Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HÇ
Fr
F'
n
f.
v.,
F'
w'
L.
V, UM CAMINHO DE LIBERTAçÃO DA
t,
w ANIMA NO PROCESSO DE INDIVIDUAçÃO
t
It-
l{r
ll.r
[.,
IA
tt-
li-
l-
li-
Dissertação apresentada à Sociedade
Brasileira de Psicologia Analltica
F
ll,-
para obtenção do Titulo de Analista
Junguiano ao término do curso de
fornação - turma 1984-
H
E
[rlt
BIBLIOTECA Orientadora: Dra. ANA LIA B. AUFMNC
H ^/t
, Olb
São Paulo - 1989
F?
H
fl
?
9
?
9
l)
?
?
?
?
tt
à
?-
lâ
lA
?
â
E
á
A
L- Gabriel
L- Anna
l,- Vitor
L,. Pedro FeliPe
l,-
L,.
b
ct-
E
tr
Iil
{
{
)
)
t
)
)
)
)
)
â
-
-
á
-
-
- Agradeço a minha orientadora, aos professores,
)
aos meus analistas, aos amigos, que com sabe-
-
doria, compreensão e carinho me acompanha-
-
ram nesta trajetória. À Octávio Araújo, pela
-
-,- arte e sensibilidade, a par do entusiasmo com
que acolheu e aprovou a apresentação de sua
>a obra.
)
-
7a
?
n
l,-
?
\.
[.
F
t/
7)
>)
I
,)
ao Caminho
"O indivíduo deve entregar-se
com toda a sua energia' pois
só median-
te sua integtidade poderá prosseguir e
só ela setá uma garantia de que tal ca-
ninho não se toÍne uma aventuta absutda"
1
JWC
?-
?
?
?
2
9
SUMÁRIO SUMARY
b
a
w
Esta dissertação objetiva a necessidade que ts
mos, para um harmônico desenvolvimento da persona-
The Íocus given in this issue is related to the
necessity of seeking for a well balanced and harmo-
h. lidade, de uma relação apropriada com o arquétipo da nious development of the personality - taking into
ll. anima especialmente por parte de indivíduos que aPre account the proper relationship between the Ego and
l,+. sentam na estruturação do Ego, uma dominância do di the Anima archetype - especially when the Ego tends
tp namismo patriarcal. to be overwhelmed by a patriarcal domination.
t+.
tr
W
A via aqui seguida é a da interpretação das The way followed to go over this subject is
p
t{
imagens simbólicas encontradas numa obra de arte de
um pintor surrealista. Isto propiciou uma reflexão so-
trough the interpretation of the symbolic images found
out in a surrealist litography. Due to this process of
T bre a indispensável ligação criativa e o resgate de va interpretation many points are stressed and thought
G lores que se encontram no inconsciente desencadean- over in order to lead us trough the path towards indi-
tes do processo de individuação. viduation.
UNITERMOS
I. Introdução 0 1
II. O Símbolo 04
V. Conclusão 3 1
-
É
ma previsto inicialmente, pretensioso de- circunstâncias peculiares e propiciadoras
mais, "a pintura no perÍodo moderno da ar- de um maior desenvolvimento da consciência
te". Lentamente, dobrando aos poucos meus e individuação.
próprios joelhos, acabei por possibilitar
que o tema se humanizasse. Penetrou-lhe um Em particular, a Proximidade com a
sentido de vivência pessoal, impregnando-o arte, especialmente a pintura, foi um ca-
de sentimento, da emoção de um processo de nal rico de estímulos emocionais e afeti-
vida, para transformá-1o finalmente num ob vos eue, paralelamente a outros mananciais,
jetivo mais preciso: tentar expressar um levou-me a uma amplificação do autoconheci
movimento de libertação da anima do apri- mento, âo encontro de uma melhor compreen-
sionamento exercido pela dominância do di- são de mim mesmo. Ao vj.venciar de perto a
namismo patriarcal. manifestação artística, âo admirar através
dos anos esta forma de expressão, tive con
Muito se escreveu, falou e Pensou a tato com artistas cujas vidas foram motivo
respeito. Ainda assim, estamos longe de de admiração e reflexão- No mais das vezes,
ver os homens lidarem de forma adequada elas contrastam com as da grande maioria
com este arquétipo cuja função i-ntegradora dos homens, presos ao redemoinho da tecno-
e ile individuação é indispensável ao equi- logia e do consumismo. Tais artistas pos-
Iíbrio e plenitude de nossas vidas- Situo- suem uma sensibilidade especial, cÍiativa,
me entre os que buscam incansavelmente es- são cultores e observadores da vida e dos
tabelecer tal vÍnculo, üfr canal de comuni- valores humanos. Lidam com o belo, o supe-
cação mais fluido com esta fonte de estímu rior, o sublime, assim como com o execrá-
1o e energia rumo a uma vida melhor - No de ve1, o sacrílego, o ímPio, o imoral.
curso de vários anos, busquei resposta a di
versas situações existenciais- Verifiquei O paradoxosentido inúmeras vezes, o
como, inconscientemente, ao longo do pró- contraste marcante, foi se estabelecendo
prio processo de vida, confrontei-me com em minha consciência: a possibilidade de
vivenciar as polaridades integrantes da nâ dades artísticas. Esta gravura, porém, pro
tureza humana, despotencializando os pre- vocou uma profunda atração. Foi uma aquisi
conceitos culturais, os julgamentos unila- ção emocional, desencadeada por seu conteú
terais, rígidos, inflexÍveis, obedientes a do imagético, sem suspeitar, na ocasião,
padrões discriminatórios e preestabeleci- do grande significado simbóIico e de quan-
dos que na maior parte das vezes desprezam to este se ligava ao meu processo de desen
as necessidades inerentes a compreensão e volvimento psicológico. Só fui percebê-Io
ao afeto. Talvez tenha sido esta a trilha anos após, âo associar suas imagens com o
que me induziu a buscar novos valores, Do- conteúdo do sonho descrito acima.
va qualidade de vida.
Não é meu propósito analisar a gravg
É assim euê, reconhecendo e respei- ra na ótica dos críticos de arte. Buscarei
tando meu próprio Caminho, resolvi centrar destacar princípios de universalidade que
este trabalho em uma obra de arte. A esco- brotam de seu rico imaginário e conclamam
tha recaiu sobre uma gravura do artista a uma visão maj-s global do comportamento
pIástico brasileiro Octávio Araújo, de re- humano, ultrapassando o lado específico do
conhecida técnica e criatividade. Trata-se executar artístico.
do trabalho Iitográfico, de temática sur-
realista, "I4editação sobre a persistência Não me compete apontar na obra con-
da ansiedade", de 1972, reproduzido adian- teúdos de ordem pessoal do autor. O inte-
te. Não foi uma escolha aleatória, ou, en- resse em desvendá-1a está na possibilidade
tão, buscada para atender aos propósitos de, através de1a, destacar conteúdos refe-
deste trabalho. Há anos esta gravura encon rentes ao coletivo da vivência humana, euê
tra-se pendurada na parede de meu quarto podem ou não estar ligados à vida pessoal
de dormir. Os trabalhos de Octávio Araújo do artista.
sempre despertaram em mim um interesse par
ticular e grande admiração por suas quali-
II. o sÍMBoLo fascina o homem desde o sécu1o passado.
Quantas esperanças não foram projetadas pe
los homens nesta nova forma de viver, nâ
A trajetória do homem e da humanida- crença de que as grandes soluções do aten-
de registra inumeráveis propostas de cami- dimento às suas necessidades e bem estar
nhos que nos conduziriam ao encontro de estariam no conhecimento e no aprimoramen-
nossa criatividade, sensibilidade, emoções to da razão objetiva, ho triunfo da tecno-
e sentimentos. Caminhos que nos possibili- logia fÍsica? Esta expectativa não se con-
tariam compartilhar da grandiosidade da re creti zou.
