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l'+ MATHEUS AJZENBERG


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V, UM CAMINHO DE LIBERTAçÃO DA
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w ANIMA NO PROCESSO DE INDIVIDUAçÃO
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Dissertação apresentada à Sociedade
Brasileira de Psicologia Analltica
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para obtenção do Titulo de Analista
Junguiano ao término do curso de
fornação - turma 1984-

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BIBLIOTECA Orientadora: Dra. ANA LIA B. AUFMNC

Mtuüm ffifia & hissh[t hffi]n

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São Paulo - 1989
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L- Gabriel
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- Agradeço a minha orientadora, aos professores,
)
aos meus analistas, aos amigos, que com sabe-
-
doria, compreensão e carinho me acompanha-
-
ram nesta trajetória. À Octávio Araújo, pela
-
-,- arte e sensibilidade, a par do entusiasmo com
que acolheu e aprovou a apresentação de sua
>a obra.
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ao Caminho
"O indivíduo deve entregar-se
com toda a sua energia' pois
só median-
te sua integtidade poderá prosseguir e
só ela setá uma garantia de que tal ca-
ninho não se toÍne uma aventuta absutda"
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SUMÁRIO SUMARY

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Esta dissertação objetiva a necessidade que ts
mos, para um harmônico desenvolvimento da persona-
The Íocus given in this issue is related to the
necessity of seeking for a well balanced and harmo-
h. lidade, de uma relação apropriada com o arquétipo da nious development of the personality - taking into
ll. anima especialmente por parte de indivíduos que aPre account the proper relationship between the Ego and
l,+. sentam na estruturação do Ego, uma dominância do di the Anima archetype - especially when the Ego tends
tp namismo patriarcal. to be overwhelmed by a patriarcal domination.
t+.
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A via aqui seguida é a da interpretação das The way followed to go over this subject is

p
t{
imagens simbólicas encontradas numa obra de arte de
um pintor surrealista. Isto propiciou uma reflexão so-
trough the interpretation of the symbolic images found
out in a surrealist litography. Due to this process of
T bre a indispensável ligação criativa e o resgate de va interpretation many points are stressed and thought
G lores que se encontram no inconsciente desencadean- over in order to lead us trough the path towards indi-
tes do processo de individuação. viduation.

UNITERMOS

Arquétipo. Anima. Animus. Símbolo estruturan


te. Individuação. Eixo Ego-SelÍ. Arquétipo central. Di
namismo patriarcal. Persona. Sombra.
ÍNorce

I. Introdução 0 1

II. O Símbolo 04

III- A criação artística 11

IV- A Litografia de Octávio Araújo 14

V. Conclusão 3 1

VI. Referências Bibliográficas 37


-)
t
)
) r. TNTRODUçÃO me estimulava com um olhar que dizia ser
) preciso pular, para continuar a caminhada-
) Acordei.
) O so1 estava a1to, fazía um dia boni
to mas não brilhante. A temperatura era Este é um sonho límpido, singelo, um
-) sonho importante, que até hoje ecoa dentro
agradáveI e soprava uma leve brisa. Passea
) va por um caminho de terra, aberto entre de mim, mobil-íza meus sentidos. Ao iniciar
-A uma vegetação rarefeita que trazia sinais esta dissertaÇão, foi ele que se fez domi-
de um inverno recente e por entre a qual nante em meu pensamento. Saltar sem se ma-
- sobressaíam árvores antigas, de copas fron chucar, pular corretamente isto exige
-) dosas, ffiâjestosas. Caminhava sentindo tran uma postura que envolve humildade. Para pos
qüilidade e grande identificação com o mo- sivelmente evitar fraturar as pernas, é pre
-) mento e o cenário. A meu lado se encontra- ciso antes de tudo dobrar os joelhos. É pre
va uma mulher bonita, jovial, de sorriso ciso descer a um plano mais baixo, com mo-
- amplo, tranqüi1a. Dividia comigo o prazet déstia e humildade, como se prostrando an-
- do passeio. Íamos em silêncio. Um pouco te algo sagrado e maior, para então conti-
- adiante, surgiu uma grande pedra, 9uê se nuar a caminhada.
-))
esgotava à beira de um barranco profundo.
Faramos. Olhei a profundidade e tive a sen Durante os 4 anos em que tive de de-
-
- sação de que o caminho prosseguia, era pre senvolver esta monografia complementar ao
- ciso continuar, pois fazía parte do pas- curso de formação de analista junguiano,
- seio e eu deveria saltar. Não tive medo. muitas foram as fantasias, os vôos, a bus-
-) Ocorreu-me que o maior risco era quebrar ca de um enfoque especial, na presunção de
as pernas caso não saltasse corretamente. que era necessário criar algo singular. Eg
.a Deveria pular de forma adequada para não quanto predominou esta atitude, fui inca-
)-
)a me machucar. A jovem, a meu lado, permane- paz de dar início ao trabalho, apesar de
) cia tranqüiIa, sorridente, confiante e me ter coletado farto material em torno do te

-
É
ma previsto inicialmente, pretensioso de- circunstâncias peculiares e propiciadoras
mais, "a pintura no perÍodo moderno da ar- de um maior desenvolvimento da consciência
te". Lentamente, dobrando aos poucos meus e individuação.
próprios joelhos, acabei por possibilitar
que o tema se humanizasse. Penetrou-lhe um Em particular, a Proximidade com a
sentido de vivência pessoal, impregnando-o arte, especialmente a pintura, foi um ca-
de sentimento, da emoção de um processo de nal rico de estímulos emocionais e afeti-
vida, para transformá-1o finalmente num ob vos eue, paralelamente a outros mananciais,
jetivo mais preciso: tentar expressar um levou-me a uma amplificação do autoconheci
movimento de libertação da anima do apri- mento, âo encontro de uma melhor compreen-
sionamento exercido pela dominância do di- são de mim mesmo. Ao vj.venciar de perto a
namismo patriarcal. manifestação artística, âo admirar através
dos anos esta forma de expressão, tive con
Muito se escreveu, falou e Pensou a tato com artistas cujas vidas foram motivo
respeito. Ainda assim, estamos longe de de admiração e reflexão- No mais das vezes,
ver os homens lidarem de forma adequada elas contrastam com as da grande maioria
com este arquétipo cuja função i-ntegradora dos homens, presos ao redemoinho da tecno-
e ile individuação é indispensável ao equi- logia e do consumismo. Tais artistas pos-
Iíbrio e plenitude de nossas vidas- Situo- suem uma sensibilidade especial, cÍiativa,
me entre os que buscam incansavelmente es- são cultores e observadores da vida e dos
tabelecer tal vÍnculo, üfr canal de comuni- valores humanos. Lidam com o belo, o supe-
cação mais fluido com esta fonte de estímu rior, o sublime, assim como com o execrá-
1o e energia rumo a uma vida melhor - No de ve1, o sacrílego, o ímPio, o imoral.
curso de vários anos, busquei resposta a di
versas situações existenciais- Verifiquei O paradoxosentido inúmeras vezes, o
como, inconscientemente, ao longo do pró- contraste marcante, foi se estabelecendo
prio processo de vida, confrontei-me com em minha consciência: a possibilidade de
vivenciar as polaridades integrantes da nâ dades artísticas. Esta gravura, porém, pro
tureza humana, despotencializando os pre- vocou uma profunda atração. Foi uma aquisi
conceitos culturais, os julgamentos unila- ção emocional, desencadeada por seu conteú
terais, rígidos, inflexÍveis, obedientes a do imagético, sem suspeitar, na ocasião,
padrões discriminatórios e preestabeleci- do grande significado simbóIico e de quan-
dos que na maior parte das vezes desprezam to este se ligava ao meu processo de desen
as necessidades inerentes a compreensão e volvimento psicológico. Só fui percebê-Io
ao afeto. Talvez tenha sido esta a trilha anos após, âo associar suas imagens com o
que me induziu a buscar novos valores, Do- conteúdo do sonho descrito acima.
va qualidade de vida.
Não é meu propósito analisar a gravg
É assim euê, reconhecendo e respei- ra na ótica dos críticos de arte. Buscarei
tando meu próprio Caminho, resolvi centrar destacar princípios de universalidade que
este trabalho em uma obra de arte. A esco- brotam de seu rico imaginário e conclamam
tha recaiu sobre uma gravura do artista a uma visão maj-s global do comportamento
pIástico brasileiro Octávio Araújo, de re- humano, ultrapassando o lado específico do
conhecida técnica e criatividade. Trata-se executar artístico.
do trabalho Iitográfico, de temática sur-
realista, "I4editação sobre a persistência Não me compete apontar na obra con-
da ansiedade", de 1972, reproduzido adian- teúdos de ordem pessoal do autor. O inte-
te. Não foi uma escolha aleatória, ou, en- resse em desvendá-1a está na possibilidade
tão, buscada para atender aos propósitos de, através de1a, destacar conteúdos refe-
deste trabalho. Há anos esta gravura encon rentes ao coletivo da vivência humana, euê
tra-se pendurada na parede de meu quarto podem ou não estar ligados à vida pessoal
de dormir. Os trabalhos de Octávio Araújo do artista.
sempre despertaram em mim um interesse par
ticular e grande admiração por suas quali-
II. o sÍMBoLo fascina o homem desde o sécu1o passado.
Quantas esperanças não foram projetadas pe
los homens nesta nova forma de viver, nâ
A trajetória do homem e da humanida- crença de que as grandes soluções do aten-
de registra inumeráveis propostas de cami- dimento às suas necessidades e bem estar
nhos que nos conduziriam ao encontro de estariam no conhecimento e no aprimoramen-
nossa criatividade, sensibilidade, emoções to da razão objetiva, ho triunfo da tecno-
e sentimentos. Caminhos que nos possibili- logia fÍsica? Esta expectativa não se con-
tariam compartilhar da grandiosidade da re creti zou.
Iação humana, do amor, da solidariedaaerdo
respeito e da liberdade que a vida coloca se modificou substancialmen-
O mundo
à nossa disposição. te. Para grande frustração dos adeptos des
tas esperanças, no entanto, verifica-se a
Estes caminhos constituem a busca persistência e mesmo aumento expressivo da
permanente de diversos setores da ativida- quantidade de moléstias mentais, da delin-
de humana. Ocupam o homem há milênios. Fi- qüência, dos crimes. o ócio e o tédio se
Iósofos, poetas, artistas, religiosos, PSi instalaram em maior amplitude, gerando cres
cóIogos, intelectuais de todas as corren- cimento dos conflitos existenciais e suicí
tes do pensamento se empenharam e conti- dios. A solidão, o desamor, a falta de so-
nuam se empenhando na busca de um meio que lidariedade e compreensão das necessidades
permita ao homem alcançar felicidade e ple do outro impregnam a sociedade. O bom, o
nitude. tolerante, o prestativo é visto como ingê-
nuo e sofre o escárnio do seu grupo. Pre
Nos tempos modernos, constata-se a domina o apróveitador, o manipulador que
enorme expectativa que a humanidade deposi consegue lucro e poder às custas do seme-
tou na chamada Era das Ciências voltada thante. Mais uma vez nos defrontamos com a
predominantemente para o Objetivo que necessidade de repensar o Homem. O signifi
)
)
)
) cado de sua busca, a permanente procura da Expectativas e esperanças se deposi-
) meta universal: a felicidade. Onde e como tam no aprimoramento da compreensão das cg
) descobrir novos rumos? Não será somente o racterísticas fundamentais da espécie humg
) desenvolvimento da tecnol-ogia e a incessan na. Tal vez respeitando-as estarÍamos res-
) te luta do aprimoramento das satisfações peitando a própria vida, encontrando provi
) físicas externas que trarão a solução. Ao veis respostas às nossas aspirações de hu-
)
contrário, constata-se a decepção e o qua- manização.
)
)
se incontrolável desastre com que este pro
), gresso essencialmente material nos faz con Pensadores de diversos ramos do co-
) frontar em certas áreas de atividade. Há nhêcimento estudam as relações e interrela
) uma crescente e veloz desuma nização do Ho- ções da situação individual e sócio-cultu-
) mem que sugere sua robot ízação, como já foi ra1, tentando explicar o comportamento hu-
) expresso por vários pensadores. O homem e mano, os processos que ocorrem, os proble-
) a sociedade devem se concentrar novamente mas intrínsecos de sua natureza e valores.
) numa reflexão sobre seu caminho e sua con- A abordagem desta questão novamente nos 1e
) dição humana. va a refletir e tentar compreender a capa-
) cidade humana do homem.
)
das caracterÍsticas do ser huma-
t Uma
no é justamente a capacidade de se rever, Antropólogos e biólogos, estudando
)
t de constatar sua moléstia, de perceber e, desde os mais remotos rastros paleontológi
) por seu poder criativo, desenvolver novas cos, pâssando por todo o caminho da evolu-
) possibilidades que reavaliem a si mesmo. ção anatômica e fisiológica, não consegui-
) Esta é uma questão amplamente discutida, ram encontrar o fator orgânico responsáve1
) que estimula a ref l-exão. Certamente, nossa por esta condição. Sabe-se, Do entanto, que
forma de lidar com a própria vida encontra no decurso de milênios se sedimentaram cer
-
ressonância nestas constatações. tos traços de comportamento que passaram a
-)
distinguir o homem dos outros animais. Aí

