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ANPUH - Brasil
Representante da ANPUH/Brasil no
Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ)
Titular: Ismênia de Lima Martins – UFF
Suplente: Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira – UERJ
Correspondência: ANPUH – Av. Prof. Lineu Prestes, 338 – Cidade Universitária.
CEP 05508-000 – São Paulo – SP
Fone/Fax: (11) 3091-3047 – e-mail: secretaria@anpuh.org
Revisão: Armando Olivetti
Diagramação: Flavio Peralta (Estúdio O.L.M.)
Revista História Hoje vol. 3 no 5, issn 1806-3993 • Biênio: agosto de 2013 a julho de 2015
Editor Responsável
Mauro Cezar Coelho – UFPA
Conselho Editorial da RHHJ
Carlos Augusto Lima Ferreira – UEFS
Circe Maria Fernandes Bittencourt – USP
Dilton Cândido Santos Maynard – UFSE
Gil Ventura – UFES
Helenice Rocha – UERJ
Josenildo de Jesus Pereira – UFMA
Keila Grinberg – UniRio
Luis Fernando Cerri – UEPG
Margarida Maria Dias de Oliveira – UFRN
Maria Aparecida Bergamaschi – UFRGS
Maria Bernadete Ramos Flores – UFSC
Maria da Conceição Silva – UFGO
Patrícia Maria Melo Sampaio – UFAM
Renilson Rosa Ribeiro – UFMT
Conselho consultivo da RHHJ
Ana Livia Bomfim Vieira – ANPUH-MA
Antonio Jacó Brand – ANPUH-MS
Carla Mary da Silva Oliveira – ANPUH-PB
Chrislene Carvalho dos Santos – ANPUH-CE
Claudira do Socorro Cirino Cardoso – ANPUH-RS
Cristiano Pereira Alencar Arrais – ANPUH-GO
Franciane Gama Lacerda – ANPUH-PA
James Roberto Silva – ANPUH-AM
Janete Ruiz de Macedo – ANPUH-BA
José Antonio Vasconcelos – ANPUH-SP
Laurindo Mékie Pereira – ANPUH-MG
Marcelo Balaban – ANPUH-DF
Marcos Silva – ANPUH-SE
Osvaldo Batista Acioly Maciel – ANPUH-AL
Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes – ANPUH-SC
Yonissa Marmitt Wadi – ANPUH-PR
Secretário da RHHJ
Vinícius Zúniga Melo – UFPA
Endereço na Web: http://rhhj.anpuh.org/ojs/index.php/RHHJ/index
Email: rhhjsecretaria@anpuh.org e rhhjeditor@anpuh.org
A Revista História Hoje publica artigos relacionados à temática de História e Ensino com a
finalidade de promover a divulgação de reflexões, projetos e experiências nesta área e também criar
um espaço institucional de debate relativo aos campos de trabalho dos profissionais de História.
Sumário
Apresentação 7
Mauro Cezar Coelho – Editor
Apresentação • Dossiê 15
Maria Renata da Cruz Duran e Verena Alberti
Entrevista
Entrevista: Celso José da Costa 209
Maria Renata da Cruz Duran e Verena Alberti
E-storia
Pesquisa TIC Educação e os desafios para o uso das
tecnologias nas escolas de ensino fundamental e médio no Brasil 293
Alexandre Fernandes Barbosa, Camila Garroux e Fabio Senne
Resenha
Repensando a práxis educacional: breve olhar
sobre os recursos educacionais abertos 323
Danilo Meira Leite e José Amilton Latanza
Apresentação
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Apresentação
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Apresentação
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Maria Renata da
Apresentação • Dossiê
Cruz Duran*Verena Alberti
tempo. Prova disso é a maneira como nosso discurso é moldado pelos suportes
de leitura e pelas ferramentas de busca e sistematização de fontes para
pesquisa.1
Discutir o uso das TDIC no ensino da história e em modalidades de en-
sino em que seu uso é mais premente nos parece, portanto, tema crucial para
delinear o perfil profissional de nossa área, bem como para empoderá-lo em
face de uma política que exige cada vez mais qualificações para a manutenção
no mercado de trabalho.
Nesses termos, enfrentar a questão é a nossa estratégia. Longe de oferecer
resistências em relação ao fantasma da perda do poder disciplinar, gerando um
afastamento daquele que poderia constituir um potente dispositivo educacio-
nal (Morin, 2004), esperamos nos apropriar desse ambiente de que já somos
habitantes, destacando um panorama dos usos, espaços e recursos que a cul-
tura digital oferece para o ensino de história.
A ideia deste dossiê surgiu em outubro de 2013, durante o VII Seminário
de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universi-
dade Estadual de Londrina. Conversando sobre preocupações e interesses co-
muns, decidimos, na ocasião, propor a temática da educação (ou ensino) a
distância, EAD, para a Revista História Hoje da Anpuh, e ficamos depois muito
contentes ao saber que a proposta havia sido aprovada.
Individualmente tínhamos tido contatos e investimentos diferentes com
a EAD. Verena Alberti havia estudado os cuidados necessários na disponibi-
lização de recursos didáticos para o ensino de história na internet;2 estava fa-
zendo o curso de que trata o artigo “Ação Educativa a Distância: relato de uma
prática com professores no Arquivo Público do Estado de São Paulo”, publi-
cado neste dossiê, e tinha orientado a tese de Maria Cláudia Cardoso Ferreira,
objeto do artigo “Professores de história em uma experiência de formação ini-
cial a distância: os significados e os limites da profissionalização”, também pu-
blicado aqui. Maria Renata Duran trabalhou como consultora educacional para
a Unesco na área de formação docente e uso de tecnologias de informação e
comunicação e realizou pós-doutorado na Universidade de São Paulo em torno
da formação docente com uso de tecnologias na América Latina. Participa do
Laboratório de Novas Tecnologias Educacionais da Universidade Federal Flu-
minense (Lante-UFF) e de diversas pesquisas sobre o assunto, entre elas a que
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Apresentação • Dossiê
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Apresentação • Dossiê
Como nosso leitor irá constatar, essa discussão é aqui tão seminal quanto
se apresenta no meio universitário. Embora o SciELO (www.scielo.br), um dos
maiores repositórios digitais de cunho acadêmico da América Latina, tenha
sido criado no Brasil, são poucos os pesquisadores brasileiros de nível univer-
sitário cientes do papel dos repositórios digitais e dos recursos educacionais
abertos como disseminadores do conhecimento científico e de uma proposta
de educação aberta, ou seja, sem barreiras legais ou operacionais para o trân-
sito do conhecimento.
No campo da história, algum alento nos é dado pela presença de Robert
Darnton à frente da biblioteca de Harvard. Nesse espaço, o historiador dos
livros e das leituras iluministas propõe um novo modelo de publicação univer-
sitário – o modelo Harvard –, segundo o qual toda obra produzida em âmbito
universitário é automaticamente publicada com licença aberta e se coloca dis-
ponível a todos os estudantes na rede. Se encontramos tudo no Google, por
que devemos nos preocupar com isso? Darnton responde: porque “estamos
num momento crucial e precisamos ter o controle de nossos recursos cultu-
rais”.3 No Brasil, o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional tomaram a dian-
teira num processo de digitalização que foi acompanhado por importantes
instituições como o CPDOC/FGV e a Biblioteca Brasiliana. Não obstante, a
área ainda carece de uma discussão sobre a legalidade e a interoperabilidade
do que se encontra em rede, caso contrário corremos o risco de ver nosso aces-
so à informação limitado por nosso poder aquisitivo: programas que só são
acessados mediante sistemas operacionais de custo elevado, aplicativos gratui-
tos acessíveis apenas com a apresentação de dados de cartão de crédito, repro-
dução de imagens limitada ao uso caseiro etc.
Danilo Meira, graduando em história na Universidade Estadual de Lon-
drina (UEL), e José Amilton Latanza, graduado em história na mesma univer-
sidade, complementam essa primeira trilha apresentando uma resenha do livro
Recursos educacionais abertos: práticas colaborativas e políticas públicas.
Tão integrada ao cotidiano quanto os smartphones à realidade brasileira
(Cetic, 2013), a internet e seus recursos para além dos muros da escola, mas ainda
no universo educacional, é o tema de nossa primeira trilha. Nela, uma discussão
sobre redes sociais e recursos educacionais abertos nos aguarda e tem como pon-
tapé inicial o texto “Pesquisa TIC Educação e os desafios para o uso das tecno-
logias nas escolas de ensino fundamental e médio no Brasil”, de Alexandre
REFERÊNCIAS
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Apresentação • Dossiê
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NOTAS
1
LAS HERAS, s.d. Ainda nesta trilha, pode-se ler: LÉVY, s.d.
2
Sobre o assunto, Verena Alberti escreveu alguns artigos, entre eles ALBERTI, 2012.
3
Disponível em: www.revistadehistoria.com.br/secao/entrevista/robert-darnton.
Resumo Abstract
O artigo analisa a experiência da Uni- The article analyzes the experience of
versidade Aberta de Portugal, que com- Open University of Portugal that com-
pletou 25 anos de existência em 2013. pleted 25 years of existence in 2013.
Fundada com o objetivo de desenvolver Founded with the purpose of develop-
a formação da população adulta portu- ing the education level of Portuguese
guesa em nível superior, tem realizado a adult population, the OUP has accom-
sua missão em várias áreas, com parti- plished its mission in several areas, with
cular destaque para o âmbito das huma- particular attention to the scope of Hu-
nidades e das ciências sociais. Por isso, manities and Social Sciences. So, in ret-
passa em retrospetiva a evolução em rospective it examines the evolution of
termos curriculares e de modalidade de curricula and the teaching mode pre-
ensino do curso de história, um dos sented in the course of History, one of
mais antigos da instituição. Em termos oldest of the institution. In pedagogical
pedagógicos, a mudança foi profunda terms, the change was profound be-
entre a modalidade do ensino a distân- tween the first generation distance
cia da primeira geração, ou tradicional, teaching mode, or traditional approach,
e o atual regime de e-learning com re- and the current e-learning system using
curso à plataforma Moodle. Procura-se the Moodle platform. The article seeks
analisar essas alterações e as suas impli- to analyze these changes and their im-
cações no papel dos docentes e dos estu- plications on the role of teachers and
dantes no processo de ensino/aprendi- students in the teaching/learning pro-
zagem. cess.
Palavras-chave: História; ensino a dis- Keywords: History; distance teaching;
tância; e-learning. e-learning.
à realização das provas públicas que atestam a sua capacidade para frequentar
o nível de ensino superior, as quais são da responsabilidade das próprias ins-
tituições de ensino superior. Para todos eles, a principal vantagem apontada
para se candidatar à Universidade Aberta consiste em não terem de deslocar-se
para assistir a aulas presenciais e o regime de ensino possibilitar uma grande
flexibilidade de horários, o que lhes permite conciliar a realização do curso
com a vida profissional e familiar e com a gestão dos tempos de lazer.
Para se compreender o lugar da UAb no sistema de ensino superior por-
tuguês é importante saber que não ministra somente cursos de licenciatura ou
também designados por cursos do 1º ciclo de estudos. A sua ação estende-se
ao nível dos mestrados (2º ciclo) e doutoramentos (3ºciclo). A atribuição destes
graus acadêmicos requer que os cursos tenham sido objeto de uma aprovação
prévia por parte da Agência Nacional de Avaliação e Acreditação do Ensino
Superior (A3ES). Além disso, dada a sua vocação de instituição de ensino su-
perior dirigida para a formação ao longo da vida, a UAb ainda faculta cursos
certificados, que não conferem grau acadêmico, com diversos níveis de exi-
gência e tempo de duração. Dado que a língua de ensino é o português, a UAb
acolhe os portugueses da diáspora e estudantes dos países lusófonos nos seus
cursos (brasileiros, timorenses e africanos), estando presente em cerca de meia
centena de países.
Inicialmente, a UAb adotou uma modalidade de ensino a distância de tipo
“industrial” (Amante, 2011), no nível da licenciatura. O docente responsável
tinha de elaborar o programa da unidade curricular e preparar um conjunto
de materiais de estudo em diversos formatos – scripto, áudio e vídeo – que
eram a base de trabalho dos estudantes para adquirir os conhecimentos que
lhes permitiriam realizar uma prova de exame presencial. As obras editadas
pela UAb obedeciam a requisitos didático-pedagógicos definidos, com o ob-
jetivo de facilitar a autoaprendizagem dos alunos, e tinham caraterísticas grá-
ficas tipificadas que as tornavam facilmente reconhecíveis no mercado nacio-
nal. Quando não havia uma obra especialmente feita para as disciplinas, os
docentes tinham de escolher uma obra disponível no mercado em língua por-
tuguesa e preparar um caderno de apoio, com a definição dos objetivos, as
atividades formativas e as orientações necessárias para ajudar os alunos no
processo de aprendizagem independente. Os estudantes podiam ainda, dentro
de horários estabelecidos, contactar os docentes pelo telefone para o esclare-
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cimento de dúvidas e explicações, bem como por carta ou por correio eletrô-
nico, logo que este meio de comunicação se tornou acessível.
Em 2006, a UAb entrou num processo de reforma profunda em duas fren-
tes: por um lado, a reformulação do desenho curricular dos cursos lecionados,
em resultado da aplicação da chamada reforma de Bolonha1 no sistema de en-
sino superior em Portugal; por outro lado, a introdução de um regime de ensino
a distância com recurso à plataforma Moodle que é o acrônimo de Modular
Object-Oriented Dynamic Learning. A transformação em curso implicava re-
pensar globalmente a orientação científico-pedagógica dos cursos, o papel dos
professores e também dos alunos no processo de ensino-aprendizagem.
Em termos muito gerais, pretendia-se passar de uma modalidade de en-
sino baseada na transmissão de conhecimentos por via dos materiais disponi-
bilizados aos estudantes – que, de certo modo, substituíam a aula magistral e
o manual ou “sebenta” do ensino presencial – por um modelo assente no de-
senvolvimento de competências e no estímulo à pesquisa por parte dos estu-
dantes, numa lógica dinâmica de aprender a aprender, apoiada no domínio de
ferramentas de literacia digital capazes de propiciar a inclusão na sociedade da
informação e do conhecimento atual. Para o efeito, um grupo de professores
da UAb desenvolveu um modelo pedagógico virtual em que se procurou com-
paginar esse propósito genérico com os recursos humanos e materiais existen-
tes na universidade (Pereira, 2007). Simultaneamente, foram realizados pro-
gramas de formação dos professores da UAb com recurso à plataforma
Moodle, ou seja, no ambiente virtual onde depois teriam de desenvolver os
seus próprios cursos e as unidades curriculares pelas quais iriam ser respon-
sáveis. O objetivo era claro: levar os docentes a usar essa ferramenta de ensino/
aprendizagem, propiciando-lhes as competências básicas indispensáveis, no
âmbito técnico-pedagógico, para poderem eles próprios preparar e orientar os
seus cursos. Desse modo foi possível reunir as condições para que os cursos de
licenciatura começassem a ser lecionados em regime de e-learning, no ano le-
tivo de 2007-2008.
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para a utilização dos meios eletrônicos, seja para estudar, para comunicar ou
para trabalhar individualmente ou em grupo. Ao mesmo tempo, adquirem
formação de nível superior na área científica da história e em áreas afins que
integram o plano curricular do curso. Continua a haver uma orientação bas-
tante tradicional, nesse aspecto, que privilegia os conteúdos considerados fun-
damentais, numa linha de abordagem cronológica por grandes épocas histó-
ricas. Isto pode constatar-se na estrutura do maior, com a divisão em
Pré-História, História Antiga (Pré-Clássica e Clássica), Medieval, Moderna e
Contemporânea, mas também nas unidades curriculares que integram os me-
nores, as quais combinam os diferentes períodos temporais com uma organi-
zação mais temática. A opção programática é claramente conservadora, mas a
integração das tecnologias digitais permitiu abrir os horizontes, enriquecer os
conteúdos e os materiais de estudo e de trabalho, dada a acessibilidade de bi-
bliografias e de documentos históricos através da Web. Além disso, permitiu
a estudantes com pouco tempo para estudar e com dificuldade no acesso aos
suportes físicos do conhecimento ter uma janela aberta para extraordinários
repositórios digitais em contínuo e franco crescimento.
Nesse sentido, é inegável a vantagem dessa modalidade de ensino em re-
lação às primeiras fases do ensino a distância, o que tem sido geralmente
reconhecido pela sociedade. Já não é possível conceber o ensino hoje sem o
recurso aos meios informáticos e à internet. Contudo, a sua utilização continua
a ser feita maioritariamente no quadro de uma pedagogia tradicional, como
coadjuvante do professor para disponibilizar textos, documentos, enunciados
de provas, exercícios etc. Como suporte de ensino a distância são muito utili-
zados os videogramas, numa perspetiva que vem substituir a aula magistral
presencial. A UAb distancia-se desse tipo de uso das tecnologias digitais, pro-
curando, através dos fóruns e da criação de comunidades virtuais de aprendi-
zagem, criar ambientes mais ricos de comunicação e de troca de ideias e de
experiências entre os estudantes. O professor assume-se como facilitador e
orientador do processo de ensino/aprendizagem: planifica o semestre letivo,
propõe a distribuição dos tempos de estudo e de trabalho, fornece as indicações
bibliográficas, os textos e documentos necessários, organiza as atividades for-
mativas, esclarece dúvidas, explica as matérias, por escrito ou usando recursos
como o Skype ou o Colibri, mas, sobretudo, cria as condições para que os alu-
nos possam desenvolver pesquisas, reunir e selecionar informação, analisar e
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the real point I want to make is that this split between the informational and the
constructional sides of digital technology happens to run parallel with a split
between two sides of learning which could be called informational learning (or
learning by being told) and constructional learning (or learning by doing and
making.) This parallelism has a mischievous consequence: School traditionally
emphasizes the informational side of learning and this biases it to focus on the
informational side of digital technologies which further reinforces the informa-
tional side of learning. And all this would be fine except that it is the constructio-
nal side of the digital technology that has the more revolutionary and hard to
accept consequences for Education ... Whether it is Dewey in the USA or Mon-
tessori in Italy or Piaget in Switzerland or Vigotsky in Russia, they all agree that
learning would be better if it were more experiential and less didactic. (Papert,
2001, p.66-67)7
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fóruns e estar disponíveis para intervir nos debates e para participar nas ativi-
dades, o que nem sempre acontece. Por isso, é muito variável o rendimento
das turmas e o seu funcionamento com vista a um processo de aprendizagem
mais colaborativo.
A forma de avaliação estabelecida pelo modelo pedagógico virtual da UAb
contempla a necessidade da realização de dois a três trabalhos por semestre,
de acordo com um calendário previamente definido e articulado entre as uni-
dades curriculares pelas coordenações dos cursos. No caso do curso de história,
pretende-se que esses trabalhos coloquem os estudantes perante tarefas inte-
lectuais de diverso tipo: fazer a recensão de uma obra, elaborar uma curta bio-
grafia, discutir um problema historiográfico, tratar um tema ou acontecimento
histórico delimitado, apresentar uma bibliografia comentada etc. Tais traba-
lhos concorrem para desenvolver competências no domínio da investigação e
várias capacidades, nomeadamente de leitura, de pensamento crítico, de sele-
ção de informação, de análise e interpretação dos textos e documentos, de sín-
tese e de escrita. A comunicação escrita é privilegiada nesse modelo de ensino
e a oralidade está praticamente ausente. É uma das limitações importantes dele
que só poderá ser colmatada com o recurso ao blended-learning ou às ferra-
mentas eletrônicas já existentes. De qualquer modo, a componente prática e
de investigação faz parte integrante do processo de avaliação dos estudantes
que conduz à certificação da formação obtida no 1º ciclo de estudos em histó-
ria, na UAb.
