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Abstract: Among many issues on the classical guitar learning process, the lack of ability on sight
reading seems to be one of the most crucial. Nonetheless, we know some classical guitarists whom
has an expertise on that matter such as Eduardo Fernández, Fábio Zanon, Nícolas de Souza Barros,
Mario Ulloa, Eduardo Meirinhos, Paulo Porto Alegre e Caroline Delume. We intend with this current
paper initiate a discussion among classical guitarists who masters sight-reading and the scientific
literature about that skill and its importance to classical guitar students.
1. Introdução
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2. Fundamentação teórica
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3. Materiais e método
4. Discussão
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Os entrevistados concordaram com a utilização explícita de seus nomes.
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Hoje em dia você tem aquele negócio: o sujeito estuda na escola, então a
aula começa às duas e termina às três. E muitas vezes não dá para atender
a todas as necessidades, então, claro, o professor tem que priorizar. E
muitas vezes têm coisas que ficam para trás. Leitura é uma delas [...]. Eu
acho que isso é um pouco falta de encontrar o espaço para aquilo dentro da
rotina de aula (Fábio Zanon).
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Essa fala de Zanon remete a de outro professor, entrevistado por Tourinho (2001:
175), dizendo que havia um aluno que tocava de cor um grande número de obras mais difícil
do que seu nível técnico que não possibilitara associação correta entre a música escrita e a
performance. No nosso trabalho, Meirinhos sugere que é uma questão comportamental do
violonista jovem. Porto Alegre compara e analisa as necessidades de leitura entre músicos
de orquestra e o violonista:
Foi perguntado aos entrevistados que aspectos consideram importantes para alguém
se tornar um “bom violonista”. Fernández comentou que além de facilidade técnica, faz-se
necessário uma boa metodologia no estudo. Nesse sentido, outros violonistas comentam e
apontam faculdades que devem fazer parte desse processo de ensino e aprendizagem:
nunca estuda uma coisa, como você vai ficar bom naquela coisa. De forma
que é necessária uma metodologia de prática disso (Nicolas de Souza
Barros).
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[...] eu sempre tive uma ótica do violão como um instrumento [meio], e não
como um fim. Sempre me considero um músico que toca violão, mas não
um violonista no sentido estrito [...]. Acho que um violonista não deve ficar
só no violão, tem que ter uma cultura musical ampla e uma cultura geral
ampla também (Eduardo Fernández).
Bom, você perguntou o que fazer para ser um ‘bom’ violonista. Você não
perguntou um bom ‘músico’! Porque às vezes um bom violonista, nem
sempre é um bom músico, e às vezes um bom músico, nem sempre é um
bom violonista [...]. Então, para a formação de um bom violonista, o primeiro
passo é um trabalho diligente, organizado, disciplinado, em cima das
facilidades e dificuldades específicas daquele indivíduo [...]. Chega um
ponto que começa a se confundir o que é ser um bom violonista e o que é
ser um bom músico. Em certo momento o bom violonista vai ter que ser um
bom músico, porque ele vai ter que comunicar sua arte de alguma maneira.
Então, se aquele violonista, ele tem certa ‘facilidade’, em um trabalho em
cima de inflexão, inflexões de frase musical, inflexões em cima de
entendimento estilístico, em termos de contextualização interpretativa
daquela obra, daquela peça, no seu contexto histórico. Tudo isso passa a
ser a formação do músico (Eduardo Meirinhos).
Já Porto Alegre, além de concordar com Zanon, traz esclarecimentos sobre os limites
do instrumento e peculiaridades do repertório camerístico para violão em comparação a
outros instrumentos:
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Você não precisa ser um gênio da leitura para ser maestro, você precisa
estudar. Você, conhecendo a música, para mim não interessa muito como
que você aprendeu [...]. Cara, a gente não pode ser ‘picareta’. Isso aí me
deu um banho de profissionalismo, se eu vou fazer alguma coisa eu não
posso ser picareta. Não pode, sabe, ‘empurrar com a barriga’ [...]. Não dá
para você comprar um livro de violão e simplesmente ficar girando em torno
daquelas peças [...]. Olha, eu acho que o principal é você ter curiosidade,
quem não tem curiosidade não vai a lugar nenhum. O aluno que não tem
curiosidade em conhecer música nova, ele começou mal [...]. O violão, que
é um instrumento predominantemente solista ou camerista, a tua formação
não te permite viver numa feliz ignorância (Fábio Zanon).
