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A ALVENARIA DE PEDRA E AS SUAS PARTICULARIDADES COMO MATERIAL


ESTRUTURAL

Conference Paper · October 2010

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2 authors:

João Miranda Guedes A. Costa


University of Porto University of Aveiro
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SÍSMICA 2010 – 8º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 1

A ALVENARIA DE PEDRA E AS SUAS PARTICULARIDADES COMO MATERIAL


ESTRUTURAL

JOÃO MIRANDA GUEDES ANÍBAL COSTA


Prof. Auxiliar Prof. Catedrático
FEUP Univ. Aveiro
Porto - Portugal Aveiro - Portugal

SUMÁRIO

A alvenaria de pedra é um material compósito, construído pelo homem através da sobreposição de elementos
naturais, pedras, aglutinados, ou não, por um ligante que lhe imprime maior coesão. Trata-se por isso de um
material cuja qualidade está associada, de modo particular, à competência e à experiência dos operários que o
executam. Ao contrário do betão armado e da construção metálica, por exemplo, em que a qualidade final é
verificada pelo cumprimento das boas normas construtivas, mas também quantificada através da medição
experimental das características dos seus constituintes, betão e (ou) aço e da utilização de modelos físicos e
matemáticos, no caso da alvenaria o controlo de qualidade é efectuado pela verificação do cumprimento das boas
normas construtivas, mas, fundamentalmente, através da ―leitura‖ da face exposta da alvenaria. Note-se que
também no caso da alvenaria de pedra é possível caracterizar experimentalmente os seus constituintes, em
particular a pedra e a argamassa, e através deste conhecimento e de expressões empíricas, avaliar as
características da alvenaria. No entanto, a representatividade destas expressões é bastante discutível.
Neste trabalho serão discutidos estes e outros aspectos ligados à alvenaria de pedra, em particular às suas
propriedades mecânicas e ao comportamento espectável, e serão analisados e apresentados de forma crítica
alguns dos procedimentos aplicáveis in-situ para a sua avaliação. No final serão apresentados e discutidos
aspectos ligados à simulação numérica de estruturas em alvenaria de pedra.

1. INTRODUÇÃO

A alvenaria é um material compósito, construído pelo homem através da sobreposição de elementos, quer
naturais (pedras, terra…), quer fabricados (cerâmicos…), aglutinados, ou não, por um ligante que lhe imprime
maior coesão. Embora em termos qualitativos muitas das características comportamentais das alvenarias sejam
independentes do elemento principal que as constitui, neste trabalho debruçar-nos-emos apenas sobre o
comportamento espectável das alvenarias de pedra, Figura 1.

Figura 1: Paredes de alvenaria de granito da cidade do Porto

A alvenaria de pedra é um material estrutural com comportamento frágil à tracção e alguma ductilidade em
compressão. A grande variabilidade das suas propriedades mecânicas resulta, quer do processo construtivo e da
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sua não estandardização, quer da própria variabilidade da geometria e das características mecânicas da pedra e,
quando presente, da argamassa da junta. Em particular, ensaios numéricos e experimentais têm evidenciado a
importância do imbricamento e posicionamento das pedras no comportamento e na capacidade resistente da
alvenaria de pedra à compressão; a deformabilidade da alvenaria é em grande medida controlada pela
deformação das juntas, quer por esmagamento ou abertura, quer por deslizamento, donde resulta o rearranjo das
pedras e a sua rotura por tracção/flexão, de forma pontual e progressiva. Este tipo de comportamento indicia uma
considerável influência da malha de pedras e da sua distribuição na resposta deste tipo de material. No entanto,
em estruturas de grandes dimensões este comportamento mais local dilui-se, e a existência de zonas menos
resistentes é ―compensada‖ pela existência de zonas mais resistentes num processo de redistribuição de esforços
que ―homogeneíza‖ o comportamento da estrutura. Nesta análise introdutória, um pouco simplista, foram apenas
referidos aspectos relacionados, fundamentalmente, com a geometria da alvenaria em alçado, nomeadamente
com a maior ou menor regularidade na dimensão e distribuição das pedras, e com a existência, ou não, de
argamassa e (ou) de calços nas juntas. Não são referidos outros aspectos que contribuem também para o
comportamento da alvenaria de pedra, nomeadamente, e no caso de paredes, a sua secção transversal, o número
de paramentos e a ligação e (ou) imbricamento entre eles, e que no seu conjunto permitem definir a qualidade de
uma alvenaria de pedra.
Nos próximos pontos iremos referir brevemente as características físicas principais das alvenarias de pedra.
Apresentaremos as propriedades mecânicas mais relevantes e alguns procedimentos experimentais in-situ para a
sua avaliação. Concluiremos com a apresentação e discussão de alguns aspectos ligados à simulação numérica de
estruturas em alvenaria de pedra.

2. CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA DA ALVENARIA DE PEDRA

Ao contrário do betão armado e da construção metálica, por exemplo, em que a qualidade final pode ser
verificada pelo cumprimento das boas normas construtivas, mas também quantificada através da medição
experimental das características dos seus constituintes, betão e (ou) aço (hoje em dia materiais certificados), e da
utilização de modelos físicos e matemáticos, no caso da alvenaria o controlo de qualidade é efectuado pela
verificação do cumprimento das boas normas construtivas e, fundamentalmente, através da ―leitura‖ da face
exposta da alvenaria.
A caracterização de uma alvenaria de pedra passa por isso pelo levantamento da sua geometria e das técnicas de
construção (supostamente) utilizadas, nomeadamente dos elementos que a constituem, da sua dimensão e
distribuição em alçado e em corte e, no caso de paredes, do número de paramentos e do tipo de ligações
estabelecido entre eles. Esta primeira informação poderá constituir, por si só, o elemento fundamental
caracterizador de uma parede de alvenaria de pedra se existir uma catalogação que, com base nos elementos
anteriores, permita posicioná-la dentro de um dado grupo, caracterizado por um padrão comum, e ao qual se
associem intervalos das propriedades mecânicas ou modelos de comportamento. Embora em países como a
Itália, com grande tradição nesta área, essa catalogação exista, com normativa que a associa às características
mecânicas, em Portugal, e para o tipo de alvenarias que se encontram espalhadas pelo país, não. No âmbito de
trabalhos realizados em Itália foi criada uma ficha de levantamento de danos em edifícios em emergência pós-
sísmica, AeDES – Agibilità e Danno nell’Emergenza Sísmica [GNDT, 2000] que na análise e tipificação das
estruturas verticais em alvenaria de pedra recorre a ábacos que associam a determinadas características
geométricas uma melhor ou pior qualidade da alvenaria. Esta identificação qualitativa das paredes de alvenaria
de pedra passa pela determinação da regularidade ou irregularidade da textura dos alçados e que é estimada
através: da qualidade e da geometria das pedras (irregulares, talhadas ou perfeitamente regulares), da qualidade
da argamassa em termos da sua maior ou menor fragilidade ou resistência, e da existência, ou não, de fiadas de
regularização e ou de travamentos entre paramentos, no caso de paredes de paramento múltiplo. Note-se que a
uma maior regularidade está associado um melhor comportamento e (ou) capacidade resistente espectável da
parede. Autores como [Borri, 2006], [Binda, 2008] e [Binda, 2009], definem ainda outras classificações, ou
classes para paredes de alvenaria de pedra com base num conjunto de parâmetro ligados a boas regras de
construção, definindo no final diferentes categorias a que correspondem alvenarias de diferente qualidade. No
entanto, em ambos os casos trata-se de avaliações qualitativas e não existem valores das características
mecânicas associadas. As normas técnicas Italianas para o projecto, avaliação e adequação sísmica de edifícios,
quer novos, quer existentes [Norme, 2005], vêm colmatar esta deficiência apresentando uma tabela com valores
médios para algumas características mecânicas, nomeadamente: módulo de Young E, tensão limite resistente á
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compressão simples, cr e outras propriedades ligadas ao corte para os diferentes tipos de alvenaria que a norma
define, e que podem ainda ser majoradas através de factores correctivos que têm em conta a qualidade da
argamassa, a existência de ligações entre paramentos de paredes de paramentos múltiplos e ou a existência de
intervenções de consolidação anteriores. No entanto, estes valores servem apenas como referência, e devem ser
utilizados com alguma ponderação e apenas quando não haja possibilidade de, através de experimentação in-situ,
por exemplo, indagar sobre as ―reais‖ características mecânicas de uma parede.
Deste conjunto de procedimentos resulta uma associação directa entre uma melhor resposta e capacidade
resistente espectável para uma parede de alvenaria de pedra e uma maior regularidade das pedras, maior
regularidade das juntas horizontais, melhor imbricamento das pedras ao longo da vertical, melhor qualidade da
argamassa das juntas, quando exista, e, no caso de paredes de paramento múltiplo, e melhor ligação entre
paramentos. Encontra-se actualmente em estudo na FEUP a possibilidade de avaliar as características referidas
através de parâmetros quantitativos, cuja combinação criteriosa poderá resultar num parâmetro único de
avaliação da regularidade de uma parede de alvenaria a que no futuro poderá corresponder um dado
comportamento e capacidade resistente espectável, tendo em conta a especificidade das alvenarias em Portugal
[Sousa, 2010].

3. CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ALVENARIA DE PEDRA

Como se constatou no ponto anterior, existe uma relação directa entre as características geométricas de uma
alvenaria de pedra e as suas características mecânicas. No entanto, também se verificou no ponto anterior que,
apesar em Itália de essa relação existir, em Portugal ainda não se encontra estabelecida uma associação entre as
características geométricas e a qualidade dos constituintes da alvenaria, e intervalos de variação das propriedades
mecânicas da alvenaria. Note-se que só com este conhecimento é possível avaliar, por exemplo, a
deformabilidade e a capacidade resistente de uma parede de alvenaria de pedra. Neste ponto analisaremos
algumas das relações aceites entre os parâmetros mecânicos de uma alvenaria e discutiremos a sua fiabilidade.
Os dois parâmetros mecânicos que melhor identificam, ou podem identificar uma alvenaria de pedra são o
módulo de elasticidade, ou módulo de Young E, e a tensão limite resistente á compressão simples, cr. Alguns
autores indicam possíveis valores para o cociente entre estes dois parâmetros:

cr (1)