Iação humana, do amor, da solidariedaaerdo
respeito e da liberdade que a vida coloca se modificou substancialmen-
O mundo
à nossa disposição. te. Para grande frustração dos adeptos des
tas esperanças, no entanto, verifica-se a
Estes caminhos constituem a busca persistência e mesmo aumento expressivo da
permanente de diversos setores da ativida- quantidade de moléstias mentais, da delin-
de humana. Ocupam o homem há milênios. Fi- qüência, dos crimes. o ócio e o tédio se
Iósofos, poetas, artistas, religiosos, PSi instalaram em maior amplitude, gerando cres
cóIogos, intelectuais de todas as corren- cimento dos conflitos existenciais e suicí
tes do pensamento se empenharam e conti- dios. A solidão, o desamor, a falta de so-
nuam se empenhando na busca de um meio que lidariedade e compreensão das necessidades
permita ao homem alcançar felicidade e ple do outro impregnam a sociedade. O bom, o
nitude. tolerante, o prestativo é visto como ingê-
nuo e sofre o escárnio do seu grupo. Pre
Nos tempos modernos, constata-se a domina o apróveitador, o manipulador que
enorme expectativa que a humanidade deposi consegue lucro e poder às custas do seme-
tou na chamada Era das Ciências voltada thante. Mais uma vez nos defrontamos com a
predominantemente para o Objetivo que necessidade de repensar o Homem. O signifi
)
)
)
) cado de sua busca, a permanente procura da Expectativas e esperanças se deposi-
) meta universal: a felicidade. Onde e como tam no aprimoramento da compreensão das cg
) descobrir novos rumos? Não será somente o racterísticas fundamentais da espécie humg
) desenvolvimento da tecnol-ogia e a incessan na. Tal vez respeitando-as estarÍamos res-
) te luta do aprimoramento das satisfações peitando a própria vida, encontrando provi
) físicas externas que trarão a solução. Ao veis respostas às nossas aspirações de hu-
)
contrário, constata-se a decepção e o qua- manização.
)
)
se incontrolável desastre com que este pro
), gresso essencialmente material nos faz con Pensadores de diversos ramos do co-
) frontar em certas áreas de atividade. Há nhêcimento estudam as relações e interrela
) uma crescente e veloz desuma nização do Ho- ções da situação individual e sócio-cultu-
) mem que sugere sua robot ízação, como já foi ra1, tentando explicar o comportamento hu-
) expresso por vários pensadores. O homem e mano, os processos que ocorrem, os proble-
) a sociedade devem se concentrar novamente mas intrínsecos de sua natureza e valores.
) numa reflexão sobre seu caminho e sua con- A abordagem desta questão novamente nos 1e
) dição humana. va a refletir e tentar compreender a capa-
) cidade humana do homem.
)
das caracterÍsticas do ser huma-
t Uma
no é justamente a capacidade de se rever, Antropólogos e biólogos, estudando
)
t de constatar sua moléstia, de perceber e, desde os mais remotos rastros paleontológi
) por seu poder criativo, desenvolver novas cos, pâssando por todo o caminho da evolu-
) possibilidades que reavaliem a si mesmo. ção anatômica e fisiológica, não consegui-
) Esta é uma questão amplamente discutida, ram encontrar o fator orgânico responsáve1
) que estimula a ref l-exão. Certamente, nossa por esta condição. Sabe-se, Do entanto, que
forma de lidar com a própria vida encontra no decurso de milênios se sedimentaram cer
-
ressonância nestas constatações. tos traços de comportamento que passaram a
-)
distinguir o homem dos outros animais. Aí
f9
-
nos confrontamos, de início, com uma carac viver, de se relacionar, e de se comunicar'
terística básica, guê é cultura, di ferente o desenvolvimento da linguagem foi um ele-
de qualquer mani festação de organização mento propulsor para atingir as demais si-
constatada em algumas espécies animais. tuações. Para este desenvolvimento, por sua
vez, foi indispensável a existência da ca-
O que é cultura? O interesse Pelo pacidade criativâ r através da qual cria-
mundo, âs necessidades de sociabilidade e ram-se os sistemas de símbolos constituti-
de comunicação? Em catdas Aulete Lemos: vos da Iinguagem- Por conseqüência, desen-
"Cultura desenvolvimento que se dá por volveu-se a cultura, esta relação com o
cuidados assíduos às faculdades naturais . . - mundo dotada de significado e que, organi-
(sociol. ) o sistema de atitudes, institui- zada, transmitida e compartilhada com o ou
o'
e valores de uma sociedade"
2' tro, é passada à descendência
ções
-!
como "animal symbolicum" em lugar de consi A capacidade de simbolização, certa-
6- Numa mesma mente, é estudada sob óticas peculiares e
derá-Io "animal rationale"
abordagem, Bertalanffy ' "" expressa dizeg enfocada diversamente pelas diferentes cor
do que o homem vive em um mundo simbóIico, rentes do pensamento. Este trabalho se 1i-
sendo o mundo objetivo a materialização des mita ao universo simbólico da psicologia e
ta atividade simbóIica. De acordo com Ber- às suas atividades Iigadas aos mecanismos
talanffy os sistemas simbólicos criados pe que formam a personalidade. É necessário
1o homem passam a integrar a cultura t @, ressaltar que estes processos, êffi geral,
no decurso da sua evolução, criam caracte- se fazem no plano inconsciente. Assim, o
rísticas de concretude. Uma vez atingida a simbólico é uma criação básica ligada à es
condição ,ce ob jetivação, estes sistemas sim truturação do Ego, o centro da personalida
bólicos, €ffi função de sua dinâmica própria, de consciente I o "eu" de cada um de nós,
imanente, podem eventualmente propiciar cil com o qual estamos identificados em certo
cunstâncias e tensões que atingem o pró- tempo e em certo espaço-
prio homem que os criou e passam a atuar
mais potentemente que os próprios símbolos, Do inconsciente se origina, trâ con-
pessoais. Isto pode gerar conflitos entre cepção de c.G. Jung, todo o universo simbó
a consciência individual e os valores sim- lico do qual provém a cultura e o sistema
bóIicos culturais. Partindo de conteúdos de viver do homem. Foi partindo desta com-
subjetivos que se transformam em realida- preensão que se desenvolveu o pensamento
des pelo processo da materialização das da psicologia lunguiana e a criativa con-
concepções, podemos chegar a situações trá ceituação do inconsciente coletivo inato,
gicas, a nível social e pessoal, através de patrimônio comum a todos os homens 't De
conf l- itos devidos a conf rontos ideológicos acOrdO com este autor, Do inconsciente Co-
ou dos mundos simbóIicos, como a história Ietivo estão os instintos e os arquétipos,
prova fartamente
8
- conteúdos inatos universais. Para C'G'
a
?
,,
? Jung
to os i nsti ntos têm características com volvimento da consciência. segundo E. Neu-
?
? pulsivas e se repetem de forma regular e mann, o desenvolvimento da consciência in-
dividual passa pelos mesmos estágios arque
uniforme, como impulsos que provocam ações
?
V oriundas de necessidades internas. os ar- típicos que determinaram e determinam o dg
senvolvimento da consciência coletiva. A
?
?
quétipos, igualmente portadores de caracte
rísticas coletivas, UDiformes e regulares, consciência egóica, ontogênica, evolui pas
sando pela ação da série de imagens arque-
?