Muitos acreditam que a falta de aptidão na leitura à primeira vista do violonista deve-
se inteiramente a problemas de idiomatismo do instrumento e essa razão, independente do
fundamento, parece ser suficiente para que não se busque o desenvolvimento da
habilidade. Possivelmente isso acontece por não se ter certeza da importância ou de como
desenvolver a leitura na formação desse violonista. Na prática dos violonistas podemos
identificar vários ângulos que demonstram os benefícios de uma leitura fluente e a
necessidade de convencer o aluno dessa importância.
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exige como um de seus pré-requisitos a faculdade de ler com o mínimo de fluência, através
de um curto exame de leitura de partitura, comum em outras universidades. Ele estima o
resultado: “Sabe, de trezentas pessoas que fizeram, [...] em dez anos [...], três leram bem!”.
Pensamos que se mesmo em cursos superiores de música não há consenso sobre sua
importância, a própria heterogeneidade da formação musical anterior dos vestibulandos de
violão anunciaria resultados nessa ordem.
Por outro viés, Fernández faz uma ligação direta entre o resultado de ter uma boa
leitura e a motivação do aluno:
Bom, o violonista tem a tradição de ler mal, não é. De ser um mau leitor à
primeira vista [...]. Bem, eu preciso lhe dizer que eu nunca trabalhei
sistematicamente a leitura à primeira vista [...] A leitura à primeira vista para
mim é: - Eu quero saber como isso aqui soa [...]. Bom, há certos momentos
em que você se vê encantoado não é? [...] Você está em um festival [e
dizem]: - Rapaz, vamos tocar aqui; amanhã tem um recital, amanhã; A
partitura tá aqui [...]. A sensação é essa emoção de ‘corda bamba’ [...].
Esses momentos assim também, são momentos sofridos pra mim, ao
mesmo tempo são extremamente enriquecedores porque forçam você [...].
Essa necessidade que também é uma coisa que contribuiu bastante
(Eduardo Meirinhos).
Podemos observar que tanto o viés da motivação quanto o de conseguir lidar com
prazos na preparação da performance são igualmente importantes para a consolidação do
violonista camerista no mercado de trabalho. Zanon comenta uma situação curiosa a
respeito da preparação de um concerto com orquestra:
Porque o violonista tem aquele mito, toda hora as pessoas [me] falam: - Ah,
você vai tocar com a orquestra sinfônica tal, quantos ensaios você vai ter
para montar o Concerto de Villa-Lobos? cinco ou seis? [eu respondo] - Não,
é um [...] O cara [de orquestra] tem uma [boa] leitura. A primeira leitura que
a orquestra faz já é (...) já está valendo! [risos]. Não é teste. Você não está
‘ensaiando para ensaiar’, o ensaio já está ‘valendo’ (Fábio Zanon).
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Perceber a leitura à primeira vista como habilidade “básica”, tal como pensa
Fernández, pode significar percebê-la como “essencial”. Sabemos que muitos violonistas
discordariam desse sentido por conseguir preparar qualquer performance sem a
necessidade estrita de ter uma boa leitura, mas se a significamos como “meio” para otimizar
a preparação da performance sua importância pode ser mais bem aceita. Meirinhos
concorda com essa visão e esclarece propósitos delimitados da leitura dentro da preparação
da performance:
Essa delimitação deixa claro a diferença entre o estudo da leitura à primeira vista e
da performance ensaiada. McPherson (2002) as entende como habilidades diferentes, mas
a primeira influencia a segunda. No mesmo sentido Sloboda (2008) concebe como os dois
primeiros dos três estágios na preparação da performance.
5. Considerações finais
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dos violonistas aqui mencionados pode resultar positivamente, principalmente, por motivar
futuras discussões e estreitar ainda mais os conhecimentos empíricos e científicos.
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Ricardo Arôxa: Bacharel em violão (UFBA) e Mestre em Educação Musical (UFPB). Tem atuado
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sobre temas relacionados à pedagogia do violão e leitura à primeira vista.
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