Os trabalhos tomam a designação de e-fólios. São individuais e enviados
por via eletrônica. Usa-se para o efeito uma ferramenta da Moodle que permite
fazer o upload dos ficheiros. Nessa mesma ferramenta, o docente pode fazer o
comentário ao trabalho e registar a classificação. É trabalhoso e moroso o pro-
cesso de correção dos trabalhos e, sobretudo, a elaboração do feedback indivi-
dualizado sobre os aspetos positivos e os negativos que é preciso corrigir no
futuro. Porém, é uma parte essencial das tarefas dos docentes e dos tutores.
Uma questão muito discutida a propósito dos e-fólios foi o problema das có-
pias e da autoria dos trabalhos apresentados. O problema também se coloca
no ensino presencial e os seus contornos não parecem ser muito diferentes do
ensino a distância. As universidades têm vindo a desenvolver ferramentas para
detectar as cópias digitais, e a UAb também facultou aos docentes um instru-
mento de trabalho para esse efeito. Não temos estudos sistemáticos sobre esse
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REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Segundo informacões do site da Direção Geral do Ensino Superior do Ministério da Ciên-
cia e Tecnologia de Portugal, o processo de Bolonha teve início oficial em 1999, com a de-
claração que leva o nome dessa cidade italiana: “a ideia base é de, salvaguardadas as espe-
cificidades nacionais, dever ser possível a um estudante de qualquer estabelecimento de
ensino superior iniciar a sua formação acadêmica, continuar os seus estudos, concluir a
sua formação superior e obter um diploma europeu reconhecido em qualquer universida-
de de qualquer Estado-membro [da comunidade europeia]”. Atualmente, o processo ali-
nha os cursos (currículo e funcionamento) de instituições de 45 países europeus, com o
objetivo de levar a Europa a um espaço comum de “ciência e de ensino superior, com ca-
pacidade de atração à escala europeia e intercontinental”. (PORTUGAL, s.d.). Mais infor-
mações nos sites: www.bologna-bergen2005.no e http://europa.eu.int/comm/education/
index_en.html. (Nota de Maria Renata Duran, organizadora do dossiê).
2
Despacho nº 10/ 342/2000. Regulamento do curso de História, Diário da República, II
série, nº 116, 19 de maio de 2000, p. 8702.
3
Despacho nº 17 511/98. Regulamento das licenciaturas em ensino, Diário da República, II
série, nº 233, 9-10-1998, p. 14272-14273.
4
Veja uma síntese da questão dos descritores de Dublin no sítio da Direção Geral do Ensi-
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Educação online colaborativa: implicações
teórico-metodológicas de uma nova
modalidade de ensino e aprendizagem
Online Collaborative Education: Theoretical and methodological
implications of a new mode of teaching and learning
Bruno José Betti Galasso*
Denise Trento Rebello de Souza**
Resumo Abstract
O artigo problematiza alguns elementos The paper seeks to problematize some
básicos da educação online. Considera of the basic elements of online educa-
que a vida nas sociedades contemporâ- tion. It recognizes that life in contempo-
rary societies is permeated by Digital
neas é atravessada pelas Tecnologias Di-
Information and Communication
gitais de Comunicação e Informação
Technologies (DICT) and that, there-
(TDIC) e que, portanto, a educação se
fore, education would benefit from in-
beneficiaria desse suporte na revisão de
cluding these new supports in a revision
seu modo de operar. Parte de pesquisa
of its manner of operating. It departs
concluída recentemente sobre educação from a recently concluded study on on-
online para apresentar alguns dos ele- line education, and introduces some of
mentos essenciais dessa modalidade de the essential elements of this modality
ensino, tais como trabalho colaborativo, of teaching, such as collaborative work-
interação, virtualização e hipermídia, ing, interaction, virtualization and hy-
bem como para refletir sobre caracterís- permedia, whilst reflecting upon the
ticas e sobre o lugar docente na educa- characteristics of online education and
ção online. upon the role of teachers in it.
Palavras-chave: educação online; traba- Keywords: online education; collabora-
lho colaborativo; hipermídia. tive work; hipermidia.
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Bruno José Betti Galasso e Denise Trento Rebello de Souza
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Bruno José Betti Galasso e Denise Trento Rebello de Souza
aluno e o conteúdo é uma característica essencial da educação. Sem ela não pode
haver educação, uma vez que é o processo intelectual da interação com o con-
teúdo que resulta em mudanças na compreensão do aluno, na perspectiva, ou
nas estruturas cognitivas da mente do aprendiz.
Outro fator que influencia positivamente as interações online é o feedback,
ou retroalimentação, que pode ser informativo e/ou corretivo. Esses tipos de
comentários referem-se à informação que permite aos alunos avaliar a quali-
dade do seu desempenho e corrigir erros. Por isso, além de informativo ou
corretivo, o feedback deve ser oportuno e preciso para evitar equívocos.
O feedback informativo inclui respostas e esclarecimentos às questões re-
lacionadas com a logística do curso, às questões técnicas, ou o diálogo sobre
as atividades do curso. Já o feedback corretivo ou de avaliação é muitas vezes
considerado o tipo mais comum de feedback. Esse comentário procura dotar
os alunos com informações sobre a correção de suas respostas mediante a in-
tervenção do professor (Grooms, 2000, p.49).
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O conectivismo
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Bruno José Betti Galasso e Denise Trento Rebello de Souza
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NOTAS
1
Permeabilidade é uma noção trazida por Elsie Rockwell (2005) ao apresentar sua concep-
ção de escola.
2
Ver A. T. Salatino (2014, p.198), interessante trabalho de pesquisa sobre como adolescen-
tes e jovens das camadas populares constroem sua experiência escolar em um contexto
cotidiano marcado pela disseminação de aparelhos tecnológicos.
3
Trata-se da disciplina de Tecnologia Educativa (60h/a) do curso de mestrado e doutora-
mento em Ciências da Educação da Universidade do Minho que, criado em 1982, conta
com as seguintes áreas de especialização: Análise e Organização de Ensino, Ensino das
ciências da Natureza e Ensino da Língua Portuguesa. Mais detalhes sobre a disciplina e
esse estudo de caso estão disponíveis no capítulo 3 da tese de doutorado do presente autor
(GALASSO, 2013).
Resumo Abstract
O presente artigo tem por objetivo apre- This article presents the structure of the
sentar a estrutura da licenciatura semi- undergraduate history course, offered as
presencial em história da Universidade distance learning program, by Federal
Federal do Estado do Rio de Janeiro University of the State of Rio de Janeiro
(UniRio) e os projetos em desenvolvi- (UniRio). It also aims to explain differ-
mento no âmbito do ensino, da pesqui- ent research projects that involve dis-
sa e da extensão, apresentados por pro- tance learning students. As teachers
fessores ligados ao curso e ao Programa who worked directly in the coordina-
de Pós-Graduação em História. Como tion of this course between 2009 and
docentes que atuaram diretamente na 2013, our intention is to share experi-
coordenação do referido curso entre ences and contribute minimally to over-
2009 e 2013, nossa intenção é comparti- come the main challenges on the de-
lhar experiências, de modo a contribuir, ployment of distance learning within
minimamente, para a superação de de- the public university in Brazil.
safios comuns à implantação da pesqui- Keywords: teacher training; teaching
sa no ensino semipresencial no âmbito history; distance learning.
da universidade pública no Brasil.
Palavras-chave: formação de professores;
ensino de história; ensino a distância.
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NOTAS
1
Os autores atuaram na licenciatura em história semipresencial da UniRio, como coorde-
nadora de curso e vice-coordenador de curso/coordenador de material didático, respecti-
vamente, entre 2009 e 2013.
2
A criação do curso semipresencial se deu no âmbito da 20ª Reunião do Colegiado da Es-
cola de História e foi reconhecida pela resolução interna da UniRio no 2.981, de 18 de de-
zembro de 2008.
3
A Fundação Cecierj foi criada no âmbito estadual pela Lei Complementar nº 103, de 18
de março de 2002. De acordo com o Art. 2º dessa lei, a instituição tem por objetivo ofere-
cer: “I. educação superior, gratuita e de qualidade, na modalidade a distância para o con-
junto da sociedade fluminense; II. divulgação científica para o conjunto da sociedade flu-
minense; III. formação continuada de professores de ensino fundamental, médio e
superior”. Para a realização do primeiro desses objetivos, foi criado o Consórcio Cederj,
que oferece infraestrutura às instituições de ensino superior (IES) consorciadas e opera
atualmente com 14 cursos de graduação, distribuídos por 33 polos, em todo o estado. As
IES consorciadas são: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
(Cefet), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
e UniRio. Para saber sobre o funcionamento da Fundação Cecierj e do consórcio Cederj,
consultar: http://cederj.edu.br/fundacao/.
4
A estrutura curricular do curso prevê a consecução de um total de 3.410 horas para sua
integralização, a serem cumpridas em, no mínimo, 8 semestres e, no máximo, 12. Esse total
está dividido em: 2.400 horas de disciplinas/atividades obrigatórias, 240 horas em discipli-
nas/atividades optativas, 200 horas em atividades complementares, 420 horas em estágios
supervisionados e 150 horas de trabalho de final de curso. Além disso, as disciplinas são
pensadas a partir de cinco linhas principais: História e Ciências Sociais, História e Socieda-
de, Teoria e Metodologia, Região e Patrimônio, e Educação. Consultar: Projeto Político
Pedagógico do Curso de Licenciatura semipresencial em História. Escola de História, CCH,
UniRio, 2009.
5
A partir do segundo semestre de 2010, a nota obtida no Enem foi incluída entre as formas
de acesso aos cursos das universidades consorciadas ao Cederj – Fundação Cecierj. Para
concorrer à vaga, o candidato deve informar seu número de inscrição no Enem mediante
formulário de inscrição no vestibular Cederj. Aqueles que obtiverem nota suficiente são dis-
pensados da realização do exame Cederj e estão aptos a realizar a matrícula na universidade.
6
As seleções para coordenador de disciplina, tutores presenciais e tutores a distância ocor-
rem por meio de seleção pública, sendo os dois primeiros pelo edital da Coordenação de
Educação a Distância (Cead) da UniRio e o último, por edital lançado pelo consórcio Cederj.
7
No atendimento ao discente, o curso atua em várias frentes: 1) Em termos dos procedi-
mentos do curso, o aluno conta com uma secretaria para atendimento, que funciona dia-
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Sistema UAB: a visão dos coordenadores
de polos de apoio presenciais da região Sul
UAB system: the view of presence
support coordinators in the South region
Monica Pagel Eidelwein*
Dilce Eclai de Vargas Gil Vicente**
Maria Renata da Cruz Duran***
Resumo Abstract
O sistema Universidade Aberta do Bra- The Brazil Open University system is
sil (UAB) é composto pelo esforço das composed by the efforts of institutions
instituições de ensino superior, do go- of higher education, the federal govern-
verno federal (representado pela Coor- ment (represented by the Coordination
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal for the Improvement of Higher Educa-
de Ensino Superior, Capes) e dos muni- tion, Capes) and municipalities and
cípios e estados, que cumprem a função states, which fulfill the function of cre-
de criar e manter os chamados polos de ating and maintaining facility centers,
apoio presencial. Num modelo de ensi- which are called presence support poles.
no a distância como o brasileiro, em que In a distance education model such as
a modalidade é semipresencial, os polos the Brazilian, in which the modality is
de apoio presencial representam o locus semi-presencial, presence support poles
desse tipo de formação docente. A par- represent the locus of this type of teach-
tir da visão dos coordenadores de polos er education. According to the point of
de apoio presenciais da região Sul, ten- view of pole coordinators of South re-
tamos dar uma ideia do que seja esse gion, we tried to give an overview of this
sistema, qual sua contribuição e quais system, its contribution and dilemmas.
seus dilemas. Keywords: public policy for teacher
Palavras-chave: políticas públicas de training; Open University system in
formação de professores; sistema Uni- Brazil (UAB); evaluation of UAB poles.
versidade Aberta do Brasil (UAB); ava-
liação de polos UAB.
O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) teve seu ato inaugural em de-
zembro de 2005, quando foi lançado um edital da Secretaria de Educação a Dis-
tância (SEED/MEC), em que se convidavam, de um lado, prefeituras municipais
e governos de estado a oferecerem propostas para sediarem polos de apoio pre-
sencial e, de outro, instituições públicas de ensino superior a oferecerem propos-
tas de cursos superiores na modalidade a distância. Na formulação do edital, es-
tavam traçadas as principais linhas da cooperação federativa pretendida: os
municípios e estados teriam como incumbência preparar e manter a infraestru-
tura de polos de apoio presencial, as IES ficariam responsáveis pela produção e
execução dos cursos e pela matrícula dos estudantes e o MEC deveria custear
integralmente o esforço acadêmico das instituições de ensino, inclusive com
oferta de bolsas para professores e tutores.2
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Avaliação de polos
O polo de Santo Antônio da Patrulha foi avaliado com nota máxima, porém re-
gistros equivocados prejudicaram o polo, como, por exemplo, dizer que a biblio-
teca funciona junto com a secretaria, sendo que a avaliadora visitou a biblioteca
em ambiente específico, organizada e até com consulta online sobre a disponibi-
lidade de materiais. O prejuízo para o polo veio logo, pois a ausência de ambien-
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Penso que uma avaliação deva vir de dentro para fora; temos plenas condições
de avaliar o polo, somos parte fundamental, queremos o melhor para o nosso
polo. Se ele não está bem e precisa melhorar, seremos os primeiros a apontar is-
so! (coordenador do polo Sapiranga, RS, 2012)
EAD, pois esse espaço é considerado como “braço” de apoio das IES. (coordena-
dora do polo Astorga, PR, 2012)
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polos + IES + governo federal é desigual e de que, no jogo das políticas públicas
combinadas, todos ainda têm muito a aprender.
Segundo os coordenadores, para que a avaliação de polos possa contribuir
com a qualificação desses espaços, é necessária uma reflexão também por parte
dos outros envolvidos nessa parceria. Quando um polo tem sua nota reduzida,
a responsabilidade, de um lado, também é das IES, que nem sempre atuam de
maneira integrada, informativa e/ou democrática com os polos, e, de outro,
do governo federal, que muitas vezes multiplica regras gerais sem atentar para
a realidade local ou mesmo para a contradição de algumas de suas recomen-
dações. Nesse sentido, a presença de um representante do mantenedor do polo
e também da universidade no momento da avaliação é fundamental, pois,
quando se avalia o polo, necessariamente se avaliam os segmentos que o
compõem.
Quanto à atuação do profissional que realiza a avaliação do polo, os coor-
denadores salientaram que nem sempre ele está preparado para realizar essa
atividade, tendo uma postura inadequada. Constataram algumas práticas que
prejudicam a avaliação e que indicam a necessidade de um investimento na
formação desse profissional. Mencionaram que algumas vezes o avaliador não
comunica com antecedência a sua vinda ao polo e não se apresenta formal-
mente. Além disso, o pouco tempo de permanência no polo e o relatório muito
extenso fazem que o avaliador se ocupe majoritariamente da formalidade do
preenchimento do documento e tenha uma visão muito restrita, de aspectos
pontuais, ocasionando, em alguns casos, generalizações por vezes equivocadas
e uma visão parcial. Muitas vezes o avaliador desconhece as especificidades do
polo dentro da perspectiva da UAB e não conhece a educação a distância, uti-
lizando a educação presencial como referência. Finalmente, ainda de acordo
com os coordenadores, cada avaliador interpreta de maneira diferente as ques-
tões do instrumento de avaliação, ficando o resultado da avaliação vinculado
à subjetividade de cada avaliador.
A pesquisa apontou, portanto, a necessidade de o avaliador emancipar-se
do modelo de espaço da própria universidade, seja de cursos presenciais ou a
distância, para pensar os polos como espaços peculiares, que ofertam cursos
com características diferenciadas, de diversas universidades, e cujos mantene-
dores são estados ou municípios, também com condições diferenciadas.
Considerações finais
No artigo ora apresentado foi exposta uma pesquisa sobre o sistema UAB.
Política pública de formação docente na modalidade de ensino a distância, o
sistema UAB articulava, em 2011, esforços de 92 instituições públicas de ensino
superior, do governo federal (Capes) e de cerca de seiscentas mantenedores de
polos de apoio presenciais, que, representados por governos municipais e es-
taduais, se dispõem a criar e manter espaços de formação para docentes de
ensino básico e médio da rede pública de instrução. No recorte ora apresenta-
do, foram reunidos alguns dos principais indicadores do perfil dos coordena-
dores de polos da região Sul, da gestão implementada nesses espaços e da ma-
neira como eles veem a avaliação de seu trabalho. Espera-se, com a revisão aqui
exposta, ter fornecido um panorama geral do que seja o sistema UAB, sua
complexidade, implicações, limites e potenciais. Bem como dos polos de apoio
presenciais, que, em nossa mirada, constituem uma das singularidades da EAD
latino-americana. Destaque-se que não há pares dos mesmos em sistemas co-
mo os da Open University, no Reino Unido, ou da Universidad Nacional de
Educación a Distancia (Uned), na Espanha, grandes baluartes da EAD mun-
dial, embora haja Centros Zonais no projeto Enlaces do Chile. Essa singulari-
dade, obviamente, tem como pano de fundo nossas dificuldades tanto de co-
nexão em rede quanto de inclusão digital de nossa população e, por fim, mas
não menos importante, as limitações financeiras de nossos docentes ao acesso
de equipamentos que envolvam a tecnologia.
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REFERÊNCIAS
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NOTAS
1
ABED, 2013. Cabe observar que o Art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), regulamenta a modalidade a distân-
cia no Brasil. Nele se pode verificar que a modalidade depende de 30% de momentos pre-
senciais, especialmente dedicados a avaliações. Assim, quando se trata de EAD para gra-
duação no Brasil, se está sempre falando de uma modalidade semipresencial. Em tempo,
conforme legislação vigente (Portaria nº 4.059, do Ministério da Educação, de 10 de de-
zembro de 2004), até 20% dos cursos presenciais podem ter disciplinas semipresenciais.
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Monica Pagel Eidelwein, Dilce Eclai de Vargas Gil Vicente e Maria Renata da Cruz Duran
trulha (RS) se responsabilizou por 50% dos custos da formação inicial do professor. Outra
ação do município que teve grande repercussão na formação dos professores foi o convê-
nio entre as prefeituras de Santo Antônio da Patrulha e de Cará com a Universidade Fede-
ral do Rio Grande, em 2004, visando a formação em licenciatura em pedagogia para cem
professores. Em 2006, com a implantação do Polo de Apoio Presencial da Universidade
Aberta do Brasil, a formação continuada passou a ser o foco da política local. Em nossa
pesquisa, outros 26 municípios estiveram em foco, contribuindo com informações sobre a
formação de professores. Os resultados podem ser observados nas diversas publicações do
grupo de pesquisa, bem como seu extrato final, ainda no prelo, previsto para publicação
em novembro de 2014.
10
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009.
11
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇAO. Censo do Professor.
