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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

2. CLASSIFICAÇÃO DA CRIAÇÃO QUANTO A SUA FINALIDADE.

3. CLASSIFICAÇÃO DA PISCICULTURA QUANTO AO SISTEMA DE CRIAÇÃO


3.1 Piscicultura extensiva
3.2 Piscicultura semi-intensiva
3.3 Piscicultura intensiva

4. QUANTIDADE DE ÁGUA NECESSÁRIA DE ACORDO COM O SISTEMA DE PRODUÇÃO

5. CONSTRUÇÃO DE TANQUES E VIVEIROS


5.1 CONDICIONANTES LOCACIONAIS
5.1.1 Topografia
5.1.2 Solo
5.1.3 Água
5.1.3.1 Propriedades qualitativas da água
5.1.3.2 Propriedades quantitativas da água
5.1.4 Determinantes Gerais
5.1.4.1 Tipos de tanques e viveiros

5.1.4.2 Forma e dimensões dos viveiros


5.1.4.3 Outras características importantes na construção dos viveiros
5.1.4.4 Entrada de água e canal de abastecimento
5.1.4.5 Saída de água e canal de deságüe
5.1.4.6 Tanque de decantação ou estabilização

6. ESPÉCIES CULTIVADAS NO BRASIL

7. ESCOLHA DAS ESPÉCIES PARA OS CULTIVOS

8. MANEJO PRODUTIVO
8.1 FLUXOGRAMA DO PROCESSO PRODUTIVO
8.2 DESCRIÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO
8.2.1 PREPARAÇÃO DOS VIVEIROS
8.2.1.1 CALAGEM E ADUBAÇÃO DOS VIVEIROS
8.1.1.2 ESCOLHA DOS ALEVINOS E O POVOAMENTO
8.1.1.3 ALIMENTAÇÃO E TRATAMENTO
8.1.1.4 DESPESCA
8.1.1.5 SELEÇÃO E PESAGEM
9. QUALIDADE DE ÁGUA
9.1 Características físicas da água
9.2 Características químicas da água

10. MORFOLOGIA E FISIOLOGIA BÁSICA DOS PEIXES


10.1 MORFOLOGIA EXTERNA
10.2 ANATOMIA INTERNA

11. ENFERMIDADES
11.1 Prevenção
11.2 Principais doenças na piscicultura
11.2.1 Bactérias
11.2.2 Fungos
11.2.3 Protozoários
11.2.4 Tremátodos
11.2.5 Crustáceos
11.2.6 Vermes
11.3 Formas de tratamento
11.3.1 Produtos Químicos
11.4 Diagnósticos e Tratamento

12. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


1. INTRODUÇÃO

A piscicultura é um tipo de exploração animal que vem se tornando cada


vez mais importante como fonte de proteína para o consumo humano, principalmen-
te pela redução dos estoques pesqueiros que, em 1991 (produção de 16.574.497
ton.) em cativeiro aumentou em 8,3% em relação a 1990 e 100% nos últimos 8 anos;
Outros fatores que estão favorecendo o desenvolvimento atual da piscicultura são as
modificações drásticas do hábitat, como: poluição; desmatamento e represamen-
tos; a mudança do hábito alimentar das pessoas; o aparecimento de novos produtos
mais práticos para o consumo; e, a utilização para lazer e esporte.
A piscicultura é uma atividade em ascensão dentro do setor agropecuário.
Seus altos índices produtivos vêm atraindo cada vez investidores na área. Porém,
como qualquer outra atividade que envolve uma cadeia produtiva elaborada, é
necessário que antes de implantada, o projeto deve ser bem planejado e avaliado,
garantindo assim, segurança ao sistema de produção; caso contraio, a atividade ao
invés de prosperar, pode vir a apresentar prejuízos, e por conseqüência, levar ao de-
sestímulo e até mesmo, ao abandono da atividade.
O Estado de Goiás possui um enorme potencial hídrico e climático para o
cultivo de peixes e outros organismos aquáticos. Referência disso é o crescimento
positivo da atividade. Porém, a carência de técnicos, repasse de tecnologia, deses-
truturação da cadeia produtiva e falta de uma política pública bem elaborada, faz
com que ainda a atividade caminhe de forma desorganizada.
Sabe-se que o custo de implantação de uma unidade produtiva em viveiros
escavados é muito elevado, por isso, é necessário a elaboração de projetos com
uma engenharia moderna, baseada em informações cientificas, ecológicas e tecno-
lógicas confiáveis. Deste modo, se consegue otimizar os custos de implantação e
melhorar a produtividade. O planejamento da atividade dará confiança ao produ-
tor, mostrando se o empreendimento é ou não, viável economicamente.
Contudo, não basta somente que o projeto de implantação seja aplicado
de forma correta. É necessário também que o produtor adote boas práticas de ma-
nejo, que estabeleçam procedimentos adequados como: densidade de estocagem;
uma boa qualidade de água; boa pratica de manejo alimentar; utilização de ração
de boa qualidade; aplicação de fertilizantes químicos ou orgânicos de forma corre-
ta; medidas preventivas contra doenças; e, técnicas de despescas que minimizem o
aporte de efluente ao meio ambiente.
2. CLASSIFICAÇÃO DA CRIAÇÃO QUANTO A SUA FINALIDADE

Cria ou produção de alevinos:


 Exploração em que peixes (alevinos) são passados a terceiros para serem re-
criados ou usados em povoamentos e repovoamentos de águas públicas ou
particulares.
 É considerada a fase mais lucrativa; entretanto, exige demanda favorável por
alevinos na região, maior dedicação por parte do produtor, maior ocupação
de mão-de-obra especializada e instalações de equipamentos mais comple-
xos.

Recria, engorda ou produção de pescado:


 Explora-se a capacidade de ganho de peso e crescimento dos animais, en-
globando a fase de alevinagem até o abate.
 Menos lucrativa que a anterior; entretanto, caracterizam-se por exigir menor
dedicação do piscicultor, necessitar de menor ocupação de mão-de-obra,
menor qualificação, necessitar de instalações e equipamentos menos com-
plexos; pode ser realizada em represas rurais, arrozais inundados, represas ou
viveiros com ou sem integração com outras explorações agropecuárias. Esta
fase é dependente da oferta de alevinos, demanda e preço de pescado na
região.

Exploração mista de cria e recria:


 Produz alevinos para uso próprio ou para terceiros.

Outros tipos de exploração:


 Para fins de lazer (povoamento de represa, pesque-pague ou cultivo de pei-
xes ornamentais).
 Para fins sanitários (controlar a proliferação de insetos ou animais vetores de
doenças).

3. CLASSIFICAÇÃO DA PISCICULTURA QUANTO AO SISTEMA DE CRIAÇÃO

O peixe, diferentemente de alguns animais terrestres, pode ser criado de vá-


rias maneiras diferentes. Adequando às condições da propriedade, tipo de alimento,
espécie considerada e aceitação de merca-
do. É possível dividir, didaticamente, o sistema
de criação em Extensivo, Semi-extensivo e In-
tensivo.

3.1 Piscicultura extensiva


 Exploração em que o homem interfere o mínimo possível nos fatores de produtivi-
dade (apenas realiza o povoamento inicial do corpo d'gua).
 Caracteriza-se pela impossibilidade de esvaziamento total do criadouro, impossi-
bilidade de despesca, ausência de controle da reprodução dos animais estoca-
dos, presença de peixes e aves predadoras, ausência de práticas de adubação,
Figura 1- Modelo
calagem e alimentação. A alimentação é garantida apenasde piscicultura extensiva.
da produtividade
natural e pela produtividade baixa, dificilmente ultrapassa 400 kg/ha/ano. (Figura
2).

3.2 Piscicultura semi-intensiva


 Sistema de exploração em que o homem
interfere em alguns fatores de produtivida-
de. Caracteriza-se pela possibilidade de
esvaziamento total do criadouro, possibili-
dade de despesca, controle da reprodu-
ção dos animais estocados, ausência ou
controle da predação, presença de práti-
ca de adubação, calagem e, opcional-
mente, uma alimentação artificial à base
de subprodutos regionais, manutenção de
uma densidade populacional correta du-
Figura 2- Modelo de piscicultura semi-intensiva.
rante o período de cultivo, produtividade
que pode chegar a 10 ton./ha/ano. Siste-
ma racional e econômico de produção
recomendado para criação de peixes tro-
picais e por abranger ainda consorciações
com suínos, aves, arroz, etc. (Figura 2).

3.3 Piscicultura intensiva


 Sistema de exploração em que os fatores
de produção são controlados pelo ho-
mem, caracteriza-se por apresentar densi-
dade populacional elevada de peixes por
volume d'água, alimentação artificial ex-
clusivamente à base de rações balancea-
das, necessidade de alto fluxo de água ou
uma recirculação forçada por causa da al-
ta densidade populacional, pela produtivi-
dade elevada, podendo ultrapassar 90
kg/m³/ano, pelo sistema racional de custo Figura 3- Modelo de piscicultura intensiva.
elevado, com mão-de-obra especializada
e alto nível de mecanização e tecnologia.
(Figura 3)

4. QUANTIDADE DE ÁGUA NECESSÁRIA DE ACORDO COM O SISTEMA DE PRODUÇÃO

A quantidade mínima de água que se deve dispor depende de vários fato-


res, portanto, deve ser suficiente para repor as perdas por evaporação e por infiltra-
ção e, satisfazer, em parte, as necessidades de oxigênio dos peixes.

Quadro 1- Comparação dos parâmetros nos sistemas semi-intensivo e intensivo.

