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TEORIAS DA

COMUNICAÇÃO

Marina Costa
Elementos básicos do
processo de comunicação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Compreender os conceitos dos elementos básicos do processo de


comunicação.
„„ Reconhecer as funções da linguagem.
„„ Entender a relação entre os elementos básicos do processo de co-
municação e as teorias da comunicação.

Introdução
Neste texto, você vai ver quais são os elementos básicos do processo de
comunicação. Você conhecerá, por exemplo, os conceitos de emissor,
receptor, mensagem, signo, informação, redundância, sintonia, contexto,
retorno, código, sinal, canal, ruído e repertório. Também vai compreender
as funções da linguagem, pois para cada elemento básico da comunicação
há uma função da linguagem correspondente. Além disso, vai verificar
que muitos desses elementos foram abordados por teorias clássicas da
comunicação e da linguagem.

Elementos básicos do processo comunicativo


Para adentrar no tema dos elementos básicos do processo de comunicação, é
importante você ter em mente que comunicação é diferente de informação.
Você também deve saber que nem toda comunicação, entendida como troca
de mensagens, comporta informação. Alguns exemplos são os poemas e as
músicas, que provocam emoções e comunicam algo, mas em geral não infor-
mam algo. Isso a menos que exista um propósito informativo, que é diferente
do objetivo original. Na Revolução Portuguesa de 25 de abril de 1974, uma
canção foi utilizada para informar os revoltosos que as operações deveriam

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começar. Nesse exemplo, a canção é informativa, pois contém uma carga útil
de informação (SOUSA, 2006).

É interessante observar que o compartilhamento de uma informação precisa de um


suporte comunicacional para acontecer. Assim, a informação depende da comunicação.
Mas pode haver comunicação sem troca de informação, como nas situações em que
grupos de pessoas compartilham experiências (SOUSA, 2006).

Ao longo da história das teorias da linguagem e das teorias da comuni-


cação, modelos diversos apresentaram os elementos básicos do processo de
comunicação, ou seja, tudo aquilo que é necessário para que a comunicação
aconteça. Uma conversa é uma situação de comunicação, por exemplo, pois
nela existem esses elementos (FARACO;& MOURA, 1997). São eles:

„„ Emissor: aquele que produz e emite a mensagem. Toda mensagem tem


um emissor, seja ele uma pessoa ou uma organização complexa que
envolva milhares de pessoas.
„„ Receptor: destinatário da mensagem, quem a recebe e a interpreta.
Pode ser um indivíduo, um grupo ou um grande público.
„„ Mensagem: aquilo que o emissor transfere para o receptor. Trata-se de
qualquer peça de comunicação, como uma aula, uma palestra ou um
e-mail. Não é o que o emissor quer dizer, e sim o que ele diz de fato.
As mensagens podem ser classificadas em informais/profissionais,
sonoras, audiovisuais, etc. Além disso, também podem ser divididas
em temporais, espaciais e espaço-temporais.
„„ Signos: elementos de uma mensagem, como palavras, gestos e imagens.
„„ Informação: nome técnico dado ao conteúdo da mensagem. As in-
formações podem ser muito ou pouco informativas, dependendo do
grau de novidade.
„„ Sintonia: não quer dizer o simples entendimento da mensagem. Refere-
-se ao fato de que o receptor precisa estar conectado física e psicolo-
gicamente à mensagem.
„„ Código: pode ser visual, sonoro, tátil. Refere-se à linguagem em que
a mensagem é transmitida. Toda e qualquer linguagem falada e escrita