12
Segundo a Resolução CD/FNDE nº 26, de 5 de junho de 2009, o coordenador de polo
deve ser professor da rede pública, graduado e com, no mínimo, 3 anos em magistério na
educação básica ou superior. Constatou-se que 91% dos coordenadores possui pelo menos
4 anos de experiência docente e pelo menos 2 anos de experiência administrativa. Ver
http://www.capes.gov.br/educacao-a-distancia/atuab. Em toda a pesquisa contamos com a
participação de 68 coordenadores de polos das regiões Norte, Nordeste e Sul, o que, em
2010, representava 12% do universo de polos ativos do sistema. Todos eles foram selecio-
nados de acordo com os seguintes critérios: integrantes do sistema UAB desde o primeiro
ou o segundo edital (de cerca de quatro chamadas) de adesão, que passaram pelos dois
processos avaliativos ocorridos até 2011 e nestes alcançaram, entre os cinco níveis de qua-
lificação, notas consideradas medianas, melhor dizendo, aqueles que não obtiveram o nível
máximo, nem foram desqualificados por falta de infraestrutura. Num primeiro momento,
nosso projeto de pesquisa lhes foi apresentado para adesão ou não. Como passo seguinte,
providências de sistematização da pesquisa foram implementadas e uma agenda de entre-
vistas foi estabelecida. Todas as 27 entrevistas com coordenadores da região Sul foram
realizadas na mesma data, 17 de novembro de 2011, pelos três coordenadores da pesquisa:
Celso José da Costa, Maria Renata da Cruz Duran e Tel Amiel.
13
Quatro fóruns foram criados no ambiente Moodle para esse fim. O primeiro serviu para
uma apresentação geral dos coordenadores, bem como para o registro de suas expectativas
em relação à pesquisa. O segundo propunha uma discussão sobre os instrumentos de ava-
liação do MEC e da Capes, antes dos processos de visitas cruzadas. O terceiro propunha
uma discussão sobre o preenchimento dos relatórios de visitas cruzadas e o modo como
elas ocorreram – a ferramenta “envio de tarefas” foi utilizada para recebimento dos relató-
rios preenchidos. Um último fórum foi utilizado para levantar as opiniões dos participan-
tes sobre os métodos de condução da pesquisa, bem como sobre o que se “ganhou” com
ela. Todos esses fóruns, com duração de 15 a 20 dias de interação cada, foram tutorados
por Maria Renata da Cruz Duran e Tatiana Massaro, que também se ocupou do mural de
avisos e de um fórum específico sobre problemas e questões procedimentais da pesquisa.
Destaque-se que cada uma das regiões foi atendida em separado. Os dados aqui auferidos
dizem respeito apenas à região Sul; a análise dos dados das demais regiões pode ser consul-
tada em DURAN; COSTA; AMIEL; EIDELWEIN, 2013.
14
Ver http://www.capes.gov.br/educacao-a-distancia/atuab.
15
Inicialmente cada instituição ofertante de curso fez a avaliação dos seus polos. Posterior-
mente, foi realizada avaliação pela Comissão Nacional de Qualificação de Polos da DED-
-Capes, com o objetivo de qualificar o polo e apontar melhorias. Em abril e maio de 2010,
a SEED-MEC realizou nova avaliação a fim de atribuir nota aos polos, ao mesmo tempo
em que impediu a expansão de alguns. O Inep também efetuou sondagens nesses polos,
mas seu impacto foi minimizado, uma vez que os polos estavam resguardados pelo proces-
so de credenciamento experimental.
16
Participaram da pesquisa os coordenadores de polos dos municípios discriminados a
seguir. Do Paraná: Foz do Iguaçu, Astorga, Ibaiti, Jacarezinho, Diamante do Norte, Para-
naguá, Itambé, Pato Branco, Cruzeiro do Oeste e Engenheiro Beltrão. De Santa Catarina:
Braço do Norte, Indaial, São Miguel do Oeste, Chapecó, Araranguá, Laguna e Criciúma.
Do Rio Grande do Sul: Sobradinho, Novo Hamburgo, Santo Antônio da Patrulha, Santa
Vitória do Palmar e Quaraí.
17
Segundo KOZINETS (2002, p.2), a netnografia é uma nova metodologia de pesquisa
qualitativa que se adapta às técnicas de pesquisa etnográficas para o estudo das culturas e
das comunidades emergentes através da comunicação mediada por computador. Ver tam-
bém DURAN; COSTA; AMIEL; EIDELWEIN, 2013.
18
A coordenadora do polo de Quaraí (RS) relatou um exemplo no qual os alunos do curso
de física foram à universidade, avaliando o resultado da experiência como excelente. Para
ela, as aulas de laboratórios podem ser ofertadas nas IES, pois “a ida dos alunos até a uni-
versidade desperta a curiosidade e eleva a autoestima dos acadêmicos, pois conhecem a
instituição a que estão vinculados, oportunizando a vivência com alunos do presencial”
(Coordenadora de Quaraí/RS, 2012. In: COSTA; DURAN; AMIEL; MASSARO, 2012).
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Professores de história em uma experiência de
formação inicial a distância: os significados
e os limites da profissionalização
History teachers in an experience of learning at distance:
the meanings and limits of the professional development
Maria Cláudia Cardoso Ferreira*
Resumo Abstract
O artigo analisa uma experiência de for- The article analyzes the experience of
mação a distância (Pró-licenciatura) distance training (Pró-licenciatura) ad-
destinada a professores leigos que atua- dressed to lay teachers who acted as his-
vam como professores de história no tory teachers in the Brazilian Northeast.
Nordeste brasileiro. Mediante análise de Through the analysis of interviews,
entrevistas, de questionários e das inte- questionnaires and interactions held on
rações no fórum de debates online do the online forum of the course we in-
curso objetivou-se compreender, da tended to understand, under the per-
perspectiva dos saberes docentes, o pro- spective of teacher’s knowledge, the
cesso de fazer-se professor de história. process of becoming a history teacher. It
Com isso foi possível elucidar aspectos was then possible to elucidate some as-
das políticas de qualificação profissional pects involved in the politics of profes-
dos professores da educação básica em sional qualification of teachers, both
geral, e de história, em particular, bem from basic education in general and his-
como constatar que a educação a dis- tory teachers in particular. It was also
tância pode significar uma possibilidade possible to note that distance education
real de formação superior, oportunizan- can mean a real possibility of higher
do mobilidade social e inclusão digital e education, providing opportunities for
rompendo barreiras de acesso às Tecno- social mobility and digital inclusion,
logias Digitais de Informação e Comu- breaking barriers of access to TDICs es-
nicação (TDICs), especialmente para pecially for teachers with exhaustive
professoras com exaustiva jornada de working day and many years of experi-
trabalho e muitos anos de profissão. ence.
Palavras-chave: ensino a distância; li- Keywords: Distance education; teacher
cenciatura em história; formação de training in history; teacher training.
professores.
comum, constata-se que faltariam muito mais professores caso fosse proibido
lecionar fora da área de formação. A maioria das estatísticas geralmente só
conta quantos alunos estão sem professor ou com professores não licenciados,
deixando de lado as distorções, ou seja, quantos alunos estão com um profes-
sor na sala de aula que não tem a formação específica para ministrar determi-
nada disciplina. Segundo o mesmo relatório faltavam hipoteticamente 19.937
professores de história na primeira década do milênio, já que a demanda era
de 94.603 profissionais, mas apenas 74.666 concluíram a licenciatura entre
1990 e 2001 (Brasil/CNE/CEB, 2007).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional aprovada em 1996 re-
flete as orientações da Declaração Mundial sobre Educação Para Todos, apro-
vada em Jomtien, Tailândia, no ano de 1990, e ratificada pelo Estado brasileiro,
que assumiu, entre outros, o compromisso da universalização do acesso ao
ensino fundamental. Com o Marco de Ação de Dakar, assinado em 2000, du-
rante o Fórum Mundial de Educação, outras metas foram estabelecidas. A de-
manda por mais professores e por uma educação de qualidade reflete o pro-
cesso de democratização que vivemos nas últimas décadas.1
Tanto nas proposições de 1990 quanto nas de 2000, o trabalho do profes-
sor é colocado em posição crucial para o alcance da qualidade do ensino pú-
blico.2 O documento de Dakar estabeleceu que os países se comprometessem
com metas e estratégias, sendo uma delas “elevar o status, o moral e o profis-
sionalismo dos professores”, colocando-os no lugar de atores essenciais, de-
fensores e catalizadores da mudança, devendo por isso ser respeitados e ade-
quadamente remunerados. O documento propugna ainda oferecer formação
de professores permanente, aberta e a distância, promover a participação dos
docentes nas esferas locais e nacionais nas decisões que envolvem a educação,
criar ações bem definidas e imaginativas para atrair e reter os bons professores
conscientes do seu papel em uma “economia emergente, baseada no conheci-
mento e conduzida pela tecnologia” e capazes de usar as novas Tecnologias de
Informação e Comunicação para atingir os objetivos da Educação para Todos
(Unesco/Dakar, 2001). O texto de Dakar tem um anexo composto de metas a
serem cumpridas pelos países americanos, com vistas a melhorar a qualidade
da educação básica, as quais incluem os docentes. De acordo com o documen-
to, é preciso
As perspectivas e os significados da
profissionalização em história
Iniciei minha carreira na rede municipal de ensino. Como na época só havia es-
tudado até a 3ª série, trabalhava com alfabetização. Hoje tenho a oportunidade de
ver alguns desses antigos alunos formados em direito, administração e outros.
Somente no ano de 1982, quando ingressei na rede estadual, é que comecei a
trabalhar a disciplina história no ensino fundamental menor (1ª a 4ª série). A
partir do ano 2000 fui designada para trabalhar a disciplina história de 5ª a 8ª
série na escola em que atuo. (Questionário por e-mail, cursista, polo de Bacabal,
Maranhão, 17 mar. 2012)
repensando no “meu antes” e o “depois”, notei que deixei a desejar no meu ensino
de história por conta da falta de habilidades específicas. Certamente, sinto-me
mais segura hoje e capaz de discutir as questões sobre história, principalmente
saber criticar e compreender os contextos em que foram produzidos os livros
didáticos, entre outros assuntos. (Questionário por e-mail, cursista, polo de Gua-
nambi, Bahia, 29 mar. 2012)
Eles sentiram muita diferença do que é de fato história que a gente passa. Que
não é essa história do livro decorada. Aprenderam [a] dar a visão do conquista-
dor, do conquistado, então ampliaram a forma de trabalhar. Melhorou. Começa-
ram a trabalhar com documentos, que dá para levar para a sala de aula, imagens.
(Entrevista, tutora a distância, polo de Aracati, Ceará, 18 set. 2012)
Eu acho que eles aprenderam a lidar melhor com a informática e com essa co-
brança de leituras de graduação, mesmo porque tinha uma quantidade de leitu-
ras. Então eu acho que, na maioria dos casos, o que me fica assim, apesar de o
curso já estar distante... Eu acho que foi um ganho para eles. Eu acho que, longe
do que deveria ser, mas eu acho que foi válido. Eles evoluíram em aspectos bási-
cos, o contato com a informática, com a rede, com a leitura de textos acadêmicos,
que eles não tinham. Com a escrita em ter [que] realizar resenha, trabalhos de
textos acadêmicos. Eu acho que eles evoluíram. Muito diferente do que se exige
de uma graduação presencial nas grandes universidades brasileiras. (Entrevista,
tutora a distância, polo de Aracaju, Sergipe, 13 set. 2012)
Eu acho que, nesse sentido, o curso evoluiu de uma maneira muito boa e, para
eles, foi fundamental. Eles de fato se alfabetizaram nessa linguagem da informá-
tica, eles saíram alfabetizados nisso. Eu acho que eles aprenderam a lidar melhor
com a informática. (Entrevista, tutora a distância, polo de Aracaju, Sergipe, 13
set. 2012)
É possível afirmar que a principal razão das evasões no curso foi a não
adaptação ao ensino a distância. Um primeiro exame mostrou, como já foi
dito, que aqueles que perseveraram foram os que conseguiram romper a bar-
reira inicial de operar com as TDICs. Além disso, era necessário conscientizar-
-se de que, nessa modalidade de ensino, boa parte do sucesso do empreendi-
mento depende, sobretudo, da capacidade de gerir o seu próprio tempo, já que
não existe uma rotina rígida preestabelecida que determine a presença em um
dado lugar por um número determinado de horas. Em outras palavras, o de-
sempenho satisfatório do aprendizado exige, nessa modalidade de educação,
uma autogestão do tempo realista e diária.
Uma professora cursista que já conhecia a modalidade de ensino a distân-
cia afirmou que, no geral, é necessário ter “disponibilidade e boa vontade para
realizar todas as etapas solicitadas pelos professores virtuais”. Segundo ela, “no
começo foi um pouco difícil conciliar, pois era muita coisa ao mesmo tempo,
muitas disciplinas, e a maior dificuldade foi a falta de um professor presencial
para tirar as dúvidas” (Questionário por e-mail, cursista, polo de Teixeira de
Freitas, Bahia, 28 mar. 2012).
A qualidade do serviço de internet oferecido nos polos foi um problema
apontado pela coordenação central do curso, identificado pelos cursistas e
também pelos tutores presenciais e a distância, assim como sinalizado no re-
latório de monitoramento do TCU. A questão da qualidade da internet era
uma unanimidade em termos de dificuldade. Em geral, o serviço ou era disca-
do ou era com sinal de rádio. Os alunos não conseguiam se comunicar ou,
quando conseguiam, a conexão era muito lenta.
Constata-se que, apesar de as TDICs aproximarem os cidadãos do Estado,
elas precisam ser mais desenvolvidas, faltam investimentos na estrutura ma-
terial para essa modalidade de ensino, e os recursos humanos muitas vezes não
alcançam o desenvolvimento técnico, ou então não fazem o investimento ne-
cessário para viabilizar esse tipo de ensino.
É fundamental que todos os profissionais envolvidos no planejamento da
ação tenham em mente que acessar os conteúdos e oportunizar condições para
Concordo contigo: esta aula é muito difícil! São muitos detalhes apresentados
num espaço curto. E a questão do fórum exige uma leitura muito cuidadosa da
aula. A melhor estratégia é fichar a aula para poder “digeri-la” bem.
Não sei como você fez, mas o resultado está muito bom! Espero que seus colegas
leiam a sua resposta e se sintam mais confiantes para trilhar seus caminhos. (Fó-
rum de debates, tutora a distância, polo de Imperatriz, Maranhão, 7 out. 2010)
Considerações finais
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Sobre a expansão das matrículas no ensino fundamental, ver OLIVEIRA, 2007.
2
Uma análise sobre o papel crucial que os documentos citados atribuem ao trabalho do
professor no alcance da qualidade educacional pode ser vista em RABELO; MENDES SE-
GUNDO; JIMENEZ, 2009.
3
Uma análise sobre a legislação que regula a EAD pode ser encontrada em SALVUCCI;
LISBOA; MENDES, 2012. Sobre as modalidades de formação a distância ofertadas ao en-
sino superior ver MORÁN, 2009.
4
Uma reflexão sobre o aumento dos cursos superiores, voltados quase todos à formação de
professores e controlados majoritariamente pela iniciativa privada está em GIOLO, 2008.
5
Atualmente, a formação inicial e continuada dos docentes está sob a responsabilidade da
Diretoria da Educação Básica (DEB), que é subordinada à Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A Capes também responde por outras políti-
cas de formação de docentes em exercício da profissão, como o Plano Nacional de Forma-
ção de Professores da Educação Básica (Parfor) e o sistema Universidade Aberta do Brasil
(UAB). Ver COSTA; DURAN, 2012.
6
A Rede Nacional de Formação Continuada de Professores (Rede) foi criada em 2004 e é
destinada aos professores da educação básica das escolas públicas. O Pró-Letramento foi
criado em 2005, com a função de apoiar a ação pedagógica (áreas de linguagem e matemá-
tica) dos professores que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental, funcionando em
parceria com a Rede, os estados e os municípios.
7
A Undime é uma entidade nacional sem fins lucrativos que congrega os dirigentes muni-
cipais de educação. Ela existe desde 1986, com sede em Brasília. A instituição indica mem-
bro para o Conselho Nacional de Educação e participa dos processos de discussão, formu-
lação e implementação de políticas nacionais de educação. Fonte: http://undime.org.br/
institucional/o-que-e-a-undime/; Acesso em: 9 mar. 2012.
8
Cf. Capítulo 1 de minha tese, FERREIRA, 2013.
9
Nem todos meus interlocutores autorizaram a divulgação de seus nomes em minha pes-
quisa, razão pela qual algumas vezes aparecem aqui com nomes, e outras, não.
Ver BRASIL/TCU, 2009, p.59. Uma reflexão sobre gestão da formação de professores em
10
Resumo Abstract
O artigo tem como objetivo analisar as The paper aims to analyze the actions
ações direcionadas aos professores de directed to teachers of humanities of el-
ciências humanas dos ensinos funda- ementary, middle and high schools,
mental e médio a partir do curso “O(s) from the course “The use of archival
uso(s) de documentos de Arquivo na sa- documents in the classroom” delivered
la de aula” na modalidade EAD, ofereci- in distance education mode and offered
do pelo Núcleo de Ação Educativa do by the Education Service of São Paulo
Arquivo Público do Estado de São Paulo State Public Archives. As we understand
(Apesp). Entendendo-o como uma ação it as a pioneer action in public archives
pioneira em arquivos públicos do país, of the country, we will initially discuss
discutiremos inicialmente como conce- how we conceive such institutions, as
bemos tais instituições, bem como os well as the theoretical and methodologi-
pressupostos teóricos e metodológicos cal assumptions that support the course.
que embasam o curso. Após uma refle- In that sense, after considering the role
xão sobre o papel dos arquivos na socie- of archives in society and their possible
dade e suas possíveis contribuições para contributions to education, we will ana-
a educação, analisaremos o primeiro lyze the first course in distance educa-
curso em EAD oferecido ao público ex- tion offered to the external public, which
terno, no segundo semestre de 2013. took place in the second half of 2013.
Palavras-chave: ação educativa em ar- Keywords: education service in archives;
quivos; oficinas pedagógicas; educação a pedagogical workshops; distance educa-
distância. tion.
* Diretora do Núcleo de Ação Educativa do Arquivo Público do Estado de São Paulo. andresa.
oliver@hotmail.com
** Núcleo de Ação Educativa do Arquivo Público do Estado de São Paulo. car_jana@hotmail.com
*** Núcleo de Ação Educativa do Arquivo Público do Estado de São Paulo. stanleyplacido@hotmail.com
Ao contrário das bibliotecas ou, até mesmo, dos museus, o acervo de um arqui-
vo, pela sua natureza e por seu grande volume, é arranjado de acordo com o
documento, que deixa de ser apenas o papel escrito e passa a abranger outras
possibilidades. A grande mudança na concepção de história a partir dessa cor-
rente historiográfica foi a primazia da história-problema. Também se altera o
tratamento dado ao documento e a sua crítica. Ele passa a ser definido pelas
interrogações da pesquisa e, para além da determinação de sua autenticidade
– que exerceu grande importância até o século XIX –, interessava aos funda-
dores dos Annales uma crítica em profundidade da noção de documento.
O documento não era mais um vestígio, mas sim um produto do passado,
mais especificamente, produto de uma cultura. Assim, a análise de documentos
passa a considerar a história como um discurso em litígio, uma disputa pela
hegemonia entre grupos de interesses divergentes. Por isso, para Le Goff
(2003), todo documento deve ser criticado enquanto monumento, pois não
existe um documento neutro. As condições históricas de sua produção tor-
nam-se essenciais para compreendê-lo e para apreender a representação que
as sociedades históricas desejaram imprimir de si próprias nos documentos.
Assim, partindo das discussões do campo teórico e didático da história
acima expostos, o curso foi organizado em seis unidades temáticas, acrescidas
de uma unidade específica para a elaboração do trabalho final. Cada uma delas
contou com atividades avaliativas compostas por questões objetivas ou disser-
tativas acerca da bibliografia proposta. O curso contou também com o fórum
avaliativo “Arquivo, Patrimônio e Ensino”, no qual foram desenvolvidos de-
bates em torno dos temas anunciados no seu título.
