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com
Raissa Araújo Mendes e Ronan Silva Cardoso

MANUAL DE AROMATERAPIA
Volume 3
Alquimia Operativa Aplicada à Aromaterapia

2ª edição

Brasília-DF/Brasil
Edição dos autores
2020

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Manual de Aromaterapia – Volume 3 – Alquimia
Operativa Aplicada à Aromaterapia

Copyright © 2020 Apotecários da Floresta

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ORGANIZAÇÃO
Apotecários da Floresta

TEXTOS
Raissa Mendes e Ronan Cardoso

ILUSTRAÇÕES
Adobe Stock

Para citar este material, utilize a seguinte referência:


MENDES, R.; CARDOSO, R. Manual de Aromaterapia –
Volume 2 – Alquimia Operativa Aplicada à
Aromaterapia. Apotecários da Floresta, 2020.

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Sumário

Apresentação .......................................................................................... 1
Alquimia e Espagiria .......................................................................... 2
Assinatura das plantas aromáticas ......................................... 5
Procedência, cultivo e colheita ................................................ 13
Métodos de extração ....................................................................... 22
Controle de qualidade .................................................................... 39
Os autores ............................................................................................... 45
Referências ........................................................................................... 47

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Apresentação

Olá, aromaterapeuta!

Chegamos, enfim, a outro importante ponto da


nossa jornada de aprofundamento aromático. Você
agora já conhece os principais conceitos e histórias da
Aromaterapia e já teve contato com os saberes
botânicos sobre as plantas aromáticas.
Agora é hora de darmos mais um passo,
conhecendo melhor sobre o cultivo, obtenção, métodos
de extração e qualidade dos óleos essenciais, a partir
dos saberes alquímicos.

Vamos nessa?

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Alquimia e Espagiria

Antes mesmo de os óleos essenciais serem


extraídos e usados como o são hoje, são substâncias de
grande valor para a Alquimia, em especial para a
Espagiria.
A Espagiria é a ciência alquímica que se ocupa de
estudar os reinos vegetal, animal e mineral e a partir
deles produzir medicinas de alto valor, utilizando
princípios alquímicos como o de solve et coagula,
separar o denso do sutil, na busca pela quintessência.
O termo “Espagiria” foi cunhado pelo alquimista
Paracelso, renomeando a ciência que até então era
chamada de Química.
Etimologicamente, com origem no Latim,
Espagiria significa “extrair o que é divino”, como uma
junção de “spao” (que significa retirar, extrair,
arrancar) e “geros” (que significa ancião, presente de
Deus, dom de Deus, ou simplesmente divino). Assim,
Espagiria seria a arte de extrair as qualidades divinas
arquetípicas que se exprimem nas plantas, nos
animais e nos minerais.

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Na Espagiria Vegetal, o óleo essencial tem um
lugar de muita importância: ele é considerado a alma
da planta, uma das manifestações mais sutis de sua
existência divina. Para ser obtido, portanto, cada
processo precisa ser feito cuidadosamente, de modo a
extrair uma substância realmente pura.
São levados em consideração o plantio, o cultivo e
a colheita nas lunações, horários, épocas do ano
corretas e diante de eventos astrológicos específicos
para que o produto final mantenha sua pureza. O
espagirista, ou alquimista operativo, precisa, ainda,
manter uma relação de bastante proximidade e estudo
com a planta usada, além de muito autoestudo para
que esteja sempre em conexão com os elementos e os
princípios alquímicos.
Na extração, é usada especialmente a destilação,
respeitando as especificidades de cada planta. Na arte
espagírica, é dito que destilar é simplesmente separar
o sutil do denso e o denso do sutil, tornar indestrutível
o frágil e delicado, tornar imaterial o concreto, tornar
espiritual o corpóreo, e belo aquilo que é vulgar.
Ao final da destilação, a alma da planta pode se
juntar a outras extrações para a criação da
quintessência, substância que reúne as partes mais

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puras e concentradas da planta. É a mais divina e
completa medicina obtida daquela matéria.

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Assinatura das plantas aromáticas

Quando você entra em um jardim ou em uma


floresta, o que você percebe? O que te dizem os seres
que ali habitam? Consegue captar as manifestações
mais sutis, as canções, as danças, as histórias?
Muito antes de qualquer método científico
organizado de identificação e classificação de plantas
medicinais, nós, seres humanos, assim como muitos
outros animais, somos capazes de tomar conhecimento
das propriedades de plantas a partir de minuciosas
observações sobre como elas se manifestam na
Natureza e se relacionam com o meio em que vivem.
Vamos tomar como exemplo o povo chinês que,
mesmo há mais de 4.000 anos, já possuía registros
escritos de fórmulas terapêuticas com combinações de
plantas e todo um sistema de eficiente medicina que
perdura até hoje, fundamentado na observação dos
princípios que regem os fenômenos. Os chineses
antigos entendiam a Natureza como sendo
interconectada, que todas as coisas faziam parte de
um equilíbrio maior e que os padrões da Natureza não
se repetiam em vão. Para eles, a cor, a forma e o sabor

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dos alimentos eram capazes de indicar suas aplicações
fitoterápicas.
Ainda hoje, povos nativos, xamãs, pajés, raizeiras
e erveiras cultivam esses saberes adquiridos
diretamente do diálogo que possuem com o reino
vegetal e o passam de geração a geração, mantendo
viva a conexão entre nossos sentidos e o universo
encantador das plantas.
Na história da Alquimia, inspirado por essa
conexão, Paracelso desenvolveu a assim chamada
Doutrina das Assinaturas, um interessante registro
das relações existentes entre os universos micro e
macro (o que está em cima é como o que está embaixo,
como bem lembram as leis alquímicas). Para ele, as
plantas se assemelham ao que elas curam, ou ao menos
nos oferecem alguns indicadores, algumas
assinaturas, que nos dão uma noção daquilo para que
elas servem. As assinaturas podem ser percebidas
principalmente através das cores, texturas, formatos,
aromas e localização das plantas.

