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“Em nome de Allah, o Misericordioso, o Misericordiador”

A Gestalt Aplicada no
Character Design
por Igor Gonçalves
sob orientação de Arthur Verga
Dedicatória
Dedicado aqueles que fizeram parte desse projeto e de meu
amadurecimento como pessoa e como artista.

À minha família que sempre me apoiou, à todos os professores


que tive nessa caminho, desde meu primeiro professor de desenho
Eddie Wagner até meu presente orientador Arthur Verga.

À presente banca, Zuleica Schincariol e Luiz Gê, por fazerem parte


desta etapa.

Aos professores que me apoiaram de diversas maneiras, Kito


Castanha por sempre incentivar meu trabalho e Paulo Ignez pela
orientação durante o processo.

Ao meu mestre Maurício Takeguthi por ser quem ele é e por


representar um alicerce nos meus estudos.

Aos professores Mario Fiore, que me orientou durante minha


iniciação científica, e Marcio Périgo, por amadurecerem meu
contato com a arte.

Aos meus amigos, de dentro e de fora da faculdade. Ao amigo e


designer Thiago Francisco, quem me cedeu a fonte tipográfica para
que usasse nesse presente trabalho e por me inspirar como pessoa
e designer. Outros designers e amigos importantes em minha
caminhada, Wagner Adão, Julia Coppa, Christopher Azevedo e
tantos outros companheiros.

À minha mãe Renilda e ao meu pai Egidio.

Com amor,
Igor
Intro 8
Sumário
Character design 10 Unificação 40
O que é Character design? 12 Equilíbrio 48
Personalidade expressa na forma 14 Contraste 52
Model sheets 22 Pregnância da forma 56

Gestalt 32 Sketchbook 58
Primeiros estudos 60
Conceitos de design
aplicados no Character design 34 Variando formas 70

O que é Gestalt? 38 Personagens 80


Tombuctu 102
8 9

Intro A ideia amadureceu e resultou nesse presente livro. O


trabalho é literalmente unir o útil ao agradável, já que a
Cada traço no papel é uma afirmação. É preciso afirmar algo
para começar um desenho, caso contrário não é possível.
Gestalt aplicada no character design tornou-se o tema de meu Quando se traça algo na folha de papel é o mesmo que dizer
Em outubro de 2013 participei de um workshop de Character design trabalho de conclusão do curso de bacharelado em design. “isso é tal informação em tal lugar, com tais dimenções e
com o Paulo Ignez no Mackenzie, universidade que estava cursando. Posso dizer que esse é o resultado de 2 anos de estudo (um tais caracerísticas”, mesmo que ainda não se tenha certeza
Durante a apresentação ele citou a palavra Gestalt, e aquilo me coçou ano um pouco mais focado), assim como posso dizer que daquilo. De qualquer maneira, ninguém pensa em afirmar
a orelha. Após ouvir pela segunda vez fiquei de fato incomodado esse é o resultado de 4 anos de faculdade. Na verdade acredito algo quando começa um desenho, apenas afirmamos. Assim se
por nunca ter ouvido ninguém falar disso dentro da criação de que esse seja o resultado de o que consegui entender até o desenha, sem pensamento. O pensamento se encontra antes e
personagens. Lembro-me da pergunta que fiz ao final do workshop momento. depois, mas não durante. Durante é a ação. Mesmo assim existe
“Você falou de Gestalt, você acha ser possível alguém conseguir pensamento ali, mas ele já se tornou ação, ele é o conhecimento
aplicar as leis sem conhece-las simplesmente por bom senso.” O Desde que eu me lembro eu desenho. Acho até estranho que o artista já interiorizou em si.
que estava fazendo era fugir de uma questão que parecia complexa as pessoas falarem de talento porque sei o quão difícil é
demais para encarar de frente. desenhar e também sei o quão frustrado eu sou com grande Esse trabalho representa aquilo que consegui entender, não
parte do que tento reproduzir. A ideia é que me parece que só nesse último ano de faculdade mas durante toda minha
Bom, nas férias de final do mesmo ano comecei a estudar. Pensei temos a tendência de mistificar o que não conhecemos, caminhada. Representa o conhecimento que conseguiu tornar-
“se alguém conseguiu eu também consigo!”. Claro que não encarei e por muito tempo eu mesmo não entendia o que era se ação. Talvez essa seja a razão do artista, que cada ação seja
a teoria logo de primeira, e fico feliz por isso. Na verdade eu já desenhar. coerente com o que ele é, seja fruto de seu trajeto. Que cada
havia tido contato com a Gestalt voltada para arte gráfica na própria ação seja presente, verdadeira, tenha raiz em seu intelecto e seja
faculdade e até mesmo antes dela, por meio do livro “Sintaxe da Dizia Degas: “Desenhar não é a forma, é a maneira de reflexo de sua postura. Mas isso é algo mais difícil que consigo
Linguagem Visual”, material indicado por meu mestre Maurício ver a forma”. Sim, desenhar é a maneira que vemos, no imaginar para se alcançar, a plenitude. Talvez esteja aí a máxima
Takiguthi que me ajudou muito a passar por uma das etapas em seu sentido mais direto e simples, e no sentido mais abstrato e do poeta: “Ser ou não ser, eis a questão”.
Desenho de Paulo Ignez
ateliê. Então o começo de meus estudos foi por meio da reprodução. amplo. O que vemos é consequência não só de nosso orgão
Peguei trabalhos de character designers que desenhavam para Pixar, sensorial mas também de nós mesmo. Assim como Merleau
Disney, Dream Works. Estava disposto a entender como aplicar Ponty conclui que a pessoa de Cézanne era essencial para a
conceitos de design no desenho de personagens. obra, o que vemos é consequencia do quem somos e do que
sabemos, a maneira que vemos é consequencia da postura
que adotamos e do lugar que nos posicionamos para ver.
Character Design
13

Para compreender melhor um personagem, é preciso


que haja o mínimo de coerência em suas ações e
motivações e certa constância de comportamento.

O que é Para tanto, é necessário pleno conhecimento de suas


características físicas e psicológicas, sua história,

Character seu lugar de origem e o tempo em que está inserido.


Em outras palavras, fornecer informações que
contextualizem o personagem e suas motivações é
Design? fundamental para que o conheçamos.

O Character Design, como é chamada a criação de Uma vez resolvidas as questões sobre a essência do
personagens em mídias como cinema, quadrinhos e personagem, o character designer (profissional que
ilustração, é um processo que comumente se inicia no trabalha com a criação de personagens) começa a dar
campo das ideias, em que é construída a personalidade forma a ele.
do indivíduo em questão, e se desenvolve até a criação
da forma, por meio de um ator ou de um desenho. Como nosso foco é o character design para o mercado
O processo inverso, desenhar um personagem e de animação, será traçado um caminho que leve a um
entender sua personalidade partindo desse resultado, é resultado visualmente agradável e coerente com as
totalmente aceitável, mas menos usual no mercado. necessidades da área em termos de funcionalidade.

Trabalho de Wesley Louis e Tim MacCourt.


