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A Mata Atlântica na Bahia distribui-se por propriedades corporativas – com mosaicos de
cinco regiões: Chapada Diamantina-Oeste, Litoral fragmentos florestais e plantações de cravo, den-
Norte, Baixo Sul, Sul, Extremo-Sul. Essas regiões dê e seringueira, e extração de piaçava. Poucos
apresentam características ecológicas, histórias de remanescentes florestais ainda sofrem desmata-
ocupação humana, usos do solo e pressões antrópi- mentos para plantios comerciais e alimentares,
cas distintas. Diversos ciclos econômicos sucede- mas a exploração madeireira ilegal é intensa.
ram-se nos domínios da Mata Atlântica na Bahia: Inclui a Baía de Camamu, extensa zona estuari-
pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, diamantes, café, na, com trechos únicos de manguezais, florestas
jacarandá, gado, algodão, cacau e recentemente de restinga e campos nativos e a Ilha de Tinharé
monocultura de eucalipto. (Morro de São Paulo), que recebe grande aporte
Das cinco regiões da Mata Atlântica na de turistas e novos vetores de pressão surgem, em
Bahia, três são sucintamente apresentadas abaixo especial a carcinicultura e a indústria de gás e óleo
e situam-se ao sul da Baía de Todos os Santos no implantadas a partir da Baía de Camamu.
Corredor Central da Mata Atlântica (CCMA): o A Região Sul ou Cacaueira, limitada pelos
conjunto delas é chamado genericamente de Sul rios de Contas e Jequitinhonha, é considerada a re-
da Bahia. No entanto, distinguimos as sub-regiões gião mais tradicional do cultivo do cacau no sistema
Baixo Sul, Sul (também conhecida como Região cabruca (cacau cultivado à sombra de árvores rema-
Cacaueira) e Extremo Sul, por apresentarem rea- nescentes), com estrutura fundiária dominada por
lidades socioambientais muito distintas. pequenos e médios proprietários. O cacau/cabruca
O Baixo Sul, entre os rios Paraguaçu e de domina, deixando grande número de fragmentos de
Contas, apresenta estrutura fundiária diversifi- médio e pequeno portes isolados nas encostas mais
cada e antiga – desde assentamentos até grandes altas dos morros e em áreas de difícil acesso.
Jindiba
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foi aberta da Rodovia BR-101. Ali, conheceu um próximo aos 30.000 m3, envolvendo mais de
intenso processo de desmatamento, no modelo 540 fábricas e a derrubada, em média, de cerca
amazônico: produção de carvão, depois implan- de cem árvores por dia.
tação de pastagens de baixa produtividade e, mais
recentemente, plantações de café, mamão e agora Impactos e desafios
monocultura de eucalipto. Estima-se que hoje res-
tem menos de 0,5% da cobertura florestal original, A Mata Atlântica da Bahia, apesar abrigar
em fragmentos maiores de 400 hectares. Mais 3% os remanescentes mais significativos da região
de remanescentes florestais estão distribuídos em Nordeste, sofre desmatamentos em toda sua ex-
fragmentos menores. tensão. Os ecossistemas associados, de mangue,
Até 2001, projetos de extração madeireira,
restinga e mussununga – ecossistema arbustivo ou
acobertados por insustentáveis “planos de ma-
herbáceo no tabuleiro terciário (campos nativos
nejo”, se concentravam em grandes remanes-
ou cheirosos), remanescente da última glaciação e
centes, principalmente no entorno dos parques
adaptado a solos arenosos pobres e ácidos de tipo
nacionais. A atividade está hoje suspensa.
podzol hidromórfico, impedindo o crescimento de
No entanto, existem ainda focos de explora-
árvores; não reconhecido nos mapas de vegeta-
ção clandestina, principalmente para carvão,
ção -, são bem mais restritos e localizados, mas
pranchões e confecção de artefatos de madeira
(industrianato). Um estudo realizado pela Flora também estão intensamente degradados. Vários
Brasil, em novembro de 2004, apontou o consu- fatores interagem de forma complexa e contri-
mo anual de madeira nativa para industrianato buem para essa situação.