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é um código. No processo de comunicação, é necessário que o emissor


use um código conhecido do receptor.
„„ Retorno: quando o receptor responde à mensagem se convertendo em
emissor, enquanto o emissor original se torna receptor, se diz que há
retorno ou feedback na comunicação. Inicia-se assim uma conversação,
e a interação entre os dois é maior.
„„ Contexto: a comunicação ocorre dentro de um contexto, e a mensagem
depende do contexto no qual está inserida. Há o contexto interno da
mensagem e o contexto externo, que seria a situação psicológica, social,
histórica, etc. No caso da comunicação pela palavra, há o contexto
verbal (relação das palavras entre si e o idioma utilizado) e o extraverbal
(circunstâncias em que as palavras são utilizadas). Além da interação
entre as mentes, a comunicação humana também tem um princípio
físico. Dessa forma, se deve verificar o aspecto intelectual e semântico
e o aspecto material e concreto na comunicação.
„„ Sinais: gráficos, ondas sonoras, ondas luminosas, sinais fotográficos,
sinais magnéticos e ondas eletromagnéticas.
„„ Canal: meio físico que transporta os sinais do emissor até o receptor.
Na prática da comunicação, se percebe que existem cadeias de canais
que unem o emissor ao receptor. Ao longo do processo de comunicação,
o que passa através dos canais são os sinais. Isso pois a comunicação
é o processo intelectual e físico pelo qual uma dada mensagem, que
tem uma informação e é constituída de signos retirados de um código,
é transmitida de um emissor para um receptor através de um canal,
sob forma de sinais.
„„ Ruído: tipo de sinal que atrapalha a transmissão da mensagem; é uma
interferência no canal de comunicação. O ruído pode ter naturezas
diversas: visual, sonora, etc. Quando é de natureza interpretativa, se
trata de um ruído semântico.
„„ Repertório: parte do código que é conhecida e utilizada por um emissor
ou um receptor. Para uma comunicação eficiente, é preciso que emissor
e receptor não apenas usem o mesmo código, como também o mesmo
repertório. Trata-se do vocabulário do código, a lista de signos desse código.
„„ Redundância: quando há a utilização de mais signos do que o necessário
para a transmissão de uma informação, há redundância. A redundância
serve para neutralizar os ruídos do canal e também para aumentar a
clareza e diminuir a ambiguidade da mensagem. O excesso de redun-
dância gera problemas na comunicação. Quanto maior for a taxa de
informação da mensagem, menor é a taxa de redundância e vice-versa.

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Você certamente já percebeu que, nos diálogos, os papeis são trocados


entre as pessoas: ora um é emissor e o outro é receptor; depois, a situação
se inverte. Observe esse esquema na Figura 1 (FARACO; MOURA, 1997).

Figura 1. Esquema de uma situação de comunicação.


Fonte: Adaptada de Faraco e Moura (1997, p. 16).

Para se comunicar, você dispõe de uma infinidade de recursos, tais como


as palavras, as expressões fisionômicas, os gestos, os símbolos e os sinais
visuais. Como você viu, esses recursos são os signos. Eles podem ser divididos
em signos verbais — as palavras que constituem uma língua — e signos não
verbais — os demais signos que não são a palavra falada ou escrita, como
desenhos, sons e cores (FARACO; MOURA, 1997).

Figura 2. A primeira imagem é um exemplo de linguagem não verbal — a ideia de que é


proibido estacionar está expressa por meio de um sinal visual. A segunda é um exemplo
de linguagem verbal, pois o conteúdo está expresso por meio de palavras.

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Um conjunto de signos que se relacionam entre si de forma organizada e


constituem um sistema é o que se chama de linguagem. Dessa forma, é possível
falar em linguagem do trânsito, da matemática, dos gestos, da música, entre
outras. Já a língua se refere a outro tipo de linguagem, o único que utiliza
palavras. A língua, portanto, é a linguagem verbal utilizada por um grupo de
indivíduos, uma comunidade (FARACO; MOURA, 1997).
Outro aspecto que você precisa lembrar é o de que a informação é sempre
codificada. Se alguém diz “uma deliciosa eu maçã comi”, a frase não tem
sentido. Mas se diz “eu comi uma maçã deliciosa”, o conteúdo é compre-
endido. O código precisa ser conhecido e compreendido pelo receptor para
que o emissor o utilize com intenção comunicacional. Dessa forma, você
deve compreender que a utilização de um código requer um acordo prévio
estabelecido entre emissor e receptor (SOUSA, 2006). Além disso, não pode
esquecer que a sobreinformação obscurece a informação. Um exemplo disso
é que a consulta a um livro imenso para a retirada de um conteúdo específico
e pequeno não é o caminho mais eficiente.

