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XVI Congreso de la Asociación Latinoamericana de

Investigadores de la Comunicación (ALAIC)


La Comunicación como Bien Público Global:
Nuevos lenguajes críticos y debates hacia el porvenir
Buenos Aires, Argentina, 26 al 30 de septiembre de 2022
Organizan
❖ Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC).
❖ Federación Argentina de Carreras de Comunicación Social (FADECCOS).

Ponencia presentada al GI 4 Comunicação e Trabalho

O Trabalho do jornalista na Amazônia Legal:


Estudo comparativo dos dados do Atlas da Notícia 2020-2021

The journalist's work in the Legal Amazon:


Comparative study of data from the News Atlas 2020-2021

El trabajo del periodista en la Amazonia Legal:


Estudio comparativo de datos del Atlas de Noticias 2020-2021

Paulo Vitor Giraldi Pires 1

Resumo: O presente estudo constitui em um mapeamento inicial dos ‘arranjamentos de


mídia’ na região da Amazônia Legal, a partir dos dados publicados pelo Atlas da Notícia
2020-2021. A próxima fase da investigação buscará compreender a atividade de iniciativas
de digitais de jornalismo alternativo na região amazônica brasileira, por meio dos
procedimentos de análise da comunicação na contemporaneidade, ao investigar a
atividade, rotina, sustentação e as condições do trabalho nessas redações/veículos. Sob a
perspectiva do binômio ‘Comunicação e Trabalho’, a análise é centrada no entendimento

1Doutor. Docente Efetivo da UNIFAP no Curso de Jornalismo e Mestrado em Desenvolvimento Regional.


Pós-Doutorando pela Universidade de São Paulo (ECA/USP). E-mail: paulogiraldi2@gmail.com.
do papel da Comunicação nos arranjos de jornalismo digital na região amazônica para o
desenvolvimento local, visando à garantia do acesso à comunicação e a informação, com
resgate às propostas da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) e Plano
Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA). A metodologia desta pesquisa
exploratória (Gil, 1994) parte dos métodos Quantitativo e Qualitativo (Jensen e Jankowski,
1993; Bernard, 1996) e da aplicação da técnica da Snowball - bola de neve (BALDIN;
MUNHOZ, 2011).

Palavras-chave: Jornalismo Alternativo, Comunicação, Amazônia Legal, Desenvolvimento.

Abstract: The present study constitutes an initial mapping of the 'media arrangements' in
the Legal Amazon region, based on data published by the Atlas da Notícia 2020-2021. The
next phase of the investigation will seek to understand the activity of digital alternative
journalism initiatives in the Brazilian Amazon region, from the procedures of analysis of
communication in contemporary times, by investigating the activity, routine, support and
working conditions in these newsrooms/vehicles. From the perspective of the binomial
'Communication and Work', the analysis is centered on understanding the role of
Communication in the arrangements of digital journalism in the Amazon region for local
development, through guaranteeing access to communication and information, with the
rescue of proposals of the National Policy for Regional Development (PNDR) and the
Regional Development Plan for the Amazon (PRDA). The methodology of this exploratory
research (Gil, 1994) is based on the Quantitative and Qualitative methods (Jensen and
Jankowski, 1993; Bernard, 1996) and on the application of the snowball technique
(BALDIN; MUNHOZ, 2011).

Key words: Alternative Journalism, Communication, Amazon Legal, Development.

Amazônia Digital em expansão


Com base no mapeando do jornalismo local no Brasil, realizado pelo ‘Atlas da
Notícia 2020-2021’2, esse artigo sistematiza os dados desta pesquisa, com recorte as

2 Atlas da Notícia 2021, ver em: https://www.atlas.jor.br/ Acesso em: 22 fev. 2022.
iniciativas de jornalismo digital criadas na Amazônia Legal3 durante a pandemia da COVID-
19. A delimitação da geografia deste estudo justifica-se pela importância e atualidade do
objeto investigado, situado na bacia Amazônica.
A área da Amazônia Legal foi instituída pelo Governo Federal, sob a presidência de
Getúlio Vargas, por meio da Lei 1806/19534, ao dispor sobre o Plano de Valorização
Econômica da Amazônia, com objetivo de melhor planejar o desenvolvimento
socioeconômico da região amazônica. O Art. 7º, (Plano de Valorização desta lei, no item
a), faz referência à valorização do trabalho na região, para efeito de planejamento
econômico e defesa dos biomas e potenciais ambientais. Para tanto, determina:

[...] promover o desenvolvimento da produção agrícola, tendo em vista


as condições ecológicas da região, a diferenciação e a fertilidade dos
solos, o zoneamento e a seleção de áreas de ocupação no sentido de
maior produtividade do trabalho e melhor rendimento líquido; a
produção extrativa da floresta, na base dos preços mínimos compatíveis
com o custo da vida na região (BRASIL, 1953, INTERNET).

