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Pobre, Angenor trabalhou desde cedo, fazendo bicos como pintor de paredes, lavador de
carros e pedreiro. Ganhou o apelido de Cartola graças ao chapéu coco que usava para não
sujar os cabelos de cimento. Cedo também, já freqüentava as rodas de samba e a boêmia
do morro onde morava. Cartola deixou a escola na quarta série do ensino fundamental.
Aos 17 anos, expulso de casa pelo pai, envolveu-se com mulheres, passou a beber,
adoeceu e deixou de trabalhar. Prostrado num pequeno barraco, recebeu a visita de uma
vizinha, Deolinda, com quem Cartola viria a se casar.
Deolinda lavava e cozinhava para fora, e o barraco em que passaram a viver estava sempre
cheio. No morro, Cartola começou a ficar conhecido como compositor e sambista. Lá
conheceu Carlos Cachaça, que viria a ser seu grande parceiro e amigo. Formavam uma
turma de arruaceiros, que pulavam o carnaval como Bloco dos Arengueiros. Esta
associação acabaria gerando a Mangueira, a primeira escola de samba carioca.
Junto com seis amigos, no dia 28 de abril de 1928 Cartola fundou Escola de Samba
Estação Primeira de Mangueira. Ele escolheu as cores - verde e rosa - e passou a ser o
diretor de harmonia da escola.
Em 1929, Cartola vendeu uma canção para Mário Reis, que a repassou ao maior cantor da
época, Francisco Alves. Em 1932 conheceu Noel Rosa, com quem fez amizade. Começou a
se tornar conhecido e teve sambas gravados por Carmem Miranda, Francisco Alves e Sílvio
Caldas, entre outros cantores de grande fama.
Nos anos 1940, Cartola viveu um período de grandes dificuldades. Doente e viúvo,
mudou-se do morro da Mangueira para a Baixada fluminense. Desapareceu completamente
dos meios musicais e chegou a ser dado como morto. As coisas começaram a melhorar
quando voltou para a Mangueira, depois de começar a namorar Euzébia Silva do
Nascimento - a famosa Dona Zica.
No começo dos anos 1960 tornou-se zelador da Associação das Escolas de Samba do Rio,
que funcionava num casarão no centro da cidade. O local começou a promover rodas de
samba, alimentadas pela sopa de Dona Zica. O sucesso foi tanto que logo o casal abriria
sua própria casa de samba e restaurante, o Zicartola, num outro casarão na rua da Carioca,
também no centro do Rio de Janeiro.
Conhecido do grande público, Cartola passou a ser convidado para fazer muitos shows.
Com o compositor João Nogueira, participou do projeto Pixinguinha, tocando e cantando por
todo o país. Em 1977, voltou a desfilar pela Mangueira, depois de 28 anos. No ano
seguinte, lançou um disco por uma grande gravadora, a RCA Victor. No ano seguinte, em
busca de tranqüilidade, Cartola e dona Zica saíram do morro da Mangueira para morar
numa casinha em Jacarepaguá, subúrbio carioca.
Nesse mesmo ano, Cartola foi homenageado pelos seus 70 anos, na quadra da Mangueira.
Dois anos depois, o compositor morreu, por complicações de um câncer na tireóide. Três
dias antes de sua morte, em novembro de 1980, Cartola recebeu uma homenagem do
poeta Carlos Drummond de Andrade, numa crônica publicada no "Jornal do Brasil".
Em 2006, foi lançado o documentário "Cartola", dirigido por Lírio Ferreira e Hilton Lacerda