f9
-
nos confrontamos, de início, com uma carac viver, de se relacionar, e de se comunicar'
terística básica, guê é cultura, di ferente o desenvolvimento da linguagem foi um ele-
de qualquer mani festação de organização mento propulsor para atingir as demais si-
constatada em algumas espécies animais. tuações. Para este desenvolvimento, por sua
vez, foi indispensável a existência da ca-
O que é cultura? O interesse Pelo pacidade criativâ r através da qual cria-
mundo, âs necessidades de sociabilidade e ram-se os sistemas de símbolos constituti-
de comunicação? Em catdas Aulete Lemos: vos da Iinguagem- Por conseqüência, desen-
"Cultura desenvolvimento que se dá por volveu-se a cultura, esta relação com o
cuidados assíduos às faculdades naturais . . - mundo dotada de significado e que, organi-
(sociol. ) o sistema de atitudes, institui- zada, transmitida e compartilhada com o ou
o'
e valores de uma sociedade"
2' tro, é passada à descendência
ções

ArnoldToynbee,a.dotandoaSdefini- A Sociologia, ciência que estuda a


sociedade, s€ ocupa do conhecimento dos
ções de P. Bagby e A-L- Koeber, por ele ci
tados, conceitua a cultura como "um conjun processos que caracterizam as relações en-
to de regularidades no comportamento inter tre os homens. Reúne discussões teóricas e
no e externo dos membros de uma sociedade" testes de pesquisas, desenvolvendo diferen
e que incorpora valores marcantes de seus tes propostas de compreensão das diversas
estágios de desenvolvimento, sendo seu ní- situações sociais. Não é propósito deste
t. trabalho imergLr neste interessante e im-
vel mais elevado denominado Civi Lrzação
portante campo de conhecimento' Desejamos
sendo uma das características bási- apenas ressaltar alguns aspectos que nos
cas a sociabilidade, surge a necessidade Ievam a uma melhor compreensão do conceito
de o lidar adequadamente com os pro-
homem de cultura e do comportamento humano. se-
cessos psíquicos inatos, QU€ têm efeitos guiremos, êffi linhas gerais, um estudo de
lel. C. C. Costa
5
sobre o tema
sobre a sua conduta, e criar um sistema de
Entre as di ferentes formas de pensa- um modelo que deve explicar os fatos obser
mento dos sociólogos, desde o Positivismo vados nas relações sociais. Este autor con
de A. Comte, pâssando pelo darwinismo so- dena os evolucionistas que estão sempre
cial o evolucion,ismo, sâlientamos as buscando origens históricas para os traços
análises sociológicas de E. Durkheim, com culturais e afirma que a estrutura social
sua interessante conceituação de consciên- é um modelo inconsciente, pois raramente
cia coletiva como sendo formas padron iza- os homens sabem as razões de certas condu-
das de pensamento e comportamento de uma tas ou de determinados rituais. Por trás
sociedade, comuns a média de seus componen das variações observadas nas sociedades
tes e independente do que pensa e de como existiria um substrato comum, pr€sente em
se conduz cada indivíduo em particular. Em todas elas como leis gerais e que seriam
Max hleber encontramos o entendimento de mecanismos universais. Estas afirmações vêm
que as diferenças de cada Sociedade teriam de encontro à teoria dos arquétipos de C.
origem na formação de cada uma e não nos G. Jung, como citaremos a seguir. Também fi
seus níveis evolutivos, sendo que os acon- ca marcante , pelo exposto, o papel bás ico
tecimentos que têm origem nos indivíduos, da simbolização na determinação das face-
expressos por suas manifestações simbóli- tas complexas da vida social, assim como
..u= , complementam a soc i edade como um todo. esta úftima é resultante de uma consciên-
cia coletiva que se enra Lza no inconscien-
Na Antropologia SociaL, pâssando pe- te.
1o funciona,Iismo de B.K. Malinowski, encon
tramos a formulação de estruturalismo. Pa- Portanto, são a capacidade de simbo-
ra o seu mais proeminente pensador, Claude Lízação e o poder criativo que determinam,
Lévi-Strauss, a estrutura social, âo cor- em essência, a característica humana do hg
responder às relações básicas pelas quais mem. O filósofo E. Cassirer, âo enfat ízar
se constitue uma sociedade, é um construc- esta peculiar capacidade de simbolização
tio de acordo com a realidade observada e do homem, sugere que deverÍamos defini-1o

-!
como "animal symbolicum" em lugar de consi A capacidade de simbolização, certa-
6- Numa mesma mente, é estudada sob óticas peculiares e
derá-Io "animal rationale"
abordagem, Bertalanffy ' "" expressa dizeg enfocada diversamente pelas diferentes cor
do que o homem vive em um mundo simbóIico, rentes do pensamento. Este trabalho se 1i-
sendo o mundo objetivo a materialização des mita ao universo simbólico da psicologia e
ta atividade simbóIica. De acordo com Ber- às suas atividades Iigadas aos mecanismos
talanffy os sistemas simbólicos criados pe que formam a personalidade. É necessário
1o homem passam a integrar a cultura t @, ressaltar que estes processos, êffi geral,
no decurso da sua evolução, criam caracte- se fazem no plano inconsciente. Assim, o
rísticas de concretude. Uma vez atingida a simbólico é uma criação básica ligada à es
condição ,ce ob jetivação, estes sistemas sim truturação do Ego, o centro da personalida
bólicos, €ffi função de sua dinâmica própria, de consciente I o "eu" de cada um de nós,
imanente, podem eventualmente propiciar cil com o qual estamos identificados em certo
cunstâncias e tensões que atingem o pró- tempo e em certo espaço-
prio homem que os criou e passam a atuar
mais potentemente que os próprios símbolos, Do inconsciente se origina, trâ con-
pessoais. Isto pode gerar conflitos entre cepção de c.G. Jung, todo o universo simbó
a consciência individual e os valores sim- lico do qual provém a cultura e o sistema
bóIicos culturais. Partindo de conteúdos de viver do homem. Foi partindo desta com-
subjetivos que se transformam em realida- preensão que se desenvolveu o pensamento
des pelo processo da materialização das da psicologia lunguiana e a criativa con-
concepções, podemos chegar a situações trá ceituação do inconsciente coletivo inato,
gicas, a nível social e pessoal, através de patrimônio comum a todos os homens 't De
conf l- itos devidos a conf rontos ideológicos acOrdO com este autor, Do inconsciente Co-
ou dos mundos simbóIicos, como a história Ietivo estão os instintos e os arquétipos,
prova fartamente
8
- conteúdos inatos universais. Para C'G'
a
?
,,
? Jung
to os i nsti ntos têm características com volvimento da consciência. segundo E. Neu-
?
? pulsivas e se repetem de forma regular e mann, o desenvolvimento da consciência in-
dividual passa pelos mesmos estágios arque
uniforme, como impulsos que provocam ações
?
V oriundas de necessidades internas. os ar- típicos que determinaram e determinam o dg
senvolvimento da consciência coletiva. A
?
?
quétipos, igualmente portadores de caracte
rísticas coletivas, UDiformes e regulares, consciência egóica, ontogênica, evolui pas
sando pela ação da série de imagens arque-
?
?
representam fatores determinantes do desen
cadeamento dos processos psicol ógícos e, típicas que a estruturam, €xPerimentando
? ao gerarem as imagens simbólicas, levam for
ças primordiais para uma elaboração, am-
uma renovada e contínua relação com os ar-
quétipos.
pliação e adaptação da consciência ao mun-
7 do externo. Assim, os arquétipos se consti
tuem nos fundamentos estruturais da nossa
O conhecimento dos estágios arquetÍ-
picos do desenvolvimento da consciência cc
personal idade. letiva traz uma nova e melhor visão do de-
V senvolvimento da Humanidade, da religião,
Erich Neumann, no seu livro "The Ori da antropologia, do comportamento dos po-
gins and History of Consciousness" " , faz vos e dos conflitos vividos pela sociedade.