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Cor

Uma das maneiras mais fáceis de ler uma planta é


a partir de sua cor. Quando você vê plantações de
lavandas (Lavandula angustifolia, Lavandula latifolia)
e lavandins (Lavandula x intermedia), por exemplo, e
observa as cores claras esverdeadas de suas folhas e os
tons que variam do azul ao lilás em suas flores, no que
você pensa?
Azul, violeta e lilás, no espectro de cores visíveis,
possuem uma frequência mais elevada e um menor
comprimento de onda. Normalmente são percebidas
como cores que inspiram calma, leveza, limpeza e
elevação – e não são exatamente estas as
características comuns às lavandas (especialmente a
lavanda francesa)?
A cor também pode ter correspondências com os
chakras, centros de energia que se relacionam a
determinados órgãos. Na literatura védica, as cores
que variam do roxo ao azul estão relacionadas a três
chakras principais: o sahasrara (coronário, topo da
cabeça), o vishuddha (frontal, terceiro olho, centro da
testa) e o ajna (laríngeo, garganta). Nessa correlação,
essas cores (e consequentemente a lavanda)

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harmonizariam tais chakras e os órgãos
correspondentes. E de fato: as lavandas atuam
diretamente em órgãos e sistemas superiores, como
em nosso Sistema Nervoso Central, aliviando tensões,
diminuindo a ansiedade (ou estimulando a mente, a
depender do tipo de lavanda), e com propriedades
antipsicóticas.

Textura

A textura da planta, percebida através de suas


resinas, espinhos, pelos, maciez e rigidez, é uma
assinatura que nos diz muito sobre o que faz aquela
planta ou em que órgão ela atua. Muitas vezes, essas
características são por ela desenvolvidas como uma
forma de sobrevivência e resistência, e podem denotar
muito sobre suas propriedades medicinais.
Já notou que plantas resinosas, com suas texturas
“grudentas”, tendem a atuar eficientemente em
cicatrizações? É o exemplo da copaíba (Copaifera
officinalis), do sangue-de-dragão (Croton lechleri) e do
breu branco (Protium heptaphyllum), com suas
propriedades cicatrizantes, “colantes” e

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regeneradoras da pele. É a sabedoria da Natureza
estampada na textura.

Formato

Outro jeito possível de observar uma planta é


através de seu formato. Tome nota da direção em que
as folhas podem crescer, ou com um pouco de
imaginação, como as linhas e formas podem se
assemelhar a uma parte do corpo. Essas visões podem
nos direcionar para a energia da planta e, além disso,
sua possível relação com os sistemas do corpo humano.
Um exemplo de assinatura através da forma é o
dos pinheiros (Pinus sp.). As árvores em geral têm
raízes profundas, troncos fortes e muita força para
suportar o clima. Ao olhar para um pinheiro, podemos
perceber seu enraizamento espelhando sua matriz de
galhos e folhas balançando-se em direção aos céus. As
árvores se assemelham à forma humana em pé. As
formas dos galhos e agulhas do pinheiro são bastante
intricadas, imitando visualmente as delicadas
câmaras do nosso sistema respiratório. São árvores
altas, com suas copas feito lanças apontadas para o céu.

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De maneira similar, o óleo essencial (entre outros
princípios ativos) da maioria dos gêneros
pertencentes à espécie Pinus tem uma importante
atuação em nossas vias respiratórias, tonificando e
desobstruindo, além de atuarem no fortalecimento da
imunidade, no combate a fungos e bactérias e na
elevação dos pensamentos.

Aroma

O aroma que algumas plantas liberam certamente


é uma das assinaturas mais agradáveis de se ter
contato. É uma forma de escutar a planta para além
dos ouvidos, enxergar para além dos olhos, tocar para
além do tato, e provar para além do paladar.
Os exemplos desse tipo de assinatura são
inúmeros, mas podemos citar as descrições comuns do
aroma das rosas (Rosa sp.), geralmente associado à
beleza, paixão e sensualidade. É um aroma que
envolve, abraça, toca cada milímetro do corpo. Tanto é
que seu óleo essencial de fato possui propriedades
afrodisíacas, relaxantes e rejuvenescedoras.

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E o tão amado – e ao mesmo tempo detestado –
vetiver (Crysopogon zizianoides), com seu aroma
terroso, levemente amadeirado, com um toque
lenhoso, de enraizamento? Suas notas aromáticas
baixas remetem justamente os seus propósitos e
sabedoria telúrica: aterramento, calma, tranquilidade,
força. É uma planta que atua desacelerando os
pensamentos, aliviando emoções intensas e
diminuindo dores.

