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SAPATO INSPIRADO NO MOVIMENTO

SURREALISTA
Camila Furtado Rodrigues
Gabrielle Dutra
Larissa de Campos Rocha
Maria Eduarda da Rosa Vizzotto
Pâmela Waltrick¹
Daiane Rodrigues Lopes²

1. INTRODUÇÃO

O objetivo geral do presente trabalho é apresentar a criação e o desenvolvimento do


acessório, neste caso um sapato, inspirado no movimento surrealista. Dessa forma, o objetivo da
pesquisa que aqui se apresenta é identificar as características e elementos do movimento
surrealista, expondo como foi aplicado e implementado para a montagem e desenvolvimento do
acessório.
A pesquisa científica realizada teve como enfoque determinar as possíveis relações entre a
arte e a moda, analisando essa possibilidade de acordo com alguns períodos específicos que se
fizeram presentes nessas duas esferas.
Entre as referências estéticas e conceituais deste movimento encontramos a estilista Elsa
Schiaparelli, a qual realizou a transposição da arte para a moda, em especial, por sua proximidade
com o artista Salvador Dali na década de 30.
Por fim, o resultado obtido foi a criação de um sapato com as características do movimento
surrealista como base, quais sejam, a criação de cenas irreais, o pensamento livre, a valorização do
inconsciente e a criação de uma realidade paralela.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Embora o termo “surrealismo” tenha sido criado em 1917, pelo crítico Guillaume
Apollinaire para descrever aquilo que considerava ultrapassar a realidade. O termo ganhou forças
em 1924 em Paris, através de André Breton (considerado o “papa do surrealismo”), num grupo
muito bem organizado, o qual tinha uma parte proveniente do dadaísmo (movimento originalmente
de negação, pois era contra todas as fórmulas impostas pelo homem, pregando a espontaneidade/o
natural).

1 Camila Furtado Rodrigues


Gabrielle Dutra
Larissa de Campos Rocha
Maria Eduarda da Rosa Vizzotto
Pâmela Waltrick
2 Daiane Rodrigues Lopes
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (Código da Turma) – Prática do Módulo I –
15/06/2022
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Salvador Dalí foi um dos grandes nomes do movimento, conhecido por retratar o mundo
dos sonhos (que para muitos era o mais próximo do mundo surrealista ideal), através de
ferramentas como o “método paranoico-crítico”, técnica que consistia em fixar o olhar sobre uma
figura nos mais variados lugares a fim de aplicar de forma mais fiel seu inconsciente, sua paranoia
garantia a ambiguidade das imagens, podendo as mesmas terem significados diferentes dos usuais,
introduzidos por tanto seus: medos, desejos, inquietações, paixões e etc em suas obras.

FIGURA 1 – OBRA DE SALVADOR DALI - BARCO COM BORBOLETAS

Fonte: Disponível em: https://pt.dhgate.com/product/zz2060-salvador-dali-still-life-butterfly/


405874827.html. Acessado em 15/06/2022.

Em suas pinturas estavam presentes elementos e objetos com os quais possuía


familiaridade; as teorias freudianas o inspiraram grandemente, assim como o psicanalista, buscava
nas palavras a chave para o entendimento dos sonhos, adentrando assim nos jogos de palavras para
inspirar sua arte. Uma vez ele descreveu sua arte como: "uma fotografia em cores instantânea e
feita à mão, enfocando as imagens superdelicadas, extravagantes, extraplásticas, extrapictóricas,
inexploradas, dalinianos". Bradley (1999, p32).
De acordo com Baldini (2006), a moda é o amadurecimento da confirmação do “eu”, da
valorização social do indivíduo e da sua personalidade. Assim, tem-se que a moda vai muito além
de tudo aquilo que engloba a aparência, ela é reconhecida e manifestada também como um estilo
de vida, particularizando a identidade do indivíduo e todos os seus modos de expressão.
De acordo com Bender (1967) a moda e a arte estavam começando a se tornar um hábito, já
que entre ambas houve um cruzamento inevitável nas manifestações populares.
Elsa Schiaparelli, a estilista italiana foi um dos grandes nomes da moda do início do século
XX, juntamente com Lanvin, Chanel e Vionet. Destacou-se por suas criações ousadas, irreverentes
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e de cores fortes (como o rosa-choque, por ela batizado). Sem perder a classe, algumas de suas
coleções sofreram fortes inspirações surrealistas, pois, além de acompanhar de perto o movimento
artístico, era amiga de artistas como: Picabia, Jean Cocteau, Man Ray, Marcel Duchamp, Salvador
Dali, Magritte entre outros. Vale ressaltar a impregnação do movimento em suas criações,
presentes principalmente, nos acessórios por ela criados.
A arte sempre esteve presente na história da humanidade, e até que aparecesse a fotografia,
a pintura registrou a evolução do vestir. No registro para a posteridade, a arte e a moda
caminharam entrelaçadas. Para Gombrich: “[...] se aceitarmos o significado de arte em função de
atividades tais como a edificação de templos e casas, realização de pinturas e esculturas, ou a
tessitura de padrões, nenhum povo existe no mundo sem arte” (GOMBRICH, 1988, p.19).
A nova linguagem proposta pelo Movimento Surrealista confere valor artístico a um objeto
do cotidiano, ou mesmo a uma indumentária que tenha um conceito manipulado pela imaginação e
desejos do seu criador, foi exatamente o que atraiu Elsa Schiaparelli, ao evocar o surrealismo em
suas criações. Em meio a interesses em comum, artistas e criadores de moda tornaram-se parceiros
em algumas criações que modificaram o olhar criativo no século XX e estenderam suas heranças
para o século XXI.
Não se trata apenas de transposições de elementos estéticos de um contexto, mas sim, se um
exercício de arte aplicada, pois tal exercício também confere criatividade:

[...] A manifestação artística tem em comum com o conhecimento científico, técnico ou


filosófico, seu caráter de criação e inovação. Essencialmente, o ato criador, em qualquer
dessas formas de conhecimento, estrutura e organiza o mundo, respondendo aos desafios
que dele emanam, num processo de transformação do homem e da realidade circundante.
O produto de ação criadora, a inovação, é resultante do acréscimo de novos elementos
estruturais ou da modificação de outros. Regido pela necessidade básica de ordenação, o
espírito humano cria, continuamente, sua consciência de existir por meio de manifestações
diversas (SEF, 1997, p.32).

O envolvimento da moda com o Surrealismo deu novos significados ao vestuário moderno,


que gradativamente foi adquirindo características de origem no inconsciente, e tornou-se um tema
contemporâneo e se definindo como uma linguagem. Paralelamente, a fotografia expandiu-se como
um meio de suma importância para o registro da manifestação da moda.
As características mais evidentes na moda de Schiaparelli: ornamentos fantásticos,
elementos lúdicos, complexos adornos, proporções alteradas e o uso da cor, como o shocking pink
que se tornou sua marca registrada. Sua opção têxtil foram os tecidos sintéticos como o raiom e o
celofane, que acentuavam os efeitos surreais, somados a outros materiais que evidenciassem suas
opções não convencionais. Schiaparelli, revisou e recriou os princípios de suas influências, como
afirma Mamede de Alcântara, em sua obra “Terapia pela roupa” de 1996. Sua discussão propõe
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refletir quando afirma que moda é arte na medida em que supera o comum, cria e produz
inovações, por ter uma linguagem própria, o que permite comunicar emoções, refletir nossa
imagem interna, e pela qual é possível recriar valores.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na primeira fase de desenvolvimento deste trabalho realizou-se o levantamento
bibliográfico acerca do tema, buscando o conhecimento da relação de criação dos estilistas e
artistas, sua história e motivações, como também a compreensão do movimento artístico que
proporcionou tantas criações inusitadas como foi o Surrealismo.
Na segunda etapa do processo, decidiu-se seguir a linha do movimento artístico, a ruptura
com a realidade e recriar no acessório obras do artista Salvador Dali, por isso estudou-se mais a
fundo tanto o surrealismo quanto as obras de Dali.
Para melhor desenvolver a proposta do trabalho e por se apresentar com uma abrangência
considerável do acessório, decidiu-se pela a criação de um sapato “Scarpin”, considerando ser um
acessório que pode mudar todo um visual e alavancar uma ideia, além de oferecer maior facilidade
na confecção da peça, já que os materiais disponíveis no mercado permitem combinações
inusitadas dos mais diversos tipos, formas e tamanhos.

Este sapato foi criado tendo como


público-alvo, em especial, mulheres de atitude
marcantes e seguras, que estejam procurando
novos tipos de linguagens e experimentações
em seu visual, de modo a firmarem suas
individualidades expressas nas peças com
toques de ousadia e liberdade.
As inspirações escolhidas partiram dos
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processos criativos de Salvador Dali, ou seja, da inserção de objetos em suas obras que não
pertençam ao ambiente por ele desenhado, tendo o imaginário como elemento de ruptura com a
realidade do cotidiano. O explorar de um olhar cuidadoso do subconsciente do pintor sobre peças,
artigos e objetos, criará ilusões e contrastes. Partindo-se desse pressuposto, optou-se pela utilização
de elementos comuns aos olhos de qualquer pessoa, totalmente excluídos daquilo que a moda tem
como costume de considerar de nível aceitável de luxo e bom gosto, para que no desenvolver a
peça se possa evoluir, do simples rompimento com a realidade do uso dos materiais para a
exploração de novas formas e modelagens.
Para evidenciar o surreal, além de se valer da inserção de materiais pouco usuais, procurou-
se também inovar nos desenhos e formas. Foram escolhidos o couro, e o esmalte vitral para a
aplicação direta nos acessórios. Este esmalte foi escolhido devido a sua possibilidade da criação de
novas formas, como também sua característica peculiar que em contato com o couro proporciona
uma aparência única.

4. REFERÊNCIAS

BRADLEY, F. Surrealismo. São Paulo: Cosaf & Naify, 1999.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

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