Desta forma, ao revisitar os planos nacionais de desenvolvimento da Amazônia, o


estudo tem como escopo analisar e compreender o trabalho de comunicação, como peça
fundamental para o acesso à informação pela população local, como definiu a Lei 1806 –
há 69 anos, sobre a implantação de um “serviço de divulgação econômica e comercial,
com órgãos e meios próprios para conhecimento” (BRASIL, 1953, INTERNET). A lei

3A Amazônia Legal é formada pelos Estados da Região Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins – e parte do estado do Maranhão.
4 Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-1806-6-janeiro-1953-367342-
publicacaooriginal-1-pl.html Acesso em: 20 de agost. 2022.
decreta, assim, uma atenção à região amazônica, quando define no Art. 1º, com base no
Plano de Valorização Econômica da Amazônia, previsto no Art. 199 da Constituição:

[...] um sistema de medidas, serviços, empreendimentos e obras,


destinados a incrementar o desenvolvimento da produção extrativa e
agrícola pecuária, mineral, industrial e o das relações de troca, no
sentido de melhores padrões sociais de vida e bem-estar econômico das
populações da região e da expansão da riqueza do País (BRASIL, 1953,
INTERNET, grifos nossos).

Ao projetar a garantia de bem-estar econômico, a Lei também inclui


planejamentos específicos e os programas de trabalho local. Naquele momento, a
preocupação estava voltada ao desenvolvimento da viação da Amazônia, do sistema de
transportes e comunicações. Quase sete décadas depois, o Governo Federal, através da
Resolução nº 3, de 9 de abril de 2021, aprova o Plano Amazônia 2021/2022 5, com a
finalidade de dar continuidade a ações de fiscalização e combate ao desmatamento ilegal
e queimadas na Amazônia Legal. Para tanto, estabelece eixos prioritários, como a meta de
“incrementar o uso de aplicativos, a fim de que a população das áreas prioritárias seja
incentivada a realizar denúncias de ilícitos ambientais [...] incentivo à inovação e à
bioeconomia na região” (BRASIL, 2021, INTERNET, grifos nossos).
Desta forma, no contexto das tecnologias digitais, o próprio Governo reconhece a
importância desses recursos de informação, para o desenvolvimento da região; como
também tendo sido o investimento na implementação da internet 5G na Amazônia.
Portanto, é a partir dessas constatações, que o esse estudo volta-se a compreensão da
rotina dos ‘arranjamentos de mídias-produtivas tecnológicas’, a partir do binômio

5 Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-3-de-9-de-abril-de-2021-314033004


Acesso em: 18 de agost. de 2022.
‘Comunicação e Trabalho’, na perspectiva de uma alternativa de trabalho e de
informação, tanto para profissionais, quanto para a população da Amazônia brasileira.

Jornalismo local alternativo


O entendimento das reestruturações produtivas no jornalismo local, sob o viés da
constatação dos desertos de notícias6 na região amazônica, está atrelado ao resgate e
análise dos planos de desenvolvimento da Amazônia, como demonstrados anteriormente.
Conforme compreendem os estudos de Fígaro (2013 e 2021), as inovações tecnológicas e
a reorganização do processo produtivo do jornalismo modificaram as condições da
atividade do jornalista, que passa a se organizar em ‘arranjos econômicos alternativos’ –
conforme denomina a autora.
Esse mesmo desenvolvimento precisa garantir políticas de acesso à informação e a
comunicação. Mas, com a ausência e escassez de canais de informações na região
amazônica, surgem iniciativas de comunicação alternativa, para tentar suprir essa falta de
conteúdos noticiosos, em regiões periféricas e distantes dos centros urbanos. Em tempos
de eleições gerais no Brasil, por exemplo, a participação efetiva e democrática do eleitor,
poderia ser melhor estruturada, com a garantia de acesso às notícias locais e nacionais.
Nesta perspectiva, o ‘Atlas da Notícia’, idealizado pelo Instituto para o
Desenvolvimento do Jornalismo (PROJOR), em parceria com a agência Volt Data Lab,
mapeia os veículos que produzem conteúdos jornalísticos, especialmente a categoria de
jornalismo local. A ação é inspirada no projeto America’s Growing News Deserts, da
Revista Columbia Journalism Review.