?
representam fatores determinantes do desen
cadeamento dos processos psicol ógícos e, típicas que a estruturam, €xPerimentando
? ao gerarem as imagens simbólicas, levam for
ças primordiais para uma elaboração, am-
uma renovada e contínua relação com os ar-
quétipos.
pliação e adaptação da consciência ao mun-
7 do externo. Assim, os arquétipos se consti
tuem nos fundamentos estruturais da nossa
O conhecimento dos estágios arquetÍ-
picos do desenvolvimento da consciência cc
personal idade. letiva traz uma nova e melhor visão do de-
V senvolvimento da Humanidade, da religião,
Erich Neumann, no seu livro "The Ori da antropologia, do comportamento dos po-
gins and History of Consciousness" " , faz vos e dos conflitos vividos pela sociedade.
E
Quando estas estruturas culturais, Ia consciência, e que pode levar à trans-
religiosas ou políticas, se tornam autori- formações huma nízadoras e enriquecedoras
tt
tárias e rígidas, podem conflitar com o de de nossa qual idade de vida .
senvolvimento do indivíduo, 9u€ se faz a
partir de sua fonte arquetípica. Uma perso Ao lado dos inúmeros arquétipos que
nalidade rígida e autoritária por sua vez, vão estruturar os padrões de consciência e
pode conflitar com estruturas culturais e comportamento, pelo processo de apreensão
sociais que se baseiam no respeito ao inte e elaboração simbólica, está a anima'
resse coletivo. Ainda para E. Neumann, no-
vas e melhores possibilidades de vida po- Quando o homem se fixa num estado de
dem advir de um relacionamento adequado en comportamento excessivamente rígido, Seve-
tre a consciência individual e coletiva, to t categórico, inflexíveI, que caracteri-
r6
ll-
?
L' respeito. A nível social, é sabido que os
l- III. A CRIAÇÃO ARTÍSTICA
movimentos artÍsticos neste caso a pin-
h
á
tura precedem acontecimentos de profun-
lr,a A criação artística é uma manifesta- da transformação da humanidade, como se a
lrra ção arquetípica. O artista, a par com o ca sensibilidade artística captasse antecipa-
b
b
nhecimento da técnica, do bom manejo de
seus instrumentos, através dos quais mate-
damente o clima de desenvolvimento das ex-
pectativas coletivas e dos caminhos dos ho
lâ ria )-tza sua criatividade, âPresenta na mens. Vemos através da história como os ar
lú criação uma manifestação emocional intensa, tistas antecederam aS grandes reformas so-
F oriunda dos planos mais profundos de sua
psique, mobili zando aspectos conhecidos e
ciais e polÍticas sem serem soció1ogos ou
políticos, mas apenas sensíveis às emoções.
lr,a
desconhecidos. Às vezes, os conteúdos des- E o ftzeram através de revelações de um
t mundo inconsciente onde reinam símbolos uni
t sa criação carregam a experiência existen-
t cial do autor, seus sofrimentos, traumas,
conflitos, â1egrias, os momentos especiais
versais enraizados no mais remoto passado,
e que orientam o processo de transformação
ll.
ll. de sua vida. Outras vezes, porém, o artis- espiritual.
h
n
tâ, dominado por intensa emoção, manifesta
imagens que fazem parte não apenas dele, Ao lado de outros movimentos políti-
L., como pessoa, mas do próprio desenvolvimen- cos, culturais e sociais, a arte deste sé-
P
)
12
,
)
)
) para o alquimista quanto para o surrealis-
) calmente diferente, QU€ permitiu aos artis
ta o valor evocativo predomina sobre o va-
a
?
tas darem forma àquilo que até então era
inexprimíveI. Sua técnica e procedimento 1or estético. Não está o opus profundamen-
9 permitem a manifestação da profundidade do te ligado ao desenvolvimento da personali-
lJ inconsciente, o que implica numa atitude e dade do adepto ou do artista, colocando
?
?
numa visão cujas raí zes transformadoras têm
grande identidade com a filosofia alquími-
suas imagens interiores na obra? Não se nu
trem e se inspiram todos da mesma fonte
t- ca. Nota-se uma ânsia por mudanças e ruptu o inconsciente operando os conteúdos no
?
4 rasdepadrõeseformastradicionais.As
transformações na personalidade e na socie
sentido da individuação, expressando' Do
caso do pintor, artisticamente, genialmen-
?
4 dade a partir da liberação do espírito cons tê, o caminho do homem na busca do seu aprl
moramento e desenvolvimento? A obra refle-
b
?
tituem o "opus alquímico", como C'G' Jung
demonstrou. É assim que Bosch, tido como te a experiência vital do adepto e do ar-
um importante alquimista de sua época ' é tista, a transformação do Homem pelo seu
a
|,
também considerado um precursor do Surrea-
Iismo. A riqueza iconogtárica dos manuscri
próprio gênio, na relação entre sua unici-
dade e a matéria. É um meio poderoso de ex
pressar o confronto Com a matéria, evocan-
? tos alquímicos indica como a imaginação aI
química prefigurou o surrealismo' Nestê' do através dela a própria totalidade. Meio
1r,
encontramos as fases do opus especial- que também revela que a relação com o uni-
menteoputrefactioeoconiunctio revi verso deve começar pela relação consigo
E' vidos no pensamento moderno. configura-se
17
p
mesmo
VI,
!la
- do alcance do conhecimento científico, apro Por outro lado, o Processo criativo
)
â ximando-Se mais da natureza e da vida, li-
ao Ser considerado uma reaLtzação cultural,
gando-se ao destino e a realidade viva. Ét aoseapresentarcomoumaatividadeprodu-
uma manifestaÇão às vezes caprichosa' mís-
tiva ordenada, expressa também uma cons-
tica, revelada nos mistérios, podendo cho- ciência patriarcal, estruturada pelo arqu§
car uma mentalidade idealística. É o arqué tipo do Grande Pai, Dêste caso considerado
tipo da Grande Mãe que neste caso se mos- por sua polaridade positiva' O artista' âo
tranasuapotencialidadecriativaegerm]. reconhecer um chamado e passar a exercer
nadora, que concebe de forma velada e mui- sua habilidade e discriminação, âo mobili-
tas vezes sofrida, num ato de frutificaÇão, zar sua capacidade clarificadora' na verda
equeseacompanhadeumaintensamobil-tza de está reaLtzando uma síntese' tida como
ato positiva, das consciências matriarcal e pg
ção afetiva. o entendimento é antes um
de sentimento. É uma situação psíquica on- triarcal, entre a capacidade receptiva, ger
de predomina a abertura para os conteúdos minativaeaformativarrêflexiva'Acom-
plementari,cade destas consciências repre-
do dinamismo matriarcal, que tem uma atua-
que a senta a total idade , âti ng ida pela união
ção eficaz e significativa, s€ bem
maior parte das vezes oculta' Impregna nos dos opostos. É a síntese criativa ' fertili
sa personalidade com revelações' mensagens zadora, transformadora " '
e significados oriundos mais do domÍnio
dos Deuses do que da racionalidade, das
idéias, do intelecto. Para C'G' Jung a ani
ma está ligada à Grande Mãe, podendo desen
cadear atuações psicológicas matriarcais e
processoscriativos.PodeconduzLradife-
rentes situações emocionais, às vezes in-
controláveis- Se liga, ffiuitas vezes' à sa-
bedoria e, em geral, exerce um fascínio es
pecial.
