt (1961apud Mosiman e Fisch 1999, p.

405
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

92), citam que as funções da controladoria são decorrentes do desenvolvimento empresarial. São as
funções essenciais e as complementares.

As funções chamadas essenciais subdividem-se em: a) Controle organizacional: tem como objetivos
facilitar a organização e controle de forma eficiente e econômica; e b)

Mensuração do empreendimento: tem como objetivo identificar e descrever as várias relações de


receita e custos com o intuito de suprir e, conseqüentemente, ressaltar o planejamento gerencial
inteligente.

Complementando, as funções essenciais surgiram novas funções que se incorporaram à área de


Controladoria, citadas também pelos mesmos autores: a) Divulgação de informações a usuários
externos à empresa, em decorrências das exigências legais; e b) Proteção do patrimônio, com o
estabelecimento e manutenção de controles e auditoria interna e garantia de cobertura apropriada
para elementos patrimoniais segurados.

Para Almeida et al (2001, p. 344) a Controladoria não pode ser vista como um método, voltado ao
como fazer. Para uma correta compreensão do todo, devemos cindi-la em dois vértices: a) O primeiro
como ramo do conhecimento responsável pelo estabelecimento de todo a base conceitual; e b) O
segundo como órgão administrativo respondendo pela disseminação de conhecimento, modelagem e
implantação de sistemas de informações.

Para Beuren (2002), o crescimento vertical e diversificado dos conglomerados exigia, por parte dos
acionistas e gestores, um controle central em relação aos departamentos e divisões que rapidamente
se espalhavam nos Estados Unidos e em outros países. A primeira indústria que estabeleceu a posição
de controller foi a “General Electric Company”, em 1892.

Neste período também foram desenvolvidos os princípios das técnicas de controladoria atualmente
utilizadas, com o aparecimento das grandes organizações.

Assim, a Controladoria foi conquistando inúmeros simpatizantes recebendo a contribuição de diversos


pesquisadores, que fizeram com que a ela ocupasse o seu espaço no meio acadêmico e conquistasse
respeito e credibilidade no mundo empresarial. Atualmente, para a grande maioria dos autores, a
função da Controladoria é fornecer aos administradores das empresas a informação que eles precisam
para atingir seus objetivos, de modo eficaz e eficiente.

Para Almeida et al (2001), a controladoria como objeto de estudo é um modelo de gestão, processo
de gestão, modelo organizacional, modelo de decisão (teoria da decisão), modelo de mensuração

406
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(teoria da mensuração), modelo de identificação e acumulação e modelo de informação (teoria da


informação).

Para Borinelli (2006), a Controladoria hoje já pode ser vista como um campo de estudos que se
enquadra nas Ciências Factuais Sociais, pois como afirma Chanlat (1999, p. 21), “as Ciências Sociais são
todas as ciências que se dedicam a tornar inteligível a vida social em um de seus aspectos particulares
ou em sua totalidade”. Para Sá (2009), a relevância de uma Contabilidade aplicada para fins
administrativos consagrou a necessidade da atuação do Contador em função diretiva, quer como
gerente ou como assessor direto. No entanto o autor também relata que tal função tem sido, sob
certas circunstâncias, por cópia do modelo anglo saxão, denominada “Controladoria”, atribuída
regularmente aos diplomados em cursos superiores de ciências contábeis e que por falta da
regulamentação da profissão, esse profissional por possuir influencia de grande valor para as
organizações, na pratica é conhecido como “Controlador”, “Controller” ou “Contador Gerente” com
inúmeras funções.

Se as organizações empresariais atualmente fazem parte das sociedades em geral, já que são
agregados compostos de bens e pessoas, então o processo de gestão organizacional é o aspecto da
vida social com que se preocupa a Controladoria, motivo pelo qual esta transita pelas Ciências Factuais
Sociais. Contudo a Controladoria se preocupa com o efeito que a ação do homem causa sobre os
resultados de uma organização, haja vista que a maioria dos fatos que provocam alterações nas
diversas dimensões de uma estrutura organizacional tem como agente o homem, um ser social.
(BORINELLI, 2006).

2.2 DIRETRIZES NACIONAIS DOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Com o advento da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) e a definição
do Plano Nacional de Graduação – PNG, as instituições de ensino superior adquiriram mais autonomia
no planejamento, na organização e na gestão de suas atividades fins, através dos projetos pedagógicos
de seus cursos. A Instituição adquiriu autonomia para a criação de cursos com concepções e perfis que
atendam às exigências da sociedade contemporânea e adequada ao mercado-de-trabalho, para a
definição da arquitetura curricular com maior flexibilidade e para a formação de seus professores em
gestão da prática pedagógica.

Para solidificar essa autonomia surgiram as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Ciências
Contábeis definidas pelo Conselho Nacional de Educação, através da Resolução CES/CNE nº 10 de 16

407
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de dezembro de 2004, eliminando as amarras de um currículo pleno, fechado em verdadeiras grades


e padronizado para todo o território nacional.

Possibilitou-se que a IES, analisando o contexto em que está inserida, possa elaborar um modelo
curricular com base no desenvolvimento de competências a serem trabalhadas em cada curso,
contemplando conhecimentos, habilidades e atitudes, de uma forma mais ampla e que vem
permitindo a modernização dos seus projetos pedagógicos e a adequação às exigências do mundo dos
negócios.

Assim, a educação está passando por um grande momento de reflexão diante do impacto ditado por
essas novas políticas e diretrizes para a educação superior e pelo acelerado desenvolvimento
científico, tecnológico, econômico e cultural, o qual requer a formação de um profissional que tenha
uma postura crítica e criativa e o despertar permanente de novas competências.

A partir das concepções formuladas pelas diretrizes curriculares e os princípios estabelecidos na


educação superior, definiu-se uma concepção teórico-metodológica para o curso de Ciências
Contábeis. Esta concepção está fundamentada num modelo curricular por disciplinas, mas que busca
na diversidade de atividades teórico-práticas, uma zona de inovação para a construção de alternativas
educativas mais coerentes e integradas com o perfil do profissional requerido para a sociedade
econômico-social e tecnológica do século XXI e, na habilidade para desenvolver um trabalho em
equipe e multidisciplinar, como um diferencial para melhor se ajustar ao novo perfil profissional do
contador.
Portanto, a concepção do curso delineia um profissional ético que seja generalista, sem deixar de ter
competências para atuar nos vários campos da contabilidade; que compreenda as questões científicas,
técnicas, sociais, econômicas e financeiras de um mundo globalizado, sem deixar de produzir a aplicar
metodologias que dêem soluções adequadas às características das organizações locais e regionais; que
demonstre uma visão sistêmica, sem deixar de perceber a importância dos procedimentos contábeis
na vida das organizações; que saiba “aprender a aprender”; que “saiba conviver” e aproveitar as
qualidades e as diferenças de equipes multidisciplinares para a melhoria contínua de seu desempenho
profissional e da atividade contábil.

408
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

A metodologia aplicada para a realização do trabalho é caracterizada por uma pesquisa bibliográfica,
exploratória e qualitativa. Quanto à finalidade, visa identificar as discussões sobre a temática dos
planos de ensino da disciplina de Controladoria. Quanto ao objetivo do estudo exploratório se dá
devido à quantidade de informações divulgadas sobre o assunto a ser abordado. Através desse busca-
se maior profundidade no assunto de modo a torná-lo mais claro e construir dados importantes para
a condução da pesquisa.
Segundo Richardson (1999, p. 80), os estudos empregados na pesquisa qualitativa contemplam as
seqüências das tipologias de pesquisas quanto à abordagem do problema, se aprofundando no tema
estudado, pois na contabilidade lidamos com número tornando uma ciência social e não uma ciência
exata, sendo de grande relevância o uso dessa abordagem sendo primordial no aprofundamento de
questões relacionadas ao desenvolvimento da contabilidade, seja no âmbito teórico ou prático uma
grande relevância ao assunto que será abordado neste trabalho.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo desta pesquisa abrange 36 IES do Nordeste do Brasil localizadas nos estados da Paraíba,
Sergipe e Rio Grande do Norte, que oferecem o curso de graduação de Ciências Contábeis,
reconhecido pelo MEC, na modalidade presencial.
Na Figura 1 estão relacionadas as 11 IES do Estado da Paraíba, distribuídas em 8 municípios, com uma
maior concentração na capital do Estado, João Pessoa, que abriga 7 dessas IES.

409
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/lista_cursos.asp
Figura 1 – IES paraibanas que possuem Curso de Ciências Contábeis na modalidade presencial

A Figura 2 apresenta a relação das 16 IES do Estado do Rio Grande do Norte, distribuídas em 10
municípios. Assim como no estado da Paraíba, no Rio Grande do Norte também há uma concentração
das IES na capital do Estado, Natal, com 12 IES.

410
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/lista_cursos.asp
Figura 2 – IES potiguares que possuem Curso de Ciências Contábeis na modalidade presencial
Observa-se na Figura 3 a relação das 9 IES do Estado de Sergipe, distribuídas em 5 municípios. A
exemplo dos outros Estados pesquisados, também em Sergipe ocorre uma concentração das IES na
capital do Estado, Aracaju, onde são encontradas unidades de 8 dessas IES.

411
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/lista_cursos.asp
Figura 3 – IES sergipanas que possuem Curso de Ciências Contábeis na modalidade presencial

3.3. COLETA DE DADOS

Para se realizar a pesquisa foram realizadas pesquisas nos sites das IES que oferecem o curso de
Ciências Contábeis. Nas IES que não disponibilizaram as informações necessárias ao desenvolvimento
da pesquisa em seus sites, buscaram-se essas informações através de contato com as coordenações
dos cursos. Especificamente para as IES localizadas na Grande Natal, tais informações puderam ser
obtidas por meio de visitas in loco. Também foram coletadas informações no site do INEP e nos sites
das IES dos três Estados pesquisados.
Com o objetivo de alcançar os objetivos propostos, primeiramente foi acessado o banco de dados INEP
para fazer uma pesquisa avançada na opção “buscar cursos” identificando as regiões desejadas e
informando o nome do curso de graduação desejado.

3.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS

Após a coleta dos dados relativos aos conteúdos abordados nas disciplinas de Controladoria das IES
pesquisadas, esses foram tabulados em planilhas do Microsoft Excel®, agrupados e apresentados
estatisticamente por meio de distribuições de frequências.

412
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 4 – Ementas da disciplina de Controladoria das IES do Estado da Paraíba

413
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

414
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 5 – Ementas da disciplina de Controladoria das IES do Estado do Rio Grande do Norte

415
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 6 - Ementas da disciplina de Controladoria das IES do Estado de Sergipe

Quanto aos procedimentos da pesquisa, observa-se nas Figuras 5 a 7 a distribuição dos dados
levantados nas IES dos estados pesquisados. Neste tópico procede-se à análise quantitativa das
variáveis identificadas na pesquisa. Ao se levantar os dados constataram-se algumas particularidades
que foram discorridas na sequência.
No estado do RN, do total das 16 IES pesquisadas conseguiu-se coletar informações de apenas nove
Instituições, ficando sete sem identificação, sendo que destas, três não ministram a disciplina de
controladoria e quatro não responderam à pesquisa.
No estado de Sergipe, das nove instituições pesquisadas, oito responderam à pesquisa. Pode-se
destacar o estado da Paraíba com 100% dos dados coletados.
Do total de 36 instituições pesquisadas, concluiu-se a pesquisa com um total de 28 instituições que
ministram a disciplina de Controladoria, na modalidade presencial.

416
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: FBC (2009)


Figura 7 - Ementa da disciplina de Controladoria proposta pela FBC

Figura 8 - Comparativo das ementas das IES da PB e a equivalência com a proposta da FBC

417
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 9 – Comparativo das ementas das IES do RN e a equivalência com a proposta da FBC

Figura 10 - Comparativo das ementas das IES de SE e a equivalência com a proposta da FBC
Nas Figuras 8 a 10 apresenta-se um Comparativo das Ementas das IES dos estados da PB, RN e SE e a
equivalência percentual de acordo com a proposta da FBC.

418
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 11 – Distribuição das ementas que mais se repetem nos estados pesquisados

419
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Na Figura 11 é apresenta a distribuição das ementas que mais se repetem em relação à ementa
proposta pela Fundação Brasileira de Contabilidade. Observa-se uma maior concentração para os
itens: GECON e Modelos de Gestão.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O problema da pesquisa ora apresentado compreende a maneira como a disciplina de Controladoria


é abordada nas IES no Curso de Graduação em Ciências Contábeis. A forma como a disciplina é
retratada, mesmo sendo em alguns casos diferentemente da proposta da FBC, não interfere no
desempenho e no processo das IES.
Os resultados obtidos na pesquisa permitem visualizar a caracterização de cada ementa ministrada
por cada instituição, e utilizando-se os parâmetros considerados, constatou-se a identificação dos
itens das ementas das IES nos estados pesquisados.
A pesquisa de campo buscou dados junto a 36 Instituições de ensino presencial, sendo 11 no estado
da Paraíba, 16 no estado do Rio Grande do Norte e 9 no estado de Sergipe.
Dentre estas, conseguiu-se dados de 28 Instituições. Analisando as ementas pesquisadas, pode-se
fazer uma comparação de percentuais entre os itens das instituições e os itens propostos pela FBC,
sendo que a proporção é de 52,63% para o estado da Paraíba, 42% para o estado do Rio Grande do
Norte e 21% para o estado de Sergipe.
A partir da análise destas, e com base na ementa proposta pela Fundação Brasileira de Contabilidade,
conclui-se que a ementa que mais se aproxima contém oito itens, que são: Logística. Processo de
gestão: Planejamento estratégico, tático e operacional; Avaliação de Resultados e Desempenhos;
Medidas de avaliação de desempenho; A função do controller na estrutura organizacional; Visão
sistêmica da empresa; Noções do sistema de gestão econômica – GECON; Avaliação Global do
resultado de desempenho e analise da geração de lucros; por fim Controladoria: empresa, missão,
responsabilidade e autoridade, funções e instrumentos.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Lauro Brito de; PARISI, Cláudio; PEREIRA, Carlos Alberto. Controladoria. In: CATELLI,
Armando (Org.). Controladoria: uma abordagem da gestão econômica - GECON. São Paulo: Atlas,1999.

BEUREN, Ilse Maria. O papel da Controladoria no processo da gestão, 2002.

BRITO, Osias. Controladoria: de risco - retorno em instituições financeiras. São Paulo: Saraiva, 2003.

420
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

BORINELLI, Márcio Luiz. Estrutura Conceitual Básica de Controladoria: Sistematização À Luz da Teoria
e da Práxis: tese doutorado. São Paulo: 2006.

CATELLI, Armando. Introdução: o que é Controladoria - GECON. In: CATELLI, A. (Org.). Controladoria:
uma abordagem da gestão econômica - GECON. São Paulo: Atlas,1999.

CHANLAT, Jean-François. Ciências sociais e management: reconciliando o econômico e o social. São


Paulo: Atlas, 1999.

FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE CONTABILIDADE. Proposta nacional de conteúdo Para o curso de


graduação em Ciências Contábeis. Brasília: FBC, 2009.

LUNKES, Rogério João et al. Controladoria: um estudo bibliométrico no Congresso Brasileiro de


Contabilidade de 2000, 2004 e 2008. Revista Brasileira de Contabilidade. Ano XXXVIII, n. 175, jan./fev.
2009.

LUNKES, Rogério João; VICENTE, Ernesto Fernando Rodrigues; FABRE, Valkyrie Vieira;

SOUZA, Claudio Marcio de; TEIXEIRA, Altamir Osni; TERRES JUNIOR, José Carlos. A Disciplina de
Controladoria e sua Inclusão nos Cursos de Ciências Contábeis. Revista de Contabilidade do Mestrado
em Ciências Contábeis da UERJ. Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 34 - p. 49, maio/ago, 2009. ISSN 1984-
3291. Disponível em <http://www.revista_v14n2- artigo3.com.br>. Acesso em: 23 abr. 2010.

MOSIMANN, Clara P.; FISCH, Silvio. Controladoria: seu papel na administração de empresas, São Paulo:
Atlas, 1993.

PADOVEZE, Clóvis Luís. Controladoria Estratégica e Operacional: conceitos, estrutura, aplicação / São
Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2007.

RICARDINO FILHO, Álvaro Augusto. Do steward ao controller, quase mil anos de Management
accounting: o enfoque anglo-americano. Dissertação (Mestrado em Contabilidade). Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, 1999.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

SÁ, Antônio Lopes. Teoria da Contabilidade. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2006.

______. História Geral das Doutrinas da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997.

421
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 20

ESTUDO BIBLIOMÉTRICO SOBRE CUSTO EM ORGANIZAÇÕES


DA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTRIBUIÇÕES DO CONGRESSO
BRASILEIRO DE CUSTOS DE 1996 A 2010
DOI: 10.37423/200300531

Ana Paula Ferreira Da Silva - anapafesilva@hotmail.com

Abinoécia Nunes Do Nascimento - anapaulapapai@gmail.com

Marco Aurélio Benevides De Pinho - marcoabpinho@gmail.com

James Anthony Falk - thefalks@terra.com.br

Resumo: Este trabalho apresenta o perfil da produção científica brasileira na área de custo
voltado para empresas de Construção Civil. A coleta dos dados primários foi feita nos anais
do Congresso Brasileiro de Custos (CBC), no período de 1996 a 2010. Foram encontrados,
durante os 15 anos do CBC, apenas 18 artigos. A média de artigo por evento foi de
aproximadamente um (1). As descobertas revelaram que a maior parte dos autores (95,0%)
publicou apenas um artigo, aproximadamente 30,0% a mais do que o padrão sugerido pela
lei bibliométrica de Lotka. Outros achados da pesquisa demonstraram que, dentre os autores
mais prolíficos na área de custos voltados para a Construção Civil, estão Wilson Kendy
Tachibana, autor vinculado na época à Universidade de São Paulo (USP), e Alecio Pinheiro
Freires, autor vinculado na época da publicação do artigo à Universidade Federal de Itajubá
(UNIFEI). A instituição de ensino superior com mais artigos no CBC, voltados para custos na
área de Construção Civil, foi a USP. Por sua vez, a obra mais referenciada em língua
portuguesa não é especializada em custos na Construção Civil, e sim na gestão de custos
voltada para qualquer tipo de organização, sendo esta o livro intitulado Contabilidade de
Custos, do Prof. Eliseu Martins da USP, referenciado em 33,3% dos artigos pesquisados.

Palavras-chave: Construção Civil. Gestão de Custos. Bibliometria.


422
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

A contabilidade de custos ao longo de décadas tem gerado ferramentas com a finalidade de auxiliar
na tomada de decisão, seja dentro ou fora de empresas: industriais, comerciais e de serviço.
Inicialmente, as organizações precisavam conhecer e controlar seus custos. Contudo, visando um
diferencial competitivo, atualmente elas vem trabalhando no desenvolvimento de programas que
auxiliem na redução desses custos, visando obter melhor rendimento em suas atividades de negócios,
pois a falta das informações de custos poderá prejudicar diretamente o sucesso da empresa ou até
mesmo levá-la à falência (MARTINS, 2009). Portanto, a utilização dos instrumentos da contabilidade
de custos leva as empresas a obterem, mais que um diferencial competitivo, uma importante
contribuição para sua sobrevivência.
Pesquisas na área de custos mostram a utilização pelas empresas industriais de vários métodos
oferecidos pelos sistemas de informação de custos existentes no mercado. Isso porque, apesar da
contabilidade de custos ter surgido para atender às necessidades de informações das organizações
surgidas com a Revolução Industrial, hoje estas informações também são utilizadas tanto por
empresas comerciais e de serviços como por organizações públicas.
Estudo realizado por Lopes, Pereira e Guerreiro (2007) em artigos que trataram sobre contabilidade
de custos, publicados no ENANPAD no Período de 1998 a 2003, não evidenciaram a existência de
organizações do segmento da construção civil entre aquelas citadas nos trabalhos. Vale resaltar que
este segmento, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE (2010),
empregou no período de 2000 a 2009, em média, aproximadamente 6,7% da população brasileira
ocupada.
As empresas da construção civil trabalham com volume diferenciado de produtos e serviços de valores
relevantes, aumentando, dessa forma, a necessidade do uso de ferramentas gerenciais e de suporte à
decisão. O potencial empregatício deste segmento é reforçado através dos dados do Cadastro Geral
de Empregados e Desempregados (CAGED), o qual é divulgado no sítio do Ministério do Trabalho e
Emprego - MTE (2012, p.1), onde se comenta: “em 2011, a construção civil foi responsável pela criação
de 222.897 empregos com carteira assinada, registrando o maior crescimento relativo entre os
setores, com elevação de 8,78% em relação ao estoque de trabalhadores de dezembro de 2010”.
O ramo de construção civil vem crescendo consideravelmente no Brasil, chegando a atingir por volta
de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) no país. Com a concorrência cada vez mais equilibrada, o setor
estratégico dessas organizações sentiu a necessidade de um gerenciamento mais eficaz, passando a

423
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

dar maior importância para as técnicas de planejamento, controlando assim a produção e também a
qualidade de seus bens e serviços oferecidos (IBGE,2010).
Em razão da importância da construção civil para a economia brasileira, torna-se relevante investigar
como estas organizações apuram as informações de custos. Uma forma de verificação inicial sobre
como determinado conhecimento é tratado no campo profissional pode ser realizada através da
análise das publicações científicas: artigos, dissertações, teses, relatórios de pesquisa, dentre outros.
O objetivo principal deste estudo então foi analisar o perfil da pesquisa científica sobre custos
aplicados às empresas de Construção Civil dentro do Congresso Brasileiro de Custos (CBC), sendo este,
por sua vez, um dos eventos principais do setor da contabilidade. A fim de atingir o objetivo geral,
foram definidos os seguintes objetivos específicos: a) identificar os principais temas abordados sobre
custos em empresas de Construção Civil; b) investigar quais são os grandes centros de pesquisa sobre
custos na área de Construção Civil; e) identificar as principais obras nacionais e internacionais
utilizadas como base literária para a produção científica sobre custos em empresas de Construção
Civil.
Este estudo é relevante porque servirá como base para os futuros estudantes, pesquisadores e
gestores da área da construção civil disponibilizando as principais fontes de discussão (congressos,
revista e livros) nacionais e internacionais que tratam a respeito do tema gestão de custo neste
segmento empresarial. Este estudo bibliométrico tem seu foco na demonstração das produções
científicas na temática já citada evidenciando os pesquisadores e centros acadêmicos que mais
produzem sobre a mesma, servindo de base assim para o desenvolvimento de novos estudos.
Esta investigação está estruturada em seis seções. A primeira, que ora se desenvolve, apresenta a
introdução ao trabalho. A segunda e terceira seções expõem o embasamento teórico, abordando,
inicialmente, o conceito, a origem e a importância da contabilidade de custos, em seguida traz uma
discussão sobre bibliometria, suas leis e exemplos de pesquisas nas áreas de negócios que usaram esta
ferramenta. Na quarta seção, estão elencados os procedimentos metodológicos adotados na
construção desta pesquisa. As descobertas da pesquisa e as discussões geradas sobre as mesmas são
evidenciadas na penúltima seção. Finalmente, a conclusão é tratada na sexta seção, com a exposição
das limitações encontradas, bem como das sugestões para outros estudos.

2. CONTABILIDADE DE CUSTOS: ORIGEM, CONCEITO E IMPORTÂNCIA

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, rapidamente se


espalhou pelo mundo, inicialmente pelos países mais ricos e adiantados da Europa e pelos Estados

424
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Unidos, e induziu o surgimento da contabilidade de custos visando atender às necessidades de


informação do setor secundário. Porém, Garner (1976, p. 355), em seu artigo, lembra:
A origem da contabilidade de custos não nasceu durante o crescimento do sistema
fabril da Revolução Industrial. Algumas práticas e teorias são muito mais antigas do
que a Revolução Industrial. Como resultado do crescimento do comércio italiano,
inglês, flamengo e alemão, empresas industriais começaram a se estabelecer por
vários indivíduos e sócios engajados na fabricação de tecidos de lã, livros, moedas e
outras linhas. Onde quer que o capitalismo começasse a se mostrar, melhores práticas
contábeis seguiam dentro de curto período de tempo. A Contabilidade de Custos,
preocupada com os aspectos especializados da Contabilidade Geral, com os registros
e análises dos gastos de fábrica, não era exceção para a tendência precedente.

Com base no exposto acima, pode-se afirmar que os impactos gerados pela Revolução Industrial foram
determinantes para o desenvolvimento da contabilidade de custos, estimulando a criação de técnicas
gerenciais mais apuradas. Tempos depois, foi verificada a necessidade de desenvolver metodologias,
viabilizando assim o controle dos custos e a formação do preço de venda. Com o intuito de atender a
novos mercados, grandes corporações multinacionais sentiram a necessidade de modificar seus
conceitos operacionais e produtivos, com o objetivo de reduzir os gastos e, desta forma, assegurar a
sobrevivência e gerar o seu crescimento diante do mercado. Foi neste contexto que a contabilidade
de custos foi inserida na estratégia das empresas brasileiras.

3. BIBLIOMETRIA: ORIGEM, CONCEITO, LEIS BIBLIOMÉTRICAS E UTILIZAÇÃO TÉCNICA EM


PESQUISA NA ÁREA DE NEGÓCIOS

A bibliometria é um estudo para avaliar os textos científicos de áreas específicas de produção científica
já pesquisada. Segundo Vanti (2002), a bibliometria pode ser aplicada: para identificar as obras do
núcleo de uma disciplina; estudar a dispersão e a obsolescência da literatura científica; prever a
produtividade de autores, organizações e países; medir o grau e os padrões de colaboração entre
autores; analisar os processos de citação e co-citação; avaliar os aspectos estatísticos da linguagem,
das palavras e das frases; medir o crescimento de determinadas áreas, dentre outros. Este método
ajuda a desenvolver padrões e modelos matemáticos a fim de medir esses processos, usando seus
resultados para elaborar previsões e apoiar tomadas de decisão.
A bibliometria surgiu no início do século XX, como uma “ferramenta” para acompanhar o crescimento
e desenvolvimento das diferentes áreas da ciência. Sendo o termo statistical bibliography utilizado na
aplicação de técnicas estatísticas e matemáticas para descrever os meios de comunicação (análise
quantitativa da informação) (ARAÚJO, 2006). Ficou conhecida como “bibliografia estatística” (assim
chamada por Hulme em 1923), termo esse ignorado por mais de duas décadas, até ressurgir em um

425
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

artigo sobre a obsolescência da literatura utilizado por Gosnell em 1944 (VANTI, 2002).
Esse termo apenas se popularizou em 1962 quando foi mencionado pela terceira vez por L. M. Raisig
no estudo sobre análise de citações, intitulado Statistical bibliography in health sciences (GUEDES;
BORSCHIVER, 2005). A bibliometria possui leis que orientam a análise da produção acadêmica. As leis
da bibliometria são: Lei de Bradford, Lei de Lotka, e Lei de Zipf. A primeira lei, a Lei de Bradford, diz
respeito à dispersão da literatura periódica científica, ou seja, ao estudo da produtividade de
periódicos, e relata:
Se periódicos científicos forem ordenados em ordem decrescente de produtividade
de artigos sobre determinado assunto, poderão ser divididos em um núcleo de
periódicos mais particularmente dedicados ao assunto e em vários grupos ou zonas,
contendo o mesmo número de artigos que o núcleo. O número de periódicos (n), no
núcleo e zonas subseqüentes, variará na proporção 1:n:n2 [...] (BROOKES, 1969,
p.953).

A Lei de Bradford sugere que à medida que novos assuntos escritos forem surgindo, serão submetidos
a uma pequena filtragem por periódicos relacionados. Por consequência, esses periódicos atraem mais
e mais artigos no decorrer do desenvolvimento da área.
Em seguida surgiu a Lei de Lotka, formulada em 1926 por Alfred J. Lotka, conhecida como um método
de medição de produtividade de cientistas. Esta lei aponta para uma medição da produtividade dos
autores, através de um modelo de distribuição tamanho – frequência dos diversos autores em um
conjunto de documentos. É também conhecida como Lei dos Quadrados Inversos.
A Lei de Lotka generalizada é an = a1 / nc, onde an é o número de autores com n artigos; a1 é o número
de autores com um artigo; n é o número de artigos; e c é o coeficiente generalizado para Lei de Lotka
(ENSSLIN e SILVA, 2008). Esta Lei também pode ser vista como uma função de probabilidade da
produtividade. Quanto mais se publica, mais parece que se facilita publicar um novo trabalho e os
pesquisadores que publicam resultados mais interessantes ganham mais reconhecimento e acesso a
recursos para melhorar sua pesquisa (VANTI, 2002). Em um estudo realizado por Alvarado (2002, p.1),
o autor afirma que “até dezembro de 2000, mais de 200 trabalhos, entre artigos, monografias,
capítulos de livros, comunicações a congressos e literatura gris (cinzenta), tinham sido produzidos
tentando criticar, replicar e/ou reformular esta lei bibliométrica”.
A terceira lei da bibliometria é conhecida como Lei de Zipf, também conhecida como Lei do Menor
Esforço. Esta, por sua vez, foi formulada no ano de 1949 e descreve a relação e a ordem de série das
palavras num determinado texto suficientemente grande. Zipf observou também que, num texto
longo, existia uma relação entre a frequência com que uma determinada palavra ocorria e sua posição

426
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

na lista de palavras ordenadas, segundo sua quantidade de ocorrências. A lista era confeccionada de
acordo com a frequência decrescente de ocorrências, e sua posição nesta lista recebe o nome de
ordem de série (VANTI, 2002). Assim, a palavra com maior constância de ocorrência recebe a ordem
de série 1, em seguida vem a palavra com a segunda maior ocorrência, ordem de série 2,
sucessivamente. Pao (1978) reconhece esta lei como elegante por sua simplicidade.
É importante ressaltar a utilização das técnicas da bibliometria por vários pesquisadores brasileiros
nas diversas áreas do conhecimento, incluindo os pesquisadores da área de negócios (administração,
economia, contábil). A seguir são apresentados no Quadro 1, alguns estudos que lançaram mão do
estudo bibliométrico para analisar periódicos ou eventos científicos brasileiros na área de negócios. O
Quadro 1 evidencia os autores, seus objetivos e os resultados obtidos dos diversos estudos:

AUTORES OBJETIVO RESULTADO


Borba e Identificar e segmentar os Concluiu-se que o maior número de
Murcia periódicos de contabilidade em artigos encontrados no portal de
(2005) língua Inglesa visando periódicos da CAPES é na área de
despertar o interesse dos contabilidade financeira. As obras de
acadêmicos brasileiros para o instituições de pesquisa americanas
Portal da CAPES. lideram a maioria das citações, seguidas
pelas britânicas.
Cardoso, Analisar a evolução das A produção de periódicos em
Mendonça publicações científicas em contabilidade é baixa em relação ao total
Neto, Riccio contabilidade, bem como a de artigos publicados no período
e Sakata produção de seus autores, no pesquisado. Há também um número
(2005) período de 1990 a 2003. pequeno de autores ligados a uma
quantidade relevante de artigos.
Martins e Analisar a plataforma teórica Os trabalhos pesquisados concentram
Silva (2005) dos autores de textos nos 3º e suas referências particularmente em
4º Congressos da Universidade livros. Há pouca consulta a dissertações,
de São Paulo (USP) de teses, periódicos nacionais e
Controladoria e Contabilidade, internacionais. Quase ausência de
em 2003 e 2004. referências a outras fontes.

427
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Oliveira e O objetivo deste trabalho é Há um aumento de trabalhos científicos


Silva (2005) destacar a importância da em contabilidade, pelo aumento dos
Revista Contabilidade & programas de pós-graduação strictu
Finanças – USP no meio sensu. Pouco mais da metade do
acadêmico nacional e observar referencial pesquisado foi de livros,
as transformações ocorridas no seguido dos periódicos, e pouca
periódico desde a pesquisa ocorrência de endereço eletrônico, teses,
realizada por Martins (2002). dissertações e outras categorias.
Leite Filho Analisar a partir da teoria A média de autores por artigo varia em
(2006) bibliométrica a produtividade função do tipo de veículo de publicação.
científica dos autores em anais Há indícios de falta de continuidade nas
de congressos e periódicos na pesquisas, a falta de grupos de pesquisas
área de contabilidade com publicações periódicas e pesquisas
brasileira. longitudinais na área.
Braga, Cruz e Análise das fontes Análise da pesquisa: quantidade de
Oliveira bibliográficas dos trabalhos do autores por artigo, com número máximo
(2007) Encontro Regional de de cinco autores por artigo. Com uma
Estudantes de Ciências média de dois autores por artigo.
Contábeis.
Luciani, A pesquisa teve como objetivo Nos anos de 2001 e 2003 houve uma
Cardoso e analisar a inserção da porcentagem de mais de 30% de artigos
Beuren controladoria em artigos de sobre controladoria e nos anos 2000 e
(2007) periódicos nacionais 2005 não foram encontrados artigos sobre
classificados no sistema Qualis o assunto. Na análise por região e por
da CAPES. instituição, a Faculdade de Economia e
Administração da Universidade de São
Paulão (FEA/USP) teve o maior percentual
de artigos publicados.
Rosa, Analisar estudos bibliométricos Os autores que mais se destacaram dentro
Mendes, em Earnings Management no do universo pesquisado foram Paulo,
Texeira e Brasil, para alcançar o Martinez, Almeida e Baptista. Há pouca

428
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Martins entendimento do integração entre os autores e instituições.


(2010) desenvolvimento da pesquisa As instituições USP e a Fundação Instituto
nessa área no país. Capixaba de Pesquisas em Contabilidade,
Economia e Finanças (FUCAPE), dentro do
campo de pesquisa sobre Earnings
Management no Brasil, foram as que mais
publicaram na área.
Quadro 1 – Pesquisas brasileiras na área de gestão que utilizaram ferramentas da bibliometria
Fonte: Elaboração própria dos autores com base nos trabalhos citados acima, 2012.

4. METODOLOGIA

Nesta seção são apresentados os procedimentos metodológicos adotados na realização da


investigação científica. São descritos os métodos, as tipologias de pesquisa e os procedimentos de
coleta, bem como de análise dos dados.
O método adotado nesta pesquisa é o indutivo. Segundo Lakatos e Marconi (2010), o método indutivo
parte do individual para em seguida inserir possíveis verdades sobre o todo, ou seja, as concentrações
particulares é que levam às teorias gerais. O presente estudo partiu das análises individualizadas dos
artigos sobre custos na área de construção civil e, em seguida, inseriu possíveis verdades sobre a
produção acadêmica de custos voltados para organizações deste segmento.
O universo definido no trabalho foi composto por todos os artigos publicados no CBC, no período de
1996 a 2010, com temática voltada para a área de custos na construção civil. Neste caso, foram
identificados 18 artigos. Adotando a classificação das tipologias da pesquisa proposta por Beuren et
al. (2008), esta pesquisa é classificada quanto:
a) Ao objetivo: a pesquisa é exploratório-descritiva. Descritiva porque tem como finalidade,
justamente, a de descrever o perfil das publicações sobre custos focados na área da construção
civil, sem alterar as variáveis estudadas. É exploratória, pois após investigar as edições do CBC
de 1996 a 2010, evento científico especializado na temática de custos, foi encontrado apenas
dois (2) trabalhos que discutem o perfil da publicação de custos no Brasil, confirmando a
carência por este tipo de estudo focando na área da construção civil.
b) Aos procedimentos: esta pesquisa é classificada como sendo bibliográfica e documental.
Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, ou seja, um estudo secundário sobre as
temáticas centrais tratando sobre custos voltados para a área de construção civil, bem como,

429
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

sobre pesquisa bibliométrica. Já a caracterização de pesquisa documental se deve ao fato da


utilização de artigos científicos como fonte de dados primários.
c) À abordagem: este estudo é classificado como quantitativo. Pois emprega o número possível
de informações coletadas, assim como usa várias técnicas para análise de coleta de dados,
sendo estas de cunho estatístico. Segundo Skumanich e Silbernagens (1997), é bem comum a
utilização da pesquisa quantitativa quando os estudos são descritivos, como é o caso do
presente artigo. As pesquisas quantitativas são baseadas em métodos quantitativos, ou seja,
em uma metodologia estatística realizada durante o estudo. Neste estudo foi empregado o
aplicativo estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS).
Após a classificação tipológica deste estudo, faz-se necessário descrever como foram coletados os
dados para a confecção do artigo. Foram realizados dois levantamentos de dados: o primeiro,
secundário; e o segundo, de dados primários. Os dados secundários foram coletados em livros, artigos
científicos, dissertações de mestrado, tratando sobre as temáticas trabalhas neste estudo, com
destaque para a bibliometria. As fontes de dados primários foram obtidas de duas maneiras.
Primeiramente foi realizada através o sítio da Associação Brasiliera de Custos (ABCustos) um
levantamento dos artigos do CBC, voltados para organizações da construção civil no período de 1996
a 2010. Já com os trabalhos em mãos foi realizada consulta do Currículo Lattes dos autores e co-
autores disponibilizada na Plataforma Lattes pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), coletando informações sobre a titulação e o vínculo institucional de cada autor
na época da publicação do artigo.
Com o objetivo de auxiliar a coleta de dados nos artigos e as informações sobre os mesmos, bem como
sobre os autores foi confeccionado um formulário específico. O mesmo divide-se em três seções: a
primeira apresenta os dados gerais sobre os artigos (ano, quantidade de autores); a segunda apresenta
os dados gerais sobre os autores (instituição vinculada, número de autores do artigo, formação
acadêmica e titulação); por fim, a última seção apresenta os dados gerais sobre os referenciais dos
artigos (tipos de referências, eventos científicos nacionais e os internacionais referendados, periódicos
nacionais e internacionais referendados, obras mais referendadas em língua portuguesa, etc.).
Após a coleta de dados com auxilio do formulário próprio, os mesmos foram inseridos no aplicativo
SPSS utilizados na área das ciências sociais, o qual auxlia no tratamento estatístico dos dados
coletados. Este pacote estatístico garantiu a elaboração da tabela de frequências, elaboração de
tabelas com cruzamento de variáveis, instrumentos estes preciosos na fase de análises de dados, os
quais são apresentados na seção seguinte voltada para a discussão dos resultados. As variáveis

430
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

cruzadas foram: a) área de formação em relação ao nível de formação acadêmica dos autores; b) tipo
de referência (livros, períodicos, Anais de eventos científicos, documentos acadêmicos, teses,
dissertações, monografias, e outros) em relação à nacionalidade da obra, autores e as instituições
acadêmica de vínculo.

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta seção trata dos resultados obtidos com a análise dos artigos e das informações sobre os autores
dos mesmos. O Gráfico 1 mostra a quantidade de artigos ao longo dos anos. Percebe-se uma média
de 1,2 no período pesquisado (1996-2010), durante o qual, praticamente em todos os anos, houve ao
menos um artigo publicado, com exceção dos anos de 1997, 2003, 2008 e 2010, em que não houve
artigo publicado. Merecem destaque os anos de 2000 e 2002, quando foram publicados três artigos
em cada.

Grafico 1 – Quantitativos de artigos sobre Custo na área de construção civil no Congresso Brasileiro de
Custos de 1996 a 2010.
(1) O Congresso Brasileiro de Custos até o no de 1998 era denominado de Congresso Brasileiro de
Gestão Estratégica de Custos.
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).

5.1 TEMÁTICAS DA ÁREA DE CUSTOS

A Tabela 1 destaca as temáticas da área de custos, encontradas nos dezoito (18) artigos pesquisados.
Constata-se “sistemas de custos” como a temática principal, encontrada em 72,2% dos artigos.
Trabalhos abordando especificamente o Custeio Baseado em Atividade (ABC) vêm em segundo lugar
com 27,8%. Esse segundo achado, associado também ao aparecimento do tópico Gestão Baseada em
Atividade, leva a supor que ABC seja uma das metodologias de custeio mais estudas nas empresas de
construção civil.

431
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 – Principais temáticas sobre custos encontradas nos artigos


Tema Ocor. %
Sistema de custos 13 72,2
Custeio Baseado em Atividade (ABC) 5 27,8
Bonificação e despesas indiretas (BDI) 3 16,7
Instrumentos de controle de custos 3 16,7
Gestão Baseada em Atividade (ABM) 2 11,1
Custo da Não-qualidade 1 5,6
Método de custeio por absorção 1 5,6
Método de custeio variável 1 56
(Custeio) Custo Meta 1 5,6
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012)

5.2 PERFIL DOS AUTORES

A Tabela 2 demonstra que publicações escritas por dois autores (44,4%), são as mais frequentes,
seguidas daquelas produzidas por um autor (27,8%). Esse resultado não corrobora as pesquisas
realizadas por autores como Muller e Pecegueiro (2001) e Arenas et al. (2000), os quais identificaram
a tendência de autoria única predominante na área de ciências sociais aplicadas, em que se enquadra
a formação acadêmica da maioria dos autores que publicam sobre custos em construção civil. Estes
achados, porém, são compatíveis com os dados encontrados na pesquisa de Leite Filho (2006), o qual
constatou, nos congressos estudados, uma maior frequência de trabalhos realizados por dois autores
(Tabela 2).

432
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 2 – Número de autores por artigos analisados


Autores Freqüênci % % Acumulado
a
1 Autor 5 27,8 27,8
2 8
Autores 44,4 72,2
3 3
Autores 16,7 88,9
4 2
Autores 11,1 100
Total 18 100,0
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).

Para Lotka, a distribuição de documentos como teses, livros, artigos, trabalhos apresentados em
congressos técnico-científicos, capítulos de livros e similares, e de seus respectivos autores, em uma
curva de distribuição de frequência revela, aparentemente, o padrão de uma relação monotônica
negativa entre estas duas variáveis, isto é, quando o número das produções (contribuições) aumenta,
o número dos autores (contribuintes) diminui (ALVARADO, 2002). Observando essa relação na
literatura da física e da química, Lotka estabeleceu os fundamentos estatísticos do seu modelo,
afirmando que o número de autores que totalizam n contribuições, em um determinado campo
científico, é aproximadamente 1/n² daqueles que fazem uma só contribuição, e que a proporção
daqueles que apresentam uma única contribuição é de 60,8%.
A Tabela 3 apresenta o número de artigos publicados por autor no total da amostra e compara com o
padrão de Lotka.Os achados revelam que 95% dos autores publicou apenas um artigo,
aproximadamente 30% a mais do que o padrão Lotka. Os dados parecem sugerir a falta de autores
especializados no assunto de custos na área de construção civil. De fato, durante os 15 anos de
congressos de custos, aparecerem apenas dois autores que escreverem mais de um artigo
especializado no tópico. Este resultado diverge das descobertas do estudo de Cardoso, Mendonça
Neto, Riccio e Sakata (2005). Estes, por sua vez, verificaram haver também um número pequeno de
autores ligados a uma quantidade relevante de artigos, quando se trata das publicações sobre
contabilidade.

433
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3 – Número de artigos por autor


Número de Freqüência % Padrão Lotka
artigos por Registrada (%)
autor
1 artigo 36 95,0 60,8
2 artigos 2 5,0 15,2
3 artigos 6,8
4 artigos 3,8
5 artigos 2,4
6 artigos 1,7
7 artigos 1,2
Mais de 7 8,1
artigos
Total 38 100,0 100,0
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).

Para investigar a formação acadêmica dos autores dos 18 artigos sobre custos na área de Construção
Civil foi necessário realizar a buscar pela titulação com a ajuda da Plataforma Lattes mantida pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Isto se deve ao fato da
maioria dos artigos não conter dados sobre a formação acadêmica dos autores. A Tabela 4 evidencia:
57,9% dos autores de custos na área de Construção Civil eram pós-graduados, sendo destes 17,8%
especialistas, 28,0% Mestres e 12,1% Doutores.

434
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 4 – Titulação dos autores dos artigos conforme nível acadêmico

Graduação Especialização Mestrado Doutorado Total


Formação Acadêmica
Ocor. % Ocor. % Ocor. % Ocor. % Ocor. %
Administração 1 0,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 0,9
Administração/Engenharia Civil/Engenharia de Produção 1 0,9 1 0,9 1 0,9 1 0,9 4 3,7
Administração/Engenharia de Produção 1 0,9 0 0,0 1 0,9 0 0,0 2 1,9
Administração/Engenharia Mecânica 1 0,9 0 0,0 1 0,9 1 0,9 3 2,8
Contabilidade 6 5,6 6 5,6 3 2,8 0 0,0 15 14,0
Contabilidade/Administração 1 0,9 0 0,0 1 0,9 0 0,0 2 1,9
Contabilidade/Comunicação 1 0,9 1 0,9 0 0,0 0 0,0 2 1,9
Contabilidade/Controladoria 2 1,9 2 1,9 2 1,9 1 0,9 7 6,5
Contabilidade/Controladoria/Direito 2 1,9 1 0,9 1 0,9 0 0,0 4 3,7
Contabilidade/Engenharia de Produção 1 0,9 0 0,0 1 0,9 0 0,0 2 1,9
Contabilidade/Controladoria/Economia 3 2,8 3 2,8 2 1,9 2 1,9 10 9,3
Contabilidade/Controladoria/Economia/Engenharia de Produção 2 1,9 2 1,9 2 1,9 2 1,9 8 7,5
Economia/Engenharia de Produção 4 3,7 1 0,9 4 3,7 3 2,8 12 11,2
Administração/Enconomia/Engenharia Elétrica/Engenharia de Produção 2 1,9 0 0,0 1 0,9 1 0,9 4 3,7
Engenharia Civil 4 3,7 0 0,0 2 1,9 1 0,9 7 6,5
Engenharia Civil/Engenharia de Produção 5 4,7 0 0,0 4 3,7 0 0,0 9 8,4
Engenharia Civil/Engenharia Elétrica/Engenharia de Produção 2 1,9 0 0,0 1 0,9 0 0,0 3 2,8
Engenharia de Produção 2 1,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 1,9
Engenharia Mecanica/Engenharia de Produção 3 2,8 1 0,9 3 2,8 1 0,9 8 7,5
Engenharia Mecanica/Finanças 1 0,9 1 0,9 0 0,0 0 0,0 2 1,9
Subtotal 45 42,1 19 17,8 30 28,0 13 12,1 107 100,0
Não possui 0 26 15 32
Soma Total 45 45 45 45

Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).
O Quadro 2 demonstra quais dos autores estudados publicaram mais de um artigo sobre custos na
área de Construção Civil, durante o período de 1996 a 2010. Trata-se de Wilson Kendy Tachibana,
autor vinculado, na época, à Universidade de São Paulo (USP) e Alecio Pinheiro Freires, autor vinculado
na época da publicação do artigo à Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).

Autor Número de Artigos Vinculo Institucional (2)


Wilson Kendy Tachibana 2 USP
Alecio Pinheiro Freires 2 UNIFEI
Demais autores (35) 1 -
Quadro 2 – Autores mais prolíficos
(2) De acordo com os dados do último artigo publicado.
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).
Nos 18 artigos pertencentes ao campo da aplicação do conhecimento sobre custos na área de
Construção Civil, constatou-se a múltipla vinculação dos autores a universidades brasileiras de
primeira linha, com destaque para duas instituições: a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
com 15,8% da produção sobre custos na área de Construção Civil no CBC, seguida da USP com 13,2%

435
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

dos trabalhos (Tabela 5).


Tabela 5 – Relação do quantitativo dos autores dos artigos por local e instituição vinculada.

% %
LOCAL Siglas Instituições Ocor. Uni. Total Local
UFC Universidade Federal do Ceará 2 5,3
CE UNIFOR Universidade de Fortaleza 1 2,6 3 7,9
UFU Universidade de Uberlândia 1 2,6
MG UNIFEI Universidade Federal de Itajubá 3 7,9 4 10,5
PE UFPE Universidade Federal de Pernambuco 2 5,3 2 5,3
FAIP Faculdade Integrada de Palmas 1 2,6
PR UFPR Universidade Federal do Paraná 3 7,9 4 10,5
UFF Universidade Federal Fluminense 1 2,6
RJ UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro 1 2,6 2 5,3
UFRGS Universidade Federal de Rio Grande do Sul 2 5,3
RS UFSM Universidade Federal de Santa Maria 4 10,5 6 15,8
SC UFSC Universidade Federal de Santa Catarina 6 15,8 6 15,8
EESC Escola de Engenharia de São Carlos 1 2,6
Faculdade de Ciências Econômicas de São
FACESP Paulo 1 2,6
Faculdade de Economia Administração e
FAEACRP Contabilidade de Ribeirão Preto 1 2,6
UNIARA Centro Universitário de Araraquara 1 2,6
SP USP Universidade de São Paulo 5 13,2 9 23,7
Austrália FAE BUSINESS SCHOOL 2 5,3 2 5,3
TOTAL 38 100 38 100
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).

5.3 TIPOS DE DOCUMENTOS REFERENCIADOS

Foram encontradas, duzentos e setenta e quatro (274) referências, cujo detalhamento está expresso
na Tabela 6. Cento e quarenta e oito (148) do total das referencias encontradas são livros, entre
nacionais, estrangeiros e livros traduzidos; 11,7% são de periódicos, 10,9% são anais de congresso,

436
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

11,3% são documentos acadêmicos (teses, dissertações, monografias) e os restantes, 12,0%, estão
distribuídos em artigos de internet, relatórios, dentre outros.
Tabela 6 – Tipos de documentos referenciados nos artigos sobre custos na área de construção civil
Número de artigos por Nacional Estrangeira Traduzida Total
autor Ocor. % Ocor. % Ocor. % Ocor. %
Livros 125 45,6 20 7,3 3 1,1 148 54,0
Periódicos 14 5,1 18 6,6 0 0,0 32 11,7
Anais 16 5,8 14 5,1 0 0,0 30 10,9
Documentos 31 11,3 0 0,0 0 0,0 31 11,3
Acadêmicos
Outros 32 11,7 1 0,4 0 0,0 33 12,0
Total 218 79,6 53 19,3 3 1,1 274 100
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).

Estas descobertas confirmam o estudo realizado por Martins e Silva (2005), os quais comentam que
os trabalhos pesquisados na área de gestão, concentram suas referências particularmente em livros.
Todavia, em segundo lugar aparece o uso de periódicos nacionais e internacionais, ou seja, a produção
acadêmica sobre custos em organizações da construção civil já tem nas suas bases de sustentação
teórica ensaios de pesquisas nacionais e internacionais.

5.4 PERIÓDICOS REFERENCIADOS EM LÍNGUA PORTUGUESA E EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

A Tabela 7 lista a origem dos catorze (14) periódicos nacionais referidos na área de construção civil
mencionados na tabela acima. Há uma distribuição bem equilibrada, em que o destaque ficou para a
Revista de Administração de Empresas (RAE), referida em 35,7% dos artigos analisados. Em segundo
lugar, surgem empatadas a Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul e a
Revista do Instituto Brasileiro de Engenharia de Custos (IBEC), com o mesmo percentual de 14,3%
cada. O restante das cinco revistas juntas corresponde a 35,5% dos documentos referidos em forma
de periódicos, com 7,1% cada uma delas.

437
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 7- Periódicos nacionais referenciados sobre custos na área de construção civil


Periódicos Nacionais Ocor. %
Revista de Administração de Empresas (RAE) 5 35,7
Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande 2 14,3
do Sul
Instituto Brasileiro de Engenharia de Custos (IBEC) 2 14,3
Revista de Ciência & Tecnologia 1 7,1
IPDE 1 7,1
Revista Brasileira de Administração Contemporânea 1 7,1
Revista de Brasileira de Empresas 1 7,1
Revista Gestão e Produção 1 7,1
Total 14 100
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012)
A Tabela 8 demonstra que 14 periódicos estrangeiros foram referenciados nos artigos pesquisados.
Dez (10) deles foram citados apenas uma vez dentro dos dezoitos (18) artigos estudados,
representando assim 56,0 %, e os outros quatro (4) foram citados duas vezes cada um, totalizando
44,0% dos periódicos estrangeiros sobre custos na construção civil.

438
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 8- Periódicos Estrangeiros referendados nos artigos sobre custos na construção civil
Periódicos Estrangeiros Ocor. %
Accounting, Organizations and Society 2 11,0
Journal of Cost Management 2 11,0
Journal of Management 2 11,0
Strategic Management Journal 2 11,0
Academy of Management Review 1 5,6
Internacional accounting and multinational enterprise 1 5,6
Internacional Journal of Production Economics 1 5,6
Journal of Management in Engineering 1 5,6
Project Management 1 5,6
Seminário Internacional Qualidade e Produtividade, Avaliação e 1 5,6
Custeio
Academy of Management Review 1 5,6
Construction Manegement and Economics 1 5,6
Internacional accounting and multinational enterprise 1 5,6
International Journal of Quality and Realiability Management 1 5,6
Total 18 100
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).

5.5 CONGRESSOS REFERENCIADOS EM LÍNGUA PORTUGUESA E EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

A Tabela 9 lista os anais dos sete (7) congressos nacionais referenciados nos artigos pesquisados sobre
custos na área de construção civil. Como se pode observar há um destaque para o Encontro Nacional
de Engenharia de Produção (ENEGEP), com 31,3% das ocorrências, seguido pelo Encontro da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD) com 18,8%. O
Congresso Brasileiro de Custos aparece apenas em terceiro lugar, empatado com a Convenção de
Contabilidade do Rio Grande do Sul e o Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia
Elétrica, com 12,5% cada um. Esta descoberta chama atenção pelo fato do CBC, especializado nas
discussões acadêmicas sobre custos, não figurar como um dos eventos mais citados em língua
portuguesa.

439
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 9 - Anais Nacionais referenciados sobre custos na construção civil


Congressos Nacionais Ocor. %
Encontro Nacional de Engenharia de Produção 5 31,3
Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em 3 18,8
Administração
Convenção de contabilidade do Rio Grande do Sul 2 12,5
Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica 2 12,5
Congresso Brasileiro de Custos (3) 2 12,5
Congresso de Controladoria e Contabilidade 1 6,2
Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica 1 6,2
Total 16 100
(3) O Congresso Brasileiro de Custos até o no de 1998 era denominado de Congresso Brasileiro de
Gestão Estratégica de Custos, sendo assim um só evento. Portanto, para efeito de contagem os
pesquisadores juntaram as aparições únicas de cada evento.
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).
Quanto aos anais dos congressos estrangeiros referenciados, foram encontrados também sete (7)
congressos estrangeiros diferentes, totalizando um montante de quatorze (14) ocorrências
referenciadas no campo de custos na Construção Civil. Há uma predominância do Concrete
International, representando um percentual 28,6%, seguido pelos congressos: Marketing and Society
Conference; 23rd World Congress on Cost Engineering; Conference on Performance Measurement e o
Financial Management Association, com 14,3%, cada um. Por último, em terceiro lugar, referendado
por apenas um artigo, aparecem os eventos científicos: Congresso Internacional de Custos e o
Seminário Internacional de Países Latinos Europa-América (Tabela 10).

440
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 10 - Anais internacionais referenciados sobre custos na construção civil


Congressos Internacionais Ocor. %
Concrete International 4 28,6
Marketing and society conference 2 14,3
23rd World Congress on Cost Engineering 2 14,3
Conference on Performance Measurement 2 14,3
Financial Management Association 2 14,3
Congresso Internacional de Custos 1 7,1
Seminário internacional de países latinos 1 7,1
europa-américa
Total 14 100,0
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).
A análise dos artigos mostrou que o livro Contabilidade de Custos, do Prof. Eliseu Martins, foi referido
por 33,3% dos artigos pesquisados com mais de uma citação. Em seguida, aparece o livro traduzido
Custo e Desempenho: Administre Seus Custos para Ser Mais Competitivo, de autoria de Kaplan e
Cooper, com 27,8% das ocorrências (Tabela 11). A pesquisa mostrou também: do total dos livros
nacionais referenciados, apenas 52 deles são específicos de custos.

441
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 11 - Obras que tratam de Custos e Gestão de Custos mais referenciados em Língua
Portuguesa.
Autor(es) Livros Nacionais Ocor. %
MARTINS, Eliseu Contabilidade de Custos 6 33,3
KAPLAN, Robert S.; COOPER, Custo e Desempenho: Administre seus 5 27,8
Robin custos para ser mais competitivo
HANSEN, D. R,; MOWEN, M. M Gestão de Custos: contabilidade e controle 3 16,7
COGAN, Samuel Activity-based costing (ABC) 2 11,1
Guia Ernest e Young para a Gestão Total de 2 11,1
OSTRENGA, M Custos
GIAMMUSSO, Salvador Eugênio Orçamento e custos na construção civil 2 11,1
SHANK, J. K.; GOVINDARAJAN, V A revolução dos custos 2 11,1
SAKURAI, Michiharu Gerenciamento integrado de custos 2 11,1
Análise gerencial de custos em empresas 2 11,1
BORNIA, Antônio Cezar modernas
NAKAGAWA, M Gestão estratégicas de Custos 2 11,1
Contabilidade por Atividade: uma 2 11,1
abordagem de custeio baseado em
BRIMSON, James A atividades
PADOVEZE, Clóvis Luiz Contabilidade Gerencial 2 11,1
Custos: planejamento implantação e 2 11,1
LEONE, George S. G controle
NAKAGAWA, M ABC - Custeio Baseado em Atividades 2 11,1
Outros 20 livros que tratam de custos que 20
Diversos foram citados apenas uma vez
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na pesquisa bibliométrica (2012).
Em termos de livros estrangeiros referenciados, a pesquisa revelou: a obra estrangeira mais citada, no
caso na língua inglesa, foi o livro intitulado Activity Accounting: Activity-Based Costing Approach, da
autoria de James A. Brimson, o qual foi citado em 2 dos artigos estudados com mais de uma referência,
ou seja, 11,1%. Este achado colabora para demonstrar um nível baixo de uso de referências
estrangeiras, utilizadas na confecção dos artigos sobre custo na área da Construção Civil.

442
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

6. CONCLUSÃO

De acordo com os objetivos estabelecidos, pode-se concluir que a pesquisa bibliométrica referente à
utilização de custos nas empresas de Construção Civil vem sendo produzida no Brasil por autores em
parceria. Dos 18 artigos estudados, apresentados no CBC, no período de 1996 a 2010, tratando sobre
a área de custos na Construção Civil, 72,2% foram escritos em parceria e 27,8% foram escritos por um
único autor. Estes achados complementam pesquisa desenvolvida por Oliveira e Aragão (2011), a qual
teve como objetivo conhecer características dos artigos sobre custos publicados em revistas brasileiras
on-line com avaliação qualis-capes A1, A2, B1 e B2 no período de 2000 a 2011. Os autores descobriram
que 82,1% dos cinquenta e nove (59) artigos estudados foram escritos em parcerias.
Observou-se também que o índice médio de obras por autor foi igual a 1,2, não colaborando como o
resultado obtido na pesquisa realizada por Oliveira e Aragão (2011), cujo mesmo índice foi de 3,3
artigos por autor. Mas, os achados desta pesquisa se aproximam do resultado da pesquisa realizada
por Oliveira, Pereira e Guerreiro (2007), que encontrou um índice de 1,1 artigos por autor. Sobre este
achado, os autores apontaram as seguintes possíveis causas, as quais destacamos: “a) o número
expressivo de discentes que têm participado do evento; [...] d)o problema do tempo de maturação
das produções acadêmicas dos jovens mestres e doutores que ainda não submeteram mais trabalhos
ao EnANPAD”.
Vale ressaltar que os autores Wilson Kendy Tachibana e Alécio Pinheiro Freires se destacaram na
pesquisa em questão por terem dois artigos publicados cada um dentro do universo pesquisado.
Assim, embora exista uma predominância de autores com grau de mestrado ou doutorado,
correspondendo a aproximadamente 60,0% do total de autores, os dados não sugerem a existência
de especialistas na temática apresentada, quando se observa o número de artigos publicados por
autor.
As instituições mais prolíficas entre os autores dos 18 artigos pesquisados fazem parte das regiões Sul
e Sudeste do país, obtendo destaque a UFSC com 15,8% dos artigos, seguida pela USP, representando
13,2% dos artigos publicados sobre custos na Construção Civil.
Com relação ao tipo de documentação mais referenciada nos artigos de custos na Construção Civil, o
destaque vai para os livros. Estes, por sua vez, correspondem a 54% das publicações referenciadas,
entre nacionais (45,6%), estrangeiros (7,3%) e livros traduzidos (1,1%). Presente em 33,3% dos artigos,
o livro Contabilidade de Custos, do autor Eliseu Martins, foi a obra mais referenciada em língua
portuguesa. Já a obra mais citada sobre custos em língua inglesa foi Activity Accounting: Activity-Based

443
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Costing Approach de Brimson; a temática abordada nessa obra é a segunda mais discutida nos artigos
sobre custos na Construção Civil no âmbito do CBC.
Quanto aos periódicos nacionais destacados, evidenciam-se os seguintes: RAE, correspondente a
35,7%, seguido da Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul com 14,3% e
a Revista IBEC também com porcentagem de 14,3%, com dois artigos cada uma. Nos periódicos
estrangeiros, percebeu-se um destaque para: Accounting, Organizations and Society, Journal of Cost
Management, Journal of Management, Strategic Management Journal, citados duas vezes cada um.
Juntos, eles representam 44% dos periódicos estrangeiros referenciados sobre custos na área de
Construção Civil.
Os congressos nacionais mais citados foram: ENANPAD e ENEGEP, os dois juntos somam 50% do
material referenciado em língua nacional. Já entre os congressos estrangeiros, há uma predominância
do Concrete International, representando um percentual 28,6%, seguido pelos congressos Marketing
and Society Conference, 23rd World Congress on Cost Engineering, Coference on Performance
Measurement e Financial Management Association, com um percentual de 14,3% cada um. Essa
predominância do Concrete International é justificada por este ser um evento voltado para a área da
Construção Civil.
A limitação deste estudo está na amostra do estudo composta por dezoito (18) artigos, visto que não
se realizou buscas em outros congressos brasileiros que discutem sobre gestão de custos. Além, do
mapeamento dos artigos estudados quanto à produção acadêmica sobre custos em empresas da
constução civil, não foi contemplada a análise de periódicos, nem banco de dissertações e teses.
Para futuras pesquisas, sugere-se a realização de uma análise da produção científica sobre custos em
empresas do segmento da construção civil focalizando outras fontes de dados, tais como outros
eventos científicos na área de contabilidade, administração e engenharia que discutam a temática
gestão de custos, bem como de periódicos, sendo ambas as fontes avaliadas pela CAPES, visando
ratificar ou complementar os resultados apresentados por esta pesquisa. Finalmente, idealiza-se que
este estudo contribua como um referencial para outras pesquisa sobre custo em organizações do
segmento da construção civil.

REFERÊNCIAS

ALVARADO, Rubéns Urbizagástegui. A lei de Lotka na bibliometria brasileira. Revista Ciência da


Informação, v.31, n.2, p. 14-20, maio/ago, 2002.

444
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ARAÚJO, Carlos Alberto. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão, Porto Alegre,
v.12, n. 12, p.11-32, jan/jun, 2006.

ARENAS, Judith Licea de; VALLES, Javier; ARÉVALO, Gerardo; CERVANTES, Carlos. Una visión
bibliométrica de la investigación en bibliotecología y ciencia de la información de América Latina y el
Caribe. Revista Española de Documentación Científica, v. 23, n. 1, p. 45-62, Enero/marzo, 2000.

BROOKES, B. C. Bradford’s law and the bibliography of science. Nature, [s.l.], v.224,

p.953-956, Dec, 1969.

BRAGA, Josué Pires; CRUZ, Cláudia Ferreira da; OLIVEIRA, José Renato Sena de. 2007. Pesquisa contábil
no Nordeste: um estudo bibliométrico da produção científica apresentada no Encontro Regional de
Estudantes de Ciências Contábeis. In: 4º Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade, 2007,
São Paulo. Anais..., São Paulo, FEA/USP.

CARDOSO, Ricardo Lopes; PEREIRA, Carlos Alberto Pereira, GUERREIRO, Reinaldo.Perfil das Pesquisas
em Contabilidade de Custos Apresentadas no EnANPAD no Período de 1998 a 2003. Revista de
Administração Conteporânea (RAC), Rio de Janiero-RJ, v. 11, n. 3, Jul./Set, 2007.

______; MENDONÇA NETO, Octávio Ribeiro de; RICCIO, Edson Luis; SAKATA, Marici Cristine Gramacho.
Pesquisa Científica em Contabilidade entre 1990 e 2003. Revista de Administração de Empresas. v. 45,
n. 2, abr/jun, 2005.

ENSSLIN, S. R.; SILVA, B. M. S. Investigação do perfil dos artigos publicados nos congressos de
contabilidade da USP e da UFSC com ênfase na iniciação científica. RCO – Revista de Contabilidade e
Organizações – FEARP / USP, v. 2, n. 3, p. 113 – 131 mai./ago. 2008

GARNER, Samuel Paul. Evolution of cost accounting to 1925. 2. ed. Alabama.University Alabama Press,
1976.

GUEDES, Vania F.S.; BORSCHIVER, Suzana. Bibliometria: uma ferramenta estatística para a gestão da
informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação cientifica
e tecnológica. In: ENCONTRO NACIONAL DE CIENCIAS DA INFORMAÇÃO (CINFORM), 6, 2005, Salvador,
Anais do VI Encontro Nacional de Ciências da Informação, Salvador, UFBA, 2005.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Anual da Indústria da Construção -


PAIC/IBGE. 2010. Disponível em:<http://www.cbicdados.com.br/menu/estudos-especificos-da-
construcao-civil/pesquisa-anual-da-industria-da-construcao-paicibge>. Acesso em: 10 de ago., 2012.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed.
São Paulo: Atlas, 2010.

LEITE FILHO, Geraldo Alemandro. Padrões de produtividade de autores em periódicos e congressos na


área de contabilidade no Brasil: um estudo bibliométrico. In: Congresso USP de Controladoria e
Contabilidade, 6, São Paulo. Anais..., São Paulo: FEA/USP. 2006.

LUCIANI, Josiane Carla Jamoski; CARDOSO, Nerian José; BEUREN, Ilse. Maria. Inserção da Controladoria
em Artigos de Periódicos Nacionais classificados no Sistema Qualis da CAPES. Contabilidade Vista &
Revista, v. 8, n.1, jan./mar, 2007.

445
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

________. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Considerações sobre os doze anos do caderno de estudos, Divulgação
de Trabalho. Revista Contabilidade & Finanças. v. 30, p. 81-88, set/dez, 2002.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Estoque de trabalhadores na construção civil dobra em cinco


anos. 2012. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/imprensa/estoque-de-trabalhadores-na-
construcao-civil-dobra-em-cinco-anos.htm. Acesso em: 06 fev, 2012.

MULLER, Suzana Pinheiro Machado; PECEGUEIRO, Claudia Maria Pinho de Abreu. O periódico Ciência
da Informação na década de 90: um retrato da área refletido em seus artigos.Revista Ciência da
Informação, v. 30, n. 2, p. 47-63, maio/ago, 2001.

OLIVEIRA, Ana Caroline Peixoto; ARAGÃO, Iracema Raimunda Brito Neves.Pesquisa em Contabilidade
de Custos: um estudo sobre características dos artigos publicadas nas revistas on-line brasileiras
avaliadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Revista de
Administração e Contabilidade - Faculdade Anísio Teixeira(FAT), Feira de Santana-Ba, v. 3, n. 2, p. 41-
56, julho/dezembro, 2011.

PAO, Miranda Lee. Automatic text analysis based on transition phenomena of word occurrences.
Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 29, n.3, p. 121-124, May, 1978.

ROSA, Aglaenne Flávia da Rosa; MENDES, Alcindo Cipriano Argolo; TEIXEIRA, Glenda Mara Arthuso;
MARTINS, Simone. Earnings Management no Brasil: uma Análise sob a Perspectiva Sociométrica e
Bibliométrica. Revista Contabilidade Vista & Revista, ISSN 0103-734X, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, v. 21, n. 4, p. 189-218, out./dez, 2010.

SKUMANICH, Mariana; SILBERNAGENS, Michelle. Foresigthing around the world: a review of seven
bent-un-kind programs. Seatle: Battelle, 1997.

VANTI, Nadia Aurora Peres. Da Bibliometria à Webometria: uma exploração conceitual dos
mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. Revista da
Ciência da Informação, Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, maio/ago, 2002.

446
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 21

EDUCAÇÃO FINANCEIRA X COMPORTAMENTO DO


CONSUMIDOR NO MERCADO DE BENS E SERVIÇOS
DOI: 10.37423/200300534

Samuel Carvalho De Benedicto - samuel.debenedicto@gmail.com


Viviane Andrea Correa Coladeli - vivianecoladeli@hotmail.com
Edilei Rodrigues De Lames - edilei.lames@ucb.org.br

Resumo: A Educação Financeira não é explorada na maioria das escolas de Ensino


Fundamental e Médio. Também nas Faculdades, geralmente, não existem disciplinas sobre
dinheiro, orçamento familiar e pessoal. Diante do consumo excessivo, muitas pessoas
contraem dívidas, comprometem significativamente sua renda e em muitos casos, acabam se
tornando inadimplentes, não cumprindo com seus compromissos financeiros. O objetivo
deste estudo foi analisar o comportamento do consumidor no mercado de bens e serviços e
discutir aspectos ligados à educação financeira e de consumo dos indivíduos, com foco no
controle das finanças pessoais. Foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa descritiva
com entrevistas pessoais. Foram analisados os perfis de clientes finais que buscavam
empresas para contrair empréstimos para cobrir limite de cheque especial, cartão de crédito
e até financiamentos para necessidades pessoais e compra de veículos. A pesquisa permitiu
analisar os fatores primordiais relacionados aos desvios de comportamento do consumidor,
tais como: baixo salário, cobrança de juros abusivos, práticas consumistas, entre outros. Os
resultados obtidos apontaram dificuldades no gerenciamento das finanças pessoais causados
pela falta de Educação Financeira.

Palavras-chave: Comportamento do Consumidor. Educação Financeira. Finanças Pessoais.

447
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

Percebe-se, notadamente, nos últimos anos um interesse maior pelos estudos sobre o
comportamento dos indivíduos no que se refere às decisões financeiras. Diversas correntes científicas,
como a Psicologia Econômica, o Marketing, as Finanças Comportamentais, a Teoria dos Jogos, vêm
estudando o comportamento dos consumidores frente às atitudes de comprar, vender, consumir,
poupar e se endividar.

À luz desta concepção, endividados trabalham para quitar suas dívidas por terem pouca ou nenhuma
habilidade de lidar com o dinheiro, por não se preocuparem em fazer um planejamento financeiro ou
por motivos implícitos em razões sociais ou psicológicas. Muitos desses indivíduos conseguem retomar
o equilíbrio de suas vidas, outros necessitam de ajuda e muitos terão que carregar o estigma de
eternos endividados (FERREIRA, 2006). O estudo aborda o tema educação financeira e a sua influência
no comportamento do consumidor no mercado de bens e serviços.

O objetivo deste estudo é analisar o comportamento do consumidor no mercado de bens e serviços e


discutir aspectos ligados à educação financeira e de consumo dos indivíduos, com foco no controle
das finanças pessoais; e, principalmente, se isso se traduz em suas atitudes e comportamentos perante
o mercado de bens e serviços cada vez mais competitivo, indutor e apelativo, além de investigar como
a orientação de consumo se relaciona com a administração das finanças pessoais. Considerando o
grande número dos variados produtos financeiros, tais como cheque especial, cartão de crédito,
financiamentos, crédito direto ao consumidor, poupança, fundos de investimentos etc., as pessoas
devem estar preparadas para lidar com situações cada vez mais complexas ao desejarem adquirir um
bem ou serviço.

A abordagem sobre o comportamento do consumidor frente a sua renda é que norteia este trabalho.
É uma tentativa de compreender a atitude efetiva em relação a assuntos financeiros e a própria
administração financeira pessoal. A importância da educação financeira pode ser vista sob diversas
perspectivas: sob a perspectiva de bem estar pessoal, jovens e adultos podem tomar decisões que
comprometerão seu futuro; as consequências vão desde desorganização das contas domésticas até a
inclusão do nome em sistemas como SPC/SERASA (Serviço de Proteção ao Crédito), que prejudicam
não somente o consumo, mais também, em muitos casos, a carreira profissional.

A população brasileira, em sua grande maioria, conforme relata Macedo JR. (2007), têm dificuldades
para administrar suas dívidas, dificuldades para adquirir bens e despreparo para enfrentar momentos

448
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de desemprego. Motivos como a facilidade na obtenção de crédito e a desorganização financeira são


fortes indícios do que levam as pessoas a se endividarem.

De acordo com Silva (2004), a realidade no Brasil é de que as pessoas não foram educadas para pensar
sobre dinheiro na forma de administração. Assim, a maioria gasta aleatoriamente sem refletir sobre
seu contexto financeiro e os impactos futuros. Poupar é importante, mas não é o suficiente. É preciso
saber investir, escolher a modalidade mais interessante, além da caderneta de poupança.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Existem várias definições para o termo “educação financeira”. Segundo Jacob et al. (2000, p. 8), o
termo “financeira”,

aplica-se a uma vasta escala de atividades relacionadas ao dinheiro na nossa


vida diária, desde o controle do cheque até o gerenciamento de um cartão de
crédito, desde a preparação de um orçamento mensal até a tomada de um
empréstimo, compra de um seguro, ou um investimento. Enquanto que
educação implica o conhecimento de termos, práticas, direitos, normas sociais,
e atitudes necessárias ao entendimento e funcionamento destas tarefas
financeiras vitais. Isto também inclui o fato de ser capaz de ler e aplicar
habilidades matemáticas básicas para fazer escolhas financeiras sábias.

Para Braunstein e Welch (2002), a administração ineficiente do dinheiro deixa os consumidores


vulneráveis a crises financeiras mais graves e colocam que as operações de mercado e as forças
competitivas ficam comprometidas quando consumidores não têm habilidade para administrar
efetivamente suas finanças. Quando os agentes são bem informados, o mercado se torna mais
competitivo e mais eficiente. O mercado financeiro disponibiliza uma grande e variada oferta de
produtos financeiros no mercado. Além do avanço da tecnologia em geral, a Internet é especialmente
responsável pela expansão e sofisticação dessa oferta. Juntamente com novos produtos, essas
inovações também tornaram maior a disponibilidade e acessibilidade a informações. Contudo, de
acordo com Braunstein e Welch (2002), para se beneficiar dessas inovações os consumidores precisam
de um nível básico de conhecimento sobre finanças não somente para identificar e acessar as
informações que lhe são pertinentes, como também para saber avaliar a fonte dessas informações.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA NA VIDA DAS PESSOAS

A educação financeira apresenta relevância significativa, uma vez que as pessoas têm suas vidas
afetadas pelas decisões que tomam ao longo do tempo. Por isso, ao optarem por investimentos os

449
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

indivíduos realizam escolhas de natureza financeira; bem como fazem ao optar por consumir no
presente ao invés de poupar, ou, ainda, ao antecipar o consumo futuro mediante a contratação de
financiamentos, além da própria administração das dívidas existentes e as habilidades dos indivíduos
no trato com o gerenciamento da renda. Também é importante compreender a forma, o conceito
sobre educação financeira que as pessoas detêm para essa tomada de decisão e, principalmente,
como a educação financeira colabora na qualidade de suas atitudes.

A necessidade de se proteger financeiramente é uma alternativa que faz com que o consumidor sofra
menos com os previstos e imprevistos fenômenos da economia, haja vista que cada vez mais, o
consumidor vem sofrendo assédio do mercado de bens e serviços através das ferramentas de
administração, notadamente, do marketing e da propaganda que o faz consumir quase que
habitualmente mais produtos e serviços disponíveis no mercado. Um dos conceitos básicos para a
abordagem deste trabalho gira em torno da teoria do consumidor. Autores como, Jeunon (2004) e Boa
Nova (2007) mostram a importância da escolha de necessidades a serem satisfeitas. A “escassez” dos
recursos limita a reflexão sobre o consumo, fazendo com que a escolha seja criteriosa sobre qual
necessidade satisfazer. A teoria econômica é clara e defende que as necessidades não têm limite, e
por conta disso os recursos se tornam limitados.

No entendimento de Grussner (2007, p.19) os altos índices de inadimplência e endividamento, bem


como o consumismo excessivo e, como consequência, a baixa de poupança do país, podem ser
indicativos de carência de educação financeira dos brasileiros, tratando assim de indicadores
relevantes para retratar os problemas de caixa dos consumidores.

2.2 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR, COM FOCO NO CONTROLE DAS FINANÇAS PESSOAIS

Na relação comportamental, o momento da compra leva o consumidor ao paradoxo entre “poder e


frustração” uma vez que ao conseguir suprir a casa com necessidades básicas, o consumidor se sente
poderoso, porém sua limitação financeira enseja uma frustração de não poder abastecer a casa com
todos os produtos desejados. A possibilidade de consumo proporciona uma sensação de bem-estar e
de inserção social, o que ressalta o importante papel que o varejo tem nesse contexto.

De acordo com Gliglio (2002), o consumidor é influenciado por família, crenças, costumes, valores,
idade, sexo, raça, enfim, tudo aquilo que impacta na formação de sua personalidade. Os fatores e
determinantes influenciadores que atuam na tomada de decisão do consumidor são extensos e, de
acordo com Karsaklian (2000), distribuem-se nessas três categorias: a) Diferenças individuais –

450
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

recursos do consumidor, conhecimento, atitude, motivação e personalidade, valores e estilo de vida;


b) Influências ambientais – cultura, classe social, influência pessoal, família e situação; c) Processos
psicológicos – informação em processamento, aprendizagem e mudança de atitude e
comportamento.

Kotler e Armstrong (2003) destacam alguns fatores que influenciam o comportamento do consumidor:
a) Motivações – recebem influências de necessidades básicas (necessárias para sua sobrevivência),
psicológicas; b) Personalidade – baseia-se no ambiente em que o consumidor está inserido no
momento da compra; c) Percepção – considerada como “processo pelo qual as pessoas selecionam,
organizam e interpretam informações para formar uma imagem significativa do mundo”.

Para Sohsten (2005), grandes fortunas começaram com um pouquinho. A maioria das pessoas
preocupa-se com os grandes investimentos e menospreza os pequenos gastos. Não se podem fechar
olhos para os pequenos gastos, pois, muitas vezes, eles apresentam um resultado assustador no final
do mês.

Segundo Pires (2007, p. 27) para se considerar uma situação financeira ideal as receitas serão sempre
maiores do que as despesas. Para chegar a esse ponto de equilíbrio há os seguintes caminhos: a)
aumento das receitas, mantendo constantes as despesas; b) aumento das receitas mais que
proporcionalmente às despesas, quando estas estão subindo; c) redução das despesas, mantendo
constantes as receitas; d) aumento das receitas com redução simultânea das despesas.

2.3 O PERFIL DOS CONSUMIDORES ENDIVIDADOS NO BRASIL

De acordo com dados divulgados pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor


(PEIC, 2012) em outubro de 2012 48,9% dos brasileiros possuíam algum tipo de dívida. A pesquisa
aponta ser a primeira vez que o porcentual fica abaixo dos 50% das famílias pesquisadas.

Como já apontado, as dificuldades financeiras têm origem em vários fatores, tais como: baixos salários,
cobrança de juros abusivos, práticas consumistas, entre outros. Contudo, com exceção do consumo
excessivo, esses são fatores que não dependem, pelo menos diretamente, da intervenção do
consumidor, sendo que o planejamento financeiro é um instrumento disponível, que pode ser
utilizado como forma de melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, a qualidade do trabalho
prestado.

Segundo Moura (2005) a escala de atitude para o endividamento foi desenvolvida especialmente para
o contexto de grupos brasileiros de baixa renda a partir de Lea et al. (1995). A escala compreende três

451
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

dimensões: a) Impacto sobre a moral na sociedade – engloba o patrimônio, valores e crenças


encontrados em sociedade que tem influência sobre a atitude do indivíduo em relação ao
endividamento; b) Preferência no tempo – inclui a escolha dos indivíduos entre valor e tempo (adiar
ou não adiar planos de consumo); c) Grau de autocontrole – inclui a capacidade para gerir os próprios
recursos financeiros, a tomar decisões financeiras e de o indivíduo (ou família) manter o orçamento
sob controle.

Macedo Jr. (2007) relata que somente uma em cada seis pessoas no Brasil tem poupança e apenas um
em cada três brasileiros não possui dívidas, excluindo dessa lista as dívidas com o pagamento da casa
própria.

Dos tipos de dívidas, o cartão de crédito lidera, com 73,6% das indicações, seguido pelas dívidas com
carnês (19,5%), financiamento de carro (7,3%) e o cheque especial (8,8%). Entre os consumidores com
contas em atraso, 43,1% têm contas vencidas por mais de 90 dias e 27%, entre 30 e 90 dias. Já o
percentual de famílias com contas em atrasos até 30 dias é de 29,6% (PEIC, 2012). Um dado que
chama a atenção no Brasil, é de que 85% dos herdeiros e 95% dos ganhadores de loterias perdem
tudo. A maioria dos ganhadores de loteria fica novamente pobre por não saber administrar suas
fortunas (FILHO, 2003, p. 88).

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho fundamenta-se na pesquisa qualitativa descritiva. De acordo


com Roesch (2005) a principal função da abordagem qualitativa é a explicação sistemática de fatos
que ocorrem no contexto social, geralmente, relacionada a uma multiplicidade de variáveis sem o
emprego de procedimentos estatísticos. Para Collins e Hussey (2005) o estudo descritivo tem como
objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então,
o estabelecimento de relações entre variáveis.

Como modelo operativo de pesquisa - para analisar os fatos do ponto de vista empírico, optou-se pelo
estudo de caso, que permite estudar um fenômeno em profundidade. Segundo Yin (2010), dentre as
alternativas condizentes com a pesquisa qualitativa, o estudo de caso é uma alternativa importante
que se encontra à disposição do pesquisador.

A empresa escolhida para a realização da pesquisa é uma Financeira de Crédito Pessoal, denominada
Crefisa S.A. A empresa está localizada na Cidade de Campinas/SP. Neste estudo, foram utilizadas as
seguintes técnicas de coleta de dados: (i) aplicação de um questionário estruturado relacionado ao

452
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

tema da pesquisa com os clientes da financeira; (ii) realização de discussões em grupo com foco na
vertente racional da administração dos recursos financeiros.

Nesta pesquisa foram selecionados 40 informantes. O número aplicado de questionários foi


determinado com base na recomendação de Johnson (2002). Segundo esse autor, o número ideal é
aquele que o pesquisador considera suficiente para a consecução de seu escopo. Pode até mesmo o
estudioso conferir especial atenção a alguns dos informantes que detenham maior conhecimento
sobre o assunto abordado. Dessa forma, a amostragem foi por conveniência, ou seja, foram escolhidos
sujeitos considerados mais preparados para fornecer as informações desejadas.

A estratégia geral utilizada para a análise dos dados nesta investigação foi a Explanation Building ou
construção da explanação. Esta é uma estratégia de análise de dados qualitativos que se enquadra nas
análises de estudos de casos (YIN, 2010). A construção da explanação tem como objetivo construir um
repertório analítico utilizando-se a forma de narrativa. Assim, as explanações são construídas de forma
a refletir as proposições teóricas significativas, dando ênfase àquilo que realmente importa, ou seja,
confrontando os elementos teóricos com os achados da pesquisa (DE BENEDICTO, 2011).

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Esta seção apresenta os dados obtidos na pesquisa de campo. Inicia-se pela apuração de um
questionário estruturado, aplicado a um grupo de pessoas dentro de um ambiente financeiro. O
tratamento dos dados seguiu o método proposto por King (1998). Efetuou-se, assim, a interpretação
das respostas dos entrevistados por meio de uma análise de conteúdo categórica. Há apresentação de
alguns trechos extraídos da entrevista, considerados relevantes para a realização dos objetivos
propostos, ou seja, os dados aqui apresentados referem-se as informações reais, obtidas por meio das
entrevistas preservando a identidade dos participantes, denominando-os “entrevistados”. O assunto
abordado neste questionário buscou aferir o que os clientes da Financeira Crefisa S.A, entendem por
educação financeira.

As questões aplicadas aos entrevistados obedeceram à seguinte ordem:

Questão 1: Se o entrevistado se considera ou não uma pessoa consumista; se compra além do


necessário.

Questão 2: Qual o sentimento do entrevistado após a efetivação de uma compra; se o mesmo


se sente realizado ou preocupado.

453
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Questão 3: Se a renda mensal do entrevistado é suficiente para as suas despesas mensais.

Questão 4: Porque as pessoas contraem empréstimos, na visão do entrevistado.

Questão 5: O que levou o entrevistado ir até a Financeira.

Questão 6: Porque as pessoas gastam mais do que ganham, na visão do entrevistado.

Questão 7: Se o entrevistado utiliza Dinheiro Vivo ou Cartões de Crédito para pagar as suas
despesas mensais.

Questão 8: Se o entrevistado possui Caderneta de Poupança; por quais motivos.

Questão 9: Aplicação de um caso real de um Grande Executivo falido. Após a leitura do texto,
o entrevistado deveria concluir se possui ou não conhecimentos sobre finanças pessoais, em uma
escala de conhecimento profundo até nenhum conhecimento sobre o assunto.

4.1 O CONSUMISTA

Todos nós em geral gostamos de fazer compras. Sentimo-nos merecedores dos presentes que nos
damos. Mas, quando estamos angustiados, insatisfeitos ou nervosos, muitas vezes saímos para fazer
compras como uma espécie de desforra e nesse caso perdemos o senso crítico e agimos por
compulsão. Passado o instante da compra e o sabor da novidade, voltamos à estaca zero da
insatisfação. É que a compulsão de comprar serviu apenas de paliativo e nos desviou
momentaneamente a atenção dos nossos verdadeiros problemas, da verdadeira causa de nossa
insatisfação. Existem pessoas que usam o consumismo para se sentir importantes e poderosas. Em
todos os casos, as pessoas estão jogando dinheiro fora. Poderiam estar usando o dinheiro para
comprar coisas úteis e, se a pessoa não tem dinheiro, acaba se endividando para sustentar seu
consumismo.

O consumismo não é apenas uma prática de esbanjamento do dinheiro. É também, sobretudo, um


quadro cultural e de comportamento social. E assim nasce uma cadeia interminável, movida por
desejos insaciáveis. Por um lado, o comprador e por outro lado, a ganância dos bancos, de instituições
de créditos e do comércio, que estimulam ou aliciam as famílias ao crédito fácil, ao consumo.

Neste quesito a maioria dos entrevistados, ou seja, 35 afirmam ser consumistas, pois nunca estão
satisfeitos e sempre acham que é preciso de mais alguma coisa. Alegam que promoções chamam
atenção e que compram muitas vezes por impulso. Este aspecto coaduna com a fala de Parente (2008)
sobre o comportamento das consumidoras, as quais revelam um discurso extremamente racional

454
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

sobre as promoções. Aparentemente as compras são realizadas de forma a maximizar o orçamento e


aproveitar ao máximo as promoções existentes. Apenas 05 dos entrevistados alegam ser
relativamente moderados, comprando por real necessidade. Conforme eles, tendo o perfil poupador,
informam que a linha de crédito está muito facilitada, criando uma expectativa ilusória de poder de
compra. (Gráfico 01).

Pesquisa - Consumista
2

Satisfatória
Insatisfatória

38

Gráfico 1: O entrevistado se considera ou não uma pessoa consumista.

Fonte: Dados da pesquisa.

4.2 COMPORTAMENTO CONSUMIDOR

O estudo do comportamento do consumidor deve envolver, segundo a abordagem de Churchill e Peter


(2000) a análise do processo de compra, dos fatores que a influenciam assim como do tipo de tomada
de decisões adotadas pelos consumidores. Considerando, tanto a pesquisa qualitativa, como nas
discussões individuais, o discurso racional prevalece em boa parte do tempo. O que mais tem atraído
os consumidores é, entre outros o atendimento, os preços e as promoções. Os motivos podem ser
diferentes. Para uns, é a necessidade. Para outros, a vaidade. E lá se vão o saldo da poupança, os
limites do cheque especial e do cartão de crédito, mais no fim das contas o que sobra é uma pessoa
endividada.

No que se refere ao questionamento de se sentir realizado ou preocupado após realizar a compra de


algum produto, em 37 entrevistados destaca-se o sentimento de “realização”, nos levando a crer que
“dinheiro é emoção”. Uma das entrevistadas, consumista assumida, afirma estar tentando se controlar
um pouco mais, pois está com a renda comprometida. Fã de roupas e sapatos alega não ter mais limite
no cartão de crédito. Afirma se sentir realizada a cada nova compra, porém as dificuldades não

455
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

atrapalham muito o seu instinto comprador. O local onde trabalha recebe a visita de vendedoras porta
a porta de roupas e cosméticos, onde suas compras são feitas para pagamentos futuros informais.
Percebe-se que o paradoxo do poder e frustração estão sempre presente nesse segmento.

No processo de compra os consumidores demonstram muito prazer, e revelam também um


sentimento de “poder”, como se dissessem “consigo fazer as compras da minha família com o dinheiro
que possuo. Missão cumprida”. Por outro lado, o seu limitado orçamento provoca constantes
frustrações, dizendo “a gente sente um vazio de querer e não poder comprar”. Apenas 03
demonstraram sentimento de preocupação por não ter instabilidade no emprego atual. (Gráfico 02)

Pesquisa - Sentimento Pós-compra


3

Realizado
Preocupado

37

Gráfico 2: O entrevistado menciona seu sentimento, após compra: realizado ou preocupado.

Fonte: Dados da pesquisa.

4.3 RENDA MENSAL

Quando questionados em relação à Renda Mensal, a maioria dos entrevistados, 38 deles, menciona
certa preocupação neste assunto, pois afirmam que seu salário não é suficiente para pagamento das
despesas mensais e que sempre fica uma conta em atraso sem o devido pagamento para o mês
seguinte. Em relação aos principais fatores que afetam o planejamento orçamentário pessoal são
classificados: o elevado custo de vida, impostos, saúde, família, educação, o descontrole financeiro e
também os baixos rendimentos conforme citados na maioria dos resultados. Uma minoria dos
entrevistados não tem problema com rendimentos, ou seja, apenas 02 informam que os rendimentos
são suficientes para cumprir todos os compromissos, pagar todas as despesas e ainda sobrar para os
investimentos. Conforme visto no referencial teórico, de uma maneira geral, muitos brasileiros
possuem dificuldades na administração das finanças pessoais, principalmente em função dos baixos
rendimentos, do descontrole e do consumo elevado que geram o endividamento. (Gráfico 03).

456
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Pesquisa - Renda Mensal


2

Satisfatória
Insatisfatória

38

Gráfico 3: O entrevistado em relação à sua renda mensal.

Fonte: Dados da pesquisa.

Verificou-se na pesquisa que estes mesmos entrevistados contraem empréstimos porque só pensam
no momento da compra e não pensam nas condições de pagamentos. Como ilustração segue trecho
da entrevista que aborda esta questão:

O povo é impulsionado ao consumismo. Não analisam à longo prazo, ou seja, a parcela


sendo baixa eu compro [...]
Hoje é muito fácil gastar e fazer empréstimo também [...]
Me endivido, porque gasto mais do que ganho [...]
Para gastar aquilo que não ganhamos, basta ter um cartão de crédito [...]
De acordo com Boa Nova (2007) por meio de um planejamento relativamente simples e algumas
atitudes, é possível reverter a situação financeira desfavorável para uma situação confortável ou, pelo
menos, controlável. Um dos maiores problemas enfrentados para se obter um orçamento bem
sucedido talvez seja alinhar as decisões com o planejamento financeiro.

4.4 PLANEJAMENTO FINANCEIRO

É sabido que o investimento mais tradicional, conservador e popular entre os brasileiros, mais
notadamente nos de “menor renda” é a caderneta de poupança. Porém, a maioria dos brasileiros não
tem o hábito de poupar regularmente. Macedo Jr. (2007) relata que somente uma em cada seis
pessoas no Brasil tem poupança e apenas um em cada três brasileiros não possui dívidas, excluindo
desta lista as dívidas com o pagamento da casa própria.

Segundo o Serasa, o brasileiro não guarda dinheiro e não planeja o futuro. Um indicador divulgado na
data informada mostrou que, apesar de ter mais dinheiro na conta, o brasileiro ainda não possui um
bom comportamento financeiro, pois o consumidor gasta mais do que ganha. Porém, há algumas

457
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

diferenças nas classes sociais, já que o indicador apontou uma diferença nas classes A e B, onde o
índice do conhecimento (avalia o entendimento dos conceitos financeiros) foi o melhor avaliado em
relação às classes C, D e E. Quanto ao estudo, as pessoas com curso superior completo tiveram uma
nota maior, enquanto aquelas sem acesso à escola apresentaram nota menor. Isto mostra que o grau
de escolaridade influencia a relação dos brasileiros com o dinheiro (COBUCCI, 2013).

Em relação ao assunto poupar, os entrevistados foram “unânimes” ao mencionar não possuírem


caderneta de poupança e terem dificuldades para conseguir poupar/guardar. Que a cada final de mês
não sobra qualquer quantia para investir. Os dados analisados revelam que muitos dos entrevistados
utilizam limites de cartões de crédito para complemento de suas despesas, pois o salário não é
suficiente. Sendo assim, não utilizam apenas Dinheiro Vivo e sim de limites de créditos para poder se
manter em seus compromissos mensais. De todos os 40 entrevistados, apenas 01 possui caderneta de
poupança. Alega ter tendência em poupar pelo menos 20% dos rendimentos mensais. (Gráfico 04)

Pesquisa - Caderneta de Poupança


1

Possui
Não Possui

39

Gráfico 4: O entrevistado sobre o ato de poupar, se possui ou não caderneta de poupança.

Fonte: Dados da pesquisa.

4.5 CONHECIMENTO GERAL SOBRE FINANÇAS

UM CASO REAL foi aplicado aos entrevistados, relatando a história de um Executivo a princípio bem
sucedido ao qual a empresa onde trabalhava passou por um problema financeiro e o demitiu. O
patrimônio que ele havia guardado após anos de altos salários não foi suficiente para sustentar seu
padrão de vida por mais de 8 meses, assim ele não resistiu a crise e ficou pobre.

458
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Foi perguntado aos entrevistados sobre o conhecimento geral das pessoas sobre finanças, numa escala
de alto conhecimento até nenhum conhecimento sobre o assunto. Diante da situação-problema, a
maioria afirmou ter apenas “Noções Básicas” sobre finanças pessoais. (gráfico 05)

Pesquisa - Conhecimento Geral Sobre Finanças


2
10 7
Conhecimento Profundo
Conhecimento Limitado
Noções Básicas
Nenhum Conhecimento

21

Gráfico 5: O entrevistado e seu conhecimento geral sobre finanças.

Fonte: Dados da pesquisa.

As considerações indicaram, de um modo geral, que a gestão dos próprios recursos relaciona-se
diretamente com a maneira de consumir, aliada a forma de planejamento e, também a tomada de
decisão. Se não houver uma educação financeira na vida das pessoas, os prejuízos afetarão
diretamente administração de seus recursos.

Os principais fatores de orientação de consumo se voltam para a poupança das sobras. Isso poderá
promover um futuro financeiro e de conquistas para uma vida melhor. A orientação é de sempre
procurar comprar produtos mais baratos, procurando planejar os gastos, reconhecendo ainda que não
importa os ganhos, mas sim o que se pode guardar dos ganhos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo demonstra que a educação financeira é fundamental na gestão das finanças
pessoais, principalmente no acompanhamento e controle do planejamento financeiro elaborado,
além das técnicas auxiliares como fluxo de caixa e conciliação bancária e as consagradas
demonstrações financeiras e a análise através de índices extraídos destas demonstrações. O tema
“educação financeira” vem ganhando cada vez mais destaque, com sites especializados, espaços

459
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

reservados em importantes fontes multimídias de notícias e eventos educacionais, reforçando a


relevância do assunto.

Conforme visto no trabalho, as habilidades financeiras são necessárias não apenas para a
sobrevivência, mas para o desenvolvimento pessoal. Esse trabalho, também, demonstrou que o
planejamento financeiro pessoal tem a mesma estrutura de um planejamento financeiro empresarial,
onde a pessoa ou a família define os objetivos a serem atingidos no curto, médio e longo prazo.
Verificou-se, também que o mercado financeiro tem diversos produtos financeiros no qual a pessoa
tem acesso através dos bancos, das corretoras, entre outros. Porém, é através do planejamento
financeiro pessoal que as pessoas se organizam financeiramente, deixando assim de desperdiçar
recursos escassos.

A proposta desse estudo é embasar a importância da administração das finanças pessoais e do


comportamento do consumidor no mercado e motivar sua prática com disciplina e foco na
racionalidade do uso do dinheiro tanto para consumo como para acumulação de capital. Sugere-se
que a pessoa experimente a rotina de gerir as finanças, para que assim possa vivenciar seus benefícios,
verificando o dinheiro se capitalizar, evitar dívidas e oportunizar a realização de sucessos através da
educação financeira. Esses objetivos e propostas podem ser perseguidos por todos, de acordo com as
possibilidades e realidade de cada um, através de medidas de poupança sistemática e decisões de
investimentos adequadas. Ressalta-se a importância do pensamento à longo prazo, da análise das
opções de investimentos e do controle de fluxo de caixa.

O mercado financeiro é sempre cheio de incertezas. A cautela deve sempre ser levada em conta na
hora de decidir por uma aplicação financeira. Quem não gosta do ato de consumir? Costuma-se de
consumir por necessidade, segurança, impulso, compulsivamente, por prazer. Muitos consumem por
consumir. Por outro lado, existe a contrapartida, a administração dos rendimentos. Nos dias atuais é
comum nos noticiários de TV, jornais, revistas alertas sobre o endividamento pessoal. Pelo que foi
apresentado neste trabalho, acredita-se que a melhor estratégia de investimento no curto prazo
continua sendo, nunca “gastar mais do que se ganha”.

Os resultados obtidos apontam para dificuldades no gerenciamento das finanças pessoais, em parte
causado pela falta de educação financeira, situação que não permite creditar a importância devida ao
planejamento financeiro, o que acaba gerando a utilização dos instrumentos de crédito de forma
desmedida, a falta de reservas e o consequente endividamento, conforme pode ser visto na Figura 1.

460
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 1: Matriz representativa da ausência de educação financeira

Fonte: Dados da pesquisa

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOA NOVA, P. Mulher é maioria nos cartões. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, 24 de maio de
2007. Caderno Economia, p.18.

BRAUNSTEIN, S.; WELCH, C. Financial Literacy: An Overview of Practice, Research, and Policy. Federal
Reserve Bulletin, Washington, v. 88, n.11, p. 445-457, Nov, 2002.

COBUCCI, L. Poupança registra melhor captação para Abril da história. Disponível em:
<http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201305071737_TRR_82198764>.
Acesso em: 13 maio 2013.

COLLIS, J.; HUSSEY, R. Pesquisa em Administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-
graduação. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

CHURCHILL, G. A.; PETER, P. J. Marketing: criando valor para os clientes. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

DE BENEDICTO, S. C. Apropriação da inovação em agrotecnologias: estudo multicasos em


universidades brasileiras. 2011. 309 p. Tese (Doutorado em Administração) – Universidade Federal de
Lavras, Lavras, 2011.

FERREIRA. R. Como planejar, organizar e controlar seu dinheiro. São Paulo: Thomson IOB, 2006.

FILHO, J. Finanças Pessoais: Invista no seu futuro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.

461
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

GIGLIO, E. O comportamento do consumidor. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2002.

GRUSSNER, P. M. Administrando as finanças pessoais para criação do patrimônio. 2007. 100 p.


Monografia (Graduação em Administração) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2007.

JACOB, K.; HUDSON, S.; BUSH, M. Tools for survival: An analysis of financial literacy programs fo
lowerincome families. Chicago: Woodstok Institute, 2000.

JEUNON, É. E. Prioridades axiológicas e orientação de consumo: validação de modelo integrativo.


2004. Tese (Doutorado em Psicologia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

JOHNSON, J. M. In depth interviewing. In: GUBRIUM, J. F.; HOLSTEIN, J. A. (Eds.). Handbook of


interview research: context and method. Thousand Oaks: Sage Publications, 2002. p. 103-117.

KARSAKLIAN, E. Comportamento do Consumidor. São Paulo: Atlas. 2000.

KING, N. Template analysis. In: SYMON, G.; CASSELL, C. (Eds.) Qualitative methods and analysis in
organizational research: a Practical Guide. Thousand Oaks, CA: Sage, 1998. p. 118-134.

KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

LEA, S. E. G.; WEBLEY, P.; WALKER. C. M. Psychological factors in consumer debt: money management,
economic socialization, and credit use. Journal of Economic Psychology, v. 16, n.4, p. 681-701,
December 1995.

MACEDO JR., J. S. A árvore do dinheiro: guia para cultivar a sua independência financeira. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007.

MOURA, G. O consumo de eletrodomésticos nas classes C, D e E e estratégias adotadas por varejistas


da cidade de Belo Horizonte. 2009. 92 p. Dissertação (Mestrado em Administração – Faculdades Novos
Horizontes, Belo Horizonte, 2009.

PARENTE, J. G. O varejo de alimentos para consumidores de baixa renda no Brasil. Relatório 16/2008.
São Paulo: FGV-EAESP/GVPesquisa, 2008.

PEIC - PESQUISA DE ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR. 2012. Pesquisa revela o


perfil do consumidor inadimplente no Brasil. Disponível

em:<http://www.endividado.com.br/noticia_ler-34210,pesquisa-revela-perfil-do-consumidor-
inadimplente-no-brasil.html>. Acesso em: 18 fev. 2013.

PIRES, V. Finanças pessoais: fundamentos e dicas. Piracicaba/SP: Edição do autor, 2007.

ROESCH, S. M. A. Projetos de estágio e de pesquisa em administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

SILVA, E. D. Gestão em Finanças Pessoais: uma metodologia para se adquirir educação e saúde
financeira. Rio de Janeiro: Quatymark, 2004.

SOHSTEN, C. Como cuidar bem do seu dinheiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.

462
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman 2010.

463
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 22

MEIO AMBIENTE E DESEMPENHO OPERACIONAL: UMA


ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL NO COMPORTAMENTO
DOS CUSTOS DOS PRODUTOS VENDIDOS
DOI: 10.37423/200300535

Mauricio Crippa (UFC) - mauricio_crippa@hotmail.com

Kléber Formiga Miranda (UFC / FMC) - kleber@portalquantum.com.br

Giovani Nogueira de Lima (UFC) - giovani@netphenix.com.br

Maria da Gloria Arrais Peter (UFC) - gloria@arrais.com

Resumo: Os temas relacionados à responsabilidade e gestão ambiental têm sido foco


constante de discussões, tanto no meio acadêmico quanto no empresarial. Entretanto ainda
há questionamentos sobre a efetividade desta prática como vantagem competitiva para as
empresas, uma vez que carecem estudos que evidenciem os retornos financeiros dos
investimentos realizados em meio ambiente e da manutenção e melhoria de um sistema de
gestão ambiental, os quais poderiam justificar ações ainda mais agressivas de proteção e
recuperação ambiental. Esta pesquisa objetivou identificar se os investimentos em meio
ambiente e a manutenção de uma certificação ambiental fundamentada na melhoria
contínua do sistema de gestão, como é o caso da ISO 14001, atuam positivamente na
melhoria do desempenho operacional, de forma a reduzir os custos de produção. Para tanto
foram analisadas as empresas dos setores de papel e celulose, petróleo e gás, químicos e
siderurgia e metalurgia, definidos pelos aspectos ambientais associados a estas empresas,
nos anos de 2007 a 2010.

464
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os resultados obtidos com a pesquisa indicaram que os investimentos em meio ambientes estão
positivamente associados à melhoria do desempenho operacional, onde se evidenciou uma redução
dos custos de produção. Por outro lado, os resultados indicaram que a manutenção de uma
certificação ambiental, quando não acompanhada de investimentos ambientais, está negativamente
associada ao desempenho operacional, aumentando os custos de produção. Cabe destacar que,
quando acompanhada de investimentos ambientais, a certificação ISO 14.001 atua de forma a
potencializar seus efeitos na melhoria do desempenho operacional.

Palavras-chave: Custos Ambientais. Gestão Ambiental. Desempenho Operacional.

Área temática: Abordagens contemporâneas de custos.

465
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

As agressões causadas ao meio ambiente pelo homem têm tornado a relação entre estes um desafio
mútuo de subsistência. Processos como os de urbanização e industrialização que contribuíram para o
desenvolvimento da humanidade alteraram o meio ambiente através da demanda por espaço
geográfico, contaminação do ar, solo e águas e o consumo excessivo de recursos naturais, em
particular o não renováveis.

Dias (2010) destaca o crescimento do volume físico da produção industrial do século XX, evidenciando
que o volume de recursos naturais utilizados na produção de bens durante a segunda metade desse
período supera o empregado em toda a história anterior da humanidade.

A destinação de resíduos oriundos da industrialização é vista por Dias (2010) como um dos problemas
notórios na agressão ao meio ambiente.

O final do século XX é marcado, por conseguinte, pela sustentabilidade corporativa, norteada pelo
equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Investimentos voltados à prevenção de danos ambientais e evidenciação tais gastos passaram a


compor uma nova abordagem denominada responsabilidade social empresarial cujos efeitos,
conforme Paiva (2006) extrapolam a visão endógena da empresa atingindo direitos e deveres que
fogem do âmbito exclusivamente econômico.

As organizações captaram a mensagem ambiental e passaram a criar estratégias direcionadas à


legislação ambiental. Algumas, porém, adotam como estratégia o nãocumprimento da lei, observando
os altos custos envolvidos no processo, outras em contrapartida buscam a liderança na área ambiental
por visarem o pioneirismo em práticas ambientais inovadoras (DIAS, 2010).

Entretanto, os investimentos nas chamadas “tecnologias limpas”, ou em ações ambientais, têm sido
abordados sob uma ótica muito mais de legitimação das operações da empresa do que sob uma visão
de ecoeficiência, orientada à melhoria do desempenho operacional e, finalmente, da lucratividade da
operação.

Mesmo quando tratado, o tema ecoeficiência restringe-se à melhoria dos processos diretamente
relacionados aos aspectos e impactos ambientais. Ainda que estes sejam de grande relevância, não só
para a empresa, mas para toda a sociedade, um foco maior deve ser dado pela própria gestão

466
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ambiental a melhorias que resultem também em benefícios ao investidor, maximizando o valor da


firma, conforme proposto na teoria dos stakeholders (FREEMAN, 1983).

Pode-se então assumir que a manutenção de uma gestão ambiental, fundamentada na melhoria
contínua e em investimentos que busquem a ecoeficência poderia ser uma fonte de sustentação de
uma vantagem competitiva baseada na redução sistemática dos custos.

Apresenta-se, portanto, como o problema da pesquisa: qual a influência dos investimentos em ações
ambientais ou a manutenção de uma certificação ISO 14001 no desempenho operacional das
empresas.

Nesse sentido, a pesquisa objetiva identificar se os investimentos em meio ambiente e a manutenção


de uma certificação ambiental fundamentada na melhoria contínua do sistema de gestão, como é o
caso da ISO 14001, atuam na melhoria do desempenho operacional, de forma a reduzir os custos de
produção. O estudo apresenta as seguintes hipóteses de pesquisa:

 H1: os investimentos em meio ambiente estão positivamente associados à melhoria do


desempenho operacional;

 H2: a manutenção de uma certificação ISO 14.001, está positivamente associada à melhoria do
desempenho operacional.

O presente artigo está estruturado nas seguintes seções, além desta introdução: referencial teórico,
metodologia, análise dos resultados e conclusão.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – SGA

O desenvolvimento econômico, em particular o caso brasileiro que na década de 60 vivenciou um


processo de intensificação da industrialização, acontece, conforme Dias (2010), envolto a aspectos
que acabam por impactar o meio ambiente. O autor destaca a concentração de atividades urbanas e
industriais em regiões como Cubatão, Volta Redonda e ABC Paulista como fator, dentre outros, que
começou a causar maior sensibilidade sobre desenvolvimento sustentável. Campos (1996) destaca
que essa década gerou o movimento denominado questão ambientalista, que surgiu do conflito entre
preservacionistas e desenvolvimentistas.

467
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Conforme Campos (1996), a restrição aos resultados das empresas causada pela questão ambiental,
na visão dos desenvolvimentistas passa a dar lugar à noção de “meio ambiente como parceiro”. A
pauta de investimentos das empresas passa a conter elementos que visem à eliminação ou redução
de agentes poluentes, assim como pesquisa e desenvolvimento de tecnologias voltadas à preservação
ambiental.

Em 1972 foi realizada em Estocolmo a primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente que é
apontado por Ferreira (2003) como um passo importante na conscientização da sociedade sobre os
problemas ecológicos. Para Caldwell (1973 apud Campos, 1996) esse evento colocou a questão
ambiental nas agendas oficiais e organizações internacionais, incentivando a criação de legislações e
regulamentos ligados à área ambiental e realização de ações como criação de ministérios
encarregados pelo meio ambiente, com o propósito de reduzir a degradação da natureza.

No Brasil, em 1992, 20 anos após a conferência de Estocolmo, é realizada a ECO-92 com o objetivo de
avaliar as políticas e o planejamento das nações quanto às questões ambientais desenvolvidas nesse
interstício. Campos (1996) menciona dois documentos importantes resultantes desse encontro, quais
sejam a Carta da Terra (ou Declaração do Rio) e a Agenda 21. Esta última constituindo um plano de
ação com foco na execução de práticas de contenção da degradação ambiental e realização dos
princípios contidos na Carta da Terra que subdividido em capítulos trata, dentre outros temas, da
atmosfera, recursos da terra, agricultura sustentável, desertificação, florestas, biodiversidade,
biotecnologia, mudanças climáticas, oceanos, meio ambiente marinho, água potável, resíduos sólidos
e tóxicos e rejeitos perigosos (CAMPOS, 1996).

Iniciativas dessa natureza despertaram a consciência ambiental materializada em ações empresariais


que visassem à preservação ambiental sem, necessariamente, perder o foco do desenvolvimento
econômico. Dias (2010) denominando tal fato como gestão ambiental o conceitua como sendo o
principal instrumento para se obter um desenvolvimento industrial sustentável.

Segundo Dias (2010), a gestão ambiental tem seus processos vinculados a normas que fixam limites
para emissão de poluentes, cuja violação impacta significativamente nos investimentos das empresas,
além de afetar sua capacidade de intervenção no mercado. Esse ambiente extremamente normativo
revela, consoante o autor, um comportamento reativo às implicações ambientais, visto que se busca
eliminar ou reduzir os impactos que foram gerados ao invés de adotar medidas preventivas.

468
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Gray e Bebbington (2001) abordam essa questão inferindo que há mais tensão entre meio ambiente
e lucro do que há coerência e mesmo após vários anos se falando na temática ambiental, muitos
empresários reconhecessem isso. A manutenção de uma agenda ambiental afetaria negativamente os
resultados dos negócios e empresas com restrições em seu fluxo de caixa poderiam optar pela sua
descontinuidade.

Reis (2002) destaca a eliminação de desperdícios como uma vantagem da implementação de um SGA
em empresas. O estudo destaca a relação positiva entre o desempenho ambiental com o financeiro.
Para Reis (2002), a existência de um SGA voltado à eliminação ou redução de desperdícios pode
melhorar a imagem da empresa no mercado de forma a impactar diretamente em seus resultados.

Sob a perspectiva estratégica, segundo Klassen e McLaughlin (1996), a


literatura indica que os negócios devem considerar os impactos ambientais
dos produtos e processos de manufatura, bem como a regulamentação
ambiental, devendo ser empreendidas pelas empresas iniciativas em
tecnologias e gestão ambiental. Segundo esses autores, a gestão ambiental é
significativo componente das estratégias funcionais, particularmente as
operacionais e, como parte da estratégia corporativa, afeta o desempenho
ambiental que, ao tornar-se de conhecimento público, passa a ser observada
e avaliada pelo mercado. Assim, a gestão ambiental afeta ambos os
componentes, estruturais e de infra-estrutura, envolvendo escolha de
produtos, tecnologia de processos e sistemas de gestão (ALBERTON; COSTA
JR., 2007, p. 155)

Existem, conforme demonstrado no Quadro 1, estratégias distintas entre as organizações quanto à


adoção de práticas ambientais que, conforme o caso, ocasionam resultados diferenciados sob a ótica
econômica.

469
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Roome (1992 apud Dias, 2010).

Quadro 1 – Opções estratégicas das empresas diante da legislação ambiental.

O quadro 1 revela posturas que visam os mais variados propósitos quando se destacam ações
estratégicas utilizadas pelas empresas diante da emergência de ações ambientais. Destaca-se o fato
da adoção de selos ambientais, como o ISO 14001 que representa, para Gray e Bebbington (2001),
uma forma de gerir os efeitos ambientais e não a gestão dos atuais desempenhos ambientais, tendo
sido popularizado e amplamente adotado, servindo de base para padrões posteriores. Os autores
abordam que a norma conduzia a um padrão internacional onde se pudesse analisar a qualidade
ambiental e fornecer subsídios para a realização de uma auditoria ambiental onde seriam verificados
se os processos desenvolvidos nas empresas podem ser considerados ambientalmente corretos.

Ferreira (2003) lembra que receber certificação ambiental não é significado de não poluição,
afirmando haver muitos impactos ambientais causados por empresas certificadas. A autora invoca o
fato de que tais selos podem “facilitar a obtenção de financiamentos para investimentos em meio
ambiente”. Essas afirmativas sugerem a adoção de um SGA como forma de acesso a diversas
oportunidades.

470
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A pesquisa de Avila e Paiva (2006) indica que um sistema de gestão ambiental pode ser visto como
uma ferramenta para facilitar o alcance do equilíbrio entre resultado e as necessidades ambientais.
Complementam que a certificação deste sistema baseada na ISO 14001 pode ser um mecanismo para,
dentro de cada atividade da cadeia de valor da empresa, estabelecer os métodos de realimentação de
todo o sistema para obten4ão dos resultados.

Observa-se que o SGA, além de propiciar uma melhor imagem da empresa ao mercado cada vez mais
exigente quanto ao cumprimento de normas ambientais, deve contribuir para a redução dos custos
de produção através, por exemplo, da redução do consumo de matérias-primas, como forma de
manter o nível de competitividade.

Neste sentido, esse estudo aborda o conceito de SGA incorporando a eficiência operacional na medida
em que, conforme Dias (2010), foca o projeto e desenvolvimento de produtos com redução de
matéria-prima, energia e água necessários na sua fabricação, considerando uma maior propensão a
resultados melhores em empresas certificadas ISO 14001.

2.2 PERFORMANCE OPERACIONAL

A definição de performance operacional encontra materialidade na ecoeficiência. O Conselho


Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), conforme Dias (2010) identifica sete
fatores para se alcançar com êxito a ecoeficiência, quais sejam: 1) reduzir a intensidade de uso de
materiais; 2) diminuir a demanda intensa de energia; 3) reduzir a dispersão de substâncias tóxicas; 4)
incentivar a reciclagem dos materiais; 5) maximizar o uso sustentável dos recursos renováveis; 6)
prolongar a vida útil dos produtos, e; 7) incrementar a intensidade de serviços.

Para a WBCSD (2010) a redução do custo operacional continua a ser um condutor de investimentos
em medidas sustentáveis, considerando o reflexo positivo sobre os resultados das organizações.

A pesquisa de Bufoni, Ferreira e Legey (2009), que tratou da análise de investimentos em meio
ambiente, efetuados entre 2001 e 2005, na produção e nas operações de empresas que divulgam
relatórios sociais (IBASE), apresenta alguns resultados significativos para a compreensão da relação
entre investimentos ambientais e resultados corporativos. Os resultados indicam não haver uma
significativa relação entre lucratividade e investimentos ambientais, porém há uma relação positiva
quando se trata desses investimentos comparados com a receita da empresa e investimento em
capacitação de funcionários.

471
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O EARTHWATCH INSTITUTE et al. (2006) identificam que a maior parte das empresas falha no
reconhecimento do elo entre um ecossistema saudável e seus interesses empresariais. Reforça
afirmando que as empresas que se posicionam competitivamente estarão mais adaptadas e poderão
tirar benefício de problemas ambientais, diferentemente daquelas que falham nesse reconhecimento
que podem sofrer um decréscimo na eficiência operacional e nas margens de lucro.

Porter (1985) estabelece que mudanças no ambiente competitivo produzem novas formas de criação
de valor. Essa afirmativa é complementada por Tidd, Bessant e Pavitt (2008) quando afirmam a
possibilidade da criação de novos valores aos clientes frente à concorrência. A desarmonia entre o
desenvolvimento tecnológico e responsabilidade socioambiental insere as organizações num
paradoxo onde tenham que programar medidas voltadas ao meio ambiente, mantendo sua
competitividade e atratividade no mercado.

Ferreira (2003) destaca as experiências como a da 3M, Ciba-Geigy, Colgate Palmolive, Ripasa, Rhodia,
Aracruz Celulose e outras que através de redução de resíduos e iniciativas ambientais conseguiram
melhor aproveitamento dos recursos econômicos. Para a autora o desenvolvimento sustentável
possui obstáculos ainda não superados, como o paradoxo entre preservação do meio ambiente e
redução de custos.

Dessa forma, a performance operacional encontra no contexto acima uma conotação de redução de
custos através do uso devido e consciente dos recursos naturais, adquiridos através de uma gestão
ambiental eficiente.

3 METODOLOGIA

A pesquisa objetiva identificar se os investimentos em meio ambiente e a manutenção de uma


certificação ambiental está positivamente associada ao desempenho operacional. Para fins deste
trabalho, o construto desempenho operacional, é aqui entendido como uma redução no elemento
custo dos produtos vendidos (CPV), de forma que, se espera que maiores investimentos em meio
ambiente, assim como a manutenção de uma certificação ambiental, atuem de forma a reduzir o CPV

A pesquisa utilizará o modelo de regressão linear representado na equação 1,o qual “reflete uma
relação conhecida ou conjectura entre variáveis econômicas e fornece a base para a classificação de
variáveis e a identificação das hipóteses relevantes e supostamente testáveis” (MYNBAEV; LEMOS,
2004, p. 27).

472
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

DOij, refere-se ao construto desempenho operacionais é dado por CPVij/VLij;


CPVij, representa o custo dos produtos vendidos;
VLij, refere-se às vendas líquidas no período;
INVij, é a relação entre o montante investido em meio ambiente e o ativo total (ATij); e
ISOj, denota presença de certificação ISO 14.001;
TAM, indica o tamanho relativo da empresa, e é dado por ln(ATij);
SETj, define o setor industrial a que pertence a empresa.

Para o construto Desempenho Operacional, o CPV foi relativizado pelas vendas líquidas (VL) a fim de
reduzir os efeitos de volume nas variações do CPV.

A variável dummy ISO, “serve para representar a influência de uma característica ou atributo
qualitativo” (SARTORIS, 2003, p. 267), e assume os valores 1 (um) quando a empresa mantiver uma
certificação ISO 14.001, e 0 (zero) quando a empresa não estiver certificada.

Os dados utilizados do CPV, VL e AT foram obtidos através do sistema Economática®, dentre os anos
2007 e 2010. As informações referentes aos investimentos em meio ambiente foram retiradas, quando
disponíveis, do Relatório da Administração (RA) das empresas, publicados no sítio da BM&FBovespa
ou dos Balanços Sociais, quando disponíveis, nos sítios das respectivas empresas. Sendo que, nos casos
onde a empresa não divulgou o montante investido, considerou-se este como sendo “zero”. As
informações sobre a manutenção de certificação ambiental foram obtidas através dos RA’s ou do sítio
das empresas na internet.

Finalmente, SET e TAM são variáveis de controle, que buscam verificar a influência do setor industrial
(SET) e do tamanho da empresa (TAM), na melhoria do desempenho operacional.

A escolha do RA como fonte para os dados sobre investimentos em meio ambiente é fundamentada
em Silva, Rodrigues e Abreu (2007) e Paiva (2006), que afirmam este ser adequado a outras
informações sobre as operações, como programas e resultados ambientais.

Ainda, para Iudícibus et al. (2010, p. 2), o RA “deve evidenciar os negócios sociais e principais fatos
administrativos ocorridos no exercício”.

473
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para o estudo foram consideradas as empresas pertencentes aos setores Papel e Celulose, Petróleo e
Gás, Metalurgia e Siderurgia e Químicas, conforme definido no sistema Economática®.

Estes setores foram selecionados devido à relevância de seus impactos ambientais, o que é confirmado
em trabalhos como o de Freitas, Porte e Gomez (1995), Cormier e Magnan (1997), Nossa (2002) e
Oliveira e Martins (2003). Nesse critério foram analisadas 50 empresas, sendo 5 do setor Papel e
Celulose, 8 do setor de Petróleo e Gás, 12 do setor Químicas e 25 do setor Metalurgia e Siderurgia.

Três empresas foram excluídas da amostra, sendo quatro do setor Petróleo e Gás e quatro do setor
Siderurgia e Metalurgia, devido à ausência de dados disponíveis nos anos analisados ou à consolidação
das informações com a controladora, a qual já estava incluída na amostra.

Para a análise dos dados e cálculo da regressão utilizou-se o software Stata®, com um intervalo de
confiança de 95%. Para validação das condições para uso do método dos mínimos quadrados
ordinários (MQO), realizou-se os testes Kolmogorov-Smirnoff, que não permitiu aceitar a hipótese de
normalidade dos resíduos. Da mesma forma, os testes de Breusch-Pagan/Cook-Wiesberg, não
permitiram aceitar a hipótese de homocesdasticidade.

Por fim, o teste de Durbin-Watson não identificou a presença de autocorrelação serial, assim não foi
identificado problema de multicolinearidade, de acordo com o teste do fator de inflação dos valores
(VIF).

Devido à violação dos princípios necessários à regressão pelo MQO, utilizou-se o método de regressão
robusta, o qual:

...fornece uma alternativa para o modelo de regressão pelos mínimos


quadrados, quando os princípios fundamentais não são suportados pela
natureza dos dados. [...] Nestas circunstâncias, a regressão robusta, que é
resistente à influência de outliers, pode se tornar o único recurso razoável.
(YAFFEE, 2002, p. 1)

Ainda para Yaffee (2002), os estimadores de White e Newey-West, utilizado na regressão robusta, pelo
Stata®, são resistentes aos problemas de heterocedasticidade e autocorrelação, além de melhorar a
qualidade das estimações com amostras pequenas.

Dentre as limitações deste trabalho destaca-se a necessidade de se utilizar uma relação entre CPV e
vendas líquidas para obter-se o CPV unitário. Desta forma, esta relação pode receber influência de

474
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

fatores como mix de vendas, variações no preço dos insumos e das vendas e variações cambiais e
inflacionárias. Outra limitação ao estudo é a carência de informações sobre os investimentos
ambientai, desde a ausência da divulgação dos valores investidos, bem como sobre a destinação
destes investimentos nos RA’s, pois seria esperado que apenas os investimentos para melhoria dos
processos contribuíssem para o desempenho operacional. Por fim, devido à grande maioria das
empresas analisadas não divulgar o ano de obtenção da certificação ISO 14.001, o modelo considerou,
no caso das empresas certificadas, esta certificação presente em todos nos quatro anos analisados.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados obtidos para os coeficientes das variáveis dependentes da regressão, bem como os
resultados dos testes estatísticos relacionados são apresentados na Tabela 1. Foram regredidos três
modelos, a partir daquele proposto inicialmente. O primeiro modelo considera apenas as variáveis
explicativas, bem como a influência dos investimentos nas empresas certificadas (INV*ISO). O segundo
modelo inclui a varável de controle TAM, enquanto o terceiro modelo inclui as variáveis dummies
referentes aos setores industriais, assim como as variáveis associativas que verificam o impacto dos
investimentos em cada setor.

475
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 – Coeficientes da regressão obtidos a partir dos dados analisados.

Fonte: Dados da pesquisa (2011)

De acordo com os resultados obtidos para o R-quadrado, o modelo 3 é o que melhor explica o
desempenho operacional, em função das variáveis independentes consideradas. Uma vez que o teste

476
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

F permite aceitar este modelo como significativo, a análise dos coeficientes da regressão para
verificação das hipóteses da pesquisa será feita com base nesse modelo.

Conforme os resultados obtidos para o teste t referente aos coeficientes da regressão, obtém-se a
equação 2, a qual apresenta apenas as variáveis cuja confiabilidade foi igual ou superior a 95%:

Da análise dos resultados da equação 2 observa-se que, quando consideradas todas as empresas, os
investimentos em meio ambiente possuem uma associação positiva com o desempenho operacional,
ainda que, isoladamente a variável investimento não tenha sido estatisticamente significantes. Este
resultado está em linha com os estudos de Piotto (2003), Avila e Paiva (2006) Bertagnolli, Ott e
Damacena (2006) e Alberton e Costa Jr. (2007).

Além disso, a presença de uma certificação ISO 14.001 não é suficiente para melhorar o desempenho
operacional quando não há investimentos ambientais associados, aumentando assim o CPV. Pode-se
inferir, desta forma, que os ganhos advindos de controle e padronização operacional não seriam
suficientes para compensar os gastos com a manutenção do sistema, os quais incluem os próprios
custos de controle.

Ao se analisar o impacto dos investimentos ambientais por setor, observa-se que, na presença de uma
certificação ISO 14.001, apenas as empresas de Papel & Celulose não se beneficiaram de um melhor
desempenho operacional. Cabe destacar que, ainda que este resultado não corrobore o estudo de
Piotto (2003), a empresa analisada no estudo de caso mencionado, não fez parte da amostra desta
pesquisa.

Devido à característica de controle operacional de diversos itens da norma ISO 14.001 (ISO, 2009),
poder-se-ia esperar que as empresas certificadas orientassem melhor seus investimentos ambientais
nos processos operacionais, objetivando a redução de desperdícios e do consumo de recursos
naturais, tais como água e energia. Por outro lado, quando não há uma pressão externa, dada pela
auditoria do órgão certificador, os investimentos poderiam estar sendo orientados para outros tipos
ações, mais voltados à imagem da organização, os quais não teriam impacto direto no CPV. Isto
poderia explicar por que, quando da ausência de certificação, os investimentos ambientais não estão

477
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

associados a um melhor desempenho operacional, à exceção das empresas do setor de Petróleo e


Gás.

5 CONCLUSÃO

O presente estudo atingiu seus objetivos ao investigar a associação entre os investimentos em meio
ambiente, assim como a manutenção de uma certificação ISO 14.001, e o desempenho operacional,
aqui definido com a redução no custo dos produtos vendidos (CPV).

A partir do modelo de regressão linear e dos respectivos testes de hipótese, foi possível identificar
que: 1) há uma associação positiva entre os investimentos ambientais e o desempenho operacional,
de forma que maiores investimentos resultariam em menor CPV.

Além disso, identificou-se a manutenção de uma certificação ISO 14.001, quando não estiver associada
a investimentos ambientais, possui influência negativa sobre o desempenho operacional, aumentando
assim o CPV. Entretanto, na presença de investimentos ambientais, a presença de um sistema de
gestão ambiental certificado atua de forma a alavancar a melhoria do desempenho operacional.

De acordo com o objetivo acima, duas hipóteses foram testadas, a saber: (H1) o volume de
investimentos em ações ambientais impacta positivamente reduzindo a participação dos custos dos
produtos vendidos na receita líquida; e (H2) a manutenção de uma certificação ISO 14001 impacta
positivamente reduzindo a participação dos custos dos produtos vendidos na receita líquida.

Através de uma modelização estatística de regressão linear, validou-se a hipótese H1. Este resultado
é corroborado por outros estudos que demonstram melhoria do desempenho através de
investimentos e ações ambientais, a chamada ecoeficiência, dentre os quais se pode destacar Mendes
(2003), Piotto (2003), Carvalho e Gomes (2004), Lima, Cunha e Lira (2008) e Marconatto, Dalmoro e
Pereira (2009).

Além disso, identificou-se que a manutenção de uma certificação ISO 14.001, quando não estiver
associada a investimentos ambientais, possui influência negativa sobre o desempenho operacional,
aumentando assim o CPV. Entretanto, quando evidenciados de investimentos ambientais, a presença
de um sistema de gestão ambiental certificado atua de forma a alavancar a melhoria do desempenho
operacional. Desta forma, a hipótese H2, pode ser aceita se a condição de investimentos ambientais
for mantida.

478
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Foi feita ainda uma análise dos impactos dos investimentos ambientais e da certificação ISO 14.001
isoladamente pelos setores analisados – Papel e Celulose, Petróleo e Gás, Químicas e Siderurgia e
Metalurgia. Esta análise identificou que sob a presença de uma certificação ISO 14.001, todos os
setores, exceto Papel e Celulose, obtiveram melhorias em seu desempenho operacional, quando
houve investimentos ambientais associados. Por outro lado, na ausência de uma certificação
ambiental, apenas as empresas do setor de Petróleo e Gás, conseguiram associar seus investimentos
ambientais a um melhor desempenho operacional. Finalmente, quando da ausência de investimentos
em meio ambiente, todos os setores apresentaram uma piora do desempenho operacional.

Entende-se as limitações deste trabalho, conforme descritas na seção de Metodologia e sugere-se


como aprofundamento nos estudos, identificar junto às empresas, os montantes investimentos em
ações ambientais internas, destinadas apenas à melhoria do desempenho dos processos, bem como
o CPV unitário, expurgando assim o efeito das variações de preços de vendas. Sugere-se ainda incluir
no modelo outras variáveis de controle, tais como inflação e efeitos da crise de 2008/2009, além da
presença de outras certificações ou modelos de gestão, como a ISO 9001 ou o Lean Manufacturing,
que impactem no desempenho operacional.

REFERÊNCIAS

ALBERTON, A.; COSTA JR., N. C. A. Meio ambiente e desempenho econômico-financeiro:benefícios dos


sistemas de gestão ambiental (SGAs) e o impacto da ISO 14001 nas empresas brasileiras. RAC-
Eletrônica, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, mai./ago., 2007, p. 153-171.

AVILA, G. J.; PAIVA, E. L. Processos operacionais e resultados de empresas brasileiras após a


certificação ambiental ISO 14001. Gestão & Produção, São Carlos, v. 13, n. 3, set./dez., 2006, p. 475-
487.

BERTAGNOLLI, D. D. O.; OTT, E.; DAMACENA, C. Estudo sobre a influência dos investimentos sociais e
ambientais no desempenho econômico das empresas. In: Congresso USP de Controladoria e
Contabilidade, 6., São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 2006.

BUFONI, A. L.; FERREIRA, A. C. S.; LEGEY, L. F. L. Os investimentos ambientais divulgados no balanço


social do IBASE pelas empresas brasileiras. In: FERREIRA, A. C. S.; SIQUEIRA, J. R. M.; GOMES, M. Z.
(Org.). Contabilidade ambiental e relatórios sociais. São Paulo: Atlas, 2009, v. 1, p. 151-170.

CAMPOS, L. M. S. Um estudo para definição e identificação de custos da qualidade ambiental.


Dissertação de Mestrado – Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.

Disponível emhttp://www.eps.ufsc.br/disserta96/campos/cap2/capitulo2.htm#t2_2. Acesso em


02.dez.2010.

479
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

CARVALHO, F. P. A.; GOMES, J. M. A. Eco-eficiência na produção de cera de carnaúba no município de


Campo Maior, Piauí. Revista de Economia & Sociologia Rural, Piracicaba, v. 46, n. 2, abr./jun., 2008, p.
421-453.

CORMIER, D.; MAGNAN, M. Investors’ assessment of implicit environmental liabilities: an empirical


investigation. Journal of Accounting and Public Policy, n. 16, 1997, p. 215-241.

DAL PIVA, C.; BONONI, V. L. R.; FIGUEIREDO, R. S.; SOUZA, C. C. Sistema de Gestão Ambiental
implementado aos moldes da ISO 14001:2004 em um frigorífico de abate de aves, no Município de
Sidrolândia – Mato Grosso do Sul. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 3, n.
3,set./dez., 2007, p. 20-53.

DEEGAN, C. Organizational legitimacy as a motive for sustainability reporting. In: UNERMAN, J.;
BEBBINGTON, J.; O’DWYER, B. Sustainability accounting and accountability. London: Routledge, 2007,
c. 7, p. 127-149.

DELMAS, M. A. Barriers and incentives to the adoption of ISO 14001 by firms in the United States. Duke
Environmental Law & Policy Forum, v. 11, n. 1, Fall, 2000, p. 1-38.

DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 1a ed. São Paulo: Atlas, 2010.

EARTHWATCH INSTITUTE; IUCN - THE WORLD CONSERVATION UNION; WBCSD - WORLD BUSIINESS
COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT; WRI - WORLD RESOURCES INSTITUE. As empresas e os
ecossistemas (Resumo). Lisboa: BSCD Portugal, 2006. Disponível

em: http://www.wbcsd.org/web/publications/As-empresase-os-Ecossistemas-resumo.pdf. Acesso

em 05.dez.2010.

FERREIRA, A. C. S. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvimento sustentável. São


Paulo: Atlas, 2003.

FLECK, D. Genuine concern for environmental sustainability: an antidote to organizational simplicity


and failure. In: EnANPAD, 33., São Paulo, Anais…, Rio de Janeiro: ANPAD, 2009.

FREEMAN, R. E. Stockholders and stakeholders: a new perspective on corporate governance. California


Management Review, v. 25, n. 3, 1983, p.88-106.

FREITAS, C. M.; PORTE, M. F. S.; GOMEZ; C. M. Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde
pública. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 29, n. 6, 1995, p. 503- 514.

GRAY, R.; BEBBINGTON, J. Accounting for the environment. 2nd ed. California: Sage,2001.

GUAJARATI, D. Econometria básica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2006.

ISO – INTERNACIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Environmental management: the ISO


14000 family of International Standard. Genève: ISO, 2009.

IUDÍCIBUS, S.; MARTINS, E.; GELBCKE, E. R.; SANTOS, A. Manual de contabilidade societária: aplicável
a todas as sociedades, de acordo com as normas internacionais e do CPC. São Paulo: Atlas, 2010.

480
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

LIMA, J. R. T.; CUNHA, N. C. V.; LIRA, T. K. S. Gestão ambiental e os benefícios econômicos na


agroindústria sucroalcooleira: um estudo de caso da usina Coruripe Matriz. In: EnANPAD, 32., Rio de
Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

MARCONATTO, D. A. B.; DALMORO, M.; PEREIRA, B. A. D. Elementos de ecoeficiência: constatações


teóricas e empíricas no sistema Coca-Cola. Revista de Ciências da Administração, Fortaleza, v. 15, n. 1,
jan./jun., 2009, p. 180-202.

MENDES, L. Gestão ambiental, custo ou benefício para a micro e pequena empresa? Um estudo de
caso no setor de laticínios. In: SEMEAD, 6. Anais... São Paulo: FEA/USP, 2003.

MORETTI, S. L. A.; CAMPANÁRIO, M. A. Para sair da zona de conforto: análise bibliométrica dos artigos
sobre responsabilidade social empresarial - RSE na EnANPAD. In: EnANPAD, 32., Rio de Janeiro. Anais…
Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

MYBAEV, K. T.; LEMOS; A. Manual de econometria. São Paulo: FGV, 2004.

NAHUZ, M. A. R. O sistema ISO 14000 e a certificação ambiental. Revista de Administração de


Empresas, São Paulo, v. 35, n. 6, p. 55-66, nov./dez., 1995.

NOSSA, V. Disclosure ambiental: uma análise do conteúdo dos relatórios ambientais de empresas do
setor de papel e celulose em nível internacional. USP, São Paulo, 2002, 249 p. Tese (Doutorado em
Controladoria e Contabilidade – Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade). São Paulo: USP, 2002.

OLIVEIRA, M. R. C.; MARTINS, J. Caracterização e classificação do resíduo sólido “pó do balão”, gerado
na indústria siderúrgica não integrada a carvão vegetal: estudo de um caso na região de Sete
Lagoas/MG. Química Nova, São Paulo, v. 26, n. 1, mai./set., 2003, p. 5-9.

PAIVA, P. R. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com transparência e focada
na prevenção. São Paulo: Atlas, 2006.

PETKOW, M.; ALMEIDA, V. L.; SELIG, P. M. Sistema de gestão ambiental certificado pela ISO 14001: um
programa para redução dos desperdícios. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE CUSTOS, 9.,
Florianópolis. Anais... Florianópolis: ABC, 2005.

PIOTTO, Z. C. Eco-eficiência na indústria de celulose e papel: estudo de caso. USP, 2003, 379 p. Tese
(Doutorado em Engenharia – Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo). São Paulo: USP, 2003.

PORTER, M. E. Competitive advantage: creating and sustaining superior performance. New York: The
FreePress, 1985.

REIS, H. L. Os impactos de um sistema de gestão ambiental no desempenho financeiro das empresas:


um estudo de caso. In: EnANPAD, 26., Salvador. Anais… Salvador: ANPAD, 2002.

SILVA, C. A. T.; RODRIGUES, F. F.; ABREU, R. L. Análise dos relatórios de administração das companhias
abertas brasileiras: um estudo do exercício social de 2002. Revista de Administração Contemporânea,
v. 11, n. 2, abr./jun., 2007, p. 71-92.

481
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

SARTORIS, A. Estatística e introdução à econometria. São Paulo: Saraiva, 2003.

TIDD, J.; BESSANT, J.; PAVITT, K. Gestão da inovação. 3a ed. Porto Alegre: Bookman,2008.

WBCSD – WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT. How to value ecosystem
impacts and opportunities: guide to corporate ecosystem valuation road tested. Disponível em:
http://www.wbcsd.org/DocRoot/jj1p7Quw3HBKGw64QtKS/ CEV%20Interviews_051010.pdf. Acesso
em 05.dez.2010.

YAFFEE, R. A. Robust regression analysis: some popular statistical package options. Working Papers.
New York, 2002. Disponível em: www.nyu.edu/its/statistics/Docs/RobustReg2.pdf. Acesso em
26.06.2011.

482
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 23

CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS EM EMPRESAS DO


SEGMENTO NOVO MERCADO DE GOVERNANÇA
CORPORATIVA DA BOVESPA: UMA COMPARAÇÃO DE
FORMAS DE APURAÇÃO
DOI: 10.37423/200300537

Lísia de Melo Queiroz (UFU) - lisia@ufu.br

Roni Cleber Bonizio (USP - FEA-RP) - rbonizio@usp.br

Resumo: O presente estudo tem como objetivo verificar se há diferença significativa entre o
custo do capital de terceiros (Ki) apurado com base nas Demonstrações Contábeis (DC) e, a
partir das informações contidas nas Notas Explicativas (NE) das empresas do segmento Novo
Mercado de Governança Corporativa (NMGC) da Bovespa, além de identificar os fatores que
as determinam. Faz-se, assim, uma comparação entre duas formas de apuração do Ki, uma
que já é utilizada e outra proposta neste estudo. O segmento NMGC foi escolhido porque as
empresas que o compõem comprometem-se a melhorar a qualidade das informações
prestadas aos stakeholders. No Teste de Hipóteses realizado, H0 indica que não há diferenças
significativas entre as duas formas de apuração; e H1, que há diferenças significativas entre
elas. O Teste de Postos com Sinais de Wilcoxon indicou que há evidência insuficiente contra
a hipótese nula, ou seja, não há evidência amostral para afirmar que há diferença entre as
duas formas de apuração, (α = 5%). Apesar disso, os valores encontrados permitem levantar
algumas suposições acerca das divergências visualizadas:

483
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 - lançamentos herméticos das receitas e despesas financeiras; 2 - valores operacionais lançados nas
despesas financeiras com a permissividade da lei; e 3 - a presença de instrumentos financeiros que
interferem no total das despesas financeiras. Contudo, a apuração do Ki pelas NE apresenta-se mais
satisfatória que pelas DC, pois eliminam-se as deficiências levantadas, e fornecem aos usuários
informações compreensíveis, relevantes, confiáveis, comparáveis e sobretudo, úteis para a tomada de
decisões.

Palavras-chave: Custo de capital de terceiros. Formas de apuração. Notas Explicativas.