6 São considerados desertos de notícias, os municípios/regiões que não possuem nenhum veículo de
jornalismo independente/alternativo.
O Atlas da Notícia é uma iniciativa para mapear veículos produtores de
notícias – especialmente de jornalismo local – no território brasileiro.
Identificamos e mapeamos veículos que publicam, mesmo que só
esparsamente, notícias de interesse público – sejam impressos ou digitais
– e com periodicidade diária, semanal ou quinzenal. Estamos falando de
produtores de notícias sobre a prefeitura e a câmara municipal e temas
como contas públicas, saúde, educação, segurança, mobilidade e meio-
ambiente. [...] A metodologia do projeto é baseada, principalmente, na
contabilização de veículos de notícia no Brasil, seja através de pesquisa
própria como de colaboração de terceiros. A primeira edição do Atlas da
Notícia foi publicada em novembro de 2017, com um recorte sobre
jornais impressos e veículos online de notícias (ATLAS, 2022, INTERNET).

Os dados do Atlas da Notícia 2021, com informações do ano anterior, revelam a


predominância de desertos de notícias em estados da Amazônia Legal. Neste contexto, a
Região Norte tem 63,1% do seu território sem cobertura jornalística, ou seja, entram para
a categoria de desertos de notícias. Sendo assim, das 450 cidades registradas, 284 não têm
nenhum veículo local.
Por outro lado, o mapeamento do Atlas da Notícia - com registro de 13.734
veículos jornalísticos em atividade em 2021 -, mostra crescimento de iniciativas digitais
alternativas. Do total de 642 novas iniciativas incorporadas ao Atlas, 449 atuam em
plataformas de jornalismo digital. Com os novos dados, o levantamento demonstra,
então, a redução de desertos jornalísticos no Brasil. Porém, estados da Amazônia Legal
continuam a liderar o ranking de regiões com quase desertos de notícias, chegando a 104
municípios. O Amapá registrou apenas 3 veículos alternativos de 2020 a 2021.
De acordo informações do Atlas 2021, quase desertos são municípios que possuem
somente um ou dois veículos de notícia cadastrados no Atlas da Notícia. Esses espaços
podem, no futuro próximo, virar desertos de notícias, com o fechamento desses canais de
informação, por falta de condições de sustentação financeira. Já os desertos de notícias
são os municípios que não possuem veículos jornalísticos de comunicação. São
geralmente pequenas cidades, com uma média de 7.100 habitantes.
Ao listar todos os municípios do Brasil, o PROJOR (2021), mostra 2.968 cidades
brasileiras (62,6%) vivendo essa realidade do deserto, sendo que 1.460 municípios
possuem apenas um ou dois veículos locais. Esse número representa 29,3 milhões de
brasileiros em acesso à informação em suas localidades e, 31,8 milhões em situação de
quase desertos. Portanto, são regiões que não têm informações sobre a atuação das
prefeituras, situação da saúde, educação, eleição e o básico para exigir direitos mínimos
dos agentes administrativos. O papel do jornalismo alternativo torna-se fundamental no
dia a dia da população, sendo a única fonte de comunicação, informação e notícia.

Região Norte: para além dos desertos de notícias


O censo Atlas da Notícia publicado no início de 2022, com base no mapeamento de
veículos de jornalismo local, revelou que 30 cidades nortistas deixaram de ser desertos de
notícias, em 2021. A pesquisa constatou mais de 1.000 veículos registrados na região
Norte, porém apontou lacunas na cobertura jornalística local. Esse fato pode ser
justificado, principalmente, pelo surgimento de novos arranjos de jornalismo alternativos
na região, criados por comunicadores que vivem na Amazônia Legal.
O Atlas da Notícia classifica os municípios sem veículos jornalísticos independentes
como desertos de notícias, quase desertos e não-desertos. Os desertos de notícias, citados
acima, são os municípios que não possuem nenhum veículo de jornalismo independente.
FIGURA 1 - Desertos de notícias nortistas, 2021.