14
)
a
a
a ry- A LIToGRAFIA DE ocrÁvto ARAUJo formar em outras, despertando a vida sim-
a bóIica.
a
a base nesta aPreciação sobre o A litografia foi por O'A' de
chamada
a É, com
,'meditação sobre a permanência da ansieda-
a artista que resolvemos enfocar o trabalho
de". Que significa? Meditar sobre a perma-
a de Octávio Araújo.
nência da aflição, da emoção opressiva'
a
a NeIe buscaremos encontrar o caminho constrictiva? Este estado emocional, sabe-
a prospectivo da criação que ativa em cada mos, ProPicia a introversão, a introspeção
a um o próprio processo transformador obtido
e a oportunidade da identificação de insa-
a pela experiência existencial ' Interessa tisfações com as quais é difícil e não que
a aqui abordar o sentido da obra ' o supra remos conviver. Ao meditarmos sobre isto'
a pessoal, que pode forjar uma reorganlzação sobre o vazio que vai em nós, Pâssamos a
a criativa, quer do indivíduo quer da socie- aspirar uma mudança ' uma saída, uffi novo ca
a dade. Visamos essencialmente a relação es- minho, uma libertação. O estado de "perma-
)
nência da ansiedade" e a meditação favore-
a pectador-obra: temos a obra tal como execu
cem a mobilização dos conteúdos mais
pro-
tada pelo art i sta e a obra que nós vemos''
-
) na qual vamos buscar a força incorporada fundos do inconsciente. Podemos entrar em
) aoobjetoartísticousandoosmeiospsico- contato e nos defrontar com oS componentes
lógicos, captando os sinais que nossa per- sombrios, reprimidos, identificar ambigüi-
-
) cepção recebe, estes distúrbios que se es- dades, di ficuldades, confrontar os mons-
a tabelecem em nós quando contatamos os con- tros internos, Possibilitando a abertura
)
teúdos expressos, atribuindo a eles signi- da consciência aos símbolos que provêm dos
a ficados pessoais, mobilizando nossa expe- arquétipos. Este estado de espírito ofere-
â
riência com a realidade' Passamos a ver ce uma disponibilidade para a elaboração
) destes símbolos e a ampliação do conheci-
) coisas que dizem respeito a nós. coisas que
mento de nós mesmos. Provavelmente passare
) não são absolutas mas que podem se trans-
)
4
F
P
15
6
P .ru
l)
l,l)
a\t
N
ti\
P )r
?
?
?
ta
?
l-
a
l-
F.
ta
D
b
n
l-
b
D
::vf
'
r .,',f
..\rü
.rir
1
irrr.
l-
l-
-
t-
lt-'
?
p
t-
b
tb
licas exercem. As trevas, âs sombras, as ções simbólicas não podem ser apenas senti
luzes, são conteúdos psíquicos que parti- das . Devem, até certo ponto, ser ampl i f ica
cipam de uma composição. os objetos ultra- das, âssocíadas, elaboradas, para passarem
passam os seus limites aparentes e se im- a integrar e ampliar a consciência. O con-
pregnam de signíficados maiores do que sua junto expresso na gravura perde seu cará-
forma visuaLtzada. Este conceito bastante ter de substância e se transforma em ex-
conhecido evoca a expressão alquímica do pressão simbólica na qual encontramos os
espírito da matéria, QU€ estaria nos obje- conflitos entre conhecimento e crença, a
tos inanimados, Do ouro, hâ pedra filoso- profunda cisão entre a natureza e mente, ê,
fal. Em termos psicológicos, este espírito conforme C. G. Jung, entre inconsciente e
é o inconsciente 'o. consciente, a dissociação patriarcal. São
l.
?
17
p
a
? estes cont rár ios que caracteri zam a situa- do inconsciente, e anunciam nossa ligação
com os conteúdos mais profundos, tanto do
n
lr,l
çao pslqur-ca que aqui se expressa.
lt
l.? pa zes
Encontramos nesta gravura animais ca
de viver em dois meios, na terra e
no àÍ, como moscas, vermês, caramujos, mi-
é garantir um lugar na ordem estabelecida,
que por sua vez é dominada por rígidos pa-
drões culturais e sociais, sem condições
L-
- nhocas, serpentes, representações simbó1i- de integrar as mensagens simbólicasr âs for
l.l) cas que vêm das prof undezas da llãe Terra, ças criativas que transformam e podem apon
IU
tar para novas direções. Assim, o tempo não caduceu de Hermes. A serpente é uma conhe-
7
?
é sempre um conceito abstrato e guantitati
vo, de divisões iguais, voltado para o Ia-
cida imagem simbóIicade transcendência e
de conscientízação. É a imagem que expres-
?
n do prático e eficiente de realização e adap sa o poder terapêutico de Esculápio, 9u€
penetra no mundo desconhecido e conhecido,
l) tação, numa linha patriarcal de ideação e
produtividade. Existe também o tempo quali buscando uma mensagem de libertação, de cg
?
n tativo que tem ritmos e mudanças de dife- ra. As duas serpentes do caduceu podem re-
l.
n
rentes propriedades, períodos favoráveis e
de desventura, crescentes e de carência,
presentar dois princípios opostos, duas p9
laridades, opostos que devem ser unidos , o
a
?
tempos de semear, crescer, amadurecer e co
ther, tempos de êxitos e fracassos, de sa-
poder de atar e desatar, o bem e o mal , fo
go e água, ProPondo assim a necessidade de
2 grado e de profano. A periodicidade da na-
tureza, as variações emocionais, os perÍo-
equilíbrio e a busca da transformação. É o
emblema de Hermes, o grande condutor ao
dos de espera necessários para as transfor mundo subterrâneo e ao espiritual - Nos es-
mações. Todos estes atributos qualitativos tudos de K. Kerény " encontramos Hermes ca
apresentam uma identificação matriarcal, o! mo o Deus grego que se mostra expressando
de o entendimento é mais uma frutificação, as alternativas que a vida oferece - Ét um
um nascimento, uffi brotar, do que uma mani- mediador dos opostos, às vezes com resulta
festação racional e intelectual - Este tem- dos imprevisíveis. Não é um herói, porém
po é sempre singular, individual, e nele sempre encontra uma solução criativa para
germina a criatividade que, âo final e no oS confrontos. Possui um componente tricks
t' ter. Encontros e descobertas fazem parte
devido momento, desabrocha .
? Deus fálico, seu bom relacionamento com a contato com a luz, a coruja entrará em con
L.
-
l- mulher é fartamente citado em diversos mi- tato também com a anima, a vida. A sabedo-
l- tologemas. Secretas tradições gregas o re- ria que representa terá oportunidade de se
ampliar e enriquecer.
a
n
lacionam ao primordial comportamento femi-
nino. É um perfeito mediador entre a vida
L. e a morte, o dia e a noite, o consciente e Ocupando a posição central e tão mo-
l- o inconsciente. Por sua natureza ligada bilizador da atenção do observador quanto
t aos acontecimentos imprevisíveis, é asso- o corpo da mulher, vemos o busto masculino.
f-
p ciado ao fenômeno da sincronicidade, YêIa-
ção ainda desconhecida entre a psique in-
Com o pedestal e o vaso com uma flor, cons
titui o conjunto principal da gravura. Que
-L- consciente e a matéria. Foi assim que C.G. figura patética ! Como fala ao nosso afeto
Jung denominou esta conexão indefinida e e ao nosso sentimento.- Todo de pedra, duro,
inexplicada. É uma coincidência significa- r ígido, sombrio, poderoso , traz no perfi I
tiva entre acontecimentos externos e inter a expressão do tirano inflexível. É só ca-
nos que não guardam entre si relação cau- beça e parte do tronco: racionalidade fria
saI. As resultantes destas relações são men e absoluta. Seu maciço de pedra unido ao
sagens expressas simbolicamente e que qua- pedestal mantém aprisionada a mulher. É um
se sempre acompanham fases cruciais do pro con junto compacto , sól ido , a transpassar o
cesso de individuação'o. ventre feminino. Há um buraco ôco aberto
em forma de arco onde se abrigam o vaso e
Em nossagravura, o bastão ocupa uma a flor. Isto atenua o peso da coluna de pe
posição especial. Ao manter entreabertas as dra, sugerindo que ali, no lugar do abdô-
cortinas, permite a entrada da luz que ilu mern, êxiste um receptácuIo com capacidade
mina a coruja, mais uma representação ima- de conter a vida, a flor, o útero que tem
gética que pode expressar a ambivalência a capacidade de procriar, do novo. As figu
representada pela sabedor ia e também pe,la ras masculina e feminina, ocupando a posi-
escuridão da noite e a morte. Ao entrar em ção vertical e horizontal, parecem disso-
9 20
?