Foram realizados dois encontros presenciais, totalizando 10 horas. O pri-
meiro contemplou uma visita monitorada às dependências do Apesp, orienta-
ções sobre o uso da plataforma Moodle e esclarecimentos sobre os instrumentos
avaliativos do curso e respostas a dúvidas específicas dos participantes. O últi-
mo encontro presencial concentrou-se na apresentação dos trabalhos finais.
Nas três primeiras unidades da oficina tecemos discussões em conjunto
com os professores-alunos sobre conceitos como história, patrimônio, docu-
mento e educação. Elas ocorreram a partir da leitura de bibliografia indicada,
de textos de apoio e da visualização de vídeos, e se concretizaram, principal-
mente, por meio do fórum.
Nas três unidades subsequentes, priorizamos as atividades prático-meto-
dológicas de análise de documentos. Optamos pela divisão dessas unidades em
função da especificidade dos documentos a serem abordados, organizando-os
maneira geral, como algo positivo, pois significa, em nossa percepção, que o
Apesp é cada vez mais “Público” e não apenas “Histórico”.
No que concerne ao tempo de graduação dos candidatos, isto é, há quanto
tempo são graduados nas respectivas áreas de atuação, considerando-se a in-
dicada pelos candidatos no ato da inscrição,11 obtivemos um grande número
de inscritos com formação da década de 1990 em diante, com destaque para a
década de 2001-2010, o que demonstra que mesmo os graduados com forma-
ção recente continuam buscando algum tipo de formação continuada.
Inscrição 68 29 3 0
Critérios de seleção 53 44 3 0
Carga horária 42 47 11 0
Instalações 97 3 0 0
Material de apoio 89 11 0 0
foi a referente aos prazos para a elaboração para o trabalho final, aspecto que
mereceu a atenção da equipe e foi reformulado para as edições subsequentes.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
As reflexões desse tópico foram elaboradas, com acréscimos e supressões, a partir da disser-
tação de mestrado de um dos autores deste artigo, desenvolvida com auxílio de bolsa da Co-
ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Cf. BARBOSA, 2013.
2
Utilizamos a palavra “Arquivo” grafada com a primeira letra maiúscula quando nos refe-
rimos às instituições arquivísticas, e “arquivo” com a primeira letra minúscula quando
abordamos conjuntos documentais.
3
A Constituição de 1988 é a primeira lei na história do Brasil a tratar do acesso, pelos cida-
dãos, aos documentos produzidos pelas administrações públicas. Também é inovadora,
diante das constituições anteriores, ao incumbir à administração pública a gestão de seus
documentos e o provimento do seu acesso.
4
Para saber mais sobre as concepções teóricas acerca do ensino de história, ver: CERRI, 2009.
5
Nesse sentido, ver: ROCHA, 2010.
6
As produções finais dos cursistas estão disponíveis em: http://www.arquivoestado.sp.gov.
br/difusao/oficina_pedagogica.php.
7
A elaboração do curso-piloto contou também com a colaboração da servidora Vânia Ne-
lize Ventura.
8
O alto número de inscritos das escolas públicas estaduais se explica, em parte, pelo apoio
na divulgação que obtivemos da EFAP e da SEE/SP, oriundo da autorização/reconheci-
mento dela para fins de evolução funcional dos professores, a qual foi concedida pela Por-
taria da EFAP de 19 ago. 2013 e publicada na página 27 do caderno Executivo I do Diário
Oficial do Estado de São Paulo (D.O.E.) do dia 20 ago. 2013. Já a homologação do curso,
validando-o de fato para sua utilização na evolução funcional dos professores pertencentes
aos quadros dessa secretaria, ocorreu através da Portaria da EFAP de 5 fev. 2014, publicada
na página 42 do D.O.E. de 6 fev. 2014.
9
Inicialmente, estavam previstas setenta vagas. Com o elevado número de inscritos, foram
disponibilizadas mais dez vagas. Nesse sentido, se considerássemos apenas o número ini-
cial, a demanda seria de 21,77, um resultado excelente se levarmos em conta tratar-se de
um curso com carga horária de 50 horas.
10
Em virtude de uma parceria entre o Apesp e a Fundação Arquivo e Memória de Santos
(FAMS), dois funcionários desta instituição participaram do curso sem que, no entanto,
fossem retiradas vagas dos candidatos inscritos em cada um dos perfis supracitados. Foi
incluído também um professor da rede estadual que, por problemas técnicos, não teve sua
documentação conferida por nossa equipe, de modo que o curso foi iniciado com 83 ma-
triculados.
11
Alguns candidatos possuíam dupla ou tripla titulação. Para este artigo e para o próprio
processo seletivo do curso foi considerada apenas a primeira formação indicada, despre-
zando-se as segundas ou terceiras graduações. Da mesma forma, a indicação de cursos de
pós-graduação lato ou stricto sensu foram ignoradas durante a seleção.
12
O percentual de concluintes (53%) ficou dentro do esperado por nossa equipe. A média
de concluintes nas edições anteriores do curso, ocorridas na modalidade presencial, foi de
64%. Assim, considerando as peculiaridades da modalidade EAD, havíamos projetado, pa-
ra a primeira edição oferecida ao público externo, algo entre 45% e 60% como expectativa
de concluintes.
13
Com a homologação, o curso poderá ser utilizado, também, para a evolução funcional no
âmbito da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, contemplando, dessa forma, os
professores vinculados a essa rede de ensino.
14
Esclarecimentos de questões não pedagógicas como dificuldades no uso da plataforma,
prazos de entrega do trabalho e dificuldades na postagem das tarefas, somadas ao envio de
avisos gerais, foram concebidas como atividades de monitoria, função que foi desempe-
nhada pelo estagiário do NAE, Felipe Landim Ribeiro Mendes.
15
Tendo em vista que os participantes não residiam na capital, o fato de o Apesp estar lo-
calizado ao lado de uma estação da linha Azul do Metrô de São Paulo e, ao mesmo tempo,
ao lado de uma rodoviária intermunicipal/interestadual justifica as menções à localização
que facilitam o deslocamento daqueles que não conhecem bem a cidade de São Paulo.
Resumo Abstract
O artigo tem por objetivo sugerir que a The paper intends to suggest that the
educação a distância (EAD) é parte de distance education (DE) is part of a
um paradigma comunicacional em pro- communication paradigm in structur-
cesso de estruturação no mundo con- ing process in the contemporary world.
temporâneo. Ela deve, portanto, ser It is highlighted that it must, therefore,
pensada a partir de elementos mais ou be considered from more or less spe-
menos específicos e irredutíveis às cific elements irreducible to questions
questões apresentadas pela educação presented by regular education. As it is
presencial. Como se trata de fenômeno a recent historical phenomenon, the
historicamente recente, as proposições current theoretical propositions seem
teóricas atuais parecem insuficientes insufficient to understand the issue.
para compreender a questão. Mesmo Even so, we utilize, in this text, some
assim, utilizam-se, neste texto, certos constructs related especially to the con-
constructos voltados especialmente pa- cepts of language and media conver-
ra os conceitos de linguagem e conver- gence, as well as the concept of para-
gência de mídias, bem como o conceito digm. The discussions point to the
de paradigma. É necessário pensar a need to think DE considering its spe-
EAD considerando sua natureza especí- cific nature: the role of subject of
fica, apresentando, em primeiro lugar, knowledge, emphasizing the triadic ac-
o papel dos sujeitos do conhecimento, tion of professors, tutors and students
parecem fazer parte da revolução comunicacional indicada, uma vez que pres-
supõem repensar a educação formal por intermédio de novas linguagens e
mídias, tendo como uma de suas manifestações a virtualidade. Considerando
essas questões, o presente artigo propõe um exercício de compreensão no to-
cante às correlações entre a EAD e o contexto comunicativo em foco, chaman-
do a atenção para a necessidade de redimensionar os elementos da EAD a
partir das demandas desse novo paradigma comunicacional e, também, edu-
cacional. Por isso, no decorrer desta reflexão, sugere-se que, mais que “trans-
plantar” os postulados da educação presencial para a EAD, é necessário pro-
blematizá-los e pensá-los de acordo com as novas questões em jogo.
modo, não se ignora que, tal como a EAD insere-se no contexto histórico de
uma revolução comunicacional, esta se liga, de forma mais ampla, à estrutu-
ração de um paradigma que, malgrado não consolidado, vem se desenvolvendo
desde, pelo menos, os postulados da física quântica no século XX, que proble-
matizaram as relações entre sujeito e objeto no processo de construção do co-
nhecimento científico (cf. Köche, 1997; Capra, 2002; Santos, 1988).
Nesse sentido, parte dos debates em torno da EAD, pelo menos no senso
comum, tem se desenvolvido a partir de um falso problema, que compara qua-
litativamente esta à educação presencial. Não cabe saber qual seria a melhor,
visto que isso não acrescenta nada à reflexão propriamente dita. Apesar das
perspectivas apocalípticas, a EAD provavelmente permanecerá ao longo do
tempo, a menos que as mídias e os dispositivos contemporâneos se tornem
obsoletos. Isso demanda discussões que contribuam para sua compreensão
como fenômeno transdisciplinar e para a melhoria de seu processo organiza-
cional e de concepções teórico-metodológicas. Paralelamente, a virtualização
das instituições de ensino e aprendizagem aparentemente não acabará com a
educação presencial (mesmo porque elas podem ser desenvolvidas no interior
de uma mesma instituição), assim como a leitura de e-books não eliminou as
tradicionais práticas de leitura. Apesar de ambas poderem trocar experiências,
repensando a si próprias de forma salutar, há questões específicas que remetem
à compreensão dessas dimensões pedagógicas no interior de seus respectivos
paradigmas comunicacionais.
Questões de paradigma
presente artigo encontre lugar periférico nas reflexões históricas. Além disso,
as próprias coerções inerentes aos concursos públicos para professor univer-
sitário, geralmente exigindo como critérios a formação numa única área, difi-
cultam institucionalmente a práxis interdisciplinar.
Entretanto, como apontado, o paradigma cartesiano-newtoniano tem
apresentado, desde o início do século XX, indícios de insuficiência para expli-
car os problemas do mundo contemporâneo, que são de natureza complexa e
resistem às tentativas de explicação de cunho reducionista. A revolução comu-
nicacional em foco parece constituir um desses objetos complexos, sendo a
EAD parte desse processo histórico, demandando um exercício de reflexão.
Em primeiro lugar, o primado da palavra em relação às outras linguagens é
problematizado, na medida em que a imagem, o som, a corporeidade e, atre-
lada a esses fatores, a interatividade ganham destaque nas mídias contempo-
râneas. É preciso atinar para a correlação entre essas formas de expressão, não
as isolando nem atribuindo primazia a alguma delas. Os jogos eletrônicos e as
redes sociais têm operado com essa noção de mídias convergentes, constituin-
do, atualmente, saberes que antecedem a entrada dos indivíduos nas institui-
ções de ensino, vários deles “nativos” da era digital. Ironicamente, as escolas e
as universidades têm como base a noção cartesiana, racionalista e logocêntrica
que, de forma crescente, parece gerar desinteresse por parte dos alunos, mais
afeitos a subirem virtualmente em torres renascentistas em games como
Assassin’s Creed (publicado pela Ubisoft) que a lerem materiais didáticos de
história, em que textos ocupam papel central e as imagens, lugar periférico
(mesmo em edições graficamente modernas, mas pedagogicamente
conservadoras).
Não se pretende aqui afirmar que as plataformas da EAD devam repro-
duzir os jogos eletrônicos e as redes sociais. Afinal, embora informalmente
eduquem (malgrado o que esteja em pauta não seja a qualidade em si da edu-
cação), porquanto gerem um processo de apropriação (Chartier, 2001) e pos-
sível reflexão (Silva, 2009), trata-se de produtos do mundo contemporâneo
perpassados de outras funções, entre as quais é possível citar o mercado e o
entretenimento (André, 2013). No entanto, a convergência midiática compar-
tilhada com essas produções, que também constituem manifestações da revo-
lução comunicacional, não deve ser ignorada. Nesse sentido, é necessária cau-
tela para não transformar as plataformas da EAD numa mera virtualização dos
Desafios da EAD
está em jogo aqui não é a legitimidade dos eventos, mas o poder de mobiliza-
ção das redes sociais, sem as quais, talvez, a dimensão desses movimentos seria
impensável.
Apesar da velocidade na circulação das informações, cabe questionar as
relações entre dinamicidade de leitura e construção do conhecimento. Mal-
grado o poder de mobilização das redes sociais no tocante aos fenômenos so-
ciais contemporâneos, isso não necessariamente se correlaciona à reflexão e à
maturação das ideias, transformando-as em conhecimentos mais elaborados.
Um dos traços da produção de saberes em era analógica é o tempo relativa-
mente longo para a maturação das reflexões. Contudo, a aceleração da socie-
dade contemporânea tem acompanhado o ritmo industrial de produção e con-
sumo, o que trouxe implicações para a elaboração de conhecimentos, como,
por exemplo, as demandas de produção no atual universo acadêmico.2 De
qualquer forma, voltando ao caso das redes sociais, o próprio Facebook é mui-
to sintomático: o fluxo de dados na barra inicial de rolagem é extremamente
rápido, o que varia de acordo com os contatos que o usuário possui, sendo
difícil encontrar um texto ultrapassado... isto é, com alguns minutos de defa-
sagem. Ele não é necessariamente um repositório de informações (como, em
contraste, as bibliotecas digitais e outras bases de dados online), mas um siste-
ma incessantemente retroalimentado pelos usuários que se situa num presente
sempre muito imediato.
Com isso, não se pretende descartar a importância das redes sociais, mes-
mo porque aqueles que as conceberam, bem como seus usuários (que desem-
penham o papel de coautores na web 2.0, marcada pela interatividade), não
têm a intenção de transformá-las num repositório que permitiria necessaria-
mente a reflexão de ideias. O objetivo aqui, pensando nos desafios da EAD, é
compreender que, não obstante as plataformas educativas possuam correlações
com as redes sociais (como a conexão informativa por intermédio de hiperlinks
e as mídias convergentes), na medida em que são gestadas no interior do mes-
mo paradigma comunicacional, elas não precisam necessariamente incorporar
todos seus elementos de forma acrítica. Apesar da virtualização, uma das con-
dições sine qua non para a construção do conhecimento continua sendo o
tempo para a maturação das reflexões, que devem ser a base para a produção
de um saber que não seja demasiadamente superficial, resvalando em leituras
simplistas dos objetos de pesquisa.
Epílogo
REFERÊNCIAS
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CHAUVEAU, Agnès; TÉTART, Philippe (Org.) Questões para a história do presente.
Bauru, SP: Edusc, 1999.
NOTAS
1
Contudo, é válido ressaltar que, no Brasil, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) a
partir do Decreto nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005, exige que os cursos de EAD não
sejam totalmente virtuais, de forma que certas atividades devem ser realizadas em polos
presenciais, como avaliações, estágios, defesas de trabalhos de conclusão de cursos e labo-
ratórios de ensino.
2
Isso tem gerado reações, como o movimento alemão denominado slow science, que afir-
ma a necessidade de a ciência ser elaborada a partir de um tempo de maturação das ideias.
Cf. THE SLOW science manifesto, 2010.
Resumo Abstract
Há alguns anos, os computadores e, Over the last years, online social net-
mais recentemente, as redes sociais onli- works became a global phenomenon
ne emergiram como um fenômeno so- with enormous social, economic and
cial, político e cultural extremamente political relevance, impacting many
importante de nosso tempo, com refle- professions and intellectual activities.
xos nas mais diversas atividades profis- The paper has two objectives: to discuss
sionais e intelectuais. O artigo tem o ob- the relationship between the historian
jetivo de pensar a relação entre o and those online social networks, and,
historiador e os computadores, o histo- in a general perspective, to discuss the
riador e as redes sociais na internet, em relationship between historians and the
especial o caso da rede social Café Histó- new communication technologies, with
ria. Espera-se, assim, compreender me- Cafe Historia online network as a case
lhor os pontos de contato das novas tec- study.
nologias da comunicação com a história. Keywords: digital history; internet; so-
Palavras-chave: história digital; internet; cial networks.
redes sociais.
No final dos anos 1990, é possível notar uma mudança de rumo impor-
tante. Até então, o computador tinha sido visto como um instrumento auxiliar
da pesquisa histórica, um facilitador. Uma ferramenta fantástica, sem dúvida,
mas ainda assim apenas um equipamento. Na virada do milênio, no entanto,
o computador e as demais novas tecnologias que o acompanhavam, da telefo-
nia móvel aos dispositivos de mão, mas principalmente a internet, evidencia-
ram que havia muito mais coisa em jogo. A questão extrapolava o campo da
pesquisa. Ensino, divulgação e metodologia também deveriam ser incluídos
nesse “pacote”.
Esse momento ao qual nos referimos coincide com a emergência de um
campo de estudos que vem sendo chamado por muitos de história digital. Os
americanos foram pioneiros. Entre 1997 e 1998, os historiadores William G.
Thomas e Ed Ayers fundaram o Virginia Center for Digital History (VCDH),
vinculado à Universidade de Virgínia, Estados Unidos. Eles explicam que, no
âmbito desse centro, davam aulas em um seminário de pós-graduação intitu-
lado Digital History of the Civil War, onde tratavam quase que exclusivamente
de fontes da guerra civil americana digitalizadas (Cohen, 2008). Era só o co-
meço. Nos anos seguintes, o conceito digital history começou a ser usado em
outros contextos, empregado por outros pesquisadores, deixando de se referir
apenas à digitalização de fontes históricas para abarcar as novas perspectivas
no ensino (principalmente a distância), na elaboração de aplicativos, na cons-
trução de softwares educativos e de plataformas de divulgação da história, entre
outras aplicações. Não existe ainda hoje um consenso sobre a definição de his-
tória digital. A definição de William G. Thomas é, no entanto, uma boa tenta-
tiva nesse sentido:
Digital history is an approach to examining and representing the past that works
with the new communication technologies of the computer, the Internet ne-
twork, and software systems. On one level, digital history is an open arena of
scholarly production and communication, encompassing the development of
new course materials and scholarly data collections. On another, it is a methodo-
logical approach framed by the hipertextual power of these technologies to make,
define, query, and annotate associations in the human record of the past. To do
digital history, then, is to create a framework, ontology, through the technology
for people to experience, read, and follow an argument about a historical pro-
blem. Digital history scholarship also encourages readers to investigate and form
interpretive associations of their own. (ibidem)3
Vainfas, ainda que seu número de leitores seja pequeno, o Facebook é visto
como um espaço de crítica política e historiográfica mais relevante, abrangente
e de maior alcance do que um jornal quase centenário e de circulação nacional.
Esse juízo de valor por si só já é digno de destaque. Mas a consequência da
publicação do texto de Vainfas nos revela aspectos ainda mais interessantes.