Semi-intensivo Intensivo
- a renovação de água pode variar de 5 a - renovação de água varia entre 100 a
30% por dia; 200% por dia (Ex.: truta);
- a vazão pode variar de 10 a 50 L/s/ha,
- vazão de 200 a 500 L/s/ha;
(estimada no período seco);
- o nível de oxigenação deve ser maior ou - nível de oxigênio entre 5 e 10 mg/L (de-
igual a 5 mg/L; pendendo da espécie);
- a estocagem pode ser de 1 kg de peixe/
- uma densidade de 50 a 600 peixes/m³ é
m². (Quantidades maiores podem causar
permitida (Ex: tilápias em gaiola podem
problemas na produção e saúde dos pei-
produzir de 50 a 300 kg/m³/safra).
xes).

5. CONSTRUÇÃO DE TANQUES

5.1 CONDICIONANTES LOCACIONAIS

A viabilidade da implantação de uma unidade de piscicultura, como de


qualquer outro negócio, está condicionada a uma análise mais detalhada dos as-
pectos locacionais mais importantes.
No caso específico da piscicultura, os fatores determinantes de uma boa
escolha são aqueles que levam em consideração: a topografia do terreno, por ques-
tões óbvias referentes aos custos de implantação e manutenção do empreendimen-
to; o tipo de solo onde se planeja a sua execução; a análise quantitativa e qualitati-
va da água disponível para abastecimento dos viveiros (principalmente nos meses
de estiagem); e as funções determinantes gerais do negócio.

5.1.1 Topografia

A topografia é em grande escala, a demarcadora do volume do investi-


mento financeiro. É ela que determina o volume de terra a ser movimentado na
construção das instalações. A movimentação de terra é um dos principais itens dos
investimentos fixos do empreendimento. A topografia condiciona ainda: o tipo, a
forma, a superfície; e, até o número de viveiros possíveis de serem construídos.
Com o objetivo de se buscar um melhor posicionamento dos custos variá-
veis, deve-se observar a distância e a cota (diferença de nível), entre o ponto de
captação de água, e a localização dos viveiros de modo que, a captação esteja
numa cota mais elevada do que o ponto máximo do nível de água dos viveiros. Para
a drenagem, a cota do manancial (riacho), também deverá estar em cota inferior à
cota do sistema de drenagem do viveiro, a fim de que todo o processo de abaste-
cimento e drenagem de água seja feito por gravidade.
É extremamente recomendável que na etapa de elaboração do projeto e
construção dos viveiros, haja assistência técnica de um topógrafo para a demarca-
ção ideal das áreas.
É recomendável que a declividade do terreno seja inferior a 3%, evitando
grandes movimentações de terra nas construções dos viveiros.

Exemplo de cálculo de declividade:


É levado em consideração a distancia horizontal em relação ao desnível entre
os pontos.
“ Seu José quer saber qual a porcentagem de declividade em um terreno de
onde as extremidades mede 100 metros e o desnível entre essas extremidades é
de 1 metro”

100m (distância)

1m
(desnível)

desnível1
%
de   
declividad
e x100 x 100   1%
distância
100

Logo, a declividade que Seu José encontrará será de 1%

5.1.2 Solo

O tipo de solo mais apropriado para a construção de viveiros é aquele cuja


composição tenha 40% de argila e 60% de areia, além de não possuir afloramento
rochoso, ou raízes de grandes árvores que dificultem o processo de escavação. Ter-
reno muito argiloso é desaconselhável, pois além de ser mais difícil de ser escavado,
também favorece ao aparecimento de rachaduras quando esvaziado. Terreno mui-
to arenoso não possui boa retenção de água, favorecendo as infiltrações, e conse-
qüentemente, demandando um maior volume de entrada de água.
Considerando-se as grandes diferenças entre os índices de acidez encon-
trados, é necessário que se faça também, uma análise de solo para possíveis corre-
ções desta acidez. Para tanto, é utilizado o calcário, a fim de ser mantido com um
pH em torno de 7,3.

Granulometria

Os solos para piscicultura devem, de preferência, apresentarem maior por-


centagem de argila e silte, pelo menos 35% de argila e, no máximo, de 60% de areia.
As argilas são compostas por grãos extremamente finos. Suas principais ca-
racterísticas que interessam nas construções de viveiros são: impermeabilidade; plas-
ticidade; e, coesão. Quando essas características são atendidas, a água tem maior
dificuldade de infiltração e, por conseqüência, menos água será perdida.

Aspecto e consistência

A Plasticidade é a capacidade que o solo possui de se deixar moldar em di-


ferentes formas sem variação de seu volume. Uma massa de argila seca se torna du-
ra e não moldável. Se receberem quantidades de águas em quantidades propor-
cionais, ela se torna plástica, possibilitando sua moldagem.

Uma maneira prática de verificar se o solo apresenta características aceitá-


veis para a construção de viveiros é coletar uma amostra de solo e comprimi-
la nas mãos, fazendo uma bola compacta. Logo, arremessa-la de uma altura
de aproximadamente 50 cm do solo. Se ela se manter coesa (firme), indica
que há grandes chances de possuir quantidades de argilas suficientes para a
construção de viveiros. Caso se esfarelar, o solo possui muita quantidade de
areia.
Outro método consiste em coletar uma amostra de solo e fazer um rolinho e
juntar as pontas formando uma “rosquinha”. Se nesse processo a amostra não
se partir, indica que o solo pode apresentar boas características para a cons-
trução de viveiros. (Figura 4)

Figura 4- Método prático para verificar a qualidade do solo argiloso para implantação de pisciculturas.

Permeabilidade
A permeabilidade é a característica que o solo possui de permitir o escoa-
mento da água ou ar através dele. A permeabilidade pode variar com a temperatu-
ra ou a quantidade de material argiloso ou arenoso no solo. É medida em função da
velocidade do fluxo de água durante um determinado período de tempo.
O movimento de água dentro do solo vai carregando as partículas de argila
até um momento que se formam vazios em formas de tubos. Isso pode apresentar
sérios problemas com a desestabilização do aterro.
É normal que em viveiros novos as perdas por infiltração sejam maiores. Com
o tempo, ocorre sedimentação de uma película de argila que praticamente imper-
meabiliza o fundo do viveiro.

Compactação

É importante que na construção dos viveiros, seja feita uma compactação


bem firme, a fim de evitar o máximo de perdas por infiltração. Para isso são necessá-
rios que se usem maquinários apropriados para fazer a compactação do solo. Con-
tudo, para uma boa compactação é fundamental um teor de umidade apropriado.
Deve-se ter o cuidado para que esse teor de umidade não seja elevado de mais, di-
ficultando o transporte e a compactação.
No Estado de Goiás esse detalhe deve ser considerado com muito cuidado.
Os meses de chuva podem impossibilitar o trabalho eficiente das máquinas, bem
como, a realização de uma boa compactação do solo. É comum dizer que para
cada dia chuvoso são necessários, no mínimo, dois dias de tempo bom para que o
solo volte a uma umidade adequada.

5.1.3 Água

Em muitas regiões do Estado de Goiás a água é o fator crucial no planeja-


mento da atividade. Isso se explica pela sazonalidade dos períodos de chuva e de
seca, onde, no período de seca, a redução da vazão nos locais de captação pode
ser insuficiente para atender as exigências mínimas de quantidade de água no sis-
tema de produção.
Quando se trata de piscicultura, a água a ser utilizada deve atender parâ-
metros de qualidade e a quantidade suficiente para garantir a viabilidade do cultivo
e sanidade dos peixes. Por isso, é importante conhecer a origem da água; vazão mí-
nima; e, das propriedades físico-químicas e biológicas da água, observando se essas
características proporcionam condições necessárias para o cultivo de peixes.
Após o enchimento dos viveiros, a entrada de água nos mesmos, deve a-
tender exclusivamente a três situações: recuperar as perdas com infiltrações, recom-
por o volume evaporado, e/ou melhorar o nível de oxigenação.
Dada a natureza do projeto, e do produto final, é essencial a observação
de determinadas normas básicas de higiene e fitosanitárias mínimas para implanta-
ção do empreendimento, como por exemplo:
a- localizar o empreendimento longe de fontes poluentes como mananciais su-
jeitos a despejos de indústrias químicas, ou de resíduos agrotóxicos, utilizados em
plantações ; e
b- no caso de utilização de esterco animal para a fertilização dos viveiros e pa-
ra a alimentação dos peixes, deve-se tomar cuidados adicionais com as medi-
cações dados a estes animais, aos quais podem ser transferidos aos peixes.

5.1.3.1 Propriedades qualitativas da água:

Dentre as propriedades qualitativas da água podemos citar: as físicas, as


químicas; e as biológicas. Dente as características físicas, temos a temperatura, a
turbidez, o odor, a transparência e o sólidos em suspensão. As características quími-
cas, citamos o pH, o oxigênio dissolvido, a alcalinidade, a dureza, a amônia, o nitrito,
o nitrato, a demanda bioquímicas de oxigênio (DBO), o dióxido de carbono (CO2),
dentre outros. Já as propriedades biológicas, temos a qualidade e densidade de mi-
croorganismos, espécies e quantidades de parasitas.
Será abordado mais adiante, as propriedades qualitativas da água, com
mais detalhe.

5.1.3.2 Propriedades quantitativas da água:

A quantidade de água necessária para a atividade de piscicultura depen-


de de vários fatores como: espécie cultivada; sistema de cultivo; clima; altitude; e,
práticas de manejo.
As fontes de água mais utilizadas são nascentes ou pequenos riachos (cór-
regos). Quando a captação for de pequenos córregos, é recomendável fazer um
açude-reservatório fora do curso d’água para a captação da água. É importante
que este reservatório seja construído de modo que o nível de água de operação es-
teja, pelo menos, 30 cm acima do nível máximo de água dos viveiros de produção,
para que a água caia por gravidade, através de um canal de derivação e abaste-
cimento. O volume de água deverá ser suficiente para repor as perdas por infiltra-
ção, por evaporação e renovação da qualidade de água.
Em alguns sistemas de cultivo, quando bem manejados, a renovação de
água se torna praticamente irrisória no melhoramento da qualidade, precisando a-
penas repor-la água por perdas por infiltração e evaporação, que até podem che-
gar a valores significativos no verão.
Considera-se que o tempo necessário para enchimento de um viveiro de 1
hectare (100 m x 100 m x 1,2 m) é aproximadamente de 15 a 20 dias. Deste modo, a
vazão de água deve variar em torno de 5 a 10L/s/ha da área alagada.