?
?
?.
ciadas, incompatíveis, inconciliáveis. se faz ao elaborar os seus conteúdos s lmbo
licos, interagindo juntamente com as man].-
a
â
l) Vamos nos concentrar no busto mascu- festações simbólicas dos arquétipos mobi I i
b I i no . Já ident i f i camos alguns atributos que z
-25
aoos
?
?
ele nos transmite através da observação do
seu perfil. A este perfil, guê expressa o fdentificamos acima uma Persona es-
n Ego para o mundo externo, denominamos Per- truturante , i nstrumento de uma adaptação
b
b
sona, pâlavra grega que signi f ica Ivláscara.
A Persona é, segundo C. Byington e outros
social. De outro lado porém, ela será con-
siderada altamente negativa se vier a se
a
?
autores, uma estrutura arquetípica que es-
tabelece a forma com que nossa personalida
tornar defensiva, dificultando ao Ego a
elaboração das expressões simbóIicas, trans
de se coloca perante a sociedade, buscando formando-se em instrumento do aprisionamen
F
-
sua adaptação e identidade. É uma estrutu- to da anima e obstruindo a individuaÇão.
b
- ra arquetípica pára-egóica e que tem seus
l.?. conteúdos interagindo dinamicamente com a
consciência. Está submetida à influência
A Persona nrr" identi f i camos neste
busto é predominantemente patriarcal, in-
i- de interação do indivíduo com seu ambiente
físico e social, absorvendo as experiên-
flexível, r ígida, euê impede uma vivência
simbólica plena e, assim, se expressa ape-
a
- cias de um mundo dinâmico e adaptando esta
realidade às suas próprias necessidades e
nas pelos aspectos tidos como negativos,
que se amoldou e identificou com os padrões
l)
-
aos seus próprios valores. Expressa as con rígidos da cultura, do tradicionalismo es-
l- cepçÕes que o indivíduo tem de sua relação tagnante, e está perturbada por sofrer os
a
n com o ambiente fÍsico e social, relação con
tínua com a cultura e que estrutura perma-
distúrbios deformadores oriundos de sua
transformação em mecanismos de defesa. É'
a
t- nentemente a personalidade. Desta forma par
ticipa da incessante estruturação do Ego,
uma Persona defensiva de padrão patriarcal
e que se contrapõe à an ima tt
acompanhando a ampliação da consciência que
M o \
21
7)
-
)
) Uma persona exageradamente condicio- A Sombra patológica, Por sua vez, contém
- nada pela influência e atuação dos mecanis os símbolos que não chegam à consciência,
) mos de adaptação social e cultural pode por terem sido rejeitados ou reprimidos pg
) Ios mecanismos de defesa,
manter a anima aprisionada, impedindo a ela
- boração e integração dos símbolos que pro-
)
cura manifestar. Ao invés de integrados, Os símbolos que estão na Sombra nor-
)
) estes serão rejeitados ou reprimidos pelas mal ou na patológica se expressam indiscri
) defesas, estruturas arquetípicas ativadas minadamente, levando a inadequações que es
u
)
quando um símbolo constelado ameaça a esta
bilidade do Ego. A defesa se apresenta co-
capam ao controle do Ego, afetando o ajus-
tamento social e, muitas vezes, o bom de-
) mo estruturada e adaptada ao funcionamento sempenho no relacionamento com o Outro - Is
) da personalidade, ffi€smo que inadequado, e to marca profundamente a personalidade e é
) paralisa a elaboração simbóIica. Em tazão um dos mecanismos que atuam na dinâmica Som
) da defesa, o símbolo passa para a Sombra bra-Ego-Persona perturbando a adequação -
- sem ser elaborado ou absorvido pela cons- Quando o símbolo que está na Sombra encon-
- ciência. A Sombra é outra estrutura arque- tra conteúdos da Persona que se contrapõem
)
típica que, como a Persona, tem seus con- a ele, a Persona pode atuar de forma defen
- teúdos interagindo com o Ego siva, racional, dentro de padrões conven-
- cionais e por vezes destrutivos. É o caso
t'
?
-
p
C. Byirrgtor, conceitua a Sombra nas
formas normal e patológica. A Sombra nor-
da Persona patriarcal defensiva.
a
?
mal contém símbolos que poderiam ser cons-
cientes, por representarem expressão de ar
Sob o aspecto terapêutico, como assi
nala C. Byington", esta diferenciação é
?
n quétipos mob l_l-:-zados no eixo simbólico, mas
que, por circunstâncias ocasionais ou pelo
muito importante. No caso da Sombra patoló
gica, é necessário trabalhar antes com as
a
? momento existencial, não conseguiram ser estruturas defensivas, para daí, Dâ maior
parte das vezes, possibilitar a elaboração
elaborados e assimilados pela consciência-
?
p
l,
3 22
La
?
9
-) s . No caso da sombra normal , a
imbóI ica personalidade tem por valores primordiais
consciência terá possibilidade de assimi- o poder, o sucesso, a dominação e, em ge-
lar o símbolo ao confrontar-se com as si- ra1 , defensivamente, subjuga os conteúdos
tuações existenciais gue obstacularízaram simbólicos das demais dimensões simbó1icas
tal elaboração. que deveriam ser considerados com o fim de
estruturar uma personalidade criativa e in
rejeitados e reprimidos
Os símbolos tegradora. Uma das conseqüências disto é a
vêm a constituir em grande parte um lado permanência de símbolos da anima na som-
.30
obscuro, indesejado e ameaÇador, onde va- bra
mos encontrar os componentes de nossa per
sonalidade que não correspondem aos pa- Vejamos agora a figura da mulher, co
drões idealízados na relação Ego-persona, rno representação s imbóIi ca da an ima . Cont i
que não obedecem às regras determinantes da nuamente, surgem contribuições importantes
sociedade e da cultura regras impostas, que buscam uma ótica amplificada do seu pe
com as quais o Ego se reveste, ficando, de pel estruturante da consciência e do desen
fensivamente, incapaz de enfrentar os sím- volvimento da personal idade, portanto, do
bolos que a elas se contrapõem. processo de individuação. Muitos trabalhos,
baseados nas transformações atuais da con-
Dessa maneira, vemos as polaridades ceituação de feminilidade e masculinidade
PersCIna e Sombra interagindo dinamicamente decorrentes de novas características so-
com a consciência, como Carlos Byington no ciais e culturais de nossa época, buscam,
ta em seu trabalho t'. dentro das bases da psicologia junguiana,
ampliar e clarificar os conceitos de anima,
figura masculina da gravu
No caso da e , igualmente , de animus , a parte mascul i -
rà, identificamos uma persona que se fixou na da psique da mulher, como conceituou C.
no dinamismo patriarcal do desenvolvimento G. Jung.
da personalidade. Assim estruturada, uma
la
)
)
Na gravura, identificamos o aprisio- humana entre o corpo e a cabeça. A máscara
- tem uma significação simbóIica importante,
) namento da mulher pelo que vimos expressar
o patriarcal defensivo. Está deitada em p9 pois, psicologicamente, transforma seu por
-
- sição de sono, de sonhos e de inconsciên- tador em imagem arquetÍpica t' . Encontramos
) cia- É um corpo nu, bem formado, de linhas seu uso, através da história, em diversas
- sensuais, com colares e pulseiras, adornos e di ferentes culturas , representando an i -
- sugestivos da sedução feminina. Nota-se mais e seres humanos que se tornam objeto
- uma eompleta dissociação entre os segmen- de veneração dedicada aos deuses e demô-
- tos superior e inferior do corpo. o tronco nios. A expressão do indivíduo desaparece
- está de frente para o observador e o seg- e, ao usar a máscara, adquire a representa
- mento inferior está voltado para o sentido ção arquetÍpica, guê é como vemos esta fi-
- contrário. É uma cisão deformadora do cor- gura. O uso das máscaras no teatro Nô, nos
-
po, do feminino, manifestando mutilação, dramas japoneses, e no teatro grego antigo
-
distorção, a ruptura a gue esta imagem ar- tem esta conotação de separar o personagem
-
- quetípica está aqui submetida. Detalhes que do ator. Na mitologia, encontramos farta-
- chamam a atenção são a máscara sobre o ros mente tal forma de expressão, como Ganesha
- to e o pescoço, gu€ parece ser um toco de na mitologia indiana, o Deus da sorte, QU€
madeira. Este corpo repousa sobre um peda- tem corpo humano e cabeça de elefante, ani
,a
-
mal que representa prudência e sabedoria.
