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2 Universidade Estadual Paulista - UNESP

3 Campus Experimental de Registro

4 Relatório Final

6 PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA


7 UNESP PIBIC/PIBIT EDITAL 01/2020 - PROPe

9 (Período: 01/08/2020 a 31/07/2021)

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11 CARACTERIZAÇÃO E DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE


12 FENOTÍPICA DE CULTIVARES DE CAFEEIRO NA REGIÃO DO VALE
13 DO RIBEIRA PAULISTA
14

15 Coordenador: Prof. Dsc. Alex Mendonça de Carvalho

16 Bolsista: Augusto Yoshikazu Akamine

17 013-99642-6174 augusto.y.akamine@unesp.br

istro
18 Universidade Estadual Paulista – Campus de Reg

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22 REGISTRO/SP
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26 1. INTRODUÇÃO
27 A economia do Vale do Ribeira Paulista é alicerçada em atividades de agricultura e
28 pesca. Embora grande parte dos produtores rurais da região pratique a agricultura de
29 subsistência, a atividade tem grande potencial de expansão em função da disponibilidade atual
30 de tecnologias modernas de exploração agrícola e da proximidade a grandes centros
31 consumidores, como as capitais dos estados de São Paulo e Paraná. Os cultivos de banana,
32 tomate de mesa e tangerina e a criação de rebanhos bovinos representam 98% da atividade
33 agropecuária regional. Estudos relacionados à aptidão do Vale do Ribeira Paulista para o
cultivo
34 do café foram iniciados em Pariquera-Açu, no início dos anos 70, com a avaliação, pelo
Instituto
35 Agronômico de Campinas, de ensaios de progênies de cafeeiros das espécies Coffea canephora
36 e C. arabica. Embora os resultados da experimentação com C. canephora não terem sido
37 publicados (Fazuoli, comunicação pessoal), em função da produção muito reduzida de frutos,
38 algumas progênies de C. arabica apresentaram produtividade bastante razoável, sendo
39 consideradas promissoras para o cultivo na região (FAZUOLI et al., 2015).
40 Mesmo não sendo uma cultura tradicional na região, agricultores vêm buscando no
41 cultivo do cafeeiro uma fonte alternativa de renda, com a adoção de práticas de manejo sem
42 qualquer referência tecnológica e com opção por cultivares, feita em bases subjetivas, uma vez
43 que a adaptabilidade e a estabilidade das atuais 135 cultivares brasileiras, registradas, de café
44 arábica, foram avaliadas apenas nas principais regiões produtoras do país (CARVALHO, et al.,
45 2016)
46 No entanto, a recomendação de cultivares para o Vale do Ribeira Paulista, depende do
47 conhecimento da interação entre os genótipos, representados pelas cultivares e este ambiente
48 específico de cultivo (ANDRADE et al., 2013).
49 Dessa forma, nossa pesquisa tem por objetivo avaliar o desenvolvimento vegetativo e
50 reprodutivo inicial de doze cultivares de C. arabica no Vale do Ribeira Paulista a fim de gerar
51 informações que contribuam para a recomendação técnica segura de cultivares para a região.
52
53 2. MATERIAL E MÉTODOS

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55 O experimento foi instalado no início de fevereiro de 2018, no Câmpus Experimental

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56 da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, localizado no

