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Teste Formativo 2

Grupo I

A.

ATO PRIMEIRO

Câmara1 antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos
princípios do século dezassete. Porcelanas, xarões2, sedas, flores, etc. No fundo, duas grandes
janelas rasgadas, dando para um eirado3 que olha sobre4 o Tejo e donde se vê toda
Lisboa; entre as janelas o retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro moço, vestido de
preto, com a cruz branca de noviço 5 de S. João de Jerusalém6. Defronte e para a boca da
cena um bufete7 pequeno, coberto de rico pano de veludo verde franjado de prata; sobre o
bufete alguns livros, obras de tapeçaria meias feitas, e um vaso da China de colo alto,
com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes8 rasos, contadores9. Da direita do
espectador, porta de comunicação para o interior da casa, outra da esquerda para o exterior. - É
o fim da tarde

ATO SEGUNDO

É no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada; salão antigo, de gosto


melancólico e pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro, bispos,
donas, cavaleiros, monges: estão em lugar mais conspícuo10, no fundo, o de el- rei D. Sebastião, o
de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo
para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos condes de Vimioso. São as antigas da
casa de Bragança, uma aspa11 vermelha sobre campo de prata com cinco escudos do reino,
um no meio e os quatro nos quatro extremos da aspa, em cada braço e, entre os dois
escudos, uma cruz floreteada12, tudo do modo que trazem atualmente os duques de Cadaval;
sobre o escudo, coroa de conde. No fundo, um reposteiro muito maior, e com as mesmas
armas, cobre as portadas da tribuna que deita sobre a capela da Senhora da Piedade, na
igreja de São Paulo dos Domínicos13 de Almada.

1
aposento de uma casa
2
objetos revestidos de verniz de laca da China (moderna ortografia: charão)
3
o mesmo que eira, terraço
4
“que olha sobre” = que dá para
5
novato, que inicia um estágio para professor num convento
6
Ordem de Malta ou dos Hospitalários
7
aparador, móvel com funções idênticas às duma mesa
8
assento, espécie de cadeira de braços, sem espaldar
9
espécie de armário com pequenas gavetas
10
notável, ilustre
11
insígnia heráldica com a forma de X
12
ornada de flores ou que termina em ponta aguda como o florete
13
frades que pertenciam à Ordem de S. Domingos
ATO TERCEIRO

Parte baixa do palácio de D. João de Portugal, comunicando, pela porta à esquerda do


espectador, com a capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de
Almada: é um casarão sem ornato algum. Arrumadas às paredes14, em diversos pontos,
escadas, tocheiras15, cruzes, ciriais16 e outras alfaias e guisamentos17 de igreja, de uso
conhecido. A um lado um esquife18 dos que usam as confrarias19, do outro, uma grande
cruz negra de tábua com o letreiro J.N.R.J.20, e toalha pendente como se usa nas cerimónias da
Semana Santa, mais para a cena uma banca velha com dois ou três tamboretes: a um lado, uma
tocheira baixa, com tocha acesa e já bastante gasta; sobre a mesa, um castiçal de chumbo, de
credência21, baixo e com vela acesa também, e um hábito completo de religioso domínico,
túnica, escapulário, rosário, cinto, etc. No fundo, porta que dá para as oficinas e aposentos que
ocupam o resto dos baixos do palácio. É alta noite.

Educação literária
1. Explicita a importância destes textos iniciais dentro da estrutura do texto
dramático.
2. Identifica cada um dos locais descritos dentro do contexto da ação da obra.
3. Compara os locais descritos no ato I e II.
4. Indica a simbologia da redução do espaço ao longo da obra.

B.
“Contento-me para a minha obra com o título modesto de drama; (…) porque se na
forma desmerece da categoria, pela índole há de ficar pertencendo sempre ao antigo
género trágico.”
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, org. Ana M. Coutinho e Castro, Porto: Areal
Editores, 2004, [Memória “Ao Conservatório Real”], p. 8.

5. Com base no conhecimento de Frei Luís de Sousa, comprova a adequação da


afirmação de Garrett, pondo em evidência os elementos que aproximam esta
obra da tragédia clássica.