Fonte: reprodução da internet, site Atlas da Notícia, 2022.

O censo Atlas identificou, ainda, que a região Norte continua liderando o ranking
de desertos de notícias, sendo o estado de Rondônia com a maior quantidade de novos
veículos – entre eles, iniciativas alternativas e canais comunitários de comunicação. Esses
desertos são ocasionados pela falta de qualquer tipo de veículos de comunicação
(impresso, TV, Rádio, digital). Os resultados do Censo apontam a profissionalização de
veículos comunitários, como um caminho para a erradicação dos desertos de notícias
locais na região amazônica, como já vem ocorrendo, entre 2020 e 2021:

Em 30 municípios de 5 estados nortistas, ao menos um veículo foi


identificado onde, antes, não havia nenhum registro. Desta forma, esses
municípios, avançaram na classificação da pesquisa - de deserto para
quase deserto (1 ou 2 veículos). Apenas dois estados da região não
registraram cidades que deixaram de ser desertos de notícias, Amapá e
Roraima. Rondônia foi o estado com o maior número de mudanças,
foram 12 cidades que deixaram de ser desertos de notícias (Atlas da
Notícia, INTERNET, 2022).
Esse cenário era bem diferente em 2020, quando foram constatados pelo Atlas, um
total de 3.487 municípios no país que não possuíam nenhum veículo jornalístico.

FIGURA 2 - Municípios brasileiros considerados desertos de notícias

Fonte: Ilustração reproduzida do PROJOR, 2020.

Já os quase desertos são municípios que possuem apenas um ou dois veículos de


comunicação. Quase sempre há grandes chances de interferências políticas e empresariais
ou ainda a perseguição de líderes políticos e outros agentes públicos. A probabilidade
desses locais ao longo dos anos se tornarem desertos noticiosos é grande.
Ainda em 2020, os não-desertos foram identificados em cidades com três ou mais
veículos jornalísticos. Das 5.570 cidades do Brasil, 1.009 são da categoria não-desertos
(19%). Em síntese, é possível perceber que os estados das regiões Norte e Nordeste
possuem o maior número de desertos de notícias e quase desertos. Nota-se também que
os principais centros metropolitanos possuem mais veículos on-line, como os estados do
Maranhão (região Nordeste) e Mato Grosso (região Sudeste), que também integram a
Amazônia Legal. O levantamento quantitativo abaixo, com base no Atlas da Notícia, é um
retrato dos veículos locais em atividade durante a pandemia da COVID-19.

Tabela 1 – Veículos de comunicação online na Amazônia Legal (2020-2021)

ESTADO Veículo Ativo Região Segmento Atualização


Amazonas 25 Norte online 2020-2021
Acre 7 Norte online 2020-2021
Rondônia 260 Norte online 2020-2021
Roraima 1 Norte online 2020-2021
Pará 18 Norte online 2020-2021
Maranhão 154 Nordeste online 2020-2021
Amapá 3 Norte online 2020-2021
Tocantins 37 Norte online 2020-2021
Mato Grosso 335 Centro-Oeste online 2020-2021

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022, com dados do Atlas da Notícia


https://www.atlas.jor.br/dados/app/ (2021) e mapeamento na internet.

Já na pesquisa de 2021, a região Norte continua liderando nos registros de


desertos de notícias, com 63,1% do seu território sem cobertura jornalística, sendo que,
das 450 cidades nortistas, 284 não têm nenhum veículo de notícia local. A tarefa de
informar fica sob o trabalho das redações online de jornalismo alternativo, como indicado,
a seguir, na Tabela dos Arranjos alternativos na Amazônia.