Localização

A assinatura da localização se difere um pouco das


demais, por nos exigir certo conhecimento sobre o
local, o clima, a terra, além de nos fazer observar a
planta por mais tempo. Já parou para observar como
as plantas se desenvolvem no ambiente em que
habitam? E do porquê elas vivem onde vivem?
Se você pegar como exemplo a mirra
(Commiphora myrrha), verá que ela cresce em um
clima árido, desértico, quente, seco, e suas
propriedades terapêuticas são desenvolvidas
especialmente para sua própria sobrevivência nesse

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meio aparentemente tão agressivo: ela é altamente
protetora da pele, hidratante, cicatrizante,
regeneradora do tecido epitelial, atuando em casos de
ressecamento e rachaduras na pele, além de trazer
toda a calma, tranquilidade e resistência que só uma
planta que vive sozinha no deserto teria.
De maneira similar e ambiente diferente, o
wintergreen (Gaultheria procumbens) cresce em
climas extremamente frios, nas montanhas e florestas
de países do hemisfério norte, e dentre as suas
diversas propriedades está a capacidade de levar calor
para o corpo no frio e protege-lo de dores, inflamações,
resfriados, gripes e tosses.

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Procedência, cultivo e colheita

Desde que o ser humano passou de nômade a


agricultor, o conhecimento sobre as plantas e sobre a
nossa relação com elas foi se aprimorando. Observando
a Natureza, passamos a entender os movimentos
telúricos, as condições de acesso à água, a energia dos
vegetais e as influências da lua e dos astros no cultivo.
Esse saber seguiu se transformando, resgatado pelos
espagiristas e até hoje sendo considerado por diversos
agricultores, inclusive com comprovação científica de
muitas dessas influências.
Quando falamos de cultivo de plantas aromáticas
para obtenção de princípios ativos, retomamos esse
saber com ainda mais força. A forma como essas
plantas são cultivadas e colhidas interfere
diretamente na qualidade e quantidade do óleo
essencial extraído.

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Influências lunares

A lua orquestra o fluxo de líquidos na Natureza,


nos rios, nas marés, no nosso corpo, nas nossas emoções
e, é claro, nas plantas. Na lua nova, a seiva se concentra
no caule e nas raízes; no quarto crescente começa a
fluir em direção aos galhos, folhas e flores; na lua cheia,
alcança maior penetração nas bordas, estando em
bastante concentração nas partes superiores; e no
quarto minguante, começa a voltar ao caule e às
raízes.
O aproveitamento do fluxo e refluxo da seiva
determina práticas importantes na agricultura. A lua
nova é propícia para se fazer a semeadura das plantas
aromáticas, além de adubações, favorecendo o
fortalecimento das raízes. Já a lua crescente é ideal
para o plantio de mudas de frutos e flores, e para
transplantes e podas de árvores, sendo especialmente
favorável ao crescimento das partes aéreas. A lua
cheia é ideal para colher sementes, frutos e algumas
flores, considerando o desenvolvimento particular de
cada espécie também. E por fim, a lua minguante é
propícia para o plantio de espécies que possuem

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rizomas (gengibre, cúrcuma, turmérico) ou raízes
aromáticas (como o vetiver).
Nem todo agricultor leva em consideração essas
influências, mas sabe-se atualmente que plantas
cultivadas e colhidas de acordo com as fases lunares
possuem uma concentração de ativos maior que a
daquelas que não utilizam esse sistema.

A monocultura e a agricultura sintrópica

Existem diferentes formas de se cultivar as


plantas aromáticas. Com o crescente mercado de óleos
essenciais, dando espaço inclusive a empresas de
marketing multinível, alguns produtores optam por
um cultivo aparentemente mais rápido e mais fácil de
controlar, se restringindo ao plantio das mesmas
espécies juntas. A essa forma de cultivo damos o nome
de monocultura.
A monocultura, ao contrário do que pensam
muitos agricultores, pode interferir negativamente
na qualidade dos óleos essenciais. Isso acontece porque
as plantas cultivadas por este sistema, fora de seu
ambiente selvagem, não são submetidas a situações

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que podem fortalecer suas moléculas aromáticas
(como fatores estressantes e a necessidade de
sobreviver em meio a outras espécies, por exemplo).
O ideal seria que somente as plantas
desenvolvidas de forma selvagem fossem usadas para
extração de óleos essenciais de finalidade terapêutica.
Como isso é praticamente impossível, uma opção é a
utilização de sistemas alternativos à monocultura,
como a agricultura sintrópica.
A agricultura sintrópica é um sistema
sustentável de uso da terra, que associa cultivos
agrícolas com florestais (os famosos sistemas
agroflorestais - SAFs), recupera facilmente os recursos
naturais e trabalha com diferentes microclimas,
plantando diversas espécies distintas juntas. A ideia é
a de que as diferentes plantas se ajudem e se
regenerem, tal como acontece nas florestas.
Diferente do que acontece na monocultura,
plantas aromáticas cultivadas em sintropia
desenvolvem óleos essenciais mais fortes e de maior
qualidade, justamente por este ser um sistema que
“mimetiza” o que elas viveriam na vida selvagem. Isso
sem contar que nos sistemas agroflorestais não são

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usados agrotóxicos, o que ajuda ainda mais a planta a
se fortalecer naturalmente.