Quanto mais significados proporcionar, mais eficaz é a comunicação, ao contrário


da informação. Isso quer dizer que quanto mais polissêmica e quanto mais emoções
despertar, mais eficiente é a comunicação. Assim, a obra clássica Os Lusíadas é muito
comunicante, mas pouco informativa. Nas ocasiões em que a comunicação é utilizada
para passar uma determinada informação, a mensagem será mais eficaz quanto menos
significados tiver (SOUSA, 2006).

A informação reduz a incerteza num sistema e também altera esse sistema,


pois as mensagens provocam um impacto no receptor. Além disso, a comu-
nicação resulta em mudanças. Esse processo de induzir mudanças por meio
da comunicação é o que se chama de “persuasão”.
No âmbito dos elementos básicos do processo de comunicação, também é
importante observar as funções da linguagem. Como esse assunto é extenso,
você se dedicará a ele no tópico seguinte.

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Funções da linguagem
Cada função da linguagem é utilizada com diferentes intenções. Embora haja
uma função que predomine, vários tipos de linguagem podem estar presentes
num mesmo texto. Segundo o linguista russo Roman Jakobson (2008 apud
SANTEE; TEMER, 2011), para cada elemento da comunicação existe uma
função da linguagem correspondente. Atualmente, é consenso que as funções
da linguagem são seis: função referencial, função emotiva, função poética,
função fática, função conativa e função metalinguística.
Bühler foi o autor do esquema que abordava três dessas funções: referen-
cial, fática e metalinguística. Mais tarde, Jakobson acrescentou as outras três
funções: emotiva, poética e conativa.
A função referencial é uma função dominante nas mensagens e que precisa
ser observada para a identificação das outras funções. Ela sugere uma equiva-
lência entre mensagem e contexto, pois reflete o mundo com mensagens claras,
objetivas, sem ambiguidades. A terceira pessoa do verbo é que caracteriza a
função referencial linguisticamente. Essa função é identificada nos noticiários
de rádio e televisão, pois a estrutura da mensagem veiculada é objetiva.
A mensagem que é centrada no remetente possui uma função emotiva ou
expressiva. A proposta é expressar a ideia de quem fala, despertar emoção, seja
ela verdadeira ou não. Linguisticamente, é caracterizada pela primeira pessoa
do verbo, bem como pelo uso de interjeições, adjetivos, advérbios e sinais de
pontuação. As novelas de televisão, com teor melodramático, exemplificam essa
função, já que expressam sentimentos e emoções a fim de comover quem as assiste.
Já a função conativa é orientada para o destinatário. Caracteriza-se pela
segunda pessoa do verbo e por frases no vocativo e no imperativo, dando
a ideia de ordem ou conselho ao destinatário. “Conativa” tem origem em
conatum, termo latino que significa influenciar alguma pessoa a partir de
algum esforço. Dessa forma, a mensagem terá argumentos para a persuasão,
muito utilizados na linguagem da propaganda.
Há também as mensagens orientadas para o canal, cujo objetivo é pro-
longar ou interromper a comunicação a fim de verificar se o canal funciona.
Trata-se da função fática. O que essa função faz é atrair a atenção do in-
terlocutor para confirmar a sua atenção, de forma contínua. Essa função é
percebida na televisão. Devido aos cortes e à curta duração das matérias e
dos programas, percebe-se a tentativa de manter a atenção do telespectador
mesmo nos intervalos comerciais.
A função metalinguística se refere ao código. Ela ocorre quando é preciso
verificar se o remetente e o destinatário estão usando o mesmo código, retor-