Metodologia de abordagem e Reflexões


O corpus por amostragem desta análise é constituído da coleta de dados e seleção
das iniciativas de Jornalismo Digital, em oito estados dos estados da Amazônia Legal,
criadas por jornalistas, com sedes próprias ou não, e gerenciadas por profissionais
independentes, a partir do levantamento do Atlas da Notícia 2020-2021 (Tabela 1).
A primeira sistematização dos veículos de jornalismo local na Amazônia constatou
18 iniciativas alternativas, gerenciadas por comunicadores. Para essa seleção inicial,
elencou-se como critérios: 1) iniciativas de Jornalismo Digital gerenciados por grupos de
cinco ou mais jornalistas, 2) tempo de mercado, 3) visibilidade/acessos, 4) periodicidade e
5) especificidade da produção de conteúdo jornalístico.

Tabela 2 – Arranjos alternativos de Jornalismo na Amazônia

Arranjo Periodicidade Página/Rede Social Estado


O Amazonês Diário oamazones.com.br AM
Jornal Itapiranga AM Diário @am_jornal Twitter AM
Envira News Diário enviranews.com AM
Com_Texto Diário coletivocomtexto.com.br MT
Catraia digital Semanal catraiadigital.com.br AP
Aeka Diária aeka.info AP
Folha de Boa Vista Diária folhabv.com.br RR
Tudo Rondônia Diária tudorondonia.com RO
Ariquemes 190 Diária ariquemes190.com.br RO
Xingu 230 Diária xingu230.com PA
Amazônia Real Diária amazoniareal.com.br PA
Folha 390 Diária folha390.com.br PA
Feijó Notícias Diária feijonoticias.com.br AC
Agência Notícias do Acre Diária ac24horas.com AC
Folha do Acre Diária folhadoacre.com.br AC
Folha do Jalapão Diária folhadojalapao.com.br TO
Portal Gilda Bonfim Diária portalgildabonfim.com.br TO
Portal Novo Norte Diária portalnovonorte.com.br TO
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022, com dados do Atlas da Notícia
https://www.atlas.jor.br/dados/app/ (2021) e mapeamento na internet.
Ao selecionar essas iniciativas digitais, optou-se por perfis já conhecidos na região
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, como também o mapeamento de iniciativas
embrionárias, específicas de jornalismo alternativo na Amazônia Legal, iniciados no
período de 2020 e 2021, no contexto da pandemia da COVID-19. Esses ‘arranjamentos
digitais’ de comunicação foram mapeados pelo Atlas da Notícia, com base na coleta de
dados pela internet e cadastro feito pelos responsáveis dos veículos. Um requisito,
indispensável, foi à escolha de arranjos, especificamente, de jornalismo e com sedes
virtuais de suas redações de trabalho, para realização do Estudo da Comunicação Digital
na Amazônia – que será a segunda etapa desta investigação.
A escolha por um corpus diversificado ampara-se nos estudos de Baker (1993). A
partir do objeto de estudo, são levantados o seguinte problema de pesquisa: Como os
jornalistas gerenciam o trabalho jornalístico nessas redações alternativas na Amazônia
Legal, orientados pela deontologia da profissão? A justificativa para a realização desta
pesquisa sustenta-se, principalmente, após a constatação das mudanças no trabalho do
jornalista com o advento das mídias como, por exemplo, o surgimento das atividades de
jornalismo alternativo, diante das dificuldades de sustentação financeira das corporações
de mídia no Brasil, redução dos postos de trabalho, principalmente, no cenário pandêmico
da COVID-19.