Vazão
O conceito de vazão é a razão do volume de líquido (água) em um deter-
minado tempo. Pode ser expresso pela fórmula: Q = Volume / tempo.

Medidas de vazão

É fundamental conhecer a vazão das fontes de onde vai se captar a água para o
cultivo, para que se possa planejar e dimensionar com segurança a atividade. Como
já comentado acima, para o Estado de Goiás, esse cuidado deve ser ainda maior,
devido a sazonalidade do período de chuvas. Nos períodos de seca a vazão pode
ser muito baixa e em períodos de chuva a vazão pode ser alta demais. Deste modo
é necessário que se conheçam as vazões em pelo menos nesses períodos distintos.

Método direto para medida de vazão: Este método consiste em coletar toda a água
através de uma tubulação em um recipiente de volume conhecido. Determinando-
se o tempo necessário para encher todo o recipiente em um determinado tempo,
tem-se a vazão em litros/segundo (L/s). Recomenda-se que se repita a medição pelo
menos 3 vezes e se faça uma média dessas medições. O tempo mínimo de acordo
com (Chiossi, 1975) é de 5 segundo. Então de acordo com a quantidade de água
que se deseja medir, é necessário que o volume do recipiente seja proporcional, ou
seja, medições de vazões de até 3 L/s, podemos utilizar um balde de 20L. Se a vazão
é de até 10 litros, teremos que utilizar uma caixa de pelo menos 80 a 100 litros.

Por exemplo: João mede, com um balde, a quantidade de água que sai
de uma mangueira. Ele verifica com um relógio que em 10 segundos o balde
encheu 10 litro de água. Isto significa que a vazão foi de 10 L / 10 s. Acontece
que João ficou curioso e quis saber quantos litros por segundo saiu da man-
gueira. Se aplicarmos uma regra de três, verificamos que:
Se em:
10 segundos - 10 litros
1 segundo - ? litros

? litros = 10 litros x 1 segundo = 1 litro por segundo.


10 segundos

Agora João quis saber qual a vazão por hora que sairá da manqueira.
Aplicando novamente a regra de três, verificamos que:
Se em:
10 segundos - 10 litros
3600 segundos - ? litros

? litros = 10 litros x 3600 segundo = 3600 litro por hora.


10 segundos
5.1.4 Determinantes Gerais

Outros fatores que devem ser levados em consideração para a escolha do


local de instalação de uma piscicultura, são: existência de uma infra-estrutura mínima
de rede de energia elétrica; estradas em bom estado de conservação; relativa pro-
ximidade dos mercados consumidores; e, condições climáticas minimamente favo-
ráveis.
A construção de tanques e viveiros de uma maneira adequada é de fun-
damental importância para o manejo dos peixes. De uma maneira geral, existem os
seguintes tipos de tanques:

5.1.4.1 Tipos de tanques e viveiros

 Viveiros de terra (escavados):

Os viveiros feitos de terra apresentam condições próximas às naturais dos peixes.


São construções menos onerosas, mas necessitam de manutenção e reparos
constantes.
Suas paredes devem apresentar inclinação máxima de 45 graus e ter suas bordas
gramadas para evitar desmoronamentos.

 Viveiros de alvenaria:

Os tanques de alvenaria possuem paredes revestidas de tijolos com fundo de ter-


ra, exigindo menos reparos, mas são caros.

 Outros:

Podem ser construídos de concreto, cimento-amianto, fibra de vidro, lona plásti-


ca, etc.

5.1.4.2 Forma e dimensões dos viveiros

A forma e dimensões dos viveiros


variam de acordo com a espécie criada,
topografia e formato do terreno, disponibi-
lidade de água, tipo de exploração e cria-
ção. (Figura 5)
Os viveiros retangulares são os que
apresentam melhor forma, tanto para o
manejo como para o bem-estar dos pei-
xes. Viveiros muito pequenos (menor que
400 m2) aumentam os custos e viveiros mui-
Figura 5- Vista aérea de uma piscicultura.
to grandes (acima de 6000 m2) inviabilizam
um bom manejo de criação.
A profundidade pode variar de 0,80 a 1,50 metro.

5.1.4.3 Outras características importantes na construção dos viveiros

O local escolhido para a construção deve ser totalmente limpo, retirando-se


toda a matéria orgânica (restos de raízes, folhas, galhos, etc.), pedras, enfim; tornan-
do o terreno mais estável e evitando problemas de infiltração. Os viveiros devem ser
construídos, de preferência, escavados ou com levantamento de diques aprovei-
tando o máximo da topografia existente.
A compactação de fundo e das paredes é prática obrigatória para evitar
desmoronamentos, erosão e infiltração (se necessário construir núcleos de argila nas
paredes para maior segurança e durabilidade); o fundo deve ter uma inclinação
(declividade) de no mínimo 1,5% em direção ao sistema de escoamento.

Figura 6 - Ilustração das características gerais dos taludes de piscicultura.

Taludes

Os taludes de um viveiro de terra devem ser bem construídos para garantir


durabilidade e impedir infiltrações e erosões. Na construção do mesmo, o ideal é
construir em camadas, colocando 20 cm de terra, molhando e compactando, repe-
tindo estes passos até completar a altura total do talude. O perfil de um talude ideal
é mostrado na Figura 7, onde H representa a altura do talude (entre 0,8m e 1,5m).
Estes valores são referências para o tipo de solo próprio para viveiros de terra (argilo-
so).

Figura 7 - Ilustração das características gerais dos taludes de piscicultura.

Em qualquer caso o ponto mais alto do talude deve ficar 50 cm acima do


nível da água (borda livre) para evitar problemas como transbordamentos. A largura
da crista do talude depende muito do tipo de empreendimento e do tamanho dos
viveiros. Se os viveiros forem muito grandes, a crista do talude deve ter 4 m para su-
portar movimento de caminhões de despesca. Se os viveiros forem pequenos, basta
um trator para a despesca, logo o talude pode ser mais estreito, na faixa dos 2 m.

Figura 8 - Taludes com mesma altura e largura de crista, porém com diferentes inclinações (1:1, 1:2 e 1:3). Obser-
ve que a suavização do talude aumenta o volume de terra no corpo do dique e o percentual de áreas mais
rasas no viveiro. Também aumenta a área da borda livre, exigindo maior atenção quanto a proteção desta
área. Note as linhas de capilaridade (linhas tracejadas – solo com baixo teor de argila; linhas contínuas – solo
com maior percentual de argila). Os taludes construídos com solos muito argilosos podem apresentar uma incli-
nação mais acentuada nos taludes externos. Já nos solos com baixo teor de argila, a inclinação deve ser mais
suave para não ocorrer drenagem da água infiltrada sobre o talude. A movimentação de terra e o custo de
construção ficam maiores quanto mais suaves for a inclinação dos taludes. Viveiros com taludes muito suaves
também podem apresentar problemas com o estabelecimento de algas e plantas aquáticas nas áreas próxi-
mas as suas margens.

5.1.4.4 Entrada de Água e Canal de Abastecimento

O abastecimento dos viveiros pode ser feito com cano PVC e registro para
regular a vazão. Importante, se possível, fazer a água cair de uma altura de aproxi-
madamente 50 cm, o que ajuda na oxigenação. Lembrar de colocar pedras na re-
gião onde a água atinge o fundo do viveiro, pa-
ra evitar danos de erosão e ressuspensão de
material argiloso.
A água de captação dever ser de boa
qualidade, apresentando as características físi-
co-químicas que atenda a espécie cultivada.
Seu volume deve ser suficiente para atender as
renovações diárias (5 a 10 L/s/hectare).
Cada viveiro deve ter seu abasteci-
mento individualizado. Nunca abastecer um vi-
veiro com a água de outro viveiro em operação, Figura
para9não
– Detalhes do abastecimento
comprometer os com calhas e
peixes
com água de baixas qualidades. tubo de PVC.
Geralmente, para abastecimento geral dos viveiros, é construído um canal
em concreto, ou manilhas de concreto. Para cada viveiro se constrói uma caixa de
derivação, para então derivar a água por um tubo de PVC para abastecimento do
viveiro. (Figura 9).

5.1.4.5 Saída de Água e Canal de Deságüe

Um dos fatores importantes no cultivo de peixes é poder esgotar totalmente


um açude ou viveiro, visando a despesca, manutenção, adubação e principalmente
a desinfecção feita pelo sol.
Para isso, existem algumas alternativas para se alterar, quando for necessá-
rio, o nível da água de um viveiro ou açude.
Quaisquer que sejam as estruturas de saída de água implantadas, essas de-
verão estar localizadas na parte mais baixa do viveiro, para que o mesmo possa ser
totalmente drenado.
É importante a retirada de água do fundo dos viveiros, uma vez que essa
água apresenta menor qualidade e, níveis baixos de oxigênio. Para isso são propos-
tos monges ou tubulações que utilizam sistema de sifonamento.
O canal de deságüe pode ser feito similar ao canal de abastecimento, utili-
zando calhas e os tubos de PVC, que levam a água até o tanque de decantação
ou estabilização.

a) Estrutura: O "Cotovelo ou Joelho”

É a estrutura mais barata, sendo muito utilizada atualmente para tanques ou


açudes com menos de 2 ha.
Essas estruturas são de PVC rígido (canos) e fixadas em uma base de con-
creto ou alvenaria, variando de tamanho conforme as dimensões do tanque. Existem
dois tipos: os fixos ou móveis:

- Fixo

A estrutura de PVC rígido é fixada em um muro de concreto ou cimento. Os


níveis da água podem ser alterados, retirando-se os diferentes tubos segmentados
(também em PVC) existentes. Na parte superior do tubo por onde é drenada a água,
coloca-se uma tela de malha condizente com o tamanho dos peixes em cultivo, pa-
ra se evitar a fuga dos mesmos (Figura 10).
Nível da água
Tubo de PVC de
Tubo de PVC
150mm
segmentado de
100mm

Figura 10 – Detalhes da drenagem feita por sistema de sifonamento com canos de PVC.