E um estudo do processo de desenvolvimento


da consciência individual e coletiva a par Na psique do homem se encontra a fon
tir do conhecimento dos fatores psíquicos, te de todo o desenvolvimento da cultura,
F arquetípicos, determinantes deste desenvolvl
mento. Parti ndo de tai s fatores estrutu-
a qual absorve durante milênios uma contí-
nua e progressiva assimilação e estratifi-
E rais, denominados por C.G. Jung também de
imagens primordiais , o inconsciente se re-
cação das vivências simbóIicas do próprio
homem. Por sua vez, trê sua relação com o
F vela à mente consciente. ISSo ocorre atra-
vés de imagens simból-icas, iniciando-se um
mundo externo, o indivíduo absorve estas
formas culturais estruturadas e os valores
processo de reação e assimilação e o desen incorporados aos sistemas educacionais.

E
Quando estas estruturas culturais, Ia consciência, e que pode levar à trans-
religiosas ou políticas, se tornam autori- formações huma nízadoras e enriquecedoras
tt
tárias e rígidas, podem conflitar com o de de nossa qual idade de vida .
senvolvimento do indivíduo, 9u€ se faz a
partir de sua fonte arquetípica. Uma perso Ao lado dos inúmeros arquétipos que
nalidade rígida e autoritária por sua vez, vão estruturar os padrões de consciência e
pode conflitar com estruturas culturais e comportamento, pelo processo de apreensão
sociais que se baseiam no respeito ao inte e elaboração simbólica, está a anima'
resse coletivo. Ainda para E. Neumann, no-
vas e melhores possibilidades de vida po- Quando o homem se fixa num estado de
dem advir de um relacionamento adequado en comportamento excessivamente rígido, Seve-
tre a consciência individual e coletiva, to t categórico, inflexíveI, que caracteri-
r6

que levaria a um progressivo desenvolvimen za um estado de dominância patriarcal I a


to da personalidade e da culturu " ' anima, âtravés de seus símbolos, procura
atuar criativamente para a liberação desta
Quanto à formação da consciência in- fixação, propiciando a transformação, o
dividual, dentro da concepção da psicolo- amadurecimento e a continuidade do proces-
1., so de individuação. Intermediando a incor-
t gia simbóIica de C. Byingtontt , os símbo-
los estruturantes, que expressam o poder poração dos princípios considerados tradi-
l'- criativo e organizador dos arquétipos, cionalmente como femininos (humores, emo-
l,-
\A' atuam ao longo do Eixo Ego-self, formulado ções, receptividade ao irracional, capaci-
por E. Neuma.n to , i ntermediando e coorde- dade de amar, sensibilidade à natureza ) e
l.t' a relação com o inconsciente, pelmite ao
9t nando a formação e transformação da cons-
ciência e do Ego. Na visão evolutivo-estru homem ampliar a consciência e vivenciar uma
t'-'
l),
ú,
tural da personalidade de C' Byington I o maior human tzação.
processo de individuação é esta permanente
L. assimilação dos conteúdos inconscientes pe
l'.-
F-,
[J,
V 11

ll-
?
L' respeito. A nível social, é sabido que os
l- III. A CRIAÇÃO ARTÍSTICA
movimentos artÍsticos neste caso a pin-
h
á
tura precedem acontecimentos de profun-
lr,a A criação artística é uma manifesta- da transformação da humanidade, como se a
lrra ção arquetípica. O artista, a par com o ca sensibilidade artística captasse antecipa-
b
b
nhecimento da técnica, do bom manejo de
seus instrumentos, através dos quais mate-
damente o clima de desenvolvimento das ex-
pectativas coletivas e dos caminhos dos ho
lâ ria )-tza sua criatividade, âPresenta na mens. Vemos através da história como os ar
lú criação uma manifestação emocional intensa, tistas antecederam aS grandes reformas so-
F oriunda dos planos mais profundos de sua
psique, mobili zando aspectos conhecidos e
ciais e polÍticas sem serem soció1ogos ou
políticos, mas apenas sensíveis às emoções.
lr,a
desconhecidos. Às vezes, os conteúdos des- E o ftzeram através de revelações de um
t mundo inconsciente onde reinam símbolos uni
t sa criação carregam a experiência existen-
t cial do autor, seus sofrimentos, traumas,
conflitos, â1egrias, os momentos especiais
versais enraizados no mais remoto passado,
e que orientam o processo de transformação
ll.
ll. de sua vida. Outras vezes, porém, o artis- espiritual.
h
n
tâ, dominado por intensa emoção, manifesta
imagens que fazem parte não apenas dele, Ao lado de outros movimentos políti-
L., como pessoa, mas do próprio desenvolvimen- cos, culturais e sociais, a arte deste sé-

rF to da humanidade. São imagens oriundas do


inconsciente coletivo. Ao se comunicar des
ta forma, a sensibilidade artística expres
culo tem seguido caminhos que comprovam far
tamente estes pensamentos, resgatando por
vezes símbolos relegados a um plano secun-
P

sa aquilo que d:-z respeito profundamente dário.
aos seus semelhantes, os quais com ele as-
I'.. sim se percebem, ao sentirem vibrar em si Do dadaísmo surgiu o surrealismo co-
llí. mesmos uma ressonância, se a forma e con- mo fonte de energia renovadora e criadora-
F
F teúdo da mensagem simbólica também thes dtz Encontrou-se uma linguagem p1ástica radi-

P
)
12
,
)
)
) para o alquimista quanto para o surrealis-
) calmente diferente, QU€ permitiu aos artis
ta o valor evocativo predomina sobre o va-
a
?
tas darem forma àquilo que até então era
inexprimíveI. Sua técnica e procedimento 1or estético. Não está o opus profundamen-
9 permitem a manifestação da profundidade do te ligado ao desenvolvimento da personali-
lJ inconsciente, o que implica numa atitude e dade do adepto ou do artista, colocando
?
?
numa visão cujas raí zes transformadoras têm
grande identidade com a filosofia alquími-
suas imagens interiores na obra? Não se nu
trem e se inspiram todos da mesma fonte
t- ca. Nota-se uma ânsia por mudanças e ruptu o inconsciente operando os conteúdos no
?
4 rasdepadrõeseformastradicionais.As
transformações na personalidade e na socie
sentido da individuação, expressando' Do
caso do pintor, artisticamente, genialmen-
?
4 dade a partir da liberação do espírito cons tê, o caminho do homem na busca do seu aprl
moramento e desenvolvimento? A obra refle-
b
?
tituem o "opus alquímico", como C'G' Jung
demonstrou. É assim que Bosch, tido como te a experiência vital do adepto e do ar-
um importante alquimista de sua época ' é tista, a transformação do Homem pelo seu
a
|,
também considerado um precursor do Surrea-
Iismo. A riqueza iconogtárica dos manuscri
próprio gênio, na relação entre sua unici-
dade e a matéria. É um meio poderoso de ex
pressar o confronto Com a matéria, evocan-
? tos alquímicos indica como a imaginação aI
química prefigurou o surrealismo' Nestê' do através dela a própria totalidade. Meio
1r,
encontramos as fases do opus especial- que também revela que a relação com o uni-
menteoputrefactioeoconiunctio revi verso deve começar pela relação consigo
E' vidos no pensamento moderno. configura-se
17

p
mesmo

uma evidente relação entre tais transmuta-


poética Ao se expressar de forma criativa '
ções alquÍmicas e a transformação
que os surrealistas expressam de forma mar no caminho da individuação, o artista está
H cante. Em ambos oS casos há o aspecto fun- expressando esta relação cons igo mesmo. Ivla
damental da evocação dos conteúdos psicoló ni festa , por um lado, uma consciência ma-
F: gicos profundos, da própria psique ' Tanto triarcal que está, êffi grande parte, fora

VI,
!la
- do alcance do conhecimento científico, apro Por outro lado, o Processo criativo
)
â ximando-Se mais da natureza e da vida, li-
ao Ser considerado uma reaLtzação cultural,
gando-se ao destino e a realidade viva. Ét aoseapresentarcomoumaatividadeprodu-
uma manifestaÇão às vezes caprichosa' mís-
tiva ordenada, expressa também uma cons-
tica, revelada nos mistérios, podendo cho- ciência patriarcal, estruturada pelo arqu§
car uma mentalidade idealística. É o arqué tipo do Grande Pai, Dêste caso considerado
tipo da Grande Mãe que neste caso se mos- por sua polaridade positiva' O artista' âo
tranasuapotencialidadecriativaegerm]. reconhecer um chamado e passar a exercer
nadora, que concebe de forma velada e mui- sua habilidade e discriminação, âo mobili-
tas vezes sofrida, num ato de frutificaÇão, zar sua capacidade clarificadora' na verda
equeseacompanhadeumaintensamobil-tza de está reaLtzando uma síntese' tida como
ato positiva, das consciências matriarcal e pg
ção afetiva. o entendimento é antes um
de sentimento. É uma situação psíquica on- triarcal, entre a capacidade receptiva, ger
de predomina a abertura para os conteúdos minativaeaformativarrêflexiva'Acom-
plementari,cade destas consciências repre-
do dinamismo matriarcal, que tem uma atua-
que a senta a total idade , âti ng ida pela união
ção eficaz e significativa, s€ bem
maior parte das vezes oculta' Impregna nos dos opostos. É a síntese criativa ' fertili
sa personalidade com revelações' mensagens zadora, transformadora " '
e significados oriundos mais do domÍnio
dos Deuses do que da racionalidade, das
idéias, do intelecto. Para C'G' Jung a ani
ma está ligada à Grande Mãe, podendo desen
cadear atuações psicológicas matriarcais e
processoscriativos.PodeconduzLradife-
rentes situações emocionais, às vezes in-
controláveis- Se liga, ffiuitas vezes' à sa-
bedoria e, em geral, exerce um fascínio es
pecial.
14
)
a
a
a ry- A LIToGRAFIA DE ocrÁvto ARAUJo formar em outras, despertando a vida sim-
a bóIica.
a
a base nesta aPreciação sobre o A litografia foi por O'A' de
chamada
a É, com
,'meditação sobre a permanência da ansieda-
a artista que resolvemos enfocar o trabalho
de". Que significa? Meditar sobre a perma-
a de Octávio Araújo.
nência da aflição, da emoção opressiva'
a
a NeIe buscaremos encontrar o caminho constrictiva? Este estado emocional, sabe-
a prospectivo da criação que ativa em cada mos, ProPicia a introversão, a introspeção
a um o próprio processo transformador obtido
e a oportunidade da identificação de insa-
a pela experiência existencial ' Interessa tisfações com as quais é difícil e não que
a aqui abordar o sentido da obra ' o supra remos conviver. Ao meditarmos sobre isto'
a pessoal, que pode forjar uma reorganlzação sobre o vazio que vai em nós, Pâssamos a
a criativa, quer do indivíduo quer da socie- aspirar uma mudança ' uma saída, uffi novo ca
a dade. Visamos essencialmente a relação es- minho, uma libertação. O estado de "perma-
)
nência da ansiedade" e a meditação favore-
a pectador-obra: temos a obra tal como execu
cem a mobilização dos conteúdos mais
pro-
tada pelo art i sta e a obra que nós vemos''
-
) na qual vamos buscar a força incorporada fundos do inconsciente. Podemos entrar em
) aoobjetoartísticousandoosmeiospsico- contato e nos defrontar com oS componentes
lógicos, captando os sinais que nossa per- sombrios, reprimidos, identificar ambigüi-
-
) cepção recebe, estes distúrbios que se es- dades, di ficuldades, confrontar os mons-
a tabelecem em nós quando contatamos os con- tros internos, Possibilitando a abertura
)
teúdos expressos, atribuindo a eles signi- da consciência aos símbolos que provêm dos
a ficados pessoais, mobilizando nossa expe- arquétipos. Este estado de espírito ofere-
â
riência com a realidade' Passamos a ver ce uma disponibilidade para a elaboração
) destes símbolos e a ampliação do conheci-
) coisas que dizem respeito a nós. coisas que
mento de nós mesmos. Provavelmente passare
) não são absolutas mas que podem se trans-
)
4
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b
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mos a descortinar um novo caminho- A sensação de que o objeto significa