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A personalidade
expressa na forma
Os anões do filme também mostra uma síntese
de suas personalidades, explícita no nome de cada
“Linguini é um Remy no mundo paralelo dos humanos. O garoto é um bode expiatório na cozinha, um um deles e expressa em sua aparência e atitude.
infeliz desajeitado, desastrado e desengonçado. Ele está profundamente fora de sua realidade. Por isso demos Em uma cena em que Branca de neve se despede
a ele esses grandes olhos redondos e sua expressão característica é sempre de estar assustado e com medo. Sua dos anões com um beijo em cada um, a forma
Apesar de muito bem trabalhados para cativar
personalidade evolui bastante com o tempo, e como resultado sua aparência também. ” obstinada e ranzinza de andar do Zangado se
o público, os anões servem de suporte para a
transforma, juntamente com a mudança de seu
protagonista2 e como elemento de humor na
Jan Pinkava, co-diretor de Ratatouille sentimento e de sua expressão facial, resultando
trama. Tomando-os como exemplo, é possível
em uma pose que demonstra total entrega a uma
observar que, por via de regra, os personagens
sensação estranha à sua natureza. Pouco tempo
secundários3 de uma animação aceitam melhor a
A linguagem usada no cinema permite uma imagem, quanto no desenrolar da narrativa. depois, há uma retomada de consciência, e o anão
deformação do que os protagonistas. Isso porque
comunicação muito além das palavras. Da sonoplastia Daremos ênfase ao desenho do personagem e à sua volta a seu estado natural, saindo com a mesma
a intenção é manter o protagonista mais próximo
à composição fotográfica, há ferramentas que apresentação, explorando de que maneira é possível obstinação de antes, para ser castigado pelo acaso
do público, afinal, aceitamos com mais facilidade
indicam um determinado estado emocional, contam dar forma às qualidades elaboradas no campo das por não admitir a benevolência daquela bela
aquilo com que nos identificamos, ou seja, com
histórias e/ou direcionam a atenção do espectador ideias. criatura. Nesse exemplo, vemos a clara ruptura do
figuras com menos deformações.
sem que seja necessário emitir ao menos uma padrão de comportamento de um personagem,
vogal. Essas ferramentas, complementares à obra, Um jeito bastante comum de iniciar a criação de um já que uma reação contrária à prevista se torna
Do mesmo modo, os vilões também precisam de
remetem a informações implícitas e explícitas as personagem é reforçar sua principal característica. nítida ao público geral. A cena ainda tem o papel
certo apelo visual, caso contrário, não desejaríamos
quais se tem domínio a partir do momento em que No Clássico dos estúdios Disney Branca de neve e de acentuar as qualidades da princesa; sua “magia”
vê-los no filme. E muitas vezes o antagonista se
as conhecemos e obtemos uma maneira eficaz e de os sete anões (Original Snow white and the seven é tão forte que é capaz até de alterar a natureza do
torna mais notável que o protagonista, como é o
comum entendimento para expressá-las, mesmo dwarfs, 1937), tem-se como protagonista uma mais cabeça dura entre as criaturas.
caso da Malévola, personagem de Bela adormecida
que o espectador não tenha consciência disso. Essa princesa típica: pura, inocente e bela, diante da qual (Original Sleeping Beauty, 1959) que recentemente
maneira eficaz e de comum entendimento configura a até mesmo os animais da floresta ficam maravilhados, ganhou um filme com seu nome. Bastante
linguagem. acolhendo-a em um momento de desamparo e expressivos, os vilões costumam ser os personagens
trabalhando em prol do seu bem-estar. E não poderia mais dramáticos dos filmes e são quem transmitem
Da mesma maneira, o personagem é um elemento ser diferente! Desde sua bela voz até seu traço as emoções mais intensas. Assim sendo, são
que, muitas vezes, desempenha um papel delicado, tudo converge para a construção de um enfatizados neles as partes do corpo que traduzem
chave dentro de determinada obra. Há também personagem com qualidades que inspiram empatia as mais diversas emoções, como olhos, bocas e
características ligadas a esse personagem que podem em todo ser humano. mãos.
ser expressas tanto de imediato, por meio de sua
Desenhos do ilustrador Peter de Sève
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Os anéis enfatizam a vaidade do personagem, assim


como a borda dourada em seu vestido preto, que cobre
todo seu corpo e se arrasta sobre suas pegadas, As longas
vestes omitem o andar do Grão-vizir, denotando o caráter
traiçoeiro do vilão. Os pés aparecem poucas vezes, a
exemplo da cena magistral em que ele é apresentado:
Após uma extravagante comitiva, o Grão-vizir entra, de
forma genial, com o pescoço quase que quebrado para
trás e o nariz na vertical, passeando de forma peculiar
sobre os tapetes vermelhos continuamente justapostos.
Boa parte do mérito dessa apresentação e voltado para
Cena do Filme The Thief and The Cobbler o movimento de seus passos, cujos pés, desenhando
formas circulares para fora do figurino, transmitem o
dinamismo para seus sapatos, que se desenrolam com a
Em “O ladrão e o alfaiate” (tradução livre do original excentricidade apropriada ao personagem. Outros pontos
The thief and the cobbler), filme dirigido pelo animador fazem alusão a natureza cadavérica do personagem,
Richard Willians, o Grão-vizir* Zigzag demostra essa como sua pele azul e seus ombros salientes e pontudos,
regra. Com expressões que vão ao extremo, o exagero é que lembram asas de uma ave e, somados à sua postura,
notado no número de dentes de sua boca que, apesar de tornam nítida a similaridade do personagem com um
incontável, é visivelmente maior do que se espera de uma urubu, o que é reforçado, ainda, pelo fato de sua mascote
pessoa comum. Além disso, a dimensão de seus olhos assistente ser dessa espécie e por sua torre ser em forma
também varia bastante, ora grandes e arredondados, ora de pássaro. A semelhança com o urubu não é acidental,
finos e compridos. As mãos exercem papel fundamental enfatiza marcas de sua personalidade e suas intenções: o
para o personagem, reforçando suas intenções e vilão pretende casar com a princesa para se tornar rei,
auxiliando em sua personalidade acusadora e sua função objetivo que só poderia ser alcançado com a morte do
no longa-metragem. Por esse motivo, talvez, o mago atual monarca.
conselheiro do rei tem seis dedos em cada mão, com uma
falange a mais em cada um deles, assim como um anel em
cada uma dessas articulações. Não é por menos o impacto
causado por sua mão acusadora, apontando para o alfaiate,
Zigzag, personagem do longa-
"PEGUE ELE!"* (Original "TAKE HIM!"), e dando-lhe
metragem The Thief and The Cobbler
voz de prisão. O primeiro-ministro do Império Otomano
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A dualidade é um dos elementos-chave na construção da
personagem “Cruela cruel”, como foi apelidada por Roger,
música e dono dos dálmatas, em 101 Dálmatas (Original
One Hundred and One Dalmatians, 1961). O cabelo referidas em diversos materiais consumidos pela
repartido, metade preto e metade branco, demonstra que sociedade ocidental. Não só nesse caso, o animal não
a vilã simula um comportamento que passa longe de suas foi escolhido à toa.
reais intenções. Cruela invade a casa onde se encontram
seus alvos (os dálmatas), vestida de preto, com luvas e Assim como o protagonista, João Pequeno, também
sapatos vermelhos e portando um cigarro de fumaça verde traz características correspondentes ao animal
tóxica. Para fumar, a vilã usa uma piteira: sua antipatia é usado para sua representação. Sendo um urso, João é
tanta que nem mesmo o cigarro a toca. Essas cores que grande, desajeitado e preguiçoso (o que dizer de um
compõem o desenho do corpo esquelético de Cruela animal que passa metade do ano dormindo?). Braço
traduzem sua natureza perversa de lobo, que é escondida Robin Hood e João Pequeno
direito de Robin, esse carismático amigo é tão leal
pelo encorpado casaco de “pele de cordeiro” em que ela quanto se pode ser e constitui um apoio estratégico
está envolta. para o humor na animação.
Outra alternativa para expressar a personalidade por
Todos os elementos citados não só apontam para a meio da forma é a antropomorfização, que consiste em
Ao observar os personagens do longa-metragem de
personalidade da mulher, como também revelam sua atribuir características de seres humanos a animais,
forma geral, é possível compreender as motivações
classe social e ajudam a identificar o espaço-tempo (Paris, deuses ou outros seres. Os pré-conceitos que temos
para a escolha dos animais para o elenco. Situações
aproximadamente metade do século XX). A ausência de alguns animais, por exemplo, podem inspirar a
que brincam com estereótipos, como o galo
de elementos que permitam encaixar o personagem em construção do personagem. Um bom exemplo disso é
trovador que narra a história, sempre cantando, ou
um contexto apontado pela história, resultaria, muito o filme Robin Hood (1973), da Disney. O herói, o astuto
o par de urubus estacionado sobre a forca. Enquanto
provavelmente, em uma sensação de deslocamento. Robin, que, como ele mesmo diz, “pega emprestado”
bichos maiores e de aparência mais ameaçadora
dos ricos para dar aos pobres, é liso como uma raposa.
fazem parte da comitiva real (como hipopótamos,
Difícil de ser capturado, o habilidoso fora-da-lei usa de
lobos, jacarés e rinocerontes), os cidadãos de
artimanhas para driblar seus perseguidores e ainda tirar
Nottingham são animais mais amistosos, com os
o que eles têm... para fazer melhor uso, digamos assim.
quais temos mais familiaridade e afeição (como
cachorros, corujas, tartarugas e uma numerosa
Todas as características acima podem ser facilmente
família de coelhos).
associadas a uma raposa: esperta, rápida e com uma
tendência a invadir propriedades alheias para fazer uso
de seus bens. Considerando-se o contexto temporal
e espacial do século XX, histórias com raposas que
invadem quintais para roubar galinhas são um clichê,
Cena de apresentação da personagem Cruela
Cruel, do filme 101 Dálmatas
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Principe João e seu conselheiro, Sr. Chio