ço de madeira antiga, tosca, em estado na-
-)- tural, não trabalhada, o que provoca a A máscara se refere psicologicamente ao no
idéia de representar um níve1 primitivo e vor misterioso, âo imprevisÍvel, que se es
- não-elaborado do inconsciente, ainda não conde por trás dela e que é a própria psi-
- submetido a um condicionamento cultural ex que inconsciente as forças primordiais
- pressando a possibilidade de crescimento e que trazem consigo o desconhecido e, por
?
-
de desenvolvimento da vida psíquica. O pes
coÇo de madeira, por sua vez, sugere a ne-
isso, ameaçador. O ser humano ergue barrei
ras psicológicas para proteger-se do cho-
p
-
I
cessidade de uma ligação mais integrada e que das inovações. Desta forma, tende a re
l-
-
t,
24
jeitar o criativo, o transformador. A ani- Anima é a vida, vive por si mesma e nos
ma é o guia destas inovações e é aqui man- faz viver . É o vegetativo, ú*ido, recepti -
tida aprisionada defensivamente. vo, ambígüo: a encontramos no mistério das
uniões . J. Hi llman é um dos autores QU€ ,
Anima é aIma. É de definição comple- como M. Muszkat em nosso meio 'o, colocam a
xa. É o psicopompo do arguétipo central ", anima como um arquétipo que pertence ao
seu guia, e aí se assemelha a Hermes. É mundo interno do homem e da mulher por in-
também chamado o arquétipo do inconscien- fluenciar os processos psíquicos indepen-
tê, o representante da natureza psíquica. dentemente do sexo, libertando a anima e o
Ela não possui concretude, é etérea. Nos animus de suas funções explicitamente con-
liga à natureza e às coisas que estão em trassexuai s . Na vi são destes autores, se-
volta e que provocam nossa emoção. Acende riam, âssim, arquétipos estruturantes igual
a chama interior e ilumina. Ela nos aciona mente da personalidade do homem e da mu-
para a meditação e para as transformações. ther. Carlos Byington, Por sua vez, concei
C.G. Jung se refere à anima como uma fun- tua os arquétipos da anima e do animus co-
ção de relacionamento pessoal e coletivo, mo portadores de suas bipolaridades, igual
mediadora e psicopompo, tanto nas relações às bipolaridades de todos os arquétipos.
positivas como nas negativas. No trabalho Assim, a anima constelaria no homem os po-
de J. Hillman tt encontramos mais os seguin los da bi ssexual idade s imbóI ica , da mesma
tes atributos. É ponte para tudo o que é forma que o animus o faria na mulher, fi-
desconhecido. À anima também é atribuída cando portanto preservadas as diferenças
nossa relação com os mistérios, com o pas- entre o homem e a mulher tanto genética
sado arcaico. Ela tem o papel de boa fada, quanto arquetipicamente. A anima e o ani-
feiticeira, prostituta, santa. Está asso- mus se expressariam desta forma, Por mani-
ciada a animais pássaro, tigre, serpen- festações simbólicas ligadas ao sexo opos-
te. Desencacleia os processos psíquicos, âs to e também pelos do mesmo sexo, através
fantasias, os humores, os afetos, o amor. de suas polaridades arquetípicas tt.
b Z5
a
a
-
?
Ainda segundo J- HillmanI a anima,
por ser guia da psique inconsciente e por-
minações como para a floresta vivificante
da elaboração de seus símbolos pela cons-
n
lâ tanto desconhecida, nos faz assumir atitu- ciência . É na integração dos confl itos ,
des inconscientes muitas vezes fora dos pg das confusões, do sofrimento, dos sentimen
a
? drões considerados adequados pelo Ego. Com tos, dos eventos, das idéias, das imagens,
que ampliamos nossa consciência. Portanto,
? ela entramos no terreno dos Deuses, do má-
gico, do perigoso e do proibido. são situa é o arquétipo da consciência e também I o
2 ções que precisam ser elaboradas, para que arquétipo que medeia a inconsciência ' É
J. Hillman quem prossegue afirmando que
possam ampliar a dimensão dos sentimentos
e dos sentidos, ensinando-nos o que não sa "antes de Sermos Conscientes é preciso Sa-
bemos. Ela não está isenta de poderes ne93 ber que somos inconscientes, e onde' quan-
tivos, destrutivos. Ela nos aciona por via do e em que extensão" "Vivenciar a al-
arquetípica, independentemente dos crité- rpâ r ne ste contexto , é nada ma i s gr and i oso
rios morais. Atua apenas pelas forças da que o humilde reconhecimento do arquétipo"
natureza. Pode agi r nos despotencial i zando "É preciso a percepção, a leitura das
através dos conteúdos do próprio incons- suas imagens e captar o mágico de suas men
ciente coletivo, Por fantas ias , pro jeções , sagens "
emoçÕes que transformam o consciente do in
divíduo. Pode nos levar a confrontar e mer Nossa gravura oferece também outros
gulhar no pantanoso e lamacento mundo in- elementos que estimulam a imaginação e Ie-
consciente . Pode mi sti f icar a exi stência e vam a buscar um maior entendimento da pos-
nos CanaLtzar para aS águas das incertezasl sibilidade transformadora dos processos psí
das ambigüidades e do mundo oculto " ' quicos. No quadrante inferior esquerdo, há
um amontoado de pedras rústicas no qual ee
Assim, a anima, como mediadora do tá encrustado um pedaço de madeira com a
desconhecido, tem a possibilidade de nos Ietra T. O conjunto sugere um túmulo. A pg
conduz:rr tanto para o lodaçal das indiscri dra tem um significado simbólico de totali
dade e continente das forças vitais- Para téria, a essência da matéria- A operação
os alquimistas, o segredo da vida estaria ou opus é parte de um processo de transfor
encerrada na pedra filosofal. Encontrá-Ia mação. Lidando com a matéria, os alquimis-
era a razão e o objetivo de todas as opera tas desenvolveram todo um pensamento filo-
ções transformadoras. A pedra, âssim , Yê- sófico que buscava a essência da vida, uft
presentaria a essência mais pura I a exis- valor maior para a existência- Através da
tência mais profunda e a própria psique hu transformação da matéria, o alquimista bus
mana. É um símbolo do Self. O túmuto pode cava o sagrado, a Luz, o tápis, a pedra fl
representar o ventre da Terra e da Grande Iosofal que conteria o segredo da vida - É
Mãe" É associado à morte, à ressurreição e um processo lento e paulatino que exige pg
aos processos de transformação e criativi- ciência , dedi cação, abnegação, coragem, tra
dade. É na quietude, Dâ escuridão oculta, balho, perseverança e esperança-
misteriosa, guê estes processos acontecem
sem que nada se deva ou possa fazer - Se Ao se decomPor, a matéria nos Permi-
Z
t orientam mais por emoções e intuições que te acompanhar o processo de discriminação
por razões e julgamentos. dos seus componentes. Verificamos que o
L. aparentemente sótido e Ienhoso se fragmen-
t
t Do outro lado da gravura há uma re- ta. Tudo deve ser revisto, reconstruído, re
feito, ampl iado. No processo, entramos em
L. presentaÇão simbólica semelhante. Um frag-
L. mento de madeira, uma tábua, sobre a qual contato com os vermes e os insetos, humo-
L. estão alguns objetos uma faca, uffi livro res, âflsiedades, sofrimentos, angústias e
L. e uma cabeça de aIho. Sobre esta tábua tam depressões. Há mudanças de rumo, desespe-
bém se vê vermes e insetos, o que sugere rança , ê, algumas vezes, somos presa do ds
E que a madeira está em putrefação- Na alqui sânimo e da sensação de fracasso.