Uso de agrotóxicos e cultivo orgânico

Pelo mesmo motivo que alguns produtores de


óleos essenciais optam pela monocultura, também são
usados diversos agrotóxicos no cultivo de plantas
aromáticas. Embora isso aparentemente barateie os
custos de cultivo, favorecendo uma maior produção de
OEs e outros subprodutos, é algo que compromete a
qualidade do óleo essencial.
Pesquisas mostram que, ainda que o agrotóxico
tenha sido usado somente no solo, algumas de suas
moléculas permanecem no óleo essencial mesmo após a
extração. A porcentagem de agrotóxico é maior em OEs
extraídos sem a ação do calor, como ocorre na
prensagem à frio das cascas de cítricos, chegando a
compor até 30% do subproduto.
A presença dessas substâncias no óleo essencial,
além de por si só trazer danos à nossa saúde, pode
gerar mutações indesejadas nas moléculas
aromáticas, causando efeitos adversos. Ademais, o

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agrotóxico desfavorece o desenvolvimento de
algumas moléculas aromáticas, já que ele não coloca a
planta em situações de estresse, em que ela precisa
desenvolver suas defesas naturais. Por estes e outros
motivos, é preferível que se utilize terapeuticamente,
sempre que possível, somente OEs obtidos de
plantações orgânicas (como aquelas dos sistemas
agroflorestais), que optam pela otimização dos
recursos naturais.
Entretanto, no Brasil há algumas controvérsias
envolvendo o cultivo orgânico. Para uma produção ser
considerada orgânica, a empresa ou produtor precisa
adquirir um certificado em empresas vinculadas ao
Ministério da Agricultura. É um processo caro e moroso,
com preços que variam de acordo com a empresa, mas
que geralmente são um entrave para os pequenos
produtores. Por isso, ainda que de fato façam um
manejo orgânico, pequenos agricultores não
costumam ser certificados.
Outro ponto controverso quanto a essa forma de
cultivo é que, mesmo permanecendo certificadas como
orgânicas, algumas empresas utilizam agrotóxicos em
alguns de seus produtos, afetando aqueles que estão
certificados. Isso acaba ocorrendo porque as vistorias,

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na prática, não acontecem com a frequência prevista
em lei, e faltam análises laboratoriais para a
comprovação de que naquele produto não há nenhum
traço de agrotóxico.
Ainda que estas controvérsias existam, ainda
assim é mais seguro optar pelos óleos essenciais
orgânicos, quer estejam certificados ou não,
principalmente quando se trata daqueles extraídos
por prensagem à frio. Caso você os adquira de
pequenos produtores, se for possível visite o local onde
as plantas são cultivadas. De grandes empresas, peça
sempre as análises químicas dos OEs. E quando não for
possível utilizar os orgânicos, opte por aqueles cuja
procedência é de países que não permitem o uso
abusivo de agrotóxicos.

Colheita

Além do próprio cultivo, a forma como a colheita é


feita interfere diretamente na qualidade do óleo
essencial. Movidas pelos mesmos motivos usados na
monocultura de plantas aromáticas e no uso de
agrotóxicos, algumas empresas realizam as colheitas

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com a ajuda de maquinários, o que pode machucar
indevidamente a planta e colher partes não
necessárias para a extração. Por isso, o ideal é que a
colheita seja feita à mão, com o corte no local correto,
permitindo a continuidade saudável do
desenvolvimento de cada planta – sem contar que
colher manualmente nos aproxima ainda mais
daquela planta, não é mesmo?
Outro fator a ser considerado é o momento em que
a colheita é feita. Alguns óleos essenciais demandam
que suas plantas sejam colhidas em épocas do ano,
lunações e horários específicos, como já nos avisavam
os espagiristas; caso contrário, podem apresentar
variações bastante relevantes em sua composição
química.
A lavanda francesa (Lavandula angustifolia), por
exemplo, deve ser colhida para extração somente após
o período de polinização, depois que as abelhas deixam
de visitar as plantações. Já a camomila alemã
(Matricaria recutita), se colhida pela manhã, seu OE
possuirá um alto teor de alfa-bisabolol, um de suas
principais moléculas anti-inflamatórias; por outro
lado, se colhida ao final da tarde, apenas traços de alfa-
bisabolol aparecerão em seu óleo essencial. Outro

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exemplo é o da sálvia dalmaciana (Salvia officinalis),
cujo teor de tujona é de menos de 26% se a colheita é
feita na primavera e de mais de 51% se feita no outono.
Quando não podemos ser os próprios produtores e
estes dados não são passados pelo fornecedor, a única
forma de se certificar sobre os teores moleculares
adequados do OE é a partir de documentos que relatem
a análise química daquela substância, como a
cromatografia. Falaremos dela mais adiante.