- Móvel

Análogo à estrutura anterior quanto à sua implantação. A diferença é que


essa estrutura não apresenta segmentações e o nível da água é alterado, baixando-
se a estrutura (tubo de PVC) para um lado ou para o outro. Das existentes, é a mais
barata e mais adotada atualmente em todo o Brasil.

c) Estrutura: Monge

É a melhor estrutura desenvolvida para a saída de água de um tanque, e


por ser considerada de primeira qualidade. Porém, é a mais cara e mais complexa,
podendo ser utilizada para qualquer dimensão de viveiros ou açude.
O monge é uma estrutura feita de concreto armado, por meio de um molde
em madeira e que tem a forma de letra "U". Essa estrutura é construída na saída de
água dos viveiros, na sua parte mais baixa (Figura 11).
Na sua porção interna, pode apresentar de duas a três ranhuras, onde serão
inseridas pequenas tábuas ou tabiques, serragem e telas de proteção, que irão im-
pedir a fuga dos peixes de cultivo.

Caixa de Tijolo Tábuas de


e concreto controle de nível

Serragem
Tela de fina
proteção

Figura 11 – Detalhes da drenagem feita por monge de concreto.


5.1.4.6 Tanque de decantação ou estabilização

O tanque de decantação ou estabilização é recomendável para melhorar


a qualidade de água depois de utilizada na piscicultura, e assim devolve-la ao meio
ambiente. Tem a finalidade de reciclar os nutrientes e metabólitos em excesso, pro-
vidos de restos de rações, excretas dos peixes, etc., e também decantar os materiais
em suspensão.
É exigida uma área de 10% da soma da área total alagada dos viveiros de
cultivo. As características deste tanque são as mesmas de um viveiro de produção.

6. ESPÉCIES CULTIVADAS NO BRASIL

Existem no Brasil centenas de espécies de peixes de água doce que poderi-


am ser tranqüilamente trabalhadas. Mas isso não ocorre, principalmente porque há
poucos estudos sobre a propagação natural ou artificial de muitas espécies, isto é,
faltam ainda conhecimentos sobre biologia de inúmeras de nossas espécies.

Hoje, no País, cultivam-se espécies nativas e exóticas; como:


Nativas:
Pacu, Tambaqui (Piaractus mesopotamicus, Colossoma ma-
cropomum)
Origem: Brasil, Bacia do Paraná e do Prata.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 20 a 30°C.
pH ideal da água: 6 a 8. Pacu
Oxigênio dissolvido mínimo: 1,5 mg/L.
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo.
Densidade de estocagem: 1 a 1,5 peixes/ m³
(tanque convencional).
Tambaqui
Piau, Piauçu, Piapara (Leporinus sp)
Origem: Brasil.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 18 a 30°C.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: 2 mg/L.
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo. Piau

Densidade de estocagem: 1 peixe/ m³ (tanque convencional).


Curimatã ou curimba (Prochilodus scrofa)
Origem: Brasil.
Hábito alimentar: Iliófaga.
Limite de temperatura: 20 a 30°C.
pH ideal da água: 6 a 8.
Curimba
Oxigênio dissolvido mínimo: 1,0 mg/L.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 1 peixe/ m³ (tanque convencional).

Matrinchã, Piraputanga (Brycon sp)


Origem: Brasil, Bacia Amazônica, São Franscisco e Paraíba.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 18 a 30°C.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: 2 mg/L.
Matrinchã
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m³ (tanque conven-
cional).

Pintado, Surubim (Pseudoplatystoma coruscan)


Origem: Brasil.
Hábito alimentar: Carnívoro.
Limite de temperatura: > 22°C.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: > 3,5 mg/L. Pintado
Sistema de cultivo: Monocultivo.
Densidade de estocagem: 1 peixe/ m³ (tanque convencional).

Exóticas:
Carpa cabeça grande (Aristichthys nobilis)
Origem: China.
Hábito alimentar: Zooplanctófaga.
Limite de temperatura: 16 a 30°C.
pH ideal da água: 6 a 8.
Carpa cabeça grande
Oxigênio dissolvido mínimo: > 4,0 mg/L.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m³ (tanque conven-
cional).
Carpa capim (Ctenopharyngodon idella)
Origem: China e sudeste da Ásia.
Hábito alimentar: Herbívora.
Limite de temperatura: 16 a 30°C.
pH ideal da água: 6 a 8. Carpa capim
Oxigênio dissolvido mínimo: > 4,0 mg/L.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m³ (tanque conven-
cional).

Carpa prateada (Hypophthalmichthys molitrix)


Origem: China.
Hábito alimentar: Fitoplanctófaga.
Limite de temperatura: 16 a 30°C.
pH ideal da água: 6 a 8.
Carpa prateada
Oxigênio dissolvido mínimo: > 4,0 mg/L.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m³ (tanque conven-
cional).

Tilápia (Oreochromis niloticus)


Origem: África, Bacia do Nilo.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 26 a 28°C.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: > 1,0 mg/L.
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo.
Tilápia
Densidade de estocagem: 2 peixes/ m³ (semi-intensivo).
3 peixes/m³ (intensivo).
150 peixes/m³ (tanque-rede).

7. ESCOLHA DAS ESPÉCIES PARA OS CULTIVOS

As espécies de peixes para os cultivos intensivos e semi-intensivos, devem


apresentar as seguintes características:
a. Sejam adaptadas ao clima da região - para o Centro-oeste temos, como op-
ção, tambaqui, (Colossoma macropomum) pirapitinga, (C. brachypomum); car-
pa comum, (Cyprinus carpio); macho da tilápia do Nilo, (Oreochromis niloticus);
híbrido de tilápias (Oreochromis hornorum × O. niloticus); e pacú (Piaractus meso-
potamicus). Dependendo de maiores estudos, poderemos contar com as carpas
chinesas: capim, (Ctenopharyngodon idella); prateada, (Hypophthalmichtys moli-
trix); e cabeça grande, (Aristichthys nobilis);
b. Apresentem crescimento rápido - É necessário que atinja peso comercial an-
tes de 1 ano de cultivo. Isto acontece com todas as espécies citadas no item a;
c. Reproduzam-se naturalmente em cativeiro, de preferência, ou sejam passíveis
de se obter a propagação artificial (hipofisação). - No primeiro caso, estão as ti-
lápias e a carpa comum. As demais só se propagam em cativeiro através da hi-
pofisação;
d. Aceitem alimentos artificiais com bom índice de conversão alimentar. As es-
pécies citadas no item “a” atendem a esta necessidade;
e. Suportem elevadas densidades de estocagem. - Sob este aspecto as tilápias
são imbatíveis, vindo em seguida tambaqui, pirapitinga e carpa comum.
f. Sejam resistentes ao manuseio e as enfermidades. - Sob este aspecto, as tilá-
pias são também imbatíveis, vindo em seguida tambaqui, pirapitinga, carpa co-
mum; e
g. Sejam de boa aceitação comercial - Isto acontece com todas as espécies ci-
tadas no item “a”.

8. MANEJO PRODUTIVO

8.1 FLUXOGRAMA DO PROCESSO PRODUTIVO


8.2 DESCRIÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO

O processo de engorda de peixes é relativamente simples consistindo basi-


camente na: preparação dos viveiros; escolha alevinos e o povoamento; alimenta-
ção e tratamento; acompanhamento da evolução do crescimento; e, despesca,
seleção e pesagem.

8.2.1 PREPARAÇÃO DOS VIVEIROS

A preparação dos viveiros consiste basicamente na calagem e nas aduba-


ções do terreno.

8.2.1.1 CALAGEM E ADUBAÇÃO DE VIVEIROS

Calagem dos viveiros :

A calagem é a primeira coisa a ser feita e depende da análise de solo do


viveiro. Tem como objetivo controlar a acidez do solo, aproximando o pH à 7,0 (com
a análise de solos, têm-se condições de atingir esse valor).
Os terrenos arenosos geralmente exigem uma calagem mais leve do que
terrenos argilosos. Os terrenos turfosos (presentes em locais baixos e com coloração
escura) necessitam de uma calagem mais pesada (de 5 a 7 ton/ha) por serem muito
ácidos (pH entre 4 e 5).
Uma boa calagem deve ser realizada três meses antes de se colocar água
no tanque (tempo necessário para o calcário reagir com o solo). Esse tempo pode
ser menor caso o calcário tenha uma textura mais fina ou se utilize cal virgem (diminui
o tempo para 45 dias; entretanto, esses produtos são mais caros).
O calcário tem que ser incorporado no solo (pelo menos no fundo) a uma
profundidade de 15 a 20 cm (usar enxada ou grade).
O pH baixo causa:
• Menor produtividade do viveiros;
• Impede a reciclagem de nutrientes (reduz a atividade de decomposi-
ção da matéria-orgânica);
• Maior vulnerabilidade dos peixes às doenças (muco e brânquias); e
• Menores taxas de fertilização e sobrevivência de larvas e alevinos.

Em média, são utilizados: calcário (CaCO3); e/ou, cal virgem ou cal hidra-
tada (CaO) em pó, nas quantidades:
- 200g/m² de calcário dolomítico, ou;
- 100g/m² de cal virgem ou cal hidratada.
Adubação dos viveiros :

A Adubação dos viveiros pode ser orgânica ou inorgânica (química), tendo


a mesma finalidade que na agricultura. É feita para aumentar a produção primária
da água de cultivo, aumentando deste modo a produtividade final.