mais do que o olho pode perceber encontra
Vejamos as imagens da gravura - Ela expressão notável neste trabalho de O'A',
apresenta uma paisagem seca, crestada- Nas que parece ter brotado da profundeza do in
fantasias, nos sonhos e na arte, âs paisa- consciente, expressando imagens simból icas
gens podem representar um estado de espítl dele oriundos. os objetos são colocados co
to inexprimÍvel . C. G. Jung assinala que o mo que suspensos, mística e magicamente,
símbolo autêntico é o que expressa o desco num vácuo. Há evocação do passado, como a
nhecido e aquilo que o pensamento não con- pedra tumular e do tempo, como o relógio'
segue ainda formular ou que é apenas con- Surgem objetos mági cos , Pêro1as , um dado '
jecturado ou pressentido"- o inexprimível Não se trata de uma desintegração psíqui-
pode ser simboLtzado através de imagens câ, mas da presença de diferenças e de opos
pictóricas. Os símbolos representativos do tos, apontando para a básica necessidade de
mundo interno podem se expressar nas dife- se lidar com eIes.
rentes formas que a natureza oferece. Daí
a misteriosa ação que estas imagens simbó- Para o icótogo , Porém, as Percep-
ps

licas exercem. As trevas, âs sombras, as ções simbólicas não podem ser apenas senti
luzes, são conteúdos psíquicos que parti- das . Devem, até certo ponto, ser ampl i f ica
cipam de uma composição. os objetos ultra- das, âssocíadas, elaboradas, para passarem
passam os seus limites aparentes e se im- a integrar e ampliar a consciência. O con-
pregnam de signíficados maiores do que sua junto expresso na gravura perde seu cará-
forma visuaLtzada. Este conceito bastante ter de substância e se transforma em ex-
conhecido evoca a expressão alquímica do pressão simbólica na qual encontramos os
espírito da matéria, QU€ estaria nos obje- conflitos entre conhecimento e crença, a
tos inanimados, Do ouro, hâ pedra filoso- profunda cisão entre a natureza e mente, ê,
fal. Em termos psicológicos, este espírito conforme C. G. Jung, entre inconsciente e
é o inconsciente 'o. consciente, a dissociação patriarcal. São
l.
?
17

p
a
? estes cont rár ios que caracteri zam a situa- do inconsciente, e anunciam nossa ligação
com os conteúdos mais profundos, tanto do
n
lr,l
çao pslqur-ca que aqui se expressa.
lt

inconsciente coletivo quanto do inconscien


[a Observando o quadro, encontramos ne- te pessoal, que se compõe de conteúdos re-
a 1e vida animal. O animal carrega uma simbo
logia rica. Emsi, é parte da natureza, e
primidos devidos à inadequações culturais
ou ideais e de conteúdos simbóIicos que
l)
-
obedece aos seus instintos. Psicologicamen ainda não conseguiram atingir a consciên-
l) tê, é uma expressão simbólica da vida ins- cia.
b
b tintiva e da vida junto à natureza. Nos so
No ângulo superior esguerdo da gravu
nhos, Dâ imaginação ativa e nas fantasias,
t pode representar uma energia indiferencia- râ, vemos o relógio e um bastão.
L.
l. da, ainda não conscientizada I ainda não
elaborada, sugerindo a possibilidade de O relógio, ao sugerir a noção de tem
po, nos transporta para a percepção de pas
L.
- evoluir para novas formas. Quando se eleva
tl- do solo com asas (Pegasus), pode simboli-
zar a capacidade de sublimação. Uma rela-
sado-presente-futuro, da memória, da auto-
consciência e da dinâmica existencial. É
L. ção satisfatória com os animais pode simbo um processo de contínuo avanço dinâmico da
l- Lízar uma relação satisfatória com nossos vida. Não podemos permanecer estáticos e
l) instintos e nossa natureza tereomórfica - resistir aos acontecimentos da natureza on
l- Animais dominados geralmente representam de o jovem, o novo, derrota, destrói e subg
l- tt
instintos humanos sob controle . titui o veIho. Permanecer estático, sem
a
))
condições de acompanhar o desenvolvimento,

l.? pa zes
Encontramos nesta gravura animais ca
de viver em dois meios, na terra e
no àÍ, como moscas, vermês, caramujos, mi-
é garantir um lugar na ordem estabelecida,
que por sua vez é dominada por rígidos pa-
drões culturais e sociais, sem condições
L-
- nhocas, serpentes, representações simbó1i- de integrar as mensagens simbólicasr âs for
l.l) cas que vêm das prof undezas da llãe Terra, ças criativas que transformam e podem apon
IU

tar para novas direções. Assim, o tempo não caduceu de Hermes. A serpente é uma conhe-
7
?
é sempre um conceito abstrato e guantitati
vo, de divisões iguais, voltado para o Ia-
cida imagem simbóIicade transcendência e
de conscientízação. É a imagem que expres-
?
n do prático e eficiente de realização e adap sa o poder terapêutico de Esculápio, 9u€
penetra no mundo desconhecido e conhecido,
l) tação, numa linha patriarcal de ideação e
produtividade. Existe também o tempo quali buscando uma mensagem de libertação, de cg
?
n tativo que tem ritmos e mudanças de dife- ra. As duas serpentes do caduceu podem re-
l.
n
rentes propriedades, períodos favoráveis e
de desventura, crescentes e de carência,
presentar dois princípios opostos, duas p9
laridades, opostos que devem ser unidos , o
a
?
tempos de semear, crescer, amadurecer e co
ther, tempos de êxitos e fracassos, de sa-
poder de atar e desatar, o bem e o mal , fo
go e água, ProPondo assim a necessidade de
2 grado e de profano. A periodicidade da na-
tureza, as variações emocionais, os perÍo-
equilíbrio e a busca da transformação. É o
emblema de Hermes, o grande condutor ao
dos de espera necessários para as transfor mundo subterrâneo e ao espiritual - Nos es-
mações. Todos estes atributos qualitativos tudos de K. Kerény " encontramos Hermes ca
apresentam uma identificação matriarcal, o! mo o Deus grego que se mostra expressando
de o entendimento é mais uma frutificação, as alternativas que a vida oferece - Ét um
um nascimento, uffi brotar, do que uma mani- mediador dos opostos, às vezes com resulta
festação racional e intelectual - Este tem- dos imprevisíveis. Não é um herói, porém
po é sempre singular, individual, e nele sempre encontra uma solução criativa para
germina a criatividade que, âo final e no oS confrontos. Possui um componente tricks
t' ter. Encontros e descobertas fazem parte
devido momento, desabrocha .

da sua essência. A boa sorte o acompanha e


Quanto ao bastão, este evoca o cadu- é assim o Deus dos comerciantes- A música
ceu, o bastão de Mercúrio ou Hermes. Enre- é também sua dádiva, sendo seus temas o
dadas neste bastão há duas fitas soltas amor e a riqueza. Tem eonexão com os jogos
que sugerem as duas serpentes presentes no de dados e as loterias. Sendo também um
l)
l.
19

? Deus fálico, seu bom relacionamento com a contato com a luz, a coruja entrará em con
L.
-
l- mulher é fartamente citado em diversos mi- tato também com a anima, a vida. A sabedo-
l- tologemas. Secretas tradições gregas o re- ria que representa terá oportunidade de se
ampliar e enriquecer.
a
n
lacionam ao primordial comportamento femi-
nino. É um perfeito mediador entre a vida
L. e a morte, o dia e a noite, o consciente e Ocupando a posição central e tão mo-
l- o inconsciente. Por sua natureza ligada bilizador da atenção do observador quanto
t aos acontecimentos imprevisíveis, é asso- o corpo da mulher, vemos o busto masculino.
f-
p ciado ao fenômeno da sincronicidade, YêIa-
ção ainda desconhecida entre a psique in-
Com o pedestal e o vaso com uma flor, cons
titui o conjunto principal da gravura. Que
-L- consciente e a matéria. Foi assim que C.G. figura patética ! Como fala ao nosso afeto
Jung denominou esta conexão indefinida e e ao nosso sentimento.- Todo de pedra, duro,
inexplicada. É uma coincidência significa- r ígido, sombrio, poderoso , traz no perfi I
tiva entre acontecimentos externos e inter a expressão do tirano inflexível. É só ca-
nos que não guardam entre si relação cau- beça e parte do tronco: racionalidade fria
saI. As resultantes destas relações são men e absoluta. Seu maciço de pedra unido ao
sagens expressas simbolicamente e que qua- pedestal mantém aprisionada a mulher. É um
se sempre acompanham fases cruciais do pro con junto compacto , sól ido , a transpassar o
cesso de individuação'o. ventre feminino. Há um buraco ôco aberto
em forma de arco onde se abrigam o vaso e
Em nossagravura, o bastão ocupa uma a flor. Isto atenua o peso da coluna de pe
posição especial. Ao manter entreabertas as dra, sugerindo que ali, no lugar do abdô-
cortinas, permite a entrada da luz que ilu mern, êxiste um receptácuIo com capacidade
mina a coruja, mais uma representação ima- de conter a vida, a flor, o útero que tem
gética que pode expressar a ambivalência a capacidade de procriar, do novo. As figu
representada pela sabedor ia e também pe,la ras masculina e feminina, ocupando a posi-
escuridão da noite e a morte. Ao entrar em ção vertical e horizontal, parecem disso-
9 20

