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APRESENTAÇÃO
CHICO SOARES, OU "CANHOTO DA PARAIBA", princesense, genio musical e ser humano dos
melhores. Escrever sua biografia foi a forma que encontrei de prestar minha homenagem à
este conterrâneo impar. Ainda incompleta, mas cheia de testemunhos que darão ao leitor a
grandeza e a dimensão desse personagem.
BIOGRAFIA
Em 1944, com 18 anos, foi levado para Recife pelo frade carmelita FREI CASANOVA, para
tentar um emprego na Rádio Clube de Pernambuco. Por saudade, desistiu e voltou para
Princesa, de onde só saiu em 1951, já com 25 anos. Contam alguns contemporâneos seus, que
CHICO vivia em quase todos os momentos diários junto a seu violão, como se fosse uma
extensão do seu corpo e de sua alma!
Assim, pode-se concluir que “Princesa foi o berço e a grande escola onde se moldou e se
formou o gênio musical” que foi CHICO SOARES!
Em 1951, levado pelo então Deputado ANTONIO NOMINANDO DINIZ, assinou contrato com a
Rádio Tabajara de João Pessoa, onde ficou até 1957. Lá, conviveu com grandes músicos, como
SIVUCA e LUPERCE MIRANDA. Com a companheira MARIA LACERDA (Nazinha), teve 2 filhas-
Lourdes e Socorro ( Corrinha) - que são nomes de valsas de sua autoria.
Em 1955, com 29 anos, fica viúvo. Em 1957, transfere-se para Recife, onde vem a integrar o
elenco da Radio Jornal do Comercio (aquela que falava “de Pernambuco para o mundo”). É em
Recife, que ele amplia seu circulo de amizades com importantes nomes do “CHORO” (um estilo
musical). E ganha o nome de “CANHOTO DA PARAIBA” dado por um produtor do programa de
radio “luar do sertão” da Rádio Jornal do Comercio, de Recife.
Em 1959, CHICO vai ao Rio de Janeiro, numa viagem de jipe de 5 dias, junto com amigos e tem
o grande encontro com a nata dos “chorões” cariocas, onde causou a mais vivida impressão
pela sua técnica inimitável e pela sonoridade e estilo ,revelando-se um mestre na arte da
composição e um virtuose do seu violão canhestro, no dizer do musico e produtor musical
Herminio de Carvalho. O conhecido musico PAULINHO DA VIOLA , registra que nessa ocasião,
que entusiasmado pela performance de CHICO, ganhou enorme motivação para sua futura
carreira musical.
Voltando para Recife, casa-se com EUNICE GADELHA, de quem teve mais duas filhas: FATIMA
e VITORIA- que também são nomes de valsas de sua autoria.
Em 1968, grava seu primeiro disco (LP)– ÚNICO AMOR – pela produtora pernambucana
Rozemblit. Em 1971, grava um segundo disco (LP)– UM VIOLÃO DIREITO NAS MÃOS DO
CANHOTO – gravação particular, financiada por amigos e admiradores. Em 1977, produz seu
terceiro disco (LP) “CANHOTO DA PARAIBA, O VIOLÃO TOCADO PELO AVESSO, pela produtora
Marcus Pereira. Em 1993 e 1994, mais um disco (LP) “PISANDO EM BRASA” e o primeiro CD
“COM MAIS DE MIL.” O primeiro pela produtora Caju Music e o segundo pela produtora Marcus
Pereira.
Ao longo de sua carreira artistica, teve participação destacada em muitos outros títulos de
discos, alem de ter suas belas composições apresentadas por outros músicos. Foi a grande
fase, o apogeu da carreira, com viagens, tournées, shows, sendo um dos artistas mais
requisitados nos eventos musicais do Recife e outros lugares. Era preciso agendar com
bastante antecedência para se ter oportunidade de ter o artista nos eventos.
Entre 1990 -1994, em projeto apoiado pelo Banco do Brasil, animado pelo seu
Superintendente Regional na Paraiba, GERALDO AZEVEDO, CHICO teve sua ultima grande
presença no cenário artístico, se apresentando em mais de 50 cidades da Paraiba , e até em
Portugal.
Em 1995, com 69 anos de idade e 51 de carreira artística aposentou-se , por tempo de serviço
num pequeno emprego que tinha no SESI de Recife, onde era funcionário da assistência social,
somado ao tempo que trabalhou na Transportadora Relâmpago, onde era mantido pela
amizade do seu proprietário, para animar os eventos de lazer da empresa.
Nesse período, CHICO veio muitas vezes à sua cidade natal, Princesa. Era sempre o grande
reencontro. Gerava admiração, curiosidade e encanto com sua maestria. Era a grande noticia.
O comentário principal dos princesenses.
Em 8 de abril de 1998, aos 72 anos, um derrame (AVC) atinge CHICO com efeito devastador na
sua capacidade física e mental. O lado esquerdo paralisado, impossibilitou-o de tocar o seu
velho companheiro violão- a “tabuinha” como o apelidava. Falava com dificuldade, não andava
e precisava de fisioterapia permanentemente. Somando-se a esta tragédia , uma outra se
abateu sobre ele, ao ficar viúvo pela segunda vez. Passou então a viver com sua filha Vitoria
Gadelha até seus últimos dias. Morava –nos últimos anos - em Paulista, cidade pernambucana
na área do Grande Recife, no bairro Maranguape I, numa casa simples, sem maiores confortos,
mas cheia de recordações , principalmente de sua terra natal, assunto permanente em suas
conversas e entrevistas.