O mais brilhante na animação de Wolfgang Reitherman, entrar em estado de choque, encolhendo-se todo e chupando
no entanto, está nos antagonistas. Diferente de seu o dedo, ao ouvir o nome de sua mãe. Tanta excentricidade
irmão, rei Ricardo, o Príncipe João é um governante tolo. não poderia estar melhor acompanhada: Sr. Chio (Original
Ganancioso e mesquinho, sua fome por riquezas só perde Sir Hiss), conselheiro do Príncipe, é uma cobra, certamente
para sua sede em pegar Robin Hood. Mas como destacar mais esperta do que seu superior. Com o faro afiado para
essas e outras fraquezas quando o personagem é conhecido problemas, seria bem melhor sucedida se João ouvisse
como rei da selva? A resposta mais direta e intuitiva seus conselhos ao invés de usá-la como saco de pancada
é: tirando-lhe a juba! O magro príncipe se mostra tão para descontar suas frustrações. A cobra desbocada traz
desprovido da pelagem característica do felino quanto de interessantes soluções de design, tendo uma pequena capa
qualidades para ser um bom monarca. Sua ingenuidade e que faz com que parte de seu corpo funcione como pescoço
falta de inteligência são ressaltados durante toda a estória, (um longo pescoço, por sinal). A ponta de sua cauda, por
sendo feito de bobo pelo herói por repetidas vezes; até outro lado, por vezes funciona como mão, auxiliando na
alguns hábitos peculiares, que reforçam com humor sua interpretação do personagem. A dupla de vilões é, com
incompetência, são volvidos em chacotas que os moradores certeza, o ponto alto de humor na história.
recitam em forma de canção, como o fato de o Príncipe

Cena de Robin Hood


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Model
Sheets
Os desenhos que mostram o personagem de forma completa
são chamados de model sheets, e têm como função apresentar
sua personalidade e construção.

Os model sheets são importantes para que outro desenhista


(no caso de 3D, o modelador) ou o próprio criador consiga
reproduzir o personagem mantendo suas proporções. Nesse
modelo também podem haver algumas informações específicas
do desenho personagem, tecnicamente chamadas de do and
don’ts. Trata-se, por exemplo, de alguma modificação no rosto
quando ele sorri ou algum ângulo que deva ser evitado.
Nesse estudo serão descritas quatro pranchas de model sheet.
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Turn around da personagem do curta


Mary, da escola de animação Gobelins.
Turn Around
Turn around é o desenho que mostra o personagem de corpo
inteiro, normalmente em pé e parado, sob diversas vistas, como
se uma câmera estivesse girando em torno dele. No turn around
costuma-se ter uma visão frontal, lateral, ¾ e costas; nos maiores
estúdios também é utilizada a posição ¾ de costas. Para orientação,
são traçadas as chamadas linhas guias, que servem para manter
a proporção do personagem em todas as posições citadas acima.
Além disso, com essa prancha, tem-se referência de como fica a
silhueta de um personagem nos mais diversos ângulos. Desenhar
um personagem pode parecer algo simples, pensando-se, por
exemplo, em sua vista frontal. Uma das maiores dificuldades, no
entanto, é tornar as vistas de outros ângulos sejam tão interessantes Turn around do filme
quanto a primeira. O Turn aroud ajuda a sanar esta dificuldade. O Principe do Egito
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Expression
Sheets
Nessa prancha são colocadas algumas expressões básicas do personagem, como
alegria, tristeza, raiva, dúvida, medo etc. Normalmente focada no rosto do
personagem, nela se enxergam mudanças nas expressões faciais, inclusive
até onde uma deformação é permitida e o como o personagem demonstra
determinado sentimento.

Desenho de Ryan Lang

Design de Borja Montoro


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Pose Sheets
No Pose sheets geralmente demonstra-se o personagem em algumas
posturas usuais. Essencial para compreender melhor a personalidade
do personagem, o Pose sheet muitas vezes dialoga diretamente com o
expressions sheet, permitindo visualizar a expressão corporal e valorizar
sua linha de ação. Esse também é um momento interessante para colocar
alguma cor no personagem, embora não seja uma regra já que um pose
sheet funciona perfeitamente sem o uso de cor.