Em pouco tempo, o “desabafo” do historiador mostrou que o poder de uma
rede social como o Facebook pode ser tudo, exceto limitado. Seu texto fez uma
dura crítica a artistas, ex-militantes e até mesmo a pesquisadores que escrevem
sobre o tema. “O que a maioria dos pesquisadores produz hoje sobre o golpe
de 64 é de embrulhar o estômago de historiadores comprometidos com o ofí-
cio, e não com ideologias ou mitologias interesseiras e interessadas.” Polêmica,
a publicação rapidamente se difundiu pela internet. O post de Vainfas, até a
finalização deste artigo, registrava 108 comentários, 293 curtidas e 162 com-
partilhamentos.9 Não há como auferir com exatidão o número de pessoas que
visualizaram essa publicação, haja vista que o Facebook não disponibiliza os
dados de visualização gerados por perfis individuais. Mas tomando como pa-
râmetro a página da rede social Café História no Facebook (administrada pelo
autor do presente artigo e que oferece estatísticas oficiais de visualização), posts
publicados no mesmo período (março de 2014) e que receberam interações
semelhantes ao post de Vainfas (comentários, compartilhamentos e curtidas),
é possível dizer que o texto foi exibido para um público estimado entre 12 mil
e 18 mil pessoas. Isso sem mencionar todos os casos de replicação indireta do
texto no Facebook. A página “Historien Acadêmica”, por exemplo, adminis-
trada pelo Colegiado de História da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), republicou o texto de Vainfas em um novo post, o qual, até o encer-
ramento deste artigo tinha alcançado outros 30 comentários, 79 curtidas e 82
compartilhamentos. Alguns dias depois, vieram as primeiras réplicas, o que
tornou o texto de Vainfas ainda mais conhecido. Uma delas, da historiadora
Carolina Silveira Bauer, professora de história da Universidade Federal de Pe-
lotas (UFPel), intitulada “O comprometimento com o ofício do historiador”,
foi publicada na revista virtual Carta Maior (Bauer, 2014), veículo de grande
circulação no meio digital, e acabou indicada ou mesmo reproduzida em redes
sociais, blogs, fóruns, grupos de e-mail e outros sites. Se, na década de 1980, a
chamada “querela dos historiadores” alemães (Historikerstreit), de grande im-
portância para os estudos do Holocausto, se deu nos jornais alemães, hoje, em
Grupo para discussão de temas que envolvem os conteúdos curriculares das dis-
ciplinas ministradas por esta unidade de ensino. Também é um espaço aberto
para os membros do Café História que desejarem contribuir para o desenvolvi-
mento dos nossos alunos.11
Escolaridade
30% nível superior incompleto
27% nível superior completo
18% especialização
9% mestrado
3% doutorado
13% outra formação
Conteúdo que quer ver mais na rede
45% história contemporânea no Café História
21% história medieval no Café História
20% história moderna no Café História
14% história antiga no Café História
Curso universitário
40% já haviam cursado a faculdade de história
29% estavam cursando a faculdade de história
21% haviam cursado outra faculdade
10% não possuíam curso universitário
Com uma rede tão ampla e heterogênea, todos os dias a caixa de e-mails
do Café História recebe dezenas de mensagens. Muitas poderíamos classificar
como inusitadas. São pessoas procurando por parentes, amigos, solicitando
pesquisas, alunos que pedem orientação acadêmica, ajuda em provas, pedidos
de bibliografia e pedidos de avaliação de obras de arte, entre outras. De muitas
formas, o Café História acabou se tornando uma referência para profissionais
de história, inclusive para questões que extrapolam o escopo original da rede.
A atualização do Café História é feita uma vez por semana pela adminis-
tração. Vários pesquisadores e professores universitários colaboram com a
rede, seja dando entrevistas ou fornecendo artigos exclusivos, o que reforça a
vocação colaborativa da plataforma. Quanto à mediação, o volume de trabalho
é grande. Conteúdos adicionados pelos participantes passam diariamente por
uma filtragem prévia. É impossível (e desnecessário) fazer uma triagem com-
pleta de tudo o que sobe ao Café. Mas existe um controle parcial. Fóruns, gru-
pos, fotos e vídeos necessitam autorização antes de serem publicados. Da mes-
ma maneira, novos participantes também precisam ser liberados, após o
Durante muito tempo, as redes sociais foram tomadas apenas como novas
formas de entretenimento ou, em não poucas ocasiões, como puro voyeurismo.
Hoje, no entanto, elas não podem ser classificadas unicamente sob esse ponto
de vista. Redes sociais são recursos valiosos para praticamente todas as ativi-
dades profissionais. O caso do Café História é um exemplo recente das poten-
cialidades da internet para os historiadores. Pensar nas redes sociais online é,
em uma perspectiva mais ampla, pensar nas possibilidades que as novas mídias
oferecem à história. A chamada história digital, que hoje busca sua legitimação,
é um terreno a ser explorado nas três dimensões aqui apontadas: ensino, di-
vulgação e pesquisa. A educação a distância, a digitalização de acervos histó-
ricos, os avançados algoritmos matemáticos empregados em buscas documen-
tais, plataformas de compartilhamento de dados e informações, o universo da
programação, dos aplicativos, tudo isso é um terreno ainda pouco percorrido
pelo profissional de história. Não necessariamente precisamos ser historiado-
res-programadores, como disse Emmanuel Le Roy Ladurie. Mas é preciso estar
atento às novas competências e habilidades que podem ser úteis no fazer
história.
É evidente que há enormes desafios dentro desse campo. Novas tecnolo-
gias possuem um lado intimidador, que mexe com relações de poder há muito
estabelecidas e arraigadas em todos os círculos profissionais, inclusive na his-
tória. Em 1997, já explicava o filósofo Pierre Levy, ao comentar sobre a
cibercultura:
O ofício do historiador não sofreu nenhum abalo estrutural por conta das
novas tecnologias. E nem corre o risco se extinguir-se. Nada perto disso. Por
outro lado, parece ponto pacífico inferir que, por conta das novas possibilidades
oferecidas pelas tecnologias, a atuação do historiador está passando por uma
transformação significativa. É preciso entender esse momento. A universidade,
nesse sentido, possui mais uma vez papel fundamental. É fundamental que os
cursos de história, por exemplo, ofereçam disciplinas, eletivas ou obrigatórias,
voltadas para divulgação científica, história digital ou história pública. Essas
disciplinas são hoje essenciais para se pensar, dentro do curso de história, a
elaboração de projetos, princípios de administração, noções de design gráfico
(principalmente o chamado o design thinking),12 mídias sociais, programação,
internet e comunicação social de uma forma geral.
Não podemos fazer das tecnologias uma opção messiânica, como por ve-
zes se fez na história quantitativa. Mas rechaçar ou diminuir a tecnologia, co-
mo não raro também se fez, é ignorar uma realidade concreta que pode ajudar
no desenvolvimento de vários campos.
Por fim, o “centro de gravidade” da internet pode sofrer descolamentos e
as redes sociais online, hoje tão festejadas, podem deixar de atrair tanto inte-
resse. Trata-se de um campo altamente volátil. Mas o que mais vale daquilo
que foi escrito aqui é o registro histórico de um momento de transformação
para a história e para os historiadores. De uma forma mais ampla, o que esta-
mos aqui discutindo é a maneira como nos relacionamos com a tecnologia, a
forma como esta nos faz repensar e redimensionar nossa atuação profissional.
Redes sociais na internet, assim, são também uma metáfora, um contexto, um
pretexto. Algo só possível porque já aprendemos uma lição valiosa: antes de
serem redes de computadores, redes sociais são redes formadas por pessoas.
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2014.
NOTAS
1
BARROS, 2012. História serial e história quantitativa, por vezes, são tomadas como sinô-
nimos, mas há uma diferença entre ambas. Segundo José D’Assunção Barros, “História
Serial refere-se ao determinado tipo de fontes – homogêneas, do mesmo tipo, referentes a
um período coerente com o problema a ser examinado … Já a História Quantitativa deve
ser definida por um outro cenário: o seu campo de observação”.
2
Cf. SHORTER, 1975; MARRIOTT, 1979; THERNSTROM, 1967, p.73; LADURIE, 1979;
BULLOUGH, 1966, v.1, p.61-64; SWIERENGA, 1974; DOLLAR, 1969; PROWN, 1966;
RHOADS, 1969, p.209-213; LADURIE, 1974; LÉGARÉ; LAROSE; ROY, 1973; ROBINET,
1970, p.219-223; DAUBEZE; PERROT, 1972; FROGER, 1968.
3
“História digital é uma abordagem para examinar e representar o passado que lida com as
novas tecnologias comunicacionais do computador, com a rede mundial de computadores
e com os sistemas de software. Por um lado, a história digital caracteriza-se por ser uma
arena aberta para a produção do conhecimento escolar e para a comunicação, pois abrange
o desenvolvimento de novos materiais para cursos e de coleções de dados do conhecimen-
to escolar. Por outro lado, configura-se como uma abordagem metodológica moldada pelo
poder hipertextual das referidas tecnologias de formular, definir, questionar e tomar nota
das associações no registro humano do passado. Produzir história digital é, então, criar
uma moldura, ontologia, por meio da tecnologia, para que as pessoas possam experimen-
tar, ler e acompanhar um argumento acerca de um problema histórico. O ensino da histó-
ria digital encoraja, igualmente, os leitores a investigar e a formular suas próprias associa-
ções interpretativas” (trad. Breno B. Magalhães).
4
Sobre isso, ver: LUCCHESI, 2013.
5
O volume de trabalhos é tão vasto que seria impossível citar todos neste espaço. Entre os
autores desta “nova safra” estão Anita Lucchesi, Dilton Cândido Santos Maynard, Camila
Guimarães Dantas, Célia Cristina da Silva Tavares, Leandro Coelho de Aguiar e Ricardo
Pimenta, entre outros.
6
Ver: http://wearesocial.net/blog/2014/01/social-digital-mobile-worldwide-2014; Acesso
em: 9 abr. 2014.
7
Ibidem.
8
USO do Facebook em celular beira 60%. O Estado de S. Paulo, Caderno Link. Disponível
em: http://blogs.estadao.com.br/link/quase-60-usam-facebook-em-aparelho-movel/;
Acesso em: 8 abr. 2014.
9
Ver publicação no perfil de Ronaldo Vainfas no Facebook, 23 mar. 2014: www.facebook.
com/rvainfas; Acesso em: 3 abr. 2014.
10
O café é uma bebida universalmente conhecida e apreciada. Sua pronúncia é pratica-
mente a mesma em quase todas as línguas e ainda é sinônimo de cafeteria, espaço agrega-
dor e de ponto de encontro para pessoas. Da Ásia à Europa, passando pelas Américas, a
imagem do café inspira a troca de ideias, a conversa. Um lugar certamente tradicional, mas
que é, hoje, ao mesmo tempo, modernizado, como nos cybercafés. Além disso, para os
historiadores o café remete a um dos ciclos econômicos mais importantes da história do
Brasil. Essas são as justificativas do nome Café História.
11
Ver: http://cafehistoria.ning.com/group/escolaprofhosanasalles; Acesso em: 8 abr. 2014.
12
O chamado design thinking é um conceito/metodologia em design bastante utilizado
atualmente. Ele parte do princípio de que o design possui uma função social no mundo. Tal
concepção vai além da fabricação de objetos. O design thinking é uma forma de conceber a
gestão da informação e de se pensar os mais diversos projetos. Esse conceito tem sido uti-
lizado em múltiplos contextos, desde a distribuição de água potável até o desenvolvimento
de setores de comunicação em ambientes institucionais. No campo da história, o design
thinking pode ser muito útil para o desenvolvimento de sistemas de informação em âmbito
acadêmico e na elaboração de campanhas de divulgação de eventos e pesquisas. Sobre o
tema, ver: BROWN, 2008, p.84.
Resumo Abstract
O artigo busca analisar o papel dos re- The article analyses the role played by
cursos educacionais no ensino básico, educational resources in basic educa-
com enfoque na área de história. Inicia- tion, with a focus on History. We begin
mos com uma investigação sobre o livro with an analysis of the didactic book,
didático, complementando a análise particularly the PNLD (National Plan
com dados do Plano Nacional do Livro for Educational Books, in free transla-
Didático (PNLD), dada sua ubiquidade. tion), given its ubiquity. We present a
Apresentamos uma perspectiva baseada perspective based on Open Educational
em recursos educacionais abertos Resources, which aims to rethink both
(REA), que busca repensar tanto os re- the product and the processes of pro-
sultados quanto os processos de produ- duction, use and reuse of educational
ção, uso e reuso de recursos didáticos. resources.
Palavras-chave: ensino de história; re- Keywords: teaching of history; open
cursos educacionais abertos (REA); li- educational resources (OER); educatio-
vro didático. nal books.
editorial e o livro de história, Silva (2012) aponta uma relação cíclica entre a
precária condição da formação e do trabalho dos professores, de um lado, e o
uso acrítico do livro didático, de outro, como fio condutor para o ensino.
É reconhecida a dependência dos professores e alunos em relação ao uso
de livros didáticos impressos (Zancheta Junior, 2008; Carneiro; Santos; Mol,
2005). Porém, como ressaltam Megid Neto e Fracalanza (2003):
Professores e professoras da educação básica têm recusado cada vez mais adotar
fielmente os manuais didáticos postos no mercado, na forma como concebidos e
disseminados por autores e editoras. Fazem constantemente adaptações das cole-
ções, tentando moldá-las à sua realidade escolar e às suas convicções pedagógicas.
Apesar de sua ubiquidade, não podemos então concluir que exista uma
homogeneidade de práticas nem uma relação linear entre um modelo didático
engendrado pelo livro e a didática por parte dos professores:
esse recurso é necessário que uma cópia do livro seja feita. Isso acarreta custos
monetários, de locomoção e de tempo (além de provavelmente infringir direi-
tos autorais). O mesmo não acontece com um livro digital – o custo de repro-
dução é marginal; basta que o leitor tenha acesso a um dispositivo que permite
a leitura e o material pode ser acessado simultaneamente por mais de uma
pessoa. Paralelamente, se o livro digital estiver licenciado de maneira aberta, é
possível reduzir ou eliminar problemas com o direito de reprodução. Adicio-
nalmente, se estiver em um formato aberto, fornece ao leitor inúmeras possi-
bilidades criativas, como a modificação do trabalho (remix) e o compartilha-
mento (Simon; Vieira, 2008).
Para além dos “objetos educacionais” criados especificamente para o
PNLD (como já vimos), é importante lembrar que os livros impressos nascem
digitalmente. São um agregado de imagens e textos digitais, que poderiam ser
disponibilizados abertamente para uso criativo, adaptação e remix.5 A dispo-
nibilidade desses recursos, aliada a novos modelos de compra e incentivos,
pode fomentar novas maneiras de pensar, inclusive, a produção e a impressão
dos livros didáticos.
Essas iniciativas apontam para um maior alinhamento entre os recursos
educacionais e as práticas didáticas emergentes que priorizam a construção do
conhecimento. No que tange ao material didático, essa é uma área de estudo
conhecida como recursos educacionais abertos (REA). O movimento REA tem
como objetivo fomentar a produção e a disseminação de conteúdo educacional
com liberdade de uso, reúso e adaptação. Estes temas levantam questões rela-
tivas a direitos autorais, redução de custos e novos modelos econômicos e
competências com tecnologia, entre outros. Os REA podem ser definidos
como:
Considerações finais
olhar especial para o papel dos recursos didáticos, e a rede de influências (ins-
titucionais, pessoais etc.) que contribui para o desencadeamento dessas ações.
Com o crescimento da disponibilidade de recursos impressos e digitais, é
evidente que, para muitos, o livro didático será, cada vez mais, “mais um” bom
recurso. Ao mesmo tempo, veremos um crescimento na produção e dissemi-
nação de recursos por parte de professores e alunos, bem como pessoas e ins-
tituições não tradicionalmente associadas ao ensino. Não é sensato imaginar
que professores e alunos vão simplesmente ignorar essas alternativas. É im-
portante alinhar um ensino crítico, aberto e participativo com esse cenário
emergente. A participação dos professores e alunos no ciclo dos recursos edu-
cacionais abertos pode em muito contribuir para esses objetivos.
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NOTAS
1
O ano de 2013 não conta com uma análise mais detalhada; utiliza uma divisão mais su-
cinta das categorias de coleções. Para uma análise mais detalhada confira os Guias anterio-
res em: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guia-do-livro/guias-anteriores.
2
O Guia de livros do PNLD/História de 2007 informa que 31 coleções foram avaliadas, no
entanto, somente trinta aparecem efetivamente no Guia.
3
FNDE, 2014. Tratando-se de uma série histórica, optei por não apontar as fusões e asso-
ciações nos selos (como Ática/Scipione) nesse gráfico, considerando também que o merca-
do editorial brasileiro se encontra em pleno processo de fusões e aquisições.
4
Dados compilados pelo autor com base no Guia de livros didáticos da área de história
(anos iniciais), e valores de negociação por título em 2013 (anos iniciais), disponíveis no
site do PNLD. (http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-dados-
-estatisticos). IBEP/Base editorial estão separadas, já que o edital foi lançado em 2011 e a
fusão foi posterior. Os dados brutos são disponibilizados no site do PNLD somente em
formato PDF. Os dados utilizados nessa pesquisa foram filtrados manualmente e estão
disponíveis em formato aberto em: http://www.educacaoaberta.org/wiki.
5
Vale ressaltar que os editores dos livros devem deter “os direitos patrimoniais sobre todos
os textos, ilustrações, fotografias e demais trabalhos intelectuais abrangidos pela legislação
autoral brasileira, que compõem a coleção” (Anexo XII, Edital PNLD 2014), o que só faci-
litaria o processo de liberação dos recursos com uma licença e formatos livres.
6
Tradução colaborativa feita de UNESCO/COL, 2011.
7
No Brasil, vale ressaltar o conhecido Projeto Folhas: DARCIE; HUTNER, 2012, p.235-
238. No exterior, um modelo de grande interesse é o Siyavula (http://www.siyavula.com;
África do Sul).
V.A. – Deixa só eu fazer uma pergunta: seus pais eram fazendeiros? Como
era? Você nasceu nessa fazenda...
Não. Meus avós eram fazendeiros, naquela época lá, e meus pais traba-
lhavam na terra, e tinham pouquíssima instrução, quer dizer, nunca real-
mente tiveram desenvoltura na escrita, mal assinavam o nome e faziam ape-
nas contas elementares. Eram semianalfabetos, mas tinham um pensamento
fixo de que os filhos teriam que estudar. Então, a família, em função desse
objetivo, teve uma movimentação migratória em direção a lugares que ofere-
cessem melhores condições para os filhos estudarem.
V.A. – Olha!
...onde eu tive oportunidade de atuar. Com meus 16 anos, atuei em
um esquete lá no circo. Era uma cena de picadeiro, onde eu representava
um playboy, contracenando com o palhaço Sapeca e com uma outra moça,
de nome Barbina. A encrenca formada é que eu tinha beijado a moça na
praça pública e, por isso, ou seria preso ou devia pagar uma multa para o
delegado, que era o palhaço. O delegado irritado me cobrava uma multa
de 25 cruzeiros e eu lhe entregava uma nota de 50 em pagamento para me
livrar da prisão. E aí o palhaço mexe exaustivamente nos quase 20 bolsos
de sua roupa espalhafatosa, fingindo procurar um troco, e termina a cena
me dizendo: “Olha, não tem troco. Então, beija de novo a moça aí que fica
tudo certo.” [risos]
V.A. – Ou seja, a gente pode dizer que é uma infância e uma juventude
muito diversificada, não é?
Exato. No entanto, as bruscas mudanças de atividades de meu pai gera-
vam muita instabilidade; a família passou por muitas dificuldades econômi-
cas, o que também foi uma marca de minha infância e adolescência. Por
exemplo, nessa cidade de Jundiaí do Sul – e foi ali que eu comecei o ensino
primário e fiz parte do ginasial –, nessa cidade, moramos 6 anos em sete casas
diferentes. Há uns vinte e poucos anos atrás, voltei para Jundiaí do Sul, ten-
tando mapear as casas onde vivi, e consegui mapear cinco das casas sobrevi-
ventes. Entre elas, aquela onde funcionava o bar, a casa do posto de gasolina e
aquela casa do momento em que trabalhamos com olaria. Mas também traba-
lhava-se na fazenda do meu avô, porque, quando a situação econômica ficava
muito preta, sempre tinha o socorro da fazenda, e meu pai ia para lá plantar
feijão, algodão, arroz e apurava algum dinheiro com a venda. Inclusive, no
ano em que estudava a segunda série do ginásio, eu morei sozinho em Jundiaí
do Sul, na casa de uma tia, porque meu pai, numa crise econômica, voltou pa-
ra a fazenda do meu avô com a família...