?
?
?
?.
ciadas, incompatíveis, inconciliáveis. se faz ao elaborar os seus conteúdos s lmbo
licos, interagindo juntamente com as man].-
a

â
l) Vamos nos concentrar no busto mascu- festações simbólicas dos arquétipos mobi I i
b I i no . Já ident i f i camos alguns atributos que z
-25
aoos

?
?
ele nos transmite através da observação do
seu perfil. A este perfil, guê expressa o fdentificamos acima uma Persona es-
n Ego para o mundo externo, denominamos Per- truturante , i nstrumento de uma adaptação
b
b
sona, pâlavra grega que signi f ica Ivláscara.
A Persona é, segundo C. Byington e outros
social. De outro lado porém, ela será con-
siderada altamente negativa se vier a se
a
?
autores, uma estrutura arquetípica que es-
tabelece a forma com que nossa personalida
tornar defensiva, dificultando ao Ego a
elaboração das expressões simbóIicas, trans
de se coloca perante a sociedade, buscando formando-se em instrumento do aprisionamen
F
-
sua adaptação e identidade. É uma estrutu- to da anima e obstruindo a individuaÇão.
b
- ra arquetípica pára-egóica e que tem seus
l.?. conteúdos interagindo dinamicamente com a
consciência. Está submetida à influência
A Persona nrr" identi f i camos neste
busto é predominantemente patriarcal, in-
i- de interação do indivíduo com seu ambiente
físico e social, absorvendo as experiên-
flexível, r ígida, euê impede uma vivência
simbólica plena e, assim, se expressa ape-
a
- cias de um mundo dinâmico e adaptando esta
realidade às suas próprias necessidades e
nas pelos aspectos tidos como negativos,
que se amoldou e identificou com os padrões
l)
-
aos seus próprios valores. Expressa as con rígidos da cultura, do tradicionalismo es-
l- cepçÕes que o indivíduo tem de sua relação tagnante, e está perturbada por sofrer os
a
n com o ambiente fÍsico e social, relação con
tínua com a cultura e que estrutura perma-
distúrbios deformadores oriundos de sua
transformação em mecanismos de defesa. É'
a
t- nentemente a personalidade. Desta forma par
ticipa da incessante estruturação do Ego,
uma Persona defensiva de padrão patriarcal
e que se contrapõe à an ima tt
acompanhando a ampliação da consciência que

M o \
21
7)
-
)
) Uma persona exageradamente condicio- A Sombra patológica, Por sua vez, contém
- nada pela influência e atuação dos mecanis os símbolos que não chegam à consciência,
) mos de adaptação social e cultural pode por terem sido rejeitados ou reprimidos pg
) Ios mecanismos de defesa,
manter a anima aprisionada, impedindo a ela
- boração e integração dos símbolos que pro-
)
cura manifestar. Ao invés de integrados, Os símbolos que estão na Sombra nor-
)
) estes serão rejeitados ou reprimidos pelas mal ou na patológica se expressam indiscri
) defesas, estruturas arquetípicas ativadas minadamente, levando a inadequações que es
u
)
quando um símbolo constelado ameaça a esta
bilidade do Ego. A defesa se apresenta co-
capam ao controle do Ego, afetando o ajus-
tamento social e, muitas vezes, o bom de-
) mo estruturada e adaptada ao funcionamento sempenho no relacionamento com o Outro - Is
) da personalidade, ffi€smo que inadequado, e to marca profundamente a personalidade e é
) paralisa a elaboração simbóIica. Em tazão um dos mecanismos que atuam na dinâmica Som
) da defesa, o símbolo passa para a Sombra bra-Ego-Persona perturbando a adequação -
- sem ser elaborado ou absorvido pela cons- Quando o símbolo que está na Sombra encon-
- ciência. A Sombra é outra estrutura arque- tra conteúdos da Persona que se contrapõem
)
típica que, como a Persona, tem seus con- a ele, a Persona pode atuar de forma defen
- teúdos interagindo com o Ego siva, racional, dentro de padrões conven-
- cionais e por vezes destrutivos. É o caso
t'
?
-
p
C. Byirrgtor, conceitua a Sombra nas
formas normal e patológica. A Sombra nor-
da Persona patriarcal defensiva.

a
?
mal contém símbolos que poderiam ser cons-
cientes, por representarem expressão de ar
Sob o aspecto terapêutico, como assi
nala C. Byington", esta diferenciação é
?
n quétipos mob l_l-:-zados no eixo simbólico, mas
que, por circunstâncias ocasionais ou pelo
muito importante. No caso da Sombra patoló
gica, é necessário trabalhar antes com as
a
? momento existencial, não conseguiram ser estruturas defensivas, para daí, Dâ maior
parte das vezes, possibilitar a elaboração
elaborados e assimilados pela consciência-
?
p
l,
3 22
La
?
9
-) s . No caso da sombra normal , a
imbóI ica personalidade tem por valores primordiais
consciência terá possibilidade de assimi- o poder, o sucesso, a dominação e, em ge-
lar o símbolo ao confrontar-se com as si- ra1 , defensivamente, subjuga os conteúdos
tuações existenciais gue obstacularízaram simbólicos das demais dimensões simbó1icas
tal elaboração. que deveriam ser considerados com o fim de
estruturar uma personalidade criativa e in
rejeitados e reprimidos
Os símbolos tegradora. Uma das conseqüências disto é a
vêm a constituir em grande parte um lado permanência de símbolos da anima na som-
.30
obscuro, indesejado e ameaÇador, onde va- bra
mos encontrar os componentes de nossa per
sonalidade que não correspondem aos pa- Vejamos agora a figura da mulher, co
drões idealízados na relação Ego-persona, rno representação s imbóIi ca da an ima . Cont i
que não obedecem às regras determinantes da nuamente, surgem contribuições importantes
sociedade e da cultura regras impostas, que buscam uma ótica amplificada do seu pe
com as quais o Ego se reveste, ficando, de pel estruturante da consciência e do desen
fensivamente, incapaz de enfrentar os sím- volvimento da personal idade, portanto, do
bolos que a elas se contrapõem. processo de individuação. Muitos trabalhos,
baseados nas transformações atuais da con-
Dessa maneira, vemos as polaridades ceituação de feminilidade e masculinidade
PersCIna e Sombra interagindo dinamicamente decorrentes de novas características so-
com a consciência, como Carlos Byington no ciais e culturais de nossa época, buscam,
ta em seu trabalho t'. dentro das bases da psicologia junguiana,
ampliar e clarificar os conceitos de anima,
figura masculina da gravu
No caso da e , igualmente , de animus , a parte mascul i -
rà, identificamos uma persona que se fixou na da psique da mulher, como conceituou C.
no dinamismo patriarcal do desenvolvimento G. Jung.
da personalidade. Assim estruturada, uma
la
)
)
Na gravura, identificamos o aprisio- humana entre o corpo e a cabeça. A máscara
- tem uma significação simbóIica importante,
) namento da mulher pelo que vimos expressar
o patriarcal defensivo. Está deitada em p9 pois, psicologicamente, transforma seu por
-
- sição de sono, de sonhos e de inconsciên- tador em imagem arquetÍpica t' . Encontramos
) cia- É um corpo nu, bem formado, de linhas seu uso, através da história, em diversas
- sensuais, com colares e pulseiras, adornos e di ferentes culturas , representando an i -
- sugestivos da sedução feminina. Nota-se mais e seres humanos que se tornam objeto
- uma eompleta dissociação entre os segmen- de veneração dedicada aos deuses e demô-
- tos superior e inferior do corpo. o tronco nios. A expressão do indivíduo desaparece
- está de frente para o observador e o seg- e, ao usar a máscara, adquire a representa
- mento inferior está voltado para o sentido ção arquetÍpica, guê é como vemos esta fi-
- contrário. É uma cisão deformadora do cor- gura. O uso das máscaras no teatro Nô, nos
-
po, do feminino, manifestando mutilação, dramas japoneses, e no teatro grego antigo
-
distorção, a ruptura a gue esta imagem ar- tem esta conotação de separar o personagem
-
- quetípica está aqui submetida. Detalhes que do ator. Na mitologia, encontramos farta-
- chamam a atenção são a máscara sobre o ros mente tal forma de expressão, como Ganesha
- to e o pescoço, gu€ parece ser um toco de na mitologia indiana, o Deus da sorte, QU€
madeira. Este corpo repousa sobre um peda- tem corpo humano e cabeça de elefante, ani
,a
-
mal que representa prudência e sabedoria.
ço de madeira antiga, tosca, em estado na-
-)- tural, não trabalhada, o que provoca a A máscara se refere psicologicamente ao no
idéia de representar um níve1 primitivo e vor misterioso, âo imprevisÍvel, que se es
- não-elaborado do inconsciente, ainda não conde por trás dela e que é a própria psi-
- submetido a um condicionamento cultural ex que inconsciente as forças primordiais
- pressando a possibilidade de crescimento e que trazem consigo o desconhecido e, por
?
-
de desenvolvimento da vida psíquica. O pes
coÇo de madeira, por sua vez, sugere a ne-
isso, ameaçador. O ser humano ergue barrei
ras psicológicas para proteger-se do cho-
p
-
I

cessidade de uma ligação mais integrada e que das inovações. Desta forma, tende a re