Pose sheets de personagem do Kung Fu Pose sheets de personagem de


Panda de feitos por Nico Marlet Borja Montoro
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Line Up do artista Olivier Silven

Line Up
O Line Up é uma linha onde colocamos lado a lado os
personagens do mesmo universo, de uma mesma animação
ou de um mesmo quadrinho por exemplo. O objetivo central
do Line up é ter uma visão geral do que estamos fazendo; se
a função do personagem na história está clara (ou seja, se o
protagonista realmente demonstra ser quem é, ou se o vilão
expões as qualidades desejadas pelo character designer),
observar o design geral dos personagens, se eles estão
visualmente conversando entre si, e observar a relação de
proporção dos personagens. Resumidamente, aqui vemos um
sistema que envolve a semelhança da linguagem e o contraste
(distinção) das formas.

Line Up do artista Olivier Silven


Gestalt

Desenho de William Chamorro.


34 No filme Up (Disney Pixar, 2009) o protagonista, orgânicas, de mais fácil manuseio. Não é à toa que são 35
Carl, é um quadrado (ou um paralelepípedo se os personagens ao redor de Carl que fazem com que

Conceitos de compreendido tridimensionalmente), uma forma


pura e facilmente inteligível, um bloco difpicil
ele se mova, saia de seu estado naturalmente estático.
Os próprios balões, objetos que estiveram sempre
de se manusear. Diferentemente, sua esposa Ellie presentes durante a vida de Carl e o levam para sua tão
design aplicados no (Eleonor), o jovem Russel e o pássaro Kelvin são
representados sinteticamente por formas curvas e
ambicionada viagem, são elementos arredondados.
Carl está rodeado de círculos, para sua sorte.
Character Design
Desenho de simplificação das formas
“Carl é uma caixa, um tijolo pesado pelo quão perto do chão ele afundou. Depois da morte de sua dos personagens de Up.
esposa ele se desligou do mundo ao seu redor. Então, ele travou no seu jeito totalmente quadrado.
Impenetrável, imóvel, um peso para sua alma. É fácil de perceber quanto tempo ele foi assim. ”

Entender a linguagem visual aplicada ao design As formas e as cores também indicam estados
pode proporcionar uma melhor comunicação por psicológicos. Isso pode estar inserido no próprio
meio de elementos visuais como linha, forma, personagem ou nos elementos que o rodeiam. Não
espaço, cor, tonalidade, entre outros. No character raras vezes o ambiente torna-se uma extensão do
design não é diferente: a construção visual dos personagem, como observamos em Mogli, o menino
personagens fala por si. Se um personagem é lobo (original The Jungle Book,1967), em que a
construído por meio de formas geométricas retas intensidade das cenas é regida pela iluminação do
e cores frias é bem provável que ele gere menos ambiente. O começo do dia nos convida a explorar
atração do que um personagem elaborado com o mundo, a chegada da tarde iluminada traz agito e
formas orgânicas e cores quentes. Contudo, vale novas aventuras, o anoitecer esfria o clima e anuncia
notar que hoje observarmos uma quebra desse o perigo que se esconde no silêncio e na escuridão, e
paradigma, com o uso inteligente do design a manhã aponta para recomeços, novas resoluções
para brincar com alguns desses conceitos pré- e perspectivas. Essa alternância de cores acontece
estabelecidos, como podemos ver em Monstros no decorrer da narrativa e acompanha o ritmo
S.A. (Disney Pixar, 2001), que mostra a visão emocional dos personagens, tanto do menino-lobo
do mundo dos humanos a partir do mundo dos como dos personagens que aparecem durante a
monstros, e as crianças são tão temidas por eles jornada, da tropa de elefantes à cobra hipnotizadora, Desenho do personagem Shan-
quanto um monstro é temido por uma criança. da banda de macacos malucos ao vilão Shere Khan. Yu, da animação Mulan.
Na fase da solitária velhice de Carl, o garoto Russel Além do caráter simbólico trazido pelos elementos
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é quem consegue interagir de forma mais próxima visuais aplicados no character design, há o uso de
ao protagonista que, após a morte da esposa, se conceitos diretamente ligados a estética. Alcançar uma
transforma em um ancião rabugento e “perigoso” solução visual esteticamente agradável e equilibrada, que
de acordo com a justiça local. Guiado pela nostalgia, carregue a carga significativa e histórica que o desenhista
Carl voa, usando seus balões, em direção à próxima pretende passar ao desenhar o personagem, é um
aventura, aparentemente um paraíso tropical, e grande desafio. Não indiferente a isso, serão discutidos
acidentalmente leva Russel junto. Chegando ao alguns pontos importantes para o estudo do design de
destino, alguns acontecimentos se dão em torno personagens.
uma ave exótica (começando por suas cores saturadas
e vibrantes), carinhosamente apelidada de Kevin.
Entre em cena também Dug, um simpático cachorro
falante que faz parte de uma matilha montada para
capturar o pássaro. Ao contrário do líder da matilha,
um doberman marcado por silhueta dura e orelhas
pontudas, Dug é formado por linhas circulares e fluidas.
Sendo assim, todos os personagens que rodeiam Carl
trazem referência visuais que facilitam a locomoção do
velhinho de um estado emocional para outro.
Personagens da animação Bostrolls

Personagens do filme Up.

No início do filme é Ellie quem o puxa para uma nova Logo no casamento dos dois a personalidade de cada um
experiência (ao sair do cinema) e quem o empurra para a é apresentada por meio dos familiares que assistem a
aventura (no momento em que ele passa por um buraco, no cerimônia; as emoções e a passagem do tempo são indicadas
segundo andar de uma casa abandonada, sobre uma tábua de por meio de elementos simbólicos, como a cor (destaque
madeira para pegar seu balão). Ela o motiva durante toda a para a cena em que Ellie repetidamente aperta a gravata do
animação, ainda que sua presença seja simbólica na maior Carl e cerca de 15 segundos resumem a passagem de anos
parte do filme. Vale destacar a síntese da vida do casal na na vida do casal, por meio da mudança de intensidade da
introdução do filme: arrisco dizer que é uma das sequências palheta cromática e a mudança brusca da forma da gravata);
mais bonitas e bem construídas do cinema de animação. e, finalmente, a morte de Ellie é sugerida de maneira genial.
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O que é Segundo a Gestalt, a percepção humana não analisa


pontos separados dentro de uma composição, mas
Gestalt? a relação das partes com o todo. Dessa maneira,
entende-se que o que vemos são relações e não
elementos isolados. Uma boa forma em determinada
Para falar sobre o desenho dos personagens serão composição, em nosso caso em um desenho, pode ser
usados alguns conceitos de design como base. Uma das alcançada por meio de uma relação harmoniosa dos
fontes das quais bebemos abundantemente ao estudar elementos visuais entre si.
esse tema é a Gestalt, sendo este capítulo uma pequena Portanto, a Gestalt nos aponta alguns caminhos a
introdução. serem seguidos para melhor manuseio dos elementos
visuais, sendo esses aplicados em qualquer tipo de
A teoria da Gestalt é uma das principais referências comunicação visual, desde cartazes até logomarcas.
relacionadas à linguagem visual no estudo da forma. Com base na prática e observação do Character
Trata-se de uma escola da psicologia, fundada entre Design foram separados algumas leis e conceitos
o fim do século XIX e início do século XX. Seus fundamentais dentro da Gestalt, pretendendo
estudos no campo da percepção da forma tornaram- passar uma visão clara deles e aplica-los de maneira
se relevantes e respeitados no meio, ao encontrarem eficiente. Esses conceitos são Pregnância da forma,
explicações plausíveis para fenômenos, até então, sem Unificação, Contraste e Equilíbrio.
solução. A unificação é uma das leis da Gestalt que consiste