14
“arrumadas às paredes” = encostadas às paredes (l. XX)
15
castiçais (l. XX)
16
cada uma das lanternas que ladeiam a Cruz nas procissões (l. XX)
17
objetos e utensílios próprios para o culto religioso (l. XX)
18
urna, caixão (l. XX)
19
irmandades (l. XX)
20
Jesus Nazareno Rei dos Judeus (l. XX)
21
mesinha junto do altar, para os acessórios da celebração da missa (l. XX)
Grupo II

A revolução de 1640 acarretou o declínio da burguesia portuguesa. Grande


número de estrangeiros estabeleceu-se em Lisboa. Infligiram golpe mortal nos
comerciantes nacionais. A Inquisição pôde atuar sem peias, conseguindo arruinar bom
número de firmas e de homens de negócio, ao mesmo tempo que impedia ou dificultava
iniciativas conjuntas de portugueses vivendo em Portugal e de portugueses exilados no
estrangeiro. Apesar de alguns protestos que esta e outras atitudes menos inteligentes
suscitaram (o Padre António Vieira foi um dos que defendeu com calor a política da
tolerância por razões económicas), a burguesia nacional declinou irremediavelmente.
Os artífices da maioria dos mesteres continuavam agrupados em corporações.
Em Portugal, como em Espanha, os laços corporativos desenvolveram-se e
fortaleceram-se durante o século XVII, generalizando-se por todo o País as corporações.
(…)
O número de escravos importados em Portugal diminuiu durante o século XVII.
Ao mesmo tempo acelerou-se, sobretudo devido a miscigenação, o seu processo
integracionista na sociedade branca. Os escravos tornaram-se caros de mais para
simples tarefas domésticas e revelaram-se pouco necessários na província. Moda e
novidade, fatores que em parte haviam determinado a sua importação nos séculos XV e
XVI, transformaram-se e passaram. Por outro lado, o tráfico escravo para a América e
as ilhas portuguesas de África tornou-se bem organizado e um dos mais rendosos de
todos os tempos. (…)
No interior das igrejas, surgiu e desenvolveu-se, a partir de finais do século XVI,
um tipo de decoração extremamente rico. Incluía azulejos de cores variegadas e a
famosa talha dourada, cobrindo por completo altares, retábulos, molduras, cornijas,
coberturas, púlpitos, cadeirais, órgãos. Houve numerosos casos em que todas as
superfícies internas da igreja foram recobertas, quer de azulejos, quer de talha dourada.
Daqui resultaram consequências várias, por exemplo o declínio da pintura religiosa,
preterida pelas novas formas decorativas. Em compensação, pôde desenvolver-se a
escultura de imagens, tanto de madeira como de pedra, a arte tumular, os cadeirais de
coro, os altares decorados.
A. H. de Oliveira Marques, Breve História de Portugal, Lisboa: Editorial Presença,
1995, pp.272-279.

Leitura / Gramática
1.Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que
permite obter uma afirmação correta.

1.1. Em 1640, com a revolução, os estrangeiros estabelecidos em Lisboa


A. mataram os comerciantes portugueses.
B. arruinaram definitivamente as firmas portuguesas.
C. ganharam grandes fortunas.
D. enfraqueceram consideravelmente a burguesia portuguesa.

1.2. “A Inquisição pôde atuar sem peias” (l. 3) significa que


A. a Inquisição atuou de forma limitada.
B. a Inquisição não teve barreiras na sua ação.
C. a Inquisição colaborou com a revolução de 1640.
D. a Inquisição agiu sem limites contra os estrangeiros.

1.3. No século XVII, a escravatura diminuiu em Portugal


A. e assiste-se a um processo de mestiçagem.
B. pela criação de leis limitadoras da importação de escravos.
C. porque a Inquisição perseguia os escravos.
D. por se privilegiar o trabalho dos artesãos.

1.4.Entre ”altares, retábulos, molduras, cornijas, coberturas, púlpitos, cadeirais, órgãos”


(l. 22) e “igrejas” (l. 20) estabelece-se uma relação de
A. holonímia-meronímia.
B. hiponímia-hiperonímia.
C. meronímia-holonímia.
D. hiperonímia-hiponímia.

1.5. A expressão sublinhada em “Grande número de estrangeiros estabeleceu-se em


Lisboa” desempenha a função sintática de
A. modificador.
B. complemento direto.
C. complemento oblíquo.
D. complemento indireto.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados.

2.1. Refere o valor da expressão temporal “ao mesmo tempo que” (l. 4).
2.1. Indica a função sintática do pronome relativo presente na frase: “Apesar de alguns
protestos que esta e outras atitudes menos inteligentes suscitaram” (l. 6-7).
2.2. Classifica a seguinte oração: “que em parte haviam determinado a sua importação
nos séculos XV e XVI” (l. 16).

Grupo III
Escrita

O teatro é fundamental na formação global do cidadão.

Tendo em conta a afirmação anterior, redige um texto de opinião sobre a


importância do teatro, com 180 a 220 palavras, no qual fundamentes o teu ponto de
vista com dois argumentos e com, pelo menos, um exemplo concreto e significativo
para cada um.

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