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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Embalagens inteligentes
O estilo de vida das pessoas tem se tornado cada vez mais complexo, devido à atuação
mais expressiva das mulheres no mercado de trabalho e também pelo modo de vida atual da
população em geral, o que tem levado os consumidores a se alimentarem de forma mais
prática e rápida. Por esse motivo as indústrias de alimentos tem desenvolvido embalagens
convenientes e que atendam a essa demanda, sem esquecer-se da função básica de proteção
dos alimentos, e da facilidade de comunicação entre as embalagens e o consumidor final
(MIHINDUKULASURIYA; LIM 2014). Na Figura 1 estão apresentas as funções clássicas
das embalagens, acrescida das novas funções desempenhadas pelas embalagens ativas e
inteligentes.

Figura 1. Funções de embalagens,


incluindo seus avançados sistemas:
ativos e inteligentes.
Fonte: Mihindukulasuriya e Lim (2014) com modificações.
Existem dois conceitos importantes na área de desenvolvimento de embalagens, as
chamadas: ativas e inteligentes. As embalagens ativas possuem agentes aditivos (compostos
antioxidantes, absorvedores de oxigênio e de umidade, por exemplo) que interagem
intencionalmente com o produto ou com o ambiente que o cerca, tendo como propósito
proteger, prolongar a vida de prateleira, preservar as propriedades sensoriais, além de manter
a qualidade, a integridade do produto e garantir a segurança do alimento (GHAANI et al.,
2016; BRAGA; SILVA, 2017). Já as embalagens inteligentes são aquelas que possuem maior
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aprimoramento em relação à comunicação com o consumidor, por exemplo, fornecem um


feedback dinâmico sobre a qualidade real do produto. Desse modo, para informar o
consumidor sobre a situação atual do alimento, dispositivos como indicadores, sensores ou
portadores de dados são inseridos ou incorporados ao corpo da embalagem, para que possam
interagir com os componenentes internos e externos dos alimentos e do ambiente em que
estão condicionados, e fornecer como resultado uma resposta imediata (mudança de cor, por
exemplo) que se correlaciona com as propriedades físicas, químicas e biológicas dos
alimentos (POYATOS-RACIONERO et al,. 2018).
Existem vários dispositivos e equipamentos, aplicados às embalagens, desenvolvidos
para informar o atual estado de conservação dos alimentos, como as etiquetas de identidade de
radiofrequência, os indicadores de tempo-temperatura, os sensores eletroquímicos, as línguas
e narizes eletrônicos, porém esses sistemas são complexos e dispendiosos (HSIA et al., 2015).
Assim, existem dispositivos mais simples, que podem ser utilizados para esse controle, sem
nenhuma dificuldade, sendo um deles a utilização de um indicador que mostre a mudança de
pH, já que, sua identificação pré-diz o tempo de prateleira do alimento em função da sua
variação (HEISING et al., 2014 e YAM et al., 2012 e YOSHIDA et al., 2010).
Em suma, ao invés de se imprimir uma data de validade em um produto que está
sujeito à ações físicas, químicas e microbiológicas diferentes para cada produto, uma
embalagem inteligente, acoplada com um indicador, por exemplo, informará com precisão a
validade real do alimento e não a validade baseada em parâmetros numéricos e estatísticos, já
que, o mesmo pode ter sido exposto a diversas condições adversas e desfavoráveis, que não se
encontram na data de validez usual (PASCHOA, 2016).
A respeito dos sistemas inteligentes de embalagem, Heising et al., (2014) descrevem
três: portadores de dados, sensores e indicadores.
3.2 Portadores de dados
Os portadores de dados utilizam a tecnologia de identificação por radiofrequência
(RFID) como uma importante ferramenta emergente capaz de automatizar a identificação e
gerenciamento de estoque na cadeia de alimentos. A identificação de radiofrequência aparece
como uma etiqueta, contendo os dados do código eletrônico do produto (EPC), com
informações que proporcionam redução de custos para o monitoramento dos alimentos;
otimização de logísticas; aumento da vida de prateleira, da segurança e da qualidade dos
alimentos embalados (YUNG et al., 2016).
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3.2.1 Identificação de rádiofrequência