Caiçaras
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A maioria das fazendas de pecuária na região desses projetos têm financiamento de agências
não possui Reserva Legal (RL) e as pastagens nacionais e regionais de fomento.
muitas vezes avançam sobre as Áreas de Pre- O crédito rural continua até hoje incenti-
servação Permanente (APP). Os incêndios para vando desmatamentos. O Pró-Cacau financiou a
renovação dos pastos atingem repetidamente os derrubada de cerca de 215 mil hectares na Região
poucos remanescentes florestais que persistiram. Cacaueira. De maneira geral, as linhas de crédito
Apesar da exploração madeireira ter sido proibida agrícola não condicionam a liberação de recursos
no Estado, dezenas de serrarias ainda processam à verificação da adequação ambiental das pro-
priedades rurais, como por exemplo, à existên-
madeiras de lei, de forma ilegal. Desmatamentos
cia de Reserva Legal e à proteção das Áreas de
ilegais e incêndios criminosos de remanescentes
Preservação Permanente. Quando a regra existe,
são práticas comuns, para criar novos pastos e
dificilmente é implementada na prática. Projetos
aproveitar a madeira para serrarias ou carvoa-
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-
rias.
cultura Familiar (Pronaf) financiaram em 2005,
São inúmeras as carvoarias clandestinas,
no Extremo Sul da Bahia, serrarias familiares sem
produzindo carvão com madeira retirada da Mata
garantia de fornecimento de matéria-prima que
Atlântica. Roubos de madeiras nobres, para ser- não seja madeira de lei.
vir como matéria-prima para os artesãos locais, Existe ainda na Bahia uma cultura extrati-
também são freqüentes. Ainda ocorrem desmata- vista muito enraizada, vindo dos tempos em que
mentos para estabelecer lavouras de café, mamão, a mata dominava toda a faixa costeira e tinha de
coco e pimenta-do-reino, esta última usando ser desbravada para consolidar fazendas, vilas e
milhões de estacas de madeira retiradas da Mata cidades. A maioria da população, muitos técnicos
Atlântica para escoramento das plantas. Muitos e até autoridades não percebem ainda a fragilida-
impactos em áreas de grande valor ecológico, sem projetos de carcinicultura nas regiões de Caravelas,
gerar benefícios duradouros para os assentados, Canavieiras e Camamu. Causando desmatamentos
esgotando rapidamente os recursos hídricos e os ilegais de extensas áreas de restinga e mangue, essa
solos das áreas. atividade predatória altamente poluente e concen-
Obras de infra-estrutura promovidas pelo tradora de renda já causou graves estragos sócio-
Programa de Desenvolvimento do Turismo no culturais e ambientais no litoral do Nordeste.
Nordeste (Prodetur), executado pelo governo Uma grande usina hidrelétrica foi recentemen-
do Estado com recursos próprios e empréstimos te concluída em Itapebi, no Vale do Jequitinhonha,
do Banco Interamericano de Desenvolvimento com impactos ainda desconhecidos sobre a ictio-
134 (BID), também têm provocado impactos ambien- fauna endêmica do rio. Em fase de planejamento,
tais e o isolamento de importantes fragmentos na encontram-se também pequenas hidrelétricas a
proximidade de áreas protegidas. Novas propostas serem instaladas nos rios Jucuruçu e Buranhém,
do Estado para o BID, no âmbito do Prodetur II, ameaçando potenciais locais turísticos e toda a
não possuem um componente de conservação con- biodiversidade de ambientes de água doce.
sistente, ameaçando com obras de infra-estrutura e Na área tradicionalmente ocupada por cacau,
urbanização costeira os trechos mais preservados os grandes proprietários estão usando a madeira
do litoral, principalmente nos municípios de Porto como fonte emergencial de renda. No Extremo
Cidade de Itacaré
Ilhéus
Rio Mucuri, na divisa com o estado de Espírito
Santo.
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Sul, cresce a concentração de terras controladas
por grandes grupos econômicos. Os últimos rema-
nescentes de floresta vão sendo substituídos por
novas monoculturas, como a palmeira pupunha
(Bactris gasipaes) no Baixo Sul e o mamão (Ca-
rica papaya L.) no Extremo Sul. Essa região já
representa 30% da produção nacional de mamão,
do qual é o maior produtor mundial.
Não restam dúvidas de que, ao persistir o
atual ritmo de destruição, grande parte das áreas
ainda representativas serão aniquiladas nos próxi-
mos anos, se medidas urgentes não forem tomadas
para determinar sua proteção.
Efeitos da fragmentação
Os índices alarmantes de desmatamento
criaram uma situação onde restaram poucos e
diminutos fragmentos da cobertura original. Por
isso, a análise dos remanescentes mais represen-
tativos deve ser o ponto de partida para estratégias
de conservação.
De acordo com Forman (1995), enquanto os
grandes fragmentos são muito importantes para
Praia em Itacaré
Bromélia
Litoral Sul
A REDE NO ESTADO: pág. 289
da Bahia