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nando a ele. Basicamente, de acordo com Chalhub, o código é um sistema de


símbolos com uma significação fixa, convencional, cujo objetivo é representar
a organização dos sinais na mensagem, circulando pelo canal entre a emissão
e a recepção.
Na função poética, a mensagem está voltada para si mesma: suas ca-
racterísticas físicas, sonoras e visuais. A função poética é predominante na
estrutura da construção da poesia, segundo Jakobson. Dessa forma, as outras
funções ficam subordinadas a ela.
A noção de código foi uma das maiores contribuições da Teoria da Comu-
nicação para Jakobson. Ele usou essa noção como base para o desenvolvimento
da sua Linguística Estrutural. De acordo com o autor (JAKOBSON, 2008 apud
SANTEE; TEMER, 2011):

[...] quando li tudo o que escreveram os engenheiros de comunicações


sobre código e mensagem, dei-me conta de que desde há muito esses
dois aspectos complementares são familiares às teorias linguísticas e
lógicas da linguagem, tanto aqui como alhures; é a mesma dicotomia
que encontramos sob denominações diversas, tais como langue-parole
(língua-fala), Sistema Linguístico Enunciado, Legisigns-Sinsigns, etc.

Os engenheiros de comunicação utilizam o conceito de um código prede-


terminado entre emissor e receptor. Já a linguística de Saussure usa o conceito
de langue (mais tarde substituído por código), que possibilita uma troca de
parole (mensagens) entre os dois. Segundo a Teoria da Comunicação, o código
se refere a uma transformação convencionada de termo a termo e reversível.
Com essa transformação, a mensagem passa pelos processos de codificação
e decodificação. O código combina o signans (significante) com o signatum
(significado) e vice-versa.
Para aproveitar o melhor da Teoria da Comunicação e da Linguística, na
concepção de Jakobson, era preciso operacionalizar o conceito de langue
de Saussure, mudando esse nome para código. Também era importante
ampliar o conceito elaborado pelos engenheiros da comunicação. O código,
assim, não era apenas o conteúdo cognitivo, e sim o estilo dos símbolos
léxicos, suas variações livres, suas elipses, seus subcódigos (não era um
código estático).

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Decifrar uma mensagem é diferente de decodificá-la, pois o decodificador é o desti-


nador virtual da mensagem. Se ela for interceptada no meio por outrem, este será um
criptanalista. O código é muito importante no processo de comunicação. Ele torna
possível ao receptor decodificar, compreender e interpretar a mensagem recebida.
No processo de construção da mensagem, o remetente utiliza a combinação e a
seleção. Assim, ele combina signos diversos que são retirados de um repertório que
seja comum ao remetente e ao destinatário: o código. No entanto, é necessário que
o destinatário tenha acessado esses signos em seu repertório previamente para que a
mensagem seja compreendida. Dessa forma, a seleção diz respeito somente ao código,
não à mensagem (JAKOBSON, 2008 apud SANTEE; TEMER, 2011).

Elementos básicos da comunicação e teoria


A Teoria Matemática foi a responsável por algumas elaborações que marcaram
época e influenciaram vários trabalhos posteriores no campo da comunicação.
Nesse contexto, o americano Claude Elwood Shannon publicou a monografia
The Mathematical Theory of Communication em 1948, entre as publicações de
pesquisas dos laboratórios Bell Systems, filial da empresa de telecomunicações
American Telegraph & Telephone (AT&T). Um ano depois, a Universidade de
Illinois publicou a monografia junto aos comentários de Warren Weaver, que
era coordenador da pesquisa sobre as grandes máquinas de calcular durante
a Segunda Guerra Mundial (MATTELART; MATTELART, 1997).
Shannon propôs um esquema do “sistema geral de comunicação”. Para o
autor, o problema da comunicação se refere a reproduzir num determinado
ponto, de forma exata ou aproximada, uma mensagem selecionada em outro
ponto. Você pode perceber que se trata de um esquema linear com uma origem
e um fim.
Assim, a comunicação seria composta por: fonte (de informação), que
produz uma mensagem (como a palavra no telefone); codificador ou emissor,
que faz da mensagem sinais, com o objetivo de que ela seja transmissível (o
telefone transforma a voz em oscilações elétricas); canal, que é o meio para
transportar os sinais (cabo telefônico); decodificador ou receptor, que recons-
trói a mensagem com base nos sinais; e, por fim, destinação, ou seja, a pessoa
ou coisa para a qual a mensagem é transmitida. Na Figura 3, você pode ver um
esquema dessa teoria dos anos 1940. Como você pode perceber, ela já trazia
alguns dos elementos básicos do processo de comunicação estudados até hoje.