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Métodos de extração

Dos mais antigos métodos alquímicos às mais


avançadas tecnologias da atualidade, existem
inúmeras formas diferentes de se extrair as
substâncias voláteis das plantas aromáticas, cada qual
com suas vantagens e desvantagens, custo, tempo e
propósito.
A escolha do método de extração a ser empregado
deve partir da análise de alguns fatores cruciais para
a obtenção de uma substância de qualidade:

• O conhecimento de onde as moléculas aromáticas


estão concentradas em maior proporção na planta.
Isto será fundamental para saber que partes da
planta serão usadas na extração e de que forma
(secas, frescas, inteiras, moídas etc.), possibilitando a
escolha do melhor método. Algumas partes das
plantas aromáticas, como as flores, por exemplo,
podem demandar extrações que além de não
destruir moléculas mais voláteis, alcancem aquelas
de maior peso molecular, que dificilmente pela
destilação seriam alcançadas.

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• Como o produto final será usado. Se o objetivo é
utilizar um óleo essencial de laranja doce (Citrus
sinensis) na pele durante o dia, por exemplo, pode ser
mais interessante extraí-lo por destilação e não por
prensagem, já que por este método as
furanocumarinas (como o bergapteno) presentes
nas cascas dos frutos cítricos não conseguem ser
extraídas. Elas podem possuir propriedades
ansiolíticas interessantes, mas são fototóxicas:
quando usadas na pele, em contato com a luz do sol,
podem causar manchas.
• Propriedade terapêutica e composição molecular
que se deseja alcançar no produto final. Como uma
continuidade do ponto mencionado anteriormente,
levar em consideração as propriedades desejadas no
OE é fundamental para a escolha do método correto.
Além dos próprios cítricos, algumas plantas, como a
camomila-alemã/azul (Matricaria recutita), têm sua
estrutura química modificada a depender do tipo de
extração usada. Se a planta for destilada, por
exemplo, um de seus compostos químicos, a
matricina, é degradada pelo calor da destilação e
transformada em camazuleno, composto que dá cor
azul ao OE, além de fornecer propriedades anti-

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inflamatórias e antialérgicas. Já no caso do olíbano
(Boswellia carterii), se extraído por CO2 supercrítico,
produz um óleo rico em triterpenóides, os quais
possuem importante ação anti-inflamatória; se o OE
for obtido por destilação, no entanto, estes
componentes são degradados durante o processo e
não aparecem na composição.

Considerando estes pontos, entre outros fatores


como as formas de cultivo mencionadas no capítulo
anterior, a escolha do método de extração será feita de
forma muito mais consciente, certamente resultando
em um subproduto de excelente qualidade.

Destilação por arraste a vapor

A destilação por arraste a vapor é um dos métodos


mais usados para a extração de óleos essenciais, sendo
muitas vezes um dos mais baratos, com bom
rendimento. Ele é utilizado principalmente para a
extração do OE de algumas folhas, galhos, brotos,
sementes e madeiras, podendo também ser usado, em
alguns casos, para flores e cascas de frutos.

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Utiliza-se destiladores específicos, similares a um
alambique, de materiais como vidro ou inox – e às
vezes de ferro ou cobre. Na estrutura básica de um
destilador, há uma fonte de calor (como fogo ou
aquecimento elétrico), uma caldeira para se colocar
água e transformá-la em vapor, uma dorna onde é
colocado o material vegetal, um condensador por onde
passarão o vapor e as moléculas aromáticas, e um
decantador.

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Pela ação do calor, o vapor produzido na caldeira
com água circula através do material vegetal,
liberando as moléculas voláteis que antes estavam
armazenadas nas células e estruturas secretoras da
planta. Estas moléculas são arrastadas pelo vapor e
passam por um processo de resfriamento, onde são
condensadas juntamente com o vapor. Ao final restam,
então, dois subprodutos: em maior quantidade, a água
(que será chamada de água floral, hidrolato ou
hidrossol, e possui diversas propriedades terapêuticas
importantes) e, em menor quantidade, na parte
superior da água, o óleo essencial. Para separá-los,
utiliza-se a decantação.

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O tempo do processo e a temperatura adotada
variam de acordo com o tipo e quantidade de plantas
usadas. Na maioria das vezes, a temperatura de
aquecimento da água é superior a 100ºC, com tempo
mínimo de 3 horas para a extração completa. Quanto
mais lento o processo de destilação, mais compostos
químicos são colhidos.

Hidrodestilação

O método mais antigo de destilação é a


hidrodestilação, mais barato que o arraste a vapor,
mas menos utilizado por conta de suas limitações. Ele é
utilizado principalmente para a extração do OE de
algumas folhas, galhos, brotos, sementes e madeiras.
Os destiladores (e o processo) de hidrodestilação
são muito similares aos de arraste a vapor, com a
diferença de que, na caldeira, o material vegetal fica
completamente emergido na água, como em um
processo de decocção. Em seguida, as moléculas
aromáticas, juntamente com o vapor d’água, são
resfriadas no condensador e ao final são decantadas,
separando-se o hidrolato do óleo essencial.

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Uma vantagem deste método é o fato de ele ser
mais barato e mais simples. No entanto, a temperatura
de aquecimento da água não pode passar de 100ºC; caso
contrário, o material vegetal será queimado,
ocasionando na perda dos subprodutos.