V.A. – De esquecer.
De evadir pela preguiça, talvez. E aí a família ficou toda preocupada e me
levaram em muitos médicos, para saber o que era aquele negócio do
sono. Isso me fazia faltar às aulas e, nas que ia, dormia. Mas nenhum médico
encontrou nada. Aí me levaram num curandeiro que vivia em outra fazenda,
vizinha da fazenda do meu avô. Esse curandeiro era um sujeito reputadíssimo
por ter resolvido muitos problemas. Até contavam que ele era um sujeito que
caminhava em cima da água. Era o Antônio Moreira, um sujeito que tinha es-
se lado mágico. E eu ia procurar a cura com o Antônio Moreira. Isso aconte-
ceu durante minhas férias. Fui à casa do Antônio Moreira durante uma série
de quartas-feiras, que era o dia de poder, para que ele pudesse fazer os benzi-
mentos. E ele fez os benzimentos e eu fiquei...
V.A. – Movimentadas.
Diversão, mas também, os castigos. Um deles, que minha avó passava,
era pedir para o bando de primos e primas irem buscar água no rio para en-
cher os tambores. A casa da fazenda ficava num alto e o poço no terreiro era
pobre de água. Como o rio era um pouco longe, para render o trabalho, ela
entregava um balde ou vasilha para cada um ir buscar água no rio, sem pou-
par nenhum neto. Note que, se um neto fazia alguma arte, ela mesma... e não
pedia licença para o pai ou a mãe, ela mesma fazia as correções. Além disso,
precavida, ela batia naquele faltoso e em todos os outros primos, para nin-
guém falar de ninguém. [riso]
Bem, daí, com um pouco mais de 12 anos, eu fui para Santo Antônio da
Platina, uma cidade próxima, maior, com mais recursos.
M.D. – Ele foi embora? Por isso que parou de te dar aula?
Não. Ele parou de dar aula... Eu só fiquei sabendo por que ele parou de
dar aula mais de 20 anos depois. Eu o visitei em sua casa. Foi na mesma época
em que passei em Jundiaí do Sul, tentando rever as sete casas em que tinha
morado.
V.A. – A gente pode saber por que ele parou de dar aula?
Eu volto a esse assunto mais tarde, certo? Ele deu aula até a segunda série
do científico e eu tinha que estudar a terceira série. Só que, em Santo Antônio
da Platina, naquela época, não tinha sido ainda implantada a terceira série. Os
alunos, ao concluírem a segunda série, para continuar os estudos, deveriam ir
para Jacarezinho, que era uma cidade maior, 60 quilômetros distante, onde
tinha faculdades particulares. Acontece que houve um movimento entre o
pessoal que estudava a segunda série para tentar fazer uma terceira, e conse-
guimos! Houve até uma votação para definir se as aulas da terceira série se-
riam durante o dia ou durante a noite. Votei para ser de noite, já que eu traba-
lhava durante o dia, Porque, em todo esse périplo, mudando de lugar e
V.A. – Abastado.
Abastado. E, durante as aulas de matemática, a professora Loide me ser-
via chás e me regalava com biscoitos, pães. Ela, também, de vez em quando,
fazia um pequeno intervalo, porque a aula era a tarde toda do sábado ou do
domingo, e ela ia ao piano, tocava algumas músicas, e depois voltava a estu-
dar. Quer dizer, para mim era divertido aquilo. E eu tinha, nessa época, 17
anos e era uma pessoa muito tímida, não conversava quase com ninguém, era
muito fechado. Me dedicava muito à matemática e estudava também outras
disciplinas, porque eu não sabia exatamente o que queria fazer. Matemática
era uma força, mas eu tinha dúvidas se por esse caminho resolveria meus pro-
blemas de penúria econômica. Por isso, estudava tudo e tive uma alta perfor-
mance no terceiro ano, porque eu tinha como objetivo ganhar o prêmio de
primeiro lugar; então, me dediquei a tudo: à física; à biologia; à matemática,
evidentemente. Em todas as provas de matemática que existiram na terceira
série do científico, tirei nota dez. Teve uma prova até que foi anulada, eu me
lembro disso, e, naquela jactância de adolescente, adorei terem anulado a pro-
va porque eu teria a oportunidade de tirar mais um dez. [risos] Entendeu co-
mo é o negócio? E foi assim que tirei o primeiro lugar, deixando para trás al-
guns fortes candidatos: o Lucas, que era muito forte em português; o Nelson
Reginato, que era o máximo em geografia. Mas consegui de algum modo me
destacar e tirei em primeiro lugar.
Tinha também um ótimo professor de português, chamado José Niquel-
son. Esse professor de português era uma figura emblemática na cidade, por-
que ele era o ponta-esquerda do time da cidade. Era muito bom de ponta-es-
querda e, além disso, era paraquedista. Ele saltava de paraquedas. E incentivou
muito as pessoas. Ele tinha um conhecimento de português muito incrível,
porque ele representava na sala. Quando falava uma oração aditiva... Eu já es-
queci um pouco dessas coisas. “Maria escorregou e caiu.” Então ele fazia toda
a cena lá na frente: escorregava e caía, também.
V.A. – Pode-se dizer que o colégio, apesar de no interior, era muito bom,
não é?
Era um colégio público muito bom. E o Niquelson incentivou os alunos a
participarem de um contraturno, num local fora do colégio, onde ele mantinha
uma academia, à moda grega. Então, com os alunos que se dispuseram, ele for-
mou uma academia, em que discutia filosofia. O aluno, ao ingressar na acade-
mia, recebia outro nome. Recebi o nome de Anaxágoras. Fiquei um pouco frus-
trado, queria ser Sócrates. Mas o professor tinha outros preferidos e, ademais,
eu não tinha brilhantismo oral. Outro aluno, o Luisinho, recebeu o nome de
Sócrates. O sujeito era bom: ele discursava, sob a orientação do Niquelson, nos
eventos que tinha lá na escola.
V.A. – Pois é, aqui já tinha tido nosso famoso golpe, que estamos “desco-
memorando” neste ano...
Exatamente. O Niquelson foi taxado de subversivo e comunista e teve
que abandonar a escola e ir para Curitiba. Depois fui informado que ele se
tornou professor da Escola Técnica Federal, hoje Universidade Tecnológica
do Paraná. Uns 5 ou 6 anos depois, quando eu já estava estudando em Curiti-
ba, visitei o Niquelson na Escola Técnica. Gostei muito de ter revisto o Ni-
quelson. Ele continuava pulando de paraquedas e aquela coisa toda. Mas, co-
mo disse, no terceiro ano, o meu professor de português foi o Israel.
V.A. – Eu queria saber se você vai contar para a gente por que o Oswaldo
Giovanetti não deu aula no terceiro ano.
Exatamente. A questão toda é que meu professor, o Oswaldo Giovanetti,
realmente não quis dar aula para nós, no terceiro ano, e colocou o Antônio
para dar aula. O Antônio – não recordo seu nome completo – era muito afe-
tuoso, dedicado, mas não tinha domínio do conteúdo. Mas eu já tinha desen-
volvido uma autonomia tal que não me atrapalharia um professor que não
tivesse conhecimento da disciplina. Já estava estudando sozinho. E evidente-
mente continuei com meus contatos com o Oswaldo Giovanetti. Tanto é que,
quando eu estava no terceiro ano científico, resolvi três problemas que tinha
num livro, na literatura lá, e que eram tremendos desafios.
Foi nessa época que eu comecei a ter essa capacidade distinguida de
um cientista, que é a persistência, que é você não desistir nos seus primeiros
fracassos, e que resolver um problema de matemática não é uma coisa que
você resolve na hora – você tem que pensar, você tem que esquecer, você
tem que dormir e depois voltar a ele. Então, isso eu pratiquei, com esses
problemas que apareceram lá. E aí, numa certa noite em que eu estava estu-
dando – era um sábado –, minha mãe costurando... Porque ela costurava,
lavava roupa, para poder ganhar a vida também; meu pai fazendo outros
ofícios. Eu estava estudando na minha mesa e, de repente, dei um pulo
imenso, porque tinha resolvido um dos problemas. Minha mãe achou que
eu estava passando mal.
V.A. – Já ia levar você de novo para o Antônio Moreira para saber o que
estava acontecendo. [riso]
Exatamente. Mas falei: “Não, mãe, tudo bem, é que eu resolvi um proble-
ma aqui”. Recordando agora essa história, eu me lembro de vários sustos que
os cientistas tiveram, quando chegaram realmente à solução de uma coisa que
há tanto é procurada, que é o caso, por exemplo, do empuxo de Arquimedes:
Arquimedes, quando descobriu a lei do empuxo, lá na antiga Grécia, no sécu-
lo IV a.C. ou III...
pouco, assim, interessado nas coisas heterodoxas. Falei: “Mas, Leminski, as-
trologia?!”. Eu era um matemático. E nesse momento eu estava dando aula de
física no cursinho – porque matemática já estava preenchido, peguei a física.
E aí falei: “Leminski, mas a astrologia não tem realmente consistência cientí-
fica. Eu acho que, no máximo, o que a astrologia serve é para as conversas de
manutenção entre as pessoas, as relações humanas e sociais”. Aí ele olhou pa-
ra mim e falou assim: “E você acha isso pouco?” [risos] Foi essa a história do
Leminski. Bom, aí eu dava aula de física no cursinho, e passei no vestibular de
medicina, realmente, em terceiro lugar...
doidos. A família toda: “Ah, o Celso não vai dar em nada desse jeito”, a minha
avó lá pontificou. [risos] E aí eu realmente passei a não fazer nada. Quer dizer,
do ponto de vista acadêmico normal. Eu era professor do cursinho, tinha meu
dinheiro, já estava...
V.A. – Aí sua avó já achou que, não, o Celso podia dar alguma coisa.
Matemática, não é? E foi daí que eu fiz o meu mestrado no Impa, que ter-
minei em...
V.A. – Toro?
A câmara de ar é chamada de toro. De todo modo, acessando, no Google,
“Costa surface”...
V.A. – Mergulhada?!
Mergulhada no espaço tridimensional. Isso significa que a superfície não
possui autointersecções. E falei assim: “Eu já sabia, Marcos”. E ao mesmo
tempo, pensei assim comigo: “Tomara que não tenha outras. Tomara que ela
seja a única”. É um pensamento meio mesquinho, não é? Mas aí eu cheguei
nesse congresso e passei a ser uma celebridade no congresso: todo mundo
queria conversar comigo, qual era a minha técnica. Aquele problema resolvia
uma dúvida de 206 anos; vários matemáticos... Weierstrass;8 Yau, o chinês
que está lá nos Estados Unidos, que é um dos maiores geômetras da atuali-
dade...9 Ele tinha inclusive anunciado, num certo momento, que não existia
essa superfície, mas depois percebeu que estava errado. O William Meeks, que
visitou o Impa, aqui, num certo momento, reuniu todo mundo e mostrou lá
que ele tinha provado a existência da superfície, e depois também estava
errado...
Eu, inclusive, na minha tese de doutorado, num certo momento, refazen-
do as contas... Na inauguração do Impa lá no Jardim Botânico, na festa de
inauguração, tinha os uísques, os vinhos, eu, bebendo, o Karl-Otto chegou
para mim e falou: “Celso, aquela integral que você fez, aquele sinal negativo
lá, não é aquela convenção”. Eu percebi que realmente estava errada, também,
a minha primeira aproximação. Aí saí lá do Jardim Botânico, fui até a Petro-
bras, e deveria pegar o bondinho para ir para a minha casa em Santa Teresa,
que fica lá perto do Morro dos Prazeres, mas resolvi fazer aquele caminho a
pé, porque eu tinha que resolver o problema que tinha surgido...
labirinto em que você tem que descobrir uma saída. E esse sujeito já está tão
experto nesse labirinto dele que você já não consegue mais seguir. Então, você
não faça essa pergunta. Pergunte sobre o último filme a que ele assistiu, sobre
as suas preferências de esporte...
Em matemática, você quer chegar em algum lugar, então você faz todo
um caminho mental e vai mapeando os pontos difíceis. E, muitas vezes, fala:
“Bom, têm três pontos difíceis aqui que aí realmente eu vou ter que dedicar
a minha energia...”. Porque a força, na matemática, ela se mede por duas va-
riáveis. A principal variável é a velocidade. Tem que ter velocidade. Todo
mundo pode chegar nos lugares, mas aí é a questão do tempo. E outra é a
capacidade de diagnosticar os pontos fundamentais daquele caminho seu. E
algumas vezes você inclusive faz esse percurso, mapeia os pontos funda-
mentais, mas você sabe que aqueles pontos fundamentais, você vai
demoli-los.
Eu, por exemplo, depois que descobri a superfície Costa, pensei, num
certo momento, que tinha resolvido uma certa Conjectura de Calabi, que
era um problema de 100 anos também, e aí pensei comigo assim: “Puxa, eu
vou anunciar essa Conjectura de Calabi num congresso. Vou dar um nome-
zinho mixo para isso aí, para ninguém perceber, e, na hora que chegar lá,
vou falar ‘Eu resolvi a conjectura de Calabi!’”. E aí você fica feliz. Daí, de re-
pente, você vai resolver aquele nó e você percebe que aquele nó é muito di-
fícil. Você não resolveu a Conjectura de Calabi. Aí você tenta salvar um
pouquinho. Se não é a Conjectura de Calabi, que seja uma coisa menorzi-
nha, não é? E continua insistindo. Mas, daqui a pouco, realmente, você per-
cebe que você não tem nada. É o desespero. Você estava lá em cima na sua
euforia e você foi para o fundo do poço, porque você não tem nada ali, não
resolveu nada. Bom, então é um pouco a história da minha fase em matemá-
tica, que eu poderia dizer.
M.D. – Porque, no meio de tudo, você também teve dois filhos, casou, não é?
É, tem toda essa mudança. E entrei numa universidade, que é a Federal
Fluminense. E como eu fui uma pessoa que trabalhou em muitos ofícios des-
de muito pequeno... E também comprei um pequeno sítio perto de Macaé, e
comecei a trabalhar no sítio. Meus pais mudaram aqui para São Gonçalo.
Quer dizer, na verdade, meus pais sempre me acompanharam. Eu, como pri-
mogênito, fui arrastando a família: arrastei a família para Curitiba...
apareceu lá na minha palestra na UFRJ e sentou lá. “Oi, Celsinho, tudo bem?”
Ele é Carlinhos e me chama de Celsinho. E aí, depois que terminou a palestra,
aquela coisa, falou assim: “Olha, eu queria conversar contigo. Na próxima se-
mana, vou lá na Escola de Engenharia da UFF, será que a gente não poderia
tomar um cafezinho, depois do meu encontro lá?”. Falei: “Ah, ótimo, vamos
tomar esse cafezinho!”. “Porque tem um projeto que eu quero te contar, que
está começando aqui no estado do Rio de Janeiro.”
E aí foi que eu fui tomar o cafezinho com o Carlinhos e o cafezinho um
pouco que mudou meus rumos. Porque ele chegou: “Olha, tem aqui um pro-
jeto que está sendo iniciado na Secretaria de Ciência e Tecnologia pelo Wan-
derley de Souza...”. O Wanderley de Souza foi um colaborador do Darcy Ri-
beiro na fundação da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
Aliás, ele foi o primeiro reitor lá.12 E o Wanderley de Souza trouxe um pouco
a ideia do Darcy Ribeiro,13 que era uma ideia de fazer uma universidade aber-
ta usando a metodologia a distância, mas pegando a competência de várias
universidades. Formar uma rede. O Darcy pensava numa rede nacional, mas
o Wanderley de Souza trouxe um pouco essa ideia para fazer uma rede aqui
no estado do Rio de Janeiro, e convidou primeiro o Adilson Gonçalves, um
matemático da UFRJ. O professor Adilson é que mapeou onde seriam os po-
los dessa universidade aqui no estado do Rio de Janeiro. Mas o Adilson, por
uma questão pessoal, resolveu ir para a Uenf, para ser reitor da Uenf.14 E, com
isso, o Carlos Bielschowsky, que tinha feito um trabalho de avaliação muito
importante também, na UFRJ, no âmbito do programa Paiub, Programa de
Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras, foi convidado pelo
Wanderley de Souza, que é um professor da biofísica da UFRJ – o Carlinhos é
professor do Instituto de Química, apesar de ser físico –, e me convidou para
ajudar nesse projeto de constituição do Consórcio Cederj.15 Isso foi no início
do ano 2000.
estava no foco da matemática – e pensei que essa oportunidade que iria para
esses alunos do interior, de alguma maneira, resgataria uma dificuldade social
que eu tive, que foi a dificuldade de ser um certo peregrino. Porque comecei
lá em Jundiaí do Sul, depois fui para Santo Antônio da Platina, depois fui para
Curitiba e depois vim para o Rio de Janeiro, para poder estudar, fazer minha
formação. Então, a ideia seria que pudesse levar essa formação até onde essas
pessoas estão vivendo, sem essa necessidade desse deslocamento e inclusive
resgatando pessoas que, de outro modo, não poderiam fazer esse deslocamen-
to que eu fiz. Quer dizer, eu fiz esse deslocamento porque recebi aquele che-
quezinho; porque, de alguma maneira, apareceram as pessoas certas no lugar
certo para me ajudar, também. Então eu achava que essa oportunidade era
muito boa. E me lembrava até de uma frase do Brizola. A frase do Brizola é a
seguinte: “O cavalo passou arreado, monte. De repente, ele não vai passar
mais”. Porque tudo são oportunidades que ocorrem, não é? E comecei a tra-
balhar então com o Carlos Bielschowsky. E logo, pela nossa amizade, tam-
bém, e pela nossa cooperação e pelo meu entusiasmo pelo projeto, eu me tor-
nei o vice-coordenador do projeto no estado.
V.A. – Já em 2000?
Já em 2000, quando fui vice-coordenador do nascente Consórcio Cederj,
que foi assinado no primeiro semestre, em uma cerimônia no palácio do go-
verno – foi assinado o protocolo entre o governo do estado e os seis reitores
das universidades públicas do estado.16
M.D. – Mas qual foi o papel de vocês, para juntar essas universidades? Vocês
tinham em vista juntar todas já? Ou foi uma consequência?
A ideia inicial era que a gente pudesse juntar as seis universidades públi-
cas do estado do Rio de Janeiro para a constituição de um consórcio junto
com o governo do estado. As universidades públicas eram: a Uenf, a Federal
Rural, a Federal do Rio de Janeiro, a UFF, a Uerj e a UniRio. São seis univer-
sidades. E a originalidade desse consórcio e a força dele no processo de arti-
culação é que foram mapeadas as competências nessas universidades, para
que você tenha um alto mérito, do ponto de vista científico. Então, por que a
matemática ficou por conta da UFF? Porque, de alguma maneira, eu tinha
uma liderança natural na Universidade Federal Fluminense, na área
M.D. – Mas a EAD era uma coisa meio nova. Como é que vocês estrutura-
ram o modelo pedagógico da EAD, tendo em vista essa perspectiva científica?