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Figura 3. Modelo teórico de Shannon e Weaver.


Fonte: Wolf (1999).

A intenção de Shannon era quantificar o custo de uma mensagem ao delinear


um quadro matemático. Era preciso fazer a verificação de uma comunicação
entre dois polos de um sistema e observar a questão dos ruídos, ou seja, as
perturbações de ordem aleatória. Esses ruídos não são desejáveis, já que impe-
dem o isomorfismo, que significa a correspondência plena entre os dois polos.
Em resumo, o esquema da Figura 3 ilustra a questão de, em cada processo
comunicativo, haver sempre uma fonte ou nascente da informação, a partir
da qual é emitido um sinal, por meio de um aparelho transmissor. Esse sinal
vai ser transportado através de um canal e, ao longo dele, poderá haver ruído
perturbador. Ao sair do canal, o sinal é captado pelo receptor, que fará a
conversão em mensagem. Essa mensagem, por sua vez, será compreendida
pelo destinatário (WOLF, 1999).
Shannon teve o mérito de formular o teorema do canal de ruído. A base
da ideia é uma melhor utilização da codificação. Dessa forma, os defeitos da
cadeia energética são corrigidos com melhoramentos no rendimento da cadeia

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informacional. Com uma codificação ótima, é possível obter altos índices de


fidelidade do canal. A grande questão era, então, estabelecer o modo mais
econômico, rápido e seguro de codificar uma mensagem, sem que a presença
do ruído causasse problemas à transmissão. A partir daí, se torna evidente a
existência de mais um elemento: o código.
Para o destinatário compreender o sinal de forma correta, é preciso que
tanto ele quanto o receptor se refiram a um mesmo código – sistema de regras
que confere aos sinais um valor correspondente. Wolf (1999) usa o termo
“valor” e não “significado” devido ao sentido da comunicação referente a
máquinas. Afinal, não se pode dizer que uma máquina destinatária compreende
o significado do sinal, a não ser que seja em sentido metafórico. A máquina
é preparada para responder a uma solicitação de uma determinada forma.
Um dos códigos apresentados como opção para a transmissão das mensa-
gens pelo canal foi o código binário. Nesse caso, pulsos positivos (1) e negativos
(0) eram combinados para corresponder às letras do alfabeto. Entretanto, essa
correspondência não era o objeto de estudo dos engenheiros da comunicação.
Seu objeto era a transmissão eficiente do sinal. Sendo assim, Wolf, ao citar
Eco, recorda que a Teoria da Informação representa um método de cálculo
das unidades de sinal transmissíveis e transmitidas, e não um método para
calcular as unidades de significado.

A noção de código é uma das limitações da Teoria Informacional da Comunicação,


pois a comunicação só existe se houver a interação com o código pelo emissor e
pelo receptor. A mensagem não existe sem o código. Assim, você pode perceber que
no modelo de Shannon e Weaver o significado do que é transmitido não importa
(SANTEE; TEMER, 2011).