Personagem de Shiyoon Kim


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Unificação Unificação por meio da


em uma composição harmônica e coerente de elementos visuais
semelhantes. Podemos pensar na unificação por meio de diversos
repetição de traço/forma
recursos, desde padrões construídos por manchas ou pela
característica de linhas que descrevem o personagem. Dependendo
da composição visual, essa lei pode ser reforçada, por exemplo, pela e, consequentemente, de formas. Podemos entender linha/traço
proximidade dos elementos (uma das influências visuais mais como um ponto em continuidade no espaço, que normalmente
fortes e efetivas para que nossa percepção reconheça determinados contém características próprias e que exerce uma função específica
elementos como parte de um grupo) ou pela clareza de leitura dentro de um contexto. Nesse caso, a principal função da linha/
dos mesmos, já que a percepção tende a agrupar ou discriminar traço é delimitar um espaço e definir um estilo.
determinados padrões na informação visual.
Outras características que a linha/traço pode conter é a
Nossa análise abordará a construção de um desenho unificado por continuidade, uniformidade, ou, opondo-se a isso, ela pode trazer
meio da repetição de seus elementos visuais. resíduos ou interrupções. Cada uma dessas características pode
Trata-se da construção de um estilo por meio da repetição de traços despertar sensações distintas, mas essas qualidades não serão
analisadas aqui.

A figura 1, o desenho que reproduz o design de Joe Pitt, diretor e


Character design de Gravity Falls da Disney Television Animation,
mostra um traço curvo e orgânico, como se descrevesse uma
gota. É interessante notar que, assim como em uma gota, seu
conteúdo parece se render à gravidade, o que define também parte
da característica do personagem que, observando somente esse
desenho, se mostra calmo, fixo no chão, resoluto.

Estudo de personagem
de Seema Virdi.
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Análise de forma em Análise de unificação em


personagem de Joe Pitt. desenho de Joe Pitt.
44
Já na figura 2, podemos observar que Pitt utiliza em todo o
personagem traços retos ou contínuos em único sentido se
opondo a traços curvos ou com variações no sentido. Essa
dinâmica funciona muito bem, tanto para representar as roupas
folgadas do personagem como na transmissão de um ritmo
anatômico, claro na descrição do braço e rosto do personagem.

Formas semelhantes também induzem fortemente a unificação.


As formas, em uma representação bidimensional, podem ser
compreendidas pelas linhas/traços que as limitam, como já
mencionado. Como exemplo, tem-se nesse tópico o design de
Nicholas (Nico) Marlet, character designer da DreamWorks que
possui uma gama de trabalhos invejáveis em sua carreira, como
Como treinar se dragão e Kung Fu Panda. Usando a simplificação
de formas em nível modular, Marlet consegue soluções que
emanam conceitos da Gestalt.

No desenho do personagem Tai Lung, de Kung Fu Panda, Marlet


faz uso abundante de formas circulares que resulta em um design
incrível, com uma interessante fluidez: as formas são bem
distribuídas e o personagem ora se compacta e oras se prolonga.
Dentro dos movimentos do kung fu, Tai Lung consegue um
agrupamento conciso e um desdobramento preciso, uma massa
única e compacta com um ataque rápido e certeiro.

Sobre sua forma, o felino asiático é construído principalmente


de módulos circulares, círculos inteiros e semicírculos, traços
curvos e, em alguns casos, traços retos e resolutos, como na
representação dos pelos e em algumas divisões de massa. Muito
do equilíbrio também é alcançado pelo fluxo que as linhas e
formas permitem, nítido na alteração do comprimento das
linhas que representam os pelos no rosto de Tai Lung, que
acompanham a forma da lateral de seu rosto.
Pose sheet de Tai Lung, Expression sheet de Tai Lung,
desenhos de Nico Marlet desenhos de Nico Marlet
46

Unificação por meio da No Character design, contudo, o uso da repetição de


cor pode ter outras funções. Uma composição que
repetição de cor use uma palheta cromática muito vasta facilmente
torna-se caótica. Palheta cromática reduzida e a
A cor é um elemento importante, seja para reforçar repetição de cores dentro de uma imagem é uma boa
as qualidades de um personagem, seja para enxergá- solução, podendo funcionar como pontos chaves
lo integrado ou destacado do cenário; como, por de leitura. Sendo assim, quando nossa percepção
exemplo, em uma visão panorâmica em que o mapeia toda a imagem e encontra padrões nesse
personagem encontra-se no meio de uma multidão, processo de escaneamento, ela entende a unidade
tanto sua cor quanto sua posição facilitam seu baseando-se neles. Chega-se, então, a mais uma
reconhecimento rapidamente. Em outras palavras, vantagem da repetição de cor: criar um sistema
a cor pode ter funções estéticas e psicológicas, ser que faça referência ao personagem. Sempre que
voltada para facilitar a leitura visual ou para um aparecer algum objeto referente ao personagem,
sentido semiótico. o uso de cores pode auxiliar com que façamos uma
ligação automática ao seu proprietário, reforçando a
Pensando tecnicamente, repetir a mesma cor personalidade daquele a quem o objeto se refere.
nas artes clássicas faz com que a atmosfera de um
quadro se torne unificada e não fragmentada, pois O caráter simbólico da cor também é bastante
a fragmentação, nesse contexto, pode causar certa utilizado, como já vimos no capítulo Personalidade
estranheza e afastar a obra da realidade. Em um expressa na forma, para reforçar aspectos do
ambiente real, as cores, produtos sensíveis da luz, personagem. Na ao lado há um homem orgulhoso,
compartilham de sua qualidade com cada elemento fato que é demonstrado não só pelo seu ar superior,
presente no ambiente por meio de sua reflexão. com o peito estufado e o queixo erguido, mas
também pela cor de seu cabelo e de sua gravata,
ambos cor-de-ouro. O que os personagens vestem
nesses dois exemplos está totalmente condizente
com suas expressões faciais e corporais e reforça
traços de suas personalidades.
Os exemplos mostram a unificação por meio a
repetição de cor. Desenhos de Borja Montoro.
48 49

Equilíbrio físico (linha de peso) e


equilíbrio visual (distribuição de massa)
O equilíbrio físico é compreendido aqui pelo equilíbrio
natural de um corpo nas circunstâncias em que o conhecemos.
Em outras palavras, qualquer pessoa em nosso planeta está