Área temática: Controladoria

484
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

O custo de capital de terceiros (Ki) é de interesse dos usuários externos, stakeholders, pois revela,
dentre outros, o nível de risco que a empresa opera. Normalmente, estes usuários não possuem
informações internas, e necessitam de informações claramente evidenciadas nos demonstrativos
contábeis publicados para que se possa calcular o Ki adequadamente. Esta publicação deve conter
informações relevantes e necessárias, mesmo que adicionais à legislação, e é conhecida como
evidenciação ou disclosure, e garante, a todos os tipos de usuários, informações completas sobre a
situação financeira e os resultados da companhia.
A evidenciação de informações contábeis é um dos objetos de estudo neste trabalho, uma vez que no
mesmo é realizada uma comparação de duas formas de apuração do Ki a partir das demonstrações
contábeis divulgadas pelas empresas de capital aberto: uma que já é utilizada com frequência e outra
proposta neste trabalho, que se vale do nível de transparência de grandes empresas nas informações
contidas nas suas Notas Explicativas (NE), e pela qual se busca verificar se há, ou não, divergências nos
resultados encontrados em ambas.
Portanto, o estudo justifica-se por oferecer uma contribuição conceitual importante, pois questiona
se a evidenciação realizada das despesas financeiras, exigida pela atual legislação, proporciona as
informações necessárias para o cálculo do Ki, além de demonstrar uma forma nova de apuração que
supre as ineficiências da outra comumente usada.
Considerando o exposto, o problema de pesquisa é: Existe diferença significativa na apuração do custo
do capital de terceiros calculado com base nas informações disponibilizadas no Balanço Patrimonial e
na Demonstração do Resultado do Exercício e com base nas informações disponibilizadas nas Notas
Explicativas nas empresas do NMGC da Bovespa?
A resposta a esse problema pode contribuir com a melhora da evidenciação das informações
contábeis, visando o atendimento à necessidade dos stakeholders no tocante ao custo de capital de
terceiros. Assim, adicionalmente, pretende-se relatar as ineficiências percebidas na evidenciação
ocorrida nas empresas deste estudo, bem como descrever as dificuldades encontradas na apuração
do Ki nas duas formas de apuração.
O objetivo geral deste estudo é: Verificar se, de fato, há diferença significativa ou não entre custo do
capital de terceiros calculado com base nas informações disponibilizadas no BP e DRE e a partir das
informações contidas nas Notas Explicativas nas empresas do NMGC da Bovespa.
Como complemento, tem-se o levantamento dos seguintes objetivos específicos:

485
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. Identificar se há divergências entre as duas formas de apuração do Ki analisadas


e quais os fatores que as determinaram.
2. Verificar se as exigências de transparência na divulgação das informações aos
usuários, exigidas pela legislação atual, são suficientes para o cálculo correto do custo
de capital de terceiros.
A estruturação deste trabalho é descrita a seguir. Inicialmente, no capítulo 1, faz-se uma introdução.
Em seguida, no capítulo 2, é realizado o referencial teórico sobre o tema de estudo. No capítulo 3, é
descrita a metodologia deste trabalho. Em seguida, no capítulo 4, têm-se os procedimentos
executados, resultados e análises. Finalmente, no capítulo 5, são apresentadas as considerações finais
sobre o estudo, seguido das referências.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O custo do capital de terceiros no Brasil tem atingido índices elevados e preocupantes para as
empresas. Assaf Neto (2003, p. 89) comenta que “as taxas de juros na economia brasileira têm
apresentado valores bastante elevados nas últimas décadas, inibindo qualquer tentativa de nossas
empresas trabalharem com as taxas livremente praticadas no mercado”. E complementa que as
empresas maiores, normalmente, as de capital aberto, conseguem taxas subsidiadas junto ao BNDES,
visando contornar, em parte, esta situação. Assim, busca-se antecipar futuras situações que poderão
colocar a organização em uma situação financeira desfavorável ou até mesmo impedir sua
continuidade.
Saddi (2000) informa que as altas taxas de juros oneram os recursos oferecidos para financiamento às
empresas no Brasil. Afirma ter uma “gordura” nesta taxa de juros, e que “As taxas estão elevadas
porque há um excesso de custos e tributos sobre a taxa de captação”.
No Brasil, existe a presença simultânea de juros altos para capital de terceiros e taxas subsidiadas pelo
governo, como é o caso dos recursos advindos do BNDES. Martins e Assaf Neto (1993, p. 508) lembram
que existem “políticas governamentais de incentivo setorial e/ou regional (exemplo: pequenas e
médias empresas, apoio a empresas do Nordeste, apoio à exportação, crescimento da agricultura,
etc.) ”. Sendo assim, o Ki exerce um comportamento diferenciado entre as empresas que conseguem
captar a taxas baixas ou subsidiadas e aquelas que não conseguem, ou que se esgotaram as
possibilidades mais atraentes de captação.
Solomon & Pringle (1980) relatam que, nas empresas, o Ke ≥ Ko > Ki > i em que i é a taxa de juros livre
de risco (risk-free), Ke é o custo do capital próprio, e Ko é o custo de capital próprio, considerando que

486
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

não há dívidas na empresa. Essa proposição conceitual não prevê situações específicas como as que
acontecem no Brasil, pois, na presença de taxas de juros subsidiados, essa condição pode ser diferente,
e o retorno requerido é reduzido.
O retorno requerido pelos proprietários de dívidas da empresa (Ki) é a taxa de juros de mercado que
a empresa tem que pagar, o qual está contido nas despesas financeiras, e melhor explicado nas Notas
Explicativas (NE). Nesse sentido, este trabalho propõe uma nova forma de apuração do custo de capital
de terceiros, tomando como base as informações contidas nas NE das Demonstrações Contábeis.
Vários autores, ao longo dos anos, vêm propondo formas de apuração diferenciadas para o custo do
capital de terceiros, além de explicar o uso.
Assaf Neto (2008), em consonância também com Van Horne (1973), considera que o Ki deve ser
apurado após a respectiva dedução do Imposto de Renda (IR), deduzindo-se seu custo final. O conceito
apresentado pelo autor pode ser visualizado na Equação 1:

Equação 1 K i após IR   K i antes IR  x 1  IR 

Assaf Neto (2008) apresenta uma outra fórmula, que deriva de Solomon (1977), para encontrar o custo
de captação líquido do Imposto de Renda, conforme Equação 2:

Equação 2 Despesas financeira s líquidas de impostos


Ki 
Passivo gerador destas despesas

Assaf Neto (2008) alerta que o benefício fiscal de poder deduzir os encargos financeiros no cálculo do
Imposto de Renda é possível somente para as empresas que pagam este tributo, e que apresentam
lucro tributável no exercício.
Modigliani e Miller (1963) alegam que é claro o benefício fiscal advindo das dívidas, ou seja,
reconhecem que a dedutibilidade das despesas financeiras na apuração dos Impostos é favorável às
empresas. Para Brealey e Myers (1992) os pagamentos de juros são considerados como custos e são
dedutíveis do resultado tributável. Assim, estes juros reduzem os resultados antes dos impostos,
assim, o governo concede este benefício com o uso do endividamento.
Damodaran (2004) relaciona as vantagens e desvantagens do uso de dívidas. Como vantagem o autor,
destaca o uso de dívidas produz uma vantagem fiscal, proporcionada pelo aumento das despesas

487
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

financeiras e consequente diminuição no lucro tributável. Como desvantagem ele destaca o uso de
dívidas na estrutura de capital aumenta o custo de falência e reduz a flexibilidade para levantar
financiamentos adicionais posteriores, pois compromete sua capacidade de pagamento. Damodaran
(2004) utiliza-se do mesmo conceito utilizado por Van Horne (1973) para o cálculo do Ki, em que o
custo da dívida, após a dedução do imposto, é calculado pela taxa de juros da dívida, excluindo-se o
efeito dos impostos.
Bonizio (2005) apurou o Ki pela divisão das despesas financeiras líquidas dos impostos (IR e
Contribuição Social) pelo passivo oneroso médio (de curto e longo prazo).
Esta última forma de apuração do Ki, que é uma vertente de outras demonstradas anteriormente, é
utilizada neste estudo. Sendo assim, é fundamental entender os itens que compõem o seu cálculo. O
Ki é composto de: (i) passivo oneroso de curto e longo prazo, e também, (ii) despesas financeiras. Para
realizar os cálculos necessita-se destes valores claramente evidenciados para a realização dos cálculos
necessários a este estudo.

2.1 PASSIVO ONEROSO

Para Assaf Neto (1997), o passivo oneroso é o gerador de encargos financeiros. Ele surge naturalmente
com a atividade operacional da empresa. O passivo oneroso, item essencial deste trabalho para o
cálculo do Ki, é divulgado nos sites da CVM e Bovespa de forma padronizada, nos seguintes formulários
periódicos: (i) Demonstrações Financeiras Padronizadas – DFP, (ii) Informações Anuais – IAN, e (iii)
Informações Trimestrais – ITR. Nesses formulários, estão segregados os valores de financiamentos e
debêntures, no passivo circulante e no passivo não circulante em atendimento à Deliberação CVM N°
488/2005. Caso que se repete no banco de dados Economática®. Nas Notas Explicativas constantes
destas empresas são evidenciados os valores constante dos Passivos Onerosos, bem como outras
informações como prazo de vencimento, taxa de juros, etc.

2.2 EVIDENCIAÇÃO DA DESPESA FINANCEIRA

A evidenciação, também conhecida como disclosure, não devem se restringir ao que é exigido pela
legislação, pois a empresa transparente obtém benefícios advindos da globalização, como observado
em estudos acadêmicos. Para Camargos e Barbosa (2006, p. 3): “[...] as exigências de disclosure que a
empresa se compromete a cumprir resultam no aumento da sua visibilidade internacional, no acesso
a fontes de financiamento com custos menores, o que representa uma sinalização positiva para os
investidores.

488
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Entre as pesquisas internacionais, com a evidenciação e o custo de capital de terceiros, destacam-se a


de Sengupta (1998) e a de Mazundar e Sengupta (2005). Na primeira, o pesquisador, por meio de
estudos empíricos, comprovou que as empresas com altos níveis de disclosure apresentaram um baixo
custo de capital de terceiros. Na segunda pesquisa, os pesquisadores analisaram o Ki de 173 empresas
que pediram empréstimos em bancos, no período de 1989 a 1993, e, nesse período, o custo de capital
de terceiros (via empréstimos bancários) possuiu uma associação negativa com um índice de
disclosure encontrado pelos pesquisadores. Sendo assim, as companhias com ganhos constantemente
altos por disclosure voluntário pagam juros mais baixos nos contratos de dívida (empréstimos
bancários).
Frequentemente, as empresas brasileiras enfrentam o desafio de definir o nível de disclosure
adequado de modo a otimizar suas relações com os agentes de mercado, investidores e órgãos
reguladores e obter custos adequados de divulgação das informações. (NAKAMURA et al, 2006). Os
pesquisadores informam que a política de disclosure adotada pelas empresas está diretamente
relacionada aos seus custos de financiamento.
Francis, Khurana e Pereira (2003) estudaram empresas de 34 países, com o objetivo de verificar a
relação entre nível de disclosure voluntário fora dos EUA e a necessidade de financiamento externo.
Além de verificarem uma correlação positiva entre as duas variáveis, também perceberam que as
firmas com maior nível de disclosure têm menor custo de capital. Sendo assim, as empresas que
dependem de financiamento externo possuem uma política de evidenciação voluntária expandida,
não se limitando a evidenciar somente o que está na legislação. E isto proporciona um baixo custo de
financiamento externo. Demonstra, portanto a importância global de evidenciação voluntária
ganhando acesso para abaixar o Ki.
As leis e regulamentações no Brasil são omissas na exigência de evidenciação das despesas financeiras
e outras informações que permitem o cálculo correto do custo de capital de terceiros. A Lei 6.404
(1976), artigo 176 (Brasil, 1976), traz, no caput, que, no final de cada exercício social, a diretoria fará
elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as demonstrações financeiras que
deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no
exercício. No mesmo artigo da referida lei, o § 5º, alínea “e”, determina que as Notas Explicativas
deverão indicar a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo.
Porém isto não é estendido às obrigações de curto prazo, pois se deduz que elas são decorrentes das
obrigações de longo prazo. Ressalta-se que a lei não deixa claro que é necessário colocar estes itens

489
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

separadamente para cada passivo oneroso, podendo, com isso, abrir margem para que as empresas
possam listar estas informações nas NE, sem correlacioná-las ao seu passivo gerador.
De acordo com a Deliberação nº. 488 (2005), artigo 63, a CVM complementa que, em relação ao
empréstimo classificado como passivo circulante, se os eventos descritos a seguir ocorrerem dentro
do período compreendido entre as datas do balanço e a da autorização para conclusão da elaboração,
esses eventos deverão ser divulgados em Nota Explicativa: (a) houve refinanciamento em bases de
longo prazo; (b) a entidade eliminou ou retificou a causa do descumprimento da cláusula contratual;
e (c) a entidade obteve do credor um prazo superior a 12 meses para corrigir a causa do
descumprimento da cláusula contratual.
Já, em relação à evidenciação das despesas financeiras, a Lei 6.404 (Brasil, 1976), artigo 187, item III,
determina que a demonstração de resultado do exercício discriminará as despesas com as vendas, as
despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas
operacionais. Assim sendo, não deixa clara a limitação de possíveis evidenciações herméticas das
despesas financeiras, juntamente com as receitas, ou seja, sem a apresentação explícita de cada uma
delas.
Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 432) alertam que a prática de lançamentos herméticos das
despesas e receitas financeiras, sem as devidas aberturas por suas naturezas, implica grande perda de
informações com relação à evidenciação dos custos de financiamento das entidades [...].
De acordo com a Deliberação CVM nº. 488 (2005), artigo 78, alínea “f”, na Demonstração de
Resultados do Exercício, devem ser divulgadas, no mínimo, as despesas financeiras, segregadas das
receitas financeiras. Além de complementar que as despesas financeiras são originadas dos passivos
da entidade, enquanto as receitas financeiras devem, normalmente, corresponder aos ativos da
entidade. Assim sendo, deve ser indicado separadamente o valor de cada uma delas, melhorando a
evidenciação.
A CVM, Comissão de Valores Mobiliários, em seu Parecer de Orientação nº. 04/1979, item 8, já
esclarecia que as Notas Explicativas previstas no artigo 176, § 5º, são consideradas como um mínimo
que a companhia aberta deve seguir, e deverá elaborar outras que forem necessárias ao
esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício. No subitem 5, do mesmo
Parecer, orientava que, nas Notas Explicativas referentes às obrigações de longo prazo, devem constar,
além das taxas, vencimentos e garantias das obrigações, “[...]a moeda em que as obrigações foram
contraídas, se estão sujeitas à correção monetária, assim como juros, prazos, garantias e outras
informações julgadas de interesse”. Em consonância, o Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP nº. 01/2006

490
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

reafirma que, as Notas Explicativas das obrigações de longo prazo, devem conter: as taxas de juros, as
datas de vencimento, as garantias, a moeda e a forma de atualização das obrigações de longo prazo.
As Notas Explicativas, que integram as demonstrações contábeis, devem apresentar informações
quantitativas e qualitativas, de maneira ordenada e clara, para que seja exaurida a capacidade de
comunicar aspectos relevantes do conteúdo apresentado nas demonstrações. (OFÍCIO-
CIRCULAR/CVM/SNC/SEP nº. 01/2006).
Em complemento, a CVM, por meio da Deliberação nº. 488 (2005), artigo 82, determina que as Notas
Explicativas às demonstrações contábeis de uma entidade devem:
a) apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações
contábeis e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para
transações e eventos significativos; b) divulgar as informações exigidas pelas
práticas contábeis adotadas no Brasil que não estejam apresentadas em
nenhum outro lugar das demonstrações contábeis; c) fornecer informações
adicionais que não são indicadas nas próprias demonstrações contábeis
consideradas necessárias para uma apresentação adequada.
Além disso, a CVM, por meio da Superintendência de Relações com Empresas (SEP), orienta as
companhias abertas sobre a necessidade de transparência, coibindo a assimetria de informação. Em
seu Ofício-Circular/CVM/SEP/nº. 001/2007, determina que:
Por meio deste expediente, a SEP pretende fomentar a divulgação das
informações societárias de forma coerente com as melhores práticas de
governança corporativa, visando à transparência e à equidade no
relacionamento com os investidores e o mercado, bem como minimizar
eventuais desvios e, consequentemente, reduzir a necessidade de formulação
de exigências e aplicação de multas cominatórias e de penalidades.
Nota-se, então, que a evidenciação (disclosure) é um dos objetivos básicos da Contabilidade no
Mercado de Capitais, para que se possa garantir a todos os tipos de usuários as informações completas
e confiáveis sobre a situação financeira e os resultados da companhia. E estas informações são
necessárias para a nova forma de apuração do custo de capital de terceiros proposta neste estudo,
haja vista que a mesma se necessita desta evidenciação efetuada de forma mais completa.

3 METODOLOGIA

3.1 METODOLOGIA SOB O PONTO DE VISTA DE MÉTODO DE PESQUISA

Neste estudo, sob o ponto de vista de metodologia de pesquisa, o trabalho classifica-se em pesquisa
descritiva, que, para Richardson (1999, p. 66), são estudos realizados quando se deseja descrever as
características de um fenômeno. Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 61) afirmam que “a pesquisa
descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”.

491
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ainda sob o ponto de vista de metodologia de pesquisa, este estudo classifica-se também como uma
pesquisa documental. Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 62), na pesquisa documental, “são investigados
documentos com o propósito de descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e
outras características. As bases documentais permitem estudar tanto a realidade presente como o
passado, com a pesquisa histórica”, visto que a pesquisa documental é uma das diversas formas da
pesquisa descritiva, e complementam que “em síntese, a pesquisa descritiva, em suas diversas formas,
trabalha sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade”.
Uma das tarefas características da pesquisa descritiva é a coleta de dados. E, neste estudo, buscam-se
os dados para se calcular o Ki no Brasil, para as empresas que aderiram ao segmento Novo Mercado
de Governança Corporativa da Bovespa, pelas formas de apuração baseadas na publicação das
demonstrações contábeis, nos períodos de 2001 a 2005.

3.2 METODOLOGIA SOB O PONTO DE VISTA DOS PROCEDIMENTOS ADOTADOS

Para se calcular o custo de capital de terceiros no Brasil, foi realizada a coleta de dados em várias
fontes, via internet. São elas: (i) CVM – Comissão de Valores Mobiliários; (ii) Bovespa – Bolsa de Valores
de São Paulo; (iii) Economática® - Banco de Dados de Software; e (iv) No site das empresas
pesquisadas.
Com os dados apurados das mesmas empresas nas duas formas de apuração, realiza-se um teste
estatístico, Teste de Postos com Sinais de Wilcoxon, visando verificar se há diferenças significativas
entre os dados amostrais de ambas ou não.
As hipóteses da pesquisa são: (i) hipótese nula (H0): não há diferença significativa entre os valores das
duas formas de apuração; e (ii) hipótese alternativa (H1): há diferença significativa entre elas. Sendo
assim as hipóteses ficam representadas da seguinte forma:
- H0: µ1 = µ2 (indica que não há diferença entre os dados amostrais);
- H1: µ1 ≠ µ2 (indica que há diferença entre eles).
Para o tratamento estatístico dos dados, utilizou-se o pacote estatístico SPSS, com a aplicação
do teste de hipótese conhecido como Teste de Postos com Sinais de Wilcoxon (TPSW), indicados por
Triola (1999) e Stevenson (2001), usado para se analisar as diferenças entre dados amostrais
emparelhados (amostras dependentes), levando-se em conta os valores destas diferenças. Para Larson
e Farber (2004, p. 314), “As duas amostras são dependentes se cada membro de uma amostra
corresponder a um membro da outra”. Isso se verifica neste estudo, pois são informações das mesmas
empresas calculados de maneiras diferentes.

492
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para Triola (1999), quando se trabalha com duas amostras dependentes, as estatísticas disponíveis
são: (i) teste paramétrico: Teste t ou Teste z; e (ii) teste não-paramétrico: Teste dos Sinais ou Teste de
Postos com Sinais de Wilcoxon. Segundo Triola (1999) os testes paramétricos possuem maior eficiência
que os testes não-paramétricos, porém aqueles exigem suposições sobre a natureza ou forma da
população envolvida, já estes não dependem de tais exigências. Uma das exigências dos testes
paramétricos é a da distribuição normal para as amostras. Realiza-se para isto um teste estatístico no
SPSS, Kolmogorov-Smirnov.
Como nem todas as amostras apresentam distribuição normal é utilizado um teste não-paramétrico e
optou-se pelo Teste de Postos com Sinais de Wilcoxon (TPSW) que apresenta maior eficiência.
(TRIOLA, 1999). Este teste é realizado visando retirar informações que possibilitem concluir o teste de
hipótese do presente estudo
Este estudo realiza-se com as companhias de capital aberto do Brasil que comercializam suas ações na
Bovespa, especificamente no segmento Novo Mercado de Governança Corporativa (NMGC) e é
considerado o universo desta pesquisa.
Porém, neste estudo, foram eliminadas as empresas financeiras e seguradoras, que são reguladas pelo
Banco central, e por possuírem demonstrativos contábeis diferenciados dos demais, e devido à
natureza de seu negócio que não são objetos deste estudo.
Também foram eliminadas as organizações que possuíam saldos nulos (zero) nas contas do passivo
oneroso em mais de um exercício social seguido. As empresas recém-criadas, bem como aquelas que
não possuem os cinco anos de demonstrações publicadas, inclusive as demonstrações trimestrais,
também foram retiradas da amostra, pois não possuíam todas as informações publicadas para que se
pudesse realizar o cálculo do Ki no período. Assim, a amostra ficou composta de 10 empresas do
NMGC.
Com relação ao tipo de amostragem, no estudo, utiliza-se o método não probabilístico, ou seja, não é
obtida ao acaso e sem se conhece a probabilidade de que um elemento componha a amostra; e, por
julgamento, pois a população de estudo é composta por empresas listadas na Bovespa, do NMGC,
selecionadas para atender ao objeto do presente estudo.
Neste grupo, NMGC, estas empresas comprometem-se, voluntariamente, com a adoção de práticas
de governança corporativa adicionais em relação ao que é exigido pela legislação. Sendo assim, devem
ampliar os direitos dos acionistas, melhorar a qualidade das informações usualmente prestadas pelas
companhias, entre outros benefícios, os quais são melhores expostos no item a seguir. Portanto, nesta
amostra inicial, as informações coletadas dos Balanços Patrimoniais e Demonstrações do Resultado

493
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

do Exercício deveriam conter os dados que possibilitem ao usuário externo o cálculo correto do custo
de capital de terceiros.

4 PROCEDIMENTOS EXECUTADOS, RESULTADOS E ANÁLISES

4.1 PROCEDIMENTOS EXECUTADOS NAS DUAS FORMAS DE APURAÇÃO DO KI

Neste estudo, tem-se como objetivo calcular o Ki por duas formas de apuração. O primeiro cálculo é
feito a partir das informações contidas no BP e na DRE. Este cálculo, segundo Bonizio (2005), é
realizado por meio da divisão das despesas financeiras líquidas pela soma dos passivos onerosos médio
de curto e longo prazo, visualizado na Equação 3.

Equação 3 Despesas financeiras líquidas


Ki 
POCP médio  POLP médio

Sendo assim, nesta forma de apuração, as despesas financeiras líquidas são calculadas pelo valor
encontrado na conta de despesa financeira do período de análise, retirando-se a alíquota do Imposto
de Renda e Contribuição Social de 34%. O passivo oneroso de curto prazo (POCP) médio é encontrado
no BP, no grupo do passivo circulante, e é representado pela média dos saldos de empréstimos e
financiamentos, títulos e debêntures dos períodos.
O passivo oneroso de longo prazo (POLP) médio é encontrado no grupo de passivo não circulante,
também no BP, pela média dos saldos das mesmas contas do circulante, porém com vencimento
superior a um ano. Os valores médios do POCP e POLP são encontrados, calculando-se a média dos
saldos dos trimestres do respectivo período. Assim sendo, na análise do ano de 2005, por exemplo,
são somados os saldos do último trimestre de 2004, e os dos quatro trimestres de 2005, e divididos
por cinco, para se encontrar o valor médio do passivo oneroso, tanto no curto quanto no longo prazo.
Desta forma, calcula-se o Ki das 10 empresas que compõem a amostra pela forma de cálculo
apresentada na equação 3, dada anteriormente. São elas: Sabesp, Company, Cyrela, Embraer, Gafisa,
Renner, Perdigão, Rossi, São Carlos e Tractebel. As quais possuem todos os balanços anuais e
trimestrais do período analisado, de 2001 a 2005. É importante frisar a necessidade da publicação dos
balanços trimestrais que, como visto, é uma das regras do segmento NMGC, pois, sem a divulgação
destes, o cálculo do Ki pode tornar-se distorcido pela forma de apuração do BP e DRE, uma vez que o
cálculo será feito somente pelos passivos onerosos dos balanços anuais.

494
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Com as 10 empresas selecionadas, também se realiza o cálculo do Ki pela segunda forma de apuração
(NE), e depois compara-se com o Ki na primeira forma de apuração (BP e DRE). Para tanto, são
extraídas as informações de empréstimos e financiamentos, bem como debêntures, contidas nas
Notas Explicativas das mesmas. Este cálculo, proposto neste trabalho, é exemplificado na Ilustração 1,
com dados contidos nas Notas Explicativas de uma empresa (Company S.A. do ano de 2001).

Tipo R$ %T Custo Custox%T


Financ. Cta Garantida 6.683,00 14,9% 19,56% 2,9%
Sist. Financ. Habit. 11.870,00 26,4% 15,15% 4,0%
Debêntures 26.404,00 58,7% 24,01% 14,1%
44.957,00 100,0% Ki bruto 21,009%
Ki líq. 13,866%

Ilustração 1. Exemplo de informações extraídas das Notas Explicativas


Pode-se visualizar, na Ilustração 1, o valor de cada passivo oneroso, o percentual que este representa
sobre o total (%T), o custo de cada um deles (Custo), o custo que cada um representa (Custo x %T) no
custo de capital de terceiros (Ki) bruto e, por fim, o Ki líquido é encontrado, descontando-se o Imposto
de Renda de 34%.
A evidenciação de todos os dados nas demonstrações contábeis é imprescindível para o correto
cálculo do ki. A partir da análise minuciosa das NE das empresas pesquisadas, as informações
encontradas foram: (i) Os vários tipos de empréstimos e financiamentos; (ii) Os valores de cada um
destes; (iii) As formas de atualização (correção monetária, variação cambial etc); (iv) Taxas de juros;
(v) Datas de vencimentos; (vi) Os mesmos dados para as debêntures; (vii) Despesas financeiras
segregadas das receitas financeiras. Informações estas necessárias para se obter maior acurácia dessa
forma de apuração do Ki.
Porém elas não são encontradas no mesmo padrão em todas as empresas e, por vezes, algumas
empresas não possuíam todos os dados claramente evidenciados. Diante disso, quando se encontrava
algum empréstimo numa empresa e que não era evidenciado, a taxa de juros, por exemplo, era
realizada uma média aritmética das taxas de juros de outros empréstimos da mesma empresa no
mesmo período, para suprir a informação não encontrada. E, assim, realizava-se o cálculo do Ki
conforme Ilustração 1.
Com estas informações e o Ki apurado sob as duas formas de apuração, é realizada a estatística TPSW
para duas amostras dependentes. A metodologia, extraída de Triola (1999) e Stevenson (2001), utiliza-
se dos postos dos dados amostrais, compostos de pares combinados, que considera o tamanho das
diferenças dos pares. Como esse teste considera o tamanho das diferenças (d), ele leva em

495
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

consideração justamente a diferença apresentada entre as duas formas de apuração em cada período,
para cada empresa. A estatística do teste utilizada é:
n(n  1)
Equação 4 T
z 4
n(n  1)(2n  1)
24
Onde:
 T: é o menor valor da soma dos valores absolutos dos postos negativos das diferenças d não-nulas,
ou da soma dos postos positivos das diferenças d não-nulas; e
 n: é o número de pares de dados para os quais a diferença d não é zero.

Para analisar o resultado fornecido pelo teste, é verificado o valor-P (Asymp. Sig.) ou valor de
probabilidade que, segundo Triola (1999, p. 180), “é a probabilidade de obter um valor da estatística
amostral de teste no mínimo tão extremo como o que resulta dos dados amostrais, na suposição de a
hipótese nula ser verdadeira”. Sendo assim, se o valor-P apresentado for superior a 0,05, há evidência
insuficiente contra a hipótese nula, ou seja, não se deve rejeitar a hipótese nula ao nível de
significância (α) de 5%. Caso contrário, há evidências muito fortes contra a hipótese nula, ou seja, a
mesma deve ser rejeitada.
Inicialmente, visando analisar se as séries de dados provinham de uma distribuição normal, um
pressuposto essencial na estatística paramétrica, foi utilizado o teste de Kolmogorov–Smirnov (KS)
aliado ao Shapiro-Wilk (SW), que aparece sempre que as amostras forem inferiores a 50, visando testar
esta normalidade. Segundo Pestana e Gageiro (2003, p. 247), “O teste Kolmogorov-Smirnov de
aderência à normalidade serve para analisar o ajustamento ou aderência à normalidade da
distribuição de uma variável [...]”. Como o nível de significância (α) utilizado no estudo é de 5%, o
resultado (Sig.) do KS e SW deve ser maior do que 0,05 para terem distribuição normal. Como nem
todas apresentam normalidade, ou seja, nem todas possuem um resultado (Sig.) acima de 0,05, optou-
se pelo TPSW (não-paramétrico) que não tem esta exigência. Assim, com o resultado do teste
responde-se ao teste de hipóteses, tem como objetivo rejeitar ou não rejeitar a hipótese nula deste
estudo.

496
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4.2 RESULTADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS DUAS FORMAS DE APURAÇÃO

4.2.1 CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS PELAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Antes da apresentação dos resultados, dos cálculos do Ki pelas Demonstrações Contábeis (BP e DRE),
destaca-se que, de 2001 a 2005 houve oscilação nas moedas estrangeiras, se comparadas ao Real. Isto
impactou diretamente as dívidas nestas moedas fazendo com que as duas formas de apuração
também acompanhassem essa oscilação já que, 9, das 10 empresas, possuem dívidas em outras
moedas em pelo menos um ano desse período analisado. De 2001 e 2002 a moeda brasileira se
desvalorizou perante outras moedas e, de 2003 a 2005, o Real se valorizou perante as mesmas, como
pode ser visto no Quadro 1.
Taxa de câmbio em
31.12.00 31.12.01 31.12.02 31.12.03 31.12.04 31.12.05
relaçao a R$ 1,00
Dólar Americano 1,95540 2,32040 3,53330 2,88920 2,65440 2,34070
Euro 1,84173 2,06363 3,70120 3,65059 3,61949 2,76905
Iene japonês 0,01708 0,01771 0,02978 0,02701 0,02594 0,01983

Fonte: Banco Central do Brasil (2007)


Quadro 1 – Taxas de câmbio
O Quadro 1 mostra as taxas de câmbio de importantes moedas internacionais que foram utilizadas
neste estudo, ou seja, as empresas estudadas possuem dívidas internacionais indexadas a essas
moedas. Estas variações do Real explicam as variações, positivas e negativas, conforme Gráfico 1,
calculado com base nas informações extraídas do BP e DRE.

497
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

% Ano:2001 Custo do Capital de Terceiros (Ki)


Ano:2002
90
Ano:2003
80
Ano:2004
70 Ano:2005
60

50
40

30
20

10
0

-10
-20
raer
pany

igão

tebel
r los
nner
la

a
sp

id.
Gaf is
Cyre
Sabe

i Res
Emb

a
Perd
Com

L . Re

T rac
São C
Ross
Empresas

Gráfico 1. Custo do Capital de Terceiros com base no BP e na DRE nos 5 anos


No Gráfico 1 pode-se notar que algumas empresas apresentaram valores elevados em alguns anos.
Como exemplo, pode-se citar a empresa Embraer, no ano de 2002, e São Carlos, no ano de 2003. Este
fato ocorreu devido às variações cambiais ocorridas nos anos de 2001 e 2002, como já exposto no
quadro 1. Fato este que registrou uma alta no Dólar em 2001, de 18,67%, e de 52,27%, em 2002, que
regrediu em 2003 e nos anos seguintes.

4.2.2 CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS PELAS NOTAS EXPLICATIVAS

Nesta seção, realiza-se o cálculo do Ki pelas NE, vale ressaltar que as oscilações em outras moedas
comparadas ao Real, vistas no quadro 1, também são observadas nesta metodologia, como observado
nas NE das empresas: Perdigão, Embraer e Sabesp, nos anos de 2003 a 2005. Assim, foram analisadas
as NEs das 10 empresas no intuito de extrair as informações referentes ao passivo oneroso e seus
custos, incluindo, juros e correções.
Há de se relatar que algumas empresas não evidenciam claramente as informações referentes ao
passivo oneroso da entidade, visto que, por vezes, encontravam-se empréstimos e financiamentos
sem a correta taxa de juros e/ou correção monetária. Neste caso, a solução encontrada foi de fazer
uma média dos juros e/ou correção monetária dos outros passivos onerosos, da mesma empresa e,
no mesmo período. Os valores encontrados no Ki destas empresas, de acordo com esta forma de
apuração, encontram-se condensados no Gráfico 2.

498
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ano:2001 Custo do Capital de Terceiros (Ki)


%
Ano:2002
42 Ano:2003
Ano:2004
35 Ano:2005

28

21

14

-7
pany

raer

nner
sp

tebe l
la

igão

arlos
i d.
Gaf is
Cyre
Sabe

i Res
Em b

P erd
L. R e
Com

T ra c
São C
Ross
Empresas

Gráfico 2. Custo do Capital de Terceiros com base nas NE nos 5 anos


Pode-se visualizar, no Gráfico 2, que o eixo y, Ki, diminuiu consideravelmente. Nota-se, que no gráfico
1, o Ki chega a atingir o patamar de 90% e, no gráfico 2, não ultrapassa 42%, haja vista que os valores
maiores se encontram, normalmente, no ano de 2002, em que houve uma forte desvalorização do
Real perante as outras moedas. Mostra-se então um gráfico mais homogêneo do que o anterior. Outro
ponto a salientar é que nesta forma de apuração não existe nem Ki de valor igual a zero, pois se elimina
o efeito de lançamentos herméticos de despesas com receitas financeiras. Contudo, neste gráfico,
aumentaram-se as ocorrências de Ki negativo, devido à oscilação da variação cambial.

4.3 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS

Faz-se, nesta seção, uma comparação das duas formas de apuração, no intuito de analisar as
diferenças encontradas no resultado do cálculo do custo de capital de terceiros. São realizados os
testes estatísticos, considerando-se cada ano da pesquisa. No teste, de Kolmogorov–Smirnov aliado
ao Shapiro-Wilk, os cálculos encontrados acusaram quem nem todas as séries apresentaram
distribuição normal, ou seja, Sig. acima de 0,05.
No Teste de Postos com Sinais de Wilcoxon (não-paramétrico), que não exige normalidade das séries,
em todos os anos, o valor-P (Asymp. Sig.) apresentou valores acima de 0,05, indicando que não há
evidência amostral suficiente para apoiar a hipótese alternativa, ou seja, não se deve rejeitar a
hipótese nula ao nível de significância de 5%.
Com este resultado, e de acordo com Triola (1999), não há evidência suficiente para garantir a rejeição
da afirmação de que as empresas pesquisadas do segmento NMGC da Bovespa, as quais estão sujeitas

499
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

aos critérios rígidos de transparência para estarem neste grupo, não possuem diferenças significativas
entre o valor obtido no cálculo do Ki pelas informações disponibilizadas no BP e na DRE, e com base
nas informações disponibilizadas nas Notas Explicativas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve por finalidade analisar se há diferenças significativas entre duas formas de apuração
do custo de capital de terceiros. A primeira, que se utiliza de informações contidas no Balanço
Patrimonial (passivo oneroso) e na Demonstração do Resultado do Exercício (despesas financeiras) e,
a segunda, que se utiliza de informações de empréstimos e financiamentos contidas nas Notas
Explicativas. A pesquisa se deu nas empresas do segmento Novo Mercado de Governança Corporativa
da Bovespa, por possuírem regras rígidas de transparência e adicionais à legislação atualmente em
vigor, no período de 2001 a 2005.
O principal objetivo foi o de verificar se há ou não diferenças significativas entre as duas formas de
apuração do Ki. Como complemento, o primeiro objetivo específico foi de identificar quais os fatores
que as determinaram. E, também, um segundo objetivo específico, o de verificar se as exigências de
transparência, na divulgação das informações aos usuários, exigidas pela legislação atual, são
suficientes para o cálculo correto do Ki.
Atendendo ao objetivo principal, foi realizado um teste estatístico, Teste de Postos com Sinais de
Wilcoxon, o qual confirmou que há evidência insuficiente contra a hipótese nula (H0), ou seja, não se
deve rejeitar H0 ao nível de confiança de 95%, não havendo, portanto, evidência amostral para afirmar
que há diferença entre as duas formas de apuração.
Mesmo o teste de hipótese não obtendo dados suficientes para apoiar a Hipótese Alternativa (H1),
segundo a qual há divergência entre as duas formas de apuração, os estudos realizados nas
demonstrações contábeis demonstram algumas suposições acerca das divergências numéricas
encontradas, e visualizadas nos gráficos, e assim, destacam-se alguns fatores observados, os quais
atendem ao primeiro objetivo específico desta pesquisa.
O primeiro fator é a permissividade da lei 6.404/76 que possibilita o lançamento hermético das
despesas e receitas financeiras impossibilitando o cálculo do Ki como visto em uma empresa da
amostra (Rossi Residencial S.A.). Um segundo fator, também referente à Lei nº. 6.404/76 consiste em
permitir que se aloquem valores operacionais nas despesas financeiras, como é o caso de descontos
comerciais. Um terceiro e último fator, é a variação cambial, ocorrida nos anos analisados, que

500
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

proporcionou uma grande oscilação dos valores das despesas financeiras, bem como no resultado do
Ki, das referidas empresas.
Além do que, o efeito da variação cambial é minimizado nas empresas através de instrumentos
financeiros como hedge e swap, como visto nas NE de algumas empresas. O reflexo destes
instrumentos de proteção à variação cambial é alocado nas despesas financeiras, aumentando as
diferenças entre as duas formas de apuração. Estas divergências impedem que o Ki se torne
comparável, tanto com outras empresas sem estes problemas, como impede também a comparação
na mesma empresa, em períodos posteriores.
Quanto ao segundo objetivo específico, apesar de a Lei nº. 6.404/76 ser permissiva na evidenciação
das informações para o cálculo do Ki, a CVM possui normas claras de evidenciação. Porém, nesta
pesquisa, verificou-se que as empresas não atendem a todas as suas normatizações, assim, foram
encontradas algumas irregularidades, dentre elas:
 Lançamentos herméticos das despesas e receitas financeiras na DRE em desacordo com a
Deliberação CVM nº. 488 (2005), artigo 78;
 Não segregação dos juros, variação monetária e cambial nas NE referente ao passivo
oneroso de longo prazo, em desacordo com o Ofício-Circular/CVM/PTE nº. 309/1986.
 Não evidenciação nas NE das taxas de juros em cada tipo de passivo oneroso, e, neste
ponto, a Lei nº. 6.404/76, o Parecer de Orientação nº. 04/1979 da CVM e o Ofício-
Circular/CVM/SNC/SEP nº. 01/2006 não são muito claros, abrindo margem para que as
empresas possam listar estas informações sem correlacioná-las ao seu passivo gerador.
 Falta de divulgação de dados trimestrais, o que contribui para distorções apresentados na
forma de apuração baseada nas informações contidas no BP e DRE, descumprindo as regras
do Novo Mercado de Governança Corporativa, bem como da CVM.
 Falta de preocupação com o aumento do nível de disclosure, visando diminuir a assimetria
de informações, mesmo que adicionais, descumprindo as regras do NMGC, Deliberação nº.
488 (2005) artigo 82, Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP nº. 01/2006.
Assim, nota-se que há normatizações que direcionam o nível de evidenciação adequada para o cálculo
do Ki, porém verificou-se que nem todas as empresas as cumprem. Assim, compete aos stakeholders
requererem das empresas um maior nível de disclosure da informação contábil, visando atender às
necessidades de transparência das ações da empresa.
Por outro lado, é de responsabilidade dos órgãos governamentais normatizarem a evidenciação,
desenvolvendo uma legislação capaz de fornecer informações compreensíveis, relevantes, confiáveis,

501
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

úteis para a tomada de decisões e, sobretudo, que permitam comparações em vários períodos e com
várias empresas para direcionar os gestores na prestação de contas. Além de normatizar, precisam
também cobrar o cumprimento da lei, e autuar e penalizar aquelas que estão descumprindo o que é
determinado.
Há que se destacar, também, que é responsabilidade da academia colaborar com estudos que
forneçam contribuições à atual legislação brasileira, no intuito de dar maior transparência às
informações contábeis, em atendimento às necessidades de todos os stakeholders, bem como ao
atendimento às tendências de disclosure do mercado global.
Constatou-se que as empresas brasileiras não obedecem a um padrão na evidenciação dos valores de
empréstimos e financiamentos, bem como da segregação das despesas financeiras nas Notas
Explicativas. Estas condensam ao máximo as informações ali contidas e deixam de fornecer aquelas
essenciais ao usuário, como data de retirada e vencimento do empréstimo, carência, e até os
indexadores e taxas de juros em alguns empréstimos.
Estes fatores, de certa forma, dificultaram o estudo sob a nova forma de apuração. Entretanto, com
as pressões do mercado e dos órgãos normativos por uma maior transparência nas ações
empresariais, bem como alterações na lei, no intuito de eliminar os entendimentos diferentes, essas
dificuldades tendem a ser minimizadas.
Em suma, como o objetivo das características qualitativas da informação contábil é fornecer
informações compreensíveis, relevantes, confiáveis, permitindo comparações e, que sejam úteis para
a tomada de decisões, nota-se que o cálculo do Ki pelas NE apresenta-se mais satisfatório, apesar das
limitações encontradas, e a estatística utilizada não a comprovar.
Pretende-se que este trabalho encoraje os stakeholders a realizar a apuração do Ki pelas informações
contidas nas Notas Explicativas, expurgando efeitos indesejados da atual forma de apuração (BP e
DRE) e a cobrar maior transparência das grandes corporações.
Novos estudos são necessários, sobretudo com amostras maiores, no intuito de apurar divergências
que sejam capazes de serem estatisticamente comprovadas, de preferência, além de averiguar, em
futuros períodos, se os níveis de disclosure têm aumentado.

REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, Alexandre. A dinâmica das decisões financeiras. Cadernos de Estudos/ FIPECAFI, São
Paulo, v. 16, p. 9-25, jul./dez. 1997. Disponível em: Acesso em: 22 maio 2007.

502
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

______. Contribuição ao estudo da avaliação de empresas no Brasil: uma aplicação prática. 2003. 202
f. Tese (Livre Docência) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003.

______. Finanças corporativas e valor. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO (BOVESPA). Empresas – Governança Corporativa. Disponível em:
Acesso em: 03 jan. 2007.

BONIZIO, Roni Cleber. Análise da sensibilidade do valor econômico agregado: um estudo aplicado nas
empresas de capital aberto no Brasil. 2005. 115 f. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) – Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Brasília, 17 dez. 1976.

BRASIL. Banco Central do Brasil. Taxas de câmbio. 2007. Disponível em:


<http://www5.bcb.gov.br/pec/taxas/port/PtaxRPesq.asp?idpai=TXCOTACAO>. Acesso em: 03 abr.
2007.

BREALEY, Richard A.; MYERS, Stewart C. Princípios de finanças empresariais. 3. ed. Tradução H.
Caldeira Menezes; J. C. Rodrigues da Costa. Portugal: McGraw-Hill, 1992.

CAMARGOS, Marcos A.; BARBOSA, Francisco V. Emissão de ADRs, retorno acionário anormal e o
comportamento das ações no mercado doméstico: evidências empíricas. In: ENANPAD, 2006,
Salvador. Anais... Salvador, 2006. CD-ROM.

CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2007.

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM). Legislação e Regulamentação. Disponível em: Acesso


em: 05 jan. 2007.

DAMODARAN, Aswath. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.

FRANCIS, Jere R. KHURANA, Inder K. PEREIRA, Raynolde. Global evidence on incentives for voluntary
accounting disclosures and the effect on cost of capital. Social Science Research Network. Sep. 2003.
Disponível em: Acesso em: 08 ago. 2007.

HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. Tradução Antônio Zoratto
Sanvicente. São Paulo: Atlas, 1999.

IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de contabilidade das
sociedades por ações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

LARSON, Ron; FARBER, Betsy. Estatística aplicada. Tradução Cyro Patarra. 2. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2004.

LIMA, Gerlando A. S. Franco de. Utilização da teoria da divulgação para avaliação da relação do nível
de disclosure com o custo da dívida das empresas brasileiras. 2007. 108 f. Tese (Doutorado em

503
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Controladoria e Contabilidade) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade,


Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

MARTINS, Eliseu; ASSAF NETO, Alexandre. Administração financeira: as finanças das empresas em
condições inflacionárias. São Paulo: Atlas, 1993.

MAZUMDAR, Sumon C.; SENGUPTA, Partha. Disclosure and the loan spread on private debt. Financial
Analysts Jornal, v. 61, n. 3, p. 83-95, 2005.

MODIGLIANI, Franco; MILLER, Merton. Corporate income taxes and the cost of capital: a correction.
American Economic Review, v. 53, p. 433-443, Jun. 1963.

NAKAMURA, Wilson T.; GOMES, Elisabeth A.; ANTUNES, Maria Thereza P.; MARÇAL, Emerson F. Estudo
sobre os níveis de disclosure adotados pelas empresas brasileiras e seu impacto no custo de capital.
In: ENANPAD, 2006, Salvador. Anais... Salvador, 2006. CDROM.

PESTANA, Maria Helena; GAGEIRO, João Nunes. Análise de dados para ciências sociais: a
complementaridade do SPSS. 3. ed. Silabo: Lisboa, 2003.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

SADDI, Jairo. Notas sobre juros e o custo financeiro Brasil. RAE Light, São Paulo, v. 7, n. 4, p. 2-3,
out./dez. 2000. Disponível em: < http://www.rae.com.br/artigos/400.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2007.

SENGUPTA, Partha. Corporate disclosure quality and the cost of debt. The Accounting Review, v. 73,
n. 4, p. 459-474, out. 1998.

SOLOMON, Ezra. Teoria da administração financeira. Tradução José Ricardo Brandão Azevedo. 3. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

SOLOMON, Ezra; PRINGLE, John J. An introduction to financial management. 2nd ed. Sta Monica:
Goodyear, 1980.

STEVENSON, William J. Estatística aplicada à administração. Tradução Alfredo Alves de Faria. São
Paulo: Harper & Row do Brasil, 2001.

TRIOLA, Mário F. Introdução à Estatística. Tradução Alfredo Alves de Farias. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1999.

VAN HORNE, James C. Administración Financiera. Buenos Aires: Ediciones Contabilidad Moderna,
1973.

504
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 24

ANÁLISE DE VALOR NA GESTÃO DE CUSTOS: UM


ESTUDO DE CASO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
BRASILEIRA
DOI: 10.37423/200300545

Autores:

Daniel Simon Werberich

Edivaldo Santos Junior

Co-autores:

Antonio Henriques de Araujo Junior

José Glenio Medeiros de Barros

Maria da Gloria Diniz de Almeida

Nelson Tavares Matias

Nilo Antonio de Souza Sampaio

Resumo: Este trabalho objetivou melhorar e otimizar custos de produção em uma


montadora brasileira de veículos comerciais, demonstrando-se de forma didática a aplicação
da ferramenta Análise de Valor no processo de redução de custos, no redesenho de um
sistema de enchimento de óleo do motor, empregado em uma linha de caminhões pesados
de importante empresa multinacional instalada no Brasil. Utilizou-se para tal finalidade o
denominado Diagrama de Mudge (matriz de análise de valor), ferramenta que permite
comparar aos pares um conjunto de critérios,

505
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

para que ao final se possa conhecer e quantificar a importância relativa das funções/funcionalidades
associadas a um produto ou componente, na fase de desenvolvimento de produtos ou em seu
redesenho. A técnica utilizada de análise de valor permitiu propor um sistema mais simplificado de
enchimento do óleo do motor com redução nas dimensões do tubo de enchimento da vareta de óleo,
simplificação na fixação e montagem do componente, e em consequencia, reduzir custos de produção.

Palavras-chave: Análise de valor, análise de custos, análise de valor na indústria automobilística,


Diagrama de Mudge.

Área Temática: Gestão Estratégica de Custos.

506
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1.INTRODUÇÃO

O objetivo do trabalho é o de demonstrar, de forma didática, a aplicação da ferramenta Análise de


Valor no processo de redução de custos do sistema de enchimento de óleo utilizado em caminhões
pesados, produzidos por importante fabricante de caminhões, instalado no sudeste do Brasil.

Devido a crescente concorrência entre montadoras de veículos comerciais em todo o mundo, as


empresa estão buscando formas eficientes e criativas para aumentar sua eficiência, e em decorrência,
sua lucratividade. Produzir de forma eficiente viabiliza aumentar sua participação no mercado, o que
pode ser alcançado com produtos de qualidade a preços competitivos.

Torna-se necessário focar nos elementos Processos, Peças e Produto para que a montadora consiga
manufaturar produtos a preços mais competitivos.

Neste sentido, este artigo foca a redução de custos do produto, avaliando quais funcionalidades
podem ter seu conceito modificado/simplificado, tornando-o mais adequado às suas funcionalidades
e reduzindo custos de manufatura.

1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA

É mostrado neste estudo avaliação de um sistema de medição e enchimento de óleo utilizado em


caminhões “pesados”. Estes veículos são ideais para aplicações fora de estrada, como por exemplo,
mineradoras ou canaviais e transportes para médias e longas distâncias. Os veículos desta classe
apresentam chassis reforçados e, dependendo da sua utilização, possuem um ou dois eixos na parte
traseira da carroceria, a fim de suportar com maior segurança condições extremas de trabalho. Nesta
categoria de veículos para possibilitar uma mais fácil manutenção, torna-se necessária a utilização de
cabines do tipo basculável, possibilitando ao motorista efetuar uma série de reparos, sem a
necessidade de rebocá-lo para manutenção.

2. REVISÃO DA LITERATURA

1.2 O CONCEITO DE VALOR E DE ANÁLISE DE VALOR

Antes de discutir o que significa Análise de Valor, deve-se focar na definição de valor para proporcionar
uma melhor compreensão deste conceito. Valor é um termo subjetivo que pode ser definido a partir
de diferentes pontos de vista. Do ponto de vista de um fornecedor, o valor está diretamente

507
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

relacionado ao custo e função de um produto, enquanto pode se referir a vários significados diferentes
do ponto de vista de um cliente uma vez que produtos e processos têm múltiplos ‘stakeholders’ que
estão relacionados a múltiplas necessidades e mandas.

O ponto de partida da definição de valor é a coleta de informações. Antes de realizar a análise de valor,
é necessário conhecer bem o escopo do projeto, produto ou serviço. Análise de valor é uma
metodologia utilizada para a identificação de funções e o relacionamento com os custos para realizar
cada função visando identificar e eliminar custos desnecessários ou supérfluos (CSILLAG, J. M., 1995).

O conceito de análise de valor pode ser definido por meio de um sistema que possibilita solucionar
problemas utilizando-se de um conjunto específico de técnicas, um corpo de conhecimentos e do
apoio de um grupo de especialistas. É um enfoque criativo e organizado, que tem como propósito a
identificação e remoção de custos desnecessários” (MILES, 1962). Este conceito pode também ser
explicado com a aplicação sistemática de técnicas com o objetivo de:

• Identificar as funções/funcionalidades de um produto;

• Fixar um valor para estas funções/avaliações;

• Prover funções/funcionalidades ao menor custo possível e garantir qualidade


igual ou melhor ao produto que é oferecido ao consumidor (SOCIETY OF
AMERICAN VALUE ENGINEERS, 1995).

Este método é eficaz na melhoria dos desempenhos funcionais e na consideração dos recursos
necessários para obtenção de cada função; originalmente criado por Lawrence D. Miles, em 1947, na
General Eletric, foi originalmente denominado de Value Analysis, ou ‘Análise do Valor’.

Miles propôs a utilização de uma metodologia com ênfase na análise das funções de um produto,
projeto, processo ou serviço visando mensurar o valor de cada função com a finalidade de desenvolver
alternativas para otimizar a relação benefício x custo de cada uma destas funções (PEREIRA FILHO,
1998).

Na década de 1990 diversas aplicações foram pesquisadas pela empresa de consultoria Independent
Project Analysis (IPA) que passou a recomendar sua aplicação, denominando-a de Value Improving
Practices (‘Práticas de Melhoria do Valor’). As aplicações da ‘Análise do Valor’ ultrapassaram o domínio
dos produtos para abranger também serviços, projetos e procedimentos administrativos.

508
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O valor de um produto é interpretado de formas diferentes por diferentes clientes podendo ser
traduzido em características comuns como: nível e capacidade de desempenho, atração emocional,
estilo, etc., características que impactam diretamente o custo do produto e seu preço no mercado.
Este conceito pode ser expresso como a maximização das funções de um produto em relação a seu
custo pela fórmula abaixo:

VALOR = (Desempenho + Capacidade)/Custo = Função/Custo (Equação 1)

O conceito de valor extrapola o de minimização de custo de um produto; em alguns casos, é


recomendável aumentar o valor de um produto por meio do “acréscimo” de suas funções e custo,
desde que o acréscimo do valor de suas funções supere o correspondente aumento de custo. Isto
torna o conceito de “Valor da Função” importante. O valor funcional é expresso pelo menor custo
necessário para prover determinada função/funcionalidade do produto.

1.3 INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE VALOR

Poucos conceitos voltados à melhoria dos resultados das organizações têm trazido tantos resultados
positivos como a análise de valor. O conceito de ‘Analise de Valor’, introduzido pelo engenheiro
americano Lawrence D. Miles, é utilizado como uma abordagem de análise das funções de um
determinado produto, para efeito de pesquisa do desenvolvimento de outros mais baratos com
desempenho das mesmas funções/funcionalidades, observados os aspectos de qualidade e segurança.

Assim, a análise de valor preconiza que a finalidade de um produto é desempenhar um conjunto de


funções ou funcionalidades que atendam às necessidades, gostos e preferencias dos usuários,
representando estas funções custos para o fabricante e para o consumidor. Agir sobre estas funções,
racionalizando-as e otimizando-as com a finalidade de reduzir custos, é o propósito original da análise
de valor.

A aplicação original, redundou em diferentes variantes do método, a ponto de a análise de valor estar
sendo utilizada, na atualidade, nos mais diversos campos de atividades com expressivos resultados.
Praticar a filosofia da Análise de Valor pressupõe uma mudança de atitude e posicionamento de
produtores e consumidores.

O sucesso de um programa de análise de valor depende, fundamentalmente, do apoio da alta


administração da empresa e de seu corpo gerencial, bem como da estruturação de um plano de
trabalho ordenado, de modo a permitir que cada um dos recursos a serem cobertos pelo programa,
seja adequadamente tratado. A análise de valor usa a criatividade, o conhecimento e a experiência de

509
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

especialistas para a busca de produtos e serviços que atendam da melhor forma às necessidades dos
consumidores.

A Análise de Valor deve constituir-se em um processo educacional de alteração de hábitos de


consumo, levando os consumidores a utilizar somente produtos e serviços que satisfaçam às suas
necessidades, resguardando os recursos racionalizados para poupança e investimento. A pratica da
análise de valor pode ser resumida, na visão do propositor do método, na curiosa frase: “Se é de um
litro de leite que você precisa, porque comprar uma vaca?” (MILES, 1962).

1.4 O MÉTODO DA ANÁLISE DE VALOR

A análise de valor define uma “função básica” como qualquer função que faça o produto funcionar e,
em decorrência, ser adquirido. Em contraposição a este conceito, pode-se definir ‘funções
secundárias’, também conhecidas como “funções de suporte”, como todas aquelas que diferem das
funções básicas. Funções secundárias e que não agregam valor ao produto e ao cliente, devem ser
modificadas ou eliminadas para redução de custo e melhor atendimento dos clientes.

No conceito de desenvolvimento ou redesenho de um produto, quando se descreve um problema


real, deve-se detalhar um plano de ação que leve a busca de soluções com uma análise efetiva do
motivo da falha. Desta forma, as “funções” ou “funcionalidades” utilizadas são fatores abstratos e não
tangíveis. Conseqüentemente, quanto mais abstrata for a função que se está tentando “resolver” para
solucionar o problema proposto, maiores serão as chances de virem a ocorrer ‘erros’ posteriores.

Este elevado nível de abstração pode ser alcançado descrevendo-se o que será realizado com um
verbo e um substantivo. Neste método, o verbo responde a pergunta “O que deve ser feito?” O verbo
define a ação requerida. O substantivo responde a pergunta “O que está sendo feito?” O substantivo
indica, portanto, o que está sendo proposto ou realizado.

A função básica de um produto é de extrema importância para o seu sucesso e, asssim, em


decorrencia, o custo desta função não é o mais importante. Poucas pessoas compram um produto
baseando-se apenas no seu desempenho ou no menor custo das funções básicas.

A atenção do consumidor ou do cliente, volta-se desta forma, para as funções secundárias de suporte,
que são tangíveis e determinam o valor final do produto. Produtos são desenvolvidos para possuir um
alto valor alocado às funções básicas e dar ênfase às suas funções de desempenho. Após a definição
das funções básicas, é que é iniciado o desenvolvimento das funções secundárias, responsáveis pela

510
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

atração do cliente. Estas funções são incorporadas com o objetivo de acentuar as funções básicas e
ajudar na venda do produto.

A eliminação das funções secundárias que não agregam valor ao cliente, reduz o custo do produto e
aumenta seu valor, preservando seu preço final de venda.

Um dos objetivos da análise de valor, portanto, é aumentar o valor de um produto para o cliente,
reduzindo seu custo em relação a determinadas funções ou não agregam valor ou não reconhecidas
ou valorizadas pelo cliente. Este objetivo, é atingido eliminado-se ou combinado-se tantas funções
secundárias quanto necessárias.

1.5 O PROCESSO DE ANÁLISE DE VALOR

O processo de análise de valor pode ser desdobrado em 5 etapas como mostrado na Figura 1: a
primeira etapa da análise de valor consiste em definir o problema e seu escopo. Após essa definição,
os itens (funcionalidades) do produto são listados e suas funções são definidas por meio de um
processo de “Brainstorming” (2), sendo classificadas em básicas ou secundárias.

Constrói-se, a seguir, a “Matriz de Análise de Valor”(3) para identificar o custo de cada função,
associando-se esta, a um mecanismo ou componente do conjunto de funcionalidades do produto. Na
quarta etapa do estudo é utilizado o denominado diagrama de Mudge que define a importância
relativa das funções. E finalmente, na etapa (5), é feita a comparação entre alternativas e
funcionalidades.

Figura 1 – Fluxograma do Processo de Análise de Valor

Após elaboração da matriz de análise de valor e a construção do diagrama de Mudge, é feita a


comparação entre a importância e o custo das funções envolvidas. Funções de produto com alto custo
são identificadas como oportunidades para investigação e melhoria.

511
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2 METODOLOGIA E MÉTODO DA PESQUISA

1.6 METODOLOGIA DA PESQUISA

Esta pesquisa pode ser classificada, do ponto de vista do seu objetivo, como uma pesquisa
exploratória, de acordo com (Gil, 1991), pois visa proporcionar maior familiaridade com o problema
com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses.

A pesquisa envolveu levantamento bibliográfico e entrevistas com gestores da indústria investigada,


e que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado, assumindo a forma de um estudo de
caso na indústria automobilística, que do ponto de vista da teoria metodológica, refere-se à pesquisa
onde pesquisadores e participantes estão envolvidos de forma cooperativa ou participativa.

Quanto à sua natureza, trata-se de uma pesquisa aplicada, uma vez que gera conhecimentos para
aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e interesses
locais.

Do ponto de vista da abordagem do problema, trata-se de uma pesquisa qualitativa, que é aquela
onde existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre
o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido plenamente em números.
Assim, não é requerido, prioritariamente, o uso de métodos e técnicas estatísticas. Na pesquisa
qualitativa, o ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-
chave da pesquisa.

3.2. MÉTODO DA PESQUISA

Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se deve empregar na


investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa. Os métodos que fornecem as
bases lógicas à investigação são: dedutivo, indutivo, hipotético- dedutivo, dialético e fenomenológico
(GIL,1999; LAKATOS & MARCONI, 1991).

Na pesquisa utilizou-se o processo clássico de análise de valor, ilustrado na Figura. 1.

Acresce mencionar que na etapa de Brainstorming foram realizadas entrevistas de campo com
gestores, desenvolvedores do produto e clientes objetivando identificar que produto (ou componente
do produto) e funcionalidades seriam considerados objetos de estudo/aná-lise.

512
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Foi realizado Brainstorming baseado nas informações de cada componente e peça, visando à
definição de suas funções, mostradas no Quadro 9, com indicação do nome da peça, suas funções e
respectivos custos diretos de produção.

4. DIAGRAMA DE MUDGE

A matriz de Análise de Valor tem como objetivo indicar como resultado a estimativa de custo para
cada função do produto. Identificado o custo de cada função, o próximo passo é quantificar a
importância relativa de cada função. Para isso é utilizado o denominado diagrama de Mudge,
mostrado no Quadro 1 (matriz de juízos de preferência).

O diagrama de Mudge propõe uma matriz quadrada de ordem n, com cada elemento ai,j, situado na
linha i e coluna j. Estes coeficientes apresentam juízo de valor do decisor na comparação entre o fator
ni e nj, pertencentes ao conjunto dos n fatores que compõem a decisão.

Para evitar uma duplicidade de comparações (ni x nj e nj x ni, i ≠ j), assim como comparações da
alternativa analisada com ela mesma (ni x nj, i = j), a metodologia de Mudge adota ai,j = 0 para i ≥ j,
como indicado no Quadro 1.

Quadro 1 – Matriz de juízos de preferências para a matriz de Mudge.

Fonte: Adaptado de Soethe (2004)

Cada coeficiente ai,j ≠ 0 da matriz de decisão de Mudge é representado pelas coordenadas (p, L), onde
p indica o fator preferido na comparação ni x nj e L um dos níveis de preferência como indicado no
Quadro 2.

Quadro 2 – Escala de preferência na comparação de fatores

Fonte: Adaptado de Soethe (2004)

513
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Após o preenchimento da matriz, o diagrama de Mudge propõe a inserção de uma nova coluna, onde
a soma dos valores de preferência do fator ni (∑ Lni) é colocada na linha i.

A soma dos valores relativos aos n fatores considerados, e dispostos nas n-ésimas linhas,
determinarão o coeficiente ∑Li. A razão entre estes dois coeficientes determina a importância relativa
do valor ni, wi, ..., como representado na Equação 2:

(Equação 2)

Após a utilização da coluna que ilustra o valor wi acima, utiliza-se outra coluna, à esquerda desta, a
ser preenchida com os valores percentuais (%) de cada função, obtidos de acordo com a fórmula da
Equação 3:

(Equação 3)

Assim, para melhor visualização do diagrama, todos os elementos ai,j = 0 para i ≥ j são removidos da
matriz. Assim, o diagrama de Mudge é ilustrado no Quadro 3.

Quadro 3 – Formulação do diagrama teórico de Mudge

4.2 DIAGRAMA DE MUDGE X MATRIZ DE ANÁLISE DE VALOR

A matriz de análise de valor indica o percentual em custo de cada função, enquanto o diagrama de
Mudge fornece o percentual de importância desta mesma função. Confrontando-se os dois valores,
pode-se comparar custo e importância relativa das funções analisadas, como indicado no Quadro 4.

514
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 4 – Diagrama de Mudge

Se o percentual em custo for muito alto em relação ao seu percentual de importância, pode-se afirmar
que se trata de uma função com um custo relativamente alto para a importância que esta representa
para cliente, sendo um possível alvo para projetos de melhoria ou redução de custo. Em caso contrário,
custo baixo e alta importância, pode-se assumir tratar-se trata de uma função importante para o
cliente.

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Com base nas informações de cada componente do produto, foi realizado Brainstorming
para cada peça, visando à definição de suas funções. Após a utilização desta ferramenta de análise,
foi elaborada a relação das peça, suas funcionalidades e custo, como mostrado no Quadro 5.

Quadro 5 – Descrição das funções e custos dos componentes.

515
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O mesmo procedimento foi utilizado para o conjunto completo de enchimento do óleo do motor,
mostrado no Quadro 6.

Quadro 6 – Descrição das funções do componente e custo do conjunto analisado

Para uma melhor compreenção da análise, os textos relativo às funções foram substituídos por letras,
como indicado no Quadro 7 (conjunto de enchimento) visando facilitar a aplicação do diagrama de
Mudge, proporcionando uma melhor visualização das funções analisadas.

Quadro 7 – Tabela auxiliar do diagrama de Mudge

Para elaboração do diagrama de Mudge, foi efetuada comparação entre as funções analisadas, a fim
de definir a maior ou menor importância entre elas, como indicado abaixo:

- A função B foi considerada moderadamente mais importante que a A, uma vez que, levar o
óleo até a entrada do cárter é uma função mais importante do que “apenas” servir de entrada do
sistema de óleo;

- A função C foi considerada moderadamente mais importante que a A, pois efetuar a medição
do nível de óleo é uma atividade que deve ser efetuada diariamente, e o abastecimento de óleo deve
ser realizado apenas quando seu nível estiver baixo;

- A função D foi considerada tão importante quanto a função A, uma vez que ambas são funções
secundárias das funções mais importantes do sistema;

516
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

- A função A foi considerada muito mais importante que a função E, uma vez que “levar o bocal
a um local mais acessível” é uma função auxiliar, servindo apenas para facilitar a operação de
enchimento, que não deve ser realizada diariamente;

- A função A foi considerada moderadamente mais importante que a função F, pois, mesmo
sendo a função “levar a vareta a um local mais acessível” uma função auxiliar e mesmo servindo de
apoio ao motorista, a medição deve ser efetuada diariamente;

- A função A foi considerada muito mais importante que a função G, pois a função G está
presente no veículo devido a uma norma interna da companhia e para indicar a entrada do sistema a
pessoas que a ele ainda não estão habituadas;

- A função A foi considerada muito mais importante que a função H, pelos mesmos motivos
expostos na comparação entre a função A e G;

- A função A foi considerada muito mais importante que a função I, pois o ato de se completar o
nível de óleo, sendo uma atividade vital para o bom funcionamento do motor, foi considerado muito
mais importante que apenas fixar a entrada do sistema.

O mesmo procedimento de comparação foi realizado para as demais funções, sendo indicados os
resultados no Quadro 8.

Quadro 8 – Tabela auxiliar para aplicação do diagrama de Mudge.

Após conclusão do diagrama de Mudge, foram calculados os valores com a importância relativa de
cada função, mostrados na coluna percentagem (%). O próximo passo consistiu em obter o custo
relativo de cada função para que pudessem ser comparados a importância e o custo de cada uma e,
desta forma, possibilitar a verificação das funções para as quais seu custo suplanta sua importância,
direcionando, portanto o processo de redução de custos.

517
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.1 MATRIZ DE ANÁLISE DE VALOR

A matriz de análise de valor é utilizada para obter o custo relativo de cada função do conjunto, como
mostrado no Quadro 9. Estes custos foram estimados com o auxílio de informações enviadas pelos
fabricantes das peças; baseado no custo de fornecimento, e, neste caso, os valores são fictícios,
servindo apenas como exercício acadêmico e para exemplificar a possibilidade de eliminação de cada
função de uma das peças/componentes, e a redução desta sem aquela função.

Por exemplo, a função “Servir de Entrada do Sistema de Óleo” é responsável por 30% do custo do
tubo de enchimento, pois este é o custo estimado para se fabricar a “secção” da peça responsável pela
entrada de óleo no sistema e o bocal do tubo de enchimento, incluindo-se a tampa. O procedimento
para cada uma das peças foi repetido com a finalidade de definir-se o custo total de cada função em
valores monetários e sua representatividade, dentro do conjunto como um todo, com o resultado
expresso em percentagem.

Quadro 9 – Aplicação da Matriz de análise de valor.

Com a elaboração da Matriz de Análise de Valor, obtém-se o custo absoluto e relativo de cada função,
consistindo a etapa seguinte, do processo de análise, na comparação entre o custo e a importancia
relativa das funções calculadas por meio do diagrama de Mudge e como etapa do processo, é realizada
comparação entre custo e importância relativa das funções.

518
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.2 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS NO DIAGRAMA DE MUDGE E MATRIZ DE ANÁLISE DE VALOR

Com base nos dados do Diagrama de Mudge e da matriz de análise de valor, é possível comparar as
funções analisadas, associando o custo relativo de cada função à sua importância para o cliente, como
mostrado no Quadro 10.

Quadro 10 – Comparativo entre custo e importância das funções analisadas.

A partir do Quadro 10 elaborou-se o gráfico comparativo, mostrado na Figura 2, para possibilitar


melhor visualização dos custos e da importância relativa das funções analisadas.

Figura 2 – Gráfico comparativo entre custo e importância das funções.

Analisando-se o gráfico mostrado na Figura 2, onde é indicado o comparativo entre custo da


função e sua importância para o cliente foi constatado, que cinco das nove funções levantadas,
tem um custo igual ou menor do que a sua importância para o conjunto:

- Servir de Entrada do Sistema de Óleo – 3,6% de diferença;


- Levar Óleo a Entrada do Cárter – 6,0% de diferença;

- Efetuar a Medição do Nível de Óleo – 20,9% de diferença;

- Guiar a Vareta Medidora de Óleo Até o Interior do Cárter – 10,2% de diferença;

519
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

- Fixar o Sistema – 0,0% de diferença.

Também foi percebido, de maneira analoga, que as funções abaixo apresentam custo maior que
sua importância relativa:

- Levar o Bocal de Enchimento a um Local Mais Acessível – diferença de 11,0%;

- Levar a Vareta a um Local Mais Acessível – diferença de 28,3%;

- Indicar a Entrada de Abastecimento do Sistema – diferença de 8%;

- Servir de localização do Sistema de Verificação de Nível – diferença 0 de 6%.

Vale lembrar que, embora as funções “Indicar a Entrada de Abastecimento do Sistema” e “Servir
de Localização do Sistema de Verificação de Nível” apresentem zero por cento de importância,
este valor é relativo, tendo sido obtido comparando-se, entre si, as funções levantadas. Assim
sendo, as funções em questão não foram consideradas mais importantes que nenhuma outra
função.

Outro ponto a destacar com relação às funções “Efetuar a Medição do Nível de Óleo”, “Guiar a
Vareta Medidora de Óleo Até o Interior do Cárter”, “Indicar a Entrada de Abastecimento do
Sistema”, “Servir de Localização do Sistema de Verificação de Nível” e “Fixar o Sistema”, é que,
todas elas apresentam custo relativamente baixo, em relação às outras funções analisadas.

As funções “Efetuar a Medição do Nível de Óleo” e “Guiar a Vareta Medidora de Óleo até o
Interior do Cárter” apresentam maior diferença positiva de 20,9% (custo < importância), e
10,2%, respectivamente, enquanto as funções “Levar o Bocal de Enchimento a um Local Mais
Acessível” e “Levar a Vareta a um Local Mais Acessível” apresentaram a maior diferença
negativa (custo > importância), 11,0% e 28,3%, respectivamente.

As funções “Efetuar a Medição do Nível de Óleo” e “Levar Óleo à Entrada do Cárter”


apresentaram as maiores importâncias – juntas representam 44,7% da importância do sistema.
As funções “Levar o Bocal de Enchimento a um Local Mais Acessível” e “Levar a Vareta a um
Local Mais Acessível”, no conjunto, representam 63,1% do custo total do conjunto.

6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de pesquisa objetivou melhorar e otimizar custos de produção de veículos


comerciais pesados, em uma montadora brasileira, utilizando o método de ‘Análise de Valor’ no

520
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

redesenho de um sistema de enchimento e verificação do nível do óleo do motor.


Esta análise permitiu concluir, neste caso específico, que as funções “Levar o Bocal de
Enchimento a um Local Mais Acessível” e “Levar a Vareta a um Local Mais Acessível” têm um
custo extremamente elevado quando comparado a suas importâncias. Juntas, estas funções são
responsáveis por 63,1% de todo o custo agregado ao sistema de verificação e enchimento de
óleo, equivalendo, no entanto, a importância destas a apenas 22% da importância do conjunto.
A pesquisa permitiu também concluir, com base nestes resultados, que estas funções não
apresentavam uma relação favorável entre custo dos componentes e o custo das respectivas
funções, sendo necessária uma modificação no projeto destes componentes de forma a reduzir
o custo das mesmas, ou, até eventualmente, eliminá-las do sistema.
O método da análise de valor também mostrou que as funções “Indicar a Entrada de
Abastecimento do Sistema” e “Servir de Localização do Sistema de Verificação de Nível” não
devem ser foco do estudo de melhoria, pois, embora apresentem custo maior que sua
importância, os mesmos são desprezíveis quando comparados ao custo total do conjunto.
Isto também é aplicável às funções “Efetuar a Medição do Nível de Óleo”, “Guiar a Vareta
Medidora de Óleo Até o Interior do Cárter”, “Indicação de Entrada de Abastecimento do
Sistema”, “Localização do Sistema de Verificação de Nível” e “Fixação do Sistema”, que também
não devem ser foco do esforço de redução de custo, uma vez que, embora representem
potencial de redução de custo, a relação entre seus custos e suas respectivas importâncias é
favorável, tendo em vista que suas importâncias são maiores que seus custos.
Pode-se, portanto, a partir deste pressuposto, sugerir um sistema de verificação e enchimento
de óleo com o mesmo conceito do atual, porém, retirando-se a vareta e o bocal de enchimento
de sua atual localização, posicionando-os abaixo da cabine.
Esta intervenção possibilitará uma redução nas dimensões do tubo de enchimento, da vareta
de óleo, do tubo tecalon e da mangueira de enchimento. A utilização deste conceito, no entanto,
implicará no basculamento da cabine para que se possa efetuar a medição de nível e a reposição
de óleo, o que não é crítico para o motorista, uma vez que esta operação ocorre de maneira
simples e rápida, não requerendo grandes esforços por parte do usuário.
Cabe argumentar, adicionalmente à solução proposta com a Análise de Valor que, o sistema de
verificação e enchimento de óleo com necessidade de basculamento da cabine já é
disponibilizado nos veículos da concorrência.

521
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

REFERÊNCIAS

ABREU, R. C. L. Análise de valor: um caminho criativo para a otimização dos custos e do uso dos
recursos. Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 1995.

ARAUJO JUNIOR, A.H.A., HEGENBERG, L., Hegenberg, F.E.N., Metodologia de Pesquisa: de


Socrates a Marx e Popper, São Paulo: Atlas, 2012

A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.

BACK, N.; OGLIARI, A. DIAS, A.; SILVA, J. C. Projeto integrado de produtos: planejamento,
concepção e modelagem. Barueri, SP: Manole, 2008. - Barueri SP: Manole, 2008. 648p

CLARK, L.. Value Analysis. In Joseph L. Cavinato and Ralph G. Kauffman, The Purchasing
Handbook, 6ª. Edição, McGraw-Hill, New York, 2000. pp. 585-605.

CSILLAG, J. M. Análise de Valor: Metodologia de Valor. São Paulo: Atlas,1995. GIL,

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.

JURAN, J.M. A qualidade desde o projeto: novos passos para o planejamento da qualidade em
produtos e serviços. São Paulo: Pioneira, 1992.

LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1991.

MILES, L. D. Análise de valor em Engenharia. Tradução de Kurt Weil. 5a.ed. Califórnia, 1962, 220
p.

PEREIRA FILHO, R. R. 1998. Análise do Valor: Prática de Melhoria Contínua. São Paulo: Nobel.

SILVA, E. L. & MENEZES, E. M. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação.

Florianópolis: UFSC, 2001.

SOCIETY OF AMERICAN VALUE ENGINEERS. Interactions. V.20. n .1, jan. 95. p.2.

SOETHE, V. A. Técnica sunkrino: uma proposta para ponderação de critérios na avaliação e


monitoramento do risco de crédito pelo método Criks. Florianópolis:UFSC, 2004. 160 p. Tese
(Doutorado) – Programa de Pós-Graduação Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2004.

522
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 25

ESTIMAÇÃO DA RECEITA LÍQUIDA DE UMA EMPRESA DE


VAREJO ATRAVÉS DE UMA MODELAGEM ESTRUTURAL
DOI: 10.37423/200300546

Marco Antônio dos Santos Martins (ESPM Sul/Unifin) - mmartins@jminvest.com


Frederike Monika Budiner Mette (ESPM Sul/ Unifin) - frederikemette@yahoo.com.br
Guilherme Ribeiro de Macêdo (UFRGS) - ribeiroguilherme@gmail.com

Resumo: O comportamento das vendas do varejo desempenha um papel relevante como


componente da demanda agregada, integrando os modelos de política macroeconômica
como, por exemplo, os modelos de política monetária, fazendo com que economistas e
pesquisadores desenvolvam ferramentas cada vez mais sofisticadas para reduzir o nível de
erro de estimação. Por outro lado, a nível microeconômico, as empresas do setor de varejo
tem na projeção de vendas a variável determinante para a estimação de volume de capital
de giro, de margens de lucro e do orçamento de resultados. Desta forma, a modelagem
adequada desta série de vendas é muito importante para diversos setores da economia.
Assim, a proposta do presente artigo foi utilizar modelos estruturais para modelar de forma
mais robusta as vendas das empresas do setor varejista, afim de utilizá-lo como ferramenta
de orçamento para as empresas do varejo, fundamentando-se na metodologia do filtro de
Kalman. Para isso, foi utilizada uma série de vendas nominais do varejo trimestrais,
compreendida entre o primeiro trimestre de 2000 até o primeiro trimestre de 2008, gerando
equações de regressões pelo modelo estrutural para estimar o modelo dentro da amostra e
fora dela, com o software Stamp 6.20.

523
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os resultados demonstraram que a utilização dos modelos estruturais aumenta a capacidade


de previsão das séries de vendas ao segregar o modelo em vários componentes, tais como
tendência e sazonalidade.

Palavras-chave: Estimação de Vendas do Setor Varejista. Modelos Estruturais. Filtro de


Kalman.

Área temática: Métodos quantitativos aplicados à gestão de custos.

524
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

O atual cenário econômico mundial leva a necessidade do entendimento de que o sistema de


gerenciamento de qualquer entidade requer a clara definição de seu processo de gestão,
considerando, especialmente, a dinâmica de seus negócios. Nesse processo estão estabelecidos
implícita ou explicitamente os diversos métodos e caminhos que a administração maior da
organização estabelece para que os objetivos e metas sejam atingidos.

Esse processo de gestão inicia na missão da empresa e no modelo de gestão, onde pode ser observado
o conjunto das crenças e valores que devem nortear o comportamento dos gestores. Dessa forma, o
processo de gestão pode ser definido como o conjunto de procedimentos e determinações que os
gestores identificam como necessários para impulsionar a empresa da atual situação à outra
identificada como possível e desejada em um tempo futuro (SANTOS, SCHMIDT, PINHEIRO E MARTINS,
2008).

O planejamento orçamentário objetiva não só prever os fluxos de caixa, resultados e situação


patrimonial da empresa, mas também controlar esses itens a fim de que os mesmos sejam atingidos.
Para que se possam controlar esses objetivos, é importante que se elabore um cronograma de todas
as operações, quantificando-os por meio de metas. Essas metas propiciarão as bases para o
julgamento dos planos, bem como a sua validação, por meio da comparação com os indicadores de
desempenho da empresa (SANTOS, SCHMIDT, PINHEIRO E MARTINS, 2008) .

O elemento-chave de um orçamento operacional é o orçamento de vendas, que pode ser considerado


o ponto de partida de todo o processo de elaboração das peças orçamentárias.

Essa importância está diretamente relacionada ao fato de que, para a maioria das empresas, todo o
processo de planejamento operacional decorre da percepção da demanda de seus produtos para o
período a ser orçado. É por isso que o volume de vendas é, em geral, o fator limitando para todo o
processo orçamentário (PADOVEZE E TARANTO, 2009).

Considerando a importância do acompanhamento das vendas do varejo a nível de estimativas macro


e microeconômicas e a grande importância para a construção de um orçamento empresarial de um
modelo robusto para a projeção de vendas no setor de varejo, o presente artigo tem por objetivo
utilizar os modelos estruturais para modelar e estimar a série de vendas de uma empresa de varejo.
Para atingir este objetivo, o artigo se propõe a decompor a amostra de vendas trimestrais,

525
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

compreendida entre o primeiro trimestre de 2000 até o primeiro trimestre de 2008, em componentes
capazes de gerar interpretações diretas, com a utilização do com o software Stamp 6.20.
Abandonando, assim, a modelagem mais simples que é a de tratar somente a tendência da série, por
modelagens de mínimos quadrados ordinários.

A modelagem proposta como a mais adequada a uma série temporal econômica com esta
característica é a de decompor a série a partir de uma equação capaz de tratar separadamente a
tendência, a sazonalidade e o erro estocástico. Em alguns casos cabe ainda tratar o ciclo das séries.

De acordo com a literatura, o tratamento das séries temporais em componentes específicos se justifica
pelo fato de descrever a série em termos de componentes não observados e facilitar uma previsão
com menor nível de erro.

Harvey (2003) destaca, no entanto, que o modelo estrutural deve ser flexível no sentido de permitir
que ele responda adequada e rapidamente às mudanças direcionais das séries. Assim, torna-se
necessário que os modelos de séries de tempo estruturais possuam componentes variáveis no tempo.

Para atingir os seus objetivos, o trabalho está dividido em mais três seções além desta: na segunda
será apresentada uma breve revisão teórica com o objetivo de introduzir e apresentar conceitos
orçamentários, de previsão e o modelo de estimação; na terceira seção do trabalho há a apresentação
dos dados da amostra, da metodologia adotada e dos resultados do modelo; e a última seção é
dedicada às considerações finais.

2 REVISÃO TEÓRICA

Segundo Sá e Moraes (2005, p.59) o orçamento empresarial é um instrumento de gestão necessário


para qualquer empresa, independentemente de seu porte ou tipo de atividade econômica. Assim, a
técnica orçamentária projetará as prováveis receitas, verificando, assim, se a empresa encontrará
suporte para manter-se no mercado. É preciso especializar-se, conhecer profundamente o mercado e
o cliente, para antecipar-se às tendências, detectar as mudanças e atender às suas necessidades e
exigências para obter-se uma maior precisão na elaboração do orçamento.

O orçamento empresarial pode ser definido como sendo a quantificação do planejamento estratégico
da empresa. É utilizado para fixar metas quantitativas de receitas, ganhos, despesas e perdas, bem

526
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

como fluxos futuros de caixa e patrimônio da empresa (SANTOS, SCHMIDT, PINHEIRO E MARTINS,
2008).

A construção do orçamento empresarial implica necessariamente, na criação de um modelo capaz de


projetar o futuro da empresa em termos de resultados, fluxos de caixa e patrimônio, com base em
informações pretéritas, bem como baseadas em modificações recentes ocorridas no cenário
econômico, ou na estrutura da própria organização. Assim, ele não será preciso, mas auxiliará a
concretização do planejamento estratégico (SANTOS, SCHMIDT, PINHEIRO E MARTINS, 2008).

A etapa inicial do orçamento de vendas consiste em determinar a quantidade de produtos da empresa


que será vendida nos próximos períodos. É verdade que cada empresa tem seu grau de dificuldade
em estimar essas quantidades, mas é verdade também que essa é a etapa mais difícil do orçamento
de vendas. Essa dificuldade é considerada natural, dada a imprevisibilidade das situações conjunturais
da economia e as sazonalidades existentes.

Entretanto, a leitura do ambiente e a construção dos cenários, bem como outras informações
constantes no sistema de acompanhamento do negócio, devem possibilitar um mínimo de condições
de estabelecer probabilidades de acontecimentos de vendas futuras (PADOVEZE E TARANTO, 2009).

Padoveze e Taranto (2009) afirmam que o método estatístico dá uma forte possibilidade de um acerto
razoável das quantidades que serão vendidas. O método estatístico consiste em utilizar modelos
estatísticos de correlação e análise setorial com base em recursos computacionais ou mesmo direto
de análise de tendências. Extremamente útil quando o passado consegue prever um comportamento
futuro das vendas, é o método utilizado quando se tem muita dificuldade em saber o que vai se vender.

Dentre os métodos estatísticos, podemos usar diferentes critérios, entre eles:

 Correlação com o crescimento do setor ou do PIB.

 Análise de tendência – regressão linear e mínimos quadrados ordinários.

 Combinação dos dois métodos anteriores.

 Pesquisa de mercado.

 Correlação ou participação no tamanho do mercado.

527
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Uma das alternativas ao método de mínimos quadrados ordinários é o filtro de Kalman que é
caracterizado por um processo linear dinâmico produzido por um algoritmo formado por equações de
recorrência. Este método pode ser facilmente compreendido, se tratado com um problema de
inferência Bayesiana e empregando resultados bem conhecidos e elementares da Estatística
Multivariada (Araújo, 2000).

A fundamentação teórica para decompor uma série em componentes de tendência, sazonais e cíclicos
através do filtro de Kalman é suportado pelos estudos teóricos e empirícos propostos por de Harvey
(2003).

De acordo com Harvey (2003) o grande segredo para se tratar adequadamente as séries de tempo
estruturais é colocá-las na forma de espaço-estados, com o estado do sistema representando os
componentes não observados. Depois disso, o filtro de Kalman atualiza o estado assim que a nova
observação torna-se disponível. As previsões nascem da extrapolação dos componentes para o futuro.
A realização das previsões somente ocorrerá após a estimação correta dos parâmetros estocásticos
que balizam o comportamento da série, os chamados hiperparâmetros. A sua estimação é
fundamentada na metodologia do filtro de Kalman.

O modelo estrutural básico (Basic Structural Model) é da forma:

Onde:
μt: componente de tendência
γt: componente de sazonalidade
ψt: componente cíclico
λj: freqüência da sazonalidade
εt, ηt, ξt, kt e kt

528
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

*: erros estocásticos não correlacionados


Das equações 2 a 8, nota-se que os componentes são modelados de forma que variem
no tempo, ou seja, possuem comportamento estocástico. Este modelo representado na forma
de espaço-estado.
A forma geral da representação aplica-se a uma série de tempo multivariada, yt,
contendo N elementos. Estas variáveis observáveis são escritas em um vetor de dimensão m x
1, αt, conhecido como vetor-estado. A equação de medida é da forma:

Onde:

Zt : matriz de dimensão N x m

dt : vetor de dimensão N

εt : vetor de dimensão N cujos componentes são não correlacionados e possuem média nula

Os elementos de αt, em geral, são não observáveis. Contudo, eles são conhecidos por serem gerados
de um processo de Markov de primeira ordem da forma:

A equação 10 é chamada de equação de transição.

As matrizes de sistema Zt, dt, Ht, Tt, ct, Rt e Qt são modeladas de forma a variarem no tempo.
Entretanto, em modelos estacionários, essas matrizes são fixas e conhecidas por homogêneas no
tempo.

Para Nelson e Kim (1999) os modelos estacionários são uma representação particular da classe geral
de modelos estocásticos. A representação no formato estado-espaço permite a utilização dos
algoritmos recursivos do filtro de Kalman para estimação do vetor de estados em t, baseado na
informação disponível em t.

529
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Seja at-1 o estimador ótimo de αt-1 baseado nas informações até yt, incluindo este. Considere Pt-1 a
matriz de covariância com dimensão m x m dos erros, isto é,

Dados at-1 e Pt-1, o estimador ótimo de αt é dado por:

A matriz de covariância do erro estimado é:

As equações 12 e 13 são as equações de previsão.

Após cada nova observação disponível, yt, o estimador de αt, at|t-1, pode ser atualizado.

As equações de atualização são:

O conjunto de equações 12 a 16 formam o filtro de Kalman. Uma outra forma de representar o filtro,
é utilizar recursões indo de at-1 até at.

A matriz de ganho, Kt, é dada por:

A recursão para a matriz do erro da covariância é:

530
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os valores iniciais para estimação dos parâmetros pelo filtro de Kalman podem ser especificados em
termos de a1|0 e P1|0. Dadas estas condições iniciais, o filtro de Kalman fornece o estimador ótimo do
vetor-estado assim que cada nova observação torna-se disponível. Este mesmo estimador contém
toda a informação necessária para realizar previsões ótimas de valores futuros tanto do estado quanto
das observações.

3 METODOLOGIA E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A proposta desta seção é aplicar a o Filtro de Kalmann como estimador de vendas do varejo,
transformando em um instrumento capaz de auxiliar no processo orçamentário para a estimação do
volume de vendas das empresas do varejo, tais como hipermercados e grandes magazines.

O trabalho está fundamentado para estimar o modelo que melhor representa o a série temporal das
vendas nominais do varejo para o período compreendido entre primeiro trimestre de 2000 e o
primeiro trimestre de 2008, se traduzindo em 33 observações, partindose de uma base 100 em 2003.

A partir da amostra selecionada se realizou uma análise dos dados sem nenhuma espécie de
tratamento, construindo-se, simplesmente o gráfico da série econômica.

531
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 1: Série temporal das vendas nominais trimestrais no varejo

Fonte: Elaborado pelos autores

O próximo passo é suavizar a série através da modelagem multiplicativa, tomando-se o logaritmo da


série, gerando pequena suavização, conforme o gráfico da série em logaritmo.

532
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 2: Série logarítmica das vendas nominais trimestrais no varejo

Fonte: Elaborado pelos autores

A simples observação dos dois gráficos acima demonstra que as séries apresentam uma inclinação
positivamente inclinada e uma sazonalidade recorrente, com o último trimestre de cada ano
possuindo um comportamento tipicamente sazonal. Em se tratando de vendas nominais no varejo a
tendência de crescimento e o comportamento sazonal pode ser percebido até intuitivamente.

Após estas conclusões, pode-se então estimar o modelo estrutural básico que melhor se adéqua à
série de dados, fazendo as comparações estatísticas dos hiperparâmetros encontrados dentro dos
modelos possíveis. A partir das observações pode-se optar por um primeiro modelo estrutural básico,
que será estimado decompondo a série em uma soma de tendência, sazonalidade trigonométrica e
um erro estocástico, conforme resultados abaixo.

533
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 1: Modelo estrutural básico decomposto em uma soma de tendência, sazonalidade


trigonométrica e um erro estocástico

Fonte: Elaborada pelos autores

O processo de estimação apresentou uma convergência muito forte, cabendo agoratestar se o modelo
está bem especificado com a construção dos testes de diagnósticos de erros.

O teste principal e mais usado é o Teste Q de Box Pierce. Para o modelo estrutural acima e para um
valor crítico de 16,244 com 6 graus de liberdade, o p-valor foi de 0,00387, abaixo de 5%. Tal fato indica
uma alta correlação dos erros, sinalizando que este modelo está mal estruturado.

Tal resultado sugere a introdução de um componente cíclico de forma a melhorar a especificação. O


modelo estrutural é composto então pela soma de uma tendência, uma sazonalidade, um ciclo de
quatro trimestres e um erro estocástico.

O resultado da estimação do segundo modelo proposto encontra-se no Quadro 2.

Quadro 2: Modelo estrutural básico decomposto em soma de uma tendência, uma sazonalidade, um
ciclo de quatro trimestres e um erro estocástico

Fonte: Elaborada pelos autores

Para testar a ausência de autocorrelação se utilizou o teste Q de Box Pierce que indicou um p-valor de
0,123074 para um valor crítico de 12,8437 com 7 graus de liberdade, demonstrando que os erros são
não correlacionados.

534
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Além disso, se realizou outro teste indicativo de autocorrelação serial nos erros, o de Durbin Watson
(DW). Para o modelo especificado acima, o valor do teste foi de 1,85645, indicando a ausência de
autocorrelação nos resíduos. Abaixo são apresentados os demais resultados de diagnóstico:

Quadro 3: Teste de Box Pierce e de Durbin Watson (DW)

Fonte: Elaborada pelos autores

O modelo estatisticamente robusto demonstrando o que intuitivamente se imaginava que a série não
possui ciclos possui uma tendência definida é possui alta sazonalidade. Mesmo considerando que o
modelo estimado sem ciclos apresentou erros autocorrelacionados. A seguir é apresentado um gráfico
com o comportamento dos resíduos para fundamentar os resultados encontrados estatisticamente.

Figura 3, 4, 5 e 6: Autocorrelação e distribuição normal das séries temporais e logarítmica de vendas


nominais trimestrais no varejo

Fonte: Elaborado pelos autores

535
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A seguir apresentamos as estimações dentro e fora da amostra, demonstrando uma capacidade de


acerto bastante grande.

Figura 7 e 8: Estimações dentro (realizado) e fora (projetado) da amostra

Fonte: Elaborado pelos autores

536
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 9, 10 e 11:Comportamento dos estimadores dentro e fora da amostra

Fonte: Elaborado pelos autores

Os resultados obtidos para os estimadores dentro e fora da amostra evidenciam consistência


estatística tanto para os estimadores dentro da amostra, como para os estimadores fora da amostra.
Por outro lado, na medida em que os estimadores se afastam da amostra o grau de consistência
diminui.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização do modelo estrutural do filtro de Kalman para a estimação do comportamento da série de


vendas nominais do varejo trimestral, a partir da amostra compreendida entre o primeiro trimestre
de 2000 e o primeiro trimestre de 2008, demonstrou uma evidência empírica de que a sua utilização
para realizar tais estimativas gera resultados com robustez estatística e menores níveis de erro.

Os resultados apurados demonstraram capacidade de projeção com erro estatisticamente baixo, tanto
para projeções dentro da amostra como para projeções fora da amostra.

537
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Entende-se ainda que a robustez de tal modelo permite a aplicação de ferramentas econométricas na
projeção de vendas das empresas do setor de varejo, possibilitando a redução do nível de erro de tais
projeções.

Para trabalhos futuros, sugerem-se aplicações do modelo proposto a amostras diferentes e a outros
setores da economia.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Péricles César de. Aplicação do Filtro de Kalman na determinação do prazo de validade de
alimentos perecíveis. Feira de Santana: Sitientibus, Ed. 23, 2000.

HARVEY, A. C. 2003. Forecasting, structural time series models and the Kalman filter. Cambridge
University Press, New York.

ENDERS, W. 1995. Applied Econometric Time Series. Second Edition, John Wiley & Sons, Nova York.

KIM, C. J., NELSON, C. R. 1999. State- Space Models with Regime Switching. MIT Press, London.

LUNKES, Roberto João. Manual de Orçamento. São Paulo, Atlas, 2003.

PADOVEZE, Clóvis Luís; TARANTO, Fernando Cesar. Orçamento Empresarial: novos conceitos e SÁ,
Carlos Alexandre ; MORAES, José Rabello.O Orçamento Estratégico: Uma Visão Empresarial. Rio de
Janeiro, Qualitymark, 2005.técnicas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

SANTOS, José Luiz dos; SCHMIDT, Paulo; PINHEIRO, Paulo Roberto; MARTINS, Marco Antônio.
Fundamentos de Orçamento Empresarial. São Paulo: Atlas, 2008.

Site ipeadata.gov.br: Acessado em 14 de abril de 2010.

538
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 26

O MODELO INTEGRADO DE RESULTADO SUSTENTÁVEL EM


PROGRAMAS FINALÍSTICOS COMO INSTRUMENTO DE
EVIDENCIARA QUALIDADE DO GASTO PÚBLICO: UMA
APLICAÇÃO NO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,
ORÇAMENTO E GESTÃO.
DOI: 10.37423/200300552

Giovanni Pacelli Carvalho Lustosa da Costa (Doutorando e Mestre em Ciências pela


Universidade de Brasília. Especialista em Operações Militares pela ESAO. Bacharel
em Ciências Militares pela AMAN e Bacharel em Administração de Empresas pela
Universidade Estadual do Ceará/UECE. Analista de Finanças e Controle da
Controladoria-Geral da União.

Fátima de Souza Freire (Doutora e Mestre em em Economia pela Université des


Sciences Sociales de Toulouse I, França. Especialista em Matemática Aplicada em
Finanças e Economia pela Universidade de Brasilia/ UNB. Bacharel em Ciências
Contábeis pela Universidade Federal do Ceará/ UFCE. Professora Associada IV da
Universidade de Brasília/ UNB, Deparamento de Ciências Contábeis e Atuarias.

Resumo: A qualidade do gasto público revela-se como um novo foco a ser perseguido na
administração pública. Não basta gastar e prestar contas corretamente, é preciso gastar
bem. Nesse sentido, faz-se necessário o uso de ferramentas que sejam capazes de evidenciar
o retorno agregado à sociedade. A Demonstração do Resultado Econômico inserida no rol de
demonstrativos contábeis em 2008 possibilita medir a qualidade do gasto público. Apesar de
sua inegável utilidade, ela não captura os resultados sociais e ambientais de uma Ação de
Governo. Assim, existe a necessidade de uma ferramenta que evidencie, além dos benefícios
econômicos, as externalidades sociais e ambientais.

539
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Dessa forma, o objetivo geral do presente trabalho é a partir do modelo integrado de resultado
sustentável proposto neste estudo evidenciar o índice de resultado sustentável da Ação
Governamental 8532 – Manutenção de Centros Recondicionamento de Computadores. Para se atingir
este objetivo geral, o estudo foi dividido em duas etapas. Na primeira etapa do trabalho é apresentado
o modelo integrado de resultado sustentável enquanto na segunda etapa do estudo é realizada a
operacionalização do modelo. Ao final do estudo verificou-se que a Ação Governamental gerou um
resultado sustentável à sociedade de R$ 4.783.084,74 em 2008, e de R$ 3.838.642,10 em 2009. Dessa
forma, obteve-se um índice de resultado sustentável (IRS) de 4,09 em 2008 e de 3,72 em 2009.O
decréscimo do IRS obtido em 2009 foi decorrente principalmente do fato de o Centro de
Recondicionamento de Computadores de Recife ter recondicionado e distribuído poucos
computadores em 2009.

Palavras-chave: Qualidade do gasto público; resultado econômico; resultado sustentável; modelo


integrado.

540
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INTRODUÇÃO

Jensen e Meckling (1976) consideram dentro do contexto da teoria da agência, a possibilidade de que
os administradores das empresas tomem decisões, visando a maximização de seu respectivo bem
estar, que podem não coincidir com as decisões que maximizariam o lucro dos acionistas e
proprietários que os contrataram. Fazendo uma analogia no setor público, os eleitores representariam
os principais e os políticos, os agentes.

Em termos de planejamento orçamentário no setor público, Wildavsky (1988) afirma que o processo
de elaboração e gestão de um orçamento público se constitui ao mesmo tempo um processo técnico
(contábil e financeiro) e político.

Um ponto central e comum entre a teoria da agência e o processo orçamentário é a complexidade da


interpretação dos dados orçamentários que pode conduzir para uma assimetria informacional.
Conforme aponta Santos (1993), uma fragilidade que impede a transparência almejada pelos
constituintes de 1988, e por conseguinte aumenta o risco de agência no processo orçamentário na
relação eleitor-político, é o excesso de detalhamento das despesas e a prolixidade do orçamento,
tornando-o um processo incompreensível inclusive para pessoas com qualificação especializada.

O atual modelo de planejamento orçamentário estabelecido pela Constituição Federal (CF) de 1988 é
composto pelos seguintes instrumentos legais: a Lei do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). O Programa é o módulo integrador entre a LOA
e o PPA, sendo peça fundamental na materialização das políticas públicas (BRASIL, 2011).

Uma questão relevante nessas três peças (PPA, LDO e LOA) é avaliação de programas e ações. Assim,
a partir de uma avaliação o programa pode ser revisto ou mesmo excluído (BRASIL, 2008). No âmbito
federal existem órgãos de controle externo e interno com esta missão específica de avaliar os
programas. No sistema de controle interno destaca-se a Controladoria Geral da União (CGU) que tem
entre suas finalidades: (i) a avaliação do cumprimento das metas previstas no plano plurianual; (ii) a
execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; (iii) a comprovação a legalidade e
avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial
nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por
entidades de direito privado (BRASIL, 1988).

541
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Observa-se que na missão constitucional da CGU, consta apenas a avaliação da eficácia e eficiência,
porém a legislação mais recente incluiu também a avaliação quanto à efetividade dos programas e
ações orçamentárias (BRASIL, 2008).

Nesse aprimoramento da eficácia, eficiência e efetividade podem ser destacadas medidas recentes
de cunho gerencial: (i) a Lei Complementar 101 de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) que
determinou a manutenção de sistema de custos que permita a avaliação e o acompanhamento da
gestão orçamentária, financeira e patrimonial; (ii) a NBC T (Normas Brasileiras Técnicas Contábil) 16.2
que incluiu como subsistema de informações contábeis o subsistema de custos; (iii) a NBCT 16.6 que
incluiu a Demonstração do Resultado Econômico 1 (DRE) no rol das demonstrações contábeis aplicadas
ao setor público; (iv) e a NBCT 16.11 que detalhou os conceitos dos Sistema de Informação de Custos
do Setor Público (BRASIL, 2000, CFC, 2008a, 2008b, 2008c)

A DRE surge como uma alternativa para mensurar custos no setor público. Para tanto utiliza conceitos
fundamentais do Modelo de Gestão Econômica (GECON) promovido por Catelli (2001): custo de
oportunidade2 e receita econômica3.

Apesar da capacidade da DRE gerar informações sobre os custos no setor público e o sobre o resultado
econômico que é efetivamente agregado à sociedade, ela não trata sobre o desempenho social e
ambiental, também relevantes para a sociedade e para o governo.

Os resultados econômicos já foram mensurados isoladamente por Slomski et alli (2010) e Andrade et
alli (2010); enquanto os resultados sociais e ambientais foram mensurados isoladamente por Braz et
alli (2009). Assim, em nenhuma dessas pesquisas foi mensurado simultaneamente os resultados:
econômico, social e ambiental simultaneamente (neste estudo denominado “resultado sustentável”)
considerando uma Ação e/ou Programa de governo.

Baseado em tudo exposto até aqui, tem-se a seguinte questão de pesquisa: Qual o resultado
sustentável agregado à sociedade em Ações de Programas finalísticos do governo federal? O
objetivo do estudo é apresentar em (i) uma primeira fase: o modelo de resultado sustentável e em (ii)
uma segunda fase: aplicar o modelo em um caso concreto, mais especificamente sobre a Ação de
Governo Manutenção de Centros de Recondicionamento de Computadores (CRC).

542
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

REFERENCIAL TEÓRICO

Teoria da Agência no setor público

Jensen e Meckling (1976) definem a relação de agência como um contrato pelo qual o principal
contrata o agente para executar algum serviço em seu nome, que envolve delegação de alguma
autoridade para a tomada de decisão do agente. Segundo os autores, se ambas as partes do
relacionamento são maximizadores de utilidade, há boas razões para acreditar que o agente não agirá
sempre no melhor interesse do principal.

Os mesmos autores ressaltam que o principal pode limitar as divergências de seu interesse por meio
da criação de incentivos adequados para o agente e incorrendo em custos de controle destinado a
limitar as atividades aberrantes do agente (grifo nosso).

O problema principal-agente surge quando, no estabelecimento e fiscalização de um contrato, o


contratante não possui informação perfeita que permita a avaliação do esforço ou ação empreendida
pelo segundo, ação essa que afeta o bem-estar do primeiro. Aqui o termo principal refere-se ao
indivíduo ou entidade que possui a autoridade para agir enquanto que o agente é aquele que atua no
lugar do principal e sob a autoridade contratual desse (SILVA, 1996).

Chama-se a atenção para uma das principais diferenças entre o modelo principal-agente do setor
privado e o modelo principal-agente para o setor público. No setor privado o agente está ligado a
somente um principal ou a um número reduzido deles; enquanto no setor público, na relação entre
eleitor (principal) e político (agente), o agente está ligado a vários principais, que em virtude do sigilo
do processo eleitoral, desconhece quem seja (pode ter uma ideia, mas não a certeza).

Quanto à relação entre políticos e burocratas, denominada por Silva (1997) e Niskanen (1971) como
relação interna ao governo, Brandt e Svendsen (2006) entendem que os burocratas são
tradicionalmente vistos como fornecedores de monopólio dos serviços públicos sobre os quais detêm
mais informação do que seus principais quanto aos custos reais de fornecimento desses serviços, bem
como sobre sua real necessidade.

O comportamento do agente no modelo da teoria da agência, ocorre devido a uma constatação já


antiga de que o homem público possui racionalidade de homo economicus (BUCHANAN; TULLOCK,
1965).

543
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Um bom exemplo para caracterizar o risco de agência no setor público seria a aprovação de Ações de
governos voltadas para um maior número de possíveis eleitores beneficiados ainda que o resultado
ação de governo para a sociedade como um todo fosse negativo.
Nesse mesmo sentido, Rose-Ackerman (2004) entende que não existe compatibilidade entre o
comportamento individualista e maximizador de votos, uma espécie de risco moral, por parte de um
agente político e políticas públicas eficientes.
Diante de todo o exposto, verifica-se a necessidade de se evidenciar o resultado agregado à
sociedade pelas políticas públicas reduzindo assim a assimetria de informações e tornando mais
transparente o processo orçamentário.

O ORÇAMENTO-PROGRAMA E A EFICÁCIA, EFICIÊNCIA E EFETIVIDADE DOS GASTOS PÚBLICOS

O orçamento-programa consiste num sistema em que se presta particular atenção às coisas que um
governo realiza mais do que às coisas que adquire. As coisas que um governo adquire, tais como
serviços pessoais, previsões, equipamentos, meios de transporte, não são, naturalmente, senão meios
que emprega para o cumprimento de suas funções. As coisas que um governo realiza em cumprimento
de suas funções podem ser estradas, escolas, terras distribuídas, casos tramitados e resolvidos,
permissões expedidas, estudos elaborados ou qualquer das inúmeras coisas que podem ser
apontadas. O que não fica claro nos sistemas orçamentários é esta relação entre coisas que o governo
adquire e coisas que realiza (MARTNER, 1972).
No Brasil, o orçamento-programa, que foi instituído pelo Decreto 200/67 e se tornou de uso
obrigatório para todos os entes públicos em 1974, atualmente é materializado pela classificação
programática da despesa orçamentária composta por três subdivisões: Programas, Ações e Subtítulos
(GIACOMONI, 2010).

O Programa é o instrumento de organização da atuação governamental que articula um conjunto de


Ações que concorrem para a concretização de um objetivo comum preestabelecido, mensurado por
indicadores instituídos no plano, visando à solução de um problema ou o atendimento de determinada
necessidade ou demanda da sociedade. Os Programas são classificados em dois tipos: os Finalísticos,
e os de Apoio às Políticas Públicas e Áreas Especiais. A principal característica que diferencia os
Programas Finalísticos4 dos Programas de Apoio é que os primeiros oferecem um produto diretamente
para a sociedade, enquanto os demais não (BRASIL, 2010b).

544
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

As Ações, que podem ser consideradas subdivisões dos Programas, são operações das quais resultam
produtos (bens ou serviços), que contribuem para atender ao objetivo de um Programa e são
classificadas em: projetos, atividades e operações especiais (BRASIL, 2011).
Com a missão constitucional de controlar e avaliar os programas e ações, o poder público federal conta
com os órgãos de controle externo (Congresso Nacional e Tribunal de Contas da União) e interno
(Controladoria Geral da União).
Especificamente quanto às finalidades do sistema de controle interno previstas na CF/88 destacam se:
avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo
e dos orçamentos da União; e comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e
eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração
federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado (BRASIL, 1988).
Além da eficácia e eficiência, há uma busca atual pela efetividade dos Programas e Ações de governo.
Ressalta-se que a gestão do PPA observará os princípios de eficiência, eficácia e efetividade (BRASIL,
2008).
Segundo Motta (1972) almejar apenas metas de eficiência e eficácia significa, geralmente, criar
instituições fortes e estáveis, mas que não promovem, com maior ênfase, os objetivos do
desenvolvimento econômico-social.
Observa-se assim que o orçamento-programa deve contar com instrumentos de avaliação eficiência,
da eficácia e da efetividade dos gastos públicos, necessitando de ainda de um sistema integrado de
custos como suporte.

TRAJETÓRIA DO SUBSISTEMA DE INFORMAÇÕES DE CUSTOS

Para um adequado controle e avaliação do orçamento, as Ações (projetos, atividades e operações


especiais) desenvolvidas na realização dos seus respectivos planos de trabalho devem ter seus custos
apurados.

A preocupação com os custos da administração pública estava presente antes mesmo da instituição
formal do orçamento-programa, realizada pelo Decreto-lei 200/67.

A lei 4.320/64 já estabelecia em seu art. 85 que:

Os serviços de contabilidade serão organizados de forma a permitirem o


acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição
patrimonial, a determinação dos custos dos serviços industriais, o
levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados
econômicos e financeiros.

545
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O Decreto 200/67, que inseriu formalmente o orçamento-programa, estabeleceu em seu art. 79 que:
A contabilidade deverá apurar o custo dos projetos e atividades, de forma a evidenciar os resultados
da gestão.

Mais recente o parágrafo 3º do art. 50 da Lei Complementar 101/2000 estabeleceu que a


administração pública mantivesse sistema de custos que possibilitará avaliar e acompanhar aspectos
relacionados à gestão do ente público, enfocando a utilidade gerencial da contabilidade.

Em 2008, foi introduzido pela NBC T 16.2 o subsistema de custos cuja finalidade é registrar, processar
e evidenciar os custos dos bens e serviços, produzidos e ofertados à sociedade pela entidade pública.

Em 2011, com a publicação da NBC T 16.11 foi estabelecida a conceituação, o objeto, os objetivos e as
regras básicas para mensuração e evidenciação dos custos no setor público, bem como apresentado
o Subsistema de Informação de Custos do Setor Público (SICSP).

Um dos possíveis critérios para a apuração de custos pode ser a utilização de parâmetros da
classificação orçamentária, como por exemplo: Classificação Programática – Apuração de Custos por
Programa ou Ação (Por exemplo, Programa finalístico ou Ação finalística); Classificação Funcional –
Apuração de Custos por Função ou Subfunção; e Classificação Institucional – Apuração de Custos por
Departamento (BRASIL, 2010b).

Tal escolha decorre do fato da classificação orçamentária da despesa refletir o equivalente financeiro
de um plano de ação do governo, possibilitando avaliação dos resultados das gestões orçamentárias,
financeira e patrimonial, segundo os conceitos constitucionais da eficiência e eficácia (BRASIL, 2010b).

Na pesquisa de Slomski et alli (2010) foi utilizada a apuração de custos por Departamento, enquanto
que na pesquisa de Andrade et alli (2010) foi utilizada a apuração de custos por Ação.

O RESULTADO ECONÔMICO, SOCIAL E AMBIENTAL NO SETOR PÚBLICO

O resultado econômico no setor público foi regulamentado pela NBC T 16.6 em 2008. No entanto,
Slomski (1996) foi o pioneiro na proposição do modelo adotado. A Figura 1 ilustra o modelo adotado
pela NBC T 16.6.

546
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FIGURA 1 - Demonstração do Resultado Econômico

FONTE: Brasil (2010c)

O resultado econômico conforme se observa fora ratificado pela STN (portaria 665/10) e pelo CFC,
porém no que diz respeito ao resultado social e ambiental, não existe ainda um modelo padronizado
adotado pela administração pública. Apesar disso, trata-se de um demonstrativo importante para o
setor público, haja vista que os aspectos sociais e ambientais serem em alguns Programas de governo
as finalidades em si mesmas (Exemplo: Programa 1346–Qualidade Ambiental e Programa 0104 –
Recursos Pesqueiros Sustentáveis).
No Quadro 1 é ilustrado o modelo de Braz et alli (2009). Nela os resultados ambientais e sociais, foram
obtidos por intermédio do reconhecimento e mensuração do custo de oportunidade das
externalidades positivas e negativas inseridas na sociedade pela atividade desempenhada pelo
governo.

547
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

QUADRO 1 – Demonstrativo de Desempenho Social e Ambiental em estudo de

FONTE: Adaptado de Braz el alli (2009)

As externalidades se constituem em uma das falhas de mercado. As externalidades surgem quando o


consumo ou a produção de um bem gera efeitos adversos (ou benéficos) a outros consumidores e
firmas, e estes não são compensados efetivamente no mercado via sistema de preços (SILVEIRA,
2006).
Ainda nessa ótica, quando os benefícios sociais são maiores que os benefícios privados, ocorre uma
externalidade positiva, porém quando o custo social do consumo ou produção de um bem excede o
custo privado, ocorre uma externalidade negativa (SAMUELSON; NORDHAUS, 2004).
Os três demonstrativos (demonstração do resultado econômico, demonstração do desempenho social
e demonstração do desempenho social) citados trabalham sob a perspectiva do Modelo GECON,
estruturado na década de 1970 por Armando Catelli. O modelo GECON (Sistema de Informação de
Gestão Econômica) é um modelo que incorpora o Sistema de Gestão - com propósito de estabelecer
um valor ótimo para os resultados - é o Sistema de Informação com fim precípuo de fornecer dados
para a tomada de decisão (CATELLI, 2001).
Por fim, os três modelos (demonstração do resultado econômico, demonstração do desempenho
social e demonstração do desempenho social) trabalham com o reconhecimento, a mensuração e a

548
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

evidenciação do custo de oportunidade dos subprodutos, produtos e efeitos gerados pela ação
pública.

METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia da pesquisa está separada em duas partes. Na primeira parte é apresentado o Modelo
Integrado de Resultado Sustentável (MIRS). Na segunda parte é iniciada a operacionalização do
modelo por meio do cálculo dos custos de oportunidade da Ação de Governo selecionada.

O MODELO INTEGRADO DE RESULTADO SUSTENTÁVEL

A proposta deste tópico é integrar a demonstração do resultado econômico, às demonstrações de


desempenho social e ambiental, tendo como produto a demonstração de resultado sustentável. O
modelo integrado de resultado sustentável está exposto no Quadro 2.

Quadro 2 – Modelo Integrado de Resultado Sustentável

Até o item 5 utiliza-se de metodologia similar à Demonstração do Resultado Econômico (DRE). A


grande inovação consiste na introdução e integração dos itens 6, 7, 8, 9 e 10 à DRE tornando-a mais
robusta de informações.

549
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

As Figuras 2, 3 e 4 ilustram as árvores de decisão para o resultado sustentável que dá um enfoque


mais amplo do que a análise prevista do MCASP para as entidades do setor público 5.
Observa-se que no Modelo Integrado de Resultado Sustentável (MIRS) o resultado econômico está
incorporado ao mesmo. No entanto, o MIRS não se restringe aos bens que são produzidos ou ofertados
diretamente pelo Estado, pois considera as ações de públicas que são executadas por meio da

terceirização. Além disso, o MIRS considera os casos em que ocorrem as concessões de benefícios,
como a transferência de renda, diretamente para o público-alvo da ação pública.

Completando o restante do MIRS, está ilustrada na Figura 3 a árvore de decisão do desempenho


ambiental e ambiental.

FIGURA 2 – Árvore de decisão do resultado econômico no MIRS

550
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FIGURA 3 – Árvore de decisão do resultado social e ambiental no MIRS

Observa-se que podem advir dois tipos de externalidades de uma determinada ação pública: as
externalidades positivas e as externalidade negativas.
As externalidades positivas podem ser medidas ainda que com certa aproximação a partir dos custos
de oportunidade decorrentes dos efeitos positivos e negativos causados sobre a sociedade. Ressalta-
se que em alguns casos, os custos dos efeitos podem ser absorvidos por terceiros por meio de
condicionantes estabelecidas no desenho da ação pública.
As externalidades negativas em princípio devem ser evitadas a todo custo em ações públicas. Caso
sejam identificadas, deve ser revisto o planejamento e a execução das ações públicas com o intuito de
mitigar ou
excluir as mesmas. Em alguns casos, como obras de construção de hidrelétricas ou de linhas de
transmissão, as externalidades negativas serão inevitáveis.
No caso específico da construção de uma hidrelétrica devem ser consideradas externalidades
negativas como alagamento, desapropriação e desocupação de população. Nestes casos deve-se
avaliar se o saldo final do resultado sustentável neste tipo de ação pública é superior às externalidades
negativas com uma boa margem, pois se trabalham com dados aproximados. A Figura 4 ilustra a

551
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

consolidação dos resultados econômicos, sociais e ambientais decorrentes da ação pública que
também está representado na equação 1.

Figura 4 – Árvore de decisão do resultado sustentável

Dessa forma, o modelo integrado de resultado sustentável (MIRS) possui como escopo inicial as ações
públicas finalísticas. O MIRS inova ao inserir no modelo de resultado econômico: o reconhecimento, a
mensuração e a evidenciação das externalidades sociais e ambientais.
Um dos principais produtos do MIRS é o indicador de resultado sustentável (IRS) que é obtido pela
divisão entre o resultado sustentável apurado e o valor alocado na ação pública. Ou seja, o IRS permite
evidenciar a relação entre cada real investido e o retorno sustentável agregado à sociedade.
Rezende et alli (2010) afirmam que o aprendizado sobre o que funciona e o que não funciona, obtido
mediante a aferição da relação entre custos e resultados, será de fundamental importância para se
lidar com o déficit público nos anos à frente, fugindo-se de soluções de “cortes orçamentários” em
direção à redefinição de papéis e estratégias, revitalizando a capacidade de governar. Caso, no
extremo, seja necessário efetuar “cortes orçamentários”, como se observa atualmente em alguns
países europeus (Grécia, Espanha e Inglaterra), a disponibilização de informação de custos permite ao
gestor público identificar os programas que contribuem com menor “value for money” e dessa forma
utilizar critério técnico para selecionar onde “cortar”.

Dessa forma, o indicador de resultado sustentável se propõe a contribuir na tomada de decisão quanto
à qualidade do gasto oferecendo informações que permitam subsidiar quanto às decisões de corte ou
contingenciamento de dotações.

552
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ação selecionada - Manutenção de centros de recondicionamento de computadores A Ação 8532 -


Manutenção de Centros de Recondicionamento de Computadores (CRC) integra o Programa 1008 –
Inclusão Digital. O Programa de Inclusão Digital possui o objetivo de promover a consolidação de uma
“Sociedade do Conhecimento” inclusiva, orientada ao desenvolvimento social, econômico, político,
cultural, ambiental e tecnológico (SIGPLAN, 2011).

Apesar de estar sob responsabilidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG),


trata-se de um programa multisetorial, do qual participam também o Ministério da Ciência e
Tecnologia e o Ministério das Comunicações (SIGPLAN, 2011).

A proposta principal da Ação é recondicionar computadores que são descartados pela Sociedade.
Porém, na esteira desse propósito, surgem importantes vertentes: a vertente social e a vertente
ambiental (SIGPLAN, 2011).

A vertente social se subdivide em duas formas. A primeira forma consiste na formação de jovens de
baixa renda, moradores de periferias de grandes metrópoles (SIGPLAN, 2011). A segunda forma
consiste na distribuição dos computadores recondicionados para comunidades carentes de todo o
Brasil, que se constituíram em pólos disseminadores da inclusão digital (SIGPLAN, 2011).

A vertente ambiental consiste na redução do desperdício de equipamentos de informática ainda


passíveis de utilização pela sociedade, evitando assim que sejam alijados no meio-ambiente sem
tratamento adequado (SIGPLAN, 2011).

A Ação 8532 – Manutenção de CRC’s é executada mediante a celebração de convênios de execução


direta e descentralizada, a partir de parcerias com organizações governamentais das três esferas, não
governamentais, universidades e empresas, para a manutenção de CRC’s ativos (CGU, 2010).

Os CRC’s são oficinas constituídas e operadas por instituições públicas e do terceiro setor, em parceria
com o Governo Federal. Cada CRC processa equipamentos obtidos do desfazimento de computadores

provenientes do descarte por parte da Administração Pública e de outros doadores (inclusive da


iniciativa privada). Os equipamentos, recondicionados por jovens de baixa renda em processo de
capacitação, são distribuídos gratuitamente e em perfeitas condições de uso a escolas públicas,
bibliotecas e telecentros comunitários.

Assim, os CRC’s têm como objetivos: recondicionar equipamentos de informática recebidos na forma
de doação para utilização em iniciativas de inclusão digital, em consonância com padrões adequados
de desempenho; separar e preparar para reciclagem ou descarte equipamentos de informática

553
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

inservíveis; proporcionar oportunidades de trabalho, de formação profissional e educacional e de


ressocialização de jovens que atuarão nas atividades dos CRC’s; e captar doações, receber, armazenar
e distribuir os equipamentos de informática doados para as entidades selecionadas como beneficiárias
(CGU, 2010).

No ano de 2008 existiam 4 CRC’s em atividade (MG, RS, SP e DF). Em 2009 este número aumentou
para 5 com a inclusão de um CRC em PE.

OBTENÇÃO DOS DADOS

Os dados sobre o funcionamento da Ação e sobre a execução financeira foram obtidos no SIGPLAN6.
Os dados sobre convenentes, valores repassados por unidade e prestação de contas (a fim de se
estimar os custos diretos e indiretos) foram obtidos no SICONV (portal de convênios).

Os dados sobre o total de computadores: recebidos em doação, recondicionados e distribuídos às salas


de inclusão digital; sobre as de salas de inclusão digital atendidas; e sobre os cursos oferecidos aos
jovens de baixa renda foram obtidos junto à Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do
MPOG responsável pela Ação 8532.

Determinação do custo de oportunidade Para melhor entendimento do cálculo do custo de


oportunidade das três vertentes da ação 8532 foi elaborada a Figura 5.

FIGURA 5 – Fenômenos-objetos nas 3 vertentes da Ação 8532

554
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

CUSTO DE OPORTUNIDADE DOS BENEFÍCIOS ECONÔMICOS

Na vertente econômica os produtos que representam o fenômeno objeto são os computadores


recondicionados. Ressalta-se que caso esses computadores não fossem recondicionados, ainda que
de forma indireta pelos convenentes, o Estado estaria disposto a adquiri-los diretamente do mercado
por meio de licitação. Tanto que é que já o faz por intermédio da Ação 11T7 - Implantação de
Telecentros para acesso a serviços público. Além da Ação 11T7 e 8532, existem outras Ações que
integram o programa 1008 que consistem na disponibilização do acesso ao mundo digital às
comunidades de baixa renda.
Quanto aos equipamentos recondicionados da Ação 8532, estes devem ter um padrão mínimo de
hardware que permita a operacionalização de aplicativos educacionais, editores de textos, planilhas
de cálculos, banco de dados, acessos a e-mail/internet, governo eletrônico, serviços bancários e
comerciais de modo a atender às necessidades da comunidade como um todo.
Esse padrão de configuração varia, dependendo se a máquina é do tipo stand-alone (será utilizada
como estação de trabalho) ou do tipo thin-client (será utilizada como um terminal de rede) descritos
no Quadro 2.
Apesar do padrão mínimo estabelecido pela SLTI, se constatou na prática em auditoria da CGU
realizada em 2010 que as configurações dos computadores recondicionados são bem superiores;
sendo inclusive uma das recomendações da CGU que essa configuração mínima fosse revista para
mais, pois os CRC entregam computadores com configurações mais robustas que a apresentada no
Quadro 2 (CGU, 2010).

Independente da configuração prevista e da efetivamente entregue que se mostrou superior; buscou-


se como custo de oportunidade um computador similar ao recondicionado no mercado. Não foi
possível encontrar um computador idêntico nos anúncios dos fornecedores convencionais do
mercado. Dessa forma, optou-se por considerar como custo de oportunidade um computador com o
menor preço possível, mas com funcionalidades similares. O valor encontrado no mercado foi de R$
450,00.

Além dos computadores também foram recondicionados laptops e impressoras jatos de tinta. Seguiu-
se o mesmo critério anterior e os preços encontrados no mercado foram de R$ 540,00 para o notebook
e de R$ 100,00 para as impressoras jato de tinta. Ressalta-se que esses preços corresponderiam a
produtos similares do mercado que poderiam ser fornecidos na mesma escala de produção de um
CRC.

555
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

QUADRO 2 – Configuração mínima dos computadores entregues

FONTE: CGU (2010)

CUSTO DE OPORTUNIDADE DOS BENEFÍCIOS SOCIAIS

Na vertente social, os produtos que representam o fenômeno-objeto são os cursos ofertados e as salas
de inclusão digital em operação. Quanto aos cursos ofertados ressalta-se que não existe um padrão
definido pela SLTI do tipo de curso a ser oferecido por cada CRC. Quanto ao custo de oportunidade
dos cursos oferecidos se buscou inicialmente cursos no mercado com mesmo nome, a duração e
região. Tal busca mostrou-se infrutífera. Durante a busca observou-se que vários dos cursos oferecidos
por CRC correspondiam a módulos dos cursos do mercado com maior duração. Assim optou-se por
calcular o valor da hora dos cursos com maior diversidade de módulos. O menor valor encontrado foi
do curso do SENAC cuja hora do curso é de R$ 7,00. O Quadro 3 ilustra os valores dos custos de
oportunidade dos cursos por nome, duração e CRC.

556
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

QUADRO 3 – Custo de oportunidade dos cursos ofertados por CRC

FONTE: Elaborado pelos autores a partir de pesquisas de preços, dez. 2010

Quanto ao cálculo do custo de oportunidade das salas de inclusão (COSalasInclusão) digital abertas ao
público, foi considerada a quantidade entidades beneficiárias de salas atendidas por CRC e a
quantidade de computadores disponibilizados por sala. Em regra uma entidade beneficiária recebe
equipamentos para 12 estações e 1 terminal.
Considerando um cenário pessimista em que algumas regiões as salas podem estar acessíveis apenas
por meio período (4 horas); considerando o valor de um real (R$ 1,00) a hora logado; considerando o
mês com 20 dias úteis; considerando o ano com 12 meses; tem-se na equação 2 o custo de
oportunidade por CRC das salas de inclusão digital.

557
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O valor do custo de oportunidade foi divido por 2 devido a nem todas as salas entrarem em
funcionamento no início do ano. Assim supôs-se que aquelas salas que iniciaram seu funcionamento
no início do ano, compensaram as salas que iniciaram o funcionamento ao final do ano.
Apesar da quantidade de entidades beneficiárias ser importante para o controle da execução da Ação,
no momento do cálculo considerou-se a quantidade de computadores distribuídos (Cdistribuídos) à
sociedade, pois no mercado o valor de R$ 1,00 (um) hora é cobrado por máquina e não pelo ambiente.
Por fim, partiu-se das premissas de que não houve interrupção do sinal ou queda de energia nas 4
horas em que o computador esteve disponível e de que efetivamente às salas estavam disponíveis
para o público.

CUSTO DE OPORTUNIDADE DOS BENEFÍCIOS AMBIENTAIS

Na vertente ambiental as externalidades positivas oriundas da Ação consistem na redução: (i) do


consumo de água e energia; (ii) da emissão de gases poluentes; (iii) da geração de resíduos.

Ressalta-se que na fabricação de um computador 94% dos componentes utilizados são recuperáveis,
sendo 40% de plástico, 37% de metais, 5% de dispositivos eletrônicos, 1% de borracha e 17% de outros
(KUEHR; VELASQUEZ; WILLIAMS, 2003). Além disso, na fabricação de um computador com monitor de
17 polegadas são liberados cerca de 1,3 toneladas de CO2 e gastos: 1800 kg de produtos naturais, 240
kg de combustíveis fósseis, 22 kg de produtos químicos e 1500 l de água (KUEHR; VELASQUEZ;
WILLIAMS, 2003).

Um computador comum pesa 24 quilos em média, e emprega ao menos dez vezes o seu peso em
combustíveis fósseis, contribuindo desta forma para o gasto de energia e, consequentemente, para o
aquecimento global (KUEHR; VELASQUEZ; WILLIAMS, 2003). Esta relação supera, proporcionalmente,
por exemplo, a dos automóveis, que utilizam, no máximo, duas vezes o seu peso em matéria-prima e
insumos (KUEHR; VELASQUEZ; WILLIAMS, 2003).

No cálculo do custo de oportunidade dos materiais economizados foi considerado apenas a economia
de água (COEconomiaÁgua) utilizada no processo de fabricação dos computadores. Utilizou-se como
referência o sistema tarifário das companhias de abastecimento de água do respectivo CRC. A Equação
3 evidencia a forma de cálculo.

Quanto à gestão responsável de resíduos sólidos considerou-se a redução dos componentes não
biodegradáveis expostos ao meio ambiente. A lei 12.305/2010 estabelece a que gestão sustentável de
resíduos sólidos eletroeletrônicos é de responsabilidade de outros agentes além do poder público:

558
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística


reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma
independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos
sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
(...)
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
Partiu-se inicialmente de um cenário otimista, em que todos os cidadãos, cientes da legislação,
levariam seus computadores a descartar para um local disponibilizado pelos comerciantes ou
distribuidores:

§ 4o Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso, aos


comerciantes ou distribuidores, dos produtos e das embalagens a que se
referem os incisos I a VI do caput, e de outros produtos ou embalagens objeto
de logística reversa, na forma do § 1o.
Ainda no mesmo cenário otimista, este local seria adequado e suficiente para comportar a mesma
quantidade de computadores que foram recebidos em doação e que não foram possíveis de serem
recondicionados. Neste último caso considerou-se como custo de oportunidade um aluguel de um
galpão com capacidade para acondicionar todos os computadores recebidos anualmente. Os menores
valores encontrados por m2 nos classificados dos jornais locais nas cidades de Belo Horizonte, Recife,
Guarulhos, Porto Alegre e Gama foram respectivamente de R$ 10; R$ 8,75; R$ 7,00; R$ 10,00 e R$
6,50. Observa-se que em um CRC, este local possui em média 300 m2. Não se consideraram os custos
com a locomoção e com a guarda do material.

Quanto às externalidades positivas relacionadas à redução do volume de CO2, apesar de ser factível o
seu reconhecimento, não foi possível a sua mensuração.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ECONÔMICO

A partir dos dados colhidos junto à SLTI e extraídos do SICONV e considerando o custo de oportunidade
determinado na metodologia formularam-se as Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5.

559
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

TABELA 1 - Receita econômica dos computadores em 2008 e 2009 por CRC

FONTE: CGU (2010)

Na Tabela 1 está evidenciada a quantidade de computadores recondicionados por CRC, na Tabela 2 a


quantidade de impressoras e na Tabela 3 a quantidade laptops. Nota-se que o CRC/PE não teve
produção em 2008, pois só foi implantando em 2009, motivo ainda pelo qual a produção sua produção
foi baixa em 2009. Em 2009 o CRC do DF apenas distribuiu computadores produzidos em 2008. Não
houve recondicionamento, pois o convênio só foi reativado em 31 de dezembro de 2009 (SICONV,
2011).

TABELA 2 - Receita econômica das impressoras em 2008 e 2009 por CRC

FONTE: CGU (2010)

TABELA 3 - Receita econômica dos notebooks em 2008 e 2009 por CRC (valores nos anos em mil)

FONTE: CGU (2010)

560
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

TABELA 4 - Demonstração do resultado econômico em 2008 e 2009 por CRC (valores em mil)

Na Tabela 4 está evidenciada a demonstração do resultado econômico por CRC sob o enfoque da Ação
8532. Utilizando-se dos planos de trabalho dos convênios disponíveis no SICONV, foram considerados
custos diretos aqueles relacionados com a logística de recebimento e destinação dos computadores,
com o recondicionamento propriamente dito e com os cursos ofertados (equivaleriam à mão de obra).
As despesas com a manutenção da estrutura física do CRC e com a divulgação do CRC foram
consideradas custos indiretos.

TABELA 5 - Demonstração do resultado econômico da Ação 8532 em 2008 e 2009

Por fim na Tabela 5 está evidenciada a demonstração do resultado econômico da Ação. A fim de
realizar uma análise da qualidade do gasto público, cabe ressaltar que em 2008 foram repassados R$
1,169 milhões e em 2009 R$ 1,031 milhões (SICONV, 2011). Esse total corresponde ao valor de 2,202
milhões empenhados em 2008 e 2009 no SIGPLAN. Por fim observa-se pela DRE que a Ação 8532
agregou à sociedade R$ 1.739.188 em 2008 e R$ 1.047.462 em 2009.

561
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO SOCIAL

A partir dos dados colhidos junto à SLTI e considerando o custo de oportunidade determinado na
metodologia foram elaboradas as Tabelas 6 e 7. A tabela 6 utiliza-se da codificação estabelecida no
Quadro 3 e evidencia a receita social dos cursos ofertados.

TABELA 6 - Receita social dos cursos ofertados em 2008 e 2009 por CRC (valores nos anos em mil)

Não foram encontrados registros nos Planos de Trabalhos dos Convênios relativos aos anos de 2008
para os CRC de RS, SP e DF. Quanto ao CRC de PE não foram obtidos dados sobre o ano de 2009.

TABELA 7 - Receita social das salas de inclusão atendidas em 2008 e 2009 por CRC

562
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Tabela 7 evidencia a receita social das salas de inclusão digital. Ressalta-se que não foram
considerados como custos: a energia, o espaço da sala, a conexão com internet e a pessoa responsável
pelo local. Os custos existem, porém são em caráter gratuito no enfoque da Ação (entidade
concedente) e em caráter oneroso no enfoque da entidade beneficiária (entidade convenente) que se
pré-dispôs a receber os computadores.

Por fim, cabe ressaltar que as salas implantadas em 2008 geram receita social em 2009 caso os
computadores estejam disponíveis. No entanto, considerou-se a vida útil de apenas 1 ano.

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO AMBIENTAL

A partir dos dados colhidos junto a SLTI e considerando o custo de oportunidade determinado na
metodologia foram formuladas as Tabelas 8 e 9.

TABELA 8 - Receita ambiental da economia de água em 2008 e 2009 por CRC

FONTE: Companhia de Saneamento Ambiental do DF; Companhia de Saneamento Básico do Estado de


São Paulo; Companhia Pernambucana de Saneamento; Companhia de Saneamento de Minas Gerais;
Companhia Riograndense de Saneamento.

No caso da Companhia de Pernambucana de Saneamento, antes de aplicar a fórmula foi necessário se


atingir um volume de corte de 10 m3 que é fixo e corresponde a R$ 45,20. Assim, já estão ausentes da
Tabela 8 sete computadores (7 x 1,5 = 10,5 m3) de cada ano dos computadores recondicionados e
acrescido o valor de R$ 45,20 na receita ambiental.

TABELA 9: Receita ambiental referente ao local de acondicionamento em 2008 e 2009 por CRC

563
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FONTE: Classificados do Jornal Diário de Pernambuco; Classificados do Jornal Correio Braziliense;


Classificados do Jornal o dia em Guarulhos; Classificados do Jornal o Estado de Minas; Classificados
Jornal Zero Hora.

A Tabela 9 evidencia a quantidade de computadores recebidos e não recondicionados. Assim essa


sucata tecnológica necessita de um espaço, um galpão no caso para acondicioná-la. O valor da receita
ambiental considera apenas o valor do aluguel do galpão cujo custo de oportunidade está evidenciado
na parte central da Tabela.

Demonstração do Resultado Sustentável

A partir dos dados evidenciados nos itens 4.1, 4.2 e 4.3 foram formuladas as Tabelas 10, 11 e 12
contendo o resultado sustentável em 2008 e 2009 por CRC e da Ação 8532 como um todo.

Observa-se nas Tabelas 10 e 11 as demonstrações de resultados sustentáveis por CRCs em 2008 e


2009. Verifica-se que para cada real investido do CRC de MG em 2008 retornaram benefícios
sustentáveis de um real e quarenta centavos. Observa-se também que os CRCs de SP, MG e RS tiveram
um incremento de desempenho em 2009 quando comparados com o desempenho de 2008. Dessa
forma, observa-se que o IRS está aderente também a propriedade da desagregabilidade, pois permite
uma visão da perspectiva regional uma vez que considera o custo de oportunidade em cada região.

564
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

TABELA 10 - Demonstração do resultado sustentável por CRC em 2008 (valores em mil)

TABELA 11 - Demonstração do resultado sustentável por CRC em 2009 (valores em mil)

Quanto ao CRC de PE observa-se que o mesmo teve um desempenho abaixo dos demais. Esse
desempenho é justificável haja vista ser o primeiro ano do convênio. Apesar de não ter recebido
recursos em 2009, o CRC do DF distribuiu computadores em 2009, haja vista ter a perspectiva de ter
renovado seu convênio em 2010.

565
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Tabela 12 concilia os resultados econômico, social e ambiental da Ação 8532 como um todo. Pode-
se afirmar que cada real investido na Ação, foi agregado para sociedade R$ 4,09 (4.783.085/1.169.802)
reais em 2008 e 3,72 (3.838.642/1.032.198) reais em 2009. A primeira vista o resultado sugere que o
Programa de Inclusão Digital deveria concentrar esforços e recursos nesta Ação. No entanto, a decisão
racional de expandir esta Ação retirando recursos de outras Ações que fazem do Programa, dependerá
do resultado sustentável das demais Ações que o compõe e respectivos produtos finais.

TABELA 12 - Demonstração do resultado sustentável da Ação 8532 em 2008 e 2009

CONCLUSÃO

Quando se procura medir mensurar e avaliar o desempenho de empresas que possuem características
diferentes entre si (área de negócios, tamanho e faturamento) são utilizados indicadores universais
de empresas como: liquidez corrente, endividamento ou margem líquida. Porém, quando se procura
mensurar e avaliar o desempenho de programas e ações finalísticas dispõe-se de uma gama distinta
de indicadores que muitas vezes são capazes de capturar o fenômeno-objeto de um programa ou
ação, mas que não permitem a comparação entre ações de um mesmo programa ou programas entre
si.

Suprindo esta lacuna, o IRS mostrou-se ser útil para medir os fenômenos-objetos das três vertentes
da sustentabilidade, além de apresentar-se como uma ferramenta de comparação de Ações com
produtos semelhantes ainda que de programas distintos. Dessa forma, o IRS se propõe a ser um
indicador universal.

Outra contribuição do IRS para aplicações futuras reside na capacidade do mesmo de capturar o
retorno agregado sustentável para Ações de governo que possuem resultado econômico nulo
(transferência de renda direta) ou negativo (renúncia fiscal), mas que são consideradas relevantes
devido aos benefícios sociais e ambientais vinculados e que estão fora do escopo da DRE.

566
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

No caso prático observou-se que a Ação Governamental gerou um resultado sustentável à sociedade
de R$ 4.783.084,74 em 2008, e de R$ 3.838.642,10 em 2009. Dessa forma, obteve-se um índice de
resultado sustentável (IRS) de 4,09 em 2008 e de 3,72 em 2009. Este resultado justifica plenamente a
continuidade da Ação.

Ressalta-se que o decréscimo do IRS obtido em 2009 foi decorrência do fato do Centro de
Recondicionamento de Computadores de Recife ter recondicionado e distribuído poucos
computadores em 2009. Esse fator foi preponderante para um IRS inferior a 1, evidenciado que aquele
gestor deve adotar medidas que aumentem seus benefícios econômicos, sociais e ambientais no
exercício seguinte.

Por fim, não se pretende com o resultado evidenciado neste estudo sugerir a retirada de recursos
destinados às áreas de saúde, educação ou infraestrutura, por exemplo, e alocá-los para a área de
inclusão digital. Sugere-se apenas que dentro do Programa de Inclusão Digital, se evidencie o resultado
sustentável de todas as Ações que o compõe e se identifique aquelas que possuem produtos finais
semelhantes.

Dessa forma, com o estabelecimento de um ranking de IRS por Ações com produtos similares, ter-se-
ia mais um critério técnico a ser utilizado em momentos de restrição orçamentária. Em tais cenários,
o gestor, de posse deste ranking, teria para Ações com produtos finais similares e com resultados
sustentáveis distintos a opção de “cortar” recursos para Ações com menor relação entre resultado
sustentável e despesa executada.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Luiz F. F.; COSTA, Giovanni P. C. L.; FREIRE, Fátima. S.; MIRANDA, Rodrigo F. A. Logística
reversa para diminuição de custos e aumento de Benefícios Sociais: o caso do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão. In: XVII Congresso Brasileiro de Custos, 2010, Belo Horizonte,
Sustentabilidade: além da mensuração de custos, Anais... Belo Horizonte, 2010.

BRANDT, U. S.; SVENDSEN, G. T. Bureaucrats at Sea: A Budget Catch Model. Journal of European Public
Policy (JEPP), Vol.13.3, 329-40, 2006.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988.

______. Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração


Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 27 fev. 1967.

567
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

______. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui normas gerais de direito financeiro para
elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 mar. 1964.

______. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providencias. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 maio 2000.

______. Lei nº 11.653 de 7 de abril de 2008. Dispõe sobre o plano plurianual para o período 2008/2011.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 abr. 2008.

______. Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010. Institui a política nacional de resíduos sólidos; altera a
Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 ago. 2010a.

______. SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL - STN. Manual de contabilidade aplicado ao setor


público – Parte II. 3 ed. Brasília, 2010b.

______. Portaria nº 665, de 30 de novembro de 2010. Atualiza os Anexos nº 12 (Balanço


Orçamentário), nº 13 (Balanço Financeiro), nº 14 (Balanço Patrimonial), nº 15 (Demonstração das
Variações Patrimoniais), nº 18 (Demonstração dos Fluxos de Caixa), nº 19 (Demonstração das
Mutações no Patrimônio Líquido) e nº 20 (Demonstração do Resultado Econômico) da Lei nº 4.320, de
17 de março de 1964, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília, DF, 2 dez. 2010c.

______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Orçamento Federal. Manual


técnico de orçamento - MTO. Versão 2011. Brasília, 2011. 189 p.

BRAZ, J. L. P.; SLOMSKI, V.G.; SLOMSKI, V.; MEGLIORINI, E. Contabilidade ambiental: proposta para a
evidenciação do resultado do desempenho social e ambiental de uma autarquia municipal do interior
do Estado de São Paulo no ano de 2007. RAI: Revista de Administração e Inovação, v. 6, p. 79-93, 2009

BUCHANAN, James M.; TULLOCK, Gordon. The calculus of the consent. Michigan University Press,
1965.

CATELLI, Armando et alli. Controladoria: Uma Abordagem da Gestão Econômica – GECON. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2001.

CGU – Controladoria Geral da União. Nota Técnica nº 1820 DEPOG/DE/SFC/CGU-PR. Brasília, DF: ago.
2010.

______. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução nº 1.128, de 21 de novembro de 2008.


Aprova a NBC T 16.1 – Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2008a.

CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução nº 1.129, de 21 de novembro de 2008. Aprova a


NBC T 16.2 – Patrimônio e Sistemas Contábeis. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 25 nov. 2008b.

568
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

______. Resolução nº 1.133, de 21 de novembro de 2008. Aprova a NBC T 16.6 – Demonstrações


Contábeis. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2008c.

______. Resolução nº 1.366, de 25 de novembro de 2011. Aprova a NBC T 16.11 – Sistema de


Informação de Custos do Setor Público. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
02 dez. 2011.

GIACOMONI, James. Orçamento público. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

JENSEN, Michael C.; MECKLING, William H. Theory of the firm: managerial behavior, Agency Costs and
Ownership Structure. Journal of Financial Economics, Oct., 1976, v.3, n. 4, pp. 305-360.

KUEHR, Ruediger; WILLIAMS, Eric. Computers and the environment: understanding and managing
their impacts. Kluwer Academic Publisher, United Nations University, 2003.

MARTNER, Gonzalo. Planificación y pressupuesto por programas. 4. ed. México: Siglo Veintinuno,
1972. p. 195.

MOTTA, Paulo Roberto. Administração para o desenvolvimento: a disciplina em busca da relevância.


Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, 6(3):42, jul./set. 1972.

NISKANEN, W. A. Bureaucracy and representative government. Chicago: Aldine-Atherton, 1971.

REZENDE, Fernando; CUNHA, Armando; CARDOSO, Ricardo Lopes. Custos no setor público. RAP -
Revista de Administração Pública, v. 44, p. 789-790, 2010.

ROSE-ACKERMAN, Susan. Análise econômica progressista do direito – e o novo direito administrativo,


in Mattos, Paulo (coord.) – Regulação Econômica e Democracia, CEBRAP, 2004.

SAMUELSON, Paul A.; NORDHAUS, William D. Economia. 17 ed. McGraw-Hill, 2004.

SANTOS, A.Q. Democratização do orçamento público federal: comentários e sugestões. Seminário


internacional sobre Avaliação do Setor Público, Brasília, outubro 1993.

SICONV - Portal de Convênios. Disponível em <https://www.convenios.gov.br/siconv/secure/entrar-


login.jsp>. Acesso em 10 jan. 2011.

SIGPLAN - Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento Plurianual. Disponível em


<http://www.sigplan.gov.br/v4/appHome/>. Acesso em: 10 jan. 2011.

SILVA, M. F. G. Políticas de governo e planejamento estratégico como problemas da escolha pública –


parte II. RAE- Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 36, n.4, p.38-50, out./dez, 1996.

______. Constituição, finanças públicas e desempenho econômico. Relatório de pesquisa, Núcleo de


Pesquisas e Publicações da Fundação Getúlio Vargas – EAESP/FGV-SP, 1997.

SILVEIRA, Stefano José Caetano da. Externalidades negativas: as abordagens neoclássica e


institucionalista. Revista FAE, Curitiba, v.9, n.2, p.39-49, jul./dez. 2006.

SLOMSKI, Valmor. Mensuração do resultado econômico em entidades públicas: uma proposta. 1996.
82 f. Dissertação (Mestrado em Controladoria e Contabilidade) — FEA/USP, São Paulo. SLOMSKI,

569
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Valmor; GUILHERME, B. de C.; AMARAL FILHO, A. C. C.; SLOMSKI, Vilma G. A demonstração do


resultado econômico e sistemas de custeamento como instrumentos de evidenciação do
cumprimento do princípio constitucional da eficiência, produção de governança e accountability no
setor público: uma aplicação na Procuradoria Geral do Município de São Paulo. RAP - Revista de
Administração Pública, v. 44, p. 933-957, 2010.

WILDAVSKY, Aaron. The new politics of the budgetary process. Scott, Foresman and Company, 1988.

570
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

NOTAS

Nota 1
Durante o processo de avaliação do artigo, a resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 1.437
retirou a DRE da NBCT 16.6 e a inseriu na NBCT 16.11.
Nota 2
É o custo objetivamente mensurável da melhor alternativa desprezada relacionado à escolha adotada
(CFC, 2011).
Nota 3
É o valor apurado a partir de benefícios gerados à sociedade pela ação pública, obtido por meio da
multiplicação da quantidade de serviços prestados, bens ou produtos fornecidos, pelo custo de
oportunidade, custo estimado, custo padrão, etc (CFC, 2011).
Nota 4
Durante o período de avaliação e revisão do artigo, os programas passaram a se denominar Temáticos
e de Gestão, Manutenção e Serviços, respectivamente.
Nota 5
Uma entidade do setor público é representada por: órgãos, fundos e pessoas jurídicas de direito
público ou que, possuindo personalidade jurídica de direito privado, recebam, guardem,
movimentem, gerenciem ou apliquem recursos públicos, na execução de suas atividades (CFC, 2008a).
Nota 6
Durante o processo de avaliação do artigo, o SIGPLAN foi substituído pelo SIOP (Sistema de
Planejamento e Orçamento).