Adubação orgânica

Os adubos utilizados para a piscicultura são os estercos de aves, de bovinos,


suínos e outros. As quantidades recomendadas estão na Tabela 2.

Tabela 2 – Tipo de adubos orgânicos recomendado com respectivas quantidades em gramas.

Adubação orgânica do solo


Tipo de esterco Quantidade
Bovinos 400 - 600 (g/m2)

Modo de aplicação do adubo orgânico.

 Colocar uma lâmina de água de 20 cm no viveiro. Aplicar o esterco


espalhando-o em sua superfície uniformemente.
 Viveiro seco, a aplicação deve ser a lanço no fundo do viveiro.
OBS: Evite a adubação em dias nublados e monitore a qualidade da água
quando o viveiro já estiver povoado. Deve-se espalhar principalmente no fundo
e, se estiver muito seco, jogar uma camada de terra entre 2 a 3 cm para que o
esterco não bóie.

Adubação química

São utilizados adubos químicos empregados normalmente na agricultura,


contendo bases de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), nas proporções de 4/8/2.
Aconselhamos a aplicar unicamente o fósforo, sob a forma de superfosfato sim-
ples ou triplo.
Devem-se dissolver os adubos previamente em água. Nunca jogar diretamen-
te na água principalmente os adubos a base de fósforo, pois o solo os retém com
facilidade.
As quantidades recomendadas estão na Tabela 3
Tabela 3 – Tipo de fertilizante qímicos recomendado com respectivas quantidades em gramas.

Adubação química
Tipo de fertilizante Quantidade
Super Simple/S Triplo 7,0 – 2,0 g/m²
Cloreto de Potássio 0,5 – 1,0 g/m²

Modo de aplicação do adubo químico


 Colocar uma lâmina d’água de 20 cm no viveiro;
 Dissolver o fertilizante (1 parte de adubo para 10 ou 20 partes de água)
 Deixar descansar por 1 a 2 horas
 Aplicar o fertilizante espalhando na superfície do viveiro.
OBS: É importante que a adubação, após o peixamento, seja feita em três dias
consecutivos, de preferência na presença de sol, momento este em que as algas
estão em alta atividade fotossintética. A quantidade aplicada deve ser
proporcional ao número de dias em que a mesma será realizada.

8.1.1.2 ESCOLHA DOS ALEVINOS E O POVOAMENTO

O povoamento dos viveiros deverá ser feito na relação de 01 (um) alevino


por metro quadrado de lâmina de água. Considerando um viveiro de 5.000 metros
quadrados, com uma altura média de 1,5 metro, devem ser colocados 5.000 (cinco
mil alevinos) alevinos.
Os peixes para o povoamento dos viveiros deverão ser adquiridos de esta-
ções de piscicultura especializadas. Os alevinos devem ser colocados nos viveiros
com muito cuidado para que não sejam machucados. Deve-se evitar tocar os alevi-
nos com as mãos, a fim de não retirar a fina camada “muco” que os protegem.
Outro cuidado importante é com a temperatura da água. O saco plástico
que transporta os alevinos devem ser colocado em contato com a água que irá re-
cebê-los. Quando a temperatura da água do saco plástico, se igualar à temperatura
da água do viveiro, os filhotes podem então ser soltos aos poucos e devagar. A me-
lhor hora para soltar os alevinos nos viveiros é pela manhã ou ao entardecer, ou ain-
da, nos dias nublados a qualquer hora.

8.1.1.3 ALIMENTAÇÃO E TRATAMENTO

A engorda de peixes em escala comercial, determinam alimentações artifi-


cial por intermédio de rações balanceadas, fareladas ou granuladas, complemen-
tadas por outros nutrientes.
Na hipótese de cultivo semi-intensivo, com tecnologia de alimento à base
de ração, para sustentar um povoamento de 1 (hum) peixe por metro quadrado, o
alimento deve ser administrado duas vezes por dia, em períodos fixos. De preferência
no início da manhã e no final da tarde.
É importante lembrar que a maioria dos peixes possui hábitos alimentares di-
ferenciados, conseqüentemente uma exigência nutricional também diferenciada.
Quanto mais carnívoros forem os peixes cultivados, maior a porcentagem de proteí-
na bruta na ração. (Tabela 4)

Tabela 4 - Exigências de porcentagem de proteína bruta e tamanho do pellet de rações comercias para algumas espé-
cies de peixe.
Tilápia Redondos Piauçu Matrinxã Pintado
Peso vivo

45% 45% 45% 45% 45%


até 5 g
Pó Pó Pó Pó Pó
40% 40% 40% 40% 40%
5 - 25g
1,7 mm 1,7 mm 1,7 mm 1,7 mm 1,7 mm
36% 36% 36% 36% 40%
25 - 50g
2 - 4 mm 2 - 4 mm 2 - 4 mm 2 - 4 mm 2 - 4 mm
36% 28% 28% 36% 40%
50 - 100g
4 - 6 mm 4 - 6 mm 4 - 6 mm 4 - 6 mm 2 - 4 mm
32% 28% 28% 36% 40%
100 - 200g
6 - 8 mm 4 - 6 mm 4 - 6 mm 4 - 6 mm 4 - 6 mm
28% 28% 28% 28% 40%
200 - 500g
6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm
28% 28% 28% 28% 40%
500 - 750g
6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm
28% 28% 28% 28% 40%
750 - 1000g
6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm 6 - 8 mm
28% 22% 22% 28% 40%
1000 - 1500g
6 - 8 mm 14 - 20 mm 14 - 20 mm 6 - 8 mm 14 - 20 mm
28% 22% 22% 28% 40%
1500 - 2000g
6 - 8 mm 14 - 20 mm 14 - 20 mm 6 - 8 mm 14 - 20 mm
22% 22% 28% 40%
acima 2000g -
14 - 20 mm 14 - 20 mm 6 - 8 mm 14 - 20 mm

A idade dos peixes influencia diretamente na quantidade de ração consu-


mida. Quanto menor a idade dos peixes, maior a quantidade de ração fornecida
em relação à biomassa corporal. Alevinos, no de 0,5 a 25 gramas, chegam a consu-
mir 10% de ração em relação à biomassa corporal ao dia. Os alevinos de 25 a 100
gramas, consomem aproximadamente 6 % de ração em relação à biomassa corpo-
ral ao dia. Juvenis consomem de 6 a 3 %. Peixes adultos consumem de 3 a 2 % de ra-
ção em relação à biomassa corporal ao dia.
A metodologia mais utilizada para a determinação da quantidade de ra-
ção a ser lançada nos viveiros, é a que guarda uma relação da ração com a bio-
massa dos viveiros. A quantidade de ração a ser lançada por dia deve corresponder
ao índice de % da biomassa existente no viveiro de acordo com a idade dos peixes,
isto é, quantidade total de peixes vezes seu peso médio, sempre dividido na quanti-
dade de vezes que os peixes serão alimentados ao dia. O cálculo dessa biomassa
deve ser feito de 15 em 15 dias, e consiste em: primeiro, coletar uma amostra aleató-
ria de peixes com rede ou tarrafa. Em segundo lugar os peixes são então pesados
para um acompanhamento de seu crescimento evolutivo, e então realizar o cálculo
de seu peso médio necessário para a estimativa da biomassa. Desta forma, a bio-
massa do viveiro, é igual ao peso médio dos peixes coletados na amostra, vezes o
número de peixes estimados no viveiro.
A quantidade e horários de alimentação dependem de vários fatores, por
isso é válido se basear em tabelas. Contudo, sempre usando o bom senso. Os peixes
deveram ser alimentados exclusivamente durante o dia. A alimentação no período
noturno pode acarretar queda brusca na quantidade de oxigênio da água, prejudi-
cando a respiração e o metabolismo dos peixes.
A freqüência de arraçoamento é o número de vezes que os peixes devem ser
alimentados por dia; isso varia com: a temperatura; a espécie; o tamanho ou a ida-
de dos peixes; e, a qualidade da água. E o fornecimento das rações deve ser sem-
pre nos mesmos horários, para condicionar os peixes a buscarem o alimento nessas
horas. Geralmente eles alimentam-se nas primeiras horas do dia ou então, ao entar-
decer.
É mais seguro errar por falta do que por excesso de ração. O excesso de ra-
ção provoca desperdício, mortalidades e poluição ambiental. A falta de ração ape-
nas retarda o crescimento, a não ser que a falta seja significativa, acarretando do-
enças e até mortalidade.

EXEMPLO:
Para um viveiro com área de 1000 m² e profundidade media de 1,20 m, tendo uma
população de 1000 peixes com peso de 200 gramas cada, adotando a proporção
de 3% de ração, em relação ao peso vivo da população. Duas alimentações diá-
rias. Calcular a quantidade de ração por dia e em cada alimentação

Fórmula para cálculo de ração diária = número de peixes X peso X proporção utilizada
100
total = 1000 px X 0,2 kg X 3% = 6,0 Kg de ração / dia
100
Logo, utilizaremos 3 kg pela manhã e essa mesma quantidade à tarde.

O armazenamento da ração deve ser de acordo com o fabricante: local


seco; fresco; arejado; apoiados sobre estrado; sem contato direto com o chão e pro-
tegido contra animais oportunistas (ratos e pássaros). É importante verificar alteração
de cor e/ou cheiro da ração, que pode indicar problemas de qualidade da mesma.
Semanalmente deve ser feitos testes para apurar os níveis de acidez, tempe-
ratura e oxigenação da água, e caso sejam encontrados parâmetros fora dos acei-
táveis, medidas imediatas de correção devem ser tomadas para manter o bom equi-
líbrio do ecossistema e assim garantir os índices de eficiência técnica do empreen-
dimento, se for o caso, suspender o arraçoamento.