l-
-
t,
24

jeitar o criativo, o transformador. A ani- Anima é a vida, vive por si mesma e nos
ma é o guia destas inovações e é aqui man- faz viver . É o vegetativo, ú*ido, recepti -
tida aprisionada defensivamente. vo, ambígüo: a encontramos no mistério das
uniões . J. Hi llman é um dos autores QU€ ,
Anima é aIma. É de definição comple- como M. Muszkat em nosso meio 'o, colocam a
xa. É o psicopompo do arguétipo central ", anima como um arquétipo que pertence ao
seu guia, e aí se assemelha a Hermes. É mundo interno do homem e da mulher por in-
também chamado o arquétipo do inconscien- fluenciar os processos psíquicos indepen-
tê, o representante da natureza psíquica. dentemente do sexo, libertando a anima e o
Ela não possui concretude, é etérea. Nos animus de suas funções explicitamente con-
liga à natureza e às coisas que estão em trassexuai s . Na vi são destes autores, se-
volta e que provocam nossa emoção. Acende riam, âssim, arquétipos estruturantes igual
a chama interior e ilumina. Ela nos aciona mente da personalidade do homem e da mu-
para a meditação e para as transformações. ther. Carlos Byington, Por sua vez, concei
C.G. Jung se refere à anima como uma fun- tua os arquétipos da anima e do animus co-
ção de relacionamento pessoal e coletivo, mo portadores de suas bipolaridades, igual
mediadora e psicopompo, tanto nas relações às bipolaridades de todos os arquétipos.
positivas como nas negativas. No trabalho Assim, a anima constelaria no homem os po-
de J. Hillman tt encontramos mais os seguin los da bi ssexual idade s imbóI ica , da mesma
tes atributos. É ponte para tudo o que é forma que o animus o faria na mulher, fi-
desconhecido. À anima também é atribuída cando portanto preservadas as diferenças
nossa relação com os mistérios, com o pas- entre o homem e a mulher tanto genética
sado arcaico. Ela tem o papel de boa fada, quanto arquetipicamente. A anima e o ani-
feiticeira, prostituta, santa. Está asso- mus se expressariam desta forma, Por mani-
ciada a animais pássaro, tigre, serpen- festações simbólicas ligadas ao sexo opos-
te. Desencacleia os processos psíquicos, âs to e também pelos do mesmo sexo, através
fantasias, os humores, os afetos, o amor. de suas polaridades arquetípicas tt.
b Z5

a
a
-

?
Ainda segundo J- HillmanI a anima,
por ser guia da psique inconsciente e por-
minações como para a floresta vivificante
da elaboração de seus símbolos pela cons-
n
lâ tanto desconhecida, nos faz assumir atitu- ciência . É na integração dos confl itos ,
des inconscientes muitas vezes fora dos pg das confusões, do sofrimento, dos sentimen
a
? drões considerados adequados pelo Ego. Com tos, dos eventos, das idéias, das imagens,
que ampliamos nossa consciência. Portanto,
? ela entramos no terreno dos Deuses, do má-
gico, do perigoso e do proibido. são situa é o arquétipo da consciência e também I o
2 ções que precisam ser elaboradas, para que arquétipo que medeia a inconsciência ' É
J. Hillman quem prossegue afirmando que
possam ampliar a dimensão dos sentimentos
e dos sentidos, ensinando-nos o que não sa "antes de Sermos Conscientes é preciso Sa-
bemos. Ela não está isenta de poderes ne93 ber que somos inconscientes, e onde' quan-
tivos, destrutivos. Ela nos aciona por via do e em que extensão" "Vivenciar a al-
arquetípica, independentemente dos crité- rpâ r ne ste contexto , é nada ma i s gr and i oso

rios morais. Atua apenas pelas forças da que o humilde reconhecimento do arquétipo"
natureza. Pode agi r nos despotencial i zando "É preciso a percepção, a leitura das
através dos conteúdos do próprio incons- suas imagens e captar o mágico de suas men
ciente coletivo, Por fantas ias , pro jeções , sagens "
emoçÕes que transformam o consciente do in
divíduo. Pode nos levar a confrontar e mer Nossa gravura oferece também outros
gulhar no pantanoso e lamacento mundo in- elementos que estimulam a imaginação e Ie-
consciente . Pode mi sti f icar a exi stência e vam a buscar um maior entendimento da pos-
nos CanaLtzar para aS águas das incertezasl sibilidade transformadora dos processos psí
das ambigüidades e do mundo oculto " ' quicos. No quadrante inferior esquerdo, há
um amontoado de pedras rústicas no qual ee
Assim, a anima, como mediadora do tá encrustado um pedaço de madeira com a
desconhecido, tem a possibilidade de nos Ietra T. O conjunto sugere um túmulo. A pg
conduz:rr tanto para o lodaçal das indiscri dra tem um significado simbólico de totali
dade e continente das forças vitais- Para téria, a essência da matéria- A operação
os alquimistas, o segredo da vida estaria ou opus é parte de um processo de transfor
encerrada na pedra filosofal. Encontrá-Ia mação. Lidando com a matéria, os alquimis-
era a razão e o objetivo de todas as opera tas desenvolveram todo um pensamento filo-
ções transformadoras. A pedra, âssim , Yê- sófico que buscava a essência da vida, uft
presentaria a essência mais pura I a exis- valor maior para a existência- Através da
tência mais profunda e a própria psique hu transformação da matéria, o alquimista bus
mana. É um símbolo do Self. O túmuto pode cava o sagrado, a Luz, o tápis, a pedra fl
representar o ventre da Terra e da Grande Iosofal que conteria o segredo da vida - É
Mãe" É associado à morte, à ressurreição e um processo lento e paulatino que exige pg
aos processos de transformação e criativi- ciência , dedi cação, abnegação, coragem, tra
dade. É na quietude, Dâ escuridão oculta, balho, perseverança e esperança-
misteriosa, guê estes processos acontecem
sem que nada se deva ou possa fazer - Se Ao se decomPor, a matéria nos Permi-
Z
t orientam mais por emoções e intuições que te acompanhar o processo de discriminação
por razões e julgamentos. dos seus componentes. Verificamos que o
L. aparentemente sótido e Ienhoso se fragmen-
t
t Do outro lado da gravura há uma re- ta. Tudo deve ser revisto, reconstruído, re
feito, ampl iado. No processo, entramos em
L. presentaÇão simbólica semelhante. Um frag-
L. mento de madeira, uma tábua, sobre a qual contato com os vermes e os insetos, humo-
L. estão alguns objetos uma faca, uffi livro res, âflsiedades, sofrimentos, angústias e
L. e uma cabeça de aIho. Sobre esta tábua tam depressões. Há mudanças de rumo, desespe-
bém se vê vermes e insetos, o que sugere rança , ê, algumas vezes, somos presa do ds
E que a madeira está em putrefação- Na alqui sânimo e da sensação de fracasso.
mia, uma das fases do processo alquímico é
a putrefactio. É' uma operação que procura, O autor da gravura oferece outros o!
pela decomposição, o encontro da prima ma- jetos para se executar a mesma obra trans-
lt 27

?
?
?
p formadora. A faca pode representar um ins-
trumento de discriminação. Com ela disse-
cado mítico, altamente difundido na cultu
ra popular brasileira. Possui o poder mági
?
n camos e buscamos os meandros da personali- co de proteger o advento de acontecimentos
favoráveis ao indivíduo. É o poder anímico
La dade, identificando as partes que compõem
b
l)
nosso ser. À medida que entramos em conta-
to as vivências, experiências, QUê nos
com
da matéria, a força sobrenatural e trans-
cendente que incorpora os mistérios da vi-
La confrontamos com os símbolos da Sombra, e da. Ao representar o imponderáve1, imprevi
a
n
que pudermos discriminá-los, haverá a am-
pliação da consciência. Nos planos profun-
sível, inexplicáve1, que também pode ser
visto milagroso, sobrenatural, mani-
como
l) dos de nossa personalidade, encontraremos festação dos Deuses, o alho expressaria
ta os conteúdos muitas vezes determinantes da igualmente o fenômeno da sincronicidade co
l) forma de ser, sê comportar e se relacionar mentado anteriormente. É o reconhecimento
l) com o Outro. do acausal, que muitas vezes tem um papel
l) fundamental na vida. São acontecimentos gue
l) Próximo à faca está o livro. Este Po não têm conexão com os conhecimentos exis-
L.
ti
l)
de expressar a possibilidade de aumento do
conhecimento, da ampliação da consciência
tentes, que não podem ser explicados pelo
princípio da causalidade e que determinam
l- na procura de uma vida mais abrangente e com freqüência rumos imprevisíveis ao des-
l) de novos valores. É a busca da sabedoria, tino.
L. a revelação, o ensinamento, a tentativa de
l- alcançar o desconhecido e resgatar o perdl A faca, o I ivro e o alho são três ob
b
l)
do. A procura da verdade. O Livro da Vida
é uma conhecida alegoria e nele, sâbe-
jetos operativos que sinalizam um outro
instrumental para as transformações e que
b
? mos, sê inscreve o destino de cada uffi, o
próprio caminho.
se identificam com o processo psicoterápi-
co onde a sincronicidade se soma à discri-
|) minação para, âo final, sê alcançar a am-
?
? O alho, por sua vez, tem um signifi- pliação da consciência.

l)
t,
?
?
28

?
? G. Jung assinalou as semelhanças plar e então absorver e elaborar as suces-
?
n
C.
entre o processo psicoterápico e o da indi sivas imagens, sensações, emoções, também
adquire um precioso conhecimento de suas
L. viduação com a seqüência das operações aI-
l) químicas. percorrido o caminho discrimina- potencialidades. Com o devido tempo, Pro-
gressivamente, se fortalece e se enriquece
L. tório, podemos regomeçar e reconstruir uma
l) vida mais autêntica e mais integradora, êffi para a vida. Como as pérolas da gravura,
l) busca da totalidade. É o que chamamos de que ascendem os degraus, a partir da dor
l) morte e renascimento Psíquico- intensa da desintegração profunda o homem
l) se reorganíza para o belo, para o estético
l) Vejamos um outro aspecto que a gravg e para o ético.
l,.a
l.
?
ra sugere. A pérola se origina de uma pato
logia da ostra, seja espontaneamente, Por
tumoração, ou arti ficialmente, pela intro-
No quadrante superior direito, há um
dado e uma placa de pedra com inscrições
)) de caracteres hebraicos. Quanto ao dado,
L. dução de um grão que provoca o estímulo' A
b
L
partir deste núcleo irritativo, vão se so-
brepondo sucessivas camadas de substâncias
instrumento de jogo que evoca o sentido m{
gico, da sorte, do imponderável e imprevi-
L. assim produzidas e que, após longo tempo, síveI, do místico e caprichoso, do que es-
L' dão origem a pérola. Dessa maneira se ob- tá, no geral, aIém do conhecimento , fazen-
L. tém este precioso e tão desejado ornamento. do mais parte da sabedoria do que da ciên-
1,. cia. Novamente surge a idéia do fenômeno
da sincronicidade, 9uê está, a maior parte
2
t-
Na natureza, a transformação e a di-
ferenciação se processam de diversas for- das vezes, presente nos acontecimentos mais
marcantes da vida. Com relação aos caracte
mas. Vistas unilateralmente, a doença , a

a
t.
putrefação e a ansiedade desorganizam. No
entanto, quando a persoonal idade consegue
res hebraicos, lembram os escritos sagra-
dos que transmitem o trajeto do Homem, des

h
l)
conter e assimilar uma guantidade de ansie
dade, podendo assim refletir, se contem-
de o mito da origem da consciência até os
elevados valores que regem a humanidade. É

l)
t
29

a própria cultura. Ao dirigir seu olhar pa ração propicia transformações.


ra estes caracteres, o Homem está olhando,
na verdade, para o seu passado, suas trad! Dado e Cultura, o mágico, milagroso
ções, suas origens, sua história. Desta for ou sincrônico, o misterioso presente em tg
mâ, ao se conhecer melhor, sê instrumenta- do processo vita1, se associa ao conheci-
liza através da elaboração deste conheci- mento, vivências, tradições, Princípios,
mento, para um futuro discriminado e prova discriminações, Possibilitando ao Homem a
velmente mais íntegro. O dado e a placa de ampliação da sua consciência. Ét um proces-
ped.ra com a s i nscr i ções estão na mesma I i - so que não está isento de dor, ansiedade
nha de visão do Homem, podendo significar ou até mesmo de perdas sociais, mas que p9
a necessária associação para uma satisfató derá propiciar novos valores prospectivos
ria discriminação e conscientízação. e enriguecedores da vida.