571
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 27

O IMPACTO DOS INVESTIMENTOS AMBIENTAIS NO CUSTO


DE CAPITAL DE TERCEIROS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DE
ENERGIA ELÉTRICA LISTADAS NO ISE
DOI: 10.37423/200300557

Neylane Dos Santos Oliveira De Almeida - neylane_oliveira@hotmail.com

Mirian Gomes Conceirção - mgc.ba@hotmail.com

Nayara Batista Moreira - nmoreira1105@hotmail.com

Gilênio Borges Fernandes - gilenio@ufba.br

Resumo: Este estudo teve como objetivo verificar se os investimentos ambientais podem ser
usados para explicar o custo de capital de terceiros, especificamente o custo de
financiamentos bancários das empresas brasileiras do setor de energia elétrica listadas no ISE
entre 2010 e 2011. Para tanto, foi realizada uma pesquisa documental nos balanços sociais,
balanços patrimoniais e demonstrações de resultado de cada uma das empresas da amostra
a fim de, coletar informações sobre o investimento ambiental e os dados necessários para o
cálculo do custo de financiamento bancário. Utilizou-se regressão associada o teste de
aleatorização e equações de estimações generalizadas para tratar os dados. Os resultados
indicam que os investimentos ambientais, da amostra no período analisada, não explicam os
custos de financiamentos bancário, não existindo relação entre eles. Dessa forma, sugere-se
que pesquisas futuras trabalhem com outros setores, ampliem a amostra e o período de
tempo a serem analisados, na tentativa de encontrar resultados significativos. Sugere-se ainda
a inclusão de outras variáveis independentes no modelo, como por exemplo: grau de
endividamento, tamanho da firma, dentre outras.

572
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-Chave: Investimentos Ambientais. Informações Contábeis Ambientais. Custo de Capital de


Terceiros.

573
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

As organizações, sob a perspectiva da teoria dos Stakeholders, precisam atender as expectativas de


suas partes interessadas para garantir sua continuidade. Assim, espera-se que as empresas
incorporem comportamentos ambientalmente corretos, pois a tendência é que estes sejam
considerados cada vez mais legítimos, conferindo maior grau de legitimidade a organização e,
portanto, contribuindo para manutenção da geração de fluxos de caixa contínuos. Ribeiro e Oliveira
(2008) confirmam a proposição acima, ao afirmar que o nível de responsabilidade sócio-ambiental
pode ser um quesito altamente comprometedor do fluxo de rentabilidade ou de disponibilidades
financeiras de uma companhia.
Logo, as organizações precisam estar atentas para a sua interação com o meio ambiente e as possíveis
formas de atenuar o impacto gerado, pois além de estar cumprindo com um papel social importante,
estariam zelando pela sua saúde financeira. Isso porque, as instituições financeiras, enquanto
fornecedoras de capital, também estão atentas a relação que as empresas (clientes) estabelecem com
o meio ambiente, já que esta tem efeito sobre os fluxos de recursos e consequentemente com a
capacidade de pagamentos. Isso sugere que a análise de crédito considera além dos aspectos formais,
tradicionais de cunho econômico e financeiro, aspectos da interação da empresa com o meio
ambiente e o efeito destes sobre aqueles.
Diante do exposto, questiona-se: os investimentos ambientais explicam o custo de capital de terceiros
das empresas brasileiras do setor de energia elétrica listadas no Índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE) da Bovespa? Visando responder tal indagação o objetivo desta pesquisa foi verificar
se os investimentos ambientais podem ser usados para explicar o custo de capital de terceiros,
especificamente o custo de financiamento bancário das empresas brasileiras do setor de energia
elétrica listadas no ISE entre 2010 e 2011.
Esse estudo irá contribuir para preencher uma lacuna verificada na literatura nacional concernente ao
tema que, normalmente, procura verificar associação entre custo de capital próprio com nível de
evidenciação (NAKAMURA et al., 2006; SILVA E QUELHAS, 2006; GONÇALVES, 2011; ROVER E MURCIA
2011, dentre outros) e associação de custo de capital de terceiros com nível de evidenciação (LIMA,
2007; FERNANDES, 2011 dentre outros).
Assim, não há relato de estudos anteriores que tenha buscado analisar se os investimentos ambientais,
que a empresa realmente incorre, tem relação com a variação do custo do capital de terceiros.
Entende-se que esta perspectiva é interessante na medida em que desloca o olhar daquilo que a
empresa diz fazer (evidenciação), para o que a empresa de fato faz (investimentos realizados).

574
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Em uma pesquisa realizada por Ribeiro, Estrozi e Araújo (2004) com quatro grandes bancos, foi
detectado que a maioria das instituições pesquisadas considera a questão ambiental como importante
para a análise de concessão de crédito, e se dizem usuárias de relatórios específicos: certificados da
International Standard Organization (ISO); Estudo de Impacto Ambiental (EIA); Relatório de Impacto
ao Meio Ambiente (RIMA) e Balanço Social (BS), para verificar a existência de investimentos
ambientais nas empresas solicitantes de crédito. Porém, verificou-se um contrassenso, pois nenhuma
instituição pesquisada deixou de conceder crédito em função da existência de passivos ambientais nas
companhias solicitantes de crédito. O resultado dessa pesquisa sugere que a questão ambiental não é
determinante para concessão de crédito e aguça a necessidade de esclarecer se esses créditos são
concedidos sobre condições diferenciadas, no tocante ao seu custo, para empresas que realizam mais
ou menos investimentos ambientais ou simplesmente não realizam.
Esta pesquisa também contribui, na medida em que amplia a discussão a respeito do efeito da
informação contábil ambiental, principalmente na captação de recursos bancários pelas empresas.
Este artigo está organizado em cinco seções, além desta introdução que apresenta a contextualização
do problema e o objetivo da pesquisa, tem-se: a segunda seção que faz uma revisão da literatura sobre
o tema, a terceira seção descreve a metodologia utilizada na pesquisa empírica, a quarta apresenta a
análise dos dados e por fim a quinta seção traça as considerações finais sobre a pesquisa.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 TEORIA DOS STAKEHOLDERS

Antes de discutir a teoria dos Stakeholders, faz-se necessário conceituar quem são os Stakeholders.
Freeman (1984, p.46), os defini como qualquer grupo ou indivíduo que influencia ou é influenciado
pelo alcance dos objetivos da empresa. Clarkson (1995, p.106), na tentativa de restringir a amplitude
desse conceito, afirma que Stakeholder são aqueles sem os quais a empresa não se sustentaria, como
acionistas, investidores, empregados, fornecedores e clientes, além de alguns outros agentes
considerados secundários.
A teoria do Stakeholder, de acordo com Freeman e McVea (2000, p.2), preconiza que os interesses de
cada um dos Stakeholder são considerados nas decisões organizacionais, não havendo sobreposições,
preserva-se assim, os contratos firmados com agente internos e externos, o que favorece a
continuidade das organizações. Nesse sentido, Silveira, Yoshinaga e Borba (2005 apud Bufoni; Ferreira
e Legey, 2007) garantem que a teoria dos Stakeholders defende que as decisões sejam tomadas para

575
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

equilibrar e satisfazer os interesses de todos os públicos envolvidos com a corporação. Diante do


exposto, percebe-se claramente atributos comportamentais e políticos que remetem a origem
sociológica da referida teoria.
Não há ainda um consenso sobre qual teoria melhor explica o efeito da adoção de posturas de
responsabilidade social e ambiental. Sob a perspectiva da Teoria dos Shareholders, ou seja,
considerando apenas o interesse dos acionistas (maximização do lucro), Ott, Alves e Flores (2009)
afirmam que a realização de investimentos ambientais implica na elevação dos custos organizacionais
e na diminuição do resultado. Isso porque, clientes e investidores não estariam ainda muito sensíveis
a inclusão de variáveis ambientais para valorar empresas. Em contraponto, para os mesmos autores,
pela Teoria dos Stakeholders, considera-se que investimentos ambientais, favorecem a empresa de
dois modos: evitando perdas, desperdícios e, portanto reduzindo custos e também fortalecendo a
imagem corporativa no ambiente externo.
Este estudo se fundamenta na Teoria dos Stakeholders, pois entende-se que esta é capaz de explicar
atitudes empresariais em função das demandas das partes interessadas. Segundo Farias (2008, p.35)
a postura do mercado vem se modificando na linha de imputar às empresas um papel social, que vise
atender os diferentes Stakeholders. O mesmo autor acrescenta, afirmando que:
Essa lógica surge em função da ressalva de investidores em financiarem
empresas com tendência crescente em seus custos sociais e ambientais futuros,
bem como em ver seu nome atrelado àquelas, que não demonstrem
preocupação com as questões sociais e ambientais que as envolvem (FARIAS,
2008, p.35).
Freeman e McVea (2000) identificam quatro linhas de pesquisa relacionadas a teoria do Stakeholder:
planejamento corporativo (boas estratégias congregam anseios de todos os Stakeholders), teoria de
sistemas e teoria organizacional (otimização de relações entre os membros do sistema-empresa) e
responsabilidade social corporativa (desempenho econômico-social e reputação).
Este estudo apresenta maior interface com a linha de pesquisa referente a responsabilidade social
corporativa, na medida em que a realização de investimentos ambientais é uma forma das
organizações cumprirem com seu papel social, capaz de repercutir na percepção do mercado com
relação a organização, ou seja, na sua imagem e reputação e consequentemente no desempenho
econômico. Isso porque amplia as possibilidades de sobrevivência do negócio, em função da
otimização das relações entre os vários Stakeholders, da redução da incerteza e da possibilidade de
maior facilidade na obtenção de crédito.

576
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.2 INVESTIMENTOS AMBIENTAIS E O CUSTO DE CAPITAL

Investimentos Ambientais na visão de Ferreira (2003) estão relacionados à decisão da empresa de


desenvolver projetos que visem reciclar, prevenir, recuperar o meio ambiente, como por exemplo, o
desenvolvimento de tecnologias limpas.
As informações referentes ao investimento ambiental normalmente são divulgadas por meio do
Balanço Social (BS), porém no Brasil esta demonstração não compõe o rol de demonstrações de
publicação obrigatória, exceto o setor de energia elétrica, em análise nesse estudo, em que esta é uma
imposição da agencia reguladora do setor-Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
Além de impactar o desempenho econômico, segundo Melo e Vieira (2003), investimentos na
preservação do meio ambiente melhoram a imagem da empresa perante a sociedade, tal resultado
foi constato em uma pesquisa realizada em organizações do setor de cosméticos. Os autores afirmam
que estudiosos da área de negócios identificaram o fortalecimento da imagem corporativa como
ferramenta estratégica essencial, a qual gera vantagem competitiva sustentável, visto que possibilita
a atração de clientes novos e fortalece a lealdade dos existentes. Destacam ainda que quanto mais
sólida for a imagem da empresa, mais facilmente ela obterá financiamento em condições favoráveis
(Melo e Vieira, 2003).
Moreira et al.(2012) constatou que umas das principais razões que impactam a decisão dos gestores
de empresas brasileiras de energia elétrica em evidenciar informações socioambientais é a
oportunidade de novos financiamentos e a pressão exercida por financiadores de capital. Tal resultado
sugere que comportamento ambiental, seja uma variável considerada pelos bancos. Nesse sentido,
Belal e Owen (2007) afirmam que uma preocupação com a imagem corporativa, é em grande parte
responsável pela condução do processo de evidenciação de informação socioambiental. Em particular,
a ênfase é colocada sobre a gestão das expectativas das partes interessadas, nomeadamente os
fornecedores de capital, demonstrando aparente sensibilidade à pressão da opinião pública e de
grupos de lobby influentes. Patten e Cho (2007) nessa linha asseguram que extensão da evidenciação
é uma função da exposição às pressões estruturais encontradas pelos gestores no ambiente social e
político que operam.
O custo do capital de terceiros, para Lopo et al. (2001, p. 209 e 210), é o custo dos financiamentos
dados às empresas e pode ser definido de acordo com Assaf Neto (2003, p. 356), pelos passivos
onerosos identificados nos empréstimos e financiamentos mantidos pela empresa.
Para Chava (2010) alguns credores poderiam abster-se de conceder créditos para empresa com base
em seu perfil ambiental, em função da responsabilidade social ou na tentativa de evitar o risco de

577
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

reputação. Outros credores poderiam precificar o risco e cobrar uma taxa de juros mais elevada sobre
empréstimos emitidos para empresas envolvidas com questões ambientais preocupantes para
compensar o potencial passivo do risco de reputação a que ficam expostas pelo empréstimo a estas
firmas.
O autor afirma que a quantia de dinheiro dedicada a investimentos socialmente responsáveis tem
aumentado progressivamente ao longo dos últimos anos, com um crescimento de 324% em relação
ao período 1995-2007 e mais de 50 vezes nos últimos 20 anos. Alinhado com esta tendência, o autor
afirma estar havendo um aumento substancial no número de credores, considerando as questões
sociais e ambientais nas suas decisões de empréstimo. Isso pode ser explicado pelo fato das políticas
de contabilidade e divulgação, segundo Lambert, Leuz e Verrecchia (2006), mudarem as avaliações
que os participantes no mercado sobre a distribuição desses fluxos de caixa futuros. Os autores
afirmam que aumentando a qualidade das divulgações obrigatórias deve-se, em geral, reduzir o custo
de capital para as empresas.
Schlischka (2009) investigou se as instituições bancárias brasileiras têm linhas ou produtos específicos
de crédito ambiental e quais os tipos de informações requeridas para concedê-los. Como resultado,
foi possível identificar que 57,14% dos bancos da amostra têm concedido crédito para atender às
necessidades ambientais dos seus clientes. Na análise junto às instituições para verificar se elas
mantêm procedimentos de solicitação de informações sobre o montante de investimentos realizados
na área ambiental, inclusive aquisição de ativo ambiental, pela empresa proponente ao crédito,
apenas quatro das dez instituições responderam afirmativamente. A legislação ambiental, os
Princípios do Equador, as demonstrações financeiras e o Relatório de Impacto Ambiental têm sido
utilizados nas análises de crédito. Destaca-se, ainda, a pouca utilização de indicadores de desempenho
ambiental e a ausência de uso da auditoria ambiental.
Sharfman e Fernando (2008) afirmam que na literatura, encontra-se afirmações de que as melhorias
nas condições de gestão de risco ambiental devem levar a (entre outros benefícios) redução de custos
de capital. No entanto o suporte empírico para a afirmação é escasso. Considerando a afirmação acima
como verdadeira, os autores asseguram que uma melhor exposição de uma empresa de riscos
ambientais (gestão de riscos ambientais), pode reduzir seu custo de capital de três formas, através de
relacionamentos diretos e indiretos: i) Ao reduzir o custo de capital de terceiros da empresa; ii) Ao
aumentar a capacidade de endividamento e, assim, aumentando a quantidade de renda disponível
para empresa lidar com a tributação e iii). Ao reduzir o custo da empresa de capital próprio. Os

578
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

resultados encontrados por Sharfman e Fernando (2008) mostra-se na contramão dessas discussões
indicando que o custo de endividamento aumenta com a gestão do risco ambiental.
Na visão de Chava (2010) a tendência de comportamento dos credores, sensíveis ao perfil ambiental
das empresas pode ser explicado em razão do risco de crédito associado a estes mutuários que estão
muito expostos a risco de litígios e cumprimento de normas, já que suas atividades podem ser
interrompidas ou comprometidas em razão condutas ambientalmente inadequadas. Além disso, o
referido autor destaca que os credores podem se corresponsáveis pelos danos ambientais causados
pelos mutuários, de acordo com as leis de responsabilidade do credor, o que também os expõem a
risco de litígios. Outro risco a ser considerado pelos credores é o de reputação decorrente da
associação com firmas poluentes, financiando projetos prejudiciais ao meio ambiente, podendo ser
influenciados pela má publicidade dos tomadores.
Dessa forma Carvalho e Ribeiro (2000), afirma que ao incorporar a variável ambiental entre os critérios
para concessão de crédito para a comunidade empresarial, as instituições financeiras poderão exercer
dois papéis fundamentais: o de colaborar com o meio ambiente e o de proteger o seu próprio
patrimônio, uma vez que reduz o risco de perdas em função de clientes cujas atividades não estão em
conformidade com as atitudes sociais predominantes, aceitas como corretas e consideradas legítimas.
Liberando mais informações e, em particular, informações públicas através de relatórios financeiras e
outras divulgações, reduzem a incerteza e consequentemente o custo de capital (CHRISTENSENY, DE
LA ROSA e FELTHAM, 2009). Lang, Lins e Miller (2003) corroboram a afirmação anterior ao afirmam
que pesquisa teóricas como Diamante e Verrecchia (1991) e Baiman e Verrecchia (1996) indica que o
compromisso de aumentar a transparência é recompensado com um custo reduzido de capital.
Chava (2010) analisando uma grande amostra de empréstimos bancários emitidos para firmas
nacional encontrou que firmas envolvidas com questões ambientais preocupantes (mais itens de
preocupações ambientais do que itens de pontos fortes ambientais) são cobrados uma taxa de juros
maior em seus empréstimos bancários. O autor destaca ainda que os bancos parecem estar
preocupados tanto com os problemas ambientais que já estão regulamentadas (tais como resíduos
perigosos e emissões substanciais de produtos químicos tóxicos) quanto com as preocupações
ambientais que ainda não estão regulamentadas (tais como as preocupações relacionadas mudança
do clima). Um outro resultado importante da pesquisa foi que empresas que tem suas receitas
derivadas substancialmente de produtos ou serviços ambientalmente benéficos parecem ter menores
taxas de juros em seus empréstimos bancários. Curiosamente, de acordo com Fisher-Vanden e

579
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Thorburn (2011) os credores não parecem atribuir muita importância a firmas que comunicam
efetivamente seu desempenho ambiental.
Essas descobertas contribuem para a literatura sobre a reação do emprestador frente os
externalidades ambientais e sociais de uma firma.

3. MÉTODO DE PESQUISA

O objetivo deste trabalho foi verificar se os investimentos ambientais podem ser usados para explicar
o custo de capital de terceiros, especificamente o custo de financiamento bancário das empresas
brasileiras do setor de energia elétrica, listadas no ISE entre 2010 e 2011. A escolha em analisar
empresas listadas no ISE se deu em função desta carteira ser seguramente composta por organizações
que possuem atributos de Responsabilidade Social Corporativa. As razões da escolha do setor de
energia elétrica se deram pelo fato deste ser o setor com o maior número de empresas listadas no ISE
e também por estas serem obrigadas pela ANEEL a publicar o Balanço Social, demonstração que serviu
como fonte de dados para esta pesquisa. Foram então selecionadas, a partir do site da
BMF&BOVESPA, as onze empresas brasileiras do referido setor listadas no ISE nos anos de 2010 e
2011, conforme apresenta a Tabela 1.

Tabela 1- Empresas de Energia Elétrica listadas no ISE

EMPRESAS EMPRESAS
AES Tietê 6 CPFL
1 Energia
2 Cemig 7 Eletrobras
3 Cesp 8 Eletropaulo
4 Coelce 9 Energias BR
5 Copel 10 Light S/A
11 Tractebel

Fonte: BMF&BOVESPA (2012)

Após a seleção das empresas, foi realizada uma busca no site das empresas selecionadas visando obter
o balanço social, demonstração na qual é possível visualizar os seguintes indicadores ambientais: i)
investimentos relacionados com a produção/operação da empresa; ii) investimentos em programas

580
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e/ou projetos externos e iii) total dos investimentos em meio ambiente. Tais indicadores são
apresentados em volume de reais, e em percentual sobre a receita líquida e sobre o resultado
operacional.
Preferiu-se trabalhar com o percentual do total de investimentos ambientais sobre receita líquida, em
função deste indicador minimizar o efeito das especificidades das empresas, como por exemplo, o
porte.
Tomando como base o trabalho realizado por Albuquerque, Dias Filho e Silva (2010), elegeu-se como
proxy do Custo de Financiamento de Terceiros (CFt), a metodologia utilizada pela Consultoria
Economática para atribuir o Custo de Capital de Terceiro às empresas representada pela equação a
seguir:
DFt
CFt =
FinCP + FinLP + DebCP + DebLP

Onde:

CFt = Custo da Dívida


DFt = Despesa Financeira no período t
FinCPt-1 = Financiamentos de curto prazo no período t-1
FinLPt-1 = Financiamento de longo prazo no período t-1
DebCPt-1 = Debêntures de curto prazo no período t-1
DebLPt-1 = Debêntures de longo prazo no período t-1

Contudo, ainda de acordo com Albuquerque, Dias Filho e Silva (2010), a proxy utilizada para o cálculo
do custo dos financiamentos precisou ser adaptada para excluir da equação o efeito das debêntures,
tendo em vista que o objetivo da análise em questão é observar apenas o efeito do custo de
financiamento bancário conforme a equação seguinte:

DFt
CFt =
FinCP + FinLP

As informações referentes a despesas financeiras e financiamentos, necessárias para fins de cálculo


do custo de financiamento bancário, foram extraídas do balanço patrimonial e demonstração de
resultados disponibilizadas no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a partir do software
EmpresasNet – Versão 5.

581
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A variável de estudo investimentos ambientais sobre receita líquida utilizada foi referente ao exercício
de 2010 e a variável custo de financiamento bancário foi calculada para o exercício de 2011, levando
em consideração que os investimentos ambientais do período t possivelmente impactarão o custo de
capital de t +1.
A amostra final foi composta por nove das onze empresas selecionadas inicialmente. A empresa Light
S.A foi excluída pelo fato da Cemig possuir uma parcela considerável do seu capital e a AES Tiete
também foi excluída da amostra em função da ausência das informações analíticas referentes ao
resultado financeiro na Demonstração do Resultado do Exercício, essenciais para fins desse estudo.
Assim, analisou-se os dados obtidos das seguintes empresas listadas na Tabela 2:

Tabela 2- Empresa da Amostra

EMPRESAS EMPRESAS
Cemig 6 Eletrobras
1
2 Cesp 7 Eletropaulo
3 Coelce 8 Energias BR
4 Copel 9 Tractebel
5 CPFL
Energia

Fonte: BMF&BOVESPA (2012)

As hipóteses consideradas nesse estudo são:


H0: Os investimentos ambientais não explicam o custo de capital de terceiros, especificamente o custo
de financiamento bancário.
H1: Os investimentos ambientais explicam o custo de capital de terceiros o custo de financiamento
bancário, especificamente o custo de financiamento bancário.
Como buscou-se analisar a relação entre os investimentos ambientais e o custo de capital de terceiros,
optou-se pela análise de regressão. Segundo Bruni (2011, p.206), a análise de regressão fornece uma
equação que descreve a relação entre duas ou mais variáveis. Aplicou-se então, uma regressão linear
múltipla, com uma variável explanatória categórica (ano) e uma variável explanatória contínua

582
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(investimentos ambientais), a fim de verificar se esta pode ser usada para explicar o custo de
financiamento bancário. Utilizou-se dados das nove empresas observados nos anos de 2010 e 2011 e
o seguinte modelo de regressão linear múltipla:

yi = 0 +  1Xi1 + 2Xi2 + 3(Xi1Xi2) + εi,


Sendo:
i = 1, 2, ..., 9 (empresas em cada ano)
y = Custo de Financiamento Bancário,
X1= Gastos Ambientais,
X2 = efeito de Ano (tratado como categórico),
(Xi1Xi2) = efeito da interação Gastos Ambientais versus Ano,
εi = erro aleatório
’j (j = 0, 1, 2, 3) = os parâmetros do modelo a serem estimados com os dados disponíveis.

Nem todos os pressupostos para aplicação de regressão foram atendidos, como por exemplo, o
tamanhão da amostra. Então optou-se por confirmar os resultados obtidos por meio do teste de
aleatorização, já que trata-se de uma amostra bastante reduzida (nove empresas). De acordo com
Viola (2007) o referido teste permite investigar se determinado padrão presente nos dados é ou não
efeito do acaso. Segundo a autora, o teste de aleatorização é feito a partir do cálculo de um valor e 0
uma estatística E (no caso deste trabalho a regressão clássica) para um conjunto de observações.
Após, aleatoriza-se os dados muitas vezes obtendo-se valores eai desta estatística, em que i é a i - ésima
aleatorização. Então, gera-se um p-valor que, no caso de testes aleatorizados, é dado pela proporção
dos valores eai que são maiores ou iguais a e0. Por exemplo, se p < 0,05, conclui-se que existe uma
forte evidência de que a hipótese nula não seja verdadeira ao nível de significância de 5%.
Outro pressuposto não atendido, diz respeito a autocorrelação entre os dados, já que para cada
empresa foram tomados dados de dois anos. Em função disso aplicou-se a técnica da Equação de
Estimação Generalizadas-GEE, que segundo Zeger e Liang (1986) é usada para estimar parâmetros de
regressão quando se trabalha com dados correlacionados.
Para tratamentos dos dados utilizou-se o software livre R, versão 2.15 (regressão e teste de
aleatorização) e o software SPSS versão experimental (GEE).

583
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Em geral as empresas analisadas nesse estudo concentram suas atividades na geração, transmissão,
distribuição e comercialização de energia elétrica em várias regiões do Brasil. Todas elas adotam as
diretrizes da Global Reporting Initiative – GRI para elaboração do Relatório de Sustentabilidade e na
maioria dos anos o modelo IBASE foi utilizado para o elaboração do Balanço Social.
Optou-se por caracterizar cada uma das empresas com base contas analisadas neste estudo: o valor
dos investimentos ambientais, despesas financeiras e empréstimos e financiamentos, em reais, são
apresentado no Quadro 1 a seguir. Dessa forma, percebe-se que a maioria das empresas tem ampliado
o valor destinado a investimentos ambientais, com exceção da Eletropaulo e da Cesp, o que demostra
uma preocupação alinhada com as pressões dos Stakeholders que atualmente exigem
responsabilidade social corporativa das empresas.

Quadro 1: Caracterização da Amostra


ANO
EMPRESA ITEM
2010 2011
Investimentos Ambientais 86.686 116.532
Empréstimos e 20.416.169 22.080.597
Cemig
Financiamentos
Despesa Financeira 2.050.786 1.665.925
Investimentos Ambientais 52.281 39.453
Empréstimos e 10.741.610 10.029.489
Cesp
Financiamentos
Despesa Financeira 543.441 731.385
Investimentos Ambientais 42.538 -
Empréstimos e 1.323.085 1.532.075
Coelce
Financiamentos
Despesa Financeira 159.541 134.465
Copel Investimentos Ambientais 184.510 198.530

584
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Empréstimos e 6.754.959 9.342.258


Financiamentos
Despesa Financeira 303.806 352.764
Investimentos Ambientais 181.736 -
Empréstimos e 22.223.893 35.798.558
CPFL Energia
Financiamentos
Despesa Financeira 837.058 1.386.778
Investimentos Ambientais 205.002 227.738
Empréstimos e 126.683.035 146.697.612
Eletrobrás
Financiamentos
Despesa Financeira 4.088.447 4.027.873
Investimentos Ambientais 76.607 72.297
Empréstimos e 7.813.417 7.153.992
Eletropaulo
Financiamentos
Despesa Financeira 171.465 339.627
Investimentos Ambientais 29.402 29.405
Empréstimos e 9.125.923 10.105.336
Energias BR
Financiamentos
Despesa Financeira 455.513 527.503
Investimentos Ambientais 39.957 77.378
Empréstimos e 11.813.228 11.985.233
Tractebel
Financiamentos
Despesa Financeira 559.469 507.482
Fonte: Dados da pesquisa (2012)

4.2 ANÁLISE DE REGRESSÃO

Os dados apresentaram-se com alta dispersão, indicando não existir relação entre Custo de
Financiamento Bancário (y) e Investimentos Ambientais (X1) para a amostra analisada, como pode ser
visualizado através do modelo de regressão clássica (Tabela 3):

585
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3- Análise de Regressão


Estimativa Erro-Padrão Estatística p-valor
t
Intercepto 0.061007 0.016714 3.650 0.00262
**
Investimentos Ambientais -0.339996 1.212772 -0.280 0.78331
Ano -0.006305 0.023574 -0.267 0.79300
Interação Investimentos 0.606708 1.703019 0.356 0.72696
Ambientais x Ano
** Significante a 0,01%
Fonte: Dados da Pesquisa

Os p-valores encontrados para as variáveis investimentos ambientais, ano e a interação entre estes
não são significantes, isto é, como são maiores que 0,05 não se pode rejeitar H0. Assim, conclui-se que
os investimentos ambientais não explicam o custo de capital de terceiros das empresas da amostra. O
intercepto do modelo mostra-se significativo a 0,01%, pois a média dos custos de financiamentos
bancários é diferente de zero.

4.3 TESTE DE ALEATORIZAÇÃO

O teste de aleatorização foi realizado com 1000 aleatorizações realizadas com o R., versão 2.15,
semente igual a 0602.
Os p-valores fornecidos pelo teste de aleatorização podem ser visualizados na Tabela 4:

Tabela 4- Teste de Aleatorização


Fonte de Informação p-valor
Intercepto (0,061) 0,958
Investimentos Ambientais 0,582
Ano 0,595
Interação Investimentos Ambientais x Ano 0,357
Fonte: Dados da Pesquisa
O teste de aleatorização confirma os resultados da aplicação do modelo de regressão clássica. Com o
p-valores maiores que 0,05 não se tem evidências suficientes para rejeitar a hipótese nula. Isso quer

586
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

dizer que não se pode afirmar que os investimentos ambientais podem ser usados para explicar o
custo de financiamento bancário, não havendo interação entre as variáveis investimentos ambientais,
ano e a interação entre eles sobre o Custo de Financiamento Bancário.

4.4.EQUAÇÕES DE ESTIMAÇÃO GENERALIZADAS (GEE)

Para aplicação da técnica das Equações de Estimação Generalizadas (GEE), considerando-se o cenário
de dados de painel (2 anos), matriz de correlação de trabalho não estruturada, distribuição do erro
normal e função de ligação identidade. Ajustou-se o modelo considerando outras opções de matriz de
correlação como: de trabalho de independência, permutável, não estruturada e auto regressiva de
ordem 1. O critério da quase verossimilhança (5,761) e quase verossimilhança corrigido (8,011)
praticamente não variou nos cenários indicando que o ajuste independe da estrutura considerada. Os
resultados podem ser visualizados no Quadro 2:
Quadro 2: Teste de Modelo de Efeito – GEE

Fonte de Informação Tipo III


Wald Chi-
Square df Sig.
(Intercepto) 56.990 1 .000
Investimentos Ambientais 1.075 1 .300
Ano .069 1 .793
Interação Investimentos Ambientais x Ano .033 1 .855
Fonte: Dados da pesquisa

Os p-valores (sig) ratificam os resultados encontrados anteriormente na regressão e no teste de


aleatorização, indicando que os efeitos das variáveis no modelo não são significantes ao nível de 5%.
Ou seja, não rejeita-se a hipótese nula: investimentos ambientais não podem ser usados para explicar
o custo de capital de terceiros, especificamente o custo de financiamento bancário das empresas da
amostra.
O resultado da pesquisa não corrobora com os estudos de Sharfman e Fernando (2008) e pode ser
explicado parcialmente pela teoria dos Stakeholders considerada nesse estudo, na medida em que se
percebe um aumento considerável nos investimentos ambientais realizados pelas empresas
pesquisadas e o impacto disso na imagem organizacional, porém não se pode afirmar que a realização

587
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de investimentos ambientais por parte das empresas conferem as mesmas, menores custos de capital
de terceiros, pois para o Stakeholder (instituições financeiras) este tipo de informação não é
determinante para decisão das condições de concessão de crédito.
Por questão de segurança, foi atestado a razoabilidade do modelo utilizado, como demonstra a Figura
1:
Figura 1: Resíduos de Pearson x valores preditos pelo modelo

0.050 


Pearson Residual 0.025


 

0.000 
 


 

-0.025

0. 05 0000 0.05 5000 0.06000 0 0. 06 5000

Predicted Value of the Me an of the Re sponse

O diagrama dos resíduos de Pearson versus os valores preditos pelo modelo ajustado indica que o
ajuste pelas GEE está razoável, ou seja, os dados se comportam de forma aleatória em torno de zero,
comprovando não haver relação entre as variáveis analisadas neste estudo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As instituições desempenham um papel essencial no desenvolvimento econômico, na medida em que


são fontes de recursos para implantação e ampliação de pequenos e grandes negócios que sustentam
a economia mundial. Tais negócios podem ser potencialmente poluidores ou não e de acordo com
Herz et al. (2007) os efeitos de investimentos em atividades ambientalmente incorretas podem ser
imediatos ou se distribuírem ao longo de muitos anos, tendo em vista que muitos negócios têm vida
longa. Então, os bancos podem atuar mitigando ou agravando os problemas ambientais enfrentados
atualmente, a depender das políticas de concessão de créditos adotada.
Esta pesquisa buscou verificar se os investimentos ambientais podem ser usados para explicar o custo
de capital de terceiros, especificamente o custo de financiamento bancário das empresas brasileiras
do setor de energia elétrica listadas no ISE entre 2010 e 2011. Realizou-se uma pesquisa documental
a fim coletar dados necessários para o cálculo dos custos de financiamento bancário e informações
relativas aos investimentos ambientais.
A hipótese nula de que os investimentos ambientais não podem ser usados para o custo de capital de
terceiros, foi testada por meio de um modelo de regressão associado ao teste de aleatorização e

588
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

equações de estimação generalizadas, em razão do tamanho reduzido da amostra e da autocorrelação


entre os dados, respectivamente.
Os resultados indicaram que os investimentos ambientais das empresas que compõe a amostra
analisada no período não explicam os custos de financiamentos bancário e, portanto o custo de capital
de terceiro das mesmas, não existindo assim, relação entre eles. Estes achados não corroboram com
o estudo de Sharfman e Fernando (2008) que encontrou que o custo de endividamento aumenta com
a gestão do risco ambiental.
De acordo com a teoria do Stakeholder as organizações devem considerar os interesses de todos os
agentes que impactam no desempenho das mesmas. Assim, as empresas da amostra têm
demonstrado, em alguma medida, por meio do aumento dos investimentos ambientais realizados,
atenção com os interesses de seus Stakeholders, principalmente a sociedade em geral. Porém, os
resultados da pesquisa demonstram que informações relativas aos investimentos ambientais não
impactam a decisão dos bancos no tocante a definição do custo de capital. Assim a teoria dos
Stakeholders explicaria parcialmente o resultado desta pesquisa.
Mesmo o comportamento ambientalmente correto não sendo fator determinante para decisão de
concessão de crédito, este poderia, ao menos, funcionar como agente redutor do custo dos
financiamentos, tendo em vista os benefícios que cercam as organizações que adotam tal
comportamento, como por exemplo, melhoramento da imagem e maior legitimidade.
O resultado encontrado pode ser justificado pelo fato dos bancos ainda não utilizarem as informações
contábeis ambientais de forma efetiva para concessão de crédito como demonstra pesquisa de
Ribeiro, Estrozi e Araújo (2004) e Schlischka (2009).
Vale ressaltar que este resultado é válido apenas para amostra em questão, não podendo ser ampliado
para população, tendo em vista que esta é uma limitação do teste estatístico de aleatorização utilizado
e consequentemente uma limitação desta pesquisa.
Dessa forma, sugere-se que pesquisas futuras trabalhem com outros setores e ampliem a amostra e o
período de tempo a serem analisados, na tentativa de encontrar resultados significativos. Sugere-se
ainda a inclusão de outras variáveis independentes no modelo, como por exemplo: grau de
endividamento, tamanho da firma, dentre outras.

REFERÊNCIAS

Artigo originalmente publicado na revista Reac: OLIVEIRA, N.S.; CONCEIÇÃO, M. G ; MOREIRA, N.B. ;
FERNANDES, G. B. . O impacto dos investimentos ambientais no custo de capital de terceiros das

589
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

empresas brasileiras de energia elétrica listadas no ISE. Revista de Administração e Contabilidade da


FAT, v. 9, p. 2-18, 2017.

ALBUQUERQUE, K. S. L. S.; DIAS FILHO, J. M.; SILVA, F. D. C. da. Auditoria e custo de capital de terceiros:
estudo empírico sobre o custo dos financiamentos bancários nas empresas brasileiras de capital
aberto auditadas pelas big four e demais firmas de auditoria. R. Cont. Ufba, Salvador-Ba, v.4, n.3, p.65-
78, set. dez., 2010.

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo: Atlas, 2003.

BRUNI, A.L. PASW Aplicado à Pesquisa Acadêmica. São Paulo: Atlas, 2011.

BUFONI, A. L., A.L.; FERREIRA, A.C.S.; LEGEY, L.F.L. Os Investimentos Ambientais Divulgados no Balanço
Social do IBASE pelas Empresas Brasileiras. In: ENGEMA - Encontro Nacional Sobre Gestão Empresarial
E Meio Ambiente, IX, Curitiba, 19 a 21 de novembro de 2007.Anais...

CARVALHO, L. N. G. de, RIBEIRO, M. S. A Posição Das Instituições Financeiras Frente ao Problema das
Agressões Ecológicas. IX Semana de contabilidade do Banco Central do Brasil. São Paulo: Universidade
de São Paulo, 2000.

CHAVA, Sudheer. Environmental Externalities and Cost of Capital. European Finance Annual Meetings,
2010. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1677653>. Acesso em:
25 maio 2012.

CHO, C. H.; PATTEN, D. M. The role of environmental disclosures as tools of legitimacy: A research
note. Accounting, Organizations and Society, v.32, p. 639–647, 2007.

CLARKSON, M. B. E. A Stakeholder framework for analyzing and evaluating corporate social


performance. The Academy of Management Review, v. 20, n. 1, p. 92-117, Jan 1995.

CHRISTENSEN, P. O., DE LA ROSA, Leonidas Enrique, FELTHAM, Gerald A., Information and the Cost of
Capital: An Ex-Ante Perspective. AAA 2009 Financial Accounting and Reporting Section (FARS) Paper.
Available at SSRN: Disponível em:< http://ssrn.com/abstract=1133604 or
http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1133604>. Acesso em 02 de agosto de 2012.

FARIAS, Kelly. A relação entre divulgação ambiental, desempenho ambiental e desempenho


econômico nas empresas brasileiras de capital aberto: uma pesquisa utilizando equações simultâneas.
Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) - Programa de Pós-Graduação em Controladoria e
Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, 2008.

FERNANDES, S.M. A Influência do Disclosure Ambiental no Custo de Capital de Terceiros das Empresas
Brasileiras Listadas na Bm&fbovespa. In: Congresso Nacional de Administração e Ciências Contábeis,
II, AdCont, FACC/UFRJ,2011.

Disponível em:<http://www.facc.ufrj.br/OCS/index.php/adcont/adcont2011/paper/view/267>
Acesso em: 17 abr. 2012.

590
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FISHER-VANDEN, Karen; THORBURN, Karin,. Voluntary Corporate Environmental Initiatives and


Shareholder Wealth. Journal of Environmental Economics and Manage- ment, forthcoming, 2011.
Disponível em:<http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1324983> Acesso em: 17 abr.
2012.

FREEMAN, R. Edward; MCVEA, John. A Stakeholder approach to strategic management. In M. Hitt, E.


Freeman and J. Harrison, Handbook of strategic management, Oxford: Blackwell Publishing, p. 189-
207, 2000. Disponível em:<http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=263511> Acesso em:
17 jun. 2012.

FREEMAN, R.E. Strategic management: a Stakeholder approach. Boston: Pitman, 1984.

GOLÇALVES, R.S. Social Disclosure e Custo de Capital Próprio em Empresas Brasileiras de Capital
Aberto. Tese (Doutorado) - Universidade de Brasília, Faculdade de Economia, Adminstração, Ciências
Contábeis e Atuariais-FACE, Programa Multinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em
Ciências Contábeis (UNB/UFPB/UFRN), Brasília, DF, 2011.

LAMBERT, R.; LEUZ, C.; VERRECCHIA, R. E. Accounting information, disclosure and the cost of capital.
Working paper, Wharton, University of Pennsylvania, 2006. Disponivel em: <http://fi
c.wharton.upenn.edu/fi c/ papers/06/0620.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2012.

LANG, M. H., LINS, K.V., MILLER, D. P. ADRs, Analysts, and Accuracy: Does Cross Listing in the U.S.
Improve a Firm's Information Environment and Increase Market Value?

Journal of Accounting Research, v.41, n.2, mai, 2003. Disponível em:


<http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=304623>. Acesso em: 02 ago. 2012.

LIMA, Gerlando Augusto Sampaio Franco de. Utilização da teoria da divulgação para avaliação da
relação do nível de disclosure com o custo da dívida das empresas brasileiras. 2007. 108p Tese
(Doutorado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.p.108.

LOPO, Antonio et al. Custo de Oportunidade, Custo de Capital, Juros Sobre Capital Próprio,

EVA® e MVA®. Martins, Eliseu (Coord.). Avaliação de Empresas: Da mensuração Contábil à Econômica.
São Paulo: Atlas, 2001.

MELO, M. S.; VIEIRA, P.R.C. Imagem corporativa e investimento na preservação do meio ambiente: a
nova tendência da agenda estratégica. In: XXVII ENANPAD, 2003, Atibaia. Anais...

MOREIRA, N.B. et al. Fatores que impactam a divulgação voluntária de informações socioambientais
na percepção dos gestores de empresas brasileiras de energia elétrica. In: CONGRESSO ANPCONT, VI.,
04 - 06 jun, 2012, Santa Catarina. Anais... Santa Catarina, UFSC, 2012.

NAKAMURA, Wilson Toshiro, et al. Estudo sobre os Níveis de Disclosure Adotados pelas Empresas
Brasileiras e seu Impacto no Custo de Capital. In: ENCONTRO DA ANPAD, XXX ., 2006, Salvador. Anais...
Salvador, UFBA, 23 a 27 set 2006.

OTT, E.; ALVES, T. W.; FLORES, G. S. S. Investimentos Ambientais e o Desempenho Econômico das
Empresas: Um estudo utilizando Dados em Painel. In: ENCONTRO DA ANPAD, XXXII., 2009, São Paulo.
Anais... São Paulo, 19 a 23 set 2009.

591
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

RIBEIRO, M.S.; OLIVEIRA, O.J.D de. Os princípios do equador e a concessão de crédito sócio-ambiental.
In: CONGRESSO UPS DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 8., 2008, São Paulo, Anais... São Paulo,
USP, 24 e 25 jul 2008.

RIBEIRO,M.S.; ESTROZI, L.; ARAÚJO, E.M. de. Contrapartidas Ambientais Exigidas para a Concessão do
Crédito. In: CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 4., 2004, São Paulo. Anais... São
Paulo, USP, 07 e 08 out 2004.

ROVER, S.; MURCIA, F.D. Influencia do Disclosure Voluntário Econômico e Socioambiental no Custo de
Capital Próprio de Empresas Brasileiras. In: CONGRESSO ANPCONT, V., 2011, Vitória. Anais... Vitóra:
20 a 22 jun. 2011.

SCHLISCHKA, Hermann Erich. Crédito ambiental: análise para concessão de crédito sob a ótica da
responsabilidade socioambiental. BASE – Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos, v.6,
nº 1, jan-abr, 2009.

SHARFMAN, M.P.; FERNANDO, C.S. Environmental Risk Management and the Cost of Capital. Strategic
Management Journal, v. 29, p.569–592, 2008.

SILVA, L. S. A. da; QUELHAS, O. L. G. Sustentabilidade Empresarial e o Impacto no Custo de Capital


Próprio das Empresas de Capital Aberto. Gestão & Produção, v.13, n.3, p.385-395, set.-dez. 2006.

VIOLA, D. N. Detecção e modelagem de padrão espacial em dados binários e de contagem. 2007. 118
p. Tese (Doutorado em Agronomia Estatística e Experimentação Agronômica) - Escola Superior de
Agricultura, USP, Piracicaba, SP, 2007.

ZEGER, S. L.; LIANG K. Y. Longitudinal data analysis for discrete and continuous outcomes.Biometrics,
v.42, n.1, p. 121-130, 1986.

592
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 28

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE CUSTEIO BASEADO EM


ATIVIDADE EM UMA CLÍNICA DE RADIOLOGIA
ODONTOLÓGICA: ESTUDO DE CASO
DOI: 10.37423/200300561

Roberta Antunes Pimentel Cavalcanti - robertafaceimagem@gmail.com


Ana Paula Ferreira Da Silva - anapafesilva@hotmail.com
James Anthony Fallk - thefalks@terra.com.br
Luiz Carlos Miranda - lc-miranda@uol.com.br
Resumo: O presente trabalho apresenta um estudo de caso sobre a aplicação do método de
Custeio Baseado em Atividades (ABC) em uma Clínica de Radiologia Odontológica. O objetivo
principal deste estudo é demonstrar a aplicabilidade do método ABC em organizações
prestadoras de serviços de saúde. Foi realizada, primeiramente, uma pesquisa de dados
secundários sobre as temáticas centrais do estudo: gestão de custo em saúde e custeio ABC.
Em um segundo momento, foi descrito, passo a passo, as etapas de aplicação do método
numa Clínica de Radiologia Odontológica. Os dados coletados foram tratados e aplicados na
realização dos cálculos dos custos das atividades e dos procedimentos odontológicos
(produtos). O estudo possibilitou reconhecer de forma mais apropriada os custos dos
procedimentos radiológicos, uma vez que são serviços com elevada quantidade de custos
indiretos. A aplicação do Custeio ABC permitiu compreender como os recursos estão sendo
consumidos na prestação dos serviços e adotar uma política adequada de controle de custos,
bem como, mensurar a lucratividade por serviço prestado. Com o custeio ABC foi também
possível identificar que as atividades que não agregam valor são responsáveis por importante
parcela dos custos. Um exemplo é a atividade “scannear e prescrever o laudo”. Com a
implantação de novas tecnologias disponíveis, essa atividade poderia ser eliminada, reduzindo
os custos indiretos gerados por ela.

Palavras-chave: Custo em saúde. Custeio baseado em atividade. Radiologia odontológica.593


Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

Na atualidade, a evolução das Ciências Médicas, incluindo a área Odontológica, ocorre de maneira
muito rápida e os profissionais da área da saúde devem estar sempre atentos a esse progresso, a fim
de oferecer, cada vez mais, o melhor e o mais eficiente serviço a seus pacientes.

Conforme Ching (2001), os serviços de saúde têm sofrido o impacto do aumento dos custos causado
pela incorporação de avançada tecnologia. Esta, por sua vez, obriga instituições a acelerarem o ritmo
de imobilizações de equipamentos, objetivando a manutenção da competitividade através do
incremento da qualidade dos serviços. Isso provoca mudanças constantes na estrutura de custos das
organizações, agregado a aumentos da carga tributária, custo de mão de obra, encargos, dentre
outros. Portanto, para o autor, verifica-se que o problema na área de Saúde no Brasil não se limita à
falta de recursos financeiros e materiais, mas, também, a gestão adequada das suas receitas e
despesas.

Falk (2001, p.13) comenta: “na visão da Associação Americana de Hospitais (AHA) já em 1980, os
hospitais foram considerados como organizações particularmente complexas para a prestação de
atividades altamente importantes na sociedade”. Estas organizações apresentavam níveis
significativos de gastos e, frequentemente, foram os maiores empregadores. A previsão era: a
indústria de cuidados à saúde (compreendendo todo o complexo de serviços voltados à prestação de
ações de saúde) continuaria a crescer para ser uma das maiores instituições da nação. Nesse caso, são
necessárias informações detalhadas sobre faturamento e gastos, separadamente, para melhor
gerenciar (FALK, 2001).

Grande parte das organizações hospitalares não se utiliza de um sistema de custos que oriente e
ofereça parâmetros para suas decisões administrativas e para o controle de atividades (ABBAS, 2001).
A importância da apuração e do controle dos custos hospitalares e do fornecimento de informações
pelo sistema de gestão financeira, especificamente por um sistema de gestão de custos, possibilita a
tomada de decisões mais adequada para a obtenção de melhor desempenho, garantindo um
atendimento de alta qualidade, a preços competitivos (FERREIRA, SANTOS, 2005; REIS, 2004).

As primeiras clínicas especializadas em Radiologia e Documentação Odontológica surgiram em


meados dos anos 80, facilitando assim o diagnóstico, planejamento e tratamento das diversas
especialidades da Odontologia (BORBA, 2006). Como uma organização empresarial, o serviço de
Radiologia Odontológica pode fazer bom uso de um sistema de controle de custos visando à

594
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

diminuição de seus gastos, aumento na receita, ou ambos, a fim de melhorar o desempenho da clínica
e o fornecimento de informações, de forma objetiva, para a tomada de decisões estratégicas.

Neste sentido, para melhor avaliar os custos e resultados da implantação e funcionamento de um


serviço de Radiologia Odontológica, que presta uma gama de exames especializados, a utilização de
modernos métodos de custeio se torne imprescindível. Independentemente do porte e da estrutura
de custos de uma instituição prestadora de serviços dessa natureza, julga-se que a aplicabilidade do
método de custeamento baseado em atividade e dos objetos de custos ajudaria delimitar o problema
nos seus componentes principais em termos de direcionadores de custo e resultados finais conforme
tipo de exame realizado. Assim sendo, o objetivo principal deste trabalho é demonstrar como se pode
aplicar o método de Custeio Baseado em Atividade (ABC) em uma organização prestadora de serviço
de Radiologia Odontológica e quais os resultados obtidos. Para tanto, foram definidos os seguintes
objetivos específicos: a) Fazer um estudo bibliográfico sobre a gestão de custo em unidades de saúde,
bem como, sobre o método de custeamentos ABC; b) Descrever e mensurar as etapas de apuração
dos custos dos procedimentos pelo método de custeio ABC; e c) Mensurar a lucratividade por
procedimento odontológico (produto) de uma clínica de radiologia odontológica pelo método de
custeio ABC.

As organizações que atuam na área de saúde, com o crescimento e aprimoramento desta área
também tiveram a necessidade de se aprimorar e acompanhar o desenvolvimento técnico e
tecnológico. Essa mudança impulsionou o aumento de gastos que gerou conflitos com as entidades
pagadoras, criando a necessidade dos gestores de saúde do conhecimento, controle e redução dos
seus custos, sem, contudo, alterar a qualidade dos serviços prestados. Essa mudança de postura
administrativa dos gestores de saúde acarretou, também, em um aumento dos estudos acadêmicos
sobre economia em saúde. O estudo realizado por Andrade et al (2007) baseado em artigos, livros,
dissertações e teses sobre economia em saúde constatou que nos últimos anos foram intensificadas
as referências sobre custos na área de saúde. Outro estudo, realizado por Sampaio (2006), focado em
uma pesquisa na área odontológica, demonstrou que apenas 2,3 % dos estudos foram voltados para
a área de radiologia odontológica. Este artigo, portanto, se torna relevante diante da carência de
estudos na área de radiologia odontológica, e mais ainda, voltados para mensurar os custos dos
procedimentos de radiologia odontológica realizados.

Conforme a estrutura de uma pesquisa científica, este trabalho está estruturado em cinco seções,
iniciando com esta introdução, seguida por uma seção de fundamentação teórica, com destaque as

595
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

temáticas: gestão de custo em saúde, focando em consultório odontológico e método de custeio


baseado em atividade. Em seguida, apresentam as seções sobre a metodologia adotada e os
resultados e conclusões obtidas com a realização do estudo.

2. GESTÃO DE CUSTO EM SAÚDE

O termo hospital, como entidade mais complexa da prestação de saúde, é derivado do latim hospitale,
que denotava, no inicio da sua utilização, um espaço destinado à hospedagem de pessoas doentes
necessitando de tratamento separado da comunidade considerada sadia. Essas estruturas
funcionavam como verdadeiros isolamentos sociais, destinados ao recolhimento de mendigos e
peregrinos sofrendo de doenças como lepra, tuberculose, e outras doenças caracterizadas com
mudanças grosseiras do corpo que provocava pavor aos demais cidadãos. Posteriormente, com a sua
evolução, demonstrava a preocupação em atender pessoas carentes e soldados feridos em guerras.
Os cenários do Mercantilismo e da Revolução Industrial, porém, mudaram completamente o papel do
hospital. O aumento dos gastos com procedimentos de saúde, principalmente em razão da
incorporação das tecnologias médicas cada vez mais caras e o domínio da indústria farmacêutica como
meio de tratamento, criou a necessidade de colocar as entidades hospitalares no centro da perspectiva
do controle gerencial (RIBEIRO FILHO, 2005).

No campo das organizações médico-hospitalares, especificamente, no segmento de hospitais públicos


e privados filantrópicos, tem-se percebido um despreparo profissional e uma tendência para
improvisações técnico-administrativas, comprometendo, desta maneira, a organização e o sistema de
saúde como um todo. Conforme Borba (2006), a área de prestação de serviços de saúde percebeu-se
uma ansiedade pela busca de informações sobre métodos e técnicas com a finalidade de melhorar o
desempenho dos hospitais e, ao mesmo tempo, diminuir as incertezas e riscos do negócio. De acordo
com o autor, a solução se torna viável por meio da intervenção profissional, com emprego de técnicas
da Administração Empresarial.

Falk (2001), por sua vez, ressalta que a literatura financeira hospitalar está repleta de artigos com
prescrição de métodos detalhados sobre a coleta de dados na área de custos, sendo eles: fixos e
variáveis, diretos e indiretos, além de custo-padrão e unidades de valores relativos, tudo isso, voltado
a avaliação da rentabilidade hospitalar. Os sistemas de apuração de custos passaram, portanto, a
serem considerado um dos, mais importantes componentes de um sistema de saúde, gerando
informações para análise gerencial e tomada de decisões estratégica das instituições.

596
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

No processo de escolha do sistema de custo mais adequado para a empresa, a pergunta mais crítica a
ser feita, segundo Ching (2001), é: Para que se deseja um sistema de custo. Na sua concepção, isto
pode ser para: controle; fornecimento rápido de informações; fins de decisões rotineiras, decisões as
quais não demandem tanta rapidez de dados ou ainda para simples avaliações de estoques. Ainda,
pode contribuir para a contabilidade financeira em sua tarefa de apuração de estoques e resultados.
Martins, E. (2010) complementa afirmando que a decisão de qual modelo usar depende de quem vai
receber as informações na ponta da linha e para qual finalidade.

Informações detalhadas sobre custos podem oferecer maior esclarecimento sobre o seu
comportamento na composição de gastos dos diversos procedimentos e quais as variáveis mais
importantes que influenciam nos diversos serviços dos hospitais, permitindo, assim, um melhor
gerenciamento dos custos em nível departamental, seja por procedimentos específicos e mesmo por
prestador ou provedor de serviços (JOHNS; HILL, 1994). Nesta mesma linha de pensamento, Ulchôa,
Lisboa e Borba (2009) afirmam: são diversas as aplicações de um sistema de custos nas instituições de
saúde: formação de preço; negociação; avaliação de projetos de investimento; planejamento de
atividade; valorização dos serviços prestados, através da metodologia de custeio; controle e
gerenciamento com comparativos mensais e auxílio à tomada de decisão.

2.1. GESTÃO DE CUSTOS EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS

O Guia Prático da Quest Consultoria e Treinamento (1999) declara: para aplicar as terminologias e
melhor administrar a contabilidade da clínica ou consultório há diversos tipos de dados que podem
ser registrados pelo dentista ou profissional de saúde. É importante criar e seguir a risca uma
sistemática de controles, pois, com o tempo, permitirá a tomada de decisões. Alguns dados
contribuem como: relação atualizada dos preços dos materiais de consumo, relação dos gastos feitos
pelo consultório ou clínica através do tempo, tempo médio mensal (em horas) ocupado no
atendimento, tempo médio (em minutos) gasto pelo profissional e equipe conforme procedimento,
tabela de preços e porcentagem de impostos pagos sobre o faturamento bruto.

Entretanto, a resistência grande do aprofundamento de conhecimentos em contabilidade e finanças,


por parte dos gestores de consultórios e clínicas, ainda dificulta o melhor aproveitamento dos dados
contábil e financeiro (RIBEIRO, 2002). A odontologia, nos últimos anos, tem sofrido um processo de
transformação. A visão do profissional de odontologia, que tem como pretensão continuar inserido
em um mercado cada vez mais competitivo, deverá ser encarada de forma mais ampla e gerencial.

597
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O dentista, também, por definição, é um prestador de serviço de saúde bucal. Este deve ampliar o
horizonte de conhecimento e assumir a responsabilidade gerencial sobre sua profissão. Numa visão
mais holística, a Odontologia Extra-Bucal tem como finalidade focar os conhecimentos em assuntos
ligados à gestão desta atividade e na transmissão de técnicas gerenciais para a administração de
consultório/clínica. Consultório/clínica, como sinônimo de uma empresa que se utiliza de análises
racionais e planejamento, proporcionarão, a profissionais e colaboradores, um melhor desempenho
financeiro (RIBEIRO, 2009).

No entanto, para o cálculo da tabela de preços, primeiro, o profissional liberal precisa conhecer os
seus honorários. Esta palavra tem origem no latim honorar, significando: o que é dado por hora. Os
honorários profissionais são, pela origem da palavra, a retribuição dada aos profissionais liberais pela
prestação de determinado serviço (FERNANDES, 1996).

Grec (1999), em seus estudos, tenta conscientizar o Cirurgião-Dentista sobre o valor a ser cobrado
para cada ato operatório realizado em seu consultório, orientando estes profissionais sob a realidade
de seus custos e lhes permitir um ganho real pré-determinado. Para isso, levam-se em conta, os itens:
custo fixo; verificação de preços de acordo com uma tabela odontológica e como aumentar a margem
de ganho real.

A questão dos honorários profissionais está intimamente ligada à gestão dos custos, podem ser
divididos em: fixos e variáveis. Dentro da categoria de custos fixos, destacam-se: o aluguel, o salário
dos funcionários, os impostos e o pró-labore, que é a quantia retirada mensalmente para gastos com
departamento pessoal. Os custos variáveis estão basicamente relacionados com o consumo do
material utilizado em cada paciente para o seu tratamento. Boisvert (1999) chama atenção para o fato
dos custos com honorários corresponder à cerca de 70% a 80% dos custos de uma clínica.

3. MÉTODO DE CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADE

Segundo Nakagawa (1994), o método ABC existe desde o final do século passado. Mesmo com indícios
de surgimento do ABC em épocas passadas, autores afirmam que este método de custeio passou a ser
efetivamente conhecido e usado na década de 60 (De ROCCHI, 1994). Todavia, o método foi
amplamente divulgado por Robin Cooper e Robert Kaplan, professores da Harvard Business School,
nos Estados Unidos, no final da década de 80, com a finalidade de substituir os métodos tradicionais,
ao proporcionar uma alocação mais criteriosa dos custos indiretos, a partir do conhecimento das

598
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

atividades desenvolvidas na empresa. Quanto à origem da temática, Custeio Baseado em atividade no


Brasil, Bornia (2010, p.110) analisa:

As primeiras publicações na Língua Portuguesa de que se tem notícia são o livro


Gestão estratégica de custos: conceitos, sistemas e implementação, de
Masayuki Nakagawa, em 1991, e o artigo Considerações sobre o Custeio por
Atividades, de Antonio Cezar Bornia, publicado no II Congresso Internacional de
custos, realizado em 1991, em Assunção, Paraguai.

Segundo Martins, D. (2000), o Custeio Baseado em Atividades, conhecido como Activity-Based Costing
(ABC), é uma metodologia de custeio com o objetivo de reduzir sensivelmente as distorções
provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos. Esse autor define o ABC como: “uma
ferramenta que permite melhor visualização dos custos através da análise das atividades executadas
dentro da empresa e suas respectivas relações com os produtos”. Hansen e Mowen (2006) definem
atividade como a unidade de trabalho realizada na organização com utilização de recursos para a
prestação de serviço ou para produção de um produto.

O ABC está fundamentado na visão sistêmica da organização e na fragmentação da cadeia de


prestação de serviços em atividades desenvolvidas para a sua realização. Ainda, a informação gerada
sobre o objeto de custo pode ser relacionada à atividade, ao recurso e à etapa do processo de
produção ou de prestação do serviço. De acordo com Horngren et al. (2004), definir as atividades em
uma organização constitui o ponto crucial no desenvolvimento do sistema ABC, pois as atividades
desenvolvidas se configuram como o centro de análises e estudo deste sistema.

Os custos indiretos das organizações hospitalares, por exemplo, têm aumentado, tanto pelo uso de
equipamentos, como pela adoção de procedimentos que exigem inovação tecnológica. Um estudo de
caso realizado por Souza et. al. (2009), no setor de Farmácia Hospitalar, uma das áreas de gastos
expressivos em termos de consumo e de complexidade administrativa em termos de funcionamento,
afirmou: O método ABC se mostra como uma ferramenta útil para este setor de Farmácia Hospitalar,
pois possibilita identificar, com objetividade e clareza, as diferentes atividades realizadas. Dessa
forma, a utilização desse sistema possibilita agilizar o processo de mensuração, análise dos custos,
gestão financeira, planejamento e tomada de decisão.

Hansen e Mowen (2006), estudiosos do método ABC, pressupõem: as atividades são os consumidores
de recursos e os produtos (ou objetos de custo quaisquer) são aqueles que consomem as atividades.
Esta é a principal diferença do ABC para os demais sistemas de custeio utilizados, pois alguns alocam
os custos dos recursos diretamente ao produto. Para McLean (2003), o sistema ABC tem por finalidade

599
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

reduzir as distorções provocadas por rateio arbitrário dos custos indiretos, podendo ser também
aplicado aos custos diretos, principalmente à mão-de-obra. Neste último caso, não se diferencia muito
dos métodos tradicionais, pois sua maior diferença reside no tratamento dado aos custos indiretos.
Desde seu início, o ABC se voltou para a área de serviços porque a incidência de custos indiretos nesta
é maior em relação à indústria ou ao comércio, conforme mencionam Kaplan e Cooper (1998).

Em resumo, o sistema ABC apresenta como diferencial em relação aos sistemas de custeio tradicionais
o fato de aprimorar a alocação dos custos indiretos aos serviços por intermédio das atividades, além
de permitir: “um maior detalhamento dos custos, com grande rapidez e agilidade, assim como uma
adaptação dos cálculos aos novos processos de gestão das empresas” (LONGO et al, 2008, p.5).

4. METODOLOGIA

Essa seção apresenta o procedimento metodológico utilizado no decorrer da pesquisa. Para a


realização deste trabalho foi utilizado o método: estudo de caso único. Conforme a classificação
tipológica proposta por Beuren et al (2008) este estudo é classificado quanto:

a) Aos objetivos: em uma pesquisa exploratória, descritiva, visando demonstrar o processo de


aplicação do método de custeamento baseado em atividade em uma unidade de saúde radiologia
odontológica. Entende sobre a pesquisa descritiva que ela: “observa, registra, analisa e
correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los” (CERVO, BERVIAN, 2006, p.66).
b) Aos procedimentos: em uma pesquisa documental. Marconi e Lakatos (2003) afirmam: a
característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados não está restrita a
documentos escritos e aos não escritos. No caso esse estudo a fonte de dados primários utilizada
foram os apontamento referentes aos custos realizados nos 06 (seis) primeiros meses de
funcionamentos da Clínica de Radiologia Odontológica.
c) A abordagem: um estudo quantitativo, pois, visa demonstrar à aplicação de uma metodologia de
cálculo de custo, utilizando assim medidas métricas.

5. DESCRIÇÃO DO CASO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 APRESENTAÇÃO DA CLÍNICA DE RADIOLOGIA ODONTOLÓGICA

A Clínica em estudo está localizada na cidade do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco e tem
como missão, oferecer serviços de qualidade em radiologia odontológica, tendo como diferencial: o
excelente atendimento e a rapidez na entrega dos resultados por meio da eficiência dos

600
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

colaboradores. A Radiologia Odontológica é uma das especialidades da Odontologia e como se


apresenta dentro do contexto como uma área de estrutura organizacional complexa.

Os procedimentos radiológicos fazem parte dos exames complementares da Odontologia. Portanto, o


fluxo de pacientes ocorre através de indicações justificáveis dos Cirurgiões-Dentistas, o paciente
permanecendo na clínica somente o período necessário para a realização dos exames. Integra o
quadro funcional da clínica quatro profissionais, dentre eles: Cirurgião-Dentista/Radiologista, Técnico
em radiologia, Auxiliar de consultório dentário e Recepcionista. Em termos de produtos realizados, a
clínica oferece 07 (sete) procedimentos/ produtos diferenciados, descritos no o quadro 1 abaixo, e 01
(um) produto composto de quatro exames individuais:

Cód. Procedimentos/Produtos Descrição dos produtos

P1 Radiografia panorâmica Filme radiográfico tipo E (ADA) de tamanho 15x30 cm para avaliação dos
dentes e suas estruturas de suporte.

P2 Telerradiografia com Filme radiográfico do tipo B (ADA) de tamanho 18x24 cm padronizado e


traçado reproduzível para avaliar a relação dos dentes com os maxilares e dos
maxilares com o resto do esqueleto facial.

P3 Radiografia extra-bucal Filme radiográfico do tipo B de tamanho 18x 24 cm para visualização do


complexo maxilofacial da base do crânio e da articulação
temporomanbular.

P4 Radiografia Filme radiográfico do tipo 1.2(ADA) de tamanho 3,1 x 4,09 cm com


periapical/interproximal objetivo de mostrar os dentes e os tecidos circunjacentes a seus ápices.

P5 Radiografia oclusal Filme radiográfico do tipo 3.4(ADA) de tamanho 5,7 x 7,6 cm indicado para
visualização da maxila ou mandíbula

P6 Fotografia Fotografia de tamanho 9x7cm

P7 Modelos ortodônticos (par) Modelos de gesso das arcadas dentárias

P8 Documentações Produto 1+ Produto 2+ Produto 6+ Produto 7


Ortodônticas

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

Quadro 3 – Descrição dos procedimentos/produtos

5.2 IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES (1ª ETAPA)

O primeiro passo para aplicação do modelo de custeio baseado em atividade foi a identificação das
atividades realizadas na Clínica de Radiologia Odontológica. A fim de determinar o número de

601
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

atividades necessárias à apuração dos custos dos 08 (oito) objetos de custeio já mencionados, foi
usada à técnica de observação participante. Partes dessas observações foram realizadas na empresa,
em estudo, acoplado com a verificação dos mesmos exames realizados em mais 09 (nove) clínicas
diferentes de Radiologia Odontológica. A distribuição das outras clinicas foi a seguinte: três clínicas
particulares da cidade de Recife-PE, uma clínica particular da cidade de Vitória de Santo Antão/PE,
uma clínica particular da cidade Campinas/SP, uma clínica de faculdade particular em Campinas/SP,
uma clínica de Universidade pública em Bauru/SP, uma clínica particular em Bauru/SP e uma clínica
de repartição pública em Recife/PE. Através dessas observações foi possível entender as atividades e
o funcionamento de uma clínica de radiologia odontológica.

Após a identificação das atividades, por tipo de exame, uma lista foi elaborada, através da observação
da rotina dos pacientes e dos profissionais participantes do processo na clinica sob estudo. Para cada
exame realizado, as seguintes atividades foram observadas (Vide quadro 2).

Código Atividades Descrição das tarefas

1. Registrar Preencher a ficha com os dados pessoais do paciente; Revisar a requisição, procurando a
entrada do assinatura/carimbo do dentista; Fazer o cadastro do paciente; Preparar o paciente;
A1
paciente Atender ao telefone; Encaminhar o paciente para sala de Raios-x.

Posicionar o paciente; Ajustar máquina de Raios-x; Submeter o paciente à exposição;


2. Expor o
A2 Encaminhar o paciente para “sala de espera interna” aguardando o resultado do
paciente
procedimento; Encaminhar o Chassi e filme para a “Câmara escura”.

3. Processar o Remover o filme do chassi; Identificar o filme; Processar o filme; Recarregar o chassi com
A3
filme filme.

4. Realizar
A4 Realizar fotografia; Imprimir a fotografia do paciente
fotografia

5. Realizar a Selecionar o tamanho da moldeira; Colocar a proporção de alginato (pó) +água; Espatular
A5
moldagem a massa; Moldar o paciente; Encaminha molde para vazar.

6. Vazar o
A6 Colocar a proporção de gesso (pó) +água; Espatular a massa; Vazar o molde.
molde

7. Scannear a
imagem e
A7 Scanear o filme; Digitar e imprimir o laudo; Confere o laudo digitado; Assina o laudo.
prescrever o

Laudo

602
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Solicita material aos fornecedores; Recebe, verifica e arquiva os materiais solicitados;


8. Gerenciar e
A8 Controlar o caixa; Elaborar planilha de contabilidade de custos; Verificar material;
controlar
Controlar a qualidade.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).


Quadro 4 – Lista das Atividades
5.3 IDENTIFICAÇÃO DOS RECURSOS E DOS DIRECIONADORES DE RECURSOS E ALOCAÇÃO DOS
CUSTOS DOS RECURSOS AS ATIVIDADES (2ª ETAPA)
Após a identificação das atividades realizadas, procurou-se rastrear os recursos indiretos consumidos,
bem como, os seus respectivos custos. Este rastreamento foi feito, também, através da observação
participante referente à utilização dos consumos, equipamentos, serviços contratados, mão-de-obra,
e taxas pagas no período, bem como através da pesquisa em documentos contábeis e nos relatórios
de produção da unidade. O resultado pode ser visto na tabela 1.

Tabela 1 – Recursos e direcionados de recursos


Recursos Valores mensais Direcionador de Recursos
(R$)

Mão-de-obra 5.156,95 Hora

Energia 150,00 KWh/ área

Telefone 70,00 Nº ligações

Depreciação 512,32 Nº procedimentos

Aluguel (incluindo IPTU + Taxas) 2.000,00 Área

Contrato de Coleta de Químico 116,00 Nº procedimentos de processamento

Contrato de Controle de Dosímetro 110,00 Nº procedimentos de radiografias

Contrato de Manutenção de Software 150,00 Nº procedimentos de elaboração de laudos

Revelador 44,00 Nº procedimentos de Revelação

Fixador 30,25 Nº procedimentos de Fixação

Material de limpeza 50,00 Área

TOTAL R$ 8.389,52

Fonte: Elaboração própria com base na média das despesas da clinica nos últimos seis meses de
2011..

603
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Uma vez identificados os recursos indiretos e definidas as atividades do processo, passa-se a


estabelecer os direcionadores para apropriar os recursos às atividades. Os direcionadores de recursos
são objetos de estudo junto aos recursos envolvidos no processo. Para definir seu comportamento, é
preciso rastrear os recursos até as atividades. A tabela 2, a seguir, identifica a alocação dos recursos
às atividades necessárias para a realização dos procedimentos radiológicos. Os direcionadores de
atividades rastreiam os custos das atividades até os objetos de custo, possibilitando, dessa forma, um
maior grau de certeza de sua eficiência na alocação das atividades.

Tabela 2 – Alocação dos recursos às atividades


Recursos/Atividade A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7

Mão-de-obra 32,18 1.772,12 957,9 478,95 478,95 1.436,85

Energia 61,22 18,39 9,18 9,18 9,18 30,61 12,24

Telefone 70

Depreciação 58,1 85,8 85,8 118,68 39,07 39,07 85,8

Aluguel (Impostos + Taxas) 816,33 244,9 122,45 122,45 122,45 408,16 163,26

Contrato de Coleta de Químico 116

Contrato de Cont. de Dosímetro 110

Contrato de Manut. de Software 150

Revelador 44

Fixador 30,25

Material de limpeza 20,41 6,12 3,06 3,06 3,06 10,2 4,09

Total 1.026,06 497,39 2.182,86 1.211,27 652,71 966,99 1.852,24

% sobre o CIF TOTAL 12,2 5,9 26,0 14,4 7,8 11,5 22,1

Fonte: Elaboração própria com base na distribuição das despesas indiretas conforme quadro de
direcionadores das atividades.

5.4 LEVANTAMENTOS DOS CUSTOS DIRETOS POR PROCEDIMENTO (PRODUTO) (3ª ETAPA)

Para aplicação dos métodos de custeamento por atividade foi, primeiramente estabelecido, de acordo
com os formulários coletados, uma média de volume de produção mensal baseada nos últimos seis
meses de atendimento do ano 2011. Como se trata de uma clínica de Radiologia Odontológica, os
preços unitários são tabelados em conformidade com os valores referenciais para procedimentos

604
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Odontológicos do Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (Vide tabela 3). No entanto, o


mix de produtos (documentações ortodônticas) também é baseado nos preços da concorrência e nos
custos unitários dos produtos.

Tabela 3- Volume de produção mensal e preço de venda


Códigos Produtos Volume de Preço de venda

produção mensal (média) unitário

P1 Radiografia panorâmica 10 R$ 48,88

P2 Telerradiografia com traçado 4 R$ 65,39

P3 Radiografia extra-bucal 5 R$ 53,84

P4 Radiografia periapical/interproximal 26 R$ 10,92

P5 Radiografia oclusal 2 R$ 24,46

P6 Fotografia 30 R$ 10,10

P7 Modelo de gesso 8 R$ 56,97

P8 Documentação ortodôntica 150 R$ 75,00

Fonte: Volume de produção registrado na clinica de agosto a dezembro de 2011 e os Valores


referenciais para procedimentos odontológicos (VPRO) do Conselho regional de Odontologia de
Pernambuco (2007).
Em seguida, foram também levantados os recursos consumidos diretamente pelos procedimentos
(produtos). Estes recursos alocados diretamente aos procedimentos foram referentes aos materiais
específicos, ou seja, os materiais de consumo odontológico e radiográfico, tais como: filme 15x 30cm,
filme 3,1x 4,09cm, sacolé, cartela para filmes, alginato, gesso comum, dentre outros. Na tabela 4 estão
listados todos os materiais utilizados, os custos dos materiais, a forma de apresentação, as
quantidades apresentadas e o custo direto por unidade do produto 1. Os valores dos custos dos
materiais foram baseados na média de consumo dos seis meses de funcionamento da unidade de
saúde. Esses valores são expressos nas tabelas de 04 a 10 conforme o tipo específico de exame
realizado.

A tabela 4 demonstra os materiais utilizados na produção do procedimento/produto P1-Radiografia


Panorâmica. Com base nos dados evidenciados, os materiais que mais influenciam no custo direto
unitário do produto Radiografia panorâmica são: o envelope, com 55,1 % do custo e filme com 42,9%.

605
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 4 – Custo direto do produto Radiologia panorâmica (P1)


Materiais utilizados Custo material Forma Quantidades Custo por Percentual
apresentação apresentadas
unidade

1filme 15x30cm R$ 90,00 Caixa 100 R$ 0,90 42,9

1 sacolé R$ 8,00 Caixa 1000 R$ 0,01 0,5

1 folha de papel R$ 10,75 Pacote 500 R$ 0,02 1,0

1 envelope R$ 1,16 Unidade 1 R$ 1,16 55,1

1 etiqueta média R$ 10,00 Pacote 750 R$ 0,01 0,5

TOTAL R$ 2,10 100,0

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

Na tabela 5 estão listados todos os materiais utilizados na produção do procedimento/produto P2-


Telerradiografia. Este demonstrativo confirma informações, tais como: a forma de apresentação, as
quantidades apresentadas e o custo direto total e por unidade do produto e por material odontológico
consumido. Com base nos dados evidenciados na tabela em análise, o custo direto unitário do produto
é mais influenciado pelos materiais: o envelope com 66,4 % do custo e o filme 18x 25cm com 31,4%.

Tabela 5 - Custo direto do produto Telerradiograma com traçado (P2)


Materiais utilizados Custo material Forma Quantidades Valores Percentual
apresentação apresentadas unitários

1Filme 18x25 R$ 55,00 Caixa 100 R$ 0,55 31,4%

2 sacolés R$ 8,00 Pacote 1000 R$ 0,02 1,1%

6 folhas de papel R$ 9,50 Pacote 500 R$ 0,02 1,1%

1 envelope R$ 1,16 Unidade 1 R$ 1,16 66,4%

TOTAL R$ 1,75 100,o

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

Na tabela 6 estão listados todos os materiais utilizados na produção do procedimento/produto P3-


Radiografia extra-bucal, os quais revelam os materiais que mais influenciam no custo direto unitário
do produto, são eles: o envelope com 67 % do custo e filme 18x 25cm com 31,8%.

606
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 6 – Custo direto do produto Radiologia extra-bucal (P3)


Materiais utilizados Custo por Forma de Quantidades Valores Percentual
material apresentação apresentadas unitários

1 Filme 18x 25cm R$ 55,00 Caixa 100 R$ 0,55 31,8

2 sacolés R$ 8,00 Pacote 1000 R$ 0,02 1,2

1 envelope cef R$ 1,16 Unidade 1 R$ 1,16 67,0

TOTAL R$ 1,73 100,0

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

A tabela 7 lista os materiais utilizados na produção do procedimento/produto P4-Radiografia


periapical/interproxinal evidenciando, quais deles mais influenciam na composição do custo direto
unitário do produto em ordem decrescente: filme 3,1 x 4,09cm (87,0%), Ficha periapical (6,5%) e a
etiqueta (3,9%).

Tabela 7 – Custo direto do produto Radiologia periapical/interproxinal (P4)


Materiais utilizados Custo material Forma de Quantidades Custo por Percentual
apresentação apresentadas unidade

1Filme 3,1 x 4,09 cm R$ 99,9 Caixa 150 R$ 0,67 87,0

1Cartela para filme R$ 4,5 Caixa 100 R$ 0,05 6,5

82Etiqueta R$ 45,5 Caixa 3000 R$ 0,03 3,9

1Folha de papel R$ 9,88 Pacote 500 R$ 0,01 1,3

1sacole R$ 10,00 Pacote 1000 R$ 0,01 1,3

TOTAL R$ 0,77 100,0

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

Dos materiais utilizados na produção do procedimento/produto P5-Radiografia oclusal, o valor do


filme 5 x 7cm, representa 97,4% do custo direto por unidade (Vide tabela 8).

Tabela 8 – Custo direto do produto Radiologia oclusal (P5)


Materiais utilizados Custo por Forma de Quantidades Custo por Percentual
material apresentação apresentadas unidade

1Filme 5 x 7 cm R$ 101,60 caixa 25 R$ 4,06 97,4

1Ficha oclusal R$ 4,50 Pacote 100 R$ 0,05 1,2

607
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2Etiqueta R$ 45,50 Pacote 3000 R$ 0,03 0,7

1 folha de ofício R$ 9,88 Pacote 500 R$ 0,02 0,5

1sacole R$ 10,00 Pacote 1000 R$ 0,01 0,2

TOTAL R$ 4,17 100,0

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

A tabela 9 demonstra: dos materiais utilizados na produção do procedimento/produto P6-Fotografia,


os mais representativos na composição do custo direto unitário do produto em ordem decrescente
são: pasta (47,4%), papel para fotografia (22,6%) e a CD Rom (17,9%).

Tabela 9 – Custo direto do produto Fotografia (P6)


Materiais utilizados Custo por Forma de Quantidades Custo por Percentual
material apresentação apresentadas unidade

1Papel para Fotografia R$ 8,50 caixa 20 R$ 0,43 22,6

1pasta R$ 0,90 unidade 1 R$ 0,90 47,4

1cd R$ 17,00 unidade 50 R$ 0,34 17,9

1Papel do CD R$ 0,20 unidade 1 R$ 0,20 10,5

1etiqueta média R$ 22,80 caixa 1110 R$ 0,02 1,1

1sacola R$ 10,00 Pacote 1000 R$ 0,01 0,5

TOTAL R$ 1,90 100,0

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

A tabela 10 evidencia: dos materiais utilizados na produção do procedimento/produto P7-Modelos


ortodônticos (par), os mais representativos na composição do custo direto unitário do produto em
ordem decrescente: material para acabamento e polimento (47,4%), caixa para modelo (19,7%) e o
alginato (11,7%).

Tabela 10 – Custo direto do produto Modelos ortodônticos (P7).


Materiais utilizados Custo por Forma de Quantidades Custo por Percentual
material apresentação apresentadas unidade

20 g de gesso comum- moldagem R$ 42,00 Saco 20kg R$ 0,42 4,1

300 g de gesso comum- modelo R$ 42,00 Saco 20kg R$ 0,64 6,3

608
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

10g de alginato R$ 11,90 Saco 1kg R$ 1,19 11,7

2Luva R$ 15,40 Caixa 100 R$ 0,31 3,1

1mascara R$ 5,90 Caixa 100 R$ 0,01 0,1

1gorro R$ 4,98 Caixa 100 R$ 0,00 0,1

1 CERA 7 R$ 9,90 Caixa 18 R$ 0,55 5,4

1 CAIXA PARA MODELO R$ 2,00 unidade 1 R$ 2,00 19,7

2ETIQUETAS pequenas R$ 11,30 Pacote 1110 R$ 0,01 0,1

Material para acabamento e R$ 53,58 unidade 138 R$ 5,00 49,4


polimento

TOTAL R$ 10,13 100,0

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

O custo direto do produto “Documentação ortodôntica” é representando pela soma dos custos diretos
dos produtos 1, 2, 6 e 7, totalizando R$ 15,88 (Quinze reais e oitenta e oito centavos).
5.6 ALOCAÇÃO DOS CUSTOS INDIRETOS AOS OBJETOS DE CUSTEIO (4ª ETAPA)
Uma vez identificadas as atividades relevantes para a realização dos procedimentos radiológicos, seus
direcionadores de recursos, a próxima etapa foi alocar os custos das atividades aos objetos de custo
na tabela. Nesta etapa, os objetos de custo absorvem seus custos ao passar pelas diversas atividades.

Com o intuito de melhorar essa alocação, e para que não haja distorção de custo, resolveu-se
pormenorizar os custos das atividades, usando mais de um direcionador conforme o quadro 3. Todo
o tempo necessário para realizar os procedimentos foi cronometrado. Aos outros custos das atividades
foi usado como direcionador o número de procedimentos/mês.

Atividades Direcionadores de custo

A1. Registrar entrada do paciente Numero de pacientes

A2. Expor o paciente Tempo de exposição

A3. Processar o filme Numero de Processamentos

A4. Realizar fotografia Numero de fotografias

A5. Realizar a moldagem Numero de moldagens

A6. Vazar o molde Numero de vazamentos

A7. Scannear a imagem e prescrever o laudo Numero de laudos

609
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011) .

Quadro 5 – Direcionadores de Atividade


A tabela 11 mostra: o produto 8 (documentação ortodôntica) apresenta o maior custo indireto total
por apresentar o maior número de procedimentos e ser o exame mais solicitado pelos Cirurgiões-
Dentistas em uma Clínica de Radiologia Odontológica.

Tabela 11 – Alocação dos custos das atividades aos objetos de custeio produtos
Atividades Objetos de custeio – Prodecimentos/Produtos (Valores em R$)

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8

A1 43,66 17,46 21,83 113,52 8,73 130,99 34,93 654,94

A2 222,13 12,38 12,38 6,15 9,85 234,5

A3 13,82 413,23 413,23 57,39 58,15 1.227,04

A4 110,12 1.101,15

A5 33,05 619,66

A6 48,96 918,03

A7 35,76 14,3 17,88 92,97 7,15 53,64 21,45 1.609,09

CIF 315,37 457,37 465,32 270,03 83,88 294,75 138,39 6.364,41

% CIF total 3,8 5,5 5,5 3,2 1,0 3,5 1,6 75,9

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

5.7 APURAÇÃO DO CUSTO UNITÁRIO E DO LUCRO DOS OBJETOS DE CUSTEIO (5ª ETAPA)

Finalmente, é estabelecido o custo unitário do produto representando pela divisão do custo total, pela
média da quantidade de exames mensais realizados. Como mostrado na tabela 12, o produto com
maior custo indireto unitário foi a telerradiografia, pois neste caso foram realizados apenas 4 exames
e, novamente, o tempo utilizado no processamento é maior comparado as outras técnicas. O menor
custo indireto unitário é apresentando na fotografia.

610
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 12 – Custo unitário por produto através do custeio baseado em atividade (Valores em R$)
Produtos P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8

CIF TOTAL 315,37 457,37 465,32 270,03 83,88 294,75 138,39 6.364,41

Quantidades de 10 4 5 26 2 30 8 150
exames

CIF unitário 31,54 114,34 93,06 10,39 41,94 9,83 17,30 42,43

CD unitário 2,10 1,75 1,73 0,77 4,17 1,90 10,13 15,88

Custo unitário 33,64 116,09 94,79 11,16 46,11 11,73 27,43 58,31

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

O custeio ABC tabela 13, contradiz o método de custeamento por absorção no contexto da
lucratividade apresentando os produtos 2 e 3 com menor ordem de lucratividade e os produtos 7 e 8
com maior margem de lucratividade. Portanto, o produto documentação ortodôntica pode continuar
a ser estimulado para maiores vendas, pois apresenta uma maior margem de lucratividade.

Tabela 13- Margem de lucro por produto no método ABC (Valores em R$)
Produto P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8

Preço de venda (R$) 48,88 65,39 53,89 10,92 24,46 10,1 56,97 75,00

Custo Unitário (R$) 33,64 116,09 94,79 11,16 46,11 11,73 27,43 58,31

Lucro Bruto/Prejuízo 15,24 -50,7 -40,9 -0,24 -21,65 -1,63 29,54 16,69
Unitário (R$)

Quantidades de exames 10 4 5 26 2 30 8 150

Lucro Bruto/Prejuízo
Total (R$) 152,4 -202,8 -204,5 -6,24 -43,3 -48,9 236,32 2.503,5

Margem (%) 31,2 -77,5 -75,9 -2,2 -88,5 -16,1 51,9 22,3

Ordem de lucratividade 2 7 6 4 8 5 1 3

Unitária

Ordem de lucratividade 3 7 8 4 5 6 2 1

Total

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do caso (2011).

611
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

6. CONCLUSÃO

A aplicação prática do método de custeio ABC proporcionou o conhecimento dos custos das
atividades, bem como, dos objetos de custeio, possibilitando assim, conhecer os produtos mais
lucrativos. Somente quando foram conhecidos os componentes individuais dos custos dos
procedimentos, tornou-se possível compreender e acolher uma política de controle de custos
adequadamente e mensurar a lucratividade por produto.

Com base no processo de apuração dos custos foi verificado: o produto “documentação ortodôntica”
teve a margem de lucratividade total no método ABC, devendo, portanto, esse procedimento ser
estimulado para garantir maiores vendas, sendo classificado como produto “chave” em uma clínica de
radiologia odontológica. Além disso, a atividade de processar o filme apresentou o maior custo
indireto (26%), em relação ao total, devido ao maior tempo em horas para realizar a atividade. Em
segundo lugar ficou a atividade de scannear e prescrever o laudo. Resultado este, que será alterado
quando as imagens digitais substituírem as analógicas, eliminando assim, a atividade de processar o
filme e scannear imagens, reduzindo consecutivamente os custos indiretos totais. Esses números
refletem a aplicação da gestão baseada em atividade (ABM), a qual tem por objetivo investigar
modificações no processo de realização da atividade, a fim de excluir atividades que não agregam mais
valor ao processo produtivo.

Destaca-se, também, que o método ABC requer uma ação planejada, tomando por base as definições
institucionais a partir de sua missão e finalidade, situação passível de aplicação em qualquer sistema
de produção.

Espera-se que este artigo contribuiu para o de conhecimento da metodologia de custeio por atividades
dos objetos de produção de uma Clínica de Radiológica Odontológica. Procurou-se mostrar aos
responsáveis por gerenciar consultórios e clinicas de radiologia que a aplicação do estudo de custos
ABC possa ajudar na definição dos procedimentos que deveriam ser incentivados, aqueles que
precisam ser ajustados diante dos seus custos observados ou que devem ser alvo de renegociação
com os respectivos Conselhos Regionais de Odontologia dos Estados. Sabe-se, contudo, que os custos
dependem do tamanho do negócio e da economia de escala resultante, mas a metodologia aplicada
será uma ferramenta oportuna para a gestão das despesas e resultados.

612
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

REFERÊNCIAS

ABBAS, K; LEZANA, A. G. R.; MENEZES, E. A. Os custos nas organizações hospitalares: o método ABC
aplicado no serviço de processamento de roupas de um hospital. Revista da FAE, Curitiba, v.5, n.2,
p.77-97, maio/ago, 2002.

ANDRADE, Eli Iola Gurgel; ACÚRCIO, Francisco de Assis; CHERCHIGLIA, Mariangela Leal; BELISÁRIO,
Soraya Almeida; GUERRA JÚNIOR, Augusto Afonso; SZUSTER, Daniele Araújo Campos; FALEIROS,
Daniel Resende; TEIXEIRA, Hugo Vocurca; SILVA, Grazzielle Dias da; TAVEIRA, Thiago Santos. Pesquisa
e produção científica em economia da saúde no Brasil. Revista de Administração Pública, v. 41, n. 2, p.
211-235, 2008.

BEUREN, Ilse Maria; RAUPP, Fabiano Maury; COLAUTO, Romualdo D.; PORTON, Roseimeire A.de
Borna; SOUZA, Marco A. Bastita de. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade. 4.ed.
São Paulo: Atlas: 2008.

BORBA, R. V; LISBOA, T. C; ULCHÔA, W. M. M. Gestão Administrativa e Financeira de Organizações de


Saúde. São Paulo, Atlas, 2009.

______. Do planejamento ao Controle de Gestão Hospitalar: instrumento para o desenvolvimento


empresarial e técnico. Qualitymark: Rio de Janeiro, 2006.

BORNIA, Antonio C. Análise Gerencial de Custos: aplicação em empresas modernas. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.

BOISVERT, Hugues. Contabilidade por atividades: contabilidade de gestão, práticas avançadas.


Tradução Antônio Diomário de Queiroz. São Paulo: Atlas, 1999.

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica. 6.ed. São Paulo: Prentice Hall,
2006.

CHING, H. Y. Manual de Custos de Instituição de Saúde: Sistemas Tradicionais de Custos e Sistema de


Custeio Baseado em Atividades (ABC).São Paulo: Altas, 2001.

DE ROCCHI, Carlos Antônio. Sistema de custeamento de atividades - (ABC Costing) versus mapa de
localização de custos: um estudo comparativo. Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, v. 23, n. 77, p.9-23, abr/jun., 1994.

FALK, James. A. Gestão de Custos para Hospitais: Conceitos, Metodologia e Aplicações. São Paulo:
Atlas, 2001.

FERNANDES, B.M. et al.Honorários profissionais em Odontologia. 1996. 42 f. Trabalho apresentando


à disciplina de Odontologia Legal I, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1996.

FERREIRA, M. G.; SANTOS, J. A. P. dos. Aplicabilidade do sistema ABC na gestão hospitalar: um estudo
de caso em entidade de interesse social. 77f. Trabalho Final (Especialização em Auditoria Externa) –
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

GREC, M. Honorários Odontológicos: como cobrar corretamente- aspectos éticos, legais e econômicos.
Revista da Associação Brasileira de Odontologia, Porto Alegre, v.7, n.3, p.169-178, jun./jul. 1999.

613
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

HANSEN, D. R.; MOWEN, M. M. Cost management: accounting and control. 5. ed. Mason, Ohio:
Thomson/South-Western, 2006.

HORNGREN, C. T.; FOSTER, G.; DATAR, S. M. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2004.

KAPLAN R. S; COOPER, R. Custo e desempenho: administre seus custos para ser mais competitivo. São
Paulo: Futura, 1998.

JOHNS, E. L.;HILL, N. T. Adoption of costing systems by U. S. hospitals. Health & Health Services
Administration, v. 39, n. 4, p. 521-537, winter. 1994.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2003.

LONGO, E. ; SILVA, Clairton Tadeu Bidtinger da ; LÓTICI, K. M, SAGGIN, R.. Custo das Internações
Hospitalares Pelo Sistema Único de Saúde (SUS) do Hospital Cristo Redentor Baseado no Método de
Custeio Por Atividade (ABC). In: V Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2008, RESENDE. V
Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2008.

MARTINS, D. Custos e orçamentos hospitalares. São Paulo: Atlas, 2000.

MARTINS, E. Contabilidade de custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MCLEAN, R. A. Financial management in health care organizations. 2.ed. Canada: Copyright, 2003.

NAKAGAWA, M. ABC - Custeio baseado em atividades. São Paulo: Atlas 1994.

NAKAGAWA, M. Gestão estratégica de custos: conceito, sistema implementação-JIT/ TQC. São Paulo:
Atlas, 1991.

QUEST CONSULTORIA E TREINAMENTO. Conceitos Básicos. Cálculo de custos para consultório: Guia
prático para Dentistas, Médicos e Profissionais de saúde. São Paulo: Quest Editora, 1999.p. 16-48.

REIS, L. G. dos. Análise da aplicabilidade do custeio baseado em atividades em organização da área


hospitalar: estudo de caso em um hospital privado de Londrina. 176f. (Dissertação de Mestrado em
Administração) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004.

RIBEIRO, F. A. Livro-Caixa Fiscal. Jornal de Assessoria ao Odontologista, Curitiba, v. 32, p. 23, jul./ago.
2002.

RIBEIRO, F.A. Gestão em Odontologia. Jornal do ILAPEO, Curitiba, v. 3, n.2, p. 90-92, abril./maio./jun.
2009.

REIBEIRO FILHO, J.F. Controladoria Hospitalar. São Paulo: Atlas, 2005.

SAMPAIO, F. C. et al. Análise das Pesquisas em Odontopediatria: Estudo Descritivo. Publicatio UEPG.
Ciências Biológicas e da Saúde, v. 12, p. 23-29, 2006.

SOUZA, Antônio Artur de; RAIMUNDINI, S. L.;Raimundini, Simone Leticia;Raimundini, Simone Letícia ;
SOUZA, Natália Cardoso de ; SILVA, Fabrícia de Farias da ; VALVERDE, Eduardo Teixeira ; ASCHTSCHIN,

614
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

G. G. . Modelagem do custeio baseado em atividades para farmácias hospitalares. Revista de


informação contábil (UFPE), v. 3, n.1, p. 149-172, Jan./Mar, 2009.

615
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 29

DIFICULDADES ENCONTRADAS DURANTE A IMPLANTAÇÃO


DE SISTEMA DE CUSTOS: UM ESTUDO REALIZADO COM BASE
EM ARTIGOS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS
DOI: 10.37423/200300562

Peterson Leandro do Nascimento Felipe - peterson.adm2007@gmail.com

Ana Paula Ferreira Da Silva - anapafesilva@hotmail.com

Marco Aurélio Benevides de Pinho - marcoabpinho@gmail.com

Humberto Cavalcanti Andrade - h.c_andrade@hotmail.com

Resumo: Este trabalho procurou identificar quais são as dificuldades encontradas pelas
organizações ao implantar um sistema de custos. O universo estudado foram os artigos
apresentados pelo Congresso Brasileiro de Custos entre 1994 e 2011, em um total de 3.036
(três mil e trinta e seis), tendo a amostra se limitado a trinta (30) artigos cujo tema central era
a implantação de um sistema de custos em uma organização. Dentro dos artigos foi
encontrado um total de trinta (30) estudos de casos. O resultado deste estudo mostrou a
existência de oito (08) principais dificuldades identificadas durante a implantação do sistema
de custos, com destaque para a dificuldade de encontrar dados, que foi apontada por
aproximadamente um terço (1/3). Além disso, as organizações públicas apontam um número
médio de dificuldades maior para implantação de sistema de custos, quando comparadas com
as organizações privadas. Por fim, soluções simples, como a realização de workshops e ações
de conscientização foram apontadas para prevenir ou sanar as dificuldades mencionadas nos
estudos de casos para implantação de um sistema de custos.

Palavras-chave: Implantação de sistema. Sistema de custos. Dificuldades com implantação


de sistema.

616
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

Segundo Stair e Reynolds (2011), informação é o recurso mais precioso de uma organização e saber
geri-la é essencial para atingir os objetivos com eficiência, pois uma informação tida como não valiosa
pode comprometer todo o trabalho, gerando processos defeituosos e, com isso, produtos ou serviços
de qualidade duvidosa.
A tomada de decisão precisa ser baseada em informações fidedignas que apresentem uma série de
características que a identifiquem como valiosa e/ou útil para a organização. Para isso, desde a década
de 60, as organizações têm recorrido aos sistemas de informação, que são “um conjunto de elementos
que interagem para realizar objetivos” (STAIR, REYNOLDS, 2011, p.7). Compostos por entrada,
processamento e saída, quando devidamente implantados e utilizados, os sistemas de informações
fornecem as informações de cunho gerencial e, dessa forma, auxiliam os gestores na tomada de
decisão.
Entre as diversas classificações, O’brien (2002) define os sistemas de informação como sendo sistemas
de apoio à operação e gestão. Os sistemas de apoio gerencial são o objeto de estudo deste trabalho,
pois, entre estes, encontram-se os sistemas de informação gerencial, um subsistema responsável por
gerarem os outputs que ajudarão o gestor a controlar, organizar e planejar melhor os processos para
tomadas de decisão dentro das organizações.
Os sistemas de informação gerencial precisam possuir subsistemas que satisfaçam a necessidade de
informação de cada setor específico da empresa, como o de recursos humanos, financeiro,
administrativo, etc. O subsistema de informação contábil é um daqueles que necessita de mais
atenção, pois é o responsável por dar as informações que permitem identificar qual caminho a
organização está seguindo: o do lucro ou do prejuízo (PADOVEZE, 2009). Assim, a informação contábil
é muito delicada, podendo, inclusive, também ser manipulada.
Para evitar esse problema, o processo de implantação de um sistema contábil precisa ser minucioso.
Segundo Gil et al (2011), a fase de implantação de um sistema pode definir o sucesso ou o fracasso do
mesmo e comprometer todo o trabalho futuro. Padoveze (2002), define quais os passos a serem
seguidos para que o processo de implantação de um sistema seja satisfatório. Segundo ele as etapas
a serem seguidas são a organização do projeto, implantação, treinamento, operação e avaliação final.
Martins (2010), ainda reforça que com o avanço da complexidade dos fatores que a organização
precisa lidar, a necessidade de os sistemas serem mais específicos aumentou para que a informação
fornecida seja cada vez mais precisa. Daí surgiram os sistemas de custos, atendendo a essa maior
necessidade de controle e precisão na decisão.

617
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Com o objetivo de apurar o custo unitário do produto ou serviço da empresa, Padoveze (2002), afirma
que os sistemas de custos vieram para ajudar na gestão do lucro, sendo eles os maiores responsáveis
nas tomadas de decisão para investimentos ou cortes, por exemplo. Diante da preocupação com o
sucesso na implantação de um sistema e a elevada importância da efetividade deste na organização,
conforme apresentado na literatura, surge a seguinte pergunta de pesquisa: Quais as principais
dificuldades encontradas pelas organizações no processo de implantação de um sistema de custos?
Portanto, o objetivo principal deste artigo é analisar quais as principais dificuldades encontradas pelas
organizações no processo de implantação de um sistema de custos. Gil et al (2011), identifica a fase
de implantação como a mais importante e crítica no sucesso de um sistema de informação na
organização. Mesmo sendo um tema pouco abordado pela literatura, as especificações de um sistema
de custeio é um assunto que, segundo Padoveze (2009), torna-se cada vez mais relevante diante da
clara ampliação da complexidade dos fatores internos ou externos com que tem que lidar uma
empresa no processo de tomada de decisão.
Os achados da pesquisa de Lunardi, Rios e Maçada (2005,) em pesquisa realizada em trezentos e trinta
e quatro (334) artigos do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em
Administração (EnANPAD) e nas principais revistas de administração do país, no período de 1997 e
2004, identificaram que apenas 11,4% tratavam de sistemas de informação, sendo 4,8%
especificamente sobre implantação de sistemas de informação de maneira geral. Portanto,
considerando estes dados deduz-se que a quantidade de artigos sobre sistemas de custos foi ainda
menor, contribuindo assim para a relevância de se estudar o tema: dificuldade de implantação de
sistema de custo.
Este estudo surge como esforço para dirimir a escassez de abordagem do tema, possibilitando, dessa
forma, que pesquisas futuras sejam facilitadas, além de pôr em debate a importância do tema para o
aprimoramento e/ou reestruturação das atividades empresariais.
Este trabalho está estruturado em sete (07) seções, iniciando com esta introdução. Nas três seções
seguintes é abordada a fundamentação teórica, com destaque às temáticas: informação, sistema de
informação e sistema de custos. Em seguida é apresentada a quinta seção, que procura descrever a
metodologia adotada. Na sequência são apresentados os resultados e as conclusões obtidas com a
realização deste estudo.

618
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2. A INFORMAÇÃO: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Dados, informação e conhecimento são insumos básicos de um setor de tecnologia da informação.


Informação é o recurso mais valioso de uma organização e precisa conter determinadas características
para atingir seu objetivo (STAIR; REYNOLDS, 2011). Assim, Oliveira (2004, p. 22), ressalta que “quando
falamos ou escrevemos, utilizamos a linguagem para articular alguns dos nossos conhecimentos
tácitos, na tentativa de transmiti-los a outras pessoas. Chamamos esse tipo de comunicação de
informação.”
A informação também pode ser descrita como sendo a manipulação e/ou organização dos dados de
uma forma que seja possível analisar e entender o que fora coletado. Segundo Oliveira (2004), toda
informação precisa ser carregada de significado para transmitir o conhecimento de forma ideal. Com
o desenvolvimento dos meios de comunicação, a informação tem sido cada vez mais importante e,
com isso, adquiriu características diferentes da informação de 30 ou 40 anos atrás. Por conta da
dinamicidade da sociedade moderna, a informação precisar ser rápida, segura e ainda mais eficaz. O
grande problema da análise de dados está no fato de que nem sempre é possível exprimir com palavras
o que se entende, uma vez que a interpretação desses é acompanhada por uma série de atividades
intelectuais e, segundo Oliveira (2004, p.23), essa interpretação deve acontecer da mesma forma
como “aprendemos a nadar ou andar de bicicleta, por meio de uma combinação de informação,
imitação e, sobretudo, prática.”
Dessa forma, torna-se essencial, antes de tudo, entender e delimitar esses conceitos. Dados são fatos
simples, crus e primitivos, sem nenhum tipo de interpretação ou processamento. Segundo Stair e
Reynolds (2011), os dados representam o fato no mundo real. Se organizarmos os dados de maneira
que eles ganhem significados, obtemos a informação. Mais claramente, “informação é um conjunto
de fatos organizados de maneira significativa que possuem valor adicional, além do valor dos fatos
individuais.” (STAIR; REYNOLDS, 2011, p. 4). Estes mesmos autores usam como exemplo trilhos de uma
ferrovia para demonstrar a diferença entre dados e informação. Neste, cada parte do trilho possui um
valor específico e limitado, separadamente dos demais. No entanto, se agrupados de forma correta,
ganharão outro valor, formando juntos, o traçado de uma ferrovia. Ainda segundo Stair e Reynolds
(2011, p. 5), “Os dados e as informações funcionam do mesmo modo. Podem ser estabelecidas regras
e relações para organizar os dados em informações úteis e valiosas.”
De acordo com Stair e Reynolds (2011), conhecimento é o conjunto de informações anteriormente
recebidas necessárias para o processamento dos dados, enquanto Oliveira (2004), chama de
conhecimento o “output” do processo de transmitir uma informação. Logo, o processo de

619
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

interpretação dos dados para obtenção de uma informação valiosa requer um conjunto de análises
anteriores em que serão gerados novos conhecimentos, como é ilustrado na figura 1.
Oliveira (2004, p. 25), disserta que “toda interpretação de informações está baseada na experiência,
no contexto e nas situações e contém nuances das emoções. Assim, cada interpretação é única para
cada indivíduo.”, então, ainda de acordo com o pensamento deste autor, fica claro que um significado
nunca será o mesmo para todos os receptores, embora possam ser próximos. A informação, por ser
facilmente manipulada e por ter um alto grau interpretativo, pode ser facilmente modificada quando
repassada pessoa a pessoa, então, para minimizar as distâncias de significado e interpretação, a
informação precisa conter certas características que darão maior segurança para centralização da sua
idéia central.
A falta de informação é altamente prejudicial ao desenvolvimento intelectual de uma sociedade,
contudo, o bombardeiro exacerbado de informações provindas de fontes não confiáveis ou, muitas
vezes, desconhecidas, também podem causar muitos transtornos. Como bem afirma Oliveira (2004),
um caos de informações é melhor que a falta dela.
Com isso, vê-se que o grande valor da informação não está em armazená-la ou acumulá-la, mas sim
no fato de, a partir dela, gerar novos conhecimentos que ajudem nas responsabilidades diárias e, para
que sejam utilizadas de forma correta, algumas características precisam ser atribuídas a estas, para
que os riscos na tomada de decisão sejam minimizados. Stair e Reynolds (2011) resumem essa
necessidade a onze (11) adjetivos básicos e fundamentais para que a informação possa ser acessível,
exata, completa, econômica, flexível, relevante, confiável, segura, simples, apresentada em tempo
hábil e verificável.
ADJETIVO DA DESCRIÇÃO DO ADJETIVO
INFORMAÇÃO
Acessível A informação precisa estar ao alcance de todos que precisam utilizá-la, de
forma fácil e descomplicada, no formato certo para atender as suas
necessidades. Uma informação de difícil acesso pode ser fator decisivo no
fracasso de uma ação urgente.
Exata Uma informação exata está livre de erros, logo gerará interpretações
precisas. Muitas vezes informações incorretas são geradas porque dados
incorretos foram colocados como input no processo de transformação, ou
seja, se algo errado entra, fatalmente algo errado sairá. Stair e Reynolds

620
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(2011) chamam essa situação de “GIGO” (garbage in, garbage out – lixo
entra, lixo sai).
Completa Informações completas possuem todos os dados importantes. Do mesmo
modo que um dado errado gera uma informação inexata, a falta de algum
dado importante gerará uma informação incompleta, não expressando a
realidade. Em um relatório que pretenda justificar investimentos, por
exemplo, a falta do dado de algum custo levará a uma avaliação errada da
situação.
Econômica O custo do processo da geração da informação sempre deve ser levado
em consideração, e esse sempre deve ser relativamente econômico, de
forma que a necessidade da informação justifique-o. Antes de tudo deve-
se comparar o valor das informações com o custo de produzi-las. Na hora
de solicitar uma customização em um sistema de informações, por
exemplo, é preciso observar o quanto aquela nova ferramenta será valiosa
para os processos da empresa antes de decidir pagar por ela
Flexível Informações flexíveis são aquelas que podem ser usadas para diferentes
propósitos, sendo valiosa para mais de um objetivo. A informação da
disponibilidade em estoque de uma peça, por exemplo, pode ser utilizada
por um vendedor na hora de fechar um negócio, por gerente de produção
na hora de programar a produção de novas peças e pelo setor contábil
para determinar o valor total do estoque final do mês.
Relevante A relevância da informação deve ser avaliada em diversos aspectos na
hora da tomada de decisão. Algumas são claramente relevantes, como a
cotação do dólar para um investidor da bolsa, mas, para esse, saber o
resultado da eleição dos Estados Unidos também é relevante, embora, em
primeiro momento, não pareça. A característica “relevante” é
diretamente proporcional à característica “econômica”, já que para uma
informação muito relevante há mais disposição em gastar mais, assim
como o contrário.

621
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Confiável Uma informação confiável é aquela em que se pode acreditar. Mais uma
vez, essa é uma característica que vai depender da confiabilidade do
banco de dados utilizado, do método de coleta ou até mesmo da fonte
originária. Uma fofoca, por exemplo, sempre ganha credibilidade se citada
uma fonte segura. Usando mais uma vez o exemplo do investidor, saber a
cotação do dólar pelo site da bolsa de valores é mais confiável do que
saber por outro investidor.
Segura Se a informação precisa ser o mais acessível possível a quem interessa,
essa também precisa estar segura para evitar o acesso de usuários não
autorizados.
Simples A informação precisa ser o mais simples e clara quanto possível. A
complexidade da informação ou o excesso delas pode dificultar ou até
mesmo coibir a tomada de decisão. Em muitos casos, informações
sofisticadas ou detalhadas demais podem não ser necessárias.
Apresentadas Uma informação no momento certo pode dar rumos diferentes a uma
em tempo situação. O antigo dilema “se eu soubesse disso antes” se apresenta
hábil quando uma informação com todas as características anteriores são
apresentadas tarde demais. Em um hospital, por exemplo, essa
característica pode ser um caso de vida ou morte.
Verificáveis Por fim, as características anteriores precisam ser facilmente verificáveis
para que a validade da informação seja assegurada.
Quadro 1- Adjetivos básicos para uma informação valiosa
Fonte: Elaborado pelos autores, adaptado de Stair e Reynolds (2011, p. 7).
3. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO: CONCEITOS, ELEMENTOS E BENEFÍCIOS

Diante da complexa necessidade de se gerar informação, tornou-se necessário o uso de alguma


ferramenta que ajudasse a organizar o excesso ou a falta de dados que pudessem desviar o foco que
objetivou tal coleta. Para isso, foram criados os sistemas de informação. No entanto, antes de
entendê-los, faz-se necessária a compreensão do conceito de sistema que, de acordo com Stair e
Reynolds (2011, p.7), “é um conjunto de elementos que interagem para realizar objetivos. Os próprios
elementos e os relacionamentos entre eles determinam como o sistema funciona.”. Assim, um sistema
é composto por quatro componentes básicos: a entrada é o input do sistema, ou seja, trata do insumo

622
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

que será manipulado, seja este físico ou intelectual; o processamento, que é a ação transformadora
das entradas em saídas, ou seja, a manipulação dos insumos para gerar o resultado final. Onde um
conjunto de elementos se agrupa organizadamente para interagir entre si visando obter o output; a
saída, que é o resultado obtido através do processamento dos insumos ou output; e a realimentação,
que se trata dos mecanismos usados para avaliar a saída, sendo também chamado de feedback, é
importante para indicar eventuais falhas e estimular melhorias no sistema (STAIR, REYNOLDS, 2011,
P. 9).
O objetivo de um sistema de informação é sempre auxiliar na tomada de decisão, por isso esse precisa
ter o foco correto, precisa ser específico no seu alvo, caso contrário não atingirá seu propósito. Para
isso, é preciso planejamento e organização na montagem de um sistema. Uma vez planejado,
organizado e direcionado corretamente, alguns benefícios são observados na utilização de um sistema
de informação eficiente:
Suporte à tomada de decisão profícua, valor agregado ao produto (bens e
serviços), melhor serviço e vantagens competitivas, produtos de melhor
qualidade, oportunidade de negócios e aumento da rentabilidade, mais
segurança nas informações, menos erros, mais precisão, aperfeiçoamento nos
sistemas, eficiência, eficácia, efetividade, produtividade, carga de trabalho
reduzida, redução de custos e desperdícios, controle das operações, etc.
(ABREU; REZENDE, 2010, p. 42).

Segundo O’Brien (2002), o grande benefício do uso correto dos sistemas de informação em uma
organização é a vantagem competitiva que se ganha. Segundo ele “a tecnologia da informação pode
desempenhar um papel maior na implementação de estratégias competitivas.”. Essas estratégias são
as estratégias de custo, com o foco na redução dos custos de uma organização, estratégias de
diferenciação, onde o sistema é utilizado para dar uma diferenciação aos serviços e/ou produtos
oferecidos e, também, as estratégias de inovação que são utilizadas para redesenhar os processos da
organização se adaptando as exigências do mercado. Com isso, os sistemas de informação têm que
ser adaptado às realidades de cada empresa, para que assim consigam demonstrar aos gestores as
reais situações da organização, facilitando, dessa forma, a tomada de decisão.

4. SISTEMAS DE CUSTOS: CONCEITO, OBJETIVOS DO SISTEMA E FORMATOS DE CÁLCULOS E


INTEGRAÇÃO COM OUTROS SISTEMAS

De acordo com Martins (2010), a contabilidade de custos nasceu da contabilidade financeira, na


necessidade de análise dos estoques das indústrias durante a revolução industrial. Então, sua
aplicação de expandiu, sendo hoje usada no controle e no apoio à tomada de decisão, através dos

623
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

diferentes métodos elaborados ao longo dos anos, a fim de conhecer seu real custo para ser cada vez
mais competitiva.
Segundo Nascimento (2001 p. 25), “custo é o somatório dos bens e serviços consumidos ou utilizados
na produção de novos bens ou serviços, traduzidos em unidades monetárias”. Assim, segundo Martins
(2010), os sistemas de custos compõem os sistemas contábeis, adicionado à empresa quando há maior
necessidade de controle e precisão na decisão e, em geral, as organizações não percebem a
necessidade do sistema de custo, uma vez que as informações de custos rasas (despesas e receitas)
podem ser facilmente observadas em relatórios dos sistemas contábeis, levando os gestores a tomar
decisões baseadas em informações não tão concretas. No entanto, esse tipo de informações:
[...] não são suficientes para afirmar-se, dentro da gestão financeira ou de
recursos, que não haja necessidade de mais nada. Pelo contrário, de tudo que
é útil a uma boa administração, nada pode ser descartado, pois, fazendo de
forma contrária, os resultados negativos não tardarão a surgir (NASCIMENTO,
2001, p. 309).
Antes de observarem-se as características particulares na implantação de um sistema de custos, é
preciso conhecer, então, suas definições. Uma informação contábil nunca será inútil à organização que
saiba como interpretá-la, dessa forma, Martins (2010) fala que o custo e a necessidade da informação,
como foi comentado anteriormente, devem ser levados em consideração para melhor tomada de
decisão. Os custos iniciais da obtenção da informação são consideravelmente maiores do que a
manutenção da mesma, mas sofisticá-la e especializá-la também requer muitos investimentos. É
preciso observar que a utilidade das primeiras informações é grande, uma vez que é a partir delas que
serão conhecidos os erros e os possíveis desvios de dados que aconteceram durante a fase de
implantação. Cabe aos gestores analisarem as informações geradas e, a partir destas, verificar que
realmente condizem com a realidade da organização em questão. Segundo Padoveze (2009), o
objetivo principal de um sistema de custos é apurar o custo unitário do produto ou serviço da empresa,
ou até mesma da atividade, setor, subdivisão, etc.
Dessa maneira, em linhas gerais, os objetivos do subsistema de custos devem
estar alinhados para providenciar informações para tomada de decisão sobre
custo unitário dos produtos e atividades, custo por ordem de trabalho, custo
para formação de preço de venda, análise de custos, análise de rentabilidade
de produtos, lista de preços, acompanhamento de preços de venda formados e
praticados, custo-padrão e análise das variações, acompanhamento das
variações de preços dos insumos, etc. (PADOVEZE, 2009, p. 255).

Segundo Martins (2010), antes de escolher o sistema a ser implantado é preciso se fazer a pergunta
“pra quê um sistema?” e “a decisão de qual modelo usar depende de quem vai receber as informações
na ponta da linha e o que fará com elas. Isso definirá o modelo.”. Por isso, é preciso que, antes de

624
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

tudo, seja definido com o usuário final das informações quais são suas necessidades. Feito isso, fica
fácil a escolha de qual sistema usar, bem como o nível de detalhamento do mesmo.
Escolhido o sistema, Martins (2010) aconselha que a implantação desses seja gradativa, visto que
muito da rotina e cultura são transformados a partir disso, uma vez que o sistema de custos é muito
específico e especializado. Antes de tudo é preciso um trabalho de motivação e conscientização da
importância da mudança em questão, enfatizando os custos do investimento e os benefícios que
advirão com o sistema.
Alguns pontos precisam ser definidos antes de se começar a trabalhar em um sistema de custos.
Segundo Padoveze (2009), o primeiro deles é a escolha do sistema de acumulação básico. Os mais
comuns são o sistema de acumulação de custos por ordem de fabricação, para produtos não seriados,
sob encomenda, cuja base de acumulação são os custos reais do lote encomendado; ou o sistema de
acumulação de custos por processo ou produção contínua, usados em linhas de montagem, cuja base
de acumulação são os gastos departamentais por onde passam os produtos fabricados.
Em seguida, é preciso definir o método de mensuração, nesse caso, o custeio por absorção, que
considera os custos diretos/variáveis e absorve, por meio de rateio ou alocação, os custos indiretos;
ou o custeio variável, que só considera os custos diretos/variáveis, sem alocação. Por fim, o formato
do cálculo deve ser considerado, definindo os critérios de rateio dos custos, bem como cálculos de
formação de preço através de mark-ups. Como o contábil, o subsistema de custo não trabalha sozinho
e precisa de informações de outros subsistemas da empresa para gerar seus próprios outputs,
atingindo seu objetivo. Para isso, Padoveze (2009) ressalta que é preciso uma integração de todos os
subsistemas da organização, amarrando todas as informações.
Na apuração dos custos unitários, por exemplo, o subsistema de custos vai precisar conhecer, antes
de tudo, a estrutura, fornecendo a composição dos produtos, e o processo de fabricação, fornecendo
os tempos de execução e das fases da mesma. Para chegar ao valor final, é preciso informação do
sistema de compras, para atribuir valor aos materiais, sistema de contabilidade fiscal, sistema de
controle patrimonial, etc.

5. METODOLOGIA

Esta seção do artigo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento


desta pesquisa. O universo estudado foram os artigos apresentados pelo Congresso Brasileiro de
Custos (CBC) entre 1994 e 2011, em um total de 3.036 (três mil e trinta e seis). Na primeira edição do
CBC, em 1994 foram publicados vinte e sete (27) artigos, representando 0,89% do montante que

625
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

compõem o universo dos trabalhos analisados durante a etapa de coleta de dados primários. Já a
edição de 2005 foi a que apresentou o maior número de artigos do universo, trezentos e cinqüenta
(350), representando 11,5% (TABELA 1).
A amostra desta pesquisa foi composta de trinta (30) artigos publicados nos anais do CBC sobre a
temática da implantação de sistema de custo. A edição de 2000 do CBC foi a que apresentou o maior
número de trabalhos na temática em estudo, com cinco (05) artigos, os quais representam 16,75 da
amostra. Vale ressaltar que em 1995, 1996, 1997, 2005 e 2007, nenhum artigo que abordasse o tema
foi apresentado (TABELA 1).
Tabela 1- Artigos do Congresso Brasileiro de Custos

QUANTIDADE % QUANTITADE %
CONGRESSO ANO TOTAL TOTAL ENCONTRADA ENCONTRADA

XVIII 2011 191 6,3 1 3,3


XVII 2010 271 8,9 1 3,3
XVI 2009 253 8,3 3 10,0
XV 2008 267 8,8 4 13,3
XIV 2007 238 7,8 0 0,0
XIII 2006 212 7,0 1 3,3
XII 2005 350 11,5 0 0,0
XI 2004 244 8,0 1 3,3
X 2003 139 4,6 1 3,3
IX 2002 200 6,6 4 13,3
VIII 2001 134 4,4 2 6,7
VII 2000 139 4,6 5 16,7
VI 1999 111 3,7 3 10,0
V 1998 77 2,5 2 6,7
IV 1997 49 1,6 0 0,0
III 1996 46 1,5 0 0,0
II 1995 88 2,9 0 0,0
I 1994 27 0,9 2 6,7

TOTAL 3.036 100,0 30 100,0

Fonte: Elaboração própria do autor com base na coleta de dados documental.

626
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tipologicamente, quanto aos objetivos, este estudo é exploratório e descritivo. Exploratório porque o
tema não é amplamente discutido na literatura e não há muitos trabalhos de pesquisa na área. Já é
descritivo em razão de ter como objetivo descrever os achados da pesquisa sem a interferência dos
pesquisadores nas variáveis estudadas (MEDEIROS, 2007).
Quanto aos procedimentos, esta pesquisa é classificada em bibliográfica e documental. Inicialmente
foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre as temáticas que nortearam a construção do referencial
teórico deste trabalho acadêmico. Este estudo é documental porque teve como fonte de dados
primários, os artigos publicados nos anais do CBC, que abordaram o tema: implantação de sistema de
custo.
A pesquisa apresentada também é quantitativa, pois no tratamento dos dados foram usados dados
numéricos, percentuais e de médias. Segundo Malhotra (2001, p. 155) “a pesquisa quantitativa
procura quantificar os dados e aplicar alguma forma de análise estatística”. Logo, entende-se que a
pesquisa quantitativa utiliza métodos estatísticos para chegar a conclusões contextualizadas, para
descobrir, por exemplo, quantas pessoas de uma determinada população compartilham uma
característica.
Para a coleta de dados primários foi elaborado um formulário, cujo objetivo inicial foi padronizar as
informações coletadas. Este instrumento de coleta de dados foi elaborado com base nos objetivos
apresentados na seção introdutória deste trabalho.
É importante ressaltar a existência de um fator limitante encontrado nesta pesquisa, a pequena
quantidade de casos de implantação de sistemas de custos encontrados para obtenção de dados.
Embora este fato contribua para a relevância da realização do presente estudo, pois mostra que a
temática central ainda é pouco explorada.

6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

Esta seção apresenta os dados obtidos através da pesquisa documental, tendo como fonte os artigos
publicados nos anais do CBC entre 1994 e 2011, bem como a interpretação desses dados com base no
objetivo central deste estudo. A figura 1 demonstra a natureza das instituições pesquisadas onde se
pode visualizar que, entre as empresas pesquisadas, 26,7% destas são empresas públicas, 63,3% são
empresas particulares e em 10% do total das entidades estudadas não foi possível identificar se as
mesmas eram públicas ou privadas.

627
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 2- Distribuição das organizações pesquisadas em públicas ou privadas


Fonte: Elaboração própria dos autores com base na coleta de dados documental.
Dentro da amostra analisada, foram encontradas oito (08) dificuldades que são consideradas as
principais pelas organizações que implantam um sistema de custos. Estas dificuldades estão
evidenciadas na tabela 3. As cinco (05) dificuldades encontradas durante o processo de implantação
de um sistema de custo, e que foram apontadas com maior frequências ano a ano nos anais do CBC,
foram em ordem decrescente: encontrar os dados, defasagem dos dados disponíveis, de adaptação,
falta de treinamento e de excesso de processos. Apresenta-se com destaque a dificuldade de
encontrar dados, presente em 11 dos 13 anais do congresso onde foram encontrados artigos, do tipo
estudo de caso, único ou múltiplo. Nas edições do CBC de 2002, 2008 e 2009 os artigos encontrados,
que se baseavam em estudo de caso, apresentaram um quantitativo maior de dificuldades na
implantação: cinco (05).

628
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3- Principais dificuldades encontradas nos artigos por ano


ANO

1994
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2006
2008
2009
2010
2011
DIFICULDADE Ocor. %
Encontrar os dados X X X X X X X X X X X 11 84,6
Adaptação X X X X 4 30,8
Dados defasados X X X X X 6 46,2
Falta de treinamento X X X X 4 30,8
Indeterminação dos direcionadores de custeio X X X 3 23,1
Excesso de processos X X X X X 4 30,8
Escassez de recursos X X X 3 23,1
Falta de interesse X X 2 15,4
Quantidade de dificuldades por anos 2 2 3 4 4 5 1 3 1 5 5 1 1

Fonte: Elaboração própria dos autores com base na coleta de dados documental.
A figura 2 evidencia que a dificuldade de encontrar dados foi aquela mais apontada no momento de
implantação de sistema de custo, chegando a ser apontada em 32,6% dos casos encontrados nos
artigos científicos. A dificuldade de encontrar dados está relacionada com a dificuldade de alocação
dos custos, com destaque aos custos indiretos. Segundo Martins (2010), a determinação dos custos
indiretos é trabalhosa e minuciosa, sendo, dessa forma, proporcional à complexidade da produção ou
operação. Por essa razão, Padoveze (2002) apresenta o estudo profundo de todas as atividades como
forma de melhor realizar a alocação dos custos ou até mesmo a revisão e redesenho dos processos
como solução para esse problema.
Escassez de recursos e a defasagem dos dados aparecem logo em seguida com 14,0% cada e são
seguidos pela adaptação da organização, com 11,6% e falta de treinamento com 9,30% (FIGURA 2). A
escassez de recursos é uma das principais dificuldades apresentadas pelas empresas, uma vez que
estas trabalham com recursos limitados, tais como: equipamentos técnicos (computadores,
impressoras), sistema de informações gerenciais e pessoal qualificado para implementar o sistema de
custos, cuja falta, podem comprometer a implantação do sistema. Já a defasagem dos dados gera
grande complicação uma vez que são estes que irão alimentar o sistema de custo. Sendo assim, com
um banco de dados defasado não é possível ter um dos atributos essenciais da informação, a
confiabilidade, que leva obter a credibilidade.
A adaptação e a falta de treinamento são duas dificuldades que estão interligadas, uma vez que a
adaptação do processo de implantação deve ser acompanhada de intenso treinamento, já que a
instalação de um sistema de custos causa um choque na cultura empresarial como um todo, tirando
os funcionários de uma zona de conforto, muitas vezes criada anteriormente pela falta de controle.
Para Stair e Reynolds (2011) o usuário final é um dos componentes importantes do sistema de

629
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

informação, porque é quem planeja, organiza, programa e propriamente o utiliza, sendo assim um
elemento de grande importância na implantação do sistema. Tendo em vista que o usuário final
tomará decisões com os dados gerados pelo sistema implantado, Gil et al (2011) ressalta que se o
treinamento dos usuários não for eficaz, o objetivo final fica totalmente comprometido, já que as
estratégias empresariais serão elaboradas através de dados que não traduzem a realidade da
empresa.
A indeterminação dos direcionadores de custeio e a falta de interesse aparecem empatadas na 5ª
posição com 7,0 % de ocorrência para ambos os fatores e, por último, com 4,7%, surge a dificuldade
excesso de processos (FIGURA 2). Esta indeterminação dos direcionadores de custeio acontece
segundo Martins (2010), pela dificuldade de se encontrar dados confiáveis para a implantação do
sistema de custos. Sendo assim, quando em organizações cujos processos são complexos demais,
esses direcionadores são mais difíceis de serem encontrados, além disso, muitas vezes são usados de
forma errada, impactando na parametrização do sistema. A adaptação a este sistema pode causar
falta de interesse, porque irá modificar a antiga estrutura e os processos utilizados pelos
colaboradores até então. Dessa forma, Padoveze (2009 p. 292) comenta que “a sociopsicologia e a
cultura da empresa serão afetadas pela implantação” e assim a falta de interesse poderá comprometer
todo o empenho utilizado para implantar o sistema.
O excesso de processos que não agregam valor ao produto ou serviço da organização não apenas
aumentam os custos da produção/operação, mas também burocratizam os processos como um todo.
Quanto mais complexo o processo mais difícil é a obtenção de dados, logo, pior a padronização dos
mesmos no sistema. Segundo Abreu e Rezende (2010, p. 42), “mais segurança nas informações, menos
erros, mais precisão, [...] eficiência, eficácia, efetividade, produtividade” são alguns dos benefícios que
um sistema bem implantado traz.

630
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 2 – Dificuldades apontadas nos anais do CCB com relação à implantação de sistemas de custos
Fonte: Elaboração própria dos autores com base na coleta de dados documental.

A tabela 4 demonstra a análise das dificuldades encontradas na implantação de um sistema de custos


pelas empresas públicas, bem como pelas empresas privadas. Nas entidades cuja natureza foi possível
identificar, a principal dificuldade encontrada foi: encontrar os dados para a implantação com 33,3%;
em segundo lugar, com 15,4%, está a falta de interesse dos profissionais dessas organizações; seguido
dos dados defasados, com 12,8% de ocorrência. As dificuldades menos apontadas pelas entidades cuja
natureza foi possível identificar foram: falta de treinamento e indeterminação dos direcionadores de
custeio, ambas com 5,1% das ocorrências.
Encontrar os dados, com 33,3%, é a maior dificuldade das empresas públicas, bem como também das
empresas privadas. Em 2º lugar para as entidades públicas, com 27,8% está a falta de interesse, já para
as entidades privadas no sendo lugar aparece a escassez de recursos. As duas últimas dificuldades no
ranking das entidades cuja natureza foi identificada não foram citadas nos estudos de casos em
empresas públicas, bem como a dificuldade escassez de recursos. Em suma, as empresas públicas
apresentaram um número médio maior de dificuldades, sendo aproximadamente duas (02) por caso,
já os casos voltados para empresas privadas apontaram apenas uma (01) dificuldade em média
(TABELA 4).

631
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 4- Dificuldades encontradas em empresas públicas e privadas

ENTIDADE
COM A
NATUREZA
PÚBLICAS PRIVADAS IDENTIFICDA
DIFICULDADE OCOR. % OCOR. % OCOR. %
Encontrar os dados 6 33,3 7 33,3 13 33,3
Escassez de recursos 0 0,0 4 19,0 4 10,3
Dados defasados 2 11,1 3 14,3 5 12,8
Adaptação 2 11,1 2 9,5 4 10,3
Falta de treinamento 0 0,0 2 9,5 2 5,1
Indeterminação dos direcionadores
de custeio 0 0,0 2 9,5 2 5,1
Falta de interesse 5 27,8 1 4,8 6 15,4
Excesso de processos 3 16,7 0 0,0 3 7,7
TOTAL 18 100,0 21 100,0 39 100,0
Quantidade de entidades 8 19 27
Quantidade média de dificuldades (1) 2,3 1,1
(1) a quantidade media de dificuldades apresentadas pela natureza da entidade foi calculada
dividindo o número de dificuldades apresentadas pelo número de entidades (casos) por natureza.
Fonte: Elaboração própria do autor com base na coleta de dados documental.

Dentro do corpo dos artigos científicos foi possível não somente identificar as dificuldades
encontradas no processo de implantação do sistema de custo, bem como as soluções encontradas
para minimizar o impacto dessas dificuldades, conforme demonstra o quadro 3. Para a dificuldade de
encontrar os dados, a qual foi a mais citada, foram sugeridos: a elaboração de uma base de produção
ideal para servir de base de sustentação na tomada de decisão; maior integração entre os vários
sistemas usados na organização; realização de um estudo profundo das atividades para melhor
reconhecimento dos dados necessários; a reestruturação dos métodos de alocação dos custos, a
previsão de recursos a partir de bancos de dados já existentes; o uso da meta-informação pelo nível

632
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

gerencial e, por fim, a aplicação do Custeio Baseado em Atividade (ABC) em si, que dá clareza às
informações de custos obtidos e os distribui de melhor forma. A indicação da aplicabilidade do ABC
como forma de reduzir o impacto da dificuldade de encontrar dados, talvez se deva ao fato de 17 dos
30 (56,7%) dos estudos de casos terem como temática central a implantação do mesmo em uma
entidade.
Para a segunda dificuldade mais apontada nos casos, onde foi possível identificar a natureza da
entidade, a escassez de recursos, mencionada somente pelas empresas privadas, foram encontradas
as seguintes experiências de soluções: a conscientização prévia dos gestores e responsáveis pelo
fornecimento de insumos quanto aos custos totais da aplicação do projeto, bem como elaboração de
novos processos que economizem os recursos. Por fim, para solucionar a falta de interesse dos
participantes do projeto, sugeriu-se a aplicação de workshops de motivação e esclarecimentos dos
objetivos e de conscientização quanto ao comprometimento com o projeto (QUADRO 3).
De acordo com os casos estudados, a dificuldade com os dados defasados se resolveria com atividades
de conscientização quanto à necessidade do fornecimento de dados reais, a aplicação de testes que
garantam a confiabilidade dos dados periodicamente, a integração das informações de cada
departamento, a aplicação de novos índices e a elaboração de um diagnóstico que defina a realidade
da organização (QUADRO 3).
Para os problemas de adaptação, as empresas apresentaram soluções como a elaboração de relatórios
mais claros para melhor entendimento do que se pede, ações e workshops de conscientização e até
mesmo a adaptação progressiva pelo tempo, bem como a elaboração de uma base de produção ideal
para base de tomada de decisão (QUADRO 3).
Para os problemas criados em razão das dificuldades de falta de treinamento, no corpo dos artigos
sugeriu-se a mudança do organograma para melhor capacitação dos gestores, a realização de
workshops com instrutores internos e até mesmo a absorção do novo modelo através do tempo de
uso. Já para minimizar os impactos causados pela dificuldade do excesso de processos, aparecem
como soluções: o redesenho dos processos e até mesmo a avaliação da necessidade e valor de cada
processo no objetivo final, cortando-os ou não. Com a dificuldade de indeterminação dos
direcionadores de custos, basicamente indicou-se que houvesse maior detalhamento na
documentação dos números que geram esses direcionadores e a integração direta das informações
obtidas no sistema de apoio à produção (QUADRO 3).
Em alguns estudos de casos não foram apresentas soluções para as dificuldades apresentadas,
possivelmente por dois motivos: primeiro em razão de impedimento das organizações, que não

633
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

autorizam a divulgação de dados dessa natureza, em razão das mesmas revelarem as estratégias
adotadas; segundo pelo fato dos trabalhos analisados não terem por objetivo destacar as soluções
utilizadas para reduzir os impactos das dificuldades encontradas durante a implantação do sistema
de custo. O quadro 3 faz a relação entre a dificuldade apresentada, bem como das respectivas
estratégias de soluções.

DIFICULDADES SOLUÇÃO
Relatórios mais claros
Atividades de conscientização
Processo de adaptação progressivo elaboração de uma base de produção
Adaptação ideal para base de tomada de decisão
Elaboração de uma base de produção ideal para base de tomada de
decisão
Integração entre os sistemas
Estudo profundo das atividades
Reestruturação do método de alocação de custos
Previsão de recursos a partir de banco de dados pré-existente

Encontrar Aplicação do custeio ABC


dados Uso da metainformação pelos gestores
Atividades de conscientização
Aplicação de teste de confiabilidade de dados
Integração dos departamentos

Dados Aplicação de novos índices


defasados Diagnóstico situacional
Mudança do organograma dando sincronia às informações

Falta de Absorção do modelo à longo prazo (sem treinamento formal)


treinamento Realização de workshops e treinamentos internos

Excesso de Avaliação gerencial da necessidade desses processos


processos Redesenho dos processos
Detalhamento dos números que geraram os direcionadores de custos

634
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Indeterminação
dos
direcionadores
de custeio Uso das informações do sistema de apoio à produção

Escassez de Ciência prévia dos custos totais da implantação


recursos Novos processos para economizar

Falta de Realização de workshops


interesse Conscientização do comprometimento com o projeto

Quadro 3 - Relação de dificuldades e suas respectivas soluções apresentadas


Fonte: Elaboração própria dos autores com base na coleta de dados documental.

7. CONCLUSÕES

O volume de informações que recebemos diariamente é extremamente grande e muitas vezes difícil
de administrar. Filtrar o que se recebe, o que é confiável ou falso, o que é útil ou descartável é cada
vez mais complexo, porém essencial. Na era da informação, todos a tem, mas nem todos sabem usá-
la. Neste contexto surgem os sistemas de informação com o objetivo de reduzir as dúvidas e incertezas
de um ambiente de geração das informações, que serão utilizadas no gerenciamento do negocio.
Neste contexto surgem os sistemas de informação de custos, pois os gestores necessitam cada vez
mais de informação específica para analisar a estrutura da organização. Mas o processo de
implantação desses sistemas é muito crítico, pois é nele que o sucesso ou fracasso de toda a operação
futura será definido, precisando de grande atenção e comprometimento dos gestores e demais
envolvido.
Encontrar dados foi a dificuldade mais apontadas dentro dos trinta (30) estudos de casos,
mencionados nos 30 artigos analisados, tanto em empresas privadas como nas públicas. As
organizações públicas somente apontaram cinco (05) das oito (08) encontradas, deixando assim de
apontar as seguintes dificuldades para a implantação de um sistema de custos: escassez de recursos,
falta de treinamento e indeterminação dos direcionadores de custeio. Todavia, a dificuldade de
escassez de recursos apresentou-se como sendo a segunda dificuldade mais frequente nas empresas
privadas. Portanto, pode-se concluir que a escassez de recursos não é vista como uma dificuldade para
a implantação de um sistema de custos em entidades públicas. Em contrapartida, as entidades
privadas não apontam o excesso de micro processos que incham o macroprocesso como dificuldade

635
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

para implantação de um sistema de custos, ao contrário das entidades de natureza pública, onde essa
foi a segunda mais apontada.
Soluções simples, como a realização de workshops e ações de conscientização, até mais trabalhosas e
longas, como o redesenho dos processos da organização e a manutenção periódica dos bancos de
dados foram apontas para prevenir ou sanar as oito (08) dificuldades, mencionadas nos estudos de
casos, garantido assim um melhor processo de implantação do sistema de custos, fazendo-o atingir
seu objetivo mais primitivo: gerar uma informação valiosa.

REFERÊNCIAS

ABREU, Aline França de; REZENDE, Denis Alcides. Tecnologia da informação aplicada a sistemas de
informação empresariais: o papel estratégico da informação e dos sistemas de informação nas
empresas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GIL, Antonio de Loureiro; BORGES, Tiago Nascimento; BIANCOLINO, Cesar Augusto. Sistemas de
informações contábeis. São Paulo: Saraiva, 2011.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010.

LUNARDI, Guilherme Lerch; RIOS, Leonardo Ramos; MAÇADA, Antônio Carlos Fastaud. Pesquisa em
sistemas de informação: uma análise a partir dos artigos publicados no Enanpad e nas principais
revistas nacionais de administração. Anais do XXIX Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração, 29, Brasília, Brasil, 2005. 1 CD-ROM.

MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3.ed. Porto Alegre: Bookman,
2001.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 9. ed. São
Paulo: Atlas, 2007.

NASCIMENTO, Jonilton Mendes do. Custos: planejamento, controle e gestão na economia globalizada.
2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

O’BRIEN, James A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da internet. 1. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002.

OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de. Sistemas de informação versus tecnologia da informação: um impasse
gerencial. São Paulo: Érica, 2004.

PADOVEZE, Clóvis Luís. Sistemas de informações contábeis. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2009.

REYNOLDS, George W.; STAIR, Ralph M. Princípios de sistemas de informação. 9.ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2011.

636
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 30

ANÁLISE COMPARATIVA DOS MÉTODOS DE CUSTEIO


“UNIDADES DE ESFORÇO DE PRODUÇÃO” E “UNITÉS DE
VALEUR AJOUTÉE”
DOI: 10.37423/200300564

Kliver Lamarthine Alves Confessor (UFPB) - adm.kliver@gmail.com

Bruno Henrique Feitosa Santos (UFPB) - admbrunofeitosa@gmail.com

Fábio Walter (UFPB) - fwalter.br@gmail.com

Renata Edvânia Costa Gouveia (UFCG) - renata_gouveia@hotmail.com

Maria Silene Alexandre Leite (UFPB) - leite@ct.ufpb.br

Resumo: O objetivo do presente trabalho é comparar os métodos de custeio “Unidades de


Esforço de Produção” (UEPs) e “Unités de Valeur Ajoutée” (UVA), os quais vêm sendo mais
divulgados e implementados no Brasil e na França, respectivamente. As publicações
relacionadas indicam que ambos os métodos são originários do Método GP, este desenvolvido
na França há mais de 50 anos. Como o Método UVA é aparentemente desconhecido no Brasil,
não são conhecidas suas semelhanças e diferenças com o Método das UEPs. O presente artigo
estrutura-se com uma pesquisa descritiva e exploratória, utilizando-se da coleta bibliográfica
para realizar um comparativo, seguindo a abordagem dedutivista para aferir os resultados e
conclusões. Apresentam-se os fundamentos básicos dos dois métodos, identificando-se suas
principais semelhanças e diferenças. Como conclusão principal, observa-se que o método UVA
considera não só os custos de transformação, mas também gastos relacionados com a área
administrativa e de vendas.

Palavras-chave: Métodos de custeio, Método das UEPs, Método UVA

Área temática: Novas Tendências Aplicadas à Gestão de Custos 637


Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

O uso de um método de custeio adequado é imprescindível para uma eficiente gestão econômica
empresarial. Diversos métodos de custeio estão disponíveis e são apropriados para diferentes
necessidades das empresas, como o Centro de Custos, o Custeio baseado em Atividade (ABC), o Custo-
Padrão e as Unidade Esforço de Produção (UEPs). Mais recentemente, surgiu o Custeio baseado em
Atividade e Tempo (KAPLAN E ANDERSON, 2008), como uma evolução do ABC.

No Brasil, o Método das UEPs merece crescente atenção. Este tem origem no Método francês “GP”,
trazido ao Brasil por Franz Allora, que o implantou em pequenas empresas em Santa Catarina a partir
dos anos 70 (BORNIA, 2002). Na década seguinte, Allora e pesquisadores da Universidade Federal de
Santa Catarina aperfeiçoaram este método, denominando-o de UEPs (Unidades de Esforço de
Produção) ou UPs (Unidades de Produção).

Um método de custeio de divulgação recente na França - o Método UVA (Unités de Valeur Ajoutée -
“Unidades de Valor Agregado”) - também é originário do GP (LEVANT; VILLARMOIS, 2004) e espera-se
que apresente forte semelhanças em relação ao Método das UEPs. Um estudo comparativo entre os
métodos das UEPs e UVA deve possibilitar então a identificação de qual apresenta mais vantagens, e
também as suas limitações.

O presente trabalho visa, ao analisar dois métodos de custeio utilizados em diferentes países,
contribuir (1) com a pesquisa acadêmica, no sentido de oferecer reflexões que contribuam para o
aperfeiçoamento dos métodos de custeio existentes e (2) com a prática, no sentido de divulgar a
aplicabilidade de métodos disponibilizados pela academia.

2. METODOLOGIA

Uma pesquisa pode ser classificada conforme o fim a que se propõe e aos meios que utiliza (VERGARA,
2008). Em relação aos fins o presente estudo configura-se como uma pesquisa descritiva e
exploratória. Conforme Silva e Menezes (2001) uma pesquisa qualitativa é aquela onde a
interpretação dos cenários estudados depende exclusivamente da interpretação do pesquisador,
atribuindo significados subjetivos ao auferir os dados coletados, não requerendo métodos e técnicas
de pesquisa. O caráter exploratório é relativo a entender novas relaidades ou conceitos ainda não tão
bem explorados facilitando a delimitação dentro desta temática.

638
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O estudo evidencia a utilização do Método das Unidades de Esforço da Produção e o Método das
Unités de Valeur Ajoutée realizando uma pesquisa de caráter comparativo entres estes dois métodos.
Rodrigues (2005) relata que o método comparativo ocorre a partir do desenvolvimento da
investigação do pesquisador sobre indivíduos, fatos ou grupos, objetivando entender as correlações
existentes e as divergências existentes neste processo comparativo. A comparação entre estes
métodos permite um aprofundamento maior destes métodos de custeio, apontando as
convergências, divergências e peculiaridades dos métodos.
A coleta de dados ocorreu através de pesquisa bibliográfica utilizando os anais de diversos congressos,
livros, artigos em periódicos nacionais e internacionais. Este tipo de pesquisa, segundo Macedo (1994)
consiste em pesquisar um determinado tema com o intuito de revisar a literatura existente e não ser
redundante com as vertentes já existentes. O método de abordagem é dedutivista que consiste em
racionalizar ou combinar idéias representando maior relevância do que experimentar caso a caso,
utilizando-se a dedução como principal norteador para se chegar a caminhos particulares (LOPES,
2006).
Desta forma, é apresentada a metodologia da pesquisa utilizada para o alcance do objetivo proposto,
permitindo uma maior divulgação e análise desses dois Métodos de Pesquisa, enfatizando os seus
aspectos históricos, estruturais, funcionais e gerenciais.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 O MÉTODO DAS UNIDADES DE ESFORÇO DA PRODUÇÃO

A origem do método das Unidades de Esforço da Produção (UEPs) se encontra no Método GP,
desenvolvido pelo engenheiro francês George Perrin durante a Segunda Guerra Mundial (BORNIA,
1995). Após esta, Perrin tornou-se consultor, implantando o seu sistema de gestão em empresas
européias. (BORNIA 2002; FRAGA ET AL, 2006).
A sua simplicidade de operacionalização proporciona ao método uma fácil divulgação em ambientes
industriais, tais como os dos ramos metal-mecânico, têxtil e de fabricação de moveis, por exemplo
(WALTER, KLIEMANN NETO E GÖTZE, 2005). A principal vantagem do uso do Método das UEPS em
relação aos métodos tradicionais de custeio devese ao fato de que ele fornece condições de
comparação equilibrada dos custos entre diferentes períodos de tempo, possibilitando quantificar os
produtos que a empresa fabrica, auxiliando o processo de decisão gerencial, sendo possível antecipar

639
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

as previsões de custos inerentes ao chão de fábrica (ALLORA, 1988, apud MALAQUIAS, 2007; FIORESE,
2005).
O Método das UEPs simplifica o modelo gerencial de tomada de decisão referente a custos, auxiliando
empresas multiprodutoras através da unificação da produção. Martins (2006, apud FERNANDES E
ALLORA, 2009) ressalva que essa medida deve possuir características homogêneas, permitindo ser um
divisor comum de forma que possa servir de denominador comum à maioria ou a totalidade dos
produtos. Kliemann Neto (1994) ainda salienta que a implementação do Método das UEPs tanto
fornece este tipo de vantagem, como auxilia no planejamento, na programação e no controle de
processos produtivos mais complexos.
Já Bornia (1995), relata que as UEPs tratam-se de uma linguagem comum e padrão, que mensura os
esforços de produção das diversas atividades produtivas de uma organização, podendo torná-las
comparáveis em relação aos custos intrínsecos a cada atividade medida. Martins e Barrela (2001, p.3)
definem o Método das UEPs como aquele que:
“baseia-se na unificação da produção, objetivando evitar o rateio das despesas
gerais para os diversos produtos. Sua proposta é transformar uma empresa
multiprodutora real em uma empresa monoprodutora fictícia, obtendo todas
as facilidades de mensuração de produto de uma empresa monoprodutora”.