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57 município de Registro, SP (24°32'10.1"S; 47°51'55.5"W). Foram avaliadas 12 cultivares de C.
58 arabica, sendo uma, a cultivar Siriema VC 4, resistente ao bicho-mineiro, Leucoptera coffeella,
59 Guérin-Méneville e a ferrugem, Hemileia vastatrix, Berkeley & Broome; sete, as cultivares
60 Obatã IAC 1669-20, Obatã IAC 4739, IAC 125 RN, Paraíso MG H 419-1, Catucaí Amarelo
61 2SL, Catucaí Amarelo 24/137 e Arara, resistentes à ferrugem, Hemileia vastatrix e quatro, as
62 cultivares Catuaí Vermelho IAC 99, Catuaí Amarelo IAC 62, Mundo Novo IAC 379-19 e
Acaiá
63 IAC 374-19, suscetíveis a ambos os patógenos, estas repetidas em tratamentos com e sem
64 controle químico aos respectivos agentes bióticos.
65 O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com três repetições
66 e parcelas de oito plantas, sendo consideradas úteis, as seis plantas centrais. Os dezesseis
67 tratamentos foram plantados em espaçamento de 3,0 m entre linhas x 0,60 m entre plantas. O
68 controle da ferrugem nas parcelas experimentais das cultivares suscetíveis ao patógeno foi
69 realizado por meio de três aplicações, em outubro de 2020, fevereiro de 2021 e julho de 2021,
70 com fungicida de princípio ativo Ciproconazol (80 g/L), na dose de 750 mL do produto
71 comercial por hectare, considerando vazão de 400 litros de calda por hectare. O controle de
72 bicho-mineiro foi realizado com aplicações de inseticida com princípio ativo Clorantraniliprole
73 (350 g.kg-1), na dose de 90 gramas do produto comercial por hectare, considerando vazão de
74 400 litros de calda por hectare. Demais práticas de manejo como o controle de plantas
daninhas,
75 adubações foliar e de solo, assim como desbrotas de ramos ortotrópicos, foram empregadas na
76 cultura conforme necessidade e recomendações técnicas.
77 As variáveis altura de planta (AP) e diâmetro de copa (DC) foram mensuradas em julho
78 e novembro de 2020 e fevereiro e abril de 2021, sendo os dados submetidos a análises
79 estatísticas com auxílio do software R (R DEVELOPMENT CORE TEAM 2010).
80 A produtividade média, expressa em sacas ha-1, foi obtida por meio conversão do café
81 colhido na lavoura, entre maio e julho de 2020 e 2021, em café beneficiado, sendo o fator de
82 conversão, obtido por meio do rendimento real de cada cultivar, ou seja, o volume de café
83 colhido necessário para a produção de uma saca de 60 Kg de café beneficiado (L saca-1). Para
84 o cálculo foram separadas amostras de três litros de café de cada parcela experimental, que
após
85 secas até atingirem 11% de umidade (b.u.), foram beneficiadas.
86 A incidência de cercosporiose, Cercospora coffeicola Berk. & Cooke, nas folhas foi
87 avaliada mensalmente entre agosto de 2020 e julho de 2021. A incidência da mancha-de-phoma
88 foi avaliada mensalmente entre janeiro e julho de 2021, por meio da porcentagem de folhas
com
4
89 sintomas em amostragens não destrutivas de cem folhas por planta. Já a flutuação populacional
90 do bicho-mineiro foi avaliada entre os meses de agosto de 2020 e julho de 2021.

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91
92 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
93
94 Na figura 1 a evolução de crescimento da característica altura de planta (AP), desta vez
95 avaliada no período entre junho/2020 e março/2021, demonstrou destaque positivo para os
96 tratamentos 5 e 6 (Mundo Novo 379/19 SCF e Mundo Novo 379/19 CCF). Observou-se que as
97 demais cultivares se comportaram de modo semelhante com valores médios próximos, exceção
98 apenas para os tratamentos 16 e 14 (Seriema e Paraíso H 419-1) que, ao longo de todo o
período
99 avaliado apresentaram resultados de menor valor em relação aos demais tratamentos.