O Eurocódigo 6 [CEN, 2004] indica para alvenaria nova r = 1000, um valor considerado demasiado conservativo
para cr. No caso de alvenaria existente, os autores não são unânimes mas consideram valores entre 700 e 550
[FEMA, 1997], [MSJC, 2002] e [Kaushik, 2007]. Ensaios realizados na FEUP em paredes de 40cm de espessura
em perpianho de granito, ou seja de paramento único e pedra única na espessura da parede, mostraram relações
muito inferiores, nomeadamente valores próximos de 100 [Almeida, 2010]. Note-se que estes valores têm que
ser lidos com algum cuidado, já que eles dependem da deformabilidade induzida pelas características
geométricas da parede e que, no caso referido e pelas condições de contacto das pedras, resultavam numa parede
particularmente flexível à compressão.
Referiu-se anteriormente que a qualidade final de uma estrutura em betão armado ou em construção metálica,
por exemplo, pode ser quantificada através da medição experimental das características dos seus constituintes e
da utilização de modelos físicos e matemáticos representativos do seu comportamento. No caso da alvenaria de
pedra também é possível caracterizar experimentalmente os seus constituintes, neste caso da pedra e da
argamassa, e, através deste conhecimento e de expressões empíricas, avaliar as características da alvenaria.
Assim, por carotagem obtêm-se provetes de pedra; a argamassa pode ser moldada em provetes standard, no caso
de construção nova, ou podem ser retiradas amostras de argamassa, caso se trate de alvenaria existente. Os
provetes de ambos os materiais são então ensaiados e determinam-se as tensões limites resistentes à compressão
da pedra, (cr)p, e da argamassa, (cr)a. Com estes valores é então possível estimar a tensão limite resistente à
compressão da alvenaria de pedra, (cr)ap, através da expressão empírica [CEN, 2004]:

(cr)ap = K x [(cr)p] x [(cr)a] (2)

Os parâmetros K,  e  representam o peso relativo, ou a contribuição de cada um dos dois componentes, pedra
e argamassa, para a capacidade resistente da alvenaria de pedra. Note-se que na expressão não intervêm
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directamente elementos fundamentais da alvenaria como sejam a dimensão e distribuição da pedra em alçado e
corte e (ou) as características geométricas da junta, pressupondo que estes factores se encontrarão representados
de forma indirecta nos valores dos parâmetros K,  e  adoptados. Este pressuposto torna a aferição destes
parâmetros complicada, já que fá-los depender fortemente das características geométricas da alvenaria e
restringe a sua validade a alvenarias de pedra de características aparentemente idênticas. No entanto, mesmo no
contexto das suas limitações, a representatividade da expressão para alvenarias de pedra aparentemente idênticas
é pouco fiável.
Paralelamente à capacidade resistente à compressão, definida pelo parâmetro cr, existe ainda a tensão limite
resistente à tracção, tr. Trata-se de um valor de difícil determinação, encontrando-se usualmente associado à
tensão limite resistente à compressão através do cociente entre estes dois valores:

t = tr cr (3)

No caso de uma alvenaria de pedra não existem, em geral, valores de tr estabelecidos, ou determinados (mesmo
no caso da pedra isolada este valor é determinado de forma indirecta através do ensaio de flexão), sendo usual
estimar-se cr atribuindo um valor para t, depois de estabelecido um valor para cr. Este cociente depende do tipo
de alvenaria, em particular do tipo de junta e da existência, ou não de argamassa. Em alvenarias de pedra com
juntas argamassadas é habitual adoptar valores ente 5 e 10%. No caso de argamassas pobres e (ou) extremamente
friáveis, este valor pode descer aos 2%.
Assim, sempre que o acesso às características mecânicas de uma alvenaria não seja possível de forma directa, o
uso das expressões (1), (2) e (3) permite estimar valores para E, cr e tr, três parâmetros fundamentais na
caracterização mecânica uma alvenaria, a partir do conhecimento de um deles, normalmente E ou cr. Na
bibliografia especializada são apresentados valores de deformabilidade e de tensão limite à compressão simples
para alvenarias de pedra obtidos através de campanhas experimentais realizadas, quer in-situ, quer em
laboratório em paredes [Almeida, 2010] e [Vasconcelos, 2005]. Nos ensaios à compressão simples realizados em
paredes reais de perpianho de granito que foram cortadas in-situ e transportadas para o Laboratório de
Engenharia Sísmica e Estrutural (LESE) da FEUP onde foram testadas, obtiveram-se valores médios de tensão
limite à compressão e de módulo de elasticidade de 3,2MPa e 0,3GPa, respectivamente, Figura 2. Note-se que se
trata de campanhas experimentais de tempo e custo elevado e que só se justificam em situações especiais.
Existem no entanto alternativas viáveis a estes ensaios e que permitem determinar in-situ, e de forma não, ou
ligeiramente destrutiva, algumas das propriedades mecânicas de uma alvenaria de pedra. No ponto seguinte
serão referidas algumas dessas técnicas.

a) b) c)
Figura 2: Ensaios de compressão em laboratório em paredes de alvenaria de granito. Fotos e padrões de rotura
de: (a) e (b) alçados e (c) secção transversal, [Almeida, 2010].