Outros dois modelos de comunicação foram criados com base no modelo


de Shannon e Weaver. David King Berlo foi o responsável pelo modelo dos
ingredientes da comunicação, elaborado em 1960. Ele tentou atribuir uma
dimensão sociológica à proposta dos engenheiros de comunicação. Assim,
Berlo reconhece que o emissor possui algum conhecimento (aquele enviado
pela mensagem), mas, segundo o autor, o receptor também precisa fazer um
reconhecimento. Assim, ambos devem compartilhar o mesmo quadro socio-

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cultural. Os significados precisam provocar sentidos nos dois, um trabalho


dos receptores (SANTEE; TEMER, 2011).
Com o objetivo de aplicar o modelo de Shannon e Weaver especificamente
à comunicação humana, Wilbur Schramm refez a ideia original. Ele excluiu o
transmissor e o receptor por considerar o emissor como a fonte de informação
+ transmissor e o destinatário como o receptor + destinatário. Você pode
notar, com isso, que a tarefa de codificar cabe ao emissor, e a de decodificar
cabe ao receptor. Em relação aos ruídos, antes eles eram físicos; agora, são
compreendidos como semânticos também, como uma palavra não apropriada
ou desconhecida. É nesse modelo que surge o fator retroalimentação (feed-
back), cuja inspiração ocorre com a cibernética. Para otimizar a comunicação,
nesse caso, emissor e receptor interagem e fazem alterações na mensagem
(POLISTCHUCK; TRINTA, 2003 apud SANTEE; TEMER, 2011).
Em 1960, Jakobson publica o ensaio “Linguística e Poética”, na revista Style
in Language. Nele, o teórico realiza uma sistematização de ideias dele mesmo
já publicadas anteriormente. Trata-se do seu trabalho mais difundido. O autor
explica, na obra, que o remetente envia uma mensagem ao destinatário. Essa
mensagem requer um contexto para ser considerada eficaz. Esse contexto, por
sua vez, precisa ser apreensível pelo destinatário, além de verbal ou suscetível
de verbalização. Além disso, a mensagem requer um código que seja comum,
ao menos parcialmente, ao remetente e ao destinatário. Ela também exige um
contato, ou seja, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente
e o destinatário que permita o início e a permanência da comunicação (JAKO-
BSON, 2008 apud SANTEE; TEMER, 2011). Isso ocorre como no esquema
que você pode observar na Figura 4.

Figura 4. Esquema da comunicação de Jakobson.


Fonte: Jakobson (2008 apud SANTEE; TEMER, 2011, p.123).

Dessa forma, Jakobson acrescentou três elementos (contexto, contato e


código) aos elementos abordados por Bühler e presentes na Teoria Hipodérmica

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(remetente/emissor, mensagem, destinatário/receptor). Com isso, o autor propôs


analisar a comunicação com base nos processos e na sua estrutura. Então, é
preciso avaliar as propriedades da mensagem, do remetente e do destinatário,
bem como se este está recebendo a mensagem de fato. Também é necessário
verificar o caráter do contato entre os dois participantes do processo, o código
comum entre os dois e o que há de semelhante e diferente entre as operações
de codificação e decodificação. Por fim, há o aspecto do contexto em torno
da mensagem, que se refere aos dois. Trata-se de um modelo articulado sobre
a Teoria Matemática da Informação.
Em relação ao modelo de Shannon e Weaver, Jakobson eliminou a noção
de codificador e decodificador, pois entendeu que esses elementos faziam
parte do remetente e do destinatário. Além disso, fundiu a mensagem com
o sinal. O modelo de telecomunicação foi adaptado por Jakobson para uma
comunicação realizada entre dois seres humanos.

FARACO, C. E.; MOURA, F. M. Língua e literatura. São Paulo: Ática, 1997.


MATTELART, A.; MATTELART, M. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola,
1997.
PEREIRA, J. H. Curso básico de teoria da comunicação. 4. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2007.
SANTEE, N. R.; TEMER, A. C. R. P. A linguística de Roman Jakobson: contribuições para
o estudo da comunicação. UNOPAR Científica Ciências Humanas e Educação, Londrina,
v. 12, n. 1, p. 73-82, jun. 2011.
SOUSA, J. P. Elementos de teoria e pesquisa da comunicação e dos media. 2. ed. Porto:
BOCC, 2006. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-ele-
mentos-teoria-pequisa-comunicacao-media.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2017.
WOLF, M. Teorias da comunicação. 5. ed. Lisboa: Presença, 1999.

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