Exatamente. Porque aí, no caso, o Consórcio Cederj unindo essas uni-
versidades, ele faz uma cooperação muito original. A Universidade Federal
Fluminense é responsável pelo curso de licenciatura em matemática, que co-
meçou em novembro de 2001. Em novembro de 2001, esse curso de gradua-
ção é oferecido à população do estado do Rio de Janeiro e se transforma no
primeiro curso aberto de graduação a distância do país. Porque existiu aquela
ação pioneira da Federal de Mato Grosso, mas era dedicada a professores da
que iniciaram o seu processo. Porque é muito difícil você ter o material. A
matemática conseguiu esses materiais para começar precocemente o curso
sob muito sacrifício, evidentemente. A biologia já não conseguiu e, por isso,
ela começou em agosto de 2002.
M.D. – De uma certa maneira, então, ele otimiza o trabalho: em vez de você
ter seis núcleos de educação a distância, você tem um grande que otimiza a
viabilização organizacional dessa EAD.
Exatamente. Tanto é que os núcleos de educação a distância das univer-
sidades aqui do estado do Rio de Janeiro têm um papel que é um papel um
pouco secundário; eles têm uma situação luxuosa até, porque tem o Cederj
que faz o grande movimento, e aí podem se dedicar a outros projetos.
M.D. – Mas o Cederj também cumpre um papel de... Por exemplo, você não
tem previsto, no organograma da universidade pública brasileira, a contratação
de um designer instrucional, tem?
Não. Mas isso porque essa questão de você produzir materiais especial-
mente para a metodologia é uma questão nova, que não se coloca no curso
presencial. Aliás, a Open University,26 que surgiu em 1969 na Inglaterra, é um
divisor de águas nesse processo, porque a partir dali estabeleceu-se a
M.D. – Mas aí tem uma justificativa para ter os polos nesses pontos distan-
tes. Mas qual a justificativa, por exemplo, para se ter um polo nas regiões metro-
politanas? Por exemplo, para um polo em Colombo, a 80 quilômetros de Curitiba,
ou em Novo Hamburgo, perto de Porto Alegre, ou mesmo em Duque de Caxias?
Certo. Essa pergunta é muito boa porque nos possibilita identificar um
problema candente e atual que preocupa muito os políticos, que é a questão
da mobilidade urbana. A gente sabe que todos os movimentos sociais fortes
que surgiram no país nos últimos tempos nasceram na questão da mobilidade
urbana. Foi um movimento, inclusive, bastante disperso, mas com esse foco,
que é a questão da mobilidade urbana. Quer dizer, a gente sabe que um aluno,
por exemplo, da Universidade Federal Fluminense que mora em Nova Igua-
çu, ele demora duas horas e meia para chegar até a universidade – muitas ve-
zes, ele é um aluno trabalhador, também – e, para voltar, é outro tanto. Então,
a educação a distância vai até o estudante, e não o estudante vem até o local. É
por isso que, do ponto de vista da localização, esses polos são muito impor-
tantes também nas regiões metropolitanas. Recentemente, eu fui até São Pau-
lo, convidado pelo prefeito Haddad,29 para participar da cerimônia de inaugu-
ração de 18 polos na cidade de São Paulo. Quer dizer, na região metropolitana
de São Paulo foram colocados 18 polos, e mais 14 estão sendo preparados.
Serão 32 polos no total, em São Paulo, onde a UFF está participando com cur-
sos. Então eu creio que toda a égide que rege a educação a distância é a égide
do acesso a essa educação. E evidentemente esse acesso se dá colocando polos
lá nos interiores longínquos, assim como colocando polos também na região
metropolitana, para atender à crise da mobilidade urbana e também atender
ao aluno ou aluna trabalhadora.
Só para dar um exemplo: nós temos um polo aqui do Consórcio Cederj
que é um polo ali na própria Uerj. No campus Maracanã da Uerj, nós temos
um polo em que tem um curso de pedagogia. A procura desse curso de peda-
gogia da Uerj na modalidade a distância é cinco vezes superior à procura para
o mesmo curso presencial. Por que isso? Porque os alunos que vão fazer esse
curso geralmente são alunos que estão trabalhando já, que precisam, no caso,
dessa metodologia diferenciada, que cai muito bem para seu emprego de tem-
po. A gente tem também outros polos: aqui em Caxias tem um e foi inaugura-
do recentemente um polo na Rocinha.
V.A. – Então, já há muito mais polos do que os quatro de que você falou
– Três Rios, Itaperuna, Paracambi e São Fidélis.
Esses foram os polos em que se iniciou o curso de matemática, lá no ano
de 2001. Hoje em dia são mais de trinta polos do Consórcio Cederj no estado
do Rio. E o último polo inaugurado do consórcio foi um polo na Rocinha.
Após a política de pacificação, fundou-se um polo na Rocinha. E, neste mo-
mento, está se referenciando um local para construir um polo do Cederj no
Morro do Alemão. São ações que o governo do estado vem tomando para que
possa suprir essa necessidade de educação superior para as populações que
mais necessitam, e vencendo exatamente essa crise da mobilidade urbana no
processo.
vão analisar falam “Esse projeto não tem qualidade”, e isso pode prejudicar o
andamento. Uma vez que você apresenta o projeto ao MEC, as equipes vão
avaliar esse projeto, inclusive com visitas in loco; depois, isso vai para o Con-
selho Nacional de Educação, que, numa reunião plenária, aprova ou desapro-
va o projeto e, depois, uma vez aprovado, vai para a homologação do minis-
tro. Homologado o projeto, a universidade é credenciada. Então, eu tive a
oportunidade de participar dessa equipe que lançou os primeiros Referenciais
de Qualidade da Educação a Distância.
Depois, no ano de 2005, o governo federal, a partir de uma iniciativa do
ministro Fernando Haddad e tendo o Ronaldo Mota como secretário de Edu-
cação a Distância,32 lançou um edital estabelecendo as principais linhas de de-
senvolvimento do sistema Universidade Aberta do Brasil. Foi um momento
muito importante, porque surge uma política nacional em relação à questão
da educação a distância. E o Ronaldo Mota, inclusive, visitou o Cederj, aqui,
no momento em que se estava escrevendo o edital, e ele fez uma viagem, em
que estava eu, o Carlos Bielschowsky e ele, e fomos ao polo de Paracambi, pa-
ra ele conhecer. Então, muito do que foi feito nesse edital foi resultado um
pouco dessa nossa conversa, porque ele esteve aqui no estado do Rio de Janei-
ro vendo o movimento do Cederj. E aí esse edital foi lançado, estabelecendo a
estrutura federativa da Universidade Aberta.33
A Universidade Aberta é constituída de três pilares. O primeiro pilar é o
pilar federal, que tem como principal missão fomentar, quer dizer, financiar
todo o sistema, induzir um processo de educação a distância e avaliar, tam-
bém, esse processo. Então, essa seria a missão federal, enquanto o outro peda-
ço seria das universidades públicas. As universidades públicas mais os institu-
tos federais de educação ficariam com a parte acadêmica: a proposição de
cursos e a diplomação dos alunos. Enquanto o terceiro pilar seria o pilar dos
polos. Esses polos ficariam sob a responsabilidade dos governos municipais e
dos governos estaduais. Então poderia ter polos municipais e polos estaduais.
Esse edital foi lançado, conclamando então os prefeitos e os governadores
a candidatarem polos e também solicitando às universidades e aos institutos
federais que apresentassem projetos de curso, para serem, no caso, implemen-
tados a partir de um financiamento federal. Ele teve uma adesão extraordiná-
ria. Os números não estão muito frescos na cabeça, mas teve mais de mil pedi-
dos de polos, no Brasil, sendo que o nosso país tem cerca de 5 mil e poucos
municípios. Quer dizer, a gente teve, realmente, 20% dos municípios pedindo
polos. Do ponto de vista da universidade, quarenta e poucas universidades
também fizeram pedidos, e institutos federais também. Então tinha, real-
mente, um material riquíssimo e complexo para ser avaliado, do ponto de vista
de se iniciar o processo de implantação do sistema Universidade Aberta.
Foi aí que, em 2006, eu fui convidado pelo Ronaldo Mota para participar
da comissão que selecionaria os polos e selecionaria as universidades. Nessa
comissão também estava o Teatini Clímaco, que é, atualmente, o diretor da
Universidade Aberta do Brasil.34 Quer dizer, eu e o Teatini fizemos parte de
uma comissão de mais ou menos oito pessoas, trabalhando no MEC, num lu-
gar que nós apelidamos graciosamente de Catacumba, que, na verdade, era
uma sala desativada lá do MEC, no anexo, num porão, com um ar-condicio-
nado complicado pra caramba. Teve um certo momento em que metade da
equipe ficou doente.
Mas foi tudo muito rápido, também. Porque... Sabe como são os movimentos
políticos, não é? Então tinha, por exemplo, prefeito que fazia uma solicitação
emocional de participar do projeto, tipo assim: “Nós precisamos realmente,
porque, aqui, o destino dos nossos cidadãos termina, porque ele não pode,
não tem condições de ir para frente para estudar. Então, por favor...” – escre-
via em letras grandes – “nós merecemos um polo”. Coisas muito emocionan-
tes. Realmente, foi uma experiência de conhecimento da nossa realidade mui-
to importante também para a comissão. Então eu fui relator dessa comissão,
em 2006, e começaram os cursos da Universidade Aberta. Os cursos começa-
ram mais ou menos em agosto, e aí o governo estava mudando, porque teria
eleição presidencial, e o Lula foi reconduzido ao processo. E aí, nesse mo-
mento, o ministro Haddad, que estava ocupando lá a cadeira, me chamou pa-
ra conversar. Ele me perguntou se eu gostaria de colaborar no ministério e,
principalmente, nessa área da educação a distância; o que eu gostaria de fazer.
Quer dizer, teria algumas posições lá. Eu disse para ele que gostaria de condu-
zir a Universidade Aberta. Aí ele realmente falou assim: “Olha, eu ainda não
estou confirmado” – porque o Lula tinha acabado de ser reeleito –, “mas, se o
barbudo me confirmar, você também está confirmado” – uma coisa desse ti-
po. E aí foi o que aconteceu: fui para Brasília, em 2007, para dirigir a Univer-
sidade Aberta e traçar sua estrutura.
M.D. – Porque uma das coisas deles é esse fomento a um trânsito interna-
cional.
V.A. – Aqui no seu Lattes está dizendo que você ocupou o cargo de diretor
de Educação a Distância da Capes a partir de fevereiro de 2008.
V.A. – E a seleção das pessoas que trabalham nos polos, como é feita?
Aí tem alguns desafios e algumas contradições do sistema. Um polo é
montado pelo prefeito. Então, dentro do edital que inaugurou a Universidade
Aberta, o prefeito seria responsável por tudo do polo: pela infraestrutura, pelo
pessoal... Mas é evidente que o prefeito não tem como missão institucional fo-
mentar a educação superior. Quer dizer, o município fomenta a educação fun-
damental; o estado está com o ensino médio e com o ensino superior, e o gover-
no federal está com o ensino superior. No entanto, o prefeito foi chamado a
colaborar no processo, financiando a educação superior. Então, logo o MEC se
apercebeu disso... Inclusive, foi uma das coisas que eu disse ao Ronaldo Mota
num congresso aqui no Rio de Janeiro. Primeiramente, os prefeitos pagariam o
tutor presencial lá. Aí eu fiz uma conta para o Ronaldo Mota ver que pagar os
tutores presenciais não era grande investimento, em vista dos recursos que se-
riam disponibilizados para a Universidade Aberta. Então, com essa conversa,
ele já mudou, fazendo com que o governo federal pagasse os tutores presenciais
também. E o governo federal passou a arcar também com o primeiro laborató-
rio, a primeira biblioteca. E paga uma bolsa para o coordenador do polo, tam-
bém. Isso dá uma certa autonomia de interferência política.
M.D. – Mas o coordenador do polo, por exemplo, são três currículos sele-
cionados...
V.A. – Como assim, três currículos?
M.D. – Ele usava essa expressão: “Essa, então, vai ser a Casa do Professor”.
A ideia de ser um centro de formação. Porque a UAB atende mais formação
docente, não é, Celso?
Isso é uma questão também importante, porque a Universidade Aberta
surge vocacionada para a formação de professores, que é um grande deficit
nacional, é um grande desafio. Aliás, a educação básica é, realmente, um dos
desafios mais importantes da nação – o sistema de saúde também, e agora
vem a mobilidade também, mas, realmente, a educação básica é um gargalo
M.D. – E também fomenta uma espécie de colaboração que ainda não está
muito clara no Brasil.
Exatamente. Quer dizer, eu acho que os mil polos e a totalidade das ins-
tituições públicas participando do processo são a meta, e a meta seria atingir
um milhão de estudantes. O que não é uma meta arrojada. Se considerarmos
mil polos com a média de mil estudantes em cada polo, é uma média modesta
até, porque a gente tem polos que comportam 4 mil estudantes, como é o polo
de Volta Redonda, por exemplo. Então, isso aí significaria que a gente teria,
através da metodologia a distância, do sistema Universidade Aberta do Brasil
e do compromisso das instituições públicas, dobrado a capacidade do sistema
brasileiro, com um investimento que corresponderia a um acréscimo de 30%
só. Quer dizer, se hoje há um financiamento na educação, se você botar 30% a
mais desse financiamento, você consegue dobrar, pelo sistema Universidade
Aberta do Brasil. Mas isso aí só é justificável, do ponto de vista social, se tiver
qualidade, não é? Então é preciso você ter uma escala de dobrar, mas também
precisa ter um controle dessa qualidade, para que o processo seja meritório.
E evidentemente outro dos grandes benefícios desse processo é ter aberto
as portas da universidade para a educação básica e para o interior do país. As
universidades viviam muito isoladas da sociedade, de maneira geral. Existiam
alguns processos de extensão, Uerj de Portas Abertas, naqueles momentos es-
peciais, assim, mas não tinha realmente um contato profundo com a socieda-
de e, principalmente, com o interior do país. Então, as universidades abrem as
portas. Se alguma justificativa tem para a palavra aberta do sistema Universi-
dade Aberta do Brasil é exatamente ter aberto as portas. Porque não é uma
educação que não exige pré-requisitos para acesso; no sistema Universidade
Aberta, você exige que o sujeito tenha o ensino médio para poder acessar um
curso. Então, esse aberta talvez seja das portas, que estão abertas aí para aten-
der à sociedade. Esse é um grande benefício, também: a universidade tomar
consciência de que o papel de formação de professores é um papel que tem
que estar ligado com o chão da escola.
Aí, outro grande desafio dentro das universidades é você fazer uma re-
forma das licenciaturas, porque as licenciaturas estão muito fechadas em si
mesmas, sem olhar essa realidade, que é a necessidade de um processo de en-
sino e aprendizagem que tem que se atualizar, porque a realidade brasileira é
uma realidade muito diferente do tempo em que esses projetos foram pensa-
dos. Quer dizer, meu curso de matemática lá da Universidade Federal Flumi-
nense é um curso que foi pensado para um Brasil que já não é mais o mesmo,
para uma escola que já não é mais a mesma. Então, muitos desafios, mas mui-
to entusiasmo, também, para poder realizar.
V.A. – Muito bom. Quando o Carlos Bielschowsky chamou você para tomar
um café, você estava dando uma palestra lá no Instituto de Física da UFRJ, não é?
Isso.
V.A. – E aí o que você acha que o Carlos viu nesse momento? Pensou assim:
“Esse é um bom quadro”? Ele falou para você por que o chamou?
Tem uma frase de que eu gosto muito, do Wanderley de Souza. Teve a
posse dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências. Faço parte da
Academia Brasileira de Ciências desde 1998 ou 1999, eu acho. E fui nessa
M.D. – Um pouco você acha que ele escolheu você pelo seu prestígio acadê-
mico?
Pelo prestígio acadêmico. Como ele era um sujeito que vinha da área de
avaliação, sabia que o prestígio acadêmico era importante para você abrir as
portas da universidade.
momento, nós tivemos essa estruturação; agora, o próximo momento, que está
na mão do Teatini Clímaco, que é o diretor que está na posição que eu ocupa-
va anteriormente, é um processo de consolidação. Quer dizer, aí é preciso con-
solidar: consolidar institucionalmente a educação a distância nas universida-
des; consolidar qualitativamente os polos, num processo de convencimento
dos prefeitos e da comunidade de tudo isso aí. Então, o momento da Universi-
dade Aberta é um momento de consolidação.
Acho que fiquei devendo só a questão do meu encontro com meu profes-
sor de matemática...
certamente, ele seria dez vezes melhor do que o professor que nós tivemos,
mesmo com as dificuldades que ele podia ter.
NOTAS
1
O professor Celso Costa e Maria Renata Duran fizeram a revisão da transcrição; edição e
notas: Verena Alberti.
2
Currículo da Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), disponível em http://lattes.cnpq.br/.
3
Jules Molk (1857-1914) e Jules Tannery (1848-1910).
4
Leonhard Euler (1707-1783).
5
Jean Baptiste Meusnier (1754-1793).
6
Trata-se do 9th Breckenridge (Colo.) International Snow Sculpture Championships, de
1999, vencido pelo escultor norte-americano Helaman Ferguson (1940) e sua equipe. Dis-
ponível em: http://stanwagon.com/snow/breck1999/index.html; Acesso em: 14 jun. 2014.
7
Australian Wildlife Health Centre. Disponível em: http://architectureau.com/articles/
australian-wildlife-health-centre/; Acesso em: 14 jun. 2014.
8
Karl Weierstrass, matemático alemão (1815-1897).
9
Shing-Tung Yau (1949).
10
Prêmio quadrianual atribuído pela União Internacional de Matemática.
11
Carlos Eduardo Bielschowsky, graduado (1977) e mestre (1980) em física pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutor em física pelo Centro Brasileiro de Pes-
quisas Físicas (1984), é professor da UFRJ. Atuou desde o início da carreira, até 2011, na
área de química, com ênfase em físico-química. Foi coordenador do Cederj de 1989 a 1997
e secretário de Educação a Distância do MEC de junho de 2007 a dezembro de 2010. Em
janeiro de 2011 voltou a ocupar a presidência da Fundação Centro de Ciências e Educação
Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj)/Consórcio Cederj. Disponível
em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4783215A6; Acesso em:
14 jun. 2014.
12
O biofísico Wanderley de Souza (1951) foi reitor da Uenf de 16 ago. 1993 a 8 fev. 1995 e
secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, no Rio de Janeiro, de 1999 a 2002, durante o
governo de Anthony Garotinho. Disponível em: http://www.uenf.br/portal/index.php/br/
institucional/galeria-ex-reitores.html e http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualiza-
cv.do?id=K4787926A9; Acesso em: 14 jun. 2014.
13
O antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) foi reitor da Universidade de Brasília (1961-
1962), ministro da Educação (1962-1963) e chefe do Gabinete Civil da Presidência da Repú-
blica (1963-1964), durante o governo de João Goulart. Após o fim da ditadura militar, du-
rante o primeiro governo Leonel Brizola, no Rio de Janeiro (1983-1987), foi vice-governador
de 2002, quando foi substituído pela vice-governadora Benedita da Silva, que completou o
mandato até janeiro de 2003.
22
Ricardo Vieiralves de Castro foi secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, no Rio de
Janeiro, de abril a dezembro de 2002 e tornou-se reitor da Uerj em 2008. Disponível em:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K478074
1H0; Acesso em: 14 jun. 2014.
23
A Universidade a Distância de Hagen, FernUniversität Hagen, foi fundada em 1974. Otto
Peters foi seu reitor nos dez primeiros anos de existência. Disponível em: http://ifbm.fernu-
ni-hagen.de/struktur/emeriti/otto-peters/view?set_language=en; Acesso em: 14 jun. 2014.