4. PROCEDIMENTOS IN-SITU PARA A CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA

A caracterização in-situ de uma alvenaria de pedra utilizando técnicas não, ou ligeiramente destrutiva, traz
vantagens claras. Em primeiro lugar não implica o corte e transporte do material para o laboratório,
procedimentos com custo e dano introduzido na estrutura elevados. Em segundo lugar, permite agilizar e acelerar
o procedimento de ensaio e de obtenção de resultados. No entanto, também estes procedimentos não estão
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isentos de restrições, quer na sua aplicação, quer na interpretação e representatividade dos resultados obtidos.
Iremos referir 3 procedimentos de ensaio in-situ aplicáveis à identificação das características mecânicas da
alvenaria de pedra: Ensaio de Propagação de Ondas Sónicas, Ensaio Mecânico com Macacos Planos e Ensaio de
Caracterização e Identificação Dinâmica. Iremos comentar as vantagens destes 3 procedimentos e referir
algumas das suas limitações.

4.1. Ensaio de Propagação de Ondas Sónicas

A utilização do Ensaio de Propagação de Ondas Sónicas em engenharia civil, vulgarmente designado por Ensaio
Sónico, começou por ser feita na década de 30 em elementos de betão. Este ensaio, de carácter não-destrutivo
(NDT), permitia determinar a velocidade de propagação de uma onda sónica num elemento de betão através do
registo do intervalo de tempo entre a emissão e a recepção de uma onda que atravessava o elemento.
Determinada a velocidade, era então possível avaliar a qualidade do betão e estimar, através de curvas de
correlação, o seu módulo de elasticidade dinâmico. Note-se que a velocidades mais elevadas correspondem
materiais de maior módulo elástico.
Posteriormente, há cerca de 3 décadas, o Ensaio Sónico foi utilizado na detecção de vazios com resultados
interessantes, nomeadamente quando comparados com os resultados obtidos por termografia [Binda, 1982]. Dez
anos depois, ainda em betão, tentou-se determinar a dimensão de fendas, trabalho ainda em desenvolvimento nos
dias de hoje [Andrade, 2007].
A aplicação do Ensaio Sónico na caracterização das alvenarias de pedra aparece mais recentemente, assumindo
um papel preponderantemente qualitativo, sendo utilizado, fundamentalmente com os seguintes objectivos
[Binda, 2001]:
 avaliação das características mecânicas;
 detecção de alterações nas características mecânicas;
 detecção de vazios;
 controlo de reparações por injecção.

O ensaio implica o uso de um emissor (martelo) e de um receptor (acelerómetro) instrumentados. No caso da


alvenaria de pedra, nem sempre é fácil garantir um bom contacto entre o acelerómetro e a superfície da pedra
devido à sua rugosidade. Na FEUP procurou-se avaliar a influência dessa rugosidade e dos métodos existentes
para minimizar os seus efeitos, nos resultados obtidos [Miranda, 2009]. Foram realizados ensaios directos
(emissor e receptor colocados em faces opostas em relação à espessura do elemento) criando condições
diferentes no contacto do acelerómetro com uma pedra escolhida e com rugosidade importante, nomeadamente
com ou sem gel aplicado directamente sobre a pedra, utilizando uma chapa em contacto com a pedra e com o
acelerómetro, ou ainda afagando a superfície da pedra. Neste estudo não foi encontrada qualquer correlação entre
o tipo de acoplamento e a qualidade dos resultados obtidos. O desvio padrão obtido em cada ensaio (para cada
ponto) não ultrapassou os 10% do valor médio.
A FEUP tem efectuado diversas campanhas experimentais de ensaios sónicos directos em paredes de alvenaria
de pedra [Miranda, 2009] e [Silva, 2009], Figura 3. Estas campanhas têm permitido concluir o interesse desta
técnica na avaliação de alvenarias de paramentos múltiplos, nomeadamente na verificação da sua
homogeneidade e na detecção de vazios ou material pouco coeso entre paramentos. A técnica, sendo de
aplicação pontual, envolve a realização de várias leituras na zona a estudar de modo a permitir traçar um mapa
de distribuição das velocidades de propagação das ondas que, por sua vez, se relacionam com a compacidade do
material; velocidades mais elevadas indiciam materiais mais compactos, ou de maior rigidez. Existem expressões
que, para meios homogéneos, relacionam estas velocidades com o módulo de elasticidade dinâmico e o
coeficiente de Poisson do meio (ver em [Miranda, 2010b]), podendo, por exemplo, ser usadas com alguma
fiabilidade na estimativa do módulo de elasticidade dinâmico de pedras isoladas. No entanto, no caso das
alvenarias essas expressões não são utilizáveis, dada a clara heterogeneidade do meio, tornando o ensaio sónico
para este tipo de materiais numa metodologia de caracterização fundamentalmente qualitativa. Apesar disso, as
expressões referidas têm sido adoptadas na FEUP para estimar valores médios, ponderando os diferentes
materiais que a onda atravessa ao longo da espessura da parede de alvenaria [Miranda, 2010b].
Note-se que, embora os módulos de elasticidade dinâmico e estático possam não coincidir, a não existência de
expressões que os relacionem faz com que na prática não se distingam, e se utilizem indistintamente um ou
outro. Como nota final, acrescenta-se que em relação aos Ensaios de Propagação de Ondas Sónicas há ainda
muito a investigar, nomeadamente em relação à interpretação dos resultados.
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(a) (b) (c)


