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Letras em dia, Português, 11.

° ano Questão de aula – Leitura e Gramática

Nome: N.º: Turma:

Avaliação: O(A) professor(a):

Leitura e Gramática 1
Lê o texto.

Isto realmente somos, os portugueses


[…] Como Camões, também Vieira tinha em si mesmo um Portugal inteiro e expandido.
Não partira para o Oriente, mas para o Ocidente, para o Brasil que conhecera menino e onde
se fizera jesuíta e missionário da «bandeira» que escolhera. Os seus escritos, para serem
pregados ou lidos, estão preenchidos de experiências próprias e alheias, dos últimos sertões
5 às cidades mais concorridas de lá e de cá. Por isso é tão universal como o Império que
sonhava, mas onde coubessem todos. Não é um cume isolado, sobressai na cordilheira,
pessoa entre pessoas e para as pessoas. O que, digamos, nem sempre é fácil de ser, quando
se enfrentam preconceitos.
Vieira é caso acabado de como em Portugal – di-lo-ia doutros países também – sempre
10 nos desperdiçamos quando não consideramos o que cada um é e pode oferecer aos outros, do
presente para o futuro. Quando regressou a Lisboa, missionário da Restauração, vinha ainda
mais português, porque mais universal, de tanta floresta desvendada e de tanto mar que
cruzara. Assim veio e era ele. […]
Aí nos reencontramos, nas palavras ditas, nas ideias realizadas e nas vidas consistentes,
15 com autênticos heroísmos, para não desistir, não fechar, não adiar. Aí seremos finalmente o
que Vieira não encontrava no que aparentavam os seus contemporâneos, resistentes ao
Portugal imenso que ele próprio transportava.
Era sonhador, decerto. Mas sonhador dos sonhos que cumpria, do Amazonas à Europa,
com um mar infindo pelo meio. Quando requeria maior aceitação interétnica e até inter-
20 religiosa, desejava o que já vivia e persistia em inculcar aos outros. Ainda hoje, constrói
realmente um bom futuro quem extrai idealismo do que faz, concretamente faz, e não desista
de fazer. Aí mesmo, onde a origem e a criatividade se colocam, de modo situado e solidário. Só
aí, sem fantasmas nem frustrações, ambos descabidos. […]
Concluo com a inteira confiança nas pessoas que somos, os portugueses. E com a certeza
25 firme de que, sendo verdadeiro objetivo do Estado e de todos os responsáveis sociais
salvaguardar e promover a dignidade da pessoa humana, aumentaremos para isso as
possibilidades materiais, culturais e espirituais existentes, que, no conjunto, constituem o nosso
bem comum, na subsidiariedade e na solidariedade.
Assim acontecendo, a «história do futuro», como António Vieira a entreviu, ultrapassará os
30 seus melhores vaticínios. Sem imperialismos serôdios nem injustificáveis desistências,
seremos um Portugal à altura de si mesmo, na grande largueza do mundo.

CLEMENTE, D. Manuel, 2010. «Isto realmente somos, os portugueses» (Discurso de aceitação do


Prémio Pessoa 2009). https://agencia.ecclesia.pt/portal/discurso-de-d-manuel-clemente-na-recepcao-do-
premio-pessoa-2009/ (Consult. 2021-11-20)

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1. Ao referir que Vieira «não é um cume isolado, sobressai na cordilheira» (l. 6), o autor
(A) introduz uma hipérbole que destaca o valor e a representatividade coletiva de Vieira.
(B) utiliza a metáfora para salientar a relevância individual de Vieira.
(C) serve-se da metáfora para salientar que a importância de Padre António Vieira se integra
num coletivo nacional.
(D) recorre à comparação para destacar o valor «universal» de Vieira.

2. No segundo parágrafo, as qualidades «português» (l. 11) e «universal» (l. 11) são apresentadas
(A) como diretamente proporcionais.
(B) como inversamente proporcionais.
(C) como essenciais a um missionário da Restauração.
(D) como contrastantes entre si.

3. No quarto parágrafo, o autor


(A) destaca a importância do sonho para explicar o exemplo de António Vieira.
(B) salienta a capacidade de construir o futuro apesar dos fantasmas e frustrações.
(C) defende a dimensão pragmática do sonho, reforçando a importância da persistência.
(D) desvaloriza a aceitação interétnica e inter-religiosa.

4. De acordo com a conclusão do discurso,


(A) o Estado é o nosso bem comum.
(B) a confiança nos portugueses é o verdadeiro objetivo do Estado.
(C) o Padre António Viera previu o que atualmente estamos a viver.
(D) a dignidade humana depende das possibilidades materiais, culturais e espirituais.

5. O verbo «transportava» (l. 16) é


(A) intransitivo.
(B) transitivo direto e indireto.
(C) transitivo direto.
(D) transitivo-predicativo.

6. Assinala as palavras que têm o mesmo radical e partilham o valor semântico de «desvendada» (l. 11).
(A) desventura.
(B) venda.
(C) desvendamento.
(D) descoberta.

7. Identifica a função sintática desempenhada pelas expressões:

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a. «ao Portugal imenso que ele próprio transportava» (ll. 15-16).


b. «quem extrai idealismo do que faz» (l. 20).
c. «os portugueses» (l. 23).

Leitura e Gramática 1

1. (C)
2. (A)
3. (C)
4. (D)
5. (C)
6. (B), (C)
7. a. complemento do adjetivo; b. sujeito; c. modificador apositivo do nome.

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