Essa tecnologia de identificação automática é amplamente utilizada em embalagens
inteligentes, que utiliza sensores sem fio para coletar e identificar dados, sem a intervenção
humana. O RFID é composta por leitores (receptores), etiquetas ou radares (suporte de
dados), software, hardware, rede e banco de dados (HONG et al., 2011). Etiquetas de RFID
armazenam números de identificação no qual o leitor pode recuperar informações de um
banco de dados, fazendo com que o mesmo conheça toda a cadeia de produção, de modo a
permitir a rastreabilidade e maior segurança dos alimentos (TODOROVIC et al., 2014).
Há duas categorias expressas de etiquetas de RFID: passivas e ativas. As etiquetas
passivas contêm antenas em forma de espiral, que formam um campo magnético e utilizam
ondas de rádio possíveis de serem identificadas por um leitor. Já as etiquetas ativas são
alimentadas por uma bateria interna, usada para executar o circuito dos microchips e
transmitir um sinal ao leitor (VANDERROOST et al., 2014). Essas etiquetas podem ser
usadas em várias aplicações como em produtos hortícolas, carnes, produtos de pesca,
laticínios, panificação, bebidas e outros alimentos (Costa, 2013).
Papetti et al., (2012) propuseram uma integração de um sistema de rastreamento
eletrônico não destrutivo para análise de queijo italiano. As informações de rastreamento e de
qualidade foram combinadas, em uma plataforma na web, para obter um completo “sistema de
rastreamento” que registrou duas tipologias de informação (química e espectrofotométrica) e
indicou o prazo de validade do produto. Além do mais, esse sistema forneceu informações
importantes sobre toda a cadeia de fornecimento que foi desde os fabricantes, atacadistas,
revendedores, varejistas até os consumidores. Todas as informações coletados foram inseridos
em um banco de dados centralizado.

3.2.2 Código de barras


A tecnologia de identificação e codificação dos produtos por código de barras é uma
prática amplamente executada em toda área comercial. O código de barras é uma
representação gráfica de um código numérico ou alfanumérico. O código é representado por
barras que são lidas por um leitor próprio (SIMÕES, 2015). Existem duas técnicas de
reconhecimento dos códigos de barras e são baseadas na leitura versátil de imagens de barras,
podendo estes ser unidimensionais (1D) e bidimensionais (2D) (LIN; LIN, 2013). Diferentes
modelos de código de barras podem ser vistas na Figura 2.
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Figura 2. Exemplos de código de barras utilizados em diversos alimentos e produtos.


Fonte: FANG et al., (2017).
Códigos de barras podem ser utilizados em conjunto com diferentes resinas, narizes e
línguas eletrônicas que, são usados para detectar e analisar uma ampla variedade de
componentes produzidos por agentes patogénicos. Cada código pode possuir um espectro de
infravermelho exclusivo dependendo da sua composição, que posteriormente, devido à
deterioração dos alimentos, alterações físico-químicas levam à formação de novos códigos de
barras. Após a interação com um analito, os sinais vibracionais da matriz de polímeros
mudam, resultando em variações espectrais detectáveis. Cada copolímero pode ser
digitalizado por espectroscopia Raman ou espectroscopia de infravermelho por transformada
de Fourier (FTIR), gerando um espectro exclusivo para cada composição, como mostra a
Figura 3 (FITZGERALD; FENNIRI 2016).
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Figura 3. Exemplo de nariz eletônico (A), gerando códigos de barras (B), por meio de
espectroscopia de infravermelho.
Fonte: Fitzgerald e Fenniri (2016).
3.3 Sensores
Tradicionalmente, os sensores são dispositivos que respondem,
especificamente, a estímulos físicos, químicos ou biológicos, e são projetados para reconhecer
um analito alvo, contendo também um transdutor que converte um sinal/estímulo, gerando um
resultado quantitativo e/ou qualitativo (MAHALIK; NAMBIAR, 2010).
A incorporação dos sensores ao corpo das embalagens para produção de
embalagens inteligentes tem sido amplamente pesquisadas para avaliação de frescor dos
alimentos (MUSTAFA; ANDREESCU, 2018).
Dentre os tipos de sensores existentes, os sensores químicos são definidos
como um dispositivo que transformam uma informação química em um sinal quantificável e
apresentam dois componentes básicos: um sistema de reconhecimento químico ou molecular,
formado pelos receptores e um transdutor físico ou químico, responsável por traduzir o sinal.
Os biossensores são um tipo de sensores químicos, no qual o sistema de reconhecimento
utiliza um mecanismo biológico. Na Figura 4 estão apresenta os principais componentes de
um biossensor.
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Figura 4. Constituições e princípios dos biossensores.