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Prensagem à frio

A prensagem à frio, também chamada de


expressão, é o método mais usado para extrair o óleo
essencial das cascas de frutos cítricos, já que algumas
moléculas aromáticas encontradas nestas cascas
podem sofrer grandes perdas moleculares (e outras
simplesmente nem são alcançadas) com o aquecimento
das destilações. O OE extraído por este método é,
muitas vezes, chamado de óleo expresso ou essência
(este último é adotado principalmente nos livros
franceses).
Utiliza-se uma prensa hidráulica, onde são
colocadas as cascas dos frutos (ou o fruto inteiro). Elas
são, então, prensadas, extraindo-se o suco e as
moléculas aromáticas. Após a prensagem, os dois
subprodutos são colocados em um recipiente de
centrifugação, onde serão separados. Em alguns casos,
o suco e o OE também podem ser separados por pressão.

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Extração por solventes químicos

Quando destilados, outros materiais vegetais


muito sensíveis, como algumas flores, têm suas
moléculas aromáticas alteradas ou excessivamente
volatilizadas (e às vezes algumas sequer são extraídas
por conta de seu alto peso molecular). Por esse motivo,
para manter a integridade dos compostos voláteis,
pode ser usada a extração por solventes químicos. Este
é um método que, apesar de não ser muito caro, não é
tão usado para a obtenção de substâncias aromáticas
usadas na Aromaterapia (sendo mais usado na
Perfumaria Botânica), por conta de algumas de suas
limitações.

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Durante o processo, as plantas são imergidas em
algum solvente químico volátil, como hexano, butano,
éter, acetato ou outro derivado do petróleo. Depois de
algumas horas de imersão, começa a ser originado o
chamado óleo concreto, uma substância pastosa
composta por ceras, gorduras, parafinas e pigmentos
da própria planta, resquícios dos solventes e moléculas
aromáticas (de 20 a 50% do concreto é composto por
moléculas aromáticas). Mesmo pastoso, ele pode ser
usado na Perfumaria, principalmente na composição
de perfumes sólidos.

Concreto de jasmim (Jasmimum officinale) com 40% de moléculas


aromáticas.

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Contudo, para se obter um óleo mais fino e retirar
os solventes, as ceras, parafinas e outras substâncias,
o concreto é diluído em álcool, que será evaporado com
a ajuda de um leve aquecimento. As moléculas de
álcool, carregando as moléculas aromáticas do
concreto, podem passar por um condensador, até que
se obtenha somente um subproduto aromático mais
líquido e fino, que será chamado de óleo absoluto. O
absoluto pode ser também chamado de óleo essencial,
mas por conta de sua complexidade molecular,
diferente dos produtos extraídos por destilação e
prensagem, o mais correto é chama-lo simplesmente de
absoluto.
Uma das desvantagens desse tipo de extração é a
de que o óleo absoluto, mesmo passando por uma
“limpeza” alcoólica, pode conter resquícios de
solventes, tornando-o inadequado para algumas
aplicações aromaterapêuticas (como a ingestão e a
aplicação tópica). Dessa forma, esse tipo de absoluto
acaba sendo usado somente para inalações ou para a
criação de perfumes. Quando a porcentagem de
solvente é menor que 1%, no entanto, algumas
pesquisas indicam que não há prejuízos para a pele,
tornando-o disponível também para aplicações tópicas.

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Extração por CO2

Como os solventes químicos podem deixar


resíduos no produto final, algumas empresas também
fazem a extração por CO². Este processo, por sua vez,
gera um subproduto limpo, isento de resíduos tóxicos,
e bastante íntegro em sua composição aromática.
Contudo, é um dos mais dispendiosos processos de
extração – o maquinário custa pelo menos 30 mil
dólares. É por isso que os óleos extraídos por esse
método costumam ser até 2 ou 3 vezes mais caros que
os OEs da mesma planta obtidos por destilação.

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Para extrair corretamente as substâncias
aromáticas, o dióxido de carbono precisa atingir seu
estado supercrítico (ou hipercrítico). Em temperatura
ambiente e pressão atmosférica de 1 atm, o CO2 está na
forma completamente gasosa; quando resfriado, ele se
solidifica (é o famoso “gelo seco”); em outras
temperaturas e pressões, pode ainda ficar em estado
líquido. Sob pressão de pelo menos 200 atm e
temperaturas maiores que 35ºC, o CO2 assume seu
estado supercrítico: nesse momento, ele compartilha
tanto das qualidades de um gás quando de um líquido,
o que o torna um solvente excelente para as
substâncias aromáticas encontradas nas plantas. Veja
o gráfico abaixo, que explica essas variações:

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No CO2 supercrítico, são dissolvidos com facilidade
outros princípios ativos da planta, como ceras,
carotenoides, flavonoides e alcaloides, restando
somente os compostos aromáticos.
No processo de extração, o material vegetal é
colocado em um tanque onde é injetado o CO2 que,
mantido em estado supercrítico (pelo menos 200 atm e
35ºC), extrai as moléculas aromáticas das plantas. Uma
vez efetuada a extração, a pressão diminui e o CO2
volta ao estado gasoso, não deixando qualquer resíduo
no óleo. Este produto final também será chamado de
óleo absoluto por conta de sua complexidade
molecular.