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180

165
Altura

150
(Cm)

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Junho Setembro Dezembro Março
Meses (2019-2020)
Catuaí Vermelho IAC 99 SCF Catuaí Vermelho IAC 99 CCF Catuaí Amarelo IAC 62 SCF
Catuaí Amarelo IAC 62 CCF Mundo Novo IAC 379/19 SCF Mundo Novo IAC 379/19 CCF
Obatã Vermelho Obatã Amarelo Tupi IAC 125 RN Acaiá 374/19 CCF
Acaiá 374/19 SCF Paraíso H419-1 Catucaí Amarelo 2SL Catucaí Amarelo 24/137

1001 Arara Seriema

0 Figura 1: Evolução da Altura de planta (AP) ao longo de 04 épocas de avaliação


0
1011
0
1

102 A evolução da característica diâmetro de copa está representada na figura 2. Os


103 tratamentos 5 (Mundo Novo IAC 379/19 com controle ferrugem), 12 (Catucaí amarelo 24/137)
104 e 15 (Arara) apresentaram os maiores diâmetros observados, porém estatisticamente seus
105 resultados foram iguais. Por outro lado, os tratamentos 16 (Seriema) e 14 (Paraíso H-419)
106 apresentaram as médias baixas para a variável diâmetro de copa em relação aos demais.
107 Esses resultados corroboram com os observados por Salgado (2004) e Morais (2003).
6
108 No entanto, Carelli et al., (2002), trabalhando com a cultivar Obatã, verificaram diâmetro de
109 copa menor a pleno sol. Segundo Fernandes (1986) e Carelli et al., (2001), há uma tendencia

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110 de maiores copas em cafeeiros cultivados sombreados, já que a busca por luz levaria os ramos
111 a um maior crescimento, quando comparado a cultivos a pleno sol.
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Diâmetro de Copa

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(Cm)

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Junho Setembro Dezembro Março
Meses (2019-2020)
Catuaí Vermelho IAC 99 SCF Catuaí Vermelho IAC 99 CCF Catuaí Amarelo IAC 62 SCF
Catuaí Amarelo IAC 62 CCF Mundo Novo IAC 379/19 SCF Mundo Novo IAC 379/19 CCF
Obatã Vermelho Obatã Amarelo Tupi IAC 125 RN Acaiá 374/19 CCF
Acaiá 374/19 SCF Paraíso H419-1 Catucaí Amarelo 2SL Catucaí Amarelo 24/137
Arara Seriema
1131
1
3

114 Figura 2: Evolução do Diâmetro de copa (DC) ao longo de 04 épocas de avaliação

115 A produtividade das cultivares estimada em sacas de café beneficiado por hectare foi
116 bastante variável, sendo as cultivares Arara, Obatã Amarelo e Catucaí Amarelo 24/137 as mais
117 produtivas, na média de dois anos, com respectivamente 48,5;41,0 e 40,0 sacas.ha-1(Tabela 1).
118 As cultivares ‘Catuaí Amarelo IAC 62’, Mundo Novo IAC 379/19, Tupi IAC 125 RN e Catucaí
119 Amarelo 2SL com respectivamente 36,1; 34,9; 36,4 e 34,7 sc.ha-1 se situam em um segundo
120 grupo e quatro outras cultivares formam um grupo com produtividade média que varia entre
121 21,2 e 29,4 sacas.ha-1. As cultivares menos produtivas foram Acaiá IAC 479-19, Siriema VC 4
122 e Paraíso MG H419-1 (Tabela 1).

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123 Tabela 1. Produtividade (sacas 60kg ha-1) e vigor vegetativo, percentagem média de frutos cereja, verde, passa e seco, expressa em percentagem de frutos de
124 16 cultivares de cafeeiro Coffea arabica, cultivadas em Registro-SP, safras 2020/2021 e 2021/2022
Cultivares Produtividade Vigor Cereja Verde Passa Seco Chocho

Catuaí Vermelho IAC 99** 28,6 C 6,3 A 15,92 B 33,68 D 18,47 A 31,93 A 5,00 B
Catuaí Vermelho IAC 99*** 27,5 C 5,7 A 18,66 B 32,21 D 23,56 A 25,57 A 13,33 A