8.1.1.4 DESPESCA

A despesca é a atividade de retirada dos peixes dos viveiros após determi-


nado período predeterminado, quando estes atingem o peso e conversão alimentar
ideal. Há dois tipos de despesca, a total e a parcial. Quando o mercado assim o de-
terminar, ou quando por algum motivo os peixes não apresentarem crescimento uni-
forme, poderá ser adotado a despesca parcial.
O primeiro passo para a realização da despesca é a retirada de uma amos-
tra de peixes para pesagem e medição. Caso se confirme uma média de peso den-
tro das expectativas, deve-se iniciar o processo de esvaziamento do viveiro, que tem
deverá ser feito de forma gradativa. A despesca deve ser precedida de um jejum de
24 a 48 horas e de um posterior esvaziamento de 70% da água do viveiro. Após o es-
vaziamento, é passado uma rede de malha que pode variar entre 25 e 40 mm entre
os nós, para a coleta dos peixes que inicialmente vão para reservatórios menores
com água.
Depois de retirado os peixes, deve-se esperar a decantação dos sólidos e
da matéria orgânica em suspensão, liberando em seguida e gradativamente, a á-
gua para o tanque de decantação. Este procedimento evitará a liberação de água
de baixa qualidade ao meio ambiente.
A rede de despesca deve ser feita com um fio macio, pouco agressivo às
escamas dos peixes. O formato segue a largura do viveiro com uma folga de 30%. A
altura da rede deve ser de 2,00 m ou mais (Figura 12). Existem empresas especializa-
das na construção de redes especialmente projetadas para despesca, porém, é
possível construir redes artesanalmente.

2m

Largura do viveiro + 30%


Figura 12 – Dimensões de uma rede de despesca.

Após a despesca, o pescado deve ir para o gelo o mais breve possível, para
ocorrer a morte por choque térmico, e a seguir para o processamento o quanto an-
tes.
8.1.1.5 SELEÇÃO E PESAGEM

Esta etapa caminha de acordo com os compromissos com o mercado, os


peixes são selecionados entre aqueles que vão para o abate destinado ao consumo
direto (mercado consumidor) e aqueles que seguirão em tonéis com água e oxigênio
com destino aos Pesque-pagues.

Quadro 2 – Sínteses das atividades no ciclo de cultivo


TEMPO ATIVIDADE OBJETIVO

Deixar secar o viveiro vazio ao sol até


rachar o solo, se ficar poças de água, Eliminar pragas e doenças e aumentar a
15 dias
aplicar cal virgem. Depois, fazer produção primária (Plânctons).
adubação orgânica ou inorgânica.
Evitar problemas no talude, verificação
2 - 4 dias Colocar água nos viveiros aos poucos. de vazamentos e crescimento de
macrófitas (plantas aquáticas).
Aclimatar os alevinos no viveiro conforme Evitar mortalidade em massa por choque
1 hora
protocolo próprio. de qualidade da água
6 - 8 meses Ciclo propriamente dito Engorda para com comercialização
24 - 48 horas Jejum pré-despesca Melhorar qualidade do pescado
24 horas Esvaziamento de 70% da água do viveiro Despesca
4 horas Despesca e conservação no gelo Conservação e comercialização

9 QUALIDADE DE ÁGUA

A água é, entre todos os fatores, aquela que mais intervém na cultura do


peixe, a qual pode ser considerada como a parte final das múltiplas transformações
que se processam nesse meio, e que é objeto de uma ciência denominada Limnolo-
gia.
No estudo de Limnologia, incluem-se características físicas, químicas e bio-
lógicas.

9.1 Características físicas da água

Temperatura

A temperatura interfere diretamente na solubilidade de gases, na velocida-


de de reações químicas, na circulação de água, no metabolismo dos peixes, etc. A
faixa ideal das espécies tropicais está entre 20 a 30ºC, sendo o nível ótimo para a
maioria entre 25 e 28ºC.
Temperaturas inferiores a 20ºC normalmente afetam o metabolismo dos pei-
xes tropicais, acarretando diminuição de apetite e das taxas de crescimento. A tem-
peratura letal é muito variável entre espécies, sendo de 5ºC para as carpas, 10ºC pa-
ra as tilápias e 15ºC para tambaqui e pacu.
Temperaturas superiores a 34ºC, também podem interferir no desenvolvi-
mento dos peixes tropicais, a cada 10ºC que a temperatura aumenta, o efeito das
substâncias tóxicas duplicam.
O controle de temperatura pode ser feito por meios artificiais com o uso de
aquecedores, mas é inviável economicamente. A temperatura que convém consi-
derar não é a da água de alimentação do tanque, mas sim a água dos tanques on-
de os peixes vivem. Por isso, ao se construir um tanque, deve-se escolher um local
bem exposto ao sol e ao vento, onde possa tirar o maior rendimento dos dois.

Transparência

A transparência está relacionada com o material em suspensão, tanto mine-


ral como orgânico. Quanto mais plâncton (microorganismos que vivem na coluna da
água), menor a transparência. O disco de Secchi é o equipamento usado para me-
dir esse parâmetro. Uma transparência
ideal da água de um tanque medida
pelo disco de Secchi está em torno de 30
e 40 cm, indicando uma boa produção
biológica nos viveiros. A Figura 13 ilustra a
medição da transparência através do
uso do disco de Secchi.
As águas de cor esverdeada ou
azulada são geralmente boas. As amare-
ladas ou acastanhadas, provenientes de
pântanos, são ácidas e impróprias para
Figura 13 – Medição da transparência da água com o disco de Secchi.
culturas de peixes.

9.2 Características químicas da água

Toda água na natureza deriva da precipitação atmosférica, produto da


condensação do vapor de água no ar (chuva), e contém vários compostos nitroge-
nados, sulfatos, cloretos, etc., cuja quantidade varia não somente com o local, como
mas também as estações do ano.
Em todo o trajeto, a água dissolve numerosas substâncias do solo, que a tor-
nam uma solução mais ou menos diluída de sais minerais e compostos orgânicos. A-
lém dessas substâncias dissolvidas, a água arrasta no seu caminho partículas não-
solúveis, colóides e partículas maiores, tornando-se uma suspensão mineral ou orgâ-
nica.
A água é o solvente universal encontrado na natureza. Ela dissolve os gases,
os sais minerais e substâncias orgânicas. Todos esses gases são de fundamental im-
portância para a piscicultura. O valor piscícola de uma água depende essencial-
mente da natureza do terreno com o qual a água está em contato.

pH (acidez da água)

O pH reflete o grau de acidez ou de alcalinidade da água. A escala de pH


varia de 0 (zero) a 14 (quatorze), e também função de numerosos fatores químicos e
biológicos.
A melhor água para a cultura do peixe é a que possui uma reação ligeira-
mente alcalina, isto é, pH entre 7 e 8. Esses valores não devem ser inferiores a 4,5 - 5,
nem superiores a 8, embora existam espécies ictiológicas e planctônicas que os pre-
ferem.

 Como medir o pH da água?
 A medição do grau de acidez da água pode ser feita por aparelhos
 eletrônicos chamados pHmetros digitais, que apresentam os resulta-
 dos com precisão. O problema de trabalhar com este método é
 que necessita de uma mão-de-obra mais especializada, uma vez
 que, é necessário a calibração constante do aparelho; outro pro-
 blema é o custo elevado do mesmo. Existem diversos modelos de
 pHmetros no mercado.
 Porém, mais comumente utilizado na piscicultura para medição do
 pH é um kit colorimétrico. Neste método, basta coletar uma amostra
 de água do viveiro, adicionar algumas gotas do indicador de pH e
 agitar. De acordo com o grau de acidez da água, a amostra apre-
 sentará uma coloração característica.

Oxigênio dissolvido (O.D.)

Sem o oxigênio dissolvido na água, os peixes de cultivo e todos os outros or-


ganismos aquáticos não podem sobreviver.
A falta de O.D. também pode ser observada pela presença de peixes na
superfície. Nesse caso, deve-se suspender o fornecimento de ração, aumentar ao
máximo a renovação da água e se possível, acionar o sistema de aeração até que o
quadro se reverta.
É importante lembrar que existem espécies que toleram
com mais facilidade a falta de O.D. na água.
O monitoramento do O.D. é feito com um equipamento
chamado Oxímetro digital (Figura 14). Basta calibrar o aparelho à
salinidade da água, altitude do corpo d’água em relação ao ní-
vel do mar; logo, colocar a sonda na água e registrar em mg/L o

Figura 14 – Oxímetro digital.


valor de O.D. Geralmente este equipamento possui um termômetro anexo.

Existem duas fontes naturais de obtenção de oxigênio:

a) Difusão direta

Através do contato e penetração direta do ar atmosférico na água. O O2


da atmosfera entra na água principalmente por mistura mecânica, provocada pela
ação dos ventos, por correntes naturais de massas híbridas e agitações causadas pe-
la topografia do terreno.
A concentração do oxigênio na água varia com a sua temperatura (rela-
ção concentração/temperatura está intimamente ligada), bem como a solubilidade
desse gás depende ainda da pressão atmosférica.
A solubilidade do oxigênio na água diminui à medida que a temperatura
aumenta. Em temperatura alta, os peixes logo utilizam o O.D. da água, podendo o-
correr mortalidade por asfixia.
A solubilidade de O.D. diminui com a redução da pressão atmosférica e
com o aumento da altitude.

b) Processo de fotossíntese

A liberação de oxigênio na água, mediante processo fotossintético pelo fi-


toplâncton (algas, em especial), é a principal fonte de obtenção do O.D. em um sis-
tema de cultivo de peixes.
Durante o processo fotossintético pelos órgãos clorofilados dos vegetais, o
gás carbônico (CO2) é absorvido sob a ação da luz solar. Enquanto o carbono (C) é
utilizado para a síntese de hidratos de carbono e carbonatos, o oxigênio é expelido,
contribuindo e muito para a oxigenação da água.
Sem a presença de luz solar, não há produção de O.D. pelas algas e sim o
consumo, por isso, em águas turvas e com baixa transparência, a produção fotossin-
tética está diminuída ou até mesmo parada. Pode-se notar, portanto, que o proces-
so fotossintético dos organismos clorofilados estão limitados às camadas superficiais
de água, onde a maior parte da luz é absorvida.