Enfleurage

O método mais antigo de extração de substâncias


aromáticas é o chamado enfleurage (lê-se
“anflorráge”), ou simplesmente enfloragem, adotado
para se obter as moléculas aromáticas de flores mais
sensíveis e de baixo teor aromático. É um método
bastante rudimentar, moroso e com baixo rendimento,

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mas que facilmente pode ser replicado
artesanalmente.
Em uma placa retangular de vidro, colocam-se
camadas de gordura (geralmente de origem vegetal,
como os óleos graxos de coco-da-praia, coco babaçu e
palmiste) juntamente com as pétalas das flores
frescas. Estas placas são postas umas sobre as outras,
de modo a evitar o contato direto com o ar atmosférico.
De tempos em tempos (geralmente com um intervalo
de 24h), as pétalas antigas são substituídas por novas,
também frescas, sem substituir a gordura. Após um
período que pode variar de 1 a 10 semanas, a gordura,
que age absorvendo o aroma, chega em seu ponto de
saturação em relação aos óleos das flores, não
precisando mais substituir as pétalas. Em seguida, são
retiradas todas as flores restantes, a gordura é
filtrada e colocada em outro recipiente, onde será
adicionado álcool. Essa solução ficará em repouso por
algumas horas, até que a gordura seja quebrada, o
álcool evapore e reste apenas o subproduto aromático,
o óleo absoluto.

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Cena do filme “Perfume, a história de um assassino”, demonstrando o
enfleurage

Por ser um método bastante demorado e que


demanda uma quantidade muito grande de flores
frescas, não é muito utilizado pela indústria. É mais
comum que pequenos artesãos e perfumistas
botânicos o utilizem. Em alguns casos, sequer é
adicionado álcool no processo, utilizando-se a própria
gordura aromática terapeuticamente ou para a
produção de perfumes e cosméticos.

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Controle de qualidade

Com a banalização da Aromaterapia e as


demandas cada vez mais altas de acesso aos óleos
essenciais, muitas empresas mal-intencionadas usam
métodos para baratear os custos de seus produtos.
Além de não seguirem corretamente as
recomendações de cultivo, colheita e extração, essas
empresas podem, ainda, adulterar os OEs ou submetê-
los a processos que possibilitem uma venda em escala
industrial.
Portanto, além de serem adotadas as mais
adequadas condições de cultivo, colheita e extração,
para ser considerado de qualidade, um óleo essencial
precisa ser:

• 100% natural: não pode ser desnaturado, quer seja


com moléculas de síntese parcial ou síntese total,
quer seja com substâncias emulsificantes ou
diluentes como óleo mineral, álcool,
dipropilenoglicol, ou qualquer outro aditivo
químico.

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• 100% puro: deve ser livre de misturas com outros
óleos essenciais similares ou moléculas isoladas, e de
qualquer outra substância sintética ou natural que
não sejam as suas moléculas aromáticas
naturalmente extraídas no método usado. Para se
conseguir um óleo essencial mais barato, algumas
empresas fazem sinergias entre OEs ou moléculas
naturais isoladas que, juntos, mimetizam o aroma
de um produto mais caro. Outras empresas também
podem acabar misturando OE similares para fazer
render mais o produto final (algumas usam
diferentes lavandas e lavandins na lavanda
francesa, por exemplo).
• 100% completo: não deve ser descolorado, colorizado
(geralmente acontece com a adição de anilina),
tampouco desterpenizado (quando são retirados os
hidrocarbonetos sesquiterpênicos do OE). Na
indústria de perfumes e alimentos, o uso de óleos
desterpenizados é muito comum. Contudo, a
desterpenização resulta numa perda em eficácia
terapêutica ou pode até fazer com que a toxicidade
do OE aumente, tornando-o inviável para uso
terapêutico.

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Para que se tenha alguma garantia de que aquele
óleo essencial é, de fato, 100% natural, puro e completo,
contendo os níveis moleculares esperados de um
produto de qualidade terapêutica, podem ser usadas
algumas técnicas de controle de qualidade. As
principais técnicas são feitas por controles físicos e
controles químicos.
Os controles físicos mais usados são a análise
organoléptica e o estudo das constantes físicas em
temperatura constante. O primeiro é feito a partir da
avaliação da coloração, aroma e sabor de uma amostra
de OE. No segundo, são observados fatores como a
densidade, solubilidade em álcool, rotação óptica e
índice de refração. Ao final, os dados obtidos nesses
controles são disponibilizados em laudos técnicos do
produto, que devem ficar disponíveis para os clientes
da empresa.
Os controles químicos são realizados por métodos
como a cromatografia gasosa, que permite a separação,
identificação e quantificação das moléculas presentes
em uma amostra de OE. Empresas confiáveis
submetem todos os lotes de seus OEs a cromatografias
gasosas e fornecem os cromatogramas para os clientes,
para que qualquer pessoa tenha acesso a quais grupos

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moleculares estão presentes naquele OE, se estão nas
porcentagens esperadas, se há alguma quimiotipia e se
há qualquer adulteração.
Embora os controles acima sejam feitos em
laboratório, é possível utilizar alguns métodos mais
simples em casa também. Para tal, verifique sempre se
o OE:

• De fato tem o aroma que ele costuma ter.