Figura 3: Ensaios sónicos: (a) acelerómetro e martelo instrumentados, (b) alçado da parede a ensaiar e (c) mapa
de velocidades sónicas medidas.

4.2. Ensaio Mecânico com Macacos Planos

A técnica de Ensaios Mecânicos com Macacos Planos, vulgarmente designada por Ensaio com Macacos Planos
foi aplicada pela primeira vez a estruturas de alvenarias há cerca de 30 anos. A impulsionar tal adaptação esteve
o italiano P. P. Rossi que utilizou a referia técnica no ―Palazzo della Regione di Milano‖ [Binda, 1982]. No
início da década de 90 a utilização desta técnica foi alvo de regulamentação específica [ASTM, 1991], [RILEM,
1990] que se tem mantido até aos dias de hoje.
A aplicação do Ensaio com Macacos Planos assume um carácter ligeiramente destrutivo (MDT), já que envolve
a criação de rasgos horizontais na parede onde são introduzidos os macacos planos. Estes aparelhos consistem
numa almofada metálica que, insuflada com óleo, expande e impõe uma tensão que se deseja uniforme na
superfície dos rasgos. Numa primeira fase, esta técnica permite determinar o estado de tensão existente na parede
através da determinação da tensão que, aplicada no óleo no interior do macaco, repõe a forma do rasgo, i.e. o
estado de tensão na parede à volta do rasgo alterado pela sua execução. Numa segunda fase, é executado um
segundo rasgo paralelo ao primeiro e introduzido um segundo macaco plano. A aplicação em simultâneo da
mesma tensão nos dois macacos planos permite solicitar a amostra de parede entre os dois rasgos com uma força
axial equilibrada, e medir as deformações impostas, Figura 4. Como resultado final, este ensaio permite traçar
curvas cíclicas de comportamento da amostra, tensão vertical versus deformação vertical, nas condições in-situ.
Estas curvas permitem estimar a rigidez da alvenaria e, mediante hipóteses empíricas, a sua capacidade
resistente, já que o ensaio não pretende testar até à rotura a amostra (teste de carácter apenas ligeiramente
destrutivo). De facto, os ensaios com macacos planos são actualmente dos ensaios mais usados para determinar
in-situ, e de uma forma quantitativa, as características materiais da alvenaria em zonas
Ensaio localizadas
Duplo [Binda, 2000].

3
2.5
2
Tensão (MPa)

1.5
1
0.5
0
1 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2.5
Deformação (x10^-3)

(a) (b) LVDT1 LVDT2 (c)


LVDT3 LVDT4 LVDT5

Figura 4: Ensaios com macacos planos (a). Transdutores de deslocamentos instalados numa parede entre
macacos planos (b) e curvas tensão-deformação obtidas através de um ensaio duplo (c).

Note-se que o Ensaio com Macacos Planos envolve uma amostra de parede in-situ, condição vista claramente
como uma vantagem. No entanto, trata-se de uma amostra de dimensões reduzidas, quando comparadas com a
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dimensão da estrutura que se pretende avaliar, que se encontra confinada lateralmente e não completamente
desligada do resto da parede em toda a espessura. Para além disso, o aparato do teste não garante que a tensão
transmitida pelos macacos planos e aplicada na parede seja uniforme. As normas estabelecem a necessidade de
avaliar e verificar, por exemplo, a área efectiva de contacto entre os macacos e as faces do rasgo. Vicente em
[Vicente, 2008] avalia este parâmetro através da interposição de uma folha de papel químico sobre uma folha
branca entre o macaco e a parede. No entanto e a título de exemplo, no caso das paredes de alvenaria de granito
ensaiadas pela FEUP não foi fisicamente possível aplicar este procedimento e medir as áreas de contacto. Por
outro lado, as condições impostas pela norma para a dimensão dos macacos, e que depende da dimensão das
pedras da alvenaria a ensaiar, inviabilizam a maior parte dos ensaios com macacos planos em paredes de granito
na cidade do Porto, resultado da grande dimensão das pedras destas paredes. Apesar disso, a FEUP tem ensaiado
paredes deste tipo utilizando macacos planos com algum sucesso [Miranda, 2009] e [Miranda, 2010a]. No
entanto, também no domínio dos Ensaios com Macacos Planos há ainda muita investigação a realizar.