Dióxido de Carbono (CO2)

O gás carbônico seja, no estado livre, na forma de ácido fraco ou de bicar-


bonato, encontra-se na água em solução instável; e, às vezes, sobre a forma de car-
bonatos que precipitam.
Quando ocorre um aumento de CO2, o pH diminui; o contrário também po-
de ocorrer. Os altos teores de CO2 podem ser encontrados quando usa-se água sub-
terrânea.
Os níveis subletais estão entre 12 a 50 mg/L e letais de 50 a 60 mg/L. O CO 2
pode ser removido com a aeração, pelo aumento de pH, pelo controle fitoplâncton
e pela construção correta dos viveiros (entrada de água oposta à saída, saída da
água no fundo, etc.).

Alcalinidade

A alcalinidade refere-se à concentração de bases de carbonatos e bicar-


bonatos (CaCO3 e Ca(HCO3)2) e na água e à capacidade do meio em resistir às
mudanças de pH para valores mais ácidos. Na maioria das águas, os carbonatos e
os bicarbonatos são as bases predominantes. A tabela abaixo mostra a alcalinidade
(mg CaCO3 /L) e seu significado no viveiro.

Tabela 5: Significado da Alcalinidade (mg CaCO3 /L) no viveiro.

Alcalinidade (mg de CaCO3/L) Significado no água de cultivo

0 Água extremamente ácida, deve-se corrigir com


compostos calcários.
Alcalinidade muito baixa, o pH varia muito e a
5 - 20
água não é muito produtiva.
20 - 100 O pH varia e a produtividade é pequena
pH varia entre pequenos limites e a
100 - 250
produtividade é ótima

Sólidos suspensos

Os sólidos suspensos correspondem a partículas de alimento não consumi-


dos, fezes ou matéria inorgânica (argila) em suspensão na coluna d'água.
Teores de 10 g/L são suportados por espécies tropicais, sendo o nível ideal
de 2 g/L.
O Filtro mecânico simples pode diminuir os mesmos, sendo que um filtro de
0,35 m de camada filtrante (cascalho de 7 mm), 0,30m de altura, 1,20 m de compri-
mento e 0,90 m de largura filtra um canal de alimentação com descarga de 36 L/s.

A água suja prejudica o peixe de duas formas:


Direta - pelos ferimentos ou acúmulos nas brânquias, comprometendo a respi-
ração dos animais;
Indireta - pela diminuição da penetração de luz na água, reduzindo a produ-
tividade natural do viveiro.
Nitrito

O nitrito é um produto intermediário na Tabela 6 – Principais parâmetros de qualidade de


oxidação biológica da amônia a nitrato (nitrifica- água com valores médio almejados, e fre-
qüência de análise.
ção). Concentrações elevadas podem ocorrer
em conseqüência de poluição orgânica ou teor
de O.D. baixo.
Para os peixes, o nitrito é muito tóxico,
pois se combina à hemoglobina no sangue, origi-
nando a meta-hemoglobina (má transportadora
de oxigênio), que confere coloração amarronza-
da ao sangue, matando o peixe por asfixia.
A presença de íons de cloro pode diminu-
ir a toxidez do nitrito. O nível de nitrito no meio não
deve exceder a 0,15 mg/L.

9.3 Características biológicas

Um tanque de criação de peixes, apesar


de ser um ambiente total ou parcialmente contro-
lado, não deixa de constituir um sistema ecológico
que deve ser estudado, pois todas as outras mo-
dalidades sofrem influência das condições bioló-
gicas do meio, além das condições citadas nos
tópicos anteriores. É de fundamental importância o monitoramento do plâncton.
Plâncton – são todos os organismos aquáticos presentes na coluna de água,
incapazes de vencerem correntes. Sua locomoção por conta própria é muito pe-
quena, algumas espécies locomovem-se na vertical.
Classificação:
- Fitoplâncton: fração vegetal composta de algas microscópicas, como, por
exemplo, as algas verdes, os dinoflagelados, etc.
- Zooplâncton: fração animal composta por microcrustáceos, copépodos,
rotíferos, etc.
10 MORFOLOGIA E FISIOLOGIA BÁSICA DOS PEIXES

10.1 MORFOLOGIA EXTERNA

Figura 15 – Morfologia externa de um peixe.

10.2 ANATOMIA INTERNA

Abaixo, estão relacionados alguns órgãos internos e suas funções e repre-


sentados na Figura 16.
O coração é o órgão que bombeia o sangue de forma a que circule no corpo de
todo o animal;
As brânquias ou guelras (termo vernáculo) são os órgãos da respiração, ou seja, é
nelas que ocorrem as trocas gasosas entre o sangue ou linfa, dos seus portado-
res, e a água;
A bexiga natatória é um órgão que auxilia os peixes a manterem-se a determinada
profundidade através do controle da sua densidade em relação à da água;
Rim é o órgão responsável pela filtração do sangue e excreção;
Gônada é a glândula sexual responsável pela produção de gametas masculinos ou
femininos e também pela produção de hormônios;
O Estômago é a víscera responsável por parte da digestão dos alimentos;
O Intestino é a víscera responsável pela absorção dos nutrientes após digeridos no
estômago;
O Ânus é o orifício na extremidade terminal do intestino, pelo qual se expelem os ex-
crementos;
O Poro genital é o orifício na extremidade terminal das gônadas, pelo qual se expe-
lem os gametas;
O Fígado é responsável por armazenar e metabolizar as vitaminas, fazer a síntese das
proteínas plasmáticas, desintoxicação de toxinas químicas produzidas pelo or-
ganismo e desintoxicação de toxinas químicas externas ao organismo.

Figura 16 – Anatomia interna de um peixe.

11 ENFERMIDADES

11.1 Prevenção

A melhor maneira de lidar com enfermidades é evitá-las na medida do pos-


sível. Para isso basta seguir todas as recomendações do sistema de manejo descrito
nesse material e consultar um profissional da área.
O parâmetro mais importante para a saúde dos peixes é a qualidade da
água, principalmente o oxigênio dissolvido. Os principais fatores que afetam o oxigê-
nio dissolvido são:
* Temperatura da água: quanto maior a temperatura menor o oxigênio dissol-
vido;
* Biomassa: quanto maior a biomassa, maior o consumo de oxigênio;
* Arraçoamento: quanto mais sobras de ração, maior o consumo de oxigênio;
* Fitoplâncton: quanto mais algas microscópicas na água (água verde), maior
o consumo de oxigênio durante a noite;

Outro fator que geralmente pode causar problemas é a ração, que deve
ser de boa procedência e do tipo certo, conforme o peixe e suas necessidades.

Outras fontes de enfermidades e controle:


• água do abastecimento – se possível, usar filtragem de areia;
• alevinos/reprodutores de outro local - adquirir alevinos de fornecedores idô-
neos, entrada e saída de água dos viveiros independentes entre si;
• pessoas que circulam em várias pisciculturas – permitir acesso aos tanques
somente com as roupas próprias da piscicultura ou impedir acesso;
• peixes já enfermos – retirar do tanque e enterrar o mais breve possível longe
dos viveiros;
• rede de despesca – se possível, usar uma rede para cada viveiro;
• predadores em geral – espantar;
• ciclos anteriores – desinfetar o viveiro antes de cada ciclo;

11.2 Principais doenças na piscicultura

Existem algumas doenças que perturbam, sobremodo, o cultivo de peixes.


Abaixo são descritas algumas enfermidades e seus respectivos tratamentos. O uso de
produtos químicos e as dosagens devem ser indicadas por um técnico responsável
após identificação do problema. Deve ser evitado o uso indiscriminado desses produ-
tos, pois existem diferenças de tolerância de doses entre as espécies. As larvas e ale-
vinos são mais sensíveis a produtos químicos que peixes adultos.

11.2.1 Bactérias

- Aeromonas hydrophila e Pseudomonas fluorescens

Tanques com alta carga de material orgânico e com água de má qualidade facili-
tam sua ocorrência que pode aumentar nos períodos de primavera e outono.
O peixe perde o apetite, reduz a atividade, apresenta natação vagarosa e tende a
se posicionar nas áreas mais rasas do tanque; apresenta erosão nas nadadeiras, le-
sões circulares ou irregulares do tipo úlceras pelo corpo, hemorragia nas bordas das
lesões e na base das nadadeiras, olhos saltados de aspecto opaco e hemorrágico,
abdômen distendido e presença de fluído opaco ou ligeiramente sanguinolento na
cavidade abdominal, fluído amarelado ou sanguinolento no intestino, hemorragia
nos órgãos internos como o fígado, hiperplasia (au-
mento do tamanho) de órgãos como o fígado, ba-
ço e rins; fígado de coloração pálida ou ligeiramen-
te esverdeada e pontos hemorrágicos na parede
interna da cavidade abdominal.

- Flexibacter columnaris

Causadora da Columnariose ou doença da boca


de algodão ou da cauda comida, como é popu-
larmente conhecida, esta bactéria coabita os sis- Figura 17 – As manchas mais claras mostram o ata-
temas aquáticos, normalmente em equilíbrio, até ao que por bactérias.
momento em que, ou por má nutrição, ou por má qualidade da água ou mau ma-
nuseio, ela se manifesta instalando-se em lesões causadas por ferimentos ou por pa-
rasitas. A transmissão ocorre de peixe para peixe facilitada com o aumento da den-
sidade de estocagem, da temperatura e das injurias físicas.