Equilíbrio submetida à gravidade e à sua própria estrutura corporal, de


modo que o equilíbrio é um estado em que seu corpo consegue
permanecer confortavelmente estático. Para isso, o peso pode
estar dividido entre as duas pernas (no caso de estar em pé) ou
Na linguagem visual, o conceito de equilíbrio pode ser entendido
sobre uma das delas (o que ocorre quando estamos andando,
como o resultado harmônico de elementos visuais expostos em
por exemplo: o peso ora se impõe sobre a perna direita e ora
uma obra. É o estado de repouso, em que as forças se anulam
sobre a esquerda). É bastante comum usar uma linha guia
e tudo tende a permanecer como está. O desequilíbrio, ao
vertical (linha de peso) para verificar o equilíbrio físico do
contrário, seria um estado no qual é notável a prevalência de uma
personagem. A ideia é que para uma quantidade de massa
força sobre a outra.
de um lado da linha de peso sempre haja uma quantidade
equivalente como contrapeso no lado oposto.
Em uma composição equilibrada, o desenho parece ter alcançado
seu objetivo como desenho, seu estágio final, dando a impressão
A distribuição de massa visando o equilíbrio visual não
de que nenhum elemento está fora do lugar e não há necessidade
necessariamente tem a mesma orientação dos exemplos
de acrescentar ou eliminar nada daquela composição.
acima. Se pensarmos em distribuir de forma equitativa
elementos que somados tenham um peso próximo usando
O que se pretende aqui é mostrar meios ou ferramentas que
outra orientação (cima e baixo por exemplo), chegaremos a
auxiliem o equilíbrio da forma que o compreendemos.
um equilíbrio distinto do que chamamos de equilíbrio físico
por não ter relação direta com a orientação gravitacional,
apesar da nossa noção de gravidade influenciar a percepção de
peso também na orientação alto/baixo. A diferença é que se o
peso maciço do personagem está no alto (ignorando o caráter
simbólico ao enfatizar uma forma), ele tende a subir, por
outro lado, ao acentuar o peso embaixo, é fixado no chão.
Personagem de Shiyoon Kim
51

Equilíbrio tonal
O peso visual tem relação com o uso da tonalidade
dentro de um espaço ou forma. O tom é a quantidade
de luz ou de ausência dela na cor, sendo representada no
monocromático pelo branco (intensidade máxima) e
preto (ausência total de luz).

O equilíbrio tonal é importante porque gera fluxo na


leitura visual e evita uma composição monótona. Caso os
tons não estejam equilibrados dentro da composição, a
atenção pode se concentrar mais em um ponto do que em
outro, sendo, eventualmente, uma estratégia interessante
ou resultando em um incômodo para quem assiste.

Um belo exemplo de equilíbrio é o personagem Poo,


de Kung Fu Panda, que ao longo da animação consegue
transmitir uma leveza em relação aos seus movimentos
que se distancia de sua apresentação no começo do filme,
um cozinheiro desajeitado e preguiçoso. Parte disso é
trazida pelo equilíbrio alcançado no uso da cor preta
e branca que compõe o personagem, referenciando
claramente, como mostrado no segundo filme da
franquia, o Ying-yang, símbolo tradicional chinês que
Poo, de Kung Fu Panda. representa duas forças em equilíbrio.

personagem Poo, desenhos de Nico Marlet


52 Contraste no traço (dinâmica) 53

Contraste Um traço dinâmico, ou seja, um traço que tenha variações em


seu trajeto, é uma técnica que pode ser utilizada para expressar
Contraste é um conceito fundamental da Gestalt por ter variação. Quando a espessura do traço é constante durante todo
implicações diretas na capacidade de transmissão de ideias e seu trajeto, a sensação de continuidade prevalece. Já a variação
na legibilidade do material visual. Trata-se, basicamente, da de espessura, se bem aplicada, pode trazer maior interesse ao
diferença de qualidade entre duas ou mais informações visuais desenho. A utilização da técnica depende, claro, do objetivo do
em uma mesma composição. artista. Muitas vezes a sensação de precisão tem privilégio sobre
a sensação de dinâmica, e, nesse caso, um traço contínuo é mais
adequado.

Se nos basearmos em nossa percepção e sensibilidade, não


é necessário que todo o traço tenha o mesmo peso visual. A
variação, tanto em espessura quanto em intensidade tonal, pode
levar ao equilíbrio visual. Essa variação também pode definir um
estilo e auxiliar na transmissão de determinada sensação visual.
Exemplificando, se for mantido o traço mais pesado (com uma
maior espessura e, consequentemente, com maior destaque tonal)
sempre na parte inferior, esse tratamento contribuirá com a noção
de peso do desenho, reforçando a ideia de gravidade. Outra forma
de utilizar essa dinâmica é fazer a silhueta de um personagem
ou objeto com um traço que tenha uma espessura diferente,
normalmente maior do que os traços internos.

Por fim, a variação no traço também pode servir para evidenciar,


ou não, algum ponto dentro da composição visual, assim como
informar sua posição. Uma maneira bastante comum que tem por
objetivo transmitir profundidade é fazer com que os traços variem
de acordo com o plano em que o objeto está inserido. Quanto mais
próximo, maior a espessura do traço.

Desenho de Alex Mulan. Desenho de Borja Montoro.


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Contraste tonal
Contraste na estrutura (ênfase)
(leitura)
O contraste na estrutura, entendida aqui como a construção do
desenho ou o desenho em si sem um acabamento mais refinado, é Essencial para a leitura visual, trabalhar com diferentes
bastante importante para tornar o personagem mais interessante, tonalidades traz nitidez ao que está sendo exposto. Basta pensar
além de trazer questões simbólicas ligadas à sua função e em um círculo branco em um fundo branco. Não se conseguiria
personalidade. ver se não houvesse algo que contraste os dois, como um traço
preto delimitando o círculo.
Ao variar as proporções, referentes à distância dos elementos ou/e
seu tamanho, há um mar de possibilidades de se representar um Aliado ao uso de formas simples, esse conceito, crucial para o
personagem. Ele pode ter óculos cujas lentes tomam seu rosto quase reconhecimento de diferentes planos em uma composição, é
por completo, e isso enfatiza o fato de que ele não enxerga bem, já que um dos mais importantes quando se fala em Gestalt, pois não se
essa construção enfatiza seus óculos. Da mesma maneira, essa solução consegue ler qualquer material visual sem contraste tonal.
pode ser usada para esconder o personagem atrás desse acessório.
Diversificando o espaço existente entre os olhos do personagem, ou
a distância entre boca e o queixo, têm-se diversas possibilidades que
resultam em atração ou estranheza. Como já mencionado no primeiro
capítulo, os protagonistas costumam ser personagens cujas proporções
mais se aproximam das nossas, para criar maior proximidade com o
público, não sendo necessariamente uma regra rígida.

Modificar as proporções do corpo de um personagem permite


destacar e comunicar algo sobre ele. Para que fique mais claro: se
desenharmos um corredor profissional provavelmente daremos mais
ênfase para suas pernas do que para seu tronco, o que pode mudar
se, ao invés de um corredor, o personagem for um pugilista, a ênfase
estaria em seus membros superiores.
Desenho de Julien Rossire.