Catuaí Amarelo IAC 62** 36,2 B 6,7 A 23,98 B 30,16 D 25,83 A 18,70 B 10,00 B

Catuaí Amarelo IAC 62*** 29,4 C 5,3 A 5,79 B 31,72 D 27,59 A 24,89 A 4,00 B

Mundo Novo IAC 379/19** 34,9 B 7,0 A 27,77 A 33,49 D 15,01 A 23,72 A 6,00 B

Mundo Novo IAC 379/19*** 18,8 D 6,3 A 27,38 A 26,97 D 16,38 A 29,27 A 6,00 B

Obatã IAC 1669-20 (Vermelho) 27,6 B 6,7 A 21,49 B 46,65 C 15,35 A 16,52 B 6,67 B

Obatã IAC 4739 (Amarelo)* 41,0 A 8,3 A 13,01 B 76,96 A 6,45 A 3,57 B 20,00 A

Tupi IAC 125 RN* 36,4 B 8,0 A 7,66 B 79,05 A 3,64 A 9,64 B 3,33 B

Acaiá 474-19** 21,3 C 5,7 A 35,74 A 24,83 D 15,19 A 24,24 A 10,67 B

Catucaí Amarelo 2SL* 34,7 B 7,3 A 14,79 B 47,99 C 20,23 A 16,99 B 16,67 A

Catucaí Amarelo 24/137* 40,0 A 6,3 A 10,62 B 33,64 D 16,71 A 39,02 A 15,00 A

Acaiá 474-19*** 11,6 D 7,0 A 25,19 A 41,13 C 11,81 A 21,87 A 9,33 B

Paraíso H 419-1* 15,0 D 8,3 A 14,30 B 53,09 B 16,22 A 16,38 B 25,00 A


Arara* 48,5 A 7,7 A 22,82 B 58,96 B 6,30 A 11,92 B 19,00 A

Siriema*** 17,3 D 5,7 A 26,29 A 45,02 C 14,16 A 14,53 B 4,00 B

Média 29,6 6,8 20,09 43,47 15,81 20,55 10,87

CV(%) 28,3 20,2 31,45 20,7 42,67 41,82 42,13


125 * com controle de ferrugem ** sem controle de ferrugem
126 Médias seguidas de mesma letra maiúscula na vertical e maiúscula na horizontal não diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

6
127 Embora a combinação das colheitas em biênios deva melhorar a precisão experimental,
128 por reduzir os efeitos da bienalidade da produção (FIGUEIREDO et al., 2013) e a produção das
129 plantas deva ser avaliada em pelo menos quatro safras consecutivas, em função da natureza
130 perene da espécie e da estabilidade alcançada na quarta colheita (FIGUEIREDO et al,, 2013),
131 a produtividade inicial das duas primeiras safras colhida no Vale do Ribeira Paulista, se mostra
132 similar ao que se observa nas regiões tradicionais brasileiras e revela o potencial de cultivo do
133 café arábica na região.
134 Ainda na tabela 3 pode-se observar as percentagens dos frutos em cada estádio de
135 maturação. Houve maior percentagem de grãos cereja nas cultivares Acaiá 374/19, Siriema e
136 Mundo Novo IAC 379/19, enquanto os que tiveram maior percentagem de grão verde foram as
137 cultivares Obatã Amarelo e Tupi IAC 125 RN.
138 Os resultados obtidos são semelhantes de regiões produtoras com temperaturas
139 elevadas, como visto por Bardin-Camparotto, (2012) onde a cultivar Mundo Novo apresentou
140 uma maturação antecipada dos frutos. Essa situação se deu por conta de altas temperaturas,
141 tornando o ciclo do café mais curto. O mesmo ocorreu no presente trabalho com as cultivares
142 Mundo Novo, que mostrou valores superiores de frutos cereja e menores valores de frutos
143 verdes, indicando que a maturação dos grãos ocorreu de forma antecipada quando comparada
144 a outras cultivares, ou seja, essa cultivar apresentou maior sensibilidade na maturação dos
frutos
145 frente às condições climáticas do Vale do Ribeira.
146 Segundo Bartholo e Guimarães, (1997) o ideal para uma cultivar é apresentar 5% de
147 frutos verdes, resultados bem superiores foram encontrados neste presente trabalho. O atraso
148 da maturação na maioria das cultivares pode estar relacionado com a elevada nebulosidade no
149 Vale do Ribeira (figura 14), fazendo com que a maturação do fruto seja mais lenta por conta da
150 menor disponibilidade de luminosidade, portanto há uma grande quantidade de frutos verdes.
151 Como visto também por Ricci, (2006), que concluiu que o sombreamento (menor
luminosidade)
152 retarda a maturação dos frutos.
153 A maturação dos frutos tem uma grande importância na qualidade da bebida, por isso
154 torna-se interessante conhecer as percentagens de frutos em cada estágio de maturação. De
155 acordo Carvalho, (1991) o café deve ser colhido no ponto ótimo de maturação (cereja), pois
156 quando colhido verde ou mais seco, prejudicaria muito a qualidade da bebida.
157 No presente trabalho foi possível identificar que no período da colheita a umidade
158 relativa do ar estava alta devidos as condições típicas do Vale do Ribeira, que apresenta um
159 inverno chuvoso, tendo também as chuvas distribuídas durante o ano. De acordo com Camargo