Fonte: ZHANG; LU; CHEN (2014) com modificações.
Segundo Poyatos-Racionero et al., (2018) os sensores surgem como uma nova
aplicação para a indústria de alimentos, com o intuito de garantir a segurança dos alimentos,
de proporcionar o controle de qualidade e de conquistar a confiança do consumidor. Assim, a
comercialização de tais sensores, vem se difundindo cada vez mais, devido ao menor custo do
produto/processo e também, pela possibilidade de desenvolvimento de novas tecnologias. No
entanto, a sua aplicação na indústria ainda precisa competir com as técnicas analíticas padrão
quanto ao custo, desempenho e confiabilidade. Na Tabela 1 estão apresentados exemplos da
utilização de diversos sensores.
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Tabela 1. Descrição de sensores e seus princípios de funcionamento

Tipo de Elemento de Fonte


Princípio
sensor detecção
Dióxido de Transferência de energia
Optoquímico
carbono por ressonância de Forster Borchert et al. (2013)

Sensor a base Dióxido de Rerência luminófora


Von Bültzingslöwen et al.
de sol-gel carbono dupla
(2003)
Sensor de Quimiosensores e
Gases voláteis
fotoluminescê ausência de
e oxigênio Banerjee et al. (2016)
ncia fotoluminescência
Ligação de nanopartículas Zhai et al. (2019)
Sensor Sulfureto de
de prata com sulfeto de
colorimétrico hidrogênio
hidrogênio

3.4 Indicadores
Indicador é um composto que acusa a presença ou ausência de substâncias, ou o
grau de reação entre dois, ou mais elementos, por meio da alteração de algum atributo,
como a cor. Esses por sua vez, comunicam informações por meio de alterações visuais
diretas (KUSWANDI et al., 2011). Existem três categorias de indicadores bem
conhecidas, que são o de tempo-temperatura, o de gás e indicadores de frescor.

3.4.1 Indicadores de tempo e temperatura ( TTI – Time Temperature Indicators)


A temperatura é um dos fatores ambientais mais substanciais e suas flutuações,
por determinado período, levam à deterioração dos alimentos. Os indicadores de tempo
e temperatura foram desenvolvidos para mostrar, de forma bastante simples, se um
produto foi exposto a diferenças drásticas de temperatura, o tempo de duração, bem
como o efeito dessa exposição, fornecendo informações sobre a qualidade e a segurança
microbiana do produto (MOHEBI; MARQUEZ 2015 e VAIKOUSI et al. 2009).
A empresa 3M criou um indicador de tempo e temperatura intitulado como
“Monitor Mark Time Temperature Indicators”, que monitora o armazenamento e
condições dos alimentos na cadeia de comercialização. O dispositivo serve como um
registro preciso e irreversível da exposição à temperatura e de fácil de interpretação
(Figura 5).
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Figura 5. Monitor de tempo e temperatura desenvolvido pela empresa 3M.


Fonte: Mohebi & Marquez (2015).

Outro dispositivo muito interessante criado pela TEMPTIME Corporation, é o


Fresh-Check®, ele é um indicador de tempo e temperatura auto-adesivo formulado
especificamente para combinar com a vida útil dos produtos alimentícios aos quais
está exposto. O círculo
central ativo do Fresh-Check
escurece

irreversivelmente mais rápido em temperaturas mais altas e mais lentas em


temperaturas mais baixas, portanto, é fácil ver quando USAR ou NÃO USAR o
produto alimentício (Figura 6).