Personagem de Meg Park


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Pregnância da forma 57

A pregnância da forma é uma das mais importantes leis da


Gestalt. Trata-se de quando uma forma é facilmente reconhecível
e memorável. Em outras palavras, quanto melhor e mais clara a
forma do objeto, mais rápida e fácil é sua compreensão. Para que
isso seja alcançado, devem ser observados dois conceitos.
Silhueta
Silhueta ou espaço negativo é muito importante para quem
Formas Simples trabalha com desenho, principalmente em animação, ao
começar pelo fato de uma história estar sendo contada de forma
Um círculo, um quadrado, um triângulo. Formas cujos nomes ininterrupta, e contém outros diversos elementos além do
são conhecidos e identificados imediatamente. O uso de formas personagem. Todos esses elementos brigam pela atenção do
simples facilita a leitura do material visual e, consequentemente, espectador. Assim sendo, a silhueta é um ponto valoroso em
a compreensão do mesmo. A simplicidade da forma também função da compreensão narrativa, funcionando muito bem
auxilia, com a presença de outros elementos, a identificação do para dar ênfase à uma ação. Diversos animadores fazem a ação
personagem em um contexto caótico ou sua reprodução em ocorrendo fora da silhueta do personagem para que esta possa ser
diferentes escalas, além da facilidade técnica em reproduzi-lo. vista e entendida de imediato. Ela também facilita a identificação
de um personagem, tornando-o imediatamente reconhecível.
A simplicidade aqui significa quantidade menor de material
visual a ser decodificado por nós. Sendo assim, formas simples Trabalhar com o espaço negativo é trabalhar com o vazio. Neste
parecem ser um caminho para o sucesso na construção de um ponto, outros conceitos abordados entram como reforço para
personagem, o que não significa que seja fácil. Como toda síntese, uma boa silhueta, como o uso de contraste e formas simples.
um bom personagem com formas simples pode ser mais difícil de Personagem de Kung Fu Panda. Importante ressaltar que conseguir enxergar o espaço vazio é
ser alcançado do que um personagem com formas mais variadas e indispensável. Isso significa que uma forma não é somente o que
complexas. Um dos motivos é o fato de que o excesso muitas vezes ela compreende de informação visual, mas também o que ela não
esconde falhas estruturais que se mostram claramente em uma compreende.
imagem sintética.

Como nos outros casos, a intenção rege o trabalho. Então não


queremos dizer que um personagem mais detalhado seja ruim,
mas se o objetivo é trabalhar com um que tenha maior pregnância Desenho de Julien Rossire.
visual talvez o excesso não seja o melhor caminho.
Sketchbook
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Primeiros estudos
Em primeira instância foi feito um estudo por meio da
reprodução do trabalho de alguns designers de personagens,
principalmente dos desenhos de Carter Goodrich e Nicholas
Marlet. A abordagem desse estudo foi sobre a estrutura
do desenho e o acabamento, pois esses dois pontos foram
considerados essenciais para o resultado final do trabalho.

A estrutura do desenho é sua construção da maneira mais


simples possível, para facilitar uma possível correção. Ela
está por trás do desenho finalizado ou, fazendo um paralelo, é
como os alicerces de um prédio. Sendo que a estrutura define
a forma do desenho, por meio dela sabe-se quais fundamentos
da Gestalt podem ser aplicados.

Não obstante, a fase de acabamento também reforça algumas


questões da Gestalt, como por exemplo contraste. Na fase de
estruturação do desenho o contraste é o mínimo necessário
para que se consiga ter uma leitura da informação visual. Já na
fase de acabamento o contraste pode se acentuar procurando
uma melhor definição das qualidades que aquele espaço
representado traz. Exemplificando, enquanto a estrutura
entende um rato como uma relação entre espaços delimitados,
o acabamento determina a qualidade desse espaço, se ele é
claro ou escuro, se a pele é lisa ou peluda.

Reprodução dos desenhos


Reprodução dos desenhos de Carter Goodrich. de Carter Goodrich
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Reprodução dos desenhos de Carter Goodrich.

Reprodução dos desenhos de Carter Goodrich.


64 65

A estrutura do desenho também serve para solucionar problemas de


funcionalidade, por ser mais passível a correção. Como personagens
criados para animação exigem uma gama de ações é necessária uma
estrutura funcional e, de preferência, simples, tendo seus limites e
possibilidades suficientemente delimitados.

Outra vantagem do estudo dos desenhos desses profissionais é


entender como eles resolvem problemas estruturais, pois a pesar Reprodução dos desenhos de Carter Goodrich.
do nível de estilização elevado cada parte do corpo do personagem
ainda deve cumprir sua função natural. Uma nadadeira de peixe
ou uma concha de caramujo tem um propósito antes de qualquer
função estética. Quanto mais ousado o nível de estilização, mais
difícil de conseguir uma solução harmônica entre função e estética.

Reprodução dos desenhos de Carter Goodrich, lápis de cor.


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O estudo de forma na reprodução dos personagens seguiu


juntamente com processo de estruturação do desenho. Como
já dito, a estrutura define a forma. Sendo assim, explorar a
estrutura é explorar variadas possibilidades de soluções formais,
sabendo que o tempo gasto nesta primeira etapa do desenho é
bem reduzido se comparado à finalização com acabamento.

Por meio de um primeiro rascunho já se consegue enxergar


pontos a serem acentuados, formas em desequilíbrio e soluções
que podem dar certo. Nico Marlet é um artista que abusa do usa
da forma em seus desenhos, fazendo variações incessantemente
até chegar em um resultado desejado.

Reprodução dos desenhos de Nico Marlet. Reprodução dos desenhos de Carter Goodrich.
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Reprodução dos desenhos de Nico Marlet. Reprodução dos desenhos de Nico Marlet.
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Variando formas
Um dos primeiros trabalhos de exploração foram os tubarões. Os
desenhos buscavam diferentes soluções de uso da forma do peixe, e
em como cada solução trazia consigo sensações e determinava traços
da personalidade do animal. O porte físico do tubarão traz também
questões referentes a sua mobilidade, agilidade, e consequentemente
determina, devido a ideia que temos do animal, o quão ameaçador o
personagem pode ser.

Mesmo diante do terror que nossa sociedade cria sobre um tubarão


selvagem (podemos ter de exemplos do filme Tubarões, de Steven
Spielberg , aos programas do Discovery Channel que normalmente
mostram o animal como um caçador natural movido a sangue e
surfistas), a aparencia inicial pode ser completamente subvertida
com o uso inteligente do personagem dentro de uma narrativa. É o
que vemos em Procurando Neno, onde os tubarões fazem parte de
um grupo que os ajuda para lidar com seu vício em carne.

Estudos de forma, tubarões. Estudos de forma, tubarões.


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Estudos de forma, tubarões.

Estudos de forma, tubarões.


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Estudos de forma, tubarões.

Estudos de forma, tubarões.


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Estudos de forma, tubarões.

Estudos de forma, tubarões.


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Estudos de forma, tubarões.

Estudos de forma, tubarões.


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Personagens
Aqui segue diversos personagens criados para
o estudo, normalmente usando um briefing
ou, como no caso desses personagens ao lado,
baseando-se em uma pessoa real.
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O bárbaro
O primeiro personagem humano desenvolvido veio por meio
da participação em grupo de rede social chamado 4forfan,
tratando-se de um local onde diversos desenhistas criam
personagens baseados em um briefing semanal. O primeiro
tema adotado foi “bárbaro”. Com forte influência na imagem
de Conan, o primeiro caminho tomado foi a reprodução de
um halterofilista, fazendo jus ao Arnold Schwarzenegger.
Durante o processo algumas qualidades desse estereótipo que não
pareciam condizer com uma ideia de bárbaro que era desejada
explorar foram descartadas, como os músculos bem definidos
e ausência de pelo sobre o corpo. O resultado final trouxe um
bom equilíbrio entre estrutura, acabamento e uma boa pose que
transmitisse aspectos da individualidade do personagem.