CHICO tinha como principal fonte de renda uma aposentadoria de seis salários mínimos, que
estava longe de cobrir as despesas com as suas sessões de terapia diária. Assim que
souberam do seu grave estado de saúde (chegou a ser internado em UTI), vários dos grandes
nomes do chorinho e do samba, cariocas e pernambucanos, realizaram no Teatro Guararapes,
com produção da Raio Lazer, um show beneficente para o violonista. Estiveram lá desde o seu
maior fã, PAULINHO DA VIOLA, ao mitológico ÉPOCA DE OURO (grupo que acompanhava Jacob
do Bandolim), ALTAMIRO CARRILHO, e os pernambucanos DALVA TORRES, NUCA, RACINE,
CLÁUDIO ALMEIDA, NENÉO LIBERALQUINO. A renda líquida, R$ 27.180,00, transferida para
CHICO, foi gasta no tratamento intensivo a que ele era submetido na época.
Em 2002, numa iniciativa inédita no país, Pernambuco foi o primeiro Estado brasileiro a
instituir, no âmbito da Administração Pública, o Registro do Patrimônio Vivo, que reconhece e
gratifica com uma pensão vitalícia mensal representantes da cultura popular e tradicional do
Estado. Um dos primeiros agraciados foi CHICO SOARES, junto com outros músicos
pernambucanos como Camarão, Lia de Itamaracá e Mestre Salustiano. A cerimonia de entrega
dos primeiros 12 titulos de Patrimonio Vivo de Pernambuco, aberta ao público, foi realizada
em frente ao Palacio do Governo do Estado (Campo das Princesas), no Recife, no dia 31 de
janeiro de 2006.
Ainda em 2004, em Princesa Isabel, realizou-se um projeto de resgate da vida e obra desse
princesense impar, por ocasião das comemorações da emancipação política do Município. Este
projeto, coordenado pela Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura de Princesa Isabel,
teve como titulo “CANHOTO DA PARAIBA – DE PRINCESA PARA O MUNDO”. Envolveu 4500
crianças e jovens da rede municipal de ensino, seus professores e técnicos Milhares de jovens
princesenses escreveram textos, poesias, cartas, desenharam e pintaram, modelaram figuras
e ambientes, tocaram e ouviram a musica de CHICO. Foram produzidos vídeos, entrevistas,
palestras, sempre sobre o mesmo tema. A Radio Princesa, a Igreja Católica e a Câmara
Municipal também participaram do evento. Foi realizado o “I CONCURSO DE VIOLÃO –
CANHOTO DA PARAIBA –“. Uma rua ganhou o nome de “CHICO SOARES – CANHOTO DA
PARAIBA”. Infelizmente, esta comemoração não contou com a presença do homenageado, por
absoluta impossibilidade física do mesmo, de poder se deslocar até Princesa.
querida, como dizia. Na ocasião, ele confessou aos amigos, que aqueles foram dias dos mais
felizes de sua vida. Recebeu ainda homenagens, presentes, reviu velhos e novos amigos,
tendo sido realizado um evento que foi denominado “NOITE DA SAUDADE”, onde, na Pousada
do Cedro, foi feita uma apresentação de músicos princesenses, jovens e maduros , que o fez ir
às lagrimas de emoção, como também, aos que lá estiveram. Tudo isso está registrado em
fotos e vídeo, parte deles podendo ser vistos neste blog ou no "you tube".
Os últimos anos de vida do grande artista: doente, sem recursos, esquecido do grande publico
e protegido de última hora pelo poder público. Mas CHICO também foi grande na dor.
Resignado, conviveu com a doença, e guardando seu jeito, seu sorriso, encantou ainda à
tantos que o visitava em sua residência. E assim, passados 10 anos de uma longa jornada de
sofrimentos, após o AVC que o atingiu, CHICO SOARES – O CANHOTO DA PARAIBA, deixou esta
vida para entrar na história.
HOMENAGENS PÓSTUMAS
Em 19-03-2010 foi comemorado pela primeira vez, o "Dia do Artista Princesense, com evento
público do 1° Salão de Arte e Artesanato Princesenses", tendo sido apresentado o "Memorial
Francisco Soares de Araujo", em paineis fotograficos, tendo sido premiados artistas e artesãos
princesenses.
de Paulista/PE para o cemiterio publico de Princesa Isabel, onde foram depositados num
mausoléu especialmente construido para este fim, de arquitetura refinada, em forma de violão
estilizado, decorado com mosaico artistico representando a figura do homenageado e outros
detalhes artisticos. O mausoleu tem 8 metros de altura, sendo hoje o maior monumento do
Municipio.
A cerimonia de enterro foi pomposa e solene, com desfile do cortejo pelas principais ruas da
cidade, cerimônia religiosa, sendo considerado o maior evento dessa natureza dos ultimos
tempos. Novamente, à noite, grande apresentação musical, com participação de músicos
locais, recifenses e das cidades vizinhas, completaram as homenagens.
FRANCISCO SOARES DE ARAUJO retornou assim definitivamente à sua terra natal. E para
quem passou grande parte da vida com um violão como companheiro, ficará agora -
eternamente - em repouso num violão estilizado, presente de seus conterrâneos princesenses.
Resumidamente aqui foram descritos os caminhos da vida e da obra de CHICO SOARES. Mas
sabe-se que, dentro de cada ser humano existe um jeito de ser que só é percebido pelos que o
rodeiam, que com ele convivem. Assim, aqueles que um dia cruzaram seus caminhos com o de
“CHICO SOARES” e ou “CANHOTO DA PARAIBA”, dão seus testemunhos:
DEPOIMENTOS -
E eu finalizo: