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1.

INTRODUCAO
Falar de África nas origens da Grande Guerra, implica por isso uma reflexão em torno
das características específicas do sistema económico mundial durante a «Bélle Époque» e das
interdependências que, a partir do fim das guerras napoleónicas, começaram a marcar as relações
entre a Europa e o resto do Mundo, é nesse sentido que devemos olhar para África, como uma
região que, gradualmente, se foi tornando estrategicamente importante. Por isso mais do que
controlar/garantir o acesso a determinadas matérias primas a principal preocupação dos governos
europeus era conseguir conquistar novos mercados, ainda que, na maioria das vezes, não
conhecessem ao certo, e em rigor, o respectivo potencial futuro.

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2.DESENVOLVIMENTO
A história desta ocupação do continente africano introduz por isso, desde logo, a questão
da importância das regiões periféricas na geopolítica europeia das últimas décadas de Oitocentos,
problemática cujas consequências ganham maior acuidade se as enquadrarmos no contexto em
que eclodiu a Grande Guerra; vale a pena ter presente que os principais instrumentos de «partilha
de África», após a Conferência de Berlim (1884-1885), foram, na grande maioria das vezes,
tratados diplomáticos celebrados tanto entre europeus e africanos, como entre potências
colonizadoras europeias entre si. O período que medeia entre o final do século XIX e o início do
primeiro conflito mundial deve por isso ser entendido como uma época de mudança de
paradigma, relativamente ao «status quo» anteriormente existente. Essa transformação verifica-
se, desde logo, a dois níveis:

África deixou de representar apenas mais um destino de comércio, para se transformar


num território onde a Europa passou a exercer controlo político; até 1880, 80% do território
africano era governado pelos seus próprios reis;

África surgiu como o palco de um confronto que – se excluirmos as duas Guerras Bóers
(1880-1881 e 1899-1902) que opuseram colonos de origem holandesa e colonos de origem
britânica na região da actual África do Sul – colocou em confronto, pela primeira vez, brancos
contra brancos num território onde a população negra era maioritária.

Os dois impérios mais antigos do continente africano, Portugal e a Etiópia, apesar das
ameaças constantes de alemães e britânicos, tendo em vista a respectiva partilha – a 16 de junho
de 1894 uma força naval alemã tinha ocupado o posto português de Quionga e a zona envolvente
a Sul do Rovuma, e de ser já a França quem controlava o acesso ao caminho-de-ferro da Etiópia
– de um modo geral ambos os impérios acabariam por sobreviver às investidas das duas
principais potências. Esta ameaça permanente acabaria, de resto, por compelir as pequenas
potências, como Portugal e a Bélgica, a reforçar ainda os laços, especialmente económicos, entre
metrópole e colónias.

Em 1913 o continente africano representava 7% do total do comércio externo da Grã-


Bretanha e 10% da França. No seu conjunto era com o Egipto, África do Sul e Argélia que
ambos os países mantinham relações comerciais mais significativas. A importância dos
territórios que a França possuía em África acabava por ser trivialmente encarada tanto por
governantes como pela população francesa em geral. Os territórios que a França possuía no
continente africano, situados entre o Sahara e o rio Congo, estavam integrados, na sua maior
parte, numa paisagem dominada pelo deserto e pela aridez da savana. Como apontou Catherine
Coquery-Vidrovitch no interior de cada colónia existiam ainda áreas onde a penetração era
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precária ou mesmo inexistente e em que as minorias locais funcionavam como um entrave à
penetração da administração colonial francesa. A I Guerra Mundial acabaria, de resto, por
coincidir com a última fase da expansão colonial da França.

Por esta altura, as exportações alemãs para as suas colónias em África cifravam-se em
57,1 milhões de marcos, pouco mais de 2% do valor total do comércio externo alemão, em 1913.
O reich, entre 1894 e 1913, tinha gasto mais no desenvolvimento e manutenção dos seus
territórios coloniais – 1 0002 milhões de marcos – do que o valor total do seu comércio com
aqueles territórios, 972 milhões de marcos13.Em 1914 a Europa controlava 85% do Mundo.

Este artigo procura fazer uma síntese da importância de África no contexto da Grande
Guerra, analisando o respectivo contributo humano e material para o conjunto da beligerância
europeia. O texto focará ainda algumas das razões por trás da entrada do continente africano na I
Guerra Mundial, e conclui com uma síntese em torno das repercussões sociais, políticas e
económicas trazidas pelo conflito às relações Europa-África, e que servem para compreender o
modo como o continente se foi «moldando» por forma a conseguir satisfazer os interesses das
potências colonizadoras, durante a guerra.

3.OS IMPACTO DAS GUERRAS NA AFRICA


Apesar da maioria dos confrontos ter ocorrido em solo europeu, o envolvimento do
continente africano na Grande Guerra acabaria por ser tudo menos irrelevante: ao longo de
quatro anos África forneceu recursos materiais e humanos, a uma escala sem precedentes, para a
Frente Ocidental. África ver-se-ia assim envolvida na Grande Guerra em virtude não só do
controlo político que a Europa exercia sobre o continente, mas também devido ao potencial
estratégico de muitos destes recursos e infraestruturas sobretudo portos, linhas de comunicação e
estações telegráficas considerados indispensáveis à prossecução da guerra. As colónias não
foram por isso meros campos de batalha, elas eram parte integrante das economias de guerra dos
países europeus, fornecendo matérias primas, alimentos e soldados para a frente ocidental.

As consequências da Grande Guerra em África, cujos impactos se fizeram sentir em todo


o continente ao longo de quatro anos, só podem, em grande medida, ser comparáveis aos efeitos
devastadores provocados por séculos de escravatura42. De uma forma geral podemos afirmar,
desde logo, que os impactos da Grande Guerra, quando analisados para além da destruição
provocada por quatro anos de conflito, se fizeram sentir no quotidiano do continente devido a
três causas principais:

 O recrutamento das populações africanas;

 O êxodo dos europeus;


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 O impacto económico.

Cerca de dois milhões e meio de africanos foram mobilizados, como soldados,


trabalhadores ou carregadores, valor que corresponde a, aproximadamente, 1% do total da
população do continente.

No Verão de 1914 existiam 14 785 soldados africanos na África ocidental. Quando a


guerra eclodiu apenas a França dispunha de um número «significativo» de tropas coloniais nos
seus territórios, cerca de quinze mil homens; em 1912, com vista à criação de um exército negro
permanente, tinha sido publicado um decreto que tornava obrigatório o serviço militar, durante
quatro anos, para todos os africanos do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 20 e
os 28 anos. Contudo, e à medida que o conflito foi evoluindo todas as potências coloniais foram
compelidas a expandir os respectivos contingentes coloniais, recorrendo, muitas vezes, ao
recrutamento e à incorporação de voluntários. Começou então, nas palavras do governador da
África Ocidental francesa, Gabriel Anglouvant, «uma verdadeira caça ao homem». No ano de
1915-1916 as autoridades francesas estabeleceram como objetivo o recrutamento de 50 mil
homens, o descontentamento e a revolta das populações cedo se fizeram sentir, tornando
impossível a realização de incorporações nas regiões sublevadas, contudo as estimativas apontam
para que, durante os anos da guerra, cerca de 483 mil soldados coloniais terão integrado o
exército francês46. Para juntar aos soldados da África ocidental, mais 250 000 soldados do Norte
de África e de Madagáscar integraram o mesmo exército.

CONCLUSAO
Com tudo chegou-se a conclusão que o fim da I Guerra Mundial marcou, o fim da
experiência colonial alemã e o redesenhar do mapa do continente. Olhar para África durante a
Primeira Guerra Mundial, é observar um palco em constante mutação, onde interagem e se

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relacionam diferentes elementos suscitados por dinâmicas internas, é certo, mas que têm sido
profundamente influenciados por realidades exógenas ao próprio Continente. Durante a Grande
Guerra África surge, notoriamente, como um agente do processo de globalização; quer como
actuante directo, nomeadamente a partir da exploração das suas riquezas naturais, num sentido
mais lato, mas também pela especificidade da sua situação política no quadro das relações
internacionais, quer pelo papel que desempenhou, compondo um espaço que serviu
simultaneamente de encruzilhada e plataforma de conexão e passagem aos diversos fluxos,
materiais e imateriais, à escala planetária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1º Google (Internet).

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