11.2.2 Fungos

Saprolegnia parasítica é um dos fungos branco ou cinza


claro com aspecto de algodão causadores da infecção.
Nutrição inadequada e injúrias físicas propiciam a infesta-
ção. Transporte e manejo de espécies tropicais como as
tilápias, pacus, tambaquis e tucunarés, entre outras, sob
condições de baixa temperatura de inverno e de início de
primavera podem favorecer as infestações. A doença se
manifesta inicialmente com despigmentação de áreas na
pele dos peixes seguida da multiplicação e elongação das
hifas (filamentos) formando os típicos “tufos de algodão”.
Peixes mortos devem ser retirados dos tanques. Figura 17 – Peixe colonizado com fungos, que dão
aspectos contonosos.
11.2.3 Protozoários

- Ichthyophthirius mutifilis

Doença conhecida como “Doença dos Pontos Brancos” ou Ictio, se caracteriza pela
presença de pontos brancos visíveis a olho nu, espalhados pelo corpo, principalmen-
te sobre as nadadeiras. O peixe apresenta excessiva produção de muco e fica se
raspando no substrato, em plantas e outros objetos presentes nos tanques. O parasita
normalmente se instala nas brânquias dificultando a respiração, a excreção nitroge-
nada e a osmorregulação dos peixes.

Outros protozoários parasitas como, o Epistylis, a Ambiphtya, a Trichodinas e o Tricho-


phrya, também se fixam ao peixe na pele, nadadeiras e brânquias e se alimentam
filtrando o material orgânico na água. Quanto maior o acúmulo de resíduos orgâni-
cos nos tanques de produção, maior a população destes parasitos.

11.2.4 Tremátodos

Os trematodos monogênicos fixam-se ao hospedeiro através de aparelhos de fixa-


ção (haptores) com ganchos ou ventosas. Normalmente encontrado no corpo, na-
dadeiras, nas brânquias dos peixes.
Os Trematodos Digêneos possuem aspectos similares a pequenos vermes, normal-
mente encontrados na forma de cistos na pele, órgãos internos, como o fígado, e
nos olhos dos peixes.
11.2.5 Crustáceos

O Argulus (Figura 17) é comumente conhecido como


“Piolho de Peixe”. Importantes vetores de doenças virais
e bacterianas. Apresentam corpo achatado e oval, se
fixam na pele e nas nadadeiras através de ventosas e
se alimentam dos fluidos dos peixes.

O Ergasilus sp. é outro microcrustáceo freqüentemen-


Figura 17 – Argulus fixado na cabeça do peixe.
te encontrado nas brânquias dos peixes. Ocasional-
mente podem aparecer na parte interna da boca dos peixes. Os peixes podem a-
presentar sintomas de asfixia mesmo sob condições de oxigênio dissolvido adequa-
das.

As Lernaea, se fixa ao peixe com auxílio de ganchos especiais com formato de ânco-
ra localizados na cabeça do parasita que penetra na
musculatura do peixe e deixando a região caudal para
fora com o formato de um verme. Causam severa a-
nemia e mortandade aos alevinos e não raro a peixes
adultos. O peixe desenvolve uma forte reação à pene-
tração do parasita o que lhe confere mau aspecto,
bastante inflamado, apresentando uma lesão averme-
lhada e escurecida, onde infecções secundárias por
fungos, bactérias e vírus se desenvolvem provocando Figura 18 – Lernaea fixada na base da nadadeira
a morte massiva de peixes. dorsal cabeça do peixe.

11.2.6 Vermes

Vermes parasitos incluem inúmeros representantes das classes Cestoda (lombrigas),


Nematoda (vermes arredondados) e Acantocephala (vermes de cabeça espinho-
sa), bem como da classe Hirundinea (sanguessugas). Normalmente estes vermes u-
sam os peixes como hospedeiros intermediários. Se ingeridos crus, podem representar
risco à saúde humana.

11.3 Formas de Tratamento

As formas de tratamento mais empregadas são:

Tópico: aplicação do terapêutico diretamente nos locais de infecção; evite contato


direto dos produtos com as brânquias.
Injeção: principalmente de antibióticos em peixes de grande valor, como reproduto-
res, peixes ornamentais, etc.
Ração Medicada: geralmente com antibióticos
Banhos Rápidos: consiste na exposição dos peixes a uma elevada concentração do
terapêutico porém de curta duração (segundos a minutos)
Banhos prolongados ou fluxo contínuo: os peixes são submetidos a uma baixa con-
centração do terapêutico por períodos mais longos (minutos a horas)
Tratamento por tempo indefinido: os peixes ficam expostos a uma baixa concentra-
ção terapêutica por tempo indeterminado. Esta forma de tratamento é bastante
empregada em tanques e viveiros de maiores dimensões.

11.3.1 Produtos Químicos:

1. Sal Comum: o sal é um produto barato e bastante seguro no tratamento de alguns


parasitos e bactérias externas. O sal pode ser usado sem maior cuidado ou restrição
no tratamento de peixes destinados ao consumo humano.

2. Permanganato de Potássio (KMnO4): este produto é bastante eficaz no controle de


bactérias externas como a F. columnares, alguns protozoários e crustáceos parasitos
e fungos, neste caso com soluções tópicas.

3. Azul de Metileno: é um corante com ação bactericida e parasiticida. Pode ser u-


sado no controle de protozoários e fungos.

4. Formalina (40% Formaldeido): é um terapêutico bastante usado no controle de


fungos e protozoários. A aplicação pode causar a redução dos níveis de oxigênio
dissolvido na água de tanques e viveiros.

5. Sulfato de Cobre (CuSO4.5H2O): pode ser usado no controle de protozoários, trema-


todos monogêneos, fungos e bactérias externas. No entanto o sulfato de cobre é
bastante tóxico aos peixes, principalmente em águas com baixa alcalinidade total.
Não é recomendada a aplicação em águas com alcalinidade abaixo de 30 mg de
CaCO3/L. A dose de sulfato de cobre a ser aplicada é calculada dividindo a alcali-
nidade total por 100.

6. Triclorfon: este inseticida é bastante utilizado no controle de crustáceos parasitos


(Lernaea, Angulus e Ergasilus), Trematodos monogênicos e sanguessugas, bem como,
na erradicação de ninfas e insetos aquáticos. Pode ser tóxico em água com baixa
alcalinidade total, menor de 30 mg de CaCO3/L, principalmente em dosagens acima
de 0,25g/m³. O produto não deve ser aplicado em águas com pH acima de 8,5.

7. Verde Malaquita: este produto é bastante eficaz no controle de muitos patógenos


e parasitos, no entanto seu uso é importante no controle do Ictio e no controle de
fungos como a Saprolegnia. Peixes que receberam o tratamento podem apresentar
filé com coloração esverdeada após armazenamento sob refrigeração ou congela-
mento.

Tabela 7 - Produtos e Tratamentos usados na Prevenção e Controle de Parasitos, Fungos e Bactérias.

Produtos Tratamento Concentração Organismo Alvo


Banhos 5 min 30 g/L
Sal Comum (NaCl) Parasitos/Bact. Externas
Banhos 30-60 min 2-10g/L
Banhos 20-30 min 10g/m³ (ppm) Parasitos/Bact. Externas
Permanganato de Potás-
sio Indefinido 2g/m³ (ppm) Parasitos/Bact. Externas
Tópico Solução 1% Fungos
Azul de Metileno Indefinido 2-3 g/m³ (ppm) Fungos/Paras. Externos
Banhos de 30-60 min 150-250mL/m³
Banhos de 24 hr 25-30 mL/m³ Fungos e Parasitos Exter-
Formalina
Banho ovos 20 min 600mL/m³ nos

Indefinido 15-25 mL/m³


Sulfato de Cobre Indefinido TA/100=g /m³ Parasitos Externos
Indefinido 0,13 a 0,25 g IA/m³
Lernaea, Angulus e Erga-
Triclorfom Banhos Prolongados 1 – 2,5 g IA/m³
silus
Banhos de 1 a 3 min 10 g IA/L

Oxitetraciclina ou Cloro- Na Ração 10 a 14 dias 250 a 1800 g/ton Bactérias Sistêmicas e


hidrato de Tetraciclina Banhos Prolongados 20 g/m³ Externas

Indefinido 0,10 mg/L (ppm) Fungos/Paras/Bactérias


Verde Malaquita Banho de 30-60 min 1-2 mg/L (ppm) Fungos/Paras/Bactérias
Tópico Solução 1% Fungos

11.4 Diagnósticos e Tratamento

No caso de uma doença contagiosa se instalar no tanque não há o


que fazer a não ser despescar imediatamente. Geralmente, as doenças de peixes
não afetam a saúde dos consumidores, porém podem prejudicar a comercialização
do produto pela má aparência que pode causar. Em alguns casos muito raros os pei-
xes podem se recuperar, mas depende do tipo da doença e da saúde prévia dos
mesmos antes da instalação da enfermidade.
12 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

COELHO, S.R.C. Produção de peixes em alta densidade em tanques-rede de pequeno volume. Tradução de
Eduardo Ono. Campinas: Mogiana Alimentos S.A., 77p.
FURTADO, J. F.R. Piscicultura: uma alternativa rentável. Guaíba: Agropecuária, 1995. 180 p.
MOREIRA,H.L.M.; VARGAS,L.; RIBEIRO,R.P.; ZIMMERMANN,S. Fundamentos da Aqüicultura. Canoas: Ed.
ULBRA, 2001. 200p.
OSTRENSKY, A.; BOEGER, W.. Piscicultura: fundamentos e técnicas de manejo. Guaíba: Agropecuária,
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__, PISCICULTURA, Série Perfil de projetos. SEBRAE. Vitória, 1999. 32 p.

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