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160 e Franco, (1985) o choque hídrico, causado por chuva ou irrigação, é o principal fator para

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161 desencadear a florada, tendo como outro motivo, um acentuado aumento da umidade relativa
162 do ar CAMARGO e FRANCO, (1985).
163 Condições semelhantes podem ser observadas na cafeicultura da Colômbia Andrade,
164 (2012), que possui como característica um regime de chuvas, distribuídos regularmente durante
165 o ano todo, fazendo com que o café apresente diversas floradas, resultando em frutos em
166 diferentes estádios de maturação. O mesmo foi observado no presente trabalho.
167 Uma alternativa para adequar a cafeicultura do Vale do Ribeira é a colheita seletiva dos
168 grãos, que além de compensar a diferença nos estágios de maturação dos frutos, devido as
169 condições climáticas, também faz com que a qualidade da bebida seja elevada, já que apenas
170 frutos no estádio correto de maturação sejam colhidos. Foi visto por Andrade, (2012), que a
171 colheita seletiva em qualquer região produtora resulta em s cafés de maior qualidade.
172 A colheita seletiva, é benéfica principalmente em sistemas de agricultura familiar. Esse
173 modelo foi estudado por Chalfoun, (2009), que constatou que essa forma de colheita é a única
174 maneira para conseguir um café de qualidade superior mantendo o volume de produção, já que
175 os grãos são colhidos apenas no estádio cereja, apresentando uma alta valorização no produto
176 comercializado.
177 A incidência de agentes bióticos de importância para a cultura do café arábica foi
178 avaliada a partir de agosto de 2020. Os resultados obtidos, no período de avaliação são
179 apresentados na figura 3.
180180

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181181
182 Figura 3. Incidência de bicho-mineiro, mancha-de-phoma e cercosporiose avaliada entre
183 agosto de 2020 e julho de 2021, em cultivares de Coffea arabica, com controle químico de
184 bicho-mineiro (*), bicho-mineiro e ferrugem (**) e sem controle químico (***), em Registro,
185 SP.