A estrutura básica de custeio pelo Método das UEPs considera as relações existentes entre cada
esforço de produção consumido por cada produto, medida em UEPs, a unidade homogênea. A Figura
1 a seguir ilustra este esquema geral:

Figura 1: Esquema básico do Método das UEPs


Fonte: Adaptado de Walter, Kliemann Neto e Götze (2005, p.8).
3.1.1 Estrutura básica
O Método das UEP’s, segundo Bornia (1995), é composto por etapas que demonstram como os custos
são alocados aos produtos e como é realizada a valoração das UEPs. O começo da operacionalização
do método consiste em dividir a Fábrica em Postos Operativos, ou seja, separar o ambiente de
produção em postos operativos, agrupando máquinas ou postos de trabalhos conforme estes
apresentem similaridade na efetuação das operações.

640
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Desta forma, “um posto operativo representa uma ou mais operações simples e homogêneas, ou seja,
as operações desenvolvidas por um posto operativo são da mesma natureza para todos os produtos
que passarem por ele” (FIORESE, 2005, p. 64). Os postosoperativos, dentro de um processo produtivo,
podem ser entendidos como um conjunto de máquinas ou departamentos que realizam determinadas
atividades, partindo do preceito que estes forneçam operações similares para os distintos produtos.
O passo seguinte consiste no cálculo dos Índices de Custos, isto é, determinar os custos por hora de
cada posto operativo, aqui denominados de Foto-Índice do Posto Operativo - FIPO (BORNIA, 1995),
analisando como os postos operativos consomem os insumos.
Todavia, devem ser utilizados para este cálculo tão somente os custos que apresentam diferenciações
entre os postos operativos, o que permite comparar o potencial dos esforços realizados por cada posto
de forma mais precisa (KLIEMANN NETO, 1994).
A Tabela 1 apresenta um exemplo para o cálculo dos FIPOs de cada posto operativo, utilizando com
base quatro postos operativos.
Tabela 1 – Cálculo dos Foto-Índices dos Postos Operativos (“FIPOs” – em “$ / hora”)

Faz-se necessário, todavia, conhecer os roteiros de fabricação e os tempos de passagem dos produtos
em cada posto operativo. A Tabela 2 exemplifica os dados de tempo referentes aos quatro produtos
fabricados pela empresa considerada na Tabela 1.
Tabela 2 – Definição dos tempos de passagem dos produtos pelos postos operativos

641
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

É necessário nesta etapa, escolher ou criar um produto que sirva de comparação e amortecimento das
variações dos potenciais produtivos de cada posto operativo. Todavia, este produto precisa ter
homogeneidade em seus processos em relação aos demais. E após a escolha deste produto, é
calculado então, o foto-custo base que servirá de base para comparação com os demais (KLIEMANN
NETO, 1994). No exemplo apresentado, o produto escolhido é o produto “D”.
A partir das FIPOs e dos tempos-padrão calcula-se o custo unitário (Foto-custo) dos produtos nos
diversos postos operativos (Tabela 3).
Tabela 3 – Cálculo do Foto-Custo dos produtos (em $ / unidade)

O somatório dos foto-custos do “produto-base” escolhido representa o valor de uma UEP para a fase
de implantação do método (neste exemplo, uma UEP é igual a $ 10,00), dada pela divisão entre os
foto-índices e o foto-custo do produto-base. Com base neste valor são calculados os custos em UEP
de todos os produtos (Tabela 4) e os potenciais produtivos dos postos operativos (Tabela 5).
Tabela 4 – Cálculo do valor dos produtos em UEPs

Tabela 5 – Cálculo dos potenciais produtivos dos postos operativos (UEPs / hora)

As etapas demonstradas até o momento objetivam estabelecer valores em UEPs relativos aos custos
dos postos operativos. Todavia, estes valores permanecem constantes, mesmo havendo variações nos
itens de custo e inflação. Essa constância nos valores das UEPs só existe se os postos operativos e os
respectivos postos de passagem forem alterados.

642
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(KLIEMANN NETO, 1994).


Um dos benefícios do Método das UEPs consiste em medir a produção total da organização baseando-
se na equivalência entre produtos (a própria UEP). A Tabela 6 exemplifica esta situação, utilizando os
dados da Tabela 4 e o volume de produção informado para dois meses.
Tabela 6 – Cálculo da Produção Total em UEPs

Analisando os valores já encontrados, percebe-se que os resultados em UEPs permitem uma melhor
comparação entre os meses estudados, independente do volume de produção obtido (1000 unidades
em julho e 800 unidades em agosto) Conhecendo-se o custo total de transformação e o volume
produzido em cada período obtém-se o custo correspondente de cada UEP (Figura 2).

Figura 2 – Equação de determinação do custo da UEP de cada período


Caso os custos de transformação tenham sido de $ 45.000 e $ 36.000 em setembro e outubro,
respectivamente, o custo de cada UEP é calculado de acordo com o demonstrado na Tabela 7.
Tabela 7 – Cálculo da Produção Total em UEPs

Em seguida pode-se calcular o custo dos diversos produtos, a partir do total de UEPs correspondente
(Tabela 8).

643
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 8 – Custo de transformação dos produtos

O padrão de referência usado para a medir a produção torna possível mensurar o desempenho através
de indicadores baseados nas UEPs. Kliemann Neto (1994) propõe três indicadores a serem calculados,
sendo eles a eficiência, a eficácia e a produtividade técnica. O Método das UEPs ainda possibilita
definir preços, programar e controlar a produção, definir a capacidade produtiva, os indicadores de
incentivo, etc (KLIEMANN NETO, 1994).

3.1.2 OBSERVAÇÕES

Em relação ao método das UEPs, Bornia (1995) faz três observações importantes. A primeira comenta
que os potenciais produtivos são determinados a partir de uma representação momentânea da
estrutura produtiva, a qual não é estática em ambientes sob regime de melhoramento contínuo.
Contudo, na medida em que a estrutura torne-se estável após repetitivas ações de melhoria, o método
pode ser adequadamente aplicado.
Adicionalmente, Bornia (1995) também realça que o método trata apenas dos custos de
transformação, ou seja, custos indiretos de fabricação e mão-de-obra direta, sendo necessária alguma
forma de rateio para alocação das despesas de estrutura aos produtos, como o método das “rotações”
(KLIEMANN NETO, 1994), por exemplo.
Por último, Bornia (1995) indica que em sua forma básica este método não permite a obter a parcela
dos custos que são desperdiçados, principalmente porque os custos dos postos operativos “auxiliares”
acabam por ser rateados aos postos produtivos. Da mesma forma, o método das UEPs em sua
estrutura básica opera somente com o princípio de custeio integral, sendo a totalidade dos gastos
(custos totais e despesas) alocada à produção do período.
(BORNIA, 1995, p.54).

3.2 UNITÉS DE VALEUR AJOUTÉE

A origem do Método UVA se encontra no Método GP. Este, desenvolvido por Georges Perrin, foi
resultado de sua experiência profissional relacionada ao problema da distribuição indireta dos custos

644
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de produção de artigos manufaturados. Perrin percebeu que era possível contornar este problema
através da unificação da produção, ou seja, era preciso determinar o "esforço de produção" através
de uma unidade padrão. Esta unidade deveria compor todos os custos diretos e indiretos de produção
necessários para a fabricação (LEVANT; VILLARMOIS, 2004).
O GP foi concebido em 1938, mas operacionalizado apenas em 1945 (PERRIN, 1951, apud LIA, 2008).
Ao término da Guerra Mundial, Perrin não detinha meios financeiros nem tempo para desenvolver
comercialmente o seu método e até então este só havia sido aplicado em uma pequena empresa de
caldeiraria. Nesse cenário, surgiu uma sociedade anônima cujos associados foram Perrin com 40%,
Jean Blondeau com 25%, Yves de La Villeguérin com 2% e a Empresa Fiducia, com 33% das ações. Essa
sociedade tinha como objetivo promover, na França, e em outros países o método chamado GP para
estabelecer os custos de produção industrial e controle da gestão de empresa (LEVANT; VILLARMOIS,
2004).
Após a morte de Perrin, em 1958, a expansão do método GP a aplicação do GP entrou em decadência,
fato este que oportunizou o surgimento de diversas organizações interessadas em aplicar o método
e, consequentemente, aprimorá-lo. Foram diversos os contratos de autorização por parte de Suzanne
Perrin (esposa de George). Houveram acordos com o IEMP (Institut d'Etudes al de Mesure de
Productivité), o IMPsa (Informatique, Management, Marketing et Productivité) e por fim com a Les
Ingénieurs Associés (LIA), ao qual fora concedida, em 1975, a exclusividade no desenvolvimento do
método GP por dois anos. Este acordo possibilitava que, ao termino do contrato, a LIA poderia
continuar a promover um método semelhante, desde que seu nome fosse alterado. Assim surgiu o
método UP (“Unité de Production”) que, após diversas melhorias que possibilitaram a ampliação do
seu campo de atuação, foi renomeado para UVA (“Unités de Valeur Ajoutée” – ou “unidade de valor
agregado”) (LEVANT; VILLARMOIS, 2004).
O método progrediu a partir do conceito de “unificação da medida de produção” e pode-se dizer que
a unidade de referência “UVA” corresponde ao consumo de recursos necessários para produzir um
produto ou serviço até a sua venda/entrega. A LIA (2008) destaca os seguintes objetivos do método:
compreender como a empresa fabrica os produtos e como estes são vendidos, medir o valor
adicionado em cada uma das etapas, e medir o lucro ou prejuízo de cada operação.
Ainda são referenciados outros objetivos, tais como, ajudar os executivos a tomar decisões
estratégicas e operacionais rapidamente e de forma eficaz para melhorar o lucro da empresa e seguro,
possuir um sistema de gestão de fácil utilização e criar uma linguagem comum para todas as funções
do negócio (ASSOCIATION UVA, 2010).

645
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O método das UVA converge para um sistema de gestão e apoio à decisão que visa analisar e melhorar
a rentabilidade de uma organização (ASSOCIATION UVA, 2010), dividido em duas grandes fases: a
construção e a exploração do método UVA. Pode-se dizer que seu objetivo é subsidiar o processo de
tomada de decisão a partir da definição de uma medida de todas as atividades da organização a partir
de uma única unidade de referência. Isto posto, Bouquim (2000) acrescenta que o método UVA
concentra-se na utilização estratégica de custos e pode dar origem a desenvolvimentos que levem à
simulações interessantes sobre o plano estratégico.
A Lia (2008) considera que o método UVA se destaca do método GP por criar uma unidade de valor
agregado para todas as funções/operações da empresa. A Figura 3 esquematiza a operacionalização
do método UVA.

Figura 3: Estrutura básica do Método UVA


Fonte: Adaptado de Association UVA (2010)
As características básicas deste método, assim como as possibilidades elementares de sua aplicação
são apresentadas no próximo sub-item deste estudo.

2.2.1 ESTRUTURA BÁSICA

O método UVA consiste de duas fases, conforme segue estrutura abaixo (LIA, 2008).
i. Construção do Método:

646
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O objetivo dessa fase é proporcionar uma análise detalhada dos processos da empresa, a partir da
análise da produção, da administração, da área comercial, logística e outros, uma vez que estes terão
seus custos envolvidos no processo de cálculo da UVA.
Tendo em vista que o método considera três áreas principais de despesas – desenvolvimento de
produtos, prestação de serviço e gastos gerais – que não são atribuíveis aos produtos ou serviços, faz-
se necessária uma análise detalhada dos processos, no sentido de distinguir os custos que não podem
ser alocados diretamente aos produtos.
Esta atividade compõe a “modelagem da empresa”, que em outras palavras seria descrever
formalmente a seqüência de operações elementares da organização e seus respectivos tempos,
enquanto o “inventário dos Postos UVA” consiste em relacionar os recursos que serão consumidos por
esta unidade de trabalho. O cálculo da taxa dos postos UVA é a soma dos recursos que este consome.
Como exemplos genéricos de recursos relacionados aos postos UVA consideram-se os custos diretos
e indiretos e os encargos relativos a estes. A Tabela 9 exemplifica um formulário de identificação de
itens de custos para a taxa de postos UVA:
Tabela 9 – Formulário de Itens de Custo

Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.8


A escolha da unidade de referência segue o princípio de que o produto escolhido deve representar o
máximo das atividades da empresa para o cálculo do índice de posto UVA, que é expressa a relação
entre sua taxa e a taxa de base (LIA, 2008), conforme é apresentado na Figura 4.

647
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 4: Cálculo do Índice de um posto UVA


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p. 9)
Calcula-se a taxa de base através do somatório dos valores operacionais que são obtidos através do
produto entre o tempo de passagem em cada posto pela respectiva taxa do posto. A Tabela 10 ilustra
essa operação.
A partir do cálculo da taxa de base obtém-se o índice UVA que expresso pelo quociente da taxa de
base pela taxa de postos (Tabela 11). O índice UVA é expresso em unidades de valor agregado (UVA)
por unidade de tempo.
Tabela 10 – Valor da taxa de base

Adaptado de LIA (2008, p. 11)


Tabela 11 – Cálculo do Índice UVA (UVA/h)

Adaptado de LIA (2008, p. 11)

648
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Conforme o LIA (2008), a oferta de cada produto e serviço é caracterizado por uma UVA equivalente,
ou seja, cada produto é o resultado de uma sucessão de projeto, fabricação e controle dos processos
para os produtos, assim como, nas áreas administrativa, comercial, logística etc para os serviços. A
Figura 5 ilustra esse conceito.

Figura 5: Cálculo de Equivalente de UVA em um intervalo


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p. 9).
Para calcular a equivalente dos produtos faz-se necessário os dados referentes ao valor operacional
que é o resultado do produto entre o tempo de passagem e a taxa de posto, conforme pode ser
observado na Tabela 12.
Tabela 12 – Cálculo do Índice UVA (UVA/h)

Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.11)


Da mesma forma que os índices UVA são estáveis, assim também são os UVA equivalentes. Desta
forma, a modelagem inicial da empresa permanece válida no tempo (LIA, 2008), ou seja, uma vez
definida a equivalente UVA de um serviço ou produto, será igual ao somatório das equivalentes UVAs
ao longo do processo produtivo e de vendas (Figura 6):

Figura 6 - Cálculo do Equivalente UVA de um produto ou serviço


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.10)

649
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Sobre o cálculo do equivalente de uma venda UVA, percebe-se que, diferentemente do GP, este
método avançado possibilita o cálculo dos processos, produtos, serviços, vendas, logística e outros,
através da UVA, conforme pode ser observado na Figura 7.

Figura 7: Cálculo de um equivalente UVA de uma Venda


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.10)
Tabela 13 – Valor do Equivalente UVA das Vendas

Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.11)


ii) Operação do Método:
Nesta fase serão determinados os custos e os indicadores de desempenho para que seja possível
prever a tendência dos custos de produção e a rentabilidade, uma vez que será calculado o lucro por
transação. Segundo o LIA (2008), ao valorizar cada ação na UVA e desenhar uma ou mais curvas de
rentabilidade, a empresa é capaz de analisar com precisão as suas vendas e mudar a estrutura para
melhorar o resultado. Para o desenvolvimento dessa fase constam cinco etapas, a saber:
1. Medir o valor agregado produzido,
2. Calcular o custo da UVA,
3. Calcular o custo de uma venda e seu resultado,
4. Analisar a rentabilidade das vendas, e
5. Criar um sistema de gestão.
 Medir o valor agregado produzido:
As UVA’s relacionadas aos produtos são mensuradas pelas entradas em estoque durante um período.
As UVA’s dos serviços relacionados são medidas a partir das faturas emitidas durante o período. Por
simples adição de todos itens, relacionados com a produção de bens ou serviços, pode-se mensurar o

650
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

valor agregado gerado pela empresa durante um determinado período, conforme é exposto na Figura
8.

Figura 8 - Cálculo da Produção Total UVA


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.13)
Como se observa, tratam-se da mesma forma todos os serviços da empresa, sejam de fabricação,
administração, logística e vendas.
 Calcular o custo da UVA
Para o cálculo do custo da UVA no período analisado se faz necessária a aplicação da fórmula indicada
na Figura 9:

Figura 9: Cálculo do Custo da UVA


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.14)
Entretanto, LIA (2008) esclarece que os gastos relacionados ao cálculo da UVA são os são
representados pelo total de gastos descritos na contabilidade geral menos as despesas específicas
para clientes - como transporte, comissão e outros - e as despesas incorporadas aos produtos.
 Calcular o custo de uma venda e seu resultado

O cálculo do custo de vendas representa o somatório das compras incorporadas aos produtos com as
despesas especificas dos clientes e o equivalente UVA das respectivas vendas. Este total deve ser
multiplicado pelo custo da UVA.
A LIA (2008) simplifica afirmando que qualquer venda poderá envolver uma única fatura. O lucro (ou
prejuízo) gerado em uma venda é a diferença entre o valor líquido de nota fiscal e o custo de venda,
conforme observa-se na figura 10.

Figura 10:Resultado das Vendas


Fonte: Adaptado de Lia (2008, p.15)

651
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para medir o valor adicionado e calcular o resultado de uma venda, o LIA (2008) considera quatro
etapas, conforme exemplo abaixo.
 Mensuração do Valor Adicionado:

Esta etapa objetiva calcular o somatório do total de produtos UVA a partir do produto entre o
equivalente UVA e o total de produtos, conforme a Tabela 14.
Outra informação que compõe a mensuração do valor adicionado é dada pelo total dos outros serviços
prestados pela empresa, como exemplificado na Tabela 15.
Tabela 14: Somatório do total dos produtos UVA

Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.16)


Tabela 15: Somatório do total dos serviços UVA

Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.16)


As despesas mensais utilizadas para calcular o custo da UVA são de € 297.970,00. O custo UVA é
calculado a partir da equação na Figura 11:

Figura 11: Cálculo do custo da UVA (exemplo)


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.16)
 Calcular o custo das vendas:

652
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Tabela 16 demonstra que o custo dos produtos vendidos é alcançado pela soma do montante em
UVA da produção vendida mais os custos de capital e os custos específicos dos clientes.
Tabela 16 – Custo dos Produtos

Obs: Os montantes d e e são levantados diretamente da contabilidade


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.16)
Obter os resultados das vendas:
A diferença entre p montante cobrado e os custos de vendas resulta no resultado de vendas, e
conforme o exemplo, percebe-se que os 120 produtos de A foram vendidos por 17 €, e os 5 produtos
de B foram vendidos por 95 €, totalizando 2515 € de receita.

Figura 12: Cálculo do resultado das vendas (exemplo)


Fonte: Adaptado de LIA (2008, p.16)
A análise dos custos das vendas consiste em averiguar o resultado da produção e comercialização dos
produtos. Essa analise é calculada a partir da razão entre o montante monetário recebido pelo
resultado (lucro ou prejuízo) em percentual. Após o cálculo para cada produto ou serviço, os dados
devem ser dispostos graficamente de forma que possibilitem uma visualização global destes custos.
Quanto à criação de um sistema de gestão, a Lia (2008) recomenda a utilização de um software, haja
vista as facilidades que este implica para o processo de tomada de decisão.

3.2.2 OBSERVAÇÕES

A literatura consultada sobre o método UVA não permite identificar claramente suas diferenças em
relação ao antecessor GP, exceto pela pretendida adequação para o custeio da área não-produtiva,
como realçado no que se refere aos custos de venda, logística e administração, por exemplo.
Infelizmente, a escassa literatura alcançada não oferece um nível de detalhamento de como
efetivamente esses custos são alcançados.

653
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O método UVA, como todos os demais, opera por meio do princípio do “custeio integral”, sem permitir
uma identificação da origem dos desperdícios produtivos existentes.
Além disso, na medida em que prevê estabilidade na estrutura produtiva, não seria adequado a
ambientes sob melhoria contínua dos processos de produção.

4. ANÁLISE COMPARATIVA

A análise dos métodos das UEPs e UVA permite a percepção de diversos elementos de comparação.
Como um denominador fundamental, ambos se originam do método GP e assim abordam a
problemática do custeio em empresas multiprodutoras, especialmente onde os processos e produtos
apresentam estruturas de custos semelhantes.
Os dois métodos se assemelham pelo uso de “parâmetros de equivalência” entre os produtos para a
determinação de seus custos unitários e por praticamente todos os procedimentos relacionados para
o custeio de produtos. Como semelhança a ser observada, os dois métodos se atentam, no que tange
à área produtiva, apenas aos custos de transformação (custos indiretos de fabricação e custos de mão
de obra direta), sem considerar os custos de matéria-prima.
No entanto, há uma distinção fundamental entre ambos: enquanto o Método das UEPs se restringe
aos custos da área produtiva, onde os roteiros de produção são conhecidos, e se proclama mais um
sistema de gestão da produção construído sobre os custos de transformação dos produtos, a literatura
relacionada ao Método UVA o apresenta como adequado para custear os produtos vendidos a partir
de todos os custos das áreas produtivas e não-produtivas, sem destaque para suas vantagens no apoio
da gestão produtiva. Convém observar que esta característica do Método UVA, como indicado no
Capítulo 3.2, não estava presente no Método GP.
Curiosamente, estas características quanto à também contabilização dos custos nãoprodutivos e à
não-priorização do método para a gestão da produção foram apontadas por Walter, Kliemann Neto e
Götze (2005) como sendo do método alemão “Äquivalenzziffern” (Cifras de Equivalência), ao compará-
lo com o Método das UEPs. No entanto, a literatura consultada sobre as UVA não faz nenhuma
referência ao método germânico, apenas reitera que se trata de uma evolução do GP (convém
observar que o método das “Äquivalenzziffern” apresenta uma diferença relevante em relação aos
demais: ele inclui custos de matéria-prima).
Ao compararmos a lógica dos métodos, no que se refere ao estabelecimento de uma unidade comum
de medição de esforços na área de manufatura, surge uma questão que os textos consultados sobre
UVA não permitem esclarecer: ao contrário da área produtiva, onde os roteiros de produção são

654
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

estáveis e sabe-se o tempo necessário para a passagem dos produtos em cada posto UVA, na área
administrativa ou de vendas não é comum que os tempos para realização das atividades sejam estáveis
no processamento de cada pedido. A literatura encontrada infelizmente não detalha de que forma se
quantificam as quantidades de UVA realizadas nestas áreas não-produtivas.
Se por um lado o Método UEP é amplamente advogado como útil para a gestão da produção, os textos
sobre UVA dão uma ênfase muito elevada no sentido de discutir sua aplicação para a gestão financeira,
possibilitando o cálculo da rentabilidade dos produtos a partir das UVAs equivalente aos produtos
vendidos.

5. CONCLUSÕES

Este artigo apresentou e comparou as características básicas de dois métodos de custeio derivados do
método GP e que apresentam similaridades: o método francês “Unitées de Value Ajountée”
(“Unidades de Valor Agregado”), e o método das Unidades de Esforço de Produção (UEPs), estruturado
e validado dentro do ambiente acadêmico brasileiro.
Observa-se de forma muito clara a semelhança na lógica dos métodos, no entanto estes se dirigem a
aplicações diferenciadas. Enquanto o Método das UEPs se dirige à gestão da produção, a partir de
informações do custeio da área de manufatura, o Método das UVA compreende o custeio dos
produtos vendidos incluindo também gastos administrativos, de logística e de vendas, sem destaque
para a gestão da produção.
A falta de literatura disponível em relação ao método GP representa uma restrição relevante para o
aprofundamento deste estudo, na medida em que se poderia identificar claramente suas diferenças
em relação aos métodos que se proclamam evoluções deste.

REFERÊNCIAS

Association UVA - Unités de Valeur Ajoutée. Disponível em:< http://www.associationuva. org/>.


Acesso em: 09 ago. 2010.

BORNIA, A. C. Mensuração das perdas dos processos produtivos: Uma abordagem metodológica de
controle interno. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, março de 1995 (Tese de Doutorado).

_______. Análise Gerencial de custos em empresas modernas. Porto Alegre: Bookman,2002.

FERNANDES, L. e ALLORA, V. Método unidade de esforço da prestação de serviços (UEPS): uma


estimativa de custos para o transporte escolar rural. In: XVI Congresso Brasileiro de Custos – Fortaleza
- Ceará, Brasil, 03 a 05 de novembro de 2009.

655
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FIORESE, A. Um estudo da aplicação de diferentes métodos de custeio em indústria metalúrgica de


pequeno porte. Programa de Pós-Graduação em Contabilidade, Universidade Regional de Blumenau,
Santo Catarina, 2005 (Dissertação de Mestardo).

FRAGA, M. S.; COUTINHO, W. R. ; GIOVANNINI; J. E.; YOSHITAKE, M.; Unidade de Esforço de Produção
e utilização do Planoseqüência. In:VI Congresso da USP de Controladoria e Contabilidade. Anais... São
Paulo, 2006.

KLIEMANN NETO, F.J. Gerenciamento e Controle da Produção pelo Métodos das Unidades de Esforço
da Produção. In: I Congresso Brasileiro de Gestão Estratégica de Custos. Anais... São Leopoldo, 1994.

LEVANT, Y.; VILLARMOIS, O. Georges Perrin and the GP cost calculation method: the story of a failure.
Accounting, Business & Financial History, Vol. 14, Jul. 2004 , p. 151 – 181.

LIA - Les Ingénieurs Associés. Le calcul des coûts, la gestion et le management par La méthode uva®
(unités de valeur ajoutée): Une approche pragmatique et opérationnelle de la gestion par l'analyse
fonctionnelle. Courbevoie, 2008.

LOPES, J. O fazer do trabalho científico em Ciências Sociais Aplicadas. Recife: Ed. Universitária, 2006.

MACEDO. N. D. Iniciação à Pesquisa Bibliográfica. 2 ed. Revista – São Paulo: Edições Loyola,1994 .

MALAQUIAS, R. F. ; GIACHERO, O. S. ; COSTA , B. E.; LEMES, S. Método da unidade de esforço de


produção versus métodos de custeio tradicionais: um contraponto. In: XIV Congresso Brasileiro de
Custos – João Pessoa – PB, Brasil, 05 de dezembro a 07 de dezembro de 2007.

MARTINS, S. S.; BARRELLA, W. D. Composição dos Métodos de Controles de Custos para Diferentes
Ambientes de Manufatura. In: XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produção- ENEGEP. Anais...
Salvador, 2001.

OLIVEIRA, S. E.; ALLORA, V. O Método UP’ – Unidade de Produção (UEP’) e sua Aplicação no
Benchmarking Interno dos Processos de Fabricação. In: VII Congreso Del Instituto Internacional de
Costos - II Congreso de la Asociacion Española de Contabilidad Directiva. - Leon – Espanha. julho de
2001.

RODRIGUES, M. G. V. Metodologia da Pesquisa- Elaboração de Projetos, Trabalhos acadêmicos e


Dissertações em Ciências Militares. 2. ed - Rio de Janeiro: EsAO, 2005.

SILVA. E. L.; MENEZES. E. M. Metodologia da Pesquisa e elaboração de dissertação. 3. ed. rev. atual.
Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001.

WALTER, F.; KLIEMANN NETO, F.J; GÖTZE; U. Análise comparativa dos métodos de custeio “Unidades
de Esforço de Produção” e “Äquivalenzziffern” (Cifras de Equivalência) In: IX Congresso Internacional
de Custos. Anais...Florianópolis, 2005.

656
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 31

ESTRATÉGIAS NA FORMAÇÃO DE PREÇO DE SERVIÇOS DE


SAÚDE: ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL ONCOLÓGICO
EM SÃO PAULO
DOI: 10.37423/200300566

Vanessa Carolina Wege Dos Santos - van.carolina@gmail.com

Resumo: Este artigo apresenta uma análise dos critérios de formação de preço do serviço de
saúde, no contexto de estratégias que agregam valor para proporcionar vantagem
competitiva. O objetivo deste artigo é analisar os principais aspectos / estratégias na
composição do preço do serviço de saúde e conhecer as abordagens mercadológicas que
agregam valor no ramo Hospitalar, no segmento de Oncologia, no município de São Paulo. No
referencial teórico, foram identificados os pilares que estruturam a precificação dos serviços
e observadas as melhores práticas da economia de mercado, tais como a gestão de custos, os
instrumentos do marketing de relacionamento, com a finalidade de precificar os serviços,
visando à otimização do resultado econômico da entidade, bem como a criação de valor. Em
segmentos como a área da saúde, especialmente para serviços de alta complexidade, as
estratégias são essenciais para precificar o serviço, de forma a superar a diversidade dos
custos e maximizar o potencial de lucro. Dessa forma, a pesquisa revelou os aspectos da
formação do preço do serviço hospitalar em um Hospital Oncológico localizado no Estado de
São Paulo, destacando os principais componentes da negociação neste segmento do mercado,
especificamente em Quimioterapia.

657
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-chave: Estratégia. Preço. Saúde.

Área Temática: 2. Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

658
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde - OMS, em 7 de abril de 1948 - desde então instituído como Dia
Mundial da Saúde, estabeleceu em sua constituição um conceito macro que define Saúde como “um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou
enfermidade” (SEGRE; FERRAZ, 1997). No Brasil, o Sistema de Saúde é dirigido nos termos da
Constituição Federal (1988), conforme o artigo 197, cuja redação define que “são de relevância pública
as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de
terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado”.

Conforme afirmam Cutler e Zeckhauser (2000 apud Ocké-Reis; Cardoso, 2011), este segmento de
serviços de saúde distingue-se dos demais segmentos por possuir demanda inelástica e oferta indutora
da procura, além de contribuir para a presença de informações assimétricas e externalidades, que não
estimulam o predomínio de mecanismos de mercado. Neste setor, o fator trabalho é utilizado de
maneira significativa, apresentando baixa mobilidade e taxa marginal de substituição, considerando,
respectivamente, seu caráter não-comercializável e alto grau de especialização.

As instituições prestadoras de serviços de promoção de saúde, públicas ou privadas, devem formar o


preço de suas atividades, buscando a saúde financeira e sobrevivência no mercado. No entanto,
precificar este segmento vai além de estabelecer uma remuneração em função do valor agregado ao
tipo de serviço, que visa à manutenção do bem-estar global do indivíduo (OCKÉ-REIS, 1995). Por este
prisma, uma vez que não é possível quantificar o valor da vida, torna-se um desafio para a indústria
de cuidados da saúde, precificar as referidas atividades, focando na saúde financeira e sobrevivência
no mercado.

Na medida em que questões de finanças e custos interferem nos


procedimentos dos profissionais de saúde e de apoio à saúde e, por extensão,
na vida do hospital, é importante conceber uma estrutura organizacional que
torne adequado os vários conceitos, antes vivenciados em ambientes
industriais e de prestação de outros serviços, agora para um ambiente onde as
questões da vida e da saúde de seres humanos são a essência de tudo (RIBEIRO
FILHO, 2005, p. 24-25).

Dessa forma, torna-se estratégico o envolvimento de departamentos-chave, tais como Comercial,


Controladoria e Marketing, atuarem de forma integrada para uma composição criteriosa do preço final
da aquisição / prestação do serviço, com foco no resultado econômico e na criação de valor para a

659
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

entidade, visando à manutenção de sua vantagem competitiva. Um dos quesitos fundamentais para
que isso ocorra, na opinião de Bernardi (1996), está relacionado à política de formação dos preços de
seus produtos e serviços, já que em um mercado de concorrência perfeita, o preço passa a ser
efetivamente um regulador entre a oferta e a procura.

Na visão de Sartori (2004) e Santos (2005), preço é um fator de decisão de compra, e por esse motivo,
a empresa deve ter claros seus objetivos no momento de formar seus preços de venda. Uma apuração
adequada dos preços de venda é questão fundamental para a sobrevivência e uma possível expansão
das empresas (WERNKE, 2005).

O preço deve ser formado analisando o que o mercado está praticando, as exigências de seus clientes,
que envolve o valor do produto/ serviço percebido por estes e a estratégia competitiva escolhida pela
empresa. Os modelos de preços, na visão de Padoveze (2003), podem ser orientados com base na
teoria econômica, orientados pelo mercado ou pelos custos.

Alocar custos na área da saúde não é uma atividade simples, devido à heterogeneidade dos clientes e
suas especificidades, seja por gênero, idade, condição física - entre outros aspectos consideráveis para
sua recuperação. Assim, a análise dos custos variáveis torna-se complexa, impactando no resultado
econômico, uma vez que o lucro gerado por determinado paciente pode sobrepor-se ao prejuízo
acarretado por outro e vice-versa (FALK, 2001, p. 31).

Conforme Martins (2010, p. 218), o sistema de custos deve produzir informações úteis e consistentes,
alinhadas com a filosofia da empresa e sua política de preços, podendo se basear nos custos, no
mercado ou na combinação de ambos. Há diversos estudos sobre custos em instituições de saúde, tais
como os de Abbas (2001); Costa (2001); Raimundin (2003); Reis (2004) e Raimundini et al. (2004),
entre outros; mas há escassez de estudos sobre formação de preços nessas instituições.

Assim, a partir do estudo de caso realizado no hospital, cuja denominação dar-se-á como ABC durante
o desenvolvimento deste trabalho, devido à exigência de confidencialidade por parte da empresa dos
dados institucionais, definiu-se o Departamento de Quimioterapia como objeto de estudo. A questão
principal de pesquisa é: Como as estratégias de precificação de serviço de saúde, em Oncologia,
direcionam para a manutenção da vantagem competitiva neste segmento do mercado?

Dessa forma, este artigo objetiva analisar os principais aspectos / estratégias na composição do preço
do serviço de saúde, expandindo o conceito de precificação a partir do custo e lucro pré-definido, e

660
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

conhecer as abordagens mercadológicas que agregam valor no ramo Hospitalar, no segmento de


Oncologia, no município de São Paulo. No próximo tópico será desenvolvida a fundamentação teórica
deste trabalho.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA E MÉTODOS DE CUSTEIO

O Preço, conforme afirmam Hendriksen e Van Breda (1999) e Dutra (2003), é o valor acordado entre
comprador e vendedor para efetuar uma transferência da propriedade de um bem ou serviço. Além
dos custos e despesas, neste valor, deve estar contido uma margem de lucro. De acordo com Bruni e
Famá (2009, p. 19-20), preços são a “importância recebida pelas entidades em decorrência da oferta
de seus produtos ou serviços”, sendo suficientes para a cobertura dos custos incorridos e geração de
lucro.

Fundamentalmente, formar o preço de um bem ou serviço depende de três componentes essenciais:


a) custos: são os gastos relativos a bens/serviços utilizados na produção de outros bens/serviços; b)
despesas: são bens / serviços consumidos para a obtenção de receitas; e c) margem de lucro:
“Diferença entre a receita (faturada) e os custos variáveis” (FALK, 2001, p. 127).

No entanto, esta estrutura de precificação não atua de maneira isolada. A definição do preço deve
estar alinhada, inicialmente, aos objetivos da empresa, visando a atingir determinadas classes. A
organização deve considerar, ainda suas estratégias de enfoque econômico, como a manutenção do
patrimônio ou mercadológico relacionado à competitividade (ASSEF, 2002).

Com a referida definição, conforme afirmam Assef (2002) e Beulke e Bertó (2008) , outros fatores que
influenciarão a precificação devem ser avaliados, tais como: as características do bem ou serviço
(elasticidade – situação de demanda x preço, sazonalidade); características de mercado (concorrência,
controle governamental) e metas de posicionamento mercadológico (imagem, crescimento); situação
econômico-financeira da organização (grau de endividamento) e macroeconômica (recessão,
expansão); estrutura do sistema de gestão de custos; necessidades dos clientes e disposição para
pagar o preço; nível de remuneração do capital investido em giro e em imobilizações, e grau de
utilização da capacidade instalada (grau de ocupação, ociosidade). A análise destes fatores implicará
em ações gerenciais voltadas para a otimização do resultado.

661
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Na área da saúde, a capacidade instalada - supracitada como um fator de influência - traz a noção de
capacidade (número de leitos disponíveis) versus ociosidade de mão-de-obra. Ao efetuar-se o cálculo
da mão de obra disponível (tempo contratual eliminado de intervalos e feriados) alocada para 100%
dos leitos, encontra-se o tempo ocioso referente aos leitos não ocupados. Entende-se que, em uma
abordagem de custos ótima, este valor deve ser eliminado, caracterizando de forma mais fiel o custo
total do serviço (RIBEIRO FILHO, 2005, p. 46).

Evans; Hwang; Nagarajan (2001) consideram que os custos do paciente/dia podem ser minimizados,
se houver uma ampliação no número de leitos seguida por incremento da ocupação hospitalar. No
entanto, esta é uma decisão estratégica, pois se pode optar, também por alocar o custo total da mão-
de-obra à porcentagem de leitos ocupados, reduzindo a margem de lucro.

Na visão de Beulke e Bertó (2008), um método de custeio constitui uma metodologia aplicada ao
desenvolvimento do cálculo de custos da organização. Dentre os principais métodos, destacam-se: a)
Custeio Integral ou Custeio por Absorção: Caracteriza-se pela apropriação integral de todos os custos,
diretos e indiretos, aos serviços. Utilizam-se critérios genéricos e convencionais para apropriação dos
custos indiretos; b) Custeio Direto ou Custeio Marginal: Apropria aos produtos e serviços somente os
custos que variam com o seu volume, abrangendo custos proporcionais diretos e alguns indiretos; e
c) Activity Based Costing ou Custeio ABC: Tem como princípio básico tornar direto o maior número
possível de custos proporcionais e não proporcionais, por meio dos cost drivers, direcionadores de
custos específicos. Baseia-se nas atividades que compõem a prestação do serviço como um todo.
Todos são aplicáveis ao segmento de saúde.

2.2 OS PILARES DO CUSTEIO E DA PRECIFICAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Embora as instituições de saúde tenham como objetivo principal o zelo pela vida, não podem ignorar
os princípios de preço/valor, visando à sua própria sobrevivência no longo prazo, bem como inovem
em sua gestão (CHRISTENSEN, 2009). Di Tizio (2000, p. 65), dissertando sobre o atual sistema de custos
em saúde no Brasil e as razões de seu crescimento, reflete que “se é correta a afirmação de que uma
vida não tem preço, também é correta a assertiva de que a manutenção dessa mesma vida pode
resultar menos onerosa", a partir de uma gestão de custos responsável, cujo foco seria a redução de
despesas controláveis pela Administração.

662
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Dessa forma, para manter a qualidade dos serviços a um custo reduzido, é primordial a atuação da
Controladoria na Gestão dos Custos, minimizando distorções para a composição do preço final, a fim
de obter o resultado máximo. Assim, por meio do orçamento, a projeção dos custos e despesas evita
que gastos imprevistos prejudiquem o resultado econômico de cada centro de custo. Portanto, é
condição sine qua non estruturar um orçamento que reflita as necessidades das áreas, e permita à
Administração efetuar o forecast, que é uma reprogramação das receitas, custos e despesas, caso haja
alterações significativas no cenário ou nas premissas.

Uma alternativa adequada para a complexidade da apuração dos custos na área da saúde é o Activity
Based Costing, ou Custeio ABC, tal como preconizam Lievens; Bogaert; Kesteloot (2003); Jarvinen
(2006) e Purmonen; Auvinen; Martikainen (2010), entre outros. De acordo com Martins (2010, p 8),
este método “procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos
custos indiretos”, gerados por setores que não se relacionam diretamente com a prestação do serviço,
além do fato de que as variáveis inerentes à recuperação da saúde envolvem o consumo em diferentes
proporções.

Em casos de escassez dos recursos, traduzidos em infra-estrutura (hotelaria e higiene), equipes


multiprofissionais, procedimentos terapêuticos, equipamentos, materiais, medicamentos e
alimentação, por exemplo, evidencia-se o “custo de oportunidade da vida”, situação que envolve
decisões extremas sobre o investimento destes recursos em uma vida com pouca ou nenhuma chance
responsiva ao tratamento, em detrimento de outra vida. (BARROS; 2007, p. 195).

Para Ribeiro Filho (2005, p. 26), o mundo dos “aventais brancos”, também se subordina à regra de
escassez de recursos, considerada uma limitação infeliz que coloca em jogo a saúde das pessoas, um
dos bens mais preciosos do ser humano. Por outro lado, quando os recursos existem e são requeridos
por decisão médica, independente do estado clínico do paciente e da categoria (contrato com a
Operadora de Saúde, Particular ou SUS), podendo gerar prejuízo no final, o lucro gerado por outro
paciente pode sobrepor-se a este, equilibrando o resultado. No caso do Hospital ABC, objeto deste
estudo, esta estratégia, também conhecida como “Robin Hood”, permite a cobertura dos déficits do
SUS com clientes privados. Em seguida, são descritos os aspectos metodológicos desenvolvidos na
pesquisa.

663
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

De acordo com Turato (2003, p. 149), "o método científico é o modo pelo qual os estudiosos
constroem seus conhecimentos no campo da ciência", utilizando-se de modalidades metodológicas
particularizadas, conforme a área do conhecimento, como os dedutivos ou indutivos, quantitativos ou
qualitativos, entre outros, buscando conhecer/entender uma verdade, um problema ou um objeto de
interesse.

Neste trabalho, foi utilizada uma metodologia sustentada em uma base de dados de natureza
qualitativa, por meio de estudo de caso único no Hospital ABC, que não autorizou a divulgação de seu
nome real, por tratar-se de uma instituição especializada em Oncologia, reconhecida como centro de
referência em tratamento, ensino e pesquisa na América Latina, bem como pela acessibilidade de
dados e relevância profissional.

A pesquisa qualitativa é um método que trabalha com dados não quantificáveis, cujo material requer
o máximo de envolvimento do pesquisador para a produção da narrativa, por não ser tão estruturado
como a metodologia quantitativa (FIGUEIREDO, 2009). Uma das principais características da pesquisa
qualitativa é a predominância da descrição, seja de pessoas, de situações, de acontecimentos, de
relações, inclusive transcrições de relatos (GIL, 2009). Na visão de Figueiredo (2009, p. 105), o estudo
de caso é amplamente utilizado nas ciências biomédicas e sociais, por aprofundar-se no objeto de
estudo, permitindo seu conhecimento amplo e detalhado.

Conforme Yin (2005, p.19), “em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando
se colocam questões do tipo “como” e “por quê”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os
acontecimentos e quando o foco encontra-se em fenômenos contemporâneos inseridos em algum
contexto da vida real”. Martins (2006, p.11), por sua vez, comenta que o estudo de caso, como
estratégia de pesquisa, irá orientar na “busca de explicações e interpretações convincentes para
situações que envolvam fenômenos sociais complexos”.

Uma vez que a proposta do estudo é analisar a precificação em Oncologia, focada no setor de
Quimioterapia, especificamente na composição do preço da sessão de terapia antineoplásica, definiu-
se como áreas de objeto de estudo a Controladoria, o Departamento Comercial e Marketing, que
contribuíram com documentos e relatórios específicos da área e entrevistas com seus gestores.

664
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A coleta de dados bibliográficos, iniciada em junho de 2012, serviu de embasamento teórico


comparativo para discussão do tema. O Estudo de Caso foi desenvolvido entre os meses de agosto a
outubro de 2012. Foram realizadas entrevistas com a Gerente de Contas, a Assessora Comercial e os
Gerentes das áreas de Marketing e Controladoria.

4. ESTUDO DE CASO: ESTRATÉGIAS DE PRECIFICAÇÃO NO SETOR DE QUIMIOTERAPIA

Inaugurado na década de 1950, o Hospital ABC percorre uma incessante trajetória no combate ao
câncer. Constituí-se sob forma de Entidade Beneficente sem Fins Lucrativos, cujo nível de hierarquia
no CNES – Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde atinge o patamar de estabelecimento de
saúde de alta complexidade, por realizar tais procedimentos nos âmbitos ambulatoriais e hospitalares.
O hospital pesquisado tem como meta permanente conscientizar todos os brasileiros sobre o câncer,
buscando unir esforços de pessoas, entidades e empresas - que dedicam tempo, talento, capacidade
profissional, dinheiro e, principalmente, solidariedade pela causa do combate a esta doença. No
próximo tópico, será tratado sobre a atuação do Marketing e suas estratégias de relacionamento com
o mercado.

4.1 O MARKETING E AS ESTRATÉGIAS DE RELACIONAMENTO

No Hospital ABC, a atuação do Marketing volta-se para a construção e manutenção de sua marca e
imagem, buscando ser referência e posicionar-se no mercado ao divulgar a marca e a imagem da
organização aos stakeholders – grupos de interesse. Por meio da comunicação institucional, assessoria
de imprensa e difusão de informações sobre hábitos de vida saudáveis (por meio de dicas de saúde e
importância do diagnóstico precoce do câncer), seja em ações sociais como palestras, campanhas e
eventos, como por meio dos veículos de comunicação (programas publicitários, distribuição de
newsletters, entre outros). Esta estrutura sólida voltada ao ensino, pesquisa e combate ao câncer,
trouxe ao Hospital ABC, em 2012, a Acreditação Canadense, renomada Certificação de Qualidade cuja
metodologia volta-se para a implementação de processos com foco na segurança do paciente,
promovendo qualidade e melhoria contínua na assistência. Este título ratifica o posicionamento do
Hospital ABC como centro oncológico de excelência internacional, ao lado dos maiores do mundo e,
também é uma maneira de o paciente identificar os hospitais mais qualificados, pois quando se
escolhe uma instituição com essa certificação, significa que no local os processos são controlados e
seguros.

665
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

De acordo com Woodruff (1997 apud Dominguez, 2000), ao adquirir um produto ou serviço é inerente
surgir o valor percebido, definido como percepção atribuída pelo cliente no momento da aquisição,
baseada nos benefícios que esta trará em detrimento de seu custo, bem como as consequências do
uso, gerando a satisfação esperada que resulte na avaliação da qualidade, comparada ao custo da
aquisição. Sardinha (1995, p. 3) já definira que “O preço é um elemento quantitativo que resume de
forma numérica as estratégias de marketing que a empresa tentou seguir”.

Por meio de uma análise SWOT que, na visão de Glaister e Falshaw (1999 apud Ceribeli; Prado; Melo,
2010), é uma ferramenta utilizada na gestão estratégica, em que são analisados os cenários, em que
são identificadas no ambiente interno as forças (Strenghts) e fraquezas (Weaknesses) e no ambiente
externo as ameaças (Threats) e oportunidades (Opportunities), em uma pesquisa desenvolvida pelo
Hospital ABC, identificou-se:

 Strengths (Forças): Considerando que 92% dos 805 pacientes entrevistados indicariam a
organização, o Hospital ABC mostrou-se referência no tratamento oncológico. Dessa forma, os
intangíveis (marca e capital intelectual), bem como o prestígio e a história do referido hospital
tornam-se diferenciais nas negociações, devido ao interesse das Operadoras em credenciar
para seus clientes;

 Weaknesses (Fraquezas): O sistema de gestão de custos não condiz com o mais indicado pelos
autores para a prestação de serviço na área da saúde. Não foram identificadas estratégias que
agregam valor à precificação, como a valorização dos intangíveis no Balanço Patrimonial, e o
uso das pesquisas de satisfação como ferramenta de Marketing relacionada ao valor percebido
pelo cliente, por exemplo;

 Threats (Ameaças): Apesar de ser referência em Oncologia, o preço melhor formado da


concorrência pode se tornar mais atrativo e com maior margem para negociação;

 Opportunities (Oportunidades): A atuação multiprofissional e interdepartamental focada nas


melhores práticas de precificação de serviços pode estreitar o relacionamento com os
stakeholders, ao demonstrar aspectos relevantes que transpõem a questão do preço e valor
percebido pelo cliente.

Nesse sentido, as pesquisas de satisfação são uma ferramenta estratégica que podem mensurar o
valor percebido pelo cliente, conforme demonstrado nas Tabelas 1 e 2, a seguir, referentes aos índices

666
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de satisfação e indicação de do serviço, realizada em 2011 com 805 pacientes do Hospital ABC, tendo
sido desenvolvida pela própria organização:

Tabela 1 - Pesquisa de Satisfação Hospital ABC 2011: Índice de Satisfação com o Hospital

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Tabela 2 - Pesquisa de Satisfação Hospital ABC 2011: Índice de Indicação do Hospital

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

A análise destes resultados demonstra um alto índice de satisfação, com 72% das pessoas
entrevistadas pelo hospital em 2011 estão satisfeitas com o Hospital ABC; sendo que 92% indicariam
a organização, ainda que não completamente satisfeitos. Esta pesquisa, se direcionada à investigação
do valor percebido pelo cliente, pode auxiliar nas estratégias de precificação, no aumento da margem
de lucro, uma vez que o resultado primário é bastante positivo.

Considera-se que, quanto maior o preço definido pela entidade, maiores os lucros e,
consequentemente, melhor o resultado econômico. Estrategicamente, a sobreposição do limite do
preço, no entanto, depende da demanda do mercado e da forma com que o cliente percebe se o valor
agregado ao produto ou serviço é superior ao custo da aquisição (BRUNI; FAMÁ, 2009, p. 20).

667
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Dessa forma, o valor percebido torna-se a estratégia de marketing de relacionamento que, como
reação em cadeia, auxilia o posicionamento da empresa no mercado, agregando inclusive valor à
marca. O uso de ferramentas mercadológicas direcionadas para a precificação, pode se tornar um
diferencial nas negociações, orientando a organização de forma ainda mais competitiva no mercado
da Oncologia.

4.2 A ÁREA COMERCIAL E OS ASPECTOS DA PRECIFICAÇÃO

De acordo com Beulke e Bertó (2008, p. 7), na visão de alguns autores, pelo fato de a definição do
preço não depender exclusivamente dos custos dos bens / serviços, mas em boa parte da política de
preços, a função do cálculo torna-se atribuição da Área de custos e o preço da área de comercialização.
O Departamento Comercial do Hospital ABC é responsável pela gestão comercial dos produtos e
serviços do Hospital e pelo relacionamento com as Operadoras e Corretoras de Saúde e Empresas.

Suas principais atividades são a negociação de valores e novos produtos; captação de novos contratos
e manutenção dos vigentes; implantação interna da rotina de atendimento dos novos clientes;
aumento do movimento, faturamento e rentabilidade do hospital por meio do relacionamento e
parcerias com as Operadoras, Recursos Humanos de empresas e Corretoras; comercialização e
divulgação das Ações de Prevenção e Diagnóstico Precoce de Câncer, desenvolvidas pela instituição;
monitoramento da concorrência em relação a preços, produtos e serviços; apresentação de relatórios
e feedback do mercado para as áreas internas do hospital; desenvolvimento e formatação dos serviços
como produtos para serem comercializados no mercado; identificação de oportunidades de negócios,
a fim de aumentar a utilização hospitalar e desenvolvimento de alternativas no modelo de cobrança,
sempre preservando a margem da organização.

Em 2011, o Hospital ABC atingiu uma receita com atividade hospitalar de, aproximadamente, R$
494.176 milhões, sendo o Departamento de Quimioterapia responsável por cerca de 25% deste
resultado, representado R$ 124.094 milhões (já deduzidas de cancelamentos, descontos e glosas –
recusa parcial ou total de uma conta pela Operadora de Saúde), tal como se pode observar na Tabela
3:

668
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3 - Resultado do Departamento de Quimioterapia - Acumulado em 2011

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Como se pode analisar na Tabela 3, 95,94% das receitas são provenientes de convênios.
Historicamente, segundo dados da Controladoria, as maiores fontes geradoras de receita do Hospital
são: Unidades de Internação (25%), Quimioterapia (24%), Centro Cirúrgico (18%), Diagnóstico por
Imagem (9%) e Unidades de Terapia Intensiva (8%), seguidas em menores proporções pelos demais
departamentos.

Devido à grande representatividade financeira no faturamento da Instituição, escolheu-se o


Departamento de Quimioterapia para o estudo de caso, com foco na precificação para convênios, por
representarem 96% da receita departamental. No ano de 2011, foram realizados 47.761
procedimentos, que geraram a receita do ano, conforme pode ser observado na Tabela 4, a seguir:

Tabela 4 - Volume e Receita dos procedimentos realizados em 2011 no Departamento de


Quimioterapia

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

O Departamento de Quimioterapia realiza sessões de Terapia Antineoplásica – TA, que é um termo


técnico referente à sessão de quimioterapia, e procedimentos complementares ao tratamento

669
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(outros). Observa-se na Tabela 4 que, apesar de as sessões de TA representarem a menor parcela do


volume total de atendimentos (46%), a receita gerada corresponde a 87% do faturamento do
departamento. Dessa forma, com o intuito de analisar, criteriosamente, a formação de preço em
Oncologia, será considerado objeto de estudo o serviço de quimioterapia, focado na precificação para
convênios do procedimento de sessão de terapia antineoplásica.

Conforme a Gerente de Contas e a Assessora Comercial, a composição do preço da sessão de terapia


antineoplásica do Hospital ABC, de maneira semelhante à desenvolvida por Miller (2005), contempla
os grupos de honorários médicos, materiais e medicamentos, bem como as taxas de serviços ou
“pacotes” detalhados a seguir:

a) Honorários Médicos: No mercado da Saúde, as associações de classe utilizam tabelas para definir o
preço de seus honorários, como a Associação Médica Brasileira - AMB, cujas tabelas foram criadas nos
anos de 1990 e 1992 e são conhecidas como AMB 90 e AMB 92 e, recentemente, a AMB 2013.

Em 13 de novembro de 2011, a Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS publicou a Instrução


Normativa nº 38, determinando que as operadoras de plano privado de assistência à saúde e
prestadores de serviços de saúde adotem obrigatoriamente a tabela de Terminologia Unificada da
Saúde Suplementar - TUSS, que unifica a codificação de procedimentos médicos para padronizar e
aperfeiçoar a troca de informações:

Quadro 1 – Relacionamento das Tabelas de Honorários Médicos - THM com a TUSS

Fonte: Plantsaude (2013)

Os contratos com a área médica partem da definição da referida tabela e sua versão, que podem trazer
preço grafado em moeda corrente ou indexado. Na Tabela AMB 2013, o fator indexado chama-se CH
– Coeficiente Hospitalar:

670
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 2 – Estrutura da AMB 2013 para determinados honorários em Quimioterapia

Fonte: Medical Services (2013)

De acordo com o Departamento Comercial do Hospital ABC, o valor sobre os CHs diferem entre as
Operadoras de Saúde, variando de R$ 0,30 à R$ 0,45 (em 2012). A definição contratual dos Honorários
Médicos trata de negociar o valor sobre o CH estabelecido pelo Hospital e o utilizado pela Operadora,
bem como o prazo de seu reajuste.

b) Materiais e Medicamentos: Em 28 de fevereiro de 2011, por meio da Resolução nº 1, a Secretaria


Executiva da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária – ANVISA (2013) estabeleceu os critérios de composição de fatores para o ajuste de preços
de medicamentos, conforme redação do artigo a seguir: Art. 1º Fica autorizado ajuste de preços de
medicamentos a partir de 31 de março de 2011, tendo como referência o Preço Fabricante - PF
praticado a partir de 31 de março de 2010. O PF é divulgado e atualizado mensalmente no Brasíndice,
que é um Guia Farmacêutico de consulta à pesquisa de preços de medicamentos, soluções e materiais
hospitalalares. Dessa forma, o Hospital ABC precifica os materiais e medicamentos, acrescentando um
percentual pré-definido ao PF.

c) Taxas de Serviços e “Pacotes”: O grupo de taxas refere-se ao preço de procedimentos realizados


pelas equipes multiprofissionais, tais como: Aplicação de injeção; Instalação de soro; Manipulação de
quimioterápicos, bem como a utilização do espaço físico e instalações, por meio da “Taxa de uso de
sala”, por exemplo. A organização estipula o valor a ser negociado com a Operadora de Saúde por
meio de tabela própria definida pela Alta Administração do Hospital.

Em teoria, o grupo de “pacote” define-se como “venda antecipada de certo volume de determinados
serviços/procedimentos, por parte de uma instituição de saúde para uma organização de plano de
saúde ou convênio” (BEULKE; BERTÓ, 2008, p.10). Neste estudo, a composição do “pacote” de

671
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quimioterapia refere-se ao agrupamento de determinadas taxas de serviço, materiais descartáveis e


medicamentos auxiliares, tais como luvas, máscaras e soros.

Beulke e Bertó (2008, p.10) entendem que a figura do “pacote” é uma demanda que se intensificará,
e as instituições que possuírem uma adequada estrutura de gestão dos custos, negociarão seus preços,
de forma viável e compatível, para atingirem um bom desempenho econômico-financeiro.

O Departamento Comercial utiliza dados contábeis para definir o valor de um pacote, tal como o
consumo de estoque dos descartáveis e totais de taxas cobradas por um período, para determinada
Operadora. Dessa forma, o pacote torna-se item estratégico, pois ao possuir uma margem de
negociação, é atrativo para a Operadora, em caso de concessão de desconto. Já para o Hospital, uma
vez que os consumos diferem entre os pacientes, o prejuízo acarretado por um pode ser compensado
pelo lucro gerado por outro.

4.3 A CONTROLADORIA E A GESTÃO DOS CUSTOS

O Manual Técnico de Custos do Programa Nacional de Gestão de Custos - PNGC, criado pelo Núcleo
Nacional de Economia da Saúde (Nunes), do Departamento de Economia da Saúde (DES), vinculado à
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde - MS, ressalta
que, “a otimização dos recursos, sem comprometer a funcionalidade e a qualidade dos produtos e
serviços, deve ser um objetivo permanente nas instituições que buscam a excelência” (MS, 2006, p.
7).

Atualmente, o Hospital ABC utiliza o Método de Custeio por Absorção, apropriando custos diretos
sobre os serviços, tais como consumo de materiais e medicamentos, mão-de- obra da equipe
multidisciplinar, por meio dos honorários médicos e taxas de prestação de serviço. Os custos indiretos
são alocados nos centros de custos por meio de critérios de rateio, tal como, por exemplo, volume de
glosas da instituição rateado por centro de custo, de acordo com a representatividade deste no
faturamento total.

Uma vez apurados os custos, a conta ambulatorial de Quimioterapia, objeto deste estudo, será
composta pelos itens descritos na Tabela 5, a seguir. Foram selecionadas três contas referentes a um
mesmo protocolo de tratamento quimioterápico, que será denominado como “Protocolo V”, sendo
distintas as categorias de pagamento com o objetivo de analisar o método de precificação e as
estratégias organizacionais.

672
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 5 - Resumo de Conta Ambulatorial - Protocolo de Tratamento "V"

* Valor do Pacote

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

O grupo de medicamentos, em especial os quimioterápicos, é responsável pelo maior percentual de


composição da conta e, portanto, centro das negociações. Para o grupo de taxas, observa-se uma
vantagem para o Convênio com “pacote”, representando 3%, desconto este que ajuda a equilibrar a
conta, uma vez que o grupo de Honorário Médico é o de maior valor para esta categoria. Por fim, os
materiais descartáveis são mais onerosos para a categoria particular, devido à tabela apresentar taxa
diferenciada.

A política do Hospital ABC preza pela aquisição de insumos de indústrias de referência dos segmentos
farmacêutico e hospitalar. Neste sentido, a Controladoria trabalha na apropriação criteriosa dos custos
para uma composição fiel do preço, visando a uma margem de lucro ótima, sem comprometer a
qualidade dos serviços e a competitividade dos preços praticados. Essa política auxilia, por exemplo,
o Departamento Comercial em decisões estratégicas, como a negociação de descontos e elaboração
de pacotes, ao fornecer informações contábeis mais precisas.

Um exemplo de transparência na Gestão de Custos e Precificação do Hospital ABC é a apresentação


dos resultados pelo CEO – Chief Executive Officer aos gestores dos diversos níveis da organização, em
reuniões mensais, de maneira semelhante à desenvolvida na pesquisa de Coulam; Feldman; Dowd
(2011). Normalmente, a pauta das referidas reuniões contempla a divulgação de ações e informações
departamentais e da Alta Administração, posicionando a instituição como um todo sobre os resultados
obtidos.

673
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo foi apresentada uma análise dos critérios de formação de preço do serviço de saúde, no
contexto de estratégias que agregam valor para proporcionar vantagem competitiva. Atingindo ao
objetivo deste artigo, foram analisados os principais aspectos / estratégias na composição do preço
do serviço de saúde e conhecer as abordagens mercadológicas que agregam valor no ramo Hospitalar,
no segmento de Oncologia, mais especificamente, no Departamento de Quimioterapia, no município
de São Paulo. Isso está convergente com o que é comentado nos trabalhos de Zelman et al. (2003) e
Gapenski (2006) sobre a Gestão Financeira de Instituições de Saúde.

No referencial teórico, foram identificados os pilares que estruturam a precificação dos serviços e
observadas as melhores práticas da economia de mercado, tais como a gestão de custos e os
instrumentos do marketing de relacionamento, com a finalidade de precificar os serviços, visando à
otimização do resultado econômico da entidade, bem como a criação de valor.

Em segmentos como a área da saúde, especialmente para serviços de alta complexidade, tal como
preconizam Zelman et al. (2003) e Camacho; Rocha; Moraes (2011), as estratégias são essenciais para
precificar o serviço, de forma a superar a diversidade dos custos e maximizar o potencial de lucro. A
partir do estudo de caso do Hospital ABC foram analisados os aspectos relevantes da formação do
preço do serviço de saúde.

Por se tratar de hospital especializado em Oncologia, foram estudados, ainda os fatores que
diferenciam a precificação deste segmento do mercado, devido seu nível de complexidade, sendo o
Departamento de Quimioterapia escolhido como objeto de estudo e a Terapia Antineoplásica como
prestação de serviço.

Considera-se que este trabalho contribui para a área de Custos, Contabilidade Gerencial e
Administração, com foco na área de Saúde, pois abordou questões estratégicas relacionadas à Gestão
de Custos e Precificação de serviços de Saúde, em específico, na especialidade de Oncologia. Sugere-
se que futuros trabalhos analisem estratégias de precificação de outras instituições da área de Saúde,
bem como apurem custos e preços por meio de outros métodos de custeio ou usando artefatos mais
inovadores.

Conforme comentado no desenvolvimento do caso, a Controladoria trabalha na apropriação criteriosa


dos custos para uma composição fiel do preço, visando a uma margem de lucro ótima, sem

674
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

comprometer a qualidade dos serviços e a competitividade dos preços praticados. Essa é a melhor
estratégia para a formação de preços de serviços de saúde, que é um fator relevante para a
manutenção da vantagem competitiva de uma empresa deste segmento.

REFERÊNCIAS

ABBAS, K. Gestão de custos em organizações hospitalares. Dissertação (Mestrado em Engenharia de


Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Regulação de Mercado / Assunto de Interesse /


Secretaria-Executiva da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos - CMED. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br>. Acesso em: 27. Out. 2012.

ASSEF, R. Manual de Gerência de Preços. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

BARROS, P. P. O preço da saúde. Faculdade de Economia. Universidade Nova de Lisboa. Disponível em:
<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/ge/v14n4/v14n4a03.pdf>. Acesso em: 26 set. 2011.

BERNARDI, L. A. Política e Formação de preços: uma abordagem competitiva, sistêmica e integrada.


São Paulo: Atlas, 1996.

BEULKE, R.; BERTÓ, D. J. Gestão de custos e resultado na saúde: hospitais, clínicas, laboratórios e
congêneres. 4a Ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

BEULKE, R.; MATTUELLA, J. L. O preço e o valor percebido: uma abordagem mercadológica.


Universidade de Santa Cruz do Sul. REDES – Revista do Desenvolvimento Regional, Mai./Ago., 2007, v.
12, n. 2, p. 73-91.

BRASIL. Constituição (1988). Título VIII, Capítulo II, Seção II, Da Saúde. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 16 abr.
2013.

BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C
e Excel. 5a Ed. São Paulo: Atlas, 2009.

CAMACHO, R. R.; ROCHA W.; MORAES, R.O. Preços e níveis de complexidade dos serviços praticados
por hospitais privados junto às operadoras de planos de saúde. Reflexão Contábil, v. 30, no. 2, p. 24-
35, 2011.

CERIBELI, H. B.; PRADO, L.S.; MERLO, E.M. Uma Aplicação Conjunta das Análises SWOT / PEST para
Avaliação de Estratégias Competitivas no Varejo. Revista Ibero-Americana de Estratégia, v. 9, no. 1, p.
77-101, 2010.

CHRISTENSEN, C. M. Inovação na Gestão da Saúde – A receita para reduzir custos e aumentar


qualidade. Porto Alegre: Bookman, 2009.

675
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

COSTA, A. Desenvolvimento de uma metodologia de custeio ABC para uma empresa de médio porte
do setor de saúde: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.

COULAM, R.F.; FELDMAN, R.D.; DOWD, B.E. Competitive Pricing and the Challenge of Cost Control in
Medicare. Journal of Health Politics, Policy and Law, v. 36, no. 4, p. 649-689, 2011.

DI TIZIO, I. L. A assistência administrada: um sistema para administração dos recursos na saúde.


Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade Metodista, São Bernardo do Campo, 2000.

DOMINGUEZ, S. V. O valor percebido como elemento estratégico para obter a lealdade dos clientes.
Caderno de Pesquisas em Administração, v.7, nº 4, outubro/dezembro, 2000.

DUTRA, R. G. Custos: Uma abordagem prática. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

EVANS III, J. H.; HWANG, Y.; NAGARAJAN, N. J. Management control and hospital cost

reduction. Journal of Accounting and Public Policy, v. 20, p. 73-88, 2001.

FALK, J. A. Gestão de custos para hospitais: conceitos, metodologias e aplicações. São Paulo: Atlas,
2001.

FIGUEIREDO, N. M. A. Método e metodologia na pesquisa científica. 3a Ed. São Caetano do Sul: Yendis,
2009.

GAPENSKI, L. C. Understanding Healthcare Financial Management. 5a. Ed. Health Administration Press,
2006.

HENDRIKSEN, E.; VAN BREDA, M. Teoria da Contabilidade. 5a Ed. São Paulo: Atlas, 1999.

JARVINEN, J. Institutional Pressures for Adopting New Cost Accounting Systems in Finnish Hospitals:
Two Longitudinal Case Studies. Financial Accountability & Management, v. 22, n. 1, p. 21–46, 2006.

LIEVENS, Y.; BOGAERT, W. V.D.; KESTELOOT, K. Activity-based costing: a practical model for cost
calculation in radiotherapy. International Journal of Radiation of Oncology Biology Physics, v. 57, no.
2, p. 522-535, 2003.

MARTINS, E. Contabilidade de custos. 3ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MEDICAL SERVICES. Tabela AMB 2013. Disponível

em:<http://www.medicalservices.com.br/?utm_source=Google&utm_medium=AMB&utm_content=
LP&utm_campaign=Medical_Services&utm_term=tabela_da_amb_2012&gclid=CIqNlLbfh7kCFVCf4A
od1CwA_Q>. Acesso em: 08 jul. 2013.

MILLER, N.H. Pricing health benefits: A cost-minimization approach. Journal of Health Economics, v.
24, no. 5, p. 931-949, 2005.

MS – MINISTERIO DA SAÚDE. Manual Técnico de Custos – Conceito e Metodologia. 2006. Disponível


em:<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_do_programa_gestao_custos.pdf>.
Acesso em: 14 set. 2012.

676
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

OCKÉ-REIS, C. O. O setor privado de saúde: os limites da autonomia. Tese (Mestrado em Medicina


Social). Instituto de Medicina Social da UERJ, Rio de Janeiro, 1995.

OCKÉ-REIS, C.O; CARDOSO, S.S. Uma Descrição do Comportamento dos Preços dos Planos de
Assistência à Saúde – 2001-2005. Texto para Discussão. Disponível em:<http:://
http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/TDs/td_1232.pdf> Acesso em: 18. Ago.2013.

PADOVEZE, C. L. Controladoria estratégica e operacional. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

PLANTSAUDE. Tabela TUSS. Disponível em: <http://www.plantsaude.com.br/tabela-tuss.pdf>. Acesso


em: 04 jul. 2012.

PURMONEN, P.; AUVINEN, K.; MARTIKAINEN, J.A. Budget impact analysis of trastuzumab in early
breast cancer: A hospital district perspective. International Journal of Technology Assessment in
Health Care, v. 26, n.2, p. 163-169, 2010.

RAIMUNDINI, S.L. Metodologia de apuração de custos baseada em atividades para suporte à tomada
de decisão: um estudo de caso hospital universitário Clemente Faria. Dissertação (Mestrado em
Administração Financeira) - Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 2000.

RAIMUNDINI, S.L.; SOUZA, A.A.; REIS, L.G.; STRUETT, M.A.M.; BOTELHO, E. Aplicabilidade do Sistema
ABC e Análise de Custos Hospitalares: Comparação Entre Hospital Público e Hospital Privado. Anais...
In: XXVIII Encontro da ANPAD – ENANPAD, Paraná, 2004.

REIS, L.G. Análise da aplicabilidade do custeio baseado em atividades em organizações da área


hospitalar: estudo de caso em um hospital privado de Londrina. Dissertação (Mestrado em
Administração). Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004.

RIBEIRO FILHO, J. F. Controladoria Hospitalar. São Paulo: Atlas, 2005.

SANTOS, J. J. Fundamentos de Custos: para formação do Preço e do Lucro. 5ª ed. São Paulo: Atlas,
2005.

SARDINHA, J. C. Formação de preço: a arte do negócio. São Paulo: Makron Books, 1995.

SARTORI, E. Gestão de Preços. São Paulo: Atlas, 2004.

SEGRE, M; FERRAZ, F.C. O Conceito de Saúde. Revista de Saúde Pública, v. 31, no. 5, p.528-542, 1997.

TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-


epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis: Vozes,
2003.

WERNKE, R. Análise de custos e preços de venda: ênfase em aplicações e casos nacionais. São Paulo:
Saraiva, 2005.

ZELMAN, W.N.; McCUE, M.J.; MILLIKAN, A.R.; GLICK, N.D. Financial management of health care
organizations. 2nd. San Francisco: John Wiley & Sons, 2003.

677
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 32

INFLUÊNCIA MACROECONÔMICA NO COMPORTAMENTO


DOS CUSTOS ASSIMÉTRICOS: UMA PERSPECTIVA CROSS-
COUNTRY
DOI: 10.37423/200300567

Maurício Leite - mauricio.leite@ymail.com


Edgar Pamplona - edgarpamplona@hotmail.com
Vinícius Zonatto - viniciuszonatto@gmail.com
Resumo: Objetivo do presente estudo foi analisar a influência dos fatores macroeconômico
no comportamento dos custos em empresas latino americanas. Para alcançar tal objetivo,
realizouse uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, por meio de pesquisa
documental. Os fatores macroeconômicos analisados foram a variação do PIB, PIB per capta,
inflação e taxa de juros. Os resultados obtidos permitem afirmar que os fatores
macroeconômicos que possuem influência significativa sobre o comportamentos dos custos
em empresas argentinas foram o PIB per capta, inflação e taxa de juros, enquanto em
empresas chilenas foram a variação do PIB e o PIB per capta. Em empresas peruanas, todas as
variáveis foram significativas. Já e empresas brasileiras, colombianas e mexicanas, nenhum
dos aspectos analisados apresentaram significância estatística. Os resultados divergentes e
conflitantes encontrados neste estudo reforçam os pressupostos de que os aspectos
macroeconômicos influenciam de forma e intensidade diferenciada no comportamento dos
custos ao longo do tempo e entre nações.

Palavras-chave: Análise Macroeconômica. Comportamento dos Custos. Custos


Assimétricos.

678
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

As empresas operam em mercados onde os preços de seus produtos são variáveis exógenas não
controladas, portanto, é importante considerar que para alcançar uma melhorar rentabilidade é
necessário uma gestão eficiente dos seus recursos. Por esta razão, os custos das empresas têm sido
estudados por diferentes áreas de pesquisa. A contabilidade, especialmente a contabilidade de custos,
tem se dedicado a estudar os métodos de mensuração dos custos, uma vez que custos mensurados
adequadamente, fornecem informações confiáveis que auxiliam a tomada de decisões (STIMOLO,
2016).

No entanto, a ausência de conhecimento acerca do comportamento dos custos pode induzir a erros
de julgamento, sendo esta a razão pela qual existe uma maior pressão sobre a investigação acerca de
sua variabilidade. Nesse contexto, Anderson e Lanen (2009) destacam que uma melhor compreensão
dos custos e práticas de gestão de custos pelas empresas é uma área de pesquisa que tem sido
negligenciada pelos pesquisadores da contabilidade gerencial. É apropriado mencionar que a
avaliação do comportamento dos custos, medida apenas pelo volume de produção ou pelas vendas,
não pode satisfazer as necessidades atuais das organizações. Informações-chave podem ser obtidas
examinando o comportamento dos custos sob a ótica de diferentes fatores, a partir dos quais podem
ser derivados modelos preditivos para estimativas de custos. (NOVÁK; BĚLAŠKOVÁ; STROUHAL, 2016).

Neste contexto, devido à importância do conhecimento do comportamento dos custos, o tema


ganhou destaque nos estudos realizados com o intuito de seu desenvolvimento teórico e prático
(ELIAS; BORGERT; RICHARTZ, 2015), essencialmente no âmbito da contabilidade gerencial (PAMPLONA
et al., 2016). Dentro desta temática, Noreen e Soderstrom (1997) observaram que os custos têm
comportamentos assimétricos (sticky costs), ou seja, aumentam mais com a elevação das atividades
operacionais das organizações e diminuindo em proporções menores com a diminuição das atividades.

A partir de tal constatação, Anderson, Banker e Janakiraman (2003) desenvolveram um modelo


alternativo identificação e mensuração dos sticky costs. Desde então, pesquisas como os de
Subramaniam e Weidenmier (2003); Balakrisman, Petersen e Soderstrom (2004); Medeiros, Costa e
Silva (2005); Calleja, Steliaros e Thomas (2006); Elias, Borget e Richartz (2015); Pamplona et al. (2016)
e Stimolo (2016) vêm investigando os determinantes do comportamento dos custos nos mais
diversificados ambientes organizacionais, bem como em diferentes contextos econômicos. Evidências
empíricas sugerem que fatores específicos de cada país, tais como infraestrutura institucional e

679
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

financeira, práticas legais e contábeis e o ambiente macroeconômicocondicionam o comportamento


dos gestores e das empresas (TERRA, 2007).

Bastos, Nakamura e Basso (2009) reforçam tal posicionamento, indicando que fatores
macroeconômicos não podem mais serrem desconsiderados, pois são fatores que ajudam a explicar o
comportamento das empresas. Nessa perspectiva, Anderson, Banker e Janakiraman (2003) e Banker,
Ciftci e Mashruwala (2008) destacam que os gestores examinam tendências macroeconômicas, tais
como crescimento do PIB e taxas de juros para estimar o impacto desses indicadores na demanda dos
produtos da empresa, que por conseguinte, impactará no comportamento dos custos das
organizações. Dessa forma, por conta da influência ambiental sobre o desempenho das organizações,
tem-se observado um maior número de estudos teóricos e empíricos em contabilidade financeira que
consideram não apenas empresas de um único país, mas também comparativamente em conjunto de
países (RAJAN; ZINGALES, 1995; BOOTH et al., 2001; TERRA, 2007; BASTOS; NAKAMURA; BASSO,
2009).

Embora tais estudos têm demonstrado que fatores macroeconômicos ajudam a explicar o
comportamento dos gestores e das organizações, não foram encontrados estudos na contabilidade
gerencial que relacionassem ou evidenciassem a influência de tais fatores ao comportamento dos
custos das organizações, o que estimula a execução deste estudo. Diante deste contexto, tem-se a
seguinte questão de pesquisa: qual a influência dos fatores macroeconômicos no comportamento dos
custos em empresas latino americanas? Para responder tal questionamento, tem-se como objetivo
deste estudo analisar a influência dos fatores macroeconômico no comportamento dos custos em
empresas latino americanas.

Conforme Abu-Serdaneh (2014), a área que estuda empiricamente o comportamento do custo é


relativamente nova e, portanto, merece ser melhor explorada. Pamplona et al. (2016) destacam que
apesar da importância do tema, poucos estudos foram realizados com o intuito de comparar o
comportamento dos custos de empresas brasileiras com outros países, especialmente relacionando
fatores macroeconômicos para entender as diferenças que podem afetar a competitividade das
organizações.

Stimolo (2016) acrescenta que evidências empíricas da existência e do comportamento dos custos
assimétricos das empresas que operam em economias emergentes é uma área que merece atenção

680
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

especial nos planos de pesquisa para melhor compreender o comportamento e gestão adequada
destes custos.

Este artigo avança no estudo dos determinantes do comportamento dos custos ao investigar a
influência dos fatores macroeconômicos no contexto Latino Americano, especificamente na
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela. A escolha desse países deve-se ao fato de
apresentam realidades econômicas, políticas e sociais semelhantes, sendo, assim, possuidores de
ambientes institucionais um tanto parecidos entre si.

Se as condições macroeconômicas são de alguma forma importantes para as decisões dos gestores,
então é provável que as empresas da América Latina tenham experimentado esses efeitos. Esse
cenário é relevante, uma vez que o estudo busca respostas também nos fatores econômicos na
determinação dos custos das empresas inseridas nesses países. Com isso, pretende-se expandir o
conhecimento sobre o comportamento dos custos sob os aspectos das variáveis externas que os
cercam e que tem implicações diretas sobre as decisões dos gestores na composição e gestão dos
custos.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

No capítulo destinado a revisão da literatura, apresenta-se a discussão teórica que suporta a pesquisa.
Esse capítulo está dividido em duas seções, que tratam dos temas comportamento dos custos e
ambiente macroeconômico cujo objetivo é suportar o constructo utilizado na pesquisa e à análise dos
resultados. Para elaboração dessa fundamentação teórica, fez-se uma busca bibliográfica nas bases
de dados SPELL- Scientific Periodicals Electronic Library; Scopus - Document Search, Science Direct,
Jstor, Portal de Periódicos Capes, ProQuest, bem como periódicos especializados em contabilidade e
finanças.

2.1 COMPORTAMENTO DOS CUSTOS

O gerenciamento de custos é uma questão importantes do desempenho corporativo e da gestão


financeira corporativa. Dessa forma compreender o comportamento dos custos é um elemento
essencial da contabilidade de custos e de gestão. Conforme Medeiros, Costa e Silva (2005), o
conhecimento do comportamento dos custos é importante tanto para pesquisadores quanto para
outros profissionais ligados à área gerencial. Adicionalmente, a razão dessa importância consiste no

681
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

fato de que a base de sustentação de muitas decisões gerenciais está no conhecimento de como os
custos podem variar em função do nível de atividade.

Calleja, Steliaros e Thomas (2006) apontam que a literatura tem demonstrado que modelos
tradicionais de comportamento de custo fazem distinção entre custos fixos e variáveis em relação a
mudanças no nível de atividade, pressupondo dessa forma que os custos fixos sejam independentes
do nível de atividade, ao passo que os custos variáveis admitem alterações proporcionais aos níveis
de atividade. Anderson, Banker e Janakiraman (2003) destacam que o modelo tradicional de
comportamento de custos relaciona os custos com diferentes níveis de atividade sem considerar como
a intervenção gerencial afeta o processo de ajuste de recursos.

Nesse contexto, Noreen (1991) e Banker, Ciftci e Mashruwala (2008) destacam que, no modelo
tradicional, os custos variáveis mudam proporcionalmente com as mudanças nos drivers de atividade,
implicando que a magnitude de uma mudança nos custos depende apenas da extensão de uma
mudança no nível de atividade, não na direção desta mudança. A contabilidade gerencial assume que
os custos variáveis são lineares e proporcionais às alterações na atividade e que os custos fixos são,
como o próprio nome sugere, fixos. A proporcionalidade e a simetria entre custos e atividade implicam
que um aumento de 1% na atividade resulta em um aumento de 1% nos custos e uma queda de 1%
na atividade resulta em uma redução de 1% nos custos (CALLEJA; STELIAROS; THOMAS, 2006).

Paralelamente ao modelo tradicional do comportamento dos custos, estão uma série de proposições
que o distanciam o modelo da maneira como os custos se comportam na realidade.

Nesse sentido, Noreen e Soderstrom (1997) e Cooper e Kaplan (1998) argumentam que os custos
aumentam mais com o aumento do volume de atividade do que diminuem em relação à redução das
atividades. Conforme Subramaniam e Weidenmier (2003), pesquisas tem demonstrado que não só os
custos não mudam proporcionalmente com a atividade, mas também podem ser “pegajosos”, isto é,
respondem diferencialmente a mudanças de atividade.

Anderson, Banker e Janakiraman (2003) classificam esse fenômeno no comportamento dos custos
como “sticky costs”. Os autores explicam que os recursos comprometidos não podem ser adicionados
ou subtraídos nas pequenas alterações nas atividades das organizações ou responder rapidamente às
mudanças na demanda. Isto ocorre porque há fricções assimétricas ao fazer ajustes de recursos, ou

682
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

seja, forças que agem para restringir ou retardar o processo de ajuste descendente mais do que o
processo de ajuste ascendentes.

Os autores constataram ainda que os custos de venda, gerais e administrativos aumentaram, em


média, 0,55% por aumento de 1% nas receitas, mas diminuem apenas 0,35% por queda de 1% nas
receitas. Na mesma linha de pesquisa, Subramaniam e Weidenmier (2003) demonstraram em seus
estudos que os custos totais aumentam 0,93% enquanto as receitas aumentaram 1%. Em contra
partida, os resultados apontaram que os custos diminuíram 0,85% ante uma queda na receita em 1%.
Ambos estudos apontaram que o nível de aderência dos custos é influenciado pelas condições
econômicas e pelas características da empresa.

São várias as explicações para este comportamento. Conforme aponta Stimolo (2016), alguns autores
argumentam que é uma consequência de decisões de gestão. No entanto, outros fatores importantes
que devem ser observados como a estrutura de custos específica de cada empresa, bem como
expectativas econômicas. Como as decisões gerenciais possuem diferentes motivações, em uma
tentativa de resumi-las, a autora os classifica em três grupos: fatores internos da própria empresa,
fatores externos à empresa e, fatores de comportamento organizacional, que se refere aos seus
próprios comportamentos gerentes e organização.

Certamente, esse comportamento assimétrico afeta a rentabilidade da empresa, e métodos de custeio


que não as consideram, podem induzir gestores à tomada de decisão pautada em medidas não
confiáveis. Neste contexto, a seção seguinte apresenta alguns estudos encontrados na literatura que
investigaram ou questionaram o comportamento dos sticky costs como resultado das decisões dos
gestores das organizações.

2.2 ESTUDOS RELACIONADOS

Provas empíricas demonstram que o comportamento dos custos em empresas que operam em
economias emergentes é uma área que merece especial atenção, o qual pode ser gerado resultados
positivos no campo acadêmico e empresarial. Nesse sentido, o propósito desta pesquisa consiste em
analisar a influência dos fatores macroeconômicos no comportamento dos custos em empresas latino
americanas.

Banker, Ciftci e Mashruwala (2008) exploraram o otimismo dos gestores utilizando dados sobre os
custos de vendas, despesas administrativas e outros encargos gerais das demonstrações financeiras

683
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

para inferir como os sinais usados pelos gerentes na formação de suas expectativas de demanda futura
afetam o comportamento de custo. Os resultados apontaram que os gerentes têm maior
probabilidade de aumentar (diminuir) a capacidade operacional quando observam dois períodos
consecutivos de aumento (diminuição) na demanda. Além das tendências nas vendas, os gerentes
também se utilizam de outros sinais para formar suas expectativas de mudanças na demanda futura,
como condições macroeconômicas, ordens de clientes e previsões de vendas dos analistas. Os autores
constataram que, quando estes sinais confirmam as tendências das vendas, eles servem para reforçar
o otimismo gerencial, portanto, tornando mais provável que os gestores ajustam a capacidade para
cima. Ademais, quanto mais altas as previsões dos analistas sobre as vendas futuras, maior é o ajuste
para cima dos custos quando as vendas aumentam e menor é o ajuste dos custos para baixo quando
as vendas diminuem.

Porporato e Werbin (2010) analisaram o sticky costs no setor bancário argentino, brasileiro e
canadense entre os anos de 2004 a 2009. Os autores constataram que se a atividade do setor se
expande, os custos crescem, mas menos do que proporcional; a relação entre um aumento de 1% do
rendimento total e o aumento dos custos é positiva, como prevê a teoria (0,60% para a Argentina,
0,82% para o Brasil e 0,94% para o Canadá). Os custos totais neste setor seguem um comportamento
“pegajoso” porque a magnitude do aumento associado a um aumento no volume de atividade ou
receita (0,60%, 0,82% e 0,94%) é maior do que a magnitude da queda associada a uma diminuição do
volume (0,38%, 0,48% e 0,55%).

Os autores sugerem ainda que que a estrutura de custos e o clima econômico são explicações válidas
para o comportamento dos custos. Bancos com maiores proporções de custos fixos, como o Brasil,
mostrarão uma menor redução de custos quando a demanda cair.

Os bancos com níveis mais altos de intensidade de ativos (ativos totais / vendas), como o Canadá,
mostrarão uma maior redução de custos quando a demanda cair. Finalmente, os bancos que operam
em um ambiente econômico incerto, como a Argentina, mostrarão o menor aumento de custos
quando a demanda aumentar e, consequentemente, também mostrarão a menor redução de custos
quando a demanda cair.

Pioneiros na literatura a considerar e testar a ligação entre as variáveis estruturais da economia e o


comportamento dos sticky costs, Banker, Byzalov e Chen (2012) investigaram sua relação com a
legislação de proteção ao emprego em 19 países da OCDE. Os resultados validaram a proposição de

684
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

que empresas em países com proteção mais rigorosa do emprego apresentam maior grau de
aderência ao custo. Os autores defendem que uma compreensão completa do comportamento de
custo e da rigidez dos custos exige uma análise cuidadosa não só dos fatores específicos das empresas,
mas também das características estruturais a nível dos países que moldam as decisões dos gestores e
das organizações.

Ao analisar o impacto de fatores macroeconômicos (inflação, taxa de juros de curto e longo prazo) no
comportamento dos custos operacionais, Poorzamani e Bakhtiary (2013) identificaram que a inflação
tem uma relação inversa com custos “pegajosos”. Já a taxa de juro de curto prazo tem uma relação
direta com os custos operacionais, no entanto, a taxa de juros de longo prazo não apresentou relação
significativa.

Analisando o comportamento dos custos no contexto brasileiro no período de 1994 e 2011 (Richartz;
Borgert, 2014), e no contexto latino americano no período de 1995 e 2012 (Marques et al., 2014),
ambos estudos confirmaram as proposições de que os custos de produtos vendidos e despesas
administrativas causam um comportamento “pegajoso” nos custos das empresas analisadas.

Um ponto não observado pela literatura contábil é como a cultura nacional impacta nos resultados
contábeis e no mercado de capitais. Nesse contexto, o estudo de Kitching, Mashruwala e Pevzner
(2016) examinou o efeito da cultura nacional sobre a tomada de decisão gerencial por meio da lente
do sticky costs. Os autores analisaram como as diferentes dimensões da cultura social (aversão à
incerteza, masculinidade, orientação a longo prazo, distância do poder e individualismo) explicam a
variação no comportamento dos custos entre países em empresas de 39 países. Os resultados
suportam a proposição de que a cultura afeta as decisões de gerenciamento de recursos tomadas
pelos gestores. Tal resultado contribui significativamente para a compreensão das diferenças no
comportamento dos custos observados entre os países.

Apesar da importância da temática, poucos estudos buscaram comparar o comportamento dos custos
de empresas brasileiras às de outras nacionalidades, especialmente relacionando fatores
macroeconômicos. Nesse contexto, Pamplona et al. (2016) analisaram o sticky costs nas 50 maiores
empresas de capital aberto brasileiras, chilenas e mexicanas em um período de 12 anos,
compreendidos entre os anos de 2002 a 2013. Os resultados evidenciaram que para as maiores
empresas de Brasil, Chile e México os custos apresentam comportamento assimétrico. Além disso, os
autores analisaram os efeitos da inflação e do crescimento do PIB no comportamento dos custos e

685
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

constataram que os custos se comportam assimetricamente, consolidando os resultados individuais


dos países. A inflação possui relação negativa com o comportamento dos custos, enquanto o
crescimento do PIB influencia positivamente o mesmo, sendo o primeiro achado significante ao nível
de 5%. A partir destes resultados, é possível inferir que fatores macroeconômicos são essenciais para
explicar diferenças no comportamento dos custos de empresas situadas em países distintos.

Com base nas pesquisas revisitadas tanto na literatura nacional quanto internacional, observou-se que
a maior parte delas centraram-se na análise do comportamento dos custos e quase que
exclusivamente com amostras de um único país. Um número pequeno de pesquisas tem se dedicado
em investigar os determinantes do comportamento dos custos, especificamente voltados em verificar
os impactos ou a influência dos fatores estruturais da economia.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para analisar a influência dos fatores macroeconômico no comportamento dos custos em empresas
latino americanas, realizou-se uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, por meio de
pesquisa documental.

O aspecto descritivo é observado na discussão do comportamento dos custos e do ambiente


macroeconômico em empresas latino americanas, apresentando assim, uma descrição da amostra
analisada. Conforme Gil (2011), uma pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população, fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis.

Quanto ao método, o estudo classifica-se como quantitativo em virtude do uso de instrumentos


estatísticos nas fases de coleta, tratamento e análise dos dados, conforme preconiza Richardson
(1999). Segundo Collis e Hussey (2005), esse método é mais objetivo, focado na mensuração de
fenômenos e, para que isto ocorra a contento, usa-se de coleta de dados numéricos e aplicação de
cálculos estatísticos.

Em relação aos procedimentos, classifica-se como pesquisa documental por utilizar-se de informações
constantes nas demonstrações contábeis das empresas. No entendimento de Cervo, Berviam e Silva
(2007), a pesquisa documental ou bibliográfica busca explicar um problema baseado em referências
teóricas, sejam elas oriundas de livros, artigos publicados, dissertações ou teses.

686
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população desta pesquisa compreendeu o conjunto de empresas Latino Americanas de capital


aberto listadas em Bolsa de Valores no período de 16 anos, observadosentre os anos de 2000 a 2015.
Para a composição da amostra, considerou-se apenas as empresa que apresentaram todas as variáveis
do estudo em pelo menos um dos anos analisados, ou seja, os dados da pesquisa são não balanceados.
A Tabela 1 apresenta o número de empresas contempladas nesta pesquisa, as quais compõem a
amostra objeto de estudo.

Tabela 1 – Amostra da pesquisa

Fonte: dados da pesquisa.

Conforme pode-se observar na Tabela 1, há uma dispersão no número de empresas que compõe a
amostra em cada país. No entanto, tal dispersão não invalida a análise dos dados, uma vez que o
modelo é gerado e analisado para cada país separadamente.

3.2 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Os valores contábeis utilizados neste estudo foram extraídos das demonstrações contábeis das
organizações estudadas, as quais encontram-se disponíveis no sítio eletrônico da Thomson ONE
BankerTM, nas bases de dados Thomson Financial e Worldscope.Foramcoletadas informações anuais
referentes à receita líquida de vendas, custos dos produtos vendidos, despesas de vendas, despesas
administrativas, ativo total e imobilizado.

Por sua vez, os dados macroeconômicos (Variação do PIB, PIB per Capta, Inflação e Taxa de Juros)
demandados no estudo, foram obtidos por meio do Banco Mundial (WORLD BANK, 2017). O modelo
utilizado para verificação da assimetria dos custos foi o de Anderson, Banker e Janakiraman (2003),
cujo modelo pode ser observado na seguinte equação:

687
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Esse modelo foi usado para avaliação da reação dos custos (Total dos Custos) em relação à variaçãodas
receitas de vendas líquidas (Receita) e para discriminação dos períodos do aumento oudiminuição da
receita. O logaritmo aplicado à equaçãodeve-se ao fato de haver diferenças significativas de porte das
empresas. Essa técnica fornece melhorcomparação das variáveis diminuindo a heteroscedasticidade
transversal dos dados(ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003).

A variável dummyassume o valor 1 quando a receita da empresa i no período t for menor do que a
receita do período t-1 e 0 caso o contrário. O coeficiente β1 determina o percentual de redução nos
custos se comparado ao aumento da receita de 1%. No entanto, quando a receita diminui a soma dos
coeficientes (β1 + β2) demonstra o percentual de redução nos custos em relação a 1% de redução na
receita. Dessa forma, pode-se mencionar que os custos terão comportamento assimétrico se a
variação dos mesmos em relação ao aumento da receita for maior que a variação em relação à redução
da receita (ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003; MEDEIROS; COSTA; SILVA, 2005; PAMPLONA
et al.; 2016).

Destaca-se que que os dados são colocados em logaritmo a fim de mitigar a diversidade de empresas
quanto ao desempenho e tamanho, visando assim diminuir a heterocedasticidade transversal dos
dados (ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003).

A partir destas proposições, foi elaborado o seguinte modelo para analisar a influência dos fatores
macroeconômico no comportamento dos custos em empresas latino americanas:

O modelo acima proposto é operacionalizado com a variável dependente Custos Totais (CT), cujo valor
resulta da somatória dos Custos dos Produtos Vendidos (CPV) e Despesas com Vendas (gerais e
administrativas). Como variáveis independentes (explicativas), considerou-se as variáveis
macroeconômicas Variação do PIB (ΔPIB), PIB per capta, Inflação e Taxa de Juros. Reforça-se que no

688
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

presente modelofoi testado de forma individualizada por país. Após este processo foi possível realizar
a análise comparativa entre os grupos de países analisados.

Para a análise dos dados foi utilizadoa técnica estatística de dados em painel, por meio do software
STATA®.De acordo com Fávero et al. (2009), a análise de dados em painel possui três abordagens mais
comuns: efeitos fixos (Fixed-effects), efeitos aleatórios (Random-effects) e pooled independent cross-
sections ou (POLS – Pooled ordinary least squares).

Primeiramente realizou-se a análise de dados de regressão por efeitos fixos e aleatórios, para verificar
o modelo que mais se adaptava aos dados do estudo. Além disso, aplicou-se o teste de Chow, que
representa um teste F utilizado para determinar se os parâmetros de duas funções de regressão
múltipla diferem entre si (FÁVERO et al., 2009). Posteriormente ao modelo de efeitos fixos, aplicou-se
o teste LM de Breusch-Pagan para verificar se o modelo aleatório poderia ser adequado para os dados
analisados, sendo que para confirmar tal opção, aplicou-se o teste de Hausman.

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Esta seção apresenta os resultados obtidos a partir do que se estabeleceu nos objetivos da pesquisa e
delineado nos procedimentos metodológicos. A primeira análise refere-se ao comportamento dos
custos em empresas latino americanas no período de 2000 a 2015 conforme equação 1 e apresentado
na tabela 2.

Tabela 2: Comportamento dos custos em empresas latino americanas

*Significância ao Nível de 5%; ** Significância ao Nível de 10%.

Fonte: dados da pesquisa.

Conforme pode-se observar na tabela 2, para o conjunto de empresas latino americanas que compõe
a amostra deste estudo, o 2 apresentou-se negativo para todos os países, corroborando com o
entendimento de que os custos aumentam proporcionalmente mais do que caem quando da mudança

689
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

no nível de atividade das empresas (comportamento sticky). Ressaltase que, apenas para as empresas
colombianas, o resultado foi significativo ao nível de 5% para as duas variáveis ( 1 2).No entanto,
tal resultado vai ao encontro dos achados do estudo seminal de Anderson, Banker e Janakiraman
(2003) no contexto norte-americano, que apontam que os sticky costs ocorrem porque há fricções
assimétricas ao fazer ajustes de recursos, ou seja, forças que agem para conter ou retardar o processo
de ajuste descendente mais do que o processo de ajuste para cima.

Além do mais, os resultados encontrados corroboram com os estudos de Richard e Borgert (2014)
quando analisaram o comportamento dos custos das empresas brasileiras entre os anos de 1994 e
2011; Marques et al. (2014) no contexto latino americano no período de 1995 e 2012; Pamplona et al.
(2016) também em países latino americanos no período de 2002 a 2013; além de Kitching, Mashruwala
e Pevzner (2016) que analisaram o comportamento dos custos entre 39 países, dentre eles, os que
compõe este estudo.

Referente ao comportamento dos custos em empresas argentinas, os resultados demonstram que


quando a receita aumenta em 1% os custos aumentam em 0,8894%, no entanto quando as receitas
caem, os custos caem apenas 0,1400%. Já em empresas brasileiras, quando as receitas aumentam 1%,
os custos aumentam em 0,8202, e quanto as receitas recuam em 1% os custos reduzem apenas em
0,0004%. No contexto chileno, quando as vendas aumentam em 1%, os custos sobem 0,7998%, já
quando as receitas diminuem, os custos recuam 0,0188%.

Para as empresas colombianas, quando os recitas aumentam 1%, os custos sobem 0,8048, e quando
as receitas diminuem 1% os custos diminuem em 0,4135%. Já os resultados demonstraram que para
as empresas mexicanas, quando as receitas aumentam 1% os custos aumentam 0,8584%, e quando as
receitas caem 1% os custos caem 0,0489%. Por fim, no contexto das empresas peruanas, quando as
receitas aumentas em 1%, os custos sobem 0,7312% e quando as receitas caem 1% os custos caem
0,1070%.

Com tais resultados, pode-se afirmar que as empresas argentinas possuem maior aumento nos custos
quando há um aumento das receitas e as empresas peruanas o menor aumento dos custos. Por outro
lado, também pode-se afirmar as empresas brasileiras em mexicanas possuem os custos mais sticky e
as empresas peruanas as menos sticky. Tal inferência pode ser observada no coeficiente 1 + 2
conforme demonstrado na tabela 2.Este resultado alinha-se com os achados no estudo de Pamplona
et a. (2016). Os autores identificaram em seu estudo que dentro dos três países analisados, as

690
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

empresas brasileiras foram as que apresentaram maior aumento dos custos quando há um
incremento da receita, seguidos das empresas mexicanas e empresas chilenas. No entanto esta ordem
modificou-se em relação à redução dos custos quando há uma queda nas receitas, ou seja, as
empresas brasileiras reduzem mais os custos, seguidas pelas chilenas e pelas mexicanas.

Conforme Balakrishnan, Petersen e Soderstrom (2004), pelo fato de determinadas empresas que
atuam em capacidade máxima serem impactadas em determinado momento pelo aumento relevante
no volume de atividades, necessitando para suprir a nova demanda a realização de novos
investimentos, diferentemente de empresas que possuem capacidade ociosa, que podem utilizar
muitas vezes esta folga para suprir necessidades de aumento de demanda, não necessitando, neste
caso, de investimentos. Tais evidências sugerem, com isso, que quando ocorre elevação das receitas
mediante aumento no nível de atividade em empresas que estejam operando em capacidade máxima,
tal incremento na receita, se não significante, não é suficiente para cobrir os investimentos, fazendo
que com os custos aumentem mais do que a receita líquida de vendas, principalmente no curto prazo,
conforme observado.

Verificado e analisado as diferenças no comportamento dos custos em empresas latino americanas no


período de 2000 a 2015, analisou-se a influência dos fatores macroeconômicos no comportamento
dos custos conforme equação 2 estabelecida no constructo desta pesquisa, ou seja, foram adicionados
na equação 1 as variáveis Variação do PIB (ΔPIB), PIB per capta, Inflação e Taxa de Juros. Os resultados
podem ser observados na tabela 3.

691
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3: Fatores macroeconômicos no comportamento dos custos em empresas latino americanas

*Significância ao Nível de 5%; ** Significância ao Nível de 10%.

Fonte: dados da pesquisa.

Após a aplicação da modelagem de dados em painel por meio do software Stata®, identificou-se que
o melhor modelo para a análise das empresas argentinas, brasileiras e peruanas foi o de efeitos fixo
(Fixed-effects), para as empresas chilenas e mexicanas foi o de efeitos aleatório (Randon-effects),
enquanto para as empresas colombianas foi o modelo Pols(Pooled ordinary least squares), sendo que
todos os modelos observados apresentaram nível de significância de 5%. Além disso observa-se que
boa adequação dos modelos observado pelo R². O menor R² foi do modelo de efeitos aleatório
mexicano (23,90%). Embora este percentual pareça baixo, esse coeficiente indica boa adequação da
modelagem propostaconforme preconizado por Fávero et al. (2009).

Conforme pode-se observar na tabela 3, a Variação do PIB (ΔPIB) apresentou uma influência positiva
no comportamento dos custos em empresas argentinascom coeficiente de - 0,0191, em empresas
chilenasde -0,0830), colombianas de -0,0048 e em empresas peruanas com coeficiente de -0,0427).
Estes resultados indicam que a Variação do PIB (ΔPIB) influencia positivamente no comportamento
assimétricos dos custos, ou seja, nas empresas analisadas desses países no período de 2000 a 2015,
os custos totais reduziram menos em períodos em que há queda nas receitas. Destaca-se que apenas
para as empresas chilenas e peruanas estes resultados significativos ao nível de 5%.

692
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Já em relação às empresas brasileiras e mexicanas, a Variação do PIB (ΔPIB) apresentou uma variação
negativa no comportamento dos custos, tendo como coeficientes em empresas brasileiras de 0,0028
e mexicanas de 0,0184. Estes resultados indicam que a Variação do PIB (ΔPIB) reduz a assimetria dos
custos fazendo com que os custos tenham uma queda proporcionalmente maior quando há uma
redução nas receitas. No entanto estes coeficientes não apresentaram-se significativos. Apesar de não
significativo, o coeficiente positivo é similar aos achados estatisticamente significantes encontrados
nos estudos de He, Teruya e Shimizu (2010) no contexto Japonês e de Abu-Serdaneh (2014) no
contexto Jordaniano.

Além disso, Pamplona et al. (2016) encontram em seu estudo resultados semelhantes quando
analisaram o comportamento dos custos em empresas brasileiras, chilenas e mexicanas.

Os resultados encontrados por estes autores são semelhantes aos apresentados neste trabalho,
diferindo-se somente em relação às empresas chilenas. Tal divergência pode estar relacionada ao fato
que no estudo de Pamplona et al. (2016) a análise foi consolidada para os três países, e nesta pesquisa
feita individualmente.

Diante de tais resultados, pode-se afirmar que somente em empresas chilenas e peruanas a Variação
do PIB (ΔPIB) influencia no comportamento assimétrico dos custos, ou seja, que há uma menor
redução dos custos quando há uma redução das receitas, sendo que empresas dos demais países não
pode-se chegar à uma conclusão sobre tal comportamento pelo fatos de que pelo modelo analisado
esta variável não apresentou significância estatística.

OPIB per captaapresentou uma influência positiva no comportamento dos custos em empresas
argentinas com coeficiente de -0,4870, em empresas brasileiras de -0,3945, em empresas chilenas de
-0,4105, colombianas de -0,0,9275 e em empresas peruanas com coeficiente de -1,1222. Destaca-se
que os coeficientes em empresas argentinas apresentaram coeficiente significativo ao nível de 5%, os
coeficientes em empresas chilenas e peruanas significância de 10%, e os coeficientes em empresas
brasileiras e colombianas não apresentaram significância estatística. Estes resultados apontam que,
pelo sinal negativo dos coeficientes, o PIB per captainfluencia positivamente no comportamento
assimétricos dos custos, ou seja, os custos totais reduziram menos em períodos em que há queda nas
receitas.

693
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Somente em empresas mexicanas esse comportamento foi oposto pois o coeficiente apresentado foi
de 0,064,73, indicando que o PIB per capta influencia negativamente no comportamento assimétricos
dos custos, ou seja, os custos totais reduziram mais em períodos em que há queda nas receitas. No
entanto este coeficiente não apresentou significância estatística.

De modo geral pode-se afirmar que em empresas argentinas, chilenas e peruanas, o PIB per capta
influencia positivamente e significativamente no comportamento assimétrico dos custos. Destaca-se
que não foram encontrados na literatura da base de dados pesquisada estudos que forneçam
indicativos da influência do PIB per capta no comportamento dos custos não permitindo, desta forma,
comparação de tais resultados.

Em relação ao fator macroeconômico Inflação, o mesmo apresentou uma influência positiva no


comportamento dos custos em empresas chilenas com coeficiente de -0,0327, em empresas
colombianas de -0,1277, e em empresas peruanas de -0,0230. Estes resultados indicam que, pelo sinal
negativo dos coeficientes, a Inflação influencia positivamente no comportamento assimétricos dos
custos, ou seja, os custos totais reduziram menos em períodos em que há queda nas receitas. No
entanto, destaca-se que tais coeficientes não apresentaram significância estatística. Já em empresas
argentinas, o coeficiente foi de 0,0434, em empresas brasileiras de 0,0208 e em empresas mexicanas
de 0,0783. Dessa forma há indicativos de que, nesses países, a Inflação reduz a assimetria dos custos
fazendo com que os custos tenham uma queda proporcionalmente maior quando há uma redução nas
receitas. No entanto estes coeficientes não apresentaram-se significativos.

Assim como nos resultados encontrados no estudo de Pamplona et al. (2016) para a variável
macroeconômica Variação do PIB (ΔPIB), os autores também indicaram a Inflação possui uma
influência negativa da Inflação no comportamento dos custos assimétricos em empresas brasileiras,
chilenas e mexicanas quando analisadas em conjunto. Dessa forma, pela análise separada entre os
países, o presente estudo encontrou a mesma influência para em empresas brasileiras e mexicanas, e
positiva para as chilenas, apesar de não indicarem significância estatística.

Sendo assim, com os resultados apresentados, pode-se afirmar que somente em empresas argentinas
a Inflação possui influência negativamente e significativano comportamento assimétrico dos custos.
Este resultado corrobora com a pesquisa de Poorzamani Bakhtiary (2013) que no contexto do país
Teerã entre os anos de 2007 a 2012, no qual os autores encontraram evidências da relação negativa e
significativa entre a taxa de inflação e a rigidez dos custos operacionais. Conforme evidenciado por

694
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Sorros e Karagiorgos (2013), a diversidade de aspectos macroeconômicosao longo do tempo e entre


nações tem sido de essencial

importância para o entendimento do comportamento dos custos. Desta forma, a variável de Inflação
pode ser considerada um determinante dos efeitos macroeconômicos no comportamento dos custos
nestes países.

Por fim, a variável Taxa de Juros apresentou uma influência positiva no comportamento dos custos
em empresas argentinas com coeficiente de -0,0483, em empresas brasileiras de - 0,0085 e empresas
peruanas de -0,0499, sendo que apenas em empresas argentinas e peruanas os coeficientes se
apresentaram significativos ao nível de 5%. Estes resultados indicam que a Taxa de Juros nesses países
influencia positivamente no comportamento assimétricos dos custos, ou seja, os custos totais
reduziram menos em períodos em que há queda nas receitas.

Poorzamani e Bakhtiary (2013) também encontraram evidências de uma relação positiva e significativa
entre a taxa de juro de curto prazo e sticky cost. No entanto não evidenciaram relação significativa
entre a taxa de juro de longo no mercado de ações do Irã.

Já em empresas chilenas apresentaram coeficiente de 0,0340, em empresas colombianas de 0,0852 e


mexicanas de 0,0086, indicando que a Taxa de Juros influencia negativamente no comportamento
assimétricos dos custos, ou seja, os custos totais reduziram mais em períodos em que há queda nas
receitas. No entanto em nenhum destes três países os coeficientes foram significativos.Com o intuito
de facilitar a compreensão dos resultados encontrados nesta pesquisa acerca da influência dos fatores
macroeconômicos no comportamento dos custos em empresas latino americanas, apresenta-se os
dados consolidado na tabela 4.

Tabela 4: Influência dos Fatores macroeconômicos no comportamento dos custos

*Significativo

Fonte: dados da pesquisa.

695
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Diante das informações expostas na tabela 4, observa-se que entre os países que compõe a amostra
deste estudo no período de 2000 a 2015, os fatores macroeconômicos exercem influência significativa
sobre o comportamento no Peru, Argentina e Chile, enquanto no Brasil, Colômbia e México não houve
significância estatística. Diante de tais resultados divergentes e conflitantes entre os países,
demonstra que os aspectos macroeconômicos tem influenciado o comportamento dos custos de
forma diferenciada ao longo do tempo e entre nações, corroborando com a importância do estudo de
tais fatores para a compreensão de seus efeitos sobre o comportamento dos custos das organização.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desempenho corporativo perpassa pela eficiência da gestão financeira e pelo gerenciamento dos
custos. O comportamento dos custos é um elemento essencial da contabilidade gerencial. A razão
dessa importância consiste no fato de que a base de sustentação de muitas decisões gerenciais está
no conhecimento de como os custos podem variar em função do nível de atividade. Sendo assim,
entender o comportamento dos custos é primordial para gerir qualquer organização. Tal preocupação
acerca do comportamento dos custos passou a ser foco de estudos empíricos, principalmente a partir
do início do século XXI.

A contabilidade gerencial e, especialmente da contabilidade de custos, apontam para a existência de


uma relação simétrica entre custos e receitas é simétrica quando da diminuição ou aumento do nível
de atividade. Nesse sentido, evidências apontadas tanto pela literatura nacional quanto pela literatura
internacional apontam que o comportamento dos custos é proporcional às mudanças nos níveis de
atividades das organizações.

No entanto, Noreen e Soderstrom (1997) destacam que alguns custos sobem mais com o aumento no
volume de atividade do que caem quando da diminuição das receitas. Uma das explicações para este
comportamento é o atraso dos gestores para reduzir os custos ao diminuir o volume de atividade, em
uma espécie de forças opostas entre manter o custo de capacidade ociosa e incorrer a partida de
custos e substituição de recursos descartados. A partir deste pressuposto, Anderson et al. (2003)
apresentaram um modelo alternativo para o entendimento do comportamento dos custos, o qual
preconiza que os mesmos são assimétricos. Tal situação é denominado pela literatura de “sticky
costs”, o qual ser identificado por meio da análise da sensibilidade das mudanças nos custos diante da
redução do volume de atividade.

696
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Desde então, pesquisas tem procurado identificar os determinantes do comportamento dos custos
nos mais diversificados ambientes organizacionais, bem como em diferentes contextos econômicos, o
qual sugerem que fatores específicos de cada país, tais como infraestrutura institucional e financeira,
práticas legais e contábeis e o ambiente macroeconômico condicionam o comportamento dos
gestores e das empresas. Diante deste contexto, o presente estudo objetivou analisar a influência dos
fatores macroeconômico no comportamento dos custos em empresas latino americanas.

Para alcançar tal objetivo, realizou-se uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, por meio
de pesquisa documental. A população deste estudo compreendeu o conjunto de empresas latino
americanas de capital aberto listadas em Bolsa de Valores no período de 16 anos, observados entre
os anos de 2000 a 2015. Para a composição da amostra, considerou-se apenas as empresa que
apresentaram todas as variáveis do estudo em pelo menos um dos anos analisados. Dessa forma,
fizeram parte da amostra 53 empresas argentinas (602 observações), 290 brasileiras (3.177
observações), 180 chilenas (2.083 observações), 60 colombianas (452 observações), 99 mexicanas
(961 observações) e por fim, 126 empresas peruanas (1.507 observações).

Os valores contábeis foram extraídos das demonstrações contábeis das organizações disponíveis no
sítio eletrônico da Thomson ONE BankerTM, nas bases de dados Thomson Financial e Worldscope.
Foram coletadas informações anuais referentes à receita líquida de vendas, custos dos produtos
vendidos, despesas de vendas, despesas administrativas, ativo total e imobilizado. Por sua vez, os
dados macroeconômicos analisados para identificar os determinantes do comportamento dos custos
foram a variação do PIB, PIB per Capta, inflação e taxa de Juros, obtidos por meio do Banco Mundial.
O modelo utilizado para verificação da assimetria dos custos foi o de Anderson, Banker e Janakiraman
(2003). Para a análise dos dados foi utilizado a técnica estatística de dados em painel, por meio do
software STATA®.

Os resultados obtidos neste estudo corrobora com o entendimento de que os custos aumentam
proporcionalmente mais do que caem quando da mudança no nível de atividade das empresas
(comportamento sticky) em empresas latinos americanas no período analisado. Tal resultado vai ao
encontro dos achados do estudo seminal de Anderson, Banker e Janakiraman (2003) que apontam que
os sticky costs ocorrem porque há fricções assimétricas ao fazer ajustes de recursos, ou seja, forças
que agem para conter ou retardar o processo de ajuste descendente mais do que o processo de ajuste
para cima. Com tais resultados, pode-se afirmar que as empresas argentinas possuem maior aumento

697
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

nos custos quando há um aumento das receitas e as empresas peruanas o menor aumento dos custos.
Por outro lado, também pode-se afirmar as empresas brasileiras em mexicanas possuem os custos
mais sticky e as empresas peruanas as menos sticky.

Em relação à influência dos fatores macroeconômicos no comportamento dos custos, os resultados


demonstraram uma influência significativa sobre o comportamento no Peru, Argentina e Chile,
enquanto no Brasil, Colômbia e México não houve significância estatística.

De forma geral, este estudo contribui para o entendimento da existência de comportamento de custos
assimétrico quando da redução das receitas em empresas latino americanas no período analisado.
Diante de tais resultados divergentes e conflitantes entre os países, demonstra que os aspectos
macroeconômicos tem influenciado o comportamento dos custos de forma diferenciada ao longo do
tempo e entre nações, corroborando com a importância do estudo de tais fatores para a compreensão
de seus efeitos sobre o comportamento dos custos das organização. Este estudo procurou contribuir
para o avanço nos estudo dos determinantes do comportamento dos custos ao investigar a influência
dos fatores macroeconômicos no contexto latino americano.

A escolha desse países deve-se ao fato de apresentam realidades econômicas, políticas e sociais
semelhantes, sendo, assim, possuidores de ambientes institucionais um tanto parecidos entre si. Além
disso, as condições macroeconômicas são de alguma forma importantes para as decisões dos gestores.
A compreensão deste cenário é relevante, uma vez que o estudo busca respostas também nos fatores
econômicos na determinação dos custos das empresas inseridas nesses países. Com isso, pretende-se
expandir o conhecimento sobre o comportamento dos custos sob os aspectos das variáveis externas
que os cercam e que tem implicações diretas sobre as decisões dos gestores na composição e gestão
dos custos.

Como limitação desta pesquisa, destaca-se que as empresas analisadas pertencem a seis dentre os 20
países latino americanos devido à disponibilidade de dados nas bases pesquisada, e investigou quatro
fatores macroeconômicos, o que impede a generalização dos resultados, no entanto, não invalida os
resultados alcançados.

Desta força, instiga-se a continuidade das pesquisas sobre o tema a fim de que tais resultados possam
ser comparados. Sugere-se a ampliação da amostra de estudo com países fora do eixo latino
americano, bem como investigação de outros fatores macroeconômicos não alcançados por este

698
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

estudo. Além disso, outros métodos quantitativos de análise podem contribuir para o processo de
identificação comportamento dos custos. Reforça-se ainda a relevância das pesquisas científicas
voltadas para o desenvolvimento de novos modelos de análise do comportamento dos custos.

REFERÊNCIAS

ABU-SERDANEH, Jamal. The asymmetrical behavior of cost: evidence from Jordan. International
Business Research, v. 7, n. 8, p. 113, 2014.

ANDERSON, Mark C.; BANKER, Rajiv D.; JANAKIRAMAN, Surya N. Are selling, general, and
administrative costs “sticky”?. Journal of Accounting Research, v. 41, n. 1, p. 47-63, 2003.

ANDERSON, Shannon W.; LANEN, William N. Understanding Cost Management: What Can We Learn
from the Evidence on 'Sticky Costs'?. Available at SSRN 975135, 2007.

BALAKRISHNAN, Ramji; GRUCA, Thomas S. Cost Stickiness and Core Competency: A Note.
Contemporary Accounting Research, v. 25, n. 4, p. 993-1006, 2008.

BALAKRISHNAN, Ramji; PETERSEN, Michael J.; SODERSTROM, Naomi S. Does capacity utilization affect
the “stickiness” of cost?. Journal of Accounting, Auditing & Finance, v. 19, n. 3, p. 283-300, 2004.

BALAKRISHNAN, Ramji; PETERSEN, Michael J.; SODERSTROM, Naomi S. Does capacity utilization affect
the “stickiness” of cost?. Journal of Accounting, Auditing & Finance, v. 19, n. 3, p. 283-300, 2004.

BANKER, Rajiv D.; BYZALOV, Dmitri; CHEN, Lei Tony. Employment protection legislation, adjustment
costs and cross-country differences in cost behavior. Journal of Accounting and Economics, v. 55, n. 1,
p. 111-127, 2013.

BANKER, Rajiv D.; CIFTCI, Mustafa; MASHRUWALA, Raj. Managerial optimism, prior period sales
changes, and sticky cost behavior. Prior Period Sales Changes, and Sticky Cost Behavior (November 12,
2008), 2008.

BASTOS, Douglas Dias; NAKAMURA, Wilson Toshiro; BASSO, Leonardo Fernando Cruz. Determinantes
da estrutura de capital das companhias abertas na América Latina: um estudo empírico considerando
fatores macroeconômicos e institucionais. Revista de Administração Mackenzie, v. 10, n. 6, 2009.

BOOTH, Laurence et al. Capital structures in developing countries. The journal of finance, v. 56, n. 1,
p. 87-130, 2001.

CALLEJA, Kenneth; STELIAROS, Michael; THOMAS, Dylan C. A note on cost stickiness: Some
international comparisons. Management Accounting Research, v. 17, n. 2, p. 127-140, 2006.

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia Científica. 6. ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e
pós-graduação. Bookman, 2005.

699
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

COOPER, R.; KAPLAN, R. S. The Design of Cost Management Systems: Text, Cases, and Readings. Upper
Saddle River, NJ: Prentice Hall. 1998.

ELIAS, Thayse Moraes; BORGERT, Altair; RICHARTZ, Fernando. A influência dos gastos com mão de
obra na assimetria dos custos das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa. Contabilometria, v.
2, n. 1, 2015.

FÁVERO, Luiz Paulo; BELFIORE, Patrícia; SILVA, Fabiana Lopes da; CHAN, Betty Lilian. Análise de dados:
modelagem multivariada para tomada de decisões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MEDEIROS, Otávio Ribeiro de; COSTA, Patrícia de Souza; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Testes
empíricos sobre o comportamento assimétrico dos custos nas empresas brasileiras. Revista
Contabilidade & Finanças, v. 16, n. 38, p. 47-56, 2005.

NOREEN, Eric. Conditions under which activity-based cost systems provide relevant costs. Journal of
Management Accounting Research, v. 3, n. 4, p. 159-168, 1991.

NOREEN, Eric; SODERSTROM, Naomi. The accuracy of proportional cost models: evidence from
hospital service departments. Review of Accounting Studies, v. 2, n. 1, p. 89-114, 1997.

NOREEN, Eric; SODERSTROM, Naomi. The accuracy of proportional cost models: evidence from
hospital service departments. Review of Accounting Studies, v. 2, n. 1, p. 89-114, 1997.

NOVÁK, Petr; BĚLAŠKOVÁ, Silvia; STROUHAL, Jiří. The Cost Behavior Analysis Through Regression
Models and Its Application in Managerial Decision-Making Process. Issues, v. 8, p. 10, 2016.

PAMPLONA, Edgar; FIIRST, Clóvis; SILVA, Thiago Bruno de Jesus; ZONATTO, Vinícius Costa da Silva.
Sticky costs in cost behavior of the largest companies in Brazil, Chile and Mexico. Contaduría y
Administración, v. 61, n. 4, p. 682-704, 2016.

PORPORATO, Marcela; WERBIN, Eliana Mariela. Active Cost Management in Banks: Evidence of Sticky
Costs in Argentina, Brazil and Canada. SSRN Working Paper Series, 2010.

RAJAN, Raghuram G.; ZINGALES, Luigi. What do we know about capital structure? Some evidence from
international data. The journal of Finance, v. 50, n. 5, p. 1421-1460, 1995.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas,1999.

SORROS, John; KARAGIORGOS, Alkiviadis. Understanding Sticky Costs and the Factors Affecting Cost
Behavior: Cost Stickiness Theory and its Possible Implementations. 2013.

STIMOLO, María Inés. Análisis del comportamiento pegadizo de los costos en empresas argentinas que
cotizan en el mercado. 2016. Tese (Doctorado de Ciencias Económicas). Facultad de Ciencias
Económicas - Universidad Nacional de Córdoba.

SUBRAMANIAM, Chandra; WEIDENMIER, Marcia L. Additional evidence on the sticky behavior of costs.
Social Science Research Network, 2003.

700
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

SUBRAMANIAM, Chandra; WEIDENMIER, Marcia L. Additional evidence on the sticky behavior of costs.
Social Science Research Network, 2003.

TERRA, Paulo Renato Soares. Estrutura de capital e fatores macroeconômicos na América Latina.
Revista de Administração, v. 42, n. 2, p. 192-204, 2007.

WORL BANK. World Development Indicators.Disponível em: <

http://data.worldbank.org/indicator>. Acesso em 17 de janeiro de 2017.

701
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 33

CONTROLE E APURAÇÃO DE RESULTADO NA AGRICULTURA


FAMILIAR SOB A ÓTICA DA SUSTENTABILIDADE DE
PRODUTORES RURAIS
DOI: 10.37423/200300568

Alberto Fernando Queiroz Medeiros (Graduado em Ciências Contábeis


Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR – campus de Vilhena).
albertofernando007@hotmail.com
Wellington Silva Porto (Mestre em Engenharia de Produção -Fundação Universidade
Federal de Rondônia – UNIR – campus de Vilhena).
wsporto2009@gmail.com
José Arilson de Souza (Doutor em Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente
Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR – campus de Vilhena).
professorarilson@hotmail.com
Deyvison de Lima Oliveira (Doutor em Administração - Fundação Universidade
Federal de Rondônia – UNIR – campus de Vilhena).
deyvilima@ibest.com.br

Resumo: A agricultura familiar no Brasil se destaca pela importante participação na economia


do país. É um setor com potencialidades para o desenvolvimento socioeconômico e
sustentável do país. Entretanto, necessita da formulação de diretrizes para contribuir com o
seu fortalecimento. A gestão de custos é uma importante ferramenta para os produtores
utilizarem na administração de sua produção.

702
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quando controlam os custos de produção, os produtores sabem verificar se há viabilidade econômico-


financeira nas suas atividades. O objetivo do artigo é apresentar uma visão da agricultura familiar, sob
a perspectiva da sustentabilidade do agronegócio, referente à apuração de resultado. Assim,
procurou-se saber quais procedimentos os produtores utilizam para apurar o resultado; o grau de
satisfação sobre o resultado apurado e os possíveis erros apresentados pelos produtores ao apurarem
o resultado de suas produções. Por meio de uma pesquisa de campo, junto aos produtores rurais de
Cerejeiras/RO, foi possível verificar que os produtores rurais, em sua maioria, não controlam os gastos
de suas produções. Eles estão satisfeitos na atividade rural, mas não sabem se operam com lucro ou
prejuízo. A maioria desconhece as terminologias de apuração de resultado da produção. Inclusive,
compreende incorretamente que o lucro representa os recebimentos resultantes das vendas dos
produtos.

Palavras-chave: Agricultura familiar. Resultado. Sustentabilidade.

703
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A agricultura familiar é uma das atividades rurais relevantes no agronegócio brasileiro. De acordo com
o Censo Agropecuário (2006), a agricultura familiar representa 84,4% dos estabelecimentos
agropecuários existentes no Brasil. E segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (2010), a
agricultura familiar no Brasil é responsável por mais de 40% do valor bruto da produção agropecuária
e suas cadeias produtivas correspondem a 10% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do País.

A maioria dos alimentos que os brasileiros consomem diariamente é produzida pela agricultura
familiar. Daí a sua importância no desenvolvimento social, econômico e ambiental do país. Como o
Brasil tem um grande potencial na área de agricultura familiar há a necessidade de fortalecer esse
setor para criar alternativas que contribuam com o desenvolvimento sustentável das atividades
exploradas no ambiente rural.

Apurar resultados satisfatórios na agricultura familiar brasileira é um dos grandes desafios que os
agricultores familiares enfrentam. De acordo com o Censo Agropecuário (2006), a agricultura familiar
apresenta 4.367.902 estabelecimentos. Um número expressivo, e que exige uma atenção especial por
parte do governo. Diante desse quadro, o problema que norteou a pesquisa foi: De que forma os
produtores rurais de Cerejeiras procedem para fazer o controle e apuração dos resultados de suas
produções? O objetivo geral é apresentar uma visão da agricultura familiar do ponto de vista da
sustentabilidade desse ramo de negócio no município de Cerejeiras/RO, Município localizado na região
do cone sul do estado de Rondônia, no que tange à apuração de resultado. Para alcançá-lo, no decorrer
da pesquisa, buscou-se, especificamente, conhecer os procedimentos de apuração de resultados que
eles utilizam; averiguar o nível de satisfação quando apuram os seus resultados com as suas
produções; bem como, identificar os erros cometidos pelos agricultores familiares à luz de receita,
despesa, custo, lucro e prejuízo ao apurarem os seus resultados.

Para alcançar os objetivos propostos e buscar uma solução para o problema encontrado, o método
utilizado foi a pesquisa de campo. Como a pesquisa está voltada para os agricultores familiares fez-se
necessário buscar informações atuais relevantes sobre o assunto.

O instrumento de coleta de dados empregado na pesquisa foi o formulário, que tem como
característica a presença do pesquisador, aplicado diretamente para 86 (oitenta e seis) agricultores
familiares. A escolha se deu em amostra não-probabilística intencional, dentro de um universo de 854

704
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

estabelecimentos de agricultura familiar cadastrados em Cerejeiras, segundo dados do Censo


Agropecuário (2006). A amostra, de 10%, foi escolhida baseando-se numa lista de agricultores
familiares mais representativos de Cerejeiras, em relação à produção, fornecida pela EMATER.

2 AGRICULTURA FAMILIAR

Nesse tópico serão abordados os aspectos históricos, conceituais e legais a respeito da agricultura
familiar, bem como sobre os mecanismos de controle e apuração de resultado neste segmento rural.

2.1 O CONTEXTO HISTÓRICO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL

A agricultura familiar é um dos grandes assuntos debatidos no século XXI no Brasil. Devido a sua grande
importância na economia brasileira, o governo deu mais atenção, criando políticas agrícolas para o
seu fortalecimento. Mas o que é agricultura familiar? Um conceito padronizado para esta interrogativa
é algo desafiante, já que não há um conceito específico.

Na visão de Lamarche et al. (1993, p. 15), a agricultura explorada no âmbito familiar “[...]corresponde
a uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados a família.
A interpendência desses três fatores no funcionamento da exploração engendra necessariamente
noções mais abstratas e complexas”. Tal caracterização se aproxima da realidade da agricultura
familiar. Se o conceito de agricultura está na arte de cultivar a terra, agricultura familiar é a família
envolvida nesse processo de cultivo da terra. Lima et al. (2006, p. 59) esclarece que “Agricultura
familiar é hoje o que predomina no Brasil quando se refere aos que vivem no campo, que trabalham
com a família, em pequenas áreas de terra ou não, produzindo prioritariamente para a reprodução da
força de trabalho familiar”.

De acordo com Lamarche et al. (1998, p. 28), “No Brasil, mais particularmente, ao longo da década de
1970, as atenções se polarizaram sobre a importância da chamada “pequena produção” e sua
participação na produção geral da agricultura do país”. A chamada pequena produção, é o resultado
da exploração dos agricultores familiares, inseridos em todo o território brasileiro. A agricultura
familiar é um setor que apresenta muitas vantagens socioeconômicas para o país. Segundo Lamarche
et al. (1993, p. 13), “[...] a produção agrícola é sempre, em maior ou menor grau, assegurada por
explorações familiares, ou seja por explorações nas quais a família participa na produção”.

Nas palavras de Silva et al. (1978, p. 163), as pequenas propriedades têm uma importância muito
grande no abastecimento alimentar e no fornecimento de matérias-primas industriais. “[...]a pequena

705
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

produção é ainda responsável pela maior parte do abastecimento alimentar das cidades e do próprio
meio rural, atendo-se a produção capitalista a outras atividades que podem ser consideradas mais
rentáveis”.

A diversidade de alimentos produzidos no Brasil é uma característica básica da agricultura familiar.


Nas explorações para o cultivo da terra é necessário acompanhamento técnico para auxiliar o pequeno
produtor na hora de decidir o que produzir, como produzir e quanto produzir. Exportar em um país
agropecuário é vantajoso, mas é importante abastecer o mercado local. E a agricultura familiar vem
contribuindo com isso há muito tempo. Contudo, é necessário criar mecanismos que fortaleçam o
desenvolvimento produtivo nesse setor.

De acordo com Batalha et al. (2001, p. 326), “Entre as principais políticas voltadas para a agricultura
estão o crédito rural, a política de preços mínimos e de estoques reguladores”. É importante para os
agricultores familiares se estes aderirem a essas políticas agrícolas. Elas têm o papel de regular a
produção e a demanda no setor rural. Isso porque o setor é marcado por duas características básicas:
a sazonalidade e a influência climática.

Ainda segundo Batalha et al. (2001), o momento histórico de maior intervenção do Estado na
agricultura compreendeu em meados dos anos 60 e final da década de 70, considerado como “a era
do ouro” da política agrícola brasileira. Os objetivos eram claros: promover a expansão da oferta
agropecuária, a expansão e diversificação das exportações e assegurar a normalidade do
abastecimento doméstico. É importante que a administração governamental brasileira crie
alternativas para o fortalecimento, não só na agricultura familiar, mas em todo o setor agropecuário.

A agricultura familiar, por mais representativa que seja no Brasil, tem ficado em segundo plano.
Buainain, Romeiro e Guanziroli (2003, p. 11) afirmam que, na prática, “a grande maioria dos
produtores necessita de recursos de terceiros para operar suas unidades de maneira mais eficaz,
rentável e sustentável”. A falta desses recursos, seja pela insuficiência da oferta de crédito, seja por
causa das condições contratuais inadequadas, impõe sérias restrições ao funcionamento da
agricultura familiar mais moderna e, principalmente, a sua capacidade de manter-se competitiva em
um mercado cada vez mais agressivo e exigente. Não muito distante foi criado o Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que para Batalha et al. (2001, p. 376), “[...]tem
como objetivo fortalecer a agricultura familiar, contribuindo dessa forma para gerar empregos e renda
nas áreas rurais e urbanas e para melhorar a qualidade de vida dos produtores familiares”.

706
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Uma das características relevantes do PRONAF é o compromisso que tem com o meio ambiente para
manter a sustentabilidade. Assim, surgiram vários subprogramas ligados ao PRONAF (Eco, Floresta,
Agroecologia, Jovem e Mulher). Para ser beneficiado pelo PRONAF é preciso atender alguns requisitos.

• utilizar trabalho familiar, com o apoio de empregados temporários e no máximo


dois empregados permanentes;

• possuir ou explorar área que não supere quatro módulos fiscais (Cada módulo
fiscal representa 60 (sessenta) hectares de terra, logo, o limite máximo da área
do estabelecimento do agricultor familiar deve ser de 240 (duzentos e quarenta)
hectares de terra);

• residir no imóvel rural ou em vila urbana ou rural próxima ao imóvel;

• ter 80% de sua renda corrente proveniente da exploração agropecuária,


pesqueira e/ou extrativa. (BATALHA et al., 2001, p. 377)

Esses quatro requisitos trazidos por Batalha et al. são na verdade o que caracteriza ser um agricultor
familiar. Assim, a propriedade rural que se enquadrar nos requisitos apresentados acima se insere no
conceito de agricultura familiar.

2.2 A AGRICULTURA FAMILIAR E A LEI 11.326/2006

Uma novidade para a agricultura familiar foi à criação da lei 11.326, de 24 de julho de 2006, que
estabelece os conceitos, princípios e instrumentos destinados à formulação das políticas públicas
direcionadas à Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais.

Essa lei veio definir claramente quem são os agricultores familiares, espalhados em todo o território
nacional e trazer uma contribuição para o desenvolvimento sustentável das atividades praticadas
pelos agricultores familiares. A lei 11.326/06 que marcou o Brasil trazendo novos horizontes para a
agricultura familiar atualizou o Decreto nº 1.946, de 28 de junho de 1996. Não pode se esquecer que
várias literaturas, trabalhos científicos e programas voltados para a área agrária, antes da lei, já traziam
algumas informações relacionados à agricultura familiar, como conceitos e características dessa
atividade no meio rural. Em seu art. 3o da Lei 11.326/2006, considera agricultor familiar e

707
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades rurais, atendendo, simultaneamente, aos
seguintes requisitos:

• não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;

• utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades


econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

• tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas


vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;

• dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Relacionando os requisitos da lei com aqueles apresentados por Batalha et al. (2001) verifica-se
bastante semelhança entre eles.

2.3 A GESTÃO DE CUSTOS NA AGROPECUÁRIA

Gerir custos é uma ferramenta indispensável para a administração de empresas que envolvem
produção e/ou serviços. Porém, é necessário conhecer a natureza de custos para depois geri-lo.
Quando se fala em custos na agropecuária, diversos produtores associam esse termo com despesas.
Entretanto, não são sinônimos.

Para Martins (2008), custo está relacionado com gasto de bem ou serviço utilizado na produção de
outros bens e serviços, ou seja, para fabricar um produto ou executar um serviço todos os recursos
empregados são custos. E despesa, o sacrifício gerado com bem ou serviço para a obtenção de
receitas. A despesa não tem relação com a produção de bens e serviços.

Segundo Queiroz ([200?], p. 2), “[...] custo de produção é a soma dos valores de todos os recursos e
operações utilizados nos processos produtivos de certa atividade”. Tais custos são os responsáveis
pela formação do produto. Os custos de produção devem existir, mas é necessário controlá-los para
verificar a viabilidade econômica e financeira da atividade.

Os custos de produção podem ser divididos em diretos ou indiretos. Os custos diretos são aqueles que
podem ser diretamente apropriados aos produtos. Os custos indiretos não têm medida objetiva para
a sua alocação ao produto, e devem ser rateados. (MARTINS, 2008).

708
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Classificam-se também os custos de produção em Fixos e Variáveis. Nas palavras de Queiroz ([200?],
p. 3), “Os custos fixos são aqueles que não variam com a quantidade produzida, já que eles existem
mesmo que a produção seja suspensa [...] Já os custos variáveis são aqueles que variam com a
quantidade produzida”.

Na visão de Martins (2008, p.50), a classificação dos Custos em Fixos e Variáveis é importantíssima
porque “[...] leva em consideração a unidade de tempo, o valor total de custos com um item nessa
unidade de tempo e o volume de atividade”.

Para Marion (2009), os custos de produção que compõem comumente a atividade agrícola são:
sementes, adubos, fertilizantes, mudas, inseticidas, formicidas, herbicidas, demarcações, mão-de-
obra, encargos sociais, energia elétrica, combustível, serviços profissionais, depreciação de máquinas
e de equipamentos utilizados na atividade referida, e outros custos. Já na atividade zootécnica,
principalmente, na criação de gado, encontram-se os seguintes custos de produção: sal, sais minerais,
rações, farelos, vacinas, vermífugos, remédios curativos, mão-de-obra e seus encargos sociais, e
outros custos.

Nota-se que a maioria das atividades agropecuárias existentes no Brasil é administrada


superficialmente sem levar em conta todo o processo produtivo. A falta de conhecimento dos
produtores, principalmente na área de custos, tem causado bastante desânimo e insatisfação em
relação aos resultados que obtiveram com suas produções. As atividades rurais devem ser vistas como
empresas, ser levadas a séria na forma de gerenciá-la. Segundo Antonialli (1998 apud Nogueira, 2004),
os produtores na visão de empresários devem exercer as funções de planejar, organizar, dirigir e
controlar os esforços investidos nas atividades inerentes ao processo de produção. Nas palavras de
Nogueira (2004, p. 24), “O produtor deve se profissionalizar por completo, ou seja, deve adotar todas
as técnicas e procedimentos modernos de modo que produza com eficiência, buscando escala e
redução de custos”. Em relação à redução de custos dita por Nogueira, o termo que melhor se encaixa
para este fim é reduzir desperdícios e empregar eficientemente todos os recursos necessários para a
produção.

709
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.4 APURAÇÃO DE RESULTADO NA AGRICULTURA FAMILIAR

Uma das questões básicas que o produtor rural deve responder no início de sua produção é: Quanto
Produzir. E após o término da produção, normalmente, há a venda dessa quantidade produzida. Deve-
se apurar o resultado da produção para aferir lucro ou prejuízo.

Nas empresas em geral, a apuração de resultado é feita mensalmente e o exercício social é encerrado
em 31/12. Apurando-se aí todo o resultado anual da empresa. Já na atividade rural o encerramento
do exercício social não se coincide com o ano civil, como acontece nas empresas. O exercício social na
área rural é encerrado de acordo com o fim da produção, através da colheita ou com a sua venda.

Para exemplificar, na opinião de Marion (2009), o encerramento da atividade agrícola baseia-se no


ano agrícola, que é o período em que se planta, colhe e comercializa toda a produção, ou parte dela.
Após o término do ano agrícola, normalmente depois das vendas, o encerramento poderá acontecer
no mesmo mês ou no mês seguinte. E quando há vários produtos agrícolas com colheitas em períodos
diferentes, o ideal é que o ano agrícola seja baseado na cultura que apresenta maior
representatividade econômica.

Segundo Queiroz ([200?]), levantados e organizados os custos de produção, o próximo passo é apurar
o resultado fazendo a comparação entre a receita total e os custos de produção. Os custos de
produção a que se refere o manual são os custos dos produtos vendidos, que na visão de Martins
(2008) são transformados em despesas na venda dos produtos. Ainda Martins (2008, p. 26), afirma
que “[...]no resultado só existem Receitas e Despesas – às vezes Ganhos e perdas – mas não Custos)”.
O resultado entre a receita e a despesa chama-se lucro, quando o resultado for positivo, ou prejuízo,
quando o resultado for negativo. Nogueira (2004, p. 147) afirma que “Lucro é o rendimento gerado a
partir de determinado capital empregado numa atividade”.

3 RESULTADO OBTIDOS DA PESQUISA

As questões aplicadas via formulário têm o intuito de alcançar os objetivos propostos no artigo. Assim,
neste tópico será apresentado o resultado da pesquisa de campo.

3.1 DADO DEMOGRÁFICO

A figura 1 tem como objetivo apresentar o grau de escolaridade dos produtores rurais para subsidiar
o resultado da pesquisa referente ao controle e apuração de resultado.

710
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 1 - Grau de Escolaridade dos Agricultores Familiares de Cerejeiras/RO

A figura 1 indica que a maioria dos produtores rurais apresenta um grau de escolaridade do Primário
incompleto até o Fundamental Incompleto. Ressalte-se que o estudo não determina se o produtor
rural sabe fazer o controle. Há casos na pesquisa de produtores com Ensino Primário Incompleto
fazerem o controle de suas produções e de produtores com Ensino Médio Completo não fazerem esse
controle.

3.2 TERMINOLOGIAS BÁSICAS

As terminologias básicas se referem à receita, despesa, custo, lucro e prejuízo. São terminologias
necessárias que o produtor precisa saber para auxiliar no controle e apuração de resultado de sua
produção. A questão 2, representada pela figura 2, foi elaborada com o propósito de verificar o nível
de conhecimento dos produtores rurais em relação a essas terminologias básicas.

Figura 2 – Nível de conhecimento sobre terminologias básicas

Analisando-se a figura 2, verifica-se que a grande maioria dos agricultores familiares pesquisados não
tem conhecimento suficiente para apurar seus resultados. Além de possuírem um grau de
escolaridade baixo, muito deles não tem cursos ou orientações a respeito dos assuntos citados na

711
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

figura 2. Percebe-se que em relação ao grau de conhecimento que eles têm sobre receita e custo, o
conhecimento mais frequente é o Insuficiente. Já sobre despesa, lucro e prejuízo, o conhecimento
mais frequente é o Razoável.

3.3 CONTROLES DOS GASTOS E VENDAS DA PRODUÇÃO

Nesse tópico será apresentado o resultado das respostas dos produtores rurais em relação ao controle
dos gastos, das vendas a vista e a prazo de suas produções.

Figura 3 – Produtores rurais familiares que anotam os gastos de produção.

Na figura 3 observa-se que a maioria dos agricultores familiares não tem a cultura de anotar todos os
gastos relativos às suas produções. Grande parte deles alegou na pesquisa que se anotasse esses
gastos desistiriam de produzir em seus estabelecimentos, pelo fato de haver muitos gastos e pouco
lucro. E disse também que um dos motivos de não anotar é pela falta de estudo. Os que se enquadram
no item “Às vezes anota”, representando a segunda maior frequência, anotam alguns gastos em
cadernos espirais e/ou em papel A4, o qual entende-se ser insuficiente para determinar o resultado,
seja ele positivo ou negativo. Tanto esse item quanto o item “Nunca anota” os agricultores familiares
não sabem se operam com lucro ou com prejuízo em suas produções. Pode-se dizer que operam no
“escuro”, apesar de ainda se manterem na propriedade e conseguirem satisfazer as necessidades
básicas.

No item “Na maioria das vezes anota” os agricultores familiares anotam os gastos principais de suas
produções. Eles utilizam um pequeno caderno espiral para fazer as anotações e no final de cada
produção verificam se o resultado foi satisfatório. Já no item “Sempre anota” os agricultores familiares
afirmam que anotam todos os gastos relativos às suas produções. Dentre os nove agricultores
familiares pesquisados que responderam anotar todos os gastos, apenas quatro destes realmente
anotam todos os gastos inerentes as suas produções, principalmente a produção relevante, que traz
mais renda.

712
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3.4 FIXAÇÃO DO PREÇO NO PRODUTO

O preço é um fator relevante para se apurar resultado satisfatório na agricultura familiar. É importante
que se tenha informações sobre o mercado: como está a demanda pelo produto, caso exista
concorrência, verificar os preços dos produtos dos concorrentes, e outros fatores inerentes ao
mercado.

Figura 4 – Parâmetros que os produtores rurais utilizam para estabelecer o preço nos seus produtos.

A figura 4 indica que a maioria dos produtores rurais utiliza o preço que o mercado oferece. A maioria
desses produtores pesquisados desenvolve a atividade de leite bovino em sua propriedade. O leite
extraído é comercializado na Indústria de laticínios presente no Município de Cerejeiras. Esses
produtores não participam na formação do preço do leite. A Indústria de laticínios tem o domínio total
do preço do leite. Ou seja, o produtor que tem o leite como fonte principal de renda e o comercializa
em Indústrias de laticínios está sujeito as decisões que esta toma em relação ao preço desse produto.