Apoiado sobre uma das pernas, o personagem criado sob o


briefing do bárbaro tende a avançar sobre algo/alguém. A
postura agressiva é amenizada pelas formas arredondadas
do personagem, vista desde seus olhos esbugalhados, de seus
músculos do tronco e membros superioes até os terminais
de seus dedos da mão. A maneira com que ele segura seu
machado, uma arma que tem função de reforçar sua brutalidade
e rudez, mostra um desajeitamento ao manipular qualquer
tipo de instrumento. Os pelos por todo o corpo, assim como a
sombrancelha grossa, referenciam a aunsência de vaidade, e a
ênfase no tronco e braços reforçam e ideia de um ser brutamonte
que tem como principal arma sua força física. Por fim, o
acabamento traz volume ao desenho e dá um caráter rústico a
imagem. O dinamismo na leitura é alcançado pela variação na
proporção do personagem, apoiado pelo acabamento.
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Feiticeiro
Esse é um estudo feito buscando um feiticeiro egípcio.
Umas das qualidades que quis evidenciar no personagem
é a arrogância. Pensei nele fino para que seu corpo
pudesse se curvar, acentuando o ar de superioridade que
o personagem pensar ter. O cajado é um dos elementos
que remetiam ao ambiente, função e época, sendo a
civilização egípcia já inesistente.
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Piratas
Os piratas foram outros personagens bastante explorados.
Um tema que já tinha simpatia, tentei fazer referência as
velas das embarcações nesse desenho ao lado.

Usando o mesmo briefing, foi feito estudo de pose, como alguns


rascunhos mostram, e tentativas de que pairavam entre passar
dignidade ao personagem, sendo ele um orgulhoso pirata,
e transmitir o quão desgastante deveria ser a vida de um
navegante, com todas suas dificuldades, contato com doenças
novas e conflitos constantes.
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Aleatórios
Segue alguns estudos feitos sem nenhum
briefing inicial, tendo mais como função
entender o desenho e soltar o traço.
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Vaqueiros
Outra variedade no estudos de desenvolvimento de
personagens foram feitos, resultado de um melhor
compreendimento e domínio desse processo de criação.
Isso permitiu que se trabalhasse com uma temática definida
buscando não só um, mas diversos personagens do mesmo
universo. A primeira instância trabalhou-se com o velho-
oeste e buscou-se explorar os personagens baseando-se em
sua função naquele contexto e, por meio dessa, encontrar a
personalidade adequada para seu papel na história.
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Tombuctu
O estudo de personagens de Tombuctu começou a partir da
reprodução de fotos de pessoas da região por meio do desenho. A
estilização tornou-se bem clara já em primeira instância, sendo
que até então se estava trabalhando somente com a construção
de personagens que se distanciavam do realismo. A primeira
representação já mostrava um estilo intrínseco e tinha como
objetivo simplificar da informação visual apresentada, ou, em outras
palavras, trazer todas as características tidas como relevantes daquele
personagem usando o mínimo necessário de informação. Com base
nessa primeira representação era construída possíveis soluções de
design, já pensando em estilo, repetição de forma, pregnância, e
outros conceitos.
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Selecionou-se alguns personagens a serem trabalhados em virtude


de sua função ao representar um universo pouco conhecido no
ocidente. As etnias são diversas, mas para fazer uma representação
geral escolheu os soghais, os árabes e os toaregues.
Os soghais representam as pessoas com a pele mais escura do local,
sendo também residentes em regiões vizinhas como Nigéria e
Burquina Faso. Por seu império ter dominado o país no passado a
impressão de que eles são os povos originários da região é bastante
forte. Os toaregues são o povo nómade do deserto, também
conhecidos como beduínos. Seu estilo de vida é representado pela
música e pelos animais de rebanho, elementos que reforçam sua
liberdade e deslocamento. Apesar dos soghais também terem
aceitado o Islam, os árabes foram quem levou a religião para a região,
ao deslocar-se de regiões do norte africano, como a Mauritânia, e
estabelecer-se em Tombuctu, fazendo do lugar um dos centros de
desenvolvimento da religião.
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O desenvolvimento de Amadou (nome dado em homenagem


ao escritor malinês Amadou Hampâté Bá) deu-se primeiro pela
reprodução facial. Desde os primeiros estudos o turbante era uma
ponto bastante marcante. A parte inferior da abertudo do turbante
foi usada na versão final do personagem como delimitação da parte
externa do lábio inferior. Nos primeiros estudos o toaregue tinha
um bigode que reforçava o desenho arredondado de sua boca, mas
a solução foi deixada de lado por outra que traz uma barba com
delimitação reta nas maçãs do rosto, fazendo uma leitura mais
dinâmica entre os elementos do rosto por conta da cariação de curva
e reta, e resolvendo outros problemas de legibilidade que o bigode
trazia.

A silhueta do personagem também buscava uma dinâmica,


tentando opor uma perna mais fina e simples com um tronco mais
largo e mais carregado de informações. Essa solução trazia alguns
problemas de conflito de estilo, sendo que os níveis de estilização
no desenho não estavam em harmonia. A solução final trouxe um
melhor diálogo das partes com o todo.
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A versão final recebeu um acabamento em aquarela. Durante o O personagem tem como uma de suas características a calma
processo de criação de personagens testou-se outras técnicas, como e tranquilidade. Em seu Model sheet não há expressões do
caneta marcador e caneta esferográfica, além do lápis hb/3b que era personagem com a boca aberta, sendo suas expressões bem
usado na maior parte dos estudos. As cores fazem referência a beleza contidas.
e naturalidade do local, sendo cores pouco saturadas pra enfatizar o
caracter arenoso, desertico. O ponto do design que definiu o estilo foi principalmente o
número de traços para solucionar cada parte. Por exemplo, a
Por fim chegou-se a solução gráfica de Amadou. A forma circular delimitação do olho é fechada com 3 linhas: a linha de base e na
do turbante localizada sobre a cabeça do personagem, dando a ele parte superior duas linhas representando algo próximo de um
quase um ar quase santo, se repete nas bocas de sua calça. As laterais semicírculo. Também podemos ver a boca, parte superior uma
de seu tubante descem suavemente desenhando o caminho entre linha reta, parte inferior uma curva, e entre elas duas linhas
seu pescoço e seu ombro, mas terminam bruscamente em uma formando um V. A solução dada ao nariz também é importante,
quina pontuda. Da mesma maneira as partes laterais e inferiores de pois para a criação de ouros personagens no mesmo estilo não se
seu tronco delimitam uma forma que remete a um quadrado, com deve ultrapassar o nivel de sintetização dado, e nem simplificar
laterais levemente curvas. O manto que cobre parte dos membros muito mais que isso.
inferiores se abre de modo livre, brincando com a proporção
entre tórax e pernas. As mangas de seu braço também, começam
finas e terminam largas. As extremidades dos pés e das mãos são
arredondadas e inofensivas.
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