Figura 6. Dispositivo desenvolvido pela TEMPTIME Corporation, que controla


tempo e temperatura (a) pronto para uso, (b) use o mais rápido possível e (c) expirou.
Fonte: Kuswandi et al., (2011).

3.4.2 Indicadores de gás


Gases produzidos durante a oxidação lipídica e a deterioração por
microrganismos podem alterar a composição gasosa no interior da embalagem.
Portanto, indicadores de gás na forma de etiqueta ou códigos impressos nas embalagens
podem monitorar as alterações gasosas, como a de oxigênio, etanol, sulfeto de
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hidrogênio, dióxido de carbono, etileno e alertar sobre a segurança e qualidade de


produtos alimentícios (HAN et al,. 2018). Os mais comuns são os indicadores de
oxigênio, uma vez que a presença deste composto na atmosfera pode causar efeitos
deletérios na qualidade dos alimentos provocando o ranço oxidativo, alterações de cor e
deterioração microbiana (FANG et al., 2017).
Chatterjee e Sen (2015) desenvolveram um indicador utilizando moléculas de
aminoálcool terciário, para verificar a presença de dióxido de carbono e dióxido de
enxofre através de uma mudança de cor de vermelho para amarelo, enquanto o
indicador de CO2 de Hong e Park (2000) baseou-se na alteração de pH.

3.4.3 Indicadores de frescor


Além do Fresh-Check, mostrado anteriormente, que pode servir como um
indicador de frescor, também existe o CheckPoint, que se baseia na detecção de
alterações químicas ocorridas no alimento, como mudanças de pH. Esse indicador, além
de ser barato e simples, permite a determinação em tempo real, não invasiva e não
destrutiva do frescor do peixe. Similarmente, o Food freshTM, desevolvido pela Vanprob
Company (Figura 7), indica se um alimento está apto para consumo dentro de um
determinado período conhecido como “consume within”, sendo que esse prazo de
validade pode durar dias, semanas ou meses. Portanto os indicadores de frescor são uma
solução econômica para o problema de armazenar alimentos após a sua abertura e
também para indicar, especificamente, o prazo de validade de cada alimento
influenciado pelas condições individuais submetidas a cada produto. Esse indicador de
alimentos frescos, pode ser aplicado em frascos, embalagens a vácuo ou caixas de
papelão usando um aplicador de etiquetas. As etiquetas são feitas de PET e têm menos
de 50 mícrons de espessura (MOHEBI; MARQUEZ, 2015).
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Figura 7. Indicadores de frescor, que mudam de cor de acordo com alterações químicas
nos alimentos.
Fonte: Mohebi e Marquez (2015).
Atualmente, as embalagens que utilizam algum tipo de indicador, estão mais
viáveis comercialmente, assim, o interesse nesse assunto, por parte das indústrias e de
pesquisadores, tem aumentado (VANDERROOST et al., 2014). Por esse motivo, o
desenvolvimento de filmes indicadores de mudanças de pH, em diferentes bases
poliméricas, incorporados com antocianinas ou seus extratos, vem ganhando espaço no
mundo científico devido às suas propriedades colorimétricas. Alguns exemplos
recentes são:
· Antocianinas de bagaço de Prunus maackii foram adicionadas ao filme de k-
carragena e hidroxipropil metilcelulosev (SUN et al., 2019);
· Diferentes bases poliméricas (pectina, quitosana e k-carragena) foram
incorporadas com curcumina (EZATI; RHIM, 2020 e LIU et al., 2018 e WU et al.,
2019);
· Indicador de pH foram desenvolvidos com filmes à base de celulose e quitosana
incorporado com antocianinas da cenoura negra (EBRAHIMI TIRTASHI et al., 2019);
· Extratos de berinjela roxos e pretos, ricos em antocianinas sensíveis ao pH,
foram incorporados em solução de quitosana para produção de filmes inteligentes
(YONG et al., 2019);
· Filmes de amido adicionados de polpa de açaí (Euterpe oleracea Martius)
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(PESSANHA et al., 2018).

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