Em toda a extensão da pesquisa só foi encontrado um caso onde o produtor utiliza a metade da
quantidade do leite tirado por dia como matéria-prima na fabricação de doces de leite vendidos em
canudos. E o próprio produtor afirmou que melhorou em muito a renda da família. Há também alguns
casos em que o produtor deixa de comercializar o leite em Indústrias de laticínios para vender de casa
a casa. É outra forma de melhor valorizar o produto que está sendo comercializado.

Os produtores que responderam fixar o preço nos produtos baseando-se em relação aos gastos totais,
a maioria, contradizem ao responder em outra pergunta que nem sempre anotam os gastos totais
com os produtos. E mesmo aqueles que responderam sempre anotar os gastos totais tivessem usado
esse parâmetro para fixar o preço nos seus produtos, não saberiam certamente o quanto custaria
produzir tal produto, pois não separam os gastos para cada tipo de produção. Nota-se que a maioria

713
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

dos produtores que escolheu esse item como resposta, faz suas contas utilizando apenas o raciocínio
mental. E também se verificou que eles baseiam-se no preço que é cotado no mercado.

Alguns produtores fixam o preço da maneira que melhor convém. Os produtores que não utilizam
nenhum parâmetro para fixar o preço nos seus produtos são aqueles que raramente anotam os gastos
totais com os produtos e correm sérios riscos de entrar em crise. Na área rural deve-se seguir a mesma
dinâmica: considerar os custos dos produtos e as informações que o mercado oferece. Assim os
produtores rurais serão mais competitivos, até porque na visão de Nogueira (2004, p. 21) “Os preços
[...] são decididos pelo consumidor”.

3.5 APURAÇÃO DE RESULTADO

Apurar resultados em uma produção significa resumidamente calcular se deu lucro ou prejuízo. Nesse
tópico serão apresentados os resultados referentes à apuração de resultado.

Figura 5 – Produtores rurais que acreditam ser lucro o valor, em dinheiro obtido nas vendas de seus
produtos.

A figura 5 demonstra que a maioria dos agricultores pesquisados não sabe o que significa realmente
receita e lucro. Na visão deles, toda a entrada de valores, em dinheiro, é lucro. Alguns agricultores
compreendem que o lucro é o resultado final da produção, subtraindo-se os valores das vendas com
todos os gastos incorridos na produção. Porém, poucos souberam especificar as entradas, em
dinheiro, e as vendas dos produtos.

Contextualizando a figura 5 com a figura 2, principalmente em relação à receita e lucro, verifica-se que
o conhecimento que eles apresentam, mesmo alguns deles responderem ter um bom conhecimento,
é insuficiente para a correta apuração de resultado. Nota-se que pela figura 6 a maioria dos
agricultores familiares sabe verificar se houve lucro ou prejuízo após as vendas de seus produtos.

714
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 6 – Produtores rurais que sabem verificar se houve lucro ou prejuízo com as vendas de seus
produtos

Contudo, ainda que mostrem saber o resultado de suas produções, não saberiam dizer quanto
significaria ser lucro ou prejuízo.

Figura 7 – Produtores rurais que acreditam ser importante fazer algum tipo de controle para apurar o
resultado.

A figura 7 mostra que mesmo os produtores rurais, em sua maioria, não fazerem controle para a
apuração de resultado, consideram ser importante fazer controle para verificar no final da produção,
com sua posterior venda o lucro ou o prejuízo.

Figura 8 – Produtores rurais que ficam satisfeitos e contentes com o resultado de suas produções.

A figura 8 mostra o grau de satisfação dos produtores rurais em relação ao resultado de suas
produções. A maioria deles fica satisfeita com o resultado. Eles disseram que estão suprindo as suas
necessidades básicas, logo entendem que o resultado está sendo satisfatório.

Entretanto, foi verificado que até os produtores rurais que responderam estar sempre satisfeito com
o resultado, falaram que o resultado poderia ser melhor.

715
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3.6 CURSOS PROFISSIONALIZANTES

Analisando-se a figura 9, observa-se que a maioria dos produtores rurais nunca participou de cursos
sobre a contabilidade rural.

Figura 9 – Produtores rurais que já participaram de cursos e palestras sobre receita de produção,
despesa, lucro, prejuízo e controle de custos na área rural.

Nota-se que há grande interesse deles em participar desses cursos. Percebe-se que um dos motivos
pela qual os produtores enfrentam diversas dificuldades e obstáculos em controlar e apurar o
resultado de suas produções é pela falta de conhecimento do assunto.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A agricultura familiar é fator importante na economia brasileira, apresentando variedades de


alimentos que abastece o mercado local e também o mercado exterior. Diante desse cenário, a
pesquisa de campo realizada junto aos agricultores familiares de Cerejeiras teve o propósito de buscar
responder a questão problema e os objetivos do artigo.

Primeiramente buscou-se saber quais os procedimentos de apuração de resultados que os produtores


rurais utilizam. Através da pesquisa soube-se que a maioria dos produtores rurais não utiliza nenhum
tipo de controle para apuração de resultado. Alguns deles utilizam cadernos espirais e fichas de papel
A4 para fazerem anotações a respeito dos gastos referentes à produção e o resultado das vendas.
Apenas um deles utiliza o livro movimento caixa para anotar todos os gastos envolvidos em seu
estabelecimento, incluindo a despesa familiar. E no mesmo livro anota também as vendas obtidas.
Percebe-se que o controle realizado pela minoria dos produtores rurais em suas produções não
mensura precisamente o resultado.

Em seguida, constatou-se qual o nível de satisfação dos produtores rurais quando apuram seus
resultados. A maioria respondeu que está satisfeita com o resultado de suas produções. Encontrou-se

716
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

na pesquisa que a maioria dos produtores não apura seus resultados, logo o grau de satisfação da
maioria não está relacionado ao resultado e sim ao fato de estarem suprindo as suas necessidades
básicas. Eles não sabem se operam com lucro ou prejuízo. Assim não sabem dizer se o resultado é
satisfatório.

Por último, identificaram-se quais os erros e falhas apresentados pelos produtores rurais ao apurar os
resultados de suas produções. Para alcançar esse objetivo foi verificado que os produtores rurais, em
sua maioria, interpretam incorretamente o significado de lucro. Eles confundem lucro com
recebimentos e não sabem que para calcular o resultado é necessário considerar as vendas a prazo. O
preço que utilizam para fixar nos seus produtos não segue um parâmetro justo. Eles responderam na
pesquisa que se baseiam no preço do mercado, mas não consideram os gastos totais dos produtos.
Esses produtores que não sabem quanto custa o seu produto dificilmente conseguirão competir no
mercado. O conhecimento dominante é praticamente o empírico, proveniente das experiências
alcançadas ao longo do tempo, de usos e costumes de outros produtores antepassados. Recomenda-
se que os produtores utilizem-se dos cursos e assistências técnicas de órgãos que atuam no meio rural
para adquirirem um aprendizado melhor e com isso contribuírem com o desenvolvimento sustentável
de seus estabelecimentos.

Recomenda-se para futuras pesquisas no âmbito rural, principalmente na agricultura familiar,


trabalhos direcionados a propor modelo de controle e apuração de resultado das produções,
realizarem gestão de custos em empreendimentos rurais através de estudos de caso, apresentar as
vantagens e contribuição da atuação do contador nessa área, ou comparar o resultado em tela junto
a produtores de outros municípios da região do cone sul de Rondônia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 11.326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política
Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm/> Acesso em: 12 jul.
2010.

BATALHA, M. O. (coord.) Gestão Agroindustrial. V. 2. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

BUAINAIN, A. M.; ROMEIRO, A. R.; GUANZIROLI, C. Agricultura Familiar e o Novo Mundo Rural. Artigo
Científico. PPG em Sociologia. UFRGS. Porto Alegre, 2003.

CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Agricultura Familiar: Primeiros resultados, Brasil, Grandes Regiões e
Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

717
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

LAMARCHE, H. (coord.); et al. A Agricultura Familiar. Comparação Internacional. Volume I. Uma


realidade multiforme. Unicamp, Campinas, 1993.

______.______. Volume II. Do mito à realidade. Unicamp, Campinas, 1998.

LIMA, J. R. T. de; et al. Extensão Rural, desafios de novos tempos. Agroecologia e sustentabilidade.
Série: Educação e Economia Solidária. Bagaço, Recife, 2006.

MARION, J. C. Contabilidade Rural: Contabilidade Agrícola, Contabilidade da Pecuária, Imposto de


Renda Pessoa Jurídica. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Lei estabelece diretrizes para políticas públicas na


agricultura familiar. Portal Agricultura Orgânica. Disponível

em:<http://www.portalagricultura.com.br/Paginas/Noticias/visDetalhes.aspx?ch_top=513/>. Acesso
em: 12 jul. 2010.

NOGUEIRA, M. P. Gestão de Custos e Avaliação de Resultados: Agricultura e Pecuária. Bebedouro: Scot


Consultoria, 2004.

QUEIROZ, J. L. Administração rural: controlar e lucrar. DVD. Curitiba: Vídeo Par, [200?].

SILVA, J. F. G. da (coord.); et al. Estrutura Agrária e Produção de Subsistência na Agricultura Brasileira.


Hucitec: São Paulo, 1978.

718
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 34

A UTILIZAÇÃO DO CUSTEIO ABC NA AVALIAÇÃO DE


RESULTADOS EM CULTURAS AGRÍCOLAS: ESTUDO DE CASO
EM UMA EMPRESA AGRÍCOLA NO ESTADO DO MA
DOI: 10.37423/200300573

Roselaine FILIPIN (UNIJUI) - rosefilipin@yahoo.com.br

Euselia Paveglio Vieira (UNIJUI) - euselia@unijui.edu.br

Diego Rafael Winck (UNIJUI) - diego.winck@slcagricola.com.br

Resumo: O estudo teve como objetivo apontar os benefícios fornecidos pelo custeio baseado
em atividades – ABC na gestão de custos de uma empresa agrícola, produtora de algodão,
milho e soja, pesquisa realizada por meio de pesquisa descritiva, documental e estudo de caso.
O estudo demonstrou as vantagens encontradas com a utilização do custeio ABC, que
considerou as formas de rateios diferenciadas para os custos indiretos, como as horas
máquinas utilizadas na realização das atividades da produção agrícola dos produtos. Conclui-
se que este método traz benefícios aos gestores de empresa agrícola para a análise das
atividades que demandam mais recursos, podendo torná-las mais eficientes investindo em
treinamento de pessoas e aplicando novas tecnologias de mecanização.

Palavras-chave: Método de custeio ABC. Gestão de custos. Informações Gerenciais.

Área temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

719
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, segundo o Ministério da Agricultura (2012), a produção agrícola vem crescendo


constantemente no país, a soja é a cultura agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas
e corresponde a 49% da área plantada em grãos do país. O Brasil é a terceiro maior produtor mundial
de milho, totalizando 53,2 milhões de toneladas na safra 2009/2010.

O avanço da tecnologia e o aumento da produtividade permitiram ao Brasil passar de maior


importador mundial de algodão para o terceiro maior exportador do produto em 12 anos. A produção
nacional de algodão é, prioritariamente, destinada à indústria têxtil, ato Grosso e Bahia é responsável
por 82% da produção nacional o MAPA, (2012), estabelece o aumento da produtividade desses
produtos em função dos avanços tecnológicos, o manejo e a eficiência dos produtores.

Há neste sentido, um sistema de custos que proporciona a identificação de gastos com a produção,
para que com base nestes dados possam ser realizadas classificações, análises, avaliações, controles e
planejamentos, consequentemente, transforma-se num importante instrumento de gestão, como
fonte primária e básica para a tomada de decisão.

Considerando que o resultado das operações em organizações agrícolas não tem apenas como base o
valor de venda dos produtos, pois o preço é estabelecido conforme diversos fatores externos à
organização são as cotações de mercado, não cabendo à organização a sua precificação e sim,
acompanhar o desempenho entre o preço estabelecido e os custos apurados na produção.

A elaboração de custos de produção em lavouras apresenta peculiaridades de um produtor para outro,


de uma região para outra, dificultando dessa maneira a metodologia aplicada para a elaboração dos
custos (ALVES, FELIPE E BARROS, 2003).

O custeio baseado em atividade (ABC - Activity Based Costing) tem como foco os recursos e as
atividades como geradores de custos, enquanto que o custeio tradicional focaliza os produtos como
geradores de custos, atividades consomem recursos, e recursos adquiridos criam custos, nesse sentido
a utilização do sistema ABC, como prerrogativa de consumo ao invés de gastar (KAPLAN; COOPER,
1998).

Na produção de produtos agrícolas, conforme Santos, Marion e Segatti (2009) a fixação dos preços
destes produtos é realizada à base de preço de mercado por esta razão o

720
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

sistema de contabilidade de custos, na empresa agrícola, não incorpora considerações sobre a receita,
e por não haver controle sobre cálculos de apreçamento dos seus produtos, o custeio por atividades
dará ênfase à identificação de custeamento e aos controles.

Então, para a agricultura, considerando que o custeio baseado em atividades parte da premissa de
que os produtos consomem atividades e que estas atividades é que consomem os recursos e trazendo
este conceito para a realidade da empresa agrícola, pode-se analisar que o custeio baseado em
atividades poderá gerar relatórios mais condizentes com a realidade, considerando que uma cultura
com área menor pode exigir um esforço maior de trabalho da estrutura de apoio do que outra cultura
com maior área Dentro desse contexto o objetivo desse estudo é descrever os benefícios apresentados
pelo método de custeio baseado em atividades na gestão de custos das culturas de soja, milho e
algodão em uma empresa agrícola.

Considera-se a discussão sobre custo de produção ser bastante relevante, pois envolve diferentes
finalidades, entre elas, o processo de tomada de decisão, a políticas de empreendimentos agrícolas,
mensuração da sustentabilidade do empreendimento, capacidade de pagamento da lavoura,
mensuração da viabilidade econômica e utilização de tecnologias alternativas (ALVES, FELIPE E
BARROS, 2003).

Dentre as justificativas para a utilização do custeio por atividades na atividade agrícola, pode-se relatar
que, a maior parte dos gastos na produção agrícola é calculada diretamente para o produto. No
entanto, uma parte do custo não pode onerar diretamente qualquer cultivo. Estes são os custos
indiretos, como: energia, combustíveis, custos de manutenção de equipamentos, limpeza, custos de
depreciação e amortização, prêmios de seguros, custos de água outros, que são divididos entre
diferentes cultivos, com a ajuda de algum método de rateio, mais frequentemente de acordo com o
hectare plantado.

Com os trabalhos relacionados aos custos na área agrícola podem ser citados: ALVES, FELIPE E BARROS
(2003); KANEKO et al (2010); FURLANETO E ESPERANCINI (2010); DOMINGUES E MARTINS (2011) que
apontam para a importância do setor agrícola brasileiro e dessa maneira os métodos de custos
aplicados como gerenciador no processo de resultados dessas atividades.

A estrutura do estudo compreende seis seções. Na primeira consta a introdução, que caracteriza o
problema, o objetivo e a justificativa desta pesquisa. Segue-se o referencial teórico, que dá

721
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

sustentação à pesquisa. Na sequência, apresenta-se a metodologia da pesquisa utilizada, seguida da


exposição dos resultados e sua análise. Por fim, evidenciam-se as conclusões do estudo e as
referências utilizadas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES

O Custeio Baseado em Atividades era conhecido e utilizado por contadores em 1800 e início de 1900,
e registros históricos mostram o seu uso na década dos anos 60, segundo Nakagawa (2001).

Conforme Bornia (2010) na década de 70 e início da década de 80, as empresas do ramo de automação
enfrentavam dificuldades em vender seus produtos, devido ao fato que gerentes com desejos de
automatizar seus processos não conseguiam justificar o grande investimento necessário para a
compra de equipamentos, visto que a análise dos custos tradicionalmente empregada na época
mostrava o caminho contrário, pelo motivo que fatores intangíveis, tais como o aumento da qualidade,
pela maior padronização e aumento da flexibilidade, não eram considerados.

Surgem então grupos de discussões que apontam, entre outras características do sistema de custos
das empresas modernas, a presença do custeio baseado em atividades. Que, segundo Nakagawa
(2001, p.40) “trata-se de uma metodologia desenvolvida para facilitar a análise estratégica de custos
relacionados com as atividades que mais impactam o consumo de recursos de uma empresa”.

Pode se definir como uma atividade, segundo Nakagawa (2001, p. 42) “um processo que combina, de
forma adequada, pessoas, tecnologias, materiais, métodos e seu ambiente, tendo como objetivo a
produção de produtos”.

Para Martins e Rocha (2010, p. 143) a utilização do conceito de atividade ”[...]é um boa unidade de
análise de custos porque: (a) não é tão ampla quanto as funções departamentais que, geralmente,
constituem-se em centros de custos e (b) não é tão restrita quanto as tarefas”.

De acordo com Atkinson et. al. (2000, p.77) o custeio baseado em atividade é o sistema de custeio de
produtos que atribuem os custos de apoio aos produtos na proporção da demanda que cada produto
exerce sobre várias atividades.

722
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Esse sistema rejeita aquela suposição de arbitrariedade utilizadas nos sistemas


de custeio tradicional, em vez disso, desenvolve a idéia de direcionadores de
custo que vincula, diretamente, as atividades executadas aos produtos
fabricados. Esses direcionadores de custos medem o consumo médio ocorrido,
em cada atividade (HERCULO E CAVALCANTI, 2011, p.23)

Para que se definam quais são as atividades relevantes dentro do processo de produção dos bens ou
serviços, segundo Martins e Rocha (2010) é preciso observar diretamente os processos e entrevistar
as pessoas que executam as atividades, bem como seus superiores e após, segregar as atividades se
elas tiverem custo relevante; tiverem potencial de diferenciação; tiverem direcionador de custos
próprios (específico) e gerarem bem ou serviço para o qual exista mercado.

Em resumo, o Custeio Baseado em Atividades possui as seguintes principais indicações e


características, conforme Martins e Rocha (2010, p. 162).

a)Deve ser utilizado desde o processo de planejamento e orçamento, não


apenas ex post facto;b) Deve ser utilizado como método de análise, não como
sistema de acumulação de custos;c) Deve ser utilizado em análises pontuais,
periódicas, não como sistema recorrente;d) Requer a adoção de padrões e deve
ser consistente com o sistema orçamentário;e) É um instrumento gerencial, não
societário ou tributário;f) Não aloca custos de ociosidade aos produtos;g) Adota
o conceito de variabilidade de custos em relação a vários direcionadores, não
apenas volume de produção.

De acordo com Nakagawa (2001, p.62) “pelos sistemas tradicionais de controle gerencial, tem-se
constatado que as análises de variações de preços, eficiência, gastos e volume têm sido prejudicadas
devido às grandes distorções de custos”.

As distorções de custos ocorridas entre o ABC e os sistemas de custeio baseado em volumes, são
elencadas por Nakagawa (2001, p.62):

a) Diversidade nos volumes de produção e vendas;

b) Diversidade nos tamanhos, cores e outras especificações dos produtos;

c) Diversidade na complexidade dos produtos e seu mix de vendas;

d) Diversidade nos materiais utilizados e números de componentes dos


produtos;

e) Diversidade nos tempos e formas de setups e changeovers.

A aplicação deste modelo de custeio é justificada em organizações agrícolas que mantém mais de um
tipo de cultura e os produtos diferem em complexidade, escala de produção e quantidade de gastos

723
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

indiretos aplicados. A tarefa mais difícil no cálculo dos custos de produção agrícola é a determinação
do valor real alocado a cada cultivo, sendo o cálculo de custos em razão da atividade o método mais
complicado, embora possa ser considerado o mais preciso dos processos de rateio das despesas gerais.

2.2 EXIGÊNCIAS PARA A IMPLANTAÇÃO DO ABC

O Custeio Baseado em Atividades, quando bem utilizado, pode demonstrar a possível existência de
ineficiência em atividade do processo de produção. Assim, para que este modelo de custeio tenha
sucesso, é necessário, primeiramente uma mudança organizacional, ou seja, uma mudança na maneira
de pensar dos funcionários como sua aceitação.

Conforme Nakagawa, (2001, p.62) “em vez de apenas buscar novas formas de rateios para os custos
indiretos, como muitas empresas já estão até mesmo fazendo, o ABC busca facilitar, na verdade, a
implementação de um processo de mudança de atitudes na empresa, ou seja, o ABC deve ser visto
como um agente de mudanças para a mente humana.”

A implantação com sucesso do modelo ABC na empresa, segundo Martins e Rocha (2010, p. 155)
“pode ser facilitada pela existência dos seguintes sistemas: de padrões; de orçamento; de
contabilidade eficiente e eficaz; de custeio recorrente eficiente e eficaz etc.”No entanto os mesmos
autores listam empecilhos que podem ameaçar o sucesso da implantação do modelo, como seguem:

a) Dificuldade na seleção das atividades relevantes;

b) Seleção de quantidade excessiva de atividades;

c) Dificuldade no processo de contabilização das transações, documento a


documento, por atividades; muitas vezes, uma proporção relevante dos custos
não apresenta condições de contabilização por atividade. Isso confirma a ideia
de que é praticamente inviável alocar todos os custos a todas as atividades;

d) Dificuldade na formação de grupos de custos homogêneos e na identificação


dos respectivos direcionadores de custos;

e) Dificuldade de formar séries temporais de grupos de custos e seus prováveis


direcionadores, para realizar os testes estatísticos de sua validação;

f) Necessidade de coletar e de contabilizar muitos dados manualmente;

g) Presença de fatores institucionais adversos, tais como discursos


concorrentes, conflito de interesses e outros;

h) Dificuldade para identificar o nível de capacidade normal das atividades;

i) Criação de sistemas adicionais, planilhas e time sheets trabalhosos etc.

724
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Não há necessidade de utilizar o método de forma contínua, conforme Martins e Rocha (2010,p.160)

O Custeio por Atividades deve ser utilizado periodicamente, de forma


suplementar ao sistema de custeio recorrente da empresa, não em sua
substituição; sua função é possibilitar análises a intervalos regulares de tempo.
O sistema recorrente de custeio, seja pelo Absorção ou pelo Variável, assim
como o orçamento, é usado para dar suporte a decisões corriqueiras, enquanto
o ABC requer intervenções e decisões menos frequentes, como, por exemplo,
eliminação de atividades que não estejam agregando valor.

Para a implantação do Custeio Baseado em Atividades na organização é necessário ser percorridas


algumas etapas, segundo Nakagawa (2001),é necessário entender que o ABC, poderá proporcionar
mudanças; verificar a necessária adequação do sistema às necessidades da organização;
disponibilidade e desejo de investir no ABC e uma estratégia de implementação do ABC que deve
estabelecer que os relatórios gerados pelo método devem ser úteis; o modelo da empresa deve ser
sempre atualizado, os sistemas de suporte ao ABC devem ser sempre melhorados; cada gerente deve
entender que o ABC atenda a suas necessidades específicas e os usuários devem receber educação
continuada em ABC

A primeira utilidade de um relatório de custos elaborado sob o método ABC, segundo Marins e Rocha
(2010) é propiciar a informação do custo das atividades relevantes; isso por si só, ainda que não se
tenha a alocação do custo das atividades para os produtos, já costuma provocar surpresa, pois os
sistemas de custeio recorrentes, normalmente, reportam os custos por centros de custos ou por
departamentos. Além disso, as informações de custos por produtos e por clientes, geradas pelo
Custeio Baseado em Atividades, podem ser utilizadas para:

Gestão da capacidade, alinhando os recursos disponibilizados aos demandados;


Gestão do overhead;

Melhoria de processos, eliminando atividades que não agregam valor;

Melhoria de processos, aperfeiçoando as atividades que agregam valor; Gestão


de preços, inclusive preços de transferência;

Análise de lucratividade de produtos; Identificação de subsídios cruzados entre


produtos; Transformação de produtos deficitários em lucrativos;

Análise de lucratividade de clientes;

Identificação de subsídios cruzados entre clientes;

Transformação de clientes deficitários em lucrativos;

Reposicionamento estratégico em relação a determinados produtos;

725
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Revisão da política de atendimento a determinados clientes; Identificação,


gestão e mensuração de custos de qualidade;

Planejamento e gestão estratégica; Planejamento operacional de longo prazo;

Mensuração de eficiência e produtividade no desempenho das atividades;


Análise de custos de longo prazo dos produtos;

Repasse de custos pela realização de atividades geradoras de serviços


compartilhados por várias unidades da empresa ou por várias empresas de um
conglomerado;

Prestação de contas relativas à realização de projetos financiados por doadores


públicos ou privados;

Reembolso de custos pela realização de serviços hospitalares e outros,


prestados por conta de órgãos governamentais etc. Martins e Rocha ( 2010, p.
160, 161).

O ABC é uma ferramenta que auxilia os gerentes a descobrirem as rotas do consumo dos recursos da
empresa, busca-se, na realidade, colocar à sua frente uma informação muito importante para suas
decisões.

2.3 O CUSTEIO ABC NA ATIVIDADE AGRÍCOLA

O cultivo da terra é uma forma de utilização e modificação do meio natural e que vai desde a
preparação do solo e plantio, até a colheita e armazenamento, passando pela conservação e irrigação
das culturas, combate a pragas e a diversos outros tipos de influências naturais e ainda as atividades
de melhoria das espécies de vegetais e animais.

Para Santos, Marion e Segatti (2009, p.13) “a agricultura é definida como a arte de cultivar a terra.
Arte essa decorrente da ação do homem sobre o processo produtivo para a satisfação de suas
necessidades básicas”.

Estas atividades podem ser efetuadas de uma forma mais simples, utilizando o trabalho manual e o
auxílio da força animal, ou de uma forma mais complexa e moderna, com um elevado grau de
mecanização e recorrendo a tecnologias avançadas.

Dessa maneira a informação sobre o custo de produção de uma cultura é uma das mais importantes
para qualquer atividade produtiva, sendo fundamental para a tomada de decisão dos agricultores
(KANEKO et al, 2010).

726
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O Custeio baseado em atividades tem uma de suas razões de aparecimento, segundo Leone e Leone
(2010, p. 250),

[...] devido à evolução tecnológica, que alterou bastante a composição dos


custos dos fatores de produção, tornando os custos indiretos de fabricação
mais significativos e menos significativos os custos do fator mão de obra direta.
Observase também na literatura que o custeio ABC tem sua maior aplicação em
atividades industriais, por motivos de vários produtos diferentes produzidos em
uma linha de montagem e da variedade de atividades aplicadas na fabricação
destes produtos.

Por outro lado, a empresa agrícola demanda relatórios detalhados do sistema de informação, que
podem ser obtidos com a utilização do ABC, para que estes sejam utilizados de maneira eficiente.

Segundo Santos, Marion e Segatti (2009) este nível de detalhe não é comum às empresas industriais,
mas na produção agrícola é vital, já que uma das diferenças significativas entre a indústria e a
agricultura é o aspecto do planejamento de curto prazo, enquanto na indústria é possível seguir
rigidamente as variações na demanda e executar mudanças na produção, na agricultura com culturas
de curto prazo ou permanentes, as mudanças são elaboradas na melhor das hipóteses em meses ou,
o que é mais comum, em anos.

3. METODOLOGIA

Foi realizada uma pesquisa descritiva, por meio de estudo de caso, uma empresa do ramo agrícola
localizada no estado do Maranhão com o intuito de descrever os benefícios do modelo de custeio
baseado em atividades na produção de soja, milho e algodão. Conforme Gil (2002, p. 42), a pesquisa
descritiva “tem como objetivo primordial a descrição de características de determinada população ou
fenômeno, ou então o estabelecimento de relações entre as variáveis”.

O estudo de caso segundo Martins e Theóphilo (2007), é quando se pretende estudar com o intuito
de aprofundar intensamente um assunto, dentro de um contexto real.

Para Yin (2005, p. 20) “o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características
holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real, tais como ciclos de vidas individuais,
processos organizacionais e administrativos.”

727
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Conforme Collis e Hussey (2005) o estudo de caso, foca o entendimento da dinâmica dentro de um
único ambiente, implica em uma única unidade de análise, neste estudo a análise da composição do
custo de produção, utilizando-se o método de custeio ABC.

A abordagem qualitativa foi utilizada considerando Martins e Theóphilo (2007, p.136) que “uma das
principais características da pesquisa qualitativa é a predominância da descrição. [...] e tem como
preocupação central descrições, compreensões e interpretações dos fatos, ao invés de medições.”,
esta será abordagem, pois a pesquisa buscou identificar e descrever o sistema ABC em uma produção
agrícola, considerando os três produtos já citados.

Por constar a utilização de relatórios, planilhas de dados, entre outras fontes que não receberam
tratamento analítico, a pesquisa é também considerada documental. A pesquisa documental segundo
Gil (2002, p. 45) “vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa”. Marion, Dias e Traldi (2002, p. 62)
relatam que as fontes primárias utilizadas na pesquisa se constituem de registros documentais sobre
o assunto escolhido.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesse item são apresentados os resultados obtidos. Para o melhor entendimento e análise de custos
agrícolas é necessário salientar que, muito embora o resultado financeiro da empresa agrícola seja
elaborado no calendário de ano-civil, a área plantada e as produtividades são demonstradas em anos-
safra.

O ano safra, para a empresa agrícola em estudo, compreende o período desde o início do plantio (em
setembro) até o encerramento da colheita, em meados de agosto do ano seguinte, com o
encerramento da colheita do algodão, último produto a ser colhido. Segue a representação deste fluxo
conforme figura 1

728
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 1: Fluxograma do ano safra.

Fonte: Empresa SLC (2009).

Inicialmente, para o levantamento dos custos pelo ABC, foi necessário conhecer as diversas operações
agrícolas existentes na empresa que são as fases necessárias do processo produtivo, de acordo com o
tipo de cultura, são essas as etapas que constituem as atividades no custeio ABC, onde os custos
indiretos tais como, os combustíveis, a depreciação e a conservação de máquinas agrícolas, podem ser
apropriados à atividade de acordo com o número de horas máquina utilizados em cada tipo de cultura.

Após o devido rateio dos custos indiretos das atividades existentes em cada cultura são acrescidos aos
custos diretos para a formação do custo total destas culturas.

Na sequência, são demonstratadas algumas das atividades da empresa objeto de estudo, baseada no
roteiro apresentado por Santos, Marion e Segatti (2009)

a) Preparo de solo/calagem, com destaque a destoca, limpeza, roçada, correção


de solo, gradeação, subsolagem, aração, conservação de solo, sistematização
de solo e drenagem;

729
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

b) Plantio/adubação, com destaque a adubação básica, sulco, coveamento,


alinhamento, marcação, semeadura;

c) Tratamento fitossanitário, controle de formiga, tratamento de solo, de


sementes, fitossanitários e transporte de água;

d) Cultivo mecânico, como gradeação, roçada mecânica e manual; aração e


limpeza mecânica;

e) Cultivo químico, como a aplicação de defensivos (inseticidas fungicidas e


herbicidas);

f) Colheita, constituída de colheita, transporte até o ponto de carga, embalagem,


carregamento de caminhão e transporte da produção até os silos ou unidades
de beneficiamento.

As atividades de correção e manejo do solo, além do terraceamento e a construção de estradas,


quando necessário, são comuns para as três culturas produzidas na empresa em estudo, se adota a
rotação de culturas nas áreas, tendo o seu custo compartilhado.

Nas atividades de plantio, aplicação de defensivos, adubação de cobertura e colheita, existe nas três
culturas, mas os orçamentos são específicos para cada, já que demandam horas máquinas diversas. A
manutenção pós-colheita existe somente na cultura do algodão, sendo orçada somente para ela.

A partir destas atividades, na tabela 1, foi realizadas a comparação da apropriação de custos na


produção de soja, milho e algodão, pelos critérios atuais utilizados na empresa agrícola, que são
baseados no custeio por absorção, utilizando-se como critério de rateio dos custos indiretos o número
de hectares de cada atividade, e a outra coluna apresenta os resultados utilizando-se da metodologia
de custeio ABC no rateio dos custos indiretos.

730
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1: Comparativo dos custos de produção da soja entre o método atual x ABC

Fonte: Dados fornecidos pela empresa, ano agrícola (2012).

No método de custeio atual utilizado na empresa, o custeio por absorção, por utilizar a área plantada
como critério para rateio dos custos e indiretos, ocasionou um valor acima de dois milhões de custos
alocados a cultura de soja, que pelo método de custeio baseado em atividades, utilizando como
critério de rateio as horas máquinas utilizadas nas atividades existentes na produção, que não são de
responsabilidade desta cultura.

Neste sentido, se verifica que a cultura da soja no método atual absorveu custos que não a pertenciam,
os quais na análise de resultados de cada cultura impactavam diretamente no mesmo, fazendo com
que essa cultura sempre fosse alvo de avaliação pelo baixo resultado apresentado, enquanto que em
outras culturas apresentavam um melhor desempenho, o que não era verdadeiro, a diferença estava
na forma de identificação e rateio dos custos indiretos, conforme apresentado na tabela 2.

731
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 2: Comparativo entre o custeio atual x ABC na cultura do milho

Fonte: Dados fornecidos pela empresa, ano agrícola (2012).

Para a cultura do milho ocorre o mesmo fato que a cultura da soja, observa-se uma redução no valor
da apropriação de custos pelo método ABC. Que se justifica pela necessidade de menos atividades e
tempo máquina no processo de produção.

Tabela 3: Comparativo entre o custeio atual x ABC na cultura do algodão.

732
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Dados fornecidos pela empresa, ano agrícola (2012).

Na produção do algodão, observa-se que o modelo ABC aloca um valor de aproximadamente quatro
milhões a mais que o método que utilizou o critério de rateio pela área plantada. O fato se justifica
devido à cultura do algodão necessitar de um número maior de atividades de preparo de solo,
aplicações de defensivos e fertilizantes, que são apontados pelo método de custeio baseado em
atividades.

Tabela 4: Comparativo entre resultado do custeio atual x ABC nas culturas.

733
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Dados fornecidos pela empresa (2012).

Na tabela 4, é possível verificar que a cultura do algodão, pelo método ABC, teve uma redução no
resultado. A cultura do milho saiu de uma situação de resultado negativo para apresentar com o
modelo ABC um resultado positivo. A cultura da soja sofreu uma alavancagem de resultado com o
ABC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido as grandes mudanças tecnológicas e de mercado que as empresa agrícola vem passando nos
últimos anos, os sistemas de custos tradicionais talvez não atendam todas as demandas por
informações necessária à gestão da empresa. Métodos como o custo por absorção pode levar a
tomadas de decisões errôneas no negócio agrícola.

Para evitar isso, os gestores precisam de uma melhor informação sobre os custos realizados e saber
quais as atividades que demandam os recursos da cultura produzida, avaliando a sua importância
dentro do processo produtivo, para que se mantenha, desenvolva ou desative uma atividade.

Para que uma empresa agrícola adote um sistema de custeio baseado em atividade, se faz necessário
levar em consideração que as informações geradas serão utilizadas para informações gerenciais e
legais.

Geralmente o método de custeio utilizado pela empresa agrícola é válido e prático para o Balanço e
Demonstrativo de Resultado do Exercício, e é aceito pela Receita Federal que o exige para cálculo de

734
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

cobranças de impostos e avaliações de estoque, mas não é uma ferramenta tão eficaz de gestão para
tomada de decisões, pois em muitos casos induz a distorções e a imprecisões de resultados.

Aponta-se também uma dificuldade na implantação do custeio ABC em função de sua complexidade
e detalhamento, como a empresa necessita ter um sistema de custos, padronizações, procedimentos
e controles fixados na cultura empresarial, e que o seu custo de implantação é alto, que a demanda
de ajustes nos sistemas já existentes ou aquisição de novos, treinamento para os colaboradores e
usuários das informações.

Outro ponto a ser considerado para a utilização do modelo ABC é que na elaboração do orçamento de
custeio deve-se adotar a sistemática das atividades envolvidas em cada cultura, orçando-as pelos
fatores presentes na atividade, como horas máquina, horas homem, entre outros.

Assim, consegue-se a fixação prévia do resultado que será obtido ao término de ano agrícola, bem
como o acompanhamento momentâneo de possíveis desvios entre o custo das atividades orçadas e
das realizadas.

Os benefícios destacados com a utilização do modelo de custeio baseado em atividades são a


apropriação dos custos dos produtos conforme as atividades necessárias para a sua produção, onde
os custos indiretos são consumidos por estas atividades. Permitindo-se a análise das atividades
necessárias para a produção e dentre elas definir quais são as que realmente agregam valor ao
produto, podendo-se diminuir ou eliminar as atividades que não agregam valor, com tomadas de
decisões de longo prazo.

Também fica evidente na avaliação dos resultados que no custeio ABC, apresenta os valores
efetivamente gastos em cada cultura, apresentando o desempenho real de cada uma, com suas
respectivas receitas, custos e despesas, subsidiando a gestão no gerenciamento de cada atividade de
cada cultura. No entanto, nenhum método de custeio apresenta precisamente os custos de produção
quando da existência de mais de um produto.

Diante dos resultados obtidos se conclui que o método atual de custeio, quando aplicados na empresa
agrícola, objeto de estudo, com mais de uma cultura, e que utiliza como rateio a área plantada, as
culturas que utilizam a maior área, são as que apropriam um maior custo, devido a absorção dos custos
indiretos.

Então, a partir destas considerações é possível inferir que alguns benefícios obtidos pela empresa
agrícola em estudo com a utilização do custeio baseado em atividades frente a métodos tradicionais

735
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

utilizados, considerando que o custeio ABC é uma metodologia de forte embasamento conceitual, mas
não é de fácil implantação e demanda um forte investimento em sistemas de informações e
procedimentos.

Dentre os benefícios, destaca-se o fato que os custos dos produtos são apropriados conforme as
atividades necessárias para a sua produção, onde os custos indiretos são consumidos por estas
atividades.

Dessa forma, permite a análise das atividades necessárias para a produção e dentre elas definir quais
são as que realmente agregam valor ao produto, podendo-se diminuir ou eliminar as atividades que
não agregam valor, com tomadas de decisões de longo prazo. Também fica evidente na avaliação dos
resultados que no custeio ABC, apresenta os valores efetivamente gastos em cada cultura,
apresentando o desempenho real de cada uma, com suas respectivas receitas, custos e despesas,
subsidiando a gestão no gerenciamento de cada atividade de cada cultura.

A partir dos resultados, do estudo com a implantação de conceitos do custeio baseado por atividades
na empresa, culturas que antes eram vistas com custo elevado de produção, como a soja, que em
análises poder-se-ia tomar a decisão de que sua produção era inviável financeiramente, visto que
acabava absorvendo parte dos custos das outras culturas, como o algodão, isso em virtude da maior
área de cultivo.

Como a utilização do método ABC, os custos são alocados conforme as atividades demandadas pelas
culturas, assim, demonstrando as culturas com maior custo devido a quantidade e ao nível de
elaboração das atividades existentes na produção.

Conclui-se então que o custeio baseado em atividades, quando implantado em sua totalidade, ou
mesmo parcialmente, traz benefícios aos gestores da empresa agrícola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, L. R. A.; FELIPE, F. I.; BARROS, G. S. C. Custo de Produção de Mandioca no Estado de São Paulo:
Mandioca industrial (maio/04) e de mesa (junho/04). CEPEA. Disponível em:

<http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/analise_custo_2003_04.pdf >. Acesso em: 06 jul. 2009

ATKINSON, A.A.; BANKER, R.D.; KAPLAN, Robert S.; YOUNG, S. M. Contabilidade gerencial. São Paulo:
Atlas, 2000

BORNIA, A. C. Análise Gerencial de Custos. 3 ed. São Paulo : Atlas, 2010.

736
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

COLLIS, J. HUSSEY, R. Pesquisa em Administração: Um guia prático para alunos de graduação e pós
graduação. 2. ed. Porto Alegre: Bookamnn, 2005.

DOMINGUES, A. C. MARTINS, E. A. Desenvolvimento de uma ferramenta de tecnologia da informação


(ti) aplicada à administração financeira em uma cultura agrícola: um estudo de caso. Tékhne ε Lógos,
Botucatu, SP, v.2, n.2, fev. 2011.

FURLANETO, de P. B. ; ESPERACINI, M. S. T. Custo de produção e indicadores de rentabilidade da


cultura do milho safrinha1. Pesq. Agropec. Trop., Goiânia, v. 40, n. 3, p. 297-303, jul./set. 2010.
Disponível em www.agro.ufg.br/pat.>Acesso em jul.2013.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São Paulo : Atlas, 2002.

HERCULANO, H. A.; CAVALCANTE, P. R. N. O Uso da Informação de Custos nos Acertos das Decisões de
Negócio: Estudo de Caso em uma Empresa Industrial de Plásticos Flexíveis. REUNIR – Revista de
Administração, Contabilidade e Sustentabilidade – Vol. 1, no 2, p.18-33, Set-Dez/2011.

KANEKO, F. H. ;ARF,O. GITTI,D. de C.; TARSITANO, M.A.A.; REPASSI, R. M. A.;VILELA, R.G. Custos e
rentabilidade do milho em função do manejo do solo e da adubação nitrogenada. - Pesq. Agropec.
Trop., Goiânia, v. 40, n. 1, p. 102-109, jan./mar. 2010.>Disponível em www.agro.ufg.br/pat.>Acesso
em jul.2013.

KAPLAN, R. S.; COOPER, R. Custo e Desempenho: administre seu custo para ser competitivo. São Paulo:
Futura, 1998.

LEONE, G. ; LEONE, R. Curso de Contabilidade de Custos. 4 ed. São Paulo : Atlas, 2010.

MARTINS, E.; ROCHA, W. Métodos de Custeio Comparados. São Paulo : Atlas, 2010.

MARTINS, G. de A.; THEÓPHILO, C. R. Metodologia da Investigação Científica para Ciências Sociais


Aplicadas. São Paulo: Atlas, 2007.

Ministério da Agricultura. Disponível em

http://www.agricultura.gov.br/vegetal/culturas/algodao/saiba-mai.Acesso em 15 jul.2013.

NAKAGAWA, M. ABC Custeio Baseado em Atividades. 2 ed. São Paulo : Atlas, 2001.

SANTOS, G. J. dos; MARION, J. C. ; SEGATTI, S. Administração de Custos na Agropecuária. 4 ed. São


Paulo : Atlas, 2009.

YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 3ed. Porto Alegre: Bookmann, 2005.

737
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 35

CUSTEAMENTO BASEADO NAS ATIVIDADES APLICADO NO


PREPARO DO SOLO PARA PLANTIO DE SOJA NA REGIÃO SUL
DE MATO GROSSO
DOI: 10.37423/200300575

Josemar Ribeiro Oliveira (UFMT) - kacic1@hotmail.com

Percival Ferreira Queiroz (UFMT) - percivalqueiroz@terra.com.br

Sofia Ines Niveiros (UFMT) - sniveiros@hotmail.com

Resumo: presente trabalho tem como problema de pesquisa: Qual o custo do preparo do solo
ao se utilizar o Custeio Baseado em Atividades - ABC para o plantio de soja em uma
propriedade localizada na região de Rondonópolis – MT? Para responder esta questão se
objetivou de forma geral identificar o custo do preparo do solo quando da aplicação do
método de custeio Baseado em Atividades - ABC, e especificamente buscou-se identificar as
atividades envolvidas responsáveis pelo consumo dos recursos, reconhecer os direcionadores
de custos para o rastreamento dos custos dos recursos consumidos e por fim medir o custo
de cada atividade envolvida no processo. Neste artigo foi utilizado o tipo de pesquisa
descritiva, através do método de estudo de caso. A abordagem metodológica trabalhada foi
quantitativa. O estudo de caso foi conduzido num talhão de uma fazenda da região de
Rondonópolis, MT, o qual foi considerado como amostra, devido representar as características
de toda a área, que para fins de estudo foi denominada de Fazenda P.P.

Concluiu-se que com a aplicação do Custeio Baseado em Atividades (ABC), foi possível ao
agricultor identificar as atividades executadas para a produção de soja, como as envolvidas no
preparo do solo, bem como calcular o custo de cada atividade proporcionando acuracidade
dos dados e possibilitando um melhor processo de tomadas de decisões.
738
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-chave: Custeamento baseado em atividades, Custo do preparo do solo, produção de soja.

Área temática: Custos aplicados ao setor privado e terceiro setor.

739
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

É preocupação generalizada e mundial, a questão da produção de alimentos para a população do


planeta. Frequentemente, diferentes setores de pesquisas oficiais ou não governamentais divulgam
dados a respeito, seja pela própria perspectiva de se aumentar a fome e a pobreza no mundo, como
pelas decorrentes conseqüências sociais tão dolorosas aos indivíduos. Esse panorama provoca
desafios de natureza técnica e administrativa, especificamente nos setores envolvidos com a produção
de alimentos.

É conhecido que o setor do Agronegócio mais especificamente a Soja Brasileira por ser uma
commodity, flutua em meio à competitividade global disputando mercado com economias estáveis e
enfrentando concorrências subsidiadas de vários países. Desta forma é importante esta pesquisa para
que o agricultor conheça as técnicas de cultivo e comercialização existentes, já que em alguns casos o
mesmo desconhece o real custo de sua produção.

Identificar as atividades que geram custos e se destacam prioritariamente na atividade de cultivar o


solo não bastam, é preciso que se conheça cada item de custo envolvido na atividade de maneira
detalhada, pois com a clareza e transparência de seus custos, o agricultor poderá tomar decisões que
visem melhorar seu custo/benefício.

Em consideração à relevância destes fatores esta pesquisa pretende responder a seguinte questão:
Qual o custo do preparo do solo ao se utilizar o Custeio Baseado em Atividades - ABC para o plantio
de soja em uma propriedade localizada na região de Rondonópolis – MT? Para responder se definiu
como objetivo geral identificar o custo do preparo do solo quando da aplicação do método de custeio
Baseado em Atividades - ABC, e especificamente buscou-se identificar as atividades envolvidas
responsáveis pelo consumo dos recursos, reconhecer os direcionadores de custos para o rastreamento
dos custos dos recursos consumidos e por fim medir o custo de cada atividade envolvida no processo.

2 CONCEITO DE CUSTO

Alguns conceitos sobre custos, encontrados na literatura: Iudícibus e Marion (2000, p175), definem
custos como “todos os gastos no processo de industrialização que contribuem com a transformação
da matéria-prima (fabricação): mão-de-obra, energia elétrica, desgaste de máquinas utilizadas para a
produção, embalagem, etc.”.

740
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A abordagem de custo apresentada por Atkinson et al (2000, p.85) demonstra que os custos refletem
os recursos que a empresa usa para fornecer serviços ou produtos. Descreve ainda que, “[...] o custo
é importante por causa da relação entre o custo do produto e seu preço. A longo prazo, o preço
recebido por um produto deve cobrir seus custos, ou a empresa irá parar de produzir aquele
produto.”(ATKINSON et al, 2000,p.85).

Para Santos (2000, p.29) “Custos são gastos incorridos por uma empresa para manter a estrutura em
condições de operar em função do planejamento de vendas”.

Analisando os conceitos acima se verifica que igualmente às despesas, os custos também são gastos,
no entanto estão relacionados com o processo produtivo. Portanto fica claro o que venha a ser custo.
“Os Custos de produção são compostos de matéria- prima, da mão-de-obra direta e dos custos
indiretos de produção” (SANTOS, 2000, p.33).

2.1 MÉTODO DE CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES

O Custeio Baseado em Atividades, (ABC - Activity Based Costing) em um conceito amplo: “Trata-se de
uma metodologia desenvolvida para facilitar a análise estratégica de custos relacionados com as
atividades que mais impactam o consumo de recursos de uma empresa” (NAKAGAWA,1994, p.40).

Fazendo um contra ponto a citação anterior Shank (1997, p.228) relata que apesar da:

[...] superioridade do ABC, frente ao custeio baseado em volumes para se


atribuir as despesas gerais reais atuais aos produtos não implica que o ABC seja
uma panaceia estratégica ou que os sistemas de contabilidade de custos
formais devam substituir maciçamente as regras baseadas em volumes pelas
regras de alocação baseadas em atividades. [...] Mas o ABC não é
necessariamente a principal ferramenta financeira, ou mesmo uma das mais
importantes.

Outro fundamento do custeio baseado em atividades é a idéia de direcionadores de custo que vincula,
diretamente, as atividades executadas aos produtos fabricados. Esses direcionadores de custos
medem o consumo médio ocorrido, em cada atividade, pelos vários produtos. Desta forma, os custos
das atividades são atribuídos aos produtos, na proporção do consumo que os produtos exerceram, em
média sobre as atividades (ATKINSON,et al, 2000, p.309).

Com essas bases o custeio baseado em atividades permite um rastreamento a fim de identificar,
classificar e mensurar como as atividades consomem recursos e como os produtos consomem as

741
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

atividades mais relevantes no processo de produção, e está fundamentado em oferecer resultados


que possibilitem a tomada de decisões definindo as ações que direcionarão a empresa, tornando-se
assim mais uma ferramenta para auxiliar o gestor. (ATKINSON,et al, 2000; COGAN,2003;
NAKAGAWA,1994; SHANK, 1997).

Atualmente, diante de um cenário competitivo, o gestor deve otimizar os retornos estratégicos a fim
de conseguir uma rentabilidade mais favorável. No mercado de soja este princípio é evidente, pois o
produtor deve estar atento as oportunidades de mercado, devido a serem momentâneas e rápidas,
onde em qualquer vacilo pode-se perder boas oportunidades de efetivação de lucros.

Para se entender o processo do ABC é necessário que se conheça a definição de um preceito básico,
que são as atividades. As unidades de trabalho que identificam, com um nível de detalhamento
adequado, como a empresa emprega o tempo e os recursos disponíveis.

As atividades se diferenciam de empresa para empresa e de local para local em que são analisadas.
Em áreas de manufatura, por exemplo, as atividades geralmente são associadas aos processos de
fabricação (DI DOMENICO;LIMA, 2005, p.04). Já em uma lavoura são relacionadas às atividades
inerentes a produção e ao processo em que está envolvido.

Nakagawa (1994,p.42) define atividade como sendo:

[...] um processo que combina, de forma adequada, pessoas, tecnologias,


materiais, métodos e seu ambiente, tendo como objetivo a produção de
produtos. Em sentido mais amplo, entretanto a atividade não se refere apenas
a processos de manufatura, mas também à produção de projetos, serviços etc.,
bem como às inúmeras ações de suporte a esses processos.

Dentro do custeio ABC a definição das atividades cumpre um papel fundamental pois através de seu
desempenho é que será auferido o custo.

Nakagawa (1994, p.78) acrescenta “microatividades e macroatividades como uma visão de aumentar
a eficácia”. Na versão do modelo conceitual do ABC, as microatividades fazem parte da visão de
aperfeiçoamento de processos. Ao formatar o ABC não se deve esquecer que no “nível de
microatividades será necessário identificar-lhes também os respectivos atributos (vetores de custos,
medidas de desempenho, se adicionam ou não valor e custos da qualidade)” (NAKAGAWA,1994, p.78).

742
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Existe um grau de interação entre a atividade principal a ser desenvolvida e as microatividades que
dão suporte a finalidade de contribuir para um propósito comum. As atividades necessitam de
recursos para cumprirem seus objetivos. Os recursos são os fatores de produção como trabalho,
tecnologia, viagens, suprimentos e outros utilizados para realizar as atividades. Assim, os recursos são
considerados a fonte dos custos, onde o custo de uma atividade é a soma dos custos de todos os
recursos utilizados para realizá-la. É necessário que se faça a alocação dos recursos às atividades que
ocorrem no processo de produção.

Identificar os custos de cada atividade depende da definição dos centros de custo e dos geradores de
custo. Considerando um pressuposto do ABC, Nakagawa (1994, p.39) relata:

[...] os recursos de uma empresa são consumidos por suas atividades e não
pelos produtos que ela fabrica. Os produtos surgem como conseqüência das
atividades consideradas estritamente necessárias para fabricá-los e/ou
comercializá-los, e como forma de se atender a necessidades, expectativas e
anseios dos clientes.

A maneira como o autor cita o conceito dos recursos, apesar de simples, contribui para a análise dos
custos, pois no sistema ABC, onde as atividades exercem o processamento de uma transação, a mesma
não seria possível sem os recursos apropriados para executá-la.

2.2 DIRECIONADORES DE CUSTO (COST DRIVERS)

Nakagawa (1994, p.74) define cost driver como “uma transação que determina a quantidade de
trabalho (não a duração) e, através dela, o custo de uma atividade”. Porém, o mesmo autor coloca
que esta transação pode ser chamada de evento ou fator causal que influencia o nível e o desempenho
de atividades e o consumo resultante de recursos.

Para que seja implantado um sistema de custeio baseado em atividades, é de suma importância que
identifique os direcionadores de custos de cada atividade, pois deles é que dependerá o sucesso das
avaliações.

Cabe ressaltar que um direcionador de custo “cost driver” é utilizado para caracterizar situações que
possam indicar os recursos consumidos pelas atividades, neste caso é chamado de cost driver de
recursos, e indicar as atividades necessárias para a fabricação e/ou produção de produtos, que são os
cost drivers de atividades.

743
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.2.1 DIRECIONADOR DE CUSTO DE RECURSOS

Nakagawa (1994, p.74) define como sendo o mecanismo para rastrear e indicar os recursos
consumidos pelas atividades. Di Domenico; Lima (2005, p.04) assim define:

Direcionador de Custo de Recursos: aloca as despesas das áreas funcionais


(departamentos administrativos, produção, logística, engenharias, qualidade e
outras) para as atividades que por aí transitam, com o objetivo de calcular o
custo de cada atividade. O direcionador de recurso mede a quantidade de
recursos consumidos pela atividade.

Para o caso de um estudo no segmento do plantio da soja os direcionadores de recursos utilizados basicamente
são: as horas-homem e as horas-máquina.

2.2.2 DIRECIONADOR DE CUSTO DE ATIVIDADES

Nakagawa (1994 p.74) define como mecanismo para rastrear e indicar as atividades necessárias para
a fabricação de produtos ou atender os clientes.A abordagem de Di Domenico;Lima (2005, p.04) é:

Direcionador de Custo de Atividades: aloca os custos das atividades para os


objetos de custo, que podem ser produtos, serviços ou clientes. Como são
várias as atividades de produção e suporte em uma empresa, o ABC utiliza um
maior número de bases de alocação com a finalidade de identificar em termos
monetários, as atividades consumidoras de recursos.

A atividade em sua maneira mais simples, retrata o processamento de uma transação, pelo qual é
realizada através dos recursos, onde o direcionador desta atividade mede a freqüência e a intensidade
demandada de uma atividade.

No caso do preparo do solo para o plantio de soja, por exemplo, a atividade de pulverização, terá seu
direcionador de custo como sendo, quantas vezes esta atividade será realizada e em quantas unidades
(hectares).

2.2.3 NECESSIDADE DOS DIRECIONADORES DE CUSTOS

Nakagawa (1994,p.74-75) relata que a quantidade de direcionadores de custo está relacionada com
alguns fatores a fim de se evitar distorções na apuração dos custos, sendo:

a. objetivos (pricing, redução de custos, avaliação de desempenhos, investimentos,


melhoria da qualidade, flexibilidade, lead time etc.) e acurácia da mensuração que se
deseja obter através do ABC que está sendo desenhado;

744
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

b. participação relativa (%) dos custos indiretos das atividades agregadas analisadas sobre
o custo de conversão, em termos de número de itens (contas) e de seus valores;

c. da complexidade operacional da empresa, em termos de produtos (diversidades de


volumes, materiais usados, tamanhos, mix, número de partes/componentes,
tecnologias etc.) e de clientes (diversidade de clientes/mercados atendidos, número de
itens vendidos, sestemas/canais ded distribuição etc.);

d. disponibilidade de recursos da empresa (financeiros, humanos, sistemas de coleta e


processamento de dados, tempo, cultura, etc.).

2.2.4 SELEÇÃO DOS DIRECIONADORES DE CUSTO

Tanto quanto importante saber o número de direcionadores de custo necessários, também é de suma
importância conhecer como selecionar os mesmos. Para Nakagawa (1994,p.75-76) três fatores devem
ser levados em consideração na escolha de cost drivers:

a. facilidade/dificuldade de coletar e processar os dados relativos aos cost drivers, porque


os custos de mensuração, juntamente com os custos associados aos erros de decisão,
determinam os sistema ótimo de custeio no ABC;

b. grau de correlação com o consumo de recursos, o qual em termos estatísticos, deve


aproximar-se de 1;

c. efeitos comportamentais, que é o critério que oferece o maior grau de risco na escolha
de cost drivers, porque estes serão utilizados na avaliação do desempenho de
atividades. Exemplo: se os custos indiretos da empresa são apropriados à área de
vendas com base no número de clientes atendidos (cost drivers), é provável que os
vendedores procurarão atender preferencialmente só os grandes clientes, devido ao
valor maior de cada pedido, prejudicando a qualidade de atendimento aos clientes com
menor potencial de compras.

É relevante lembrar que a seleção dos direcionadores de custo, deve estar relacionada diretamente
com o planejamento para implementação do custeio ABC, a fim de que não haja dissonância entre a
coleta de dados e a avaliação dos resultados por conta de desvios comportamentais dos envolvidos
no processo.

745
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.2.5 ALOCAÇÃO DAS ATIVIDADES

Na definição de uma espinha dorsal a ser seguida para coleta de informações a fim de que as mesmas
possam ser analisadas, há duas formas de se arquitetar os custos, sendo classificados em: centro de
custos e os grupos de custos (DI DOMENICO; LIMA, 2005).
Os centros de custos são uma unidade contábil onde os custos são atribuídos. Pode ser uma unidade
organizacional (um departamento), mas a conexão entre centros de custo e unidades organizacionais
fisicamente identificáveis não são necessárias (DI DOMENICO; LIMA, 2005).
Para Garrinson; Noreen (2001, p.228) o centro de custo de uma atividade é uma “cesta” em que são
acumulados os custos relativos a uma única atividade do sistema ABC. Os centros de custo constituem
uma ferramenta que visa organizar os dados de uma atividade, bem como facilitar possíveis consultas
de todas as informações ali acumuladas.
Os grupos de custos também concentram informações, porém de maneira mais abrangente e até
centralizando vários centros de custo. Di Domenico; Lima (2005, p.5) ressaltam que:
Grupos de Custo: é o agrupamento de despesas com o objetivo de facilitar a
alocação dos custos para as atividades ou para os objetivos de custo (através
de um direcionador comum).

Cabe ressaltar que independente da nomenclatura que cada autor enfoca o assunto, o mesmo não é
menos importante, pois partirão deles os dados e valores a serem mensurados, fechando os custos
totais das atividades. A figura 1 visa retratar a estrutura de um fluxo de custos para uma atividade
aplicada no preparo do solo para plantio, demonstrando as fontes de recursos, bem como seus
direcionadores.

746
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 1: Estrutura de fluxo de custos para a atividade de pulverização


Fonte: Adaptado de Di Domenico; Lima (2005, p.8)
Pode-se observar que os implementos e maquinários como o trator e o pulverizador são os recursos
operacionais para executar a atividade e serão custeadas pelo direcionador (cost driver) neste caso
horas-máquina. Também faz parte desta operação o tratorista, que é caracterizado como recurso
humano, onde seu direcionador de custo (cost driver) será expresso por horas-homem.
Cabe ressaltar que os itens que participam desta atividade possuem centro de custos individuais, que
permite o cálculo do custo pelo respectivo direcionador. Os direcionadores de atividades estão
relacionados com a intensidade ou número de vezes que a mesma será realizada, bem como a
proporção à que ela é submetida, neste caso o tamanho da área a ser realizada a operação.

3 O COMPLEXO SOJA

Originária da China, a soja é hoje o principal grão do agronegócio brasileiro. O Brasil é o segundo maior
produtor mundial de soja atrás apenas dos EUA. Na safra 2009/2010, a cultura ocupou uma área de
23,6 milhões de hectares, o que totalizou uma produção de 68,7 milhões de toneladas. A
produtividade média da soja brasileira foi de 2941 kg por hectare.
(EMBRAPA, 2011)

747
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Conforme MAPA (2011) desde o final dos anos 1990, poucos países cresceram tanto no comércio
internacional do agronegócio quanto o Brasil. O País é um dos líderes mundiais na produção e
exportação de vários produtos agropecuários. Lidera o ranking das vendas externas do complexo de
soja (grão, farelo e óleo), com exportações de US$ 8,1 bilhões, 31% acima do valor alcançado em 2002.
Este é o principal gerador de divisas cambiais.
A expansão do plantio de soja é um dos maiores exemplos do potencial e vocação agrícola brasileira.
Em 1990/1991, a colheita foi de 15,3 milhões de toneladas, com uma área plantada de 9,7 milhões de
hectares. Com a safra de 52 milhões de toneladas em 2002/03, a produção mais do que triplicou em
12 safras, em conseqüência dos ganhos de rendimento (MAPA, 2011).
Os países em desenvolvimento vão depender cada vez mais das importações de cereais e grãos, que
alcançarão 270 milhões de t em 2030. Com a taxa atual de crescimento da população mundial será
necessário dobrar a quantidade de alimentos a cada 50 anos. Estudos de 1993 previam que a demanda
mundial por soja e carne aumentará 60% até 2020 e que a de cereais se ampliaria 40% (SOUZA, 2001,
p.53).
A demanda total por grãos deverá chegar a 2,6 bilhões de t em 2025, 805 milhões de t ou 45% a mais
que em 1995. Como a área só poderá aumentar 7%, haverá necessidade de praticamente dobrarem-
se as produtividades médias (+ 93%).
As informações lançaram um desafio aos setores ligados a agricultura mundial, haja vista a
necessidade de produção de alimentos para se evitar o desabastecimento global.
No contexto destes desafios estão incluídos os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento dos alimentos
geneticamente modificados, que pode ser uma ferramenta para geração de calorias a baixo custo.
Custo, uma constante nos dias de competitividade acirrada, onde o diferencial estará no segmento da
cadeia que melhor administrar esta variável.
As exportações de soja em milhões de dólares no ano de 2005 foram de US$ 8.6 milhões, aumentando
em mais de 60% em relação ao ano de 2001 (US$ 5.2 milhões). Este fato proporcionou um aumento
significativo no fluxo interno de dólares, demonstrando o grau de importância para a economia do
Brasil. Este crescimento se deve ao profissionalismo e eficácia do agricultor brasileiro, aliado a
pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, que ampliaram a produção por hectare ao longo
deste período (MAPA, 2011).
O contexto apresentado mostrou o grau de importância da soja nas exportações brasileiras, e a
contribuição para o desenvolvimento sócio-econômico.

748
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 O ESTUDO DE CASO

METODOLOGIA

Este trabalho é caracterizado como um estudo de caso que segundo Yin (2003, p.31 apud
SCHRAMM,1971):
[...] na essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos
de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de
decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e
com quais resultados.

Ao longo do estudo realizado, das informações e dados levantados, o delineamento teórico e


estatístico prevaleceu a fim de embasar as idéias as respostas alcançadas.
O método de estudo de caso escolhido foi o: estudo de caso piloto. O motivo deste método se deve
por se enquadrar melhor no ramo de atividade a ser estudado que é um talhão ou quadra, e pela
maneira de coleta de dados, pois segundo Yin (2003, p.100):
[...] o local piloto representa o mais complicado dos casos reais, de forma que
aproximadamente todas as questões relevantes da fase de coleta de dados
serão encontradas neste local. O estudo de caso piloto auxilia os pesquisadores
na hora de aprimorar os planos para a coleta de dados tanto em relação ao
conteúdo dos dados quanto aos procedimentos que devem ser seguidos .[...].
O caso- piloto é utilizado de uma maneira mais formativa, ajudando o
pesquisador a desenvolver o alinhamento relevante das
questõespossivelmente até providenciando algumas elucidações conceptuais
para o projeto de pesquisa.

Ao que tange a colocação do autor, este método se encaixa para aplicação num talhão de uma fazenda
que cultiva soja, pois na questão de coleta de dados se dá de maneira prática e “in loco”, ou seja no
momento da realização da atividade. Dessa forma permite a mais verdadeira realidade dos fatos e
seus resultados percebidos de maneira objetiva e direta.
A pesquisa também se classifica do tipo descritiva quantos aos objetivos (BEUREN, 2006), pois
pretende-se descrever qual é o custo do preparo do solo na fazenda onde será realizado o estudo. Em
relação à abordagem do problema, é um estudo do tipo quantitativo, pois se empregam de
instrumentos estatísticos, assim como se busca classificar a associação entre variáveis e a relação de
causalidade entre os fenômenos.
Aplicação na Fazenda P.P.
Após analisar o levantamento teórico sobre o tema desta pesquisa, bem como a maneira ao qual se
procede um estudo de caso piloto, percebeu-se que este método possuía viabilidade técnica e

749
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

econômica de ser realizado, e assim, o mesmo foi implantado numa fazenda da região que
denominou-se de Fazenda P.P. para fins de estudo.
Na implantação deste estudo de caso, os pesquisadores contaram com o total apoio do gerente
técnico da fazenda, no que tange a informações sobre as atividades realizadas, bem como os dados
de custo histórico e maneira tradicional que a propriedade vem conduzindo seu custeamento.
A propriedade situada no município de Rondonópolis estado de Mato Grosso, cultiva 4.021 hectares
de soja no período de verão e 1.000 hectares de milho em segunda safra (após a colheita da soja). O
método que a propriedade utiliza para apuração de seu custo é o custeamento por absorção, através
do “rateio” dos gastos pela área trabalhada. Devido atualmente o setor agrícola passar por
dificuldades no aspecto de rentabilidade, existe uma preocupação em se reduzir os custos para que a
atividade possa se tornar viável economicamente.
O problema que se questiona está em rastrear os “gargalos” de custo, para que se criem estratégias
de contenção e/ou redução dos mesmos a fim de estar preparado para os desafios do mercado aberto.
Fontes de coleta de dados Foi escolhido um talhão ou quadra da propriedade com área de 173
hectares, denominado de: talhão 12. O talhão 12 possui uma característica física de textura média em
torno de 42 % de argila, 49,7% de areia e 8,3% de silte conforme análise de solo. Este dado é relevante,
pois de acordo com a quantidade de argila existente no solo, a força despendida pelos implementos,
bem como o consumo de combustível será alterada, influenciando no custo final.
Os meios de coletas de dados se deram através de planilha própria que foi desenvolvida a fim de se
obter o máximo de informações sobre as atividades.
Ao iniciar as atividades no referido talhão, foi anotado o número de horas constantes no “horímetro”
do trator, e o mesmo foi abastecido com combustível. Ao término da execução da atividade, o trator
foi abastecido completando o tanque, o que gerou imediatamente o consumo de combustível daquela
atividade. Após conferiu-se quantas horas foram gastas.
Neste estudo de caso foram rastreadas três atividades consideradas relevantes na determinação do
custeamento de preparo de solo para plantio de soja na situação específica do talhão em estudo,
sendo: aplicar agroquímico de manejo pós-colheita, distribuir o fertilizante cloreto de potássio a lanço,
riscar a lavoura Detalha-se a seguir a estrutura onde se foi realizado o estudo de caso, porém ficou
limitada aos equipamentos utilizados nas atividades descritas no tópico anterior.

750
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

RECURSOS HUMANOS

Toda força de trabalho envolvida no processo, sendo: (A) Tratoristas; (B) Ajudantes; (C) Gerente e (D)
Administrador.
Para este grupo o direcionador de custo a ser utilizado é o consumo de energia despendido através da
relação horas/homem.
Para efeito de cálculos os custos com ajudantes, gerente e administrador, serão incluídos nos custos
indiretos dentro do item Despesas administrativas, haja visto, que os mesmos desempenham as
funções com várias atividades.

RECURSOS OPERACIONAIS

São os maquinários utilizados: (A) Tratores e (B) Implementos.


Para este grupo o direcionador de custo a ser utilizado é o consumo de energia despendido através da
relação horas/máquina.

INSTALAÇÕES

Referem-se todas as instalações pertinentes à atividade: (A) Barracão para armazenagem de insumos
e (B) Área administrativa.

DETERMINAÇÃO DAS MACRO E MICRO ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Partindo-se do principio que o objetivo principal de uma atividade é converter recursos (materiais,
mão de obra, tecnologia, etc.) em produtos ou serviços (NAKAGAWA, 1994, p.43), faz-se necessário
identificá-las, pois as macroatividades dão a idéia de custeio e as microatividades dão suporte as
macro e adicionam valor. No quadro 1 são demonstradas as micro e macroatividades envolvidas no
estudo.

Quadro 1. Demonstrativo das microatividades e macroatividades


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010

751
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

DETERMINAÇÃO DOS DIRECIONADORES DE RECURSOS

O quadro 2 detalha as atividades e seus respectivos direcionadores, pois o perfeito conhecimento dos
direcionadores de recursos de cada atividade por parte dos envolvidos no processo de implantação
do método de custeio baseado em atividades é imprescindível, já que representa o ponto estratégico
para o bom funcionamento do modelo a ser proposto bem como para proporcionar os resultados
esperados.

Quadro 2: Demonstra as atividades estudadas e seus direcionadores de recursos


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010
O quadro elaborado identifica os direcionadores de recursos das macroatividades, porém cabe
ressaltar, que as microatividades tiveram seus custos calculados através de estimativa da taxa de
manutenção, conservação e reparos, apropriados diretamente ao centro de custo dos recursos
operacionais. (QUEIROZ, 2003, p.5)

CUSTOS DE PREPARO DO SOLO POR DIRECIONADOR ALOCADO AO RECURSO

O quadro 3 demonstra os custos atribuídos à atividade rastreados pelo direcionador, proporcional ao


seu recurso.

Quadro 3: Demonstração dos custos das atividades através de seus direcionadores


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010

752
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Nos valores referentes à horas-máquina, o cálculo do custo com depreciação de máquinas e


equipamentos foi feito considerando-se o número de horas trabalhadas em cada máquina em cada
atividade. Juntamente com o gerente de produção foram identificadas todas as máquinas empregadas
na atividade, vida útil em horas, valor de mercado e número de horas trabalhadas no período. Com
essas informações foi possível distribuir o desgaste por hora trabalhada, em reais, para as atividades
consumidoras, utilizando método de cotas constantes (ANTUNES, 2001, p.207). O direcionador
utilizado para distribuir o custo às atividades foi o número de horas-máquina trabalhadas no período
em cada atividade.
No Quadro 3, verificou-se que no preparo do solo, objeto desse estudo, a atividade que determinou
maior gasto foi “aplicar adubo a lanço”, com 44,2% do total, e, dentro desse item, o recurso “horas-
máquina” foi responsável por 86% do custo dessa atividade. Enquanto que as atividades de “pulverizar
pós-colheita” e “riscar lavoura”, responderam respectivamente por 37,5% e 28,3% do custo total. Nas
três atividades relacionadas, o direcionador “horasmáquina” consumiu 87,4% do custo total, em
contraponto a 12,6% consumido pelo direcionador “horas-homem”.

SEPARAÇÃO DOS CUSTOS INDIRETOS E DIRETOS

A simplicidade do processo de realização das atividades, objeto do estudo facilitou a identificação dos
custos de produção, bem como a definição de quais custos eram diretos e indiretos. Nos quadros 4 e
5, estão demonstrados os custos classificados como indiretos e diretos, respectivamente.

Quadro 4: Custos indiretos alocados às atividades estudadas


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010
Para o cálculo de valores referentes aos itens do quadro 4, utilizaram-se dados constantes no centro
de custos da empresa em questão , no período de junho/04 a julho/05.
Esses dados foram calculados pelo rateio proporcional a área pesquisada.

753
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro.5 Custos diretos alocados às atividades estudadas


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010
Os salários e encargos foram alocados nos custos diretos, devido o cálculo desta remuneração estar
relacionada às atividades estudadas. Seu valor foi determinado com base na relação remuneração
mensal paga ao funcionário, versus total de horas consumidas nas atividades da pesquisa. Os custos
diretos dos insumos foram alocados de acordo com as quantidades utilizadas na área da pesquisa,
com seus preços de aquisição, já incluídos de frete.
Os valores de aquisição bem como as quantidades utilizadas foram apresentados pelo responsável
técnico da propriedade.

CUSTOS TOTAIS DO PREPARO DO SOLO

O quadro 6, demonstra os custos totais das atividades envolvidas no preparo do solo para plantio de
soja na região de Rondonópolis-MT, para uma área de 173 há.

Quadro 6 - Custos totais para o preparo do solo


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010

754
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os quadros 7 e 8, apresentados a seguir, retratam em detalhes a distribuição dos custos diretos e


indiretos alocados a cada atividade executada. A depreciação das máquinas foi calculada por cotas
constantes, motivo pelo qual se encontra neste tópico.

Quadro 7 - Distribuição dos custos diretos às atividades


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010

Quadro 8 Distribuição dos custos indiretos às atividades


Fonte: Elaborado pelos autores, 2010
Conforme os dados acima verificou-se que para as atividades de preparo do solo para o plantio de soja
na área estudada, o total do custo direto foi de 64,8% do custo total, e de 35,2% para os custos
indiretos. Dentre os itens de custo direto, a variável “insumo/fertilizante” constituiu-se em 84,3% do
total, ficando a seguir, com 13,2% do total de custo direto, a variável “insumo/agroquímico”. Já no
quadro custos indiretos, verificou-se que a variável “despesas administrativas” correspondeu a 55%
do total desse item, seguida da variável “despesas gerais”, com 27% dos gastos indiretos. As “despesas
administrativas e gerais” responderam por 82% do total dos custos das atividades indiretas, e por 29%
do custo total.

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Considerando-se os dados obtidos através da aplicação do estudo de caso, nesta modalidade de


atividade que é o cultivo de soja, há de se observar que a propriedade onde foi realizado o estudo,
ofereceu todas as condições para que o mesmo obtivesse êxito.

755
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Este fato nos traz a primeira reflexão sobre a possibilidade de extrapolar a iniciativa para outras
propriedades, pois a mesma deverá possuir estrutura mínima necessária para a coleta rigorosa dos
dados, como por exemplo, possuir medidor de combustível ou outro mecanismo que proporcione
exatidão no momento do abastecimento, talhões com medições aferidas, etc.
Caso a propriedade não possua administrador ou responsável técnico, a pessoa que dará o suporte “in
loco”, que possivelmente será o proprietário, deverá possuir um espírito inovador e estar aberto a
novas tecnologias, pois para que se obtenha os dados com precisão, as atividades não devem fugir de
padrões estabelecidos no pré-projeto, como abastecer a máquina antes de iniciar outra operação,
mesmo que haja combustível suficiente para iniciála.
Os resultados obtidos mostram uma óptica diferente da rotina atual do empresário rural. Isto se deve
ao fato de que as informações oriundas da aplicação do método ABC denotam maior transparência
dos gastos e para onde os mesmos estão sendo direcionados.
No Quadro 3, verificou-se que “aplicar adubo a lanço” foi a atividade de maior custo, bem como que
o direcionador “horas-máquina” foi o que demandou maior gasto entre os recursos utilizados. Essa
transparência parece diferenciar o método de custeio ABC dos tradicionais, pois abre perspectivas
para o gestor tomar decisões que visem amenizar os custos. Por exemplo, a possibilidade de avaliar se
a terceirização da “adubação a lanço” seria uma alternativa para redução de custos. Outra
possibilidade passível de estudo seria o investimento numa melhor qualificação dos operadores, haja
vista a grande diferença entre os custos “horas-homem” X “horas-máquina”; tal alternativa supõe que
o homem melhor qualificado tenderia a operar com maior zelo e eficácia com máquinas e
equipamentos.
O Quadro 6 permitiu visualizar o custo total das atividades envolvidas no preparo do solo da área
estudada, sendo que, especificações de custo por atividade, podem favorecer ao gestor projeções de
custos estimados para produções em maior escala, assim como planejar de forma mais precisa seu
fluxo de caixa para o volume de produção desejada.
As considerações aqui desenvolvidas são apenas alguns aspectos que exemplificariam a multiplicidade
de tomadas de decisões que o técnico e/ou o gestor poderiam explorar para acurar seus custos e
aumentar a lucratividade de seus negócios.

756
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

6. CONCLUSÃO

Ao observar o método do ABC e a sistemática de condução do mesmo, os resultados mostraram que,


respeitando as normas de coleta dos dados é possível aplicar este sistema de custeio a fim de apurar
o custo das atividades de preparo do solo para o plantio de soja na região de Rondonópolis – MT.
Esta afirmativa está embasada nos resultados obtidos durante o estudo de caso, pois foi possível
identificar as atividades relevantes envolvidas no consumo dos recursos, bem como, atribuiu-se às
mesmas seus direcionadores de custos. Conseguiu-se também estabelecer os custos diretos e
indiretos por atividades.
Com a aplicação do Custeio Baseado em Atividades (ABC), é possível ao agricultor identificar as
atividades executadas para a produção de soja, como as envolvidas no preparo do solo, bem como
calcular o custo de cada atividade proporcionando acuracidade dos dados e possibilitando um melhor
processo de tomadas de decisões. É importante considerar que a ferramenta ABC constitui um
instrumento de mudança de mentalidade no tocante a administração estratégica.O método permite
um aprofundamento do conhecimento das atividades favorecendo um aperfeiçoamento do processo
decisório do gestor.
Na implementação desta ferramenta, deve haver comprometimento por parte dos responsáveis, pois
somente com o passo a passo é que se obtém um melhor aproveitamento dos resultados, operando
as mudanças gradativamente. O ABC proporciona uma nova visão da organização, superando os
sistemas mais antigos que refletem uma visão mais voltada para relatórios que apresentam resultados
obtidos, mas não apontam caminhos a serem trilhados buscando efetividade.
É oportuno registrar que devido ao tempo restrito para apresentação desta pesquisa, não foi possível
ampliar o estudo sobre outras atividades que demandam a cultura da soja até a sua colheita e
armazenagem. Dessa forma seria relevante a continuidade desse projeto, com objetivo de verificar se
este método manteria o grau de exatidão e mensuração para essas atividades abrangendo assim todo
o ciclo produtivo da soja. Com certeza, os avanços metodológicos nessa área de pesquisa contribuirão
para melhorar a relação custo/benefício da produção de soja no Brasil, tornando-a mais competitiva
no cenário mundial.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Luciano Médici; RIES, Leandro Reneu. Gerência agropecuária, análise de resultados. Guaíba:
Agropecuária, 2001.

757
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ATKINSON,Antony A. et al. Contabilidade gerencial. Trad. de André Olímpio Mosselman du Chenoy


Castro. São Paulo: Atlas, 2000.

BEUREN, Ilse Maria. org. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. 3
ed. São Paulo: Atlas, 2006.

COGAN,Samuel. Activity based costing (ABC) a poderosa estratégia empresarial. São Paulo: Pioneira,
2003. 129p.

DI DOMENICO,G.B.; LIMA,P.C. Gestão de custos baseada em atividades em um ambiente agrícola.


Campinas, p. 01-18,fevereiro 2005.

EMBRAPA- MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, ESTATÍSTICAS. Soja.


Disponível em: http://www.agricultura.gov.br. Acesso em: 21 de jul. de 2011.

GARRINSON,Rayh; NOREEN,Eric W. Contabilidade gerencial. Trad. de José Luiz Paravato. São Paulo:
Ltc, 2001.

IUDÍCIBUS,Sérgio de; MARION,José Carlos. Curso de Contabilidade para não Contadores. São Paulo:
Atlas, 2000. 282 p.

MAPA-MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, ESTATÍSTICAS/AGRONEGOCIOS


BRASILEIROS. Brasília. Apresenta uma oportunidade de investimentos. Disponível

em: http://www.agricultura.gov.br .Acesso em:03 de jul. 2011.

NAKAGAWA, Masayuki. ABC Custeio baseado em atividades. São Paulo: Atlas, 1994.95p.

QUEIROZ, Antônio Diomário. A contabilidade por atividades para o controle estratégico de gestão.
Palestra no Congresso Brasileiro de Custos. Guarapari, 16 de outubro de 2003.

SANTOS,Joel J. Análise de custos: remodelado com ênfase para custo marginal, relatórios e estudos de
caso. Santos: Atlas, 2000. 224p.

SHANK,John K.; GOVINDARAJAN Vijay. A Revolução dos Custos. Trad.Luiz Orlando Coutinho Lemos.
2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

SOUZA, Clímaco Cezar de. Indicadores globais: Mundo e Brasil. Brasilia: Ed. do Autor, 2001. 276p.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2003.

758
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 36

PERÍCIA CONTÁBIL NOS PROCESSOS TRABALHISTAS: A


QUALIDADE DO LAUDO PERICIAL NAS DECISÕES JUDICIAIS
DOI: 10.37423/200400578

Luiz Tiago Meneses da Rocha (Aluno concludente do curso de Bacharel em Ciências


Contábeis da Faculdade Estácio de Sá).

Lorena Aragão Feitosa Mont’alverne (Professora Orientadora da Faculdade Estácio


de Sá).

Francisco Apoliano Albuquerque (Professor PhD, da Universidade Estadual Vale do


Acaraú – UVA).

Thiago Luís de Oliveira Albuquerque (Prof. Ms. Da Escola Aberta de Direito do Estado
do Ceará – EADIR).

Resumo: O trabalho aqui apresentado tem por finalidade mostrar a importância do Laudo
Pericial Contábil nos processos trabalhistas e como o mesmo pode influenciar na decisão de
um processo na visão do magistrado. A princípio o trabalho deteve-se em conceituar
informações importantes acerca do objeto de estudo e os principais pontos que são
determinantes para que o laudo pericial possa ser apresentado de forma a não deixar margem
na sua elaboração. Nesse sentido, através do aprofundamento teórico foi possível clarificar a
importância do tema abordado. Entende-se, a partir dessa conceituação, que o perito
contador tem como função primordial apresentar com clareza os objetivos que o processo
enseja levando ao parecer do juiz somente aquilo que está intrinsecamente relacionado ao
objeto do processo, tendo como parâmetro as informações elencadas. O presente artigo foi
realizado em dois momentos distintos. A principio, foi feita a revisão da literatura, e, no
segundo momento, foi aplicado um questionário aos magistrados nas 18 varas do fórum
Autran Nunes, na cidade de Fortaleza, Ceará, no ano de 2018, para explicar sobre a pesquisa 759
e o estudo.
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os resultados finais afirmaram que 50% dos Laudos Periciais Contábeis apresentaram os requisitos
exigidos para um trabalho com qualidade nas pericias trabalhistas e que o resultado do laudo pericial
tem grande relevância quando da decisão do magistrado.

Palavras-chave: laudo contábil. Pericial contábil. Magistrado. Perito.

760
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INTRODUÇÃO

A perícia contábil é um dos temas mais instigantes na área da contabilidade, considerando a


importância desta para o desfecho dos processos, nas mais diferentes áreas de atuação (ZANNA,
2007). As informações e o entendimento dos aspectos legais apresentados pelos peritos servem para
os processos e, portanto, devem ser apresentados com lisura e clareza, não incorrendo em práticas
que venham a privilegiar nenhuma das partes envolvidas.

Ao buscarmos elencar informações sobre perícia, entende-se que se trata de um exame minucioso
realizado por um especialista. Especificamente no direito, tal instrumento tem valor como prova para
o esclarecimento de alguns fatos que exijam comprovação acerca de uma temática relacionada ao
processo e corrobora no trabalho do julgador que possa de forma assertiva possibilitar a justiça.
(ALMEIDA, 2010). Vale ressaltar que, a despeito de sua importância como prova nos processos que
estão na justiça para serem julgados, é necessário entender que um relatório contábil tem caráter
experto e tecnológico que possibilita apresentar as referências indispensáveis que vão contribuir na
avaliação do juiz sobre o processo em questão, destacando-se que o referido relatório só é exigido
mediante o pedido do juiz, quando este considera estritamente necessário para corroborar com seu
parecer final (FIGUEIREDO, 2003). Nesse sentido, compreende-se a Perícia Contábil como um exame
de caráter experto e tecnológico e de cunho social, já que visa clarificar de forma segura eventuais
equívocos, num processo que se faz importante e necessário para se compreender a dinâmica que
ocorre no âmbito da justiça e de seus processos.

Quando o assunto está relacionado a questões que envolvem o patrimônio, o trabalho para a
realização da pericia envolve a utilização de estudos mais específicos considerando que exige a
intervenção de especialistas com metodologias que se adéquem a cada caso e não pode acontecer de
forma abrupta, precisa ser relevante através de procedimentos de caráter cientifico que possibilitem
uma fundamentação científica da pesquisa a ser realizada (ORNELAS, 2003). A partir dos conceitos
apresentados anteriormente, é oportuno destacar o valor do perito contábil que tem várias funções,
dentre as quais, podem elencadas: investigar, estudar, compor e respaldar fundamentos de provas
que agem no veredito do magistrado, com sensatez, cuidado e discrição mediante o juízo pericial,
comprovando dessa forma, seus experimentos. Para isso, o presente artigo objetiva investigar o valor
da pericia contábil na sentença judicial da justiça trabalho.

761
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Como objetivos específicos: demonstrar o papel do perito contador; relatar os tipos e função do
profissional da perícia no processo judicial; falar acerca da perícia contábil no processo na Vara do
Trabalho, retratando seus principais objetivos.

A justificativa para essa pesquisa reside no fato de que a crise econômicapela qual atravessa o
país surge e faz com que aconteça um aumento nas demissões em diferentes agrupamentos da
sociedade. Em virtude dessa crise, é notória a falta de comunicação entre empregadores e
empregados incorrendo dessa forma em ações na justiça trabalhista. Dessa forma, favorece o
aumento das ações trabalhistas, o que se torna inevitável o surgimento de mais laudos periciais
(ZANNA, 2007, p. 406).

Considerando o valor da pericial contábil destacada pelos autores Magalhães (1998), Alberto (1996),
Zanna (2007) e Ornelas (2003), nos trabalhos que abordam sobre pericia, diante do exposto deseja-se
que o presente estudo possa contribuir de maneira construtiva para a clareza da importância da
perícia no âmbito contábil, e como esta contribui construtivamente nas decisões judiciais trabalhistas.

Referencial teórico: Nesta seção, serão apresentados conceitos sobre pericia contábil, o papel do
profissional perito, assim como, identificar o valor do laudo pericial no âmbito da justiça,
especificamente aqui se tratando da justiça trabalhista.

Pericia contábil: Perícia contábil é uma área da contabilidade onde um profissional habilitado, ou seja,
graduado em Ciência Contábil possua pleno ciência da profissão, onde sua função está relacionada à
função de efetivar exames, auditorias, diligências, juízos tendo como objetivo prover laudo ou parecer
pericial que será aproveitado pelo juiz na apuração da veracidade sobre fatos e/ou inquirição de
conteúdo contábil (NBC, 1999).

A Perícia Contábil é uma relação de metodologias destinados a levar à jurisdição


pertinente provas comprobatórias a financiar a solução do processo de acordo com o
parecer do laudo pericial contábil elou parecer pericial contábil respeitando a
legislação vigente (CFC, 1999, p.54).

Na concepção de D' Áurea (1962, p.134), perícia é "a confirmação dos experimentos de várias pessoas
em conceber uma ocorrência das quais não pode ser assente ou juridicamente analisada". Segundo
Alberto (2000) [...], existe elementos na pericia registrados em documentos, nas civilizações mais
antigas. Assim, estes vestígios asseguram que a perícia surge com a organização dos saberes jurídicos,
relacionados à época, além da sua utilização por especialistas em diferentes áreas para à apuração de

762
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

determinado fato e exame de determinadas matérias. Vale salientar que a formação do perito lhe
confere competências que o possibilita utilizar de diferentes ferramentas que qualifique sua postura
no exercício de sua função, fazendo com que estes conhecimentos que cunhados de vários campos
lhe conferem um trabalho com êxito. E, para que seja constante no desempenho de suas atribuições,
o profissional contador deve estar sempre buscando se qualificar, adquirir novos conhecimentos,
tendo em vista que a eficiência com o seu trabalho mostra-se um grande diferencial em um serviço
pericial e oportuniza ao perito ganhar respeito e notoriedade (SÁ, 2010).

A particularidade dos serviços é vista não só como um bom experimento,


mas também como alegria do constituinte na busca de sua necessidade, que
está intrinsecamente relacionado com a verificação do pedido, ou seja,
considerou o esperado. (ROCHA, 2004, p. 84).

Diante de várias colocações de autores mencionados anteriormente, é possível verificar quanto à


perícia contábil: é um ofício efetuado por um especialista da área contábil, que, utilizando seus
conhecimentos tecnológicos específicos, encaminha fatos ou atos, proporcionando declaração diante
de um juiz através da exposição expressa do laudo pericial. É importante salientar que Pericia Contábil
é um trabalho exclusivo dos profissionais contábeis devidamente habilitados e credenciados junto ao
CRC da respectiva jurisdição, seguindo a norma legal do Decreto-Lei no 9.295, de 1946. O profissional
no cargo de perito deve guardar acertado nível de capacidade profissional, respaldado nas Normas
Brasileiras de Contabilidade (NBC), além de outros elementos especificas de sua área e aplicáveis à
perícia. Quanto às atividades do profissional contábil, vale elencar que as mesmas deve ser pautadas
tendo como parâmetro o exame de livros, anotações e diplomas que estão intrinsecamente atrelados
ao processo.

Vale ressaltar que, quando se fala em pericia, é possível classificá-las de acordo como seu campo de
atuação que está dividida em 4, sendo as mesmas: judicial, semijudicial, extrajudicial e arbitral. E, para
cada uma destas, Alberto (2009) explica sua importância e como a mesma atua e em qual esfera.
Perícia Judicial: está relacionada a processo que envolve a esfera jurídica, sendo estas: indicação,
pedido ou imposição de seus atores diligentes e se cumpre de acordo com os parâmetros específicos
da área.

 A perícia semijudicial: acontece no âmbito do Estado e a mesma tem como finalidade se


apresentar como elemento comprobatório dos compostos convencionais usuários.

763
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 A perícia extrajudicial: acontece fora da esfera do Estado, por decisão das partes
interessadas, nesse sentido, que não seja subordinado a outro profissional encarregado de
atribuir a matéria complicada.
 “Perícia arbitral: a mesma acontece no juízo arbitrário, ou seja, na esfera que o poder de
decisão elege pelo desejo dos interessados, que não é explicita em outra qualquer esfera
considerando suas características peculiares”. (ALBERTO 2009, p.39).
O papel do perito contábil: O contador perito já traz em si algumas características e habilidades que,
embora não sejam perceptíveis, estão lá à medida que o mesmo é instigado a solucionar problemas
que surgem no cumprimento de suas obrigações como profissional. E é esse o diferencial que o
profissional precisa demonstrar para ganhar respeito e credibilidade no mercado de trabalho (LEE;
BLASZCZYNSKI 1999; BHASIN, 2013).

Ao se buscar maiores esclarecimentos sobre o papel do profissional perito


contábil, percebe-se que o mesmo possui conhecimentos que agregam tanto
aspectos científicos como de caráter artístico, e como tal colabora de forma
efetiva na sua avaliação dos fatos atrelados ao processo, cujo teor exige
instrução adequada quanto ao tema abordado (SANTOS, 1983, p.35).

Para a NBC PP 01, compete ao perito dominar o que abrange as suas competências profissionais, aqui
especificamente tratando-se de questões de cunho social e ético considerando sua responsabilidade
quando o mesmo é chamado para assessorar em um determinado processo, em periciais que lhe
conferem o cargo que ocupa. (CFC, 2015a, p. 3). Ornelas (2003, p. 50) afirma que é imprescindível
para o profissional perito que este possua conhecimentos amplos que corroborem para o trabalho do
juiz dando-lhe suporte técnico e cientifico, no que compete às demandas apresentadas, contribuindo
de forma decisiva para elucidar possíveis dúvidas na decisão do magistrado.

De acordo com a Lei do Processo Civil, quando se fala sobre o profissional perito, esclarece-se que é
aquele que atua mediante a convocação de um magistrado para realizar operação pericial,
considerando que, após sua nomeação, fica a critério das partes envolvidas no processo a não
aceitação deste, sendo resguardadas as mesmas a perícia particular. Para entender a diferença de um
perito e seu assistente é que o trabalho de ambos está amparado na Lei 8.455/92, ou seja, de acordo
com a mesma, um perito lavra o documento e assina e outro profere o parecer. O CFC, em sua
Resolução nº 1.502/2016, deliberou a elaboração de um cadastro nacional de peritos contábeis
(CNPC), ou seja, os profissionais que desejam entrar no mercado de perícias devem realizar o cadastro
no portal do CRC da sua região e no portal do CFC. Considera-se que o referido cadastro possibilita

764
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

que tais profissionais que desejam requisitar um perito busquem no banco de dados às informações
pertinentes na escolha de um bom perito.

O artigo 7º., da Resolução CFC nº 1.502/2016 reitera que a permanência do profissional no CNPC está
vinculada às obrigações pertinentes a um continuo aperfeiçoamento, ou seja, os mesmos precisam
estar continuamente na busca de aprimorar seus conhecimentos. (CFC, 2016). Os autores Hoog e
Petrenco (2003) afirmam que, quanto ao profissional da perícia contábil, este precisa possuir nível
superior, especializado em matéria fisco-contábil, onde seu objeto de trabalho deve ser o de analisar
fatos estranhos ao patrimônio periciado. Nesse sentido, entende-se que o perito é o apoio científico
do Magistrado que corrobora com a decisão em um processo que exija provas técnicas e cientificas
para a elucidação de um caso.

O perito precisa demonstrar imparcialidade, não permitindo que fatores


externos ou pessoas interfiram em seu parecer. Qualquer indicio de coação, por
parte de alguém que tem interesse no caso, ou que não o tenha, precisa ser
apresentado denunciado (NPB, PP 01 item 15).

Para Siqueira (2011), o perito contador precisa compreender seu papel na sociedade onde está
inserido, considerando que suas decisões afetam de maneira direta a vida das pessoas. Qualquer
comportamento atípico que comprometa sua imparcialidade pode acarretar prejuízos para terceiros,
tanto do ponto de vista social, quanto econômico, levando sempre em consideração a respeitabilidade
que o cargo lhe exige.

Ainda com relação ao profissional contador, especificamente no cargo de perito, é muito respeitável,
tendo em vista que do resultado de seu trabalho surgem provas determinantes que são custosas na
execução da justiça, o que corrobora impreterivelmente para as preferências da sociedade.

Vale dizer que a indicação do profissional contábil que atua na pericia, dá-se através de sua nomeação
na fase preliminar do processo onde existe a determinação da realização de uma pericia e cabe ao juiz
escolher o profissional perito que irá assessorá-lo, quando na visão deste cabe a necessidade de tal
recurso. O perito só pode tomar conhecimento do teor do documento processual após ser indicado
pelo magistrado. A partir dessa, o mesmo “determina a proposta financeira que irá balizar o
desenvolvimento da atividade para a qual foi designado ficando o tempo de 05 dias para o
recebimento da intimação”, conforme Moraes (2000, p. 109).

Ressalta-se que a indicação do profissional perito contábil acontece através de um juiz, o que deixa
claro que sua escolha representa confiança no seu trabalho e a certeza de resultados contundentes

765
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

para apreciação dos fatos e a conclusão que oportunize ao magistrado a tomada de decisão (ORNELAS,
2003). Ainda com relação ao perito contábil, seu objetivo é mostrar ao juiz as principais ocorrências
no decorrer do nexo entre os envolvidos, apresentando independência na comunicação dos tópicos e
elevando o cuidado na observância das informações (SOUZA, 2006), compreendendo o valor dessa
escolha. O profissional perito precisa estar consciente da sua responsabilidade para com a tarefa que
lhe foi delegada (BRASIL, 2003).

O Conselho Federal de Contabilidade (2016) determina que o perito-contador deve preparar um


escopo com a remuneração pertinente ao trabalho que será desenvolvido, observando o que
determina a lei, levando-se ainda em consideração as horas que serão gastas com o trabalho e em
qual qualificação este se enquadra. Entende-se que deve partir do profissional responsável pela
pericia a observação da conduta das pessoas envolvidas, mantendo imparcialidade na sua postura na
maneira de lidar com estes, favorecendo assim que o mesmo mostre-se atento, responsável, ético,
justo na execução de seu trabalho. Serão considerados os resultados de seu trabalho pronto depois
de sua investigação que é o laudo pericial, onde deve estar descrito tudo o que foi apurado de forma
técnica e científica para apreciação do magistrado. (CALDEIRA, 2000).

O laudo pericial: algumas considerações: O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) pronunciou-se


originalmente sobre o laudo pericial contábil por meio do item 13.5.1 das Normas Brasileiras de
Contabilidade T-13, reformulada pela Resolução CFC no 858/99. Novas mudanças ocorreram a partir
da Resolução CFC nº 858/99. Foi revogado pela Resolução CFC no 1041/05. A norma que entrou em
vigor, a NBC T-13 traz uma compreensão sobre o laudo, entendendo este como uma peça escrita,
onde o profissional de maneira ampla discorre sobre a matéria da perícia e especifica aspectos
e minudências que envolvam a demanda. Por ser uma peça técnica produzida pelo perito, à análise
das obras dos doutrinadores revela que o laudo pericial deve ter uma estrutura que corrobore para o
entendimento conciso das informações apuradas onde a mesma prescinde de requisitos extrínsecos,
considerando que engloba a petição de encaminhamento por meio da qual o perito requer a anexação
aos autos (ORNELAS, 2003; ALBERTO, 2002; SÁ, 2004; MAGALHÃES, 2001).
Entende-se que o Laudo Pericial compreende a manifestação do perito, exigindo uma clareza nas
informações para que haja compreensão das partes. Para tanto, o CFC (2009) determina que exista
uma estrutura básica, uma vez que o magistrado precisa se ater a fatos de conhecimento específico
quanto á determinado assunto.

766
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A NBC TP 01 - NORMA TÉCNICA DE PERÍCIA CONTABIL aponta uma organização básica para a
elaboração do laudo, tendo este que apresentar elementos que deve constar na peça
descrita: reconhecimento do processo e de seus envolvidos; resumo da peça; metodologia;
reconhecimento das buscas que serão necessárias; reprodução e feedbacks aos requisitos que devem
estar elencados no laudo pericial; reprodução aos quesitos elencados. Na ocorrência de divergências,
as observações devem constar dos comentários do responsável pelo laudo, posteriormente, segue-se
a conclusão, anexos e apêndices quando necessário. É oportuno ressaltar que na assinatura do perito
deverá está expresso em qual grupo pertence o profissional da contabilidade, seu registro no
Conselho, ressaltando a necessidade comprobatória do documento equivalente DHP. Salienta-se que
é consentida a aplicação da certificação digital, de acordo com a lei e as normas determinadas na
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras - ICP-Brasil (CFC, 2009).

Convém salientar que a referida maneira como está organizado o laudo é realizada pelo perito, com
algumas exceções, que a lei chama de quesitos, sendo estes compostos de um questionário básico
contábil do processo, os quais devem ser elaborados por órgãos e partes vinculadas ao processo,
tendo em vista que os quesitos dependerão do esclarecimento e detalhes do objeto a ser periciado
(ORNELAS, 2007).

Os quesitos relacionados e não relacionados ao que se discute o teor do processo se


apresenta em duas categorias, sendo estes pertinentes e impertinentes. Entende-se
como pertinentes àquelas informações incontestáveis, através de provas
documentais, haja vista que não se trabalha com suposições ou meias verdade na
pericia (ORNELAS, 2007, p.84).

Quanto à redação do laudo pericial contábil, o mesmo precisa ser objetivo, claro, quanto ao seu teor
e deve ser desconsiderada qualquer informação que não esteja de acordo com as argumentações
expressas no processo, entendendo-se que o profissional contábil é capaz e não incorrerá no erro de
atribuir conteúdo à matéria que o processo não contemple. Quando se fala em laudo pericial,
pressupõe que o mesmo seja contemplado sob duas vertentes, ou seja, o primeiro aspecto diz respeito
à manifestação do trabalho pericial e do laudo, que é a prova do trabalho em questão. "A
concretização em seu sentido real diz respeito aos fatos apurados pelo profissional que está no
exercício de seu trabalho sobre ocorrências do espólio devidamente detalhados e que se efetiva no
que a lei denomina de laudo pericial contábil" (SÁ, 2000, p.77).

767
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O LAUDO PERICIAL NOS PROCESSOS TRABALHISTAS

Quando se trata da peça pericial onde a mesma regrada nos processos trabalhistas surge a partir de
uma divergência entre empregados e empregadores, ou seja, quando não existe entendimento entre
os envolvidos e surge a solução de algum problema de caráter trabalhista e uma destas partes aciona
a justiça. Nesse caso, o órgão a ser buscado é a Justiça do trabalho para que haja uma audiência de
conciliação ou, se não, para julgar o caso e suas controvérsias (MAGALHÃES, et.al., 2008). Para
Teixeira Filho (2003, p. 411), “tratando-se as conclusões constantes do laudo a partir das observações
do perito contador seria inconveniente colocar o mesmo em posição superior a uma decisão do juiz
considerando que cabe somente a este validar as informações contidas no parecer técnico do perito
nomeado”, pois do contrário, estaria sendo delegado a esse profissional uma competência que não
lhe cabe, embora seja um documento relevante do processo não poder ser delegado ao perito função
jurisdicional pelo fato de que este cumpriu sua função dentro daquilo que lhe foi determinado.

De posse do conhecimento que concorre com o que determina o Código de Processo Civil (Lei
13.105/2015), em seu art. 433: “o profissional nomeado para a elaboração da peça pericial tem um
prazo máximo de 20 dias para apresentar o documento tendo em vista que o magistrado precisa
conhecer os resultados apontados na peça em questão”. Parágrafo único: De acordo com o que versa
a redação da Lei 10.358/01, os assistentes devem apresentar suas considerações no prazo máximo de
10 (dez) dias, considerando que as partes envolvidas já tomaram ciência da comunicação por parte do
juiz.

De acordo com Conselho Federal de Contabilidade (2009), art. 64. A peça pericial e o juízo devem
expressar as premências das partes envolvidas e ater-se à matéria em questão, limitando-se à questão
expressa nos autos de maneira que possibilite a compreensão das partes interessadas e que este não
comprometa a decisão dos magistrados, para que o mesmo não incorra em um julgamento errôneo,
favorecendo a um ou a outro, sem considerar a imparcialidade que se faz necessária no julgamento
do objeto. Em consonância com a determinação do CFC (2009), em seu art. 45, que afirma que, por
questões éticas, é imprescindível que o perito não deixe margem para dúvidas no conteúdo do laudo
a que teve a incumbência de periciar, sendo claro e conciso em consonância com o determina o
magistrado, responsabilizando, assim, os envolvidos no procedimento.

A Constituição Federal teve o art. 114 alterado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, reforça que
o entendimento de que:

768
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Cabe à Justiça do Trabalho aferir e ajuizar as matérias que têm sua origem na relação
de trabalho, assim como, os materiais que apresentam um caráter com dolo no
patrimônio e na moral, assim como, ainda, a divergência entre sindicatos e
empregados e empregadores através de penalidades administrativas de acordo com
a ocorrência de fiscalizações, ou seja, qualquer divergência entre as partes citadas,
enfim, em toda e qualquer relação de trabalho e emprego.

A Lei nº 9.957/2000 vem explicitar questões que apresentam dissídios individuais, onde o montante
seja um valor de acordo com o que determina a lei, sendo que esta esclarece que este valor deve
respeitar a observância de quarenta salários mínimos. Existem dois tipos de rito, que são classificados
como sumaríssimo e ordinário. Para uma maior compreensão, salienta-se que o rito ordinário é o
procedimento modelo para todos os outros, serve como base, por ser o mais completo.

Com relação aos procedimentos que fazem parte desse processo, pode-se compreender, a partir de
alguns caminhos que servem como nortes para a efetivação destes, sendo estes: a postulatória, a
ordinária, a instrutória e a decisória. Ainda existe o rito sumaríssimo, ele surge favorável a
desburocratizar o processo tornando-o mais ágil (MARTINS, 2000). Ainda segundo a lei 9.957/2000, o
dispositivo entendido como sumaríssimo foi criado em janeiro/ 2000, sendo oficializado pela Lei nº
9.957. Vale atentar para o fato de que a Lei em questão trouxe algumas especificidades que, para
serem arbitradas pelos tribunais junto aos recursos de caráter ordinário, como na razoabilidade dos
recursos denominados de revistas, onde se instituiram limitações antes que não eram consideradas.

O rito, citado anteriormente, não apresentou mudanças no que tange aos processos que já se
encontram em juízo, o que causou dúvidas com relação à sua aplicação, o que corroborou para o
surgimento de muitas dúvidas pertinentes à adoção das medidas contempladas na lei (BRASIL, 2000).

Vale salientar que a pericia é solicitada pelo magistrado normalmente na fase de esclarecimento da
sentença, para averiguar os valores a serem pagos, mas também pode ser solicitada na audiência de
conciliação. Conforme cita o art. 879, da CLT, a liquidação de sentença poderá ser realizada de
três maneiras: a liquidação por artigos, liquidação por arbitramento, ou liquidação por cálculos
(BRASIL, 1943). Quando se fala em liquidação de sentença, é possível afirmar que existem algumas
discordâncias entre os mais diferentes autores, uns consideram que esta tem autonomia tendo em
vista que a mesma está em consonância com o processo transitando entre o conhecimento e a
execução.

Para Nery (1999) [...] liquidação de sentença pode ser considerada como uma causa independente de
conhecimento, tendo em vista que a mesma objetiva acrescentar o titulo, seja este no âmbito judicial

769
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ou extrajudicial, este tem como função primeira liquidar, o que se pode também chamar de quantum
debeatur, ou seja, a possibilidade de que o mesmo possa ser liquidado e chegar a zero, o que a
sentença em questão não admite valor negativo na condenação.

A liquidação por artigos se dá para quantificar a obrigação, fazendo-se


necessário demonstrar e provar fatos novos, ou seja, fatos ainda não
comprovados na demanda (BARBIERI, 2009). [...] nessa liquidação ressalta-se
que quando não está explicito o valor indenizatório, deve ser levado em
consideração o que determina o artigo 606, II do CPC [...] (GIGLIO, 1997, p.
446).

A liquidação por arbitramento acontece através de ordem de sentença sentencial ou quando é


ordenado em detrimento do objeto da liquidação. Dessa forma, entende-se que estar se falando da
prova pericial especificamente quando existe a inevitabilidade de um perito. O que ocorre diferente
quando se fala na liquidação com procedimento comum, onde não são utilizados fatos novos, pois a
perícia tratar-se-á de questões abordadas na peça. Para Santos (2009), a modalidade mais utilizada no
processo de trabalho é a liquidação por cálculo, a mesma acontece quando a apuração do montante
devido depender de simples operações matemáticas.

3 METODOLOGIA

Neste tópico, são explicitados todos os caminhos percorridos para a realização deste trabalho, os
quias foram imprescindíveis para se alcançar resultados convincentes para o esclarecimento do tema
aqui abordado. Visando ao alcance do objetivo proposto, utiliza-se primeiro de uma pesquisa de
revisão de literatura, em que se procuram abordagens de diversos aspectos relacionados à perícia
contábil. O artigo está delimitado em dois estágios: no primeiro, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica. Pretende-se, com a mesma, alcançar os objetivos propostos, onde foram contemplados
conhecimentos teóricos acerca do assunto escolhido que é a perícia contábil. De caráter bibliográfico,
buscou-se clarificar, por meio de livros, artigos e outras formas de publicação, fundamentar as
informações para um maior embasamento do tema a ser pesquisado. Desse modo, utilizaram-se livros,
artigos, dissertações e leis que fundamentaram, fez-se ainda uma pesquisa em plataformas digital
como: Google acadêmico, Scielo. Lakatos e Marconi (2001, p. 54) Ao se reportar à pesquisa
bibliográfica, esta fundamenta-se na verificação de toda obra já divulgada, com o propósito de
posicionar o pesquisador em contato com o objeto de estudo

No segundo momento, optou-se por uma verificação in locus, com o objeto da pesquisa, utilizando-se
de um questionário para alcançar dados sobre o comportamento dos juízes, a respeito das decisões

770
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

relacionadas à peça pericial Na concepção de Gil (2002), a pesquisa de campo aponta um grupo de
trabalho entre outros. Para tanto, nos dias 03/09/2018 a 11/09/2018, foi realizada visita ao Fórum
Autran Nunes, na cidade de Fortaleza, Ceará, no ano de 2018, para explicar sobre a pesquisa/estudo
que foi feita para concluir o curso de Ciências Contábeis, com 18 questionários, que possuiam 10
questões. Foram entregues vias físicas. Foram devolvidos 14 respomdidos, 03 não responderam e uma
vara não nomeia perito contábil.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a pesquisa de campo, ocorreu a tabulação dos dados, a fim de revelar com gráficos ilustrativos
as opiniões dos magistrados. Na primeira pergunta, foi questionada sobre o entendimento,
assertividade e certeza dos laudos apresentados nos processos, obteve-se resultados apresentados no
gráfico 1:

Gráfico 1: os laudos contábeis são apresentados com clareza, objetividade e precisão.

Conforme exposto no gráfico 1, na primeira questão levantada para os magistrados, 65% afirmaram
que nem sempre acontece, 20% responderam que sim, 10% não responderam e 5% não nomeia perito
contábil. O que nos leva à compreensão de que não existe um consenso favorável na precisão dos
laudos apresentados.

1. Os laudos periciais são apresentados com clareza, objetividade


e precisão.

5.00%
20.00%
SIM

N/RESPONDERAM
10.00%
65.00% NEM SEMPRE

N NOMEIA PERITO

Fonte: elaborado pelo autor

De acordo com Ornelas (2007), ao se reportar aos aspectos pertinentes e impertinentes ao laudo
pericial contábil, este deva ser redigido de forma clara e objetiva, ou seja, devem prevalecer os
aspectos pertinentes ao processo.

O gráfico 2 mostra a visão dos juízes no tocante à percepção do laudo pericial como instrumento para
a decisão de uma sentença. Assim, obteve-se no gráfico 2 os seguintes dados no

771
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

questionamento acerca do laudo pericial como instrumento primordial: 50% responderam que sim,
25% disseram que nem sempre, 15% não responderam e 10% afirmaram que não. Diante do exposto,
percebe-se que varia muito da interpretação do magistrado, o laudo é importante, mas não
determinante para a maioria desses.

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 2: O laudo pericial como instrumento chave:

Tratando-se as conclusões constantes do laudo a partir das observações do


perito contador, seria inconveniente colocar o mesmo em posição superior a
uma decisão do juiz, considerando que cabe

somente a este validar as informações contidas no parecer técnico do perito


nomeado, pois, do contrário, estaria sendo delegado a esse profissional uma
competência que não lhe cabe, embora seja um documento relevante do
processo não poder ser delegado ao perito função jurisdicional pelo fato de
que este cumpriu sua função dentro daquilo que lhe foi determinado (FILHO,
2003, p. 411).

A seguir, o gráfico 3 ressalta as dificuldades encontradas na elaboração cotidiana dos laudos periciais
contábeis, tais como; insuficiência de entendimento, exagero de termos técnicos, planilhas de difíceis
entendimentos. De acordo com o gráfico 3, obteve-se os seguintes resultados; 50 % responderam que
sim, 20% disseram que nem sempre, 20% não responderam e 10 % não contam com perito contábil
em sua vara de trabalho.

772
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Gráfico 3: As dificuldades encontradas no cotidiano dos laudos periciais contábeis

3. As dificuldades encontradas no cotidiano dos laudos periciais


contábeis, elaborado pelo perito contador são: falta de clareza,
excesso de termos técnicos, planilhas de dificeis entendimentos?

10.00%

SIM

20.00% NEM SEMPRE


50.00% N/RESPONDERAM

20.00% NÃO

Fonte: elaborado pelo autor

Corroborando com esses dados podemos elencar o pensamento de Ornelas (2003) ao afirmar que o
perito contador deve possuir conhecimento sobre o tema, que lhe oportunizem contribuir com o juiz
ofertando saberes tecnológicos que não contemplam a formação do juiz.

O gráfico 4 apresenta os resultados quanto ao prazo em os laudos periciais são entregues ao


magistrado. De acordo com o gráfico 4, os respondentes quando indagados sobre o prazo de entrega
dos laudos periciais, obteve-se os seguintes resultados; 50% responderam que sim, são entregues
dentro do prazo, 20% disseram que nem sempre, 10% não existe nomeação de perito contábil.

Gráfico 4: Os laudos periciais contábeis são apresentados dentro do prazo determinado pelos
magistrados?

4. Os laudos periciais contábeis são apresentados dentro do


prazo determinado pelo magistrado?.

10.00%

SIM

20.00% NEM SEMPRE


50.00%
N/RESPONDERAM
20.00% NÃO

Fonte: elaborado pelo autor

773
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

De acordo CPC (2015), que entrou em vigor em 18/03/2016, em seu art. 433 esclarece o perito
contador mostra o laudo em cartório, dentro do prazo, que este é de 20 (vinte ) dias.

O gráfico 5, a seguir, expõe se os laudos periciais estão de acordo com a lide do processo. De acordo
com o gráfico 5, ao serem questionados se os laudos apresentados estão de acordo com a lide do
processo, obtiveram-se os seguintes resultados, 50% responderam que sim, 30% disseram que nem
sempre, 10% não responderam e 10% afirmaram que não.

É importante salientar que, apesar de 50% afirmam que sim, as outras respostas deixam margem para
uma reflexão tendo em vista uma porcentagem considerável não perceber nos laudos apresentados
pelos menos elementos que agreguem valor a sua compreensão.

Gráfico 5: Os laudos periciais contábeis apresentados no processo estão de acordo com a lide em
questão?

5. Os laudos periciais contábeis apresentados no processo estão de


acordo com a lide em questão?

10.00%

10.00%
SIM
NEM SEMPRE
50.00%
N/RESPONDERAM
30.00%
NÃO

Fonte: elaborado pelo autor

De acordo com Conselho Federal de Contabilidade (2009), art. 64. o laudo pericial contábil e o parecer
pericial contábil precisam ser coerentes, sem rodeios, contemplar o que se espera das partes
interessadas e não fugir daquilo que exige a peça, usando uma linguagem clara que esteja diretamente
relacionada ao tema abordado, fazendo com que a clareza das informações contemple a que a decisão
final seja justa. A peça pericial contábil e o juízo pericial devem se restringir a aspectos restritamente
exigidos pelos questionamentos previamente elaborados para não correr o risco de dar margem a
análises que colaborem a julgamentos errôneos. Segundo Sá (2009), a justiça do trabalho em suas
demandas pende para a parte mais fraca, no caso, o trabalhador, embora existam magistrados que
não levem para apreciação esse aspecto, por falta de embasamento legal. Considerando esse

774
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

contexto, o perito contador precisa realizar seus trabalhos com atenção, sempre se preocupando em
não ser tendencioso nas respostas dos quesitos.

Ainda segundo Sá (2009), o perito precisa, pois, de cautela, sem pender para qualquer parte (esta a
verdadeira posição do profissional da pericia contábil), mas, na maioria dos casos, tem
demandas modestas, de relativa facilidade de resposta, como os exemplificados. Pires (2006) diz que
algumas matérias definidas pelos interessados, não têm o objetivo de conceder uma opinião ligada ao
assunto em apreciação. Em alguns momentos, existem argumentações que ultrapassam o vínculo da
causa, que se distingue quando se procura organizar os limites do assunto a ser levado para ser alvo
de pericia. O gráfico 6 retrata a necessidade de esclarecimento ou não, após a entrega da peça pericial.
De acordo com o gráfico 6, ao serem questionados sobre esclarecimentos com relação ao processo,
assim responderam, 40% responderam que sim, 30% disseram nem sempre, 10% não responderam
e 20% afirmaram que não. Entende-se a partir desses dados que existe um grupo que exige maiores
esclarecimentos sobre o processo.

Gráfico 6: Após a entrega do laudo pericial é normal a solicitação (parte do processo e/ou juiz) de
esclarecimento do mesmo?

6. Após a entrega do laudo pericial é normal a solicitação (parte


do processo e/ou juiz) de esclarecimento de mesmo?

SIM
20.00%
40.00% NEM SEMPRE
10.00%
N/RESPONDERAM

30.00% NÃO

Fonte: elaborado pelo autor

Em consonância com a determinação do Conselho Federal de Contabilidade (2009), em seu art. 45,
defende-se a conduta do profissional da pericia, ou seja, o perito deve esclarecer sobre a matéria da
peça pericial e do juízo pericial, em acolhimento ao que determina o interesse dos envolvidos. O
gráfico 7 demonstra de onde vem o maior fluxo de esclarecimentos sobre os laudos periciais.

775
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

De acordo com o quadro 7, obteve-se os seguintes resultados, 90% responderam que os reclamantes
são em sua grande maioria os que buscam maiores esclarecimentos acerca dos laudos, 10%
não responderam.

Gráfico 7: O fluxo maior de solicitação de esclarecimentos dos laudos periciais contábeis apresentados
é atribuído à (ao)

7. O fluxo maior de solicitação de esclarecimetnos dos laudos periciais


contábeis apresentados é atribuido à (ao)
10%
0%

Reclamante
juiz
não respondeu

90%

Fonte: elaborado pelo autor

De acordo o CPC (2015), em seu o art. 435, determina: aos interessados em um maior aprofundamento
dos resultados da peça pericial do profissional responsável deverá solicitar ao juiz a convocação para
estar presente à audição, para retirar as eventuais dúvidas pertinentes ao assunto que ora foi
periciado.
Parágrafo único. Os profissionais da pericia contábil só podem responder aos questionamentos que
estão elencados na peça, sendo que precisa ser observado o tempo determinado, ou seja, 5 (cinco)
dias antes da audição.

O gráfico 8 expõe os fatores que são considerados para o arbitramento dos honorários do perito
contador. De acordo com o quadro 8, obteve-se os seguintes resultados, 80% responderam que para
o arbitramento dos honorários a complexidade tem um peso maior, 10% apontaram outros itens e
10% não responderam. Ao se tratar dos valores cobrados pelos profissionais, o mesmo envia uma
proposta para o Juiz, que poderá aceitar ou não o que está ali discriminado, ressaltando que os
interessados podem contestar o valor que está sendo cobrado.

Em não existindo concordância por parte do magistrado, este pode determinar o valor a ser pago. Vale
aqui explicitar que em alguns tribunais existem um recurso específico quando da necessidade desse

776
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

profissional, considerando uma condicionalidade quando uma das partes não pode pagar pelos
serviços uma. (CLT 1943, Art. 790-B).

Gráfico 8: Quais fatores são considerados para o arbitramento dos honorários do perito?

8. Quais fatores são considerados para o arbitramento dos honorários


10% do perito contador?

10%
complexidade,
tempo e volume
outros

não informado

80%

Fonte: elaborado pelo autor

De acordo com Conselho Federal de Contabilidade (2005), o perito-contador deve explicitar o valor de
seu trabalho, considerando a relação entre as horas trabalhadas e os profissionais que será
disponibilizado obedecendo a seguinte ordem: remoção e concessão dos autos; apreciação e análise
do procedimento; descerramento dos documentos de trabalho; composição de demandas e/ou
conformidades para pedir referências e escritos; promoção de buscas e de análise de
escritos; investigação e apuração de documentos tecnológicos; realização de cálculos, simulações e
análises de resultados; laudos Inter profissionais; preparação de anexos e montagem do laudo;
encontros de peritos contadores assistentes, se necessária a elaboração da revisão final.

O gráfico 9 apresentado a seguir, demonstra que, se na indicação do profissional perito contábil, o


magistrado solicita informações do banco de dados da associação do perito contador do
Estado do Ceará. De acordo com o gráfico 9, obteve-se os seguintes resultados, 30% responderam que
nem sempre é consultado o banco de dados, 50% afirmaram que sim, e 20% responderam que não. Os
resultados nos levam a concluir que o banco de dados é muito importante para a indicação do perito
contador em um processo.

Gráfico 9: Sobre a nomeação do perito contador o magistrado solicita informações do banco de dados
a associação do perito contador do Estado do Ceará?

777
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

9. No momento da nomeação do perito contador o magistrado


solicita informações do banco de dados a associação do perito
contador do Estado do Ceará?

30%

Sim

50% Não

Nem sempre

20%

Fonte: elaborado pelo autor

O CFC. em sua Resolução nº 1.502/2016, deliberou a elaboração de um cadastro nacional de peritos


contábeis (CNPC), ou seja, os profissionais que desejam entrar no mercado de perícias devem realizar
o cadastro no portal do CRC da sua região e no portal do CFC. Considera-se que o referido cadastro
possibilita que tais profissionais que desejam requisitar um perito busquem no banco de dados as
informações pertinentes na escolha de um bom perito.

O artigo 7º., da Resolução CFC nº 1.502/2016, reitera que a permanência do profissional no CNPC está
vinculada às obrigações pertinentes a um continuo aperfeiçoamento, ou seja, os mesmos precisam
estar continuamente na busca de aprimorar seus conhecimentos. (CFC, 2016).

O gráfico 10 evidencia os principais critérios que são usados pelos juízes no ato da indicação da
profissão perito contador. De acordo com o gráfico 10, apresenta os resultados obtidos: 50% dos
entrevistados afirmaram que a qualidade do trabalho é fator determinante para a nomeação, 30%
apontaram a confiança como importante e 20% afirmaram que todas as opções são fundamentais na
escolha do profissional perito.

Gráfico 10: Quais parâmetros usados pelos juízes na indicação do perito contador?

778
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

10. Quais os principais critérios utilizados pelos magistrados no


momento da nomeação do perito contador?

20.00% Confiança
0.00% 30.00%
Qualidade do trabalho

Indicação e análise do curriculo

50.00% todos as opções

Fonte: elaborado pelo autor

De acordo com Conselho Federal de Contabilidade (2009), art. 64, o laudo pericial contábil e o parecer
devem expressar as premências das partes envolvidas e se ater à matéria em questão, limitando-se à
questão expressa nos autos de maneira que possibilite a compreensão das partes interessadas, e que
este não comprometa a decisão dos magistrados, para que o mesmo não incorra em um julgamento
errôneo, favorecendo a um a outro sem considerar a imparcialidade que se faz necessária no
julgamento do objeto.

[...] considerando que a pericia acontece segundo a observância de princípios e


normas e se trata de uma profissão, legalmente regulada, tal com a do médico,
engenheiro, farmacêutico, [...] não podem a escolha do profissional para o trabalho
recair em um individuo inapto que não tem competência exercer a profissão que tem
a incumbência de ter o conhecimento sobre o assunto (SILVA, 1948, p. 249).

O pensamento de Silva (1948) já reafirmava a importância do conhecimento sobre a profissão exercida


e os princípios que a regem na tomada de decisão que não venha interferir, ou seja, usando de
imparcialidade nos resultados apresentados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na pesquisa realizada, foi possível responder à questão da pesquisa, uma vez que
demonstra a qualidade da pericia contábil para a decisão judicial na justiça do trabalho, assim como,
os objetivos propostos foram alcançados, tendo em vista que o mesmo apresentou evidências
relacionadas à qualidade da atividade executada pelo profissional da pericia contábil nos processos da
vara trabalhista.

779
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ainda se pode afirmar que a exigência, quanto à qualidade da perícia contábil, tem se apresentado de
forma mais intensa, considerando as necessidades da sociedade, sendo esta uma ferramenta que
corrobora com o exercício efetivo da cidadania, considerando a importante contribuição, pois é uma
ferramenta que norteia a atitude do juiz, diante de uma decisão assertiva, apresentando a verdade da
matéria discutida

As possibilidades assertivas da pesquisa corroboraram para o entendimento de que a opinião dos


magistrados vai de encontro àquilo que tem determinação na lei, quando este usa a qualidade do
trabalho pericial para fortalecer suas decisões quanto à apreciação do material que lhe foi exposto. As
respostas evidenciaram ainda a importância da clareza e precisão desses documentos para que o
magistrado possa considerá-lo nas suas decisões.

Alguns aspectos são imprescindíveis para a escolha do perito, dentro os quais, podem-se citar:
imparcialidade e a qualidade de seu trabalho. Dessa forma, a escolha, que, de acordo com o estudo,
mostrou resultados que incidem sobre esses dois pontos, os quais provaram-se como determinantes
na escolha desse profissional. Nesse sentido, compreende-se que a teoria aliada à prática precisa estar
em consonância com a carreira desse profissional para que o mesmo possa ganhar notoriedade e,
dessa forma, ser considerado apto para atuar nos processos judiciais.

É importante destacar que houve limitação da pesquisa já que nem todos os respondentes se
prontificaram a repassar as informações para um maior embasamento desse trabalho, deixando-o
limitado com relação à amostra colhida. Mas, vale ressaltar, que, contudo, a importância deste dar-se
considerando que o mesmo serve como instrumento balizador para buscar a visão dos magistrados
sobre a profissão perito contador. Esperamos que o trabalho sirva de suporte para que outros
pesquisadores possam fortalecer o entendimento sobre o assunto e sentirem-se motivados a buscar
novas informações que se tornem mais relevantes quanto ao futuro da profissão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALBERTO, Valder Luiz Palombo, Perícia contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

________. Perícia Contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

BEUREN, Ilse Maria et al. Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: Teoria e Prática.
2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de Contabilidade. 2009

780
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

_______. Normas Brasileiras de Contabilidade. Resolução n. 858/99 - Conselho Federal de


Contabilidade - Publicada no DOU de 29.10.99 Normas Brasileiras de Contabilidade - NBC T 13 – Da
Perícia Contábil. Disponível em: http://www.inpecon.com.br/nbc_t_13.htm Acesso em: 27 de agosto
de 2018.

_________. Resolução CFC Nº. 857, de 21 de outubro de 1999. Reformula a NBC P-2, denominando-a
Normas Profissionais do Perito.

_________. Resolução CFC Nº. 858, de 29 de outubro de 1999. Reformula a NBC T-13, denominando-
a Da Perícia Contábil.

________, Resolução CFC Nº. 978, de 19 de setembro de 2003. Aprova a NBC T 13- IT 4 – Laudo
Pericial Contábil.

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL. Princípios fundamentais de


contabilidade e normas brasileiras de contabilidade. 16. ed. Porto Alegre: CRCRS, 2000, Coordenador
Geral: José João Appel Matos - Presidente do CRCRS. RS, 2000.

CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL. Direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação
de sentença e coisa julgada. Volume 2. Editora jus PODIVM, 2008. p. 467.

FIGUEIREDO, Álvaro Nelson Menezes de. Roteiro prático das perícias judiciais. Rio de Janeiro: Forense,
1999.

GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 446

HOOG, W. A. Z; PETRENCO, S. A. Prova pericial contábil: Aspectos Práticos & Fundamentais. Curitiba:
Juruá, 2001.

LEE, D; BLASZCZYNSKI, C. Perspectives of Fortune-500 executives on the competency requirements of


accounting graduates. Journal of Education for Business, Filadélfia, v. 75, n. 2, pp. 104-107, nov./dez.
1999.

NERY JUNIOR, Nelson et al. Código de processo civil comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1999.
ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia Contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
PIRES, Marco Antônio Amaral. Laudo pericial contábil na decisão judicial. Curitiba: Juruá, 2006. 244p.
ROCHA, Levi de Alvarenga, SANTOS, Nelson dos. Manual de Perícia Contábil Judicial. Goiânia: Max
Gráfca e Editora. 2004
SÁ, Antônio Lopes. Perícia contábil, 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
_______. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
SANTOS, Moacyr Amaral. Prova Judiciária Cível e Comercial. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 1983
TEIXEIRA FIHO, Manoel Antonio. A Prova no Processo do Trabalho. 8ª ed., São Paulo: Editora LTr, 2003.

781
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

TRF/ 1º Região, AP Nº. 95.01.32801-5 Magistrado Responsável: Juiz Alexandre Vidigal. Publicado em
26/02/1999. Disponível em: h http://br.vlex.com/vid/43520472. Acesso em: 04/11/2018.

782
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 37
CUSTOS E EFICIÊNCIA NO SETOR GOVERNAMENTAL: UM
ESTUDO DE CASO COM A GERÊNCIA DA DÍVIDA ATIVA
MUNICIPAL DE SOBRAL – CE
DOI: 10.37423/200400590

Isac de Freitas Brandão (Sem vínculo) - isacdefreitas@hotmail.com

Resumo: A mensuração dos custos incorridos na prestação dos serviços públicos é


fundamental para que se possa medir a eficiência do uso dos recursos públicos. Diante disso,
o estudo apresenta a aplicação de um sistema de gestão de custos baseado na metodologia
ABC na Gerência da Dívida Ativa Municipal de Sobral – CE durante o mês de dezembro de
2009, enfocando seus resultados através de indicadores de eficiência das atividades
desempenhadas e dos serviços prestados. Os resultados mostraram os custos da gerência por
atividade, processo gerencial e objeto de custo (arrecadação, emissão de certidão negativa de
débitos municipais e auxílio à execução fiscal), bem como indicadores de eficiência dos custos
por atendimento realizado, por pedido de CND analisado e emitido e a relação
arrecadação/custo de IPTU, ISS e outras receitas. Foram constatadas também limitações nos
controles informacionais da prefeitura de Sobral, que devem ser corrigidas para que possa
futuramente ser implementado um sistema de gestão de custos na entidade.

Palavras-chave: Gestão de custos. Eficiência. Dívida ativa municipal.

Área temática: Gestão de Custos no Setor Governamental.

783
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A gestão de custos vem se tornando cada vez mais um dos fatores determinantes para a eficiência das
organizações empresariais. Muito além de avaliar estoques, os sistemas de custos atualmente auxiliam
os gestores no controle dos gastos e no auxílio à tomada de decisões. Seus relatórios contribuem para
a avaliação e a otimização dos processos operacionais, melhorando a eficiência da entidade,
contribuindo para a economicidade do emprego dos recursos e, consequentemente, melhorando sua
eficácia. Entretanto, quando se fala nas entidades governamentais, a sua potencialidade ainda é pouco
explorada.

Atualmente tem-se um bom número de experiências de implantação de sistemas de custos em


entidades governamentais do Brasil, sejam elas da administração direta, autárquica ou fundacional.
Apesar de todas essas experiências, se comparado com o montante de entidades de direito público
existentes no Brasil, este número ainda é pequeno. Percebe-se também a diversidade de métodos e
modelos de sistemas aplicados, com variações dos objetivos do sistema, da base de dados, da
metodologia de apropriação de custos e dos objetos de custos adotados.

Em nível estadual, o Ceará ainda não possui nenhuma experiência relevante, principalmente na
administração direta do poder executivo, seja em prefeituras ou até mesmo no governo do estado. A
prefeitura Municipal de Sobral, embora seja referência em administração gerencial no estado, ainda
não possui sistemas de controle e gestão de custos. O que existe é um software que faz o
acompanhamento e o controle da execução orçamentária, referindo-se ao empenho e ao pagamento
da despesa, e não ao consumo de recursos.

Diante do exposto, o presente trabalho apresenta os resultados da aplicação de um modelo de gestão


de custos baseado na metodologia ABC durante o mês de dezembro de 2009 na Gerência da Dívida
Ativa de Sobral – CE, órgão da Procuradoria Geral do Município.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção serão abordados os aspectos conceituais sobre gestão de custos e custeio baseado em
atividades, custos no setor de serviços e gestão de custos no setor governamental.

784
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.1 GESTÃO DE CUSTOS E ABC

Nascida durante a revolução industrial, a contabilidade de custos atualmente não é utilizada apenas
como uma forma de avaliar os estoques das empresas industriais, mas como uma importante
ferramenta administrativa, que auxilia o gestor no controle dos recursos e na tomada de decisões.
Nesse sentido, Kaplan e Cooper (2000) definem seus objetivos:

Avaliar estoques e medir o custo dos bens vendidos para geração de relatórios
financeiros; estimar as despesas operacionais, produtos, serviços e clientes e
oferecer feedback econômico sobre a eficiência do processo a gerentes e
operadores.

Segundo estes mesmos autores, um bom sistema de custos deve atender a estes três objetivos. Por
este motivo, é de extrema importância a escolha da metodologia de apropriação dos custos indiretos,
assim classificados os recursos que se vinculam a mais de um objeto de custeamento e que não se
consegue medir com exatidão quanto daquele custo foi consumido por cada objeto. Os métodos de
custeio mais conhecidos, chamados de tradicionais, são o custeio por absorção e o custeio variável.

O custeio por absorção é o método mais utilizado no Brasil e é aceito pela legislação fiscal. Consiste
na apropriação dos custos indiretos aos objetos de custo por meio de um critério de rateio
previamente estabelecido. Entretanto, pelo fato do custeio por absorção não fornecer informações
acuradas sobre o real consumo dos custos por seus objetos, esta metodologia não é recomendada
para o controle e a tomada de decisões.

O custeio variável (ou direto) pode ser uma alternativa ao custeio por absorção. Ele consiste em
apropriar apenas os custos variáveis aos objetos de custo, considerando os custos fixos (a maior parte
dos indiretos) como despesas do período. Esta metodologia, além de reduzir o rateio, produz
informações importantes ao gestor, como a margem de contribuição, o ponto de equilíbrio e o grau
de alavancagem. Entretanto, o custeio variável também não exclui o rateio, além de não fornecer
nenhum dado sobre o consumo dos custos fixos pelos objetos de custo.

Com o intuito de reduzir as distorções ocasionadas pelo rateio e, ao mesmo tempo, apropriar os custos
fixos aos objetos de custo, foi desenvolvido o Custeio Baseado em Atividades que, segundo Bruni e
Famá (2003):

785
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O Custeio Baseado em Atividades ou, simplesmente, ABC, do inglês Activity


Based Costing, difere do sistema de custeio tradicional em função de, no lugar
das bases de rateio, empregar as atividades desenvolvidas dentro da
organização para alocar os custos, contrariamente aos sistemas que se baseiam
em volumes.

Surgido a partir do crescimento dos custos indiretos nas cadeias produtivas, o principal diferencial do
custeio ABC para os métodos tradicionais está na forma de apropriação dos custos indiretos. Enquanto
os tradicionais se utilizam do rateio, o ABC procura identificar a relação de causa-efeito destes custos,
também chamada de rastreamento, apropriando-os inicialmente às atividades mais relevantes que
são desempenhadas e, num segundo momento, passando destas para os objetos de custos. A
identificação de causa-efeito é feita através de direcionadores de custos, que, segundo Martins (2003),
“é o fator que determina a ocorrência de uma atividade. Como as atividades exigem recursos para
serem realizadas, deduz-se que o direcionador é a verdadeira causa dos custos”. Este mesmo autor
ainda classifica os direcionadores em dois tipos: direcionadores de recursos e direcionadores de
atividades. Aqueles identificam os custos consumidos pelas atividades, enquanto estes a maneira com
que os produtos consomem as atividades.

2.2 CUSTO NO SETOR DE SERVIÇOS

Pelo fato de que a atuação das entidades governamentais acontecer principalmente no setor de
serviços, faz-se necessária uma pequena abordagem de como se comportam os custos neste setor,
visto que possui algumas peculiaridades que o diferenciam do setor industrial. De acordo com Silva
(2007): “A contabilidade de custos no setor de serviços deve levar em consideração as seguintes
características: os custos são fixos e o tempo é um direcionador relevante de custos”.

De acordo com Silva (2007): “Partindo do suposto de que o usuário não gosta de esperar para ser
atendido, a capacidade de uma empresa de prestação de serviços deve ser dimensionada em termos
de demanda máxima”. Ou seja, as prestadoras de serviços devem se preparar para atender o máximo
de usuários possíveis, mesmo que este patamar não seja alcançado. Logicamente não se pode
esquecer a sazonalidade, ou épocas do ano em que a procura pelo serviço é menor. O que deve ser
observado é que os custos não irão variar tanto como no setor industrial, onde são calculados com
base na quantidade de produtos a serem fabricados e vendidos. O que vai ser mais determinante é a
demanda máxima esperada, a capacidade de prestação de serviços. Esta premissa não deve, contudo,
ser levada como regra geral, visto que existem determinados custos que só ocorrem se o serviço for

786
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

prestado, como o material consumido durante a realização de uma cirurgia. Neste caso, o número de
cirurgias influenciará de forma significativa o montante de custos.

No setor industrial o tempo de fabricação de um produto influência tanto na eficiência quanto na


eficácia da empresa. No setor de serviços, sua importância se torna ainda maior: o tempo de um
atendimento em uma repartição pública, por exemplo, é fator determinante para a satisfação do
usuário e para a redução de custos, visto que quanto mais rápido for o atendimento, menor será o
tempo de espera na fila e maior será o número de atendimentos.

2.3 GESTÃO DE CUSTOS NO SETOR GOVERNAMENTAL

Quando se fala em gestão de custos em entidades governamentais brasileiras, percebesse que é um


assunto muito recente e que ainda há muito que se explorar, embora já seja reconhecida pela
legislação a importância a e necessidade de se controlar os custos dos serviços públicos e já existam
experiências relevantes implementadas ou em desenvolvimento.

A Emenda Constitucional nº. 19/1998 incluiu a eficiência no rol dos princípios constitucionais da
administração pública, reconhecendo a importância de os serviços públicos serem prestados de forma
eficiente, ou seja, atingindo seus objetivos com o menor custo possível. Mas não há como se medir
esta eficiência, se não existe medição dos custos, conforme Alonso (1999):

O governo e a sociedade não sabem, regra geral, quanto custam os serviços


públicos. Como não há medida de custos, também não há medida de eficiência
na administração pública, dado que a eficiência é a relação entre os resultados
e o custo para obtê-los. Sem um sistema de avaliação de resultados e de custos,
a administração pública abre margem para encobrir ineficiência.

A apuração dos custos dos serviços públicos propicia aos gestores, tribunais de contas e à sociedade
em geral medidas de desempenho do uso dos recursos públicos.

O auxílio ao planejamento interno das entidades e à tomada de decisões por parte dos gestores
públicos são outros fatores que justificam a implantação de sistema de custos por estas entidades. A
este respeito, Piscitelli (1988 apud SILVA 2007) comenta que a falta de um sistema de contabilidade
de custos prejudica o processo de planejamento, pois impede a fixação de medidas de desempenho,
e Giacomoni (2002 apud SILVA, 2007) afirma que a medição de insumos e produtos cria medidas úteis
à tomada de decisões orçamentárias.

787
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O próprio legislador brasileiro, ao longo dos anos, vem reconhecendo esta necessidade, incluindo em
diversos dispositivos legais a obrigação de a administração pública proceder à apuração de custos. A
Lei nº. 4320, de 1964 já destacava a obrigatoriedade da manutenção de uma contabilidade que
determinasse os custos dos serviços públicos industriais (artigo 99). Esta norma, entretanto, restringia
a apuração dos custos aos serviços industriais. Tal inadequação foi retificada através do Decreto-Lei
nº. 200, de 1967, que expandiu esta obrigação a todos os serviços públicos. Apesar destes e de outros
dispositivos legais do período da ditadura militar, eles não passaram de intenções. O único controle
existente era o orçamentário, que não pode ser confundido com apuração de custos, visto que o fato
gerador da despesa orçamentária é o empenho, enquanto o do custo é o consumo.

A Constituição Federal de 1988 veio trazer avanços no que tange à preocupação com a eficiência e
eficácia da gestão pública. A existência de controles internos e externos e a maior preocupação com o
planejamento orçamentário são exemplos destes avanços. Mas não houve nenhuma menção a
apuração dos custos dos serviços públicos.

Da promulgação da constituição até o fim da década de 90 não houve novos dispositivos legais que
impusessem à administração pública o uso da contabilidade de custos.

Apenas em 2000, com a edição da Lei Complementar nº. 101, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),
ficou mais clara essa exigência. Remígio (2002) elenca os dispositivos da LRF que dispõe sobre esta
matéria:

a) A alínea “e” do inciso I de seu artigo 4º, que determina a existência de normas
relativas ao controle de custos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, instrumento
do planejamento orçamentário que orienta a elaboração do orçamento anual;

b) O parágrafo 3º do artigo 50, que determina o uso de um sistema de custos


pela administração pública capaz de acompanhar a gestão dos sistemas
orçamentário, patrimonial e financeiro;

c) E o inciso V do parágrafo 3º do artigo 59, que versa sobre a necessidade de os


Tribunais de Contas alertarem aos Poderes públicos acerca de “fatos que
comprometam os custos ou os resultados dos programas”.

788
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Portaria Interministerial nº. 945, de 2005, criou a Comissão Interministerial de Custos, que tinha
como objetivo “elaborar estudos e propor diretrizes, métodos e procedimentos para subsidiar a
implantação de Sistemas de Custos na Administração Pública Federal”. O relatório final desta comissão
prevê os seguintes objetivos centrais para a política de custos da Administração Pública Federal:

a) implantar sistemas de custos em toda a administração pública federal em


cumprimento às determinações da legislação vigente;

b) otimizar o desempenho dos órgãos e entidades da administração pública


federal, assim como dos programas que integram o plano plurianual; e

c) fomentar uma cultura de custos na administração pública federal.


(COMISSÃO INTERMINISTERIAL DE CUSTOS, 2006)

O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), baseado nas Normas Internacionais de Contabilidade


Aplicadas ao Setor Público, publicou em novembro de 2008 as Normas Brasileiras de Contabilidade
Aplicadas ao Setor Público (NBCAPs). A NBC T 16.2, que dispõe sobre o patrimônio e os sistemas
contábeis das entidades governamentais, inclui como um dos cinco subsistemas contábeis o sistema
de custos. Além desta, a Norma Técnica NBC T 16.3, que dispõe sobre o planejamento e seus enfoques
sob o aspecto contábil, fala da importância do planejamento e da avaliação de desempenho para a
contabilidade pública, inclusive no que tange aos custos, e a NBC T 16.8, que dispõe sobre controle
interno, menciona também que os sistemas de informações e comunicação das entidades
governamentais devem identificar, armazenar e comunicar toda informação relevante.

Baseado nas NBCASPs, a Secretaria do Tesouro Nacional, órgão do Ministério da Fazenda responsável
pela contabilidade do Governo Federal, publicou o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público,
que já inclui em seu volume IV – Plano de Contas Aplicado ao Setor Público o subsistema de custos
(2009):

c) Subsistema de Custos – registra, processa e evidencia os custos da gestão dos


recursos e do patrimônio públicos, subsidiando a administração com
informações tais como:

i. Custos dos programas, dos projetos e das atividades desenvolvidas;

ii. Bom uso dos recursos públicos; e

iii. Custos das unidades contábeis.

É notável a necessidade da implantação de sistemas de custos em toda a administração pública


brasileira, seja para medir a eficiência dos serviços prestados e auxiliar a tomada de decisão do gestor,

789
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

seja para se adequar às normas internacionais, ou para cumprir dispositivos infraconstitucionais da


legislação brasileira. Entretanto, o que se vê são experiências isoladas, com diferentes metodologias
de custeamento, que se baseiam muitas vezes na execução orçamentária, que não evidencia o real
consumo dos recursos empregados. Alves Filho e Nascimento (2007), afirmam existir fatores culturais,
políticos, técnicos, operacionais e institucionais da administração pública brasileira que dificultam a
implementação de sistemas de gestão de custos no setor público.

3 A GERÊNCIA DA DÍVIDA ATIVA MUNICIPAL DE SOBRAL – CE

A Gerência da Dívida Ativa do Município de Sobral – CE foi criada em 1997, como órgão da
Coordenação de Arrecadação da então denominada Secretaria de Administração e Finanças, hoje
Secretaria de Desenvolvimento da Gestão. Desde o ano de 2005, a gerência faz parte da Procuradoria
Geral do Município de Sobral, sendo subordinada diretamente ao procurador-geral do município. É de
sua competência, basicamente, a administração dos valores correspondentes à dívida ativa do
município, realizando a sua inscrição, cobrança, arrecadação e arquivamento, além de viabilizar a
execução fiscal da mesma. O Código Tributário do Município de Sobral (SOBRAL, 1997) assim define
dívida ativa:

Art. 125 - Constitui dívida ativa do Município, a proveniente de impostos,


taxas e contribuições de melhoria e multas de natureza tributária e não
tributária, regularmente inscrita na repartição administrativa
competente, depois de esgotado o prazo fixado para pagamento por Lei
ou por decisão final proferida em processo regular.