4.3. Ensaios de Caracterização e Identificação Dinâmica

Como contraponto aos ensaios anteriores que permitem a identificação de características materiais de zonas
muito localizadas de uma alvenaria, os Ensaios de Caracterização e Identificação Dinâmica, nomeadamente
através de vibração ambiental, providenciam resultados relativos ao comportamento da totalidade da estrutura
[Caetano, 1992]. Por outro lado, e tal como no caso dos Ensaios Sónicos, o grau de intrusão na estrutura é
mínimo, fazendo parte do grupo dos ensaios não destrutivos (NDT).
No âmbito deste trabalho, esta técnica consiste, fundamentalmente na identificação de sistemas, ou seja na
determinação das características dinâmicas/mecânicas de uma estrutura através de ensaios dinâmicos de vibração
ambiental. Os resultados dos ensaios, quer em termos de frequências naturais, quer de deformadas modais, são
comparados com a resposta de um modelo numérico da estrutura, calibrando-se as propriedades mecânicas
elásticas do modelo através da minimização dos desvios encontrados na resposta dinâmica numérica em relação
à experimental através de um processo iterativo de tentativa e erro, ou utilizando procedimentos automáticos de
optimização da solução, ou minimização do erro.
Este tipo de ensaio envolve uma preparação e planificação cuidadas, nomeadamente em relação à tomada de
decisão em relação à localização e distribuição dos acelerómetros na estrutura. Em particular, e no caso de uma
campanha de ensaios dinâmicos com recurso à vibração ambiental, o conhecimento prévio de algumas
características da resposta dinâmica da estrutura a ensaiar é essencial para se determinar a localização e
orientação óptimas dos sensores, o tempo de aquisição de dados e o número e faseamento dos setups. Com vista
à obtenção destes dados, o procedimento mais comum, [Costa, 2002] e [Neves, 2004], consiste na execução de
uma campanha de ensaios dinâmicos preliminares para a obtenção experimental dos valores das primeiras
frequências naturais. Este procedimento, apoiado no modelo numérico da estrutura, permite obter uma primeira
aproximação às deformadas modais, funcionando como ponto de partida para o posicionamento dos sensores.
Em seguida, são identificadas as frequências e os modos de vibração reais da estrutura e procede-se ao ajuste das
características físicas e mecânicas do modelo de modo a minimizar as diferenças entre os resultados
experimentais e numéricos. Como resultado final obtém-se um modelo numérico calibrado, onde se identificam
as características elásticas (e apenas estas!) dos materiais que compõem as várias zonas da estrutura, das
fundações e (ou) das ligações entre elementos, no seu estado in-situ, Figura 5. Assim, esta técnica não só permite
identificar as ―reais‖ características dos materiais, como permite obter um modelo calibrado que poderá ser
utilizado em simulações numéricas da estrutura, nomeadamente na verificação do seu comportamento antes e
após a aplicação de possíveis medidas de intervenção. Pode ainda ser usada como metodologia de monitorização
contínua de estruturas, através da detecção de variações no comportamento dinâmico em registos efectuados
durante períodos longos de tempo [Costa, 2007b].
Na FEUP tem-se utilizado esta técnica de modo particular na identificação das características mecânicas de
edifícios de alvenaria e na construção de modelos calibrados representativos das estruturas que se pretende
identificar [Lopes, 2008], [Silva, 2009] e [Neves, 2004]. No ponto seguinte apresentam-se alguns aspectos
ligados à modelação de estruturas de alvenaria de pedra.
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(a) (b) (c) (d)

Figura 5: Identificação dinâmica: (a) foto da estrutura, (b) levantamento geométrico por varrimento laser, (c)
identificação dinâmica e (c) modelo numérico final.

5. MODELAÇÃO NUMÉRICA DE ESTRUTURAS EM ALVENARIA DE PEDRA

As metodologias modernas de conservação e reabilitação de estruturas históricas requerem análises estruturais


cada vez mais detalhadas, o que torna necessário o desenvolvimento de modelos numéricos capazes de prever
eficazmente o comportamento deste tipo de estruturas. Actualmente, para a análise do comportamento mecânico
de estruturas históricas existem inúmeros métodos e ferramentas computacionais, que se apoiam em diferentes
teorias e estratégias, resultando por sua vez, em diferentes níveis de complexidade, diferentes tempos de cálculo
e diferentes custos. A opção por um ou outro método depende principalmente do conhecimento do técnico, da
análise pretendida e dos seus objectivos, tendo sempre em mente que análises mais complexas não são
necessariamente sinónimo de melhores resultados.
Dada a complexidade das estruturas em alvenaria de pedra, a estratégia de modelação deverá ser
multidisciplinar, recolhendo o contributo de diferentes áreas de investigação. Exemplo deste tipo de estratégia de
modelação e que é seguida na FEUP, é a apresentada em [Binda, 2000] e que considera duas fases principais: a
fase 1, correspondente ao reconhecimento da estrutura e a fase 2 à análise. A fase 1 tem por objectivo
caracterizar e definir, da forma mais completa e detalhada possível, o sistema estrutural em estudo. Esta fase é
composta essencialmente por:
 (A) investigação histórica da estrutura, prestando especial atenção às tra nsformações e
intervenções a que a estrutura foi submetida ao longo do tempo;
 (B) descrição da estrutura através de: (i) levantamento geométrico (topográf ico, por laser
scanning ou varrimento laser, Figura 5, etc…); (ii) descrição dos elementos estruturais que
compõem a estrutura e (iii) descrição da qualidade, tipologia e composição dos materiais
existentes na estrutura;
 (C) descrição do dano apresentado pela estrutura, individuando também um conjunto de
causas possíveis para esse mesmo dano;
 (D) caracterização dos materiais através de experimentação in-situ (ver pontos anteriores) e
(ou) em laboratório.