186186
187187

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188 A ferrugem-alaranjada causada pelo fungo Hemileia vastatrix é a principal doença da
189 cafeicultura em termos de abrangência e danos. Dependendo da altitude, das condições
190 climáticas e do estado nutricional da planta a ferrugem pode ocasionar perdas de até 50% na
191 produção (CARVALHO et al., 2017). Por esta razão, cultivares resistentes e também,
192 suscetíveis ao fungo, como Mundo Novo IAC 379-19, Acaiá IAC 474-19, Catuaí Vermelho
193 IAC 99 e Catuaí Amarelo IAC 62, foram incluídas no planejamento experimental, estas em
194 parcelas com e sem controle químico. O controle químico da doença, iniciado em outubro de
195 2020, não pode ser considerado responsável pela ausência de sintomas, uma vez que não houve
196 incidência da doença, mesmo nas parcelas experimentais de cultivares suscetíveis não
197 submetidas ao controle químico.
198 Por outro lado, a incidência do bicho-mineiro foi constatada de modo generalizado, mas
199 em níveis relativamente baixos, sendo de maior magnitude nas cultivares Catuaí IAC 99,
Catuaí
200 IAC 62, Mundo Novo IAC 379-19 e Acaiá IAC 474-19, todas suscetíveis à ferrugem.
201 Entretanto, com o início do controle químico, em outubro de 2020, o nível populacional da
202 praga, avaliado por meio da porcentagem de folhas lesionadas, foi muito reduzido, mantendo-
203 se desta forma até o final das avaliações.
204 Nota-se que a incidência da praga também diminuiu nas parcelas das cultivares
205 suscetíveis não submetidas ao controle químico e isso pode ser atribuído à flutuação
206 populacional da praga que, em outras regiões produtoras dos estados de Minas Gerais e São
207 Paulo, são caracterizadas pela maior incidência nos meses de setembro e outubro, seguido por
208 uma queda nos meses subsequentes. Nossos resultados revelam a eficácia do controle químico
209 da praga. Entretanto, estudos de maior permanência devem ser continuados para se determinar
210 a real necessidade de controle, uma vez que, ao contrário de regiões expostas ao uso intensivo
211 de produtos químicos, a diversidade de inimigos naturais na região pode atuar de modo
212 favorável na redução populacional da praga.
213 Os resultados apresentados na figura 3 revelam alguma variabilidade entre as cultivares
214 quanto à reação à mancha-de-phoma. No período de maior incidência, o índice de infecção foi
215 próximo a 40% na cultivar Catuaí Amarelo IAC 62, seguida pelas cultivares Mundo Novo IAC
216 379-19, Catuaí Vermelho IAC 99 e Catucaí Amarelo 24/137, com cerca de 35% e pelas
217 cultivares do germoplasma Sarchimor IAC 125 RN, Obatã IAC 1669-20 e Arara, com
218 aproximadamente 25% de folhas infectadas. Níveis muito baixos de infecção foram observados
219 nas cultivares Obatã IAC 4739, Paraíso MG H419-1 e Siriema VC 4.
220 A ocorrência de cercosporiose em folhas das cultivares de café arábica manifestou-se
221 em níveis mais elevados àqueles relacionados ao bicho-mineiro, certamente favorecidos pelas
11
222 elevadas temperaturas, umidade relativa do ar e intensidade luminosa, condições essas que
223 favorecem o desenvolvimento do patógeno e a manifestação de sintomas em hospedeiros
224 suscetíveis (CARVALHO et al., 2012). Os resultados apresentados na figura 3 revelam uma
225 maior presença de folhas com sintomas da doença entre setembro e novembro, com maior
226 incidência, neste período, nas cultivares Catuaí Amarelo IAC 62, IAC 125 RN, Obatã IAC
227 4739, Arara e Catucaí Amarelo 24/137.
228 Em síntese, nossos resultados evidenciam que os níveis de produtividade, na média das
229 duas primeiras safras, são similares àqueles observados em tradicionais regiões produtoras, fato
230 indicativo da viabilidade de cultivo no Ribeira Paulista. As condições edafoclimáticas da região
231 favorecem o rápido desenvolvimento vegetativo das plantas, sugerindo que cultivares de porte
232 baixo devam ser mais apropriadas ao cultivo.