Atualmente a gerência funciona na Casa do Contribuinte, juntamente com a Coordenação de


Arrecadação e Setor de Cadastro Imobiliário, da Secretaria do Desenvolvimento da Gestão, e o setor
de Licenciamento Urbano, da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano.

3.1 ARRECADAÇÃO E GASTOS

A arrecadação municipal de Sobral é controlada através do software Sistema de Arrecadação


Municipal (SAM), desenvolvido pela própria prefeitura. A maior parte dos valores inscritos em dívida
ativa corresponde a débitos de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e Imposto Sobre Serviço de
Qualquer Natureza (ISS). Por este motivo o SAM classifica as receitas da Dívida Ativa em IPTU, ISS,
Taxas e Outros. As receitas provenientes de Taxas correspondem a Alvarás de Funcionamento e
Alvarás Sanitários, entre outras taxas.

790
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Na categoria Outros se incluem outros impostos, como o Imposto sobre Transferência de Bens Imóveis
(ITBI), as contribuições de melhoria e as dívidas de natureza não tributária.

Entre os anos de 1996 e 2009 a arrecadação da dívida ativa municipal de Sobral saltou de R$
122.652,30 para R$ 1.551.348,30, sendo que em 2008 houve uma arrecadação recorde de R$
2.439.146,86, devido a dois programas de recuperação fiscal ocorridos no ano. O expressivo
crescimento durante este período se deu pela reforma geral da administração municipal iniciada em
1997, com maciço investimento em recursos físicos, tecnológicos e humanos, com o intuito de
melhorar a arrecadação municipal como um todo. A própria criação de um setor específico que
cuidasse somente dos valores inscritos em dívida ativa foi uma das medidas tomadas para atingir este
objetivo.

Quando se fala em acompanhamento dos gastos, entretanto, a prefeitura não possui nenhum controle
de custos. O que existe é um software que monitora a execução orçamentária a nível de secretarias,
denominado Sistema Phoenix, desenvolvido pela própria entidade. Através dele cada secretaria ou
equivalente possui acesso ao seu limite de gastos mensais e anuais para cada espécie de despesa
orçamentária e, em toda ordenação de despesa, o responsável processa os dados no sistema. Em casos
de necessidade de suplementação ou transferência, a comunicação com o setor financeiro da
prefeitura também é feito através do Phoenix. Este sistema também cadastra credores, licitações,
empenhos e pagamentos.

No caso específico da Gerência da Dívida Ativa, a secretaria que faz a ordenação de suas despesas é a
Procuradoria Geral do Município, não existindo nenhum controle pelo setor.

A gerente periodicamente encaminha à PGM a requisição do material a ser consumido, geralmente


de três em três meses, e a ordenação da despesa é lançada no sistema Phoenix pela secretária da
PGM.

Embora seja um sistema eficiente do ponto de vista orçamentário e financeiro, o Phoenix não produz
informações que possam ser usadas para a gestão de custos da prefeitura, devido aos seguintes
aspectos, dentre outros:

 Acompanha o empenho e o pagamento da despesa, e não o consumo dos recursos;

791
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Existem servidores lotados em uma secretaria que executam seus serviços em outra
secretaria;

 As despesas de depreciação do imobilizado não são contabilizadas no sistema


orçamentário;

 O controle é feito apenas por secretaria, não se estendendo aos seus setores.

Mesmo com as deficiências encontradas, a filosofia de racionamento de recursos e a preocupação em


atender as metas de custeio estabelecidas já são uma realidade na prefeitura.

3.2 PRINCIPAIS PROCESSOS E ATIVIDADES

Como já dito, a finalidade da gerência é a gestão da dívida ativa municipal, tendo como principal
objetivo institucional sua arrecadação. Subsidiariamente é de sua competência a emissão de Certidões
Negativas de Débito Municipais (CND), documentos que comprovam a ausência de débitos de pessoas
físicas e jurídicas com a fazenda pública municipal.

Para atingir tais objetivos, as atividades desenvolvidas podem ser agrupadas em quatro processos
gerenciais: inscrição e cobrança administrativa da dívida ativa, atendimento ao contribuinte,
viabilização da execução fiscal e administração da gerência. O quaro 1 apresenta as principais
atividades desempenhadas no âmbito da gerência em cada um de seus processos institucionais:

Quadro 1 – Principais processos e atividades

792
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 METODOLOGIA DA PESQUISA

O trabalho apresenta uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso, que teve como objeto de estudo
a Gerência da Dívida Ativa do Município de Sobral – CE. Subsidiariamente foi realizada uma pesquisa
bibliográfica e documental, quando se buscou subsídios teóricos para fundamentar e estruturar o
estudo de caso.

A pesquisa teve início em maio de 2009, compreendendo as seguintes etapas:

a) Entrevista prévia com a gerente do setor objeto de estudo e com a servidora


responsável pela requisição de material da Procuradoria Geral do Município,
com a finalidade de conhecer a sistemática de controle de gastos da prefeitura
e as necessidades informacionais existentes;

b) Pesquisa bibliográfica e documental, onde se buscou subsídios em trabalhos


já elaborados dentro da mesma linha de pesquisa e em autores que
discorreram sobre o assunto;

c) Implementação do modelo proposto na Gerência da Dívida Ativa do


Município, com realização de entrevistas com servidores, visitas in loco e
análise de documentos para a coleta dos dados necessários e identificação das
atividades e dos processos operacionais e dos direcionadores e objetos de
custo;

d) Cálculo dos custos e indicadores de eficiência referentes ao mês de dezembro


de 2009, utilizando-se principalmente do software Microsoft Excel 2003 para
a elaboração das planilhas;

e) Interpretação dos resultados e conclusão da pesquisa.

5 CUSTOS DA GERÊNCIA DA DÍVIDA ATIVA MUNICIPAL DE SOBRAL EM DEZEMBRO DE 2009

O modelo conceitual de sistema de custos que foi aplicado neste trabalho foi apresentado por Brandão
(2009), tendo por base a metodologia ABC e os sistemas de custo do Banco Central do Brasil e da
Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul.

793
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para ser implementado, deve-se inicialmente identificar as principais atividades desenvolvidas pela
entidade e classificá-las em atividades-fim (que possuem uma relação mais íntima com os objetivos da
entidade), atividades-meio (que não tem por finalidade atingir os objetivos da entidade, mas prestar
serviços para outros setores) e atividades institucionais (que não tem relação nenhuma com os
objetivos finais da entidade, mas com a sua manutenção, como as executadas pelo setor de Recursos
Humanos ou de Licitação de uma prefeitura). Outra característica que deve ser observada diz respeito
ao momento de apropriação dos custos, que deve ter como fato gerador o momento real do consumo
dos recursos, ou quando estes recursos, no caso de controles mais deficitários, forem repassados para
o setor que irá consumi-los.

As etapas de apropriação dos custos aos objetos de custo são divididas em duas Macrofases: na
Macrofase I (MF I) os recursos consumidos são apropriados aos setores da estrutura organizacional da
entidade, e na Macrofase II (MF II) os custos atribuídos aos setores são apropriados aos objetos de
custo.

A MF I possui como objetos de custo as menores divisões setoriais da entidade objeto de estudo
constantes em sua estrutura organizacional, e é dividida em cinco etapas:

 1ª Etapa: Identificação e apropriação dos custos diretos com relação aos setores;

 2ª Etapa: Apropriação dos recursos identificados com mais de um setor às atividades


prestadas a mais de um setor;

 3ª Etapa: Apropriação dos custos das atividades comuns aos setores que recebem
seus serviços;

 4ª Etapa: Apropriação dos custos dos setores que executam atividades-meio às


ativividades-meio desenvolvidas;

 5ª Etapa: Apropriação dos custos das atividades-meio aos setores que recebem seus
serviços.

Na MF II, segundo Brandão (2009), ”os custos anteriormente atribuídos a cada setor da entidade serão
apropriados aos objetos de custo propriamente ditos. Estes objetos deverão ser escolhidos pela
administração da entidade de acordo com as necessidades de informações existentes”. Esta MF é
dividida em duas etapas: apropriação dos custos às atividades-fim e/ou institucionais; e apropriação
dos custos das atividades aos objetos de custo.

794
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5.1 MACROFASE I

A primeira etapa consiste em identificar os recursos consumidos diretamente por cada setor da
entidade, separando-os dos custos indiretos. Como se está aplicando este modelo apenas à Gerência
da Dívida Ativa de Sobral, serão apresentados os custos diretos da própria Gerência e do Setor de
Informática da Casa do Contribuinte, que lhe presta serviço diretamente, apresentados no quadro 2.
Não foram incluídos os custos institucionais da prefeitura, como os do Setor de Licitação e de Recursos
Humanos, pois, segundo o modelo conceitual aplicado, não devem ser apropriados aos setores que
executam atividades-fim.

Quadro 2 – Recursos diretamente consumidos

Os custos indiretos, na segunda etapa, são identificados diretamente com atividades comuns a mais
de um setor, conforme o quadro 3. São recursos consumidos em conjunto pela Gerência da Dívida
Ativa, Setor de Informática e outros setores da Casa do Contribuinte.

Quadro 3 – Recursos identificados com mais de um setor

As três atividades comuns a mais de um setor, e que possuem relação com a Gerência da Dívida Ativa
e com o Setor de Informática, foram denominadas: consumo de água, que representa os gastos com
água de toda a Casa do Contribuinte; consumo de energia, representando o consumo de energia

795
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

elétrica da Casa do Contribuinte; e serviços gerais, correspondendo à faxina feita no setor de


Informática, no Setor de Fiscalização e na Gerência da Dívida Ativa. Os direcionadores de custos,
respectivamente, destas três atividades, são: quantidade de colaboradores X carga horária diária,
quantidade de computadores em uso X horas de uso diárias e a área aproximada do setor que será
limpo. O quadro 4 mostra o resultado da apropriação dos custos destas atividades, constituindo a
terceira etapa:

Quadro 4 – Rastreamento das atividades comuns a mais de um setor

Concluída a apropriação dos custos indiretos aos setores, o Setor de Informática, que é executor de
atividade-meio, terá seus custos (diretos e indiretos) apropriados às suas principais atividades na
quarta etapa. Basicamente a única atividade desempenhada pelo setor é a de assistência em
informática, que é prestada aos setores que funcionam na Casa do Contribuinte. Por este motivo não
houve necessidade de se definir nenhum direcionador.

Na última etapa desta macrofase os custos da atividade-meio assistência em informática,


desempenhada pelo Setor de Informática, devem ser atribuídos aos setores que recebem os serviços
prestados por ele. O direcionador escolhido foi a quantidade de equipamentos de informática de cada
setor (computadores e impressoras), objeto da atividade.

O quadro 5 mostra como foi feita esta apropriação, enfocando a Gerência da Dívida Ativa.

Quadro 5 – Rastreamento da atividade ‘assistência em informática

796
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ao fim da MF I chegou-se ao total de custos consumidos pela Gerência da Dívida Ativa durante o mês
da pesquisa, conforme a tabela 1:

Tabela 1 – Custos atribuídos à Gerência da Dívida Ativa

5.2 MACROFASE II

Para a execução desta macrofase foi primeiramente construído o mapa das atividades desenvolvidas
e dos respectivos objetos de custo, definidos de acordo com os três principais objetivos da gerência.
Devido à importância de se conhecer o quantitativo de custos relacionado a cada espécie de tributo
arrecadado, especialmente IPTU e ISS, dividiu-se a arrecadação em três objetos de custo, de acordo
com a classificação do SAM: ISS, IPTU e outros (englobando taxas e demais valores inscritos). O quadro
6 relaciona os processos, as atividades e os objetos de custos da gerência realizados durante o período
analisado.

Quadro 6 – Lista de processos, atividades e objetos de custo

Para apropriar os custos às atividades, incluindo as de serviços gerais e assistência em informática,


foram definidos os direcionadores de recursos, listados no quadro 7.

797
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 7 – Direcionadores de recursos

Ao final desta primeira etapa todos os custos da gerência referentes ao período foram apropriados às
atividades realizadas, conforme mostra a tabela 2.

Tabela 2 – Custos das atividades desempenhadas pela gerência da Dívida Ativa

Para se apropriar os custos das atividades aos objetos de custo precisam-se rastrear as relações de
causa-efeito das atividades, identificando quais delas possuem ligação com cada objeto de custo e
procurando direcionadores que indiquem esta relação.

As atividades do processo Administração, por não serem diretamente relacionadas com os objetos de
custo da gerência, são consideradas atividades-meio do setor, tendo seus custos apropriados às
atividades-fim da gerência por meio de rateio, devido à dificuldade de se ter suas ralações de causa-

798
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

efeito encontradas. O critério escolhido foi o tempo de execução de cada atividade-fim, expresso em
horas/homem e calculado através da multiplicação da quantidade de pessoas responsáveis pelas
horas disponíveis para sua execução. A atividade arquivamento não irá receber custos, por seu tempo
de execução ser muito pequeno e de difícil controle. O quadro 8 mostra como foi feita a apropriação
dos custos destas atividades.

Quadro 8 – Rateio dos custos das atividades do processo Administração para as atividades-fim

Concluindo esta segunda etapa e todo o sistema, os custos das atividades-fim foram apropriados aos
objetos de custo da gerência. A atividade levantamento e/ou atualização de débitos teve com
direcionador a quantidade de atendimentos efetuados no período. A atividade arquivamento não
recebeu os custos de despesas com pessoal e serviços gerais, mesmo sendo identificada, por seu valor
ser irrelevante. Os custos que lhe foram atribuídos foram rastreados com os objetos de custo de
acordo com o espaço reservado no arquivo. As demais atividades foram identificadas diretamente
com um único objeto de custo, não sendo necessário o rastreamento: verificação da existência do
débito e baixa de débitos com o objeto de custo IPTU (arrecadação); emissão de CND/CPEN e emissão
de CND via internet com o objeto de custo CND; e controle e organização de processo com o objeto
de custo execução fiscal. O quadro 9 apresenta a conclusão desta etapa e da aplicação do sistema,
enfocando o valor correspondente a cada objeto de custo.

799
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 9 – Apropriação dos custos das atividades-fim aos objetos de custo

5.3 INDICADORES DE EFICIÊNCIA DO PERÍODO

A contabilidade de custos, em sua função gerencial, tem como uma de suas principais atribuições gerar
dados que permitam a avaliação de desempenho operacional e a medição da eficiência do uso dos
recursos. A aplicação feita durante o mês de dezembro de 2009 na Gerência da Dívida Ativa de Sobral
permitiu que fossem elaborados indicadores de eficiência do uso dos recursos públicos investidos.

Para as atividades-fim desempenhadas no âmbito da gerência, os indicadores foram encontrados


através da razão entre os custos atribuídos a cada atividade e quantitativo de serviços realizados,
principal indicador de eficácia. As duas atividades relacionadas ao atendimento (emissão de CND e
levantamento e/ou atualização de débitos) possuem como indicador de eficácia a quantidade de
atendimentos feitos; e a atividade emissão de CND via internet, a quantidade de certidões emitidas.
O quadro 10 apresenta os índices de eficiência destas atividades-fim encontrados para o período da
pesquisa. A atividade verificação da existência do débito não possui indicador de eficácia, visto que faz
parte do processo de inscrição em dívida ativa, concluído apenas nos primeiros meses do ano com a
devida confecção do termo de inscrição em dívida ativa. As atividades controle e organização de
processos e baixa de débitos nos sistemas e arquivamento, assim como as atividades-meio
executadas, não possuem um indicador de eficácia relacionado com o quantitativo de serviço
prestado, sendo inapropriado o cálculo de sua eficiência.

800
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 10 – Indicadores de eficácia e eficiência das atividades-fim executadas

Estes indicadores mostram o custo de cada um dos serviços prestados pela gerência: cada
atendimento pessoal custou para a prefeitura, em média, R$ 23,60, tanto quando relacionado a
tributos (levantamento e atualização de débitos), quanto para emissão de certidões negativas de
débitos e positivas com efeito de negativas. Já quando este atendimento é feito via internet, por não
considerar o tempo de mão de obra ociosa, o custo por análise de pedido de CND cai para apenas R$
0,37.

Assim como foi feito com as atividades, os objetos de custo também tiveram seus índices de eficiência
calculados. Os objetos do grupo Arrecadação tiveram como indicadores de eficácia a arrecadação
efetiva do período; o objeto de custos CND teve seus custos comparados com o montante de CND e
CPEN emitidas; já o objeto de custos execução fiscal não possui um indicador de eficácia, pois seus
custos devem ser incorporados à cobrança judicial, que é efetuada pelos procuradores do município.
Para se calcular o indicador de desempenho dos objetos de custo do grupo arrecadação foi dividido o
valor total arrecadado pelos custos correspondentes. Para o objeto CND, o indicador de eficiência é a
razão entre custos e certidões emitidas. O quadro 11 apresenta o valor encontrado para cada um
desses indicadores.

Quadro 11 – Indicadores de eficácia e eficiência dos objetos de custo

Dentre os tributos arrecadados, o ISS foi aquele que revelou uma maior eficiência, tendo uma
arrecadação de R$ 117,40 para cada real de custo. O IPTU, por sua vez, apesar de ser responsável pela

801
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

maior parte da arrecadação da dívida ativa municipal, apresentou a menor eficiência, sendo
arrecadados apenas R$ 28,31 para cada real de recursos consumidos.

O grupo referente aos demais valores arrecadados apresentou um índice de R$ 97,36 para cada real
de custos relacionados. No que tange a emissão de CND e CPEN, o custo de emissão de cada certidão
para o mês da pesquisa foi de R$ 4,53.

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho apresentou, passo a passo, a formulação e implantação de um sistema de gestão


de custos na gerência da Dívida Ativa do Município de Sobral, relatando seus resultados para o mês
de dezembro de 2009 através de indicadores de eficiência.

O modelo conceitual proposto possui características que atendem as necessidades informacionais das
entidades governamentais. Os objetivos de auxiliar no controle de gastos e na tomada de decisões
gerenciais, o uso dos princípios da metodologia ABC e o fato de a apropriação ocorrer somente no
momento do consumo dos recursos e não segundo a execução orçamentária da despesa garantem
informações mais acuradas e tempestivas, beneficiando o gerenciamento dos custos da entidade.

A aplicação feita por meio de um estudo de caso na gerência apontou os principais indicadores de
eficiência do período (dezembro de 2009), como o custo por atendimento realizado, a relação
arrecadação/custo por espécie de tributo e o custo por certidão emitida.

Além disso, puderam-se verificar os custos consumidos em cada uma das atividades e processos
desempenhados. A avaliação dos indicadores apresentados não pode ser feita, visto não haver
padrões estabelecidos e nem dados de outros períodos ou entidades para se fazer a comparação de
desempenho.

O estudo também revelou as limitações informacionais da prefeitura que, entre outras coisas, não
possui controle de custos, possuindo apenas um sistema de acompanhamento da execução
orçamentária. Também existe falhas no controle sobre os bens de capital e na disponibilização de
informações gerenciais, como o número de atendimentos realizados, que foi controlado apenas
durante o mês de realização da pesquisa.

Espera-se que este trabalho possa contribuir com futuros estudos nesta mesma linha de pesquisa,
podendo ser realizados estudos com a utilização do modelo conceitual aqui descrito em outros órgãos
da mesma prefeitura, ou mesmo em outras entidades. Espera-se também que o estudo de caso

802
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

realizado sirva de estímulo para a continuação da reforma administrativa da prefeitura Municipal de


Sobral, com a implementação de um setor de Controladoria e de um sistema de gestão de custos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALONSO, Marcos. Custos no serviço público. In: Revista do Serviço Público, ano 50, número 1, janeiro
a março de 1999. Disponível em:

<http://www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/Terceiros-Papers/99-Alonso50(1).pdf>.
Acesso em: 15 abr. 2009.

ALVES FILHO, E. M.; NASCIMENTO, A. R. Desenvolvimento de sistema de custos para avaliação de


desempenho do setor público: um estudo de caso do serviço de limpeza urbana do Município de
Salvador. In: XIV Congresso Brasileiro de Custos, João Pessoa – PB, 05 a 07 de dezembro de 2007. Anais
do XIV Congresso Brasileiro de Custos. João Pessoa: ABC, 2007.

BRANDÃO, Isac de Freitas. Modelo conceitual de sistema de custos aplicado às entidades


governamentais. In: Anais do XVI Congresso Brasileiro de Custos. Fortaleza – CE, 03 a 05 de novembro
de 2010.

BRASIL. Lei Complementar Nº. 101 (Lei de responsabilidade fiscal). Brasília, 04 de maio de 2000.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LCP/Lcp101.htm>. Acesso em: 17 abr. 2009.

_______. Constituição Federal. Brasília, 05 de outubro de 1988. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em:17 abr.


2009.

_______. Manual de contabilidade aplicada ao setor público: Volume IV – Plano de contas aplicado ao
setor público. Brasília, STN, 2009. Disponível

em: <http://www.stn.fazenda.gov.br/legislacao/download/contabilidade/Volume_IV_PCASP_repu

blicacao.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2010.

BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços. 3 ed. São Paulo: Atlas,
2003.

COMISSÃO INTERMINISTERIAL DE CUSTOS. Relatório final da comissão interministerial de custos.


Brasília: MPOG, 2006. Disponível em:

<http://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/Estudos/Relatorio_Final_da_Comissao_de_Custos.
pdf>. Acesso em: 27 mai. 2009.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC Nº. 1.129/08. Brasília, 21 de novembro de


2008. Disponível em:

<http://www.tesouro.fazenda.gov.br/contabilidade_governamental/download/RES_CFC1129
2008_NBC_T162_Patrimonio%20_Sistemas_Contabeis.pdf.> Acesso em: 06 abr. 2010.

803
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

_______. Resolução CFC Nº. 1.130/08. Brasília, 21 de novembro de 2008. Disponível em:

<http://www.tesouro.fazenda.gov.br/contabilidade_governamental/download/RES_CFC1130
2008_NBC_T163_Planejamento_seus_Instrumentos_Enfoque_Contabil.pdf>. Acesso em: 06 abr.
2010.

_______. Resolução CFC Nº. 1.135/08. Brasília, 21 de novembro de 2008. Disponível em:

<http://www.tesouro.fazenda.gov.br/contabilidade_governamental/download/RES_CFC1135
2008_NBCT168_Controle%20Interno.pdf>. Acesso em: 06 abri. 2010.

KAPLAN, Robert S.; COOPER, Robin. Custo & desempenho: administre seus custos para ser mais
competitivo. Trad. O. P. Traduções. São Paulo: Futura, 2000.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

REMÍGIO, Hipólito Gadelha. Custos no serviço público – um modelo aplicado ao custeio dos processos
judiciais. 2002. 167 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Programa Multiinstitucional e
Interregional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UnB, UFPB, UFPE e UFRN. Disponível em:

<http://www.unb.br/cca/posgraduacao/mestrado/dissertacoes/mest_dissert_009.pdf>. Acesso em:


22 mai. 2009.

SILVA, César Augusto Tibúrcio (org.) Custos no setor público. Brasília: UnB, 2007.

SOBRAL. Lei complementar nº. 2 (Código Tributário Municipal). Sobral: Prefeitura Municipal de Sobral,
1997. Disponível em: <http://www.sobral.ce.gov.br/gestao/index.php>. Acesso em: 15 dez. 2009.

804
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 38

O SISTEMA DE APOIO À DECISÃO POC® - PREÇOS,


ORÇAMENTOS E CUSTOS INDUSTRIAIS – APLICADO AO
ENSINO EM CUSTOS
DOI: 10.37423/200400593

Abraão Freires Saraiva Júnior (UFC/Fortaleza) - abraaofsjr@gmail.com

Reinaldo Pacheco da Costa (USP/São Paulo) - rpcosta@usp.br

Helisson Akira Shimada Ferreira (PPE Engenheiros Associados)

hakira76@gmail.com

Resumo: O processo de ensino-aprendizagem representa um desafio constante para o


professor na medida em que este é o responsável pela escolha dos métodos mais adequados
para transmissão do conhecimento ao aluno. No ensino de custos, principalmente no contexto
da contabilidade gerencial, é imperativo ao professor provocar, no aluno, a necessidade de
utilização das informações de custos para tomada de decisão. Neste contexto, este artigo
objetiva apresentar a utilização do sistema de apoio à decisão POC® - Preços, Orçamentos e
Custos Industriais - como método de ensino em custos capaz de trabalhar e desenvolver, no
aluno, os conhecimentos necessários para estruturar e analisar informações de custos com
vistas à modelagem econômica de operações para fins de tomada de decisão. Para tal, é
apresentado um estudo de caso didático que ilustra a utilização do POC® no contexto de uma
empresa com operações de manufatura.

PALAVRAS-CHAVE: sistema de apoio à decisão; modelagem econômica de operações; ensino


em custos.

805
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

O professor, ao lidar com o processo de ensino-aprendizagem, lida com o desafio constante de


escolher os métodos mais adequados para transmissão do conhecimento aos alunos. No ensino de
custos dentro do contexto da contabilidade gerencial, o professor depara-se com a necessidade de
provocar, no aluno, a expectativa de utilização das informações de custos para tomada de decisão, tal
como aponta Martins (2010). Dentre as várias ferramentas desenvolvidas para se trabalhar o tema
“custos” na perspectiva da contabilidade gerencial, está o sistema de apoio à decisão POC® (Preços,
Orçamentos e Custos Industriais), desenvolvido por profissionais e acadêmicos ligados à Universidade
de São Paulo, Brasil (COSTA, 1998; COSTA, 1999; COSTA et al., 2010).

O sistema POC® foi concebido em parceria com mais de uma centena de pequenas e médias indústrias
brasileiras, numa iniciativa de pesquisa integrada com o objetivo de realizar, de forma acurada e
rápida, várias análises de apoio à tomada de decisão, entre as quais podem ser destacadas:
estruturação e cálculo dos custos unitários de recursos, subconjuntos, atividades e produtos; cálculo
da margem de contribuição unitária, por tipo de produto e total da empresa; cálculo do ponto de
equilíbrio e simulação das relações custo-volume-lucro (CVL); cálculo de preço de venda variando
condições de pagamentos e margens desejadas; análise econômica de mix de produtos; análise
econômica de terceirizações de subconjuntos, atividades e produtos. Além das análises
especificamente inerentes à contabilidade gerencial, outras relativas ao planejamento e controle da
produção também são colocadas à disposição do tomador de decisão pelo POC®, como é o caso do
planejamento de necessidade de materiais (do inglês Materials Requirements Planning - MRP I); do
planejamento de necessidades de recursos de manufatura (do inglês Manufacturing Resources
Planning - MRP II - incluindo mão de obra e equipamentos); do planejamento de capacidade para
operações e máquinas (do inglês Capacity Resources Planning - CRP); da construção da curva ABC de
custos de materiais e de faturamento produtos; e da construção do diagrama “de-para” que pode
apoiar decisões sobre o arranjo físico da planta produtiva (COSTA et al., 2010).

A aplicação do sistema POC® não se restringe ao ambiente empresarial, mas também ao ambiente
acadêmico na medida em que vem sendo utilizado como ferramenta didática no ensino universitário
em disciplinas cujo tema central é “custos”, principalmente nas perspectivas da contabilidade
gerencial e da gestão empresarial. Neste contexto, este artigo objetiva apresentar a utilização do
sistema de apoio à decisão POC® como método de ensino em custos capaz de trabalhar, no aluno, os

806
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

conhecimentos necessários para estruturar e analisar informações de custos com o intuito de modelar
economicamente operações para fins de tomada de decisão, com ênfase em operações de
manufatura.

Para atingir o objetivo do estudo, é apresentada e discutida a utilização do sistema POC® em vários
aspectos da tomada de decisão que envolve custos, no contexto da contabilidade gerencial, a partir
de um estudo de caso didático referente a uma empresa com operações de manufatura. Além da
corrente introdução, o artigo é estruturado a partir da fundamentação teórica em que são discutidos
os métodos de ensino e apresentados os principais aspectos inerentes ao sistema de apoio à decisão
POC®. Em seguida, é apresentado o estudo de caso didático. Finalmente, são expostas as conclusões
dos autores, as limitações e as recomendações para trabalhos futuros.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. MÉTODOS DE ENSINO

A aprendizagem pode ser entendida como “a aquisição de conhecimento ou o desenvolvimento de


habilidades e atitudes em decorrência de experiências educativas, tais como aulas, leituras, pesquisa,
etc.” (GIL, 2008, p. 57). Apesar de o processo de ensino-aprendizagem ter o professor como
direcionador, são os alunos os agentes para quais são direcionadas as atenções da aprendizagem. No
entanto, há de se ressaltar que ter uma postura ativa é um importante aspecto que facilita o
aprendizado do aluno, tal como pontua Gil (2008). Nas abordagens modernas de ensino-
aprendizagem, o professor deixa de ser o centro irradiador de conhecimento, passando o aluno a ser
o centro de construção desse conhecimento com um sujeito com uma postura ativa. É importante
observar que, além da organização das ações do professor, as ações dos alunos também são incluídas.
Isso significa dizer que os alunos também participam ativamente do processo de ensino-aprendizagem
(MASSETO, 2003).

A aprendizagem é direcionada através da seleção e da utilização dos métodos de ensino por parte
professor junto ao alunado. Masseto (2003) e Ferreira et al. (2010) pontuam que o método de ensino
representa o direcionamento escolhido para a transmissão do conhecimento pelo professor e
apontam que, hodiernamente, existe uma grande gama de métodos que podem auxiliar no processo
de ensino, tais como: aulas expositivas, que se configura como o método mais tradicional de ensino;
exposições e visitas técnicas à ambientes de atuação profissional, sendo estes métodos os que

807
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

oferecem contato direto com os profissionais da área e proporciona o incentivo da vivência de uma
situação real por parte do aluno; dissertação, que permite o aluno construir a relação entre um
assunto e suas diversas correntes e autores; seminário, que ajuda no incentivo à pesquisa; palestras e
entrevistas, que proporciona ao aluno o conhecimento pela experiência de profissionais de diversas
áreas; discussões e debates, que oferecem a reflexão sobre algum tema específico; e outros métodos
tais como: ensino por projetos, resolução de exercício, realização de atividades em laboratórios,
aplicação de dinâmicas de grupo; utilização de jogo de empresas e realização de estudo de caso real
ou didático, podendo esses métodos serem apoiados por tecnologias de informação e comunicação
como, por exemplo, sistemas computacionais, sistemas de informação, internet, redes sociais, entre
outros.

Ferreira et al. (2010) entendem que os métodos de ensino oferecem uma série de vantagens e
desvantagens. Desta forma, o professor, na sua função de orientar, lida com o desafio de escolher os
métodos que mais se adequem às características do ambiente e que possam oferecer a melhor
situação de aprendizagem para o aluno, considerando, ainda, que os métodos escolhidos devem estar
conectados às competências e habilidades que se pretendem desenvolver nos alunos (MASSETO,
2003).

No entendimento de Carvalho et al. (2002), corroborados por Dávalos (2002), a aprendizagem é


iniciada quando existe uma motivação que move o individuo a conhecer conceitos sobre alguma coisa.

Esses novos conceitos são associados aos conhecimentos pré-existentes e esse indivíduo passa a
aplicálos.

A partir da aplicação desses conhecimentos é que o aprendizado é consolidado. Desta forma, dentre
as várias técnicas de ensino existentes, o estudo de caso destaca-se como um instrumento didático
que oferece um material rico e útil para a discussão junto a estudantes dentro da lógica do “aprender
fazendo”.

O estudo de caso trata-se de uma atividade empírica que investiga um fenômeno contemporâneo
dentro de um contexto da vida real (YIN, 2005). Como instrumento didático no contexto do ensino em
custos, o estudo de caso, ao apresentar um problema decisório enfrentado por organizações, oferece
um material rico e útil para a discussão junto aos estudantes. Expostos a uma forte dose de teoria, os
estudantes têm

808
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

a oportunidade de aplicar seus conhecimentos formais em situações concretas e complexas, muitas


vezes cercadas de incerteza e com informação incompleta. Os casos ajudam na elaboração de
problemáticas teóricas e empíricas que, via de regra, podem suscitar novos temas para investigação
na forma de pesquisa, dissertações e teses.

Masetto (2003) e Kleinfeld (2005) expõem alguns pontos fortes do estudo de caso em relação ao
processo de aprendizagem, a saber: (i) proporciona que o aluno entre em contato com uma situação
real ou hipotética e realize uma análise diagnóstica da situação levando em conta as variáveis
componentes; (ii) incentiva o aluno a buscar informações para resolver a situação-problema; (iii)
proporciona que o aluno aplique as informações teóricas obtidas à situação-problema, integrando
teoria e prática; (iv) proporciona que aluno aprenda a trabalhar em equipe quando houver discussão
para a busca da solução; (v) oferece uma experiência ao aluno de desenvolver a capacidade de analisar
problemas e encaminhar soluções e preparar-se para enfrentar situações reais e complexas mediante
a aprendizagem em um ambiente não ameaçador (sala de aula ou laboratório); (vi) auxilia na
compreensão de como os professores pensam sobre a resolução das situações-problema; (vii) auxilia
os alunos no aprendizado de questões específicas e a refletirem profissionalmente sobre problemas
práticos.

Outros pontos fortes do estudo de caso são apontados por Morais (2007), tais como o fornecimento
da oportunidade ao aluno de adquirir novos conhecimentos sobre um assunto relacionado à sua área
e o incentivo à dedicação do aluno a pesquisa para tornar a resolução do problema mais factível. Além
disso, o estudo de caso proporciona uma visão sistêmica da matéria, o que fornece condições para
que o aluno aprenda a hierarquizar conceitos e a os utilizar de forma consistente. Ao estar envolvido
em um estudo de caso, o estudante tem a oportunidade de conhecer conceitos interdisciplinares. No
caso de um estudo empresarial na área de custos sob a perspectiva da contabilidade gerencial,
principalmente no contexto de operações industriais, por exemplo, a resolução dos problemas envolve
diversas áreas do conhecimento, tais como: engenharia de produção, finanças, contabilidade de
custos e economia (COSTA, 1998; COSTA et al., 2010).

2.2. O SISTEMA DE APOIO À DECISÃO POC®

O sistema POC® foi concebido como um sistema de apoio a decisões fundamentado em métodos e
técnicas de Contabilidade de Custos, Contabilidade Gerencial, Finanças, Economia e Engenharia de
Produção, sendo desenvolvido por profissionais e acadêmicos ligados ao Departamento de Engenharia

809
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Brasil. O sistema foi divulgado, em
detalhes, no livro “Preços, Orçamentos e Custos Industriais - Fundamentos da Gestão de Custos e de
Preços Industriais” publicado pela editora Elsevier (COSTA et al., 2010). A pesquisa que possibilitou a
construção do sistema POC® foi realizada em parceria com pequenas e médias indústrias brasileiras
nos últimos 15 anos, sendo apoiada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo
(SEBRAE-SP) e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
através do programa de Projeto de Inovação em Pequenas Empresas (PIPE), e pela Fundação Carlos
Alberto Vanzolini, instituição vinculada ao Departamento de Engenharia de Produção da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (PRO POLI USP).

De forma quase unânime dentro do universo de empresas estudadas, constatou-se que o


conhecimento incompleto da competitividade dos produtos verificava-se como o principal problema
no curto prazo das indústrias. Foi proposto, então, o desenvolvimento e a implantação de uma
ferramenta ue tivesse como abordagem principal a integração do sistema de administração da
produção com o de gestão de custos, tratando-se, na prática, da integração entre dados de demanda
e do sistema de produção (árvores dos produtos - bill of materials - e os processos de produção de
produtos e de subconjuntos) na forma do Diagrama de Montagem. Neste diagrama, são
disponibilizados nomes e códigos dos produtos, coeficientes técnicos, subconjuntos e formação dos
subconjuntos. Ainda, são exibidos os produtos ou serviços de origem externa, elementos que serão
comprados ou serviços que devem ser executados por terceiros. São apresentadas, também, as
operações internas e, com elas, o consumo de mão de obra e de maquinário demandado por cada
produto (COSTA et al., 2010).

O sistema POC® busca “automatizar” procedimentos e cálculos que são repetitivos e que, através de
sua utilização adequada, possibilita enorme economia de tempo do usuário, quer sejam estudantes
ou gestores, e acurada eficiência nos cálculos e simulações de custos e de formação de preços de
produtos manufaturados. O POC® foi desenvolvido, principalmente, com o objetivo de apoiar a gestão
econômicofinanceira de operações, principalmente as de manufatura, nos seguintes aspectos (COSTA
et al., 2010):

• Quantificação de custos de produtos, subconjuntos e atividades;

• Cálculo da margem de contribuição unitária, por tipo de produto e total da


empresa;

810
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

• Cálculo do ponto de equilíbrio da operação;

• Simulação das relações custo-volume-lucro (CVL);

• Formação de preço de venda de produtos;

• Orçamentação de pedidos;

• Análise econômica do mix de produtos;

• Análise econômica de substituição e alteração de recursos produtivos;

• Análise econômica de terceirizações de produtos, subconjuntos e atividades.

Costa et al. (2010) pontuam que sistema também gera informações de apoio à administração da
produção, como é o caso do planejamento de necessidade de materiais, de recursos de manufatura e
de capacidade (MRP I, MRP II e CRP), da construção da curva ABC de custos de materiais e de
faturamento de produtos, e da construção do diagrama “de-para” que serve como base de análise
para melhoria do arranjo físico da fábrica. O POC® é fundamentalmente um sistema de análise de
custos, preços, margens e lucros que também dá suporte ao planejamento e controle da produção.
Em primeiro lugar, porque a estrutura de análise para planejamento de preços e de combinação ótima
de mix de produtos é fundamentada em informações de engenharia industrial (produtos e processos)
e, em segundo lugar, porque os dados de entrada para os modelos de planejamento da produção são
principalmente os preços e os custos disponibilizados pelo POC® .

Todos os cálculos e recursos disponibilizados pelo sistema POC® poderiam ser realizados tanto
manualmente como em planilhas (eletrônicas) de cálculo. Por que utilizar um sistema computacional,
então? Porque o POC® permite obter vantagens como ferramenta de cálculo e análise de custos e
preços de venda de produtos, tais como as destacadas a seguir (COSTA et al., 2010):

• Utiliza métodos e técnicas simples e eficientes para apoiar as decisões sobre


quantificação e análise de custos e formação de preços de produtos
industrializados;

• Integra as finanças da empresa com o marketing e a produção, através da


estruturação da árvore dos produtos e subconjuntos, da documentação de
processos de produtos e subconjuntos, e do levantamento de séries históricas
de vendas de produtos na empresa;

811
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

• É de fácil entendimento e operacionalização;

• Possui bauxi custo de implantação e de manutenção, na medida em que é um


sistema free;

• Possui base de dados relacionais comum com outras funcionalidades (PCP,


sistema de folha de pagamento, comercial, etc.);

• Apresenta documentação de engenharia industrial estruturada e com facilidade


de simulação de cenários (árvore de produto e processo de produção);

• Possui potencial de generalização para diversos tipos de sistemas de produção


(sistemas por processo e por ordem de fabricação).

• Possibilita a utilização de hardwares e softwares compatíveis com a pequena, a


média e a grande indústria.

A figura 1 traz uma representação de como o sistema POC® estrutura a integração de informações das
funções básicas da empresa (COSTA et al., 2010):

Figura 1 - Fluxo de informações do sistema POC®

Fonte: Costa et al. (2010)

812
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Os itens da estrutura de gastos levantados pelo sistema POC® são:

• Custos diretos: custos de materiais diretos, de mão de obra direta e de utilidades


(ex: energia elétrica) formados a partir do levantamento de coeficientes técnicos
de tempo e de consumo de materiais (inclusive os itens de “terceiros”);

• Despesas variáveis de venda: itens de impostos, taxas e despesas comerciais


diversas;

• Custos e despesas fixos: itens de gasto com mão de obra indireta (ex: gerência,
supervisão, prólabore), aluguéis, materiais diversos, materiais de escritório,
despesas advocatícias, entre outros.

Convém ressaltar que os custos diretos e as despesas variáveis são calculados a valor presente.

Dependendo das condições de pagamento das compras e das vendas, e das condições de pagamento
dos impostos, há o devido ajuste devido aos "floatings" tanto de impostos, quanto de outros itens,
gerando, portanto, cálculo de margens reais e nominais. O que se procura é a exata determinação da
margem obtida com o orçamento de preço ou com o custo calculado para o plano de produção
definido para o período (ex: mês). No sistema POC®, os custos fixos (ex: aluguéis, supervisores,
administração, etc.) não são passíveis de serem alocados aos produtos, pois são tratados como custos
indiretos, daí deixá-los para serem cobertos pela margem de contribuição total, abdicando-se dos
rateios, na linha do modelo econômico apresentado por BRUNSTEIN (2006). Desta forma, o método
de custeio que fundamenta a operacionalização do sistema POC® é o custeio direto (COSTA et al.,
2010).

Costa (1999) e Costa et al. (2010) pontuam que a metodologia seguida pelo sistema POC® busca
quantificar a margem de contribuição (individual por item, total por tipo de produto e total da
empresa), dado um plano de produção, ou seja, um mix (tipos e quantidades) de produtos. Desta
maneira, a busca primordial é daquele conjunto de margens individuais, diferenciadas conforme
política/estratégia comercial que, em conjunto (somadas), devem ser comparadas com os custos e
despesas fixos do período, para calcular o lucro operacional.

Outra função importante do sistema POC® é justamente possibilitar o planejamento dos preços.

813
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O método que se sugere é iterativo a partir de simulações adequadas. Inicialmente, consideram-se os


preços de acordo com o mercado dos produtos ("mark-up" ou preço proporcional), bem como as
quantidades a serem vendidas (plano de vendas). Daí analisa-se o preço em função de custo x volume
x lucro, pelo cálculo do ponto de equilíbrio da empresa ou da taxa-alvo de retorno. Se o resultado não
for satisfatório, alteram-se preços e/ou quantidades, e se refaz o plano de vendas na forma de
simulação.

Vale destacar que existe uma grande variedade de modelos de formação de preços quando se variam
as condições de pagamentos. O sistema POC® constrói a formulação do preço nas seguintes situações:
formação do preço à vista, a partir do custo direto, dos impostos e da margem de contribuição;
formação do preço à vista com vários prazos de pagamento de impostos e taxas; formação do preço
com base no critério margem de contribuição sob o preço; e, ainda, ao se fornecer preço, o sistema
apresenta a margem de contribuição resultante (COSTA et al., 2010).

O sistema POC® também possibilita a montagem dos subconjuntos ou componentes dos produtos. É
possível, após cálculo, apontar o custo individual dos subconjuntos, sua participação no custo final do
produto, e a agregação dos recursos utilizados (materiais, mão de obra, equipamentos, etc.),
resultando em uma planilha de custos para o subconjunto. Assim, existem condições de se analisar,
por exemplo, a terceirização de alguns subconjuntos, pois o cálculo de seus custos é um dos resultados

obtidos. Vários outros níveis de composição de subconjuntos podem ser elaborados acompanhando
uma característica básica de vários sistemas de produção, como, por exemplo, a fabricação de móveis,
na qual se juntam e se processam materiais, formando um conjunto, que depois será acoplado a outro
conjunto obtido por outro processamento e assim por diante. Desta forma, tem-se a possibilidade de
analisar várias alternativas de produção desagregadas, e seus impactos econômicos no resultado da
empresa (COSTA et al., 2010).

Devido à ampla gama de possibilidades de análise, oo grande número de implantações exitosas em


empresas brasileiras, à interdisciplinaridade e à facilidade de parametrização e de operacionalização
do sistema POC®, este vem sendo utilizado como ferramenta didática por professores de pós-
graduação e graduação da área de custos de algumas universidades brasileiras renomadas, tais como
a Universidade de São Paulo (USP) e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Além
disso, verificasse que a utilização do sistema POC® vem se difundido pelo Brasil, pois há experiências
de universidades

814
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de outras regiões brasileiras em relação à utilização do sistema como ferramenta de ensino, tal como
a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e a Universidade Federal do Ceará (UFC). Ao
observar as experiências de utilização do sistema POC® como método de ensino, há uma mudança na
condição do aluno na relação ensino-aprendizagem que se encontra diante de uma situação-
problema, real ou simulada, sob a posição tutorial do professor e em pequenos grupos, pesquisando
formas de solucionar os problemas levantados. Nesse ínterim, a seção seguinte expõe um estudo de
caso didático que ilustra a utilização do sistema POC® na modelagem econômica de uma operação
industrial com vistas à tomada de decisão. Vislumbra-se que, ao se apresentar as funcionalidades do
sistema POC®, os profissionais do ensino universitário de custos possam deparar-se com uma
ferramenta útil para apoiálos no processo de ensino.

2. ESTUDO DE CASO DIDÁTICO PARA ILUSTRAR A UTILIZAÇÃO DO POC®

Este estudo de caso tem por objetivo mostrar como pode ser feita a análise dos custos e a modelagem
econômica de uma empresa com operações de manufatura com um número reduzido de tipos de
produtos: uma Pizzaria. O caso da Pizzaria tem como base a obra de Costa et al. (2010) e é aqui
explorado por se acreditar que o processo de produção de uma pizza é familiar para praticamente
todos os professores e estudantes, sendo recorrente a sua utilização em disciplinas de graduação e
pós-graduação da área de custos, principamente no contexto da contabilidade gerencial. Desta forma,
transpuseram-se, de forma simplificada, as necessidades de conhecimento de um processo de
produção industrial para o conhecimento acerca do simples processo de manufatura de uma pizza,
juntamente com os recursos necessários para tal. Este é um exemplo clássico de produção em que
existe uma parte comum a ser montada para todos os produtos: os subconjuntos. A partir destes
subconjuntos básicos, podem ser produzidas diferentes configurações de produtos que podemos
entender como diferentes “customizações”. Apesar de ser um processo produtivo relativamente
simples, uma Pizzaria serve perfeitamente para ilustrar a forma de se analisar e planejar o uso de
recursos (materiais, mão de obra e equipamentos) em um ambiente de manufatura, com vistas à
consecução de um resultado econômico satisfatório para a empresa.

A Pizzaria em questão opera de quarta a domingo (20 dias por mês, em média) e oferece em seu
cardápio três opções de pizza: pizza portuguesa; pizza de marguerita; e pizza de mussarela. As pizzas
produzidas possuem dois subconjuntos: massa; e molho. Os seguintes recursos são utilizados:
materiais (farinha, ovos, queijo, tomate, presunto, manjericão, orégano, sal, azeite, etc.); mão de obra

815
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(2 pizzaiolo e 1 assistente); e equipamentos (1 forno à lenha). As seguintes operações produtivas são


realizadas: preparação de molho; preparação de massa; montagem de pizza; assar pizza; e
acabamento de pizza.

Convém observar que, neste estudo de caso, são apresentados os principais recursos de análise e
funcionalidades oferecidos pelo sistema POC®, ou seja, aqui não se pretende esgotar a
operacionalização completa do POC®. Para entendimentos adicionais, recomenda-se consultar o livro
de Costa et al. (2010) e a manipulação do próprio sistema a partir do tutorial que serve como guia para
a operacionalização do POC® na sua versão free, disponibilizada na internet (PPE, 2011). Doravante,
serão trabalhados elementos de análise decisória a partir do uso de “problemas ou questionamentos
gerenciais”, ou seja, serão desenvolvidos cenários em que o gestor da Pizzaria requer informações
importantes sobre a empresa ou deve tomar decisões tendo como ferramenta de análise o sistema
POC®. Cabe ressaltar que, para não tornar o estudo repetitivo, os resultados são apresentados para
apenas um dos produtos da Pizzaria em questão.

Primeiramente, o gestor da Pizzaria apresenta o seguinte questionamento a ser respondido: “Como


posso visualizar a composição dos produtos tanto em termos de recursos, como também em termos
de operações necessárias ao processo produtivo?” O sistema POC® responde ao questionamento do
gestor ao oferecer a visualização do diagrama de montagem de cada tipo de produto. A figura 2
apresenta a visualização de parte do diagrama de montagem do produto “Pizza de Mussarela” obtido
a partir do cadastramento de todos os recursos e operações realizadas no processo de fabricação do
produto no sistema POC®:

816
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 2 - Diagrama de montagem da “Pizza de Mussarela”

Convém ressaltar que a interface de inserção e exibição de dados do sistema POC® pode ser facilmente
usada como ferramenta alteração dos parâmetros ou adição/exclusão de cada recurso e operação
consumido pelos produtos.

Depois de visualizados a distribuição dos recursos ao longo do processo de fabricação dos produtos, o
gestor da Pizzaria passa a tentar entender o comportamento da empresa em termos econômico-
financeiros. Inicialmente, são colocados os seguintes questionamentos pelo gestor: “Quanto custa
cada tipo de produto que a minha empresa fornece? Quanto cada produto gera de margem de
contribuição para ajudar na cobertura de custos fixos e na geração de lucro para a empresa?” O
sistema POC® responde a esses questionamentos do gestor na medida em que oferece a visualização
do custo unitário e da margem de contribuição unitária de cada tipo de produto. A figura 3 apresenta
o cálculo do custo unitário do produto “Pizza Portuguesa”, cálculo este realizado via sistema POC®.
Convém ressaltar que, para fins didáticos, o imposto “por dentro” envolvido tem alíquota de 12%.

817
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 3: Cálculo do custo unitário da “Pizza Portuguesa”

Após visualizar os custos dos produtos, o gestor da Pizzaria necessita um direcionamento para lidar
com a seguinte situação-problema: um cliente encomenda a produção de 100 unidades de “Pizza de
Mussarela”, se disponibilizando a pagar à vista, no máximo, o preço de R$12,00 por unidade. Sabendo
que os impostos incidentes são de 12% sobre o faturamento e que há capacidade de processamento
suficiente para fabricar as 100 “Pizzas de Mussarela” solicitadas (custos fixos mantém-se constante) o
gestor da empresa faz os seguintes questionamentos: “Devo aceitar ou não o pedido/encomenda
excepcional? Em aceitando, quanto a empresa ganharia ou perderia?”

De modo a responder aos questionamentos do gestor, o POC® possibilita que se construa um


orçamento do pedido/encomenda para verificar se é viável ou não aceitá-lo do ponto de vista
econômico.

A figura 4 apresenta a parametrização do POC® para gerar o orçamento do pedido em análise:

818
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 4 - Parametrização do sistema POC® para gerar o orçamento do pedido

A figura 4 apresenta sete variáveis de parametrização. A primeira refere-se ao cliente que pode ser
novo ou já cadastrado no sistema. A segunda refere-se à quantidade de itens do pedido (100). A
terceira refere-se à lógica de cálculo. Como na corrente situação o cliente já estabelece o preço
máximo que pode pagar, então deve ser selecionado o tipo de cálculo “informa preço à vista”. A quarta
variável de parametrização diz respeito à moeda utilizada na análise (R$). A quinta variável refere-se
ao preço que o cliente está disposto a pagar pelo produto solicitado (R$ 12,50). A sexta variável refere-
se aos impostos incidentes na transação econômica (12% de ICMS). A sétima e última variável de
parametrização diz respeito à forma de pagamento (à vista). Depois de parametrizadas todas as
variáveis,o sistema POC® realiza os cálculos necessários para se gerar o orçamento da
encomenda/pedido, como mostra a figura 5:

819
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 5 - Orçamento da encomenda/pedido gerado pelo sistema POC®

Com base na figura 5, o gestor da pizzaria pode concluir que é economicamente viável aceitar o
pedido/encomenda, pois a venda das 100 “Pizzas de Mussarela” demandadas geraria uma margem de
contribuição total de R$ 344,73, o que ajudaria a cobrir custos e despesas fixos e a gerar lucro para a
empresa.

Em seguida, para o gestor da Pizzaria, é delineada a seguinte situação-problema: um cliente


encomenda a produção de 100 unidades de “Pizzas de Mussarela”. Sabendo que os impostos
incidentes são de 12% sobre o faturamento e que há capacidade de processamento suficiente para
fabricar as 100 “Pizzas de Mussarela” solicitadas (custos fixos mantém-se constante), o gestor da
empresa faz os seguintes questionamentos: “Qual deve ser o preço de venda da ‘Pizza de Mussarela’
para que a minha empresa obtenha uma margem de 20% e de 30% de ganho sobre os custos dos

820
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

produtos no pedido/encomenda? Como posso visualizar a relação entre o preço de venda e a margem
de ganho sobre os custos do produto?”

De modo a responder aos questionamentos do gestor, o POC® possibilita que se precifique o produto
e se construa um orçamento do pedido/encomenda para analisá-lo do ponto de vista econômico para
a empresa. A figura 6 apresenta a parametrização do POC® para calcular o preço com base em margens
(inferior e superior) sobre os custos e os respectivos orçamentos resultantes:

Figura 6 - Parametrização do sistema POC® para calcular preço e gerar orçamento do pedido

A figura 6 apresenta sete variáveis de parametrização. A primeira variável refere-se ao cliente que
pode ser novo ou já cadastrado no sistema. A segunda refere-se à quantidade de itens do pedido (100).
A terceira refere-se à lógica de cálculo. Como na corrente situação deseja-se calcular o preço de venda
com uma margem sobre os custos do produto, então deve ser selecionado o tipo de cálculo “margem
sobre custo”. A quarta variável de parametrização diz respeito às margens inferior e superior em
termos de percentual sobre os custos (20% e 30%, respectivamente). A quinta variável refere-se aos
impostos incidentes na transação econômica (12% de ICMS). A sexta e última variável de
parametrização diz respeito à forma de pagamento (à vista). Depois de parametrizadas todas as
variáveis, o sistema POC® realiza os cálculos necessários para se gerar o orçamento da
encomenda/pedido, como mostra a figura 7:

821
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 7 - Simulação do preço em função da margem inferior (margem real sobre custo) para uma
encomenda de “Pizza de Mussarela”

Com base na figura 7, o gestor da Pizzaria pode concluir que o preço a ser cobrado seria de R$10,30
por “Pizza de Mussarela” para se obter uma margem de 20% de ganho sobre os custos (R$ 1,51 ÷ R$
7,55). Além disso, o pedido geraria uma margem de contribuição total de R$ 151.05. A figura 8
apresenta o resultado para a “margem superior” (30%):

822
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 8 - Simulação do preço em função da margem superior (margem real sobre custo) para uma
encomenda de “Pizza de Mussarela”

Com base na figura 8, o gestor da Pizzaria pode concluir que o preço a ser cobrado seria de R$ 11,16
por “Pizza de Mussarela” para se obter uma margem de 30% de ganho sobre os custos (R$ 2,27 ÷ R$
7,55). Além disso, o pedido geraria uma margem de contribuição total de R$ 226,58. Desta forma, o
primeiro questionamento do gestor seria respondido pelo sistema POC®. De forma a responder ao
segundo questionamento do gestor, o POC® possibilita que seja visualizado um “gráfico de
sensibilidade” que confronta a margem sobre o custo com o preço de venda relacionado, como mostra
a figura 9:

823
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 9 - Gráfico de sensibilidade “preço x margem sobre custos” da “Pizza de Mussarela”

Convém observar que a denominação “margem de contribuição” do eixo das abscissas (horizontal)
refere-se à margem de ganho sobre os custos. Os orçamentos com os valores relativos ao cálculo da
margem inferior e da margem superior são os limites mínimo e máximo, respectivamente, dentro dos
quais se pretende fixar o preço de venda do produto encomendado. Desta forma, o segundo
questionamento do gestor seria respondido pelo gráfico de sensibilidade gerado pelo sistema POC®,
na medida em que este permite uma fácil visualização da relação entre o preço de venda da “Pizza de
Mussarela” e a margem de ganho sobre os custos do produto.

Após analisar os resultados econômicos de uma encomenda excepcional e de calcular preços de venda
com base em diferentes margens de ganho, o gestor da Pizzaria passa a abordar os resultados da
empresa tomando como base de análise um período completo (ex: mês). Os preços de venda dos
produtos são estimados em: R$ 17,00 por “Pizza Marguerita”, R$ 12,00 por “Pizza de Mussarela” e R$
19,00 por “Pizza Portuguesa”. Nesse cenário, os seguintes questionamentos são trazidos à tona pelo
gestor: “Como posso saber quanto ganharei no período caso produza diferentes mix (quantidades) de
produtos?” Além disso, quanto a Pizzaria precisa faturar para atingir o ponto de equilíbrio em cada
mix de produtos definido?”

824
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O sistema POC® possibilita a realização de análises econômicas de diferentes mix de produtos tanto
na forma de relatório, como também na forma gráfica. A figura 10 apresenta os resultados econômicos
gerados (em termos de custos e margens de contribuição para cada tipo de produto) por um mix de
produtos determinado pelo gestor da empresa para o próximo mês de planejamento (1.000 unidades
de “Pizza Marguerita”, 6.000 unidades de “Pizza de Mussarela” e 600 unidades de “Pizza Portuguesa”).
Ressalta-se que, através da funcionalidade “Setup”, o sistema POC® possibilita que sejam definidos
outros mix de produtos e outros preços de venda para, a partir daí, serem simulados os resultados
econômicos (individuais por produto e global da empresa) resultantes.

Figura 10 - Resultado econômico de cada produto do mix da Pizzaria

Onde:

C.V. = Custo Variável (unitário)

C.V.T. = Custo Variável Total

C.V.T. % = Percentual do Custo Variável Total (somatório = 100%)

D.V.V. = Despesa Variável de Vendas (unitária)

D.V.V.T. = Despesa Variável de Vendas Total

D.V.V.T. % = Percentual da Despesa Variável de Vendas Total (somatório = 100%)

M.C. = Margem de Contribuição Unitária

M.C. % = Percentual da Margem de Contribuição Unitária (somatório = 100%)

M.C.T. = Margem de Contribuição Total

825
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

M.C.T. % = Percentual da Margem de Contribuição Total (somatório = 100%)

O POC® fornece, ainda, o resultado econômico (em termos de lucro líquido antes de impostos sobre
renda) do período para o mix em análise, além do ponto de equilíbrio em termos de faturamento (no
caso de multiprodutos), como mostra a figura 11:

Figura 11 - Resultado econômico e gráfico do ponto de equilíbrio do mix “padrão” da Pizzaria

Analisando a figura 11, pode-se obsevar que as linhas do gráfico do ponto de equilíbrio têm
configuração quase paralela. Isso indica que pequenas variações de preço ou quantidades podem
acarretar grandes variações de resultado econômico. Convém observar que as “Despesas Fixas” (R$
10.700,00) são cadastradas diretamente no sistema, sendo compostas pelos elementos apresentados
na figura 12:

826
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 12: Despesas fixas do mix de produtos “padrão” da Pizzaria

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal contribuição deste trabalho reside na apresentação e discussão de como o sistema de apoio
à decisão POC® pode ser utilizado como método de ensino capaz de trabalhar, no aluno, os
conhecimentos necessários para estruturar e analisar informações de custos, na perspectiva da
contabilidade gerencial, com vistas à modelagem econômica de operações para fins de tomada de
decisão. A partir de um estudo de caso didático, conseguiu-se ilustrar a operacionalização e discutir as
principais funcionalidades do sistema POC® no contexto de uma empresa com operações de
manufatura.

Foram expostos e discutidos os principais pontos conceituais e funcionalidades que fundamentam o


sistema POC®. Desta forma, o objetivo do estudo foi atingido.

Convém observar que o sistema POC® já foi implantado integralmente em várias empresas de
pequeno e médio porte brasileiras com significativos resultados em diferentes sistemas de produção.

Apoiaram-se decisões e análises de rentabilidade, formação de preços, mix de produtos e


terceirizações de produtos, subconjuntos e atividades, entre outras, buscando melhoria na operação
da empresa com justificação econômica. O centro da questão nas decisões abordadas é a
quantificação adequada dos custos relevantes. A primeira e principal pergunta do empresário pauta-

827
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

se na adequação de sua formação de preços à estrutura de custos da empresa sob sua direção. O
principal empenho do trabalho aqui mostrado foi tentar esclarecer a adequação do nosso proposto
cálculo de custos para a tomada de decisões. Esta questão é fartamente discutida na atualidade,
principalmente em função da competição generalizada que caracteriza o momento atual tanto
brasileiro quanto internacional. Este é problema que transcende a uma determinada área e, mesmo
para a disciplina de custos, o assunto é vasto e complexo.

Apesar de haver evidências de que a utilização do sistema POC® por professores e alunos universitários
da área de custos apresentar crescimento, há a carência de se realizar um estudo estatístico para se
mensurar a amplitude, a profundidade e a intensidade de uso desta ferramenta nas instituições de
ensino superior brasileiras. Para o desenvolvimento de tal estudo, recomenda-se a realização de um
survey com a participação dos professores e dos alunos que já passaram ou têm a intenção de passar
pela experiência de utilizar o sistema POC® como ferramenta de auxílio no processo de ensino-
aprendizagem.

Finalmente, almeja-se que o estudo aqui apresentado proporcione à comunidade acadêmica da área
de custos uma alternativa útil ao aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem no que diz
respeito à estruturação e à resolução de situações-problema de tomada de decisão no contexto da
contabilidade gerencial.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUNSTEIN, I. Economia de empresas: gestão econômica de negócios. São Paulo: Atlas, 2006.

CARVALHO, A. C. B. D.; VALADÃO JR, E. L.; TAVARES, C. G. Uso da Tecnologia no Ensino de Engenharia
Econômica. In: XXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Curitiba – PR, 23 a 25 de
Outubro de 2002.

COSTA, R. P. O sistema de apoio à formação de preços, orçamentos e custos industriais - POC®. In: VI
Congresso Brasileiro de Custos – São Paulo - SP, Brasil, 29 de junho a 2 de julho de 1999.

COSTA, R. P. Proposta de modelo e implementação de um sistema de apoio a decisão em


pequenasempresa. São Paulo, 1998. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Curso de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

COSTA, R. P.; FERREIRA, H. A. S.; SARAIVA JR., A. F. Preços, orçamentos e custos industriais. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010

DÁVALOS, R. V. Uma Abordagem do Ensino de Pesquisa Operacional Baseada no Uso de Recursos


Computacionais. In: XXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Curitiba – PR, 23 a
25 de Outubro de 2002.

828
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

FERREIRA, E. M.; XAVIER; A. E. J; ASSUNÇÃO; A. B. A. Aplicabilidade do método PBL no ensino da


contabilidade de custos: uma perspectiva dos professores do RN. In: XVII Congresso Brasileiro de
Custos – Belo Horizonte - MG, Brasil, 3 a 5 de novembro de 2010.

GIL, A. C. Metodologia do Ensino Superior. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.

KLEINFELD, J. The case method in higher education. 2005. Disponível

em: <http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=14&texto=884>. Acesso em


14/06/2011.

MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MASETTO, M. T. Competência Pedagógica do Professor Universitário. São Paulo: Summus, 2003.

MORAIS, M. F. Uma abordagem do ensino de pesquisa operacional no curso de engenharia de


produção baseada no método do estudo de caso. In: XXXV CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO
EM ENGENHARIA. Curitiba – PR, 10 a 13 de Setembro de 2007.

PPE Engenheiros Associados. Preços, Orçamentos e Custos Industriais - Nosso Livro. Disponível em:

<http://www.ppe.eng.br/>. Acesso em: 04/07/2011

YIN, R. K. Estudo de Caso: planejamento e método. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

829
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 39

CUSTOS ELEITORAIS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO


DOI: 10.37423/200400595

Luiz Fernando Rodrigues (UCB) - luizlfr@gmail.com

Jonatas Dutra Sallaberry (UFSC) - jonatas.sallaberry@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho se propôs a analisar as normas de gestão de recursos eleitorais


e o consumo desses recursos, identificando os custos de campanha e mensurando o custo de
cada voto nas Eleições a governador do Distrito Federal, Alagoas e Minas Gerais. A
metodologia empregada no presente trabalho foi o estudo exploratório-descritivo organizado
em fases utilizando um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos, entre os quais a
análise da estatística descritiva. Foram identificadas as principais orientações sobre a
aplicação de recursos das diferentes espécies, entre as quais Transferências Eletrônicas,
Cheques, Recursos Estimáveis em Dinheiro e Débito em Conta, bem como os tipos de
despesas. A partir da análise, foi possível identificar que a principal espécie de recursos
utilizada foram os cheques nominais alcançando 56% do total, no montante superior a R$ 69
milhões. Conforme esperado, o principal tipo de despesa realizado está relacionado à
publicidade com o montante de quase R$ 54 milhões, que representa 43% dos gastos. A
pesquisa também identificou que os candidatos que realizaram a maior quantidade de gastos
durante a campanha eleitoral foram eleitos. Quando comparado o gasto do candidato eleito
à população do estado, identifica-se que o maior gasto ocorreu no estado de Alagoas, seguido
pelo Distrito Federal e Minas Gerais, respectivamente R$ 9,06, R$ 4,79 e R$ 1,94 por
habitante. Em Minas Gerais o valor de cada voto que efetivamente elegeu o atual governador
foi de R$ 6,06, que representa 15,3% do custo em Alagoas, que alcançou R$ 39,64.
830
Palavras-chave: Despesas; Eleições; Custos eleitorais.
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A história recente da política brasileira tem evidenciado que os gastos em campanha eleitoral são a
fonte de muitos conflitos entre a oportunidade e a legalidade. Às vésperas de mais uma eleição no
Brasil, a aplicação dos recursos provenientes de financiamento público e doações ganha relevância,
tendo em vista a corriqueira identificação de condutas típicas de corrupção ou, no mínimo, ilícitas
associadas a escândalos envolvendo corrupção política, tráfico de influência, abuso de poder
econômico, dentre outros.
As manifestações populares ocorridas nos últimos meses trouxe à discussão novamente a reforma
política que há muitos anos se faz necessária, aliado a isso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o
Supremo Tribunal Federal (STF) têm promovido discussões sobre o financiamento público de
campanhas eleitorais. Por tudo isso, demonstra-se necessário e relevante a realização de estudos
relacionados à campanha eleitoral.
As principais ilegalidades encontradas são decorrentes do recebimento de contribuições que
infringem as regulamentações existentes, o uso indevido de recursos do Estado com fins político-
partidários e a utilização de dinheiro com fins proibidos, como por exemplo, a 'compra de votos',
conforme apurou Zovatto (2005). Segundo Nassmacher (1992), um dos principais problemas que as
normas sobre financiamento eleitoral devem tratar é a transparência no emprego dos recursos
financeiros.
A contabilidade relacionada ao âmbito eleitoral ainda é um campo incipiente com poucos trabalhos
desenvolvidos apesar da relevância do assunto. Vieira, Crozatti e Ribeiro (2012) analisaram gastos de
campanha relacionando à forma como os processos eleitorais foram conduzidos. Rodrigues e
Sallaberry (2013) analisaram os aspectos legais e contábeis da prestação de contas eleitorais para as
eleições de 2012.
Diante desse quadro de falta de confiança popular no cenário político e eleitoral, o objetivo do
presente trabalho consiste em analisar a legislação que regulamenta os gastos de campanha eleitoral
sob o aspecto teórico e explorar as despesas de campanha num caso real identificando os custos de
campanha e mensurando o custo de cada voto, por diferentes metodologias. Para alcançar esse
objetivo, são analisadas as leis gerais sobre gestão de recursos eleitorais e as normas específicas para
as Eleições 2010, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), bem como a análise dos gastos de campanha
para a eleição a governador de Alagoas, da Distrito Federal e de Minas Gerais, em 2010.

831
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2 REFERENCIAL TEÓRICO

As despesas de campanha eleitoral representam o gasto realizado pelos candidatos e comitês de


campanha para a aquisição de bens e serviços. Os bens e serviços são consumidos somente a partir de
recursos provenientes da conta bancária específica, e a contabilização deve observar o princípio da
competência. No presente trabalho, analisa-se as despesas de campanha baseados no suporte da
teoria contábil para despesas e nas regras legais para tais gastos.

2.1 DESPESAS PARA A TEORIA CONTÁBIL

As despesas são demonstradas sob o conceito de fluxo, da mesma forma que as receitas,
representando as variações desfavoráveis que resultam reduções do lucro/patrimônio da entidade. As
despesas representam o uso e o consumo dos bens e serviços no processo de obtenção de receitas
(HENDRIKSEN; BREDA, 2007). Os custos de matéria-prima e mão-de-obra são considerados como
fatores de produção se incorporando ao próprio produto; assim, a despesa só é reconhecida a partir
do consumo dos fatores relacionados direta ou indiretamente à produção e venda do produto da
empresa.
Destaca-se a necessidade de segregação do conceito de despesa do modelo estrutural de mensuração
do lucro contábil, por esse motivo as despesas não devem ser caracterizadas em função de
vencimentos ou alocações de custos. As críticas se concentram na definição que confunde as despesas
com seus efeitos e também no fato de não especificar claramente quais saídas devem ser definidas
como despesas. Os autores manifestam expressamente a preferência pelo conceito do American
Institute of Certified Public Accountants (AICPA) no qual consideram que as despesas são todos os
custos vencidos que são dedutíveis da receita.
São evidenciados no Quadro 1, alguns conceitos de despesa por diferentes autores.

832
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 6: Conceito de despesa por diferentes autores

AUTOR CONCEITO DE DESPESA


CPC 00 R1 (b) despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o
período contábil, sob a forma da saída de recursos ou da redução de
ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do
patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos
detentores dos instrumentos patrimoniais (2011, 4.25)
FASB Despesas são baixas ou saídas, utilizando-se de ativos ou na incorrência
de passivos (ou uma combinação de ambos) para entrega ou produção
de bens, prestação de serviços, ou realização de outras atividades que
constituem no curso das grandes operações ou operações centrais da
entidade. (SFAC 6, 1985, p. 31, n. 80)
Hendriksen e Despesas são os custos assumidos para gerar essas receitas (2007, p. 223)
Breda

Iudícibus em sentido restrito, representa a utilização ou o consumo de bens e


serviços no processo de produzir receitas (2000, p. 149)
Belkaoui as despesas, que abrangem os ganhos e perdas, são definidas como uma
diminuição dos ativos ou aumento dos passivos decorrentes da utilização
de recursos econômicos e serviços durante um determinado período
(2007, p. 178)
King, Lembke e Despesas refletem o custo dos bens e serviços utilizados durante o
Smith período em que se realiza as operações da companhia. Eles surgem
quando os bens são consumidos ou passivos são incorridos,
representando custos expirados que não tem potencial para o futuro.
Despesas reduzem o lucro líquido (1997, p. 163)
Fonte: CPC (2011); FASB, 1985; Hendriksen e Breda (2007); Iudícibus (2000); Belkaoui (2007) e King,
Lembke e Smith (1997)

Para distinguir as despesas de perdas, o FASB define as despesas como aquele consumo relacionado
às operações principais da empresa enquanto as perdas decorrem de eventos periféricos ou

833
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

incidentais no âmbito das operações da entidade. Essa conceituação das despesas e perdas não é
pacífica pois outras entidades pregam um conceito amplo de despesas incluindo nessas os custos e
perdas, como se percebe a partir do conceito da Associação Americana de Contabilidade que definiu
as despesas incluindo os custos operacionais e as perdas (HENDRIKSEN; BREDA, 2007).
De outro modo, sob a definição de receita como produto da empresa, a despesa deveria ser
relacionada como o custo incorrido para gerar a respectiva receita. Sob essa ótica, o consumo ou
redução de ativos não relacionados ao processo produtivo deveria ser reconhecido como perdas do
período. Como as despesas referem-se aos dispêndios relacionados à obtenção das receitas, temos
que as perdas devem ser limitadas ao lançamento de gastos não associados às receitas de qualquer
exercício.
As perdas resultam de eventos externos e exógenos não previstos como
necessários à geração de receitas. Se fossem previstos, talvez pudessem ser
evitados; se fossem necessários à geração de receitas, seriam incluídos nas
despesas (HENDRIKSEN; BREDA, 2007, p. 234).

O Quadro 2 apresenta o conceito de perdas na ótica de diferentes autores.

Quadro 7: Conceito de perdas por diferentes autores

AUTOR CONCEITO DE PERDA


Hendriksen e As perdas são periféricas às atividades básicas da empresa. (2007, p.
Breda 223)
CPC 00 R1 Perdas representam outros itens que se enquadram na definição de
despesas e podem ou não surgir no curso das atividades usuais da
entidade, representando decréscimos nos benefícios econômicos e,
como tais, não diferem, em natureza, das demais despesas. (2011, 4.34)
Iudícibus efeito líquido desfavorável que não surge das operações normais do
empreendimento (2000, p. 149)
King, Lembke e Ganhos e perdas surgem de eventos não diretamente associados com
Smith a entidade em curso operações centrais provenientes de atividades que
são periféricas às operações centrais da entidade (1997, p. 163)
Fonte: CPC (2011); Hendriksen e Breda (2007); Iudícibus (2000) e King, Lembke e Smith (1997)

Entre os que consideram as despesas como reduções de ativos líquidos o correto seria aplicar o valor
dos bens no momento em que são empregados nas operações da entidade. Hendriksen e Breda (2007,

834
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

p. 234) afirmam que nesse caso as despesas devem ser consideradas como “aspectos desfavoráveis
das operações geradoras de receita e representam sacrifícios econômicos realizados para obter
receita”. Para aqueles que dão ênfase ao conceito relacionado ao fluxo de caixa, a mensuração das
despesas ocorre em termos de transações nas quais a entidade seja parte correspondente a
desembolsos passados, correntes ou futuros. No caso das perdas, a mensuração é semelhante às
demais despesas, à exceção da compensação direta a fim de demonstrar o valor da perda líquida.

2.2 RECONHECIMENTO DE DESPESAS

Hendriksen e Breda (2007) afirmam que independente das dimensões de lucro, o objetivo é a
mensuração dos valores correspondentes às despesas que serão reconhecidas no exercício corrente
e as que são incluídas em outros ativos que serão consumidos em exercícios posteriores. As medidas
geralmente aceitas para definição do valor da despesa são o custo histórico, as medidas correntes
como o custo de reposição e os custos de oportunidade.
O método do custo histórico é baseado no custo histórico do ativo e é o mais praticado entre os
profissionais contábeis pela sua verificabilidade, haja vista que é um conceito estático que representa
o valor pelo qual o elemento foi adquirido ou produzido (MARTINS, 1972; TINOCO, 1992). Parte-se do
pressuposto que no momento de sua aquisição o valor de troca do ativo foi considerado pela
administração como compatível com os demais preços de mercado, do contrário não teria sido
adquirido.
O custo dos ativos é medido pelo valor corrente dos recursos consumidos na obtenção de bens que
por sua vez serão utilizados nas operações da entidade, segundo Hendriksen e Breda (2007), o valor
de troca. Para os autores, no caso de troca envolvendo recursos econômicos diferentes de caixa a
problemática permanece. A partir disso, os autores apontam como possibilidade o preço de mercado
dos bens adquiridos ou entregues na troca, desde que estes tenham sido adquiridos mediante
desembolso em caixa ou equivalentes de caixa. Esse método seria mais apropriado e realístico, pois
ao comparar os custos correntes de um mesmo ativo entre duas datas estaria considerando uma
diferença que é fictícia, devido à variação da capacidade aquisitiva da moeda (MARTINS, 1972).
Mesmo assim, são apontados problemas relevantes na mensuração das despesas em termos de custo
por Hendriksen e Breda (2007, p. 235).

1. O preço total combinado pode ser pagável numa data futura, e nesse caso o
preço descontado seria a medida apropriada da despesa.

835
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2. A existência de custos conjuntos pode impedir que haja solução adequada


para o problema de mensuração dos diversos tipos de despesa.
3. Um preço que não resulta de uma transação entre partes independentes
pode ser uma medida de custo menos válida do que a obtida por outros
métodos.
4. O preço agregado de custo deve incluir todos os gastos necessários para
adquirir os bens ou serviços, e não apenas o preço faturado ou cotado.

A outra possibilidade de reconhecimento das despesas é pelos preços correntes. A justificativa para
reconhecimento das despesas pelos preços correntes refere-se à associação as receitas
correspondentes que geralmente são mensuradas pelos preços correntes recebidos pelos produtos.
As vantagens apresentadas pelo método de mensuração em termos de preços correntes são
representadas pela distinção do lucro derivado da transação e os ganhos e perdas decorrentes da
aquisição antes da utilização (HENDRIKSEN; BREDA, 2007).
A empresa pode optar por adquirir os insumos antecipadamente em maior ou menor grau a fim de
especular ou por outro motivo contingencial. Em virtude dessa aquisição antecipada de ativos, que
são partes necessárias das operações geradoras de receita, poderão surgir eventos que determinem
a variação de preço, a deterioração ou obsolescência dos ativos, afetando o valor quantitativo dos
estoques. Nesse caso, se a perda for previsível e inevitável decorrente da operação normal da
entidade, a redução do valor correspondente deverá ser reconhecida como despesas (HENDRIKSEN;
BREDA, 2007).
O preço corrente pode ser identificado a partir de um preço corrente de venda de ativo similar ou um
custo de reposição que podem ser importantes na mensuração de despesas por representar o custo
de oportunidade do ativo. Como desvantagem do método é a possibilidade de inexistir um mercado
ativo capaz de demonstrar o preço corrente para o mesmo tipo de ativo.
As despesas ocorrem quando bens ou serviços são consumidos ou utilizados no processo de geração
de receitas. Todavia o momento de reconhecimento é influenciado pelo enfoque de determinação do
lucro, assim como influencia o reconhecimento da receita.
A definição de lucro como variação de valor determina que as despesas sejam registradas no momento
em que houver uma redução de valor dos ativos ou quando não houver benefício ou valor evidente a
ser recebido no futuro. Sob esse conceito de lucro que enfatiza os fluxos de caixa, as despesas são
reconhecidas no momento da saída efetiva de numerário (HENDRIKSEN; BREDA, 2007). No entanto, o
conceito predominante foca o conceito de valor caracterizado pela incorporação a outros ativos até a
efetiva informação dos preços de venda, também conhecido por processo de vinculação, no qual são

836
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

registradas primeiramente as receitas seguidas das despesas correspondentes, dentro de um mesmo


exercício.
No Brasil, até algum tempo a Resolução do Conselho Federal de Contabilidade que tratava da definição
do princípio de competência, demonstrava didaticamente o momento em que as despesas deveriam
ser consideradas incorridas. Posteriormente o parágrafo foi revogado, mas aquela definição ainda é
um bom exemplo.

§ 4º Consideram-se incorridas as despesas:


I – quando deixar de existir o correspondente valor ativo, por transferência de
sua propriedade para terceiro;
II – pela diminuição ou extinção do valor econômico de um ativo;
III – pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente ativo.”
(Res. CFC n. 750/1993, Art. 9º, revogado pela Res. CFC n. 1.282/2010)

As perdas são reconhecidas semelhantemente às despesas, todavia como não são vinculadas a
receitas, elas deverão ser reconhecidas no exercício em que se tornarem evidentes. A comprovação
dessa evidente perda pode não ser tão simples de identificar. No caso de um sinistro o momento é
bem definido, mas quando essa perda ocorre gradativamente ao longo de vários exercícios o registro
deve ocorrer no momento em que for identificado como provável, claro e mensurável a perda de
utilidade.
Pela própria definição, as despesas são incorridas como parte necessária para geração de receitas;
entretanto poderão ocorrer despesas que em determinado momento não gerarão receitas, mesmo
assim como são necessárias para a geração de receitas deverão ser reconhecidas como tal. As visitas
dos vendedores e as despesas de marketing são exemplos de despesas que podem não gerar receitas
imediatamente. Em virtude dessa complexidade no momento de associar ou não as despesas a
determinadas receitas os profissionais contábeis estabeleceram padrões de reconhecimento em razão
da distinção dos dispêndios como despesas diretas ou custos da produção, e despesas indiretas ou do
período. As despesas diretas são aplicadas aos produtos e reconhecidas no exercício em que forem
utilizadas enquanto despesas indiretas são reconhecidas no exercício em que foram incorridas.
Há também alguns custos que beneficiarão o resultado de outros exercícios futuros e por sua vez
devem ser vinculados a receitas futuras. Nesse caso a despesa incorrida deve ser reconhecida nos
exercícios futuros a que vier beneficiar, como é o caso de seguros pagos antecipadamente. Outro caso
refere-se aos custos pré-operacionais ao pleno funcionamento do estabelecimento que a partir do
Pronunciamento n. 7 que exigiu que os tais custos pré-operacionais de empresas na fase de

837
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

organização fossem registradas como despesas de uma entidade em funcionamento normal, ou seja,
despesa propriamente dita. Segundo Hendriksen e Breda (2007) a justificativa para esse
reconhecimento deve-se ao fato de que não há receita específica associada à despesa o que extingue
a possibilidade de aplicação do preceito da vinculação. Não havendo vinculação resta que a despesa
seja reconhecida no exercício de ocorrência.

2.3 DESPESAS ELEITORAIS

No caso de uma campanha eleitoral, a despesa está relacionada ao consumo de bens e serviços nas
operações eleitorais. Para se vincular às receitas, seria necessário primeiro definir o que representa o
benefício do candidato. O objetivo de qualquer candidato são votos, em quantidade suficiente que lhe
garanta a eleição. Em tese, quando se trata de eleições não há possibilidade de se vincular um gasto à
contratação de determinada quantidade de votos, isso é compra de votos – crime eleitoral.
Durante a campanha eleitoral os candidatos e partidos realizam gastos voltados à exposição do
candidato e de seus projetos a fim de que o eleitor ‘compre’ aquela ideia, além de outros gastos
administrativos para manutenção do comitê, multas, taxas, etc. que não estão vinculados a qualquer
publicidade. Dependendo da qualidade das ideias, da reputação do candidato e do partido a
publicidade faz com que mais eleitores percebam tais propostas aumentando as chances de escolha
(BELCH; BELCH, 2011) e por isso, um dos elementos mais importantes na decisão do voto (GOMES,
2004), ainda assim sem vinculação do gasto com o voto objetivo. Sem entrar na discussão quanto à
espécie de despesa, se despesa ou perda, discorre-se sobre os tipos de gastos incorridos durante uma
campanha eleitoral, e suas limitações.
De acordo com a Lei n. 9.504/97 e a Resolução TSE n. 23.217/10 são considerados gastos eleitorais a
confecção de material impresso de qualquer natureza e tamanho, a propaganda e publicidade direta
ou indireta, por qualquer meio de divulgação, destinada a conquistar votos, aluguel de locais para a
promoção de atos de campanha eleitoral, despesas com transporte ou deslocamento de candidato e
de pessoal a serviço das candidaturas, correspondências e despesas postais, despesas de instalação,
organização e funcionamento de comitês e serviços necessários às eleições, remuneração ou
gratificação de qualquer espécie paga a quem preste serviço às candidaturas ou aos comitês eleitorais,
montagem e operação de carros de som, de propaganda e de assemelhados, realização de comícios
ou eventos destinados à promoção de candidatura, produção de programas de rádio, televisão ou
vídeo, inclusive os destinados à propaganda gratuita, realização de pesquisas ou testes pré-eleitorais,
custos com a criação e inclusão de páginas na Internet, multas aplicadas, doações para outros

838
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

candidatos ou comitês financeiros, e produção de jingles, vinhetas e slogans para propaganda


eleitoral. Esses gastos eleitorais exigíveis com recursos financeiros devem ser liquidados por meio de
cheque nominal ou transferência bancária desde que o desembolso financeiro se dê após a solicitação
do registro do candidato, inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), abertura de conta
bancária específica e emissão de recibos eleitorais (TSE, 2010).
A partir das denúncias de compra de votos e abuso do poder econômico por parte daqueles candidatos
com maior capacidade financeira nas últimas décadas, a legislação também evoluiu e passou a proibir
gastos com a confecção, utilização e distribuição/doação de camisetas, chaveiros, bonés, canetas,
brindes, cestas básicas, doações em dinheiro, troféus, prêmios, ajudas de qualquer espécie e outros
bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor, realizada por candidato entre o
registro e a eleição, conforme a Lei n. 11.300/97.
A comprovação dos gastos eleitorais realizados deve ocorrer com a documentação fiscal relacionada
emitida em nome do ente que realizar a despesa, inclusive com a identificação do número de inscrição
no CNPJ, observada a exigência de apresentação da correspondente nota fiscal ou recibo, este último
apenas nas hipóteses permitidas pela legislação fiscal. Os limites máximos de gastos dos candidatos
são fixados pelos partidos políticos no momento do registro de candidatura. No caso de gastos
realizados com recursos cuja identificação do doador não seja identificável na prestação de contas,
caracteriza o recurso como de origem não identificada, e não poderá ser utilizado pelos partidos
políticos, candidatos ou comitês financeiros devendo ser transferido ao Tesouro Nacional (TSE, 2010).
Assim como os candidatos obtém receitas tipificadas como bens estimáveis em dinheiro, tais receitas
deverão necessariamente ser reconhecidas no momento da fruição dos benefícios, como despesas
(TSE, 2010). Esses bens estimáveis em dinheiro são aqueles bens integrantes do patrimônio dos
candidatos em período anterior ao pedido de registro da candidatura, bens permanentes (imobilizado)
do patrimônio do doador, e serviços estimáveis doados por pessoas físicas e jurídicas que constituam
produto de seu serviço ou sua atividade econômica.
Os partidos políticos poderão aplicar ou distribuir pelas diversas eleições os recursos financeiros
recebidos de pessoas físicas e jurídicas em anos eleitorais, segundo o TSE (2010). Em caso de doações
recebidas em anos anteriores, também poderão ser aplicadas, desde que haja a identificação e
escrituração contábil individualizada das doações pelo partido político, transferência para conta
exclusiva de campanha do partido antes de sua destinação ou utilização, e identificação do comitê
financeiro ou do candidato beneficiário. Os partidos também poderão aplicar os recursos do Fundo
Partidário nas campanhas eleitorais por meio de doações a candidatos e a comitês financeiros,

839
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

devendo manter escrituração contábil que identifique o destinatário dos recursos ou seu beneficiário
(TSE, 2010). O Fundo Partidário é uma fonte pela qual os partidos políticos recebem recursos
financeiros oriundos principalmente de dotações orçamentárias da União, que podem ser utilizados
nas atividades permanentes e nas campanhas eleitorais (RODRIGUES; SALLABERRY, 2013).

2.4 PRESTAÇÃO DE CONTAS

O ato de prestar contas é uma obrigação perante a sociedade para que os partidos e candidatos
evidenciem como foram obtidos e como foram gastos os recursos de campanha. A preocupação com
o controle dos recursos movimentados em campanhas eleitorais é algo que suscita inquietação haja
vista o tradicional interesse daqueles que doam sobre os eleitos, que pode ser minimizado com um
processo público e transparente de prestação de contas.
De acordo com Bushman et al. (2004), é preciso que informações sobre os aspectos principais das
entidades estejam acessíveis aos interessados para ser caracterizada a transparência, que seria
proporcional ao nível de disponibilidade de informações, considerando-se a capacidade da
organização em identificar, mensurar e comunicar as informações às partes interessadas. A
evidenciação contábil é uma prática que reduz o grau de incerteza e da assimetria de informação,
possibilitando ao eleitor e aos órgãos de controle bases mais confiáveis para a tomada de decisões
(RODRIGUES; SALLABERRY, 2013).
O processo de prestação de contas é realizado eletronicamente por meio do Sistema de Prestação de
Contas Eleitorais (SPCE), disponibilizado na página eletrônica da Justiça Eleitoral, que evidencia as
arrecadações e as aplicações de recursos que o ente eleitoral movimenta durante a campanha
eleitoral, inclusive os originados do Fundo Partidário, ainda que convertidos em bens ou serviços
estimáveis em dinheiro.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia empregada no presente trabalho foi o estudo exploratório-descritivo pois foi


desenvolvido com objetivo de proporcionar uma visão geral e aproximada de determinado assunto de
forma metódica e organizada em fases utilizando-se de um conjunto de procedimentos intelectuais e
técnicos dos quais depende a investigação científica (GIL, 1999).
O estudo exploratório proporciona maiores informações sobre o assunto a ser investigado, facilita a
delimitação do tema, orienta a fixação de objetivos e a delimitação das hipóteses, além de encontrar

840
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

novos enfoques sobre o assunto podendo produzir resultados que sirvam de base para futuras
investigações (WALLIMAN, 2001), além de descrever os achados, o que caracteriza o trabalho como
descritivo (GIL, 1999). Quanto à abordagem do problema, o trabalho visa à análise dos aspectos legais
e contábeis das contas eleitorais o que a caracteriza como pesquisa quali-quantitativa.
Os dados para o estudo são as prestações de contas da campanha eleitoral relativos aos gastos de
campanha para a eleição de governador de Alagoas, do Distrito Federal e de Minas Gerais, em 2010,
capturados no sistema informatizado que gerencia as prestações de contas eleitorais - SPCE do TSE,
no site (http://www.tse.jus.br/). Os dados coletados foram tabulados e as despesas analisadas quanto
ao tipo e forma de aplicação, a partir dos dados estatísticos extraídos.

4 ANÁLISE DAS DESPESAS ELEITORAIS

Conforme o referencial teórico, a definição de despesa predominante é de que despesas são


decréscimos nos benefícios econômicos, sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou
assunção de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido. Mesmo no contexto
eleitoral, seu reconhecimento deve ocorrer de acordo com o regime de competência, ou seja, quando
se contrair a obrigação que está relacionada ao consumo de bens e serviços nas operações eleitorais.
De acordo com a legislação, podem ser considerados gastos eleitorais diversas espécies de serviços e
materiais de publicidade e despesas administrativas e de estratégia de campanha.
Os dados obtidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relativos às últimas eleições para governador no
estado de Alagoas, Distrito Federal e Minas Gerais, estão demonstrados na Tabela 1.

Tabela 2: Receitas e Despesas das eleições de 2010 para governador

Estado / Distrito Federal Receitas (R$) Despesas (R$)


Alagoas 39.604.165 41.265.500
Distrito Federal 12.806.447 14.911.868
Minas Gerais 64.531.299 68.287.585
Total 116.941.911 124.464.953
Fonte: http://spce2010.tse.jus.br

Observa-se pela Tabela 1 que foram consumidos respectivamente R$ 41, R$ 15 e R$ 68 milhões em


despesas nas campanhas eleitorais dos candidatos a governador, bem como as despesas foram
superiores as receitas arrecadadas. No Distrito Federal excedeu em 16,44%.

841
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

As modalidades de liquidação das despesas estão evidenciadas na Tabela 2

Tabela 3: Despesas Eleição 2010 por Espécie

Espécie do Alagoas Distrito Federal Minas Gerais Geral


Recurso R$ % R$ % R$ % R$ %
35.152.682,1 32.204.150,2 69.339.821,9
Cheque 85 1.982.989,61 13 47 56
1 2 4
Transferên
10.309.029,4 29.250.457,5 41.032.118,7
cia 1.472.631,76 4 69 43 33
6 6 8
eletrônica
Não
1.731.040,00 4 2.108.020,14 14 3.817.351,58 6 7.656.411,72 6
informado
Estimado 2.905.237,97 7 272.109,95 2 2.883.685,71 4 6.061.033,63 5
Débito em
3.908,03 0 239.719,28 2 131.939,44 0 375.566,75 0
conta
12.806.447, 1,0 39.604.165, 68.287.584, 1,0 124.464.952
Total 1,00 1,00
08 0 47 51 0 ,82
Fonte: http://spce2010.tse.jus.br

Observa-se que a principal espécie de liquidação das despesas é através de cheques, representando
56% das despesas, com R$ 69 milhões, predominando essa espécie no estado de Alagoas com 85%
dos gastos de campanha. Em seguida, tem-se a espécie de liquidação através de transferência
eletrônica com 33% dos gastos, que equivale a R$ 41 milhões, cujo predomínio ocorre no Distrito
Federal. Outra espécie bastante útil para a transparência do emprego de tais recursos é o débito em
conta, no entanto é pouco empregado, totalizando apenas R$ 376 mil, o não chega a alcançar a
representação de 1%, conforme demonstrado no Quadro 2.
A Tabela 2 também evidencia que 6% dos recursos são provenientes e aplicados por meio de
estimativas de recebimento e aplicação, nas quais não ocorre a transferência financeira. Os recursos
doados em bens e serviços estimáveis em dinheiro tem como desvantagem o fato de que a
mensuração é estimada pelo valor de mercado, que pode tornar-se bastante subjetivo. A maior
preocupação fica por conta de gastos que no sistema de prestação de contas do TSE aparecem como
Não Informado, alcançando R$ 7,6 milhões, ou 6% do total de gastos. Segundo a legislação, os gastos

842
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

eleitorais de natureza financeira só poderão ser efetuados por meio de cheque nominal ou
transferência bancária (TSE, 2010).
Outra análise possível de se realizar é por tipo de despesa, ou seja, naquilo que os recursos foram
aplicados. O sistema de prestação de contas eleitorais apresenta as despesas por tipos como água,
alimentação, bens permanentes, comícios, pessoal, sites, etc., além disso no presente trabalho optou-
se por criar grupos de despesas com natureza semelhante, os quais são indicados na Tabela 3.

Tabela 4: Despesas Eleição 2010 - por Tipo

Tipos de Despesa AL % DF % MG % Total por Tipo %


Publicidade e 17.984.534,4 43, 54, 27.449.940,1 40, 43,
8.193.796,15 53.628.270,77
estratégia 8 6 9 4 2 1
Produção
13, 21, 10.699.858,8 15, 15,
programas 5.608.000,00 3.125.579,29 19.433.438,11
6 0 2 7 6
rádio/TV
Publicidade
15, 27, 13, 15,
por materiais 6.376.945,65 4.042.274,45 8.879.536,53 19.298.756,63
5 1 0 5
impressos
Publicidade
placas,
894.516,96 2,2 258.450,00 1,7 2.078.167,94 3,0 3.231.134,90 2,6
estandartes e
faixas
Publicidade
por carros de 2.852.043,29 6,9 65.695,00 0,4 93.617,00 0,1 3.011.355,29 2,4
som
Pesquisas ou
testes 1.848.065,00 4,5 226.925,00 1,5 - 0,0 2.074.990,00 1,7
eleitorais
Publicidade
por jornais e 0,0 132.298,78 0,9 1.893.783,35 2,8 2.026.082,13 1,6
revistas

843
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Criação e
inclusão na 144.529,00 0,4 1.357,12 0,0 1.203.246,46 1,8 1.349.132,58 1,1
internet
Produção de
jingles,
37.510,00 0,1 5.000,00 0,0 1.162.710,00 1,7 1.205.220,00 1,0
vinhetas e
slogans
Publicidade
por 81.344,65 0,2 187.700,00 1,3 988.000,00 1,4 1.257.044,65 1,0
telemarketing
Eventos
promoção da 76.867,93 0,2 146.476,51 1,0 374.318,04 0,5 597.662,48 0,5
candidatura
Comícios 64.712,00 0,2 2.040,00 0,0 76.702,00 0,1 143.454,00 0,1
Despesas com 18, 20.525.098,6 30, 22,
7.528.622,32 295.343,11 2,0 28.349.064,03
pessoal 2 0 1 8
Serviços
15,
prestados por 3.891.392,79 9,4 2.305.300,49 6.155.820,62 9,0 12.352.513,90 9,9
5
terceiros
Despesa de 14,
5.994.991,21 357.489,51 2,4 5.436.698,08 8,0 11.789.178,80 9,5
Transporte 5
Cessão ou
Locação de 2.751.263,94 6,7 - 0,0 1.778.078,16 2,6 4.529.342,10 3,6
Veículos
(continua)
Tabela 3: Despesas Eleição 2010 - por Tipo (em continuação)
Combustíveis e
2.322.824,47 5,6 357.489,51 2,4 1.164.635,23 1,7 3.844.949,21 3,1
lubrificantes
Despesas
transp. ou 920.902,80 2,2 - 0,0 2.493.984,69 3,7 3.414.887,49 2,7
deslocamento

844
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Baixa de
Recursos 2.905.237,97 7,0 272.109,95 1,8 2.883.685,71 4,2 6.061.033,63 4,9
Estimáveis
15,
Doações 1.274.450,00 3,1 2.302.770,00 212.990,00 0,3 3.790.210,00 3,0
4
Despesas
564.585,04 1,4 154.067,18 1,0 2.844.662,23 4,2 3.563.314,45 2,9
Administrativas
Despesas
109.639,80 0,3 6.350,40 0,0 1.556.734,09 2,3 1.672.724,29 1,3
postais
Telefone 46.486,69 0,1 42.821,67 0,3 670.618,21 1,0 759.926,57 0,6
Alimentação 352.683,84 0,9 91.190,00 0,6 251.231,44 0,4 695.105,28 0,6
Material
25.695,87 0,1 9.115,24 0,1 175.182,70 0,3 209.993,81 0,2
expediente
Encargos
financeiros e 3.908,03 0,0 1.175,01 0,0 132.017,24 0,2 137.100,28 0,1
taxas bancárias
Água 6.093,27 0,0 1.820,74 0,0 23.855,19 0,0 31.769,20 0,0
Energia
20.077,54 0,0 1.594,12 0,0 35.023,36 0,1 56.695,02 0,0
elétrica
Instalações
430.930,44 1,0 622.862,94 4,2 1.782.138,01 2,6 2.835.931,39 2,3
Físicas
Locação/cessã
o de bens 256.770,44 0,6 450.275,68 3,0 951.125,17 1,4 1.658.171,29 1,3
móveis
Locação/cessã
o de bens 148.200,00 0,4 168.587,26 1,1 510.190,74 0,7 826.978,00 0,7
imóveis
Pré-instalação
de comitê de 25.960,00 0,1 4.000,00 0,0 320.822,10 0,5 350.782,10 0,3
campanha

845
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Diversas a
668.878,98 1,6 118.305,75 0,8 214.408,48 0,3 1.001.593,21 0,8
especificar
Bens
2.000,00 0,0 11.283,00 0,1 662.852,00 1,0 676.135,00 0,5
permanentes
Tributos 19.876,64 0,0 278.540,36 1,9 83.970,14 0,1 382.387,14 0,3
Impostos,
contribuições e 9.471,00 0,0 278.540,36 1,9 83.970,14 0,1 371.981,50 0,3
taxas
Encargos
10.405,64 0,0 - 0,0 - 0,0 10.405,64 0,0
sociais
Multas eleitorais - 0,0 - 0,0 35.320,50 0,1 35.320,50 0,0
41.265.499,8 14.911.868,4 68.287.584,5 124.464.952,8
Totais 100 100 100 100
7 4 1 2
Fonte: http://spce2010.tse.jus.br
A tipologia dos gastos incorridos na Eleição 2010 atende aos normativos de gastos eleitorais vigentes
(Lei n. 9.504/97 e a Resolução TSE n. 23.217/10), bem como a nomenclatura de despesas adotada pela
Contabilidade. Conforme esperado, o principal tipo de despesa realizado está relacionado à
publicidade que os candidatos dão a sua imagem e ideias, com o montante aproximado de R$ 54
milhões, que representa 43% dos gastos. Nesse grupo são considerados os gastos com produção de
propaganda eleitoral de rádio e televisão, propaganda impressa, carros de som, propaganda em
jornais e páginas de internet, além de gastos com pesquisa eleitoral necessário ao estabelecimento da
estratégia de publicidade.
Outro relevante grupo de gastos é relacionado à despesa com pessoal que ultrapassa o montante de
R$ 28 milhões (22,8% do total), principalmente no estado de Minas Gerais onde a representatividade
alcançou 30% do total de despesas; em oposição, no Distrito Federal os gastos com pessoal
representaram apenas 2% do total. No entanto, os gastos com serviços prestados por terceiros no
Distrito Federal foram mais elevados (15,5%) que em Minas Gerais e Alagoas, com 9% e 9,4% dos
gastos, respectivamente. Em vista disso, percebe-se que até certo ponto tais gastos se contrapõem
sendo que no Distrito Federal se substitui gastos de pessoal por serviços de terceiros – terceirização.
Essa substituição não é absoluta, haja vista que mesmo somando os dois tipos de despesa, o estado
de Minas Gerais se manteria com maior quantidade de gastos com pessoal/terceiros do que o Distrito
Federal, na ordem de 39,1% a 17,5% respectivamente.

846
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

As despesas são predominantemente incorridas com pessoas jurídicas em termos monetários; em


relação ao quantitativo de beneficiários, predominam prestadores com natureza de pessoa física,
conforme evidencia a Tabela 4.

Tabela 5 - Natureza das Despesas

Grupo Quantidad Valor unit


Natureza % Valor (R$) %
e (R$)
Pessoa 88.941.239,7
3.125 6,85 71,46 28.461,20
Jurídica 8
Agrupado
35.523.713,0
Pessoa Física 42.505 93,15 28,54 835,75
4
Pessoa 29.368.716,2
949 10,18 71,17 30.947,01
Jurídica 2
Alagoas
11.896.783,6
Pessoa Física 8.370 89,82 28,83 1.421,36
5
Pessoa 14.127.852,7
Distrito 336 45,71 94,74 42.047,18
Jurídica 0
Federal
Pessoa Física 399 54,29 784.015,74 5,26 1.964,95
Pessoa 45.444.670,8
1.840 5,17 66,55 24.698,19
Jurídica 6
Minas Gerais
22.842.913,6
Pessoa Física 33.736 94,83 33,45 677,11
5
Fonte: http://spce2010.tse.jus.br
Em termos absolutos, os gastos com pessoas jurídicas alcançaram R$ 89 milhões e com pessoas físicas
alcançou R$ 36 milhões, representando 71% e 29%, respectivamente. Quantitativamente, os
prestadores/beneficiários com natureza de pessoa jurídica foram 3.125 entidades, e com natureza de
pessoa física foram 42.505 prestadores, representando 6,85% e 93,15%, respectivamente. Na média,
os gastos com cada pessoa jurídica alcançam R$ 28.461, enquanto cada pessoa física recebe R$ 835.
Em relação ao quantitativo de beneficiários, destacam-se Minas Gerais com a maior discrepância e o
Distrito Federal com a menor diferença. Embora nos três pleitos o quantitativo de beneficiários com
natureza de pessoa física tenha sido em maior quantidade, em Minas Gerais foram 95% e no Distrito
Federal apenas 54%. Em termos de quantitativo de valores, os destaques se invertem, onde houve

847
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

maior participação no quantitativo de beneficiários a média de recebimentos foi menor. No Distrito


Federal os beneficiários receberam em média R$ 1.965, enquanto em Minas Gerais a média foi de
apenas R$ 677, e em Alagoas a média de recebimentos foi de R$ 1.421.
A Tabela 5 apresenta outros indicadores que podem ser úteis para empiricamente tentar identificar
relações com o montante gasto pelos candidatos e partidos políticos. Além das despesas de campanha,
identifica-se a população estadual, o quantitativo de eleitores aptos, a receita do governo de Alagoas,
Distrito Federal e Minas Gerais, no ano de 2010, o Produto interno Bruto (PIB), e o subsídio do
governador identificado em período mais próximo, setembro de 2012, o quantitativo de votos no
turno em que foi eleito, e a quantidade de candidatos.

Tabela 6 - Indicadores Eleitorais e Geográficos

DF AL MG
Dados
Desp. / Desp. / Desp. /
(R$)
Montante Indic. Montante Indic. Montante Indic.
41.265.499,8
Despesas 14.911.868 - - 68.287.585 -
7
População -
2.570.160 5,80 3.120.494 13,22 19.597.330 3,48
hab.
149.906.000.0 24.575.000.0 351.381.000.0
PIB – 2010 0,00010 0,00168 0,00019
00 00 00
Receita
12.544.300.00 4.571.700.00 50.566.017.67
Estadual - 0,00119 0,00903 0,00135
0 0 8
2010
Subsídio -
Mensal – 23.450 - 19.658 - 10.500 -
Set/12
Subsídio – 48
1.125.600 13,25 943.584 43,73 504.000 135,49
m
1.656.87 6.877.58 7.587.50
Candidatos 9 6 9
4 3 9
Fonte: IBGE PIB. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Regionais/2010/pdf/tab01.pdf
IBGE População. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/

848
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

SEFAZ/AL. Disponível em: http://www.sefaz.al.gov.br/financas.php


SEFAZ/GDF. Disponível em: http://www.fazenda.df.gov.br/
SEFA MG. Disponível em: http://www.fazenda.mg.gov.br/
TSE. Disponível em: http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2010/
Analisando-se os gastos das campanhas eleitorais de Alagoas, do Distrito Federal e de Minas Gerais
em relação aos indicadores apresentados na Tabela 5 percebe-se que em Alagoas foi realizado o maior
gasto em relação à população total, aptos ou potenciais eleitores, alcançando R$ 13,22 por habitante,
enquanto que Minas Gerais apresentou o menor gasto por habitante, R$ 3,48.
Outro indicador possível de se considerar para o gasto eleitoral é a relação com a dimensão do PIB
que será atingido pelas políticas públicas. Nesse caso, o investimento realizado alcança R$ 0,00168,
R$ 0,00019, e R$ 0,00010 para cada R$ 1,00 gerado no PIB do referido ano eleitoral, no estado de
Alagoas, Minas Gerais e Distrito Federal, respectivamente. Outra forma de se relacionar o gasto
eleitoral e o PIB, pode relacionar que a parcela do PIB daquele ano consumido no pleito eleitoral é de
0,168%, 0,019%, e 0,010% no estado de Alagoas, Minas Gerais e Distrito Federal, respectivamente.
Outro possível indicador que poderia justificar a magnitude do investimento para governar um estado
é a receita do orçamento do estado, e nesse caso percebe-se que o investimento realizado alcança
menos de R$ 0,01 para cada R$ 1,00 do orçamento gerido pelos governos. Relacionando as despesas
eleitorais com o subsídio do governador no período de um mandato, percebe-se que o investimento
supera o possível futuro benefício em 13 vezes, 44 vezes e 135 vezes no Distrito Federal, Alagoas e
Minas Gerais, respectivamente.
Desconsiderando os gastos daqueles candidatos que não foram eleitos, os menores custos de
elegibilidade ocorreram no estado de Minas Gerais. Quanto aos maiores custos é preciso destacar a
metodologia de cálculo, conforme a Tabela 6.

849
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 7 - Despesas dos Eleitos - Eleição 2010

Dados DF AL MG
Despesa Total R$ 14.911.868 R$ 41.265.499,87 R$ 68.287.585
Despesa do Eleito R$ 12.322.326 R$ 28.257.895 R$ 38.033.640
População 2.570.160 3.120.494 19.597.330
Eleitores Aptos 1.836.280 2.034.326 14.522.090
Votos do Eleito 875.612 712.789 6.275.520
(continua)

Tabela 8 - Despesas dos Eleitos - Eleição 2010 (em continuação)

Despesa Eleito / Despesa Total 82,63% 68,48% 55,70%


Despesa Eleito / População R$ 4,79 R$ 9,06 R$ 1,94
Despesa Eleito / Eleitores
Aptos R$ 6,71 R$ 13,89 R$ 2,62
Despesa Eleito / Votos do
Eleito R$ 14,07 R$ 39,64 R$ 6,06
Fonte: Dados da pesquisa
Relacionando a despesa de cada candidato percebe-se inicialmente que os candidatos eleitos foram
aqueles que gastaram mais recursos no decorrer da campanha eleitoral, representando 83%, 68% e
56% no Distrito Federal, Alagoas e Minas Gerais, respectivamente. Quando comparado o gasto do
candidato eleito à população do estado, identifica-se que o maior gasto ocorreu no estado de Alagoas,
seguido pelo Distrito Federal e Minas Gerais, respectivamente R$ 9,06, R$ 4,79 e R$ 1,94 por
habitante. Quando comparado com os eleitores aptos, a ordem se mantém mas os valores se elevam
devido ao fato de que nem todos os habitantes estão aptos a votar, ou mesmo não estão registrados
no cartório eleitoral daquele estado, resultando em R$ 13,89, R$ 6,71 e R$ 2,62 por eleitor,
respectivamente no estado de Alagoas, Distrito Federal e Minas Gerais. Agora considerando a relação
dos gastos do eleito apenas com aqueles eleitores que investiram seu voto, percebe-se uma mudança
no cenário e uma grande elevação no custo de cada voto. No Distrito Federal o valor de cada voto que
efetivamente elegeu o atual governador foi de R$ 14,07, já superado pelo custo do voto em Alagoas
que alcançou R$ 39,64. O estado de Minas Gerais continua com o menor custo de cada voto que elegeu
o atual governador, no montante de R$ 6,06, que representa 15,3% do custo em Alagoas.

850
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho se propôs a analisar as normas de gestão de recursos eleitorais para as Eleições
2010 e analisar o consumo dos recursos para a eleição a governador do Distrito Federal, Alagoas e
Minas Gerais, em 2010. Foram identificadas as principais orientações sobre a aplicação de recursos
das diferentes espécies, entre as quais Transferência Eletrônica, Cheques, Recursos Estimáveis em
Dinheiro e Débito em Conta, bem como os tipos de despesas passiveis de consumirem os recursos de
campanha.
Analisando o caso específico das campanhas eleitorais para o cargo de governador do Distrito Federal,
Alagoas e Minas Gerais foi possível identificar que a principal espécie de recursos utilizada foram os
cheques nominais alcançando 56% do total, além disso os beneficiários dos recursos são
predominantemente pessoas jurídicas em termos monetários; em relação ao quantitativo de
beneficiários, predominam as pessoas físicas. Conforme esperado, o principal tipo de despesa
realizado está relacionado à publicidade com o montante de quase R$ 54 milhões, que representa 43%
dos gastos.
A pesquisa também identificou que aqueles candidatos que realizaram maior volume de gastos
durante a campanha eleitoral foram eleitos. Quando comparado o gasto do candidato eleito à
população do estado, identifica-se que o maior gasto ocorreu no estado de Alagoas, seguido pelo
Distrito Federal e Minas Gerais, respectivamente R$ 9,06, R$ 4,79 e R$ 1,94 por habitante. No Distrito
Federal o valor de cada voto que efetivamente elegeu o atual governador foi de R$ 14,07, já superado
pelo custo do voto em Alagoas que alcançou R$ 39,64. O custo em Minas Gerais foi de R$ 6,06, que
representa 15,3% do custo em Alagoas.
O aumento na transparência dos gastos e recursos para financiamento eleitoral irão contribuir para a
melhor gestão dos recursos eleitorais e minimizar a assimetria informacional para a sociedade.

REFERÊNCIAS

BELCH, G. E.; BELCH, M. A. Propaganda e promoção: uma perspectiva da comunicação integrada de


marketing. 7.ed. Porto Alegre: McGrawHill, 2011.
BELKAOUI, A. R. Accounting theory. 5. ed. Londres: Thomson Learning, 2007.
eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm>. Acesso em: 23 jun.
2012.
BUSHMAN, R; et al. Financial Accounting Information, Organizational Complexity and Corporate
Governance Systems. Journal of Accounting & Economics, v. 2, n. 37, p. 167-201, 2004.
CFC. Conselho Federal de Contabilidade. Resoluções. Disponível

851
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx>. Acesso em 31 jan. 2013.


CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de
Relatório Contábil-Financeiro. 2011. Disponível em: < http://www.cpc.org.br/pdf/CPC00_R1.pdf >.
Acesso em: 3 fev. 2012.
FASB. Financial Accounting Standards Board. Statement of Financial Accounting Concepts No. 6. 1985.
Disponível em: <http://www.ifrs.org/IFRSs/IFRS.htm>. Acesso em: 13 mar. 2012.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999.
GOMES, N. D. Formas persuasivas de comunicação política: propaganda política e publicidade
eleitoral. 3.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
HENDRIKSEN, E. S.; BREDA, M. F. V. Teoria da Contabilidade. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2007.
IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
KING, T. E.; LEMBKE, V. C.; SMITH, J. H. Financial accounting: a decision-making approach. New York:
John Wiley & Sons, 1997.
MARTINS, E. Contribuição à avaliação do ativo intangível. 1972. Tese (Doutorado em Ciências
Contábeis) - Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 1972.
NASSCHMACHER, K. H. Comparing party and campaign finance in western democracies. Campaign and
party finance in north America and western Europe. San Francisco: Wesview Press; Oxford: Inc.
Boulder, 1992.
RODRIGUES, L. F.; SALLABERRY, J. D. Aspectos legais e contábeis da prestação de contas eleitorais para
as eleições de 2012: uma análise empírica à luz da legislação vigente. Revista Brasileira de
Contabilidade, v. 43, n. 199, p. 63-78, jan/fev. 2013.
TINOCO, J. E. P. Avaliação patrimonial em contabilidade á valores de entrada e saída. Caderno de
Estudos FIPECAFI, n. 6, out. 1992. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cest/n6/n6a04.pdf>.
Acesso em: 1 fev. 2013.
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Resolução n. 23.217. Dispõe sobre a arrecadação e os gastos de
recursos por partidos políticos, candidatos e comitês financeiros e, ainda, sobre a prestação de contas
nas eleições de 2010. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao/>. Acesso em: 23 mar. 2012.
______. Manual Técnico de Arrecadação e Aplicação de Recursos e de Prestação de Contas: eleições
2010. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2010.
VIEIRA, R. A. C. A.; CROZATTI, J.; RIBEIRO, M. S. Mandato coletivo vs mandato individual: análise de
custos em campanhas eleitorais para o fortalecimento da democracia brasileira. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE CUSTOS, 19. 2012, Bento Gonçalves. Anais... Bento Gonçalves: CBC, 2012.
WALLIMAN, N. Information, and how to deal with it. Your Research Project a step-by-step guide for
the first-time researcher. London: SAGE, 2001.
ZOVATO, D. Financiamento dos partidos e campanhas eleitorais na América Latina: uma análise
comparada. Opinião Pública, Campinas, v. 11, n. 2, Out./2005.

852
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 40

O IMPACTO DO BALANCED SCORECARD SOBRE O


DESEMPENHO ORGANIZACIONAL: O CASO DO MONOPÓLIO
NATURAL DAS DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA NO
BRASIL
DOI: 10.37423/200400613

Dilo Sergio De Carvalho Vianna - diloscv@hotmail.com

FERREIRA Aracéli C. S. - araceli@facc.ufrj.br


V. PROCHNIK - vpk001@gmail.com
M. A. S. MACEDO - malvaro@facc.ufrj.br
Resumo: Este trabalho investiga a associação entre o Balanced Scorecard (BSC) e o
desempenho organizacional. Ele difere de estudos anteriores ao concentrar a pesquisa
empírica em um único segmento de atividade, o de distribuição de energia elétrica. Esta
escolha possibilitou a construção de uma base de dados, referentes aos exercícios de 2009 a
2012, mais homogênea do que as de trabalhos já publicados, pois se refere a um único
ambiente estratégico externo. Com as empresas ofertando um único produto (não
diversificadas) e submetidas à intensa regulação, também há maior homogeneidade no
ambiente estratégico interno da organização de processos, recursos e competências e na
disponibilidade de informações. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) parametriza a
informação contábil e publica metas e dados referentes às perspectivas estratégicas
operacionais e do cliente. Os gestores de todas as distribuidoras também foram entrevistados.
Dada a crítica de que empresas menores não usam e não precisam do BSC, foram constituídas
duas amostras, uma delas apenas pelas empresas maiores. Os resultados mostraram a
associação do BSC ao desempenho financeiro para ambas as amostras nos exercícios de 2010
e 2011 e pontuais associações em 2009 e 2012, bem mais fortes para a amostra restrita às
organizações maiores. Quanto ao desempenho não-financeiro, não foram detectadas
associações estatisticamente relevantes.
853
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Palavras-chave: Balanced scorecard. Setor elétrico. Desempenho organizacional.

Área Temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

854
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

No final do século passado, foram desenvolvidos diversos modelos gerenciais de formulação e gestão
de estratégia organizacional. Entre eles, há modelos predominantemente baseados em economia,
como a cadeia de valor de Michael Porter (Porter, 1979), oriundos da área de administração, como os
de competências de Prahalad e Hamel (Prahalad e Hamel, 1990) os advindos da engenharia, entre os
quais os que tiveram origem em estudos sobre a qualidade como o gerenciamento total da qualidade
(TQM - Total Quality Management).

As ciências contábeis também deram origem a ferramentas de gestão da estratégia. Dentre essas,
ressalta-se, pelo sucesso da sua difusão, o Balanced Scorecard (BSC), proposto em 1992 por Robert
Kaplan e David Norton (Kaplan e Norton, 1992).

A ampla difusão do BSC nas organizações provocou o interesse dos meios acadêmicos. Na busca pelo
termo “Balanced Scorecard” no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), foram encontradas 5.974 citações e 717 trabalhos referenciados entre 2003 e 2012.
Diante deste volume, é possível produzir avaliações acerca de seus achados e indicar lacunas a serem
preenchidas.

Segundo Geuser, Mooraj e Oyon (2009), a pesquisa sobre o BSC tem sido estruturada em torno de três
questões principais: (1) as características da sua difusão generalizada, (2) avaliação da contribuição do
BSC para o desempenho das organizações e (3) a forma como o BSC gera essa contribuição.

Este trabalho explora aspectos não estudados ou insuficientemente estudados da segunda questão.
Sobre este item, Buhovac e Slapnicar (2007), Franco-Santos et al. (2007), Neely (2008), Koch (2010),
Simões e Rodrigues (2011) e Giannopoulos et al. (2013) afirmam que a literatura empírica acerca dos
possíveis benefícios do BSC para o desempenho organizacional, além de rara, produziu poucos
resultados efetivos. A busca no portal de periódicos da CAPES (www.capes.gov.br) por trabalhos
publicados entre 2003 e 2012 listou apenas 15.

Entre estes, Hoque e James (2000), Ittner, Larcker e Randall (2003), Castro, Vicente (2007), Cohen,
Thiraios e Kandilorou (2008), Vianna (2009), Rocha, Beuren e Hein (2010), Martins, Cruz e Tracs (2010)
e Cavalcante e Macedo (2011) propuseram estratégias empíricas de investigação para analisar o
impacto do uso do BSC sobre o desempenho. Os resultados confirmam parcialmente esta associação.

855
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

No entanto, os próprios autores apontam lacunas em suas estratégias de pesquisa que podem ter
limitado o alcance de resultados mais efetivos.

A principal lacuna enfocada neste trabalho e apontada por autores como Ittner, Larcker e Randall
(2003), Martins, Cruz e Tracz (2010) e por Castro, Vicente et al. (2012), reside no fato de que as
pesquisas anteriores foram desenvolvidas com bases de dados compostas por organizações que
operam em setores econômicos diferentes e, até mesmo, em diferentes culturas.

Além desta, críticos e estudos sobre o BSC como os de Andersen, Cobbold e Lawrie (2001), Banchieri,
Planas e Rebull (2011) e Giannopoulos et al. (2013) lançam dúvidas acerca da sua eficácia para as
organizações de pequeno porte e mostram que poucas destas organizações usam o BSC. Assim, é
aconselhável analisar, em paralelo, outra amostra, restrita apenas às organizações maiores, o que é
feito neste trabalho.

O setor elétrico brasileiro (SEB) oferece a oportunidade de preencher estas lacunas e uma proposta
diferenciada: analisar as possibilidades do BSC em um ambiente monopolista e extremamente
regulado. O SEB está subdividido em quatro grandes segmentos de atividade: geração, transmissão,
distribuição e comercialização, este trabalho enfoca o segmento de distribuição de energia elétrica.

Esta escolha proporciona um estudo setorial empírico onde as empresas, no processo de


desenvolvimento das suas estratégias, encontram uma homogeneidade nas condições ambientais
(e.g. econômicas e institucionais) que orientam os trade-offs dos gestores durante a execução deste
processo. Há também uma relativa homogeneidade do ambiente estratégico interno da organização
de processos, recursos e competências, e, também, quanto à disponibilidade de informações. O
principal agente regulador a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) parametriza a informação
contábil e publica metas e dados referentes às perspectivas estratégicas operacionais e do cliente.

Assim, por meio de um instrumental de métodos quantitativos aplicados a uma base de dados setorial,
o objetivo principal deste trabalho é contribuir para a investigação dos benefícios do uso do BSC para
o desempenho organizacional. Este trabalho investiga duas hipóteses: o desempenho das operadoras
pode estar associado ao uso do BSC (H1) e se o desempenho das operadoras de maior porte pode
estar associado ao uso do BSC (H2).

Além deste, outros objetivos secundários podem ser alcançados: investigar a difusão do BSC no setor
elétrico; analisar a associação entre o uso/não uso do BSC o desempenho dasorganizações de maior

856
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

porte; e analisar o uso do BSC direcionado para os resultados financeiros (acionista) em detrimento
da eficiência operacional e do foco no cliente.

2. PROPOSIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO BSC

O BSC é constituído por um conjunto de medidas financeiras e não-financeiras de desempenho


organizacional organizadas em um modelo causal. Ele oferece uma visão rápida e abrangente do
desempenho da organização sob quatro perspectivas integradas. O BSC conserva a perspectiva
financeira, visto que as medidas financeiras são valiosas para sintetizar as consequências econômicas
imediatas de ações consumadas. Os indicadores da perspectiva do cliente procuram captar a
proposição de valor da firma e a satisfação dos clientes. As medidas dos processos internos estão
voltadas para os processos estratégicos que terão maior impacto na satisfação do cliente e na
consecução dos objetivos financeiros da empresa. A quarta perspectiva do BSC, aprendizado e
crescimento, identifica a infraestrutura que a empresa deve construir para gerar crescimento e
melhoria a longo prazo (KAPLAN e NORTON, 1997).

O BSC evoluiu de um quadro de medidas integradas para um sistema de gestão. No último livro, “A
Execução Premium” (KAPLAN e NORTON, 2008) os autores sugerem a inclusão do BSC em um modelo
de gestão autônomo e abrangente, que interliga estratégia e operações em um único “loop” dos
processos estratégicos e operacionais.

As criticas ao BSC apresentam um paradoxo explicitado, por exemplo, em Banchieri, Planas e Rebull
(2011, p. 155). Segundo eles, “enquanto a ferramenta BSC goza de ampla difusão no mundo
corporativo, no âmbito teórico recebeu muitas e variadas críticas”. Eles revisaram mais de 300 artigos
e concluíram que “o BSC é um modelo que evoluiu e foi aperfeiçoado ao longo dos anos ao ponto de,
atualmente, apresentar uma sólida e aplicável formulação teórica. No entanto, ainda existem alguns
aspectos questionáveis em relação à eficácia do modelo” (BANCHIERI, PLANAS e REBULL, 2011, p. 155).

Entre as críticas mais frequentes citadas por eles e analisada por diversos trabalhos, como os citados
na introdução, destaca-se, para os fins deste artigo, como visto adiante, o uso do BSC em organizações
de pequeno porte. Para um grande percentual de empresas, as menores, uma definição precisa dos
indicadores-chave de desempenho seria o suficiente.

857
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3. BSC E O DESEMPENHO ORGANIZACIONAL

Buhovac e Slapnicar (2007) indicam que, embora o argumento de que as organizações que adotam
sistemas de mensuração de desempenho possam melhorar sua lucratividade seja atraente, pouco a
literatura tem demonstrado empiricamente como estes sistemas proporcionam seus efeitos
benéficos. Franco-Santos et al. (2007) sugerem que, de forma geral, a área de mensuração do
desempenho tem visto relativamente pouca pesquisa empírica.

Para Neely (2008, abstract), “a evidência empírica que explora o impacto do uso do BSC no
desempenho é extremamente rara e, muito do que está disponível, é anedótica na melhor das
hipóteses”. Segundo o autor, surpreendentemente, especialmente tendo em conta a abundante
produção científica, tem havido relativamente pouca pesquisa empírica sobre se o BSC realmente
funciona.

Hoque e James (2000) analisam 66 firmas industriais australianas que “implantaram” o BSC. Eles
mediram o desempenho por um modelo relacional que abarca as medidas selfreported de: ROI,
vendas, utilização da capacidade, satisfação do cliente, qualidade, tamanho da organização, ciclo de
vida do produto, posição de mercado e o uso do BSC.

Os resultados observados sugerem que as organizações de maior porte são mais propensas ao uso do
BSC. O trabalho também conclui que uma “maior utilização” do BSC está associada a uma melhoria do
desempenho. Os autores definem como uma importante lacuna as dificuldades de apuração do
uso/não uso do BSC. A metodologia de apuração está fundamentada em um questionário de
perguntas que verifica se a organização incorpora itens do BSC. Sendo assim, “maior utilização”, não
se trata da verificação do uso da ferramenta, apenas de uma maior adesão as suas proposições.

Ittner, Larcker e Randall (2003), desenvolvem um estudo sobre a satisfação com o uso de SPMS e a
relação com a diversidade de indicadores, o desempenho e os direcionadores de valor da estratégia
em uma amostra de 140 organizações do setor financeiro norte americano, tais como: bancos,
seguradoras, bancos de investimentos e outros. Em relação ao BSC, as conclusões apontam que o seu
uso está associado a uma maior satisfação com sistemas de mensuração, mas apresenta uma baixa
relação com o desempenho econômico. Segundo os autores, há pouca evidência de que as práticas
SPM estão associadas à contabilidade financeira (Return Over Assets (ROA) e crescimento das vendas).

858
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Devido à constituição da base de dados com organizações que operam em diferentes segmentos do
setor financeiro, permanece também a dúvida acerca da construção e possibilidade de
comparabilidade dos indicadores oriundos da contabilidade financeira – nota deste trabalho.

Os autores também admitem a dificuldade de determinar se as organizações usam o BSC. Segundo os


autores (2003, p. 739), “muitas empresas que afirmam ter implantado o BSC ainda não seguem
totalmente as prescrições de Kaplan e Norton (1996, 2001)”. Os autores defendem que estudos
futuros deverão contemplar em suas estratégias a investigação de como o BSC está sendo realmente
utilizado.

Castro, Vicente et al. (2012, p. 37) recomendam “que para futuras pesquisas uma maior atenção à
definição de “uso efetivo do BSC”, tendo em vista que pode haver empresas que alegam ter a
ferramenta, mas na prática não a utilizam, enquanto que outras empresas podem não ter o BSC, mas
implantaram uma forma de gestão equivalente a esta”. Esta estratégia de investigação foi utilizada
por Hoque e James (2000) e Ittner, Larcker e Randall (2003), dois dos trabalhos mais referenciados na
literatura sobre o BSC.

A forma de uso do BSC também parece um fator diferencial. Segundo Kaplan e Norton (2004) algumas
organizações utilizam o BSC apenas para fins de remuneração e/ou com outras propostas mais
especificas em detrimento do uso em toda a organização como direcionador da estratégia
organizacional e também no controle do desempenho dos indicadores financeiros e não-financeiros
de forma extensiva. Esta possibilidade, dentro do possível foi investigada por este trabalho.

No que se refere aos indicadores de desempenho oriundos da contabilidade financeira, Iudícibus et


al. (1980, p. 25) destaca que, na contabilidade de uma empresa, os planos de conta refletem a
especificidade das transações da organização. Sendo assim, fica prejudicada a comparabilidade de
indicadores como, por exemplo, ROI, ROA e margem de contribuição, na medida em que estes
indicadores são oriundos de sistemas contábeis, sobretudo o plano de contas, construídos com base
em diferentes padrões, feitos para atender os mais variados tipos de negócios (e.g. industrial e
comercial) e propósitos.

Castro, Vicente (2007) estudou a relação entre uso do BSC e desempenho financeiro em 95 firmas
brasileiras de diversos setores, onde a principal questão foi se as organizações que implantam o BSC
têm melhor desempenho financeiro do que as que não o implantam. Os testes empíricos revelaram
uma relação positiva entre a implantação do BSC e um maior desempenho da margem de contribuição
e que o uso do BSC não está estatisticamente associado ao melhor desempenho do faturamento. O

859
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

autor conclui que a efetividade do BSC sobre os resultados financeiros permanece em questão
alertando sobre as limitações dos testes em diferentes setores, “esta variedade pode ser uma crítica
válida e uma recomendação é a replicação da sua análise para uma amostra de um único setor” (2007,
p. 75).

Vianna (2009) analisou a base de dados de 92 operadoras do setor elétrico brasileiro, referente ao
exercício de 2007, perguntando se as organizações usuárias do BSC tinham melhor desempenho
financeiro do que as demais. Os resultados mostram uma relação positiva e moderada no segmento
de distribuição para os indicadores de desempenho oriundos da contabilidade financeira e uma
relação contrária e fraca para os indicadores do mercado acionário. Já para as geradoras e
transmissoras os resultados são inversos.

Martins, Cruz e Tracz (2010) analisaram o impacto do BSC no desempenho de 15 organizações de


vários setores da economia, avaliado por três medidas: ROI, ROE e preço da ação. Os autores
verificaram esta possibilidade por meio de três análises: análise da variância, análise de regressão e
avaliação das médias.

Os resultados demonstram que não há diferença significativa na variância das três variáveis estudadas
em 13 das 15 firmas. Na análise de regressão observa-se o impacto do BSC no ROI e no preço da ação,
mas não no ROE. Na avaliação das médias “antes” e “depois” do BSC a conclusão é que “depois” do
BSC os indicadores de desempenho têm melhores resultados, com exceção de três organizações. Os
autores reconhecemque o número de firmas foi pequeno e mencionam a possibilidade de que os
testes operacionalizados em apenas um setor poderiam reduzir os impactos oriundos das variações
econômicas.

Também, o estudo de Porporato, Basabe e Arellano (2008) detecta as dificuldades de elaboração de


medidas de desempenho em empresas diversificadas, com estratégias diferenciadas para diferentes
produtos. Esta constatação sugere a dificuldade de se comparar estratégias e indicadores entre
organizações que operam simultaneamente em diferentes segmentos. As operadoras de distribuição
operam em um único segmento e desenvolvem uma única atividade.

Porter (1979) chama a atenção para o fato de que as interações entre os fatores competitivos podem
determinar o potencial de lucro de um dado setor de negócios. Porter (2004, prefácio) destaca que
“as diferenças setoriais na rentabilidade média são grandes e duradouras. Indícios estatísticos
recentes confirmam a importância do setor para explicar tanto a rentabilidade média quanto o
desempenho do mercado acionário, e revelam que as diferenças setoriais são notavelmente estáveis”.

860
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Por fim, observa-se na literatura a concentração de testes nos indicadores financeiros, tanto do
mercado acionário quanto dos originados da contabilidade financeira e a baixa ocorrência de testes
em indicadores não-financeiros. Estas assimetria restringe uma análise mais abrangente acerca da
proposição multi-perspectiva do BSC.

4. POPULAÇÃO E AMOSTRA

Segundo a ANEEL, existiam 63 concessionárias de distribuição de energia em operação no Brasil no


final do exercício de 2012 (http://www.aneel.gov.br).

No entanto, na seleção da amostra algumas restrições foram encontradas: para três operadoras, não
havia qualquer tipo de informação disponibilizada; nove passavam por algum tipo de processo de
intervenção dos órgãos reguladores; há uma cooperativa sem fins lucrativos; sete operadoras
evidenciavam patrimônio líquido negativo em dois ou mais dos exercícios contábeis que compõem o
escopo deste trabalho; em três operadoras foram apuradas informações conflitantes entre as provas
documentais e as declarações dos executivos sobre o uso do BSC; e, finalmente, foram também
excluídas cinco operadoras controladas por um único grupo econômico que operaram sob a direção
de um mesmo presidente, são orientadas pela mesma estratégia e, embora publiquem balanços
separados, a possibilidade de fusão destas operadoras já estava sendo estudada pelo grupo.

Desta forma, a amostra final é composta por 35 operadoras. Ela representa 55% da população. Nela,
verificou-se que 18 operadoras usam o BSC e as outras 17 não usam.

A etapa seguinte, de coleta de informações, foi dividida em duas tarefas: coleta e construção dos
indicadores de desempenho e investigação sobre o uso/não uso do BSC.

Dada a constatação da bibliografia técnica, apresentada anteriormente, de que as empresas menores


não usam e nem precisam do BSC, esta pesquisa segue uma estratégia de analisar duas amostras em
paralelo, sendo a segunda um recorte da primeira, na qual foram retiradas as empresas menores, até
encontrar a primeira usuária do BSC.

Esta segunda amostra contem apenas as 25 maiores empresas, segundo o porte do ativo e a receita
líquida. As outras dez operadoras, as menores, não usam o BSC. Desta forma, foram constituídas duas
amostras, a primeira que comtempla todas as operadoras selecionadas (n=35) e uma segunda com as
operadoras de maior porte (n=25).

861
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5. COLETA DE DADOS E CONSTRUÇÃO DOS INDICADORES DE DESEMPENHO

Os indicadores financeiros foram construídos a partir da informação da contabilidade financeira,


padrão CVM após o processo de convergência as normas internacionais, publicada nos demonstrativos
financeiros: balanço patrimonial, demonstração de resultados e fluxo de caixa. Estes demonstrativos
foram coletados da Internet, prioritariamente do site da ANEEL (http://www.aneel.gov.br/) e, quando
não disponíveis neste sítio, dos sites das operadoras e, finalmente, do site da CVM.

Foram coletados os demonstrativos de informações contábeis dos exercícios de 2009 a 2012. A


construção dos indicadores seguiu a metodologia do livro Séries publicado em 2012 (CASTRO, Nivalde
et al., 2012).

Quanto aos indicadores não-financeiros, o indicador de satisfação do consumidor (IASC) são do


Relatório Brasil (http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=189) de pesquisa de satisfação do
consumidor referente aos exercícios de 2009, 2010 e 2012 publicados pela ANEEL. Os indicadores de
2011 não foram publicados. Já os indicadores DEC e FEC vem do site da ANEEL
(http://www.aneel.gov.br/area.cfm?id_area=80). O Quadro 1 apresenta a definição dos indicadores
financeiros e não-financeiros usados neste trabalho.

Para investigar o uso efetivo do BSC, inicialmente foi realizada uma pesquisa documental nos
relatórios publicados pela administração da operadora (relatório da administração, balanço social e
demonstrações contábeis); depois, nos sites das próprias operadoras; e, finalmente, com a ajuda de
ferramentas de busca da internet, em documentos como, por exemplo, trabalhos acadêmicos, que
comprovassem de forma incontestável o uso do BSC na operadora. Esta investigação procurou
encontrar ao menos uma comprovação documental acerca do uso do BSC entre os exercícios de 2009
a 2012.

Depois, no XXVIII Encontro Nacional dos Contadores do Setor de Energia Elétrica (ENCONSEL), em
Angra dos Reis – Rio de Janeiro, em 24 a 28/11/ 2012, e com o apoio da Associação Brasileira dos
Contadores do Setor de Energia Elétrica (ABRACONEE), foram propostas quatro questões aos gestores
de cada uma das operadoras. A primeira buscava informações sobre confirmação do uso do BSC, que
foram confrontadas com a informação documental. A segunda questão procurou investigar a data de
implantação e possíveis casos de descontinuação da ferramenta. A terceira para averiguar a
efetividade da implantação do BSC na operadora em que atuava o executivo. Finalmente, na última
questão foi investigada a forma de uso da ferramenta. Kaplan e Norton (2001) listam, dentre outras,

862
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

como principais causas de fracasso do BSC: tratamento do BSC como projeto da área de sistemas;
implementação do BSC apenas para fins de remuneração; e, de comunicação com o mercado.

Todos os executivos abordados neste processo, que atuavam nas operadoras usuárias afirmaram que
o BSC era utilizado em toda a organização, como direcionador da estratégia organizacional e, também,
no controle do desempenho dos indicadores financeiros e não financeiros, de forma extensiva.

Quadro 1 – Indicadores financeiros e não-financeiros listados para teste.

863
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

6. METODOLOGIA ESTATÍSTICA

A primeira opção de inferência estatística deste estudo foi selecionar um teste que apontasse para a
diferença entre as medianas dos dois grupos. O teste de Wilcoxon-Mann- Whitney (WMW) é um teste
não-paramétrico alternativo ao teste t-Student para comparar as médias de duas amostras
independentes (SIEGEL e CASTELLAN, 2006; AGRESTI e FINLAY, 2012; VIALI, 2013). Os pressupostos
para a aplicabilidade do teste t-Student são mais exigentes: as populações de onde as amostras
provêm têm distribuição normal; as amostras são independentes e aleatórias; e que as populações
tenham uma variância comum (FERREIRA, 2013).

A segunda opção de pesquisa atende à proposta deste estudo, que é relacional: estudar a relação
entre o uso do BSC e o desempenho. Para tanto, é relevante medir o grau de associação entre o
uso/não uso do BSC e os indicadores de desempenho pela correlação entre ambas. Existem diversos
testes para medidas de associação, conhecidos como coeficientes de correlação posto-ordem, dentre
outros: Pearson, Spearman e Kendall. No entanto, para todos estes testes, uma das condições a serem
observadas é a de que ambas as variáveis sejam ao menos ordinais (SIEGEL e CASTELLAN, 2006).

A variável que aponta o uso/não uso do BSC utiliza os valores 0 (zero) para o não uso do BSC e 1 (um)
para o uso do BSC, sendo assim, uma variável categórica distintiva. Para Agresti e Finlay (2012, p. 28)
estas variáveis “diferem em qualidade, não em magnitude numérica”. Estas variáveis são de natureza
essencialmente qualitativa ou escala nominal, indicadoras de categorias, conhecidas também como
variáveis binárias, ou dicotômicas (GUJARATI e PORTER, 2011).

A análise PBIS (coeficiente de correlação ponto bisserial) é usada para estudar a correlação entre uma
variável dicotômica e outra contínua. Esta análise não requer que ambas as variáveis sejam ordinais.
Segundo Lira (2004, p. 91), “embora seja usada normalmente como medida de correlação entre
escores e itens de testes, a Correlação Ponto Bisserial pode ser empregada em outras situações, onde
a variável dicotômica pode ser, a título de exemplo, gênero masculino ou feminino, pessoas normais
ou neuróticas, etc. O Coeficiente de Correlação Ponto Bisserial é derivado do Coeficiente de Correlação
de Pearson. Este método é indicado quando uma das variáveis é dicotômica e a outra é contínua”.

Pett (1997, p. 250) aponta que “há na literatura sobre estatística uma controvérsia acerca deste
coeficiente de correlação, pois apesar de ser uma variante do coeficiente de Pearson, admite o uso de
variáveis dicotômicas”. No entanto, na seção que apresenta o estado da arte dos testes não

864
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

paramétricos (1997, p. 276 e 277), a autora lista a correlação de ponto bisserial dentre estes. Corder
e Foreman (2009) também apresentam o teste em sua obra.

7. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise descritiva das amostras estudadas está nos Anexos A (n=35) e B (n=25).

Todavia os testes de medianas (WMW) e relacionais (PBIS) não confirmam as evidências das analises
descritivas de forma plena. Inicialmente serão analisados os resultados dos indicadores financeiros
para as hipóteses H1 e H2.

Para a amostra que contempla todas as operadoras (n=35, colunas 2 a 5 da Tabela 1), o teste WMW
indica que nem todas estas associações são válidas ao nível de significância de 5%. Para as variáveis
ROA bruto, ROA, margem de serviço e margem operacional líquida, referentes ao exercício de 2012 as
medianas não são diferentes ao nível de significância de 5%, sendo assim não se pode rejeitar H0. Para
as demais é possível rejeitar H0 em favor de H 1.

Já os resultados do teste PBIS indicam que a associação entre o BSC e o desempenho financeiro pode
ser encontrada para todos os indicadores testados referentes aos exercícios de 2010 e 2011 e, para os
indicadores retorno sobre o patrimônio líquido e margem operacional de caixa, em 2009 e 2012. Para
estes indicadores é possível rejeitar H0 em favor de H1. Ou seja, podem se notadas divergências entre
os resultados dos testes.

No que se refere às operadoras de maior porte (n=25, colunas 6 a 9 da Tabela 1), para os indicadores
ROA bruto, ROA, o teste WMW mostra que o retorno sobre o patrimônio líquido, margem de serviço,
margem operacional líquida em 2009 e 2012 e para o indicador margem operacional de caixa em 2011,
as medianas não são diferentes ao nível de significância de 5%, sendo assim, para estes não se pode
rejeitar H0. Para os demais é possível rejeitar H0 em favor de H1. Para os exercícios de 2010 e 2011
deve-se rejeitar H0 em favor de H1 para todos os indicadores ao nível de 5% de significância. Observa-
se um resultado diferenciado para o indicador margem operacional de caixa onde, excetuando-se
2011, devese rejeitar H0 em favor de H1.

Os resultados do teste PBIS, com exceção do indicador margem operacional de caixa em 2011,
mostram a associação entre o BSC e o desempenho financeiro para todos os indicadores testados
referentes aos exercícios de 2010 e 2011 e, para os indicadores retorno sobre o patrimônio líquido e
margem operacional de caixa, em 2009 e 2012. Para estes indicadores é possível rejeitar H0 em favor
de H1, ao nível de significância de 5%. Não foram verificadas divergências entre os testes.

865
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A partir deste ponto são analisados os resultados dos testes para os indicadores nãofinanceiros.

Para a amostra que contempla todas as operadoras (n=35), o teste de WMW indica que apenas para
o indicador DEC, em 2009 e 2010, pode-se rejeitar H0 em favor de H1 para as operadoras não usuárias.
O teste PBIS mostra que, ao nível de significância de 5%, é possível rejeitar H0 em favor de H1 apenas
para o DEC em 2009 e 2010. Para esta possibilidade pode ser verificada uma relação inversa em um
grau moderado. Ou seja, o desempenho do DEC em 2009 e 2010 está associado às operadoras não
usuárias do BSC.

Finalmente, para os indicadores não-financeiros da amostra que contempla as maiores operadoras, o


teste WMW indica que, apenas em 2012, para o IASC é possível rejeitar H0 em favor de H1, ao nível de
significância de 5%. Ou seja, é possível que o uso de BSC possa estar associado à satisfação dos clientes
das operadoras usuárias em 2012. Para os demais resultados não é possível rejeitar H0. Os testes PBIS,
mostram que não é possível rejeitar H0 em favor de H1 em todos os testes ao nível de significância de
5%. Ou seja, não foi detectada qualquer relação entre o desempenho e as operadoras usuárias ou não
usuárias do BSC.

866
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 - Resultado dos testes estatísticos de Wilcoxon-Mann-Whitney (WMW) e coeficiente de


correlação ponto bisserial (PBIS) WMW, rejeitar Ho: μ=0 e aceitar H1 se o nível de significância (nsig)
for inferior a 5%. *PBIS, significa que o nível de significância para o coeficiente de correlação (coef.
cor.) é inferior a 5%, rejeitar Ho: p=0 e aceitar H1.

8. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo investiga a associação entre o BSC e o desempenho organizacional. O principal diferencial
em relação aos demais estudos publicados sobre o tema é concentrar a estratégia de pesquisa em um
único segmento de atividade econômica, o segmento de distribuição de energia elétrica que oferece
apenas um produto homogêneo. Com isto, buscou-se afastar outras fontes de variação dos dados.
As operadoras desenvolvem suas estratégias sob um conjunto de variáveis ambientais semelhante,
mais homogêneo. Depois, quanto ao ambiente interno da firma, a atividade única proporciona uma
relativa semelhança de processos, recursos, competências e habilidades.