Considerações iniciais
Os resultados preliminares, com base no mapeamento dos ‘arranjamentos digitais
de jornalismo’ na Amazônia Legal, reforçam que a ‘Comunicação e Trabalho’ estão
híbridos na vida humana. Esse binômio permite tensionar à pesquisa acerca das mudanças
no Trabalho do Jornalista na região amazônica. No contexto de mutações da atividade dos
jornalistas e reorganização do trabalho jornalístico em novos ‘arranjos alternativos’
iniciados no período da pandemia da COVID-19 (2020-2021), este estudo caminha para
uma proposta analítica peculiar e um olhar aguçado sobre esse cenário que se instaura,
principalmente, ao constatar o surgimento de coletivos de Jornalismo Digital, com foco as
atividades dos arranjos alternativos na Amazônia, e o compromisso com o
desenvolvimento regional, por meio da prática da comunicação democrática e
independente para a região Norte do país, com foco em pautas ambientais.
Essas transformações não podem ser vistas apenas na ótica da estrutura da
atividade jornalística, mas, também, como mudanças no perfil do mercado de trabalho,
nos processos de produção da notícia e valor-notícia, nas relações entre os profissionais e
na ideologia que define a profissão. Como recorda Fígaro (2011), estudar a comunicação
na atividade humana de trabalho revela um caráter ontológico. O profissional é antes de
tudo, uma pessoa. Esse sujeito traz valores, costumes, cultura, ideologias e sonhos: uma
história de vida. Por isso, nesta primeira etapa da pesquisa (mapeamento dos veículos), é
possível identificar uma linha editorial comum entre os veículos alternativos de
jornalismo: a pauta ambiental e construção de narrativos em defesa da floresta.
Portanto, essa pesquisa exploratória torna-se possível quando inserida e iluminada
pelos estudos da Comunicação, redes e linguagens: objetos teóricos e empíricos; ao
debruçar-se na compreensão da atividade de jornalismo em um contexto peculiar, que é a
Amazônia brasileira. A partir das motivações teóricas e metodológicas abrem-se caminhos
para uma investigação, mais profunda, sobre o fenômeno comunicacional que perpassa
pelas mudanças econômicas, sociais, culturais, ambientais e tecnológicas e, incisivamente,
nas mudanças estruturais que se incidem no Trabalho do Jornalista amazônida.
Finalmente, essa reflexão epistemológica, com base nas iniciativas digitais de
jornalismo alternativo, também recorda o valor da vida e o trabalho do povo da Amazônia.
O desenvolvimento regional da Amazônia Leal passa pela garantia de Políticas Públicas
que assegurem os direitos básicos e constitucionais, entre eles, o acesso ao trabalho, o
direito à informação, saúde, educação, qualidade de vida, bem-viver e, urgentemente, a
defesa e proteção do meio ambiente e a luta pela floresta em pé.

REFERÊNCIAS
BAKER, Mona. (1993). Corpus Linguistics and Translation Studies: Implications and
applications. In: M. BAKER; G. FRANCIS & E. TOGNINI-BONELLI (Ed.). Text and Technology:
In honour of John Sinclair. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins.

BALDIN, N.; MUNHOZ, Elzira. Snowball (bola de neve): uma técnica metodológica para
pesquisa em Educação ambiental comunitária. (2011). Disponível em
http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4398_2342.pdf

BRASIL. Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia (2007). Lei Complementar nº


124, de 3 de janeiro de 2007. Disponível em:
https://repositorio.sudam.gov.br/sudam/prda/publicacoes-institucionais/prda-2020-
2023.pdf/view

_______RESOLUÇÃO Nº 3, DE 9 DE ABRIL DE 2021. (2021) Aprova o Plano Amazônia


2021/2022. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-3-de-9-de-
abril-de-2021-314033004

_______LEI Nº 1.806, DE 6 DE JANEIRO DE 1953. (1953) Disponível em:


https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-1806-6-janeiro-1953-367342-
publicacaooriginal-1-pl.html
_______ Decreto nº 9.810, de 2019. (2019) Política Nacional de Desenvolvimento Regional
(PNDR) Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/desenvolvimento-
regional/pndr

_______ Lei Complementar nº 124, de 3 de janeiro de 2007. (2007). Define o Plano


Regional de Desenvolvimento da Amazônia – PRDA 2020-2023. Disponível em:
https://www.gov.br/sudam/pt-br/assuntos/planos-de-desenvolvimento

FÍGARO, Roseli; NONATO, Cláudia (Org.) (2021). Arranjos jornalísticos alternativos e


independentes no Brasil [recurso eletrônico] organização, sustentação e rotinas
produtivas. São Paulo: ECA-USP: Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho.
Disponível em: http://www2.eca.usp.br/comunicacaoetrabalho/wp-content/uploads/E-
book_Arranjos-Jornalisticos_Brasil-2.pdf

FÍGARO, Roseli. (Org.) (2013). As mudanças no mundo do trabalho do jornalista. São


Paulo: Salta.

PROJOR (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo). (2022) Atlas da Notícia [on-


line]. São Paulo: 2020. Disponível em https://www.atlas.jor.br/plataforma/consulta/.

https://estatico011.tufabricadeventos.com/4748_coms2_fichero_4015666_1961040646
/1_4015666_9343_4489_9EA535FB-205C-48D9-9E2914066D4BD665.pdf

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