233233

234 4. CONCLUSÕES
235  Os resultados evidenciam uma boa adaptação de todas as cultivares às condições de
236 cultivo no Vale do Ribeira Paulista, com maior e mais rápido desenvolvimento
237 vegetativo das cultivares de porte alto.
238  O potencial produtivo das cultivares nas duas primeiras colheitas revelou-se semelhante
239 ao desempenho das mesmas cultivares em regiões tradicionais de cultivo, com destaque
240 para as cultivares Arara e Catucaí Amarelo 24/137, com cerca de 55 sacas.ha-1 de café
241 beneficiado.
242  Não houve incidência de ferrugem no período de avaliação experimental, ao contrário
243 de outros agentes bióticos como, bicho-mineiro, mancha-de-phoma e cercosporiose.
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245 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


246 ALMEIDA, J.A.S. et al. Embriogênese somática em genótipos de Coffea arabica L. Coffee
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248 ANDRADE, V.T. et al. CARVALHO, A.M. Interação genótipo x ambiente em progênies de
249 Mundo Novo por modelos não lineares e multiplicativos. Bragantia (São Paulo, SP. Impresso)
250 , v. 72, p. 1-8, 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/brag.2013.054
251 BARBIERI JUNIOR, E. et al. Um novo clorofilômetro para estimar os teores de clorofila
252 em folhas do capim Tifton 85. Ciência Rural 42(12),2242-2245,2012. DOI:

12
253 10.1590/S0103-84782012005000109
254 CARVALHO, A.M. et al. Relationship between the sensory attributes and the quality of
255 coffee in different environments. African Journal of Agricultural Research , v. 11, p.
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259 CARVALHO, A.M. et al. Comportamento de cultivares de cafeeiro sob a incidência das
260 doenças da ferrugem e cercosporiose em dois ambientes de cultivo. Coffee Science, v. 12, p.
261 100-107, 2017. DOI: http://www.sbicafe.ufv.br:80/handle/123456789/8266
262 CARVALHO A.M. et al. Desempenho agronômico de cultivares de café resistentes à ferrugem
263 no Estado de Minas Gerais, Brasil. Bragantia 71: 481-487,2012. DOI:
264 https://doi.org/10.1590/S0006-87052013005000007
265 FAZUOLI, L.C. et al. Avaliação de progênies de Icatu e das cultivares Catuaí Vermelho,
Catuaí
266 Amarelo e Obatã IAC 1669-20 de Coffea arabica no Vale do Ribeira, SP. In: CONGRESSO
267 BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 41, Poços de Caldas. v.1. p.262-264, 2015.
268 FIGUEIREDO, L.P. et al. The potential for high quality bourbon coffees from different
269 environments. Journal of agricultural science,5(10),87-98,2013. DOI: 10.5539/jas.v5n10p87
270 MACIEL, A.L.R. et al. Acclimatization of coffee (Coffea racemosa x Coffea arabica)
271 somaclones obtained from temporary immersion bioreactor system (RITA®). Australian
272 Journal of Crop Science, v.10, n.2, p.169-175, 2016. ISSN:1835-2707
273 R Development Core Team R: a language and environment for statistical computing. R
274 Foundation for Statistical Computing, Vienna. 2010.
275 RESENDE, M.D.V. O software Selegen Reml/Blup. Campo Grande: Embrapa Informação
276 Tecnológica, 299p., 2007

13
6. ANEXO

Fotos 1 e 2: Detalhe dos frutos maduros e das plantas com os frutos maduros.

Fotos 3 e 4: Detalhe da colheita realizada de forma manual.

13
Fotos 5 e 6: Detalhes da abanação do café colhido e quantificação da produção em
litros.

Foto 7 e 8: Detalhes da avaliação de grãos chochos e avaliações de contagem


de frutos cereja, verde, passa, seco.

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Foto 9: Detalhe da secagem dos grãos em terreiro suspenso.

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