Neste conjunto Homem-Dado-Cu1tura, Ao observarmos a gravura, nos seus


que se situa no ângulo superior direito da elementos particulares e no seu todo, assi
gravura ângulo da consciência, do lumi- milando as emoções desencadeadas pela inte
noso e do espiritual, sê9undo a análise ração das figuras, vivenciando o imponderé
psicológica dos desenhos o sentido da vel e o expresso, poderemos vislumbrar uma
visão passa a ser o meio propiciador de via que possibilite a transformação deste
captação das mensagens que o Outro oferece, estado psíquico unilateral, representado pe
provocando, com freqüência, o desencadea- 1o busto masculino, tirânico, inflexível,
mento de emoções mobilizadoras de mecanis- aprisionador e que mantém o feminino retor
mos psíquicos e de símbolos que extrapolam cido, deformado, incapaz de desincumbir-se
os próprios sinais transmitidos pelos obje de sua função criativa e vivificante. Ao
tos coneretos. A energia mobilizada tem pe se tornar viáve1 a libertação do feminino,
tencialidades capazes de atingir componen- também o masculino se libertará e o proces
tes sombrios da personalidade, cuja elabo- so de individuação prosseguirá seu curso-
sendo a individuação um processo de lugar ao "nós ", o respeito e a considera-
ampliação da consciência com a integração
ção ao outro será a tônica de nosso compor
e elaboração dos símbolos que se originam tamento. passa-se a viver o dinamismo da
da mobi Lízação dos arguétipos r euê compõem alteridade, segundo a perspectiva evoluti-
o inconsciente, esta meta da maturidade do vo estrutural do desenvolvimento da pel
Homem fica capacitada de se cumprir. A anr
sonaridade descrita por carlos Byington
frâ, expressa na imagem da mulher, sê torna,
assim, a inspiração maior, a companheira Todo este processo está contido na
estimuladora, desencadeadora de uma vida expressão simbólica do vaso com a flor,
rica e criativa. centro da gravura, situado no ventre da
anima. Este vaso tão precioso , o vaso al_
A condição indispensáver para a indr quÍmico que transforma, o útero gue erabo-
viduação é a honestidade psicológica: um fâ, desenvolve, cria e contém o novo, guê
Ego gue não necessita apenas se proteger, faz renascer e prosseguir. É neste proces-
mas gue também pode mergulhar e tra zer à so gue existe a possibiridade da coniunctio
tona a Iuz, ampliar a consciência e gue es este encontro das polaridades, a erabo-
teja aberto a aceitar o que daí advier. o ração das diferenças com o objetivo de re-
Ego desenvolvido a consciência ampliada lativi zá-Ias. aí vigora a dialética entre
propicia uma vida mais autêntica. o masculino e o femininor o homem e a mu-
therroconscienteeoinconsciente, bus_
Este mecanismo pode ocorrer das mais cando não apenas a identificação mas a po§
diversas maneiras e nos momentos mais im- sibilidade de união, de encontro, o casa-
previsíveis da vida. Escapa à nossa vonta- mento do Rei e da Rainha.
de ou determinação. cada indivÍduo terá
sua via particularizada. Na ma:ior parte Deste vaso surge a f lor, ç[ue é a gran
das vezes, é uma via heróica r sofrida e de manifestação de vida da natureza, gue
sem aplausos. No f ina1, porém, o ,,eu,, dará emociona por sua harmonia, por sua cor e
t
F
9
31

-
- beleza. Que perfuma o àt, encanta e inspi- V. CONCLUSÃO
)
)
ra os corações dos homens desde sempre. A
flor que dá brilho, frescor e desabrocha
- para o amor. Precisamos libertar a anima' No Capítulo II acentuamos o empenho
) Ela é as-
Com esta flor, recebê-Ia, selando a sagra- do Homem na busca ,Ca f et icidade -
-
) da aI iança. sim definida por caldas Aulete: Felicidade,
) s.f., qualidade do que é fel_:-z, satisfação,
) contentamento, bem-estar. - - bom êxito, su-
,a' cesso. Felicidade eterna, a bem aventuran-
- Çâ, a salvação, a glória celestial". Tam-
) bém diz: "fe1iz, adj.,ditosot afortunado,
- próspero, contente , alegre , sati sfeito,
- abençoado, bendito.. . que teve bom êxito,
que prosperou"
tt. Fica claro que a indivi-
-
a, duação não implica forçosamente no encon-
ta
- tro da fel icidade. A perseguição da felici
La dade é um propósito egóico. No processo de
individuação, êffi certo momento da vida, o
f,,.
?
[a
Ego, gêralmente voltado para os valores co
letivos, pâssa a ocupar um lugar subordina
do perante as forças inconscientes, possi-
L.
-
bilitando o encontro do melhor conhecimen-
L. to de si mesmo. A dominância do Ego deve
f-
?
desaparecer para que a pessoa não se disso
cie da fonte da vida, dos valores indivi-
? dua i s . Este cami nho , 9uê deve condu zLr à

b
-
l.n
plenitude, à integridade, à autenticidade,
,f 32

-
)
- à paz consigo mesmo, nem sempre coincide trutivas, sombrias. Sentimo-nos paraliza-
- com o da felicidade, como é entendida pe- dos, encapsulados.
)
Ia cultura, predominantemente buscada no
- mundo sócio-cultural. Na maior parte das vezes em que con-
- frontamos problemas ou forças ligadas ao
)
) Em épocas da vida, quando estamos en coletivo, atuamos heroicamente. Mas é ex-
) volvidos em uma situação que canalíza nos- tremamente difíci1 nos mobi lizarmos para
sas energias para o mundo exterior, âs cri confrontar as forças internas, transforma-
- doras. Somos tomados pela "permanência da
ses interiores tendem a ficar submersas -
- ansiedade", que procuramos aplacar buscan-
) Mas quando a vida ligada ao mundo externo
se torna menos polarizadora, os conteúdos do a resolução de novos conflitos sócio-
-)
inconscientes nos forçam a entrarmos em culturais, o que transmite uma sensação de
- contato com e1es, nos empurram aos proble- apaziguamento. Assim, perdemos grande opor
- mas psicológicos não equacionados. Preqüen tunidade de experimentar o "ell" maior. No-
- temente o homem tem a falsa noção de QU€, vamente se processa a ruptura interna, pro
- uma vez resolvidos os problemas ligados à funda, do eixo Ego-Arquétipo Central, e
- sociedade e à cultura, tudo estará resolvi saímos em busca da falsa segurança que ima
- do e ficará bem. No entanto, o que se cons ginamos alcançar no mundo externo. Substi-
-) tata é que resoluções restritas ao níve1 tuímos elaboração por atuação. Ao permane-
externo, dissociadas Cos valo'res indivi- cermos com o Ego predominantemente ligado
- duais, geram desequilíbrios. Quando nega- aos padrões coletivos, vivemos sob a sensa
-
mos ou rejeitamos, defensivamente I a am- ção da ameaça da competividade, tomados con
-
pliação da consciência através da elabora- seqüentemente de fantasias destrutivas e
-
- ção dos valores próprios, arquetípicos, so depressivas. Um mau espírito se constela e
- mos severamente punidos. As forças expres- envolve o indivíduo com seus humores, maus
sas nos símbolos e dispostas a nos ajudar presságios e idéias obsessivas. Por trás
a
-
D e a nos tornar criativos se manifestam des disto está a anima. Em conseqüência, o ho-
It
9
b 33

-
)
) próprias, individuais, da alma, ela se re-
mem é presa mais fácil do lado negativo da
- anima, de seus afetos e humores de feiti- belará. E a relação com a vida se tornará
- ceira. negat i va .
-
- Por outro lado , o indivÍduo não sabe Não advém da anima a insatisfação sen
- tida. Se nos relacionarmos harmonicamente
) que tal estado de ansiedade o invade por-
) que sua psique inconsciente está se rebe- com e1a, €laboraremos suas mani festações
lando contra esta sua vida e estas suas me simbóIicas de forma pessoal, direta e cons
-
tas. EIe sabe apenas que se sente insatis- cientemente. Então a anima nos ajudará'
-
- feito e supõe que sua insatisfação se deve,
- novamente, aos problemas coletivos; assim, É necessária a abertura para a acei-
- deposita a razão de sua depressão em ou- tação do lado irracional da vida com

- tros nas calamidades do mundo, nos polí seus paradoxos e contradições para a
- ticos que atuam erradamente, Do poder que "permanência da ansiedade", quando identi-
- se encontra em mãos i ncompetentes , etc . . ficamos a impossibilidade de impor nossa
- Através de sua depressão, do tédio, dos vontade aos des ígnios inconscientes . Esta
I.
-
n
sintomas psicossomáticos ou expectativas
de alívio junto ao álcool e às drogas , .se
mesma "permanência da ansiedade" tende a
dirigir nossos propósitos no sentido de
b
t expõe uma anima aborrecida porque ignorada uma maior conscientLzação, do diá1ogo, do
confronto com as diversas polaridades, do
e aprisionada. Ela representa sua alma, os
tl- valores da vida e irá torturá-Io até relacionamento com o ponto de vista incor-
porado no outro lado, o inconsciente. É ne
l) ser levada em conta.
cessário um movimento de interiorização,
tl- Precisamos considerar tanto o mundo uma introversão em busca da Luz interior.