mia, uma das fases do processo alquímico é
a putrefactio. É' uma operação que procura, O autor da gravura oferece outros o!
pela decomposição, o encontro da prima ma- jetos para se executar a mesma obra trans-
lt 27
?
?
?
p formadora. A faca pode representar um ins-
trumento de discriminação. Com ela disse-
cado mítico, altamente difundido na cultu
ra popular brasileira. Possui o poder mági
?
n camos e buscamos os meandros da personali- co de proteger o advento de acontecimentos
favoráveis ao indivíduo. É o poder anímico
La dade, identificando as partes que compõem
b
l)
nosso ser. À medida que entramos em conta-
to as vivências, experiências, QUê nos
com
da matéria, a força sobrenatural e trans-
cendente que incorpora os mistérios da vi-
La confrontamos com os símbolos da Sombra, e da. Ao representar o imponderáve1, imprevi
a
n
que pudermos discriminá-los, haverá a am-
pliação da consciência. Nos planos profun-
sível, inexplicáve1, que também pode ser
visto milagroso, sobrenatural, mani-
como
l) dos de nossa personalidade, encontraremos festação dos Deuses, o alho expressaria
ta os conteúdos muitas vezes determinantes da igualmente o fenômeno da sincronicidade co
l) forma de ser, sê comportar e se relacionar mentado anteriormente. É o reconhecimento
l) com o Outro. do acausal, que muitas vezes tem um papel
l) fundamental na vida. São acontecimentos gue
l) Próximo à faca está o livro. Este Po não têm conexão com os conhecimentos exis-
L.
ti
l)
de expressar a possibilidade de aumento do
conhecimento, da ampliação da consciência
tentes, que não podem ser explicados pelo
princípio da causalidade e que determinam
l- na procura de uma vida mais abrangente e com freqüência rumos imprevisíveis ao des-
l) de novos valores. É a busca da sabedoria, tino.
L. a revelação, o ensinamento, a tentativa de
l- alcançar o desconhecido e resgatar o perdl A faca, o I ivro e o alho são três ob
b
l)
do. A procura da verdade. O Livro da Vida
é uma conhecida alegoria e nele, sâbe-
jetos operativos que sinalizam um outro
instrumental para as transformações e que
b
? mos, sê inscreve o destino de cada uffi, o
próprio caminho.
se identificam com o processo psicoterápi-
co onde a sincronicidade se soma à discri-
|) minação para, âo final, sê alcançar a am-
?
? O alho, por sua vez, tem um signifi- pliação da consciência.
l)
t,
?
?
28
?
? G. Jung assinalou as semelhanças plar e então absorver e elaborar as suces-
?
n
C.
entre o processo psicoterápico e o da indi sivas imagens, sensações, emoções, também
adquire um precioso conhecimento de suas
L. viduação com a seqüência das operações aI-
l) químicas. percorrido o caminho discrimina- potencialidades. Com o devido tempo, Pro-
gressivamente, se fortalece e se enriquece
L. tório, podemos regomeçar e reconstruir uma
l) vida mais autêntica e mais integradora, êffi para a vida. Como as pérolas da gravura,
l) busca da totalidade. É o que chamamos de que ascendem os degraus, a partir da dor
l) morte e renascimento Psíquico- intensa da desintegração profunda o homem
l) se reorganíza para o belo, para o estético
l) Vejamos um outro aspecto que a gravg e para o ético.
l,.a
l.
?
ra sugere. A pérola se origina de uma pato
logia da ostra, seja espontaneamente, Por
tumoração, ou arti ficialmente, pela intro-
No quadrante superior direito, há um
dado e uma placa de pedra com inscrições
)) de caracteres hebraicos. Quanto ao dado,
L. dução de um grão que provoca o estímulo' A
b
L
partir deste núcleo irritativo, vão se so-
brepondo sucessivas camadas de substâncias
instrumento de jogo que evoca o sentido m{
gico, da sorte, do imponderável e imprevi-
L. assim produzidas e que, após longo tempo, síveI, do místico e caprichoso, do que es-
L' dão origem a pérola. Dessa maneira se ob- tá, no geral, aIém do conhecimento , fazen-
L. tém este precioso e tão desejado ornamento. do mais parte da sabedoria do que da ciên-
1,. cia. Novamente surge a idéia do fenômeno
da sincronicidade, 9uê está, a maior parte
2
t-
Na natureza, a transformação e a di-
ferenciação se processam de diversas for- das vezes, presente nos acontecimentos mais
marcantes da vida. Com relação aos caracte
mas. Vistas unilateralmente, a doença , a
a
t.
putrefação e a ansiedade desorganizam. No
entanto, quando a persoonal idade consegue
res hebraicos, lembram os escritos sagra-
dos que transmitem o trajeto do Homem, des
h
l)
conter e assimilar uma guantidade de ansie
dade, podendo assim refletir, se contem-
de o mito da origem da consciência até os
elevados valores que regem a humanidade. É
l)
t
29
-
- beleza. Que perfuma o àt, encanta e inspi- V. CONCLUSÃO
)
)
ra os corações dos homens desde sempre. A
flor que dá brilho, frescor e desabrocha
- para o amor. Precisamos libertar a anima' No Capítulo II acentuamos o empenho
) Ela é as-
Com esta flor, recebê-Ia, selando a sagra- do Homem na busca ,Ca f et icidade -
-
) da aI iança. sim definida por caldas Aulete: Felicidade,
) s.f., qualidade do que é fel_:-z, satisfação,
) contentamento, bem-estar. - - bom êxito, su-
,a' cesso. Felicidade eterna, a bem aventuran-
- Çâ, a salvação, a glória celestial". Tam-
) bém diz: "fe1iz, adj.,ditosot afortunado,
- próspero, contente , alegre , sati sfeito,
- abençoado, bendito.. . que teve bom êxito,
que prosperou"
tt. Fica claro que a indivi-
-
a, duação não implica forçosamente no encon-
ta
- tro da fel icidade. A perseguição da felici
La dade é um propósito egóico. No processo de
individuação, êffi certo momento da vida, o
f,,.
?
[a
Ego, gêralmente voltado para os valores co
letivos, pâssa a ocupar um lugar subordina
do perante as forças inconscientes, possi-
L.
-
bilitando o encontro do melhor conhecimen-
L. to de si mesmo. A dominância do Ego deve
f-
?
desaparecer para que a pessoa não se disso
cie da fonte da vida, dos valores indivi-
? dua i s . Este cami nho , 9uê deve condu zLr à
b
-
l.n
plenitude, à integridade, à autenticidade,
,f 32
-
)
- à paz consigo mesmo, nem sempre coincide trutivas, sombrias. Sentimo-nos paraliza-
- com o da felicidade, como é entendida pe- dos, encapsulados.