867
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Esta configuração permitiu que indicadores não-financeiros referentes às perspectivas operacional e


do cliente pudessem ser analisados. Os demonstrativos financeiros e nãofinanceiros são
parametrizados pelo agente regulador, sendo assim, proporcionaram a construção de indicadores
parametrizados .
A metodologia de investigação sobre o uso do BSC foi mais acurada as adotadas por outros trabalhos,
como (HOQUE e JAMES, 2000; ITTNER, LARCKER e RANDALL, 2003; CASTRO, Vicente, 2007). Verificou-
se detalhes documentais, a opinião dos gestores, datas de implantação e formas de uso conforme
sugerido por Castro, Vicente et. al. (2012).
A pesquisa de campo junto aos gestores, excetuando-se uma única operadora, confirmou a utilização
do BSC como um driver da estratégia para toda a organização.
O BSC é bastante difundido no segmento de distribuição. A proporção apurada entre operadoras
usuárias e não usuárias foi de aproximadamente 50%, apontando para um difusão da ferramenta
semelhante à verificada por Neely et al. (2007) em organizações norte-americanas (48,8%) e superior
à difusão global em 2013 encontrada pela pesquisa Bain and Company (2013) (aproximadamente
40%).
Os resultados das análises estatísticas indicam que é possível observar a associação do BSC ao
desempenho financeiro apurado nos exercícios de 2010 e 2011 e para pontuais associações em 2009
e 2012, tanto para a amostra que contempla as operadoras de menor porte quanto para a amostra
que seleciona as operadoras de maior porte. No entanto, os resultados das associações referentes ao
desempenho financeiro se mostraram mais robustos na comparação entre as operadoras de maior
porte. Ou seja, entre as operadoras de maior porte o BSC parece proporcionar um diferencial superior.
Estes resultados estão em linha com análises anteriores de que a gestão estratégica de empresas de
pequeno porte pode ser suprida de forma suficiente por uma ferramenta menos complexa como
sugerem Banchieri, Planas e Rebull (2011) e também para as afirmações de Andersen, Cobbold e
Lawrie (2001) de que os benefícios potenciais do uso do BSC são provavelmente diferentes entre as
pequenas e grandes organizações.
Os resultados também se mostram divergentes dos achados de Ittner, Larcker e Randall (2003) de que
as práticas de SPMS estão pouco ligadas à contabilidade financeira, principalmente no que se refere
aos estudos setoriais.
Foram detectadas apenas associações pontuais entre o BSC e o desempenho nãofinanceiro,
mensurado pelos indicadores DEC, FEC (operacionais) e IASC (de satisfação dos clientes). Nesta
verificação, foram observadas associações inversas, favoráveis às operadoras não usuárias. Estes

868
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

achados vão no mesmo sentido de críticos como Otley (1999) e Norreklit (2000) de que o BSC é uma
ferramenta de resultados para o acionista. Sendo assim, é possível que fatores relacionados á dinâmica
econômica do setor estejam a moderar estes resultados.
Finalmente, inferir que os resultados encontrados estejam relacionados exclusivamente ao uso do BSC
parece ser pouco provável. No entanto, pode-se verificar a contribuição da ferramenta em períodos
específicos para o desempenho financeiro.

9. PROPOSTAS PARA PESQUISAS FUTURAS

Entre as diversas alternativas possíveis de prosseguimento deste trabalho, destaca-se a análise da


diferença de resultados encontrados para os anos 2010 e 2011, de um lado, e 2009 e 2012, de outro.
Observe-se que, para o setor de distribuição de energia elétrica, os dois últimos anos foram de
retração econômica, apontando para a hipótese, a ser investigada, de que a associação entre o BSC e
o desempenho é maior nos anos de crescimento da receita do que nos anos de declínio, nos quais
cortes de custo seriam mais necessários.

REFERÊNCIAS

AGRESTI, Alan; FINLAY, Barbara. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4. ed. Porto Alegre:
Penso, 2012.

ANDERSEN, Henrik; COBBOLD, Ian; LAWRIE, Gavin. Balanced scorecard implementation in SMEs:
reflection on literature and practice. In: 4th SME International Conference, Allborg University,
Denmark, 2001.

Bain & Company Bureau. Management Tools & Trends. Disponível em:

<http://bain.com/Images/BAIN_BRIEF_Management_Tools_%26_Trends_2013.pdf>. Acesso em: 04


de ago. de 2013.

BANCHIERI, Lucía Clara; PLANAS, Fernando Campa; REBULL, Maria Victoria Sánchez. What has been
said, and what remains to be said, about the balanced scorecard? Proceedings of Rijeka Faculty of
Economics: Journal of Economics & Business, v. 29, n. 1, 2011.

BUHOVAC, Adriana Rejc; SLAPNIČAR, Sergeja. The role of balanced strategic, cascaded and aligned
performance measurement in enhancing firm performance. Economic & Business Review, v. 9, n. 1,
2007.

CASTRO, Nivalde José de. et. al. Séries 2012: séries contábeis-financeiras das empresas do setor de
energia elétrica. Rio de Janeiro: Publit Soluções Editoriais, 2012.

869
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

CASTRO, Vicente Bicudo de. Uma Análise Empírica do Impacto do BSC sobre o Desempenho
Organizacional. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – FACC/UFRJ,
2007.

CASTRO, Vicente Bicudo de et al. Uma análise empírica do impacto do Balanced Scorecard no
desempenho de organizações brasileiras. Revista de Informação Contábil, v. 6, n. 4, 2012.

CAVALCANTE, Glaydson Teixeira; MACEDO, Marcelo Álvaro da Silva. Análise do Desempenho


Organizacional de Agências Bancárias: aplicando DEA a indicadores do BSC. Contabilidade, Gestão e
Governança, v. 14, n. 3, 2011.

COHEN, Sandra; THIRAIOS, Dimitris; KANDILOROU, Myrto. Performance parameters interrelations


from a balanced scorecard perspective: An analysis of Greek companies. Managerial Auditing Journal,
v. 23, n. 5, p. 485-503, 2008.

870
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 41

IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DE CUSTOS NA GESTÃO


DE ORGANIZAÇÕES DO SETOR DE HOSPEDAGEM: ANÁLISE
DA PERCEPÇÃO DE GESTORES
DOI: 10.37423/200400618

Miguel Carlos Ramos Dumer (Mestre em Ciências Contábeis; Doutorando em


Administração pela UFES; Professor na UniSales - Centro Universitário Salesiano).

Roberto Rodrigues de Souza Júnior (Mestre em Administração; Tutor EaD e Professor


Conteudista na UVV – Universidade Vila Velha).

Wando Belffi da Costa (Mestre em Ciências Contábeis; Professor na Rede Doctum de


Ensino).

Julyana Goldner Nunes (Mestre em Ciências Contábeis; Professora na UniSales -


Centro Universitário Salesiano).

Filipe Bressanelli Azevedo (Mestre em Ciências Contábeis; Professor no Centro


Universitário Projeção).

Mark Miranda de Mendonça (Mestre em Ciências Contábeis; Professor na UniCeub).

Leonardo Quintas Rocha (Doutorando em Administração pela UFES).

871
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Resumo: O presente artigo objetivou demonstrar a percepção de importância da contabilidade de


custos na tomada de decisão, relatados por gestores de hotéis e pousadas localizados na cidade de
Guarapari-ES. Uma amostra de 41 gestores respondeu a um questionário com perguntas que
objetivaram avaliar a percepção de importância atribuída a informações e atributos da contabilidade
de custos na gestão do empreendimento que atuam. Os resultados evidenciam que o nível de
relevância dos atributos e informações de custos indica que entre os 07 itens analisados todos
receberam uma elevada atribuição de importância para gestão de hotéis, em conformidade com a
literatura.

Palavras-chave: Setor de Hospedagem; Contabilidade de Custos; Custos em Empresas de


Hospedagem.

872
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1. INTRODUÇÃO

Diversos estudos tem sinalizado a importância do turismo para a sociedade brasileira (NOGUEIRA,
1987; GOUVÊA; YAMAUCHI, 1999; IBGE, 2012), em especial as contribuições sociais, culturais (SILVA;
SONAGLIO, 2011; BRASILEIRO, 2012; POLETTI, SAMPAIO, 2013; SCÓTOLO; PANOSSO NETO, 2015) e
econômicas (CASIMIRO FILHO, 2002; LIMA et al., 2004; NODARI, 2007; ANDRADE et al., 2008; CNC,
2010; TAKASAGO et al., 2010; SILVA et al., 2013; SOUZA; LUNKES, 2015) em nível local, regional e até
em nível nacional (CASIMIRO FILHO, 2002; LIMA et al., 2004; VIEIRA; SOUZA, 2005; NODARI, 2007;
ANDRADE et al., 2008; CNC, 2010; TAKASAGO et al., 2010; SILVA et al., 2013; SILVA; SONAGLIO, 2011;
BRASILEIRO, 2012; POLETTI, SAMPAIO, 2013; SCÓTOLO; PANOSSO NETO, 2015; SOUZA; LUNKES, 2015;
ANDIRIN, et al., 2017). Portanto é possível perceber que nas últimas décadas ocorreram
desenvolvimentos consideráveis das discussões sobre as possibilidades epistemológicas, teóricas e
metodológicas dos estudos sobre o setor de turismo, o caracterizando como uma área de pesquisa
“multi-extra-disciplinar” (BISPO, 2016, p. 170).
Uma importante interseção entre áreas do conhecimento com o turismo é estabelecida com a
contabilidade, em especial a tópicos relacionados à gestão de custos (ZENALLA, 1993; PETROCCHI,
2002; LIMA et al., 2004; LUNKES, 2004; VIEIRA; SOUZA, 2005; NODARI, 2007; OLIVEIRA et al., 2008;
SILVA et al., 2013; SOUZA; LUNKES, 2015). A busca e utilização de técnicas de gestão de custos mais
eficientes podem ser consideradas uma alternativa inovadora para as organizações ofertantes de bens
e serviços no setor de turismo, em especial na hotelaria (LUNKES, 2004; JOÃO et al., 2011).
No Brasil a atividade turística tem desenvolvido substancialmente, em especial nas últimas duas
décadas (CASIMIRO FILHO, 2002; IBGE, 2012; BRASIL, 2017). Nesse contexto, o setor hoteleiro
especificamente ofertava no ano de 2016 aproximadamente 7.000 estabelecimentos e 820.000 leitos
cadastrados no Ministério do Turismo (BRASIL, 2017). Por outro lado, as organizações do setor de
turismo enfrentam um cenário permeado por desafios e tem como características uma intensa
sensibilidade a tensões relacionadas a aspectos como “[...] agitação política e social, crises econômicas
ou má gestão, apenas para citar alguns” (ANDIRIN, et al., 2017)., p. 428). Em vista disto, pesquisadores
do campo organizacional objetivam aprimorar os conhecimentos sobre como as empresas tem
respondido aos desafios (MINTZBERG et al., 2004; ANDIRIN et al., 2017), incluindo problemas
relacionados a falta de informação e falhas na comunicação (MAIR et al., 2014; ANDIRIN et al., 2017).
e evidenciado a gestão de custos como uma alternativa eficaz de sobrevivência, diferenciação e
desenvolvimento (JOÃO et al., 2011).

873
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O desenvolvimento do turismo em Guarapari, ocorrido principalmente a partir das três últimas


décadas do século XX, refletiu diretamente em seu crescimento econômico e na sua expansão urbana,
colocando o setor como de grande relevância na geração de empregos, renda, captação de tributos
desse município (VARGAS et al, 2007). Por tamanha importância para o campo social e/ou econômica,
faz-se necessário que tais empreendimentos possuam rigoroso controle de seu patrimônio e
atividades, assim como o acompanhamento de informações gerenciais, como custos, margem de
contribuição, despesas, ponto de equilíbrio da organização, entre outras informações que devem
auxiliar nas tomadas de decisões. Para isso, essas informações precisam ser conhecidas e medidas.
Não se controla o que não se conhece.
As informações advindas da contabilidade de custos são consideradas altamente relevantes para
gestão de qualquer organização, seja ela de pequeno, médio ou grande porte, inclusive nas atividades
de hospedagem, típica das empresas hoteleiras (ZANELLA, 1993; LIMA et al., 2004; VIEIRA; SOUZA,
2005). Segundo Martins (2001, p. 27), “a palavra custos significa o preço original de aquisição de
qualquer bem ou serviço”. A contabilidade de custos possui um vasto conjunto de informações que
permite o conhecimento mais apurado dos gastos feitos, para poder no final de um período apurar o
real resultado das atividades da empresa, identificar as atividades mais vantajosas e propor mudanças
na ação com vista a reduzir gastos, entre outras coisas. Porém, Monteiro e Carrera (2006)
evidenciarem que gestores de hotéis quase não utilizavam informações da contabilidade de custos na
tomada de decisão, e boa parte ao menos conhecem seu significado.
Para Castelli (2001), muitos empreendimentos hoteleiros não alcança lucro por falta de controle de
elementos como gastos relacionados a manutenções da estrutura física, energia elétrica, água,
estoque e também por desconhecimento ou me utilização de ferramentas de controle como planilhas
de custos. Desta forma não sabem quando ou em quanto efetuar aumento de preços dos serviços e
produtos, não identificam gastos excessivos que poderiam ser diminuídos, não realizam pesquisas com
concorrentes, sendo estes fatores que direcionam estas organizações para situações de prejuízo.
Sendo assim, cabe compreender as peculiaridades inerentes a gestão dos empreendimentos do setor
de hospedagem, em especial, para esta pesquisa, a relevância atribuída a contabilidade de custos na
gestão desse segmento de empresas. Nesse sentido, o presente estudo buscou responder ao seguinte
problema de pesquisa: Qual a percepção de importância da contabilidade de custos na tomada de
decisão para gestores de hotéis e pousadas da cidade de Guarapari-ES?
Para tanto foi adotado o método de pesquisa survey, com a aplicação de um questionário, entre os
meses de setembro e outubro de 2015, para coleta de dados junto a 41 gestores de hotéis e pousadas

874
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

localizados no município e Guarapari-E.S. A amostra foi estabelecida por conveniência, ou seja,


quando o pesquisador possui liberdade para selecionar os elementos (COOPER; SCHINDLER, 2003;
BRYMAN, 2012). O questionário foi elaborado de forma a permitir identificar o nível da relevância das
informações e atributos da contabilidade de custos na gestão dos empreendimentos turísticos de
hospedagem onde os respondentes atuavam, utilizando o recurso da estatística descritiva para
apresentação dos resultados.
Desta maneira, serão trabalhadas neste estudo características como: abordagem de questões do
mundo real, com potencial para a obtenção de resultados inovadores ou inesperados que preencham
lacunas do conhecimento, levando em consideração aspectos de pesquisas anteriores, que, para Chow
e Harrison (2002), são consideradas qualidades relevantes de pesquisas sobre gestão e contabilidade.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. TURISMO EM GUARAPARI-ES

Conforme Lunkes (2004, p. 24), muito se fala das potencialidades turísticas do Brasil, com sua extensa
dimensão geográfica que abriga quase incontáveis opções de destinos, em especial pela diversidade
natural. Porém, o autor contrapõe que ainda não foi enraizada na sociedade “(...) uma cultura
estratégica de turismo, nem capacidade de visão de longo prazo. Devido às transformações ocorridas
no Brasil após 1994, o turismo brasileiro entrou em um novo tipo de pensamento voltado para os
negócios.” Nesse contexto, Garapari, cidade localizada no litoral do ES, despontou como um destino
turístico importante neste estado.
Em 1946 os hotéis e pousadas da cidade de Guarapari já lotavam de turistas do Brasil inteiro. Nessa
época, a cidade dava adeus para a pesca e agricultura que era forma preponderante de atividade
econômica, evoluiu muito mais rápida em relação aos outros municípios da região e o turismo ganhou
destaque como fonte de recursos para o município. A princípio, os turistas procuravam esse destino
para buscar curas através das áreas monazíticas. Já em 1947 começou a construção do Radium Hotel
que naquela época se tornou um encanto para os visitantes que quando voltavam sempre traziam
mais turistas. (ETCHEBÉHÈRE JUNIOR; JUNGER, 2009).
Entretanto, o momento de maior aumento do turismo em Guarapari, ocorreu especialmente a partir
das três últimas décadas do século 20, e refletiu inteiramente em seu desenvolvimento econômico e
na sua expansão urbana. Em períodos de alta temporada a cidade já chegou a receber mais de quatro
vezes o número de turistas em ralação a quantidade de habitantes (VARGAS et al., 2007).

875
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.2. O SETOR DE HOSPEDAGEM

A princípio é importante frisar que os meios de hospedagem não são compostos apenas por hotéis,
também existem outros importantes meios de hospedagem como as pousadas, albergues, entre
outros. Porém, a presente pesquisa por vezes utiliza o termo “setor hoteleiro”, ou termo similar, sem
esquecer a existências e relevância dos outros meios de hospedagem.
Com o crescimento do turismo, o setor de hospedagem vem passando por várias mudanças e também
evoluindo com a chegada de algumas redes hoteleiras internacionais, seja por meio de investimento
próprio ou franquias. Com isso, o mercado de hospedagem torna-se mais competitivo,
consequentemente, os meios de hospedagem devem procurar formas viáveis para reduzir seus gastos
e aumentar seu faturamento (OLIVEIRA et al., 2008). “Como o turismo vem crescendo cada vez mais,
os empreendedores estão investindo forte nessa área de hotelaria, antigamente não havia tantos”
(CASTELLI, 2001, p. 13).
Os serviços de hotelaria oferecem, na maioria das vezes, além da hospedagem, opções como
alimentação, piscinas, bares, restaurantes, salas de jogos, salão para eventos, traslados e playground
para seus hóspedes. O motivo dessa diversificação é que atualmente a concorrência tem se tornado
mais acirrada nesse setor. Com esse portfólio de serviços, o ramo de hotelaria colabora
expressivamente com a economia por meio de salários pagos a funcionários e impostos arrecadados
(COLTMAN 1989).
De acordo com Lunkes (2004) o setor de hospedagem se enquadra nesse mundo de mercado
competitivo e globalizado, portanto precisa inovar buscando formas de se destacar para vencer no
mercado. Para Castelli (2001, p. 21), os meios de hospedagem oferecem uma variedade de bens e
serviços com uma infinidade de insumos, consequentemente os gestores passam a ter dificuldades
para controlar com precisão a conciliação dos custos, produtos e onde eles são produzidos. O autor
acrescenta a esta problemática de que normalmente “os hotéis oferecem um mix de bens e serviços
com uma infinidade de insumos. Com isso cria dificuldades para o gestor conhecer com maior exatidão
a composição dos custos dos produtos, e onde eles são produzidos”. Porém, conforme Cândido (2001),
a principal atividade destes empreendimentos é a hospedagem, considerado o atrativo fundamental
para o sucesso da empresa por, na maioria dos casos, praticamente alavancar quase todos outros bens
e serviços ofertados.

876
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.3. A CONTABILIDADE DE CUSTOS E O SETOR DE HOSPEDAGEM

A contabilidade de custos é a ferramenta que se dedica ao estudo mais apurado dos gastos feitos, para
poder se obter um bem de venda ou de consumo, quer seja um produto, uma mercadoria ou um
serviço. Hotéis e pousadas oferecem uma variedade de bens e serviços com uma infinidade de
insumos, consequentemente os gestores passam a ter dificuldades para controlar com precisão a
conciliação dos custos, produtos e onde eles são produzidos. O autor acrescenta a esta problemática
de que tais organizações normalmente “[...] oferecem um mix de bens e serviços com uma infinidade
de insumos. Com isso cria dificuldades para o gestor conhecer com maior exatidão a composição dos
custos dos produtos, e onde eles são produzidos” (CASTELLI, 2001; p. 21).
A contabilidade de custos possui grande relevância na gestão dos negócios de hospedagem, uma vez
que orienta as decisões empresariais, podendo ser a responsável pelo fracasso ou sucesso das
empresas, porém, em muitos casos estas informações ainda não são apuradas corretamente
(ZANELLA, 1993; VIEIRA; SOUZA, 2005; OLIVEIRA et al., 2008). Porém, Monteiro e Carrera (2006)
evidenciarem que gestores de hotéis quase não utilizavam informações da contabilidade de custos na
tomada de decisão, e boa parte ao menos conhecem seu significado.
Em muitas situações um empreendimento hoteleiro não alcança lucro por falta de controle de
elementos como gastos relacionados a manutenções da estrutura física, energia elétrica, água,
estoque e também por desconhecimento ou me utilização de ferramentas de controle como planilhas
de custos. Desta forma não sabem quando ou em quanto efetuar aumento de preços dos serviços e
produtos, não identificam gastos excessivos que poderiam ser diminuídos, não realizam pesquisas com
concorrentes, sendo estes fatores que direcionam estas organizações para situações de prejuízo
(CASTELLI, 2001). Para que isso não ocorra, conforme Cândido (2001) e Vieira e Souza (2005) é
fundamental que o gestor use elementos da contabilidade de custos assim como outros setores da
atividade econômica usam frequentemente.

2.4. ELEMENTOS E INFORMAÇÕES DA CONTABILIDADE DE CUSTOS

A contabilidade de custos dispõe de elementos e informações que permitem direcionar a gestão de


organizações hoteleiras para uma gestão economicamente sustentável (MONTEIRO; CARRERA, 2006),
são destacados abaixo alguns dos mais descritos na literatura utilizada.
Para Zanella (1993) e Petrocchi (2002, p. 92) os custos variáveis na hotelaria podem ser qualificados
em: Materiais de limpeza e consumo, telefonia, consumo de água, energia elétrica, gás de cozinha e
outros combustíveis, lavanderia e mão de obra diretamente envolvida com serviços prestados, ou seja,

877
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

todo gasto relacionado as atividades fim do empreendimento e que variam diretamente com a
quantidade de serviços prestados. Enquanto custos fixos, como aluguel de imóvel, não variam em
função do volume de serviços prestados.
Os custos também podem ser divididos como diretos ou indiretos. Diretos são os que podem ser
identificados com cada serviço prestado, por exemplo, os custos decorrentes da utilização de um
determinado quarto utilizado por um hóspede, enquanto o custo indireto não pode ser perfeitamente
identificado com um serviço ou bem específico, por exemplo, os salários dos funcionários da recepção,
que atendem a todos os hóspedes indiscriminadamente, sem que seja possível associar precisamente
parte desse gasto com cada serviço prestado aos hóspedes atendidos (PETROCCHI, 2002; LUNKES,
2004). È fundamental que se conheça os custos indiretos a fim de adotar técnicas de rateio adequadas
(MARTINS; 2001).
A partir destas informações é possível identificar a margem de contribuição de cada bem ou serviço
ofertado pela empresa, ou seja, conhecer o resultado financeiro de cada serviço prestado pela
subtração da receita unitária pelo custo variável unitário. Conhecendo a margem de contribuição
possibilita-se encontrar os pontos de equilíbrio que, para Santos (1990, p. 154), “permite averiguar o
nível de produção e/ou vendas que deve ser praticado para se obter determinado montante de lucro”.
O ponto de equilíbrio pode ser considerado a situação de lucro igual a zero, ou seja, a organização não
tem lucro, mas também não possui prejuízo. É uma importante informação que permite o gestor
identificar a quantidade de bens e serviços que a empresa precisa vender para ao menos cobrir o custo
e despesas, tanto fixas quanto variáveis (PETROCCHI, 2002). O Quadro 1 sintetiza algumas outras
definições de elementos fundamentais para compreensão e estudo dos custos, elencadas por Oliveira
et al.(2008):

878
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ELEMENTO DE
CONCEITUAÇÃO FONTE
CUSTOS
Sacrifício financeiro com que a entidade arca para
Martins
obtenção de um produto ou serviço qualquer sacrifício
Gastos (2001, p.
esse representado por entrega ou promessa de
25).
entrega de ativos (normalmente em dinheiro).
Martins
Gastos “ativados” em função de sua vida útil ou
Investimentos (2001, p.
benefícios atribuíveis a futuros.
25).
Martins
Gasto relativo à bem ou serviço utilizado na produção
Custos (2001, p.
de outros bens ou serviços.
25).
Martins
Gastos necessários, porém não relacionados com a
Despesas (2001, p.
atividade fim.
25).
São fatos ocorridos em situação excepcionais que estão
fora da normalidade das operações do hotel. São fatos Lunkes
Perdas que afetam o resultado, exemplo: deterioração de (2004, p.
alimentos do restaurante, a quebra anormal de 113).
equipamentos, etc.
É a utilização de recursos de forma não eficiente pelo Lunkes
Desperdícios hotel e podem ocorrer de diferentes formas, como (2004, p.
ociosidade de mão-de-obra, equipamentos, etc. 113).
Quadro 1. Elementos fundamentais da contabilidade de custos.
Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2008, p. 5).

Estes são alguns exemplos de informações e elementos básicos para a compreensão e análise
pertinente a contabilidade de custos, tais atributos podem ser considerados como fundamentais na
gestão de empresas do setor hoteleiro. Portanto, é esperado que gestores desse setor tivessem uma
alta percepção de relevância destes elementos para gestão de seus empreendimentos.

879
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

Quanto ao método de pesquisa adotado, pode ser classificada como survey, recomendado por Freitas
et al. (2000, p. 105-106) quando “o interesse é produzir descrições quantitativas de uma população”
e quando “o ambiente natural é a melhor situação para estudar o fenômeno de interesse”.
A pesquisa foi desenvolvida em duas partes, a primeira composta por revisão de literatura pertinente
para fundamentação teórica. A segunda por uma pesquisa de campo junto a gestores de meios de
hospedagem localizados no município de Guarapari, utilizando um questionário que foi aplicado
quando os gestores declaravam interesse e disponibilidade, ou seja, todos os gestores dos hotéis ou
pousadas foram contatados (seja pessoalmente ou por telefone) entre setembro e outubro de 2015.
Das 71 opções de hospedagem do município, entre hotéis e pousadas formalmente cadastradas,
conforme informações adquiridas junto a Secretaria de Turismo de Guarapari (SECTUR, 2011), 41
foram alcançadas e em todos os casos os gestores gerais reponderam o questionário, compondo uma
amostra de 57,7% dos meios de hospedagem (hotéis e pousadas). Essa amostra foi estabelecida por
conveniência, ou seja, quando o pesquisador possui liberdade para selecionar os elementos que farão
parte da amostra (COOPER; SCHINDLER, 2003; BRYMAN, 2012).
O questionário era composto por questões que identificavam o perfil dos gestores, dos meios de
hospedagem e por questões que intencionavam identificar o nível relevância atribuída as informações
da contabilidade de custos para gestão dos empreendimentos do setor hoteleiro da cidade de
Guarapari-ES.

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1. PERFIL DOS GESTORES

Quanto às características dos gestores, os resultados demonstram que a amostra era composta por
13 mulheres e 28 homens. A média de idade foi de aproximadamente 48 anos. Quanto a escolaridade,
apenas 01 entrevistado possui até o ensino primário e 02 até o ensino fundamental. A maioria,
composta por 23 gestores, possui até o ensino médio completo.
Os entrevistados com no mínimo ensino superior é composta por 10 que possuem até graduação e 05
terminaram alguma pós-graduação. Dos que possuem graduação ou pós-graduação, 05 são graduados
em Administração de Empresas, 01 Turismo, 01 é pós-graduado em Gestão de Estratégica de Negócios
e 01 pós-graduado em Gestão Hoteleira, somando 08 entrevistados com formação em turismo ou área
de gestão de empresas, o que possivelmente implica que tiveram estudos de disciplinas da

880
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

contabilidade e de custos. Isso permite supor que apenas 19,5% da amostra (08 de 41) teve formação
com ensino de disciplina de custo ou contabilidade.

4.2. PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS

No que tange a capacidade e estrutura dos meios de hospedagem participantes da pesquisa, em média
possuem, aproximadamente 45,4 quartos; 50,3 leitos de solteiro e 28,4 leitos de casal. Também
possuem média próxima de 11,2 funcionários fixos (contratados) e 4,0 funcionários temporários
(prestadores de serviços não contratados). Quanto ao tempo de atuação, possuem em média
aproximadamente 18,3 anos de atividade. Portanto, percebe-se que os hotéis que compõem a
amostra possuem estrutura de porte razoável e bastante experiência no setor de atividade.

4.3. NÍVEL DE IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA A CONTABILIDADE DE CUSTOS

Nesta parte, é evidenciado se que gestores de hotéis e pousadas de Guarapari-ES consideram


importante à contabilidade de custos como ferramenta para a tomada de decisão. Foram elaboradas
07 questões relacionadas à relevância de informações e artefatos da gestão de custos para gestão das
organizações estudadas.
Cada um dos gestores respondentes teve a opção de determinar se tal componente é irrelevante, útil,
importante ou crucial para gestão do empreendimento do qual é responsável, a definição desses
parâmetros seguiu o critério quantitativo utilizado por Kowalski et al. (2010), Dumer et al. (2013) e
Dumer (2018).
Para definir o nível de importância de cada questão foi utilizado o cálculo de porcentagem atribuída a
cada resposta, multiplica-se a quantidade de respostas de cada um dos quatro conceitos por 100 e
depois divide-se por 41 (número de participantes da pesquisa).

881
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 – Nível de importância das informações e atributos de custos para gestão do


empreendimento
Irrelevante Útil Importante Crucial Total
Descrição da Questão
(Percentual) (Percentual) (Percentual) (Percentual) (Percentual)
1 – Importância de
conhecer as
2 1 8 30 41
informações da
(4,9%) (2,4%) (19,5%) (73,2%) (100%)
contabilidade de
custos.
2 – Importância de
1 1 6 33 41
saber a diferença entre
(2,4%) (2,4%) (14,6%) (80,6%) (100%)
custos e despesas
3 – Importância de
saber exatos custos, 1 0 4 36 41
despesas e receitas (2,4%) (0,0%) (9,8%) (87,8%) (100%)
mensais
4 – Importância de
1 0 6 34 41
conhecer Ponto de
(2,4%) (0,0%) (14,6%) (83,0%) (100%)
Equilíbrio mensal.
5 – Importância saber a
1 1 4 35 41
diferença Custo Fixo e
(2,4%) (2,4%) (9,8%) (85,4%) (100%)
Custo Variável.
6 – Importância de
1 1 9 30 41
saber o custo por
(2,4%) (2,4%) (22,0%) (73,2%) (100%)
quarto com hóspede.
7 – Importância de
1 1 8 31 41
saber o custo por
(2,4%) (2,4%) (19,5%) (75,7%) (100%)
quarto sem hóspede.
Total Geral 8 5 45 229 287
(Percentual) (2,8%) (1,7%) (15,7%) (79,8%) (100%)
Fonte: elaborada pelos autores.

882
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Na Tabela 1 é apresentada a quantidade de respostas de cada conceito, avaliada em sua respectiva


questão, bem como o nível de importância atribuído conforme escala utilizada. É possível perceber
que os gestores entrevistados atribuem significativa importância aos artefatos da contabilidade de
custos abordados, a maioria considera como “crucial” ou “importante” à relevância destes artefatos
para gestão de suas atividades hoteleiras.
O nível de relevância dos atributos e informações de custos indica que entre os 07 itens analisados
todos receberam uma elevada atribuição de importância para gestão de hotéis, em conformidade com
a literatura (PETROCCHI, 2002; LIMA et al., 2004; LUNKES, 2004; VIEIRA; SOUZA, 2005; MONTEIRO;
CARRERA, 2006; SOUZA; LUNKES, 2015). Curiosamente o item 01, “Importância conhecer as
informações da contabilidade de custos”, que questiona a relevância de qualquer informação contábil
recebeu a menor avaliação. O que pode ser um indício de que os gestores conheçam menos a
contabilidade de custos como um ramo específico de conhecimento para gestão do que conhecem as
informações desta área da contabilidade. Porém, a maioria considera cruciais ou importantes todos
os aspectos abordados relacionados à contabilidade de custos e suas informações para a gestão de
suas atividades.
Outra questão que recebeu a menor avaliação foi o item 6 “Importância de saber o custo por quarto
com hóspede”, com proximidade do resultado abordada no item 7 “Importância de saber o custo por
quarto sem hóspede”. Esse resultado pode ser o indicativo de que existe uma preocupação menor
com os custos unitários por quarto, e consequente margem de contribuição unitária, do que com os
gastos totais do empreendimento. Em última análise isso pode levar a uma baixa separação entre
custos e despesas, visto que a hospedagem é a atividade fim do tipo de empreendimento enquadrado
nessa pesquisa.
Estes resultados evidenciam situação alinhada com as expectativas de literatura que considera
importante que os gestores do setor de hospedagem devem trabalhar com objetivo de gestão
adequada dos custos (ZENALLA, 1993; PETROCCHI, 2002; LIMA et al., 2004; LUNKES, 2004; VIEIRA;
SOUZA, 2005; NODARI, 2007; OLIVEIRA et al., 2008; SILVA et al., 2013; SOUZA; LUNKES, 2015). Isso
talvez possa ser explicada pela alta escolaridade da maioria dos gestores quando comparados a média
nacional, incluindo alguns com formação que possivelmente inclui conhecimento de custos.

883
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho objetivou evidenciar, junto a 41gestores de hotéis e pousadas da cidade de


Guarapari-ES, a importância atribuída para informações e atributos de custos de hotéis e pousadas.
Através da revisão da literatura sobre o tema foi possível perceber que a contabilidade de custos é
indicada como um importante instrumento de controle para a gestão das atividades hoteleiras.
Os resultados evidenciam que uma alta percepção de importância atribuída às informações da
contabilidade de custos. Estes resultados divergem dos encontrados por Monteiro e Carrera (2006),
que evidenciarem um baixo conhecimento de informações da contabilidade de custos na tomada de
decisão por gestores desse tipo de empreendimento. Cabe ressaltar que o estudo destes autores foi
realizado em um período anterior e outra região. Porém, os resultados do presente estudo estão
alinhados com as expectativas de literatura que considera importante que os gestores do setor de
hospedagem devem trabalhar com objetivo de gestão adequada dos custos (ZENALLA, 1993;
PETROCCHI, 2002; LIMA et al., 2004; LUNKES, 2004; VIEIRA; SOUZA, 2005; NODARI, 2007; OLIVEIRA et
al., 2008; SILVA et al., 2013; SOUZA; LUNKES, 2015).
Diante disto, a fim de proporcionar uma evolução da literatura sobre os temas aqui abordados,
sugerem-se como novas pesquisas a tentativa de compreender se ocorreu uma alteração/evolução
substancial no perfil dos gestores que possam ter gerado tal discrepância, ou pesquisas comparativas
entre regiões para identificar homogeneidade ou heterogeneidade das percepções aqui abordadas.

6. REFERÊNCIAS

ANDIRIN, C.; MOITAL. M.; CARDOSO, C. P. O. Falhas no serviço como crises organizacionais no turismo
de negócios: origens e estratégias operacionais percebidas pelos profissionais de eventos. Revista
Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 11, n. 3, p. 480-502, set./dez. 2017.
ANDRADE, P. J., DIVINO, A. J., MOLLO, M. L. R. , TAKASAGO, M. Economia do turismo no Brasil. Brasília:
Senac, 2008.
BISPO, M. S. Tourism as practice. Annals of Tourism Research, n. 61, p. 170–179, 2016.
BRASIL. Ministério do Turismo. Anuário estatístico de turismo – 2017. Brasília: Ministério do Turismo,
2017.
BRASILEIRO, M. D. S. Desenvolvimento e turismo: para além do paradigma econômico. In: BRASILEIRO,
M. D. S.; MEDINA, J. C. C.; CORIOLANO, L. N. (Orgs). Turismo, cultura e desenvolvimento. Campina
Grande: EDUEPB, 2012. pp. 75-98.
BRYMAN, A. Social research methods. 4. ed. New York: Oxford, 2012.
CÂNDIDO, I. Controles em hotelaria. 4. ed. Caxias do Sul: EDUS, 2001.
CASIMIRO FILHO, F. Contribuições do turismo à economia brasileira. 2002. 220 f. Tese (Doutorado em
Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2002.

884
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

CASTELLI, G. Excelência em hotelaria: uma abordagem prática. Rio de Janeiro: Qualitymark. 2001.
CHOW, C. W.; HARRISON, P. D. Identifying meaningful and significant topics for research and
publication: a sharing of experiences and insights by “influential” accounting authors. Journal of
Accounting Education, n. 20, p. 183-203, 2002.
CNC (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO). O turismo e a
economia no Brasil. Rio de Janeiro: CNC, 2010.
COLTMAN, M. M. Introduction to travel tourism: an international approach. New York: Van Nostrand
Reinhold, 1989.
COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Métodos de pesquisa em administração. 7. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2003.
DUMER, M. C. R. Importância e utilização da contabilidade de custos nas micro e pequenas empresas:
uma análise comparativa com outras ferramentas. GϵCont - Revista de Gestão e Contabilidade da
UFPI, v. 5, n. 2, p. 147-165, jul./dez. 2018.
DUMER, M. C. R.; VIEIRA, A.; SCHWANTZ, K. C.; MARTINEZ, A. L. A contabilidade de custos na visão dos
produtores de café de Afonso Claudio-ES: análise da percepção de importância-desempenho pela
matriz de Slack. Custos e Agronegócio Online, v. 9, n. 4, p. 40-59, out./dez. 2013.
ETCHEBÉHÈRE JUNIOR, L.; JUNGER, A. O lado turístico de Guarapari: tradições e culturas. Pesquisa em
Debate, Edição Especial, p. 1-16, 2009. Disponível
em: <http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_especial1/artigo_16.pdf>. Acesso
em: 15 mar. 2015.
FREITAS, H.; OLIVEIRA, M.; SACCOL A. Z.; MASCAROLA, J. O método de pesquisa survey. Revista de
Administração, v. 35, n. 3, p. 105-112, jul./set. 2000.
GOUVÊA, M. A.; YAMAUCHI, E. C. I. Marketing de serviços: uma visão do turismo no Brasil. Cadernos
de Pesquisa em Administração, v. 1, n. 9, o. 15-32, abr./jun. 1999.
IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA). Economia do turismo: uma perspectiva
macroeconômica 2003-2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
JOÃO, B. N.; CLARO, J. A. C. S.; DIAS, A. H.; SARMENTO, M. B. C. P. Inovação de valor: o caso Citizenm
hotels. Turismo - Visão e Ação, v.13, n.3, p. 299-310, set./dez. 2011. Disponível em: <
http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/2627/2069> Acesso em: 05 fev. 2016.
KOWALSKI, F. D.; FERNANDES, F. C.; FARIA, A. C. Análises dos controles internos relacionados às
atividades ambientais das cooperativas catarinenses de energia elétrica por meio da matriz de
importância-desempenho de Slack. Contabilidade Vista & Revista, v. 21, n. 2, p. 153-177, abr./jun.
2010.
LIMA, G.; EGITO, M.; SILVA, J. Utilização de informações de custos no processo gerencial: estudo
comparativo entre a hotelaria do Estado do Rio Grande do Norte e a Região Nordeste sob a ótica da
gestão econômico-financeiro. Revista de Contabilidade & Finanças, Edição Especial, p. 106-116, jun.
2004.
LUNKES, R. Manual de contabilidade hoteleira. São Paulo, Atlas: 2004.
MAIR, J.; RITCHIE, B. W.; WALTERS, G. Towards a research agenda for post-disaster and post-crisis
recovery strategies for tourist destinations: a narrative review. Current Issues in Tourism, v. 19, n. 1,
p. 1-26, 2014.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 8. ed. São Paulo, Atlas 2001.

885
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

MINTZBERG, H; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento
estratégico. 2. ed. Porto Alegre. Bookman, 2004.
MONTEIRO, A. O.; CARRERA, L. C. S. A gestão estratégica de organizações hoteleiras em Salvador.
Gestão e Planejamento, v.7, n.13, p.60-69, jan./jun. 2006. Disponível em:
<http://www.revistas.unifacs.br/index.php/rgb/article/viewFile/205/214>. Acesso em: 20 jan. 2016.
NODARI, M. Z. R. As contribuições do turismo para a economia de Foz do Iguaçu. 2007. 97 f.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Econômico) – Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Econômico, Universidade Federal do Paraná, 2007.
NOGUEIRA, G. M. O papel do turismo no desenvolvimento econômico e social do Brasil. Revista de
Administração Pública, v. 21, n. 2, p. 37-54, abr./jun. 1987.
OLIVEIRA, E. C; SILVA, C. M. B.; CAMPELO, K. S.; SILVA, A. C. B. Utilização da gestão de custos para
tomada de decisão: um estudo em hotéis de Porto de Galinhas no município de Ipojuca/PE. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTABILIDADE. 18., 2008, Gramado. Anais eletrônicos... CFC, 2008.
Disponível em: <http://www.congressocfc.org.br/hotsite/anais/artigos/531.pdf> Acesso em: 15 jan.
2016.
PETROCCHI, M. Hotelaria: planejamento e gestão. São Paulo: Futura, 2002.
POLETTI, A.; SAMPAIO, C. A. C. Sistematização dos impactos da atividade turística: etapa preliminar.
Caderno de Estudo e Pesquisa em Turismo, v. 2, p. 155-163, jan./dez. 2013.
SANTOS, J. J. Análise de custos: um enfoque gerencial com ênfase para custeamento marginal. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 1990.
SCÓTOLO, D.; PANOSSO NETTO, A. Contribuições do turismo para o desenvolvimento local. Revista de
Cultura e Turismo, v. 9, n. 1, p. 36-59, fev. 2015.
SILVA, L. F.; SONAGLIO, K. E. O Turismo no desenvolvimento econômico de Currais Novos (Rio Grande
do Norte, Brasil). Turismo & Sociedade, v. 4, n. 2, p. 223-248, out. 2011.
SILVA, D. M. C.; XAVIER, M. G. P.; LINS, S. L. B. O Turismo e sua influência no comércio, comunidade e
desenvolvimento local do sítio histórico de Olinda-PE. Revista Econômica do Nordeste, v. 44, n. 1, p.
59-72, jan./mar. 2013.
SOUZA, P.; LUNKES, R. J. Budgeting practices: a study on brazilian hotel companies. Revista Brasileira
de Pesquisa em Turismo, v. 9, n. 3, p. 380-399, set./dez. 2015.
TAKASAGO, M.; GUILHOTO, J. J. M.; MOLLO, M. L. R.; ANDRADE J. P. O potencial criador de emprego e
renda do turismo no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 40, n. 3, dez. 2010.
VARGAS, P.; ABE, A.; ALVAREZ, C.; WOELFFEL, A.; ZAMBORLINI, K. Guarapari: turismo e
desenvolvimento sustentável. In: ENCONTRO NACIONAL E II ENCONTRO LATINO – AMERICANO SOBRE
EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS. 11,, 2007, Campo Grande. Anais eletrônicos... ANTAC:
2007. Disponível em: <http://lpp.ufes.br/sites/lpp.ufes.br/files/field/anexo/artigo3458962.pdf>
Acesso em: 03 dez. 2015.
VIEIRA, W. Q.; SOUZA, M. J. B. Gestão de custos nos hotéis de lazer da região sul do Brasil. Turismo -
Visão e Ação, vol.7, n.3, p. 427-438, set./dez., 2005. Disponível em:
<http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/507/438> Acesso em: 02 jan. 2016.
ZANELLA, L. C. Administração de custos em hotelaria. Caxias do Sul: EDUCS, 1993.

886
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 42

ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS PÚBLICOS


MUNICIPAIS: UMA PROPOSTA DE RELATÓRIO SIMPLIFICADO
E COMPREENSÍVEL PELOS CIDADÃOS
DOI: 10.37423/200400625

Célia Rita de Queiroz (Unimontes) - celiarq@hotmail.com

Marlúcia Araújo Tolentino (Unimontes) - marluciatol@gmail.com

Maria Aparecida Soares Lopes (UNIMONTES) - sorrelopes@yahoo.com.br

Mônica Nascimento e Feitosa (Unimontes) - monfeitosa@yahoo.com.br

Wagner de Paulo Santiago (Unimontes) - wapasan@gmail.com

Resumo: As informações contábeis públicas dos entes da federação são apresentadas em


vários relatórios com características diferenciadas, e com o objetivo maior de transparência
da gestão pública, porém, o alto grau de detalhamento dos relatórios faz com que ocorra
efeito contrário: são tantas as informações contidas nas demonstrações públicas, que o
principal interessado, o cidadão, não consegue compreender o que foi planejado e o que foi
executado pelos gestores públicos. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi propor um
relatório simplificado, que evidencie as origens e as aplicações dos recursos públicos de forma
que os cidadãos consigam compreender as informações referentes à execução orçamentária
de um município. Este estudo teve por base as pesquisas feitas por Gallon et al (2010), que
trata dos principais pontos que comprometem a compreensibilidade dos demonstrativos
contábeis, e por Miranda et al (2008), que avalia a compreensibilidade que os cidadãos têm
das informações contidas no Balanço Orçamentário, bem como se fundamentou nas
Disfunções da Teoria da Burocracia.

887
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Foi feita uma pesquisa documental em demonstrativos contábeis do município de Montes Claros
(MG), relativos ao ano de 2007 e foram realizadas, também, entrevistas com cidadãos de diversos
graus de instrução, para verificação da compreensibilidade do relatório simplificado proposto. O
principal resultado obtido nesta verificação foi que 93,33% dos entrevistados que compõem a amostra
conseguem compreender as informações relativas às origens e aplicações de recursos públicos
disponibilizadas pelo relatório proposto, pois conseguiram responder às questões formuladas,
identificando corretamente os valores solicitados.

Palavras-chave: Demonstrativos contábeis públicos; Compreensibilidade; Transparência.

Área temática: Custos aplicados ao setor público.

888
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, a Contabilidade Pública foi regulamentada com a promulgação da Lei nº. 4.320, de 17 de
março de 1964, e a partir dela, tornou-se obrigatória a padronização dos procedimentos contábeis,
visando controlar as informações das despesas correntes e de capital da União, dos Estados e
Municípios, por meio de instrumentos de planejamento, especificados em leis, como o Plano
Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a lei de valores das receitas previstas e das
despesas fixadas em verbas, denominada Lei Orçamentária Anual (LOA). Colocar o que foi planejado
na ordem do dia denomina-se execução orçamentária do exercício. (PEREIRA, 2003).

Como forma de prestar contas da execução orçamentária dos recursos públicos aos cidadãos, a Lei nº.
4.320/64 determinou a elaboração das demonstrações contábeis, segundo os Anexos 12, 13, 14, 15,
que nada mais são do que: a) apresentação dos valores das receitas e das despesas previstas em
confronto com as realizadas no Balanço Orçamentário; b) a demonstração dos valores das receitas e
das despesas orçamentárias realizadas, assim como o pagamento e o recebimento de natureza extra-
orçamentária no Balanço Financeiro; c) a demonstração dos saldos das contas que constituem o Ativo
e o Passivo no Balanço Patrimonial; d) a Demonstração das Variações Patrimoniais para identificação
das alterações do patrimônio, resultantes ou independentes da execução orçamentária, indicando o
resultado patrimonial do exercício. Determinou, ainda, a apresentação de outros quadros
demonstrativos constantes em mais nove anexos.

Além dos demonstrativos obrigatórios da Lei nº. 4.320/64, a partir da Lei Complementar nº. 101, de
04 de maio de 2000, também chamada de Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), os gestores públicos
passaram a ter que apresentar mais dois relatórios que são o Relatório de Gestão Fiscal (RGF) e o
Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), com o objetivo de aumentar a transparência
na execução orçamentária e prestação de contas para a sociedade. Ou seja, cada ação praticada pelo
administrador público tem a obrigatoriedade de ser descrita e registrada com todos os detalhes para
não dar margem às interpretações dúbias.

A descrição detalhada dos gastos públicos nos demonstrativos contábeis exigidos pela Lei nº. 4.320/64
e pela LRF visa atingir o objetivo da transparência e da clareza, mas nem sempre estes relatórios
atendem aos objetivos, não sendo compreendidos pelos usuários da informação, os cidadãos,
principais mantenedores da máquina pública e, por conseguinte, a parte mais interessada no
recebimento dos serviços públicos.

889
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Para atender ao princípio orçamentário da clareza, a prestação de contas da execução do orçamento


público deve ser compreensível para qualquer individuo. Porém, segundo Silva (2004), se o orçamento
vem acompanhado de complicados quadros, que só técnicos especializados entendem, é possível que
os interessados não compreendam seu conteúdo e alcance, e consequentemente, não consigam
descobrir aspectos fundamentais para a vida comum do cidadão.

As informações fornecidas pelos entes públicos, ao prestar contas dos gastos públicos À sociedade,
são apresentadas em vários relatórios, cada um diferente do outro. O alto grau de detalhamento dos
gastos realizados informados nesses relatórios faz com que ocorra efeito contrário, pois são tantas
informações, que o principal interessado, o cidadão, não consegue compreender se o que foi
planejado no início do exercício foi executado pelos gestores públicos, caracterizando assim uma
disfunção da Teoria da Burocracia.

Segundo Chiavenato (2002), Weber conceitua burocracia como uma forma de organização humana,
que se baseia na adequação dos meios aos objetivos pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência
possível no alcance desses objetivos. As conseqüências imprevistas da burocracia, que levam a
ineficiência e a imperfeição são denominadas por Merton de disfunções da burocracia.

Para atender as exigências das já citadas Leis 4.320/64 e LRF, as informações contábeis da execução
orçamentária pública tiveram que ser publicadas em vários relatórios. Ou seja, para atender a
legislação fiscal e os meios para que as informações contábeis fossem mais claras e transparentes, os
relatórios contábeis passaram a ser o objetivo final da Contabilidade Pública.

Considerando o exposto acima, o objetivo deste trabalho foi demonstrar, de maneira compreensível,
para os cidadãos a arrecadação e aplicação dos recursos públicos, mediante a elaboração de um
relatório simplificado da execução orçamentária na esfera municipal, tendo como referência os
demonstrativos contábeis de 2007, do município de Montes Claros (MG), situado na região norte-
mineira do sudeste brasileiro. Este relatório poderá ser um importante instrumento de informação
para a população, na prestação de contas do município.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

No setor público a Contabilidade deve fornecer informações com o objetivo de prestar contas ao poder
legislativo, ao Tribunal de Contas e à população; assim, a informação contida nos demonstrativos
contábeis é o elo entre o cidadão e as ações executadas pelos gestores públicos. (SILVA, 2004).

890
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Miranda et al (2008), ratifica este pressuposto quando declara que a Contabilidade Pública é um
importante elemento comunicador entre as entidades governamentais e o cidadão, pois é por meio
das informações fornecidas pela Contabilidade Pública que os cidadãos podem avaliar a qualidade das
decisões adotadas durante a gestão, e assim exercerem a cidadania plena.

Independente do objetivo das informações fornecidas pela Contabilidade, as mesmas devem atender
a quatro características qualitativas, segundo a Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 1:

a) Compreensibilidade: uma qualidade essencial das informações apresentadas


nas demonstrações contábeis é que estas sejam prontamente entendidas pelos
usuários.
b) Confiabilidade: para ser útil, a informação deve ser confiável, ou seja, deve
estar livre de erros ou vieses relevantes e representar adequadamente aquilo
que se propõe.
c) Relevância: para serem úteis, as informações devem ser relevantes às
necessidades dos usuários na tomada de decisões. As informações são
relevantes quando podem influenciar as decisões econômicas dos usuários,
ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros ou
confirmando ou corrigindo as suas avaliações anteriores.
d) Comparabilidade: os usuários devem poder comparar as demonstrações
contábeis de uma entidade ao longo do tempo, a fim de identificar tendências
na sua posição patrimonial e financeira e no seu desempenho. (CFC,
RESOLUÇÃO nº. 1.121/2008 – NBC T 1).

2.1 COMPREENSIBILIDADE DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS PÚBLICAS

A dificuldade de compreensão das informações apresentadas nos demonstrativos públicos para a


prestação de contas à população tem várias causas: segundo Dias et al (2004) citado por Gallon et al
(2010, p.5), entre as dificuldades encontradas para se compreender um demonstrativo público estão
“[...] a terminologia contábil; a quantidade de informação divulgada e a capacidade de entendimento,
visto que pouco conhecimento da matéria contábil por uma parcela de usuários provoca dificuldades
na compreensão da mensagem.”

Em um estudo para avaliar a percepção da informação contábil de usuários, Athayde (2002),


abordando a eficácia das informações contábeis divulgadas, observou que um número significativo de
pessoas que responderam a pesquisa, não conseguiu identificar os recursos aplicados em projetos e
programas.

Outro estudo de Barbosa (2007) realizado em um Centro Hospitalar em Vila Nova de Gaia, em Portugal
concluiu que a compreensibilidade quanto à informação fornecida pela Contabilidade só existe

891
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

quando o usuário é capaz de entender o seu significado e isso depende tanto da capacidade do
usuário, como da forma com que a informação lhe é apresentada.

Para que a sociedade entenda de que forma foram aplicados os recursos públicos e se a aplicação
corresponde aos projetos apresentados pela gestão pública, a prestação de contas à população deve
ser apresentada de forma compreensível para o cidadão, o que não acontece, como afirma Gallon et
al (2010) em seu artigo “A compreensibilidade dos cidadãos de um município gaúcho acerca dos
demonstrativos da Lei de Responsabilidade Fiscal publicado nos jornais.”:

[...] esses resultados evidenciam que a maioria dos respondentes não conseguia
entender as informações que os demonstrativos estudados objetivam
evidenciar, ou seja, a contabilidade pública não está atingindo a finalidade
enfatizada por Lima e Castro (2003) de reduzir a assimetria informacional entre
os governantes e os governados. (GALLON et al, 2010, p.09.).

A transparência “[...] pressupõe três elementos ou dimensões: a publicidade, a compreensibilidade e


a utilidade para decisões.” A publicidade das informações tem a divulgação das contas públicas
baseadas no sentido de fornecer informações úteis para os cidadãos, de acordo com o interesse típico
do usuário. Quanto à compreensibilidade das informações, a responsabilidade é da entidade que as
divulga. Já a utilidade para as decisões está fundamentada na relevância das informações. (PLATT
NETO et al, 2007, p.13).

Diante da obrigatoriedade de transparência das contas públicas a administração publica passou a


publicar vários demonstrativos, cada qual com um objetivo específico. Com a disponibilidade do
amontoado de informações sobre os atos e fatos praticados pelas entidades governamentais, na
maioria das vezes o que o cidadão comum quer saber, mas não consegue compreender diante de
tantos relatórios e informações à disposição. Além disso, no seu estudo sobre as demonstrações
contábeis públicas, Gallon et al (2010) relata que as informações que são importantes para a
população, aquelas que a população realmente quer saber, não estão evidenciadas nos
demonstrativos contábeis.

Miranda et al (2008) concluíram que, apesar da maioria dos cidadãos achar importante saber como o
governo gasta e conhecer o resultado orçamentário, a compreensão do balanço orçamentário era
difícil. As dificuldades de compreensão por parte dos cidadãos são dos relatórios gerados pela
Contabilidade Pública.

892
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A transparência, de meio a ser utilizado pelo poder público para prestar contas à sociedade de todas
as aplicações de recursos investidos, passou a ter finalidade da evidenciação das demonstrações
contábeis para atender a legislação, configurando-se, assim, como uma disfunção da Teoria da
Burocracia defendida por Max Weber.

2.4 DISFUNÇÕES DA TEORIA DA BUROCRACIA

Considerando o conceito popular, a burocracia é entendida erroneamente como o resultado de uma


empresa ou organização na qual a rotina é demorada e o papelório se multiplica e se avoluma,
impedindo soluções rápidas ou eficientes. O termo também é empregado com o sentido de apego dos
funcionários aos regulamentos e procedimentos, deixando o processo moroso, causando ineficiência
à organização. O leigo passou a dar nome de burocracia aos defeitos do sistema (disfunções) e não ao
sistema em si. O conceito de burocracia para Max Weber é exatamente o contrário, para este, a
burocracia é a organização eficiente por excelência. (CHIAVENATO, 2002, p.11).

A Teoria da Burocracia foi criada por Max Weber, sendo definida como uma forma de organização
humana que se baseia na racionalidade, ou seja, adequação dos meios aos objetivos pretendidos a fim
de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos.

E ainda, para Weber a burocracia é uma organização cuja conseqüência desejada se resume na
previsibilidade de seu funcionamento com o intuito de obter a maior eficiência da organização; e entre
as características da burocracia, segundo Weber, tem-se o caráter legal das normas e regulamentos.
(CHIAVENATO, 2002).

A Teoria da Burocracia, para Weber, ocorre quando uma organização está ligada a normas e
regulamentos, que determinam como a organização irá funcionar, essas normas e regulamentos são
legais, impondo aos subordinados disciplina para manter a organização. (CHIAVENATO, 2002).

A Teoria da Burocracia conseguiu vários defensores, assim como críticos. Segundo Chiavenato (2002),
Merton foi um dos críticos dessa teoria; a burocracia apresenta conseqüências imprevistas ou
indesejadas, que levam à ineficiência e às imperfeições. Essas conseqüências imprevistas foram
denominadas por Merton de “disfunções da burocracia”, dentre estas, a valorização excessiva dos
regulamentos, excesso de formalidade, entre outras.

[...] verifica-se, então, o que Merton chamou de disfunções da burocracia, isto


é, anomalias e imperfeições no funcionamento da burocracia. Cada disfunção é
o resultado de algum desvio ou exagero em cada uma das características do

893
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

modelo burocrático explicado por Weber. Cada disfunção é uma conseqüência


não prevista, pelo modelo weberiano. (CHIAVENATO, 2002, p.21).

A burocracia tem como função a regulamentação de normas para atingir o objetivo da organização,
estas normas passam a ser a prioridade e adquirem um valor tão importante, que de meios passam a
ser o objetivo da organização (CHIAVENATO, 2002).

Outro crítico da Teoria da Burocracia foi Charles Perrow, para quem, segundo Maximiano (2000), as
organizações são essencialmente sistemas sociais compostos por pessoas e as pessoas não existem
apenas para as organizações. Uma das disfunções da burocracia apresentadas por Charles Perrow é o
excesso de regras: para prever tudo e controlar tudo as organizações formais criam regras em excesso
e funcionários em excesso para fiscalizar o cumprimento dessas regras. (MAXIMIANO, 2000).

Burocracia, então, torna-se sinônimo de complicações para os usuários, o que remete à complexidade
das informações oriundas da Contabilidade Pública em seus relatórios e demonstrações.

2.5 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS SEGUNDO A LEI Nº. 4.320/64 E ALTERAÇÕES DAS NORMAS
BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE PÚBLICA

Para prestar contas à sociedade, a Contabilidade Pública faz uso das demonstrações contábeis e
relatórios estabelecidos na Lei nº. 4.320/64, que são muitos, conforme se observa no art. 101 da
mesma.

Art.101. Os resultados gerais do exercício serão demonstrados no Balanço


Orçamentário, no Balanço Financeiro, no Balanço Patrimonial, na Demonstração
das Variações Patrimoniais, segundo os anexos nº. 12,13,14, 15 e quadro de
demonstrativos constantes dos anexos nº. 1, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 16, 17. (BRASIL, Lei
nº. 4.320/64).
Segundo Silva (2004), a forma de evidenciar para a sociedade os fatos contábeis que ocorreram no
sistema orçamentário é por meio da publicação do Balanço Orçamentário, que demonstrará as
receitas previstas e as despesas fixadas em confronto com as realizadas, e o total será obtido com
diferença para mais ou para menos, que resultará um déficit ou em superávit na execução do
orçamento. (PISCITELLI et al, 2002).

Algumas alterações introduzidas pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) no modelo de Balanço
Orçamentário da Lei nº. 4.320/64 foram: as receitas além de evidenciadas por categoria econômica,
também devem ser evidenciadas segundo a origem e a espécie, devendo ser descritas a previsão
inicial, a previsão atualizada da receita e o respectivo saldo. Já as despesas passaram a ser evidenciadas

894
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

por categoria econômica, por grupo e natureza, tendo que ser discriminadas a dotação inicial, a
dotação atualizada para o exercício, bem como as despesas empenhadas, as despesas liquidadas, o
crédito e o saldo da dotação. Outra modificação adotada foi a discriminação das receitas e das
despesas intra-orçamentárias, que passaram a ser relacionadas em notas explicativas. (BRASIL/STN,
2009).

O Balanço Financeiro demonstrará a receita e a despesa orçamentárias, bem como os recebimentos


e os pagamentos de natureza extra-orçamentária, conjugados com os saldos em espécie, provenientes
do exercício anterior, e os que se transferem para o exercício seguinte. (CRUZ et al, 2001).

Entre as alterações introduzidas pela STN está a discriminação da receita orçamentária realizada por
destinação de recurso, destinação vinculada e/ou ordinária. As despesas orçamentárias serão
executadas por destinação de recurso, destinação vinculada e ou ordinária. Serão discriminados os
pagamentos e os recebimentos extra-orçamentários, os recebimentos e os pagamentos extra-
orçamentários, as transferências ativas e passivas decorrentes, ou não, da execução orçamentária; e
o saldo inicial e o saldo final em espécie. (BRASIL/STN, 2009).

O Balanço Patrimonial compreenderá as contas do ativo, do passivo e do patrimônio líquido. O ativo


é representado por contas de bens e direitos e, quando for o caso por contas do passivo descoberto
ou situação líquida negativa sendo dividido em ativo financeiro e ativo permanente. E o passivo é
representado por contas que representam as obrigações e é dividido em passivo financeiro e passivo
permanente. (SILVA, 2004).

Entre as alterações introduzidas pela STN, tem-se a divisão em dois grandes grupos: ativo e passivo,
os quais são divididos em ativo circulante e não circulante sendo que o patrimônio líquido compreende
o valor residual dos ativos depois de deduzidos todos os passivos. Outra modificação é outro anexo
em seqüência ao Balanço Patrimonial, onde serão demonstrados atos que poderão afetar o
patrimônio. (BRASIL/STN, 2009).

A Demonstração das Variações Patrimoniais é uma demonstração que pode ser denominada de
balanço de resultados, pois evidencia as alterações ocorridas no patrimônio durante o exercício,
resultante ou independente da execução orçamentária. (SILVA, 2004).

Segundo Piscitelli et al (2002), as variações patrimoniais dividem-se em Variações Ativas e Variações


Passivas, e o resultado patrimonial apurado na demonstração das Variações Patrimoniais será a
diferença entre as variações ativas e as variações passivas, quando as variações ativas ultrapassarem

895
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

as passivas, o resultado apresentará um superávit, em sentido inverso, o resultado obtido


representará um déficit.

De acordo com a STN, a Demonstração das Variações Patrimoniais são divididas em dois grupos: em
variações qualitativas e variações quantitativas sempre relacionando o ano atual com o ano anterior.
As primeiras decorrem da execução orçamentária e consistem em incorporação e desincorporação de
ativos, assim como incorporação e desincorporação de passivos. Enquanto que as segundas são
divididas em variações patrimoniais aumentativas e variações patrimoniais diminutivas. (BRASIL/STN,
2009).

O Sistema de Contabilidade Federal, por meio da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) regulamentou
o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público, que introduziu alterações nos demonstrativos
da Lei nº. 4.320/64 e determinou a adoção de novos demonstrativos, tendo em vista uma
padronização em relação às normas internacionais da Contabilidade Pública e, também, um melhor
entendimento dos procedimentos contábeis, utilizados nas três esferas de governo.

Para se alinhar às Normas Internacionais de Contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade, em


conjunto com a Secretaria de Orçamento Federal/STN, além de fazerem as alterações como as citadas
nos demonstrativos acima, acrescentaram mais três demonstrativos a serem evidenciados pelo setor
público. Os novos demonstrativos a serem publicados pelo setor público em convergência às normas
internacionais aplicadas ao setor público, são: a) Demonstração de Fluxo de Caixa; b) Demonstração
do Resultado Econômico e c) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido.

2.6 DEMONSTRATIVOS DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF)

A LRF estabelece normas para ações planejadas com responsabilidade e transparência na gestão fiscal,
assim como determina a participação da sociedade nos processos orçamentários, nas audiências
públicas para prestação de contas e na utilização de relatórios gerenciais, tornando obrigatória a
publicação de mais dois relatórios contábeis, que são o Relatório Resumido de Execução
Orçamentária (RREO), e o Relatório de Gestão Fiscal (RGF).

O RREO segundo o art. 52 da LRF abrangerá todos os poderes e o Ministério Público, será publicado
até 30 dias após o demonstrativo da execução das receitas e das despesas, sua apresentação contém
o Balanço Orçamentário e mais 16 (dezesseis) demonstrativos específicos contidos em anexos.

896
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O RGF é um relatório que deve ser publicado em todo quadrimestre e deve informar com clareza e
objetividade as contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, do Ministério
Público, e dos Poderes do Legislativo e do Judiciário de todas as esferas do governo.

Segundo a LRF, no art.55, a evidenciação do RGF será feita com apresentação dos oito demonstrativos,
que evidenciam: as despesas com pessoal, a divida consolidada, as garantias e contra garantias de
valores, as operações de crédito, a disponibilidade de caixa, os restos a pagar, as despesas com
serviços de terceiros e o demonstrativo dos limites estabelecidos na LRF.

3 METODOLOGIA

Para atingir o objetivo do estudo foram realizadas as pesquisas bibliográfica e documental. A pesquisa
documental foi realizada em documentos primários do Município de Montes Claros (MG), relativos às
demonstrações contábeis públicas e relatórios contábeis relativos ao ano de 2007, segundo a Lei nº.
4.320/64 e a LRF, nos quais foram coletadas as informações relativas à execução orçamentária.

Infelizmente, tivemos dificuldades para ter acesso aos demonstrativos contábeis, mesmo depois de
três anos, que, por lei deveria ser um direito de todo cidadão o acesso a este tipo de informação; mas,
considerando que o nosso interesse era a compreensibilidade e não o período, assim, utilizamos os
demonstrativos contábeis de 2007.

A partir das dificuldades de compreensão das demonstrações contábeis por parte dos cidadãos,
apontadas nos estudos anteriores de Gallon et al (2010) e Miranda et al (2008), realizou-se a análise
dos demonstrativos contábeis públicos obtidos no Departamento de Contabilidade do município
estudado e, então, foi elaborado o relatório com o objetivo de simplificar as informações contábeis
públicas direcionadas para o cidadão.

Esse relatório buscou evidenciar para a população a execução orçamentária do município, de uma
forma simplificada e compreensível para o cidadão, ou seja, demonstrar quanto e quais foram a
origens dos recursos públicos municipais tendo como referência os valores das receitas, evidenciados
pelo Balanço Orçamentário comparadas com o Balanço Financeiro, e no balancete Comparativo da
Receita Orçada com a Receita Arrecadada.

As informações relativas às aplicações dos recursos públicos foram apresentadas como destinações
dos recursos públicos, e foram divididas por órgãos da prefeitura tendo como referência os valores
das despesas evidenciados pelo Balanço Orçamentário comparadas com o Balanço Financeiro, e no

897
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

balancete Comparativo da Despesa Autorizada com a Despesa Realizada, para que assim os cidadãos
consigam compreender as principais informações da execução orçamentária de um município.

No relatório apresentado também foi evidenciado a movimentação dos valores disponíveis no caixa e
saldo para o exercício seguinte. O relatório proposto fez uso de uma linguagem simples, substituindo
os termos técnicos, por outros termos cujo significado seja o mesmo da Contabilidade Pública, mas
que fosse entendido pelo cidadão.

Para verificar a compreensibilidade do relatório simplificado por parte dos cidadãos foi realizada uma
entrevista com uma amostra não probabilística de 30 (trinta) cidadãos montesclarenses com variados
graus de instrução.

Espera-se com a elaboração deste relatório simplificado que os cidadãos possam entender como o
município obteve os recursos e onde este dinheiro público foi gasto.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Na análise das informações evidenciadas nas demonstrações contábeis públicas, constatou-se que
dentre os aspectos que prejudicam a compreensibilidade das informações está à linguagem utilizada
pela Contabilidade, com termos cujos significados no cotidiano do cidadão têm um determinado
sentido, sendo que para a Contabilidade tem um sentido diferente. Outro aspecto observado foi
quanto ao excesso de regulamentos das demonstrações contábeis, bem como o excessivo
detalhamento, que prejudica a clareza das demonstrações contábeis.

A linguagem na Contabilidade Pública é um dos aspectos que comprometem a compreensão dos


relatórios por parte dos cidadãos, pois é altamente técnica, associada a complexidade dos termos
empregados, tais como: “receita ou despesa corrente”, “receita ou despesa de capital”, “receita ou
despesa extra-orçamentária”, “inversões financeiras”, “amortização”, “créditos orçamentários
suplementares”, “dívida ativa” e muitos outros, leva às interpretações errôneas. Termos que na
Contabilidade são usados com um sentido específico, para os cidadãos no cotidiano podem ter um
significado diferente.

Um exemplo é o termo “intraorçamentária” utilizado na evidenciação do balanço orçamentário e do


balanço financeiro, sendo aplicado com objetivo de classificar as operações entre órgãos de uma
mesma esfera de governo, constitui-se em um termo bastante técnico, que o cidadão poderá não
compreender, uma vez que não detém o conhecimento necessário.

898
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Outro exemplo é termo “extra-orçamentário” que designa entradas e saídas de recursos públicos de
caráter temporário e que são independentes do orçamento planejado e executado. Para os cidadãos
o termo “extra-orçamentário”, possivelmente, pode ser interpretado como aquilo que não foi previsto
no orçamento, e pode ser resultante do chamado “jeitinho brasileiro” que são os pagamentos ou
recebimentos “por fora” para agilizar procedimentos.

A Lei nº. 4.320/64 objetivou padronizar as informações contábeis públicas com vários demonstrativos
obrigatórios; a LRF introduziu novos relatórios e anexos na Contabilidade Pública, com o objetivo de
aumentar o controle fiscal e também gerencial, sendo 16 (dezesseis) demonstrativos e anexos no
Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), e o Relatório de Gestão Fiscal (RGF) contempla
mais oito demonstrativos e anexos. O Conselho Federal de Contabilidade, também com o objetivo de
padronizar, introduziu em 2009, mais três demonstrativos, desta forma, a exigência de inúmeros
relatórios para atender a toda a legislação fiscal, levou a que estas ficassem extensas e excessivamente
detalhadas, prejudicando a clareza das informações nelas contidas.

O excesso de regulamentos - Lei 4.320/64, Lei de Responsabilidade Fiscal, Normas Brasileiras de


Contabilidade editadas pelo CFC – NBC T 16 (2009), Manual de Contabilidade Pública editado pela STN
(2009) -, é um dos aspectos que comprometem a compreensão das informações contábeis pelos
cidadãos, pois, configuram-se como um excesso de regulamentos com o objetivo de obter maior
controle das contas públicas, sendo que, em função desse excesso de regulamentos, os
demonstrativos contábeis, de meios para o controle, passaram a ser a finalidade da Contabilidade
Pública, confirmando assim uma disfunção da Teoria da Burocracia.

4.1 SUGESTÃO DE RELATÓRIO SIMPLIFICADO DAS INFORMAÇÕES PÚBLICAS

O Relatório Simplificado aqui proposto foi dividido em duas partes: na primeira parte são evidenciadas
as origens dos recursos públicos (receitas públicas) e na segunda são evidenciadas as destinações dos
recursos públicos (despesas públicas). As origens de recursos financeiros públicos foram organizadas
contendo a previsão dos recursos conforme o Balanço Orçamentário e Relatório Comparativo da
Receita Orçada, e o seu respectivo recebimento segundo o Comparativo da Receita Arrecadada, tendo
sido divididas em dois grupos A e B.

No grupo A estão discriminados os recursos provenientes de impostos e taxas, contribuições de


melhoria, contribuições para custeio de iluminação e arrecadações diversas (contribuições sociais,
receitas patrimoniais, receitas de serviços, outras receitas correntes, receitas de capital e receitas

899
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

correntes intra-orçamentárias). Os valores relacionados no grupo A, de uma forma ou de outra, têm


que ser desembolsados pelos cidadãos contribuintes.

No grupo B estão relacionadas as receitas oriundas de transferências, subdivididas em transferências


da União, do Estado, as transferências de ambos com destinação específica para a educação básica, e
transferências feitas por instituições privadas. Além das informações da previsão da receita e seu valor
arrecadado, foi calculado quanto que cada valor representa na receita total arrecadada, em termos
percentuais.

Na segunda parte, estão relacionadas as destinações de recursos públicos, com sua fixação e realização
conforme o Balanço Orçamentário e o Comparativo da Despesa Autorizada com a Despesa Realizada.
Nesta parte do relatório, as despesas são discriminadas por órgão municipal e sua devida identificação.
Além das informações sobre as despesas previstas com sua devida execução, foi calculado também,
quanto é o percentual que cada valor gasto por secretaria representa no gasto total.

Na sequência apresentamos na Tabela 1, a proposta de Relatório Simplificado das informações


públicas

Tabela 1 – Proposta de Relatório Simplificado das Informações Públicas

% do
01 - ORIGEM DOS RECURSOS PÚBLICOS MUNICIPAIS Valor Previsto Valor do
Total
(Receitas Municipais) no Orçamento Recebimento
Recebido
A - TOTAL DA ARRECADAÇÃO PRÓPRIA DO MUNICÍPIO 76.946.000,00 86.320.239,87 25,63
Imposto Predial e Territorial - IPTU 10.600.000,00 7.299.019,56 2,17
Imposto sobre Prestação de Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN 15.600.000,00 15.671.184,82 4,65
Imposto de Renda Retido na Fonte - IRRF 2.600.000,00 3.722.935,05 1,11
Imposto de Transmissão de Bens "Inter-Vivos" - ITBI 2.200.000,00 2.435.619,07 0,72
Taxas e contribuições de melhoria 3.420.000,00 3.699.926,58 1,10
Contribuição para custeio de iluminação pública 9.600.000,00 9.991.679,06 2,97
Arrecadações Diversas 32.926.000,00 43.499.875,73 12,91
B - TOTAL DOS RECEBIMENTOS DE TRANSFERÊNCIAS 310.054.000,00 255.420.154,34 75,83
Recebido da União 164.854.000,00 139.087.674,34 41,29
Recebido do Estado 123.450.000,00 87.512.059,95 25,98
Recebido da União e do Estado para a Educação Básica 21.600.000,00 28.042.809,25 8,33
Recebido de instituições privadas 150.000,00 777.610,80 0,23
SUBTOTAL GERAL (SOMA DE A+B) 387.000.000,00 341.740.394,21 101,46
(-) Transferências intra-orçamentárias entre órgãos da Prefeitura -5.130.000,00 -4.911.289,23 -1,46
TOTAL DAS ORIGENS DE RECURSOS PÚBLICOS 381.870.000,00 336.829.104,98 100,00
% do
02 - DESTINAÇÕES DOS RECURSOS PÚBLICOS POR Valor Previsto Valor do Gasto
Gasto
ÓRGÃO MUNICIPAL (Despesas Municipais) no Orçamento Efetuado
Total
Câmara Municipal 6.924.870,00 6.695.674,02 2,00
RELATÓRIO SIMPLIFICADO DAS ORIGENS E DESTINAÇÃO DOS RECURSOS PÚBLICOS MUNICIPAIS
Prefeitura Municipal de Montes Claros - ano 2007 - Valor em Unidades de Reais

Gabinete do Prefeito 840.903,00 668.329,14 0,20


Consultoria Jurídica 36.881,43 36.766,89 0,01

900
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Procuradoria Geral do Município 12.116.463,29 1.414.099,12 0,42


Gabinete do Vice Prefeito 270.000,00 182.650,24 0,05
Coordenadoria de Controle Interno 140.000,00 65.349,96 0,02
Secretaria de Governança Solidária 1.557.568,63 819.468,48 0,25
Secretaria Municipal de Administração e Gestão 30.932.123,21 28.293.497,48 8,46
Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento 4.849.739,85 4.304.481,90 1,29
Secretaria de Atividades de Serviços Urbanos 3.509.250,10 3.509.250,10 1,05
Secretaria de Cultura 2.326.000,00 2.089.701,32 0,63
Secretaria de Políticas Sociais 14.559.452,70 9.274.966,75 2,77
Secretaria da Educação 55.814.048,86 52.842.889,82 15,81
Secretaria de Esporte e Lazer 2.874.101,12 1.714.636,33 0,51
Secretaria de Fazenda 12.652.416,73 12.133.676,89 3,63
Secretaria de Governo 523.911,50 523.911,50 0,16
Secretaria do Desenvolvimento Econômico 2.180.047,00 824.440,47 0,25
Secretaria do Meio-Ambiente 3.220.153,25 2.323.710,12 0,70
Secretaria de Obras Públicas 2.505.818,28 2.476.302,52 0,74
Secretaria Municipal de Coordenação Estratégica 3.986.098,80 2.500.142,15 0,75
Secretaria de Saúde 140.288.207,75 129.561.797,78 38,76
Secretaria Segurança e Dir. do Cidadão 236.264,87 236.200,32 0,07
Secretaria Municipal de Comum. / Art. Institucional 3.590.361,58 3.256.250,50 0,97
Secretaria Municipal de Políticas Urbanas 71.278.307,77 61.992.547,60 18,55
Instituto Municipal de Previdência – PREVMOC 10.993.000,00 9.956.260,50 2,98
SUBTOTAL DOS GASTOS 388.205.989,72 337.697.001,90 101,03
( - ) Gastos entre órgãos municipais *(1) -6.705.143,00 -3.435.384,28 -1,03
TOTAL DOS GASTOS DA PREFEITURA MUNICIPAL*(2) 381.500.846,72 334.261.617,62 100,00
APURAÇÃO DO SALDO DO EXERCÍCIO ANUAL

( +) Saldo do exercício anterior 27.656.671,35


( + )Total recebido no ano (Receita Orçamentária) 336.829.104,98
( - ) Total dos gastos efetuados (Despesa Orçamentária) -334.261.617,62
(=) Subtotal do saldo atual 30.224.158,71
( + ) Recebimentos que não fazem parte do orçamento (Receita Extra-Orçamentária) 64.987.248,06
( - ) Gastos efetuados que não fazem parte do orçamento (Despesa Extra-Orçamentária) -48.775.402,41
(=) Saldo total para o exercício seguinte 46.436.004,36
Saldo em caixa e bancos 9.274.313,85
Saldo de recursos vinculados para gastos específicos 37.161.690,51
OBSERVAÇÕES:
*(1) Referem-se às origens e destinação de recursos oriundos de operações realizadas entre os órgãos municipais
*(2) A diferença de 369.152,28 entre o total das previsões das origens e o total da fixação das destinações dos recursos
públicos consiste no superávit orçamentário, e não foi relacionado porque não se trata de uma despesa.
Fonte: Elaboração própria, adaptado dos Demonstrativos Contábeis da Prefeitura de Montes Claros (2007

Para chegar nesta versão final de Relatório Simplificado, foram verificadas várias outras propostas de
estruturas, como, por exemplo, a divisão das origens de recursos em três classes: origem dos impostos,
origens de outras espécies e origens de transferências governamentais. Na aplicação dos recursos foi
pensado em abordar os gastos classificados por subfunção, bem como a porcentagem prevista em
comparação com a porcentagem efetivada. Porém estes formatos ainda ficaram complexos.

Portanto, para simplificar o relatório, optou-se por dividir as origens em apenas duas categorias:
arrecadação própria e recebimento de transferências. Quanto às aplicações, optou-se por informar a

901
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

destinação dos recursos por órgão municipal, o que permite, inclusive, ao cidadão relacionar o gasto
com o gestor público diretamente responsável pela aplicação dos recursos públicos. Procurou-se fazer
uso de um vocabulário, cujo sentido fosse o mesmo que o da Contabilidade Pública, mas que para o
cidadão ficasse compreensível, sem margem para interpretações dúbias.

4.2 VERIFICAÇÃO DA COMPREENSIBILIDADE DO MODELO DE RELATÓRIO SIMPLIFICADO


PROPOSTO

Para verificar o grau de compreensão do Relatório Simplificado proposto, foram apresentadas cinco
questões para uma amostra de 30 pessoas com diversos graus de instrução: 07 pessoas tinham o
ensino fundamental, 11 tinham o ensino médio e 12 o ensino superior. Foi questionado, se observando
o relatório, o cidadão entrevistado compreendia bem as informações financeiras do Município de
Montes Claros, sendo que 100% da amostra responderam que conseguiam entender as informações
fornecidas pelo relatório.

Para confrontar o resultado acima, foi solicitado ao entrevistado que identificasse os valores das
destinações ou despesas no Relatório Simplificado, mediante dois questionamentos: a) Valor total
gasto pela prefeitura no ano de 2007; e b) Valor total que a prefeitura gastou com educação em 2007.
Da amostra pesquisada, 93,33% responderam corretamente os questionamentos e 6,67%
responderam incorretamente, pois colocaram como resposta para as duas perguntas, o valor previsto
no orçamento e não o valor gasto efetuado.

Foi questionado se o entrevistado conseguia identificar no relatório para onde o município destinou a
maior parte dos recursos públicos municipais, no ano de 2007 e na seqüência qual a destinação desses
recursos. Todos os entrevistados conseguiram identificar essa informação no relatório, porém 96,66%
dos entrevistados identificaram que o maior volume de recursos foi destinado para a Secretaria de
Saúde, sendo que 3,33% da amostra responderam incorretamente.

Os entrevistados, ao identificar que a Secretaria da Saúde consumiu 38,76% dos recursos públicos,
começaram a indagar onde estava este investimento, já que a Secretaria da Saúde, segundo os
mesmos, não satisfazia as necessidades básicas de atendimento à população do município e
descreviam indignados, episódios da falta de assistência, ou da precária assistência à saúde. Quando
foi enfatizado que os dados eram de 2007, estes simplesmente retrucavam “não importa se foi há
cinco ou três anos atrás, ou se foi ontem, a saúde continua do mesmo jeito”.

902
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Por último, foi solicitado aos entrevistados que identificassem no relatório qual o valor total
arrecadado pela Prefeitura Municipal de Montes Claros, no ano de 2007, sendo que 90% responderam
corretamente ao questionamento e 10% responderam incorretamente a questão. Ao verificarem o
valor arrecadado pela Prefeitura de Montes Claros, no ano de 2007, a maioria dos entrevistados
questionou: “para onde foi tanto dinheiro?”

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As contas públicas têm que ser planejadas e projetadas pelos gestores públicos de acordo com a
execução orçamentária determinada nas leis do PPA, da LDO e da LOA estabelecidos na Constituição
Federal de 1988. Além de planejar os gastos públicos, as entidades governamentais têm que prestar
contas à sociedade sobre a arrecadação e sobre a destinação dos recursos públicos, mediante
publicação dos demonstrativos contábeis, em conformidade com a legislação vigente.

Com a promulgação da LRF, em 2000, que determinou maior transparência, a execução orçamentária
dos recursos públicos passou a ser divulgada detalhadamente e em vários demonstrativos, visando
um maior controle dos atos praticados pelos gestores públicos. Foram criados vários demonstrativos,
onde as informações das origens e das aplicações dos recursos públicos tornaram-se complexas para
o cidadão, principal interessado e maior fiscalizador do cumprimento da lei pelo gestor público.

Uma das formas de fiscalizar os atos praticados pelo gestor público, e o devido cumprimento da lei,
por parte do cidadão, é a análise das informações contidas nos demonstrativos contábeis. Informação
essa que precisa ter qualidade, ou seja, tem que ter certas características que são confiabilidade,
relevância, comparabilidade e, principalmente, a compreensibilidade.

A compreensibilidade pode ser seriamente comprometida pela obrigatoriedade do tipo e quantidade


de informações divulgadas para atender principalmente a legislação fiscal, não levando em
consideração se as informações fornecidas são aquelas que o cidadão consegue entender.

A prestação de contas feita por meio da divulgação de muitos demonstrativos contábeis - cada um
com um determinado tipo de informação do quanto foi gasto e do quanto foi arrecadado - torna-se
muito complexa para o cidadão. A incompreensão dos demonstrativos contábeis, como verificada em
pesquisas anteriores, entre outros fatores, pode ser devido à terminologia técnica adotada pela
Contabilidade Pública, ao detalhamento das informações e ao excesso de demonstrações.

903
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Com a verificação de que a informação contábil pública, devido à incompreensibilidade da mesma,


não estava atingindo um dos seus principais objetivos, que é a prestação de contas ao cidadão, neste
trabalho foi proposto e elaborado um Relatório Simplificado das origens e aplicações dos recursos
públicos, levando em consideração algumas informações que a população queria saber, a exemplo do
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), conforme Gallon et al (2010) identificaram na pesquisa.

Antes de apresentar a versão final do Relatório Simplificado, foram verificadas várias outras propostas,
como, a divisão das origens de recursos em três classes: origem dos impostos, origens de outras
espécies e origens de transferências governamentais. Na aplicação dos recursos, os gastos
classificados por subfunção, porcentagem prevista em comparação com a porcentagem efetivada, etc.

Finalmente optou-se por dividir as origens em apenas duas categorias: arrecadação própria e
recebimento de transferências. Quanto às aplicações, optou-se por informar a destinação dos recursos
por órgão municipal, permitindo ao cidadão relacionar o gasto com o gestor público diretamente
responsável pela gestão dos recursos públicos. Procurou-se fazer uso de um vocabulário, onde o
sentido é o mesmo que o da Contabilidade Pública, mas que ficasse mais compreensível para o
cidadão, sem margem para interpretações dúbias ou falsas.

Diante da proposta do relatório, fez-se necessário a verificação de sua compreensibilidade por parte
dos cidadãos. O principal resultado obtido nas entrevistas foi que 93,33% dos entrevistados da
amostra conseguiram identificar os valores corretos no relatório.

Portanto, tornou-se possível por este trabalho demonstrar que as informações contábeis podem ser
fonte da transparência necessária ao principal interessado pela atividade financeira do Estado, qual
seja, o cidadão.

REFERÊNCIAS

ATHAYDE, Tarcisio Rocha. A evidenciação de informações contábeis da área social no setor público:
estudo de caso do município de Luziânia/GO. Brasília: UnB, 2002. Dissertação de Mestrado - Programa
Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade de
Brasília, da Universidade Federal da Paraíba, da Universidade Federal de Pernambuco e da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

BARBOSA, Cristina Maria Oliveira. A contabilidade pública: os seus destinatários e as suas necessidades
de informação - um estudo no sector da saúde - Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia. Braga:
Portugal, Out. 2007. Dissertação de Mestrado em Contabilidade e Administração da Universidade do
Minho.

904
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

BRASIL. Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988. Brasília: Senado, 1988.

______. Congresso Nacional. Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito
Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal. Publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 23/03/1964. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320.htm>. Acesso em: Out. 2010

______. Lei Complementar nº. 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas
voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial
da União (DOU) de 05/05/2000. Disponível em:

<http://www.tesouro.fazenda.gov.br/legislacao/download/contabilidade/lei_comp_101_00.pdf >.
Acesso em: Out. 2010.

______. Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de contabilidade aplicado ao setor público. 2009.
Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/contabilidade.../manual_ cont_SetPublico.asp>.
Acesso em: Out. 2010.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. Volume II. 6. ed.Rio de Janeiro:
Campus, 2002.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de contabilidade aplicadas ao setor


público. Brasília: CFC, 2009. Disponível em:

<http://www.cfc.org.br/uparq/ NBCT16_5.pdf>. Acesso em: Out. 2010.

______. Resolução CFC nº.1121 – NBC T 1: Das características da informação contábil.

Brasília: CFC, 2008. Disponível em: <http://cfcspw.cfc.org.br/resolucoes_cfc/RES_1121.

DOC>. Acesso em: Out. 2010.

CRUZ, Cláudia Ferreira da; FERREIRA, Aracéli Cristina de Sousa; SILVA, Lino Martins da; MACEDO,
Marcelo Álvaro da Silva. Um estudo empírico sobre a transparência da gestão pública dos grandes
municípios brasileiros. Vitória: EnAPG, Nov. 2010. Disponível em:

<http://personalizados.msisites.com.br/ifc/img/tb24_texto_fotos_1_1143_enapgatransparaiaa
municipios.pdf>. Acesso em mar. de 2011.

CRUZ, Flávio; VICCARI JÚNIOR, Adauto; GLOCK, José Osvaldo; HERZMANN, Nélio; BARBOSA, Rui
Rogério Naschenweng. Comentários à lei nº. 4.320, normas gerais do direito financeiro, orçamentos e
balanços da união dos estados, dos municípios e do Distrito Federal comentários ao substitutivo do
projeto de lei nº 135/96. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

______. Comentários à lei nº. 4.320, normas gerais do direito financeiro, orçamentos e balanços da
união dos estados, dos municípios e do Distrito Federal comentários ao substitutivo do projeto de lei
nº 135/96. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2006.

GALLON, Alessandra Vasconcelos; TREVISAN, Ronie; PFITSCHER, Elisete Dahmer. A compreensibilidade


dos cidadãos de um município gaúcho acerca dos demonstrativos da lei de responsabilidade fiscal

905
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

publicados nos jornais. Anais do Congresso USP. São Paulo: FEA/USP, 2010. Disponível em:
<http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos102010/31. pdf>. Acesso em set. 2010.

LIMA, Diana Vaz de; CASTRO, Róbinson Gonçalves de. Contabilidade pública: integrandounião, estados
e municípios (SIAFI e SIAFEM). 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Teoria geral da administração. 2. ed. São Paulo:Atlas, 2000.

MIRANDA, Luiz Carlos; SILVA, Alan José de Moura; RIBEIRO FILHO, José Francisco; SILVA, Lino Martins.
Uma análise sobre a compreensibilidade das informações contábeis governamentais comunicadas
pelo Balanço Orçamentário. Vitória: Brazilian Business Review, Vol. 5, nº 3, p. 209-229, 2008.
Disponível em: <http://www.bbronline.com.br/upld/ trabalhos/pdf/294_pt.pdf>. Acesso em: Out. de
2010.

PEREIRA, José Matias. Finanças públicas: a política orçamentária no Brasil. São Paulo:Atlas, 2003.

PISCITELLI, Roberto Bocaccio; TIMBÓ, Maria Zulene Farias; ROSA, Maria Berenice. Contabilidade
Pública: uma abordagem da administração financeira pública. São Paulo: Atlas, 2002.

PLATT NETO, Orion Augusto; CRUZ, Flávio da; ENSSLIN, Sandra Rolim; ENSSLIN, Leonardo. Publicidade
e transparência das contas públicas: obrigatoriedade e abrangência desses princípios na administração
pública brasileira. Belo Horizonte: Contabilidade Vista & Revista, Vol. 18, nº 1, 2007. Disponível em:
<http://www.face.ufmg.br/revista/index.php/ contabilidadevistaerevista/article/view/320>. Acesso
em: out. de 2010.

SILVA, Lino Martins. Contabilidade Governamental: um enfoque administrativo. 7. ed.São Paulo: Atlas,
2004.

906
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 43

ESTRUTURA DE CUSTOS DA PRODUÇÃO DA CEBOLA


AMARELA E SUA VIABILIDADE ECONÔMICA UM ESTUDO DE
CASO NO MUNICÍPIO DE SENTO SÉ – BA
DOI: 10.37423/200400635

Marcelo Jose Vieira De Melo Sobrinho - marcelomeloadm@gmail.com


Temisia Pereira da Silva - temisia.pereira@yahoo.com.br

Resumo: O estudo teve como propósito analisar a viabilidade econômica da produção de


cebola no município de Sento Sé - BA. Esta avaliação foi feita através dos custos empregados
na produção da cultura da cebola e da utilização de ferramentas e técnicas de análise
investimento. A produção aplicada no período do inicio do ano gerou resultados positivos,
retornando o investimento inicial em um período curto, a uma Taxa Mínima de Atratividade
(TMA) de 2,6% ao mês, referente a taxa encontrada na Pesquisa Anual do Comércio do IBGE
no ano de 2010. Foram projetados cenários de produção, permitindo uma comparação entre
as opções de manter a produção concentrada no início do ano com dois plantios ou ampliar o
investimento mantendo uma produção regular ao longo de todo período. Supondo um
cenário de investimento iniciando as atividades em 2009 no qual se utilizou um investimento
em terra e maquinário, o produtor obteria retorno positivo desse investimento utilizando a
mesma TMA de 2,6%. Apresentando um resultado favorável à viabilidade da produção da
hortaliça.

Palavras-chaves: Análise de Custos, Produção, Investimento.

Área Temática: Custos aplicados ao setor privado e terceiro setor.

907
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

O Vale do São Francisco é conhecido por ser um polo produtor e exportador de frutas, que segundo
dados do IBGE têm seu PIB referente ao agronegócio girando em torno de R$ 854 milhões (Oitocentos
e cinquenta quatro milhões) somando os municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE que são as
principais cidades para a economia do Vale do São Francisco (IBGE, 2010).

A região foi uma das beneficiadas com investimentos advindos dos avanços tecnológicos na área da
agricultura e se destacou na produção de frutas através da fruticultura irrigada, tornando-se uma das
maiores exportadoras de frutas do país, exportando de acordo com a Balança Comercial Brasileira,
conforme dados do MDIC, através da Secretaria de Comércio Exterior (SECAX) em torno de 295
milhões de dólares no ano de 2011. A cidade de Petrolina-PE representa 62%, ou seja, 181 milhões e
Juazeiro-BA 16%, ou seja, 48 milhões dessas exportações.

Apesar desta cultura já implementada de produção de frutas, os agricultores da região do submédio


do Vale do São Francisco também investem recursos apostando na prosperidade de outras culturas.
Dentre elas destaca-se a cebola, uma hortaliça que se apresenta como uma alternativa de
investimento em relação à fruticultura. Ela destaca-se no cenário nacional ocupando a terceira posição
das hortaliças mais cultivada no Brasil, perdendo apenas para as culturas do tomate e batata, segundo
fonte da Embrapa Hortaliças.

No ano de 2006 segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE a produção nacional de cebola chegou
a 675.721 toneladas, onde a região nordeste ocupou o terceiro lugar. Esta região tem como época do
ano mais favorável ao cultivo dessa cultura, segundo dados da Embrapa Hortaliças, os meses que vão
de Fevereiro a Abril, período onde a incidência de chuvas é amena e favorece a produção da cebola
não elevando os custos de produção.

A cultura da cebola na região do Vale do São Francisco possui uma vantagem sobre as demais regiões
produtoras brasileiras, ao passo que o cultivo dessa hortaliça é realizado principalmente em áreas
localizadas nos diversos perímetros públicos de irrigação ou em áreas ribeirinhas do Rio São Francisco
e de seus afluentes, minimizando a dependência de chuvas.

Apesar das facilidades proporcionadas pela localização e do clima do Vale, tornando a oleicultura uma
atividade atraente, trata-se de uma cultura que exige razoável investimento de capital e é suscetível a
variações bruscas de preço. Essa cultura requer do produtor um maior conhecimento sobre os custos

908
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

inerentes a sua produção, principalmente por se tratar de uma cultura onde os preços são definidos
pela oferta e demanda do produto, o que acaba por retirar do produtor a capacidade de tornar seu
negócio rentável apenas através da boa prática no manejo da cultura. Tornando assim mais relevante
o controle dos custos como instrumento de obtenção de rentabilidade.

Com isso o presente estudo analisou os custos aplicados à produção de cebola no município baiano
de Sento Sé, que tem uma produção segundo dados do IBGE de 14.772 toneladas em 1.473 hectares,
obtendo um rendimento médio de 10.028 quilogramas por hectares.

Por esse motivo tornou-se necessário a análise de todas as variáveis que influenciam o plantio da
cebola amarela na referida localidade, além da dinamicidade do mercado no qual a mesma esta
inserida, utilizou-se como ferramentas de avaliação da viabilidade econômica as seguintes técnicas de
análise de investimento: o Payback Descontado, o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de
Retorno (TIR), a Taxa Interna de Retorno Modificada (MTIR) e o Índice Beneficio/Custo (IBC). A opção
por estas técnicas ocorreu pela facilidade de implementação, difundidas entre os autores de
referência na área, e por considerarem o valor do dinheiro no tempo, que depende de fatores
exógenos para encontrar sua viabilidade.

Com o intuito de avaliar a rentabilidade da produção da oleicultura, foram construídos cenários de


comparação dos métodos de produção dentro da escala de tempo que corresponde de 2009 a 2013.
Buscando-se com isso, analisar se a forma de produção do produtor estudado proporcionava ao
mesmo maior rentabilidade que as demais formas de produções encontradas no mercado.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 VOCAÇÃO AGRÍCOLA DO VALE DO SÃO FRANCISCO

Com uma produção anual em torno de 41 milhões de toneladas, o Brasil está entre os maiores
produtores de frutas fresca do mundo (IBRAF, 2009). Em 2010 as exportações brasileiras geraram
aproximadamente US$610 milhões (seiscentos e dez milhões de dólares) uma produção de cerca de
760 milhões de toneladas (IBRAF, 2010).

Sendo que a maior concentração dessa produção está no nordeste, e a região que mais se destaca em
termos de produção e exportação de frutas é o Vale do São Francisco conhecido como polo produtor
e exportador através da fruticultura irrigada, onde, segundo dados do IBGE, o PIB referente ao

909
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

agronegócio na região gira em torno de R$ 854 milhões (Oitocentos e cinquenta quatro milhões)
somando os municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, que se configuram como os principais para a
economia do Vale do São Francisco (IBGE, 2010).

A agricultura no Brasil é um dos segmentos da economia que mais se destaca, apresentando evolução
contínua, e que busca atender um grande mercado interno em crescimento e um melhor acesso ao
mercado mundial de frutas. A partir da década de 90, com o crescimento da demanda mundial, a
fruticultura irrigada no Brasil tomou novos rumos, sendo impulsionada através de investimentos em
projetos de irrigação para produção de frutas no semiárido brasileiro, além de contar com as condições
naturalmente favoráveis de luminosidade, umidade relativa e temperatura durante a maior parte do
ano (LIMA; MIRANDA, 2001).

A região do Vale do São Francisco foi uma das beneficiadas dos investimentos advindos dos avanços
tecnológicos na área da agricultura e se destacou na produção de frutas através da fruticultura
irrigada, tornando-se uma das maiores exportadoras de frutas do país. Segundo Lima & Miranda:

O Vale do São Francisco é pioneiro no Nordeste na implantação da fruticultura


irrigada. A região do polo Petrolina/Juazeiro constitui um exemplo dos impactos
modernizantes da agricultura irrigada nordestina. Área de destaque na
implantação dos grandes projetos públicos e privados de irrigação, estas
cidades sofreram uma profunda redefinição de seu espaço urbano e rural, com
a constituição de uma grande infraestrutura de suporte ao processo
modernizante. E, principalmente, através destes investimentos logrou fundar
um novo padrão de acumulação que resultou da consolidação e expansão de
uma atividade agrícola irrigada integrada à indústria, com repercussões sobre
as relações de trabalho, o mercado de terras e a economia regional como um
todo (LIMA; MIRANDA, 2001).
A atividade de agricultura no Vale do São Francisco é uma grande geradora de empregos, sejam eles
diretos ou indiretos, segundo dados apresentados na 5ª Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos
Locais, a cada hectare irrigado se gera em média 2,0 empregos, totalizando cerca de 240.000
empregos diretos e 960.000 indiretos. Além da produção no Vale mostrar algumas vantagens
competitivas: mais de duas safras/ano/planta; Baixa incidência de doenças; Proximidade dos
mercados; Abundância de mão de obra; Disponibilidade de água; Clima altamente favorável.

Em vista da qualidade de seus produtos, a agricultura no Vale do São Francisco tem conseguido abrir
espaços no mercado internacional que permitem projetar uma expansão ainda mais acentuada e de
forma consistente, atualmente, 40% da produção da região é exportada, o que em 2011 representou
229 milhões de dólares (SECAX, 2011).

910
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Diante da representatividade deste segmento para a economia brasileira, Lima & Miranda (2001)
percebem na agricultura de exportação um mecanismo que permite estreitar vínculos com os
principais mercados consumidores internacionais, e deste modo possibilita internalizar padrões de
condutas produtivas e de gestão, que estão sendo passo a passo disseminadas em toda região.

É neste contexto que o Vale do São Francisco conseguiu se inserir no mercado internacional e firmar
a agricultura como atividade com características dinâmicas, encontradas com raridade em outras
regiões do país, mediante os esforços pioneiros de seus produtores locais que mais se destacam.

De acordo com a Balança Comercial Brasileira, conforme o MDIC, através da SECAX as exportações no
Vale do São Francisco giraram em torno de 295 milhões de dólares no ano de 2011, a cidade de
Petrolina-PE representa 62% ou 181 milhões e Juazeiro-BA 16% ou 48 milhões dessas exportações.

2.2 CULTURA DA CEBOLA DO VALE DO SÃO FRANCISCO

Apesar do Vale do São Francisco apresentar vocação para a fruticultura irrigada, e de possuir uma
cultura com foco nas frutas, tanto para consumo interno quanto para exportação, outros segmentos
da agricultura têm-se despontado como geradores de riqueza, dentre elas esta a cebola, uma hortaliça
que apresenta potencial de mercado.

A cebola é a terceira hortaliça mais cultivada no Brasil, perdendo apenas para as culturas do tomate e
batata. Apesar da sua grande importância no setor agropecuário, sendo responsável por empregar
muitas pessoas em pequenas áreas, a cebola produzida na região nordeste ainda tem seu cultivo
realizado de forma não profissional predominando cultivos tradicionais em seu manejo (EMBRAPA
Semiárido). Um grande fator negativo nesse modo de cultivo, em que predomina o transplante de
mudas a raiz nua e utilização de sementes OP (Polinização Aberta), é a baixa produtividade nas maiores
regiões produtoras do país, chegando a uma média nacional com cerca de 20 toneladas por hectare
no ano de 2011.

No ano de 2006 segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE a produção nacional de cebola chegou
a 675.721 toneladas, sendo a região Sul a maior produtora, seguida da região sudeste e em terceiro
lugar a região nordeste, como pode ser visto na tabela a seguir.

911
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 - Produção de cebola por região

Região Produção (t)


Norte 344
Nordeste 65393
Sudeste 146403
Sul 452924
Centro-oeste 10654
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006.

Conforme tabela acima a região Nordeste do Brasil entra como uma das maiores áreas de plantio desta
cultura, sendo a terceira em área plantada e responsável por cerca de 10000 hectares ano. Se por um
lado a região tem grande área de plantio, principalmente a região do Vale do São Francisco com cerca
de 8000 hectares por ano, a baixa produtividade e falta de conhecimento técnico entra como um
importante fator negativo que vem muitas vezes inviabilizando economicamente e ambientalmente o
seu cultivo.

Muitos são os casos de produtores que abandonaram a atividade devido à elevação dos custos de
plantio e inconstância de preços, fatores que podem ser minimizados com algumas práticas de
manejo, utilização de novas tecnologias, escalonamento de plantio e controle mais adequado dos
custos de produção. A época do ano mais favorável ao cultivo dessa cultura na região nordeste,
segundo dados da Embrapa Hortaliças são os meses de Fevereiro a Abril. Devido ao clima nesse
período, onde a incidência de chuvas é amena, favorecendo assim a produção da cebola não elevando
os custos de produção. Os períodos nas demais regiões do Brasil podem ser visto na tabela 2.

Tabela 2 - Períodos de produção por região

Época Mais Recomendada Para Plantio

Inicio De Colheita
Espécie
(Após O Plantio)

Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste Norte


CEBOLA JUL/AGO FEV/MAI FEV/ABR FEV/MAI FEV/MAI 120 - 180 DIAS
Fonte: Embrapa Hortaliças.

A cultura da cebola na região do Vale do São Francisco possui uma vantagem sobre as demais regiões
produtoras brasileiras. Graças ao clima quente e seco, com uma temperatura média anual de 27 ºC,
uma evapotranspiração da ordem de 3.000 mm anuais e um clima tipicamente semi- árido, isso

912
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

segundo dados da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba


(CODEVASF).

Além de possuir a vantagem de estar próximo ao rio São Francisco permitindo o cultivo em perímetros
irrigados, a cebola pode ser plantada o ano inteiro, esta vantagem permite aos produtores da região
programar suas safras para os períodos do ano quando, onde historicamente, ocorre menor oferta do
produto no mercado e, consequentemente, os preços estão mais elevados.

No polo de produção do Submédio São Francisco, o cultivo dessa hortaliça é realizado principalmente
por pequenos produtores assentados nos diversos perímetros públicos de irrigação ou em áreas
ribeirinhas do Rio São Francisco e de seus afluentes (EMBRAPA Semiárido). Como se trata de uma
atividade que exige razoável aporte de capital, para o cultivo da cebola se tornar uma atividade
lucrativa é necessário que os produtores alcancem além de uma alta produtividade física, e um
gerenciamento de custos para que se possa obter uma adequada rentabilidade econômica.

Diante das oportunidades e desafios expostos, optou-se por tomar como unidade de estudo a
produção dessa oleicultura no município baiano de Sento Sé, localizado no norte da Bahia, situado às
margens do lago de Sobradinho, na região do São Francisco, a cidade é cercada de um lado pelo rio
São Francisco e do outro por serras. As atividades econômicas do município baseiam-se no cultivo
irrigado da cebola, tomate, uva, manga, melão, melancia, aspargo, além de outras culturas de
subsistência.

Em relação ao cultivo irrigado da cebola que é o objeto do nosso estudo, o município é tido como uns
dos principais produtores da hortaliça no estado, perdendo atualmente para o município de Irecê que
é destaque em produção dessa cultivare. A produção no município ainda se dá, prioritariamente, pelo
sistema de cultivo do transplante de mudas, irrigadas por gravidade (sulcos de plantio) também
conhecida como irrigação por inundação e com produtividades que raramente passam de 40 t há.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O estudo de caso foi desenvolvido em uma propriedade de pequeno porte, localizada no município
baiano de Sento Sé, que cultiva em média cinco hectares por plantio. Seu propósito inicial foi
identificar os efeitos que os investimentos na produção de cebola amarela proporcionaram ao
produtor, através da mensuração dos custos e receitas o que consequentemente possibilitou a
identificação da viabilidade econômica do negócio.

913
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Atualmente, na sistemática de plantio adotada na propriedade pesquisada, a semeadura ocorre uma


vez por ano dividida em duas etapas, obtendo colheitas com um intervalo de um mês. Segundo
informações coletadas, a finalidade deste método é de atenuar possíveis variações nos preços de
mercado durante o período de colheita e obter assim uma maior receita.

A coleta dos dados se deu através das informações que o produtor pesquisado detinha em relação à
produção de cebola amarela na sua propriedade, referentes ao período de janeiro a junho de 2012,
englobando toda a estrutura de custo de produção e implantação, que serviram como base para os
cálculos das técnicas de análise de investimento utilizadas no desenvolvimento do estudo.

Uma vez identificadas as estruturas dos custos de aquisição, implantação e produção os dados foram
distribuídos ao longo do período estudado de forma a simular a implantação iniciando do zero.

A mensuração da viabilidade do negócio, por sua vez, ocorreu através da utilização de ferramentas de
avaliação inseridas no contexto da análise de investimentos, sua utilização se justifica por serem
técnicas difundidas que consideram o valor do dinheiro no tempo, sendo elas, o Payback Descontado,
o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR), a Taxa Interna de Retorno Modificada
e o Índice Beneficio/Custo (IBC).

Uma vez que o método de semeadura do produtor recai no objetivo de colher, em um curto intervalo
de tempo, no período de melhor preço, este estudo construiu, também, cenários de produção onde o
agricultor cultivaria a hortaliça durante todo o ano. O intuito desta simulação foi de permitir a
comparação dos benefícios das duas sistemáticas acompanhando as oscilações de preço da hortaliça
no mercado, onde as perdas ocorridas com a produção ao longo do ano foram contrapostas com os
ganhos obtidos nos períodos de menor oferta.

Esses cenários compreendem os anos de 2009 a 2013. Para os cenários projetados os preços de venda
foram obtidos no site da SEAGRI e a estrutura de custos foram deflacionada ou inflacionadas, com
base nos dados primários de 2012, através do IPCA. Proporcionando ao mesmo opções de possíveis
investimento.

914
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A área estudada tem 80 hectares disponíveis para o cultivo, porém como a produção é de pequeno
porte são utilizados em torno de 5 hectares a cada safra, o ciclo produtivo da cebola tem um período
total de maturação de 4 meses, sendo 1 mês reservado para a sementeira ou cebolinho.

A fase inicial da sementeira caracteriza-se pelo plantio da semente para obtenção de uma pequena
muda, que após 30 dias é transplantada para quadros preparados para receber as plantas de modo
definitivo. Por fim tem-se a fase do crescimento, desenvolvimento e maturação que leva entre 75 e
90 dias para ficar em ponto de colheita.

A produção na localidade é feita uma vez ao ano, dividida em dois períodos, para amenizar as variações
de preço do mercado. No ano de 2012 ela ocorreu da seguinte forma: o produtor optou por plantar
10 kg de sementes em 5 hectares, 2 hectares e meio equivalentes a 5 kg foram semeadas em janeiro
para colheita em maio e a outra metade em fevereiro para colheita em junho.

O sistema de irrigação utilizado pelo produtor é por inundação temporária em sulcos, espaçados de
um metro, devido ao baixo custo do sistema. A irrigação por superfície não molha a parte aérea das
plantas, com isso pouco interfere na aplicação de agrotóxicos e minimiza doenças da parte aérea,
porém favorece a ocorrência de doenças de solo. Na irrigação por inundação, a água é aplicada por
meio de pequenas bacias ou quadras, com tamanho variável conforme o tipo de solo, as condições
topográficas e a disponibilidade de água. Esse tipo de produção é considerado arcaica e demanda
maior uso de água, mão de obra dentre outros, elevando assim os custos de produção.

Segundo a Embrapa Semiárido, na irrigação por sulco a água é conduzida em canais situados
paralelamente às fileiras das plantas, por um período de tempo suficiente para infiltrar água
necessária para o desenvolvimento da cultura. Necessita-se de sistematização do terreno para se
obter maior eficiência de irrigação. A irrigação por sulco não molha toda a superfície do solo,
normalmente, molha de 30 a 80 % a superfície total, reduzindo a perda de água por evaporação. Este
método de irrigação exige, em geral, mais mão de obra, aumentando a interferência do operador na
eficiência do sistema.

A produção de um hectare do tipo cebola amarela nessa localidade apresenta a seguinte estrutura de
custos:

915
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 3 - Custos da produção de 1 Hectare de cebola amarela.

Descrição Qtde. Und V. Unit Subtotal


Preparação da terra 972,00
Roçagem da área a ser cultivada (trator) 2 Hora 65,00 130,00
Aração (trator) 4 Hora 65,00 260,00
Gradeação (trator) 3 Hora 65,00 195,00
Sucagem (trator) 3 Hora 65,00 195,00
Calcário 16 Saco 12,00 192,00
"Cebolinho" 1.333,00
Semente 2 Kg 330,00 660,00
Adubo 10.10.10 1 Saco 73,00 73,00
Mão de obra para cuidar do cebolinho 20 Diária 30,00 600,00
Transplante 1.080,00
Preparação dos "quadros" (mão de obra) 6 Diária 30,00 180,00
Transplante do cebolinho para a ára de colheita 600 Quadro 1,30 780,00
Irrigação do terreno 4 Diária 30,00 120,00
Crescimento, desenvolvimento e maturação 9.755,56
Herbadox (herbicida) 4 Litro 25,89 103,56
Goal (herbicida) 2 300ml 65,14 130,28
Adubo 6.24.12 8 Saco 73,00 584,00
Ureia 8 Saco 80,00 640,00
Adubo 10.10.10 30 Saco 73,00 2.190,00
Fastac (incetisida) 4 Litro 22,36 89,44
Nomolt (incetisida) 2 Litro 174,00 348,00
Furadan (incetisida) 4 Litro 56,58 226,32
Dithane (fungicida) 6 Kg 18,15 108,90
Cercobin (fuingicida) 4 Kg 43,92 175,68
Foliar (fungicida) 6 Litro 45,00 270,00
Podium (herbicida) 2 Litro 56,84 113,68
Fusilate (herbicida) 2 Litro 74,85 149,70
Limpeza do mato (m.o feminina) 30 Diária 25,00 750,00
M.o masculina (para irrigação e adubação) 96 Diária 30,00 2.880,00
Diesel para irrigação (motor) 360 Litro 2,50 900,00
Oleo lubrificante para motor (irrigação) 8 Litro 12,00 96,00
Colheita 1.820,00
Mão de obra para colheita a cebola 600 Quadro 0,70 420,00
Retirada da palha da cebola (cortar) 1.400 Saco 0,80 1.120,00
Montagem da carga para o comprador 1.400 Saco 0,20 280,00
Custo Total 14.960,56
Fonte: Dados da Pesquisa

O custo total de uma safra da cebola amarela na localidade estudada, somando-se custos fixos e
variáveis tomando como base 5 hectares é equivalente ao valor de R$74.802,80 reais. Porém, cabe

916
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

ressaltar que a produção é dividida em duas fases, e assumiu-se que os custos são igualmente divididos
em R$37.401,40 reais.

Existe também os investimentos feitos para manter os hectares preparados para o plantio, isso
demanda um investimento em maquinário e ativos físicos, como a bomba e a encanação que irão
puxar a água do rio até o lote, e a estrutura de cerca de arame e estaca para proteção da área contra
invasão de animais. Na tabela abaixo estão discriminados os gastos de cada elemento envolvido no
investimento dos 5 hectares utilizados na produção da hortaliça.

Tabela 4 – Investimentos nos 5 hectares utilizados da produção da cebola amarela.

Descrição Qtde. Und V. Unit Subtotal


Preparação da terra
Roçagem da área a ser cultivada (trator) 5 Hora 65,00 325,00
Aração (trator) 10 Hora 65,00 650,00
Gradeação (trator) 6 Hora 65,00 390,00
Sucagem (trator) 6 Hora 65,00 390,00
Calcário 46 Saco 12,00 552,00
Mão de obra para manutenção dos sulcos 50 Diária 30,00 1.500,00
Maquinário e ativos físicos

Motor a diesel (válvula de sucção; mangueira


1 Quant 10.000 10.000,00
resistente a pressão).

Tubulação de pvc de 100mm (de 6 metros cada) 33,5 Metros 40,00 1.340,00
Arame 50.000 M² 0,50 25.000,00
Estacas 200 Quant 5,00 1.000,00
CUSTO TOTAL 41.147,00
Fonte: Dados da Pesquisa

A tabela acima representa o investimento total nos 5 hectares utilizados na produção, totalizando R$
41.147,00 reais, o que equivale a R$8.229,40 reais por hectare.
Utilizando como base o ano de 2012 foram apurados os preços de mercado negociados durante esse
período através do site da Seagri, no segmento do mercado do produtor de Juazeiro-BA, como
apresentado na tabela 5:

917
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 5 - Preço de mercado da cebola aplicado no Mercado do Produtor de Juazeiro-BA em 2012.

Variação Preço Médio


Mês Mínimo Maximo
dentro do mês Mensal
Jan R$ 17,00 R$ 17,00 0% R$ 17,00
Fev R$ 17,00 R$ 26,00 53% R$ 23,07
Mar R$ 22,00 R$ 27,00 23% R$ 23,23
Abr R$ 23,00 R$ 24,00 4% R$ 23,53
Mai R$ 22,00 R$ 28,50 30% R$ 24,05
Jun R$ 22,00 R$ 23,50 7% R$ 22,47
Jul R$ 20,00 R$ 25,00 25% R$ 21,52
Ago R$ 20,00 R$ 33,50 68% R$ 24,09
Set R$ 33,00 R$ 36,00 9% R$ 34,32
Out R$ 15,00 R$ 33,00 120% R$ 26,64
Nov R$ 15,00 R$ 24,00 60% R$ 21,68
Dez R$ 22,00 R$ 22,00 0% R$ 22,00
Total R$ 20,67 R$ 26,63 29% R$ 23,63
Fonte: Seagri

Nos meses de fevereiro, agosto, outubro e novembro, percebe-se que houve uma variação
significativa no preço da cebola dentro do mês, enfatizando o mês de outubro que apresentou uma
variação de 120%. Em janeiro e dezembro os preços mantiveram-se praticamente inalterados, e nos
meses de abril, junho e setembro as oscilações não ultrapassaram 10%. Cabe ressaltar que o
comportamento dos preços no ano de 2012 foge da perspectiva de planejamento do produtor, que
programa frequentemente a colheita para os meses de maio e junho com o objetivo de obter melhores
preços. Muito embora é necessário considerar a existência da alta variabilidade em alguns dos meses
de maior valor médio, o que configura um risco a ser evitado.
Tomando como referência os preços médios apresentados é que foram calculadas as receitas de venda
da produção de cebola. Com base nos dados apresentados na tabela de custo, obteve-se uma
produção de 1.400 sacos de 20 kg para cada hectare plantado, totalizando 28 toneladas.
Como é feito o plantio de 5 hectares dividido em dois períodos, tem-se ao final de cada período a
produção de 70 toneladas de cebola, que equivalem a 3.500 sacos de 20 kg. Seguindo o mecanismo
de plantio apresentado pelo agricultor pesquisado foi obtida uma receita de R$ 84.175,00 reais em
maio e R$ 78.645,00 reais em junho.
Com base em todos os dados apresentados sobre os custos de produção, de estrutura física necessária
e sobre as receitas esperadas foi possível mensurar, através das ferramentas de análise de
investimentos supracitadas neste estudo, a viabilidade econômica do cultivo da cebola amarela na
localidade pesquisada.

918
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A taxa utilizada como Taxa Mínima de Atratividade (TMA) nessa produção foi a de margem de
comercialização das empresas comerciais referente ao ano de 2010, de 36,1% ao ano, que representa
2,6% ao mês, encontrada na Pesquisa Anual do Comércio do IBGE, e que foi utilizada para cálculo do
VPL, Payback Descontado e Taxa Interna de Retorno Modificada.
Analisando os dados do plantio e tomando como base a semeadura dividida em apenas dois períodos,
assumindo como custos de produção por período R$37.401,40 reais e investimentos estruturais de
R$41.147,00 reais, foi possível identificar os resultados apresentados pelas ferramentas de análise de
investimento, como pode ser visto na tabela abaixo, a seguir:
Tabela 6 – Resultado das Técnicas de Análise de Investimento
VPL R$ 43.621,07
TIR 72%
MTIR 47%
IBC R$ 2,14
Payback
4,88 meses
descontado

Inicialmente identificou-se uma entrada de caixa de R$84.175,00 reais, que subtraída dos custos de
produção obteve-se lucro e na segunda colheita uma entrada de R$78.645,00 reais que apresentou
lucro assim como a primeira entrada.
Com esses dados calculou-se um Payback Descontado de 4,88 meses a partir da data de desembolso
do investimento inicial, com isso, o mesmos apresentou receitas obtidas que retornam o investimento
inicial no primeiro período de plantio, ou seja, no mês da primeira colheita.
O VPL, consequentemente, também apresentou valor positivo, identificando-se um benefício líquido
com valores atualizados para a data inicial da avaliação de R$ 43.621,07 reais. Este valor foi obtido
descontando os dois fluxos de receitas futuras para a data inicial, a Taxa Mínima de Atratividade 2,6%
ao mês, e posteriormente subtraído do investimento inicial.

Como já era de se esperar, uma vez que se obteve um VPL positivo, foi encontrada uma taxa interna
de retorno de 72% e uma TIR Modificada de 47%, ambas consideravelmente superior a Taxa Mínima
de Atratividade. Analisando o IBC desse projeto, percebe-se que foi possível obter R$ 2,14 de ganho
para cada R$ 1,00 investido.
Os resultados obtidos demonstram a viabilidade do plantio da cebola no período pesquisado, uma vez
que foi possível resgatar o valor investido na área e na estrutura física necessária para iniciar a

919
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

produção, como demonstrado pelo payback descontado. Cabe ressaltar o fato de que estes bens
poderão ser utilizados por diversos períodos posteriores diluindo os custos para a produção.
A técnica de valor presente líquido ressalta a viabilidade do projeto apresentando um benefício líquido
de R$ 43.621,07 reais. Tomando-se como ponto de corte o VPL zero, como apresentado por Lapponi
(2007), a produção possibilitou um benefício para o proprietário já nos períodos iniciais da atividade,
quitando o investimento inicial. Nas próximas safras a estrutura física já estará paga, cabendo à
manutenção da viabilidade no negócio apenas a superação dos custos de produção.
A taxa interna de retorno demonstrou que o retorno gerado pela produção da cebola, de 72% nos
quatro meses, supera a taxa mínima de atratividade de 36,1% para igual período (que corresponde a
2,6% ao mês), demonstrando através de mais uma técnica que o projeto possui viabilidade econômica.
Com o intuito de verificar a viabilidade da cultura ao longo do ano sujeitando-se a alterações de preços
no período de maior produção e avaliando a rentabilidade da produção da cebola ao longo do tempo,
projetou-se um cenário anual para os cinco anos, que compreendem entre 2009 a 2013, o que
permitiu também uma comparação entre as opções de manter a produção concentrada uma vez por
período dividido em partes, ou ampliar o investimento mantendo-o regular ao longo de todo período.
O cenário foi construído através da projeção dos custos e do investimento inicial necessário para iniciar
a produção. Utilizou-se como base os mesmos custos de produção aplicados neste estudo, porém
deflacionando-os, ou inflacionando-os, tomando como referência a taxa da inflação acumulada no
período proposto para a construção dos cenários. Assumiu-se ainda a mesma quantidade média
produzida, tendo como variação a série histórica do preço de mercado.
Com base nos dados projetados obtidos foram aplicadas as técnicas de análise de investimentos
discutidas anteriormente. O figura apresentada a seguir demonstra a variação da lucratividade
durante os anos de 2009 a 2013.

920
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fonte: Seagri
Figura 1 - Lucratividade média de 2009 a 2013.
Percebe-se que no ano de 2010 o preço de mercado apresentou-se como o pior nos anos do estudo,
com receitas inferiores ao custo de produção, não apresentando atratividade para o cultivo dessa
hortaliça durante boa parte do ano. Porém a partir de 2011 a lucratividade da produção dá um salto
considerável, mostrando viável a produção de cebola durante todo o ano.
Pode-se observar também que o ano que trará maior lucratividade é 2012, pois a receita obtida
durante os meses cobrem os custos de produção e oferecem um ganho acima de R$ 37.918,60
chegando até R$ 173.998,60, por sua vez, o ano de 2013 apresenta uma leve queda em comparação
ao ano anterior. Esta inconstância da rentabilidade do negócio corrobora com a necessidade de um
planejamento de longo prazo, por parte dos agricultores, de forma que a viabilidade se concretize.
Analisando mensalmente a evolução dos preços de mercado nos cenários simulados, e contrastando
com os respectivos custos de produção, como apresentado na tabela 5, foi possível identificar os
períodos em que seria possível obter lucro e assim embasar a decisão de produção.

Tabela 7 - Resultados Econômicos obtidos durante os anos de 2009 a 2013.


Meses 2009 2010 2011 2012 2013
Mai -R$ 1.456,40 R$ 57.098,60 R$ 36.273,60 R$ 46.773,60 R$ 76.523,60
Jun R$ 9.288,60 R$ 71.413,60 R$ 42.223,60 R$ 41.243,60 R$ 114.638,60
Jul R$ 14.853,60 R$ 47.753,60 R$ 17.583,60 R$ 37.918,60 R$ 157.723,60
Ago R$ 34.733,60 R$ 15.588,60 R$ 8.693,60 R$ 46.913,60 R$ 168.468,60
Set R$ 33.403,60 -R$ 8.946,40 R$ 6.593,60 R$ 82.718,60 R$ 106.448,60
Out R$ 47.473,60 -R$ 19.901,40 R$ 6.803,60 R$ 55.838,60 R$ 96.613,60
Nov R$ 55.558,60 -R$ 18.256,40 R$ 25.213,60 R$ 38.478,60 R$ 34.033,60
Dez R$ 69.943,60 -R$ 16.401,40 R$ 25.773,60 R$ 39.598,60 R$ 17.653,60
Jan R$ 58.848,60 -R$ 15.736,40 R$ 22.098,60 R$ 76.523,60 R$ 3.023,60
Fev R$ 53.913,60 R$ 14.923,60 R$ 43.343,60 R$ 114.638,60 R$ -7.336,40
Mar R$ 54.123,60 R$ 44.568,60 R$ 43.903,60 R$ 157.723,60 R$ -5.376,40
Abr R$ 57.098,60 R$ 51.008,60 R$ 44.953,60 R$ 173.998,60 R$ 15.518,60

921
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Mais uma vez, chama atenção a inconstância apresentada pelo ganho mensal projetado ao longo dos
anos. A expectativa dos produtores é que ocorra um decréscimo dos ganhos a partir dos meses de
julho, uma vez que entram no mercado a produção dos estados do sul e sudeste, e que estes se
recuperem no começo do ano seguinte. Isto só pôde ser percebido no anos de 2010 e 2013 e apenas
parcialmente em 2011 e 2012.
Os ganhos crescentes de junho a dezembro de 2009 são atípicos e não mantém o mesmo padrão nos
demais anos.
O ano de 2010, por sua vez, apresenta-se como o que possui mais meses deficitários, em que
aparentemente a produção concentrada no começo do ano seria mais atraente.
Analisando sob a ótica das técnicas de investimento, os cenários construídos apresentam os seguintes
resultados:
Tabela 8 - Resultados das Técnicas de Análise de Investimento para os Cenários de 2009 a 2013.

2009 2010 2011 2012 2013


VPL R$ 419.403,67 R$ 205.155,34 R$ 255.130,05 R$ 702.311,81 R$ 638.773,95
TIR 57% 168% 87% 111% 208%
MTIR 27% 13% 21% 31% 26%
IBC R$ 12,99 R$ 6,62 R$ 7,60 R$ 18,07 R$ 15,66
Payback
6,88 meses 4,61 meses 5,02 meses 4,90 meses 4,60 meses
descontado

Apesar da inconstância dos ganhos ao longo do ano, em que alguns meses chegaram a apresentar
fluxos negativos, as técnicas de investimentos utilizadas, demonstram o quão atraente é a oleicultura
no período estudado.

Os anos de 2010 e 2011 são os que apresentam os resultados menos atraentes e ainda assim possuem
um VPL acima de R$ 200.000 e taxas de rentabilidade acima da taxa mínima de atratividade.

Os períodos que apresentam melhores resultados, levando em consideração todas as técnicas e seus
aspectos em relação ao processo de decisão de investimento em projetos, são os anos de 2012 e 2013.
Estes anos apresentam os VPLs mais elevados, taxas internas de retornos superiores a TMA do projeto.
Seu payback descontado retorna a investimento no primeiro mês de colheita, cabendo aos demais
meses a obtenção de lucro. Os índices benefício em relação ao custo também representam a maior
proporção de ganho para cada R$1 investido, com R$ 18,07 no ano de 2012 e no ano de 2013 R$ 15,66.

922
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Comparando os resultados da produção de 2012, entre as tabelas 4 e 6, entre a produção concentrada


no início do ano e distribuída durante todo o ano fica clara a superioridade da segunda opção. O ano
de 2010 , o qual apresentou 5 meses em que os custos superaram as receitas, é o único que poderia
apresentar dúvidas entre a superioridade entre as metodologias de plantio, o que não se verificou na
prática, como pode ser observado a seguir:

Tabela 9 – Resultado das Técnicas de Análise de Investimento para 2010

VPL R$ 82.344,71
TIR 118%
MTIR 78%
IBC R$ 3,12
Payback descontado 4,72 meses

O valor presente líquido no plantio do ano inteiro chega a ser 88,77% superior que o atualmente
implementado, assim como todos os demais índices apresentam-se superiores.

4 CONCLUSÕES

Através das informações apresentadas no estudo pode-se perceber que o cultivo da hortaliça
estudada é viável. Essencialmente porque o nordeste possui uma grande vantagem sobre as demais
regiões produtoras brasileiras, pois diferentemente das demais regiões do país o clima do nordeste é
propício para o cultivo durante todo o ano, fazendo com que o produtor aproveite as épocas de
entressafra nas demais regiões para produzir a hortaliça e obter uma maior receita.

Levando em consideração os aspectos produtivos da localidade, sendo ela de pequeno porte e que
utiliza o método arcaico de irrigação por inundação em sulcos, a qual demanda uma maior mão de
obra encarecendo os custos, o estudo feito através das ferramentas de análise de investimento
ressaltou os aspectos financeiros positivos para o cultivo dessa hortaliça.

O estudo identificou para a produção concentrada no início do ano, dividida em dois períodos um
Payback descontado baixo, pois as receitas obtidas retornam o investimento inicial no primeiro mês
da colheita, um VPL positivo de R$43.621,07 reais, por fim, obteve uma TIR de 72% e uma TIR
Modificada de 47%. Analisando o IBC desse projeto, identificou que para cada R$ 1,00 real investido
obtinha-se R$ 2,14 reais de lucro. Para o cálculo do VPL foi utilizada como Taxa Mínima de Atratividade

923
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

(TMA) a taxa de margem de comercialização das empresas comerciais referente ao ano de 2010, de
36,1% ao ano, que representa 2,6% ao mês, encontrada na Pesquisa Anual do Comércio do IBGE.

Foram projetados cenários de produção, o que permitiu uma comparação entre as opções de manter
a produção concentrada no início do ano com dois plantios, ou ampliar o investimento mantendo uma
produção regular ao longo de todo período. Todos os anos estudados apresentaram como melhor
opção de produção o plantio mensal durante todos os meses, pois os preços de mercado praticados
durante todo o período possibilitariam a elevação das receitas obtidas pelo produtor.

Levando em consideração todas as técnicas e seus aspectos em relação ao processo de decisão de


investimento em projetos, os anos que apresentam melhores resultados são os anos de 2012 e 2013,
pois os mesmos apresentam VPLs elevados, taxas internas de retornos superiores a TMA do projeto,
assim como a TIR Modificada, isso para igual período de analise das taxas, seu payback descontado
retorna a investimento no primeiro mês de colheita, cabendo as demais meses a obtenção de lucro, e
seu IBC representa que para cada R$ 1,00 real investido na produção da hortaliça o produtor obtém
de retorno superior a R$ 15,00 reais nos anos citados.

Por fim o presente estudo demonstrou que o cultivo da cultura da cebola amarela no município baiano
de Sento Sé é viável e apresenta uma lucratividade positiva, diante da opção de produção optada pelo
produtor. Sendo recomendada ao mesmo a adoção da produção mensal pelo período de 12 meses
que ele obteria um melhor retorno financeiro.

REFERÊNCIAS

EMBRAPA. Catálogo Brasileiro de Hortaliças, Brasília (DF), 2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS (IBRAF). Produção anual de frutas, 2009.

_____________. Produção anual de frutas, 2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Produção Agrícola Municipal, 2010.

_____________. Censo Agropecuário, 2006.

_____________. Censo Demográfico, 2010.

LAPPONI, J. C. Projetos de Investimento na empresa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

LIMA, J. P. R.; MIRANDA, E. A. A. Fruticultura Irrigada no Vale do São Francisco: Incorporação


Tecnológica, Competitividade e Sustentabilidade. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, n.
Especial p. 611-632, novembro 2001.

924
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR Balança Comercial Brasileira,


2011.

PINTO, J. M.; COSTA, N. D.; RESENDE, G. M. Cultivo da Cebola no Nordeste. Embrapa Semiárido,
Sistemas de Produção, 3 ISSN 1807-0027, Versão Eletrônica, Nov. 2007.

SECRETARIA DE COMERCIO EXTERIOR (SECAX), MDIC, 2009.

SECRETARIA DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, IRRIGAÇÃO, REFORMA AGRÁRIA, PESCA E AQUICULTURA


DO ESTADO DA BAHIA (SEAGRI), 2012.

925
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 44

CUSTO DA ROTATIVIDADE DE PESSOAL: UM ESTUDO DE


CASO EM UMA EMPRESA DA
CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE RONDONÓPOLIS-MT
DOI: 10.37423/200400637

José Ribeiro Viana Filho (UFMT) - msc.ribeiro@bol.com.br

Ádila Verônica Souza Guimaraes (UFMT) - adila_veronica@hotmail.com

Kátia Louise Silva Gomes (UFMT) - katia.louise@hotmail.com

Sofia Ines Niveiros (UFMT) - sniveiros@hotmail.com

Resumo: Os recursos humanos desempenham papel fundamental para o crescimento e a


continuidade das empresas e estão sendo valorizados e reconhecidos cada vez mais, sejam
através de programas de qualificação, bonificação financeira ou mesmo de suas capacidades.

Um dos grandes problemas que as empresas enfrentam ultimamente é o alto índice de


rotatividades destes recursos, causado por diversos fatores e gerando problemas variados,
dentre estes, a elevação dos custos operacionais. O objetivo geral deste estudo foi mensurar
o custo de rotatividade de pessoal em uma empresa da construção civil na cidade de
Rondonópolis – MT. Para isso buscou-se identificar as causas desta rotatividade, mensurando
e descrevendo-as para possíveis melhorias que venham a evitá-la. A metodologia utilizada foi
exploratória; quanto aos objetivos: estudo de caso; quanto aos procedimentos e, quanto à
abordagem do problema foi quantiqualitativa, sendo os dados coletados através de
entrevistas. Os resultados obtidos revelam índices que demonstram existirem rotatividade de
196,74%.

926
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Dentre os custos mais elevados destacam-se: exames demissionais, multas rescisórias e aviso prévio,
onerando a empresa e desestruturando a equipe, devido à necessidade de nova contratação que
ocasiona custos admissionais. Foi diagnosticado, ainda, que dentre os problemas causadores do
elevado índice de rotatividade o principal se relaciona à falta de uma política salarial mais atrativa,
bem como, programas motivacionais que tornem os funcionários mais comprometidos com os
objetivos da empresa.

Palavras-chave: Custos. Rotatividade. Recursos Humanos.

Área temática: Custos como ferramenta para o planejamento, controle e apoio a decisões.

927
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

As empresas da construção civil buscam excelência e competitividade no mercado de trabalho, seja


na construção de áreas urbana ou rural. Essa excelência está ligada principalmente na escolha de
materiais e em uma equipe qualificada.

Para sua permanência no mercado a empresa precisa, em primeiro lugar, de uma equipe qualificada,
capaz de produzir com eficiência e eficácia e ter comprometimento com os objetivos do grupo.

A gestão de pessoas se apresenta como instrumento de grande importância dentro da organização.


Entretanto se percebe um elevado fluxo de rotatividade de pessoal na construção civil o que coloca
em risco a excelência do serviço. Neste sentido, o presente estudo buscou saber quais os motivos
geradores deste alto índice de rotatividade e as características dos profissionais, considerando o seu
período de permanência na empresa.

Embora a rotatividade de pessoal nesse segmento de atividade seja maior que de outros, não se
percebe um interesse das organizações para apontarem seus custos. Diante disto, ter conhecimento
dos motivos que geram a rotatividade em uma empresa é uma forma de beneficiar a organização na
redução dos custos e na qualificação de sua equipe.

A indústria da construção civil apresenta um quadro de colaboradores muito diversificado, nele estão
relacionados, arquitetos, engenheiros, pedreiros, carpinteiros e serventes. Assim, o setor de recursos
humanos da organização tem uma responsabilidade intensiva para selecionar o profissional com o
perfil apropriado para o cargo disponível.

A Contabilidade, como ciência social, preocupa-se com os aspectos econômicos, financeiros e


gerenciais relativos aos gastos e custos de toda a indústria como um todo, e no caso específico, os
custos de rotatividade de pessoal, que no fim, oneram toda a obra.

A transferência de um colaborador tem um alto custo e demanda de tempo. A empresa quando


necessita realizar a troca de um funcionário do seu quadro, acaba tendo custos indesejáveis. Esses
custos podem ser divididos em três etapas: de saída para o funcionário que está se retirando, de
reposição e de treinamento para o novo funcionário.

O problema a ser estudado surgiu da necessidade de se avaliar a mensuração dos custos da


rotatividade de pessoal na construção civil e de verificar se o reflexo é percebido ou não como

928
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

aumento de custos na maioria das organizações. Portanto buscou-se saber qual o reflexo da
rotatividade de pessoal, em termos de custos, em uma empresa de construção civil.

O Recurso Humano possui uma função estratégica nas organizações se tornando um elemento
fundamental na sua missão. Na construção civil, esta situação não é desigual, abrange certo
descontrole neste elemento decorrente do fluxo de rotatividade do setor.

A metodologia utilizada foi o estudo de caso, que segundo Gil (1999, p.73) “é caracterizado pelo estudo
profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e
detalhados do mesmo, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de delineamentos
considerados". No que diz respeito à relação com o tipo de pesquisa esta foi descritiva, pois foi
efetivada somente em um ramo específico de atividade e o estudo foi desenvolvido a partir de uma
pesquisa que teve como instrumento de coleta de dados os relatórios da empresa e documentos
relacionados com os dados dos funcionários contratados e demitidos entre o período de 01/10/ 2009
a 30/09/2010.

2 CONTABILIDADE DE CUSTOS

A ascendência de custo ocorre por meio da produção, que automaticamente encontrasse relacionada
ao homem desde as primeiras civilizações. O homem caçava, pescava, plantava e colhia na busca pela
sua sobrevivência.

Com o passar dos anos o homem, começou a construir objetos de trabalho, sendo que os custos para
a sua criação simbolizavam os primeiros gastos de produção. A contabilidade de custos é o ramo da
contabilidade que se destina a produzir informações para os diversos níveis gerenciais de uma
entidade, como auxílio às funções de determinação de desempenho, de planejamento e controle das
operações e de tomadas de decisões.

A contabilidade de custos coleta, classifica e registra os dados operacionais das diversas atividades da
entidade, denominados de dados internos, bem como, algumas vezes, coleta e organiza dados
externos.

Os dados coletados podem ser tanto monetários como físicos. Exemplos de dados físicos operacionais:
unidades produzidas, horas trabalhadas, quantidade de requisições de materiais e de ordens de
produção, entre muitos outros. Neste ponto, reside uma das grandes potencialidades da contabilidade

929
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

de custos: a combinação de dados monetários e físicos resulta em indicadores gerenciais de grande


poder informativo.

Em seguida a contabilidade de custos acumula, organiza, analisa e interpreta os dados operacionais,


físicos e os indicadores combinados, no sentido de produzir, para os diversos níveis de administração
e de operação, relatório com as informações de custos solicitadas.

Outra particularidade da contabilidade de custos, segundo Leone, (2000, p.19) é que “ela trabalha
dados operacionais de vários tipos: os dados podem ser históricos, estimados (futuros), padronizados
e produzidos”.

Diante do exposto, considera-se que os custos são essenciais para que a empresa possa ter um
processo gerencial capaz de alcançar maior nível de competência e resultados positivos. Dessa forma,
é relevante conhecer o conceito de custos e sua função no processo gerencial das organizações.

Na intenção de conceituar claramente o custo, de maneira que se estabeleça o princípio, o


fundamento e o objetivo, Bruni e Famá, (2003, p.21) escrevem que “de modo geral, custos podem ser
definidos como medidas monetárias dos sacrifícios com os quais uma organização tem que arcar a fim
de atingir seus objetivos. Contabilmente ou sob a óptica da gestão, essa afirmação pode ser
interpretada de diferentes modos”.

Martins, (2003, p.25) denomina custo como gasto referente aos bens e serviços empregados na
produção de outros bens e serviços. “O custo é também um gasto, só que reconhecido como tal, isto
é, como custo, no momento da utilização dos fatores de produção (bens e serviços), para a fabricação
de um produto ou execução de um serviço”. No que se referem os objetos de custo encontram-se
relacionados à competição de preços e à concorrência do mercado interno e externo.

Na contabilidade de custos podemos destacar os métodos de custeio que segundo Martins (2003,
p.37) pode-se considerar custeio a forma de apropriação dos custos para a precificação seja de
produto ou serviço.

Existem diferentes métodos de custeio, sendo que neste estudo serão desenvolvidos conceitos e
formas de aplicação de apenas alguns métodos, sendo eles denominados como: custeio RKW, custeio
padrão, custeio variável, custeio por absorção e custeio ABC.

930
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

2.1 CUSTEIO RKW

O custeio RKW segundo Martins (2003) é um tipo de custeio que foi desenvolvido na Alemanha,
posteriormente a Segunda Grande Guerra Mundial, tendo como fundamento a inclusão das despesas
financeiras e administrativas para a determinação do custo.

2.2 CUSTEIO VARIÁVEL

Em relação ao custeio direto ou variável, quando se estabelece o preço do produto, segundo Bernardi
(2004) deve-se considerar somente o investimento envolvido com a fabricação e aplicado de forma
direta e variável quanto aos volumes de produção.

Na avaliação de Leone (2000, p.26) “o critério deste custeio é aquele que só inclui no custo das
operações, dos produtos, serviços e atividades, os custos diretos e variáveis”.

O custeio variável considera como custo de produção apenas os custos variáveis existentes no período,
sendo que não são considerados os fixos, visto que estes existem mesmo quando não há produção.

2.3 CUSTEIO POR ABSORÇÃO

O Custeio por Absorção se apropria de todos os custos de produção de bens ou serviços, bem como,
todos os gastos que foram utilizados são igualmente distribuídos.

Sobre o conceito de método de custeio por absorção Leone (1994, p.238) observa que “o custeio por
absorção é aquele que faz debitar ao custo dos produtos todos os custos da área de fabricação, sejam
esses custos definidos como custos diretos ou indiretos, fixos ou variáveis, de estrutura ou
operacionais”.

Enquanto que para Martins (2003, p.36) o custeio por absorção constitui uma forma de “...
apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados...”.

2.4 CUSTEIO ABC

O custeio ABC é considerado como um instrumento auxiliar capaz de solucionar problemas mais
complexos, tornando-se diferente dos demais sistemas de custeio.

931
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

No entendimento de Martins (2003, p.87) o ABC é um tipo de custeio com método que busca reduzir
sensivelmente as distorções que podem ocorrer a partir do rateio arbitrário que ocorre com os custos
indiretos.

Segundo o entendimento de Leone (2000, p.50) “a metodologia básica do critério primeiramente é


identificar os custos e as despesas por atividades aos produtos que são seus portadores finais”.

Considera-se ainda importante comentar que o elemento diferenciador do custeio ABC em relação
aos demais custeios está no fato de que este escolhe direcionadores de custo, ou seja, o fator
determinante dos custos.

2.5 CUSTEIO PADRÃO

Considerado por alguns autores como método de custeio e por outros como um sistema de orçamento
ou previsão, o custo padrão é aquele que o valor é orçado no início da produção; é o mais comumente
utilizado pelas empresas, especialmente, aquelas que não possuem um setor de custeio estruturado.

Para Viana Filho (2001, p.37) “Todos os custos padrões são oriundos de uma prédeterminação, porém
nem todos os custos pré orçados podem ser classificados como tal”.

Segundo Guimarães (2003, p.119) “a finalidade básica do Custo Padrão consiste em propiciar um
controle mais efetivo dos custos”. Considera-se ainda relevante apontar que este tipo de custeio
possui diversas formas contábeis, destacando-se o Custo Padrão Ideal; Padrão Estimado e Padrão
Corrente.

3. AS PESSOAS E AS ORGANIZAÇÕES

As pessoas e as organizações têm um relacionamento que pode ser satisfatório ou não para ambas.
Para Chiavenato (2002), tanto os indivíduos como as organizações possuem objetivos a alcançar. As
organizações recrutam e selecionam seus recursos humanos para com eles e por meio deles,
alcançarem objetivos organizacionais (produção, rentabilidade, redução de custos, ampliação do
mercado, satisfação das necessidades da clientela, etc.). Todavia, os indivíduos, uma vez recrutados e
selecionados, têm objetivos pessoais que lutam para atingir e, muitas vezes, servem-se da organização
para consegui-los.

932
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

As organizações ao definirem suas estratégias, precisam identificar os objetivos organizacionais e os


objetivos individuais essenciais e a partir destes rever suas atuações, gerando um círculo virtuoso,
impulsionado pelo processo da aprendizagem.

Chiavenato apresenta esses objetivos:

a) Objetivos Organizacionais: sobrevivência, crescimento sustentado, lucratividade,


produtividade, qualidade nos produtos/serviços, redução de custos, participação no
mercado, novos mercados, novos clientes, imagem no mercado, etc.

b) Objetivos Individuais: melhores salários, melhores benefícios, estabilidade no


emprego, segurança no trabalho, qualidade de vida no trabalho, satisfação no
trabalho, consideração e respeito, oportunidade de crescimento, etc.

A gestão de pessoas baseia-se no fato de que o desempenho de uma organização depende fortemente
da contribuição das pessoas que a compõem e da forma como elas estão organizadas, são estimuladas
e capacitadas, e como são mantidas num ambiente de trabalho e num clima organizacional
adequados. E como estão estruturados e organizados os membros da força de trabalho, de modo a
habilitá-los a exercer maior poder e liberdade de decisão, levando à maior flexibilidade e à reação mais
rápida aos requisitos mutáveis do mercado.

3.1 ROTATIVIDADE DE PESSOAL

A rotatividade de pessoal está relacionada com as entradas e saídas de funcionários de uma


organização. As razões para o desligamento podem ser diversas. Os funcionários podem solicitar a sua
demissão por descontentamento com alguma política da empresa, por falta de motivação ou às vezes
por buscar outra carreira profissional, ou outras vantagens financeiras.