24
De acordo com sua página, a Creative Commons é uma “organização sem fins lucrativos
que permite o compatilhamento e o uso de criatividade e conhecimento por meio de ferra-
mentas legalmente livres” (tradução livre). Disponível em: http://creativecommons.org/
about; Acesso em: 14 jun. 2014.
25
Fundação Cecierj, Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio
de Janeiro, órgão vinculado à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. Disponível em:
http://cederj.edu.br/fundacao/fundacao-cecierj-consorcio-cederj/.
26
A The Open University é uma universidade de ensino a distância, fundada em 1969 e
mantida pelo governo do Reino Unido. Disponível em: http://www.open.ac.uk/; Acesso em:
14 jun. 2014.
27
Em momento posterior à entrevista, o professor Celso Costa explicou que se tratava de
um nome fictício japonês, escolhido porque o japonês é uma língua difícil de entender, para
os que não a conhecem.
28
Uned, criada em 1972. Disponível em: http://portal.uned.es.
29
Fernando Haddad assumiu o cargo de prefeito da cidade de São Paulo em janeiro de 2013.
Graduado em direito (1985), mestre em economia (1990) e doutor em filosofia (1996), sem-
pre pela USP, é professor do Departamento de Ciência Política da mesma universidade. Foi
assessor especial do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2003), na gestão de
Guido Mantega (2003-2004), secretário executivo do Ministério da Educação (2004), na
gestão de Tarso Genro (2004-2005), e Ministro da Educação (2005-2012). Disponível em:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K478226
3J1; Acesso em: 14 jun. 2014.
30
Fernando Henrique Cardoso presidiu o país em dois mandatos consecutivos: 1995-1999
e 1999-2002.
31
De acordo com a página do MEC, “A primeira versão dos referenciais de qualidade para
educação a distância foi elaborada em 2003. No entanto, dada a necessidade de atualização
do documento anterior, tendo em vista a dinâmica do setor e a renovação da legislação,
uma comissão de especialistas foi composta para sugerir mudanças no documento, em
2007”. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=art
icle&id=12777%3Areferenciais-de-qualidade-para-ead&catid=193%3Aseed-educacao-a-
-distancia&Itemid=865; Acesso em: 14 jun. 2014. A versão de agosto de 2007 está disponí-
Resumo Abstract
O artigo apresenta e analisa um conjun- This paper presents and analyzes a da-
to de dados sobre os cursos de Forma- taset on courses for History Teachers in
ção de Professores de História, na mo- classroom mode and distance educa-
dalidade presencial e educação a tion, and History Bachelor in Brazil
distância, e História Bacharelado no (2001-2012) drawn from the Census of
Brasil (2001 a 2012) elaborados a partir Higher Education conducted by the
do Censo da Educação Superior reali- National Institute of Educational Stud-
zado pelo Instituto Nacional de Estudos ies Teixeira (Inep). Are presented and
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixei- discussed data on trends in the number
ra (Inep). São apresentados e discutidos of courses and the enrollment period,
dados sobre evolução do número de seeking to understand the characteris-
cursos e das matrículas no período, bus- tics and dynamics of supply of courses,
cando entender as características e a di- scaling forms of participation of the
nâmica da oferta de cursos, dimensio- government and the private sector. The
nando as formas de participação do study shows the growth in the supply of
poder público e do setor privado. O es- history courses in the country, in par-
tudo aponta o crescimento da oferta de ticular courses for History Teachers in
cursos de História no país, em particu- distance mode, and indicates a sharp
lar dos cursos de Formação de Professo- division between the participating pub-
res na modalidade a distância, e indica lic and private sectors, both in the form
uma divisão nítida da participação entre of academic organization, as the mode
o setor privado e público, tanto na for- of supply.
ma de organização acadêmica, quanto Keywords: Higher Education; Bachelor
na modalidade de oferta. of History; distance education.
Palavras-chave: ensino superior; licen-
ciatura em História; educação a distân-
cia (EAD).
Junho de 2014
Centros
Universidades Faculdades IF e Cefet
Universitários Total
Ano
Geral
F E M P Total F E M P Total F E M P Total F E M P Total
2001 49 98 3 58 208 - - - 21 21 - 5 13 47 65 - - - - - 294
2002 50 124 4 53 231 - - - 23 23 - 5 14 58 77 - - - - - 331
2003 47 154 6 59 266 - - - 28 28 - 5 15 72 92 - - - - - 386
2004 43 184 4 70 301 - - - 36 36 - 6 16 70 92 - - - - - 429
2005 32 152 3 42 229 - - - 29 29 - 6 12 67 85 3 - - - 3 346
2006 48 176 4 85 313 - - - 47 47 - 7 17 87 111 - - - - - 471
2007 51 138 3 87 279 - - - 48 48 - 4 18 97 119 - - - - - 446
2008 49 148 3 91 291 - - - 51 51 - 4 17 105 126 - - - - - 468
2009 37 92 5 80 214 - - 1 41 42 - 2 13 96 111 - - - - - 367
2010 95 114 3 99 311 - - - 51 51 - 3 16 88 107 1 - - - 1 470
2011 96 108 8 97 309 - - - 51 51 - 4 16 82 102 1 - - - 1 463
2012 100 139 13 89 341 - - 1 48 49 - 4 18 88 110 1 - - - 1 501
Legenda: IF: Institutos Federais; Cefet: Centros de Educação Tecnológica. Fonte: MEC/Inep/Deaes. Elaboração dos autores.
277
Arranhando o iceberg: um olhar sobre os cursos de História
Paulo Eduardo Dias de Mello
três fases: uma primeira, entre 2001 e 2004/2006, de grande expansão no nú-
mero de cursos, seguida por outra fase, entre 2007/2009, de retração no núme-
ro de cursos, e a fase atual, entre 2010 e 2012, de nova expansão, com um pico
de oferta em 2012, com 314 cursos. Como dissemos, enquanto a União incre-
menta o número de cursos a partir de 2010, os estados, que atingiram um pico
de 184 cursos em 2004, viram esse número decrescer até 92 cursos em 2009,
ou seja, uma redução de 50%, quando então volta a recuperar-se até atingir a
oferta atual de 139 cursos.
Em 2012, considerando a organização acadêmica, como estão distribuídos
os cursos de Formação de Professores de História? Os dados revelam que 20%
dos cursos estão situados em Universidades Federais, 28% em Universidades
Estaduais, 2,6% em Universidades Municipais, 0,1% em Centros Universitários
municipais, 18% em Universidades Privadas, 9,6% em Centros Universitários
Privados, 1% em Faculdades Estaduais, 3,6% em Faculdades Municipais, 17%
em Faculdades Privadas e apenas 0,1% em IF e Cefet. Portanto, as Universida-
des e Centros Universitários são responsáveis por 78,3% dos cursos presenciais
de Formação de Professores de História, enquanto as Faculdades ficam com
21,6%. Os dados revelam que, em 2001, tínhamos 77,9% dos cursos localizados
em Universidades e Centros Universitários, e 22,1% localizados em Faculda-
des. Portanto, comparativamente, temos em 2012 a mesma proporção de 12
anos atrás, com as universidades predominando em termos de organização
acadêmica.
Do ponto de vista da participação dos setores público e privado na oferta
de cursos presenciais para a Formação de Professores de História, os dados da
Tabela 1 indicam que as instituições públicas representavam, em 2012, 55,4%
da oferta, enquanto as privadas perfaziam 44,6%. Se compararmos, proporcio-
nalmente, os dados de 2012 com os do início dos anos 2000, o que podemos
dizer sobre o comportamento do setor público na oferta de cursos presenciais
para Formação de Professores de História? Os dados indicam que, em 2001, o
setor público respondia por 57,14% dos cursos presenciais de Formação de
Professores de História, e o setor privado, por 42,86%. Portanto, considerando
o período de 12 anos a participação do setor público diminuiu em apenas
1,74% em relação ao setor privado – o que parece indicar um equilíbrio estável,
ao longo do período, na oferta de cursos presenciais para a Formação de Pro-
fessores de História entre a iniciativa privada e o setor público.
Junho de 2014
Universidades Centros Universitários Faculdades IF e Cefet
Total
Ano
Geral
Fed Est Mun Priv Total F E M Priv Total F Est Mun Priv Total Fed E M P Total
2001 5.401 12.748 196 7.161 25.506 - - - 3.097 3.097 - 988 2.934 6.645 10.567 - - - - - 39.170
2002 5.780 15.286 412 7.419 28.897 - - - 3.748 3.748 - 1.038 2.960 7.767 11.765 - - - - - 44.410
2003 6.571 16.626 719 7.754 31.670 - - - 4.592 4.592 - 1.069 3.064 8.909 13.072 - - - - - 49.304
2004 6.113 16.388 524 9.194 32.219 - - - 4.518 4.518 - 1.203 3.092 8.302 12.597 - - - - - 49.334
2005 3.357 12.689 277 3.588 19.911 - - - 2.789 2.789 - 1.096 2.538 6.451 10.085 405 - - - 405 33.190
2006 5.573 16.860 556 11.369 34.358 - - - 4.951 4.951 - 1.272 3.261 9.455 13.988 - - - - - 53.297
2007 5.930 16.107 418 10.998 33.453 - - - 5.186 5.186 - 602 3.323 9.661 13.586 - - - - - 52.225
2008 5.799 14.870 380 9.880 30.929 - - - 5.089 5.089 - 597 3.140 8.859 12.596 - - - - - 48.614
2009 6.726 13.481 243 8.078 28.528 - - 1 4.174 4.175 - 259 2.299 7.485 10.043 - - - - - 42.746
2010 16.013 17.315 255 10.242 43.825 - - - 4.730 4.730 - 359 2.395 7.198 9.952 78 - - - 78 58.585
2011 17.115 17.400 318 9.349 44.182 - - - 3.915 3.915 - 398 1.987 6.970 9.355 125 - - - 125 57.578
2012 16.455 18.379 469 8.493 43.795 - - 18 3.769 3.787 - 387 1.895 7.084 9.366 148 - - - 148 57.097
Legenda: IF: Institutos Federais; Cefet: Centros de Educação Tecnológica. Fonte: MEC/Inep/Deaes. Elaboração dos autores.
283
Arranhando o iceberg: um olhar sobre os cursos de História
Paulo Eduardo Dias de Mello
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Segundo o Inep, o Censo da Educação Superior reúne informações sobre as instituições de
ensino superior, seus cursos de graduação presencial ou a distância, cursos sequenciais, vagas
oferecidas, inscrições, matrículas, ingressantes e concluintes, além de informações sobre do-
centes, nas diferentes formas de organização acadêmica e categoria administrativa.
2
As tabelas apresentadas neste estudo foram elaboradas por Fabiane Robl, especialista em
Educação Superior, doutoranda em Educação na Universidade de São Paulo (USP).
3
O Prouni foi regulamentado pelo Decreto nº 5.493, de 18 de julho de 2005.
direcionado para o ensino das funções básicas e técnicas das tecnologias, sem
maior integração aos conteúdos pertinentes ao currículo da educação básica.
Isso porque a atividade que conta com maior uso das TIC é “ensinar a usar o
computador e internet”, segundo a declaração de 62% dos docentes de insti-
tuições públicas de ensino.
Os dados da pesquisa TIC Educação, portanto, permitem uma análise
ampla da incorporação das TIC no ambiente da escola e, consequentemente,
oferecem diversos insumos para a implementação e a avaliação de políticas
públicas no setor. Os resultados completos e a publicação em PDF estão dis-
poníveis em www.cetic.br.
REFERÊNCIA
Resumo Abstract
O artigo apresenta um panorama sobre This paper presents a sight about the
a organização da prática de ensino nas teaching practice organization used by
licenciaturas em História nas universi- major in History at Brazilian Federal
dades públicas federais e estaduais bra- and State public universities, going
sileiras, a partir da educação compara- through an educational comparison.
da. A amostra é composta de 73 PPC The sample is made of 73 DPP (Degree
(Projetos Pedagógicos de Curso), que Pedagogic Projects), corresponding to
correspondem a 96 cursos, em todas as 96 courses, all around the country. In
regiões do país. Na amostra encontra- the sample we found a variety of ap-
mos uma diversidade de abordagem e proaches and interpretations about the
interpretação sobre o formato da Práti- shape of the Teaching Practice as a Cur-
ca como Componente Curricular riculum Compound. Some Majors have
(PCC). Alguns cursos organizaram a organized the Teaching Practice in a
Prática de Ensino em forma de discipli- specific subject, others moved an
nas específicas, outros alocaram a carga amount of the needed classtime as a
horária com uma parte em disciplinas part of a specific subject and the left
específicas e outra parte diluída na gra- time is diluted in all the subjects. Some
de. Outros cursos diluíram as 400 horas others graduations solved the 400 hours
nas disciplinas já existentes na grade ou of Teaching Practice on the pre-exis-
fizeram uma mistura entre pesquisa co- tents subjects, or built a mash up be-
mo PCC, pedagógicas como PCC, carga tween research as DPP, pedagogical
horária diluída. Os PPC apresentam va- subjects as DPP, diluted classtime. The
riedade também nas temáticas e preo- DPP present aswell variety on ap-
cupações abordadas. proached themes and worries.
Palavras-chave: prática de ensino; forma- Keywords: teaching practice; teachers
ção de professores; ensino de história. education; History teaching.
Carga horária diluída na Ufac, UFMT, UFRN, UFS, UEG, Unemat, Uems,
grade UFT, Unipampa Unesp, Uern, UEA
Fonte: Projetos Pedagógicos dos Cursos
Uma fórmula saudável de articular teoria e prática será a integração dos Laborató-
rios do Curso de História (são 09 Laboratórios) às atividades de formação da prá-
tica profissional do Historiador: professor, pesquisador e difusor. (UFSC, p.42)
Outra metáfora muito bonita, muito agradável, tem sido a do professor investiga-
dor em aula, do pedagogo europeu L. Stenhouse: o professor como alguém que
indaga, que “busca” em seu próprio âmbito de trabalho. Há outras metáforas, meio
cognitivas, meio políticas, como a do professor intelectual, do professor mediador
do currículo, do professor autônomo, independente, político-crítico...
conceito. Aliás, uma grande parte dos PPC não tem referências bibliográficas
ao final dos textos do documento, alguns apenas têm como referência a legis-
lação utilizada.
Considerações finais
Estas considerações ainda são iniciais, mas o que podemos afirmar é que
os cursos estudados já adequaram seus Projetos à nova legislação de formação
de professores. Mesmo apresentando uma grande variedade de interpretações
da legislação, as comissões de elaboração dos currículos dos cursos têm a preo-
cupação de utilizar a linguagem do discurso corrente sobre o tema formação
de professores.
O formato predominante de organização das 400 horas da prática como
componente curricular é o de disciplinas específicas. Embora esse formato pa-
reça, ao primeiro olhar, contraditório com a discussão sobre a relação teoria e
prática na formação dos professores, foi a maneira que os colegiados de curso
encontraram de garantir o debate na formação, visto que existe uma ementa
com temas específicos ligados ao trabalho docente na educação básica.
A distribuição da carga horária entre as disciplinas da grade, ao contrário
da anterior, pode parecer a melhor alternativa para a não dicotomia teoria e
prática, já que todos os professores do curso, ou pelo menos todos os profes-
sores das disciplinas de conteúdo histórico, participariam da formação do fu-
turo professor, trabalhando a prática de ensino em sua área. Entretanto, pen-
sando na realidade dos cursos e na formação acadêmica do corpo docente,
seria ingenuidade pensar que só porque se destinaram 10 ou 15 horas na dis-
ciplina a relação teoria e prática estaria garantida. É mais provável que a carga
horária diluída realmente se dilua, ou seja, “todos e ninguém” sejam respon-
sáveis ao mesmo tempo.
Os cursos que optaram por criar algumas disciplinas e diluir parte da car-
ga horária em um curso de licenciatura ideal talvez pudessem ser vistos como
um formato ideal. Ideal porque estariam garantidos alguns temas caros à for-
mação docente em ementas específicas, e todos os formadores de professores
estariam preocupados com o processo de mediação didática e com a prática
do futuro professor.
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Este texto é parte integrante da pesquisa de doutorado desenvolvida no PPGE-UEPG – PR.
2
Resolução CNE/CP 2, de 19 fev. 2002:
Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a in-
tegralização de, no mínimo, 2.800 horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos
termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns:
I – 400 horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do
curso;
II – 400 horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda
metade do curso;
III – 1.800 horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-
-cultural;
IV – 200 horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais.
3
A diferença entre o número de Projetos Pedagógicos analisados e o número de cursos
resulta de algumas universidades utilizarem o mesmo projeto em vários de seus campi.
4
A UEG tem 12 campi com cursos de História, e em todos eles o curso utiliza o mesmo
projeto pedagógico, portanto, todos os campi oferecem licenciatura.
5
Grifos nossos.
Onze artigos curtos e cinco entrevistas de autores das mais variadas fren-
tes e formações compõem o livro Recursos Educacionais Abertos: práticas co-
laborativas e políticas públicas, que se apresenta como uma espécie de manual
para o uso de recursos educacionais abertos (REA) em uma educação básica
de qualidade. A publicação está dividida em três partes – reflexões teóricas,
experiências, e depoimentos e entrevistas – e está disponível online no link:
www.livrorea.net.br/livro/home.html. Organizado por Bianca Santana, Caro-
lina Rossini e Nelson de Luca Pretto, o livro parte do pressuposto de que o
ensino básico, tanto quanto o superior, necessita de reformas. Essas reformas
devem ultrapassar as concepções pedagógicas “tradicionais”, ou seja, devem
promover uma reflexão aberta e integradora, atualizando a prática docente em
conformidade com uma sociedade pós-moderna, em que as tecnologias mo-
dificam a interação entre as pessoas no tempo e no espaço e, consequentemen-
te, o modus operandi do aprendizado. A educação aberta constitui elemento
central da obra e se apresenta como um exercício de compreensão da liberdade
da práxis educacional, como uma educação escolar para além dos muros e
grades, na qual o consumidor-aluno se torne um produtor-cidadão.
Fomentar (ou ter à disposição) por meio de práticas, recursos e ambientes aber-
tos, variadas configurações de ensino e aprendizagem, mesmo quando essas apa-
rentam redundância, reconhecendo a pluralidade de contextos e as possibilida-
des educacionais para o aprendizado ao longo da vida. (p.18-19)
Nesse ensejo, não será demais assinalar que a educação, assim como os
poemas de Manoel de Barros, é feita de ideações.
NOTAS
1
Projeto de produção de conteúdo e troca de práticas educativas fomentado pela Fundação
Telefônica: www.educared.org/global/educared/queeseducared_br.
2
“O IED é uma organização de direito privado sem fins lucrativos que tem como foco
promover a integração da cultura digital aos diferentes espaços e ambientes educativos de
caráter público, de forma a gerar novas oportunidades de aprendizagem para o desenvol-
vimento pleno do ser humano.” http://educadigital.org.br/site/?page_id=10.
3
E-mail em resposta aos autores da resenha, 10 maio 2014.
Livro: SOBRENOME, Nome. Título do livro em itálico: subtítulo. Tradução. Edição. Cida-
de: Editora, ano. nnnp.
Capítulo ou parte de livro: SOBRENOME, Nome. Título do capítulo ou parte do livro. In:
SOBRENOME, Nome. Título do livro em itálico: subtítulo. Tradução. Edição. Cidade: Edi-
tora, ano. p.xxx-yyy.
Texto obtido na internet: SOBRENOME, Nome. Título. Data (se houver). Disponível em:
www..........; Acesso em: dd mmm. ano.