)
Ia cultura, predominantemente buscada no
- mundo sócio-cultural. Na maior parte das vezes em que con-
- frontamos problemas ou forças ligadas ao
)
) Em épocas da vida, quando estamos en coletivo, atuamos heroicamente. Mas é ex-
) volvidos em uma situação que canalíza nos- tremamente difíci1 nos mobi lizarmos para
sas energias para o mundo exterior, âs cri confrontar as forças internas, transforma-
- doras. Somos tomados pela "permanência da
ses interiores tendem a ficar submersas -
- ansiedade", que procuramos aplacar buscan-
) Mas quando a vida ligada ao mundo externo
se torna menos polarizadora, os conteúdos do a resolução de novos conflitos sócio-
-)
inconscientes nos forçam a entrarmos em culturais, o que transmite uma sensação de
- contato com e1es, nos empurram aos proble- apaziguamento. Assim, perdemos grande opor
- mas psicológicos não equacionados. Preqüen tunidade de experimentar o "ell" maior. No-
- temente o homem tem a falsa noção de QU€, vamente se processa a ruptura interna, pro
- uma vez resolvidos os problemas ligados à funda, do eixo Ego-Arquétipo Central, e
- sociedade e à cultura, tudo estará resolvi saímos em busca da falsa segurança que ima
- do e ficará bem. No entanto, o que se cons ginamos alcançar no mundo externo. Substi-
-) tata é que resoluções restritas ao níve1 tuímos elaboração por atuação. Ao permane-
externo, dissociadas Cos valo'res indivi- cermos com o Ego predominantemente ligado
- duais, geram desequilíbrios. Quando nega- aos padrões coletivos, vivemos sob a sensa
-
mos ou rejeitamos, defensivamente I a am- ção da ameaça da competividade, tomados con
-
pliação da consciência através da elabora- seqüentemente de fantasias destrutivas e
-
- ção dos valores próprios, arquetípicos, so depressivas. Um mau espírito se constela e
- mos severamente punidos. As forças expres- envolve o indivíduo com seus humores, maus
sas nos símbolos e dispostas a nos ajudar presságios e idéias obsessivas. Por trás
a
-
D e a nos tornar criativos se manifestam des disto está a anima. Em conseqüência, o ho-
It
9
b 33
-
)
) próprias, individuais, da alma, ela se re-
mem é presa mais fácil do lado negativo da
- anima, de seus afetos e humores de feiti- belará. E a relação com a vida se tornará
- ceira. negat i va .
-
- Por outro lado , o indivÍduo não sabe Não advém da anima a insatisfação sen
- tida. Se nos relacionarmos harmonicamente
) que tal estado de ansiedade o invade por-
) que sua psique inconsciente está se rebe- com e1a, €laboraremos suas mani festações
lando contra esta sua vida e estas suas me simbóIicas de forma pessoal, direta e cons
-
tas. EIe sabe apenas que se sente insatis- cientemente. Então a anima nos ajudará'
-
- feito e supõe que sua insatisfação se deve,
- novamente, aos problemas coletivos; assim, É necessária a abertura para a acei-
- deposita a razão de sua depressão em ou- tação do lado irracional da vida com
- tros nas calamidades do mundo, nos polí seus paradoxos e contradições para a
- ticos que atuam erradamente, Do poder que "permanência da ansiedade", quando identi-
- se encontra em mãos i ncompetentes , etc . . ficamos a impossibilidade de impor nossa
- Através de sua depressão, do tédio, dos vontade aos des ígnios inconscientes . Esta
I.
-
n
sintomas psicossomáticos ou expectativas
de alívio junto ao álcool e às drogas , .se
mesma "permanência da ansiedade" tende a
dirigir nossos propósitos no sentido de
b
t expõe uma anima aborrecida porque ignorada uma maior conscientLzação, do diá1ogo, do
confronto com as diversas polaridades, do
e aprisionada. Ela representa sua alma, os
tl- valores da vida e irá torturá-Io até relacionamento com o ponto de vista incor-
porado no outro lado, o inconsciente. É ne
l) ser levada em conta.
cessário um movimento de interiorização,
tl- Precisamos considerar tanto o mundo uma introversão em busca da Luz interior.
l.
n
f, 34
F
h
f,
i.
I.
sacri fício , )á que r corl freqüência, ela
nos faz confrontar e viver conflitos com
rior. Este afastamento leva-o à solidão,
angústia, à depressão.
à
p
um indivíduo igualmente defendido, üffi sus-
Disto tudo só viremos a saber quando tentando e alimentando a rigidez e a infle
!a tivermos experimentado uma vida mais livre- xibilidade do outro. Esta relação jamais
p
I
Io
to rosos, âs lutas para elaborar os conteúdos A meditação sobre a "permanência da
lra
b sombrios são o poder e a potência heróica
para transformar a vida e nos condu zír a
ansiedade" deve possibilitar ao homem sal-
tar de seu pedestal, do plano egóico rígi-
tI'
I
novos padrões nos quais podemos viver as do, descer a um plano inferior, ao mundo
b
n
polaridades, a alteridade, o respeito a
nós mesmos e ao próximo, numa consideração
do reprimido, das emoções e das paixões, à
psigue inconsciente, buscar a alma e liber
e numa assimilação própria, pessoal, dos tar a anima aprisionada, elaborar e inte-
-
padrões culturais e individuais. grar as suas manifestações simbóIicas, tor
,a
-
ná-la a inspiradora maior e, assim, dissi-
-ra par a ansiedade. Conjugar-se com a anima,
ra buscar a adequada relação do Eu com o Ou-
tro, a integração de si mesmo, o caminho
-,a A jornada delineada no presente tra- para o amor, uma nova dimensão humana.
,a balho é a interpretação maior do sonho com Transformar a anima na companheira do Caml
,o o gual ele foi introduzido. Ague1e sonho, nho, do grande salto para uma vida mais Ii
,a ao indicar a necessidade de saltar o bar- vre e mais criativa.
!a ranco, dobrando os joelhos, e prosseguir
114 no Caminho, aponta para a necessidade de Esta mesma jornada enfat íza, igual-
ra uma atitude heróica e também de humildade mente, a grande sabedoria expressa nas pa-
-a perante a vida. Mais uma vez verifica-se o lavras de C.G. Jung citadas na primeira pé
- profundo sentido dos sonhos, das fantasias, gi na . Elas s i nal i zam para a necess idade de
- da imaginação ativâr da introspecção e da se buscar o próprio Caminho, o próprio mi-
- meditação. Eles nos possibilitam receber to, com autenticidade e integridade.
- mensagens do inconsciente que, elaboradas,
- Ievam ao autoconhecimento.
-
-
-
-
3t
p.42-103. 14 NEUMANN,
Harper and Row , 1976 - P. 1 8-19 '
ll.
[r cAssIRER, E. Antropologia filosófica.
h Op. cit., P-51-
i,+.
3â)
__l 15 BYINGTON, C. Desenvolvimento da Per- 22 sTErN, M. o pai devorador. In VITALE,
) sonalidade. Op. cit. P.41 . A. et aI. Paes e Ivlães . São Paulo,
,r.t 9. p .91 .
^) S ímbolo , 197
_l 16 Ibid. Op. cit . p.67 .
23 KERÉNY, K. Hermes , guide of souls '
) Dallas , SPring , 1987 - P.7 -43 '
17 LENNEP, J. Van. Art et Alchimie - Bel-
g ique , Meddess, 1 97 1. P .247 -249 -
24 JUNG, C. G. Sincronicidade ' Petrópo-
ALuaeaconsciência 1is, Vozes, 1984 (Obras ComPletas,
I
{
l8 NEUIT'IANN, Er
matriarcal.
i ch .
E 36
1974. oP. cit.
h P.113-146-