Para Robbins (2002, p.21) “a rotatividade é a permanente saída e entrada de pessoal na organização,
voluntária ou involuntariamente”. As empresas também têm o direito de buscar novos profissionais
capacitados para o seu quadro funcional, renovando seus funcionários.

O termo rotatividade de recursos humanos é trabalhado nas empresas significando a flutuação


constante de pessoal, ou seja, o elevado número de pessoas que entram e saem ao mesmo tempo,
mantendo um contato com o ambiente de trabalho e o ambiente externo da empresa. Cada vez mais,
as empresas investem em áreas de recursos humanos e gestão de pessoas, por isso, freqüentemente

933
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

fazem uma avaliação para saber as principais causas que levam os funcionários a pedirem demissão
e/ou as empresas a demiti-los.

O índice elevado de rotatividade mostra que algo não está bem e precisa ser melhorado, pois acabam
prejudicando a empresa, gerando gastos desnecessários ou mesmo evitáveis, como as admissões e
demissões.

Com o mercado bastante competitivo, é crescente a busca por profissionais com um maior grau de
profissionalização. Porém, a maioria dos profissionais competentes já está empregada. Segundo
Chiavenato (2004), para cada desligamento deve haver reposição, isso significa que o fluxo de saída
deve ser compensado por um fluxo equivalente de entradas de pessoas.

3.1.1 CAUSAS DE ROTATIVIDADE DE PESSOAL

A administração do sistema de uma empresa poderá encontrar algumas dificuldades para analisar,
controlar, medir e avaliar o funcionamento dos resultados e a melhor adequação de seus recursos.

Uma forma seria a empresa elaborar um subsistema de controle automático, ou seja, feedback; este
por sua vez é apropriado para reunir, processar e recuperar todas as informações contidas no sistema
sobre o funcionamento da empresa, auxiliando na elaboração das decisões a serem tomadas diante
os diagnósticos encontrados. O quadro a seguir demonstra os passos a serem seguidos pelo gestor e
seus sucessores.

Fonte: Chiavenato (2006, p.44)

Figura 1 - Informação e decisão do sistema

934
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Uma variável depende dos fenômenos internos e externos da organização. Dentre os fenômenos
externos pode-se citar a situação de oferta e procura de recursos humanos no mercado, a conjuntura
econômica, as oportunidades de emprego no mercado de trabalho, etc.

Dentre os fenômenos internos que ocorrem na organização, Chiavenato (2006) cita que a política
salarial da organização, a política de benefícios da organização, o tipo de supervisão exercido sobre o
pessoal, as oportunidades de crescimento profissional oferecidas pela organização, o tipo de
relacionamento humano dentro da organização, as condições físicas ambientais de trabalho da
organização, a cultura organizacional da organização, etc.

As informações a respeito dos fenômenos de afastamento da empresa podem ser obtidas por meio
de entrevista de desligamento. Ainda, Chiavenato (2006, p.46) as linhas gerais para a entrevista de
desligamento do funcionário, a empresa precisa seguir alguns elementos principais, como: motivo
básico do desligamento (por iniciativa da empresa ou do empregado); opinião do empregado sobre: a
empresa, o cargo que ocupa na organização, seu chefe direto, horário de trabalho, condições físicas
ambientais em seu trabalho, os benefícios sociais concedidos pela organização, sobre seu salário e o
relacionamento humano existente.

3.1.2 DETERMINAÇÃO DO CUSTO DE ROTATIVIDADE DE PESSOAL

O responsável pelo setor de recursos humanos depara-se diariamente com uma economia competitiva
onde será preciso estabelecer se é necessário manter na empresa uma política salarial conservadora
e econômica, ou uma política salarial restritiva.

Quando utilizada a política salarial restritiva a rotatividade de pessoal aumenta gradativamente e


acaba sendo mais caro para a empresa. Chiavenato (2006, p.50) comenta que “saber até que nível de
rotatividade de pessoal uma organização pode suportar sem maiores danos é um problema que cada
organização deve avaliar segundo seus próprios cálculos e bases de interesses”.

Assim, rotatividade de pessoal envolve custos primários, secundários e terciários. De acordo com
Chiavenato (2006) são:

a) custos primários da rotatividade de pessoal: são os custos diretamente relacionados com o


desligamento de cada empregado e sua substituição por outro e incluem: custo de recrutamento e
seleção, custo de registro e documentação, custo de integração, custo de desligamento;

935
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

b) custos secundários da rotatividade de pessoal: envolvem aspectos relativamente difíceis de avaliar


numericamente e outros relativamente intangíveis, de características predominantemente
qualitativas. Estão indiretamente relacionados com o desligamento e conseqüente substituição do
empregado, e se referem aos efeitos colaterais e imediatos da rotatividade. Os custos secundários da
rotatividade de pessoal incluem: reflexos na produção, reflexos na atitude de pessoal, custo extra-
laboral e custo extra-operacional;

c) custos terciários da rotatividade de pessoal: estão relacionados com os efeitos colaterais mediatos
da rotatividade, que se fazem sentir a médio e a longo prazos. Enquanto os custos primários são
quantificáveis, os custos terciários são apenas estimáveis e incluem custo extrainvestimento e perdas
nos negócios.

A rotatividade de pessoal pelos seus inúmeros e complexos negativos, quando acelerada, torna-se um
fator de perturbação. Principalmente quando forçada pelas empresas no sentido de obtenção de
falsas vantagens em curto prazo, o certo é que a médio e longo prazo a rotatividade provoca enormes
prejuízos à organização, ao mercado e a economia como um todo.

3.1.3 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO

A avaliação do desempenho no conceito de Chiavenato (2004) significa “uma apreciação sistemática


do desempenho de cada pessoa, em função das atividades que ela desempenha, das metas e dos
resultados a serem alcançados e do seu potencial de desenvolvimento”. A avaliação do desempenho
é um processo que serve para julgar ou estimar o valor, a excelência e as qualidades de uma pessoa e,
sobretudo, qual é a sua contribuição para o negócio da organização. A avaliação do desempenho
recebe denominações variadas como avaliação do mérito, avaliação de pessoal, relatórios de
progresso, avaliação de eficiência individual ou grupal etc.

A avaliação de desempenho observa cada funcionário em relação às atividades que ele exerce dentro
da organização para atingir as metas; o seu potencial, seu comprometimento com a organização, seu
desempenho, seu crescimento, etc.

Nas organizações mais modernas e democráticas cada indivíduo se auto monitora com auxílio de seu
superior, desta forma todos deveriam avaliar se estão atingindo as exigências que a organização impôs
na hora da contratação e se não estão, devem procurar onde estão as falhas para terem uma constante
evolução.

936
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3.1.4 REMUNERAÇÃO

Para Ivancevih (1995, p.701) a “remuneração é a função de RH que lida com as recompensas que as
pessoas recebem em troca do desempenho das tarefas organizacionais”.

Todo funcionário busca aplicar em seu trabalho, esforço, conhecimento e habilidades, desde que a
organização lhe ofereça uma retribuição justa pelo serviço prestado, e as organizações por sua vez
têm interesse em aplicar remunerações para os funcionários desde que eles realizem com eficiência e
eficácia as suas obrigações em seus cargos.

Na maioria das empresas a remuneração total é realizada pela remuneração básica, isto é, o
pagamento de salário fixo aos funcionários, este é o primeiro componente da remuneração salarial.

O segundo componente de remuneração são os incentivos salariais, determinados como bônus


salariais e participação nos resultados, e para finalizar o terceiro componente refere-se aos benefícios
relacionados como planos de saúde, seguro de vida e de saúde, convênios em mercados, lojas e
farmácias e bolsas escolares.

A remuneração pode ser dividida em fixa e variável:

a) Remuneração fixa: para Chiavenato (2004), a remuneração fixa é predominante na maioria das
organizações, pois apresenta uma série de vantagens para a organização como: padronização dos
salários; facilita a obtenção do equilíbrio interno e externo dos salários; o controle pode ser realizado
apenas por um setor de administração de salários; proporciona melhor distribuição dos salários
conforme os cargos, etc.

Entretanto o grande problema da remuneração fixa é que ela não consegue motivar as pessoas, devido
a este problema muitas organizações passaram a remunerar as pessoas pelos resultados alcançados.

b) Remuneração variável: parte do princípio que os funcionários ganhar mais se a empresa ganhar, se
a empresa ganhar menos os funcionários também ganham menos, isso faz com que o funcionário
tenha mais motivação e maior produção para poder ganhar mais. Chiavenato (2004) define estes tipos
como sendo tradicional e por competência:

 1) Remuneração tradicional: pagamento do salário previamente estabelecido


para o cargo, o salário é fixo, a avaliação do desempenho não afeta a

937
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

remuneração de pessoa, apenas os executivos podem receber bônus


relacionados com metas pré-determinadas, e não motiva nem estimula
envolvimento com o negócio.

 2) Remuneração por competência: pagamento mensal ou anual varia de acordo


com a avaliação do desempenho, o salário não é fixo, a avaliação de
desempenho afeta diretamente a remuneração da pessoa, todos os funcionários
podem receber ganho adicional conforme o desempenho alcançado, e funciona
como fator motivador e estimula o envolvimento com as metas da empresa.

c) Recompensas organizacionais podem ser divididas em: recompensas financeiras - diretas e


indiretas; direta seria o pagamento que todos os funcionários recebem através de salários, bônus,
prêmios e comissões; indireta seria a soma dos planos de benefícios e serviços sociais que a
organização oferece ao empregado; e recompensas não-financeiras – são oferecidas pela organização,
como orgulho, reconhecimento, segurança no emprego, motivação, etc., afeta a satisfação do
funcionário com o sistema de remuneração.

d) Benefícios sociais: os benefícios sociais são todas aquelas facilidades, vantagens, serviços, regalias
que as organizações oferecem aos seus funcionários como: assistência médica, seguro de vida, vale
alimentação, vale transporte, planos de pensão e aposentadoria, etc.

Estes benefícios podem ser conceituados, segundo Robins (2002, p.382) como “recompensas não
financeiras, baseadas no fato de pertencer à organização e que são oferecidas para atrair e manter os
funcionários”. Estes benefícios têm o intuito de livrar os funcionários de algumas preocupações, eles
estão relacionados com os aspectos da responsabilidade social da empresa.

e) Salários: o salário é a principal forma de recompensar o funcionário por sua colaboração dentro das
organizações. Existe o salário nominal que representa valor de dinheiro fixado no contrato pelo cargo
ocupado e o salário real que representa a quantidade de bens que o empregado pode vir a adquirir
com o dinheiro que ele recebe pela execução de suas atividades. O salário seria a relação de
intercâmbio que ocorre entre as pessoas e as organizações.

938
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Os resultados da pesquisa são os dados coletados junto à construtora alvo do estudo, que permitiu a
divulgação das informações aqui apresentadas, porém solicitou que os valores financeiros fossem
demonstrados em formas percentuais.

4.1 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS

Os dados apresentados neste estudo se relacionam as informações de 116 (cento e dezesseis)


indivíduos demitidos no período entre 01/10/2009 a 30/09/2010.

Com relação ao motivo apresentado na rescisão de contrato para a demissão se observou:

Figura 2 - Motivo da rescisão contratual

Como se observa na figura 2, o índice mais elevado foi de 33,6% de colaboradores demitidos sem justa
causa; seguido por 29,3% rescisão contratual de experiência antecipada pelo empregado e 22,4%
término de contrato de experiência.

Neste sentido, percebe-se que a empresa tem dificuldades em formar sua equipe, resultando na
extinção do contrato por diversos motivos, dentre os quais, pode-se considerar a falta de qualificação
profissional, necessitando assim, de desenvolvimento de programas de treinamento.

Dentre os demitidos sem justa causa, os motivos reais coletados junto aos documentos da empresa e
pessoalmente com alguns pesquisados se observou:

939
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 3 - Motivo da rescisão contratual sem justa causa

Dentre os colaboradores demitidos sem justa causa 41% foi devido ao absenteísmo (ausência ao
trabalho sem causa); 33,3% baixa produtividade; 20,5% problemas de relacionamento interpessoal
com colegas de trabalho e 5,2% indisciplina e dificuldade de relacionamento com os superiores.

As rescisões realizadas por pedido de demissão sem justa causa teve 100% de colaboradores que
buscaram novas oportunidades no mercado e foram trabalhar em empresas concorrentes.

Figura 4 – Motivo da rescisão contratual do término do contrato de experiência

A figura acima demonstra que dentre as demissões por término de contrato de experiência 53,8% foi
absenteísmo e 46,2% baixa produtividade não trazendo os resultados esperados pela empresa.

940
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 5 – Motivo da rescisão contratual de experiência antecipada pelo empregado

A maioria dos empregados antecipou a rescisão de contrato por ter uma nova oportunidade no
mercado de trabalho com percentual de 58,8%. Dentre os demais 23,6% estava insatisfeito com o
trabalho e 17,6% desmotivados.

Com relação às rescisões contratuais por tempo determinado de contrato 100% foi unicamente
contratado por um período, sem nenhuma perspectiva de continuidade contratual, visto ser uma
tarefa única a ser cumprida.

Os contratos de experiência antecipados pelo empregador tiveram 100% de causa à baixa


produtividade do trabalhador, não alcançando as expectativas dos gestores.

Sobre o tempo médio de trabalho, a empresa apresenta os seguintes dados:

941
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 6 - Tempo de trabalho

Na avaliação da figura 6 percebe-se o alto índice de rotatividade com 94,8% das rescisões no período
entre 01 de outubro de 2009 a 30 de setembro de 2010.

Dentre os funcionários que permaneceram na empresa por um curto período tem-se 29,3% entre 91
dias e 180 dias; 27,6% entre 31 e 90 dias; 22,7% entre 181 dias e um ano e 15,2% até 30 dias. Nota-se
que 72,1 % dos funcionários não ficaram na empresa por mais que 6 meses Considera-se que o estudo
apontou para um índice de rotatividade aproximadamente de 196,74% durante o período avaliado,
sendo necessário que a empresa busque soluções imediatas para reduzi-lo, considerando ser um dos
maiores problemas da administração da referida organização.

O método de custeio aplicado foi o variável, em que foi possível identificar o custo das admissões,
treinamento e rescisões contratuais da empresa, assim, dispostos em relação ao índice total:

942
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Figura 7 - Custo da rotatividade de pessoal – 01/10/2009 a 30/09/2010

Segundo dados coletados junto à empresa o percentual mais elevado em relação aos custos de
rotatividade de pessoal é a demissão, com um índice de 60,2%; seguido pelo custo com admissão com
24,8% e, por fim, o custo de treinamento com 15,0%.

Em relação aos custos de admissão, os indicadores mais elevados são:

Figura 8 -: Custo de admissão – 01/10/2009 a 30/09/2010

943
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Em relação aos custos admissionais o valor dos exames é o mais significativo com um percentual de
78,3%. Os demais custos com recrutamento 8,4% e seleção com um percentual de 13,3%.

Quanto aos custos de treinamento se observa:

Figura 9 - Custo de treinamento – 01/10/2009 a 30/09/2010

A empresa tem o desembolso de 93% dos recursos direcionados para o treinamento e para a
adaptação, 6% a qualificação da mão de obra e somente 1% programas motivacionais para a empresa.

Figura 10 - Custos de demissões – 01/10/2009 a 30/09/2010

944
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A figura 10 apontou que a multa sobre o FGTS é o item de maior custo na rescisão 35,9%; exames
demissionais: 31,8%; aviso prévio 20,3%; contribuição social 8,9%; 13º (1/12), e férias (1/12+ 1/3)
indenizados um percentual 1,3%.

4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com relação aos custos da empresa se observou que referente à admissão o indicador mais elevado
são os exames admissionais, com um percentual de 70%. No caso do treinamento 93% dos recursos
são direcionados com a adaptação e, por fim, no caso das rescisões 35,9% multa do FGTS e 31,8%
exames demissionais.

Observa-se que estes valores citados aparecem em termos relativos, pois se vinculam ao salário de
cada funcionário, visto que ocorre com todos os cargos e funções.

Os custos de admissão e adaptação além de estarem relacionado diretamente com o salário do


contratado ainda trazem em si, na maioria das vezes, o custo de perdas devido a este aprendizado,
que variará em função dos serviços e materiais utilizados, já que por vezes existe a necessidade de se
refazer os trabalhos. (a parte da adaptação e do treinamento, que reduz a produtividade).

O uso das informações contábeis poderá permitir à empresa avaliar a sua realidade em relação aos
custos com os recursos humanos e, dessa forma, executar programas que possam reduzi-los. Alguns
autores conceituam contabilidade como um sistema de informações que torna a empresa mais
eficiente a partir do seu uso.

O uso da contabilidade de custos pode aumentar a concentração de informações e permitir que os


tomadores de decisão possam ter uma base mais sólida no processo. Isto vem ocorrendo conforme
Martins (2003) com maior destaque nos últimos anos, quando a contabilidade de custos ganhou status
gerencial. Esta realidade também está presente na empresa estagiada que possibilitou o
desenvolvimento do trabalho por ter interesse em identificar seus custos e tomar decisões que a torne
mais produtiva.

Foi utilizado neste estudo o custeio variável em que foram utilizados os custos diretos para identificar
como estes são influenciados na rotatividade, sendo que segundo Bernardi (2004) é importante
utilizar-se do método de custeio para identificar possíveis elevações nos custos da empresa e tomar
decisão para a sua redução.

945
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Observou-se ainda, que o período avaliado demonstrou altos índices derotatividade, o que pode ter
sido ocasionado pela dificuldade dos funcionários em se adaptar a política de trabalho da empresa.

5 CONCLUSÃO

Um dos maiores problemas das empresas da construção civil é a alta rotatividade de funcionários que
acaba elevando o custo da organização, bem como, prejudicando o bom andamento das atividades
produtivas.

O custo de rotatividade de pessoal foi mensurado em uma empresa da construção civil de


Rondonópolis-MT com a observação de que os valores são elevados e os índices de maior destaque
apontam para uma deficiência na estrutura organizacional relacionada à formação da equipe.

Com o estudo se observou que o índice de rotatividade no período entre 01 de outubro de 2009 a 30
de setembro de 2010 foi elevado, com destaque para as demissões sem justa causa e que tem o
absenteísmo e a baixa produção como os principais fatores, e a rescisão de contrato de experiência
antecipado pelo empregado que tem como principal motivo a oportunidade do mercado de trabalho.

O método de custeio aplicado para apontar o custo da rotatividade de pessoal foi o variável, em que
foram somados os custos diretos e indiretos e apresentados, sendo que o item de maior relevância foi
o exame demissional, o FGTS a ser indenizado e o aviso prévio.

Pode-se afirmar que um dos fatores que provocam esta rotatividade está diretamente ligado ao
processo de seleção, ou seja, o baixo custo na entrada faz com que a seleção não seja bem elaborada,
já que não são realizados testes de habilidades, sendo contratada sempre a grande maioria das
pessoas que aparecem na empresa, de modo que os motivos de alguns é a falta de motivação para o
trabalho e o interesse em aprender, que são as principais causas das demissões, enquanto os que
pedem para sair na maioria das vezes são por falta de um salário mais compatível com a função.

Com o desenvolvimento deste estudo e as análises em relação aos custos da rotatividade na empresa
de construção civil alvo das avaliações, foi possível identificar alguns problemas no âmbito
organizacional que acabam gerando os altos índices de rotatividade.

A falta de uma política salarial adequada e de um programa de treinamento e desenvolvimento que


motive o grupo foram falhas percebidas que acabam gerando a saída dos funcionários e onerando os
custos de recursos humanos da empresa.

946
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Outro ponto a ser considerado é que a empresa não tem um programa de recrutamento e seleção,
nem de cargos e salários que incentivem os trabalhadores a buscar melhorias na equipe. Desse modo,
a sugestão para a redução do índice de rotatividade é a melhoria de aspectos motivacionais à equipe,
estreitando as relações com os funcionários e tornando-os comprometidos com a empresa.

Certamente com a melhoria das condições de trabalho dos funcionários e a redução da rotatividade,
a equipe da empresa poderá tornar-se mais competitiva e, consequentemente, tornar a organização
melhor estabelecida no contexto que envolve o complexo e competitivo mercado da construção civil.

REFERÊNCIAS

BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de formação de preços: políticas, estratégicas e fundamentos. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2004.

BRUNI Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação de preços. São Paulo: Atlas, 2003.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações.
2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

CHIAVENATO, Idalberto. O capital humano das organizações. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

CHIAVENATO, Idalberto. Planejamento, recrutamento e seleção de pessoas: como agregar talentos à


empresa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GUIMARÃES, Marcos Freire. Contabilidade de custos. 2. ed. Vestcon, 2003.

IVANCEVICH, John, M. Human Resource Management. Nova York. Richard D. Irwin. 1995.

LEONE, George S. G. Custos: planejamento, implantação e controle. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

LEONE, George S. Guerra. Curso de contabilidade de custos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. 9. ed. São Paulo: Pretice Hall, 2002.

VIANA FILHO, José Ribeiro. A utilização de sistemas de custos nas entidades hospitalares integrantes
da Associação dos Hospitais da Paraíba, na cidade de João Pessoa. 136 p. Dissertação (Mestrado em
Ciências Contábeis – Área de Finanças Empresariais) – Programa de Pós Graduação em Ciências
Contábeis da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2001.

947
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 45

LA GERENCIA ESTRATEGICA DE COSTOS ANALIZADA EN LA


SITUACIÓN ACTUAL DE CRISIS ENLA REGIÓN
DOI: 10.37423/200400639

Ana Maria Golpe (UdelaR Fac. C. Ec.) - anagolpe@adinet.com.uy

Resumo: Este trabajo pretende realizar una reflexión respecto de la Gerencia Estratégica de
Costos analizada en la situación actual, por la que están atravesando todas las instituciones.
En particular el análisis de aboca a la región.

Para ello se presenta un breve detalle de la Gerencia Estratégica de Costos considerando sus
tres análisis básicos: la Cadena de Valor, el Posicionamiento Estratégico y las Causales de
Costos de la empresa.

Luego el contexto se considera en dos partes:

a) El colapso de Wall Street, donde se expone las señales dadas, las opiniones de expertos que
vaticinaron los hechos posteriores y algunas opiniones sobre el futuro posible.

b) La situación de la región, para lo que se consideró como referencia la XII Jornada de


Coyuntura Económica Regional y Nacional, realizado en la Facultad de Ciencias Económicas de
la República Oriental del Uruguay, los días 26 y 27 de mayo de 2010, en el cual participaron
los sectores del gobierno, algunas auditorías, el Instituto de Economía de la Facultad y algunos
organismos regionales.

También se mencionan algunas herramientas que pueden aplicarse a los distintos análisis de
la GEC.

948
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Se culmina este trabajo con una reflexión final sobre la GEC y como se ve afectada o no por este
contexto de crisis.

Palavras-chave: Gerenciamiento Estratégico de Costos, Crisis, Región.

Área temática: Gestão Estratégica de Custos.

949
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

En primer término se expondrá una breve descripción de la Gerencia Estratégica de Costos, para luego
detallar algunas opiniones que vienen surgiendo sobre la situación actual de crisis y a posteriori, en la
región. Se culmina con una reflexión sobre la aplicabilidad de la Gerencia Estratégica de Costos en este
contexto.

1 LA GERENCIA ESTRATÉGICA DE COSTOS (GEC)

Esta sección se tomo de GEC (Golpe-Goncalves, 2001), donde se comienza expresando que la GEC es
el análisis de costos amplio en el cual los temas estratégicos aparecen en forma explícita; los datos de
costos se utilizan para desarrollar estrategias a efectos de alcanzar ventajas competitivas sostenibles
en la empresa.

La GEC es la conjunción de tres análisis básicos:

1. La Cadena de Valor.

2. El Posicionamiento Estratégico y

3. Las Causales de Costos.

1.- La Cadena de Valor de la empresa. Es imprescindible tener bien claro este concepto, definido ya
por Michael Porter, dado que la Gerencia Estratégica de Costos necesita apoyarse en un enfoque
global externo, que es justamente el aporte de este análisis; el que consiste en examinar el conjunto
de interrelaciones de las actividades creadoras de valor. Se debe incluir para dicho análisis a las
organizaciones que intervienen antes y después del proceso interno de la operativa de la empresa.
Esto implica una visión más amplia respecto del concepto de costos, ya que el mismo comienza con
los proveedores y finaliza con los compradores.

La cadena de valor separa a la empresa en sus actividades estratégicas relevantes para comprender el
comportamiento de los costos y las fuentes de diferenciaciones existentes y potenciales. Las
actividades de valor pueden dividirse en dos grandes tipos:

 Actividades Primarias y

 Actividades de Apoyo.

Actividades Primarias: Son muchas y variadas, dependiendo del sector en que se encuentre la empresa
y la estrategia:

950
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Logística Interna: Constituyen todas aquellas actividades relacionadas con la recepción,


almacenaje, manejo de materias primas y materiales, control de los inventarios, etc.

 Operaciones: Son aquellas actividades relativas a la transformación de las materias primas a


efectos de elaborar el producto final.

 Logística Externa: Está constituida por aquellas actividades relacionadas con la distribución del
producto a los compradores, almacenaje de Productos Terminados, etc.

 Mercadotecnia y Ventas: Son actividades que facilitan a los compradores la adquisición del
producto, tales como: promociones, relaciones con potenciales los compradores, etc.

 De Servicio: Son aquellas actividades que van asociadas a la prestación de servicios posventa
tales como instalaciones, reparaciones, etc.

Actividades de Apoyo:

 Abastecimiento: Compra de materias primas y materiales, activos etc. a ser utilizados por la
empresa. Implica la función de comprar insumos, no a su adquisición.

 Desarrollo de Tecnología: Aquellas actividades que tienden al mejoramiento del producto y del
proceso.

 Administración de Recursos Humanos: Actividades relativas a la búsqueda,contratación,


capacitación, etc. de personal, que influyen en la determinación de la motivación de los
empleados, los costos de la contratación, etc.

 Infraestructura de la Empresa: Incluye Administración, Planeación, Finanzas, Contabilidad y


Administración de Calidad, entre otros, apoyando a la cadena en general.

Dentro de cada categoría de actividades, primarias o de apoyo, existen tres tipos de actividades que
actúan de diversa manera en la ventaja competitiva:

 Directas.- Son las implicadas directamente en la creación de valor para el comprador.

 Indirectas.- Son las que hacen posible el desempeño de las actividades directas.

951
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 De Seguro de Calidad.- Son las que aseguran la calidad de otras actividades. No es


administración de calidad.

A continuación se expone la gráfica clásica del profesor M. Porter:

Cuadro 1.- La cadena de producción de valor. Actividades primarias y de apoyo. La tecnología.

Fuente: Michael Porter: Ser competitivo, Editorial Deusto, página 88.

2.- Posicionamiento estratégico de la empresa: Este punto posee gran importancia dentro del análisis
de la Gerencia Estratégica de Costos, ya que el enfoque del mismo es diferente según la estrategia a
la cual la empresa esté enfocada.

El posicionamiento estratégico surge de tres fuentes, que no se excluyen entre sí, y a menudo se
superponen:

 La producción es un subconjunto de los productos de una industria o servicio (Posición basada


en la variedad).

 Atender las necesidades de un grupo particular de clientes (Posición basada en las


necesidades), por ejemplo, el servicio personalizado de algunos bancos.

 Atender a un grupo de clientes en base a la accesibilidad de cualquier forma (Posición basada


en el acceso), por ejemplo, por la proximidad geográfica.

Podemos ahora preguntarnos: ¿cuál es la estrategia? La estrategia es la creación de una posición única
y de valor, implicando un conjunto de diferentes actividades. No existe una posición ideal única, por

952
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

eso el posicionamiento estratégico consiste en escoger las actividades que difieren de las de los
competidores.

Las estrategias genéricas siguen siendo útiles para realizar las posiciones estratégicas en un nivel más
sencillo y más amplio, pero las bases en las que se puede apoyar el posicionamiento –variedad,
necesidad y acceso- llevan al entendimiento de estas estrategias genéricas a un nivel de especificidad,
de acuerdo a lo expresado por M. Porter, Ser competitivo, página 61.

El hecho de elegir una posición estratégica única no es suficiente para dar garantía de que se posee
una ventaja competitiva sostenible, ya que si es una posición de valor atraerá las imitaciones. Una
posición estratégica no es sostenible, a menos que existan renuncias con otras posiciones. ¿Qué
implica una renuncia? Más de una cosa implica menos de otra. Las renuncias ocurren cuando las
actividades son incompatibles. Un ejemplo nos aclarará el tema.

Si una empresa agrega a sus productos todos los atributos, esto hará que suban sus costos de
producción y no podrá competir si no reduce ese dinero que tiene que gastar de más, bajando otros
costos de otros sectores, o del mismo sector.

Las renuncias se hacen por tres razones:

 Inconsistencia en la imagen o reputación.

 Problemas provienen de las mismas actividades: falta de flexibilidad de la maquinaria, del


personal, de los sistemas, etc.

 Limitaciones entre el control y la coordinación.

Las renuncias son esenciales para la estrategia y permiten la competencia. Ellas crean la necesidad de
optar y eligen el límite al que las compañías pueden hacer sus ofertas. Ellas prevén el asentamiento o
reposicionamiento. ¿Cuál es la estrategia?

Vemos ahora que las renuncias agregan un elemento nuevo: la estrategia consiste en competir
renunciando a algunas cosas para alcanzar el objetivo. La esencia de la estrategia es decidir qué no va
a hacer; sin renuncias no habría ninguna necesidad de optar, y ninguna necesidad de tener una
estrategia. Cualquier idea podría ser rápidamente copiada y el funcionamiento dependería totalmente
de la eficacia operacional.

953
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

El encaje favorece tanto la ventaja competitiva como su sostenimiento en el tiempo.

Las opciones de posicionamiento determinan no sólo las actividades que la compañía deberá realizar,
sino cómo éstas se interrelacionarán. Si comparamos la eficacia operacional, vemos que ésta se basa
en las actividades o funciones individuales y que la estrategia se ocupa de combinarlas. Un sistema
entero de actividades, no una colección de partes, resulta más difícil de copiar y por lo tanto hace que
la ventaja sea más sostenible. La ventaja se obtiene porque las actividades combinan y se refuerzan
todas entre sí. Así se cierra la puerta de las imitaciones por parte de los competidores, creando una
cadena que es tan fuerte como lo son sus eslabones.

TIPOS DE ENCAJE

La importancia de la concordancia entre las políticas de la empresa y la estrategia constituye una de


las ideas más antiguas. La importancia radica en los efectos que unas actividades tienen sobre otras,
por otra parte ayuda a realzar la unidad de la estrategia.

Existen tres tipos de encajes, que no son mutuamente excluyentes:

 Compatibilidad entre las actividades (funciones) y la estrategia general.

 Las actividades se potencian entre sí.

 Optimización del esfuerzo.

La coordinación y el intercambio de la información, a través de las diferentes actividades, para eliminar


las redundancias y reducir los esfuerzos y los costos a los mínimos son tipos básicos para la
optimización de los esfuerzos y puede conducir a la diferenciación.

La ventaja competitiva nace de todo el sistema de actividades.

El encaje de las actividades con la estrategia es fundamental para fomentar el sostenimiento de la


ventaja competitiva.

Ejemplificaremos a través de la teoría de las probabilidades. La probabilidad de que un competidor


copie una actividad es menor de uno, pero la probabilidad de que copie todas las actividades es muy
inferior, ya que es la multiplicación de tantas actividades como múltiplos menores de uno. Eso es lo
que hace que su posición sea sostenible y cuantas más sean las actividades mayores serán las

954
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

probabilidades de que esa ventaja sea sostenible. Esto también crea presiones e incentivos para que
se mejore la eficacia operativa, tratando de limitar las imitaciones.

La organización debe adaptarse a la estrategia y esto hará que las complementariedades se

alcancen de forma más fácil y contribuyan a la sostenibilidad.

Uno de los elementos a considerar es el horizonte de la posición estratégica, el que debería ser de una
década o más, y no limitarse a un ciclo de planificación. Los reposicionamiento son costosos y muchas
actividades nunca coordinan con las estrategias cambiantes.

Nos volvemos a preguntar: ¿cuál es la estrategia? La estrategia consiste en crear un encaje idóneo
entre las actividades de la empresa, haciendo que ésta tenga éxito por las interrelaciones entre ellas,
dando lugar así a una estrategia distintiva y sostenible. Existe un instrumento de apoyo que es el mapa
del Sistema de Actividades de una empresa. En el mismo se muestra cómo la posición estratégica de
la compañía está contenida en un conjunto de actividades. Este mapa es propio de cada compañía.

Cuadro 2.- Representación gráfica de los sistemas de actividades.

Fuente: M. Porter, Ser Competitivo, Ed. Deusto, página 56.

3.- CAUSALES DE COSTOS PARA LA EMPRESA.

Riley expone una lista un poco más elaborada, donde clasifica las causales de costos en dos grandes
grupos:

 Estructurales y

955
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 De Ejecución.

Causales Estructurales: En una enumeración no taxativa menciona las siguiente opciones estratégicas:
Escala, Extensión, Experiencia, Tecnología, Complejidad, etc.

Causales de Ejecución: Formando también una enumeración no taxativa menciona las siguientes
opciones: Compromiso del grupo de trabajo, gerencia de calidad total, utilización de la capacidad,
eficiencia de la distribución en la planta, configuración del producto, aprovechamiento de los lazos
con proveedores y clientes, etc.

2 SITUACIÓN ACTUAL

2.1 EL COLAPSO DE WALL STREET1

Este es uno de los momentos más difíciles de la historia económica, con grandes dificultades para
poder darnos cuenta en que situación estamos, donde resulta muy difícil decir cuando terminará esta
crisis y cuales serán las secuelas.

No hay una persona que pueda decir cuándo o dónde acabara la crisis. Muchos expertos consideran
que hay que tomar medidas rápidamente, para que la situación no empeore. Sin embargo, hay algo
que ha demostrado esta crisis y es que la capacidad de empeorar es ilimitada y que la solución a los
problemas va a necesitar mucho tiempo.

Muchas fueron las señales de alerta que se dieron de que la situación iba camino a esta crisis: la
quiebra del hedge fund LTCM; la formación de un sistema financiero paralelo; el creciente déficit fiscal
del gobierno americano; la quiebra de Enron; la abundancia de liquidez; la expansión imprudente y
excesiva del crédito; el mayor endeudamiento permitido por la SEC; la crisis de los Savings & Loans; la
burbuja inmobiliaria, entre otros.

Las fallas también fueron varias: de incentivos, de modelos de negocios, de evaluación y manejo de
riesgos, de falta de regulación, de desconocimiento de innovaciones financieras, de conflicto de
intereses, de liderazgo. Con responsabilidades compartidas: autoridades, reguladores, legisladores,
gobiernos, instituciones financieras, empresas de auditoría, agencias calificadoras, etc.

Sin embargo, no pocos fueron los “visionarios” que alertaron sobre el tema:

956
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1.- Nouriel Roubini: Profesor de Economía de la Universidad de Nueva York y director de la consultora
Roubin Global Economics. Ha desempeñado diversas funciones en el departamento del Tesoro de los
Estados Unidos. Ganó notoriedad por sus acertadas predicciones sobre la crisis financiera actual, que
lo llevó a ser reconocido por el apelativo de Dr. Doom (Doctor catástrofe). 2006

2.- Nassim Taleb. Ensayista, investigador y financiero estadounidense. Es miembro del instituto de
Ciencias Matemáticas de la Universidad de Nueva York. 2007.

3.- Robert Shiller. Profesor de economía de la Universidad de Yale. 2003.

4.- Kenneth Rogoff. Profesor de Economía de la Universidad de Harvard. 2000.

Todas estas señales de alertas no fueron consideradas y no se trato de solucionar los problemas de
fondo que había, solo se tomaron medidas de corto plazo, que lo que hicieron fue diferir el problema
hacia el futuro.

La confianza se perdió en el mundo financiero, así se perdió el control, ganó la incertidumbre y el


miedo en los mercados, donde la racionalidad y la credibilidad en el sistema dejaron de existir. Se ha
puesto en claro que, las bolsas de valores, los sistemas financieros y las economías del mundo están
interconectadas y que las distancias geográficas no evitan que la crisis se expanda.

Según los expertos varias son las causas de la crisis financiera: Contexto benigno: aumento del precio
de los activos inmobiliarios, aumento del ahorro externo (economías emergentes), bajas tasas de
interés; Causas sistemáticas: inadecuada valoración del riesgo, notable expansión del crédito, falta de
regulación y supervisión apropiada; Nuevas causas: nuevos productos estructurados de crédito,
inadecuado modelo de negocio, sistema de incentivos inadecuados. Donde los canales de transmisión
fueron de los mercados monetarios, a los mercados de bonos, luego a los mercados bursátiles, del
sector financiero a la economía real, todo en cadena y todo junto.

Pero esto no se ha dado de un momento para otro, sino en diferentes etapas:

1. Estallido de la crisis subprime: febrero 2007 – julio 2007.

2. El contagio (julio 2007 a marzo 2008): extensión de la crisis al mercado de crédito (julio 2007),
al mercado de dinero (agosto 2007), al sistema financiero (setiembre 2007 a diciembre 2007),
los temores en la economía y los mercados (enero a marzo 2008).

957
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

3. Distensión – marzo 2008 a mayo 2008.

4. Recrudecimiento – junio 2008 a setiembre 2008.

5. El colapso financiero: setiembre 2008 al presente.

Algunos autores opinan que una nueva crisis se avecina y que nuevamente lo que desconocemos es el
cuando ni el como, pero del análisis es de donde vamos a poder tener herramientas para poder
afrontarla; Mohamed El-Erianm señala que “la economía global se encuentra en medio de un choque
tectónico, desencadenando temblores financieros. Hay una colisión en los mercados, donde los
mercados del pasado colisionan con los del mañana. De esa colisión va a emerger un nuevo sistema
financiero”.

2.2 SITUACIÓN DE LA REGIÓN

Para analizar este tema, se tomara como referencia la XII Jornada de Coyuntura Económica Regional y
Nacional, en la Facultad de Ciencias Económicas de la República Oriental del Uruguay, realizado los
días 26 y 27 de mayo de 2010 en Montevideo, información tomada de la página Web:
http://www.iecon.ccee.edu.uy/coyuntura/index.htm, donde participaron diferentes sectores: el
gobierno, la facultad, algunas auditorías y algunos representantes de la región.

A).- Fundación de Investigaciones Económicas Latinoamericanas:

Expone:

 “El análisis de coyuntura es un ejercicio de extracción de señales sujeto a algún marco (amplio)
de referencia. Hoy los analistas tenemos problemas en los dos frentes.

 En los datos por el ruido y la “suciedad” de las señales. Nos lleva a Errores de tipo I y II.

 En el marco de referencia porque no hay un marco claro (no hay programa) y estamos frente a
algo raro, que no puede representarse con una “función de reacción” de política económica.

 Estamos otra vez en medio de un ciclo expansivo con las políticas (fiscal, monetaria, salarial) “a
lo que dé” y la verdad que no sabemos bien cual es la sostenibilidad de mediano plazo de todo
esto.

958
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Al menos sabemos que no sabemos. Eso es bastante, comparativamente.”

B).- CEDES

Expresa que:

 La economía se sigue reactivando: el crecimiento ya apunta al 5%.

 Lideran el gasto público, el consumo y MOI. La inversión sigue débil por la incertidumbre.

 Estrategia de expandir como se pueda, aún a costa de acelerar la inflación, la puja distributiva
y atrasar el tipo de cambio.

 Las iniciativas recientes Comcel refinanciamiento a provincias y el canje ayudan a apuntalar la


expansión.

 Cuanto mayor éxito en esta etapa, mayores desequilibrios acumulados para el futuro: el futuro
queda antes o después de 2011?

 Contradicciones con Brasil: MOI vs. prohibición de importar alimentos.

Política económica no explicitada – Interpretación conductista:

 Objetivos:

o Excluyente: expandir el nivel de actividad como se pueda para llegar al 2011 con ingresos y
consumo para arriba.

o Subordinado: obtener la tasa de inflación más baja compatible con la expansión deseada en el
nivel de actividad.

 Instrumentos:

o Fiscal: aumento del gasto publico+ impuesto inflacionario

o Monetario: dinero pasivo = BCRA convalida aumentos de costo

o Cambiario: principal herramienta anti inflacionaria

o Controles: habrá intentos permanente (ejemplo: alimentos)

 Viabilidad de la estrategia:

959
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

o es la mejor época del año para esta estrategia

o El primer tramo de la expansión inflacionaria es siempre agradable

o La oposición está fragmentada.

Riesgos:

 Aceleración de la inflación.

 Competitividad y tipo de cambio real.

 Agravamiento de la situación internacional.

 Salida de capitales.

 Los desequilibrios se acentúan antes de la elección. ¿Adelantamiento?”

C).- El Banco Central de Uruguay, expresa:

Características de la Política Monetaria:

 Estabilidad de precios y sano desarrollo del sistema financiero.

 La responsabilidad bancocentralista en la estabilidad monetaria financiera.

 Política estándar orientada a objetivos de inflación, etc.

 La participación en el Mercado Cambiario:

 Consistencia entre política monetaria y mercado de cambio.

 Compras masivas de divisas.

 Aumento de Reservas.

 Acción coordinada: fiscal, monetaria y gestión de deuda.

 Procura baja la volatilidad del tipo de cambio, etc.

La competitividad de la Economía Uruguaya:

960
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Precios de exportación retoman niveles previos a la burbuja.

 Desempeño exportador bueno en el contexto global.

 Uruguay es más competitivo según Foro Económico Mundial, etc.

D).- Deloitte S. C. Uruguay, declara:

 En un país de alta dolarización como Uruguay (con un canal crediticio débil), se debería poner
mucho mayor énfasis en el papel contra-cíclico de la política fiscal, para evitar que el esfuerzo
anti-inflacionario recaiga excesivamente en el tipo de cambio (el canal eficaz de la política
monetaria).

 Una menor discrecionalidad fiscal (¿regla fiscal?) podría contribuir a ese objetivo.

 En vistas de las dificultades para predecir el desempeño de la inflación y de la debilidad de los


mecanismos de transmisión de la política monetaria, tiene sentido pensar en un rango objetivo
de inflación de mayor amplitud (como el que había hasta fines del año pasado). Brasil tiene un
rango de +- 2%.

 La crisis internacional dejo plateadas otras preguntas: ¿alcanza con fijar objetivos de inflación?
¿Se debe mirar el precio de los activos?

E).- CPA Ferrere (R. O. Uruguay), considera:

A mediano plazo los desafíos de Uruguay son:

 Mejorar y aumentar la infraestructura

 Fortalecer el capital humano

 Repensar inserción externa

 Garantizar la inclusión social: Crecer es necesario pero no suficiente…Pobreza y desigualdad se


mantienen elevadas.

F).- PricewaterhouseCoopers Uruguay, expone:

“2010 ¿Dónde estamos parados?

961
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Economía mundial incierta

 Sectores productivos con diferentes grados de afectación

 Nueva administración política.

 2010: Matices sobre perspectivas IECON:

 PIB: crecimiento con vigor

 Desempleo: ¿puestos de trabajo/horas trabajadas?

 Inflación: sobre el límite superior del rango

 Salarios: “licuan” con algo más de inflación.

 2010 Desafíos:

 Presupuesto

 Consejo de Salarios

 Y sus consecuencias sobre la competitividad.”

G).- Instituto de Economía – Facultad de Ciencias Económicas – UdelaR

“La actual crisis europea a partir de la crisis de la deuda griega impactara en la economía uruguaya:

Principales canales de impacto de la crisis en Uruguay:

 Tipo de cambio: puede revertir la caída de los últimos meses

 Riesgo país: aumenta, pero levemente, encareciendo los nuevos fondos internacionales.

 Expectativas de los agentes: al contrario que en la crisis anterior se puede transformar en una
oportunidad para atraer nuevas inversiones.

 Caída de las bolsas de valores y de precios internacionales.

 Contracción de la demanda de algunos productos

962
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

 Posible mejora de la competitividad.”

3 ALGUNAS POSIBLES HERRAMIENTAS QUE PUEDEN UTILIZARSE EN EL GEC

A) Cadena de Valor: Una secuencia de pasos puede ser:

1) Análisis de la posición de la empresa en el sector.

2) Elaboración de la Cadena de Valor conceptual para la industria.

3) Análisis de la Cadena de Valor de la empresa con la de sus competidores.

4) Análisis de la Cadena de Valor de la empresa.

5) La Cadena de Valor Virtual.

B) Posicionamiento Estratégico:

1) Evaluación del desempeño: Análisis del contexto estratégico planeado y del real, con
identificación de los factores clave de éxito y estrategias probables.

2) Seleccionar y monitorear la posición competitiva: Análisis de las 5 fuerzas de Porter.

3) Análisis de las nuevas fuerzas: Estrategias digitales para dominar el mercado.

4) Cuadro comparativo de la Situación Planificada y la Actual de las fuerzas del sector.

5) Calculo de variaciones utilizando el Marco Estratégico.

6) Evaluación del desempeño.

7) Utilización de medidas no financieras de desempeño: a) Definición de factores claves


de éxito: Satisfacción del cliente, Excelencia de Fabricación, Liderazgo en el mercado,
Calidad, Confiabilidad, Capacidad de respuesta, Liderazgo tecnológico, etc.

C) Causales de Costos: debemos identificar los costos para los productos o departamentos claves para
entender la empresa y ver las ventajas de costos que ésta posee o no, analizar la tecnología y su
influencia, los costos de calidad, costos de prevención, evaluación de inversiones a realizar, etc.

963
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

4 REFLEXIÓN FINAL

El Gerenciamiento Estratégico de Costos, que se incluyen la Cadena de Valor, el Posicionamiento


Estratégico y las Causales de Costos, considera a la empresa con un análisis amplio de los costos.

El enfoque de la cadena de valor es un enfoque externo a la empresa, por el cual la empresa ve las
actividades que crean valor. Es una herramienta muy importante para diagnosticar ventajas
competitivas y encontrar maneras de crearlas y mantenerlas; jugando además un papel
preponderante en el diseño de la estructura de la organización.

Se pueden considerar los siguientes pasos:

1) Definición de la cadena de valor del sector y asignación a cada actividad de costos,


ingresos y activos.

2) Investigación de las causales de costos de cada actividad de valor.

3) Examen de las posibilidades de construir una ventaja competitiva ya sea mediante


diferenciación o liderazgo en costos.

El posicionamiento estratégico implica perspectivas de análisis de costos distintos según la estrategia


elegida y la realización de controles a efectos de verificar y corregir las desviaciones de acuerdo a la
elección de la empresa.

Las estrategias competitivas buscan una posición competitiva favorable y sostenida en el sector. La
elección de la misma se sostiene en:

1) El atractivo de los sectores industriales.

2) Los determinantes de la posición competitiva relativa.

Entender el comportamiento de costos de una empresa significa entender la acción del

conjunto de causales que se interrelacionan entre sí de manera compleja, con el objetivo de

reforzar y complementar la visión estratégica de la empresa.

La empresa debe entender el conjunto de causales de costos que posee y explicar su posición

a través de los factores estructurales: escala, extensión, experiencia, tecnología y complejidad.

964
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Así como desarrollar las habilidades de ejecución entre las cuales se encuentran: el

compromiso del grupo de trabajo, la gerencia de la calidad total, la utilización de la

capacidad, la eficiencia de la distribución de la planta, la configuración del producto y el

aprovechamiento de lazos con proveedores y clientes.

Al realizar el análisis de costos se tendrá en cuenta:

1) Definir la cadena de valor.

2) Diagnosticar las guías de costo para las actividades.

3) Definir la cadena de valor de los competidores.

4) Desarrollar estrategias para alcanzar una posición.

5) Probar la estrategia, sostenibilidad de costos o diferenciación.

La crisis mundial se ha instalado y nadie puede afirmar cuando o donde acabará. Muchos expertos
consideran que hay que tomar medidas para que la situación no empeore, pero al tener un entorno
incierto dificulta decidir cual es la o las medidas correctas a adoptar. Resulta casi imprescindible tener
varios escenarios posibles y en base a ellos las instituciones deberán decidir cual es la mejor estrategia
a adoptar.

No pocos fueron los que avisaron sobre la situación que se aproximaba, sin embargo todas las alertas
no fueron consideradas y en lugar de solucionar los problemas de fondo, se tomaron medidas de corto
plazo, seguramente por múltiples causas. Algunos expertos consideraban que una nueva crisis se
avecina, de acuerdo a lo expresado en el libro de Iturburu y no se encontraban lejos de la realidad que
se esta viviendo: la crisis de Grecia, Portugal, España, Alemania y que involucró no sólo a países de
Europa sino a una gran cantidad de países de todo el mundo.

Es así que la región no se encuentra libre de esta situación. Las opiniones expuestas en la XII Jornada
de Coyuntura Económica Regional y Nacional, son variadas. El expositor de la Fundación de
Investigaciones Económicas Latinoamericanas expresa que “(…) al menos sabemos que no sabemos
(…)”. El expositor de CEDES (Argentina) advierte de los riesgos de la aceleración de la inflación, del

965
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

agravamiento de la situación internacional, de la salida de capital y los problemas de la competitividad


y del tipo de cambio real, los posibles cambios políticos; de las contradicciones que se presentan entre
Argentina y Brasil, todos temas que afectan directamente a cualquier empresa. Para el caso de
Uruguay la visión del Banco Central parece ser “optimista” desde el punto de vista de la
competitividad, pero cualquier problema en la región seguramente lo afectará. De ahí que la opinión
de las auditorías advierta sobre distintas situaciones: a) “(…) se debería poner mucho mayor énfasis
en el papel contra cíclico de la política fiscal, para evitar que el esfuerzo anti inflacionario recaiga
excesivamente en el tipo de cambio (…)” (Deloitte). b) Con una economía mundial incierta, donde los
sectores se ve afectados de manera diferente en una nueva realidad política, las empresas presentan
algunos temas en común de alerta: inflación, salarios, competitividad y presupuestos
(PricewaterhouseCoopers). c) El Instituto de Economía menciona, entre otros puntos, el riesgo país
que presenta un leve aumento.

Como en todas las situaciones las crisis dan la oportunidad de realizar cambios que en otras situaciones
no se realizarían y salen a la luz los temas críticos.

Existen distintas herramientas administrativas que nos ayudan en el GEC para tratar de tener mejor
información sobre la situación a la que las empresas se podrían enfrentar. Las opiniones de los
expertos nos irradian luz sobre algunos temas neurálgicos. Para estos temas podría resultar
importante realizar análisis de sensibilidad sobre la posible afectación en las empresas, a favor o no,
el considerar situaciones extremas permitirá ir planificando posibles acciones a adoptar.

Publicado en el diario El País de Uruguay, de fecha 11 de agosto de 2010 en la versión digital


(http://www.elpais.com.uy/100811/ultmo-507702/ultimomomento/desanimo-de-losinversores-
desploma-los-mercados-mundiales), se puede leer después de una serie de noticias negativas sobre el
mercado estadounidense:

``Incertidumbre, incertidumbre, incertidumbre´´, afirmó Javier Pérez Santalla, director administrativo


de futuros y divisas en la casa de corretaje Dinosaur Group, para describir el ambiente en el mercado.

``Todos se están rascando la cabeza, diciendo ´¨por dónde?´´´, comentó Pérez.

``Estamos como atascados en esta tierra de nadie, donde nos condenamos si actuamos y nos
condenamos si no´´.

966
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

El consenso parece ser la incertidumbre.

5 BIBLIOGRAFÍA

GOLPE, A. M.; Goncalves, E. Gerencia Estratégica de Costos. UdelaR. 2001

ITURBURU D. El colapso de Wall Street (2009). Co autor Pablo Arrieta. Artemisa Editores.

PORTER MICHAEL E. (1993). Estrategia Competitiva. Técnicas para el análisis de los sectores
industriales y de la competencia. 17ma. Reimpresión. Editorial CECSA.

PORTER MICHAEL E. (1999). Ser Competitivo. Nuevas aportaciones y conclusiones. Ediciones Deusto
S.A.

SHANK J., GOVIDANRAJAN V. (1995). Gerencia Estratégica de Costos. La nueva herramienta para
desarrollar una ventaja competitiva. Editorial Norma S. A.

http://www.iecon.ccee.edu.uy/coyuntura/index.htm

967
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 46

GESTÃO DE METAS: UM ESTUDO COMPARATIVO DA


EFICIÊNCIA DE UNIDADES OPERACIONAIS EM UMA
EMPRESA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.
DOI: 10.37423/200400647

Ricardo José Dória

José Carlos Lakoski

Alceu Souza

Resumo: Esse artigo comparara a eficiência de unidades operacionais, visando subsidiar o


processo de estabelecimento de metas de custo de pessoal, material, serviços e outros para
uma empresa de distribuição de energia elétrica de grande porte no Brasil. O artigo busca
trazer contribuições para pesquisadores, gestores e acionistas envolvidos com o processo de
definição de metas e a implementação de mudanças visando aumentar a eficiência das
organizações. A fundamentação teórica respalda-se nos aspectos da regulamentação
econômica do setor elétrico, no processo de definição de metas e na gestão estratégica de
custos. Foram levantados dados de custos, número de consumidores, mercado e quantidade
de ativos de cinco unidades operacionais do período 2004 a 2009. Tais unidades
desempenham a mesma finalidade operacional, mas apresentam características geográficas,
mercadológicas e técnicas distintas, dificultando a comparação e o estabelecimento de metas.
Utilizou-se regressão linear múltipla para obtenção de equações que expliquem a relação
entre os custos e seus principais direcionadores.

968
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A equação selecionada, que expressa os custos como uma função do número de consumidores totais
e da extensão de rede, apresentou R2 igual a 0,9286. O modelo foi validado estatisticamente pelas
significâncias da amostra, do coeficiente de determinação (teste F) e dos coeficientes da equação
(teste t) e teoricamente pelo sentido dos coeficientes. As hipóteses subjacentes às técnicas de análise
multivariada de normalidade, homocedasticidade e linearidade foram verificadas.

Palavras chaves: Gestão estratégica de custos, Controle nas organizações, Indicadores de eficiência,
Benchmark.

Área Temática: Aplicações de Modelos Quantitativos de Gestão de Custos.

969
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1 INTRODUÇÃO

A partir de 1993 uma série de mudanças foi introduzida na regulamentação do setor elétrico brasileiro
(Lei nº 8.631 de 1993). Uma das principais mudanças ocorreu na regulamentação econômica das
empresas de distribuição de energia elétrica, tendo como um dos objetivos incentivar o aumento da
eficiência das empresas. Até então, os preços (tarifas) de energia elétrica eram definidos com base em
projeção da demanda e dos custos dos serviços, recaindo no chamado “Controle de Lucros” que não
estimula a eficiência das organizações. Propôs-se então o “Controle de Preço”, o modelo também
denominado “Por Incentivos” ou Price cap, onde os preços ou a receita são definidos para atingir uma
taxa de retorno alvo sobre os ativos ou capital utilizado. Assim, a receita decorrente das empresas é
corrigida anualmente pela inflação e revista a cada quatro anos, estimulando-as a buscar aumento de
eficiência, que será repassado para os consumidores no ano da revisão tarifária (ELETROBRAS, 1997).
Nessas revisões, utilizando-se critérios econômicos e de engenharia, são definidos os custos de PMSO
(Pessoal, Material, Serviços e Outros) específicos para cada empresa. Quando esses limites são
superados, os custos excedentes não são repassados para as tarifas de energia elétrica e,
conseqüentemente, reduzem a rentabilidade da empresa.
Neste cenário, os pesquisadores e os administradores das empresas de distribuição têm um desafio de
buscar ferramentas para aumentar a eficiência das empresas. Uma dessas estratégias é o
estabelecimento de mecanismos baseados em indicadores e metas (WRIGHT, KROLL E PARNELL, 2000;
KAPLAN E NORTON, 2004; HATCH, 1997).
O estabelecimento das metas podem utilizar a comparação com organizações de referência, que para
ser efetiva deve considerar as distintas características das organizações, como o número de unidades
consumidoras, extensão da rede de distribuição e mercado atendido, densidades de carga,
concentração de consumidores e condições climáticas.
O objetivo geral desse artigo é comparar a eficiência de unidades operacionais com características
distintas de uma das grandes empresas de distribuição de energia elétrica do Brasil, visando subsidiar
o processo de estabelecimento de metas de custos de PMSO, por meio de análise multivariada com a
utilização da regressão linear múltipla, para identificar a relação dos custos com variáveis
(direcionadores de custos) que caracterizam essas unidades. O artigo está estruturado de modo a: (i)
descrever sucintamente o referencial teórico, composto de elementos da regulamentação econômica
do setor de distribuição de energia elétrica, de processos para definição de metas e de gestão
estratégica de custos; (ii) apresentar a metodologia da pesquisa, abordando a obtenção dos dados e a
técnica de análise multivariada aplicada – regressão linear; (iii) descrever o modelo de análise utilizado

970
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

para comparação da eficiência das unidades operacionais e para o estabelecimento das metas de
custo; (iv) mostrar e analisar os resultados obtidos; e (v) apresentar as principais conclusões da
pesquisa e propor novos temas para pesquisas futuras.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A fundamentação teórica respalda-se nos aspectos da regulamentação econômica do setor elétrico,


no processo de definição de metas e na gestão estratégica de custos.

2.1 REGULAMENTAÇÃO ECONÔMICA DO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

A lei nº 8.631 de 1993 pode ser considerada um importante marco de mudanças do modelo do setor
elétrico ao extinguir a equalização tarifária e estabelecer um novo ambiente para o suprimento de
energia. Posteriormente, a lei nº 9.074 de 1995 inseriu novos agentes no setor elétrico, como o
produtor independente de energia e o consumidor que pode escolher o seu fornecedor de energia.
Em junho de 1997, foi publicado o relatório do Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico
Brasileiro, solicitado pelo Ministério de Minas e Energia para um consórcio de empresas de consultoria,
que estabeleceu as bases para a implementação de subseqüentes mudanças legais e regulamentares.
O objetivo da reforma era permitir ao Governo concentrar-se nas funções políticas e regulamentares
e transferir a funções de operação e investimentos ao setor privado. Ocorreu a segmentação das
atividades de comercialização, geração, transmissão e distribuição. Essas duas últimas, caracterizadas
como monopólios naturais exigiram um conjunto maior de regulação. Foi introduzida a competição
nos setores de geração e comercialização e, nos setores de transmissão e distribuição, foi introduzido
o chamado “controle de preços”, em substituição ao “controle de lucros”, para proporcionar incentivos
à eficiência (ELETROBRAS, 1997).
Segundo Jamasb e Pollitt (2000), a partir dos anos 90, vários paises instauraram reformas nos setores
de infraestrutura especialmente no setor elétrico no sentido de aumentar a competição. Segundo eles,
nos segmentos de transmissão e distribuição, vários países adotaram a regulação por incentivos no
sentido de buscar a eficiência, que envolve a comparação do desempenho real contra um desempenho
de referência.
Na regulamentação econômica do setor de distribuição de energia, foi adotado um modelo “por
incentivo”, conhecido como Price Cap. (ELETROBRAS, 1997). Nesse modelo estipula-se um vetor de
preços dos vários serviços ou dos diferentes tipos de consumidores atendidos pela empresa de
distribuição de tal forma que a receita requerida ou permitida cubra os custos à luz de uma gestão

971
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

eficiente de recursos. A receita requerida é composta basicamente por duas parcelas, denominadas A
e B. A primeira é composta pelos custos que são repassados quase integralmente para os consumidores
(“pass through”), como a compra de energia elétrica proveniente dos leilões, taxas e impostos. A
parcela B é formada pela remuneração do capital, quota de integração, perdas por inadimplência e os
custos de PMSO. A receita requerida é corrigida anualmente pelo índice de variação da inflação
subtraído de fator de produtividade. Esse mecanismo de price cap funciona até a próxima revisão da
receita (em média a cada quatro anos), data em que os níveis de custos eficientes e novo fator de
produtividade são estabelecidos. O órgão regulador, ANEEL, verifica os resultados da qualidade dos
serviços e procura incentivar um comportamento que leve a eficiência (custos operacionais eficientes)
(ANEEL, 2003, 2006).
Os custos operacionais eficientes são definidos no modelo da Empresa de Referência, baseado em
análise econômica e de engenharia, com aderência às condições geográficas, mercadológicas e
técnicas da área de concessão (ambiente específico de atividade da concessionária), assegurando a
prestação dos serviços com os níveis de qualidade exigidos. Essa metodologia utiliza direcionadores de
custo de atividades e recursos e referenciais de mercado (ANEEL, 2003).
A estrutura organizacional ótima é estabelecida considerando os postos de trabalho necessários com
remuneração a valores de mercado, considerando os processos e atividades de cinco funções básicas:
direção, estratégia e controle, administração, finanças, distribuição e comercial. A definição dos custos
associados às áreas-meio (direção, estratégia e controle, administração e finanças) é feita, entre
outros, a partir de direcionadores (drivers) de remuneração, encargos e benefícios de pessoal, gastos
com limpeza e manutenção, água e eletricidade, comunicações, telefonia, gastos correntes de
escritório, aluguel de escritório e depósitos e veículos administrativos. Os direcionadores, definidos
em termos de R$/empregado, são obtidos em pesquisas de mercado, realizadas em regiões associadas
a cada concessionária. O estudo dos custos de distribuição, relativos a operação e manutenção das
instalações elétricas é realizado sob o enfoque da análise de processos, por meio do levantamento das
atividades. Os principais direcionadores de atividades são: a quantidade de ativos existentes para cada
nível de tensão; o tempo de execução e do deslocamento; a freqüência anual para as atividades; o
custo homem-hora; a quantidade e o custo do material utilizado. Os custos dos processos comerciais
são estabelecidos pelo levantamento das atividades relacionadas ao atendimento aos clientes,
correspondentes ao atendimento direto e personalizado aos clientes, os serviços técnicos, que incluem
a conexão de novos consumidores, corte e religação do fornecimento, o controle das perdas não
técnicas, leitura dos medidores, faturamento e arrecadação. Os principais direcionadores são: o

972
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

número de consumidores rurais e urbanos, bem como a freqüência anual, o tempo de execução e
deslocamento e o custo homem-hora (ANEEL, 2003/2006).
Com a publicação da Nota Técnica nº 265/2010, a ANEEL sinalizou que pretende utilizar modelos de
benchmarking para estabelecer os limites de custos operacionais, entre outras razões, para diminuir a
complexidade do modelo da empresa de referência, baseado na parametrização de cada atividade
desenvolvida por uma distribuidora de energia. Com os modelos de benchmarking os milhares de
parâmetros são substituídos por poucos, como número de unidades consumidoras, tamanho da rede
de distribuição e mercado atendido, além de algumas variáveis ambientais que caracterizam as áreas
de concessão (ANEEL, 2010).
Do entendimento da regulamentação econômica do setor de distribuição, conclui-se que existe um
incentivo à busca da eficiência, uma vez que os custos de ineficiência não são repassados para a receita
requerida e os ganhos de eficiência ficam com a empresa pelo menos até a próxima revisão tarifária.

2.2 PROCESSO DE DEFINIÇÃO DE METAS

A definição de metas, segundo a bibliografia, ocorre em, praticamente, todos os modelos de Gestão
Estratégica. Em essência, esses modelos utilizam basicamente os passos de análise das variáveis do
ambiente externo e interno da organização, definição de objetivos, formulação, desdobramento e
implementação das estratégias, estabelecimento de metas, controle dos resultados e o feedback para
ajuste (PORTER, 1986; WRIGHT, KROLL E PARNELL, 2000; NORTON E KAPLAN, 2004, HATCH, 1997).
O Método Clássico apresentado por Porter (1986, p. 16) para a formulação da estratégia competitiva,
baseado no trabalho realizado por Andrews, Christensen e outros integrantes do grupo de Política da
Harvard Business School, coloca no seu centro as metas da empresa, do modo como ela deseja
competir e dos objetivos econômicos e não econômicos, como rentabilidade, parcela de mercado,
resposta social, e outros, derivados das expectativas amplas dos stakeholders (PORTER, 1986).
Segundo Wright, Kroll e Parnell (2000), o desdobramento da estratégia da empresa em estratégias de
áreas funcionais e a integração destas estratégias são fundamentais para o sucesso da implementação
estratégica. Quanto maior a consistência deste inter-relacionamento, maior o sucesso da
implementação estratégica em função do melhor alinhamento entre as estratégias funcionais
(WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000).
Outro modelo de Gestão Estratégica é o Balanced Scorecard, proposto por Norton e Kaplan (2004),
talvez o modelo mais utilizado pelas grandes empresas. Esse modelo atua principalmente nas fases de
implementação das estratégias, controle dos resultados e o feedback. Tem como base um sistema de

973
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

mensuração, que utiliza, de forma balanceada, indicadores financeiros e não financeiros, que ajudam
a acompanhar, descrever e comunicar a estratégia e, com isso alinhar a organização em torno da
estratégia. Dessa forma, segundo estes pesquisadores, aumentam-se as chances de sucesso da
implementação da estratégia.
O estabelecimento de metas também é tratado nas teorias de controle mais modernas como um
mecanismo de implementação da estratégia. Segundo Hatch (1997), nessas teorias, os mecanismos de
controle buscam assegurar que os interesses pessoais sejam minimizados e os interesses da
organização sejam atendidos pelas atividades internas e externas da organização. Um dos modelos de
controle apresentados por essa pesquisadora é o cibernético ou avaliação de desempenho e feedback,
que se baseia na comparação do estado atual do sistema com o estado desejado, em que, aparecendo
alguma diferença, um mecanismo de ajuste é acionado. Esse modelo pode ser aplicado a partir do
monitoramento dos resultados obtidos com as metas estabelecidas em função dos objetivos da
organização. Existindo discrepância, desenvolve-se um ajustamento das ações. O sistema de controle
assim concebido apoiará e incentivará os indivíduos e unidades administrativas a se moverem em
direção às estratégias definidas (HATCH, 1977).
Hatch (1997, pág. 332) adverte que “existem várias estratégias para fugir do controle organizacional.
Entre elas estão o comportamento burocrático rígido, a gestão da impressão e a trapaça”. O
comportamento burocrático rígido, como o segmento de medidas em vez de metas ou a aplicação
rigorosa de regras, leva a execução das atividades de forma mais lenta. A gestão da impressão envolve
a escolha entre ter uma performance acima do padrão (“ser bom”) ou “parecer bom”, especialmente
quando o gerente recompensa melhor quem lhe “parece bom” (“puxa-saco”), criando desigualdades
e abalando a confiança no sistema de controle. As trapaças geralmente ocorrem no controle de
resultados. Exemplos mais comuns são falsificações dos registros e invalidações de indicadores e
relatórios (HATCH, 1977).
Segundo Eisenhardt (1989), a Teoria da Agência trata de outros dois problemas resultantes do
relacionamento em que uma parte (principal) delega tarefa para outra parte (agência). O primeiro é
decorrente de conflitos entre os desejos ou metas do principal e do agente, que ocorrem em função
das pessoas serem autodeterminadas, terem racionalidade limitada e possuírem diferentes aversões
a riscos. O segundo ocorre da dificuldade ou por ser muito custoso o principal obter informações para
verificar o que o agente está realmente fazendo. O foco dessa teoria é determinar o tipo de contrato
mais eficiente para regular o relacionamento entre o principal e o agente, se baseado em resultados
ou comportamentos. (EISENHARDT, 1989).

974
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Ouchi (apud Hatch, 1997) aponta o mercado como uma das fontes para tratar os problemas de
controle. Esse controle é mais adequado para fixar objetivos e avaliar o desempenho de organizações
que atuam em mercados competitivos ou onde informações de preços, lucros e participação de
mercado podem ser usadas. No entanto, pode também ser utilizado para controlar unidades
administrativas internas, através da criação de centros de lucro e de custo. As informações são
empregadas para simular uma situação de mercado internamente na organização, visando controlar
resultados e fixar parâmetros de troca entre as unidades internas. O foco desse controle é o resultado
(HATCH, 1977).
Pode-se concluir do exposto, que a obtenção de metas está associada ao problema de obter o
alinhamento do comportamento dos indivíduos, grupos e unidades aos objetivos da organização e, no
caso das empresas de distribuição, a busca da eficiência. Esse problema é tratado pelas teorias de
gestão estratégica e controle organizacional. A comparação de custos entre as unidades operacionais
auxilia a implantação do mecanismo de controle de avaliação de desempenho e feedback, por
proporcionar a obtenção de metas de custos, a comparação com os resultados obtidos e implantação
de ajustes, se necessário. A comparação de custos de unidades operacionais desiguais simulará o
controle por meio do mercado, por simular uma situação de mercado com as unidades operacionais.
Também auxilia a solução dos problemas de controle apontados por Hatch (1997) (“comportamento
burocrático rígido, a gestão da impressão e a trapaça”) e na Teoria da Agência de obtenção de
informações para que o principal avalie o desempenho do agente.

2.3 GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

Além dos referenciais da regulamentação econômica e do processo do estabelecimento de metas, que


mostram a importância da eficiência em custos e da obtenção de metas para controle da implantação
da estratégia das empresas de distribuição, também buscou-se referencias na gestão de custos.
Segundo Bacic (2008, pág. 142) a gestão de custos deve “dar conta de um conjunto de demandas que
às vezes, podem parecer contraditórias. Como racionalizar os custos e não destruir as competências
internas? Como administrar nos sistemas flexíveis? Como atender os clientes com alta qualidade e
baixo custo? Como aumentar a produtividade?”
Segundo Souza e Clemente (2007 p. 15), enquanto a gestão tradicional de custos está voltada
essencialmente para a análise e redução de custos com ênfase no processo produtivo, a gestão
estratégica de custos está focada na “eficiência do processo produtivo e na eficácia de resultados”. Os

975
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

autores também ressaltam que os custos atuais são decorrentes decisões e estratégias adotadas no
passado.
A dimensão estratégica tem sido contemplada na bibliografia de forma relevante, como se observa em
Shank e Govindarajem (1997). Segundo estes autores, a gestão estratégica de custos deve contemplar
“uma análise de custos vista sob um contexto mais amplo, em que os elementos estratégicos tornam-
se mais conscientes, explícitos e formais”. A abordagem proposta por eles está ancorada em três
pilares: análise da cadeia de valor, posicionamento estratégico e direcionadores de custos. A análise
da cadeia de valor contempla o conjunto de atividades criadoras de valor, desde as fontes de matérias
primas e seus fornecedores até o produto final e seus consumidores. O posicionamento estratégico
compreende a avaliação das oportunidades ambientais externas, os recursos existentes, a estratégia
do produto ou negócio (custo ou diferenciação), as metas e o conjunto de ações derivadas.
Os direcionadores remetem ao custeio ABC - Activity Based Costing, introduzido por Cooper e Kaplan
(1988), onde os custos são apropriados nas tarefas e atividades por meio de direcionadores de custo,
identificados no processo de produção. Já na visão de Shank e Govindarajem (1997), os direcionadores
de custos apresentam amplitudes mais abrangentes e estratégicas, diferentes dos conceitos mais
operacionais do custeio ABC. Para Martins (2000), o direcionador de custo é a “verdadeira causa dos
custos”. A sua identificação é essencial na estruturação de quaisquer sistemas de custos, pois
respondem essencialmente pela sua causa. Segundo Junior, Oliveira e Costa (2010), os direcionadores
devem “mensurar o grau de eficiência e eficácia com que as atividades estão sendo executadas e
aprovadas durante a fase do planejamento estratégico” e “oferecer subsídios de eliminação de
desperdícios e aprimoramento das rotinas”.
Outra ferramenta é do custo-meta, nascida nas organizações japonesas nos anos 80, concebida para
auxiliar na redução de custos. O custo-meta é obtido pela subtração de um preço estimado ou preço
de mercado da margem de contribuição desejada. Esse custo resultante, que inclui os custos de
produção, engenharia e de marketing, passa a ser o objetivo desejado (JUNIOR, OLIVEIRA E COSTA,
2010). De acordo com Sakurai (1979), atinge-se esta meta concentrando os esforços integrados em
todos os departamentos de uma empresa, tais como, engenharia, marketing, produção e
contabilidade, e em toda a cadeia de valor, resultando num incentivo à inovação.
Essas referências de gestão estratégica de custos demonstram conexões com a regulamentação
econômica do setor de distribuição e com o processo de definição de metas. A metodologia para
definição dos custos operacionais das empresas de distribuição, baseada em direcionadores de custo
e referenciais de mercado, fornece um custo-padrão ou custo-meta a ser considerado pelos gestores

976
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

e acionistas, contribuindo para diminuir o problema de obtenção de informações apontado na Teoria


da Agência. As mais recentes notas técnicas da ANEEL apontam para a utilização de modelos com
quantidade significativamente menor de direcionadores para estabelecer os referenciais de custo.
Esses direcionadores e a sua relação com os custos de PMSO podem ser utilizados para identificação
de metas e benchmarks, auxiliando na identificação de oportunidades para aumentar a eficiência dos
processos.

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo exploratório, não experimental. No estudo


exploratório, de acordo com Gil (1999), o pesquisador busca desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e idéias, para validar ou reformular as hipóteses, bem como aumentar a sua experiência
sobre o tema. Além disso, o estudo exploratório serviu para consolidar o instrumento de pesquisa. O
estudo foi também do tipo não-experimental ou ex-post facto, uma vez que nenhuma das variáveis
independentes foi manipulada pelo pesquisador (KERLINGER, 1980).
A pesquisa para seleção obtenção dos direcionadores e seus valores foi estruturada em três partes. A
primeira procurou identificar os principais direcionadores de custo. Esse rol de potenciais
direcionadores pré-selecionados pelos autores foi levado na 2ª parte para entrevistas e reuniões com
técnicos especialistas. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), as técnicas de pesquisas de entrevistas
são efetuadas “face a face de maneira metódica e proporcionam ao entrevistador, verbalmente a
informação necessária”. Considerando o rol de direcionadores pré-selecionados e os objetivos
definidos, a técnica de entrevista utilizada foi a estruturada. A terceira parte foi realizada no sentido
de coletar os dados dos custos de PMSO das cinco unidades operacionais e os correspondentes
direcionadores. Os dados dos custos foram obtidos junto à área financeira e os dados dos
direcionadores de custos junto à área de mercado, portanto dados primários. O nível de análise foi o
organizacional e a unidade de análise ou o sujeito da pesquisa foram as cinco unidades operacionais,
com abordagem predominantemente quantitativa. A perspectiva do estudo é de análise longitudinal
compreendendo os dados de custos de PMSO e dos direcionadores de custo das cinco unidades
operacionais do período de 2004 a 2009.
O tamanho da amostra, para a análise de regressão linear, atendeu recomendação de Hair (2005).
Segundo ele, para que os resultados possam ser generalizados, o tamanho da amostra deve
proporcionar uma relação mínima de tamanho da amostra sobre número de variáveis independentes
de 5 para 1, sendo o nível desejado de 15 a 20. Com uma amostra de 30 observações (histórico de 6

977
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

anos de 5 unidades operacionais), recomenda-se utilizar na análise de regressão linear de 1 a 2


variáveis independentes, que foi um intervalo adequado para esta pesquisa.

4 MODELO DE ANÁLISE

O modelo de análise utilizado baseia-se no pressuposto de que os custos de PMSO das unidades
operacionais são função de direcionadores de custo dos processos comerciais e de manutenção e
operação do sistema elétrico. A partir desse pressuposto, foi posta à prova a seguinte hipótese: os
custos de PMSO das unidades operacionais podem ser explicados por um conjunto de direcionadores
de custos.
Os direcionadores de custo testados foram número de consumidores total, número de consumidores
atendidos em baixa tensão, média tensão e alta tensão, número de consumidores rurais e urbanos,
mercado de energia elétrica total, mercado atendido em baixa, média e alta tensão, extensão de rede,
potência de transformação, número de postes e transformadores. As relações dessas variáveis com o
custo de PMSO foi investigada por meio de regressão linear múltipla, utilizando-se planilha eletrônica.
Segundo Hair (2005, pág. 131), “é de longe a técnica de dependência mais amplamente usada e
versátil, aplicável em cada faceta da tomada de decisões em negócios”.
Tal como recomendado por praticamente todos os autores, os estudos de análise multivariada
iniciaram com uma análise dos dados coletados (HAIR, 2005). Para isto, foram analisados os valores
fora de padrão ou observações atípicas (outliers). A correção utilizada foi definir novos valores com
base na taxa média de crescimento do período observado. Foram utilizados modelos linear (1) e
geométrico (2).

PMSO  a  b1  x 1  b 2  x 2  ... (1)


b b
PMSO a  x1 1  x2 2  ... (2)

O modelo (2) tem a mesma forma da função Cobb-Douglas, que é amplamente utilizada para
estimativas de produção (MANSFIELD, 1991). Estas equações podem ser escritas nas suas formas
matematicamente equivalentes, respectivamente (3) e (4). A equação (4) é uma aplicação do
logarítmico sobre as variáveis da equação (3) para linear a equação e utilizar a técnica de regressão
linear.

978
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

PMSO  a   1  1 . x1  2 . x 2  ... 
b b
a a (3)
 

log PMSO  log a  b1  log x1  b 2  log x 2  ... (4)

As formas das equações (2) e (3) são utilizadas para comparar a eficiência das unidades operacionais,
como será mostrado a seguir. O método utilizado para a seleção das variáveis (direcionadores de custo)
para inclusão nas simulações foi o por etapa (stepwise). Cada variável é avaliada previamente antes da
sua inclusão no modelo. A variável independente com maior contribuição é incluída em primeiro lugar.
A inclusão de outras variáveis é feita em função da sua contribuição incremental ao modelo definido
na etapa anterior, considerando o coeficiente de correlação parcial da variável independente que
explique a maior parte do erro remanescente. Esse procedimento é repetido até concluir a
consideração de todas as variáveis (HAIR, 2005).
Na análise prévia para inclusão de nova variável também se considerou a sua correlação com a(s)
variável(is) selecionadas previamente, para evitar o efeito da multicolinearidade, que segundo Hair
(2005) reduz o poder preditivo da variável independente na medida em que ela é associada com outras
variáveis independentes. Em conseqüência dessa decisão de compromisso (alta correlação com os
erros remanescentes e baixa correlação com as variáveis selecionadas previamente) foram efetuadas
simulações com outros direcionadores.
Um problema potencial no procedimento stepwise é a desconsideração de variáveis que juntas
explicam parte significante da variância, mas individualmente não (HAIR, 2005). Para evitar esse
problema foi examinado se outras alternativas teoricamente válidas não deveriam ser incluídas nas
simulações.
A avaliação da melhor equação de ajustamento foi feita por meio do coeficiente de determinação R 2,
que segundo Laponni (2000) deve ser interpretado como a proporção da variação total da variável
dependente que é explicada pela variação das variáveis independentes. Observou-se, além da
significância estatística do coeficiente de determinação R 2 (teste F), a significância estatística da
amostra e a significância estatística dos coeficientes da equação (teste t). A avaliação do modelo
também considerou o sentido teórico dos coeficientes das variáveis. Na validação final do modelo
verificou-se se as hipóteses subjacentes às técnicas lineares, a normalidade, a homocedasticidade e a
linearidade, não foram violadas. Se esses diagnósticos forem razoáveis, o modelo continua a ser
utilizado, caso contrário, correções e adequações ao fenômeno estudado devem ser feitas (HAIR,
2004).

979
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A partir das estimativas pontuais fornecidas pela equação do modelo selecionado, foram realizadas
três análises: (i) o poder de previsão do modelo calculado pelo intervalo de confiança dos valores
previstos, (ii) a eficiência das unidades operacionais e (iii) a influência do rendimento ou retorno de
escala nos custos de PMSO.
A análise do poder de previsão do modelo será realizada pelo intervalo de confiança dos valores
previstos calculado com base no Erro Padrão de Estimativa – SEE e no nível de confiança estabelecido
(HAIR, 2005). O valor a ser acrescido e diminuído de cada ponto estimado é calculado da seguinte
maneira:

 Soma_ dos _ quadrados_ dos _ erros 


Intervalo_ de _ confiança  t  
 (5)
 Tamanho_ da _ amostra 2 

A segunda análise, da eficiência das unidades operacionais, pode ser calculada a partir da relação entre
as entradas e saídas, com seus respectivos pesos, introduzida por Charnes, Cooper e Rhodes (1978).
As entradas são os direcionadores de custo (variáveis independentes) com seus respectivos pesos, e
as saídas são os valores de PMSO (variável dependente). As fórmulas (6) e (7) a seguir, derivadas da
função linear (3) e geométrica (2), calculam a eficiência de cada unidade operacional.

  PMSO b1 b2
(1  .x1  .x2  ...) (6)
a a

  PMSO b b (7)
x1 1 .x2 2 ....

A unidade operacional que tiver o menor valor de  será a mais eficiente, podendo ser o valor
utilizado como o benchmark para estabelecer metas e iniciativas de redução de custo (custo-meta).
A terceira análise, a influência do rendimento ou retorno de escala identifica como as saídas do modelo
se comportam em função de diferenças da escala. Existem três possibilidades: primeira, as saídas
podem aumentar em uma proporção maior que as entradas, retornos de escala crescentes; segunda,
as saídas aumentam em uma proporção menor, retornos decrescentes de escala; terceira, as saídas
aumentam exatamente na mesma proporção, retornos constantes de escala (MANSFIELD, 1997).
A influência do rendimento ou retornos de escala nos custos de PMSO pode ser analisada
multiplicando-se os direcionadores de custo por  . Se o resultado obtido for menor que  vezes os

980
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

custos de PMSO, ocorreu redução de custo com o aumento de escala (rendimento crescente de escala).
As relações a seguir, (8) para a reta e (9) para a geométrica, permitem identificar a influência do
rendimento de escala na redução dos custos de PMSO.

e  a    b1 .x1   .b2 . x2  ...


  PMSO  (8)


e  a    x1  1  .x2  2  ...
b b
   PMSO (9)

A análise do valor dee leva a três possíveis conclusões: (i) se e=1, não existe influência do rendimento
de escala nos custos de PMSO; (ii) se e>1, ocorreu aumento do custo de PMSO com o aumento de
escala (rendimento decrescente de escala); e (iii) se e<1, ocorreu diminuição do custo de PMSO com
o aumento de escala (rendimento crescente de escala).
A situação esperada é encontrar alguma redução do custo de PMSO com o aumento de escala ( e<1).
Caso não ocorra, temos um indício de imprecisão do modelo, se não for encontrada justificativa para
tal, como, por exemplo, aumento dos custos de PMSO maiores que o índice de correção utilizado ou
por exigências legais ou operacionais. Nessa situação, poderá ser necessário impor a condição de que
o valor de e encontrado pelas equações (8) e (9) deverá ser igual a 1, para obter um modelo sem
influência do rendimento de escala.

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A seguir estão os modelos testados e seus respectivos valores de Coeficiente de Regressão (R 2). Os
valores do F de significação destas regressões ficaram consideravelmente abaixo do valor estabelecido
de 0,05.

PMSO  54 . 702 . 744  69 , 91  NCT R 2  0,8236 (10)

PMSO  90 .733  NCT 0 , 5243


R2  0,8617 (11)
PMSO  17 .308 . 665  70 ,87  NCT  78 ,90  NP R2  0,9369 (12)
PMSO  1 .485  NCT 0 , 5058
 NP 0 , 3344 R2  0,9399 (13)
PMSO  17.445.771  87,18  NCT  751,54  ER R2  0,9234 (14)
PMSO  2.194  NCT 0 ,6374  ER 0, 2128 R 2  0,9364 (15)

981
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

PMSO  16 . 109 . 221  105 ,55  NCT  761 ,15  ER  3,37 *  MMB R2  0,9253 (16)
PMSO  2 .116  NCT 0 , 6209
 ER 0 , 2134  MMB 0 , 0168
* R2  0,9365 (17)
PMSO  21 . 240 . 982  96 , 71  NCT  667 , 05  ER  1, 74 * MT R2  0,9295 (18)
PMSO  1 . 464  NCT 0 , 6256
 ER 0 , 2284  MT 0 , 0264
* R2  0,9373 (19)
PMSO  12 . 010 .409 *  92 ,81  NCU  265 ,94  NCR  1 . 500 , 09  ER R2  0,9446 (20)
PMSO  3 . 173  NCU 0 , 5724
 NCR 0 , 0629
*  ER 0 , 2008 R 2  0,9354 (21)

PMSO  363,7  NCT 0,7170  ER 0, 2830 R2  0,9286 (22)

Onde:
NCT  Número de Consumidores Total
NCU  Número de Consumidores Urbanos
NCR  Número de Consumidores Rurais
NP  Número de Postes
ER  Extensão de Rede
MMB  Mercado atendido em Média e Baixa tensão
MT  Mercado Total

Seguindo o procedimento stepwise, o primeiro direcionador incluído no modelo foi o Número de


Consumidores Total, que tem a maior correlação (0,959) com os custos de PMSO. Com este
direcionador foram obtidas as equações (10) e (11).
Desconsiderando os demais direcionadores relacionados a número de consumidores por já estarem
incluídos no Número de Consumidores Totais, o segundo direcionador com maior correlação com os
resíduos do modelo anterior foi o Número de Postes. Foram obtidas então as equações (12) e (13),
com um ganho significativo do coeficiente de determinação (R2), de 0,86 para 0,94. Como este
direcionador tem uma alta correlação com o Número de Consumidores Totais (0,903), foi testado
modelo alternativo utilizando a Extensão de Rede, que é a próxima variável com maior correlação com
os resíduos do modelo anterior e apresenta uma correlação com o número de consumidores igual a
0,862. Com isso foram obtidas as equações (14) e (15).
O terceiro direcionador com maior correlação com os resíduos dos modelos de duas variáveis é a da
Potência em Transformadores, que não foi utilizada por ter uma correlação quase perfeita com o

982
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Número de Consumidores Totais (0,987). O próximo direcionador é o Mercado Fio atendido em média
e baixa tensão, que tem correlação de 0,961 com o Número de Consumidores e 0,793 com a Extensão
de Rede. Com isso foram obtidas as equações (16) e (17), sem melhoria no valor do R 2.
Alternativamente a este direcionador, foi testado o Mercado Fio Total, que tem correlação 0,921 com
o Número de Consumidores Totais e 0,735 com a extensão de rede. Foram obtidas as equações (18) e
(19). Novamente não houve melhoria significativa no valor de R 2.
As regressões (20) e (21) são resultado de uma investigação para prevenir o problema potencial no
procedimento stepwise de desconsideração de variáveis que juntas explicam parte significante da
variância, mas individualmente não (HAIR, 2005). Nessas regressões, o direcionador Número de
Consumidores Totais foi substituído por dois outros direcionadores: Número de Consumidores
Urbanos e Número de Consumidores Rurais. Teoricamente, o custo de atendimento dos consumidores
rurais é superior ao de urbanos. Novamente, não houve ganho no valor de R2 .
A equação (22), derivada da equação (15), foi obtida para atender uma condição de inexistência da
influência de escala na redução do custo de PMSO, como explicado a seguir.
Portanto, a inclusão de uma segunda variável aumentou consideravelmente o poder de explicação do
modelo, R2 variou de 0,86 para 0,93. Já a inclusão de uma terceira variável praticamente não contribuiu
para o aumento do poder de explicação do modelo.
A análise das interseções e dos coeficientes das variáveis destas equações foi feita pelo confronto dos
valores-p obtidos com o nível de significância estabelecido de 0,05. Uma das variáveis marcadas com
* das equações (16), (17), (18), (19), (20) e (21) não atingiram esse nível de significância. A análise do
sentido dos coeficientes mostrou que as equações (16), (18) e (19) apresentaram sinal negativo,
contrariando o modelo teórico. Estas equações foram então desconsideradas.
As equações restantes com duas variáveis, (12), (13), (14) e (15), têm praticamente o mesmo poder
explicativo (R2), em torno de 0,93, sendo por este critério praticamente indiferente a utilização de
qualquer delas. As equações (14) e (15) utilizam como segunda variável independente a Extensão de
Rede e as equações (12) e (13) utilizam o número de postes. Considerou-se a utilização da Extensão de
Rede mais adequada, por ser a preferida entre os especialistas consultados e por ter uma menor
correlação com o Número de Consumidores Totais. Entre a equação de reta (14) e a geométrica (15),
optou-se por utilizar esta por ser mais flexível ao permitir a consideração de não linearidades.
A equação (22) tem a mesma forma geométrica da equação (15), diferenciando-se desta pela
imposição da condição de que a soma dos expoentes dos direcionadores de custo da seja igual a 1.

983
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Demonstra-se matematicamente que esta condição implica em encontrar uma solução para a
regressão linear com e  1 (sem influência da escala no custo de PMSO).
Essa condição foi imposta devido o valor de e obtido pela fórmula (9) com a utilização da fórmula (15)
foi 0,90, utilizando um aumento de 100% dos valores dos direcionadores (   2 ), indicando que esse
modelo obtido incorpora uma redução do custo com o aumento de escala, que não foi confirmado
pelos dados históricos de crescimento dos direcionadores e dos custos de PMSO, conforme mostrado
na Tabela 1. A taxa de crescimento do custo de PMSO foi maior que as taxas de crescimento dos
direcionadores de custo no período 2004-2009, demonstrando que, ao contrário do modelo, não
houve ganho de escala no período.

Tabela 1 - Crescimento médio anual das variáveis noperíodo 2004-2009 (%)

Unidade PMSO NCT ER

Unid.Oper.1 4,36% 2,63% 2,83%


Unid.Oper.2 4,78% 2,86% 1,51%
Unid.Oper.3 3,43% 2,44% 1,41%
Unid.Oper.4 5,34% 2,47% 1,42%
Unid.Oper.5 7,13% 3,17% 3,04%
Média = 5,01% 2,71% 2,04%

Sem analisar as possíveis causas para este comportamento, que não foi objeto desta pesquisa, essa
discrepância pode indicar uma imprecisão do modelo, optou-se por utilizar o modelo sem influência
da escala. Observa-se uma redução não significativa no poder explicativo da regressão (R 2) em relação
ao modelo anterior (com influência da escala).
As suposições inerentes à análise de regressão múltipla não foram violadas (linearidade,
homoscedasticidade e normalidade). A linearidade foi confirmada por meio do exame de diagramas
de dispersão das variáveis. Nenhum tratamento alternativo foi necessário. A homoscedasticidade foi
confirmada pelo gráfico de resíduos em relação à previsão do PMSO. Não foi constado nenhum padrão
não linear dos resíduos. A normalidade das variáveis e da variável estatística do modelo foi confirmada
visualmente pelos gráficos de probabilidade normal e estatisticamente pelo teste Kolmogorov-Smirnov
com alfa=0,05.
O último ponto a destacar na análise estatística do modelo é em relação ao efeito da
multicolinearidade, decorrente da correlação de 0,868 entre variáveis independentes. Nessa situação,

984
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Hair (2005), coloca que o modelo pode ser utilizado com segurança para previsão e com restrições
para interpretar o coeficiente das variáveis.
Validado estatisticamente e teoricamente, o modelo pode ser utilizado para projeção do valor de
PMSO em função da previsão de crescimento dos direcionadores de custo (Número de Consumidores
Totais e Extensão de Rede), bem como para estabelecer metas com base no benchmark interno de
eficiência.
O gráfico da figura 1 mostra o resultado do modelo com a equação selecionada (22). O intervalo de
confiança foi estimado por meio da fórmula (5), com o valor de t igual a 2,0520, para o nível de
confiança de 95%, com 27 graus de liberdade (tamanho da amostra menos o número de coeficientes,
ou 30 - 3).

160,0

140,0

120,0
Dados de PMSO das
Unidades Operacionais
100,0
PMSO (R$ milhões)

80,0

60,0

PMSO  363,7  NCT 0 ,7170  ER 0 , 2830


40,0

Intervalo de Confiança (95%)


20,0

-
- 100.000 200.000 300.000 400.000

NCT 0 ,7170  ER 0, 2830

Figura 1 – Gráfico do modelo sem influência da escala na redução do custo de PMSO.

A análise da eficiência das unidades operacionais foi feita pela comparação dos valores de eficiência
 da 2ª coluna da Tabela 2, calculados para cada unidade operacional para o ano de 2009 com a
aplicação da fórmula (7). Por este critério, a unidade operacional 2 é a mais eficiente, estando a
unidade 1 muito próxima. O valor de eficiência do modelo é superior ao das unidades operacionais. A
unidade operacional 5 tem um custo de PMSO cerca de 15,6% maior que a unidade operacional 2 (3ª
coluna da Tabela 2).

985
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 2 - Comparação da Eficiência das Unidades Operacionais em 2009 – Sem Influência da Escala
Relação de Comparação
Unidade
Eficiência de Eficiência
Operacional
 %
Unid.Oper.1 375,1 101,7%
Unid.Oper.2 368,6 100,0%
Unid.Oper.3 390,4 105,9%
Unid.Oper.4 391,9 106,3%
Unid.Oper.5 426,0 115,6%
Modelo 363,7 98,7%

O gráfico da figura 2 ilustra um exemplo de aplicação do modelo para previsão. No período 2004 a
2009 é mostrada a evolução histórica do valor de PMSO da unidade operacional 5 (pelo critério do
modelo a menos eficiente). No período de 2010 a 2014 estão representadas duas projeções: uma com
o mesmo nível de eficiência do ano de 2009 e outra com a meta de atingir em 2013 o mesmo nível de
eficiência da unidade operacional mais eficiente.

120,0
Com eficiência histórica
100,0

80,0
PMSO (R$)

60,0
Com incremento da eficiência
40,0

20,0

-
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Figura 2 – Gráfico da projeção do valor de PMSO da unidade operacional 5.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A regulamentação econômica do setor elétrico brasileiro, implementada a partir de 1993, implantou


mecanismos de incentivo a eficiência das empresas de distribuição de energia elétrica. O aumento da

986
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

eficiência certamente passou a ser um dos objetivos mais presentes nas estratégias das empresas de
distribuição. Os custos de PMSO compreendem a maior parte do chamado “custo gerenciável” das
empresas de distribuição.
O estabelecimento de metas de custo de PMSO, portanto, passa a ser um mecanismo a ser considerado
pelos administradores para controlar a implementação da estratégia para buscar o alinhamento do
comportamento aos objetivos de redução de custo. A comparação dos custos das unidades
operacionais permite implementar mecanismos mais robustos de avaliação de desempenho e
feedback e minimiza as dificuldades do principal na obtenção de informações para avaliação do
desempenho dos agentes (Teoria da Agência), por permitir a obtenção de informações de custos.
Grande parte dos métodos de gestão estratégica de custos utiliza direcionadores de custo e atividades
com referenciais comparativos internos ou externos (mercado). A evolução da regulamentação
econômica do setor de distribuição parece trilhar este caminho. Os direcionadores de custo, sua
relação com os custos de PMSO, podem ser utilizados para o estabelecimento de metas mais
consistentes e auxiliar na identificação de benchmarks internos e externos e oportunidades de
melhoria e inovação nas práticas de gestão e nos processos de negócio.
O modelo de análise, desenvolvido a partir do ajuste de equações de reta e geométrica e vários
direcionadores de custo, permitiu identificar, com rigor teórico e estatístico, os melhores
direcionadores e a melhor relação deles com os custos de PMSO. A partir da equação selecionada foi
possível identificar a unidade operacional mais eficiente e a influência da escala do custo de PMSO.
O modelo selecionado (22) expressa o custo de PMSO como função do Número de Consumidores
Totais e a Extensão de Rede e apresentou R 2 igual 0,9286. A inclusão de mais direcionadores não
contribuiu para a melhoria do poder de explicação do modelo. Optou-se por um modelo sem influência
da escala, por ficar mais aderente com as taxas de crescimento histórico dos custos de PMSO e dos
direcionadores utilizados.
Os resultados mostraram que as unidades operacionais 1 e 2 são as mais eficientes e que foi possível
projetar os custos de PMSO para as demais unidades, utilizando como meta, o melhor resultado de
eficiência encontrado, atingindo o objetivo geral da pesquisa e comprovando a hipótese da pesquisa.
Por último, conclui-se que o modelo de análise proposto pode apoiar gestores e pesquisadores na
busca da eficiência organizacional.
Como aberturas para futuros estudos, foram identificadas as seguintes:
 Utilizar o modelo para negociar e estabelecer metas para os administradores das
unidades operacionais, sem deixar de considerar que, apesar do excelente poder de

987
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

explicação, podem existir outras variáveis não consideradas e o intervalo de confiança


(não é um modelo absolutamente preciso);
 Incorporar ao modelo variáveis de caracterização do ambiente externo das
organizações, como condições climáticas, entre outras;
 Realizar novas pesquisas na mesma empresa, incorporando mais dados ao histórico,
como forma de confirmar o modelo;
 Desenvolver estudos semelhantes em outras empresas para permitir a evolução e, no
futuro, confirmação do modelo;
 Efetuar pesquisa semelhante para proporcionar uma comparando externa, talvez, mais
eficiente, para estabelecer as metas das unidades operacionais.

REFERÊNCIAS

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Metodologia e cálculo da empresa de referência relativa
à área de concessão da Elektro. Nota Técnica nº 127/2003. Brasília: SRE/ANEEL, 2003.

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Metodologia de determinação de custos operacionais.


Nota técnica nº 166/2006. Brasília: SRE/ANEEL, 2006.

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Metodologia de cálculo dos custos operacionais. Nota
técnica nº 343/2008. Brasília: SRE/ANEEL, 2008.

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Metodologia de cálculo dos custos operacionais. Nota
técnica nº 265/2010. Brasília: SRE/ANEEL, 2010.

BACIC, Miguel Juan. Gestão de Custos: Uma abordagem sob o enfoque de processo competitivo. 1. ed.
Curitiba , Juruá, 2008.

CHARNES, A.; COOPER, W.W.; RHODES, E. Measuring the efficiency of decision-making units. European
Journal of Operational Research, vol. 2, p. 429-444, 1978.

COOPER, R. ; KAPLAN, R. Measure costs right: make the right decisions, Harvard Business Review,
September/October, 96-103, 1988.

EISENHARDT, K. M. Agency Theory: Na Assessment and Review. Academy of Management. The


Academy of Management Review; 14,1; p.57-74; 1989.

ELETROBRAS. Projeto de reestruração do setor elétrico brasileiro: Relatório consolidado etapa IV – 1 –


volume I: sumário executivo. RJ, SEM/Eletrobrás, 1997

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo, Atlas, 1999.

988
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

HAIR JR., J. F.; ANDERSON, R.E., TATHAN, R.L., BLACK, W.C. Análise multivariada de dados. 5 Ed. Porto
Alegre: Bookman, 2005.

HATCH, M. J. Organization theory. Modern, symbolic and postmodern perspectives. New York: Oxford,
1997.

JAMASB, T.; POLLITTI, M. Benchmarking and regulation of electricity transmission and distribution
utilities. Lessons from international experience. Cambridge: University of Cambridge, December 2000.

JUNIOR, José Hernandes Peres, OLIVEIRA Luiz Martins, COSTA, Rogério Guedes. Gestão Estratégica de
Custos: 6. ed. São Paulo, Atlas, 2010.

KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. 5.ed. São


Paulo: EDUSP, 1980.

KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Mapas estratégicos. Balanced scorecard: convertendo ativos intangíveis
em resultados tangíveis. RJ: Elsevier, 2004.

LAPPONI, Juan Carlos. Estatística usando excel: 2. ed. São Paulo, Lapponi Treinamento e Editora, 2000.

LEVINE, David M, STEPHAN, David F, KREHBIEL, Timothy C, BERESON, Mark L. Estatística Teoria e
Aplicações: 5. ed. São Paulo. LTC- Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 2008.

MANSFIED, E. Microeconomics: theory/applications: 7.ed. New York, W. W. Norton & Company, 1997.

MARCONI, Maria de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da metodologia cientifica: 7. ed. São
Paulo, Atlas, 2010.

MARTINS, Elizeu. Contabilidade de Custos: 7. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

PORTER, M. E. Estratégia competitiva. Técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 7


ed. RJ: Campus, 1986.

SAKURAI, Michiharu. Gerenciamento Integrado de Custos: 1 ed. São Paulo: Atlas, 1997.

SHANK, Jonh K e GOVINDARAJAN Vijay. A Revolução dos Custos: 6. ed. São Paulo, Campus, 1997.

SOUZA, A. e CLEMENTE, A. Gestão de Custos: São Paulo, Ed. Atlas, 2007.

WRIGHT, P. L.; KROLL, M. J.; PARNELL,J. Administração estratégica: conceitos. SP: Atlas, 2000.

989
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Capítulo 47

ICMS POR SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA: UMA ANÁLISE DA


SUA INFLUÊNCIA NO CUSTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
DOI: 10.37423/200400699

Gelson Menon - gelsonmenon@gmail.com

Ana Kosowski - analeiaklosowski@hotmail.com

Resumo: O objetivo da pesquisa foi verificar a influência do Imposto sobre Operações


Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação-ICMS na modalidade de Substituição
Tributária - ST na composição dos custos de produtos utilizados na construção civil. Na
modalidade ST o recolhimento do ICMS é antecipado, por meio da aplicação de uma Margem
de Valor Agregada – MVA, definida pelo Estado do Paraná, independente do regime de
tributação que a empresa estiver inscrita. Os procedimentos metodológicos aplicados são de
pesquisa descritiva, bibliográfica e documental. A abordagem é quantitativa e qualitativa. Os
produtos objeto da análise foram selecionados a partir de sua inclusão na modalidade de
Substituição Tributária e como parâmetro foram eleitos quinze produtos considerados como
os principais na construção de uma obra residencial. Os resultados da pesquisa indicam que
na modalidade de Substituição Tributária ocorre um aumento no preço de venda da
mercadoria para o consumidor final, para a maior parte dos produtos selecionados, cujo
aumento no preço de venda oscila entre 0,50% a 3%.

Palavras-chave: Custo na construção civil. ICMS. Modalidade Substituição Tributária.

990
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 e suas emendas atribuem competência e responsabilidade a cada ente
federativo para criar e instituir tributos, observando os limites representados pelos princípios e
imunidades constitucionais. O Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre
Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS é umas
das principais fontes de receita para os Estados, cujas regras gerais de sua aplicação e recolhimento
estão contidas no Regulamento do ICMS (RICMS).
Os contribuintes do ICMS são inúmeros. A Lei Complementar n° 87/96, art. 4º, define que contribuinte
do ICMS é qualquer pessoa, física ou jurídica, que realize, com habitualidade ou em volume que
caracterize intuito comercial, operações de circulação de mercadoria ou prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações
se iniciem no exterior. Para agilizar e simplificar o processo de arrecadação e fiscalização, o Estado
criou um regime de tributação denominado Substituição Tributária- ST.
A Substituição Tributária tem uma forma diferenciada de recolhimento do imposto. Este regime tem
por finalidade antecipar a arrecadação do tributo, invertendo a forma de arrecadação que ocorreria
normalmente no momento da venda de uma determinada mercadoria para o consumidor. Nesta
modalidade o recolhimento ocorre no momento da venda do fabricante ou importador para o
distribuidor. Com essa mudança de metodologia, a fiscalização se torna mais concentrada e
simplificada, pois apenas um contribuinte fica responsável pelo recolhimento do imposto, o que
garante ao Estado o recolhimento do imposto na fonte.
Nos últimos anos, o regime de ST, tem sido utilizado com maior intensidade na maioria dos Estados
brasileiros com o intuito de facilitar a fiscalização e aumentar a arrecadação. Assim, o regime de
Substituição Tributária é um sistema que impõe a responsabilidade de recolher o imposto relativo às
operações subsequentes que vai até o consumidor final, para um terceiro que não deu causa ao fato
gerador.
No Paraná o ICMS cobrado na modalidade de ST abrange diversos produtos, como é caso dos produtos
da Linha Branca. Após a divulgação do Protocolo ICMS 71 de 2011, respaldado pelos Protocolos 69 de
2011 e ICMS 196 de 2009, este regime passou a vigorar nas operações com materiais de construção,
acabamento, bricolagem ou adorno a partir de 01 de abril de 2012, legitimado pelo Decreto n° 3949
de 2012.
Antes da vigência do protocolo ICMS 71/2011, o ICMS para empresas com regime de tributação pelo
lucro real ou pelo lucro presumido, tinha como base de cálculo praticamente o preço final usado para

991
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

a venda de seus produtos e/ou serviços. Nas micro e pequenas empresas com o regime do Simples
Nacional, sobre o faturamento havia a incidência de uma alíquota que representava o total a ser
recolhido de todos os tributos via pagamento pela guia do Simples Nacional, sendo assim, uma parcela
deste valor recolhido representaria o ICMS. Com a instituição da ST de forma antecipada do ICMS, o
imposto é calculado por meio de uma Margem de Valor Agregada (MVA) definida pelo Estado,
independente do regime de tributação escolhido pela empresa. Na utilização da Margem de Valor
Agregada, deve-se adicionar ao valor de compra da mercadoria, o valor do frete, bem como as demais
despesas e impostos constantes na nota fiscal. Após, realizada essa soma aplica-se o valor do MVA
para chegar à base da ST.
A ST pode representar problemas por conta da MVA, pois no ambiente empresarial, a concorrência é
acirrada em diversos setores o que acaba por pressionar a margem de lucro, ocasionando oscilações
e redução de preços em determinados períodos. A simples cobrança antecipada do imposto, pode
não influenciar na estrutura operacional das empresas. No entanto, isso não se mostra de forma clara
no meio empresarial e para os consumidores finais, cujos impactos da ST são desconhecidos. Para os
empresários além da ST do ICMS afetar diretamente o capital de giro, pelo recolhimento antecipado
do imposto, existem indicações de que a MVAs instituída pela ST impacta a carga tributária e por
consequência os resultados da empresa devido ao aumento do custo dos produtos comercializados.
Neste contexto, o presente estudo busca responder a seguinte problematização: Qual a influência do
ICMS na modalidade de Substituição Tributária na composição dos custos da construção civil. O
objetivo é verificar a influência do ICMS na modalidade de Substituição Tributária na composição dos
custos de produtos utilizados na construção civil.
A elaboração desta pesquisa se destaca em importância tanto de forma teórica, quanto prática. A
contribuição teórica se assenta no conhecimento da sistemática da ST, especialmente para os
produtos do ramo de construção civil, permitindo aos profissionais da área contábil e empresários, o
entendimento de forma mais detalhada o seu funcionamento e implicações legais.
A contribuição da pesquisa de forma prática interessa de forma direta aos:
a) Governos, permitindo identificar mudanças na tributação e arrecadação;
b) Comerciantes, ao verificar o impacto dos impostos na margem de venda de seus produtos;
c) Consumidores, pessoas físicas e jurídicas, efetivas e em potencial, na medida em que passam
a conhecer o valor dos impostos incluídos nos produtos e passam a exigir melhor aplicação dos
recursos públicos.

992
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

O artigo está dividido em cinco seções. Além desta introdução, a segunda seção apresenta referencial
teórico que assentam o desenvolvimento da pesquisa. Na terceira seção são apresentados os
procedimentos metodológicos adotados. Na quarta seção os resultados da pesquisa empírica são
apresentados e analisados. A quinta e última seção contempla as considerações finais do estudo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção apresenta-se o referencial teórico utilizado para o desenvolvimento da pesquisa.

2.1 CONTABILIDADE GERENCIAL

A contabilidade gerencial, dentro do contexto empresarial, tem sua preocupação voltada para o
planejamento, controle e decisão que estão diretamente ligados à gestão da informação. Para
Pizzolato (2008, p.9) “A contabilidade gerencial produz informações úteis para a administração, a qual
exige dados para vários propósitos, tais como: auxílio no planejamento; na medição e avaliação de
desempenho; na fixação de preços de venda, na análise de ações alternativas etc”. É uma característica
de a contabilidade gerencial dispor de inúmeras informações, que pelas características do ambiente
empresarial tornam-se diferencial competitivo para a empresa.
A Contabilidade Gerencial conta com um importante campo de informações, a Contabilidade de
Custos. Segundo Jiambalvo (2009) com o levantamento dos custos, a Contabilidade Gerencial poderá
trabalhar com uma análise voltada ao custo volume lucro, priorizando nesta conjuntura dois
importantes índices com foco econômico e financeiro, que buscarão identificar informações
adequadas quanto aos produtos que a empresa comercializa.
A contabilidade gerencial, na visão de Imbrosio (2011, p.18) utiliza suas ramificações para trabalhar a
imagem do produto comercializado frente ao consumidor, este trabalho de lapidar o preço de um
produto é conhecido como processo de formação do preço de venda, processo esse importante para
que a empresa atinja seus objetivos.

2.2.1 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

As decisões de preço são parte importante do processo gerencial das empresas, onde a natureza dos
produtos e serviços, a situação do mercado e os objetivos organizacionais são fatores relevantes no
processo de formação do preço de venda. Segundo Kotler (2000) todas as organizações precisam
determinar preços para seus produtos e serviços. Ao longo da história, os preços foram determinados
por meio da negociação entre compradores e vendedores. A determinação de um preço para todos

993
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

os compradores é uma ideia relativamente moderna, que surgiu com o desenvolvimento do varejo em
grande escala, no final do século XIX.
De acordo com Churchill Jr e Peter (2000), os gestores precisam criar estratégias de precificação para
dar suporte aos objetivos organizacionais de posicionamento do produto ou serviço, de obtenção de
níveis desejados de receita e lucro, de competitividade em termos de preço, de sobrevivência da
organização e de obtenção de um padrão de responsabilidade social. As decisões de preço são
influenciadas por três fatores básicos: custo, clientes e concorrentes. Muitos gestores afirmam que
fixam os preços a partir do custo mais margem. Porém quando a empresa tem pouca influência sobre
o preço de venda, geralmente, vende a preço de mercado (a partir dos concorrentes e/ou dos clientes),
controlando os custos para obter lucro compatível com os objetivos organizacionais.
Segundo Rosseti (2000) na Teoria Econômica os preços são expressões monetárias do valor dos
produtos, sendo que este valor é resultante da utilidade avaliada pelos que tem a necessidade de
satisfazê-la, e dos custos calculados pelos que produzem e, então, buscam ressarci-los pela oferta.
Nesse contexto o mercado é o grande validador do preço. Desse modo, as políticas e estratégias de
formação de preços deverão ser orientadas para oferta, procura e valor dos benefícios que o produto
possui e oferece.
Nesse sentido, Bernadini (1996) e Dolan e Simon (1998) afirmam que o preço afeta o lucro e descreve
os principais fatores determinantes do preço. Em princípio e na teoria, os fundamentos econômicos
do preço são simples, mas na prática mostraram-se mais sutis, devido aos múltiplos efeitos de preço
sobre os lucros. Isso faz com que o processo de fixação dos preços esteja intimamente ligado ao
sistema de planejamento, devendo, portanto, refletir os objetivos e estratégias estabelecidas pela
administração do plano gerencial da empresa.
De acordo com o raciocínio de Rosseti (2000), Dolan e Simon (1998) e Bernardini (1996) o preço afeta
diretamente a margem de lucro por unidade. Um preço mais elevado proporciona uma margem maior
por unidade vendida, e, assim um lucro maior para um dado volume de vendas. Entretanto, um preço
mais elevado implica um volume de vendas menor, o que acarretara um impacto que contrabalança
lucro. O preço também pode ter impacto sobre o custo: ou seja, um maior volume de vendas
resultante de um preço mais baixo pode induzir a uma diminuição de custo por unidade, devido à
economia de escala, ou então, um preço mais baixo pode atrair novos compradores, que
permanecerão fiéis no futuro, e assim aumentarão lucros futuro.
Segundo Rosseti (2000), Dolan e Simon (1998), Bernardini (1996) e Rodrigues et al. (1992) os principais
fatores que influenciam na determinação dos preços de venda são:

994
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

a) a capacidade e a disponibilidade de pagamento do consumidor;


b) a qualidade do produto em relação às necessidades do mercado consumidor;
c) a existência de produtos substitutos a preços mais vantajosos;
d) a demanda esperada do produto;
e) os níveis de produção e/ou vendas que se pretendem ou que se podem operar - o volume de
produção é importante para a fixação dos preços de venda;
f) o mercado de atuação do produto (quanto mais pulverizado for o mercado concorrente, menor a
capacidade de imposição de preços);
g) o controle de preços imposto pelos órgãos governamentais;
h) os custos e despesas de fabricar, administrar e comercializar o produto;
i) os ganhos e perdas de gerir o produto - capital aplicado em giro, desde a aquisição dos insumos até
o recebimento das vendas efetuadas, e o custo de oportunidade ou o lucro desejado.
O preço de um produto é termômetro de um cliente para apurar o custo x benefício no momento de
fazer uma aquisição. Se muito alto, o consumidor pode optar por não comprar o produto, mas se muito
baixo, a entidade corre o risco de ter prejuízo. Outra definição para o preço é como a soma de valores
que o consumidor troca pelos benefícios de ter ou utilizar um produto ou serviço (BOEGER e
YAMASHITA, 2005).
Dentro deste enfoque, entende-se que as empresas devem estruturar-se de forma a desenvolver um
sistema integrado de informações gerenciais, que possibilite aos administradores a tomada de
decisões e a definição de uma eficiente política de fixação de preços de venda.
Como subsídio à fixação dos preços de vendas e correspondente análise dos preços praticados, deve
a contabilidade de custos se apoiar em técnicas que levem em consideração o emprego do custeio
direto como método de custeamento de produtos (RODRIGUES et al., 1992). Embora somente os
custos não sejam suficientes para fixar preços ideais, eles podem ser úteis para determinar limites de
redução de preços, ou seja, pisos de preços abaixo dos quais o produto não pode ser vendido.

2.2.2 CLASSIFICAÇÕES DE CUSTOS

Para facilitar a gestão de custos, e assim fazer uma adequada alocação destes aos respectivos
produtos, é realizada uma classificação de cada custo segundo suas principais naturezas e objetivos,
evitando assim tratar todos os gastos de forma igual. Existem diversas classificações relacionadas a
custos, como a classificação entre custos diretos e indiretos, e quanto a custos fixos ou variáveis.

995
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Segundo Padoveze (2006), a classificação de custos diretos e indiretos, é a mais antiga e mais utilizada,
está relacionada ao objeto de custos, ou seja, os bens e/ou serviços produzidos pela empresa. Martins
(2003) ressalta que está classificação só pode ser utilizada para os custos, excluem-se então as
despesas neste caso.
Os custos diretos são aqueles que podem ser apropriados de maneira objetiva aos produtos
elaborados, porque há uma forma de medição clara de seu consumo durante a fabricação. Como
exemplo há as matérias-primas, supondo-se que normalmente a empresa conhece a quantidade exata
de material necessário para a fabricação de um produto, o custo de aquisição desta será apropriado
diretamente ao produto. (DUBOIS, KULPA e SOUZA, 2006),
Quatro características são dadas por Padoveze (2006) para expor a natureza de um custo direto.
Identificado o custo, é possível de ser visualizado no produto final; verificar ou estabelecer uma ligação
direta com o produto final; ser medida objetivamente sua participação no produto final; é clara e
objetivamente específico do produto final e não se confunde com os outros produtos.
No caso dos custos indiretos, Martins (2003) refere estes não possuem uma condição de medida
objetiva, sua alocação aos produtos acaba sendo feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária.
Os custos podem também ser divididos em custos fixos e custos variáveis. Os custos fixos são aqueles
em que seu valor não sofrerá alteração, mesmo que haja redução ou aumento no volume produzido
ou vendido, ou seja, não apresentam qualquer variação, em função do nível de produção. (PADOVEZE,
2006; DUBOIS, KULPA e SILVA, 2006),
Os custos variáveis são aqueles em que os custos e despesas variam na proporção direta das variações
do nível de atividade a que se relacionam. Tomando como referencial o volume de produção ou
vendas, os custos variáveis são aqueles que, em cada alteração da quantidade produzida ou vendida,
terão uma variação direta e proporcional em seu valor (PADOVEZE, 2006).
Um ponto importante quanto ao tema é de que as duas classificações dos custos apresentadas não
são isoladas uma da outra, todos os custos podem ser classificados em Fixos ou Variáveis e em Diretos
ou Indiretos ao mesmo tempo. Assim, a matéria-prima é um custo Variável e Direto; o seguro é Fixo e
Indireto e assim por diante. Desse modo, percebe-se que os custos são determinados a fim de atingir
os seguintes objetivos: determinação do lucro, controle das operações e tomada de decisões em
relação a preços.
Segundo Megliorine (2001), para que esses objetivos sejam atingidos, as empresas devem valer de
métodos de custeio, estruturados a fim de serem alimentados de informações coletadas
internamente. Essas informações fluem de todas as áreas da empresa, devendo estar registradas em

996
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

relatórios que abasteçam o sistema.


De acordo com Wernke (2005), em um ambiente de acirrada competição, a gestão econômica das
empresas torna-se bastante dinâmico e complexo, exigindo maior alteração por parte dos gestores.
Por isso, cada vez mais, é importante a utilização de relatórios capazes de informar com precisão de
valor e tempo de custo, de modo a facilitar o controle.
Segundo Martins (2000), controle significa conhecer a realidade, compará-la com o que se esperava
ser, localizar divergências e tomar medidas visando à sua correção. Para Megliorini (2001) e Santos
(1990), além disso, a contabilidade de custos deve auxiliar na solução de problemas referentes a: a)
análise do preço de vendas; b) análise da contribuição de cada produto para o lucro; c) análise do
preço mínimo de determinados produtos em situações especiais e ao nível mínimo de atividades em
que o negócio passa a ser viável.
De acordo com Rodrigues et al. (1992), no que se referem à formação do preço de vendas, os custos
são utilizados como primeiros insumos para a composição do preço e servem para análise posterior
voltada a tomada de decisão em relação à colocação ou não do produto no mercado.

2.2.3 IMPOSTOS INCIDENTES NA FORMAÇÃO DO PREÇO

O Sistema Tributário Nacional, instituído pela Constituição Federal de 1988 estabelece que a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a possibilidade de instituir impostos, taxas (em razão do
poder de polícia ou pela utilização de serviços públicos) e contribuições de melhoria (decorrentes de
obras públicas).
Os tributos estão presentes na estrutura de custos dos produtos vendidos. Assim, o conhecimento da
operacionalização desses tributos é fator essencial para a competitividade da empresa em um
mercado cada vez mais globalizado, onde a competição por preço é observada em escala crescente
em diversos mercados.
Conforme Bruni e Fama (2002), a compreensão dos custos e, sobretudo, dos preços e das margens de
lucro requer análise cuidadosa dos tributos incidentes sobre a operação. Embora os impostos não
sejam registrados contabilmente nos custos dos produtos, já que possuem mecânica própria de
registro e compensação, são muito importantes no processo de formação de preços. Preços praticados
nos mercados devem ser suficientemente capazes de remunerar os custos plenos, gerar margem
razoável de lucro e cobrir todos os impostos incidentes, que podem ser de três diferentes esferas –
federal, estadual e municipal – e de dois tipos básicos – cumulativos e não cumulativos.

997
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Além de os tributos apresentarem alíquotas diferenciadas entre si (ICMS, IPI, COFINS, outros), estes
evidenciam alterações ainda em função da forma de tributação da empresa na Esfera Federal (Lucro
Real, Lucro Presumido, Simples). Dessa forma, outro fator essencial para a correta definição dos gastos
com a estrutura da empresa é a adequada classificação da mesma perante os tributos federais,
estaduais e municipais, classificação esta que se for realizada de maneira incorreta poderá se reverter
em autuação fiscal e, consequentemente, em multas que irão impactar negativamente no fluxo de
caixa da empresa.
Em cada tributo devido pela empresa, em função de regulamentações específicas, estão definidos os
prazos de pagamento dos mesmos. Ao confrontar o prazo existente entre a data da venda e o
recebimento do valor por esta venda, com a data da venda e o pagamento dos tributos decorrentes
da operação de venda fica evidenciado um lapso temporal (onde, normalmente, a empresa deve pagar
grande parte dos tributos antes do recebimento do valor da venda), período este que deve ser
custeado pelos recursos da empresa, conhecido como capital de giro.
A carga tributária brasileira conta atualmente com doze impostos em todos os entes da federação,
sendo seis na esfera federal (IR, IPI, II, IE, ITR, IOF), três na estadual e Distrito Federal (ICMS, IPVA,
ITCMD) e outros três na municipal e Distrito Federal (ISS, IPTU, ITBI). Estes impostos, economicamente,
podem ser divididos em impostos diretos e indiretos. São exemplos de impostos diretos IR e o IPTU,
pois estes incidem respectivamente sobre a renda e sobre o patrimônio, e por conta disso, estes
impostos contam com apenas uma etapa econômica, representando que estes impostos não podem
ser objeto de repercussão, ou seja, seu ônus não pode ser repassado para o preço ou para outra
pessoa. Os impostos indiretos, por seu turno, são aqueles incidentes na formação do preço, logo
transferem o ônus tributário para o consumidor, embutindo-o no preço da venda (FABRETTI, 2009).
Na cadeia econômica, os impostos indiretos contêm no mínimo duas etapas, é o exemplo de uma
empresa do varejo, que ao comercializar o seu produto que tem a incidência de um imposto indireto
como é o caso do ICMS, a empresa fica responsável pelo pagamento deste tributo, no entanto, o
contribuinte de fato é o consumidor que comprou a mercadoria, pois o ICMS é repassado no preço da
venda.

2.2.4 SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA DO ICMS

A substituição tributária do ICMS, conforme o anexo 3 do Regulamento do ICMS do PR (RICMS,2012),


que trata do tema e apresenta as normas das operações ou prestações subsequentes previstas em lei,
define que a Substituição Tributária é a atribuição ao fabricante, ao atacadista, ao distribuidor, ao

998
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

importador, ao arrematante de mercadoria importada e apreendida ou ao depositário a qualquer


título, na condição de sujeito passivo por Substituição Tributária, a responsabilidade pelo
recolhimento do imposto relativo às operações subsequentes até o produto chegar ao consumidor
final.
Quintanilha (2010) define a Substituição Tributária do ICMS da mesma forma que a exposta pelo
RICMS de PR para a Substituição Tributária, segundo ele a substituição tributária é a atribuição da
responsabilidade em relação ao imposto incidente sobre uma ou mais operações ou prestações, sejam
antecedentes, concomitantes ou subsequentes, incluindo também o valor decorrente da diferença
entre alíquotas interna e interestadual.
É importante ressaltar que a adoção deste regime de tributação do ICMS em operações interestaduais
dependerá de acordo específico celebrado pelos estados interessados, conforme disposto no art. 9º
da lei complementar nº 87/1996.
Para obter a base de cálculo da substituição tributária, é necessário somar o valor das mercadorias
a serem vendidas pelo substituto tributário, com o valor do seguro, frete, IPI e outros encargos
cobrados do substituído, devendo aplicar sobre o resultado dessa somatória, a MVA específica
para tal produto.
A MVA é uma margem de lucro instituída pelo fisco, que a utiliza para definir o montante total de
imposto a ser recolhido. Esta margem para ser fixada deve seguir alguns critérios previstos no art. 8º,
§ 4º da lei complementar n° 87/1996.
A margem deve ser estabelecida com base nos preços praticados no mercado. Para se obter os preços
usualmente praticados no mercado deve ser realizado um levantamento, ainda que por amostragem
ou por meio de informações e outros elementos fornecidos por entidades representativas dos
respectivos setores. Tem de ser adotada a média ponderada dos preços coletados e todos os critérios
para a sua fixação devem estar previstos em lei.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta seção são apresentados os procedimentos metodológicos adotados para atingir o objetivo da
pesquisa. Para Kaplan (1975, p. 26) “[...] o objetivo da metodologia é o de ajudar-nos a compreender,
nos mais amplos termos, não os produtos da pesquisa científica, mas o próprio processo”.
A presente pesquisa é caracterizada quanto ao problema como descritiva. Gil (1996, p. 46) refere que
as pesquisas descritivas, por sua própria terminologia, objetivam descrever as características de
determinado fenômeno ou as relações entre as variáveis. Neste sentido, a classificação como pesquisa

999
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

descritiva está relacionada à vigência do Protocolo 71/2011 e suas implicações no preço de venda de
produtos do ramo de construção civil.
A pesquisa é classificada ainda como bibliográfica e documental. Beuren (2008, p. 87-89) destaca que
o material consultado na pesquisa bibliográfica abrange todo referencial tornado público em relação
ao tema de estudo, enquanto a pesquisa documental é construída com base em materiais que ainda
não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos
da pesquisa. Para o desenvolvimento da pesquisa, além do levantamento bibliográfico, são analisados
documentos como notas fiscais de compra e venda de produtos, relatórios financeiros, entre outros,
tomando como parâmetro as informações de produtos do ramo de construção civil.
A abordagem do problema é realizada de forma qualitativa e quantitativa. A coleta de dados é
realizada a partir de informações colhidas diretamente em empresas comercializadoras de produtos
de construção civil localizadas na cidade de Irati, Paraná, mediante consulta aos gestores e
documentos fiscais correspondentes, entre os meses de abril a dezembro de 2012.
Os produtos objeto da análise foram selecionados a partir de sua inclusão na modalidade de
Substituição Tributária e como parâmetro foram eleitos quinze produtos considerados como os
principais na construção de uma obra residencial. Como um primeiro passo para a análise dos dados
foi definido o preço praticado para cada produto por meio de uma média ponderada baseada nos
valores encontrados para o preço de venda de cada marca apurada dos produtos em questão.
Segundo o Art.14, II e VI do RICMS- PR, as alíquotas utilizadas internamente no estado do Paraná
para as mercadorias pertencentes à linha de produtos de materiais de construção são de 12% e 18%.
As MVA’s dos Produtos, de acordo com o RICMS-PR também se mostram diferenciadas, de acordo
com a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), conforme descrito no Quadro 1.

1000
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Quadro 1 - Produtos selecionados e respectivas alíquotas, classificação NCM e MVA em operações


internas
N.º PRODUTOS CLASSIF. NCM ALÍQUOTA ICMS MVA
01 Argamassa Quartzolit 20kg 3824.5000 18% 37%
02 Barra de Aço 5/16”-8mm Gerdau 7214.2000
18% 33%
Barra
03 Cimento Itambe 50kg 2523.2910 18% 20%
04 Caibro Pinus 2x4" x1m 4407.9990 18% 36%
05 Eletroduto de Pvc 2,5mx25mm 3917.3199 12% 33%
06 Fechadura Porta Stam unt 8301.4000 18% 41%
07 Fio Elétrico Isolado 1mx2,5mm 7413.0000 18% 36%
08 Piso cerâmico 40x40cm m² 6908.0000 12% 39%
09 Porta Almofada de madeira unt 4418.2000 18% 38%
10 Tabua Pinus 1x12”x1m 4409.1003 18% 36%
11 Telha de Barro Francesa ml 6810.1900 12% 33%
12 Tijolo 6 Furos Padrao ml 6810.1100 12% 33%
13 Tinta Branco Neve 18lt 3209.1010 18% 35%
14 Tubo PVC 100mmx6m 3917.2300 12% 33%
15 Vidro cristal liso incolor 1mx5mm 7003.0000 18% 39%
FONTE: Dados da Pesquisa e RICMS-PR (2012).

Como se observa no Quadro 1, para os quinze produtos selecionados incidem alíquotas de ICMS
diferentes, assim como as MVA.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Como um primeiro passo para a análise dos dados obteve-se as médias dos preços de compra e
venda e as margens de lucro dos revendedores de produtos do ramo de construção civil. Na
sequência, foi detalhado a incidência do ICMS próprio, ICMS calculado na modalidade de Substituição
Tributária, custo unitário e margem bruta de lucro do varejista, conforme mostra a Tabela 1:

1001
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 1 - Cálculo da margem bruta do varejista considerando o custo do produto com Substituição
Tributária
Base
ICMS ICMS Preço
Custo Alíquota Valor do Custo Margem
Produto MVA ST ST de
Unt ICMS ICMS ICMS Unt bruta
Bruto Líquido Venda
ST
Argamassa
7,1 18% 1,28 37% 9,73 1,75 0,47 7,57 9,1 120,17%
Quartzolit 20kg
Barra de Aço
5/16”-8mm 15,77 18% 2,84 33% 20,97 3,78 0,94 16,71 19,3 115,52%
Gerdau Barra
Cimento Itambe
19 18% 3,42 20% 22,8 4,1 0,68 19,68 22,9 116,34%
50kg
Caibro Pinus
1,2 18% 0,22 36% 1,63 0,29 0,07 1,28 1,75 136,96%
2x4"x1m
Eletroduto de
8,35 12% 1 33% 13,36 1,6 0,6 8,95 12,99 145,12%
Pvc 2,5mx25mm
Fechadura Porta
23 18% 4,14 41% 32,43 5,84 1,7 24,7 31 125,52%
Stam unt
Fio Elétrico
Isolado 0,6 18% 0,11 36% 0,82 0,15 0,04 0,64 0,85 133,05%
1mx2,5mm
Piso cerâmico
8,65 12% 1,04 39% 12,02 1,44 0,4 9,05 11,6 128,11%
40x40cm m²
Porta Almofada
120 18% 21,6 38% 165,6 29,81 8,21 128,21 175 136,50%
de madeira unt
Tabua Pinus
7,12 18% 1,28 36% 9,68 1,74 0,46 7,58 10,5 138,50%
1x12”x1m
Telha de Barro
860 12% 103,2 33% 1143,8 137,26 34,06 894,06 1120 125,27%
Francesa ml
Tijolo 6 Furos
240 12% 28,8 33% 319,2 38,3 9,5 249,5 290 116,23%
Padrao ml

1002
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tinta Branco
137 18% 24,66 35% 184,95 33,29 8,63 145,63 173,1 118,86%
Neve 18lt
Tubo PVC
27,3 12% 3,28 33% 43,57 5,23 1,95 29,25 41,4 141,53%
100mmx6m
Vidro cristal liso
7,25 18% 1,3 39% 10,08 1,81 0,51 7,76 9,5 122,44%
incolor 1mx5mm
Fonte: Dados da pesquisa (2013)

A Tabela 1 apresenta o valor do ICMS incidente no custo do produto. A partir da aplicação da MVA
chega-se a base do ICMS ST para calcular o valor do ICMS ST bruto. Com os valores encontrados do
ICMS ST bruto deduzidos o ICMS incidente no custo do produto apura-se o valor do ICMS ST líquido,
valor este recolhido pela indústria. Ainda nesta planilha identifica-se a Margem Bruta praticada pelos
varejistas.
Na continuidade da pesquisa, para fins de comparação entre os resultados foi realizada uma projeção
de vendas dos produtos selecionados supondo que estes não estivessem incluídos no Regime de
Substituição Tributária no RICMS do Estado do Paraná. Os resultados são destacados na Tabela 2.

Tabela 2 - Projeções de Venda sem o Regime de Substituição Tributária


Valor Preço Valor ICMS
Custo Alíquota Alíquota
Produto ICMS Margem de ICMS a
Unt ICMS ICMS
(Crédito) Venda (Débito) Pagar
Argamassa
7,1 18% 1,28 120% 8,53 18% 1,54 0,26
Quartzolit 20kg
Barra de Aço 5/16”-
15,77 18% 2,84 116% 18,22 18% 3,28 0,44
8mm Gerdau
Cimento Itambe
19 18% 3,42 116% 22,1 18% 3,98 0,56
50kg
Caibro Pinus 2x4"
1,2 18% 0,22 137% 1,64 18% 0,3 0,08
x1m
Eletroduto de Pvc
8,35 12% 1 145% 12,12 12% 1,45 0,45
2,5mx25mm

1003
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Fechadura Porta
23 18% 4,14 126% 28,87 18% 5,2 1,06
Stam unt
Fio Elétrico Isolado
0,6 18% 0,11 133% 0,8 18% 0,14 0,04
1mx2,5mm
Piso cerâmico
8,65 12% 1,04 128% 11,08 12% 1,33 0,29
40x40cm m²
Porta Almofada de
120 18% 21,6 136% 163,8 18% 29,48 7,88
madeira unt
Tabua Pinus
7,12 18% 1,28 138% 9,86 18% 1,77 0,49
1x12”x1m
Telha de Barro
860 12% 103,2 125% 1077,34 12% 129,28 26,08
Francesa ml
Tijolo 6 Furos Padrao
240 12% 28,8 116% 278,95 12% 33,47 4,67
ml
Tinta Branco Neve
137 18% 24,66 119% 162,84 18% 29,31 4,65
18lt
Tubo PVC
27,3 12% 3,28 142% 38,64 12% 4,64 1,36
100mmx6m
Fonte: Documentos fiscais e RICMS-PR.

De acordo com os resultados contidos na Tabela 01 e na Tabela 02, torna-se claro que o preço de
venda praticado pelos varejistas na modalidade por Substituição Tributária são mais elevados quando
comparados aos preços de venda na sistemática de crédito e débito do ICMS, onde o varejista
acumula um crédito do imposto pago no momento da compra para abater do imposto a ser recolhido
no momento da venda. Comparando os valores pagos nas duas formas de recolhimento do tributo,
tem-se os resultados descritos na Tabela 3.

1004
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

Tabela 03 – Variação do imposto pago


ICMS incluso caso Diferença % do valor
ICMS pago
a mercadoria não entre as do imposto
Produto no regime
faça parte do formas de pago a
de ST
regime de ST arrecadação maior
Argamassa Quartzolit 20kg 0,47 0,26 0,22 45%
Barra de Aço 5/16”-8mm
0,94 0,44 0,50
Gerdau 53%
Cimento Itambe 50kg 0,68 0,56 0,13 18%
Caibro Pinus 2x4" x1m 0,078 0,080 -0,002 -3%
Eletroduto de Pvc 2,5mx25mm 0,60 0,45 0,15 25%
Fechadura Porta Stam unt 1,70 1,06 0,64 38%
Fio Elétrico Isolado 1mx2,5mm 0,039 0,036 0,003 8%
Piso cerâmico 40x40cm m² 0,40 0,29 0,11 28%
Porta Almofada de madeira unt 8,21 7,88 0,32 4%
Tabua Pinus 1x12”x1m 0,46 0,49 -0,03 -6%
Telha de Barro Francesa ml 34,06 26,08 7,98 23%
Tijolo 6 Furos Padrao ml 9,50 4,67 4,83 51%
Tinta Branco Neve 18lt 8,63 4,65 3,98 46%
Tubo PVC 100mmx6m 1,95 1,36 0,59 30%
Vidro cristal liso incolor
0,51 0,29 0,22
1mx5mm 43%
Fonte: Documentos fiscais e RICMS-PR.
Conforme se ob serva da totalidade de pro dutos objeto da análise, a grande maio ria
(trez e produ to s) apresenta imposto a ser recolhido a maior pelo Regime de Substituição
Tributária, para os quais são encontradas uma variação percentual de 4% até 53% a mais no
recolhimento do imposto aos cofres públicos. Os produtos destacados como: “Caibro Pinus 2x4”x1m
e Tabua Pinus 1x12”x1m que aparecem com cobrança de ICMS na modalidade de ST a menor,
apresentam grande oferta na região em estudo e são provenientes de indústrias que não possuem
concorrência direta de mercado.

1005
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

A Tabela 4 ap resen ta o imp acto no preço de venda dos produtos da construção civil na
hipótese de não incidência da Substituição Tributária, ou seja, o valor dos produtos com a redução
do valor do imposto pago a maior.

Tabela 04 - percentual de redução no preço de venda quando excluído o valor do ICMS ST pago a
maior
Valor do Preço de venda Redução no
Preço de venda
ICMS descontado o valor de
Produto com incidência
cobrado à imposto cobrado à venda do
do ICMS ST
maior maior produto
Argamassa Quartzolit 20kg 9,10 0,22 8,88 2,36%
Barra de Aço 5/16”-8mm
19,30 0,50 18,80
Gerdau 2,57%
Cimento Itambe 50kg 22,90 0,13 22,77 0,55%
Caibro Pinus 2x4" x1m 1,75 -0,002 1,752 -0,12%
Eletroduto de Pvc 2,5mx25mm 12,99 0,15 12,84 1,15%
Fechadura Porta Stam unt 31,00 0,64 30,36 2,07%
Fio Elétrico Isolado 1mx2,5mm 0,850 0,003 0,847 0,38%
Piso cerâmico 40x40cm m² 11,60 0,11 11,49 0,97%
Porta Almofada de madeira unt 175,00 0,32 174,68 0,19%
Tabua Pinus 1x12”x1m 10,50 -0,03 10,53 -0,30%
Telha de Barro Francesa ml 1120,00 7,98 1112,02 0,71%
Tijolo 6 Furos Padrao ml 290,00 4,83 285,17 1,67%
Tinta Branco Neve 18lt 173,10 3,98 169,12 2,30%
Tubo PVC 100mmx6m 41,40 0,59 40,81 1,43%
Vidro cristal liso incolor
9,50 0,22 9,28
1mx5mm 2,27%
Fonte: Dados da pesquisa (2013).

Conforme se observa, na modalidade de substituição tributária ocorre um aumento real no preço de


venda da mercadoria para o consumidor final para treze produtos, oscilando de 0,50% a quase 3%.
No que se refere a redução do preço de vendas, a modalidade de substituição tributaria só se mostra

1006
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

benéfica para o consumidor final para apenas dois produtos com uma redução no preço de venda de
0,12% e 0,30%.

5. CONCLUSÃO

O objetivo desta pesquisa foi verificar a influência do ICMS na modalidade de Substituição Tributária
na composição dos custos de produtos utilizados na construção civil. Após análise dos dados
apresentados, constatou-se que o impacto causado pela utilização do Regime de Substituição
Tributária, nos quin ze produtos avaliados, apresenta um acréscimo no valor de venda da
mercadoria para o consumidor final em treze deles e uma redução em apenas dois. O acréscimo se
justifica por se tratar de um aumento no custo do comerciante, caso esse mantenha a mesma
margem de lucro utilizada nas duas formas de tributação. De igual forma, a redução no montante
de imposto a ser recolhido na modalidade ST, justifica-se pelo fato de o varejista trabalhar com uma
margem bruta incidente sobre o preço de venda superior ao estabelecido pelo governo estadual do
Paraná.
A utilização dos MVA´s, por parte do Governo, tem o intuito de estimar, ou ao menos, se aproximar
do valor da margem de lucro na venda da mercadoria do varejista ao seu cliente. Nos quinze
produtos analisados verificou-se que isso não ocorreu e que essa estimativa da margem foi superior
a margem efetivamente utilizada no mercado para a maior parte dos produtos analisados.
O Regime de Substituição Tributária além de centralizar a fiscalização também aumenta o valor do
imposto cobrado do contribuinte, impactando, no valor de venda da mercadoria para o consumidor
final. Neste caso, produtos de maior competitividade tendem a apresentar maior impacto do ICMS
na modalidade da ST. Isto porque quanto maior for o distanciamento entre a MVA´s calculada pelo
governo e a margem de lucratividade praticada no mercado, maior tende a ser o impacto da ST no
preço final para o varejista, isto na hipótese de se manter o mesmo preço de venda. De forma
contrária, na hipótese de o varejista repassar ao consumidor final o aumento causado pela ST, este
último irá absorver um valor maior na compra de produtos da construção civil o que impactará
significativamente o custo total do empreendimento. Destaque-se, contudo que a modalidade de
Substituição Tributária pode ser considerada como uma estratégia pelos governos, na medida que
garante aumento da receita para os cofres públicos. Virtualmente um cenário cuja margem de preço
de venda seria a mesma praticada por todos os comerciantes se distancia da realidade da economia
atual, em que o consumidor ou varejista do sistema acabam por absorver o custo final da modalidade
ST.

1007
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

REFERÊNCIAS

BERNARDINI, J. Política e formação de preço: uma abordagem competitiva, sistêmica e integrada. São
Paulo: Atlas, 1996.

BEUREN, Ilse Maria. et al. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade. 3° ed. São Paulo:
Atlas, 2008.

BOEGER, Marcelo Assad; YAMASHITA, Ana Paula. Gestão Financeira para Meios de Hospedagem:
hotéis, pousadas, hotelaria e a hospitalidade. São Paulo: Atlas, 2005.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm Acessado

em 01/05/2012

BRASIL. Lei complementar nº87, de 13 de setembro de 1996. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp87.htm Acessado em 29/04/2012

BRASIL. Lei complementar nº87, de 13 de setembro de 1996. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp87.htm Acessado em 29/04/2012

BRASIL. Protocolo ICMS nº 69 de 2011. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/confaz. Acessado


em 09/04/2012.

BRASIL. Protocolo ICMS nº 71 de 2011. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/confaz. Acessado


em 09/04/2012.

BRASIL. Protocolo ICMS nº 196 de 2011. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/confaz.


Acessado em 09/04/2012.

BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços. São Paulo: Ed. Atlas,
2002.

CHURCHILL JR., G. A. e PETER, J. P. Marketing: Criando valor para os clientes. São Paulo: Saraiva, 2000.

DOLAN, R. J., SIMON, H. O poder dos preços: as melhores estratégias para ter lucro. São Paulo: Futura,
1998.

DUBOIS, Alexy; KULPA, Luciana; SOUZA, Luiz Eurico de. Gestão de Custos e Formação de Preços:
Conceitos, Modelos e Instrumentos: Abordagem do Capital de Giro e da Margem de Competitividade.
São Paulo: Atlas, 2006.

FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

FALIGUSKI, Ivan. O Impacto da Substituição Tributária no Preço de Venda para Consumidor Final. Rio
Grande do Sul. 2010. TCC (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Ciências
Contábeis. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/25727 Acesso em 18/04/2012.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996.

1008
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

IMBROSIO, Marcus de Aguiar. ICMS cobrado por substituição tributária e sua influência na formação
do preço de venda de artigos de papelaria. Santa Catarina, 2011. p. 66 fls. TCC (Graduação) -
Universidade Federal de Santa Catarina, Curso de Ciências Contábeis. Disponível em:
http://tcc.bu.ufsc.br/Contabeis296000 Acessado em 11/5/2012.

JIAMBALVO, James. Contabilidade Gerencial. 3. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009

KAPLAN, A. A Conduta na pesquisa: metodologia para ciências do comportamento. Tradução:


HEGENBERG, Lônidas; MOTA, Octanny Silveira da. São Paulo, E. P. U., Ed. USP. 2 reimpr., 1975.

KOTLER, P. Administração de Marketing. 10 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MEGLIORINO, Evandir. Custos. São Paulo: Makron Books, 2001.

PADOVEZE, Clóvis Luís. Curso básico gerencial de custos. 2. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,
2006.

PARANÁ. Decreto nº 3949 de 01 de abril de 2012. Disponível

em: http://www.sefanet.pr.gov.br/dados/SEFADOCUMENTOS/2201203949.pdf. Acessado

em 07/04/2012

PARANÁ. RICMS. Disponível em:

http://www.sefanet.pr.gov.br/dados/SEFA DOCUMENTOS/6200701980.pdf. Acessado em


11/04/2012.

PIZZOLATO, Nélio Domingues. Introdução a contabilidade gerencial. 4° ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

POPE, Catherine; MAYS, Nick. Reaching de parts other methods cannot reach: na introduction to
qualitative methods in health na health service research. In British medical journal, n° 311, 1995, p.
42-45.

QUINTANILHA, Willian Jefferson. Manual do Tributarista: Doutrina, Legislação, Jurisprudência e


Modelos. 3° ed. São Paulo: Tradebook, 2010.

RICHARDSON, Roberto Jarry, Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

RODRIGUES, C. A. VAROLO, R. D, MORENO S. Determinação do preço de venda a partir do custeio da


produção, in Curso sobre Contabilidade de Custos, São Paulo: Atlas, 1992, p. 171 a 209.

ROSSETI, J. P. Introdução e Economia. São Paulo: Atlas, 2000.

SANTOS, Joel José dos. Formação do Preço e do Lucro. 4ª Ed. São Paulo: Ed. Atlas, 1994.

WERNKE, Rodney. Análise de custos e preços de venda: Ênfase em aplicações e casos nacionais. São
Paulo: Saraiva, 2005.

1009
Gestão de custos: contribuições teóricas e práticas

1010

Você também pode gostar