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Ezequiel 18:31,32

por

Dr. John Gill

“Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e


fazei-vos um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão
morreríeis, ó casa de Israel?Porque não tenho prazer na morte do que
morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei” (Ezequiel
18:31,32)

Esta passagem da Escritura é freqüentemente usada pelos [1] patronos


do livre-arbítrio, e oponentes da graça de Deus; na qual eles imaginam
que o poder do homem na conversão é fortemente afirmado, e a
doutrina da reprovação suficientemente refutada; mas se elas são, ou
não, seremos mais capazes de julgar quando as seguintes coisas forem
consideradas:

1. Que a exortação para lançar fora as transgressões deles, considera


ou os seus próprios pecados, que eles tinham cometido, e mostra que
eles eram não somente inúteis, mas perniciosos, e assim odiosos e
abomináveis, como tais coisas são isto e são próprias para serem
lançadas fora; ou também o castigo devido aos seus pecados, que eles
poderiam ter removido e lançado fora pelo seu arrependimento e
reforma, e é o sentido que Kimchi dá às palavras; ou antes, aquelas
coisas, particularmente seus ídolos, pelo quais então transgrediram.
Agora, que seja observado que esta frase de lançar fora as transgressões
não é usada em nenhum outro lugar, ela é peculiar a Ezequiel, e assim
pode ser mais bem interpretada por Ezequiel 20:7,8. “Cada um lance de
si as abominações dos seus olhos, e não vos contamineis com os ídolos
do Egito, etc.” Estes ídolos eram as abominações de seus olhos, eram a
causa das suas transgressões, ou pela qual eles tinham transgredido,
que suas próprias mãos tinham feito para eles, para pecar (Isaias 31:7),
e o que eles tinham poder ou eram capazes de lançar deles; e de forma
alguma milita contra a necessidade de uma operação não frustrada na
conversão.

2. A outra exortação, para que eles façam um coração novo e um


espírito novo, admitindo que isto designa um coração e espírito
renovado e regenerado, no qual estão os novos princípios de luz, vida,
amor, graça e santidade, não prova que está no poder de um homem
não regenerado fazer por si mesmo tal coração e espírito; visto que dos
mandamentos de Deus para o poder do homem, non valet
consequentia, não é argumento: Deus ordena que os homens guardem
toda a lei perfeitamente; isto não significa, portanto, que eles podem
fazê-lo; seus preceitos mostram o que o homem deve fazer, não o que
eles podem fazer. Uma exortação como esta, para fazer um novo
coração, pode ser designada para convencer os homens de sua
necessidade de um, e da importância disto, que sem isto não há
salvação; e assim são os meios, através da graça eficaz de Deus, de
Seus eleitos desfrutarem esta benção; porque o que Ele aqui exorta, Ele
prometeu absolutamente no novo concerto (Ezequiel 36:26); “E dar-vos-
ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo”. Contudo,
deve ser observado que estas palavras não são ditas a pessoas não
convertidas, mas à casa de Israel, cada um deles; que não pode ser
pensado, especialmente todos deles, ter estado naquele momento num
estado não regenerado; e, portanto, não deve ser entendido como sendo
a primeira obra de renovação, mas de algumas renovações posteriores,
que eram para aparecer em sua conversação exterior; e assim, as
palavras têm o mesmo sentido daquelas do apóstolo Paulo aos crentes
de Éfeso (Efésios 4:23,24). “E vos renoveis no espírito da vossa mente; E
vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira
justiça e santidade”. Além do mais, por um novo coração, e um espírito
novo, pode ser entendido, como o Targum de Jonathan Bem Uziel o faz,
aljd hwrw lytd bl, um coração temeroso, e um espírito de temor, isto é,
um coração e um espírito para temer, servir e adorar ao Senhor, e não
aos ídolos. E é observável que onde quer que um novo coração e um
novo espírito sejam mencionados, eles permanecem em oposição aos
ídolos, e ao serviço deles; de forma que a exortação equivale a não mais
do que isto, que eles deveriam render uma obediência reverencial de
coração ao Deus vivo, e não aos ídolos mudos. Além disso, o que é aqui
chamado um novo coração, é, em Ezequiel 11:9, chamado um coração,
isto é, um coração simples, em oposição ao coração dobre ou hipócrita;
e assim, pode designar a sinceridade e honestidade em seu
arrependimento e reforma exterior nacional, que eles são aqui
pressionados a fazer.

3. A expostulação, “Por que razão morreríeis?” não é feita com todos os


homens; nem pode ser provada que tenha sido feita com alguém que
eventualmente não foi salvo, mas com a casa de Israel, que são
chamados os filhos e o povo de Deus; e, portanto, não pode desaprovar
qualquer ato de preterição passando sobre os outros, nem pode ser um
impedimento da verdade e da sinceridade de Deus. Além disso, a morte
expostulada aqui, não é uma eterna, mas uma temporal, ou que diz
respeito aos assuntos temporais, às condições civis e às circunstâncias
da vida; veja Ezequiel 33:24-29. Portanto,

4. A afirmação, "Eu não tenho prazer na morte do que morre", que é


algumas vezes introduzida com um juramento, (Ezequiel 33:11) “Vivo
eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio”, de
modo algum milita contra um ato de preterição; pelo qual alguns são
deixados justamente por Deus a perecer em e por suas iniqüidades; ou
o decreto da reprovação, pelo qual alguns, devido a suas transgressões,
são apontados, ou pré-ordenados à condenação e à morte; e, portanto,
todos os argumentos [2] usados para desaprovar estas coisas,
fundamentados nesta passagem da Escritura, são vãos e impertinentes;
porque uma morte de aflições é aqui pretendida, como já foi observado,
debaixo da qual a casa de Israel gemia e se queixava; embora isto se
devesse totalmente a eles, e os quais não eram gratos a Deus, e nos
quais Ele não tinha prazer: que deve ser entendido, não simples e
absolutamente, e com respeito a todas pessoas afligidas por Ele; porque
Ele se deleita no exercício do julgamento e da justiça, bem como em
mostrar misericórdia, e se ri da calamidade dos ímpios, e zomba
quando o temor deles chega; (Jeremias 9:24; Provérbios 1:26), mas isto
é para ser tomado comparativamente; como quando Ele diz (Oséias 5:6)
"misericórdia quero, e não sacrifício"; isto é, Eu me deleito antes na
misericórdia, do que no sacrifício; assim aqui, "Eu não tenho prazer na
morte do que morre": em suas aflições, calamidades, cativeiro e coisas
semelhantes; mas antes, que ele se volte dos seus caminhos, se
arrependa e se reforme, e viva em sua própria terra; que mostra a
misericórdia e a compaixão de Deus (Lamentações 3:33), que não aflige
nem entristece de bom grado aos filhos dos homens. Por conseguinte,
Ele renova Sua exortação: “Convertei-vos, pois, e vivei”. A soma de tudo
isto é, vocês não têm razão para dizer, como no verso 2, “Os pais
comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram?”; ou como
no verso 25, que “O caminho do Senhor não é direito”; visto que não é
pelos pecados de vossos pais, mas pelos seus, que as presentes
calamidades, das quais vocês se queixam, repousam sobre vocês; de
minha parte, Eu não tenho prazer em vossa morte, em vosso cativeiro;
seria mais agradável a mim, que vocês de convertessem de seus maus
caminhos, ao Senhor teu Deus, e andassem de acordo com as leis que
Eu vos dei para observar, e assim vivessem em vossa própria terra, na
quieta possessão de todas as vossas mercadorias e propriedades. Mas o
que isto tem a ver com os assuntos da vida eterna, ou da morte eterna?

NOTAS FINAIS:

[1] Remontr. in Coll. Hag. art. 3. 4. p. 216; Act. Synod. p. 78, etc.;
Curcell. 1. 5, c. 6, sect. 1. p. 363; et. 1. 6, c. 14, sect 8, p. 408;
Limborch. 1. 4, c. 5, sect. 2, p. 331, &, 31. p. 374 .

[2] Veja Whitby, pp. 3, 33, 160, 196, 197; ed. 2.3, 32, 156,192, 193.

FONTE: Extraído e traduzido de The Cause of God and Truth [A Causa


de Deus e a Verdade], Parte 1, Seção 21 – Ezequiel 18:31-32.
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
12 de Junho de 2004.
Cuiabá-MT

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