• Dissolve-se em álcool ou óleo vegetal (o que é
esperado, já que OEs são lipossolúveis e solúveis em
álcool).
• Fica em suspensão quando adicionado à água (OEs
puros não são solúveis em água).
• Não deixa resquícios no difusor mesmo depois de
completamente volatilizado (OEs puros e íntegros
não devem deixar resquícios).
• Não possui cores vibrantes (se possuir, pode indicar
adição de anilina), com exceção de OEs como o de
camomila alemã, que possui uma característica
coloração azul quando extraído por destilação.
• Está armazenado em recipiente de vidro escuro
(geralmente âmbar, azul-cobalto ou verde).

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• Tem, em seu rótulo, informações como nome popular,
nome botânico/científico, método de extração,
partes da planta usadas na extração, país/região de
cultivo, geotipia/quimiotipia (quando houver), além
do número do lote, data de extração, data de envase,
nome ou código do responsável técnico e CNPJ da
empresa. Algumas empresas colocam, ainda, os
nomes das moléculas majoritárias. Empresas pouco
confiáveis costumam colocar o mínimo de
informação possível no rótulo, ou adicionam dados
que deixam claro o uso de outras substâncias junto
com o OE.

Depois de verificada a qualidade do OE, ainda é


necessário armazená-lo e usá-lo adequadamente para
que seja mantida sua qualidade e sejam evitadas
grandes perdas moleculares e mutações em seus
compostos químicos. Se mal armazenados, alguns OEs
podem oxidar, se tornar dermoagressivos e tóxicos,
por isso esses cuidados precisam ser seguidos à risca.
São detalhes como:

• Armazenar sempre em seus recipientes de vidro


escuro.

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• Estocar os frascos longe da luz e do valor, em
temperaturas que variem entre 5 e 40ºC.
• Deixar seus frascos sempre bem fechados para
evitar a volatilização progressiva.
• Não deixar os vidros no carro, na bolsa, nem deitados
em gavetas.

Os óleos essenciais, assim como tudo o que vive na


Natureza, são substâncias que demandam respeito.
Não é para todo mundo, são raros, e devem ser usados
com muita cautela, e somente quando e se for
necessário. É preciso que aprendamos a respeitar esses
seres tão antigos e poderosos, e quebremos a lógica
exploratória de uma vez por todas. Os seres vegetais
não existem para servir os seres humanos: devemos
coexistir em parceria, sempre.

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Os autores

Raissa Mendes é sócia-proprietária da Apotecários


da Floresta, aromaterapeuta, apotecária, professora de
Aromaterapia e de práticas naturais de autocuidado,
alquimista, perfumista botânica e cosmetóloga-artesã.
Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de
Brasília/DF, também é Psicóloga Perinatal e Parental e
psicoterapeuta de mulheres, além de terapeuta
integrativa, facilitadora de ginecologia natural, doula
e educadora perinatal, sócia da Mulher Cíclica. Dedica
seus dias aos cuidados naturais e a inspirar a
autonomia e o autocuidado, da forma mais natural
possível, usando seus conhecimentos em
Aromaterapia, Aromatologia, Fitoterapia,
Cosmetologia Natural, Saboaria Natural, Geoterapia,
Alquimia Espagírica e outras práticas de cuidados
naturais.
Ronan Cardoso é sócio-proprietário da Apotecários
da Floresta, aromaterapeuta, apotecário, professor de
Aromaterapia e de práticas naturais de autocuidado,
alquimista, perfumista botânico, saboeiro e
cosmetólogo-artesão. Graduado em Letras-Português

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pelo Centro Universitário de Brasília, é, também, poeta
e escritor. Dedicado ao estudo de práticas orientais de
saúde desde a infância, tem uma relação íntima muito
especial com a Natureza e com a Alquimia, sua maior
inspiração. É médico da tradição chinesa em formação,
além de ter acumulado os saberes de diversos cursos,
em especial, na área da Aromaterapia, da Fitoterapia,
da Cosmetologia Natural, Saboaria Natural e da
Alquimia Espagírica.

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Referências

ALBERTUS, F. Guia prático de alquimia: como montar e


operar um laboratório alquímico. Santa Catarina:
Clube de Autores, 2014.

CRANE, J. Perfumaria botânica. Belo Horizonte: Editora


Laszlo, 2018.

DUGLIS-WESSELMAN, S. The herbal apothecary.


Massashussets, Estados Unidos da América: Quarry
Books, 2013.

GRAVEZ, J. The language of plants: a guide to the


doctrine of signatures. Massachusetts, Estados Unidos
da América: Lindisfarne Books, 2012.

JUNG, C. G. Estudos alquímicos. Rio de Janeiro: Vozes,


2013.

JUNIUS, M. Espagiria: introdução à preparação


alquímica das substâncias vegetais. Belo Horizonte:
Editora Laszlo, 2019.

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PETRINUS, R. A grande obra alquímica. Santa Catarina:
Clube de Autores, 2017.

____________. Espagíria alquímica. Santa Catarina:


Clube de Autores, 2014.

PRICE, S.; PRICE, L. Aromatherapy for health


professionals. Londres, Reino Unido: Churchill
Livingstone, 2007.

SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia: do produto natural


ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017.

TISSERAND, R; YOUNG, R. Essential oil safety: a guide for


health care professionals. Londres, Reino Unido:
Churchill Livingstone, 2014.

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https://www.apotecariosdafloresta.com

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