O nível de aprofundamento e detalhe envolvido nesta primeira fase depende dos objectivos propostos para o
estudo. Caso se pretenda executar uma análise simplificada ou de apenas determinada parte da estrutura, pode
eventualmente não se justificar a execução de todos os passos ou de os aplicar a toda a estrutura. Esta decisão
depende em grande parte da experiência do(s) técnico(s) envolvido(s) no estudo.
Na fase 2 desta estratégia de modelação é definido o tipo de modelação (análise limite, análise com modelos
numéricos, nomeadamente através de elementos finitos, elementos discretos, etc…) e de análise material (linear
ou não linear) mais eficaz a usar, tendo em conta os objectivos definidos para o estudo; com base nesta
informação, define(m)-se a(s) ferramenta(s) de análise a adoptar. Vários autores optam por usar num mesmo
estudo diversas estratégias de modelação, como por exemplo: uma análise limite e uma abordagem numérica
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[Casarin, 2006]. A comparação e cruzamento da informação resultante de diferentes tipos de análise, sempre que
possível, permitem um aumento do grau de confiança nos resultados obtidos.
Esta fase, tal como a anterior, depende em grande parte da experiência dos técnicos responsáveis pela execução
do estudo. Em particular, as duas fases apresentadas não são aplicadas de forma unidireccional, ou seja, definida
a fase 1 e após passar-se à fase de análise, torna-se muitas vezes necessário reavaliar a informação de input. No
próximo ponto são referidas duas estratégias de modelação: através do uso de elementos finitos ou de elementos
discretos. Uma descrição mais profunda destes e de outros modelos e estratégias pode ser encontrada em [Silva,
2010]].

5.1. Elementos Finitos

O método de elementos finitos é uma das abordagens possíveis e mais utilizadas na modelação de estruturas,
podendo essa modelação ser feita ao nível mais local, considerando o material descontínuo ou ao nível global.
Podem ser ainda criados modelos híbridos, que têm bastante interesse quando, por exemplo, se pretende analisar
em detalhe um determinado elemento estrutural no interior de uma estrutura mais complexa.
Na FEUP, autores, como por exemplo [Silva, 2008b] e [Costa, 2007ª] recorreram à modelação local na análise
de estruturas de alvenaria de pedra através do método dos elementos finitos, tendo reduzido a alvenaria aos seus
componentes básicos (pedras, enchimento e juntas), Figura 6. Este tipo de modelação ao nível local tem um
maior grau de precisão; no entanto, é inevitavelmente acompanhado por um aumento no tempo e meios de
cálculo, o que torna esta estratégia de modelação inviável no estudo corrente de estruturas reais. É um tipo de
modelação indicado para o estudo de zonas localizadas onde se pretendam estudar efeitos locais e onde exista o
conhecimento detalhado da geometria dos elementos constituintes.

(a)

(b)
Figura 6: Modelação Local usando Elementos Finitos. (a) Muro dos Açores: pedra, enchimento, juntas,
[Silva, 2008b]. (b) Ponte da Lagoncinha, [Costa, 2007ª].

Existem autores que optam por estratégias de modelação local simplificada, como a preconizada em [Lourenço,
1996], caracterizadas pela combinação ou omissão de certos constituintes, permitindo diminuir drasticamente o
tempo de cálculo sem grande perda de precisão. Um exemplo de simplificação usada é a consideração das juntas
e do enchimento como sendo um material único com características equivalentes aos seus componentes
individuais.
Ainda no domínio da modelação com elementos finitos, certos autores optam pela modelação global usando
modelos mecânicos homogéneos ou contínuos, nos quais todos os elementos de uma assemblagem de materiais
são incorporados num meio contínuo, sendo estabelecida uma relação entre extensões e tensões médias da
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alvenaria. Tais relações são obtidas adoptando um ponto de vista fenomenológico ou usando técnicas de
homogeneização.
Em termos de aplicabilidade, trata-se de um tipo de modelação claramente indicada quando factores como o
tempo, simplicidade de modelação e capacidade de cálculo são determinantes. É uma estratégia de modelação
orientada para o uso corrente na análise de estruturas reais e quando existe necessidade de manter um equilíbrio
entre precisão e rapidez/eficiência, [Lourenço, 2002].
Os modelos de dano escalares de fendilhação distribuída, ou outros modelos semelhantes, tais como os
apresentados em [Faria, 1994] e em [Cervera, 2003], são muitas vezes usados na modelação global de alvenaria.
Este tipo de modelos, em que o dano é definido num determinado ponto por um parâmetro escalar que define o
nível de degradação do material, variando esta degradação desde o estado elástico até à ruptura, e em que a
fendilhação é tratada como sendo distribuída ao longo da estrutura, foram criados e são normalmente usados na
modelação/análise de estruturas de betão armado [Faria, 2004] ou em grandes volumes de betão [Faria, 1994].
Nas análises efectuadas a estruturas de alvenaria de pedra com este modelo detectaram-se, aparentemente,
algumas incoerências, nomeadamente uma distribuição de dano considerada demasiado elevada, mas com
resultados globais bastante satisfatórios, tendo permitido detectar, por exemplo, as vulnerabilidades da estrutura,
tal como se pode observar por exemplo na Figura 7 [Silva, 2008ª].