L. externo quanto o interno. Enfrentar bata-


l- thas exteriores e encarar a batalha inte- A vida daí oriunda é criativa, não

l- rior. se não considerarmos as solicitações importando o quanto isto possa exigir de

l.
n
f, 34
F
h
f,
i.
I.
sacri fício , )á que r corl freqüência, ela
nos faz confrontar e viver conflitos com
rior. Este afastamento leva-o à solidão,
angústia, à depressão.
à

lta aspectos de nossa cultura e com pessoas


n que nos cercam. A vida predominantemente A incapacidade de uma relação humana
F voltada para os valores coletivos e cultu- fluida e aberta com o outro resulta da per
manente dificuldade da relação Ego-Arquéti
l. rai s, de seu lado, é r ígida, estreita, com
É petitiva, cheia de ameaças reai s ou liga- po Central, da elaboração simbólica, dâ re
fr das a nossa fantasia; uma vida particular- lação consigo mesmo. Expressar amor e sen-
- mente interessada na reaLtzação de ambi- timentos nos torna vulneráveis, passamos a
- ções e na defesa de interesses, de uma su- temer a aproximação com o outro. Tomados

-ra posta segurança. Enquanto permanecermos as pela dominância do dinamismo patriarcal, o!


sim, a vida criativa estará bloqueada. Te- de predomina o racional, os homens se tor-
- remos a sensação do indivíduo que se sente nam inflacionados, tirânicos, formais e
- seguro dentro de uma fortificação mas na a única camaradagem aceitável é uma incons
- ciente aliança e um convÍvio amistoso com
I' qual está, Dâ verdade, como pri sioneiro -
p
I

p
um indivíduo igualmente defendido, üffi sus-
Disto tudo só viremos a saber quando tentando e alimentando a rigidez e a infle
!a tivermos experimentado uma vida mais livre- xibilidade do outro. Esta relação jamais
p
I

Enquanto não a experienciarmos não sabere- diminui a solidão e a depressão, a melan-


I. mos jamais a diferença. O Ego patriarcal- colia e o tédio decorrentes deste estado-
I. mente defendido resiste a constatar este O indivíduo que consegue contactar a pró-
Io fato e luta para manter o estático, o co- pria alma não está só, mesmo quando sozi-
F nhecido, o preestabelecido, defendendo-se nho, pois tem junto a'si a força de seus
l-
lra das transformações, negando-se a ver a pró pensamentosrainspiraçãoe a imaginação
Io pria moléstia. Quanto mais isto ocorre mais criativa. Sem esta conexão, ficamos na ari
b ele se distancia da anima e, portanto, da dez do deserto.
Io fonte do amor, da energia, da força inte-
h
p
35

Evidentemente, a abertura para o in- tenacidade, buscar a nossa verdade e só


consciente não é desprovida de sofrimentos, assim se comeÇa a viver criativamente. Só
com episódios freqüentes de ansiedade, pois daremos os primeiros passos para uma mudan
e1a implica na quebra das defesas, Dâ rup- ça de atitude e uma nova visão de nós mes-
tura das muralhas que nos mantêm Seguros, mos se estivermos abertos para os símbolos
apesar de prisioneiros. são situações de da anima, se levarmos a sério nossas emo-
confronto e não raramente temos que pas ções e fantasias, absorvendo e integrando
sar pelas fases do opus alquÍmico, Putre- os signi ficados, buscando nos libertar do
factio, solutio, chegando a viver o proces excessivo racionalismo e intelectualismo,
so do phoenix, o pássaro mítico que renas- da rígida moralidade social, do obscuran-
ce das próprias cinzas, expressão simbóIi- tismo castrador.
ca da morte e renascimento, dâ imortalida-
de pela transformação. Muitas vezes passa- É necessário que o arquétipo do he-
mos por incompreensões. Freqüentemente nos rói se mobi I i ze e atue nesta I i beração, Do
defrontamos com sentimentos de culpa quan- reconhecimento do que foi reprimido, dos
do ideais coletivos se antepõem e tentam mecanismos defensivos que atuaram desvian-
nos ditar como ser ou o que fazer. Ao c9n- do-nos do caminho autêntico, da rea1-tzação
frontarmos padrões coletivos preestabeleci do próprio mito e da efetivação da adequa-
dos que se chocam com aqueles oriundos da da ruptura com os padrões convencionais da
necessidade interior, ficamos desenergi za- sociedade e da cultura.
dos, deprimidos. Mas se não reagirmos a is
7
t-- to e não fortalecermos a consciência con-
tra estas emoções, poderemos cair na arma-
Precisamos estar atentos à voz inte-
rior, conscientemente. Face a esta voz I
7
p di lha da i nf lexibi 1 idade e nos tornamos , que nos dita a atitude considerada íntegra
para nós, os conselhos bem intencionados e
l.
?
por um sentimento de culpa, fêsponsáveis
por tudo que acontece a nós e aos outros. sensatos ligados ao consenso coletivo se
tornam às vezes inócuos. Os caminhos dolo*
É preciso superar estas crises egóicas com
l-a
v.
[,
n
h 36

Io
to rosos, âs lutas para elaborar os conteúdos A meditação sobre a "permanência da
lra
b sombrios são o poder e a potência heróica
para transformar a vida e nos condu zír a
ansiedade" deve possibilitar ao homem sal-
tar de seu pedestal, do plano egóico rígi-
tI'
I

novos padrões nos quais podemos viver as do, descer a um plano inferior, ao mundo
b
n
polaridades, a alteridade, o respeito a
nós mesmos e ao próximo, numa consideração
do reprimido, das emoções e das paixões, à
psigue inconsciente, buscar a alma e liber
e numa assimilação própria, pessoal, dos tar a anima aprisionada, elaborar e inte-
-
padrões culturais e individuais. grar as suas manifestações simbóIicas, tor
,a
-
ná-la a inspiradora maior e, assim, dissi-
-ra par a ansiedade. Conjugar-se com a anima,
ra buscar a adequada relação do Eu com o Ou-
tro, a integração de si mesmo, o caminho
-,a A jornada delineada no presente tra- para o amor, uma nova dimensão humana.
,a balho é a interpretação maior do sonho com Transformar a anima na companheira do Caml
,o o gual ele foi introduzido. Ague1e sonho, nho, do grande salto para uma vida mais Ii
,a ao indicar a necessidade de saltar o bar- vre e mais criativa.
!a ranco, dobrando os joelhos, e prosseguir
114 no Caminho, aponta para a necessidade de Esta mesma jornada enfat íza, igual-
ra uma atitude heróica e também de humildade mente, a grande sabedoria expressa nas pa-
-a perante a vida. Mais uma vez verifica-se o lavras de C.G. Jung citadas na primeira pé
- profundo sentido dos sonhos, das fantasias, gi na . Elas s i nal i zam para a necess idade de
- da imaginação ativâr da introspecção e da se buscar o próprio Caminho, o próprio mi-
- meditação. Eles nos possibilitam receber to, com autenticidade e integridade.
- mensagens do inconsciente que, elaboradas,
- Ievam ao autoconhecimento.
-
-
-
-
3t

VL REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BERTALANFFY , L. von - Robots, hombres


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p.46-
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a
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Erich. The Child. New York,
j

p.42-103. 14 NEUMANN,
Harper and Row , 1976 - P. 1 8-19 '
ll.
[r cAssIRER, E. Antropologia filosófica.
h Op. cit., P-51-
i,+.
3â)
__l 15 BYINGTON, C. Desenvolvimento da Per- 22 sTErN, M. o pai devorador. In VITALE,
) sonalidade. Op. cit. P.41 . A. et aI. Paes e Ivlães . São Paulo,
,r.t 9. p .91 .
^) S ímbolo , 197
_l 16 Ibid. Op. cit . p.67 .
23 KERÉNY, K. Hermes , guide of souls '
) Dallas , SPring , 1987 - P.7 -43 '
17 LENNEP, J. Van. Art et Alchimie - Bel-
g ique , Meddess, 1 97 1. P .247 -249 -
24 JUNG, C. G. Sincronicidade ' Petrópo-
ALuaeaconsciência 1is, Vozes, 1984 (Obras ComPletas,
I
{
l8 NEUIT'IANN, Er
matriarcal.
i ch .

In VITALE et aI. Paes


Paulo, Símbolo, 1979 -
vol-8-18) ' P'534'
e Mães. São
(
! p.55-19. 25
dade - persona e sombra - São Paulo,
19 JUNG, C. G. O Espírito na Arte e na
I
Ática, 1988. P.11-12-
Ciênc i a . Petrópolis, Vozes, 1 985 -
p.87. 26 Ibid. oP. cit. p.12.

27 Ibid. OP. cit. p .26-3 4


20 JAFFE, A. O Simbolismo nas artes plás
ticas. In JUNG, C-G- O Homem e 28 Ibid. OP. cit. p.34.
seus Símbolos . 2a. ed - Rio de Ja-
neiro, Nova Fronteira - p.253. 29 Ibid. op. cit. P.11
, 30 BYINGTON, C. Desenvolvimento da per-
) 21 CIRLOT, J.E. A Dictionary of Symbols '
sonalidade. OP. cit- P-63-64'
) New York, Phi losoPhical LibrarY,
Inc. 2a.ed., 1971- P-10- A. O Simbolismo nas Artes PIás-
31 JAFFE,
ticas . In JUNG, C. G - O Homem e
seus SÍmbolos . oP. cit - P -236 -
39

32 BYINGTON, C. Desenvolvimento da Per- 38 BYINGTON, C. A ldentidade pós-patriar


E
p sonal idade . Op. cit. P.8. cal do Homem e da Mulher e a estru-
turação quaternária dÔ padrão de aI
f
b
p
33 HILLMAN, J. Anima. Spring. New York,
(1973) :97-132 & (1974) : 1 13-146 -
teridade da consciência pelos arqué
tipos da Anima e do Animus. OP-cit'
p. 13.
p
FD
Mâlvina. Identidade Feminina-
p
p
34 MUSZKAT,
Ed. Vozes, PetróPolis, 3a-ed-, 1987 - 39 AULETTE, Caldas . Dicionário Contempo-
p.40. râneo da I íngua portuguesa - Op - cit.
b vol .3. p."l'745.
b C. A Identidade pós-patriar
b
b
3s BYINGTON,
cal do Homem e da Mulher e a estru-
turação quaternária do padrão de aI
TD
5
b
teridade da consciência pelos arqué
tipos da Anima e do Animus.
b Junguiana. São Pau1o, Sociedade
Bras. Psicologia Analítica. ( 4) 25,
lD
1986. p .25 "
E
HILLMAN, J . An ima . SPr i ng . 'l 97 3

E 36
1974. oP. cit.
h P.113-146-

37 Ibid. op. cit. P. 1 1 3- 1 46 -

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