(a) (b) (c)


Figura 7: Modelação Global da Igreja de Gondar, [Silva, 2008a], usando Elementos Finitos (a). Estado de
tensão vertical (b) e distribuição do dano de tracção (c), segundo o modelo de dano continuo, [Faria, 1994],
sob solicitação sísmica.

5.2. Elementos Discretos

Apesar de dentro do grupo de trabalho da FEUP se dar preferência à utilização de elementos finitos, existem
outras formas de abordar o problema da modelação da alvenaria de pedra que têm apresentado resultados
promissores, como seja o método dos elementos discretos originalmente aplicado por [Cundall, 1971] na área da
mecânica das rochas.
As primeiras aplicações deste tipo de elemento a estruturas de alvenaria de pedra tiveram como base as
formulações típicas dos modelos discretos:
 Blocos rígidos ou deformáveis, em que nestes últimos se admite uma malha de el ementos
finitos;
 Condições de contacto denominadas de ―soft contact‖, em que as tensões são obtidas a partir
do deslocamento relativo entre blocos, tendo em conta as propriedades no rmais e tangenciais
adoptadas. Este tipo de modelo de contacto permite uma ligeira sobreposição de blocos em
compressão;
 Resolução explícita de problemas estáticos e dinâmicos.

Outros modelos de contacto são os de ―rigid contact‖ incorporados no trabalho de autores como os de [Jean,
1995] e de [Acary, 1998] ou ainda, os modelos de contacto que recorrem ao uso de molas na superfície dos
blocos [Casolo, 2004a].
Tal como no caso dos elementos finitos, a modelação de alvenaria com elementos discretos pode ser feita ao
nível local ou ao nível global. Com base na filosofia de modelação apresentada, a aplicação de elementos
discretos ao nível global apresenta vantagens evidentes, principalmente no que respeita a facilidade de
modelação e exigências computacionais. Neste tipo de abordagem, ao nível local a principal diferença entre o
método de elementos finitos e o método dos elementos discretos diz respeito à forma como é modelado o
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contacto entre os diferentes elementos; na modelação com elementos finitos é considerado uma superfície de
interface (ex: modelos de juntas), enquanto na modelação com elementos discretos o contacto é feito através de
pontos de contacto, permitindo análises com grandes deslocamentos. No entanto, apesar das diferenças
existentes entre estas duas abordagens, a sua evolução tende a aproximá-las cada vez mais, chegando a
complementarem-se mutuamente. Actualmente existem soluções de modelação híbridas, denominadas por
método do elemento finito/discreto, e que aparecem no trabalho de autores como [Munjiza, 2004], [Petrinic,
1996], [Barbosa, 1996] e [Lemos, 2007].
No que diz respeito à modelação global, a discretização de uma material através de um contínuo homogeneizado
usando um método de elementos discretos não faria sentido, uma vez que, para além de ser necessário aplicar
elementos finitos na modelação, a capacidade dos programas de elementos discretos são limitados neste domínio
quando comparados com programas de elementos finitos. O uso de elementos discretos no campo da modelação
global tem vantagens quando se usam abordagens como a proposta em [Casolo, 2004b]. Neste trabalho, o autor
propõe uma metodologia de modelação de alvenaria regular na qual o comportamento de uma porção de
alvenaria é homogeneizado e simulado numericamente por uma unidade de referência. Esta unidade é composta
por elementos rígidos e quadriláteros ligados entre si por duas molas normais e uma moda de corte, cujas
características são definidas considerando os efeitos da textura que surgem devido à degradação mecânica do
enchimento.

6. COMENTÁRIOS FINAIS

A alvenaria de pedra é um material compósito, de análise complexa, quer pela sua constituição, quer pelo
processo construtivo. O seu estudo pressupõe a realização de campanhas experimentais in-situ e (ou) em
laboratório, cujos resultados têm permitido um melhor conhecimento das suas propriedades e do seu
comportamento mecânico. No entanto, a grande variabilidade detectada na resposta de estruturas de alvenaria de
pedra dificulta a sua catalogação em grupos de características mecânicas idênticas, e favorece o uso de
coeficientes de segurança, por vezes demasiado conservadores. Em contrapartida, existe hoje em dia uma grande
variedade de estratégias de modelação com resultados bastante satisfatórios, no âmbito das limitações e
representatividade dos modelos.
Realça-se, a título de nota final, que é essencial um bom conhecimento do material alvenaria de pedra para que
se possa perceber o seu funcionamento, avaliar o seu comportamento e verificar a sua segurança de forma fiável.

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